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109 Linguagem Acadêmica, Batatais, v. 1, n. 2, p. 109-122, jul./dez. 2011 O lúdico no universo autista Lilian Queiroz Daguano 1 Renata Andrea Fernandes Fantacini 2 Resumo: O presente artigo tem como intenção ressaltar a importância da educação lúdica como forma de estimulação ao desenvolvimento de crianças autistas, ou seja, por meio do uso de jogos, brinquedos e brincadeiras pode-se contribuir para que as crianças com autismo se desenvolvam e se socializem com outras pessoas. Por intermédio da pesquisa bibliográfica realizada observa-se que o Autismo pode ser considerado um transtorno global do desenvolvimento (TGD) que compromete o desenvolvimento da criança, sobretudo interferindo no desenvolvimento áreas da comunicação, da imaginação e da sociabilização; mesmo com os mais recentes estudos em relação ao autismo, é correto afirmar que ainda não há cura, o que existe são tratamentos e terapias que minimizam as dificuldades, proporcionando um bom desenvolvimento e uma melhor qualidade de vida, como por exemplo, através das atividades lúdicas que propiciam a essas crianças um agir espontâneo e faz com que percebam suas habilidades e consigam desenvolver muitas outras. Palavras-chave: Autismo. Lúdico. Desenvolvimento. Habilidades. 1 Acadêmica do curso de Pedagogia do Centro Universitário Claretiano de Batatais (SP). E-mail: <lilian- [email protected]>. 2 Mestranda em Educação pelo Centro Universitário Moura Lacerda (CUML). Especialista em Educação Especial pela Universidade de Franca (UNIFRAN). Especialista em Docência no Ensino Superior nas Modalidades Presencial e EAD pelo Centro Universitário Claretiano de Batatais (SP). Docente dos cursos de Graduação e Pós-Graduação (Presencial e EAD) da mesma instituição. E-mail: <refantacini@hotmail. com>.

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O Lúdico No Universo Autista

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  • 109Linguagem Acadmica, Batatais, v. 1, n. 2, p. 109-122, jul./dez. 2011

    O ldico no universo autista

    Lilian Queiroz Daguano 1

    Renata Andrea Fernandes Fantacini 2

    Resumo: O presente artigo tem como inteno ressaltar a importncia da educao ldica como forma de estimulao ao desenvolvimento de crianas autistas, ou seja, por meio do uso de jogos, brinquedos e brincadeiras pode-se contribuir para que as crianas com autismo se desenvolvam e se socializem com outras pessoas. Por intermdio da pesquisa bibliogrfica realizada observa-se que o Autismo pode ser considerado um transtorno global do desenvolvimento (TGD) que compromete o desenvolvimento da criana, sobretudo interferindo no desenvolvimento reas da comunicao, da imaginao e da sociabilizao; mesmo com os mais recentes estudos em relao ao autismo, correto afirmar que ainda no h cura, o que existe so tratamentos e terapias que minimizam as dificuldades, proporcionando um bom desenvolvimento e uma melhor qualidade de vida, como por exemplo, atravs das atividades ldicas que propiciam a essas crianas um agir espontneo e faz com que percebam suas habilidades e consigam desenvolver muitas outras.

    Palavras-chave: Autismo. Ldico. Desenvolvimento. Habilidades.

    1 Acadmica do curso de Pedagogia do Centro Universitrio Claretiano de Batatais (SP). E-mail: .2 Mestranda em Educao pelo Centro Universitrio Moura Lacerda (CUML). Especialista em Educao Especial pela Universidade de Franca (UNIFRAN). Especialista em Docncia no Ensino Superior nas Modalidades Presencial e EAD pelo Centro Universitrio Claretiano de Batatais (SP). Docente dos cursos de Graduao e Ps-Graduao (Presencial e EAD) da mesma instituio. E-mail: .

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    1. INTRODUO

    Atualmente possvel encontrar vrias instituies de ensino que ainda no esto organizadas para incluir crianas que possuam algum tipo de deficincia. comum ouvirmos que as escolas buscam cada vez mais inserir em suas salas de aulas crianas com deficincias, sndromes etc. Mas ser que essa incluso pode ocorrer tambm com crianas autistas?

    O presente artigo tem como justificativa apontar que com uma educao adequada aliada a educao ldica contribui para o desenvolvimento de crianas autistas. por meio do ldico que o educador ensina e desenvolve de forma prazerosa aspectos mentais, fsicos e scio-emocionais da criana.

    Este artigo tem como objetivo destacar que o brincar fundamental para a criana se desenvolver mentalmente e fisicamente, mesmo que tenha algum tipo de necessidade especial. Atravs dos jogos, brinquedos e brincadeiras podemos estimular a imaginao, a autoestima e a cooperao entre as crianas, permitindo, assim, que a criana interaja e estabelea relaes sociais com as outras crianas.

    A metodologia utilizada para a realizao deste artigo foi a pesquisa bibliogrfica, por meio de pesquisa em livros impressos, artigos disponveis em sites confiveis de domnio pblico, revistas etc. Dessa forma, encontra-se fundamentada teoricamente a partir das contribuies de autores como: Gauderer (1993 - 1997), Santos (2008) e Cunha (2007).

    3. DESENVOLVIMENTO

    3.1 Autismo

    O termo Autismo foi criado em 1911, pelo psiquiatra Paul Eugen Bleuler, para indicar um sintoma da esquizofrenia, s que em uma rea dirigida para o retraimento do indivduo. Porm, esse transtorno foi descrito pela primeira vez, em 1943, pelo mdico Leo Kanner, atravs

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    de seu estudo sobre [...] um grupo de crianas gravemente lesadas que tinham certas caractersticas comuns. A mais notvel era a incapacidade de se relacionar com pessoas (GAUDERER, 1993, p. 09).

    Desde ento muitos estudos foram desenvolvidos com o objetivo de buscar informaes variadas sobre esse distrbio do desenvolvimento humano.

    Os autistas so crianas que apresentam atrasos na linguagem ou ausncia no desenvolvimento da fala, o que s vezes dificulta a ma-nuteno de um dilogo. Os autistas podero apresentar ecolalia que a repetio do que algum acabou de dizer, incluindo palavras, ex-presses ou dilogos (FONSECA, 2009, p.16).

    Apesar dos inmeros trabalhos e pesquisas realizados nessa rea, ainda no se sabe ao certo as causas do autismo, sendo quatro vezes mais comum ocorrer entre meninos do que em meninas. A mdica psiquiatra Lorna Wing (apud GAUDERER, 1993, p. 133), por meio de estudos sobre a Sndrome Autista, percebeu-se caractersticas comuns em trs reas do desenvolvimento desses indivduos: a comunicao, a sociabilizao e a imaginao.

    Nos desvios qualitativos da comunicao nota-se a presena da dificuldade na comunicao seja ela verbal e no verbal, ou seja, ausncia de gestos, expresses faciais e linguagem corporal, sendo muito comum, em crianas com autismo, a presena da Ecolalia, onde ocorre a repetio de frases e palavras ouvidas anteriormente.

    J nos desvios qualitativos na sociabilizao possvel desencadear falsos diagnsticos, pois a criana com autismo muitas vezes chegam a manifestar algum tipo de afeto, abraando, beijando as pessoas, mas faz isso no diferenciando quem so elas, sendo considerados como apenas gestos repetitivos.

    Quanto aos desvios qualitativos na imaginao, as crianas com autismo apresentam dificuldades em aceitar mudanas e um brincar sem uso da criatividade, como por exemplo, ficar um grande tempo analisando a textura de um brinquedo.

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    De acordo com Arago (2005) certas caractersticas podem representar algum problema no desenvolvimento de crianas, como por exemplo:

    Ausncia de balbucio aos 12 meses;Ausncia de gesto de tipo apontar ou tchau com a mo aos 12 meses;Ausncia de palavra aos 16 meses;Ausncia de comunicao de duas palavras aos 24 meses;

    Qualquer perda de competncia (de linguagem ou social) em qualquer idade.

    Devido s caractersticas variadas e causas desconhecidas, o Autismo ainda no tem cura, por isso o tratamento pode ser diversificado de caso para caso.

    A melhor abordagem a flexibilidade e o ecleticismo, uma adaptao de mtodos diversos a fases e problemas diferentes. Os pais e as cri-anas se beneficiam, acima de tudo, de um plano a longo prazo com uma orientao clara e especfica, que tambm leve em considerao mudanas evolutivas e regresses espontneas. Estas oscilaes de-vem ser reconhecidas para no serem confundidas com progressos ou falhas de um plano teraputico. importante, sobretudo que o plano seja realista. (GAUDERER, 1993, p. 44).

    3.2 A importncia do ldico

    Segundo a Declarao elaborada pela Associao Internacional pelo Direito da Criana Brincar IPA, revisada em Barcelona em setembro de 1989, o brincar de extrema importncia para que qualquer criana tenha bons desempenhos na sade fsica e mental.

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    Na idade pr-escolar um jardim de infncia ou creche, pelo menos algumas horas por semana, pode ser de grande ajuda para as crian-as e seus pais. Nesse estgio, a criana autista pode se integrar com outras crianas deficientes ou com crianas normais contanto que a enfermeira ou professora esteja disposta a lidar com seus comporta-mentos inapropriados. Pode levar algum tempo at que a criana se acomode ao grupo, mas a experincia ser bastante vlida e til para ela, quando tiver que ser transferida de escola. (WING apud GAU-DERER, 1993, p. 133-134).

    Na Declarao Universal dos Direitos da Criana, assim como, no Estatuto da Criana e do Adolescente, consta que toda criana, seja ela deficiente fsica/mentalmente ou no, tem direito educao gratuita, recebendo um ensino especializado quando necessrio. De acordo com Rizzo (1996) a educao fundamental para o ser humano at os seis ou oito anos de idade, pois nessa fase que a personalidade da criana formada, ou seja, que desenvolvido seu prprio comportamento, com caractersticas de cada pessoa.

    [...] os indivduos deficientes percebem, aprendem, pensam e se adaptam de modo fundamentalmente idntico ao dos demais. Assim sendo, todos ns percebemos, pensamos, aprendemos e nos adapta-mos, tanto pessoal como socialmente, de acordo com os mesmos princpios e padres gerais, haja ou no qualquer deficincia fsica, mental ou scio-emocional. Todavia, alguns fazem isto de maneira eficiente e rpida, enquanto outros o fazem mais lenta e menos efi-ciente. (RAPPAPORT, 1986, p. 05).

    A palavra Ldico, conforme definido no Novo Dicionrio Aurlio da Lngua Portuguesa, est relacionada s atividades, jogos, brincadeiras que proporcionam momentos divertidos para as pessoas. Muitos estudos, projetos, livros foram elaborados, e assim, comprovou-se que as atividades ldicas devem estar presentes na educao da criana porque facilitam na criao de ideias, de pensamentos.

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    Atravs das atividades ldicas a criana assimila valores, adquire com-portamentos, desenvolve diversas reas de conhecimento, exercita-se fisicamente e aprimora habilidades motoras. No convvio com outras crianas aprende a dar e receber ordens, a esperar sua vez de brincar, a emprestar e tomar como emprstimo o seu brinquedo, a compartil-har momentos bons e ruins, a fazer amigos, a ter tolerncia e res-peito, enfim, a criana desenvolve a sociabilidade. (SANTOS, 2008, p. 56).

    O ldico quando presente no processo educacional da criana contribui, de maneira prazerosa e mais eficaz, para o desenvolvimento e aperfeioamento de habilidades motoras e do conhecimento da pessoa. As brincadeiras, jogos e brinquedos quando presentes no cotidiano da criana faz com que a aprendizagem seja mais descontrada e eficiente, contribuindo para desenvolvimento e aperfeioamento de habilidades fsicas, intelectuais e morais do indivduo. Cunha (2007) ressalta que no brincar que a criana conhece e coloca em prtica seus pontos positivos, alm de aprender a considerar as diferenas que existem de uma pessoa para outra.

    Os brinquedos so parceiros silenciosos que desafiam a criana possi-bilitando descobertas e estimulando a autoexpresso. preciso haver tempo para eles, e espao que assegure o sossego suficiente para que a criana brinque e solte a sua imaginao, inventando, sem medo de desgostar algum ou de ser punida. Onde possa brincar com serie-dade. (CUNHA, 2007, p. 12).

    Estudos de uma maneira geral apontam que a ludicidade deve estar presente na vida de qualquer pessoa. Ela no deve ser considerada apenas uma forma de divertimento, pois proporciona ao indivduo uma facilidade maior em aprender, assim como, a construo do conhecimento e o desenvolvimento na comunicao.

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    Por meio da brincadeira a criana envolve-se no jogo e sente a necessi-dade de partilhar com o outro. Ainda que em postura de adversrio, a parceria um estabelecimento de relao. Esta relao expe as po-tencialidades dos participantes, afeta as emoes e pe prova as ap-tides testando limites. Brincando e jogando a criana ter oportuni-dade de desenvolver capacidades indispensveis a sua futura atuao profissional, tais como ateno, afetividade, o hbito de permanecer concentrado e outras habilidades perceptuais psicomotoras. Brincan-do a criana torna-se operativa. (ALMEIDA, 2011).

    atravs da brincadeira que a criana ir perceber as habilidades que possui e desenvolver outras, procurando tambm interagir com outras crianas. Para isso o brincar deve ser livre, natural, sem regras, pois dessa forma que a criana ir perceber suas emoes, conhecer seus desejos e criar sua prpria realidade. Nas brincadeiras as crianas interagem entre si de maneira espontnea, tornando possvel vivenciar novas experincias, reconhecendo erros e acertos prprios, planejando novas atitudes a serem tomadas.

    tambm na atividade ldica que pode conviver com os diferentes sentimentos que fazem parte de sua realidade interior. Na brincadeira a criana aprende a se conhecer melhor e a aceitar a existncia do outro; organizando, assim, suas relaes emocionais e estabelecendo relaes sociais. (ADAMUZ; BATISTA; ZAMBERLAN, apud: SANTOS, 2000, p. 158).

    O brincar e o brinquedo, de uma maneira geral, proporciona criana a estimulao da imaginao, fazendo com que seus pensamentos, seus desejos possam ser realizados. O ldico quando inserido na educao das crianas criam condies favorveis para a construo do conhecimento. Segundo Almeida (1999) a educao ldica leva o professor a transformar as circunstncias que seus alunos esto inseridos, pois a ludicidade restitui a esse profissional a funo de mediador no crescimento do educando, e assim estimula o interesse das crianas pelo conhecimento. A criana

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    desde cedo apresenta um desejo prprio de brincar. Nesse brincar, a criana emite emoes variadas, entra em contato consigo mesma, explora o ambiente ao seu redor, criando uma relao do seu mundo interior com o exterior.

    Com a ajuda do brinquedo, a criana pode desenvolver a imaginao, a confiana, a auto-estima e a cooperao. O modo como a criana brinca revela seu mundo interior. O brinquedo contribui assim, para a unificao e a integrao da personalidade e permite criana entrar em contato com outras crianas. (ADAMUZ; BATISTA; ZAM-BERLAN, apud: SANTOS, 2000, p. 159).

    Tendo em vista a presena constante do ldico na vida das pessoas, foram desenvolvidos espaos destinados para a realizao de atividades ldicas. De acordo com a Associao Brasileira de Brinquedotecas (ABBri) em 1963, na Sucia, os espaos criados tinham o objetivo de emprestar brinquedos e orientar o brincar entre as crianas com necessidades especiais e sua famlia. No Brasil, esses espaos foram desenvolvidos no sculo 20 e chamados de Brinquedotecas; alm do emprstimo de brinquedos, serviam tambm como espaos destinados ao estmulo de crianas com algum tipo de necessidade educativa especial.

    A Brinquedoteca busca resgatar a essncia do ser humano pela via da emoo. Razo e emoo so as caractersticas principais do ser humano, pois um ser racional e emocional na mesma medida. Porm, estes dois elementos, no decorrer da histria, no tiveram a mesma relevncia. As descobertas cientficas e tecnolgicas deram ao homem grande prestgio e, por isso, a racionalidade que foi procla-mada como a especificidade da dimenso humana em detrimento da emotividade. (SANTOS, 2000, p. 60).

    Cunha (2007, p. 13) ressalta ainda que a Brinquedoteca [...] um espao onde as crianas (e os adultos) brincam livremente, com todo o estmulo manifestao de suas potencialidades e necessidades ldicas.

    Hoje existem Brinquedotecas especializadas em determinadas

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    reas, como Hospitalar, Circulante, Teraputica. As Brinquedotecas Teraputicas costumam atender crianas com deficincia e crianas com dificuldades escolares. Segundo Cunha (2007, p. 98) Brinquedotecas teraputicas so aquelas onde se procura aproveitar as oportunidades oferecidas pelas atividades ldicas para ajudar as crianas a superar dificuldades especficas.

    A Brinquedoteca teraputica oferece alm do emprstimo de brinquedos para as crianas levarem para casa, incentivando o brincar e beneficiando o desenvolvimento, assim como, a orientao para os pais, das crianas com necessidades educacionais especiais, de como brincar com seus filhos e ajuda-los em seu desenvolvimento.

    O emprstimo de brinquedos adequados (de preferncia aqueles que a criana escolheu e com os quais j brincou) ir assegurar a continui-dade do trabalho em casa. Se o atendimento for individualizado, os pais podero estar presentes apenas para observar como os terapeutas interagem. O apoio e a orientao aos pais fundamental nestes ca-sos, pois eles ficam a maior parte do tempo com a criana e iro dar continuidade ao processo de estimulao em casa. (CUNHA, 2007, p. 99).

    Nessas Brinquedotecas disponibilizam de apoio psicolgico, podendo beneficiar a interao e a produtividade das crianas com necessidades especiais, at mesmo influenciando na melhora do um relacionamento com seus familiares.

    Freqentemente, a preocupao com o tratamento da criana faz de-saparecer a alegria e a ludicidade no relacionamento. Quando isto acontece, preciso resgatar os aspectos ldicos para que a famlia tenha condies para brincar com a criana portadora de necessi-dades especiais. Jogar jogos bem divertidos com os companheiros do grupo de pais pode ser uma maneira de descontrair e aliviar tenses. (CUNHA, 2007, p. 100).

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    3.3 Autismo e tratamento

    Apesar de no haver cura para o autismo, existem diversos tratamentos como os psicoteraputicos, os fonoaudilogos, fisioterpicos, temos a equoterapia, a musicoterapia, a Holding Terapy (Terapia do Abrao) e alguns outros que auxiliam positivamente o desenvolvimento de habilidades e diminuem dificuldades.

    Cada vez mais casos de sucesso so relatados onde a educao um meio de extrema importncia para um crescimento intelectual e social das crianas autistas.

    Na maioria dos mtodos de educao especializados para a criana au-tista, inicia-se por um processo de avaliao para poder selecionar os objetivos estabelecidos por rea de aprendizado. A forma de levar a cri-ana aos objetivos propostos varia conforme o mtodo adotado, mas na grande maioria dos mtodos a seleo de um sistema de comunicao que seja realmente compreensvel para a criana tem tanta importncia quanto as estratgias educacionais adotadas. (MELLO, 2011, p. 40).

    Vale destacar tambm que existe um mtodo de ensino que apresenta resultados significativos no desenvolvimento de crianas autistas o Mtodo Montessori. Ele foi desenvolvido pela educadora italiana Maria Montessori e adotado em nosso pas por meio do movimento Escolas Novas (na dcada de 1920). Esse mtodo tem como objetivo estimular as atividades motoras, sensoriais e intelectuais, em um ambiente prprio, com a observao de um professor qualificado intervindo quando necessrio e propondo melhorias, mudanas.

    O professor no o ser que focaliza a concentrao do aprendiz, e sim aquele que examina atentamente o comportamento e o desen-volvimento das crianas, estimulando-as a buscar o saber de forma criativa, prazerosa e ldica. Ou seja, o mestre apenas conduz o estu-dante nesta caminhada em direo ao conhecimento, solucionando dvidas e questionamentos. (SANTANA, 2011, p. 32).

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    O ambiente escolar capaz de oferecer oportunidades para que essas crianas tenham um avano no seu desenvolvimento, pois de acordo com Paulon; Freitas; Pinho (2005, p. 32) as doenas mentais [...] so passveis de remisso e a educao acaba [...] preservando e reforando os laos sociais e as experincias de aprendizagem, desde a primeira infncia, muito mais provvel que estas crianas consigam desenvolver sua capacidade intelectual.

    4. CONCLUSO

    De acordo com a Resoluo do Conselho Nacional de Educao n 2 de 11 de setembro de 2001, artigo 2, toda instituio de ensino deve matricular qualquer aluno, cabendo elas se organizar e assim, oferecer uma educao de qualidade para todos, inclusive alunos com necessidades educacionais especiais.

    Mas, isso no o que acontece nas escolas em geral. comum encontrar no ensino, professores, diretores e at mesmo funcionrios da educao despreparados, sem nenhum conhecimento ou informao a respeito dos alunos com algum tipo de necessidade especial, principalmente o Autista, onde o que se sabe sobre essa sndrome ainda muito limitado.

    Algumas propostas poltico-educacionais nos do a impresso que as deficincias esto consolidadas nos indivduos, ou seja, eles no teriam capacidade de ler, escrever, se socializar, no conseguindo se desenvolver e progredir. Dessa forma, faz com que a incluso desses alunos no acontea nas instituies de ensino e seja valorizado apenas um ensino especializado, individualizado e adaptado.

    Para que isso no acontea de grande importncia que o professor tenha o conhecimento das especificidades dos alunos com necessidade educacionais especiais, pois assim, o educador conseguir saber e entender as dificuldades de cada aluno com necessidades especiais e consequentemente poder buscar cada vez mais recursos, materiais e projetos que possam ajudar o desenvolvimento desses alunos. O professor

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    conhecendo as dificuldades desses alunos pode tambm se aproximar dos familiares deles e buscar estabelecer parcerias e interagir com eles, pois juntos podero contribuir para o melhor aprendizado dos alunos com necessidades educacionais especiais.

    necessrio que as instituies de ensino reorganizem prticas escolares, planejamento, currculo, avaliao, valorizando a capacidade de cada criana garantindo assim os seus direitos de acesso a educao de qualidade.

    Est comprovado que as mais variadas metodologias, projetos, terapias que abrangem o ldico e existem no tratamento de pessoas autistas extremamente vlido para o desenvolvimento dessas pessoas, juntamente com o apoio, dedicao e amor dos pais, profissionais, familiares que esto envolvidos no cotidiano delas.

    As atividades ldicas quando presentes na vida das pessoas sejam elas crianas ou adultas, deficientes ou no, incentiva, provoca e estimula a aprendizagem e o desenvolvimento do indivduo em qualquer fase da vida.

    O brincar favorece aos seres humanos um desenvolvimento com confianas em si mesmos e em suas capacidades, facilitando nas interaes sociais, garantindo um entendimento maior de comunicao, sentimentos, pensamentos e diferenas existentes.

    Portanto, o profissional que trabalha ludicamente com pessoas com necessidades educacionais especiais, inclusive o Autista, deve buscar constantemente, conhecer, entender e trabalhar com as dificuldades encontradas no processo ensino aprendizagem dessas crianas, assim como buscar atualizar suas prticas pedaggicas, visando acima de tudo oferecer uma educao de qualidade, contribuindo assim para a melhoria do desenvolvimento integral dessas pessoas.

    A EDUCAO LDICA uma ao inerente da criana, ado-lescente, jovem e adulto. Est distante da concepo de um simples passatempo, brincadeira ou diverso superficial. Educar ludicamente tem uma significao importante e est presente em todos os segmen-tos da vida. [...] uma me que acaricia e se entretm com a criana,

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    um professor que se relaciona bem com seus alunos, ou mesmo um cientista que prepara prazerosamente sua tese ou teoria educa-se lu-dicamente, pois combina e integra a mobilizao das relaes fun-cionais ao prazer de interiorizar o conhecimento [...]. (ALMEIDA, 1999, p. 11).

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    Title: The playful in the autist universe.Authors: Lilian Queiroz Daguano; Renata Andrea Fernandes Fantacini.

    ABSTRACT: This article is intended to emphasize the importance of education as a form of playful stimulation to the development of autistic children, or through the use of games, toys and games can help children with autism to develop and socialize with others. Through literature search was undertaken shows that autism can be considered a global development disorder (PDD) that affects a childs development, especially in the development interfering areas of communication, socialization and imagination, even with the most recent studies relation to autism, is it true that there is still no cure, there are treatments and therapies that minimize the difficulties, providing a good development and a better quality of life, for example, through playful activities that provide these children an spontaneous act and makes them to realize their abilities and able to develop many others.Keywords: Autism. Playful. Development. Ability.