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AS DONAS DA HISTÓRIA
Capítulo 5.
Novela de Renan Fernandes.
Escrita por Renan Fernandes.
Personagens deste capítulo:
Antônio Sérvia
Cristiano Letícia Leonel Malu
Cláudia Lucas
Jaqueline Sayajin Bulma Gene Júlia Sônia Renée Fabiano
1
AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
CENA 1. CLÍNICA ARCÁDIA. SALA DE ANTÔNIO. INT. DIA.
Continuação imediata da última cena do bloco anterior.
Sérvia e Antônio discutem sobre assuntos do passado.
ANTÔNIO — Mas você é muito abusada mesmo, né? Não está
vendo que eu estou no meu campo de trabalho... E
não quero nenhum incômodo pessoal?
SÉRVIA — (agachando-se até ele) Não pense que vai
conseguir me enrolar... Porque eu vou até o fim no
meu desejo de te manter longe do caminho da
minha neta!
ANTÔNIO — (irônico) Ah, neta?! (move a cadeira giratória
para trás) Que interessante você se referir à
Malu desse jeito. E mais interessante ainda é você
vir aqui pra me dar lição de moral/
SÉRVIA — Então você prefere que a gente discuta na
minha casa, com a Malu podendo ouvir tudo?
ANTÔNIO — Sinceramente... Se a Malu escutasse a nossa
discussão, com certeza você se sairia muito mais
prejudicada. E você sabe muito bem o porquê, não
é? Afinal de contas, o seu passado obscuro poderia
vir à tona. Ela poderia descobrir que você era dona
de um bordel, de onde você conheceu o Cristiano,
que até então era amante da minha mãe.
SÉRVIA — Nós não estamos aqui para falar sobre o meu
marido/
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
ANTÔNIO — O marido que você roubou da minha mãe, e ainda
deu o golpe do baú. Coisa de velha manjada, não é?
SÉRVIA — (exaltada) Você cala essa sua boca/
ANTÔNIO — (ríspido) Cala essa sua boca você! Porque se
agora a senhora de respeito veio até a minha
humilde clínica para esclarecer fatos passados, eu
faço questão de continuar essa sessão nostalgia.
Sérvia controla o nervosismo, levantando-se lentamente da cadeira.
SÉRVIA — O meu aviso já foi dado. Eu não tenho mais nada
pra fazer aqui.
No entanto, quando está prestes a abrir a porta, Antônio a intercepta,
fechando a porta com chave e guardando-a no seu paletó.
ANTÔNIO — Nada disso! Você tem muita coisa pra fazer
aqui. Eu quero saber... Antes da Letícia morrer na
maternidade... Quando falou com você pela última
vez... Você revelou a ela a verdade? Você disse que
o Cristiano, o bam-bam-bam, o todo-poderoso, era
o pai dela?
SÉRVIA — Chega, Antônio! Eu não quero lembrar deste
dia/
ANTÔNIO — Mas eu quero saber! Porque você mesma se
referiu à Letícia no começo da conversa. E como
eu tinha ficado horrorizado com a descoberta da
traição que ela me fez... Com aquele
traficantezinho do Leonel... Eu fui embora pro
Canadá, e nunca mais pude olhar na cara daquela
ordinária!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
Nisso, Sérvia volta para a cadeira de paciente, enquanto Antônio se
movimenta até a mesa, sentando em cima dela e encarando-a com
superioridade.
SÉRVIA — (olhando para o chão) Ela soube. Mesmo
fragilizada, por conta da perda de sangue na hora
do parto... (encarando-o) Do parto do filho que
vocês tiveram... A Letícia ainda ficou sabendo que
o meu marido estava a procurando a vida inteira...
Depois de tantos percalços. (emocionada) É uma
pena que ele tenha morrido de desgosto, após
saber que, tanto a sua filha, quanto o neto,
sofreram aquele terrível acidente de carro!
Antônio também se sensibiliza, descendo da mesa, olhando para a janelinha
ao lado e limpando as lágrimas com os dedos.
ANTÔNIO — Que destino estarrecedor foi esse, né? (virando
para Sérvia) Perdi tanta coisa naquela época... O
casamento estável com a Renée, o contato com o
Lucas, o meu filho... E o pior de tudo... O grande
amor da minha vida... A Letícia. E tudo culpa
daquele desgraçado do Leonel. Aquele
traficantezinho descarado!
SÉRVIA — Você recebeu na mesma moeda, Antônio. Porque
essa tal Renée, mesmo que eu não tenha conhecido,
deve ter sofrido muito com a traição que você fez
a ela.
ANTÔNIO — (enfurecido) E que moral você tem pra me
julgar, hein?...
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
... Afinal de contas, foi graças ao seu Randevu
que eu conheci a mulher que virou a minha cabeça!
SÉRVIA — Não me culpe pelas suas desgraças! Porque pra
mim também não foi fácil. Depois daquele flagra
que você fez, da Letícia te traindo com o Leonel, a
Malu também ficou envolvida. Porque aquele cara
era tão louco, mas tão ordinário, que ele
seqüestrou a própria amante, e a filha, e fez todos
sofrerem aquele trágico acidente de carro.
ANTÔNIO — O acidente que eu presenciei. Afinal, eu os segui
de carro. Eu acionei a polícia.
SÉRVIA — Então veja só como foram as coisas, né? Mesmo
que indiretamente, você foi o causador da morte
da Letícia e do seu próprio filho. Sorte que a Malu
sobreviveu ao acidente, embora tenha perdido a
memória.
ANTÔNIO — E aí você se aproveitou da situação e criou a
Malu como se fosse a sua própria neta.
SÉRVIA — (enfurecida) De coração ela é a minha própria
neta/
ANTÔNIO — Você escondeu o passado dela! A vida inteira,
você a tratou com uma omissa.
SÉRVIA — E o que você fez pra mudar isso? (grita) Nada!
Absolutamente.
ANTÔNIO — Pra mim a Malu é um pedaço da Letícia. Até nos
trejeitos, na simplicidade, no semblante...
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
SÉRVIA — A Malu é a minha neta! E pelo que depender de
mim, ela nunca descobrirá de quem era filha, e
muito menos a tragédia que ocasionou a morte dos
seus pais. Pense em como ela sofreria, ao
descobrir que foi enganada por mim, e que a mãe
era prostituta, e o pai, traficante!
ANTÔNIO — Eu não tiro a sua razão. Mas agora que a gente
se conheceu, nesses acasos da vida, e eu me senti
plenamente atraído... Vai ser muito difícil tirá-la
da minha cabeça. Porque a Malu é o meu prêmio de
consolação. É propriedade minha, entendeu?
SÉRVIA — (horrorizada) Você é sujo, é nojento, é porco/
ANTÔNIO — A Malu é minha! E não tenha dúvidas, dona
Sérvia... Ninguém vai conseguir me separar dela...
(confiante) Ninguém!
Som de suspense. CAM foca no semblante estarrecido de Sérvia e no olhar
perturbado de Antônio.
CENA 2. FACHADA DO BRECHÓ LE FREAK. EXT. DIA.
Cláudia e Lucas conversam.
CLÁUDIA — Lucas... Você me desculpa, viu? Mas agora eu to
cuidando sozinha do brechó, que ta fervendo nesse
horário.
LUCAS — Então a gente pode marcar depois? Em algum
lugar?
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
CLÁUDIA — Claro que sim! A gente tem muita coisa pra
conversar. Logo a minha mãe volta... E aí a gente
sai, tudo bem?
LUCAS — Tudo.
Assim sendo, Cláudia volta para o brechó e Lucas fica parado, diante de sua
moto, pensativo. Corta para...
CENA 3. PRAÇA DO JAPÃO. CORREDORES À CEU ABERTO. EXT.
DIA.
Clima tenso. Jaqueline encara Sayajin e Bulma com repulsão.
JAQUELINE — (irônica) Que proposta bacana, né? As gueixas
do japonês se tornando sócias de um brechó
atacado, e, ainda por cima, dividindo horário, cama,
mesa e até banho do garanhão do momento.
Sayajin sorri feito um retardado.
SAYAJIN — Pra vocês verem como eu sou generoso, não é
Bulma?
BULMA — (sem jeito) É. Muito, por sinal.
JAQUELINE — Então veremos como é que isso vai terminar...
Afinal de contas, uma sociedade pode facilmente
ser desfalcada. E podem apostar que quem vai sair
perdendo nessa história não sou eu, não... São
vocês!
Nisso, Jaqueline parte pra cima de Bulma, que não tem nem reação. É muito
fraquinha e boba.
SAYAJIN — (nervoso) Jaqueline... Não seja tão ciumenta!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
JAQUELINE — Ah, Sayajin... Mas você ainda não viu nada de
inusitado. Isso é só uma palinha... De como uma
mulher traída reage diante de tanta baixaria.
Agora, Jaqueline tampa a boca de Bulma com a mão, evitando que ela grite,
enquanto Sayajin olha ao redor, com receio que alguém veja a cena
deprimente. É aí que ele tenta puxar aquela pelas costas, sem sucesso, pois
ela percebe a situação e lhe retribui com uma cotovelada nas partes íntimas.
Ele cai desmaiado no chão. Assim sendo, Jaqueline sai de cima de Bulma, que
fica paralisada diante de tanta violência.
JAQUELINE — (olhando para ele) O serviço ainda não
terminou, não. Chegou o momento da hora-
atividade. (encarando Bulma) Preparem-se, seus
traíras... Preparem-se!
Ela volta a observar Sayajin desmaiado, e sorri levemente, como uma sacana.
Corta imediatamente para...
CENA 4. PRAÇA DO JAPÃO. PARTE DE EVENTOS. EXT. DIA.
Várias pessoas, de inúmeras etnias, estão sentadas nas cadeiras de
convidados, enquanto algumas pessoas, na arquibancada, comentam, em OFF,
sobre a homenagem aos imigrantes da cidade, e também à nação do oriente.
De repente, todos se assustam ao verem Sayajin e Bulma correndo nus para
a saída do local. É que Jaqueline roubou todas as roupas deles, e ainda
pintou as costas de Sayajin com spray, com a seguinte frase: “Estou na praia
de nudismo”! As pessoas ficam chocadas com tamanho deboche, até que os
dois personagens correm desesperados no aglomerado de gente, e se
deparam com guardas locais, que os interceptam.
GUARDA LOCAL — Isso é o cúmulo da falta de vergonha na cara!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
SAYAJIN — Eu juro que não fiz nada.
GUARDA LOCAL — Vocês estão debochando não só da própria
nação, mas também dos imigrantes que vieram
fazer uma homenagem nesse evento.
BULMA — Não, não é verdade, é que/
GUARDA LOCAL — Sem argumentos! Vocês estão presos. Venham
comigo agora.
Logo, eles são levados à força por este guarda e um outro, que dá choquinho
neles até entrarem na viatura. As pessoas, por sua vez, os enchem de vaias,
enquanto, do fundo de um arbusto, CAM foca em Jaqueline, que os observa,
vitoriosa.
JAQUELINE — (p/si) Vamos ver aonde é que esses safados vão
fazer sociedade agora...
Ela vira para qualquer lado, e sorri, em um tom vingativo. Enquanto, do outro
lado, pode-se observar o carro da viatura acelerando e as pessoas em volta,
caçoando.
CENA 5. FACHADA DO BRECHÓ LE FREAK. EXT. DIA.
Jaqueline vai andando para entrada do local, sem perceber que Lucas estava
por lá. Ele nota que ela está distraída. Nisso, Cláudia aparece na entrada e
encara sua mãe, preocupada.
CLÁUDIA — Ué, mãe... Voltou tão cedo. O que aconteceu?
JAQUELINE — (desanimada) Adivinha só. Fui enganada...
Traída por mais um aspirante a namorado.
Música melancólica. Jaqueline abraça sua filha, que observa Lucas, no fundo,
e faz gesto para ele esperar. Logo, a mesma se desvencilha de sua mãe.
CLÁUDIA — Você quer me explicar direito o que aconteceu...
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
JAQUELINE — (sem rodeios) Flagrei o Sayajin com outra
mulher! Que por sinal era dona de um brechó de
roupas japonesas.
CLÁUDIA — Você ta brincando/
JAQUELINE — É verdade! E o pior não foi isso... Aquele
ordinário teve a capacidade de propor a nós duas
uma sociedade, juntando os nossos brechós e
dominando o comércio da cidade.
CLÁUDIA — (indignada) Mas eu sempre soube que ele não
prestava! Sei lá... Deve ter sido alguma intuição
que eu tive.
JAQUELINE — O que importa é que eu dei um chega pra lá nele,
e ainda por cima me senti vingada. Agora, nunca
mais ele terá coragem de se meter comigo.
CLÁUDIA — Mas é bom que aconteça essas coisas com a
gente, mãe. Pra gente botar na cabeça que homem
só nos torna dependentes e submissas.
JAQUELINE — Você tem razão.
Logo, Jaqueline observa que Cláudia não pára de olhar para a frente e vira,
notando que Lucas está por lá.
JAQUELINE — (vira para ela) O Lucas? O que ele está
fazendo aqui?
CLÁUDIA — Ele quer conversar! Mas só como amigo.
JAQUELINE — Pode ir filha! Vai ser bom pra você se entender
com as pessoas que você brigou. As pessoas que
realmente te querem bem...
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
... E deixa que eu fico por aqui. Agora é a minha
vez de fazer terapia no trabalho.
CLÁUDIA — Eu volto logo, viu?
Elas se abraçam. Logo depois, Cláudia se direciona até Lucas, e Jaqueline
observa tudo. Começa a tocar a música tema de Lucas: Patience- Guns
N´Roses. Os dois se encaram, felizes.
CLÁUDIA — Então... Podemos ir, né?
LUCAS — Claro! Pra qualquer lugar?
CLÁUDIA — Qualquer lugar. Vai ser bom pra eu vencer a
fobia de moto.
LUCAS — (ri) É verdade!
Nisso, ela sobe na garupa da moto dele e coloca o capacete. Lucas acelera.
CAM observa moto sumindo pelas ruas através do olhar observador de
Jaqueline, que, vendo-os sumir, vira para o lado e pensa longe.
JAQUELINE — (p/si) E a vida é assim... Um verdadeiro círculo
vicioso de intrigas e entendimentos.
Por fim, ela entra no brechó, e CAM se afasta cada vez mais do
estabelecimento, focalizando Jaqueline, na entrada, tendo uma conversa
com as clientes, em OFF.
CENA 6. FACHADA DA AGÊNCIA VITAL. EXT. DIA.
Apresenta-se a movimentação externa do local, com pessoas andando pela
calçada ou entrando por lá. Corta imediatamente para...
CENA 7. AGÊNCIA VITAL. SALA DE GENE. INT. DIA.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
Música de suspense. Júlia abre rapidamente a porta, fechando-a e ligando a
luz da sala. Ela nota as fotos de modelos e se assusta ao ver, no canto, um
pôster, em preto-e-branco, do primeiro ensaio de Malu.
JÚLIA — (direcionando-se ao pôster) Mas o que é isso?!
Estarrecida, ela continua a observar, até que nota, na escrivaninha de Gene,
que várias fotos de Malu estão bagunçadas.
JÚLIA — (pegando uma foto) O Antônio estava certo...
Essa oportunista está tomando o território de
todos. (tom) Mas o meu território ela não vai
tomar... Não vai mesmo!
Por fim, ela pega um isqueiro e começa a botar fogo numa das fotos de Malu.
CENA 8. CLÍNICA ARCÁDIA. SALA DE ANTÔNIO. INT. DIA.
Sérvia e Antônio continuam discutindo.
SÉRVIA — Se você pensa que a Malu é produto seu... Pode
ir tirando o cavalo da chuva. Porque eu repito a
minha promessa... Eu vou fazer de tudo para ela
ficar longe de você... Quem sabe, não a fazendo te
odiar.
Clima tenso. Antônio não se intimida.
ANTÔNIO — Escuta aqui, sua golpista... Eu é que faço questão
de dizer que nada vai impedir que eu fique com ela,
entendeu bem?
SÉRVIA — Vamos acabar com isso! Abra aquela porta. Eu
não agüento mais olhar pra sua cara.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
Nisso, Antônio se direciona para lá, abre-a com o trinco da chave e faz
gesto para Sérvia sair. Quando está prestes a sumir de cenário, Sérvia dá
uma última olhada para ele.
SÉRVIA — Se você soubesse como a Letícia morreu te
odiando... Você pensaria bem antes de insistir
nessa obsessão.
ANTÔNIO — Morreu me odiando?! Sendo que ela foi a errada
da história...
SÉRVIA — Exatamente. Pra você ver como são as coisas.
Além de morrer desse jeito, ela ainda me fez um
último pedido.
ANTÔNIO — Pedido?
SÉRVIA — (mentindo) Sim! Pra você ficar bem longe de
tudo que a envolvesse. E esse tudo você sabe
muito bem o que é, né?
ANTÔNIO — Mas isso não teria lógica. Como ela podia
adivinhar que eu iria me envolver com a filha dela,
21 anos depois?
SÉRVIA — Mistérios da vida. (despedindo-se) Tenha um
péssimo resto de tarde, Antônio. Aliás, tenha uma
péssima semana... Doutorzinho de merda!
Ela sai e Antônio fecha a porta com tudo. Logo, ele volta para a mesa, senta
na cadeira e coloca as mãos sobre o rosto.
ANTÔNIO — (p/si) É agora que eu não vou deixar isso barato
mesmo. A Malu que se prepare... Porque ela vai,
sim, ser a minha vingança contra a ordinária da
Letícia.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
CENA 9. MATERNIDADE SANTA EDWIGES. EXT. DIA.
De costas para a CAM, Sérvia olha para o local e demonstra emoção, com os
seus olhos ficando levemente lacrimejados.
SÉRVIA — (p/si) Foi aqui que a nova fase da minha vida
começou.
Corta para...
CENA 10. MATERNIDADE SANTA EDWIGES. CORREDORES. INT.
DIA.
Clima de suspense. Sérvia anda lentamente pelo local, observando os leitos
dos pacientes, e também as salas de bebês recém-nascidos. De repente, ela
pára na frente do quarto 27, o mesmo em que Letícia ficou, antes de
falecer.
CENA 11. FLASHBACK. FEVEREIRO DE 1991. MESMO LOCAL.
QUARTO DE LETÍCIA. INT. DIA.
Letícia estava deitada, praticamente sedada pelos médicos. Uma enfermeira
verificou o soro e deixou-a sozinha. De repente, Sérvia, apareceu, no canto
da porta, e observou o estado crítica daquela. Letícia, virando levemente
para o lado, notou-a e pediu para a mesma se aproximar.
SÉRVIA — (agachando-se a ela) Meu Deus! O que foi isso,
Letícia?
LETÍCIA — (balbuciando) Veja só, madame Montenegro...
Veja só a que ponto eu cheguei na minha vida.
Sensibilizada, Sérvia colocou as suas mãos sobre a dela, controlando o seu
choro.
SÉRVIA — E a Malu? E o seu filho?
14
AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
LETÍCIA — A Malu foi internada em um outro hospital. Fez
uma cirurgia na cabeça. Me disseram que ela está
se recuperando. O meu medo é que ela fique com
seqüelas. Já o meu filho... Nasceu prematuro...
Está na incubadora... Só que eu não sei se vou
conseguir vê-lo. Nem sei se vou conseguir
conversar com a Malu.
SÉRVIA — Acalme-se. E o Leonel?
LETÍCIA — O Leonel morreu. O carro explodiu com ele
dentro. Imagine o queria seria de mim, da Malu e
do meu filho se nós não tivéssemos sido
arremessados devido às capotagens.
SÉRVIA — O Antônio não podia ter chamado a polícia.
Muito menos ter te flagrado. O Leonel sempre foi
louco. É claro que ele ia cometer algum ato
impulsivo.
LETÍCIA — O Antônio é o culpado de tudo isso! Veja as
desgraças que aconteceram nas nossas vidas,
desde quando o Antônio, a mãe dele,
Constantinopla, e até aquele padrasto dele,
entraram na nossa vida.
SÉRVIA — Não fale assim do Cristiano... Ele está me
ajudando muito. Desde quando a Constantinopla
armou aquela arapuca pra fechar o meu bordel.
Aliás, eu vim aqui justamente pra falar sobre ele.
LÉTICIA — (intrigada) O Cristiano?!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
SÉRVIA — Sim... Eu descobri uma coisa muito séria sobre
ele.
LÉTICIA — Muito séria... Mas o quê?
SÉRVIA — (aproximando-se) O Cristiano... Ele é o seu pai!
LETÍCIA — (chocada) Eu não acredito... Mas como? O que é
isso, Sérvia?!
SÉRVIA — Calma, Letícia. Por favor. Não fique nervosa.
LETÍCIA — (emocionada) Você sabe... Eu me perdi na vida
muito cedo... Os meus pais de criação... Eles nunca
me contaram a verdade... Só disseram que eu tinha
sido encontrada na rua... Quando ainda era bem
pequena.
SÉRVIA — Sim... O Cristiano me relatou isso. Porque,
justamente, a ex-namorada dele tinha armado essa
situação. Ela era apaixonada, e foi trocada pela sua
mãe... Que infelizmente, pelo que o Cristiano disse,
morreu dois meses depois de você ter nascido/
LETÍCIA — E como ele me descobriu? Eu não entendo...
Como ele pode ter tanta certeza que realmente eu
era a filha dele?
SÉRVIA — Porque a tal ex-namorada voltou a procurá-lo
esses tempos. E disse que você estava viva. Que na
verdade ela tinha te roubado para abandonar na
rua e fingir que você tinha morrido, deixando a sua
mãe louca e o Cristiano depressivo. Tudo pra se
vingar.
16
AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
LETÍCIA — (revoltada) Que monstro! Eu quero saber quem
é... Quem é essa mulher!
Letícia tentou se levantar, mas o seu corpo não respondia mais.
SÉRVIA — (desesperada) Letícia... Eu te peço... Esquece
isso.
LETÍCIA — Mas essa história está muito mal-contada.
Aonde está o Cristiano pra me explicar tudo isso?
(segurando Sérvia) Onde?
SÉRVIA — (emocionada) Ele morreu! (chorando) Ele não
agüentou saber que a filha e a neta sofreram
aquele grave acidente de carro. Ele está morto e
deixou tudo pra mim. Porque nesse espaço de
tempo, nós nos casamos...
LETÍCIA — Então você vai cuidar da minha filha... Da Malu...
Como se fosse a sua própria neta. E deixar toda a
herança do meu pai pra ela. Porque eu sei que o
Cristiano tinha posses. E também vai cuidar do
meu filho. Se caso ele sobreviver na incubadora.
Porque a minha história, o meu passado... Não
importam mais!
De repente, Letícia começou a passar mal e Sérvia levantou-se,
desesperada, gritando, em OFF, para alguém a acudir. Enfermeiras e
médicos apareceram para tentar salvá-la. Mas já era tarde demais. Com a
perda de sangue, e o parto forçado, Letícia não resistiu. Morreu sem ao
menos conhecer o seu verdadeiro pai.
17
AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
CENA 12. PRESENTE. MATERNIDADE SANTA EDWIGES.
CORREDORES. INT. DIA.
Sérvia deixa escorrer lágrimas leves em seus olhos, controlando ao máximo
a sua emoção. Logo, ela deixa de olhar para o quarto 27 e se direciona para
o quarto dos bebês, donde observa os recém-nascidos e novas lembranças
invadem a sua mente.
CENA 13. FLASHBACK. MESMO LOCAL. 1991. QUARTO DOS BEBÊS.
INT. DIA.
Sérvia observou, emocionadamente, o leito onde estava o bebê recém-
nascido de Letícia. Ele olhava de longe, por detrás de um vidro
transparente. Uma auxiliar de enfermagem aproximou-se dela, ríspida.
ENFERMEIRA — Perdoe-me. Mas a senhora não poderá mais ficar
por aqui. Nós já estamos fechando.
SÉRVIA — Só me deixe ver aquele bebê recém-nascido,
filho daquela mulher que infelizmente acabou de
falecer.
ENFERMEIRA — Na verdade é filha. E eu sinto muito. Mas o
estado dessa pequena é muito grave. Nós
descobrimos que ela está com hérnia de
diafragma. Ela precisa ser operada o quanto antes,
sendo transferida por um hospital. Só que é muito
caro.
SÉRVIA — Eu tenho dinheiro. Eu banco! Fique tranqüila... Eu
vou fazer de tudo para ajudar.
18
AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
Assim sendo, Sérvia cumpriu o prometido, transferindo a pequena para um
hospital e bancando a cirurgia, que foi bem sucedida. No hospital, tanto ela
quanto a enfermeira acompanharam o caso.
ENFERMEIRA — Eu fiquei muito emocionada com a recuperação
desta menina. Pena que ela não tenha nem mãe e
nem pai. E eu fico mais triste pelo fato de me
trazer lembranças pessoais. Pois ano passado eu
abortei uma filha... E descobri que não podia mais
ter filhos.
SÉRVIA — Eu sinto muito! Muito mesmo.
De repente, surgiu uma idéia macabra de Sérvia, somente para atingir
Antônio, o verdadeiro pai da menina, que nessa época estava exilado no
Canadá.
SÉRVIA — Minha senhora... Você estaria disposta a cuidar
dessa menina, como se fosse a sua própria filha?
ENFERMEIRA — O que você está dizendo? Mesmo se eu
quisesse, eu não tenho direitos sobre ela/
SÉRVIA — Deixe comigo. Eu vou cuidar de todas as
papeladas. E você vai se sentir muito bem. E eu vou
ficar segura. Porque eu sei que essa menina será
criada com o maior afeto e o maior carinho pela
senhora.
ENFERMEIRA — Eu aceito.
Som de suspense. As duas se entreolharam, felizes e cúmplices.
Logo após, várias seqüências de acontecimentos surgiram, como:
1- Sérvia e a enfermeira cuidando das papeladas.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
2- Sérvia entregando, na sua casa, o bebê para a enfermeira e o marido
dela.
3- Antônio, no Canadá, recebendo uma carta de que tanto Letícia quanto
seu filho haviam morrido.
4- Malu, na época com 5 anos, e desmemoriada, recebendo alta do
hospital e Sérvia a pegando para criar.
CENA 14. PRESENTE. MATERNIDADE SANTA EDWIGES.
CORREDORES. INT. DIA.
Sérvia volta a olhar para o leito dos bebês, por detrás do vidro embaçado,
virando-se para qualquer lado e pensando alto.
SÉRVIA — (p/si) Fiz e não me arrependo... Até hoje o
Antônio acredita que perdeu a filha... E pelo que
depender de mim... Vai acreditar para sempre!
Som de suspense no final da cena, focalizando o olhar maquiavélico e
distante de Sérvia.
PRIMEIRO BREAK
Tema de abertura: UNDER PRESSURE-QUEEN
CENA 15. FACHADA DA MATERNIDADE SANTA EDWIGES. EXT.
DIA.
Sérvia caminha pela saída do local, indo até a rua próxima. Antes de pegar
um táxi, ela olha de volta para a fachada, no instante que uma música de
suspense começa a tocar. Por fim, ela entra no táxi, que acelera. Corta
imediatamente para...
20
AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
CENA 16. CLÍNICA ARCÁDIA. SALA DE ANTÔNIO. INT. DIA.
Atenção edição: a música da cena anterior continua aqui.
CAM se movimenta em direção a Antônio, que está sentado na cadeira, e
pensa longe. CLOSE nos seus olhos perdidos, que parece se lembrar de
momentos perturbadores.
CENA 17. FLASHBACK. 1991. SEQUÊNCIAS DE ACONTECIMENTOS.
Antônio lembra-se de todas as seqüências que acarretaram a descoberta de
que Letícia o traía com Leonel, como:
1- Renée o procurando na antiga casa e mostrando fotos de Letícia, aos
beijos, com Leonel, no bairro Alto-Boqueirão.
2- Antônio correndo feito um louco no seu carro, em direção ao bordel
Montenegro, que já estava falido.
3- Antônio invadindo o estabelecimento e não encontrando ninguém.
4- Ele descobrindo, através de uma das prostitutas, o endereço da casa
de Leonel.
5- Antônio estacionando na frente da casa dele, abrindo o trinco da
porta e flagrando-o aos beijos com Letícia, além de Malu, que estava
na sala.
6- Leonel vendo-o e ameaçando Letícia com uma arma, após descobrir
que ela não estava grávida dele, mas sim de Antônio.
7- Leonel tentando matar Antônio, e Letícia segurando a arma, que
disparou no teto.
8- Leonel levando Letícia e Malu no seu carro e acelerando com tudo.
9- Antônio escondido num quarteirão próximo e começando a segui-los.
10- A polícia e Antônio seguindo o traficante por uma rua estreita e
movimentada.
21
AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
11- Leonel descendo num acentuado declive, perdendo a direção e
fazendo o carro capotar diversas vezes.
12- Antônio, lá de cima da rua, observando tudo e vendo Letícia ser
arremessada por um lado e Malu pelo outro.
13- O carro de Leonel explodindo com ele dentro.
14- Antônio indo em direção à Letícia, que quase desmaiada, o encarou
com repulsão.
CENA 18. PRESENTE. CLÍNICA ARCÁDIA. SALA DE ANTÔNIO. INT.
DIA.
Aquela imagem de Letícia, toda ensangüentada, estirada no asfalto, e o
olhando, não saem de sua mente perturbada. Aí então, Antônio começa a ter
uma forte dor de cabeça e procura um forte remédio na sua escrivaninha.
Ele toma todo tremendo, e respira fundo, para se recuperar.
CENA 19. RUA COM VISTA DISTANTE DO MON. EXT. DIA.
Lucas estaciona a sua moto por lá, enquanto Cláudia se prepara para descer
e observa a vista panorâmica que se tem do lugar, por ser alto.
CLÁUDIA — Que lugar lindo, né? Eu adoro ter essa visão
geral da cidade. Por mais que seja só um pouquinho
de toda essa imensidão.
Lucas desce da moto, fica ao lado dela e também observa.
LUCAS — Verdade. É muito bonito mesmo. (encarando-a)
Então você não ta mais brava comigo?!
CLÁUDIA — Não. (olhando-o) Muito pelo contrário. Eu to
arrependida. Eu fui muito injusta com você...
22
AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
... E o pior: ofendi a sua mãe, que foi tão vítima
quanto eu nessa história que envolveu o Antônio.
LUCAS — Que nem eu te falei... Ele fez a mesma coisa
com você, que ele tinha feito com a dona Renée no
passado. Traiu descaradamente. Não respeitou
vocês.
CLÁUDIA — Realmente, ele é muito safado. Mas eu já tive
provas concretas. E agora, eu quero seguir em
frente.
LUCAS — (direto) E eu não tenho chances com você
mesmo?
Logo, começa a tocar a música tema de Cláudia, Time After Time- Cindy
Lauper.
CLÁUDIA — Não fique magoado comigo. Mas eu preciso
muito desse momento só meu, entende?
LUCAS — Desculpa! Olha só o que eu fiz, né? Justamente
quebrei a promessa de que só queria conversar
como um amigo.
CLÁUDIA — Isso acontece. Nem esquente a cabeça. Mas
sabe... A sua companhia me traz uma paz enorme. E
não é hipocrisia dizer que a sua amizade é muito
mais importante do que qualquer relacionamento
sério. Você é muito especial, Lucas. Você é muito
importante pra minha vida.
Nisso, Lucas aproveita para acariciá-la no rosto.
LUCAS — Eu sei que sou. Mas então... Que tal a gente
marcar de sair no fim-de-semana?
23
AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
CLÁUDIA — Seria uma ótima idéia. Dava pra gente chamar o
Fabiano e o André também, não é?
LUCAS — (decepcionado) Claro! Seria muito bacana.
Embora eu tenha me desentendido com o Fabiano
recentemente.
CLÁUDIA — Mas vocês se entendem logo. Assim como eu e o
André. Tenho muito que falar com ele. (olhando o
relógio) Ta quase no horário da minha prova da
faculdade. Seria muito abuso te convocar pra me
dar carona até lá?
LUCAS — (ri) Seria... Se eu não fosse bonzinho demais!
Ambos riem e voltam até a moto. Lucas acelera com tudo.
CENA 20. AGÊNCIA VITAL. CORREDORES. INT. DIA.
Malu se despede do fotógrafo com gesto, e se direciona para a saída do
estúdio. De lá, ela se depara com Gene, mas não dá confiança. Ele a observa
indo pegar o elevador e fica frustrado. O fotógrafo também se prepara
para sair, mas ele o intercepta.
GENE — Deixa eu dar uma conferida nesse material.
Depois eu te devolvo a câmera.
FOTÓGRAFO — Tudo certo. Volto pra pegar depois.
Nisso, o fotógrafo entrega a câmera a Gene, que vai conferindo as fotos e
suspira. CAM foca nas fotos de Malu no visor. Corta imediatamente para...
CENA 21. AGÊNCIA VITAL. SALA DE GENE. INT. DIA.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
O mesmo entra distraidamente na sua sala, sempre com a mão fuçando as
fotos na câmera. Tudo está desligado e ele liga a luz. De repente, ele olha ao
redor e se assusta ao ver Júlia, que está sentada na cadeira dele.
GENE — (surpreso) Júlia? Mas o que é isso? O que você
está fazendo na minha sala?
JÚLIA — Nossa sala! Não se esqueça que eu sou muito
mais do que sua mulher. Sou sua sócia. (irônico) Ou
será que você esqueceu desses detalhes, por conta
de uma certa aspirante a modelo.
GENE — Mas do que você está falando?
Logo, Júlia levanta-se da cadeira e mostra as fotos que ela picotou e
queimou de Malu, jogando tudo em cima da cara dele.
JÚLIA — Está aí... A sua nova tara... Malu, bonito nome...
Nome de oportunista... Nome de ordinária!
Som de suspense. Gene fica chocado com a atitude de sua mulher, que cruza
os braços e o encara com um misto de raiva e cinismo.
Minutos depois, Ambos estão sentados, ela na cadeira dele, e Gene na outra.
GENE — Mas que ataque histérico foi esse agora? Você
queimou as fotos que eu deixei pra revisar da
Malu?
JÚLIA — Revisar? Mas que desculpa é essa agora? Você
acha mesmo que me engana?
GENE — Eu não sei onde você está querendo chegar, mas
vamos botar um fim nessa conversa/
JÚLIA — Eu não vou parar! Porque foi muita prepotência
você ter me esquecido na clínica...
25
AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
... Nem sequer avisou que ia me buscar. Poxa... Eu
tinha dito no celular que iria receber alta.
GENE — Eu estava ocupado... Me perdoe/
JÚLIA — Ocupado com aquela lá, né?
GENE — Mas eu não entendo essa sua implicância com a
Malu! Esse seu ciúme doentil está te
corrompendo/
JÚLIA — O que você chama de ciúme doentil, eu chamo de
senso de perigo! E como eu sou expert em
descobrir mulheres baixas e vis, que nem essa
Malu... Eu só posso te exigir uma coisa... Em nome
do nosso casamento.
GENE — Como assim?
JÚLIA — (direta) Eu quero que você tire a Malu da
campanha, entendeu bem? Descarte... Rescinde os
contratos! Porque eu não vou permitir que ela
roube tudo o que eu conquistei com muita
dificuldade e disciplina!
Clima tenso. Gene fica chocado, enquanto Júlia mostra-se decidida.
CENA 22. HORAS DEPOIS. CURITIBA. BRECHÓ LE FREAK. ATELIÊ.
TARDE.
Jaqueline trabalha feito uma louca no local, vendo e empacotando
vestimentas para as funcionárias. Cláudia, por sua vez, aparece, e quase se
depara com as clientes, que estão apressadas.
CLÁUDIA — Nossa... Mas que correria.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
JAQUELINE — Pois é. (encarando-a/surpresa) Ué? E a prova?
Já fez?
CLÁUDIA — Já. O Lucas me deu carona até a faculdade. Foi
coisa rápida. Só 40 minutos de prova.
JAQUELINE — E você voltou com ele?
CLÁUDIA — Voltei... Mas ele já voltou pra Araucária.
JAQUELINE — Mas me diga... Estou curiosa... Vocês se
entenderam?
CLÁUDIA — (deixando a mochila em cima da mesinha)
Sim... Mas só como amigos.
JAQUELINE — O amor verdadeiro é sempre assim. Começa
como uma bela amizade, e vai se transformando em
uma atração intensa e perigosa.
CLÁUDIA — (ri) Ta bom, romântica. Vou acreditar! Vou lá na
dispensa. Tomar uma água. Eu já volto pra te
ajudar, viu?
JAQUELINE — Tudo bem. Pode ir.
Cláudia se direciona para os fundos, no mesmo instante que, na entrada,
Sônia aparece e se depara com Jaqueline.
JAQUELINE — Oi... Em que eu posso ajudá-la? (observando-a)
Você é nova aqui, não é?
SÔNIA — É verdade. É a primeira vez que eu vim pra cá. É
que uma amiga minha falou muito sobre o seu
brechó. Disse que aqui praticamente já é uma
boutique de roupas finíssimas.
JAQUELINE — (empolgada) É muita bondade por parte da sua
amiga...
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
... A gente realmente dá o melhor pra deixar o
negócio mais rentável e interessante. Fico sempre
antenada com as novidades.
Sônia ri, descontraída, enquanto Jaqueline a leva para dar uma olhada nas
roupas.
JAQUELINE — Olha minha senhora... Essas são as roupas que a
minha filha aproveitou pra criar. Com base nos
tecidos usados e roupas velhas que são fornecidas.
SÔNIA — Olha só que interessante! A sua filha é
estilista?
JAQUELINE — É estudante de moda. É uma menina bastante
esforçada.
SÔNIA — Que maravilha! Eu estava mesmo interessada
nesses tipos de roupas remendadas. São muito
bacanas.
JAQUELINE — Então pode dar uma olhada, viu? (vendo Cláudia)
Ah, a minha filha já está vindo. Vou chamá-la para
te atender. (fazendo gesto para ela) Venha.
Cláudia observa e vai até lá. Sônia fica de costas, mexendo nas roupas.
CLÁUDIA — Diga mãe... O que foi?
JAQUELINE — Venha atender essa moça. Ela é nova aqui e se
interessou pelas suas roupas.
CLÁUDIA — Que bom. (p/Sônia) E a senhora... Como se
chama?
Nisso, Sônia vira até Cláudia, que se assusta. Pois se lembra imediatamente
da cena 24 do capítulo 1, em que ela viu Antônio com a mesma mulher, no
carro.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
SÔNIA — Me chamo Sônia. E você?
CLÁUDIA — (direta) Cláudia! (ambígua) É um prazer imenso
te conhecer. Parece que esse encontro foi
programado pelo destino.
Sônia ri descontraída, dá uma olhada de leve para Jaqueline e cumprimenta
Cláudia com um beijo no rosto. Esta a encara com ironia.
SEGUNDO BREAK.
CENA 23. BRECHÓ LE FREAK. ATELIÊ. INT. TARDE.
Continuação imediata da última cena do bloco anterior.
JAQUELINE — Com licença, gente! Uma outra cliente está me
chamando.
Jaqueline sai. Cláudia, por sua vez, continua encarando Sônia, que apenas se
envolve com as roupas.
CLÁUDIA — A minha mãe deve ter comentado sobre as
roupas que eu produzo.
SÔNIA — Comentou. E eu fiquei maravilhada com a sua
criatividade.
CLÁUDIA — Muito obrigada... (seca) Dona Sônia. Vamos dar
uma conferida?
SÔNIA — Vamos sim. Quero provar algumas e mandar
embrulhar.
CLÁUDIA — Está certo. Eu vou cuidar direitinho de tudo.
Pode confiar.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
Som de suspense. Tempos depois- Sônia já está pagando no cartão o que
comprou, enquanto Cláudia termina de embrulhar. Jaqueline lhe devolve o
cartão.
JAQUELINE — Tudo certinho. E volte sempre, viu?
SÔNIA — Pode deixar. Adorei conhecer a loja e vocês.
CLÁUDIA — (seca) E nós também.
Sônia pega o embrulho e vai embora.
JAQUELINE — Um amor de pessoa, né Cláudia?
CLÁUDIA — Um amor de pessoa... E prima do Antônio!
JAQUELINE — (chocada) Como é que é?
CLÁUDIA — Foi essa a mulher que eu vi com ele, passeando
de carro. Que vontade que eu tive de fazer umas
perguntas... Mas eu me segurei.
JAQUELINE — Ai filha... Se eu soubesse, nem teria recebido.
Não é por maldade... Mas tudo o que envolve o
Antônio te deixa sempre assim, amarga.
CLÁUDIA — Não tem problema, mãe. O destino sempre
prega peças nas nossas vidas. É a coisa mais
natural do mundo.
Logo, quando vira para trás, CAM foca na bolsa de Sônia, que a mesma
esqueceu. Música de suspense.
CLÁUDIA — Eu não acredito.
JAQUELINE — O que foi?
CLÁUDIA — A bolsa... A Sônia esqueceu aqui.
JAQUELINE — E como a gente vai descobrir onde ela mora
agora? Eu deveria ter pegado o endereço.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
CLÁUDIA — Deve ter alguma coisa dentro que mostre. Eu
vou verificar.
Nisso, Cláudia fuça, sem o menor pudor, a bolsa de Sônia, até achar o
endereço, e também uma foto dela com Antônio. Jaqueline aparece por lá
bem na hora, ficando chocada.
JAQUELINE — Mas é aquele safado... E na maior intimidade
nessa foto.
CLÁUDIA — (desconfiada) Prima, é? É isso o que eu vou
descobrir agora.
Rapidamente, Cláudia fecha a bolsa, carrega-a no colo e vai embora.
JAQUELINE — Volta aqui, Cláudia! É melhor que eu vá.
Cláudia some do cenário, deixando a sua mãe preocupada.
JAQUELINE — Ah, meu Deus... Eu espero que a Cláudia saiba o
que esteja fazendo.
Som de suspense no final da cena, focalizando o semblante preocupado de
Jaqueline.
CENA 24. AGÊNCIA VITAL. CORREDORES. INT. TARDE.
Enfurecido, Gene abre rapidamente a porta de sua sala e se direciona para
as escadas, enquanto Júlia corre atrás dele, toda afobada.
JÚLIA — Você ouviu bem a minha condição, não ouviu?
Funcionários locais param de fazer os seus serviços e observam a discussão.
Gene, por sua vez, passa no meio de todos eles e desce rapidamente as
escadas. Júlia o segue.
GENE — Não adianta Júlia! Eu não vou rescindir o
contrato com a Malu por meros caprichos seus! ...
31
AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
... Ora essa... Você deveria se situar melhor e não
misturar as estações.
Os dois param de descer a escada. Gene a encara.
GENE — Não misturar a vida profissional com a pessoal!
JÚLIA — Não me venha com essa justificativa. Porque, no
fundo, eu sei que o teu grande medo é se
desentender com o Irineu, que fez um excelente
contrato, que nós não fazíamos há tempos. Eu sei
que o Irineu é padrinho da Malu.
Som de suspense. Gene fica chocado.
GENE — Mas como? Como você descobriu isso?
JÚLIA — Não importa... O importante mesmo é que eu
não vou admitir que a Malu saia vitoriosa nessa
empreitada.
GENE — Você é completamente maluca! Não sabe nem o
que fala. Mas deixa... Deixa porque eu vou fazer
você botar o pé na realidade... Porque eu não vou
mudar de idéia, estamos entendidos? Não vou
rescindir contrato com ninguém. A Malu fica na
campanha e encerramos a nossa conversa por aqui.
Assim sendo, Gene desce rapidamente as escadas, enquanto CAM giratória
vai focando em Júlia, até encontrar o seu rosto triste e revoltado.
JÚLIA — (grita) Que droga!
Por fim, ela sobe rapidamente as escadas e some de vista.
CENA 25. ARAUCÁRIA. RUAS LOCAIS. EXT. TARDE.
32
AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
A cena começa tocando a metade da música Patience- Guns N´Roses,
precisamente na parte instrumental dela. Nisso, CAM foca Lucas andando
com a moto a toda velocidade, que faz ultrapassagens perigosas e não nota,
mais à frente, Fabiano, prestes a atravessar a rua. Aí então, começa a tocar
uma música de suspense. Lucas o vê em cima da hora, freando a moto com
tudo e quase perdendo o equilíbrio dela. Fabiano, por sua vez, dá um pulo
para trás e cai sentado na calçada, sem se machucar. Lucas desce
rapidamente da moto, tira o capacete e estira a sua mão.
LUCAS — Deixa eu te ajudar.
FABIANO — (levantando com a ajuda dele) Ta tudo bem,
cara! Não foi nada grave.
LUCAS — (sem jeito) Que coincidência te encontrar aqui,
hein?
FABIANO — Pois é. Dessa vez não me encontrou nem
bêbado, e muito menos reclamando da vida.
LUCAS — Quer ir na minha casa? Assim a gente põe o
papo em dia.
FABIANO ———— Vamos sim. Eu topo.
Corta imediatamente para:
CENA 26. CASA DE RENÉE. SALA. INT. TARDE.
Renée abre a porta e encontra Lucas acompanhado de Fabiano, que entra
sem jeito.
LUCAS — Oi mãe! Esse é aquele meu amigo... Que eu tinha
comentando naquela outra vez.
RENÉE —Deixa eu ver se lembro... Fabiano! Acertei?!
33
AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
FABIANO — Acertou sim. Muito prazer, dona Renée.
RENÉE — Prazer! Vou deixar vocês à vontade.
Nisso, Renée sai da casa e os deixa sozinhos. Lucas e Fabiano se
entreolham, mas aquele corta o clima, indicando o sofá para sentar. Este
senta.
FABIANO — Bacana a sua casa! Bem legal. Bem espaçosa.
LUCAS — (sentando-se ao lado) Cara... Queria tanto te
contar uma coisa.
FABIANO — Pode contar. Nós ainda somos amigos. Não se
esqueça.
LUCAS — (ri) Eu sei! Então... Me entendi com a Cláudia.
FABIANO — (decepcionado) Como assim?
LUCAS — Ela desmascarou o meu pai... Me pediu desculpas
e tudo. E até me elogiou. Eu fiquei tão feliz que
você nem imagina. O meu coração quase pulou pela
boca.
Música triste. CAM foca na expressão de sofrimento contido de Fabiano.
FABIANO — Eu fico feliz por você... Por você e pela Cláudia.
Então vocês estão namorando.
LUCAS — Não... Nada disso! A Cláudia quer um tempo pra
ela. Quer esquecer a mágoa que o meu pai fez. E
eu entendo. Entendo porque sofrer por amor é uma
coisa horrível.
FABIANO —Tem toda a razão!
LUCAS — E agora ela convidou a gente pra sair no fim de
semana. Eu, você e o André. O que você acha?
34
AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
FABIANO — Acho legal... Mas sabe.... (aproximando-se) Eu
queria muito que só nos dois saíssemos qualquer
dia desses...
LUCAS — (confuso) Nós dois?
FABIANO — (insinuante) É... Só a gente. Ia ser muito bom
pra mim. Eu ia ficar muito feliz. O que você acha?
Som de suspense. Lucas fica incomodado com as insinuações de Fabiano.
CENA 27. MANSÃO DE SÉRVIA. SALA. INT. TARDE.
Malu abre rapidamente a porta do local e encontra Sérvia, sentada no sofá
com uma cara de poucos amigos.
MALU — (aproximando-se) Oi vó. Ta tudo bem com
você?
SÉRVIA — (virando p/ela) Malu... Eu vou ser direta... Fui
até a clínica e conversei com o Antônio.
MALU — (sentando-se) Pra quê?
SÉRVIA — Pra saber as intenções reais dele com você.
MALU — Vó... Por favor, a gente já conversou sobre isso.
Lembra? Você até tinha mudado a sua opinião em
relação ao Antônio.
SÉRVIA — Eu confesso que me precipitei! Pra mim ele
continua sendo um canalha.
Malu fica revoltada e se levanta do sofá.
MALU — Ah, não, dona Sérvia... Não vai começar de novo
esse papo, por favor/
SÉRVIA — (levantando-se) Ele me tratou mal... Como um
lixo/
35
AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
MALU — Mas também pudera... Vai incomodar o cara na
hora do trabalho. É complicado, né vó? Ele tem
ocupação. Não é que nem você... Que não tem nada
pra fazer da vida e fica atazanando a vida dos
outros/
SÉRVIA — (exaltada) Não é verdade, Malu! Eu não tenho a
pretensão de atazanar a vida de ninguém. Eu só
fico preocupada com o seu futuro. Com o monstro
que pode destruir a sua vida/
MALU — Dessa vez você extrapolou! Eu não vou tolerar
mais isso. Me respeite e respeite o meu noivo.
Porque o nosso casamento vai ser, sim, um fato
consumado! E nada do que você possa me dizer, vai
me impedir de ser feliz com o homem que eu amo!
Clima tenso. Malu sobe rapidamente as escadas e deixa Sérvia falando
sozinha.
SÉRVIA — (p/si) Hoje não deu certo! Mas eu não vou
desistir. Ela vai se convencer, mais cedo ou mais
tarde, de quem realmente é Antônio Accioly
Meirelles!
CENA 28. MANSÃO DE ANTÔNIO. SALA. INT. TARDE.
Sônia se direciona ao sofá, observa o embrulho e toma um susto.
SÔNIA — (p/si) A minha bolsa! Ah, eu não acredito que
esqueci... E agora?
De repente, a campainha toca. Sônia deixa o embrulho em cima do sofá e
corre para abrir. É Cláudia, que veio com a bolsa.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
CLÁUDIA — Desculpa incomodar, dona Sônia. Mas você
esqueceu a bolsa... Sem maldade eu mexi nela e
descobri o seu endereço.
SÔNIA — Não tem problema. Graças a Deus que você veio
com ela sã e salva.
Som de suspense. CAM foca no olhar misterioso de Cláudia.
Tempos depois, Sônia guarda o embrulho e a bolsa e volta até Cláudia que
está ao lado do sofá.
CLÁUDIA — Então é isso... Desculpe qualquer inconveniência.
SÔNIA — Imagina! Foi Deus que te trouxe pra cá.
CLÁUDIA — Eu devo concordar que sim!
SÔNIA — Mas você não quer ficar pra janta?! Eu não sei
que horas chega o meu marido... Não queria ficar
sozinha.
CLÁUDIA — É que eu ficaria muito sem jeito.
SÔNIA — Ah, por favor, fique.
CLÁUDIA — Eu fico. (muda de assunto) Agora, eu posso ir
ao toalette?
SÔNIA — Claro que pode. Fica ali nos fundos (indica com
o dedo).
CLÁUDIA — Obrigada e dá licença.
Cláudia some de cenário, ao mesmo tempo que Antônio abre a porta e se
direciona à Sônia.
ANTÔNIO — Oi meu amor! Que bom que você ta aqui!
Ele a abraça fortemente, deixando-a surpresa.
SÔNIA — Nossa, Antônio... Você ta parecendo um urso
sem dono.
37
AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 05
ANTÔNIO — Foi um dia muito exaustivo na clínica. E a sua
companhia me faria muito bem agora.
SÔNIA — Ah, por isso você voltou mais cedo então...
Ótimo. Porque eu já vou providenciar o jantar.
ANTÔNIO — Que maravilha.
Nisso, ele volta a agarrá-la, beijando-a com muito pique, no mesmo instante
que Cláudia chega lentamente dos fundos, e o vê de costas para ela. Sônia,
vendo-a, para de beijá-lo.
SÔNIA —Ah, desculpa Cláudia.
CLÁUDIA — Não foi nada!
Música de suspense. De costas para a CAM, Antônio ouve a voz de Cláudia e
fica paralisado.
SÔNIA —Antônio... Eu trouxe uma amiga pra jantar com a
gente.
Sem jeito, Cláudia vai se aproximando deles, até que Antônio dá um giro de
360º e a encara, estarrecido.
CLÁUDIA — (p/ele) Muito prazer. (irônica) O meu nome é
Cláudia e acabei de conhecer a sua esposa, a Sônia.
Que por sinal, é um amor de pessoa. Parabéns...
(venenosa) Você tem uma mulher E-XEM-PLAR!
Som de tensão. CAM foca no olhar chocado que Antônio alterna entre as
duas mulheres. E enquanto Sônia sorri, ingênua, Cláudia abre levemente os
seus lábios, mostrando um sorriso sarcástico.
FIM DO CAPÍTULO 5.