Ana Paula Rocha Formao Contnua Na senda de uma alquimia da escola

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* Professora do Ensino Secundrio, Formadora de Formao Contnua de Professores e Investigadora na rea das Cincias da Educao. Membro colaborador na Unidade de Investigao e Desenvolvimento em Educao e Formao do Instituto de Educao da Universidade de Lisboa.

FORMAO CONTNUA NA SENDA DE UMA ALQUIMIA DA

ESCOLA

Ana Paula Rocha *

RESUMO

A formao contnua vista, no presente artigo, como um agente de mudana e transformao da escola, designando-se o seu contributo como alqumico. O processo formativo permanente dos professores, gerador do seu desenvolvimento, afigura-se como importante, permitindo valorizar o potencial de desenvolvimento pessoal e profissional em que os docentes se envolvem ao longo das suas vidas. A presente reflexo fundamenta-se na encruzilhada do desenvolvimento pessoal, profissional e organizacional, como encarada por Nvoa.

FORMAO CONTNUA

Um dos maiores desafios que se coloca

formao contnua de professores a

evidente necessidade de transferncia das

situaes de formao para as prticas do

quotidiano escolar. O desenvolvimento

profissional dos docentes ocorre

igualmente na escola, beneficiando estes,

nesse espao privilegiado, de uma

aprendizagem em equipa. Esta

aprendizagem, no devendo ser

subvalorizada, por se encontrar muito

infundida de experincias ricas e

diversificadas, pode, porm, caracterizar-se

por uma certa balcanizao que a expurga

de mltiplas fontes e dimenses. A

formao contnua, cooperando no

processo transformativo das escolas, pode

preencher as lacunas que decorrem do

desenvolvimento profissional promovido

em ambientes balcanizados, precisando, no

entanto, de se alicerar nos projetos

educativos das organizaes escolares para

apoiar a sua implementao, assim

contribuindo para o rosto e identidade das

mesmas. Entende-se, por conseguinte,

como a formao contnua no dever ser

confundida com meras aes de formao

pontuais e desarticuladas, somente como

meio de obteno de diplomas,

certificados ou crditos que permitam

uma progresso institucional na carreira

docente (Jesus, 2000, p. 338). As prticas

formativas de professores necessitam,

deste modo, de ser concebidas como

modos de interveno educativa,

compondo-se em solidariedade com os

impulsos para a inovao e mudana a que

esto sujeitos professores e escolas.

Partilhando a viso de Antnio Nvoa, o

qual considera que a formao contnua de

professores deve assentar em trs eixos

estratgicos (investimento na pessoa e sua

experincia; investimento na profisso e

seus saberes; investimento na escola e

seus projetos (2002, p. 56), tentaremos,

Citar este artigo: Rocha, A. P. (2014). Formao contnua Na senda da alquimia da

escola. Almadaforma. Revista do Centro de Formao da Associao das Escolas de Almada. Essencial. Formao Contnua. 20 anos 20 ideias em ao, n 4, fevereiro, 2014, pp. 38-40.

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seguidamente, mostrar como a formao

contnua, apoiada nesta trilogia, pode

determinar o desenvolvimento profissional

dos professores mais consentneo com os

tempos de mudana, to desafiantes, que

vivemos.

INVESTIMENTO NA PESSOA E SUA

EXPERINCIA

A formao contnua precisa de valorizar o

professor inserido numa lgica educativa e

numa organizao-escola, considerando

relevante a dimenso pessoal que se liga

com a trajetria profissional. importante

que os docentes deem sentido aos

processos de formao no quadro das suas

histrias de vida. Esse contributo tanto

mais relevante e eficaz, se for concedido

tempo, no processo de formao, para um

trabalho de reflexividade crtica sobre as

suas prprias prticas. No quer isto

transmitir que se coloque a teoria de lado,

focalizando, exclusivamente, a ateno nas

vidas dos professores para a produo do

saber, porquanto o quadro conceptual

terico fornece indicadores e grelhas de

leitura que so, tambm, essenciais.

Contudo, dando relevo ao trabalho do

professor e sua experincia, o docente

sente-se mais compreensivo para com as

aprendizagens adquiridas em contexto de

formao e, igualmente, mais

compreendido. Este facto pertinente,

particularmente, quando o contexto

profissional se revela fonte de stress e a

fase vivida de crise e mudana. A formao

surge, ento, como um momento em que

cada um produz a sua vida, o que no

caso dos professores tambm produzir a

sua profisso (Nvoa, 2002, p. 58).

INVESTIMENTO NA PROFISSO E NOS

SEUS SABERES

Embora se fale muito em autonomia das

instituies escolares e no docente

enquanto desejvel gestor do currculo na

escola inclusiva, os professores sentem

como essa retrica est desarticulada com

a sua realidade, porque, na sua vida

quotidiana experimentam o peso da

burocracia e da colegialidade

artificialmente mandatada. A

profissionalizao contnua precisa, por

isso, de ajudar a desenvolver os saberes

dos professores valorizando o que j

sabem, fortalecendo a construo da sua

profisso e contribuindo para a

colegialidade colaborativa no mandatada.

Se a formao se constituir como uma das

componentes da mudana, envolvendo os

docentes, estes sentir-se-o mais

empenhados no se alheando do processo

de transformao das instituies a que

esto ligados, nem se apresentando como

opositores ou resistentes.

INVESTIMENTO NA ESCOLA E NOS SEUS

PROJETOS

Se, por um lado, j ficou claro que a

formao contnua carece de levar em

conta o professor, a sua vida e trajetria

profissional, por outro lado, no pode

deixar de se constituir como um

investimento educativo dos projetos de

escola, encontrando-se, desejavelmente,

em articulao com o desenvolvimento

organizacional da mesma e no se

pretendendo margem. A eficcia da

formao pode potenciar o processo

alqumico que ter reflexos na melhoria e

ampliao da qualidade das organizaes

escolares, caso inclua a componente de

investigao-ao-reflexo sobre

problemas que o professor identifique na

sua prpria prtica.

essencial, portanto, entrever que o

espao pertinente da formao contnua j

no o professor individual, mas sim o

professor em todas as suas dimenses

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colectivas, profissionais e organizacionais

(Nvoa, 2002, p. 56).

ALQUIMIA DA ESCOLA

Quem vive dentro da escola sabe como se

tem dado cada vez maior relevo aos

projetos educativos das instituies

escolares pela necessidade de que reflitam

as suas identidades. A procura do aumento

da qualidade educacional encontra-se

espelhada nos normativos e documentos

referenciais para o sistema educativo. Os

professores esto cientes da importncia

atribuda ao seu papel e da

responsabilidade da sua prestao. So

eles o trunfo para a concretizao de uma

sociedade de aprendizagem, promovendo

valores e ajudando no sucesso dos alunos.

A interveno no processo de aprender a

aprender dos discentes depende, por isso,

da qualidade e dos tipos de oportunidades

de desenvolvimento e formao que vo

surgindo ao longo da carreira, bem como

da cultura em que trabalham.

Os centros de formao de professores,

atentos urgncia de darem resposta s

necessidades formativas vo acolhendo os

pedidos concretos de formao,

constituindo bolsas de formadores para as

diferentes reas do conhecimento.

Contudo, estudos recentes tm

identificado a tendncia de os professores

manifestarem, como reas de formao do

seu interesse, os domnios emergentes,

essencialmente, das aspiraes e

necessidades individuais, ao invs daqueles

reconhecidos como colectivos. Este no

um comportamento repreensvel, pois

denota a vontade de obter satisfao nas

escolhas de aprendizagem, aumentando a

apetncia dos formandos pela formao.

Essa conduta decorre por vezes,

conjuntamente, da inexistncia de um

plano de formao de escola, alcanado a

partir da identificao das fragilidades na

organizao. Logo, preciso que as escolas

criem os seus planos de necessidades de

formao e que no o faam de forma

avulsa, mas sim fundamentada, ajudando

os centros de formao a criar

atempadamente as condies necessrias

ao desenvolvimento de um sistema de

formao contnua que d resposta

eficiente e possibilite concretizar os trs

eixos estratgicos preconizados por

Antnio Nvoa. S assim se consolida uma

articulao efetiva entre a Escola,

enquanto organizao, a formao

desenvolvida e as necessidades individuais

de formao dos docentes, em ateno aos

planos individuais dos mesmos. Para que

se verifique a verdadeira alquimia da

escola, a oferta dos programas de

formao contnua dos centros de

formao precisam de apresentar aes

com uma certa dimenso de desafio,

exigncia e ousadia e oferecer pluralidade

de experincias, modelos e perspetivas. Os

formadores, por seu turno, requerem-se

como profissionais muito qualificados e

experientes. Devem ser capazes de

alicerar as aes num clima estimulante,

reflexivo crtico, apostar na implicao dos

formandos em situaes de investigao-

ao sobre a prpria prtica e lev-los a

agir colaborativamente para a

concretizao colectiva do

desenvolvimento da escola.

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Neste sentido, a equipa do Almadaforma,

tem sido um agente transformador,

instigando a proatividade dos envolvidos e

constituindo-se, atravs da sua atividade,

como alqumico da escola. A eficcia e

dinmica do trabalho desenvolvido por

este centro de formao de professores

tem vindo a produzir (aproveitando a

imagstica das palavras de um reputado

investigador e pedagogo) algo mais do que

transformaes imediatas, ao posicionar-se

no sentido de um colocar em

movimento, que causar efeitos no

futuro, assim como um riacho subterrneo

que finalmente sobe at superfcie

(Perrenoud, 2002, p. 127).

Referncias:

JESUS, S. (2000). Motivao e Formao de Professores (1 ed). Coimbra: Quarteto Editora.

NVOA, A. (2002). Formao de Professores e Trabalho Pedaggico. Lisboa: Educa.

PERRENOUD, P. (2002). A prtica reflexiva no ofcio de professor: Profissionalizao e razo pedaggica. Porto Alegre: Artmed.