Artigo Frazao-Salomao

Embed Size (px)

Citation preview

  • Aplicaes da Tabela de Recursos e Usos TRU com o foco no Desenvolvimento Sustentvel

    Andr Frazo Teixeira1, Salomo Franco Neves2

    Resumo

    Este artigo tem como objetivo apresentar conceitualmente o caminho proposto para a

    adequao da contabilidade social, mais especificamente da TRU, para o foco

    proposto no arcabouo do desenvolvimento sustentvel. Para tal. Foi realizada uma

    pesquisa bibliogrfica relacionada temtica proposta, onde foi discutido a utilizao

    de indicadores para o desenvolvimento sustentvel, a anlise de fluxo de materiais e a

    tabela de recursos e usos, cuja aplicao ao desenvolvimento sustentvel se deu por

    meio das tabelas de entradas e sadas agregada, que contm em seus fluxos de sada

    variveis como o descarte e as emisses de gases de efeito estufa.

    Palavras chave: Desenvolvimento sustentvel, Anlise de Fluxo de Materiais, Tabelas

    de Recursos e Usos

    Introduo

    Com a necessidade de se visualizar, analisar e planejar de uma forma cada vez mais

    completa o crescimento de um pas, buscou-se, ao longo do sculo XX, desenvolver e

    aprimorar indicadores em nveis macros para uma economia nacional.

    pilar, neste campo, o estudo proposto por J. M. Keynes, visto como essencial para a

    viabilizao e maturao da contabilidade nacional em nvel mundial, estudo este

    corroborado e aperfeioado nas dcadas seguintes.

    Soma-se a este o trabalho de Leontief, resultando no desenvolvimento da matriz de

    inter-relaes setoriais de uma economia, conhecida como Matriz Insumo-Produto -

    MIP.

    1 Doutor em Planejamento Energtico pela Unicamp e Professor do Departamento de Economia da UFAM. Email: [email protected] 2 Doutor em Desenvolvimento Sustentvel pela UnB e Professor do Departamento de Economia da UFAM. Email: [email protected]

  • Montou-se assim um arcabouo terico e prtico consistente, sustentado pelas

    identidades das contas nacionais [produto, renda e dispndio] e pelo sistema de contas

    nacionais, demonstrado atualmente nas visualizaes e relaes propostas pela Tabela

    de Recursos e Usos TRU e pela MIP.

    Em que pese as mudanas polticas, econmicas e ideolgicas presentes desde a

    revoluo keynesiana tais anlises se provaram imprescindveis no cenrio

    econmico, assim como avaliaes para o curto, mdio e longo prazo, visualizadas

    principalmente no indicador mais conhecido proveniente de tais estudos, que seja o

    Produto Interno Bruto PIB.

    Aliado a este contexto, apresenta-se uma necessidade crescente de estudos

    vislumbrando somar e adequar o clculo das contas nacionais ao cenrio

    socioambiental em voga principalmente a partir da dcada de 1970 do sculo XX,

    quando da emergncia do conceito terico de sustentabilidade e todas as ramificaes

    resultantes do mesmo.

    Assim, o presente artigo visa apresentar conceitualmente o caminho proposto para a

    adequao da contabilidade social, mais especificamente da TRU, para o foco

    proposto no arcabouo do desenvolvimento sustentvel.

    Tendo em vista a complexidade terica e prtica da prpria definio de

    sustentabilidade, este trabalho ser iniciado com um tpico acerca deste tema,

    delimitando o mesmo para o escopo aqui necessrio. Em seguida apresenta-se uma

    anlise sucinta acerca da necessidade de indicadores para a mensurao do processo

    buscado no desenvolvimento sustentvel.

    Posteriormente, apresenta-se a TRU como ferramenta essencial para o estudo acerca

    das inter-relaes entre setores econmicos dentro de uma sociedade, sublinhando a

    importncia desta para definio dos coeficientes tcnicos no setor industrial.

    Finalmente debate-se acerca da anlise de fluxo de materiais a partir da TRU,

    colocando esta ferramenta como forma de avaliar o progresso em direo a objetivos

    sustentveis propostos dentro de uma sociedade.

  • Conclui-se com consideraes finais e as referencias bibliogrficas utilizadas no

    decorrer do artigo.

    Sobre Sustentabilidade

    Os avanos iniciais acerca da definio e conceituao do tema sustentabilidade

    datam da dcada de setenta do sculo XX, quando desenhou-se o primeiro quadro de

    anlise acerca do tema meio ambiente e crescimento econmico de mbito mundial.

    Nota-se que a viso ortodoxa do pensamento econmico delimitava crescimento e

    desenvolvimento econmico como sinnimos.

    A separao conceitual e prtica estre os dois conceitos, sob a tica socioeconmica,

    acontece apenas em fins da dcada seguinte, impulsionada pela crescente

    desigualdade social observada em pases no desenvolvidos e pela evoluo do

    pensamento ambiental.

    Assim, enquanto crescimento econmico apresenta um quadro quantitativo acerca do

    aumento da riqueza, o desenvolvimento busca mostrar a tica qualitativa do mesmo

    processo, indicado melhorias em qualidade de vida e bem estar, e principalmente,

    neste primeiro momento, em redues das disparidades entre nveis rendas (SOUZA,

    2012).

    A mensurao do crescimento e desenvolvimento econmico realizava-se

    basicamente a partir de ndices de produto e renda agregados, como o Produto Interno

    Bruto PIB de um pas. Em termos de possveis melhorias em qualidade de vida, a

    nica varivel chave era a renda per capita. Imaginava-se que incrementos, coletivos

    ou individuais no produto agregado, ou na renda individual, resultariam em melhorias

    para a coletividade (JONES, 1997)3.

    Este era o pensamento econmico vigente, e significa que necessita-se de constantes

    aumentos na produo e na renda para que se resulte em crescimento e

    desenvolvimento econmico. 3 De acordo com a identidade fundamental da macroeconomia o Produto gerado ser obrigatoriamente igual a Receita gerada para o perodo analisado

  • Em ltima instncia, tal pensamento vincula-se a uma contradio, j que vislumbra

    um aumento constante em produo e renda a partir de recursos naturais escassos,

    como reitera a prpria definio geral da cincia econmica: recursos escassez versus

    necessidades ilimitadas (ROSSETI, 2003).

    Entretanto, o paradoxo acerca da utilizao de recursos naturais seria resolvido a

    partir de um prisma econmico, j que o progresso tecnolgico e as leis de mercado

    solucionariam o problema.

    Aliado a esta preocupao, outra questo tornou-se importante a partir de ento, que

    seja os outputs do sistema econmico produtivo e suas influncias no meio ambiente,

    como poluio de rios, mares, e problemas em nveis mundiais, como a crescente

    emisso de CO2 e suas influncias sobre o clima global. (MEADOWS, 1972)

    Defende-se, ento, que o prprio sistema econmico est includo em um sistema

    ambiental mais abrangente, e a sustentabilidade parte da premissa que este deve estar

    balanceado

    possvel vislumbrar que a prpria definio de sustentabilidade deriva das

    problemticas citadas acima, que sejam: escassez de recursos naturais versus

    necessidades crescentes, e inputs e outputs em um sistema que precisa estar em

    constante equilbrio. Assim, sustentabilidade pode ser entendida como a necessidade

    de se promover um equilbrio com uma utilizao parcimoniosa dos recursos

    disponveis na atualidade, nos mdios e longos prazos. Definio esta respaldada na,

    Comisso Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (1991),.

    Lembra-se que, como parte integrante de um sistema maior, o sistema econmico (e

    social), tambm deve estar em equilbrio, j que sustentabilidade designa-se a todo o

    amplo sistema. Desta forma, deve-se buscar o equilbrio em todas as dimenses

    relacionadas sustentabilidade, como a social, econmica, ambiental, ecolgica e

    poltica, atingindo todo o sistema meio ambiente. Sachs (2007), por exemplo,

    defendem esta ideia.

  • Tambm frisa-se que, conforme aceita-se a ideia colocada anteriormente, aceita-se

    que, sendo um sistema dinmico, e possuindo diversas dimenses, o prprio sistema

    mostra-se em constante evoluo, apresentando, por exemplo, nveis de equilbrio

    diferentes para cada realidade distinta4 AGENDA 21 (1992).

    Procura-se constantemente avanar e atualizar o conceito de sustentabilidade e todas

    as implicaes prticas inerentes a este, como o desenvolvimento sustentvel e todas

    as suas vertentes. Todavia, a prpria definio ainda no se provou, pelo menos em

    consenso, operacional, o que torna divergentes as interpretaes de sustentabilidade,

    criando vertentes e caminhos antagnicos relacionados a um mesmo conceito, que

    ainda hoje apresenta ambiguidades intransponveis.

    Pauta principal o fato de aceitar-se conceitualmente as definies propostas, no

    significa, em nenhuma hiptese, que deve-se evitar o debate e a aplicabilidade prtica

    do conceito. Por contraditrio que se suponha, as definies de sustentabilidade

    devem ser desenhadas para cada realidade, vislumbrando as dimenses sociais,

    econmicas, ambientais, polticas e de forma local, regional e assim por diante

    SACHS (2007).

    Cria-se, neste contexto, a necessidade da utilizao de indicadores, j vislumbrada na

    Agenda 21, resultado das discusses da ECO 92, reunio para debate da temtica

    meio ambiente e desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992 (AGENDA

    21).

    De modo a buscar a operacionalidade proposta em teoria, e tendo em vista a

    ambiguidade explicitada, um caminho a seguir deve ser a utilizao de indicadores

    que explicitem contradies, metas, aplicaes, problemticas implcitas e explcitas

    em um contexto de sustentabilidade5.

    4 Por exemplo entre pases ou mesmo em regies destes. 5 O que incorpora a polmica do desenvolvimento sustentvel, que embora contemple todo o debate acerca da praticidade e aplicabilidade do prprio conceito, permite em seu bojo o entendimento que as dimenses aplicadas sustentabilidade conceitual sejam estendidas a este, de forma a incorporar dimenses econmicas, sociais, ambientais e polticas, ou seja, ligando o crescimento econmico ao atual desenvolvimento sustentvel (Sachs e meadows)

  • A utilizao de indicadores para mensurao do desenvolvimento

    sustentvel.

    A utilizao de indicadores e ndices para avaliao, em estrutura organizacional,

    poltica, econmica ou social conhecida e disseminada. ndices a servio da

    mensurao do fluxo de riqueza gerado em determinado pas so bastante conhecidos,

    como o Produto Interno Bruto PIB (MANKIW, 2009).

    conhecida a analogia de Meadows (1972) acerca da utilizao de indicadores como

    termmetro para os processos analisados e destacam a importncia dos mesmo para a

    formulao e avaliao de polticas pblicas voltadas a prticas sustentveis.

    De fato, desde a dcada de 1960 estudos apresentam avanos quanto caracterizao

    da qualidade do crescimento em pases ditos subdesenvolvidos.

    Torna-se premente a incluso de variveis que avaliem a efetividade do crescimento

    econmico, buscando analisar, de forma qualitativa, melhorias em qualidade de vida e

    bem-estar aliadas a sustentabilidade do sistema como um todo.

    Nesse contexto, definir metas ou indicadores representativos torna-se tarefa rdua. A

    problemtica devida ao diferencial proposto para o estudo e sua natureza qualitativa,

    contrria avaliao econmica ortodoxa, realizada a partir de indicadores

    essencialmente quantitativos.

    A dificuldade de formulao e aceitao de indicadores de sustentabilidade se deve,

    em grande parte, cultura de indicadores desenvolvidos para a dimenso econmica,

    como o PIB. O calculo deste ndice, totalmente quantitativo, embora aceito de forma

    universal, possui a incongruncia de associar um aumento da riqueza ao mesmo

    tempo em que premia a depleo dos recursos naturais e aumento de externalidades

    relacionadas aos outputs no sistema meio-ambiente.

    Sobre o tpico, Meadows (1972), corroborando a necessidade de indicadores de

    sustentabilidade, afirma:

  • Pessoas no reagem a uma informao que no tm. No reagem eficientemente a

    uma informao inadequada. No podem atingir objetivos ou metas que no esto

    conscientes. No trabalham para o desenvolvimento sustentvel se no possuem,

    claramente, oportunamente, de forma precisa, indicadores de desenvolvimento

    sustentvel MEADOWS (1972. p. 5).

    Entretanto, atualmente, ainda no existe um consenso entre os atores envolvidos

    acerca da definio de qualidade de vida em todas as dimenses da sustentabilidade.

    Ao incluir outras dimenses na anlise tem-se problemtica idntica encontrada

    quando da definio conceitual e prtica da sustentabilidade, qual seja, o vis

    qualitativo do processo. Desta forma, imagina-se que, ao propor uma avaliao em

    melhorias da qualidade de vida e bem estar, estar se propondo a prpria definio de

    qualidade de vida.

    Sobre o tema, a viso de Sen (2000), apresenta avanos em termos de qualidade de

    vida como a melhoria nos fatores necessrios a obter o que se deseja e o que se tem

    atualmente, ou seja, pelo conjunto de oportunidades reais que o indivduo tem em seu

    favor.

    A qualidade de vida pode ser entendida como um direito a cidadania, inevitavelmente

    integrado melhorias de bem-estar e renda, alm de observar a sustentabilidade

    ambiental do processo.

    Em suma, a maior preocupao por parte da comunidade envolvida nos estudos que

    contm o desenvolvimento sustentvel como cerne de discusso pode ser resumida na

    busca por mtricas e indicadores que atuem de forma a equalizar os fluxos

    econmicos e sociais, quantificados em termos monetrios, com os ambientais, que

    por sua vez so descritos em termos de massa e de energia.

    Diante desta situao, novos campos de pesquisa na rea da economia ecolgica tem

    surgido no intuito de caracterizar os fluxos econmicos sob uma tica ambiental, com

    a justificativa de que estes, assim como a natureza, tambm possuem o seu modus

  • operandi baseado em sistemas e, consequentemente, nas interaes entre os agentes

    que o compem.

    No que concerne s empresas e sobretudo das atividades industriais, seus processos de

    produo compreendem diversas etapas que podem ser resumidas pelas entradas de

    matria-prima e demais insumos e na sada de produtos e resduos.

    Na perspectiva de Georgescu-Roegen (1986), este processo econmico pode ser

    explicado a partir das leis da termodinmica, posto que tais processos envolvem a

    utilizao da matria-prima das mais diversas formas ao longo de suas etapas (o que

    uma caracterstica da primeira lei conservao da energia), bem como a sua

    disponibilizao e descarte no final de sua vida til aumenta o nvel de poluio tanto

    do ponto de vista das emisses de gases atmosfricos quanto dos resduos que so

    gerados por conta de sua utilizao (o que caracteriza a segunda lei entropia)

    Por conta dos impactos que as atividades produtivas proporcionam ao meio ambiente,

    termos como ecologia industrial e ecoeficncia tem sido cada vez mais discutidos,

    sendo esta uma etapa importante na busca por indicadores mais precisos para a

    mensurao e planejamento do desenvolvimento sustentvel

    Da quantidade para a qualidade: a Anlise de Fluxo de Materiais

    Considerando-se o princpio do balano de materiais aquele que estuda como

    os fluxos de materiais e de energia se comportam nas relaes entre a economia e o

    meio ambiente, tanto nos pases quanto entre eles, a anlise de fluxo de materiais

    consiste em um conjunto de ferramentas cujo objetivo o de realizar aproximaes

    analticas e de mensurao em diferentes nveis de detalhes e competncias (OECD,

    2008). Esta tcnica toma como ponto de partida a primeira lei da termodinmica, que

    se refere lei da conservao da matria6.

    Dado as suas caractersticas, pode-se verificar que a anlise de fluxo de

    materiais tem em seu bojo o princpio de entradas e sadas (inputs-outputs) que, por

    sua vez, torna-se foco de discusses acadmicas na segunda metade da dcada de 60,

    com o trabalho de Wassily Leontief intitulado Input-Output Economics (1966), cuja 6 A matria no criada nem destruda em qualquer processo fsico (OECD, 2008; ODUM, 2008)

  • contribuio para a cincia econmica lhe rendeu o prmio Nobel desta rea do

    conhecimento em 1973. Por sua vez, a obra de Leontief proporcionou vrios

    desdobramentos para as demais reas do conhecimento, sobretudo a ambiental, com

    destaque para os artigos de Robert Ayres e Allen Kneese, intitulado Production,

    consumption and externalities, de 1969 e o outro do prprio Leontief, de 1970,

    Eivironmental reppercutions and the economic structure: an input-output approach.

    (FISCHER-KOWASLKI, 2002; BOUMAN et al, 2000)

    O artigo de Robert Ayres, fsico, em conjunto com Allen Kneese, economista,

    foi derivado de um estudo feito a pedido do congresso americano e publicado em um

    dos volumes de programas federais em 1968 (FISCHER-KOWASLKI, 2002). Nesta

    pesquisa, o principal argumento dos autores o de que a maioria dos erros praticados

    pelos economistas na anlise do sistema econmico pode ser devido a uma

    observao enviesada da lei da conservao da matria, o que por sua vez pode

    ocorrer devido ao falso entendimento que recursos naturais como gua e ar podem ser

    encarados como bens livres. Nesse sentido, os recursos naturais so propriedades

    naturais de grande e crescente valor (AYRES; KNEESE 1969). Alm disso,

    tecnologias de processo e/ou purificao no destroem os resduos, mas apenas

    alteram a sua forma (logo, a lei da conservao da matria).

    Em virtude de tais fatos, os autores propem ver a poluio ambiental e seu

    controle como um problema de balano (fluxo) de materiais para a economia como

    um todo (AYRES; KNEESE 1969). Observa-se que, nessa proposio, ficam

    explcitos praticamente todos os principais pontos em torno da contabilizao dos

    fluxos mssicos e de energia e seus respectivos impactos (FISCHER-KOWASLKI,

    2002).

    Para demonstrar os efeitos das externalidades nos modelos econmicos

    convencionais de entradas e sadas, ou seja, insumo-produto, Leontief parte dos

    instrumentos que o mesmo demonstrou na sua obra de 19667 (LEONTIEF, 1970).

    Nesse sentido, o autor, considerando uma economia fechada e sem governo, ou seja,

    apenas famlias e empresas com dois setores, Agricultura e Indstria (Manufacture).

    A partir das relaes intra e intersetoriais, o autor ressalta as implicaes sobre os

    recursos naturais decorrente da entrada de insumos nos processos produtivos por meio 7 LEONTIEF. Wassily. Input-output economics.Oxford University Press, N.Y, 1966.Ver captulo 7

  • de sistemas de equaes e anlise matricial. Com tais ferramentas, poder-se-ia ento

    verificar os impactos da gerao/ eliminao de vrios tipos de poluentes nos

    processos econmicos, assim tornando mais complexas as anlises regionais,

    projees multi-setoriais, o crescimento econmico e previso de mudanas

    tecnolgicas (LEONTIEF, 1970)

    Posteriormente, as modelagens em torno da anlise de fluxo de materiais/

    anlise de fluxo de substncia so descritos por Ayres (1989) no conceito de

    metabolismo industrial, (BOUMAN et al, 2000), o que, por sua vez, proporciona

    vrios estudos em torno deste objeto (FISCHER-KOWASLKI, 2002). A partir dos

    anos 1990, digno de nota as contribuies de Adriaanse et al (1997), Bringezu,

    Behrensmeier e Schtz (1998), Machado e Fenzl (2000), Matthews et al (2000) e

    Tanimoto (2010).

    Adriaanse et al (1997) contabilizou os fluxos de materiais para a Alemanha,

    Japo, Holanda e Estados Unidos em uma publicao do World Resources Institute,

    de Washington D.C. em conjunto com Instituto Wuppertal (Alemanha), Ministrio de

    planejamento espacial e meio ambiente da Holanda Netherlands Ministry of

    Housing, Spatial Planning and Environment e o Instituto Nacional de Estudos

    Ambientais (Tsukuba, Japo) National Institute for Environmental Studies. Tal

    pesquisa foi intitulada de Resource Flows: The Basis of Industrial Economies e foi

    feita em conjunto com alguns dos principais pesquisadores no que tange a elaborao

    de metodologias de contabilizao de fluxos de materiais, como Stefan Bringezu e

    Yuichi Moriguchi.

    A pesquisa do Instituto Wuppertal Material Flow Accounts trabalhou com a

    contabilizao dos fluxos de materiais e foi organizada por Bringezu, Behrensmeier e

    Schtz (1998) sob a encomenda do EUROSTAT, como relatrio final da pesquisa

    Material Flow Accounts of Selected Products and Substances Harmful to the

    Environment. Foi organizada em dois volumes, onde o primeiro trata dos fluxos

    gerais com especial ateno para o alumnio, enquanto que o segundo versa acerca

    dos fluxos de materiais de construo, embalagens e demais indicadores. No que

    concerne aos procedimentos metodolgicos, a contabilizao dos fluxos mssicos foi

    feita em conjunto com as tabelas de entradas e sadas (insumo-produto), no intuito de

    se verificar as relaes inter e intra-setoriais entre os fluxos.

  • O interesse da Unio Europeia acerca da contabilizao dos fluxos mssicos

    nas economias em decorrncia do projeto do EUROSTAT resultou, em conjunto com

    o Ncleo de Altos Estudos Amaznicos da Universidade Federal do Par

    NAEA/UFPA, o projeto intitulado Amaznia 21, que por sua vez deu origem ao

    artigo The sustainability of development and the material flows of economy: a

    comparative study of Brazil and industrialized countries, de Machado e Fenzl (2000)

    que consistia em examinar tal metodologia e testar as suas possibilidades de aplicao

    e determinao do metabolismo econmico-ambiental brasileiro e compar-lo com o

    sistema econmico dos Estados Unidos, Japo, Alemanha e Holanda, o que pode

    auxiliar como base para a elaborao de polticas pblicas com preservao ambiental

    agregada de desenvolvimento econmico.

    Em 2000, a pesquisa do World Resources Institute The Weight of Nations:

    Material Outflows From Industrial Economies, coordenada por Emily Matthews com

    o auxlio de Stefan Bringezu e Yuichi Moriguchi, dentre outros (MATTHEWS et al,

    2000), tornou-se uma das principais referncias no que tange s metodologias para a

    Anlise de Fluxo de Materiais (TANIMOTO, 2010). Tal pesquisa analisou o ciclo de

    materiais e indicadores relacionados para ustria, Alemanha, Japo, Estados Unidos e

    Holanda, explicitando as referencias utilizadas e indicadores usados para o clculo

    dos fluxos ocultos.

    Ainda quanto a evidncias empricas no Brasil, pode-se citar a pesquisa de

    Armando Tanimoto intitulada A economia medida pela anlise de fluxo de massa

    (AFM): A desmaterializao da economia nos pases desenvolvidos, sustentada pelos

    recursos naturais dos pases emergentes a exemplo do Brasil, tese de doutorado do

    Centro de Desenvolvimento Sustentvel da Universidade de Braslia CDS/UnB.

    Nesta pesquisa, o autor procura avaliar se o processo de desmaterializao da

    economia nos pases desenvolvidos acontece com a transferncia de impactos

    ambientais aos pases emergentes, principalmente os exportadores de bens primrios

    como o Brasil (TANIMOTO, 2010, p. 6). Para tal, o autor procedeu da Anlise de

    Fluxo de Massa (Economy-wide MFA) para os anos de 1997, 2001 e 2005. Em termos

    de resultados, foi verificado que o Brasil ainda necessita de mais quilos de material

    bruto para transformar em um US$ de PIB do que os pases desenvolvidos, o que

  • pode ser consequncia da alta transferncia dos impactos ambientais dos pases

    desenvolvidos para os pases em desenvolvimento.

    Em termos metodolgicos, de acordo com Bringezu et al (2002), esta

    ferramenta tem dois tipos bsicos de problemas:

    1. Problemas ambientais especficos relacionados com certos impactos

    por unidade de:

    a. Substancias: Cd, Cl, Pb, Zn, Hg, N, P, C, CO2, CFC,

    b. Materiais: produtos de madeira, transportadores de energia,

    escavaes, biomassa, plsticos.

    c. Produtos: fraldas, baterias, carros

    2. Problemas de interesse ambiental relacionados com as transferncias

    de:

    a. Firmas: micro e pequenas, mdias e grandes companhias

    b. Setores: setores produtivos, indstria qumica, construo civil

    c. Regies: total de transferncias, balano de fluxo de massa,

    demanda total por materiais.

    Isto posto, a MFA dividida em dois tipos principais: anlise de fluxo de

    materiais (utilizada para analisar os tipos 2a., 1.b., 2.b. e 2.c.) e anlise de fluxo de

    substncia (utilizada para atingir os objetivos 1.a.). Quanto aos problemas do tipo 1.c.,

    costuma-se utilizar a Avaliao de Ciclo de Vida ACV (Life Cycle Analisys LCA).

    Tal configurao pode ser melhor observada no quadro 1.1.

    A MFA pode ser aplicada tanto em anlises econmicas quanto

    administrativas e naturais, estudando os fluxos de materiais nos seguintes nveis

    (OECD, 2008):

    Nvel macro: fornecer instrumentos para formulao de iniciativas/

    decises em polticas de integrao econmica, poltica e comercial,

    assim como tambm estratgias de desenvolvimento sustentvel e

  • planos de ao. Nesse caso, o instrumento de mensurao mais

    utilizado a Economy Wide Material Flow Account (EW-MFAcc).

    Nvel meso: tem maior nvel de detalhamento, distinguindo no apenas

    categorias de materiais, mas tambm de indstrias e/ou ramos da

    produo. Em nvel industrial, a principal tcnica de mensurao de

    fluxos so as Tabelas de Entradas e Sadas Fsicas TESF (do ingls

    Physical Input-Output Table PIOT) e as tabelas NAMEA (NAMEA-

    type tables8)

    Em nvel micro: providencia informaes detalhadas para decises

    especficas, como, por exemplo, nos negcios (companhias, firmas,

    etc.) ou em nvel local (cidades, municpios, ecossistemas, habitats,

    bacias, etc.) ou relativas a substncias especficas ou produtos

    individuais. Nesse nvel, as tcnicas mais utilizadas so a Anlise de

    Fluxo de Substncia (SFA) e o Inventrio de Ciclo de Vida LCI, que

    um dos passos para a elaborao da Anlise do Ciclo de Vida ACV.

    Motivo de preocupao

    Preocupaes especficas relacionadas ao meio ambiente impactos, garantia de

    fornecimento, desenvolvimento de tecnologia

    Preocupaes ambientais e econmicas gerais relacionados com a transferncia

    Dentro de certos negcios, atividades econmicas, pases, regies De substncias, materiais, bens manufaturados

    Asssociados com Em nvel de

    Objeto de interesse

    Substncias (elementos

    qumicos ou compostos)

    Materiais (matria-prima,

    bens semi-acabados)

    Produtos (bens manufaturados) Baterias, carros,

    computadores, txteis

    Negcios (estabelecimentos,

    empresas)

    Atividades econmicas (minerao, construo,

    indstria qumica, indstria

    siderrgica)

    Pases, regies (materiais totais,

    grupos de materiais, materiais

    particulares)

    Tipo de Anlise

    Anlis de Fluxo de

    Substncia (Substance

    Flow Analysis)

    Anlise de Sistema de Materiais (Material System

    Analysis)

    Anlise de Ciclo de Vida (Life Cicle

    Assessment)

    AFM em nvel de negcios

    Anlise de Entradas e Sadas

    (Input-Output Analysis)

    Economy-wide MF Analysis

    Tipo de ferramenta de mensurao

    Contas de Fluxo de

    Substncia (Substance

    Flow Accounts)

    Contas de Fluxo de Materiais

    Individuais (Individual

    Material Flow Accounts)

    Inventrios de Ciclo de Vida (Life Cycle

    Invetories)

    Contas de Fluxo de Materiais nos

    Negcios (Business Material Flow

    Accounts)

    Physical Input-Output Tables, NAMEA-type

    approaches

    Economy-wide Material Flow

    Accounts

    Quadro 1: Tipos de Anlises de Fluxo de Materiais e questes associadas de preocupao. Fonte: OECD (2008). Traduo do autor.

    8National Accounting Matrices including Environmental Accounts NAMEA

  • A Anlise de Fluxo de Materiais em nvel meso: as tabelas de entradas e

    sadas

    Como ressaltado no tpico anterior, a anlise de fluxo de materiais utiliza

    mtodos diferentes de acordo com a amplitude de seu objeto de estudo. Por conta

    disto, ao se levar em considerao estudos de ordem setorial, ou seja, aqueles voltados

    compreenso das relaes entre os setores econmicos produtivos tanto entre si

    quanto com o meio ambiente, o alcance mais adequado da MFA em nvel meso,

    cujo metodologia adequada a elaborao das tabelas de entradas e sadas por conta

    de sua capacidade de descrever de forma sistmica a contribuio dos produtos para a

    produo.

    A fim de que este processo seja melhor compreendido, necessrio fazer uma

    distino entre os termos produo e produto. Ao passo em que o termo produo

    implica um processo contnuo de entradas e sadas, o produto, tambm chamado de

    bem final, deve ser visto como o resultado da produo (ROSSETTI, 1995;

    PAULANI e BRAGA, 2007).

    Em meio as entradas e sadas que caracterizam a produo, existem interaes

    tanto com as matrias-primas disponibilizadas pelo meio ambiente quanto com os

    produtos que vo compor o valor do produto em questo. Por exemplo: um pneu,

    apesar de ser um bem final fabricado por uma fbrica de pneus, um item

    fundamental na composio de outras mercadorias, como automveis e motocicletas.

    Logo, dependendo do foco, determinados produtos podem ser bens finais ou bens

    intermedirios, ou seja, produtos que so utilizados na composio de outros.

    Neste sentido, um cuidado necessrio na mensurao da atividade econmica

    o de evitar a mltipla contagem pois, caso contrrio, no seria possvel contabilizar a

    real contribuio de um produto para a atividade econmica, ou seja, o pneu do

    exemplo discutido no paragrafo anterior seria contabilizado duas vezes: a primeira

    vez como bem final e segunda vez como insumo na fabricao do automvel, o que

    dificultaria a preciso e consequentemente a capacidade de explicao dos

    indicadores relacionados a tal temtica.

    Por conta disso, a mensurao do valor do automvel definido pela

    contribuio que o pneu e os demais insumos utilizados proporcionaram para a sua

  • fabricao, ou seja, pelo valor que foi adicionado pelas etapas de produo ao produto

    final. Logo, o consumo intermedirio, que corresponde aos insumos que so

    utilizados nos processos produtivos na composio dos bens finais (que so

    disponibilizados no mercado de bens e servios), contribui para o valor da produo

    (tambm chamado de valor bruto da produo), que por sua vez corresponde ao total

    da produo de um determinado setor levando-se em considerao todos os bens

    intermedirios que foram utilizados para a fabricao de seus produtos.

    Ao se subtrair o consumo intermedirio do valor da produo, tem-se o valor

    adicionado, ou seja, o total do valor que foi agregado pelo consumo intermedirio nas

    etapas do processo de produo seja de uma mercadoria, seja de um setor em

    especifico. Consequentemente, a soma dos valores adicionados de todos os setores

    produtivos (agricultura, indstrias e servios) um dos principais itens para o clculo

    do Produto Interno Bruto PIB de uma determinada regio ou pas.

    Posto que o PIB de uma economia reflete o total dos bens e servios que so

    produzidos ao longo de um determinado perodo de tempo, a composio deste

    indicador depende do processo de entradas e sadas, pois estas determinam a

    relevncia que o consumo intermedirio, caracterizado pela utilizao de insumos

    estaduais, interestaduais e internacionais tem para o valor da produo e

    consequentemente para o valor adicionado. Por conta disto, esta relao

    sistematizada por meio das tabelas de entradas e sadas, uma etapa importante na

    construo da Matriz de Insumo-produto idealizada por Leontief.

    De acordo com Wixted, Yamano e Webb (2006), uma tabela de entradas e

    sadas pode ser dividida em cinco sees e ilustrada conforma a figura a seguir:

    1. Uma matriz de bens (ou transaes) intermedirios que contenha

    informaes relativas a interao entre os ofertantes e os consumidores de

    matria-prima, componentes industriais e servios domsticos. Os valores

    das transaes contidos nessa matriz podem ser a preos bsicos ou a

    preos do consumidor;

    2. Linhas abaixo da matriz de transaes intermedirias que mostrem os

    ajustes necessrios para derivar o total das entradas de bens intermedirios

  • usados na produo a preos do consumidor. Aqui esto includos as

    importaes de bens e servios;

    3. O Valor Adicionado das Atividades a preos bsicos;

    4. A contabilizao da oferta de bens que no so consumidos pela indstria

    domstica, localizadas direita da matriz de transaes intermedirias e

    organizadas em colunas. Esta parte contem agregados macroeconmicos

    como o consumo final (tanto das unidades familiares quanto do governo),

    a Formao Bruta de Capital Fixo FBKF e as exportaes;

    5. Por fim, as importaes de bens para o uso final e suas respectivas taxas

    menos subsdios associados a transao destes.

    No Brasil, a anlise de entradas e sadas realizada por meio da Matriz de

    insumo-produto, que faz parte das Contas Nacionais publicada pelo Instituto

    Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE. Isto posto, o clculo da matriz de

    coeficientes tcnicos baseada nas tabelas de produo e consumo intermedirio das

    Tabelas de Recursos e Usos TRU, que considera no consumo intermedirio e na

    demanda final o valor total dos bens e servios sem a distino entre nacional e

    importado (IBGE, 2008; SUFRAMA e UFAM, 2012) .

    Apesar do potencial para uma melhor compreenso das relaes produtivas

    entre os setores que compem a economia brasileira, o trabalho para realizar esse tipo

    de anlise em nvel de unidades da federao impe uma complexidade significativa

    que por sua vez justificada pelas particularidades de cada Estado. Por conta disso, o

    IBGE realizou um esforo com os rgos estaduais de estatsticas para mensurar os

    agregados macroeconmicos e demais indicadores em nvel de unidades da federao.

    Alm destas idiossincrasias regionais, um outro desafio para o estabelecimento

    de um banco de informaes estatsticas que reflitam a realidade so os aspectos

    relacionados aos fluxos ambientais. Dado que os recursos naturais afetam os fluxos

    produtivos tanto no que se refere ao seu papel enquanto componente importante da

    matria-prima quanto do ponto de vista de seu mau aproveitamento e consequente

    descarte sob a forma de resduos, fatores como emisses de gases de efeito estufa e os

    resduos gerados pelas atividades antrpicas devem ser inseridos no mbito da

    anlise de entradas e sadas em nvel meso.

  • No intuito de fornecer o elo entre o aspecto micro (das substncias) e macro

    (de atividades econmicas), a anlise dos fluxos de materiais em nvel setorial feita

    por meio da tabela de entradas e sadas agregada. Esta tabela organizada em trs

    quadrantes:

    O quadrante das entradas localizado na parte inferior esquerda;

    O quadrante do processo localizado na parte superior esquerda; e

    O quadrante das sadas localizado na parte superior direita

    Matriz intermediria

    Con

    sum

    o do

    ms

    tico

    priv

    ado

    Con

    sum

    o do

    gov

    erno

    Form

    ao

    Bru

    ta d

    e C

    apita

    l Fi

    xo (F

    BC

    K)

    Var

    ia

    o de

    est

    oque

    s

    Expo

    rta

    es

    Sad

    a B

    ruta

    a p

    reo

    s bs

    icos

    Uso total dos produtos domsticos a preos bsicos

    importao de bens intermedirios

    Taxas menos subsdios nos bens intermedirios

    Total do consumo intermedirio

    Valor adicionado a preos bsicos (a+b+c) a. compensao dos empregados b. Excedente operacional bruto c. Taxas menos subsdios na produo Sada Bruta a preos bsicos (i.e. total das sadas)

    Figura 1: Estrutura bsica de uma tabela de entradas e sadas Fonte: Wixted, Yamano e Webb (2006). Traduo dos autores.

    Do ponto de vista das entradas, a tabela de entradas e sadas agregada a divide

    em quatro categorias relacionadas a utilizao dos recursos naturais, onde a extrao

    domstica corresponde a utilizao de matria-prima e as importaes so as entradas

  • de outras economias. Por sua vez, a soma destas categorias a entrada direta de

    materiais (direct material output DMI). Em paralelo, as sadas compreendem as

    variveis alm da disponibilizao de bens e servios como as emisses atmosfricas,

    os resduos descartados no meio ambiente e as exportaes destas variveis para

    outras regies.

    Setor Primrio Indstria Servios Variao de

    estoques Exportaes Emisses Descartes

    Setor Primrio X11 X12 X13 X14

    Bens domsticos x12 + x13 + x14( )

    O11 O12 O13 Sadas o11 at o13( )

    Indstria X21 X22 X23 X24 Bens

    domsticos x21 + x23 + x24( )

    O21 O22 O23 Sadas o21 at o23( )

    Servios X31 X32 X33 X34 Bens

    domsticos x31 + x32 + x34( )

    O31 O32 O33 Sadas o31 at o33( )

    Variao de estoques X41 X42 X43 X44

    Sadas de estoque x11 + x42 + x43( )

    O41 O42 O43 Sadas o41 at o43( )

    Entrada

    secundria x21 + x31 + x41( )

    Entrada secundria x12 + x32 + x42( )

    Entrada secundria x13 + x23 + x43( )

    Entrada de estoques x14 + x24 + x34( )

    Total da Matriz de

    processamento x11 + x12 + ...+ x44( )

    Exportaes o11 at o41( )

    Emisses o12 at o42( )

    Descartes o13 at o43( )

    Sada direta

    Extrao domstica I11 I12 I13 I14

    Extrao domstica

    i11 at i14( )

    gua I21 I22 I23 I24 gua i21 at i24( )

    Ar I31 I32 I33 I34 Ar i31 at i34( )

    Importaes I41 I42 I43 I44 Importaes

    i41 at i44( )

    Entrada primria

    i11 at i41( ) Entrada primria

    i12 at i42( ) Entrada primria

    i13 at i43( ) Entrada primria

    i14 at i44( )

    Entrada direta

    Figura: Estrutura geral de uma tabela de entradas e sadas agregada Fonte: Schandl e Weisz (2000)

    A TRU atua como um item importante para este tipo de anlise, pois so os

    seus dados que compem a parte relativa ao quadrante do processo, que compreende

    os fluxos econmicos entre os setores produtivos, onde a linha diagonal destacada

    reflete os fluxos intrasetoriais destas atividades.

    Um dos principais desafios ao se utilizar este mtodo consiste em organizar os

    fluxos de forma com que os de entrada sejam iguais ao de sada. Assim, para que uma

  • tabela de entradas e sadas agregada seja consistente, esta relao, de acordo com

    Schandl e Weisz (2000), deve satisfazer a seguinte equao:

    Entrada direta = sada direta + entradas de estoque sadas de estoque

    Assim, a necessidade de consistncia destes tipos de informaes torna a

    anlise agregada dos fluxos input-output em uma perspectiva setorial bastante

    complexa. Por conta disso, o procedimento recomendado para se realizar tal tipo de

    anlise o de realizar o seu clculo de forma passo-a-passo via a elaborao de sub-

    tabelas com seus respectivos balanos de forma a permitir a agregao destas no final.

    Concluso

    A utilizao de indicadores nos permite sistematizar de forma dinmica os

    insumos para a elaborao de anlises apuradas. No mbito das relaes entre a

    economia e o meio ambiente, torna-se de suma importncia de se homogeneizar a

    mensurao de seus fluxos por meio de tratamentos estatsticos e metodolgicos.

    Dado o carter holstico que respalda as abordagens ambientais, ferramentas

    como a anlise de fluxo de materiais contribuem para a compreenso do peso dos

    materiais tanto nas relaes econmicas quanto nas ambientais. Por conta disso, a

    consonncia entre os indicadores pertinentes s atividades produtivas e relacionadas

    ao uso dos recursos naturais condio principal para que o potencial de anlise desta

    ferramenta seja alcanado

    As tabelas de entradas e sadas agregada, que ressalta as relaes entre as

    variveis descritas no paragrafo anterior, depende das relaes entre os setores

    produtivos, cujos dados so disponibilizados pelas tabelas de recursos e usos TRU.

    Dessa forma, percebido que a relevncia da TRU significativa no apenas para a

    compreenso da dinmica econmica mas tambm da ambiental.

    Referncias

    ADRIAANSE, Albert; BRINGEZU, Stefan; HAMMOND, Allen;

    MORIGUCHI, Yuichi; RODENBURG, ERIC; ROGICH, Donald; SCHTZ, Helmut.

    Resource Flows: The Material Basis of Industrial Economies. World Resources

    Institute, Wuppertal Institute, Netherlands Ministry of Housing, Spatial Planning, and

  • Environment, National Institute for Environmental Studies: Washington, Germany,

    Netherlands and Tsukuba, 1997.

    AYRES, Robert U.; KNEESE, Allen V. Production, consumption and

    externalities. American Economic Review, 59(3), 28297, 1969.

    BOUMAN, Mathijs; HEIJUNGS, Reinout; VOET, Ester van der; BERGH,

    Jeroen C.J.M. van den; HUPPES, Gjalt. Material flows and economic models: an

    analytical comparison of SFA, LCA and partial equilibrium models. Ecological

    Economics 32 (2000) 195216. Disponvel em: www.elsevier.com:locate:ecolecon.

    BRINGEZU, S.; BEHRENSMEIER, R.; SCHTZ, H. Material Flow

    Accounts Part I - General Aspects, Aluminium, National Overall Accounts.

    Wuppertal Institute. Department for Material Flows and Structural Change.

    Luxemburg: EUROSTAT, 1998.

    FISCHER-KOWASLKI, Marina. Exploring the history of industrial

    metabolism. In: AYRES, Robert U.; AYRES, Leslie W. A Handbook of Industrial

    Ecology. Cheltenham/Northampton: Edward Elgar, 2002.

    GEORGESCU-ROEGEN, Nicholas. The Entropy Law and the Economic

    Process in Retrospect. Eastern Economic Journal, Volume XII, No. 1, January-

    March 1986.

    INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA. Matriz de

    Insumo-Produto Brasil 2000/2005. Contas Nacionais nmero 23. Ministrio do

    Planejamento, Oramento e Gesto. Rio de Janeiro: Diretoria de Pesquisas,

    Coordenao de Contas Nacionais IBGE, 2008.

    JONES, Charles. Introduo teoria do crescimento econmico. Rio de

    Janeiro: Campus Elsevier, 2000.

    LEONTIEF, Wassily. Environmental reppercutions and the economic

    structure: an input-output approach. The Review of Economics and Statistics, Vol.

    52, No. 3 (aug. 1970), pp. 262-271. Disponvel em

    http://www.jstor.org/stable/1926294.

    MACHADO, Jose A.; FENZL, Norbert. The sustainability of development

    and the material flows of economy: a comparative study of Brazil and

  • industrialized countries. Paper presented for The Amazonia 21 Project, Paraguay:

    Federal University of Paraguay, 2000.

    MANKIW, Gregory. Introduo economia. 2.ed. Rio de Janeiro: Campus,

    2000.

    MATTHEWS, Emily (Org). The weight of nations: Material outflows from

    industrial economies. Washington: World Resources Institute, 2000.

    MEADOWS, Dennis. Limits to Growth. The Club of Rome. Disponvel em

    www.clubofrome.org/?p=1161.

    ODUM, Eugene P.; BARRET, Gary W. Fundamentos de Ecologia. Traduo

    da 5 edio norte-americana. So Paulo: Cengage Learning, 2008.

    OECD. Measuring material flows and resource productivity. Synthesis

    report. OECD/OCDE, 2008.

    ORGANIZAO DAS NAES UNIDAS. Agenda 21. Disponvel em

    www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/agenda21.pdf.

    PAULANI, Leda Maria; BRAGA, Mrcio Bobik. A nova contabilidade

    social: uma introduo macroeconomia. 3. Ed. So Paulo: Saraiva, 2007.

    ROSSETTI, Jos Paschoal. Contabilidade Social. 7. Ed. So Paulo: Atlas,

    1995.

    ROSSETTI, Jos Paschoal. Introduo economia. 18.ed. So Paulo: Atlas,

    1999.

    SACHS, Ignacy. Desenvolvimento: includente, sustentvel, sustentado. Rio

    de Janeiro: Garamond, 2007.

    SCHANDL, Heinz; WEISZ, Helga. Links between macro and micro flows:

    the sectoral approach: Presentation by Austria, IFF. Special Session on Material

    Flow Accounting. OECD Working Group on Environmental Information and

    Outlooks (WGEIO). Paris, 24 october 2000.

    SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. So Paulo: Companhia

    das Letras, 2000.

    SOUZA, Nali de Jesus. Desenvolvimento econmico. 4.ed. So Paulo: Atlas,

    1999.

  • SUPERINTENDNCIA DA ZONA FRANCA DE MANAUS;

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS. Tabela de Recursos e Usos do

    Amazonas: TRU-AM (ano base 2006). Coordenao Geral de Estudos Econmicos

    e Empresariais COGEC/Suframa e Faculdade de Estudos Sociais FES/UFAM.

    Manaus: Superintendncia da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA, 2012)

    TANIMOTO. Armando Hirohumi. A economia medida pela Anlise de

    Fluxo de Massa (AFM): A desmaterializao da economia nos pases

    desenvolvidos, sustentada pelos recursos naturais dos pases emergentes, a

    exemplo do Brasil. Tese de Doutorado. Centro de Desenvolvimento Sustentvel.

    Universidade de Braslia. Braslia: CDS/UnB, 2010.

    WIXTED, Brian; YAMANO, Norihiko, WEBB, Colin. Input-output analysis

    in an increasingly globalized world: applications of OECDS harmonized

    international tables. STI/Working Paper 2006/7. Statistical Analysis of Science,

    Technology and Industry. 2006, OECD.