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OPSIS - Revista do Niese, V.2, N.J, Jan/Jun, 2002 RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSIS Valdeci Rezende Borges 1 Resumo: Abstract: Este artigo focaliza algumas formas e 111is articlhe focuses on some forms and experiencias religiosas presentes na obra religious experiences in ;\Iachado de de .\Iachado de A.ssis. _\S51S 'works. Recorrendo as reflexoes de Ginzburg(1989:143-180), segundo as (1uais os historiadores sao descendentes dos feiticeiros por atingirem 0 conheci- mento a partir da intuis;ao, da conjectura e do olhar atcnto aos pCllucnos detalhes, aos pormenores e coisas miudas, bus co acessar as forma;; de religi- osidade na cidade do Rio de Janeiro, com base na obra de ;\fachado de "\SS15, recolhendo, aqui e acohl, mens;oes, pegadas residuais, ligadas as expcriencias cotidianas dos individuos com 0 sobrenatural eo divino. Tats detalhes aproxi- mados compoem e revelam aspectos diversos do campo rcligioso carioca, que e multiplo e hibrido, pois constituido pela presens;a do cristiamsmo, cato- lico e protestante, pelo catolicismo oficial e popular, assim como peIo espiristismo kardecista e pelas praticas afro-amerindio-brasileiras. Esse campo da cultura e trespassado por transformas;oes, emergen- cias de novas ofertas de doutrinas e convivencia de formas religiosas de ori- gem e sentidos diversos, sendo oportuno falar de religiosidades, no plural, e pensa-los mediante a premissa de Bourdieu(197 7 :56-7), de que a esfera religi- osa e um campo de batalhas, que opera com base em rela<;:oes de for<;:as compreendidas como em.bate entre as pr6prias concep<;:oes de religiao, as praticas discursivas e comportamentais dos individuos de segmentos sociais diYersos atreladas a essas diferentes perspecti,-as religiosas e, ainda, a disputa entre essas formas e outras visoes de mundo. I Professor do curso de Hist6ria da UFG- Campus de Catalao, membro do NIESC, doutorando em Hist6ria pela PUC/SP. 17

as Bibliogrdficas RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSISstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3224606.pdf · 16 'as Bibliogrdficas mentafao oral e tematica da seca: estu o Federal,

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Page 1: as Bibliogrdficas RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSISstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3224606.pdf · 16 'as Bibliogrdficas mentafao oral e tematica da seca: estu o Federal,

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as Bibliogrdficas

mentafao oral e tematica da seca estushyo Federal 1984

ae de Deus urn estudo do movimento 0 de Janeiro Francisco Alves 1988 dre Cicero Organizado por Eduardo

cultura e memoria Sao Paulo Annablume

profetismo tupi-guarani Trad Sao Paulo

iada para despertar as descuidados conshyuctas das missoes Porto Typographia de

ede Juazeiro Juazeiro do Norte Instituto

eiro e do Cariri Boletim do Instituto Culshy 32-37 1976

seira Trad Rio de Janeiro Paz e Terra

idade uma Historia do paraiso Trad Sao

no a essencia das religioes Trad Sao Paushy

os monges e guerreiros feudo-clericalismo aI Sao Paulo Hucitec 1990 ao Paulo Brasiliense 1993 o no Brasil e no Mundo Sao Paulo Alfa-

Moyen Age Occidental Paris PO F 1975 tao Historia das secas no Nordeste nos

tora Atica 2000 dre Cicero Boletim do Instituto Cultural 1979

ia oral Trad Sao Paulo HucitecEduc

atura medieval Trad Sao Paulo Cia das

OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSIS

Valdeci Rezende Borges 1

Resumo Abstract

Este artigo focaliza algumas formas e 111is articlhe focuses on some forms and

experiencias religiosas presentes na obra religious experiences in Iachado de

de Iachado de Assis _S51S works

Recorrendo as reflexoes de Ginzburg(1989143-180) segundo as (1uais os historiadores sao descendentes dos feiticeiros por atingirem 0 conhecishymento a partir da intuisao da conjectura e do olhar atcnto aos pCllucnos detalhes aos pormenores e coisas miudas bus co acessar as forma de religishyosidade na cidade do Rio de Janeiro com base na obra de fachado de SS15 recolhendo aqui e acohl mensoes pegadas residuais ligadas as expcriencias cotidianas dos individuos com 0 sobrenatural eo divino Tats detalhes aproxishymados compoem e revelam aspectos diversos do campo rcligioso carioca que emultiplo e hibrido pois constituido pela presensa do cristiamsmo catoshylico e protestante pelo catolicismo oficial e popular assim como peIo espiristismo kardecista e pelas praticas afro-amerindio-brasileiras

Esse campo da cultura e trespassado por transformasoes emergenshycias de novas ofertas de doutrinas e convivencia de formas religiosas de orishygem e sentidos diversos sendo oportuno falar de religiosidades no plural e pensa-los mediante a premissa de Bourdieu(1977 56-7) de que a esfera religishyosa e um campo de batalhas que opera com base em relaltoes de forltas compreendidas como embate entre as pr6prias concepltoes de religiao as praticas discursivas e comportamentais dos individuos de segmentos sociais diYersos atreladas a essas diferentes perspecti-as religiosas e ainda a disputa entre essas formas e outras visoes de mundo

I Professor do curso de Hist6ria da UFG- Campus de Catalao membro do NIESC doutorando em Hist6ria pela PUCSP

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Combates e Batalhas nos Reinos dos Cristaos

As manifestacoes de crenca e descrenca ao redor do catolicismo sao predominantes deido a suas forcas como 0 regime oficial desfrutado como religiao do Estado brasileiro ate 1889 quando se separam Igreja e governo temporal estabelecendo a liberdade dos cultos Desse ato para Machado erri 1895 a questao substancial e a liberdade pois a Constituicao republicana no artigo 72 acaban com a religiao do Estado e nao the importa que cada urn tenha a que quiser Anteriormente em 18930 cronista ja dizia que Apesar da separacao da igreja e do Estado viviam ambos em tal concordia que antes pareciam casados de ontern que divorciados des sa manha 0 esposo dava uma pensao a esposa a esposa orava por ele (00) A razao do esposo e urn principio a da esposa eoutro principio Para aqueles clerigos que afinavam com esse enunciado ansiando pela libertacao da Igreja dos poderes temposhyrais por uma comivencia tranquila e diferente entre essas duas esferas quanshydo apareceu 0 decreto que aboliu 0 padroado muitos conflitos e tensoes que abalaram a sociedade nas ultimas decadas pareciam findar e 0 folhetinista chegou a encontrar urn velho padre que era a figura da felicidade pura trazendo urn grande riso nos olhos(Machado de Assis 1957b25 1959a307)

Porem antes da extincao da oficialidade da religiao do Estado 0

cronista mostra urn crescente aanco das doutrinas protestantes e logo urn rebolico no campo de forcas marcado por polemicas e tensoes Nao sendo a liberdade religiosa completa em 1864 0 jornal catolico Cruz reclamava que 0 gmerno e 0 parlamento faziam e executavam algumas leis de toleranshycia religiosa lamentando ainda pela existencia de templos de seitas dissishydentes nesta capital Segundo lfachado isso nos atirava para 0 tempo das perseguicoes religiosas sobretudo pelo tom de odio de colera de rancor como se exprimia naquele periodico Meio ao clima de conflito de concitacao das turbas aguerra religiosa De Assis repele ainda tais atitudes ao tratar de outra folha catolica Cruzeiro do Brasil que animava 0 povo contra outras religioes praticando excessos como a urn vendedor de biblias protestantes e por responsabilizar 0 governo pela propagacao das doutrinas condenadas pela 19reJa intimando-o a fazer cessar a propagacao dos metodistas(Machado de Assis 1955c146243-4)

Frente a posicao do Cruzeiro do Brasil 0 cronista julgou ser lashymentavel que se imprimiam coisas tais em urn pais onde a liberdade religiosa se nao [era] completa [estava] ja adiantada pois a constituicao garantia a liberdade de cuI to Para ele a folha em vez de apelar para a forca do govershyno deveria apelar para a palavra do clero a quem incumbia combater as doutrinas em propagacao Posteriormente acrescenta que ha muito tempo que a palavra sagrada serve de instrumento aos incapazes e aos mediocres embora houvesse excecoes mas raras No seu dizer 0 clero e mediocre

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OPSIS - Revista do

ao entender que para falar do alto do pulpi pedodos fofos com urn tom lamentoso dl comover os fieis modulando a voz com e eloquente quando e verdadeira Assim c gens do diabo e do inferno nao atraiam os fil ciam mas aturdiam nao infundiam a contricac de Assis 1955c243-4 326-8)

Nessa arena de disputas em 1876tv a Constituicao ha uma religiao do Estado cultos sao tolerados como 0 protestantis forma externa de templo por ser inconstituc urn projeto pendente de reforma de lei da tempo em que via escrito numa fachada 0 I infringia a lei levando-o a acreditar que a transgressao era muito melhor(Machado de

Na sua ficcao 0 protestantismo ap mentos Em A Mao e a Luva de1874 qu Mrs Oswald uma inglesa dama de companlshydo 0 narrador como boa protestante que e dos dedos dando conselhos moralizantes sagens e personagens biblicos em nome da f a ambicao da [sua] alma]a em Quincas 1 anos entre 1867 e 1871 Rubiao que proteg mente socio de uma Congregacao Cat6lica nao se lembrando certa ocasiao de urn qu 0 que fazia era pagar regularmente as me de Assis 1957a84-6 1957f283)

Mas se a igreja catolica debatia-se clt

chado combateu ainda mais as praticas dos c na juventude com a pena em punho e de fle contra 0 clero e mesmo os Papas clamandc influencia do espirito moderno por acred achava-se como no tempo de Galileu e lancava contra 0 esplrlto modf condenacao(Machado de Assis 1955e42

Sao varias as cronicas em que Mach e os desvios das praticas sacerdotais advin embora ressaltasse que tais posicoes nao sigr rito cat6lico Para ele em 1863 num pais n se divide em dois campos a indiferensa e a do altar era outra era missao apost6lica tol cer os -incredulos e trazer os fanaticos ao cor

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Batalhas nos Reinos dos Cristaos

renca e descrenca ao redor do catolicismo sao corcas como 0 regime oficlal desfrutado como te 1889 quando se separam Igreja e governo rdade dos cultos Desse ato para Machado em liberdade pois a Constituiltao republicana no pao do Estado e nao the importa que cada um ~ente em 1893 0 cronista ja dizia que ~pesar lido viviam ambos em tal concordia que antes

divorciados dessa manha 0 esposo dava orava por ele () A razao do esposo e um

DlllnCIlPH) Para aqueles clerigos que afinavam pda libertaltao da Igreja dos poderes temposhy

e diferente entre essas duas esferas quanshyo padroado muitos conflitos e tensoes que

decadas pareciam fin dar e 0 folhetinista que era a figura da felicidade pura

(Machado de Assis 1957b25 1959a3(7) da oficialidade da religiao do Estado 0

das doutrinas protestantes e logo um ~~lrC2do por polemicas e tens()es Nao sendo

em 1864 0 iornal cat6lico Cruz reclamava e executaam algumas leis de tolerl11shy

pela existencia de templos de seitas dissishyisso nos atirava para 0 tempo das

pdo tom de odio de colera de rancor Meio ao clima de conflito de concitaltilO

Assis repele ainda tais atitudes ao tratar de Brasil que animava 0 povo contra outras

a urn vendedor de biblias protestantes e propagatiio das doutrinas condenadas

a fazer cessar a propagaoao dos 955c146243-4)

do Brasil 0 cronista julgou ser lashytais em urn pais onde a liberdade religiosa adiantada pois a constituiltao garantia a em ez de apehr para a forlta do goershy

do clero a quem incumbia combater as Ilormltente acrescenta que ha muito tempo lSuun1erlto aos incapazes e aos mediocres raras No seu dizer 0 clero e mediocre

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OPSIS - Revlsta do Niese V2 NJ JanJun 2002

ao entender que para falar do alto do pulp ito basta alinhavar meia duzia de periodos fofos com um tom lamentoso de efeito puramente teatral para comover os fieis modulando a voz com 0 fim de fingir uma dor que 56 e eloquente quando e verdadeira Assim os sacerdotes recorrendo a imashygens do diabo e do inferno nao atraiam os fieis mas assustavam nao convenshyciam mas aturdiam nao infundiam a contricao provocavam a atricao(1vlachado de Assis 1955c243-4 326-8)

Nessa arena de disputas em 1876 Machado esclarece que con forme a Constituiltao ha uma religiao do Estado a cat6lica mas que os outros cultos sao tolerados como 0 protestantismo embora nao pudessem ter forma externa de templo por ser inconstitucionaL Ja em 1888 diz que existia urn projero pendente de reforma de lei da camara do senado ao mesmo tempo em que via escrito numa fachada 0 letreiro Igreja evangelica 0 que infringia a lei levando-o a acreclitar que a reforma podia esperar e que a transgressao era muito melhor(Machado de Assis 1959c 159-60 1956c 174)

Na sua ficciia a protestantismo aparece em pelo menos dois moshymentos Em A Mao e a Luva de1874 que remete a 1853 a personagem Mrs Oswald uma inglesa dama de companhia de uma baronesa age segunshydo 0 narrador como boa protestante que era tendo a Escritura na ponta dos dedos dando conselhos moralizantes it jovem Guiomar e citando passhysagens e personagens biblieos em nome da felicidade da familia que era toda a amhiltao da [sua] alma Ja em Quincas Borba de1886 que remonta aos anos entre 1867 e 1871 Rubiao que protegia as sociedades pias era juntashymente sacio de uma Congregaltao Cat6lica e de um Gremio Protestante nao se lembrando certa ocasiao de urn quando Ihe falaram do outro pois 0 que fazia era pagar regularmente as mensalidades de ambos(1vfachado de Assis 1957a84-6 1957pound283)

Mas se a igreja cat6liea debatia-se contra as igrejas protestantes Mashychado combateu ainda mats as praticas dos cat6licos que julgava equivocas Ja na juventude com a pena em punho e de flerte com as ideias liberais investia contra 0 dew e mesmo os Papas damando por modificaltoes na Igreja pela influencia do espirito moderno por acreclitar que 0 espirito do Vaticano achava-se como no tempo de Galileu e 0 santo padre 0 debil velha lanltava contra 0 espirito moderno a malS perempt6ria condenacao(Ivfachado de Assis 1955e42 1958a89 1955c298-9)

Sao varias as cronicas em que Machado criticou severamente a Igreja e os desvios das praticas sacerdotais advindos das forcas de secularizaltao embora ressaltasse que tais posiltoes nao significavam uma tibieza do seu espishyrito cat6lico Para ele em 1863 num pais novo como 0 Brasil cuja maioria se divide em dois campos a indiferen~a e a carolice a missao dos ministros do altar era outra era missiio apost6lica tolerante elevada a flm de convenshyeer os~ncredulos e trazer os fanaticos ao conhecimento dos verdadeiros prinshy

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cipios da Igreja No entanto em vez disto os padres divertem-se em lanltar as urnas eleitorais a interdicao religiosa ou a escrever gazetas sem tom nem som expondo uma intolerancia considerada ridicula e funesta aos vershydadeiros interesses da igreja advinda de urn clero pela maior parte ignoranshyte sem prescigio ( ) mas tambern sem escrupulos Considerava grosseiras as pniticas da igreja e do clero tacanho e mesquinho que nada enxerga para fora das paredes da sacristia Pedia por uma reforma completa de modo a fazer do culto uma coisa seria tirando-Ihe 0 aparato e as empoeiradas usamas proprios para produzir 0 materialismo e tibieza da fe Julgava que a educaltao religiosa do nosso povo a maneira por que se Ihe incute a fe e a palavra crista era feita por meio do espetaculo e do fausto profano o que levava para 0 materialismo para a indiferenca e para a morte da fe (lvfachado de Assis 1955b350-2388-9 Grifos meus)

Ja em 1864 ao posicionar-se contrariamente frente acondenaltao do livro de Renan Vida de Jesus por urn monsenhor dizia que a pior prosa deste mundo e a clerical contrapondo-se aos argumentos do clerigo que aconselhou 0 exilio do livro e insinuou que todos os bons cat6licos deveriam queima-Io por ser tmpio Para 0 cronista tal conselho em tempos de liberdashyde e de civilizaltao era simplesmente ridiculo deixando-o pasmo pois embora achasse 0 livro absurdo nem por isso foi lanlti-Io a fogueira depois da leitura e nem perdeu suas crenltas Entretanto se Machado assim afirma quais seriam os motivos de sua descrenlta para com a Igreja Seria apenas oriunda de suas observaltoes da realidade que 0 circundava e dos horrores que ia Quem eram os responsiveis por seu afastamento daquela (Machado de Assis 1955c219-28)

De Assis condenava outros desvios da vida sacerdotal como a atitushyde pecuniaria do clero avarento mats preocupado em arraniar alguns contos de reis para as gravissimas necessidades do poncifice do que em converter pessoas No seu dizer 0 triunfo maximo e 0 triunfo pecuniario e sendo assim combatia as demasias clericais a Santa Pecunia pela qual 0 clero orava Nesse contexto de clerigos avarentos perfumados que ricas aljubas vestiam expressava contra a baixela de OUtO dos papas a Roma sempre em prazeres e as casas de Otaltao onde reina muita hipocrisia como a venda de bentinhos para ter perdao dos pecados Considerava essa pratica assaz comoda e lucrativa uma politica que prende urn pecador e 0 abshysolve cometendo urn atentado ao sagrado ao reduzir tudo a somas de dinheiro apontando varios casos como a venda de medalhas de chumbo com a caricatura da que 0 padre benze e fica-se livre dos crimes cometidos a troca da imagem de N S da Conceiltao da Aparecida por urn mil-reis para livrar-se de catastrofes a benzeltao e venda de velas por dois mil reis pelos padres e a associaltao dos sacerdotes e sacristaes para vender caro as missas Diante dis so dizia Viva Deus e a nossa algibeira ou ainda se

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OPSIS - Revista do

Deus escreve direito por linhas tortas as A los inclusive impressos] sao as linhas tortas Assis 1958a187-9197205-6245249 1959

Machado fustigava ainda os padres ~ Desta forma sua descrenlta para com a 19rej percepltao dessas praticas desviantes viciada da a compreender seu afastamento das ativic da morte negando-se a receber os ultimos que nao era absolutamente materialista I mos apontar ll1umeraveis recorrencias ado varias as referencias a Biblia porem quasI sobretudo ao Eclesiastes Desse modo a p citada de modo deformado pela ironia b expressando uma leitura critica criou diver com aquela rclaltao intertextual direta Del tematica religiosa ou tecidos ao redor de su Galo Na area A Igreja do Diabo Manus( mo urn sacristao perspicaz trata do amor p prima Eulalia e jii nos hilari05 A Igreja do 1 critic a bern humorada as praticas emiesad~ cristaos e seguidores dcssa doutrina com oposto as Escrituras c as pregaltoes

Em A Igreja do Diabo 0 demonio apesar de mesmo a scm e5ta os seus luc des mas sentia-se humilhado par nao ter 0

ais Estabelecendo-os seria Escritura cc breviario e teria sua missa com vinho e t novenas e todo a demais aparelho eclesii outras religioes de Maome de Lutero a ideia a Deus para desafia-lo c ao voltar a prometendo delicias e glarias Clamava qu~ substituidas por outras naturais e legitim ayareza a ira a gula e a invcja esta ultima a noltoes fazendo amar as perversas e detesl o preconceito a hipocrisia a calunia 0 ad valorizados e seus opostos negados Funda 0 Diabo ahou brados de triunfo( ivfach

Porem urn dia longos anos depoi das praticavam as antigas yirtudes 0 q fraudes Pasmado nilO refletiu nem compa 10 presente alguma coisa analoga ao passad Deus que ouviu com complacencia e falc

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uzir 0

em vez disto os padres divettem-se em lancar religiosa ou a escrever gazetas sem tom nem a considerada riclicula e funesta aos vershy

dvinda de urn clero pela maior parte ignoranshysem escnipulos Considerava grosseiras

tacanho e mesquinho que nada enxerga ria Pedia por uma reforma completa de

a seria tirando-lhe 0 aparato e as empoeiradas materialismo e tibieza da fe Julgaya

so povo a maneira por que se the incute a fe meio do espenlculo e do fausto profano mo para a indiferenca e para a morte da fi~ -2388-9 Grifos meus) nar-se contrariamente frente acondenacao do por um monsenhor dizia que a pior prosa trapondo-se aos argumentos do clerigo que sinuou que todos os bons catolicos deveriam cronista tal conselho em tempos de liberdashy

lesmente ridiculo deixando-o pasmo pois nem por 1SS0 foi lanCa-lo afogueira depois emas Entretanto se Machado assim afirma a descrenca para com a Igreja Seria apenas a realidade que 0 circundava e dos horrares aveis por seu afastamento daquela (Machado

tros desvios da vida sacerdotal como a atitushymais preocupado em arranjar alguns contos ~ssidades do pontifice do que em converter fo maximo e 0 triunfo pecuniario e sendo encais a Santa Pecunia pela qual 0 clero s avarentos perfumados que ricas aljubas

baixela de Duro dos papas a Roma sempre ~ao onde reina muita hipocrisia como a dao dos pecados Considerava essa pratica

a politica que prende um pecador e 0 abshy ao sagrado ao reduzir tudo a somas de os como a venda de medalhas de chumbo eo padre benze e fica-se livre dos crimes de N S da Conceicao da Aparecida por urn ofes a benzecao e venda de velas por dois

faO dos sacerdotes e sacristaes para vender

Viva Deus e a nossa algibeira ou ainda se

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OPSIS - Revista do Niese V2 N1 JanJun 2002

Deus escre-e direito por linhas tortas os Ap6stolos [os padres e seus veicushylos inclusive impressos] sao as linhas tortas da sua escritura (1Iachado de Assis 1958a187-9197205-6245249 1959a22)

Machado fustigan ainda os padres glutoes e os padres em mancebia Desta forma sua descrenca para com a Igreja advem de modo mais direto da percepciio dessas praticas desviantes viciadas e contraditorias 0 que nos ajushyda a compreender seu afastamento das atlyidades catolicas inclusive na hora da morte negando-se a receber os Ultimos sacramentos embora afirmasse que nao era absolutamente materialista Para alem desses aspectos podeshymos apontar inumedxeis recorrencias a doutrina crista em sua obra sen do varias as referencias a Biblia porem quase sempre em forma de parodia sobretudo ao Eclesiastes Desse modo a partir da obra sagrada utilizada e citada de modo deformado pela ironia buscando atingir efeito comIco e expressando uma leitura critica criou diYersas ctonicas e contos mantendo com aquela relacao intertextual direta Dcntre os contos perpassado~ pela tematica religiosa ou tecidos ao redor de suas pracicas destacam-se Missa do Gala Na arca A Igreja do Diabo Manuscrito de urn sacristao Neste ultishymo um sacristao perspicaz trata do amor progtessiyo do padre Teofilo pela prima EuHilia e ja nos hilarios A Igreja do Diabo e 0 Serrnao do Diabo faz critica bem humorada as ptaticas em-iesadas dos catolicos que dizendo-se cristaos e seguidores dessa doutrina comportam-se de modo totalmente oposto as Escrituras e as pregacoes

Em A Igreja do Diabo 0 demonio te-e a ideia de fundat sua igreja apesar de mesmo a sem esta os seus lucros )a serem continuos e granshydes mas senria-se humilhado por nao ter organizacao regras canones e ritushyais Estabelecendo-os seria Escritura contra Escritura breviario contra breviino e teria sua missa com vinho e pao a farta suas predicas bulas novenas e todo 0 demais aparelho eclesiastico para negar tudo 0 que as outras religioes de Maome de Lutero afirmam Decidido comunicou a ideia a Deus para desafia-lo e ao oitar a terra espalhou a doutrina nova prometendo delicias e glorias Clamava que as virtudes aceitas deveriam ser substituidas por outras naturais e legitimas como a soberba a luxuria a avareza a ira a gula e a inveja esta ultima a virtude principal Trocou tadas as nocoes fazendo amar as perversas e detestar as sas A frau de a venalidade o preconceito a hipocrisia a calunia 0 odio 0 desprezo 0 adultcno foram valorizados e seus opostos negados Fundada a igreja a doutrina propagou e 0 Diabo alcou brados de triunfo( Machado de Assis 1957d7-20)

Porem um dia longos an05 depois notou que seus fieis as escondishydas praticavam as antigas virtudes 0 que 0 deixou assombrado com as fraudes Pasmado nao nem comparou e nem concluiu do espetacushy10 presente alguma coisa analoga ao passado e voando ao ceu disse tudo a Deus que ouviu com complacencia e falou _ Que queres tu meu pobre

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r OPSIS - Revista de i

Diabo As capas de algodao tern agora franjas de seda como as de vdudo tiveram franjas de algodao Que queres tu E a eterna contradiltao humana(l1achado de 8S1S 1957 d20-2) Ou seja os catolicos e a igreja catoshylica com suas capas de veludo ocultavam por baio atitudes vis paninhos de algodao acabando por deitar as urtigas a Escritura divina praticando seu oposto e escondendo-se awls de mascaras Assim revelava seu ponto de vista sobre essa instituiltao da qual expunha mazelas profundas convicltao frouxa desyios e encenaltao

Como urn desdobramento desse conto e ainda no sentido de aponshytar que as atitudes dos cristaos estavam mats para levar ao inferno do que para ao ceu Machado produziu a cronica 0 Sermao do Diabo dizendo ser urn pedalto do evangelho do Diabo urn sermao da montanha amaneira de S Mateus que imita aquele da igreja de Deus Nesse a semelhanlta entre os dois evangelhos e destacada e a adimataltao ao ambiente carioca e julgamento de sua gente e direta ao dizer 1 E vendo 0 Diabo a grande multidao de pOYO subiu a urn monte pOl nome Corcovado e depois de se ter sentado vieram a ele as seus discipulos Em seguida expos seus mandamentos que sao a negaltao dos diyinos e glorificam as comportamentos tortos dos fluminenses oitocentistas ao atrehi-los diretamente a suas altoes e modo moderno de viTer (Machado de lssis 1959a 110-5)

Catolicismos habitos costumes rituais e valores

No entanto procurando conhecer melhor as praticas catolicas enshycontramos muitas igrejas e deparamos com os sons de seus sinos permeando regendo e encantando a vida urbana Sao templos diversos ricos e humildes como as matrizes do Sacramento da Gloria da Se e as igrejas de Sao Francisshyco de Paula da Candelaria de Sao Jose do Carmo da Lapa do Espirito de Santo Antonio dos Pobres de Sao Domingos da Lampadosa alem de oushytros dispersos par bairros distantes acrescidos de capelas particulares em reshysidencias antigas onde muita gente da vizinhanlta ouvia missa aos domingos(Machado de Assis 1956b165 1955e42 1955i94)

Para adentrar tais templos seguimos a sugestao de IIachado de obshyservar se existia alguma janela aberta que indicasse a presenlta de pessoas la dentro e encontramos urn grande numero de c6negos padres e sacristaes como 0 padre Melchior de Helena e infindos outros Dentre tal categoria social esse sacerdote recebe de I1achado grande simpatia sendo descrito como verdadeiro varao apostolico homem de sua Igreja e de seu Deus integro na fe constante na esperanlta ardente 11a caridade Mas como ja visto essa benevolencia do cronista nao se estende a muitos do clero sendo restrita a algumas figuras como urn velho padre geralmente ligadas ainshyfllncia do escritor quando fora coroinha(Machado de Assis 1955e42

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1957b25) Se encontramos muitos clerigos n(

afazeres e praticas que expressam e estao sacristias altares imagens de santos miSSl

sermoes orquestras confessionarios confis _ campainhas rosarios livros de Horas altar sen-ilt-os da llltima hora _ sacramento procissoes opas varas de patio fieis ajoeU esm01as para rea1izar missas aquelas e agr~ Virgem San tis sima mas retirando para si a tar a sacristia (Machado de Assis 1957e 1957f257 1959d16-21301)

Para a1em desses habitos costume conhecimento dessas experiencias atentarr contramos fieis em momentos especiais e em praticas ordinarias como missas do di prias dos rituais de inicialtao como 0 ba como aniversarios casamentos ou de sep Por meio das celebralt-oes rituais do batism rativa a crianlta era iniciada no catolicisffilt sendo ainda apresentada formalmente aOt

essa ocasiao gera1mente acontecia comerr baile(1hchado de Assis 1957c344 195 considerados pais e maes esplrituais da cri em urn momento difkil como a morte parentes queridos e proximos ou pessoaE sociedade as quais pudessem proporcion aos pais e afilhados como par serem influ da crianca ou a decidiam em caso de d1 1955e152 1955f12 1957c343 1959d4

44-5) No entanto a escolha do nome ni

inserida no sistema simb6lico imediato de do qual inclusive as yezes buscavamiddot personalidade e do futuro do indiv1c deslocamento importante pois embora escolhido os nomes dos santos ap6sto afuhados sua atitude adequava-se aprim as crianltas so se punham nomes de sa tradiltao cat6lica daquele tempo mas a~

Marias Catarinas nem Joanas ( ) entran o aspecto as pessoas (Machado de A

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m agora franjas de seda como as de veludo

Que queres tu E a eterna contradiltao 57d20-2) Ou seja os catolicos e a igreja catoshycultavam por baixo atitudes paninhos de

as urtigas a Escritura divina praticando seu mascaras Assim revelava seu ponto de vista unha mazelas profundas convicltao frouxa

to desse conto e ainda no sentido de aponshystavam mats para levar ao inferno do que para onica 0 Sermao do Diabo dizendo ser um urn sermao da montanha t maneira de S ja de Deus Nesse a semelhanlta entre os dois

ataltao ao ambiente carioca e julgamento de E venda 0 Diabo a grande multidao de povo orcovado e depois de se ter sentado vier am eguida expos seus mandamentos que sao a

os comportamentos tortos dos fluminenses asoes e modo moderno de

abitos costumes rituais e valores

conhecer melhor as praticas catolicas enshyamos com os sons de seus 8in05 permeando ana Sao templos diversos rlCOS e humildes cia Gloria da Se e as igrejas de Sao Francisshy

300 Jose do Carmo da Lapa do Espirito de 300 Domingos da Lampadosa alem de oushytes acrescidos de capelas particulares em reshy

ta gente da vizinhansa ouvia missa aos 1956b165 1955eJ2 1955i94)

os seguimos a sugestao de ivlachado de obshyerta que indicasse a presenlta de pessoas hi e numero de conegos padres e sacristaes

e infindos outros Dentre tal categoria Machado grande sunpatia sendo descrito

lico homem de sua IgreJa e de seu Deus lta ardente na caridade tlas como jii

ta nao se estende a muitos do clero sendo urn velho padre geralmente ligadas ainshy

coroinha(Machado de Lssis 1955eA2

OP5I5 - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

1957b25) Se encontramos muitos derigos nos templos deparamos com seus

afazeres e priticas que expressam e estao atreladas a fe dos cariocas como sacristias altares imagens de santos missas algumas cantadas agua benta sermoes orquestras confessionarios confissoes _ajustes de contas com Deus

- campainhas rosarios livros de Horas circunflexoes fieis saudando ao altar seniltos da ultima hora _ sacramentos aos moribundos santos oleos _ procissoes opas varas de palio fieis ajoelhados irmaos das almas pedindo esmolas para realizar missas aquelas e agradecendo em nome de Deus e da Virgem Santissima mas retirando para si as esp6rtulas maiores antes de volshytar a sacristia (Machado de Assis 1957e50 1957c6097-9 100-2234-5 1957f257 1959d16-21301)

Para alem desses habitos costumes e rituais buscando aprofundar 0

conhecimento dessas experiencias atentamos para as formas de vive-las Enshycontramos fieis em momentos especiais e marcantes de suas vidas e ainda em praticas ordinarias como missas do dia-a-dia e aquelas celebratiyas pr6shyprias dos rituais de inicialtao como 0 batismo e dos rituais de passagem como aniversarios casamentos ou de separaltao como as missas de morto Por meio das celebraltoes rituais do batismo e em seguida da festa comemoshyrativa a crianca era iniciada no catolicismo e inserida na comunidade crista~

sendo ainda apresentada formaImente aos parentes amigos e vizinhos Por essa ocasiao geraImente acontecia comemoraltao em casa como almolto ou baile(Machado de Assis 1957c344 1955a392) Os padrinhos escolhidos considerados pais e maes espirituais da crianlta tinham 0 dever de nao faltar em um momento dificil como a morte dos pais e eram amigos intimos parentes queridos e pr6ximos ou pessoas importantes para a familia ou na sociedade as quais pudessem proporcionar sentimento de honra e orgulho aos pais e afilhados como por serem influentes N ao raro escolhiam 0 nome da crianlta ou 0 decidiam em caso de duvida dos pais(Machado de Assis 1955e152 1955f12 1957c343 1959d41-2 1957g34-5 1957a61 1957e 44-5)

No entanto a escolha do nome nao se dava de forma aleatoria estando inserida no sistema simb6lico imediato de referencia da sociedade por meio do qual inclusive as vezes buscava-se determinar alguns traltos da personalidade e do futuro do individuo Nesse sentido ocorria um deslocamento importante pois embora Perpetua por yolta de 1871 tenha escolhido os nomes dos santos ap6stolos S Pedro e S Paulo para seus afilhados sua atitude adequava-se aprimeira metade do secuio quando ( ) as crianltas s6 se punham nomes de santos ou santas de acordo com a tradiltao cat6lica daquele tempo mas agora ja nao se queriam -nas nem lfarias Catarinas nem Joanas () entrando em outra onomastica para variar o aspecto as pessoas (Machado de Assis 1957g34-5 1955i51)

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Para alguns homens a primeira confissao ocorria por epoca da quare sma 0 que levava a que muitos rapazes se escondessem debaixo da cama do padre confessor ou pelos desvaos da casa ji a segunda era pOt ocasiao de casar A cerimonia de casamento era vista como momenta de santidade e de muita comoltao povoando sempre os 50nh05 das mulheres com festas brilhantes muitos carras vesrido branco flores de latanjeira grinalda padrinhos ilustres Porem em 1fachado sao poucas as cenas de casamento e geralmente so em fantasia talvez por ptivilegiar sobretudo nos romances a vida das classes altas au daquelas em ascensao em que 0 casamento era urn negocio politico ou economico e a devoltao assim como 0 sentimento relig1oso fragil entrando em declinio ainda maior frente a outras atividades da vida mundana(Machado de Assis 1955i95)

Por meados dos oltocentos novas formas de sociabilidade foram implementadas desassociando-se cada vez mais daquelas da religiosidade cashytolica Ate entao nos momentos de cumprir as obrigaroes religiosas relacishyonava-se com 0 mundo exterior rompendo 0 enclausuramento usual princishypalmente da mulher No entanto a nova sociabilidade configurava-se ao reshydor de inusitados espaltos tempos e formas de recreio 0 gosto pela vida externa creSCla enquanto os antigos hibitos e costumes marcados pela religishyosidade foram sendo desprezados e em muitos casos abandonados(Borges 2001 49-69) )Jessa transformaltao da sensibilidade coletiva ocorre uma inflexao dos sentimentos e valores relativos ao sagrado e urn avanlto das forshyltas seculares Essa alteraltao apontada por Machado pode sel percebida por meio de urn conjunto de inrucios como a retirada dos quadros de santos da decoraltao das casas mais abastadas sendo substituidos quase sempre por pequenas gravuras inglesas ao passo que nas casas mais pobres a Virshygem era muita cultuada possuindo lugar excelso na devoltao dos corashyltoes maviosos Nessas podia nao haver urn Cristo mas sempre [havia] uma imagem de Nossa Senhora(Machado de Assis 1955f93 1955j91 1957bl08)

A tibieza da fe e a escassez de padres ordenados indicam ainda a diminuiltao da inspiraltiio religiosa e a expansao da secularizaltao ao lado da mudanlta referida nos novos nomes atribuidos aos nascidos nao mais ligados ao imagmano catolico(Machado de Assis 1955j91 1955i51 1959b80 1057c263308 1957d280 1955e13) Assim muita coisa mudava nas familias como 0 uso antigo que urn dos rapazes fosse padre 0 que alterava a direshy

ltao dada it educaltao 0 sentido e 0 rumo a seguir pelas novas geraltoes que geralmente aprendiam as primeiras letras latim e doutrina em casa com urn desses clerigos Eles incuriam noltoes sentimentos e orienravam as escoshyIha5 forjavam vocaltoes religiosas em seus disdpulos ao falarem de supostas manifestatoes daquelas como ocorreu com Bentinho que tinha seus brinqueshydos sempre de igreja e adorava os oEicios divinos brincando mesmo

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b

OPSIS - Revista do

com Capitu de dizer missas e tomando doc estudos secundarios fossem feitos ainda corr filhos ja mais autonomos escolhiam profi economico que oscilayam entre a medicina c busca da vida religiosa que foi acusada em 1 falar da escassez de padres orden ados no sem capehies(Machado de Assis 1959b80)

Nesse contexto e sentido ate prot Por mais que 0 vinculo moral da promessa D Gloria mac de Bentinho descrita como por volta de 1847 dar a Deus 0 filho como infancia 0 compromisso foi rompido postel saida de substitui-Io por urn mocinho 61 da oferta para compensar a batina que aqt tando segundo 0 narrador urn cochilo da mento religioso era marcado por altoes e interiormente a incredulidade era assaz dift distraida Para dc nesse tempo operou u

fez do paganismo e do catolicismo urn 1957c263 308 1957d280 1955e13 19

11as nao era so a familia de Bentin mundo e suas praticas socio-economicas ne Entre Santos expoe situaltocs interessantes passo que urn padre conta certo ocorrido pc de S Francisco de Paula Ao vcr luz sob a p do que se tratava e ouvindo conyersa fez il me antigo de enterrar os mortos nas igrejas mortos ali enterrados No entanto viu que igreja que sairam dos seus nichos e que senl altares comentavam as oraltoes e pedidos d Francisco de Sales contou 0 caso de Sales trazia seu nome e tinha a mulher doente desesperanltado cia terra voltou-se para I salva-la Pediu que a salvasse operando o cera mas ao passo que estabelecia 0 comp moeda que 0 ex-yoto hayia de custar e ac nossos emil ave-marias(Machado de Assi

Nesse momento sobretudo entre

censao a deoltao ficaa Iwbretudo releg Carmo que costumaYa ir a missa aos don por fadiga por doenlta ou por estar chov 0 seu livro com as suas rczas marcadas (

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a primeira confissao ocorria por epoca da muitos rapazes se escondessem debaixo da

desvaos da casa ja a segunda era por de casamento era vista como momento de

povoando sempre os sonh05 das mulheres vestido branco flores de laranjeira grinalda

Machado sao poucas as cenas de casamento e par privilegiar sobretudo nos romances a em ascensao em que 0 casalnento era urn

e a devoltao assim como 0 sentimento LUumiddotv ainda maior frente a outras atividades

Assis 1955i95) novas formas de sociabilidade foram

cada vez mais daquelas da religiosidade cashyde cumprir as obrigaroes religiosas relacishyrompendo a enclausuramento usual princishya nova sociabilidade configurava-se ao reshy

e formas de recrelO 0 gosto pela vida habitos e costumes marcados pela religishy

e em muitos casos abandonados(Borges da sensibilidade cole tin ocorre uma

relacivos ao sagrado e um avanlto das forshy___niua par Machado pode ser percebida por

como a recirada dos quadros de santos da sendo subscituidos quase sempre por

passo que nas casas mais pobres a Virshylugar excelso na deTOltaO dos corashy

nao haver urn Cristo mas sempre [havia] (Machado de 55is 1955pound93 1955j91

de padres ordenados indicam ainda a e a expansao da secularizaltao ao lado da

atribuidos aos nascidos nao mais ligados de Assis 1955j91 1955i51 1959b80

A881m muita coisa mudava na8 familias rapazes Fosse padre 0 que alterava a direshyo rumo a seguir pelas novas geraltaes que

letras latim e doutrina em casa com noltoes sencimentos e orientavam as escoshyem seus discipulos ao falarem de supostas

com Bencinho que tinha seus brinqueshyos ofici08 divinos brincando mesmo

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

com Capitu de dizer missas e tamando doce por hoscia Porem embora os estudos secundarios fossem feitos ainda com base religiosa em seminarios os filhos ja mais autonomos escolhiam profissoes de maior prestigio socioshyeconomico que oscilavam entre a medicina e 0 direito influindo na queda da busca da vida religiosa que foi acusada em 1894 pelo ex-bispo da cidade ao falar da escassez de padres ordenados no () seminario e das paroquias sem capelaes(1hchado de Assis 1959b80)

Nesse contexto e sentido ate promessas celebres eram quebradas Por mais que 0 vinculo moral da promessa prendesse indissoluvelmente D Gloria mae de Bentinho descrita como devota e que havia prometido la par volta de 1847 dar a Deus 0 61ho como sacerdote casu nao morresse na infancia 0 compromisso foi rompido posteriormente guando se encontrou a saida de subscitui-lo por urn mocinho orfao qualquer como pagamento da oferta para compensar a batina que aquele deitou as urtigas represenshytan do segundo 0 narrador urn cochilo da fe Segundo l1achado 0 sentishymento religioso era marcado por lt1ltaes e expressaes exteriores vis to que interiormente a incredulidade era assaz difusa e a deToltao magra tibia e distraida Para ele nesse tempo operou uma grande fusao religioa que fez do paganismo e do catolicismo urn so credo(ilachado de Assis 1957c263 308 1957d280 1955e13 1958b328)

Mas nao era so a familia de Bentinho que em conformidacle com 0

mundo e suas praticas socio-economicas negociava com 0 sagrado () conto Entre Santos expae situaltoes interessantes em torno da devoltao humana ao passo que urn padre conta certo ocorrido por epoca que era capelao da igreja de S Francisco de Paula Ao ver luz sob a porta do templo buscou descobrir do que se tratava e ouvindo conversa fez inferencias que nos revel a 0 costushyme antigo de enterrar os mortos nas igrejas ao perguntar se seriam vozes dos mortos ali enterrados No entanto viu que era urn dialogo entre os santos da igreja que sairam dos seus nichos e que semados em forma humana em seus altares comentavam as oraltoes e pedidos dos fieis no dia Dentre outros Sao Francisco de Sales contou 0 caso de Sales urn velho usuario e avaro que trazia seu nome e tinha a mulher doente com um erisipela na perna que desesperanltado da terra voltou-se para Deus pois so um milagre podia salva-la Pediu que a salvasse operando 0 milagre oferecendo uma perna de cera mas ao passo que estabelecia 0 compromisso s6 via diante dos 0lh05 a moeda que 0 ex-voto havia de custar e acabou prometendo rezar mil padre nossos emil ave-marias(l1achado de Assis 1957h27-44)

Nesse momento sobretudo entre as camadas sociais altas e em asshycensao a devoltao ficaa sobretudo relegada aos antigos e velhos como D Carmo que costumava ir amissa aos domingos e que como outras damas por fadiga por doenlta ou por estar chovendo quando nao 0 fazia pegaya 0 seu livro com as suas rezas marcadas ( ) amesma hora acompanha-a

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a missa toda frente 0 seu altarzinho e seu Cnsto instalados no gabinete e ao acabar beijava a imagem Essa senhora de acordo com sua crenlta nao saia de casa sem a beijar primeiro como urn pedido de proteltao nem voltava scm faze-Io como a dar graltas como 0 fazia ao deitar e ao levantar(lIachado de Assis 1955i197)

A igreja era lugar de exposiltiio seja em missas ordinarias festas de santos missas de mono de seUmo dia de morte e por alma do finado ~i se ostentava opulencia e distimao social sendo objeto de curiosidade publica chamando a atenltao sabre si com carruagens lacaios roupas e esportulas vultosas como a fizera 0 casal Santos emergentes na sociedade na missa de defunto na igreja de S Domingos Essa paroquia era adequada amissa recondita e anonima urn ato sem releyo sem pesames nem lagrishymas como gueria a casal ao mandar dizer missa par alma de urn parente pobre falecido em lIarica scm que aquela repercutisse em seu meio social(Machado de Assis 1959d23) Mas se esse templo era das camadas pobres os ricos au nO05 ricos como a senhora Santos que se queixou que ali sujara 0 estido e enchera-se de pulgas preferiam a de S Francisco de Paula au a da Gloria localizadas em bairros ricos como Flamengo e que eram consideradas lirnpas li os endinheirados tinham como uso velho mandal dizer missas anivelsarias de datas obituarias e natalicias(Machado de Assis 1955i94-5)

lIuitos flequentavam a igreja mais por imposiltao social dos mais Yelhos por ser lugar de se mostlar e estabelecer relaltoes socialS do que por deoltao sentida A jovem Maria Olirnpia tinha a vocaltiio da vida exterior e sentia urn singular feicilto nas procissoes e nas missas pelo rumor e pela pompa Ia aigrcja conduzida pela cia que era religiosa e tinha gosto partishycular em mostrar-se e em namorar os rapazes Sua devoltiio magra escasshyseou ainda mais com a chegada do primeiro espetaculo e 0 primeiro baile Os saloes torna~am-se os novos lugares do encontro e do diertimenshyto e muitos ja entao confundiam as praticas leligiosas com as canseiras da vida e fUgiam delas(Machado de Assis 1959d23-4 28 1957d280 1955i95) Virgilia tambem representa a comportamento da nova mulher presa nas forshyltas seculares ao ser uma jovem senhora casada que possuia urn amante e mostraYa-se pouco religiosa nao ouvindo missa aos domingos ou so indo as igrejas em dia de festa e quando havia lugar vago em alguma tribushyna Alcm disso tachava de beatas aquelas que cram so religiosas a que aponta par outro lado a existencia de mulheres que se dedicayam em excesshyso as praticas religiosas Porem rezava todas as noites com fervor ou pelo menos com sono em sua alcova junto a seu oratoriozinho de jacaranda Ja as homens eram considerados em geral uns impios nao plsavam na Igleja a nao sel para batizar as filhos(tvlachado de Assis 1957e185 1957f257)

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Mas se as individuos substituiam que com suas festas eram todo 0 recreio F tempos antigos ate mesmo a igreja nao e mundanizou-se Adotou os carrilhoes urn c~ tocavam peltas profanas chamando as fieis sinos das igrejas e produzindo uma or enfadonhas austeras graves religiosas ma~ pedaltos do Barbe Bleue da Bela Helen contrafaltao de Offenbach ou deg Amor te cassinos e no Alcazar teatro de opereta e Machado a missa da manhii e 0 fand se(Machado de -ssi5 1957d61 1959c16

Outlo costume do tempo dos vicemiddot processo de modemizaltao expressando p( mundo terreno era a de ingressar em confrlt tempos antigos ocorria por amor as cois pda busca de recompensas imediatas ac tomar materia publica a importimcia do 51

mediante a retribuiltoes como a instalaiio d da noticias para publicar em jornais sabre H(

da divulgaltao realizada pelo proprio bem do beneficio e da publicidade do nome e fi~ nas cogitaltoes publicas tornando~se se mandades de damas cram igualmente usa~ principalmente quando os jornais davam 1

os names das organizadoras 0 anuncio gI6ria(Machado de ssis 1957d26205~6

o mesmo ocorria em relacao as at de cunha religioso e assistencial erguidas fr da mendicidade As associaltoes de caridadt do muitas organizadas por senhoras que ~

nos aos famintos amoldavam-se ao mund cido religioso Por um lado adequada ao se as pedintes de esmola em portas das igre mais pobres com seus miseros vintenzinho prias almas pois por meio da caridade I almejando salvar especialmente a 5i mestnlt tado Por outro 0 beneficio alcanltado cor mundo material e nao espiritual como oc comissao de caridade de senhoras para pc com pessoas de destaque na sociedade q cima na sua busca de ascensao social AI~

i

l 1

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2

ho e seu Cristo instalados no gabinete e ao senhora de acordo com sua crenca nao saia

como urn pedido de protecao nem voltava gracas como 0 fazia ao deitar e ao 955i197)

posiao seja em missas ordinarias festas de setimo dia de morte e por alma do finado tincao social sendo objeto de curiosidade sobre si com carruagens lacaios roupas e a 0 casal Santos emergentes na sociedade na Domingos Essa par6guia era adequada

urn ato sem releyo sem nem higrishyandar dizer missa por alma de urn parente

em que aquela repercutisse em seu meio d23) Mas se esse templo era das camadas como a senhora Santos que se quelxou que e de pulgas preferiam a de S Francisco de s em bairros ricos como Flamengo e que

os endinheirados rinham como uso velho de datas obituanas e natalicias(Machado de

igreja mais por imposicao soclal dos mais r e estabelecer socials do que por

Olimpia cinha a vocaltao da vida exterior procissoes e nas missas pelo rumor e pela cia que era religiosa e cinha gosto parcishy

rar os rapazes Sua devoao magra escasshyda do primeiro espetaculo e 0 primeiro

novos lugares do encontro e do divercimenshyas praticas religiosas com as canseiras da

Assis 1959d23-f 28 1957d280 1955i95) portamento da nova mulher presa nas forshysenhora casada que possula urn amante e

nao ouvindo missa aos domingos ou s6 e quando havia lugar vago em alguma tribushytas aquelas que eram s6 religiosas 0 que de mulheres que se dedicavam em excesshy

rezava todas as noites com fervor ou pelo a junto a seu oratoriozinho de jacaranda em geral uns impios nao pisavam Hna

s f1lhos(Machado de Assis 1957e185

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

Mas se os individuos substituiam seus habitos sociais e religiosos que com suas festas eram todo 0 recreio publico e toda a arte musical em tempos antigos ate mesmo a igreja nao escapou da altao secularizante e mundanizou-se Adotou os carrilhoes um conjunto de sinos musicais que tocavam pe~as profanas chamando os fieis amissa subscituindo os pobres sinos das igrejas e produzindo uma orgia de notas nao de musicas enfadonhas austeras graves religiosas mas sons alegres e animados como pedaltos do Barbe Bleue da Bela Helena do Orfeu nos Infernos uma contrafaltao de Offenbach ou 0 Amor tern fogo tocados geralmente nos cassinos e no Alcazar teatro de opereta e da vida boemia Assim segundo Machado a missa da manhii e 0 fandango da noite aproximavamshyse(Ifachado de 1957d61 1959c168-9 1955d250 1959a68-9)

Outro costume do tempo dos vice-reis com significado alterado no processo de modernizaltao expressando pouca devoltao e grande apego ao mundo terreno era 0 de ingressar em confrarias e irmandades religiosas -Jos tempos antigos ocorria por amor as coisas pias mas no momento era peia busca de recompensas imediatas advindas do individual desejo de tomar materia publica a importancia do sujeito e seu espirito caritativo mediante a retribuicoes como a instalaao de retrato na sacriscia a emissao da nocicias para publicar em jornais sobre os beneficios que pracicava alem da divulgacao realizada peio pr6prio beneficiado Desta forma por meio do beneficio e da publicidade do nome e figura daquele que 0 fez entrava-se nas cogitaoes publicas tornando-se sempre Hlembrado~ Ivfesmo as 1rshymandades de damas eram igualmente usadas para dar brilho a suas juizas principalmente quando os jornais davam noticia minuciosa das festas com os nomes das organizadoras () anuncio nas folhas era um troco da gI6ria(Machado de Assis 1957d26205-6 1957e350 412-4 1956b44)

o mesmo ocorria em relaao as atividades associacivas ftlantr6picas de cunho religlOso e assistencial erguidas frente ao crescimento da pobreza e da mendicidade As associaltoes de caridade que aumentaram na cidade senshydo muitas orgamzadas por senhoras que coletavam donativos e reparciamshynos aos famintos amoldavam-se ao mundo profano e desviavam-se do senshytido religioso Por um lado adequada ao sentimenta cristao a mendicidade e os pedintes de esmola em portas das igrejas traziam as pessoas mesmo as mais pobres com seus miseros vintenzinhos a ocasiao de beneficiar suas pr6shyprias almas pois por meia da caridade punha-se em pracica 0 evangelho almejando salvar especialmente a S1 mesmo e nem tanto ao estranho necessishytado Par outro 0 beneficio alcamado com a caridade podia restringir-se ao mundo material e nao espiritual como ocorria com Sofia que usou de uma comissao de caridade de senhoras para p6r-se em evidencia e criar vfnculos com pessoas de destaque na sociedade que 1he dessem um empurriio para cima na sua busca de ascensao sociaL -lem disso nesse seculo utilitario e

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F

pnitico marcado pelo avanlto das forltas de secularizaltao e perda do espirishyto cristao ate mesmo a caridade tornava-se escriturada legalizada regulashymentada (Machado de Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192 1957e190-2 1959d301)

Junto ao povo 0 gosto das procissoes vinha de longe e estava bastante arraigado para os antigos uma tradiltao de infancia costume da primeira metade do seculo do tempo do rei e suas predileltoes confesshysadas por todas as yelhas carolices as quais seus contemporaneos choravam e pediam pelos tempos dos oratorios de pedta dos tetltos cantados das procissoes bem ordenadas das ladainhas atras do viatico das boas festas e dos bons trades da verdadeita fe e dos vetdadeiros filhos de Deus iias ja em 1865 essas ptocissoes classicas podiam dar ideia de tudo menos de urn culto serio e elevado pois ao lado dos anjinhos e andores floridos os homens iam em filas uns com tochas na mao outros com vara do palio disputadas pelos fieis pais dava uma distincao especial a quem a trazia Alguns iam dizendo pilh6rias aesquerda e adireita enquanto os assistentes comentavam as gracas jUTenis do anjo cantor que era sempre mQ(a feita Desta forma Machado julgava que essas procissoes e semelhantes praticas eram ridiculas nao podendo subsistir numa sociedade verdadeiramente telishygiosa pois uma folia mesmo para os mais sinceramente religiosos com as quais os sacerdotes serios nao deveriam conservarem cumplices( Mashychado de Assis 1958a101-2 Grifo meu)

Existia ainda a luta tradicional travada entre os diferentes templos com 0 unico objeto de primar uns sobre os outros no luxo das suas procisshysoes respectivas sendo essa luta por demais profana e manifestava-se por uma aculTIulacao de prata e ouro nos andores no mais numeroso concurso de irmaos e de anjinhos e outras coisas iguais Vivia-se 0 sagrado melo afolia comentari~s dos assistentes pilh6rias disputas e abusca do brilho e da distimao do que Machado duvidava muito que a divinshydade visse com bons olhos estes conflitos de primazia(Machado de Assis 1958alOl-2 1957c98-100 Grifo meu) No entanto se as procissoes eram filhas da tradiltao em 1865 algumas delas ja haviam sido suprimidas pelo process a de modernizaltao da igreja e para 0 cronista tudo fazia crer que as restantes tamb6m seriam Nesse sentido em 1893 avalia com certa melanshycalia a diferema entre uma procissao de Sao Sebastiao daquele ana e as de outrora dizendo Ordem numero pompa tudo 0 que havia quando era () menino tudo desapareceu(Machado de Assis 1958a101 1959a220)

Porem se 0 sagrado e 0 profano apresentavam-se quase sempre de maos dadas inclusive na esfera das praticas catolicas oficiais essa interpenetraltao tinha certos limites Em 1896 uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair em desftle por se denominar N ossa Senhora da Conceiltao De acordo com 0

cronista esse titulo pareCla esquisito mas se a intenltao eque salva a sociedashy

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OPSIS - Revista do

de vai para 0 ceu pais os autores da ideia tQS da Virgem e nao [tinham] 0 carnaval por desse poslcionamento 0 folhetinista acabou enfatizando que se tal socledade tinha igual g adotar denominaltao adequada e que na( Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos et gente mas sofriam tambem a altao dos novo se Eram de maior destaque a festa da Glol Reis de Sao Sebastiao do Espirito Santos e ( tinham lugar tanto a religiao com missa que F Deum quanto 0 recreio com fogos de artifi prendas Embora houvesse entre elas algum folhetinisra ao cabo de tudo [era] a mesml sao 0 que 0 leTaTa a lascimar que 0 fogo de da Penha [1eYavam] mats fi6is que 0 objeto es certo que todo caminho leva 11 Roma nao 0 i Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que t~

como tinham acabado muitas outras devoS meio recreativas Para ele 0 elemento estr mes com muita patinacao muita opereta m nossa populacao a rusticidade e 0 encanto d Assis 1958b121 1956b207 19S5g410 1955d147-8 Grifo meu)

~ festa do Espirito Santo igualmel contista em A Parasita Azul que transeOl Luzia Goias ao falar desse festejo aponta q que de todo se nao apagou 0 gosto dessas eras No entanto na Corte ainda persistia ( barracas Nao era diferente com a Festa de R 1864 Machado falava que a festa de S Joao tI fogueiras e baloes proibidos por postura mu obstante 0 ceticismo do tempo muita e m corter primelro que 0 povo [perdesse] 0

foguetear os tres santos em junho Porem ja Joao e tambern de Reis Sobre a ultima com popular perdurava no interior pois na c

anos e brotado em sua cinzas a arvore de t essas lTIudancas De Assis lamenta que os al ha nela de puetil para Sf) the deixar 0 que ha quem nem 15S0 fica esse perde 0 melhor ( sirnplorio e velho de noites abencoadas

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das for~as de secularizacao e perda do espirishytornava-se escriturada legalizada regulashy

Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192

das procissoes vinha de longe e estava os antigos uma tradi~ao de inGneia costume do tempo do rei e suas predileltoes confesshy

as quais seus contemporaneos choravam orat6rios de pedra dos terltos cantados das

ladainhas awis do yiatico das boas festas e fe e dos verdadeiros ftlhos de Deus 1as ja

sslcas podiam dar ideia de tudo menos de um ao lado dos anjinhos e andores floridos os

tochas na mao outros com vara do palio uma distin~ao especial a quem a trazia

aesquerda e adireita enquanto os assistentes do anjo cantor que era sempre molta feita que essas prociss()es e semelhantes pniticas

subsistir numa sociedade erdadeiramenterelishypara os mais sinceramente religiosos com as

nao deyeriam conservarem cumplices( 11ashyGrifo meu)

ttadlC1011al travada entre os diferentes templos uns sabre os outros no luxo das suas procisshy

luta por demais profana e manifestava-se e ouro nos andores no mais numeroso

e outras coisas iguais Viyia-se 0 sagrado dos assistentes pilherias disputas e abusca do que Machado duyidava muito que a divinshy

conflitos de primazia(Machado de Assis Grifo meu) No entanto se as procissoes eram

delas ja haviam sido suprimidas peIo igreja e para 0 cronista tudo fazia crer (lue as

sentido em 1893 avalia com certa melanshy)rOClssao de Sao Sebastiio daquele ana e as de nUmero pompa tudo 0 que havia quando era

(Machado de 1958a 101 1959a220) eo profano apresentavam-se quase sempre de das pciricas cat6licas oficiais essa interpenetraltao uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair

Senhora da Conceiltao De acordo com 0 mas se a inten~ao e que salva a sociedashy

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de vai para 0 ceu pais as autores da ideia [eram] com certeza fieis deyoshytos da Virgem e nao [tinham] 0 caman por obra do diabo Porem apesar desse posieionamento 0 folhetinista acabou por concordar com a proibi~ao enfatizando que se tal soeiedade tinha igual gosto as ideias profanas deveria ado tar denominacao adequada e que nao faltam titulos (1vIachado de Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos eram populares e reuniam muita gente mas sofriam tambem a a~ao dos novos tempos e perdiam seu interesshyse Eram de maior destaque a Festa da Gloria da Penha da Conceiltao de Reis de Sao Sebastiiio do Espirito Santos e de Sao Benedito Em tais festas tinham lugar tanto a religiao com missa que poderia ser cantada e ate um TeshyDeum quanto 0 recreio com fogos de artificio barracas corretos leilao de prendas Embora houvesse entre elas algumas diferenltas de acordo com 0

folhetinista ao cabo de tudo [era] a mesma alcgria e a mesmlssima divershysao 0 que 0 leYaa a lastimar que 0 fogo de artificio da Gkma e 0 garrafao cia Penha ~evayam] mais fieis que 0 objeto essencial da festiyidade POlS se e certo que todo caminho leva aRoma nao a e que todo caminho lea ao ceu Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que talvez essa Festa tin~sse findado como tinham acabado muitas outras devoltoes populare~ melO religlOsas meio recreatiYas Para 0 elemento estrangeiro transformou os costushymes com muita muita opereta muita COlsa peregnna que tirou it nossa populaltao a rusticidade e 0 encanto de outros tempos(~1achado de Assis 1958b121 1956b207 1 10 1959c225 103 1957c77 1955d147-8 Grifo meu)

A Festa do Espirito Santo igualmente desaparecia e em 1870 0 contista em A Parasita Azul que transcorre por olta de 1850 em Santa Luzia GOlaS ao falar desse aponta que vao rareando os lugares em que de todo se nao apagou 0 gosto dessas festas classicas resto de outras eras No entanto na Corte ainda persistia 0 habito de muito irem ver suas barracas Nao era diferente com a Festa de Reis e dos santos juninos Se em 1864 Machado falaya que a Festa de S Joao tomaya-se falsificada sem fogos fogueiras e baloes proibidos por postura municipal em 1878 dizla que nao obstante a cetiClsmo do tempo muita e muita dezena de anos n1aia] de correr primeiro que 0 povo [perdesse] os seus antigo amores como foguetear os tres santos em junho Porem ja em 1894 trata da morte de S Joao e tambem de Reis Sobre a ultima comenta que nao sabia se essa festa popular perdurava no interior pois na capital tinha morrido ha muitos anos e brotado em sua cinzas a arvore de Natal vinda da Europa Frente a essas mudanltas De Assis lamenta que os anos que passam tiram afe a que ha ncla de pueril para so Ihe deixar 0 que ha serio Para de triste daqucle a quem nem iS50 fica esse perde 0 melhor das recordaltoes de um tempo simpl6rio e velho de noites abenltoadas em que as crendices sas abrem

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todas as vdasAs consultas as sortes as ovos guardados em agua e outras sublimes ridicularias as quais via com respeito com simpatia e se alguma coisa a molestaa era por nao as saber ja praticar( lvlachado de Assis 1957e62 1955f46 1955a318 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241 1959b13-4 123-4)

Ifas se na cidade 0 vento dos tempos desfazia em lufadas de tuGo essas praticas populares anrigas arraigadas no imaginario coletivo no interior de era brisa igual e mansa que tudo esfolhava e dispersava devagar 8Sim em 1864 0 cronista tratou de urn morador de Viana descobridor de uma imagem de Santa Teresa que lacrimejava e supondo ser milagre pos em alorolto as credulos vianenses considerando procedente realizar exame do fato por uma comissao de eclesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao das festas do Born Jesus em Pirapora que reuniam anualmente urn numero extraordinario e crescente de romeiros calculados naquele ana em 8000 pessoas J a em 1873 escreyeu sabre uma senhora que enlouqueceu quando depois de longa seca pediu chua enterrando uma imagem de Santo Antonio no rnato e alcanltou 0 pedido Porem como a chuva abundante nao cessava ao contrario 0 aguaceiro ia a mais matando inclusive animais yoltou ao buraco por acreditar que a preclpitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas nao 0 encontrou entrando a supor que os males derivavam da altao que praticara 0 cronista comentando 0 fato de Santo Anttmio gozar entre seus deyotos do exotico privilegio de nao conceder nenhuma gralta senao enterrado ou metido num poco so operando milagres a troco da liberdade consideraya que uma senhora religtosa fizera-se supersticiosa e que quando a fe chega a este ponto esta )a muito alem das fronteiras da superstiltao deixando seu praticante sem nenhuma das grandes consolaltoes da fe trazendo-lhc 0 desespero e a loucura Ainda nesse universo ja em 1876 trata da existenCla de duas mulheres santas e milagrosas uma que apareceu na Bahia em torno da qual formou romarias dos seus devotos e outra velha milagrosa que diziam curar doewas incuraveis com ervas misteriosas(Machado de Assis 1955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2)

Desta maneira as esferas do sagrado e do profano da fe da devoltao e do recreio estaam bastante imbricadas no que concerne as praticas dos catolicos havendo uma circulaltao e influencia reciproca entre as instancias das cerimonias e rituais oficiais e sua recnacao pelos leigos entre 0 divino e a folia entre 0 cuita e a festa Os momentos e lugares em que essas aspiracoes se concretizavam em praticas sociais serviam tambem para promover a interacao dos indivlduos lvlas deixando esse sobrevoo sobre a sociedade carioca e focalizando n0550 olhar num segmento especifico desta como na comunidade negra podemos perceber outros aspectos da cultura religiosa carioca Dessa cultura hibrida amalgamada no territorio fluminense observamos primeiramente as pratica ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revi$fa do

as quais de forma geral sao vistos como

respeitados N esse meio social existiam aqudes in

uma preta y~lha do conto 0 Escrivao Co ajoe1hada diante do altar de S Bernardo co do pedic-lhe alguma coisa se nao eque lhe recebido ate que acabou beijando a cruz tou-se e saiu Outros aparecem como detel onais e seus transmissores sendo rezadore senhores ou sabedores de promessas celebre sas ou subir de joelhos a ladeira da Glc Santa(Machado de Assis 19551229-30 1 esta presente no uniYerso das atividades cal do preto elho de Casa Velha que emb africanas era sineiro mas nao fazla mats q missa aos domingos 19ualmente nesse 0

sineiro da Gloria (lue de escrao ficou li~ seculo aquda torre regendo a paroquia e c( picava por casamentos nascimentos batiza amarela 0 calera-morbus os partidos qUI deles ~ pela guerra do Paraguai pelos mo livre das escravas a aboliltao a Republica plt se Tudo conforme a ordem(JIachado de

Outras Ofertas e tensoes Feiti~

Espiritism

Ja outros negros vclhos aparecem mais circunscritas senda depositarios de p( varios elementos que expressam traltas cultu canas 0 negros produziram com suas ling des cantos e batuques uma ruptura com recorrerem mesmo que na clandestinidade uma cultura negra brasileira a qual recorriar contexto embora inseridos em universo simi de crencas praticas e -isoes de mundo al~ tica usada no cotidiano por bran cos negro cam associalt6es ao cultos africanos nos ql parentesco permeiam os rdacionamentos s mente ligados Desta forma alguns pretos sendo vistos como bonciosos humildes g~ Assis 1955d392 1957c279)

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s sortes os ovos guardados em agua e outras

via com respeito com simpatia e se alguma ao as saber ja praticar( Machado de Assis 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241

vento dos tempos desfazia em lufadas de anrigas arraigadas no imaginario coletivo no nsa que tudo esfolhava e dispersava devagar

tou de urn marador de Viana deseobridor de que lacrimejava e supondo ser milagre pas ses considerando procedente realizar exame clesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao apora que reuniam anuahnente urn numero

romeiros calculados naquele ana em 8000 sobre uma senhora que enlouqueceu quando a enterrando uma imagem de Santo Antonio

Porem como a chuva abundante nao cessava mais matando inclusiye animais yoltou ao cipitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas supor que os males derivavam da altao que do 0 fa to de Santo Antonio gozar entre seus 0 de nao conceder nenhuma gralta senao s6 operando milagres a troeo da liberdade

giosa fizera-se supersticiosa e que quando muito alem das fronteiras da superstiltao nenhuma das grandes consolaltoes da fe loucura Ainda nesse universo ja em 1876 eres santas e milagrosas uma que apareceu na romarias dos seus devotos e outra velha

urar doenltas incuraveis com ervas 955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2) s do sagrado e do profano da fe da devoltao

bricadas no que concerne as praticas dos o e influencia redproca entre as ins tlmcias das a recrialtao pelas leigos entre 0 div1110 e a

omentos e lugares em que essas aspiraltoes sociais serviam tambem para promQyer a

deixando esse sobrevoo sobre a sociedade num segmento espedfico desta como na

ceber outros aspectos da cultura religiosa a amalgamada no territorio flumlnense aticas ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revista do Niese V2 N J JanJun 2002

os quais de forma geral sao vistos como conhecedores dela e por 1880 re8peitados

Nesse meio social ex1stiam aqueles inseridos na tradiltao catolica como uma preta v~lha do conto 0 Escrivao Coimbra que Camilo viu na igreja ajoelhada diante do altar de S Bernardo com urn rosario na mao parecenshydo pedir-lhe alguma coisa se nao e que the pagava em oraltoes 0 beneficio ia recebido ate que acabou beijando a cruz do rosario persignou-se levanshytou-se e saiu Outros aparecem como detentores de conhecimentos tradicishyonais e seus transmissores sendo rezadores que pediam guard a para seus senhores ou sabedores de promessas celebres como mandar dizer cern misshysas au subir de joelhos a ladeira da Gloria para ouvir uma ir a Terra Santa(Machado de Assis 19551229-30 1957c71177279) 0 negro idoso esta presente no universo das atividades catolicas como sineiros a exemplo do preto velho de Casa Velha que embora muito atrelado as tradiltoes africanas era sineiro mas nao fazia mais que tocar 0 sino da capela para a missa aos domingos Igualmente nesse ofieio IvIachado destaca Joao 0 sineiro da Gloria que de escravo ficou livre governando por quase meio seculo aquela torre regendo a par6quia e contemplando 0 mundo de 11 Reshypicava por casamentos nascimentos batizados mortes Dobrava pela febre amarela 0 colera-morbus os partidos que subiam ou cafam sem saber deles _ pela guerra do Paraguai pelos mortos e pelas vitorias peIo ventre livre das escravas a aboliltao a Republica pelo imperio_ se 0 imperio tornasshyse Tudo con[orme a ordem(tviachado de -5S1S 1956b193-4 1957b431-3)

Outras Ofertas e tensoes Feiti~arias Adivinha~oes e

Espiritismo

Ja outtos negros velhos aparecem atrelados as tradiltoes ancestrais mals circunscritas sendo depositarios de poderes de proteltao e guardioes de varios elementos que expressam traltos cultorals singulares das socledades afrishycanas 0 negtos produziram com suas linguas danltas folguedos sonoridashydes cantos e batoques uma ruptura com a -isao de mundo ocidental ao recorrerem mesmo que na clandestinidade a seus ritos seus deuses criando uma cultura negra brasileira a qual reeorriam alguns de seus senhores Em tal contexto embora insetidos em universo simb6lico marcado pda multiplicidade de crenltas praticas e visoes de mundo alguns aspectos da expressao lingiiisshyrica usada no cotidiano por brancos negros e mestiltos livres e cativos indishycam associaltoes ao cuhos africanos nos quais a ideia de familia e de laltos de parentesco permeiam os relacionamentos socialS e religiosos que sao intimashymente ligados Desta forma alguns pretos velhos eram ehamados de Pai sendo vistos como bondosos humildes generosos e paternais( Machado de Assis 1955d392 1957c279)

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Outros pretos velhos de modo mais dire to traziam conhecimentos ancestrais produzindo rituals que funcionavam como urn feitiqo protetor as vezes acendendo velas tocando marimba cantarolando em alguns instanshytes baixinho umas ozes de Africa cantilenas alegres guerreiras entusiasshytas em outros cantigas falando de santo de trabalhar de comer 0

que remete as praticas das oferendas e ao principio do candomble de existenshycia de forqas vitais e sagradas que perpassam todos os aspectos da vida mashyterial e cotidiana como as tarefas as formas hidicas como a musica a danqa o canto 0 gesto Assim tanto Raimundo de laid Garcia empertigava 0

corpo dando aos quadris e ao tronco 0 movimento de suas danqas africashynas quanto 0 peeto velho de Casa Velha que canta-a Calumga mussanga monandengue dando ao corpo umas sacudidelas para acompanhar a toshyada africana alem de recorrer as tradiltoes orais ao contar historias muito compridas e sem sentido algum para os brancos pOlS forjadas e inseridas noutro universo simbolico da maioria deles ignorado Desta forma essas manifestaltoes mantinham uma memoria reveladora de matrizes africanas que era alimentada pela danqa pela paIavra pelos gestos ou pelos objetos e oushytros vekulos de expressao e comunicaqao(Machado de Assis 1955h1114 1956b193-4 1957b432-3)

No entanto outros aspectos expressam ainda a religiosidade no universo de uma cultura afro-amerindio-brasileira na obra machadiana como a feitiqaria Num momento em que em nome da civilizaltao da ciencia e da razao os intelectuais e as autoridades medicas policicas e policiais voltaramshyse contra praticas ariadas denominadas ~fnericamente de feitisaria lIachashydo abordou essa questao de modo bastante proprio Nao associou tais pratishyeas ao universo socio-cultural espedflco dos negros como faziam outros jorshynalistas e tampouco os apreciou a priori de modo negativo e condenatorio Contrap6s-se ao conteudo de muitas notkias divulgadas na imprensa nas quais 0 negro era 0 bruxeiro 0 feiticeiro violento e barbaro com a figura de Raimundo que produzia urn feitiqo protetor a seu senhor afastando da imagem do preto que fazia feitico male fico para seus proprietarios(Schwarcz 1987125-8 Machado de Assis 1955h10)

Ao tratar da batalha contra os antigos habitos religiosos tradicionais da gentes em 1893 0 cronista anunciava ter medo do c6digo penal de 1890 no qual havia urn artigo que castiga duramente as pessoas que advinham 0

futuro tao duramente como as que aplicam drogas para excitar odio ou amor para fascinar e subjugar a credulidade publica Com base nesse as autoridades recolhiam adetenqao curandeiros e feiticeiras levan do as ferrashymentas desses ofieios ( ) incluidos no e6digo como delitos como aves mortas pernas de ceroula saquinhos com feijao arroz farinha sal altucar canjica penas e cabeltas de frangos usados na busca de estabelecer uma alianshyca com 0 sobrenatural a partir da aciio de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do

vivos deuses e homens(lIachado de Assis Assis a feitiqaria era alga natural do homen tivas alem de ser urn ofkio que garancia r fur tar e matar para sobreviver e infring1r 0

que nao falam de feitiltaria mas de furto doente acreditar na feiticaria e por julgar q soais que determinam tudo neste mundo I

acudir a feitiltaria considerando emao inee go penal como deli to c prender senhoras s com os seus olhos e com seus demais obj 1959b308-11 )

fachado rarefez 0 clima hostil de dos seus agentes nao as associando aos neg te que esse elbo costume de buscar nas fei ros quase sempre mesciltos _caboclos e eab agruras nao so se restringia ao pon) Muita dade recorriam aos adiyinhos e curandeiros erva como por meio dc rezas 0 eurand mazelas que devastaam a cidade como eOolltao de defuntos de espiritos difere de ler como as adivinhas mandando e curandeiro Tobias falava em prosa scm 0

cas ate ser preso com suag bugigangas e galo pes de galinha secas medalhas pohcoJ de raia incluidos no aparato instrumental sis 1956c248-9 267-8 19S5d426-7)

Buscar os adivinhos e feiciceiros era ricas ainda que nesta muito preconceitos vando muitas ezes a consultas escondidas redor dc uma caboc1a muito conhecida do adivinha era grande e segundo 0 narrador da sociedade falavam dela a serio e havia ta um Juiz municipal cuja nomeaqao foi ar era muito falada na cidade e reinava Ii n(

merosa que vinha de muito mcses scndo queza da adivinha Toda a gcnte falan e assunto da cidade atribuiam-lhe um pode sortes achados casamento Afirmavam e 0 que vifia a scr Para 0 poo parccia muitas as noticias sobre seus feitos e ha-ia ~ soas que tinham perdido e achado joias e esc ~- polkia mesma quando nao acabaYl1 de

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de modo mais dire to traziam conhecimentos

tronco 0

funcionavam como urn feitio protetor

marimba cantarolando em alguns instanshy cantilenas alegres guerreiras entusiasshy

de santo de trabalhar de comer 0

e ao principio do candomble de existenshyperpassam todos os aspectos da vida mashy

as formas ludicas como a musica a danca Raimundo de laid Garcia empertigava 0

movimento de suas dancas africashyVelha que cantava Calumga ~ussanga umas sacudidelas para acompanhar a to-

as tradicoes orais ao contar historias muito para os brancos pois foqadas e inseridas

maioria deles ignorado Desta forma essas memoria reveladora de matrizes africanas que palavra pelos gestos ou pelos objetos e oushy

~uluIlltaya()(ilachado de Assis 1955h1114

expressam ainda a religiosidade no merind()-trastllra na obra machadiana como

que em nome da ciyilizacao da ciencia e da medicas politicas e policiais oltaramshy

1955hlO)

loolinadls genericamente de feiticariatvfachashybastante proprio Nao associou tais pratishy

_middot~neIflr dos negros como faziam outros jorshy

apriori de modo negativo e condenatorio muitas noticias divulgadas na imprensa nas o feiticeiro violemo e barbaro com a figura

feitico protetor a seu senhor afastando da maletico para seus proprietarios(Schwarcz

os antigos habitos religiosos tradicionais anunciava ter medo do codigo penal de 1890

duramente as pessoas que advinham 0

as que aplicam drogas para excitar odio ou a credulidade publica Com base nesse as curandeiros e feiticeiras levando as ferrashy

lCitllid()s no codigo como deliros como aves

com feijao arroz fartnha sal acucar usados na busca de estabelecer uma alianshy

da alao de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

vivos deuses e homens(Machado de Assis 1959a288 1959b308) Para De Assis a feiticaria era algo natural do homem vista em varias tribos primishytivas alemde ser urn oficio que garantia renda a muitos impedindo-os de furtar e matar para sobreviver e infringir os mandamentos da lei de Deus que nao falam de feiticaria mas de furto Ironicamente diz que por estar

doente acreditar na feiticaria e por julgar que sao sempre os l11teresses pesshysoals que determinam tudo neste mundo estava com grandes desejos de acudir afeiticaria considerando entao incorreto incluir a feiticaria no codishygo penal como delito e prender senhoras so porque fecham 0 corpo alhelO com os seus olhos e com seus demais objetos de culto(Machado de ASS1S

195308-11) Machado rarefez 0 clima hostil de desqualificacao dessas praticas e

dos seus agentes nao as associando aos negros e enfatizando incansavelmenshyte que esse velho costume de buscar nas feiticeiras adivinhas e curandeishy

ros quase sempre mesticos _caboclos e caboclas _ auxilio as imluietacoes e agruras nao s6 se restringia ao povo Tfuitas pessoas de posiltao na SOC1eshydade recorriam aos adi-inhos e curandeiros e os ultimos curavam tanto com ervas como por meio de rezas 0 curandeiro Nascimento curaa muitas mazelas que devastayam a cidade como barriga dagua com passes de evocacao de defuntos de espiritos diferentes ou arrancava dentes alem de Ie~ como as adivinhas mandando com tais e tais palaTinhas Ja 0

curandeiro Tobias falava em prosa sem 0 saber curaa em Hnguas classishycas ate ser preso com suas bugigangas e drogas tais como esporoes de galo pes de galinha secos medalhas polvora e ate urn chicote feito de rabo de raia inc1uidos no aparato instJumental de seus ritualS (ilachado de Asshysis 1956c248-9 267-8 1955d426-7)

Buscar os adivinhos e feiticeiros era costume presente entre as classes ricas ainda que nestas muitos preconceitos contra tais praticas existissem leshyvan do muitas vezes a consultas escondidas como ocorre em Esau e Jaco ao redor de uma cabocla muito conhecida do Ilorro do Castelo lt fama des sa adivinha era grande e segundo 0 narrador muira gente boa Ja ia pessoas da sociedade fala am dela a serio e havia um caso recente de pessoa dis tinshy

ta urn juiz municipal cuja nomeacao foi anul1ciada pela cabocla A caboc1a era muito falada na cidade e reinava la no morro possuindo freguesia nushymerosa que vtnha de muttos meses sendo sinal certo da videncia e da franshyqueza da adivinha Toda a gente fahlYa entao da cabocla do Castelo era 0

assunto da cidade atribuiam-lhe um poder tntlnito uma serie de milagres sortes achados casamentos AfirmaalU que cia adivinhaya tudo 0 que era eo que iria a ser Para 0 povo parecia que era mandada de Deus Eram muitas as noticias sobte seus feiros e hayia gente que dizla que conheC1a pe5shysoas que tinham perdido e achado joias e escraos De acordo com 0 narrador A policia mesma quando nao acabaa de apanhar um criminoso ia ao Casshy

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tela falar acabocla e des cia sabendo por i5S0 eque nao a botava para fora como os invejasos andavam a pedir A caboda explicava sonhos e pensashymentos curava quebranto(Machado de Assis 1959d43-4)

Segundo Aires tal costume era velho e velhissimo e no interior da casa simples nao havia nada que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshynhum petrecho simbalico nenhum bicho empalhado esqueleto ou desenho de aleiJoes Quando muito urn registro da [festa de Nossa senhora da ] Conshy

colado a parede podia lembrar misterio mas nao metia medo A cabocla e descrita com simpatia e 0 ritual sem afetacao Era uma criaturinha leve e breve ( ) corpo airoso com urn raminho de arruda nos cabelos 0

que ja the dava urn certo ar de sacerdotisa embora seu misterio estivesse mesmo era nos olhos agudos e compridos que entravam peIo consulente revoh-endo-Ihe 0 coracao ao tempo que interrogava Em transe de posse de retratos e cabelos de alguem ausente com urn cigarro acesso ao som de uma viola e de cantigas do sertao do Norte murmuradas por urn velho caboclo entrava a dizer sobre as coisas futuras ate que por fun 0 fregues se alegre e rico tirava uma nota de cinquenta mil-reis quando 0 preco do costume era cinco ezes menos arrecadaYa seus objetos e saia (Machado de Assis 1959d 7shy16) Essa cabocla com origem no norte do pais assim como outros caboclos curandeiros perseguidos pela policia remete apresenca dos caboclos no unishyverso das pniticas religiosas brasileiras que sendo figura mestica esta vinculashyda a nossos ancestrais nativos os indios donos da terra e ligados anatureza no tradicao dos cultos afro-brasileiros

No en tanto no campo das batalhas religiosas tais praticas tiveram outros opositores tal como os adeptos do nascente espiritismo que contagishyados peIo espirito positivo~cientificista do momenlO na busca de credibilidade ptlblica e de converter fieis incutindo-lhes seus pressupostos diziam possuir doutrina regida por leis cientificas ao querer excluir qualshyquer maculf[ de seita e julgavam-se sabedores das verdadeiras luzes do mundo e de verdades eternas Desta forma um iniciado nessa religiao defendia uma consulta espirita e na~ a caboda do Castelo por mais que ela fosse celebre Recorrer a ela seria imitar as crendices da gente reles e s6 ocorreria ate enquanto a policia nao pusesse cobro ao escandalo J a numa consulta espirita algum espirito podia [dizer] a verdade em vez de uma adivinha de farsa Para urn medium espirita enfiado em larga camisola de seda e usando toda a terminologia espirita assomada de casos fenomeshynos misterios testemunhos atestados verbais e escritos a cabocla devia ser deixada afe das senhoras pois eram delas crencas da meninice(Machado de Assis 1959d79113843-6646770 1957h10-1)

Cabe aqui ressaltar que nesta obra Esau e Jac6 a qual trata desses variados aspectos espirituais acima apontados advindos de tradicoes culturais e religiosas diversas Machado sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religi~

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OPSIS - Revista do

oso expondo a imbricacao das praticas ori catolicismo e 0 confronto com 0 espiritismc bases do que seria posteriormente denomin nomes dados as pessoas podem predestina ligacao entre 0 fato dos filhos do casal Sanl quais a cabocla disse terem brigado no ventr des entre estes porque os dois apostolos do garam assim como Esau e Jaco figuras do brigado por causa da primogenitura

Porem lIachado nilO recorre ao eSI conto Uma visita de Alcibiades 0 desemba S1caO juntamente com Santos aCllna citado essa doutrina propagaya ao ler Plutarco fun litava envoher a imaginaltao numa especie vel as evocacoes mentais transportou-se pa de Alcibiades ate que ao terminar de [umar de subilO pensou qual seria a impressiio daqu ario Desta feita enfatizando (lue era urn 1

podendo mesmo dizer que vlvia cornia dor cafe e esperava morrer na fe de Alan Kard os sistemas sao pura niilidades tinha adota sim sendo espiritista evocou lcibiades a c fez rapido aproximando duas civilizacoes impalpavel e sim urn homem de carne e mente a sua frente entrando a conersar sob o grego empalideceu cambaleou e caiu r desembargador mandou~o para 0 necroteno

o espiritismo sen-iu como assunto nas quais quasc sempre ri brinca e ironiza sc cando as vezes compreende-los por mais laquo

correndo a estrategias comicas Desta forma situacoes nebulosas como uma que exigia p teoria de Newton sugerc consultar 0 propri vez que nao entendia nada de astronomia Er brasileiros acabavam de dar um golpe de m urn medium com fama de ser prodigioso e sileira nomeado uma comissao para estudar nao valia a fama e que os trabalhos ficararr Europa e outro paises mas que 0 problen estao sujeitas a esse eclipses e nao estao Fora i5S0 a Federacao lamentaa que diante mular os fenomenos que obtem nas condie

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_UJUUV por 1SS0 e que nao a botava para fora a pedir A caboda explicava sonhos e pensashy

UVll1Ul1lU de Assis 1959d43-4)

vmiddotOLU1l1C era velho e velhissimo e no interior da que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshy

UUilU bicho empalhado esqueleto ou desenho registro da [Festa de Nossa senhora da 1Conshylembrar misterio mas nao metia medo A eo ritual sem afetas-ao Era uma crtaturinha

com urn raminho de arruda nos cabelos 0

sacerdotisa embora seu misterio estivesse e compridos que entravam pelo consulente

tempo que interrogava Em transe de posse de ausente com urn cigarro aces so ao som de uma do Norte murmuradas por urn velho cabodo

futuras ate que por fim 0 fregues se alegre ~lu-uLa mil-reis quando 0 pres-o do costume era

seus objetos e saia(Machado de Assis 1959d7shyno norte do pais assim como outros cabodos

polleia remete a presens-a dos cabodos no unishyIIJ[l1~JlC1Jl1 que sendo Figura mestis-a esta vlnculashy

os indios donas da terra e ligados anatureza

das batalhas religiosas tais praticas tiveram adeptos do nascente espiritismo que contagishy

__rpntificista do momento na busca de nrprtpr fieis incutindo-Ihes seus pressupostos

por leis cientificas ao querer exduir qualshysabcdorcs das yerdadeiras luzes do

Desta forma urn iniciado nessa religiao

rfu~ ~clt5u-(r(l1H-gn1ru lJ(YL nril ljlft1hgt

seria imitar as crendices da gente reles e so nao pusesse cobro ao esdindalo Ja numa

podia [dizer] a verdade em vez de uma Pltd11lIl espirita enfiado em Iarga camisola de

espirita assomada de fenomeshynauo verbais e escritos a cabocla devia ser

eram delas crenltas da meninice(Machado 770 1957hl0-1)

nesta obra Esau e Jaco a qual trata desses apontados advindos de tradiltoes culturais

sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religishy

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

oso expondo a imbricaltao das praticas origin arias dos amedndios com 0

catohcismo e 0 confronto com 0 espiritismo que amalgamados crtavam as bases do que seria posteriormente denominado de umbanda Aponta que os nomes dados as pessoas podem predestinar seus caminhos ao estabelecer ligaltao entre 0 fato dos filhos do casal Santos chamarem Pedro e Paulo os quais a cabocla disse terem brigado no ventre da mae e indicando as rivalidashydes entre estes porque os dois apostolos do Novo Testamento tam bern brishygaram assim como Esau e Jac6 figuras do Velho Testamento tinham ainda brigado por causa da primogenitura

Porcm Machado nao recorre ao espirttismo apenas nessa obra No conto Uma visita de Alcibades 0 desembargador Alvares que por sua poshysiltao juntamente com Santos acima citado indica 0 meio abastado em que essa doutrina propagaa ao ler Pluta reo fumando um charuto que possibishylitava envolver a imaginas-ao numa especie de nimbo extremamente favorashyvel as evocaltoes mentais transportou-se para a antiga Atenas pois lia a vida de Alcibiades ate que ao terminar de fumar voltou aos tempos modernos e de subito pensou qual seria a impressao daquele ateniense sobre n0550 vestushyano Desta feita enfatizando que era urn tanto espiritista ( ) ate muito podendo mesmo dizer que livia comia dormia passeava conversava bebia cafe e esperava morrer na fe de Alan Kardec pois convencido que todos os sistemas sao pura niilidades tinha adotado 0 mais jovial de todos Asshysim sendo espiritista evocou Alcibiades a comparecer em sua casa e esse 0

fez tapida apraximando duas civilizayoes Mas esse nao era uma sombra impalpavel e sim um homem de carne e ossos que se sentou benevalashymente a sua frente entrando a conversar sobre 0 assunto de interesse ate que o grego empalideceu cambaleou e caiu no chao Dian te do cadaver a desembargador mandou-o para 0 necroterio(Machado de Assis 1956a203-7)

o espiritismo serviu como assunto em varias cronicas machadianas

nas qua~s quasc selnpre ri brinca e lroniza seus enunciados e principios busshycando as vezes compreende-Ios por mais estranheza que provocassem reshyoottendo a estrateglaS comicas Desta forma ha momentos em que diante de situa~oes nebulosas como uma que exigia para sua solus-ao conheCImento da teoria de Newton sugere consultar 0 proprio por meio do espiritismo uma vez ~ue nao entendia nada de astronomia Em outro comenta que os espiritas brasilerros acabavam de dar um golpe de mestre quando apareceu na cidade ~medium com fama de ser prodigioso e tendo a FederaS-ao Espirita Brashysiletra nomeado uma comissao para estudar os fenomenos concluiu que de nao valia a fama e que as trabalhos ficatam abaixo do que se conseguia na Eur~pa e ~utros paises mas que 0 problema estava nas mediunidades que estao Su)eHas a esses eclipses e nao estao senrilmente anossa dispasis-ao Fora 1550 a Federaltao lamentava que diante de tudo a medium huscasse 5ishymular os fenomenos que obtem nas condis-oes normais Segundo Machashy

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do chistosamente 0 medium nao s6 foi ( ) apenas mmtmum mas ate procurou embasar a Federasao(lvlachado de Assis 1958b177 1956c123)

As estrategtas e argumentos usados pelos propagadores da nova doushytrina geralmente expostos nas conferencias promovidas pela Federaltao ou publicados na Uniao Espirita na busca de adeptos e de convemles tambem nao escaparam aeritica machadiana principalmente devido a sua indisposisao a tudo que se propagava como sendo verdade unica e absoluta levando-o a destilar sua eostumeira ironia em varios eseritos sobre essa doutrina e suas praticas Dentre eles destaeamos a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima verdadeira e definitiva doutrina e que substituiria todas as religioes do passashydo 0 eronista reeorre sempre a essa proposiltao quando depara com fatos obscuros e irnpossiveis de destrinltar ocorridos na cidade buscando solucionashylos usando de carnavalizaltoes que acabam por ridieulizar toda e qualquer noltao de -erdade ou de tal pretensao Isso aconteee nao s6 ao que diz respeishyto a essa doutrina A artimanha para conquistar simpatias e fieis de divulgar Iista de pessoas eminentes da Europa que acreditavam no espiritismo foi por ele tambern censurada pois no seu dizer tudo ocorria de forma como se as pessoas devessem crer por crer em tudo aquilo que na Europa e acreditado(~1achado de Assis 1955b297-9 195188)

Ao redor do principio da encarnaltao e reencarnaltao Machado fez yarias elucubraltoes supondo situaltoes tratadas de forma humoristica as quais contribuiam para difundir alguns de seus principios Assim ao vislumbrar uma certa promiscuidade geral dos desencarnados divulga 0 principio de que 0 espirito pode reencarnar inclusive na mesma familia sendo viivel que um homem pudesse ter uma ftlha depois morrer e voltar filho dela ou urn menino voltar filho de urn prin10 Se em alguns momentos pesa a mao contra os espiritistas dizendo que 0 espiritismo nao e menos curanderia que os outros curandeiros e que se fosse legislador mandava fechar todas as igrejas des sa religiao em outros em tom ate didatico enfatiza que 0 princishypio espirita e fundado no progresso e a leI e nascer morrer tornar a nascer e renascer ainda progredir sempre sendo que 0 renascimento epara meshylhor Cada espirita em se desencarnando vai para os mundos superiores Reflete ainda sobre a distancia entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo que 0 principio espirita nao e 0 mesmo da transmigrasao em que as aIm as vao para os corpos dos animalS mas fundado no progresso(Machado de Assis195100-2188)

Acreditando ser representativo do pensamento ultimo de Machado a respeito do espiritismo em 1895 ele defende seu exercicio pois a Constituishyltao estabclece 0 direito de liberdade religiosa No seu dizer 0 espiritismo e uma religiao que ele nao sabia se falsa ou verdadeira embora os espiritas dissessem que verdadeira e unica frente ao que ressaIta que presunltao e agua benta cada um toma a que quer Se verdadeiros ou nao [continual 0

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OPSIS - Revista tiD

fato e que escrevem-se e publicam-se inUn jornais espiritas e no Rio havia uma ou dl acreditara que nao se gasta tanto papel em a palavra que se esta escrevendo e a propria seguinte 1896 comenta (lue ha muito que ( tos escreyem pclos dedos dos vhos e que mundo e neste final de urn grande seculo(1

Desta forma a cultura carioca oitoclt diversas de religiosidade e de expcriencias com 0 divino 0 campo religioso apresent possibilidades variadas de vivenciar a proCl debatem em confronto entre si quanto se a] produzindo formas hibridas e sincreticas de lam os homens a seus deuses com tambem a em parte de seus lasos de sociabilidade

Fontes e Referencias B

BORGES Valdeci Rezende Em busca do 11

Rio de l1achado de Assis Estudos Histor Pesquisa e Documentaltao da Hist6ria Conte Getulio Vargas no 28 p 49-69 2OC) BOCRDIEC Pierre A Economia das TrOt pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Si Paulo Cia Das Letras 1989 ivLCI1ADO DE ASSIS Joaquim r1aria C 10 WMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b _ Cronicas v 2 1955c

Cronicas v 4 1955d

_ Helena 1955e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Historias Romanticas _ 1955g _ laid Garcia 1955h _ Memorial de Aires 19551

Pdginas Recolhidas _ 1955 Reliquias de Casa Velha v 1 _ 195 Contos Esquecidos Rio de Janeiro ClY

_ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Rejlexoes de um Relojoeiro _ A Mao e a Luva Sao Paulo M Jad

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mio s6 foi () apenas minimum mas ate WHltV de Assis 1958b 177 1956c123)

usados pelos propagadores da nova doushyconferencias promovidas pela Fede1aio 01

na busca de adeptos e de conversoes tambem principalmente devido a sua indisposiltilO

sendo verdade unica e absolura levando-o a em vanos escritos sobre essa doutrina e suas

a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima e que substituiria todas as religioes do passashya essa proposicao quando depara com fatos

ocorridos na cidade bus cando soluciomishyque acabam por ridiculizar toda e qualquer

temao Isso acontece nao 56 ao que diz respeishypara conquistar simpatias e fieis de divulgar

Rur(ma que acreditavam no espiritismo foi por seu dizer tudo ocorria de forma C01no se as crer em tudo aquilo que na Europa e 1955b297-9 195188)

da encarnacao e reencarnacao 1Iachado fez Grv~ tratadas de forma humoristica as quais

de seus principios Assim ao vislumbrar dos desencarnados divulga 0 prindpio de

inclusive na mesma familia sendo viavel que depois morrer e voltar filho dela au urn Se em alguns momentos pesa a mao

que 0 espiritismo nao e menos curanderia se Fosse Iegislador mandava fechar todas as em tom ate diampitico enfatiza que 0 princishy

e a lei e nascer morrer tornar a nascer sendo que 0 renascltnento e para meshy

uJ Tal para os mundos superiores entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo omesma da transmigraltao em que as almas

mas fundado no progresso(Machado de

do pensamento ultimo de Machado a ele defende seu exerdcio pois a Constimishy

religiosa No seu dizer 0 espiritismo e se falsa au verdadeira embora os espiritas

frente aa que ressalta que presunltao e quer Se verdadeiros ou nilO [continua] 0

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

fata e que escrevem-se e publicam-se inumeros livros folhetos reistas e jornais espiritas e no Rio havia uma ou duas folhas espirita alem do que acrerutaa que nao se gasta tanto papel em tantas linguas senao crendo que a palavra que se esta escrevendo ea propria verdade Para finalizar no ano seguinte 1896 comenta que hi muito que os espiritas afirmam que os mOfshytos escrevem pelos dedos dos vivos e que para ele tudo e POSSIel neste mundo e neste final de urn grande seculo(Machado de Assis 1957b26274)

Desta forma a cultura carioca oitocentista esta permeada de formas diersas de religiosidade e de experiencias voltadas para a busca de Iigacao com 0 divino 0 campo religioso apresenta-se marcado pela presenca de possibilidades variadas de vlvenciar a procura do sagrado as quais tanto debatem em confronto entre si quanta se aproximam nas pniticas dos tieis produzindo formas hibridas e sincreticas de religiosidade que nao so vincushylam os homens a seus deuses com tambem aos outros homens constitumdo em parte de seus lacos de soclabilidade

FOlltes e Referihlcias Bibliogrtificas

BORGES Valdeci Rezende Em busca do mundo exterior sociabilidade no Rio de Machado de Assis Estudos Historicos Rio de Janeiro Centro de Pesquisa e Documentacao da Historia Contempodmea do Brasil da Fundaltao Getulio Vargas no 28 p 49-69 200l BOURDIEC Pierre A Economia das Trocas Simb6licas Sao Paulo Persshy

pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e hist6ria Sao Paulo Cia Das Letras 1989 MAClMDO DE ASSIS Joaquim Maria Contos Fluminenses v2 Sao PaushyloWMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b Cronicas v 2 1955c

_ Cronicas v 4 19S5d _ Helena _ 19S5e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Hist6rias Romanticas 1955g _ laid Garcia 1955h

Memorial de Aires 1955i _ Pdginas Recolhidas _ 1955j _ ReUquias de Casa Velha v 1 _ 19551 _ Contos Esquecidos Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1956a _ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Reflexoes de um Relojoeiro _ 1956c _ A Mao e a Luva Sao Paulo 11 Jackson inc 1957a

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A Semana v 3 1957b _ Dam Casmurra _ 1957c

Historias Sem Data 1957d

_ Memorias Postumas de Bras Cubas 1957e _ Quincas Borba 1957f

_ Requias de Casa Velha v 2 _ 1957g Varias Historias 1957h

_ Contos e Cronicas Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1958a _ Cronicas de Lelia 1958b _ A Semana v 1 Sao Paulo WMJackson inc 1959a

A Semana v 2 1959b _ Cronicas v 4 1959c _ Esau e Jaco 1959d

SCHv~RCZ Lilia Moritz Retrato em Branco e Negro jornals escravos em Sao Paulo no final do seculo XIX Sao Paulo Cia Das Letras 1987

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OPSIS - Revista do

CINEMA E RELIGI

ResuResumo

Propomos neste texto apre5cntar algushy 1ou

mas reflex6es sobre a ahordagem de ashy quell

lares no cinema presentes em nleu

filmes como E 0 vento levou Blade film~

Runnermiddot 0 Carador de Androides 0 Run

Exorcisca Matrix dentre outros Exor

Atualmentc vivemos em uma 50eiel urn gm-erno baseado na lei e na razao Ne pensar assentam-se nao mais somente nos v bem nos valotes politicos e sociais Disso religiosos cristaos em quase nada influeneiat de fazer visto que Igreja (como instituiltao) tados na lei

Apesar da atual sociedade aparentc s6lida temos que ter em mente que cia so mente ha pouco tempo malS preeisamente e s6 se consolidou a partjr do positivismo vivemos em uma sociedade ainda em form

mente nao influencia tanto a nossa maneir E isto s6 e verdade para as eham2

hoje existem diversas sociedades ditas tee arabes (Irii) 0 Afeganistao onde 0 fundarr em todos os nh-eis

1 Este texto foi prodU7ido a partir do curso ministr e Religiosidadcs com 0 objetivo de apresentar algUi as rcferencias dos filmes analisados 2 Mestre em Historia pcla UFSC Universidade F

Historia da rcdc publica do [stado de Minas Gerai

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c

Page 2: as Bibliogrdficas RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSISstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3224606.pdf · 16 'as Bibliogrdficas mentafao oral e tematica da seca: estu o Federal,

Combates e Batalhas nos Reinos dos Cristaos

As manifestacoes de crenca e descrenca ao redor do catolicismo sao predominantes deido a suas forcas como 0 regime oficial desfrutado como religiao do Estado brasileiro ate 1889 quando se separam Igreja e governo temporal estabelecendo a liberdade dos cultos Desse ato para Machado erri 1895 a questao substancial e a liberdade pois a Constituicao republicana no artigo 72 acaban com a religiao do Estado e nao the importa que cada urn tenha a que quiser Anteriormente em 18930 cronista ja dizia que Apesar da separacao da igreja e do Estado viviam ambos em tal concordia que antes pareciam casados de ontern que divorciados des sa manha 0 esposo dava uma pensao a esposa a esposa orava por ele (00) A razao do esposo e urn principio a da esposa eoutro principio Para aqueles clerigos que afinavam com esse enunciado ansiando pela libertacao da Igreja dos poderes temposhyrais por uma comivencia tranquila e diferente entre essas duas esferas quanshydo apareceu 0 decreto que aboliu 0 padroado muitos conflitos e tensoes que abalaram a sociedade nas ultimas decadas pareciam findar e 0 folhetinista chegou a encontrar urn velho padre que era a figura da felicidade pura trazendo urn grande riso nos olhos(Machado de Assis 1957b25 1959a307)

Porem antes da extincao da oficialidade da religiao do Estado 0

cronista mostra urn crescente aanco das doutrinas protestantes e logo urn rebolico no campo de forcas marcado por polemicas e tensoes Nao sendo a liberdade religiosa completa em 1864 0 jornal catolico Cruz reclamava que 0 gmerno e 0 parlamento faziam e executavam algumas leis de toleranshycia religiosa lamentando ainda pela existencia de templos de seitas dissishydentes nesta capital Segundo lfachado isso nos atirava para 0 tempo das perseguicoes religiosas sobretudo pelo tom de odio de colera de rancor como se exprimia naquele periodico Meio ao clima de conflito de concitacao das turbas aguerra religiosa De Assis repele ainda tais atitudes ao tratar de outra folha catolica Cruzeiro do Brasil que animava 0 povo contra outras religioes praticando excessos como a urn vendedor de biblias protestantes e por responsabilizar 0 governo pela propagacao das doutrinas condenadas pela 19reJa intimando-o a fazer cessar a propagacao dos metodistas(Machado de Assis 1955c146243-4)

Frente a posicao do Cruzeiro do Brasil 0 cronista julgou ser lashymentavel que se imprimiam coisas tais em urn pais onde a liberdade religiosa se nao [era] completa [estava] ja adiantada pois a constituicao garantia a liberdade de cuI to Para ele a folha em vez de apelar para a forca do govershyno deveria apelar para a palavra do clero a quem incumbia combater as doutrinas em propagacao Posteriormente acrescenta que ha muito tempo que a palavra sagrada serve de instrumento aos incapazes e aos mediocres embora houvesse excecoes mas raras No seu dizer 0 clero e mediocre

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OPSIS - Revista do

ao entender que para falar do alto do pulpi pedodos fofos com urn tom lamentoso dl comover os fieis modulando a voz com e eloquente quando e verdadeira Assim c gens do diabo e do inferno nao atraiam os fil ciam mas aturdiam nao infundiam a contricac de Assis 1955c243-4 326-8)

Nessa arena de disputas em 1876tv a Constituicao ha uma religiao do Estado cultos sao tolerados como 0 protestantis forma externa de templo por ser inconstituc urn projeto pendente de reforma de lei da tempo em que via escrito numa fachada 0 I infringia a lei levando-o a acreditar que a transgressao era muito melhor(Machado de

Na sua ficcao 0 protestantismo ap mentos Em A Mao e a Luva de1874 qu Mrs Oswald uma inglesa dama de companlshydo 0 narrador como boa protestante que e dos dedos dando conselhos moralizantes sagens e personagens biblicos em nome da f a ambicao da [sua] alma]a em Quincas 1 anos entre 1867 e 1871 Rubiao que proteg mente socio de uma Congregacao Cat6lica nao se lembrando certa ocasiao de urn qu 0 que fazia era pagar regularmente as me de Assis 1957a84-6 1957f283)

Mas se a igreja catolica debatia-se clt

chado combateu ainda mais as praticas dos c na juventude com a pena em punho e de fle contra 0 clero e mesmo os Papas clamandc influencia do espirito moderno por acred achava-se como no tempo de Galileu e lancava contra 0 esplrlto modf condenacao(Machado de Assis 1955e42

Sao varias as cronicas em que Mach e os desvios das praticas sacerdotais advin embora ressaltasse que tais posicoes nao sigr rito cat6lico Para ele em 1863 num pais n se divide em dois campos a indiferensa e a do altar era outra era missao apost6lica tol cer os -incredulos e trazer os fanaticos ao cor

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Batalhas nos Reinos dos Cristaos

renca e descrenca ao redor do catolicismo sao corcas como 0 regime oficlal desfrutado como te 1889 quando se separam Igreja e governo rdade dos cultos Desse ato para Machado em liberdade pois a Constituiltao republicana no pao do Estado e nao the importa que cada um ~ente em 1893 0 cronista ja dizia que ~pesar lido viviam ambos em tal concordia que antes

divorciados dessa manha 0 esposo dava orava por ele () A razao do esposo e um

DlllnCIlPH) Para aqueles clerigos que afinavam pda libertaltao da Igreja dos poderes temposhy

e diferente entre essas duas esferas quanshyo padroado muitos conflitos e tensoes que

decadas pareciam fin dar e 0 folhetinista que era a figura da felicidade pura

(Machado de Assis 1957b25 1959a3(7) da oficialidade da religiao do Estado 0

das doutrinas protestantes e logo um ~~lrC2do por polemicas e tens()es Nao sendo

em 1864 0 iornal cat6lico Cruz reclamava e executaam algumas leis de tolerl11shy

pela existencia de templos de seitas dissishyisso nos atirava para 0 tempo das

pdo tom de odio de colera de rancor Meio ao clima de conflito de concitaltilO

Assis repele ainda tais atitudes ao tratar de Brasil que animava 0 povo contra outras

a urn vendedor de biblias protestantes e propagatiio das doutrinas condenadas

a fazer cessar a propagaoao dos 955c146243-4)

do Brasil 0 cronista julgou ser lashytais em urn pais onde a liberdade religiosa adiantada pois a constituiltao garantia a em ez de apehr para a forlta do goershy

do clero a quem incumbia combater as Ilormltente acrescenta que ha muito tempo lSuun1erlto aos incapazes e aos mediocres raras No seu dizer 0 clero e mediocre

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OPSIS - Revlsta do Niese V2 NJ JanJun 2002

ao entender que para falar do alto do pulp ito basta alinhavar meia duzia de periodos fofos com um tom lamentoso de efeito puramente teatral para comover os fieis modulando a voz com 0 fim de fingir uma dor que 56 e eloquente quando e verdadeira Assim os sacerdotes recorrendo a imashygens do diabo e do inferno nao atraiam os fieis mas assustavam nao convenshyciam mas aturdiam nao infundiam a contricao provocavam a atricao(1vlachado de Assis 1955c243-4 326-8)

Nessa arena de disputas em 1876 Machado esclarece que con forme a Constituiltao ha uma religiao do Estado a cat6lica mas que os outros cultos sao tolerados como 0 protestantismo embora nao pudessem ter forma externa de templo por ser inconstitucionaL Ja em 1888 diz que existia urn projero pendente de reforma de lei da camara do senado ao mesmo tempo em que via escrito numa fachada 0 letreiro Igreja evangelica 0 que infringia a lei levando-o a acreclitar que a reforma podia esperar e que a transgressao era muito melhor(Machado de Assis 1959c 159-60 1956c 174)

Na sua ficciia a protestantismo aparece em pelo menos dois moshymentos Em A Mao e a Luva de1874 que remete a 1853 a personagem Mrs Oswald uma inglesa dama de companhia de uma baronesa age segunshydo 0 narrador como boa protestante que era tendo a Escritura na ponta dos dedos dando conselhos moralizantes it jovem Guiomar e citando passhysagens e personagens biblieos em nome da felicidade da familia que era toda a amhiltao da [sua] alma Ja em Quincas Borba de1886 que remonta aos anos entre 1867 e 1871 Rubiao que protegia as sociedades pias era juntashymente sacio de uma Congregaltao Cat6lica e de um Gremio Protestante nao se lembrando certa ocasiao de urn quando Ihe falaram do outro pois 0 que fazia era pagar regularmente as mensalidades de ambos(1vfachado de Assis 1957a84-6 1957pound283)

Mas se a igreja cat6liea debatia-se contra as igrejas protestantes Mashychado combateu ainda mats as praticas dos cat6licos que julgava equivocas Ja na juventude com a pena em punho e de flerte com as ideias liberais investia contra 0 dew e mesmo os Papas damando por modificaltoes na Igreja pela influencia do espirito moderno por acreclitar que 0 espirito do Vaticano achava-se como no tempo de Galileu e 0 santo padre 0 debil velha lanltava contra 0 espirito moderno a malS perempt6ria condenacao(Ivfachado de Assis 1955e42 1958a89 1955c298-9)

Sao varias as cronicas em que Machado criticou severamente a Igreja e os desvios das praticas sacerdotais advindos das forcas de secularizaltao embora ressaltasse que tais posiltoes nao significavam uma tibieza do seu espishyrito cat6lico Para ele em 1863 num pais novo como 0 Brasil cuja maioria se divide em dois campos a indiferen~a e a carolice a missao dos ministros do altar era outra era missiio apost6lica tolerante elevada a flm de convenshyeer os~ncredulos e trazer os fanaticos ao conhecimento dos verdadeiros prinshy

19

cipios da Igreja No entanto em vez disto os padres divertem-se em lanltar as urnas eleitorais a interdicao religiosa ou a escrever gazetas sem tom nem som expondo uma intolerancia considerada ridicula e funesta aos vershydadeiros interesses da igreja advinda de urn clero pela maior parte ignoranshyte sem prescigio ( ) mas tambern sem escrupulos Considerava grosseiras as pniticas da igreja e do clero tacanho e mesquinho que nada enxerga para fora das paredes da sacristia Pedia por uma reforma completa de modo a fazer do culto uma coisa seria tirando-Ihe 0 aparato e as empoeiradas usamas proprios para produzir 0 materialismo e tibieza da fe Julgava que a educaltao religiosa do nosso povo a maneira por que se Ihe incute a fe e a palavra crista era feita por meio do espetaculo e do fausto profano o que levava para 0 materialismo para a indiferenca e para a morte da fe (lvfachado de Assis 1955b350-2388-9 Grifos meus)

Ja em 1864 ao posicionar-se contrariamente frente acondenaltao do livro de Renan Vida de Jesus por urn monsenhor dizia que a pior prosa deste mundo e a clerical contrapondo-se aos argumentos do clerigo que aconselhou 0 exilio do livro e insinuou que todos os bons cat6licos deveriam queima-Io por ser tmpio Para 0 cronista tal conselho em tempos de liberdashyde e de civilizaltao era simplesmente ridiculo deixando-o pasmo pois embora achasse 0 livro absurdo nem por isso foi lanlti-Io a fogueira depois da leitura e nem perdeu suas crenltas Entretanto se Machado assim afirma quais seriam os motivos de sua descrenlta para com a Igreja Seria apenas oriunda de suas observaltoes da realidade que 0 circundava e dos horrores que ia Quem eram os responsiveis por seu afastamento daquela (Machado de Assis 1955c219-28)

De Assis condenava outros desvios da vida sacerdotal como a atitushyde pecuniaria do clero avarento mats preocupado em arraniar alguns contos de reis para as gravissimas necessidades do poncifice do que em converter pessoas No seu dizer 0 triunfo maximo e 0 triunfo pecuniario e sendo assim combatia as demasias clericais a Santa Pecunia pela qual 0 clero orava Nesse contexto de clerigos avarentos perfumados que ricas aljubas vestiam expressava contra a baixela de OUtO dos papas a Roma sempre em prazeres e as casas de Otaltao onde reina muita hipocrisia como a venda de bentinhos para ter perdao dos pecados Considerava essa pratica assaz comoda e lucrativa uma politica que prende urn pecador e 0 abshysolve cometendo urn atentado ao sagrado ao reduzir tudo a somas de dinheiro apontando varios casos como a venda de medalhas de chumbo com a caricatura da que 0 padre benze e fica-se livre dos crimes cometidos a troca da imagem de N S da Conceiltao da Aparecida por urn mil-reis para livrar-se de catastrofes a benzeltao e venda de velas por dois mil reis pelos padres e a associaltao dos sacerdotes e sacristaes para vender caro as missas Diante dis so dizia Viva Deus e a nossa algibeira ou ainda se

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OPSIS - Revista do

Deus escreve direito por linhas tortas as A los inclusive impressos] sao as linhas tortas Assis 1958a187-9197205-6245249 1959

Machado fustigava ainda os padres ~ Desta forma sua descrenlta para com a 19rej percepltao dessas praticas desviantes viciada da a compreender seu afastamento das ativic da morte negando-se a receber os ultimos que nao era absolutamente materialista I mos apontar ll1umeraveis recorrencias ado varias as referencias a Biblia porem quasI sobretudo ao Eclesiastes Desse modo a p citada de modo deformado pela ironia b expressando uma leitura critica criou diver com aquela rclaltao intertextual direta Del tematica religiosa ou tecidos ao redor de su Galo Na area A Igreja do Diabo Manus( mo urn sacristao perspicaz trata do amor p prima Eulalia e jii nos hilari05 A Igreja do 1 critic a bern humorada as praticas emiesad~ cristaos e seguidores dcssa doutrina com oposto as Escrituras c as pregaltoes

Em A Igreja do Diabo 0 demonio apesar de mesmo a scm e5ta os seus luc des mas sentia-se humilhado par nao ter 0

ais Estabelecendo-os seria Escritura cc breviario e teria sua missa com vinho e t novenas e todo a demais aparelho eclesii outras religioes de Maome de Lutero a ideia a Deus para desafia-lo c ao voltar a prometendo delicias e glarias Clamava qu~ substituidas por outras naturais e legitim ayareza a ira a gula e a invcja esta ultima a noltoes fazendo amar as perversas e detesl o preconceito a hipocrisia a calunia 0 ad valorizados e seus opostos negados Funda 0 Diabo ahou brados de triunfo( ivfach

Porem urn dia longos anos depoi das praticavam as antigas yirtudes 0 q fraudes Pasmado nilO refletiu nem compa 10 presente alguma coisa analoga ao passad Deus que ouviu com complacencia e falc

21

uzir 0

em vez disto os padres divettem-se em lancar religiosa ou a escrever gazetas sem tom nem a considerada riclicula e funesta aos vershy

dvinda de urn clero pela maior parte ignoranshysem escnipulos Considerava grosseiras

tacanho e mesquinho que nada enxerga ria Pedia por uma reforma completa de

a seria tirando-lhe 0 aparato e as empoeiradas materialismo e tibieza da fe Julgaya

so povo a maneira por que se the incute a fe meio do espenlculo e do fausto profano mo para a indiferenca e para a morte da fi~ -2388-9 Grifos meus) nar-se contrariamente frente acondenacao do por um monsenhor dizia que a pior prosa trapondo-se aos argumentos do clerigo que sinuou que todos os bons catolicos deveriam cronista tal conselho em tempos de liberdashy

lesmente ridiculo deixando-o pasmo pois nem por 1SS0 foi lanCa-lo afogueira depois emas Entretanto se Machado assim afirma a descrenca para com a Igreja Seria apenas a realidade que 0 circundava e dos horrares aveis por seu afastamento daquela (Machado

tros desvios da vida sacerdotal como a atitushymais preocupado em arranjar alguns contos ~ssidades do pontifice do que em converter fo maximo e 0 triunfo pecuniario e sendo encais a Santa Pecunia pela qual 0 clero s avarentos perfumados que ricas aljubas

baixela de Duro dos papas a Roma sempre ~ao onde reina muita hipocrisia como a dao dos pecados Considerava essa pratica

a politica que prende um pecador e 0 abshy ao sagrado ao reduzir tudo a somas de os como a venda de medalhas de chumbo eo padre benze e fica-se livre dos crimes de N S da Conceicao da Aparecida por urn ofes a benzecao e venda de velas por dois

faO dos sacerdotes e sacristaes para vender

Viva Deus e a nossa algibeira ou ainda se

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OPSIS - Revista do Niese V2 N1 JanJun 2002

Deus escre-e direito por linhas tortas os Ap6stolos [os padres e seus veicushylos inclusive impressos] sao as linhas tortas da sua escritura (1Iachado de Assis 1958a187-9197205-6245249 1959a22)

Machado fustigan ainda os padres glutoes e os padres em mancebia Desta forma sua descrenca para com a Igreja advem de modo mais direto da percepciio dessas praticas desviantes viciadas e contraditorias 0 que nos ajushyda a compreender seu afastamento das atlyidades catolicas inclusive na hora da morte negando-se a receber os Ultimos sacramentos embora afirmasse que nao era absolutamente materialista Para alem desses aspectos podeshymos apontar inumedxeis recorrencias a doutrina crista em sua obra sen do varias as referencias a Biblia porem quase sempre em forma de parodia sobretudo ao Eclesiastes Desse modo a partir da obra sagrada utilizada e citada de modo deformado pela ironia buscando atingir efeito comIco e expressando uma leitura critica criou diYersas ctonicas e contos mantendo com aquela relacao intertextual direta Dcntre os contos perpassado~ pela tematica religiosa ou tecidos ao redor de suas pracicas destacam-se Missa do Gala Na arca A Igreja do Diabo Manuscrito de urn sacristao Neste ultishymo um sacristao perspicaz trata do amor progtessiyo do padre Teofilo pela prima EuHilia e ja nos hilarios A Igreja do Diabo e 0 Serrnao do Diabo faz critica bem humorada as ptaticas em-iesadas dos catolicos que dizendo-se cristaos e seguidores dessa doutrina comportam-se de modo totalmente oposto as Escrituras e as pregacoes

Em A Igreja do Diabo 0 demonio te-e a ideia de fundat sua igreja apesar de mesmo a sem esta os seus lucros )a serem continuos e granshydes mas senria-se humilhado por nao ter organizacao regras canones e ritushyais Estabelecendo-os seria Escritura contra Escritura breviario contra breviino e teria sua missa com vinho e pao a farta suas predicas bulas novenas e todo 0 demais aparelho eclesiastico para negar tudo 0 que as outras religioes de Maome de Lutero afirmam Decidido comunicou a ideia a Deus para desafia-lo e ao oitar a terra espalhou a doutrina nova prometendo delicias e glorias Clamava que as virtudes aceitas deveriam ser substituidas por outras naturais e legitimas como a soberba a luxuria a avareza a ira a gula e a inveja esta ultima a virtude principal Trocou tadas as nocoes fazendo amar as perversas e detestar as sas A frau de a venalidade o preconceito a hipocrisia a calunia 0 odio 0 desprezo 0 adultcno foram valorizados e seus opostos negados Fundada a igreja a doutrina propagou e 0 Diabo alcou brados de triunfo( Machado de Assis 1957d7-20)

Porem um dia longos an05 depois notou que seus fieis as escondishydas praticavam as antigas virtudes 0 que 0 deixou assombrado com as fraudes Pasmado nao nem comparou e nem concluiu do espetacushy10 presente alguma coisa analoga ao passado e voando ao ceu disse tudo a Deus que ouviu com complacencia e falou _ Que queres tu meu pobre

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r OPSIS - Revista de i

Diabo As capas de algodao tern agora franjas de seda como as de vdudo tiveram franjas de algodao Que queres tu E a eterna contradiltao humana(l1achado de 8S1S 1957 d20-2) Ou seja os catolicos e a igreja catoshylica com suas capas de veludo ocultavam por baio atitudes vis paninhos de algodao acabando por deitar as urtigas a Escritura divina praticando seu oposto e escondendo-se awls de mascaras Assim revelava seu ponto de vista sobre essa instituiltao da qual expunha mazelas profundas convicltao frouxa desyios e encenaltao

Como urn desdobramento desse conto e ainda no sentido de aponshytar que as atitudes dos cristaos estavam mats para levar ao inferno do que para ao ceu Machado produziu a cronica 0 Sermao do Diabo dizendo ser urn pedalto do evangelho do Diabo urn sermao da montanha amaneira de S Mateus que imita aquele da igreja de Deus Nesse a semelhanlta entre os dois evangelhos e destacada e a adimataltao ao ambiente carioca e julgamento de sua gente e direta ao dizer 1 E vendo 0 Diabo a grande multidao de pOYO subiu a urn monte pOl nome Corcovado e depois de se ter sentado vieram a ele as seus discipulos Em seguida expos seus mandamentos que sao a negaltao dos diyinos e glorificam as comportamentos tortos dos fluminenses oitocentistas ao atrehi-los diretamente a suas altoes e modo moderno de viTer (Machado de lssis 1959a 110-5)

Catolicismos habitos costumes rituais e valores

No entanto procurando conhecer melhor as praticas catolicas enshycontramos muitas igrejas e deparamos com os sons de seus sinos permeando regendo e encantando a vida urbana Sao templos diversos ricos e humildes como as matrizes do Sacramento da Gloria da Se e as igrejas de Sao Francisshyco de Paula da Candelaria de Sao Jose do Carmo da Lapa do Espirito de Santo Antonio dos Pobres de Sao Domingos da Lampadosa alem de oushytros dispersos par bairros distantes acrescidos de capelas particulares em reshysidencias antigas onde muita gente da vizinhanlta ouvia missa aos domingos(Machado de Assis 1956b165 1955e42 1955i94)

Para adentrar tais templos seguimos a sugestao de IIachado de obshyservar se existia alguma janela aberta que indicasse a presenlta de pessoas la dentro e encontramos urn grande numero de c6negos padres e sacristaes como 0 padre Melchior de Helena e infindos outros Dentre tal categoria social esse sacerdote recebe de I1achado grande simpatia sendo descrito como verdadeiro varao apostolico homem de sua Igreja e de seu Deus integro na fe constante na esperanlta ardente 11a caridade Mas como ja visto essa benevolencia do cronista nao se estende a muitos do clero sendo restrita a algumas figuras como urn velho padre geralmente ligadas ainshyfllncia do escritor quando fora coroinha(Machado de Assis 1955e42

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1957b25) Se encontramos muitos clerigos n(

afazeres e praticas que expressam e estao sacristias altares imagens de santos miSSl

sermoes orquestras confessionarios confis _ campainhas rosarios livros de Horas altar sen-ilt-os da llltima hora _ sacramento procissoes opas varas de patio fieis ajoeU esm01as para rea1izar missas aquelas e agr~ Virgem San tis sima mas retirando para si a tar a sacristia (Machado de Assis 1957e 1957f257 1959d16-21301)

Para a1em desses habitos costume conhecimento dessas experiencias atentarr contramos fieis em momentos especiais e em praticas ordinarias como missas do di prias dos rituais de inicialtao como 0 ba como aniversarios casamentos ou de sep Por meio das celebralt-oes rituais do batism rativa a crianlta era iniciada no catolicisffilt sendo ainda apresentada formalmente aOt

essa ocasiao gera1mente acontecia comerr baile(1hchado de Assis 1957c344 195 considerados pais e maes esplrituais da cri em urn momento difkil como a morte parentes queridos e proximos ou pessoaE sociedade as quais pudessem proporcion aos pais e afilhados como par serem influ da crianca ou a decidiam em caso de d1 1955e152 1955f12 1957c343 1959d4

44-5) No entanto a escolha do nome ni

inserida no sistema simb6lico imediato de do qual inclusive as yezes buscavamiddot personalidade e do futuro do indiv1c deslocamento importante pois embora escolhido os nomes dos santos ap6sto afuhados sua atitude adequava-se aprim as crianltas so se punham nomes de sa tradiltao cat6lica daquele tempo mas a~

Marias Catarinas nem Joanas ( ) entran o aspecto as pessoas (Machado de A

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m agora franjas de seda como as de veludo

Que queres tu E a eterna contradiltao 57d20-2) Ou seja os catolicos e a igreja catoshycultavam por baixo atitudes paninhos de

as urtigas a Escritura divina praticando seu mascaras Assim revelava seu ponto de vista unha mazelas profundas convicltao frouxa

to desse conto e ainda no sentido de aponshystavam mats para levar ao inferno do que para onica 0 Sermao do Diabo dizendo ser um urn sermao da montanha t maneira de S ja de Deus Nesse a semelhanlta entre os dois

ataltao ao ambiente carioca e julgamento de E venda 0 Diabo a grande multidao de povo orcovado e depois de se ter sentado vier am eguida expos seus mandamentos que sao a

os comportamentos tortos dos fluminenses asoes e modo moderno de

abitos costumes rituais e valores

conhecer melhor as praticas catolicas enshyamos com os sons de seus 8in05 permeando ana Sao templos diversos rlCOS e humildes cia Gloria da Se e as igrejas de Sao Francisshy

300 Jose do Carmo da Lapa do Espirito de 300 Domingos da Lampadosa alem de oushytes acrescidos de capelas particulares em reshy

ta gente da vizinhansa ouvia missa aos 1956b165 1955eJ2 1955i94)

os seguimos a sugestao de ivlachado de obshyerta que indicasse a presenlta de pessoas hi e numero de conegos padres e sacristaes

e infindos outros Dentre tal categoria Machado grande sunpatia sendo descrito

lico homem de sua IgreJa e de seu Deus lta ardente na caridade tlas como jii

ta nao se estende a muitos do clero sendo urn velho padre geralmente ligadas ainshy

coroinha(Machado de Lssis 1955eA2

OP5I5 - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

1957b25) Se encontramos muitos derigos nos templos deparamos com seus

afazeres e priticas que expressam e estao atreladas a fe dos cariocas como sacristias altares imagens de santos missas algumas cantadas agua benta sermoes orquestras confessionarios confissoes _ajustes de contas com Deus

- campainhas rosarios livros de Horas circunflexoes fieis saudando ao altar seniltos da ultima hora _ sacramentos aos moribundos santos oleos _ procissoes opas varas de palio fieis ajoelhados irmaos das almas pedindo esmolas para realizar missas aquelas e agradecendo em nome de Deus e da Virgem Santissima mas retirando para si as esp6rtulas maiores antes de volshytar a sacristia (Machado de Assis 1957e50 1957c6097-9 100-2234-5 1957f257 1959d16-21301)

Para alem desses habitos costumes e rituais buscando aprofundar 0

conhecimento dessas experiencias atentamos para as formas de vive-las Enshycontramos fieis em momentos especiais e marcantes de suas vidas e ainda em praticas ordinarias como missas do dia-a-dia e aquelas celebratiyas pr6shyprias dos rituais de inicialtao como 0 batismo e dos rituais de passagem como aniversarios casamentos ou de separaltao como as missas de morto Por meio das celebraltoes rituais do batismo e em seguida da festa comemoshyrativa a crianca era iniciada no catolicismo e inserida na comunidade crista~

sendo ainda apresentada formaImente aos parentes amigos e vizinhos Por essa ocasiao geraImente acontecia comemoraltao em casa como almolto ou baile(Machado de Assis 1957c344 1955a392) Os padrinhos escolhidos considerados pais e maes espirituais da crianlta tinham 0 dever de nao faltar em um momento dificil como a morte dos pais e eram amigos intimos parentes queridos e pr6ximos ou pessoas importantes para a familia ou na sociedade as quais pudessem proporcionar sentimento de honra e orgulho aos pais e afilhados como por serem influentes N ao raro escolhiam 0 nome da crianlta ou 0 decidiam em caso de duvida dos pais(Machado de Assis 1955e152 1955f12 1957c343 1959d41-2 1957g34-5 1957a61 1957e 44-5)

No entanto a escolha do nome nao se dava de forma aleatoria estando inserida no sistema simb6lico imediato de referencia da sociedade por meio do qual inclusive as vezes buscava-se determinar alguns traltos da personalidade e do futuro do individuo Nesse sentido ocorria um deslocamento importante pois embora Perpetua por yolta de 1871 tenha escolhido os nomes dos santos ap6stolos S Pedro e S Paulo para seus afilhados sua atitude adequava-se aprimeira metade do secuio quando ( ) as crianltas s6 se punham nomes de santos ou santas de acordo com a tradiltao cat6lica daquele tempo mas agora ja nao se queriam -nas nem lfarias Catarinas nem Joanas () entrando em outra onomastica para variar o aspecto as pessoas (Machado de Assis 1957g34-5 1955i51)

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Para alguns homens a primeira confissao ocorria por epoca da quare sma 0 que levava a que muitos rapazes se escondessem debaixo da cama do padre confessor ou pelos desvaos da casa ji a segunda era pOt ocasiao de casar A cerimonia de casamento era vista como momenta de santidade e de muita comoltao povoando sempre os 50nh05 das mulheres com festas brilhantes muitos carras vesrido branco flores de latanjeira grinalda padrinhos ilustres Porem em 1fachado sao poucas as cenas de casamento e geralmente so em fantasia talvez por ptivilegiar sobretudo nos romances a vida das classes altas au daquelas em ascensao em que 0 casamento era urn negocio politico ou economico e a devoltao assim como 0 sentimento relig1oso fragil entrando em declinio ainda maior frente a outras atividades da vida mundana(Machado de Assis 1955i95)

Por meados dos oltocentos novas formas de sociabilidade foram implementadas desassociando-se cada vez mais daquelas da religiosidade cashytolica Ate entao nos momentos de cumprir as obrigaroes religiosas relacishyonava-se com 0 mundo exterior rompendo 0 enclausuramento usual princishypalmente da mulher No entanto a nova sociabilidade configurava-se ao reshydor de inusitados espaltos tempos e formas de recreio 0 gosto pela vida externa creSCla enquanto os antigos hibitos e costumes marcados pela religishyosidade foram sendo desprezados e em muitos casos abandonados(Borges 2001 49-69) )Jessa transformaltao da sensibilidade coletiva ocorre uma inflexao dos sentimentos e valores relativos ao sagrado e urn avanlto das forshyltas seculares Essa alteraltao apontada por Machado pode sel percebida por meio de urn conjunto de inrucios como a retirada dos quadros de santos da decoraltao das casas mais abastadas sendo substituidos quase sempre por pequenas gravuras inglesas ao passo que nas casas mais pobres a Virshygem era muita cultuada possuindo lugar excelso na devoltao dos corashyltoes maviosos Nessas podia nao haver urn Cristo mas sempre [havia] uma imagem de Nossa Senhora(Machado de Assis 1955f93 1955j91 1957bl08)

A tibieza da fe e a escassez de padres ordenados indicam ainda a diminuiltao da inspiraltiio religiosa e a expansao da secularizaltao ao lado da mudanlta referida nos novos nomes atribuidos aos nascidos nao mais ligados ao imagmano catolico(Machado de Assis 1955j91 1955i51 1959b80 1057c263308 1957d280 1955e13) Assim muita coisa mudava nas familias como 0 uso antigo que urn dos rapazes fosse padre 0 que alterava a direshy

ltao dada it educaltao 0 sentido e 0 rumo a seguir pelas novas geraltoes que geralmente aprendiam as primeiras letras latim e doutrina em casa com urn desses clerigos Eles incuriam noltoes sentimentos e orienravam as escoshyIha5 forjavam vocaltoes religiosas em seus disdpulos ao falarem de supostas manifestatoes daquelas como ocorreu com Bentinho que tinha seus brinqueshydos sempre de igreja e adorava os oEicios divinos brincando mesmo

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b

OPSIS - Revista do

com Capitu de dizer missas e tomando doc estudos secundarios fossem feitos ainda corr filhos ja mais autonomos escolhiam profi economico que oscilayam entre a medicina c busca da vida religiosa que foi acusada em 1 falar da escassez de padres orden ados no sem capehies(Machado de Assis 1959b80)

Nesse contexto e sentido ate prot Por mais que 0 vinculo moral da promessa D Gloria mac de Bentinho descrita como por volta de 1847 dar a Deus 0 filho como infancia 0 compromisso foi rompido postel saida de substitui-Io por urn mocinho 61 da oferta para compensar a batina que aqt tando segundo 0 narrador urn cochilo da mento religioso era marcado por altoes e interiormente a incredulidade era assaz dift distraida Para dc nesse tempo operou u

fez do paganismo e do catolicismo urn 1957c263 308 1957d280 1955e13 19

11as nao era so a familia de Bentin mundo e suas praticas socio-economicas ne Entre Santos expoe situaltocs interessantes passo que urn padre conta certo ocorrido pc de S Francisco de Paula Ao vcr luz sob a p do que se tratava e ouvindo conyersa fez il me antigo de enterrar os mortos nas igrejas mortos ali enterrados No entanto viu que igreja que sairam dos seus nichos e que senl altares comentavam as oraltoes e pedidos d Francisco de Sales contou 0 caso de Sales trazia seu nome e tinha a mulher doente desesperanltado cia terra voltou-se para I salva-la Pediu que a salvasse operando o cera mas ao passo que estabelecia 0 comp moeda que 0 ex-yoto hayia de custar e ac nossos emil ave-marias(Machado de Assi

Nesse momento sobretudo entre

censao a deoltao ficaa Iwbretudo releg Carmo que costumaYa ir a missa aos don por fadiga por doenlta ou por estar chov 0 seu livro com as suas rczas marcadas (

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a primeira confissao ocorria por epoca da muitos rapazes se escondessem debaixo da

desvaos da casa ja a segunda era por de casamento era vista como momento de

povoando sempre os sonh05 das mulheres vestido branco flores de laranjeira grinalda

Machado sao poucas as cenas de casamento e par privilegiar sobretudo nos romances a em ascensao em que 0 casalnento era urn

e a devoltao assim como 0 sentimento LUumiddotv ainda maior frente a outras atividades

Assis 1955i95) novas formas de sociabilidade foram

cada vez mais daquelas da religiosidade cashyde cumprir as obrigaroes religiosas relacishyrompendo a enclausuramento usual princishya nova sociabilidade configurava-se ao reshy

e formas de recrelO 0 gosto pela vida habitos e costumes marcados pela religishy

e em muitos casos abandonados(Borges da sensibilidade cole tin ocorre uma

relacivos ao sagrado e um avanlto das forshy___niua par Machado pode ser percebida por

como a recirada dos quadros de santos da sendo subscituidos quase sempre por

passo que nas casas mais pobres a Virshylugar excelso na deTOltaO dos corashy

nao haver urn Cristo mas sempre [havia] (Machado de 55is 1955pound93 1955j91

de padres ordenados indicam ainda a e a expansao da secularizaltao ao lado da

atribuidos aos nascidos nao mais ligados de Assis 1955j91 1955i51 1959b80

A881m muita coisa mudava na8 familias rapazes Fosse padre 0 que alterava a direshyo rumo a seguir pelas novas geraltaes que

letras latim e doutrina em casa com noltoes sencimentos e orientavam as escoshyem seus discipulos ao falarem de supostas

com Bencinho que tinha seus brinqueshyos ofici08 divinos brincando mesmo

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

com Capitu de dizer missas e tamando doce por hoscia Porem embora os estudos secundarios fossem feitos ainda com base religiosa em seminarios os filhos ja mais autonomos escolhiam profissoes de maior prestigio socioshyeconomico que oscilavam entre a medicina e 0 direito influindo na queda da busca da vida religiosa que foi acusada em 1894 pelo ex-bispo da cidade ao falar da escassez de padres ordenados no () seminario e das paroquias sem capelaes(1hchado de Assis 1959b80)

Nesse contexto e sentido ate promessas celebres eram quebradas Por mais que 0 vinculo moral da promessa prendesse indissoluvelmente D Gloria mae de Bentinho descrita como devota e que havia prometido la par volta de 1847 dar a Deus 0 61ho como sacerdote casu nao morresse na infancia 0 compromisso foi rompido posteriormente guando se encontrou a saida de subscitui-lo por urn mocinho orfao qualquer como pagamento da oferta para compensar a batina que aquele deitou as urtigas represenshytan do segundo 0 narrador urn cochilo da fe Segundo l1achado 0 sentishymento religioso era marcado por lt1ltaes e expressaes exteriores vis to que interiormente a incredulidade era assaz difusa e a deToltao magra tibia e distraida Para ele nesse tempo operou uma grande fusao religioa que fez do paganismo e do catolicismo urn so credo(ilachado de Assis 1957c263 308 1957d280 1955e13 1958b328)

Mas nao era so a familia de Bentinho que em conformidacle com 0

mundo e suas praticas socio-economicas negociava com 0 sagrado () conto Entre Santos expae situaltoes interessantes em torno da devoltao humana ao passo que urn padre conta certo ocorrido por epoca que era capelao da igreja de S Francisco de Paula Ao ver luz sob a porta do templo buscou descobrir do que se tratava e ouvindo conversa fez inferencias que nos revel a 0 costushyme antigo de enterrar os mortos nas igrejas ao perguntar se seriam vozes dos mortos ali enterrados No entanto viu que era urn dialogo entre os santos da igreja que sairam dos seus nichos e que semados em forma humana em seus altares comentavam as oraltoes e pedidos dos fieis no dia Dentre outros Sao Francisco de Sales contou 0 caso de Sales urn velho usuario e avaro que trazia seu nome e tinha a mulher doente com um erisipela na perna que desesperanltado da terra voltou-se para Deus pois so um milagre podia salva-la Pediu que a salvasse operando 0 milagre oferecendo uma perna de cera mas ao passo que estabelecia 0 compromisso s6 via diante dos 0lh05 a moeda que 0 ex-voto havia de custar e acabou prometendo rezar mil padre nossos emil ave-marias(l1achado de Assis 1957h27-44)

Nesse momento sobretudo entre as camadas sociais altas e em asshycensao a devoltao ficaa sobretudo relegada aos antigos e velhos como D Carmo que costumava ir amissa aos domingos e que como outras damas por fadiga por doenlta ou por estar chovendo quando nao 0 fazia pegaya 0 seu livro com as suas rezas marcadas ( ) amesma hora acompanha-a

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a missa toda frente 0 seu altarzinho e seu Cnsto instalados no gabinete e ao acabar beijava a imagem Essa senhora de acordo com sua crenlta nao saia de casa sem a beijar primeiro como urn pedido de proteltao nem voltava scm faze-Io como a dar graltas como 0 fazia ao deitar e ao levantar(lIachado de Assis 1955i197)

A igreja era lugar de exposiltiio seja em missas ordinarias festas de santos missas de mono de seUmo dia de morte e por alma do finado ~i se ostentava opulencia e distimao social sendo objeto de curiosidade publica chamando a atenltao sabre si com carruagens lacaios roupas e esportulas vultosas como a fizera 0 casal Santos emergentes na sociedade na missa de defunto na igreja de S Domingos Essa paroquia era adequada amissa recondita e anonima urn ato sem releyo sem pesames nem lagrishymas como gueria a casal ao mandar dizer missa par alma de urn parente pobre falecido em lIarica scm que aquela repercutisse em seu meio social(Machado de Assis 1959d23) Mas se esse templo era das camadas pobres os ricos au nO05 ricos como a senhora Santos que se queixou que ali sujara 0 estido e enchera-se de pulgas preferiam a de S Francisco de Paula au a da Gloria localizadas em bairros ricos como Flamengo e que eram consideradas lirnpas li os endinheirados tinham como uso velho mandal dizer missas anivelsarias de datas obituarias e natalicias(Machado de Assis 1955i94-5)

lIuitos flequentavam a igreja mais por imposiltao social dos mais Yelhos por ser lugar de se mostlar e estabelecer relaltoes socialS do que por deoltao sentida A jovem Maria Olirnpia tinha a vocaltiio da vida exterior e sentia urn singular feicilto nas procissoes e nas missas pelo rumor e pela pompa Ia aigrcja conduzida pela cia que era religiosa e tinha gosto partishycular em mostrar-se e em namorar os rapazes Sua devoltiio magra escasshyseou ainda mais com a chegada do primeiro espetaculo e 0 primeiro baile Os saloes torna~am-se os novos lugares do encontro e do diertimenshyto e muitos ja entao confundiam as praticas leligiosas com as canseiras da vida e fUgiam delas(Machado de Assis 1959d23-4 28 1957d280 1955i95) Virgilia tambem representa a comportamento da nova mulher presa nas forshyltas seculares ao ser uma jovem senhora casada que possuia urn amante e mostraYa-se pouco religiosa nao ouvindo missa aos domingos ou so indo as igrejas em dia de festa e quando havia lugar vago em alguma tribushyna Alcm disso tachava de beatas aquelas que cram so religiosas a que aponta par outro lado a existencia de mulheres que se dedicayam em excesshyso as praticas religiosas Porem rezava todas as noites com fervor ou pelo menos com sono em sua alcova junto a seu oratoriozinho de jacaranda Ja as homens eram considerados em geral uns impios nao plsavam na Igleja a nao sel para batizar as filhos(tvlachado de Assis 1957e185 1957f257)

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OPSIS - Revista do

Mas se as individuos substituiam que com suas festas eram todo 0 recreio F tempos antigos ate mesmo a igreja nao e mundanizou-se Adotou os carrilhoes urn c~ tocavam peltas profanas chamando as fieis sinos das igrejas e produzindo uma or enfadonhas austeras graves religiosas ma~ pedaltos do Barbe Bleue da Bela Helen contrafaltao de Offenbach ou deg Amor te cassinos e no Alcazar teatro de opereta e Machado a missa da manhii e 0 fand se(Machado de -ssi5 1957d61 1959c16

Outlo costume do tempo dos vicemiddot processo de modemizaltao expressando p( mundo terreno era a de ingressar em confrlt tempos antigos ocorria por amor as cois pda busca de recompensas imediatas ac tomar materia publica a importimcia do 51

mediante a retribuiltoes como a instalaiio d da noticias para publicar em jornais sabre H(

da divulgaltao realizada pelo proprio bem do beneficio e da publicidade do nome e fi~ nas cogitaltoes publicas tornando~se se mandades de damas cram igualmente usa~ principalmente quando os jornais davam 1

os names das organizadoras 0 anuncio gI6ria(Machado de ssis 1957d26205~6

o mesmo ocorria em relacao as at de cunha religioso e assistencial erguidas fr da mendicidade As associaltoes de caridadt do muitas organizadas por senhoras que ~

nos aos famintos amoldavam-se ao mund cido religioso Por um lado adequada ao se as pedintes de esmola em portas das igre mais pobres com seus miseros vintenzinho prias almas pois por meio da caridade I almejando salvar especialmente a 5i mestnlt tado Por outro 0 beneficio alcanltado cor mundo material e nao espiritual como oc comissao de caridade de senhoras para pc com pessoas de destaque na sociedade q cima na sua busca de ascensao social AI~

i

l 1

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2

ho e seu Cristo instalados no gabinete e ao senhora de acordo com sua crenca nao saia

como urn pedido de protecao nem voltava gracas como 0 fazia ao deitar e ao 955i197)

posiao seja em missas ordinarias festas de setimo dia de morte e por alma do finado tincao social sendo objeto de curiosidade sobre si com carruagens lacaios roupas e a 0 casal Santos emergentes na sociedade na Domingos Essa par6guia era adequada

urn ato sem releyo sem nem higrishyandar dizer missa por alma de urn parente

em que aquela repercutisse em seu meio d23) Mas se esse templo era das camadas como a senhora Santos que se quelxou que e de pulgas preferiam a de S Francisco de s em bairros ricos como Flamengo e que

os endinheirados rinham como uso velho de datas obituanas e natalicias(Machado de

igreja mais por imposicao soclal dos mais r e estabelecer socials do que por

Olimpia cinha a vocaltao da vida exterior procissoes e nas missas pelo rumor e pela cia que era religiosa e cinha gosto parcishy

rar os rapazes Sua devoao magra escasshyda do primeiro espetaculo e 0 primeiro

novos lugares do encontro e do divercimenshyas praticas religiosas com as canseiras da

Assis 1959d23-f 28 1957d280 1955i95) portamento da nova mulher presa nas forshysenhora casada que possula urn amante e

nao ouvindo missa aos domingos ou s6 e quando havia lugar vago em alguma tribushytas aquelas que eram s6 religiosas 0 que de mulheres que se dedicavam em excesshy

rezava todas as noites com fervor ou pelo a junto a seu oratoriozinho de jacaranda em geral uns impios nao pisavam Hna

s f1lhos(Machado de Assis 1957e185

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

Mas se os individuos substituiam seus habitos sociais e religiosos que com suas festas eram todo 0 recreio publico e toda a arte musical em tempos antigos ate mesmo a igreja nao escapou da altao secularizante e mundanizou-se Adotou os carrilhoes um conjunto de sinos musicais que tocavam pe~as profanas chamando os fieis amissa subscituindo os pobres sinos das igrejas e produzindo uma orgia de notas nao de musicas enfadonhas austeras graves religiosas mas sons alegres e animados como pedaltos do Barbe Bleue da Bela Helena do Orfeu nos Infernos uma contrafaltao de Offenbach ou 0 Amor tern fogo tocados geralmente nos cassinos e no Alcazar teatro de opereta e da vida boemia Assim segundo Machado a missa da manhii e 0 fandango da noite aproximavamshyse(Ifachado de 1957d61 1959c168-9 1955d250 1959a68-9)

Outro costume do tempo dos vice-reis com significado alterado no processo de modernizaltao expressando pouca devoltao e grande apego ao mundo terreno era 0 de ingressar em confrarias e irmandades religiosas -Jos tempos antigos ocorria por amor as coisas pias mas no momento era peia busca de recompensas imediatas advindas do individual desejo de tomar materia publica a importancia do sujeito e seu espirito caritativo mediante a retribuicoes como a instalaao de retrato na sacriscia a emissao da nocicias para publicar em jornais sobre os beneficios que pracicava alem da divulgacao realizada peio pr6prio beneficiado Desta forma por meio do beneficio e da publicidade do nome e figura daquele que 0 fez entrava-se nas cogitaoes publicas tornando-se sempre Hlembrado~ Ivfesmo as 1rshymandades de damas eram igualmente usadas para dar brilho a suas juizas principalmente quando os jornais davam noticia minuciosa das festas com os nomes das organizadoras () anuncio nas folhas era um troco da gI6ria(Machado de Assis 1957d26205-6 1957e350 412-4 1956b44)

o mesmo ocorria em relaao as atividades associacivas ftlantr6picas de cunho religlOso e assistencial erguidas frente ao crescimento da pobreza e da mendicidade As associaltoes de caridade que aumentaram na cidade senshydo muitas orgamzadas por senhoras que coletavam donativos e reparciamshynos aos famintos amoldavam-se ao mundo profano e desviavam-se do senshytido religioso Por um lado adequada ao sentimenta cristao a mendicidade e os pedintes de esmola em portas das igrejas traziam as pessoas mesmo as mais pobres com seus miseros vintenzinhos a ocasiao de beneficiar suas pr6shyprias almas pois por meia da caridade punha-se em pracica 0 evangelho almejando salvar especialmente a S1 mesmo e nem tanto ao estranho necessishytado Par outro 0 beneficio alcamado com a caridade podia restringir-se ao mundo material e nao espiritual como ocorria com Sofia que usou de uma comissao de caridade de senhoras para p6r-se em evidencia e criar vfnculos com pessoas de destaque na sociedade que 1he dessem um empurriio para cima na sua busca de ascensao sociaL -lem disso nesse seculo utilitario e

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F

pnitico marcado pelo avanlto das forltas de secularizaltao e perda do espirishyto cristao ate mesmo a caridade tornava-se escriturada legalizada regulashymentada (Machado de Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192 1957e190-2 1959d301)

Junto ao povo 0 gosto das procissoes vinha de longe e estava bastante arraigado para os antigos uma tradiltao de infancia costume da primeira metade do seculo do tempo do rei e suas predileltoes confesshysadas por todas as yelhas carolices as quais seus contemporaneos choravam e pediam pelos tempos dos oratorios de pedta dos tetltos cantados das procissoes bem ordenadas das ladainhas atras do viatico das boas festas e dos bons trades da verdadeita fe e dos vetdadeiros filhos de Deus iias ja em 1865 essas ptocissoes classicas podiam dar ideia de tudo menos de urn culto serio e elevado pois ao lado dos anjinhos e andores floridos os homens iam em filas uns com tochas na mao outros com vara do palio disputadas pelos fieis pais dava uma distincao especial a quem a trazia Alguns iam dizendo pilh6rias aesquerda e adireita enquanto os assistentes comentavam as gracas jUTenis do anjo cantor que era sempre mQ(a feita Desta forma Machado julgava que essas procissoes e semelhantes praticas eram ridiculas nao podendo subsistir numa sociedade verdadeiramente telishygiosa pois uma folia mesmo para os mais sinceramente religiosos com as quais os sacerdotes serios nao deveriam conservarem cumplices( Mashychado de Assis 1958a101-2 Grifo meu)

Existia ainda a luta tradicional travada entre os diferentes templos com 0 unico objeto de primar uns sobre os outros no luxo das suas procisshysoes respectivas sendo essa luta por demais profana e manifestava-se por uma aculTIulacao de prata e ouro nos andores no mais numeroso concurso de irmaos e de anjinhos e outras coisas iguais Vivia-se 0 sagrado melo afolia comentari~s dos assistentes pilh6rias disputas e abusca do brilho e da distimao do que Machado duvidava muito que a divinshydade visse com bons olhos estes conflitos de primazia(Machado de Assis 1958alOl-2 1957c98-100 Grifo meu) No entanto se as procissoes eram filhas da tradiltao em 1865 algumas delas ja haviam sido suprimidas pelo process a de modernizaltao da igreja e para 0 cronista tudo fazia crer que as restantes tamb6m seriam Nesse sentido em 1893 avalia com certa melanshycalia a diferema entre uma procissao de Sao Sebastiao daquele ana e as de outrora dizendo Ordem numero pompa tudo 0 que havia quando era () menino tudo desapareceu(Machado de Assis 1958a101 1959a220)

Porem se 0 sagrado e 0 profano apresentavam-se quase sempre de maos dadas inclusive na esfera das praticas catolicas oficiais essa interpenetraltao tinha certos limites Em 1896 uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair em desftle por se denominar N ossa Senhora da Conceiltao De acordo com 0

cronista esse titulo pareCla esquisito mas se a intenltao eque salva a sociedashy

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OPSIS - Revista do

de vai para 0 ceu pais os autores da ideia tQS da Virgem e nao [tinham] 0 carnaval por desse poslcionamento 0 folhetinista acabou enfatizando que se tal socledade tinha igual g adotar denominaltao adequada e que na( Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos et gente mas sofriam tambem a altao dos novo se Eram de maior destaque a festa da Glol Reis de Sao Sebastiao do Espirito Santos e ( tinham lugar tanto a religiao com missa que F Deum quanto 0 recreio com fogos de artifi prendas Embora houvesse entre elas algum folhetinisra ao cabo de tudo [era] a mesml sao 0 que 0 leTaTa a lascimar que 0 fogo de da Penha [1eYavam] mats fi6is que 0 objeto es certo que todo caminho leva 11 Roma nao 0 i Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que t~

como tinham acabado muitas outras devoS meio recreativas Para ele 0 elemento estr mes com muita patinacao muita opereta m nossa populacao a rusticidade e 0 encanto d Assis 1958b121 1956b207 19S5g410 1955d147-8 Grifo meu)

~ festa do Espirito Santo igualmel contista em A Parasita Azul que transeOl Luzia Goias ao falar desse festejo aponta q que de todo se nao apagou 0 gosto dessas eras No entanto na Corte ainda persistia ( barracas Nao era diferente com a Festa de R 1864 Machado falava que a festa de S Joao tI fogueiras e baloes proibidos por postura mu obstante 0 ceticismo do tempo muita e m corter primelro que 0 povo [perdesse] 0

foguetear os tres santos em junho Porem ja Joao e tambern de Reis Sobre a ultima com popular perdurava no interior pois na c

anos e brotado em sua cinzas a arvore de t essas lTIudancas De Assis lamenta que os al ha nela de puetil para Sf) the deixar 0 que ha quem nem 15S0 fica esse perde 0 melhor ( sirnplorio e velho de noites abencoadas

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das for~as de secularizacao e perda do espirishytornava-se escriturada legalizada regulashy

Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192

das procissoes vinha de longe e estava os antigos uma tradi~ao de inGneia costume do tempo do rei e suas predileltoes confesshy

as quais seus contemporaneos choravam orat6rios de pedra dos terltos cantados das

ladainhas awis do yiatico das boas festas e fe e dos verdadeiros ftlhos de Deus 1as ja

sslcas podiam dar ideia de tudo menos de um ao lado dos anjinhos e andores floridos os

tochas na mao outros com vara do palio uma distin~ao especial a quem a trazia

aesquerda e adireita enquanto os assistentes do anjo cantor que era sempre molta feita que essas prociss()es e semelhantes pniticas

subsistir numa sociedade erdadeiramenterelishypara os mais sinceramente religiosos com as

nao deyeriam conservarem cumplices( 11ashyGrifo meu)

ttadlC1011al travada entre os diferentes templos uns sabre os outros no luxo das suas procisshy

luta por demais profana e manifestava-se e ouro nos andores no mais numeroso

e outras coisas iguais Viyia-se 0 sagrado dos assistentes pilherias disputas e abusca do que Machado duyidava muito que a divinshy

conflitos de primazia(Machado de Assis Grifo meu) No entanto se as procissoes eram

delas ja haviam sido suprimidas peIo igreja e para 0 cronista tudo fazia crer (lue as

sentido em 1893 avalia com certa melanshy)rOClssao de Sao Sebastiio daquele ana e as de nUmero pompa tudo 0 que havia quando era

(Machado de 1958a 101 1959a220) eo profano apresentavam-se quase sempre de das pciricas cat6licas oficiais essa interpenetraltao uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair

Senhora da Conceiltao De acordo com 0 mas se a inten~ao e que salva a sociedashy

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de vai para 0 ceu pais as autores da ideia [eram] com certeza fieis deyoshytos da Virgem e nao [tinham] 0 caman por obra do diabo Porem apesar desse posieionamento 0 folhetinista acabou por concordar com a proibi~ao enfatizando que se tal soeiedade tinha igual gosto as ideias profanas deveria ado tar denominacao adequada e que nao faltam titulos (1vIachado de Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos eram populares e reuniam muita gente mas sofriam tambem a a~ao dos novos tempos e perdiam seu interesshyse Eram de maior destaque a Festa da Gloria da Penha da Conceiltao de Reis de Sao Sebastiiio do Espirito Santos e de Sao Benedito Em tais festas tinham lugar tanto a religiao com missa que poderia ser cantada e ate um TeshyDeum quanto 0 recreio com fogos de artificio barracas corretos leilao de prendas Embora houvesse entre elas algumas diferenltas de acordo com 0

folhetinista ao cabo de tudo [era] a mesma alcgria e a mesmlssima divershysao 0 que 0 leYaa a lastimar que 0 fogo de artificio da Gkma e 0 garrafao cia Penha ~evayam] mais fieis que 0 objeto essencial da festiyidade POlS se e certo que todo caminho leva aRoma nao a e que todo caminho lea ao ceu Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que talvez essa Festa tin~sse findado como tinham acabado muitas outras devoltoes populare~ melO religlOsas meio recreatiYas Para 0 elemento estrangeiro transformou os costushymes com muita muita opereta muita COlsa peregnna que tirou it nossa populaltao a rusticidade e 0 encanto de outros tempos(~1achado de Assis 1958b121 1956b207 1 10 1959c225 103 1957c77 1955d147-8 Grifo meu)

A Festa do Espirito Santo igualmente desaparecia e em 1870 0 contista em A Parasita Azul que transcorre por olta de 1850 em Santa Luzia GOlaS ao falar desse aponta que vao rareando os lugares em que de todo se nao apagou 0 gosto dessas festas classicas resto de outras eras No entanto na Corte ainda persistia 0 habito de muito irem ver suas barracas Nao era diferente com a Festa de Reis e dos santos juninos Se em 1864 Machado falaya que a Festa de S Joao tomaya-se falsificada sem fogos fogueiras e baloes proibidos por postura municipal em 1878 dizla que nao obstante a cetiClsmo do tempo muita e muita dezena de anos n1aia] de correr primeiro que 0 povo [perdesse] os seus antigo amores como foguetear os tres santos em junho Porem ja em 1894 trata da morte de S Joao e tambem de Reis Sobre a ultima comenta que nao sabia se essa festa popular perdurava no interior pois na capital tinha morrido ha muitos anos e brotado em sua cinzas a arvore de Natal vinda da Europa Frente a essas mudanltas De Assis lamenta que os anos que passam tiram afe a que ha ncla de pueril para so Ihe deixar 0 que ha serio Para de triste daqucle a quem nem iS50 fica esse perde 0 melhor das recordaltoes de um tempo simpl6rio e velho de noites abenltoadas em que as crendices sas abrem

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todas as vdasAs consultas as sortes as ovos guardados em agua e outras sublimes ridicularias as quais via com respeito com simpatia e se alguma coisa a molestaa era por nao as saber ja praticar( lvlachado de Assis 1957e62 1955f46 1955a318 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241 1959b13-4 123-4)

Ifas se na cidade 0 vento dos tempos desfazia em lufadas de tuGo essas praticas populares anrigas arraigadas no imaginario coletivo no interior de era brisa igual e mansa que tudo esfolhava e dispersava devagar 8Sim em 1864 0 cronista tratou de urn morador de Viana descobridor de uma imagem de Santa Teresa que lacrimejava e supondo ser milagre pos em alorolto as credulos vianenses considerando procedente realizar exame do fato por uma comissao de eclesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao das festas do Born Jesus em Pirapora que reuniam anualmente urn numero extraordinario e crescente de romeiros calculados naquele ana em 8000 pessoas J a em 1873 escreyeu sabre uma senhora que enlouqueceu quando depois de longa seca pediu chua enterrando uma imagem de Santo Antonio no rnato e alcanltou 0 pedido Porem como a chuva abundante nao cessava ao contrario 0 aguaceiro ia a mais matando inclusive animais yoltou ao buraco por acreditar que a preclpitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas nao 0 encontrou entrando a supor que os males derivavam da altao que praticara 0 cronista comentando 0 fato de Santo Anttmio gozar entre seus deyotos do exotico privilegio de nao conceder nenhuma gralta senao enterrado ou metido num poco so operando milagres a troco da liberdade consideraya que uma senhora religtosa fizera-se supersticiosa e que quando a fe chega a este ponto esta )a muito alem das fronteiras da superstiltao deixando seu praticante sem nenhuma das grandes consolaltoes da fe trazendo-lhc 0 desespero e a loucura Ainda nesse universo ja em 1876 trata da existenCla de duas mulheres santas e milagrosas uma que apareceu na Bahia em torno da qual formou romarias dos seus devotos e outra velha milagrosa que diziam curar doewas incuraveis com ervas misteriosas(Machado de Assis 1955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2)

Desta maneira as esferas do sagrado e do profano da fe da devoltao e do recreio estaam bastante imbricadas no que concerne as praticas dos catolicos havendo uma circulaltao e influencia reciproca entre as instancias das cerimonias e rituais oficiais e sua recnacao pelos leigos entre 0 divino e a folia entre 0 cuita e a festa Os momentos e lugares em que essas aspiracoes se concretizavam em praticas sociais serviam tambem para promover a interacao dos indivlduos lvlas deixando esse sobrevoo sobre a sociedade carioca e focalizando n0550 olhar num segmento especifico desta como na comunidade negra podemos perceber outros aspectos da cultura religiosa carioca Dessa cultura hibrida amalgamada no territorio fluminense observamos primeiramente as pratica ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revi$fa do

as quais de forma geral sao vistos como

respeitados N esse meio social existiam aqudes in

uma preta y~lha do conto 0 Escrivao Co ajoe1hada diante do altar de S Bernardo co do pedic-lhe alguma coisa se nao eque lhe recebido ate que acabou beijando a cruz tou-se e saiu Outros aparecem como detel onais e seus transmissores sendo rezadore senhores ou sabedores de promessas celebre sas ou subir de joelhos a ladeira da Glc Santa(Machado de Assis 19551229-30 1 esta presente no uniYerso das atividades cal do preto elho de Casa Velha que emb africanas era sineiro mas nao fazla mats q missa aos domingos 19ualmente nesse 0

sineiro da Gloria (lue de escrao ficou li~ seculo aquda torre regendo a paroquia e c( picava por casamentos nascimentos batiza amarela 0 calera-morbus os partidos qUI deles ~ pela guerra do Paraguai pelos mo livre das escravas a aboliltao a Republica plt se Tudo conforme a ordem(JIachado de

Outras Ofertas e tensoes Feiti~

Espiritism

Ja outros negros vclhos aparecem mais circunscritas senda depositarios de p( varios elementos que expressam traltas cultu canas 0 negros produziram com suas ling des cantos e batuques uma ruptura com recorrerem mesmo que na clandestinidade uma cultura negra brasileira a qual recorriar contexto embora inseridos em universo simi de crencas praticas e -isoes de mundo al~ tica usada no cotidiano por bran cos negro cam associalt6es ao cultos africanos nos ql parentesco permeiam os rdacionamentos s mente ligados Desta forma alguns pretos sendo vistos como bonciosos humildes g~ Assis 1955d392 1957c279)

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s sortes os ovos guardados em agua e outras

via com respeito com simpatia e se alguma ao as saber ja praticar( Machado de Assis 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241

vento dos tempos desfazia em lufadas de anrigas arraigadas no imaginario coletivo no nsa que tudo esfolhava e dispersava devagar

tou de urn marador de Viana deseobridor de que lacrimejava e supondo ser milagre pas ses considerando procedente realizar exame clesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao apora que reuniam anuahnente urn numero

romeiros calculados naquele ana em 8000 sobre uma senhora que enlouqueceu quando a enterrando uma imagem de Santo Antonio

Porem como a chuva abundante nao cessava mais matando inclusiye animais yoltou ao cipitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas supor que os males derivavam da altao que do 0 fa to de Santo Antonio gozar entre seus 0 de nao conceder nenhuma gralta senao s6 operando milagres a troeo da liberdade

giosa fizera-se supersticiosa e que quando muito alem das fronteiras da superstiltao nenhuma das grandes consolaltoes da fe loucura Ainda nesse universo ja em 1876 eres santas e milagrosas uma que apareceu na romarias dos seus devotos e outra velha

urar doenltas incuraveis com ervas 955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2) s do sagrado e do profano da fe da devoltao

bricadas no que concerne as praticas dos o e influencia redproca entre as ins tlmcias das a recrialtao pelas leigos entre 0 div1110 e a

omentos e lugares em que essas aspiraltoes sociais serviam tambem para promQyer a

deixando esse sobrevoo sobre a sociedade num segmento espedfico desta como na

ceber outros aspectos da cultura religiosa a amalgamada no territorio flumlnense aticas ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revista do Niese V2 N J JanJun 2002

os quais de forma geral sao vistos como conhecedores dela e por 1880 re8peitados

Nesse meio social ex1stiam aqueles inseridos na tradiltao catolica como uma preta v~lha do conto 0 Escrivao Coimbra que Camilo viu na igreja ajoelhada diante do altar de S Bernardo com urn rosario na mao parecenshydo pedir-lhe alguma coisa se nao e que the pagava em oraltoes 0 beneficio ia recebido ate que acabou beijando a cruz do rosario persignou-se levanshytou-se e saiu Outros aparecem como detentores de conhecimentos tradicishyonais e seus transmissores sendo rezadores que pediam guard a para seus senhores ou sabedores de promessas celebres como mandar dizer cern misshysas au subir de joelhos a ladeira da Gloria para ouvir uma ir a Terra Santa(Machado de Assis 19551229-30 1957c71177279) 0 negro idoso esta presente no universo das atividades catolicas como sineiros a exemplo do preto velho de Casa Velha que embora muito atrelado as tradiltoes africanas era sineiro mas nao fazia mais que tocar 0 sino da capela para a missa aos domingos Igualmente nesse ofieio IvIachado destaca Joao 0 sineiro da Gloria que de escravo ficou livre governando por quase meio seculo aquela torre regendo a par6quia e contemplando 0 mundo de 11 Reshypicava por casamentos nascimentos batizados mortes Dobrava pela febre amarela 0 colera-morbus os partidos que subiam ou cafam sem saber deles _ pela guerra do Paraguai pelos mortos e pelas vitorias peIo ventre livre das escravas a aboliltao a Republica pelo imperio_ se 0 imperio tornasshyse Tudo con[orme a ordem(tviachado de -5S1S 1956b193-4 1957b431-3)

Outras Ofertas e tensoes Feiti~arias Adivinha~oes e

Espiritismo

Ja outtos negros velhos aparecem atrelados as tradiltoes ancestrais mals circunscritas sendo depositarios de poderes de proteltao e guardioes de varios elementos que expressam traltos cultorals singulares das socledades afrishycanas 0 negtos produziram com suas linguas danltas folguedos sonoridashydes cantos e batoques uma ruptura com a -isao de mundo ocidental ao recorrerem mesmo que na clandestinidade a seus ritos seus deuses criando uma cultura negra brasileira a qual reeorriam alguns de seus senhores Em tal contexto embora insetidos em universo simb6lico marcado pda multiplicidade de crenltas praticas e visoes de mundo alguns aspectos da expressao lingiiisshyrica usada no cotidiano por brancos negros e mestiltos livres e cativos indishycam associaltoes ao cuhos africanos nos quais a ideia de familia e de laltos de parentesco permeiam os relacionamentos socialS e religiosos que sao intimashymente ligados Desta forma alguns pretos velhos eram ehamados de Pai sendo vistos como bondosos humildes generosos e paternais( Machado de Assis 1955d392 1957c279)

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Outros pretos velhos de modo mais dire to traziam conhecimentos ancestrais produzindo rituals que funcionavam como urn feitiqo protetor as vezes acendendo velas tocando marimba cantarolando em alguns instanshytes baixinho umas ozes de Africa cantilenas alegres guerreiras entusiasshytas em outros cantigas falando de santo de trabalhar de comer 0

que remete as praticas das oferendas e ao principio do candomble de existenshycia de forqas vitais e sagradas que perpassam todos os aspectos da vida mashyterial e cotidiana como as tarefas as formas hidicas como a musica a danqa o canto 0 gesto Assim tanto Raimundo de laid Garcia empertigava 0

corpo dando aos quadris e ao tronco 0 movimento de suas danqas africashynas quanto 0 peeto velho de Casa Velha que canta-a Calumga mussanga monandengue dando ao corpo umas sacudidelas para acompanhar a toshyada africana alem de recorrer as tradiltoes orais ao contar historias muito compridas e sem sentido algum para os brancos pOlS forjadas e inseridas noutro universo simbolico da maioria deles ignorado Desta forma essas manifestaltoes mantinham uma memoria reveladora de matrizes africanas que era alimentada pela danqa pela paIavra pelos gestos ou pelos objetos e oushytros vekulos de expressao e comunicaqao(Machado de Assis 1955h1114 1956b193-4 1957b432-3)

No entanto outros aspectos expressam ainda a religiosidade no universo de uma cultura afro-amerindio-brasileira na obra machadiana como a feitiqaria Num momento em que em nome da civilizaltao da ciencia e da razao os intelectuais e as autoridades medicas policicas e policiais voltaramshyse contra praticas ariadas denominadas ~fnericamente de feitisaria lIachashydo abordou essa questao de modo bastante proprio Nao associou tais pratishyeas ao universo socio-cultural espedflco dos negros como faziam outros jorshynalistas e tampouco os apreciou a priori de modo negativo e condenatorio Contrap6s-se ao conteudo de muitas notkias divulgadas na imprensa nas quais 0 negro era 0 bruxeiro 0 feiticeiro violento e barbaro com a figura de Raimundo que produzia urn feitiqo protetor a seu senhor afastando da imagem do preto que fazia feitico male fico para seus proprietarios(Schwarcz 1987125-8 Machado de Assis 1955h10)

Ao tratar da batalha contra os antigos habitos religiosos tradicionais da gentes em 1893 0 cronista anunciava ter medo do c6digo penal de 1890 no qual havia urn artigo que castiga duramente as pessoas que advinham 0

futuro tao duramente como as que aplicam drogas para excitar odio ou amor para fascinar e subjugar a credulidade publica Com base nesse as autoridades recolhiam adetenqao curandeiros e feiticeiras levan do as ferrashymentas desses ofieios ( ) incluidos no e6digo como delitos como aves mortas pernas de ceroula saquinhos com feijao arroz farinha sal altucar canjica penas e cabeltas de frangos usados na busca de estabelecer uma alianshyca com 0 sobrenatural a partir da aciio de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do

vivos deuses e homens(lIachado de Assis Assis a feitiqaria era alga natural do homen tivas alem de ser urn ofkio que garancia r fur tar e matar para sobreviver e infring1r 0

que nao falam de feitiltaria mas de furto doente acreditar na feiticaria e por julgar q soais que determinam tudo neste mundo I

acudir a feitiltaria considerando emao inee go penal como deli to c prender senhoras s com os seus olhos e com seus demais obj 1959b308-11 )

fachado rarefez 0 clima hostil de dos seus agentes nao as associando aos neg te que esse elbo costume de buscar nas fei ros quase sempre mesciltos _caboclos e eab agruras nao so se restringia ao pon) Muita dade recorriam aos adiyinhos e curandeiros erva como por meio dc rezas 0 eurand mazelas que devastaam a cidade como eOolltao de defuntos de espiritos difere de ler como as adivinhas mandando e curandeiro Tobias falava em prosa scm 0

cas ate ser preso com suag bugigangas e galo pes de galinha secas medalhas pohcoJ de raia incluidos no aparato instrumental sis 1956c248-9 267-8 19S5d426-7)

Buscar os adivinhos e feiciceiros era ricas ainda que nesta muito preconceitos vando muitas ezes a consultas escondidas redor dc uma caboc1a muito conhecida do adivinha era grande e segundo 0 narrador da sociedade falavam dela a serio e havia ta um Juiz municipal cuja nomeaqao foi ar era muito falada na cidade e reinava Ii n(

merosa que vinha de muito mcses scndo queza da adivinha Toda a gcnte falan e assunto da cidade atribuiam-lhe um pode sortes achados casamento Afirmavam e 0 que vifia a scr Para 0 poo parccia muitas as noticias sobre seus feitos e ha-ia ~ soas que tinham perdido e achado joias e esc ~- polkia mesma quando nao acabaYl1 de

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de modo mais dire to traziam conhecimentos

tronco 0

funcionavam como urn feitio protetor

marimba cantarolando em alguns instanshy cantilenas alegres guerreiras entusiasshy

de santo de trabalhar de comer 0

e ao principio do candomble de existenshyperpassam todos os aspectos da vida mashy

as formas ludicas como a musica a danca Raimundo de laid Garcia empertigava 0

movimento de suas dancas africashyVelha que cantava Calumga ~ussanga umas sacudidelas para acompanhar a to-

as tradicoes orais ao contar historias muito para os brancos pois foqadas e inseridas

maioria deles ignorado Desta forma essas memoria reveladora de matrizes africanas que palavra pelos gestos ou pelos objetos e oushy

~uluIlltaya()(ilachado de Assis 1955h1114

expressam ainda a religiosidade no merind()-trastllra na obra machadiana como

que em nome da ciyilizacao da ciencia e da medicas politicas e policiais oltaramshy

1955hlO)

loolinadls genericamente de feiticariatvfachashybastante proprio Nao associou tais pratishy

_middot~neIflr dos negros como faziam outros jorshy

apriori de modo negativo e condenatorio muitas noticias divulgadas na imprensa nas o feiticeiro violemo e barbaro com a figura

feitico protetor a seu senhor afastando da maletico para seus proprietarios(Schwarcz

os antigos habitos religiosos tradicionais anunciava ter medo do codigo penal de 1890

duramente as pessoas que advinham 0

as que aplicam drogas para excitar odio ou a credulidade publica Com base nesse as curandeiros e feiticeiras levando as ferrashy

lCitllid()s no codigo como deliros como aves

com feijao arroz fartnha sal acucar usados na busca de estabelecer uma alianshy

da alao de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

vivos deuses e homens(Machado de Assis 1959a288 1959b308) Para De Assis a feiticaria era algo natural do homem vista em varias tribos primishytivas alemde ser urn oficio que garantia renda a muitos impedindo-os de furtar e matar para sobreviver e infringir os mandamentos da lei de Deus que nao falam de feiticaria mas de furto Ironicamente diz que por estar

doente acreditar na feiticaria e por julgar que sao sempre os l11teresses pesshysoals que determinam tudo neste mundo estava com grandes desejos de acudir afeiticaria considerando entao incorreto incluir a feiticaria no codishygo penal como delito e prender senhoras so porque fecham 0 corpo alhelO com os seus olhos e com seus demais objetos de culto(Machado de ASS1S

195308-11) Machado rarefez 0 clima hostil de desqualificacao dessas praticas e

dos seus agentes nao as associando aos negros e enfatizando incansavelmenshyte que esse velho costume de buscar nas feiticeiras adivinhas e curandeishy

ros quase sempre mesticos _caboclos e caboclas _ auxilio as imluietacoes e agruras nao s6 se restringia ao povo Tfuitas pessoas de posiltao na SOC1eshydade recorriam aos adi-inhos e curandeiros e os ultimos curavam tanto com ervas como por meio de rezas 0 curandeiro Nascimento curaa muitas mazelas que devastayam a cidade como barriga dagua com passes de evocacao de defuntos de espiritos diferentes ou arrancava dentes alem de Ie~ como as adivinhas mandando com tais e tais palaTinhas Ja 0

curandeiro Tobias falava em prosa sem 0 saber curaa em Hnguas classishycas ate ser preso com suas bugigangas e drogas tais como esporoes de galo pes de galinha secos medalhas polvora e ate urn chicote feito de rabo de raia inc1uidos no aparato instJumental de seus ritualS (ilachado de Asshysis 1956c248-9 267-8 1955d426-7)

Buscar os adivinhos e feiticeiros era costume presente entre as classes ricas ainda que nestas muitos preconceitos contra tais praticas existissem leshyvan do muitas vezes a consultas escondidas como ocorre em Esau e Jaco ao redor de uma cabocla muito conhecida do Ilorro do Castelo lt fama des sa adivinha era grande e segundo 0 narrador muira gente boa Ja ia pessoas da sociedade fala am dela a serio e havia um caso recente de pessoa dis tinshy

ta urn juiz municipal cuja nomeacao foi anul1ciada pela cabocla A caboc1a era muito falada na cidade e reinava la no morro possuindo freguesia nushymerosa que vtnha de muttos meses sendo sinal certo da videncia e da franshyqueza da adivinha Toda a gente fahlYa entao da cabocla do Castelo era 0

assunto da cidade atribuiam-lhe um poder tntlnito uma serie de milagres sortes achados casamentos AfirmaalU que cia adivinhaya tudo 0 que era eo que iria a ser Para 0 povo parecia que era mandada de Deus Eram muitas as noticias sobte seus feiros e hayia gente que dizla que conheC1a pe5shysoas que tinham perdido e achado joias e escraos De acordo com 0 narrador A policia mesma quando nao acabaa de apanhar um criminoso ia ao Casshy

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tela falar acabocla e des cia sabendo por i5S0 eque nao a botava para fora como os invejasos andavam a pedir A caboda explicava sonhos e pensashymentos curava quebranto(Machado de Assis 1959d43-4)

Segundo Aires tal costume era velho e velhissimo e no interior da casa simples nao havia nada que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshynhum petrecho simbalico nenhum bicho empalhado esqueleto ou desenho de aleiJoes Quando muito urn registro da [festa de Nossa senhora da ] Conshy

colado a parede podia lembrar misterio mas nao metia medo A cabocla e descrita com simpatia e 0 ritual sem afetacao Era uma criaturinha leve e breve ( ) corpo airoso com urn raminho de arruda nos cabelos 0

que ja the dava urn certo ar de sacerdotisa embora seu misterio estivesse mesmo era nos olhos agudos e compridos que entravam peIo consulente revoh-endo-Ihe 0 coracao ao tempo que interrogava Em transe de posse de retratos e cabelos de alguem ausente com urn cigarro acesso ao som de uma viola e de cantigas do sertao do Norte murmuradas por urn velho caboclo entrava a dizer sobre as coisas futuras ate que por fun 0 fregues se alegre e rico tirava uma nota de cinquenta mil-reis quando 0 preco do costume era cinco ezes menos arrecadaYa seus objetos e saia (Machado de Assis 1959d 7shy16) Essa cabocla com origem no norte do pais assim como outros caboclos curandeiros perseguidos pela policia remete apresenca dos caboclos no unishyverso das pniticas religiosas brasileiras que sendo figura mestica esta vinculashyda a nossos ancestrais nativos os indios donos da terra e ligados anatureza no tradicao dos cultos afro-brasileiros

No en tanto no campo das batalhas religiosas tais praticas tiveram outros opositores tal como os adeptos do nascente espiritismo que contagishyados peIo espirito positivo~cientificista do momenlO na busca de credibilidade ptlblica e de converter fieis incutindo-lhes seus pressupostos diziam possuir doutrina regida por leis cientificas ao querer excluir qualshyquer maculf[ de seita e julgavam-se sabedores das verdadeiras luzes do mundo e de verdades eternas Desta forma um iniciado nessa religiao defendia uma consulta espirita e na~ a caboda do Castelo por mais que ela fosse celebre Recorrer a ela seria imitar as crendices da gente reles e s6 ocorreria ate enquanto a policia nao pusesse cobro ao escandalo J a numa consulta espirita algum espirito podia [dizer] a verdade em vez de uma adivinha de farsa Para urn medium espirita enfiado em larga camisola de seda e usando toda a terminologia espirita assomada de casos fenomeshynos misterios testemunhos atestados verbais e escritos a cabocla devia ser deixada afe das senhoras pois eram delas crencas da meninice(Machado de Assis 1959d79113843-6646770 1957h10-1)

Cabe aqui ressaltar que nesta obra Esau e Jac6 a qual trata desses variados aspectos espirituais acima apontados advindos de tradicoes culturais e religiosas diversas Machado sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religi~

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OPSIS - Revista do

oso expondo a imbricacao das praticas ori catolicismo e 0 confronto com 0 espiritismc bases do que seria posteriormente denomin nomes dados as pessoas podem predestina ligacao entre 0 fato dos filhos do casal Sanl quais a cabocla disse terem brigado no ventr des entre estes porque os dois apostolos do garam assim como Esau e Jaco figuras do brigado por causa da primogenitura

Porem lIachado nilO recorre ao eSI conto Uma visita de Alcibiades 0 desemba S1caO juntamente com Santos aCllna citado essa doutrina propagaya ao ler Plutarco fun litava envoher a imaginaltao numa especie vel as evocacoes mentais transportou-se pa de Alcibiades ate que ao terminar de [umar de subilO pensou qual seria a impressiio daqu ario Desta feita enfatizando (lue era urn 1

podendo mesmo dizer que vlvia cornia dor cafe e esperava morrer na fe de Alan Kard os sistemas sao pura niilidades tinha adota sim sendo espiritista evocou lcibiades a c fez rapido aproximando duas civilizacoes impalpavel e sim urn homem de carne e mente a sua frente entrando a conersar sob o grego empalideceu cambaleou e caiu r desembargador mandou~o para 0 necroteno

o espiritismo sen-iu como assunto nas quais quasc sempre ri brinca e ironiza sc cando as vezes compreende-los por mais laquo

correndo a estrategias comicas Desta forma situacoes nebulosas como uma que exigia p teoria de Newton sugerc consultar 0 propri vez que nao entendia nada de astronomia Er brasileiros acabavam de dar um golpe de m urn medium com fama de ser prodigioso e sileira nomeado uma comissao para estudar nao valia a fama e que os trabalhos ficararr Europa e outro paises mas que 0 problen estao sujeitas a esse eclipses e nao estao Fora i5S0 a Federacao lamentaa que diante mular os fenomenos que obtem nas condie

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_UJUUV por 1SS0 e que nao a botava para fora a pedir A caboda explicava sonhos e pensashy

UVll1Ul1lU de Assis 1959d43-4)

vmiddotOLU1l1C era velho e velhissimo e no interior da que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshy

UUilU bicho empalhado esqueleto ou desenho registro da [Festa de Nossa senhora da 1Conshylembrar misterio mas nao metia medo A eo ritual sem afetas-ao Era uma crtaturinha

com urn raminho de arruda nos cabelos 0

sacerdotisa embora seu misterio estivesse e compridos que entravam pelo consulente

tempo que interrogava Em transe de posse de ausente com urn cigarro aces so ao som de uma do Norte murmuradas por urn velho cabodo

futuras ate que por fim 0 fregues se alegre ~lu-uLa mil-reis quando 0 pres-o do costume era

seus objetos e saia(Machado de Assis 1959d7shyno norte do pais assim como outros cabodos

polleia remete a presens-a dos cabodos no unishyIIJ[l1~JlC1Jl1 que sendo Figura mestis-a esta vlnculashy

os indios donas da terra e ligados anatureza

das batalhas religiosas tais praticas tiveram adeptos do nascente espiritismo que contagishy

__rpntificista do momento na busca de nrprtpr fieis incutindo-Ihes seus pressupostos

por leis cientificas ao querer exduir qualshysabcdorcs das yerdadeiras luzes do

Desta forma urn iniciado nessa religiao

rfu~ ~clt5u-(r(l1H-gn1ru lJ(YL nril ljlft1hgt

seria imitar as crendices da gente reles e so nao pusesse cobro ao esdindalo Ja numa

podia [dizer] a verdade em vez de uma Pltd11lIl espirita enfiado em Iarga camisola de

espirita assomada de fenomeshynauo verbais e escritos a cabocla devia ser

eram delas crenltas da meninice(Machado 770 1957hl0-1)

nesta obra Esau e Jaco a qual trata desses apontados advindos de tradiltoes culturais

sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religishy

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

oso expondo a imbricaltao das praticas origin arias dos amedndios com 0

catohcismo e 0 confronto com 0 espiritismo que amalgamados crtavam as bases do que seria posteriormente denominado de umbanda Aponta que os nomes dados as pessoas podem predestinar seus caminhos ao estabelecer ligaltao entre 0 fato dos filhos do casal Santos chamarem Pedro e Paulo os quais a cabocla disse terem brigado no ventre da mae e indicando as rivalidashydes entre estes porque os dois apostolos do Novo Testamento tam bern brishygaram assim como Esau e Jac6 figuras do Velho Testamento tinham ainda brigado por causa da primogenitura

Porcm Machado nao recorre ao espirttismo apenas nessa obra No conto Uma visita de Alcibades 0 desembargador Alvares que por sua poshysiltao juntamente com Santos acima citado indica 0 meio abastado em que essa doutrina propagaa ao ler Pluta reo fumando um charuto que possibishylitava envolver a imaginas-ao numa especie de nimbo extremamente favorashyvel as evocaltoes mentais transportou-se para a antiga Atenas pois lia a vida de Alcibiades ate que ao terminar de fumar voltou aos tempos modernos e de subito pensou qual seria a impressao daquele ateniense sobre n0550 vestushyano Desta feita enfatizando que era urn tanto espiritista ( ) ate muito podendo mesmo dizer que livia comia dormia passeava conversava bebia cafe e esperava morrer na fe de Alan Kardec pois convencido que todos os sistemas sao pura niilidades tinha adotado 0 mais jovial de todos Asshysim sendo espiritista evocou Alcibiades a comparecer em sua casa e esse 0

fez tapida apraximando duas civilizayoes Mas esse nao era uma sombra impalpavel e sim um homem de carne e ossos que se sentou benevalashymente a sua frente entrando a conversar sobre 0 assunto de interesse ate que o grego empalideceu cambaleou e caiu no chao Dian te do cadaver a desembargador mandou-o para 0 necroterio(Machado de Assis 1956a203-7)

o espiritismo serviu como assunto em varias cronicas machadianas

nas qua~s quasc selnpre ri brinca e lroniza seus enunciados e principios busshycando as vezes compreende-Ios por mais estranheza que provocassem reshyoottendo a estrateglaS comicas Desta forma ha momentos em que diante de situa~oes nebulosas como uma que exigia para sua solus-ao conheCImento da teoria de Newton sugere consultar 0 proprio por meio do espiritismo uma vez ~ue nao entendia nada de astronomia Em outro comenta que os espiritas brasilerros acabavam de dar um golpe de mestre quando apareceu na cidade ~medium com fama de ser prodigioso e tendo a FederaS-ao Espirita Brashysiletra nomeado uma comissao para estudar os fenomenos concluiu que de nao valia a fama e que as trabalhos ficatam abaixo do que se conseguia na Eur~pa e ~utros paises mas que 0 problema estava nas mediunidades que estao Su)eHas a esses eclipses e nao estao senrilmente anossa dispasis-ao Fora 1550 a Federaltao lamentava que diante de tudo a medium huscasse 5ishymular os fenomenos que obtem nas condis-oes normais Segundo Machashy

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do chistosamente 0 medium nao s6 foi ( ) apenas mmtmum mas ate procurou embasar a Federasao(lvlachado de Assis 1958b177 1956c123)

As estrategtas e argumentos usados pelos propagadores da nova doushytrina geralmente expostos nas conferencias promovidas pela Federaltao ou publicados na Uniao Espirita na busca de adeptos e de convemles tambem nao escaparam aeritica machadiana principalmente devido a sua indisposisao a tudo que se propagava como sendo verdade unica e absoluta levando-o a destilar sua eostumeira ironia em varios eseritos sobre essa doutrina e suas praticas Dentre eles destaeamos a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima verdadeira e definitiva doutrina e que substituiria todas as religioes do passashydo 0 eronista reeorre sempre a essa proposiltao quando depara com fatos obscuros e irnpossiveis de destrinltar ocorridos na cidade buscando solucionashylos usando de carnavalizaltoes que acabam por ridieulizar toda e qualquer noltao de -erdade ou de tal pretensao Isso aconteee nao s6 ao que diz respeishyto a essa doutrina A artimanha para conquistar simpatias e fieis de divulgar Iista de pessoas eminentes da Europa que acreditavam no espiritismo foi por ele tambern censurada pois no seu dizer tudo ocorria de forma como se as pessoas devessem crer por crer em tudo aquilo que na Europa e acreditado(~1achado de Assis 1955b297-9 195188)

Ao redor do principio da encarnaltao e reencarnaltao Machado fez yarias elucubraltoes supondo situaltoes tratadas de forma humoristica as quais contribuiam para difundir alguns de seus principios Assim ao vislumbrar uma certa promiscuidade geral dos desencarnados divulga 0 principio de que 0 espirito pode reencarnar inclusive na mesma familia sendo viivel que um homem pudesse ter uma ftlha depois morrer e voltar filho dela ou urn menino voltar filho de urn prin10 Se em alguns momentos pesa a mao contra os espiritistas dizendo que 0 espiritismo nao e menos curanderia que os outros curandeiros e que se fosse legislador mandava fechar todas as igrejas des sa religiao em outros em tom ate didatico enfatiza que 0 princishypio espirita e fundado no progresso e a leI e nascer morrer tornar a nascer e renascer ainda progredir sempre sendo que 0 renascimento epara meshylhor Cada espirita em se desencarnando vai para os mundos superiores Reflete ainda sobre a distancia entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo que 0 principio espirita nao e 0 mesmo da transmigrasao em que as aIm as vao para os corpos dos animalS mas fundado no progresso(Machado de Assis195100-2188)

Acreditando ser representativo do pensamento ultimo de Machado a respeito do espiritismo em 1895 ele defende seu exercicio pois a Constituishyltao estabclece 0 direito de liberdade religiosa No seu dizer 0 espiritismo e uma religiao que ele nao sabia se falsa ou verdadeira embora os espiritas dissessem que verdadeira e unica frente ao que ressaIta que presunltao e agua benta cada um toma a que quer Se verdadeiros ou nao [continual 0

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OPSIS - Revista tiD

fato e que escrevem-se e publicam-se inUn jornais espiritas e no Rio havia uma ou dl acreditara que nao se gasta tanto papel em a palavra que se esta escrevendo e a propria seguinte 1896 comenta (lue ha muito que ( tos escreyem pclos dedos dos vhos e que mundo e neste final de urn grande seculo(1

Desta forma a cultura carioca oitoclt diversas de religiosidade e de expcriencias com 0 divino 0 campo religioso apresent possibilidades variadas de vivenciar a proCl debatem em confronto entre si quanto se a] produzindo formas hibridas e sincreticas de lam os homens a seus deuses com tambem a em parte de seus lasos de sociabilidade

Fontes e Referencias B

BORGES Valdeci Rezende Em busca do 11

Rio de l1achado de Assis Estudos Histor Pesquisa e Documentaltao da Hist6ria Conte Getulio Vargas no 28 p 49-69 2OC) BOCRDIEC Pierre A Economia das TrOt pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Si Paulo Cia Das Letras 1989 ivLCI1ADO DE ASSIS Joaquim r1aria C 10 WMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b _ Cronicas v 2 1955c

Cronicas v 4 1955d

_ Helena 1955e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Historias Romanticas _ 1955g _ laid Garcia 1955h _ Memorial de Aires 19551

Pdginas Recolhidas _ 1955 Reliquias de Casa Velha v 1 _ 195 Contos Esquecidos Rio de Janeiro ClY

_ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Rejlexoes de um Relojoeiro _ A Mao e a Luva Sao Paulo M Jad

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mio s6 foi () apenas minimum mas ate WHltV de Assis 1958b 177 1956c123)

usados pelos propagadores da nova doushyconferencias promovidas pela Fede1aio 01

na busca de adeptos e de conversoes tambem principalmente devido a sua indisposiltilO

sendo verdade unica e absolura levando-o a em vanos escritos sobre essa doutrina e suas

a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima e que substituiria todas as religioes do passashya essa proposicao quando depara com fatos

ocorridos na cidade bus cando soluciomishyque acabam por ridiculizar toda e qualquer

temao Isso acontece nao 56 ao que diz respeishypara conquistar simpatias e fieis de divulgar

Rur(ma que acreditavam no espiritismo foi por seu dizer tudo ocorria de forma C01no se as crer em tudo aquilo que na Europa e 1955b297-9 195188)

da encarnacao e reencarnacao 1Iachado fez Grv~ tratadas de forma humoristica as quais

de seus principios Assim ao vislumbrar dos desencarnados divulga 0 prindpio de

inclusive na mesma familia sendo viavel que depois morrer e voltar filho dela au urn Se em alguns momentos pesa a mao

que 0 espiritismo nao e menos curanderia se Fosse Iegislador mandava fechar todas as em tom ate diampitico enfatiza que 0 princishy

e a lei e nascer morrer tornar a nascer sendo que 0 renascltnento e para meshy

uJ Tal para os mundos superiores entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo omesma da transmigraltao em que as almas

mas fundado no progresso(Machado de

do pensamento ultimo de Machado a ele defende seu exerdcio pois a Constimishy

religiosa No seu dizer 0 espiritismo e se falsa au verdadeira embora os espiritas

frente aa que ressalta que presunltao e quer Se verdadeiros ou nilO [continua] 0

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

fata e que escrevem-se e publicam-se inumeros livros folhetos reistas e jornais espiritas e no Rio havia uma ou duas folhas espirita alem do que acrerutaa que nao se gasta tanto papel em tantas linguas senao crendo que a palavra que se esta escrevendo ea propria verdade Para finalizar no ano seguinte 1896 comenta que hi muito que os espiritas afirmam que os mOfshytos escrevem pelos dedos dos vivos e que para ele tudo e POSSIel neste mundo e neste final de urn grande seculo(Machado de Assis 1957b26274)

Desta forma a cultura carioca oitocentista esta permeada de formas diersas de religiosidade e de experiencias voltadas para a busca de Iigacao com 0 divino 0 campo religioso apresenta-se marcado pela presenca de possibilidades variadas de vlvenciar a procura do sagrado as quais tanto debatem em confronto entre si quanta se aproximam nas pniticas dos tieis produzindo formas hibridas e sincreticas de religiosidade que nao so vincushylam os homens a seus deuses com tambem aos outros homens constitumdo em parte de seus lacos de soclabilidade

FOlltes e Referihlcias Bibliogrtificas

BORGES Valdeci Rezende Em busca do mundo exterior sociabilidade no Rio de Machado de Assis Estudos Historicos Rio de Janeiro Centro de Pesquisa e Documentacao da Historia Contempodmea do Brasil da Fundaltao Getulio Vargas no 28 p 49-69 200l BOURDIEC Pierre A Economia das Trocas Simb6licas Sao Paulo Persshy

pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e hist6ria Sao Paulo Cia Das Letras 1989 MAClMDO DE ASSIS Joaquim Maria Contos Fluminenses v2 Sao PaushyloWMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b Cronicas v 2 1955c

_ Cronicas v 4 19S5d _ Helena _ 19S5e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Hist6rias Romanticas 1955g _ laid Garcia 1955h

Memorial de Aires 1955i _ Pdginas Recolhidas _ 1955j _ ReUquias de Casa Velha v 1 _ 19551 _ Contos Esquecidos Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1956a _ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Reflexoes de um Relojoeiro _ 1956c _ A Mao e a Luva Sao Paulo 11 Jackson inc 1957a

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A Semana v 3 1957b _ Dam Casmurra _ 1957c

Historias Sem Data 1957d

_ Memorias Postumas de Bras Cubas 1957e _ Quincas Borba 1957f

_ Requias de Casa Velha v 2 _ 1957g Varias Historias 1957h

_ Contos e Cronicas Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1958a _ Cronicas de Lelia 1958b _ A Semana v 1 Sao Paulo WMJackson inc 1959a

A Semana v 2 1959b _ Cronicas v 4 1959c _ Esau e Jaco 1959d

SCHv~RCZ Lilia Moritz Retrato em Branco e Negro jornals escravos em Sao Paulo no final do seculo XIX Sao Paulo Cia Das Letras 1987

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OPSIS - Revista do

CINEMA E RELIGI

ResuResumo

Propomos neste texto apre5cntar algushy 1ou

mas reflex6es sobre a ahordagem de ashy quell

lares no cinema presentes em nleu

filmes como E 0 vento levou Blade film~

Runnermiddot 0 Carador de Androides 0 Run

Exorcisca Matrix dentre outros Exor

Atualmentc vivemos em uma 50eiel urn gm-erno baseado na lei e na razao Ne pensar assentam-se nao mais somente nos v bem nos valotes politicos e sociais Disso religiosos cristaos em quase nada influeneiat de fazer visto que Igreja (como instituiltao) tados na lei

Apesar da atual sociedade aparentc s6lida temos que ter em mente que cia so mente ha pouco tempo malS preeisamente e s6 se consolidou a partjr do positivismo vivemos em uma sociedade ainda em form

mente nao influencia tanto a nossa maneir E isto s6 e verdade para as eham2

hoje existem diversas sociedades ditas tee arabes (Irii) 0 Afeganistao onde 0 fundarr em todos os nh-eis

1 Este texto foi prodU7ido a partir do curso ministr e Religiosidadcs com 0 objetivo de apresentar algUi as rcferencias dos filmes analisados 2 Mestre em Historia pcla UFSC Universidade F

Historia da rcdc publica do [stado de Minas Gerai

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c

Page 3: as Bibliogrdficas RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSISstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3224606.pdf · 16 'as Bibliogrdficas mentafao oral e tematica da seca: estu o Federal,

Batalhas nos Reinos dos Cristaos

renca e descrenca ao redor do catolicismo sao corcas como 0 regime oficlal desfrutado como te 1889 quando se separam Igreja e governo rdade dos cultos Desse ato para Machado em liberdade pois a Constituiltao republicana no pao do Estado e nao the importa que cada um ~ente em 1893 0 cronista ja dizia que ~pesar lido viviam ambos em tal concordia que antes

divorciados dessa manha 0 esposo dava orava por ele () A razao do esposo e um

DlllnCIlPH) Para aqueles clerigos que afinavam pda libertaltao da Igreja dos poderes temposhy

e diferente entre essas duas esferas quanshyo padroado muitos conflitos e tensoes que

decadas pareciam fin dar e 0 folhetinista que era a figura da felicidade pura

(Machado de Assis 1957b25 1959a3(7) da oficialidade da religiao do Estado 0

das doutrinas protestantes e logo um ~~lrC2do por polemicas e tens()es Nao sendo

em 1864 0 iornal cat6lico Cruz reclamava e executaam algumas leis de tolerl11shy

pela existencia de templos de seitas dissishyisso nos atirava para 0 tempo das

pdo tom de odio de colera de rancor Meio ao clima de conflito de concitaltilO

Assis repele ainda tais atitudes ao tratar de Brasil que animava 0 povo contra outras

a urn vendedor de biblias protestantes e propagatiio das doutrinas condenadas

a fazer cessar a propagaoao dos 955c146243-4)

do Brasil 0 cronista julgou ser lashytais em urn pais onde a liberdade religiosa adiantada pois a constituiltao garantia a em ez de apehr para a forlta do goershy

do clero a quem incumbia combater as Ilormltente acrescenta que ha muito tempo lSuun1erlto aos incapazes e aos mediocres raras No seu dizer 0 clero e mediocre

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OPSIS - Revlsta do Niese V2 NJ JanJun 2002

ao entender que para falar do alto do pulp ito basta alinhavar meia duzia de periodos fofos com um tom lamentoso de efeito puramente teatral para comover os fieis modulando a voz com 0 fim de fingir uma dor que 56 e eloquente quando e verdadeira Assim os sacerdotes recorrendo a imashygens do diabo e do inferno nao atraiam os fieis mas assustavam nao convenshyciam mas aturdiam nao infundiam a contricao provocavam a atricao(1vlachado de Assis 1955c243-4 326-8)

Nessa arena de disputas em 1876 Machado esclarece que con forme a Constituiltao ha uma religiao do Estado a cat6lica mas que os outros cultos sao tolerados como 0 protestantismo embora nao pudessem ter forma externa de templo por ser inconstitucionaL Ja em 1888 diz que existia urn projero pendente de reforma de lei da camara do senado ao mesmo tempo em que via escrito numa fachada 0 letreiro Igreja evangelica 0 que infringia a lei levando-o a acreclitar que a reforma podia esperar e que a transgressao era muito melhor(Machado de Assis 1959c 159-60 1956c 174)

Na sua ficciia a protestantismo aparece em pelo menos dois moshymentos Em A Mao e a Luva de1874 que remete a 1853 a personagem Mrs Oswald uma inglesa dama de companhia de uma baronesa age segunshydo 0 narrador como boa protestante que era tendo a Escritura na ponta dos dedos dando conselhos moralizantes it jovem Guiomar e citando passhysagens e personagens biblieos em nome da felicidade da familia que era toda a amhiltao da [sua] alma Ja em Quincas Borba de1886 que remonta aos anos entre 1867 e 1871 Rubiao que protegia as sociedades pias era juntashymente sacio de uma Congregaltao Cat6lica e de um Gremio Protestante nao se lembrando certa ocasiao de urn quando Ihe falaram do outro pois 0 que fazia era pagar regularmente as mensalidades de ambos(1vfachado de Assis 1957a84-6 1957pound283)

Mas se a igreja cat6liea debatia-se contra as igrejas protestantes Mashychado combateu ainda mats as praticas dos cat6licos que julgava equivocas Ja na juventude com a pena em punho e de flerte com as ideias liberais investia contra 0 dew e mesmo os Papas damando por modificaltoes na Igreja pela influencia do espirito moderno por acreclitar que 0 espirito do Vaticano achava-se como no tempo de Galileu e 0 santo padre 0 debil velha lanltava contra 0 espirito moderno a malS perempt6ria condenacao(Ivfachado de Assis 1955e42 1958a89 1955c298-9)

Sao varias as cronicas em que Machado criticou severamente a Igreja e os desvios das praticas sacerdotais advindos das forcas de secularizaltao embora ressaltasse que tais posiltoes nao significavam uma tibieza do seu espishyrito cat6lico Para ele em 1863 num pais novo como 0 Brasil cuja maioria se divide em dois campos a indiferen~a e a carolice a missao dos ministros do altar era outra era missiio apost6lica tolerante elevada a flm de convenshyeer os~ncredulos e trazer os fanaticos ao conhecimento dos verdadeiros prinshy

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cipios da Igreja No entanto em vez disto os padres divertem-se em lanltar as urnas eleitorais a interdicao religiosa ou a escrever gazetas sem tom nem som expondo uma intolerancia considerada ridicula e funesta aos vershydadeiros interesses da igreja advinda de urn clero pela maior parte ignoranshyte sem prescigio ( ) mas tambern sem escrupulos Considerava grosseiras as pniticas da igreja e do clero tacanho e mesquinho que nada enxerga para fora das paredes da sacristia Pedia por uma reforma completa de modo a fazer do culto uma coisa seria tirando-Ihe 0 aparato e as empoeiradas usamas proprios para produzir 0 materialismo e tibieza da fe Julgava que a educaltao religiosa do nosso povo a maneira por que se Ihe incute a fe e a palavra crista era feita por meio do espetaculo e do fausto profano o que levava para 0 materialismo para a indiferenca e para a morte da fe (lvfachado de Assis 1955b350-2388-9 Grifos meus)

Ja em 1864 ao posicionar-se contrariamente frente acondenaltao do livro de Renan Vida de Jesus por urn monsenhor dizia que a pior prosa deste mundo e a clerical contrapondo-se aos argumentos do clerigo que aconselhou 0 exilio do livro e insinuou que todos os bons cat6licos deveriam queima-Io por ser tmpio Para 0 cronista tal conselho em tempos de liberdashyde e de civilizaltao era simplesmente ridiculo deixando-o pasmo pois embora achasse 0 livro absurdo nem por isso foi lanlti-Io a fogueira depois da leitura e nem perdeu suas crenltas Entretanto se Machado assim afirma quais seriam os motivos de sua descrenlta para com a Igreja Seria apenas oriunda de suas observaltoes da realidade que 0 circundava e dos horrores que ia Quem eram os responsiveis por seu afastamento daquela (Machado de Assis 1955c219-28)

De Assis condenava outros desvios da vida sacerdotal como a atitushyde pecuniaria do clero avarento mats preocupado em arraniar alguns contos de reis para as gravissimas necessidades do poncifice do que em converter pessoas No seu dizer 0 triunfo maximo e 0 triunfo pecuniario e sendo assim combatia as demasias clericais a Santa Pecunia pela qual 0 clero orava Nesse contexto de clerigos avarentos perfumados que ricas aljubas vestiam expressava contra a baixela de OUtO dos papas a Roma sempre em prazeres e as casas de Otaltao onde reina muita hipocrisia como a venda de bentinhos para ter perdao dos pecados Considerava essa pratica assaz comoda e lucrativa uma politica que prende urn pecador e 0 abshysolve cometendo urn atentado ao sagrado ao reduzir tudo a somas de dinheiro apontando varios casos como a venda de medalhas de chumbo com a caricatura da que 0 padre benze e fica-se livre dos crimes cometidos a troca da imagem de N S da Conceiltao da Aparecida por urn mil-reis para livrar-se de catastrofes a benzeltao e venda de velas por dois mil reis pelos padres e a associaltao dos sacerdotes e sacristaes para vender caro as missas Diante dis so dizia Viva Deus e a nossa algibeira ou ainda se

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OPSIS - Revista do

Deus escreve direito por linhas tortas as A los inclusive impressos] sao as linhas tortas Assis 1958a187-9197205-6245249 1959

Machado fustigava ainda os padres ~ Desta forma sua descrenlta para com a 19rej percepltao dessas praticas desviantes viciada da a compreender seu afastamento das ativic da morte negando-se a receber os ultimos que nao era absolutamente materialista I mos apontar ll1umeraveis recorrencias ado varias as referencias a Biblia porem quasI sobretudo ao Eclesiastes Desse modo a p citada de modo deformado pela ironia b expressando uma leitura critica criou diver com aquela rclaltao intertextual direta Del tematica religiosa ou tecidos ao redor de su Galo Na area A Igreja do Diabo Manus( mo urn sacristao perspicaz trata do amor p prima Eulalia e jii nos hilari05 A Igreja do 1 critic a bern humorada as praticas emiesad~ cristaos e seguidores dcssa doutrina com oposto as Escrituras c as pregaltoes

Em A Igreja do Diabo 0 demonio apesar de mesmo a scm e5ta os seus luc des mas sentia-se humilhado par nao ter 0

ais Estabelecendo-os seria Escritura cc breviario e teria sua missa com vinho e t novenas e todo a demais aparelho eclesii outras religioes de Maome de Lutero a ideia a Deus para desafia-lo c ao voltar a prometendo delicias e glarias Clamava qu~ substituidas por outras naturais e legitim ayareza a ira a gula e a invcja esta ultima a noltoes fazendo amar as perversas e detesl o preconceito a hipocrisia a calunia 0 ad valorizados e seus opostos negados Funda 0 Diabo ahou brados de triunfo( ivfach

Porem urn dia longos anos depoi das praticavam as antigas yirtudes 0 q fraudes Pasmado nilO refletiu nem compa 10 presente alguma coisa analoga ao passad Deus que ouviu com complacencia e falc

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uzir 0

em vez disto os padres divettem-se em lancar religiosa ou a escrever gazetas sem tom nem a considerada riclicula e funesta aos vershy

dvinda de urn clero pela maior parte ignoranshysem escnipulos Considerava grosseiras

tacanho e mesquinho que nada enxerga ria Pedia por uma reforma completa de

a seria tirando-lhe 0 aparato e as empoeiradas materialismo e tibieza da fe Julgaya

so povo a maneira por que se the incute a fe meio do espenlculo e do fausto profano mo para a indiferenca e para a morte da fi~ -2388-9 Grifos meus) nar-se contrariamente frente acondenacao do por um monsenhor dizia que a pior prosa trapondo-se aos argumentos do clerigo que sinuou que todos os bons catolicos deveriam cronista tal conselho em tempos de liberdashy

lesmente ridiculo deixando-o pasmo pois nem por 1SS0 foi lanCa-lo afogueira depois emas Entretanto se Machado assim afirma a descrenca para com a Igreja Seria apenas a realidade que 0 circundava e dos horrares aveis por seu afastamento daquela (Machado

tros desvios da vida sacerdotal como a atitushymais preocupado em arranjar alguns contos ~ssidades do pontifice do que em converter fo maximo e 0 triunfo pecuniario e sendo encais a Santa Pecunia pela qual 0 clero s avarentos perfumados que ricas aljubas

baixela de Duro dos papas a Roma sempre ~ao onde reina muita hipocrisia como a dao dos pecados Considerava essa pratica

a politica que prende um pecador e 0 abshy ao sagrado ao reduzir tudo a somas de os como a venda de medalhas de chumbo eo padre benze e fica-se livre dos crimes de N S da Conceicao da Aparecida por urn ofes a benzecao e venda de velas por dois

faO dos sacerdotes e sacristaes para vender

Viva Deus e a nossa algibeira ou ainda se

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OPSIS - Revista do Niese V2 N1 JanJun 2002

Deus escre-e direito por linhas tortas os Ap6stolos [os padres e seus veicushylos inclusive impressos] sao as linhas tortas da sua escritura (1Iachado de Assis 1958a187-9197205-6245249 1959a22)

Machado fustigan ainda os padres glutoes e os padres em mancebia Desta forma sua descrenca para com a Igreja advem de modo mais direto da percepciio dessas praticas desviantes viciadas e contraditorias 0 que nos ajushyda a compreender seu afastamento das atlyidades catolicas inclusive na hora da morte negando-se a receber os Ultimos sacramentos embora afirmasse que nao era absolutamente materialista Para alem desses aspectos podeshymos apontar inumedxeis recorrencias a doutrina crista em sua obra sen do varias as referencias a Biblia porem quase sempre em forma de parodia sobretudo ao Eclesiastes Desse modo a partir da obra sagrada utilizada e citada de modo deformado pela ironia buscando atingir efeito comIco e expressando uma leitura critica criou diYersas ctonicas e contos mantendo com aquela relacao intertextual direta Dcntre os contos perpassado~ pela tematica religiosa ou tecidos ao redor de suas pracicas destacam-se Missa do Gala Na arca A Igreja do Diabo Manuscrito de urn sacristao Neste ultishymo um sacristao perspicaz trata do amor progtessiyo do padre Teofilo pela prima EuHilia e ja nos hilarios A Igreja do Diabo e 0 Serrnao do Diabo faz critica bem humorada as ptaticas em-iesadas dos catolicos que dizendo-se cristaos e seguidores dessa doutrina comportam-se de modo totalmente oposto as Escrituras e as pregacoes

Em A Igreja do Diabo 0 demonio te-e a ideia de fundat sua igreja apesar de mesmo a sem esta os seus lucros )a serem continuos e granshydes mas senria-se humilhado por nao ter organizacao regras canones e ritushyais Estabelecendo-os seria Escritura contra Escritura breviario contra breviino e teria sua missa com vinho e pao a farta suas predicas bulas novenas e todo 0 demais aparelho eclesiastico para negar tudo 0 que as outras religioes de Maome de Lutero afirmam Decidido comunicou a ideia a Deus para desafia-lo e ao oitar a terra espalhou a doutrina nova prometendo delicias e glorias Clamava que as virtudes aceitas deveriam ser substituidas por outras naturais e legitimas como a soberba a luxuria a avareza a ira a gula e a inveja esta ultima a virtude principal Trocou tadas as nocoes fazendo amar as perversas e detestar as sas A frau de a venalidade o preconceito a hipocrisia a calunia 0 odio 0 desprezo 0 adultcno foram valorizados e seus opostos negados Fundada a igreja a doutrina propagou e 0 Diabo alcou brados de triunfo( Machado de Assis 1957d7-20)

Porem um dia longos an05 depois notou que seus fieis as escondishydas praticavam as antigas virtudes 0 que 0 deixou assombrado com as fraudes Pasmado nao nem comparou e nem concluiu do espetacushy10 presente alguma coisa analoga ao passado e voando ao ceu disse tudo a Deus que ouviu com complacencia e falou _ Que queres tu meu pobre

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r OPSIS - Revista de i

Diabo As capas de algodao tern agora franjas de seda como as de vdudo tiveram franjas de algodao Que queres tu E a eterna contradiltao humana(l1achado de 8S1S 1957 d20-2) Ou seja os catolicos e a igreja catoshylica com suas capas de veludo ocultavam por baio atitudes vis paninhos de algodao acabando por deitar as urtigas a Escritura divina praticando seu oposto e escondendo-se awls de mascaras Assim revelava seu ponto de vista sobre essa instituiltao da qual expunha mazelas profundas convicltao frouxa desyios e encenaltao

Como urn desdobramento desse conto e ainda no sentido de aponshytar que as atitudes dos cristaos estavam mats para levar ao inferno do que para ao ceu Machado produziu a cronica 0 Sermao do Diabo dizendo ser urn pedalto do evangelho do Diabo urn sermao da montanha amaneira de S Mateus que imita aquele da igreja de Deus Nesse a semelhanlta entre os dois evangelhos e destacada e a adimataltao ao ambiente carioca e julgamento de sua gente e direta ao dizer 1 E vendo 0 Diabo a grande multidao de pOYO subiu a urn monte pOl nome Corcovado e depois de se ter sentado vieram a ele as seus discipulos Em seguida expos seus mandamentos que sao a negaltao dos diyinos e glorificam as comportamentos tortos dos fluminenses oitocentistas ao atrehi-los diretamente a suas altoes e modo moderno de viTer (Machado de lssis 1959a 110-5)

Catolicismos habitos costumes rituais e valores

No entanto procurando conhecer melhor as praticas catolicas enshycontramos muitas igrejas e deparamos com os sons de seus sinos permeando regendo e encantando a vida urbana Sao templos diversos ricos e humildes como as matrizes do Sacramento da Gloria da Se e as igrejas de Sao Francisshyco de Paula da Candelaria de Sao Jose do Carmo da Lapa do Espirito de Santo Antonio dos Pobres de Sao Domingos da Lampadosa alem de oushytros dispersos par bairros distantes acrescidos de capelas particulares em reshysidencias antigas onde muita gente da vizinhanlta ouvia missa aos domingos(Machado de Assis 1956b165 1955e42 1955i94)

Para adentrar tais templos seguimos a sugestao de IIachado de obshyservar se existia alguma janela aberta que indicasse a presenlta de pessoas la dentro e encontramos urn grande numero de c6negos padres e sacristaes como 0 padre Melchior de Helena e infindos outros Dentre tal categoria social esse sacerdote recebe de I1achado grande simpatia sendo descrito como verdadeiro varao apostolico homem de sua Igreja e de seu Deus integro na fe constante na esperanlta ardente 11a caridade Mas como ja visto essa benevolencia do cronista nao se estende a muitos do clero sendo restrita a algumas figuras como urn velho padre geralmente ligadas ainshyfllncia do escritor quando fora coroinha(Machado de Assis 1955e42

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1957b25) Se encontramos muitos clerigos n(

afazeres e praticas que expressam e estao sacristias altares imagens de santos miSSl

sermoes orquestras confessionarios confis _ campainhas rosarios livros de Horas altar sen-ilt-os da llltima hora _ sacramento procissoes opas varas de patio fieis ajoeU esm01as para rea1izar missas aquelas e agr~ Virgem San tis sima mas retirando para si a tar a sacristia (Machado de Assis 1957e 1957f257 1959d16-21301)

Para a1em desses habitos costume conhecimento dessas experiencias atentarr contramos fieis em momentos especiais e em praticas ordinarias como missas do di prias dos rituais de inicialtao como 0 ba como aniversarios casamentos ou de sep Por meio das celebralt-oes rituais do batism rativa a crianlta era iniciada no catolicisffilt sendo ainda apresentada formalmente aOt

essa ocasiao gera1mente acontecia comerr baile(1hchado de Assis 1957c344 195 considerados pais e maes esplrituais da cri em urn momento difkil como a morte parentes queridos e proximos ou pessoaE sociedade as quais pudessem proporcion aos pais e afilhados como par serem influ da crianca ou a decidiam em caso de d1 1955e152 1955f12 1957c343 1959d4

44-5) No entanto a escolha do nome ni

inserida no sistema simb6lico imediato de do qual inclusive as yezes buscavamiddot personalidade e do futuro do indiv1c deslocamento importante pois embora escolhido os nomes dos santos ap6sto afuhados sua atitude adequava-se aprim as crianltas so se punham nomes de sa tradiltao cat6lica daquele tempo mas a~

Marias Catarinas nem Joanas ( ) entran o aspecto as pessoas (Machado de A

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m agora franjas de seda como as de veludo

Que queres tu E a eterna contradiltao 57d20-2) Ou seja os catolicos e a igreja catoshycultavam por baixo atitudes paninhos de

as urtigas a Escritura divina praticando seu mascaras Assim revelava seu ponto de vista unha mazelas profundas convicltao frouxa

to desse conto e ainda no sentido de aponshystavam mats para levar ao inferno do que para onica 0 Sermao do Diabo dizendo ser um urn sermao da montanha t maneira de S ja de Deus Nesse a semelhanlta entre os dois

ataltao ao ambiente carioca e julgamento de E venda 0 Diabo a grande multidao de povo orcovado e depois de se ter sentado vier am eguida expos seus mandamentos que sao a

os comportamentos tortos dos fluminenses asoes e modo moderno de

abitos costumes rituais e valores

conhecer melhor as praticas catolicas enshyamos com os sons de seus 8in05 permeando ana Sao templos diversos rlCOS e humildes cia Gloria da Se e as igrejas de Sao Francisshy

300 Jose do Carmo da Lapa do Espirito de 300 Domingos da Lampadosa alem de oushytes acrescidos de capelas particulares em reshy

ta gente da vizinhansa ouvia missa aos 1956b165 1955eJ2 1955i94)

os seguimos a sugestao de ivlachado de obshyerta que indicasse a presenlta de pessoas hi e numero de conegos padres e sacristaes

e infindos outros Dentre tal categoria Machado grande sunpatia sendo descrito

lico homem de sua IgreJa e de seu Deus lta ardente na caridade tlas como jii

ta nao se estende a muitos do clero sendo urn velho padre geralmente ligadas ainshy

coroinha(Machado de Lssis 1955eA2

OP5I5 - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

1957b25) Se encontramos muitos derigos nos templos deparamos com seus

afazeres e priticas que expressam e estao atreladas a fe dos cariocas como sacristias altares imagens de santos missas algumas cantadas agua benta sermoes orquestras confessionarios confissoes _ajustes de contas com Deus

- campainhas rosarios livros de Horas circunflexoes fieis saudando ao altar seniltos da ultima hora _ sacramentos aos moribundos santos oleos _ procissoes opas varas de palio fieis ajoelhados irmaos das almas pedindo esmolas para realizar missas aquelas e agradecendo em nome de Deus e da Virgem Santissima mas retirando para si as esp6rtulas maiores antes de volshytar a sacristia (Machado de Assis 1957e50 1957c6097-9 100-2234-5 1957f257 1959d16-21301)

Para alem desses habitos costumes e rituais buscando aprofundar 0

conhecimento dessas experiencias atentamos para as formas de vive-las Enshycontramos fieis em momentos especiais e marcantes de suas vidas e ainda em praticas ordinarias como missas do dia-a-dia e aquelas celebratiyas pr6shyprias dos rituais de inicialtao como 0 batismo e dos rituais de passagem como aniversarios casamentos ou de separaltao como as missas de morto Por meio das celebraltoes rituais do batismo e em seguida da festa comemoshyrativa a crianca era iniciada no catolicismo e inserida na comunidade crista~

sendo ainda apresentada formaImente aos parentes amigos e vizinhos Por essa ocasiao geraImente acontecia comemoraltao em casa como almolto ou baile(Machado de Assis 1957c344 1955a392) Os padrinhos escolhidos considerados pais e maes espirituais da crianlta tinham 0 dever de nao faltar em um momento dificil como a morte dos pais e eram amigos intimos parentes queridos e pr6ximos ou pessoas importantes para a familia ou na sociedade as quais pudessem proporcionar sentimento de honra e orgulho aos pais e afilhados como por serem influentes N ao raro escolhiam 0 nome da crianlta ou 0 decidiam em caso de duvida dos pais(Machado de Assis 1955e152 1955f12 1957c343 1959d41-2 1957g34-5 1957a61 1957e 44-5)

No entanto a escolha do nome nao se dava de forma aleatoria estando inserida no sistema simb6lico imediato de referencia da sociedade por meio do qual inclusive as vezes buscava-se determinar alguns traltos da personalidade e do futuro do individuo Nesse sentido ocorria um deslocamento importante pois embora Perpetua por yolta de 1871 tenha escolhido os nomes dos santos ap6stolos S Pedro e S Paulo para seus afilhados sua atitude adequava-se aprimeira metade do secuio quando ( ) as crianltas s6 se punham nomes de santos ou santas de acordo com a tradiltao cat6lica daquele tempo mas agora ja nao se queriam -nas nem lfarias Catarinas nem Joanas () entrando em outra onomastica para variar o aspecto as pessoas (Machado de Assis 1957g34-5 1955i51)

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Para alguns homens a primeira confissao ocorria por epoca da quare sma 0 que levava a que muitos rapazes se escondessem debaixo da cama do padre confessor ou pelos desvaos da casa ji a segunda era pOt ocasiao de casar A cerimonia de casamento era vista como momenta de santidade e de muita comoltao povoando sempre os 50nh05 das mulheres com festas brilhantes muitos carras vesrido branco flores de latanjeira grinalda padrinhos ilustres Porem em 1fachado sao poucas as cenas de casamento e geralmente so em fantasia talvez por ptivilegiar sobretudo nos romances a vida das classes altas au daquelas em ascensao em que 0 casamento era urn negocio politico ou economico e a devoltao assim como 0 sentimento relig1oso fragil entrando em declinio ainda maior frente a outras atividades da vida mundana(Machado de Assis 1955i95)

Por meados dos oltocentos novas formas de sociabilidade foram implementadas desassociando-se cada vez mais daquelas da religiosidade cashytolica Ate entao nos momentos de cumprir as obrigaroes religiosas relacishyonava-se com 0 mundo exterior rompendo 0 enclausuramento usual princishypalmente da mulher No entanto a nova sociabilidade configurava-se ao reshydor de inusitados espaltos tempos e formas de recreio 0 gosto pela vida externa creSCla enquanto os antigos hibitos e costumes marcados pela religishyosidade foram sendo desprezados e em muitos casos abandonados(Borges 2001 49-69) )Jessa transformaltao da sensibilidade coletiva ocorre uma inflexao dos sentimentos e valores relativos ao sagrado e urn avanlto das forshyltas seculares Essa alteraltao apontada por Machado pode sel percebida por meio de urn conjunto de inrucios como a retirada dos quadros de santos da decoraltao das casas mais abastadas sendo substituidos quase sempre por pequenas gravuras inglesas ao passo que nas casas mais pobres a Virshygem era muita cultuada possuindo lugar excelso na devoltao dos corashyltoes maviosos Nessas podia nao haver urn Cristo mas sempre [havia] uma imagem de Nossa Senhora(Machado de Assis 1955f93 1955j91 1957bl08)

A tibieza da fe e a escassez de padres ordenados indicam ainda a diminuiltao da inspiraltiio religiosa e a expansao da secularizaltao ao lado da mudanlta referida nos novos nomes atribuidos aos nascidos nao mais ligados ao imagmano catolico(Machado de Assis 1955j91 1955i51 1959b80 1057c263308 1957d280 1955e13) Assim muita coisa mudava nas familias como 0 uso antigo que urn dos rapazes fosse padre 0 que alterava a direshy

ltao dada it educaltao 0 sentido e 0 rumo a seguir pelas novas geraltoes que geralmente aprendiam as primeiras letras latim e doutrina em casa com urn desses clerigos Eles incuriam noltoes sentimentos e orienravam as escoshyIha5 forjavam vocaltoes religiosas em seus disdpulos ao falarem de supostas manifestatoes daquelas como ocorreu com Bentinho que tinha seus brinqueshydos sempre de igreja e adorava os oEicios divinos brincando mesmo

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b

OPSIS - Revista do

com Capitu de dizer missas e tomando doc estudos secundarios fossem feitos ainda corr filhos ja mais autonomos escolhiam profi economico que oscilayam entre a medicina c busca da vida religiosa que foi acusada em 1 falar da escassez de padres orden ados no sem capehies(Machado de Assis 1959b80)

Nesse contexto e sentido ate prot Por mais que 0 vinculo moral da promessa D Gloria mac de Bentinho descrita como por volta de 1847 dar a Deus 0 filho como infancia 0 compromisso foi rompido postel saida de substitui-Io por urn mocinho 61 da oferta para compensar a batina que aqt tando segundo 0 narrador urn cochilo da mento religioso era marcado por altoes e interiormente a incredulidade era assaz dift distraida Para dc nesse tempo operou u

fez do paganismo e do catolicismo urn 1957c263 308 1957d280 1955e13 19

11as nao era so a familia de Bentin mundo e suas praticas socio-economicas ne Entre Santos expoe situaltocs interessantes passo que urn padre conta certo ocorrido pc de S Francisco de Paula Ao vcr luz sob a p do que se tratava e ouvindo conyersa fez il me antigo de enterrar os mortos nas igrejas mortos ali enterrados No entanto viu que igreja que sairam dos seus nichos e que senl altares comentavam as oraltoes e pedidos d Francisco de Sales contou 0 caso de Sales trazia seu nome e tinha a mulher doente desesperanltado cia terra voltou-se para I salva-la Pediu que a salvasse operando o cera mas ao passo que estabelecia 0 comp moeda que 0 ex-yoto hayia de custar e ac nossos emil ave-marias(Machado de Assi

Nesse momento sobretudo entre

censao a deoltao ficaa Iwbretudo releg Carmo que costumaYa ir a missa aos don por fadiga por doenlta ou por estar chov 0 seu livro com as suas rczas marcadas (

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a primeira confissao ocorria por epoca da muitos rapazes se escondessem debaixo da

desvaos da casa ja a segunda era por de casamento era vista como momento de

povoando sempre os sonh05 das mulheres vestido branco flores de laranjeira grinalda

Machado sao poucas as cenas de casamento e par privilegiar sobretudo nos romances a em ascensao em que 0 casalnento era urn

e a devoltao assim como 0 sentimento LUumiddotv ainda maior frente a outras atividades

Assis 1955i95) novas formas de sociabilidade foram

cada vez mais daquelas da religiosidade cashyde cumprir as obrigaroes religiosas relacishyrompendo a enclausuramento usual princishya nova sociabilidade configurava-se ao reshy

e formas de recrelO 0 gosto pela vida habitos e costumes marcados pela religishy

e em muitos casos abandonados(Borges da sensibilidade cole tin ocorre uma

relacivos ao sagrado e um avanlto das forshy___niua par Machado pode ser percebida por

como a recirada dos quadros de santos da sendo subscituidos quase sempre por

passo que nas casas mais pobres a Virshylugar excelso na deTOltaO dos corashy

nao haver urn Cristo mas sempre [havia] (Machado de 55is 1955pound93 1955j91

de padres ordenados indicam ainda a e a expansao da secularizaltao ao lado da

atribuidos aos nascidos nao mais ligados de Assis 1955j91 1955i51 1959b80

A881m muita coisa mudava na8 familias rapazes Fosse padre 0 que alterava a direshyo rumo a seguir pelas novas geraltaes que

letras latim e doutrina em casa com noltoes sencimentos e orientavam as escoshyem seus discipulos ao falarem de supostas

com Bencinho que tinha seus brinqueshyos ofici08 divinos brincando mesmo

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

com Capitu de dizer missas e tamando doce por hoscia Porem embora os estudos secundarios fossem feitos ainda com base religiosa em seminarios os filhos ja mais autonomos escolhiam profissoes de maior prestigio socioshyeconomico que oscilavam entre a medicina e 0 direito influindo na queda da busca da vida religiosa que foi acusada em 1894 pelo ex-bispo da cidade ao falar da escassez de padres ordenados no () seminario e das paroquias sem capelaes(1hchado de Assis 1959b80)

Nesse contexto e sentido ate promessas celebres eram quebradas Por mais que 0 vinculo moral da promessa prendesse indissoluvelmente D Gloria mae de Bentinho descrita como devota e que havia prometido la par volta de 1847 dar a Deus 0 61ho como sacerdote casu nao morresse na infancia 0 compromisso foi rompido posteriormente guando se encontrou a saida de subscitui-lo por urn mocinho orfao qualquer como pagamento da oferta para compensar a batina que aquele deitou as urtigas represenshytan do segundo 0 narrador urn cochilo da fe Segundo l1achado 0 sentishymento religioso era marcado por lt1ltaes e expressaes exteriores vis to que interiormente a incredulidade era assaz difusa e a deToltao magra tibia e distraida Para ele nesse tempo operou uma grande fusao religioa que fez do paganismo e do catolicismo urn so credo(ilachado de Assis 1957c263 308 1957d280 1955e13 1958b328)

Mas nao era so a familia de Bentinho que em conformidacle com 0

mundo e suas praticas socio-economicas negociava com 0 sagrado () conto Entre Santos expae situaltoes interessantes em torno da devoltao humana ao passo que urn padre conta certo ocorrido por epoca que era capelao da igreja de S Francisco de Paula Ao ver luz sob a porta do templo buscou descobrir do que se tratava e ouvindo conversa fez inferencias que nos revel a 0 costushyme antigo de enterrar os mortos nas igrejas ao perguntar se seriam vozes dos mortos ali enterrados No entanto viu que era urn dialogo entre os santos da igreja que sairam dos seus nichos e que semados em forma humana em seus altares comentavam as oraltoes e pedidos dos fieis no dia Dentre outros Sao Francisco de Sales contou 0 caso de Sales urn velho usuario e avaro que trazia seu nome e tinha a mulher doente com um erisipela na perna que desesperanltado da terra voltou-se para Deus pois so um milagre podia salva-la Pediu que a salvasse operando 0 milagre oferecendo uma perna de cera mas ao passo que estabelecia 0 compromisso s6 via diante dos 0lh05 a moeda que 0 ex-voto havia de custar e acabou prometendo rezar mil padre nossos emil ave-marias(l1achado de Assis 1957h27-44)

Nesse momento sobretudo entre as camadas sociais altas e em asshycensao a devoltao ficaa sobretudo relegada aos antigos e velhos como D Carmo que costumava ir amissa aos domingos e que como outras damas por fadiga por doenlta ou por estar chovendo quando nao 0 fazia pegaya 0 seu livro com as suas rezas marcadas ( ) amesma hora acompanha-a

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a missa toda frente 0 seu altarzinho e seu Cnsto instalados no gabinete e ao acabar beijava a imagem Essa senhora de acordo com sua crenlta nao saia de casa sem a beijar primeiro como urn pedido de proteltao nem voltava scm faze-Io como a dar graltas como 0 fazia ao deitar e ao levantar(lIachado de Assis 1955i197)

A igreja era lugar de exposiltiio seja em missas ordinarias festas de santos missas de mono de seUmo dia de morte e por alma do finado ~i se ostentava opulencia e distimao social sendo objeto de curiosidade publica chamando a atenltao sabre si com carruagens lacaios roupas e esportulas vultosas como a fizera 0 casal Santos emergentes na sociedade na missa de defunto na igreja de S Domingos Essa paroquia era adequada amissa recondita e anonima urn ato sem releyo sem pesames nem lagrishymas como gueria a casal ao mandar dizer missa par alma de urn parente pobre falecido em lIarica scm que aquela repercutisse em seu meio social(Machado de Assis 1959d23) Mas se esse templo era das camadas pobres os ricos au nO05 ricos como a senhora Santos que se queixou que ali sujara 0 estido e enchera-se de pulgas preferiam a de S Francisco de Paula au a da Gloria localizadas em bairros ricos como Flamengo e que eram consideradas lirnpas li os endinheirados tinham como uso velho mandal dizer missas anivelsarias de datas obituarias e natalicias(Machado de Assis 1955i94-5)

lIuitos flequentavam a igreja mais por imposiltao social dos mais Yelhos por ser lugar de se mostlar e estabelecer relaltoes socialS do que por deoltao sentida A jovem Maria Olirnpia tinha a vocaltiio da vida exterior e sentia urn singular feicilto nas procissoes e nas missas pelo rumor e pela pompa Ia aigrcja conduzida pela cia que era religiosa e tinha gosto partishycular em mostrar-se e em namorar os rapazes Sua devoltiio magra escasshyseou ainda mais com a chegada do primeiro espetaculo e 0 primeiro baile Os saloes torna~am-se os novos lugares do encontro e do diertimenshyto e muitos ja entao confundiam as praticas leligiosas com as canseiras da vida e fUgiam delas(Machado de Assis 1959d23-4 28 1957d280 1955i95) Virgilia tambem representa a comportamento da nova mulher presa nas forshyltas seculares ao ser uma jovem senhora casada que possuia urn amante e mostraYa-se pouco religiosa nao ouvindo missa aos domingos ou so indo as igrejas em dia de festa e quando havia lugar vago em alguma tribushyna Alcm disso tachava de beatas aquelas que cram so religiosas a que aponta par outro lado a existencia de mulheres que se dedicayam em excesshyso as praticas religiosas Porem rezava todas as noites com fervor ou pelo menos com sono em sua alcova junto a seu oratoriozinho de jacaranda Ja as homens eram considerados em geral uns impios nao plsavam na Igleja a nao sel para batizar as filhos(tvlachado de Assis 1957e185 1957f257)

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OPSIS - Revista do

Mas se as individuos substituiam que com suas festas eram todo 0 recreio F tempos antigos ate mesmo a igreja nao e mundanizou-se Adotou os carrilhoes urn c~ tocavam peltas profanas chamando as fieis sinos das igrejas e produzindo uma or enfadonhas austeras graves religiosas ma~ pedaltos do Barbe Bleue da Bela Helen contrafaltao de Offenbach ou deg Amor te cassinos e no Alcazar teatro de opereta e Machado a missa da manhii e 0 fand se(Machado de -ssi5 1957d61 1959c16

Outlo costume do tempo dos vicemiddot processo de modemizaltao expressando p( mundo terreno era a de ingressar em confrlt tempos antigos ocorria por amor as cois pda busca de recompensas imediatas ac tomar materia publica a importimcia do 51

mediante a retribuiltoes como a instalaiio d da noticias para publicar em jornais sabre H(

da divulgaltao realizada pelo proprio bem do beneficio e da publicidade do nome e fi~ nas cogitaltoes publicas tornando~se se mandades de damas cram igualmente usa~ principalmente quando os jornais davam 1

os names das organizadoras 0 anuncio gI6ria(Machado de ssis 1957d26205~6

o mesmo ocorria em relacao as at de cunha religioso e assistencial erguidas fr da mendicidade As associaltoes de caridadt do muitas organizadas por senhoras que ~

nos aos famintos amoldavam-se ao mund cido religioso Por um lado adequada ao se as pedintes de esmola em portas das igre mais pobres com seus miseros vintenzinho prias almas pois por meio da caridade I almejando salvar especialmente a 5i mestnlt tado Por outro 0 beneficio alcanltado cor mundo material e nao espiritual como oc comissao de caridade de senhoras para pc com pessoas de destaque na sociedade q cima na sua busca de ascensao social AI~

i

l 1

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ho e seu Cristo instalados no gabinete e ao senhora de acordo com sua crenca nao saia

como urn pedido de protecao nem voltava gracas como 0 fazia ao deitar e ao 955i197)

posiao seja em missas ordinarias festas de setimo dia de morte e por alma do finado tincao social sendo objeto de curiosidade sobre si com carruagens lacaios roupas e a 0 casal Santos emergentes na sociedade na Domingos Essa par6guia era adequada

urn ato sem releyo sem nem higrishyandar dizer missa por alma de urn parente

em que aquela repercutisse em seu meio d23) Mas se esse templo era das camadas como a senhora Santos que se quelxou que e de pulgas preferiam a de S Francisco de s em bairros ricos como Flamengo e que

os endinheirados rinham como uso velho de datas obituanas e natalicias(Machado de

igreja mais por imposicao soclal dos mais r e estabelecer socials do que por

Olimpia cinha a vocaltao da vida exterior procissoes e nas missas pelo rumor e pela cia que era religiosa e cinha gosto parcishy

rar os rapazes Sua devoao magra escasshyda do primeiro espetaculo e 0 primeiro

novos lugares do encontro e do divercimenshyas praticas religiosas com as canseiras da

Assis 1959d23-f 28 1957d280 1955i95) portamento da nova mulher presa nas forshysenhora casada que possula urn amante e

nao ouvindo missa aos domingos ou s6 e quando havia lugar vago em alguma tribushytas aquelas que eram s6 religiosas 0 que de mulheres que se dedicavam em excesshy

rezava todas as noites com fervor ou pelo a junto a seu oratoriozinho de jacaranda em geral uns impios nao pisavam Hna

s f1lhos(Machado de Assis 1957e185

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

Mas se os individuos substituiam seus habitos sociais e religiosos que com suas festas eram todo 0 recreio publico e toda a arte musical em tempos antigos ate mesmo a igreja nao escapou da altao secularizante e mundanizou-se Adotou os carrilhoes um conjunto de sinos musicais que tocavam pe~as profanas chamando os fieis amissa subscituindo os pobres sinos das igrejas e produzindo uma orgia de notas nao de musicas enfadonhas austeras graves religiosas mas sons alegres e animados como pedaltos do Barbe Bleue da Bela Helena do Orfeu nos Infernos uma contrafaltao de Offenbach ou 0 Amor tern fogo tocados geralmente nos cassinos e no Alcazar teatro de opereta e da vida boemia Assim segundo Machado a missa da manhii e 0 fandango da noite aproximavamshyse(Ifachado de 1957d61 1959c168-9 1955d250 1959a68-9)

Outro costume do tempo dos vice-reis com significado alterado no processo de modernizaltao expressando pouca devoltao e grande apego ao mundo terreno era 0 de ingressar em confrarias e irmandades religiosas -Jos tempos antigos ocorria por amor as coisas pias mas no momento era peia busca de recompensas imediatas advindas do individual desejo de tomar materia publica a importancia do sujeito e seu espirito caritativo mediante a retribuicoes como a instalaao de retrato na sacriscia a emissao da nocicias para publicar em jornais sobre os beneficios que pracicava alem da divulgacao realizada peio pr6prio beneficiado Desta forma por meio do beneficio e da publicidade do nome e figura daquele que 0 fez entrava-se nas cogitaoes publicas tornando-se sempre Hlembrado~ Ivfesmo as 1rshymandades de damas eram igualmente usadas para dar brilho a suas juizas principalmente quando os jornais davam noticia minuciosa das festas com os nomes das organizadoras () anuncio nas folhas era um troco da gI6ria(Machado de Assis 1957d26205-6 1957e350 412-4 1956b44)

o mesmo ocorria em relaao as atividades associacivas ftlantr6picas de cunho religlOso e assistencial erguidas frente ao crescimento da pobreza e da mendicidade As associaltoes de caridade que aumentaram na cidade senshydo muitas orgamzadas por senhoras que coletavam donativos e reparciamshynos aos famintos amoldavam-se ao mundo profano e desviavam-se do senshytido religioso Por um lado adequada ao sentimenta cristao a mendicidade e os pedintes de esmola em portas das igrejas traziam as pessoas mesmo as mais pobres com seus miseros vintenzinhos a ocasiao de beneficiar suas pr6shyprias almas pois por meia da caridade punha-se em pracica 0 evangelho almejando salvar especialmente a S1 mesmo e nem tanto ao estranho necessishytado Par outro 0 beneficio alcamado com a caridade podia restringir-se ao mundo material e nao espiritual como ocorria com Sofia que usou de uma comissao de caridade de senhoras para p6r-se em evidencia e criar vfnculos com pessoas de destaque na sociedade que 1he dessem um empurriio para cima na sua busca de ascensao sociaL -lem disso nesse seculo utilitario e

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F

pnitico marcado pelo avanlto das forltas de secularizaltao e perda do espirishyto cristao ate mesmo a caridade tornava-se escriturada legalizada regulashymentada (Machado de Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192 1957e190-2 1959d301)

Junto ao povo 0 gosto das procissoes vinha de longe e estava bastante arraigado para os antigos uma tradiltao de infancia costume da primeira metade do seculo do tempo do rei e suas predileltoes confesshysadas por todas as yelhas carolices as quais seus contemporaneos choravam e pediam pelos tempos dos oratorios de pedta dos tetltos cantados das procissoes bem ordenadas das ladainhas atras do viatico das boas festas e dos bons trades da verdadeita fe e dos vetdadeiros filhos de Deus iias ja em 1865 essas ptocissoes classicas podiam dar ideia de tudo menos de urn culto serio e elevado pois ao lado dos anjinhos e andores floridos os homens iam em filas uns com tochas na mao outros com vara do palio disputadas pelos fieis pais dava uma distincao especial a quem a trazia Alguns iam dizendo pilh6rias aesquerda e adireita enquanto os assistentes comentavam as gracas jUTenis do anjo cantor que era sempre mQ(a feita Desta forma Machado julgava que essas procissoes e semelhantes praticas eram ridiculas nao podendo subsistir numa sociedade verdadeiramente telishygiosa pois uma folia mesmo para os mais sinceramente religiosos com as quais os sacerdotes serios nao deveriam conservarem cumplices( Mashychado de Assis 1958a101-2 Grifo meu)

Existia ainda a luta tradicional travada entre os diferentes templos com 0 unico objeto de primar uns sobre os outros no luxo das suas procisshysoes respectivas sendo essa luta por demais profana e manifestava-se por uma aculTIulacao de prata e ouro nos andores no mais numeroso concurso de irmaos e de anjinhos e outras coisas iguais Vivia-se 0 sagrado melo afolia comentari~s dos assistentes pilh6rias disputas e abusca do brilho e da distimao do que Machado duvidava muito que a divinshydade visse com bons olhos estes conflitos de primazia(Machado de Assis 1958alOl-2 1957c98-100 Grifo meu) No entanto se as procissoes eram filhas da tradiltao em 1865 algumas delas ja haviam sido suprimidas pelo process a de modernizaltao da igreja e para 0 cronista tudo fazia crer que as restantes tamb6m seriam Nesse sentido em 1893 avalia com certa melanshycalia a diferema entre uma procissao de Sao Sebastiao daquele ana e as de outrora dizendo Ordem numero pompa tudo 0 que havia quando era () menino tudo desapareceu(Machado de Assis 1958a101 1959a220)

Porem se 0 sagrado e 0 profano apresentavam-se quase sempre de maos dadas inclusive na esfera das praticas catolicas oficiais essa interpenetraltao tinha certos limites Em 1896 uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair em desftle por se denominar N ossa Senhora da Conceiltao De acordo com 0

cronista esse titulo pareCla esquisito mas se a intenltao eque salva a sociedashy

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OPSIS - Revista do

de vai para 0 ceu pais os autores da ideia tQS da Virgem e nao [tinham] 0 carnaval por desse poslcionamento 0 folhetinista acabou enfatizando que se tal socledade tinha igual g adotar denominaltao adequada e que na( Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos et gente mas sofriam tambem a altao dos novo se Eram de maior destaque a festa da Glol Reis de Sao Sebastiao do Espirito Santos e ( tinham lugar tanto a religiao com missa que F Deum quanto 0 recreio com fogos de artifi prendas Embora houvesse entre elas algum folhetinisra ao cabo de tudo [era] a mesml sao 0 que 0 leTaTa a lascimar que 0 fogo de da Penha [1eYavam] mats fi6is que 0 objeto es certo que todo caminho leva 11 Roma nao 0 i Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que t~

como tinham acabado muitas outras devoS meio recreativas Para ele 0 elemento estr mes com muita patinacao muita opereta m nossa populacao a rusticidade e 0 encanto d Assis 1958b121 1956b207 19S5g410 1955d147-8 Grifo meu)

~ festa do Espirito Santo igualmel contista em A Parasita Azul que transeOl Luzia Goias ao falar desse festejo aponta q que de todo se nao apagou 0 gosto dessas eras No entanto na Corte ainda persistia ( barracas Nao era diferente com a Festa de R 1864 Machado falava que a festa de S Joao tI fogueiras e baloes proibidos por postura mu obstante 0 ceticismo do tempo muita e m corter primelro que 0 povo [perdesse] 0

foguetear os tres santos em junho Porem ja Joao e tambern de Reis Sobre a ultima com popular perdurava no interior pois na c

anos e brotado em sua cinzas a arvore de t essas lTIudancas De Assis lamenta que os al ha nela de puetil para Sf) the deixar 0 que ha quem nem 15S0 fica esse perde 0 melhor ( sirnplorio e velho de noites abencoadas

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das for~as de secularizacao e perda do espirishytornava-se escriturada legalizada regulashy

Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192

das procissoes vinha de longe e estava os antigos uma tradi~ao de inGneia costume do tempo do rei e suas predileltoes confesshy

as quais seus contemporaneos choravam orat6rios de pedra dos terltos cantados das

ladainhas awis do yiatico das boas festas e fe e dos verdadeiros ftlhos de Deus 1as ja

sslcas podiam dar ideia de tudo menos de um ao lado dos anjinhos e andores floridos os

tochas na mao outros com vara do palio uma distin~ao especial a quem a trazia

aesquerda e adireita enquanto os assistentes do anjo cantor que era sempre molta feita que essas prociss()es e semelhantes pniticas

subsistir numa sociedade erdadeiramenterelishypara os mais sinceramente religiosos com as

nao deyeriam conservarem cumplices( 11ashyGrifo meu)

ttadlC1011al travada entre os diferentes templos uns sabre os outros no luxo das suas procisshy

luta por demais profana e manifestava-se e ouro nos andores no mais numeroso

e outras coisas iguais Viyia-se 0 sagrado dos assistentes pilherias disputas e abusca do que Machado duyidava muito que a divinshy

conflitos de primazia(Machado de Assis Grifo meu) No entanto se as procissoes eram

delas ja haviam sido suprimidas peIo igreja e para 0 cronista tudo fazia crer (lue as

sentido em 1893 avalia com certa melanshy)rOClssao de Sao Sebastiio daquele ana e as de nUmero pompa tudo 0 que havia quando era

(Machado de 1958a 101 1959a220) eo profano apresentavam-se quase sempre de das pciricas cat6licas oficiais essa interpenetraltao uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair

Senhora da Conceiltao De acordo com 0 mas se a inten~ao e que salva a sociedashy

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de vai para 0 ceu pais as autores da ideia [eram] com certeza fieis deyoshytos da Virgem e nao [tinham] 0 caman por obra do diabo Porem apesar desse posieionamento 0 folhetinista acabou por concordar com a proibi~ao enfatizando que se tal soeiedade tinha igual gosto as ideias profanas deveria ado tar denominacao adequada e que nao faltam titulos (1vIachado de Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos eram populares e reuniam muita gente mas sofriam tambem a a~ao dos novos tempos e perdiam seu interesshyse Eram de maior destaque a Festa da Gloria da Penha da Conceiltao de Reis de Sao Sebastiiio do Espirito Santos e de Sao Benedito Em tais festas tinham lugar tanto a religiao com missa que poderia ser cantada e ate um TeshyDeum quanto 0 recreio com fogos de artificio barracas corretos leilao de prendas Embora houvesse entre elas algumas diferenltas de acordo com 0

folhetinista ao cabo de tudo [era] a mesma alcgria e a mesmlssima divershysao 0 que 0 leYaa a lastimar que 0 fogo de artificio da Gkma e 0 garrafao cia Penha ~evayam] mais fieis que 0 objeto essencial da festiyidade POlS se e certo que todo caminho leva aRoma nao a e que todo caminho lea ao ceu Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que talvez essa Festa tin~sse findado como tinham acabado muitas outras devoltoes populare~ melO religlOsas meio recreatiYas Para 0 elemento estrangeiro transformou os costushymes com muita muita opereta muita COlsa peregnna que tirou it nossa populaltao a rusticidade e 0 encanto de outros tempos(~1achado de Assis 1958b121 1956b207 1 10 1959c225 103 1957c77 1955d147-8 Grifo meu)

A Festa do Espirito Santo igualmente desaparecia e em 1870 0 contista em A Parasita Azul que transcorre por olta de 1850 em Santa Luzia GOlaS ao falar desse aponta que vao rareando os lugares em que de todo se nao apagou 0 gosto dessas festas classicas resto de outras eras No entanto na Corte ainda persistia 0 habito de muito irem ver suas barracas Nao era diferente com a Festa de Reis e dos santos juninos Se em 1864 Machado falaya que a Festa de S Joao tomaya-se falsificada sem fogos fogueiras e baloes proibidos por postura municipal em 1878 dizla que nao obstante a cetiClsmo do tempo muita e muita dezena de anos n1aia] de correr primeiro que 0 povo [perdesse] os seus antigo amores como foguetear os tres santos em junho Porem ja em 1894 trata da morte de S Joao e tambem de Reis Sobre a ultima comenta que nao sabia se essa festa popular perdurava no interior pois na capital tinha morrido ha muitos anos e brotado em sua cinzas a arvore de Natal vinda da Europa Frente a essas mudanltas De Assis lamenta que os anos que passam tiram afe a que ha ncla de pueril para so Ihe deixar 0 que ha serio Para de triste daqucle a quem nem iS50 fica esse perde 0 melhor das recordaltoes de um tempo simpl6rio e velho de noites abenltoadas em que as crendices sas abrem

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todas as vdasAs consultas as sortes as ovos guardados em agua e outras sublimes ridicularias as quais via com respeito com simpatia e se alguma coisa a molestaa era por nao as saber ja praticar( lvlachado de Assis 1957e62 1955f46 1955a318 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241 1959b13-4 123-4)

Ifas se na cidade 0 vento dos tempos desfazia em lufadas de tuGo essas praticas populares anrigas arraigadas no imaginario coletivo no interior de era brisa igual e mansa que tudo esfolhava e dispersava devagar 8Sim em 1864 0 cronista tratou de urn morador de Viana descobridor de uma imagem de Santa Teresa que lacrimejava e supondo ser milagre pos em alorolto as credulos vianenses considerando procedente realizar exame do fato por uma comissao de eclesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao das festas do Born Jesus em Pirapora que reuniam anualmente urn numero extraordinario e crescente de romeiros calculados naquele ana em 8000 pessoas J a em 1873 escreyeu sabre uma senhora que enlouqueceu quando depois de longa seca pediu chua enterrando uma imagem de Santo Antonio no rnato e alcanltou 0 pedido Porem como a chuva abundante nao cessava ao contrario 0 aguaceiro ia a mais matando inclusive animais yoltou ao buraco por acreditar que a preclpitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas nao 0 encontrou entrando a supor que os males derivavam da altao que praticara 0 cronista comentando 0 fato de Santo Anttmio gozar entre seus deyotos do exotico privilegio de nao conceder nenhuma gralta senao enterrado ou metido num poco so operando milagres a troco da liberdade consideraya que uma senhora religtosa fizera-se supersticiosa e que quando a fe chega a este ponto esta )a muito alem das fronteiras da superstiltao deixando seu praticante sem nenhuma das grandes consolaltoes da fe trazendo-lhc 0 desespero e a loucura Ainda nesse universo ja em 1876 trata da existenCla de duas mulheres santas e milagrosas uma que apareceu na Bahia em torno da qual formou romarias dos seus devotos e outra velha milagrosa que diziam curar doewas incuraveis com ervas misteriosas(Machado de Assis 1955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2)

Desta maneira as esferas do sagrado e do profano da fe da devoltao e do recreio estaam bastante imbricadas no que concerne as praticas dos catolicos havendo uma circulaltao e influencia reciproca entre as instancias das cerimonias e rituais oficiais e sua recnacao pelos leigos entre 0 divino e a folia entre 0 cuita e a festa Os momentos e lugares em que essas aspiracoes se concretizavam em praticas sociais serviam tambem para promover a interacao dos indivlduos lvlas deixando esse sobrevoo sobre a sociedade carioca e focalizando n0550 olhar num segmento especifico desta como na comunidade negra podemos perceber outros aspectos da cultura religiosa carioca Dessa cultura hibrida amalgamada no territorio fluminense observamos primeiramente as pratica ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revi$fa do

as quais de forma geral sao vistos como

respeitados N esse meio social existiam aqudes in

uma preta y~lha do conto 0 Escrivao Co ajoe1hada diante do altar de S Bernardo co do pedic-lhe alguma coisa se nao eque lhe recebido ate que acabou beijando a cruz tou-se e saiu Outros aparecem como detel onais e seus transmissores sendo rezadore senhores ou sabedores de promessas celebre sas ou subir de joelhos a ladeira da Glc Santa(Machado de Assis 19551229-30 1 esta presente no uniYerso das atividades cal do preto elho de Casa Velha que emb africanas era sineiro mas nao fazla mats q missa aos domingos 19ualmente nesse 0

sineiro da Gloria (lue de escrao ficou li~ seculo aquda torre regendo a paroquia e c( picava por casamentos nascimentos batiza amarela 0 calera-morbus os partidos qUI deles ~ pela guerra do Paraguai pelos mo livre das escravas a aboliltao a Republica plt se Tudo conforme a ordem(JIachado de

Outras Ofertas e tensoes Feiti~

Espiritism

Ja outros negros vclhos aparecem mais circunscritas senda depositarios de p( varios elementos que expressam traltas cultu canas 0 negros produziram com suas ling des cantos e batuques uma ruptura com recorrerem mesmo que na clandestinidade uma cultura negra brasileira a qual recorriar contexto embora inseridos em universo simi de crencas praticas e -isoes de mundo al~ tica usada no cotidiano por bran cos negro cam associalt6es ao cultos africanos nos ql parentesco permeiam os rdacionamentos s mente ligados Desta forma alguns pretos sendo vistos como bonciosos humildes g~ Assis 1955d392 1957c279)

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s sortes os ovos guardados em agua e outras

via com respeito com simpatia e se alguma ao as saber ja praticar( Machado de Assis 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241

vento dos tempos desfazia em lufadas de anrigas arraigadas no imaginario coletivo no nsa que tudo esfolhava e dispersava devagar

tou de urn marador de Viana deseobridor de que lacrimejava e supondo ser milagre pas ses considerando procedente realizar exame clesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao apora que reuniam anuahnente urn numero

romeiros calculados naquele ana em 8000 sobre uma senhora que enlouqueceu quando a enterrando uma imagem de Santo Antonio

Porem como a chuva abundante nao cessava mais matando inclusiye animais yoltou ao cipitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas supor que os males derivavam da altao que do 0 fa to de Santo Antonio gozar entre seus 0 de nao conceder nenhuma gralta senao s6 operando milagres a troeo da liberdade

giosa fizera-se supersticiosa e que quando muito alem das fronteiras da superstiltao nenhuma das grandes consolaltoes da fe loucura Ainda nesse universo ja em 1876 eres santas e milagrosas uma que apareceu na romarias dos seus devotos e outra velha

urar doenltas incuraveis com ervas 955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2) s do sagrado e do profano da fe da devoltao

bricadas no que concerne as praticas dos o e influencia redproca entre as ins tlmcias das a recrialtao pelas leigos entre 0 div1110 e a

omentos e lugares em que essas aspiraltoes sociais serviam tambem para promQyer a

deixando esse sobrevoo sobre a sociedade num segmento espedfico desta como na

ceber outros aspectos da cultura religiosa a amalgamada no territorio flumlnense aticas ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revista do Niese V2 N J JanJun 2002

os quais de forma geral sao vistos como conhecedores dela e por 1880 re8peitados

Nesse meio social ex1stiam aqueles inseridos na tradiltao catolica como uma preta v~lha do conto 0 Escrivao Coimbra que Camilo viu na igreja ajoelhada diante do altar de S Bernardo com urn rosario na mao parecenshydo pedir-lhe alguma coisa se nao e que the pagava em oraltoes 0 beneficio ia recebido ate que acabou beijando a cruz do rosario persignou-se levanshytou-se e saiu Outros aparecem como detentores de conhecimentos tradicishyonais e seus transmissores sendo rezadores que pediam guard a para seus senhores ou sabedores de promessas celebres como mandar dizer cern misshysas au subir de joelhos a ladeira da Gloria para ouvir uma ir a Terra Santa(Machado de Assis 19551229-30 1957c71177279) 0 negro idoso esta presente no universo das atividades catolicas como sineiros a exemplo do preto velho de Casa Velha que embora muito atrelado as tradiltoes africanas era sineiro mas nao fazia mais que tocar 0 sino da capela para a missa aos domingos Igualmente nesse ofieio IvIachado destaca Joao 0 sineiro da Gloria que de escravo ficou livre governando por quase meio seculo aquela torre regendo a par6quia e contemplando 0 mundo de 11 Reshypicava por casamentos nascimentos batizados mortes Dobrava pela febre amarela 0 colera-morbus os partidos que subiam ou cafam sem saber deles _ pela guerra do Paraguai pelos mortos e pelas vitorias peIo ventre livre das escravas a aboliltao a Republica pelo imperio_ se 0 imperio tornasshyse Tudo con[orme a ordem(tviachado de -5S1S 1956b193-4 1957b431-3)

Outras Ofertas e tensoes Feiti~arias Adivinha~oes e

Espiritismo

Ja outtos negros velhos aparecem atrelados as tradiltoes ancestrais mals circunscritas sendo depositarios de poderes de proteltao e guardioes de varios elementos que expressam traltos cultorals singulares das socledades afrishycanas 0 negtos produziram com suas linguas danltas folguedos sonoridashydes cantos e batoques uma ruptura com a -isao de mundo ocidental ao recorrerem mesmo que na clandestinidade a seus ritos seus deuses criando uma cultura negra brasileira a qual reeorriam alguns de seus senhores Em tal contexto embora insetidos em universo simb6lico marcado pda multiplicidade de crenltas praticas e visoes de mundo alguns aspectos da expressao lingiiisshyrica usada no cotidiano por brancos negros e mestiltos livres e cativos indishycam associaltoes ao cuhos africanos nos quais a ideia de familia e de laltos de parentesco permeiam os relacionamentos socialS e religiosos que sao intimashymente ligados Desta forma alguns pretos velhos eram ehamados de Pai sendo vistos como bondosos humildes generosos e paternais( Machado de Assis 1955d392 1957c279)

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Outros pretos velhos de modo mais dire to traziam conhecimentos ancestrais produzindo rituals que funcionavam como urn feitiqo protetor as vezes acendendo velas tocando marimba cantarolando em alguns instanshytes baixinho umas ozes de Africa cantilenas alegres guerreiras entusiasshytas em outros cantigas falando de santo de trabalhar de comer 0

que remete as praticas das oferendas e ao principio do candomble de existenshycia de forqas vitais e sagradas que perpassam todos os aspectos da vida mashyterial e cotidiana como as tarefas as formas hidicas como a musica a danqa o canto 0 gesto Assim tanto Raimundo de laid Garcia empertigava 0

corpo dando aos quadris e ao tronco 0 movimento de suas danqas africashynas quanto 0 peeto velho de Casa Velha que canta-a Calumga mussanga monandengue dando ao corpo umas sacudidelas para acompanhar a toshyada africana alem de recorrer as tradiltoes orais ao contar historias muito compridas e sem sentido algum para os brancos pOlS forjadas e inseridas noutro universo simbolico da maioria deles ignorado Desta forma essas manifestaltoes mantinham uma memoria reveladora de matrizes africanas que era alimentada pela danqa pela paIavra pelos gestos ou pelos objetos e oushytros vekulos de expressao e comunicaqao(Machado de Assis 1955h1114 1956b193-4 1957b432-3)

No entanto outros aspectos expressam ainda a religiosidade no universo de uma cultura afro-amerindio-brasileira na obra machadiana como a feitiqaria Num momento em que em nome da civilizaltao da ciencia e da razao os intelectuais e as autoridades medicas policicas e policiais voltaramshyse contra praticas ariadas denominadas ~fnericamente de feitisaria lIachashydo abordou essa questao de modo bastante proprio Nao associou tais pratishyeas ao universo socio-cultural espedflco dos negros como faziam outros jorshynalistas e tampouco os apreciou a priori de modo negativo e condenatorio Contrap6s-se ao conteudo de muitas notkias divulgadas na imprensa nas quais 0 negro era 0 bruxeiro 0 feiticeiro violento e barbaro com a figura de Raimundo que produzia urn feitiqo protetor a seu senhor afastando da imagem do preto que fazia feitico male fico para seus proprietarios(Schwarcz 1987125-8 Machado de Assis 1955h10)

Ao tratar da batalha contra os antigos habitos religiosos tradicionais da gentes em 1893 0 cronista anunciava ter medo do c6digo penal de 1890 no qual havia urn artigo que castiga duramente as pessoas que advinham 0

futuro tao duramente como as que aplicam drogas para excitar odio ou amor para fascinar e subjugar a credulidade publica Com base nesse as autoridades recolhiam adetenqao curandeiros e feiticeiras levan do as ferrashymentas desses ofieios ( ) incluidos no e6digo como delitos como aves mortas pernas de ceroula saquinhos com feijao arroz farinha sal altucar canjica penas e cabeltas de frangos usados na busca de estabelecer uma alianshyca com 0 sobrenatural a partir da aciio de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do

vivos deuses e homens(lIachado de Assis Assis a feitiqaria era alga natural do homen tivas alem de ser urn ofkio que garancia r fur tar e matar para sobreviver e infring1r 0

que nao falam de feitiltaria mas de furto doente acreditar na feiticaria e por julgar q soais que determinam tudo neste mundo I

acudir a feitiltaria considerando emao inee go penal como deli to c prender senhoras s com os seus olhos e com seus demais obj 1959b308-11 )

fachado rarefez 0 clima hostil de dos seus agentes nao as associando aos neg te que esse elbo costume de buscar nas fei ros quase sempre mesciltos _caboclos e eab agruras nao so se restringia ao pon) Muita dade recorriam aos adiyinhos e curandeiros erva como por meio dc rezas 0 eurand mazelas que devastaam a cidade como eOolltao de defuntos de espiritos difere de ler como as adivinhas mandando e curandeiro Tobias falava em prosa scm 0

cas ate ser preso com suag bugigangas e galo pes de galinha secas medalhas pohcoJ de raia incluidos no aparato instrumental sis 1956c248-9 267-8 19S5d426-7)

Buscar os adivinhos e feiciceiros era ricas ainda que nesta muito preconceitos vando muitas ezes a consultas escondidas redor dc uma caboc1a muito conhecida do adivinha era grande e segundo 0 narrador da sociedade falavam dela a serio e havia ta um Juiz municipal cuja nomeaqao foi ar era muito falada na cidade e reinava Ii n(

merosa que vinha de muito mcses scndo queza da adivinha Toda a gcnte falan e assunto da cidade atribuiam-lhe um pode sortes achados casamento Afirmavam e 0 que vifia a scr Para 0 poo parccia muitas as noticias sobre seus feitos e ha-ia ~ soas que tinham perdido e achado joias e esc ~- polkia mesma quando nao acabaYl1 de

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de modo mais dire to traziam conhecimentos

tronco 0

funcionavam como urn feitio protetor

marimba cantarolando em alguns instanshy cantilenas alegres guerreiras entusiasshy

de santo de trabalhar de comer 0

e ao principio do candomble de existenshyperpassam todos os aspectos da vida mashy

as formas ludicas como a musica a danca Raimundo de laid Garcia empertigava 0

movimento de suas dancas africashyVelha que cantava Calumga ~ussanga umas sacudidelas para acompanhar a to-

as tradicoes orais ao contar historias muito para os brancos pois foqadas e inseridas

maioria deles ignorado Desta forma essas memoria reveladora de matrizes africanas que palavra pelos gestos ou pelos objetos e oushy

~uluIlltaya()(ilachado de Assis 1955h1114

expressam ainda a religiosidade no merind()-trastllra na obra machadiana como

que em nome da ciyilizacao da ciencia e da medicas politicas e policiais oltaramshy

1955hlO)

loolinadls genericamente de feiticariatvfachashybastante proprio Nao associou tais pratishy

_middot~neIflr dos negros como faziam outros jorshy

apriori de modo negativo e condenatorio muitas noticias divulgadas na imprensa nas o feiticeiro violemo e barbaro com a figura

feitico protetor a seu senhor afastando da maletico para seus proprietarios(Schwarcz

os antigos habitos religiosos tradicionais anunciava ter medo do codigo penal de 1890

duramente as pessoas que advinham 0

as que aplicam drogas para excitar odio ou a credulidade publica Com base nesse as curandeiros e feiticeiras levando as ferrashy

lCitllid()s no codigo como deliros como aves

com feijao arroz fartnha sal acucar usados na busca de estabelecer uma alianshy

da alao de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

vivos deuses e homens(Machado de Assis 1959a288 1959b308) Para De Assis a feiticaria era algo natural do homem vista em varias tribos primishytivas alemde ser urn oficio que garantia renda a muitos impedindo-os de furtar e matar para sobreviver e infringir os mandamentos da lei de Deus que nao falam de feiticaria mas de furto Ironicamente diz que por estar

doente acreditar na feiticaria e por julgar que sao sempre os l11teresses pesshysoals que determinam tudo neste mundo estava com grandes desejos de acudir afeiticaria considerando entao incorreto incluir a feiticaria no codishygo penal como delito e prender senhoras so porque fecham 0 corpo alhelO com os seus olhos e com seus demais objetos de culto(Machado de ASS1S

195308-11) Machado rarefez 0 clima hostil de desqualificacao dessas praticas e

dos seus agentes nao as associando aos negros e enfatizando incansavelmenshyte que esse velho costume de buscar nas feiticeiras adivinhas e curandeishy

ros quase sempre mesticos _caboclos e caboclas _ auxilio as imluietacoes e agruras nao s6 se restringia ao povo Tfuitas pessoas de posiltao na SOC1eshydade recorriam aos adi-inhos e curandeiros e os ultimos curavam tanto com ervas como por meio de rezas 0 curandeiro Nascimento curaa muitas mazelas que devastayam a cidade como barriga dagua com passes de evocacao de defuntos de espiritos diferentes ou arrancava dentes alem de Ie~ como as adivinhas mandando com tais e tais palaTinhas Ja 0

curandeiro Tobias falava em prosa sem 0 saber curaa em Hnguas classishycas ate ser preso com suas bugigangas e drogas tais como esporoes de galo pes de galinha secos medalhas polvora e ate urn chicote feito de rabo de raia inc1uidos no aparato instJumental de seus ritualS (ilachado de Asshysis 1956c248-9 267-8 1955d426-7)

Buscar os adivinhos e feiticeiros era costume presente entre as classes ricas ainda que nestas muitos preconceitos contra tais praticas existissem leshyvan do muitas vezes a consultas escondidas como ocorre em Esau e Jaco ao redor de uma cabocla muito conhecida do Ilorro do Castelo lt fama des sa adivinha era grande e segundo 0 narrador muira gente boa Ja ia pessoas da sociedade fala am dela a serio e havia um caso recente de pessoa dis tinshy

ta urn juiz municipal cuja nomeacao foi anul1ciada pela cabocla A caboc1a era muito falada na cidade e reinava la no morro possuindo freguesia nushymerosa que vtnha de muttos meses sendo sinal certo da videncia e da franshyqueza da adivinha Toda a gente fahlYa entao da cabocla do Castelo era 0

assunto da cidade atribuiam-lhe um poder tntlnito uma serie de milagres sortes achados casamentos AfirmaalU que cia adivinhaya tudo 0 que era eo que iria a ser Para 0 povo parecia que era mandada de Deus Eram muitas as noticias sobte seus feiros e hayia gente que dizla que conheC1a pe5shysoas que tinham perdido e achado joias e escraos De acordo com 0 narrador A policia mesma quando nao acabaa de apanhar um criminoso ia ao Casshy

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tela falar acabocla e des cia sabendo por i5S0 eque nao a botava para fora como os invejasos andavam a pedir A caboda explicava sonhos e pensashymentos curava quebranto(Machado de Assis 1959d43-4)

Segundo Aires tal costume era velho e velhissimo e no interior da casa simples nao havia nada que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshynhum petrecho simbalico nenhum bicho empalhado esqueleto ou desenho de aleiJoes Quando muito urn registro da [festa de Nossa senhora da ] Conshy

colado a parede podia lembrar misterio mas nao metia medo A cabocla e descrita com simpatia e 0 ritual sem afetacao Era uma criaturinha leve e breve ( ) corpo airoso com urn raminho de arruda nos cabelos 0

que ja the dava urn certo ar de sacerdotisa embora seu misterio estivesse mesmo era nos olhos agudos e compridos que entravam peIo consulente revoh-endo-Ihe 0 coracao ao tempo que interrogava Em transe de posse de retratos e cabelos de alguem ausente com urn cigarro acesso ao som de uma viola e de cantigas do sertao do Norte murmuradas por urn velho caboclo entrava a dizer sobre as coisas futuras ate que por fun 0 fregues se alegre e rico tirava uma nota de cinquenta mil-reis quando 0 preco do costume era cinco ezes menos arrecadaYa seus objetos e saia (Machado de Assis 1959d 7shy16) Essa cabocla com origem no norte do pais assim como outros caboclos curandeiros perseguidos pela policia remete apresenca dos caboclos no unishyverso das pniticas religiosas brasileiras que sendo figura mestica esta vinculashyda a nossos ancestrais nativos os indios donos da terra e ligados anatureza no tradicao dos cultos afro-brasileiros

No en tanto no campo das batalhas religiosas tais praticas tiveram outros opositores tal como os adeptos do nascente espiritismo que contagishyados peIo espirito positivo~cientificista do momenlO na busca de credibilidade ptlblica e de converter fieis incutindo-lhes seus pressupostos diziam possuir doutrina regida por leis cientificas ao querer excluir qualshyquer maculf[ de seita e julgavam-se sabedores das verdadeiras luzes do mundo e de verdades eternas Desta forma um iniciado nessa religiao defendia uma consulta espirita e na~ a caboda do Castelo por mais que ela fosse celebre Recorrer a ela seria imitar as crendices da gente reles e s6 ocorreria ate enquanto a policia nao pusesse cobro ao escandalo J a numa consulta espirita algum espirito podia [dizer] a verdade em vez de uma adivinha de farsa Para urn medium espirita enfiado em larga camisola de seda e usando toda a terminologia espirita assomada de casos fenomeshynos misterios testemunhos atestados verbais e escritos a cabocla devia ser deixada afe das senhoras pois eram delas crencas da meninice(Machado de Assis 1959d79113843-6646770 1957h10-1)

Cabe aqui ressaltar que nesta obra Esau e Jac6 a qual trata desses variados aspectos espirituais acima apontados advindos de tradicoes culturais e religiosas diversas Machado sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religi~

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OPSIS - Revista do

oso expondo a imbricacao das praticas ori catolicismo e 0 confronto com 0 espiritismc bases do que seria posteriormente denomin nomes dados as pessoas podem predestina ligacao entre 0 fato dos filhos do casal Sanl quais a cabocla disse terem brigado no ventr des entre estes porque os dois apostolos do garam assim como Esau e Jaco figuras do brigado por causa da primogenitura

Porem lIachado nilO recorre ao eSI conto Uma visita de Alcibiades 0 desemba S1caO juntamente com Santos aCllna citado essa doutrina propagaya ao ler Plutarco fun litava envoher a imaginaltao numa especie vel as evocacoes mentais transportou-se pa de Alcibiades ate que ao terminar de [umar de subilO pensou qual seria a impressiio daqu ario Desta feita enfatizando (lue era urn 1

podendo mesmo dizer que vlvia cornia dor cafe e esperava morrer na fe de Alan Kard os sistemas sao pura niilidades tinha adota sim sendo espiritista evocou lcibiades a c fez rapido aproximando duas civilizacoes impalpavel e sim urn homem de carne e mente a sua frente entrando a conersar sob o grego empalideceu cambaleou e caiu r desembargador mandou~o para 0 necroteno

o espiritismo sen-iu como assunto nas quais quasc sempre ri brinca e ironiza sc cando as vezes compreende-los por mais laquo

correndo a estrategias comicas Desta forma situacoes nebulosas como uma que exigia p teoria de Newton sugerc consultar 0 propri vez que nao entendia nada de astronomia Er brasileiros acabavam de dar um golpe de m urn medium com fama de ser prodigioso e sileira nomeado uma comissao para estudar nao valia a fama e que os trabalhos ficararr Europa e outro paises mas que 0 problen estao sujeitas a esse eclipses e nao estao Fora i5S0 a Federacao lamentaa que diante mular os fenomenos que obtem nas condie

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_UJUUV por 1SS0 e que nao a botava para fora a pedir A caboda explicava sonhos e pensashy

UVll1Ul1lU de Assis 1959d43-4)

vmiddotOLU1l1C era velho e velhissimo e no interior da que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshy

UUilU bicho empalhado esqueleto ou desenho registro da [Festa de Nossa senhora da 1Conshylembrar misterio mas nao metia medo A eo ritual sem afetas-ao Era uma crtaturinha

com urn raminho de arruda nos cabelos 0

sacerdotisa embora seu misterio estivesse e compridos que entravam pelo consulente

tempo que interrogava Em transe de posse de ausente com urn cigarro aces so ao som de uma do Norte murmuradas por urn velho cabodo

futuras ate que por fim 0 fregues se alegre ~lu-uLa mil-reis quando 0 pres-o do costume era

seus objetos e saia(Machado de Assis 1959d7shyno norte do pais assim como outros cabodos

polleia remete a presens-a dos cabodos no unishyIIJ[l1~JlC1Jl1 que sendo Figura mestis-a esta vlnculashy

os indios donas da terra e ligados anatureza

das batalhas religiosas tais praticas tiveram adeptos do nascente espiritismo que contagishy

__rpntificista do momento na busca de nrprtpr fieis incutindo-Ihes seus pressupostos

por leis cientificas ao querer exduir qualshysabcdorcs das yerdadeiras luzes do

Desta forma urn iniciado nessa religiao

rfu~ ~clt5u-(r(l1H-gn1ru lJ(YL nril ljlft1hgt

seria imitar as crendices da gente reles e so nao pusesse cobro ao esdindalo Ja numa

podia [dizer] a verdade em vez de uma Pltd11lIl espirita enfiado em Iarga camisola de

espirita assomada de fenomeshynauo verbais e escritos a cabocla devia ser

eram delas crenltas da meninice(Machado 770 1957hl0-1)

nesta obra Esau e Jaco a qual trata desses apontados advindos de tradiltoes culturais

sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religishy

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

oso expondo a imbricaltao das praticas origin arias dos amedndios com 0

catohcismo e 0 confronto com 0 espiritismo que amalgamados crtavam as bases do que seria posteriormente denominado de umbanda Aponta que os nomes dados as pessoas podem predestinar seus caminhos ao estabelecer ligaltao entre 0 fato dos filhos do casal Santos chamarem Pedro e Paulo os quais a cabocla disse terem brigado no ventre da mae e indicando as rivalidashydes entre estes porque os dois apostolos do Novo Testamento tam bern brishygaram assim como Esau e Jac6 figuras do Velho Testamento tinham ainda brigado por causa da primogenitura

Porcm Machado nao recorre ao espirttismo apenas nessa obra No conto Uma visita de Alcibades 0 desembargador Alvares que por sua poshysiltao juntamente com Santos acima citado indica 0 meio abastado em que essa doutrina propagaa ao ler Pluta reo fumando um charuto que possibishylitava envolver a imaginas-ao numa especie de nimbo extremamente favorashyvel as evocaltoes mentais transportou-se para a antiga Atenas pois lia a vida de Alcibiades ate que ao terminar de fumar voltou aos tempos modernos e de subito pensou qual seria a impressao daquele ateniense sobre n0550 vestushyano Desta feita enfatizando que era urn tanto espiritista ( ) ate muito podendo mesmo dizer que livia comia dormia passeava conversava bebia cafe e esperava morrer na fe de Alan Kardec pois convencido que todos os sistemas sao pura niilidades tinha adotado 0 mais jovial de todos Asshysim sendo espiritista evocou Alcibiades a comparecer em sua casa e esse 0

fez tapida apraximando duas civilizayoes Mas esse nao era uma sombra impalpavel e sim um homem de carne e ossos que se sentou benevalashymente a sua frente entrando a conversar sobre 0 assunto de interesse ate que o grego empalideceu cambaleou e caiu no chao Dian te do cadaver a desembargador mandou-o para 0 necroterio(Machado de Assis 1956a203-7)

o espiritismo serviu como assunto em varias cronicas machadianas

nas qua~s quasc selnpre ri brinca e lroniza seus enunciados e principios busshycando as vezes compreende-Ios por mais estranheza que provocassem reshyoottendo a estrateglaS comicas Desta forma ha momentos em que diante de situa~oes nebulosas como uma que exigia para sua solus-ao conheCImento da teoria de Newton sugere consultar 0 proprio por meio do espiritismo uma vez ~ue nao entendia nada de astronomia Em outro comenta que os espiritas brasilerros acabavam de dar um golpe de mestre quando apareceu na cidade ~medium com fama de ser prodigioso e tendo a FederaS-ao Espirita Brashysiletra nomeado uma comissao para estudar os fenomenos concluiu que de nao valia a fama e que as trabalhos ficatam abaixo do que se conseguia na Eur~pa e ~utros paises mas que 0 problema estava nas mediunidades que estao Su)eHas a esses eclipses e nao estao senrilmente anossa dispasis-ao Fora 1550 a Federaltao lamentava que diante de tudo a medium huscasse 5ishymular os fenomenos que obtem nas condis-oes normais Segundo Machashy

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do chistosamente 0 medium nao s6 foi ( ) apenas mmtmum mas ate procurou embasar a Federasao(lvlachado de Assis 1958b177 1956c123)

As estrategtas e argumentos usados pelos propagadores da nova doushytrina geralmente expostos nas conferencias promovidas pela Federaltao ou publicados na Uniao Espirita na busca de adeptos e de convemles tambem nao escaparam aeritica machadiana principalmente devido a sua indisposisao a tudo que se propagava como sendo verdade unica e absoluta levando-o a destilar sua eostumeira ironia em varios eseritos sobre essa doutrina e suas praticas Dentre eles destaeamos a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima verdadeira e definitiva doutrina e que substituiria todas as religioes do passashydo 0 eronista reeorre sempre a essa proposiltao quando depara com fatos obscuros e irnpossiveis de destrinltar ocorridos na cidade buscando solucionashylos usando de carnavalizaltoes que acabam por ridieulizar toda e qualquer noltao de -erdade ou de tal pretensao Isso aconteee nao s6 ao que diz respeishyto a essa doutrina A artimanha para conquistar simpatias e fieis de divulgar Iista de pessoas eminentes da Europa que acreditavam no espiritismo foi por ele tambern censurada pois no seu dizer tudo ocorria de forma como se as pessoas devessem crer por crer em tudo aquilo que na Europa e acreditado(~1achado de Assis 1955b297-9 195188)

Ao redor do principio da encarnaltao e reencarnaltao Machado fez yarias elucubraltoes supondo situaltoes tratadas de forma humoristica as quais contribuiam para difundir alguns de seus principios Assim ao vislumbrar uma certa promiscuidade geral dos desencarnados divulga 0 principio de que 0 espirito pode reencarnar inclusive na mesma familia sendo viivel que um homem pudesse ter uma ftlha depois morrer e voltar filho dela ou urn menino voltar filho de urn prin10 Se em alguns momentos pesa a mao contra os espiritistas dizendo que 0 espiritismo nao e menos curanderia que os outros curandeiros e que se fosse legislador mandava fechar todas as igrejas des sa religiao em outros em tom ate didatico enfatiza que 0 princishypio espirita e fundado no progresso e a leI e nascer morrer tornar a nascer e renascer ainda progredir sempre sendo que 0 renascimento epara meshylhor Cada espirita em se desencarnando vai para os mundos superiores Reflete ainda sobre a distancia entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo que 0 principio espirita nao e 0 mesmo da transmigrasao em que as aIm as vao para os corpos dos animalS mas fundado no progresso(Machado de Assis195100-2188)

Acreditando ser representativo do pensamento ultimo de Machado a respeito do espiritismo em 1895 ele defende seu exercicio pois a Constituishyltao estabclece 0 direito de liberdade religiosa No seu dizer 0 espiritismo e uma religiao que ele nao sabia se falsa ou verdadeira embora os espiritas dissessem que verdadeira e unica frente ao que ressaIta que presunltao e agua benta cada um toma a que quer Se verdadeiros ou nao [continual 0

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OPSIS - Revista tiD

fato e que escrevem-se e publicam-se inUn jornais espiritas e no Rio havia uma ou dl acreditara que nao se gasta tanto papel em a palavra que se esta escrevendo e a propria seguinte 1896 comenta (lue ha muito que ( tos escreyem pclos dedos dos vhos e que mundo e neste final de urn grande seculo(1

Desta forma a cultura carioca oitoclt diversas de religiosidade e de expcriencias com 0 divino 0 campo religioso apresent possibilidades variadas de vivenciar a proCl debatem em confronto entre si quanto se a] produzindo formas hibridas e sincreticas de lam os homens a seus deuses com tambem a em parte de seus lasos de sociabilidade

Fontes e Referencias B

BORGES Valdeci Rezende Em busca do 11

Rio de l1achado de Assis Estudos Histor Pesquisa e Documentaltao da Hist6ria Conte Getulio Vargas no 28 p 49-69 2OC) BOCRDIEC Pierre A Economia das TrOt pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Si Paulo Cia Das Letras 1989 ivLCI1ADO DE ASSIS Joaquim r1aria C 10 WMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b _ Cronicas v 2 1955c

Cronicas v 4 1955d

_ Helena 1955e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Historias Romanticas _ 1955g _ laid Garcia 1955h _ Memorial de Aires 19551

Pdginas Recolhidas _ 1955 Reliquias de Casa Velha v 1 _ 195 Contos Esquecidos Rio de Janeiro ClY

_ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Rejlexoes de um Relojoeiro _ A Mao e a Luva Sao Paulo M Jad

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mio s6 foi () apenas minimum mas ate WHltV de Assis 1958b 177 1956c123)

usados pelos propagadores da nova doushyconferencias promovidas pela Fede1aio 01

na busca de adeptos e de conversoes tambem principalmente devido a sua indisposiltilO

sendo verdade unica e absolura levando-o a em vanos escritos sobre essa doutrina e suas

a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima e que substituiria todas as religioes do passashya essa proposicao quando depara com fatos

ocorridos na cidade bus cando soluciomishyque acabam por ridiculizar toda e qualquer

temao Isso acontece nao 56 ao que diz respeishypara conquistar simpatias e fieis de divulgar

Rur(ma que acreditavam no espiritismo foi por seu dizer tudo ocorria de forma C01no se as crer em tudo aquilo que na Europa e 1955b297-9 195188)

da encarnacao e reencarnacao 1Iachado fez Grv~ tratadas de forma humoristica as quais

de seus principios Assim ao vislumbrar dos desencarnados divulga 0 prindpio de

inclusive na mesma familia sendo viavel que depois morrer e voltar filho dela au urn Se em alguns momentos pesa a mao

que 0 espiritismo nao e menos curanderia se Fosse Iegislador mandava fechar todas as em tom ate diampitico enfatiza que 0 princishy

e a lei e nascer morrer tornar a nascer sendo que 0 renascltnento e para meshy

uJ Tal para os mundos superiores entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo omesma da transmigraltao em que as almas

mas fundado no progresso(Machado de

do pensamento ultimo de Machado a ele defende seu exerdcio pois a Constimishy

religiosa No seu dizer 0 espiritismo e se falsa au verdadeira embora os espiritas

frente aa que ressalta que presunltao e quer Se verdadeiros ou nilO [continua] 0

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

fata e que escrevem-se e publicam-se inumeros livros folhetos reistas e jornais espiritas e no Rio havia uma ou duas folhas espirita alem do que acrerutaa que nao se gasta tanto papel em tantas linguas senao crendo que a palavra que se esta escrevendo ea propria verdade Para finalizar no ano seguinte 1896 comenta que hi muito que os espiritas afirmam que os mOfshytos escrevem pelos dedos dos vivos e que para ele tudo e POSSIel neste mundo e neste final de urn grande seculo(Machado de Assis 1957b26274)

Desta forma a cultura carioca oitocentista esta permeada de formas diersas de religiosidade e de experiencias voltadas para a busca de Iigacao com 0 divino 0 campo religioso apresenta-se marcado pela presenca de possibilidades variadas de vlvenciar a procura do sagrado as quais tanto debatem em confronto entre si quanta se aproximam nas pniticas dos tieis produzindo formas hibridas e sincreticas de religiosidade que nao so vincushylam os homens a seus deuses com tambem aos outros homens constitumdo em parte de seus lacos de soclabilidade

FOlltes e Referihlcias Bibliogrtificas

BORGES Valdeci Rezende Em busca do mundo exterior sociabilidade no Rio de Machado de Assis Estudos Historicos Rio de Janeiro Centro de Pesquisa e Documentacao da Historia Contempodmea do Brasil da Fundaltao Getulio Vargas no 28 p 49-69 200l BOURDIEC Pierre A Economia das Trocas Simb6licas Sao Paulo Persshy

pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e hist6ria Sao Paulo Cia Das Letras 1989 MAClMDO DE ASSIS Joaquim Maria Contos Fluminenses v2 Sao PaushyloWMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b Cronicas v 2 1955c

_ Cronicas v 4 19S5d _ Helena _ 19S5e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Hist6rias Romanticas 1955g _ laid Garcia 1955h

Memorial de Aires 1955i _ Pdginas Recolhidas _ 1955j _ ReUquias de Casa Velha v 1 _ 19551 _ Contos Esquecidos Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1956a _ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Reflexoes de um Relojoeiro _ 1956c _ A Mao e a Luva Sao Paulo 11 Jackson inc 1957a

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A Semana v 3 1957b _ Dam Casmurra _ 1957c

Historias Sem Data 1957d

_ Memorias Postumas de Bras Cubas 1957e _ Quincas Borba 1957f

_ Requias de Casa Velha v 2 _ 1957g Varias Historias 1957h

_ Contos e Cronicas Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1958a _ Cronicas de Lelia 1958b _ A Semana v 1 Sao Paulo WMJackson inc 1959a

A Semana v 2 1959b _ Cronicas v 4 1959c _ Esau e Jaco 1959d

SCHv~RCZ Lilia Moritz Retrato em Branco e Negro jornals escravos em Sao Paulo no final do seculo XIX Sao Paulo Cia Das Letras 1987

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OPSIS - Revista do

CINEMA E RELIGI

ResuResumo

Propomos neste texto apre5cntar algushy 1ou

mas reflex6es sobre a ahordagem de ashy quell

lares no cinema presentes em nleu

filmes como E 0 vento levou Blade film~

Runnermiddot 0 Carador de Androides 0 Run

Exorcisca Matrix dentre outros Exor

Atualmentc vivemos em uma 50eiel urn gm-erno baseado na lei e na razao Ne pensar assentam-se nao mais somente nos v bem nos valotes politicos e sociais Disso religiosos cristaos em quase nada influeneiat de fazer visto que Igreja (como instituiltao) tados na lei

Apesar da atual sociedade aparentc s6lida temos que ter em mente que cia so mente ha pouco tempo malS preeisamente e s6 se consolidou a partjr do positivismo vivemos em uma sociedade ainda em form

mente nao influencia tanto a nossa maneir E isto s6 e verdade para as eham2

hoje existem diversas sociedades ditas tee arabes (Irii) 0 Afeganistao onde 0 fundarr em todos os nh-eis

1 Este texto foi prodU7ido a partir do curso ministr e Religiosidadcs com 0 objetivo de apresentar algUi as rcferencias dos filmes analisados 2 Mestre em Historia pcla UFSC Universidade F

Historia da rcdc publica do [stado de Minas Gerai

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c

Page 4: as Bibliogrdficas RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSISstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3224606.pdf · 16 'as Bibliogrdficas mentafao oral e tematica da seca: estu o Federal,

cipios da Igreja No entanto em vez disto os padres divertem-se em lanltar as urnas eleitorais a interdicao religiosa ou a escrever gazetas sem tom nem som expondo uma intolerancia considerada ridicula e funesta aos vershydadeiros interesses da igreja advinda de urn clero pela maior parte ignoranshyte sem prescigio ( ) mas tambern sem escrupulos Considerava grosseiras as pniticas da igreja e do clero tacanho e mesquinho que nada enxerga para fora das paredes da sacristia Pedia por uma reforma completa de modo a fazer do culto uma coisa seria tirando-Ihe 0 aparato e as empoeiradas usamas proprios para produzir 0 materialismo e tibieza da fe Julgava que a educaltao religiosa do nosso povo a maneira por que se Ihe incute a fe e a palavra crista era feita por meio do espetaculo e do fausto profano o que levava para 0 materialismo para a indiferenca e para a morte da fe (lvfachado de Assis 1955b350-2388-9 Grifos meus)

Ja em 1864 ao posicionar-se contrariamente frente acondenaltao do livro de Renan Vida de Jesus por urn monsenhor dizia que a pior prosa deste mundo e a clerical contrapondo-se aos argumentos do clerigo que aconselhou 0 exilio do livro e insinuou que todos os bons cat6licos deveriam queima-Io por ser tmpio Para 0 cronista tal conselho em tempos de liberdashyde e de civilizaltao era simplesmente ridiculo deixando-o pasmo pois embora achasse 0 livro absurdo nem por isso foi lanlti-Io a fogueira depois da leitura e nem perdeu suas crenltas Entretanto se Machado assim afirma quais seriam os motivos de sua descrenlta para com a Igreja Seria apenas oriunda de suas observaltoes da realidade que 0 circundava e dos horrores que ia Quem eram os responsiveis por seu afastamento daquela (Machado de Assis 1955c219-28)

De Assis condenava outros desvios da vida sacerdotal como a atitushyde pecuniaria do clero avarento mats preocupado em arraniar alguns contos de reis para as gravissimas necessidades do poncifice do que em converter pessoas No seu dizer 0 triunfo maximo e 0 triunfo pecuniario e sendo assim combatia as demasias clericais a Santa Pecunia pela qual 0 clero orava Nesse contexto de clerigos avarentos perfumados que ricas aljubas vestiam expressava contra a baixela de OUtO dos papas a Roma sempre em prazeres e as casas de Otaltao onde reina muita hipocrisia como a venda de bentinhos para ter perdao dos pecados Considerava essa pratica assaz comoda e lucrativa uma politica que prende urn pecador e 0 abshysolve cometendo urn atentado ao sagrado ao reduzir tudo a somas de dinheiro apontando varios casos como a venda de medalhas de chumbo com a caricatura da que 0 padre benze e fica-se livre dos crimes cometidos a troca da imagem de N S da Conceiltao da Aparecida por urn mil-reis para livrar-se de catastrofes a benzeltao e venda de velas por dois mil reis pelos padres e a associaltao dos sacerdotes e sacristaes para vender caro as missas Diante dis so dizia Viva Deus e a nossa algibeira ou ainda se

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OPSIS - Revista do

Deus escreve direito por linhas tortas as A los inclusive impressos] sao as linhas tortas Assis 1958a187-9197205-6245249 1959

Machado fustigava ainda os padres ~ Desta forma sua descrenlta para com a 19rej percepltao dessas praticas desviantes viciada da a compreender seu afastamento das ativic da morte negando-se a receber os ultimos que nao era absolutamente materialista I mos apontar ll1umeraveis recorrencias ado varias as referencias a Biblia porem quasI sobretudo ao Eclesiastes Desse modo a p citada de modo deformado pela ironia b expressando uma leitura critica criou diver com aquela rclaltao intertextual direta Del tematica religiosa ou tecidos ao redor de su Galo Na area A Igreja do Diabo Manus( mo urn sacristao perspicaz trata do amor p prima Eulalia e jii nos hilari05 A Igreja do 1 critic a bern humorada as praticas emiesad~ cristaos e seguidores dcssa doutrina com oposto as Escrituras c as pregaltoes

Em A Igreja do Diabo 0 demonio apesar de mesmo a scm e5ta os seus luc des mas sentia-se humilhado par nao ter 0

ais Estabelecendo-os seria Escritura cc breviario e teria sua missa com vinho e t novenas e todo a demais aparelho eclesii outras religioes de Maome de Lutero a ideia a Deus para desafia-lo c ao voltar a prometendo delicias e glarias Clamava qu~ substituidas por outras naturais e legitim ayareza a ira a gula e a invcja esta ultima a noltoes fazendo amar as perversas e detesl o preconceito a hipocrisia a calunia 0 ad valorizados e seus opostos negados Funda 0 Diabo ahou brados de triunfo( ivfach

Porem urn dia longos anos depoi das praticavam as antigas yirtudes 0 q fraudes Pasmado nilO refletiu nem compa 10 presente alguma coisa analoga ao passad Deus que ouviu com complacencia e falc

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uzir 0

em vez disto os padres divettem-se em lancar religiosa ou a escrever gazetas sem tom nem a considerada riclicula e funesta aos vershy

dvinda de urn clero pela maior parte ignoranshysem escnipulos Considerava grosseiras

tacanho e mesquinho que nada enxerga ria Pedia por uma reforma completa de

a seria tirando-lhe 0 aparato e as empoeiradas materialismo e tibieza da fe Julgaya

so povo a maneira por que se the incute a fe meio do espenlculo e do fausto profano mo para a indiferenca e para a morte da fi~ -2388-9 Grifos meus) nar-se contrariamente frente acondenacao do por um monsenhor dizia que a pior prosa trapondo-se aos argumentos do clerigo que sinuou que todos os bons catolicos deveriam cronista tal conselho em tempos de liberdashy

lesmente ridiculo deixando-o pasmo pois nem por 1SS0 foi lanCa-lo afogueira depois emas Entretanto se Machado assim afirma a descrenca para com a Igreja Seria apenas a realidade que 0 circundava e dos horrares aveis por seu afastamento daquela (Machado

tros desvios da vida sacerdotal como a atitushymais preocupado em arranjar alguns contos ~ssidades do pontifice do que em converter fo maximo e 0 triunfo pecuniario e sendo encais a Santa Pecunia pela qual 0 clero s avarentos perfumados que ricas aljubas

baixela de Duro dos papas a Roma sempre ~ao onde reina muita hipocrisia como a dao dos pecados Considerava essa pratica

a politica que prende um pecador e 0 abshy ao sagrado ao reduzir tudo a somas de os como a venda de medalhas de chumbo eo padre benze e fica-se livre dos crimes de N S da Conceicao da Aparecida por urn ofes a benzecao e venda de velas por dois

faO dos sacerdotes e sacristaes para vender

Viva Deus e a nossa algibeira ou ainda se

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OPSIS - Revista do Niese V2 N1 JanJun 2002

Deus escre-e direito por linhas tortas os Ap6stolos [os padres e seus veicushylos inclusive impressos] sao as linhas tortas da sua escritura (1Iachado de Assis 1958a187-9197205-6245249 1959a22)

Machado fustigan ainda os padres glutoes e os padres em mancebia Desta forma sua descrenca para com a Igreja advem de modo mais direto da percepciio dessas praticas desviantes viciadas e contraditorias 0 que nos ajushyda a compreender seu afastamento das atlyidades catolicas inclusive na hora da morte negando-se a receber os Ultimos sacramentos embora afirmasse que nao era absolutamente materialista Para alem desses aspectos podeshymos apontar inumedxeis recorrencias a doutrina crista em sua obra sen do varias as referencias a Biblia porem quase sempre em forma de parodia sobretudo ao Eclesiastes Desse modo a partir da obra sagrada utilizada e citada de modo deformado pela ironia buscando atingir efeito comIco e expressando uma leitura critica criou diYersas ctonicas e contos mantendo com aquela relacao intertextual direta Dcntre os contos perpassado~ pela tematica religiosa ou tecidos ao redor de suas pracicas destacam-se Missa do Gala Na arca A Igreja do Diabo Manuscrito de urn sacristao Neste ultishymo um sacristao perspicaz trata do amor progtessiyo do padre Teofilo pela prima EuHilia e ja nos hilarios A Igreja do Diabo e 0 Serrnao do Diabo faz critica bem humorada as ptaticas em-iesadas dos catolicos que dizendo-se cristaos e seguidores dessa doutrina comportam-se de modo totalmente oposto as Escrituras e as pregacoes

Em A Igreja do Diabo 0 demonio te-e a ideia de fundat sua igreja apesar de mesmo a sem esta os seus lucros )a serem continuos e granshydes mas senria-se humilhado por nao ter organizacao regras canones e ritushyais Estabelecendo-os seria Escritura contra Escritura breviario contra breviino e teria sua missa com vinho e pao a farta suas predicas bulas novenas e todo 0 demais aparelho eclesiastico para negar tudo 0 que as outras religioes de Maome de Lutero afirmam Decidido comunicou a ideia a Deus para desafia-lo e ao oitar a terra espalhou a doutrina nova prometendo delicias e glorias Clamava que as virtudes aceitas deveriam ser substituidas por outras naturais e legitimas como a soberba a luxuria a avareza a ira a gula e a inveja esta ultima a virtude principal Trocou tadas as nocoes fazendo amar as perversas e detestar as sas A frau de a venalidade o preconceito a hipocrisia a calunia 0 odio 0 desprezo 0 adultcno foram valorizados e seus opostos negados Fundada a igreja a doutrina propagou e 0 Diabo alcou brados de triunfo( Machado de Assis 1957d7-20)

Porem um dia longos an05 depois notou que seus fieis as escondishydas praticavam as antigas virtudes 0 que 0 deixou assombrado com as fraudes Pasmado nao nem comparou e nem concluiu do espetacushy10 presente alguma coisa analoga ao passado e voando ao ceu disse tudo a Deus que ouviu com complacencia e falou _ Que queres tu meu pobre

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r OPSIS - Revista de i

Diabo As capas de algodao tern agora franjas de seda como as de vdudo tiveram franjas de algodao Que queres tu E a eterna contradiltao humana(l1achado de 8S1S 1957 d20-2) Ou seja os catolicos e a igreja catoshylica com suas capas de veludo ocultavam por baio atitudes vis paninhos de algodao acabando por deitar as urtigas a Escritura divina praticando seu oposto e escondendo-se awls de mascaras Assim revelava seu ponto de vista sobre essa instituiltao da qual expunha mazelas profundas convicltao frouxa desyios e encenaltao

Como urn desdobramento desse conto e ainda no sentido de aponshytar que as atitudes dos cristaos estavam mats para levar ao inferno do que para ao ceu Machado produziu a cronica 0 Sermao do Diabo dizendo ser urn pedalto do evangelho do Diabo urn sermao da montanha amaneira de S Mateus que imita aquele da igreja de Deus Nesse a semelhanlta entre os dois evangelhos e destacada e a adimataltao ao ambiente carioca e julgamento de sua gente e direta ao dizer 1 E vendo 0 Diabo a grande multidao de pOYO subiu a urn monte pOl nome Corcovado e depois de se ter sentado vieram a ele as seus discipulos Em seguida expos seus mandamentos que sao a negaltao dos diyinos e glorificam as comportamentos tortos dos fluminenses oitocentistas ao atrehi-los diretamente a suas altoes e modo moderno de viTer (Machado de lssis 1959a 110-5)

Catolicismos habitos costumes rituais e valores

No entanto procurando conhecer melhor as praticas catolicas enshycontramos muitas igrejas e deparamos com os sons de seus sinos permeando regendo e encantando a vida urbana Sao templos diversos ricos e humildes como as matrizes do Sacramento da Gloria da Se e as igrejas de Sao Francisshyco de Paula da Candelaria de Sao Jose do Carmo da Lapa do Espirito de Santo Antonio dos Pobres de Sao Domingos da Lampadosa alem de oushytros dispersos par bairros distantes acrescidos de capelas particulares em reshysidencias antigas onde muita gente da vizinhanlta ouvia missa aos domingos(Machado de Assis 1956b165 1955e42 1955i94)

Para adentrar tais templos seguimos a sugestao de IIachado de obshyservar se existia alguma janela aberta que indicasse a presenlta de pessoas la dentro e encontramos urn grande numero de c6negos padres e sacristaes como 0 padre Melchior de Helena e infindos outros Dentre tal categoria social esse sacerdote recebe de I1achado grande simpatia sendo descrito como verdadeiro varao apostolico homem de sua Igreja e de seu Deus integro na fe constante na esperanlta ardente 11a caridade Mas como ja visto essa benevolencia do cronista nao se estende a muitos do clero sendo restrita a algumas figuras como urn velho padre geralmente ligadas ainshyfllncia do escritor quando fora coroinha(Machado de Assis 1955e42

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1957b25) Se encontramos muitos clerigos n(

afazeres e praticas que expressam e estao sacristias altares imagens de santos miSSl

sermoes orquestras confessionarios confis _ campainhas rosarios livros de Horas altar sen-ilt-os da llltima hora _ sacramento procissoes opas varas de patio fieis ajoeU esm01as para rea1izar missas aquelas e agr~ Virgem San tis sima mas retirando para si a tar a sacristia (Machado de Assis 1957e 1957f257 1959d16-21301)

Para a1em desses habitos costume conhecimento dessas experiencias atentarr contramos fieis em momentos especiais e em praticas ordinarias como missas do di prias dos rituais de inicialtao como 0 ba como aniversarios casamentos ou de sep Por meio das celebralt-oes rituais do batism rativa a crianlta era iniciada no catolicisffilt sendo ainda apresentada formalmente aOt

essa ocasiao gera1mente acontecia comerr baile(1hchado de Assis 1957c344 195 considerados pais e maes esplrituais da cri em urn momento difkil como a morte parentes queridos e proximos ou pessoaE sociedade as quais pudessem proporcion aos pais e afilhados como par serem influ da crianca ou a decidiam em caso de d1 1955e152 1955f12 1957c343 1959d4

44-5) No entanto a escolha do nome ni

inserida no sistema simb6lico imediato de do qual inclusive as yezes buscavamiddot personalidade e do futuro do indiv1c deslocamento importante pois embora escolhido os nomes dos santos ap6sto afuhados sua atitude adequava-se aprim as crianltas so se punham nomes de sa tradiltao cat6lica daquele tempo mas a~

Marias Catarinas nem Joanas ( ) entran o aspecto as pessoas (Machado de A

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m agora franjas de seda como as de veludo

Que queres tu E a eterna contradiltao 57d20-2) Ou seja os catolicos e a igreja catoshycultavam por baixo atitudes paninhos de

as urtigas a Escritura divina praticando seu mascaras Assim revelava seu ponto de vista unha mazelas profundas convicltao frouxa

to desse conto e ainda no sentido de aponshystavam mats para levar ao inferno do que para onica 0 Sermao do Diabo dizendo ser um urn sermao da montanha t maneira de S ja de Deus Nesse a semelhanlta entre os dois

ataltao ao ambiente carioca e julgamento de E venda 0 Diabo a grande multidao de povo orcovado e depois de se ter sentado vier am eguida expos seus mandamentos que sao a

os comportamentos tortos dos fluminenses asoes e modo moderno de

abitos costumes rituais e valores

conhecer melhor as praticas catolicas enshyamos com os sons de seus 8in05 permeando ana Sao templos diversos rlCOS e humildes cia Gloria da Se e as igrejas de Sao Francisshy

300 Jose do Carmo da Lapa do Espirito de 300 Domingos da Lampadosa alem de oushytes acrescidos de capelas particulares em reshy

ta gente da vizinhansa ouvia missa aos 1956b165 1955eJ2 1955i94)

os seguimos a sugestao de ivlachado de obshyerta que indicasse a presenlta de pessoas hi e numero de conegos padres e sacristaes

e infindos outros Dentre tal categoria Machado grande sunpatia sendo descrito

lico homem de sua IgreJa e de seu Deus lta ardente na caridade tlas como jii

ta nao se estende a muitos do clero sendo urn velho padre geralmente ligadas ainshy

coroinha(Machado de Lssis 1955eA2

OP5I5 - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

1957b25) Se encontramos muitos derigos nos templos deparamos com seus

afazeres e priticas que expressam e estao atreladas a fe dos cariocas como sacristias altares imagens de santos missas algumas cantadas agua benta sermoes orquestras confessionarios confissoes _ajustes de contas com Deus

- campainhas rosarios livros de Horas circunflexoes fieis saudando ao altar seniltos da ultima hora _ sacramentos aos moribundos santos oleos _ procissoes opas varas de palio fieis ajoelhados irmaos das almas pedindo esmolas para realizar missas aquelas e agradecendo em nome de Deus e da Virgem Santissima mas retirando para si as esp6rtulas maiores antes de volshytar a sacristia (Machado de Assis 1957e50 1957c6097-9 100-2234-5 1957f257 1959d16-21301)

Para alem desses habitos costumes e rituais buscando aprofundar 0

conhecimento dessas experiencias atentamos para as formas de vive-las Enshycontramos fieis em momentos especiais e marcantes de suas vidas e ainda em praticas ordinarias como missas do dia-a-dia e aquelas celebratiyas pr6shyprias dos rituais de inicialtao como 0 batismo e dos rituais de passagem como aniversarios casamentos ou de separaltao como as missas de morto Por meio das celebraltoes rituais do batismo e em seguida da festa comemoshyrativa a crianca era iniciada no catolicismo e inserida na comunidade crista~

sendo ainda apresentada formaImente aos parentes amigos e vizinhos Por essa ocasiao geraImente acontecia comemoraltao em casa como almolto ou baile(Machado de Assis 1957c344 1955a392) Os padrinhos escolhidos considerados pais e maes espirituais da crianlta tinham 0 dever de nao faltar em um momento dificil como a morte dos pais e eram amigos intimos parentes queridos e pr6ximos ou pessoas importantes para a familia ou na sociedade as quais pudessem proporcionar sentimento de honra e orgulho aos pais e afilhados como por serem influentes N ao raro escolhiam 0 nome da crianlta ou 0 decidiam em caso de duvida dos pais(Machado de Assis 1955e152 1955f12 1957c343 1959d41-2 1957g34-5 1957a61 1957e 44-5)

No entanto a escolha do nome nao se dava de forma aleatoria estando inserida no sistema simb6lico imediato de referencia da sociedade por meio do qual inclusive as vezes buscava-se determinar alguns traltos da personalidade e do futuro do individuo Nesse sentido ocorria um deslocamento importante pois embora Perpetua por yolta de 1871 tenha escolhido os nomes dos santos ap6stolos S Pedro e S Paulo para seus afilhados sua atitude adequava-se aprimeira metade do secuio quando ( ) as crianltas s6 se punham nomes de santos ou santas de acordo com a tradiltao cat6lica daquele tempo mas agora ja nao se queriam -nas nem lfarias Catarinas nem Joanas () entrando em outra onomastica para variar o aspecto as pessoas (Machado de Assis 1957g34-5 1955i51)

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Para alguns homens a primeira confissao ocorria por epoca da quare sma 0 que levava a que muitos rapazes se escondessem debaixo da cama do padre confessor ou pelos desvaos da casa ji a segunda era pOt ocasiao de casar A cerimonia de casamento era vista como momenta de santidade e de muita comoltao povoando sempre os 50nh05 das mulheres com festas brilhantes muitos carras vesrido branco flores de latanjeira grinalda padrinhos ilustres Porem em 1fachado sao poucas as cenas de casamento e geralmente so em fantasia talvez por ptivilegiar sobretudo nos romances a vida das classes altas au daquelas em ascensao em que 0 casamento era urn negocio politico ou economico e a devoltao assim como 0 sentimento relig1oso fragil entrando em declinio ainda maior frente a outras atividades da vida mundana(Machado de Assis 1955i95)

Por meados dos oltocentos novas formas de sociabilidade foram implementadas desassociando-se cada vez mais daquelas da religiosidade cashytolica Ate entao nos momentos de cumprir as obrigaroes religiosas relacishyonava-se com 0 mundo exterior rompendo 0 enclausuramento usual princishypalmente da mulher No entanto a nova sociabilidade configurava-se ao reshydor de inusitados espaltos tempos e formas de recreio 0 gosto pela vida externa creSCla enquanto os antigos hibitos e costumes marcados pela religishyosidade foram sendo desprezados e em muitos casos abandonados(Borges 2001 49-69) )Jessa transformaltao da sensibilidade coletiva ocorre uma inflexao dos sentimentos e valores relativos ao sagrado e urn avanlto das forshyltas seculares Essa alteraltao apontada por Machado pode sel percebida por meio de urn conjunto de inrucios como a retirada dos quadros de santos da decoraltao das casas mais abastadas sendo substituidos quase sempre por pequenas gravuras inglesas ao passo que nas casas mais pobres a Virshygem era muita cultuada possuindo lugar excelso na devoltao dos corashyltoes maviosos Nessas podia nao haver urn Cristo mas sempre [havia] uma imagem de Nossa Senhora(Machado de Assis 1955f93 1955j91 1957bl08)

A tibieza da fe e a escassez de padres ordenados indicam ainda a diminuiltao da inspiraltiio religiosa e a expansao da secularizaltao ao lado da mudanlta referida nos novos nomes atribuidos aos nascidos nao mais ligados ao imagmano catolico(Machado de Assis 1955j91 1955i51 1959b80 1057c263308 1957d280 1955e13) Assim muita coisa mudava nas familias como 0 uso antigo que urn dos rapazes fosse padre 0 que alterava a direshy

ltao dada it educaltao 0 sentido e 0 rumo a seguir pelas novas geraltoes que geralmente aprendiam as primeiras letras latim e doutrina em casa com urn desses clerigos Eles incuriam noltoes sentimentos e orienravam as escoshyIha5 forjavam vocaltoes religiosas em seus disdpulos ao falarem de supostas manifestatoes daquelas como ocorreu com Bentinho que tinha seus brinqueshydos sempre de igreja e adorava os oEicios divinos brincando mesmo

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b

OPSIS - Revista do

com Capitu de dizer missas e tomando doc estudos secundarios fossem feitos ainda corr filhos ja mais autonomos escolhiam profi economico que oscilayam entre a medicina c busca da vida religiosa que foi acusada em 1 falar da escassez de padres orden ados no sem capehies(Machado de Assis 1959b80)

Nesse contexto e sentido ate prot Por mais que 0 vinculo moral da promessa D Gloria mac de Bentinho descrita como por volta de 1847 dar a Deus 0 filho como infancia 0 compromisso foi rompido postel saida de substitui-Io por urn mocinho 61 da oferta para compensar a batina que aqt tando segundo 0 narrador urn cochilo da mento religioso era marcado por altoes e interiormente a incredulidade era assaz dift distraida Para dc nesse tempo operou u

fez do paganismo e do catolicismo urn 1957c263 308 1957d280 1955e13 19

11as nao era so a familia de Bentin mundo e suas praticas socio-economicas ne Entre Santos expoe situaltocs interessantes passo que urn padre conta certo ocorrido pc de S Francisco de Paula Ao vcr luz sob a p do que se tratava e ouvindo conyersa fez il me antigo de enterrar os mortos nas igrejas mortos ali enterrados No entanto viu que igreja que sairam dos seus nichos e que senl altares comentavam as oraltoes e pedidos d Francisco de Sales contou 0 caso de Sales trazia seu nome e tinha a mulher doente desesperanltado cia terra voltou-se para I salva-la Pediu que a salvasse operando o cera mas ao passo que estabelecia 0 comp moeda que 0 ex-yoto hayia de custar e ac nossos emil ave-marias(Machado de Assi

Nesse momento sobretudo entre

censao a deoltao ficaa Iwbretudo releg Carmo que costumaYa ir a missa aos don por fadiga por doenlta ou por estar chov 0 seu livro com as suas rczas marcadas (

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a primeira confissao ocorria por epoca da muitos rapazes se escondessem debaixo da

desvaos da casa ja a segunda era por de casamento era vista como momento de

povoando sempre os sonh05 das mulheres vestido branco flores de laranjeira grinalda

Machado sao poucas as cenas de casamento e par privilegiar sobretudo nos romances a em ascensao em que 0 casalnento era urn

e a devoltao assim como 0 sentimento LUumiddotv ainda maior frente a outras atividades

Assis 1955i95) novas formas de sociabilidade foram

cada vez mais daquelas da religiosidade cashyde cumprir as obrigaroes religiosas relacishyrompendo a enclausuramento usual princishya nova sociabilidade configurava-se ao reshy

e formas de recrelO 0 gosto pela vida habitos e costumes marcados pela religishy

e em muitos casos abandonados(Borges da sensibilidade cole tin ocorre uma

relacivos ao sagrado e um avanlto das forshy___niua par Machado pode ser percebida por

como a recirada dos quadros de santos da sendo subscituidos quase sempre por

passo que nas casas mais pobres a Virshylugar excelso na deTOltaO dos corashy

nao haver urn Cristo mas sempre [havia] (Machado de 55is 1955pound93 1955j91

de padres ordenados indicam ainda a e a expansao da secularizaltao ao lado da

atribuidos aos nascidos nao mais ligados de Assis 1955j91 1955i51 1959b80

A881m muita coisa mudava na8 familias rapazes Fosse padre 0 que alterava a direshyo rumo a seguir pelas novas geraltaes que

letras latim e doutrina em casa com noltoes sencimentos e orientavam as escoshyem seus discipulos ao falarem de supostas

com Bencinho que tinha seus brinqueshyos ofici08 divinos brincando mesmo

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

com Capitu de dizer missas e tamando doce por hoscia Porem embora os estudos secundarios fossem feitos ainda com base religiosa em seminarios os filhos ja mais autonomos escolhiam profissoes de maior prestigio socioshyeconomico que oscilavam entre a medicina e 0 direito influindo na queda da busca da vida religiosa que foi acusada em 1894 pelo ex-bispo da cidade ao falar da escassez de padres ordenados no () seminario e das paroquias sem capelaes(1hchado de Assis 1959b80)

Nesse contexto e sentido ate promessas celebres eram quebradas Por mais que 0 vinculo moral da promessa prendesse indissoluvelmente D Gloria mae de Bentinho descrita como devota e que havia prometido la par volta de 1847 dar a Deus 0 61ho como sacerdote casu nao morresse na infancia 0 compromisso foi rompido posteriormente guando se encontrou a saida de subscitui-lo por urn mocinho orfao qualquer como pagamento da oferta para compensar a batina que aquele deitou as urtigas represenshytan do segundo 0 narrador urn cochilo da fe Segundo l1achado 0 sentishymento religioso era marcado por lt1ltaes e expressaes exteriores vis to que interiormente a incredulidade era assaz difusa e a deToltao magra tibia e distraida Para ele nesse tempo operou uma grande fusao religioa que fez do paganismo e do catolicismo urn so credo(ilachado de Assis 1957c263 308 1957d280 1955e13 1958b328)

Mas nao era so a familia de Bentinho que em conformidacle com 0

mundo e suas praticas socio-economicas negociava com 0 sagrado () conto Entre Santos expae situaltoes interessantes em torno da devoltao humana ao passo que urn padre conta certo ocorrido por epoca que era capelao da igreja de S Francisco de Paula Ao ver luz sob a porta do templo buscou descobrir do que se tratava e ouvindo conversa fez inferencias que nos revel a 0 costushyme antigo de enterrar os mortos nas igrejas ao perguntar se seriam vozes dos mortos ali enterrados No entanto viu que era urn dialogo entre os santos da igreja que sairam dos seus nichos e que semados em forma humana em seus altares comentavam as oraltoes e pedidos dos fieis no dia Dentre outros Sao Francisco de Sales contou 0 caso de Sales urn velho usuario e avaro que trazia seu nome e tinha a mulher doente com um erisipela na perna que desesperanltado da terra voltou-se para Deus pois so um milagre podia salva-la Pediu que a salvasse operando 0 milagre oferecendo uma perna de cera mas ao passo que estabelecia 0 compromisso s6 via diante dos 0lh05 a moeda que 0 ex-voto havia de custar e acabou prometendo rezar mil padre nossos emil ave-marias(l1achado de Assis 1957h27-44)

Nesse momento sobretudo entre as camadas sociais altas e em asshycensao a devoltao ficaa sobretudo relegada aos antigos e velhos como D Carmo que costumava ir amissa aos domingos e que como outras damas por fadiga por doenlta ou por estar chovendo quando nao 0 fazia pegaya 0 seu livro com as suas rezas marcadas ( ) amesma hora acompanha-a

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a missa toda frente 0 seu altarzinho e seu Cnsto instalados no gabinete e ao acabar beijava a imagem Essa senhora de acordo com sua crenlta nao saia de casa sem a beijar primeiro como urn pedido de proteltao nem voltava scm faze-Io como a dar graltas como 0 fazia ao deitar e ao levantar(lIachado de Assis 1955i197)

A igreja era lugar de exposiltiio seja em missas ordinarias festas de santos missas de mono de seUmo dia de morte e por alma do finado ~i se ostentava opulencia e distimao social sendo objeto de curiosidade publica chamando a atenltao sabre si com carruagens lacaios roupas e esportulas vultosas como a fizera 0 casal Santos emergentes na sociedade na missa de defunto na igreja de S Domingos Essa paroquia era adequada amissa recondita e anonima urn ato sem releyo sem pesames nem lagrishymas como gueria a casal ao mandar dizer missa par alma de urn parente pobre falecido em lIarica scm que aquela repercutisse em seu meio social(Machado de Assis 1959d23) Mas se esse templo era das camadas pobres os ricos au nO05 ricos como a senhora Santos que se queixou que ali sujara 0 estido e enchera-se de pulgas preferiam a de S Francisco de Paula au a da Gloria localizadas em bairros ricos como Flamengo e que eram consideradas lirnpas li os endinheirados tinham como uso velho mandal dizer missas anivelsarias de datas obituarias e natalicias(Machado de Assis 1955i94-5)

lIuitos flequentavam a igreja mais por imposiltao social dos mais Yelhos por ser lugar de se mostlar e estabelecer relaltoes socialS do que por deoltao sentida A jovem Maria Olirnpia tinha a vocaltiio da vida exterior e sentia urn singular feicilto nas procissoes e nas missas pelo rumor e pela pompa Ia aigrcja conduzida pela cia que era religiosa e tinha gosto partishycular em mostrar-se e em namorar os rapazes Sua devoltiio magra escasshyseou ainda mais com a chegada do primeiro espetaculo e 0 primeiro baile Os saloes torna~am-se os novos lugares do encontro e do diertimenshyto e muitos ja entao confundiam as praticas leligiosas com as canseiras da vida e fUgiam delas(Machado de Assis 1959d23-4 28 1957d280 1955i95) Virgilia tambem representa a comportamento da nova mulher presa nas forshyltas seculares ao ser uma jovem senhora casada que possuia urn amante e mostraYa-se pouco religiosa nao ouvindo missa aos domingos ou so indo as igrejas em dia de festa e quando havia lugar vago em alguma tribushyna Alcm disso tachava de beatas aquelas que cram so religiosas a que aponta par outro lado a existencia de mulheres que se dedicayam em excesshyso as praticas religiosas Porem rezava todas as noites com fervor ou pelo menos com sono em sua alcova junto a seu oratoriozinho de jacaranda Ja as homens eram considerados em geral uns impios nao plsavam na Igleja a nao sel para batizar as filhos(tvlachado de Assis 1957e185 1957f257)

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OPSIS - Revista do

Mas se as individuos substituiam que com suas festas eram todo 0 recreio F tempos antigos ate mesmo a igreja nao e mundanizou-se Adotou os carrilhoes urn c~ tocavam peltas profanas chamando as fieis sinos das igrejas e produzindo uma or enfadonhas austeras graves religiosas ma~ pedaltos do Barbe Bleue da Bela Helen contrafaltao de Offenbach ou deg Amor te cassinos e no Alcazar teatro de opereta e Machado a missa da manhii e 0 fand se(Machado de -ssi5 1957d61 1959c16

Outlo costume do tempo dos vicemiddot processo de modemizaltao expressando p( mundo terreno era a de ingressar em confrlt tempos antigos ocorria por amor as cois pda busca de recompensas imediatas ac tomar materia publica a importimcia do 51

mediante a retribuiltoes como a instalaiio d da noticias para publicar em jornais sabre H(

da divulgaltao realizada pelo proprio bem do beneficio e da publicidade do nome e fi~ nas cogitaltoes publicas tornando~se se mandades de damas cram igualmente usa~ principalmente quando os jornais davam 1

os names das organizadoras 0 anuncio gI6ria(Machado de ssis 1957d26205~6

o mesmo ocorria em relacao as at de cunha religioso e assistencial erguidas fr da mendicidade As associaltoes de caridadt do muitas organizadas por senhoras que ~

nos aos famintos amoldavam-se ao mund cido religioso Por um lado adequada ao se as pedintes de esmola em portas das igre mais pobres com seus miseros vintenzinho prias almas pois por meio da caridade I almejando salvar especialmente a 5i mestnlt tado Por outro 0 beneficio alcanltado cor mundo material e nao espiritual como oc comissao de caridade de senhoras para pc com pessoas de destaque na sociedade q cima na sua busca de ascensao social AI~

i

l 1

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ho e seu Cristo instalados no gabinete e ao senhora de acordo com sua crenca nao saia

como urn pedido de protecao nem voltava gracas como 0 fazia ao deitar e ao 955i197)

posiao seja em missas ordinarias festas de setimo dia de morte e por alma do finado tincao social sendo objeto de curiosidade sobre si com carruagens lacaios roupas e a 0 casal Santos emergentes na sociedade na Domingos Essa par6guia era adequada

urn ato sem releyo sem nem higrishyandar dizer missa por alma de urn parente

em que aquela repercutisse em seu meio d23) Mas se esse templo era das camadas como a senhora Santos que se quelxou que e de pulgas preferiam a de S Francisco de s em bairros ricos como Flamengo e que

os endinheirados rinham como uso velho de datas obituanas e natalicias(Machado de

igreja mais por imposicao soclal dos mais r e estabelecer socials do que por

Olimpia cinha a vocaltao da vida exterior procissoes e nas missas pelo rumor e pela cia que era religiosa e cinha gosto parcishy

rar os rapazes Sua devoao magra escasshyda do primeiro espetaculo e 0 primeiro

novos lugares do encontro e do divercimenshyas praticas religiosas com as canseiras da

Assis 1959d23-f 28 1957d280 1955i95) portamento da nova mulher presa nas forshysenhora casada que possula urn amante e

nao ouvindo missa aos domingos ou s6 e quando havia lugar vago em alguma tribushytas aquelas que eram s6 religiosas 0 que de mulheres que se dedicavam em excesshy

rezava todas as noites com fervor ou pelo a junto a seu oratoriozinho de jacaranda em geral uns impios nao pisavam Hna

s f1lhos(Machado de Assis 1957e185

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

Mas se os individuos substituiam seus habitos sociais e religiosos que com suas festas eram todo 0 recreio publico e toda a arte musical em tempos antigos ate mesmo a igreja nao escapou da altao secularizante e mundanizou-se Adotou os carrilhoes um conjunto de sinos musicais que tocavam pe~as profanas chamando os fieis amissa subscituindo os pobres sinos das igrejas e produzindo uma orgia de notas nao de musicas enfadonhas austeras graves religiosas mas sons alegres e animados como pedaltos do Barbe Bleue da Bela Helena do Orfeu nos Infernos uma contrafaltao de Offenbach ou 0 Amor tern fogo tocados geralmente nos cassinos e no Alcazar teatro de opereta e da vida boemia Assim segundo Machado a missa da manhii e 0 fandango da noite aproximavamshyse(Ifachado de 1957d61 1959c168-9 1955d250 1959a68-9)

Outro costume do tempo dos vice-reis com significado alterado no processo de modernizaltao expressando pouca devoltao e grande apego ao mundo terreno era 0 de ingressar em confrarias e irmandades religiosas -Jos tempos antigos ocorria por amor as coisas pias mas no momento era peia busca de recompensas imediatas advindas do individual desejo de tomar materia publica a importancia do sujeito e seu espirito caritativo mediante a retribuicoes como a instalaao de retrato na sacriscia a emissao da nocicias para publicar em jornais sobre os beneficios que pracicava alem da divulgacao realizada peio pr6prio beneficiado Desta forma por meio do beneficio e da publicidade do nome e figura daquele que 0 fez entrava-se nas cogitaoes publicas tornando-se sempre Hlembrado~ Ivfesmo as 1rshymandades de damas eram igualmente usadas para dar brilho a suas juizas principalmente quando os jornais davam noticia minuciosa das festas com os nomes das organizadoras () anuncio nas folhas era um troco da gI6ria(Machado de Assis 1957d26205-6 1957e350 412-4 1956b44)

o mesmo ocorria em relaao as atividades associacivas ftlantr6picas de cunho religlOso e assistencial erguidas frente ao crescimento da pobreza e da mendicidade As associaltoes de caridade que aumentaram na cidade senshydo muitas orgamzadas por senhoras que coletavam donativos e reparciamshynos aos famintos amoldavam-se ao mundo profano e desviavam-se do senshytido religioso Por um lado adequada ao sentimenta cristao a mendicidade e os pedintes de esmola em portas das igrejas traziam as pessoas mesmo as mais pobres com seus miseros vintenzinhos a ocasiao de beneficiar suas pr6shyprias almas pois por meia da caridade punha-se em pracica 0 evangelho almejando salvar especialmente a S1 mesmo e nem tanto ao estranho necessishytado Par outro 0 beneficio alcamado com a caridade podia restringir-se ao mundo material e nao espiritual como ocorria com Sofia que usou de uma comissao de caridade de senhoras para p6r-se em evidencia e criar vfnculos com pessoas de destaque na sociedade que 1he dessem um empurriio para cima na sua busca de ascensao sociaL -lem disso nesse seculo utilitario e

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F

pnitico marcado pelo avanlto das forltas de secularizaltao e perda do espirishyto cristao ate mesmo a caridade tornava-se escriturada legalizada regulashymentada (Machado de Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192 1957e190-2 1959d301)

Junto ao povo 0 gosto das procissoes vinha de longe e estava bastante arraigado para os antigos uma tradiltao de infancia costume da primeira metade do seculo do tempo do rei e suas predileltoes confesshysadas por todas as yelhas carolices as quais seus contemporaneos choravam e pediam pelos tempos dos oratorios de pedta dos tetltos cantados das procissoes bem ordenadas das ladainhas atras do viatico das boas festas e dos bons trades da verdadeita fe e dos vetdadeiros filhos de Deus iias ja em 1865 essas ptocissoes classicas podiam dar ideia de tudo menos de urn culto serio e elevado pois ao lado dos anjinhos e andores floridos os homens iam em filas uns com tochas na mao outros com vara do palio disputadas pelos fieis pais dava uma distincao especial a quem a trazia Alguns iam dizendo pilh6rias aesquerda e adireita enquanto os assistentes comentavam as gracas jUTenis do anjo cantor que era sempre mQ(a feita Desta forma Machado julgava que essas procissoes e semelhantes praticas eram ridiculas nao podendo subsistir numa sociedade verdadeiramente telishygiosa pois uma folia mesmo para os mais sinceramente religiosos com as quais os sacerdotes serios nao deveriam conservarem cumplices( Mashychado de Assis 1958a101-2 Grifo meu)

Existia ainda a luta tradicional travada entre os diferentes templos com 0 unico objeto de primar uns sobre os outros no luxo das suas procisshysoes respectivas sendo essa luta por demais profana e manifestava-se por uma aculTIulacao de prata e ouro nos andores no mais numeroso concurso de irmaos e de anjinhos e outras coisas iguais Vivia-se 0 sagrado melo afolia comentari~s dos assistentes pilh6rias disputas e abusca do brilho e da distimao do que Machado duvidava muito que a divinshydade visse com bons olhos estes conflitos de primazia(Machado de Assis 1958alOl-2 1957c98-100 Grifo meu) No entanto se as procissoes eram filhas da tradiltao em 1865 algumas delas ja haviam sido suprimidas pelo process a de modernizaltao da igreja e para 0 cronista tudo fazia crer que as restantes tamb6m seriam Nesse sentido em 1893 avalia com certa melanshycalia a diferema entre uma procissao de Sao Sebastiao daquele ana e as de outrora dizendo Ordem numero pompa tudo 0 que havia quando era () menino tudo desapareceu(Machado de Assis 1958a101 1959a220)

Porem se 0 sagrado e 0 profano apresentavam-se quase sempre de maos dadas inclusive na esfera das praticas catolicas oficiais essa interpenetraltao tinha certos limites Em 1896 uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair em desftle por se denominar N ossa Senhora da Conceiltao De acordo com 0

cronista esse titulo pareCla esquisito mas se a intenltao eque salva a sociedashy

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OPSIS - Revista do

de vai para 0 ceu pais os autores da ideia tQS da Virgem e nao [tinham] 0 carnaval por desse poslcionamento 0 folhetinista acabou enfatizando que se tal socledade tinha igual g adotar denominaltao adequada e que na( Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos et gente mas sofriam tambem a altao dos novo se Eram de maior destaque a festa da Glol Reis de Sao Sebastiao do Espirito Santos e ( tinham lugar tanto a religiao com missa que F Deum quanto 0 recreio com fogos de artifi prendas Embora houvesse entre elas algum folhetinisra ao cabo de tudo [era] a mesml sao 0 que 0 leTaTa a lascimar que 0 fogo de da Penha [1eYavam] mats fi6is que 0 objeto es certo que todo caminho leva 11 Roma nao 0 i Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que t~

como tinham acabado muitas outras devoS meio recreativas Para ele 0 elemento estr mes com muita patinacao muita opereta m nossa populacao a rusticidade e 0 encanto d Assis 1958b121 1956b207 19S5g410 1955d147-8 Grifo meu)

~ festa do Espirito Santo igualmel contista em A Parasita Azul que transeOl Luzia Goias ao falar desse festejo aponta q que de todo se nao apagou 0 gosto dessas eras No entanto na Corte ainda persistia ( barracas Nao era diferente com a Festa de R 1864 Machado falava que a festa de S Joao tI fogueiras e baloes proibidos por postura mu obstante 0 ceticismo do tempo muita e m corter primelro que 0 povo [perdesse] 0

foguetear os tres santos em junho Porem ja Joao e tambern de Reis Sobre a ultima com popular perdurava no interior pois na c

anos e brotado em sua cinzas a arvore de t essas lTIudancas De Assis lamenta que os al ha nela de puetil para Sf) the deixar 0 que ha quem nem 15S0 fica esse perde 0 melhor ( sirnplorio e velho de noites abencoadas

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das for~as de secularizacao e perda do espirishytornava-se escriturada legalizada regulashy

Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192

das procissoes vinha de longe e estava os antigos uma tradi~ao de inGneia costume do tempo do rei e suas predileltoes confesshy

as quais seus contemporaneos choravam orat6rios de pedra dos terltos cantados das

ladainhas awis do yiatico das boas festas e fe e dos verdadeiros ftlhos de Deus 1as ja

sslcas podiam dar ideia de tudo menos de um ao lado dos anjinhos e andores floridos os

tochas na mao outros com vara do palio uma distin~ao especial a quem a trazia

aesquerda e adireita enquanto os assistentes do anjo cantor que era sempre molta feita que essas prociss()es e semelhantes pniticas

subsistir numa sociedade erdadeiramenterelishypara os mais sinceramente religiosos com as

nao deyeriam conservarem cumplices( 11ashyGrifo meu)

ttadlC1011al travada entre os diferentes templos uns sabre os outros no luxo das suas procisshy

luta por demais profana e manifestava-se e ouro nos andores no mais numeroso

e outras coisas iguais Viyia-se 0 sagrado dos assistentes pilherias disputas e abusca do que Machado duyidava muito que a divinshy

conflitos de primazia(Machado de Assis Grifo meu) No entanto se as procissoes eram

delas ja haviam sido suprimidas peIo igreja e para 0 cronista tudo fazia crer (lue as

sentido em 1893 avalia com certa melanshy)rOClssao de Sao Sebastiio daquele ana e as de nUmero pompa tudo 0 que havia quando era

(Machado de 1958a 101 1959a220) eo profano apresentavam-se quase sempre de das pciricas cat6licas oficiais essa interpenetraltao uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair

Senhora da Conceiltao De acordo com 0 mas se a inten~ao e que salva a sociedashy

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de vai para 0 ceu pais as autores da ideia [eram] com certeza fieis deyoshytos da Virgem e nao [tinham] 0 caman por obra do diabo Porem apesar desse posieionamento 0 folhetinista acabou por concordar com a proibi~ao enfatizando que se tal soeiedade tinha igual gosto as ideias profanas deveria ado tar denominacao adequada e que nao faltam titulos (1vIachado de Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos eram populares e reuniam muita gente mas sofriam tambem a a~ao dos novos tempos e perdiam seu interesshyse Eram de maior destaque a Festa da Gloria da Penha da Conceiltao de Reis de Sao Sebastiiio do Espirito Santos e de Sao Benedito Em tais festas tinham lugar tanto a religiao com missa que poderia ser cantada e ate um TeshyDeum quanto 0 recreio com fogos de artificio barracas corretos leilao de prendas Embora houvesse entre elas algumas diferenltas de acordo com 0

folhetinista ao cabo de tudo [era] a mesma alcgria e a mesmlssima divershysao 0 que 0 leYaa a lastimar que 0 fogo de artificio da Gkma e 0 garrafao cia Penha ~evayam] mais fieis que 0 objeto essencial da festiyidade POlS se e certo que todo caminho leva aRoma nao a e que todo caminho lea ao ceu Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que talvez essa Festa tin~sse findado como tinham acabado muitas outras devoltoes populare~ melO religlOsas meio recreatiYas Para 0 elemento estrangeiro transformou os costushymes com muita muita opereta muita COlsa peregnna que tirou it nossa populaltao a rusticidade e 0 encanto de outros tempos(~1achado de Assis 1958b121 1956b207 1 10 1959c225 103 1957c77 1955d147-8 Grifo meu)

A Festa do Espirito Santo igualmente desaparecia e em 1870 0 contista em A Parasita Azul que transcorre por olta de 1850 em Santa Luzia GOlaS ao falar desse aponta que vao rareando os lugares em que de todo se nao apagou 0 gosto dessas festas classicas resto de outras eras No entanto na Corte ainda persistia 0 habito de muito irem ver suas barracas Nao era diferente com a Festa de Reis e dos santos juninos Se em 1864 Machado falaya que a Festa de S Joao tomaya-se falsificada sem fogos fogueiras e baloes proibidos por postura municipal em 1878 dizla que nao obstante a cetiClsmo do tempo muita e muita dezena de anos n1aia] de correr primeiro que 0 povo [perdesse] os seus antigo amores como foguetear os tres santos em junho Porem ja em 1894 trata da morte de S Joao e tambem de Reis Sobre a ultima comenta que nao sabia se essa festa popular perdurava no interior pois na capital tinha morrido ha muitos anos e brotado em sua cinzas a arvore de Natal vinda da Europa Frente a essas mudanltas De Assis lamenta que os anos que passam tiram afe a que ha ncla de pueril para so Ihe deixar 0 que ha serio Para de triste daqucle a quem nem iS50 fica esse perde 0 melhor das recordaltoes de um tempo simpl6rio e velho de noites abenltoadas em que as crendices sas abrem

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todas as vdasAs consultas as sortes as ovos guardados em agua e outras sublimes ridicularias as quais via com respeito com simpatia e se alguma coisa a molestaa era por nao as saber ja praticar( lvlachado de Assis 1957e62 1955f46 1955a318 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241 1959b13-4 123-4)

Ifas se na cidade 0 vento dos tempos desfazia em lufadas de tuGo essas praticas populares anrigas arraigadas no imaginario coletivo no interior de era brisa igual e mansa que tudo esfolhava e dispersava devagar 8Sim em 1864 0 cronista tratou de urn morador de Viana descobridor de uma imagem de Santa Teresa que lacrimejava e supondo ser milagre pos em alorolto as credulos vianenses considerando procedente realizar exame do fato por uma comissao de eclesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao das festas do Born Jesus em Pirapora que reuniam anualmente urn numero extraordinario e crescente de romeiros calculados naquele ana em 8000 pessoas J a em 1873 escreyeu sabre uma senhora que enlouqueceu quando depois de longa seca pediu chua enterrando uma imagem de Santo Antonio no rnato e alcanltou 0 pedido Porem como a chuva abundante nao cessava ao contrario 0 aguaceiro ia a mais matando inclusive animais yoltou ao buraco por acreditar que a preclpitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas nao 0 encontrou entrando a supor que os males derivavam da altao que praticara 0 cronista comentando 0 fato de Santo Anttmio gozar entre seus deyotos do exotico privilegio de nao conceder nenhuma gralta senao enterrado ou metido num poco so operando milagres a troco da liberdade consideraya que uma senhora religtosa fizera-se supersticiosa e que quando a fe chega a este ponto esta )a muito alem das fronteiras da superstiltao deixando seu praticante sem nenhuma das grandes consolaltoes da fe trazendo-lhc 0 desespero e a loucura Ainda nesse universo ja em 1876 trata da existenCla de duas mulheres santas e milagrosas uma que apareceu na Bahia em torno da qual formou romarias dos seus devotos e outra velha milagrosa que diziam curar doewas incuraveis com ervas misteriosas(Machado de Assis 1955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2)

Desta maneira as esferas do sagrado e do profano da fe da devoltao e do recreio estaam bastante imbricadas no que concerne as praticas dos catolicos havendo uma circulaltao e influencia reciproca entre as instancias das cerimonias e rituais oficiais e sua recnacao pelos leigos entre 0 divino e a folia entre 0 cuita e a festa Os momentos e lugares em que essas aspiracoes se concretizavam em praticas sociais serviam tambem para promover a interacao dos indivlduos lvlas deixando esse sobrevoo sobre a sociedade carioca e focalizando n0550 olhar num segmento especifico desta como na comunidade negra podemos perceber outros aspectos da cultura religiosa carioca Dessa cultura hibrida amalgamada no territorio fluminense observamos primeiramente as pratica ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revi$fa do

as quais de forma geral sao vistos como

respeitados N esse meio social existiam aqudes in

uma preta y~lha do conto 0 Escrivao Co ajoe1hada diante do altar de S Bernardo co do pedic-lhe alguma coisa se nao eque lhe recebido ate que acabou beijando a cruz tou-se e saiu Outros aparecem como detel onais e seus transmissores sendo rezadore senhores ou sabedores de promessas celebre sas ou subir de joelhos a ladeira da Glc Santa(Machado de Assis 19551229-30 1 esta presente no uniYerso das atividades cal do preto elho de Casa Velha que emb africanas era sineiro mas nao fazla mats q missa aos domingos 19ualmente nesse 0

sineiro da Gloria (lue de escrao ficou li~ seculo aquda torre regendo a paroquia e c( picava por casamentos nascimentos batiza amarela 0 calera-morbus os partidos qUI deles ~ pela guerra do Paraguai pelos mo livre das escravas a aboliltao a Republica plt se Tudo conforme a ordem(JIachado de

Outras Ofertas e tensoes Feiti~

Espiritism

Ja outros negros vclhos aparecem mais circunscritas senda depositarios de p( varios elementos que expressam traltas cultu canas 0 negros produziram com suas ling des cantos e batuques uma ruptura com recorrerem mesmo que na clandestinidade uma cultura negra brasileira a qual recorriar contexto embora inseridos em universo simi de crencas praticas e -isoes de mundo al~ tica usada no cotidiano por bran cos negro cam associalt6es ao cultos africanos nos ql parentesco permeiam os rdacionamentos s mente ligados Desta forma alguns pretos sendo vistos como bonciosos humildes g~ Assis 1955d392 1957c279)

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s sortes os ovos guardados em agua e outras

via com respeito com simpatia e se alguma ao as saber ja praticar( Machado de Assis 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241

vento dos tempos desfazia em lufadas de anrigas arraigadas no imaginario coletivo no nsa que tudo esfolhava e dispersava devagar

tou de urn marador de Viana deseobridor de que lacrimejava e supondo ser milagre pas ses considerando procedente realizar exame clesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao apora que reuniam anuahnente urn numero

romeiros calculados naquele ana em 8000 sobre uma senhora que enlouqueceu quando a enterrando uma imagem de Santo Antonio

Porem como a chuva abundante nao cessava mais matando inclusiye animais yoltou ao cipitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas supor que os males derivavam da altao que do 0 fa to de Santo Antonio gozar entre seus 0 de nao conceder nenhuma gralta senao s6 operando milagres a troeo da liberdade

giosa fizera-se supersticiosa e que quando muito alem das fronteiras da superstiltao nenhuma das grandes consolaltoes da fe loucura Ainda nesse universo ja em 1876 eres santas e milagrosas uma que apareceu na romarias dos seus devotos e outra velha

urar doenltas incuraveis com ervas 955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2) s do sagrado e do profano da fe da devoltao

bricadas no que concerne as praticas dos o e influencia redproca entre as ins tlmcias das a recrialtao pelas leigos entre 0 div1110 e a

omentos e lugares em que essas aspiraltoes sociais serviam tambem para promQyer a

deixando esse sobrevoo sobre a sociedade num segmento espedfico desta como na

ceber outros aspectos da cultura religiosa a amalgamada no territorio flumlnense aticas ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revista do Niese V2 N J JanJun 2002

os quais de forma geral sao vistos como conhecedores dela e por 1880 re8peitados

Nesse meio social ex1stiam aqueles inseridos na tradiltao catolica como uma preta v~lha do conto 0 Escrivao Coimbra que Camilo viu na igreja ajoelhada diante do altar de S Bernardo com urn rosario na mao parecenshydo pedir-lhe alguma coisa se nao e que the pagava em oraltoes 0 beneficio ia recebido ate que acabou beijando a cruz do rosario persignou-se levanshytou-se e saiu Outros aparecem como detentores de conhecimentos tradicishyonais e seus transmissores sendo rezadores que pediam guard a para seus senhores ou sabedores de promessas celebres como mandar dizer cern misshysas au subir de joelhos a ladeira da Gloria para ouvir uma ir a Terra Santa(Machado de Assis 19551229-30 1957c71177279) 0 negro idoso esta presente no universo das atividades catolicas como sineiros a exemplo do preto velho de Casa Velha que embora muito atrelado as tradiltoes africanas era sineiro mas nao fazia mais que tocar 0 sino da capela para a missa aos domingos Igualmente nesse ofieio IvIachado destaca Joao 0 sineiro da Gloria que de escravo ficou livre governando por quase meio seculo aquela torre regendo a par6quia e contemplando 0 mundo de 11 Reshypicava por casamentos nascimentos batizados mortes Dobrava pela febre amarela 0 colera-morbus os partidos que subiam ou cafam sem saber deles _ pela guerra do Paraguai pelos mortos e pelas vitorias peIo ventre livre das escravas a aboliltao a Republica pelo imperio_ se 0 imperio tornasshyse Tudo con[orme a ordem(tviachado de -5S1S 1956b193-4 1957b431-3)

Outras Ofertas e tensoes Feiti~arias Adivinha~oes e

Espiritismo

Ja outtos negros velhos aparecem atrelados as tradiltoes ancestrais mals circunscritas sendo depositarios de poderes de proteltao e guardioes de varios elementos que expressam traltos cultorals singulares das socledades afrishycanas 0 negtos produziram com suas linguas danltas folguedos sonoridashydes cantos e batoques uma ruptura com a -isao de mundo ocidental ao recorrerem mesmo que na clandestinidade a seus ritos seus deuses criando uma cultura negra brasileira a qual reeorriam alguns de seus senhores Em tal contexto embora insetidos em universo simb6lico marcado pda multiplicidade de crenltas praticas e visoes de mundo alguns aspectos da expressao lingiiisshyrica usada no cotidiano por brancos negros e mestiltos livres e cativos indishycam associaltoes ao cuhos africanos nos quais a ideia de familia e de laltos de parentesco permeiam os relacionamentos socialS e religiosos que sao intimashymente ligados Desta forma alguns pretos velhos eram ehamados de Pai sendo vistos como bondosos humildes generosos e paternais( Machado de Assis 1955d392 1957c279)

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Outros pretos velhos de modo mais dire to traziam conhecimentos ancestrais produzindo rituals que funcionavam como urn feitiqo protetor as vezes acendendo velas tocando marimba cantarolando em alguns instanshytes baixinho umas ozes de Africa cantilenas alegres guerreiras entusiasshytas em outros cantigas falando de santo de trabalhar de comer 0

que remete as praticas das oferendas e ao principio do candomble de existenshycia de forqas vitais e sagradas que perpassam todos os aspectos da vida mashyterial e cotidiana como as tarefas as formas hidicas como a musica a danqa o canto 0 gesto Assim tanto Raimundo de laid Garcia empertigava 0

corpo dando aos quadris e ao tronco 0 movimento de suas danqas africashynas quanto 0 peeto velho de Casa Velha que canta-a Calumga mussanga monandengue dando ao corpo umas sacudidelas para acompanhar a toshyada africana alem de recorrer as tradiltoes orais ao contar historias muito compridas e sem sentido algum para os brancos pOlS forjadas e inseridas noutro universo simbolico da maioria deles ignorado Desta forma essas manifestaltoes mantinham uma memoria reveladora de matrizes africanas que era alimentada pela danqa pela paIavra pelos gestos ou pelos objetos e oushytros vekulos de expressao e comunicaqao(Machado de Assis 1955h1114 1956b193-4 1957b432-3)

No entanto outros aspectos expressam ainda a religiosidade no universo de uma cultura afro-amerindio-brasileira na obra machadiana como a feitiqaria Num momento em que em nome da civilizaltao da ciencia e da razao os intelectuais e as autoridades medicas policicas e policiais voltaramshyse contra praticas ariadas denominadas ~fnericamente de feitisaria lIachashydo abordou essa questao de modo bastante proprio Nao associou tais pratishyeas ao universo socio-cultural espedflco dos negros como faziam outros jorshynalistas e tampouco os apreciou a priori de modo negativo e condenatorio Contrap6s-se ao conteudo de muitas notkias divulgadas na imprensa nas quais 0 negro era 0 bruxeiro 0 feiticeiro violento e barbaro com a figura de Raimundo que produzia urn feitiqo protetor a seu senhor afastando da imagem do preto que fazia feitico male fico para seus proprietarios(Schwarcz 1987125-8 Machado de Assis 1955h10)

Ao tratar da batalha contra os antigos habitos religiosos tradicionais da gentes em 1893 0 cronista anunciava ter medo do c6digo penal de 1890 no qual havia urn artigo que castiga duramente as pessoas que advinham 0

futuro tao duramente como as que aplicam drogas para excitar odio ou amor para fascinar e subjugar a credulidade publica Com base nesse as autoridades recolhiam adetenqao curandeiros e feiticeiras levan do as ferrashymentas desses ofieios ( ) incluidos no e6digo como delitos como aves mortas pernas de ceroula saquinhos com feijao arroz farinha sal altucar canjica penas e cabeltas de frangos usados na busca de estabelecer uma alianshyca com 0 sobrenatural a partir da aciio de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do

vivos deuses e homens(lIachado de Assis Assis a feitiqaria era alga natural do homen tivas alem de ser urn ofkio que garancia r fur tar e matar para sobreviver e infring1r 0

que nao falam de feitiltaria mas de furto doente acreditar na feiticaria e por julgar q soais que determinam tudo neste mundo I

acudir a feitiltaria considerando emao inee go penal como deli to c prender senhoras s com os seus olhos e com seus demais obj 1959b308-11 )

fachado rarefez 0 clima hostil de dos seus agentes nao as associando aos neg te que esse elbo costume de buscar nas fei ros quase sempre mesciltos _caboclos e eab agruras nao so se restringia ao pon) Muita dade recorriam aos adiyinhos e curandeiros erva como por meio dc rezas 0 eurand mazelas que devastaam a cidade como eOolltao de defuntos de espiritos difere de ler como as adivinhas mandando e curandeiro Tobias falava em prosa scm 0

cas ate ser preso com suag bugigangas e galo pes de galinha secas medalhas pohcoJ de raia incluidos no aparato instrumental sis 1956c248-9 267-8 19S5d426-7)

Buscar os adivinhos e feiciceiros era ricas ainda que nesta muito preconceitos vando muitas ezes a consultas escondidas redor dc uma caboc1a muito conhecida do adivinha era grande e segundo 0 narrador da sociedade falavam dela a serio e havia ta um Juiz municipal cuja nomeaqao foi ar era muito falada na cidade e reinava Ii n(

merosa que vinha de muito mcses scndo queza da adivinha Toda a gcnte falan e assunto da cidade atribuiam-lhe um pode sortes achados casamento Afirmavam e 0 que vifia a scr Para 0 poo parccia muitas as noticias sobre seus feitos e ha-ia ~ soas que tinham perdido e achado joias e esc ~- polkia mesma quando nao acabaYl1 de

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de modo mais dire to traziam conhecimentos

tronco 0

funcionavam como urn feitio protetor

marimba cantarolando em alguns instanshy cantilenas alegres guerreiras entusiasshy

de santo de trabalhar de comer 0

e ao principio do candomble de existenshyperpassam todos os aspectos da vida mashy

as formas ludicas como a musica a danca Raimundo de laid Garcia empertigava 0

movimento de suas dancas africashyVelha que cantava Calumga ~ussanga umas sacudidelas para acompanhar a to-

as tradicoes orais ao contar historias muito para os brancos pois foqadas e inseridas

maioria deles ignorado Desta forma essas memoria reveladora de matrizes africanas que palavra pelos gestos ou pelos objetos e oushy

~uluIlltaya()(ilachado de Assis 1955h1114

expressam ainda a religiosidade no merind()-trastllra na obra machadiana como

que em nome da ciyilizacao da ciencia e da medicas politicas e policiais oltaramshy

1955hlO)

loolinadls genericamente de feiticariatvfachashybastante proprio Nao associou tais pratishy

_middot~neIflr dos negros como faziam outros jorshy

apriori de modo negativo e condenatorio muitas noticias divulgadas na imprensa nas o feiticeiro violemo e barbaro com a figura

feitico protetor a seu senhor afastando da maletico para seus proprietarios(Schwarcz

os antigos habitos religiosos tradicionais anunciava ter medo do codigo penal de 1890

duramente as pessoas que advinham 0

as que aplicam drogas para excitar odio ou a credulidade publica Com base nesse as curandeiros e feiticeiras levando as ferrashy

lCitllid()s no codigo como deliros como aves

com feijao arroz fartnha sal acucar usados na busca de estabelecer uma alianshy

da alao de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

vivos deuses e homens(Machado de Assis 1959a288 1959b308) Para De Assis a feiticaria era algo natural do homem vista em varias tribos primishytivas alemde ser urn oficio que garantia renda a muitos impedindo-os de furtar e matar para sobreviver e infringir os mandamentos da lei de Deus que nao falam de feiticaria mas de furto Ironicamente diz que por estar

doente acreditar na feiticaria e por julgar que sao sempre os l11teresses pesshysoals que determinam tudo neste mundo estava com grandes desejos de acudir afeiticaria considerando entao incorreto incluir a feiticaria no codishygo penal como delito e prender senhoras so porque fecham 0 corpo alhelO com os seus olhos e com seus demais objetos de culto(Machado de ASS1S

195308-11) Machado rarefez 0 clima hostil de desqualificacao dessas praticas e

dos seus agentes nao as associando aos negros e enfatizando incansavelmenshyte que esse velho costume de buscar nas feiticeiras adivinhas e curandeishy

ros quase sempre mesticos _caboclos e caboclas _ auxilio as imluietacoes e agruras nao s6 se restringia ao povo Tfuitas pessoas de posiltao na SOC1eshydade recorriam aos adi-inhos e curandeiros e os ultimos curavam tanto com ervas como por meio de rezas 0 curandeiro Nascimento curaa muitas mazelas que devastayam a cidade como barriga dagua com passes de evocacao de defuntos de espiritos diferentes ou arrancava dentes alem de Ie~ como as adivinhas mandando com tais e tais palaTinhas Ja 0

curandeiro Tobias falava em prosa sem 0 saber curaa em Hnguas classishycas ate ser preso com suas bugigangas e drogas tais como esporoes de galo pes de galinha secos medalhas polvora e ate urn chicote feito de rabo de raia inc1uidos no aparato instJumental de seus ritualS (ilachado de Asshysis 1956c248-9 267-8 1955d426-7)

Buscar os adivinhos e feiticeiros era costume presente entre as classes ricas ainda que nestas muitos preconceitos contra tais praticas existissem leshyvan do muitas vezes a consultas escondidas como ocorre em Esau e Jaco ao redor de uma cabocla muito conhecida do Ilorro do Castelo lt fama des sa adivinha era grande e segundo 0 narrador muira gente boa Ja ia pessoas da sociedade fala am dela a serio e havia um caso recente de pessoa dis tinshy

ta urn juiz municipal cuja nomeacao foi anul1ciada pela cabocla A caboc1a era muito falada na cidade e reinava la no morro possuindo freguesia nushymerosa que vtnha de muttos meses sendo sinal certo da videncia e da franshyqueza da adivinha Toda a gente fahlYa entao da cabocla do Castelo era 0

assunto da cidade atribuiam-lhe um poder tntlnito uma serie de milagres sortes achados casamentos AfirmaalU que cia adivinhaya tudo 0 que era eo que iria a ser Para 0 povo parecia que era mandada de Deus Eram muitas as noticias sobte seus feiros e hayia gente que dizla que conheC1a pe5shysoas que tinham perdido e achado joias e escraos De acordo com 0 narrador A policia mesma quando nao acabaa de apanhar um criminoso ia ao Casshy

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tela falar acabocla e des cia sabendo por i5S0 eque nao a botava para fora como os invejasos andavam a pedir A caboda explicava sonhos e pensashymentos curava quebranto(Machado de Assis 1959d43-4)

Segundo Aires tal costume era velho e velhissimo e no interior da casa simples nao havia nada que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshynhum petrecho simbalico nenhum bicho empalhado esqueleto ou desenho de aleiJoes Quando muito urn registro da [festa de Nossa senhora da ] Conshy

colado a parede podia lembrar misterio mas nao metia medo A cabocla e descrita com simpatia e 0 ritual sem afetacao Era uma criaturinha leve e breve ( ) corpo airoso com urn raminho de arruda nos cabelos 0

que ja the dava urn certo ar de sacerdotisa embora seu misterio estivesse mesmo era nos olhos agudos e compridos que entravam peIo consulente revoh-endo-Ihe 0 coracao ao tempo que interrogava Em transe de posse de retratos e cabelos de alguem ausente com urn cigarro acesso ao som de uma viola e de cantigas do sertao do Norte murmuradas por urn velho caboclo entrava a dizer sobre as coisas futuras ate que por fun 0 fregues se alegre e rico tirava uma nota de cinquenta mil-reis quando 0 preco do costume era cinco ezes menos arrecadaYa seus objetos e saia (Machado de Assis 1959d 7shy16) Essa cabocla com origem no norte do pais assim como outros caboclos curandeiros perseguidos pela policia remete apresenca dos caboclos no unishyverso das pniticas religiosas brasileiras que sendo figura mestica esta vinculashyda a nossos ancestrais nativos os indios donos da terra e ligados anatureza no tradicao dos cultos afro-brasileiros

No en tanto no campo das batalhas religiosas tais praticas tiveram outros opositores tal como os adeptos do nascente espiritismo que contagishyados peIo espirito positivo~cientificista do momenlO na busca de credibilidade ptlblica e de converter fieis incutindo-lhes seus pressupostos diziam possuir doutrina regida por leis cientificas ao querer excluir qualshyquer maculf[ de seita e julgavam-se sabedores das verdadeiras luzes do mundo e de verdades eternas Desta forma um iniciado nessa religiao defendia uma consulta espirita e na~ a caboda do Castelo por mais que ela fosse celebre Recorrer a ela seria imitar as crendices da gente reles e s6 ocorreria ate enquanto a policia nao pusesse cobro ao escandalo J a numa consulta espirita algum espirito podia [dizer] a verdade em vez de uma adivinha de farsa Para urn medium espirita enfiado em larga camisola de seda e usando toda a terminologia espirita assomada de casos fenomeshynos misterios testemunhos atestados verbais e escritos a cabocla devia ser deixada afe das senhoras pois eram delas crencas da meninice(Machado de Assis 1959d79113843-6646770 1957h10-1)

Cabe aqui ressaltar que nesta obra Esau e Jac6 a qual trata desses variados aspectos espirituais acima apontados advindos de tradicoes culturais e religiosas diversas Machado sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religi~

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OPSIS - Revista do

oso expondo a imbricacao das praticas ori catolicismo e 0 confronto com 0 espiritismc bases do que seria posteriormente denomin nomes dados as pessoas podem predestina ligacao entre 0 fato dos filhos do casal Sanl quais a cabocla disse terem brigado no ventr des entre estes porque os dois apostolos do garam assim como Esau e Jaco figuras do brigado por causa da primogenitura

Porem lIachado nilO recorre ao eSI conto Uma visita de Alcibiades 0 desemba S1caO juntamente com Santos aCllna citado essa doutrina propagaya ao ler Plutarco fun litava envoher a imaginaltao numa especie vel as evocacoes mentais transportou-se pa de Alcibiades ate que ao terminar de [umar de subilO pensou qual seria a impressiio daqu ario Desta feita enfatizando (lue era urn 1

podendo mesmo dizer que vlvia cornia dor cafe e esperava morrer na fe de Alan Kard os sistemas sao pura niilidades tinha adota sim sendo espiritista evocou lcibiades a c fez rapido aproximando duas civilizacoes impalpavel e sim urn homem de carne e mente a sua frente entrando a conersar sob o grego empalideceu cambaleou e caiu r desembargador mandou~o para 0 necroteno

o espiritismo sen-iu como assunto nas quais quasc sempre ri brinca e ironiza sc cando as vezes compreende-los por mais laquo

correndo a estrategias comicas Desta forma situacoes nebulosas como uma que exigia p teoria de Newton sugerc consultar 0 propri vez que nao entendia nada de astronomia Er brasileiros acabavam de dar um golpe de m urn medium com fama de ser prodigioso e sileira nomeado uma comissao para estudar nao valia a fama e que os trabalhos ficararr Europa e outro paises mas que 0 problen estao sujeitas a esse eclipses e nao estao Fora i5S0 a Federacao lamentaa que diante mular os fenomenos que obtem nas condie

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_UJUUV por 1SS0 e que nao a botava para fora a pedir A caboda explicava sonhos e pensashy

UVll1Ul1lU de Assis 1959d43-4)

vmiddotOLU1l1C era velho e velhissimo e no interior da que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshy

UUilU bicho empalhado esqueleto ou desenho registro da [Festa de Nossa senhora da 1Conshylembrar misterio mas nao metia medo A eo ritual sem afetas-ao Era uma crtaturinha

com urn raminho de arruda nos cabelos 0

sacerdotisa embora seu misterio estivesse e compridos que entravam pelo consulente

tempo que interrogava Em transe de posse de ausente com urn cigarro aces so ao som de uma do Norte murmuradas por urn velho cabodo

futuras ate que por fim 0 fregues se alegre ~lu-uLa mil-reis quando 0 pres-o do costume era

seus objetos e saia(Machado de Assis 1959d7shyno norte do pais assim como outros cabodos

polleia remete a presens-a dos cabodos no unishyIIJ[l1~JlC1Jl1 que sendo Figura mestis-a esta vlnculashy

os indios donas da terra e ligados anatureza

das batalhas religiosas tais praticas tiveram adeptos do nascente espiritismo que contagishy

__rpntificista do momento na busca de nrprtpr fieis incutindo-Ihes seus pressupostos

por leis cientificas ao querer exduir qualshysabcdorcs das yerdadeiras luzes do

Desta forma urn iniciado nessa religiao

rfu~ ~clt5u-(r(l1H-gn1ru lJ(YL nril ljlft1hgt

seria imitar as crendices da gente reles e so nao pusesse cobro ao esdindalo Ja numa

podia [dizer] a verdade em vez de uma Pltd11lIl espirita enfiado em Iarga camisola de

espirita assomada de fenomeshynauo verbais e escritos a cabocla devia ser

eram delas crenltas da meninice(Machado 770 1957hl0-1)

nesta obra Esau e Jaco a qual trata desses apontados advindos de tradiltoes culturais

sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religishy

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

oso expondo a imbricaltao das praticas origin arias dos amedndios com 0

catohcismo e 0 confronto com 0 espiritismo que amalgamados crtavam as bases do que seria posteriormente denominado de umbanda Aponta que os nomes dados as pessoas podem predestinar seus caminhos ao estabelecer ligaltao entre 0 fato dos filhos do casal Santos chamarem Pedro e Paulo os quais a cabocla disse terem brigado no ventre da mae e indicando as rivalidashydes entre estes porque os dois apostolos do Novo Testamento tam bern brishygaram assim como Esau e Jac6 figuras do Velho Testamento tinham ainda brigado por causa da primogenitura

Porcm Machado nao recorre ao espirttismo apenas nessa obra No conto Uma visita de Alcibades 0 desembargador Alvares que por sua poshysiltao juntamente com Santos acima citado indica 0 meio abastado em que essa doutrina propagaa ao ler Pluta reo fumando um charuto que possibishylitava envolver a imaginas-ao numa especie de nimbo extremamente favorashyvel as evocaltoes mentais transportou-se para a antiga Atenas pois lia a vida de Alcibiades ate que ao terminar de fumar voltou aos tempos modernos e de subito pensou qual seria a impressao daquele ateniense sobre n0550 vestushyano Desta feita enfatizando que era urn tanto espiritista ( ) ate muito podendo mesmo dizer que livia comia dormia passeava conversava bebia cafe e esperava morrer na fe de Alan Kardec pois convencido que todos os sistemas sao pura niilidades tinha adotado 0 mais jovial de todos Asshysim sendo espiritista evocou Alcibiades a comparecer em sua casa e esse 0

fez tapida apraximando duas civilizayoes Mas esse nao era uma sombra impalpavel e sim um homem de carne e ossos que se sentou benevalashymente a sua frente entrando a conversar sobre 0 assunto de interesse ate que o grego empalideceu cambaleou e caiu no chao Dian te do cadaver a desembargador mandou-o para 0 necroterio(Machado de Assis 1956a203-7)

o espiritismo serviu como assunto em varias cronicas machadianas

nas qua~s quasc selnpre ri brinca e lroniza seus enunciados e principios busshycando as vezes compreende-Ios por mais estranheza que provocassem reshyoottendo a estrateglaS comicas Desta forma ha momentos em que diante de situa~oes nebulosas como uma que exigia para sua solus-ao conheCImento da teoria de Newton sugere consultar 0 proprio por meio do espiritismo uma vez ~ue nao entendia nada de astronomia Em outro comenta que os espiritas brasilerros acabavam de dar um golpe de mestre quando apareceu na cidade ~medium com fama de ser prodigioso e tendo a FederaS-ao Espirita Brashysiletra nomeado uma comissao para estudar os fenomenos concluiu que de nao valia a fama e que as trabalhos ficatam abaixo do que se conseguia na Eur~pa e ~utros paises mas que 0 problema estava nas mediunidades que estao Su)eHas a esses eclipses e nao estao senrilmente anossa dispasis-ao Fora 1550 a Federaltao lamentava que diante de tudo a medium huscasse 5ishymular os fenomenos que obtem nas condis-oes normais Segundo Machashy

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do chistosamente 0 medium nao s6 foi ( ) apenas mmtmum mas ate procurou embasar a Federasao(lvlachado de Assis 1958b177 1956c123)

As estrategtas e argumentos usados pelos propagadores da nova doushytrina geralmente expostos nas conferencias promovidas pela Federaltao ou publicados na Uniao Espirita na busca de adeptos e de convemles tambem nao escaparam aeritica machadiana principalmente devido a sua indisposisao a tudo que se propagava como sendo verdade unica e absoluta levando-o a destilar sua eostumeira ironia em varios eseritos sobre essa doutrina e suas praticas Dentre eles destaeamos a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima verdadeira e definitiva doutrina e que substituiria todas as religioes do passashydo 0 eronista reeorre sempre a essa proposiltao quando depara com fatos obscuros e irnpossiveis de destrinltar ocorridos na cidade buscando solucionashylos usando de carnavalizaltoes que acabam por ridieulizar toda e qualquer noltao de -erdade ou de tal pretensao Isso aconteee nao s6 ao que diz respeishyto a essa doutrina A artimanha para conquistar simpatias e fieis de divulgar Iista de pessoas eminentes da Europa que acreditavam no espiritismo foi por ele tambern censurada pois no seu dizer tudo ocorria de forma como se as pessoas devessem crer por crer em tudo aquilo que na Europa e acreditado(~1achado de Assis 1955b297-9 195188)

Ao redor do principio da encarnaltao e reencarnaltao Machado fez yarias elucubraltoes supondo situaltoes tratadas de forma humoristica as quais contribuiam para difundir alguns de seus principios Assim ao vislumbrar uma certa promiscuidade geral dos desencarnados divulga 0 principio de que 0 espirito pode reencarnar inclusive na mesma familia sendo viivel que um homem pudesse ter uma ftlha depois morrer e voltar filho dela ou urn menino voltar filho de urn prin10 Se em alguns momentos pesa a mao contra os espiritistas dizendo que 0 espiritismo nao e menos curanderia que os outros curandeiros e que se fosse legislador mandava fechar todas as igrejas des sa religiao em outros em tom ate didatico enfatiza que 0 princishypio espirita e fundado no progresso e a leI e nascer morrer tornar a nascer e renascer ainda progredir sempre sendo que 0 renascimento epara meshylhor Cada espirita em se desencarnando vai para os mundos superiores Reflete ainda sobre a distancia entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo que 0 principio espirita nao e 0 mesmo da transmigrasao em que as aIm as vao para os corpos dos animalS mas fundado no progresso(Machado de Assis195100-2188)

Acreditando ser representativo do pensamento ultimo de Machado a respeito do espiritismo em 1895 ele defende seu exercicio pois a Constituishyltao estabclece 0 direito de liberdade religiosa No seu dizer 0 espiritismo e uma religiao que ele nao sabia se falsa ou verdadeira embora os espiritas dissessem que verdadeira e unica frente ao que ressaIta que presunltao e agua benta cada um toma a que quer Se verdadeiros ou nao [continual 0

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OPSIS - Revista tiD

fato e que escrevem-se e publicam-se inUn jornais espiritas e no Rio havia uma ou dl acreditara que nao se gasta tanto papel em a palavra que se esta escrevendo e a propria seguinte 1896 comenta (lue ha muito que ( tos escreyem pclos dedos dos vhos e que mundo e neste final de urn grande seculo(1

Desta forma a cultura carioca oitoclt diversas de religiosidade e de expcriencias com 0 divino 0 campo religioso apresent possibilidades variadas de vivenciar a proCl debatem em confronto entre si quanto se a] produzindo formas hibridas e sincreticas de lam os homens a seus deuses com tambem a em parte de seus lasos de sociabilidade

Fontes e Referencias B

BORGES Valdeci Rezende Em busca do 11

Rio de l1achado de Assis Estudos Histor Pesquisa e Documentaltao da Hist6ria Conte Getulio Vargas no 28 p 49-69 2OC) BOCRDIEC Pierre A Economia das TrOt pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Si Paulo Cia Das Letras 1989 ivLCI1ADO DE ASSIS Joaquim r1aria C 10 WMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b _ Cronicas v 2 1955c

Cronicas v 4 1955d

_ Helena 1955e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Historias Romanticas _ 1955g _ laid Garcia 1955h _ Memorial de Aires 19551

Pdginas Recolhidas _ 1955 Reliquias de Casa Velha v 1 _ 195 Contos Esquecidos Rio de Janeiro ClY

_ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Rejlexoes de um Relojoeiro _ A Mao e a Luva Sao Paulo M Jad

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mio s6 foi () apenas minimum mas ate WHltV de Assis 1958b 177 1956c123)

usados pelos propagadores da nova doushyconferencias promovidas pela Fede1aio 01

na busca de adeptos e de conversoes tambem principalmente devido a sua indisposiltilO

sendo verdade unica e absolura levando-o a em vanos escritos sobre essa doutrina e suas

a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima e que substituiria todas as religioes do passashya essa proposicao quando depara com fatos

ocorridos na cidade bus cando soluciomishyque acabam por ridiculizar toda e qualquer

temao Isso acontece nao 56 ao que diz respeishypara conquistar simpatias e fieis de divulgar

Rur(ma que acreditavam no espiritismo foi por seu dizer tudo ocorria de forma C01no se as crer em tudo aquilo que na Europa e 1955b297-9 195188)

da encarnacao e reencarnacao 1Iachado fez Grv~ tratadas de forma humoristica as quais

de seus principios Assim ao vislumbrar dos desencarnados divulga 0 prindpio de

inclusive na mesma familia sendo viavel que depois morrer e voltar filho dela au urn Se em alguns momentos pesa a mao

que 0 espiritismo nao e menos curanderia se Fosse Iegislador mandava fechar todas as em tom ate diampitico enfatiza que 0 princishy

e a lei e nascer morrer tornar a nascer sendo que 0 renascltnento e para meshy

uJ Tal para os mundos superiores entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo omesma da transmigraltao em que as almas

mas fundado no progresso(Machado de

do pensamento ultimo de Machado a ele defende seu exerdcio pois a Constimishy

religiosa No seu dizer 0 espiritismo e se falsa au verdadeira embora os espiritas

frente aa que ressalta que presunltao e quer Se verdadeiros ou nilO [continua] 0

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

fata e que escrevem-se e publicam-se inumeros livros folhetos reistas e jornais espiritas e no Rio havia uma ou duas folhas espirita alem do que acrerutaa que nao se gasta tanto papel em tantas linguas senao crendo que a palavra que se esta escrevendo ea propria verdade Para finalizar no ano seguinte 1896 comenta que hi muito que os espiritas afirmam que os mOfshytos escrevem pelos dedos dos vivos e que para ele tudo e POSSIel neste mundo e neste final de urn grande seculo(Machado de Assis 1957b26274)

Desta forma a cultura carioca oitocentista esta permeada de formas diersas de religiosidade e de experiencias voltadas para a busca de Iigacao com 0 divino 0 campo religioso apresenta-se marcado pela presenca de possibilidades variadas de vlvenciar a procura do sagrado as quais tanto debatem em confronto entre si quanta se aproximam nas pniticas dos tieis produzindo formas hibridas e sincreticas de religiosidade que nao so vincushylam os homens a seus deuses com tambem aos outros homens constitumdo em parte de seus lacos de soclabilidade

FOlltes e Referihlcias Bibliogrtificas

BORGES Valdeci Rezende Em busca do mundo exterior sociabilidade no Rio de Machado de Assis Estudos Historicos Rio de Janeiro Centro de Pesquisa e Documentacao da Historia Contempodmea do Brasil da Fundaltao Getulio Vargas no 28 p 49-69 200l BOURDIEC Pierre A Economia das Trocas Simb6licas Sao Paulo Persshy

pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e hist6ria Sao Paulo Cia Das Letras 1989 MAClMDO DE ASSIS Joaquim Maria Contos Fluminenses v2 Sao PaushyloWMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b Cronicas v 2 1955c

_ Cronicas v 4 19S5d _ Helena _ 19S5e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Hist6rias Romanticas 1955g _ laid Garcia 1955h

Memorial de Aires 1955i _ Pdginas Recolhidas _ 1955j _ ReUquias de Casa Velha v 1 _ 19551 _ Contos Esquecidos Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1956a _ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Reflexoes de um Relojoeiro _ 1956c _ A Mao e a Luva Sao Paulo 11 Jackson inc 1957a

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A Semana v 3 1957b _ Dam Casmurra _ 1957c

Historias Sem Data 1957d

_ Memorias Postumas de Bras Cubas 1957e _ Quincas Borba 1957f

_ Requias de Casa Velha v 2 _ 1957g Varias Historias 1957h

_ Contos e Cronicas Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1958a _ Cronicas de Lelia 1958b _ A Semana v 1 Sao Paulo WMJackson inc 1959a

A Semana v 2 1959b _ Cronicas v 4 1959c _ Esau e Jaco 1959d

SCHv~RCZ Lilia Moritz Retrato em Branco e Negro jornals escravos em Sao Paulo no final do seculo XIX Sao Paulo Cia Das Letras 1987

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OPSIS - Revista do

CINEMA E RELIGI

ResuResumo

Propomos neste texto apre5cntar algushy 1ou

mas reflex6es sobre a ahordagem de ashy quell

lares no cinema presentes em nleu

filmes como E 0 vento levou Blade film~

Runnermiddot 0 Carador de Androides 0 Run

Exorcisca Matrix dentre outros Exor

Atualmentc vivemos em uma 50eiel urn gm-erno baseado na lei e na razao Ne pensar assentam-se nao mais somente nos v bem nos valotes politicos e sociais Disso religiosos cristaos em quase nada influeneiat de fazer visto que Igreja (como instituiltao) tados na lei

Apesar da atual sociedade aparentc s6lida temos que ter em mente que cia so mente ha pouco tempo malS preeisamente e s6 se consolidou a partjr do positivismo vivemos em uma sociedade ainda em form

mente nao influencia tanto a nossa maneir E isto s6 e verdade para as eham2

hoje existem diversas sociedades ditas tee arabes (Irii) 0 Afeganistao onde 0 fundarr em todos os nh-eis

1 Este texto foi prodU7ido a partir do curso ministr e Religiosidadcs com 0 objetivo de apresentar algUi as rcferencias dos filmes analisados 2 Mestre em Historia pcla UFSC Universidade F

Historia da rcdc publica do [stado de Minas Gerai

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c

Page 5: as Bibliogrdficas RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSISstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3224606.pdf · 16 'as Bibliogrdficas mentafao oral e tematica da seca: estu o Federal,

uzir 0

em vez disto os padres divettem-se em lancar religiosa ou a escrever gazetas sem tom nem a considerada riclicula e funesta aos vershy

dvinda de urn clero pela maior parte ignoranshysem escnipulos Considerava grosseiras

tacanho e mesquinho que nada enxerga ria Pedia por uma reforma completa de

a seria tirando-lhe 0 aparato e as empoeiradas materialismo e tibieza da fe Julgaya

so povo a maneira por que se the incute a fe meio do espenlculo e do fausto profano mo para a indiferenca e para a morte da fi~ -2388-9 Grifos meus) nar-se contrariamente frente acondenacao do por um monsenhor dizia que a pior prosa trapondo-se aos argumentos do clerigo que sinuou que todos os bons catolicos deveriam cronista tal conselho em tempos de liberdashy

lesmente ridiculo deixando-o pasmo pois nem por 1SS0 foi lanCa-lo afogueira depois emas Entretanto se Machado assim afirma a descrenca para com a Igreja Seria apenas a realidade que 0 circundava e dos horrares aveis por seu afastamento daquela (Machado

tros desvios da vida sacerdotal como a atitushymais preocupado em arranjar alguns contos ~ssidades do pontifice do que em converter fo maximo e 0 triunfo pecuniario e sendo encais a Santa Pecunia pela qual 0 clero s avarentos perfumados que ricas aljubas

baixela de Duro dos papas a Roma sempre ~ao onde reina muita hipocrisia como a dao dos pecados Considerava essa pratica

a politica que prende um pecador e 0 abshy ao sagrado ao reduzir tudo a somas de os como a venda de medalhas de chumbo eo padre benze e fica-se livre dos crimes de N S da Conceicao da Aparecida por urn ofes a benzecao e venda de velas por dois

faO dos sacerdotes e sacristaes para vender

Viva Deus e a nossa algibeira ou ainda se

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OPSIS - Revista do Niese V2 N1 JanJun 2002

Deus escre-e direito por linhas tortas os Ap6stolos [os padres e seus veicushylos inclusive impressos] sao as linhas tortas da sua escritura (1Iachado de Assis 1958a187-9197205-6245249 1959a22)

Machado fustigan ainda os padres glutoes e os padres em mancebia Desta forma sua descrenca para com a Igreja advem de modo mais direto da percepciio dessas praticas desviantes viciadas e contraditorias 0 que nos ajushyda a compreender seu afastamento das atlyidades catolicas inclusive na hora da morte negando-se a receber os Ultimos sacramentos embora afirmasse que nao era absolutamente materialista Para alem desses aspectos podeshymos apontar inumedxeis recorrencias a doutrina crista em sua obra sen do varias as referencias a Biblia porem quase sempre em forma de parodia sobretudo ao Eclesiastes Desse modo a partir da obra sagrada utilizada e citada de modo deformado pela ironia buscando atingir efeito comIco e expressando uma leitura critica criou diYersas ctonicas e contos mantendo com aquela relacao intertextual direta Dcntre os contos perpassado~ pela tematica religiosa ou tecidos ao redor de suas pracicas destacam-se Missa do Gala Na arca A Igreja do Diabo Manuscrito de urn sacristao Neste ultishymo um sacristao perspicaz trata do amor progtessiyo do padre Teofilo pela prima EuHilia e ja nos hilarios A Igreja do Diabo e 0 Serrnao do Diabo faz critica bem humorada as ptaticas em-iesadas dos catolicos que dizendo-se cristaos e seguidores dessa doutrina comportam-se de modo totalmente oposto as Escrituras e as pregacoes

Em A Igreja do Diabo 0 demonio te-e a ideia de fundat sua igreja apesar de mesmo a sem esta os seus lucros )a serem continuos e granshydes mas senria-se humilhado por nao ter organizacao regras canones e ritushyais Estabelecendo-os seria Escritura contra Escritura breviario contra breviino e teria sua missa com vinho e pao a farta suas predicas bulas novenas e todo 0 demais aparelho eclesiastico para negar tudo 0 que as outras religioes de Maome de Lutero afirmam Decidido comunicou a ideia a Deus para desafia-lo e ao oitar a terra espalhou a doutrina nova prometendo delicias e glorias Clamava que as virtudes aceitas deveriam ser substituidas por outras naturais e legitimas como a soberba a luxuria a avareza a ira a gula e a inveja esta ultima a virtude principal Trocou tadas as nocoes fazendo amar as perversas e detestar as sas A frau de a venalidade o preconceito a hipocrisia a calunia 0 odio 0 desprezo 0 adultcno foram valorizados e seus opostos negados Fundada a igreja a doutrina propagou e 0 Diabo alcou brados de triunfo( Machado de Assis 1957d7-20)

Porem um dia longos an05 depois notou que seus fieis as escondishydas praticavam as antigas virtudes 0 que 0 deixou assombrado com as fraudes Pasmado nao nem comparou e nem concluiu do espetacushy10 presente alguma coisa analoga ao passado e voando ao ceu disse tudo a Deus que ouviu com complacencia e falou _ Que queres tu meu pobre

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r OPSIS - Revista de i

Diabo As capas de algodao tern agora franjas de seda como as de vdudo tiveram franjas de algodao Que queres tu E a eterna contradiltao humana(l1achado de 8S1S 1957 d20-2) Ou seja os catolicos e a igreja catoshylica com suas capas de veludo ocultavam por baio atitudes vis paninhos de algodao acabando por deitar as urtigas a Escritura divina praticando seu oposto e escondendo-se awls de mascaras Assim revelava seu ponto de vista sobre essa instituiltao da qual expunha mazelas profundas convicltao frouxa desyios e encenaltao

Como urn desdobramento desse conto e ainda no sentido de aponshytar que as atitudes dos cristaos estavam mats para levar ao inferno do que para ao ceu Machado produziu a cronica 0 Sermao do Diabo dizendo ser urn pedalto do evangelho do Diabo urn sermao da montanha amaneira de S Mateus que imita aquele da igreja de Deus Nesse a semelhanlta entre os dois evangelhos e destacada e a adimataltao ao ambiente carioca e julgamento de sua gente e direta ao dizer 1 E vendo 0 Diabo a grande multidao de pOYO subiu a urn monte pOl nome Corcovado e depois de se ter sentado vieram a ele as seus discipulos Em seguida expos seus mandamentos que sao a negaltao dos diyinos e glorificam as comportamentos tortos dos fluminenses oitocentistas ao atrehi-los diretamente a suas altoes e modo moderno de viTer (Machado de lssis 1959a 110-5)

Catolicismos habitos costumes rituais e valores

No entanto procurando conhecer melhor as praticas catolicas enshycontramos muitas igrejas e deparamos com os sons de seus sinos permeando regendo e encantando a vida urbana Sao templos diversos ricos e humildes como as matrizes do Sacramento da Gloria da Se e as igrejas de Sao Francisshyco de Paula da Candelaria de Sao Jose do Carmo da Lapa do Espirito de Santo Antonio dos Pobres de Sao Domingos da Lampadosa alem de oushytros dispersos par bairros distantes acrescidos de capelas particulares em reshysidencias antigas onde muita gente da vizinhanlta ouvia missa aos domingos(Machado de Assis 1956b165 1955e42 1955i94)

Para adentrar tais templos seguimos a sugestao de IIachado de obshyservar se existia alguma janela aberta que indicasse a presenlta de pessoas la dentro e encontramos urn grande numero de c6negos padres e sacristaes como 0 padre Melchior de Helena e infindos outros Dentre tal categoria social esse sacerdote recebe de I1achado grande simpatia sendo descrito como verdadeiro varao apostolico homem de sua Igreja e de seu Deus integro na fe constante na esperanlta ardente 11a caridade Mas como ja visto essa benevolencia do cronista nao se estende a muitos do clero sendo restrita a algumas figuras como urn velho padre geralmente ligadas ainshyfllncia do escritor quando fora coroinha(Machado de Assis 1955e42

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1957b25) Se encontramos muitos clerigos n(

afazeres e praticas que expressam e estao sacristias altares imagens de santos miSSl

sermoes orquestras confessionarios confis _ campainhas rosarios livros de Horas altar sen-ilt-os da llltima hora _ sacramento procissoes opas varas de patio fieis ajoeU esm01as para rea1izar missas aquelas e agr~ Virgem San tis sima mas retirando para si a tar a sacristia (Machado de Assis 1957e 1957f257 1959d16-21301)

Para a1em desses habitos costume conhecimento dessas experiencias atentarr contramos fieis em momentos especiais e em praticas ordinarias como missas do di prias dos rituais de inicialtao como 0 ba como aniversarios casamentos ou de sep Por meio das celebralt-oes rituais do batism rativa a crianlta era iniciada no catolicisffilt sendo ainda apresentada formalmente aOt

essa ocasiao gera1mente acontecia comerr baile(1hchado de Assis 1957c344 195 considerados pais e maes esplrituais da cri em urn momento difkil como a morte parentes queridos e proximos ou pessoaE sociedade as quais pudessem proporcion aos pais e afilhados como par serem influ da crianca ou a decidiam em caso de d1 1955e152 1955f12 1957c343 1959d4

44-5) No entanto a escolha do nome ni

inserida no sistema simb6lico imediato de do qual inclusive as yezes buscavamiddot personalidade e do futuro do indiv1c deslocamento importante pois embora escolhido os nomes dos santos ap6sto afuhados sua atitude adequava-se aprim as crianltas so se punham nomes de sa tradiltao cat6lica daquele tempo mas a~

Marias Catarinas nem Joanas ( ) entran o aspecto as pessoas (Machado de A

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m agora franjas de seda como as de veludo

Que queres tu E a eterna contradiltao 57d20-2) Ou seja os catolicos e a igreja catoshycultavam por baixo atitudes paninhos de

as urtigas a Escritura divina praticando seu mascaras Assim revelava seu ponto de vista unha mazelas profundas convicltao frouxa

to desse conto e ainda no sentido de aponshystavam mats para levar ao inferno do que para onica 0 Sermao do Diabo dizendo ser um urn sermao da montanha t maneira de S ja de Deus Nesse a semelhanlta entre os dois

ataltao ao ambiente carioca e julgamento de E venda 0 Diabo a grande multidao de povo orcovado e depois de se ter sentado vier am eguida expos seus mandamentos que sao a

os comportamentos tortos dos fluminenses asoes e modo moderno de

abitos costumes rituais e valores

conhecer melhor as praticas catolicas enshyamos com os sons de seus 8in05 permeando ana Sao templos diversos rlCOS e humildes cia Gloria da Se e as igrejas de Sao Francisshy

300 Jose do Carmo da Lapa do Espirito de 300 Domingos da Lampadosa alem de oushytes acrescidos de capelas particulares em reshy

ta gente da vizinhansa ouvia missa aos 1956b165 1955eJ2 1955i94)

os seguimos a sugestao de ivlachado de obshyerta que indicasse a presenlta de pessoas hi e numero de conegos padres e sacristaes

e infindos outros Dentre tal categoria Machado grande sunpatia sendo descrito

lico homem de sua IgreJa e de seu Deus lta ardente na caridade tlas como jii

ta nao se estende a muitos do clero sendo urn velho padre geralmente ligadas ainshy

coroinha(Machado de Lssis 1955eA2

OP5I5 - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

1957b25) Se encontramos muitos derigos nos templos deparamos com seus

afazeres e priticas que expressam e estao atreladas a fe dos cariocas como sacristias altares imagens de santos missas algumas cantadas agua benta sermoes orquestras confessionarios confissoes _ajustes de contas com Deus

- campainhas rosarios livros de Horas circunflexoes fieis saudando ao altar seniltos da ultima hora _ sacramentos aos moribundos santos oleos _ procissoes opas varas de palio fieis ajoelhados irmaos das almas pedindo esmolas para realizar missas aquelas e agradecendo em nome de Deus e da Virgem Santissima mas retirando para si as esp6rtulas maiores antes de volshytar a sacristia (Machado de Assis 1957e50 1957c6097-9 100-2234-5 1957f257 1959d16-21301)

Para alem desses habitos costumes e rituais buscando aprofundar 0

conhecimento dessas experiencias atentamos para as formas de vive-las Enshycontramos fieis em momentos especiais e marcantes de suas vidas e ainda em praticas ordinarias como missas do dia-a-dia e aquelas celebratiyas pr6shyprias dos rituais de inicialtao como 0 batismo e dos rituais de passagem como aniversarios casamentos ou de separaltao como as missas de morto Por meio das celebraltoes rituais do batismo e em seguida da festa comemoshyrativa a crianca era iniciada no catolicismo e inserida na comunidade crista~

sendo ainda apresentada formaImente aos parentes amigos e vizinhos Por essa ocasiao geraImente acontecia comemoraltao em casa como almolto ou baile(Machado de Assis 1957c344 1955a392) Os padrinhos escolhidos considerados pais e maes espirituais da crianlta tinham 0 dever de nao faltar em um momento dificil como a morte dos pais e eram amigos intimos parentes queridos e pr6ximos ou pessoas importantes para a familia ou na sociedade as quais pudessem proporcionar sentimento de honra e orgulho aos pais e afilhados como por serem influentes N ao raro escolhiam 0 nome da crianlta ou 0 decidiam em caso de duvida dos pais(Machado de Assis 1955e152 1955f12 1957c343 1959d41-2 1957g34-5 1957a61 1957e 44-5)

No entanto a escolha do nome nao se dava de forma aleatoria estando inserida no sistema simb6lico imediato de referencia da sociedade por meio do qual inclusive as vezes buscava-se determinar alguns traltos da personalidade e do futuro do individuo Nesse sentido ocorria um deslocamento importante pois embora Perpetua por yolta de 1871 tenha escolhido os nomes dos santos ap6stolos S Pedro e S Paulo para seus afilhados sua atitude adequava-se aprimeira metade do secuio quando ( ) as crianltas s6 se punham nomes de santos ou santas de acordo com a tradiltao cat6lica daquele tempo mas agora ja nao se queriam -nas nem lfarias Catarinas nem Joanas () entrando em outra onomastica para variar o aspecto as pessoas (Machado de Assis 1957g34-5 1955i51)

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Para alguns homens a primeira confissao ocorria por epoca da quare sma 0 que levava a que muitos rapazes se escondessem debaixo da cama do padre confessor ou pelos desvaos da casa ji a segunda era pOt ocasiao de casar A cerimonia de casamento era vista como momenta de santidade e de muita comoltao povoando sempre os 50nh05 das mulheres com festas brilhantes muitos carras vesrido branco flores de latanjeira grinalda padrinhos ilustres Porem em 1fachado sao poucas as cenas de casamento e geralmente so em fantasia talvez por ptivilegiar sobretudo nos romances a vida das classes altas au daquelas em ascensao em que 0 casamento era urn negocio politico ou economico e a devoltao assim como 0 sentimento relig1oso fragil entrando em declinio ainda maior frente a outras atividades da vida mundana(Machado de Assis 1955i95)

Por meados dos oltocentos novas formas de sociabilidade foram implementadas desassociando-se cada vez mais daquelas da religiosidade cashytolica Ate entao nos momentos de cumprir as obrigaroes religiosas relacishyonava-se com 0 mundo exterior rompendo 0 enclausuramento usual princishypalmente da mulher No entanto a nova sociabilidade configurava-se ao reshydor de inusitados espaltos tempos e formas de recreio 0 gosto pela vida externa creSCla enquanto os antigos hibitos e costumes marcados pela religishyosidade foram sendo desprezados e em muitos casos abandonados(Borges 2001 49-69) )Jessa transformaltao da sensibilidade coletiva ocorre uma inflexao dos sentimentos e valores relativos ao sagrado e urn avanlto das forshyltas seculares Essa alteraltao apontada por Machado pode sel percebida por meio de urn conjunto de inrucios como a retirada dos quadros de santos da decoraltao das casas mais abastadas sendo substituidos quase sempre por pequenas gravuras inglesas ao passo que nas casas mais pobres a Virshygem era muita cultuada possuindo lugar excelso na devoltao dos corashyltoes maviosos Nessas podia nao haver urn Cristo mas sempre [havia] uma imagem de Nossa Senhora(Machado de Assis 1955f93 1955j91 1957bl08)

A tibieza da fe e a escassez de padres ordenados indicam ainda a diminuiltao da inspiraltiio religiosa e a expansao da secularizaltao ao lado da mudanlta referida nos novos nomes atribuidos aos nascidos nao mais ligados ao imagmano catolico(Machado de Assis 1955j91 1955i51 1959b80 1057c263308 1957d280 1955e13) Assim muita coisa mudava nas familias como 0 uso antigo que urn dos rapazes fosse padre 0 que alterava a direshy

ltao dada it educaltao 0 sentido e 0 rumo a seguir pelas novas geraltoes que geralmente aprendiam as primeiras letras latim e doutrina em casa com urn desses clerigos Eles incuriam noltoes sentimentos e orienravam as escoshyIha5 forjavam vocaltoes religiosas em seus disdpulos ao falarem de supostas manifestatoes daquelas como ocorreu com Bentinho que tinha seus brinqueshydos sempre de igreja e adorava os oEicios divinos brincando mesmo

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b

OPSIS - Revista do

com Capitu de dizer missas e tomando doc estudos secundarios fossem feitos ainda corr filhos ja mais autonomos escolhiam profi economico que oscilayam entre a medicina c busca da vida religiosa que foi acusada em 1 falar da escassez de padres orden ados no sem capehies(Machado de Assis 1959b80)

Nesse contexto e sentido ate prot Por mais que 0 vinculo moral da promessa D Gloria mac de Bentinho descrita como por volta de 1847 dar a Deus 0 filho como infancia 0 compromisso foi rompido postel saida de substitui-Io por urn mocinho 61 da oferta para compensar a batina que aqt tando segundo 0 narrador urn cochilo da mento religioso era marcado por altoes e interiormente a incredulidade era assaz dift distraida Para dc nesse tempo operou u

fez do paganismo e do catolicismo urn 1957c263 308 1957d280 1955e13 19

11as nao era so a familia de Bentin mundo e suas praticas socio-economicas ne Entre Santos expoe situaltocs interessantes passo que urn padre conta certo ocorrido pc de S Francisco de Paula Ao vcr luz sob a p do que se tratava e ouvindo conyersa fez il me antigo de enterrar os mortos nas igrejas mortos ali enterrados No entanto viu que igreja que sairam dos seus nichos e que senl altares comentavam as oraltoes e pedidos d Francisco de Sales contou 0 caso de Sales trazia seu nome e tinha a mulher doente desesperanltado cia terra voltou-se para I salva-la Pediu que a salvasse operando o cera mas ao passo que estabelecia 0 comp moeda que 0 ex-yoto hayia de custar e ac nossos emil ave-marias(Machado de Assi

Nesse momento sobretudo entre

censao a deoltao ficaa Iwbretudo releg Carmo que costumaYa ir a missa aos don por fadiga por doenlta ou por estar chov 0 seu livro com as suas rczas marcadas (

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a primeira confissao ocorria por epoca da muitos rapazes se escondessem debaixo da

desvaos da casa ja a segunda era por de casamento era vista como momento de

povoando sempre os sonh05 das mulheres vestido branco flores de laranjeira grinalda

Machado sao poucas as cenas de casamento e par privilegiar sobretudo nos romances a em ascensao em que 0 casalnento era urn

e a devoltao assim como 0 sentimento LUumiddotv ainda maior frente a outras atividades

Assis 1955i95) novas formas de sociabilidade foram

cada vez mais daquelas da religiosidade cashyde cumprir as obrigaroes religiosas relacishyrompendo a enclausuramento usual princishya nova sociabilidade configurava-se ao reshy

e formas de recrelO 0 gosto pela vida habitos e costumes marcados pela religishy

e em muitos casos abandonados(Borges da sensibilidade cole tin ocorre uma

relacivos ao sagrado e um avanlto das forshy___niua par Machado pode ser percebida por

como a recirada dos quadros de santos da sendo subscituidos quase sempre por

passo que nas casas mais pobres a Virshylugar excelso na deTOltaO dos corashy

nao haver urn Cristo mas sempre [havia] (Machado de 55is 1955pound93 1955j91

de padres ordenados indicam ainda a e a expansao da secularizaltao ao lado da

atribuidos aos nascidos nao mais ligados de Assis 1955j91 1955i51 1959b80

A881m muita coisa mudava na8 familias rapazes Fosse padre 0 que alterava a direshyo rumo a seguir pelas novas geraltaes que

letras latim e doutrina em casa com noltoes sencimentos e orientavam as escoshyem seus discipulos ao falarem de supostas

com Bencinho que tinha seus brinqueshyos ofici08 divinos brincando mesmo

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

com Capitu de dizer missas e tamando doce por hoscia Porem embora os estudos secundarios fossem feitos ainda com base religiosa em seminarios os filhos ja mais autonomos escolhiam profissoes de maior prestigio socioshyeconomico que oscilavam entre a medicina e 0 direito influindo na queda da busca da vida religiosa que foi acusada em 1894 pelo ex-bispo da cidade ao falar da escassez de padres ordenados no () seminario e das paroquias sem capelaes(1hchado de Assis 1959b80)

Nesse contexto e sentido ate promessas celebres eram quebradas Por mais que 0 vinculo moral da promessa prendesse indissoluvelmente D Gloria mae de Bentinho descrita como devota e que havia prometido la par volta de 1847 dar a Deus 0 61ho como sacerdote casu nao morresse na infancia 0 compromisso foi rompido posteriormente guando se encontrou a saida de subscitui-lo por urn mocinho orfao qualquer como pagamento da oferta para compensar a batina que aquele deitou as urtigas represenshytan do segundo 0 narrador urn cochilo da fe Segundo l1achado 0 sentishymento religioso era marcado por lt1ltaes e expressaes exteriores vis to que interiormente a incredulidade era assaz difusa e a deToltao magra tibia e distraida Para ele nesse tempo operou uma grande fusao religioa que fez do paganismo e do catolicismo urn so credo(ilachado de Assis 1957c263 308 1957d280 1955e13 1958b328)

Mas nao era so a familia de Bentinho que em conformidacle com 0

mundo e suas praticas socio-economicas negociava com 0 sagrado () conto Entre Santos expae situaltoes interessantes em torno da devoltao humana ao passo que urn padre conta certo ocorrido por epoca que era capelao da igreja de S Francisco de Paula Ao ver luz sob a porta do templo buscou descobrir do que se tratava e ouvindo conversa fez inferencias que nos revel a 0 costushyme antigo de enterrar os mortos nas igrejas ao perguntar se seriam vozes dos mortos ali enterrados No entanto viu que era urn dialogo entre os santos da igreja que sairam dos seus nichos e que semados em forma humana em seus altares comentavam as oraltoes e pedidos dos fieis no dia Dentre outros Sao Francisco de Sales contou 0 caso de Sales urn velho usuario e avaro que trazia seu nome e tinha a mulher doente com um erisipela na perna que desesperanltado da terra voltou-se para Deus pois so um milagre podia salva-la Pediu que a salvasse operando 0 milagre oferecendo uma perna de cera mas ao passo que estabelecia 0 compromisso s6 via diante dos 0lh05 a moeda que 0 ex-voto havia de custar e acabou prometendo rezar mil padre nossos emil ave-marias(l1achado de Assis 1957h27-44)

Nesse momento sobretudo entre as camadas sociais altas e em asshycensao a devoltao ficaa sobretudo relegada aos antigos e velhos como D Carmo que costumava ir amissa aos domingos e que como outras damas por fadiga por doenlta ou por estar chovendo quando nao 0 fazia pegaya 0 seu livro com as suas rezas marcadas ( ) amesma hora acompanha-a

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a missa toda frente 0 seu altarzinho e seu Cnsto instalados no gabinete e ao acabar beijava a imagem Essa senhora de acordo com sua crenlta nao saia de casa sem a beijar primeiro como urn pedido de proteltao nem voltava scm faze-Io como a dar graltas como 0 fazia ao deitar e ao levantar(lIachado de Assis 1955i197)

A igreja era lugar de exposiltiio seja em missas ordinarias festas de santos missas de mono de seUmo dia de morte e por alma do finado ~i se ostentava opulencia e distimao social sendo objeto de curiosidade publica chamando a atenltao sabre si com carruagens lacaios roupas e esportulas vultosas como a fizera 0 casal Santos emergentes na sociedade na missa de defunto na igreja de S Domingos Essa paroquia era adequada amissa recondita e anonima urn ato sem releyo sem pesames nem lagrishymas como gueria a casal ao mandar dizer missa par alma de urn parente pobre falecido em lIarica scm que aquela repercutisse em seu meio social(Machado de Assis 1959d23) Mas se esse templo era das camadas pobres os ricos au nO05 ricos como a senhora Santos que se queixou que ali sujara 0 estido e enchera-se de pulgas preferiam a de S Francisco de Paula au a da Gloria localizadas em bairros ricos como Flamengo e que eram consideradas lirnpas li os endinheirados tinham como uso velho mandal dizer missas anivelsarias de datas obituarias e natalicias(Machado de Assis 1955i94-5)

lIuitos flequentavam a igreja mais por imposiltao social dos mais Yelhos por ser lugar de se mostlar e estabelecer relaltoes socialS do que por deoltao sentida A jovem Maria Olirnpia tinha a vocaltiio da vida exterior e sentia urn singular feicilto nas procissoes e nas missas pelo rumor e pela pompa Ia aigrcja conduzida pela cia que era religiosa e tinha gosto partishycular em mostrar-se e em namorar os rapazes Sua devoltiio magra escasshyseou ainda mais com a chegada do primeiro espetaculo e 0 primeiro baile Os saloes torna~am-se os novos lugares do encontro e do diertimenshyto e muitos ja entao confundiam as praticas leligiosas com as canseiras da vida e fUgiam delas(Machado de Assis 1959d23-4 28 1957d280 1955i95) Virgilia tambem representa a comportamento da nova mulher presa nas forshyltas seculares ao ser uma jovem senhora casada que possuia urn amante e mostraYa-se pouco religiosa nao ouvindo missa aos domingos ou so indo as igrejas em dia de festa e quando havia lugar vago em alguma tribushyna Alcm disso tachava de beatas aquelas que cram so religiosas a que aponta par outro lado a existencia de mulheres que se dedicayam em excesshyso as praticas religiosas Porem rezava todas as noites com fervor ou pelo menos com sono em sua alcova junto a seu oratoriozinho de jacaranda Ja as homens eram considerados em geral uns impios nao plsavam na Igleja a nao sel para batizar as filhos(tvlachado de Assis 1957e185 1957f257)

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OPSIS - Revista do

Mas se as individuos substituiam que com suas festas eram todo 0 recreio F tempos antigos ate mesmo a igreja nao e mundanizou-se Adotou os carrilhoes urn c~ tocavam peltas profanas chamando as fieis sinos das igrejas e produzindo uma or enfadonhas austeras graves religiosas ma~ pedaltos do Barbe Bleue da Bela Helen contrafaltao de Offenbach ou deg Amor te cassinos e no Alcazar teatro de opereta e Machado a missa da manhii e 0 fand se(Machado de -ssi5 1957d61 1959c16

Outlo costume do tempo dos vicemiddot processo de modemizaltao expressando p( mundo terreno era a de ingressar em confrlt tempos antigos ocorria por amor as cois pda busca de recompensas imediatas ac tomar materia publica a importimcia do 51

mediante a retribuiltoes como a instalaiio d da noticias para publicar em jornais sabre H(

da divulgaltao realizada pelo proprio bem do beneficio e da publicidade do nome e fi~ nas cogitaltoes publicas tornando~se se mandades de damas cram igualmente usa~ principalmente quando os jornais davam 1

os names das organizadoras 0 anuncio gI6ria(Machado de ssis 1957d26205~6

o mesmo ocorria em relacao as at de cunha religioso e assistencial erguidas fr da mendicidade As associaltoes de caridadt do muitas organizadas por senhoras que ~

nos aos famintos amoldavam-se ao mund cido religioso Por um lado adequada ao se as pedintes de esmola em portas das igre mais pobres com seus miseros vintenzinho prias almas pois por meio da caridade I almejando salvar especialmente a 5i mestnlt tado Por outro 0 beneficio alcanltado cor mundo material e nao espiritual como oc comissao de caridade de senhoras para pc com pessoas de destaque na sociedade q cima na sua busca de ascensao social AI~

i

l 1

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2

ho e seu Cristo instalados no gabinete e ao senhora de acordo com sua crenca nao saia

como urn pedido de protecao nem voltava gracas como 0 fazia ao deitar e ao 955i197)

posiao seja em missas ordinarias festas de setimo dia de morte e por alma do finado tincao social sendo objeto de curiosidade sobre si com carruagens lacaios roupas e a 0 casal Santos emergentes na sociedade na Domingos Essa par6guia era adequada

urn ato sem releyo sem nem higrishyandar dizer missa por alma de urn parente

em que aquela repercutisse em seu meio d23) Mas se esse templo era das camadas como a senhora Santos que se quelxou que e de pulgas preferiam a de S Francisco de s em bairros ricos como Flamengo e que

os endinheirados rinham como uso velho de datas obituanas e natalicias(Machado de

igreja mais por imposicao soclal dos mais r e estabelecer socials do que por

Olimpia cinha a vocaltao da vida exterior procissoes e nas missas pelo rumor e pela cia que era religiosa e cinha gosto parcishy

rar os rapazes Sua devoao magra escasshyda do primeiro espetaculo e 0 primeiro

novos lugares do encontro e do divercimenshyas praticas religiosas com as canseiras da

Assis 1959d23-f 28 1957d280 1955i95) portamento da nova mulher presa nas forshysenhora casada que possula urn amante e

nao ouvindo missa aos domingos ou s6 e quando havia lugar vago em alguma tribushytas aquelas que eram s6 religiosas 0 que de mulheres que se dedicavam em excesshy

rezava todas as noites com fervor ou pelo a junto a seu oratoriozinho de jacaranda em geral uns impios nao pisavam Hna

s f1lhos(Machado de Assis 1957e185

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

Mas se os individuos substituiam seus habitos sociais e religiosos que com suas festas eram todo 0 recreio publico e toda a arte musical em tempos antigos ate mesmo a igreja nao escapou da altao secularizante e mundanizou-se Adotou os carrilhoes um conjunto de sinos musicais que tocavam pe~as profanas chamando os fieis amissa subscituindo os pobres sinos das igrejas e produzindo uma orgia de notas nao de musicas enfadonhas austeras graves religiosas mas sons alegres e animados como pedaltos do Barbe Bleue da Bela Helena do Orfeu nos Infernos uma contrafaltao de Offenbach ou 0 Amor tern fogo tocados geralmente nos cassinos e no Alcazar teatro de opereta e da vida boemia Assim segundo Machado a missa da manhii e 0 fandango da noite aproximavamshyse(Ifachado de 1957d61 1959c168-9 1955d250 1959a68-9)

Outro costume do tempo dos vice-reis com significado alterado no processo de modernizaltao expressando pouca devoltao e grande apego ao mundo terreno era 0 de ingressar em confrarias e irmandades religiosas -Jos tempos antigos ocorria por amor as coisas pias mas no momento era peia busca de recompensas imediatas advindas do individual desejo de tomar materia publica a importancia do sujeito e seu espirito caritativo mediante a retribuicoes como a instalaao de retrato na sacriscia a emissao da nocicias para publicar em jornais sobre os beneficios que pracicava alem da divulgacao realizada peio pr6prio beneficiado Desta forma por meio do beneficio e da publicidade do nome e figura daquele que 0 fez entrava-se nas cogitaoes publicas tornando-se sempre Hlembrado~ Ivfesmo as 1rshymandades de damas eram igualmente usadas para dar brilho a suas juizas principalmente quando os jornais davam noticia minuciosa das festas com os nomes das organizadoras () anuncio nas folhas era um troco da gI6ria(Machado de Assis 1957d26205-6 1957e350 412-4 1956b44)

o mesmo ocorria em relaao as atividades associacivas ftlantr6picas de cunho religlOso e assistencial erguidas frente ao crescimento da pobreza e da mendicidade As associaltoes de caridade que aumentaram na cidade senshydo muitas orgamzadas por senhoras que coletavam donativos e reparciamshynos aos famintos amoldavam-se ao mundo profano e desviavam-se do senshytido religioso Por um lado adequada ao sentimenta cristao a mendicidade e os pedintes de esmola em portas das igrejas traziam as pessoas mesmo as mais pobres com seus miseros vintenzinhos a ocasiao de beneficiar suas pr6shyprias almas pois por meia da caridade punha-se em pracica 0 evangelho almejando salvar especialmente a S1 mesmo e nem tanto ao estranho necessishytado Par outro 0 beneficio alcamado com a caridade podia restringir-se ao mundo material e nao espiritual como ocorria com Sofia que usou de uma comissao de caridade de senhoras para p6r-se em evidencia e criar vfnculos com pessoas de destaque na sociedade que 1he dessem um empurriio para cima na sua busca de ascensao sociaL -lem disso nesse seculo utilitario e

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F

pnitico marcado pelo avanlto das forltas de secularizaltao e perda do espirishyto cristao ate mesmo a caridade tornava-se escriturada legalizada regulashymentada (Machado de Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192 1957e190-2 1959d301)

Junto ao povo 0 gosto das procissoes vinha de longe e estava bastante arraigado para os antigos uma tradiltao de infancia costume da primeira metade do seculo do tempo do rei e suas predileltoes confesshysadas por todas as yelhas carolices as quais seus contemporaneos choravam e pediam pelos tempos dos oratorios de pedta dos tetltos cantados das procissoes bem ordenadas das ladainhas atras do viatico das boas festas e dos bons trades da verdadeita fe e dos vetdadeiros filhos de Deus iias ja em 1865 essas ptocissoes classicas podiam dar ideia de tudo menos de urn culto serio e elevado pois ao lado dos anjinhos e andores floridos os homens iam em filas uns com tochas na mao outros com vara do palio disputadas pelos fieis pais dava uma distincao especial a quem a trazia Alguns iam dizendo pilh6rias aesquerda e adireita enquanto os assistentes comentavam as gracas jUTenis do anjo cantor que era sempre mQ(a feita Desta forma Machado julgava que essas procissoes e semelhantes praticas eram ridiculas nao podendo subsistir numa sociedade verdadeiramente telishygiosa pois uma folia mesmo para os mais sinceramente religiosos com as quais os sacerdotes serios nao deveriam conservarem cumplices( Mashychado de Assis 1958a101-2 Grifo meu)

Existia ainda a luta tradicional travada entre os diferentes templos com 0 unico objeto de primar uns sobre os outros no luxo das suas procisshysoes respectivas sendo essa luta por demais profana e manifestava-se por uma aculTIulacao de prata e ouro nos andores no mais numeroso concurso de irmaos e de anjinhos e outras coisas iguais Vivia-se 0 sagrado melo afolia comentari~s dos assistentes pilh6rias disputas e abusca do brilho e da distimao do que Machado duvidava muito que a divinshydade visse com bons olhos estes conflitos de primazia(Machado de Assis 1958alOl-2 1957c98-100 Grifo meu) No entanto se as procissoes eram filhas da tradiltao em 1865 algumas delas ja haviam sido suprimidas pelo process a de modernizaltao da igreja e para 0 cronista tudo fazia crer que as restantes tamb6m seriam Nesse sentido em 1893 avalia com certa melanshycalia a diferema entre uma procissao de Sao Sebastiao daquele ana e as de outrora dizendo Ordem numero pompa tudo 0 que havia quando era () menino tudo desapareceu(Machado de Assis 1958a101 1959a220)

Porem se 0 sagrado e 0 profano apresentavam-se quase sempre de maos dadas inclusive na esfera das praticas catolicas oficiais essa interpenetraltao tinha certos limites Em 1896 uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair em desftle por se denominar N ossa Senhora da Conceiltao De acordo com 0

cronista esse titulo pareCla esquisito mas se a intenltao eque salva a sociedashy

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OPSIS - Revista do

de vai para 0 ceu pais os autores da ideia tQS da Virgem e nao [tinham] 0 carnaval por desse poslcionamento 0 folhetinista acabou enfatizando que se tal socledade tinha igual g adotar denominaltao adequada e que na( Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos et gente mas sofriam tambem a altao dos novo se Eram de maior destaque a festa da Glol Reis de Sao Sebastiao do Espirito Santos e ( tinham lugar tanto a religiao com missa que F Deum quanto 0 recreio com fogos de artifi prendas Embora houvesse entre elas algum folhetinisra ao cabo de tudo [era] a mesml sao 0 que 0 leTaTa a lascimar que 0 fogo de da Penha [1eYavam] mats fi6is que 0 objeto es certo que todo caminho leva 11 Roma nao 0 i Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que t~

como tinham acabado muitas outras devoS meio recreativas Para ele 0 elemento estr mes com muita patinacao muita opereta m nossa populacao a rusticidade e 0 encanto d Assis 1958b121 1956b207 19S5g410 1955d147-8 Grifo meu)

~ festa do Espirito Santo igualmel contista em A Parasita Azul que transeOl Luzia Goias ao falar desse festejo aponta q que de todo se nao apagou 0 gosto dessas eras No entanto na Corte ainda persistia ( barracas Nao era diferente com a Festa de R 1864 Machado falava que a festa de S Joao tI fogueiras e baloes proibidos por postura mu obstante 0 ceticismo do tempo muita e m corter primelro que 0 povo [perdesse] 0

foguetear os tres santos em junho Porem ja Joao e tambern de Reis Sobre a ultima com popular perdurava no interior pois na c

anos e brotado em sua cinzas a arvore de t essas lTIudancas De Assis lamenta que os al ha nela de puetil para Sf) the deixar 0 que ha quem nem 15S0 fica esse perde 0 melhor ( sirnplorio e velho de noites abencoadas

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das for~as de secularizacao e perda do espirishytornava-se escriturada legalizada regulashy

Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192

das procissoes vinha de longe e estava os antigos uma tradi~ao de inGneia costume do tempo do rei e suas predileltoes confesshy

as quais seus contemporaneos choravam orat6rios de pedra dos terltos cantados das

ladainhas awis do yiatico das boas festas e fe e dos verdadeiros ftlhos de Deus 1as ja

sslcas podiam dar ideia de tudo menos de um ao lado dos anjinhos e andores floridos os

tochas na mao outros com vara do palio uma distin~ao especial a quem a trazia

aesquerda e adireita enquanto os assistentes do anjo cantor que era sempre molta feita que essas prociss()es e semelhantes pniticas

subsistir numa sociedade erdadeiramenterelishypara os mais sinceramente religiosos com as

nao deyeriam conservarem cumplices( 11ashyGrifo meu)

ttadlC1011al travada entre os diferentes templos uns sabre os outros no luxo das suas procisshy

luta por demais profana e manifestava-se e ouro nos andores no mais numeroso

e outras coisas iguais Viyia-se 0 sagrado dos assistentes pilherias disputas e abusca do que Machado duyidava muito que a divinshy

conflitos de primazia(Machado de Assis Grifo meu) No entanto se as procissoes eram

delas ja haviam sido suprimidas peIo igreja e para 0 cronista tudo fazia crer (lue as

sentido em 1893 avalia com certa melanshy)rOClssao de Sao Sebastiio daquele ana e as de nUmero pompa tudo 0 que havia quando era

(Machado de 1958a 101 1959a220) eo profano apresentavam-se quase sempre de das pciricas cat6licas oficiais essa interpenetraltao uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair

Senhora da Conceiltao De acordo com 0 mas se a inten~ao e que salva a sociedashy

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

de vai para 0 ceu pais as autores da ideia [eram] com certeza fieis deyoshytos da Virgem e nao [tinham] 0 caman por obra do diabo Porem apesar desse posieionamento 0 folhetinista acabou por concordar com a proibi~ao enfatizando que se tal soeiedade tinha igual gosto as ideias profanas deveria ado tar denominacao adequada e que nao faltam titulos (1vIachado de Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos eram populares e reuniam muita gente mas sofriam tambem a a~ao dos novos tempos e perdiam seu interesshyse Eram de maior destaque a Festa da Gloria da Penha da Conceiltao de Reis de Sao Sebastiiio do Espirito Santos e de Sao Benedito Em tais festas tinham lugar tanto a religiao com missa que poderia ser cantada e ate um TeshyDeum quanto 0 recreio com fogos de artificio barracas corretos leilao de prendas Embora houvesse entre elas algumas diferenltas de acordo com 0

folhetinista ao cabo de tudo [era] a mesma alcgria e a mesmlssima divershysao 0 que 0 leYaa a lastimar que 0 fogo de artificio da Gkma e 0 garrafao cia Penha ~evayam] mais fieis que 0 objeto essencial da festiyidade POlS se e certo que todo caminho leva aRoma nao a e que todo caminho lea ao ceu Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que talvez essa Festa tin~sse findado como tinham acabado muitas outras devoltoes populare~ melO religlOsas meio recreatiYas Para 0 elemento estrangeiro transformou os costushymes com muita muita opereta muita COlsa peregnna que tirou it nossa populaltao a rusticidade e 0 encanto de outros tempos(~1achado de Assis 1958b121 1956b207 1 10 1959c225 103 1957c77 1955d147-8 Grifo meu)

A Festa do Espirito Santo igualmente desaparecia e em 1870 0 contista em A Parasita Azul que transcorre por olta de 1850 em Santa Luzia GOlaS ao falar desse aponta que vao rareando os lugares em que de todo se nao apagou 0 gosto dessas festas classicas resto de outras eras No entanto na Corte ainda persistia 0 habito de muito irem ver suas barracas Nao era diferente com a Festa de Reis e dos santos juninos Se em 1864 Machado falaya que a Festa de S Joao tomaya-se falsificada sem fogos fogueiras e baloes proibidos por postura municipal em 1878 dizla que nao obstante a cetiClsmo do tempo muita e muita dezena de anos n1aia] de correr primeiro que 0 povo [perdesse] os seus antigo amores como foguetear os tres santos em junho Porem ja em 1894 trata da morte de S Joao e tambem de Reis Sobre a ultima comenta que nao sabia se essa festa popular perdurava no interior pois na capital tinha morrido ha muitos anos e brotado em sua cinzas a arvore de Natal vinda da Europa Frente a essas mudanltas De Assis lamenta que os anos que passam tiram afe a que ha ncla de pueril para so Ihe deixar 0 que ha serio Para de triste daqucle a quem nem iS50 fica esse perde 0 melhor das recordaltoes de um tempo simpl6rio e velho de noites abenltoadas em que as crendices sas abrem

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todas as vdasAs consultas as sortes as ovos guardados em agua e outras sublimes ridicularias as quais via com respeito com simpatia e se alguma coisa a molestaa era por nao as saber ja praticar( lvlachado de Assis 1957e62 1955f46 1955a318 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241 1959b13-4 123-4)

Ifas se na cidade 0 vento dos tempos desfazia em lufadas de tuGo essas praticas populares anrigas arraigadas no imaginario coletivo no interior de era brisa igual e mansa que tudo esfolhava e dispersava devagar 8Sim em 1864 0 cronista tratou de urn morador de Viana descobridor de uma imagem de Santa Teresa que lacrimejava e supondo ser milagre pos em alorolto as credulos vianenses considerando procedente realizar exame do fato por uma comissao de eclesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao das festas do Born Jesus em Pirapora que reuniam anualmente urn numero extraordinario e crescente de romeiros calculados naquele ana em 8000 pessoas J a em 1873 escreyeu sabre uma senhora que enlouqueceu quando depois de longa seca pediu chua enterrando uma imagem de Santo Antonio no rnato e alcanltou 0 pedido Porem como a chuva abundante nao cessava ao contrario 0 aguaceiro ia a mais matando inclusive animais yoltou ao buraco por acreditar que a preclpitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas nao 0 encontrou entrando a supor que os males derivavam da altao que praticara 0 cronista comentando 0 fato de Santo Anttmio gozar entre seus deyotos do exotico privilegio de nao conceder nenhuma gralta senao enterrado ou metido num poco so operando milagres a troco da liberdade consideraya que uma senhora religtosa fizera-se supersticiosa e que quando a fe chega a este ponto esta )a muito alem das fronteiras da superstiltao deixando seu praticante sem nenhuma das grandes consolaltoes da fe trazendo-lhc 0 desespero e a loucura Ainda nesse universo ja em 1876 trata da existenCla de duas mulheres santas e milagrosas uma que apareceu na Bahia em torno da qual formou romarias dos seus devotos e outra velha milagrosa que diziam curar doewas incuraveis com ervas misteriosas(Machado de Assis 1955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2)

Desta maneira as esferas do sagrado e do profano da fe da devoltao e do recreio estaam bastante imbricadas no que concerne as praticas dos catolicos havendo uma circulaltao e influencia reciproca entre as instancias das cerimonias e rituais oficiais e sua recnacao pelos leigos entre 0 divino e a folia entre 0 cuita e a festa Os momentos e lugares em que essas aspiracoes se concretizavam em praticas sociais serviam tambem para promover a interacao dos indivlduos lvlas deixando esse sobrevoo sobre a sociedade carioca e focalizando n0550 olhar num segmento especifico desta como na comunidade negra podemos perceber outros aspectos da cultura religiosa carioca Dessa cultura hibrida amalgamada no territorio fluminense observamos primeiramente as pratica ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revi$fa do

as quais de forma geral sao vistos como

respeitados N esse meio social existiam aqudes in

uma preta y~lha do conto 0 Escrivao Co ajoe1hada diante do altar de S Bernardo co do pedic-lhe alguma coisa se nao eque lhe recebido ate que acabou beijando a cruz tou-se e saiu Outros aparecem como detel onais e seus transmissores sendo rezadore senhores ou sabedores de promessas celebre sas ou subir de joelhos a ladeira da Glc Santa(Machado de Assis 19551229-30 1 esta presente no uniYerso das atividades cal do preto elho de Casa Velha que emb africanas era sineiro mas nao fazla mats q missa aos domingos 19ualmente nesse 0

sineiro da Gloria (lue de escrao ficou li~ seculo aquda torre regendo a paroquia e c( picava por casamentos nascimentos batiza amarela 0 calera-morbus os partidos qUI deles ~ pela guerra do Paraguai pelos mo livre das escravas a aboliltao a Republica plt se Tudo conforme a ordem(JIachado de

Outras Ofertas e tensoes Feiti~

Espiritism

Ja outros negros vclhos aparecem mais circunscritas senda depositarios de p( varios elementos que expressam traltas cultu canas 0 negros produziram com suas ling des cantos e batuques uma ruptura com recorrerem mesmo que na clandestinidade uma cultura negra brasileira a qual recorriar contexto embora inseridos em universo simi de crencas praticas e -isoes de mundo al~ tica usada no cotidiano por bran cos negro cam associalt6es ao cultos africanos nos ql parentesco permeiam os rdacionamentos s mente ligados Desta forma alguns pretos sendo vistos como bonciosos humildes g~ Assis 1955d392 1957c279)

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s sortes os ovos guardados em agua e outras

via com respeito com simpatia e se alguma ao as saber ja praticar( Machado de Assis 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241

vento dos tempos desfazia em lufadas de anrigas arraigadas no imaginario coletivo no nsa que tudo esfolhava e dispersava devagar

tou de urn marador de Viana deseobridor de que lacrimejava e supondo ser milagre pas ses considerando procedente realizar exame clesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao apora que reuniam anuahnente urn numero

romeiros calculados naquele ana em 8000 sobre uma senhora que enlouqueceu quando a enterrando uma imagem de Santo Antonio

Porem como a chuva abundante nao cessava mais matando inclusiye animais yoltou ao cipitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas supor que os males derivavam da altao que do 0 fa to de Santo Antonio gozar entre seus 0 de nao conceder nenhuma gralta senao s6 operando milagres a troeo da liberdade

giosa fizera-se supersticiosa e que quando muito alem das fronteiras da superstiltao nenhuma das grandes consolaltoes da fe loucura Ainda nesse universo ja em 1876 eres santas e milagrosas uma que apareceu na romarias dos seus devotos e outra velha

urar doenltas incuraveis com ervas 955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2) s do sagrado e do profano da fe da devoltao

bricadas no que concerne as praticas dos o e influencia redproca entre as ins tlmcias das a recrialtao pelas leigos entre 0 div1110 e a

omentos e lugares em que essas aspiraltoes sociais serviam tambem para promQyer a

deixando esse sobrevoo sobre a sociedade num segmento espedfico desta como na

ceber outros aspectos da cultura religiosa a amalgamada no territorio flumlnense aticas ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revista do Niese V2 N J JanJun 2002

os quais de forma geral sao vistos como conhecedores dela e por 1880 re8peitados

Nesse meio social ex1stiam aqueles inseridos na tradiltao catolica como uma preta v~lha do conto 0 Escrivao Coimbra que Camilo viu na igreja ajoelhada diante do altar de S Bernardo com urn rosario na mao parecenshydo pedir-lhe alguma coisa se nao e que the pagava em oraltoes 0 beneficio ia recebido ate que acabou beijando a cruz do rosario persignou-se levanshytou-se e saiu Outros aparecem como detentores de conhecimentos tradicishyonais e seus transmissores sendo rezadores que pediam guard a para seus senhores ou sabedores de promessas celebres como mandar dizer cern misshysas au subir de joelhos a ladeira da Gloria para ouvir uma ir a Terra Santa(Machado de Assis 19551229-30 1957c71177279) 0 negro idoso esta presente no universo das atividades catolicas como sineiros a exemplo do preto velho de Casa Velha que embora muito atrelado as tradiltoes africanas era sineiro mas nao fazia mais que tocar 0 sino da capela para a missa aos domingos Igualmente nesse ofieio IvIachado destaca Joao 0 sineiro da Gloria que de escravo ficou livre governando por quase meio seculo aquela torre regendo a par6quia e contemplando 0 mundo de 11 Reshypicava por casamentos nascimentos batizados mortes Dobrava pela febre amarela 0 colera-morbus os partidos que subiam ou cafam sem saber deles _ pela guerra do Paraguai pelos mortos e pelas vitorias peIo ventre livre das escravas a aboliltao a Republica pelo imperio_ se 0 imperio tornasshyse Tudo con[orme a ordem(tviachado de -5S1S 1956b193-4 1957b431-3)

Outras Ofertas e tensoes Feiti~arias Adivinha~oes e

Espiritismo

Ja outtos negros velhos aparecem atrelados as tradiltoes ancestrais mals circunscritas sendo depositarios de poderes de proteltao e guardioes de varios elementos que expressam traltos cultorals singulares das socledades afrishycanas 0 negtos produziram com suas linguas danltas folguedos sonoridashydes cantos e batoques uma ruptura com a -isao de mundo ocidental ao recorrerem mesmo que na clandestinidade a seus ritos seus deuses criando uma cultura negra brasileira a qual reeorriam alguns de seus senhores Em tal contexto embora insetidos em universo simb6lico marcado pda multiplicidade de crenltas praticas e visoes de mundo alguns aspectos da expressao lingiiisshyrica usada no cotidiano por brancos negros e mestiltos livres e cativos indishycam associaltoes ao cuhos africanos nos quais a ideia de familia e de laltos de parentesco permeiam os relacionamentos socialS e religiosos que sao intimashymente ligados Desta forma alguns pretos velhos eram ehamados de Pai sendo vistos como bondosos humildes generosos e paternais( Machado de Assis 1955d392 1957c279)

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Outros pretos velhos de modo mais dire to traziam conhecimentos ancestrais produzindo rituals que funcionavam como urn feitiqo protetor as vezes acendendo velas tocando marimba cantarolando em alguns instanshytes baixinho umas ozes de Africa cantilenas alegres guerreiras entusiasshytas em outros cantigas falando de santo de trabalhar de comer 0

que remete as praticas das oferendas e ao principio do candomble de existenshycia de forqas vitais e sagradas que perpassam todos os aspectos da vida mashyterial e cotidiana como as tarefas as formas hidicas como a musica a danqa o canto 0 gesto Assim tanto Raimundo de laid Garcia empertigava 0

corpo dando aos quadris e ao tronco 0 movimento de suas danqas africashynas quanto 0 peeto velho de Casa Velha que canta-a Calumga mussanga monandengue dando ao corpo umas sacudidelas para acompanhar a toshyada africana alem de recorrer as tradiltoes orais ao contar historias muito compridas e sem sentido algum para os brancos pOlS forjadas e inseridas noutro universo simbolico da maioria deles ignorado Desta forma essas manifestaltoes mantinham uma memoria reveladora de matrizes africanas que era alimentada pela danqa pela paIavra pelos gestos ou pelos objetos e oushytros vekulos de expressao e comunicaqao(Machado de Assis 1955h1114 1956b193-4 1957b432-3)

No entanto outros aspectos expressam ainda a religiosidade no universo de uma cultura afro-amerindio-brasileira na obra machadiana como a feitiqaria Num momento em que em nome da civilizaltao da ciencia e da razao os intelectuais e as autoridades medicas policicas e policiais voltaramshyse contra praticas ariadas denominadas ~fnericamente de feitisaria lIachashydo abordou essa questao de modo bastante proprio Nao associou tais pratishyeas ao universo socio-cultural espedflco dos negros como faziam outros jorshynalistas e tampouco os apreciou a priori de modo negativo e condenatorio Contrap6s-se ao conteudo de muitas notkias divulgadas na imprensa nas quais 0 negro era 0 bruxeiro 0 feiticeiro violento e barbaro com a figura de Raimundo que produzia urn feitiqo protetor a seu senhor afastando da imagem do preto que fazia feitico male fico para seus proprietarios(Schwarcz 1987125-8 Machado de Assis 1955h10)

Ao tratar da batalha contra os antigos habitos religiosos tradicionais da gentes em 1893 0 cronista anunciava ter medo do c6digo penal de 1890 no qual havia urn artigo que castiga duramente as pessoas que advinham 0

futuro tao duramente como as que aplicam drogas para excitar odio ou amor para fascinar e subjugar a credulidade publica Com base nesse as autoridades recolhiam adetenqao curandeiros e feiticeiras levan do as ferrashymentas desses ofieios ( ) incluidos no e6digo como delitos como aves mortas pernas de ceroula saquinhos com feijao arroz farinha sal altucar canjica penas e cabeltas de frangos usados na busca de estabelecer uma alianshyca com 0 sobrenatural a partir da aciio de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do

vivos deuses e homens(lIachado de Assis Assis a feitiqaria era alga natural do homen tivas alem de ser urn ofkio que garancia r fur tar e matar para sobreviver e infring1r 0

que nao falam de feitiltaria mas de furto doente acreditar na feiticaria e por julgar q soais que determinam tudo neste mundo I

acudir a feitiltaria considerando emao inee go penal como deli to c prender senhoras s com os seus olhos e com seus demais obj 1959b308-11 )

fachado rarefez 0 clima hostil de dos seus agentes nao as associando aos neg te que esse elbo costume de buscar nas fei ros quase sempre mesciltos _caboclos e eab agruras nao so se restringia ao pon) Muita dade recorriam aos adiyinhos e curandeiros erva como por meio dc rezas 0 eurand mazelas que devastaam a cidade como eOolltao de defuntos de espiritos difere de ler como as adivinhas mandando e curandeiro Tobias falava em prosa scm 0

cas ate ser preso com suag bugigangas e galo pes de galinha secas medalhas pohcoJ de raia incluidos no aparato instrumental sis 1956c248-9 267-8 19S5d426-7)

Buscar os adivinhos e feiciceiros era ricas ainda que nesta muito preconceitos vando muitas ezes a consultas escondidas redor dc uma caboc1a muito conhecida do adivinha era grande e segundo 0 narrador da sociedade falavam dela a serio e havia ta um Juiz municipal cuja nomeaqao foi ar era muito falada na cidade e reinava Ii n(

merosa que vinha de muito mcses scndo queza da adivinha Toda a gcnte falan e assunto da cidade atribuiam-lhe um pode sortes achados casamento Afirmavam e 0 que vifia a scr Para 0 poo parccia muitas as noticias sobre seus feitos e ha-ia ~ soas que tinham perdido e achado joias e esc ~- polkia mesma quando nao acabaYl1 de

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de modo mais dire to traziam conhecimentos

tronco 0

funcionavam como urn feitio protetor

marimba cantarolando em alguns instanshy cantilenas alegres guerreiras entusiasshy

de santo de trabalhar de comer 0

e ao principio do candomble de existenshyperpassam todos os aspectos da vida mashy

as formas ludicas como a musica a danca Raimundo de laid Garcia empertigava 0

movimento de suas dancas africashyVelha que cantava Calumga ~ussanga umas sacudidelas para acompanhar a to-

as tradicoes orais ao contar historias muito para os brancos pois foqadas e inseridas

maioria deles ignorado Desta forma essas memoria reveladora de matrizes africanas que palavra pelos gestos ou pelos objetos e oushy

~uluIlltaya()(ilachado de Assis 1955h1114

expressam ainda a religiosidade no merind()-trastllra na obra machadiana como

que em nome da ciyilizacao da ciencia e da medicas politicas e policiais oltaramshy

1955hlO)

loolinadls genericamente de feiticariatvfachashybastante proprio Nao associou tais pratishy

_middot~neIflr dos negros como faziam outros jorshy

apriori de modo negativo e condenatorio muitas noticias divulgadas na imprensa nas o feiticeiro violemo e barbaro com a figura

feitico protetor a seu senhor afastando da maletico para seus proprietarios(Schwarcz

os antigos habitos religiosos tradicionais anunciava ter medo do codigo penal de 1890

duramente as pessoas que advinham 0

as que aplicam drogas para excitar odio ou a credulidade publica Com base nesse as curandeiros e feiticeiras levando as ferrashy

lCitllid()s no codigo como deliros como aves

com feijao arroz fartnha sal acucar usados na busca de estabelecer uma alianshy

da alao de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

vivos deuses e homens(Machado de Assis 1959a288 1959b308) Para De Assis a feiticaria era algo natural do homem vista em varias tribos primishytivas alemde ser urn oficio que garantia renda a muitos impedindo-os de furtar e matar para sobreviver e infringir os mandamentos da lei de Deus que nao falam de feiticaria mas de furto Ironicamente diz que por estar

doente acreditar na feiticaria e por julgar que sao sempre os l11teresses pesshysoals que determinam tudo neste mundo estava com grandes desejos de acudir afeiticaria considerando entao incorreto incluir a feiticaria no codishygo penal como delito e prender senhoras so porque fecham 0 corpo alhelO com os seus olhos e com seus demais objetos de culto(Machado de ASS1S

195308-11) Machado rarefez 0 clima hostil de desqualificacao dessas praticas e

dos seus agentes nao as associando aos negros e enfatizando incansavelmenshyte que esse velho costume de buscar nas feiticeiras adivinhas e curandeishy

ros quase sempre mesticos _caboclos e caboclas _ auxilio as imluietacoes e agruras nao s6 se restringia ao povo Tfuitas pessoas de posiltao na SOC1eshydade recorriam aos adi-inhos e curandeiros e os ultimos curavam tanto com ervas como por meio de rezas 0 curandeiro Nascimento curaa muitas mazelas que devastayam a cidade como barriga dagua com passes de evocacao de defuntos de espiritos diferentes ou arrancava dentes alem de Ie~ como as adivinhas mandando com tais e tais palaTinhas Ja 0

curandeiro Tobias falava em prosa sem 0 saber curaa em Hnguas classishycas ate ser preso com suas bugigangas e drogas tais como esporoes de galo pes de galinha secos medalhas polvora e ate urn chicote feito de rabo de raia inc1uidos no aparato instJumental de seus ritualS (ilachado de Asshysis 1956c248-9 267-8 1955d426-7)

Buscar os adivinhos e feiticeiros era costume presente entre as classes ricas ainda que nestas muitos preconceitos contra tais praticas existissem leshyvan do muitas vezes a consultas escondidas como ocorre em Esau e Jaco ao redor de uma cabocla muito conhecida do Ilorro do Castelo lt fama des sa adivinha era grande e segundo 0 narrador muira gente boa Ja ia pessoas da sociedade fala am dela a serio e havia um caso recente de pessoa dis tinshy

ta urn juiz municipal cuja nomeacao foi anul1ciada pela cabocla A caboc1a era muito falada na cidade e reinava la no morro possuindo freguesia nushymerosa que vtnha de muttos meses sendo sinal certo da videncia e da franshyqueza da adivinha Toda a gente fahlYa entao da cabocla do Castelo era 0

assunto da cidade atribuiam-lhe um poder tntlnito uma serie de milagres sortes achados casamentos AfirmaalU que cia adivinhaya tudo 0 que era eo que iria a ser Para 0 povo parecia que era mandada de Deus Eram muitas as noticias sobte seus feiros e hayia gente que dizla que conheC1a pe5shysoas que tinham perdido e achado joias e escraos De acordo com 0 narrador A policia mesma quando nao acabaa de apanhar um criminoso ia ao Casshy

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tela falar acabocla e des cia sabendo por i5S0 eque nao a botava para fora como os invejasos andavam a pedir A caboda explicava sonhos e pensashymentos curava quebranto(Machado de Assis 1959d43-4)

Segundo Aires tal costume era velho e velhissimo e no interior da casa simples nao havia nada que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshynhum petrecho simbalico nenhum bicho empalhado esqueleto ou desenho de aleiJoes Quando muito urn registro da [festa de Nossa senhora da ] Conshy

colado a parede podia lembrar misterio mas nao metia medo A cabocla e descrita com simpatia e 0 ritual sem afetacao Era uma criaturinha leve e breve ( ) corpo airoso com urn raminho de arruda nos cabelos 0

que ja the dava urn certo ar de sacerdotisa embora seu misterio estivesse mesmo era nos olhos agudos e compridos que entravam peIo consulente revoh-endo-Ihe 0 coracao ao tempo que interrogava Em transe de posse de retratos e cabelos de alguem ausente com urn cigarro acesso ao som de uma viola e de cantigas do sertao do Norte murmuradas por urn velho caboclo entrava a dizer sobre as coisas futuras ate que por fun 0 fregues se alegre e rico tirava uma nota de cinquenta mil-reis quando 0 preco do costume era cinco ezes menos arrecadaYa seus objetos e saia (Machado de Assis 1959d 7shy16) Essa cabocla com origem no norte do pais assim como outros caboclos curandeiros perseguidos pela policia remete apresenca dos caboclos no unishyverso das pniticas religiosas brasileiras que sendo figura mestica esta vinculashyda a nossos ancestrais nativos os indios donos da terra e ligados anatureza no tradicao dos cultos afro-brasileiros

No en tanto no campo das batalhas religiosas tais praticas tiveram outros opositores tal como os adeptos do nascente espiritismo que contagishyados peIo espirito positivo~cientificista do momenlO na busca de credibilidade ptlblica e de converter fieis incutindo-lhes seus pressupostos diziam possuir doutrina regida por leis cientificas ao querer excluir qualshyquer maculf[ de seita e julgavam-se sabedores das verdadeiras luzes do mundo e de verdades eternas Desta forma um iniciado nessa religiao defendia uma consulta espirita e na~ a caboda do Castelo por mais que ela fosse celebre Recorrer a ela seria imitar as crendices da gente reles e s6 ocorreria ate enquanto a policia nao pusesse cobro ao escandalo J a numa consulta espirita algum espirito podia [dizer] a verdade em vez de uma adivinha de farsa Para urn medium espirita enfiado em larga camisola de seda e usando toda a terminologia espirita assomada de casos fenomeshynos misterios testemunhos atestados verbais e escritos a cabocla devia ser deixada afe das senhoras pois eram delas crencas da meninice(Machado de Assis 1959d79113843-6646770 1957h10-1)

Cabe aqui ressaltar que nesta obra Esau e Jac6 a qual trata desses variados aspectos espirituais acima apontados advindos de tradicoes culturais e religiosas diversas Machado sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religi~

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OPSIS - Revista do

oso expondo a imbricacao das praticas ori catolicismo e 0 confronto com 0 espiritismc bases do que seria posteriormente denomin nomes dados as pessoas podem predestina ligacao entre 0 fato dos filhos do casal Sanl quais a cabocla disse terem brigado no ventr des entre estes porque os dois apostolos do garam assim como Esau e Jaco figuras do brigado por causa da primogenitura

Porem lIachado nilO recorre ao eSI conto Uma visita de Alcibiades 0 desemba S1caO juntamente com Santos aCllna citado essa doutrina propagaya ao ler Plutarco fun litava envoher a imaginaltao numa especie vel as evocacoes mentais transportou-se pa de Alcibiades ate que ao terminar de [umar de subilO pensou qual seria a impressiio daqu ario Desta feita enfatizando (lue era urn 1

podendo mesmo dizer que vlvia cornia dor cafe e esperava morrer na fe de Alan Kard os sistemas sao pura niilidades tinha adota sim sendo espiritista evocou lcibiades a c fez rapido aproximando duas civilizacoes impalpavel e sim urn homem de carne e mente a sua frente entrando a conersar sob o grego empalideceu cambaleou e caiu r desembargador mandou~o para 0 necroteno

o espiritismo sen-iu como assunto nas quais quasc sempre ri brinca e ironiza sc cando as vezes compreende-los por mais laquo

correndo a estrategias comicas Desta forma situacoes nebulosas como uma que exigia p teoria de Newton sugerc consultar 0 propri vez que nao entendia nada de astronomia Er brasileiros acabavam de dar um golpe de m urn medium com fama de ser prodigioso e sileira nomeado uma comissao para estudar nao valia a fama e que os trabalhos ficararr Europa e outro paises mas que 0 problen estao sujeitas a esse eclipses e nao estao Fora i5S0 a Federacao lamentaa que diante mular os fenomenos que obtem nas condie

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_UJUUV por 1SS0 e que nao a botava para fora a pedir A caboda explicava sonhos e pensashy

UVll1Ul1lU de Assis 1959d43-4)

vmiddotOLU1l1C era velho e velhissimo e no interior da que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshy

UUilU bicho empalhado esqueleto ou desenho registro da [Festa de Nossa senhora da 1Conshylembrar misterio mas nao metia medo A eo ritual sem afetas-ao Era uma crtaturinha

com urn raminho de arruda nos cabelos 0

sacerdotisa embora seu misterio estivesse e compridos que entravam pelo consulente

tempo que interrogava Em transe de posse de ausente com urn cigarro aces so ao som de uma do Norte murmuradas por urn velho cabodo

futuras ate que por fim 0 fregues se alegre ~lu-uLa mil-reis quando 0 pres-o do costume era

seus objetos e saia(Machado de Assis 1959d7shyno norte do pais assim como outros cabodos

polleia remete a presens-a dos cabodos no unishyIIJ[l1~JlC1Jl1 que sendo Figura mestis-a esta vlnculashy

os indios donas da terra e ligados anatureza

das batalhas religiosas tais praticas tiveram adeptos do nascente espiritismo que contagishy

__rpntificista do momento na busca de nrprtpr fieis incutindo-Ihes seus pressupostos

por leis cientificas ao querer exduir qualshysabcdorcs das yerdadeiras luzes do

Desta forma urn iniciado nessa religiao

rfu~ ~clt5u-(r(l1H-gn1ru lJ(YL nril ljlft1hgt

seria imitar as crendices da gente reles e so nao pusesse cobro ao esdindalo Ja numa

podia [dizer] a verdade em vez de uma Pltd11lIl espirita enfiado em Iarga camisola de

espirita assomada de fenomeshynauo verbais e escritos a cabocla devia ser

eram delas crenltas da meninice(Machado 770 1957hl0-1)

nesta obra Esau e Jaco a qual trata desses apontados advindos de tradiltoes culturais

sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religishy

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oso expondo a imbricaltao das praticas origin arias dos amedndios com 0

catohcismo e 0 confronto com 0 espiritismo que amalgamados crtavam as bases do que seria posteriormente denominado de umbanda Aponta que os nomes dados as pessoas podem predestinar seus caminhos ao estabelecer ligaltao entre 0 fato dos filhos do casal Santos chamarem Pedro e Paulo os quais a cabocla disse terem brigado no ventre da mae e indicando as rivalidashydes entre estes porque os dois apostolos do Novo Testamento tam bern brishygaram assim como Esau e Jac6 figuras do Velho Testamento tinham ainda brigado por causa da primogenitura

Porcm Machado nao recorre ao espirttismo apenas nessa obra No conto Uma visita de Alcibades 0 desembargador Alvares que por sua poshysiltao juntamente com Santos acima citado indica 0 meio abastado em que essa doutrina propagaa ao ler Pluta reo fumando um charuto que possibishylitava envolver a imaginas-ao numa especie de nimbo extremamente favorashyvel as evocaltoes mentais transportou-se para a antiga Atenas pois lia a vida de Alcibiades ate que ao terminar de fumar voltou aos tempos modernos e de subito pensou qual seria a impressao daquele ateniense sobre n0550 vestushyano Desta feita enfatizando que era urn tanto espiritista ( ) ate muito podendo mesmo dizer que livia comia dormia passeava conversava bebia cafe e esperava morrer na fe de Alan Kardec pois convencido que todos os sistemas sao pura niilidades tinha adotado 0 mais jovial de todos Asshysim sendo espiritista evocou Alcibiades a comparecer em sua casa e esse 0

fez tapida apraximando duas civilizayoes Mas esse nao era uma sombra impalpavel e sim um homem de carne e ossos que se sentou benevalashymente a sua frente entrando a conversar sobre 0 assunto de interesse ate que o grego empalideceu cambaleou e caiu no chao Dian te do cadaver a desembargador mandou-o para 0 necroterio(Machado de Assis 1956a203-7)

o espiritismo serviu como assunto em varias cronicas machadianas

nas qua~s quasc selnpre ri brinca e lroniza seus enunciados e principios busshycando as vezes compreende-Ios por mais estranheza que provocassem reshyoottendo a estrateglaS comicas Desta forma ha momentos em que diante de situa~oes nebulosas como uma que exigia para sua solus-ao conheCImento da teoria de Newton sugere consultar 0 proprio por meio do espiritismo uma vez ~ue nao entendia nada de astronomia Em outro comenta que os espiritas brasilerros acabavam de dar um golpe de mestre quando apareceu na cidade ~medium com fama de ser prodigioso e tendo a FederaS-ao Espirita Brashysiletra nomeado uma comissao para estudar os fenomenos concluiu que de nao valia a fama e que as trabalhos ficatam abaixo do que se conseguia na Eur~pa e ~utros paises mas que 0 problema estava nas mediunidades que estao Su)eHas a esses eclipses e nao estao senrilmente anossa dispasis-ao Fora 1550 a Federaltao lamentava que diante de tudo a medium huscasse 5ishymular os fenomenos que obtem nas condis-oes normais Segundo Machashy

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do chistosamente 0 medium nao s6 foi ( ) apenas mmtmum mas ate procurou embasar a Federasao(lvlachado de Assis 1958b177 1956c123)

As estrategtas e argumentos usados pelos propagadores da nova doushytrina geralmente expostos nas conferencias promovidas pela Federaltao ou publicados na Uniao Espirita na busca de adeptos e de convemles tambem nao escaparam aeritica machadiana principalmente devido a sua indisposisao a tudo que se propagava como sendo verdade unica e absoluta levando-o a destilar sua eostumeira ironia em varios eseritos sobre essa doutrina e suas praticas Dentre eles destaeamos a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima verdadeira e definitiva doutrina e que substituiria todas as religioes do passashydo 0 eronista reeorre sempre a essa proposiltao quando depara com fatos obscuros e irnpossiveis de destrinltar ocorridos na cidade buscando solucionashylos usando de carnavalizaltoes que acabam por ridieulizar toda e qualquer noltao de -erdade ou de tal pretensao Isso aconteee nao s6 ao que diz respeishyto a essa doutrina A artimanha para conquistar simpatias e fieis de divulgar Iista de pessoas eminentes da Europa que acreditavam no espiritismo foi por ele tambern censurada pois no seu dizer tudo ocorria de forma como se as pessoas devessem crer por crer em tudo aquilo que na Europa e acreditado(~1achado de Assis 1955b297-9 195188)

Ao redor do principio da encarnaltao e reencarnaltao Machado fez yarias elucubraltoes supondo situaltoes tratadas de forma humoristica as quais contribuiam para difundir alguns de seus principios Assim ao vislumbrar uma certa promiscuidade geral dos desencarnados divulga 0 principio de que 0 espirito pode reencarnar inclusive na mesma familia sendo viivel que um homem pudesse ter uma ftlha depois morrer e voltar filho dela ou urn menino voltar filho de urn prin10 Se em alguns momentos pesa a mao contra os espiritistas dizendo que 0 espiritismo nao e menos curanderia que os outros curandeiros e que se fosse legislador mandava fechar todas as igrejas des sa religiao em outros em tom ate didatico enfatiza que 0 princishypio espirita e fundado no progresso e a leI e nascer morrer tornar a nascer e renascer ainda progredir sempre sendo que 0 renascimento epara meshylhor Cada espirita em se desencarnando vai para os mundos superiores Reflete ainda sobre a distancia entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo que 0 principio espirita nao e 0 mesmo da transmigrasao em que as aIm as vao para os corpos dos animalS mas fundado no progresso(Machado de Assis195100-2188)

Acreditando ser representativo do pensamento ultimo de Machado a respeito do espiritismo em 1895 ele defende seu exercicio pois a Constituishyltao estabclece 0 direito de liberdade religiosa No seu dizer 0 espiritismo e uma religiao que ele nao sabia se falsa ou verdadeira embora os espiritas dissessem que verdadeira e unica frente ao que ressaIta que presunltao e agua benta cada um toma a que quer Se verdadeiros ou nao [continual 0

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fato e que escrevem-se e publicam-se inUn jornais espiritas e no Rio havia uma ou dl acreditara que nao se gasta tanto papel em a palavra que se esta escrevendo e a propria seguinte 1896 comenta (lue ha muito que ( tos escreyem pclos dedos dos vhos e que mundo e neste final de urn grande seculo(1

Desta forma a cultura carioca oitoclt diversas de religiosidade e de expcriencias com 0 divino 0 campo religioso apresent possibilidades variadas de vivenciar a proCl debatem em confronto entre si quanto se a] produzindo formas hibridas e sincreticas de lam os homens a seus deuses com tambem a em parte de seus lasos de sociabilidade

Fontes e Referencias B

BORGES Valdeci Rezende Em busca do 11

Rio de l1achado de Assis Estudos Histor Pesquisa e Documentaltao da Hist6ria Conte Getulio Vargas no 28 p 49-69 2OC) BOCRDIEC Pierre A Economia das TrOt pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Si Paulo Cia Das Letras 1989 ivLCI1ADO DE ASSIS Joaquim r1aria C 10 WMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b _ Cronicas v 2 1955c

Cronicas v 4 1955d

_ Helena 1955e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Historias Romanticas _ 1955g _ laid Garcia 1955h _ Memorial de Aires 19551

Pdginas Recolhidas _ 1955 Reliquias de Casa Velha v 1 _ 195 Contos Esquecidos Rio de Janeiro ClY

_ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Rejlexoes de um Relojoeiro _ A Mao e a Luva Sao Paulo M Jad

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mio s6 foi () apenas minimum mas ate WHltV de Assis 1958b 177 1956c123)

usados pelos propagadores da nova doushyconferencias promovidas pela Fede1aio 01

na busca de adeptos e de conversoes tambem principalmente devido a sua indisposiltilO

sendo verdade unica e absolura levando-o a em vanos escritos sobre essa doutrina e suas

a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima e que substituiria todas as religioes do passashya essa proposicao quando depara com fatos

ocorridos na cidade bus cando soluciomishyque acabam por ridiculizar toda e qualquer

temao Isso acontece nao 56 ao que diz respeishypara conquistar simpatias e fieis de divulgar

Rur(ma que acreditavam no espiritismo foi por seu dizer tudo ocorria de forma C01no se as crer em tudo aquilo que na Europa e 1955b297-9 195188)

da encarnacao e reencarnacao 1Iachado fez Grv~ tratadas de forma humoristica as quais

de seus principios Assim ao vislumbrar dos desencarnados divulga 0 prindpio de

inclusive na mesma familia sendo viavel que depois morrer e voltar filho dela au urn Se em alguns momentos pesa a mao

que 0 espiritismo nao e menos curanderia se Fosse Iegislador mandava fechar todas as em tom ate diampitico enfatiza que 0 princishy

e a lei e nascer morrer tornar a nascer sendo que 0 renascltnento e para meshy

uJ Tal para os mundos superiores entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo omesma da transmigraltao em que as almas

mas fundado no progresso(Machado de

do pensamento ultimo de Machado a ele defende seu exerdcio pois a Constimishy

religiosa No seu dizer 0 espiritismo e se falsa au verdadeira embora os espiritas

frente aa que ressalta que presunltao e quer Se verdadeiros ou nilO [continua] 0

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fata e que escrevem-se e publicam-se inumeros livros folhetos reistas e jornais espiritas e no Rio havia uma ou duas folhas espirita alem do que acrerutaa que nao se gasta tanto papel em tantas linguas senao crendo que a palavra que se esta escrevendo ea propria verdade Para finalizar no ano seguinte 1896 comenta que hi muito que os espiritas afirmam que os mOfshytos escrevem pelos dedos dos vivos e que para ele tudo e POSSIel neste mundo e neste final de urn grande seculo(Machado de Assis 1957b26274)

Desta forma a cultura carioca oitocentista esta permeada de formas diersas de religiosidade e de experiencias voltadas para a busca de Iigacao com 0 divino 0 campo religioso apresenta-se marcado pela presenca de possibilidades variadas de vlvenciar a procura do sagrado as quais tanto debatem em confronto entre si quanta se aproximam nas pniticas dos tieis produzindo formas hibridas e sincreticas de religiosidade que nao so vincushylam os homens a seus deuses com tambem aos outros homens constitumdo em parte de seus lacos de soclabilidade

FOlltes e Referihlcias Bibliogrtificas

BORGES Valdeci Rezende Em busca do mundo exterior sociabilidade no Rio de Machado de Assis Estudos Historicos Rio de Janeiro Centro de Pesquisa e Documentacao da Historia Contempodmea do Brasil da Fundaltao Getulio Vargas no 28 p 49-69 200l BOURDIEC Pierre A Economia das Trocas Simb6licas Sao Paulo Persshy

pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e hist6ria Sao Paulo Cia Das Letras 1989 MAClMDO DE ASSIS Joaquim Maria Contos Fluminenses v2 Sao PaushyloWMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b Cronicas v 2 1955c

_ Cronicas v 4 19S5d _ Helena _ 19S5e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Hist6rias Romanticas 1955g _ laid Garcia 1955h

Memorial de Aires 1955i _ Pdginas Recolhidas _ 1955j _ ReUquias de Casa Velha v 1 _ 19551 _ Contos Esquecidos Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1956a _ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Reflexoes de um Relojoeiro _ 1956c _ A Mao e a Luva Sao Paulo 11 Jackson inc 1957a

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A Semana v 3 1957b _ Dam Casmurra _ 1957c

Historias Sem Data 1957d

_ Memorias Postumas de Bras Cubas 1957e _ Quincas Borba 1957f

_ Requias de Casa Velha v 2 _ 1957g Varias Historias 1957h

_ Contos e Cronicas Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1958a _ Cronicas de Lelia 1958b _ A Semana v 1 Sao Paulo WMJackson inc 1959a

A Semana v 2 1959b _ Cronicas v 4 1959c _ Esau e Jaco 1959d

SCHv~RCZ Lilia Moritz Retrato em Branco e Negro jornals escravos em Sao Paulo no final do seculo XIX Sao Paulo Cia Das Letras 1987

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OPSIS - Revista do

CINEMA E RELIGI

ResuResumo

Propomos neste texto apre5cntar algushy 1ou

mas reflex6es sobre a ahordagem de ashy quell

lares no cinema presentes em nleu

filmes como E 0 vento levou Blade film~

Runnermiddot 0 Carador de Androides 0 Run

Exorcisca Matrix dentre outros Exor

Atualmentc vivemos em uma 50eiel urn gm-erno baseado na lei e na razao Ne pensar assentam-se nao mais somente nos v bem nos valotes politicos e sociais Disso religiosos cristaos em quase nada influeneiat de fazer visto que Igreja (como instituiltao) tados na lei

Apesar da atual sociedade aparentc s6lida temos que ter em mente que cia so mente ha pouco tempo malS preeisamente e s6 se consolidou a partjr do positivismo vivemos em uma sociedade ainda em form

mente nao influencia tanto a nossa maneir E isto s6 e verdade para as eham2

hoje existem diversas sociedades ditas tee arabes (Irii) 0 Afeganistao onde 0 fundarr em todos os nh-eis

1 Este texto foi prodU7ido a partir do curso ministr e Religiosidadcs com 0 objetivo de apresentar algUi as rcferencias dos filmes analisados 2 Mestre em Historia pcla UFSC Universidade F

Historia da rcdc publica do [stado de Minas Gerai

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c

Page 6: as Bibliogrdficas RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSISstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3224606.pdf · 16 'as Bibliogrdficas mentafao oral e tematica da seca: estu o Federal,

r OPSIS - Revista de i

Diabo As capas de algodao tern agora franjas de seda como as de vdudo tiveram franjas de algodao Que queres tu E a eterna contradiltao humana(l1achado de 8S1S 1957 d20-2) Ou seja os catolicos e a igreja catoshylica com suas capas de veludo ocultavam por baio atitudes vis paninhos de algodao acabando por deitar as urtigas a Escritura divina praticando seu oposto e escondendo-se awls de mascaras Assim revelava seu ponto de vista sobre essa instituiltao da qual expunha mazelas profundas convicltao frouxa desyios e encenaltao

Como urn desdobramento desse conto e ainda no sentido de aponshytar que as atitudes dos cristaos estavam mats para levar ao inferno do que para ao ceu Machado produziu a cronica 0 Sermao do Diabo dizendo ser urn pedalto do evangelho do Diabo urn sermao da montanha amaneira de S Mateus que imita aquele da igreja de Deus Nesse a semelhanlta entre os dois evangelhos e destacada e a adimataltao ao ambiente carioca e julgamento de sua gente e direta ao dizer 1 E vendo 0 Diabo a grande multidao de pOYO subiu a urn monte pOl nome Corcovado e depois de se ter sentado vieram a ele as seus discipulos Em seguida expos seus mandamentos que sao a negaltao dos diyinos e glorificam as comportamentos tortos dos fluminenses oitocentistas ao atrehi-los diretamente a suas altoes e modo moderno de viTer (Machado de lssis 1959a 110-5)

Catolicismos habitos costumes rituais e valores

No entanto procurando conhecer melhor as praticas catolicas enshycontramos muitas igrejas e deparamos com os sons de seus sinos permeando regendo e encantando a vida urbana Sao templos diversos ricos e humildes como as matrizes do Sacramento da Gloria da Se e as igrejas de Sao Francisshyco de Paula da Candelaria de Sao Jose do Carmo da Lapa do Espirito de Santo Antonio dos Pobres de Sao Domingos da Lampadosa alem de oushytros dispersos par bairros distantes acrescidos de capelas particulares em reshysidencias antigas onde muita gente da vizinhanlta ouvia missa aos domingos(Machado de Assis 1956b165 1955e42 1955i94)

Para adentrar tais templos seguimos a sugestao de IIachado de obshyservar se existia alguma janela aberta que indicasse a presenlta de pessoas la dentro e encontramos urn grande numero de c6negos padres e sacristaes como 0 padre Melchior de Helena e infindos outros Dentre tal categoria social esse sacerdote recebe de I1achado grande simpatia sendo descrito como verdadeiro varao apostolico homem de sua Igreja e de seu Deus integro na fe constante na esperanlta ardente 11a caridade Mas como ja visto essa benevolencia do cronista nao se estende a muitos do clero sendo restrita a algumas figuras como urn velho padre geralmente ligadas ainshyfllncia do escritor quando fora coroinha(Machado de Assis 1955e42

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1957b25) Se encontramos muitos clerigos n(

afazeres e praticas que expressam e estao sacristias altares imagens de santos miSSl

sermoes orquestras confessionarios confis _ campainhas rosarios livros de Horas altar sen-ilt-os da llltima hora _ sacramento procissoes opas varas de patio fieis ajoeU esm01as para rea1izar missas aquelas e agr~ Virgem San tis sima mas retirando para si a tar a sacristia (Machado de Assis 1957e 1957f257 1959d16-21301)

Para a1em desses habitos costume conhecimento dessas experiencias atentarr contramos fieis em momentos especiais e em praticas ordinarias como missas do di prias dos rituais de inicialtao como 0 ba como aniversarios casamentos ou de sep Por meio das celebralt-oes rituais do batism rativa a crianlta era iniciada no catolicisffilt sendo ainda apresentada formalmente aOt

essa ocasiao gera1mente acontecia comerr baile(1hchado de Assis 1957c344 195 considerados pais e maes esplrituais da cri em urn momento difkil como a morte parentes queridos e proximos ou pessoaE sociedade as quais pudessem proporcion aos pais e afilhados como par serem influ da crianca ou a decidiam em caso de d1 1955e152 1955f12 1957c343 1959d4

44-5) No entanto a escolha do nome ni

inserida no sistema simb6lico imediato de do qual inclusive as yezes buscavamiddot personalidade e do futuro do indiv1c deslocamento importante pois embora escolhido os nomes dos santos ap6sto afuhados sua atitude adequava-se aprim as crianltas so se punham nomes de sa tradiltao cat6lica daquele tempo mas a~

Marias Catarinas nem Joanas ( ) entran o aspecto as pessoas (Machado de A

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m agora franjas de seda como as de veludo

Que queres tu E a eterna contradiltao 57d20-2) Ou seja os catolicos e a igreja catoshycultavam por baixo atitudes paninhos de

as urtigas a Escritura divina praticando seu mascaras Assim revelava seu ponto de vista unha mazelas profundas convicltao frouxa

to desse conto e ainda no sentido de aponshystavam mats para levar ao inferno do que para onica 0 Sermao do Diabo dizendo ser um urn sermao da montanha t maneira de S ja de Deus Nesse a semelhanlta entre os dois

ataltao ao ambiente carioca e julgamento de E venda 0 Diabo a grande multidao de povo orcovado e depois de se ter sentado vier am eguida expos seus mandamentos que sao a

os comportamentos tortos dos fluminenses asoes e modo moderno de

abitos costumes rituais e valores

conhecer melhor as praticas catolicas enshyamos com os sons de seus 8in05 permeando ana Sao templos diversos rlCOS e humildes cia Gloria da Se e as igrejas de Sao Francisshy

300 Jose do Carmo da Lapa do Espirito de 300 Domingos da Lampadosa alem de oushytes acrescidos de capelas particulares em reshy

ta gente da vizinhansa ouvia missa aos 1956b165 1955eJ2 1955i94)

os seguimos a sugestao de ivlachado de obshyerta que indicasse a presenlta de pessoas hi e numero de conegos padres e sacristaes

e infindos outros Dentre tal categoria Machado grande sunpatia sendo descrito

lico homem de sua IgreJa e de seu Deus lta ardente na caridade tlas como jii

ta nao se estende a muitos do clero sendo urn velho padre geralmente ligadas ainshy

coroinha(Machado de Lssis 1955eA2

OP5I5 - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

1957b25) Se encontramos muitos derigos nos templos deparamos com seus

afazeres e priticas que expressam e estao atreladas a fe dos cariocas como sacristias altares imagens de santos missas algumas cantadas agua benta sermoes orquestras confessionarios confissoes _ajustes de contas com Deus

- campainhas rosarios livros de Horas circunflexoes fieis saudando ao altar seniltos da ultima hora _ sacramentos aos moribundos santos oleos _ procissoes opas varas de palio fieis ajoelhados irmaos das almas pedindo esmolas para realizar missas aquelas e agradecendo em nome de Deus e da Virgem Santissima mas retirando para si as esp6rtulas maiores antes de volshytar a sacristia (Machado de Assis 1957e50 1957c6097-9 100-2234-5 1957f257 1959d16-21301)

Para alem desses habitos costumes e rituais buscando aprofundar 0

conhecimento dessas experiencias atentamos para as formas de vive-las Enshycontramos fieis em momentos especiais e marcantes de suas vidas e ainda em praticas ordinarias como missas do dia-a-dia e aquelas celebratiyas pr6shyprias dos rituais de inicialtao como 0 batismo e dos rituais de passagem como aniversarios casamentos ou de separaltao como as missas de morto Por meio das celebraltoes rituais do batismo e em seguida da festa comemoshyrativa a crianca era iniciada no catolicismo e inserida na comunidade crista~

sendo ainda apresentada formaImente aos parentes amigos e vizinhos Por essa ocasiao geraImente acontecia comemoraltao em casa como almolto ou baile(Machado de Assis 1957c344 1955a392) Os padrinhos escolhidos considerados pais e maes espirituais da crianlta tinham 0 dever de nao faltar em um momento dificil como a morte dos pais e eram amigos intimos parentes queridos e pr6ximos ou pessoas importantes para a familia ou na sociedade as quais pudessem proporcionar sentimento de honra e orgulho aos pais e afilhados como por serem influentes N ao raro escolhiam 0 nome da crianlta ou 0 decidiam em caso de duvida dos pais(Machado de Assis 1955e152 1955f12 1957c343 1959d41-2 1957g34-5 1957a61 1957e 44-5)

No entanto a escolha do nome nao se dava de forma aleatoria estando inserida no sistema simb6lico imediato de referencia da sociedade por meio do qual inclusive as vezes buscava-se determinar alguns traltos da personalidade e do futuro do individuo Nesse sentido ocorria um deslocamento importante pois embora Perpetua por yolta de 1871 tenha escolhido os nomes dos santos ap6stolos S Pedro e S Paulo para seus afilhados sua atitude adequava-se aprimeira metade do secuio quando ( ) as crianltas s6 se punham nomes de santos ou santas de acordo com a tradiltao cat6lica daquele tempo mas agora ja nao se queriam -nas nem lfarias Catarinas nem Joanas () entrando em outra onomastica para variar o aspecto as pessoas (Machado de Assis 1957g34-5 1955i51)

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Para alguns homens a primeira confissao ocorria por epoca da quare sma 0 que levava a que muitos rapazes se escondessem debaixo da cama do padre confessor ou pelos desvaos da casa ji a segunda era pOt ocasiao de casar A cerimonia de casamento era vista como momenta de santidade e de muita comoltao povoando sempre os 50nh05 das mulheres com festas brilhantes muitos carras vesrido branco flores de latanjeira grinalda padrinhos ilustres Porem em 1fachado sao poucas as cenas de casamento e geralmente so em fantasia talvez por ptivilegiar sobretudo nos romances a vida das classes altas au daquelas em ascensao em que 0 casamento era urn negocio politico ou economico e a devoltao assim como 0 sentimento relig1oso fragil entrando em declinio ainda maior frente a outras atividades da vida mundana(Machado de Assis 1955i95)

Por meados dos oltocentos novas formas de sociabilidade foram implementadas desassociando-se cada vez mais daquelas da religiosidade cashytolica Ate entao nos momentos de cumprir as obrigaroes religiosas relacishyonava-se com 0 mundo exterior rompendo 0 enclausuramento usual princishypalmente da mulher No entanto a nova sociabilidade configurava-se ao reshydor de inusitados espaltos tempos e formas de recreio 0 gosto pela vida externa creSCla enquanto os antigos hibitos e costumes marcados pela religishyosidade foram sendo desprezados e em muitos casos abandonados(Borges 2001 49-69) )Jessa transformaltao da sensibilidade coletiva ocorre uma inflexao dos sentimentos e valores relativos ao sagrado e urn avanlto das forshyltas seculares Essa alteraltao apontada por Machado pode sel percebida por meio de urn conjunto de inrucios como a retirada dos quadros de santos da decoraltao das casas mais abastadas sendo substituidos quase sempre por pequenas gravuras inglesas ao passo que nas casas mais pobres a Virshygem era muita cultuada possuindo lugar excelso na devoltao dos corashyltoes maviosos Nessas podia nao haver urn Cristo mas sempre [havia] uma imagem de Nossa Senhora(Machado de Assis 1955f93 1955j91 1957bl08)

A tibieza da fe e a escassez de padres ordenados indicam ainda a diminuiltao da inspiraltiio religiosa e a expansao da secularizaltao ao lado da mudanlta referida nos novos nomes atribuidos aos nascidos nao mais ligados ao imagmano catolico(Machado de Assis 1955j91 1955i51 1959b80 1057c263308 1957d280 1955e13) Assim muita coisa mudava nas familias como 0 uso antigo que urn dos rapazes fosse padre 0 que alterava a direshy

ltao dada it educaltao 0 sentido e 0 rumo a seguir pelas novas geraltoes que geralmente aprendiam as primeiras letras latim e doutrina em casa com urn desses clerigos Eles incuriam noltoes sentimentos e orienravam as escoshyIha5 forjavam vocaltoes religiosas em seus disdpulos ao falarem de supostas manifestatoes daquelas como ocorreu com Bentinho que tinha seus brinqueshydos sempre de igreja e adorava os oEicios divinos brincando mesmo

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b

OPSIS - Revista do

com Capitu de dizer missas e tomando doc estudos secundarios fossem feitos ainda corr filhos ja mais autonomos escolhiam profi economico que oscilayam entre a medicina c busca da vida religiosa que foi acusada em 1 falar da escassez de padres orden ados no sem capehies(Machado de Assis 1959b80)

Nesse contexto e sentido ate prot Por mais que 0 vinculo moral da promessa D Gloria mac de Bentinho descrita como por volta de 1847 dar a Deus 0 filho como infancia 0 compromisso foi rompido postel saida de substitui-Io por urn mocinho 61 da oferta para compensar a batina que aqt tando segundo 0 narrador urn cochilo da mento religioso era marcado por altoes e interiormente a incredulidade era assaz dift distraida Para dc nesse tempo operou u

fez do paganismo e do catolicismo urn 1957c263 308 1957d280 1955e13 19

11as nao era so a familia de Bentin mundo e suas praticas socio-economicas ne Entre Santos expoe situaltocs interessantes passo que urn padre conta certo ocorrido pc de S Francisco de Paula Ao vcr luz sob a p do que se tratava e ouvindo conyersa fez il me antigo de enterrar os mortos nas igrejas mortos ali enterrados No entanto viu que igreja que sairam dos seus nichos e que senl altares comentavam as oraltoes e pedidos d Francisco de Sales contou 0 caso de Sales trazia seu nome e tinha a mulher doente desesperanltado cia terra voltou-se para I salva-la Pediu que a salvasse operando o cera mas ao passo que estabelecia 0 comp moeda que 0 ex-yoto hayia de custar e ac nossos emil ave-marias(Machado de Assi

Nesse momento sobretudo entre

censao a deoltao ficaa Iwbretudo releg Carmo que costumaYa ir a missa aos don por fadiga por doenlta ou por estar chov 0 seu livro com as suas rczas marcadas (

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a primeira confissao ocorria por epoca da muitos rapazes se escondessem debaixo da

desvaos da casa ja a segunda era por de casamento era vista como momento de

povoando sempre os sonh05 das mulheres vestido branco flores de laranjeira grinalda

Machado sao poucas as cenas de casamento e par privilegiar sobretudo nos romances a em ascensao em que 0 casalnento era urn

e a devoltao assim como 0 sentimento LUumiddotv ainda maior frente a outras atividades

Assis 1955i95) novas formas de sociabilidade foram

cada vez mais daquelas da religiosidade cashyde cumprir as obrigaroes religiosas relacishyrompendo a enclausuramento usual princishya nova sociabilidade configurava-se ao reshy

e formas de recrelO 0 gosto pela vida habitos e costumes marcados pela religishy

e em muitos casos abandonados(Borges da sensibilidade cole tin ocorre uma

relacivos ao sagrado e um avanlto das forshy___niua par Machado pode ser percebida por

como a recirada dos quadros de santos da sendo subscituidos quase sempre por

passo que nas casas mais pobres a Virshylugar excelso na deTOltaO dos corashy

nao haver urn Cristo mas sempre [havia] (Machado de 55is 1955pound93 1955j91

de padres ordenados indicam ainda a e a expansao da secularizaltao ao lado da

atribuidos aos nascidos nao mais ligados de Assis 1955j91 1955i51 1959b80

A881m muita coisa mudava na8 familias rapazes Fosse padre 0 que alterava a direshyo rumo a seguir pelas novas geraltaes que

letras latim e doutrina em casa com noltoes sencimentos e orientavam as escoshyem seus discipulos ao falarem de supostas

com Bencinho que tinha seus brinqueshyos ofici08 divinos brincando mesmo

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

com Capitu de dizer missas e tamando doce por hoscia Porem embora os estudos secundarios fossem feitos ainda com base religiosa em seminarios os filhos ja mais autonomos escolhiam profissoes de maior prestigio socioshyeconomico que oscilavam entre a medicina e 0 direito influindo na queda da busca da vida religiosa que foi acusada em 1894 pelo ex-bispo da cidade ao falar da escassez de padres ordenados no () seminario e das paroquias sem capelaes(1hchado de Assis 1959b80)

Nesse contexto e sentido ate promessas celebres eram quebradas Por mais que 0 vinculo moral da promessa prendesse indissoluvelmente D Gloria mae de Bentinho descrita como devota e que havia prometido la par volta de 1847 dar a Deus 0 61ho como sacerdote casu nao morresse na infancia 0 compromisso foi rompido posteriormente guando se encontrou a saida de subscitui-lo por urn mocinho orfao qualquer como pagamento da oferta para compensar a batina que aquele deitou as urtigas represenshytan do segundo 0 narrador urn cochilo da fe Segundo l1achado 0 sentishymento religioso era marcado por lt1ltaes e expressaes exteriores vis to que interiormente a incredulidade era assaz difusa e a deToltao magra tibia e distraida Para ele nesse tempo operou uma grande fusao religioa que fez do paganismo e do catolicismo urn so credo(ilachado de Assis 1957c263 308 1957d280 1955e13 1958b328)

Mas nao era so a familia de Bentinho que em conformidacle com 0

mundo e suas praticas socio-economicas negociava com 0 sagrado () conto Entre Santos expae situaltoes interessantes em torno da devoltao humana ao passo que urn padre conta certo ocorrido por epoca que era capelao da igreja de S Francisco de Paula Ao ver luz sob a porta do templo buscou descobrir do que se tratava e ouvindo conversa fez inferencias que nos revel a 0 costushyme antigo de enterrar os mortos nas igrejas ao perguntar se seriam vozes dos mortos ali enterrados No entanto viu que era urn dialogo entre os santos da igreja que sairam dos seus nichos e que semados em forma humana em seus altares comentavam as oraltoes e pedidos dos fieis no dia Dentre outros Sao Francisco de Sales contou 0 caso de Sales urn velho usuario e avaro que trazia seu nome e tinha a mulher doente com um erisipela na perna que desesperanltado da terra voltou-se para Deus pois so um milagre podia salva-la Pediu que a salvasse operando 0 milagre oferecendo uma perna de cera mas ao passo que estabelecia 0 compromisso s6 via diante dos 0lh05 a moeda que 0 ex-voto havia de custar e acabou prometendo rezar mil padre nossos emil ave-marias(l1achado de Assis 1957h27-44)

Nesse momento sobretudo entre as camadas sociais altas e em asshycensao a devoltao ficaa sobretudo relegada aos antigos e velhos como D Carmo que costumava ir amissa aos domingos e que como outras damas por fadiga por doenlta ou por estar chovendo quando nao 0 fazia pegaya 0 seu livro com as suas rezas marcadas ( ) amesma hora acompanha-a

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a missa toda frente 0 seu altarzinho e seu Cnsto instalados no gabinete e ao acabar beijava a imagem Essa senhora de acordo com sua crenlta nao saia de casa sem a beijar primeiro como urn pedido de proteltao nem voltava scm faze-Io como a dar graltas como 0 fazia ao deitar e ao levantar(lIachado de Assis 1955i197)

A igreja era lugar de exposiltiio seja em missas ordinarias festas de santos missas de mono de seUmo dia de morte e por alma do finado ~i se ostentava opulencia e distimao social sendo objeto de curiosidade publica chamando a atenltao sabre si com carruagens lacaios roupas e esportulas vultosas como a fizera 0 casal Santos emergentes na sociedade na missa de defunto na igreja de S Domingos Essa paroquia era adequada amissa recondita e anonima urn ato sem releyo sem pesames nem lagrishymas como gueria a casal ao mandar dizer missa par alma de urn parente pobre falecido em lIarica scm que aquela repercutisse em seu meio social(Machado de Assis 1959d23) Mas se esse templo era das camadas pobres os ricos au nO05 ricos como a senhora Santos que se queixou que ali sujara 0 estido e enchera-se de pulgas preferiam a de S Francisco de Paula au a da Gloria localizadas em bairros ricos como Flamengo e que eram consideradas lirnpas li os endinheirados tinham como uso velho mandal dizer missas anivelsarias de datas obituarias e natalicias(Machado de Assis 1955i94-5)

lIuitos flequentavam a igreja mais por imposiltao social dos mais Yelhos por ser lugar de se mostlar e estabelecer relaltoes socialS do que por deoltao sentida A jovem Maria Olirnpia tinha a vocaltiio da vida exterior e sentia urn singular feicilto nas procissoes e nas missas pelo rumor e pela pompa Ia aigrcja conduzida pela cia que era religiosa e tinha gosto partishycular em mostrar-se e em namorar os rapazes Sua devoltiio magra escasshyseou ainda mais com a chegada do primeiro espetaculo e 0 primeiro baile Os saloes torna~am-se os novos lugares do encontro e do diertimenshyto e muitos ja entao confundiam as praticas leligiosas com as canseiras da vida e fUgiam delas(Machado de Assis 1959d23-4 28 1957d280 1955i95) Virgilia tambem representa a comportamento da nova mulher presa nas forshyltas seculares ao ser uma jovem senhora casada que possuia urn amante e mostraYa-se pouco religiosa nao ouvindo missa aos domingos ou so indo as igrejas em dia de festa e quando havia lugar vago em alguma tribushyna Alcm disso tachava de beatas aquelas que cram so religiosas a que aponta par outro lado a existencia de mulheres que se dedicayam em excesshyso as praticas religiosas Porem rezava todas as noites com fervor ou pelo menos com sono em sua alcova junto a seu oratoriozinho de jacaranda Ja as homens eram considerados em geral uns impios nao plsavam na Igleja a nao sel para batizar as filhos(tvlachado de Assis 1957e185 1957f257)

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Mas se as individuos substituiam que com suas festas eram todo 0 recreio F tempos antigos ate mesmo a igreja nao e mundanizou-se Adotou os carrilhoes urn c~ tocavam peltas profanas chamando as fieis sinos das igrejas e produzindo uma or enfadonhas austeras graves religiosas ma~ pedaltos do Barbe Bleue da Bela Helen contrafaltao de Offenbach ou deg Amor te cassinos e no Alcazar teatro de opereta e Machado a missa da manhii e 0 fand se(Machado de -ssi5 1957d61 1959c16

Outlo costume do tempo dos vicemiddot processo de modemizaltao expressando p( mundo terreno era a de ingressar em confrlt tempos antigos ocorria por amor as cois pda busca de recompensas imediatas ac tomar materia publica a importimcia do 51

mediante a retribuiltoes como a instalaiio d da noticias para publicar em jornais sabre H(

da divulgaltao realizada pelo proprio bem do beneficio e da publicidade do nome e fi~ nas cogitaltoes publicas tornando~se se mandades de damas cram igualmente usa~ principalmente quando os jornais davam 1

os names das organizadoras 0 anuncio gI6ria(Machado de ssis 1957d26205~6

o mesmo ocorria em relacao as at de cunha religioso e assistencial erguidas fr da mendicidade As associaltoes de caridadt do muitas organizadas por senhoras que ~

nos aos famintos amoldavam-se ao mund cido religioso Por um lado adequada ao se as pedintes de esmola em portas das igre mais pobres com seus miseros vintenzinho prias almas pois por meio da caridade I almejando salvar especialmente a 5i mestnlt tado Por outro 0 beneficio alcanltado cor mundo material e nao espiritual como oc comissao de caridade de senhoras para pc com pessoas de destaque na sociedade q cima na sua busca de ascensao social AI~

i

l 1

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2

ho e seu Cristo instalados no gabinete e ao senhora de acordo com sua crenca nao saia

como urn pedido de protecao nem voltava gracas como 0 fazia ao deitar e ao 955i197)

posiao seja em missas ordinarias festas de setimo dia de morte e por alma do finado tincao social sendo objeto de curiosidade sobre si com carruagens lacaios roupas e a 0 casal Santos emergentes na sociedade na Domingos Essa par6guia era adequada

urn ato sem releyo sem nem higrishyandar dizer missa por alma de urn parente

em que aquela repercutisse em seu meio d23) Mas se esse templo era das camadas como a senhora Santos que se quelxou que e de pulgas preferiam a de S Francisco de s em bairros ricos como Flamengo e que

os endinheirados rinham como uso velho de datas obituanas e natalicias(Machado de

igreja mais por imposicao soclal dos mais r e estabelecer socials do que por

Olimpia cinha a vocaltao da vida exterior procissoes e nas missas pelo rumor e pela cia que era religiosa e cinha gosto parcishy

rar os rapazes Sua devoao magra escasshyda do primeiro espetaculo e 0 primeiro

novos lugares do encontro e do divercimenshyas praticas religiosas com as canseiras da

Assis 1959d23-f 28 1957d280 1955i95) portamento da nova mulher presa nas forshysenhora casada que possula urn amante e

nao ouvindo missa aos domingos ou s6 e quando havia lugar vago em alguma tribushytas aquelas que eram s6 religiosas 0 que de mulheres que se dedicavam em excesshy

rezava todas as noites com fervor ou pelo a junto a seu oratoriozinho de jacaranda em geral uns impios nao pisavam Hna

s f1lhos(Machado de Assis 1957e185

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

Mas se os individuos substituiam seus habitos sociais e religiosos que com suas festas eram todo 0 recreio publico e toda a arte musical em tempos antigos ate mesmo a igreja nao escapou da altao secularizante e mundanizou-se Adotou os carrilhoes um conjunto de sinos musicais que tocavam pe~as profanas chamando os fieis amissa subscituindo os pobres sinos das igrejas e produzindo uma orgia de notas nao de musicas enfadonhas austeras graves religiosas mas sons alegres e animados como pedaltos do Barbe Bleue da Bela Helena do Orfeu nos Infernos uma contrafaltao de Offenbach ou 0 Amor tern fogo tocados geralmente nos cassinos e no Alcazar teatro de opereta e da vida boemia Assim segundo Machado a missa da manhii e 0 fandango da noite aproximavamshyse(Ifachado de 1957d61 1959c168-9 1955d250 1959a68-9)

Outro costume do tempo dos vice-reis com significado alterado no processo de modernizaltao expressando pouca devoltao e grande apego ao mundo terreno era 0 de ingressar em confrarias e irmandades religiosas -Jos tempos antigos ocorria por amor as coisas pias mas no momento era peia busca de recompensas imediatas advindas do individual desejo de tomar materia publica a importancia do sujeito e seu espirito caritativo mediante a retribuicoes como a instalaao de retrato na sacriscia a emissao da nocicias para publicar em jornais sobre os beneficios que pracicava alem da divulgacao realizada peio pr6prio beneficiado Desta forma por meio do beneficio e da publicidade do nome e figura daquele que 0 fez entrava-se nas cogitaoes publicas tornando-se sempre Hlembrado~ Ivfesmo as 1rshymandades de damas eram igualmente usadas para dar brilho a suas juizas principalmente quando os jornais davam noticia minuciosa das festas com os nomes das organizadoras () anuncio nas folhas era um troco da gI6ria(Machado de Assis 1957d26205-6 1957e350 412-4 1956b44)

o mesmo ocorria em relaao as atividades associacivas ftlantr6picas de cunho religlOso e assistencial erguidas frente ao crescimento da pobreza e da mendicidade As associaltoes de caridade que aumentaram na cidade senshydo muitas orgamzadas por senhoras que coletavam donativos e reparciamshynos aos famintos amoldavam-se ao mundo profano e desviavam-se do senshytido religioso Por um lado adequada ao sentimenta cristao a mendicidade e os pedintes de esmola em portas das igrejas traziam as pessoas mesmo as mais pobres com seus miseros vintenzinhos a ocasiao de beneficiar suas pr6shyprias almas pois por meia da caridade punha-se em pracica 0 evangelho almejando salvar especialmente a S1 mesmo e nem tanto ao estranho necessishytado Par outro 0 beneficio alcamado com a caridade podia restringir-se ao mundo material e nao espiritual como ocorria com Sofia que usou de uma comissao de caridade de senhoras para p6r-se em evidencia e criar vfnculos com pessoas de destaque na sociedade que 1he dessem um empurriio para cima na sua busca de ascensao sociaL -lem disso nesse seculo utilitario e

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F

pnitico marcado pelo avanlto das forltas de secularizaltao e perda do espirishyto cristao ate mesmo a caridade tornava-se escriturada legalizada regulashymentada (Machado de Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192 1957e190-2 1959d301)

Junto ao povo 0 gosto das procissoes vinha de longe e estava bastante arraigado para os antigos uma tradiltao de infancia costume da primeira metade do seculo do tempo do rei e suas predileltoes confesshysadas por todas as yelhas carolices as quais seus contemporaneos choravam e pediam pelos tempos dos oratorios de pedta dos tetltos cantados das procissoes bem ordenadas das ladainhas atras do viatico das boas festas e dos bons trades da verdadeita fe e dos vetdadeiros filhos de Deus iias ja em 1865 essas ptocissoes classicas podiam dar ideia de tudo menos de urn culto serio e elevado pois ao lado dos anjinhos e andores floridos os homens iam em filas uns com tochas na mao outros com vara do palio disputadas pelos fieis pais dava uma distincao especial a quem a trazia Alguns iam dizendo pilh6rias aesquerda e adireita enquanto os assistentes comentavam as gracas jUTenis do anjo cantor que era sempre mQ(a feita Desta forma Machado julgava que essas procissoes e semelhantes praticas eram ridiculas nao podendo subsistir numa sociedade verdadeiramente telishygiosa pois uma folia mesmo para os mais sinceramente religiosos com as quais os sacerdotes serios nao deveriam conservarem cumplices( Mashychado de Assis 1958a101-2 Grifo meu)

Existia ainda a luta tradicional travada entre os diferentes templos com 0 unico objeto de primar uns sobre os outros no luxo das suas procisshysoes respectivas sendo essa luta por demais profana e manifestava-se por uma aculTIulacao de prata e ouro nos andores no mais numeroso concurso de irmaos e de anjinhos e outras coisas iguais Vivia-se 0 sagrado melo afolia comentari~s dos assistentes pilh6rias disputas e abusca do brilho e da distimao do que Machado duvidava muito que a divinshydade visse com bons olhos estes conflitos de primazia(Machado de Assis 1958alOl-2 1957c98-100 Grifo meu) No entanto se as procissoes eram filhas da tradiltao em 1865 algumas delas ja haviam sido suprimidas pelo process a de modernizaltao da igreja e para 0 cronista tudo fazia crer que as restantes tamb6m seriam Nesse sentido em 1893 avalia com certa melanshycalia a diferema entre uma procissao de Sao Sebastiao daquele ana e as de outrora dizendo Ordem numero pompa tudo 0 que havia quando era () menino tudo desapareceu(Machado de Assis 1958a101 1959a220)

Porem se 0 sagrado e 0 profano apresentavam-se quase sempre de maos dadas inclusive na esfera das praticas catolicas oficiais essa interpenetraltao tinha certos limites Em 1896 uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair em desftle por se denominar N ossa Senhora da Conceiltao De acordo com 0

cronista esse titulo pareCla esquisito mas se a intenltao eque salva a sociedashy

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OPSIS - Revista do

de vai para 0 ceu pais os autores da ideia tQS da Virgem e nao [tinham] 0 carnaval por desse poslcionamento 0 folhetinista acabou enfatizando que se tal socledade tinha igual g adotar denominaltao adequada e que na( Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos et gente mas sofriam tambem a altao dos novo se Eram de maior destaque a festa da Glol Reis de Sao Sebastiao do Espirito Santos e ( tinham lugar tanto a religiao com missa que F Deum quanto 0 recreio com fogos de artifi prendas Embora houvesse entre elas algum folhetinisra ao cabo de tudo [era] a mesml sao 0 que 0 leTaTa a lascimar que 0 fogo de da Penha [1eYavam] mats fi6is que 0 objeto es certo que todo caminho leva 11 Roma nao 0 i Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que t~

como tinham acabado muitas outras devoS meio recreativas Para ele 0 elemento estr mes com muita patinacao muita opereta m nossa populacao a rusticidade e 0 encanto d Assis 1958b121 1956b207 19S5g410 1955d147-8 Grifo meu)

~ festa do Espirito Santo igualmel contista em A Parasita Azul que transeOl Luzia Goias ao falar desse festejo aponta q que de todo se nao apagou 0 gosto dessas eras No entanto na Corte ainda persistia ( barracas Nao era diferente com a Festa de R 1864 Machado falava que a festa de S Joao tI fogueiras e baloes proibidos por postura mu obstante 0 ceticismo do tempo muita e m corter primelro que 0 povo [perdesse] 0

foguetear os tres santos em junho Porem ja Joao e tambern de Reis Sobre a ultima com popular perdurava no interior pois na c

anos e brotado em sua cinzas a arvore de t essas lTIudancas De Assis lamenta que os al ha nela de puetil para Sf) the deixar 0 que ha quem nem 15S0 fica esse perde 0 melhor ( sirnplorio e velho de noites abencoadas

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das for~as de secularizacao e perda do espirishytornava-se escriturada legalizada regulashy

Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192

das procissoes vinha de longe e estava os antigos uma tradi~ao de inGneia costume do tempo do rei e suas predileltoes confesshy

as quais seus contemporaneos choravam orat6rios de pedra dos terltos cantados das

ladainhas awis do yiatico das boas festas e fe e dos verdadeiros ftlhos de Deus 1as ja

sslcas podiam dar ideia de tudo menos de um ao lado dos anjinhos e andores floridos os

tochas na mao outros com vara do palio uma distin~ao especial a quem a trazia

aesquerda e adireita enquanto os assistentes do anjo cantor que era sempre molta feita que essas prociss()es e semelhantes pniticas

subsistir numa sociedade erdadeiramenterelishypara os mais sinceramente religiosos com as

nao deyeriam conservarem cumplices( 11ashyGrifo meu)

ttadlC1011al travada entre os diferentes templos uns sabre os outros no luxo das suas procisshy

luta por demais profana e manifestava-se e ouro nos andores no mais numeroso

e outras coisas iguais Viyia-se 0 sagrado dos assistentes pilherias disputas e abusca do que Machado duyidava muito que a divinshy

conflitos de primazia(Machado de Assis Grifo meu) No entanto se as procissoes eram

delas ja haviam sido suprimidas peIo igreja e para 0 cronista tudo fazia crer (lue as

sentido em 1893 avalia com certa melanshy)rOClssao de Sao Sebastiio daquele ana e as de nUmero pompa tudo 0 que havia quando era

(Machado de 1958a 101 1959a220) eo profano apresentavam-se quase sempre de das pciricas cat6licas oficiais essa interpenetraltao uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair

Senhora da Conceiltao De acordo com 0 mas se a inten~ao e que salva a sociedashy

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

de vai para 0 ceu pais as autores da ideia [eram] com certeza fieis deyoshytos da Virgem e nao [tinham] 0 caman por obra do diabo Porem apesar desse posieionamento 0 folhetinista acabou por concordar com a proibi~ao enfatizando que se tal soeiedade tinha igual gosto as ideias profanas deveria ado tar denominacao adequada e que nao faltam titulos (1vIachado de Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos eram populares e reuniam muita gente mas sofriam tambem a a~ao dos novos tempos e perdiam seu interesshyse Eram de maior destaque a Festa da Gloria da Penha da Conceiltao de Reis de Sao Sebastiiio do Espirito Santos e de Sao Benedito Em tais festas tinham lugar tanto a religiao com missa que poderia ser cantada e ate um TeshyDeum quanto 0 recreio com fogos de artificio barracas corretos leilao de prendas Embora houvesse entre elas algumas diferenltas de acordo com 0

folhetinista ao cabo de tudo [era] a mesma alcgria e a mesmlssima divershysao 0 que 0 leYaa a lastimar que 0 fogo de artificio da Gkma e 0 garrafao cia Penha ~evayam] mais fieis que 0 objeto essencial da festiyidade POlS se e certo que todo caminho leva aRoma nao a e que todo caminho lea ao ceu Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que talvez essa Festa tin~sse findado como tinham acabado muitas outras devoltoes populare~ melO religlOsas meio recreatiYas Para 0 elemento estrangeiro transformou os costushymes com muita muita opereta muita COlsa peregnna que tirou it nossa populaltao a rusticidade e 0 encanto de outros tempos(~1achado de Assis 1958b121 1956b207 1 10 1959c225 103 1957c77 1955d147-8 Grifo meu)

A Festa do Espirito Santo igualmente desaparecia e em 1870 0 contista em A Parasita Azul que transcorre por olta de 1850 em Santa Luzia GOlaS ao falar desse aponta que vao rareando os lugares em que de todo se nao apagou 0 gosto dessas festas classicas resto de outras eras No entanto na Corte ainda persistia 0 habito de muito irem ver suas barracas Nao era diferente com a Festa de Reis e dos santos juninos Se em 1864 Machado falaya que a Festa de S Joao tomaya-se falsificada sem fogos fogueiras e baloes proibidos por postura municipal em 1878 dizla que nao obstante a cetiClsmo do tempo muita e muita dezena de anos n1aia] de correr primeiro que 0 povo [perdesse] os seus antigo amores como foguetear os tres santos em junho Porem ja em 1894 trata da morte de S Joao e tambem de Reis Sobre a ultima comenta que nao sabia se essa festa popular perdurava no interior pois na capital tinha morrido ha muitos anos e brotado em sua cinzas a arvore de Natal vinda da Europa Frente a essas mudanltas De Assis lamenta que os anos que passam tiram afe a que ha ncla de pueril para so Ihe deixar 0 que ha serio Para de triste daqucle a quem nem iS50 fica esse perde 0 melhor das recordaltoes de um tempo simpl6rio e velho de noites abenltoadas em que as crendices sas abrem

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todas as vdasAs consultas as sortes as ovos guardados em agua e outras sublimes ridicularias as quais via com respeito com simpatia e se alguma coisa a molestaa era por nao as saber ja praticar( lvlachado de Assis 1957e62 1955f46 1955a318 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241 1959b13-4 123-4)

Ifas se na cidade 0 vento dos tempos desfazia em lufadas de tuGo essas praticas populares anrigas arraigadas no imaginario coletivo no interior de era brisa igual e mansa que tudo esfolhava e dispersava devagar 8Sim em 1864 0 cronista tratou de urn morador de Viana descobridor de uma imagem de Santa Teresa que lacrimejava e supondo ser milagre pos em alorolto as credulos vianenses considerando procedente realizar exame do fato por uma comissao de eclesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao das festas do Born Jesus em Pirapora que reuniam anualmente urn numero extraordinario e crescente de romeiros calculados naquele ana em 8000 pessoas J a em 1873 escreyeu sabre uma senhora que enlouqueceu quando depois de longa seca pediu chua enterrando uma imagem de Santo Antonio no rnato e alcanltou 0 pedido Porem como a chuva abundante nao cessava ao contrario 0 aguaceiro ia a mais matando inclusive animais yoltou ao buraco por acreditar que a preclpitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas nao 0 encontrou entrando a supor que os males derivavam da altao que praticara 0 cronista comentando 0 fato de Santo Anttmio gozar entre seus deyotos do exotico privilegio de nao conceder nenhuma gralta senao enterrado ou metido num poco so operando milagres a troco da liberdade consideraya que uma senhora religtosa fizera-se supersticiosa e que quando a fe chega a este ponto esta )a muito alem das fronteiras da superstiltao deixando seu praticante sem nenhuma das grandes consolaltoes da fe trazendo-lhc 0 desespero e a loucura Ainda nesse universo ja em 1876 trata da existenCla de duas mulheres santas e milagrosas uma que apareceu na Bahia em torno da qual formou romarias dos seus devotos e outra velha milagrosa que diziam curar doewas incuraveis com ervas misteriosas(Machado de Assis 1955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2)

Desta maneira as esferas do sagrado e do profano da fe da devoltao e do recreio estaam bastante imbricadas no que concerne as praticas dos catolicos havendo uma circulaltao e influencia reciproca entre as instancias das cerimonias e rituais oficiais e sua recnacao pelos leigos entre 0 divino e a folia entre 0 cuita e a festa Os momentos e lugares em que essas aspiracoes se concretizavam em praticas sociais serviam tambem para promover a interacao dos indivlduos lvlas deixando esse sobrevoo sobre a sociedade carioca e focalizando n0550 olhar num segmento especifico desta como na comunidade negra podemos perceber outros aspectos da cultura religiosa carioca Dessa cultura hibrida amalgamada no territorio fluminense observamos primeiramente as pratica ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revi$fa do

as quais de forma geral sao vistos como

respeitados N esse meio social existiam aqudes in

uma preta y~lha do conto 0 Escrivao Co ajoe1hada diante do altar de S Bernardo co do pedic-lhe alguma coisa se nao eque lhe recebido ate que acabou beijando a cruz tou-se e saiu Outros aparecem como detel onais e seus transmissores sendo rezadore senhores ou sabedores de promessas celebre sas ou subir de joelhos a ladeira da Glc Santa(Machado de Assis 19551229-30 1 esta presente no uniYerso das atividades cal do preto elho de Casa Velha que emb africanas era sineiro mas nao fazla mats q missa aos domingos 19ualmente nesse 0

sineiro da Gloria (lue de escrao ficou li~ seculo aquda torre regendo a paroquia e c( picava por casamentos nascimentos batiza amarela 0 calera-morbus os partidos qUI deles ~ pela guerra do Paraguai pelos mo livre das escravas a aboliltao a Republica plt se Tudo conforme a ordem(JIachado de

Outras Ofertas e tensoes Feiti~

Espiritism

Ja outros negros vclhos aparecem mais circunscritas senda depositarios de p( varios elementos que expressam traltas cultu canas 0 negros produziram com suas ling des cantos e batuques uma ruptura com recorrerem mesmo que na clandestinidade uma cultura negra brasileira a qual recorriar contexto embora inseridos em universo simi de crencas praticas e -isoes de mundo al~ tica usada no cotidiano por bran cos negro cam associalt6es ao cultos africanos nos ql parentesco permeiam os rdacionamentos s mente ligados Desta forma alguns pretos sendo vistos como bonciosos humildes g~ Assis 1955d392 1957c279)

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s sortes os ovos guardados em agua e outras

via com respeito com simpatia e se alguma ao as saber ja praticar( Machado de Assis 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241

vento dos tempos desfazia em lufadas de anrigas arraigadas no imaginario coletivo no nsa que tudo esfolhava e dispersava devagar

tou de urn marador de Viana deseobridor de que lacrimejava e supondo ser milagre pas ses considerando procedente realizar exame clesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao apora que reuniam anuahnente urn numero

romeiros calculados naquele ana em 8000 sobre uma senhora que enlouqueceu quando a enterrando uma imagem de Santo Antonio

Porem como a chuva abundante nao cessava mais matando inclusiye animais yoltou ao cipitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas supor que os males derivavam da altao que do 0 fa to de Santo Antonio gozar entre seus 0 de nao conceder nenhuma gralta senao s6 operando milagres a troeo da liberdade

giosa fizera-se supersticiosa e que quando muito alem das fronteiras da superstiltao nenhuma das grandes consolaltoes da fe loucura Ainda nesse universo ja em 1876 eres santas e milagrosas uma que apareceu na romarias dos seus devotos e outra velha

urar doenltas incuraveis com ervas 955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2) s do sagrado e do profano da fe da devoltao

bricadas no que concerne as praticas dos o e influencia redproca entre as ins tlmcias das a recrialtao pelas leigos entre 0 div1110 e a

omentos e lugares em que essas aspiraltoes sociais serviam tambem para promQyer a

deixando esse sobrevoo sobre a sociedade num segmento espedfico desta como na

ceber outros aspectos da cultura religiosa a amalgamada no territorio flumlnense aticas ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revista do Niese V2 N J JanJun 2002

os quais de forma geral sao vistos como conhecedores dela e por 1880 re8peitados

Nesse meio social ex1stiam aqueles inseridos na tradiltao catolica como uma preta v~lha do conto 0 Escrivao Coimbra que Camilo viu na igreja ajoelhada diante do altar de S Bernardo com urn rosario na mao parecenshydo pedir-lhe alguma coisa se nao e que the pagava em oraltoes 0 beneficio ia recebido ate que acabou beijando a cruz do rosario persignou-se levanshytou-se e saiu Outros aparecem como detentores de conhecimentos tradicishyonais e seus transmissores sendo rezadores que pediam guard a para seus senhores ou sabedores de promessas celebres como mandar dizer cern misshysas au subir de joelhos a ladeira da Gloria para ouvir uma ir a Terra Santa(Machado de Assis 19551229-30 1957c71177279) 0 negro idoso esta presente no universo das atividades catolicas como sineiros a exemplo do preto velho de Casa Velha que embora muito atrelado as tradiltoes africanas era sineiro mas nao fazia mais que tocar 0 sino da capela para a missa aos domingos Igualmente nesse ofieio IvIachado destaca Joao 0 sineiro da Gloria que de escravo ficou livre governando por quase meio seculo aquela torre regendo a par6quia e contemplando 0 mundo de 11 Reshypicava por casamentos nascimentos batizados mortes Dobrava pela febre amarela 0 colera-morbus os partidos que subiam ou cafam sem saber deles _ pela guerra do Paraguai pelos mortos e pelas vitorias peIo ventre livre das escravas a aboliltao a Republica pelo imperio_ se 0 imperio tornasshyse Tudo con[orme a ordem(tviachado de -5S1S 1956b193-4 1957b431-3)

Outras Ofertas e tensoes Feiti~arias Adivinha~oes e

Espiritismo

Ja outtos negros velhos aparecem atrelados as tradiltoes ancestrais mals circunscritas sendo depositarios de poderes de proteltao e guardioes de varios elementos que expressam traltos cultorals singulares das socledades afrishycanas 0 negtos produziram com suas linguas danltas folguedos sonoridashydes cantos e batoques uma ruptura com a -isao de mundo ocidental ao recorrerem mesmo que na clandestinidade a seus ritos seus deuses criando uma cultura negra brasileira a qual reeorriam alguns de seus senhores Em tal contexto embora insetidos em universo simb6lico marcado pda multiplicidade de crenltas praticas e visoes de mundo alguns aspectos da expressao lingiiisshyrica usada no cotidiano por brancos negros e mestiltos livres e cativos indishycam associaltoes ao cuhos africanos nos quais a ideia de familia e de laltos de parentesco permeiam os relacionamentos socialS e religiosos que sao intimashymente ligados Desta forma alguns pretos velhos eram ehamados de Pai sendo vistos como bondosos humildes generosos e paternais( Machado de Assis 1955d392 1957c279)

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Outros pretos velhos de modo mais dire to traziam conhecimentos ancestrais produzindo rituals que funcionavam como urn feitiqo protetor as vezes acendendo velas tocando marimba cantarolando em alguns instanshytes baixinho umas ozes de Africa cantilenas alegres guerreiras entusiasshytas em outros cantigas falando de santo de trabalhar de comer 0

que remete as praticas das oferendas e ao principio do candomble de existenshycia de forqas vitais e sagradas que perpassam todos os aspectos da vida mashyterial e cotidiana como as tarefas as formas hidicas como a musica a danqa o canto 0 gesto Assim tanto Raimundo de laid Garcia empertigava 0

corpo dando aos quadris e ao tronco 0 movimento de suas danqas africashynas quanto 0 peeto velho de Casa Velha que canta-a Calumga mussanga monandengue dando ao corpo umas sacudidelas para acompanhar a toshyada africana alem de recorrer as tradiltoes orais ao contar historias muito compridas e sem sentido algum para os brancos pOlS forjadas e inseridas noutro universo simbolico da maioria deles ignorado Desta forma essas manifestaltoes mantinham uma memoria reveladora de matrizes africanas que era alimentada pela danqa pela paIavra pelos gestos ou pelos objetos e oushytros vekulos de expressao e comunicaqao(Machado de Assis 1955h1114 1956b193-4 1957b432-3)

No entanto outros aspectos expressam ainda a religiosidade no universo de uma cultura afro-amerindio-brasileira na obra machadiana como a feitiqaria Num momento em que em nome da civilizaltao da ciencia e da razao os intelectuais e as autoridades medicas policicas e policiais voltaramshyse contra praticas ariadas denominadas ~fnericamente de feitisaria lIachashydo abordou essa questao de modo bastante proprio Nao associou tais pratishyeas ao universo socio-cultural espedflco dos negros como faziam outros jorshynalistas e tampouco os apreciou a priori de modo negativo e condenatorio Contrap6s-se ao conteudo de muitas notkias divulgadas na imprensa nas quais 0 negro era 0 bruxeiro 0 feiticeiro violento e barbaro com a figura de Raimundo que produzia urn feitiqo protetor a seu senhor afastando da imagem do preto que fazia feitico male fico para seus proprietarios(Schwarcz 1987125-8 Machado de Assis 1955h10)

Ao tratar da batalha contra os antigos habitos religiosos tradicionais da gentes em 1893 0 cronista anunciava ter medo do c6digo penal de 1890 no qual havia urn artigo que castiga duramente as pessoas que advinham 0

futuro tao duramente como as que aplicam drogas para excitar odio ou amor para fascinar e subjugar a credulidade publica Com base nesse as autoridades recolhiam adetenqao curandeiros e feiticeiras levan do as ferrashymentas desses ofieios ( ) incluidos no e6digo como delitos como aves mortas pernas de ceroula saquinhos com feijao arroz farinha sal altucar canjica penas e cabeltas de frangos usados na busca de estabelecer uma alianshyca com 0 sobrenatural a partir da aciio de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do

vivos deuses e homens(lIachado de Assis Assis a feitiqaria era alga natural do homen tivas alem de ser urn ofkio que garancia r fur tar e matar para sobreviver e infring1r 0

que nao falam de feitiltaria mas de furto doente acreditar na feiticaria e por julgar q soais que determinam tudo neste mundo I

acudir a feitiltaria considerando emao inee go penal como deli to c prender senhoras s com os seus olhos e com seus demais obj 1959b308-11 )

fachado rarefez 0 clima hostil de dos seus agentes nao as associando aos neg te que esse elbo costume de buscar nas fei ros quase sempre mesciltos _caboclos e eab agruras nao so se restringia ao pon) Muita dade recorriam aos adiyinhos e curandeiros erva como por meio dc rezas 0 eurand mazelas que devastaam a cidade como eOolltao de defuntos de espiritos difere de ler como as adivinhas mandando e curandeiro Tobias falava em prosa scm 0

cas ate ser preso com suag bugigangas e galo pes de galinha secas medalhas pohcoJ de raia incluidos no aparato instrumental sis 1956c248-9 267-8 19S5d426-7)

Buscar os adivinhos e feiciceiros era ricas ainda que nesta muito preconceitos vando muitas ezes a consultas escondidas redor dc uma caboc1a muito conhecida do adivinha era grande e segundo 0 narrador da sociedade falavam dela a serio e havia ta um Juiz municipal cuja nomeaqao foi ar era muito falada na cidade e reinava Ii n(

merosa que vinha de muito mcses scndo queza da adivinha Toda a gcnte falan e assunto da cidade atribuiam-lhe um pode sortes achados casamento Afirmavam e 0 que vifia a scr Para 0 poo parccia muitas as noticias sobre seus feitos e ha-ia ~ soas que tinham perdido e achado joias e esc ~- polkia mesma quando nao acabaYl1 de

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de modo mais dire to traziam conhecimentos

tronco 0

funcionavam como urn feitio protetor

marimba cantarolando em alguns instanshy cantilenas alegres guerreiras entusiasshy

de santo de trabalhar de comer 0

e ao principio do candomble de existenshyperpassam todos os aspectos da vida mashy

as formas ludicas como a musica a danca Raimundo de laid Garcia empertigava 0

movimento de suas dancas africashyVelha que cantava Calumga ~ussanga umas sacudidelas para acompanhar a to-

as tradicoes orais ao contar historias muito para os brancos pois foqadas e inseridas

maioria deles ignorado Desta forma essas memoria reveladora de matrizes africanas que palavra pelos gestos ou pelos objetos e oushy

~uluIlltaya()(ilachado de Assis 1955h1114

expressam ainda a religiosidade no merind()-trastllra na obra machadiana como

que em nome da ciyilizacao da ciencia e da medicas politicas e policiais oltaramshy

1955hlO)

loolinadls genericamente de feiticariatvfachashybastante proprio Nao associou tais pratishy

_middot~neIflr dos negros como faziam outros jorshy

apriori de modo negativo e condenatorio muitas noticias divulgadas na imprensa nas o feiticeiro violemo e barbaro com a figura

feitico protetor a seu senhor afastando da maletico para seus proprietarios(Schwarcz

os antigos habitos religiosos tradicionais anunciava ter medo do codigo penal de 1890

duramente as pessoas que advinham 0

as que aplicam drogas para excitar odio ou a credulidade publica Com base nesse as curandeiros e feiticeiras levando as ferrashy

lCitllid()s no codigo como deliros como aves

com feijao arroz fartnha sal acucar usados na busca de estabelecer uma alianshy

da alao de alimentar que fortalece e mantem

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vivos deuses e homens(Machado de Assis 1959a288 1959b308) Para De Assis a feiticaria era algo natural do homem vista em varias tribos primishytivas alemde ser urn oficio que garantia renda a muitos impedindo-os de furtar e matar para sobreviver e infringir os mandamentos da lei de Deus que nao falam de feiticaria mas de furto Ironicamente diz que por estar

doente acreditar na feiticaria e por julgar que sao sempre os l11teresses pesshysoals que determinam tudo neste mundo estava com grandes desejos de acudir afeiticaria considerando entao incorreto incluir a feiticaria no codishygo penal como delito e prender senhoras so porque fecham 0 corpo alhelO com os seus olhos e com seus demais objetos de culto(Machado de ASS1S

195308-11) Machado rarefez 0 clima hostil de desqualificacao dessas praticas e

dos seus agentes nao as associando aos negros e enfatizando incansavelmenshyte que esse velho costume de buscar nas feiticeiras adivinhas e curandeishy

ros quase sempre mesticos _caboclos e caboclas _ auxilio as imluietacoes e agruras nao s6 se restringia ao povo Tfuitas pessoas de posiltao na SOC1eshydade recorriam aos adi-inhos e curandeiros e os ultimos curavam tanto com ervas como por meio de rezas 0 curandeiro Nascimento curaa muitas mazelas que devastayam a cidade como barriga dagua com passes de evocacao de defuntos de espiritos diferentes ou arrancava dentes alem de Ie~ como as adivinhas mandando com tais e tais palaTinhas Ja 0

curandeiro Tobias falava em prosa sem 0 saber curaa em Hnguas classishycas ate ser preso com suas bugigangas e drogas tais como esporoes de galo pes de galinha secos medalhas polvora e ate urn chicote feito de rabo de raia inc1uidos no aparato instJumental de seus ritualS (ilachado de Asshysis 1956c248-9 267-8 1955d426-7)

Buscar os adivinhos e feiticeiros era costume presente entre as classes ricas ainda que nestas muitos preconceitos contra tais praticas existissem leshyvan do muitas vezes a consultas escondidas como ocorre em Esau e Jaco ao redor de uma cabocla muito conhecida do Ilorro do Castelo lt fama des sa adivinha era grande e segundo 0 narrador muira gente boa Ja ia pessoas da sociedade fala am dela a serio e havia um caso recente de pessoa dis tinshy

ta urn juiz municipal cuja nomeacao foi anul1ciada pela cabocla A caboc1a era muito falada na cidade e reinava la no morro possuindo freguesia nushymerosa que vtnha de muttos meses sendo sinal certo da videncia e da franshyqueza da adivinha Toda a gente fahlYa entao da cabocla do Castelo era 0

assunto da cidade atribuiam-lhe um poder tntlnito uma serie de milagres sortes achados casamentos AfirmaalU que cia adivinhaya tudo 0 que era eo que iria a ser Para 0 povo parecia que era mandada de Deus Eram muitas as noticias sobte seus feiros e hayia gente que dizla que conheC1a pe5shysoas que tinham perdido e achado joias e escraos De acordo com 0 narrador A policia mesma quando nao acabaa de apanhar um criminoso ia ao Casshy

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tela falar acabocla e des cia sabendo por i5S0 eque nao a botava para fora como os invejasos andavam a pedir A caboda explicava sonhos e pensashymentos curava quebranto(Machado de Assis 1959d43-4)

Segundo Aires tal costume era velho e velhissimo e no interior da casa simples nao havia nada que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshynhum petrecho simbalico nenhum bicho empalhado esqueleto ou desenho de aleiJoes Quando muito urn registro da [festa de Nossa senhora da ] Conshy

colado a parede podia lembrar misterio mas nao metia medo A cabocla e descrita com simpatia e 0 ritual sem afetacao Era uma criaturinha leve e breve ( ) corpo airoso com urn raminho de arruda nos cabelos 0

que ja the dava urn certo ar de sacerdotisa embora seu misterio estivesse mesmo era nos olhos agudos e compridos que entravam peIo consulente revoh-endo-Ihe 0 coracao ao tempo que interrogava Em transe de posse de retratos e cabelos de alguem ausente com urn cigarro acesso ao som de uma viola e de cantigas do sertao do Norte murmuradas por urn velho caboclo entrava a dizer sobre as coisas futuras ate que por fun 0 fregues se alegre e rico tirava uma nota de cinquenta mil-reis quando 0 preco do costume era cinco ezes menos arrecadaYa seus objetos e saia (Machado de Assis 1959d 7shy16) Essa cabocla com origem no norte do pais assim como outros caboclos curandeiros perseguidos pela policia remete apresenca dos caboclos no unishyverso das pniticas religiosas brasileiras que sendo figura mestica esta vinculashyda a nossos ancestrais nativos os indios donos da terra e ligados anatureza no tradicao dos cultos afro-brasileiros

No en tanto no campo das batalhas religiosas tais praticas tiveram outros opositores tal como os adeptos do nascente espiritismo que contagishyados peIo espirito positivo~cientificista do momenlO na busca de credibilidade ptlblica e de converter fieis incutindo-lhes seus pressupostos diziam possuir doutrina regida por leis cientificas ao querer excluir qualshyquer maculf[ de seita e julgavam-se sabedores das verdadeiras luzes do mundo e de verdades eternas Desta forma um iniciado nessa religiao defendia uma consulta espirita e na~ a caboda do Castelo por mais que ela fosse celebre Recorrer a ela seria imitar as crendices da gente reles e s6 ocorreria ate enquanto a policia nao pusesse cobro ao escandalo J a numa consulta espirita algum espirito podia [dizer] a verdade em vez de uma adivinha de farsa Para urn medium espirita enfiado em larga camisola de seda e usando toda a terminologia espirita assomada de casos fenomeshynos misterios testemunhos atestados verbais e escritos a cabocla devia ser deixada afe das senhoras pois eram delas crencas da meninice(Machado de Assis 1959d79113843-6646770 1957h10-1)

Cabe aqui ressaltar que nesta obra Esau e Jac6 a qual trata desses variados aspectos espirituais acima apontados advindos de tradicoes culturais e religiosas diversas Machado sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religi~

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OPSIS - Revista do

oso expondo a imbricacao das praticas ori catolicismo e 0 confronto com 0 espiritismc bases do que seria posteriormente denomin nomes dados as pessoas podem predestina ligacao entre 0 fato dos filhos do casal Sanl quais a cabocla disse terem brigado no ventr des entre estes porque os dois apostolos do garam assim como Esau e Jaco figuras do brigado por causa da primogenitura

Porem lIachado nilO recorre ao eSI conto Uma visita de Alcibiades 0 desemba S1caO juntamente com Santos aCllna citado essa doutrina propagaya ao ler Plutarco fun litava envoher a imaginaltao numa especie vel as evocacoes mentais transportou-se pa de Alcibiades ate que ao terminar de [umar de subilO pensou qual seria a impressiio daqu ario Desta feita enfatizando (lue era urn 1

podendo mesmo dizer que vlvia cornia dor cafe e esperava morrer na fe de Alan Kard os sistemas sao pura niilidades tinha adota sim sendo espiritista evocou lcibiades a c fez rapido aproximando duas civilizacoes impalpavel e sim urn homem de carne e mente a sua frente entrando a conersar sob o grego empalideceu cambaleou e caiu r desembargador mandou~o para 0 necroteno

o espiritismo sen-iu como assunto nas quais quasc sempre ri brinca e ironiza sc cando as vezes compreende-los por mais laquo

correndo a estrategias comicas Desta forma situacoes nebulosas como uma que exigia p teoria de Newton sugerc consultar 0 propri vez que nao entendia nada de astronomia Er brasileiros acabavam de dar um golpe de m urn medium com fama de ser prodigioso e sileira nomeado uma comissao para estudar nao valia a fama e que os trabalhos ficararr Europa e outro paises mas que 0 problen estao sujeitas a esse eclipses e nao estao Fora i5S0 a Federacao lamentaa que diante mular os fenomenos que obtem nas condie

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_UJUUV por 1SS0 e que nao a botava para fora a pedir A caboda explicava sonhos e pensashy

UVll1Ul1lU de Assis 1959d43-4)

vmiddotOLU1l1C era velho e velhissimo e no interior da que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshy

UUilU bicho empalhado esqueleto ou desenho registro da [Festa de Nossa senhora da 1Conshylembrar misterio mas nao metia medo A eo ritual sem afetas-ao Era uma crtaturinha

com urn raminho de arruda nos cabelos 0

sacerdotisa embora seu misterio estivesse e compridos que entravam pelo consulente

tempo que interrogava Em transe de posse de ausente com urn cigarro aces so ao som de uma do Norte murmuradas por urn velho cabodo

futuras ate que por fim 0 fregues se alegre ~lu-uLa mil-reis quando 0 pres-o do costume era

seus objetos e saia(Machado de Assis 1959d7shyno norte do pais assim como outros cabodos

polleia remete a presens-a dos cabodos no unishyIIJ[l1~JlC1Jl1 que sendo Figura mestis-a esta vlnculashy

os indios donas da terra e ligados anatureza

das batalhas religiosas tais praticas tiveram adeptos do nascente espiritismo que contagishy

__rpntificista do momento na busca de nrprtpr fieis incutindo-Ihes seus pressupostos

por leis cientificas ao querer exduir qualshysabcdorcs das yerdadeiras luzes do

Desta forma urn iniciado nessa religiao

rfu~ ~clt5u-(r(l1H-gn1ru lJ(YL nril ljlft1hgt

seria imitar as crendices da gente reles e so nao pusesse cobro ao esdindalo Ja numa

podia [dizer] a verdade em vez de uma Pltd11lIl espirita enfiado em Iarga camisola de

espirita assomada de fenomeshynauo verbais e escritos a cabocla devia ser

eram delas crenltas da meninice(Machado 770 1957hl0-1)

nesta obra Esau e Jaco a qual trata desses apontados advindos de tradiltoes culturais

sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religishy

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

oso expondo a imbricaltao das praticas origin arias dos amedndios com 0

catohcismo e 0 confronto com 0 espiritismo que amalgamados crtavam as bases do que seria posteriormente denominado de umbanda Aponta que os nomes dados as pessoas podem predestinar seus caminhos ao estabelecer ligaltao entre 0 fato dos filhos do casal Santos chamarem Pedro e Paulo os quais a cabocla disse terem brigado no ventre da mae e indicando as rivalidashydes entre estes porque os dois apostolos do Novo Testamento tam bern brishygaram assim como Esau e Jac6 figuras do Velho Testamento tinham ainda brigado por causa da primogenitura

Porcm Machado nao recorre ao espirttismo apenas nessa obra No conto Uma visita de Alcibades 0 desembargador Alvares que por sua poshysiltao juntamente com Santos acima citado indica 0 meio abastado em que essa doutrina propagaa ao ler Pluta reo fumando um charuto que possibishylitava envolver a imaginas-ao numa especie de nimbo extremamente favorashyvel as evocaltoes mentais transportou-se para a antiga Atenas pois lia a vida de Alcibiades ate que ao terminar de fumar voltou aos tempos modernos e de subito pensou qual seria a impressao daquele ateniense sobre n0550 vestushyano Desta feita enfatizando que era urn tanto espiritista ( ) ate muito podendo mesmo dizer que livia comia dormia passeava conversava bebia cafe e esperava morrer na fe de Alan Kardec pois convencido que todos os sistemas sao pura niilidades tinha adotado 0 mais jovial de todos Asshysim sendo espiritista evocou Alcibiades a comparecer em sua casa e esse 0

fez tapida apraximando duas civilizayoes Mas esse nao era uma sombra impalpavel e sim um homem de carne e ossos que se sentou benevalashymente a sua frente entrando a conversar sobre 0 assunto de interesse ate que o grego empalideceu cambaleou e caiu no chao Dian te do cadaver a desembargador mandou-o para 0 necroterio(Machado de Assis 1956a203-7)

o espiritismo serviu como assunto em varias cronicas machadianas

nas qua~s quasc selnpre ri brinca e lroniza seus enunciados e principios busshycando as vezes compreende-Ios por mais estranheza que provocassem reshyoottendo a estrateglaS comicas Desta forma ha momentos em que diante de situa~oes nebulosas como uma que exigia para sua solus-ao conheCImento da teoria de Newton sugere consultar 0 proprio por meio do espiritismo uma vez ~ue nao entendia nada de astronomia Em outro comenta que os espiritas brasilerros acabavam de dar um golpe de mestre quando apareceu na cidade ~medium com fama de ser prodigioso e tendo a FederaS-ao Espirita Brashysiletra nomeado uma comissao para estudar os fenomenos concluiu que de nao valia a fama e que as trabalhos ficatam abaixo do que se conseguia na Eur~pa e ~utros paises mas que 0 problema estava nas mediunidades que estao Su)eHas a esses eclipses e nao estao senrilmente anossa dispasis-ao Fora 1550 a Federaltao lamentava que diante de tudo a medium huscasse 5ishymular os fenomenos que obtem nas condis-oes normais Segundo Machashy

35

do chistosamente 0 medium nao s6 foi ( ) apenas mmtmum mas ate procurou embasar a Federasao(lvlachado de Assis 1958b177 1956c123)

As estrategtas e argumentos usados pelos propagadores da nova doushytrina geralmente expostos nas conferencias promovidas pela Federaltao ou publicados na Uniao Espirita na busca de adeptos e de convemles tambem nao escaparam aeritica machadiana principalmente devido a sua indisposisao a tudo que se propagava como sendo verdade unica e absoluta levando-o a destilar sua eostumeira ironia em varios eseritos sobre essa doutrina e suas praticas Dentre eles destaeamos a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima verdadeira e definitiva doutrina e que substituiria todas as religioes do passashydo 0 eronista reeorre sempre a essa proposiltao quando depara com fatos obscuros e irnpossiveis de destrinltar ocorridos na cidade buscando solucionashylos usando de carnavalizaltoes que acabam por ridieulizar toda e qualquer noltao de -erdade ou de tal pretensao Isso aconteee nao s6 ao que diz respeishyto a essa doutrina A artimanha para conquistar simpatias e fieis de divulgar Iista de pessoas eminentes da Europa que acreditavam no espiritismo foi por ele tambern censurada pois no seu dizer tudo ocorria de forma como se as pessoas devessem crer por crer em tudo aquilo que na Europa e acreditado(~1achado de Assis 1955b297-9 195188)

Ao redor do principio da encarnaltao e reencarnaltao Machado fez yarias elucubraltoes supondo situaltoes tratadas de forma humoristica as quais contribuiam para difundir alguns de seus principios Assim ao vislumbrar uma certa promiscuidade geral dos desencarnados divulga 0 principio de que 0 espirito pode reencarnar inclusive na mesma familia sendo viivel que um homem pudesse ter uma ftlha depois morrer e voltar filho dela ou urn menino voltar filho de urn prin10 Se em alguns momentos pesa a mao contra os espiritistas dizendo que 0 espiritismo nao e menos curanderia que os outros curandeiros e que se fosse legislador mandava fechar todas as igrejas des sa religiao em outros em tom ate didatico enfatiza que 0 princishypio espirita e fundado no progresso e a leI e nascer morrer tornar a nascer e renascer ainda progredir sempre sendo que 0 renascimento epara meshylhor Cada espirita em se desencarnando vai para os mundos superiores Reflete ainda sobre a distancia entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo que 0 principio espirita nao e 0 mesmo da transmigrasao em que as aIm as vao para os corpos dos animalS mas fundado no progresso(Machado de Assis195100-2188)

Acreditando ser representativo do pensamento ultimo de Machado a respeito do espiritismo em 1895 ele defende seu exercicio pois a Constituishyltao estabclece 0 direito de liberdade religiosa No seu dizer 0 espiritismo e uma religiao que ele nao sabia se falsa ou verdadeira embora os espiritas dissessem que verdadeira e unica frente ao que ressaIta que presunltao e agua benta cada um toma a que quer Se verdadeiros ou nao [continual 0

36

OPSIS - Revista tiD

fato e que escrevem-se e publicam-se inUn jornais espiritas e no Rio havia uma ou dl acreditara que nao se gasta tanto papel em a palavra que se esta escrevendo e a propria seguinte 1896 comenta (lue ha muito que ( tos escreyem pclos dedos dos vhos e que mundo e neste final de urn grande seculo(1

Desta forma a cultura carioca oitoclt diversas de religiosidade e de expcriencias com 0 divino 0 campo religioso apresent possibilidades variadas de vivenciar a proCl debatem em confronto entre si quanto se a] produzindo formas hibridas e sincreticas de lam os homens a seus deuses com tambem a em parte de seus lasos de sociabilidade

Fontes e Referencias B

BORGES Valdeci Rezende Em busca do 11

Rio de l1achado de Assis Estudos Histor Pesquisa e Documentaltao da Hist6ria Conte Getulio Vargas no 28 p 49-69 2OC) BOCRDIEC Pierre A Economia das TrOt pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Si Paulo Cia Das Letras 1989 ivLCI1ADO DE ASSIS Joaquim r1aria C 10 WMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b _ Cronicas v 2 1955c

Cronicas v 4 1955d

_ Helena 1955e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Historias Romanticas _ 1955g _ laid Garcia 1955h _ Memorial de Aires 19551

Pdginas Recolhidas _ 1955 Reliquias de Casa Velha v 1 _ 195 Contos Esquecidos Rio de Janeiro ClY

_ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Rejlexoes de um Relojoeiro _ A Mao e a Luva Sao Paulo M Jad

lt 37

mio s6 foi () apenas minimum mas ate WHltV de Assis 1958b 177 1956c123)

usados pelos propagadores da nova doushyconferencias promovidas pela Fede1aio 01

na busca de adeptos e de conversoes tambem principalmente devido a sua indisposiltilO

sendo verdade unica e absolura levando-o a em vanos escritos sobre essa doutrina e suas

a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima e que substituiria todas as religioes do passashya essa proposicao quando depara com fatos

ocorridos na cidade bus cando soluciomishyque acabam por ridiculizar toda e qualquer

temao Isso acontece nao 56 ao que diz respeishypara conquistar simpatias e fieis de divulgar

Rur(ma que acreditavam no espiritismo foi por seu dizer tudo ocorria de forma C01no se as crer em tudo aquilo que na Europa e 1955b297-9 195188)

da encarnacao e reencarnacao 1Iachado fez Grv~ tratadas de forma humoristica as quais

de seus principios Assim ao vislumbrar dos desencarnados divulga 0 prindpio de

inclusive na mesma familia sendo viavel que depois morrer e voltar filho dela au urn Se em alguns momentos pesa a mao

que 0 espiritismo nao e menos curanderia se Fosse Iegislador mandava fechar todas as em tom ate diampitico enfatiza que 0 princishy

e a lei e nascer morrer tornar a nascer sendo que 0 renascltnento e para meshy

uJ Tal para os mundos superiores entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo omesma da transmigraltao em que as almas

mas fundado no progresso(Machado de

do pensamento ultimo de Machado a ele defende seu exerdcio pois a Constimishy

religiosa No seu dizer 0 espiritismo e se falsa au verdadeira embora os espiritas

frente aa que ressalta que presunltao e quer Se verdadeiros ou nilO [continua] 0

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

fata e que escrevem-se e publicam-se inumeros livros folhetos reistas e jornais espiritas e no Rio havia uma ou duas folhas espirita alem do que acrerutaa que nao se gasta tanto papel em tantas linguas senao crendo que a palavra que se esta escrevendo ea propria verdade Para finalizar no ano seguinte 1896 comenta que hi muito que os espiritas afirmam que os mOfshytos escrevem pelos dedos dos vivos e que para ele tudo e POSSIel neste mundo e neste final de urn grande seculo(Machado de Assis 1957b26274)

Desta forma a cultura carioca oitocentista esta permeada de formas diersas de religiosidade e de experiencias voltadas para a busca de Iigacao com 0 divino 0 campo religioso apresenta-se marcado pela presenca de possibilidades variadas de vlvenciar a procura do sagrado as quais tanto debatem em confronto entre si quanta se aproximam nas pniticas dos tieis produzindo formas hibridas e sincreticas de religiosidade que nao so vincushylam os homens a seus deuses com tambem aos outros homens constitumdo em parte de seus lacos de soclabilidade

FOlltes e Referihlcias Bibliogrtificas

BORGES Valdeci Rezende Em busca do mundo exterior sociabilidade no Rio de Machado de Assis Estudos Historicos Rio de Janeiro Centro de Pesquisa e Documentacao da Historia Contempodmea do Brasil da Fundaltao Getulio Vargas no 28 p 49-69 200l BOURDIEC Pierre A Economia das Trocas Simb6licas Sao Paulo Persshy

pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e hist6ria Sao Paulo Cia Das Letras 1989 MAClMDO DE ASSIS Joaquim Maria Contos Fluminenses v2 Sao PaushyloWMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b Cronicas v 2 1955c

_ Cronicas v 4 19S5d _ Helena _ 19S5e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Hist6rias Romanticas 1955g _ laid Garcia 1955h

Memorial de Aires 1955i _ Pdginas Recolhidas _ 1955j _ ReUquias de Casa Velha v 1 _ 19551 _ Contos Esquecidos Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1956a _ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Reflexoes de um Relojoeiro _ 1956c _ A Mao e a Luva Sao Paulo 11 Jackson inc 1957a

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A Semana v 3 1957b _ Dam Casmurra _ 1957c

Historias Sem Data 1957d

_ Memorias Postumas de Bras Cubas 1957e _ Quincas Borba 1957f

_ Requias de Casa Velha v 2 _ 1957g Varias Historias 1957h

_ Contos e Cronicas Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1958a _ Cronicas de Lelia 1958b _ A Semana v 1 Sao Paulo WMJackson inc 1959a

A Semana v 2 1959b _ Cronicas v 4 1959c _ Esau e Jaco 1959d

SCHv~RCZ Lilia Moritz Retrato em Branco e Negro jornals escravos em Sao Paulo no final do seculo XIX Sao Paulo Cia Das Letras 1987

38

OPSIS - Revista do

CINEMA E RELIGI

ResuResumo

Propomos neste texto apre5cntar algushy 1ou

mas reflex6es sobre a ahordagem de ashy quell

lares no cinema presentes em nleu

filmes como E 0 vento levou Blade film~

Runnermiddot 0 Carador de Androides 0 Run

Exorcisca Matrix dentre outros Exor

Atualmentc vivemos em uma 50eiel urn gm-erno baseado na lei e na razao Ne pensar assentam-se nao mais somente nos v bem nos valotes politicos e sociais Disso religiosos cristaos em quase nada influeneiat de fazer visto que Igreja (como instituiltao) tados na lei

Apesar da atual sociedade aparentc s6lida temos que ter em mente que cia so mente ha pouco tempo malS preeisamente e s6 se consolidou a partjr do positivismo vivemos em uma sociedade ainda em form

mente nao influencia tanto a nossa maneir E isto s6 e verdade para as eham2

hoje existem diversas sociedades ditas tee arabes (Irii) 0 Afeganistao onde 0 fundarr em todos os nh-eis

1 Este texto foi prodU7ido a partir do curso ministr e Religiosidadcs com 0 objetivo de apresentar algUi as rcferencias dos filmes analisados 2 Mestre em Historia pcla UFSC Universidade F

Historia da rcdc publica do [stado de Minas Gerai

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c

Page 7: as Bibliogrdficas RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSISstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3224606.pdf · 16 'as Bibliogrdficas mentafao oral e tematica da seca: estu o Federal,

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m agora franjas de seda como as de veludo

Que queres tu E a eterna contradiltao 57d20-2) Ou seja os catolicos e a igreja catoshycultavam por baixo atitudes paninhos de

as urtigas a Escritura divina praticando seu mascaras Assim revelava seu ponto de vista unha mazelas profundas convicltao frouxa

to desse conto e ainda no sentido de aponshystavam mats para levar ao inferno do que para onica 0 Sermao do Diabo dizendo ser um urn sermao da montanha t maneira de S ja de Deus Nesse a semelhanlta entre os dois

ataltao ao ambiente carioca e julgamento de E venda 0 Diabo a grande multidao de povo orcovado e depois de se ter sentado vier am eguida expos seus mandamentos que sao a

os comportamentos tortos dos fluminenses asoes e modo moderno de

abitos costumes rituais e valores

conhecer melhor as praticas catolicas enshyamos com os sons de seus 8in05 permeando ana Sao templos diversos rlCOS e humildes cia Gloria da Se e as igrejas de Sao Francisshy

300 Jose do Carmo da Lapa do Espirito de 300 Domingos da Lampadosa alem de oushytes acrescidos de capelas particulares em reshy

ta gente da vizinhansa ouvia missa aos 1956b165 1955eJ2 1955i94)

os seguimos a sugestao de ivlachado de obshyerta que indicasse a presenlta de pessoas hi e numero de conegos padres e sacristaes

e infindos outros Dentre tal categoria Machado grande sunpatia sendo descrito

lico homem de sua IgreJa e de seu Deus lta ardente na caridade tlas como jii

ta nao se estende a muitos do clero sendo urn velho padre geralmente ligadas ainshy

coroinha(Machado de Lssis 1955eA2

OP5I5 - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

1957b25) Se encontramos muitos derigos nos templos deparamos com seus

afazeres e priticas que expressam e estao atreladas a fe dos cariocas como sacristias altares imagens de santos missas algumas cantadas agua benta sermoes orquestras confessionarios confissoes _ajustes de contas com Deus

- campainhas rosarios livros de Horas circunflexoes fieis saudando ao altar seniltos da ultima hora _ sacramentos aos moribundos santos oleos _ procissoes opas varas de palio fieis ajoelhados irmaos das almas pedindo esmolas para realizar missas aquelas e agradecendo em nome de Deus e da Virgem Santissima mas retirando para si as esp6rtulas maiores antes de volshytar a sacristia (Machado de Assis 1957e50 1957c6097-9 100-2234-5 1957f257 1959d16-21301)

Para alem desses habitos costumes e rituais buscando aprofundar 0

conhecimento dessas experiencias atentamos para as formas de vive-las Enshycontramos fieis em momentos especiais e marcantes de suas vidas e ainda em praticas ordinarias como missas do dia-a-dia e aquelas celebratiyas pr6shyprias dos rituais de inicialtao como 0 batismo e dos rituais de passagem como aniversarios casamentos ou de separaltao como as missas de morto Por meio das celebraltoes rituais do batismo e em seguida da festa comemoshyrativa a crianca era iniciada no catolicismo e inserida na comunidade crista~

sendo ainda apresentada formaImente aos parentes amigos e vizinhos Por essa ocasiao geraImente acontecia comemoraltao em casa como almolto ou baile(Machado de Assis 1957c344 1955a392) Os padrinhos escolhidos considerados pais e maes espirituais da crianlta tinham 0 dever de nao faltar em um momento dificil como a morte dos pais e eram amigos intimos parentes queridos e pr6ximos ou pessoas importantes para a familia ou na sociedade as quais pudessem proporcionar sentimento de honra e orgulho aos pais e afilhados como por serem influentes N ao raro escolhiam 0 nome da crianlta ou 0 decidiam em caso de duvida dos pais(Machado de Assis 1955e152 1955f12 1957c343 1959d41-2 1957g34-5 1957a61 1957e 44-5)

No entanto a escolha do nome nao se dava de forma aleatoria estando inserida no sistema simb6lico imediato de referencia da sociedade por meio do qual inclusive as vezes buscava-se determinar alguns traltos da personalidade e do futuro do individuo Nesse sentido ocorria um deslocamento importante pois embora Perpetua por yolta de 1871 tenha escolhido os nomes dos santos ap6stolos S Pedro e S Paulo para seus afilhados sua atitude adequava-se aprimeira metade do secuio quando ( ) as crianltas s6 se punham nomes de santos ou santas de acordo com a tradiltao cat6lica daquele tempo mas agora ja nao se queriam -nas nem lfarias Catarinas nem Joanas () entrando em outra onomastica para variar o aspecto as pessoas (Machado de Assis 1957g34-5 1955i51)

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Para alguns homens a primeira confissao ocorria por epoca da quare sma 0 que levava a que muitos rapazes se escondessem debaixo da cama do padre confessor ou pelos desvaos da casa ji a segunda era pOt ocasiao de casar A cerimonia de casamento era vista como momenta de santidade e de muita comoltao povoando sempre os 50nh05 das mulheres com festas brilhantes muitos carras vesrido branco flores de latanjeira grinalda padrinhos ilustres Porem em 1fachado sao poucas as cenas de casamento e geralmente so em fantasia talvez por ptivilegiar sobretudo nos romances a vida das classes altas au daquelas em ascensao em que 0 casamento era urn negocio politico ou economico e a devoltao assim como 0 sentimento relig1oso fragil entrando em declinio ainda maior frente a outras atividades da vida mundana(Machado de Assis 1955i95)

Por meados dos oltocentos novas formas de sociabilidade foram implementadas desassociando-se cada vez mais daquelas da religiosidade cashytolica Ate entao nos momentos de cumprir as obrigaroes religiosas relacishyonava-se com 0 mundo exterior rompendo 0 enclausuramento usual princishypalmente da mulher No entanto a nova sociabilidade configurava-se ao reshydor de inusitados espaltos tempos e formas de recreio 0 gosto pela vida externa creSCla enquanto os antigos hibitos e costumes marcados pela religishyosidade foram sendo desprezados e em muitos casos abandonados(Borges 2001 49-69) )Jessa transformaltao da sensibilidade coletiva ocorre uma inflexao dos sentimentos e valores relativos ao sagrado e urn avanlto das forshyltas seculares Essa alteraltao apontada por Machado pode sel percebida por meio de urn conjunto de inrucios como a retirada dos quadros de santos da decoraltao das casas mais abastadas sendo substituidos quase sempre por pequenas gravuras inglesas ao passo que nas casas mais pobres a Virshygem era muita cultuada possuindo lugar excelso na devoltao dos corashyltoes maviosos Nessas podia nao haver urn Cristo mas sempre [havia] uma imagem de Nossa Senhora(Machado de Assis 1955f93 1955j91 1957bl08)

A tibieza da fe e a escassez de padres ordenados indicam ainda a diminuiltao da inspiraltiio religiosa e a expansao da secularizaltao ao lado da mudanlta referida nos novos nomes atribuidos aos nascidos nao mais ligados ao imagmano catolico(Machado de Assis 1955j91 1955i51 1959b80 1057c263308 1957d280 1955e13) Assim muita coisa mudava nas familias como 0 uso antigo que urn dos rapazes fosse padre 0 que alterava a direshy

ltao dada it educaltao 0 sentido e 0 rumo a seguir pelas novas geraltoes que geralmente aprendiam as primeiras letras latim e doutrina em casa com urn desses clerigos Eles incuriam noltoes sentimentos e orienravam as escoshyIha5 forjavam vocaltoes religiosas em seus disdpulos ao falarem de supostas manifestatoes daquelas como ocorreu com Bentinho que tinha seus brinqueshydos sempre de igreja e adorava os oEicios divinos brincando mesmo

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b

OPSIS - Revista do

com Capitu de dizer missas e tomando doc estudos secundarios fossem feitos ainda corr filhos ja mais autonomos escolhiam profi economico que oscilayam entre a medicina c busca da vida religiosa que foi acusada em 1 falar da escassez de padres orden ados no sem capehies(Machado de Assis 1959b80)

Nesse contexto e sentido ate prot Por mais que 0 vinculo moral da promessa D Gloria mac de Bentinho descrita como por volta de 1847 dar a Deus 0 filho como infancia 0 compromisso foi rompido postel saida de substitui-Io por urn mocinho 61 da oferta para compensar a batina que aqt tando segundo 0 narrador urn cochilo da mento religioso era marcado por altoes e interiormente a incredulidade era assaz dift distraida Para dc nesse tempo operou u

fez do paganismo e do catolicismo urn 1957c263 308 1957d280 1955e13 19

11as nao era so a familia de Bentin mundo e suas praticas socio-economicas ne Entre Santos expoe situaltocs interessantes passo que urn padre conta certo ocorrido pc de S Francisco de Paula Ao vcr luz sob a p do que se tratava e ouvindo conyersa fez il me antigo de enterrar os mortos nas igrejas mortos ali enterrados No entanto viu que igreja que sairam dos seus nichos e que senl altares comentavam as oraltoes e pedidos d Francisco de Sales contou 0 caso de Sales trazia seu nome e tinha a mulher doente desesperanltado cia terra voltou-se para I salva-la Pediu que a salvasse operando o cera mas ao passo que estabelecia 0 comp moeda que 0 ex-yoto hayia de custar e ac nossos emil ave-marias(Machado de Assi

Nesse momento sobretudo entre

censao a deoltao ficaa Iwbretudo releg Carmo que costumaYa ir a missa aos don por fadiga por doenlta ou por estar chov 0 seu livro com as suas rczas marcadas (

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a primeira confissao ocorria por epoca da muitos rapazes se escondessem debaixo da

desvaos da casa ja a segunda era por de casamento era vista como momento de

povoando sempre os sonh05 das mulheres vestido branco flores de laranjeira grinalda

Machado sao poucas as cenas de casamento e par privilegiar sobretudo nos romances a em ascensao em que 0 casalnento era urn

e a devoltao assim como 0 sentimento LUumiddotv ainda maior frente a outras atividades

Assis 1955i95) novas formas de sociabilidade foram

cada vez mais daquelas da religiosidade cashyde cumprir as obrigaroes religiosas relacishyrompendo a enclausuramento usual princishya nova sociabilidade configurava-se ao reshy

e formas de recrelO 0 gosto pela vida habitos e costumes marcados pela religishy

e em muitos casos abandonados(Borges da sensibilidade cole tin ocorre uma

relacivos ao sagrado e um avanlto das forshy___niua par Machado pode ser percebida por

como a recirada dos quadros de santos da sendo subscituidos quase sempre por

passo que nas casas mais pobres a Virshylugar excelso na deTOltaO dos corashy

nao haver urn Cristo mas sempre [havia] (Machado de 55is 1955pound93 1955j91

de padres ordenados indicam ainda a e a expansao da secularizaltao ao lado da

atribuidos aos nascidos nao mais ligados de Assis 1955j91 1955i51 1959b80

A881m muita coisa mudava na8 familias rapazes Fosse padre 0 que alterava a direshyo rumo a seguir pelas novas geraltaes que

letras latim e doutrina em casa com noltoes sencimentos e orientavam as escoshyem seus discipulos ao falarem de supostas

com Bencinho que tinha seus brinqueshyos ofici08 divinos brincando mesmo

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

com Capitu de dizer missas e tamando doce por hoscia Porem embora os estudos secundarios fossem feitos ainda com base religiosa em seminarios os filhos ja mais autonomos escolhiam profissoes de maior prestigio socioshyeconomico que oscilavam entre a medicina e 0 direito influindo na queda da busca da vida religiosa que foi acusada em 1894 pelo ex-bispo da cidade ao falar da escassez de padres ordenados no () seminario e das paroquias sem capelaes(1hchado de Assis 1959b80)

Nesse contexto e sentido ate promessas celebres eram quebradas Por mais que 0 vinculo moral da promessa prendesse indissoluvelmente D Gloria mae de Bentinho descrita como devota e que havia prometido la par volta de 1847 dar a Deus 0 61ho como sacerdote casu nao morresse na infancia 0 compromisso foi rompido posteriormente guando se encontrou a saida de subscitui-lo por urn mocinho orfao qualquer como pagamento da oferta para compensar a batina que aquele deitou as urtigas represenshytan do segundo 0 narrador urn cochilo da fe Segundo l1achado 0 sentishymento religioso era marcado por lt1ltaes e expressaes exteriores vis to que interiormente a incredulidade era assaz difusa e a deToltao magra tibia e distraida Para ele nesse tempo operou uma grande fusao religioa que fez do paganismo e do catolicismo urn so credo(ilachado de Assis 1957c263 308 1957d280 1955e13 1958b328)

Mas nao era so a familia de Bentinho que em conformidacle com 0

mundo e suas praticas socio-economicas negociava com 0 sagrado () conto Entre Santos expae situaltoes interessantes em torno da devoltao humana ao passo que urn padre conta certo ocorrido por epoca que era capelao da igreja de S Francisco de Paula Ao ver luz sob a porta do templo buscou descobrir do que se tratava e ouvindo conversa fez inferencias que nos revel a 0 costushyme antigo de enterrar os mortos nas igrejas ao perguntar se seriam vozes dos mortos ali enterrados No entanto viu que era urn dialogo entre os santos da igreja que sairam dos seus nichos e que semados em forma humana em seus altares comentavam as oraltoes e pedidos dos fieis no dia Dentre outros Sao Francisco de Sales contou 0 caso de Sales urn velho usuario e avaro que trazia seu nome e tinha a mulher doente com um erisipela na perna que desesperanltado da terra voltou-se para Deus pois so um milagre podia salva-la Pediu que a salvasse operando 0 milagre oferecendo uma perna de cera mas ao passo que estabelecia 0 compromisso s6 via diante dos 0lh05 a moeda que 0 ex-voto havia de custar e acabou prometendo rezar mil padre nossos emil ave-marias(l1achado de Assis 1957h27-44)

Nesse momento sobretudo entre as camadas sociais altas e em asshycensao a devoltao ficaa sobretudo relegada aos antigos e velhos como D Carmo que costumava ir amissa aos domingos e que como outras damas por fadiga por doenlta ou por estar chovendo quando nao 0 fazia pegaya 0 seu livro com as suas rezas marcadas ( ) amesma hora acompanha-a

25

a missa toda frente 0 seu altarzinho e seu Cnsto instalados no gabinete e ao acabar beijava a imagem Essa senhora de acordo com sua crenlta nao saia de casa sem a beijar primeiro como urn pedido de proteltao nem voltava scm faze-Io como a dar graltas como 0 fazia ao deitar e ao levantar(lIachado de Assis 1955i197)

A igreja era lugar de exposiltiio seja em missas ordinarias festas de santos missas de mono de seUmo dia de morte e por alma do finado ~i se ostentava opulencia e distimao social sendo objeto de curiosidade publica chamando a atenltao sabre si com carruagens lacaios roupas e esportulas vultosas como a fizera 0 casal Santos emergentes na sociedade na missa de defunto na igreja de S Domingos Essa paroquia era adequada amissa recondita e anonima urn ato sem releyo sem pesames nem lagrishymas como gueria a casal ao mandar dizer missa par alma de urn parente pobre falecido em lIarica scm que aquela repercutisse em seu meio social(Machado de Assis 1959d23) Mas se esse templo era das camadas pobres os ricos au nO05 ricos como a senhora Santos que se queixou que ali sujara 0 estido e enchera-se de pulgas preferiam a de S Francisco de Paula au a da Gloria localizadas em bairros ricos como Flamengo e que eram consideradas lirnpas li os endinheirados tinham como uso velho mandal dizer missas anivelsarias de datas obituarias e natalicias(Machado de Assis 1955i94-5)

lIuitos flequentavam a igreja mais por imposiltao social dos mais Yelhos por ser lugar de se mostlar e estabelecer relaltoes socialS do que por deoltao sentida A jovem Maria Olirnpia tinha a vocaltiio da vida exterior e sentia urn singular feicilto nas procissoes e nas missas pelo rumor e pela pompa Ia aigrcja conduzida pela cia que era religiosa e tinha gosto partishycular em mostrar-se e em namorar os rapazes Sua devoltiio magra escasshyseou ainda mais com a chegada do primeiro espetaculo e 0 primeiro baile Os saloes torna~am-se os novos lugares do encontro e do diertimenshyto e muitos ja entao confundiam as praticas leligiosas com as canseiras da vida e fUgiam delas(Machado de Assis 1959d23-4 28 1957d280 1955i95) Virgilia tambem representa a comportamento da nova mulher presa nas forshyltas seculares ao ser uma jovem senhora casada que possuia urn amante e mostraYa-se pouco religiosa nao ouvindo missa aos domingos ou so indo as igrejas em dia de festa e quando havia lugar vago em alguma tribushyna Alcm disso tachava de beatas aquelas que cram so religiosas a que aponta par outro lado a existencia de mulheres que se dedicayam em excesshyso as praticas religiosas Porem rezava todas as noites com fervor ou pelo menos com sono em sua alcova junto a seu oratoriozinho de jacaranda Ja as homens eram considerados em geral uns impios nao plsavam na Igleja a nao sel para batizar as filhos(tvlachado de Assis 1957e185 1957f257)

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OPSIS - Revista do

Mas se as individuos substituiam que com suas festas eram todo 0 recreio F tempos antigos ate mesmo a igreja nao e mundanizou-se Adotou os carrilhoes urn c~ tocavam peltas profanas chamando as fieis sinos das igrejas e produzindo uma or enfadonhas austeras graves religiosas ma~ pedaltos do Barbe Bleue da Bela Helen contrafaltao de Offenbach ou deg Amor te cassinos e no Alcazar teatro de opereta e Machado a missa da manhii e 0 fand se(Machado de -ssi5 1957d61 1959c16

Outlo costume do tempo dos vicemiddot processo de modemizaltao expressando p( mundo terreno era a de ingressar em confrlt tempos antigos ocorria por amor as cois pda busca de recompensas imediatas ac tomar materia publica a importimcia do 51

mediante a retribuiltoes como a instalaiio d da noticias para publicar em jornais sabre H(

da divulgaltao realizada pelo proprio bem do beneficio e da publicidade do nome e fi~ nas cogitaltoes publicas tornando~se se mandades de damas cram igualmente usa~ principalmente quando os jornais davam 1

os names das organizadoras 0 anuncio gI6ria(Machado de ssis 1957d26205~6

o mesmo ocorria em relacao as at de cunha religioso e assistencial erguidas fr da mendicidade As associaltoes de caridadt do muitas organizadas por senhoras que ~

nos aos famintos amoldavam-se ao mund cido religioso Por um lado adequada ao se as pedintes de esmola em portas das igre mais pobres com seus miseros vintenzinho prias almas pois por meio da caridade I almejando salvar especialmente a 5i mestnlt tado Por outro 0 beneficio alcanltado cor mundo material e nao espiritual como oc comissao de caridade de senhoras para pc com pessoas de destaque na sociedade q cima na sua busca de ascensao social AI~

i

l 1

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ho e seu Cristo instalados no gabinete e ao senhora de acordo com sua crenca nao saia

como urn pedido de protecao nem voltava gracas como 0 fazia ao deitar e ao 955i197)

posiao seja em missas ordinarias festas de setimo dia de morte e por alma do finado tincao social sendo objeto de curiosidade sobre si com carruagens lacaios roupas e a 0 casal Santos emergentes na sociedade na Domingos Essa par6guia era adequada

urn ato sem releyo sem nem higrishyandar dizer missa por alma de urn parente

em que aquela repercutisse em seu meio d23) Mas se esse templo era das camadas como a senhora Santos que se quelxou que e de pulgas preferiam a de S Francisco de s em bairros ricos como Flamengo e que

os endinheirados rinham como uso velho de datas obituanas e natalicias(Machado de

igreja mais por imposicao soclal dos mais r e estabelecer socials do que por

Olimpia cinha a vocaltao da vida exterior procissoes e nas missas pelo rumor e pela cia que era religiosa e cinha gosto parcishy

rar os rapazes Sua devoao magra escasshyda do primeiro espetaculo e 0 primeiro

novos lugares do encontro e do divercimenshyas praticas religiosas com as canseiras da

Assis 1959d23-f 28 1957d280 1955i95) portamento da nova mulher presa nas forshysenhora casada que possula urn amante e

nao ouvindo missa aos domingos ou s6 e quando havia lugar vago em alguma tribushytas aquelas que eram s6 religiosas 0 que de mulheres que se dedicavam em excesshy

rezava todas as noites com fervor ou pelo a junto a seu oratoriozinho de jacaranda em geral uns impios nao pisavam Hna

s f1lhos(Machado de Assis 1957e185

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

Mas se os individuos substituiam seus habitos sociais e religiosos que com suas festas eram todo 0 recreio publico e toda a arte musical em tempos antigos ate mesmo a igreja nao escapou da altao secularizante e mundanizou-se Adotou os carrilhoes um conjunto de sinos musicais que tocavam pe~as profanas chamando os fieis amissa subscituindo os pobres sinos das igrejas e produzindo uma orgia de notas nao de musicas enfadonhas austeras graves religiosas mas sons alegres e animados como pedaltos do Barbe Bleue da Bela Helena do Orfeu nos Infernos uma contrafaltao de Offenbach ou 0 Amor tern fogo tocados geralmente nos cassinos e no Alcazar teatro de opereta e da vida boemia Assim segundo Machado a missa da manhii e 0 fandango da noite aproximavamshyse(Ifachado de 1957d61 1959c168-9 1955d250 1959a68-9)

Outro costume do tempo dos vice-reis com significado alterado no processo de modernizaltao expressando pouca devoltao e grande apego ao mundo terreno era 0 de ingressar em confrarias e irmandades religiosas -Jos tempos antigos ocorria por amor as coisas pias mas no momento era peia busca de recompensas imediatas advindas do individual desejo de tomar materia publica a importancia do sujeito e seu espirito caritativo mediante a retribuicoes como a instalaao de retrato na sacriscia a emissao da nocicias para publicar em jornais sobre os beneficios que pracicava alem da divulgacao realizada peio pr6prio beneficiado Desta forma por meio do beneficio e da publicidade do nome e figura daquele que 0 fez entrava-se nas cogitaoes publicas tornando-se sempre Hlembrado~ Ivfesmo as 1rshymandades de damas eram igualmente usadas para dar brilho a suas juizas principalmente quando os jornais davam noticia minuciosa das festas com os nomes das organizadoras () anuncio nas folhas era um troco da gI6ria(Machado de Assis 1957d26205-6 1957e350 412-4 1956b44)

o mesmo ocorria em relaao as atividades associacivas ftlantr6picas de cunho religlOso e assistencial erguidas frente ao crescimento da pobreza e da mendicidade As associaltoes de caridade que aumentaram na cidade senshydo muitas orgamzadas por senhoras que coletavam donativos e reparciamshynos aos famintos amoldavam-se ao mundo profano e desviavam-se do senshytido religioso Por um lado adequada ao sentimenta cristao a mendicidade e os pedintes de esmola em portas das igrejas traziam as pessoas mesmo as mais pobres com seus miseros vintenzinhos a ocasiao de beneficiar suas pr6shyprias almas pois por meia da caridade punha-se em pracica 0 evangelho almejando salvar especialmente a S1 mesmo e nem tanto ao estranho necessishytado Par outro 0 beneficio alcamado com a caridade podia restringir-se ao mundo material e nao espiritual como ocorria com Sofia que usou de uma comissao de caridade de senhoras para p6r-se em evidencia e criar vfnculos com pessoas de destaque na sociedade que 1he dessem um empurriio para cima na sua busca de ascensao sociaL -lem disso nesse seculo utilitario e

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F

pnitico marcado pelo avanlto das forltas de secularizaltao e perda do espirishyto cristao ate mesmo a caridade tornava-se escriturada legalizada regulashymentada (Machado de Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192 1957e190-2 1959d301)

Junto ao povo 0 gosto das procissoes vinha de longe e estava bastante arraigado para os antigos uma tradiltao de infancia costume da primeira metade do seculo do tempo do rei e suas predileltoes confesshysadas por todas as yelhas carolices as quais seus contemporaneos choravam e pediam pelos tempos dos oratorios de pedta dos tetltos cantados das procissoes bem ordenadas das ladainhas atras do viatico das boas festas e dos bons trades da verdadeita fe e dos vetdadeiros filhos de Deus iias ja em 1865 essas ptocissoes classicas podiam dar ideia de tudo menos de urn culto serio e elevado pois ao lado dos anjinhos e andores floridos os homens iam em filas uns com tochas na mao outros com vara do palio disputadas pelos fieis pais dava uma distincao especial a quem a trazia Alguns iam dizendo pilh6rias aesquerda e adireita enquanto os assistentes comentavam as gracas jUTenis do anjo cantor que era sempre mQ(a feita Desta forma Machado julgava que essas procissoes e semelhantes praticas eram ridiculas nao podendo subsistir numa sociedade verdadeiramente telishygiosa pois uma folia mesmo para os mais sinceramente religiosos com as quais os sacerdotes serios nao deveriam conservarem cumplices( Mashychado de Assis 1958a101-2 Grifo meu)

Existia ainda a luta tradicional travada entre os diferentes templos com 0 unico objeto de primar uns sobre os outros no luxo das suas procisshysoes respectivas sendo essa luta por demais profana e manifestava-se por uma aculTIulacao de prata e ouro nos andores no mais numeroso concurso de irmaos e de anjinhos e outras coisas iguais Vivia-se 0 sagrado melo afolia comentari~s dos assistentes pilh6rias disputas e abusca do brilho e da distimao do que Machado duvidava muito que a divinshydade visse com bons olhos estes conflitos de primazia(Machado de Assis 1958alOl-2 1957c98-100 Grifo meu) No entanto se as procissoes eram filhas da tradiltao em 1865 algumas delas ja haviam sido suprimidas pelo process a de modernizaltao da igreja e para 0 cronista tudo fazia crer que as restantes tamb6m seriam Nesse sentido em 1893 avalia com certa melanshycalia a diferema entre uma procissao de Sao Sebastiao daquele ana e as de outrora dizendo Ordem numero pompa tudo 0 que havia quando era () menino tudo desapareceu(Machado de Assis 1958a101 1959a220)

Porem se 0 sagrado e 0 profano apresentavam-se quase sempre de maos dadas inclusive na esfera das praticas catolicas oficiais essa interpenetraltao tinha certos limites Em 1896 uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair em desftle por se denominar N ossa Senhora da Conceiltao De acordo com 0

cronista esse titulo pareCla esquisito mas se a intenltao eque salva a sociedashy

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OPSIS - Revista do

de vai para 0 ceu pais os autores da ideia tQS da Virgem e nao [tinham] 0 carnaval por desse poslcionamento 0 folhetinista acabou enfatizando que se tal socledade tinha igual g adotar denominaltao adequada e que na( Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos et gente mas sofriam tambem a altao dos novo se Eram de maior destaque a festa da Glol Reis de Sao Sebastiao do Espirito Santos e ( tinham lugar tanto a religiao com missa que F Deum quanto 0 recreio com fogos de artifi prendas Embora houvesse entre elas algum folhetinisra ao cabo de tudo [era] a mesml sao 0 que 0 leTaTa a lascimar que 0 fogo de da Penha [1eYavam] mats fi6is que 0 objeto es certo que todo caminho leva 11 Roma nao 0 i Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que t~

como tinham acabado muitas outras devoS meio recreativas Para ele 0 elemento estr mes com muita patinacao muita opereta m nossa populacao a rusticidade e 0 encanto d Assis 1958b121 1956b207 19S5g410 1955d147-8 Grifo meu)

~ festa do Espirito Santo igualmel contista em A Parasita Azul que transeOl Luzia Goias ao falar desse festejo aponta q que de todo se nao apagou 0 gosto dessas eras No entanto na Corte ainda persistia ( barracas Nao era diferente com a Festa de R 1864 Machado falava que a festa de S Joao tI fogueiras e baloes proibidos por postura mu obstante 0 ceticismo do tempo muita e m corter primelro que 0 povo [perdesse] 0

foguetear os tres santos em junho Porem ja Joao e tambern de Reis Sobre a ultima com popular perdurava no interior pois na c

anos e brotado em sua cinzas a arvore de t essas lTIudancas De Assis lamenta que os al ha nela de puetil para Sf) the deixar 0 que ha quem nem 15S0 fica esse perde 0 melhor ( sirnplorio e velho de noites abencoadas

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das for~as de secularizacao e perda do espirishytornava-se escriturada legalizada regulashy

Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192

das procissoes vinha de longe e estava os antigos uma tradi~ao de inGneia costume do tempo do rei e suas predileltoes confesshy

as quais seus contemporaneos choravam orat6rios de pedra dos terltos cantados das

ladainhas awis do yiatico das boas festas e fe e dos verdadeiros ftlhos de Deus 1as ja

sslcas podiam dar ideia de tudo menos de um ao lado dos anjinhos e andores floridos os

tochas na mao outros com vara do palio uma distin~ao especial a quem a trazia

aesquerda e adireita enquanto os assistentes do anjo cantor que era sempre molta feita que essas prociss()es e semelhantes pniticas

subsistir numa sociedade erdadeiramenterelishypara os mais sinceramente religiosos com as

nao deyeriam conservarem cumplices( 11ashyGrifo meu)

ttadlC1011al travada entre os diferentes templos uns sabre os outros no luxo das suas procisshy

luta por demais profana e manifestava-se e ouro nos andores no mais numeroso

e outras coisas iguais Viyia-se 0 sagrado dos assistentes pilherias disputas e abusca do que Machado duyidava muito que a divinshy

conflitos de primazia(Machado de Assis Grifo meu) No entanto se as procissoes eram

delas ja haviam sido suprimidas peIo igreja e para 0 cronista tudo fazia crer (lue as

sentido em 1893 avalia com certa melanshy)rOClssao de Sao Sebastiio daquele ana e as de nUmero pompa tudo 0 que havia quando era

(Machado de 1958a 101 1959a220) eo profano apresentavam-se quase sempre de das pciricas cat6licas oficiais essa interpenetraltao uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair

Senhora da Conceiltao De acordo com 0 mas se a inten~ao e que salva a sociedashy

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de vai para 0 ceu pais as autores da ideia [eram] com certeza fieis deyoshytos da Virgem e nao [tinham] 0 caman por obra do diabo Porem apesar desse posieionamento 0 folhetinista acabou por concordar com a proibi~ao enfatizando que se tal soeiedade tinha igual gosto as ideias profanas deveria ado tar denominacao adequada e que nao faltam titulos (1vIachado de Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos eram populares e reuniam muita gente mas sofriam tambem a a~ao dos novos tempos e perdiam seu interesshyse Eram de maior destaque a Festa da Gloria da Penha da Conceiltao de Reis de Sao Sebastiiio do Espirito Santos e de Sao Benedito Em tais festas tinham lugar tanto a religiao com missa que poderia ser cantada e ate um TeshyDeum quanto 0 recreio com fogos de artificio barracas corretos leilao de prendas Embora houvesse entre elas algumas diferenltas de acordo com 0

folhetinista ao cabo de tudo [era] a mesma alcgria e a mesmlssima divershysao 0 que 0 leYaa a lastimar que 0 fogo de artificio da Gkma e 0 garrafao cia Penha ~evayam] mais fieis que 0 objeto essencial da festiyidade POlS se e certo que todo caminho leva aRoma nao a e que todo caminho lea ao ceu Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que talvez essa Festa tin~sse findado como tinham acabado muitas outras devoltoes populare~ melO religlOsas meio recreatiYas Para 0 elemento estrangeiro transformou os costushymes com muita muita opereta muita COlsa peregnna que tirou it nossa populaltao a rusticidade e 0 encanto de outros tempos(~1achado de Assis 1958b121 1956b207 1 10 1959c225 103 1957c77 1955d147-8 Grifo meu)

A Festa do Espirito Santo igualmente desaparecia e em 1870 0 contista em A Parasita Azul que transcorre por olta de 1850 em Santa Luzia GOlaS ao falar desse aponta que vao rareando os lugares em que de todo se nao apagou 0 gosto dessas festas classicas resto de outras eras No entanto na Corte ainda persistia 0 habito de muito irem ver suas barracas Nao era diferente com a Festa de Reis e dos santos juninos Se em 1864 Machado falaya que a Festa de S Joao tomaya-se falsificada sem fogos fogueiras e baloes proibidos por postura municipal em 1878 dizla que nao obstante a cetiClsmo do tempo muita e muita dezena de anos n1aia] de correr primeiro que 0 povo [perdesse] os seus antigo amores como foguetear os tres santos em junho Porem ja em 1894 trata da morte de S Joao e tambem de Reis Sobre a ultima comenta que nao sabia se essa festa popular perdurava no interior pois na capital tinha morrido ha muitos anos e brotado em sua cinzas a arvore de Natal vinda da Europa Frente a essas mudanltas De Assis lamenta que os anos que passam tiram afe a que ha ncla de pueril para so Ihe deixar 0 que ha serio Para de triste daqucle a quem nem iS50 fica esse perde 0 melhor das recordaltoes de um tempo simpl6rio e velho de noites abenltoadas em que as crendices sas abrem

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todas as vdasAs consultas as sortes as ovos guardados em agua e outras sublimes ridicularias as quais via com respeito com simpatia e se alguma coisa a molestaa era por nao as saber ja praticar( lvlachado de Assis 1957e62 1955f46 1955a318 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241 1959b13-4 123-4)

Ifas se na cidade 0 vento dos tempos desfazia em lufadas de tuGo essas praticas populares anrigas arraigadas no imaginario coletivo no interior de era brisa igual e mansa que tudo esfolhava e dispersava devagar 8Sim em 1864 0 cronista tratou de urn morador de Viana descobridor de uma imagem de Santa Teresa que lacrimejava e supondo ser milagre pos em alorolto as credulos vianenses considerando procedente realizar exame do fato por uma comissao de eclesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao das festas do Born Jesus em Pirapora que reuniam anualmente urn numero extraordinario e crescente de romeiros calculados naquele ana em 8000 pessoas J a em 1873 escreyeu sabre uma senhora que enlouqueceu quando depois de longa seca pediu chua enterrando uma imagem de Santo Antonio no rnato e alcanltou 0 pedido Porem como a chuva abundante nao cessava ao contrario 0 aguaceiro ia a mais matando inclusive animais yoltou ao buraco por acreditar que a preclpitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas nao 0 encontrou entrando a supor que os males derivavam da altao que praticara 0 cronista comentando 0 fato de Santo Anttmio gozar entre seus deyotos do exotico privilegio de nao conceder nenhuma gralta senao enterrado ou metido num poco so operando milagres a troco da liberdade consideraya que uma senhora religtosa fizera-se supersticiosa e que quando a fe chega a este ponto esta )a muito alem das fronteiras da superstiltao deixando seu praticante sem nenhuma das grandes consolaltoes da fe trazendo-lhc 0 desespero e a loucura Ainda nesse universo ja em 1876 trata da existenCla de duas mulheres santas e milagrosas uma que apareceu na Bahia em torno da qual formou romarias dos seus devotos e outra velha milagrosa que diziam curar doewas incuraveis com ervas misteriosas(Machado de Assis 1955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2)

Desta maneira as esferas do sagrado e do profano da fe da devoltao e do recreio estaam bastante imbricadas no que concerne as praticas dos catolicos havendo uma circulaltao e influencia reciproca entre as instancias das cerimonias e rituais oficiais e sua recnacao pelos leigos entre 0 divino e a folia entre 0 cuita e a festa Os momentos e lugares em que essas aspiracoes se concretizavam em praticas sociais serviam tambem para promover a interacao dos indivlduos lvlas deixando esse sobrevoo sobre a sociedade carioca e focalizando n0550 olhar num segmento especifico desta como na comunidade negra podemos perceber outros aspectos da cultura religiosa carioca Dessa cultura hibrida amalgamada no territorio fluminense observamos primeiramente as pratica ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revi$fa do

as quais de forma geral sao vistos como

respeitados N esse meio social existiam aqudes in

uma preta y~lha do conto 0 Escrivao Co ajoe1hada diante do altar de S Bernardo co do pedic-lhe alguma coisa se nao eque lhe recebido ate que acabou beijando a cruz tou-se e saiu Outros aparecem como detel onais e seus transmissores sendo rezadore senhores ou sabedores de promessas celebre sas ou subir de joelhos a ladeira da Glc Santa(Machado de Assis 19551229-30 1 esta presente no uniYerso das atividades cal do preto elho de Casa Velha que emb africanas era sineiro mas nao fazla mats q missa aos domingos 19ualmente nesse 0

sineiro da Gloria (lue de escrao ficou li~ seculo aquda torre regendo a paroquia e c( picava por casamentos nascimentos batiza amarela 0 calera-morbus os partidos qUI deles ~ pela guerra do Paraguai pelos mo livre das escravas a aboliltao a Republica plt se Tudo conforme a ordem(JIachado de

Outras Ofertas e tensoes Feiti~

Espiritism

Ja outros negros vclhos aparecem mais circunscritas senda depositarios de p( varios elementos que expressam traltas cultu canas 0 negros produziram com suas ling des cantos e batuques uma ruptura com recorrerem mesmo que na clandestinidade uma cultura negra brasileira a qual recorriar contexto embora inseridos em universo simi de crencas praticas e -isoes de mundo al~ tica usada no cotidiano por bran cos negro cam associalt6es ao cultos africanos nos ql parentesco permeiam os rdacionamentos s mente ligados Desta forma alguns pretos sendo vistos como bonciosos humildes g~ Assis 1955d392 1957c279)

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s sortes os ovos guardados em agua e outras

via com respeito com simpatia e se alguma ao as saber ja praticar( Machado de Assis 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241

vento dos tempos desfazia em lufadas de anrigas arraigadas no imaginario coletivo no nsa que tudo esfolhava e dispersava devagar

tou de urn marador de Viana deseobridor de que lacrimejava e supondo ser milagre pas ses considerando procedente realizar exame clesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao apora que reuniam anuahnente urn numero

romeiros calculados naquele ana em 8000 sobre uma senhora que enlouqueceu quando a enterrando uma imagem de Santo Antonio

Porem como a chuva abundante nao cessava mais matando inclusiye animais yoltou ao cipitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas supor que os males derivavam da altao que do 0 fa to de Santo Antonio gozar entre seus 0 de nao conceder nenhuma gralta senao s6 operando milagres a troeo da liberdade

giosa fizera-se supersticiosa e que quando muito alem das fronteiras da superstiltao nenhuma das grandes consolaltoes da fe loucura Ainda nesse universo ja em 1876 eres santas e milagrosas uma que apareceu na romarias dos seus devotos e outra velha

urar doenltas incuraveis com ervas 955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2) s do sagrado e do profano da fe da devoltao

bricadas no que concerne as praticas dos o e influencia redproca entre as ins tlmcias das a recrialtao pelas leigos entre 0 div1110 e a

omentos e lugares em que essas aspiraltoes sociais serviam tambem para promQyer a

deixando esse sobrevoo sobre a sociedade num segmento espedfico desta como na

ceber outros aspectos da cultura religiosa a amalgamada no territorio flumlnense aticas ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revista do Niese V2 N J JanJun 2002

os quais de forma geral sao vistos como conhecedores dela e por 1880 re8peitados

Nesse meio social ex1stiam aqueles inseridos na tradiltao catolica como uma preta v~lha do conto 0 Escrivao Coimbra que Camilo viu na igreja ajoelhada diante do altar de S Bernardo com urn rosario na mao parecenshydo pedir-lhe alguma coisa se nao e que the pagava em oraltoes 0 beneficio ia recebido ate que acabou beijando a cruz do rosario persignou-se levanshytou-se e saiu Outros aparecem como detentores de conhecimentos tradicishyonais e seus transmissores sendo rezadores que pediam guard a para seus senhores ou sabedores de promessas celebres como mandar dizer cern misshysas au subir de joelhos a ladeira da Gloria para ouvir uma ir a Terra Santa(Machado de Assis 19551229-30 1957c71177279) 0 negro idoso esta presente no universo das atividades catolicas como sineiros a exemplo do preto velho de Casa Velha que embora muito atrelado as tradiltoes africanas era sineiro mas nao fazia mais que tocar 0 sino da capela para a missa aos domingos Igualmente nesse ofieio IvIachado destaca Joao 0 sineiro da Gloria que de escravo ficou livre governando por quase meio seculo aquela torre regendo a par6quia e contemplando 0 mundo de 11 Reshypicava por casamentos nascimentos batizados mortes Dobrava pela febre amarela 0 colera-morbus os partidos que subiam ou cafam sem saber deles _ pela guerra do Paraguai pelos mortos e pelas vitorias peIo ventre livre das escravas a aboliltao a Republica pelo imperio_ se 0 imperio tornasshyse Tudo con[orme a ordem(tviachado de -5S1S 1956b193-4 1957b431-3)

Outras Ofertas e tensoes Feiti~arias Adivinha~oes e

Espiritismo

Ja outtos negros velhos aparecem atrelados as tradiltoes ancestrais mals circunscritas sendo depositarios de poderes de proteltao e guardioes de varios elementos que expressam traltos cultorals singulares das socledades afrishycanas 0 negtos produziram com suas linguas danltas folguedos sonoridashydes cantos e batoques uma ruptura com a -isao de mundo ocidental ao recorrerem mesmo que na clandestinidade a seus ritos seus deuses criando uma cultura negra brasileira a qual reeorriam alguns de seus senhores Em tal contexto embora insetidos em universo simb6lico marcado pda multiplicidade de crenltas praticas e visoes de mundo alguns aspectos da expressao lingiiisshyrica usada no cotidiano por brancos negros e mestiltos livres e cativos indishycam associaltoes ao cuhos africanos nos quais a ideia de familia e de laltos de parentesco permeiam os relacionamentos socialS e religiosos que sao intimashymente ligados Desta forma alguns pretos velhos eram ehamados de Pai sendo vistos como bondosos humildes generosos e paternais( Machado de Assis 1955d392 1957c279)

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Outros pretos velhos de modo mais dire to traziam conhecimentos ancestrais produzindo rituals que funcionavam como urn feitiqo protetor as vezes acendendo velas tocando marimba cantarolando em alguns instanshytes baixinho umas ozes de Africa cantilenas alegres guerreiras entusiasshytas em outros cantigas falando de santo de trabalhar de comer 0

que remete as praticas das oferendas e ao principio do candomble de existenshycia de forqas vitais e sagradas que perpassam todos os aspectos da vida mashyterial e cotidiana como as tarefas as formas hidicas como a musica a danqa o canto 0 gesto Assim tanto Raimundo de laid Garcia empertigava 0

corpo dando aos quadris e ao tronco 0 movimento de suas danqas africashynas quanto 0 peeto velho de Casa Velha que canta-a Calumga mussanga monandengue dando ao corpo umas sacudidelas para acompanhar a toshyada africana alem de recorrer as tradiltoes orais ao contar historias muito compridas e sem sentido algum para os brancos pOlS forjadas e inseridas noutro universo simbolico da maioria deles ignorado Desta forma essas manifestaltoes mantinham uma memoria reveladora de matrizes africanas que era alimentada pela danqa pela paIavra pelos gestos ou pelos objetos e oushytros vekulos de expressao e comunicaqao(Machado de Assis 1955h1114 1956b193-4 1957b432-3)

No entanto outros aspectos expressam ainda a religiosidade no universo de uma cultura afro-amerindio-brasileira na obra machadiana como a feitiqaria Num momento em que em nome da civilizaltao da ciencia e da razao os intelectuais e as autoridades medicas policicas e policiais voltaramshyse contra praticas ariadas denominadas ~fnericamente de feitisaria lIachashydo abordou essa questao de modo bastante proprio Nao associou tais pratishyeas ao universo socio-cultural espedflco dos negros como faziam outros jorshynalistas e tampouco os apreciou a priori de modo negativo e condenatorio Contrap6s-se ao conteudo de muitas notkias divulgadas na imprensa nas quais 0 negro era 0 bruxeiro 0 feiticeiro violento e barbaro com a figura de Raimundo que produzia urn feitiqo protetor a seu senhor afastando da imagem do preto que fazia feitico male fico para seus proprietarios(Schwarcz 1987125-8 Machado de Assis 1955h10)

Ao tratar da batalha contra os antigos habitos religiosos tradicionais da gentes em 1893 0 cronista anunciava ter medo do c6digo penal de 1890 no qual havia urn artigo que castiga duramente as pessoas que advinham 0

futuro tao duramente como as que aplicam drogas para excitar odio ou amor para fascinar e subjugar a credulidade publica Com base nesse as autoridades recolhiam adetenqao curandeiros e feiticeiras levan do as ferrashymentas desses ofieios ( ) incluidos no e6digo como delitos como aves mortas pernas de ceroula saquinhos com feijao arroz farinha sal altucar canjica penas e cabeltas de frangos usados na busca de estabelecer uma alianshyca com 0 sobrenatural a partir da aciio de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do

vivos deuses e homens(lIachado de Assis Assis a feitiqaria era alga natural do homen tivas alem de ser urn ofkio que garancia r fur tar e matar para sobreviver e infring1r 0

que nao falam de feitiltaria mas de furto doente acreditar na feiticaria e por julgar q soais que determinam tudo neste mundo I

acudir a feitiltaria considerando emao inee go penal como deli to c prender senhoras s com os seus olhos e com seus demais obj 1959b308-11 )

fachado rarefez 0 clima hostil de dos seus agentes nao as associando aos neg te que esse elbo costume de buscar nas fei ros quase sempre mesciltos _caboclos e eab agruras nao so se restringia ao pon) Muita dade recorriam aos adiyinhos e curandeiros erva como por meio dc rezas 0 eurand mazelas que devastaam a cidade como eOolltao de defuntos de espiritos difere de ler como as adivinhas mandando e curandeiro Tobias falava em prosa scm 0

cas ate ser preso com suag bugigangas e galo pes de galinha secas medalhas pohcoJ de raia incluidos no aparato instrumental sis 1956c248-9 267-8 19S5d426-7)

Buscar os adivinhos e feiciceiros era ricas ainda que nesta muito preconceitos vando muitas ezes a consultas escondidas redor dc uma caboc1a muito conhecida do adivinha era grande e segundo 0 narrador da sociedade falavam dela a serio e havia ta um Juiz municipal cuja nomeaqao foi ar era muito falada na cidade e reinava Ii n(

merosa que vinha de muito mcses scndo queza da adivinha Toda a gcnte falan e assunto da cidade atribuiam-lhe um pode sortes achados casamento Afirmavam e 0 que vifia a scr Para 0 poo parccia muitas as noticias sobre seus feitos e ha-ia ~ soas que tinham perdido e achado joias e esc ~- polkia mesma quando nao acabaYl1 de

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de modo mais dire to traziam conhecimentos

tronco 0

funcionavam como urn feitio protetor

marimba cantarolando em alguns instanshy cantilenas alegres guerreiras entusiasshy

de santo de trabalhar de comer 0

e ao principio do candomble de existenshyperpassam todos os aspectos da vida mashy

as formas ludicas como a musica a danca Raimundo de laid Garcia empertigava 0

movimento de suas dancas africashyVelha que cantava Calumga ~ussanga umas sacudidelas para acompanhar a to-

as tradicoes orais ao contar historias muito para os brancos pois foqadas e inseridas

maioria deles ignorado Desta forma essas memoria reveladora de matrizes africanas que palavra pelos gestos ou pelos objetos e oushy

~uluIlltaya()(ilachado de Assis 1955h1114

expressam ainda a religiosidade no merind()-trastllra na obra machadiana como

que em nome da ciyilizacao da ciencia e da medicas politicas e policiais oltaramshy

1955hlO)

loolinadls genericamente de feiticariatvfachashybastante proprio Nao associou tais pratishy

_middot~neIflr dos negros como faziam outros jorshy

apriori de modo negativo e condenatorio muitas noticias divulgadas na imprensa nas o feiticeiro violemo e barbaro com a figura

feitico protetor a seu senhor afastando da maletico para seus proprietarios(Schwarcz

os antigos habitos religiosos tradicionais anunciava ter medo do codigo penal de 1890

duramente as pessoas que advinham 0

as que aplicam drogas para excitar odio ou a credulidade publica Com base nesse as curandeiros e feiticeiras levando as ferrashy

lCitllid()s no codigo como deliros como aves

com feijao arroz fartnha sal acucar usados na busca de estabelecer uma alianshy

da alao de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

vivos deuses e homens(Machado de Assis 1959a288 1959b308) Para De Assis a feiticaria era algo natural do homem vista em varias tribos primishytivas alemde ser urn oficio que garantia renda a muitos impedindo-os de furtar e matar para sobreviver e infringir os mandamentos da lei de Deus que nao falam de feiticaria mas de furto Ironicamente diz que por estar

doente acreditar na feiticaria e por julgar que sao sempre os l11teresses pesshysoals que determinam tudo neste mundo estava com grandes desejos de acudir afeiticaria considerando entao incorreto incluir a feiticaria no codishygo penal como delito e prender senhoras so porque fecham 0 corpo alhelO com os seus olhos e com seus demais objetos de culto(Machado de ASS1S

195308-11) Machado rarefez 0 clima hostil de desqualificacao dessas praticas e

dos seus agentes nao as associando aos negros e enfatizando incansavelmenshyte que esse velho costume de buscar nas feiticeiras adivinhas e curandeishy

ros quase sempre mesticos _caboclos e caboclas _ auxilio as imluietacoes e agruras nao s6 se restringia ao povo Tfuitas pessoas de posiltao na SOC1eshydade recorriam aos adi-inhos e curandeiros e os ultimos curavam tanto com ervas como por meio de rezas 0 curandeiro Nascimento curaa muitas mazelas que devastayam a cidade como barriga dagua com passes de evocacao de defuntos de espiritos diferentes ou arrancava dentes alem de Ie~ como as adivinhas mandando com tais e tais palaTinhas Ja 0

curandeiro Tobias falava em prosa sem 0 saber curaa em Hnguas classishycas ate ser preso com suas bugigangas e drogas tais como esporoes de galo pes de galinha secos medalhas polvora e ate urn chicote feito de rabo de raia inc1uidos no aparato instJumental de seus ritualS (ilachado de Asshysis 1956c248-9 267-8 1955d426-7)

Buscar os adivinhos e feiticeiros era costume presente entre as classes ricas ainda que nestas muitos preconceitos contra tais praticas existissem leshyvan do muitas vezes a consultas escondidas como ocorre em Esau e Jaco ao redor de uma cabocla muito conhecida do Ilorro do Castelo lt fama des sa adivinha era grande e segundo 0 narrador muira gente boa Ja ia pessoas da sociedade fala am dela a serio e havia um caso recente de pessoa dis tinshy

ta urn juiz municipal cuja nomeacao foi anul1ciada pela cabocla A caboc1a era muito falada na cidade e reinava la no morro possuindo freguesia nushymerosa que vtnha de muttos meses sendo sinal certo da videncia e da franshyqueza da adivinha Toda a gente fahlYa entao da cabocla do Castelo era 0

assunto da cidade atribuiam-lhe um poder tntlnito uma serie de milagres sortes achados casamentos AfirmaalU que cia adivinhaya tudo 0 que era eo que iria a ser Para 0 povo parecia que era mandada de Deus Eram muitas as noticias sobte seus feiros e hayia gente que dizla que conheC1a pe5shysoas que tinham perdido e achado joias e escraos De acordo com 0 narrador A policia mesma quando nao acabaa de apanhar um criminoso ia ao Casshy

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tela falar acabocla e des cia sabendo por i5S0 eque nao a botava para fora como os invejasos andavam a pedir A caboda explicava sonhos e pensashymentos curava quebranto(Machado de Assis 1959d43-4)

Segundo Aires tal costume era velho e velhissimo e no interior da casa simples nao havia nada que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshynhum petrecho simbalico nenhum bicho empalhado esqueleto ou desenho de aleiJoes Quando muito urn registro da [festa de Nossa senhora da ] Conshy

colado a parede podia lembrar misterio mas nao metia medo A cabocla e descrita com simpatia e 0 ritual sem afetacao Era uma criaturinha leve e breve ( ) corpo airoso com urn raminho de arruda nos cabelos 0

que ja the dava urn certo ar de sacerdotisa embora seu misterio estivesse mesmo era nos olhos agudos e compridos que entravam peIo consulente revoh-endo-Ihe 0 coracao ao tempo que interrogava Em transe de posse de retratos e cabelos de alguem ausente com urn cigarro acesso ao som de uma viola e de cantigas do sertao do Norte murmuradas por urn velho caboclo entrava a dizer sobre as coisas futuras ate que por fun 0 fregues se alegre e rico tirava uma nota de cinquenta mil-reis quando 0 preco do costume era cinco ezes menos arrecadaYa seus objetos e saia (Machado de Assis 1959d 7shy16) Essa cabocla com origem no norte do pais assim como outros caboclos curandeiros perseguidos pela policia remete apresenca dos caboclos no unishyverso das pniticas religiosas brasileiras que sendo figura mestica esta vinculashyda a nossos ancestrais nativos os indios donos da terra e ligados anatureza no tradicao dos cultos afro-brasileiros

No en tanto no campo das batalhas religiosas tais praticas tiveram outros opositores tal como os adeptos do nascente espiritismo que contagishyados peIo espirito positivo~cientificista do momenlO na busca de credibilidade ptlblica e de converter fieis incutindo-lhes seus pressupostos diziam possuir doutrina regida por leis cientificas ao querer excluir qualshyquer maculf[ de seita e julgavam-se sabedores das verdadeiras luzes do mundo e de verdades eternas Desta forma um iniciado nessa religiao defendia uma consulta espirita e na~ a caboda do Castelo por mais que ela fosse celebre Recorrer a ela seria imitar as crendices da gente reles e s6 ocorreria ate enquanto a policia nao pusesse cobro ao escandalo J a numa consulta espirita algum espirito podia [dizer] a verdade em vez de uma adivinha de farsa Para urn medium espirita enfiado em larga camisola de seda e usando toda a terminologia espirita assomada de casos fenomeshynos misterios testemunhos atestados verbais e escritos a cabocla devia ser deixada afe das senhoras pois eram delas crencas da meninice(Machado de Assis 1959d79113843-6646770 1957h10-1)

Cabe aqui ressaltar que nesta obra Esau e Jac6 a qual trata desses variados aspectos espirituais acima apontados advindos de tradicoes culturais e religiosas diversas Machado sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religi~

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OPSIS - Revista do

oso expondo a imbricacao das praticas ori catolicismo e 0 confronto com 0 espiritismc bases do que seria posteriormente denomin nomes dados as pessoas podem predestina ligacao entre 0 fato dos filhos do casal Sanl quais a cabocla disse terem brigado no ventr des entre estes porque os dois apostolos do garam assim como Esau e Jaco figuras do brigado por causa da primogenitura

Porem lIachado nilO recorre ao eSI conto Uma visita de Alcibiades 0 desemba S1caO juntamente com Santos aCllna citado essa doutrina propagaya ao ler Plutarco fun litava envoher a imaginaltao numa especie vel as evocacoes mentais transportou-se pa de Alcibiades ate que ao terminar de [umar de subilO pensou qual seria a impressiio daqu ario Desta feita enfatizando (lue era urn 1

podendo mesmo dizer que vlvia cornia dor cafe e esperava morrer na fe de Alan Kard os sistemas sao pura niilidades tinha adota sim sendo espiritista evocou lcibiades a c fez rapido aproximando duas civilizacoes impalpavel e sim urn homem de carne e mente a sua frente entrando a conersar sob o grego empalideceu cambaleou e caiu r desembargador mandou~o para 0 necroteno

o espiritismo sen-iu como assunto nas quais quasc sempre ri brinca e ironiza sc cando as vezes compreende-los por mais laquo

correndo a estrategias comicas Desta forma situacoes nebulosas como uma que exigia p teoria de Newton sugerc consultar 0 propri vez que nao entendia nada de astronomia Er brasileiros acabavam de dar um golpe de m urn medium com fama de ser prodigioso e sileira nomeado uma comissao para estudar nao valia a fama e que os trabalhos ficararr Europa e outro paises mas que 0 problen estao sujeitas a esse eclipses e nao estao Fora i5S0 a Federacao lamentaa que diante mular os fenomenos que obtem nas condie

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_UJUUV por 1SS0 e que nao a botava para fora a pedir A caboda explicava sonhos e pensashy

UVll1Ul1lU de Assis 1959d43-4)

vmiddotOLU1l1C era velho e velhissimo e no interior da que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshy

UUilU bicho empalhado esqueleto ou desenho registro da [Festa de Nossa senhora da 1Conshylembrar misterio mas nao metia medo A eo ritual sem afetas-ao Era uma crtaturinha

com urn raminho de arruda nos cabelos 0

sacerdotisa embora seu misterio estivesse e compridos que entravam pelo consulente

tempo que interrogava Em transe de posse de ausente com urn cigarro aces so ao som de uma do Norte murmuradas por urn velho cabodo

futuras ate que por fim 0 fregues se alegre ~lu-uLa mil-reis quando 0 pres-o do costume era

seus objetos e saia(Machado de Assis 1959d7shyno norte do pais assim como outros cabodos

polleia remete a presens-a dos cabodos no unishyIIJ[l1~JlC1Jl1 que sendo Figura mestis-a esta vlnculashy

os indios donas da terra e ligados anatureza

das batalhas religiosas tais praticas tiveram adeptos do nascente espiritismo que contagishy

__rpntificista do momento na busca de nrprtpr fieis incutindo-Ihes seus pressupostos

por leis cientificas ao querer exduir qualshysabcdorcs das yerdadeiras luzes do

Desta forma urn iniciado nessa religiao

rfu~ ~clt5u-(r(l1H-gn1ru lJ(YL nril ljlft1hgt

seria imitar as crendices da gente reles e so nao pusesse cobro ao esdindalo Ja numa

podia [dizer] a verdade em vez de uma Pltd11lIl espirita enfiado em Iarga camisola de

espirita assomada de fenomeshynauo verbais e escritos a cabocla devia ser

eram delas crenltas da meninice(Machado 770 1957hl0-1)

nesta obra Esau e Jaco a qual trata desses apontados advindos de tradiltoes culturais

sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religishy

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

oso expondo a imbricaltao das praticas origin arias dos amedndios com 0

catohcismo e 0 confronto com 0 espiritismo que amalgamados crtavam as bases do que seria posteriormente denominado de umbanda Aponta que os nomes dados as pessoas podem predestinar seus caminhos ao estabelecer ligaltao entre 0 fato dos filhos do casal Santos chamarem Pedro e Paulo os quais a cabocla disse terem brigado no ventre da mae e indicando as rivalidashydes entre estes porque os dois apostolos do Novo Testamento tam bern brishygaram assim como Esau e Jac6 figuras do Velho Testamento tinham ainda brigado por causa da primogenitura

Porcm Machado nao recorre ao espirttismo apenas nessa obra No conto Uma visita de Alcibades 0 desembargador Alvares que por sua poshysiltao juntamente com Santos acima citado indica 0 meio abastado em que essa doutrina propagaa ao ler Pluta reo fumando um charuto que possibishylitava envolver a imaginas-ao numa especie de nimbo extremamente favorashyvel as evocaltoes mentais transportou-se para a antiga Atenas pois lia a vida de Alcibiades ate que ao terminar de fumar voltou aos tempos modernos e de subito pensou qual seria a impressao daquele ateniense sobre n0550 vestushyano Desta feita enfatizando que era urn tanto espiritista ( ) ate muito podendo mesmo dizer que livia comia dormia passeava conversava bebia cafe e esperava morrer na fe de Alan Kardec pois convencido que todos os sistemas sao pura niilidades tinha adotado 0 mais jovial de todos Asshysim sendo espiritista evocou Alcibiades a comparecer em sua casa e esse 0

fez tapida apraximando duas civilizayoes Mas esse nao era uma sombra impalpavel e sim um homem de carne e ossos que se sentou benevalashymente a sua frente entrando a conversar sobre 0 assunto de interesse ate que o grego empalideceu cambaleou e caiu no chao Dian te do cadaver a desembargador mandou-o para 0 necroterio(Machado de Assis 1956a203-7)

o espiritismo serviu como assunto em varias cronicas machadianas

nas qua~s quasc selnpre ri brinca e lroniza seus enunciados e principios busshycando as vezes compreende-Ios por mais estranheza que provocassem reshyoottendo a estrateglaS comicas Desta forma ha momentos em que diante de situa~oes nebulosas como uma que exigia para sua solus-ao conheCImento da teoria de Newton sugere consultar 0 proprio por meio do espiritismo uma vez ~ue nao entendia nada de astronomia Em outro comenta que os espiritas brasilerros acabavam de dar um golpe de mestre quando apareceu na cidade ~medium com fama de ser prodigioso e tendo a FederaS-ao Espirita Brashysiletra nomeado uma comissao para estudar os fenomenos concluiu que de nao valia a fama e que as trabalhos ficatam abaixo do que se conseguia na Eur~pa e ~utros paises mas que 0 problema estava nas mediunidades que estao Su)eHas a esses eclipses e nao estao senrilmente anossa dispasis-ao Fora 1550 a Federaltao lamentava que diante de tudo a medium huscasse 5ishymular os fenomenos que obtem nas condis-oes normais Segundo Machashy

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do chistosamente 0 medium nao s6 foi ( ) apenas mmtmum mas ate procurou embasar a Federasao(lvlachado de Assis 1958b177 1956c123)

As estrategtas e argumentos usados pelos propagadores da nova doushytrina geralmente expostos nas conferencias promovidas pela Federaltao ou publicados na Uniao Espirita na busca de adeptos e de convemles tambem nao escaparam aeritica machadiana principalmente devido a sua indisposisao a tudo que se propagava como sendo verdade unica e absoluta levando-o a destilar sua eostumeira ironia em varios eseritos sobre essa doutrina e suas praticas Dentre eles destaeamos a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima verdadeira e definitiva doutrina e que substituiria todas as religioes do passashydo 0 eronista reeorre sempre a essa proposiltao quando depara com fatos obscuros e irnpossiveis de destrinltar ocorridos na cidade buscando solucionashylos usando de carnavalizaltoes que acabam por ridieulizar toda e qualquer noltao de -erdade ou de tal pretensao Isso aconteee nao s6 ao que diz respeishyto a essa doutrina A artimanha para conquistar simpatias e fieis de divulgar Iista de pessoas eminentes da Europa que acreditavam no espiritismo foi por ele tambern censurada pois no seu dizer tudo ocorria de forma como se as pessoas devessem crer por crer em tudo aquilo que na Europa e acreditado(~1achado de Assis 1955b297-9 195188)

Ao redor do principio da encarnaltao e reencarnaltao Machado fez yarias elucubraltoes supondo situaltoes tratadas de forma humoristica as quais contribuiam para difundir alguns de seus principios Assim ao vislumbrar uma certa promiscuidade geral dos desencarnados divulga 0 principio de que 0 espirito pode reencarnar inclusive na mesma familia sendo viivel que um homem pudesse ter uma ftlha depois morrer e voltar filho dela ou urn menino voltar filho de urn prin10 Se em alguns momentos pesa a mao contra os espiritistas dizendo que 0 espiritismo nao e menos curanderia que os outros curandeiros e que se fosse legislador mandava fechar todas as igrejas des sa religiao em outros em tom ate didatico enfatiza que 0 princishypio espirita e fundado no progresso e a leI e nascer morrer tornar a nascer e renascer ainda progredir sempre sendo que 0 renascimento epara meshylhor Cada espirita em se desencarnando vai para os mundos superiores Reflete ainda sobre a distancia entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo que 0 principio espirita nao e 0 mesmo da transmigrasao em que as aIm as vao para os corpos dos animalS mas fundado no progresso(Machado de Assis195100-2188)

Acreditando ser representativo do pensamento ultimo de Machado a respeito do espiritismo em 1895 ele defende seu exercicio pois a Constituishyltao estabclece 0 direito de liberdade religiosa No seu dizer 0 espiritismo e uma religiao que ele nao sabia se falsa ou verdadeira embora os espiritas dissessem que verdadeira e unica frente ao que ressaIta que presunltao e agua benta cada um toma a que quer Se verdadeiros ou nao [continual 0

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OPSIS - Revista tiD

fato e que escrevem-se e publicam-se inUn jornais espiritas e no Rio havia uma ou dl acreditara que nao se gasta tanto papel em a palavra que se esta escrevendo e a propria seguinte 1896 comenta (lue ha muito que ( tos escreyem pclos dedos dos vhos e que mundo e neste final de urn grande seculo(1

Desta forma a cultura carioca oitoclt diversas de religiosidade e de expcriencias com 0 divino 0 campo religioso apresent possibilidades variadas de vivenciar a proCl debatem em confronto entre si quanto se a] produzindo formas hibridas e sincreticas de lam os homens a seus deuses com tambem a em parte de seus lasos de sociabilidade

Fontes e Referencias B

BORGES Valdeci Rezende Em busca do 11

Rio de l1achado de Assis Estudos Histor Pesquisa e Documentaltao da Hist6ria Conte Getulio Vargas no 28 p 49-69 2OC) BOCRDIEC Pierre A Economia das TrOt pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Si Paulo Cia Das Letras 1989 ivLCI1ADO DE ASSIS Joaquim r1aria C 10 WMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b _ Cronicas v 2 1955c

Cronicas v 4 1955d

_ Helena 1955e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Historias Romanticas _ 1955g _ laid Garcia 1955h _ Memorial de Aires 19551

Pdginas Recolhidas _ 1955 Reliquias de Casa Velha v 1 _ 195 Contos Esquecidos Rio de Janeiro ClY

_ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Rejlexoes de um Relojoeiro _ A Mao e a Luva Sao Paulo M Jad

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mio s6 foi () apenas minimum mas ate WHltV de Assis 1958b 177 1956c123)

usados pelos propagadores da nova doushyconferencias promovidas pela Fede1aio 01

na busca de adeptos e de conversoes tambem principalmente devido a sua indisposiltilO

sendo verdade unica e absolura levando-o a em vanos escritos sobre essa doutrina e suas

a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima e que substituiria todas as religioes do passashya essa proposicao quando depara com fatos

ocorridos na cidade bus cando soluciomishyque acabam por ridiculizar toda e qualquer

temao Isso acontece nao 56 ao que diz respeishypara conquistar simpatias e fieis de divulgar

Rur(ma que acreditavam no espiritismo foi por seu dizer tudo ocorria de forma C01no se as crer em tudo aquilo que na Europa e 1955b297-9 195188)

da encarnacao e reencarnacao 1Iachado fez Grv~ tratadas de forma humoristica as quais

de seus principios Assim ao vislumbrar dos desencarnados divulga 0 prindpio de

inclusive na mesma familia sendo viavel que depois morrer e voltar filho dela au urn Se em alguns momentos pesa a mao

que 0 espiritismo nao e menos curanderia se Fosse Iegislador mandava fechar todas as em tom ate diampitico enfatiza que 0 princishy

e a lei e nascer morrer tornar a nascer sendo que 0 renascltnento e para meshy

uJ Tal para os mundos superiores entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo omesma da transmigraltao em que as almas

mas fundado no progresso(Machado de

do pensamento ultimo de Machado a ele defende seu exerdcio pois a Constimishy

religiosa No seu dizer 0 espiritismo e se falsa au verdadeira embora os espiritas

frente aa que ressalta que presunltao e quer Se verdadeiros ou nilO [continua] 0

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

fata e que escrevem-se e publicam-se inumeros livros folhetos reistas e jornais espiritas e no Rio havia uma ou duas folhas espirita alem do que acrerutaa que nao se gasta tanto papel em tantas linguas senao crendo que a palavra que se esta escrevendo ea propria verdade Para finalizar no ano seguinte 1896 comenta que hi muito que os espiritas afirmam que os mOfshytos escrevem pelos dedos dos vivos e que para ele tudo e POSSIel neste mundo e neste final de urn grande seculo(Machado de Assis 1957b26274)

Desta forma a cultura carioca oitocentista esta permeada de formas diersas de religiosidade e de experiencias voltadas para a busca de Iigacao com 0 divino 0 campo religioso apresenta-se marcado pela presenca de possibilidades variadas de vlvenciar a procura do sagrado as quais tanto debatem em confronto entre si quanta se aproximam nas pniticas dos tieis produzindo formas hibridas e sincreticas de religiosidade que nao so vincushylam os homens a seus deuses com tambem aos outros homens constitumdo em parte de seus lacos de soclabilidade

FOlltes e Referihlcias Bibliogrtificas

BORGES Valdeci Rezende Em busca do mundo exterior sociabilidade no Rio de Machado de Assis Estudos Historicos Rio de Janeiro Centro de Pesquisa e Documentacao da Historia Contempodmea do Brasil da Fundaltao Getulio Vargas no 28 p 49-69 200l BOURDIEC Pierre A Economia das Trocas Simb6licas Sao Paulo Persshy

pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e hist6ria Sao Paulo Cia Das Letras 1989 MAClMDO DE ASSIS Joaquim Maria Contos Fluminenses v2 Sao PaushyloWMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b Cronicas v 2 1955c

_ Cronicas v 4 19S5d _ Helena _ 19S5e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Hist6rias Romanticas 1955g _ laid Garcia 1955h

Memorial de Aires 1955i _ Pdginas Recolhidas _ 1955j _ ReUquias de Casa Velha v 1 _ 19551 _ Contos Esquecidos Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1956a _ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Reflexoes de um Relojoeiro _ 1956c _ A Mao e a Luva Sao Paulo 11 Jackson inc 1957a

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A Semana v 3 1957b _ Dam Casmurra _ 1957c

Historias Sem Data 1957d

_ Memorias Postumas de Bras Cubas 1957e _ Quincas Borba 1957f

_ Requias de Casa Velha v 2 _ 1957g Varias Historias 1957h

_ Contos e Cronicas Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1958a _ Cronicas de Lelia 1958b _ A Semana v 1 Sao Paulo WMJackson inc 1959a

A Semana v 2 1959b _ Cronicas v 4 1959c _ Esau e Jaco 1959d

SCHv~RCZ Lilia Moritz Retrato em Branco e Negro jornals escravos em Sao Paulo no final do seculo XIX Sao Paulo Cia Das Letras 1987

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OPSIS - Revista do

CINEMA E RELIGI

ResuResumo

Propomos neste texto apre5cntar algushy 1ou

mas reflex6es sobre a ahordagem de ashy quell

lares no cinema presentes em nleu

filmes como E 0 vento levou Blade film~

Runnermiddot 0 Carador de Androides 0 Run

Exorcisca Matrix dentre outros Exor

Atualmentc vivemos em uma 50eiel urn gm-erno baseado na lei e na razao Ne pensar assentam-se nao mais somente nos v bem nos valotes politicos e sociais Disso religiosos cristaos em quase nada influeneiat de fazer visto que Igreja (como instituiltao) tados na lei

Apesar da atual sociedade aparentc s6lida temos que ter em mente que cia so mente ha pouco tempo malS preeisamente e s6 se consolidou a partjr do positivismo vivemos em uma sociedade ainda em form

mente nao influencia tanto a nossa maneir E isto s6 e verdade para as eham2

hoje existem diversas sociedades ditas tee arabes (Irii) 0 Afeganistao onde 0 fundarr em todos os nh-eis

1 Este texto foi prodU7ido a partir do curso ministr e Religiosidadcs com 0 objetivo de apresentar algUi as rcferencias dos filmes analisados 2 Mestre em Historia pcla UFSC Universidade F

Historia da rcdc publica do [stado de Minas Gerai

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Page 8: as Bibliogrdficas RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSISstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3224606.pdf · 16 'as Bibliogrdficas mentafao oral e tematica da seca: estu o Federal,

Para alguns homens a primeira confissao ocorria por epoca da quare sma 0 que levava a que muitos rapazes se escondessem debaixo da cama do padre confessor ou pelos desvaos da casa ji a segunda era pOt ocasiao de casar A cerimonia de casamento era vista como momenta de santidade e de muita comoltao povoando sempre os 50nh05 das mulheres com festas brilhantes muitos carras vesrido branco flores de latanjeira grinalda padrinhos ilustres Porem em 1fachado sao poucas as cenas de casamento e geralmente so em fantasia talvez por ptivilegiar sobretudo nos romances a vida das classes altas au daquelas em ascensao em que 0 casamento era urn negocio politico ou economico e a devoltao assim como 0 sentimento relig1oso fragil entrando em declinio ainda maior frente a outras atividades da vida mundana(Machado de Assis 1955i95)

Por meados dos oltocentos novas formas de sociabilidade foram implementadas desassociando-se cada vez mais daquelas da religiosidade cashytolica Ate entao nos momentos de cumprir as obrigaroes religiosas relacishyonava-se com 0 mundo exterior rompendo 0 enclausuramento usual princishypalmente da mulher No entanto a nova sociabilidade configurava-se ao reshydor de inusitados espaltos tempos e formas de recreio 0 gosto pela vida externa creSCla enquanto os antigos hibitos e costumes marcados pela religishyosidade foram sendo desprezados e em muitos casos abandonados(Borges 2001 49-69) )Jessa transformaltao da sensibilidade coletiva ocorre uma inflexao dos sentimentos e valores relativos ao sagrado e urn avanlto das forshyltas seculares Essa alteraltao apontada por Machado pode sel percebida por meio de urn conjunto de inrucios como a retirada dos quadros de santos da decoraltao das casas mais abastadas sendo substituidos quase sempre por pequenas gravuras inglesas ao passo que nas casas mais pobres a Virshygem era muita cultuada possuindo lugar excelso na devoltao dos corashyltoes maviosos Nessas podia nao haver urn Cristo mas sempre [havia] uma imagem de Nossa Senhora(Machado de Assis 1955f93 1955j91 1957bl08)

A tibieza da fe e a escassez de padres ordenados indicam ainda a diminuiltao da inspiraltiio religiosa e a expansao da secularizaltao ao lado da mudanlta referida nos novos nomes atribuidos aos nascidos nao mais ligados ao imagmano catolico(Machado de Assis 1955j91 1955i51 1959b80 1057c263308 1957d280 1955e13) Assim muita coisa mudava nas familias como 0 uso antigo que urn dos rapazes fosse padre 0 que alterava a direshy

ltao dada it educaltao 0 sentido e 0 rumo a seguir pelas novas geraltoes que geralmente aprendiam as primeiras letras latim e doutrina em casa com urn desses clerigos Eles incuriam noltoes sentimentos e orienravam as escoshyIha5 forjavam vocaltoes religiosas em seus disdpulos ao falarem de supostas manifestatoes daquelas como ocorreu com Bentinho que tinha seus brinqueshydos sempre de igreja e adorava os oEicios divinos brincando mesmo

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com Capitu de dizer missas e tomando doc estudos secundarios fossem feitos ainda corr filhos ja mais autonomos escolhiam profi economico que oscilayam entre a medicina c busca da vida religiosa que foi acusada em 1 falar da escassez de padres orden ados no sem capehies(Machado de Assis 1959b80)

Nesse contexto e sentido ate prot Por mais que 0 vinculo moral da promessa D Gloria mac de Bentinho descrita como por volta de 1847 dar a Deus 0 filho como infancia 0 compromisso foi rompido postel saida de substitui-Io por urn mocinho 61 da oferta para compensar a batina que aqt tando segundo 0 narrador urn cochilo da mento religioso era marcado por altoes e interiormente a incredulidade era assaz dift distraida Para dc nesse tempo operou u

fez do paganismo e do catolicismo urn 1957c263 308 1957d280 1955e13 19

11as nao era so a familia de Bentin mundo e suas praticas socio-economicas ne Entre Santos expoe situaltocs interessantes passo que urn padre conta certo ocorrido pc de S Francisco de Paula Ao vcr luz sob a p do que se tratava e ouvindo conyersa fez il me antigo de enterrar os mortos nas igrejas mortos ali enterrados No entanto viu que igreja que sairam dos seus nichos e que senl altares comentavam as oraltoes e pedidos d Francisco de Sales contou 0 caso de Sales trazia seu nome e tinha a mulher doente desesperanltado cia terra voltou-se para I salva-la Pediu que a salvasse operando o cera mas ao passo que estabelecia 0 comp moeda que 0 ex-yoto hayia de custar e ac nossos emil ave-marias(Machado de Assi

Nesse momento sobretudo entre

censao a deoltao ficaa Iwbretudo releg Carmo que costumaYa ir a missa aos don por fadiga por doenlta ou por estar chov 0 seu livro com as suas rczas marcadas (

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a primeira confissao ocorria por epoca da muitos rapazes se escondessem debaixo da

desvaos da casa ja a segunda era por de casamento era vista como momento de

povoando sempre os sonh05 das mulheres vestido branco flores de laranjeira grinalda

Machado sao poucas as cenas de casamento e par privilegiar sobretudo nos romances a em ascensao em que 0 casalnento era urn

e a devoltao assim como 0 sentimento LUumiddotv ainda maior frente a outras atividades

Assis 1955i95) novas formas de sociabilidade foram

cada vez mais daquelas da religiosidade cashyde cumprir as obrigaroes religiosas relacishyrompendo a enclausuramento usual princishya nova sociabilidade configurava-se ao reshy

e formas de recrelO 0 gosto pela vida habitos e costumes marcados pela religishy

e em muitos casos abandonados(Borges da sensibilidade cole tin ocorre uma

relacivos ao sagrado e um avanlto das forshy___niua par Machado pode ser percebida por

como a recirada dos quadros de santos da sendo subscituidos quase sempre por

passo que nas casas mais pobres a Virshylugar excelso na deTOltaO dos corashy

nao haver urn Cristo mas sempre [havia] (Machado de 55is 1955pound93 1955j91

de padres ordenados indicam ainda a e a expansao da secularizaltao ao lado da

atribuidos aos nascidos nao mais ligados de Assis 1955j91 1955i51 1959b80

A881m muita coisa mudava na8 familias rapazes Fosse padre 0 que alterava a direshyo rumo a seguir pelas novas geraltaes que

letras latim e doutrina em casa com noltoes sencimentos e orientavam as escoshyem seus discipulos ao falarem de supostas

com Bencinho que tinha seus brinqueshyos ofici08 divinos brincando mesmo

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com Capitu de dizer missas e tamando doce por hoscia Porem embora os estudos secundarios fossem feitos ainda com base religiosa em seminarios os filhos ja mais autonomos escolhiam profissoes de maior prestigio socioshyeconomico que oscilavam entre a medicina e 0 direito influindo na queda da busca da vida religiosa que foi acusada em 1894 pelo ex-bispo da cidade ao falar da escassez de padres ordenados no () seminario e das paroquias sem capelaes(1hchado de Assis 1959b80)

Nesse contexto e sentido ate promessas celebres eram quebradas Por mais que 0 vinculo moral da promessa prendesse indissoluvelmente D Gloria mae de Bentinho descrita como devota e que havia prometido la par volta de 1847 dar a Deus 0 61ho como sacerdote casu nao morresse na infancia 0 compromisso foi rompido posteriormente guando se encontrou a saida de subscitui-lo por urn mocinho orfao qualquer como pagamento da oferta para compensar a batina que aquele deitou as urtigas represenshytan do segundo 0 narrador urn cochilo da fe Segundo l1achado 0 sentishymento religioso era marcado por lt1ltaes e expressaes exteriores vis to que interiormente a incredulidade era assaz difusa e a deToltao magra tibia e distraida Para ele nesse tempo operou uma grande fusao religioa que fez do paganismo e do catolicismo urn so credo(ilachado de Assis 1957c263 308 1957d280 1955e13 1958b328)

Mas nao era so a familia de Bentinho que em conformidacle com 0

mundo e suas praticas socio-economicas negociava com 0 sagrado () conto Entre Santos expae situaltoes interessantes em torno da devoltao humana ao passo que urn padre conta certo ocorrido por epoca que era capelao da igreja de S Francisco de Paula Ao ver luz sob a porta do templo buscou descobrir do que se tratava e ouvindo conversa fez inferencias que nos revel a 0 costushyme antigo de enterrar os mortos nas igrejas ao perguntar se seriam vozes dos mortos ali enterrados No entanto viu que era urn dialogo entre os santos da igreja que sairam dos seus nichos e que semados em forma humana em seus altares comentavam as oraltoes e pedidos dos fieis no dia Dentre outros Sao Francisco de Sales contou 0 caso de Sales urn velho usuario e avaro que trazia seu nome e tinha a mulher doente com um erisipela na perna que desesperanltado da terra voltou-se para Deus pois so um milagre podia salva-la Pediu que a salvasse operando 0 milagre oferecendo uma perna de cera mas ao passo que estabelecia 0 compromisso s6 via diante dos 0lh05 a moeda que 0 ex-voto havia de custar e acabou prometendo rezar mil padre nossos emil ave-marias(l1achado de Assis 1957h27-44)

Nesse momento sobretudo entre as camadas sociais altas e em asshycensao a devoltao ficaa sobretudo relegada aos antigos e velhos como D Carmo que costumava ir amissa aos domingos e que como outras damas por fadiga por doenlta ou por estar chovendo quando nao 0 fazia pegaya 0 seu livro com as suas rezas marcadas ( ) amesma hora acompanha-a

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a missa toda frente 0 seu altarzinho e seu Cnsto instalados no gabinete e ao acabar beijava a imagem Essa senhora de acordo com sua crenlta nao saia de casa sem a beijar primeiro como urn pedido de proteltao nem voltava scm faze-Io como a dar graltas como 0 fazia ao deitar e ao levantar(lIachado de Assis 1955i197)

A igreja era lugar de exposiltiio seja em missas ordinarias festas de santos missas de mono de seUmo dia de morte e por alma do finado ~i se ostentava opulencia e distimao social sendo objeto de curiosidade publica chamando a atenltao sabre si com carruagens lacaios roupas e esportulas vultosas como a fizera 0 casal Santos emergentes na sociedade na missa de defunto na igreja de S Domingos Essa paroquia era adequada amissa recondita e anonima urn ato sem releyo sem pesames nem lagrishymas como gueria a casal ao mandar dizer missa par alma de urn parente pobre falecido em lIarica scm que aquela repercutisse em seu meio social(Machado de Assis 1959d23) Mas se esse templo era das camadas pobres os ricos au nO05 ricos como a senhora Santos que se queixou que ali sujara 0 estido e enchera-se de pulgas preferiam a de S Francisco de Paula au a da Gloria localizadas em bairros ricos como Flamengo e que eram consideradas lirnpas li os endinheirados tinham como uso velho mandal dizer missas anivelsarias de datas obituarias e natalicias(Machado de Assis 1955i94-5)

lIuitos flequentavam a igreja mais por imposiltao social dos mais Yelhos por ser lugar de se mostlar e estabelecer relaltoes socialS do que por deoltao sentida A jovem Maria Olirnpia tinha a vocaltiio da vida exterior e sentia urn singular feicilto nas procissoes e nas missas pelo rumor e pela pompa Ia aigrcja conduzida pela cia que era religiosa e tinha gosto partishycular em mostrar-se e em namorar os rapazes Sua devoltiio magra escasshyseou ainda mais com a chegada do primeiro espetaculo e 0 primeiro baile Os saloes torna~am-se os novos lugares do encontro e do diertimenshyto e muitos ja entao confundiam as praticas leligiosas com as canseiras da vida e fUgiam delas(Machado de Assis 1959d23-4 28 1957d280 1955i95) Virgilia tambem representa a comportamento da nova mulher presa nas forshyltas seculares ao ser uma jovem senhora casada que possuia urn amante e mostraYa-se pouco religiosa nao ouvindo missa aos domingos ou so indo as igrejas em dia de festa e quando havia lugar vago em alguma tribushyna Alcm disso tachava de beatas aquelas que cram so religiosas a que aponta par outro lado a existencia de mulheres que se dedicayam em excesshyso as praticas religiosas Porem rezava todas as noites com fervor ou pelo menos com sono em sua alcova junto a seu oratoriozinho de jacaranda Ja as homens eram considerados em geral uns impios nao plsavam na Igleja a nao sel para batizar as filhos(tvlachado de Assis 1957e185 1957f257)

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Mas se as individuos substituiam que com suas festas eram todo 0 recreio F tempos antigos ate mesmo a igreja nao e mundanizou-se Adotou os carrilhoes urn c~ tocavam peltas profanas chamando as fieis sinos das igrejas e produzindo uma or enfadonhas austeras graves religiosas ma~ pedaltos do Barbe Bleue da Bela Helen contrafaltao de Offenbach ou deg Amor te cassinos e no Alcazar teatro de opereta e Machado a missa da manhii e 0 fand se(Machado de -ssi5 1957d61 1959c16

Outlo costume do tempo dos vicemiddot processo de modemizaltao expressando p( mundo terreno era a de ingressar em confrlt tempos antigos ocorria por amor as cois pda busca de recompensas imediatas ac tomar materia publica a importimcia do 51

mediante a retribuiltoes como a instalaiio d da noticias para publicar em jornais sabre H(

da divulgaltao realizada pelo proprio bem do beneficio e da publicidade do nome e fi~ nas cogitaltoes publicas tornando~se se mandades de damas cram igualmente usa~ principalmente quando os jornais davam 1

os names das organizadoras 0 anuncio gI6ria(Machado de ssis 1957d26205~6

o mesmo ocorria em relacao as at de cunha religioso e assistencial erguidas fr da mendicidade As associaltoes de caridadt do muitas organizadas por senhoras que ~

nos aos famintos amoldavam-se ao mund cido religioso Por um lado adequada ao se as pedintes de esmola em portas das igre mais pobres com seus miseros vintenzinho prias almas pois por meio da caridade I almejando salvar especialmente a 5i mestnlt tado Por outro 0 beneficio alcanltado cor mundo material e nao espiritual como oc comissao de caridade de senhoras para pc com pessoas de destaque na sociedade q cima na sua busca de ascensao social AI~

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ho e seu Cristo instalados no gabinete e ao senhora de acordo com sua crenca nao saia

como urn pedido de protecao nem voltava gracas como 0 fazia ao deitar e ao 955i197)

posiao seja em missas ordinarias festas de setimo dia de morte e por alma do finado tincao social sendo objeto de curiosidade sobre si com carruagens lacaios roupas e a 0 casal Santos emergentes na sociedade na Domingos Essa par6guia era adequada

urn ato sem releyo sem nem higrishyandar dizer missa por alma de urn parente

em que aquela repercutisse em seu meio d23) Mas se esse templo era das camadas como a senhora Santos que se quelxou que e de pulgas preferiam a de S Francisco de s em bairros ricos como Flamengo e que

os endinheirados rinham como uso velho de datas obituanas e natalicias(Machado de

igreja mais por imposicao soclal dos mais r e estabelecer socials do que por

Olimpia cinha a vocaltao da vida exterior procissoes e nas missas pelo rumor e pela cia que era religiosa e cinha gosto parcishy

rar os rapazes Sua devoao magra escasshyda do primeiro espetaculo e 0 primeiro

novos lugares do encontro e do divercimenshyas praticas religiosas com as canseiras da

Assis 1959d23-f 28 1957d280 1955i95) portamento da nova mulher presa nas forshysenhora casada que possula urn amante e

nao ouvindo missa aos domingos ou s6 e quando havia lugar vago em alguma tribushytas aquelas que eram s6 religiosas 0 que de mulheres que se dedicavam em excesshy

rezava todas as noites com fervor ou pelo a junto a seu oratoriozinho de jacaranda em geral uns impios nao pisavam Hna

s f1lhos(Machado de Assis 1957e185

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Mas se os individuos substituiam seus habitos sociais e religiosos que com suas festas eram todo 0 recreio publico e toda a arte musical em tempos antigos ate mesmo a igreja nao escapou da altao secularizante e mundanizou-se Adotou os carrilhoes um conjunto de sinos musicais que tocavam pe~as profanas chamando os fieis amissa subscituindo os pobres sinos das igrejas e produzindo uma orgia de notas nao de musicas enfadonhas austeras graves religiosas mas sons alegres e animados como pedaltos do Barbe Bleue da Bela Helena do Orfeu nos Infernos uma contrafaltao de Offenbach ou 0 Amor tern fogo tocados geralmente nos cassinos e no Alcazar teatro de opereta e da vida boemia Assim segundo Machado a missa da manhii e 0 fandango da noite aproximavamshyse(Ifachado de 1957d61 1959c168-9 1955d250 1959a68-9)

Outro costume do tempo dos vice-reis com significado alterado no processo de modernizaltao expressando pouca devoltao e grande apego ao mundo terreno era 0 de ingressar em confrarias e irmandades religiosas -Jos tempos antigos ocorria por amor as coisas pias mas no momento era peia busca de recompensas imediatas advindas do individual desejo de tomar materia publica a importancia do sujeito e seu espirito caritativo mediante a retribuicoes como a instalaao de retrato na sacriscia a emissao da nocicias para publicar em jornais sobre os beneficios que pracicava alem da divulgacao realizada peio pr6prio beneficiado Desta forma por meio do beneficio e da publicidade do nome e figura daquele que 0 fez entrava-se nas cogitaoes publicas tornando-se sempre Hlembrado~ Ivfesmo as 1rshymandades de damas eram igualmente usadas para dar brilho a suas juizas principalmente quando os jornais davam noticia minuciosa das festas com os nomes das organizadoras () anuncio nas folhas era um troco da gI6ria(Machado de Assis 1957d26205-6 1957e350 412-4 1956b44)

o mesmo ocorria em relaao as atividades associacivas ftlantr6picas de cunho religlOso e assistencial erguidas frente ao crescimento da pobreza e da mendicidade As associaltoes de caridade que aumentaram na cidade senshydo muitas orgamzadas por senhoras que coletavam donativos e reparciamshynos aos famintos amoldavam-se ao mundo profano e desviavam-se do senshytido religioso Por um lado adequada ao sentimenta cristao a mendicidade e os pedintes de esmola em portas das igrejas traziam as pessoas mesmo as mais pobres com seus miseros vintenzinhos a ocasiao de beneficiar suas pr6shyprias almas pois por meia da caridade punha-se em pracica 0 evangelho almejando salvar especialmente a S1 mesmo e nem tanto ao estranho necessishytado Par outro 0 beneficio alcamado com a caridade podia restringir-se ao mundo material e nao espiritual como ocorria com Sofia que usou de uma comissao de caridade de senhoras para p6r-se em evidencia e criar vfnculos com pessoas de destaque na sociedade que 1he dessem um empurriio para cima na sua busca de ascensao sociaL -lem disso nesse seculo utilitario e

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pnitico marcado pelo avanlto das forltas de secularizaltao e perda do espirishyto cristao ate mesmo a caridade tornava-se escriturada legalizada regulashymentada (Machado de Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192 1957e190-2 1959d301)

Junto ao povo 0 gosto das procissoes vinha de longe e estava bastante arraigado para os antigos uma tradiltao de infancia costume da primeira metade do seculo do tempo do rei e suas predileltoes confesshysadas por todas as yelhas carolices as quais seus contemporaneos choravam e pediam pelos tempos dos oratorios de pedta dos tetltos cantados das procissoes bem ordenadas das ladainhas atras do viatico das boas festas e dos bons trades da verdadeita fe e dos vetdadeiros filhos de Deus iias ja em 1865 essas ptocissoes classicas podiam dar ideia de tudo menos de urn culto serio e elevado pois ao lado dos anjinhos e andores floridos os homens iam em filas uns com tochas na mao outros com vara do palio disputadas pelos fieis pais dava uma distincao especial a quem a trazia Alguns iam dizendo pilh6rias aesquerda e adireita enquanto os assistentes comentavam as gracas jUTenis do anjo cantor que era sempre mQ(a feita Desta forma Machado julgava que essas procissoes e semelhantes praticas eram ridiculas nao podendo subsistir numa sociedade verdadeiramente telishygiosa pois uma folia mesmo para os mais sinceramente religiosos com as quais os sacerdotes serios nao deveriam conservarem cumplices( Mashychado de Assis 1958a101-2 Grifo meu)

Existia ainda a luta tradicional travada entre os diferentes templos com 0 unico objeto de primar uns sobre os outros no luxo das suas procisshysoes respectivas sendo essa luta por demais profana e manifestava-se por uma aculTIulacao de prata e ouro nos andores no mais numeroso concurso de irmaos e de anjinhos e outras coisas iguais Vivia-se 0 sagrado melo afolia comentari~s dos assistentes pilh6rias disputas e abusca do brilho e da distimao do que Machado duvidava muito que a divinshydade visse com bons olhos estes conflitos de primazia(Machado de Assis 1958alOl-2 1957c98-100 Grifo meu) No entanto se as procissoes eram filhas da tradiltao em 1865 algumas delas ja haviam sido suprimidas pelo process a de modernizaltao da igreja e para 0 cronista tudo fazia crer que as restantes tamb6m seriam Nesse sentido em 1893 avalia com certa melanshycalia a diferema entre uma procissao de Sao Sebastiao daquele ana e as de outrora dizendo Ordem numero pompa tudo 0 que havia quando era () menino tudo desapareceu(Machado de Assis 1958a101 1959a220)

Porem se 0 sagrado e 0 profano apresentavam-se quase sempre de maos dadas inclusive na esfera das praticas catolicas oficiais essa interpenetraltao tinha certos limites Em 1896 uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair em desftle por se denominar N ossa Senhora da Conceiltao De acordo com 0

cronista esse titulo pareCla esquisito mas se a intenltao eque salva a sociedashy

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de vai para 0 ceu pais os autores da ideia tQS da Virgem e nao [tinham] 0 carnaval por desse poslcionamento 0 folhetinista acabou enfatizando que se tal socledade tinha igual g adotar denominaltao adequada e que na( Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos et gente mas sofriam tambem a altao dos novo se Eram de maior destaque a festa da Glol Reis de Sao Sebastiao do Espirito Santos e ( tinham lugar tanto a religiao com missa que F Deum quanto 0 recreio com fogos de artifi prendas Embora houvesse entre elas algum folhetinisra ao cabo de tudo [era] a mesml sao 0 que 0 leTaTa a lascimar que 0 fogo de da Penha [1eYavam] mats fi6is que 0 objeto es certo que todo caminho leva 11 Roma nao 0 i Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que t~

como tinham acabado muitas outras devoS meio recreativas Para ele 0 elemento estr mes com muita patinacao muita opereta m nossa populacao a rusticidade e 0 encanto d Assis 1958b121 1956b207 19S5g410 1955d147-8 Grifo meu)

~ festa do Espirito Santo igualmel contista em A Parasita Azul que transeOl Luzia Goias ao falar desse festejo aponta q que de todo se nao apagou 0 gosto dessas eras No entanto na Corte ainda persistia ( barracas Nao era diferente com a Festa de R 1864 Machado falava que a festa de S Joao tI fogueiras e baloes proibidos por postura mu obstante 0 ceticismo do tempo muita e m corter primelro que 0 povo [perdesse] 0

foguetear os tres santos em junho Porem ja Joao e tambern de Reis Sobre a ultima com popular perdurava no interior pois na c

anos e brotado em sua cinzas a arvore de t essas lTIudancas De Assis lamenta que os al ha nela de puetil para Sf) the deixar 0 que ha quem nem 15S0 fica esse perde 0 melhor ( sirnplorio e velho de noites abencoadas

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das for~as de secularizacao e perda do espirishytornava-se escriturada legalizada regulashy

Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192

das procissoes vinha de longe e estava os antigos uma tradi~ao de inGneia costume do tempo do rei e suas predileltoes confesshy

as quais seus contemporaneos choravam orat6rios de pedra dos terltos cantados das

ladainhas awis do yiatico das boas festas e fe e dos verdadeiros ftlhos de Deus 1as ja

sslcas podiam dar ideia de tudo menos de um ao lado dos anjinhos e andores floridos os

tochas na mao outros com vara do palio uma distin~ao especial a quem a trazia

aesquerda e adireita enquanto os assistentes do anjo cantor que era sempre molta feita que essas prociss()es e semelhantes pniticas

subsistir numa sociedade erdadeiramenterelishypara os mais sinceramente religiosos com as

nao deyeriam conservarem cumplices( 11ashyGrifo meu)

ttadlC1011al travada entre os diferentes templos uns sabre os outros no luxo das suas procisshy

luta por demais profana e manifestava-se e ouro nos andores no mais numeroso

e outras coisas iguais Viyia-se 0 sagrado dos assistentes pilherias disputas e abusca do que Machado duyidava muito que a divinshy

conflitos de primazia(Machado de Assis Grifo meu) No entanto se as procissoes eram

delas ja haviam sido suprimidas peIo igreja e para 0 cronista tudo fazia crer (lue as

sentido em 1893 avalia com certa melanshy)rOClssao de Sao Sebastiio daquele ana e as de nUmero pompa tudo 0 que havia quando era

(Machado de 1958a 101 1959a220) eo profano apresentavam-se quase sempre de das pciricas cat6licas oficiais essa interpenetraltao uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair

Senhora da Conceiltao De acordo com 0 mas se a inten~ao e que salva a sociedashy

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de vai para 0 ceu pais as autores da ideia [eram] com certeza fieis deyoshytos da Virgem e nao [tinham] 0 caman por obra do diabo Porem apesar desse posieionamento 0 folhetinista acabou por concordar com a proibi~ao enfatizando que se tal soeiedade tinha igual gosto as ideias profanas deveria ado tar denominacao adequada e que nao faltam titulos (1vIachado de Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos eram populares e reuniam muita gente mas sofriam tambem a a~ao dos novos tempos e perdiam seu interesshyse Eram de maior destaque a Festa da Gloria da Penha da Conceiltao de Reis de Sao Sebastiiio do Espirito Santos e de Sao Benedito Em tais festas tinham lugar tanto a religiao com missa que poderia ser cantada e ate um TeshyDeum quanto 0 recreio com fogos de artificio barracas corretos leilao de prendas Embora houvesse entre elas algumas diferenltas de acordo com 0

folhetinista ao cabo de tudo [era] a mesma alcgria e a mesmlssima divershysao 0 que 0 leYaa a lastimar que 0 fogo de artificio da Gkma e 0 garrafao cia Penha ~evayam] mais fieis que 0 objeto essencial da festiyidade POlS se e certo que todo caminho leva aRoma nao a e que todo caminho lea ao ceu Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que talvez essa Festa tin~sse findado como tinham acabado muitas outras devoltoes populare~ melO religlOsas meio recreatiYas Para 0 elemento estrangeiro transformou os costushymes com muita muita opereta muita COlsa peregnna que tirou it nossa populaltao a rusticidade e 0 encanto de outros tempos(~1achado de Assis 1958b121 1956b207 1 10 1959c225 103 1957c77 1955d147-8 Grifo meu)

A Festa do Espirito Santo igualmente desaparecia e em 1870 0 contista em A Parasita Azul que transcorre por olta de 1850 em Santa Luzia GOlaS ao falar desse aponta que vao rareando os lugares em que de todo se nao apagou 0 gosto dessas festas classicas resto de outras eras No entanto na Corte ainda persistia 0 habito de muito irem ver suas barracas Nao era diferente com a Festa de Reis e dos santos juninos Se em 1864 Machado falaya que a Festa de S Joao tomaya-se falsificada sem fogos fogueiras e baloes proibidos por postura municipal em 1878 dizla que nao obstante a cetiClsmo do tempo muita e muita dezena de anos n1aia] de correr primeiro que 0 povo [perdesse] os seus antigo amores como foguetear os tres santos em junho Porem ja em 1894 trata da morte de S Joao e tambem de Reis Sobre a ultima comenta que nao sabia se essa festa popular perdurava no interior pois na capital tinha morrido ha muitos anos e brotado em sua cinzas a arvore de Natal vinda da Europa Frente a essas mudanltas De Assis lamenta que os anos que passam tiram afe a que ha ncla de pueril para so Ihe deixar 0 que ha serio Para de triste daqucle a quem nem iS50 fica esse perde 0 melhor das recordaltoes de um tempo simpl6rio e velho de noites abenltoadas em que as crendices sas abrem

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todas as vdasAs consultas as sortes as ovos guardados em agua e outras sublimes ridicularias as quais via com respeito com simpatia e se alguma coisa a molestaa era por nao as saber ja praticar( lvlachado de Assis 1957e62 1955f46 1955a318 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241 1959b13-4 123-4)

Ifas se na cidade 0 vento dos tempos desfazia em lufadas de tuGo essas praticas populares anrigas arraigadas no imaginario coletivo no interior de era brisa igual e mansa que tudo esfolhava e dispersava devagar 8Sim em 1864 0 cronista tratou de urn morador de Viana descobridor de uma imagem de Santa Teresa que lacrimejava e supondo ser milagre pos em alorolto as credulos vianenses considerando procedente realizar exame do fato por uma comissao de eclesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao das festas do Born Jesus em Pirapora que reuniam anualmente urn numero extraordinario e crescente de romeiros calculados naquele ana em 8000 pessoas J a em 1873 escreyeu sabre uma senhora que enlouqueceu quando depois de longa seca pediu chua enterrando uma imagem de Santo Antonio no rnato e alcanltou 0 pedido Porem como a chuva abundante nao cessava ao contrario 0 aguaceiro ia a mais matando inclusive animais yoltou ao buraco por acreditar que a preclpitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas nao 0 encontrou entrando a supor que os males derivavam da altao que praticara 0 cronista comentando 0 fato de Santo Anttmio gozar entre seus deyotos do exotico privilegio de nao conceder nenhuma gralta senao enterrado ou metido num poco so operando milagres a troco da liberdade consideraya que uma senhora religtosa fizera-se supersticiosa e que quando a fe chega a este ponto esta )a muito alem das fronteiras da superstiltao deixando seu praticante sem nenhuma das grandes consolaltoes da fe trazendo-lhc 0 desespero e a loucura Ainda nesse universo ja em 1876 trata da existenCla de duas mulheres santas e milagrosas uma que apareceu na Bahia em torno da qual formou romarias dos seus devotos e outra velha milagrosa que diziam curar doewas incuraveis com ervas misteriosas(Machado de Assis 1955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2)

Desta maneira as esferas do sagrado e do profano da fe da devoltao e do recreio estaam bastante imbricadas no que concerne as praticas dos catolicos havendo uma circulaltao e influencia reciproca entre as instancias das cerimonias e rituais oficiais e sua recnacao pelos leigos entre 0 divino e a folia entre 0 cuita e a festa Os momentos e lugares em que essas aspiracoes se concretizavam em praticas sociais serviam tambem para promover a interacao dos indivlduos lvlas deixando esse sobrevoo sobre a sociedade carioca e focalizando n0550 olhar num segmento especifico desta como na comunidade negra podemos perceber outros aspectos da cultura religiosa carioca Dessa cultura hibrida amalgamada no territorio fluminense observamos primeiramente as pratica ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revi$fa do

as quais de forma geral sao vistos como

respeitados N esse meio social existiam aqudes in

uma preta y~lha do conto 0 Escrivao Co ajoe1hada diante do altar de S Bernardo co do pedic-lhe alguma coisa se nao eque lhe recebido ate que acabou beijando a cruz tou-se e saiu Outros aparecem como detel onais e seus transmissores sendo rezadore senhores ou sabedores de promessas celebre sas ou subir de joelhos a ladeira da Glc Santa(Machado de Assis 19551229-30 1 esta presente no uniYerso das atividades cal do preto elho de Casa Velha que emb africanas era sineiro mas nao fazla mats q missa aos domingos 19ualmente nesse 0

sineiro da Gloria (lue de escrao ficou li~ seculo aquda torre regendo a paroquia e c( picava por casamentos nascimentos batiza amarela 0 calera-morbus os partidos qUI deles ~ pela guerra do Paraguai pelos mo livre das escravas a aboliltao a Republica plt se Tudo conforme a ordem(JIachado de

Outras Ofertas e tensoes Feiti~

Espiritism

Ja outros negros vclhos aparecem mais circunscritas senda depositarios de p( varios elementos que expressam traltas cultu canas 0 negros produziram com suas ling des cantos e batuques uma ruptura com recorrerem mesmo que na clandestinidade uma cultura negra brasileira a qual recorriar contexto embora inseridos em universo simi de crencas praticas e -isoes de mundo al~ tica usada no cotidiano por bran cos negro cam associalt6es ao cultos africanos nos ql parentesco permeiam os rdacionamentos s mente ligados Desta forma alguns pretos sendo vistos como bonciosos humildes g~ Assis 1955d392 1957c279)

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s sortes os ovos guardados em agua e outras

via com respeito com simpatia e se alguma ao as saber ja praticar( Machado de Assis 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241

vento dos tempos desfazia em lufadas de anrigas arraigadas no imaginario coletivo no nsa que tudo esfolhava e dispersava devagar

tou de urn marador de Viana deseobridor de que lacrimejava e supondo ser milagre pas ses considerando procedente realizar exame clesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao apora que reuniam anuahnente urn numero

romeiros calculados naquele ana em 8000 sobre uma senhora que enlouqueceu quando a enterrando uma imagem de Santo Antonio

Porem como a chuva abundante nao cessava mais matando inclusiye animais yoltou ao cipitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas supor que os males derivavam da altao que do 0 fa to de Santo Antonio gozar entre seus 0 de nao conceder nenhuma gralta senao s6 operando milagres a troeo da liberdade

giosa fizera-se supersticiosa e que quando muito alem das fronteiras da superstiltao nenhuma das grandes consolaltoes da fe loucura Ainda nesse universo ja em 1876 eres santas e milagrosas uma que apareceu na romarias dos seus devotos e outra velha

urar doenltas incuraveis com ervas 955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2) s do sagrado e do profano da fe da devoltao

bricadas no que concerne as praticas dos o e influencia redproca entre as ins tlmcias das a recrialtao pelas leigos entre 0 div1110 e a

omentos e lugares em que essas aspiraltoes sociais serviam tambem para promQyer a

deixando esse sobrevoo sobre a sociedade num segmento espedfico desta como na

ceber outros aspectos da cultura religiosa a amalgamada no territorio flumlnense aticas ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revista do Niese V2 N J JanJun 2002

os quais de forma geral sao vistos como conhecedores dela e por 1880 re8peitados

Nesse meio social ex1stiam aqueles inseridos na tradiltao catolica como uma preta v~lha do conto 0 Escrivao Coimbra que Camilo viu na igreja ajoelhada diante do altar de S Bernardo com urn rosario na mao parecenshydo pedir-lhe alguma coisa se nao e que the pagava em oraltoes 0 beneficio ia recebido ate que acabou beijando a cruz do rosario persignou-se levanshytou-se e saiu Outros aparecem como detentores de conhecimentos tradicishyonais e seus transmissores sendo rezadores que pediam guard a para seus senhores ou sabedores de promessas celebres como mandar dizer cern misshysas au subir de joelhos a ladeira da Gloria para ouvir uma ir a Terra Santa(Machado de Assis 19551229-30 1957c71177279) 0 negro idoso esta presente no universo das atividades catolicas como sineiros a exemplo do preto velho de Casa Velha que embora muito atrelado as tradiltoes africanas era sineiro mas nao fazia mais que tocar 0 sino da capela para a missa aos domingos Igualmente nesse ofieio IvIachado destaca Joao 0 sineiro da Gloria que de escravo ficou livre governando por quase meio seculo aquela torre regendo a par6quia e contemplando 0 mundo de 11 Reshypicava por casamentos nascimentos batizados mortes Dobrava pela febre amarela 0 colera-morbus os partidos que subiam ou cafam sem saber deles _ pela guerra do Paraguai pelos mortos e pelas vitorias peIo ventre livre das escravas a aboliltao a Republica pelo imperio_ se 0 imperio tornasshyse Tudo con[orme a ordem(tviachado de -5S1S 1956b193-4 1957b431-3)

Outras Ofertas e tensoes Feiti~arias Adivinha~oes e

Espiritismo

Ja outtos negros velhos aparecem atrelados as tradiltoes ancestrais mals circunscritas sendo depositarios de poderes de proteltao e guardioes de varios elementos que expressam traltos cultorals singulares das socledades afrishycanas 0 negtos produziram com suas linguas danltas folguedos sonoridashydes cantos e batoques uma ruptura com a -isao de mundo ocidental ao recorrerem mesmo que na clandestinidade a seus ritos seus deuses criando uma cultura negra brasileira a qual reeorriam alguns de seus senhores Em tal contexto embora insetidos em universo simb6lico marcado pda multiplicidade de crenltas praticas e visoes de mundo alguns aspectos da expressao lingiiisshyrica usada no cotidiano por brancos negros e mestiltos livres e cativos indishycam associaltoes ao cuhos africanos nos quais a ideia de familia e de laltos de parentesco permeiam os relacionamentos socialS e religiosos que sao intimashymente ligados Desta forma alguns pretos velhos eram ehamados de Pai sendo vistos como bondosos humildes generosos e paternais( Machado de Assis 1955d392 1957c279)

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Outros pretos velhos de modo mais dire to traziam conhecimentos ancestrais produzindo rituals que funcionavam como urn feitiqo protetor as vezes acendendo velas tocando marimba cantarolando em alguns instanshytes baixinho umas ozes de Africa cantilenas alegres guerreiras entusiasshytas em outros cantigas falando de santo de trabalhar de comer 0

que remete as praticas das oferendas e ao principio do candomble de existenshycia de forqas vitais e sagradas que perpassam todos os aspectos da vida mashyterial e cotidiana como as tarefas as formas hidicas como a musica a danqa o canto 0 gesto Assim tanto Raimundo de laid Garcia empertigava 0

corpo dando aos quadris e ao tronco 0 movimento de suas danqas africashynas quanto 0 peeto velho de Casa Velha que canta-a Calumga mussanga monandengue dando ao corpo umas sacudidelas para acompanhar a toshyada africana alem de recorrer as tradiltoes orais ao contar historias muito compridas e sem sentido algum para os brancos pOlS forjadas e inseridas noutro universo simbolico da maioria deles ignorado Desta forma essas manifestaltoes mantinham uma memoria reveladora de matrizes africanas que era alimentada pela danqa pela paIavra pelos gestos ou pelos objetos e oushytros vekulos de expressao e comunicaqao(Machado de Assis 1955h1114 1956b193-4 1957b432-3)

No entanto outros aspectos expressam ainda a religiosidade no universo de uma cultura afro-amerindio-brasileira na obra machadiana como a feitiqaria Num momento em que em nome da civilizaltao da ciencia e da razao os intelectuais e as autoridades medicas policicas e policiais voltaramshyse contra praticas ariadas denominadas ~fnericamente de feitisaria lIachashydo abordou essa questao de modo bastante proprio Nao associou tais pratishyeas ao universo socio-cultural espedflco dos negros como faziam outros jorshynalistas e tampouco os apreciou a priori de modo negativo e condenatorio Contrap6s-se ao conteudo de muitas notkias divulgadas na imprensa nas quais 0 negro era 0 bruxeiro 0 feiticeiro violento e barbaro com a figura de Raimundo que produzia urn feitiqo protetor a seu senhor afastando da imagem do preto que fazia feitico male fico para seus proprietarios(Schwarcz 1987125-8 Machado de Assis 1955h10)

Ao tratar da batalha contra os antigos habitos religiosos tradicionais da gentes em 1893 0 cronista anunciava ter medo do c6digo penal de 1890 no qual havia urn artigo que castiga duramente as pessoas que advinham 0

futuro tao duramente como as que aplicam drogas para excitar odio ou amor para fascinar e subjugar a credulidade publica Com base nesse as autoridades recolhiam adetenqao curandeiros e feiticeiras levan do as ferrashymentas desses ofieios ( ) incluidos no e6digo como delitos como aves mortas pernas de ceroula saquinhos com feijao arroz farinha sal altucar canjica penas e cabeltas de frangos usados na busca de estabelecer uma alianshyca com 0 sobrenatural a partir da aciio de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do

vivos deuses e homens(lIachado de Assis Assis a feitiqaria era alga natural do homen tivas alem de ser urn ofkio que garancia r fur tar e matar para sobreviver e infring1r 0

que nao falam de feitiltaria mas de furto doente acreditar na feiticaria e por julgar q soais que determinam tudo neste mundo I

acudir a feitiltaria considerando emao inee go penal como deli to c prender senhoras s com os seus olhos e com seus demais obj 1959b308-11 )

fachado rarefez 0 clima hostil de dos seus agentes nao as associando aos neg te que esse elbo costume de buscar nas fei ros quase sempre mesciltos _caboclos e eab agruras nao so se restringia ao pon) Muita dade recorriam aos adiyinhos e curandeiros erva como por meio dc rezas 0 eurand mazelas que devastaam a cidade como eOolltao de defuntos de espiritos difere de ler como as adivinhas mandando e curandeiro Tobias falava em prosa scm 0

cas ate ser preso com suag bugigangas e galo pes de galinha secas medalhas pohcoJ de raia incluidos no aparato instrumental sis 1956c248-9 267-8 19S5d426-7)

Buscar os adivinhos e feiciceiros era ricas ainda que nesta muito preconceitos vando muitas ezes a consultas escondidas redor dc uma caboc1a muito conhecida do adivinha era grande e segundo 0 narrador da sociedade falavam dela a serio e havia ta um Juiz municipal cuja nomeaqao foi ar era muito falada na cidade e reinava Ii n(

merosa que vinha de muito mcses scndo queza da adivinha Toda a gcnte falan e assunto da cidade atribuiam-lhe um pode sortes achados casamento Afirmavam e 0 que vifia a scr Para 0 poo parccia muitas as noticias sobre seus feitos e ha-ia ~ soas que tinham perdido e achado joias e esc ~- polkia mesma quando nao acabaYl1 de

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de modo mais dire to traziam conhecimentos

tronco 0

funcionavam como urn feitio protetor

marimba cantarolando em alguns instanshy cantilenas alegres guerreiras entusiasshy

de santo de trabalhar de comer 0

e ao principio do candomble de existenshyperpassam todos os aspectos da vida mashy

as formas ludicas como a musica a danca Raimundo de laid Garcia empertigava 0

movimento de suas dancas africashyVelha que cantava Calumga ~ussanga umas sacudidelas para acompanhar a to-

as tradicoes orais ao contar historias muito para os brancos pois foqadas e inseridas

maioria deles ignorado Desta forma essas memoria reveladora de matrizes africanas que palavra pelos gestos ou pelos objetos e oushy

~uluIlltaya()(ilachado de Assis 1955h1114

expressam ainda a religiosidade no merind()-trastllra na obra machadiana como

que em nome da ciyilizacao da ciencia e da medicas politicas e policiais oltaramshy

1955hlO)

loolinadls genericamente de feiticariatvfachashybastante proprio Nao associou tais pratishy

_middot~neIflr dos negros como faziam outros jorshy

apriori de modo negativo e condenatorio muitas noticias divulgadas na imprensa nas o feiticeiro violemo e barbaro com a figura

feitico protetor a seu senhor afastando da maletico para seus proprietarios(Schwarcz

os antigos habitos religiosos tradicionais anunciava ter medo do codigo penal de 1890

duramente as pessoas que advinham 0

as que aplicam drogas para excitar odio ou a credulidade publica Com base nesse as curandeiros e feiticeiras levando as ferrashy

lCitllid()s no codigo como deliros como aves

com feijao arroz fartnha sal acucar usados na busca de estabelecer uma alianshy

da alao de alimentar que fortalece e mantem

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vivos deuses e homens(Machado de Assis 1959a288 1959b308) Para De Assis a feiticaria era algo natural do homem vista em varias tribos primishytivas alemde ser urn oficio que garantia renda a muitos impedindo-os de furtar e matar para sobreviver e infringir os mandamentos da lei de Deus que nao falam de feiticaria mas de furto Ironicamente diz que por estar

doente acreditar na feiticaria e por julgar que sao sempre os l11teresses pesshysoals que determinam tudo neste mundo estava com grandes desejos de acudir afeiticaria considerando entao incorreto incluir a feiticaria no codishygo penal como delito e prender senhoras so porque fecham 0 corpo alhelO com os seus olhos e com seus demais objetos de culto(Machado de ASS1S

195308-11) Machado rarefez 0 clima hostil de desqualificacao dessas praticas e

dos seus agentes nao as associando aos negros e enfatizando incansavelmenshyte que esse velho costume de buscar nas feiticeiras adivinhas e curandeishy

ros quase sempre mesticos _caboclos e caboclas _ auxilio as imluietacoes e agruras nao s6 se restringia ao povo Tfuitas pessoas de posiltao na SOC1eshydade recorriam aos adi-inhos e curandeiros e os ultimos curavam tanto com ervas como por meio de rezas 0 curandeiro Nascimento curaa muitas mazelas que devastayam a cidade como barriga dagua com passes de evocacao de defuntos de espiritos diferentes ou arrancava dentes alem de Ie~ como as adivinhas mandando com tais e tais palaTinhas Ja 0

curandeiro Tobias falava em prosa sem 0 saber curaa em Hnguas classishycas ate ser preso com suas bugigangas e drogas tais como esporoes de galo pes de galinha secos medalhas polvora e ate urn chicote feito de rabo de raia inc1uidos no aparato instJumental de seus ritualS (ilachado de Asshysis 1956c248-9 267-8 1955d426-7)

Buscar os adivinhos e feiticeiros era costume presente entre as classes ricas ainda que nestas muitos preconceitos contra tais praticas existissem leshyvan do muitas vezes a consultas escondidas como ocorre em Esau e Jaco ao redor de uma cabocla muito conhecida do Ilorro do Castelo lt fama des sa adivinha era grande e segundo 0 narrador muira gente boa Ja ia pessoas da sociedade fala am dela a serio e havia um caso recente de pessoa dis tinshy

ta urn juiz municipal cuja nomeacao foi anul1ciada pela cabocla A caboc1a era muito falada na cidade e reinava la no morro possuindo freguesia nushymerosa que vtnha de muttos meses sendo sinal certo da videncia e da franshyqueza da adivinha Toda a gente fahlYa entao da cabocla do Castelo era 0

assunto da cidade atribuiam-lhe um poder tntlnito uma serie de milagres sortes achados casamentos AfirmaalU que cia adivinhaya tudo 0 que era eo que iria a ser Para 0 povo parecia que era mandada de Deus Eram muitas as noticias sobte seus feiros e hayia gente que dizla que conheC1a pe5shysoas que tinham perdido e achado joias e escraos De acordo com 0 narrador A policia mesma quando nao acabaa de apanhar um criminoso ia ao Casshy

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tela falar acabocla e des cia sabendo por i5S0 eque nao a botava para fora como os invejasos andavam a pedir A caboda explicava sonhos e pensashymentos curava quebranto(Machado de Assis 1959d43-4)

Segundo Aires tal costume era velho e velhissimo e no interior da casa simples nao havia nada que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshynhum petrecho simbalico nenhum bicho empalhado esqueleto ou desenho de aleiJoes Quando muito urn registro da [festa de Nossa senhora da ] Conshy

colado a parede podia lembrar misterio mas nao metia medo A cabocla e descrita com simpatia e 0 ritual sem afetacao Era uma criaturinha leve e breve ( ) corpo airoso com urn raminho de arruda nos cabelos 0

que ja the dava urn certo ar de sacerdotisa embora seu misterio estivesse mesmo era nos olhos agudos e compridos que entravam peIo consulente revoh-endo-Ihe 0 coracao ao tempo que interrogava Em transe de posse de retratos e cabelos de alguem ausente com urn cigarro acesso ao som de uma viola e de cantigas do sertao do Norte murmuradas por urn velho caboclo entrava a dizer sobre as coisas futuras ate que por fun 0 fregues se alegre e rico tirava uma nota de cinquenta mil-reis quando 0 preco do costume era cinco ezes menos arrecadaYa seus objetos e saia (Machado de Assis 1959d 7shy16) Essa cabocla com origem no norte do pais assim como outros caboclos curandeiros perseguidos pela policia remete apresenca dos caboclos no unishyverso das pniticas religiosas brasileiras que sendo figura mestica esta vinculashyda a nossos ancestrais nativos os indios donos da terra e ligados anatureza no tradicao dos cultos afro-brasileiros

No en tanto no campo das batalhas religiosas tais praticas tiveram outros opositores tal como os adeptos do nascente espiritismo que contagishyados peIo espirito positivo~cientificista do momenlO na busca de credibilidade ptlblica e de converter fieis incutindo-lhes seus pressupostos diziam possuir doutrina regida por leis cientificas ao querer excluir qualshyquer maculf[ de seita e julgavam-se sabedores das verdadeiras luzes do mundo e de verdades eternas Desta forma um iniciado nessa religiao defendia uma consulta espirita e na~ a caboda do Castelo por mais que ela fosse celebre Recorrer a ela seria imitar as crendices da gente reles e s6 ocorreria ate enquanto a policia nao pusesse cobro ao escandalo J a numa consulta espirita algum espirito podia [dizer] a verdade em vez de uma adivinha de farsa Para urn medium espirita enfiado em larga camisola de seda e usando toda a terminologia espirita assomada de casos fenomeshynos misterios testemunhos atestados verbais e escritos a cabocla devia ser deixada afe das senhoras pois eram delas crencas da meninice(Machado de Assis 1959d79113843-6646770 1957h10-1)

Cabe aqui ressaltar que nesta obra Esau e Jac6 a qual trata desses variados aspectos espirituais acima apontados advindos de tradicoes culturais e religiosas diversas Machado sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religi~

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OPSIS - Revista do

oso expondo a imbricacao das praticas ori catolicismo e 0 confronto com 0 espiritismc bases do que seria posteriormente denomin nomes dados as pessoas podem predestina ligacao entre 0 fato dos filhos do casal Sanl quais a cabocla disse terem brigado no ventr des entre estes porque os dois apostolos do garam assim como Esau e Jaco figuras do brigado por causa da primogenitura

Porem lIachado nilO recorre ao eSI conto Uma visita de Alcibiades 0 desemba S1caO juntamente com Santos aCllna citado essa doutrina propagaya ao ler Plutarco fun litava envoher a imaginaltao numa especie vel as evocacoes mentais transportou-se pa de Alcibiades ate que ao terminar de [umar de subilO pensou qual seria a impressiio daqu ario Desta feita enfatizando (lue era urn 1

podendo mesmo dizer que vlvia cornia dor cafe e esperava morrer na fe de Alan Kard os sistemas sao pura niilidades tinha adota sim sendo espiritista evocou lcibiades a c fez rapido aproximando duas civilizacoes impalpavel e sim urn homem de carne e mente a sua frente entrando a conersar sob o grego empalideceu cambaleou e caiu r desembargador mandou~o para 0 necroteno

o espiritismo sen-iu como assunto nas quais quasc sempre ri brinca e ironiza sc cando as vezes compreende-los por mais laquo

correndo a estrategias comicas Desta forma situacoes nebulosas como uma que exigia p teoria de Newton sugerc consultar 0 propri vez que nao entendia nada de astronomia Er brasileiros acabavam de dar um golpe de m urn medium com fama de ser prodigioso e sileira nomeado uma comissao para estudar nao valia a fama e que os trabalhos ficararr Europa e outro paises mas que 0 problen estao sujeitas a esse eclipses e nao estao Fora i5S0 a Federacao lamentaa que diante mular os fenomenos que obtem nas condie

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_UJUUV por 1SS0 e que nao a botava para fora a pedir A caboda explicava sonhos e pensashy

UVll1Ul1lU de Assis 1959d43-4)

vmiddotOLU1l1C era velho e velhissimo e no interior da que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshy

UUilU bicho empalhado esqueleto ou desenho registro da [Festa de Nossa senhora da 1Conshylembrar misterio mas nao metia medo A eo ritual sem afetas-ao Era uma crtaturinha

com urn raminho de arruda nos cabelos 0

sacerdotisa embora seu misterio estivesse e compridos que entravam pelo consulente

tempo que interrogava Em transe de posse de ausente com urn cigarro aces so ao som de uma do Norte murmuradas por urn velho cabodo

futuras ate que por fim 0 fregues se alegre ~lu-uLa mil-reis quando 0 pres-o do costume era

seus objetos e saia(Machado de Assis 1959d7shyno norte do pais assim como outros cabodos

polleia remete a presens-a dos cabodos no unishyIIJ[l1~JlC1Jl1 que sendo Figura mestis-a esta vlnculashy

os indios donas da terra e ligados anatureza

das batalhas religiosas tais praticas tiveram adeptos do nascente espiritismo que contagishy

__rpntificista do momento na busca de nrprtpr fieis incutindo-Ihes seus pressupostos

por leis cientificas ao querer exduir qualshysabcdorcs das yerdadeiras luzes do

Desta forma urn iniciado nessa religiao

rfu~ ~clt5u-(r(l1H-gn1ru lJ(YL nril ljlft1hgt

seria imitar as crendices da gente reles e so nao pusesse cobro ao esdindalo Ja numa

podia [dizer] a verdade em vez de uma Pltd11lIl espirita enfiado em Iarga camisola de

espirita assomada de fenomeshynauo verbais e escritos a cabocla devia ser

eram delas crenltas da meninice(Machado 770 1957hl0-1)

nesta obra Esau e Jaco a qual trata desses apontados advindos de tradiltoes culturais

sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religishy

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

oso expondo a imbricaltao das praticas origin arias dos amedndios com 0

catohcismo e 0 confronto com 0 espiritismo que amalgamados crtavam as bases do que seria posteriormente denominado de umbanda Aponta que os nomes dados as pessoas podem predestinar seus caminhos ao estabelecer ligaltao entre 0 fato dos filhos do casal Santos chamarem Pedro e Paulo os quais a cabocla disse terem brigado no ventre da mae e indicando as rivalidashydes entre estes porque os dois apostolos do Novo Testamento tam bern brishygaram assim como Esau e Jac6 figuras do Velho Testamento tinham ainda brigado por causa da primogenitura

Porcm Machado nao recorre ao espirttismo apenas nessa obra No conto Uma visita de Alcibades 0 desembargador Alvares que por sua poshysiltao juntamente com Santos acima citado indica 0 meio abastado em que essa doutrina propagaa ao ler Pluta reo fumando um charuto que possibishylitava envolver a imaginas-ao numa especie de nimbo extremamente favorashyvel as evocaltoes mentais transportou-se para a antiga Atenas pois lia a vida de Alcibiades ate que ao terminar de fumar voltou aos tempos modernos e de subito pensou qual seria a impressao daquele ateniense sobre n0550 vestushyano Desta feita enfatizando que era urn tanto espiritista ( ) ate muito podendo mesmo dizer que livia comia dormia passeava conversava bebia cafe e esperava morrer na fe de Alan Kardec pois convencido que todos os sistemas sao pura niilidades tinha adotado 0 mais jovial de todos Asshysim sendo espiritista evocou Alcibiades a comparecer em sua casa e esse 0

fez tapida apraximando duas civilizayoes Mas esse nao era uma sombra impalpavel e sim um homem de carne e ossos que se sentou benevalashymente a sua frente entrando a conversar sobre 0 assunto de interesse ate que o grego empalideceu cambaleou e caiu no chao Dian te do cadaver a desembargador mandou-o para 0 necroterio(Machado de Assis 1956a203-7)

o espiritismo serviu como assunto em varias cronicas machadianas

nas qua~s quasc selnpre ri brinca e lroniza seus enunciados e principios busshycando as vezes compreende-Ios por mais estranheza que provocassem reshyoottendo a estrateglaS comicas Desta forma ha momentos em que diante de situa~oes nebulosas como uma que exigia para sua solus-ao conheCImento da teoria de Newton sugere consultar 0 proprio por meio do espiritismo uma vez ~ue nao entendia nada de astronomia Em outro comenta que os espiritas brasilerros acabavam de dar um golpe de mestre quando apareceu na cidade ~medium com fama de ser prodigioso e tendo a FederaS-ao Espirita Brashysiletra nomeado uma comissao para estudar os fenomenos concluiu que de nao valia a fama e que as trabalhos ficatam abaixo do que se conseguia na Eur~pa e ~utros paises mas que 0 problema estava nas mediunidades que estao Su)eHas a esses eclipses e nao estao senrilmente anossa dispasis-ao Fora 1550 a Federaltao lamentava que diante de tudo a medium huscasse 5ishymular os fenomenos que obtem nas condis-oes normais Segundo Machashy

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do chistosamente 0 medium nao s6 foi ( ) apenas mmtmum mas ate procurou embasar a Federasao(lvlachado de Assis 1958b177 1956c123)

As estrategtas e argumentos usados pelos propagadores da nova doushytrina geralmente expostos nas conferencias promovidas pela Federaltao ou publicados na Uniao Espirita na busca de adeptos e de convemles tambem nao escaparam aeritica machadiana principalmente devido a sua indisposisao a tudo que se propagava como sendo verdade unica e absoluta levando-o a destilar sua eostumeira ironia em varios eseritos sobre essa doutrina e suas praticas Dentre eles destaeamos a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima verdadeira e definitiva doutrina e que substituiria todas as religioes do passashydo 0 eronista reeorre sempre a essa proposiltao quando depara com fatos obscuros e irnpossiveis de destrinltar ocorridos na cidade buscando solucionashylos usando de carnavalizaltoes que acabam por ridieulizar toda e qualquer noltao de -erdade ou de tal pretensao Isso aconteee nao s6 ao que diz respeishyto a essa doutrina A artimanha para conquistar simpatias e fieis de divulgar Iista de pessoas eminentes da Europa que acreditavam no espiritismo foi por ele tambern censurada pois no seu dizer tudo ocorria de forma como se as pessoas devessem crer por crer em tudo aquilo que na Europa e acreditado(~1achado de Assis 1955b297-9 195188)

Ao redor do principio da encarnaltao e reencarnaltao Machado fez yarias elucubraltoes supondo situaltoes tratadas de forma humoristica as quais contribuiam para difundir alguns de seus principios Assim ao vislumbrar uma certa promiscuidade geral dos desencarnados divulga 0 principio de que 0 espirito pode reencarnar inclusive na mesma familia sendo viivel que um homem pudesse ter uma ftlha depois morrer e voltar filho dela ou urn menino voltar filho de urn prin10 Se em alguns momentos pesa a mao contra os espiritistas dizendo que 0 espiritismo nao e menos curanderia que os outros curandeiros e que se fosse legislador mandava fechar todas as igrejas des sa religiao em outros em tom ate didatico enfatiza que 0 princishypio espirita e fundado no progresso e a leI e nascer morrer tornar a nascer e renascer ainda progredir sempre sendo que 0 renascimento epara meshylhor Cada espirita em se desencarnando vai para os mundos superiores Reflete ainda sobre a distancia entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo que 0 principio espirita nao e 0 mesmo da transmigrasao em que as aIm as vao para os corpos dos animalS mas fundado no progresso(Machado de Assis195100-2188)

Acreditando ser representativo do pensamento ultimo de Machado a respeito do espiritismo em 1895 ele defende seu exercicio pois a Constituishyltao estabclece 0 direito de liberdade religiosa No seu dizer 0 espiritismo e uma religiao que ele nao sabia se falsa ou verdadeira embora os espiritas dissessem que verdadeira e unica frente ao que ressaIta que presunltao e agua benta cada um toma a que quer Se verdadeiros ou nao [continual 0

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OPSIS - Revista tiD

fato e que escrevem-se e publicam-se inUn jornais espiritas e no Rio havia uma ou dl acreditara que nao se gasta tanto papel em a palavra que se esta escrevendo e a propria seguinte 1896 comenta (lue ha muito que ( tos escreyem pclos dedos dos vhos e que mundo e neste final de urn grande seculo(1

Desta forma a cultura carioca oitoclt diversas de religiosidade e de expcriencias com 0 divino 0 campo religioso apresent possibilidades variadas de vivenciar a proCl debatem em confronto entre si quanto se a] produzindo formas hibridas e sincreticas de lam os homens a seus deuses com tambem a em parte de seus lasos de sociabilidade

Fontes e Referencias B

BORGES Valdeci Rezende Em busca do 11

Rio de l1achado de Assis Estudos Histor Pesquisa e Documentaltao da Hist6ria Conte Getulio Vargas no 28 p 49-69 2OC) BOCRDIEC Pierre A Economia das TrOt pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Si Paulo Cia Das Letras 1989 ivLCI1ADO DE ASSIS Joaquim r1aria C 10 WMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b _ Cronicas v 2 1955c

Cronicas v 4 1955d

_ Helena 1955e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Historias Romanticas _ 1955g _ laid Garcia 1955h _ Memorial de Aires 19551

Pdginas Recolhidas _ 1955 Reliquias de Casa Velha v 1 _ 195 Contos Esquecidos Rio de Janeiro ClY

_ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Rejlexoes de um Relojoeiro _ A Mao e a Luva Sao Paulo M Jad

lt 37

mio s6 foi () apenas minimum mas ate WHltV de Assis 1958b 177 1956c123)

usados pelos propagadores da nova doushyconferencias promovidas pela Fede1aio 01

na busca de adeptos e de conversoes tambem principalmente devido a sua indisposiltilO

sendo verdade unica e absolura levando-o a em vanos escritos sobre essa doutrina e suas

a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima e que substituiria todas as religioes do passashya essa proposicao quando depara com fatos

ocorridos na cidade bus cando soluciomishyque acabam por ridiculizar toda e qualquer

temao Isso acontece nao 56 ao que diz respeishypara conquistar simpatias e fieis de divulgar

Rur(ma que acreditavam no espiritismo foi por seu dizer tudo ocorria de forma C01no se as crer em tudo aquilo que na Europa e 1955b297-9 195188)

da encarnacao e reencarnacao 1Iachado fez Grv~ tratadas de forma humoristica as quais

de seus principios Assim ao vislumbrar dos desencarnados divulga 0 prindpio de

inclusive na mesma familia sendo viavel que depois morrer e voltar filho dela au urn Se em alguns momentos pesa a mao

que 0 espiritismo nao e menos curanderia se Fosse Iegislador mandava fechar todas as em tom ate diampitico enfatiza que 0 princishy

e a lei e nascer morrer tornar a nascer sendo que 0 renascltnento e para meshy

uJ Tal para os mundos superiores entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo omesma da transmigraltao em que as almas

mas fundado no progresso(Machado de

do pensamento ultimo de Machado a ele defende seu exerdcio pois a Constimishy

religiosa No seu dizer 0 espiritismo e se falsa au verdadeira embora os espiritas

frente aa que ressalta que presunltao e quer Se verdadeiros ou nilO [continua] 0

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

fata e que escrevem-se e publicam-se inumeros livros folhetos reistas e jornais espiritas e no Rio havia uma ou duas folhas espirita alem do que acrerutaa que nao se gasta tanto papel em tantas linguas senao crendo que a palavra que se esta escrevendo ea propria verdade Para finalizar no ano seguinte 1896 comenta que hi muito que os espiritas afirmam que os mOfshytos escrevem pelos dedos dos vivos e que para ele tudo e POSSIel neste mundo e neste final de urn grande seculo(Machado de Assis 1957b26274)

Desta forma a cultura carioca oitocentista esta permeada de formas diersas de religiosidade e de experiencias voltadas para a busca de Iigacao com 0 divino 0 campo religioso apresenta-se marcado pela presenca de possibilidades variadas de vlvenciar a procura do sagrado as quais tanto debatem em confronto entre si quanta se aproximam nas pniticas dos tieis produzindo formas hibridas e sincreticas de religiosidade que nao so vincushylam os homens a seus deuses com tambem aos outros homens constitumdo em parte de seus lacos de soclabilidade

FOlltes e Referihlcias Bibliogrtificas

BORGES Valdeci Rezende Em busca do mundo exterior sociabilidade no Rio de Machado de Assis Estudos Historicos Rio de Janeiro Centro de Pesquisa e Documentacao da Historia Contempodmea do Brasil da Fundaltao Getulio Vargas no 28 p 49-69 200l BOURDIEC Pierre A Economia das Trocas Simb6licas Sao Paulo Persshy

pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e hist6ria Sao Paulo Cia Das Letras 1989 MAClMDO DE ASSIS Joaquim Maria Contos Fluminenses v2 Sao PaushyloWMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b Cronicas v 2 1955c

_ Cronicas v 4 19S5d _ Helena _ 19S5e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Hist6rias Romanticas 1955g _ laid Garcia 1955h

Memorial de Aires 1955i _ Pdginas Recolhidas _ 1955j _ ReUquias de Casa Velha v 1 _ 19551 _ Contos Esquecidos Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1956a _ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Reflexoes de um Relojoeiro _ 1956c _ A Mao e a Luva Sao Paulo 11 Jackson inc 1957a

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A Semana v 3 1957b _ Dam Casmurra _ 1957c

Historias Sem Data 1957d

_ Memorias Postumas de Bras Cubas 1957e _ Quincas Borba 1957f

_ Requias de Casa Velha v 2 _ 1957g Varias Historias 1957h

_ Contos e Cronicas Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1958a _ Cronicas de Lelia 1958b _ A Semana v 1 Sao Paulo WMJackson inc 1959a

A Semana v 2 1959b _ Cronicas v 4 1959c _ Esau e Jaco 1959d

SCHv~RCZ Lilia Moritz Retrato em Branco e Negro jornals escravos em Sao Paulo no final do seculo XIX Sao Paulo Cia Das Letras 1987

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OPSIS - Revista do

CINEMA E RELIGI

ResuResumo

Propomos neste texto apre5cntar algushy 1ou

mas reflex6es sobre a ahordagem de ashy quell

lares no cinema presentes em nleu

filmes como E 0 vento levou Blade film~

Runnermiddot 0 Carador de Androides 0 Run

Exorcisca Matrix dentre outros Exor

Atualmentc vivemos em uma 50eiel urn gm-erno baseado na lei e na razao Ne pensar assentam-se nao mais somente nos v bem nos valotes politicos e sociais Disso religiosos cristaos em quase nada influeneiat de fazer visto que Igreja (como instituiltao) tados na lei

Apesar da atual sociedade aparentc s6lida temos que ter em mente que cia so mente ha pouco tempo malS preeisamente e s6 se consolidou a partjr do positivismo vivemos em uma sociedade ainda em form

mente nao influencia tanto a nossa maneir E isto s6 e verdade para as eham2

hoje existem diversas sociedades ditas tee arabes (Irii) 0 Afeganistao onde 0 fundarr em todos os nh-eis

1 Este texto foi prodU7ido a partir do curso ministr e Religiosidadcs com 0 objetivo de apresentar algUi as rcferencias dos filmes analisados 2 Mestre em Historia pcla UFSC Universidade F

Historia da rcdc publica do [stado de Minas Gerai

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c

Page 9: as Bibliogrdficas RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSISstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3224606.pdf · 16 'as Bibliogrdficas mentafao oral e tematica da seca: estu o Federal,

a primeira confissao ocorria por epoca da muitos rapazes se escondessem debaixo da

desvaos da casa ja a segunda era por de casamento era vista como momento de

povoando sempre os sonh05 das mulheres vestido branco flores de laranjeira grinalda

Machado sao poucas as cenas de casamento e par privilegiar sobretudo nos romances a em ascensao em que 0 casalnento era urn

e a devoltao assim como 0 sentimento LUumiddotv ainda maior frente a outras atividades

Assis 1955i95) novas formas de sociabilidade foram

cada vez mais daquelas da religiosidade cashyde cumprir as obrigaroes religiosas relacishyrompendo a enclausuramento usual princishya nova sociabilidade configurava-se ao reshy

e formas de recrelO 0 gosto pela vida habitos e costumes marcados pela religishy

e em muitos casos abandonados(Borges da sensibilidade cole tin ocorre uma

relacivos ao sagrado e um avanlto das forshy___niua par Machado pode ser percebida por

como a recirada dos quadros de santos da sendo subscituidos quase sempre por

passo que nas casas mais pobres a Virshylugar excelso na deTOltaO dos corashy

nao haver urn Cristo mas sempre [havia] (Machado de 55is 1955pound93 1955j91

de padres ordenados indicam ainda a e a expansao da secularizaltao ao lado da

atribuidos aos nascidos nao mais ligados de Assis 1955j91 1955i51 1959b80

A881m muita coisa mudava na8 familias rapazes Fosse padre 0 que alterava a direshyo rumo a seguir pelas novas geraltaes que

letras latim e doutrina em casa com noltoes sencimentos e orientavam as escoshyem seus discipulos ao falarem de supostas

com Bencinho que tinha seus brinqueshyos ofici08 divinos brincando mesmo

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

com Capitu de dizer missas e tamando doce por hoscia Porem embora os estudos secundarios fossem feitos ainda com base religiosa em seminarios os filhos ja mais autonomos escolhiam profissoes de maior prestigio socioshyeconomico que oscilavam entre a medicina e 0 direito influindo na queda da busca da vida religiosa que foi acusada em 1894 pelo ex-bispo da cidade ao falar da escassez de padres ordenados no () seminario e das paroquias sem capelaes(1hchado de Assis 1959b80)

Nesse contexto e sentido ate promessas celebres eram quebradas Por mais que 0 vinculo moral da promessa prendesse indissoluvelmente D Gloria mae de Bentinho descrita como devota e que havia prometido la par volta de 1847 dar a Deus 0 61ho como sacerdote casu nao morresse na infancia 0 compromisso foi rompido posteriormente guando se encontrou a saida de subscitui-lo por urn mocinho orfao qualquer como pagamento da oferta para compensar a batina que aquele deitou as urtigas represenshytan do segundo 0 narrador urn cochilo da fe Segundo l1achado 0 sentishymento religioso era marcado por lt1ltaes e expressaes exteriores vis to que interiormente a incredulidade era assaz difusa e a deToltao magra tibia e distraida Para ele nesse tempo operou uma grande fusao religioa que fez do paganismo e do catolicismo urn so credo(ilachado de Assis 1957c263 308 1957d280 1955e13 1958b328)

Mas nao era so a familia de Bentinho que em conformidacle com 0

mundo e suas praticas socio-economicas negociava com 0 sagrado () conto Entre Santos expae situaltoes interessantes em torno da devoltao humana ao passo que urn padre conta certo ocorrido por epoca que era capelao da igreja de S Francisco de Paula Ao ver luz sob a porta do templo buscou descobrir do que se tratava e ouvindo conversa fez inferencias que nos revel a 0 costushyme antigo de enterrar os mortos nas igrejas ao perguntar se seriam vozes dos mortos ali enterrados No entanto viu que era urn dialogo entre os santos da igreja que sairam dos seus nichos e que semados em forma humana em seus altares comentavam as oraltoes e pedidos dos fieis no dia Dentre outros Sao Francisco de Sales contou 0 caso de Sales urn velho usuario e avaro que trazia seu nome e tinha a mulher doente com um erisipela na perna que desesperanltado da terra voltou-se para Deus pois so um milagre podia salva-la Pediu que a salvasse operando 0 milagre oferecendo uma perna de cera mas ao passo que estabelecia 0 compromisso s6 via diante dos 0lh05 a moeda que 0 ex-voto havia de custar e acabou prometendo rezar mil padre nossos emil ave-marias(l1achado de Assis 1957h27-44)

Nesse momento sobretudo entre as camadas sociais altas e em asshycensao a devoltao ficaa sobretudo relegada aos antigos e velhos como D Carmo que costumava ir amissa aos domingos e que como outras damas por fadiga por doenlta ou por estar chovendo quando nao 0 fazia pegaya 0 seu livro com as suas rezas marcadas ( ) amesma hora acompanha-a

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a missa toda frente 0 seu altarzinho e seu Cnsto instalados no gabinete e ao acabar beijava a imagem Essa senhora de acordo com sua crenlta nao saia de casa sem a beijar primeiro como urn pedido de proteltao nem voltava scm faze-Io como a dar graltas como 0 fazia ao deitar e ao levantar(lIachado de Assis 1955i197)

A igreja era lugar de exposiltiio seja em missas ordinarias festas de santos missas de mono de seUmo dia de morte e por alma do finado ~i se ostentava opulencia e distimao social sendo objeto de curiosidade publica chamando a atenltao sabre si com carruagens lacaios roupas e esportulas vultosas como a fizera 0 casal Santos emergentes na sociedade na missa de defunto na igreja de S Domingos Essa paroquia era adequada amissa recondita e anonima urn ato sem releyo sem pesames nem lagrishymas como gueria a casal ao mandar dizer missa par alma de urn parente pobre falecido em lIarica scm que aquela repercutisse em seu meio social(Machado de Assis 1959d23) Mas se esse templo era das camadas pobres os ricos au nO05 ricos como a senhora Santos que se queixou que ali sujara 0 estido e enchera-se de pulgas preferiam a de S Francisco de Paula au a da Gloria localizadas em bairros ricos como Flamengo e que eram consideradas lirnpas li os endinheirados tinham como uso velho mandal dizer missas anivelsarias de datas obituarias e natalicias(Machado de Assis 1955i94-5)

lIuitos flequentavam a igreja mais por imposiltao social dos mais Yelhos por ser lugar de se mostlar e estabelecer relaltoes socialS do que por deoltao sentida A jovem Maria Olirnpia tinha a vocaltiio da vida exterior e sentia urn singular feicilto nas procissoes e nas missas pelo rumor e pela pompa Ia aigrcja conduzida pela cia que era religiosa e tinha gosto partishycular em mostrar-se e em namorar os rapazes Sua devoltiio magra escasshyseou ainda mais com a chegada do primeiro espetaculo e 0 primeiro baile Os saloes torna~am-se os novos lugares do encontro e do diertimenshyto e muitos ja entao confundiam as praticas leligiosas com as canseiras da vida e fUgiam delas(Machado de Assis 1959d23-4 28 1957d280 1955i95) Virgilia tambem representa a comportamento da nova mulher presa nas forshyltas seculares ao ser uma jovem senhora casada que possuia urn amante e mostraYa-se pouco religiosa nao ouvindo missa aos domingos ou so indo as igrejas em dia de festa e quando havia lugar vago em alguma tribushyna Alcm disso tachava de beatas aquelas que cram so religiosas a que aponta par outro lado a existencia de mulheres que se dedicayam em excesshyso as praticas religiosas Porem rezava todas as noites com fervor ou pelo menos com sono em sua alcova junto a seu oratoriozinho de jacaranda Ja as homens eram considerados em geral uns impios nao plsavam na Igleja a nao sel para batizar as filhos(tvlachado de Assis 1957e185 1957f257)

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OPSIS - Revista do

Mas se as individuos substituiam que com suas festas eram todo 0 recreio F tempos antigos ate mesmo a igreja nao e mundanizou-se Adotou os carrilhoes urn c~ tocavam peltas profanas chamando as fieis sinos das igrejas e produzindo uma or enfadonhas austeras graves religiosas ma~ pedaltos do Barbe Bleue da Bela Helen contrafaltao de Offenbach ou deg Amor te cassinos e no Alcazar teatro de opereta e Machado a missa da manhii e 0 fand se(Machado de -ssi5 1957d61 1959c16

Outlo costume do tempo dos vicemiddot processo de modemizaltao expressando p( mundo terreno era a de ingressar em confrlt tempos antigos ocorria por amor as cois pda busca de recompensas imediatas ac tomar materia publica a importimcia do 51

mediante a retribuiltoes como a instalaiio d da noticias para publicar em jornais sabre H(

da divulgaltao realizada pelo proprio bem do beneficio e da publicidade do nome e fi~ nas cogitaltoes publicas tornando~se se mandades de damas cram igualmente usa~ principalmente quando os jornais davam 1

os names das organizadoras 0 anuncio gI6ria(Machado de ssis 1957d26205~6

o mesmo ocorria em relacao as at de cunha religioso e assistencial erguidas fr da mendicidade As associaltoes de caridadt do muitas organizadas por senhoras que ~

nos aos famintos amoldavam-se ao mund cido religioso Por um lado adequada ao se as pedintes de esmola em portas das igre mais pobres com seus miseros vintenzinho prias almas pois por meio da caridade I almejando salvar especialmente a 5i mestnlt tado Por outro 0 beneficio alcanltado cor mundo material e nao espiritual como oc comissao de caridade de senhoras para pc com pessoas de destaque na sociedade q cima na sua busca de ascensao social AI~

i

l 1

27

2

ho e seu Cristo instalados no gabinete e ao senhora de acordo com sua crenca nao saia

como urn pedido de protecao nem voltava gracas como 0 fazia ao deitar e ao 955i197)

posiao seja em missas ordinarias festas de setimo dia de morte e por alma do finado tincao social sendo objeto de curiosidade sobre si com carruagens lacaios roupas e a 0 casal Santos emergentes na sociedade na Domingos Essa par6guia era adequada

urn ato sem releyo sem nem higrishyandar dizer missa por alma de urn parente

em que aquela repercutisse em seu meio d23) Mas se esse templo era das camadas como a senhora Santos que se quelxou que e de pulgas preferiam a de S Francisco de s em bairros ricos como Flamengo e que

os endinheirados rinham como uso velho de datas obituanas e natalicias(Machado de

igreja mais por imposicao soclal dos mais r e estabelecer socials do que por

Olimpia cinha a vocaltao da vida exterior procissoes e nas missas pelo rumor e pela cia que era religiosa e cinha gosto parcishy

rar os rapazes Sua devoao magra escasshyda do primeiro espetaculo e 0 primeiro

novos lugares do encontro e do divercimenshyas praticas religiosas com as canseiras da

Assis 1959d23-f 28 1957d280 1955i95) portamento da nova mulher presa nas forshysenhora casada que possula urn amante e

nao ouvindo missa aos domingos ou s6 e quando havia lugar vago em alguma tribushytas aquelas que eram s6 religiosas 0 que de mulheres que se dedicavam em excesshy

rezava todas as noites com fervor ou pelo a junto a seu oratoriozinho de jacaranda em geral uns impios nao pisavam Hna

s f1lhos(Machado de Assis 1957e185

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

Mas se os individuos substituiam seus habitos sociais e religiosos que com suas festas eram todo 0 recreio publico e toda a arte musical em tempos antigos ate mesmo a igreja nao escapou da altao secularizante e mundanizou-se Adotou os carrilhoes um conjunto de sinos musicais que tocavam pe~as profanas chamando os fieis amissa subscituindo os pobres sinos das igrejas e produzindo uma orgia de notas nao de musicas enfadonhas austeras graves religiosas mas sons alegres e animados como pedaltos do Barbe Bleue da Bela Helena do Orfeu nos Infernos uma contrafaltao de Offenbach ou 0 Amor tern fogo tocados geralmente nos cassinos e no Alcazar teatro de opereta e da vida boemia Assim segundo Machado a missa da manhii e 0 fandango da noite aproximavamshyse(Ifachado de 1957d61 1959c168-9 1955d250 1959a68-9)

Outro costume do tempo dos vice-reis com significado alterado no processo de modernizaltao expressando pouca devoltao e grande apego ao mundo terreno era 0 de ingressar em confrarias e irmandades religiosas -Jos tempos antigos ocorria por amor as coisas pias mas no momento era peia busca de recompensas imediatas advindas do individual desejo de tomar materia publica a importancia do sujeito e seu espirito caritativo mediante a retribuicoes como a instalaao de retrato na sacriscia a emissao da nocicias para publicar em jornais sobre os beneficios que pracicava alem da divulgacao realizada peio pr6prio beneficiado Desta forma por meio do beneficio e da publicidade do nome e figura daquele que 0 fez entrava-se nas cogitaoes publicas tornando-se sempre Hlembrado~ Ivfesmo as 1rshymandades de damas eram igualmente usadas para dar brilho a suas juizas principalmente quando os jornais davam noticia minuciosa das festas com os nomes das organizadoras () anuncio nas folhas era um troco da gI6ria(Machado de Assis 1957d26205-6 1957e350 412-4 1956b44)

o mesmo ocorria em relaao as atividades associacivas ftlantr6picas de cunho religlOso e assistencial erguidas frente ao crescimento da pobreza e da mendicidade As associaltoes de caridade que aumentaram na cidade senshydo muitas orgamzadas por senhoras que coletavam donativos e reparciamshynos aos famintos amoldavam-se ao mundo profano e desviavam-se do senshytido religioso Por um lado adequada ao sentimenta cristao a mendicidade e os pedintes de esmola em portas das igrejas traziam as pessoas mesmo as mais pobres com seus miseros vintenzinhos a ocasiao de beneficiar suas pr6shyprias almas pois por meia da caridade punha-se em pracica 0 evangelho almejando salvar especialmente a S1 mesmo e nem tanto ao estranho necessishytado Par outro 0 beneficio alcamado com a caridade podia restringir-se ao mundo material e nao espiritual como ocorria com Sofia que usou de uma comissao de caridade de senhoras para p6r-se em evidencia e criar vfnculos com pessoas de destaque na sociedade que 1he dessem um empurriio para cima na sua busca de ascensao sociaL -lem disso nesse seculo utilitario e

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F

pnitico marcado pelo avanlto das forltas de secularizaltao e perda do espirishyto cristao ate mesmo a caridade tornava-se escriturada legalizada regulashymentada (Machado de Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192 1957e190-2 1959d301)

Junto ao povo 0 gosto das procissoes vinha de longe e estava bastante arraigado para os antigos uma tradiltao de infancia costume da primeira metade do seculo do tempo do rei e suas predileltoes confesshysadas por todas as yelhas carolices as quais seus contemporaneos choravam e pediam pelos tempos dos oratorios de pedta dos tetltos cantados das procissoes bem ordenadas das ladainhas atras do viatico das boas festas e dos bons trades da verdadeita fe e dos vetdadeiros filhos de Deus iias ja em 1865 essas ptocissoes classicas podiam dar ideia de tudo menos de urn culto serio e elevado pois ao lado dos anjinhos e andores floridos os homens iam em filas uns com tochas na mao outros com vara do palio disputadas pelos fieis pais dava uma distincao especial a quem a trazia Alguns iam dizendo pilh6rias aesquerda e adireita enquanto os assistentes comentavam as gracas jUTenis do anjo cantor que era sempre mQ(a feita Desta forma Machado julgava que essas procissoes e semelhantes praticas eram ridiculas nao podendo subsistir numa sociedade verdadeiramente telishygiosa pois uma folia mesmo para os mais sinceramente religiosos com as quais os sacerdotes serios nao deveriam conservarem cumplices( Mashychado de Assis 1958a101-2 Grifo meu)

Existia ainda a luta tradicional travada entre os diferentes templos com 0 unico objeto de primar uns sobre os outros no luxo das suas procisshysoes respectivas sendo essa luta por demais profana e manifestava-se por uma aculTIulacao de prata e ouro nos andores no mais numeroso concurso de irmaos e de anjinhos e outras coisas iguais Vivia-se 0 sagrado melo afolia comentari~s dos assistentes pilh6rias disputas e abusca do brilho e da distimao do que Machado duvidava muito que a divinshydade visse com bons olhos estes conflitos de primazia(Machado de Assis 1958alOl-2 1957c98-100 Grifo meu) No entanto se as procissoes eram filhas da tradiltao em 1865 algumas delas ja haviam sido suprimidas pelo process a de modernizaltao da igreja e para 0 cronista tudo fazia crer que as restantes tamb6m seriam Nesse sentido em 1893 avalia com certa melanshycalia a diferema entre uma procissao de Sao Sebastiao daquele ana e as de outrora dizendo Ordem numero pompa tudo 0 que havia quando era () menino tudo desapareceu(Machado de Assis 1958a101 1959a220)

Porem se 0 sagrado e 0 profano apresentavam-se quase sempre de maos dadas inclusive na esfera das praticas catolicas oficiais essa interpenetraltao tinha certos limites Em 1896 uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair em desftle por se denominar N ossa Senhora da Conceiltao De acordo com 0

cronista esse titulo pareCla esquisito mas se a intenltao eque salva a sociedashy

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OPSIS - Revista do

de vai para 0 ceu pais os autores da ideia tQS da Virgem e nao [tinham] 0 carnaval por desse poslcionamento 0 folhetinista acabou enfatizando que se tal socledade tinha igual g adotar denominaltao adequada e que na( Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos et gente mas sofriam tambem a altao dos novo se Eram de maior destaque a festa da Glol Reis de Sao Sebastiao do Espirito Santos e ( tinham lugar tanto a religiao com missa que F Deum quanto 0 recreio com fogos de artifi prendas Embora houvesse entre elas algum folhetinisra ao cabo de tudo [era] a mesml sao 0 que 0 leTaTa a lascimar que 0 fogo de da Penha [1eYavam] mats fi6is que 0 objeto es certo que todo caminho leva 11 Roma nao 0 i Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que t~

como tinham acabado muitas outras devoS meio recreativas Para ele 0 elemento estr mes com muita patinacao muita opereta m nossa populacao a rusticidade e 0 encanto d Assis 1958b121 1956b207 19S5g410 1955d147-8 Grifo meu)

~ festa do Espirito Santo igualmel contista em A Parasita Azul que transeOl Luzia Goias ao falar desse festejo aponta q que de todo se nao apagou 0 gosto dessas eras No entanto na Corte ainda persistia ( barracas Nao era diferente com a Festa de R 1864 Machado falava que a festa de S Joao tI fogueiras e baloes proibidos por postura mu obstante 0 ceticismo do tempo muita e m corter primelro que 0 povo [perdesse] 0

foguetear os tres santos em junho Porem ja Joao e tambern de Reis Sobre a ultima com popular perdurava no interior pois na c

anos e brotado em sua cinzas a arvore de t essas lTIudancas De Assis lamenta que os al ha nela de puetil para Sf) the deixar 0 que ha quem nem 15S0 fica esse perde 0 melhor ( sirnplorio e velho de noites abencoadas

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das for~as de secularizacao e perda do espirishytornava-se escriturada legalizada regulashy

Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192

das procissoes vinha de longe e estava os antigos uma tradi~ao de inGneia costume do tempo do rei e suas predileltoes confesshy

as quais seus contemporaneos choravam orat6rios de pedra dos terltos cantados das

ladainhas awis do yiatico das boas festas e fe e dos verdadeiros ftlhos de Deus 1as ja

sslcas podiam dar ideia de tudo menos de um ao lado dos anjinhos e andores floridos os

tochas na mao outros com vara do palio uma distin~ao especial a quem a trazia

aesquerda e adireita enquanto os assistentes do anjo cantor que era sempre molta feita que essas prociss()es e semelhantes pniticas

subsistir numa sociedade erdadeiramenterelishypara os mais sinceramente religiosos com as

nao deyeriam conservarem cumplices( 11ashyGrifo meu)

ttadlC1011al travada entre os diferentes templos uns sabre os outros no luxo das suas procisshy

luta por demais profana e manifestava-se e ouro nos andores no mais numeroso

e outras coisas iguais Viyia-se 0 sagrado dos assistentes pilherias disputas e abusca do que Machado duyidava muito que a divinshy

conflitos de primazia(Machado de Assis Grifo meu) No entanto se as procissoes eram

delas ja haviam sido suprimidas peIo igreja e para 0 cronista tudo fazia crer (lue as

sentido em 1893 avalia com certa melanshy)rOClssao de Sao Sebastiio daquele ana e as de nUmero pompa tudo 0 que havia quando era

(Machado de 1958a 101 1959a220) eo profano apresentavam-se quase sempre de das pciricas cat6licas oficiais essa interpenetraltao uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair

Senhora da Conceiltao De acordo com 0 mas se a inten~ao e que salva a sociedashy

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

de vai para 0 ceu pais as autores da ideia [eram] com certeza fieis deyoshytos da Virgem e nao [tinham] 0 caman por obra do diabo Porem apesar desse posieionamento 0 folhetinista acabou por concordar com a proibi~ao enfatizando que se tal soeiedade tinha igual gosto as ideias profanas deveria ado tar denominacao adequada e que nao faltam titulos (1vIachado de Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos eram populares e reuniam muita gente mas sofriam tambem a a~ao dos novos tempos e perdiam seu interesshyse Eram de maior destaque a Festa da Gloria da Penha da Conceiltao de Reis de Sao Sebastiiio do Espirito Santos e de Sao Benedito Em tais festas tinham lugar tanto a religiao com missa que poderia ser cantada e ate um TeshyDeum quanto 0 recreio com fogos de artificio barracas corretos leilao de prendas Embora houvesse entre elas algumas diferenltas de acordo com 0

folhetinista ao cabo de tudo [era] a mesma alcgria e a mesmlssima divershysao 0 que 0 leYaa a lastimar que 0 fogo de artificio da Gkma e 0 garrafao cia Penha ~evayam] mais fieis que 0 objeto essencial da festiyidade POlS se e certo que todo caminho leva aRoma nao a e que todo caminho lea ao ceu Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que talvez essa Festa tin~sse findado como tinham acabado muitas outras devoltoes populare~ melO religlOsas meio recreatiYas Para 0 elemento estrangeiro transformou os costushymes com muita muita opereta muita COlsa peregnna que tirou it nossa populaltao a rusticidade e 0 encanto de outros tempos(~1achado de Assis 1958b121 1956b207 1 10 1959c225 103 1957c77 1955d147-8 Grifo meu)

A Festa do Espirito Santo igualmente desaparecia e em 1870 0 contista em A Parasita Azul que transcorre por olta de 1850 em Santa Luzia GOlaS ao falar desse aponta que vao rareando os lugares em que de todo se nao apagou 0 gosto dessas festas classicas resto de outras eras No entanto na Corte ainda persistia 0 habito de muito irem ver suas barracas Nao era diferente com a Festa de Reis e dos santos juninos Se em 1864 Machado falaya que a Festa de S Joao tomaya-se falsificada sem fogos fogueiras e baloes proibidos por postura municipal em 1878 dizla que nao obstante a cetiClsmo do tempo muita e muita dezena de anos n1aia] de correr primeiro que 0 povo [perdesse] os seus antigo amores como foguetear os tres santos em junho Porem ja em 1894 trata da morte de S Joao e tambem de Reis Sobre a ultima comenta que nao sabia se essa festa popular perdurava no interior pois na capital tinha morrido ha muitos anos e brotado em sua cinzas a arvore de Natal vinda da Europa Frente a essas mudanltas De Assis lamenta que os anos que passam tiram afe a que ha ncla de pueril para so Ihe deixar 0 que ha serio Para de triste daqucle a quem nem iS50 fica esse perde 0 melhor das recordaltoes de um tempo simpl6rio e velho de noites abenltoadas em que as crendices sas abrem

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todas as vdasAs consultas as sortes as ovos guardados em agua e outras sublimes ridicularias as quais via com respeito com simpatia e se alguma coisa a molestaa era por nao as saber ja praticar( lvlachado de Assis 1957e62 1955f46 1955a318 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241 1959b13-4 123-4)

Ifas se na cidade 0 vento dos tempos desfazia em lufadas de tuGo essas praticas populares anrigas arraigadas no imaginario coletivo no interior de era brisa igual e mansa que tudo esfolhava e dispersava devagar 8Sim em 1864 0 cronista tratou de urn morador de Viana descobridor de uma imagem de Santa Teresa que lacrimejava e supondo ser milagre pos em alorolto as credulos vianenses considerando procedente realizar exame do fato por uma comissao de eclesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao das festas do Born Jesus em Pirapora que reuniam anualmente urn numero extraordinario e crescente de romeiros calculados naquele ana em 8000 pessoas J a em 1873 escreyeu sabre uma senhora que enlouqueceu quando depois de longa seca pediu chua enterrando uma imagem de Santo Antonio no rnato e alcanltou 0 pedido Porem como a chuva abundante nao cessava ao contrario 0 aguaceiro ia a mais matando inclusive animais yoltou ao buraco por acreditar que a preclpitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas nao 0 encontrou entrando a supor que os males derivavam da altao que praticara 0 cronista comentando 0 fato de Santo Anttmio gozar entre seus deyotos do exotico privilegio de nao conceder nenhuma gralta senao enterrado ou metido num poco so operando milagres a troco da liberdade consideraya que uma senhora religtosa fizera-se supersticiosa e que quando a fe chega a este ponto esta )a muito alem das fronteiras da superstiltao deixando seu praticante sem nenhuma das grandes consolaltoes da fe trazendo-lhc 0 desespero e a loucura Ainda nesse universo ja em 1876 trata da existenCla de duas mulheres santas e milagrosas uma que apareceu na Bahia em torno da qual formou romarias dos seus devotos e outra velha milagrosa que diziam curar doewas incuraveis com ervas misteriosas(Machado de Assis 1955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2)

Desta maneira as esferas do sagrado e do profano da fe da devoltao e do recreio estaam bastante imbricadas no que concerne as praticas dos catolicos havendo uma circulaltao e influencia reciproca entre as instancias das cerimonias e rituais oficiais e sua recnacao pelos leigos entre 0 divino e a folia entre 0 cuita e a festa Os momentos e lugares em que essas aspiracoes se concretizavam em praticas sociais serviam tambem para promover a interacao dos indivlduos lvlas deixando esse sobrevoo sobre a sociedade carioca e focalizando n0550 olhar num segmento especifico desta como na comunidade negra podemos perceber outros aspectos da cultura religiosa carioca Dessa cultura hibrida amalgamada no territorio fluminense observamos primeiramente as pratica ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revi$fa do

as quais de forma geral sao vistos como

respeitados N esse meio social existiam aqudes in

uma preta y~lha do conto 0 Escrivao Co ajoe1hada diante do altar de S Bernardo co do pedic-lhe alguma coisa se nao eque lhe recebido ate que acabou beijando a cruz tou-se e saiu Outros aparecem como detel onais e seus transmissores sendo rezadore senhores ou sabedores de promessas celebre sas ou subir de joelhos a ladeira da Glc Santa(Machado de Assis 19551229-30 1 esta presente no uniYerso das atividades cal do preto elho de Casa Velha que emb africanas era sineiro mas nao fazla mats q missa aos domingos 19ualmente nesse 0

sineiro da Gloria (lue de escrao ficou li~ seculo aquda torre regendo a paroquia e c( picava por casamentos nascimentos batiza amarela 0 calera-morbus os partidos qUI deles ~ pela guerra do Paraguai pelos mo livre das escravas a aboliltao a Republica plt se Tudo conforme a ordem(JIachado de

Outras Ofertas e tensoes Feiti~

Espiritism

Ja outros negros vclhos aparecem mais circunscritas senda depositarios de p( varios elementos que expressam traltas cultu canas 0 negros produziram com suas ling des cantos e batuques uma ruptura com recorrerem mesmo que na clandestinidade uma cultura negra brasileira a qual recorriar contexto embora inseridos em universo simi de crencas praticas e -isoes de mundo al~ tica usada no cotidiano por bran cos negro cam associalt6es ao cultos africanos nos ql parentesco permeiam os rdacionamentos s mente ligados Desta forma alguns pretos sendo vistos como bonciosos humildes g~ Assis 1955d392 1957c279)

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s sortes os ovos guardados em agua e outras

via com respeito com simpatia e se alguma ao as saber ja praticar( Machado de Assis 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241

vento dos tempos desfazia em lufadas de anrigas arraigadas no imaginario coletivo no nsa que tudo esfolhava e dispersava devagar

tou de urn marador de Viana deseobridor de que lacrimejava e supondo ser milagre pas ses considerando procedente realizar exame clesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao apora que reuniam anuahnente urn numero

romeiros calculados naquele ana em 8000 sobre uma senhora que enlouqueceu quando a enterrando uma imagem de Santo Antonio

Porem como a chuva abundante nao cessava mais matando inclusiye animais yoltou ao cipitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas supor que os males derivavam da altao que do 0 fa to de Santo Antonio gozar entre seus 0 de nao conceder nenhuma gralta senao s6 operando milagres a troeo da liberdade

giosa fizera-se supersticiosa e que quando muito alem das fronteiras da superstiltao nenhuma das grandes consolaltoes da fe loucura Ainda nesse universo ja em 1876 eres santas e milagrosas uma que apareceu na romarias dos seus devotos e outra velha

urar doenltas incuraveis com ervas 955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2) s do sagrado e do profano da fe da devoltao

bricadas no que concerne as praticas dos o e influencia redproca entre as ins tlmcias das a recrialtao pelas leigos entre 0 div1110 e a

omentos e lugares em que essas aspiraltoes sociais serviam tambem para promQyer a

deixando esse sobrevoo sobre a sociedade num segmento espedfico desta como na

ceber outros aspectos da cultura religiosa a amalgamada no territorio flumlnense aticas ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revista do Niese V2 N J JanJun 2002

os quais de forma geral sao vistos como conhecedores dela e por 1880 re8peitados

Nesse meio social ex1stiam aqueles inseridos na tradiltao catolica como uma preta v~lha do conto 0 Escrivao Coimbra que Camilo viu na igreja ajoelhada diante do altar de S Bernardo com urn rosario na mao parecenshydo pedir-lhe alguma coisa se nao e que the pagava em oraltoes 0 beneficio ia recebido ate que acabou beijando a cruz do rosario persignou-se levanshytou-se e saiu Outros aparecem como detentores de conhecimentos tradicishyonais e seus transmissores sendo rezadores que pediam guard a para seus senhores ou sabedores de promessas celebres como mandar dizer cern misshysas au subir de joelhos a ladeira da Gloria para ouvir uma ir a Terra Santa(Machado de Assis 19551229-30 1957c71177279) 0 negro idoso esta presente no universo das atividades catolicas como sineiros a exemplo do preto velho de Casa Velha que embora muito atrelado as tradiltoes africanas era sineiro mas nao fazia mais que tocar 0 sino da capela para a missa aos domingos Igualmente nesse ofieio IvIachado destaca Joao 0 sineiro da Gloria que de escravo ficou livre governando por quase meio seculo aquela torre regendo a par6quia e contemplando 0 mundo de 11 Reshypicava por casamentos nascimentos batizados mortes Dobrava pela febre amarela 0 colera-morbus os partidos que subiam ou cafam sem saber deles _ pela guerra do Paraguai pelos mortos e pelas vitorias peIo ventre livre das escravas a aboliltao a Republica pelo imperio_ se 0 imperio tornasshyse Tudo con[orme a ordem(tviachado de -5S1S 1956b193-4 1957b431-3)

Outras Ofertas e tensoes Feiti~arias Adivinha~oes e

Espiritismo

Ja outtos negros velhos aparecem atrelados as tradiltoes ancestrais mals circunscritas sendo depositarios de poderes de proteltao e guardioes de varios elementos que expressam traltos cultorals singulares das socledades afrishycanas 0 negtos produziram com suas linguas danltas folguedos sonoridashydes cantos e batoques uma ruptura com a -isao de mundo ocidental ao recorrerem mesmo que na clandestinidade a seus ritos seus deuses criando uma cultura negra brasileira a qual reeorriam alguns de seus senhores Em tal contexto embora insetidos em universo simb6lico marcado pda multiplicidade de crenltas praticas e visoes de mundo alguns aspectos da expressao lingiiisshyrica usada no cotidiano por brancos negros e mestiltos livres e cativos indishycam associaltoes ao cuhos africanos nos quais a ideia de familia e de laltos de parentesco permeiam os relacionamentos socialS e religiosos que sao intimashymente ligados Desta forma alguns pretos velhos eram ehamados de Pai sendo vistos como bondosos humildes generosos e paternais( Machado de Assis 1955d392 1957c279)

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Outros pretos velhos de modo mais dire to traziam conhecimentos ancestrais produzindo rituals que funcionavam como urn feitiqo protetor as vezes acendendo velas tocando marimba cantarolando em alguns instanshytes baixinho umas ozes de Africa cantilenas alegres guerreiras entusiasshytas em outros cantigas falando de santo de trabalhar de comer 0

que remete as praticas das oferendas e ao principio do candomble de existenshycia de forqas vitais e sagradas que perpassam todos os aspectos da vida mashyterial e cotidiana como as tarefas as formas hidicas como a musica a danqa o canto 0 gesto Assim tanto Raimundo de laid Garcia empertigava 0

corpo dando aos quadris e ao tronco 0 movimento de suas danqas africashynas quanto 0 peeto velho de Casa Velha que canta-a Calumga mussanga monandengue dando ao corpo umas sacudidelas para acompanhar a toshyada africana alem de recorrer as tradiltoes orais ao contar historias muito compridas e sem sentido algum para os brancos pOlS forjadas e inseridas noutro universo simbolico da maioria deles ignorado Desta forma essas manifestaltoes mantinham uma memoria reveladora de matrizes africanas que era alimentada pela danqa pela paIavra pelos gestos ou pelos objetos e oushytros vekulos de expressao e comunicaqao(Machado de Assis 1955h1114 1956b193-4 1957b432-3)

No entanto outros aspectos expressam ainda a religiosidade no universo de uma cultura afro-amerindio-brasileira na obra machadiana como a feitiqaria Num momento em que em nome da civilizaltao da ciencia e da razao os intelectuais e as autoridades medicas policicas e policiais voltaramshyse contra praticas ariadas denominadas ~fnericamente de feitisaria lIachashydo abordou essa questao de modo bastante proprio Nao associou tais pratishyeas ao universo socio-cultural espedflco dos negros como faziam outros jorshynalistas e tampouco os apreciou a priori de modo negativo e condenatorio Contrap6s-se ao conteudo de muitas notkias divulgadas na imprensa nas quais 0 negro era 0 bruxeiro 0 feiticeiro violento e barbaro com a figura de Raimundo que produzia urn feitiqo protetor a seu senhor afastando da imagem do preto que fazia feitico male fico para seus proprietarios(Schwarcz 1987125-8 Machado de Assis 1955h10)

Ao tratar da batalha contra os antigos habitos religiosos tradicionais da gentes em 1893 0 cronista anunciava ter medo do c6digo penal de 1890 no qual havia urn artigo que castiga duramente as pessoas que advinham 0

futuro tao duramente como as que aplicam drogas para excitar odio ou amor para fascinar e subjugar a credulidade publica Com base nesse as autoridades recolhiam adetenqao curandeiros e feiticeiras levan do as ferrashymentas desses ofieios ( ) incluidos no e6digo como delitos como aves mortas pernas de ceroula saquinhos com feijao arroz farinha sal altucar canjica penas e cabeltas de frangos usados na busca de estabelecer uma alianshyca com 0 sobrenatural a partir da aciio de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do

vivos deuses e homens(lIachado de Assis Assis a feitiqaria era alga natural do homen tivas alem de ser urn ofkio que garancia r fur tar e matar para sobreviver e infring1r 0

que nao falam de feitiltaria mas de furto doente acreditar na feiticaria e por julgar q soais que determinam tudo neste mundo I

acudir a feitiltaria considerando emao inee go penal como deli to c prender senhoras s com os seus olhos e com seus demais obj 1959b308-11 )

fachado rarefez 0 clima hostil de dos seus agentes nao as associando aos neg te que esse elbo costume de buscar nas fei ros quase sempre mesciltos _caboclos e eab agruras nao so se restringia ao pon) Muita dade recorriam aos adiyinhos e curandeiros erva como por meio dc rezas 0 eurand mazelas que devastaam a cidade como eOolltao de defuntos de espiritos difere de ler como as adivinhas mandando e curandeiro Tobias falava em prosa scm 0

cas ate ser preso com suag bugigangas e galo pes de galinha secas medalhas pohcoJ de raia incluidos no aparato instrumental sis 1956c248-9 267-8 19S5d426-7)

Buscar os adivinhos e feiciceiros era ricas ainda que nesta muito preconceitos vando muitas ezes a consultas escondidas redor dc uma caboc1a muito conhecida do adivinha era grande e segundo 0 narrador da sociedade falavam dela a serio e havia ta um Juiz municipal cuja nomeaqao foi ar era muito falada na cidade e reinava Ii n(

merosa que vinha de muito mcses scndo queza da adivinha Toda a gcnte falan e assunto da cidade atribuiam-lhe um pode sortes achados casamento Afirmavam e 0 que vifia a scr Para 0 poo parccia muitas as noticias sobre seus feitos e ha-ia ~ soas que tinham perdido e achado joias e esc ~- polkia mesma quando nao acabaYl1 de

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de modo mais dire to traziam conhecimentos

tronco 0

funcionavam como urn feitio protetor

marimba cantarolando em alguns instanshy cantilenas alegres guerreiras entusiasshy

de santo de trabalhar de comer 0

e ao principio do candomble de existenshyperpassam todos os aspectos da vida mashy

as formas ludicas como a musica a danca Raimundo de laid Garcia empertigava 0

movimento de suas dancas africashyVelha que cantava Calumga ~ussanga umas sacudidelas para acompanhar a to-

as tradicoes orais ao contar historias muito para os brancos pois foqadas e inseridas

maioria deles ignorado Desta forma essas memoria reveladora de matrizes africanas que palavra pelos gestos ou pelos objetos e oushy

~uluIlltaya()(ilachado de Assis 1955h1114

expressam ainda a religiosidade no merind()-trastllra na obra machadiana como

que em nome da ciyilizacao da ciencia e da medicas politicas e policiais oltaramshy

1955hlO)

loolinadls genericamente de feiticariatvfachashybastante proprio Nao associou tais pratishy

_middot~neIflr dos negros como faziam outros jorshy

apriori de modo negativo e condenatorio muitas noticias divulgadas na imprensa nas o feiticeiro violemo e barbaro com a figura

feitico protetor a seu senhor afastando da maletico para seus proprietarios(Schwarcz

os antigos habitos religiosos tradicionais anunciava ter medo do codigo penal de 1890

duramente as pessoas que advinham 0

as que aplicam drogas para excitar odio ou a credulidade publica Com base nesse as curandeiros e feiticeiras levando as ferrashy

lCitllid()s no codigo como deliros como aves

com feijao arroz fartnha sal acucar usados na busca de estabelecer uma alianshy

da alao de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

vivos deuses e homens(Machado de Assis 1959a288 1959b308) Para De Assis a feiticaria era algo natural do homem vista em varias tribos primishytivas alemde ser urn oficio que garantia renda a muitos impedindo-os de furtar e matar para sobreviver e infringir os mandamentos da lei de Deus que nao falam de feiticaria mas de furto Ironicamente diz que por estar

doente acreditar na feiticaria e por julgar que sao sempre os l11teresses pesshysoals que determinam tudo neste mundo estava com grandes desejos de acudir afeiticaria considerando entao incorreto incluir a feiticaria no codishygo penal como delito e prender senhoras so porque fecham 0 corpo alhelO com os seus olhos e com seus demais objetos de culto(Machado de ASS1S

195308-11) Machado rarefez 0 clima hostil de desqualificacao dessas praticas e

dos seus agentes nao as associando aos negros e enfatizando incansavelmenshyte que esse velho costume de buscar nas feiticeiras adivinhas e curandeishy

ros quase sempre mesticos _caboclos e caboclas _ auxilio as imluietacoes e agruras nao s6 se restringia ao povo Tfuitas pessoas de posiltao na SOC1eshydade recorriam aos adi-inhos e curandeiros e os ultimos curavam tanto com ervas como por meio de rezas 0 curandeiro Nascimento curaa muitas mazelas que devastayam a cidade como barriga dagua com passes de evocacao de defuntos de espiritos diferentes ou arrancava dentes alem de Ie~ como as adivinhas mandando com tais e tais palaTinhas Ja 0

curandeiro Tobias falava em prosa sem 0 saber curaa em Hnguas classishycas ate ser preso com suas bugigangas e drogas tais como esporoes de galo pes de galinha secos medalhas polvora e ate urn chicote feito de rabo de raia inc1uidos no aparato instJumental de seus ritualS (ilachado de Asshysis 1956c248-9 267-8 1955d426-7)

Buscar os adivinhos e feiticeiros era costume presente entre as classes ricas ainda que nestas muitos preconceitos contra tais praticas existissem leshyvan do muitas vezes a consultas escondidas como ocorre em Esau e Jaco ao redor de uma cabocla muito conhecida do Ilorro do Castelo lt fama des sa adivinha era grande e segundo 0 narrador muira gente boa Ja ia pessoas da sociedade fala am dela a serio e havia um caso recente de pessoa dis tinshy

ta urn juiz municipal cuja nomeacao foi anul1ciada pela cabocla A caboc1a era muito falada na cidade e reinava la no morro possuindo freguesia nushymerosa que vtnha de muttos meses sendo sinal certo da videncia e da franshyqueza da adivinha Toda a gente fahlYa entao da cabocla do Castelo era 0

assunto da cidade atribuiam-lhe um poder tntlnito uma serie de milagres sortes achados casamentos AfirmaalU que cia adivinhaya tudo 0 que era eo que iria a ser Para 0 povo parecia que era mandada de Deus Eram muitas as noticias sobte seus feiros e hayia gente que dizla que conheC1a pe5shysoas que tinham perdido e achado joias e escraos De acordo com 0 narrador A policia mesma quando nao acabaa de apanhar um criminoso ia ao Casshy

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tela falar acabocla e des cia sabendo por i5S0 eque nao a botava para fora como os invejasos andavam a pedir A caboda explicava sonhos e pensashymentos curava quebranto(Machado de Assis 1959d43-4)

Segundo Aires tal costume era velho e velhissimo e no interior da casa simples nao havia nada que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshynhum petrecho simbalico nenhum bicho empalhado esqueleto ou desenho de aleiJoes Quando muito urn registro da [festa de Nossa senhora da ] Conshy

colado a parede podia lembrar misterio mas nao metia medo A cabocla e descrita com simpatia e 0 ritual sem afetacao Era uma criaturinha leve e breve ( ) corpo airoso com urn raminho de arruda nos cabelos 0

que ja the dava urn certo ar de sacerdotisa embora seu misterio estivesse mesmo era nos olhos agudos e compridos que entravam peIo consulente revoh-endo-Ihe 0 coracao ao tempo que interrogava Em transe de posse de retratos e cabelos de alguem ausente com urn cigarro acesso ao som de uma viola e de cantigas do sertao do Norte murmuradas por urn velho caboclo entrava a dizer sobre as coisas futuras ate que por fun 0 fregues se alegre e rico tirava uma nota de cinquenta mil-reis quando 0 preco do costume era cinco ezes menos arrecadaYa seus objetos e saia (Machado de Assis 1959d 7shy16) Essa cabocla com origem no norte do pais assim como outros caboclos curandeiros perseguidos pela policia remete apresenca dos caboclos no unishyverso das pniticas religiosas brasileiras que sendo figura mestica esta vinculashyda a nossos ancestrais nativos os indios donos da terra e ligados anatureza no tradicao dos cultos afro-brasileiros

No en tanto no campo das batalhas religiosas tais praticas tiveram outros opositores tal como os adeptos do nascente espiritismo que contagishyados peIo espirito positivo~cientificista do momenlO na busca de credibilidade ptlblica e de converter fieis incutindo-lhes seus pressupostos diziam possuir doutrina regida por leis cientificas ao querer excluir qualshyquer maculf[ de seita e julgavam-se sabedores das verdadeiras luzes do mundo e de verdades eternas Desta forma um iniciado nessa religiao defendia uma consulta espirita e na~ a caboda do Castelo por mais que ela fosse celebre Recorrer a ela seria imitar as crendices da gente reles e s6 ocorreria ate enquanto a policia nao pusesse cobro ao escandalo J a numa consulta espirita algum espirito podia [dizer] a verdade em vez de uma adivinha de farsa Para urn medium espirita enfiado em larga camisola de seda e usando toda a terminologia espirita assomada de casos fenomeshynos misterios testemunhos atestados verbais e escritos a cabocla devia ser deixada afe das senhoras pois eram delas crencas da meninice(Machado de Assis 1959d79113843-6646770 1957h10-1)

Cabe aqui ressaltar que nesta obra Esau e Jac6 a qual trata desses variados aspectos espirituais acima apontados advindos de tradicoes culturais e religiosas diversas Machado sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religi~

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OPSIS - Revista do

oso expondo a imbricacao das praticas ori catolicismo e 0 confronto com 0 espiritismc bases do que seria posteriormente denomin nomes dados as pessoas podem predestina ligacao entre 0 fato dos filhos do casal Sanl quais a cabocla disse terem brigado no ventr des entre estes porque os dois apostolos do garam assim como Esau e Jaco figuras do brigado por causa da primogenitura

Porem lIachado nilO recorre ao eSI conto Uma visita de Alcibiades 0 desemba S1caO juntamente com Santos aCllna citado essa doutrina propagaya ao ler Plutarco fun litava envoher a imaginaltao numa especie vel as evocacoes mentais transportou-se pa de Alcibiades ate que ao terminar de [umar de subilO pensou qual seria a impressiio daqu ario Desta feita enfatizando (lue era urn 1

podendo mesmo dizer que vlvia cornia dor cafe e esperava morrer na fe de Alan Kard os sistemas sao pura niilidades tinha adota sim sendo espiritista evocou lcibiades a c fez rapido aproximando duas civilizacoes impalpavel e sim urn homem de carne e mente a sua frente entrando a conersar sob o grego empalideceu cambaleou e caiu r desembargador mandou~o para 0 necroteno

o espiritismo sen-iu como assunto nas quais quasc sempre ri brinca e ironiza sc cando as vezes compreende-los por mais laquo

correndo a estrategias comicas Desta forma situacoes nebulosas como uma que exigia p teoria de Newton sugerc consultar 0 propri vez que nao entendia nada de astronomia Er brasileiros acabavam de dar um golpe de m urn medium com fama de ser prodigioso e sileira nomeado uma comissao para estudar nao valia a fama e que os trabalhos ficararr Europa e outro paises mas que 0 problen estao sujeitas a esse eclipses e nao estao Fora i5S0 a Federacao lamentaa que diante mular os fenomenos que obtem nas condie

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_UJUUV por 1SS0 e que nao a botava para fora a pedir A caboda explicava sonhos e pensashy

UVll1Ul1lU de Assis 1959d43-4)

vmiddotOLU1l1C era velho e velhissimo e no interior da que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshy

UUilU bicho empalhado esqueleto ou desenho registro da [Festa de Nossa senhora da 1Conshylembrar misterio mas nao metia medo A eo ritual sem afetas-ao Era uma crtaturinha

com urn raminho de arruda nos cabelos 0

sacerdotisa embora seu misterio estivesse e compridos que entravam pelo consulente

tempo que interrogava Em transe de posse de ausente com urn cigarro aces so ao som de uma do Norte murmuradas por urn velho cabodo

futuras ate que por fim 0 fregues se alegre ~lu-uLa mil-reis quando 0 pres-o do costume era

seus objetos e saia(Machado de Assis 1959d7shyno norte do pais assim como outros cabodos

polleia remete a presens-a dos cabodos no unishyIIJ[l1~JlC1Jl1 que sendo Figura mestis-a esta vlnculashy

os indios donas da terra e ligados anatureza

das batalhas religiosas tais praticas tiveram adeptos do nascente espiritismo que contagishy

__rpntificista do momento na busca de nrprtpr fieis incutindo-Ihes seus pressupostos

por leis cientificas ao querer exduir qualshysabcdorcs das yerdadeiras luzes do

Desta forma urn iniciado nessa religiao

rfu~ ~clt5u-(r(l1H-gn1ru lJ(YL nril ljlft1hgt

seria imitar as crendices da gente reles e so nao pusesse cobro ao esdindalo Ja numa

podia [dizer] a verdade em vez de uma Pltd11lIl espirita enfiado em Iarga camisola de

espirita assomada de fenomeshynauo verbais e escritos a cabocla devia ser

eram delas crenltas da meninice(Machado 770 1957hl0-1)

nesta obra Esau e Jaco a qual trata desses apontados advindos de tradiltoes culturais

sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religishy

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

oso expondo a imbricaltao das praticas origin arias dos amedndios com 0

catohcismo e 0 confronto com 0 espiritismo que amalgamados crtavam as bases do que seria posteriormente denominado de umbanda Aponta que os nomes dados as pessoas podem predestinar seus caminhos ao estabelecer ligaltao entre 0 fato dos filhos do casal Santos chamarem Pedro e Paulo os quais a cabocla disse terem brigado no ventre da mae e indicando as rivalidashydes entre estes porque os dois apostolos do Novo Testamento tam bern brishygaram assim como Esau e Jac6 figuras do Velho Testamento tinham ainda brigado por causa da primogenitura

Porcm Machado nao recorre ao espirttismo apenas nessa obra No conto Uma visita de Alcibades 0 desembargador Alvares que por sua poshysiltao juntamente com Santos acima citado indica 0 meio abastado em que essa doutrina propagaa ao ler Pluta reo fumando um charuto que possibishylitava envolver a imaginas-ao numa especie de nimbo extremamente favorashyvel as evocaltoes mentais transportou-se para a antiga Atenas pois lia a vida de Alcibiades ate que ao terminar de fumar voltou aos tempos modernos e de subito pensou qual seria a impressao daquele ateniense sobre n0550 vestushyano Desta feita enfatizando que era urn tanto espiritista ( ) ate muito podendo mesmo dizer que livia comia dormia passeava conversava bebia cafe e esperava morrer na fe de Alan Kardec pois convencido que todos os sistemas sao pura niilidades tinha adotado 0 mais jovial de todos Asshysim sendo espiritista evocou Alcibiades a comparecer em sua casa e esse 0

fez tapida apraximando duas civilizayoes Mas esse nao era uma sombra impalpavel e sim um homem de carne e ossos que se sentou benevalashymente a sua frente entrando a conversar sobre 0 assunto de interesse ate que o grego empalideceu cambaleou e caiu no chao Dian te do cadaver a desembargador mandou-o para 0 necroterio(Machado de Assis 1956a203-7)

o espiritismo serviu como assunto em varias cronicas machadianas

nas qua~s quasc selnpre ri brinca e lroniza seus enunciados e principios busshycando as vezes compreende-Ios por mais estranheza que provocassem reshyoottendo a estrateglaS comicas Desta forma ha momentos em que diante de situa~oes nebulosas como uma que exigia para sua solus-ao conheCImento da teoria de Newton sugere consultar 0 proprio por meio do espiritismo uma vez ~ue nao entendia nada de astronomia Em outro comenta que os espiritas brasilerros acabavam de dar um golpe de mestre quando apareceu na cidade ~medium com fama de ser prodigioso e tendo a FederaS-ao Espirita Brashysiletra nomeado uma comissao para estudar os fenomenos concluiu que de nao valia a fama e que as trabalhos ficatam abaixo do que se conseguia na Eur~pa e ~utros paises mas que 0 problema estava nas mediunidades que estao Su)eHas a esses eclipses e nao estao senrilmente anossa dispasis-ao Fora 1550 a Federaltao lamentava que diante de tudo a medium huscasse 5ishymular os fenomenos que obtem nas condis-oes normais Segundo Machashy

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do chistosamente 0 medium nao s6 foi ( ) apenas mmtmum mas ate procurou embasar a Federasao(lvlachado de Assis 1958b177 1956c123)

As estrategtas e argumentos usados pelos propagadores da nova doushytrina geralmente expostos nas conferencias promovidas pela Federaltao ou publicados na Uniao Espirita na busca de adeptos e de convemles tambem nao escaparam aeritica machadiana principalmente devido a sua indisposisao a tudo que se propagava como sendo verdade unica e absoluta levando-o a destilar sua eostumeira ironia em varios eseritos sobre essa doutrina e suas praticas Dentre eles destaeamos a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima verdadeira e definitiva doutrina e que substituiria todas as religioes do passashydo 0 eronista reeorre sempre a essa proposiltao quando depara com fatos obscuros e irnpossiveis de destrinltar ocorridos na cidade buscando solucionashylos usando de carnavalizaltoes que acabam por ridieulizar toda e qualquer noltao de -erdade ou de tal pretensao Isso aconteee nao s6 ao que diz respeishyto a essa doutrina A artimanha para conquistar simpatias e fieis de divulgar Iista de pessoas eminentes da Europa que acreditavam no espiritismo foi por ele tambern censurada pois no seu dizer tudo ocorria de forma como se as pessoas devessem crer por crer em tudo aquilo que na Europa e acreditado(~1achado de Assis 1955b297-9 195188)

Ao redor do principio da encarnaltao e reencarnaltao Machado fez yarias elucubraltoes supondo situaltoes tratadas de forma humoristica as quais contribuiam para difundir alguns de seus principios Assim ao vislumbrar uma certa promiscuidade geral dos desencarnados divulga 0 principio de que 0 espirito pode reencarnar inclusive na mesma familia sendo viivel que um homem pudesse ter uma ftlha depois morrer e voltar filho dela ou urn menino voltar filho de urn prin10 Se em alguns momentos pesa a mao contra os espiritistas dizendo que 0 espiritismo nao e menos curanderia que os outros curandeiros e que se fosse legislador mandava fechar todas as igrejas des sa religiao em outros em tom ate didatico enfatiza que 0 princishypio espirita e fundado no progresso e a leI e nascer morrer tornar a nascer e renascer ainda progredir sempre sendo que 0 renascimento epara meshylhor Cada espirita em se desencarnando vai para os mundos superiores Reflete ainda sobre a distancia entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo que 0 principio espirita nao e 0 mesmo da transmigrasao em que as aIm as vao para os corpos dos animalS mas fundado no progresso(Machado de Assis195100-2188)

Acreditando ser representativo do pensamento ultimo de Machado a respeito do espiritismo em 1895 ele defende seu exercicio pois a Constituishyltao estabclece 0 direito de liberdade religiosa No seu dizer 0 espiritismo e uma religiao que ele nao sabia se falsa ou verdadeira embora os espiritas dissessem que verdadeira e unica frente ao que ressaIta que presunltao e agua benta cada um toma a que quer Se verdadeiros ou nao [continual 0

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OPSIS - Revista tiD

fato e que escrevem-se e publicam-se inUn jornais espiritas e no Rio havia uma ou dl acreditara que nao se gasta tanto papel em a palavra que se esta escrevendo e a propria seguinte 1896 comenta (lue ha muito que ( tos escreyem pclos dedos dos vhos e que mundo e neste final de urn grande seculo(1

Desta forma a cultura carioca oitoclt diversas de religiosidade e de expcriencias com 0 divino 0 campo religioso apresent possibilidades variadas de vivenciar a proCl debatem em confronto entre si quanto se a] produzindo formas hibridas e sincreticas de lam os homens a seus deuses com tambem a em parte de seus lasos de sociabilidade

Fontes e Referencias B

BORGES Valdeci Rezende Em busca do 11

Rio de l1achado de Assis Estudos Histor Pesquisa e Documentaltao da Hist6ria Conte Getulio Vargas no 28 p 49-69 2OC) BOCRDIEC Pierre A Economia das TrOt pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Si Paulo Cia Das Letras 1989 ivLCI1ADO DE ASSIS Joaquim r1aria C 10 WMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b _ Cronicas v 2 1955c

Cronicas v 4 1955d

_ Helena 1955e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Historias Romanticas _ 1955g _ laid Garcia 1955h _ Memorial de Aires 19551

Pdginas Recolhidas _ 1955 Reliquias de Casa Velha v 1 _ 195 Contos Esquecidos Rio de Janeiro ClY

_ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Rejlexoes de um Relojoeiro _ A Mao e a Luva Sao Paulo M Jad

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mio s6 foi () apenas minimum mas ate WHltV de Assis 1958b 177 1956c123)

usados pelos propagadores da nova doushyconferencias promovidas pela Fede1aio 01

na busca de adeptos e de conversoes tambem principalmente devido a sua indisposiltilO

sendo verdade unica e absolura levando-o a em vanos escritos sobre essa doutrina e suas

a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima e que substituiria todas as religioes do passashya essa proposicao quando depara com fatos

ocorridos na cidade bus cando soluciomishyque acabam por ridiculizar toda e qualquer

temao Isso acontece nao 56 ao que diz respeishypara conquistar simpatias e fieis de divulgar

Rur(ma que acreditavam no espiritismo foi por seu dizer tudo ocorria de forma C01no se as crer em tudo aquilo que na Europa e 1955b297-9 195188)

da encarnacao e reencarnacao 1Iachado fez Grv~ tratadas de forma humoristica as quais

de seus principios Assim ao vislumbrar dos desencarnados divulga 0 prindpio de

inclusive na mesma familia sendo viavel que depois morrer e voltar filho dela au urn Se em alguns momentos pesa a mao

que 0 espiritismo nao e menos curanderia se Fosse Iegislador mandava fechar todas as em tom ate diampitico enfatiza que 0 princishy

e a lei e nascer morrer tornar a nascer sendo que 0 renascltnento e para meshy

uJ Tal para os mundos superiores entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo omesma da transmigraltao em que as almas

mas fundado no progresso(Machado de

do pensamento ultimo de Machado a ele defende seu exerdcio pois a Constimishy

religiosa No seu dizer 0 espiritismo e se falsa au verdadeira embora os espiritas

frente aa que ressalta que presunltao e quer Se verdadeiros ou nilO [continua] 0

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

fata e que escrevem-se e publicam-se inumeros livros folhetos reistas e jornais espiritas e no Rio havia uma ou duas folhas espirita alem do que acrerutaa que nao se gasta tanto papel em tantas linguas senao crendo que a palavra que se esta escrevendo ea propria verdade Para finalizar no ano seguinte 1896 comenta que hi muito que os espiritas afirmam que os mOfshytos escrevem pelos dedos dos vivos e que para ele tudo e POSSIel neste mundo e neste final de urn grande seculo(Machado de Assis 1957b26274)

Desta forma a cultura carioca oitocentista esta permeada de formas diersas de religiosidade e de experiencias voltadas para a busca de Iigacao com 0 divino 0 campo religioso apresenta-se marcado pela presenca de possibilidades variadas de vlvenciar a procura do sagrado as quais tanto debatem em confronto entre si quanta se aproximam nas pniticas dos tieis produzindo formas hibridas e sincreticas de religiosidade que nao so vincushylam os homens a seus deuses com tambem aos outros homens constitumdo em parte de seus lacos de soclabilidade

FOlltes e Referihlcias Bibliogrtificas

BORGES Valdeci Rezende Em busca do mundo exterior sociabilidade no Rio de Machado de Assis Estudos Historicos Rio de Janeiro Centro de Pesquisa e Documentacao da Historia Contempodmea do Brasil da Fundaltao Getulio Vargas no 28 p 49-69 200l BOURDIEC Pierre A Economia das Trocas Simb6licas Sao Paulo Persshy

pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e hist6ria Sao Paulo Cia Das Letras 1989 MAClMDO DE ASSIS Joaquim Maria Contos Fluminenses v2 Sao PaushyloWMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b Cronicas v 2 1955c

_ Cronicas v 4 19S5d _ Helena _ 19S5e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Hist6rias Romanticas 1955g _ laid Garcia 1955h

Memorial de Aires 1955i _ Pdginas Recolhidas _ 1955j _ ReUquias de Casa Velha v 1 _ 19551 _ Contos Esquecidos Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1956a _ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Reflexoes de um Relojoeiro _ 1956c _ A Mao e a Luva Sao Paulo 11 Jackson inc 1957a

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A Semana v 3 1957b _ Dam Casmurra _ 1957c

Historias Sem Data 1957d

_ Memorias Postumas de Bras Cubas 1957e _ Quincas Borba 1957f

_ Requias de Casa Velha v 2 _ 1957g Varias Historias 1957h

_ Contos e Cronicas Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1958a _ Cronicas de Lelia 1958b _ A Semana v 1 Sao Paulo WMJackson inc 1959a

A Semana v 2 1959b _ Cronicas v 4 1959c _ Esau e Jaco 1959d

SCHv~RCZ Lilia Moritz Retrato em Branco e Negro jornals escravos em Sao Paulo no final do seculo XIX Sao Paulo Cia Das Letras 1987

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OPSIS - Revista do

CINEMA E RELIGI

ResuResumo

Propomos neste texto apre5cntar algushy 1ou

mas reflex6es sobre a ahordagem de ashy quell

lares no cinema presentes em nleu

filmes como E 0 vento levou Blade film~

Runnermiddot 0 Carador de Androides 0 Run

Exorcisca Matrix dentre outros Exor

Atualmentc vivemos em uma 50eiel urn gm-erno baseado na lei e na razao Ne pensar assentam-se nao mais somente nos v bem nos valotes politicos e sociais Disso religiosos cristaos em quase nada influeneiat de fazer visto que Igreja (como instituiltao) tados na lei

Apesar da atual sociedade aparentc s6lida temos que ter em mente que cia so mente ha pouco tempo malS preeisamente e s6 se consolidou a partjr do positivismo vivemos em uma sociedade ainda em form

mente nao influencia tanto a nossa maneir E isto s6 e verdade para as eham2

hoje existem diversas sociedades ditas tee arabes (Irii) 0 Afeganistao onde 0 fundarr em todos os nh-eis

1 Este texto foi prodU7ido a partir do curso ministr e Religiosidadcs com 0 objetivo de apresentar algUi as rcferencias dos filmes analisados 2 Mestre em Historia pcla UFSC Universidade F

Historia da rcdc publica do [stado de Minas Gerai

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c

Page 10: as Bibliogrdficas RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSISstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3224606.pdf · 16 'as Bibliogrdficas mentafao oral e tematica da seca: estu o Federal,

a missa toda frente 0 seu altarzinho e seu Cnsto instalados no gabinete e ao acabar beijava a imagem Essa senhora de acordo com sua crenlta nao saia de casa sem a beijar primeiro como urn pedido de proteltao nem voltava scm faze-Io como a dar graltas como 0 fazia ao deitar e ao levantar(lIachado de Assis 1955i197)

A igreja era lugar de exposiltiio seja em missas ordinarias festas de santos missas de mono de seUmo dia de morte e por alma do finado ~i se ostentava opulencia e distimao social sendo objeto de curiosidade publica chamando a atenltao sabre si com carruagens lacaios roupas e esportulas vultosas como a fizera 0 casal Santos emergentes na sociedade na missa de defunto na igreja de S Domingos Essa paroquia era adequada amissa recondita e anonima urn ato sem releyo sem pesames nem lagrishymas como gueria a casal ao mandar dizer missa par alma de urn parente pobre falecido em lIarica scm que aquela repercutisse em seu meio social(Machado de Assis 1959d23) Mas se esse templo era das camadas pobres os ricos au nO05 ricos como a senhora Santos que se queixou que ali sujara 0 estido e enchera-se de pulgas preferiam a de S Francisco de Paula au a da Gloria localizadas em bairros ricos como Flamengo e que eram consideradas lirnpas li os endinheirados tinham como uso velho mandal dizer missas anivelsarias de datas obituarias e natalicias(Machado de Assis 1955i94-5)

lIuitos flequentavam a igreja mais por imposiltao social dos mais Yelhos por ser lugar de se mostlar e estabelecer relaltoes socialS do que por deoltao sentida A jovem Maria Olirnpia tinha a vocaltiio da vida exterior e sentia urn singular feicilto nas procissoes e nas missas pelo rumor e pela pompa Ia aigrcja conduzida pela cia que era religiosa e tinha gosto partishycular em mostrar-se e em namorar os rapazes Sua devoltiio magra escasshyseou ainda mais com a chegada do primeiro espetaculo e 0 primeiro baile Os saloes torna~am-se os novos lugares do encontro e do diertimenshyto e muitos ja entao confundiam as praticas leligiosas com as canseiras da vida e fUgiam delas(Machado de Assis 1959d23-4 28 1957d280 1955i95) Virgilia tambem representa a comportamento da nova mulher presa nas forshyltas seculares ao ser uma jovem senhora casada que possuia urn amante e mostraYa-se pouco religiosa nao ouvindo missa aos domingos ou so indo as igrejas em dia de festa e quando havia lugar vago em alguma tribushyna Alcm disso tachava de beatas aquelas que cram so religiosas a que aponta par outro lado a existencia de mulheres que se dedicayam em excesshyso as praticas religiosas Porem rezava todas as noites com fervor ou pelo menos com sono em sua alcova junto a seu oratoriozinho de jacaranda Ja as homens eram considerados em geral uns impios nao plsavam na Igleja a nao sel para batizar as filhos(tvlachado de Assis 1957e185 1957f257)

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OPSIS - Revista do

Mas se as individuos substituiam que com suas festas eram todo 0 recreio F tempos antigos ate mesmo a igreja nao e mundanizou-se Adotou os carrilhoes urn c~ tocavam peltas profanas chamando as fieis sinos das igrejas e produzindo uma or enfadonhas austeras graves religiosas ma~ pedaltos do Barbe Bleue da Bela Helen contrafaltao de Offenbach ou deg Amor te cassinos e no Alcazar teatro de opereta e Machado a missa da manhii e 0 fand se(Machado de -ssi5 1957d61 1959c16

Outlo costume do tempo dos vicemiddot processo de modemizaltao expressando p( mundo terreno era a de ingressar em confrlt tempos antigos ocorria por amor as cois pda busca de recompensas imediatas ac tomar materia publica a importimcia do 51

mediante a retribuiltoes como a instalaiio d da noticias para publicar em jornais sabre H(

da divulgaltao realizada pelo proprio bem do beneficio e da publicidade do nome e fi~ nas cogitaltoes publicas tornando~se se mandades de damas cram igualmente usa~ principalmente quando os jornais davam 1

os names das organizadoras 0 anuncio gI6ria(Machado de ssis 1957d26205~6

o mesmo ocorria em relacao as at de cunha religioso e assistencial erguidas fr da mendicidade As associaltoes de caridadt do muitas organizadas por senhoras que ~

nos aos famintos amoldavam-se ao mund cido religioso Por um lado adequada ao se as pedintes de esmola em portas das igre mais pobres com seus miseros vintenzinho prias almas pois por meio da caridade I almejando salvar especialmente a 5i mestnlt tado Por outro 0 beneficio alcanltado cor mundo material e nao espiritual como oc comissao de caridade de senhoras para pc com pessoas de destaque na sociedade q cima na sua busca de ascensao social AI~

i

l 1

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2

ho e seu Cristo instalados no gabinete e ao senhora de acordo com sua crenca nao saia

como urn pedido de protecao nem voltava gracas como 0 fazia ao deitar e ao 955i197)

posiao seja em missas ordinarias festas de setimo dia de morte e por alma do finado tincao social sendo objeto de curiosidade sobre si com carruagens lacaios roupas e a 0 casal Santos emergentes na sociedade na Domingos Essa par6guia era adequada

urn ato sem releyo sem nem higrishyandar dizer missa por alma de urn parente

em que aquela repercutisse em seu meio d23) Mas se esse templo era das camadas como a senhora Santos que se quelxou que e de pulgas preferiam a de S Francisco de s em bairros ricos como Flamengo e que

os endinheirados rinham como uso velho de datas obituanas e natalicias(Machado de

igreja mais por imposicao soclal dos mais r e estabelecer socials do que por

Olimpia cinha a vocaltao da vida exterior procissoes e nas missas pelo rumor e pela cia que era religiosa e cinha gosto parcishy

rar os rapazes Sua devoao magra escasshyda do primeiro espetaculo e 0 primeiro

novos lugares do encontro e do divercimenshyas praticas religiosas com as canseiras da

Assis 1959d23-f 28 1957d280 1955i95) portamento da nova mulher presa nas forshysenhora casada que possula urn amante e

nao ouvindo missa aos domingos ou s6 e quando havia lugar vago em alguma tribushytas aquelas que eram s6 religiosas 0 que de mulheres que se dedicavam em excesshy

rezava todas as noites com fervor ou pelo a junto a seu oratoriozinho de jacaranda em geral uns impios nao pisavam Hna

s f1lhos(Machado de Assis 1957e185

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

Mas se os individuos substituiam seus habitos sociais e religiosos que com suas festas eram todo 0 recreio publico e toda a arte musical em tempos antigos ate mesmo a igreja nao escapou da altao secularizante e mundanizou-se Adotou os carrilhoes um conjunto de sinos musicais que tocavam pe~as profanas chamando os fieis amissa subscituindo os pobres sinos das igrejas e produzindo uma orgia de notas nao de musicas enfadonhas austeras graves religiosas mas sons alegres e animados como pedaltos do Barbe Bleue da Bela Helena do Orfeu nos Infernos uma contrafaltao de Offenbach ou 0 Amor tern fogo tocados geralmente nos cassinos e no Alcazar teatro de opereta e da vida boemia Assim segundo Machado a missa da manhii e 0 fandango da noite aproximavamshyse(Ifachado de 1957d61 1959c168-9 1955d250 1959a68-9)

Outro costume do tempo dos vice-reis com significado alterado no processo de modernizaltao expressando pouca devoltao e grande apego ao mundo terreno era 0 de ingressar em confrarias e irmandades religiosas -Jos tempos antigos ocorria por amor as coisas pias mas no momento era peia busca de recompensas imediatas advindas do individual desejo de tomar materia publica a importancia do sujeito e seu espirito caritativo mediante a retribuicoes como a instalaao de retrato na sacriscia a emissao da nocicias para publicar em jornais sobre os beneficios que pracicava alem da divulgacao realizada peio pr6prio beneficiado Desta forma por meio do beneficio e da publicidade do nome e figura daquele que 0 fez entrava-se nas cogitaoes publicas tornando-se sempre Hlembrado~ Ivfesmo as 1rshymandades de damas eram igualmente usadas para dar brilho a suas juizas principalmente quando os jornais davam noticia minuciosa das festas com os nomes das organizadoras () anuncio nas folhas era um troco da gI6ria(Machado de Assis 1957d26205-6 1957e350 412-4 1956b44)

o mesmo ocorria em relaao as atividades associacivas ftlantr6picas de cunho religlOso e assistencial erguidas frente ao crescimento da pobreza e da mendicidade As associaltoes de caridade que aumentaram na cidade senshydo muitas orgamzadas por senhoras que coletavam donativos e reparciamshynos aos famintos amoldavam-se ao mundo profano e desviavam-se do senshytido religioso Por um lado adequada ao sentimenta cristao a mendicidade e os pedintes de esmola em portas das igrejas traziam as pessoas mesmo as mais pobres com seus miseros vintenzinhos a ocasiao de beneficiar suas pr6shyprias almas pois por meia da caridade punha-se em pracica 0 evangelho almejando salvar especialmente a S1 mesmo e nem tanto ao estranho necessishytado Par outro 0 beneficio alcamado com a caridade podia restringir-se ao mundo material e nao espiritual como ocorria com Sofia que usou de uma comissao de caridade de senhoras para p6r-se em evidencia e criar vfnculos com pessoas de destaque na sociedade que 1he dessem um empurriio para cima na sua busca de ascensao sociaL -lem disso nesse seculo utilitario e

27

F

pnitico marcado pelo avanlto das forltas de secularizaltao e perda do espirishyto cristao ate mesmo a caridade tornava-se escriturada legalizada regulashymentada (Machado de Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192 1957e190-2 1959d301)

Junto ao povo 0 gosto das procissoes vinha de longe e estava bastante arraigado para os antigos uma tradiltao de infancia costume da primeira metade do seculo do tempo do rei e suas predileltoes confesshysadas por todas as yelhas carolices as quais seus contemporaneos choravam e pediam pelos tempos dos oratorios de pedta dos tetltos cantados das procissoes bem ordenadas das ladainhas atras do viatico das boas festas e dos bons trades da verdadeita fe e dos vetdadeiros filhos de Deus iias ja em 1865 essas ptocissoes classicas podiam dar ideia de tudo menos de urn culto serio e elevado pois ao lado dos anjinhos e andores floridos os homens iam em filas uns com tochas na mao outros com vara do palio disputadas pelos fieis pais dava uma distincao especial a quem a trazia Alguns iam dizendo pilh6rias aesquerda e adireita enquanto os assistentes comentavam as gracas jUTenis do anjo cantor que era sempre mQ(a feita Desta forma Machado julgava que essas procissoes e semelhantes praticas eram ridiculas nao podendo subsistir numa sociedade verdadeiramente telishygiosa pois uma folia mesmo para os mais sinceramente religiosos com as quais os sacerdotes serios nao deveriam conservarem cumplices( Mashychado de Assis 1958a101-2 Grifo meu)

Existia ainda a luta tradicional travada entre os diferentes templos com 0 unico objeto de primar uns sobre os outros no luxo das suas procisshysoes respectivas sendo essa luta por demais profana e manifestava-se por uma aculTIulacao de prata e ouro nos andores no mais numeroso concurso de irmaos e de anjinhos e outras coisas iguais Vivia-se 0 sagrado melo afolia comentari~s dos assistentes pilh6rias disputas e abusca do brilho e da distimao do que Machado duvidava muito que a divinshydade visse com bons olhos estes conflitos de primazia(Machado de Assis 1958alOl-2 1957c98-100 Grifo meu) No entanto se as procissoes eram filhas da tradiltao em 1865 algumas delas ja haviam sido suprimidas pelo process a de modernizaltao da igreja e para 0 cronista tudo fazia crer que as restantes tamb6m seriam Nesse sentido em 1893 avalia com certa melanshycalia a diferema entre uma procissao de Sao Sebastiao daquele ana e as de outrora dizendo Ordem numero pompa tudo 0 que havia quando era () menino tudo desapareceu(Machado de Assis 1958a101 1959a220)

Porem se 0 sagrado e 0 profano apresentavam-se quase sempre de maos dadas inclusive na esfera das praticas catolicas oficiais essa interpenetraltao tinha certos limites Em 1896 uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair em desftle por se denominar N ossa Senhora da Conceiltao De acordo com 0

cronista esse titulo pareCla esquisito mas se a intenltao eque salva a sociedashy

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OPSIS - Revista do

de vai para 0 ceu pais os autores da ideia tQS da Virgem e nao [tinham] 0 carnaval por desse poslcionamento 0 folhetinista acabou enfatizando que se tal socledade tinha igual g adotar denominaltao adequada e que na( Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos et gente mas sofriam tambem a altao dos novo se Eram de maior destaque a festa da Glol Reis de Sao Sebastiao do Espirito Santos e ( tinham lugar tanto a religiao com missa que F Deum quanto 0 recreio com fogos de artifi prendas Embora houvesse entre elas algum folhetinisra ao cabo de tudo [era] a mesml sao 0 que 0 leTaTa a lascimar que 0 fogo de da Penha [1eYavam] mats fi6is que 0 objeto es certo que todo caminho leva 11 Roma nao 0 i Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que t~

como tinham acabado muitas outras devoS meio recreativas Para ele 0 elemento estr mes com muita patinacao muita opereta m nossa populacao a rusticidade e 0 encanto d Assis 1958b121 1956b207 19S5g410 1955d147-8 Grifo meu)

~ festa do Espirito Santo igualmel contista em A Parasita Azul que transeOl Luzia Goias ao falar desse festejo aponta q que de todo se nao apagou 0 gosto dessas eras No entanto na Corte ainda persistia ( barracas Nao era diferente com a Festa de R 1864 Machado falava que a festa de S Joao tI fogueiras e baloes proibidos por postura mu obstante 0 ceticismo do tempo muita e m corter primelro que 0 povo [perdesse] 0

foguetear os tres santos em junho Porem ja Joao e tambern de Reis Sobre a ultima com popular perdurava no interior pois na c

anos e brotado em sua cinzas a arvore de t essas lTIudancas De Assis lamenta que os al ha nela de puetil para Sf) the deixar 0 que ha quem nem 15S0 fica esse perde 0 melhor ( sirnplorio e velho de noites abencoadas

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das for~as de secularizacao e perda do espirishytornava-se escriturada legalizada regulashy

Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192

das procissoes vinha de longe e estava os antigos uma tradi~ao de inGneia costume do tempo do rei e suas predileltoes confesshy

as quais seus contemporaneos choravam orat6rios de pedra dos terltos cantados das

ladainhas awis do yiatico das boas festas e fe e dos verdadeiros ftlhos de Deus 1as ja

sslcas podiam dar ideia de tudo menos de um ao lado dos anjinhos e andores floridos os

tochas na mao outros com vara do palio uma distin~ao especial a quem a trazia

aesquerda e adireita enquanto os assistentes do anjo cantor que era sempre molta feita que essas prociss()es e semelhantes pniticas

subsistir numa sociedade erdadeiramenterelishypara os mais sinceramente religiosos com as

nao deyeriam conservarem cumplices( 11ashyGrifo meu)

ttadlC1011al travada entre os diferentes templos uns sabre os outros no luxo das suas procisshy

luta por demais profana e manifestava-se e ouro nos andores no mais numeroso

e outras coisas iguais Viyia-se 0 sagrado dos assistentes pilherias disputas e abusca do que Machado duyidava muito que a divinshy

conflitos de primazia(Machado de Assis Grifo meu) No entanto se as procissoes eram

delas ja haviam sido suprimidas peIo igreja e para 0 cronista tudo fazia crer (lue as

sentido em 1893 avalia com certa melanshy)rOClssao de Sao Sebastiio daquele ana e as de nUmero pompa tudo 0 que havia quando era

(Machado de 1958a 101 1959a220) eo profano apresentavam-se quase sempre de das pciricas cat6licas oficiais essa interpenetraltao uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair

Senhora da Conceiltao De acordo com 0 mas se a inten~ao e que salva a sociedashy

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

de vai para 0 ceu pais as autores da ideia [eram] com certeza fieis deyoshytos da Virgem e nao [tinham] 0 caman por obra do diabo Porem apesar desse posieionamento 0 folhetinista acabou por concordar com a proibi~ao enfatizando que se tal soeiedade tinha igual gosto as ideias profanas deveria ado tar denominacao adequada e que nao faltam titulos (1vIachado de Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos eram populares e reuniam muita gente mas sofriam tambem a a~ao dos novos tempos e perdiam seu interesshyse Eram de maior destaque a Festa da Gloria da Penha da Conceiltao de Reis de Sao Sebastiiio do Espirito Santos e de Sao Benedito Em tais festas tinham lugar tanto a religiao com missa que poderia ser cantada e ate um TeshyDeum quanto 0 recreio com fogos de artificio barracas corretos leilao de prendas Embora houvesse entre elas algumas diferenltas de acordo com 0

folhetinista ao cabo de tudo [era] a mesma alcgria e a mesmlssima divershysao 0 que 0 leYaa a lastimar que 0 fogo de artificio da Gkma e 0 garrafao cia Penha ~evayam] mais fieis que 0 objeto essencial da festiyidade POlS se e certo que todo caminho leva aRoma nao a e que todo caminho lea ao ceu Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que talvez essa Festa tin~sse findado como tinham acabado muitas outras devoltoes populare~ melO religlOsas meio recreatiYas Para 0 elemento estrangeiro transformou os costushymes com muita muita opereta muita COlsa peregnna que tirou it nossa populaltao a rusticidade e 0 encanto de outros tempos(~1achado de Assis 1958b121 1956b207 1 10 1959c225 103 1957c77 1955d147-8 Grifo meu)

A Festa do Espirito Santo igualmente desaparecia e em 1870 0 contista em A Parasita Azul que transcorre por olta de 1850 em Santa Luzia GOlaS ao falar desse aponta que vao rareando os lugares em que de todo se nao apagou 0 gosto dessas festas classicas resto de outras eras No entanto na Corte ainda persistia 0 habito de muito irem ver suas barracas Nao era diferente com a Festa de Reis e dos santos juninos Se em 1864 Machado falaya que a Festa de S Joao tomaya-se falsificada sem fogos fogueiras e baloes proibidos por postura municipal em 1878 dizla que nao obstante a cetiClsmo do tempo muita e muita dezena de anos n1aia] de correr primeiro que 0 povo [perdesse] os seus antigo amores como foguetear os tres santos em junho Porem ja em 1894 trata da morte de S Joao e tambem de Reis Sobre a ultima comenta que nao sabia se essa festa popular perdurava no interior pois na capital tinha morrido ha muitos anos e brotado em sua cinzas a arvore de Natal vinda da Europa Frente a essas mudanltas De Assis lamenta que os anos que passam tiram afe a que ha ncla de pueril para so Ihe deixar 0 que ha serio Para de triste daqucle a quem nem iS50 fica esse perde 0 melhor das recordaltoes de um tempo simpl6rio e velho de noites abenltoadas em que as crendices sas abrem

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todas as vdasAs consultas as sortes as ovos guardados em agua e outras sublimes ridicularias as quais via com respeito com simpatia e se alguma coisa a molestaa era por nao as saber ja praticar( lvlachado de Assis 1957e62 1955f46 1955a318 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241 1959b13-4 123-4)

Ifas se na cidade 0 vento dos tempos desfazia em lufadas de tuGo essas praticas populares anrigas arraigadas no imaginario coletivo no interior de era brisa igual e mansa que tudo esfolhava e dispersava devagar 8Sim em 1864 0 cronista tratou de urn morador de Viana descobridor de uma imagem de Santa Teresa que lacrimejava e supondo ser milagre pos em alorolto as credulos vianenses considerando procedente realizar exame do fato por uma comissao de eclesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao das festas do Born Jesus em Pirapora que reuniam anualmente urn numero extraordinario e crescente de romeiros calculados naquele ana em 8000 pessoas J a em 1873 escreyeu sabre uma senhora que enlouqueceu quando depois de longa seca pediu chua enterrando uma imagem de Santo Antonio no rnato e alcanltou 0 pedido Porem como a chuva abundante nao cessava ao contrario 0 aguaceiro ia a mais matando inclusive animais yoltou ao buraco por acreditar que a preclpitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas nao 0 encontrou entrando a supor que os males derivavam da altao que praticara 0 cronista comentando 0 fato de Santo Anttmio gozar entre seus deyotos do exotico privilegio de nao conceder nenhuma gralta senao enterrado ou metido num poco so operando milagres a troco da liberdade consideraya que uma senhora religtosa fizera-se supersticiosa e que quando a fe chega a este ponto esta )a muito alem das fronteiras da superstiltao deixando seu praticante sem nenhuma das grandes consolaltoes da fe trazendo-lhc 0 desespero e a loucura Ainda nesse universo ja em 1876 trata da existenCla de duas mulheres santas e milagrosas uma que apareceu na Bahia em torno da qual formou romarias dos seus devotos e outra velha milagrosa que diziam curar doewas incuraveis com ervas misteriosas(Machado de Assis 1955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2)

Desta maneira as esferas do sagrado e do profano da fe da devoltao e do recreio estaam bastante imbricadas no que concerne as praticas dos catolicos havendo uma circulaltao e influencia reciproca entre as instancias das cerimonias e rituais oficiais e sua recnacao pelos leigos entre 0 divino e a folia entre 0 cuita e a festa Os momentos e lugares em que essas aspiracoes se concretizavam em praticas sociais serviam tambem para promover a interacao dos indivlduos lvlas deixando esse sobrevoo sobre a sociedade carioca e focalizando n0550 olhar num segmento especifico desta como na comunidade negra podemos perceber outros aspectos da cultura religiosa carioca Dessa cultura hibrida amalgamada no territorio fluminense observamos primeiramente as pratica ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revi$fa do

as quais de forma geral sao vistos como

respeitados N esse meio social existiam aqudes in

uma preta y~lha do conto 0 Escrivao Co ajoe1hada diante do altar de S Bernardo co do pedic-lhe alguma coisa se nao eque lhe recebido ate que acabou beijando a cruz tou-se e saiu Outros aparecem como detel onais e seus transmissores sendo rezadore senhores ou sabedores de promessas celebre sas ou subir de joelhos a ladeira da Glc Santa(Machado de Assis 19551229-30 1 esta presente no uniYerso das atividades cal do preto elho de Casa Velha que emb africanas era sineiro mas nao fazla mats q missa aos domingos 19ualmente nesse 0

sineiro da Gloria (lue de escrao ficou li~ seculo aquda torre regendo a paroquia e c( picava por casamentos nascimentos batiza amarela 0 calera-morbus os partidos qUI deles ~ pela guerra do Paraguai pelos mo livre das escravas a aboliltao a Republica plt se Tudo conforme a ordem(JIachado de

Outras Ofertas e tensoes Feiti~

Espiritism

Ja outros negros vclhos aparecem mais circunscritas senda depositarios de p( varios elementos que expressam traltas cultu canas 0 negros produziram com suas ling des cantos e batuques uma ruptura com recorrerem mesmo que na clandestinidade uma cultura negra brasileira a qual recorriar contexto embora inseridos em universo simi de crencas praticas e -isoes de mundo al~ tica usada no cotidiano por bran cos negro cam associalt6es ao cultos africanos nos ql parentesco permeiam os rdacionamentos s mente ligados Desta forma alguns pretos sendo vistos como bonciosos humildes g~ Assis 1955d392 1957c279)

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s sortes os ovos guardados em agua e outras

via com respeito com simpatia e se alguma ao as saber ja praticar( Machado de Assis 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241

vento dos tempos desfazia em lufadas de anrigas arraigadas no imaginario coletivo no nsa que tudo esfolhava e dispersava devagar

tou de urn marador de Viana deseobridor de que lacrimejava e supondo ser milagre pas ses considerando procedente realizar exame clesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao apora que reuniam anuahnente urn numero

romeiros calculados naquele ana em 8000 sobre uma senhora que enlouqueceu quando a enterrando uma imagem de Santo Antonio

Porem como a chuva abundante nao cessava mais matando inclusiye animais yoltou ao cipitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas supor que os males derivavam da altao que do 0 fa to de Santo Antonio gozar entre seus 0 de nao conceder nenhuma gralta senao s6 operando milagres a troeo da liberdade

giosa fizera-se supersticiosa e que quando muito alem das fronteiras da superstiltao nenhuma das grandes consolaltoes da fe loucura Ainda nesse universo ja em 1876 eres santas e milagrosas uma que apareceu na romarias dos seus devotos e outra velha

urar doenltas incuraveis com ervas 955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2) s do sagrado e do profano da fe da devoltao

bricadas no que concerne as praticas dos o e influencia redproca entre as ins tlmcias das a recrialtao pelas leigos entre 0 div1110 e a

omentos e lugares em que essas aspiraltoes sociais serviam tambem para promQyer a

deixando esse sobrevoo sobre a sociedade num segmento espedfico desta como na

ceber outros aspectos da cultura religiosa a amalgamada no territorio flumlnense aticas ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revista do Niese V2 N J JanJun 2002

os quais de forma geral sao vistos como conhecedores dela e por 1880 re8peitados

Nesse meio social ex1stiam aqueles inseridos na tradiltao catolica como uma preta v~lha do conto 0 Escrivao Coimbra que Camilo viu na igreja ajoelhada diante do altar de S Bernardo com urn rosario na mao parecenshydo pedir-lhe alguma coisa se nao e que the pagava em oraltoes 0 beneficio ia recebido ate que acabou beijando a cruz do rosario persignou-se levanshytou-se e saiu Outros aparecem como detentores de conhecimentos tradicishyonais e seus transmissores sendo rezadores que pediam guard a para seus senhores ou sabedores de promessas celebres como mandar dizer cern misshysas au subir de joelhos a ladeira da Gloria para ouvir uma ir a Terra Santa(Machado de Assis 19551229-30 1957c71177279) 0 negro idoso esta presente no universo das atividades catolicas como sineiros a exemplo do preto velho de Casa Velha que embora muito atrelado as tradiltoes africanas era sineiro mas nao fazia mais que tocar 0 sino da capela para a missa aos domingos Igualmente nesse ofieio IvIachado destaca Joao 0 sineiro da Gloria que de escravo ficou livre governando por quase meio seculo aquela torre regendo a par6quia e contemplando 0 mundo de 11 Reshypicava por casamentos nascimentos batizados mortes Dobrava pela febre amarela 0 colera-morbus os partidos que subiam ou cafam sem saber deles _ pela guerra do Paraguai pelos mortos e pelas vitorias peIo ventre livre das escravas a aboliltao a Republica pelo imperio_ se 0 imperio tornasshyse Tudo con[orme a ordem(tviachado de -5S1S 1956b193-4 1957b431-3)

Outras Ofertas e tensoes Feiti~arias Adivinha~oes e

Espiritismo

Ja outtos negros velhos aparecem atrelados as tradiltoes ancestrais mals circunscritas sendo depositarios de poderes de proteltao e guardioes de varios elementos que expressam traltos cultorals singulares das socledades afrishycanas 0 negtos produziram com suas linguas danltas folguedos sonoridashydes cantos e batoques uma ruptura com a -isao de mundo ocidental ao recorrerem mesmo que na clandestinidade a seus ritos seus deuses criando uma cultura negra brasileira a qual reeorriam alguns de seus senhores Em tal contexto embora insetidos em universo simb6lico marcado pda multiplicidade de crenltas praticas e visoes de mundo alguns aspectos da expressao lingiiisshyrica usada no cotidiano por brancos negros e mestiltos livres e cativos indishycam associaltoes ao cuhos africanos nos quais a ideia de familia e de laltos de parentesco permeiam os relacionamentos socialS e religiosos que sao intimashymente ligados Desta forma alguns pretos velhos eram ehamados de Pai sendo vistos como bondosos humildes generosos e paternais( Machado de Assis 1955d392 1957c279)

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Outros pretos velhos de modo mais dire to traziam conhecimentos ancestrais produzindo rituals que funcionavam como urn feitiqo protetor as vezes acendendo velas tocando marimba cantarolando em alguns instanshytes baixinho umas ozes de Africa cantilenas alegres guerreiras entusiasshytas em outros cantigas falando de santo de trabalhar de comer 0

que remete as praticas das oferendas e ao principio do candomble de existenshycia de forqas vitais e sagradas que perpassam todos os aspectos da vida mashyterial e cotidiana como as tarefas as formas hidicas como a musica a danqa o canto 0 gesto Assim tanto Raimundo de laid Garcia empertigava 0

corpo dando aos quadris e ao tronco 0 movimento de suas danqas africashynas quanto 0 peeto velho de Casa Velha que canta-a Calumga mussanga monandengue dando ao corpo umas sacudidelas para acompanhar a toshyada africana alem de recorrer as tradiltoes orais ao contar historias muito compridas e sem sentido algum para os brancos pOlS forjadas e inseridas noutro universo simbolico da maioria deles ignorado Desta forma essas manifestaltoes mantinham uma memoria reveladora de matrizes africanas que era alimentada pela danqa pela paIavra pelos gestos ou pelos objetos e oushytros vekulos de expressao e comunicaqao(Machado de Assis 1955h1114 1956b193-4 1957b432-3)

No entanto outros aspectos expressam ainda a religiosidade no universo de uma cultura afro-amerindio-brasileira na obra machadiana como a feitiqaria Num momento em que em nome da civilizaltao da ciencia e da razao os intelectuais e as autoridades medicas policicas e policiais voltaramshyse contra praticas ariadas denominadas ~fnericamente de feitisaria lIachashydo abordou essa questao de modo bastante proprio Nao associou tais pratishyeas ao universo socio-cultural espedflco dos negros como faziam outros jorshynalistas e tampouco os apreciou a priori de modo negativo e condenatorio Contrap6s-se ao conteudo de muitas notkias divulgadas na imprensa nas quais 0 negro era 0 bruxeiro 0 feiticeiro violento e barbaro com a figura de Raimundo que produzia urn feitiqo protetor a seu senhor afastando da imagem do preto que fazia feitico male fico para seus proprietarios(Schwarcz 1987125-8 Machado de Assis 1955h10)

Ao tratar da batalha contra os antigos habitos religiosos tradicionais da gentes em 1893 0 cronista anunciava ter medo do c6digo penal de 1890 no qual havia urn artigo que castiga duramente as pessoas que advinham 0

futuro tao duramente como as que aplicam drogas para excitar odio ou amor para fascinar e subjugar a credulidade publica Com base nesse as autoridades recolhiam adetenqao curandeiros e feiticeiras levan do as ferrashymentas desses ofieios ( ) incluidos no e6digo como delitos como aves mortas pernas de ceroula saquinhos com feijao arroz farinha sal altucar canjica penas e cabeltas de frangos usados na busca de estabelecer uma alianshyca com 0 sobrenatural a partir da aciio de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do

vivos deuses e homens(lIachado de Assis Assis a feitiqaria era alga natural do homen tivas alem de ser urn ofkio que garancia r fur tar e matar para sobreviver e infring1r 0

que nao falam de feitiltaria mas de furto doente acreditar na feiticaria e por julgar q soais que determinam tudo neste mundo I

acudir a feitiltaria considerando emao inee go penal como deli to c prender senhoras s com os seus olhos e com seus demais obj 1959b308-11 )

fachado rarefez 0 clima hostil de dos seus agentes nao as associando aos neg te que esse elbo costume de buscar nas fei ros quase sempre mesciltos _caboclos e eab agruras nao so se restringia ao pon) Muita dade recorriam aos adiyinhos e curandeiros erva como por meio dc rezas 0 eurand mazelas que devastaam a cidade como eOolltao de defuntos de espiritos difere de ler como as adivinhas mandando e curandeiro Tobias falava em prosa scm 0

cas ate ser preso com suag bugigangas e galo pes de galinha secas medalhas pohcoJ de raia incluidos no aparato instrumental sis 1956c248-9 267-8 19S5d426-7)

Buscar os adivinhos e feiciceiros era ricas ainda que nesta muito preconceitos vando muitas ezes a consultas escondidas redor dc uma caboc1a muito conhecida do adivinha era grande e segundo 0 narrador da sociedade falavam dela a serio e havia ta um Juiz municipal cuja nomeaqao foi ar era muito falada na cidade e reinava Ii n(

merosa que vinha de muito mcses scndo queza da adivinha Toda a gcnte falan e assunto da cidade atribuiam-lhe um pode sortes achados casamento Afirmavam e 0 que vifia a scr Para 0 poo parccia muitas as noticias sobre seus feitos e ha-ia ~ soas que tinham perdido e achado joias e esc ~- polkia mesma quando nao acabaYl1 de

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de modo mais dire to traziam conhecimentos

tronco 0

funcionavam como urn feitio protetor

marimba cantarolando em alguns instanshy cantilenas alegres guerreiras entusiasshy

de santo de trabalhar de comer 0

e ao principio do candomble de existenshyperpassam todos os aspectos da vida mashy

as formas ludicas como a musica a danca Raimundo de laid Garcia empertigava 0

movimento de suas dancas africashyVelha que cantava Calumga ~ussanga umas sacudidelas para acompanhar a to-

as tradicoes orais ao contar historias muito para os brancos pois foqadas e inseridas

maioria deles ignorado Desta forma essas memoria reveladora de matrizes africanas que palavra pelos gestos ou pelos objetos e oushy

~uluIlltaya()(ilachado de Assis 1955h1114

expressam ainda a religiosidade no merind()-trastllra na obra machadiana como

que em nome da ciyilizacao da ciencia e da medicas politicas e policiais oltaramshy

1955hlO)

loolinadls genericamente de feiticariatvfachashybastante proprio Nao associou tais pratishy

_middot~neIflr dos negros como faziam outros jorshy

apriori de modo negativo e condenatorio muitas noticias divulgadas na imprensa nas o feiticeiro violemo e barbaro com a figura

feitico protetor a seu senhor afastando da maletico para seus proprietarios(Schwarcz

os antigos habitos religiosos tradicionais anunciava ter medo do codigo penal de 1890

duramente as pessoas que advinham 0

as que aplicam drogas para excitar odio ou a credulidade publica Com base nesse as curandeiros e feiticeiras levando as ferrashy

lCitllid()s no codigo como deliros como aves

com feijao arroz fartnha sal acucar usados na busca de estabelecer uma alianshy

da alao de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

vivos deuses e homens(Machado de Assis 1959a288 1959b308) Para De Assis a feiticaria era algo natural do homem vista em varias tribos primishytivas alemde ser urn oficio que garantia renda a muitos impedindo-os de furtar e matar para sobreviver e infringir os mandamentos da lei de Deus que nao falam de feiticaria mas de furto Ironicamente diz que por estar

doente acreditar na feiticaria e por julgar que sao sempre os l11teresses pesshysoals que determinam tudo neste mundo estava com grandes desejos de acudir afeiticaria considerando entao incorreto incluir a feiticaria no codishygo penal como delito e prender senhoras so porque fecham 0 corpo alhelO com os seus olhos e com seus demais objetos de culto(Machado de ASS1S

195308-11) Machado rarefez 0 clima hostil de desqualificacao dessas praticas e

dos seus agentes nao as associando aos negros e enfatizando incansavelmenshyte que esse velho costume de buscar nas feiticeiras adivinhas e curandeishy

ros quase sempre mesticos _caboclos e caboclas _ auxilio as imluietacoes e agruras nao s6 se restringia ao povo Tfuitas pessoas de posiltao na SOC1eshydade recorriam aos adi-inhos e curandeiros e os ultimos curavam tanto com ervas como por meio de rezas 0 curandeiro Nascimento curaa muitas mazelas que devastayam a cidade como barriga dagua com passes de evocacao de defuntos de espiritos diferentes ou arrancava dentes alem de Ie~ como as adivinhas mandando com tais e tais palaTinhas Ja 0

curandeiro Tobias falava em prosa sem 0 saber curaa em Hnguas classishycas ate ser preso com suas bugigangas e drogas tais como esporoes de galo pes de galinha secos medalhas polvora e ate urn chicote feito de rabo de raia inc1uidos no aparato instJumental de seus ritualS (ilachado de Asshysis 1956c248-9 267-8 1955d426-7)

Buscar os adivinhos e feiticeiros era costume presente entre as classes ricas ainda que nestas muitos preconceitos contra tais praticas existissem leshyvan do muitas vezes a consultas escondidas como ocorre em Esau e Jaco ao redor de uma cabocla muito conhecida do Ilorro do Castelo lt fama des sa adivinha era grande e segundo 0 narrador muira gente boa Ja ia pessoas da sociedade fala am dela a serio e havia um caso recente de pessoa dis tinshy

ta urn juiz municipal cuja nomeacao foi anul1ciada pela cabocla A caboc1a era muito falada na cidade e reinava la no morro possuindo freguesia nushymerosa que vtnha de muttos meses sendo sinal certo da videncia e da franshyqueza da adivinha Toda a gente fahlYa entao da cabocla do Castelo era 0

assunto da cidade atribuiam-lhe um poder tntlnito uma serie de milagres sortes achados casamentos AfirmaalU que cia adivinhaya tudo 0 que era eo que iria a ser Para 0 povo parecia que era mandada de Deus Eram muitas as noticias sobte seus feiros e hayia gente que dizla que conheC1a pe5shysoas que tinham perdido e achado joias e escraos De acordo com 0 narrador A policia mesma quando nao acabaa de apanhar um criminoso ia ao Casshy

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tela falar acabocla e des cia sabendo por i5S0 eque nao a botava para fora como os invejasos andavam a pedir A caboda explicava sonhos e pensashymentos curava quebranto(Machado de Assis 1959d43-4)

Segundo Aires tal costume era velho e velhissimo e no interior da casa simples nao havia nada que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshynhum petrecho simbalico nenhum bicho empalhado esqueleto ou desenho de aleiJoes Quando muito urn registro da [festa de Nossa senhora da ] Conshy

colado a parede podia lembrar misterio mas nao metia medo A cabocla e descrita com simpatia e 0 ritual sem afetacao Era uma criaturinha leve e breve ( ) corpo airoso com urn raminho de arruda nos cabelos 0

que ja the dava urn certo ar de sacerdotisa embora seu misterio estivesse mesmo era nos olhos agudos e compridos que entravam peIo consulente revoh-endo-Ihe 0 coracao ao tempo que interrogava Em transe de posse de retratos e cabelos de alguem ausente com urn cigarro acesso ao som de uma viola e de cantigas do sertao do Norte murmuradas por urn velho caboclo entrava a dizer sobre as coisas futuras ate que por fun 0 fregues se alegre e rico tirava uma nota de cinquenta mil-reis quando 0 preco do costume era cinco ezes menos arrecadaYa seus objetos e saia (Machado de Assis 1959d 7shy16) Essa cabocla com origem no norte do pais assim como outros caboclos curandeiros perseguidos pela policia remete apresenca dos caboclos no unishyverso das pniticas religiosas brasileiras que sendo figura mestica esta vinculashyda a nossos ancestrais nativos os indios donos da terra e ligados anatureza no tradicao dos cultos afro-brasileiros

No en tanto no campo das batalhas religiosas tais praticas tiveram outros opositores tal como os adeptos do nascente espiritismo que contagishyados peIo espirito positivo~cientificista do momenlO na busca de credibilidade ptlblica e de converter fieis incutindo-lhes seus pressupostos diziam possuir doutrina regida por leis cientificas ao querer excluir qualshyquer maculf[ de seita e julgavam-se sabedores das verdadeiras luzes do mundo e de verdades eternas Desta forma um iniciado nessa religiao defendia uma consulta espirita e na~ a caboda do Castelo por mais que ela fosse celebre Recorrer a ela seria imitar as crendices da gente reles e s6 ocorreria ate enquanto a policia nao pusesse cobro ao escandalo J a numa consulta espirita algum espirito podia [dizer] a verdade em vez de uma adivinha de farsa Para urn medium espirita enfiado em larga camisola de seda e usando toda a terminologia espirita assomada de casos fenomeshynos misterios testemunhos atestados verbais e escritos a cabocla devia ser deixada afe das senhoras pois eram delas crencas da meninice(Machado de Assis 1959d79113843-6646770 1957h10-1)

Cabe aqui ressaltar que nesta obra Esau e Jac6 a qual trata desses variados aspectos espirituais acima apontados advindos de tradicoes culturais e religiosas diversas Machado sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religi~

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OPSIS - Revista do

oso expondo a imbricacao das praticas ori catolicismo e 0 confronto com 0 espiritismc bases do que seria posteriormente denomin nomes dados as pessoas podem predestina ligacao entre 0 fato dos filhos do casal Sanl quais a cabocla disse terem brigado no ventr des entre estes porque os dois apostolos do garam assim como Esau e Jaco figuras do brigado por causa da primogenitura

Porem lIachado nilO recorre ao eSI conto Uma visita de Alcibiades 0 desemba S1caO juntamente com Santos aCllna citado essa doutrina propagaya ao ler Plutarco fun litava envoher a imaginaltao numa especie vel as evocacoes mentais transportou-se pa de Alcibiades ate que ao terminar de [umar de subilO pensou qual seria a impressiio daqu ario Desta feita enfatizando (lue era urn 1

podendo mesmo dizer que vlvia cornia dor cafe e esperava morrer na fe de Alan Kard os sistemas sao pura niilidades tinha adota sim sendo espiritista evocou lcibiades a c fez rapido aproximando duas civilizacoes impalpavel e sim urn homem de carne e mente a sua frente entrando a conersar sob o grego empalideceu cambaleou e caiu r desembargador mandou~o para 0 necroteno

o espiritismo sen-iu como assunto nas quais quasc sempre ri brinca e ironiza sc cando as vezes compreende-los por mais laquo

correndo a estrategias comicas Desta forma situacoes nebulosas como uma que exigia p teoria de Newton sugerc consultar 0 propri vez que nao entendia nada de astronomia Er brasileiros acabavam de dar um golpe de m urn medium com fama de ser prodigioso e sileira nomeado uma comissao para estudar nao valia a fama e que os trabalhos ficararr Europa e outro paises mas que 0 problen estao sujeitas a esse eclipses e nao estao Fora i5S0 a Federacao lamentaa que diante mular os fenomenos que obtem nas condie

35

_UJUUV por 1SS0 e que nao a botava para fora a pedir A caboda explicava sonhos e pensashy

UVll1Ul1lU de Assis 1959d43-4)

vmiddotOLU1l1C era velho e velhissimo e no interior da que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshy

UUilU bicho empalhado esqueleto ou desenho registro da [Festa de Nossa senhora da 1Conshylembrar misterio mas nao metia medo A eo ritual sem afetas-ao Era uma crtaturinha

com urn raminho de arruda nos cabelos 0

sacerdotisa embora seu misterio estivesse e compridos que entravam pelo consulente

tempo que interrogava Em transe de posse de ausente com urn cigarro aces so ao som de uma do Norte murmuradas por urn velho cabodo

futuras ate que por fim 0 fregues se alegre ~lu-uLa mil-reis quando 0 pres-o do costume era

seus objetos e saia(Machado de Assis 1959d7shyno norte do pais assim como outros cabodos

polleia remete a presens-a dos cabodos no unishyIIJ[l1~JlC1Jl1 que sendo Figura mestis-a esta vlnculashy

os indios donas da terra e ligados anatureza

das batalhas religiosas tais praticas tiveram adeptos do nascente espiritismo que contagishy

__rpntificista do momento na busca de nrprtpr fieis incutindo-Ihes seus pressupostos

por leis cientificas ao querer exduir qualshysabcdorcs das yerdadeiras luzes do

Desta forma urn iniciado nessa religiao

rfu~ ~clt5u-(r(l1H-gn1ru lJ(YL nril ljlft1hgt

seria imitar as crendices da gente reles e so nao pusesse cobro ao esdindalo Ja numa

podia [dizer] a verdade em vez de uma Pltd11lIl espirita enfiado em Iarga camisola de

espirita assomada de fenomeshynauo verbais e escritos a cabocla devia ser

eram delas crenltas da meninice(Machado 770 1957hl0-1)

nesta obra Esau e Jaco a qual trata desses apontados advindos de tradiltoes culturais

sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religishy

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

oso expondo a imbricaltao das praticas origin arias dos amedndios com 0

catohcismo e 0 confronto com 0 espiritismo que amalgamados crtavam as bases do que seria posteriormente denominado de umbanda Aponta que os nomes dados as pessoas podem predestinar seus caminhos ao estabelecer ligaltao entre 0 fato dos filhos do casal Santos chamarem Pedro e Paulo os quais a cabocla disse terem brigado no ventre da mae e indicando as rivalidashydes entre estes porque os dois apostolos do Novo Testamento tam bern brishygaram assim como Esau e Jac6 figuras do Velho Testamento tinham ainda brigado por causa da primogenitura

Porcm Machado nao recorre ao espirttismo apenas nessa obra No conto Uma visita de Alcibades 0 desembargador Alvares que por sua poshysiltao juntamente com Santos acima citado indica 0 meio abastado em que essa doutrina propagaa ao ler Pluta reo fumando um charuto que possibishylitava envolver a imaginas-ao numa especie de nimbo extremamente favorashyvel as evocaltoes mentais transportou-se para a antiga Atenas pois lia a vida de Alcibiades ate que ao terminar de fumar voltou aos tempos modernos e de subito pensou qual seria a impressao daquele ateniense sobre n0550 vestushyano Desta feita enfatizando que era urn tanto espiritista ( ) ate muito podendo mesmo dizer que livia comia dormia passeava conversava bebia cafe e esperava morrer na fe de Alan Kardec pois convencido que todos os sistemas sao pura niilidades tinha adotado 0 mais jovial de todos Asshysim sendo espiritista evocou Alcibiades a comparecer em sua casa e esse 0

fez tapida apraximando duas civilizayoes Mas esse nao era uma sombra impalpavel e sim um homem de carne e ossos que se sentou benevalashymente a sua frente entrando a conversar sobre 0 assunto de interesse ate que o grego empalideceu cambaleou e caiu no chao Dian te do cadaver a desembargador mandou-o para 0 necroterio(Machado de Assis 1956a203-7)

o espiritismo serviu como assunto em varias cronicas machadianas

nas qua~s quasc selnpre ri brinca e lroniza seus enunciados e principios busshycando as vezes compreende-Ios por mais estranheza que provocassem reshyoottendo a estrateglaS comicas Desta forma ha momentos em que diante de situa~oes nebulosas como uma que exigia para sua solus-ao conheCImento da teoria de Newton sugere consultar 0 proprio por meio do espiritismo uma vez ~ue nao entendia nada de astronomia Em outro comenta que os espiritas brasilerros acabavam de dar um golpe de mestre quando apareceu na cidade ~medium com fama de ser prodigioso e tendo a FederaS-ao Espirita Brashysiletra nomeado uma comissao para estudar os fenomenos concluiu que de nao valia a fama e que as trabalhos ficatam abaixo do que se conseguia na Eur~pa e ~utros paises mas que 0 problema estava nas mediunidades que estao Su)eHas a esses eclipses e nao estao senrilmente anossa dispasis-ao Fora 1550 a Federaltao lamentava que diante de tudo a medium huscasse 5ishymular os fenomenos que obtem nas condis-oes normais Segundo Machashy

35

do chistosamente 0 medium nao s6 foi ( ) apenas mmtmum mas ate procurou embasar a Federasao(lvlachado de Assis 1958b177 1956c123)

As estrategtas e argumentos usados pelos propagadores da nova doushytrina geralmente expostos nas conferencias promovidas pela Federaltao ou publicados na Uniao Espirita na busca de adeptos e de convemles tambem nao escaparam aeritica machadiana principalmente devido a sua indisposisao a tudo que se propagava como sendo verdade unica e absoluta levando-o a destilar sua eostumeira ironia em varios eseritos sobre essa doutrina e suas praticas Dentre eles destaeamos a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima verdadeira e definitiva doutrina e que substituiria todas as religioes do passashydo 0 eronista reeorre sempre a essa proposiltao quando depara com fatos obscuros e irnpossiveis de destrinltar ocorridos na cidade buscando solucionashylos usando de carnavalizaltoes que acabam por ridieulizar toda e qualquer noltao de -erdade ou de tal pretensao Isso aconteee nao s6 ao que diz respeishyto a essa doutrina A artimanha para conquistar simpatias e fieis de divulgar Iista de pessoas eminentes da Europa que acreditavam no espiritismo foi por ele tambern censurada pois no seu dizer tudo ocorria de forma como se as pessoas devessem crer por crer em tudo aquilo que na Europa e acreditado(~1achado de Assis 1955b297-9 195188)

Ao redor do principio da encarnaltao e reencarnaltao Machado fez yarias elucubraltoes supondo situaltoes tratadas de forma humoristica as quais contribuiam para difundir alguns de seus principios Assim ao vislumbrar uma certa promiscuidade geral dos desencarnados divulga 0 principio de que 0 espirito pode reencarnar inclusive na mesma familia sendo viivel que um homem pudesse ter uma ftlha depois morrer e voltar filho dela ou urn menino voltar filho de urn prin10 Se em alguns momentos pesa a mao contra os espiritistas dizendo que 0 espiritismo nao e menos curanderia que os outros curandeiros e que se fosse legislador mandava fechar todas as igrejas des sa religiao em outros em tom ate didatico enfatiza que 0 princishypio espirita e fundado no progresso e a leI e nascer morrer tornar a nascer e renascer ainda progredir sempre sendo que 0 renascimento epara meshylhor Cada espirita em se desencarnando vai para os mundos superiores Reflete ainda sobre a distancia entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo que 0 principio espirita nao e 0 mesmo da transmigrasao em que as aIm as vao para os corpos dos animalS mas fundado no progresso(Machado de Assis195100-2188)

Acreditando ser representativo do pensamento ultimo de Machado a respeito do espiritismo em 1895 ele defende seu exercicio pois a Constituishyltao estabclece 0 direito de liberdade religiosa No seu dizer 0 espiritismo e uma religiao que ele nao sabia se falsa ou verdadeira embora os espiritas dissessem que verdadeira e unica frente ao que ressaIta que presunltao e agua benta cada um toma a que quer Se verdadeiros ou nao [continual 0

36

OPSIS - Revista tiD

fato e que escrevem-se e publicam-se inUn jornais espiritas e no Rio havia uma ou dl acreditara que nao se gasta tanto papel em a palavra que se esta escrevendo e a propria seguinte 1896 comenta (lue ha muito que ( tos escreyem pclos dedos dos vhos e que mundo e neste final de urn grande seculo(1

Desta forma a cultura carioca oitoclt diversas de religiosidade e de expcriencias com 0 divino 0 campo religioso apresent possibilidades variadas de vivenciar a proCl debatem em confronto entre si quanto se a] produzindo formas hibridas e sincreticas de lam os homens a seus deuses com tambem a em parte de seus lasos de sociabilidade

Fontes e Referencias B

BORGES Valdeci Rezende Em busca do 11

Rio de l1achado de Assis Estudos Histor Pesquisa e Documentaltao da Hist6ria Conte Getulio Vargas no 28 p 49-69 2OC) BOCRDIEC Pierre A Economia das TrOt pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Si Paulo Cia Das Letras 1989 ivLCI1ADO DE ASSIS Joaquim r1aria C 10 WMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b _ Cronicas v 2 1955c

Cronicas v 4 1955d

_ Helena 1955e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Historias Romanticas _ 1955g _ laid Garcia 1955h _ Memorial de Aires 19551

Pdginas Recolhidas _ 1955 Reliquias de Casa Velha v 1 _ 195 Contos Esquecidos Rio de Janeiro ClY

_ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Rejlexoes de um Relojoeiro _ A Mao e a Luva Sao Paulo M Jad

lt 37

mio s6 foi () apenas minimum mas ate WHltV de Assis 1958b 177 1956c123)

usados pelos propagadores da nova doushyconferencias promovidas pela Fede1aio 01

na busca de adeptos e de conversoes tambem principalmente devido a sua indisposiltilO

sendo verdade unica e absolura levando-o a em vanos escritos sobre essa doutrina e suas

a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima e que substituiria todas as religioes do passashya essa proposicao quando depara com fatos

ocorridos na cidade bus cando soluciomishyque acabam por ridiculizar toda e qualquer

temao Isso acontece nao 56 ao que diz respeishypara conquistar simpatias e fieis de divulgar

Rur(ma que acreditavam no espiritismo foi por seu dizer tudo ocorria de forma C01no se as crer em tudo aquilo que na Europa e 1955b297-9 195188)

da encarnacao e reencarnacao 1Iachado fez Grv~ tratadas de forma humoristica as quais

de seus principios Assim ao vislumbrar dos desencarnados divulga 0 prindpio de

inclusive na mesma familia sendo viavel que depois morrer e voltar filho dela au urn Se em alguns momentos pesa a mao

que 0 espiritismo nao e menos curanderia se Fosse Iegislador mandava fechar todas as em tom ate diampitico enfatiza que 0 princishy

e a lei e nascer morrer tornar a nascer sendo que 0 renascltnento e para meshy

uJ Tal para os mundos superiores entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo omesma da transmigraltao em que as almas

mas fundado no progresso(Machado de

do pensamento ultimo de Machado a ele defende seu exerdcio pois a Constimishy

religiosa No seu dizer 0 espiritismo e se falsa au verdadeira embora os espiritas

frente aa que ressalta que presunltao e quer Se verdadeiros ou nilO [continua] 0

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

fata e que escrevem-se e publicam-se inumeros livros folhetos reistas e jornais espiritas e no Rio havia uma ou duas folhas espirita alem do que acrerutaa que nao se gasta tanto papel em tantas linguas senao crendo que a palavra que se esta escrevendo ea propria verdade Para finalizar no ano seguinte 1896 comenta que hi muito que os espiritas afirmam que os mOfshytos escrevem pelos dedos dos vivos e que para ele tudo e POSSIel neste mundo e neste final de urn grande seculo(Machado de Assis 1957b26274)

Desta forma a cultura carioca oitocentista esta permeada de formas diersas de religiosidade e de experiencias voltadas para a busca de Iigacao com 0 divino 0 campo religioso apresenta-se marcado pela presenca de possibilidades variadas de vlvenciar a procura do sagrado as quais tanto debatem em confronto entre si quanta se aproximam nas pniticas dos tieis produzindo formas hibridas e sincreticas de religiosidade que nao so vincushylam os homens a seus deuses com tambem aos outros homens constitumdo em parte de seus lacos de soclabilidade

FOlltes e Referihlcias Bibliogrtificas

BORGES Valdeci Rezende Em busca do mundo exterior sociabilidade no Rio de Machado de Assis Estudos Historicos Rio de Janeiro Centro de Pesquisa e Documentacao da Historia Contempodmea do Brasil da Fundaltao Getulio Vargas no 28 p 49-69 200l BOURDIEC Pierre A Economia das Trocas Simb6licas Sao Paulo Persshy

pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e hist6ria Sao Paulo Cia Das Letras 1989 MAClMDO DE ASSIS Joaquim Maria Contos Fluminenses v2 Sao PaushyloWMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b Cronicas v 2 1955c

_ Cronicas v 4 19S5d _ Helena _ 19S5e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Hist6rias Romanticas 1955g _ laid Garcia 1955h

Memorial de Aires 1955i _ Pdginas Recolhidas _ 1955j _ ReUquias de Casa Velha v 1 _ 19551 _ Contos Esquecidos Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1956a _ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Reflexoes de um Relojoeiro _ 1956c _ A Mao e a Luva Sao Paulo 11 Jackson inc 1957a

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A Semana v 3 1957b _ Dam Casmurra _ 1957c

Historias Sem Data 1957d

_ Memorias Postumas de Bras Cubas 1957e _ Quincas Borba 1957f

_ Requias de Casa Velha v 2 _ 1957g Varias Historias 1957h

_ Contos e Cronicas Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1958a _ Cronicas de Lelia 1958b _ A Semana v 1 Sao Paulo WMJackson inc 1959a

A Semana v 2 1959b _ Cronicas v 4 1959c _ Esau e Jaco 1959d

SCHv~RCZ Lilia Moritz Retrato em Branco e Negro jornals escravos em Sao Paulo no final do seculo XIX Sao Paulo Cia Das Letras 1987

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OPSIS - Revista do

CINEMA E RELIGI

ResuResumo

Propomos neste texto apre5cntar algushy 1ou

mas reflex6es sobre a ahordagem de ashy quell

lares no cinema presentes em nleu

filmes como E 0 vento levou Blade film~

Runnermiddot 0 Carador de Androides 0 Run

Exorcisca Matrix dentre outros Exor

Atualmentc vivemos em uma 50eiel urn gm-erno baseado na lei e na razao Ne pensar assentam-se nao mais somente nos v bem nos valotes politicos e sociais Disso religiosos cristaos em quase nada influeneiat de fazer visto que Igreja (como instituiltao) tados na lei

Apesar da atual sociedade aparentc s6lida temos que ter em mente que cia so mente ha pouco tempo malS preeisamente e s6 se consolidou a partjr do positivismo vivemos em uma sociedade ainda em form

mente nao influencia tanto a nossa maneir E isto s6 e verdade para as eham2

hoje existem diversas sociedades ditas tee arabes (Irii) 0 Afeganistao onde 0 fundarr em todos os nh-eis

1 Este texto foi prodU7ido a partir do curso ministr e Religiosidadcs com 0 objetivo de apresentar algUi as rcferencias dos filmes analisados 2 Mestre em Historia pcla UFSC Universidade F

Historia da rcdc publica do [stado de Minas Gerai

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c

Page 11: as Bibliogrdficas RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSISstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3224606.pdf · 16 'as Bibliogrdficas mentafao oral e tematica da seca: estu o Federal,

ho e seu Cristo instalados no gabinete e ao senhora de acordo com sua crenca nao saia

como urn pedido de protecao nem voltava gracas como 0 fazia ao deitar e ao 955i197)

posiao seja em missas ordinarias festas de setimo dia de morte e por alma do finado tincao social sendo objeto de curiosidade sobre si com carruagens lacaios roupas e a 0 casal Santos emergentes na sociedade na Domingos Essa par6guia era adequada

urn ato sem releyo sem nem higrishyandar dizer missa por alma de urn parente

em que aquela repercutisse em seu meio d23) Mas se esse templo era das camadas como a senhora Santos que se quelxou que e de pulgas preferiam a de S Francisco de s em bairros ricos como Flamengo e que

os endinheirados rinham como uso velho de datas obituanas e natalicias(Machado de

igreja mais por imposicao soclal dos mais r e estabelecer socials do que por

Olimpia cinha a vocaltao da vida exterior procissoes e nas missas pelo rumor e pela cia que era religiosa e cinha gosto parcishy

rar os rapazes Sua devoao magra escasshyda do primeiro espetaculo e 0 primeiro

novos lugares do encontro e do divercimenshyas praticas religiosas com as canseiras da

Assis 1959d23-f 28 1957d280 1955i95) portamento da nova mulher presa nas forshysenhora casada que possula urn amante e

nao ouvindo missa aos domingos ou s6 e quando havia lugar vago em alguma tribushytas aquelas que eram s6 religiosas 0 que de mulheres que se dedicavam em excesshy

rezava todas as noites com fervor ou pelo a junto a seu oratoriozinho de jacaranda em geral uns impios nao pisavam Hna

s f1lhos(Machado de Assis 1957e185

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

Mas se os individuos substituiam seus habitos sociais e religiosos que com suas festas eram todo 0 recreio publico e toda a arte musical em tempos antigos ate mesmo a igreja nao escapou da altao secularizante e mundanizou-se Adotou os carrilhoes um conjunto de sinos musicais que tocavam pe~as profanas chamando os fieis amissa subscituindo os pobres sinos das igrejas e produzindo uma orgia de notas nao de musicas enfadonhas austeras graves religiosas mas sons alegres e animados como pedaltos do Barbe Bleue da Bela Helena do Orfeu nos Infernos uma contrafaltao de Offenbach ou 0 Amor tern fogo tocados geralmente nos cassinos e no Alcazar teatro de opereta e da vida boemia Assim segundo Machado a missa da manhii e 0 fandango da noite aproximavamshyse(Ifachado de 1957d61 1959c168-9 1955d250 1959a68-9)

Outro costume do tempo dos vice-reis com significado alterado no processo de modernizaltao expressando pouca devoltao e grande apego ao mundo terreno era 0 de ingressar em confrarias e irmandades religiosas -Jos tempos antigos ocorria por amor as coisas pias mas no momento era peia busca de recompensas imediatas advindas do individual desejo de tomar materia publica a importancia do sujeito e seu espirito caritativo mediante a retribuicoes como a instalaao de retrato na sacriscia a emissao da nocicias para publicar em jornais sobre os beneficios que pracicava alem da divulgacao realizada peio pr6prio beneficiado Desta forma por meio do beneficio e da publicidade do nome e figura daquele que 0 fez entrava-se nas cogitaoes publicas tornando-se sempre Hlembrado~ Ivfesmo as 1rshymandades de damas eram igualmente usadas para dar brilho a suas juizas principalmente quando os jornais davam noticia minuciosa das festas com os nomes das organizadoras () anuncio nas folhas era um troco da gI6ria(Machado de Assis 1957d26205-6 1957e350 412-4 1956b44)

o mesmo ocorria em relaao as atividades associacivas ftlantr6picas de cunho religlOso e assistencial erguidas frente ao crescimento da pobreza e da mendicidade As associaltoes de caridade que aumentaram na cidade senshydo muitas orgamzadas por senhoras que coletavam donativos e reparciamshynos aos famintos amoldavam-se ao mundo profano e desviavam-se do senshytido religioso Por um lado adequada ao sentimenta cristao a mendicidade e os pedintes de esmola em portas das igrejas traziam as pessoas mesmo as mais pobres com seus miseros vintenzinhos a ocasiao de beneficiar suas pr6shyprias almas pois por meia da caridade punha-se em pracica 0 evangelho almejando salvar especialmente a S1 mesmo e nem tanto ao estranho necessishytado Par outro 0 beneficio alcamado com a caridade podia restringir-se ao mundo material e nao espiritual como ocorria com Sofia que usou de uma comissao de caridade de senhoras para p6r-se em evidencia e criar vfnculos com pessoas de destaque na sociedade que 1he dessem um empurriio para cima na sua busca de ascensao sociaL -lem disso nesse seculo utilitario e

27

F

pnitico marcado pelo avanlto das forltas de secularizaltao e perda do espirishyto cristao ate mesmo a caridade tornava-se escriturada legalizada regulashymentada (Machado de Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192 1957e190-2 1959d301)

Junto ao povo 0 gosto das procissoes vinha de longe e estava bastante arraigado para os antigos uma tradiltao de infancia costume da primeira metade do seculo do tempo do rei e suas predileltoes confesshysadas por todas as yelhas carolices as quais seus contemporaneos choravam e pediam pelos tempos dos oratorios de pedta dos tetltos cantados das procissoes bem ordenadas das ladainhas atras do viatico das boas festas e dos bons trades da verdadeita fe e dos vetdadeiros filhos de Deus iias ja em 1865 essas ptocissoes classicas podiam dar ideia de tudo menos de urn culto serio e elevado pois ao lado dos anjinhos e andores floridos os homens iam em filas uns com tochas na mao outros com vara do palio disputadas pelos fieis pais dava uma distincao especial a quem a trazia Alguns iam dizendo pilh6rias aesquerda e adireita enquanto os assistentes comentavam as gracas jUTenis do anjo cantor que era sempre mQ(a feita Desta forma Machado julgava que essas procissoes e semelhantes praticas eram ridiculas nao podendo subsistir numa sociedade verdadeiramente telishygiosa pois uma folia mesmo para os mais sinceramente religiosos com as quais os sacerdotes serios nao deveriam conservarem cumplices( Mashychado de Assis 1958a101-2 Grifo meu)

Existia ainda a luta tradicional travada entre os diferentes templos com 0 unico objeto de primar uns sobre os outros no luxo das suas procisshysoes respectivas sendo essa luta por demais profana e manifestava-se por uma aculTIulacao de prata e ouro nos andores no mais numeroso concurso de irmaos e de anjinhos e outras coisas iguais Vivia-se 0 sagrado melo afolia comentari~s dos assistentes pilh6rias disputas e abusca do brilho e da distimao do que Machado duvidava muito que a divinshydade visse com bons olhos estes conflitos de primazia(Machado de Assis 1958alOl-2 1957c98-100 Grifo meu) No entanto se as procissoes eram filhas da tradiltao em 1865 algumas delas ja haviam sido suprimidas pelo process a de modernizaltao da igreja e para 0 cronista tudo fazia crer que as restantes tamb6m seriam Nesse sentido em 1893 avalia com certa melanshycalia a diferema entre uma procissao de Sao Sebastiao daquele ana e as de outrora dizendo Ordem numero pompa tudo 0 que havia quando era () menino tudo desapareceu(Machado de Assis 1958a101 1959a220)

Porem se 0 sagrado e 0 profano apresentavam-se quase sempre de maos dadas inclusive na esfera das praticas catolicas oficiais essa interpenetraltao tinha certos limites Em 1896 uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair em desftle por se denominar N ossa Senhora da Conceiltao De acordo com 0

cronista esse titulo pareCla esquisito mas se a intenltao eque salva a sociedashy

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OPSIS - Revista do

de vai para 0 ceu pais os autores da ideia tQS da Virgem e nao [tinham] 0 carnaval por desse poslcionamento 0 folhetinista acabou enfatizando que se tal socledade tinha igual g adotar denominaltao adequada e que na( Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos et gente mas sofriam tambem a altao dos novo se Eram de maior destaque a festa da Glol Reis de Sao Sebastiao do Espirito Santos e ( tinham lugar tanto a religiao com missa que F Deum quanto 0 recreio com fogos de artifi prendas Embora houvesse entre elas algum folhetinisra ao cabo de tudo [era] a mesml sao 0 que 0 leTaTa a lascimar que 0 fogo de da Penha [1eYavam] mats fi6is que 0 objeto es certo que todo caminho leva 11 Roma nao 0 i Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que t~

como tinham acabado muitas outras devoS meio recreativas Para ele 0 elemento estr mes com muita patinacao muita opereta m nossa populacao a rusticidade e 0 encanto d Assis 1958b121 1956b207 19S5g410 1955d147-8 Grifo meu)

~ festa do Espirito Santo igualmel contista em A Parasita Azul que transeOl Luzia Goias ao falar desse festejo aponta q que de todo se nao apagou 0 gosto dessas eras No entanto na Corte ainda persistia ( barracas Nao era diferente com a Festa de R 1864 Machado falava que a festa de S Joao tI fogueiras e baloes proibidos por postura mu obstante 0 ceticismo do tempo muita e m corter primelro que 0 povo [perdesse] 0

foguetear os tres santos em junho Porem ja Joao e tambern de Reis Sobre a ultima com popular perdurava no interior pois na c

anos e brotado em sua cinzas a arvore de t essas lTIudancas De Assis lamenta que os al ha nela de puetil para Sf) the deixar 0 que ha quem nem 15S0 fica esse perde 0 melhor ( sirnplorio e velho de noites abencoadas

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das for~as de secularizacao e perda do espirishytornava-se escriturada legalizada regulashy

Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192

das procissoes vinha de longe e estava os antigos uma tradi~ao de inGneia costume do tempo do rei e suas predileltoes confesshy

as quais seus contemporaneos choravam orat6rios de pedra dos terltos cantados das

ladainhas awis do yiatico das boas festas e fe e dos verdadeiros ftlhos de Deus 1as ja

sslcas podiam dar ideia de tudo menos de um ao lado dos anjinhos e andores floridos os

tochas na mao outros com vara do palio uma distin~ao especial a quem a trazia

aesquerda e adireita enquanto os assistentes do anjo cantor que era sempre molta feita que essas prociss()es e semelhantes pniticas

subsistir numa sociedade erdadeiramenterelishypara os mais sinceramente religiosos com as

nao deyeriam conservarem cumplices( 11ashyGrifo meu)

ttadlC1011al travada entre os diferentes templos uns sabre os outros no luxo das suas procisshy

luta por demais profana e manifestava-se e ouro nos andores no mais numeroso

e outras coisas iguais Viyia-se 0 sagrado dos assistentes pilherias disputas e abusca do que Machado duyidava muito que a divinshy

conflitos de primazia(Machado de Assis Grifo meu) No entanto se as procissoes eram

delas ja haviam sido suprimidas peIo igreja e para 0 cronista tudo fazia crer (lue as

sentido em 1893 avalia com certa melanshy)rOClssao de Sao Sebastiio daquele ana e as de nUmero pompa tudo 0 que havia quando era

(Machado de 1958a 101 1959a220) eo profano apresentavam-se quase sempre de das pciricas cat6licas oficiais essa interpenetraltao uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair

Senhora da Conceiltao De acordo com 0 mas se a inten~ao e que salva a sociedashy

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

de vai para 0 ceu pais as autores da ideia [eram] com certeza fieis deyoshytos da Virgem e nao [tinham] 0 caman por obra do diabo Porem apesar desse posieionamento 0 folhetinista acabou por concordar com a proibi~ao enfatizando que se tal soeiedade tinha igual gosto as ideias profanas deveria ado tar denominacao adequada e que nao faltam titulos (1vIachado de Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos eram populares e reuniam muita gente mas sofriam tambem a a~ao dos novos tempos e perdiam seu interesshyse Eram de maior destaque a Festa da Gloria da Penha da Conceiltao de Reis de Sao Sebastiiio do Espirito Santos e de Sao Benedito Em tais festas tinham lugar tanto a religiao com missa que poderia ser cantada e ate um TeshyDeum quanto 0 recreio com fogos de artificio barracas corretos leilao de prendas Embora houvesse entre elas algumas diferenltas de acordo com 0

folhetinista ao cabo de tudo [era] a mesma alcgria e a mesmlssima divershysao 0 que 0 leYaa a lastimar que 0 fogo de artificio da Gkma e 0 garrafao cia Penha ~evayam] mais fieis que 0 objeto essencial da festiyidade POlS se e certo que todo caminho leva aRoma nao a e que todo caminho lea ao ceu Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que talvez essa Festa tin~sse findado como tinham acabado muitas outras devoltoes populare~ melO religlOsas meio recreatiYas Para 0 elemento estrangeiro transformou os costushymes com muita muita opereta muita COlsa peregnna que tirou it nossa populaltao a rusticidade e 0 encanto de outros tempos(~1achado de Assis 1958b121 1956b207 1 10 1959c225 103 1957c77 1955d147-8 Grifo meu)

A Festa do Espirito Santo igualmente desaparecia e em 1870 0 contista em A Parasita Azul que transcorre por olta de 1850 em Santa Luzia GOlaS ao falar desse aponta que vao rareando os lugares em que de todo se nao apagou 0 gosto dessas festas classicas resto de outras eras No entanto na Corte ainda persistia 0 habito de muito irem ver suas barracas Nao era diferente com a Festa de Reis e dos santos juninos Se em 1864 Machado falaya que a Festa de S Joao tomaya-se falsificada sem fogos fogueiras e baloes proibidos por postura municipal em 1878 dizla que nao obstante a cetiClsmo do tempo muita e muita dezena de anos n1aia] de correr primeiro que 0 povo [perdesse] os seus antigo amores como foguetear os tres santos em junho Porem ja em 1894 trata da morte de S Joao e tambem de Reis Sobre a ultima comenta que nao sabia se essa festa popular perdurava no interior pois na capital tinha morrido ha muitos anos e brotado em sua cinzas a arvore de Natal vinda da Europa Frente a essas mudanltas De Assis lamenta que os anos que passam tiram afe a que ha ncla de pueril para so Ihe deixar 0 que ha serio Para de triste daqucle a quem nem iS50 fica esse perde 0 melhor das recordaltoes de um tempo simpl6rio e velho de noites abenltoadas em que as crendices sas abrem

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todas as vdasAs consultas as sortes as ovos guardados em agua e outras sublimes ridicularias as quais via com respeito com simpatia e se alguma coisa a molestaa era por nao as saber ja praticar( lvlachado de Assis 1957e62 1955f46 1955a318 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241 1959b13-4 123-4)

Ifas se na cidade 0 vento dos tempos desfazia em lufadas de tuGo essas praticas populares anrigas arraigadas no imaginario coletivo no interior de era brisa igual e mansa que tudo esfolhava e dispersava devagar 8Sim em 1864 0 cronista tratou de urn morador de Viana descobridor de uma imagem de Santa Teresa que lacrimejava e supondo ser milagre pos em alorolto as credulos vianenses considerando procedente realizar exame do fato por uma comissao de eclesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao das festas do Born Jesus em Pirapora que reuniam anualmente urn numero extraordinario e crescente de romeiros calculados naquele ana em 8000 pessoas J a em 1873 escreyeu sabre uma senhora que enlouqueceu quando depois de longa seca pediu chua enterrando uma imagem de Santo Antonio no rnato e alcanltou 0 pedido Porem como a chuva abundante nao cessava ao contrario 0 aguaceiro ia a mais matando inclusive animais yoltou ao buraco por acreditar que a preclpitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas nao 0 encontrou entrando a supor que os males derivavam da altao que praticara 0 cronista comentando 0 fato de Santo Anttmio gozar entre seus deyotos do exotico privilegio de nao conceder nenhuma gralta senao enterrado ou metido num poco so operando milagres a troco da liberdade consideraya que uma senhora religtosa fizera-se supersticiosa e que quando a fe chega a este ponto esta )a muito alem das fronteiras da superstiltao deixando seu praticante sem nenhuma das grandes consolaltoes da fe trazendo-lhc 0 desespero e a loucura Ainda nesse universo ja em 1876 trata da existenCla de duas mulheres santas e milagrosas uma que apareceu na Bahia em torno da qual formou romarias dos seus devotos e outra velha milagrosa que diziam curar doewas incuraveis com ervas misteriosas(Machado de Assis 1955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2)

Desta maneira as esferas do sagrado e do profano da fe da devoltao e do recreio estaam bastante imbricadas no que concerne as praticas dos catolicos havendo uma circulaltao e influencia reciproca entre as instancias das cerimonias e rituais oficiais e sua recnacao pelos leigos entre 0 divino e a folia entre 0 cuita e a festa Os momentos e lugares em que essas aspiracoes se concretizavam em praticas sociais serviam tambem para promover a interacao dos indivlduos lvlas deixando esse sobrevoo sobre a sociedade carioca e focalizando n0550 olhar num segmento especifico desta como na comunidade negra podemos perceber outros aspectos da cultura religiosa carioca Dessa cultura hibrida amalgamada no territorio fluminense observamos primeiramente as pratica ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revi$fa do

as quais de forma geral sao vistos como

respeitados N esse meio social existiam aqudes in

uma preta y~lha do conto 0 Escrivao Co ajoe1hada diante do altar de S Bernardo co do pedic-lhe alguma coisa se nao eque lhe recebido ate que acabou beijando a cruz tou-se e saiu Outros aparecem como detel onais e seus transmissores sendo rezadore senhores ou sabedores de promessas celebre sas ou subir de joelhos a ladeira da Glc Santa(Machado de Assis 19551229-30 1 esta presente no uniYerso das atividades cal do preto elho de Casa Velha que emb africanas era sineiro mas nao fazla mats q missa aos domingos 19ualmente nesse 0

sineiro da Gloria (lue de escrao ficou li~ seculo aquda torre regendo a paroquia e c( picava por casamentos nascimentos batiza amarela 0 calera-morbus os partidos qUI deles ~ pela guerra do Paraguai pelos mo livre das escravas a aboliltao a Republica plt se Tudo conforme a ordem(JIachado de

Outras Ofertas e tensoes Feiti~

Espiritism

Ja outros negros vclhos aparecem mais circunscritas senda depositarios de p( varios elementos que expressam traltas cultu canas 0 negros produziram com suas ling des cantos e batuques uma ruptura com recorrerem mesmo que na clandestinidade uma cultura negra brasileira a qual recorriar contexto embora inseridos em universo simi de crencas praticas e -isoes de mundo al~ tica usada no cotidiano por bran cos negro cam associalt6es ao cultos africanos nos ql parentesco permeiam os rdacionamentos s mente ligados Desta forma alguns pretos sendo vistos como bonciosos humildes g~ Assis 1955d392 1957c279)

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s sortes os ovos guardados em agua e outras

via com respeito com simpatia e se alguma ao as saber ja praticar( Machado de Assis 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241

vento dos tempos desfazia em lufadas de anrigas arraigadas no imaginario coletivo no nsa que tudo esfolhava e dispersava devagar

tou de urn marador de Viana deseobridor de que lacrimejava e supondo ser milagre pas ses considerando procedente realizar exame clesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao apora que reuniam anuahnente urn numero

romeiros calculados naquele ana em 8000 sobre uma senhora que enlouqueceu quando a enterrando uma imagem de Santo Antonio

Porem como a chuva abundante nao cessava mais matando inclusiye animais yoltou ao cipitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas supor que os males derivavam da altao que do 0 fa to de Santo Antonio gozar entre seus 0 de nao conceder nenhuma gralta senao s6 operando milagres a troeo da liberdade

giosa fizera-se supersticiosa e que quando muito alem das fronteiras da superstiltao nenhuma das grandes consolaltoes da fe loucura Ainda nesse universo ja em 1876 eres santas e milagrosas uma que apareceu na romarias dos seus devotos e outra velha

urar doenltas incuraveis com ervas 955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2) s do sagrado e do profano da fe da devoltao

bricadas no que concerne as praticas dos o e influencia redproca entre as ins tlmcias das a recrialtao pelas leigos entre 0 div1110 e a

omentos e lugares em que essas aspiraltoes sociais serviam tambem para promQyer a

deixando esse sobrevoo sobre a sociedade num segmento espedfico desta como na

ceber outros aspectos da cultura religiosa a amalgamada no territorio flumlnense aticas ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revista do Niese V2 N J JanJun 2002

os quais de forma geral sao vistos como conhecedores dela e por 1880 re8peitados

Nesse meio social ex1stiam aqueles inseridos na tradiltao catolica como uma preta v~lha do conto 0 Escrivao Coimbra que Camilo viu na igreja ajoelhada diante do altar de S Bernardo com urn rosario na mao parecenshydo pedir-lhe alguma coisa se nao e que the pagava em oraltoes 0 beneficio ia recebido ate que acabou beijando a cruz do rosario persignou-se levanshytou-se e saiu Outros aparecem como detentores de conhecimentos tradicishyonais e seus transmissores sendo rezadores que pediam guard a para seus senhores ou sabedores de promessas celebres como mandar dizer cern misshysas au subir de joelhos a ladeira da Gloria para ouvir uma ir a Terra Santa(Machado de Assis 19551229-30 1957c71177279) 0 negro idoso esta presente no universo das atividades catolicas como sineiros a exemplo do preto velho de Casa Velha que embora muito atrelado as tradiltoes africanas era sineiro mas nao fazia mais que tocar 0 sino da capela para a missa aos domingos Igualmente nesse ofieio IvIachado destaca Joao 0 sineiro da Gloria que de escravo ficou livre governando por quase meio seculo aquela torre regendo a par6quia e contemplando 0 mundo de 11 Reshypicava por casamentos nascimentos batizados mortes Dobrava pela febre amarela 0 colera-morbus os partidos que subiam ou cafam sem saber deles _ pela guerra do Paraguai pelos mortos e pelas vitorias peIo ventre livre das escravas a aboliltao a Republica pelo imperio_ se 0 imperio tornasshyse Tudo con[orme a ordem(tviachado de -5S1S 1956b193-4 1957b431-3)

Outras Ofertas e tensoes Feiti~arias Adivinha~oes e

Espiritismo

Ja outtos negros velhos aparecem atrelados as tradiltoes ancestrais mals circunscritas sendo depositarios de poderes de proteltao e guardioes de varios elementos que expressam traltos cultorals singulares das socledades afrishycanas 0 negtos produziram com suas linguas danltas folguedos sonoridashydes cantos e batoques uma ruptura com a -isao de mundo ocidental ao recorrerem mesmo que na clandestinidade a seus ritos seus deuses criando uma cultura negra brasileira a qual reeorriam alguns de seus senhores Em tal contexto embora insetidos em universo simb6lico marcado pda multiplicidade de crenltas praticas e visoes de mundo alguns aspectos da expressao lingiiisshyrica usada no cotidiano por brancos negros e mestiltos livres e cativos indishycam associaltoes ao cuhos africanos nos quais a ideia de familia e de laltos de parentesco permeiam os relacionamentos socialS e religiosos que sao intimashymente ligados Desta forma alguns pretos velhos eram ehamados de Pai sendo vistos como bondosos humildes generosos e paternais( Machado de Assis 1955d392 1957c279)

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Outros pretos velhos de modo mais dire to traziam conhecimentos ancestrais produzindo rituals que funcionavam como urn feitiqo protetor as vezes acendendo velas tocando marimba cantarolando em alguns instanshytes baixinho umas ozes de Africa cantilenas alegres guerreiras entusiasshytas em outros cantigas falando de santo de trabalhar de comer 0

que remete as praticas das oferendas e ao principio do candomble de existenshycia de forqas vitais e sagradas que perpassam todos os aspectos da vida mashyterial e cotidiana como as tarefas as formas hidicas como a musica a danqa o canto 0 gesto Assim tanto Raimundo de laid Garcia empertigava 0

corpo dando aos quadris e ao tronco 0 movimento de suas danqas africashynas quanto 0 peeto velho de Casa Velha que canta-a Calumga mussanga monandengue dando ao corpo umas sacudidelas para acompanhar a toshyada africana alem de recorrer as tradiltoes orais ao contar historias muito compridas e sem sentido algum para os brancos pOlS forjadas e inseridas noutro universo simbolico da maioria deles ignorado Desta forma essas manifestaltoes mantinham uma memoria reveladora de matrizes africanas que era alimentada pela danqa pela paIavra pelos gestos ou pelos objetos e oushytros vekulos de expressao e comunicaqao(Machado de Assis 1955h1114 1956b193-4 1957b432-3)

No entanto outros aspectos expressam ainda a religiosidade no universo de uma cultura afro-amerindio-brasileira na obra machadiana como a feitiqaria Num momento em que em nome da civilizaltao da ciencia e da razao os intelectuais e as autoridades medicas policicas e policiais voltaramshyse contra praticas ariadas denominadas ~fnericamente de feitisaria lIachashydo abordou essa questao de modo bastante proprio Nao associou tais pratishyeas ao universo socio-cultural espedflco dos negros como faziam outros jorshynalistas e tampouco os apreciou a priori de modo negativo e condenatorio Contrap6s-se ao conteudo de muitas notkias divulgadas na imprensa nas quais 0 negro era 0 bruxeiro 0 feiticeiro violento e barbaro com a figura de Raimundo que produzia urn feitiqo protetor a seu senhor afastando da imagem do preto que fazia feitico male fico para seus proprietarios(Schwarcz 1987125-8 Machado de Assis 1955h10)

Ao tratar da batalha contra os antigos habitos religiosos tradicionais da gentes em 1893 0 cronista anunciava ter medo do c6digo penal de 1890 no qual havia urn artigo que castiga duramente as pessoas que advinham 0

futuro tao duramente como as que aplicam drogas para excitar odio ou amor para fascinar e subjugar a credulidade publica Com base nesse as autoridades recolhiam adetenqao curandeiros e feiticeiras levan do as ferrashymentas desses ofieios ( ) incluidos no e6digo como delitos como aves mortas pernas de ceroula saquinhos com feijao arroz farinha sal altucar canjica penas e cabeltas de frangos usados na busca de estabelecer uma alianshyca com 0 sobrenatural a partir da aciio de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do

vivos deuses e homens(lIachado de Assis Assis a feitiqaria era alga natural do homen tivas alem de ser urn ofkio que garancia r fur tar e matar para sobreviver e infring1r 0

que nao falam de feitiltaria mas de furto doente acreditar na feiticaria e por julgar q soais que determinam tudo neste mundo I

acudir a feitiltaria considerando emao inee go penal como deli to c prender senhoras s com os seus olhos e com seus demais obj 1959b308-11 )

fachado rarefez 0 clima hostil de dos seus agentes nao as associando aos neg te que esse elbo costume de buscar nas fei ros quase sempre mesciltos _caboclos e eab agruras nao so se restringia ao pon) Muita dade recorriam aos adiyinhos e curandeiros erva como por meio dc rezas 0 eurand mazelas que devastaam a cidade como eOolltao de defuntos de espiritos difere de ler como as adivinhas mandando e curandeiro Tobias falava em prosa scm 0

cas ate ser preso com suag bugigangas e galo pes de galinha secas medalhas pohcoJ de raia incluidos no aparato instrumental sis 1956c248-9 267-8 19S5d426-7)

Buscar os adivinhos e feiciceiros era ricas ainda que nesta muito preconceitos vando muitas ezes a consultas escondidas redor dc uma caboc1a muito conhecida do adivinha era grande e segundo 0 narrador da sociedade falavam dela a serio e havia ta um Juiz municipal cuja nomeaqao foi ar era muito falada na cidade e reinava Ii n(

merosa que vinha de muito mcses scndo queza da adivinha Toda a gcnte falan e assunto da cidade atribuiam-lhe um pode sortes achados casamento Afirmavam e 0 que vifia a scr Para 0 poo parccia muitas as noticias sobre seus feitos e ha-ia ~ soas que tinham perdido e achado joias e esc ~- polkia mesma quando nao acabaYl1 de

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de modo mais dire to traziam conhecimentos

tronco 0

funcionavam como urn feitio protetor

marimba cantarolando em alguns instanshy cantilenas alegres guerreiras entusiasshy

de santo de trabalhar de comer 0

e ao principio do candomble de existenshyperpassam todos os aspectos da vida mashy

as formas ludicas como a musica a danca Raimundo de laid Garcia empertigava 0

movimento de suas dancas africashyVelha que cantava Calumga ~ussanga umas sacudidelas para acompanhar a to-

as tradicoes orais ao contar historias muito para os brancos pois foqadas e inseridas

maioria deles ignorado Desta forma essas memoria reveladora de matrizes africanas que palavra pelos gestos ou pelos objetos e oushy

~uluIlltaya()(ilachado de Assis 1955h1114

expressam ainda a religiosidade no merind()-trastllra na obra machadiana como

que em nome da ciyilizacao da ciencia e da medicas politicas e policiais oltaramshy

1955hlO)

loolinadls genericamente de feiticariatvfachashybastante proprio Nao associou tais pratishy

_middot~neIflr dos negros como faziam outros jorshy

apriori de modo negativo e condenatorio muitas noticias divulgadas na imprensa nas o feiticeiro violemo e barbaro com a figura

feitico protetor a seu senhor afastando da maletico para seus proprietarios(Schwarcz

os antigos habitos religiosos tradicionais anunciava ter medo do codigo penal de 1890

duramente as pessoas que advinham 0

as que aplicam drogas para excitar odio ou a credulidade publica Com base nesse as curandeiros e feiticeiras levando as ferrashy

lCitllid()s no codigo como deliros como aves

com feijao arroz fartnha sal acucar usados na busca de estabelecer uma alianshy

da alao de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

vivos deuses e homens(Machado de Assis 1959a288 1959b308) Para De Assis a feiticaria era algo natural do homem vista em varias tribos primishytivas alemde ser urn oficio que garantia renda a muitos impedindo-os de furtar e matar para sobreviver e infringir os mandamentos da lei de Deus que nao falam de feiticaria mas de furto Ironicamente diz que por estar

doente acreditar na feiticaria e por julgar que sao sempre os l11teresses pesshysoals que determinam tudo neste mundo estava com grandes desejos de acudir afeiticaria considerando entao incorreto incluir a feiticaria no codishygo penal como delito e prender senhoras so porque fecham 0 corpo alhelO com os seus olhos e com seus demais objetos de culto(Machado de ASS1S

195308-11) Machado rarefez 0 clima hostil de desqualificacao dessas praticas e

dos seus agentes nao as associando aos negros e enfatizando incansavelmenshyte que esse velho costume de buscar nas feiticeiras adivinhas e curandeishy

ros quase sempre mesticos _caboclos e caboclas _ auxilio as imluietacoes e agruras nao s6 se restringia ao povo Tfuitas pessoas de posiltao na SOC1eshydade recorriam aos adi-inhos e curandeiros e os ultimos curavam tanto com ervas como por meio de rezas 0 curandeiro Nascimento curaa muitas mazelas que devastayam a cidade como barriga dagua com passes de evocacao de defuntos de espiritos diferentes ou arrancava dentes alem de Ie~ como as adivinhas mandando com tais e tais palaTinhas Ja 0

curandeiro Tobias falava em prosa sem 0 saber curaa em Hnguas classishycas ate ser preso com suas bugigangas e drogas tais como esporoes de galo pes de galinha secos medalhas polvora e ate urn chicote feito de rabo de raia inc1uidos no aparato instJumental de seus ritualS (ilachado de Asshysis 1956c248-9 267-8 1955d426-7)

Buscar os adivinhos e feiticeiros era costume presente entre as classes ricas ainda que nestas muitos preconceitos contra tais praticas existissem leshyvan do muitas vezes a consultas escondidas como ocorre em Esau e Jaco ao redor de uma cabocla muito conhecida do Ilorro do Castelo lt fama des sa adivinha era grande e segundo 0 narrador muira gente boa Ja ia pessoas da sociedade fala am dela a serio e havia um caso recente de pessoa dis tinshy

ta urn juiz municipal cuja nomeacao foi anul1ciada pela cabocla A caboc1a era muito falada na cidade e reinava la no morro possuindo freguesia nushymerosa que vtnha de muttos meses sendo sinal certo da videncia e da franshyqueza da adivinha Toda a gente fahlYa entao da cabocla do Castelo era 0

assunto da cidade atribuiam-lhe um poder tntlnito uma serie de milagres sortes achados casamentos AfirmaalU que cia adivinhaya tudo 0 que era eo que iria a ser Para 0 povo parecia que era mandada de Deus Eram muitas as noticias sobte seus feiros e hayia gente que dizla que conheC1a pe5shysoas que tinham perdido e achado joias e escraos De acordo com 0 narrador A policia mesma quando nao acabaa de apanhar um criminoso ia ao Casshy

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tela falar acabocla e des cia sabendo por i5S0 eque nao a botava para fora como os invejasos andavam a pedir A caboda explicava sonhos e pensashymentos curava quebranto(Machado de Assis 1959d43-4)

Segundo Aires tal costume era velho e velhissimo e no interior da casa simples nao havia nada que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshynhum petrecho simbalico nenhum bicho empalhado esqueleto ou desenho de aleiJoes Quando muito urn registro da [festa de Nossa senhora da ] Conshy

colado a parede podia lembrar misterio mas nao metia medo A cabocla e descrita com simpatia e 0 ritual sem afetacao Era uma criaturinha leve e breve ( ) corpo airoso com urn raminho de arruda nos cabelos 0

que ja the dava urn certo ar de sacerdotisa embora seu misterio estivesse mesmo era nos olhos agudos e compridos que entravam peIo consulente revoh-endo-Ihe 0 coracao ao tempo que interrogava Em transe de posse de retratos e cabelos de alguem ausente com urn cigarro acesso ao som de uma viola e de cantigas do sertao do Norte murmuradas por urn velho caboclo entrava a dizer sobre as coisas futuras ate que por fun 0 fregues se alegre e rico tirava uma nota de cinquenta mil-reis quando 0 preco do costume era cinco ezes menos arrecadaYa seus objetos e saia (Machado de Assis 1959d 7shy16) Essa cabocla com origem no norte do pais assim como outros caboclos curandeiros perseguidos pela policia remete apresenca dos caboclos no unishyverso das pniticas religiosas brasileiras que sendo figura mestica esta vinculashyda a nossos ancestrais nativos os indios donos da terra e ligados anatureza no tradicao dos cultos afro-brasileiros

No en tanto no campo das batalhas religiosas tais praticas tiveram outros opositores tal como os adeptos do nascente espiritismo que contagishyados peIo espirito positivo~cientificista do momenlO na busca de credibilidade ptlblica e de converter fieis incutindo-lhes seus pressupostos diziam possuir doutrina regida por leis cientificas ao querer excluir qualshyquer maculf[ de seita e julgavam-se sabedores das verdadeiras luzes do mundo e de verdades eternas Desta forma um iniciado nessa religiao defendia uma consulta espirita e na~ a caboda do Castelo por mais que ela fosse celebre Recorrer a ela seria imitar as crendices da gente reles e s6 ocorreria ate enquanto a policia nao pusesse cobro ao escandalo J a numa consulta espirita algum espirito podia [dizer] a verdade em vez de uma adivinha de farsa Para urn medium espirita enfiado em larga camisola de seda e usando toda a terminologia espirita assomada de casos fenomeshynos misterios testemunhos atestados verbais e escritos a cabocla devia ser deixada afe das senhoras pois eram delas crencas da meninice(Machado de Assis 1959d79113843-6646770 1957h10-1)

Cabe aqui ressaltar que nesta obra Esau e Jac6 a qual trata desses variados aspectos espirituais acima apontados advindos de tradicoes culturais e religiosas diversas Machado sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religi~

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OPSIS - Revista do

oso expondo a imbricacao das praticas ori catolicismo e 0 confronto com 0 espiritismc bases do que seria posteriormente denomin nomes dados as pessoas podem predestina ligacao entre 0 fato dos filhos do casal Sanl quais a cabocla disse terem brigado no ventr des entre estes porque os dois apostolos do garam assim como Esau e Jaco figuras do brigado por causa da primogenitura

Porem lIachado nilO recorre ao eSI conto Uma visita de Alcibiades 0 desemba S1caO juntamente com Santos aCllna citado essa doutrina propagaya ao ler Plutarco fun litava envoher a imaginaltao numa especie vel as evocacoes mentais transportou-se pa de Alcibiades ate que ao terminar de [umar de subilO pensou qual seria a impressiio daqu ario Desta feita enfatizando (lue era urn 1

podendo mesmo dizer que vlvia cornia dor cafe e esperava morrer na fe de Alan Kard os sistemas sao pura niilidades tinha adota sim sendo espiritista evocou lcibiades a c fez rapido aproximando duas civilizacoes impalpavel e sim urn homem de carne e mente a sua frente entrando a conersar sob o grego empalideceu cambaleou e caiu r desembargador mandou~o para 0 necroteno

o espiritismo sen-iu como assunto nas quais quasc sempre ri brinca e ironiza sc cando as vezes compreende-los por mais laquo

correndo a estrategias comicas Desta forma situacoes nebulosas como uma que exigia p teoria de Newton sugerc consultar 0 propri vez que nao entendia nada de astronomia Er brasileiros acabavam de dar um golpe de m urn medium com fama de ser prodigioso e sileira nomeado uma comissao para estudar nao valia a fama e que os trabalhos ficararr Europa e outro paises mas que 0 problen estao sujeitas a esse eclipses e nao estao Fora i5S0 a Federacao lamentaa que diante mular os fenomenos que obtem nas condie

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_UJUUV por 1SS0 e que nao a botava para fora a pedir A caboda explicava sonhos e pensashy

UVll1Ul1lU de Assis 1959d43-4)

vmiddotOLU1l1C era velho e velhissimo e no interior da que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshy

UUilU bicho empalhado esqueleto ou desenho registro da [Festa de Nossa senhora da 1Conshylembrar misterio mas nao metia medo A eo ritual sem afetas-ao Era uma crtaturinha

com urn raminho de arruda nos cabelos 0

sacerdotisa embora seu misterio estivesse e compridos que entravam pelo consulente

tempo que interrogava Em transe de posse de ausente com urn cigarro aces so ao som de uma do Norte murmuradas por urn velho cabodo

futuras ate que por fim 0 fregues se alegre ~lu-uLa mil-reis quando 0 pres-o do costume era

seus objetos e saia(Machado de Assis 1959d7shyno norte do pais assim como outros cabodos

polleia remete a presens-a dos cabodos no unishyIIJ[l1~JlC1Jl1 que sendo Figura mestis-a esta vlnculashy

os indios donas da terra e ligados anatureza

das batalhas religiosas tais praticas tiveram adeptos do nascente espiritismo que contagishy

__rpntificista do momento na busca de nrprtpr fieis incutindo-Ihes seus pressupostos

por leis cientificas ao querer exduir qualshysabcdorcs das yerdadeiras luzes do

Desta forma urn iniciado nessa religiao

rfu~ ~clt5u-(r(l1H-gn1ru lJ(YL nril ljlft1hgt

seria imitar as crendices da gente reles e so nao pusesse cobro ao esdindalo Ja numa

podia [dizer] a verdade em vez de uma Pltd11lIl espirita enfiado em Iarga camisola de

espirita assomada de fenomeshynauo verbais e escritos a cabocla devia ser

eram delas crenltas da meninice(Machado 770 1957hl0-1)

nesta obra Esau e Jaco a qual trata desses apontados advindos de tradiltoes culturais

sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religishy

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

oso expondo a imbricaltao das praticas origin arias dos amedndios com 0

catohcismo e 0 confronto com 0 espiritismo que amalgamados crtavam as bases do que seria posteriormente denominado de umbanda Aponta que os nomes dados as pessoas podem predestinar seus caminhos ao estabelecer ligaltao entre 0 fato dos filhos do casal Santos chamarem Pedro e Paulo os quais a cabocla disse terem brigado no ventre da mae e indicando as rivalidashydes entre estes porque os dois apostolos do Novo Testamento tam bern brishygaram assim como Esau e Jac6 figuras do Velho Testamento tinham ainda brigado por causa da primogenitura

Porcm Machado nao recorre ao espirttismo apenas nessa obra No conto Uma visita de Alcibades 0 desembargador Alvares que por sua poshysiltao juntamente com Santos acima citado indica 0 meio abastado em que essa doutrina propagaa ao ler Pluta reo fumando um charuto que possibishylitava envolver a imaginas-ao numa especie de nimbo extremamente favorashyvel as evocaltoes mentais transportou-se para a antiga Atenas pois lia a vida de Alcibiades ate que ao terminar de fumar voltou aos tempos modernos e de subito pensou qual seria a impressao daquele ateniense sobre n0550 vestushyano Desta feita enfatizando que era urn tanto espiritista ( ) ate muito podendo mesmo dizer que livia comia dormia passeava conversava bebia cafe e esperava morrer na fe de Alan Kardec pois convencido que todos os sistemas sao pura niilidades tinha adotado 0 mais jovial de todos Asshysim sendo espiritista evocou Alcibiades a comparecer em sua casa e esse 0

fez tapida apraximando duas civilizayoes Mas esse nao era uma sombra impalpavel e sim um homem de carne e ossos que se sentou benevalashymente a sua frente entrando a conversar sobre 0 assunto de interesse ate que o grego empalideceu cambaleou e caiu no chao Dian te do cadaver a desembargador mandou-o para 0 necroterio(Machado de Assis 1956a203-7)

o espiritismo serviu como assunto em varias cronicas machadianas

nas qua~s quasc selnpre ri brinca e lroniza seus enunciados e principios busshycando as vezes compreende-Ios por mais estranheza que provocassem reshyoottendo a estrateglaS comicas Desta forma ha momentos em que diante de situa~oes nebulosas como uma que exigia para sua solus-ao conheCImento da teoria de Newton sugere consultar 0 proprio por meio do espiritismo uma vez ~ue nao entendia nada de astronomia Em outro comenta que os espiritas brasilerros acabavam de dar um golpe de mestre quando apareceu na cidade ~medium com fama de ser prodigioso e tendo a FederaS-ao Espirita Brashysiletra nomeado uma comissao para estudar os fenomenos concluiu que de nao valia a fama e que as trabalhos ficatam abaixo do que se conseguia na Eur~pa e ~utros paises mas que 0 problema estava nas mediunidades que estao Su)eHas a esses eclipses e nao estao senrilmente anossa dispasis-ao Fora 1550 a Federaltao lamentava que diante de tudo a medium huscasse 5ishymular os fenomenos que obtem nas condis-oes normais Segundo Machashy

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do chistosamente 0 medium nao s6 foi ( ) apenas mmtmum mas ate procurou embasar a Federasao(lvlachado de Assis 1958b177 1956c123)

As estrategtas e argumentos usados pelos propagadores da nova doushytrina geralmente expostos nas conferencias promovidas pela Federaltao ou publicados na Uniao Espirita na busca de adeptos e de convemles tambem nao escaparam aeritica machadiana principalmente devido a sua indisposisao a tudo que se propagava como sendo verdade unica e absoluta levando-o a destilar sua eostumeira ironia em varios eseritos sobre essa doutrina e suas praticas Dentre eles destaeamos a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima verdadeira e definitiva doutrina e que substituiria todas as religioes do passashydo 0 eronista reeorre sempre a essa proposiltao quando depara com fatos obscuros e irnpossiveis de destrinltar ocorridos na cidade buscando solucionashylos usando de carnavalizaltoes que acabam por ridieulizar toda e qualquer noltao de -erdade ou de tal pretensao Isso aconteee nao s6 ao que diz respeishyto a essa doutrina A artimanha para conquistar simpatias e fieis de divulgar Iista de pessoas eminentes da Europa que acreditavam no espiritismo foi por ele tambern censurada pois no seu dizer tudo ocorria de forma como se as pessoas devessem crer por crer em tudo aquilo que na Europa e acreditado(~1achado de Assis 1955b297-9 195188)

Ao redor do principio da encarnaltao e reencarnaltao Machado fez yarias elucubraltoes supondo situaltoes tratadas de forma humoristica as quais contribuiam para difundir alguns de seus principios Assim ao vislumbrar uma certa promiscuidade geral dos desencarnados divulga 0 principio de que 0 espirito pode reencarnar inclusive na mesma familia sendo viivel que um homem pudesse ter uma ftlha depois morrer e voltar filho dela ou urn menino voltar filho de urn prin10 Se em alguns momentos pesa a mao contra os espiritistas dizendo que 0 espiritismo nao e menos curanderia que os outros curandeiros e que se fosse legislador mandava fechar todas as igrejas des sa religiao em outros em tom ate didatico enfatiza que 0 princishypio espirita e fundado no progresso e a leI e nascer morrer tornar a nascer e renascer ainda progredir sempre sendo que 0 renascimento epara meshylhor Cada espirita em se desencarnando vai para os mundos superiores Reflete ainda sobre a distancia entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo que 0 principio espirita nao e 0 mesmo da transmigrasao em que as aIm as vao para os corpos dos animalS mas fundado no progresso(Machado de Assis195100-2188)

Acreditando ser representativo do pensamento ultimo de Machado a respeito do espiritismo em 1895 ele defende seu exercicio pois a Constituishyltao estabclece 0 direito de liberdade religiosa No seu dizer 0 espiritismo e uma religiao que ele nao sabia se falsa ou verdadeira embora os espiritas dissessem que verdadeira e unica frente ao que ressaIta que presunltao e agua benta cada um toma a que quer Se verdadeiros ou nao [continual 0

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OPSIS - Revista tiD

fato e que escrevem-se e publicam-se inUn jornais espiritas e no Rio havia uma ou dl acreditara que nao se gasta tanto papel em a palavra que se esta escrevendo e a propria seguinte 1896 comenta (lue ha muito que ( tos escreyem pclos dedos dos vhos e que mundo e neste final de urn grande seculo(1

Desta forma a cultura carioca oitoclt diversas de religiosidade e de expcriencias com 0 divino 0 campo religioso apresent possibilidades variadas de vivenciar a proCl debatem em confronto entre si quanto se a] produzindo formas hibridas e sincreticas de lam os homens a seus deuses com tambem a em parte de seus lasos de sociabilidade

Fontes e Referencias B

BORGES Valdeci Rezende Em busca do 11

Rio de l1achado de Assis Estudos Histor Pesquisa e Documentaltao da Hist6ria Conte Getulio Vargas no 28 p 49-69 2OC) BOCRDIEC Pierre A Economia das TrOt pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Si Paulo Cia Das Letras 1989 ivLCI1ADO DE ASSIS Joaquim r1aria C 10 WMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b _ Cronicas v 2 1955c

Cronicas v 4 1955d

_ Helena 1955e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Historias Romanticas _ 1955g _ laid Garcia 1955h _ Memorial de Aires 19551

Pdginas Recolhidas _ 1955 Reliquias de Casa Velha v 1 _ 195 Contos Esquecidos Rio de Janeiro ClY

_ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Rejlexoes de um Relojoeiro _ A Mao e a Luva Sao Paulo M Jad

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mio s6 foi () apenas minimum mas ate WHltV de Assis 1958b 177 1956c123)

usados pelos propagadores da nova doushyconferencias promovidas pela Fede1aio 01

na busca de adeptos e de conversoes tambem principalmente devido a sua indisposiltilO

sendo verdade unica e absolura levando-o a em vanos escritos sobre essa doutrina e suas

a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima e que substituiria todas as religioes do passashya essa proposicao quando depara com fatos

ocorridos na cidade bus cando soluciomishyque acabam por ridiculizar toda e qualquer

temao Isso acontece nao 56 ao que diz respeishypara conquistar simpatias e fieis de divulgar

Rur(ma que acreditavam no espiritismo foi por seu dizer tudo ocorria de forma C01no se as crer em tudo aquilo que na Europa e 1955b297-9 195188)

da encarnacao e reencarnacao 1Iachado fez Grv~ tratadas de forma humoristica as quais

de seus principios Assim ao vislumbrar dos desencarnados divulga 0 prindpio de

inclusive na mesma familia sendo viavel que depois morrer e voltar filho dela au urn Se em alguns momentos pesa a mao

que 0 espiritismo nao e menos curanderia se Fosse Iegislador mandava fechar todas as em tom ate diampitico enfatiza que 0 princishy

e a lei e nascer morrer tornar a nascer sendo que 0 renascltnento e para meshy

uJ Tal para os mundos superiores entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo omesma da transmigraltao em que as almas

mas fundado no progresso(Machado de

do pensamento ultimo de Machado a ele defende seu exerdcio pois a Constimishy

religiosa No seu dizer 0 espiritismo e se falsa au verdadeira embora os espiritas

frente aa que ressalta que presunltao e quer Se verdadeiros ou nilO [continua] 0

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

fata e que escrevem-se e publicam-se inumeros livros folhetos reistas e jornais espiritas e no Rio havia uma ou duas folhas espirita alem do que acrerutaa que nao se gasta tanto papel em tantas linguas senao crendo que a palavra que se esta escrevendo ea propria verdade Para finalizar no ano seguinte 1896 comenta que hi muito que os espiritas afirmam que os mOfshytos escrevem pelos dedos dos vivos e que para ele tudo e POSSIel neste mundo e neste final de urn grande seculo(Machado de Assis 1957b26274)

Desta forma a cultura carioca oitocentista esta permeada de formas diersas de religiosidade e de experiencias voltadas para a busca de Iigacao com 0 divino 0 campo religioso apresenta-se marcado pela presenca de possibilidades variadas de vlvenciar a procura do sagrado as quais tanto debatem em confronto entre si quanta se aproximam nas pniticas dos tieis produzindo formas hibridas e sincreticas de religiosidade que nao so vincushylam os homens a seus deuses com tambem aos outros homens constitumdo em parte de seus lacos de soclabilidade

FOlltes e Referihlcias Bibliogrtificas

BORGES Valdeci Rezende Em busca do mundo exterior sociabilidade no Rio de Machado de Assis Estudos Historicos Rio de Janeiro Centro de Pesquisa e Documentacao da Historia Contempodmea do Brasil da Fundaltao Getulio Vargas no 28 p 49-69 200l BOURDIEC Pierre A Economia das Trocas Simb6licas Sao Paulo Persshy

pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e hist6ria Sao Paulo Cia Das Letras 1989 MAClMDO DE ASSIS Joaquim Maria Contos Fluminenses v2 Sao PaushyloWMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b Cronicas v 2 1955c

_ Cronicas v 4 19S5d _ Helena _ 19S5e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Hist6rias Romanticas 1955g _ laid Garcia 1955h

Memorial de Aires 1955i _ Pdginas Recolhidas _ 1955j _ ReUquias de Casa Velha v 1 _ 19551 _ Contos Esquecidos Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1956a _ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Reflexoes de um Relojoeiro _ 1956c _ A Mao e a Luva Sao Paulo 11 Jackson inc 1957a

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A Semana v 3 1957b _ Dam Casmurra _ 1957c

Historias Sem Data 1957d

_ Memorias Postumas de Bras Cubas 1957e _ Quincas Borba 1957f

_ Requias de Casa Velha v 2 _ 1957g Varias Historias 1957h

_ Contos e Cronicas Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1958a _ Cronicas de Lelia 1958b _ A Semana v 1 Sao Paulo WMJackson inc 1959a

A Semana v 2 1959b _ Cronicas v 4 1959c _ Esau e Jaco 1959d

SCHv~RCZ Lilia Moritz Retrato em Branco e Negro jornals escravos em Sao Paulo no final do seculo XIX Sao Paulo Cia Das Letras 1987

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OPSIS - Revista do

CINEMA E RELIGI

ResuResumo

Propomos neste texto apre5cntar algushy 1ou

mas reflex6es sobre a ahordagem de ashy quell

lares no cinema presentes em nleu

filmes como E 0 vento levou Blade film~

Runnermiddot 0 Carador de Androides 0 Run

Exorcisca Matrix dentre outros Exor

Atualmentc vivemos em uma 50eiel urn gm-erno baseado na lei e na razao Ne pensar assentam-se nao mais somente nos v bem nos valotes politicos e sociais Disso religiosos cristaos em quase nada influeneiat de fazer visto que Igreja (como instituiltao) tados na lei

Apesar da atual sociedade aparentc s6lida temos que ter em mente que cia so mente ha pouco tempo malS preeisamente e s6 se consolidou a partjr do positivismo vivemos em uma sociedade ainda em form

mente nao influencia tanto a nossa maneir E isto s6 e verdade para as eham2

hoje existem diversas sociedades ditas tee arabes (Irii) 0 Afeganistao onde 0 fundarr em todos os nh-eis

1 Este texto foi prodU7ido a partir do curso ministr e Religiosidadcs com 0 objetivo de apresentar algUi as rcferencias dos filmes analisados 2 Mestre em Historia pcla UFSC Universidade F

Historia da rcdc publica do [stado de Minas Gerai

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c

Page 12: as Bibliogrdficas RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSISstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3224606.pdf · 16 'as Bibliogrdficas mentafao oral e tematica da seca: estu o Federal,

F

pnitico marcado pelo avanlto das forltas de secularizaltao e perda do espirishyto cristao ate mesmo a caridade tornava-se escriturada legalizada regulashymentada (Machado de Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192 1957e190-2 1959d301)

Junto ao povo 0 gosto das procissoes vinha de longe e estava bastante arraigado para os antigos uma tradiltao de infancia costume da primeira metade do seculo do tempo do rei e suas predileltoes confesshysadas por todas as yelhas carolices as quais seus contemporaneos choravam e pediam pelos tempos dos oratorios de pedta dos tetltos cantados das procissoes bem ordenadas das ladainhas atras do viatico das boas festas e dos bons trades da verdadeita fe e dos vetdadeiros filhos de Deus iias ja em 1865 essas ptocissoes classicas podiam dar ideia de tudo menos de urn culto serio e elevado pois ao lado dos anjinhos e andores floridos os homens iam em filas uns com tochas na mao outros com vara do palio disputadas pelos fieis pais dava uma distincao especial a quem a trazia Alguns iam dizendo pilh6rias aesquerda e adireita enquanto os assistentes comentavam as gracas jUTenis do anjo cantor que era sempre mQ(a feita Desta forma Machado julgava que essas procissoes e semelhantes praticas eram ridiculas nao podendo subsistir numa sociedade verdadeiramente telishygiosa pois uma folia mesmo para os mais sinceramente religiosos com as quais os sacerdotes serios nao deveriam conservarem cumplices( Mashychado de Assis 1958a101-2 Grifo meu)

Existia ainda a luta tradicional travada entre os diferentes templos com 0 unico objeto de primar uns sobre os outros no luxo das suas procisshysoes respectivas sendo essa luta por demais profana e manifestava-se por uma aculTIulacao de prata e ouro nos andores no mais numeroso concurso de irmaos e de anjinhos e outras coisas iguais Vivia-se 0 sagrado melo afolia comentari~s dos assistentes pilh6rias disputas e abusca do brilho e da distimao do que Machado duvidava muito que a divinshydade visse com bons olhos estes conflitos de primazia(Machado de Assis 1958alOl-2 1957c98-100 Grifo meu) No entanto se as procissoes eram filhas da tradiltao em 1865 algumas delas ja haviam sido suprimidas pelo process a de modernizaltao da igreja e para 0 cronista tudo fazia crer que as restantes tamb6m seriam Nesse sentido em 1893 avalia com certa melanshycalia a diferema entre uma procissao de Sao Sebastiao daquele ana e as de outrora dizendo Ordem numero pompa tudo 0 que havia quando era () menino tudo desapareceu(Machado de Assis 1958a101 1959a220)

Porem se 0 sagrado e 0 profano apresentavam-se quase sempre de maos dadas inclusive na esfera das praticas catolicas oficiais essa interpenetraltao tinha certos limites Em 1896 uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair em desftle por se denominar N ossa Senhora da Conceiltao De acordo com 0

cronista esse titulo pareCla esquisito mas se a intenltao eque salva a sociedashy

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OPSIS - Revista do

de vai para 0 ceu pais os autores da ideia tQS da Virgem e nao [tinham] 0 carnaval por desse poslcionamento 0 folhetinista acabou enfatizando que se tal socledade tinha igual g adotar denominaltao adequada e que na( Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos et gente mas sofriam tambem a altao dos novo se Eram de maior destaque a festa da Glol Reis de Sao Sebastiao do Espirito Santos e ( tinham lugar tanto a religiao com missa que F Deum quanto 0 recreio com fogos de artifi prendas Embora houvesse entre elas algum folhetinisra ao cabo de tudo [era] a mesml sao 0 que 0 leTaTa a lascimar que 0 fogo de da Penha [1eYavam] mats fi6is que 0 objeto es certo que todo caminho leva 11 Roma nao 0 i Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que t~

como tinham acabado muitas outras devoS meio recreativas Para ele 0 elemento estr mes com muita patinacao muita opereta m nossa populacao a rusticidade e 0 encanto d Assis 1958b121 1956b207 19S5g410 1955d147-8 Grifo meu)

~ festa do Espirito Santo igualmel contista em A Parasita Azul que transeOl Luzia Goias ao falar desse festejo aponta q que de todo se nao apagou 0 gosto dessas eras No entanto na Corte ainda persistia ( barracas Nao era diferente com a Festa de R 1864 Machado falava que a festa de S Joao tI fogueiras e baloes proibidos por postura mu obstante 0 ceticismo do tempo muita e m corter primelro que 0 povo [perdesse] 0

foguetear os tres santos em junho Porem ja Joao e tambern de Reis Sobre a ultima com popular perdurava no interior pois na c

anos e brotado em sua cinzas a arvore de t essas lTIudancas De Assis lamenta que os al ha nela de puetil para Sf) the deixar 0 que ha quem nem 15S0 fica esse perde 0 melhor ( sirnplorio e velho de noites abencoadas

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das for~as de secularizacao e perda do espirishytornava-se escriturada legalizada regulashy

Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192

das procissoes vinha de longe e estava os antigos uma tradi~ao de inGneia costume do tempo do rei e suas predileltoes confesshy

as quais seus contemporaneos choravam orat6rios de pedra dos terltos cantados das

ladainhas awis do yiatico das boas festas e fe e dos verdadeiros ftlhos de Deus 1as ja

sslcas podiam dar ideia de tudo menos de um ao lado dos anjinhos e andores floridos os

tochas na mao outros com vara do palio uma distin~ao especial a quem a trazia

aesquerda e adireita enquanto os assistentes do anjo cantor que era sempre molta feita que essas prociss()es e semelhantes pniticas

subsistir numa sociedade erdadeiramenterelishypara os mais sinceramente religiosos com as

nao deyeriam conservarem cumplices( 11ashyGrifo meu)

ttadlC1011al travada entre os diferentes templos uns sabre os outros no luxo das suas procisshy

luta por demais profana e manifestava-se e ouro nos andores no mais numeroso

e outras coisas iguais Viyia-se 0 sagrado dos assistentes pilherias disputas e abusca do que Machado duyidava muito que a divinshy

conflitos de primazia(Machado de Assis Grifo meu) No entanto se as procissoes eram

delas ja haviam sido suprimidas peIo igreja e para 0 cronista tudo fazia crer (lue as

sentido em 1893 avalia com certa melanshy)rOClssao de Sao Sebastiio daquele ana e as de nUmero pompa tudo 0 que havia quando era

(Machado de 1958a 101 1959a220) eo profano apresentavam-se quase sempre de das pciricas cat6licas oficiais essa interpenetraltao uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair

Senhora da Conceiltao De acordo com 0 mas se a inten~ao e que salva a sociedashy

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

de vai para 0 ceu pais as autores da ideia [eram] com certeza fieis deyoshytos da Virgem e nao [tinham] 0 caman por obra do diabo Porem apesar desse posieionamento 0 folhetinista acabou por concordar com a proibi~ao enfatizando que se tal soeiedade tinha igual gosto as ideias profanas deveria ado tar denominacao adequada e que nao faltam titulos (1vIachado de Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos eram populares e reuniam muita gente mas sofriam tambem a a~ao dos novos tempos e perdiam seu interesshyse Eram de maior destaque a Festa da Gloria da Penha da Conceiltao de Reis de Sao Sebastiiio do Espirito Santos e de Sao Benedito Em tais festas tinham lugar tanto a religiao com missa que poderia ser cantada e ate um TeshyDeum quanto 0 recreio com fogos de artificio barracas corretos leilao de prendas Embora houvesse entre elas algumas diferenltas de acordo com 0

folhetinista ao cabo de tudo [era] a mesma alcgria e a mesmlssima divershysao 0 que 0 leYaa a lastimar que 0 fogo de artificio da Gkma e 0 garrafao cia Penha ~evayam] mais fieis que 0 objeto essencial da festiyidade POlS se e certo que todo caminho leva aRoma nao a e que todo caminho lea ao ceu Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que talvez essa Festa tin~sse findado como tinham acabado muitas outras devoltoes populare~ melO religlOsas meio recreatiYas Para 0 elemento estrangeiro transformou os costushymes com muita muita opereta muita COlsa peregnna que tirou it nossa populaltao a rusticidade e 0 encanto de outros tempos(~1achado de Assis 1958b121 1956b207 1 10 1959c225 103 1957c77 1955d147-8 Grifo meu)

A Festa do Espirito Santo igualmente desaparecia e em 1870 0 contista em A Parasita Azul que transcorre por olta de 1850 em Santa Luzia GOlaS ao falar desse aponta que vao rareando os lugares em que de todo se nao apagou 0 gosto dessas festas classicas resto de outras eras No entanto na Corte ainda persistia 0 habito de muito irem ver suas barracas Nao era diferente com a Festa de Reis e dos santos juninos Se em 1864 Machado falaya que a Festa de S Joao tomaya-se falsificada sem fogos fogueiras e baloes proibidos por postura municipal em 1878 dizla que nao obstante a cetiClsmo do tempo muita e muita dezena de anos n1aia] de correr primeiro que 0 povo [perdesse] os seus antigo amores como foguetear os tres santos em junho Porem ja em 1894 trata da morte de S Joao e tambem de Reis Sobre a ultima comenta que nao sabia se essa festa popular perdurava no interior pois na capital tinha morrido ha muitos anos e brotado em sua cinzas a arvore de Natal vinda da Europa Frente a essas mudanltas De Assis lamenta que os anos que passam tiram afe a que ha ncla de pueril para so Ihe deixar 0 que ha serio Para de triste daqucle a quem nem iS50 fica esse perde 0 melhor das recordaltoes de um tempo simpl6rio e velho de noites abenltoadas em que as crendices sas abrem

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todas as vdasAs consultas as sortes as ovos guardados em agua e outras sublimes ridicularias as quais via com respeito com simpatia e se alguma coisa a molestaa era por nao as saber ja praticar( lvlachado de Assis 1957e62 1955f46 1955a318 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241 1959b13-4 123-4)

Ifas se na cidade 0 vento dos tempos desfazia em lufadas de tuGo essas praticas populares anrigas arraigadas no imaginario coletivo no interior de era brisa igual e mansa que tudo esfolhava e dispersava devagar 8Sim em 1864 0 cronista tratou de urn morador de Viana descobridor de uma imagem de Santa Teresa que lacrimejava e supondo ser milagre pos em alorolto as credulos vianenses considerando procedente realizar exame do fato por uma comissao de eclesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao das festas do Born Jesus em Pirapora que reuniam anualmente urn numero extraordinario e crescente de romeiros calculados naquele ana em 8000 pessoas J a em 1873 escreyeu sabre uma senhora que enlouqueceu quando depois de longa seca pediu chua enterrando uma imagem de Santo Antonio no rnato e alcanltou 0 pedido Porem como a chuva abundante nao cessava ao contrario 0 aguaceiro ia a mais matando inclusive animais yoltou ao buraco por acreditar que a preclpitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas nao 0 encontrou entrando a supor que os males derivavam da altao que praticara 0 cronista comentando 0 fato de Santo Anttmio gozar entre seus deyotos do exotico privilegio de nao conceder nenhuma gralta senao enterrado ou metido num poco so operando milagres a troco da liberdade consideraya que uma senhora religtosa fizera-se supersticiosa e que quando a fe chega a este ponto esta )a muito alem das fronteiras da superstiltao deixando seu praticante sem nenhuma das grandes consolaltoes da fe trazendo-lhc 0 desespero e a loucura Ainda nesse universo ja em 1876 trata da existenCla de duas mulheres santas e milagrosas uma que apareceu na Bahia em torno da qual formou romarias dos seus devotos e outra velha milagrosa que diziam curar doewas incuraveis com ervas misteriosas(Machado de Assis 1955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2)

Desta maneira as esferas do sagrado e do profano da fe da devoltao e do recreio estaam bastante imbricadas no que concerne as praticas dos catolicos havendo uma circulaltao e influencia reciproca entre as instancias das cerimonias e rituais oficiais e sua recnacao pelos leigos entre 0 divino e a folia entre 0 cuita e a festa Os momentos e lugares em que essas aspiracoes se concretizavam em praticas sociais serviam tambem para promover a interacao dos indivlduos lvlas deixando esse sobrevoo sobre a sociedade carioca e focalizando n0550 olhar num segmento especifico desta como na comunidade negra podemos perceber outros aspectos da cultura religiosa carioca Dessa cultura hibrida amalgamada no territorio fluminense observamos primeiramente as pratica ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revi$fa do

as quais de forma geral sao vistos como

respeitados N esse meio social existiam aqudes in

uma preta y~lha do conto 0 Escrivao Co ajoe1hada diante do altar de S Bernardo co do pedic-lhe alguma coisa se nao eque lhe recebido ate que acabou beijando a cruz tou-se e saiu Outros aparecem como detel onais e seus transmissores sendo rezadore senhores ou sabedores de promessas celebre sas ou subir de joelhos a ladeira da Glc Santa(Machado de Assis 19551229-30 1 esta presente no uniYerso das atividades cal do preto elho de Casa Velha que emb africanas era sineiro mas nao fazla mats q missa aos domingos 19ualmente nesse 0

sineiro da Gloria (lue de escrao ficou li~ seculo aquda torre regendo a paroquia e c( picava por casamentos nascimentos batiza amarela 0 calera-morbus os partidos qUI deles ~ pela guerra do Paraguai pelos mo livre das escravas a aboliltao a Republica plt se Tudo conforme a ordem(JIachado de

Outras Ofertas e tensoes Feiti~

Espiritism

Ja outros negros vclhos aparecem mais circunscritas senda depositarios de p( varios elementos que expressam traltas cultu canas 0 negros produziram com suas ling des cantos e batuques uma ruptura com recorrerem mesmo que na clandestinidade uma cultura negra brasileira a qual recorriar contexto embora inseridos em universo simi de crencas praticas e -isoes de mundo al~ tica usada no cotidiano por bran cos negro cam associalt6es ao cultos africanos nos ql parentesco permeiam os rdacionamentos s mente ligados Desta forma alguns pretos sendo vistos como bonciosos humildes g~ Assis 1955d392 1957c279)

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s sortes os ovos guardados em agua e outras

via com respeito com simpatia e se alguma ao as saber ja praticar( Machado de Assis 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241

vento dos tempos desfazia em lufadas de anrigas arraigadas no imaginario coletivo no nsa que tudo esfolhava e dispersava devagar

tou de urn marador de Viana deseobridor de que lacrimejava e supondo ser milagre pas ses considerando procedente realizar exame clesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao apora que reuniam anuahnente urn numero

romeiros calculados naquele ana em 8000 sobre uma senhora que enlouqueceu quando a enterrando uma imagem de Santo Antonio

Porem como a chuva abundante nao cessava mais matando inclusiye animais yoltou ao cipitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas supor que os males derivavam da altao que do 0 fa to de Santo Antonio gozar entre seus 0 de nao conceder nenhuma gralta senao s6 operando milagres a troeo da liberdade

giosa fizera-se supersticiosa e que quando muito alem das fronteiras da superstiltao nenhuma das grandes consolaltoes da fe loucura Ainda nesse universo ja em 1876 eres santas e milagrosas uma que apareceu na romarias dos seus devotos e outra velha

urar doenltas incuraveis com ervas 955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2) s do sagrado e do profano da fe da devoltao

bricadas no que concerne as praticas dos o e influencia redproca entre as ins tlmcias das a recrialtao pelas leigos entre 0 div1110 e a

omentos e lugares em que essas aspiraltoes sociais serviam tambem para promQyer a

deixando esse sobrevoo sobre a sociedade num segmento espedfico desta como na

ceber outros aspectos da cultura religiosa a amalgamada no territorio flumlnense aticas ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revista do Niese V2 N J JanJun 2002

os quais de forma geral sao vistos como conhecedores dela e por 1880 re8peitados

Nesse meio social ex1stiam aqueles inseridos na tradiltao catolica como uma preta v~lha do conto 0 Escrivao Coimbra que Camilo viu na igreja ajoelhada diante do altar de S Bernardo com urn rosario na mao parecenshydo pedir-lhe alguma coisa se nao e que the pagava em oraltoes 0 beneficio ia recebido ate que acabou beijando a cruz do rosario persignou-se levanshytou-se e saiu Outros aparecem como detentores de conhecimentos tradicishyonais e seus transmissores sendo rezadores que pediam guard a para seus senhores ou sabedores de promessas celebres como mandar dizer cern misshysas au subir de joelhos a ladeira da Gloria para ouvir uma ir a Terra Santa(Machado de Assis 19551229-30 1957c71177279) 0 negro idoso esta presente no universo das atividades catolicas como sineiros a exemplo do preto velho de Casa Velha que embora muito atrelado as tradiltoes africanas era sineiro mas nao fazia mais que tocar 0 sino da capela para a missa aos domingos Igualmente nesse ofieio IvIachado destaca Joao 0 sineiro da Gloria que de escravo ficou livre governando por quase meio seculo aquela torre regendo a par6quia e contemplando 0 mundo de 11 Reshypicava por casamentos nascimentos batizados mortes Dobrava pela febre amarela 0 colera-morbus os partidos que subiam ou cafam sem saber deles _ pela guerra do Paraguai pelos mortos e pelas vitorias peIo ventre livre das escravas a aboliltao a Republica pelo imperio_ se 0 imperio tornasshyse Tudo con[orme a ordem(tviachado de -5S1S 1956b193-4 1957b431-3)

Outras Ofertas e tensoes Feiti~arias Adivinha~oes e

Espiritismo

Ja outtos negros velhos aparecem atrelados as tradiltoes ancestrais mals circunscritas sendo depositarios de poderes de proteltao e guardioes de varios elementos que expressam traltos cultorals singulares das socledades afrishycanas 0 negtos produziram com suas linguas danltas folguedos sonoridashydes cantos e batoques uma ruptura com a -isao de mundo ocidental ao recorrerem mesmo que na clandestinidade a seus ritos seus deuses criando uma cultura negra brasileira a qual reeorriam alguns de seus senhores Em tal contexto embora insetidos em universo simb6lico marcado pda multiplicidade de crenltas praticas e visoes de mundo alguns aspectos da expressao lingiiisshyrica usada no cotidiano por brancos negros e mestiltos livres e cativos indishycam associaltoes ao cuhos africanos nos quais a ideia de familia e de laltos de parentesco permeiam os relacionamentos socialS e religiosos que sao intimashymente ligados Desta forma alguns pretos velhos eram ehamados de Pai sendo vistos como bondosos humildes generosos e paternais( Machado de Assis 1955d392 1957c279)

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Outros pretos velhos de modo mais dire to traziam conhecimentos ancestrais produzindo rituals que funcionavam como urn feitiqo protetor as vezes acendendo velas tocando marimba cantarolando em alguns instanshytes baixinho umas ozes de Africa cantilenas alegres guerreiras entusiasshytas em outros cantigas falando de santo de trabalhar de comer 0

que remete as praticas das oferendas e ao principio do candomble de existenshycia de forqas vitais e sagradas que perpassam todos os aspectos da vida mashyterial e cotidiana como as tarefas as formas hidicas como a musica a danqa o canto 0 gesto Assim tanto Raimundo de laid Garcia empertigava 0

corpo dando aos quadris e ao tronco 0 movimento de suas danqas africashynas quanto 0 peeto velho de Casa Velha que canta-a Calumga mussanga monandengue dando ao corpo umas sacudidelas para acompanhar a toshyada africana alem de recorrer as tradiltoes orais ao contar historias muito compridas e sem sentido algum para os brancos pOlS forjadas e inseridas noutro universo simbolico da maioria deles ignorado Desta forma essas manifestaltoes mantinham uma memoria reveladora de matrizes africanas que era alimentada pela danqa pela paIavra pelos gestos ou pelos objetos e oushytros vekulos de expressao e comunicaqao(Machado de Assis 1955h1114 1956b193-4 1957b432-3)

No entanto outros aspectos expressam ainda a religiosidade no universo de uma cultura afro-amerindio-brasileira na obra machadiana como a feitiqaria Num momento em que em nome da civilizaltao da ciencia e da razao os intelectuais e as autoridades medicas policicas e policiais voltaramshyse contra praticas ariadas denominadas ~fnericamente de feitisaria lIachashydo abordou essa questao de modo bastante proprio Nao associou tais pratishyeas ao universo socio-cultural espedflco dos negros como faziam outros jorshynalistas e tampouco os apreciou a priori de modo negativo e condenatorio Contrap6s-se ao conteudo de muitas notkias divulgadas na imprensa nas quais 0 negro era 0 bruxeiro 0 feiticeiro violento e barbaro com a figura de Raimundo que produzia urn feitiqo protetor a seu senhor afastando da imagem do preto que fazia feitico male fico para seus proprietarios(Schwarcz 1987125-8 Machado de Assis 1955h10)

Ao tratar da batalha contra os antigos habitos religiosos tradicionais da gentes em 1893 0 cronista anunciava ter medo do c6digo penal de 1890 no qual havia urn artigo que castiga duramente as pessoas que advinham 0

futuro tao duramente como as que aplicam drogas para excitar odio ou amor para fascinar e subjugar a credulidade publica Com base nesse as autoridades recolhiam adetenqao curandeiros e feiticeiras levan do as ferrashymentas desses ofieios ( ) incluidos no e6digo como delitos como aves mortas pernas de ceroula saquinhos com feijao arroz farinha sal altucar canjica penas e cabeltas de frangos usados na busca de estabelecer uma alianshyca com 0 sobrenatural a partir da aciio de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do

vivos deuses e homens(lIachado de Assis Assis a feitiqaria era alga natural do homen tivas alem de ser urn ofkio que garancia r fur tar e matar para sobreviver e infring1r 0

que nao falam de feitiltaria mas de furto doente acreditar na feiticaria e por julgar q soais que determinam tudo neste mundo I

acudir a feitiltaria considerando emao inee go penal como deli to c prender senhoras s com os seus olhos e com seus demais obj 1959b308-11 )

fachado rarefez 0 clima hostil de dos seus agentes nao as associando aos neg te que esse elbo costume de buscar nas fei ros quase sempre mesciltos _caboclos e eab agruras nao so se restringia ao pon) Muita dade recorriam aos adiyinhos e curandeiros erva como por meio dc rezas 0 eurand mazelas que devastaam a cidade como eOolltao de defuntos de espiritos difere de ler como as adivinhas mandando e curandeiro Tobias falava em prosa scm 0

cas ate ser preso com suag bugigangas e galo pes de galinha secas medalhas pohcoJ de raia incluidos no aparato instrumental sis 1956c248-9 267-8 19S5d426-7)

Buscar os adivinhos e feiciceiros era ricas ainda que nesta muito preconceitos vando muitas ezes a consultas escondidas redor dc uma caboc1a muito conhecida do adivinha era grande e segundo 0 narrador da sociedade falavam dela a serio e havia ta um Juiz municipal cuja nomeaqao foi ar era muito falada na cidade e reinava Ii n(

merosa que vinha de muito mcses scndo queza da adivinha Toda a gcnte falan e assunto da cidade atribuiam-lhe um pode sortes achados casamento Afirmavam e 0 que vifia a scr Para 0 poo parccia muitas as noticias sobre seus feitos e ha-ia ~ soas que tinham perdido e achado joias e esc ~- polkia mesma quando nao acabaYl1 de

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de modo mais dire to traziam conhecimentos

tronco 0

funcionavam como urn feitio protetor

marimba cantarolando em alguns instanshy cantilenas alegres guerreiras entusiasshy

de santo de trabalhar de comer 0

e ao principio do candomble de existenshyperpassam todos os aspectos da vida mashy

as formas ludicas como a musica a danca Raimundo de laid Garcia empertigava 0

movimento de suas dancas africashyVelha que cantava Calumga ~ussanga umas sacudidelas para acompanhar a to-

as tradicoes orais ao contar historias muito para os brancos pois foqadas e inseridas

maioria deles ignorado Desta forma essas memoria reveladora de matrizes africanas que palavra pelos gestos ou pelos objetos e oushy

~uluIlltaya()(ilachado de Assis 1955h1114

expressam ainda a religiosidade no merind()-trastllra na obra machadiana como

que em nome da ciyilizacao da ciencia e da medicas politicas e policiais oltaramshy

1955hlO)

loolinadls genericamente de feiticariatvfachashybastante proprio Nao associou tais pratishy

_middot~neIflr dos negros como faziam outros jorshy

apriori de modo negativo e condenatorio muitas noticias divulgadas na imprensa nas o feiticeiro violemo e barbaro com a figura

feitico protetor a seu senhor afastando da maletico para seus proprietarios(Schwarcz

os antigos habitos religiosos tradicionais anunciava ter medo do codigo penal de 1890

duramente as pessoas que advinham 0

as que aplicam drogas para excitar odio ou a credulidade publica Com base nesse as curandeiros e feiticeiras levando as ferrashy

lCitllid()s no codigo como deliros como aves

com feijao arroz fartnha sal acucar usados na busca de estabelecer uma alianshy

da alao de alimentar que fortalece e mantem

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vivos deuses e homens(Machado de Assis 1959a288 1959b308) Para De Assis a feiticaria era algo natural do homem vista em varias tribos primishytivas alemde ser urn oficio que garantia renda a muitos impedindo-os de furtar e matar para sobreviver e infringir os mandamentos da lei de Deus que nao falam de feiticaria mas de furto Ironicamente diz que por estar

doente acreditar na feiticaria e por julgar que sao sempre os l11teresses pesshysoals que determinam tudo neste mundo estava com grandes desejos de acudir afeiticaria considerando entao incorreto incluir a feiticaria no codishygo penal como delito e prender senhoras so porque fecham 0 corpo alhelO com os seus olhos e com seus demais objetos de culto(Machado de ASS1S

195308-11) Machado rarefez 0 clima hostil de desqualificacao dessas praticas e

dos seus agentes nao as associando aos negros e enfatizando incansavelmenshyte que esse velho costume de buscar nas feiticeiras adivinhas e curandeishy

ros quase sempre mesticos _caboclos e caboclas _ auxilio as imluietacoes e agruras nao s6 se restringia ao povo Tfuitas pessoas de posiltao na SOC1eshydade recorriam aos adi-inhos e curandeiros e os ultimos curavam tanto com ervas como por meio de rezas 0 curandeiro Nascimento curaa muitas mazelas que devastayam a cidade como barriga dagua com passes de evocacao de defuntos de espiritos diferentes ou arrancava dentes alem de Ie~ como as adivinhas mandando com tais e tais palaTinhas Ja 0

curandeiro Tobias falava em prosa sem 0 saber curaa em Hnguas classishycas ate ser preso com suas bugigangas e drogas tais como esporoes de galo pes de galinha secos medalhas polvora e ate urn chicote feito de rabo de raia inc1uidos no aparato instJumental de seus ritualS (ilachado de Asshysis 1956c248-9 267-8 1955d426-7)

Buscar os adivinhos e feiticeiros era costume presente entre as classes ricas ainda que nestas muitos preconceitos contra tais praticas existissem leshyvan do muitas vezes a consultas escondidas como ocorre em Esau e Jaco ao redor de uma cabocla muito conhecida do Ilorro do Castelo lt fama des sa adivinha era grande e segundo 0 narrador muira gente boa Ja ia pessoas da sociedade fala am dela a serio e havia um caso recente de pessoa dis tinshy

ta urn juiz municipal cuja nomeacao foi anul1ciada pela cabocla A caboc1a era muito falada na cidade e reinava la no morro possuindo freguesia nushymerosa que vtnha de muttos meses sendo sinal certo da videncia e da franshyqueza da adivinha Toda a gente fahlYa entao da cabocla do Castelo era 0

assunto da cidade atribuiam-lhe um poder tntlnito uma serie de milagres sortes achados casamentos AfirmaalU que cia adivinhaya tudo 0 que era eo que iria a ser Para 0 povo parecia que era mandada de Deus Eram muitas as noticias sobte seus feiros e hayia gente que dizla que conheC1a pe5shysoas que tinham perdido e achado joias e escraos De acordo com 0 narrador A policia mesma quando nao acabaa de apanhar um criminoso ia ao Casshy

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tela falar acabocla e des cia sabendo por i5S0 eque nao a botava para fora como os invejasos andavam a pedir A caboda explicava sonhos e pensashymentos curava quebranto(Machado de Assis 1959d43-4)

Segundo Aires tal costume era velho e velhissimo e no interior da casa simples nao havia nada que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshynhum petrecho simbalico nenhum bicho empalhado esqueleto ou desenho de aleiJoes Quando muito urn registro da [festa de Nossa senhora da ] Conshy

colado a parede podia lembrar misterio mas nao metia medo A cabocla e descrita com simpatia e 0 ritual sem afetacao Era uma criaturinha leve e breve ( ) corpo airoso com urn raminho de arruda nos cabelos 0

que ja the dava urn certo ar de sacerdotisa embora seu misterio estivesse mesmo era nos olhos agudos e compridos que entravam peIo consulente revoh-endo-Ihe 0 coracao ao tempo que interrogava Em transe de posse de retratos e cabelos de alguem ausente com urn cigarro acesso ao som de uma viola e de cantigas do sertao do Norte murmuradas por urn velho caboclo entrava a dizer sobre as coisas futuras ate que por fun 0 fregues se alegre e rico tirava uma nota de cinquenta mil-reis quando 0 preco do costume era cinco ezes menos arrecadaYa seus objetos e saia (Machado de Assis 1959d 7shy16) Essa cabocla com origem no norte do pais assim como outros caboclos curandeiros perseguidos pela policia remete apresenca dos caboclos no unishyverso das pniticas religiosas brasileiras que sendo figura mestica esta vinculashyda a nossos ancestrais nativos os indios donos da terra e ligados anatureza no tradicao dos cultos afro-brasileiros

No en tanto no campo das batalhas religiosas tais praticas tiveram outros opositores tal como os adeptos do nascente espiritismo que contagishyados peIo espirito positivo~cientificista do momenlO na busca de credibilidade ptlblica e de converter fieis incutindo-lhes seus pressupostos diziam possuir doutrina regida por leis cientificas ao querer excluir qualshyquer maculf[ de seita e julgavam-se sabedores das verdadeiras luzes do mundo e de verdades eternas Desta forma um iniciado nessa religiao defendia uma consulta espirita e na~ a caboda do Castelo por mais que ela fosse celebre Recorrer a ela seria imitar as crendices da gente reles e s6 ocorreria ate enquanto a policia nao pusesse cobro ao escandalo J a numa consulta espirita algum espirito podia [dizer] a verdade em vez de uma adivinha de farsa Para urn medium espirita enfiado em larga camisola de seda e usando toda a terminologia espirita assomada de casos fenomeshynos misterios testemunhos atestados verbais e escritos a cabocla devia ser deixada afe das senhoras pois eram delas crencas da meninice(Machado de Assis 1959d79113843-6646770 1957h10-1)

Cabe aqui ressaltar que nesta obra Esau e Jac6 a qual trata desses variados aspectos espirituais acima apontados advindos de tradicoes culturais e religiosas diversas Machado sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religi~

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OPSIS - Revista do

oso expondo a imbricacao das praticas ori catolicismo e 0 confronto com 0 espiritismc bases do que seria posteriormente denomin nomes dados as pessoas podem predestina ligacao entre 0 fato dos filhos do casal Sanl quais a cabocla disse terem brigado no ventr des entre estes porque os dois apostolos do garam assim como Esau e Jaco figuras do brigado por causa da primogenitura

Porem lIachado nilO recorre ao eSI conto Uma visita de Alcibiades 0 desemba S1caO juntamente com Santos aCllna citado essa doutrina propagaya ao ler Plutarco fun litava envoher a imaginaltao numa especie vel as evocacoes mentais transportou-se pa de Alcibiades ate que ao terminar de [umar de subilO pensou qual seria a impressiio daqu ario Desta feita enfatizando (lue era urn 1

podendo mesmo dizer que vlvia cornia dor cafe e esperava morrer na fe de Alan Kard os sistemas sao pura niilidades tinha adota sim sendo espiritista evocou lcibiades a c fez rapido aproximando duas civilizacoes impalpavel e sim urn homem de carne e mente a sua frente entrando a conersar sob o grego empalideceu cambaleou e caiu r desembargador mandou~o para 0 necroteno

o espiritismo sen-iu como assunto nas quais quasc sempre ri brinca e ironiza sc cando as vezes compreende-los por mais laquo

correndo a estrategias comicas Desta forma situacoes nebulosas como uma que exigia p teoria de Newton sugerc consultar 0 propri vez que nao entendia nada de astronomia Er brasileiros acabavam de dar um golpe de m urn medium com fama de ser prodigioso e sileira nomeado uma comissao para estudar nao valia a fama e que os trabalhos ficararr Europa e outro paises mas que 0 problen estao sujeitas a esse eclipses e nao estao Fora i5S0 a Federacao lamentaa que diante mular os fenomenos que obtem nas condie

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_UJUUV por 1SS0 e que nao a botava para fora a pedir A caboda explicava sonhos e pensashy

UVll1Ul1lU de Assis 1959d43-4)

vmiddotOLU1l1C era velho e velhissimo e no interior da que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshy

UUilU bicho empalhado esqueleto ou desenho registro da [Festa de Nossa senhora da 1Conshylembrar misterio mas nao metia medo A eo ritual sem afetas-ao Era uma crtaturinha

com urn raminho de arruda nos cabelos 0

sacerdotisa embora seu misterio estivesse e compridos que entravam pelo consulente

tempo que interrogava Em transe de posse de ausente com urn cigarro aces so ao som de uma do Norte murmuradas por urn velho cabodo

futuras ate que por fim 0 fregues se alegre ~lu-uLa mil-reis quando 0 pres-o do costume era

seus objetos e saia(Machado de Assis 1959d7shyno norte do pais assim como outros cabodos

polleia remete a presens-a dos cabodos no unishyIIJ[l1~JlC1Jl1 que sendo Figura mestis-a esta vlnculashy

os indios donas da terra e ligados anatureza

das batalhas religiosas tais praticas tiveram adeptos do nascente espiritismo que contagishy

__rpntificista do momento na busca de nrprtpr fieis incutindo-Ihes seus pressupostos

por leis cientificas ao querer exduir qualshysabcdorcs das yerdadeiras luzes do

Desta forma urn iniciado nessa religiao

rfu~ ~clt5u-(r(l1H-gn1ru lJ(YL nril ljlft1hgt

seria imitar as crendices da gente reles e so nao pusesse cobro ao esdindalo Ja numa

podia [dizer] a verdade em vez de uma Pltd11lIl espirita enfiado em Iarga camisola de

espirita assomada de fenomeshynauo verbais e escritos a cabocla devia ser

eram delas crenltas da meninice(Machado 770 1957hl0-1)

nesta obra Esau e Jaco a qual trata desses apontados advindos de tradiltoes culturais

sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religishy

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oso expondo a imbricaltao das praticas origin arias dos amedndios com 0

catohcismo e 0 confronto com 0 espiritismo que amalgamados crtavam as bases do que seria posteriormente denominado de umbanda Aponta que os nomes dados as pessoas podem predestinar seus caminhos ao estabelecer ligaltao entre 0 fato dos filhos do casal Santos chamarem Pedro e Paulo os quais a cabocla disse terem brigado no ventre da mae e indicando as rivalidashydes entre estes porque os dois apostolos do Novo Testamento tam bern brishygaram assim como Esau e Jac6 figuras do Velho Testamento tinham ainda brigado por causa da primogenitura

Porcm Machado nao recorre ao espirttismo apenas nessa obra No conto Uma visita de Alcibades 0 desembargador Alvares que por sua poshysiltao juntamente com Santos acima citado indica 0 meio abastado em que essa doutrina propagaa ao ler Pluta reo fumando um charuto que possibishylitava envolver a imaginas-ao numa especie de nimbo extremamente favorashyvel as evocaltoes mentais transportou-se para a antiga Atenas pois lia a vida de Alcibiades ate que ao terminar de fumar voltou aos tempos modernos e de subito pensou qual seria a impressao daquele ateniense sobre n0550 vestushyano Desta feita enfatizando que era urn tanto espiritista ( ) ate muito podendo mesmo dizer que livia comia dormia passeava conversava bebia cafe e esperava morrer na fe de Alan Kardec pois convencido que todos os sistemas sao pura niilidades tinha adotado 0 mais jovial de todos Asshysim sendo espiritista evocou Alcibiades a comparecer em sua casa e esse 0

fez tapida apraximando duas civilizayoes Mas esse nao era uma sombra impalpavel e sim um homem de carne e ossos que se sentou benevalashymente a sua frente entrando a conversar sobre 0 assunto de interesse ate que o grego empalideceu cambaleou e caiu no chao Dian te do cadaver a desembargador mandou-o para 0 necroterio(Machado de Assis 1956a203-7)

o espiritismo serviu como assunto em varias cronicas machadianas

nas qua~s quasc selnpre ri brinca e lroniza seus enunciados e principios busshycando as vezes compreende-Ios por mais estranheza que provocassem reshyoottendo a estrateglaS comicas Desta forma ha momentos em que diante de situa~oes nebulosas como uma que exigia para sua solus-ao conheCImento da teoria de Newton sugere consultar 0 proprio por meio do espiritismo uma vez ~ue nao entendia nada de astronomia Em outro comenta que os espiritas brasilerros acabavam de dar um golpe de mestre quando apareceu na cidade ~medium com fama de ser prodigioso e tendo a FederaS-ao Espirita Brashysiletra nomeado uma comissao para estudar os fenomenos concluiu que de nao valia a fama e que as trabalhos ficatam abaixo do que se conseguia na Eur~pa e ~utros paises mas que 0 problema estava nas mediunidades que estao Su)eHas a esses eclipses e nao estao senrilmente anossa dispasis-ao Fora 1550 a Federaltao lamentava que diante de tudo a medium huscasse 5ishymular os fenomenos que obtem nas condis-oes normais Segundo Machashy

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do chistosamente 0 medium nao s6 foi ( ) apenas mmtmum mas ate procurou embasar a Federasao(lvlachado de Assis 1958b177 1956c123)

As estrategtas e argumentos usados pelos propagadores da nova doushytrina geralmente expostos nas conferencias promovidas pela Federaltao ou publicados na Uniao Espirita na busca de adeptos e de convemles tambem nao escaparam aeritica machadiana principalmente devido a sua indisposisao a tudo que se propagava como sendo verdade unica e absoluta levando-o a destilar sua eostumeira ironia em varios eseritos sobre essa doutrina e suas praticas Dentre eles destaeamos a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima verdadeira e definitiva doutrina e que substituiria todas as religioes do passashydo 0 eronista reeorre sempre a essa proposiltao quando depara com fatos obscuros e irnpossiveis de destrinltar ocorridos na cidade buscando solucionashylos usando de carnavalizaltoes que acabam por ridieulizar toda e qualquer noltao de -erdade ou de tal pretensao Isso aconteee nao s6 ao que diz respeishyto a essa doutrina A artimanha para conquistar simpatias e fieis de divulgar Iista de pessoas eminentes da Europa que acreditavam no espiritismo foi por ele tambern censurada pois no seu dizer tudo ocorria de forma como se as pessoas devessem crer por crer em tudo aquilo que na Europa e acreditado(~1achado de Assis 1955b297-9 195188)

Ao redor do principio da encarnaltao e reencarnaltao Machado fez yarias elucubraltoes supondo situaltoes tratadas de forma humoristica as quais contribuiam para difundir alguns de seus principios Assim ao vislumbrar uma certa promiscuidade geral dos desencarnados divulga 0 principio de que 0 espirito pode reencarnar inclusive na mesma familia sendo viivel que um homem pudesse ter uma ftlha depois morrer e voltar filho dela ou urn menino voltar filho de urn prin10 Se em alguns momentos pesa a mao contra os espiritistas dizendo que 0 espiritismo nao e menos curanderia que os outros curandeiros e que se fosse legislador mandava fechar todas as igrejas des sa religiao em outros em tom ate didatico enfatiza que 0 princishypio espirita e fundado no progresso e a leI e nascer morrer tornar a nascer e renascer ainda progredir sempre sendo que 0 renascimento epara meshylhor Cada espirita em se desencarnando vai para os mundos superiores Reflete ainda sobre a distancia entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo que 0 principio espirita nao e 0 mesmo da transmigrasao em que as aIm as vao para os corpos dos animalS mas fundado no progresso(Machado de Assis195100-2188)

Acreditando ser representativo do pensamento ultimo de Machado a respeito do espiritismo em 1895 ele defende seu exercicio pois a Constituishyltao estabclece 0 direito de liberdade religiosa No seu dizer 0 espiritismo e uma religiao que ele nao sabia se falsa ou verdadeira embora os espiritas dissessem que verdadeira e unica frente ao que ressaIta que presunltao e agua benta cada um toma a que quer Se verdadeiros ou nao [continual 0

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OPSIS - Revista tiD

fato e que escrevem-se e publicam-se inUn jornais espiritas e no Rio havia uma ou dl acreditara que nao se gasta tanto papel em a palavra que se esta escrevendo e a propria seguinte 1896 comenta (lue ha muito que ( tos escreyem pclos dedos dos vhos e que mundo e neste final de urn grande seculo(1

Desta forma a cultura carioca oitoclt diversas de religiosidade e de expcriencias com 0 divino 0 campo religioso apresent possibilidades variadas de vivenciar a proCl debatem em confronto entre si quanto se a] produzindo formas hibridas e sincreticas de lam os homens a seus deuses com tambem a em parte de seus lasos de sociabilidade

Fontes e Referencias B

BORGES Valdeci Rezende Em busca do 11

Rio de l1achado de Assis Estudos Histor Pesquisa e Documentaltao da Hist6ria Conte Getulio Vargas no 28 p 49-69 2OC) BOCRDIEC Pierre A Economia das TrOt pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Si Paulo Cia Das Letras 1989 ivLCI1ADO DE ASSIS Joaquim r1aria C 10 WMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b _ Cronicas v 2 1955c

Cronicas v 4 1955d

_ Helena 1955e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Historias Romanticas _ 1955g _ laid Garcia 1955h _ Memorial de Aires 19551

Pdginas Recolhidas _ 1955 Reliquias de Casa Velha v 1 _ 195 Contos Esquecidos Rio de Janeiro ClY

_ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Rejlexoes de um Relojoeiro _ A Mao e a Luva Sao Paulo M Jad

lt 37

mio s6 foi () apenas minimum mas ate WHltV de Assis 1958b 177 1956c123)

usados pelos propagadores da nova doushyconferencias promovidas pela Fede1aio 01

na busca de adeptos e de conversoes tambem principalmente devido a sua indisposiltilO

sendo verdade unica e absolura levando-o a em vanos escritos sobre essa doutrina e suas

a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima e que substituiria todas as religioes do passashya essa proposicao quando depara com fatos

ocorridos na cidade bus cando soluciomishyque acabam por ridiculizar toda e qualquer

temao Isso acontece nao 56 ao que diz respeishypara conquistar simpatias e fieis de divulgar

Rur(ma que acreditavam no espiritismo foi por seu dizer tudo ocorria de forma C01no se as crer em tudo aquilo que na Europa e 1955b297-9 195188)

da encarnacao e reencarnacao 1Iachado fez Grv~ tratadas de forma humoristica as quais

de seus principios Assim ao vislumbrar dos desencarnados divulga 0 prindpio de

inclusive na mesma familia sendo viavel que depois morrer e voltar filho dela au urn Se em alguns momentos pesa a mao

que 0 espiritismo nao e menos curanderia se Fosse Iegislador mandava fechar todas as em tom ate diampitico enfatiza que 0 princishy

e a lei e nascer morrer tornar a nascer sendo que 0 renascltnento e para meshy

uJ Tal para os mundos superiores entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo omesma da transmigraltao em que as almas

mas fundado no progresso(Machado de

do pensamento ultimo de Machado a ele defende seu exerdcio pois a Constimishy

religiosa No seu dizer 0 espiritismo e se falsa au verdadeira embora os espiritas

frente aa que ressalta que presunltao e quer Se verdadeiros ou nilO [continua] 0

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fata e que escrevem-se e publicam-se inumeros livros folhetos reistas e jornais espiritas e no Rio havia uma ou duas folhas espirita alem do que acrerutaa que nao se gasta tanto papel em tantas linguas senao crendo que a palavra que se esta escrevendo ea propria verdade Para finalizar no ano seguinte 1896 comenta que hi muito que os espiritas afirmam que os mOfshytos escrevem pelos dedos dos vivos e que para ele tudo e POSSIel neste mundo e neste final de urn grande seculo(Machado de Assis 1957b26274)

Desta forma a cultura carioca oitocentista esta permeada de formas diersas de religiosidade e de experiencias voltadas para a busca de Iigacao com 0 divino 0 campo religioso apresenta-se marcado pela presenca de possibilidades variadas de vlvenciar a procura do sagrado as quais tanto debatem em confronto entre si quanta se aproximam nas pniticas dos tieis produzindo formas hibridas e sincreticas de religiosidade que nao so vincushylam os homens a seus deuses com tambem aos outros homens constitumdo em parte de seus lacos de soclabilidade

FOlltes e Referihlcias Bibliogrtificas

BORGES Valdeci Rezende Em busca do mundo exterior sociabilidade no Rio de Machado de Assis Estudos Historicos Rio de Janeiro Centro de Pesquisa e Documentacao da Historia Contempodmea do Brasil da Fundaltao Getulio Vargas no 28 p 49-69 200l BOURDIEC Pierre A Economia das Trocas Simb6licas Sao Paulo Persshy

pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e hist6ria Sao Paulo Cia Das Letras 1989 MAClMDO DE ASSIS Joaquim Maria Contos Fluminenses v2 Sao PaushyloWMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b Cronicas v 2 1955c

_ Cronicas v 4 19S5d _ Helena _ 19S5e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Hist6rias Romanticas 1955g _ laid Garcia 1955h

Memorial de Aires 1955i _ Pdginas Recolhidas _ 1955j _ ReUquias de Casa Velha v 1 _ 19551 _ Contos Esquecidos Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1956a _ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Reflexoes de um Relojoeiro _ 1956c _ A Mao e a Luva Sao Paulo 11 Jackson inc 1957a

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A Semana v 3 1957b _ Dam Casmurra _ 1957c

Historias Sem Data 1957d

_ Memorias Postumas de Bras Cubas 1957e _ Quincas Borba 1957f

_ Requias de Casa Velha v 2 _ 1957g Varias Historias 1957h

_ Contos e Cronicas Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1958a _ Cronicas de Lelia 1958b _ A Semana v 1 Sao Paulo WMJackson inc 1959a

A Semana v 2 1959b _ Cronicas v 4 1959c _ Esau e Jaco 1959d

SCHv~RCZ Lilia Moritz Retrato em Branco e Negro jornals escravos em Sao Paulo no final do seculo XIX Sao Paulo Cia Das Letras 1987

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OPSIS - Revista do

CINEMA E RELIGI

ResuResumo

Propomos neste texto apre5cntar algushy 1ou

mas reflex6es sobre a ahordagem de ashy quell

lares no cinema presentes em nleu

filmes como E 0 vento levou Blade film~

Runnermiddot 0 Carador de Androides 0 Run

Exorcisca Matrix dentre outros Exor

Atualmentc vivemos em uma 50eiel urn gm-erno baseado na lei e na razao Ne pensar assentam-se nao mais somente nos v bem nos valotes politicos e sociais Disso religiosos cristaos em quase nada influeneiat de fazer visto que Igreja (como instituiltao) tados na lei

Apesar da atual sociedade aparentc s6lida temos que ter em mente que cia so mente ha pouco tempo malS preeisamente e s6 se consolidou a partjr do positivismo vivemos em uma sociedade ainda em form

mente nao influencia tanto a nossa maneir E isto s6 e verdade para as eham2

hoje existem diversas sociedades ditas tee arabes (Irii) 0 Afeganistao onde 0 fundarr em todos os nh-eis

1 Este texto foi prodU7ido a partir do curso ministr e Religiosidadcs com 0 objetivo de apresentar algUi as rcferencias dos filmes analisados 2 Mestre em Historia pcla UFSC Universidade F

Historia da rcdc publica do [stado de Minas Gerai

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c

Page 13: as Bibliogrdficas RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSISstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3224606.pdf · 16 'as Bibliogrdficas mentafao oral e tematica da seca: estu o Federal,

das for~as de secularizacao e perda do espirishytornava-se escriturada legalizada regulashy

Assis 1955b71 1959a283-4 1957f192

das procissoes vinha de longe e estava os antigos uma tradi~ao de inGneia costume do tempo do rei e suas predileltoes confesshy

as quais seus contemporaneos choravam orat6rios de pedra dos terltos cantados das

ladainhas awis do yiatico das boas festas e fe e dos verdadeiros ftlhos de Deus 1as ja

sslcas podiam dar ideia de tudo menos de um ao lado dos anjinhos e andores floridos os

tochas na mao outros com vara do palio uma distin~ao especial a quem a trazia

aesquerda e adireita enquanto os assistentes do anjo cantor que era sempre molta feita que essas prociss()es e semelhantes pniticas

subsistir numa sociedade erdadeiramenterelishypara os mais sinceramente religiosos com as

nao deyeriam conservarem cumplices( 11ashyGrifo meu)

ttadlC1011al travada entre os diferentes templos uns sabre os outros no luxo das suas procisshy

luta por demais profana e manifestava-se e ouro nos andores no mais numeroso

e outras coisas iguais Viyia-se 0 sagrado dos assistentes pilherias disputas e abusca do que Machado duyidava muito que a divinshy

conflitos de primazia(Machado de Assis Grifo meu) No entanto se as procissoes eram

delas ja haviam sido suprimidas peIo igreja e para 0 cronista tudo fazia crer (lue as

sentido em 1893 avalia com certa melanshy)rOClssao de Sao Sebastiio daquele ana e as de nUmero pompa tudo 0 que havia quando era

(Machado de 1958a 101 1959a220) eo profano apresentavam-se quase sempre de das pciricas cat6licas oficiais essa interpenetraltao uma sociedade carnavalesca foi proibida de sair

Senhora da Conceiltao De acordo com 0 mas se a inten~ao e que salva a sociedashy

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

de vai para 0 ceu pais as autores da ideia [eram] com certeza fieis deyoshytos da Virgem e nao [tinham] 0 caman por obra do diabo Porem apesar desse posieionamento 0 folhetinista acabou por concordar com a proibi~ao enfatizando que se tal soeiedade tinha igual gosto as ideias profanas deveria ado tar denominacao adequada e que nao faltam titulos (1vIachado de Assis 1957b108-9)

As festas das igrejas e dos santos eram populares e reuniam muita gente mas sofriam tambem a a~ao dos novos tempos e perdiam seu interesshyse Eram de maior destaque a Festa da Gloria da Penha da Conceiltao de Reis de Sao Sebastiiio do Espirito Santos e de Sao Benedito Em tais festas tinham lugar tanto a religiao com missa que poderia ser cantada e ate um TeshyDeum quanto 0 recreio com fogos de artificio barracas corretos leilao de prendas Embora houvesse entre elas algumas diferenltas de acordo com 0

folhetinista ao cabo de tudo [era] a mesma alcgria e a mesmlssima divershysao 0 que 0 leYaa a lastimar que 0 fogo de artificio da Gkma e 0 garrafao cia Penha ~evayam] mais fieis que 0 objeto essencial da festiyidade POlS se e certo que todo caminho leva aRoma nao a e que todo caminho lea ao ceu Todavia ja em 1878 0 cronista dizia que talvez essa Festa tin~sse findado como tinham acabado muitas outras devoltoes populare~ melO religlOsas meio recreatiYas Para 0 elemento estrangeiro transformou os costushymes com muita muita opereta muita COlsa peregnna que tirou it nossa populaltao a rusticidade e 0 encanto de outros tempos(~1achado de Assis 1958b121 1956b207 1 10 1959c225 103 1957c77 1955d147-8 Grifo meu)

A Festa do Espirito Santo igualmente desaparecia e em 1870 0 contista em A Parasita Azul que transcorre por olta de 1850 em Santa Luzia GOlaS ao falar desse aponta que vao rareando os lugares em que de todo se nao apagou 0 gosto dessas festas classicas resto de outras eras No entanto na Corte ainda persistia 0 habito de muito irem ver suas barracas Nao era diferente com a Festa de Reis e dos santos juninos Se em 1864 Machado falaya que a Festa de S Joao tomaya-se falsificada sem fogos fogueiras e baloes proibidos por postura municipal em 1878 dizla que nao obstante a cetiClsmo do tempo muita e muita dezena de anos n1aia] de correr primeiro que 0 povo [perdesse] os seus antigo amores como foguetear os tres santos em junho Porem ja em 1894 trata da morte de S Joao e tambem de Reis Sobre a ultima comenta que nao sabia se essa festa popular perdurava no interior pois na capital tinha morrido ha muitos anos e brotado em sua cinzas a arvore de Natal vinda da Europa Frente a essas mudanltas De Assis lamenta que os anos que passam tiram afe a que ha ncla de pueril para so Ihe deixar 0 que ha serio Para de triste daqucle a quem nem iS50 fica esse perde 0 melhor das recordaltoes de um tempo simpl6rio e velho de noites abenltoadas em que as crendices sas abrem

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todas as vdasAs consultas as sortes as ovos guardados em agua e outras sublimes ridicularias as quais via com respeito com simpatia e se alguma coisa a molestaa era por nao as saber ja praticar( lvlachado de Assis 1957e62 1955f46 1955a318 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241 1959b13-4 123-4)

Ifas se na cidade 0 vento dos tempos desfazia em lufadas de tuGo essas praticas populares anrigas arraigadas no imaginario coletivo no interior de era brisa igual e mansa que tudo esfolhava e dispersava devagar 8Sim em 1864 0 cronista tratou de urn morador de Viana descobridor de uma imagem de Santa Teresa que lacrimejava e supondo ser milagre pos em alorolto as credulos vianenses considerando procedente realizar exame do fato por uma comissao de eclesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao das festas do Born Jesus em Pirapora que reuniam anualmente urn numero extraordinario e crescente de romeiros calculados naquele ana em 8000 pessoas J a em 1873 escreyeu sabre uma senhora que enlouqueceu quando depois de longa seca pediu chua enterrando uma imagem de Santo Antonio no rnato e alcanltou 0 pedido Porem como a chuva abundante nao cessava ao contrario 0 aguaceiro ia a mais matando inclusive animais yoltou ao buraco por acreditar que a preclpitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas nao 0 encontrou entrando a supor que os males derivavam da altao que praticara 0 cronista comentando 0 fato de Santo Anttmio gozar entre seus deyotos do exotico privilegio de nao conceder nenhuma gralta senao enterrado ou metido num poco so operando milagres a troco da liberdade consideraya que uma senhora religtosa fizera-se supersticiosa e que quando a fe chega a este ponto esta )a muito alem das fronteiras da superstiltao deixando seu praticante sem nenhuma das grandes consolaltoes da fe trazendo-lhc 0 desespero e a loucura Ainda nesse universo ja em 1876 trata da existenCla de duas mulheres santas e milagrosas uma que apareceu na Bahia em torno da qual formou romarias dos seus devotos e outra velha milagrosa que diziam curar doewas incuraveis com ervas misteriosas(Machado de Assis 1955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2)

Desta maneira as esferas do sagrado e do profano da fe da devoltao e do recreio estaam bastante imbricadas no que concerne as praticas dos catolicos havendo uma circulaltao e influencia reciproca entre as instancias das cerimonias e rituais oficiais e sua recnacao pelos leigos entre 0 divino e a folia entre 0 cuita e a festa Os momentos e lugares em que essas aspiracoes se concretizavam em praticas sociais serviam tambem para promover a interacao dos indivlduos lvlas deixando esse sobrevoo sobre a sociedade carioca e focalizando n0550 olhar num segmento especifico desta como na comunidade negra podemos perceber outros aspectos da cultura religiosa carioca Dessa cultura hibrida amalgamada no territorio fluminense observamos primeiramente as pratica ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revi$fa do

as quais de forma geral sao vistos como

respeitados N esse meio social existiam aqudes in

uma preta y~lha do conto 0 Escrivao Co ajoe1hada diante do altar de S Bernardo co do pedic-lhe alguma coisa se nao eque lhe recebido ate que acabou beijando a cruz tou-se e saiu Outros aparecem como detel onais e seus transmissores sendo rezadore senhores ou sabedores de promessas celebre sas ou subir de joelhos a ladeira da Glc Santa(Machado de Assis 19551229-30 1 esta presente no uniYerso das atividades cal do preto elho de Casa Velha que emb africanas era sineiro mas nao fazla mats q missa aos domingos 19ualmente nesse 0

sineiro da Gloria (lue de escrao ficou li~ seculo aquda torre regendo a paroquia e c( picava por casamentos nascimentos batiza amarela 0 calera-morbus os partidos qUI deles ~ pela guerra do Paraguai pelos mo livre das escravas a aboliltao a Republica plt se Tudo conforme a ordem(JIachado de

Outras Ofertas e tensoes Feiti~

Espiritism

Ja outros negros vclhos aparecem mais circunscritas senda depositarios de p( varios elementos que expressam traltas cultu canas 0 negros produziram com suas ling des cantos e batuques uma ruptura com recorrerem mesmo que na clandestinidade uma cultura negra brasileira a qual recorriar contexto embora inseridos em universo simi de crencas praticas e -isoes de mundo al~ tica usada no cotidiano por bran cos negro cam associalt6es ao cultos africanos nos ql parentesco permeiam os rdacionamentos s mente ligados Desta forma alguns pretos sendo vistos como bonciosos humildes g~ Assis 1955d392 1957c279)

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s sortes os ovos guardados em agua e outras

via com respeito com simpatia e se alguma ao as saber ja praticar( Machado de Assis 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241

vento dos tempos desfazia em lufadas de anrigas arraigadas no imaginario coletivo no nsa que tudo esfolhava e dispersava devagar

tou de urn marador de Viana deseobridor de que lacrimejava e supondo ser milagre pas ses considerando procedente realizar exame clesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao apora que reuniam anuahnente urn numero

romeiros calculados naquele ana em 8000 sobre uma senhora que enlouqueceu quando a enterrando uma imagem de Santo Antonio

Porem como a chuva abundante nao cessava mais matando inclusiye animais yoltou ao cipitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas supor que os males derivavam da altao que do 0 fa to de Santo Antonio gozar entre seus 0 de nao conceder nenhuma gralta senao s6 operando milagres a troeo da liberdade

giosa fizera-se supersticiosa e que quando muito alem das fronteiras da superstiltao nenhuma das grandes consolaltoes da fe loucura Ainda nesse universo ja em 1876 eres santas e milagrosas uma que apareceu na romarias dos seus devotos e outra velha

urar doenltas incuraveis com ervas 955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2) s do sagrado e do profano da fe da devoltao

bricadas no que concerne as praticas dos o e influencia redproca entre as ins tlmcias das a recrialtao pelas leigos entre 0 div1110 e a

omentos e lugares em que essas aspiraltoes sociais serviam tambem para promQyer a

deixando esse sobrevoo sobre a sociedade num segmento espedfico desta como na

ceber outros aspectos da cultura religiosa a amalgamada no territorio flumlnense aticas ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revista do Niese V2 N J JanJun 2002

os quais de forma geral sao vistos como conhecedores dela e por 1880 re8peitados

Nesse meio social ex1stiam aqueles inseridos na tradiltao catolica como uma preta v~lha do conto 0 Escrivao Coimbra que Camilo viu na igreja ajoelhada diante do altar de S Bernardo com urn rosario na mao parecenshydo pedir-lhe alguma coisa se nao e que the pagava em oraltoes 0 beneficio ia recebido ate que acabou beijando a cruz do rosario persignou-se levanshytou-se e saiu Outros aparecem como detentores de conhecimentos tradicishyonais e seus transmissores sendo rezadores que pediam guard a para seus senhores ou sabedores de promessas celebres como mandar dizer cern misshysas au subir de joelhos a ladeira da Gloria para ouvir uma ir a Terra Santa(Machado de Assis 19551229-30 1957c71177279) 0 negro idoso esta presente no universo das atividades catolicas como sineiros a exemplo do preto velho de Casa Velha que embora muito atrelado as tradiltoes africanas era sineiro mas nao fazia mais que tocar 0 sino da capela para a missa aos domingos Igualmente nesse ofieio IvIachado destaca Joao 0 sineiro da Gloria que de escravo ficou livre governando por quase meio seculo aquela torre regendo a par6quia e contemplando 0 mundo de 11 Reshypicava por casamentos nascimentos batizados mortes Dobrava pela febre amarela 0 colera-morbus os partidos que subiam ou cafam sem saber deles _ pela guerra do Paraguai pelos mortos e pelas vitorias peIo ventre livre das escravas a aboliltao a Republica pelo imperio_ se 0 imperio tornasshyse Tudo con[orme a ordem(tviachado de -5S1S 1956b193-4 1957b431-3)

Outras Ofertas e tensoes Feiti~arias Adivinha~oes e

Espiritismo

Ja outtos negros velhos aparecem atrelados as tradiltoes ancestrais mals circunscritas sendo depositarios de poderes de proteltao e guardioes de varios elementos que expressam traltos cultorals singulares das socledades afrishycanas 0 negtos produziram com suas linguas danltas folguedos sonoridashydes cantos e batoques uma ruptura com a -isao de mundo ocidental ao recorrerem mesmo que na clandestinidade a seus ritos seus deuses criando uma cultura negra brasileira a qual reeorriam alguns de seus senhores Em tal contexto embora insetidos em universo simb6lico marcado pda multiplicidade de crenltas praticas e visoes de mundo alguns aspectos da expressao lingiiisshyrica usada no cotidiano por brancos negros e mestiltos livres e cativos indishycam associaltoes ao cuhos africanos nos quais a ideia de familia e de laltos de parentesco permeiam os relacionamentos socialS e religiosos que sao intimashymente ligados Desta forma alguns pretos velhos eram ehamados de Pai sendo vistos como bondosos humildes generosos e paternais( Machado de Assis 1955d392 1957c279)

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Outros pretos velhos de modo mais dire to traziam conhecimentos ancestrais produzindo rituals que funcionavam como urn feitiqo protetor as vezes acendendo velas tocando marimba cantarolando em alguns instanshytes baixinho umas ozes de Africa cantilenas alegres guerreiras entusiasshytas em outros cantigas falando de santo de trabalhar de comer 0

que remete as praticas das oferendas e ao principio do candomble de existenshycia de forqas vitais e sagradas que perpassam todos os aspectos da vida mashyterial e cotidiana como as tarefas as formas hidicas como a musica a danqa o canto 0 gesto Assim tanto Raimundo de laid Garcia empertigava 0

corpo dando aos quadris e ao tronco 0 movimento de suas danqas africashynas quanto 0 peeto velho de Casa Velha que canta-a Calumga mussanga monandengue dando ao corpo umas sacudidelas para acompanhar a toshyada africana alem de recorrer as tradiltoes orais ao contar historias muito compridas e sem sentido algum para os brancos pOlS forjadas e inseridas noutro universo simbolico da maioria deles ignorado Desta forma essas manifestaltoes mantinham uma memoria reveladora de matrizes africanas que era alimentada pela danqa pela paIavra pelos gestos ou pelos objetos e oushytros vekulos de expressao e comunicaqao(Machado de Assis 1955h1114 1956b193-4 1957b432-3)

No entanto outros aspectos expressam ainda a religiosidade no universo de uma cultura afro-amerindio-brasileira na obra machadiana como a feitiqaria Num momento em que em nome da civilizaltao da ciencia e da razao os intelectuais e as autoridades medicas policicas e policiais voltaramshyse contra praticas ariadas denominadas ~fnericamente de feitisaria lIachashydo abordou essa questao de modo bastante proprio Nao associou tais pratishyeas ao universo socio-cultural espedflco dos negros como faziam outros jorshynalistas e tampouco os apreciou a priori de modo negativo e condenatorio Contrap6s-se ao conteudo de muitas notkias divulgadas na imprensa nas quais 0 negro era 0 bruxeiro 0 feiticeiro violento e barbaro com a figura de Raimundo que produzia urn feitiqo protetor a seu senhor afastando da imagem do preto que fazia feitico male fico para seus proprietarios(Schwarcz 1987125-8 Machado de Assis 1955h10)

Ao tratar da batalha contra os antigos habitos religiosos tradicionais da gentes em 1893 0 cronista anunciava ter medo do c6digo penal de 1890 no qual havia urn artigo que castiga duramente as pessoas que advinham 0

futuro tao duramente como as que aplicam drogas para excitar odio ou amor para fascinar e subjugar a credulidade publica Com base nesse as autoridades recolhiam adetenqao curandeiros e feiticeiras levan do as ferrashymentas desses ofieios ( ) incluidos no e6digo como delitos como aves mortas pernas de ceroula saquinhos com feijao arroz farinha sal altucar canjica penas e cabeltas de frangos usados na busca de estabelecer uma alianshyca com 0 sobrenatural a partir da aciio de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do

vivos deuses e homens(lIachado de Assis Assis a feitiqaria era alga natural do homen tivas alem de ser urn ofkio que garancia r fur tar e matar para sobreviver e infring1r 0

que nao falam de feitiltaria mas de furto doente acreditar na feiticaria e por julgar q soais que determinam tudo neste mundo I

acudir a feitiltaria considerando emao inee go penal como deli to c prender senhoras s com os seus olhos e com seus demais obj 1959b308-11 )

fachado rarefez 0 clima hostil de dos seus agentes nao as associando aos neg te que esse elbo costume de buscar nas fei ros quase sempre mesciltos _caboclos e eab agruras nao so se restringia ao pon) Muita dade recorriam aos adiyinhos e curandeiros erva como por meio dc rezas 0 eurand mazelas que devastaam a cidade como eOolltao de defuntos de espiritos difere de ler como as adivinhas mandando e curandeiro Tobias falava em prosa scm 0

cas ate ser preso com suag bugigangas e galo pes de galinha secas medalhas pohcoJ de raia incluidos no aparato instrumental sis 1956c248-9 267-8 19S5d426-7)

Buscar os adivinhos e feiciceiros era ricas ainda que nesta muito preconceitos vando muitas ezes a consultas escondidas redor dc uma caboc1a muito conhecida do adivinha era grande e segundo 0 narrador da sociedade falavam dela a serio e havia ta um Juiz municipal cuja nomeaqao foi ar era muito falada na cidade e reinava Ii n(

merosa que vinha de muito mcses scndo queza da adivinha Toda a gcnte falan e assunto da cidade atribuiam-lhe um pode sortes achados casamento Afirmavam e 0 que vifia a scr Para 0 poo parccia muitas as noticias sobre seus feitos e ha-ia ~ soas que tinham perdido e achado joias e esc ~- polkia mesma quando nao acabaYl1 de

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de modo mais dire to traziam conhecimentos

tronco 0

funcionavam como urn feitio protetor

marimba cantarolando em alguns instanshy cantilenas alegres guerreiras entusiasshy

de santo de trabalhar de comer 0

e ao principio do candomble de existenshyperpassam todos os aspectos da vida mashy

as formas ludicas como a musica a danca Raimundo de laid Garcia empertigava 0

movimento de suas dancas africashyVelha que cantava Calumga ~ussanga umas sacudidelas para acompanhar a to-

as tradicoes orais ao contar historias muito para os brancos pois foqadas e inseridas

maioria deles ignorado Desta forma essas memoria reveladora de matrizes africanas que palavra pelos gestos ou pelos objetos e oushy

~uluIlltaya()(ilachado de Assis 1955h1114

expressam ainda a religiosidade no merind()-trastllra na obra machadiana como

que em nome da ciyilizacao da ciencia e da medicas politicas e policiais oltaramshy

1955hlO)

loolinadls genericamente de feiticariatvfachashybastante proprio Nao associou tais pratishy

_middot~neIflr dos negros como faziam outros jorshy

apriori de modo negativo e condenatorio muitas noticias divulgadas na imprensa nas o feiticeiro violemo e barbaro com a figura

feitico protetor a seu senhor afastando da maletico para seus proprietarios(Schwarcz

os antigos habitos religiosos tradicionais anunciava ter medo do codigo penal de 1890

duramente as pessoas que advinham 0

as que aplicam drogas para excitar odio ou a credulidade publica Com base nesse as curandeiros e feiticeiras levando as ferrashy

lCitllid()s no codigo como deliros como aves

com feijao arroz fartnha sal acucar usados na busca de estabelecer uma alianshy

da alao de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

vivos deuses e homens(Machado de Assis 1959a288 1959b308) Para De Assis a feiticaria era algo natural do homem vista em varias tribos primishytivas alemde ser urn oficio que garantia renda a muitos impedindo-os de furtar e matar para sobreviver e infringir os mandamentos da lei de Deus que nao falam de feiticaria mas de furto Ironicamente diz que por estar

doente acreditar na feiticaria e por julgar que sao sempre os l11teresses pesshysoals que determinam tudo neste mundo estava com grandes desejos de acudir afeiticaria considerando entao incorreto incluir a feiticaria no codishygo penal como delito e prender senhoras so porque fecham 0 corpo alhelO com os seus olhos e com seus demais objetos de culto(Machado de ASS1S

195308-11) Machado rarefez 0 clima hostil de desqualificacao dessas praticas e

dos seus agentes nao as associando aos negros e enfatizando incansavelmenshyte que esse velho costume de buscar nas feiticeiras adivinhas e curandeishy

ros quase sempre mesticos _caboclos e caboclas _ auxilio as imluietacoes e agruras nao s6 se restringia ao povo Tfuitas pessoas de posiltao na SOC1eshydade recorriam aos adi-inhos e curandeiros e os ultimos curavam tanto com ervas como por meio de rezas 0 curandeiro Nascimento curaa muitas mazelas que devastayam a cidade como barriga dagua com passes de evocacao de defuntos de espiritos diferentes ou arrancava dentes alem de Ie~ como as adivinhas mandando com tais e tais palaTinhas Ja 0

curandeiro Tobias falava em prosa sem 0 saber curaa em Hnguas classishycas ate ser preso com suas bugigangas e drogas tais como esporoes de galo pes de galinha secos medalhas polvora e ate urn chicote feito de rabo de raia inc1uidos no aparato instJumental de seus ritualS (ilachado de Asshysis 1956c248-9 267-8 1955d426-7)

Buscar os adivinhos e feiticeiros era costume presente entre as classes ricas ainda que nestas muitos preconceitos contra tais praticas existissem leshyvan do muitas vezes a consultas escondidas como ocorre em Esau e Jaco ao redor de uma cabocla muito conhecida do Ilorro do Castelo lt fama des sa adivinha era grande e segundo 0 narrador muira gente boa Ja ia pessoas da sociedade fala am dela a serio e havia um caso recente de pessoa dis tinshy

ta urn juiz municipal cuja nomeacao foi anul1ciada pela cabocla A caboc1a era muito falada na cidade e reinava la no morro possuindo freguesia nushymerosa que vtnha de muttos meses sendo sinal certo da videncia e da franshyqueza da adivinha Toda a gente fahlYa entao da cabocla do Castelo era 0

assunto da cidade atribuiam-lhe um poder tntlnito uma serie de milagres sortes achados casamentos AfirmaalU que cia adivinhaya tudo 0 que era eo que iria a ser Para 0 povo parecia que era mandada de Deus Eram muitas as noticias sobte seus feiros e hayia gente que dizla que conheC1a pe5shysoas que tinham perdido e achado joias e escraos De acordo com 0 narrador A policia mesma quando nao acabaa de apanhar um criminoso ia ao Casshy

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tela falar acabocla e des cia sabendo por i5S0 eque nao a botava para fora como os invejasos andavam a pedir A caboda explicava sonhos e pensashymentos curava quebranto(Machado de Assis 1959d43-4)

Segundo Aires tal costume era velho e velhissimo e no interior da casa simples nao havia nada que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshynhum petrecho simbalico nenhum bicho empalhado esqueleto ou desenho de aleiJoes Quando muito urn registro da [festa de Nossa senhora da ] Conshy

colado a parede podia lembrar misterio mas nao metia medo A cabocla e descrita com simpatia e 0 ritual sem afetacao Era uma criaturinha leve e breve ( ) corpo airoso com urn raminho de arruda nos cabelos 0

que ja the dava urn certo ar de sacerdotisa embora seu misterio estivesse mesmo era nos olhos agudos e compridos que entravam peIo consulente revoh-endo-Ihe 0 coracao ao tempo que interrogava Em transe de posse de retratos e cabelos de alguem ausente com urn cigarro acesso ao som de uma viola e de cantigas do sertao do Norte murmuradas por urn velho caboclo entrava a dizer sobre as coisas futuras ate que por fun 0 fregues se alegre e rico tirava uma nota de cinquenta mil-reis quando 0 preco do costume era cinco ezes menos arrecadaYa seus objetos e saia (Machado de Assis 1959d 7shy16) Essa cabocla com origem no norte do pais assim como outros caboclos curandeiros perseguidos pela policia remete apresenca dos caboclos no unishyverso das pniticas religiosas brasileiras que sendo figura mestica esta vinculashyda a nossos ancestrais nativos os indios donos da terra e ligados anatureza no tradicao dos cultos afro-brasileiros

No en tanto no campo das batalhas religiosas tais praticas tiveram outros opositores tal como os adeptos do nascente espiritismo que contagishyados peIo espirito positivo~cientificista do momenlO na busca de credibilidade ptlblica e de converter fieis incutindo-lhes seus pressupostos diziam possuir doutrina regida por leis cientificas ao querer excluir qualshyquer maculf[ de seita e julgavam-se sabedores das verdadeiras luzes do mundo e de verdades eternas Desta forma um iniciado nessa religiao defendia uma consulta espirita e na~ a caboda do Castelo por mais que ela fosse celebre Recorrer a ela seria imitar as crendices da gente reles e s6 ocorreria ate enquanto a policia nao pusesse cobro ao escandalo J a numa consulta espirita algum espirito podia [dizer] a verdade em vez de uma adivinha de farsa Para urn medium espirita enfiado em larga camisola de seda e usando toda a terminologia espirita assomada de casos fenomeshynos misterios testemunhos atestados verbais e escritos a cabocla devia ser deixada afe das senhoras pois eram delas crencas da meninice(Machado de Assis 1959d79113843-6646770 1957h10-1)

Cabe aqui ressaltar que nesta obra Esau e Jac6 a qual trata desses variados aspectos espirituais acima apontados advindos de tradicoes culturais e religiosas diversas Machado sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religi~

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OPSIS - Revista do

oso expondo a imbricacao das praticas ori catolicismo e 0 confronto com 0 espiritismc bases do que seria posteriormente denomin nomes dados as pessoas podem predestina ligacao entre 0 fato dos filhos do casal Sanl quais a cabocla disse terem brigado no ventr des entre estes porque os dois apostolos do garam assim como Esau e Jaco figuras do brigado por causa da primogenitura

Porem lIachado nilO recorre ao eSI conto Uma visita de Alcibiades 0 desemba S1caO juntamente com Santos aCllna citado essa doutrina propagaya ao ler Plutarco fun litava envoher a imaginaltao numa especie vel as evocacoes mentais transportou-se pa de Alcibiades ate que ao terminar de [umar de subilO pensou qual seria a impressiio daqu ario Desta feita enfatizando (lue era urn 1

podendo mesmo dizer que vlvia cornia dor cafe e esperava morrer na fe de Alan Kard os sistemas sao pura niilidades tinha adota sim sendo espiritista evocou lcibiades a c fez rapido aproximando duas civilizacoes impalpavel e sim urn homem de carne e mente a sua frente entrando a conersar sob o grego empalideceu cambaleou e caiu r desembargador mandou~o para 0 necroteno

o espiritismo sen-iu como assunto nas quais quasc sempre ri brinca e ironiza sc cando as vezes compreende-los por mais laquo

correndo a estrategias comicas Desta forma situacoes nebulosas como uma que exigia p teoria de Newton sugerc consultar 0 propri vez que nao entendia nada de astronomia Er brasileiros acabavam de dar um golpe de m urn medium com fama de ser prodigioso e sileira nomeado uma comissao para estudar nao valia a fama e que os trabalhos ficararr Europa e outro paises mas que 0 problen estao sujeitas a esse eclipses e nao estao Fora i5S0 a Federacao lamentaa que diante mular os fenomenos que obtem nas condie

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_UJUUV por 1SS0 e que nao a botava para fora a pedir A caboda explicava sonhos e pensashy

UVll1Ul1lU de Assis 1959d43-4)

vmiddotOLU1l1C era velho e velhissimo e no interior da que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshy

UUilU bicho empalhado esqueleto ou desenho registro da [Festa de Nossa senhora da 1Conshylembrar misterio mas nao metia medo A eo ritual sem afetas-ao Era uma crtaturinha

com urn raminho de arruda nos cabelos 0

sacerdotisa embora seu misterio estivesse e compridos que entravam pelo consulente

tempo que interrogava Em transe de posse de ausente com urn cigarro aces so ao som de uma do Norte murmuradas por urn velho cabodo

futuras ate que por fim 0 fregues se alegre ~lu-uLa mil-reis quando 0 pres-o do costume era

seus objetos e saia(Machado de Assis 1959d7shyno norte do pais assim como outros cabodos

polleia remete a presens-a dos cabodos no unishyIIJ[l1~JlC1Jl1 que sendo Figura mestis-a esta vlnculashy

os indios donas da terra e ligados anatureza

das batalhas religiosas tais praticas tiveram adeptos do nascente espiritismo que contagishy

__rpntificista do momento na busca de nrprtpr fieis incutindo-Ihes seus pressupostos

por leis cientificas ao querer exduir qualshysabcdorcs das yerdadeiras luzes do

Desta forma urn iniciado nessa religiao

rfu~ ~clt5u-(r(l1H-gn1ru lJ(YL nril ljlft1hgt

seria imitar as crendices da gente reles e so nao pusesse cobro ao esdindalo Ja numa

podia [dizer] a verdade em vez de uma Pltd11lIl espirita enfiado em Iarga camisola de

espirita assomada de fenomeshynauo verbais e escritos a cabocla devia ser

eram delas crenltas da meninice(Machado 770 1957hl0-1)

nesta obra Esau e Jaco a qual trata desses apontados advindos de tradiltoes culturais

sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religishy

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

oso expondo a imbricaltao das praticas origin arias dos amedndios com 0

catohcismo e 0 confronto com 0 espiritismo que amalgamados crtavam as bases do que seria posteriormente denominado de umbanda Aponta que os nomes dados as pessoas podem predestinar seus caminhos ao estabelecer ligaltao entre 0 fato dos filhos do casal Santos chamarem Pedro e Paulo os quais a cabocla disse terem brigado no ventre da mae e indicando as rivalidashydes entre estes porque os dois apostolos do Novo Testamento tam bern brishygaram assim como Esau e Jac6 figuras do Velho Testamento tinham ainda brigado por causa da primogenitura

Porcm Machado nao recorre ao espirttismo apenas nessa obra No conto Uma visita de Alcibades 0 desembargador Alvares que por sua poshysiltao juntamente com Santos acima citado indica 0 meio abastado em que essa doutrina propagaa ao ler Pluta reo fumando um charuto que possibishylitava envolver a imaginas-ao numa especie de nimbo extremamente favorashyvel as evocaltoes mentais transportou-se para a antiga Atenas pois lia a vida de Alcibiades ate que ao terminar de fumar voltou aos tempos modernos e de subito pensou qual seria a impressao daquele ateniense sobre n0550 vestushyano Desta feita enfatizando que era urn tanto espiritista ( ) ate muito podendo mesmo dizer que livia comia dormia passeava conversava bebia cafe e esperava morrer na fe de Alan Kardec pois convencido que todos os sistemas sao pura niilidades tinha adotado 0 mais jovial de todos Asshysim sendo espiritista evocou Alcibiades a comparecer em sua casa e esse 0

fez tapida apraximando duas civilizayoes Mas esse nao era uma sombra impalpavel e sim um homem de carne e ossos que se sentou benevalashymente a sua frente entrando a conversar sobre 0 assunto de interesse ate que o grego empalideceu cambaleou e caiu no chao Dian te do cadaver a desembargador mandou-o para 0 necroterio(Machado de Assis 1956a203-7)

o espiritismo serviu como assunto em varias cronicas machadianas

nas qua~s quasc selnpre ri brinca e lroniza seus enunciados e principios busshycando as vezes compreende-Ios por mais estranheza que provocassem reshyoottendo a estrateglaS comicas Desta forma ha momentos em que diante de situa~oes nebulosas como uma que exigia para sua solus-ao conheCImento da teoria de Newton sugere consultar 0 proprio por meio do espiritismo uma vez ~ue nao entendia nada de astronomia Em outro comenta que os espiritas brasilerros acabavam de dar um golpe de mestre quando apareceu na cidade ~medium com fama de ser prodigioso e tendo a FederaS-ao Espirita Brashysiletra nomeado uma comissao para estudar os fenomenos concluiu que de nao valia a fama e que as trabalhos ficatam abaixo do que se conseguia na Eur~pa e ~utros paises mas que 0 problema estava nas mediunidades que estao Su)eHas a esses eclipses e nao estao senrilmente anossa dispasis-ao Fora 1550 a Federaltao lamentava que diante de tudo a medium huscasse 5ishymular os fenomenos que obtem nas condis-oes normais Segundo Machashy

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do chistosamente 0 medium nao s6 foi ( ) apenas mmtmum mas ate procurou embasar a Federasao(lvlachado de Assis 1958b177 1956c123)

As estrategtas e argumentos usados pelos propagadores da nova doushytrina geralmente expostos nas conferencias promovidas pela Federaltao ou publicados na Uniao Espirita na busca de adeptos e de convemles tambem nao escaparam aeritica machadiana principalmente devido a sua indisposisao a tudo que se propagava como sendo verdade unica e absoluta levando-o a destilar sua eostumeira ironia em varios eseritos sobre essa doutrina e suas praticas Dentre eles destaeamos a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima verdadeira e definitiva doutrina e que substituiria todas as religioes do passashydo 0 eronista reeorre sempre a essa proposiltao quando depara com fatos obscuros e irnpossiveis de destrinltar ocorridos na cidade buscando solucionashylos usando de carnavalizaltoes que acabam por ridieulizar toda e qualquer noltao de -erdade ou de tal pretensao Isso aconteee nao s6 ao que diz respeishyto a essa doutrina A artimanha para conquistar simpatias e fieis de divulgar Iista de pessoas eminentes da Europa que acreditavam no espiritismo foi por ele tambern censurada pois no seu dizer tudo ocorria de forma como se as pessoas devessem crer por crer em tudo aquilo que na Europa e acreditado(~1achado de Assis 1955b297-9 195188)

Ao redor do principio da encarnaltao e reencarnaltao Machado fez yarias elucubraltoes supondo situaltoes tratadas de forma humoristica as quais contribuiam para difundir alguns de seus principios Assim ao vislumbrar uma certa promiscuidade geral dos desencarnados divulga 0 principio de que 0 espirito pode reencarnar inclusive na mesma familia sendo viivel que um homem pudesse ter uma ftlha depois morrer e voltar filho dela ou urn menino voltar filho de urn prin10 Se em alguns momentos pesa a mao contra os espiritistas dizendo que 0 espiritismo nao e menos curanderia que os outros curandeiros e que se fosse legislador mandava fechar todas as igrejas des sa religiao em outros em tom ate didatico enfatiza que 0 princishypio espirita e fundado no progresso e a leI e nascer morrer tornar a nascer e renascer ainda progredir sempre sendo que 0 renascimento epara meshylhor Cada espirita em se desencarnando vai para os mundos superiores Reflete ainda sobre a distancia entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo que 0 principio espirita nao e 0 mesmo da transmigrasao em que as aIm as vao para os corpos dos animalS mas fundado no progresso(Machado de Assis195100-2188)

Acreditando ser representativo do pensamento ultimo de Machado a respeito do espiritismo em 1895 ele defende seu exercicio pois a Constituishyltao estabclece 0 direito de liberdade religiosa No seu dizer 0 espiritismo e uma religiao que ele nao sabia se falsa ou verdadeira embora os espiritas dissessem que verdadeira e unica frente ao que ressaIta que presunltao e agua benta cada um toma a que quer Se verdadeiros ou nao [continual 0

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OPSIS - Revista tiD

fato e que escrevem-se e publicam-se inUn jornais espiritas e no Rio havia uma ou dl acreditara que nao se gasta tanto papel em a palavra que se esta escrevendo e a propria seguinte 1896 comenta (lue ha muito que ( tos escreyem pclos dedos dos vhos e que mundo e neste final de urn grande seculo(1

Desta forma a cultura carioca oitoclt diversas de religiosidade e de expcriencias com 0 divino 0 campo religioso apresent possibilidades variadas de vivenciar a proCl debatem em confronto entre si quanto se a] produzindo formas hibridas e sincreticas de lam os homens a seus deuses com tambem a em parte de seus lasos de sociabilidade

Fontes e Referencias B

BORGES Valdeci Rezende Em busca do 11

Rio de l1achado de Assis Estudos Histor Pesquisa e Documentaltao da Hist6ria Conte Getulio Vargas no 28 p 49-69 2OC) BOCRDIEC Pierre A Economia das TrOt pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Si Paulo Cia Das Letras 1989 ivLCI1ADO DE ASSIS Joaquim r1aria C 10 WMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b _ Cronicas v 2 1955c

Cronicas v 4 1955d

_ Helena 1955e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Historias Romanticas _ 1955g _ laid Garcia 1955h _ Memorial de Aires 19551

Pdginas Recolhidas _ 1955 Reliquias de Casa Velha v 1 _ 195 Contos Esquecidos Rio de Janeiro ClY

_ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Rejlexoes de um Relojoeiro _ A Mao e a Luva Sao Paulo M Jad

lt 37

mio s6 foi () apenas minimum mas ate WHltV de Assis 1958b 177 1956c123)

usados pelos propagadores da nova doushyconferencias promovidas pela Fede1aio 01

na busca de adeptos e de conversoes tambem principalmente devido a sua indisposiltilO

sendo verdade unica e absolura levando-o a em vanos escritos sobre essa doutrina e suas

a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima e que substituiria todas as religioes do passashya essa proposicao quando depara com fatos

ocorridos na cidade bus cando soluciomishyque acabam por ridiculizar toda e qualquer

temao Isso acontece nao 56 ao que diz respeishypara conquistar simpatias e fieis de divulgar

Rur(ma que acreditavam no espiritismo foi por seu dizer tudo ocorria de forma C01no se as crer em tudo aquilo que na Europa e 1955b297-9 195188)

da encarnacao e reencarnacao 1Iachado fez Grv~ tratadas de forma humoristica as quais

de seus principios Assim ao vislumbrar dos desencarnados divulga 0 prindpio de

inclusive na mesma familia sendo viavel que depois morrer e voltar filho dela au urn Se em alguns momentos pesa a mao

que 0 espiritismo nao e menos curanderia se Fosse Iegislador mandava fechar todas as em tom ate diampitico enfatiza que 0 princishy

e a lei e nascer morrer tornar a nascer sendo que 0 renascltnento e para meshy

uJ Tal para os mundos superiores entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo omesma da transmigraltao em que as almas

mas fundado no progresso(Machado de

do pensamento ultimo de Machado a ele defende seu exerdcio pois a Constimishy

religiosa No seu dizer 0 espiritismo e se falsa au verdadeira embora os espiritas

frente aa que ressalta que presunltao e quer Se verdadeiros ou nilO [continua] 0

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

fata e que escrevem-se e publicam-se inumeros livros folhetos reistas e jornais espiritas e no Rio havia uma ou duas folhas espirita alem do que acrerutaa que nao se gasta tanto papel em tantas linguas senao crendo que a palavra que se esta escrevendo ea propria verdade Para finalizar no ano seguinte 1896 comenta que hi muito que os espiritas afirmam que os mOfshytos escrevem pelos dedos dos vivos e que para ele tudo e POSSIel neste mundo e neste final de urn grande seculo(Machado de Assis 1957b26274)

Desta forma a cultura carioca oitocentista esta permeada de formas diersas de religiosidade e de experiencias voltadas para a busca de Iigacao com 0 divino 0 campo religioso apresenta-se marcado pela presenca de possibilidades variadas de vlvenciar a procura do sagrado as quais tanto debatem em confronto entre si quanta se aproximam nas pniticas dos tieis produzindo formas hibridas e sincreticas de religiosidade que nao so vincushylam os homens a seus deuses com tambem aos outros homens constitumdo em parte de seus lacos de soclabilidade

FOlltes e Referihlcias Bibliogrtificas

BORGES Valdeci Rezende Em busca do mundo exterior sociabilidade no Rio de Machado de Assis Estudos Historicos Rio de Janeiro Centro de Pesquisa e Documentacao da Historia Contempodmea do Brasil da Fundaltao Getulio Vargas no 28 p 49-69 200l BOURDIEC Pierre A Economia das Trocas Simb6licas Sao Paulo Persshy

pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e hist6ria Sao Paulo Cia Das Letras 1989 MAClMDO DE ASSIS Joaquim Maria Contos Fluminenses v2 Sao PaushyloWMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b Cronicas v 2 1955c

_ Cronicas v 4 19S5d _ Helena _ 19S5e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Hist6rias Romanticas 1955g _ laid Garcia 1955h

Memorial de Aires 1955i _ Pdginas Recolhidas _ 1955j _ ReUquias de Casa Velha v 1 _ 19551 _ Contos Esquecidos Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1956a _ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Reflexoes de um Relojoeiro _ 1956c _ A Mao e a Luva Sao Paulo 11 Jackson inc 1957a

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A Semana v 3 1957b _ Dam Casmurra _ 1957c

Historias Sem Data 1957d

_ Memorias Postumas de Bras Cubas 1957e _ Quincas Borba 1957f

_ Requias de Casa Velha v 2 _ 1957g Varias Historias 1957h

_ Contos e Cronicas Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1958a _ Cronicas de Lelia 1958b _ A Semana v 1 Sao Paulo WMJackson inc 1959a

A Semana v 2 1959b _ Cronicas v 4 1959c _ Esau e Jaco 1959d

SCHv~RCZ Lilia Moritz Retrato em Branco e Negro jornals escravos em Sao Paulo no final do seculo XIX Sao Paulo Cia Das Letras 1987

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OPSIS - Revista do

CINEMA E RELIGI

ResuResumo

Propomos neste texto apre5cntar algushy 1ou

mas reflex6es sobre a ahordagem de ashy quell

lares no cinema presentes em nleu

filmes como E 0 vento levou Blade film~

Runnermiddot 0 Carador de Androides 0 Run

Exorcisca Matrix dentre outros Exor

Atualmentc vivemos em uma 50eiel urn gm-erno baseado na lei e na razao Ne pensar assentam-se nao mais somente nos v bem nos valotes politicos e sociais Disso religiosos cristaos em quase nada influeneiat de fazer visto que Igreja (como instituiltao) tados na lei

Apesar da atual sociedade aparentc s6lida temos que ter em mente que cia so mente ha pouco tempo malS preeisamente e s6 se consolidou a partjr do positivismo vivemos em uma sociedade ainda em form

mente nao influencia tanto a nossa maneir E isto s6 e verdade para as eham2

hoje existem diversas sociedades ditas tee arabes (Irii) 0 Afeganistao onde 0 fundarr em todos os nh-eis

1 Este texto foi prodU7ido a partir do curso ministr e Religiosidadcs com 0 objetivo de apresentar algUi as rcferencias dos filmes analisados 2 Mestre em Historia pcla UFSC Universidade F

Historia da rcdc publica do [stado de Minas Gerai

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c

Page 14: as Bibliogrdficas RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSISstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3224606.pdf · 16 'as Bibliogrdficas mentafao oral e tematica da seca: estu o Federal,

todas as vdasAs consultas as sortes as ovos guardados em agua e outras sublimes ridicularias as quais via com respeito com simpatia e se alguma coisa a molestaa era por nao as saber ja praticar( lvlachado de Assis 1957e62 1955f46 1955a318 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241 1959b13-4 123-4)

Ifas se na cidade 0 vento dos tempos desfazia em lufadas de tuGo essas praticas populares anrigas arraigadas no imaginario coletivo no interior de era brisa igual e mansa que tudo esfolhava e dispersava devagar 8Sim em 1864 0 cronista tratou de urn morador de Viana descobridor de uma imagem de Santa Teresa que lacrimejava e supondo ser milagre pos em alorolto as credulos vianenses considerando procedente realizar exame do fato por uma comissao de eclesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao das festas do Born Jesus em Pirapora que reuniam anualmente urn numero extraordinario e crescente de romeiros calculados naquele ana em 8000 pessoas J a em 1873 escreyeu sabre uma senhora que enlouqueceu quando depois de longa seca pediu chua enterrando uma imagem de Santo Antonio no rnato e alcanltou 0 pedido Porem como a chuva abundante nao cessava ao contrario 0 aguaceiro ia a mais matando inclusive animais yoltou ao buraco por acreditar que a preclpitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas nao 0 encontrou entrando a supor que os males derivavam da altao que praticara 0 cronista comentando 0 fato de Santo Anttmio gozar entre seus deyotos do exotico privilegio de nao conceder nenhuma gralta senao enterrado ou metido num poco so operando milagres a troco da liberdade consideraya que uma senhora religtosa fizera-se supersticiosa e que quando a fe chega a este ponto esta )a muito alem das fronteiras da superstiltao deixando seu praticante sem nenhuma das grandes consolaltoes da fe trazendo-lhc 0 desespero e a loucura Ainda nesse universo ja em 1876 trata da existenCla de duas mulheres santas e milagrosas uma que apareceu na Bahia em torno da qual formou romarias dos seus devotos e outra velha milagrosa que diziam curar doewas incuraveis com ervas misteriosas(Machado de Assis 1955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2)

Desta maneira as esferas do sagrado e do profano da fe da devoltao e do recreio estaam bastante imbricadas no que concerne as praticas dos catolicos havendo uma circulaltao e influencia reciproca entre as instancias das cerimonias e rituais oficiais e sua recnacao pelos leigos entre 0 divino e a folia entre 0 cuita e a festa Os momentos e lugares em que essas aspiracoes se concretizavam em praticas sociais serviam tambem para promover a interacao dos indivlduos lvlas deixando esse sobrevoo sobre a sociedade carioca e focalizando n0550 olhar num segmento especifico desta como na comunidade negra podemos perceber outros aspectos da cultura religiosa carioca Dessa cultura hibrida amalgamada no territorio fluminense observamos primeiramente as pratica ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revi$fa do

as quais de forma geral sao vistos como

respeitados N esse meio social existiam aqudes in

uma preta y~lha do conto 0 Escrivao Co ajoe1hada diante do altar de S Bernardo co do pedic-lhe alguma coisa se nao eque lhe recebido ate que acabou beijando a cruz tou-se e saiu Outros aparecem como detel onais e seus transmissores sendo rezadore senhores ou sabedores de promessas celebre sas ou subir de joelhos a ladeira da Glc Santa(Machado de Assis 19551229-30 1 esta presente no uniYerso das atividades cal do preto elho de Casa Velha que emb africanas era sineiro mas nao fazla mats q missa aos domingos 19ualmente nesse 0

sineiro da Gloria (lue de escrao ficou li~ seculo aquda torre regendo a paroquia e c( picava por casamentos nascimentos batiza amarela 0 calera-morbus os partidos qUI deles ~ pela guerra do Paraguai pelos mo livre das escravas a aboliltao a Republica plt se Tudo conforme a ordem(JIachado de

Outras Ofertas e tensoes Feiti~

Espiritism

Ja outros negros vclhos aparecem mais circunscritas senda depositarios de p( varios elementos que expressam traltas cultu canas 0 negros produziram com suas ling des cantos e batuques uma ruptura com recorrerem mesmo que na clandestinidade uma cultura negra brasileira a qual recorriar contexto embora inseridos em universo simi de crencas praticas e -isoes de mundo al~ tica usada no cotidiano por bran cos negro cam associalt6es ao cultos africanos nos ql parentesco permeiam os rdacionamentos s mente ligados Desta forma alguns pretos sendo vistos como bonciosos humildes g~ Assis 1955d392 1957c279)

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s sortes os ovos guardados em agua e outras

via com respeito com simpatia e se alguma ao as saber ja praticar( Machado de Assis 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241

vento dos tempos desfazia em lufadas de anrigas arraigadas no imaginario coletivo no nsa que tudo esfolhava e dispersava devagar

tou de urn marador de Viana deseobridor de que lacrimejava e supondo ser milagre pas ses considerando procedente realizar exame clesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao apora que reuniam anuahnente urn numero

romeiros calculados naquele ana em 8000 sobre uma senhora que enlouqueceu quando a enterrando uma imagem de Santo Antonio

Porem como a chuva abundante nao cessava mais matando inclusiye animais yoltou ao cipitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas supor que os males derivavam da altao que do 0 fa to de Santo Antonio gozar entre seus 0 de nao conceder nenhuma gralta senao s6 operando milagres a troeo da liberdade

giosa fizera-se supersticiosa e que quando muito alem das fronteiras da superstiltao nenhuma das grandes consolaltoes da fe loucura Ainda nesse universo ja em 1876 eres santas e milagrosas uma que apareceu na romarias dos seus devotos e outra velha

urar doenltas incuraveis com ervas 955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2) s do sagrado e do profano da fe da devoltao

bricadas no que concerne as praticas dos o e influencia redproca entre as ins tlmcias das a recrialtao pelas leigos entre 0 div1110 e a

omentos e lugares em que essas aspiraltoes sociais serviam tambem para promQyer a

deixando esse sobrevoo sobre a sociedade num segmento espedfico desta como na

ceber outros aspectos da cultura religiosa a amalgamada no territorio flumlnense aticas ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revista do Niese V2 N J JanJun 2002

os quais de forma geral sao vistos como conhecedores dela e por 1880 re8peitados

Nesse meio social ex1stiam aqueles inseridos na tradiltao catolica como uma preta v~lha do conto 0 Escrivao Coimbra que Camilo viu na igreja ajoelhada diante do altar de S Bernardo com urn rosario na mao parecenshydo pedir-lhe alguma coisa se nao e que the pagava em oraltoes 0 beneficio ia recebido ate que acabou beijando a cruz do rosario persignou-se levanshytou-se e saiu Outros aparecem como detentores de conhecimentos tradicishyonais e seus transmissores sendo rezadores que pediam guard a para seus senhores ou sabedores de promessas celebres como mandar dizer cern misshysas au subir de joelhos a ladeira da Gloria para ouvir uma ir a Terra Santa(Machado de Assis 19551229-30 1957c71177279) 0 negro idoso esta presente no universo das atividades catolicas como sineiros a exemplo do preto velho de Casa Velha que embora muito atrelado as tradiltoes africanas era sineiro mas nao fazia mais que tocar 0 sino da capela para a missa aos domingos Igualmente nesse ofieio IvIachado destaca Joao 0 sineiro da Gloria que de escravo ficou livre governando por quase meio seculo aquela torre regendo a par6quia e contemplando 0 mundo de 11 Reshypicava por casamentos nascimentos batizados mortes Dobrava pela febre amarela 0 colera-morbus os partidos que subiam ou cafam sem saber deles _ pela guerra do Paraguai pelos mortos e pelas vitorias peIo ventre livre das escravas a aboliltao a Republica pelo imperio_ se 0 imperio tornasshyse Tudo con[orme a ordem(tviachado de -5S1S 1956b193-4 1957b431-3)

Outras Ofertas e tensoes Feiti~arias Adivinha~oes e

Espiritismo

Ja outtos negros velhos aparecem atrelados as tradiltoes ancestrais mals circunscritas sendo depositarios de poderes de proteltao e guardioes de varios elementos que expressam traltos cultorals singulares das socledades afrishycanas 0 negtos produziram com suas linguas danltas folguedos sonoridashydes cantos e batoques uma ruptura com a -isao de mundo ocidental ao recorrerem mesmo que na clandestinidade a seus ritos seus deuses criando uma cultura negra brasileira a qual reeorriam alguns de seus senhores Em tal contexto embora insetidos em universo simb6lico marcado pda multiplicidade de crenltas praticas e visoes de mundo alguns aspectos da expressao lingiiisshyrica usada no cotidiano por brancos negros e mestiltos livres e cativos indishycam associaltoes ao cuhos africanos nos quais a ideia de familia e de laltos de parentesco permeiam os relacionamentos socialS e religiosos que sao intimashymente ligados Desta forma alguns pretos velhos eram ehamados de Pai sendo vistos como bondosos humildes generosos e paternais( Machado de Assis 1955d392 1957c279)

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Outros pretos velhos de modo mais dire to traziam conhecimentos ancestrais produzindo rituals que funcionavam como urn feitiqo protetor as vezes acendendo velas tocando marimba cantarolando em alguns instanshytes baixinho umas ozes de Africa cantilenas alegres guerreiras entusiasshytas em outros cantigas falando de santo de trabalhar de comer 0

que remete as praticas das oferendas e ao principio do candomble de existenshycia de forqas vitais e sagradas que perpassam todos os aspectos da vida mashyterial e cotidiana como as tarefas as formas hidicas como a musica a danqa o canto 0 gesto Assim tanto Raimundo de laid Garcia empertigava 0

corpo dando aos quadris e ao tronco 0 movimento de suas danqas africashynas quanto 0 peeto velho de Casa Velha que canta-a Calumga mussanga monandengue dando ao corpo umas sacudidelas para acompanhar a toshyada africana alem de recorrer as tradiltoes orais ao contar historias muito compridas e sem sentido algum para os brancos pOlS forjadas e inseridas noutro universo simbolico da maioria deles ignorado Desta forma essas manifestaltoes mantinham uma memoria reveladora de matrizes africanas que era alimentada pela danqa pela paIavra pelos gestos ou pelos objetos e oushytros vekulos de expressao e comunicaqao(Machado de Assis 1955h1114 1956b193-4 1957b432-3)

No entanto outros aspectos expressam ainda a religiosidade no universo de uma cultura afro-amerindio-brasileira na obra machadiana como a feitiqaria Num momento em que em nome da civilizaltao da ciencia e da razao os intelectuais e as autoridades medicas policicas e policiais voltaramshyse contra praticas ariadas denominadas ~fnericamente de feitisaria lIachashydo abordou essa questao de modo bastante proprio Nao associou tais pratishyeas ao universo socio-cultural espedflco dos negros como faziam outros jorshynalistas e tampouco os apreciou a priori de modo negativo e condenatorio Contrap6s-se ao conteudo de muitas notkias divulgadas na imprensa nas quais 0 negro era 0 bruxeiro 0 feiticeiro violento e barbaro com a figura de Raimundo que produzia urn feitiqo protetor a seu senhor afastando da imagem do preto que fazia feitico male fico para seus proprietarios(Schwarcz 1987125-8 Machado de Assis 1955h10)

Ao tratar da batalha contra os antigos habitos religiosos tradicionais da gentes em 1893 0 cronista anunciava ter medo do c6digo penal de 1890 no qual havia urn artigo que castiga duramente as pessoas que advinham 0

futuro tao duramente como as que aplicam drogas para excitar odio ou amor para fascinar e subjugar a credulidade publica Com base nesse as autoridades recolhiam adetenqao curandeiros e feiticeiras levan do as ferrashymentas desses ofieios ( ) incluidos no e6digo como delitos como aves mortas pernas de ceroula saquinhos com feijao arroz farinha sal altucar canjica penas e cabeltas de frangos usados na busca de estabelecer uma alianshyca com 0 sobrenatural a partir da aciio de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do

vivos deuses e homens(lIachado de Assis Assis a feitiqaria era alga natural do homen tivas alem de ser urn ofkio que garancia r fur tar e matar para sobreviver e infring1r 0

que nao falam de feitiltaria mas de furto doente acreditar na feiticaria e por julgar q soais que determinam tudo neste mundo I

acudir a feitiltaria considerando emao inee go penal como deli to c prender senhoras s com os seus olhos e com seus demais obj 1959b308-11 )

fachado rarefez 0 clima hostil de dos seus agentes nao as associando aos neg te que esse elbo costume de buscar nas fei ros quase sempre mesciltos _caboclos e eab agruras nao so se restringia ao pon) Muita dade recorriam aos adiyinhos e curandeiros erva como por meio dc rezas 0 eurand mazelas que devastaam a cidade como eOolltao de defuntos de espiritos difere de ler como as adivinhas mandando e curandeiro Tobias falava em prosa scm 0

cas ate ser preso com suag bugigangas e galo pes de galinha secas medalhas pohcoJ de raia incluidos no aparato instrumental sis 1956c248-9 267-8 19S5d426-7)

Buscar os adivinhos e feiciceiros era ricas ainda que nesta muito preconceitos vando muitas ezes a consultas escondidas redor dc uma caboc1a muito conhecida do adivinha era grande e segundo 0 narrador da sociedade falavam dela a serio e havia ta um Juiz municipal cuja nomeaqao foi ar era muito falada na cidade e reinava Ii n(

merosa que vinha de muito mcses scndo queza da adivinha Toda a gcnte falan e assunto da cidade atribuiam-lhe um pode sortes achados casamento Afirmavam e 0 que vifia a scr Para 0 poo parccia muitas as noticias sobre seus feitos e ha-ia ~ soas que tinham perdido e achado joias e esc ~- polkia mesma quando nao acabaYl1 de

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de modo mais dire to traziam conhecimentos

tronco 0

funcionavam como urn feitio protetor

marimba cantarolando em alguns instanshy cantilenas alegres guerreiras entusiasshy

de santo de trabalhar de comer 0

e ao principio do candomble de existenshyperpassam todos os aspectos da vida mashy

as formas ludicas como a musica a danca Raimundo de laid Garcia empertigava 0

movimento de suas dancas africashyVelha que cantava Calumga ~ussanga umas sacudidelas para acompanhar a to-

as tradicoes orais ao contar historias muito para os brancos pois foqadas e inseridas

maioria deles ignorado Desta forma essas memoria reveladora de matrizes africanas que palavra pelos gestos ou pelos objetos e oushy

~uluIlltaya()(ilachado de Assis 1955h1114

expressam ainda a religiosidade no merind()-trastllra na obra machadiana como

que em nome da ciyilizacao da ciencia e da medicas politicas e policiais oltaramshy

1955hlO)

loolinadls genericamente de feiticariatvfachashybastante proprio Nao associou tais pratishy

_middot~neIflr dos negros como faziam outros jorshy

apriori de modo negativo e condenatorio muitas noticias divulgadas na imprensa nas o feiticeiro violemo e barbaro com a figura

feitico protetor a seu senhor afastando da maletico para seus proprietarios(Schwarcz

os antigos habitos religiosos tradicionais anunciava ter medo do codigo penal de 1890

duramente as pessoas que advinham 0

as que aplicam drogas para excitar odio ou a credulidade publica Com base nesse as curandeiros e feiticeiras levando as ferrashy

lCitllid()s no codigo como deliros como aves

com feijao arroz fartnha sal acucar usados na busca de estabelecer uma alianshy

da alao de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

vivos deuses e homens(Machado de Assis 1959a288 1959b308) Para De Assis a feiticaria era algo natural do homem vista em varias tribos primishytivas alemde ser urn oficio que garantia renda a muitos impedindo-os de furtar e matar para sobreviver e infringir os mandamentos da lei de Deus que nao falam de feiticaria mas de furto Ironicamente diz que por estar

doente acreditar na feiticaria e por julgar que sao sempre os l11teresses pesshysoals que determinam tudo neste mundo estava com grandes desejos de acudir afeiticaria considerando entao incorreto incluir a feiticaria no codishygo penal como delito e prender senhoras so porque fecham 0 corpo alhelO com os seus olhos e com seus demais objetos de culto(Machado de ASS1S

195308-11) Machado rarefez 0 clima hostil de desqualificacao dessas praticas e

dos seus agentes nao as associando aos negros e enfatizando incansavelmenshyte que esse velho costume de buscar nas feiticeiras adivinhas e curandeishy

ros quase sempre mesticos _caboclos e caboclas _ auxilio as imluietacoes e agruras nao s6 se restringia ao povo Tfuitas pessoas de posiltao na SOC1eshydade recorriam aos adi-inhos e curandeiros e os ultimos curavam tanto com ervas como por meio de rezas 0 curandeiro Nascimento curaa muitas mazelas que devastayam a cidade como barriga dagua com passes de evocacao de defuntos de espiritos diferentes ou arrancava dentes alem de Ie~ como as adivinhas mandando com tais e tais palaTinhas Ja 0

curandeiro Tobias falava em prosa sem 0 saber curaa em Hnguas classishycas ate ser preso com suas bugigangas e drogas tais como esporoes de galo pes de galinha secos medalhas polvora e ate urn chicote feito de rabo de raia inc1uidos no aparato instJumental de seus ritualS (ilachado de Asshysis 1956c248-9 267-8 1955d426-7)

Buscar os adivinhos e feiticeiros era costume presente entre as classes ricas ainda que nestas muitos preconceitos contra tais praticas existissem leshyvan do muitas vezes a consultas escondidas como ocorre em Esau e Jaco ao redor de uma cabocla muito conhecida do Ilorro do Castelo lt fama des sa adivinha era grande e segundo 0 narrador muira gente boa Ja ia pessoas da sociedade fala am dela a serio e havia um caso recente de pessoa dis tinshy

ta urn juiz municipal cuja nomeacao foi anul1ciada pela cabocla A caboc1a era muito falada na cidade e reinava la no morro possuindo freguesia nushymerosa que vtnha de muttos meses sendo sinal certo da videncia e da franshyqueza da adivinha Toda a gente fahlYa entao da cabocla do Castelo era 0

assunto da cidade atribuiam-lhe um poder tntlnito uma serie de milagres sortes achados casamentos AfirmaalU que cia adivinhaya tudo 0 que era eo que iria a ser Para 0 povo parecia que era mandada de Deus Eram muitas as noticias sobte seus feiros e hayia gente que dizla que conheC1a pe5shysoas que tinham perdido e achado joias e escraos De acordo com 0 narrador A policia mesma quando nao acabaa de apanhar um criminoso ia ao Casshy

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tela falar acabocla e des cia sabendo por i5S0 eque nao a botava para fora como os invejasos andavam a pedir A caboda explicava sonhos e pensashymentos curava quebranto(Machado de Assis 1959d43-4)

Segundo Aires tal costume era velho e velhissimo e no interior da casa simples nao havia nada que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshynhum petrecho simbalico nenhum bicho empalhado esqueleto ou desenho de aleiJoes Quando muito urn registro da [festa de Nossa senhora da ] Conshy

colado a parede podia lembrar misterio mas nao metia medo A cabocla e descrita com simpatia e 0 ritual sem afetacao Era uma criaturinha leve e breve ( ) corpo airoso com urn raminho de arruda nos cabelos 0

que ja the dava urn certo ar de sacerdotisa embora seu misterio estivesse mesmo era nos olhos agudos e compridos que entravam peIo consulente revoh-endo-Ihe 0 coracao ao tempo que interrogava Em transe de posse de retratos e cabelos de alguem ausente com urn cigarro acesso ao som de uma viola e de cantigas do sertao do Norte murmuradas por urn velho caboclo entrava a dizer sobre as coisas futuras ate que por fun 0 fregues se alegre e rico tirava uma nota de cinquenta mil-reis quando 0 preco do costume era cinco ezes menos arrecadaYa seus objetos e saia (Machado de Assis 1959d 7shy16) Essa cabocla com origem no norte do pais assim como outros caboclos curandeiros perseguidos pela policia remete apresenca dos caboclos no unishyverso das pniticas religiosas brasileiras que sendo figura mestica esta vinculashyda a nossos ancestrais nativos os indios donos da terra e ligados anatureza no tradicao dos cultos afro-brasileiros

No en tanto no campo das batalhas religiosas tais praticas tiveram outros opositores tal como os adeptos do nascente espiritismo que contagishyados peIo espirito positivo~cientificista do momenlO na busca de credibilidade ptlblica e de converter fieis incutindo-lhes seus pressupostos diziam possuir doutrina regida por leis cientificas ao querer excluir qualshyquer maculf[ de seita e julgavam-se sabedores das verdadeiras luzes do mundo e de verdades eternas Desta forma um iniciado nessa religiao defendia uma consulta espirita e na~ a caboda do Castelo por mais que ela fosse celebre Recorrer a ela seria imitar as crendices da gente reles e s6 ocorreria ate enquanto a policia nao pusesse cobro ao escandalo J a numa consulta espirita algum espirito podia [dizer] a verdade em vez de uma adivinha de farsa Para urn medium espirita enfiado em larga camisola de seda e usando toda a terminologia espirita assomada de casos fenomeshynos misterios testemunhos atestados verbais e escritos a cabocla devia ser deixada afe das senhoras pois eram delas crencas da meninice(Machado de Assis 1959d79113843-6646770 1957h10-1)

Cabe aqui ressaltar que nesta obra Esau e Jac6 a qual trata desses variados aspectos espirituais acima apontados advindos de tradicoes culturais e religiosas diversas Machado sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religi~

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OPSIS - Revista do

oso expondo a imbricacao das praticas ori catolicismo e 0 confronto com 0 espiritismc bases do que seria posteriormente denomin nomes dados as pessoas podem predestina ligacao entre 0 fato dos filhos do casal Sanl quais a cabocla disse terem brigado no ventr des entre estes porque os dois apostolos do garam assim como Esau e Jaco figuras do brigado por causa da primogenitura

Porem lIachado nilO recorre ao eSI conto Uma visita de Alcibiades 0 desemba S1caO juntamente com Santos aCllna citado essa doutrina propagaya ao ler Plutarco fun litava envoher a imaginaltao numa especie vel as evocacoes mentais transportou-se pa de Alcibiades ate que ao terminar de [umar de subilO pensou qual seria a impressiio daqu ario Desta feita enfatizando (lue era urn 1

podendo mesmo dizer que vlvia cornia dor cafe e esperava morrer na fe de Alan Kard os sistemas sao pura niilidades tinha adota sim sendo espiritista evocou lcibiades a c fez rapido aproximando duas civilizacoes impalpavel e sim urn homem de carne e mente a sua frente entrando a conersar sob o grego empalideceu cambaleou e caiu r desembargador mandou~o para 0 necroteno

o espiritismo sen-iu como assunto nas quais quasc sempre ri brinca e ironiza sc cando as vezes compreende-los por mais laquo

correndo a estrategias comicas Desta forma situacoes nebulosas como uma que exigia p teoria de Newton sugerc consultar 0 propri vez que nao entendia nada de astronomia Er brasileiros acabavam de dar um golpe de m urn medium com fama de ser prodigioso e sileira nomeado uma comissao para estudar nao valia a fama e que os trabalhos ficararr Europa e outro paises mas que 0 problen estao sujeitas a esse eclipses e nao estao Fora i5S0 a Federacao lamentaa que diante mular os fenomenos que obtem nas condie

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_UJUUV por 1SS0 e que nao a botava para fora a pedir A caboda explicava sonhos e pensashy

UVll1Ul1lU de Assis 1959d43-4)

vmiddotOLU1l1C era velho e velhissimo e no interior da que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshy

UUilU bicho empalhado esqueleto ou desenho registro da [Festa de Nossa senhora da 1Conshylembrar misterio mas nao metia medo A eo ritual sem afetas-ao Era uma crtaturinha

com urn raminho de arruda nos cabelos 0

sacerdotisa embora seu misterio estivesse e compridos que entravam pelo consulente

tempo que interrogava Em transe de posse de ausente com urn cigarro aces so ao som de uma do Norte murmuradas por urn velho cabodo

futuras ate que por fim 0 fregues se alegre ~lu-uLa mil-reis quando 0 pres-o do costume era

seus objetos e saia(Machado de Assis 1959d7shyno norte do pais assim como outros cabodos

polleia remete a presens-a dos cabodos no unishyIIJ[l1~JlC1Jl1 que sendo Figura mestis-a esta vlnculashy

os indios donas da terra e ligados anatureza

das batalhas religiosas tais praticas tiveram adeptos do nascente espiritismo que contagishy

__rpntificista do momento na busca de nrprtpr fieis incutindo-Ihes seus pressupostos

por leis cientificas ao querer exduir qualshysabcdorcs das yerdadeiras luzes do

Desta forma urn iniciado nessa religiao

rfu~ ~clt5u-(r(l1H-gn1ru lJ(YL nril ljlft1hgt

seria imitar as crendices da gente reles e so nao pusesse cobro ao esdindalo Ja numa

podia [dizer] a verdade em vez de uma Pltd11lIl espirita enfiado em Iarga camisola de

espirita assomada de fenomeshynauo verbais e escritos a cabocla devia ser

eram delas crenltas da meninice(Machado 770 1957hl0-1)

nesta obra Esau e Jaco a qual trata desses apontados advindos de tradiltoes culturais

sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religishy

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

oso expondo a imbricaltao das praticas origin arias dos amedndios com 0

catohcismo e 0 confronto com 0 espiritismo que amalgamados crtavam as bases do que seria posteriormente denominado de umbanda Aponta que os nomes dados as pessoas podem predestinar seus caminhos ao estabelecer ligaltao entre 0 fato dos filhos do casal Santos chamarem Pedro e Paulo os quais a cabocla disse terem brigado no ventre da mae e indicando as rivalidashydes entre estes porque os dois apostolos do Novo Testamento tam bern brishygaram assim como Esau e Jac6 figuras do Velho Testamento tinham ainda brigado por causa da primogenitura

Porcm Machado nao recorre ao espirttismo apenas nessa obra No conto Uma visita de Alcibades 0 desembargador Alvares que por sua poshysiltao juntamente com Santos acima citado indica 0 meio abastado em que essa doutrina propagaa ao ler Pluta reo fumando um charuto que possibishylitava envolver a imaginas-ao numa especie de nimbo extremamente favorashyvel as evocaltoes mentais transportou-se para a antiga Atenas pois lia a vida de Alcibiades ate que ao terminar de fumar voltou aos tempos modernos e de subito pensou qual seria a impressao daquele ateniense sobre n0550 vestushyano Desta feita enfatizando que era urn tanto espiritista ( ) ate muito podendo mesmo dizer que livia comia dormia passeava conversava bebia cafe e esperava morrer na fe de Alan Kardec pois convencido que todos os sistemas sao pura niilidades tinha adotado 0 mais jovial de todos Asshysim sendo espiritista evocou Alcibiades a comparecer em sua casa e esse 0

fez tapida apraximando duas civilizayoes Mas esse nao era uma sombra impalpavel e sim um homem de carne e ossos que se sentou benevalashymente a sua frente entrando a conversar sobre 0 assunto de interesse ate que o grego empalideceu cambaleou e caiu no chao Dian te do cadaver a desembargador mandou-o para 0 necroterio(Machado de Assis 1956a203-7)

o espiritismo serviu como assunto em varias cronicas machadianas

nas qua~s quasc selnpre ri brinca e lroniza seus enunciados e principios busshycando as vezes compreende-Ios por mais estranheza que provocassem reshyoottendo a estrateglaS comicas Desta forma ha momentos em que diante de situa~oes nebulosas como uma que exigia para sua solus-ao conheCImento da teoria de Newton sugere consultar 0 proprio por meio do espiritismo uma vez ~ue nao entendia nada de astronomia Em outro comenta que os espiritas brasilerros acabavam de dar um golpe de mestre quando apareceu na cidade ~medium com fama de ser prodigioso e tendo a FederaS-ao Espirita Brashysiletra nomeado uma comissao para estudar os fenomenos concluiu que de nao valia a fama e que as trabalhos ficatam abaixo do que se conseguia na Eur~pa e ~utros paises mas que 0 problema estava nas mediunidades que estao Su)eHas a esses eclipses e nao estao senrilmente anossa dispasis-ao Fora 1550 a Federaltao lamentava que diante de tudo a medium huscasse 5ishymular os fenomenos que obtem nas condis-oes normais Segundo Machashy

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do chistosamente 0 medium nao s6 foi ( ) apenas mmtmum mas ate procurou embasar a Federasao(lvlachado de Assis 1958b177 1956c123)

As estrategtas e argumentos usados pelos propagadores da nova doushytrina geralmente expostos nas conferencias promovidas pela Federaltao ou publicados na Uniao Espirita na busca de adeptos e de convemles tambem nao escaparam aeritica machadiana principalmente devido a sua indisposisao a tudo que se propagava como sendo verdade unica e absoluta levando-o a destilar sua eostumeira ironia em varios eseritos sobre essa doutrina e suas praticas Dentre eles destaeamos a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima verdadeira e definitiva doutrina e que substituiria todas as religioes do passashydo 0 eronista reeorre sempre a essa proposiltao quando depara com fatos obscuros e irnpossiveis de destrinltar ocorridos na cidade buscando solucionashylos usando de carnavalizaltoes que acabam por ridieulizar toda e qualquer noltao de -erdade ou de tal pretensao Isso aconteee nao s6 ao que diz respeishyto a essa doutrina A artimanha para conquistar simpatias e fieis de divulgar Iista de pessoas eminentes da Europa que acreditavam no espiritismo foi por ele tambern censurada pois no seu dizer tudo ocorria de forma como se as pessoas devessem crer por crer em tudo aquilo que na Europa e acreditado(~1achado de Assis 1955b297-9 195188)

Ao redor do principio da encarnaltao e reencarnaltao Machado fez yarias elucubraltoes supondo situaltoes tratadas de forma humoristica as quais contribuiam para difundir alguns de seus principios Assim ao vislumbrar uma certa promiscuidade geral dos desencarnados divulga 0 principio de que 0 espirito pode reencarnar inclusive na mesma familia sendo viivel que um homem pudesse ter uma ftlha depois morrer e voltar filho dela ou urn menino voltar filho de urn prin10 Se em alguns momentos pesa a mao contra os espiritistas dizendo que 0 espiritismo nao e menos curanderia que os outros curandeiros e que se fosse legislador mandava fechar todas as igrejas des sa religiao em outros em tom ate didatico enfatiza que 0 princishypio espirita e fundado no progresso e a leI e nascer morrer tornar a nascer e renascer ainda progredir sempre sendo que 0 renascimento epara meshylhor Cada espirita em se desencarnando vai para os mundos superiores Reflete ainda sobre a distancia entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo que 0 principio espirita nao e 0 mesmo da transmigrasao em que as aIm as vao para os corpos dos animalS mas fundado no progresso(Machado de Assis195100-2188)

Acreditando ser representativo do pensamento ultimo de Machado a respeito do espiritismo em 1895 ele defende seu exercicio pois a Constituishyltao estabclece 0 direito de liberdade religiosa No seu dizer 0 espiritismo e uma religiao que ele nao sabia se falsa ou verdadeira embora os espiritas dissessem que verdadeira e unica frente ao que ressaIta que presunltao e agua benta cada um toma a que quer Se verdadeiros ou nao [continual 0

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OPSIS - Revista tiD

fato e que escrevem-se e publicam-se inUn jornais espiritas e no Rio havia uma ou dl acreditara que nao se gasta tanto papel em a palavra que se esta escrevendo e a propria seguinte 1896 comenta (lue ha muito que ( tos escreyem pclos dedos dos vhos e que mundo e neste final de urn grande seculo(1

Desta forma a cultura carioca oitoclt diversas de religiosidade e de expcriencias com 0 divino 0 campo religioso apresent possibilidades variadas de vivenciar a proCl debatem em confronto entre si quanto se a] produzindo formas hibridas e sincreticas de lam os homens a seus deuses com tambem a em parte de seus lasos de sociabilidade

Fontes e Referencias B

BORGES Valdeci Rezende Em busca do 11

Rio de l1achado de Assis Estudos Histor Pesquisa e Documentaltao da Hist6ria Conte Getulio Vargas no 28 p 49-69 2OC) BOCRDIEC Pierre A Economia das TrOt pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Si Paulo Cia Das Letras 1989 ivLCI1ADO DE ASSIS Joaquim r1aria C 10 WMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b _ Cronicas v 2 1955c

Cronicas v 4 1955d

_ Helena 1955e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Historias Romanticas _ 1955g _ laid Garcia 1955h _ Memorial de Aires 19551

Pdginas Recolhidas _ 1955 Reliquias de Casa Velha v 1 _ 195 Contos Esquecidos Rio de Janeiro ClY

_ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Rejlexoes de um Relojoeiro _ A Mao e a Luva Sao Paulo M Jad

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mio s6 foi () apenas minimum mas ate WHltV de Assis 1958b 177 1956c123)

usados pelos propagadores da nova doushyconferencias promovidas pela Fede1aio 01

na busca de adeptos e de conversoes tambem principalmente devido a sua indisposiltilO

sendo verdade unica e absolura levando-o a em vanos escritos sobre essa doutrina e suas

a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima e que substituiria todas as religioes do passashya essa proposicao quando depara com fatos

ocorridos na cidade bus cando soluciomishyque acabam por ridiculizar toda e qualquer

temao Isso acontece nao 56 ao que diz respeishypara conquistar simpatias e fieis de divulgar

Rur(ma que acreditavam no espiritismo foi por seu dizer tudo ocorria de forma C01no se as crer em tudo aquilo que na Europa e 1955b297-9 195188)

da encarnacao e reencarnacao 1Iachado fez Grv~ tratadas de forma humoristica as quais

de seus principios Assim ao vislumbrar dos desencarnados divulga 0 prindpio de

inclusive na mesma familia sendo viavel que depois morrer e voltar filho dela au urn Se em alguns momentos pesa a mao

que 0 espiritismo nao e menos curanderia se Fosse Iegislador mandava fechar todas as em tom ate diampitico enfatiza que 0 princishy

e a lei e nascer morrer tornar a nascer sendo que 0 renascltnento e para meshy

uJ Tal para os mundos superiores entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo omesma da transmigraltao em que as almas

mas fundado no progresso(Machado de

do pensamento ultimo de Machado a ele defende seu exerdcio pois a Constimishy

religiosa No seu dizer 0 espiritismo e se falsa au verdadeira embora os espiritas

frente aa que ressalta que presunltao e quer Se verdadeiros ou nilO [continua] 0

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

fata e que escrevem-se e publicam-se inumeros livros folhetos reistas e jornais espiritas e no Rio havia uma ou duas folhas espirita alem do que acrerutaa que nao se gasta tanto papel em tantas linguas senao crendo que a palavra que se esta escrevendo ea propria verdade Para finalizar no ano seguinte 1896 comenta que hi muito que os espiritas afirmam que os mOfshytos escrevem pelos dedos dos vivos e que para ele tudo e POSSIel neste mundo e neste final de urn grande seculo(Machado de Assis 1957b26274)

Desta forma a cultura carioca oitocentista esta permeada de formas diersas de religiosidade e de experiencias voltadas para a busca de Iigacao com 0 divino 0 campo religioso apresenta-se marcado pela presenca de possibilidades variadas de vlvenciar a procura do sagrado as quais tanto debatem em confronto entre si quanta se aproximam nas pniticas dos tieis produzindo formas hibridas e sincreticas de religiosidade que nao so vincushylam os homens a seus deuses com tambem aos outros homens constitumdo em parte de seus lacos de soclabilidade

FOlltes e Referihlcias Bibliogrtificas

BORGES Valdeci Rezende Em busca do mundo exterior sociabilidade no Rio de Machado de Assis Estudos Historicos Rio de Janeiro Centro de Pesquisa e Documentacao da Historia Contempodmea do Brasil da Fundaltao Getulio Vargas no 28 p 49-69 200l BOURDIEC Pierre A Economia das Trocas Simb6licas Sao Paulo Persshy

pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e hist6ria Sao Paulo Cia Das Letras 1989 MAClMDO DE ASSIS Joaquim Maria Contos Fluminenses v2 Sao PaushyloWMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b Cronicas v 2 1955c

_ Cronicas v 4 19S5d _ Helena _ 19S5e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Hist6rias Romanticas 1955g _ laid Garcia 1955h

Memorial de Aires 1955i _ Pdginas Recolhidas _ 1955j _ ReUquias de Casa Velha v 1 _ 19551 _ Contos Esquecidos Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1956a _ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Reflexoes de um Relojoeiro _ 1956c _ A Mao e a Luva Sao Paulo 11 Jackson inc 1957a

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A Semana v 3 1957b _ Dam Casmurra _ 1957c

Historias Sem Data 1957d

_ Memorias Postumas de Bras Cubas 1957e _ Quincas Borba 1957f

_ Requias de Casa Velha v 2 _ 1957g Varias Historias 1957h

_ Contos e Cronicas Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1958a _ Cronicas de Lelia 1958b _ A Semana v 1 Sao Paulo WMJackson inc 1959a

A Semana v 2 1959b _ Cronicas v 4 1959c _ Esau e Jaco 1959d

SCHv~RCZ Lilia Moritz Retrato em Branco e Negro jornals escravos em Sao Paulo no final do seculo XIX Sao Paulo Cia Das Letras 1987

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OPSIS - Revista do

CINEMA E RELIGI

ResuResumo

Propomos neste texto apre5cntar algushy 1ou

mas reflex6es sobre a ahordagem de ashy quell

lares no cinema presentes em nleu

filmes como E 0 vento levou Blade film~

Runnermiddot 0 Carador de Androides 0 Run

Exorcisca Matrix dentre outros Exor

Atualmentc vivemos em uma 50eiel urn gm-erno baseado na lei e na razao Ne pensar assentam-se nao mais somente nos v bem nos valotes politicos e sociais Disso religiosos cristaos em quase nada influeneiat de fazer visto que Igreja (como instituiltao) tados na lei

Apesar da atual sociedade aparentc s6lida temos que ter em mente que cia so mente ha pouco tempo malS preeisamente e s6 se consolidou a partjr do positivismo vivemos em uma sociedade ainda em form

mente nao influencia tanto a nossa maneir E isto s6 e verdade para as eham2

hoje existem diversas sociedades ditas tee arabes (Irii) 0 Afeganistao onde 0 fundarr em todos os nh-eis

1 Este texto foi prodU7ido a partir do curso ministr e Religiosidadcs com 0 objetivo de apresentar algUi as rcferencias dos filmes analisados 2 Mestre em Historia pcla UFSC Universidade F

Historia da rcdc publica do [stado de Minas Gerai

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c

Page 15: as Bibliogrdficas RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSISstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3224606.pdf · 16 'as Bibliogrdficas mentafao oral e tematica da seca: estu o Federal,

s sortes os ovos guardados em agua e outras

via com respeito com simpatia e se alguma ao as saber ja praticar( Machado de Assis 1957h171-2 1958a93-4 1955d31-3 241

vento dos tempos desfazia em lufadas de anrigas arraigadas no imaginario coletivo no nsa que tudo esfolhava e dispersava devagar

tou de urn marador de Viana deseobridor de que lacrimejava e supondo ser milagre pas ses considerando procedente realizar exame clesiasticos Em 1870 comentou a realizaltao apora que reuniam anuahnente urn numero

romeiros calculados naquele ana em 8000 sobre uma senhora que enlouqueceu quando a enterrando uma imagem de Santo Antonio

Porem como a chuva abundante nao cessava mais matando inclusiye animais yoltou ao cipitaltao so cessaria apos desenterra-lo mas supor que os males derivavam da altao que do 0 fa to de Santo Antonio gozar entre seus 0 de nao conceder nenhuma gralta senao s6 operando milagres a troeo da liberdade

giosa fizera-se supersticiosa e que quando muito alem das fronteiras da superstiltao nenhuma das grandes consolaltoes da fe loucura Ainda nesse universo ja em 1876 eres santas e milagrosas uma que apareceu na romarias dos seus devotos e outra velha

urar doenltas incuraveis com ervas 955c144-5 1958a227-8 283-4 1959c181-2) s do sagrado e do profano da fe da devoltao

bricadas no que concerne as praticas dos o e influencia redproca entre as ins tlmcias das a recrialtao pelas leigos entre 0 div1110 e a

omentos e lugares em que essas aspiraltoes sociais serviam tambem para promQyer a

deixando esse sobrevoo sobre a sociedade num segmento espedfico desta como na

ceber outros aspectos da cultura religiosa a amalgamada no territorio flumlnense aticas ao redor de alguns personagens idosos

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OPSIS - Revista do Niese V2 N J JanJun 2002

os quais de forma geral sao vistos como conhecedores dela e por 1880 re8peitados

Nesse meio social ex1stiam aqueles inseridos na tradiltao catolica como uma preta v~lha do conto 0 Escrivao Coimbra que Camilo viu na igreja ajoelhada diante do altar de S Bernardo com urn rosario na mao parecenshydo pedir-lhe alguma coisa se nao e que the pagava em oraltoes 0 beneficio ia recebido ate que acabou beijando a cruz do rosario persignou-se levanshytou-se e saiu Outros aparecem como detentores de conhecimentos tradicishyonais e seus transmissores sendo rezadores que pediam guard a para seus senhores ou sabedores de promessas celebres como mandar dizer cern misshysas au subir de joelhos a ladeira da Gloria para ouvir uma ir a Terra Santa(Machado de Assis 19551229-30 1957c71177279) 0 negro idoso esta presente no universo das atividades catolicas como sineiros a exemplo do preto velho de Casa Velha que embora muito atrelado as tradiltoes africanas era sineiro mas nao fazia mais que tocar 0 sino da capela para a missa aos domingos Igualmente nesse ofieio IvIachado destaca Joao 0 sineiro da Gloria que de escravo ficou livre governando por quase meio seculo aquela torre regendo a par6quia e contemplando 0 mundo de 11 Reshypicava por casamentos nascimentos batizados mortes Dobrava pela febre amarela 0 colera-morbus os partidos que subiam ou cafam sem saber deles _ pela guerra do Paraguai pelos mortos e pelas vitorias peIo ventre livre das escravas a aboliltao a Republica pelo imperio_ se 0 imperio tornasshyse Tudo con[orme a ordem(tviachado de -5S1S 1956b193-4 1957b431-3)

Outras Ofertas e tensoes Feiti~arias Adivinha~oes e

Espiritismo

Ja outtos negros velhos aparecem atrelados as tradiltoes ancestrais mals circunscritas sendo depositarios de poderes de proteltao e guardioes de varios elementos que expressam traltos cultorals singulares das socledades afrishycanas 0 negtos produziram com suas linguas danltas folguedos sonoridashydes cantos e batoques uma ruptura com a -isao de mundo ocidental ao recorrerem mesmo que na clandestinidade a seus ritos seus deuses criando uma cultura negra brasileira a qual reeorriam alguns de seus senhores Em tal contexto embora insetidos em universo simb6lico marcado pda multiplicidade de crenltas praticas e visoes de mundo alguns aspectos da expressao lingiiisshyrica usada no cotidiano por brancos negros e mestiltos livres e cativos indishycam associaltoes ao cuhos africanos nos quais a ideia de familia e de laltos de parentesco permeiam os relacionamentos socialS e religiosos que sao intimashymente ligados Desta forma alguns pretos velhos eram ehamados de Pai sendo vistos como bondosos humildes generosos e paternais( Machado de Assis 1955d392 1957c279)

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Outros pretos velhos de modo mais dire to traziam conhecimentos ancestrais produzindo rituals que funcionavam como urn feitiqo protetor as vezes acendendo velas tocando marimba cantarolando em alguns instanshytes baixinho umas ozes de Africa cantilenas alegres guerreiras entusiasshytas em outros cantigas falando de santo de trabalhar de comer 0

que remete as praticas das oferendas e ao principio do candomble de existenshycia de forqas vitais e sagradas que perpassam todos os aspectos da vida mashyterial e cotidiana como as tarefas as formas hidicas como a musica a danqa o canto 0 gesto Assim tanto Raimundo de laid Garcia empertigava 0

corpo dando aos quadris e ao tronco 0 movimento de suas danqas africashynas quanto 0 peeto velho de Casa Velha que canta-a Calumga mussanga monandengue dando ao corpo umas sacudidelas para acompanhar a toshyada africana alem de recorrer as tradiltoes orais ao contar historias muito compridas e sem sentido algum para os brancos pOlS forjadas e inseridas noutro universo simbolico da maioria deles ignorado Desta forma essas manifestaltoes mantinham uma memoria reveladora de matrizes africanas que era alimentada pela danqa pela paIavra pelos gestos ou pelos objetos e oushytros vekulos de expressao e comunicaqao(Machado de Assis 1955h1114 1956b193-4 1957b432-3)

No entanto outros aspectos expressam ainda a religiosidade no universo de uma cultura afro-amerindio-brasileira na obra machadiana como a feitiqaria Num momento em que em nome da civilizaltao da ciencia e da razao os intelectuais e as autoridades medicas policicas e policiais voltaramshyse contra praticas ariadas denominadas ~fnericamente de feitisaria lIachashydo abordou essa questao de modo bastante proprio Nao associou tais pratishyeas ao universo socio-cultural espedflco dos negros como faziam outros jorshynalistas e tampouco os apreciou a priori de modo negativo e condenatorio Contrap6s-se ao conteudo de muitas notkias divulgadas na imprensa nas quais 0 negro era 0 bruxeiro 0 feiticeiro violento e barbaro com a figura de Raimundo que produzia urn feitiqo protetor a seu senhor afastando da imagem do preto que fazia feitico male fico para seus proprietarios(Schwarcz 1987125-8 Machado de Assis 1955h10)

Ao tratar da batalha contra os antigos habitos religiosos tradicionais da gentes em 1893 0 cronista anunciava ter medo do c6digo penal de 1890 no qual havia urn artigo que castiga duramente as pessoas que advinham 0

futuro tao duramente como as que aplicam drogas para excitar odio ou amor para fascinar e subjugar a credulidade publica Com base nesse as autoridades recolhiam adetenqao curandeiros e feiticeiras levan do as ferrashymentas desses ofieios ( ) incluidos no e6digo como delitos como aves mortas pernas de ceroula saquinhos com feijao arroz farinha sal altucar canjica penas e cabeltas de frangos usados na busca de estabelecer uma alianshyca com 0 sobrenatural a partir da aciio de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do

vivos deuses e homens(lIachado de Assis Assis a feitiqaria era alga natural do homen tivas alem de ser urn ofkio que garancia r fur tar e matar para sobreviver e infring1r 0

que nao falam de feitiltaria mas de furto doente acreditar na feiticaria e por julgar q soais que determinam tudo neste mundo I

acudir a feitiltaria considerando emao inee go penal como deli to c prender senhoras s com os seus olhos e com seus demais obj 1959b308-11 )

fachado rarefez 0 clima hostil de dos seus agentes nao as associando aos neg te que esse elbo costume de buscar nas fei ros quase sempre mesciltos _caboclos e eab agruras nao so se restringia ao pon) Muita dade recorriam aos adiyinhos e curandeiros erva como por meio dc rezas 0 eurand mazelas que devastaam a cidade como eOolltao de defuntos de espiritos difere de ler como as adivinhas mandando e curandeiro Tobias falava em prosa scm 0

cas ate ser preso com suag bugigangas e galo pes de galinha secas medalhas pohcoJ de raia incluidos no aparato instrumental sis 1956c248-9 267-8 19S5d426-7)

Buscar os adivinhos e feiciceiros era ricas ainda que nesta muito preconceitos vando muitas ezes a consultas escondidas redor dc uma caboc1a muito conhecida do adivinha era grande e segundo 0 narrador da sociedade falavam dela a serio e havia ta um Juiz municipal cuja nomeaqao foi ar era muito falada na cidade e reinava Ii n(

merosa que vinha de muito mcses scndo queza da adivinha Toda a gcnte falan e assunto da cidade atribuiam-lhe um pode sortes achados casamento Afirmavam e 0 que vifia a scr Para 0 poo parccia muitas as noticias sobre seus feitos e ha-ia ~ soas que tinham perdido e achado joias e esc ~- polkia mesma quando nao acabaYl1 de

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de modo mais dire to traziam conhecimentos

tronco 0

funcionavam como urn feitio protetor

marimba cantarolando em alguns instanshy cantilenas alegres guerreiras entusiasshy

de santo de trabalhar de comer 0

e ao principio do candomble de existenshyperpassam todos os aspectos da vida mashy

as formas ludicas como a musica a danca Raimundo de laid Garcia empertigava 0

movimento de suas dancas africashyVelha que cantava Calumga ~ussanga umas sacudidelas para acompanhar a to-

as tradicoes orais ao contar historias muito para os brancos pois foqadas e inseridas

maioria deles ignorado Desta forma essas memoria reveladora de matrizes africanas que palavra pelos gestos ou pelos objetos e oushy

~uluIlltaya()(ilachado de Assis 1955h1114

expressam ainda a religiosidade no merind()-trastllra na obra machadiana como

que em nome da ciyilizacao da ciencia e da medicas politicas e policiais oltaramshy

1955hlO)

loolinadls genericamente de feiticariatvfachashybastante proprio Nao associou tais pratishy

_middot~neIflr dos negros como faziam outros jorshy

apriori de modo negativo e condenatorio muitas noticias divulgadas na imprensa nas o feiticeiro violemo e barbaro com a figura

feitico protetor a seu senhor afastando da maletico para seus proprietarios(Schwarcz

os antigos habitos religiosos tradicionais anunciava ter medo do codigo penal de 1890

duramente as pessoas que advinham 0

as que aplicam drogas para excitar odio ou a credulidade publica Com base nesse as curandeiros e feiticeiras levando as ferrashy

lCitllid()s no codigo como deliros como aves

com feijao arroz fartnha sal acucar usados na busca de estabelecer uma alianshy

da alao de alimentar que fortalece e mantem

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vivos deuses e homens(Machado de Assis 1959a288 1959b308) Para De Assis a feiticaria era algo natural do homem vista em varias tribos primishytivas alemde ser urn oficio que garantia renda a muitos impedindo-os de furtar e matar para sobreviver e infringir os mandamentos da lei de Deus que nao falam de feiticaria mas de furto Ironicamente diz que por estar

doente acreditar na feiticaria e por julgar que sao sempre os l11teresses pesshysoals que determinam tudo neste mundo estava com grandes desejos de acudir afeiticaria considerando entao incorreto incluir a feiticaria no codishygo penal como delito e prender senhoras so porque fecham 0 corpo alhelO com os seus olhos e com seus demais objetos de culto(Machado de ASS1S

195308-11) Machado rarefez 0 clima hostil de desqualificacao dessas praticas e

dos seus agentes nao as associando aos negros e enfatizando incansavelmenshyte que esse velho costume de buscar nas feiticeiras adivinhas e curandeishy

ros quase sempre mesticos _caboclos e caboclas _ auxilio as imluietacoes e agruras nao s6 se restringia ao povo Tfuitas pessoas de posiltao na SOC1eshydade recorriam aos adi-inhos e curandeiros e os ultimos curavam tanto com ervas como por meio de rezas 0 curandeiro Nascimento curaa muitas mazelas que devastayam a cidade como barriga dagua com passes de evocacao de defuntos de espiritos diferentes ou arrancava dentes alem de Ie~ como as adivinhas mandando com tais e tais palaTinhas Ja 0

curandeiro Tobias falava em prosa sem 0 saber curaa em Hnguas classishycas ate ser preso com suas bugigangas e drogas tais como esporoes de galo pes de galinha secos medalhas polvora e ate urn chicote feito de rabo de raia inc1uidos no aparato instJumental de seus ritualS (ilachado de Asshysis 1956c248-9 267-8 1955d426-7)

Buscar os adivinhos e feiticeiros era costume presente entre as classes ricas ainda que nestas muitos preconceitos contra tais praticas existissem leshyvan do muitas vezes a consultas escondidas como ocorre em Esau e Jaco ao redor de uma cabocla muito conhecida do Ilorro do Castelo lt fama des sa adivinha era grande e segundo 0 narrador muira gente boa Ja ia pessoas da sociedade fala am dela a serio e havia um caso recente de pessoa dis tinshy

ta urn juiz municipal cuja nomeacao foi anul1ciada pela cabocla A caboc1a era muito falada na cidade e reinava la no morro possuindo freguesia nushymerosa que vtnha de muttos meses sendo sinal certo da videncia e da franshyqueza da adivinha Toda a gente fahlYa entao da cabocla do Castelo era 0

assunto da cidade atribuiam-lhe um poder tntlnito uma serie de milagres sortes achados casamentos AfirmaalU que cia adivinhaya tudo 0 que era eo que iria a ser Para 0 povo parecia que era mandada de Deus Eram muitas as noticias sobte seus feiros e hayia gente que dizla que conheC1a pe5shysoas que tinham perdido e achado joias e escraos De acordo com 0 narrador A policia mesma quando nao acabaa de apanhar um criminoso ia ao Casshy

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tela falar acabocla e des cia sabendo por i5S0 eque nao a botava para fora como os invejasos andavam a pedir A caboda explicava sonhos e pensashymentos curava quebranto(Machado de Assis 1959d43-4)

Segundo Aires tal costume era velho e velhissimo e no interior da casa simples nao havia nada que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshynhum petrecho simbalico nenhum bicho empalhado esqueleto ou desenho de aleiJoes Quando muito urn registro da [festa de Nossa senhora da ] Conshy

colado a parede podia lembrar misterio mas nao metia medo A cabocla e descrita com simpatia e 0 ritual sem afetacao Era uma criaturinha leve e breve ( ) corpo airoso com urn raminho de arruda nos cabelos 0

que ja the dava urn certo ar de sacerdotisa embora seu misterio estivesse mesmo era nos olhos agudos e compridos que entravam peIo consulente revoh-endo-Ihe 0 coracao ao tempo que interrogava Em transe de posse de retratos e cabelos de alguem ausente com urn cigarro acesso ao som de uma viola e de cantigas do sertao do Norte murmuradas por urn velho caboclo entrava a dizer sobre as coisas futuras ate que por fun 0 fregues se alegre e rico tirava uma nota de cinquenta mil-reis quando 0 preco do costume era cinco ezes menos arrecadaYa seus objetos e saia (Machado de Assis 1959d 7shy16) Essa cabocla com origem no norte do pais assim como outros caboclos curandeiros perseguidos pela policia remete apresenca dos caboclos no unishyverso das pniticas religiosas brasileiras que sendo figura mestica esta vinculashyda a nossos ancestrais nativos os indios donos da terra e ligados anatureza no tradicao dos cultos afro-brasileiros

No en tanto no campo das batalhas religiosas tais praticas tiveram outros opositores tal como os adeptos do nascente espiritismo que contagishyados peIo espirito positivo~cientificista do momenlO na busca de credibilidade ptlblica e de converter fieis incutindo-lhes seus pressupostos diziam possuir doutrina regida por leis cientificas ao querer excluir qualshyquer maculf[ de seita e julgavam-se sabedores das verdadeiras luzes do mundo e de verdades eternas Desta forma um iniciado nessa religiao defendia uma consulta espirita e na~ a caboda do Castelo por mais que ela fosse celebre Recorrer a ela seria imitar as crendices da gente reles e s6 ocorreria ate enquanto a policia nao pusesse cobro ao escandalo J a numa consulta espirita algum espirito podia [dizer] a verdade em vez de uma adivinha de farsa Para urn medium espirita enfiado em larga camisola de seda e usando toda a terminologia espirita assomada de casos fenomeshynos misterios testemunhos atestados verbais e escritos a cabocla devia ser deixada afe das senhoras pois eram delas crencas da meninice(Machado de Assis 1959d79113843-6646770 1957h10-1)

Cabe aqui ressaltar que nesta obra Esau e Jac6 a qual trata desses variados aspectos espirituais acima apontados advindos de tradicoes culturais e religiosas diversas Machado sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religi~

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OPSIS - Revista do

oso expondo a imbricacao das praticas ori catolicismo e 0 confronto com 0 espiritismc bases do que seria posteriormente denomin nomes dados as pessoas podem predestina ligacao entre 0 fato dos filhos do casal Sanl quais a cabocla disse terem brigado no ventr des entre estes porque os dois apostolos do garam assim como Esau e Jaco figuras do brigado por causa da primogenitura

Porem lIachado nilO recorre ao eSI conto Uma visita de Alcibiades 0 desemba S1caO juntamente com Santos aCllna citado essa doutrina propagaya ao ler Plutarco fun litava envoher a imaginaltao numa especie vel as evocacoes mentais transportou-se pa de Alcibiades ate que ao terminar de [umar de subilO pensou qual seria a impressiio daqu ario Desta feita enfatizando (lue era urn 1

podendo mesmo dizer que vlvia cornia dor cafe e esperava morrer na fe de Alan Kard os sistemas sao pura niilidades tinha adota sim sendo espiritista evocou lcibiades a c fez rapido aproximando duas civilizacoes impalpavel e sim urn homem de carne e mente a sua frente entrando a conersar sob o grego empalideceu cambaleou e caiu r desembargador mandou~o para 0 necroteno

o espiritismo sen-iu como assunto nas quais quasc sempre ri brinca e ironiza sc cando as vezes compreende-los por mais laquo

correndo a estrategias comicas Desta forma situacoes nebulosas como uma que exigia p teoria de Newton sugerc consultar 0 propri vez que nao entendia nada de astronomia Er brasileiros acabavam de dar um golpe de m urn medium com fama de ser prodigioso e sileira nomeado uma comissao para estudar nao valia a fama e que os trabalhos ficararr Europa e outro paises mas que 0 problen estao sujeitas a esse eclipses e nao estao Fora i5S0 a Federacao lamentaa que diante mular os fenomenos que obtem nas condie

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_UJUUV por 1SS0 e que nao a botava para fora a pedir A caboda explicava sonhos e pensashy

UVll1Ul1lU de Assis 1959d43-4)

vmiddotOLU1l1C era velho e velhissimo e no interior da que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshy

UUilU bicho empalhado esqueleto ou desenho registro da [Festa de Nossa senhora da 1Conshylembrar misterio mas nao metia medo A eo ritual sem afetas-ao Era uma crtaturinha

com urn raminho de arruda nos cabelos 0

sacerdotisa embora seu misterio estivesse e compridos que entravam pelo consulente

tempo que interrogava Em transe de posse de ausente com urn cigarro aces so ao som de uma do Norte murmuradas por urn velho cabodo

futuras ate que por fim 0 fregues se alegre ~lu-uLa mil-reis quando 0 pres-o do costume era

seus objetos e saia(Machado de Assis 1959d7shyno norte do pais assim como outros cabodos

polleia remete a presens-a dos cabodos no unishyIIJ[l1~JlC1Jl1 que sendo Figura mestis-a esta vlnculashy

os indios donas da terra e ligados anatureza

das batalhas religiosas tais praticas tiveram adeptos do nascente espiritismo que contagishy

__rpntificista do momento na busca de nrprtpr fieis incutindo-Ihes seus pressupostos

por leis cientificas ao querer exduir qualshysabcdorcs das yerdadeiras luzes do

Desta forma urn iniciado nessa religiao

rfu~ ~clt5u-(r(l1H-gn1ru lJ(YL nril ljlft1hgt

seria imitar as crendices da gente reles e so nao pusesse cobro ao esdindalo Ja numa

podia [dizer] a verdade em vez de uma Pltd11lIl espirita enfiado em Iarga camisola de

espirita assomada de fenomeshynauo verbais e escritos a cabocla devia ser

eram delas crenltas da meninice(Machado 770 1957hl0-1)

nesta obra Esau e Jaco a qual trata desses apontados advindos de tradiltoes culturais

sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religishy

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oso expondo a imbricaltao das praticas origin arias dos amedndios com 0

catohcismo e 0 confronto com 0 espiritismo que amalgamados crtavam as bases do que seria posteriormente denominado de umbanda Aponta que os nomes dados as pessoas podem predestinar seus caminhos ao estabelecer ligaltao entre 0 fato dos filhos do casal Santos chamarem Pedro e Paulo os quais a cabocla disse terem brigado no ventre da mae e indicando as rivalidashydes entre estes porque os dois apostolos do Novo Testamento tam bern brishygaram assim como Esau e Jac6 figuras do Velho Testamento tinham ainda brigado por causa da primogenitura

Porcm Machado nao recorre ao espirttismo apenas nessa obra No conto Uma visita de Alcibades 0 desembargador Alvares que por sua poshysiltao juntamente com Santos acima citado indica 0 meio abastado em que essa doutrina propagaa ao ler Pluta reo fumando um charuto que possibishylitava envolver a imaginas-ao numa especie de nimbo extremamente favorashyvel as evocaltoes mentais transportou-se para a antiga Atenas pois lia a vida de Alcibiades ate que ao terminar de fumar voltou aos tempos modernos e de subito pensou qual seria a impressao daquele ateniense sobre n0550 vestushyano Desta feita enfatizando que era urn tanto espiritista ( ) ate muito podendo mesmo dizer que livia comia dormia passeava conversava bebia cafe e esperava morrer na fe de Alan Kardec pois convencido que todos os sistemas sao pura niilidades tinha adotado 0 mais jovial de todos Asshysim sendo espiritista evocou Alcibiades a comparecer em sua casa e esse 0

fez tapida apraximando duas civilizayoes Mas esse nao era uma sombra impalpavel e sim um homem de carne e ossos que se sentou benevalashymente a sua frente entrando a conversar sobre 0 assunto de interesse ate que o grego empalideceu cambaleou e caiu no chao Dian te do cadaver a desembargador mandou-o para 0 necroterio(Machado de Assis 1956a203-7)

o espiritismo serviu como assunto em varias cronicas machadianas

nas qua~s quasc selnpre ri brinca e lroniza seus enunciados e principios busshycando as vezes compreende-Ios por mais estranheza que provocassem reshyoottendo a estrateglaS comicas Desta forma ha momentos em que diante de situa~oes nebulosas como uma que exigia para sua solus-ao conheCImento da teoria de Newton sugere consultar 0 proprio por meio do espiritismo uma vez ~ue nao entendia nada de astronomia Em outro comenta que os espiritas brasilerros acabavam de dar um golpe de mestre quando apareceu na cidade ~medium com fama de ser prodigioso e tendo a FederaS-ao Espirita Brashysiletra nomeado uma comissao para estudar os fenomenos concluiu que de nao valia a fama e que as trabalhos ficatam abaixo do que se conseguia na Eur~pa e ~utros paises mas que 0 problema estava nas mediunidades que estao Su)eHas a esses eclipses e nao estao senrilmente anossa dispasis-ao Fora 1550 a Federaltao lamentava que diante de tudo a medium huscasse 5ishymular os fenomenos que obtem nas condis-oes normais Segundo Machashy

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do chistosamente 0 medium nao s6 foi ( ) apenas mmtmum mas ate procurou embasar a Federasao(lvlachado de Assis 1958b177 1956c123)

As estrategtas e argumentos usados pelos propagadores da nova doushytrina geralmente expostos nas conferencias promovidas pela Federaltao ou publicados na Uniao Espirita na busca de adeptos e de convemles tambem nao escaparam aeritica machadiana principalmente devido a sua indisposisao a tudo que se propagava como sendo verdade unica e absoluta levando-o a destilar sua eostumeira ironia em varios eseritos sobre essa doutrina e suas praticas Dentre eles destaeamos a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima verdadeira e definitiva doutrina e que substituiria todas as religioes do passashydo 0 eronista reeorre sempre a essa proposiltao quando depara com fatos obscuros e irnpossiveis de destrinltar ocorridos na cidade buscando solucionashylos usando de carnavalizaltoes que acabam por ridieulizar toda e qualquer noltao de -erdade ou de tal pretensao Isso aconteee nao s6 ao que diz respeishyto a essa doutrina A artimanha para conquistar simpatias e fieis de divulgar Iista de pessoas eminentes da Europa que acreditavam no espiritismo foi por ele tambern censurada pois no seu dizer tudo ocorria de forma como se as pessoas devessem crer por crer em tudo aquilo que na Europa e acreditado(~1achado de Assis 1955b297-9 195188)

Ao redor do principio da encarnaltao e reencarnaltao Machado fez yarias elucubraltoes supondo situaltoes tratadas de forma humoristica as quais contribuiam para difundir alguns de seus principios Assim ao vislumbrar uma certa promiscuidade geral dos desencarnados divulga 0 principio de que 0 espirito pode reencarnar inclusive na mesma familia sendo viivel que um homem pudesse ter uma ftlha depois morrer e voltar filho dela ou urn menino voltar filho de urn prin10 Se em alguns momentos pesa a mao contra os espiritistas dizendo que 0 espiritismo nao e menos curanderia que os outros curandeiros e que se fosse legislador mandava fechar todas as igrejas des sa religiao em outros em tom ate didatico enfatiza que 0 princishypio espirita e fundado no progresso e a leI e nascer morrer tornar a nascer e renascer ainda progredir sempre sendo que 0 renascimento epara meshylhor Cada espirita em se desencarnando vai para os mundos superiores Reflete ainda sobre a distancia entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo que 0 principio espirita nao e 0 mesmo da transmigrasao em que as aIm as vao para os corpos dos animalS mas fundado no progresso(Machado de Assis195100-2188)

Acreditando ser representativo do pensamento ultimo de Machado a respeito do espiritismo em 1895 ele defende seu exercicio pois a Constituishyltao estabclece 0 direito de liberdade religiosa No seu dizer 0 espiritismo e uma religiao que ele nao sabia se falsa ou verdadeira embora os espiritas dissessem que verdadeira e unica frente ao que ressaIta que presunltao e agua benta cada um toma a que quer Se verdadeiros ou nao [continual 0

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OPSIS - Revista tiD

fato e que escrevem-se e publicam-se inUn jornais espiritas e no Rio havia uma ou dl acreditara que nao se gasta tanto papel em a palavra que se esta escrevendo e a propria seguinte 1896 comenta (lue ha muito que ( tos escreyem pclos dedos dos vhos e que mundo e neste final de urn grande seculo(1

Desta forma a cultura carioca oitoclt diversas de religiosidade e de expcriencias com 0 divino 0 campo religioso apresent possibilidades variadas de vivenciar a proCl debatem em confronto entre si quanto se a] produzindo formas hibridas e sincreticas de lam os homens a seus deuses com tambem a em parte de seus lasos de sociabilidade

Fontes e Referencias B

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Rio de l1achado de Assis Estudos Histor Pesquisa e Documentaltao da Hist6ria Conte Getulio Vargas no 28 p 49-69 2OC) BOCRDIEC Pierre A Economia das TrOt pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Si Paulo Cia Das Letras 1989 ivLCI1ADO DE ASSIS Joaquim r1aria C 10 WMJackson inc 1955a

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_ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Rejlexoes de um Relojoeiro _ A Mao e a Luva Sao Paulo M Jad

lt 37

mio s6 foi () apenas minimum mas ate WHltV de Assis 1958b 177 1956c123)

usados pelos propagadores da nova doushyconferencias promovidas pela Fede1aio 01

na busca de adeptos e de conversoes tambem principalmente devido a sua indisposiltilO

sendo verdade unica e absolura levando-o a em vanos escritos sobre essa doutrina e suas

a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima e que substituiria todas as religioes do passashya essa proposicao quando depara com fatos

ocorridos na cidade bus cando soluciomishyque acabam por ridiculizar toda e qualquer

temao Isso acontece nao 56 ao que diz respeishypara conquistar simpatias e fieis de divulgar

Rur(ma que acreditavam no espiritismo foi por seu dizer tudo ocorria de forma C01no se as crer em tudo aquilo que na Europa e 1955b297-9 195188)

da encarnacao e reencarnacao 1Iachado fez Grv~ tratadas de forma humoristica as quais

de seus principios Assim ao vislumbrar dos desencarnados divulga 0 prindpio de

inclusive na mesma familia sendo viavel que depois morrer e voltar filho dela au urn Se em alguns momentos pesa a mao

que 0 espiritismo nao e menos curanderia se Fosse Iegislador mandava fechar todas as em tom ate diampitico enfatiza que 0 princishy

e a lei e nascer morrer tornar a nascer sendo que 0 renascltnento e para meshy

uJ Tal para os mundos superiores entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo omesma da transmigraltao em que as almas

mas fundado no progresso(Machado de

do pensamento ultimo de Machado a ele defende seu exerdcio pois a Constimishy

religiosa No seu dizer 0 espiritismo e se falsa au verdadeira embora os espiritas

frente aa que ressalta que presunltao e quer Se verdadeiros ou nilO [continua] 0

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

fata e que escrevem-se e publicam-se inumeros livros folhetos reistas e jornais espiritas e no Rio havia uma ou duas folhas espirita alem do que acrerutaa que nao se gasta tanto papel em tantas linguas senao crendo que a palavra que se esta escrevendo ea propria verdade Para finalizar no ano seguinte 1896 comenta que hi muito que os espiritas afirmam que os mOfshytos escrevem pelos dedos dos vivos e que para ele tudo e POSSIel neste mundo e neste final de urn grande seculo(Machado de Assis 1957b26274)

Desta forma a cultura carioca oitocentista esta permeada de formas diersas de religiosidade e de experiencias voltadas para a busca de Iigacao com 0 divino 0 campo religioso apresenta-se marcado pela presenca de possibilidades variadas de vlvenciar a procura do sagrado as quais tanto debatem em confronto entre si quanta se aproximam nas pniticas dos tieis produzindo formas hibridas e sincreticas de religiosidade que nao so vincushylam os homens a seus deuses com tambem aos outros homens constitumdo em parte de seus lacos de soclabilidade

FOlltes e Referihlcias Bibliogrtificas

BORGES Valdeci Rezende Em busca do mundo exterior sociabilidade no Rio de Machado de Assis Estudos Historicos Rio de Janeiro Centro de Pesquisa e Documentacao da Historia Contempodmea do Brasil da Fundaltao Getulio Vargas no 28 p 49-69 200l BOURDIEC Pierre A Economia das Trocas Simb6licas Sao Paulo Persshy

pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e hist6ria Sao Paulo Cia Das Letras 1989 MAClMDO DE ASSIS Joaquim Maria Contos Fluminenses v2 Sao PaushyloWMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b Cronicas v 2 1955c

_ Cronicas v 4 19S5d _ Helena _ 19S5e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Hist6rias Romanticas 1955g _ laid Garcia 1955h

Memorial de Aires 1955i _ Pdginas Recolhidas _ 1955j _ ReUquias de Casa Velha v 1 _ 19551 _ Contos Esquecidos Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1956a _ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Reflexoes de um Relojoeiro _ 1956c _ A Mao e a Luva Sao Paulo 11 Jackson inc 1957a

37

A Semana v 3 1957b _ Dam Casmurra _ 1957c

Historias Sem Data 1957d

_ Memorias Postumas de Bras Cubas 1957e _ Quincas Borba 1957f

_ Requias de Casa Velha v 2 _ 1957g Varias Historias 1957h

_ Contos e Cronicas Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1958a _ Cronicas de Lelia 1958b _ A Semana v 1 Sao Paulo WMJackson inc 1959a

A Semana v 2 1959b _ Cronicas v 4 1959c _ Esau e Jaco 1959d

SCHv~RCZ Lilia Moritz Retrato em Branco e Negro jornals escravos em Sao Paulo no final do seculo XIX Sao Paulo Cia Das Letras 1987

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OPSIS - Revista do

CINEMA E RELIGI

ResuResumo

Propomos neste texto apre5cntar algushy 1ou

mas reflex6es sobre a ahordagem de ashy quell

lares no cinema presentes em nleu

filmes como E 0 vento levou Blade film~

Runnermiddot 0 Carador de Androides 0 Run

Exorcisca Matrix dentre outros Exor

Atualmentc vivemos em uma 50eiel urn gm-erno baseado na lei e na razao Ne pensar assentam-se nao mais somente nos v bem nos valotes politicos e sociais Disso religiosos cristaos em quase nada influeneiat de fazer visto que Igreja (como instituiltao) tados na lei

Apesar da atual sociedade aparentc s6lida temos que ter em mente que cia so mente ha pouco tempo malS preeisamente e s6 se consolidou a partjr do positivismo vivemos em uma sociedade ainda em form

mente nao influencia tanto a nossa maneir E isto s6 e verdade para as eham2

hoje existem diversas sociedades ditas tee arabes (Irii) 0 Afeganistao onde 0 fundarr em todos os nh-eis

1 Este texto foi prodU7ido a partir do curso ministr e Religiosidadcs com 0 objetivo de apresentar algUi as rcferencias dos filmes analisados 2 Mestre em Historia pcla UFSC Universidade F

Historia da rcdc publica do [stado de Minas Gerai

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c

Page 16: as Bibliogrdficas RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSISstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3224606.pdf · 16 'as Bibliogrdficas mentafao oral e tematica da seca: estu o Federal,

Outros pretos velhos de modo mais dire to traziam conhecimentos ancestrais produzindo rituals que funcionavam como urn feitiqo protetor as vezes acendendo velas tocando marimba cantarolando em alguns instanshytes baixinho umas ozes de Africa cantilenas alegres guerreiras entusiasshytas em outros cantigas falando de santo de trabalhar de comer 0

que remete as praticas das oferendas e ao principio do candomble de existenshycia de forqas vitais e sagradas que perpassam todos os aspectos da vida mashyterial e cotidiana como as tarefas as formas hidicas como a musica a danqa o canto 0 gesto Assim tanto Raimundo de laid Garcia empertigava 0

corpo dando aos quadris e ao tronco 0 movimento de suas danqas africashynas quanto 0 peeto velho de Casa Velha que canta-a Calumga mussanga monandengue dando ao corpo umas sacudidelas para acompanhar a toshyada africana alem de recorrer as tradiltoes orais ao contar historias muito compridas e sem sentido algum para os brancos pOlS forjadas e inseridas noutro universo simbolico da maioria deles ignorado Desta forma essas manifestaltoes mantinham uma memoria reveladora de matrizes africanas que era alimentada pela danqa pela paIavra pelos gestos ou pelos objetos e oushytros vekulos de expressao e comunicaqao(Machado de Assis 1955h1114 1956b193-4 1957b432-3)

No entanto outros aspectos expressam ainda a religiosidade no universo de uma cultura afro-amerindio-brasileira na obra machadiana como a feitiqaria Num momento em que em nome da civilizaltao da ciencia e da razao os intelectuais e as autoridades medicas policicas e policiais voltaramshyse contra praticas ariadas denominadas ~fnericamente de feitisaria lIachashydo abordou essa questao de modo bastante proprio Nao associou tais pratishyeas ao universo socio-cultural espedflco dos negros como faziam outros jorshynalistas e tampouco os apreciou a priori de modo negativo e condenatorio Contrap6s-se ao conteudo de muitas notkias divulgadas na imprensa nas quais 0 negro era 0 bruxeiro 0 feiticeiro violento e barbaro com a figura de Raimundo que produzia urn feitiqo protetor a seu senhor afastando da imagem do preto que fazia feitico male fico para seus proprietarios(Schwarcz 1987125-8 Machado de Assis 1955h10)

Ao tratar da batalha contra os antigos habitos religiosos tradicionais da gentes em 1893 0 cronista anunciava ter medo do c6digo penal de 1890 no qual havia urn artigo que castiga duramente as pessoas que advinham 0

futuro tao duramente como as que aplicam drogas para excitar odio ou amor para fascinar e subjugar a credulidade publica Com base nesse as autoridades recolhiam adetenqao curandeiros e feiticeiras levan do as ferrashymentas desses ofieios ( ) incluidos no e6digo como delitos como aves mortas pernas de ceroula saquinhos com feijao arroz farinha sal altucar canjica penas e cabeltas de frangos usados na busca de estabelecer uma alianshyca com 0 sobrenatural a partir da aciio de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do

vivos deuses e homens(lIachado de Assis Assis a feitiqaria era alga natural do homen tivas alem de ser urn ofkio que garancia r fur tar e matar para sobreviver e infring1r 0

que nao falam de feitiltaria mas de furto doente acreditar na feiticaria e por julgar q soais que determinam tudo neste mundo I

acudir a feitiltaria considerando emao inee go penal como deli to c prender senhoras s com os seus olhos e com seus demais obj 1959b308-11 )

fachado rarefez 0 clima hostil de dos seus agentes nao as associando aos neg te que esse elbo costume de buscar nas fei ros quase sempre mesciltos _caboclos e eab agruras nao so se restringia ao pon) Muita dade recorriam aos adiyinhos e curandeiros erva como por meio dc rezas 0 eurand mazelas que devastaam a cidade como eOolltao de defuntos de espiritos difere de ler como as adivinhas mandando e curandeiro Tobias falava em prosa scm 0

cas ate ser preso com suag bugigangas e galo pes de galinha secas medalhas pohcoJ de raia incluidos no aparato instrumental sis 1956c248-9 267-8 19S5d426-7)

Buscar os adivinhos e feiciceiros era ricas ainda que nesta muito preconceitos vando muitas ezes a consultas escondidas redor dc uma caboc1a muito conhecida do adivinha era grande e segundo 0 narrador da sociedade falavam dela a serio e havia ta um Juiz municipal cuja nomeaqao foi ar era muito falada na cidade e reinava Ii n(

merosa que vinha de muito mcses scndo queza da adivinha Toda a gcnte falan e assunto da cidade atribuiam-lhe um pode sortes achados casamento Afirmavam e 0 que vifia a scr Para 0 poo parccia muitas as noticias sobre seus feitos e ha-ia ~ soas que tinham perdido e achado joias e esc ~- polkia mesma quando nao acabaYl1 de

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de modo mais dire to traziam conhecimentos

tronco 0

funcionavam como urn feitio protetor

marimba cantarolando em alguns instanshy cantilenas alegres guerreiras entusiasshy

de santo de trabalhar de comer 0

e ao principio do candomble de existenshyperpassam todos os aspectos da vida mashy

as formas ludicas como a musica a danca Raimundo de laid Garcia empertigava 0

movimento de suas dancas africashyVelha que cantava Calumga ~ussanga umas sacudidelas para acompanhar a to-

as tradicoes orais ao contar historias muito para os brancos pois foqadas e inseridas

maioria deles ignorado Desta forma essas memoria reveladora de matrizes africanas que palavra pelos gestos ou pelos objetos e oushy

~uluIlltaya()(ilachado de Assis 1955h1114

expressam ainda a religiosidade no merind()-trastllra na obra machadiana como

que em nome da ciyilizacao da ciencia e da medicas politicas e policiais oltaramshy

1955hlO)

loolinadls genericamente de feiticariatvfachashybastante proprio Nao associou tais pratishy

_middot~neIflr dos negros como faziam outros jorshy

apriori de modo negativo e condenatorio muitas noticias divulgadas na imprensa nas o feiticeiro violemo e barbaro com a figura

feitico protetor a seu senhor afastando da maletico para seus proprietarios(Schwarcz

os antigos habitos religiosos tradicionais anunciava ter medo do codigo penal de 1890

duramente as pessoas que advinham 0

as que aplicam drogas para excitar odio ou a credulidade publica Com base nesse as curandeiros e feiticeiras levando as ferrashy

lCitllid()s no codigo como deliros como aves

com feijao arroz fartnha sal acucar usados na busca de estabelecer uma alianshy

da alao de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

vivos deuses e homens(Machado de Assis 1959a288 1959b308) Para De Assis a feiticaria era algo natural do homem vista em varias tribos primishytivas alemde ser urn oficio que garantia renda a muitos impedindo-os de furtar e matar para sobreviver e infringir os mandamentos da lei de Deus que nao falam de feiticaria mas de furto Ironicamente diz que por estar

doente acreditar na feiticaria e por julgar que sao sempre os l11teresses pesshysoals que determinam tudo neste mundo estava com grandes desejos de acudir afeiticaria considerando entao incorreto incluir a feiticaria no codishygo penal como delito e prender senhoras so porque fecham 0 corpo alhelO com os seus olhos e com seus demais objetos de culto(Machado de ASS1S

195308-11) Machado rarefez 0 clima hostil de desqualificacao dessas praticas e

dos seus agentes nao as associando aos negros e enfatizando incansavelmenshyte que esse velho costume de buscar nas feiticeiras adivinhas e curandeishy

ros quase sempre mesticos _caboclos e caboclas _ auxilio as imluietacoes e agruras nao s6 se restringia ao povo Tfuitas pessoas de posiltao na SOC1eshydade recorriam aos adi-inhos e curandeiros e os ultimos curavam tanto com ervas como por meio de rezas 0 curandeiro Nascimento curaa muitas mazelas que devastayam a cidade como barriga dagua com passes de evocacao de defuntos de espiritos diferentes ou arrancava dentes alem de Ie~ como as adivinhas mandando com tais e tais palaTinhas Ja 0

curandeiro Tobias falava em prosa sem 0 saber curaa em Hnguas classishycas ate ser preso com suas bugigangas e drogas tais como esporoes de galo pes de galinha secos medalhas polvora e ate urn chicote feito de rabo de raia inc1uidos no aparato instJumental de seus ritualS (ilachado de Asshysis 1956c248-9 267-8 1955d426-7)

Buscar os adivinhos e feiticeiros era costume presente entre as classes ricas ainda que nestas muitos preconceitos contra tais praticas existissem leshyvan do muitas vezes a consultas escondidas como ocorre em Esau e Jaco ao redor de uma cabocla muito conhecida do Ilorro do Castelo lt fama des sa adivinha era grande e segundo 0 narrador muira gente boa Ja ia pessoas da sociedade fala am dela a serio e havia um caso recente de pessoa dis tinshy

ta urn juiz municipal cuja nomeacao foi anul1ciada pela cabocla A caboc1a era muito falada na cidade e reinava la no morro possuindo freguesia nushymerosa que vtnha de muttos meses sendo sinal certo da videncia e da franshyqueza da adivinha Toda a gente fahlYa entao da cabocla do Castelo era 0

assunto da cidade atribuiam-lhe um poder tntlnito uma serie de milagres sortes achados casamentos AfirmaalU que cia adivinhaya tudo 0 que era eo que iria a ser Para 0 povo parecia que era mandada de Deus Eram muitas as noticias sobte seus feiros e hayia gente que dizla que conheC1a pe5shysoas que tinham perdido e achado joias e escraos De acordo com 0 narrador A policia mesma quando nao acabaa de apanhar um criminoso ia ao Casshy

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tela falar acabocla e des cia sabendo por i5S0 eque nao a botava para fora como os invejasos andavam a pedir A caboda explicava sonhos e pensashymentos curava quebranto(Machado de Assis 1959d43-4)

Segundo Aires tal costume era velho e velhissimo e no interior da casa simples nao havia nada que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshynhum petrecho simbalico nenhum bicho empalhado esqueleto ou desenho de aleiJoes Quando muito urn registro da [festa de Nossa senhora da ] Conshy

colado a parede podia lembrar misterio mas nao metia medo A cabocla e descrita com simpatia e 0 ritual sem afetacao Era uma criaturinha leve e breve ( ) corpo airoso com urn raminho de arruda nos cabelos 0

que ja the dava urn certo ar de sacerdotisa embora seu misterio estivesse mesmo era nos olhos agudos e compridos que entravam peIo consulente revoh-endo-Ihe 0 coracao ao tempo que interrogava Em transe de posse de retratos e cabelos de alguem ausente com urn cigarro acesso ao som de uma viola e de cantigas do sertao do Norte murmuradas por urn velho caboclo entrava a dizer sobre as coisas futuras ate que por fun 0 fregues se alegre e rico tirava uma nota de cinquenta mil-reis quando 0 preco do costume era cinco ezes menos arrecadaYa seus objetos e saia (Machado de Assis 1959d 7shy16) Essa cabocla com origem no norte do pais assim como outros caboclos curandeiros perseguidos pela policia remete apresenca dos caboclos no unishyverso das pniticas religiosas brasileiras que sendo figura mestica esta vinculashyda a nossos ancestrais nativos os indios donos da terra e ligados anatureza no tradicao dos cultos afro-brasileiros

No en tanto no campo das batalhas religiosas tais praticas tiveram outros opositores tal como os adeptos do nascente espiritismo que contagishyados peIo espirito positivo~cientificista do momenlO na busca de credibilidade ptlblica e de converter fieis incutindo-lhes seus pressupostos diziam possuir doutrina regida por leis cientificas ao querer excluir qualshyquer maculf[ de seita e julgavam-se sabedores das verdadeiras luzes do mundo e de verdades eternas Desta forma um iniciado nessa religiao defendia uma consulta espirita e na~ a caboda do Castelo por mais que ela fosse celebre Recorrer a ela seria imitar as crendices da gente reles e s6 ocorreria ate enquanto a policia nao pusesse cobro ao escandalo J a numa consulta espirita algum espirito podia [dizer] a verdade em vez de uma adivinha de farsa Para urn medium espirita enfiado em larga camisola de seda e usando toda a terminologia espirita assomada de casos fenomeshynos misterios testemunhos atestados verbais e escritos a cabocla devia ser deixada afe das senhoras pois eram delas crencas da meninice(Machado de Assis 1959d79113843-6646770 1957h10-1)

Cabe aqui ressaltar que nesta obra Esau e Jac6 a qual trata desses variados aspectos espirituais acima apontados advindos de tradicoes culturais e religiosas diversas Machado sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religi~

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OPSIS - Revista do

oso expondo a imbricacao das praticas ori catolicismo e 0 confronto com 0 espiritismc bases do que seria posteriormente denomin nomes dados as pessoas podem predestina ligacao entre 0 fato dos filhos do casal Sanl quais a cabocla disse terem brigado no ventr des entre estes porque os dois apostolos do garam assim como Esau e Jaco figuras do brigado por causa da primogenitura

Porem lIachado nilO recorre ao eSI conto Uma visita de Alcibiades 0 desemba S1caO juntamente com Santos aCllna citado essa doutrina propagaya ao ler Plutarco fun litava envoher a imaginaltao numa especie vel as evocacoes mentais transportou-se pa de Alcibiades ate que ao terminar de [umar de subilO pensou qual seria a impressiio daqu ario Desta feita enfatizando (lue era urn 1

podendo mesmo dizer que vlvia cornia dor cafe e esperava morrer na fe de Alan Kard os sistemas sao pura niilidades tinha adota sim sendo espiritista evocou lcibiades a c fez rapido aproximando duas civilizacoes impalpavel e sim urn homem de carne e mente a sua frente entrando a conersar sob o grego empalideceu cambaleou e caiu r desembargador mandou~o para 0 necroteno

o espiritismo sen-iu como assunto nas quais quasc sempre ri brinca e ironiza sc cando as vezes compreende-los por mais laquo

correndo a estrategias comicas Desta forma situacoes nebulosas como uma que exigia p teoria de Newton sugerc consultar 0 propri vez que nao entendia nada de astronomia Er brasileiros acabavam de dar um golpe de m urn medium com fama de ser prodigioso e sileira nomeado uma comissao para estudar nao valia a fama e que os trabalhos ficararr Europa e outro paises mas que 0 problen estao sujeitas a esse eclipses e nao estao Fora i5S0 a Federacao lamentaa que diante mular os fenomenos que obtem nas condie

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_UJUUV por 1SS0 e que nao a botava para fora a pedir A caboda explicava sonhos e pensashy

UVll1Ul1lU de Assis 1959d43-4)

vmiddotOLU1l1C era velho e velhissimo e no interior da que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshy

UUilU bicho empalhado esqueleto ou desenho registro da [Festa de Nossa senhora da 1Conshylembrar misterio mas nao metia medo A eo ritual sem afetas-ao Era uma crtaturinha

com urn raminho de arruda nos cabelos 0

sacerdotisa embora seu misterio estivesse e compridos que entravam pelo consulente

tempo que interrogava Em transe de posse de ausente com urn cigarro aces so ao som de uma do Norte murmuradas por urn velho cabodo

futuras ate que por fim 0 fregues se alegre ~lu-uLa mil-reis quando 0 pres-o do costume era

seus objetos e saia(Machado de Assis 1959d7shyno norte do pais assim como outros cabodos

polleia remete a presens-a dos cabodos no unishyIIJ[l1~JlC1Jl1 que sendo Figura mestis-a esta vlnculashy

os indios donas da terra e ligados anatureza

das batalhas religiosas tais praticas tiveram adeptos do nascente espiritismo que contagishy

__rpntificista do momento na busca de nrprtpr fieis incutindo-Ihes seus pressupostos

por leis cientificas ao querer exduir qualshysabcdorcs das yerdadeiras luzes do

Desta forma urn iniciado nessa religiao

rfu~ ~clt5u-(r(l1H-gn1ru lJ(YL nril ljlft1hgt

seria imitar as crendices da gente reles e so nao pusesse cobro ao esdindalo Ja numa

podia [dizer] a verdade em vez de uma Pltd11lIl espirita enfiado em Iarga camisola de

espirita assomada de fenomeshynauo verbais e escritos a cabocla devia ser

eram delas crenltas da meninice(Machado 770 1957hl0-1)

nesta obra Esau e Jaco a qual trata desses apontados advindos de tradiltoes culturais

sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religishy

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

oso expondo a imbricaltao das praticas origin arias dos amedndios com 0

catohcismo e 0 confronto com 0 espiritismo que amalgamados crtavam as bases do que seria posteriormente denominado de umbanda Aponta que os nomes dados as pessoas podem predestinar seus caminhos ao estabelecer ligaltao entre 0 fato dos filhos do casal Santos chamarem Pedro e Paulo os quais a cabocla disse terem brigado no ventre da mae e indicando as rivalidashydes entre estes porque os dois apostolos do Novo Testamento tam bern brishygaram assim como Esau e Jac6 figuras do Velho Testamento tinham ainda brigado por causa da primogenitura

Porcm Machado nao recorre ao espirttismo apenas nessa obra No conto Uma visita de Alcibades 0 desembargador Alvares que por sua poshysiltao juntamente com Santos acima citado indica 0 meio abastado em que essa doutrina propagaa ao ler Pluta reo fumando um charuto que possibishylitava envolver a imaginas-ao numa especie de nimbo extremamente favorashyvel as evocaltoes mentais transportou-se para a antiga Atenas pois lia a vida de Alcibiades ate que ao terminar de fumar voltou aos tempos modernos e de subito pensou qual seria a impressao daquele ateniense sobre n0550 vestushyano Desta feita enfatizando que era urn tanto espiritista ( ) ate muito podendo mesmo dizer que livia comia dormia passeava conversava bebia cafe e esperava morrer na fe de Alan Kardec pois convencido que todos os sistemas sao pura niilidades tinha adotado 0 mais jovial de todos Asshysim sendo espiritista evocou Alcibiades a comparecer em sua casa e esse 0

fez tapida apraximando duas civilizayoes Mas esse nao era uma sombra impalpavel e sim um homem de carne e ossos que se sentou benevalashymente a sua frente entrando a conversar sobre 0 assunto de interesse ate que o grego empalideceu cambaleou e caiu no chao Dian te do cadaver a desembargador mandou-o para 0 necroterio(Machado de Assis 1956a203-7)

o espiritismo serviu como assunto em varias cronicas machadianas

nas qua~s quasc selnpre ri brinca e lroniza seus enunciados e principios busshycando as vezes compreende-Ios por mais estranheza que provocassem reshyoottendo a estrateglaS comicas Desta forma ha momentos em que diante de situa~oes nebulosas como uma que exigia para sua solus-ao conheCImento da teoria de Newton sugere consultar 0 proprio por meio do espiritismo uma vez ~ue nao entendia nada de astronomia Em outro comenta que os espiritas brasilerros acabavam de dar um golpe de mestre quando apareceu na cidade ~medium com fama de ser prodigioso e tendo a FederaS-ao Espirita Brashysiletra nomeado uma comissao para estudar os fenomenos concluiu que de nao valia a fama e que as trabalhos ficatam abaixo do que se conseguia na Eur~pa e ~utros paises mas que 0 problema estava nas mediunidades que estao Su)eHas a esses eclipses e nao estao senrilmente anossa dispasis-ao Fora 1550 a Federaltao lamentava que diante de tudo a medium huscasse 5ishymular os fenomenos que obtem nas condis-oes normais Segundo Machashy

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do chistosamente 0 medium nao s6 foi ( ) apenas mmtmum mas ate procurou embasar a Federasao(lvlachado de Assis 1958b177 1956c123)

As estrategtas e argumentos usados pelos propagadores da nova doushytrina geralmente expostos nas conferencias promovidas pela Federaltao ou publicados na Uniao Espirita na busca de adeptos e de convemles tambem nao escaparam aeritica machadiana principalmente devido a sua indisposisao a tudo que se propagava como sendo verdade unica e absoluta levando-o a destilar sua eostumeira ironia em varios eseritos sobre essa doutrina e suas praticas Dentre eles destaeamos a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima verdadeira e definitiva doutrina e que substituiria todas as religioes do passashydo 0 eronista reeorre sempre a essa proposiltao quando depara com fatos obscuros e irnpossiveis de destrinltar ocorridos na cidade buscando solucionashylos usando de carnavalizaltoes que acabam por ridieulizar toda e qualquer noltao de -erdade ou de tal pretensao Isso aconteee nao s6 ao que diz respeishyto a essa doutrina A artimanha para conquistar simpatias e fieis de divulgar Iista de pessoas eminentes da Europa que acreditavam no espiritismo foi por ele tambern censurada pois no seu dizer tudo ocorria de forma como se as pessoas devessem crer por crer em tudo aquilo que na Europa e acreditado(~1achado de Assis 1955b297-9 195188)

Ao redor do principio da encarnaltao e reencarnaltao Machado fez yarias elucubraltoes supondo situaltoes tratadas de forma humoristica as quais contribuiam para difundir alguns de seus principios Assim ao vislumbrar uma certa promiscuidade geral dos desencarnados divulga 0 principio de que 0 espirito pode reencarnar inclusive na mesma familia sendo viivel que um homem pudesse ter uma ftlha depois morrer e voltar filho dela ou urn menino voltar filho de urn prin10 Se em alguns momentos pesa a mao contra os espiritistas dizendo que 0 espiritismo nao e menos curanderia que os outros curandeiros e que se fosse legislador mandava fechar todas as igrejas des sa religiao em outros em tom ate didatico enfatiza que 0 princishypio espirita e fundado no progresso e a leI e nascer morrer tornar a nascer e renascer ainda progredir sempre sendo que 0 renascimento epara meshylhor Cada espirita em se desencarnando vai para os mundos superiores Reflete ainda sobre a distancia entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo que 0 principio espirita nao e 0 mesmo da transmigrasao em que as aIm as vao para os corpos dos animalS mas fundado no progresso(Machado de Assis195100-2188)

Acreditando ser representativo do pensamento ultimo de Machado a respeito do espiritismo em 1895 ele defende seu exercicio pois a Constituishyltao estabclece 0 direito de liberdade religiosa No seu dizer 0 espiritismo e uma religiao que ele nao sabia se falsa ou verdadeira embora os espiritas dissessem que verdadeira e unica frente ao que ressaIta que presunltao e agua benta cada um toma a que quer Se verdadeiros ou nao [continual 0

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OPSIS - Revista tiD

fato e que escrevem-se e publicam-se inUn jornais espiritas e no Rio havia uma ou dl acreditara que nao se gasta tanto papel em a palavra que se esta escrevendo e a propria seguinte 1896 comenta (lue ha muito que ( tos escreyem pclos dedos dos vhos e que mundo e neste final de urn grande seculo(1

Desta forma a cultura carioca oitoclt diversas de religiosidade e de expcriencias com 0 divino 0 campo religioso apresent possibilidades variadas de vivenciar a proCl debatem em confronto entre si quanto se a] produzindo formas hibridas e sincreticas de lam os homens a seus deuses com tambem a em parte de seus lasos de sociabilidade

Fontes e Referencias B

BORGES Valdeci Rezende Em busca do 11

Rio de l1achado de Assis Estudos Histor Pesquisa e Documentaltao da Hist6ria Conte Getulio Vargas no 28 p 49-69 2OC) BOCRDIEC Pierre A Economia das TrOt pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Si Paulo Cia Das Letras 1989 ivLCI1ADO DE ASSIS Joaquim r1aria C 10 WMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b _ Cronicas v 2 1955c

Cronicas v 4 1955d

_ Helena 1955e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Historias Romanticas _ 1955g _ laid Garcia 1955h _ Memorial de Aires 19551

Pdginas Recolhidas _ 1955 Reliquias de Casa Velha v 1 _ 195 Contos Esquecidos Rio de Janeiro ClY

_ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Rejlexoes de um Relojoeiro _ A Mao e a Luva Sao Paulo M Jad

lt 37

mio s6 foi () apenas minimum mas ate WHltV de Assis 1958b 177 1956c123)

usados pelos propagadores da nova doushyconferencias promovidas pela Fede1aio 01

na busca de adeptos e de conversoes tambem principalmente devido a sua indisposiltilO

sendo verdade unica e absolura levando-o a em vanos escritos sobre essa doutrina e suas

a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima e que substituiria todas as religioes do passashya essa proposicao quando depara com fatos

ocorridos na cidade bus cando soluciomishyque acabam por ridiculizar toda e qualquer

temao Isso acontece nao 56 ao que diz respeishypara conquistar simpatias e fieis de divulgar

Rur(ma que acreditavam no espiritismo foi por seu dizer tudo ocorria de forma C01no se as crer em tudo aquilo que na Europa e 1955b297-9 195188)

da encarnacao e reencarnacao 1Iachado fez Grv~ tratadas de forma humoristica as quais

de seus principios Assim ao vislumbrar dos desencarnados divulga 0 prindpio de

inclusive na mesma familia sendo viavel que depois morrer e voltar filho dela au urn Se em alguns momentos pesa a mao

que 0 espiritismo nao e menos curanderia se Fosse Iegislador mandava fechar todas as em tom ate diampitico enfatiza que 0 princishy

e a lei e nascer morrer tornar a nascer sendo que 0 renascltnento e para meshy

uJ Tal para os mundos superiores entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo omesma da transmigraltao em que as almas

mas fundado no progresso(Machado de

do pensamento ultimo de Machado a ele defende seu exerdcio pois a Constimishy

religiosa No seu dizer 0 espiritismo e se falsa au verdadeira embora os espiritas

frente aa que ressalta que presunltao e quer Se verdadeiros ou nilO [continua] 0

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

fata e que escrevem-se e publicam-se inumeros livros folhetos reistas e jornais espiritas e no Rio havia uma ou duas folhas espirita alem do que acrerutaa que nao se gasta tanto papel em tantas linguas senao crendo que a palavra que se esta escrevendo ea propria verdade Para finalizar no ano seguinte 1896 comenta que hi muito que os espiritas afirmam que os mOfshytos escrevem pelos dedos dos vivos e que para ele tudo e POSSIel neste mundo e neste final de urn grande seculo(Machado de Assis 1957b26274)

Desta forma a cultura carioca oitocentista esta permeada de formas diersas de religiosidade e de experiencias voltadas para a busca de Iigacao com 0 divino 0 campo religioso apresenta-se marcado pela presenca de possibilidades variadas de vlvenciar a procura do sagrado as quais tanto debatem em confronto entre si quanta se aproximam nas pniticas dos tieis produzindo formas hibridas e sincreticas de religiosidade que nao so vincushylam os homens a seus deuses com tambem aos outros homens constitumdo em parte de seus lacos de soclabilidade

FOlltes e Referihlcias Bibliogrtificas

BORGES Valdeci Rezende Em busca do mundo exterior sociabilidade no Rio de Machado de Assis Estudos Historicos Rio de Janeiro Centro de Pesquisa e Documentacao da Historia Contempodmea do Brasil da Fundaltao Getulio Vargas no 28 p 49-69 200l BOURDIEC Pierre A Economia das Trocas Simb6licas Sao Paulo Persshy

pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e hist6ria Sao Paulo Cia Das Letras 1989 MAClMDO DE ASSIS Joaquim Maria Contos Fluminenses v2 Sao PaushyloWMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b Cronicas v 2 1955c

_ Cronicas v 4 19S5d _ Helena _ 19S5e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Hist6rias Romanticas 1955g _ laid Garcia 1955h

Memorial de Aires 1955i _ Pdginas Recolhidas _ 1955j _ ReUquias de Casa Velha v 1 _ 19551 _ Contos Esquecidos Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1956a _ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Reflexoes de um Relojoeiro _ 1956c _ A Mao e a Luva Sao Paulo 11 Jackson inc 1957a

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A Semana v 3 1957b _ Dam Casmurra _ 1957c

Historias Sem Data 1957d

_ Memorias Postumas de Bras Cubas 1957e _ Quincas Borba 1957f

_ Requias de Casa Velha v 2 _ 1957g Varias Historias 1957h

_ Contos e Cronicas Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1958a _ Cronicas de Lelia 1958b _ A Semana v 1 Sao Paulo WMJackson inc 1959a

A Semana v 2 1959b _ Cronicas v 4 1959c _ Esau e Jaco 1959d

SCHv~RCZ Lilia Moritz Retrato em Branco e Negro jornals escravos em Sao Paulo no final do seculo XIX Sao Paulo Cia Das Letras 1987

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OPSIS - Revista do

CINEMA E RELIGI

ResuResumo

Propomos neste texto apre5cntar algushy 1ou

mas reflex6es sobre a ahordagem de ashy quell

lares no cinema presentes em nleu

filmes como E 0 vento levou Blade film~

Runnermiddot 0 Carador de Androides 0 Run

Exorcisca Matrix dentre outros Exor

Atualmentc vivemos em uma 50eiel urn gm-erno baseado na lei e na razao Ne pensar assentam-se nao mais somente nos v bem nos valotes politicos e sociais Disso religiosos cristaos em quase nada influeneiat de fazer visto que Igreja (como instituiltao) tados na lei

Apesar da atual sociedade aparentc s6lida temos que ter em mente que cia so mente ha pouco tempo malS preeisamente e s6 se consolidou a partjr do positivismo vivemos em uma sociedade ainda em form

mente nao influencia tanto a nossa maneir E isto s6 e verdade para as eham2

hoje existem diversas sociedades ditas tee arabes (Irii) 0 Afeganistao onde 0 fundarr em todos os nh-eis

1 Este texto foi prodU7ido a partir do curso ministr e Religiosidadcs com 0 objetivo de apresentar algUi as rcferencias dos filmes analisados 2 Mestre em Historia pcla UFSC Universidade F

Historia da rcdc publica do [stado de Minas Gerai

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c

Page 17: as Bibliogrdficas RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSISstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3224606.pdf · 16 'as Bibliogrdficas mentafao oral e tematica da seca: estu o Federal,

de modo mais dire to traziam conhecimentos

tronco 0

funcionavam como urn feitio protetor

marimba cantarolando em alguns instanshy cantilenas alegres guerreiras entusiasshy

de santo de trabalhar de comer 0

e ao principio do candomble de existenshyperpassam todos os aspectos da vida mashy

as formas ludicas como a musica a danca Raimundo de laid Garcia empertigava 0

movimento de suas dancas africashyVelha que cantava Calumga ~ussanga umas sacudidelas para acompanhar a to-

as tradicoes orais ao contar historias muito para os brancos pois foqadas e inseridas

maioria deles ignorado Desta forma essas memoria reveladora de matrizes africanas que palavra pelos gestos ou pelos objetos e oushy

~uluIlltaya()(ilachado de Assis 1955h1114

expressam ainda a religiosidade no merind()-trastllra na obra machadiana como

que em nome da ciyilizacao da ciencia e da medicas politicas e policiais oltaramshy

1955hlO)

loolinadls genericamente de feiticariatvfachashybastante proprio Nao associou tais pratishy

_middot~neIflr dos negros como faziam outros jorshy

apriori de modo negativo e condenatorio muitas noticias divulgadas na imprensa nas o feiticeiro violemo e barbaro com a figura

feitico protetor a seu senhor afastando da maletico para seus proprietarios(Schwarcz

os antigos habitos religiosos tradicionais anunciava ter medo do codigo penal de 1890

duramente as pessoas que advinham 0

as que aplicam drogas para excitar odio ou a credulidade publica Com base nesse as curandeiros e feiticeiras levando as ferrashy

lCitllid()s no codigo como deliros como aves

com feijao arroz fartnha sal acucar usados na busca de estabelecer uma alianshy

da alao de alimentar que fortalece e mantem

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

vivos deuses e homens(Machado de Assis 1959a288 1959b308) Para De Assis a feiticaria era algo natural do homem vista em varias tribos primishytivas alemde ser urn oficio que garantia renda a muitos impedindo-os de furtar e matar para sobreviver e infringir os mandamentos da lei de Deus que nao falam de feiticaria mas de furto Ironicamente diz que por estar

doente acreditar na feiticaria e por julgar que sao sempre os l11teresses pesshysoals que determinam tudo neste mundo estava com grandes desejos de acudir afeiticaria considerando entao incorreto incluir a feiticaria no codishygo penal como delito e prender senhoras so porque fecham 0 corpo alhelO com os seus olhos e com seus demais objetos de culto(Machado de ASS1S

195308-11) Machado rarefez 0 clima hostil de desqualificacao dessas praticas e

dos seus agentes nao as associando aos negros e enfatizando incansavelmenshyte que esse velho costume de buscar nas feiticeiras adivinhas e curandeishy

ros quase sempre mesticos _caboclos e caboclas _ auxilio as imluietacoes e agruras nao s6 se restringia ao povo Tfuitas pessoas de posiltao na SOC1eshydade recorriam aos adi-inhos e curandeiros e os ultimos curavam tanto com ervas como por meio de rezas 0 curandeiro Nascimento curaa muitas mazelas que devastayam a cidade como barriga dagua com passes de evocacao de defuntos de espiritos diferentes ou arrancava dentes alem de Ie~ como as adivinhas mandando com tais e tais palaTinhas Ja 0

curandeiro Tobias falava em prosa sem 0 saber curaa em Hnguas classishycas ate ser preso com suas bugigangas e drogas tais como esporoes de galo pes de galinha secos medalhas polvora e ate urn chicote feito de rabo de raia inc1uidos no aparato instJumental de seus ritualS (ilachado de Asshysis 1956c248-9 267-8 1955d426-7)

Buscar os adivinhos e feiticeiros era costume presente entre as classes ricas ainda que nestas muitos preconceitos contra tais praticas existissem leshyvan do muitas vezes a consultas escondidas como ocorre em Esau e Jaco ao redor de uma cabocla muito conhecida do Ilorro do Castelo lt fama des sa adivinha era grande e segundo 0 narrador muira gente boa Ja ia pessoas da sociedade fala am dela a serio e havia um caso recente de pessoa dis tinshy

ta urn juiz municipal cuja nomeacao foi anul1ciada pela cabocla A caboc1a era muito falada na cidade e reinava la no morro possuindo freguesia nushymerosa que vtnha de muttos meses sendo sinal certo da videncia e da franshyqueza da adivinha Toda a gente fahlYa entao da cabocla do Castelo era 0

assunto da cidade atribuiam-lhe um poder tntlnito uma serie de milagres sortes achados casamentos AfirmaalU que cia adivinhaya tudo 0 que era eo que iria a ser Para 0 povo parecia que era mandada de Deus Eram muitas as noticias sobte seus feiros e hayia gente que dizla que conheC1a pe5shysoas que tinham perdido e achado joias e escraos De acordo com 0 narrador A policia mesma quando nao acabaa de apanhar um criminoso ia ao Casshy

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tela falar acabocla e des cia sabendo por i5S0 eque nao a botava para fora como os invejasos andavam a pedir A caboda explicava sonhos e pensashymentos curava quebranto(Machado de Assis 1959d43-4)

Segundo Aires tal costume era velho e velhissimo e no interior da casa simples nao havia nada que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshynhum petrecho simbalico nenhum bicho empalhado esqueleto ou desenho de aleiJoes Quando muito urn registro da [festa de Nossa senhora da ] Conshy

colado a parede podia lembrar misterio mas nao metia medo A cabocla e descrita com simpatia e 0 ritual sem afetacao Era uma criaturinha leve e breve ( ) corpo airoso com urn raminho de arruda nos cabelos 0

que ja the dava urn certo ar de sacerdotisa embora seu misterio estivesse mesmo era nos olhos agudos e compridos que entravam peIo consulente revoh-endo-Ihe 0 coracao ao tempo que interrogava Em transe de posse de retratos e cabelos de alguem ausente com urn cigarro acesso ao som de uma viola e de cantigas do sertao do Norte murmuradas por urn velho caboclo entrava a dizer sobre as coisas futuras ate que por fun 0 fregues se alegre e rico tirava uma nota de cinquenta mil-reis quando 0 preco do costume era cinco ezes menos arrecadaYa seus objetos e saia (Machado de Assis 1959d 7shy16) Essa cabocla com origem no norte do pais assim como outros caboclos curandeiros perseguidos pela policia remete apresenca dos caboclos no unishyverso das pniticas religiosas brasileiras que sendo figura mestica esta vinculashyda a nossos ancestrais nativos os indios donos da terra e ligados anatureza no tradicao dos cultos afro-brasileiros

No en tanto no campo das batalhas religiosas tais praticas tiveram outros opositores tal como os adeptos do nascente espiritismo que contagishyados peIo espirito positivo~cientificista do momenlO na busca de credibilidade ptlblica e de converter fieis incutindo-lhes seus pressupostos diziam possuir doutrina regida por leis cientificas ao querer excluir qualshyquer maculf[ de seita e julgavam-se sabedores das verdadeiras luzes do mundo e de verdades eternas Desta forma um iniciado nessa religiao defendia uma consulta espirita e na~ a caboda do Castelo por mais que ela fosse celebre Recorrer a ela seria imitar as crendices da gente reles e s6 ocorreria ate enquanto a policia nao pusesse cobro ao escandalo J a numa consulta espirita algum espirito podia [dizer] a verdade em vez de uma adivinha de farsa Para urn medium espirita enfiado em larga camisola de seda e usando toda a terminologia espirita assomada de casos fenomeshynos misterios testemunhos atestados verbais e escritos a cabocla devia ser deixada afe das senhoras pois eram delas crencas da meninice(Machado de Assis 1959d79113843-6646770 1957h10-1)

Cabe aqui ressaltar que nesta obra Esau e Jac6 a qual trata desses variados aspectos espirituais acima apontados advindos de tradicoes culturais e religiosas diversas Machado sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religi~

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OPSIS - Revista do

oso expondo a imbricacao das praticas ori catolicismo e 0 confronto com 0 espiritismc bases do que seria posteriormente denomin nomes dados as pessoas podem predestina ligacao entre 0 fato dos filhos do casal Sanl quais a cabocla disse terem brigado no ventr des entre estes porque os dois apostolos do garam assim como Esau e Jaco figuras do brigado por causa da primogenitura

Porem lIachado nilO recorre ao eSI conto Uma visita de Alcibiades 0 desemba S1caO juntamente com Santos aCllna citado essa doutrina propagaya ao ler Plutarco fun litava envoher a imaginaltao numa especie vel as evocacoes mentais transportou-se pa de Alcibiades ate que ao terminar de [umar de subilO pensou qual seria a impressiio daqu ario Desta feita enfatizando (lue era urn 1

podendo mesmo dizer que vlvia cornia dor cafe e esperava morrer na fe de Alan Kard os sistemas sao pura niilidades tinha adota sim sendo espiritista evocou lcibiades a c fez rapido aproximando duas civilizacoes impalpavel e sim urn homem de carne e mente a sua frente entrando a conersar sob o grego empalideceu cambaleou e caiu r desembargador mandou~o para 0 necroteno

o espiritismo sen-iu como assunto nas quais quasc sempre ri brinca e ironiza sc cando as vezes compreende-los por mais laquo

correndo a estrategias comicas Desta forma situacoes nebulosas como uma que exigia p teoria de Newton sugerc consultar 0 propri vez que nao entendia nada de astronomia Er brasileiros acabavam de dar um golpe de m urn medium com fama de ser prodigioso e sileira nomeado uma comissao para estudar nao valia a fama e que os trabalhos ficararr Europa e outro paises mas que 0 problen estao sujeitas a esse eclipses e nao estao Fora i5S0 a Federacao lamentaa que diante mular os fenomenos que obtem nas condie

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_UJUUV por 1SS0 e que nao a botava para fora a pedir A caboda explicava sonhos e pensashy

UVll1Ul1lU de Assis 1959d43-4)

vmiddotOLU1l1C era velho e velhissimo e no interior da que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshy

UUilU bicho empalhado esqueleto ou desenho registro da [Festa de Nossa senhora da 1Conshylembrar misterio mas nao metia medo A eo ritual sem afetas-ao Era uma crtaturinha

com urn raminho de arruda nos cabelos 0

sacerdotisa embora seu misterio estivesse e compridos que entravam pelo consulente

tempo que interrogava Em transe de posse de ausente com urn cigarro aces so ao som de uma do Norte murmuradas por urn velho cabodo

futuras ate que por fim 0 fregues se alegre ~lu-uLa mil-reis quando 0 pres-o do costume era

seus objetos e saia(Machado de Assis 1959d7shyno norte do pais assim como outros cabodos

polleia remete a presens-a dos cabodos no unishyIIJ[l1~JlC1Jl1 que sendo Figura mestis-a esta vlnculashy

os indios donas da terra e ligados anatureza

das batalhas religiosas tais praticas tiveram adeptos do nascente espiritismo que contagishy

__rpntificista do momento na busca de nrprtpr fieis incutindo-Ihes seus pressupostos

por leis cientificas ao querer exduir qualshysabcdorcs das yerdadeiras luzes do

Desta forma urn iniciado nessa religiao

rfu~ ~clt5u-(r(l1H-gn1ru lJ(YL nril ljlft1hgt

seria imitar as crendices da gente reles e so nao pusesse cobro ao esdindalo Ja numa

podia [dizer] a verdade em vez de uma Pltd11lIl espirita enfiado em Iarga camisola de

espirita assomada de fenomeshynauo verbais e escritos a cabocla devia ser

eram delas crenltas da meninice(Machado 770 1957hl0-1)

nesta obra Esau e Jaco a qual trata desses apontados advindos de tradiltoes culturais

sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religishy

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

oso expondo a imbricaltao das praticas origin arias dos amedndios com 0

catohcismo e 0 confronto com 0 espiritismo que amalgamados crtavam as bases do que seria posteriormente denominado de umbanda Aponta que os nomes dados as pessoas podem predestinar seus caminhos ao estabelecer ligaltao entre 0 fato dos filhos do casal Santos chamarem Pedro e Paulo os quais a cabocla disse terem brigado no ventre da mae e indicando as rivalidashydes entre estes porque os dois apostolos do Novo Testamento tam bern brishygaram assim como Esau e Jac6 figuras do Velho Testamento tinham ainda brigado por causa da primogenitura

Porcm Machado nao recorre ao espirttismo apenas nessa obra No conto Uma visita de Alcibades 0 desembargador Alvares que por sua poshysiltao juntamente com Santos acima citado indica 0 meio abastado em que essa doutrina propagaa ao ler Pluta reo fumando um charuto que possibishylitava envolver a imaginas-ao numa especie de nimbo extremamente favorashyvel as evocaltoes mentais transportou-se para a antiga Atenas pois lia a vida de Alcibiades ate que ao terminar de fumar voltou aos tempos modernos e de subito pensou qual seria a impressao daquele ateniense sobre n0550 vestushyano Desta feita enfatizando que era urn tanto espiritista ( ) ate muito podendo mesmo dizer que livia comia dormia passeava conversava bebia cafe e esperava morrer na fe de Alan Kardec pois convencido que todos os sistemas sao pura niilidades tinha adotado 0 mais jovial de todos Asshysim sendo espiritista evocou Alcibiades a comparecer em sua casa e esse 0

fez tapida apraximando duas civilizayoes Mas esse nao era uma sombra impalpavel e sim um homem de carne e ossos que se sentou benevalashymente a sua frente entrando a conversar sobre 0 assunto de interesse ate que o grego empalideceu cambaleou e caiu no chao Dian te do cadaver a desembargador mandou-o para 0 necroterio(Machado de Assis 1956a203-7)

o espiritismo serviu como assunto em varias cronicas machadianas

nas qua~s quasc selnpre ri brinca e lroniza seus enunciados e principios busshycando as vezes compreende-Ios por mais estranheza que provocassem reshyoottendo a estrateglaS comicas Desta forma ha momentos em que diante de situa~oes nebulosas como uma que exigia para sua solus-ao conheCImento da teoria de Newton sugere consultar 0 proprio por meio do espiritismo uma vez ~ue nao entendia nada de astronomia Em outro comenta que os espiritas brasilerros acabavam de dar um golpe de mestre quando apareceu na cidade ~medium com fama de ser prodigioso e tendo a FederaS-ao Espirita Brashysiletra nomeado uma comissao para estudar os fenomenos concluiu que de nao valia a fama e que as trabalhos ficatam abaixo do que se conseguia na Eur~pa e ~utros paises mas que 0 problema estava nas mediunidades que estao Su)eHas a esses eclipses e nao estao senrilmente anossa dispasis-ao Fora 1550 a Federaltao lamentava que diante de tudo a medium huscasse 5ishymular os fenomenos que obtem nas condis-oes normais Segundo Machashy

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do chistosamente 0 medium nao s6 foi ( ) apenas mmtmum mas ate procurou embasar a Federasao(lvlachado de Assis 1958b177 1956c123)

As estrategtas e argumentos usados pelos propagadores da nova doushytrina geralmente expostos nas conferencias promovidas pela Federaltao ou publicados na Uniao Espirita na busca de adeptos e de convemles tambem nao escaparam aeritica machadiana principalmente devido a sua indisposisao a tudo que se propagava como sendo verdade unica e absoluta levando-o a destilar sua eostumeira ironia em varios eseritos sobre essa doutrina e suas praticas Dentre eles destaeamos a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima verdadeira e definitiva doutrina e que substituiria todas as religioes do passashydo 0 eronista reeorre sempre a essa proposiltao quando depara com fatos obscuros e irnpossiveis de destrinltar ocorridos na cidade buscando solucionashylos usando de carnavalizaltoes que acabam por ridieulizar toda e qualquer noltao de -erdade ou de tal pretensao Isso aconteee nao s6 ao que diz respeishyto a essa doutrina A artimanha para conquistar simpatias e fieis de divulgar Iista de pessoas eminentes da Europa que acreditavam no espiritismo foi por ele tambern censurada pois no seu dizer tudo ocorria de forma como se as pessoas devessem crer por crer em tudo aquilo que na Europa e acreditado(~1achado de Assis 1955b297-9 195188)

Ao redor do principio da encarnaltao e reencarnaltao Machado fez yarias elucubraltoes supondo situaltoes tratadas de forma humoristica as quais contribuiam para difundir alguns de seus principios Assim ao vislumbrar uma certa promiscuidade geral dos desencarnados divulga 0 principio de que 0 espirito pode reencarnar inclusive na mesma familia sendo viivel que um homem pudesse ter uma ftlha depois morrer e voltar filho dela ou urn menino voltar filho de urn prin10 Se em alguns momentos pesa a mao contra os espiritistas dizendo que 0 espiritismo nao e menos curanderia que os outros curandeiros e que se fosse legislador mandava fechar todas as igrejas des sa religiao em outros em tom ate didatico enfatiza que 0 princishypio espirita e fundado no progresso e a leI e nascer morrer tornar a nascer e renascer ainda progredir sempre sendo que 0 renascimento epara meshylhor Cada espirita em se desencarnando vai para os mundos superiores Reflete ainda sobre a distancia entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo que 0 principio espirita nao e 0 mesmo da transmigrasao em que as aIm as vao para os corpos dos animalS mas fundado no progresso(Machado de Assis195100-2188)

Acreditando ser representativo do pensamento ultimo de Machado a respeito do espiritismo em 1895 ele defende seu exercicio pois a Constituishyltao estabclece 0 direito de liberdade religiosa No seu dizer 0 espiritismo e uma religiao que ele nao sabia se falsa ou verdadeira embora os espiritas dissessem que verdadeira e unica frente ao que ressaIta que presunltao e agua benta cada um toma a que quer Se verdadeiros ou nao [continual 0

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fato e que escrevem-se e publicam-se inUn jornais espiritas e no Rio havia uma ou dl acreditara que nao se gasta tanto papel em a palavra que se esta escrevendo e a propria seguinte 1896 comenta (lue ha muito que ( tos escreyem pclos dedos dos vhos e que mundo e neste final de urn grande seculo(1

Desta forma a cultura carioca oitoclt diversas de religiosidade e de expcriencias com 0 divino 0 campo religioso apresent possibilidades variadas de vivenciar a proCl debatem em confronto entre si quanto se a] produzindo formas hibridas e sincreticas de lam os homens a seus deuses com tambem a em parte de seus lasos de sociabilidade

Fontes e Referencias B

BORGES Valdeci Rezende Em busca do 11

Rio de l1achado de Assis Estudos Histor Pesquisa e Documentaltao da Hist6ria Conte Getulio Vargas no 28 p 49-69 2OC) BOCRDIEC Pierre A Economia das TrOt pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Si Paulo Cia Das Letras 1989 ivLCI1ADO DE ASSIS Joaquim r1aria C 10 WMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b _ Cronicas v 2 1955c

Cronicas v 4 1955d

_ Helena 1955e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Historias Romanticas _ 1955g _ laid Garcia 1955h _ Memorial de Aires 19551

Pdginas Recolhidas _ 1955 Reliquias de Casa Velha v 1 _ 195 Contos Esquecidos Rio de Janeiro ClY

_ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Rejlexoes de um Relojoeiro _ A Mao e a Luva Sao Paulo M Jad

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mio s6 foi () apenas minimum mas ate WHltV de Assis 1958b 177 1956c123)

usados pelos propagadores da nova doushyconferencias promovidas pela Fede1aio 01

na busca de adeptos e de conversoes tambem principalmente devido a sua indisposiltilO

sendo verdade unica e absolura levando-o a em vanos escritos sobre essa doutrina e suas

a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima e que substituiria todas as religioes do passashya essa proposicao quando depara com fatos

ocorridos na cidade bus cando soluciomishyque acabam por ridiculizar toda e qualquer

temao Isso acontece nao 56 ao que diz respeishypara conquistar simpatias e fieis de divulgar

Rur(ma que acreditavam no espiritismo foi por seu dizer tudo ocorria de forma C01no se as crer em tudo aquilo que na Europa e 1955b297-9 195188)

da encarnacao e reencarnacao 1Iachado fez Grv~ tratadas de forma humoristica as quais

de seus principios Assim ao vislumbrar dos desencarnados divulga 0 prindpio de

inclusive na mesma familia sendo viavel que depois morrer e voltar filho dela au urn Se em alguns momentos pesa a mao

que 0 espiritismo nao e menos curanderia se Fosse Iegislador mandava fechar todas as em tom ate diampitico enfatiza que 0 princishy

e a lei e nascer morrer tornar a nascer sendo que 0 renascltnento e para meshy

uJ Tal para os mundos superiores entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo omesma da transmigraltao em que as almas

mas fundado no progresso(Machado de

do pensamento ultimo de Machado a ele defende seu exerdcio pois a Constimishy

religiosa No seu dizer 0 espiritismo e se falsa au verdadeira embora os espiritas

frente aa que ressalta que presunltao e quer Se verdadeiros ou nilO [continua] 0

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

fata e que escrevem-se e publicam-se inumeros livros folhetos reistas e jornais espiritas e no Rio havia uma ou duas folhas espirita alem do que acrerutaa que nao se gasta tanto papel em tantas linguas senao crendo que a palavra que se esta escrevendo ea propria verdade Para finalizar no ano seguinte 1896 comenta que hi muito que os espiritas afirmam que os mOfshytos escrevem pelos dedos dos vivos e que para ele tudo e POSSIel neste mundo e neste final de urn grande seculo(Machado de Assis 1957b26274)

Desta forma a cultura carioca oitocentista esta permeada de formas diersas de religiosidade e de experiencias voltadas para a busca de Iigacao com 0 divino 0 campo religioso apresenta-se marcado pela presenca de possibilidades variadas de vlvenciar a procura do sagrado as quais tanto debatem em confronto entre si quanta se aproximam nas pniticas dos tieis produzindo formas hibridas e sincreticas de religiosidade que nao so vincushylam os homens a seus deuses com tambem aos outros homens constitumdo em parte de seus lacos de soclabilidade

FOlltes e Referihlcias Bibliogrtificas

BORGES Valdeci Rezende Em busca do mundo exterior sociabilidade no Rio de Machado de Assis Estudos Historicos Rio de Janeiro Centro de Pesquisa e Documentacao da Historia Contempodmea do Brasil da Fundaltao Getulio Vargas no 28 p 49-69 200l BOURDIEC Pierre A Economia das Trocas Simb6licas Sao Paulo Persshy

pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e hist6ria Sao Paulo Cia Das Letras 1989 MAClMDO DE ASSIS Joaquim Maria Contos Fluminenses v2 Sao PaushyloWMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b Cronicas v 2 1955c

_ Cronicas v 4 19S5d _ Helena _ 19S5e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Hist6rias Romanticas 1955g _ laid Garcia 1955h

Memorial de Aires 1955i _ Pdginas Recolhidas _ 1955j _ ReUquias de Casa Velha v 1 _ 19551 _ Contos Esquecidos Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1956a _ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Reflexoes de um Relojoeiro _ 1956c _ A Mao e a Luva Sao Paulo 11 Jackson inc 1957a

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A Semana v 3 1957b _ Dam Casmurra _ 1957c

Historias Sem Data 1957d

_ Memorias Postumas de Bras Cubas 1957e _ Quincas Borba 1957f

_ Requias de Casa Velha v 2 _ 1957g Varias Historias 1957h

_ Contos e Cronicas Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1958a _ Cronicas de Lelia 1958b _ A Semana v 1 Sao Paulo WMJackson inc 1959a

A Semana v 2 1959b _ Cronicas v 4 1959c _ Esau e Jaco 1959d

SCHv~RCZ Lilia Moritz Retrato em Branco e Negro jornals escravos em Sao Paulo no final do seculo XIX Sao Paulo Cia Das Letras 1987

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OPSIS - Revista do

CINEMA E RELIGI

ResuResumo

Propomos neste texto apre5cntar algushy 1ou

mas reflex6es sobre a ahordagem de ashy quell

lares no cinema presentes em nleu

filmes como E 0 vento levou Blade film~

Runnermiddot 0 Carador de Androides 0 Run

Exorcisca Matrix dentre outros Exor

Atualmentc vivemos em uma 50eiel urn gm-erno baseado na lei e na razao Ne pensar assentam-se nao mais somente nos v bem nos valotes politicos e sociais Disso religiosos cristaos em quase nada influeneiat de fazer visto que Igreja (como instituiltao) tados na lei

Apesar da atual sociedade aparentc s6lida temos que ter em mente que cia so mente ha pouco tempo malS preeisamente e s6 se consolidou a partjr do positivismo vivemos em uma sociedade ainda em form

mente nao influencia tanto a nossa maneir E isto s6 e verdade para as eham2

hoje existem diversas sociedades ditas tee arabes (Irii) 0 Afeganistao onde 0 fundarr em todos os nh-eis

1 Este texto foi prodU7ido a partir do curso ministr e Religiosidadcs com 0 objetivo de apresentar algUi as rcferencias dos filmes analisados 2 Mestre em Historia pcla UFSC Universidade F

Historia da rcdc publica do [stado de Minas Gerai

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c

Page 18: as Bibliogrdficas RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSISstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3224606.pdf · 16 'as Bibliogrdficas mentafao oral e tematica da seca: estu o Federal,

tela falar acabocla e des cia sabendo por i5S0 eque nao a botava para fora como os invejasos andavam a pedir A caboda explicava sonhos e pensashymentos curava quebranto(Machado de Assis 1959d43-4)

Segundo Aires tal costume era velho e velhissimo e no interior da casa simples nao havia nada que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshynhum petrecho simbalico nenhum bicho empalhado esqueleto ou desenho de aleiJoes Quando muito urn registro da [festa de Nossa senhora da ] Conshy

colado a parede podia lembrar misterio mas nao metia medo A cabocla e descrita com simpatia e 0 ritual sem afetacao Era uma criaturinha leve e breve ( ) corpo airoso com urn raminho de arruda nos cabelos 0

que ja the dava urn certo ar de sacerdotisa embora seu misterio estivesse mesmo era nos olhos agudos e compridos que entravam peIo consulente revoh-endo-Ihe 0 coracao ao tempo que interrogava Em transe de posse de retratos e cabelos de alguem ausente com urn cigarro acesso ao som de uma viola e de cantigas do sertao do Norte murmuradas por urn velho caboclo entrava a dizer sobre as coisas futuras ate que por fun 0 fregues se alegre e rico tirava uma nota de cinquenta mil-reis quando 0 preco do costume era cinco ezes menos arrecadaYa seus objetos e saia (Machado de Assis 1959d 7shy16) Essa cabocla com origem no norte do pais assim como outros caboclos curandeiros perseguidos pela policia remete apresenca dos caboclos no unishyverso das pniticas religiosas brasileiras que sendo figura mestica esta vinculashyda a nossos ancestrais nativos os indios donos da terra e ligados anatureza no tradicao dos cultos afro-brasileiros

No en tanto no campo das batalhas religiosas tais praticas tiveram outros opositores tal como os adeptos do nascente espiritismo que contagishyados peIo espirito positivo~cientificista do momenlO na busca de credibilidade ptlblica e de converter fieis incutindo-lhes seus pressupostos diziam possuir doutrina regida por leis cientificas ao querer excluir qualshyquer maculf[ de seita e julgavam-se sabedores das verdadeiras luzes do mundo e de verdades eternas Desta forma um iniciado nessa religiao defendia uma consulta espirita e na~ a caboda do Castelo por mais que ela fosse celebre Recorrer a ela seria imitar as crendices da gente reles e s6 ocorreria ate enquanto a policia nao pusesse cobro ao escandalo J a numa consulta espirita algum espirito podia [dizer] a verdade em vez de uma adivinha de farsa Para urn medium espirita enfiado em larga camisola de seda e usando toda a terminologia espirita assomada de casos fenomeshynos misterios testemunhos atestados verbais e escritos a cabocla devia ser deixada afe das senhoras pois eram delas crencas da meninice(Machado de Assis 1959d79113843-6646770 1957h10-1)

Cabe aqui ressaltar que nesta obra Esau e Jac6 a qual trata desses variados aspectos espirituais acima apontados advindos de tradicoes culturais e religiosas diversas Machado sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religi~

34

OPSIS - Revista do

oso expondo a imbricacao das praticas ori catolicismo e 0 confronto com 0 espiritismc bases do que seria posteriormente denomin nomes dados as pessoas podem predestina ligacao entre 0 fato dos filhos do casal Sanl quais a cabocla disse terem brigado no ventr des entre estes porque os dois apostolos do garam assim como Esau e Jaco figuras do brigado por causa da primogenitura

Porem lIachado nilO recorre ao eSI conto Uma visita de Alcibiades 0 desemba S1caO juntamente com Santos aCllna citado essa doutrina propagaya ao ler Plutarco fun litava envoher a imaginaltao numa especie vel as evocacoes mentais transportou-se pa de Alcibiades ate que ao terminar de [umar de subilO pensou qual seria a impressiio daqu ario Desta feita enfatizando (lue era urn 1

podendo mesmo dizer que vlvia cornia dor cafe e esperava morrer na fe de Alan Kard os sistemas sao pura niilidades tinha adota sim sendo espiritista evocou lcibiades a c fez rapido aproximando duas civilizacoes impalpavel e sim urn homem de carne e mente a sua frente entrando a conersar sob o grego empalideceu cambaleou e caiu r desembargador mandou~o para 0 necroteno

o espiritismo sen-iu como assunto nas quais quasc sempre ri brinca e ironiza sc cando as vezes compreende-los por mais laquo

correndo a estrategias comicas Desta forma situacoes nebulosas como uma que exigia p teoria de Newton sugerc consultar 0 propri vez que nao entendia nada de astronomia Er brasileiros acabavam de dar um golpe de m urn medium com fama de ser prodigioso e sileira nomeado uma comissao para estudar nao valia a fama e que os trabalhos ficararr Europa e outro paises mas que 0 problen estao sujeitas a esse eclipses e nao estao Fora i5S0 a Federacao lamentaa que diante mular os fenomenos que obtem nas condie

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_UJUUV por 1SS0 e que nao a botava para fora a pedir A caboda explicava sonhos e pensashy

UVll1Ul1lU de Assis 1959d43-4)

vmiddotOLU1l1C era velho e velhissimo e no interior da que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshy

UUilU bicho empalhado esqueleto ou desenho registro da [Festa de Nossa senhora da 1Conshylembrar misterio mas nao metia medo A eo ritual sem afetas-ao Era uma crtaturinha

com urn raminho de arruda nos cabelos 0

sacerdotisa embora seu misterio estivesse e compridos que entravam pelo consulente

tempo que interrogava Em transe de posse de ausente com urn cigarro aces so ao som de uma do Norte murmuradas por urn velho cabodo

futuras ate que por fim 0 fregues se alegre ~lu-uLa mil-reis quando 0 pres-o do costume era

seus objetos e saia(Machado de Assis 1959d7shyno norte do pais assim como outros cabodos

polleia remete a presens-a dos cabodos no unishyIIJ[l1~JlC1Jl1 que sendo Figura mestis-a esta vlnculashy

os indios donas da terra e ligados anatureza

das batalhas religiosas tais praticas tiveram adeptos do nascente espiritismo que contagishy

__rpntificista do momento na busca de nrprtpr fieis incutindo-Ihes seus pressupostos

por leis cientificas ao querer exduir qualshysabcdorcs das yerdadeiras luzes do

Desta forma urn iniciado nessa religiao

rfu~ ~clt5u-(r(l1H-gn1ru lJ(YL nril ljlft1hgt

seria imitar as crendices da gente reles e so nao pusesse cobro ao esdindalo Ja numa

podia [dizer] a verdade em vez de uma Pltd11lIl espirita enfiado em Iarga camisola de

espirita assomada de fenomeshynauo verbais e escritos a cabocla devia ser

eram delas crenltas da meninice(Machado 770 1957hl0-1)

nesta obra Esau e Jaco a qual trata desses apontados advindos de tradiltoes culturais

sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religishy

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

oso expondo a imbricaltao das praticas origin arias dos amedndios com 0

catohcismo e 0 confronto com 0 espiritismo que amalgamados crtavam as bases do que seria posteriormente denominado de umbanda Aponta que os nomes dados as pessoas podem predestinar seus caminhos ao estabelecer ligaltao entre 0 fato dos filhos do casal Santos chamarem Pedro e Paulo os quais a cabocla disse terem brigado no ventre da mae e indicando as rivalidashydes entre estes porque os dois apostolos do Novo Testamento tam bern brishygaram assim como Esau e Jac6 figuras do Velho Testamento tinham ainda brigado por causa da primogenitura

Porcm Machado nao recorre ao espirttismo apenas nessa obra No conto Uma visita de Alcibades 0 desembargador Alvares que por sua poshysiltao juntamente com Santos acima citado indica 0 meio abastado em que essa doutrina propagaa ao ler Pluta reo fumando um charuto que possibishylitava envolver a imaginas-ao numa especie de nimbo extremamente favorashyvel as evocaltoes mentais transportou-se para a antiga Atenas pois lia a vida de Alcibiades ate que ao terminar de fumar voltou aos tempos modernos e de subito pensou qual seria a impressao daquele ateniense sobre n0550 vestushyano Desta feita enfatizando que era urn tanto espiritista ( ) ate muito podendo mesmo dizer que livia comia dormia passeava conversava bebia cafe e esperava morrer na fe de Alan Kardec pois convencido que todos os sistemas sao pura niilidades tinha adotado 0 mais jovial de todos Asshysim sendo espiritista evocou Alcibiades a comparecer em sua casa e esse 0

fez tapida apraximando duas civilizayoes Mas esse nao era uma sombra impalpavel e sim um homem de carne e ossos que se sentou benevalashymente a sua frente entrando a conversar sobre 0 assunto de interesse ate que o grego empalideceu cambaleou e caiu no chao Dian te do cadaver a desembargador mandou-o para 0 necroterio(Machado de Assis 1956a203-7)

o espiritismo serviu como assunto em varias cronicas machadianas

nas qua~s quasc selnpre ri brinca e lroniza seus enunciados e principios busshycando as vezes compreende-Ios por mais estranheza que provocassem reshyoottendo a estrateglaS comicas Desta forma ha momentos em que diante de situa~oes nebulosas como uma que exigia para sua solus-ao conheCImento da teoria de Newton sugere consultar 0 proprio por meio do espiritismo uma vez ~ue nao entendia nada de astronomia Em outro comenta que os espiritas brasilerros acabavam de dar um golpe de mestre quando apareceu na cidade ~medium com fama de ser prodigioso e tendo a FederaS-ao Espirita Brashysiletra nomeado uma comissao para estudar os fenomenos concluiu que de nao valia a fama e que as trabalhos ficatam abaixo do que se conseguia na Eur~pa e ~utros paises mas que 0 problema estava nas mediunidades que estao Su)eHas a esses eclipses e nao estao senrilmente anossa dispasis-ao Fora 1550 a Federaltao lamentava que diante de tudo a medium huscasse 5ishymular os fenomenos que obtem nas condis-oes normais Segundo Machashy

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do chistosamente 0 medium nao s6 foi ( ) apenas mmtmum mas ate procurou embasar a Federasao(lvlachado de Assis 1958b177 1956c123)

As estrategtas e argumentos usados pelos propagadores da nova doushytrina geralmente expostos nas conferencias promovidas pela Federaltao ou publicados na Uniao Espirita na busca de adeptos e de convemles tambem nao escaparam aeritica machadiana principalmente devido a sua indisposisao a tudo que se propagava como sendo verdade unica e absoluta levando-o a destilar sua eostumeira ironia em varios eseritos sobre essa doutrina e suas praticas Dentre eles destaeamos a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima verdadeira e definitiva doutrina e que substituiria todas as religioes do passashydo 0 eronista reeorre sempre a essa proposiltao quando depara com fatos obscuros e irnpossiveis de destrinltar ocorridos na cidade buscando solucionashylos usando de carnavalizaltoes que acabam por ridieulizar toda e qualquer noltao de -erdade ou de tal pretensao Isso aconteee nao s6 ao que diz respeishyto a essa doutrina A artimanha para conquistar simpatias e fieis de divulgar Iista de pessoas eminentes da Europa que acreditavam no espiritismo foi por ele tambern censurada pois no seu dizer tudo ocorria de forma como se as pessoas devessem crer por crer em tudo aquilo que na Europa e acreditado(~1achado de Assis 1955b297-9 195188)

Ao redor do principio da encarnaltao e reencarnaltao Machado fez yarias elucubraltoes supondo situaltoes tratadas de forma humoristica as quais contribuiam para difundir alguns de seus principios Assim ao vislumbrar uma certa promiscuidade geral dos desencarnados divulga 0 principio de que 0 espirito pode reencarnar inclusive na mesma familia sendo viivel que um homem pudesse ter uma ftlha depois morrer e voltar filho dela ou urn menino voltar filho de urn prin10 Se em alguns momentos pesa a mao contra os espiritistas dizendo que 0 espiritismo nao e menos curanderia que os outros curandeiros e que se fosse legislador mandava fechar todas as igrejas des sa religiao em outros em tom ate didatico enfatiza que 0 princishypio espirita e fundado no progresso e a leI e nascer morrer tornar a nascer e renascer ainda progredir sempre sendo que 0 renascimento epara meshylhor Cada espirita em se desencarnando vai para os mundos superiores Reflete ainda sobre a distancia entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo que 0 principio espirita nao e 0 mesmo da transmigrasao em que as aIm as vao para os corpos dos animalS mas fundado no progresso(Machado de Assis195100-2188)

Acreditando ser representativo do pensamento ultimo de Machado a respeito do espiritismo em 1895 ele defende seu exercicio pois a Constituishyltao estabclece 0 direito de liberdade religiosa No seu dizer 0 espiritismo e uma religiao que ele nao sabia se falsa ou verdadeira embora os espiritas dissessem que verdadeira e unica frente ao que ressaIta que presunltao e agua benta cada um toma a que quer Se verdadeiros ou nao [continual 0

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OPSIS - Revista tiD

fato e que escrevem-se e publicam-se inUn jornais espiritas e no Rio havia uma ou dl acreditara que nao se gasta tanto papel em a palavra que se esta escrevendo e a propria seguinte 1896 comenta (lue ha muito que ( tos escreyem pclos dedos dos vhos e que mundo e neste final de urn grande seculo(1

Desta forma a cultura carioca oitoclt diversas de religiosidade e de expcriencias com 0 divino 0 campo religioso apresent possibilidades variadas de vivenciar a proCl debatem em confronto entre si quanto se a] produzindo formas hibridas e sincreticas de lam os homens a seus deuses com tambem a em parte de seus lasos de sociabilidade

Fontes e Referencias B

BORGES Valdeci Rezende Em busca do 11

Rio de l1achado de Assis Estudos Histor Pesquisa e Documentaltao da Hist6ria Conte Getulio Vargas no 28 p 49-69 2OC) BOCRDIEC Pierre A Economia das TrOt pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Si Paulo Cia Das Letras 1989 ivLCI1ADO DE ASSIS Joaquim r1aria C 10 WMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b _ Cronicas v 2 1955c

Cronicas v 4 1955d

_ Helena 1955e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Historias Romanticas _ 1955g _ laid Garcia 1955h _ Memorial de Aires 19551

Pdginas Recolhidas _ 1955 Reliquias de Casa Velha v 1 _ 195 Contos Esquecidos Rio de Janeiro ClY

_ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Rejlexoes de um Relojoeiro _ A Mao e a Luva Sao Paulo M Jad

lt 37

mio s6 foi () apenas minimum mas ate WHltV de Assis 1958b 177 1956c123)

usados pelos propagadores da nova doushyconferencias promovidas pela Fede1aio 01

na busca de adeptos e de conversoes tambem principalmente devido a sua indisposiltilO

sendo verdade unica e absolura levando-o a em vanos escritos sobre essa doutrina e suas

a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima e que substituiria todas as religioes do passashya essa proposicao quando depara com fatos

ocorridos na cidade bus cando soluciomishyque acabam por ridiculizar toda e qualquer

temao Isso acontece nao 56 ao que diz respeishypara conquistar simpatias e fieis de divulgar

Rur(ma que acreditavam no espiritismo foi por seu dizer tudo ocorria de forma C01no se as crer em tudo aquilo que na Europa e 1955b297-9 195188)

da encarnacao e reencarnacao 1Iachado fez Grv~ tratadas de forma humoristica as quais

de seus principios Assim ao vislumbrar dos desencarnados divulga 0 prindpio de

inclusive na mesma familia sendo viavel que depois morrer e voltar filho dela au urn Se em alguns momentos pesa a mao

que 0 espiritismo nao e menos curanderia se Fosse Iegislador mandava fechar todas as em tom ate diampitico enfatiza que 0 princishy

e a lei e nascer morrer tornar a nascer sendo que 0 renascltnento e para meshy

uJ Tal para os mundos superiores entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo omesma da transmigraltao em que as almas

mas fundado no progresso(Machado de

do pensamento ultimo de Machado a ele defende seu exerdcio pois a Constimishy

religiosa No seu dizer 0 espiritismo e se falsa au verdadeira embora os espiritas

frente aa que ressalta que presunltao e quer Se verdadeiros ou nilO [continua] 0

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

fata e que escrevem-se e publicam-se inumeros livros folhetos reistas e jornais espiritas e no Rio havia uma ou duas folhas espirita alem do que acrerutaa que nao se gasta tanto papel em tantas linguas senao crendo que a palavra que se esta escrevendo ea propria verdade Para finalizar no ano seguinte 1896 comenta que hi muito que os espiritas afirmam que os mOfshytos escrevem pelos dedos dos vivos e que para ele tudo e POSSIel neste mundo e neste final de urn grande seculo(Machado de Assis 1957b26274)

Desta forma a cultura carioca oitocentista esta permeada de formas diersas de religiosidade e de experiencias voltadas para a busca de Iigacao com 0 divino 0 campo religioso apresenta-se marcado pela presenca de possibilidades variadas de vlvenciar a procura do sagrado as quais tanto debatem em confronto entre si quanta se aproximam nas pniticas dos tieis produzindo formas hibridas e sincreticas de religiosidade que nao so vincushylam os homens a seus deuses com tambem aos outros homens constitumdo em parte de seus lacos de soclabilidade

FOlltes e Referihlcias Bibliogrtificas

BORGES Valdeci Rezende Em busca do mundo exterior sociabilidade no Rio de Machado de Assis Estudos Historicos Rio de Janeiro Centro de Pesquisa e Documentacao da Historia Contempodmea do Brasil da Fundaltao Getulio Vargas no 28 p 49-69 200l BOURDIEC Pierre A Economia das Trocas Simb6licas Sao Paulo Persshy

pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e hist6ria Sao Paulo Cia Das Letras 1989 MAClMDO DE ASSIS Joaquim Maria Contos Fluminenses v2 Sao PaushyloWMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b Cronicas v 2 1955c

_ Cronicas v 4 19S5d _ Helena _ 19S5e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Hist6rias Romanticas 1955g _ laid Garcia 1955h

Memorial de Aires 1955i _ Pdginas Recolhidas _ 1955j _ ReUquias de Casa Velha v 1 _ 19551 _ Contos Esquecidos Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1956a _ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Reflexoes de um Relojoeiro _ 1956c _ A Mao e a Luva Sao Paulo 11 Jackson inc 1957a

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A Semana v 3 1957b _ Dam Casmurra _ 1957c

Historias Sem Data 1957d

_ Memorias Postumas de Bras Cubas 1957e _ Quincas Borba 1957f

_ Requias de Casa Velha v 2 _ 1957g Varias Historias 1957h

_ Contos e Cronicas Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1958a _ Cronicas de Lelia 1958b _ A Semana v 1 Sao Paulo WMJackson inc 1959a

A Semana v 2 1959b _ Cronicas v 4 1959c _ Esau e Jaco 1959d

SCHv~RCZ Lilia Moritz Retrato em Branco e Negro jornals escravos em Sao Paulo no final do seculo XIX Sao Paulo Cia Das Letras 1987

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OPSIS - Revista do

CINEMA E RELIGI

ResuResumo

Propomos neste texto apre5cntar algushy 1ou

mas reflex6es sobre a ahordagem de ashy quell

lares no cinema presentes em nleu

filmes como E 0 vento levou Blade film~

Runnermiddot 0 Carador de Androides 0 Run

Exorcisca Matrix dentre outros Exor

Atualmentc vivemos em uma 50eiel urn gm-erno baseado na lei e na razao Ne pensar assentam-se nao mais somente nos v bem nos valotes politicos e sociais Disso religiosos cristaos em quase nada influeneiat de fazer visto que Igreja (como instituiltao) tados na lei

Apesar da atual sociedade aparentc s6lida temos que ter em mente que cia so mente ha pouco tempo malS preeisamente e s6 se consolidou a partjr do positivismo vivemos em uma sociedade ainda em form

mente nao influencia tanto a nossa maneir E isto s6 e verdade para as eham2

hoje existem diversas sociedades ditas tee arabes (Irii) 0 Afeganistao onde 0 fundarr em todos os nh-eis

1 Este texto foi prodU7ido a partir do curso ministr e Religiosidadcs com 0 objetivo de apresentar algUi as rcferencias dos filmes analisados 2 Mestre em Historia pcla UFSC Universidade F

Historia da rcdc publica do [stado de Minas Gerai

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c

Page 19: as Bibliogrdficas RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSISstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3224606.pdf · 16 'as Bibliogrdficas mentafao oral e tematica da seca: estu o Federal,

_UJUUV por 1SS0 e que nao a botava para fora a pedir A caboda explicava sonhos e pensashy

UVll1Ul1lU de Assis 1959d43-4)

vmiddotOLU1l1C era velho e velhissimo e no interior da que lembrasse misterio ou incutisse pavor neshy

UUilU bicho empalhado esqueleto ou desenho registro da [Festa de Nossa senhora da 1Conshylembrar misterio mas nao metia medo A eo ritual sem afetas-ao Era uma crtaturinha

com urn raminho de arruda nos cabelos 0

sacerdotisa embora seu misterio estivesse e compridos que entravam pelo consulente

tempo que interrogava Em transe de posse de ausente com urn cigarro aces so ao som de uma do Norte murmuradas por urn velho cabodo

futuras ate que por fim 0 fregues se alegre ~lu-uLa mil-reis quando 0 pres-o do costume era

seus objetos e saia(Machado de Assis 1959d7shyno norte do pais assim como outros cabodos

polleia remete a presens-a dos cabodos no unishyIIJ[l1~JlC1Jl1 que sendo Figura mestis-a esta vlnculashy

os indios donas da terra e ligados anatureza

das batalhas religiosas tais praticas tiveram adeptos do nascente espiritismo que contagishy

__rpntificista do momento na busca de nrprtpr fieis incutindo-Ihes seus pressupostos

por leis cientificas ao querer exduir qualshysabcdorcs das yerdadeiras luzes do

Desta forma urn iniciado nessa religiao

rfu~ ~clt5u-(r(l1H-gn1ru lJ(YL nril ljlft1hgt

seria imitar as crendices da gente reles e so nao pusesse cobro ao esdindalo Ja numa

podia [dizer] a verdade em vez de uma Pltd11lIl espirita enfiado em Iarga camisola de

espirita assomada de fenomeshynauo verbais e escritos a cabocla devia ser

eram delas crenltas da meninice(Machado 770 1957hl0-1)

nesta obra Esau e Jaco a qual trata desses apontados advindos de tradiltoes culturais

sintetizou 0 hibridismo de nosso campo religishy

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

oso expondo a imbricaltao das praticas origin arias dos amedndios com 0

catohcismo e 0 confronto com 0 espiritismo que amalgamados crtavam as bases do que seria posteriormente denominado de umbanda Aponta que os nomes dados as pessoas podem predestinar seus caminhos ao estabelecer ligaltao entre 0 fato dos filhos do casal Santos chamarem Pedro e Paulo os quais a cabocla disse terem brigado no ventre da mae e indicando as rivalidashydes entre estes porque os dois apostolos do Novo Testamento tam bern brishygaram assim como Esau e Jac6 figuras do Velho Testamento tinham ainda brigado por causa da primogenitura

Porcm Machado nao recorre ao espirttismo apenas nessa obra No conto Uma visita de Alcibades 0 desembargador Alvares que por sua poshysiltao juntamente com Santos acima citado indica 0 meio abastado em que essa doutrina propagaa ao ler Pluta reo fumando um charuto que possibishylitava envolver a imaginas-ao numa especie de nimbo extremamente favorashyvel as evocaltoes mentais transportou-se para a antiga Atenas pois lia a vida de Alcibiades ate que ao terminar de fumar voltou aos tempos modernos e de subito pensou qual seria a impressao daquele ateniense sobre n0550 vestushyano Desta feita enfatizando que era urn tanto espiritista ( ) ate muito podendo mesmo dizer que livia comia dormia passeava conversava bebia cafe e esperava morrer na fe de Alan Kardec pois convencido que todos os sistemas sao pura niilidades tinha adotado 0 mais jovial de todos Asshysim sendo espiritista evocou Alcibiades a comparecer em sua casa e esse 0

fez tapida apraximando duas civilizayoes Mas esse nao era uma sombra impalpavel e sim um homem de carne e ossos que se sentou benevalashymente a sua frente entrando a conversar sobre 0 assunto de interesse ate que o grego empalideceu cambaleou e caiu no chao Dian te do cadaver a desembargador mandou-o para 0 necroterio(Machado de Assis 1956a203-7)

o espiritismo serviu como assunto em varias cronicas machadianas

nas qua~s quasc selnpre ri brinca e lroniza seus enunciados e principios busshycando as vezes compreende-Ios por mais estranheza que provocassem reshyoottendo a estrateglaS comicas Desta forma ha momentos em que diante de situa~oes nebulosas como uma que exigia para sua solus-ao conheCImento da teoria de Newton sugere consultar 0 proprio por meio do espiritismo uma vez ~ue nao entendia nada de astronomia Em outro comenta que os espiritas brasilerros acabavam de dar um golpe de mestre quando apareceu na cidade ~medium com fama de ser prodigioso e tendo a FederaS-ao Espirita Brashysiletra nomeado uma comissao para estudar os fenomenos concluiu que de nao valia a fama e que as trabalhos ficatam abaixo do que se conseguia na Eur~pa e ~utros paises mas que 0 problema estava nas mediunidades que estao Su)eHas a esses eclipses e nao estao senrilmente anossa dispasis-ao Fora 1550 a Federaltao lamentava que diante de tudo a medium huscasse 5ishymular os fenomenos que obtem nas condis-oes normais Segundo Machashy

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do chistosamente 0 medium nao s6 foi ( ) apenas mmtmum mas ate procurou embasar a Federasao(lvlachado de Assis 1958b177 1956c123)

As estrategtas e argumentos usados pelos propagadores da nova doushytrina geralmente expostos nas conferencias promovidas pela Federaltao ou publicados na Uniao Espirita na busca de adeptos e de convemles tambem nao escaparam aeritica machadiana principalmente devido a sua indisposisao a tudo que se propagava como sendo verdade unica e absoluta levando-o a destilar sua eostumeira ironia em varios eseritos sobre essa doutrina e suas praticas Dentre eles destaeamos a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima verdadeira e definitiva doutrina e que substituiria todas as religioes do passashydo 0 eronista reeorre sempre a essa proposiltao quando depara com fatos obscuros e irnpossiveis de destrinltar ocorridos na cidade buscando solucionashylos usando de carnavalizaltoes que acabam por ridieulizar toda e qualquer noltao de -erdade ou de tal pretensao Isso aconteee nao s6 ao que diz respeishyto a essa doutrina A artimanha para conquistar simpatias e fieis de divulgar Iista de pessoas eminentes da Europa que acreditavam no espiritismo foi por ele tambern censurada pois no seu dizer tudo ocorria de forma como se as pessoas devessem crer por crer em tudo aquilo que na Europa e acreditado(~1achado de Assis 1955b297-9 195188)

Ao redor do principio da encarnaltao e reencarnaltao Machado fez yarias elucubraltoes supondo situaltoes tratadas de forma humoristica as quais contribuiam para difundir alguns de seus principios Assim ao vislumbrar uma certa promiscuidade geral dos desencarnados divulga 0 principio de que 0 espirito pode reencarnar inclusive na mesma familia sendo viivel que um homem pudesse ter uma ftlha depois morrer e voltar filho dela ou urn menino voltar filho de urn prin10 Se em alguns momentos pesa a mao contra os espiritistas dizendo que 0 espiritismo nao e menos curanderia que os outros curandeiros e que se fosse legislador mandava fechar todas as igrejas des sa religiao em outros em tom ate didatico enfatiza que 0 princishypio espirita e fundado no progresso e a leI e nascer morrer tornar a nascer e renascer ainda progredir sempre sendo que 0 renascimento epara meshylhor Cada espirita em se desencarnando vai para os mundos superiores Reflete ainda sobre a distancia entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo que 0 principio espirita nao e 0 mesmo da transmigrasao em que as aIm as vao para os corpos dos animalS mas fundado no progresso(Machado de Assis195100-2188)

Acreditando ser representativo do pensamento ultimo de Machado a respeito do espiritismo em 1895 ele defende seu exercicio pois a Constituishyltao estabclece 0 direito de liberdade religiosa No seu dizer 0 espiritismo e uma religiao que ele nao sabia se falsa ou verdadeira embora os espiritas dissessem que verdadeira e unica frente ao que ressaIta que presunltao e agua benta cada um toma a que quer Se verdadeiros ou nao [continual 0

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OPSIS - Revista tiD

fato e que escrevem-se e publicam-se inUn jornais espiritas e no Rio havia uma ou dl acreditara que nao se gasta tanto papel em a palavra que se esta escrevendo e a propria seguinte 1896 comenta (lue ha muito que ( tos escreyem pclos dedos dos vhos e que mundo e neste final de urn grande seculo(1

Desta forma a cultura carioca oitoclt diversas de religiosidade e de expcriencias com 0 divino 0 campo religioso apresent possibilidades variadas de vivenciar a proCl debatem em confronto entre si quanto se a] produzindo formas hibridas e sincreticas de lam os homens a seus deuses com tambem a em parte de seus lasos de sociabilidade

Fontes e Referencias B

BORGES Valdeci Rezende Em busca do 11

Rio de l1achado de Assis Estudos Histor Pesquisa e Documentaltao da Hist6ria Conte Getulio Vargas no 28 p 49-69 2OC) BOCRDIEC Pierre A Economia das TrOt pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Si Paulo Cia Das Letras 1989 ivLCI1ADO DE ASSIS Joaquim r1aria C 10 WMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b _ Cronicas v 2 1955c

Cronicas v 4 1955d

_ Helena 1955e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Historias Romanticas _ 1955g _ laid Garcia 1955h _ Memorial de Aires 19551

Pdginas Recolhidas _ 1955 Reliquias de Casa Velha v 1 _ 195 Contos Esquecidos Rio de Janeiro ClY

_ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Rejlexoes de um Relojoeiro _ A Mao e a Luva Sao Paulo M Jad

lt 37

mio s6 foi () apenas minimum mas ate WHltV de Assis 1958b 177 1956c123)

usados pelos propagadores da nova doushyconferencias promovidas pela Fede1aio 01

na busca de adeptos e de conversoes tambem principalmente devido a sua indisposiltilO

sendo verdade unica e absolura levando-o a em vanos escritos sobre essa doutrina e suas

a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima e que substituiria todas as religioes do passashya essa proposicao quando depara com fatos

ocorridos na cidade bus cando soluciomishyque acabam por ridiculizar toda e qualquer

temao Isso acontece nao 56 ao que diz respeishypara conquistar simpatias e fieis de divulgar

Rur(ma que acreditavam no espiritismo foi por seu dizer tudo ocorria de forma C01no se as crer em tudo aquilo que na Europa e 1955b297-9 195188)

da encarnacao e reencarnacao 1Iachado fez Grv~ tratadas de forma humoristica as quais

de seus principios Assim ao vislumbrar dos desencarnados divulga 0 prindpio de

inclusive na mesma familia sendo viavel que depois morrer e voltar filho dela au urn Se em alguns momentos pesa a mao

que 0 espiritismo nao e menos curanderia se Fosse Iegislador mandava fechar todas as em tom ate diampitico enfatiza que 0 princishy

e a lei e nascer morrer tornar a nascer sendo que 0 renascltnento e para meshy

uJ Tal para os mundos superiores entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo omesma da transmigraltao em que as almas

mas fundado no progresso(Machado de

do pensamento ultimo de Machado a ele defende seu exerdcio pois a Constimishy

religiosa No seu dizer 0 espiritismo e se falsa au verdadeira embora os espiritas

frente aa que ressalta que presunltao e quer Se verdadeiros ou nilO [continua] 0

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

fata e que escrevem-se e publicam-se inumeros livros folhetos reistas e jornais espiritas e no Rio havia uma ou duas folhas espirita alem do que acrerutaa que nao se gasta tanto papel em tantas linguas senao crendo que a palavra que se esta escrevendo ea propria verdade Para finalizar no ano seguinte 1896 comenta que hi muito que os espiritas afirmam que os mOfshytos escrevem pelos dedos dos vivos e que para ele tudo e POSSIel neste mundo e neste final de urn grande seculo(Machado de Assis 1957b26274)

Desta forma a cultura carioca oitocentista esta permeada de formas diersas de religiosidade e de experiencias voltadas para a busca de Iigacao com 0 divino 0 campo religioso apresenta-se marcado pela presenca de possibilidades variadas de vlvenciar a procura do sagrado as quais tanto debatem em confronto entre si quanta se aproximam nas pniticas dos tieis produzindo formas hibridas e sincreticas de religiosidade que nao so vincushylam os homens a seus deuses com tambem aos outros homens constitumdo em parte de seus lacos de soclabilidade

FOlltes e Referihlcias Bibliogrtificas

BORGES Valdeci Rezende Em busca do mundo exterior sociabilidade no Rio de Machado de Assis Estudos Historicos Rio de Janeiro Centro de Pesquisa e Documentacao da Historia Contempodmea do Brasil da Fundaltao Getulio Vargas no 28 p 49-69 200l BOURDIEC Pierre A Economia das Trocas Simb6licas Sao Paulo Persshy

pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e hist6ria Sao Paulo Cia Das Letras 1989 MAClMDO DE ASSIS Joaquim Maria Contos Fluminenses v2 Sao PaushyloWMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b Cronicas v 2 1955c

_ Cronicas v 4 19S5d _ Helena _ 19S5e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Hist6rias Romanticas 1955g _ laid Garcia 1955h

Memorial de Aires 1955i _ Pdginas Recolhidas _ 1955j _ ReUquias de Casa Velha v 1 _ 19551 _ Contos Esquecidos Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1956a _ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Reflexoes de um Relojoeiro _ 1956c _ A Mao e a Luva Sao Paulo 11 Jackson inc 1957a

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A Semana v 3 1957b _ Dam Casmurra _ 1957c

Historias Sem Data 1957d

_ Memorias Postumas de Bras Cubas 1957e _ Quincas Borba 1957f

_ Requias de Casa Velha v 2 _ 1957g Varias Historias 1957h

_ Contos e Cronicas Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1958a _ Cronicas de Lelia 1958b _ A Semana v 1 Sao Paulo WMJackson inc 1959a

A Semana v 2 1959b _ Cronicas v 4 1959c _ Esau e Jaco 1959d

SCHv~RCZ Lilia Moritz Retrato em Branco e Negro jornals escravos em Sao Paulo no final do seculo XIX Sao Paulo Cia Das Letras 1987

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OPSIS - Revista do

CINEMA E RELIGI

ResuResumo

Propomos neste texto apre5cntar algushy 1ou

mas reflex6es sobre a ahordagem de ashy quell

lares no cinema presentes em nleu

filmes como E 0 vento levou Blade film~

Runnermiddot 0 Carador de Androides 0 Run

Exorcisca Matrix dentre outros Exor

Atualmentc vivemos em uma 50eiel urn gm-erno baseado na lei e na razao Ne pensar assentam-se nao mais somente nos v bem nos valotes politicos e sociais Disso religiosos cristaos em quase nada influeneiat de fazer visto que Igreja (como instituiltao) tados na lei

Apesar da atual sociedade aparentc s6lida temos que ter em mente que cia so mente ha pouco tempo malS preeisamente e s6 se consolidou a partjr do positivismo vivemos em uma sociedade ainda em form

mente nao influencia tanto a nossa maneir E isto s6 e verdade para as eham2

hoje existem diversas sociedades ditas tee arabes (Irii) 0 Afeganistao onde 0 fundarr em todos os nh-eis

1 Este texto foi prodU7ido a partir do curso ministr e Religiosidadcs com 0 objetivo de apresentar algUi as rcferencias dos filmes analisados 2 Mestre em Historia pcla UFSC Universidade F

Historia da rcdc publica do [stado de Minas Gerai

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c

Page 20: as Bibliogrdficas RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSISstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3224606.pdf · 16 'as Bibliogrdficas mentafao oral e tematica da seca: estu o Federal,

do chistosamente 0 medium nao s6 foi ( ) apenas mmtmum mas ate procurou embasar a Federasao(lvlachado de Assis 1958b177 1956c123)

As estrategtas e argumentos usados pelos propagadores da nova doushytrina geralmente expostos nas conferencias promovidas pela Federaltao ou publicados na Uniao Espirita na busca de adeptos e de convemles tambem nao escaparam aeritica machadiana principalmente devido a sua indisposisao a tudo que se propagava como sendo verdade unica e absoluta levando-o a destilar sua eostumeira ironia em varios eseritos sobre essa doutrina e suas praticas Dentre eles destaeamos a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima verdadeira e definitiva doutrina e que substituiria todas as religioes do passashydo 0 eronista reeorre sempre a essa proposiltao quando depara com fatos obscuros e irnpossiveis de destrinltar ocorridos na cidade buscando solucionashylos usando de carnavalizaltoes que acabam por ridieulizar toda e qualquer noltao de -erdade ou de tal pretensao Isso aconteee nao s6 ao que diz respeishyto a essa doutrina A artimanha para conquistar simpatias e fieis de divulgar Iista de pessoas eminentes da Europa que acreditavam no espiritismo foi por ele tambern censurada pois no seu dizer tudo ocorria de forma como se as pessoas devessem crer por crer em tudo aquilo que na Europa e acreditado(~1achado de Assis 1955b297-9 195188)

Ao redor do principio da encarnaltao e reencarnaltao Machado fez yarias elucubraltoes supondo situaltoes tratadas de forma humoristica as quais contribuiam para difundir alguns de seus principios Assim ao vislumbrar uma certa promiscuidade geral dos desencarnados divulga 0 principio de que 0 espirito pode reencarnar inclusive na mesma familia sendo viivel que um homem pudesse ter uma ftlha depois morrer e voltar filho dela ou urn menino voltar filho de urn prin10 Se em alguns momentos pesa a mao contra os espiritistas dizendo que 0 espiritismo nao e menos curanderia que os outros curandeiros e que se fosse legislador mandava fechar todas as igrejas des sa religiao em outros em tom ate didatico enfatiza que 0 princishypio espirita e fundado no progresso e a leI e nascer morrer tornar a nascer e renascer ainda progredir sempre sendo que 0 renascimento epara meshylhor Cada espirita em se desencarnando vai para os mundos superiores Reflete ainda sobre a distancia entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo que 0 principio espirita nao e 0 mesmo da transmigrasao em que as aIm as vao para os corpos dos animalS mas fundado no progresso(Machado de Assis195100-2188)

Acreditando ser representativo do pensamento ultimo de Machado a respeito do espiritismo em 1895 ele defende seu exercicio pois a Constituishyltao estabclece 0 direito de liberdade religiosa No seu dizer 0 espiritismo e uma religiao que ele nao sabia se falsa ou verdadeira embora os espiritas dissessem que verdadeira e unica frente ao que ressaIta que presunltao e agua benta cada um toma a que quer Se verdadeiros ou nao [continual 0

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OPSIS - Revista tiD

fato e que escrevem-se e publicam-se inUn jornais espiritas e no Rio havia uma ou dl acreditara que nao se gasta tanto papel em a palavra que se esta escrevendo e a propria seguinte 1896 comenta (lue ha muito que ( tos escreyem pclos dedos dos vhos e que mundo e neste final de urn grande seculo(1

Desta forma a cultura carioca oitoclt diversas de religiosidade e de expcriencias com 0 divino 0 campo religioso apresent possibilidades variadas de vivenciar a proCl debatem em confronto entre si quanto se a] produzindo formas hibridas e sincreticas de lam os homens a seus deuses com tambem a em parte de seus lasos de sociabilidade

Fontes e Referencias B

BORGES Valdeci Rezende Em busca do 11

Rio de l1achado de Assis Estudos Histor Pesquisa e Documentaltao da Hist6ria Conte Getulio Vargas no 28 p 49-69 2OC) BOCRDIEC Pierre A Economia das TrOt pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Si Paulo Cia Das Letras 1989 ivLCI1ADO DE ASSIS Joaquim r1aria C 10 WMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b _ Cronicas v 2 1955c

Cronicas v 4 1955d

_ Helena 1955e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Historias Romanticas _ 1955g _ laid Garcia 1955h _ Memorial de Aires 19551

Pdginas Recolhidas _ 1955 Reliquias de Casa Velha v 1 _ 195 Contos Esquecidos Rio de Janeiro ClY

_ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Rejlexoes de um Relojoeiro _ A Mao e a Luva Sao Paulo M Jad

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mio s6 foi () apenas minimum mas ate WHltV de Assis 1958b 177 1956c123)

usados pelos propagadores da nova doushyconferencias promovidas pela Fede1aio 01

na busca de adeptos e de conversoes tambem principalmente devido a sua indisposiltilO

sendo verdade unica e absolura levando-o a em vanos escritos sobre essa doutrina e suas

a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima e que substituiria todas as religioes do passashya essa proposicao quando depara com fatos

ocorridos na cidade bus cando soluciomishyque acabam por ridiculizar toda e qualquer

temao Isso acontece nao 56 ao que diz respeishypara conquistar simpatias e fieis de divulgar

Rur(ma que acreditavam no espiritismo foi por seu dizer tudo ocorria de forma C01no se as crer em tudo aquilo que na Europa e 1955b297-9 195188)

da encarnacao e reencarnacao 1Iachado fez Grv~ tratadas de forma humoristica as quais

de seus principios Assim ao vislumbrar dos desencarnados divulga 0 prindpio de

inclusive na mesma familia sendo viavel que depois morrer e voltar filho dela au urn Se em alguns momentos pesa a mao

que 0 espiritismo nao e menos curanderia se Fosse Iegislador mandava fechar todas as em tom ate diampitico enfatiza que 0 princishy

e a lei e nascer morrer tornar a nascer sendo que 0 renascltnento e para meshy

uJ Tal para os mundos superiores entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo omesma da transmigraltao em que as almas

mas fundado no progresso(Machado de

do pensamento ultimo de Machado a ele defende seu exerdcio pois a Constimishy

religiosa No seu dizer 0 espiritismo e se falsa au verdadeira embora os espiritas

frente aa que ressalta que presunltao e quer Se verdadeiros ou nilO [continua] 0

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

fata e que escrevem-se e publicam-se inumeros livros folhetos reistas e jornais espiritas e no Rio havia uma ou duas folhas espirita alem do que acrerutaa que nao se gasta tanto papel em tantas linguas senao crendo que a palavra que se esta escrevendo ea propria verdade Para finalizar no ano seguinte 1896 comenta que hi muito que os espiritas afirmam que os mOfshytos escrevem pelos dedos dos vivos e que para ele tudo e POSSIel neste mundo e neste final de urn grande seculo(Machado de Assis 1957b26274)

Desta forma a cultura carioca oitocentista esta permeada de formas diersas de religiosidade e de experiencias voltadas para a busca de Iigacao com 0 divino 0 campo religioso apresenta-se marcado pela presenca de possibilidades variadas de vlvenciar a procura do sagrado as quais tanto debatem em confronto entre si quanta se aproximam nas pniticas dos tieis produzindo formas hibridas e sincreticas de religiosidade que nao so vincushylam os homens a seus deuses com tambem aos outros homens constitumdo em parte de seus lacos de soclabilidade

FOlltes e Referihlcias Bibliogrtificas

BORGES Valdeci Rezende Em busca do mundo exterior sociabilidade no Rio de Machado de Assis Estudos Historicos Rio de Janeiro Centro de Pesquisa e Documentacao da Historia Contempodmea do Brasil da Fundaltao Getulio Vargas no 28 p 49-69 200l BOURDIEC Pierre A Economia das Trocas Simb6licas Sao Paulo Persshy

pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e hist6ria Sao Paulo Cia Das Letras 1989 MAClMDO DE ASSIS Joaquim Maria Contos Fluminenses v2 Sao PaushyloWMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b Cronicas v 2 1955c

_ Cronicas v 4 19S5d _ Helena _ 19S5e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Hist6rias Romanticas 1955g _ laid Garcia 1955h

Memorial de Aires 1955i _ Pdginas Recolhidas _ 1955j _ ReUquias de Casa Velha v 1 _ 19551 _ Contos Esquecidos Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1956a _ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Reflexoes de um Relojoeiro _ 1956c _ A Mao e a Luva Sao Paulo 11 Jackson inc 1957a

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A Semana v 3 1957b _ Dam Casmurra _ 1957c

Historias Sem Data 1957d

_ Memorias Postumas de Bras Cubas 1957e _ Quincas Borba 1957f

_ Requias de Casa Velha v 2 _ 1957g Varias Historias 1957h

_ Contos e Cronicas Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1958a _ Cronicas de Lelia 1958b _ A Semana v 1 Sao Paulo WMJackson inc 1959a

A Semana v 2 1959b _ Cronicas v 4 1959c _ Esau e Jaco 1959d

SCHv~RCZ Lilia Moritz Retrato em Branco e Negro jornals escravos em Sao Paulo no final do seculo XIX Sao Paulo Cia Das Letras 1987

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OPSIS - Revista do

CINEMA E RELIGI

ResuResumo

Propomos neste texto apre5cntar algushy 1ou

mas reflex6es sobre a ahordagem de ashy quell

lares no cinema presentes em nleu

filmes como E 0 vento levou Blade film~

Runnermiddot 0 Carador de Androides 0 Run

Exorcisca Matrix dentre outros Exor

Atualmentc vivemos em uma 50eiel urn gm-erno baseado na lei e na razao Ne pensar assentam-se nao mais somente nos v bem nos valotes politicos e sociais Disso religiosos cristaos em quase nada influeneiat de fazer visto que Igreja (como instituiltao) tados na lei

Apesar da atual sociedade aparentc s6lida temos que ter em mente que cia so mente ha pouco tempo malS preeisamente e s6 se consolidou a partjr do positivismo vivemos em uma sociedade ainda em form

mente nao influencia tanto a nossa maneir E isto s6 e verdade para as eham2

hoje existem diversas sociedades ditas tee arabes (Irii) 0 Afeganistao onde 0 fundarr em todos os nh-eis

1 Este texto foi prodU7ido a partir do curso ministr e Religiosidadcs com 0 objetivo de apresentar algUi as rcferencias dos filmes analisados 2 Mestre em Historia pcla UFSC Universidade F

Historia da rcdc publica do [stado de Minas Gerai

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c

Page 21: as Bibliogrdficas RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSISstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3224606.pdf · 16 'as Bibliogrdficas mentafao oral e tematica da seca: estu o Federal,

mio s6 foi () apenas minimum mas ate WHltV de Assis 1958b 177 1956c123)

usados pelos propagadores da nova doushyconferencias promovidas pela Fede1aio 01

na busca de adeptos e de conversoes tambem principalmente devido a sua indisposiltilO

sendo verdade unica e absolura levando-o a em vanos escritos sobre essa doutrina e suas

a afirmaltao de que 0 espiritismo ea ultima e que substituiria todas as religioes do passashya essa proposicao quando depara com fatos

ocorridos na cidade bus cando soluciomishyque acabam por ridiculizar toda e qualquer

temao Isso acontece nao 56 ao que diz respeishypara conquistar simpatias e fieis de divulgar

Rur(ma que acreditavam no espiritismo foi por seu dizer tudo ocorria de forma C01no se as crer em tudo aquilo que na Europa e 1955b297-9 195188)

da encarnacao e reencarnacao 1Iachado fez Grv~ tratadas de forma humoristica as quais

de seus principios Assim ao vislumbrar dos desencarnados divulga 0 prindpio de

inclusive na mesma familia sendo viavel que depois morrer e voltar filho dela au urn Se em alguns momentos pesa a mao

que 0 espiritismo nao e menos curanderia se Fosse Iegislador mandava fechar todas as em tom ate diampitico enfatiza que 0 princishy

e a lei e nascer morrer tornar a nascer sendo que 0 renascltnento e para meshy

uJ Tal para os mundos superiores entre 0 espiritismo e 0 bramanismo dizendo omesma da transmigraltao em que as almas

mas fundado no progresso(Machado de

do pensamento ultimo de Machado a ele defende seu exerdcio pois a Constimishy

religiosa No seu dizer 0 espiritismo e se falsa au verdadeira embora os espiritas

frente aa que ressalta que presunltao e quer Se verdadeiros ou nilO [continua] 0

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OPSIS - Revista do Niese V2 NJ JanJun 2002

fata e que escrevem-se e publicam-se inumeros livros folhetos reistas e jornais espiritas e no Rio havia uma ou duas folhas espirita alem do que acrerutaa que nao se gasta tanto papel em tantas linguas senao crendo que a palavra que se esta escrevendo ea propria verdade Para finalizar no ano seguinte 1896 comenta que hi muito que os espiritas afirmam que os mOfshytos escrevem pelos dedos dos vivos e que para ele tudo e POSSIel neste mundo e neste final de urn grande seculo(Machado de Assis 1957b26274)

Desta forma a cultura carioca oitocentista esta permeada de formas diersas de religiosidade e de experiencias voltadas para a busca de Iigacao com 0 divino 0 campo religioso apresenta-se marcado pela presenca de possibilidades variadas de vlvenciar a procura do sagrado as quais tanto debatem em confronto entre si quanta se aproximam nas pniticas dos tieis produzindo formas hibridas e sincreticas de religiosidade que nao so vincushylam os homens a seus deuses com tambem aos outros homens constitumdo em parte de seus lacos de soclabilidade

FOlltes e Referihlcias Bibliogrtificas

BORGES Valdeci Rezende Em busca do mundo exterior sociabilidade no Rio de Machado de Assis Estudos Historicos Rio de Janeiro Centro de Pesquisa e Documentacao da Historia Contempodmea do Brasil da Fundaltao Getulio Vargas no 28 p 49-69 200l BOURDIEC Pierre A Economia das Trocas Simb6licas Sao Paulo Persshy

pectiva 1977 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e hist6ria Sao Paulo Cia Das Letras 1989 MAClMDO DE ASSIS Joaquim Maria Contos Fluminenses v2 Sao PaushyloWMJackson inc 1955a

Cronicas v 1 1955b Cronicas v 2 1955c

_ Cronicas v 4 19S5d _ Helena _ 19S5e _ Historias da MeiamiddotNoite 1955f _Hist6rias Romanticas 1955g _ laid Garcia 1955h

Memorial de Aires 1955i _ Pdginas Recolhidas _ 1955j _ ReUquias de Casa Velha v 1 _ 19551 _ Contos Esquecidos Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1956a _ Contos Sem Data 1956b _ Didlogos e Reflexoes de um Relojoeiro _ 1956c _ A Mao e a Luva Sao Paulo 11 Jackson inc 1957a

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A Semana v 3 1957b _ Dam Casmurra _ 1957c

Historias Sem Data 1957d

_ Memorias Postumas de Bras Cubas 1957e _ Quincas Borba 1957f

_ Requias de Casa Velha v 2 _ 1957g Varias Historias 1957h

_ Contos e Cronicas Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1958a _ Cronicas de Lelia 1958b _ A Semana v 1 Sao Paulo WMJackson inc 1959a

A Semana v 2 1959b _ Cronicas v 4 1959c _ Esau e Jaco 1959d

SCHv~RCZ Lilia Moritz Retrato em Branco e Negro jornals escravos em Sao Paulo no final do seculo XIX Sao Paulo Cia Das Letras 1987

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OPSIS - Revista do

CINEMA E RELIGI

ResuResumo

Propomos neste texto apre5cntar algushy 1ou

mas reflex6es sobre a ahordagem de ashy quell

lares no cinema presentes em nleu

filmes como E 0 vento levou Blade film~

Runnermiddot 0 Carador de Androides 0 Run

Exorcisca Matrix dentre outros Exor

Atualmentc vivemos em uma 50eiel urn gm-erno baseado na lei e na razao Ne pensar assentam-se nao mais somente nos v bem nos valotes politicos e sociais Disso religiosos cristaos em quase nada influeneiat de fazer visto que Igreja (como instituiltao) tados na lei

Apesar da atual sociedade aparentc s6lida temos que ter em mente que cia so mente ha pouco tempo malS preeisamente e s6 se consolidou a partjr do positivismo vivemos em uma sociedade ainda em form

mente nao influencia tanto a nossa maneir E isto s6 e verdade para as eham2

hoje existem diversas sociedades ditas tee arabes (Irii) 0 Afeganistao onde 0 fundarr em todos os nh-eis

1 Este texto foi prodU7ido a partir do curso ministr e Religiosidadcs com 0 objetivo de apresentar algUi as rcferencias dos filmes analisados 2 Mestre em Historia pcla UFSC Universidade F

Historia da rcdc publica do [stado de Minas Gerai

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Page 22: as Bibliogrdficas RELIGIOSIDADES EM MACHADO DE ASSISstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3224606.pdf · 16 'as Bibliogrdficas mentafao oral e tematica da seca: estu o Federal,

A Semana v 3 1957b _ Dam Casmurra _ 1957c

Historias Sem Data 1957d

_ Memorias Postumas de Bras Cubas 1957e _ Quincas Borba 1957f

_ Requias de Casa Velha v 2 _ 1957g Varias Historias 1957h

_ Contos e Cronicas Rio de Janeiro Civilizaltao Brasileira 1958a _ Cronicas de Lelia 1958b _ A Semana v 1 Sao Paulo WMJackson inc 1959a

A Semana v 2 1959b _ Cronicas v 4 1959c _ Esau e Jaco 1959d

SCHv~RCZ Lilia Moritz Retrato em Branco e Negro jornals escravos em Sao Paulo no final do seculo XIX Sao Paulo Cia Das Letras 1987

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OPSIS - Revista do

CINEMA E RELIGI

ResuResumo

Propomos neste texto apre5cntar algushy 1ou

mas reflex6es sobre a ahordagem de ashy quell

lares no cinema presentes em nleu

filmes como E 0 vento levou Blade film~

Runnermiddot 0 Carador de Androides 0 Run

Exorcisca Matrix dentre outros Exor

Atualmentc vivemos em uma 50eiel urn gm-erno baseado na lei e na razao Ne pensar assentam-se nao mais somente nos v bem nos valotes politicos e sociais Disso religiosos cristaos em quase nada influeneiat de fazer visto que Igreja (como instituiltao) tados na lei

Apesar da atual sociedade aparentc s6lida temos que ter em mente que cia so mente ha pouco tempo malS preeisamente e s6 se consolidou a partjr do positivismo vivemos em uma sociedade ainda em form

mente nao influencia tanto a nossa maneir E isto s6 e verdade para as eham2

hoje existem diversas sociedades ditas tee arabes (Irii) 0 Afeganistao onde 0 fundarr em todos os nh-eis

1 Este texto foi prodU7ido a partir do curso ministr e Religiosidadcs com 0 objetivo de apresentar algUi as rcferencias dos filmes analisados 2 Mestre em Historia pcla UFSC Universidade F

Historia da rcdc publica do [stado de Minas Gerai

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