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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO AS GARANTIAS DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO NA APURAÇÃO DA TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR MILITAR FRANCISCO ASSIS DA HORTA Itajaí (SC), novembro de 2010

AS GARANTIAS DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO …siaibib01.univali.br/pdf/Francisco Assis da Horta.pdf · IPM Instrução para Inquérito Policial Militar ... República, e destinam-se

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

AS GARANTIAS DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO NA APURAÇÃO DA

TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR MILITAR

FRANCISCO ASSIS DA HORTA

Itajaí (SC), novembro de 2010

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

AS GARANTIAS DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO NA APURAÇÃO DA

TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR MILITAR

FRANCISCO ASSIS DA HORTA

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel

em Direito. Orientador: Professora MSc. Adriana Maria Gomes de Souza Spengler

Itajaí (SC), novembro de 2010

AGRADECIMENTO

Primeiramente elevo o meu pensamento a Deus, dizendo com todas as forças e em tom alto JESUS foi o responsável direto por esse sucesso que ora inicia-se. Em várias ocasiões pensei em parar os estudos e também adiar o sonho que tenho desde a minha infância, minhas forças estavam debilitadas e só Ele sabia o que estava acontecendo.

Ele nunca me desamparou, estava sempre ao meu lado dando força e fazendo com que eu buscasse sempre a vontade de continuar lutando pelo sonho, que hoje torna-se realidade.

Não tenho mais palavras para dizer e agradecer ao Senhor, mas ainda posso dizer a todos (JESUS é o nosso único salvador)

DEDICATÓRIA

Quero externar este sucesso, com a minha família principalmente na pessoa da minha esposa Hosana, que tanto me deu forças e esteve sempre muito orgulhosa de mim, aos meus filhos e filha que souberam superar os momentos de dificuldades com o meu compromisso com a faculdade.

A minha mãe Giordette e o meu pai Antonio que hoje encontram-se nos braços do Senhor divino, tenho certeza que estão contentes e felizes pelo meu sucesso.

A minha amiga Taciane que logo no início esteve sempre ao meu lado dividindo as tarefas diárias.

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do

Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de

toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí (sc), novembro de 2010.

Francisco Assis da Horta Graduando

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do

Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Francisco Assis da Horta, sob o título As

garantias da ampla defesa e do contraditório na apuração da transgressão

disciplinar militar, foi submetida em 22 de novembro de 2010 à banca examinadora

composta pelos seguintes professores: MSc. Adriana Maria Gomes de Souza

Spengler (orientadora) e aprovada com a nota ___________ ([nota Extenso]).

Itajaí (SC) , novembro de 2010

Profª. MSc. Adriana Maria Gomes de Souza Spengler Orientadora e Presidente da Banca

Professor MSc. Antonio Augusto Lapa Coordenador do Núcleo de Prática Jurídica

ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ART. Artigo BI Boletim Interno EM Estatuto dos Militares Ed. Edição CD Conselho Disciplinar CPM Código Penal Militar CJ Conselho de Justificação CPPM Código de Processo Militar Penal CRFB/1988 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 IPM Instrução para Inquérito Policial Militar IS Instrução para Sindicância IMB Informativo da Associação dos Magistrados Brasileiros JMU Justiça Militar da União LEP Lei de Execução Penal LOJMU Lei de Organização Judiciária Militar da União N.º Número P. Página RDM Regulamento Disciplinar da Marinha STM Superior Tribunal Militar OM Organização Militar

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais:

Crime Militar

São crimes propriamente militares aqueles que só podem ser praticados por

militares, ou que exigem do agente a condição de militar. É o caso, por exemplo, dos

crimes de deserção, de violência contra superior, de violência contra inferior, de

recusa de obediência, de abandono de posto, de conservação ilegal de comando1 .

Inquérito Policial Militar

É a apuração sumaria de fato que seja tipificado na lei como crime militar e de sua

autoria. Tem o caráter de instrução provisória, cuja finalidade precípua é a de

ministrar elementos necessários à propositura da ação penal2.

Serviço Militar

O Serviço Militar é o período com duração e obrigatoriedade variada, em que os

cidadãos de um país ou de uma região devem receber treinamento militar em

quartéis ou postos, visando sua preparação para uma eventual guerra3.

Sindicância

É qualquer processo administrativo pelo qual uma pessoa é incumbida de realizar

uma investigação administrativo, reunindo num caderno processual, as informações

obtidas, com a função de ser esclarecido um determinado ato ou fato4.

Transgressão Disciplinar Militar

É qualquer violação dos [princípios da ética, dos deveres e das obrigações militares,

na sua manifestação elementar e simples, e qualquer omissão ou ação contraria aos

1 http://www.advogado.adv.br/direitomilitar/ano2003/aliceKrebsteles/conceitolegalcrimemilitar.htm 2 pt.wikipedia.org/wiki/inqueritoPolicialMilitar 3 pt.wikipedia.org/wiki/Serviçomilitar 4 pt.wikipedia.org/wiki/Sindicância

viii

preceitos estatuídos em lei, regulamentos, normas ou disposições, desde que não

constituam crime5.

5 http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=652

SUMÁRIO

RESUMO........................................................................................... XI

INTRODUÇÃO ..................................................................................12

CAPÍTULO 1 .....................................................................................15

A PROFISSÃO MILITAR ..................................................................15

1.1 O SERVIDOR MILITAR ................................................................................. 15

1.2 HIERARQUIA E DISCIPLINA NAS INSTITUIÇÕES MILITARES ................. 19

1.3 TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR MILITAR.................................................. 20

1.4 HABEAS CORPUS NAS TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES ................. 30

CAPÍTULO 2 .....................................................................................32

SINDICÂNCIA NO ÂMBITO MILITAR E INQUÉRITO POLICIAL MILITAR............................................................................................32

2.1 FINALIDADE.................................................................................................. 32

2.2 COMPETÊNCIA............................................................................................. 33

2.3 PROCEDIMENTO .......................................................................................... 33

2.4 DOS PRAZOS................................................................................................ 35

2.5 DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA .................................................. 36

2.6 DAS DISPOSIÇÕES GERAIS ....................................................................... 37

2.7 DAS DISPOSIÇÕES FINAIS ......................................................................... 39

2.8 INQUÉRITO POLICIAL MILITAR .................................................................. 39

2.9 FINALIDADE.................................................................................................. 39

2.10 PROCEDIMENTO ........................................................................................ 40

2.11 PENA DE MORTE ....................................................................................... 44

CAPÍTULO 3 .....................................................................................48

DIFERENÇAS ENTRE A JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO E JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL .......................................................................48

x

3.1 JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO...................................................................... 48

3.2 JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL .................................................................... 48

3.3 CRIMES MILITARES ..................................................................................... 49

3.4 FUNCIONAMENTO DA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO............................... 50 3.4.1 Primeira instância ..................................................................................... 50 3.4.2 Segunda instância..................................................................................... 51 3.4.3 Rito de julgamento .................................................................................... 51

3.5 FUNCIONAMENTO DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL ............................. 53 3.5.1 Considerações iniciais.............................................................................. 53 3.5.2 Rito de julgamento .................................................................................... 53

3.6 CONTRA O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA ........................................... 54

3.7 A CARTA MAGNA......................................................................................... 55

3.8 EXECUÇÃO DA SENTENÇA NA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO................ 57

3.9 EXECUÇÃO DA PENA APLICADA AOS CIVIS ........................................... 58

3.10 APLICAÇÃO DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL NA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO.................................................................................................................. 59

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................60

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS...........................................62

ANEXOS ...........................................................................................64

RESUMO

O tema proposto no presente trabalho de monografia objetiva

analisar sob o enfoque do Direito Penal Militar e do Direito Processual Penal Militar a

apuração da transgressão disciplinar militar. Será enfatizado, num primeiro

momento, aspectos relativos à profissão militar, cuja hierarquia e disciplina

constituem a base institucional das Forças Armadas. Busca-se analisar as situações

incompatíveis aos preceitos constitucionais direcionados a uma investigação, isto

porquê, como será visto no presente trabalho, as garantias da ampla defesa e do

contraditório tornam-se flexibilizadas quando se trata do âmbito de apuração militar.

Apesar dos muitos avanços atualmente verificados no serviço militar, ainda sobram

argumentos quando o assunto é indisciplina militar dentro da Unidade Militar, no

tocante às formas de averiguação e de repressão.

INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto As Garantias da

Ampla Defesa e do Contraditório na apuração da Transgressão Disciplinar Militar.

O seu objetivo geral é tratar das Garantias da Ampla Defesa e

do Contraditório na Apuração da Transgressão Disciplinar dentro das forças Armas.

Tem como objetivo institucional a obtenção do título de

bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.

Para tanto, a monografia foi dividida em ttrês capítulos, a

saber:

No Capítulo 1, analisando aspectos da profissão militar, do

servidor militar, a hierarquia e a disciplina inerentes às instituições militares, aborda-

se a transgressão disciplinar militar e a figura do habeas corpus nas referidas

transgressões.

No Capítulo 2, tratar-se-á da sindicância no âmbito militar, do

Inquérito Policial Militar, analisando suas respectivas competências e

procedimentos, verificando, por fim, a questão da pena de morte.

Sindicância no âmbito militar, o Inquérito Policial Militar, sua

competência e o procedimento, enfocando todo o procedimento e a questão da

pena de morte.

No Capítulo 3, o enfoque são as diferenças existentes entre a

Justiça Militar da União e a Justiça Militar Estadual, os chamados crimes militares,

sob o prisma do Principio da Insignificância e de que ninguém será privado da

liberdade ou de seus bens sem o Devido Processo Legal.

13

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados,

seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre o Direito

Penal e Processual Penal Militar.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de

Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados o

Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente Monografia

é composto na base lógica Indutiva.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

1ª Hipótese: O comprometimento do profissional militar com a

hierarquia e a disciplina traduz-se numa obrigação de caráter funcional.

2ª Hipótese: No âmbito militar a transgressão disciplinar

acarreta a instauração de uma sindicância ou de um inquérito policial militar, ambos

com consequências distintas.

3ª Hipótese: Há limitações substanciais quanto à possibilidade

de defesa e do contraditório na apuração da transgressão disciplinar militar.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de

Investigação6 foi utilizado o Método Indutivo7, na Fase de Tratamento de Dados o

Método Cartesiano8, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente Monografia

é composto na base lógica Indutiva.

6 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente

estabelecido [...]. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. 11 ed. Florianópolis: Conceito Editorial; Millennium Editora, 2008. p. 83.

7 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 86.

8 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p.22-26.

14

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas

do Referente9, da Categoria10, do Conceito Operacional11 e da Pesquisa

Bibliográfica12.

9 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o

alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 54.

10 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 25.

11 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 37.

12 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 209.

CAPÍTULO 1

A PROFISSÃO MILITAR

A profissão militar é iniciada pelo cumprimento do serviço

militar obrigatório e na vontade própria por meio de concursos. Neste caso refere-se

ao ingresso nos quadros de carreira que não têm caráter obrigatório, constituída

pela Marinha, Exército e Aeronáutica, sob o Comando supremo do Presidente da

República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais

e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. São instituições nacionais

permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina13.

Nesse sentido prevê o artigo 142, da CRFB/198814:

As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exercito e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da Republica, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.

1.1 O SERVIDOR MILITAR

O Serviço Militar consiste no exercício de atividades

específicas desempenhadas nas Forças Armadas - Exército, Marinha e Aeronáutica

e compreenderá, na mobilização, todos os encargos relacionados com a defesa

nacional, todos os brasileiros são obrigados ao Serviço Militar, na forma da presente

Lei e sua regulamentação.

A obrigatoriedade do Serviço Militar dos brasileiros

naturalizados ou por opção será definida na regulamentação da presente Lei, as

13 BRASIL, Disponível em:<https://www1.defesa.gov.br/servico_militar/legislacao/02_lsm.pdf>,

Acessado em 10 de outubro de 2010.. 14 OZÉIAS J. Santos. Vademecum Juridico militar, comercial, acadêmico,

previdenciário,canônico, histórico, ambiental e funerário. p.37.

16

mulheres ficam isentas do Serviço Militar em tempo de paz e, de acordo com suas

aptidões, sujeitas aos encargos do interesse da mobilização, o Serviço Militar inicial

será prestado por classes constituídas de brasileiros nascidos entre 1 de janeiro a

31 de dezembro, no ano em que completarem 19 (dezenove) anos de idade.

Nesse sentido prevê o artigo 143, da CRFB/1988:15

O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1.º às forcas armada compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativos aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativos de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar.

§ 2.º às mulheres e os eclesiásticos ficam isento do serviço militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir.

As responsabilidades, deveres e atribuições exercidas pelos

militares são obrigações inerentes ao seu cargo, se for praça ou mesmo oficial

serão compatíveis com o seu correspondente grau hierárquico.

Nesse sentido prevê o artigo 20 da Lei nº 6.880/198016

(Estatuto dos Militares): “cargo militar é um conjunto de atribuições, deveres e

responsabilidades cometidos a um militar em serviço ativo”.

O Estatuto dos Militares no seu art. 16, § 1º, define:

Posto como o grau hierárquico do oficial, conferido por ato do Presidente da República ou do Ministro da Força Singular e confirmado em Carta Patente. Graduação está definida no § 3º do mesmo artigo, como o grau hierárquico da praça, conferido pela autoridade militar competente.

Os servidores militares em decorrência das atribuições e do

regime de trabalho que lhes são impostos, e ainda pela rígida hierarquia e disciplina

15 OZÉIAS J. Santos. Vademecum Jurídico militar, comercial, acadêmico, previdenciário,

canônico, histórico, ambiental e funerário. Santa Cruz da Conceição.editora Vale do Mogi. 2010. p.37.

16 OZÉIAS J. Santos. Vademecum Jurídico militar, comercial, acadêmico, previdenciário, canônico, histórico, ambiental e funerário.p.694.

17

a que estão submetidos, são profissionais que dispensam maiores comparações

com o servidor civil comum.

A patente de oficial da Forças Armada são privativos dos

brasileiros natos, os demais cargos privativos de brasileiros natos são o de

Presidente e Vice-Presidente da República, Presidente da Câmara dos Deputados,

Presidente do Senado Federal, Ministros do Supremo Tribunal Federal e Membros

da carreira diplomática.

Nesse sentido prevê o artigo 12, § 3º da CRFB/198817:

São privativos de brasileiros natos os cargos: Presidente da República, Presidente da Câmara dos Deputados, Presidente do Senado Federal, Ministros do Supremo Tribunal Federal e Membros da carreira diplomática.

Nas Forças Armadas existem respectivamente os seguintes

postos e graduações citados aqui em ordem decrescente:

Marechal, Almirante, Marechal-do-ar (preenchidos apenas em

tempo de guerra, conforme art. 16, § 2º, Estatuto dos Militares); General-de-exército,

General-de-divisão, General-debrigada (Exército); Almirante-de-esquadra, Vice-

almirante, Contra-almirante (Marinha); Brigadeiro-do-ar, Major-brigadeiro, Tenente-

brigadeiro (Aeronáutica); Coronel (Exército e Aeronáutica), Capitão-de-mar-e-guerra

(Marinha); Tenente-coronel (Exército e Aeronáutica), Capitão-de-fragata (Marinha);

Major (Exército e Aeronáutica); Capitão-decorveta (Marinha); Capitão (Exército e

Aeronáutica), Capitão-tenente (Marinha); Primeirotenente (nas três forças),

Segundo-tenente (nas três forças), Aspirante-a-oficial (Exército e Aeronáutica),

Guarda-marinha (Marinha); Subtenente (Exército), Suboficial (Marinha e

Aeronáutica); Primeiro-sargento (nas três forças), Segundo-sargento (nas três

forças), Terceiro-sargento (nas três forças), Cabo (nas três forças), Soldado

(Exército e Aeronáutica), Marinheiro (Marinha). Nas Polícias Militares e Corpo de

Bombeiros Militares, excluindo os postos relativos a Oficiais Generais que não

17 OZÉIAS J. Santos. Vademecum Juridico militar, comercial, acadêmico, previdenciário,

canônico, histórico, ambiental e funerário.p.37.

18

existem em tais corporações, os demais postos e graduações seguem a mesma

hierarquia e denominações utilizadas no Exército Brasileiro.

O oficial perderá o posto e a patente caso seja julgado

indigno para o oficialato ou incompatível, por decisão do tribunal militar de caráter

permanente em tempo de paz, ou do tribunal especial em tempo de guerra, após o

transito em julgado.

Assim prevê o artigo 142, § 3° inciso VI da

Constituição da República Federativa do Brasil/1988:18:

O oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato ou com ele incompatível, por decisão de tribunal militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra.

A profissão militar possui, portanto, caracteres especiais que

lhes diferem sobremaneira das demais profissões civis, principalmente pela

peculiaridade que a atividade militar exige de seus integrantes, o risco de vida, seja

nos treinamentos, na sua rotina diária ou na guerra, é sempre iminente àqueles que

se dedicam à carreira das armas. De sorte que podemos afirmar que o exercício da

atividade militar exige o comprometimento da própria vida.

O cidadão, ao ingressar nas Forças Armadas, é compelido a

um juramento perante a bandeira nacional, o qual é considerado, dentro das

instituições militares, o coroamento do verdadeiro soldado, ou seja, a partir do

momento em que o jovem soldado faz o juramento perante o pavilhão nacional

assume o comprometimento com os preceitos e valores típicos dos militares.

Juramento Militar à Bandeira Nacional, Neste caso na ocasião

de incorporação à Marinha19 que assim dispõe:

18 OZÉIAS J. Santos. Vademecum Jurídico militar, comercial, acadêmico, previdenciário,

canônico, histórico, ambiental e funerário.p.37. 19 BRASIL, Juramento Militar à Bandeira Nacional. disponível em:

<http://www.militar.com.br/modules.php?name=Bandeiras&page=juramento.htm> Acesso em 21 de outubro de outubro de 2010,

19

Incorporando - me à Marinha do Brasil, prometo cumprir rigorosamente as ordens das autoridades a que estiver subordinado, respeitar os superiores hierárquico, tratar com a afeição os irmãos de armas, e com bondade os subordinados, e dedicar-me inteiramente ao serviço da Pátria, cuja Honra, Integridade, e Instituições, defenderei com o sacrifício da própria vida!

Na opinião de Machado20, tal juramento, por si só, bastaria

para identificar os militares como um tipo único e muito especial de servidor do

estado. Porém, a profissão militar impõe inúmeras outras características aos seus

integrantes como, por exemplo, a dedicação exclusiva, não podendo o militar

exercer qualquer outra atividade profissional, o que o torna dependente única e

exclusivamente de seus vencimentos. A disponibilidade permanente do militar é

outra característica marcante desse profissional.

1.2 HIERARQUIA E DISCIPLINA NAS INSTITUIÇÕES MILITARES

A hierarquia e disciplina a que estão submetidos os militares

que, de acordo com o artigo 14 da Lei 6.880 (Estatuto dos Militares), são a base

institucional das Forças Armadas, talvez sejam as características mais marcantes

dos profissionais das armas. Tanto é que aqueles que não as observam rigidamente

estão sujeitos inclusive a prisão disciplinar

Nesse sentido prevê o artigo 14 da Lei 6.880:21 (Estatuto dos

militares) “A hierarquia e a disciplina são bases institucionais das Forças Armadas. A

autoridade e a responsabilidade crescem com o grau hierárquico”.

Concluindo, vê-se que a profissão militar traz inúmeras

características que lhes dão um caráter peculiar. Tais características em alguns

momentos, parecem afirmar uma mitigação de direitos a esses profissionais,

levando-se a imaginar uma classe de cidadãos trabalhadores que, não obstante, são

limitados no seu exercício da cidadania.

20 MACHADO, Alexandre Fournier. Atualização da Justiça Militar: Uma necessidade, 1997, p. 38. 21 OZÉIAS J. Santos. Vademecum Juridico militar, comercial, acadêmico, previdenciário,

canônico, histórico, ambiental e funerário. p.37.

20

Neste sentido entende Martins22:

A hierarquia militar é própria e urdida pelos imperativos das missões a que são preordenadas as instituições militares, sendo correto afirmar que os postos e graduações da hierarquia militar foram se plasmando [...] pelas imposições dos campos de batalha”. E continua o ilustre autor. No meio militar a disciplina e o respeito à hierarquia fazem parte de um conjunto racionais e morais que ligam o militar à pátria e ao serviço. Tais deveres observados no disposto no art. 31, I a IV da Lei 6.880/1980 ( Estatuto dos Militares) e compreendem: “ a dedicação e a fidelidade à Pátria, cuja honra, integridade e instituições devem ser defendidas mesmo com o sacrifício da própria vida; o culto aos Símbolos Nacionais; a probidade e a lealdade em todas as circunstâncias; a disciplina e o respeito à hierarquia; o rigoroso cumprimento dos deveres e das ordens emanadas; e a obrigação de tratar o subordinado dignamente e com urbanidade.” Nota-se, portanto, que tais valores, hierarquia e disciplina, no âmbito militar, têm uma dimensão bem maior que no meio civil. Ao servidor civil basta o cumprimento regular dos seus misteres, do servidor militar espera-se um plus. Assim, além do estrito cumprimento dos seus deveres há que o servidor público militar refletir uma adesão psicológica ao ideário militar, ou uma vocação para a vida castrense.

A observância dos valores acima referidos não é apenas

necessária, muitas vezes reveste-se de caráter impositivo.

Nesse sentido prevê o artigo 31, incisos I a VI da Lei

6.880/198023: (Estatuto dos Militares) “Os deveres militares emanam de um conjunto

de vínculos racionais, bem como morais, que ligam o militar à Pátria e ao seu

serviço, e compreendem, essencialmente”.

1.3 TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR MILITAR

Todos os militares que transgredirem as normas e os preceitos

militares bem como descumprimento de ordens emanadas pelos superiores, que

convêm ao bom funcionamento regular de uma organização militar (OM), comete

uma transgressão disciplinar, prevista no Regulamento Disciplinar para as Forças

Armadas, no caso especial da Marinha do Brasil (RDM), com 84 artigos.

22 MARTINS, Eliezer Ferreira. Direito administrativo disciplinar militar e sua processualidade, p.

134. 23BRASIL, Estatuto dos Militares. Disponível em

<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6880compilada.htm> Acesso em 21 de outubro de 2010.

21

O Regulamento Disciplinar da Marinha (RDM), baixado pelo

Decreto n.º 88.545 de 26 de julho de 198324, assim dispõe:

Chama a transgressão disciplinar de “Contravenção Disciplinar”, definindo-a como: “Toda ação ou omissão contrária às obrigações ou deveres militares estatuídos nas leis, nos regulamentos, nas normas e nas disposições em vigor que fundamentam a organização militar, desde que não incidindo no que é capitulado pelo Código Penal Militar como crime” (art.6º).

A expressão transgressão disciplinar, quando se acrescenta o

adjetivo militar, tem o seu conceito qualificado, pois na visão de Martins25:

A disciplina militar é uma disciplina qualificada se tomada em relação à disciplina exigida dos servidores civis, já que detentora de institutos próprios, estando os militares sujeitos a imposição de comportamentos absolutamente afinados aos imperativos da autoridade, do serviço e dos deveres militares, o que, em regra, não se exige do servidor público civil.

O conceito de transgressão disciplinar militar é bastante amplo,

como amplo também é o poder discricionário da autoridade militar que detém o

poder disciplinar, porquanto depende tão somente do seu livre arbítrio considerar

como transgressão disciplinar todas as ações ou omissões que afetam a honra

pessoal, o decoro da classe e outras prescrições estabelecidas no Estatuto dos

Militares, leis e regulamentos, bem como aquelas praticadas contra normas e ordens

de serviços, emanados de autoridade competente.

Assim se observa o grau de comprometimento que se tem para

punir um militar que cometeu uma transgressão disciplinar, responsabilidade essa

que é de outro militar porém com o grau hierárquico acima do transgressor.

Segundo Martins26, tal amplitude conceitual que, via de

conseqüência, criou a categoria das transgressões disciplinares militares não

24BRASIL, Aprova o Regulamento Disciplinar para da Marinha. Disponível em:

<http://www.policiamilitar.rj.gov.br/biblioteca_pdf/Regulamentos%20e%20normas/Regulamentos/regulamento-discip-marinha.pdfBrasil Decreto n° 88.545/1983>Acesso em 21 de outubro de 2010

25 MARTINS, Eliezer Ferreira. Direito administrativo disciplinar militar e sua processualidade, p. 134.

26 MARTINS, Eliezer Ferreira. Direito administrativo disciplinar militar e sua processualidade, p. 134.

22

especificadas, não se aplica na atualidade, pois fez-se incompatível com a

Constituição Federal de 1988 na parte em que esta tornou aplicável ao processo

disciplinar o princípio do contraditório e a ampla defesa. E justifica sua posição,

citando Paulo Tadeu Rodrigues, que assim dispõe:

O processo administrativo, pós 88, atingiu todas as garantias previstas para o processo judicial, conforme preceitua o artigo 5º, inciso LV, da CF/88, para que a ampla defesa e o contraditório com todos os recursos a ela inerentes possam ser exercidos é preciso que o infrator tenha conhecimento do ilícito que teria violado, e que já se encontre previsto em norma anterior de forma específica.

A disciplina das transgressões disciplinares militares não

especificadas é incompatível com o Estado de Direito, por desrespeitar um de seus

pilares: o princípio da legalidade que se desdobra na taxatividade. Portanto, não há

transgressão disciplinar sem tipo; o recurso a cláusulas gerais não permite ao

acusado captar o que é proibido ou ordenado.

É considerada transgressão disciplinar militar e crimes

militares27

Violação dos preceitos da ética, dos deveres e das obrigações militares, aquela na sua manifestação elementar e simples, e este, na sua expressão complexa e acentuadamente anormal, definido e previsto em Regulamentos e legislação penal militar.

Todos os militares que violarem as normas e os preceitos

militares bem como o descumprimento de ordens emanadas de seus superiores, as

quais convêm ao bom funcionamento regular de uma organização militar (OM),

comete uma transgressão disciplinar, prevista no Regulamento Disciplinar para as

Forças Armadas.

Os militares de graduação sargento e demais praças que

transgredirem as disciplinas dentro da caserna militar, serão lançados em Livro de

Registro de Contravenções destacando-se o artigo e a infração que cometeu e

julgados pelo Comandante ou Diretor do estabelecimento militar.

27 BRASIL, Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/110447/decreto-90608-84> Acesso

em 21 de outubro de 2010.

23

Os oficiais e suboficiais que também transgridem os

regulamentos, serão lançados em Ordem de Serviço, contendo as infrações que

cometeram e serão julgados pelo Comandante ou Diretor do estabelecimento militar.

O caráter educativo da punição disciplinar, estar demonstrado

no artigo 2° do RDM (Regulamento Disciplinar da Marinha)28, aprovado pelo Decreto

88.545/1983, que estatui expressamente:

A punição disciplinar objetiva a preservação da disciplina e deve ter em vista o benefício educativo ao punido e à coletividade a que ele pertence”; diz que, “quando a conduta praticada estiver tipificada em lei como crime ou contravenção penal, não se caracterizará transgressão disciplinar.

As penas disciplinares bem como a sua classificação relativos

à amplitude e à aplicação dentro da esfera militar e a interposição de recursos contra

as referidas penas estão inseridas no Regulamento Disciplinar para a Marinha.

Nesse sentido prevê o artigo 1 do Decreto n.º 88.545/198329

Regulamento Disciplinar da Marinha:

O Regulamento Disciplinar para a Marinha tem por propósito a especificação e a classificação das contravenções disciplinares e o estabelecimento das normas relativas à aplicação das penas disciplinares, à classificação do comportamento militar e à interposição de recursos contra as penas disciplinares

Os militares serão punidos de acordo com as contravenções

disciplinares cometidas durante o exercício militar ou fora desde quando alcançam a

inatividade, estes permanecendo com as prerrogativas de militar na reserva

remunerada, a seguir demonstrado estão as penas disciplinares de acordo com a

categoria e posto de cada militar:

28BRASIL, Regulamento Disciplinar da marinha, Acesso em:

<http://www.policiamilitar.rj.gov.br/biblioteca_pdf/Regulamentos%20e%20normas/Regulamentos/regulamento-discip-marinha.pdf> A cesso em 22 de outubro de 2010.

29 BRASIL, Regulamento Disciplinar da marinha, artigo 14 do Capítulo 1 Disponível em: <http://www.policiamilitar.rj.gov.br/biblioteca_pdf/Regulamentos%20e%20normas/Regulamentos/regulamento-discip-marinha.pdfl> Acesso em 22 de outubro de 2010.

24

Nesse sentido prevê Regulamento Disciplinar da Marinha30 no

título III, Capítulo 1, artigo 14, em relação as penas Disciplinares são as seguintes:

Para oficiais da ativa: repreensão; prisão simples, até 10 dias; e prisão rigorosa, até 10 dias. Para oficiais da reserva que esqueçam funções de atividade: repreensão; prisão simples, até 10 dias; prisão rigorosa, até 10 dias; e dispensa das funções de atividade. Para os oficiais da reserva remunerada não compreendidos na alínea anterior e os reformados: repreensão; prisão simples, até 10 dias; e prisão rigorosa, até 10 dias. Para suboficiais: repreensão; prisão simples, até 10 dias; prisão rigorosa, até 10 dias; e exclusão do serviço ativo, a bem da disciplina. Para sargentos: repreensão; impedimento, até 30 dias; prisão simples, até 10 dias; prisão rigorosa, até 10 dias; e licenciamento ou exclusão do serviço ativo, a bem da disciplina. Para cabos, marinheiros e soldados: repreensão; impedimento, até 30 dias; serviço extraordinário, até 10 dias; prisão simples, até 10 dias; prisão rigorosa, até 10 dias; e licenciamento ou exclusão do serviço ativo, a bem da disciplina.

A pena de licenciamento do serviço ativo da Marinha, será

imposta pelo Comandante da Marinha ou por autoridade que dele tenha recebido

delegação de competência, diferentemente das praças que estão prestando o

serviço militar inicial que nessa caso será da competência do Comandante de

Distrito Naval ou de Comandante naval onde ocorreu a incorporação.

Em se tratando de licenciamento do serviço ativo ex-oficio, a

bem da disciplina, será imposta às praças com estabilidade assegurada, como

disposto no Estatuto dos Militares e os Regulamentos do Corpo de Fuzileiros

Navais.

A pena de exclusão do serviço ativo da Marinha será imposta

a bem da disciplina ou por conveniência do serviço e por incapacidade moral.

Considera-se a bem da disciplina ou por conveniência do

serviço, aquele militar de graduação inferior a Suboficial que no espaço de um ano

foi punido com 30 dias de prisão rigorosa, ou quando julgado pelo Conselho de

Disciplina, por má conduta habitual ou inaptidão profissional.

30 BRASIL, Regulamento Disciplinar da marinha: Disponível em:

<http://www.policiamilitar.rj.gov.br/biblioteca_pdf/Regulamentos%20e%20normas/Regulamentos/regulamento-discip-marinha.pdfl> Acesso em 22 de outubro de 2010.

25

As penas disciplinares terão os seus recurso amparados no

Decreto 88.545/1983, e aqueles que a quem foi imposta pena disciplinar será

facultado solicitar reconsideração da punição à autoridade que a aplicou, devendo

esta apreciar e decidir sobre as penas impostas dentro do prazo de oito dias úteis.

Podendo ainda, recorrer verbalmente ou por escrito, por via

hierárquica e em termos respeitosos, recorrer à autoridade imediatamente superior

pedindo a anulação ou modificação, com prévia licença da autoridade que lhe

aplicou a pena.

A Constituição de 1988, em seu artigo 5º, inciso LIV31,

estabelece que: "Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido

processo legal".

Esta garantia constitucional presume a existência da ampla

defesa e do contraditório e o respeito ao princípio da legalidade para que uma

pessoa possa ter o seu ius libertatis cerceado, seja na esfera criminal ou

administrativa.

Os militares das pertencentes as Forças Armadas e as milícias

e bombeiros militares estaduais no exercício de suas atividades ficam sujeitos a dois

diplomas pelo cometimento de faltas contrárias ao ordenamento: sito o Código

Penal Militar (CPM) e o Regulamento Disciplinar (RD). O Código Penal Militar,

Decreto-Lei nº 1.001, de 21 de outubro de 1969, foi aprovado pela Junta Militar que

substituiu o General COSTA E SILVA, e traz os crimes militares em tempo de paz e

em tempo de guerra aos quais estão sujeitos os militares das Forças Armadas e

Auxiliares.

O Regulamento Disciplinar é o diploma castrense que trata das

transgressões disciplinares ao qual estão sujeitos os militares.

31 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, artigo 5.º, LIV Disponível em

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm> Acesso em 22 de outubro de 2010

26

Princípio da Legalidade na Transgressão Disciplinar Militar -

Paulo Tadeu Rodrigues Rosa32 que assim dispõe:

No Brasil, cada Força Armada possui o seu regulamento disciplinar, que traz suas disposições e particularidades. O mesmo ocorre com as Polícias Militares Estaduais. Em cada Estado da Federação, as Milícias possuem a sua própria organização e, por conseqüência, particularidades que se manifestam em seus diplomas disciplinares.

No Estado de São Paulo, o regulamento disciplinar data de 09 de novembro de 1943, Decreto nº 13.657, que foi posto em vigor pelo interventor paulista nomeado pelo então Presidente GETÚLIO VARGAS. Este regulamento nasceu sob a égide de um estado totalitário e repressivo e continua em vigor, mesmo após a Constituição de 88, e em seu artigo 12 traz a definição de transgressão disciplinar: (...) É toda violação da disciplina ou da hierarquia passível de sanção administrativa.

A doutrina apóia-se no artigo oitavo do Regulamento Disciplinar da Aeronáutica, Decreto nº 76.322, de 22 de setembro de 1975, para melhor definir a transgressão disciplinar e diferenciá-la do crime militar. (...) Segundo aquele preceito, transgressão disciplinar é: "Toda ação ou omissão contrária ao dever militar, e como tal classificada nos termos do presente Regulamento. Distingue-se do crime militar que é ofensa mais grave a esse mesmo dever, segundo o preceituado na legislação penal militar.

Esta definição em uma primeira análise e devido à ausência de outros elementos leva à conclusão de que o militar por suas faltas que não cheguem a constituir crime estaria sujeito apenas às transgressões previstas de forma taxativa no regulamento a que pertence, respeitando-se desta forma o princípio da legalidade e o due process of law, as no parágrafo único do artigo 10 do estatuto disciplinar mencionado, encontramos a seguinte disposição: "São consideradas, também, transgressões disciplinares as ações ou omissões não especificadas no presente artigo e não qualificadas como crimes nas leis penais militares, contra os Símbolos Nacionais, contra a honra e o pudor individual militar; contra o decoro da classe, contra os preceitos sociais e as normas da moral; contra os princípios de subordinação, regras e ordens de serviços, estabelecidas nas leis ou regulamentos, ou prescritas por autoridade competente.

Esta norma de caráter geral e abrangente encontra-se

reproduzida quase que na íntegra em todos os Regulamentos Disciplinares das

Forças Armadas e das Forças Auxiliares, em flagrante desrespeito ao princípio da

32 ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues, artigo Princípio Da Legalidade Na Transgressão Disciplinar

Militar BRASIL, Disponível em: <http://utjurisnet.tripod.com/artigos/065.html> Acesso em 22 de outubro de 2010.

27

legalidade e ao artigo 5º, inciso II, da Constituição da República Federativa do Brasil

de 1988.

Parte da doutrina entende, e nesse sentido trazemos à baila os

ensinamentos de José da Silva Loureiro Neto33, que:

O ilícito disciplinar não está sujeito ao princípio da legalidade, pois seus dispositivos são até imprecisos, flexíveis, permitindo à autoridade militar maior discricionarismo no apreciar o comportamento do subordinado, a fim de melhor atender aos princípios de oportunidade e conveniência da sanção a ser aplicada inspirada não só no interesse da disciplina, como também administrativo.

De acordo com o entendimento de Rosa34, que assim

descreve:

Deve-se esclarecer que pelo cometimento de uma transgressão disciplinar, dependendo da sua natureza e amplitude (leve, média ou grave), o militar fica sujeito a uma pena de detenção (prisão) até 30 dias, que poderá ser cumprida em regime fechado (xadrez).

Em tema de liberdade que é um bem sagrado e tutelado pela Constituição Federal, que no artigo 5º, caput, assegura que todos são iguais perante a lei, não se pode permitir ou aceitar que normas de caráter geral, que não estavam previamente estipuladas, possam cercear o ius libertatis de uma pessoa, no caso o militar.

As normas desta espécie previstas nos regulamentos

disciplinares castrenses são inconstitucionais, pois permitem a existência do livre

arbítrio, que pode levar ao abuso e ao excesso de poder.

Preleciona Hely Lopes Meirelles35 que "discricionariedade não

se confunde com poder arbitrário, sendo liberdade de ação dentro dos limites

permitidos em lei".

33 NETO, José da Silva Loureiro. Direito Penal Militar. São Paulo: Editora Atlas, 1993, pág. 26. 34 ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Princípio da legalidade na transgressão disciplinar militar.

Disponível em:<http://jus.uol.com.br/revista/texto/1586/principio-da-legalidade-na-transgressao-disciplinar-militar>. Acesso em 22 de outubro de 2010.

35 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 16. ed. São Paulo : Saraiva, 1991, p. 28.

28

Em nosso ordenamento jurídico, ninguém pode ser punido sem

que exista uma lei anterior que defina a conduta, sob pena de violação aos preceitos

constitucionais.

Esta posição é compartilhada por Luiz Flávio Gomes36 que

entende que "não existe diferença ontológica entre crime e infração administrativa ou

entre sanção penal e sanção administrativa".

Assim, para este Jurista, "todas as garantias do Direito Penal

devem valer para as infrações administrativas, e os princípios como os da

legalidade, tipicidade, proibição da retroatividade, da analogia, do no bis in idem, da

proporcionalidade, da culpabilidade, etc., valem integralmente, inclusive no âmbito

administrativo"37.

O Direito Militar, penal ou disciplinar, é um ramo especial da

Ciência Jurídica, com princípios e particularidades próprias. Mas, como qualquer

outro ramo desta ciência, está subordinado aos cânones constitucionais.

Nosso ordenamento jurídico que segue a tradição romano-

germânica não admite que uma norma infraconstitucional se sobreponha ao Texto

Político.

De acordo com Rosa38:

Os regulamentos disciplinares foram impostos por meio de decretos federais (forças armadas) e estaduais (polícias militares), não podendo se sobrepor à Constituição, em respeito à hierarquia das leis, preconizada pelo jusfilósofo alemão HANS KELSEN. (...)

A Magna Carta consagrou o devido processo legal como sendo

a única forma para que uma pessoa possa perder seus bens e a sua liberdade. Na

36 GOMES, Luiz Flavio. Responsabilidade Penal Objetiva e Culpabilidade nos Crimes contra a

Ordem Tributária, RIOBJ nº 11/95, pág. 3. 37 GOMES, Luiz Flavio. Responsabilidade Penal Objetiva e Culpabilidade nos Crimes contra a

Ordem Tributária, RIOBJ nº 11/95, pág. 3. 38 ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Princípio da legalidade na transgressão disciplinar militar.

Disponível em:<http://jus.uol.com.br/revista/texto/1586/principio-da-legalidade-na-transgressao-disciplinar-militar>. Acesso em 22 de outubro de 2010

29

transgressão disciplinar, o militar está sujeito a perder a liberdade, e portanto esta

conseqüência somente poderá ser aplicada e considerada válida se respeitar o

princípio da reserva legal e o artigo 5º, inciso LIV, da CF.

A não-observância destes princípios significa o desrespeito às

regras do jogo, rules of the game, que em um Estado Democrático de Direito, como

observa Gomes39, é previamente estabelecido, e se aplica a todos os cidadãos,

sejam eles civis ou militares, tanto na esfera judicial como na administrativa.

O processo administrativo, pós-88, passou a ter todas as

garantias previstas para o processo judicial, conforme preceitua o artigo 5º, inciso

LV, da CRFB/1988.

Com base neste dispositivo, para que a ampla defesa e o

contraditório com todos os recursos a ela inerentes possam ser exercidos, é preciso

que o acusado tenha conhecimento do ilícito que teria violado, e que este já se

encontre previsto em norma anterior de forma específica.

A Constituição cidadã trouxe modificações que ainda estão

sendo incorporadas gradativamente ao nosso sistema, como ocorreu com a norma

do artigo 125, § 4º, que já vem sendo aplicada pelo Egrégio Tribunal de Justiça

Militar do Estado de São Paulo40.

Quanto ao princípio da legalidade na transgressão disciplinar

militar, este se faz necessário para a efetivação das garantias individuais e deve ser

observado tanto no aspecto judicial ou administrativo em cumprimento à Carta

Política.

39 GOMES, Luiz Flávio. Responsabilidade Penal Objetiva e Culpabilidade nos Crimes contra a

Ordem Tributária, RIOBJ nº 11/95, p. 3. 40 Tribunal de Justiça Militar. MS nº 080/95. Diário Oficial do Estado, 30 de maio de 1995, C.1, parte

II, pág. 35.

30

1.4 HABEAS CORPUS NAS TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES

As sanções que delas, advierem, principalmente aquela que

fere o direito de ir, vir e ficar, todos são amparados e legitimados pela CFRB/1988,

que em seu artigo 5, LIV prevê o direito concreto. Todavia os regulamentos

disciplinares militares, na tipificação da transgressão, são tão imprecisos que abrem

brechas para que ocorram punições injustas. O Habeas Corpus é uma espécie de

"remédio" para ser usado quando, ferindo o princípio da legalidade, o coator ameaça

o direito de ir e vir do paciente, inclusive nas transgressões disciplinares militares,

pois hierarquia e disciplina não podem servir como "escudo protetor" para caprichos,

vinganças pessoais ou qualquer outro ato ilegal, as prisões rigorosas e prisões

simples de uma forma fere a considerada Lei maior que é a CRFB/1988.

Os militares das forças armadas no exercício de suas

atividades ficam sujeitos a dois diplomas pelo cometimento de faltas: o Código Penal

Militar (CPM) e o Regulamento Disciplinar (RD).

Segundo Gomes (citado por Rosa) 41

entre crime e infração administrativa, ou entre sanção penal e sanção administrativa, devendo, portanto, todos os princípios do Direito Penal, inclusive o princípio da legalidade, valerem para as infrações administrativas:

Todas as garantias do Direito Penal devem valer para as infrações administrativas, e os princípios como os da legalidade, tipicidade, proibição da retroatividade, da analogia, do "ne bis in idem", da proporcionalidade, da culpabilidade, etc, valem integralmente inclusive no âmbito administrativo.

O certo é que a administração militar, ainda que possua particularidades próprias, também está subordinada à Constituição, inclusive ao art. 5º, LIV: "ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal".

Muitos comandantes não aceitam que princípios como o da reserva legal, ampla defesa e outros interfiram na apuração e punição de uma transgressão disciplinar, pois entendem que a autoridade militar

41 ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Artigo Princípio da legalidade na transgressão disciplinar

militar disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/12068/cabimento-do-habeas-corpus-nas-transgressoes-disciplinares-militares> Acesso em 25 de outubro de 2010.

31

deve ter o máximo de discricionariedade para punir seus subordinados. Com isso inúmeras prisões e detenções, "legais e justas" no entendimento das autoridades militares, são consideradas ilegais e arbitrárias pelo Poder Judiciário. Obedecer aos direitos fundamentais assegurados aos cidadãos de forma alguma implica desrespeito à hierarquia e à disciplina, pois em nenhum momento, em seu artigo 5º, a Constituição diferenciou o cidadão militar do cidadão civil

No próximo capítulo tratar-se-á da sindicância, seu

procedimento, sua finalidade e do Inquérito Policial Militar (IPM), seu procedimento,

finalidade no âmbito militar, assim como o contraditório e a ampla defesa e a pena

de morte.

CAPÍTULO 2

SINDICÂNCIA NO ÂMBITO MILITAR E INQUÉRITO POLICIAL MILITAR

2.1 FINALIDADE

Sindicância e um ato para verificar as transgressões

disciplinares que estão obscuras aos olhos da autoridade, De acordo com o

Ministério da Defesa42:

A sindicância é o procedimento formal, apresentado por escrito, para a apuração, quando julgada necessária pela autoridade competente, de fatos de interesse da administração militar ou de situações que envolvam direitos, a autoridade que tiver ciência de irregularidade é obrigada a adotar as medidas necessárias para a sua apuração, mediante sindicância.

De acordo com o entendimento de Silva43 ao referir-se sobre o

valor da Sindicância, assim se reportou:

Muito embora os órgãos oficiais se valham, até com certo abuso, do instituto da sindicância, o poder público ainda não se deu conta do seu alto valor administrativo. Tanto que poucas são as normas orientadoras escritas ou praticas que concedem aos chefes de repartições oficiais meios seguros e eficientes ao perfeito desempenho do poder sindicante na dependência em que são titulares. (...) Mesmo em doutrina, ainda não de seu devido e merecido valor à sindicância administrativa, dentro da atual organização jurídico brasileira. Valor que se traduz num sem número de razões. (...) Não de deu ainda, em doutrina, o verdadeiro valor à sindicância administrativa, quando o Estado e funcionário reconhecem aquele instituto como fundamental, dentro de nossa organização jurídica. Cabe-nos, pois, assinalar o relevante papel da sindicância dentro de nosso aparelhamento administrativo pela segurança que ambos os lados oferecem. Uma sindicância bem conduzida, orientada por autoridade emocionalmente equilibrada, justa, honesta, independente, pouco sugestionável, constitui a melhor garantia para o Estado e para o agente público.

42 BRASIL, Ministério da Defesa, Disponível em <http://www.5rm5de.eb.mil.br/svjust/IG10-11.htm>

Acesso: 29 de outubro de 2010. 43 SILVA, Edson Jacinto da. Sindicância e processo administrativo disciplinar. São Paulo: Editora

de Direito, 1998. p. 24.

33

Então, a sindicância tem como finalidade de colher elementos

com objetivo de levantar a autoria e materialidade da transgressão disciplinar.

2.2 COMPETÊNCIA

A sindicância será instaurada mediante portaria da autoridade

competente, publicada em boletim interno (BI) da Organização Militar (OM). São

competentes para instaurar a sindicância os oficiais em cargo de Comando e

Direção

Quando o fato a ser apurado envolver militares de

organizações diferentes, a competência para determinar a instauração da

sindicância será da autoridade militar em cuja jurisdição se verificar a ocorrência.

2.3 PROCEDIMENTO

A Sindicância administrativa, tem início com a Portaria da

Autoridade competente, que determinando a sua instauração, deverá declarar na

mesma Portaria, se o procedimento a ser adotado pelo Sindicante deverá ser

sigiloso ou público, e caso não declare a existência de sigilo, a principio será sempre

público.44 O sindicante deverá observar os seguintes procedimentos:

I - lavrar o termo de abertura da sindicância; II - juntar aos autos os documentos por ordem cronológica, numerando e rubricando as folhas no canto superior direito; III - indicar, na capa dos autos, seus dados de identificação e os do sindicado; IV - cumpridas as formalidades iniciais, promover a notificação do sindicado para conhecimento do fato que lhe é imputado, acompanhamento do feito e ciência da data de sua inquirição; V - fazer constar, nos pedidos de informações e nas requisições de documentos, referências expressas ao fim a que se destinam e ao tipo de tramitação (normal, urgente ou urgentíssima); VI - juntar, mediante termo, todos os documentos expedidos e recebidos; VII - se a pessoa ouvida for analfabeta ou não puder assinar o termo, pedir a alguém que o faça por ela, depois de lido na presença de ambos, juntamente com mais duas testemunhas, lavrar o respectivo termo com o motivo do impedimento e, caso não seja indicada pelo depoente a pessoa para assinar a seu rogo, consignar o fato nos autos; VIII - após a leitura

44 SILVA, Edson Jacinto da. Sindicância e processo administrativo disciplinar. São Paulo: Editora

de Direito, 1998. p. 18.

34

do termo e antes da assinatura, se for verificado algum engano, fazer constar, sem supressão do que foi alterado, a retificação necessária, bem como o seu motivo, rubricando-a juntamente com o depoente ou quem assinou o termo; IX - encerrar a instrução do feito com o respectivo termo, dele dando ciência ao sindicado; X - encerrar a apuração com um relatório completo e objetivo, contendo o seu parecer conclusivo sobre a elucidação do fato; e XI - elaborar o termo de encerramento dos trabalhos atinentesao feito e remeter os autos à autoridade instauradora. X, deverá ser apresentado em duas partes: uma expositiva, contendo um resumo conciso e objetivo dos fatos e da apuração, e outra conclusiva, em que, mediante análise dos depoimentos, documentos e da defesa apresentada, emitirá o seu parecer, mencionando se há ou não indícios de crime militar ou comum, transgressão disciplinar ou prejuízo ao erário, recomendando, se for o caso, a adoção de outras providências.

A sindicância, não se confunde com o processo administrativo,

pois a sindicância está para o processo administrativo do mesmo modo que o

inquérito policial para o processo penal.

De acordo com o entendimento de Silva45:

Diante dessas afirmações dos conceituados magistérios, cabe-nos o dever de neste ato prestar alguns esclarecimentos que julgamos serem oportunos, pois embora as colocações dos mestres citados, deixem claro existirem entre os dois procedimentos (Inquérito Policial e Sindicância), uma finalidade comum, que é servir de base para o processo penal e ao processo administrativo disciplinar, na realidade, cada um procedimento possui outras peculiaridade que merecem serem destacadas como por exemplo, o fato de o Inquérito Policial não poder ser arquivado pela autoridade policial, mesmo quando depois de instaurado, aquela concluir que não existe crime a ser apurado, enquanto que a sindicância, esta sim, pode arquivada pela autoridade que determinou a sua instauração , a qualquer momento.

Conforme dispõe na Portaria n.º202 do Comandante do

Exército em seu artigo 7º e artigo 8.º do Capítulo II, Das Instruções para elaboração

de Sindicância no âmbito do Exército Brasileiro46 que assim dispõe:

7.º - A solução da sindicância deverá ser explícita, clara e coerente, com a indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos,

45 SILVA, Edson Jacinto da. Sindicância e processo administrativo disciplinar. São Paulo: Editora

de Direito, 1998. p. 18. 46 BRASIL, Portaria n.º202 do Comandante do Exército artigos 7.º e 8º, disponível em:

<http://www.dee.ensino.eb.br/legislacao/07%20-%20justica%20e%20disciplina/Port202-CmtEx.pdf> Acesso em 25 de outubro de 2010.

35

especialmente, quando importar em anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.

8.º - Quando o objeto da apuração for acidente ou dano com viatura, material bélico, material de comunicações ou outro material, deverá ser observado o disposto nas normas específicas de cada Órgão de Apoio.

2.4 DOS PRAZOS

Na contagem dos prazos, excluir-se-á o dia do início e incluir-

se-á o do vencimento, entretanto os prazos se iniciam e vencem em dia de

expediente na Organização Militar (OM).

A autoridade instauradora fixará na portaria o prazo inicial de

20 (vinte) dias corridos para a conclusão da sindicância e o prazo se inicia na data

de recebimento da portaria pelo sindicante.

O prazo previsto no artigo anterior poderá ser prorrogado por

solicitação do sindicante, devidamente fundamentada, e a critério da autoridade

instauradora, a qual, levando em consideração a complexidade do fato a ser

apurado, fixará novo prazo para a conclusão dos trabalhos.

A solicitação de prorrogação de prazo deve ser feita, no

mínimo, 48 (quarenta e oito) horas antes do término daquele inicialmente previsto.

O prazo máximo de apuração não poderá ultrapassar 40

(quarenta) dias corridos.

A prorrogação do prazo deverá ser publicada em BI da OM.

O sindicado deverá ser notificado, com a antecedência mínima

de 2 (dois) dias úteis, de todos os atos da sindicância, para que possa presenciá-los.

Ao sindicado será facultado, no prazo de 3 (três) dias úteis,

contados de sua inquirição, oferecer defesa prévia e arrolar testemunhas,

encerrando a instrução do feito, com a oitiva de testemunhas e demais diligências

consideradas necessárias, será lavrado o termo de que trata o inciso IX do art. 6º,

36

das Instruções para Sindicância, sendo o sindicado notificado pelo sindicante para,

querendo, oferecer alegações finais no prazo de 5 (cinco) dias corridos, contados do

recebimento da notificação, a qual poderá ser publicada em BI da OM.

Esgotado o prazo de que trata o parágrafo anterior,

apresentadas ou não alegações, o sindicante terá o prazo de 3 (três) dias corridos

para elaborar seu relatório circunstanciado, com parecer conclusivo, remetendo os

autos à autoridade instauradora.

Recebidos os autos, a autoridade instauradora, no prazo de 5

(cinco) dias corridos, dará solução à sindicância ou determinará, independentemente

do prazo fixado no § 2º do art. 11, das Instruções de Sindicância que sejam feitas

diligências complementares, fixando novo prazo, que não poderá exceder 10 (dez)

dias corridos.

Após cumpridas as diligências a autoridade instauradora, no

prazo de 5 (cinco) dias corridos, dará solução à sindicância.

. De acordo com o disposto na Portaria n.º202 do Comandante

do Exército em seu artigo 09 a 14 do Capítulo III, Das Instruções para elaboração de

Sindicância no âmbito do Exército Brasileiro47

2.5 DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA

A sindicância obedecerá aos princípios do contraditório e da

ampla defesa, com a utilização dos meios e recursos a ela inerentes, será

assegurado ao sindicado o direito de acompanhar o processo, apresentar defesa

prévia, arrolar testemunhas, solicitar reinquirição de testemunhas, juntar

documentos, obter cópias de peças dos autos e requerer o que entender necessário

ao exercício de seu direito48.

47 BRASIL, Portaria n.º202 do Comandante do Exército artigos 10 a 14, disponível em:

<http://www.dee.ensino.eb.br/legislacao/07%20-%20justica%20e%20disciplina/Port202-CmtEx.pdf> Acesso em 25 de outubro de 2010.

48 BRASIL, Portaria n.º202 do Comandante do Exército artigos 15, disponível em:

37

Do magistério de Jacinto49 (citando Martins), criticando o rito

sumário do instituto, temos:

A concepção de sindicância como processo administrativo disciplinar dotado do apanágio da sumariedade e preordenado à apuração de transgressões disciplinares de menor potencial ofensivo, só contribui para o aumento da discricionariedade e da arbitrariedade da autoridade apuradora, que ver como irrelevante a aplicação destas sanções delas abusam, num tema que pelo ordenamento constitucional está no pleno abrigo da ampla defesa e do contraditório. Desta sorte, no que atine à sindicância e ao processo administrativo disciplinar, o reconhecimento constitucional da processualidade administrativa veio por cobrar a confusão conceitual instalada.

O sindicante poderá indeferir, mediante despacho

fundamentado, pedido do sindicado, quando o seu objeto for ilícito, impertinente,

desnecessário, protelatório ou de nenhum interesse para o esclarecimento dos fatos

e será assegurado ao sindicado, a qualquer tempo, constituir procurador.

O procurador do sindicado poderá presenciar os atos de

inquirição do seu cliente e das testemunhas, bem como acompanhar os demais

atos, será assegurado ao sindicado, no prazo de 5 (cinco) dias a vista do processo

em local designado pelo sindicante.

2.6 DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Os participantes da sindicância são o sindicante como

encarregado da sindicância, o sindicado como a pessoa envolvida, as testemunhas,

técnicos ou pessoa habilitada aquele que for indicado para proceder a exame ou dar

parecer, o denunciante ou ofendido e caso julgue necessário um escrivão.

O sindicante será sempre um oficial de maior precedência

hierárquica que o sindicado. O denunciante ou ofendido deverá ser ouvido em

primeiro lugar e em caso em que o denunciante ou ofendido se recuse a depor, o

<http://www.dee.ensino.eb.br/legislacao/07%20-%20justica%20e%20disciplina/Port202-CmtEx.pdf> Acesso em 25 de outubro de 2010

49 SILVA, Edson Jacinto da. Sindicância e processo administrativo disciplinar. São Paulo: Editora de Direito, 1998. p. 21.

38

sindicante deverá lavrar o competente termo, encaminhando cópia à autoridade

instauradora para conhecimento e providências julgadas cabíveis.

O sindicante deverá alertar o denunciante sobre possível

conseqüência de seu ato na esfera penal e disciplinar, em caso de improcedência da

denúncia.

O denunciante ou ofendido poderá apresentar ou oferecer

subsídios para o esclarecimento do fato, indicando testemunhas, requerendo a

juntada de documentos ou indicando as fontes onde poderão ser obtidos.

A ausência do sindicado na sessão de interrogatório, sem justo

motivo, constará de termo nos autos.

Comparecendo para depor no curso da sindicância, o sindicado

será inquirido e acompanhará, a partir de então, os demais atos da sindicância,

dando - lhe conhecimento dos atos já praticados.

Quando a testemunha deixar de comparecer para depor, sem

justo motivo, ou, comparecendo, se recusar a depor, o sindicante lavrará termo

circunstanciado e mencionará tal fato no relatório, comparecendo para depor, a

testemunha declarará seu nome, idade, estado civil, residência, profissão, lugar

onde exerce sua atividade, se é parente de alguma das partes e, em caso positivo, o

grau de parentesco.

As pessoas desobrigadas por lei de depor, em razão do dever

de guardar segredo relacionado com a função, ministério, ofício ou profissão, desde

que desobrigadas pela parte interessada, poderão dar o seu testemunho.

Os depoimentos serão tomados durante o dia, no período

compreendido entre 8 (oito) e 18 (dezoito) horas, salvo em caso de urgência

inadiável, devidamente justificada pelo sindicante em termo constante dos autos.

39

O denunciante ou ofendido e o sindicado poderão indicar cada

um, no máximo, 3 (três) testemunhas, podendo o sindicante, se julgar necessário à

instrução do procedimento, ouvir outras testemunhas.

Se o sindicado for menor de 18 (dezoito) anos, o sindicante

deverá comunicar o fato à autoridade instauradora, para que seja ouvido com a

presença do pai ou responsável.

O grau de sigilo da sindicância será decretada, conforme o

fato em apuração, e deverá ser classificada pela autoridade instauradora.

2.7 DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

Os recursos dos militares e os procedimentos aplicáveis na

esfera disciplinar são os prescritos nos Regulamentos Disciplinares.

2.8 INQUÉRITO POLICIAL MILITAR

É a apuração sumária de fato que seja tipificado na lei como

crime militar e de sua autoria. Tem o caráter de instrução provisória, cuja finalidade

precípua e a de ministrar elementos necessários da ação penal.

2.9 FINALIDADE

O inquérito policial tem por objetivo apurar a autoria e a

materialidade de um ilícito, contravenção ou crime, para que o titular da ação penal

pública, Ministério Público, ou o titular da ação penal privada, ofendido ou seu

representante legal, tenham os elementos necessários para o oferecimento da ação

penal ou a propositura de pedido de arquivamento em atendimento a lei Processual.

Por força do art. 144 § 4.º da Constituição Federal50, a Polícia

Civil é o órgão responsável pela a apuração das infrações penais comuns

50 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, artigo 144, §4. Disponível em

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm> Acesso em 30 de outubro de 2010.

40

excetuadas àquelas que sejam de competência da Polícia Federal. Com base no

texto constitucional, não cabe a Polícia Civil ou a Polícia Federal apurar as infrações

criminais de natureza militar.

2.10 PROCEDIMENTO

O Inquérito Policial, segundo Rosa51 tem por objetivo apurar a

autoria e a materialidade de um ilícito, contravenção ou crime, para que o titular da

ação penal pública, Ministério Público, ou o titular da ação penal privada, ofendido

ou seu representante legal, tenham os elementos necessários para o oferecimento

da ação penal ou a propositura de pedido de arquivamento em atendimento a lei

processual.

Por força do art. 144 § 4.º da Constituição Federal, a Polícia

Civil é o órgão responsável pela a apuração das infrações penais comuns

excetuadas àquelas que sejam de competência da Polícia Federal. Com base no

texto constitucional, não cabe a Polícia Civil ou a Polícia Federal apurar as infrações

criminais de natureza militar.

No caso de prisão em flagrante delito, o acusado deverá ser

apresentado a autoridade militar que esteja no exercício da função de Polícia

Judiciário Militar, o qual lavrará o auto de prisão na forma do Código de Processo

Penal Militar, que é semelhante o auto de prisão em flagrante lavrado pela Polícia

Civil, ouvindo o condutor, as testemunhas, e o militar, federal ou estadual, acusado

da prática do ilícito em tese.

O Inquérito Policial Militar serve como peça informativa ao

promotor de justiça para que este se assim o entender possa propor perante a

autoridade judiciária a competente ação penal militar. No Estado de São Paulo, os

promotores que atuam perante a Justiça Militar são oriundos do Ministério Público

51 ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Princípio da legalidade na transgressão disciplinar militar.

Disponível em:<http://jus.uol.com.br/revista/texto/1584/principio-da-legalidade-na-transgressao-disciplinar-militar>. Acesso em 30 de outubro de 2010.

41

Estadual. Na Justiça Militar Federal, a acusação é exercida pelos Procuradores da

República que pertencem ao quadro do Ministério Público Militar Federal.

A autoridade que preside o inquérito policial militar não poderá

cercear o direito do advogado de ter acesso aos autos, inclusive fotocopiar as peças

que considere essenciais para a defesa do seu constituinte. O IPM não pode e não

deve ser um procedimento administrativo onde seja vedado ao advogado

acompanhá-lo. O sigilo que se menciona no Código de Processo Penal Militar

passou a ser relativo, e encontra-se sujeito aos dispositivos constitucionais e ao

Estatuto da Advocacia.

No mesmo sentido, caminha a disposição do art. 17 do Código

de Processo Penal Militar que permite a autoridade militar decretar durante o

inquérito policial a incomunicabilidade do acusado. Com o advento do novo texto

constitucional essa disposição foi tacitamente revogada, e a autoridade militar que

não respeitar o direito do advogado de comunicar-se reservadamente com seu

cliente estará praticando o crime de abuso de autoridade.

A hierarquia e a disciplina continuam sendo os preceitos

basilares das Forças Armadas e das Forças Auxiliares, que são responsáveis pela

manutenção da ordem e da segurança pública. Mas, quando se trata de processo

administrativo ou penal deve-se observar os preceitos constitucionais, que são

direitos e garantias fundamentais assegurados aos cidadão, seja ele civil ou militar.

Os militares dividem-se em duas categorias: a ) os militares

federais, que são os integrantes das Forças Armadas; b). os militares estaduais, que

tornaram-se militares e são integrantes das Forças Auxiliares e reserva do Exército.

No exercício de suas funções os militares encontram-se sujeitos ao Código Penal

Militar, Leis Penais Especiais e Código de Processo Penal Militar.

As forças policiais, civil e federal, não possuem competência

para apurar os crimes militares, sendo esta atribuição exercida pela Polícia

Judiciária Militar, que é constituída por autoridades militares e seus auxiliares. Ao

tomar conhecimento da prática de um ilícito, o Comandante da Unidade a qual

42

pertence o militar por meio de portaria determinará a abertura de Inquérito Policial

Militar (IPM) nomeando um oficial para apurar a autoria e a materialidade do fato.

Caso o autor do ilícito seja conhecido o oficial nomeado deverá possuir posto ou

patente acima do indiciado.

No caso de prisão em flagrante delito, o acusado deverá ser

apresentado a autoridade militar que esteja no exercício da função de Polícia

Judiciário Militar, o qual lavrará o auto de prisão na forma do Código de Processo

Penal Militar, que é semelhante o auto de prisão em flagrante lavrado pela Polícia

Civil, ouvindo o condutor, as testemunhas, e o militar, federal ou estadual, acusado

da prática do ilícito em tese.

O Inquérito Policial Militar serve como peça informativa ao

promotor de justiça para que este se assim o entender possa propor perante a

autoridade judiciária a competente ação penal militar. No Estado de São Paulo, os

promotores que atuam perante a Justiça Militar são oriundos do Ministério Público

Estadual. Na Justiça Militar Federal, a acusação é exercida pelos Procuradores da

República que pertencem ao quadro do Ministério Público Militar Federal.

Os militares federais são julgados perante a Justiça Militar

Federal que poderá julgar civis caso estes venham a praticar qualquer crime militar,

próprio ou impróprio, no interior de uma Organização Militar (OM), em uma área

sujeita a administração militar ou em co-autoria com outro militar.

Com o advento da nova Constituição Federal, o inquérito

policial militar que também é sigiloso encontra-se sujeito aos preceitos

constitucionais, sob pena da prática do crime de abuso de autoridade previsto na Lei

Federal n.º 4898/6552. Segundo o art. 133 do texto constitucional, “o advogado é

indispensável à administração da Justiça, seja Estados, da União ou as Justiças

Especializadas, entre elas a Justiça Militar Estadual ou Federal”.

52 BRASIL, Lei Federal n.º4898/65, artigo 133. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/leis/L4898.htm> Acesso em 30 de outubro de 2010.

43

Dispõe ainda o Artigo 17 do Decreto-Lei 1.002/69 (Código de

Processo Penal Militar): “O encarregado do inquérito poderá manter incomunicável o

indiciado, que estiver legalmente preso, por três dias no máximo. Detenção de

indiciado”.

A hierarquia e a disciplina continuam sendo os preceitos

basilares das Forças Armadas e das Forças Auxiliares, que são responsáveis pela

manutenção da ordem e da segurança pública. Mas, quando se trata de processo

administrativo ou penal deve-se observar os preceitos constitucionais, que são

direitos e garantias fundamentais assegurados aos cidadão, seja ele civil ou militar.

Durante a colheita das provas no inquérito policial militar, o

indiciado poderá estar presente em todos os atos com o seu advogado, que não

poderá interferir na presidência do procedimento administrativo, mas não permitirá

que os princípios constitucionais sejam violados, e caso seja necessário usará da

palavra na forma do Estatuto da Advocacia.

Caso esteja preso durante o inquérito policial militar, o

indiciado não poderá ficar incomunicável. O advogado constituído poderá a qualquer

momento comunicar-se reservadamente com seu cliente, independentemente de

autorização da autoridade militar, por ser um direito constitucional. Ao preso é

assegurado a assistência do seu defensor, pouco importando se este encontra-se

recolhido em um Quartel ou no Presídio Militar.

O indiciado não está obrigado a responder as perguntas que

lhe sejam feitas na fase do inquérito policial, e a sua recusa não poderá ser

entendida como sendo violação ao preceito de faltar à verdade, que é considerado

transgressão disciplinar grave.

O Inquérito Policial Militar continua sendo inquisitivo, mas isso

não significa que a autoridade militar que o preside poderá durante o seu curso

desrespeitar os princípios constitucionais que são assegurados aos todos os

brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil, em atendimento ao art. 5.º, caput, e

seus incisos.

44

Uma vez que indiciado estiver preso, recolhido em regime

fechado a disposição da Justiça Militar o tempo para conclusão do IPM é de 20

(vinte) dias.

Conforme prevê o artigo 20 do Código de Processo Penal

Militar53

Considerando que o indiciado foi autuado em flagrante de delito, encontrando-se recolhido ao xadrez desta corporação à disposição da Justiça Militar, o presente Inquérito Policial Militar deverá ser concluído no prazo máximo de 20 (vinte) dias, nos termos do art. 20 do CPPM;

Uma vez apurados os fatos na conclusão do IPM, o

encarregado encaminhará o relatório a autoridade que determinou a abertura do

citado inquérito, de posse do relatório e do inquérito a autoridade remeterá para a

Auditoria Militar da Circunscrição judiciária militar da área, onde se processará o

inicio do processo penal militar.

2.11 PENA DE MORTE

Não poderia deixar de esclarecer um fato tão importante e que

causa imensa curiosidade, principalmente aqueles que conhecem as doutrinas, leis

e estão cientes de que a pena de morte no Brasil, foi abolida, com a promulgação da

Constituição Brasileira datada de 1988, em seu artigo 5 inciso XLVII, aboliu a pena

de morte para os crime não-militares, entretanto atualmente é prevista para crimes

militares previstos no Livro II, do Código Penal Militar, cujas condutas delitivas estão

tipificadas nos artigos 355 ao 408 do aludido diploma penal militar, e somente em

tempos de guerra, vale salientar que o Brasil é o único país de língua portuguesa

que prevê a pena de morte na Constituição.

53 OZÉIAS J. Santos. Vademecum Juridico militar, comercial, acadêmico, previdenciário,

canônico, histórico, ambiental e funerário.ed. 2010. Santa Cruz da Conceição.editora Vale do Mogi.p.510(CPP)

45

O livro Fera de Macabu54 relata o mais trágico erro judiciário da

Historia do Brasil vivido por Manoel da Motta Coqueiro, um homem inocente cuja

condenação 'a morte passou a dar inicio com a extinção da pena de morte.

Conforme, em meados do século XIX, o norte da providencia

do Rio de Janeiro se esmerava em criar uma atmosfera digna da Corte para receber

o imperador Pedro II. A aristocracia rural tem completo controle político da região em

torno de Campos dos Goytacazes, estratégica por ser, ao mesmo tempo, potencia

agrícola e porto ilegal de escravos; nela, conquistar um pedaço de terra e fazê-lo

prosperar e uma tarefa épica. Quando o imperador Pedro II visita a região em 1847,

o fazendeiro Manoel da Mota Coqueiro e sua mulher Úrsula das Virgens Cabral são

convidados para as cerimônias em sua homenagem e o conhecem.

Cinco anos depois um crime brutal abala Macabu e revolta as

cidades vizinhas. Uma família de oito colonos é assassinada em uma das cinco

propriedades de Coqueiro e Úrsula das Virgens. Todos os indícios apontam para o

fazendeiro. As autoridades policiais locais, seus adversários políticos, imediatamente

o acusam do crime.

Era um momento de grandes decisões nacionais; o Brasil

acabara com o tráfico de escravos, aprovara a primeira lei empresarial do pais e

promulgara a primeira lei de terras, extinguindo o sistema de seismarias.

A empresa acompanha as investigações com estardalhaço e

empresta a Coqueiro um apelido incriminador – e a Fera de Macabu. A principal

testemunha contra o fazendeiro e a escrava Balbina, a líder espiritual dos escravos

na senzala da fazenda Bananal, sob cujo catre foram encontradas as roupas

ensanguentadas dos mortos. Em vez de acusa, Balbina e promovida a principal

testemunha de acusação, a despeito de a lei proibir que escravos deponham contra

seu senhor.

54 MARCHI, Carlos. A fera de macabu. Rio de Janeiro: BestBolso, 2008, p. 35.

46

Vítima de uma conspiração armada por seus adversários,

Coqueiro e julgado duas vezes de forma parcial e condenado a morte. Logo a

condenação é ratificada pelos tribunais superiores, e D. Pedro II nega-lhe a graça

imperial. Pela primeira vez no Brasil um homem rico e com destacada posição social

vai subir a forca.

No dia 06 de março de 1855 Coqueiro e enforcado em Macaé.

Na véspera do enforcamento recebe em sua cela um padre, a quem confessa sua

inocência e revela o nome do verdadeiro mandante do crime de Macabu, que ele

conhecia , mas prometera nunca revelar de publico.

Pouco tempo do enforcamento descobre-se que o fazendeiro

tinha sido a inocente vitima de um terrível erro judiciário. Abalado, o imperador Pedro

II, um humanista em formação, decide que dali em diante ninguém mais será

enforcado no Brasil

Este episódio, tão trágico quanto inusitado e fascinante, é

relatado com extremo apuro e eloqüência pelo jornalista Carlos Marchi em Fera de

Macabu, lançamento da Editora Record. Fruto de uma exaustiva pesquisa histórica

elaborada no tom cativante das melhores narrativas de romance, o livro revela-nos

todos os fatos que culminaram na morte de um inocente.

A pena de morte para crimes civis foi aplicada pela última vez

no Brasil em 1876 e não é utilizada oficialmente desde a Proclamação da Republica

em 1889. Historicamente, o Brasil é o segundo país das Américas a abolir a pena de

morte como forma de punição para crimes comum, precedido pela Costa Rica, que

aboliu a prática em 185955.

A última execução determinada pela Justiça Civil Brasileira foi

a do escravo Francisco, em Pilar, Alagoas, em 28 de abril de 1876. A última de um

homem livre foi, provavelmente, pois não há registro de outras, a de Jose Pereira de

Sousa, condenado pelo júri de Santa Luzia, Goiás, e enforcado no dia 30 de outubro

55 BRASIL, Pena de Morte no Brasil. Disponível em :

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Pena_de_morte_no_Brasil> Acesso em 30 de outubro de 2010.

47

de 1861. Até os últimos anos de império, o júri continuou a condenar pessoas à

morte, ainda que, a partir do ano de 1876, o imperador comutasse todas as

sentenças de punição capital, tanto de homens livres como de escravos. Todavia, a

prática só foi expressamente abolida para crimes comuns após a Proclamação da

Republica. A pena de morte continuou a ser cominada para certos crimes militares

em tempos de guerra56.

Os militares da União que vier a praticar os chamados crimes

militares , caso o Brasil esteja envolvido em guerra, estarão sujeitos a pena de

morte, segundo descreve o artigo n.55 Do Decreto - lei nº 1001, de 21 de outubro de

1969 (Código Pena Militar) a seguinte redação. As penas principais são57:a) morte;

b) reclusão; c) detenção; d) prisão; e) impedimento; f) suspensão do exercício do

posto, graduação, cargo ou função; g) reforma.

A pena de morte e executada por fuzilamento.

A sentença definitiva de condenação a morte é comunicada,

logo que passe em julgado, ao Presidente da República, e não pode ser executada

senão depois de sete dias após a comunicação.

Se a pena e imposta em zona de operações de guerra, pode

ser imediatamente executada, quando o exigir o interesse da ordem e da disciplina

militares. Mínimos e máximos genéricos.

No próximo capitulo 3 tratar-se-á da Justiça Militar da União e

da Justiça Militar Estadual suas competências, seu funcionamento seu rito de

julgamento, assim como o principio da insignificância quanto ao crescimento índices

de criminalidade dentro das unidades militares, ninguém será privado de sua

liberdade ou seus bens sem o devido processo legal, execução da sentença na

justiça militar e outras aplicações de pena.

56 BRASIL, Pena de Morte no Brasil.Disponível em :

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Pena_de_morte_no_Brasil> Acesso em 30 de outubro de 2010. 57 BRASIL, Como acabou a Pena de Morte no Brasil. Artigo Disponível em:

<http://www.nossacasa.net/recomeco/0024.htm> Acesso em 30 de outubro de 2010.

CAPÍTULO 3

DIFERENÇAS ENTRE A JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO E JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL

3.1 JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO

Conforme informativo da Associação dos Magistrados

Brasileiros58: Competência da Justiça Militar da União:

Processa e julga os integrantes das Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) acusados de crime militar, definido no Código Pena Militar. Diferentemente da Justiça Militar Estadual, a Justiça Militar da União pode julgar civis em casos específicos.

Composição: O Superior Tribunal Militar, a mais alta corte da

Justiça Militar, compõe-se de 15 ministros vitalícios, nomeados pelo Presidente da

Republica, depois aprovada a indicação pelo Senado Federal. Três dos indicados

devem ser oficiais-generais da Marinha, quatro, Exército, e três, da Aeronáutica,

todos da ativa e do posto mais elevado da carreira. Os outros cinco indicados devem

ser civis.

3.2 JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL

Conforme informativo da Associação dos Magistrados

Brasileiros59 A competência da Justiça Militar Estadual:

Processa e julga os crimes militares e as ações judiciais contra atos disciplinares praticados pelos oficiais e praças da Policia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar, bem como os crimes cometidos por militares da reserva e reformado, nos casos especificados na legislação penal militar.

58 AMB. AMB. Informativo da associação dos magistrados brasileiros. Edição especial. Julho de

2006. 59 AMB. Informativo da associação dos magistrados brasileiros. Edição especial. Julho de 2006.

49

Composição Juízes de Direito, com exercício nas varas da

Justiça Militares e nos Conselho de Justiça (primeiro grau de jurisdição). Na

segunda instancia, é composto pelos Tribunais de Justiça Estaduais ou pelos

Tribunais de Justiça Militar, no caso dos estados em que o efetivo militar seja

superior a 20 mil.

Os cincos ministros civis nomeados pelo Presidente da

República devem ser escolhidos dentre brasileiros maiores de 35 anos. Três têm de

ser advogados de notório saber jurídico e de conduta ilibada, com mais de dez anos

de atividade profissional. Os outros dois são escolhidos dentre juízes-auditores e

integrantes do Ministério Público da Justiça Militar.

3.3 CRIMES MILITARES

Os crimes julgados pela Justiça Militar da União (JMU) estão

definidos no Código Penal Militar. De forma geral, em tempos de paz, eles podem

ser definidos da seguinte forma60:

Crimes de militares contra o serviço militar e contra o dever

militar.

Crimes contra autoridade ou disciplina militar.

Crime contra administração e contra o patrimônio militar.

Crimes cometidos em locais sob a administração militar.

Crime contra a segurança externa do país.

Os civis também podem ser julgados pela Justiça Militar da

União se cometer crimes contra o patrimônio militar e crimes contra militar, bem

como infrações em local sujeito a administração militar e crimes contra militares no

exercício de funções militares.

60 AMB. Informativo da associação dos magistrados brasileiros. Edição especial. Julho de 2006.

50

Com os crescentes índices de criminalidade, o perfil dos

crimes julgados pela Justiça Militar da União foi ampliado. Antes os casos de

deserção, por exemplo, eram os mais comuns.

Atualmente, é freqüente a tramitação, nas instâncias da JMU,

de crimes como tráfico e uso de drogas, roubo de armas e estelionato, entre outros.

Na esfera estadual, policiais e bombeiros militares são julgados

por crimes previstos no Código Penal Militar.

3.4 FUNCIONAMENTO DA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO

A Justiça Militar da União (JMU) situa-se em posição de

destaque no organograma dos Poderes da República, representada pelo Superior

Tribunal Militar (STM). Atualmente em todo o território nacional, ela está dividida em

12 circunscrições judiciárias militares. Cada circunscrição abriga uma ou mais

auditorias militares, que são órgãos responsáveis pela aplicação das leis militares

nas 27 unidades da federação.

As auditorias militares são os órgãos de primeira instância da

Justiça Militar da União. Elas tem jurisdição mista ou, cada uma julga os processos

relativos à Marinha, ao Exército e a Aeronáutica. A Justiça Militar também conta com

uma Auditoria de Correição, sediada em Brasília (DF), que fiscaliza e orienta, jurídica

e administrativamente, as ações das demais auditorias. Em cada uma das 18

auditorias, exceto a Auditoria de Correição, atuam um juiz-auditor e um juiz-

substituto, necessariamente civis. Os cargos são providos por meio de concurso

públicos61.

3.4.1 Primeira instância

A primeira instância da Justiça Militar da União é composta

pelos juízes-auditores e juízes-auditores substitutos. Em cada auditoria, há dois

61 AMB. Informativo da associação dos magistrados brasileiros. Edição especial. Julho de 2006.

51

juízes. Atuam com os juízes-militares, promotores e procuradores do Ministério

Público Militar e defensores públicos da União.

Auditoria de Correição – A Justiça Militar da União dispõe,

ainda, de um juiz-auditor corregedor, que trabalha com o objetivo de uniformizar

procedimentos e corrigir eventuais equívocos cometidos nas auditorias militares62As

auditorias militares são os órgãos de primeira instância da Justiça Militar da União.

Elas tem jurisdição mista ou, cada uma julga os processos relativos à Marinha, ao

Exército e a Aeronáutica. A Justiça Militar também conta com uma Auditoria de

Correição, sediada em Brasília (DF), que fiscaliza e orienta, jurídica e

administrativamente, as ações das demais auditorias. Em cada uma das 18

auditorias, exceto a Auditoria de Correição, atuam um juiz-auditor e um juiz-

substituto, necessariamente civis. Os cargos são providos por meio de concurso

públicos63.

3.4.2 Segunda instância

É de competência do Superior Tribunal Militar. Durante os

julgamentos nas cortes militares, atua sempre um representante do Ministério

Público Militar da União, na condição de fiscal da lei. Quando necessário, atua

também como representante da Defensoria Pública Geral da União na defesa do réu

que não pode constituir advogado. Na área administrativa, a Justiça Militar da União

dispõe de cerca de 700 servidores civis especializados em questões técnicas do

Poder Judiciário64.

3.4.3 Rito de julgamento

Diante da evidência do cometimento de algum crime de

natureza militar, a primeira providência de uma autoridade militar é instaurar um

Inquérito Policial Militar, o IPM, a fim de que o fato seja apurado.

62 AMB. Informativo da associação dos magistrados brasileiros. Edição especial. Julho de 2006. 63 AMB. Informativo da associação dos magistrados brasileiros. Edição especial. Julho de 2006. 64 AMB. Informativo da associação dos magistrados brasileiros. Edição especial. Julho de 2006.

52

Depois de encerradas as investigações, o IPM é remetido ao

juiz-auditor, que, por sua vez, o envia ao representante do Ministério Público.

Convencido das evidências do crime e de sua autoria, o promotor oferece a

denúncia ao juiz. Recebida a denúncia, é instaurado o processo e tem início a

instrução criminal. Se a denúncia for rejeitada, o IPM será arquivado.

Nesse caso, o processo é enviado à Auditoria de Correição. O

corregedor que não concordar com a decisão de arquivamento pode argüir correição

parcial da decisão ao Superior Tribunal Militar (STM). O mais marcante exemplo

desse tipo de pedido é o caso Riocentro, quando os pedidos de correição parcial

não foi provido pelo tribunal.

Ao dar inicio ao processo, o juiz-auditor convoca o Conselho

Permanente de Justiça, constituído pelo juiz e por quatro oficiais da mesma Força

do acusado, desde que o réu seja civil ou praça.

No caso de julgamento de oficiais, como tenentes, capitães e

coronéis, é instalado o Conselho Especial de Justiça, formado por quatro oficiais

da mesma Força e a patente superior a do acusado ou do mesmo posto, desde que

mais antigo. Ao lado do juiz-auditor, eles promoverão o julgamento.

Se o réu ou o promotor não concordar com o resultado do

julgamento, há possibilidade de apresentar um recurso. Nesse caso, quem julgará o

recurso é o STM, a segunda e última instância da Justiça Militar da União.

Caso o acusado por um crime for um oficial - general da

Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, somente os ministros do STM, por

competência originaria, poderão realizar o julgamento.

É o entendimento de Rosa65:

65 ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Princípio da legalidade na transgressão disciplinar militar.

Disponível em:<http://jus.uol.com.br/revista/texto/1584/principio-da-legalidade-na-transgressao-disciplinar-militar>. Acesso em 30 de outubro de 2010.

53

O processo disciplinar sumário é destinado a analisar a conduta dos militares que não possuem estabilidade, ou seja, contam com menos de 10 anos de serviços na Corporação Militar, e são acusados em tese da prática de um ato ou transgressão disciplinar militar que possa levar a perda da graduação.

O militar, praça, que possui estabilidade será submetido ao Conselho de Disciplina, que tem por objetivo analisar a conduta dos militares acusados em tese da prática de um ato ou de uma transgressão disciplinar militar grave que possa levar a perda da graduação. No âmbito federal, o CD é regido pelo Decreto Federal, expedido pelo Poder Executivo, n º 71.500, de 05 de dezembro de 1972. No âmbito Estadual, o CD é regido por leis estaduais ou decretos estaduais, que tem como fundamento a norma federal, que é utilizada como paradigma.

No caso de um militar, pertencente ao quadro de oficiais, este será submetido ao processo administrativo denominado Conselho de Justificação, que tem por objetivo analisar se a prática de um ato ou de uma transgressão disciplinar poderá levá-lo a perda do posto ou da patente, ou a declaração de sua indignidade para o oficialato. No âmbito Federal, o CJ é regido pela Lei Federal n º 5.836, de 05 de dezembro de 1972. Nos Estados-membros da Federação, o Conselho de Justificação é regido em regra por Lei Estadual aprovada pela Assembléia Legislativa, que tem como fundamento a Lei Federal n º 5.836/72.

3.5 FUNCIONAMENTO DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL

3.5.1 Considerações iniciais

Há órgãos da Justiça Militar Estadual em todas as unidades da

federação. Com exceção de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, onde

funciona mais de uma auditoria militar, nos demais estados existe somente uma

auditoria, onde atua um juiz de Direito, um promotor de Justiça da carreira e, em

alguns estados, um advogado para exercer para exercer a defesa de praça (de

soldados a subtenente).

3.5.2 Rito de julgamento

O rito processual para os processos criminais é igual ao da

Justiça Militar da União as ações judiciais decorrentes e punições disciplinares

tramitam de acordo com a legislação comum.

54

Após a Emenda Constitucional n. 45/04 (a reforma do

Judiciário), surgiu uma nova competência da Justiça Militar Estadual; quando o

agente passivo for civil, os militares estaduais serão julgados monocraticamente pelo

juiz.

Se a vítima for outro militar ou policial ou bombeiro militar (PM

ou BM) será julgado por um Conselho de Justiça. O Conselho Permanente, formado

por quatro oficiais mais o juiz togado, julga praças. O Conselho Especial de Justiça,

integrado por militares de patente superior à do réu, julga oficiais.

Para cada oficial que responder a um processo, forma-se um

Conselho, já que o Conselho Permanente de Justiça dura três meses. O juiz

monocrático ainda julga a ações judiciais contra atos disciplinares de militares.

No Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e em São Paulo, a

segunda instância é o Tribunal de Justiça Militar. Nos outros estados da federação a

segunda instância é composta pelos Tribunais de Justiça.

Por exemplo, se um policial militar faz uso do revolver e causa

lesão corporal ao detido durante o serviço, esse fato é da competência do juiz

monocrático da Justiça Militar Estadual.

Caso a pessoa lesionada seja um PM ou um BM, a

competência será do Conselho de Justiça.

Se um tenente policial militar for o causador da lesão, ele será

julgado pelo Conselho Especial de Justiça com oficiais superiores, isto é, de capitão

em diante.

3.6 CONTRA O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

Com os crescentes índices de criminalidade, o perfil dos crimes

julgados pela Justiça Militar da União (JMU) foi ampliado. Antes, os crimes de

deserção, por exemplo, eram os mais comuns.

55

Atualmente, é freqüente a tramitação, nas instâncias da JMU,

de crimes relacionados ao tráfico e ao uso de drogas, ao roubo de armas e ao

estelionato, entre outros.

As ocorrências mais comuns são de militares encontrados com

porções de maconha nos quartéis. O STM vem condenando os acusados mesmo

quando a quantidade de droga é pequena e para uso próprio.

De acordo com o informativo da AMB66:

Por maioria, os ministros do STM têm optado por não aplicar, nesses casos, o princípio da insignificância, condenando os acusados a penas que podem alcançar até cinco anos de reclusão, estipulada no Código Penal Militar.

Segundo informações da assessoria de imprensa do STM, as condenações se justificam em virtude das relações especiais que caracterizam a vida organizacional das Forças Armadas. Nesse ambiente, o uso e a difusão de entorpecente podem causar prejuízos à segurança e à disciplina.

Um exemplo contundente é o fato de os soldados, em conseqüência de suas funções e responsabilidade, terem a sua disposição armas e outros equipamentos bélicos, além de guardarem instalações que precisam estar sob vigilância permanente.

3.7 A CARTA MAGNA

A Magna Carta consagrou o devido processo legal como sendo

a única forma para que uma pessoa possa perder seus bens ou ter a sua liberdade

cerceada.

Na transgressão disciplinar, o militar está sujeito a perder sua

liberdade, e portanto esta conseqüência somente poderá ser aplicada e considerada

válida se respeitar o princípio da reserva legal e o artigo 5º, inciso LIV da CF/88.

As autoridades administrativas militares ainda não

recepcionaram e não aceitação a questão do princípio da anterioridade da

66 AMB. Informativo da associação dos magistrados brasileiros. Edição especial. Julho de 2006.

56

transgressão disciplinar militar, pois entendem que a autoridade deve ter

discricionariedade para impor punição aos seus subordinados.

Mas, o respeito a hierarquia e a disciplina não pressupõe o

descumprimento dos direitos fundamentais assegurados ao cidadão, uma vez que a

Constituição Federal em nenhum momento diferenciou no tocante as garantias

fundamentais disciplinadas no art. 5º, o cidadão militar do cidadão civil, uma vez que

miliciano antes de estar na caserna foi um dia civil, e após a sua aposentadoria

voltará novamente a integrar os quadros da sociedade.

A não observância destes princípios, significa o desrespeito as

regras do jogo, "rules of the game", que em um Estado Democrático de Direito, como

observa Luiz Flávio Gomes67 “é previamente estabelecido, e se aplica a todos os

cidadãos, sejam eles civis ou militares, tanto na esfera judicial como na

administrativa”.

O processo administrativo, pós 88, passou a ter todas as

garantias previstas para o processo judicial, conforme preceitua o artigo 5º, inciso LV

da C.F. Com base neste dispositivo, para que a ampla defesa e o contraditório com

todos os recursos a ela inerentes possam ser exercidos é preciso que o acusado

tenha conhecimento do ilícito que teria em tese violados, e que este já se encontre

previsto em norma anterior de forma específica.

A Constituição cidadã trouxe modificações, que ainda estão

sendo incorporadas gradativamente ao nosso sistema, como ocorreu com a norma

do artigo 125, parágrafo 4º, que já vem sendo aplicadas pelo Egrégio Tribunal de

Justiça Militar do Estado de São Paulo68, mas que recentemente recebeu

interpretação diversa do Supremo Tribunal Federal, contrariando precedentes

existes na Corte Constitucional.

67 GOMES, Luiz Flávio Gomes. Responsabilidade Penal Objetiva e Culpabilidade nos Crimes

contra a Ordem Tributária. RIOBJ nº 11/95.p.3. 68 Tribunal de Justiça Militar, MS nº 080/95. Diário Oficial do Estado, 30 de maio de 1.995, C.1, parte

II, p.35.

57

Quanto ao princípio da legalidade na transgressão disciplinar

militar este se faz necessário para a efetivação das garantias individuais, e deve ser

observado tanto no aspecto judicial ou administrativo em cumprimento a

Constituição Federal de 1.988.

3.8 EXECUÇÃO DA SENTENÇA NA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO

A Execução de Sentença, na Justiça Militar da União apresenta

diferença procedimental em relação ao processo executório decorrente das decisões

emanadas, não só da justiça comum, que seria o mais óbvio, como também em

relação a própria Justiça Militar dos Estados e do Distrito Federal.

A observação é procedente em função do caráter sui generis

da Justiça Militar brasileira, única, a subdividir-se em Justiça Militar da União e

Justiça Militar Estadual.

Assevera, Luiz Alberto Moro Cavalcante69, que “no Código

Penal Militar, as penas privativas de liberdade não são executadas em forma

progressiva, porque não existem os regimes fechado, semi-aberto e aberto.”

A pena, pelo Código Penal Militar, se de até dois anos de

detenção ou reclusão, é convertida em prisão e cumprida pelo oficial em recinto de

estabelecimento militar (quartel) e pela praça, em estabelecimento penal militar

(prisão millitar), artigo 59, I, e II, do CPM. Se superior a dois anos, a pena de

detenção ou reclusão é cumprida pela praça ou oficial em penitenciária militar e, na

falta dessa, estabelecimento prisional civil, ficando o militar sujeito ao regime

conforme a legislação penal comum, de cujos benefícios e concessões, também

poderá gozar (artigo 61 do CPM).

Compete ao Juiz-Auditor (Juiz de Direito) da Auditoria por onde

correu o Processo, a execução da pena, essa circunstância poderá ser alterada em 69 BRASIL, artigo Disponível em: A execução da sentença na Justiça Militar Da União

<http://www.jusmilitaris.com.br/uploads/docs/execsentjmu.pdf.>Acesso em 15 de novembro de 2010.

58

razão da perda do status de militar do sentenciado (artigo 588 do CPPM e do Artigo

30, inciso XI, da Lei 8.457/92 – LOJMU).

É o Juiz-Auditor quem realiza a audiência admonitória (artigo

610 do CPPM), sendo igualmente quem fiscaliza o cumprimento das condições

impostas na sentença quando concedido o sursis.

Quando o sentenciado é ex-militar, situação esta pode ter sido

adquirida durante a instrução do processo até o julgamento, ou durante a execução

propriamente dita da sentença, quando a Administração Militar, por algum motivo de

ordem administrativa, licencia ou exclui o condenado.

A Execução da Sentença na Justiça Militar da União, de acordo

com o entendimento de ASSIS70 “A jurisprudência do Superior Tribunal é pacífica no

sentido de que a execução da sentença proferida pela Justiça Militar a ela própria

compete, salvo quando o sentenciado for recolhido a estabelecimento sujeito à

jurisdição ordinária, consoante exceção ao tradicional principio introduzido pela Lei

7.210/84”.

3.9 EXECUÇÃO DA PENA APLICADA AOS CIVIS

A Justiça Militar da União processa e julga os crimes militares

definidos em lei, independente de quem o cometa, que pode, inclusive ser civil.

Diferentemente é a Justiça Militar Estadual, com competência

para julgar apenas policiais e bombeiros militares, que dela escapam os civis.

A execução da pena aplicada ao civil (originariamente civil ou

ex-militar) segue o previsto na legislação militar.

70 ASSIS, Jorge César. artigo Disponível em: A execução da sentença na Justiça Militar da União

<http://www.jusmilitaris.com.br/uploads/docs/execsentjmu.pdf.>Acesso em 15 de novembro de 2010.

59

As penas privativas de liberdade até dois anos são passíveis

de suspensão condicional (sursis), desde que preenchidos os requisitos legais.

As penas superiores a dois anos são cumpridas em

estabelecimentos prisional comum, podendo ao sentenciado serem aplicados os

institutos da LEP.

O sentenciado militar, nas penas privativas de liberdade até

dois anos, de reclusão ou detenção, ocorre a convenção em pena de prisão, nos

termos do artigo 59 do CPM, e o sentenciado a cumprir em quartel de acordo com

seu posto e graduação, podendo ainda ser beneficiado pelo sursis.

Já o civil, se não for agraciado com a suspensão da pena,

transitando esta em julgado serão expedido mandado de prisão e recolhido no

sistema prisional comum, onde só então poderá se valer, não dos benefícios da

LEP, como até mesmo daqueles previstos na Lei 9.714/98 – Penas alternativas,

hipóteses até agora rechaçadas pela Justiça Militar, com respaldo inclusive do STJ e

do STF.

3.10 APLICAÇÃO DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL NA JUSTIÇA MILITAR DA

UNIÃO

A Lei de Execução Penal – Lei 7.210/84 tem sua aplicação

vedada na Justiça Militar da União pelos Tribunais superiores, já que uma leitura

simplista do artigo 61 e 62 do CPM e, do parágrafo único do artigo 2º da LEP,

conclui-se que a lei específica da execução somente será aplicada ao condenado

pela Justiça Militar da União, quando recolhido a estabelecimento sujeito à jurisdição

ordinária ou comum71.

71 BRASIL, artigo Disponível em: A execução da sentença na Justiça Militar Da União

<http://www.jusmilitaris.com.br/uploads/docs/execsentjmu.pdf.>Acesso em 15 de novembro de 2010.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa abordou “As Garantias da Ampla Defesa

e do Contraditório na apuração da Transgressão Disciplinar Militar”.

No primeiro capítulo analisou-se aspectos da profissão militar,

do servidor militar, a hierarquia e a disciplina inerentes às instituições militares,

aborda-se a transgressão disciplinar militar e a figura do habeas corpus nas

referidas transgressões.

No segundo capítulo foram abordados a sindicância no âmbito

militar, o Inquérito Policial Militar, tratando de suas respectivas competências e

procedimentos, analisando, por fim, a questão da pena de morte.

No terceiro e último capítulo o enfoque recaiu sobre as

diferenças existentes entre a Justiça Militar da União e a Justiça Militar Estadual, os

chamados crimes militares, sob o prisma do Principio da Insignificância e de que

ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o Devido Processo Legal.

O estudo do tema é relevante e atual, isso porquê, o Direito

Penal Militar e o Direito Processual Penal Militar revestem-se de peculiaridades que,

muitas vezes, chocam-se com os ditames constitucionais.

Por fim, retomam-se as hipóteses levantadas na introdução.

A 1ª Hipótese restou confirmada tendo em vista que a

hierarquia e a disciplina constituem bases institucionais das Forças Armadas,

obrigando a todos os seus membros.

A 2ª Hipótese restou confirmada pois a sindicância é um ato de

âmbito interno passível de arquivamento pela autoridade a qualquer tempo desde

que seu objetivo tenha sido alcançado, diferentemente do Inquérito Policial Militar, o

qual, após o seu relatório final deverá, obrigatoriamente, ser encaminhado ao

Promotor da Justiça Militar.

61

A 3ª Hipótese restou confirmada, pois, em muitas situações as

garantias da ampla defesa e do contraditório são flexibilizadas durante uma

apuração de possível transgressão disciplinar militar, indo, portanto, de encontro aos

preceitos constitucionais.

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

AMB. Informativo da associação dos magistrados brasileiros. Edição especial. Julho de 2006.

BRASIL, A execução da sentença na Justiça Militar Da União <http://www.jusmilitaris.com.br/uploads/docs/execsentjmu.pdf.>Acesso em 15 de novembro de 2010.

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BRASIL, disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6880compilada.htm> Acesso em 21 de outubro de 2010.

BRASIL, Estatuto dos Militares. Disponível em <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6880compilada.htm> Acesso em 21 de outubro de 2010

BRASIL, Juramento Militar à Bandeira Nacional. Disponível em: <http://www.militar.com.br/modules.php?name=Bandeiras&page=juramento.htm> Acesso em 21 de outubro de outubro de 2010,

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BRASIL, Pena de Morte no Brasil. Disponível em : <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pena_de_morte_no_Brasil> Acesso em 30 de outubro de 2010.

63

BRASIL, Portaria n.º202 do Comandante do Exército artigos 7.º e 8º, disponível em: <http://www.dee.ensino.eb.br/legislacao/07%20-%20justica%20e%20disciplina/Port202-CmtEx.pdf> Acesso em 25 de outubro de 2010.

BRASIL. Jorge César Assis. A execução da sentença na Justiça Militar da União <http://www.jusmilitaris.com.br/uploads/docs/execsentjmu.pdf.>Acesso em 15 de novembro de 2010

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA MILITAR. MS nº 080/95. Diário Oficial do Estado, 30 de maio de 1995, C.1, parte II,

64

ANEXOS

Figura 1 - Fachada da 1ª Auditoria da 3ª Circunscrição Judiciária Militar

65

Figura 2 - Local da Auditoria em relação à rua

Figura 3 - Porta de acesso ao prédio da Auditoria Militar

66

Figura 4 - Escadaria de acesso ao 2º andar da Auditoria Militar

Figura 5 - Sala de espera

67

Figura 6 - Sala dos Juízes-Militares

Figura 7 - Disposição interna da sala de sessão de julgamento (pós-reforma)

68

Figura 8 - Disposição interna da sala de sessão de julgamento

Figura 9 - Visão do Juiz-Militar Presidente

69

Figura 10 - Local em que fica a Defesa

Figura 11 - Local em que fica o Ministério Público Militar

70

Figura 12 - Disposição e composição do Conselho de Justiça Permanente

Figura 13 - Soldado/acusado apresentando-se ao Conselho de Justiça Permanente