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As dificuldades da qualificação profissional de pessoas com deficiência física na Região Metropolitana do Recife _______________________________________________________________________ The difficulties of the professional qualification of persons with disabilities in the metropolitan area of Recife RESUMO Este estudo teve por objetivo identificar até que ponto a acessibilidade pode dificultar ou impedir a qualificação de pessoas com deficiência. Os dados foram coletados através de entrevistas semi-estruturadas a três pessoas com deficiência física, usuários de cadeira de rodas, pertencente à associação de deficientes físicos do Recife, um dos entrevistados possui o nível fundamental completo e dois ensino médio. Os dados foram analisados qualitativamente apontando que existe uma grande dificuldade de acessibilidade categorizando as barreiras existentes em dois tipos: arquitetônica e atitudional. Através da analise dos resultados foram percebidos que a barreira atitudional mais especificamente relação professor aluno com deficiência é a que mais dificulta o processo de qualificação, desestimulando estes a seguir seu processo de aprendizagem. Palavras-chaves: pessoas com deficiência, qualificação e acessibilidade ABSTRACT This study aimed to identify the extent to which accessibility may hinder or prevent qualified people with disabilities. Data were collected through semi-structured interviews to three people with physical disabilities, wheelchair users, belonging to the association of disabled people of Recife, one of the respondents have completed elementary level, another level, the degree and another university. The data were analyzed qualitatively showing that there is great difficulty in categorizing the accessibility barriers into two types: architectural and atitudional. By analysis of the results that were perceived barrier atitudional specifically disabled student teacher relationship is the most difficult qualification process, discouraging them to follow their learning process.

As dificuldades da qualificação profissional de pessoas com deficiência

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As dificuldades da qualificação profissional de pessoas com deficiência física na Região Metropolitana do Recife

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Page 1: As dificuldades da qualificação profissional de pessoas com deficiência

As dificuldades da qualificação profissional de pessoas com deficiência física na

Região Metropolitana do Recife

_______________________________________________________________________

The difficulties of the professional qualification of persons with disabilities in the

metropolitan area of Recife

RESUMO

Este estudo teve por objetivo identificar até que ponto a acessibilidade pode dificultar ou

impedir a qualificação de pessoas com deficiência. Os dados foram coletados através de

entrevistas semi-estruturadas a três pessoas com deficiência física, usuários de cadeira de

rodas, pertencente à associação de deficientes físicos do Recife, um dos entrevistados

possui o nível fundamental completo e dois ensino médio. Os dados foram analisados

qualitativamente apontando que existe uma grande dificuldade de acessibilidade

categorizando as barreiras existentes em dois tipos: arquitetônica e atitudional. Através da

analise dos resultados foram percebidos que a barreira atitudional mais especificamente

relação professor aluno com deficiência é a que mais dificulta o processo de qualificação,

desestimulando estes a seguir seu processo de aprendizagem.

Palavras-chaves: pessoas com deficiência, qualificação e acessibilidade

ABSTRACT

This study aimed to identify the extent to which accessibility may hinder or prevent

qualified people with disabilities. Data were collected through semi-structured interviews

to three people with physical disabilities, wheelchair users, belonging to the association of

disabled people of Recife, one of the respondents have completed elementary level,

another level, the degree and another university. The data were analyzed qualitatively

showing that there is great difficulty in categorizing the accessibility barriers into two

types: architectural and atitudional. By analysis of the results that were perceived barrier

atitudional specifically disabled student teacher relationship is the most difficult

qualification process, discouraging them to follow their learning process.

Page 2: As dificuldades da qualificação profissional de pessoas com deficiência

Key-words: qualifications, disabled people, sustainability

1. INTRODUÇÃO

Atualmente a empregabilidade é um tema corriqueiro, e quando se fala em

empregabilidade da pessoa com deficiência, a grande dificuldade é a baixa qualificação.

Com a crescente oferta de vagas nasce a ilusória idéia de que o mercado esta absorvendo

estas pessoas que por muito viveram a margem da sociedade, porém tanto a qualificação

quanto a empregabilidade estão diretamente ligadas à acessibilidade, a maioria dos

empresários utilizam essa justificativa para a não inclusão profissional, sem observar que

por trás desse fato apenas as pessoas com leves deficiências físicas estão sendo contratadas

e da mesma maneira acontece na qualificação, existem muitas barreiras a serem

transpostas. Existe sim uma acomodação por parte da pessoa com deficiência por conta do

benefício e também existe uma grande falta de interesse na profissionalização, esse atigo

não vem negar isso. Mas mostrar que antes de serem pessoas com deficiência, são pessoas

com características várias existentes nesse grupo que foi categorizados, nem existe um

todo bom nem mal, nem preguiçoso, nem empenhado, enfim são pessoas com uma ampla

diversidade de sentimentos e atitudes. Esse artigo se divide em um estudo teórico sobre o

tema e um estudo exploratório, onde foi realizada pesquisa de campo, com três pessoas

com deficiência física partindo sempre da indagação se a acessibilidade dificulta ou

impede a qualificação das pessoas com deficiência física. E teoricamente analisando os

dados com as variáveis: didática e sustentabilidade.

Na visão de Neri (2003) O combate a desigualdade passa pela percepção de reconhecer as

diferenças e que estas não se traduzam em desigualdades. Diversidade não deve ser

sinônimo de adversidade. O combate a desigualdade necessariamente precisa passar pela

compreensão do que se esta discriminando, segundo Ribas (2003) pensasse e interpretasse

construindo imagem então a partir dessa premissa infere-se o que são pessoas deficientes?

Qual a imagem formada? Normalmente a imagem da deficiência esta ligada a pobreza, a

uma pessoa incapacitada até isolada da sociedade sem sair de casa, malvestida e sem

condições de pensar por si própria. Realmente se formarmos essa imagem como incluir um

ser dessa natureza na nossa sociedade? Para chegar a uma inclusão precisam-se deixar de

lado esses estigmas criados.

Page 3: As dificuldades da qualificação profissional de pessoas com deficiência

A deficiência esta ligada a possíveis seqüelas que restringiram a execução

de uma atividade. A incapacidade diz respeito aos obstáculos encontrados

pelos deficientes em sua interação com a sociedade, levando-se em conta

a idade, sexo, fatores sociais e culturais (RIBAS, 2003, p.10)

Na sociedade atual, ser deficiente significa não ser eficiente, é não ser capaz, não ser

eficaz. Esse julgamento que a sociedade impõe automaticamente, é a primeira barreira a

ser transposta, existe a ilusão de um todo homogêneo onde todo homem é naturalmente e

socialmente igual, sendo os deficientes físicos uma exceção a essa regra onde um órgão,

um corpo diferente pode contaminar todo o grupo, logo deve realmente permanecer isolado

da sociedade para não inibir o progresso social. A pessoa com deficiência, principalmente

física que é a mais visível carrega consigo um estigma social, é uma pessoa considerada

fora das normas sociais.

“Uma pessoa que traz em si o estigma social da deficiência, é

estigmatizada porque se estabeleceu que ela possuísse no corpo uma

marca que a distingue pejorativamente de outras pessoas. Porque a nossa

sociedade divide-se estruturalmente em classe sociais, aqueles

considerados iguais colocam-se em um pólo da sociedade e aqueles

considerados diferentes colocam-se no outro pólo, aceitando a

condição de diferentes e até de inferiores” (RIBAS, 2003, p. 16)

Muitas pessoas com deficiência física procuram próteses para tornar seu “defeito” mais

aceitável aos olhos da sociedade quanto menos a pessoa deficiente chamar atenção, quanto

mais ela parecer “normal” mais prestigia sua imagem no mundo dos videntes, onde segue o

padrão de estética e beleza.

A sociedade ainda encontra-se despreparada para incluir as pessoas com deficiência física,

o primeiro obstáculo começa dentro de casa, na visão de Ribas 1999, muitas famílias não

estão preparadas para receber pessoas com deficiência, porque como qualquer outra possui

toda uma carga ideológica, deficiente será sempre aquele membro que viverá encostado à

custa da família. Felizmente observam-se vários casos em que mesmo com lesões graves

pessoas com deficiência vivem em sociedade, leva uma vida independente com

contribuições para família e para o social, mas para isso acontecer será necessário transpor

algumas barreiras.

“Historicamente atingidas por graves problemas de segregação em nosso país essas

pessoas seguem, em grande parte, invisíveis a maioria das recentes conquistas da

cidadania” (VIVARTA E PENA, 2003 p.7)

Page 4: As dificuldades da qualificação profissional de pessoas com deficiência

Acessibilidade para deficientes físicos perpassa pelas barreiras arquitetônicas e barreiras

atitudionais. As atitudionais estão ligadas a conceitos e preconceitos e as arquitetônicas

estão ligadas as dificuldades de acesso devido à estrutura física das próprias cidades e dos

lugares de estudo e os meios de locomoção.

Segundo Gabrilli apud Ignarra et al. (2009) a inclusão através da qualificação objetivando

a profissionalização não é uma questão de solidariedade, mas sim de poder reconhecer o

direito de cada sujeito de ocupar seus espaços na sociedade contribuindo para o progresso

do país.

“A falta de acessibilidade é um preconceito silencioso, porém

extremamente limitante. Esse é o primeiro obstáculo por quem tem uma

deficiência, pelo simples fato de que veta completamente a autonomia e a

independência. Não podemos mais passar às pessoas com deficiência a

mensagem velada de que ela não deveria sair de casa e que isso não é um

problema nosso. Mas aprendi ao longo da minha trajetória, que a grande

transformação não esta em fazer das cidades um imenso canteiro de

obras, mas sim uma mudança em seus cidadãos” (GABRILI apud

IGNARA et al. 2009, p. 1)

O quadro real da deficiência segundo dados da ONU o mundo abrange cerca de 500

milhões de pessoas com deficiência dos quais 80% vivem em países em desenvolvimento.

O censo do Brasil de 2000 informa que 24,5 milhões de brasileiros possuem algum tipo de

deficiência (14,5% da população), número bastante superior dos censos anteriores,

resultante não de um aumento da população com deficiência, mas devido à utilização de

um questionário mais apurado. O que mostra que é uma parcela bem representativa da

sociedade. Neri (2003). No estado de Pernambuco local da pesquisa possui 1.365.334

pessoas com algum tipo de deficiência, o que representa 17,24% da população do estado

(dados fornecido por NERI 2003) e segundo o último estudo da SEAD- Superintendência

Estadual de apoio a pessoa com deficiência (ROCHA, 2009), existem775 empresas

privadas que se enquadram na citada lei. Se todas cumprissem a lei de cotas, 19.794

trabalhadores com deficiência estariam empregados, contudo, apenas 2.920 estão

empregadas, somando um total déficit de 16.829 vagas não ocupadas. Mostrando, dessa,

forma que existem fortes barreiras a serem transpostas para a inclusão profissional.

2. Deficiência e sustentabilidade

Dentro da temática exposta, (MAPURUNGA, 2009) cita que existem oito metas de

desenvolvimento do milênio adotadas em 2000 pela ONU como estratégia de estabelecer

um novo paradigma de desenvolvimento sustentável do planeta Uma tentativa de impedir

Page 5: As dificuldades da qualificação profissional de pessoas com deficiência

que o crescimento econômico do planeta gerasse mais exclusão e desigualdade, são elas:

acabar com a fome e a miséria; educação básica de qualidade para todos; igualdades entre

sexos e valorização da mulher; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde das

gestantes; combater a AIDS a malária e outras doenças; qualidade de vida e respeito ao

meio ambiente e todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento.

Em relação à pessoa com deficiência, em 1998 foi instituído o dia internacional da pessoa

com deficiência que passou a ter um tema como reflexão:

“Tornando inclusivas as Metas de Desenvolvimento do Milênio:

Empedrando as pessoas com deficiência e suas comunidades ao redor do

mundo. Um lembrete de que as pessoas com deficiência não podem ser

esquecidas no processo de desenvolvimento econômico e um convite a

pensar a inclusão das pessoas com deficiência de forma sustentável e

articulada”

As estatísticas mostram o grau de desigualdade das pessoas com deficiência e empedrar é

fazer com que estas pessoas tenham o controle sobre suas próprias vidas, em uma

perspectiva de inclusão social e empregatícia em busca de uma sociedade sustentável.

Para alcançar esse objetivo à qualificação profissional é o caminho o censo de 2000 mostra

que 78,7% da população brasileira com deficiência têm até sete anos de estudo.

Page 6: As dificuldades da qualificação profissional de pessoas com deficiência

FONTE: IBGE, Censo 2000 apud Ignara et. al. (2009, p.63).

2.1. Metodologia

Foi realizada uma pesquisa de caráter exploratório, objetivando investigar se a

acessibilidade impede ou dificulta a acessibilidade com três participantes, todos usuários

de cadeira de rodas, um com o ensino fundamental completo, um com o ensino médio

completo e o outro universitário que participam da associação de deficientes físicos de

Recife. A coleta de dados foi feita através de entrevista semi-estruturada gravada e a

análise dos dados foi segundo a abordagem qualitativa, estabelecendo uma correlação com

as categorias: didática e sustentabilidade.

3. RESULTADOS

Análise de conteúdo qualitativa (Bardin, 1979) foi utilizada para investigar a questão da

acessibilidade na qualificação. Após a transcrição das entrevistas procedeu-se leituras para

uma identificação de uma estrutura de categorias que representasse semelhanças entre as

falas. Conforme classificação de Laville e Dione (1999),utilizou-se então o modelo aberto

de definição de categorias, já que estas foram determinadas a partir do conteúdo coletado,

sem terem sido estabelecidas a priori. A análise realizada baseia-se na construção ao

mesmo tempo de uma explicação em que, conforme os autores, o investigador elabora uma

explicação lógica do fenômeno, inter-relacionando as categorias, subcategorias e

interpretações. Durante as análises, destacaram-se as semelhanças e as particularidades

entre os casos, tendo em vista as diferenças individuais e histórias de cada participante.

Para fins de análise, foram criadas quatro categorias temáticas baseadas nas próprias

respostas dos entrevistados (usa-se a nomenclatura (PCD-pessoa com deficiência), que

permitiram examinar as suas opiniões quanto: 1)dificuldades encontradas na trajetória de

qualificação; 2) se existe baixa qualificação da pessoa com deficiência, qual a causa; 3)se

você fosse um gestor escolar o que faria para mudar essa realidade de dificuldades; e

4)definição de acessibilidade. Cada uma dessas categorias será exemplificada a seguir com

relatos dos entrevistados e, posteriormente, discutida conjuntamente.

DIFICULDADES ENCONTRADAS NA TRAJETÓRIA DE QUALIFICAÇÃO

Page 7: As dificuldades da qualificação profissional de pessoas com deficiência

A acessibilidade tanto da própria cidade como dos lugares de estudo foram bastante

citadas como impedimento para qualificação, a falta de transporte público adaptado é outro

ponto importante assim como a informação e condição social da família, sabendo que

quando criança e mesmo depois de adulta dependendo do nível da deficiência a pessoa esta

a mercê da família, algumas falas ilustram as definições apresentadas pelos entrevistados

sobre a pessoa com deficiência.

[...] a falta de transporte acessível impediu de concluir o ensino fundamental e continua

sendo assim, pois até hoje não existe o transporte acessível em algumas áreas da região

metropolitana (PCD1)

[...] falta de condições financeira na família assim como o pensamento destes de que não

vale a pena levar para a escola, acaba por tornar tardia a qualificação das pessoas com

deficiência. Só quando eu pude escolher, que queria estudar, já maior de idade, tive que

contar com a ajuda dos amigos para chegar a sala de aula, pois todo dia é uma

maratona.(PCD2)

[...] Como meu acidente ocorreu no ultimo ano do ensino médio eu voltei para escola

muito tempo depois, não existia ônibus adaptado naquela época, as escolas perto da minha

casa não estavam adaptadas, eu precisei esperar que o mundo muda-se para que eu pudesse

voltar a estudar (PCD3)

Na fala do PCD1 e 2 pode-se constatar uma Constância ou seja existe uma deficiência

congênita, de nascença, apesar da família já estar acostumada, isso não impediu desta ver a

pessoa com deficiência como uma pessoa a margem da sociedade sem perspectiva de

estudo e de trabalho. Na fala da PCD1 fica claro que a barreira de transporte a impediu de

chegar até a escola e quantos outros lugares mais. Nota-se uma diferença no PCD3 que

tinha uma vida escolar no ensino regular,sofre um acidente e não consegue mais voltar a

estudar, todo cenário muda, o transporte que existe não lhe serve , a escola não lhe serve. O

que fazer? Nas suas palavras, esperar que o mundo mude, pois parece que o desejo de

estudar, de se qualificar estão presente nessas pessoas, porém não acompanham a idade

escolar , não acompanham as exigências do mercado de trabalho, pois como disse o PCD3,

o mundo precisa mudar e parece que o mundo não esta mudando tão de pressa assim.

Page 8: As dificuldades da qualificação profissional de pessoas com deficiência

A BAIXA QUALIFICAÇÃO DO PROFISSIONAL COM DEFICIÊNCIA EXISTE OU

NÃO? E POR QUE

Todos os entrevistados foram unânimes em dizer que sim, que existe uma baixa

qualificação do profissional com deficiência, porém devem-se observar os fatores que

existem por trás, por exemplo apenas um terço da frota de ônibus é adaptado tendo bairros

onde não é contemplado com a frota acessível, impedindo assim o deslocamento, outro

ponto muito comentado foi à falta de preparação dos professores para lidar com a pessoa

com deficiência.

[...] a pessoa com deficiência começa a estudar mais tarde do que outros membros da

sociedade, pois a família não vê possibilidade de crescimento. (PCD2) [...] as pessoas com

deficiência se acomodam com o BCP (Benefício de prestação continuada) e não procuram

se qualificar. (PCD2)

[....] o professor Perguntou para que mim se já recebia o benefício, como eu recebo, era

preferível ficar em casa, também outro professor disse que não poderia receber-me na sala

de aula, pois não saberia como lidar comigo e outro disse que seria impossível eu

freqüentar o curso, pois não conseguiria acompanhar, essas situações são bem

desestimulantes. (PCD3)

[...] é até difícil ter experiências difíceis ou fáceis quando não tem chance de sair de casa.

(PCD1)

Na fala do PCD1 fica claro como é difícil o acesso a transporte, a região onde mora ainda

não possui ônibus adaptado, ficando a mercê de favores do governo ou de terceiros.

[...] O professor faz com que a pessoa com deficiência se sinta como seres de outro mundo

às vezes chegam até ser engraçada a desinformação dos profissionais que deveriam formar

e informar, em muitos momentos quer poupar sem ao menos ter conhecimento de nossa

opinião ou até mesmo nossa vontade de participar do evento que esta acontecendo àquele

instante. (PCD2)

Tanto na fala de PCD2 e PCD3 enfatiza-se a desinformação do professor, a dificuldade

deste trabalhar com pessoas com deficiência, muitas vezes preferindo que não estejam na

sua sala de aula. Esta é a barreira atitudional, com certeza mais difícil de transpor do que a

física. Nesta pesquisa a barreira atitudional foi bastante apontada pelos entrevistados, a

Page 9: As dificuldades da qualificação profissional de pessoas com deficiência

inabilidade de falar, até o medo de falar com as pessoas que são deficientes por parte das

pessoas que trabalham com educação, desde quem vai passar informação, fazer matrícula,

até professor. Ficou muito claro que mesmo que todas as barreiras físicas fossem

transpostas, transporte, acessibilidade física não adiantaria muito, em termos de

qualificação pois os professores não estão preparados para receber pessoas com

deficiência.

[...] Estava atrás de um curso específico, liguei para a instituição me informei sobre os

detalhes, horários, no final informei que sou deficiente físico, que utilizo uma cadeira de

rodas, perguntei sobre a acessibilidade, o coordenador do curso pediu para que eu fosse

pessoalmente lá, disse que não teria problema. Eu fui, chegando lá, o coordenador me

apresentou o local que realmente não tinha barreiras físicas, tinha até um banheiro

acessível, o que é bem difícil, e mais importante nenhuma barreira atitudional, ele me

recebia muito bem, não como um deficiente, mas como em primeiro lugar uma pessoa com

deficiência sim, mas uma pessoa. Fiz vários cursos, em conteúdo fiz outros mais

interessantes, mais com esse olhar de professor para aluno e como ele transmitiu para

outros professores com certeza é o melhor. [....] PCD3

Nessa ultima fala fica claro a importância da aceitação no processo de ensino da pessoa,

como isso vai fazer a pessoa permanecer ou não, ter um melhor aproveitamento ou não. E

se constata-se que falta esse sentimento de empatia dos professores pelas pessoas com

deficiências, talvez seja um dos fatores, da não freqüência a sala de aula.

SE FOSSE UM GESTOR ESCOLAR O QUE FARIA EM RELAÇÃO À TEMÁTICA

Na visão dos entrevistados é condição básica a educação, conseqüentemente a

qualificação, infelizmente, esse direito de todos,esta apenas no papel, o que se defronta

diariamente, são barreiras, que foram descritas no item acima.

[...] o primeiro passo é cumprir a legislação onde todo cidadão Brasileiro tem direito a

educação. Para isso se faz necessário dotar os estabelecimentos de ensino de acessibilidade

para que os mesmos possam estar recebendo toda a pessoa independente de sua condição

física. PCD3

[...] transporte da escola para os cursos PCD1

Page 10: As dificuldades da qualificação profissional de pessoas com deficiência

[...] As diferenças existem, o que vale é o desejo de educar e formar pessoas competentes.

PCD2

As falas citadas acima são o cumprimento da lei, o acesso a escola seja pelo transporte,

seja dentro da escola.Toda pessoa independente de sua condição tem direito a educação,

segundo a constituição federal. E repete-se um fato já discutido acima a vontade do

professor de estar com pessoas deficientes em sua sala de aula, a percepção de que todos

são cidadãos. Na fala a escola possa estar recebendo toda pessoa, ou as diferenças existem,

sempre passam nos discursos a não aceitação da escola através da figura do professor da

diferença, afastando esse aluno da sala de aula, afastando esse aluno da qualificação e

consequentemente de uma vida profissional.

DEFINIÇÃO DE ACESSIBILIDADE

Para os entrevistados em consonância com a teoria existem vários tipos de acessibilidade, e

o trabalho só sobre uma delas não acelerará o programa de qualificação, se faz necessário

trabalhar em todos os aspectos para que ocorra de fato a inclusão.

[...] é o contrário do que existe hoje, a escolha de quem pode ir e vir apenas para algumas

pessoas. (PCD1)

[...] no sentido de que todos poderão participar da sociedade. (PCD2)

As falas anteriores mostram como a pessoa com deficiência ainda não esta incluindo no

conceito de cidadão, que o direito de ir e vir apesar de ser um direito constitucional de

todos, na prática não é disponibilizado a todos.

A constituição Federal assegura o direito a ir e vir a todos os seus cidadãos, assim como o

direito a escola. Em termos de barreiras físicas apenas um terço da frota de ônibus é

adaptada, e muitos do que estão adaptados está quebrados o que não assegura a toda a

população o acesso. Os cursos, escolas em sua maioria não seguem a NBR 9050 (norma

Brasileira de acessibilidade). E o ponto mais crítico as pessoas não estão preparadas, nem

dispostas a trabalhar com pessoas com deficiência. Existe uma grande recusa por parte da

sociedade em aceitar a inclusão dessas pessoas, quando se aceita joga-se em salas

especiais. A falta de acessibilidade torna-se uma desculpa para deixá-las em casa. Apesar

de em termos legislativo já se ter um avanço considerável o mesmo não acontece na

Page 11: As dificuldades da qualificação profissional de pessoas com deficiência

prática, confirmando o pensamento de que pessoas com deficiência devem estar

segregadas.

4. CONCLUSÃO

Através da analise da fala dos entrevistados pode-se concluir que a acessibilidade não só

dificulta como impede a qualificação. O primeiro ponto que necessita ser trabalhado é a

questão dos meios de transportes públicos, para alguém pensar em estudar precisa

conseguir chegar até o ambiente de estudo. Outro ponto ressaltado foi à acessibilidade

arquitetônica tanto da cidade que precisa ser reorganizada para dar maior autonomia ao

público estudado assim como dos próprios prédios onde estão localizados os cursos.

Em relação à barreira atitudional a relação professor-aluno com deficiência foi bastante

ressaltada, durante a análise das falas observou-se que ainda existe um despreparo por

parte desse profissional, tanto em relação a como se dirigir e inserir o aluno no ambiente de

estudo como até o questionamento do porque ele esta ali.

Acredito que as barreiras arquitetônicas sejam um impedimento menor do que o

despreparo do professor, os entrevistados se mostraram, mas aptos a superarem a barreira

arquitetônica do que a atitudional, o desânimo, a descrença do professor em relação ao

potencial desses alunos, os desmotivam e eles acabam por generalizar, partindo do

pressuposto de que o professor deveria ser a pessoa mais preparada para atender suas

dificuldades, então o que encontrar pela frente. Um dos entrevistados representou bem em

sua fala esse sentimento, após ser excluído de uma dinâmica, afirma que a pessoa com

deficiência precisa lutar contra suas próprias dificuldades e contra o mundo.

Para que o desenvolvimento sustentável deixe de ser um conceito e passe a fazer parte da

vida social, se faz necessário, que as barreiras tanto atitudionais quanto arquitetônicas

sejam eliminadas. Para isso se faz necessário que olhem para as pessoas com deficiência

como cidadãos, merecedores do direito que a constituição já lhe garantiu. O direito de ir e

vir.

Apesar de o Brasil possuir a legislação mais adiantada nessa temática, à prática é bem

diferente, os estigmas ainda predominam, todos os profissionais precisam estar preparados

para receber as pessoas com deficiência, pois mesmo que não possuam uma pessoa

Page 12: As dificuldades da qualificação profissional de pessoas com deficiência

deficiente no seu eixo familiar, profissionalmente, todos podem se deparar com uma. Não

fechar as portas é o primeiro passo, estar disposto a aprender é um requisito chave para que

se possa realmente falar em inclusão social, de onde surge a necessidade da transposição

dessas barreiras para a conquista de uma sociedade mais justa e socialmente sustentável.

5. REFERÊNCIAS

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Sobre a autora:

Mestranda Isabela de Andrade Albuquerque Universidade de Pernambuco

Campus Faculdade de administração de Pernambuco Mestrado em Gestão do Desenvolvimento Local sustentável

E-mail | [email protected]