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  • p.56

    ISSN 2238-7153

    Vol. 1 | N. 1 | Ano 2012

    Charlene Alana Altieri Pereira

    Prefeitura Municipal de So Manoel/SP

    [email protected]

    A CONSTRUO DO CURRCULO NA GESTO DEMOCRTICA

    _____________________________________

    RESUMO

    O presente artigo consiste na anlise da importncia da construo do currculo escolar a partir de uma gesto democrtica, tendo em vista a importncia da existncia de um currculo crtico para a aquisio do saber historicamente elaborado. Acreditamos que as polticas pblicas de manuteno do sistema social dominante presentes na escola, tem tornado o currculo escolar um de seus principais instrumentos de legitimao. Desse modo, a partir de uma anlise histrica das teorias do currculo e das teorias da administrao, buscamos elucidar como a relao gesto democrtica e currculo pode atuar como agentes transformadores das estruturas sociais vigentes, considerando o carter social, poltico e cultural do currculo. Palavras-chave: Currculo. Gesto democrtica. Polticas pblicas. Educao. _____________________________________

    ABSTRACT

    The article is an analysis of the importance of building the school curriculum from a democratic administration, in view of the importance of a critical curriculum for the acquisition of knowledge historically developed. We believe that public policies to maintain the dominant social system in the school, the curriculum have become one of its main instruments of legitimation. Thus, from a historical analysis of theories of curriculum and theories of management, elucidated the relationship as democratic management and curriculum can act as agents of transformation of existing social structures, considering the social, political and cultural curriculum.

    Keywords: Curriculum. Democratic management. Public policy. Education.

    Correspondncia/Contato

    Secretaria Municipal da Educao

    Departamento de Planejamento, Projetos e

    Pesquisas Educacionais

    Rua Padre Joo, 8-48, Altos da Cidade CEP 17014-500 Fone (14) 3234-4693 [email protected] http://hotsite.bauru.sp.gov.br/rpe

    Editores responsveis

    Carlos Alberto Gomes Barbosa [email protected] Wagner Antonio Junior [email protected]

  • A Construo do Currculo na Gesto Democrtica

    Revista Paulista de Educao | Vol.1 | N. 1 | Ano 2012 | p. 57

    1 INTRODUO O currculo escolar tema de grandes discusses das diversas vertentes de teorias

    educacionais e constitui-se como um instrumento de manuteno ou de transformao das ideologias dominantes. Segundo Moreira e Silva (2002), o currculo se constitui em uma arena poltica, contestada.

    Isso se deve ao fato de que as polticas pblicas educacionais utilizam o currculo como instrumento de manuteno da estrutura social vigente. Tendo em vista que o currculo no se resume aos conhecimentos das disciplinas clssicas, mas adentra as esferas histricas, sociais, polticas e culturais, uma vez que para sua construo so delegados valores e ideologias, os quais determinam quais saberes devem ser ensinados.

    Esta seleo, isto , a construo do currculo envolve uma gama de valores, que vai desde a formao e viso de mundo dos agentes envolvidos neste trabalho, e at na imposio de materiais prontos, onde os profissionais da educao no possuem sequer a possibilidade de questionar o que, para que e como ensinar.

    Alm das polticas pblicas (sistemas de avaliao nacionais, estaduais, diretrizes curriculares etc.), o que se v atualmente nas escolas a invaso de teorias educacionais nas quais, o conhecimento deve estar somente vinculado realidade do aluno, sendo que esta realidade no tomada apenas como ponto de partida para a aquisio dos conhecimentos elaborados, ela tambm ponto de chegada. Isso faz com que o aluno fique preso somente sua realidade. Desse modo, como formar o sujeito crtico, transformador?

    A construo de um currculo crtico depende da existncia de uma gesto democrtica, a qual tenha por compromisso a aquisio do saber historicamente elaborado. Pois, na esfera da gesto o que se tem verificado a existncia de uma administrao comprometida com as teorias das administraes empresariais.

    De acordo com Paro (2008), a aquisio do saber historicamente acumulado s se d na escola, porm, para isso necessrio que o aluno no seja tomado apenas como objeto, mas tambm como sujeito da educao. Pois esta viso do aluno enquanto sujeito e objeto pressupe a necessidade do saber, o qual se constitui no cerne da relao professor-educando. Cabe ressaltar que este saber no pode estar alienado ao ato de produo, de modo a permitir ao educador a transmisso do saber historicamente acumulado a partir de uma viso crtica transformadora.

    Portanto, para que haja a mudana desse contexto se faz necessria a existncia da gesto democrtica efetiva, isto , a qual tem por objetivo a real participao de toda a comu-nidade escolar, considerando-se a natureza e a especificidade da educao. Pois como afirma Saviani (2000), a escola existe para propiciar aos educandos a instrumentalizao que permi-tam o acesso ao saber historicamente elaborado, onde esse fim deve ser tomado como eixo

  • PEREIRA, Charlene Alana Altieri

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    norteador para sua organizao, ou seja, a partir do saber sistematizado que se estrutura o currculo da escola elementar.

    O pleno conhecimento sobre a natureza e a especificidade da educao deve, portanto, ser o eixo norteador para a construo do currculo escolar, de modo a torn-lo um instrumento de legitimao da democracia e no das polticas neoliberais, que atrelam o conhecimento aos saberes cotidianos e depois os traduzem em forma de estatsticas. Da a necessidade da formao terica, crtica e poltica do gestor, para saber discernir as atitudes as serem tomadas diante dessas polticas, de forma que a escola possa exercer a funo que lhe intrnseca: promover o acesso aos conhecimentos historicamente elaborados e a formao do sujeito enquanto agente transformador.

    2 TEORIAS DO CURRCULO

    O currculo escolar no decorrer da Histria da educao objeto de estudo de autores de vertentes ideolgicas distintas, havendo, portanto, diversas teorias a respeito: Tradicional, Crtica e a Ps-Crtica.

    A teoria tradicional do currculo, segundo Silva (2004), concebe o funcionamento da escola a partir da ideologia empresarial, pois est centrada na eficincia, na produtividade, organizao e desenvolvimento. Desse modo, o currculo toma um carter essencialmente tcnico.

    Silva (2004), afirma que esta teoria teve como seu principal representante Bobbit, o qual concebia o funcionamento da escola como uma organizao empresarial e industrial. Isso se deve pelo fato de que seus estudos baseavam-se na teoria de administrao de Taylor.

    A partir da dcada de 60 surgem as teorias crticas do currculo, as quais vm questionar as estruturas sociais vigentes e visa o conhecimento no da construo do currculo, e sim do que o currculo faz. Desse modo, buscaram desenvolver conceitos, baseados em uma anlise marxista.

    De acordo com Silva (2004), Althusser, filsofo francs, ao fazer uma breve referncia educao em seus estudos, defendeu que a sociedade capitalista depende da reproduo de suas prticas econmicas para a manuteno de sua ideologia. Para isso, a escola um meio utilizado pelo capitalismo para a manuteno dessa ideologia, uma vez que capaz de atingir toda a populao por um longo perodo de tempo. O filsofo afirmava que essa ideologia transmitia seus princpios atravs dos contedos e disciplinas presentes no currculo, de modo a possibilitar que as classes menos favorecidas se mantenham submissas e obedientes s classes dominantes.

    De forma geral, essa transmisso da ideologia estaria centralmente a cargo daquelas matrias escolares mais propcias ao ensino de ideias sociais e

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    polticas: Histria, Educao Moral, Estudos Sociais, mas estariam presentes, tambm, embora de forma mais sutil, em matrias aparentemente menos sujeitas contaminao ideolgica, como Matemtica e Cincias (MOREIRA; SILVA, 2002, p.22).

    Ainda na esfera das teorias crticas os socilogos Bourdie e Jean-Claude, de acordo com Silva (2004), em seus estudos, distanciando-se um pouco dos estudos marxistas, defendiam que a cultura o meio de reproduo social.

    Na tradio crtica, a cultura no vista como um conjunto inerte e esttico de valores e conhecimentos a serem transmitidos de forma no-problemtica a uma nova gerao, nem ela existe de forma unitria e homognea. Em vez disso, o currculo e a educao esto profundamente envolvidos em uma poltica cultural, o que significa que so tanto campos de produo ativa de cultura quanto campos contestados (MOREIRA; SILVA, 2002,p.26).

    Nas teorias crticas houve tambm o movimento de reconceptualizao, o qual demonstrou grande insatisfao com os sujeitos envolvidos nos estudos do currculo no que se refere aos parmetros estabelecidos por Bobbit e Tyler. Estes sujeitos observaram que o currculo no poderia ser concebido como algo mecnico, mas deveria estar associados s teorias sociais da poca. Sendo assim, as teorias crticas se subdividiram, havendo teorias crticas baseadas nas estruturas econmicas, polticas e na reproduo cultural e social, e teorias crticas baseadas em estratgias interpretativas de investigao, tais como: a fenomenologia e a hermenutica.

    As teorias crticas apresentavam um carter mais subjetivo, uma vez que observavam o modo como, estudantes e docentes, construam seus significados e conhecimentos. Porm, os tericos ligados linha de pensamento marxista procuravam se distanciar desta identificao, devido sua grande subjetividade.

    Na perspectiva fenomenolgica, o currculo no , pois, constitudo de fatos, nem mesmo de conceitos tericos de abstratos: o currculo um local no qual docentes e aprendizes tema a oportunidade de examinar de forma renovada, aqueles significados da vida cotidiana que se acostumaram a ver como dados naturais (SILVA, 2004, p. 40).

    Na esfera das teorias com linha de pensamento marxista, tem-se a teoria de Apple, o qual, de acordo com Silva (2004), defendia que o currculo resulta de um processo que reflete os interesses das classes dominantes, onde verdades absolutas so impostas. Diante disso, Silva (2004), afirma que Apple ressalta a importncia de se questionar essas verdades e valores, assim como as ideologias presentes no currculo formal, considerando que a escola no deve ser apenas uma reprodutora e/ou transmissora de conhecimentos e, sim produtora de conhecimentos.

    De acordo com Silva (2004), Henry Giroux afirmava que as teorias tradicionais no levavam em considerao o carter histrico, poltico, social e cultural do currculo, ao centrarem-se nos critrios de eficincia e de racionalizao do conhecimento, possibilitando, desse modo, a manuteno das estruturas dominantes. Giroux compreendia o currculo por meio de conceitos de emancipao e libertao. Silva (2004), afirma que as pessoas podem se

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    tornar emancipadas ou libertadas atravs de um processo pedaggico que permita s mesmas a conscientizao do papel de controle e poder exercido pelas instituies e pelas estruturas sociais.

    Na Inglaterra, com Michael Young, surgiu outro movimento crtico, agora no baseado nas teorias tradicionais e sim na antiga sociologia da educao, o qual passou a ser conhecido como Nova sociologia da Educao. Esta linha de pensamento questionava as relaes de poder existentes no currculo e na produo do conhecimento, indagando sobre a valorao dada a determinados conhecimentos e detrimentos de outros.

    Na linha sociolgica, tem-se, tambm a produo de Basil Berstein. o qual, de acordo com Silva (2004), definiu que a educao formal encontra sua realizao em sistema de mensagens, que so trs: o currculo (o conhecimento vlido), a pedagogia (a transmisso vlida do conhecimento) e a avaliao (a realizao vlida do conhecimento. Berstein, preocupava-se com a organizao estrutural do currculo e sua relao com as estruturas de poder.

    Dentro das teorias do currculo, tm-se, alm das teorias tradicional e crtica, as teorias ps-crticas, as quais esto relacionadas ao multiculturalismo crtico, a questes sociais e de gnero.

    Nesta linha de pensamento a pedagogia crtica objetiva a formao de sujeitos autnomos, que atuem criticamente frente s relaes sociais de poder, aos sistemas de inteligibilidade, s divises sociais e ao sistema capitalista, para tanto, faz-se necessria um anlise crtica dos currculos e das prticas pedaggicas, j que, de acordo com McLaren (2000, p.50)

    Na medida em que o objetivo da pedagogia crtica o de capacitar seus praticantes a falar com autoridade, enquanto perturbam a naturalizao das convenes fixas e de contingncias enraizadas, esta prtica no deve, entretanto, ser desenvolvida de maneira autoritria. Ao criticar o legado disfuncional do positivismo que presume uma objetividade sem preconceitos, a pedagogia crtica busca construir uma coalizo intelectual inovadora e significativa na luta anticapitalista, anti-racista, anti-sexista, anti-homfoba e anticolonialista.

    Isto , segundo McLaren (2000), o cerne da questo o desenvolvimento de uma pedagogia crtica multicultural, cuja implementao consiste no desenvolvimento, por educadoras e educadores crticos, de um currculo e de uma pedagogia multicultural que zele pela especificidade da diferena em termos de raa, classe, gnero, orientao sexual, entre outros. Isto , McLaren defende que a implementao dos currculos, pelos educadores, deve visar o trabalho com as diversidades culturais, retirando, dessa forma, a hegemonia do ensino das culturas dominantes de excluso.

    Prximo a essa linha de pensamento de McLaren, Forquin (2000, p.61) defende que um ensino:

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    [...] s se torna multicultural quando desenvolve certas escolhas pedaggicas que so, ao mesmo tempo, escolhas ticas ou polticas. Isto , se na escolha dos contedos, dos mtodos e dos modos de organizao do ensino, levar em conta a diversidade dos pertencimentos e das referncias culturais dos grupos de alunos a quem se dirige, rompendo com o etnocentrismo explcito ou implcito que est subentendido historicamente nas polticas escolares assimilacionistas, discriminatrias e excludentes.

    O sistema capitalista se faz presente em todos os setores da vida social, poltica e econmica do homem, cujo domnio resultou na dissoluo dos reais significados de democracia e liberdade, j que a sua lgica a da classe dominante, que tem por objetivo desnudar os dominados, os oprimidos de sua cultura. Dessa forma, a classe dominante dificulta a afirmao dos homens enquanto seres de deciso. Esse processo, para o qual a educao tem colaborado, atinge a todos. Assim sendo, a educao multicultural no deve restringir-se aos grupos menos favorecidos, mas a todos os grupos, pois esse o carter natural do interculturalismo.

    Esse contexto, de acordo com McLaren (2000), provocou nas sociedades das grandes metrpoles ps-modernas um sentimento de preconceito em relao aos estrangeiros, latinos, homossexuais e negros, em reflexo maneira como os cidados so formados no interior de uma cultura predatria.

    Isso se deve ao fato de que cultura e educao, de acordo com Forquin (1993, p.14), aparecem como as duas faces rigorosamente recprocas e complementares de uma mesma realidade: uma no pode ser pensada sem a outra e toda reflexo sobre uma desemboca imediatamente na considerao da outra.

    Para a concepo crtica, a educao e o currculo so vistos como profundamente envolvidos no processo cultural, fundamentalmente poltico, ou seja, constituem-se tanto como campo de produo ativa, como campo de contestao. Segundo Moreira e Silva (2002, p.26):

    [...] a tradio crtica v o currculo como terreno de produo e criao simblica, cultural. A educao e o currculo no atuam nessa viso apenas como correias transmissoras de uma cultura produzida em um outro local, por outros agentes, mas so partes integrantes e ativas de um processo de produo e criao de sentidos, de significaes, de sujeitos.

    Portanto, sob essa perspectiva a cultura constitui-se inseparvel das classes e dos grupos sociais, constitui-se em um campo de luta pela manuteno ou superao das disparidades sociais e o currculo educacional o terreno onde se manifesta esse conflito.

    A teoria norteadora do presente estudo a teoria crtica, a qual tem por compromisso a aquisio do saber historicamente elaborado, pois segundo Silva (2004, p16-17), as teorias crticas, assim como as ps-crticas esto preocupadas com as conexes entre saber, identidade e poder. O referido autor tambm afirma que este deslocamento d nfase aos conceitos simplesmente pedaggicos de ensino e aprendizagem para os conceitos de ideologia e poder, permite a visualizao da educao sob uma nova perspectiva.

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    3 MECANISMOS DE CONTROLE DO CURRCULO OCULTO

    As polticas pblicas educacionais brasileiras esto vinculadas s ideologias neoliberais de manuteno das estruturas sociais, polticas e educacionais vigentes. Para isto, elas utilizam o currculo como instrumento.

    O que caracteriza a ideologia no a falsidade ou verdade das ideias que veicula, mas o fato de que essas ideias so interessadas, transmitem uma viso do mundo social vinculada aos interesses dos grupos situados em uma posio de vantagem na organizao social. A ideologia essencial na luta desses grupos pela manuteno das vantagens que lhes advm dessa posio privilegiada (MOREIRA; SILVA, 2002, p.23).

    As questes ideolgica, histrica e cultural no podem estar desvinculadas do currculo, uma vez que o currculo no se restringe somente a questes meramente tcnicas, pois segundo Moreira e Silva (2002), embora, sejam importantes as questes que se referem ao como do currculo, estas s adquirem sentido a partir de uma perspectiva que as considere em sua relao com as questes que perguntem pelo por qu das formas de organizao do conhecimento escolar.

    A construo do currculo crtico envolve uma seleo de conhecimentos e saberes, os quais devem ser norteados pelas seguintes questes:

    O que ensinar?

    Para que ensinar?

    Qual saber essencial para fazer parte do currculo?

    O currculo tem que ser entendido como a cultura real que surge de uma srie de processos, mais que como um objeto delimitado e esttico que se pode planejar e depois implantar; aquilo que , na realidade, a cultura nas salas de aula fica configurado em uma srie de processos: as decises prvias acerca do que se vai fazer no ensino, as tarefas acadmicas reais que so desenvolvidas, a forma como a vida interna das salas de aula e os contedos de ensino se veiculam com o mundo exterior, as relaes grupais, o uso e o aproveitamento de materiais, as prticas de avaliao etc. (MACEDO; OLIVEIRA; MANHES apud SACRISTN, 2002, p.37).

    Portanto, a seleo dos contedos desses saberes, isto , a construo do currculo envolve uma srie de fatores que ultrapassam as esferas tcnicas e cientficas, embora, muitas vezes, o sistema vigente tente reduzir o currculo apenas a receiturios a serem executados nas escolas.

    Onde, a execuo desse currculo fiscalizada atravs das polticas pblicas de avaliao. Estas invadiram o espao escolar de tal maneira que o currculo atual est centrado nos resultados que devero ser obtidos ao final do ano letivo, nesses sistemas de avaliao, para que os ndices propostos pelo governo sejam atingidos e/ou superados.

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    Atualmente, esses mecanismos de controle se fazem presentes atravs do da Prova Brasil, Ideb, Censo Escolar, Saeb e Saresp (somente no estado de So Paulo).

    O Ideb constitui-se em um instrumento do governo, criado pelo Inep em 2007, cujo objetivo reunir em apenas um nico indicador dois conceitos que o Inep considera importante para a qualidade da educao: fluxo escolar e desempenho nas avaliaes. A partir desses dados so traadas metas para o Brasil, para os Estados e Municpios. Os indicadores do Ideb so obtidos a partir de alguns instrumentos como o Censo Escolar (ndices de aprovao), e nas notas obtidas nas avaliaes Saeb (unidades da federao e para o pas) e Prova Brasil (para os municpios).

    O Saresp (Sistema de Avaliao de Rendimento Escolar do Estado de So Paulo) constitui-se em um sistema de avaliao para todos os alunos da rede estadual do 3, 5, 7 e 9 anos do Ensino fundamental e 3 ano do Ensino Mdio. Ele conta com provas cognitivas e questionrios a serem respondidos pelos pais, alunos e gestores, de acordo com a Secretaria da Educao do Estado de So Paulo o Saresp serve como instrumento de avaliao e monitoramento das polticas pblicas da educao. Porm, desde o ano passado o governo do Estado de So Paulo assumiu as despesas nos que se refere aplicao destas avaliaes nas redes municipais de ensino que desejaram participar do mesmo, o que j no ocorre com a rede privada, uma vez que esta deve arcar com as despesas decorrentes da adeso a sistema de avaliao.

    Um dos mecanismos mais amplamente divulgados de avaliao e controle do currculo a testagem dos alunos. Tanto algumas escolas como redes de ensino tm optado por provas nicas ao final dos bimestres, semestres ou anos letivos como formas de controlar o desenvolvimento do programa pelo professor. A avaliao passa a funcionar, ento, articulada ao currculo formal, como uma tentativa de controle do processo pedaggico desenvolvido no cotidiano da escola (MACEDO; OLIVEIRA; MANHES, 2002, p.36).

    Ao fazer uma anlise traduzida simplesmente em porcentagens no possvel uma anlise qualitativa, num primeiro momento, sobre a real qualidade de ensino das escolas. Em-bora, seja de grande importncia o estudo de dados e amostras quantitativas para uma anlise qualitativa, esta vai alm dos limites das tabelas e grficos uma vez que necessita de uma an-lise mais aprofundada de cada realidade.

    Desse modo, a avaliao do ensino e consequentemente do currculo, traduzido ape-nas em tabelas, tm-se a homogeneizao da qualidade de ensino atravs de moldes preesta-belecidos pelo governo.

    Em tempos de perda da legitimidade governamental e da crise nas relaes de autoridade educacionais, preciso que se veja o governo fazendo alguma coisa para elevar padres educacionais. [...] Um currculo nacional importantssimo nesse contexto. Seu principal valor est no no suposto estmulo padronizao de metas e contedos e de nveis de aproveitamento naquelas matrias curriculares consideradas as mais importantes. claro que isso no deveria ser totalmente desconsiderado, mas seu principal papel est sim em prover a estrutura que permitir o funcionamento dos sistema nacional de

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    avaliao. O currculo nacional possibilita a criao de um procedimento que pode supostamente dar aos consumidores escolas com selos de qualidade para que as foras do livre mercado possam operar em sua mxima abrangncia. Se for para termos um mercado livre na educao, oferecendo ao consumidor um atraente leque de opes, ento o currculo nacional e sobretudo o sistema de avaliao nacional atuaro, em essncia, como uma comisso de vigilncia do estado para controlar os excessos do mercado (MACEDO; OLIVEIRA; MANHES apud APPLE, 2002, p.36).

    Nesta homogeneizao questes como a natureza e a especificidade da educao, assim como da incluso e da progresso continuada so deixadas de lado. Pois a realidade que se observa nas escolas atualmente a de uma busca sem medidas apenas por resulta-dos, independente dos mtodos e da realidade escolar, cabe, ao professor atingir e/ou ultra-passar as metas, caso isso no seja possvel grande parte deste fracasso transferido para o mesmo.

    Sendo assim, contedos necessrios para a formao do aluno, tendo em vista a rea-lidade escolar e a necessidade da formao da conscincia crtica, so deixados de lado, con-siderando que os alunos so submetidos a um sistema de avaliao o qual se resume basica-mente em resolver questes mecnicas e ter bons resultados. Para isto, h uma invaso de modismos metodolgicos trazidos por leituras fragmentadas de revistas de educao e de sites educacionais. Onde exemplos de aulas de professores notas 10 devem ser seguidos religio-samente, uma vez que os contedos historicamente elaborados so tidos como sem importn-cia para a qualidade da educao, pois o importante somente os contedos da realidade do aluno.

    Diante deste quadro, permite-se questionar o que , portanto, qualidade de ensino, ou melhor, um ensino de qualidade? Como quantificar essa qualidade apenas atravs de um ni-co sistema de avaliao?

    A partir desses questionamentos importante refletir que a educao est diretamen-te relacionada humanizao, e como mensurar isto somente atravs de dados estatsticos?

    A presente anlise no visa desmerecer a utilizao das estatsticas na esfera educa-cional, mas visa reflexo do modo como estes instrumentos vm sendo utilizados pelos r-gos governamentais, de forma desmedida e sem uma anlise qualitativa efetiva, a qual permi-ta a real reflexo do sistema educacional brasileiro e possibilite a realizao das mudanas ne-cessrias para um avano qualitativo, na qual a natureza e a especificidade da educao no fiquem margem do sistema.

    Juntamente com sistemas de avaliao, tem-se nas escolas a presena dos guias cur-riculares, os quais servem como norteadores do currculo formal.

    [...] a concepo de currculo como guia curricular redutora, na medida em que privilegia a dimenso produto do currculo, deixando de fora todo o processo de produo sociocultural que se estabelece no cotidiano da escola. Tradicionalmente, tm sido numerosas as tentativas de domesticar as potencialidades do cotidiano escolar atravs de materiais curriculares formais,

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    sejam eles os prprios guias, os livros didticos, os materiais audiovisuais (MACEDO; OLIVEIRA; MANHES 2002, p.39-40).

    Entretanto, nem tudo que ocorre no processo pedaggico est explcito no currculo. Tm-se, portanto, o que se denomina currculo oculto, o qual no se constitui como uma linha terica do currculo, mas se faz presente no cotidiano das escolas e da educao em si. Se-gundo Silva (2004), o currculo oculto formado pelos aspectos do currculo formal que de forma implcita contribuem para as aprendizagens sociais relevantes.

    [...] ao participarem da experincia curricular cotidiana, ainda que supostamente seguindo materiais curriculares preestabelecidos, professores/professoras e alunos/alunas esto tecendo alternativas prticas com os fios que as suas prprias atividades prticas, dentro e fora da escola, lhe fornecem. Sendo assim poderamos dizer que existem muitos currculos em ao em nossas escolas, apesar dos diferentes mecanismos homogeneizadores (desde o apelo tradio at os aparatos jurdicos constitudos com tal finalidade) (MACEDO; OLIVEIRA; MANHES 2002, p.40).

    O currculo oculto no planejado formalmente, e sendo assim, o mesmo pode atuar de forma positiva ou negativa, isto , ele pode atuar como meio de manuteno das estruturas dominantes, assim como um meio de luta para a transformao desta realidade. Ele se faz presente na transmisso de valores, nas organizaes dos espaos fsicos, nas relaes inter-pessoais, nas regras estabelecidas, nas questes de gnero, entre outros.

    Permite-se, observar, portanto que o currculo no necessita ser seguido como um re-ceiturio, de modo mecanicista, pois atravs o currculo oculto insere no espao escolar um rol de possibilidades de luta contra as estruturas de poder vigentes nos currculos oficiais, que ao invs de serem construdos de forma democrtica so impostos e fiscalizados quanto a sua execuo.

    4 GESTO E CONSTRUO DO CURRCULO

    Ao se falar em gesto, inicialmente se faz necessrio compreender como se deu seu processo histrico, para ento compreender a realidade atual da administrao escolar no Brasil.

    A sociedade possui um conjunto de instrues que realizam tarefas determinadas. A complexidade dessas tarefas leva necessidade da coordenao e controle das aes, por meio de pessoas e/ou rgos com funes administrativas.

    Essa viso dos tericos da administrao tem correspondncia na realidade concreta da sociedade capitalista, onde a Administrao encontra, na organizao, seu prprio objeto de estudo. Neste contexto, acha-se obviamente a escola que, como qualquer outra instituio, precisa ser administrada, e tem na figura de seu diretor o responsvel ltimo pelas aes a desenvolvidas (PARO, 2008, p.17).

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    Paro (2008), afirma que o modo como a administrao, hoje, entendida e realizada resultado de uma longa evoluo histrica e traz consigo marcas das contradies sociais e interesses polticos presentes na sociedade.

    A administrao escolar est fundamentada na Teoria Geral da Administrao, onde segundo Hora (2002, p. 36), Historicamente, a teoria administrativa do sculo XX, desenvolveu-se atravs de trs escolas: a clssica, a psicossocial e a contempornea.

    A escola clssica nasceu no contexto da Revoluo industrial e foi representada por trs movimentos: a administrao cientfica de Taylor, a administrao geral de Fayol e a administrao burocrtica de Weber. Segundo Hora (2002), esses movimentos mantm seus princpios nas prticas administrativas atuais

    Frederick W.Taylor determinou a organizao cientfica do trabalho, atravs do planejamento e controle das atividades, fazendo uma distino radical entre concepo e execuo.

    Henri Fayol, segundo Hora (2002, p. 37) afirmava que [...] os princpios da diviso do trabalho, autoridade, disciplina, unidade de comando, unidade de direo, subordinao de interesses individuais aos interesses gerais, remunerao, centralizao, iniciativa, esprito de solidariedade e lealdade constituem um dos modelos de estrutura capitalista.

    Max Weber defendia a organizao do trabalho e do capital na estrutura burocrtica reforando a separao entre planejamento e execuo, tomando como critrio administrativo a eficincia.

    A influncia da escola clssica na administrao escolar se d atravs da valorizao dos elementos instrumentais, onde a escola se constitui como um espao de valorizao das desigualdades, com o planejamento burocrtico das aes onde o diretor exerce um papel de gerenciamento e controle.

    A escola psicossocial surge no contexto ps 1 Guerra, ele tem como base a eficcia e a valorizao dos sujeitos.

    [...] a eficcia da administrao preocupa-se com a consecuo dos objetivos intrinsecamente vinculados aos aspectos pedaggicos propriamente ditos e a capacidade administrativa ser medida pelo alcance dos objetivos educacionais propostos. Desse modo, a eficcia, por ser um critrio intrnseco ao sistema educacional, sobrepe-se ao critrio de eficincia que lhe extrnseco (HORA, 2002, p. 39).

    A influncia da teoria psicossocial nas escolas pode ser observada atravs da valorizao da eficcia sobre a eficincia, na preocupao com os objetivos a serem cumpridos e o administrador tem um papel de decisor, como agente integrador.

    A teoria administrativa contempornea surge no contexto histrico ps 2 Guerra, est fundamentada na administrao para a efetividade, na busca de solues para as respostas

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    Revista Paulista de Educao | Vol.1 | N. 1 | Ano 2012 | p. 67

    desejadas. Nesta teoria a escola compreendida como um espao aberto de relaes dialticas, onde a administrao e sua organizao esto voltadas para a participao, seus objetivos ultrapassam os objetivos gerais, havendo coordenao das aes e a valorizao da liderana.

    Como a fundamentao terica das teorias administrativas encontra-se nas teorias de administrao de empresas, na busca por um carter cientfico para comprovar a importncia desses estudos os tericos da educao tomaram-nas como base para a administrao escolar. Sendo assim, no Brasil, houve uma grande influncia das teorias da administrao de empresas na administrao escolar.

    a complexidade alcanada pela escola, exigindo-lhe cada vez mais unidade de objetivos e racionalizao do seu funcionamento levou-a a que ela se inspirasse nos estudos de Administrao em que o Estado e as empresas privadas encontraram elementos para renovar suas dificuldades decorrentes do progresso social. Sendo evidente a semelhana de fatores que criam a necessidade de estudos de administrao pblica ou privada, a escola teve apenas de adapt-las sua realidade. Assim, a Administrao Escolar encontra seu ltimo fundamento nos estudos gerais da Administrao (HORA apud RIBEIRO, 2002, p.42).

    Diante disso, Paro (2008) afirma que a aplicao da administrao capitalista na escola tambm pode revestir a Administrao Escolar com um carter transformador, desde que, indo contra os interesses de conservao social contribusse para a instrumentalizao cultural das classes trabalhadoras.

    Para isso, o processo de ensino-aprendizagem deve tomar o conhecimento cotidiano apenas como um ponto de partida para a aquisio do conhecimento elaborado. No entanto essa ideologia dominante est presente na escola de tal maneira que, como afirma Saviani (2000 p.21) se perdeu de vista a atividade nuclear da escola, isto , a transmisso dos instrumentos de acesso ao saber elaborado.

    No entanto, para que haja, na escola, a construo e no a imposio do currculo, faz-se necessria a existncia de uma gesto democrtica efetiva. Segundo Paro (2008), esta gesto democrtica, por muitas vezes, acaba sendo vista como utpica, porm, isto no significa que ela seja irrealizvel, pois:

    Na medida em que no existe, mas ao mesmo tempo se coloca como algo de valor, algo desejvel do ponto de vista de soluo dos problemas da escola, a tarefa deve consistir, inicialmente, em tomar conscincia das condies concretas, ou das contradies concretas que apontam para a viabilidade de um projeto de democratizao das relaes do interior da escola (PARO, 2008, p.9).

    Alm dessa anlise crtica da realidade escolar, Paro (2008), afirma sobre a necessidade da transformao do sistema de autoridade da escola, pois o obstculo da gesto democrtica est na funo atual do diretor que o coloca como autoridade ltima no interior da escola. Desse modo, a autoridade funde-se ao autoritarismo e leva a uma diviso dos diversos

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    setores da escola, contribuindo para a formao de uma imagem negativa da pessoa do diretor, ressaltando que este contexto mantido pelo prprio Estado.

    A impotncia do diretor para resolver os problemas da escola articula-se assim, com o papel de gerente que o Estado lhe reserva, contribuindo ambos esses aspectos para fortalecer os interesses dominantes com relao educao escolar. a dimenso gerencial permite ao Estado um controle mais efetivo das mltiplas atividades que se realizam na escola, na medida em que se concentra na figura do diretor a responsabilidade ltima por tais atividades, fazendo-o representante dos interesses do Estado na instituio [...] desse modo, deixa de cumprir sua funo transformadora de emancipao cultural das camadas dominadas da populao, servindo aos interesses da conservao social (PARO, 2008, p.134-135).

    Para a democratizao desta gesto, os poderes atribudos ao diretor devem ser distribudos aos demais setores da escola, possibilitando a diviso das responsabilidades, pois a partir dessa participao que a escola adquire instrumentos para buscar sua autonomia, considerando que:

    [...] a escola deve organizar-se democraticamente com vistas a objetivos transformadores (quer dizer: objetivos articulados aos interesses dos trabalhadores). E aqui subjaz, portanto, o suposto de que a escola s poder desempenhar um papel transformador se estiver junto com os interessados, se organizar para atender aos interesses (embora nem sempre conscientes) das camadas s quais essa transformao favorece, ou seja, as camadas trabalhadoras (PARO, 2008, p. 12).

    Pois a gesto democrtica deve estar articulada aos interesses das classes menos favorecidas, exigindo, dessa forma uma administrao que visa construo coletiva, e para isso tem-se a necessidade da participao coletiva de toda a comunidade escolar. Isso acarretar na democratizao das relaes existente no espao escolar, assim como no aperfeioamento administrativo pedaggico.

    Cabe, portanto ao gestor um compromisso com uma ao educativa transformadora, a qual tenha por objetivos: a extino do autoritarismo centralizado do gestor e nas divises hierrquica; a participao coletiva; a aquisio do saber historicamente acumulado.

    A administrao possui, portanto, uma funo de liderana poltica, cultural e pedaggica, porm cabe ao gestor uma viso crtica comprometida com o carter transformador para saber articular essas funes ao cumprimento das legislaes vigentes, para que a administrao escolar no tome um carter de manuteno das estruturas sociais vigentes.

    Na relao currculo-gesto democrtica Paro (2007), afirma que a escola est presa a um currculo meramente informativo, o qual ignora a formao tica de seus educandos, como se isso fosse apenas funo da famlia, e ao mesmo tempo no considera o marcante desenvolvimento da mdia e a conseqente concorrncia com outros mecanismos de informao que passam a desenvolver com vantagens, funes anteriormente atribudas a escola. Desse modo, a escola se omite na funo de educar para a democracia. Pois h na escola uma diviso do trabalho anloga que se tem na produo industrial capitalista.

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    A justificativa de tal diviso a necessidade de maior racionalidade na utilizao dos escassos recursos disponveis, propondo-se o reordenamento dos currculos e programas em bases mais funcionais e objetivas, o planejamento meticuloso e a diviso em unidades menores das atividades didticas, o acompanhamento do trabalho docente e discente por supervisores e orientadores especificamente habilitados para essa tarefa, tudo isso visando maior eficincia na obteno dos objetivos educacionais (PARO, 2008, p.130).

    Na gesto democrtica a construo do currculo deve se dar de modo participativo e no na mera execuo de guias curriculares distribudos nas escolas pelo governo, uma vez que a seleo dos contedos a serem inseridos no currculo um processo que ultrapassa os limites da tcnica, pois envolve juzo de valores ao se determinar quais saberes sero selecionados como vlidos na produo do conhecimento. Desse modo, dependendo da viso que a equipe formadora desse currculo possuir o mesmo poder assumir um papel transformador ou conservadora.

    Educar para a democracia s se faz realidade, a partir do momento em que a democratizao dos diversos setores da escola se efetive. Pois desse modo a democracia ultrapassa as esferas do discurso para sua concretizao no educar.

    CONSIDERAES FINAIS

    O presente estudo permitiu observar que o currculo, assim como a gesto escolar possuem carter histrico, poltico e cultural, e desse modo podem servir como instrumentos de manuteno das estruturas sociais vigentes.

    A transformao dessa realidade s possvel, porm, a partir de uma viso crtica comprometida com a democracia e a aquisio do saber historicamente acumulado. Pois a realidade existente nos espaos escolares a de uma administrao comprometida com as teorias das administraes empresariais, a qual age como simples consumidora dos guias curriculares fornecidos atravs das polticas pblicas impostas pelo governo.

    REFERNCIAS

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  • PEREIRA, Charlene Alana Altieri

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    Charlene Alana Altieri Pereira Formada em Licenciatura Plena em Pedagogia Unesp Universidade Estadual Paulista. Professora das sries iniciais da Prefeitura Municipal de So Manuel - SP