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Dimensões, vol. 26, 2011, p. 350-370. ISSN: 2179-8869 A nação segundo Lula: “o reencontro do Brasil consigo mesmo” * LAURINDO MÉKIE PEREIRA 1 Universidade Estadual de Montes Claros ROBERTO MENDES RAMOS PEREIRA 2 Universidade Estadual de Montes Claros Resumo: Este artigo objetiva identificar e analisar os significados da temática nação no discurso do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao longo dos seus oito anos de mandato. Mais especificamente, procura discutir como a política externa e a diplomacia da Era Lula apresentaram um projeto nacionalista específico e como isso é associado à ideia de autoestima do povo brasileiro. Palavras-Chave: Era Lula; Nação; Política Externa. Abstract: This article aims to identify and to analyze the means of the theme nation on the speeches of the President Luis Inácio Lula da Silva during his eight years on government. More specifically, try to discuss how the foreign political and the diplomacy of Age of Lula showed a specific nationalist project and how this is related with the idea of the self-esteem of Brazilian people. Keywords: Age Lula; Nation; Foreign Policy. Apresentação ncerrado o segundo mandato do presidente Lula é normal que apareçam diversos textos acerca de temas específicos ou mesmo todo o legado da chamada Era Lula. Neste artigo, escolhemos o primeiro tipo de abordagem, elegendo uma questão específica para exame. Nosso objetivo é identificar e discutir os significados da temática nação no discurso do presidente ao longo dos seus oito anos de gestão e, mais especificamente, como a nação é pensada a partir das ações externas do país e da imagem que o presidente queria construir no cenário internacional. E

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  • Dimenses, vol. 26, 2011, p. 350-370. ISSN: 2179-8869

    A nao segundo Lula: o reencontro do Brasil consigo mesmo *

    LAURINDO MKIE PEREIRA1 Universidade Estadual de Montes Claros

    ROBERTO MENDES RAMOS PEREIRA2 Universidade Estadual de Montes Claros

    Resumo: Este artigo objetiva identificar e analisar os significados da temtica nao no discurso do Presidente Luiz Incio Lula da Silva ao longo dos seus oito anos de mandato. Mais especificamente, procura discutir como a poltica externa e a diplomacia da Era Lula apresentaram um projeto nacionalista especfico e como isso associado ideia de autoestima do povo brasileiro. Palavras-Chave: Era Lula; Nao; Poltica Externa. Abstract: This article aims to identify and to analyze the means of the theme nation on the speeches of the President Luis Incio Lula da Silva during his eight years on government. More specifically, try to discuss how the foreign political and the diplomacy of Age of Lula showed a specific nationalist project and how this is related with the idea of the self-esteem of Brazilian people. Keywords: Age Lula; Nation; Foreign Policy. Apresentao

    ncerrado o segundo mandato do presidente Lula normal que apaream diversos textos acerca de temas especficos ou mesmo todo o legado da chamada Era Lula. Neste artigo, escolhemos o primeiro

    tipo de abordagem, elegendo uma questo especfica para exame. Nosso objetivo identificar e discutir os significados da temtica nao no discurso do presidente ao longo dos seus oito anos de gesto e, mais especificamente, como a nao pensada a partir das aes externas do pas e da imagem que o presidente queria construir no cenrio internacional.

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    Em tempos de crescente internacionalizao do capital, ascendncia de organismos supranacionais e de hibridizao das culturas, pode-se perguntar em que medida ainda possvel falar em nao e nacionalismo. Muito amplo, o tema requer recortes. Aqui procuramos localizar, no discurso do presidente, quando, como e at mesmo com que frequncia Luis Incio Lula da Silva fala da nao Brasil e, mais importante, o que significa essa nao, o que a define, ou qual imagem de Brasil ele pretende construir e difundir.

    Este texto apresenta os resultados parciais de uma pesquisa em desenvolvimento desde o incio de 2009.3 Os discursos, entrevistas e mensagens do presidente esto todos organizados, digitalizados e disponveis no site oficial do governo federal (www.info.planalto.gov.br).4

    Lula e sua nao

    Ao tomar posse no Congresso Nacional, Lula afirmou que o Brasil seria o pas do novo milnio e que havia chegado a hora de [...] transformar o Brasil naquela nao com a qual a gente sempre sonhou: uma nao soberana, digna, consciente da prpria importncia no cenrio internacional e, ao mesmo tempo, capaz de abrigar, acolher e tratar com justia todos os seus filhos (SILVA, 01/01/2003a, p. 5). O tom otimista procura se fundamentar, entre outras coisas, na biografia do presidente, reclamada como uma prova de que o Brasil pode mais (SILVA, 01/01/2003a, p. 23). Associando sua histria pessoal histria do pas, o presidente afirmou: O que ns estamos vivendo hoje, neste momento, meus companheiros e minhas companheiras, meus irmos e minhas irms de todo o Brasil, pode ser resumido em poucas palavras: hoje o dia do reencontro do Brasil consigo mesmo (SILVA, 01/01/2003a, p. 24). No mesmo dia, discursando no parlatrio, o presidente prometeu recuperar a dignidade e autoestima dos brasileiros e se colocou como a consolidao da luta de vrias geraes: Eu sou o resultado de uma histria. Eu estou concretizando o sonho de geraes e geraes que, antes de mim, tentaram e no conseguiram (SILVA, 01/01/2003b, p. 2). Tomados em sua totalidade, os discursos da posse anunciam um conjunto de ideias que seria recorrente nos oitos anos seguintes. Eram apresentados como a indicao do caminho e da filosofia adotada pelo

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    governo e pelo presidente como condutor e porta-voz de uma nova nao. verdade que houve mudanas no perodo. Talvez a crise do mensalo e a emergncia do Lulismo (SINGER, 2009) em 2005/2006 sejam o ponto de inflexo mais relevante da Era Lula.

    No que se refere s ideias-chave dos seus discursos, uma primeira constatao da pesquisa a frequncia com que o presidente fala em fazer do Brasil uma grande nao, melhorar a autoestima dos brasileiros, fazer o brasileiro ter orgulho do seu pas.

    A identidade nacional, observa Stuart Hall (2004, p. 61-62), procura se sobrepor e/ou negar outras identidades, a exemplo dos recortes de classe, gnero e raa. A nao se pretende unificadora; ela procura representar as diferenas com unidade. No discurso lulista, esse esforo unificador foi percebido a partir de alguns temas e imagens principais aos quais o Presidente recorria para destacar a prevalncia de um todo sobre clivagens e interesses setorizados. Numa anlise minuciosa dos temas, os mais utilizados foram: a) o combate misria, especialmente a mobilizao contra a fome, qual o presidente se refere como uma guerra; b) a unio e colaborao de todos os brasileiros, especialmente partidos polticos e entidades de classe em prol do pas ou dos interesses maiores, nacionais; c) a nfase na capacidade de o brasileiro de superar dificuldades e ser bem sucedido, o que seria comprovado pelo prprio Lula, cuja biografia explorada exausto; d) a marca na histria: persistente afirmao de seu governo e suas aes como especiais na histria do pas, procurando associ-lo a outros perodos que ocupam espao privilegiado na memria nacional como a Era Vargas e o governo JK; e) a transformao da poltica e imagem externas brasileiras, projetando o Brasil e os brasileiros como uma nao e um povo respeitado internacionalmente; e f) como produto desse conjunto de fatores, os brasileiros teriam aumentado a sua autoestima, se orgulhariam de sua identidade e o pas teria se reencontrado consigo mesmo.

    Entre essas ideias-chave, a mais forte parece ser a utilizao da poltica externa como o instrumento por excelncia para a grande virada na autoestima dos brasileiros, razo pela qual daremos maior ateno a este item. Em grande parte dos seus pronunciamentos, Lula o fez de improviso, dispensando o texto escrito, como ele mesmo afirma no incio de suas falas. Isso confere ao seu discurso um carter meio desordenado, sendo possvel encontrar os mais variados temas em uma mesma unidade. Assim, o item por

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    ns escolhido pode aparecer nas mais distintas situaes. No entanto, ele mais frequente quando o presidente fala para empresrios, agentes por excelncia da sua estratgia internacional. Por isso, construmos a anlise a partir dos discursos dirigidos a este pblico especfico. Embora o bordo nunca antes na histria desse pas tenha sido usado ad nauseam por Lula, ele procurou com frequncia estabelecer pontes entre o seu governo e outros momentos da histria, como os governos de Getlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Ernesto Geisel. Apesar de bvias diferenas, esses trs presidentes tm em comum a poltica desenvolvimentista, caracterstica sempre reclamada por Lula para seu governo.

    A referncia que Lula faz luta de vrias geraes significativa. Apesar de suas concesses durante a campanha eleitoral, a exemplo da Carta ao Povo Brasileiro de junho de 2002, a sua carreira de lder sindical e de esquerda parte inequvoca da sua trajetria poltica.

    Dessa forma, vamos rever, brevemente, como a mesma temtica aparece nos governos com os quais ele se identifica e na tradio de esquerda qual ele se filia.

    A nao uma inveno dos tempos modernos, conforme a maior parte dos estudiosos do tema, entre eles Gelnner (1981), Hobsbawm (2002) e Anderson (1989), e se relaciona de forma direta e complexa com a instituio estatal (GELNNER, 1981; HOBSBAWM, 2002).

    No Brasil, por diversas vezes apareceram projetos de cunho nacionalista. Nas dcadas de 1930 e 1940, o regime varguista investiu na ideia de construir a nao a partir do enfrentamento da chamada questo social. No discurso oficial se combatiam dois inimigos: o liberalismo prevalecente na Primeira Repblica que era acusado de universalista e o socialismo, projeto que alimentaria os conflitos de classe (GOMES, 2005). Embora seja um tema controverso, no interior do legado de Vargas se destacava o trabalhismo, ideologia de cunho nacionalista e reformista que conquistou grande adeso entre os trabalhadores urbanos por vrias dcadas (FERREIRA, 2001; REIS FILHO, 2007; DELGADO, 1989).

    Nos anos 1950, sob a liderana poltica de Juscelino Kubitschek e a direo ideolgica do ISEB Instituto Superior de Estudos Brasileiros o nacional-desenvolvimentismo prometeu criar, enfim, a nao brasileira (TOLEDO, 1997). Se, no discurso varguista, a nao dependia da resoluo do conflito social, no governo JK a nao passava pela modernizao

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    econmica do pas o que, em tempos de hegemonia cepalina, significava prioridade industrializao (BIELSCHOWSKY, 1996). Tributrio de uma viso dualista, o ISEB apontava as estruturas arcaicas, principalmente o latifndio, como o inimigo a ser enfrentado por um amplo arco de aliana dos modernos e nacionalistas a burguesia industrial nacional, os trabalhadores e as classes mdias, alm dos camponeses (TOLEDO, 1997; MOREIRA, 2003). A histria encarregou-se de revelar a inconsistncia da nao de JK e do ISEB, como o evidenciaram a internacionalizao da economia brasileira e a correspondente interao burguesia brasileira e capital externo, o avano da industrializao combinada com a persistncia das desigualdades sociais e a modernizao conservadora do campo (MOREIRA, 2003; OLIVEIRA, 1989).

    Com o regime de 1964, a nao passa a ser pensada luz da Doutrina de Segurana Nacional DSN. Nesta, s fronteiras geogrficas soma-se a fronteira ideolgica: o inimigo da nao interno e externo (BORGES, 2003, p. 24, 25, 27). Conforme a DSN, o Brasil alinha-se ao bloco ocidental capitaneado pelos Estados Unidos na guerra total contra o inimigo socialista. Embora inevitvel, o alinhamento aos EUA era pensado como uma via de mo dupla. Para Golbery, um dos principais intelectuais do regime, o Brasil seria um parceiro especial por causa de sua posio geogrfica e seus recursos naturais, da a reivindicao de um tratamento privilegiado no interior da aliana ocidental. essa viso que explicaria por que as relaes do regime de 64 com os EUA foram de alinhamento, mas com certa margem de independncia e at de conflitos pontuais (ALVES, 2005, p. 55-57). Possivelmente foi o Governo Geisel (1974-1978) o que mais avanou nessa margem de independncia, ao tentar retomar o nacional-desenvolvimentismo (FIORI, 2002) e procurar diversificar os seus parceiros externos, aproximando-se da Europa Ocidental (LESSA, 1996).

    Aps a ditadura civil-militar, os projetos nacionais de desenvolvimento tornaram-se um tema quase ausente no interior do Estado. O abandono desse tema parece ter atingido o ponto mximo na virada do sculo e no incio do novo milnio quando, nas palavras de Fiori (2001), os intelectuais e tecnocratas que dirigiam o pas eram alrgicos palavra nao.

    Entre as esquerdas, a temtica da nao ocupou um lugar de destaque ao longo do sculo XX. Entre 1922 e 1964, sem desconsiderar fases de maior ou menor nfase, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) acreditou na

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    revoluo nacional ou democrtico-burguesa contra o imperialismo (DEL ROIO, 2000). O golpe de 1964 sepultou essas iluses, observa Gorender (1998). No entanto, ainda que a luta armada tenha se tornado a forma de luta mais difundida entre a esquerda, especialmente aps 1968, sobreviveu em vrios grupos a tese de uma revoluo que passa por uma primeira fase nacional (RIDENTI, 2000, p. 33-34).

    Os anos 1970 viram esvaecer a luta armada revolucionria, bem como a atrao exercida pelos movimentos nacionalistas. Outros temas, como a democracia e a cidadania, ocuparam o centro dos debates polticos (DEL ROIO, 2000, p. 117).

    Do ponto de vista intelectual, possvel que a teoria de dependncia tenha contribudo para que o tema da nao tenha refludo. Nas palavras de Bresser Pereira, esta teoria minou o nacionalismo [...] ao afirmar de maneira peremptria a impossibilidade de existncia de uma burguesia nacional no Brasil, e ao aceitar a associao ou submisso ao Norte como uma forma de desenvolvimento sem burguesia nacional (BRESSER PEREIRA, 2008, p. 185). Assim, quando o Partido dos Trabalhadores (PT) galgou a presidncia em 2003, qual o lugar de um discurso ou projeto nacionalista? Se por vrias dcadas a nao foi um tema caro para diversos movimentos e pensadores no pas, o que permanece dessa histria no governo Lula?

    Segundo Reis Filho, o governo Lula se filia a uma tradio nacional-estatista que se forjou ainda nos anos 1920, sob a liderana do sindicalismo amarelo. A cultura poltica do nacional-estatismo se traduziria na viso popular de que o Estado deve assegurar e proteger os direitos dos trabalhadores e restringir a ganncia dos patres e inclui Um projeto nacional-desenvolvimentista, industrializante, na perspectiva de conquistar a autonomia nacional no cenrio das relaes internacionais [...] Era todo um projeto de nao que pretendia incluir trabalhadores urbanos (REIS FILHO, 2007, p. 91, 94). Para o autor, o nacional-estatismo e a estrutura sindical que ajuda a sustent-lo permanece, em linhas gerais, ao longo de todo o perodo ps-1930, resistindo at mesmo aos ataques provenientes do novo sindicalismo na dcada de 1970. Radicalizando sua tese, Reis Filho afirma que o aggiornamento por que passou o PT se traduz na sua aproximao com o nacional-estatismo e o abandono das teses mais radicais. O resultado disso

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    foi o seu vigor eleitoral e a consequente conquista da presidncia em 2002 (REIS FILHO, 2007, p. 106-107).

    A tese de Reis Filho generalizante, parecendo ignorar as divergncias dentro do movimento e organizao dos trabalhadores ao longo da histria. Alm disso, ele no discute como as novas formas de organizao e produo capitalista que emergiram com a chamada acumulao flexvel (HARVEY, 2006) afetaram o mundo do trabalho (ANTUNES, 2002).

    Qualquer projeto nacionalista enfrentaria srios desafios em tempos de globalizao, processo novo na histria, como explica Canclini:

    A internacionalizao foi uma abertura das fronteiras geogrficas de cada sociedade para incorporar bens materiais e simblicos das outras. A globalizao supe uma interao funcional de atividades econmicas e culturais dispersas, bens e servios gerados por um sistema com muitos centros, no qual mais importante a velocidade com que se percorre o mundo do que as posies geogrficas a partir das quais se est agindo (CANCLINI, 2005, p. 32).

    Nesse novo cenrio, diferentemente dos sculos XIX e XX, quando

    havia uma relao mais direta entre territrio, cultura, produo e consumo e uma razovel definio do nosso e do alheio, o final do sculo XX testemunha um outro mundo em que [...] compramos um carro Ford montado na Espanha, com vidros feitos no Canad, carburador italiano, radiador austraco, cilindros e baterias ingleses e eixo de transmisso francs (CANCLINI, 2005, p. 31).

    Qual o projeto de nao de Lula nesse mundo globalizado? Como afirmar a nao nessa conjuntura adversa? Lula, representante da histria de luta de geraes de trabalhadores como ele afirma ao tomar posse, ou herdeiro do nacional-estatismo como quer Reis Filho, desafiou as estruturas internacionais para afirmar uma identidade e projeto brasileiros?

    A poltica externa a servio da nao

    Um certo conjunto de ideias envolve a nao de Lula, conforme apontamos anteriormente. O exame dos discursos do presidente revela que, entre os elementos mais importantes, destaca-se a poltica externa. A nao

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    sonhada por Lula passa necessariamente por esse tema, embora, evidentemente, no se restrinja a ele. A nao de Lula uma nao que se projeta e respeitada internacionalmente.

    Aqui poltica externa um termo abrangente para se referir a um conjunto de aes do governo do PT nos seus oitos anos: a) a articulao de novos grupos, a exemplo do G20, b) a crtica ao protecionismo dos pases desenvolvidos, c) a reivindicao de um lugar permanente no Conselho de Segurana da ONU, d) a interferncia em questes diplomticas delicadas, a exemplo da questo iraniana e da Guatemala e, principalmente, e) a ampliao de parceiros comerciais externos, avanando em direo aos continentes africano e asitico, bem como o estmulo e apoio s empresas brasileiras para exportar e investir no exterior.

    Ao examinarmos os discursos que do conta dessas questes, constatamos que, na viso do presidente, os agentes mais importantes nesse novo protagonismo do Brasil no mundo seriam ele, o presidente, e as empresas brasileiras. Em virtude disso, demos especial ateno aos discursos que ele profere para um pblico empresarial porque nessas ocasies que suas propostas se tornam mais perceptveis. Ao longo do perodo (2003-2010), o presidente proferiu mais de 150 discursos para esse pblico, falando em inaugurao de empresas,5 feiras, fruns nacionais e internacionais e outras, conforme se v no Quadro 01.

    Para o presidente, o Brasil tem um grande potencial que permaneceu anos a fio inexplorado. Logo no incio do seu mandato, falando no Frum de Davos, ele afirmou que [...] o Brasil no pode continuar sendo um gigante adormecido. E, se Deus quiser, ns vamos acord-lo, para que ele seja respeitado como precisa ser, no mundo inteiro (SILVA, 26.01.2003, p. 4, 5). Na sequncia prometeu: E podem ficar certos que vocs vo ouvir falar muito de um Presidente briguento e que defende os interesses da sua Nao (SILVA, 26.01.2003, p. 4, 5).

    Quadro 01: Discursos de Lus Incio Lula da Silva dirigidos ao pblico de

    empresrios (2003-2010) Situao Quantidade

    Fruns nacionais, incluindo eventos internacionais realizados no Brasil

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    Fruns e eventos internacionais 32

    Feiras, Exposies e Mostras 15

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    Inauguraes de empresas pblicas e privadas, posses, 51

    Reunies em Braslia 18

    Reunies no Conselho de Desenvolvimento Econmico e Social

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    Fonte: www.info.planalto.gov.br

    Ao citar o hino nacional, Lula se serve de uma memria discursiva

    extremamente forte entre os brasileiros. Esta memria ou interdiscurso, como afirma Orlandi (2009, p. 31), aquilo que fala antes, em outro lugar, que integra o dizvel, sustentando o discurso. A imagem do gigante adormecido prepara o terreno para a ideia seguinte que a nfase no seu papel pessoal como agente do despertar do pas e para faz-lo respeitado.

    Colocando-se como o lder, o presidente convoca os brasileiros para aderirem mesma causa: O que eu quero que ns, trabalhadores, empresrios e governantes aprendamos a andar de cabea erguida e a entender que o nosso espao e a nossa parte, no mundo, sero conquistas nossas e no concesso de nenhum competidor com os produtos brasileiros (SILVA, 10.03.2003b, p. 6). Trs anos mais tarde, a mesma ideia reforada junto a chefes de governo do Mercosul. Na ocasio, disse que Ns, hoje, negociamos com o mundo inteiro, sem vergonha de dizer quem somos, o que queremos e, ao mesmo tempo, ns temos orgulho de nos fazer respeitar enquanto Nao (SILVA, 21.07.2006, p. 5).

    Trabalhadores, empresrios e governantes seriam os agentes da grande virada. Qual o papel de cada um, segundo o presidente? Vamos inverter a sequncia, comeando pelos governantes. O papel destes liderar, estimular, fazer as pessoas acreditarem, como gosta de dizer o presidente: O que faltou, na verdade, foram governantes mais comprometidos com este pas. E, sobretudo, que acreditassem cegamente no potencial deste pas (SILVA, 22.04.2003, p. 9). Discursando na Associao Comercial de So Paulo, Lula disse:

    Este pas precisa, primeiro, recuperar a auto-estima de 175 milhes de brasileiros. Vamos ser francos. Alguns de vocs, em algum momento da vida, imaginaram que eu pudesse ir a Davos? Algum de vocs, algum dia, imaginou que eu pudesse ser o Presidente mais aplaudido na histria de Davos? Sabem por qu? Porque, antes, ns tnhamos tido uma reunio ibero-americana, com todos os pases da Amrica Latina. E comecei

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    a perceber que os governantes do Terceiro Mundo agem como se fossem inferiores: ns somos sempre coitadinhos, estamos sempre procurando um culpado para as nossas causas (SILVA, 27.03.2003, p. 5).

    Nesse trecho, Lula explora ao mximo o seu lugar de presidente

    operrio. A fora do seu discurso reside, em grande medida, precisamente nesse lugar a partir do qual ele fala (ORLANDI, 2005, p. 39). Alm de presidente, sua biografia o autoriza a usar o argumento da autoestima e a recusa imagem do coitadinho.

    Ao Estado cabe o papel de indutor, planejador e investidor, sendo estas duas ltimas aes mais destacadas aps a crise internacional de 2008. O papel do Governo ser o indutor, o planejador, o animador do processo de desenvolvimento de um pas (SILVA, 22.04.2003, p. 5). Em 2010, o presidente contrastava as dificuldades da Europa e dos EUA com a crise e o que ele chamava de sucesso brasileiro, produto, na sua viso, das aes estratgicas do seu governo a exemplo do Programa de Acelerao do Crescimento (PAC), das polticas sociais, da poltica de investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES) de apoio pequena agricultura e do microcrdito (SILVA, 02.03.2009, 11.09.2009, 29.01.2010).

    O papel do Estado na economia durante o governo do PT tema controvertido. Em uma avaliao otimista, pode-se destacar a criao do Conselho de Desenvolvimento Econmico e Social e o papel do BNDES que teria passado de uma agncia de privatizao no governo Fernando Henrique Cardoso a uma agncia de desenvolvimento no governo Lula (DINIZ; BOSCHI, 2007, p. 104-105). Numa viso mais crtica, Joo Paulo A. Magalhes (2010, p. 28), Wilson Cano e Ana Lcia G. Silva (2010, p. 201) reconhecem a formatao de uma poltica industrial, mas observam uma contradio entre o projeto e a poltica macroeconmica que limitava, se no impedia a execuo dessas propostas.

    A persistente busca por ampliar os parceiros comerciais externos tinha razes bem prticas. A manuteno da poltica macroeconmica de FHC significava a permanncia de um modelo instvel, cuja estabilidade depende da conjuntura externa. Nesse cenrio, o crescimento das exportaes tornou-se indispensvel para equilibrar as contas do pas e

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    assegurar uma capacidade mnima de enfrentar as crises cambiais recorrentes (FILGUEIRAS, et al., 2010, p. 47-48).

    Suas viagens, explica o presidente, visavam abrir caminho para os produtos brasileiros:

    Quero dizer aos empresrios e s empresrias que esto aqui e s entidades de classe: eu [...] acredito no Brasil, [...] acredito nos empresrios brasileiros, [...] acredito nos trabalhadores brasileiros, porque acredito na nova poltica de comrcio exterior que estamos realizando e porque acredito que o Brasil no deve nada a ningum em muitas reas econmicas. O que precisamos apenas mostrar o que somos, o que temos, o que produzimos e colocar os nossos produtos l fora (SILVA, 08.07.2003, p. 4-5).

    Para vender l fora preciso tambm mudar nossa imagem externa: preciso acabar o tempo de brasileiro viajar para o exterior e falar s de mortalidade infantil, de criminalidade, de carnaval ou de futebol. Tudo isto existe, mas existe tambm o outro lado do Brasil competente, do Brasil competitivo (SILVA, 10.03.2003a, p. 2).

    Com o incentivo do presidente e apoio financeiro do BNDES (MINEIRO, 2010, p. 157), os empresrios so instados a apostarem nas exportaes e mesmo a investir no exterior. A frequncia do tema nas falas presidenciais informada pelo prprio Lula:

    [...] ns estamos h trs anos e meio ou quatro anos convencendo os empresrios brasileiros a descobrirem a Amrica Latina como parceiros e temos obtido sucesso. Hoje, eu penso que no existe um nico pas pelo menos da Amrica do Sul e muitos da Amrica Central que no tenha empresas brasileiras construindo alguma obra. [...] todas as vezes que tiver reunio com empresrios, estar Lula pedindo para que os empresrios brasileiros no tenham medo de virar empresas multinacionais e no tenham medo de procurar novos parceiros (SILVA, 20.06.2007, p. 4-5).

    Alm da Amrica Latina, o Brasil deveria se expandir para Europa: o

    PAC, dizia o presidente, atrairia investidores europeus para o pas; por outro lado, As empresas brasileiras tambm esto ganhando presena na Europa. Tenho instado os nossos homens de negcios a transformarem suas

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    companhias em verdadeiras multinacionais (SILVA, 04.07.2007, p. 2). A frica e a sia tambm eram alvos: [...] a primeira vez que eu fui a

    Angola, em 2005, e falei que era importante que os empresrios brasileiros pensassem em virar empresas multinacionais (SILVA, 23.02.2010, p. 4). Em Jerusalm, Lula repetiu o mesmo discurso (SILVA, 15.03.2009, p. 8). Alm de provocar, o governo brasileiro financiou a expanso das grandes empresas brasileiras, especialmente atravs do BNDES (SILVA, 26.02.2010, p. 10). Na realidade, a frica e a sia so at vistas como mais estratgicas pelo governo Lula. Em 2010, dirigindo-se a empresrios na Jordnia, Lula explicou

    E essa diversificao feita pelo Brasil fez com que ns fizssemos muitas viagens. S para a [na] frica, eu j visitei mais de 20 pases, e cada viagem um grupo de empresrios: s vezes eram 20, s vezes eram 30, s vezes eram 40. Porque ns estvamos habituados a viajar para Paris. [...] Para Nova Iorque [...] Embora os nossos empresrios soubessem que as nossas dificuldades de colocar determinados produtos brasileiros nesses pases ricos muito difcil (SILVA, 18.03.2010, p. 5-6).

    No ltimo ano de seu governo, Lula parece feliz com o resultado dos

    seus esforos:

    E acho que em abril, Paulo Skaf, eu vou ter a primeira reunio com os empresrios brasileiros multinacionais, l em So Paulo. No sei se voc vai estar na Fiesp ainda, em abril, mas vai ser l que ns vamos fazer a primeira reunio dos grandes empresrios multinacionais (SILVA, 15.03.2009, p. 8).

    Realmente as exportaes cresceram, aumentando em 240% o seu

    valor entre 2001 e 2008 (FILGUEIRAS et al., 2010, p. 52) e os parceiros se diversificaram. Para Diniz e Boschi (2007), esses fatos so produtos das escolhas do governo; para Filgueiras et al. (2010, p. 53), o melhor desempenho das exportaes se deveu a fatores alheios s aes do Brasil. Sua causa mais remota seria o aparecimento de novos eixos econmicos ao final do sculo XX, a exemplo da China, que demandavam bens intensivos em recursos naturais, precisamente o que os exportadores brasileiros melhor poderiam oferecer.

    Aps identificarmos os papis dos governantes e dos empresrios, cabe refletir sobre o papel dos trabalhadores na construo dessa nao que

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    anda de cabea erguida e respeitada mundo afora, conforme pregava Lula em 2003 (SILVA, 10.03.2003b, p. 6).

    Na prtica, os trabalhadores nada podem fazer em termos de comrcio exterior. Mas eles so parte integrante da problemtica porque so brasileiros. na condio comum de cidados brasileiros que se cruzam os interesses dos empresrios e dos trabalhadores. nesse ponto que se revela o projeto nacionalista de Lula de forma mais clara. Os trabalhadores, como todo o restante do pas, seriam beneficiados com a diversificao e incremento da presena dos brasileiros na economia internacional. Esta nova e maior atuao redundaria na gerao de mais empregos, de divisas e impostos, o que, em tese, permitiria a ampliao de investimentos sociais e redundaria em melhoria de vida para o conjunto da sociedade:

    [...] preciso viajar, para isso preciso mostrar aquilo que ns produzimos, [...] o Brasil tem uma indstria automobilstica [...] uma Embraer [...] empresas de ponta [...] Mas [...] tem que haver uma combinao perfeita entre aquilo que inteno dos empresrios, [...] do governo e dos trabalhadores, para que a gente possa construir definitivamente este Pas para se transformar numa grande nao, sendo uma grande potncia econmica. [...] preciso combinar esse crescimento com poltica social. [...] Ns queremos que haja um crescimento da economia, crescimento do crdito, controle da inflao, crescimento da indstria, gerao de empregos, mas tambm ns queremos estender a mo para aqueles que no tiveram oportunidade na dcada passada, para que eles venham junto e conquistem o incio de uma cidadania (SILVA, 14.10.2007, p. 4-5).

    A nao sonhada por Lula um pas cuja economia se fortalece a ponto de ocupar espaos cada vez mais amplos em outros pases, cujo presidente respeitado no mundo todo e cuja diplomacia est presente no centro dos debates das questes mais importantes. Esse protagonismo na poltica e economia externas resultaria em uma nova imagem internacional do pas e na elevao da autoestima dos brasileiros. Na verdade, a relao entre protagonismo-imagem externa e autoestima algo complexo em que os elementos se reforam reciprocamente. O acreditar no pas e em ns mesmos condio para ousar expandir-se, a expanso resulta em mais respeito, o prestgio externo refora a autoestima.

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    Esse pas encontrou o caminho, dizia Lula em fevereiro de 2010. Esto dizendo que a gente vai ser a quinta potncia econmica. [...] ns aprendemos a gostar deste Pas. [...] Ns tnhamos vergonha de ser brasileiros. Hoje no, hoje ns estamos tendo orgulho de ser brasileiros (SILVA, 03.02.2010, p. 14-15, grifo nosso). Consideraes Finais

    Apesar de falar em orgulho, o nacionalismo de Lula pragmtico, assemelhando-se ao nacionalismo cvico dos franceses e norte-americanos de fins do sculo XVIII em que elementos como a lngua e raa no so importantes, mas sim o pertencimento formal, constitucional a determinado Estado-Nao, o que estabelecia uma relao direta entre Estado, nao e cidadania (HOBSBAWM, 2002, p. 108, 112-113). Foi na segunda metade do sculo XIX, sob a gide do imperialismo que a etnia, a lngua e os essencialismos biolgico e histrico passaram a ser reclamados como marcas da nao, o que configurava um forte retrocesso social e poltico em relao ao modelo da Frana e dos EUA (HOBSBAWM, 2002).

    Todavia, essa classificao que propomos no rgida. bvio, por exemplo, que o carter revolucionrio do nacionalismo francs e norte-americano no se verifica no Brasil de Lula. Alm disso, se h fortes diferenas do projeto lulista em relao ao nacionalismo de fins do sculo XIX, h tambm pelo menos uma importante semelhana: a nao que aparece nos discursos e nos investimentos feitos no governo Lula reproduz ou pretende faz-lo, em outro contexto evidentemente, a linha mestra do imperialismo, isto , a exportao de capitais (LENIN, 2002 p. 47-480).6 As vantagens do ser brasileiro, nesse caso, repousariam, no limite, na explorao da mo de obra e recursos de outros pases.

    Nesse sentido, em se concretizando, o projeto nacionalista de Lula inverteria a posio do Brasil no debate nacionalismo-imperialismo. Via de regra, os movimentos e projetos nacionalistas que emergiram no Brasil no sculo XX elegiam como antpoda a ao imperialista estrangeira. Mas a nao de Lula no triunfa contra o imperialismo, ela pretende se fazer precisamente participando dele. Paradoxalmente, o governo do presidente operrio que parece mais prximo dessa inverso.

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    * Artigo submetido avaliao em 14 de maro de 2011 e aprovado para publicao em 13 de maio de 2011. 1 Professor do Programa de Ps-Graduao em Histria PPGH da Universidade Estadual de Montes Claros, doutor em Histria pela USP. E-mail: [email protected]. 2 Professor do Departamento de Histria da Universidade Estadual de Montes Claros, doutorando em Histria pela UFU. E-mail: [email protected]

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    3 Projeto A herana de Vargas no Governo Lula: a questo social e a nao. Originalmente esse projeto tinha como objetivo analisar como as temticas nao e questo social

    apareciam nos governos de Getlio Vargas (1930-1945) e Luiz Incio Lula da Silva. Posteriormente o projeto foi reformulado, concentrando-se na temtica nao e nacionalismo no Governo Lula. Financiamento: FAPEMIG. 4 Lula proferiu milhares de discursos ao longo dos seus dois mandatos. Decidimos examinar praticamente todos eles, excetuando apenas situaes especficas como, por exemplo, discursos repetidos sobre o mesmo tema caso do lanamento do Programa de Acelerao do Crescimento (PAC) que o presidente realizou em dezenas de cidades brasileiras ou discursos diversos em um mesmo dia, em um determinado pas, cidade ou evento. Durante a pesquisa, notamos que esses discursos eram quase idnticos, permitindo, assim, a leitura de apenas um deles, sem prejuzo da compreenso do nosso objeto. 5 Dados parciais porque a pesquisa ainda est em andamento. 6 Sobre o uso do conceito imperialismo para o caso brasileiro atual cf. CAMPOS, Pedro Henrique Pedreira (2010).