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CENTRO UNIVERSITRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO
LUCAS RISSETTI DELBIM
AVALIAO DE OBESIDADE E SOBREPESO
COMO ESTRATGIA DE DIAGNSTICO
PARA RISCO OCUPACIONAL: um estudo com
motoristas de nibus
SO JOO DA BOA VISTA 2012
CENTRO UNIVERSITRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO
LUCAS RISSETTI DELBIM
AVALIAO DE OBESIDADE E SOBREPESO
COMO ESTRATGIA DE DIAGNSTICO
PARA RISCO OCUPACIONAL: um estudo com
motoristas de nibus
Dissertao apresentada ao Centro Universitrio das Faculdades Associadas de Ensino UNIFAE, como requisito parcial para obteno do ttulo de mestre em Desenvolvimento Sustentvel e Qualidade de Vida. Orientadora: Prof. Dr rica Passos Baciuk
SO JOO DA BOA VISTA 2012
FICHA CATALOGRFICA
Catalogao na publicao elaborada pela Bibliotecria Elosa H. Graf Fernandes, CRB 8/3779, Biblioteca do Centro Universitrio das Faculdades Associadas de Ensino FAE.
Delbim, Lucas Rissetti
D381a Avaliao de obesidade e sobrepeso como estratgia de diagnstico para risco ocupacional: um estudo com motoristas de nibus. Lucas Rissetti Delbim. So Joo da Boa Vista, SP: [sn], 2012.
80p. il. Dissertao (mestrado) Centro Universitrio das Faculdades Associadas de Ensino FAE;
Orientadora: Prof. Dr. rica Passos Baciuk.
1.Qualidade de vida 2.Obesidade 3.Risco ocupacional. I Baciuk, rica Passos. II UNIFAE. III Ttulo
CDU- 613.71
LUCAS RISSETTI DELBIM
AVALIAO DE OBESIDADE E SOBREPESO COMO
ESTRATGIA DE DIAGNSTICO PARA RISCO
OCUPACIONAL: um estudo com motoristas de nibus
Dissertao apresentada ao Centro Universitrio das Faculdades Associadas de Ensino FAE como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em Desenvolvimento Sustentvel e Qualidade de Vida.
rea de concentrao: Qualidade de Vida
Dissertao de mestrado defendida e aprovada em 05 de outubro de 2012, pela Banca Examinadora constituda pelos professores:
_____________________________________ Prof.. Dra. rica Passos Baciuk
(Orientadora UNIFAE So Joo da Boa Vista SP)
____________________________________________ Prof. Dr. Roberto Vilarta
(UNICAMP Campinas - SP)
___________________________________________ Prof. Dra. Maria Helena Cirne de Toledo (UNIFAE So Joo da Boa Vista - SP)
___________________________________________ Prof. Dr. Marcolino Fernandes Neto
(UNIFAE So Joo da Boa Vista - SP)
SO JOO DA BOA VISTA - SP
2012
DEDICATRIA
Dedico este trabalho ao meu pai que, apesar de no estar mais entre ns, sinto sua presena constante em cada um de meus passos.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeo minha querida esposa Elenise pelo apoio constante e
irrestrito em todos os momentos de minha vida e por compreender minha alienao nos
momentos de escrita e reviso do presente trabalho.
Agradeo imensamente minha orientadora professora rica Passos Baciuk pela
mo estendida neste longo caminho sem a qual nada disso seria possvel.
Agradeo tambm aos professores Marcolino e Christian pelas contribuies
estatisticamente significantes e a querida professora Maria Helena por suas
consideraes na qualificao deste trabalho e por todas as consideraes
complementares ao longo destes anos.
A todos os companheiros e professores do programa de mestrado do UNIFAE
pela partilha de saberes, anseios, angstias e principalmente conquistas e alegrias.
A todos os meus familiares que entenderam minha ausncia em reunies de
famlia devido imerso nesta proposta.
Agradeo e peo novamente auxlio aos espritos de luz que sempre me
acompanham e protegem.
A Terra capaz de satisfazer as necessidades de todos os indivduos, mas no a ganncia de todos os indivduos.
(Mahatma Gandhi)
AUTOBIOGRAFIA DO AUTOR
Natural de Esprito Santo do Pinhal SP, nascido em 12 de junho de 1980.
Licenciado e bacharel em Educao Fsica pela UNIFAE (So Joo da Boa Vista SP),
pedagogo pela UNAR (Araras SP) especialista em Fisiologia do Exerccio e Geriatria
pela Faculdade de Medicina da USP (So Paulo SP), especialista em Obesidade e
Emagrecimento pela Universidade Veiga de Almeida (Rio de Janeiro RJ), especialista
em Educao Especial e Incluso pela Universidade Nova Iguau (Rio de Janeiro RJ),
especialista em Ambiente Organizacional, Sade e Ergonomia pela Escola Aberta do
Brasil (Vitria ES), socorrista pela Cruz Vermelha Brasileira (So Paulo SP)
apresenta sua dissertao de mestrado em Desenvolvimento Sustentvel e Qualidade de
Vida.
Profissionalmente atua como professor efetivo da rede municipal de Mogi Guau
SP h dez anos, atua tambm como professor efetivo da rede estadual de educao
(SP) h seis anos; professor do CEGEP (Centro Guauano de Educao Profissional
Gov. Mrio Covas Mogi Guau SP) nas disciplinas de Ergonomia, Suporte
Emergencial Vida, Gesto Ambiental e Meio Ambiente e Qualidade de Vida;
professor da FMG (Faculdade Mogiana do Estado de So Paulo Mogi Guau SP)
nas disciplinas de Metodologia do Futebol e Futsal e Recreao para Grupos
Diferenciados; consultor da Escallato Consultoria Esportiva; consultor de empresas nas
reas de sade ocupacional e qualidade de vida no trabalho; consultor esportivo da
Estao Conhecimento (Fundao Vale Rio de Janeiro - RJ).
Contatos pelo e-mail: [email protected]
RESUMO
A obesidade reconhecida como um importante problema de sade pblica em
todo o mundo e est fortemente associada a distrbios metablicos e hemodinmicos.
Alguns autores consideram que o permetro de abdmen (PAb) o melhor preditor de
risco cardiovascular associado composio corporal, outros j consideram o ndice de
massa corporal (IMC) como fator principal para desenvolvimento destes riscos. O
objetivo do presente estudo centrou-se na verificao da relao da obesidade e do
sobrepeso com fatores de risco para doenas cardiovasculares em motoristas
profissionais de nibus de um grupo empresarial. Trata-se de um estudo de campo
descritivo, analtico e aplicado com delineamento transversal que contou com uma
amostra de 786 motoristas profissionais de nibus, do sexo masculino, com mdia etria
de 41,3 8,4 anos, dos quais foram coletadas medidas antropomtricas (peso, estatura e
permetro de abdmen), medidas sorolgicas (glicemia de jejum) e medidas fisiolgicas
(presso arterial sistlica - PAS e presso arterial diastlica - PAD). Os dados foram
processados e analisados atravs dos softwares MS-Excel 2010 e SPSS 14.0. O nvel de
significncia estatstica adotado foi de 5% (p
ABSTRACT
Obesity is recognized as a major public health problem worldwide and is strongly
associated with metabolic and hemodynamic disturbances. Some authors consider that
the abdominal perimeter (PAb) is the best predictor of cardiovascular risk associated
with body composition, others consider the body mass index (BMI) as the main factor
for development of these risks. The aim of this study focused on verifying the
relationship of obesity and overweight with risk factors for cardiovascular diseases in
professional drivers of buses of a business group. This is a field study descriptive,
analytical and applied cross-sectional which featured a sample of 786 professional
drivers of buses, male, with a mean age of 41.3 8.4 years, which were collected
anthropometric data (weight, height and abdominal girth), serologic measures (fasting
glucose) and physiological measures (systolic blood pressure - SBP and diastolic blood
pressure - DBP). Data were processed and analyzed using the software MS-Excel 2010
and SPSS 14.0. The level of significance was 5% (p
SUMRIO
1. INTRODUO ............................................................................................... 18
1.1 Tema geral e foco do trabalho............................................................... 18
1.2 Justificativa ............................................................................................. 19
1.3 Perguntas problema ............................................................................... 22
1.4 Objetivos ................................................................................................. 22
1.4.1 Objetivo geral .............................................................................. 22
1.4.2 Objetivos especficos ................................................................... 23
1.5 Hipteses ................................................................................................. 23
1.6 Contribuies esperadas ........................................................................ 24
2. REFERENCIAL TERICO ...................................................................... 25
2.1 Obesidade e sobrepeso: preocupaes contemporneas ..................... 25
2.1.1 Distrbios metablicos associados ao excesso de peso corporal ......... 29
2.1.2 Obesidade e fatores de risco para a doena cardiovascular ......... 34
2.2 Sade, qualidade de vida e sustentabilidade ....................................... 36
2.3 Antropometria na identificao de sobrepeso e obesidade ................ 40
2.3.1 O IMC na determinao do estado nutricional da populao ...... 41
3. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS.......................................... 44
3.1 Caracterizao e clculo amostral ........................................................ 44
3.2 Delimitaes do estudo ........................................................................... 45
3.3 Limitaes do estudo .............................................................................. 45
3.4 Variveis de estudo ................................................................................ 45
3.4.1 Variveis independentes: IMC e Permetro abdominal ............... 45
3.4.1.1 IMC ................................................................................. 45
3.4.1.1.1 Equipamento utilizado ........................................ 46
3.4.1.2 Permetro abdominal (Pab) ............................................. 46
3.4.1.2.1 Equipamento utilizado ........................................ 47
3.4.2 Variveis dependentes ................................................................. 47
3.4.2.1 Fatores de risco para doenas cardiovasculares .............. 47
3.4.3 Varivel controle: idade ............................................................... 48
3.5 Procedimentos de coleta dos dados ....................................................... 48
3.6 Anlise dos dados ................................................................................... 48
3.7 Aspectos ticos ........................................................................................ 50
4. RESULTADOS E DISCUSSO ................................................................ 51
5. CONSIDERAES FINAIS ...................................................................... 67
6. REFERNCIAS .............................................................................................. 68
7. APNDICES..................................................................................................... 78
7.1 Apndice 1 Termo De Consentimento Livre e Esclarecido ........................... 78
7.2 Apndice 2 Ficha de Coleta de Dados ......................................................... 79
8. ANEXOS ............................................................................................................ 80
8.1 Parecer do Comit de tica em Pesquisa .................................................... 80
LISTA DE QUADROS E FIGURAS
Quadro 1 Valores de glicemia de jejum para diagnstico de diabetes melitus ............ 30
Quadro 2 Classificao da presso sangunea em adultos a partir de 18 anos ............. 32
Quadro 3 Valores de referncia dos lipdeos para indivduos maiores de 21 anos ...... 34
Quadro 4 Estudos relacionando composio corporal e riscos salutares................................ 35
Figura 1 Delineamento da amostra estudada ................................................................ 44
Figura 2 Correlao entre PAb e IMC .......................................................................... 55
Figura 3 Frequncia de risco cardiovascular ................................................................ 58
Figura 4 Comparao dos fatores de risco cardiovasculares em funo dos valores de
observados de DP ............................................................................................................ 59
Figura 5 Comportamento da varivel IMC por faixa etria ......................................... 59
Figura 6 Comportamento da varivel PAb por faixa etria .......................................... 60
Figura 7 Comportamento da varivel DP por faixa etria ............................................ 61
Figura 8 Comportamento da varivel PAS por faixa etria.......................................... 61
Figura 9 Comportamento da varivel PAD por faixa etria ......................................... 62
Figura 10 Comportamento da varivel glicemia de jejum por faixa etria .................. 63
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Valores normativos de IMC para a populao adulta. ................................... 43
Tabela 2 Valores mdios das variveis: idade, estatura, massa corporal, IMC, glicemia
de jejum, PAS, PAD e PAb nos ncleos da empresa objeto deste estudo ...................... 52
Tabela 3 Resultados da ANOVA para o IMC .............................................................. 53
Tabela 4 Distribuio de frequncia para o IMC ......................................................... 54
Tabela 5 ndices de correlao entre IMC e DP com as demais variveis ................... 56
Tabela 6 Caracterizao do risco cardiovascular para a amostra do estudo ................. 57
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ADA American Diabetes Association
AVE Acidente Vascular Enceflico
CEPAL Comisso Econmica da Amrica Latina e Caribe
DCC Doena Cardaca Coronariana
DATASUS Departamento de Informtica do Sistema nico de Sade
DCNT Doena Crnica No Transmissvel
DM Diabetes Mellitus
FIBGE Fundao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
HAS Hipertenso Arterial Sistmica
HDL High Density Lipoprotein
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IDH ndice de Desenvolvimento Humano
IMC ndice de Massa Corporal
INAN Instituto Nacional de Alimentao e Nutrio
IOTF International Obesity Task Force
IPEA Instituto de Poltica Econmica Aplicada
JNC Joint National Committee
LDL Low Density Lipoprotein
MMA Ministrio do Meio Ambiente
MS-EXCEL Microsoft Excel
NCHS National Center for Health Statistics
OMS Organizao Mundial da Sade
ONU Organizao das Naes Unidas
PAb Permetro de Abdmen
PAD Presso Arterial Diastlica
PAS Presso Arterial Sistlica
PCMSO Programa de Controle Mdico da Sade Ocupacional
PIB Produto Interno Bruto
PNSN Pesquisa Nacional de Sade e Nutrio
POF Pesquisa de Oramento Familiar
SBC Sociedade Brasileira de Cardiologia
SBD Sociedade Brasileira de Diabetes
SPSS Statistical Package for the Social Science
PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento
QV Qualidade de Vida
SUS Sistema nico de Sade
WHO World Health Organization
1. INTRODUO
1.1 Tema geral e foco do trabalho
Est amplamente demonstrado na literatura cientfica que a obesidade apresenta
grande associao com inmeros males para a sade, tais como: hipertenso arterial
sistmica (HAS), doena cardaca coronariana, diabetes mellitus tipo 2 (DM),
dislipidemias, doena pulmonar obstrutiva, steo-artrite, lombalgias, certos tipos de
cncer, entre outros (FREEDMAN et al. 2001; FUJIMOTO et al. 1999; HEYWARD &
STOLARCKZYK, 2000; LEAN, HAN & SEIDELL, 1998; REXRODE et al. 1998;
NCHS, 1999). Nos ltimos 30 anos, as prevalncias de sobrepeso e obesidade em
populaes adultas vm crescendo no s nos pases desenvolvidos como tambm nos
pases em desenvolvimento (PEA & BACALLAO, 2000). Doro et al. (2006) afirmam
que paralelamente ao decrscimo de atividade fsica no cotidiano do homem, constata-
se crescente prevalncia de obesidade.
Segundo a World Health Organization (WHO) (2003), trabalhadores braais,
carteiros e profissionais que mantm, durante sua jornada de trabalho, altos nveis de
atividade fsica, sofrem menor incidncia de obesidade ao confrontar com aqueles que
passam a maior parte da jornada diria em condies de sedentarismo, ou rotinas
hipocinticas, como os profissionais administrativos, motoristas e correlatos.
No Brasil, a incidncia de sobrepeso e obesidade, nos ltimos vinte anos, tem
aumentado progressivamente, alm da morbimortalidade por doenas e agravos no
transmissveis (BARBOSA & MONTEIRO, 2006). Segundo dados da WHO (2012) e
IBGE (2010), o Brasil apresentou em 2008 52,8% dos seus 189.612.814 habitantes
classificados como sobrepeso ou obesos, considerando o ndice de Massa Corporal
(IMC) maior ou igual a 25,0 Kg/m2, perfazendo um total de 100.115.565 indivduos
com fatores de risco ou com predisposio para aquisio de fatores de risco sade
cardiovascular.
A Organizao Mundial da Sade (OMS) desenvolveu um Plano de Aes de
2008 a 2013 contendo estratgias globais destinadas preveno e controle das doenas
crnicas no transmissveis (DCNT), objetivando ajudar milhes de indivduos que
sofrem os efeitos tanto no quesito longevidade quanto em relao a complicaes
secundrias. Este Plano de Aes aspira criar convenes internacionais para controle
do tabaco, parmetros nutricionais e estmulo a atividades fsicas e sade. De certa
forma, trata-se de um instrumento norteador (roadmap) no estabelecimento de
iniciativas direcionadas sobrevida, preveno e gerenciamento das DCNT (WHO,
2012).
O presente estudo se props a verificar a composio corporal de motoristas
profissionais e avaliar a associao com demais fatores de risco para o desenvolvimento
de doenas cardiovasculares, possibilitando um diagnstico de risco e uma extrapolao
populacional, devido ao grau de representatividade amostral atingido. Trata-se,
portanto, da elaborao de uma base de dados que poder guiar futuras intervenes
voltadas promoo da sade e qualidade de vida do trabalhador, por reduzir a
possibilidade de intercorrncias clnicas e acidentes.
A importncia da base de dados resultante do estudo proposto centra-se na
escassez de valores normativos e de segurana para o grupo profissional objeto do
mesmo. Outro aspecto de relevante importncia a elevada incidncia de
intercorrncias clnicas em indivduos com rotinas hipocinticas, alteraes em turnos
de trabalho e dieta inadequada, como no caso de motoristas profissionais de nibus.
Segundo a WHO (2012), obesidade e sobrepeso, assim como as complicaes no
transmissveis a eles associadas, so satisfatoriamente passveis de preveno. Suportes
ambientais, informao e conscientizao de comunidades auxiliam a mudana de
comportamento. Para tanto se torna necessria uma investigao diagnstica que sirva
como instrumento para o planejamento de programas de interveno junto s
comunidades, conduzindo a prticas dietticas adequadas e estimulando a participao
em programas de atividade fsica regular, combatendo desta forma, transtornos
relacionados ao peso corporal.
1.2 Justificativa
O presente trabalho buscou verificar as associaes entre IMC e o PAb com
alguns fatores de risco para doenas cardiovasculares de motoristas profissionais de
nibus de um grupo empresarial que possui suas unidades (ncleos) espalhadas pela
capital paulista e por cidades do interior do estado de So Paulo e Minas Gerais.
Damaso (2003) afirma que a obesidade pode representar um problema de ordem
epidemiolgica no restrita a naes desenvolvidas. No objetivo do presente estudo
determinar o motivo real dos ndices averiguados, porm, Escrivo et al. (2000)
afirmam que menos de 5% dos casos de obesidade so devidos a sndromes e alteraes
orgnicas, ou seja, mais de 95% dos casos de obesidade advm de hbitos inadequados
de vida como o sedentarismo, alteraes do ritmo circadiano e descontrole alimentar. As
constataes acima descritas direcionam os indivduos a uma reduzida sobrevida e uma
reduo expressiva na qualidade de vida, repercutindo de forma negativa em suas
relaes familiares, grau de dependncia cada vez mais pronunciados, principalmente
dos servios de sade, incluindo o consumo contnuo de frmacos.
A escolha da populao a ser estudada justifica-se pela alta ocorrncia de
transtornos relacionados composio corporal em profissionais que passam a maior
parte de sua jornada realizando esforos fsicos muito prximos aos basais, denominada
de rotina hipocintica. Desta forma, a base de dados resultante do presente estudo pode
subsidiar futuras propostas de interveno. A escolha do IMC e do PAb como variveis
independentes justifica-se pelo seu alto valor preditivo (KUBENA et al., 1991; GUS et
al., 1998; TORRE et al., 2010; REZENDE et al., 2010; CARVALHO et al., 2007) e
simples coleta dos dados necessrios ao seu clculo.
Os motoristas profissionais esto entre os grupos de indivduos que apresentam
maior predisposio para desenvolver sobrepeso e obesidade (FRENCH et al, 2007).
Mesmo tendo conscincia da importncia de uma dieta balanceada e da prtica de
atividade fsica, as oportunidades para seguirem esta conduta so muito escassas na
maioria dos ambientes de trabalho. De um modo geral, no h condies ambientais
favorveis para o desenvolvimento de atividades motoras durante a jornada de trabalho,
considerando a insero de pausas laborais com foco na sade do trabalhador.
Apesar desta realidade, h uma lacuna acerca de dados mais consistentes, com
amostragens mais representativas deste grupo de profissionais, que apresentem
informaes acerca da sade cardiovascular dos mesmos.
Os motoristas, alm de serem responsveis por suas vidas quando esto ao
volante, podem afetar a integridade fsica de todos os passageiros que com eles viajam.
Zhu et al. (2006) conduziram um trabalho de pesquisa avaliando 22.107 motoristas
envolvidos em acidentes no trnsito e correlacionaram a sobrevida dos mesmos aos
valores de IMC, os pesquisadores concluram que h risco aumentado de morte por
colises de veculos entre homens obesos.
Um diagnstico adequado pode conduzir as intervenes de maneira mais
eficiente. Assim, tanto os resultados averiguados, como sua base de dados podero ser
utilizados futuramente pelo departamento mdico do grupo empresarial, objeto do
presente estudo e demais rgos interessados na insero de prticas preventivas, a fim
de instrumentalizar propostas voltadas sade e qualidade de vida deste e de outros
grupos profissionais, uma vez que muitos so responsveis pelo sustento prprio e de
seus familiares. Sobremaneira, a construo da sustentabilidade deve obrigatoriamente
passar pela garantia de parmetros de sade adequados, desta forma, cuidados voltados
preveno primria de transtornos salutares figura-se importante capitulo na
contemplao da longevidade e qualidade de vida dos indivduos.
Foca-se a sustentabilidade e a contemplao do Triple Bottom Line (Sachs, 2002)
do presente trabalho nos seguintes aspectos:
1 - Ambiental: como um parmetro de mudana paradigmtica da cultura
contempornea que necessita de revises sobre como as organizaes mantm suas
estruturas fsicas e raramente dispe de opes para que seus colaboradores
desenvolvam, dentro de sua jornada de trabalho, aes de combate ao sedentarismo e
cuidados alimentares do cotidiano. Alm de revises sobre a dinmica dos servios de
sade e conscientizao da populao de como utiliz-los, com aes que rumam em
direo reduo na dependncia medicamentosa e nas intercorrncias clnicas
associadas a indesejveis e potencialmente perigosos, ndices de composio corporal.
2 - Social: a presente pesquisa se prope a instrumentalizar campanhas voltadas
promoo em sade dos trabalhadores reduzindo desta forma as limitaes laborais que,
comprometem os oramentos familiares, devido no s impossibilidade laborativa,
mas tambm ao nus que determinadas condies salutares demandam.
3 - Econmico: na vertente econmica fato que quanto maior o risco
cardiovascular associado, maior o grau de dependncia dos sistemas pblicos e privados
de sade, gerando elevado nus e impossibilitando o redirecionamento de recursos para
o tratamento de condies clnicas mais severas e no passveis de preveno.
Considerando o segundo setor (empresa privada), a reduo de custos com afastamentos
mdicos e absentesmo pode representar fator de considervel importncia tambm no
resultado lquido das empresas (Bottom Line).
Segundo dados fornecidos pelo grupo empresarial objeto do presente estudo, o
ndice de absentesmo mdico dos motoristas em 2011 atingiu a marca de 0,91% (sendo
a meta estipulada para o perodo de 0,73%). Desta forma possvel identificar
alteraes econmicas da empresa devido ao elevado ndice (em relao meta) de
absentesmo. Segundo dados do departamento mdico, cerca de 18% dos atestados
apresentados faziam referncias a fatores de risco cardiovasculares e suas complicaes,
em especial surtos hipertensivos.
O interesse em estudar o proposto tema calca-se no potencial risco associado aos
motoristas profissionais que apresentam rotinas laborais de intensa exigncia
psicolgica e fsica, responsabilizados pela segurana dos pedestres e usurios, longas
jornadas de trabalho e estado de ateno permanente e estressante, e que, alm disso,
so submetidos a condies de trabalho, repouso e alimentao frequentemente
inadequadas, sendo potenciais geradores de acidentes, aumentando sobremaneira o risco
pelo nmero de pessoas envolvidas (SANTOS e MENDES, 1999). Estudos que
determinem a prevalncia de obesidade so importantes, uma vez que a mesma est
diretamente relacionada com maior morbimortalidade (POLANCZYK et al., 1991).
1.3 Perguntas problema
Qual a frequncia de obesidade e sobrepeso apresentada por motoristas
profissionais de nibus de um grupo empresarial? Qual a relao entre os valores de
IMC e os demais indicadores de transtornos cardiovasculares e qual o
comprometimento da sade cardiovascular que os mesmos apresentam segundo os
indicadores selecionados?
1.4 Objetivos
1.4.1 Objetivo geral
Verificar a relao da obesidade e do sobrepeso com fatores de risco para doenas
cardiovasculares e metablicas em motoristas profissionais de nibus de um grupo
empresarial.
1.4.2 Objetivos especficos
1. Investigar a frequncia de obesidade e sobrepeso em motoristas
profissionais de nibus de um grupo empresarial.
2. Investigar a relao do IMC com presso arterial sistlica (PAS) e presso
arterial diastlica (PAD), permetro de abdmen (PAb) e glicemia de
jejum dos avaliados.
3. Caracterizar o risco cardiovascular da populao estudada.
4. Instrumentalizar futuras intervenes em sade e qualidade de vida, em
populaes que apresentem estilo de vida semelhante ao dos profissionais
avaliados.
1.5 Hipteses
1. A composio corporal dos funcionrios apresentar diferenas
significativas entre os ncleos (cidades) avaliados.
2. Ser elevada a prevalncia de obesidade e sobrepeso entre os avaliados.
3. Haver correlao positiva entre o IMC e a PAS.
4. No haver correlao entre o IMC e PAD.
5. Haver correlao positiva entre o IMC e PAb.
6. Haver correlao positiva entre o IMC e glicemia de jejum.
7. Haver correlao positiva entre o PAb e glicemia de jejum.
8. Haver correlao positiva entre o PAb e PAS.
9. Sero significativos os ndices de elevados nveis pressricos entre os
avaliados.
10. Sero significativos os ndices elevados de glicemia de jejum entre os
avaliados.
1.6 Contribuies esperadas
O presente estudo busca estabelecer uma linha de referncia em relao a alguns
indicadores de sade cardiovascular entre motoristas profissionais de nibus, que
apresentam uma rotina laboral sedentria com fatores complicadores da qualidade de
vida, como: rotatividade de turnos de trabalho, alimentao inadequada e eventos de
estresse gerados pela situao do trfego contemporneo. Espera-se, atravs da
mensurao e comparao de variveis antropomtricas, fisiolgicas e metablicas,
estabelecer um parmetro de sade cardiovascular do grupo profissional estudado, com
a possibilidade de proposituras para intervenes que possam no s implementar a
sade e a qualidade de vida dos indivduos que a elas se submetam, mas, tambm
reduo no risco de acidentes de trnsito gerados partir de intercorrncias causadas
por condies cardiovasculares de risco, com a possibilidade de extrapolao para
outras populaes que, via de regra apresentem rotinas laborais semelhantes
populao deste estudo.
A presente pesquisa prope tambm a apresentao de dados a partir de uma
amostra representativa de motoristas profissionais, preenchendo de forma parcial uma
lacuna em relao a dados normativos e de segurana referentes ao grupo profissional
em questo. A base de dados antropomtricos resultante do estudo poder ser utilizada
como comparativa em outras propostas transversais com outras populaes dado o alto
grau de reprodutibilidade dos procedimentos de avaliao propostos no escopo deste
trabalho.
O presente trabalho aspira apresentar de forma informativa a condio de risco
cardiovascular a cada um dos avaliados de maneira a suplantar a impercia do senso
comum e, por meio de ferramentas cientificamente validadas, com elevado valor
preditivo, neste caso o IMC e demais variveis antropomtricas utilizadas, propor
alternativas para a melhora da condio de sade cardiovascular dos indivduos
submetidos s rotinas de avaliao, com a possibilidade de extrapolao para outras
populaes.
2. REFERENCIAL TERICO
2.1 Obesidade e sobrepeso: preocupaes contemporneas
Obesidade, nediez ou pimelose (tecnicamente, do grego pimel = gordura eose =
processo mrbido) uma doena na qual a reserva de gordura aumenta at o ponto em
que a sua quantidade acarrete prejuzos sade do indivduo, elevando os ndices de
morbidade e mortalidade (WHO, 1998; DAMASO, 2003).
Ebbeling et al (2002) afirmam que a obesidade uma doena multi-sistmica com
consequncias potenciais devastadoras. No obstante a esta informao, so fartas as
publicaes cientficas que demonstram a importncia do diagnstico e tratamento da
obesidade que se trata de uma sndrome plurimetablica de gnese multifatorial e
acometimento severo (AMIGO, 2005). Para Sichieri e Moura (2009), o aumento da
prevalncia da obesidade e suas consequncias adversas, como diabetes mellitus,
doena cardiovascular e alguns tipos de cncer, bem como os custos associados ao seu
tratamento, fazem com que fatores associados a essa epidemia crescente sejam
recorrentemente escrutinados. Tal situao semelhante em pases desenvolvidos e no
Brasil.
O sobrepeso e as flutuaes de ganho de peso na vida adulta tambm esto
relacionados ao aumento do risco de mortalidade e de desenvolvimento de DCNT
(COELHO et al., 2009).
Durante as duas ltimas dcadas a prevalncia de sobrepeso e obesidade na
populao adulta tem aumentado exponencialmente em nveis mundiais (EBBELING et
al., 2002).
Em pases desenvolvidos e em desenvolvimento, a obesidade considerada um
grande problema de sade pblica, sendo assim visto, pela OMS, como uma pandemia
(WHO, 1998).
Segundo pesquisas conduzidas pelo National Center for Health Statistics (NCHS)
desde 1960, o sobrepeso e a obesidade so padres de comum ocorrncia na populao
norte americana. Em 1998 a World Health Organization sugeriu internacionalmente a
criao de uma fora tarefa contra a obesidade, e o United States Institute of Health
publicou um guia sobre preveno e tratamento de sobrepeso e obesidade (AMIGO,
2005).
importante salientar que o Brasil, assim como diversos pases da Amrica
Latina, vive nas ltimas duas dcadas uma rpida transio demogrfica,
epidemiolgica e nutricional. O ponto que mais chama a ateno o marcante aumento
na prevalncia de obesidade nos diversos subgrupos populacionais de praticamente toda
a Amrica Latina, onde previses mostram que, at 2025, o Brasil ser considerado o
quinto pas com maior prevalncia de obesidade em sua populao (BOUCHARD,
2000; KAC e VELASQUEZ-MELNDEZ, 2003; SALA, 2003; RIQUE et al. 2002).
Coelho et al. (2009) lembram que, as prevalncias de excesso de peso e obesidade
aumentaram substancialmente nas duas ltimas dcadas.
No Brasil, os resultados da Pesquisa Nacional de Sade e Nutrio (PNSN),
realizada em 1989, j evidenciavam um aumento da obesidade e reduo dos ndices de
desnutrio, particularmente em regies economicamente mais desenvolvidas
(MINISTRIO DA SADE, 2005). Dados da Pesquisa de Oramento Familiar (POF),
realizada pelo IBGE em 2002/03, confirmaram essa tendncia, com a obesidade
acometendo 8,9% dos homens e 13,1% das mulheres (IBGE, 2010). Esse fato merece
destaque, pois o excesso de peso localizado principalmente na regio abdominal est
diretamente associado s alteraes no perfil lipdico, ao aumento da presso arterial e
hiperinsulinemia, fatores esses que aumentam o risco para diabetes tipo 2 e doenas
cardiovasculares (OLIVEIRA; MELLO e CINTRA, 2004).
Os dois maiores tipos de deposio de gorduras atualmente reconhecidos so o
excesso de gordura subcutnea tronco-abdominal (conhecida como androide) e excesso
de gordura gluteofemoral (conhecido como ginoide). A obesidade androide com
gordura acumulada principalmente na regio abdominal a mais comum entre homens,
sendo o envelhecimento um importante fator para o desenvolvimento da obesidade
visceral, apresentando maior correlao com a resistncia insulnica. A gordura
abdominal tambm est altamente correlacionada com doena arterial coronria, HAS e
dislipidemias (BARTNESS; BAMSHAD, 1998; PNICAUD et al., 2000).
Na obesidade ginoide, os depsitos de gorduras so criados ao redor das coxas e
ndegas, sendo esta mais comum em mulheres, ocorrendo como reserva energtica para
suportar as demandas da gravidez e lactao. Este tipo de obesidade no leva a prejuzos
no metabolismo de glicose se comparados com a obesidade androide. No entanto, a
combinao dos dois tipos de obesidade, tambm vista em sua maioria nas mulheres,
acarreta maior risco de anormalidade na glicemia de jejum, assim como nos lipdeos e
na presso arterial (DIETZ, 1998).
Atualmente, a obesidade, assim como os outros componentes acima descritos,
no mais vista como um problema que acomete apenas os pases desenvolvidos, mas
tambm populaes menos favorecidas, e com isso, necessria, alm de mudana no
estilo de vida, uma diversidade maior de intervenes e apoio governamental com
implementao de aes claras de preveno e combate a estas enfermidades (KAC e
VELASQUEZ-MELNDEZ, 2003).
O diagnstico de distrbios da composio corporal e fatores correlatos de
fundamental importncia para estabelecimento de polticas pblicas de interveno,
tanto profilticas quanto nos tratamentos para desvios j instalados (THE WORLD
HEALTH REPORT, 2002).
Aps uma metanlise envolvendo seis estudos transversais com amostras
representativas de pases diferentes (Brasil, Gr Bretanha, Hong Kong, Holanda,
Singapura e Estados Unidos), Cole et al. (2000) afirmaram que os pontos de corte para
sobrepeso e obesidade baseados em estudos populacionais mundiais podem ser
aplicados para determinar em adultos, crianas e adolescentes, o aumento dos riscos de
morbidade relacionados com a obesidade.
Khawali et al. (2012) pontuam que, h quatro dcadas um dos maiores problemas
de sade pblica do Brasil era a desnutrio, porm, foi substitudo pelo excesso de
peso corporal acometendo 40,6 % da populao adulta.
Os estudos sobre prevalncia de sobrepeso e obesidade no Brasil so escassos.
Normalmente os dados disponveis a esse respeito so aqueles obtidos na Pesquisa
Nacional sobre Sade e Nutrio (PNSN), um estudo transversal, de base domiciliar,
realizado de junho a setembro de 1989 pelo Instituto Nacional de Alimentao e
Nutrio (INAN), em conjunto com a Fundao Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatstica (FIBGE) e Instituto de Poltica Econmica Aplicada (IPEA).
Em particular, no grupo profissional objeto da presente proposta de estudo, h
carncia de resultados provenientes de levantamentos com delineamentos mais
abrangentes e amostras mais representativas.
Segundo Heyward e Stolarczyk (2000), as quantidades dos diferentes
componentes corporais sofrem alteraes durante toda a vida dos indivduos, o que
torna a composio corporal uma caracterstica extremamente dinmica, alterando-se
em funo de aspectos fisiolgicos, como crescimento e desenvolvimento, e aspectos
ambientais, como estado nutricional, profisso e nvel de atividade fsica.
Apesar do reconhecimento de algumas anormalidades metablicas desde 1923
(KYLIN, 1923), foi Reaven (1988) quem criou o termo Sndrome X, hoje conhecida
principalmente como Sndrome Metablica. Esta sndrome caracterizada como um
transtorno complexo, definido por um conjunto de fatores de riscos cardiovasculares,
normalmente ligado ao depsito central de gordura e resistncia insulina (SBC,
2007; CAVAGIONI et al., 2008). Independente de grupos ou entidades que a
caracterizem, os fatores de risco adotados para sua definio so basicamente os
mesmos, sendo eles: obesidade (principalmente obesidade abdominal), HAS, distrbios
no metabolismo da glicose e hipertrigliceridemia e/ou baixos nveis de HDL colesterol
(STEEMBURGO et. al, 2007).
Para Coelho et al. (2009) um elevado ganho de peso na vida adulta tem sido
associado ao aumento da incidncia de cncer de mama, doena cardiovascular na meia-
idade e em fases mais tardias da vida, e sndrome metablica.
Hipertenso arterial sistmica e o DM so DCNT de alta prevalncia, cujos
fatores de risco e complicaes representam hoje a maior carga de doenas em todo o
mundo (BARRETO, 2004). Contudo so patologias passveis de preveno.
Dentre as doenas cardiovasculares, o acidente vascular cerebral e a doena
coronariana aguda, so responsveis por 65% dos bitos na populao adulta; 40% das
aposentadorias precoces, segundo o Instituto de Seguridade Social e por 14% das
internaes na faixa etria de 30 a 69 anos (MINISTRIO DA SADE, 2005).
A Poltica Nacional de Ateno Integral Hipertenso Arterial e ao Diabetes
objetiva articular e integrar aes nos diferentes nveis de complexidade e nos setores
pblicos e privados para reduzir os fatores de risco e a morbimortalidade por essas
doenas e suas complicaes, priorizando a promoo de hbitos saudveis de vida,
preveno e diagnstico precoce, e ateno de qualidade na ateno bsica
(MINISTRIO DA SADE, 2005).
O Ministrio da Sade estabeleceu as diretrizes e metas do Plano de
Reorganizao da Ateno Hipertenso Arterial e ao Diabetes Mellitus no Sistema
nico de Sade, definindo prioridades e estabelecendo como diretrizes principais a
atualizao dos profissionais da rede bsica, a garantia do diagnstico e a vinculao do
paciente s unidades de sade para tratamento e acompanhamento, com o objetivo de
promover a reestruturao e a ampliao do atendimento resolutivo e de qualidade para
os portadores dessas patologias na rede pblica de servios de sade (DUARTE, 2005).
A preveno e o controle da hipertenso arterial e do DM so aes prioritrias
na Ateno Bsica. As duas patologias referenciadas so consequncia, muitas vezes, do
excesso de peso corporal. Vrios estudos tm registrado que o PAb aumentado e
indicadores de distribuio da gordura corporal descompensados, esto associados a
ocorrncias de doenas metablicas e cardiovasculares, dentre elas a HAS
(HASSELMAN et al., 2008).
A gentica, o sedentarismo, o tabagismo, o ganho ponderal progressivo e uma
dieta rica em carboidratos refinados, gorduras saturadas e pobre em fibras alimentares,
contribuem para um alto ndice de mortalidade e morbidade (PITSAVOS et al., 2003).
2.1.1 Distrbios metablicos associados ao excesso de peso corporal
O DM uma doena crnica, grave, de evoluo lenta e progressiva, que acomete
milhares de pessoas em todo mundo, necessitando de tratamento intensivo e orientao
mdica adequada, atingindo um grande nmero de pessoas em todos os nveis sociais
(VILARTA et al., 2004).
O DM tipo 2 uma doena que na maioria dos casos, est instalada muito antes
de ser devidamente diagnosticada, sendo considerada uma sndrome de etiologia
mltipla (FERRANINI, 1998; SBD, 2005).
Os fatores de risco para o DM tipo 2 envolvem componentes genticos e
ambientais, sendo eles a histria familiar de diabetes, idade avanada, obesidade
(particularmente a abdominal), homeostase deficiente da glicose, raa ou etnia. Sendo
assim, a obesidade combinada com a predisposio gentica so fatores cruciais para o
desenvolvimento do diabetes tipo 2 (ADA, 2006).
A hiperglicemia crnica do DM ligada a danos e falhas (em longo prazo) de
rgos, especialmente os olhos, rins, nervos, corao e vasos sanguneos (ADA, 2006).
Dentre as complicaes mais expressivas encontram-se a retinopatia, com potencial
para perda da viso, nefropatia, podendo levar a falha renal, neuropatia perifrica, com
risco de ulceraes nos ps e amputaes, e neuropatia autonmica, causando sintomas
gastrointestinais, cardiovasculares, geniturinrios e disfuno sexual (ADA, 2006).
As estatsticas de morbimortalidade apontam que o DM tipo 2 constitui a quinta
indicao de hospitalizao de brasileiros, estando tambm entre as dez principais
causas de morte no Brasil (DATASUS, 1998). Dados da Organizao Mundial da Sade
(WHO, 2012) indicam que 9,6% da populao brasileira apresenta valores indesejveis
(superiores a 110 mg/dL) de glicemia de jejum, sugerindo um nmero importante de
indivduos com predisposio para desenvolvimento ou em quadro diabtico.
Os valores normativos para diagnstico de diabetes, propostos pela SBD (2011)
encontram-se apresentados no Quadro 1.
QUADRO 1: Valores de glicemia de jejum para diagnstico de diabetes melitus
Condio Glicemia de Jejum Aps carga de glicose
Normal Entre 70 e 99 mg/dl Inferior a 140 mg/dl
Intolerncia 100 a 125 mg/dl -
Diabetes Igual ou acima de 126 mg/dl -
FONTE: (SBD, 2011) Adaptado pelo autor
A HAS outro distrbio metablico associado obesidade. Em 1978, a WHO
definiu HAS como uma doena caracterizada pelo aumento crnico da presso arterial
sistlica (PAS) e/ou diastlica (PAD). Esta conceituao implica a considerao de
fatores como o diagnstico da doena, que depende de medidas de presso arterial,
apresentando uma variabilidade, sendo esta considerada elevada em relao a um
determinado padro de normalidade (WHO, 1998).
A presso arterial tem relao direta com o risco de morte e morbidez. No
entanto, os limites de presso arterial normais so considerados arbitrrios, devendo-se
ento considerar na avaliao do paciente a presena de fatores de risco, leses de
rgo-alvo, assim como doenas associadas. A preciso do diagnstico de HAS se d
puramente aos cuidados nas medidas da presso arterial. Com isso, diminuem-se
diagnsticos errneos tanto de hipertenso arterial como de normotenso e suas
consequncias sade do indivduo e no custo social que isto envolve (SBC, 2007).
A deposio de gordura na regio abdominal caracteriza a obesidade abdominal
visceral, que o mais grave fator de risco cardiovascular e de distrbio na homeostase
glicose-insulina do que a obesidade generalizada. Esta associada HAS,
dislipidemias, fibrinlise, acelerao da progresso da aterosclerose e fatores
psicossociais (MARTINS e MARINHO, 2003).
O peso corporal um determinante da presso sangunea na grande maioria dos
grupos tnicos em todas as idades. O risco de desenvolvimento de HAS aumentado
em at seis vezes em pessoas com sobrepeso, se comparadas s populaes com peso
dentro da faixa de normalidade, levando-se em conta o IMC do indivduo (JNC, 1997).
A reduo de trs mmHg na PAS, de acordo com a JNC (1997), diminuiria a
mortalidade por acidente vascular enceflico (AVE) em 8%. Com isso, as pessoas em
alto risco devem ser muito estimuladas a adotar estilos de vida mais saudveis, sendo
essencial tanto para a preveno quanto para o controle da hipertenso (JOHNSON et
al, 2002).
O Quadro 2 apresenta os valores que permitem classificar indivduos adultos
acima de 18 anos, de acordo com os nveis de presso arterial, verificado em milmetros
de mercrio (mmHg):
QUADRO 2: Classificao da presso sangunea (mmHg) em adultos a partir de 18 anos
Classificao PAS (mmHg) PAD (mmHg)
tima
A dislipidemia um conceito recente na histria da medicina, derivado dos
estudos sobre a ligao entre os nveis de gorduras e elementos de sua composio
presentes no sangue, com a ocorrncia de doenas cardiovasculares e metablicas. Essa
relao hoje bem conhecida e os nveis elevados dessas substncias antecedem a
ocorrncia das doenas em muitos anos. So alteraes do metabolismo das gorduras,
repercutindo sobre os nveis de triglicerdeos, LDL colesterol e HDL colesterol, e as
concentraes de seus diferentes componentes presentes na circulao sangunea
(FAGHERAZZI et al., 2008).
O colesterol uma substncia necessria ao nosso organismo, mas quando suas
taxas no sangue se elevam, pode tornar-se um fator de risco para a sade. Est presente
na formao da membrana das clulas do corpo e em alguns hormnios, alm de servir
como uma capa protetora para os nervos. O colesterol produzido pelo organismo
humano e tambm ingerido atravs de alimentos gordurosos. O colesterol e outras
gorduras no podem dissolver-se no sangue, onde a parte no utilizada pelos tecidos
deve ser eliminada pelo fgado com a ajuda do HDL colesterol (SILVA, 2007).
As dislipidemias so fatores determinantes para o desenvolvimento de doenas
cardiovasculares, estando classificadas entre os mais importantes fatores de risco para
doena cardiovascular aterosclertica, juntamente com a HAS, a obesidade e o diabetes
mellitus (CARVALHO et al., 2007). Esses fatores de risco no so exclusivos de
adultos. Cada vez mais surgem em crianas e adolescentes e estima-se que atinjam
38,5% das crianas no mundo. A herana gentica, o sexo e a idade tm grande
importncia para o desenvolvimento das dislipidemias (SCHERR, 2007).
Existem definies mais detalhadas para o seu diagnstico, tendo sua
classificao laboratorial e etiolgica (SBC, 2007). Na classificao laboratorial
recomendado que seja realizada em indivduos em dieta livre e sem uso de medicao
hipolipemiantes por pelo menos quatro semanas. Existe nesta classificao:
hipercolesterolemia isolada (aumento do colesterol total e/ou LDL-colesterol);
hipertrigliceridemia isolada (aumento dos triglicerdeos); hiperlipidemia mista (aumento
do colesterol total e dos triglicerdeos); diminuio isolada do HDL-colesterol ou
associada ao aumento dos triglicerdeos ou LDL-colesterol (SBC, 2007; SBD, 2011).
J na classificao etiolgica, o clnico precisa identificar as possveis causas da
dislipidemia, podendo ser classificada em primrias (de origem gentica) e secundrias,
que so causadas por outras doenas ou medicamentos (hipotireoidismo, diabetes
mellitus, sndrome nefrtica, insuficincia renal crnica, obesidade, alcoolismo, ictercia
obstrutiva, uso de doses elevadas de diurticos, betabloqueadores, corticosteroides e
anabolizantes) (CARVALHO et al., 2007).
Em um estudo brasileiro, realizado em nove capitais, envolvendo 8.045
indivduos com idades entre 25 e 44 anos, foi encontrada mdia de colesterol srico
total de 18339,8 mg/dl. Os valores mais elevados foram encontrados no sexo feminino
e na faixa etria acima dos 35 anos, com colesterol total elevado encontrado em 8,8%
dos indivduos (GUIMARES; LIMA e MOTA, 1998).
Os valores de referncia dados pela SBC dos lpides (2007) para indivduos
maiores de vinte anos de idade esto identificados no Quadro 3:
QUADRO 3: Valores de referncia dos lipdeos para indivduos maiores de 21 anos
timo Desejvel Limtrofe Alto Muito Alto Baixo
Colesterol
total (mg/dl)
A obesidade tem sido reconhecida como fator de risco independente para doena
cardaca coronariana (DCC) (MANSON et al., 1992). O estudo de Framinghan
(Framingham Heart Study, 1948/1971) considerou a obesidade como o terceiro mais
importante fator preditivo de DCC (CARVALHO et al., 2007), ficando atrs s das
alteraes sricas de lpides e da idade.
Cole et al. (2000) lembram que alteraes metablicas, tambm consideradas
como fatores de risco para DCC, como a dislipidemia, a HAS e o aumento da insulina
plasmtica, esto associados obesidade.
A hiperinsulinemia, bastante frequente em adolescentes e adultos obesos, um
potencial e independente fator de risco para a doena cardiovascular (GOMES, 2006).
Segundo o mesmo autor, estudos cientficos tm demonstrados nveis alterados de
leptina, um hormnio secretado pelos adipcitos, e de homocistena, um aminocido
no essencial que tem sido apontado por alguns autores como fator independente de
doena cardiovascular, em adio resistncia insulnica, que podem estar presentes em
indivduos com altos valores de IMC (NEVES et al., 2004).
Fisberg (1995) afirma que a hiper-homocistena tem sido associada com
desenvolvimento da aterosclerose em pacientes obesos. Porm, o estudo conduzido por
Faria et al. (2009) no encontrou correlao entre homocistena e as variveis de
composio corporal.
Esta contraposio apresentada corrobora a necessidade de utilizao de
metodologias complementares de avaliaes para construo de diagnsticos mais
slidos, e acompanhamentos longitudinais mais bem delineados.
Cavagioni et al. (2008) avaliaram 258 motoristas profissionais de transporte de
cargas, do sexo masculino, que trafegavam pela rodovia federal BR-116, trecho paulista
(Rgis Bitencourt), utilizando a mesma metodologia proposta por este estudo para
clculo do IMC, verificaram que 82% eram obesos ou sobrepesos. Neste mesmo estudo,
destaca-se a prevalncia de HAS (37%) e elevada porcentagem de alteraes no
colesterol e triglicrides (33% e 38% respectivamente).
Desta forma, conclui-se que a obesidade e o excesso de peso corporal so fatores
que contribuem para o surgimento de doenas cardiovasculares e, em alguns casos a
reduo dos nveis de qualidade de vida pela elevao nos nveis de dependncia de
frmacos e demais tratamentos paliativos.
Cabe ressaltar que a promoo da sade, por meio de aes educativas, dentro ou
fora das empresas, pode sensibilizar a populao para a auto responsabilidade, adoo
de um estilo de vida mais saudvel, reduo dos fatores de risco, reduo dos sintomas
de doenas crnicas e consequentemente melhoria da qualidade de vida (LIMONGI-
FRANA, 2005).
O Quadro 4 apresenta sinteticamente alguns estudos publicados relacionando a
composio corporal dos indivduos e riscos salutares.
QUADRO 4: Estudos relacionados composio corporal e riscos salutares
Estudos Amostra Principais Resultados
Poeta et al. (2010)
Rev. Assoc. Med Bras
50 crianas obesas e 81 crianas no grupo controle
Crianas obesas apresentaram nveis de qualidade de vida estatisticamente inferiores ao grupo controle.
Zhu et al. (2006)
American Journal of Public Health
22.107 vtimas de colises no trnsito
Correlao positiva entre IMC e risco de morte entre os motoristas do sexo masculino.
Cavagioniet al. (2008)
Arq Bras Endocrinol Metab
258 motoristas profissionais
Presena expressiva de fatores de risco cardiovasculares e sndrome metablica na populao estudada.
Rezende et al. (2010)
Rev. Bras Med Esporte
98 homens adultos
O IMC apresenta alta correlao (r2=0,884) para a determinao de obesidade.
French et al. (2007)
International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity UK
1.092 trabalhadores do trnsito Apresentaram prevalncia de 56% de obesidade, seguindo a metodologia do IMC proposta pela OMS.
FONTE: Construdo pelo autor
2.2 Sade, qualidade de vida e sustentabilidade
A expanso econmica do perodo ps Segunda Guerra Mundial trouxe a
concepo de que o desenvolvimento era medido pelo grau de industrializao das
economias nacionais. No entanto, em alguns pases a industrializao no resultou no
desenvolvimento esperado, em especial nos aspectos de educao e sade. Este fato
lanou desconfiana sobre a percepo de crescimento econmico como sinnimo de
desenvolvimento, aspecto que passou a ser questionado por economistas do mundo na
dcada de 60, com destaque aos estudos realizados pela Comisso Econmica da
Amrica Latina e Caribe (CEPAL) e pela Organizao das Naes Unidas ONU
(GONALVES, 2005; GVCES, 2008).
Ao mesmo tempo fortaleceram-se duas abordagens mais amplas sobre
desenvolvimento e, por quase duas dcadas, foi intenso o debate sobre a necessidade de
se compreender tal processo para alm do Produto Interno Bruto per capita (PIB per
capita) (VEIGA, 2002). A equivalncia entre crescimento econmico e
desenvolvimento s poderia sair de cena quando surgisse um indicador alternativo ao
PIB per capita. E foi por isso que, em 1987, o Programa das Naes Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) organizou, com imenso esforo intelectual coletivo, a
criao do ndice de Desenvolvimento Humano (IDH), que combina a renda per capita
com os indicadores de sade, expectativa de vida e de educao (PNUD, s/d). Porm
faz-se necessrio a manuteno de indicadores voltados ao desenvolvimento e no s ao
alcance dos mesmos. As diretrizes principais para se contemplar o desenvolvimento
sustentvel encontram-se em dois documentos consagrados: o Relatrio Brundtland e a
Agenda 21 (MMA, 2009; SANTOS, 2011).
Uma comisso da ONU foi criada em 1983, aps uma avaliao dos 10 anos da
Conferncia de Estocolmo, com o objetivo de promover audincias em todo o mundo e
produzir um resultado formal das discusses, esta comisso foi chefiada pela primeira
ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland. No documento intitulado Relatrio de
Brundtland, apresentado em 1987, se prope a sustentabilidade como o atendimento
das necessidades do presente sem comprometimento das possibilidades das geraes
futuras atenderem suas prprias necessidades. Basicamente focando questes
relacionadas ao meio ambiente e ao desenvolvimento (GRN, 1996).
J a Agenda 21 pode ser definida como um instrumento de planejamento para a
construo de sociedades sustentveis, em diferentes bases geogrficas, que concilia
mtodos de proteo ambiental, justia social e eficincia econmica (MMA, 2009).
A sade, pensada na perspectiva de desenvolvimento humano e sustentvel,
considera os indivduos em sua complexidade e incorpora a dimenso ambiental, adoo
de um paradigma que considera no s a esperana de vida ao nascer, mas tambm o
direito de vida em um planeta saudvel e de forma saudvel (LOPES, 1999). nessa
perspectiva que se discute hoje a sade pblica.
A OMS definiu a sade pblica como a cincia e a arte de promover, proteger e
recuperar a sade por meio de medidas de alcance coletivo e de motivao da
populao (OMS, 2006).
A sade pblica deve ter como objetivo o estudo e a busca de solues para
problemas que levam ao agravo da sade e da qualidade de vida da populao,
considerando, para tanto, os sistemas sociocultural, ambiental e econmico (PHILIPPI
& MALHEIROS, 2005), no obstante a possibilidade de reduo da incidncia de
molstias passveis de preveno por intermdio de prticas cotidianas elementares.
O movimento de transformao do conceito da sade coletiva, dentro da sade
pblica, une-se sustentabilidade de forma clara. O trabalho terico e emprico no
campo da sade coletiva, desenvolvido em instituies acadmicas, deu suporte a um
movimento poltico iniciado em meados dos anos 70, em torno da crise da sade, no
contexto das lutas pela democratizao do pas. Esse movimento difundiu-se em centros
de estudos, associaes profissionais, sindicatos de trabalhadores, organizaes
comunitrias, religiosas e partidos polticos, contribuindo para a formulao e execuo
de um conjunto de mudanas identificadas como a Reforma Sanitria Brasileira
(BERMUDEZ et al, 2008). As proposies desse movimento incluem uma profunda
modificao na concepo de sade e seu entendimento como direito de cidadania e
dever do Estado. Postula mudanas no modelo gerencial, organizativo e operativo dos
servios de sade, na formao e capacitao de pessoal no setor, no desenvolvimento
cientfico e tecnolgico nesta rea e, principalmente, nos nveis de conscincia sanitria
e de participao crtica e criativa dos diversos atores sociais no processo de
reorientao das polticas econmicas e sociais no pas, tendo em vista a melhoria dos
nveis de vida e a reduo das desigualdades sociais. (ISC, 2009).
Deparando-se com os conceitos acima referendados de desenvolvimento
sustentvel e as definies de sade, observa-se a inter-relao dos fundamentos e sua
similaridade em propsitos. A sade, ou a condio de vida, na sua mais profunda
interpretao, situa-se no cerne deste conceito, como princpio, meio ou fim, no
processo do entendimento do desenvolvimento sustentvel de forma no dissociada da
qualidade de vida dos indivduos (BANCO MUNDIAL, 1998; PHILIPPI &
MALHEIROS, 2005).
Quando se discute qualidade de vida (QV), deve-se lembrar de sua conceituao
como "a percepo do individuo de sua posio na vida, no contexto da cultura e
sistema de valores nos quais ele vive e em relao aos seus objetivos, expectativas,
padres e preocupaes" (WHO, 1998).
A VIII Conferncia Nacional de Sade Pblica, realizada em 1986, marco
importante no Brasil para a discusso da relao sade/doena, ampliou este conceito,
incluindo na definio de sade, o acesso a condies de vida e trabalho, bem como o
acesso igualitrio dos servios de promoo, proteo e recuperao de sade,
colocando como uma das condies fundamentais a integridade da ateno sade e
participao social (PHILIPPI, 2005). Esses conceitos tm orientado as pesquisas
atravs da aplicao dos instrumentos que considerem a percepo do indivduo frente
s suas demandas e relaes cotidianas.
A sade considerada como um componente da qualidade de vida, pois fornece
informaes a respeito da interferncia da condio clnica na dinmica de vida dos
indivduos. Esta avaliao deveria ser considerada em indivduos com excesso de peso e
utilizada como argumento para o devido tratamento (RAVENS-SIEBERER et al, 2001).
Ainda no mbito da QV um dos fatores amplamente investigado a atividade
fsica como veculo essencial de transio da fase adulta para a fase idosa de maneira
saudvel, j que ela pode melhorar as funes orgnicas, garantir maior independncia
pessoal e ter efeito benfico no controle, tratamento e preveno de DCNT
(MATSUDO & MATSUDO, 1993).
A preveno primria implica em modificaes de hbitos humanos, tais como o
consumo de produtos e padres de energia e transporte, uma transformao que muitos
especialistas acreditam que traria incontveis benefcios para a sade e para o meio
ambiente (VORMITTAG, 2008). A sade, inserida no ncleo do modelo
desenvolvimentista atual e com a perspectiva de qualidade de vida para todos, deve
seguir ao lado das necessidades e oportunidades deste novo caminho a ser trilhado.
Entretanto, como discutido anteriormente, os elevados ndices de obesidade e sobrepeso
entre a populao nas diversas faixas etrias, representa emblematicamente na no
sustentabilidade do modo de vida da sociedade contempornea brasileira (ETHOS,
2010), evidenciando a necessidade de aes resolutivas de diversos atores sociais.
Fundamentado no princpio constitucional de que a sade um direito de todos
e um dever do Estado, o Sistema nico de Sade (SUS) tem como doutrina a
universalidade, a equidade e a integralidade, tendo como diretrizes a hierarquizao e
regionalizao, a descentralizao, o controle social, a participao complementar do
setor privado e a poltica de recursos humanos (MS, 2005). Neste conceito, como
aponta Buss (2000), agrega-se ao papel da comunidade a responsabilidade inegvel do
Estado na promoo da sade de indivduos e populaes, porm, de igual
importncia e incontestvel relevncia a responsabilizao mltipla que tambm deve
ser atribuda ao segundo setor, haja vista que, os indivduos passam grande parte de suas
vidas trabalhando e possibilitando a continuidade (sustentabilidade) das organizaes.
S h desenvolvimento quando os benefcios do crescimento servem
ampliao das capacidades humanas, entendidas como o que as pessoas podem ser ou
fazer na vida. Ter uma vida longa, saudvel e digna, ser instrudo, ter acesso aos
recursos bsicos necessrios e ser capaz de participar da vida da comunidade so as
capacidades humanas mais elementares. Na ausncia dessas quatro, estaro
indisponveis todas as outras possveis escolhas, e muitas oportunidades na vida
permanecero inacessveis. Centra-se neste ponto a proposta do presente trabalho que
emana da possibilidade de se pensar a sustentabilidade, ou melhor, procedimentos
sustentveis, enquanto parmetros indissociveis para a promoo em sade.
Pela insuficiente estrutura de atendimento primrio disponvel nos rgos
pblicos de sade, torna-se evidente a necessidade de campanhas preventivas e
educacionais partindo de corporaes privadas e do terceiro setor, visto que, como cita
Vilarta (2007), a falta de conhecimento da populao, assim como a falta de informao
por parte de programas pblicos de sade, faz com que as DCNT tomem propores
alarmantes. Alm da disponibilizao de informao, faz-se necessria uma articulao
efetiva entre organizao e indivduo no direcionamento de campanhas em promoo
sade.
2.3 A antropometria na identificao de sobrepeso e obesidade
A antropometria, que consiste na avaliao das dimenses fsicas e da composio
global do corpo humano, tem se revelado como mtodo isolado mais utilizado para o
diagnstico nutricional pela facilidade de utilizao, baixo custo e inocuidade
(SIGULEM, DEVINCENZI & LESSA, 2000; PEIXOTO et al., 2007).
Os ndices antropomtricos como peso/estatura (P/E), peso/idade (P/I),
estatura/idade (E/I), ndice de massa corporal (IMC), ndice ponderal (IP), entre outros,
so normalmente utilizados para identificar o estado nutricional utilizando-se valores
normativos estabelecidos a partir de estudos populacionais. O ndice IMC e a medida do
permetro de abdmen (PAb) tm sido amplamente utilizados na avaliao do excesso
de peso e da obesidade abdominal. Estas so medidas recomendadas pela World Health
Organization e pelo National Heart, Lung, and Blood Institute of the National Institute
of Health (REZENDE et al., 2010).
ndices antropomtricos distintos, em particular o IMC para a classificao de
sobrepeso e obesidade, tm sido utilizados para avaliar a associao entre excesso de
peso e morbidade cardiovascular (HASSELMAN et al., 2008).
Os mtodos antropomtricos so aplicveis para grandes amostras e podem
proporcionar estimativas nacionais e dados para anlises de mudanas seculares
(COSTA, 2003). Para o mesmo autor, a estimativa da composio corporal, por meio de
medidas antropomtricas, utiliza dados de relativa simplicidade de obteno, como
massa corporal, estatura, permetros e dimetros sseos, e espessuras de dobras
cutneas. Nesse sentido, os indicadores antropomtricos de avaliao da obesidade esto
sendo utilizados com muita frequncia na avaliao populacional e clnica por muitos
profissionais para a deteco de risco cardiovascular. Isto em virtude de apresentar
relao estreita com vrios indicadores de risco metablico (VILART, 2007).
De forma complementar Zhu et al. (2004) endossam a utilizao de tcnicas
combinadas, como por exemplo IMC e PAb, na identificao de fatores de risco para
doenas cardiovasculares.
2.3.1 O IMC na determinao do estado nutricional da populao adulta
Criado no ano de 1833 pelo polmata Lambert Quetelet para avaliao de
superfcie corporal, o ndice de Quetelet, tambm conhecido como ndice de Massa
Corporal calculado dividindo o valor do peso corporal do indivduo (expresso em
quilogramas) pelo quadrado da medida da estatura (expressa em metros); a unidade de
medida resultante, portanto, Kg/m2 (COSTA, 2003).
O IMC um dos indicadores antropomtricos mais utilizados na identificao de
indivduos em risco nutricional. Isso ocorre em virtude da sua facilidade de aplicao,
seu baixo custo e pequena variao entre avaliadores (SAMPAIO e FIGUEIREDO,
2005).
Rezende et al. (2010) afirmam que o IMC largamente utilizado para
determinao dos padres de adiposidade na populao por apresentar uma correlao
muito interessante (r2=0,866), portanto aproximadamente 87% de correlao, com
nveis de gordura corporal verificados por outras metodologias de avaliao. Como
afirmam Torre et al. (2010), o IMC tem sido escolhido como um mtodo substituto de
avaliao da gordura corporal por apresentar uma correlao satisfatria com o
contedo total de gordura corporal, sendo tambm um indicador de morbidade e
mortalidade, mesmo nos nveis de sobrepeso. Porm, Tarastchuk et al. (2008) constatam
que embora o IMC seja uma medida simples, conveniente e at agora vlida para estudo
da obesidade, medidas de obesidade central, principalmente permetro abdominal e
relao cintura-quadril alteradas, tm se mostrado mais relacionadas tanto com risco
coronariano elevado, quanto com infarto agudo do miocrdio. Conclui-se, portanto, que
o IMC um indicador fidedigno a ser utilizado, mas necessita de avaliaes
complementares para diagnsticos mais complexos e posicionamentos clnicos mais
acurados.
Como afirmam Rezende et al. (2010), as categorias de IMC de adultos no so
diferenciadas segundo o sexo, alm de abranger uma ampla faixa etria (20 a 59 anos).
Um fator que limita a aplicao do IMC que ele no capaz de fornecer
informaes relacionadas com a composio corporal. Pessoas com elevada quantidade
de massa muscular podem apresentar elevado IMC, mesmo que a gordura corporal no
seja excessiva. Porm, como j apresentado, h maior prevalncia entre a populao de
excesso de gordura corporal quando comparada quantidade de massa magra. Ainda
assim, apesar do IMC ser uma excelente medida de obesidade, ele no considera a
variao na distribuio da gordura corporal. Desta forma ferramentas auxiliares
combinadas, como o permetro de abdmen, so de inegvel valia (LEAN et al., 1995;
CABRERA et al., 2005).
A Organizao Mundial da Sade (OMS) recomenda para indivduos adultos,
uma faixa de IMC de 18,5 a 24,9 kg/m2. A Tabela 1 apresenta valores normativos de
IMC para a populao adulta e sugere que se evitem ganhos de peso maiores do que 5
kg ao longo da vida adulta (COELHO et al., 2009). Os referidos indicadores
apresentam-se como uma das metodologias para acompanhamento longitudinal das
populaes mais empregadas em todo mundo, pela sua gil operacionalizao e
importante correlao com nveis de composio corporal (REZENDE et al. 2010;
TORRE et al. 2010).
TABELA 1: Valores normativos de IMC para a populao adulta
IMC ndice de Massa Corporal (Kg/m2) DIAGNSTICO
Abaixo de 18,5 Abaixo do Peso Adequado
De 18,6 a 24,9 Eutrfico (Peso Adequado)
De 25,0 a 29,9 Sobrepeso
De 30,0 a 34,9 Obesidade Grau I
De 35,0 a 39,9 Obesidade Grau II
Acima de 40,0 Obesidade Grau III
FONTE: WHO, 2012 Adaptado pelo autor
3. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
A classificao quanto ao tipo de pesquisa foi baseada na taxionomia de Vergara
(2005). Trata-se de uma pesquisa de campo descritiva, analtica e aplicada com
delineamento transversal, utilizando fontes bibliogrficas, documentais e com a base de
anlise quantitativa.
3.1 Caracterizao e clculo amostral
Para o desenvolvimento do estudo foram avaliados motoristas profissionais de
nibus do quadro ativo de uma empresa especializada em transporte de passageiros que
possui suas garagens (ncleos) distribudas entre o interior do estado de So Paulo e
Minas Gerais. Todos os motoristas avaliados foram do sexo masculino.
O nmero total de motoristas profissionais (na data de coleta) que integram o
quadro tcnico de profissionais do trfego da empresa, objeto do presente estudo, era de
1035 indivduos. Segundo clculo amostral conduzido, considerando uma populao
total de 1035 indivduos, com nvel de confiabilidade de 95% e intervalo de confiana
1,8 tem-se como resultado uma amostragem igual a 786 indivduos.
A amostra considerada para a presente proposta de estudo foi obtida subtraindo do
total de profissionais aqueles que no foram considerados elegveis para o estudo
segundo os critrios de excluso ou descontinuidade. A Figura 1 apresenta o
delineamento da amostra estudada:
FIGURA 1: Delineamento da amostra estudada Fonte: Elaborada pelo autor para fins de interpretao
1035 indivduos
Amostra do Estudo (X) X=1035 - (A+B)
Excludos (A)
Perdas (B)
X = 786 indivduos
Nvel de confiabilidade = 95% Intervalo de confiana = 1,8
Como critrios de excluso foram considerados: estar afastado (licena mdica) e
possuir mais de 59,9 anos de idade. Foram consideradas perdas aqueles indivduos que
no assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apndice 1)
demonstrando desta forma a no aceitao dos termos propostos pelo presente estudo.
3.2 - Delimitaes do estudo
Participaram do estudo apenas os motoristas que estavam em atividade
profissional no perodo de realizao das coletas das variveis
antropomtricas (realizadas nos meses de maro, abril e maio de 2012).
Todas as medidas antropomtricas foram realizadas pelo autor do estudo
para que no houvesse influncia de diferenas entre avaliadores na coleta
dos dados.
3.3 - Limitaes do estudo
Trata-se de um estudo de corte transversal, sem pretenses de
acompanhamento longitudinal e esteve sujeito aceitao dos
profissionais mediante assinatura de TCLE e atendimentos aos critrios
de excluso propostos e j apresentados.
Os indivduos avaliados foram comunicados da realizao do estudo no
momento da coleta dos dados (pois se trata de um procedimento de rotina
do departamento mdico da empresa objeto do presente estudo), no
sendo possvel a realizao de nenhum tipo de cuidado pr coleta,
reduzindo desta forma a possibilidade de vis.
O estudo apresenta homogeneidade da amostra do ponto de vista da
atividade profissional, portanto um fator que deve ser considerado nas
anlises e inferncias propostas pelos resultados obtidos.
3.4 Variveis de estudo
3.4.1 Variveis independentes: IMC e Permetro Abdominal.
3.4.1.1 IMC
O IMC obtido dividindo-se a massa corporal em quilogramas pelo quadrado da
estatura em metros (kg/m2) (COSTA, 2003).
Estatura: A estatura foi verificada, em centmetros (cm), seguindo padronizao
proposta por Gordon et al. (1988). O avaliado deve estar descalo ou com meias
finas e o mnimo possvel de roupas para que a posio do corpo possa ser vista.
Ele deve ficar em posio anatmica, sobre a base do estadimetro, formando
um ngulo reto com a borda vertical do aparelho. A massa do avaliado deve
estar distribuda em ambos os ps e a cabea posicionada no Plano Horizontal de
Frankfurt. O equipamento utilizado para medir a estatura dos avaliados foi um
estadimetro da marca Kawee com preciso de 1 mm. Este equipamento foi
criado especificamente para este fim e apresenta confiabilidade certificada para
tal procedimento.
Massa corporal: Esta varivel foi medida, em quilogramas (Kg), segundo a
metodologia proposta por Gordon et al. (1988). O avaliado deve estar em p, de
costas para a escala da balana, com afastamento lateral dos ps, estando a
plataforma abaixo dos mesmos. O avaliado deve usar o mnimo de roupa
possvel e a medida registrada com preciso de 100 g. O equipamento utilizado
para a medio da massa corporal foi uma balana antropomtrica da marca
Toledo com preciso de 100 g e capacidade mxima de 200 Kg, aferida e
calibrada, garantindo confiabilidade para a realizao de tal procedimento.
3.4.1.1.1 - Equipamento utilizado
O clculo do IMC foi realizado com o auxlio de uma planilha eletrnica, do
software MS-Excel 2010, desenvolvida para este estudo e alimentada manualmente.
O IMC foi classificado segundo os valores normativos propostos pela OMS
(WHO, 1998) em: abaixo do peso, eutrfico, sobrepeso e obeso, de acordo com a
Tabela 1.
3.4.1.2 Permetro de Abdmen (PAb)
A medida do PAb foi expressa em centmetros (cm) e coletada segundo a
metodologia proposta por Gordon et al. (1988), a saber: o indivduo deve estar de p
com o abdome relaxado, braos estendidos ao longo do corpo, a fita mtrica foi
colocada no ponto mdio entre a crista ilaca e o ltimo arco costal, sem comprimir os
tecidos. Para classificao da distribuio de gordura central foram utilizados os pontos
de corte propostos pelo ACSM (2003), sendo os valores menores: que 102 cm
considerados sem risco cardiovascular associado, 102 cm incio de risco cardiovascular
associado e acima de 102 cm risco cardiovascular associado presente.
3.4.1.2.1 - Equipamento utilizado
Foi utilizada uma trena antropomtrica inelstica da marca Sanny com 200 cm de
extenso e preciso de 1 mm, equipamento concebido para este fim.
3.4.2 Variveis dependentes: Fatores de risco para doenas cardiovasculares (PAS, PAD e glicemia de jejum).
3.4.2.1 Fatores de risco para doenas cardiovasculares
As variveis relacionadas aos fatores de risco para doenas cardiovasculares
definidas no presente estudo so PAS, PAD e glicemia de jejum.
A verificao de riscos para doenas foi obtida atravs dos registros dos
pronturios mdicos de cada funcionrio, realizadas periodicamente.
Presso arterial sistmica Foram consideradas as medianas dos valores
registrados nos pronturios para PAS e PAD das trs ltimas medidas. A opo
pelas medianas justifica-se pela influncia que as mdias recebem dos valores
extremos da distribuio. As medidas de presso arterial foram coletadas por
profissionais da rea da sade utilizando equipamentos especficos e validados
para tal procedimento (esfigmomanmetros aneroides), estes valores foram
expressos em milmetros de mercrio (mmHg).
Valores de glicemia de jejum Foram considerados os valores de glicemia de
jejum medidos em exame sorolgico conduzido por laboratrios credenciados.
Estes valores foram expressos em miligramas por decilitro de sangue (mg/dL).
Considera-se a glicemia de jejum como indicador metablico para o diagnstico
de diabetes ou intolerncia glicmica (SBD, 2011).
3.4.3 Varivel controle: idade
O clculo da idade foi realizado com o auxlio de uma planilha eletrnica, do
software MS-Excel 2010, desenvolvida para este estudo e alimentada manualmente.
Considerou-se a data de nascimento do indivduo e gerou-se o valor da idade
considerando a data da realizao da coleta dos dados antropomtricos.
3.5 Procedimentos de coleta dos dados
Os dados antropomtricos foram coletados nas datas dos exames mdicos
peridicos durante os meses de maro, abril e maio do ano de 2012, parte integrante do
Programa de Controle Mdico da Sade Ocupacional (PCMSO) da empresa. Foram
coletados nas dependncias da empresa. As medidas foram realizadas em ambiente
adequado e os participantes do estudo foram avaliados de forma individual e privativa.
Os funcionrios foram encaminhados sala de avaliao por ordem de chegada
sem prvio agendamento. As variveis antropomtricas foram coletadas segundo
descrio em tpico especfico. As duas variveis (massa corporal e estatura) foram
digitadas em planilha eletrnica (ficha de coleta de dados Apndice 2) e o clculo do
IMC foi realizado pelo software MS Excel 2010. Os dados foram migrados para uma
base que foi utilizada para realizao das anlises estatsticas, bem como as informaes
sobre a PAS e a PAD, glicemia de jejum, PAb e data de nascimento.
Todas as variveis antropomtricas coletadas foram medidas pelo mesmo
avaliador (o autor deste estudo), minimizando desta forma, os erros (variaes) de
coleta.
3.6 Anlise dos dados
As fichas foram revisadas e corrigidas quanto ao seu preenchimento (digitao) e
qualidade de informao, confrontando-se com registros dos dados dos pronturios
mdicos. A partir das informaes contidas nas fichas utilizadas para coleta de dados
(Apndice 2), foi elaborada uma base de dados atravs do software MS-Excel 2010. Os
dados foram digitados e, aps a digitao, submetidos a uma limpeza e testes de
consistncia para assegurar a legitimidade das informaes a serem analisadas.
Foi utilizada a anlise descritiva unidimensional por meio de mdia aritmtica,
desvio padro e coeficiente de variao, seguindo as diretrizes para clculo propostas
por Toledo e Ovalle (1985) e Doria Filho (1999), para determinao de valores
populacionais, e valores absolutos para os resultados individuais. Todos os clculos e
grficos foram gerados a partir das ferramentas disponveis no software MS-Excel 2010.
Os ndices de composio corporal foram calculados por meio dos valores
percentuais de indivduos em cada condio (abaixo do peso, peso adequado, sobrepeso
e obesidade), conforme classificao da WHO (1998).
Os valores normativos para confrontao esto apresentados na Tabela 1.
A determinao dos fatores de risco para doenas cardiovasculares (variveis
dependentes) foi conduzida atravs de anlise das variveis independentes (quando estas
apresentaram escores indesejados) e a frequncia de ocorrncia de nveis indesejados
das variveis dependentes.
A ANOVA (anlise de varincia) foi utilizada para verificar se houve ou no
diferenas significativas (sistemticas) entre os ncleos (cidades) em relao varivel
IMC. O nvel de significncia estatstica estabelecido foi de 5% (p
3.7 Aspectos ticos
Na realizao desta pesquisa foram cumpridos os princpios enunciados na
Declarao de Helsinque de 1964 (WILLIAMS, 2008) e da Resoluo 196/96 do
Conselho Nacional de Sade (BIOTICA, 1996).
No houve riscos para os participantes deste estudo. Os indivduos que
apresentaram alteraes significativamente pertinentes sua prpria sade foram
informados sobre tal ocorrncia e devidamente orientados pelo responsvel do estudo.
Os procedimentos de coleta de dados foram rigorosamente cumpridos de acordo com as
orientaes e determinaes do CEP (Comit de tica em Pesquisa) do UNIFAE.
Foi e ser preservada a identificao dos participantes da pesquisa, assim como
no houve nus aos mesmos.
Independentemente dos resultados apresentados os participantes do estudo
receberam informaes sobre sua condio de composio corporal (laudo individual
impresso), no entanto no sofreram nem sofrero nenhum tipo de tratamento
diferenciado por parte da empresa objeto do presente estudo.
4. RESULTADOS E DISCUSSO
Os resultados foram obtidos a partir de uma amostra de 786 motoristas, dividida
em 13 ncleos (cidades) do interior e capital do estado de So Paulo e interior do estado
de Minas Gerais. Amostra que representa nvel de confiabilidade de 95% e intervalo de
confiana de 1,8 de uma populao composta por 1035 indivduos.
A anlise dos dados e a extrapolao das concluses devem considerar as
caractersticas da populao estudada.
As variveis idade, estatura, massa, IMC, glicemia de jejum, PAS, PAD e PAb
so de costumeira mensurao nas rotinas dos exames mdicos peridicos, tanto pela
gil operacionalizao das coletas como pelo elevado valor preditivo (KUBENA et al.,
1991; GUS et al., 1998; TORRE et al., 2010; REZENDE et al., 2010), constituindo um
importante fator norteador de intervenes.
Na Tabela 2 podem-se observar os valores mdios e desvio padro das variveis
consideradas para cada um dos ncleos em estudo.
O ncleo 4 apresentou a maior mdia de idade (45,35 8,01 anos) j o ncleo 13
apresentou a menor mdia etria (38,89 7,73 anos). A diferena entre os dois ncleos
(maior e menor ndice etrio) conferiu um intervalo de 6,46 anos, confirmando a
homogeneidade do grupo estudado.
Em relao varivel IMC o ncleo 1 foi o que apresentou maior valor mdio
(29,14 2,81 Kg/m2) e o ncleo com menor valor mdio para esta varivel foi o ncleo
12 (26,33 4,21 Kg/m2). O intervalo calculado de 2,81 Kg/m2. Em relao aos valores
normativos propostos para a referida varivel, no h elevado risco populacional na
avaliao do IMC, pois o ncleo que apresentou maior ndice mdio ficou abaixo de
30,0 Kg/m2, valor considerado pela OMS como incio do risco cardiovascular
relacionado composio corporal (WHO, 1998).
Considerando a varivel glicemia de jejum o ncleo 9 apresentou maior ndice
mdio com escore em 99,92 12,70 mg/dL. J o ncleo 7 apresentou o menor valor
mdio para a mesma varivel (84,90 18,17 mg/dL). A diferena dos extremos
apresentou valor de intervalo igual a 15,02 mg/dL. O valor mximo verificado (mdia
do ncleo 9) encontra-se ligeiramente acima do valor de corte para glicemia de jejum
que deve ser inferior a 99 mg/dL (SBD, 2011 e ADA, 2006), fato que justifica um alerta
ao grupo que apresentou tal ndice, pois aes preventivas no incio da alterao dos
indicadores podem apresentar-se de forma mais eficiente (SBD, 2011).
TABELA 2: Valores mdios das variveis idade, estatura, massa corporal, IMC,
glicemia de jejum, PAS, PAD e PAb nos ncleos da empresa objeto deste estudo.
Ncleo
s
Idade
(anos)
Estatura
(cm)
Massa
(Kg)
IMC
(Kg/m2)
Glicemia
(mg/dL)
PAS
(mmHg)
PAD
(mmHg)
PAb
(cm)
1 41,588,1
2
173,486,7
9
87,5716,9
4
29,145,2
5 96,1522,9
126,6111,3
5 81,538,05
102,3013,9
1
2 41,708,6
7
171,526,9
9
80,6111,2
9
27,423,6
9
90,3712,8
6
126,1814,6
8 81,978,18 97,609,22
3 41,769,4
3
173,187,3
7
83,7216,2
8
27,925,0
2
94,4025,4
2
126,6812,2
8 80,907,11 99,4012,90
4 45,358,0
1
173,416,2
7 86,0715,7
28,574,7
3
93,5816,6
2
124,6210,3
8 80,776,52 99,438,13
5 41,048,4
0
172,156,4
1
84,8217,0
3
28,514,8
3
91,3617,9
0
129,3613,4
2 82,557,93 97,3610,81
6 41,588,0
4
172,888,7
2
80,9219,6
0
26,895,1
5
94,5022,7
9
128,4511,2
1
81,9010,3
0 92,7211,95
7 42,857,9
3
173,203,0
4 81,009,90
26,942,6
6
84,9018,1
7
132,5016,8
2 85,507,59 97,398,38
8 38,998,6
0
173,656,6
5
80,9914,9
6
26,854,7
4
90,2212,7
0
127,9613,2
3 83,068,47 94,3611,67
9 39,398,0
4
173,375,3
5
84,0113,2
0
27,964,2
7
99,9225,9
7
128,4511,8
0 83,067,28 98,1811,28
10 41,138,9
0
173,106,5
9
84,6415,8
8
28,225,0
4
93,7815,7
2
126,6314,5
6 81,387,25 94,209,42
11 41,749,1
8
173,808,3
3
82,2215,8
2
27,063,7
7
93,2511,5
2
129,4312,3
5 80,577,33 93,998,83
12 41,258,2
0
173,056,8
7
79,0014,1
9
26,334,2
1
90,0619,3
1
126,0711,0
9 79,887,20 93,3910,08
13 38,897,7
3
174,746,6
2
86,5414,8
1
28,324,4
9
97,0024,0
5
127,9010,3
1 81,459,76 98,759,05
FONTE: Elaborada pelo au