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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE. INSTITUTO DE HUMANIDADES E SAÚDE. DEPARTAMENTO INTERDISCIPLINAR DE RIO DAS OSTRAS. CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL. MARIA ALICE DA SILVA RIBEIRO COUTINHO AS IMPLICAÇÕES DO AUMENTO POPULACIONAL NO MUNICÍPIO DE RIO DAS OSTRAS EM BUSCA DE EMPREGO: a população igualada ao peixe rêmora, ficando com o resto da riqueza que o grande tubarão fatura: A indústria do petróleo. RIO DAS OSTRAS RJ 2013.2

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE.

INSTITUTO DE HUMANIDADES E SAÚDE.

DEPARTAMENTO INTERDISCIPLINAR DE RIO DAS OSTRAS.

CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL.

MARIA ALICE DA SILVA RIBEIRO COUTINHO

AS IMPLICAÇÕES DO AUMENTO POPULACIONAL NO MUNICÍPIO DE RIO DAS OSTRAS EM BUSCA DE EMPREGO: a população

igualada ao peixe rêmora, ficando com o resto da riqueza que o grande tubarão fatura:

A indústria do petróleo.

RIO DAS OSTRAS – RJ

2013.2

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MARIA ALICE DA SILVA RIBEIRO COUTINHO

AS IMPLICAÇÕES DO AUMENTO POPULACIONAL NO MUNICÍPIO DE RIO DAS OSTRAS EM BUSCA DE EMPREGO: a população

igualada ao peixe rêmora, ficando com o resto da riqueza que o grande tubarão fatura:

A indústria do petróleo.

Trabalho de Conclusão de curso

apresentado ao curso de

Graduação em Serviço Social da

Universidade Federal Fluminense,

como requisito parcial para

obtenção do grau de bacharel em

Serviço Social.

Orientadora: Profa.Ms.Mariana Pfeifer.

RIO DAS OSTRAS – RJ

2013.2

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MARIA ALICE DA SILVA RIBEIRO COUTINHO

AS IMPLICAÇÕES DO AUMENTO POPULACIONAL NO MUNICÍPIO DE RIO DAS OSTRAS EM BUSCA DE EMPREGO: a população

igualada ao peixe rêmora, ficando com o resto da riqueza que o grande tubarão fatura:

A indústria do petróleo.

Trabalho de Conclusão de curso

apresentado ao curso de

Graduação em Serviço Social da

Universidade Federal Fluminense,

como requisito parcial para

obtenção do grau de bacharel em

Serviço Social.

Aprovado em ___/___/______.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________ Orientadora: Profa.Ms.Mariana Pfeifer

Universidade Federal Fluminense

_____________________________________________ Prof. Dr.º Ranieri Carli de Oliveira Universidade Federal Fluminense

_____________________________________________ Prof.Ms. Rodrigo Teixeira

Universidade Federal Fluminense

RIO DAS OSTRAS – RJ

2013.2

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Dedico este trabalho ao meu amado esposo Flávio, a minha querida

mãe Vera Alice, a minha irmã Carmen e ao meu lindo sobrinho

Joaquim, por estarem ao meu lado em todos os

momentos, principalmente nos mais difíceis, por me incentivarem a

estudar, sempre apoiando

e incentivando a minha busca para poder chegar até aqui.

Dedico este trabalho à memória de meu amado pai José

Ribeiro.

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AGRADECIMENTOS

Aos migrantes que deixaram sua cidade, e muitas vezes seus familiares, em busca

de dias melhores. Como diz a letra da música de Zé Ramalho “é duro tanto ter que

caminhar, e dar muito mais, do que receber. E ter que demonstrar, sua coragem”.

A Deus, pela luz e pelas vibrações positivas.

Ao Flávio, meu esposo, companheiro, amor eterno, pela compreensão de dias,

noites e finais de semanas ausentes. Pelo afeto e carinho, pela ajuda nas horas em

que o computador e a impressora não funcionavam. Por ouvir-me em meus estudos

e minhas declarações e em tudo (ou quase tudo) que venho absorvendo na

Universidade. Pela paciência de não incomodar-me enquanto dedico a leitura, tendo

o carinho de bater à porta para saber se está tudo bem e não querendo incomodar.

Enfim, só tenho a agradecer por todos os momentos, principalmente os que sugere

que vá descansar um pouco, ou mesmo dormir, para que os pensamentos fluam de

uma maneira melhor.

A minha mãe Vera Alice, minha irmã Carmen e meu lindo sobrinho Joaquim,

obrigada pela compreensão dos dias ausentes, das festas ausentes, dos

telefonemas muitas das vezes rápidos... obrigada pela torcida, pelo afeto e por tudo.

Ao Joaquim, que hoje com quase três anos de idade, não entende essas palavras,

mas que no futuro as entenderá. Saiba que a titia te ama. Obrigada por tudo

família!!!

À Orientadora Mariana Pfeifer meu agradecimento, por estimular a construção de

ideias, pela paciência nos atendimentos, pela contribuição para a realização desse

trabalho, por embarcar nessa busca pela apresentação desse Trabalho de

Conclusão de Curso... enfim, a cada dia me sinto estimulada em ter uma professora

tão dedicada no curso de Serviço Social da UFF PURO.

Não poderia deixar de agradecer a Profa. Cristina Brites, pela brilhante condução no

processo de inserção dos estagiários em campos de estágio. A cada conversa, noto

a real dedicação dessa profissional e isso é o que move a sentir-me mais e mais

estimulada nessa profissão, buscando a cada dia aproximar-se das brilhantes

palavras ditas pela Cristina Brites. Acho que quem se identifica com o processo de

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formação, se espelha em seus passos também, Cristina. Meu muito obrigada por

tudo.

Meus sinceros agradecimentos à supervisora de campo Ana Paula Rocha da Cruz,

pela contribuição com a minha formação acadêmica e profissional, sempre

valorizando meus conhecimentos e aceitando-me como estagiária. Agradeço a

enorme paciência, a dedicação, o carinho (e já estou chorando), as horas de

supervisão, as nossas conversas sobre assuntos variados, os nossos almoços com

conversas diversas e agradáveis, os ensinamentos,... enfim, preciso dizer-lhe que

você deve se sentir orgulhosa da profissão que escolhestes, pois a cada dia você

procura aprender e dedicar-se ao máximo. Jamais a esquecerei como mentora do

meu processo de estágio... jamais mesmo!! Obrigada.

Aos profissionais do CRAS Central de Rio das Ostras, onde realizei o Estágio

Supervisionado, e onde a cada dia aprendia com os profissionais dessa Instituição.

A grande amiga Simone, obrigada por estar ao meu lado e por dividir os momentos

de alegrias, lutas, dores, aflições. Começo de uma amizade única em momento

único de nossas vidas.

Aos amigos de trabalhos realizados em grupo Eunice, Fernanda, Gabriela Rangel,

Michele Aparecida, Rafael Rodrigues, obrigada por estarem ao meu lado.

Aos meus companheiros e companheiras de curso, dos quais guardo apenas o

melhor.

As amigas Luciane Fernandes e Dayse Oliveira pelo começo promissor de uma

grande amizade na Universidade e na vida.

À Universidade Federal Fluminense.

A todos os professores que tive o privilégio de ser aluna e que contribuíram com

minha formação: Bernardo, Janes, Lúcia, Paula Kapp, Walzi, Ranieri, Eblim, Leile,

Lúcia Soares, Cristina Brites, Ana Paula Mauriel, Wanderson, Ramiro, Valéria, Paula

Sirelli, Marina, Clarice, Raimunda, Mariana, José Adams, Camila, Edson, Kátia,

Renata, Bruno e Felipe.

Obrigada aos Prof. Ms. Rodrigo Teixeira e ao Prof.º Dr.º Ranieri Carli de Oliveira, por

comporem minha Banca Examinadora.

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Obrigada Ranieri Carli por apresentar-me as teorias de Karl Marx. Suas brilhantes

explicações tornaram o aprendizado mais fácil.

Obrigada aos entrevistados frequentadores do CRAS Central de Rio das Ostras, que

cederam minutos de suas vidas para a entrevista realizada para finalização desse

trabalho.

A todos que de alguma forma contribuíram para enfrentar e vencer os obstáculos que

se colocaram durante todo percurso.

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Admirável Gado Novo

Zé Ramalho

Vocês que fazem parte dessa massa, Que passa nos projetos, do futuro

É duro tanto ter que caminhar E dar muito mais, do que receber.

E ter que demonstrar, sua coragem A margem do que possa aparecer. E ver que toda essa, engrenagem

Já sente a ferrugem, lhe comer.

Eh, ôô, vida de gado Povo marcado, ê

Povo feliz Eh, ôô, vida de gado

Povo marcado, ê Povo feliz

Lá fora faz um tempo confortável A vigilância cuida do normal

Os automóveis ouvem a notícia Os homens a publicam no jornal E correm através da madrugada

A única velhice que chegou Demoram-se na beira da estrada E passam a contar o que sobrou.

Eh, ôô, vida de gado Povo marcado, ê

Povo feliz Eh, ôô, vida de gado

Povo marcado, ê Povo feliz

O povo, foge da ignorância Apesar de viver tão perto dela

E sonham com melhores, tempos idos Contemplam essa vida, numa cela

Esperam nova possibilidade De verem esse mundo, se acabar

A arca de Noé, o dirigível Não voam, nem se pode flutuar, Não voam nem se pode flutuar, Não voam nem se pode flutuar.

Eh, ôô, vida de gado Povo marcado e,

Povo feliz Eh, ôô, vida de gado

Povo marcado e, Povo feliz

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RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso pretende apresentar algumas reflexões sobre

o processo de migração, seu fator histórico, bem como a busca de melhores

condições de vida em outras cidades. O que é ser migrante? Partindo dessa

pergunta precisamos definir e explicar a diferença entre migração, emigração e

imigração. Tem por objetivo analisar a migração populacional em busca de melhores

condições de emprego, devido as grandes manchetes divulgadas pela mídia em

relação à exploração de petróleo e gás nas proximidades da cidade de Rio das

Ostras, bem como realizar um levantamento da população migrante que procura o

CRAS Central, dentro do Projeto Começar de Novo, identificando onde esses

usuários procuram residência e analisar o tipo de residência escolhido. A partir de

um olhar crítico, como a migração interfere nas condições de vida e de trabalho dos

cidadãos? O que esses cidadãos esperam encontrar nas cidades, e de que forma as

políticas sociais podem contribuir para uma melhor qualidade de vida. A partir da

vivência no campo de Estágio, as inquietações foram surgindo sobre o que

motivavam as pessoas a deixarem suas cidades, e muitas das vezes suas famílias,

em busca de um sonho dourado de uma melhor qualidade de vida e de emprego.

Esse comportamento é comum em várias cidades, e em Rio das Ostras não deixa

de ser um dos elementos que os entrevistados apresentaram. Uma cidade que tanto

atrai devido a grande riqueza que é divulgada. Tanto que apresentei o problema no

projeto de pesquisa: por que os emigrantes vêm para a cidade de Rio das Ostras em

busca de emprego? E a hipótese pensada foi de que: a cidade de Rio das Ostras

oferece uma quantidade significativa de emprego devido à exploração na área de

petróleo e gás que estão em expansão. Esse modelo de acumulação de riqueza que

é divulgado estaria determinando novas maneiras de regular a relação capital-

trabalho, e em como o capital estaria determinando a relação com a força de

trabalho.

Palavras-chave: Migração. Migração interna. CRAS. Rio das Ostras.

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ABSTRACT

This Conclusion´s Graduate Work intends to present some considerations about

migration process, it´s historical factor, as well as the searching of better living

condition at other cities. What means be a migrant? Through this question we need

to determine and explain the difference between migration, emigration and

immigration. It aims to analysis the population migration that searches for better work

conditions, due to the great’s headlines divulgated by media about the petroleum and

gas exploration at Rio das Ostras neighborhood, as well as do a research of

population that migrates and searches for Central CRAS, in the “Começar de Novo”

Project, identifying were do these users look for residence and analysis all kind of

residence chosen. From a critic view, how migration interferes on people life and

work condition. What do this people expect to find at these cities, and how does

social politics can contribute to a better life quality. Through this period of field

experience, the inquietude arises from the question about what motivates people to

leave their cities, and sometimes also their family, to seek for a golden dream about

better quality of life and Work. This is a common behavior at many cities, and at Rio

das Ostras is not different, it´s also an element that interviewed people presents. A

city that attracts for the great richness divulged. So that I presented the problem at

the research: Why do immigrants came to Rio das Ostras City searching for job? And

the hypothesis analyzed was that Rio das Ostras City offers a significant quantity of

work due to petroleum and gas exploration in expansion. This rich accumulation form

which is divulgated should be determining new ways to regulate the relation capital

work, and how capital should determine the relation with work force.

Keywords: Migration. Internal Migration. CRAS. Rio das Ostras.

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LISTA DE SIGLAS

CRAS – Centro de Referência de Assistência Social.

s/d – sem data.

TCC – Trabalho de Conclusão de Curso.

ONG – Organização Não Governamental.

Z-22 – Zona 22 pesqueira.

NF – Norte Fluminense.

TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

SUAS – Sistema Único de Assistência Social.

LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social.

PNAS – Política Nacional de Assistência Social.

CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social.

NOB/SUAS – Norma Operacional Básica do Sistema Único da Assistência

Social.

NOB/RH – Norma Operacional Básica de Recursos Humanos.

BPC – Benefício de Prestação Continuada.

PBF – Programa Bolsa Família.

INSS – Instituto Nacional do Seguro Social.

SEMBES – Secretaria Municipal de Bem-Estar Social.

UFF – Universidade Federal Fluminense.

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LISTA DE TABELAS E DE GRÁFICOS

Tabelas:

Tabela 1: População residente, por situação do domicílio............................................

29

Tabela 2: População migrante residente nos municípios pertencentes à OMPETRO

39

Tabela 3: Renda individual, familiar e per capita em reais (R$) ...................................

61

Gráficos:

Gráfico 1:

Dados Populacionais de Rio das Ostras de 1996 – 2013 .......................... 60

Gráfico 2: Tipo de Moradia ..........................................................................................

64

Gráfico 3: Situação da construção ...............................................................................

65

Gráfico 4: Número de cômodos da casa .....................................................................

65

Gráfico 5: Água da casa .............................................................................................

66

Gráfico 6: Rede de esgoto da casa .............................................................................

67

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................ 13

1. MIGRAÇÃO: RESGATE HISTÓRICO E ECONÔMICO.................... 17 1.1-QUILOMBOS.................................................................................... 27 1.2-RIO DAS OSTRAS E SEU MOMENTO DE TRANSFORMAÇÃO... 28

2- O MUNICÍPIO DE RIO DAS OSTRAS E REGIÃO NA ATUALIDADE.......................................................................................

32

2.1-A ECONOMIA DA REGIÃO E DE RIO DAS OSTRAS ................... 33 2.1.1- Pesca .......................................................................................... 33 2.1.2- Rio das Ostras e os royalties ...................................................... 37

3- A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL................................... 42

3.1-CRAS – Centro de Referência de Assistência Social ..................... 42

3.2-PROJETO COMEÇAR DE NOVO .................................................. 44 3.2.1-Demandas advindas/relacionadas às expressões da “questão social”.....................................................................................................

46

3.2.2- A categoria trabalho vinculada as reais necessidades do trabalhador ...........................................................................................

50

3.3- RESULTADOS DA PESQUISA...................................................... 57 3.3.1- Identificação do migrante entrevistado ...................................... 59 3.3.2- Motivações para a vinda para Rio das Ostras ............................ 62 3.3.3- Caracterização das condições de vida encontradas ................... 63 3.3.4- Caracterização das condições de trabalho encontradas ............. 68 3.3.5- Perspectiva de futuro ................................................................... 70

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................. 72 REFERÊNCIAS .................................................................................... 74

SÍTIOS VISITADOS NA INTERNET .................................................... 77

ANEXOS 78

ANEXO 1 - Roteiro da Entrevista 79 ANEXO 2 - TCLE 82

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INTRODUÇÃO

O trabalho que apresentamos foi elaborado a partir da minha inserção como

estagiária no Centro de Referência de Assistência Social Central (CRAS Central), do

município de Rio das Ostras/RJ, no projeto intitulado ‘Começar de Novo’,

participando desse campo de estágio por quatro semestres na política de assistência

social. Durante esse período de estágio consegui observar as diversas migrações

ocorridas de outras cidades para o município de Rio das Ostras, muitas delas em

busca do sonhado emprego.

A cidade de Rio das Ostras devido à proximidade com o município de Macaé

atraem muitos trabalhadores que visam um bom emprego na indústria do ‘‘ouro

negro’’, pois sua principal economia está voltada ao ramo de petróleo e gás natural,

e com isso, nota-se essa grande migração para essas cidades. Não podemos deixar

de referenciar, o que de fato causa essa migração para a cidade de Rio das Ostras e

suas consequências no que se refere ao planejamento do orçamento e infraestrutura

visando uma melhor adequação para as pessoas que migram para a cidade.

Mediante ao que observei no campo de estágio, é grande o número de

usuários que buscam o CRAS Central visando atendimento na assistência social em

busca de apoio alimentar, por não conseguir se inserir no mercado do petróleo em

virtude de não se adequar as normas que as empresas impõem no tocante à

escolaridade e curso técnico adequado para conseguir um emprego. Neste sentido,

tentarei buscar subsídios sobre o processo que leva alguns usuários a migrarem

para Rio das Ostras em busca de emprego e visando melhores condições de vida.

Partindo do princípio das migrações como um todo, já que a formação do

Brasil teve um fator relevante também como o fluxo migratório da Europa, marcando

todo esse processo também em outras cidades, como exemplo, Rio das Ostras,

sendo assim, o objeto a ser estudado são os fatores migratórios e sua relação com a

região litorânea.

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Nos últimos tempos, tanto na mídia escrita quanto televisiva, vem ganhando

destaque para reportagens sobre o fluxo migratório das pessoas que buscam

alternativas em outras cidades, visando um melhor emprego e melhores condições

de vida. Com base na hipótese formulada de que as pessoas buscam a cidade de

Rio das Ostras para constituir residência, devido a grande oferta de trabalho que são

divulgadas tanto pela mídia quanto pelas próprias pessoas que pensam possuir a

cidade uma quantidade maior de empregos devido à indústria do petróleo.

No primeiro momento, precisamos entender de fato o conceito sobre

migração, imigração e emigração. Segundo o Dicionário Aurélio (s/d, p.923),

migração é a “passagem de um país para outro (falando-se de um povo ou de

grande multidão de gente), passar de uma região para outra”; já emigração,

“mudança voluntária, conjunto de pessoas que emigram, mudança voluntária de

país” (idem, p.511); e imigração, “entrar num país estranho para viver nele” (idem,

p.744).

Frente ao que foi observado no campo de estágio, e tendo como referência o

meu objeto de estudo que é o “Perfil populacional dos usuários vindos de outros

municípios em busca de emprego que procuram o CRAS Central em Rio das Ostras

e participam do ‘Projeto Começar de Novo’”, pergunto: por que os migrantes vêm

para a cidade de Rio das Ostras em busca de emprego? A hipótese formulada para

responder e guiar essa pesquisa é que “a cidade de Rio das Ostras oferece uma

quantidade significativa de emprego devido à exploração na área de petróleo e gás

que estão em expansão”.

Neste sentido, os objetivos desta pesquisa são: analisar a migração

populacional em busca de melhores condições de emprego, devido as grandes

manchetes divulgadas pela mídia em relação à exploração de petróleo e gás nas

proximidades da cidade de Rio das Ostras; realizar um levantamento da população

migrante que procura o CRAS Central, dentro do ‘Projeto Começar de Novo’;

identificar onde essa população emigrante procura residência; analisar as condições

da residência; analisar a situação econômica e financeira dessa população que

procura os serviços do CRAS Central dentro do ‘Projeto Começar de Novo’.

Na esperança de alcançar esses objetivos, nesta pesquisa serão utilizados

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como metodologia a pesquisa documental, a pesquisa de campo e a pesquisa

bibliográfica.

A pesquisa documental será a atividade principal desse trabalho, onde será

realizada a análise das fichas sociais do Projeto ‘Começar de Novo’ do CRAS

Central de Rio das Ostras. No momento da coleta de dados, será observada se o

usuário veio de uma outra cidade e qual foi o principal motivo que o levou a fazer

essa mudança. Qual a razão que o levou a escolher o município de Rio das Ostras e

qual o tipo de moradia e bairro que foi escolhido.

Após essa análise, partiremos para a pesquisa de campo que constituirá em

entrevista gravada através de um questionário elaborado em conjunto com a

Orientadora, visando um mapeamento e tabulação dos usuários/migrantes. Serão

abordadas perguntas que possibilitem delimitar a opinião dos participantes do

Projeto ‘Começar de Novo’, se realmente a cidade lhes oferece o que realmente

sonhavam e se correspondem às suas expectativas. Devo levar em consideração,

que o total de inscritos no ‘Projeto’ sofre uma variação e que tanto essa tabulação e

observação, quanto o momento de aplicar o questionário, podem sofrer variações.

Além das fontes de pesquisa citadas acima, também fizemos uma pesquisa

bibliográfica que se estruturará a partir das categorias e de debates teóricos de

diversos autores, tendo o fator migratório como peça central, consultando livros,

artigos, sites e TCC’s.

Para problematizar a questão da migração, procuraremos observar o que

ocorre com a área urbana devido ao ‘inchaço’ de migrantes, onde esses migrantes

procuram residência, o descaso do poder público perante a questão e o que a falta

de planejamento causa quanto a organização das residências, a falta de

saneamento básico, falta de água e de diversas estruturas. Dessa realidade

coletada, distribuímos nossas análises em três capítulos: no primeiro fizemos um

resgate histórico da migração no país e na cidade de Rio das Ostras. No segundo

capítulo fizemos uma análise da economia da região, frisando o fator dos royalties.

No terceiro capítulo e último capítulo apresentamos os dados coletados através das

entrevistas com os usuários do projeto Começar de Novo, buscando compreender

os motivos da mudança para o município de Rio das Ostras em busca de emprego.

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E por fim, as considerações finais, vamos recuperar a hipótese que é a base

central desse Trabalho de Conclusão de Curso, que é o fator migratório.

Destacaremos nossas impressões e análises de tudo o que foi observado no

decorrer desse trabalho.

Essa pesquisa se faz relevante para demonstrar que os entrevistados e as

pessoas vêm para a cidade de Rio das Ostras em busca de emprego, devido as

divulgações na área de petróleo e gás, supondo que a cidade oferece uma gama de

oportunidades de emprego.

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1 MIGRAÇÃO: RESGATE HISTÓRICO E ECONÔMICO

“Voltando no tempo e no espaço, o passado torna agora a acontecer,

contado e cantado no compasso deste hino feito para enaltecer

a cidade florescente, que um dia teve as raízes plantadas neste chão,

regadas pelo sangue dos nativos pertencentes à nação dos heroicos goitacazes!”1

O objetivo deste capítulo é fazer um resgate histórico da história do

município de Rio das Ostras, assegurando uma apropriação do tema debatido. Para

isso vamos desenvolver o conceito de História visto sob o prisma de Lima (1998,

p.15) que diz que a “História é uma ciência que se renova a cada dia, a cada

documento novo que é descoberto”. O que a autora nos diz é que a cada dia um fato

novo pode ocorrer e que a História passa a ser cíclica, e que tudo o que vemos

diante de nossos olhos pode-se constituir como um fato histórico. Claro que, se tudo

não for notificado e descrito, essas referências podem-se perder ao longo do tempo.

Para desenvolver a história sobre Rio das Ostras não foi diferente, pois

foram consultadas várias obras, inclusive as regionais, sobre a história do município

fluminense. A cidade de Rio das Ostras aparece sempre relacionada às cidades

próximas a ela, devido ao fator petróleo, textos sobre as cidades de Macaé,

Campos, Cabo Frio, fazem referência à cidade de Rio das Ostras. Lima (1998, p.16)

relata que

Devido ao fato da cidade se encontrar próxima a esses centros; por ficar na “fronteira” nunca estabelecida definitivamente das Capitanias Hereditárias e de diversas sesmarias; devido a ser um local só tardiamente elevado à condição de cidade – o que fazia com que não fosse incluída em relatórios oficiais, aparecendo sempre como pertencente ora a Macaé, ora a Casemiro de Abreu, ora à Capitania de São Vicente, ora à de São Tomé; e

1 Hino oficial do município de Rio das Ostras. Letra e Música: Íris Galvão. Disponível em:

http://www.riodasostras.rj.gov.br/multimidia.html, acesso em 10 de junho de 2013.

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consequentemente por jamais, ter tido seus documentos reunidos em um arquivo público sob uma referência única; Rio das Ostras pode ser considerada um lugar privilegiado para a pesquisa de um historiador.

Com isso, a cidade de Rio das Ostras serviu por muito tempo como uma

cidade ‘dormitório’, no sentido de “servir de abrigo aos mais diversos segmentos da

sociedade, sempre acolhendo a todos, fosse um escravo, um senhor de terras, o

Imperador do Brasil” (LIMA, 1998, p.16).

Mas não podemos deixar de referenciar que um povo já existia e habitava a

cidade de Rio das Ostras: os índios. As tribos indígenas eram caracterizadas como

nômades, pois buscavam terras com alta produtividade para seus alimentos e que

possuíam água para consumo, ou seja, buscavam terras férteis de preferência

próximas de rios ou nascentes, e que tivessem condições de caça e de pesca

(LIMA, 1998, p.17). Segundo Darci Ribeiro2

a costa atlântica, ao longo dos milênios, foi percorrida e ocupada por inumeráveis povos indígenas (...). Nos últimos séculos, porém, índios de fala tupi, bons guerreiros, se instalaram, dominadores, na imensidade da área, tanto à beira-mar, ao longo de toda a costa atlântica (...) como subindo pelos rios principais (apud LIMA, 1998, p.17).

Eram povos buscando um meio de vida melhor, e já iniciando o que estamos

propondo nesse Trabalho de Conclusão de Curso, isto é, buscar os diversos

contextos migratórios ocorridos para o município de Rio das Ostras. A cidade de Rio

das Ostras concentrou povos vindos do norte, os chamados Goitacazes e os do sul,

chamados Tamoios3. Os Tamoios do Cabo Frio, como eram chamados, eram

aliados dos franceses e lutavam contra os portugueses, sendo perseguidos pela

Coroa Portuguesa (LIMA, 1998, p.18). Os Jesuítas convenceram os Tamoios a se

entregarem, juntamente com os capitães que lutaram junto aos portugueses em

troca de terras tanto em Rio das Ostras quanto no Norte Fluminense (LIMA, 1998,

p.18). Já os Goitacazes4 foram considerados índios guerreiros e habitavam o Sul da

2 RIBEIRO, Darci. O povo brasileiro: A formação e o sentido do Brasil. Rio de Janeiro: Cia das

Letras, 1995. 3 O nome Tamoio significa avô ou ascendente entre as tribos Tupis; em Tupinanbá seu significado é

pai e em Tupiniquim, sobrinho (LAMEGO, Alberto Ribeiro. O Homem e a Restinga. Rio de Janeiro: Lidador, 1974 apud LIMA, 1998, p.18) 4 O nome Goitacazes significa índios corredores ou nadadores (LAMEGO, Alberto Ribeiro. O Homem

e a Restinga. Rio de Janeiro: Lidador, 1974 apud LIMA, 1998, p.18).

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19

Bahia até Cabo Frio, sendo considerados senhores de enormes proporções de

terras. Segundo a autora Lima (1998, p.18), por seu estilo arrojado, os Goitacazes

entraram por diversas vezes em conflito com os Tamoios, pois possuíam um estilo

de guerreiros e já estavam acostumados a participar de lutas para conquistarem

mais terras.

No início do Século XVII, os Jesuítas se estabeleceram em São Pedro da

Aldeia, Macaé, Campos e Rio das Ostras com a finalidade de criar aldeias para

catequizar os índios, instruindo-os na cultura europeia e com isso, proporcionou uma

intensa movimentação de tribos5 e povos pelo território brasileiro, trazendo

benefícios e malefícios à cultura indígena, que deixou de lado vários aprendizados

transmitidos pelas suas gerações (LIMA, 1998, p.19). Determinou-se em 1616, que

se fundassem duas Aldeias de Índios, uma no rio de Macaé e outra no rio de

Peruípe, como apoio a cidade que estava sendo formada (SERAFIM LEITE6, 1943,

p.119 apud LIMA, 1998, p.19). Para formar a aldeia em Rio das Ostras, deveriam

constituir-se dos índios Carijós, oriundos de São Paulo, que ao final não foi criada, e

os que vieram foram os índios Goitacazes (TINOCO7 apud LIMA, 1998, p.19).

Podemos confirmar

Os Goitacazes ainda no rio Macaé, conforme carta de concessão de sesmaria dada pela Coroa portuguesa aos jesuítas: “logo derrubou ele [Antônio Fagundes] uma roça de mato daninho, e alimpando uma tapera que fora dos Aitacazes” (CARVALHO

8 apud LIMA, 1998, p.20).

Cabe destacar que o nosso objeto de estudo, o efeito migratório, vem sendo

determinado durante muitos séculos, como método de conquista de várias aldeias e

de vários povos, muitas das vezes perdendo-se sua cultura e seus valores, e

adaptando-se aos valores correntes e ensinados. Mediante os fatos, vários

aldeamentos constituíram essa fase de ocupação da cidade de Rio das Ostras, com

apoio dos Jesuítas, pois precisavam que as tribos se misturassem com as tribos de

5 Além das tribos Tamoios e Goitacazes havia outras tribos circulando pelo norte fluminense: Sacurús,

Coroados, Ganhans, Purís, Botocudos, Guarulhos (LIMA, 1998, p.18). 6 SERAFIM LEITE, S I. História da companhia de Jesus no Brasil. Rio de Janeiro: Inst. Nac. do

Livro, 1943. 7 TINOCO, Godofredo. Macaé: História. Rio de Janeiro: Typ Baptista de Souza, 1962.

8 CARVALHO, Augusto de. Apontamentos para a História da Capitania de São Tomé. Campos:

Typ.Lith. De Silva, Carneiro e Comp, 1888.

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20

outras regiões para que houvesse uma miscigenação, visando o enfraquecimento

dessas tribos e favorecendo o colonizador (LIMA, 1998, p.20). Chega-se a

conclusão, devido aos documentos deixados, que foram os índios Goitacazes que

de fato habitaram a cidade de Rio das Ostras.

A dominação da cultura portuguesa marca a atual denominação “Rio das

Ostras”, sendo a “tradução do primitivo nome indígena ‘iriry’, que significa ostra”

(ALCOFORADO9 apud LIMA, 1998, p.20). Ainda sobre o vocábulo ‘ostra’, segundo

Edelweiss10, “tem suas origens no tupi ‘reri’, que posteriormente se transformou em

‘iriry’ ou ‘yriri’”(apud LIMA, 1998, p.20).

Cabe registrar outro aspecto, que os portugueses ao chegarem ao sul da

Bahia, não tinham interesse de ocupar a costa brasileira logo de início, que segundo

Lima (1998, p.23), essas viagens no início do século XVI, tinham interesses

mercantilistas, como objetivo de atender a burguesia comercial, na busca de ouro e

de produtos de valor para o consumo e mercado europeu. Com isso, o que os

portugueses encontraram foi uma terra rica em matéria-prima, mas de pouco valor

comercial, pois a riqueza maior ainda não tinha sido descoberta: o ouro. Tinham

dificuldade em habitá-la ou povoá-la, pois isso traria altos custos. Mas se não o

fizessem, outras nações o fariam, e assim os portugueses se viram na obrigação de

percorrer e garantir a conquista dessas terras (LIMA, 1998, p.23).

Segundo Lima (1998, p.23), Américo Vespúcio foi o responsável por fazer a

expedição juntamente com Gaspar de Lemos para um reconhecimento da riqueza

da natureza brasileira, constatando a existência de pau-brasil, uma matéria-prima

valorizada na Europa devido ao seu corante vermelho. Os portugueses conseguiram

explorar parte do litoral da Bahia até o sul, pois naquele momento a via de acesso

que lhes permitiam tal fato, era o barco. O norte do litoral do Estado do Rio de

Janeiro permitiu aos portugueses um ponto de estratégia militar para vigiar a entrada

dos intrusos a essa nova terra, permitindo também proteger os barcos no mar

tranquilo da baía de Guanabara. Lima (1998, p.23) afirma que a baía Formosa, entre

Rio das Ostras e Cabo Frio reuniam condições ideais para o abrigo dos barcos.

9 ALCOFORADO, Pedro Guedes. O Tupi na Geografia Fluminense. s.ed. s.d.

10EDELWEISS, F. Estudos Tupis e Tupi-guaranis. Confrontos e revisões. Rio de Janeiro: Brasiliana,

1969.

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Américo Vespúcio retorna em 1503 ao Brasil para uma nova expedição, passando

por Cabo Frio e inserindo Rio das Ostras na história do Brasil, pois precisou avançar

pelo norte do litoral do Rio de janeiro, e consequentemente navegou pelas águas da

cidade.

Durante essa expedição, conseguiram coletar a riqueza das matas

brasileiras: pau-brasil e alguns animais silvestres como, saguis, papagaios e

macacos. Era a riqueza que começava a ser explorada pelos que aqui chegaram e

perceberam os altos lucros que poderiam ter com essa terra praticamente intacta e

desconhecida pela maioria na Europa. Os índios que aqui habitavam também

ficaram atônicos com essa chegada, coletando para os europeus todo o tipo de

produtos valiosos encontrados sem perceber de imediato, que o que os europeus

queriam era escravizá-los (LIMA, 1998, p.24). A facilidade de penetração nas terras

do sertão brasileiro dava aos índios essa liberdade para trazer-lhes o que era

solicitado, permitindo que outras nações (Inglaterra, Holanda e França) viessem em

busca dessas riquezas, o que a autora Lima (1998, p.27) confere o título de pirataria.

Com isso, os portugueses levaram praticamente um século para estabelecer-se de

fato em Cabo Frio “as entradas portuguesas visavam tão somente o lucro da

exploração comercial das matérias-primas e o aprisionamento dos índios” (LIMA,

1998, p.27).

Mediante a esses fatores, as outras nações que aqui visitavam percebiam a

diferença e até um processo de disputa entre os índios e os portugueses, pois

notavam um distanciamento. Para os índios não havia motivos para aproximar-se da

cultura europeia e sim, os portugueses eram os maiores interessados em explorar a

riqueza de uma terra recém-encontrada. Os franceses tentaram também explorar o

país, se escondendo em Cabo Frio, com o objetivo de acolher os protestantes

perseguidos na França e recebendo o apoio dos índios Tamoios de Cabo Frio que

eram seus aliados (LIMA, 1998, p.28). Durante todo esse período as águas de Rio

das Ostras acolheram e aportaram os barcos dessa expedição. Lima retrata que “do

ponto de vista do índio brasileiro, não havia diferença entre piratas e colonizadores”

(1998, p.28), pois todos exploravam e levavam as riquezas da natureza das matas

brasileiras.

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Chefiada por Martim Afonso de Souza, o governo português envia uma

expedição para ocupar definitivamente o território brasileiro, repartindo o Brasil em

quinze Capitanias Hereditárias, recebendo os portugueses o título de donatários,

pois possuíam todos os poderes por tal terra recebida através dos documentos

Carta de Doação e Carta Foral (LIMA, 1998, p.31). A primeira Carta, a Coroa

Portuguesa concedia a propriedade ao dono ou donatário. E a segunda Carta, tinha

como principal característica “suprir a ausência de costumes locais” (CÂMARA11

apud LIMA, 1998, p.31). O tipo de Foral

mais utilizado no Brasil foram as Cartas de Povoação. Com elas, os capitães podiam conceder Sesmarias, ao mesmo tempo em que se obrigavam a pagar os devidos tributos a Portugal – pois os donatários tinham a posse da terra mas a propriedade pertencia ao governo português (LIMA, 1998, p.31).

Segundo Fausto (2009, p.78) na Capitania de São Vicente,

Martin Afonso foi sócio, com portugueses e estrangeiros, de um engenho que talvez tenha sido o maior do sul do país – o São Jorge dos Erasmos -, nome derivado do alemão Erasmo Schetz, que o comprou dos sócios originais. Hoje, existem apenas ruínas do engenho. A produção de cana no Rio de Janeiro, especialmente na região de campos, teve também expressão, mas até o século XVIII a cachaça e não o açúcar foi o principal produto obtido, sendo utilizada sobretudo como moeda de troca no comércio de escravos com Angola.

Com isso, havia algumas regras como, os frutos da terra e os peixes, uma

parte das pedras preciosas, e também não podiam comercializar escravos, pois

pertencia a Coroa Portuguesa, mas eram permitidos o recolhimento dos impostos

dos moradores de sua capitania, fazer certas nomeações e decidir conflitos e crimes

(PARADA12 apud LIMA, 1998, p.32). Cabe lembrar, que o Estado do Rio de Janeiro

se dividiu em duas Capitanias: a de São Vicente e de São Tomé. A primeira

começava em Cabo Frio e se estendia até o Paraná. Já a segunda, atingia as águas

do Espírito Santo. Cabe registrar outro aspecto importante, que Pero Góes a quem

pertencia essa Capitania, chegou a estabelecer-se em Campos dos Goitacazes

ocupando e estabelecendo a cultura da cana-de-açúcar na região. Assim,

11

CÂMARA, José Gomes B. Subsídios para a História do Direito Pátrio. Rio de Janeiro: Brasiliana,

1964. 12

PARADA, Antônio Alvarez. Histórias da Velha Macaé. s.ed. s.d.

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concluímos que o norte fluminense foi colonizado pelos portugueses que dividiram

as terras em duas capitanias, não se esquecendo de que diversas áreas deixaram

de ser ocupadas, servindo como passagem para as expedições.

Depois da exploração da mata brasileira, foi o açúcar que despertou o

interesse nas terras do norte fluminense, levando ao povoamento da região de

Campos. O gado também foi a outra grande atividade desenvolvida nessa região,

levando os tropeiros a passar por regiões como Rio das Ostras, pois consideravam

como sendo regiões seguras, levando a paradas para alimentação e para o

consumo e reserva de água. Como fica evidente, a partir dessas incursões de

tropeiros foram se estabelecendo nessas regiões de passagens, comerciantes para

atenderem aos viajantes que por aqui passavam. Com isso, houve a possibilidade

de cobrança de impostos por parte do Governo Português, com intuito de liberar

policiamento para uma melhor travessia dessas regiões, como diz “as sesmarias de

Campos, todas, foram concedidas com a cláusula de ficar reservada meia légua em

quadra às margens dos rios, que precise de barca para atravessar” (FEYDIT13 apud

LIMA, 1998, p.35). Saint-Hilaire14 diz que “deixando Macaé, atravessei, em piroga o

rio. O pedágio é cobrado pela administração da cidade à razão de 40 réis por

pessoa” (apud LIMA, 1998, p.35). A grande diferença para o rio das Ostras quanto à

navegação era a dimensão, pois outros rios permitiam atracar barcos de médio porte

devido sua extensão, já o rio das Ostras era considerado pequeno e com pouca

profundidade dificultando essa navegação. Desde então, as travessias ficavam

restritas aos tropeiros conduzindo o gado, o que lhes permitiam amplo acesso sem

fiscalização. Por isso, Rio das Ostras desenvolveu sua cidade com menos

habitantes em relação àquelas cidades próximas aos grandes rios permitindo-se ao

abrigo de pequenos comerciantes, de piratas, de fazendeiros e de uma pequena

população que vivia praticamente em contato com as outras capitanias, através da

passagem dos tropeiros.

Rio das Ostras era considerado um arraial, pois em 1767 a “Carta da

Capitania elaborada por Manoel Vieira Leão indicava a existência de duas cidades:

13

FEYDIT, Júlio. Subsídios para a História de Campos dos Goitacazes. Desde os tempos

coloniais até a Proclamação da República. Campos: J Alvarenga, 1900. 14

SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem pelo Distrito dos Diamantes e Litoral do Brasil. São Paulo:

USP, 1974.

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São Sebastião e Cabo Frio, e cinco Vilas: São Salvador, São João da Barra, Parati,

Angra dos Reis e Macacú” (SANCHES15 apud LIMA, 1998, p.36), o que se fazia

necessário povoar e explorar essa vasta extensão de terras, através do que se pode

chamar de sesmarias, pois possuía a capacidade de limite de fazendas e de

capitanias, constituindo-se como uma reserva de terras a serem doadas. Essa

doação partia dos portugueses como uma forma de retribuir os favores prestados e

Lima (1998, p.36) indica que Rio das Ostras teria sido doada ao filho de Araribóia16.

Essa era uma prática comum no Brasil, ou seja, remanejar índios e dar-lhes

extensões de terras fortalecendo os domínios portugueses, além de indicar

lideranças religiosas, no caso os Jesuítas através de José de Anchieta, para

catequizar esses índios, principalmente os Goitacazes. Por isso, as terras de Rio

das Ostras foram divididas em sesmarias, que quer dizer ‘área fronteira ao mar’, e

seus donos obrigados a pagar o dízimo à Ordem de Cristo, “essa doação abrangia a

parte da capitania compreendida entre o rio Macaé, correndo a costa até o Rio

Iguaçú no norte do cabo de São Tomé” (PEIXOTO17 apud LIMA, 1998, p.40). Essas

terras de Rio das Ostras foram objeto de grande disputa, passando a “se invocar o

rio das Ostras como o limite de terras em litígio” (LIMA, 1998, p.41).

Segundo Lima (1998, p.48) “a partir de 1731, Rio das Ostras ficou sob a

jurisdição de Cabo Frio, o que para efeitos legais significa que pertencia à Capitania

de São Vicente”, mesmo que suas terras pertencessem a Capitania de São Tomé.

Desde então, as terras de Rio das Ostras sofreram várias divisões. A autora ainda

afirma que, “durante esses 120 anos Rio das Ostras pertenceu a Cabo Frio, e está o

fato de que o rio Macaé servia de marco e divisa às Justiças de Campos e de Cabo

Frio” (LIMA, 1998, p.49). Os diferentes interesses em se apropriar de terras

Nunca permitiu que esse limite fosse demarcado. Assim, treze léguas no norte se localiza nos Campos de Iriry e Rio das Ostras pertenceu, então, à Capitania de São Vicente –ou do Rio de Janeiro- , e somente um curto período pertenceu a São Tomé, subordinação essa nunca reconhecida legalmente (LIMA, 1998, p.49).

15

SANCHES, Marcos Guimarães. Proveito e Negócio: regimes de propriedades e estruturas

fundiárias no Brasil, o caso do Rio de Janeiro entre os Séculos XVIII e XIX. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997. 16

Araribóia recebeu as terras de Niterói por ter lutado contra os índios Tamoios de Cabo Frio e os

franceses pela conquista do Rio de Janeiro para os portugueses. 17

PEIXOTO, Dídima de Castro. História Fluminense. Niterói: s.ed, 1969.

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Rio das Ostras só aparece nos documentos históricos como arraial a partir

do século XIX, possuindo até então como um ponto de referência aos fazendeiros e

tropeiros que por ali passavam. Nos mapas da época, tem-se referenciado a

passagem pelo rio, que por muitas vezes se tornava complexo e difícil para a

travessia com o gado e com mercadorias, e a partir daí, como em outras cidades,

desenvolveria um povoado. Muitas sesmarias foram doadas em Rio das Ostras

servindo-se como fazendas para a criação de gado e para pequenas plantações ao

povoado local. As doações se fizeram por se achar diversas terras abandonadas

(LIMA, 1998, p.57). Assim, Rio das Ostras no século XVIII, afirmou-se como uma

região onde se viam várias fazendas particulares. Atualmente, quando se tem um

loteamento de casas na cidade de Rio das Ostras, se observa em sua escritura o

antigo nome, como ‘loteamento’ ou ‘fazendas’.

Ao início do século XIX, Rio das Ostras despontou como um vilarejo e

começou a apresentar suas construções e suas próprias atividades, como a pesca e

a agricultura no cultivo da mandioca para consumo próprio. Como construção

importante, deram origem a Igreja Católica, próxima ao local onde atualmente está

construída a Igreja de Nossa Senhora da Conceição. A referência mais precisa da

data de construção da Igreja de Rio das Ostras encontramos nessa citação

A navegação de cabotagem do município também sulca as águas do Rio das Ostras, a cuja margem se encontra povoação próspera na qual, dês 1862, se ergue o templo sob o orago de Nossa Senhora da conceição (ESCRAGNOLLE DORIA

18 apud LIMA, 1998, p.61).

Segundo a Fundação Rio das Ostras de Cultura19 (1997 apud GOMES;

QUINTO JUNIOR, 2010, p.147), na década de 1930 havia poucas residências em

Rio das Ostras, sendo que “as primeiras casas eram de sapê, apenas uma era de

alvenaria e telhado de barro, de estilo colonial, talvez construída na mesma época

da igreja e do cemitério, pelos jesuítas” (idem, 2010, p.147). Para a ampliação da

cidade, parte do mangue foi aterrado para a construção de casas, dando formação a

uma pequena aldeia de pescadores, que sobreviviam principalmente das ostras

pescadas.

18

ESCRAGNOLLE DORIA. Terra Fluminense. Rio de Janeiro: Typ. D’a Encadernadora, 1929. 19

FUNDAÇÃO RIO DAS OSTRAS DE CULTURA. Rio das Ostras:Terra dos Peixes. Prefeitura Municipal de Rio das Ostras, 1997.

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Mediante esses fatores, Rio das Ostras passou a despontar primeiro como

arraial, depois como vilarejo até se tornar uma cidade. Lembrando também que as

paróquias “eram depositárias de todos os documentos feitos para selar atos

jurídicos, nascimentos, casamento, votações, censo” (LIMA, 1998, p.65), sendo as

visitas eclesiásticas responsáveis pela confecção de minuciosos relatórios. Nesses

relatórios eram descritas as paisagens e as famílias que por ali viviam, bem como as

rotas de Rio Dourado, Macaé e São João, além da descrição da enorme quantidade

de barcos aportados no rio das Ostras. Era Barra de São João que arrecadava os

impostos dessas regiões, sendo cobrados dos comerciantes da região e onde os

votantes compareciam as urnas para votar. Todas essas informações trouxeram um

avanço econômico para a região, fazendo surgir diversas vilas e povoados, criando

estradas, portos, comércio e ferrovias. Com a cultura do café, fez-se necessário

agilizar a construção de estradas para escoamento da produção e também de

ferrovias, onde se tem relato da passagem por Rocha Leão, o escoamento da

produção de café (LIMA, 1998, p.71). Segundo Lima

Rocha Leão deve o seu desenvolvimento à ferrovia que a atravessa, cuja lembrança se conserva na Estação Ferroviária. Se os caminhos por terra eram difíceis, a ferrovia trouxe uma constância nos contatos dessa região com o Rio de Janeiro, encurtando as distâncias e propiciando o progresso por onde passava (1998, p.71).

Faz-se saber que o índio foi importante para a construção e o povoamento

da cidade, mas nunca se adaptou a captura, ou seja, nunca se permitiu tornar

escravo e também por conhecerem a região muito bem, as suas fugas eram

facilitadas pelo conhecimento que tinham dessa região. Assim sendo, foram trazidos

o negro africano que se adaptava facilmente a esse tipo de cultura e aqui eram

levados ao trabalho na lavoura. A revolta sempre se fez presente e com isso as

fugas eram frequentes, onde se refugiavam nos quilombos nas serras fluminenses.

Nas matas da região de Macaé e de Cantagalo, segundo Lima,

Ficava o quilombo mais famoso, o Quilombo dos Três Picos, ou Quilombo do Santo Antonio do Ouro, onde, ‘alguns mulatos de baixa instrução procuravam seduzir os escravos para se sublevarem’ (PIZARRO E ARAUJO

20 apud LIMA,1998, p.81).

20

PIZARRO E ARAUJO, José de Souza Azevedo. Memórias Históricas do Rio de Janeiro. Rio de

Janeiro: Imprensa Nacional, 1945.

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1.1 Quilombos

No século XVIII, o governo pensou em destruir esses quilombos das serras

fluminenses, primeiro para que servisse de exemplo aos demais negros, segundo

que a formação desses quilombos colocavam em risco a coleta do dízimo real e dos

impostos na área da mineração e terceiro, para impedir a ação dos contrabandistas

(LIMA, 1998, p.81). Eram grandes as fugas dos negros para a região de Rio das

Ostras e Barra de São João segundo os jornais da época relatavam, sempre se

refugiando nos sertões de difícil acesso. A partir de meados do século XIX, a

escravidão não era bem vista aos olhos do mundo, forçando Brasil a abolir esse tipo

de escravidão. O Brasil, no entanto, aboliu o comércio de escravos, mas não acabou

de imediato com a escravidão dentro do país. Assim sendo, os escravos eram

utilizados para a construção de casas e monumentos, assim como para o serviço

doméstico. Devido a esse fator, as cidades foram se desenvolvendo e crescendo

assim como Rio das Ostras. O negro era trazido ilegalmente e os próprios

comerciantes os escondiam das autoridades.

Enfim, não perdendo o motivo da pesquisa sobre a migração ocorrida na

cidade de Rio das Ostras, desenhava-se a partir de relatos da existência de uma

praia do centro, onde ficava a Igreja de Nossa Senhora da Conceição e uma fonte

de água potável que abastecia a região e sua população. Próxima a essa fonte,

existia um local onde os escravos eram escondidos e traficados. Era um local de

acesso e de parada obrigatória para os viajantes e navegadores, onde descreviam a

fauna e flora exuberantes e encantadoras que aqui existia. O nome do rio vem da

grande quantidade de ostras existentes em sua baía, e que eram consumidas

cozidas, e não cruas como de costume atualmente. Rio das Ostras teve importância

histórica como um local que serviu de abrigo para os navios, proteção para os

visitantes e servindo de esconderijo para os traficantes de escravos. Além de

permitir visitas históricas, como a da Corte Imperial, permitiu-se a ser um referencial

para limites de fronteiras. Para a formação de vilas houve a distribuição das

sesmarias aos índios e colonos portugueses. Rio das Ostras “como uma verdadeira

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ostra, guarda seus segredos (...) uma praia tranquila, um rio pequeno, uma enseada

protegida” (LIMA, 1998, p.93).

E partindo do princípio da pesquisa, Rio das Ostras demonstra uma grande

tradição em receber migrantes de diversas partes, para usufruir de suas riquezas e

de sua beleza.

1.2 Rio das Ostras e seu momento de transformação

Nesse tempo, o município de Rio das Ostras passou por um momento de

intensas transformações. A começar pelo seu processo de urbanização de uma

cidade em formação tão recente, constituindo-se de uma parte turística e uma

industrial com o apoio da cidade de Macaé, sendo que o território de Rio das Ostras

começou a ser dividido em loteamentos na década de 1950, voltados principalmente para o turismo. A grande maioria dos loteamentos foi criada na década de 1970, principalmente a partir da descoberta de petróleo na Bacia de Campos, porém a ocupação deles teve seu boom na década de

1990” (GOMES; QUINTO JUNIOR, 2010, p.141-2).

O processo de reestruturação produtiva no estado do Rio de Janeiro esteve

amplamente ligado ao setor industrial até o início do século XX, “devido aos amplos

investimentos por abrigar, a princípio a capital da Colônia e, posteriormente, a do

Império; e pouca industrialização nos municípios que hoje formam a região

Metropolitana do Rio de Janeiro e no interior do Estado” (OLIVEIRA21 apud GOMES;

QUINTO JUNIOR, 2010, p.143). Já a população das regiões do norte do Rio de

Janeiro, apresentava-se concentrada na área rural. Mas a partir da década de 1950

esses municípios passaram por um processo de crescimento populacional devido

aos grandes investimentos vindos do governo federal, tais como rodovias e

indústrias.

21

OLIVEIRA, F. J. G. de. Reestruturação produtiva, território e poder no Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Garamond, 2008

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Observa-se que na Tabela 1, a população de Rio das Ostras, entre as

décadas de 1950 e 1970, residia em sua grande maioria na área rural. Na década

seguinte observa-se o contrário, devendo-se também aos investimentos na área do

petróleo que começavam a ocorrer no norte fluminense do estado.

Tabela 1: População residente, por situação do domicílio22

.

Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, Censo Demográfico, 2000.

Esse elemento responde ao nosso objeto de estudo, o fator migratório, já

que entre as décadas de 1970 e 1980 há um aumento de mais de cinco vezes a

população existente entre essas décadas. Isso demonstra o efeito migratório

ocorrido na cidade de Rio das Ostras.

Outro fator importante “para a ocupação do território norte fluminense é a

Reestruturação Produtiva, baseada em novos segmentos produtivos e em novas

tecnologias” (GOMES; QUINTO JUNIOR, 2010, p.144). Com investimentos nas

cidades do norte fluminense, a população começa a habitar essas áreas, formando

novos municípios, como foi o caso de Rio das Ostras, no desmembramento com o

município de Casimiro de Abreu. Ocorre um amplo desenvolvimento no mercado

22

Tabela extraída da fonte: Boletim do Observatório Ambiental Alberto Ribeiro Lamego, Campos dos Goytacazes/RJ, v. 4 n. 1, jan. / jun. 2010, p.143.

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imobiliário e na construção civil ano 2000, supervalorizando os imóveis da região, e

aumentando o potencial turístico da cidade.

Gomes e Quinto Júnior informam que para compreender melhor “a formação

e a ocupação de Rio das Ostras, deve-se primeiro conhecer os ciclos econômicos

da Bacia de Campos” (2010, p.144). A região da Bacia de Campos

passou por três ciclos econômicos, sendo os dois primeiros ligados à produção sucroalcooleira, no século XIX e no início do século XX; e o terceiro ciclo relacionado à exploração e à produção de petróleo e gás, já na segunda metade do século XX, perdurando até hoje (SILVA e CARVALHO

23, 2004 apud GOMES; QUINTO JUNIOR, 2010, p.144).

Prado Júnior (2008, p.40) referencia a região dos Campos dos Goitacases

Embora afastados do mar cerca de 30 km, e dele apartados por uma zona de lagunas e terras baixas e alagadiças, não só inaproveitáveis mas ainda de difícil trânsito sem obras preliminares de certo vulto, os Campos oferecem tais condições favoráveis – relevo unido, solo fértil, vegetação natural que não obstrui a passagem ou dificulta a ocupação -, que desde o séc. XVII começam a ser intensamente aproveitadas, primeiro pela pecuária, que constitui sua atividade econômica pioneira, servindo de abastecedouro do mercado próximo do Rio de Janeiro; depois pela agricultura, vindo a cana tão bem no seu “barro fino, branco ou loiro”, como nos massapés baianos ou pernambucanos. Na segunda metade do séc. XVIII seu progresso é acelerado: 55 engenhos em 1769; 163 dez anos depois; 278 em 1783; e finalmente, 328, compreendidos 4 de aguardente em 1799. Os obstáculos que os arredam do mar não são para os Campos dos Goitacases de grande monta; o rio Paraíba francamente navegável por pequenas embarcações nos 42 km que separam do mar seu centro principal, a vila de São Salvador, hoje cidade de Campos, põe-nos em contacto fácil com o mundo exterior; cerca de 50 embarcações andavam aí a carga, transportando para o Rio de onde se reexportavam para fora da colônia as 8.000 caixas de açúcar da sua produção exportável.

Relembrando para compreender melhor, que entendemos que os três ciclos

foram de vital importância na formação do município de Rio das Ostras, mas sem

dúvida o terceiro, relacionado à exploração de petróleo, foi de fato o mais

importante. O primeiro ciclo teve início no século XVI, quando o Brasil foi dividido em

Capitanias Hereditárias. O segundo ciclo teve início com a criação e na divulgação

23

SILVA, R. C. R. S. da; CARVALHO, A. M. Formação Econômica da região Norte Fluminense. In: PESSANHA, R. M.; NETO, R. S. Economia e desenvolvimento no Norte Fluminense: da cana-de-açúcar aos royalties do petróleo. Campos dos Goytacazes, RJ: WTC Editora, 2004.

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31

do projeto ‘açúcar e álcool’, onde a cidade de Campos dos Goytacazes se tornou a

maior produtora de açúcar do Brasil. O terceiro ciclo é marcado pela descoberta do

petróleo e gás, contribuindo para a economia e a formação dos municípios

fluminenses como: aumento na receita a partir da distribuição de royalties;

surgimento de novos municípios a partir da emancipação e aumento da oferta de

emprego (GOMES; QUINTO JUNIOR, 2010, p.144).

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32

2 O MUNICÍPIO DE RIO DAS OSTRAS E REGIÃO NA ATUALIDADE

“Rio das Ostras! Terra dos Peixes da Vila Rainha,

que conservou a pureza que antes tinha...

Que toda a glória da Coroa que lhe foi imposta

preserve a história da resistência e do valor!

Cidade-mãe”.24

Cabe destacar, que o nosso objeto de estudo sendo a migração, proponho a

reflexão à cerca desse aumento populacional e as relações sociais que compõe

essa discussão. As relações de dominação, de opressão que se fortaleceram no

Brasil e que sofrem reflexo até hoje no município de Rio das Ostras, município

recém municipalizado e que se observa traços da política colonialista, patriarcal, e

onde o coronelismo e o clientelismo opera como bem comum, aliando sim aos

interesses privados de certos grupos, e com isso, mantendo-se no poder e

revezando-se nele, para a manutenção política e econômica, ou seja, imperando

com o espaço conservador dentro de uma sociedade que se acha livre.

Com o aumento da receita, através dos royalties25, os municípios litorâneos

da Bacia de Campos foram os maiores beneficiados.

Os royalties significavam, antes de qualquer coisa, uma fonte permanente de recursos que não as tradicionais, que eram setoriais, dirigidas e monopolizadas por grupos sociais minoritários e utilizadas de forma pouco distributiva em termos territoriais, econômicos e sociais, e totalmente reguladas, em fluxo e volume, pelas relações entre as elites agroindustriais e as autoridades federais reguladoras da atividade. Mas, acima de tudo, eles significavam a mudança do controle dos recursos estratégicos. E, a partir de 2000, com um salto impressionante no volume do royalties [...], acrescido das participações especiais, os municípios se consolidam, definitivamente, como os atores locais e regionais com maior poder de fogo

24 Hino oficial do município de Rio das Ostras. Letra e Música: Íris Galvão. Disponível em:

http://www.riodasostras.rj.gov.br/multimidia.html, acesso em 10 de junho de 2013. 25

Até a legislação de 1986, o termo utilizado para o pagamento proveniente da exploração de petróleo e gás era indenização. A partir da Lei 7.990 de 1989, o termo passou a ser compensação financeira. Somente com o advento da Lei 9.478 de 1997 (Lei do Petróleo), que o termo royalty foi consagrado e definido pelo Decreto n° 2.705 de 1998 (SERRA, 2005 apud TINOCO; LUSTOSA 2008).

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33

financeiro para dinamizar a economia regional. (PAGANOTO26

, 2008, p. 26 apud SIRELLI et al, 2012, p.193 – grifos no original).

Rio das Ostras e outros municípios conseguem sua emancipação, no caso

de Rio das Ostras a emancipação do município de Casimiro de Abreu em 1992, e já

começa apresentar um índice de crescimento acima do PIB, em virtude do repasse

dos royalties. Esse dinheiro27 extra, vindo do petróleo, poderiam ser destinados às

políticas públicas, como um meio de garantir uma melhor condição de vida a

população.

2.1 A economia da região e de Rio das Ostras

2.1.1 Pesca

A colônia de pescadores no Brasil teve seu início quando o Brasil era colônia

de Portugal. A primeira colônia foi fundada em 1818 na Enseada das Garoupas no

Estado de Santa Catarina e era administrada pela Marinha Portuguesa.

O Brasil deixa de ser colônia de Portugal em 1822, mas somente em 1918

que o governo volta suas atenções para a pesca, porém havia um interesse: a

Marinha do Brasil neste período, segundo Ramalho (2012) passava por uma

situação de desgaste de ordem orçamentária por conta de não aderirem de início a

Proclamação da República. Portanto, no início do Século XX, necessitava criar

alguns planos para recuperar seu prestígio, um deles era a nacionalização da

Pesca, que iria controlar toda a região costeira do país, mas Ramalho (2012) vai

sinalizar que este fator é de ordem econômica.

A nacionalização da pesca era justificada por fatores econômicos, uma vez que o não desenvolvimento industrial do setor pesqueiro sempre havia

26 PAGANOTO, F. Mobilidade e trabalho em Macaé/ RJ, a “capital do petróleo”. Dissertação

(Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UFRJ/PPGG, 2008. 27

Tramita pelo Congresso Nacional, que o repasse dos royalties do petróleo sejam destinados à educação e à saúde (julho/2013).

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levado consecutivas vezes, o governo a adotar políticas de importação de enormes quantidades de pescado, para satisfazer as necessidades da nossa crescente população nos centros mais urbanizados (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador). Ademais, buscou-se retirar do controle dos pescadores estrangeiros a força que eles tinham no setor em âmbito nacional, obrigando-os, no mínimo a naturalizarem-se brasileiros, “principalmente portugueses (poveiros)” (PAIVA

28, 2004, p.53 apud

RAMALHO, 2012, p.2-3).

E para efetivar a nacionalização da pesca era necessário um número de

efetivos para a vigilância do litoral e dos rios brasileiros, e a Marinha não tinha

efetivos suficientes. Nesta direção, reconhece o pescador como o sujeito mais

indicado a efetuar estas áreas de vigilâncias do litoral e dos rios, por eles serem o

indivíduo com mais conhecimento da área.

As colônias foram criadas como uma associação de pessoas ligadas à

pesca e não como sindicato, portanto no início eram chamadas de ‘colônias de

pesca’ e não colônias de pescadores, como já sinalizado acima. Os militares tinham

como objetivo principal organizar os pescadores para contribuir no sistema de

defesa costeira, e mais do que defender os interesses econômicos e sociais da

categoria. As colônias de pescadores foram por um longo período controlado por

agências do Governo Federal e os presidentes das colônias eram indicados pelos

políticos municipais ou oficiais do Governo Federal. Neste período, os Estatutos das

colônias eram aprovados por decreto do Ministério da Agricultura e estavam

vinculados ao marco autoritário do período ditatorial.

Não podemos classificar a formação das colônias de pescadores em seus

primórdios como um movimento social, pois embora apresentassem necessidades

de ordem social elas respondiam aos meros desígnios do capital. Segundo Marro

(2010, p.2)

[...] o processo de constituição da classe trabalhadora como movimento social no cenário posterior às rebeliões europeias de 1848 significa que ela não denota apenas uma posição de exploração na estrutura social (o que na linguagem marxiana pode se compreender como “classe em si”). Muito mais que uma aglomeração amorfa de indivíduos trabalhadores (que compartilham o fato de ter apenas sua força de trabalho para vender), o processo de formação da classe a partir dos experimentos organizativos do movimento operário no século XIX expressa que ela vai se constituindo como movimento social no sentido da construção dos trabalhadores como

28 PAIVA, Melquíades Pinto. Administração pesqueira no Brasil. Rio de Janeiro: Editora

Interciência, 2004.

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35

sujeitos protagonistas da história: os trabalhadores como “classe para si”, como classe que a partir do seu processo de auto-organização deixa de responder a um mero designo do capital (sua posição subordinada na estrutura social), para passar a existir para si mesma, como sujeito político.

Ramalho (2012, p.7) demonstra bem a impossibilidade da participação

popular no período acima citado:

A Colônia de Pesca, mais do que uma necessidade de uma categoria foi, de fato, um instrumento do poder público, que condenou durante décadas o processo de participação popular. O mesmo se dando com as federações estaduais e confederação nacional dos pescadores. Além disso, nesse período, como responsável por cada área em que se situava as colônias, emergiu a figura do capataz vinculado à Capitania dos Portos, que tinha o papel de cobrar taxas aos pescadores relativas às suas embarcações (canoas, jangadas e bateiras) e exigir deles a obrigatoriedade de associarem-se.

O processo desenvolvimentista fez com que se acirrassem as expressões da

“questão social” para os pescadores artesanais. Mediante a este cenário vivenciado

pelos pescadores, podemos afirmar que tal acirramento levou-os a criarem

estratégias de luta, pois estavam em uma condição antagônica a dos que detinham

condições de se transformar em pescador industrial, logo a “questão social” fora

primordial para o surgimento de uma mobilização no seio das colônias. Os

pescadores com apoio do Conselho da Pastoral e das ONG’s, em 1985 criam um

movimento denominado Constituinte da Pesca, movimento que tinha como principal

objetivo a articulação dos pescadores na busca de garantia de mudanças na

legislação e a transformação das colônias de pescadores em sindicatos, este

movimento foi o resultado do artigo 8º da Constituição Brasileira de 1988, que

finalmente equipara as Colônias de Pescadores aos sindicatos dos Trabalhadores

Rurais.

A partir de pesquisas em livros sobre a história de Rio das Ostras, podemos

perceber que o município atual, no século XIX era conhecido como Baía Formosa.

Com o crescimento ao redor da Igreja Católica e do poço de pedras, o arraial servia

de rota para os tropeiros e comerciantes. No início do Século XX, Rio das Ostras era

conhecida por Terras de Peixes, sendo uma simples aldeia de pescadores, obtendo

como principal atividade econômica a pesca.

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36

A construção da Rodovia Amaral Peixoto na década de 50, foi um marco

para o crescimento do atual município, que na época era o terceiro Distrito de

Casimiro de Abreu. No ano de 1992, Rio das Ostras conquista sua emancipação

política e administrativa, ato realizado através de um plebiscito que mobilizou a

maioria dos riostrenses e de políticos partidários.

A partir de diálogos com os pescadores e através de registro em livros de

atas da colônia, podemos verificar alguns fatos relevantes para a nossa abordagem.

A colônia Z-22 foi fundada no dia 03 de novembro de 1990, no então, terceiro

Distrito de Casimiro de Abreu. Foi realizada em Assembleia Geral Extraordinária, e

em seguida a posse do diretor e do corpo administrativo. Objetivavam regularizar a

situação dos pescadores, para o aperfeiçoamento de suas funções.

A colônia foi criada para organizar e regularizar a situação dos pescadores

de Rio das Ostras que buscam apoio estatal e para-estatal, e que desde sua criação

pouco avançaram. Criaram o Estatuto da Colônia Z-22, reivindicaram um posto de

desembarque de pesca; a obra em si foi realizada, mas devido a falta de

equipamentos ainda não está em funcionamento.

Os pescadores não se reconhecem e não se organizam como um

movimento social capaz de mobilização e ir para a luta em prol de objetivos

coletivos, trabalham de forma individual, e nos poucos momentos que se encontram,

e para tratar de interesses individuais, não há expressão de coletividade. No

entanto, observamos que a colônia se organiza em associação e estão em processo

de transição para ser uma cooperativa de pescadores. Diante disto percebemos que

os pescadores não entendem o movimento entre o universal e o rebatimento no

particular, ou seja, que a atual estrutura neoliberal em prática no país, torna o

trabalho dos pescadores subalternizados, sem direitos trabalhistas, e com pouca

intervenção do Estado em questões inerentes a esta classe. Neste viés, a educação

popular se faz necessário nestes espaços, como cita Marro (2012, p.19)

E aqui entra em cena a dimensão pedagógica dos movimentos sociais. Se é condição de realização de uma nova hegemonia a construção de um conjunto de valores e crenças que marchem na contramão das relações sociais vigentes uma intensa batalha cultural capaz de desnaturalizar a barbárie em que se reproduz á vida social.

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37

2.1.2 Rio das Ostras e os royalties

Não podemos deixar de referenciar nossa linha de pesquisa que é o fator

migratório, e para tal, não podemos deixar de tomar como ponto crucial o fator dos

royalties do petróleo, como um dos motivos da vinda dos migrantes para a cidade de

Rio das Ostras, onde riqueza e pobreza caminham juntas: riqueza do petróleo para

alguns e desigualdades sociais para outros.

Segundo Cruz (2003, p.3) a partir da década de 70 do século XX

a meso-região Norte Fluminense - NF, no norte do estado do Rio de Janeiro, sofreu a intervenção de dois grandes projetos econômicos nacionais – a implantação do Proálcool e a extração do petróleo da Bacia de Campos, que injetaram elevados recursos em dinheiro e capital fixo na região. No entanto, ao final do século, o NF praticamente desapareceu do mapa da produção sucroalcooleira brasileira, e, apesar de participar com cerca de 80% da produção nacional de petróleo e de seus municípios usufruírem das rendas petrolíferas – royalties e participações especiais – a região se destaca pelos elevados índices de indigência, pobreza, desigualdade social, desemprego e sub-emprego. [...] processo pelo qual as elites regionais se apropriaram, de forma corporativa, restrita, dos recursos dos projetos nacionais implantados na região, no período, através da utilização do regionalismo, que fechou o território, obtendo o monopólio dos mecanismos de exercício da representação política regional e da articulação das escalas de poder. [...] O estudo permite concluir que o processo profundamente restrito, autoritário e excludente, de apropriação e utilização dos recursos aportados ao território do NF, por grandes projetos nacionais, comandado pelas elites agropecuárias e agroindustriais, expresso num regionalismo de caráter conservador, responde pelos mecanismos de produção e reprodução das desigualdades, da pobreza e da exclusão sociais no NF, tendendo a se reproduzir nas novas elites regionais de administradores municipais que gerem as rendas petrolíferas.

Com esse crescimento devido à indústria de petróleo e gás, começam a

surgir ofertas de emprego. Gomes e Quinto Junior (2010, p.146) informam que a

construção civil, o setor de ensino e o setor público apresentaram crescimento significativo na região. Em apenas 9 (nove) anos, o número de postos de trabalho no setor extrativista mineral em Macaé cresce cerca de 2.400 postos. Verifica-se que a construção civil é outro setor que sofre mudanças, chegando a um crescimento maior do que 400% em Macaé.

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38

Continuando nessa linha, conforme pesquisa de Paganoto29 (2008, p.6 apud

SIRELLI et al, 2012, p.191).

,

Aqueles migrantes com qualificação técnica para trabalhar no ramo do petróleo ou nas atividades diretamente ligadas a ele conseguem emprego com certa facilidade, recebem salários acima da média regional e estimulam um processo de especulação imobiliária no vetor de expansão sul do município. Ao mesmo tempo, os migrantes sem qualificação ou não conseguem empregos ou ficam subempregados, engrossando os bolsões de pobreza que crescem em ritmo acelerado, principalmente nas áreas ao norte do Rio Macaé e nas imediações do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba. O crescimento da mancha urbana da cidade baseada na expansão destes dois vetores principais, ao sul – essencialmente constituído por população de alta renda – e ao norte – de população majoritariamente de baixa renda –, mostra o aprofundamento de um nítido processo de segregação sócio-espacial. Configuram-se, nestas condições, enclaves de modernidade, a exemplo dos condomínios exclusivos e bairros nobres, conectados à sociedade local pela exploração de uma mão-de-obra numerosa e barata, que atua, por exemplo, nos serviços domésticos e nos da construção civil.

Nota-se um aumento na procura por emprego na cidade, onde, alguma força

de trabalho é absorvida pela cidade de Rio das Ostras, outras não; devido ao baixo

índice de escolaridade e qualificação, (que será apresentado com melhores dados

no Capítulo III) das pessoas que migram para a cidade. Como informa Sirelli (et al,

2012, p.193) “as vagas de emprego disponíveis exigem um trabalhador flexível,

polivalente e qualificado”, que Antunes (2010, p.22 apud SANT’ANA, 2010) aborda

como “dotado de uma maior realização no espaço do trabalho”. E o que poderá

acarretar a essas pessoas que buscam o ‘ouro negro’, quando chegar o fim dessa

riqueza? Grandes impactos sociais no futuro próximo estão por ocorrer. A demanda

por petróleo está cada vez mais acirrada, e seu consumo frenético.

No concernente ao grau de instrução dos trabalhadores, podemos ver que é preponderante o número de trabalhadores cuja formação é relativa ao ensino médio completo, aumentando de 2.374 em 1990 para 66.254 em 2010. Para que se faça um comparativo, os trabalhadores com ensino superior vão de 2.183 em 1990 para 18.579 em 2010. Percentualmente, em face do total de trabalhadores, teríamos 16% com ensino superior, ao lado de 57,12% com ensino médio. Trata-se de uma diferença que salta aos olhos, que se explica em parte pela exigência fundamentalmente técnica

29

PAGANOTO, F. Mobilidade e trabalho em Macaé/ RJ, a “capital do petróleo”. Dissertação

(Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UFRJ/PPGG, 2008.

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39

das atividades relacionadas ao extrativismo mineral (SIRELLI et al, 2012, p.199).

Araújo (2005, p.3) informa que

os migrantes com capacitação para trabalhar no ramo do petróleo ou nas atividades diretamente ligadas a ele conseguem emprego, recebem altos salários e estimulam um processo de especulação imobiliária (...) enquanto aqueles migrantes desqualificados, em sua maioria, ficam subempregados e engrossam os bolsões de pobreza que crescem em ritmo acelerado.

A partir da década de 1990, a região de Rio das Ostras passa a atrair um

contingente migratório, conforme apresentado na Tabela 2, onde Rio das Ostras

possuía 36.419 habitantes e 14,28% migrantes de outras regiões.

Tabela 2: População migrante residente nos municípios pertencentes à OMPETRO30

.

Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, Censo Demográfico, 2000.

Os primeiros veranistas começaram a ocupar a cidade, ocorrendo à criação

e a divisão da cidade em lotes, pois a região possuía um potencial para o turismo e

também por possuir lindas praias, onde a beleza natural era vista com orgulho. Em

seu entorno começa a crescer uma série de empresas voltadas ao ramo petrolífero,

bem como um amplo comércio para atender aqueles que estavam chegando para

instalar-se na cidade. A instalação da Petrobras na cidade de Macaé em 1978,

acarretou uma nova configuração para as cidades vizinhas. Como diz Sirelli (et al,

2012, p.190), “a pesca e a agropecuária deixaram de ser o alicerce da economia”

30

Tabela extraída da fonte: Boletim do Observatório Ambiental Alberto Ribeiro Lamego, Campos

dos Goytacazes/RJ, v. 4 n. 1, jan. / jun. 2010, p.147.

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40

desde então a força de trabalho se vê inserida no ramo petrolífero, conduzindo a um

novo “rearranjo econômico, político, demográfico e territorial” (SIRELLI et al, 2012,

p.190). As pessoas vêm para Rio das Ostras em busca de uma cidade com a

esperança de novos e melhores dias, com condições de trabalho sustentáveis,

habitação digna.

Ora, essa nova forma de sociabilidade torna-se adequada às necessidades do capital, pois garante a reprodução contínua do trabalho como valor-de-troca; trabalho assalariado, precário, potencializador do aumento da mais-valia e das formas de aperfeiçoamento do fetiche da mercadoria e dos processos de estranhamento/alienação dentro da ordem social do capitalismo (SANTOS; FERREIRA; COUTINHO, 2012, p.4).

Acompanhando esse crescimento desordenado e faltando um planejamento,

a cidade de Rio das Ostras não apresenta em todos os bairros formados

infraestrutura básica, como água, esgoto, equipamento de saúde adequado para

atender a população que a cada dia aumenta, como divulgado sempre pela mídia.

Acompanhando esse ritmo, o aumento da pobreza se torna considerável como

expressões da questão social. Nesse sentido, “é o trabalhador imigrante o primeiro

alvo das políticas adotadas para se conter as reincidentes crises do capitalismo

moderno” (SANTOS; FERREIRA; COUTINHO, 2012, p.5), ocorrendo uma disputa de

força de trabalho migrante e a força de trabalhadores local, devido aos poucos

postos de trabalho existentes.

A saúde do trabalhador e de seus familiares também sofre com o processo

migratório, pois acabam se afastando de seus familiares e entes queridos,

ocasionando depressão, alcoolismo, acidentes de trabalho, diabetes, pressão alta e

doenças respiratórias.

Dentre essas áreas destacamos a saúde mental – devido ao afastamento da terra natal, surgem problemas psicológicos (sobretudo em adolescentes), depressão, alcoolismo; insuficiência alimentar; gravidez de risco e/ou precoce – imigrantes em geral têm filhos mais cedo e prematuros, ressaltando que quanto piores são as condições econômicas e sociais das famílias imigrantes, pior é o estado de saúde e a recuperação da criança; doenças infecciosas - acidentes de trabalho - a maior parte dos trabalhadores imigrantes ocupa cargos de alto risco de acidentes, como a construção civil, que estão sujeitos a traumatismos (e trabalhos geralmente desprotegidos) e; doenças crônicas – problemas de adaptação ao novo ambiente, como o diabetes, doenças cardiovasculares (pressão alta) e respiratórias (SANTOS; FERREIRA; COUTINHO, 2012, p.17),

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41

E assim, referenciamos o processo de emancipação bem como a parte

econômica da cidade de Rio das Ostras, não perdendo o viés que trata o nosso

objeto de estudo, o efeito migratório.

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42

3 A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

“Rio das Ostras! Terra dos Peixes da Vila Rainha,

que conservou a pureza que antes tinha...

Que toda a glória da Coroa que lhe foi imposta

preserve a história da resistência e do valor!

Cidade-mãe de quem nasce ou de quem vem pra ela...

Rio das Ostras, cidade — pérola mais bela!”31

3.1 CRAS – Centro De Referência De Assistência Social

O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) é uma unidade de

política de assistência social, destinada à prestação de serviços e programas

socioassistenciais de proteção social às famílias e indivíduos no seu território de

abrangência, com processos de descentralização e municipalização dos serviços

públicos de assistência em conformidade com a implantação em todo território

nacional, do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e dos Centros de

Referência de Assistência Social (CRAS).

A história da assistência social no Brasil, ganhou status de política pública

somente a partir da década de 1980 com a promulgação da Constituição

Federal/1988 (Art.194, 203 e 204), sendo componente da Seguridade Social, e com

a promulgação da LOAS (Lei Orgânica de Assistência Social) em 1993 Lei 8.742,

alterada pela Lei 12.35 de 2011. O texto da PNAS (Política Nacional de Assistência

Social) foi aprovado pelo CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social), em

setembro de 2004. A regulamentação da PNAS acontece em setembro de 2005 com

a publicação da NOB/SUAS (Norma Operacional Básica do Sistema Único da

Assistência Social). Em 2006, é aprovada a NOB/RH, com o objetivo de

regulamentar a gestão do trabalho no âmbito do SUAS.

31

Hino oficial do município de Rio das Ostras. Letra e Música: Íris Galvão. Disponível em:

http://www.riodasostras.rj.gov.br/multimidia.html, acesso em 10 de junho de 2013.

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43

A realidade que se estabelece no município de Rio das Ostras não foge do

quadro social do conjunto da sociedade brasileira e do panorama mundial. Agrava-

se a questão social e a situação da população, em especial dos trabalhadores. O

desemprego estrutural é a marca do modelo econômico adotado mundialmente

(neoliberalismo) relegando ampla parcela dos cidadãos ao mercado informal e a

situações de miséria.

O município de Rio das Ostras apresenta grande fluxo migratório, que é o

tema principal do nosso trabalho, o que vem agravando o quadro de exclusão social,

pois devido à baixa escolaridade e desqualificação profissional estas pessoas não

são absorvidas pelo mercado de trabalho e somam-se aos munícipes que

compartilham da mesma situação social. Esta população, em sua maioria, se fixa em

terras públicas, áreas de risco, insalubres e ainda de preservação ambiental, sem

nenhuma condição de habitação.

Entendendo que a Assistência Social é um direito e um instrumento que

pode proporcionar a minimização da desigualdade social, e se torna imprescindível a

construção de uma política em nosso município que tenha como objetivo a

transformação deste quadro de exclusão e que proporcione aos seus habitantes

condições dignas de existência.

Os Princípios da PNAS – SUAS são:

universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; respeito à dignidade do cidadão, a sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como a convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade; igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se a equivalência às populações urbanas e rurais; divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistências, bem como dos recursos oferecidos pelo poder público e dos critérios de sua concessão

32.

32

Texto extraído do Plano Municipal para a Assistência Social de Rio das Ostras, gestão 2013.

Mimeo.

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44

O objetivo da PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA – CRAS é prevenir situações de

risco e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários; prover serviços,

programas, projetos e benefícios de proteção social básica e ou especial para

famílias, indivíduos e grupos que deles necessitarem.

O público alvo é a população em situação de vulnerabilidade social

decorrente de pobreza/privação e/ou fragilização de vínculos. Devendo ser

priorizadas as famílias que são Beneficiárias do BPC – Benefício de Prestação

Continuada33 e as Famílias do PBF – Programa Bolsa Família.

3.2 Projeto Começar De Novo

Em janeiro de 2005,

o projeto denominado ‘Baixa Renda’ passou por uma reestruturação. Com aproximadamente 160 usuários inscritos, foi analisado o perfil social destes dando um novo enfoque social ao atendimento do projeto. Ao reescrever o projeto passaram a denominá-lo ‘sócio-alimentar’. A denominação surgiu por se perceber que os usuários que procuram os equipamentos para atendimento são de pouca oportunidade de pertencimento, baixa escolarização e falta de qualificação de mão de obra. Sentimos dessa forma a necessidade de visualizar não só a cesta básica como padrão maior de assistência da SEMBES, mas na promoção do cidadão através de reflexões e ações que são realizadas em pequenos grupos de usuários inscritos no projeto ‘sócio-alimentar’

34.

Esse projeto ‘sócio-alimentar’ se efetiva

quando o usuário consegue encontrar a distância certa entre o que ele tem e o que ele quer ter. Um dos nossos objetivos durante as atividades sócio-

33

É um benefício assistencial, pago pelo governo federal, através do Sistema Único de Assistência

Social (SUAS), e operacionalizado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Não é uma aposentadoria e, portanto, não gera pensão para os dependentes nem pagamento do 13º salário. O benefício deixa de ser pago pelo falecimento do beneficiário, e a família ou representante legal não poderão recebê-lo após a morte do beneficiário, sob pena de ter que devolver a quantia recebida ao INSS.

34 Texto extraído do Plano Municipal para a Assistência Social de Rio das Ostras, gestão 2013.

Mimeo.

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45

educativas é conceder ao grupo a oportunidade através de textos o confronto com a realidade vivida, a que gostaria de ter e as limitações impostas que impossibilitam o alcance de seus objetivos. Através dos textos colocamos em discussão os seguintes assuntos: Constituição, LOAS, Seguridade Social, família, globalização, ECA, educação, auto-estima, reaproveitamento alimentar, higiene pessoal, qualificação profissional, mercado de trabalho, etc

35.

Os objetivos trabalhados durante o projeto foram:

atender ao trabalhador com baixa renda apresentando dificuldades momentâneas; encaminhar usuários desempregados ao Programa de Geração de Emprego e Renda com encaminhamento específico para estimular o seu retorno ao mercado de trabalho; encaminhar para cursos com a finalidade de oferecer condições mínimas para Geração de Renda; encaminhar para outros serviços da rede como Cooperativa da Construção Civil; apoiar às famílias vulnerabilizadas que apresentam um quadro de pobreza crônica, ou seja, sem perspectiva de condições mínimas para alcance da cidadania por falta de saúde, abandono, idade avançada. Estabelecer também contato com outros projetos da Secretaria de Bem-Estar Social e serviços da rede municipal com objetivo de contribuir com a promoção de famílias em situação de pobreza

36.

O Projeto evoluiu com a denominação de ‘Começar de Novo’, onde se

promove ações visando ao alcance da cidadania.

O perfil da população usuária inscrita no projeto “Começar de Novo” tem

características diversas, mas em média residem no município há pelo menos 12

anos. Muitos vieram do interior do estado do Rio de Janeiro (Campos e Itaperuna),

da Baixada Fluminense (Duque de Caxias) e da região serrana (Nova Friburgo),

devido as fortes chuvas, e em sua maioria em busca de melhores condições de

trabalho. Em sua maioria trata-se de mulheres que procuram a assistência social. A

maioria reside em imóvel alugado e como muitos acabam entrando no projeto devido

à falta de trabalho e renda. Sentem-se um pouco desesperadas e muitas acabam

entrando em depressão pelo fato de não terem o dinheiro para pagar o aluguel.

Muitos vêm para o município com a ilusão de melhor trabalho, mas ao chegarem

35

Texto extraído do Plano Municipal para a Assistência Social de Rio das Ostras, gestão 2013. Mimeo.

36 Texto extraído do Plano Municipal para a Assistência Social de Rio das Ostras, gestão 2013.

Mimeo.

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46

constatam que a realidade é outra. Precisam apresentar qualificação e escolaridade,

fato que não ocorre, e acabam caindo na informalidade37.

O Projeto “Começar de Novo” é destinado às pessoas que estejam fora do

mercado formal de trabalho, mas que pretendem voltar a esse mercado. Consiste no

acompanhamento mensal de uma cesta básica, bem como a participação nas

reuniões, onde temas interessantes são debatidos (como: apresentação a uma

entrevista de emprego, encaminhamento ao banco de empregos do município,etc),

além de acompanhamento individual por parte da profissional de Serviço Social. O

usuário permanece no projeto por 6 meses, onde ao final será avaliado se continua

ou não no projeto.

3.2.1 Demandas advindas/relacionadas às expressões da “questão social”

Um reconhecimento teórico que o Assistente Social precisa conhecer e

assimilar é o entendimento sobre a “questão social”. Ao estudar a realidade e fazer

o reconhecimento da “questão social” apresentada pelo usuário, precisa buscar

subsídio dentro das normas da lei, buscando o enfrentamento. Durante a realização

das entrevistas para a coleta de dados para o trabalho foram observados alguns

indicadores sociais como a falta de emprego, a fome, as condições indignas de

moradia, a falta de saneamento básico adequado, a falta de vagas em creches, a

pobreza, a miséria. Para isso o Assistente Social, precisa estar imbuído do espírito

de luta e de movimento social para juntos com os usuários estarem reivindicando

melhorias para a população usuária. Acompanhando a perspectiva ética e política da

profissão e entender as expressões da “questão social”, é pensá-la não como algo

isolado, e sim fruto de grande desigualdade causada pelo sistema econômico

capitalista. Lembramos ainda que, na categoria de Assistentes Sociais encontramos

37 COUTINHO, Maria Alice da Silva Ribeiro. Relatório Final Estágio Supervisionado em Serviço

Social II: Caracterização da população usuária. Polo Universitário de Rio das Ostras - UFF - Serviço Social, 2º sem/2011.

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47

muitos profissionais que não se orientam pela mesma corrente teórica e política,

com ênfase na crítica pautada numa visão marxista, e sim encontramos profissionais

com visão conservadora.

Lukács afirma que,

após o surgimento da economia marxista, seria impossível ignorar a luta de classes como fato fundamental do desenvolvimento social, sempre que as relações sociais fossem estudadas a partir da economia (1992, p.132

38

apud MONTAÑO, 2012, p.271)

Montaño reflete sobre as categorias pobreza, “questão social”, e traz um

pensamento de Malthus que reflete e muito, o que pensam alguns dos Assistentes

Sociais no campo de estágio, que são contratados e que possuem uma visão

conservadora: que muitos dos benefícios concedidos para os usuários estariam

representando um “estímulo à miséria” (DUAYER e MEDEIROS39 apud MONTAÑO,

2012, p.273). O usuário que recebe o benefício “que recebe assistência, beneficiário,

acomodar-se-ia a tal situação, tendendo a reproduzir sua condição, sua pobreza”

(MONTAÑO, 2012, p.273). Martinelli informa que “a assistência social seria a

verdadeira causa da ociosidade, da acomodação, do conformismo, enfim, da

pobreza”40 (1991 apud MONTAÑO, 2012, p.273). Nota-se que esse tipo de

pensamento que acaba sendo reproduzido, sendo justamente esse tipo de

profissional que atende ao Estado. A instituição não contrata um profissional crítico

que faça uma análise da realidade, e sim segue o seu padrão de ‘senso comum’.

Muitas das vezes debatem que o pobre ameaça à ordem, como se sua condição de

pobreza ou de pauperismo, fossem ocasionados por única e exclusivamente como

responsabilidade do usuário.

Atualmente observamos a grande desigualdade social que existe, não só no

município de Rio das Ostras, mas em todo mundo. Entender essa desigualdade, em

38 Lukács , Georg. Sociologia. In: NETTO, José Paulo (Org.). Grandes cientistas sociais. São Paulo:

Ática, n. 20, 1992. 39 Duayer, Mário; Medeiros, João Leonardo. Miséria brasileira e macrofilantropia: psicografando Marx.

Revista de Economia Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, jul./dez. 2003. 40 Martinelli , Maria Lúcia. Serviço Social: identidade e alienação. São Paulo: Cortez,1991.

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48

que famílias migram para o município em busca de melhoria das suas condições de

vida, e também em busca do ‘ouro negro’, ou seja, realizar o sonho de trabalhar em

alguma empresa ligada a exploração de petróleo. Mas ao chegar, encontram uma

realidade diferente, pois precisam de qualificação e curso adequado para conseguir

uma vaga. E na maioria das vezes os usuários procurados não possuem o Ensino

Médio completo, tornando-se difícil a inserção nessas empresas.

A pauperização citada por Montaño (2012, p.279) é fruto de uma realidade

apresentada a todo o momento, pelos usuários que procuram o CRAS Central,

mostrando que o próprio desenvolvimento de uma cidade gera desigualdade e

pobreza, que “quanto mais riqueza produz o trabalhador, maior é a exploração, mais

riqueza é expropriada do trabalhador e apropriada pelo capital” (MONTAÑO, 2012,

p.279). Continuando, quando uma cidade apresenta um desenvolvimento, seja ela

na exploração do petróleo, haverá uma maior acumulação privada do capital, e

promoverá um acúmulo de riqueza. Não uma distribuição por igual da riqueza

produzida, ou seja, uma maior concentração de capital gera um empobrecimento, ou

uma grande desigualdade.

A “questão social” é recorrente na fala de Arregui (2012, p.534), quando

expõe que “ao se encolher ou neutralizar as mediações da questão social com os

direitos, também se neutraliza a potência crítica e simbólica da igualdade”. O

Assistente Social expõe e indica os direitos dos usuários, mas não consegue

garantir que eles sejam de fato efetivados. Segundo Telles41 (apud ARREGUI,

2012, p.534) “é reativar o sentido político e crítico dos direitos e da igualdade”, ou

seja, as questões precisam estar pertinentes e de acordo com o coletivo, e nunca

confundi-los com filantropia ou caridade.

Netto42 (apud SANTOS, 2012-b, p.446) afirma que “tomar a ‘questão social’

como problemática configuradora de uma totalidade processual específica é remetê-

la concretamente à relação capital/trabalho”.

41 TELLES, Vera. Igualdade: qual a medida? In: VERAS, Maura Pardini Bicudo (Org.). Hexápolis:

desigualdades e rupturas sociais em metrópoles contemporâneas. São Paulo: Educ e Cortez,

2004.

42 NETTO, J. P. Capitalismo monopolista e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1992.

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49

A redução estratégica das políticas sociais ao combate da pobreza é mais

um mecanismo de ‘desmonte’ da proteção social, conforme Mota, Amaral e Peruzzo

indicam,

Estas políticas compensatórias e focalizadas, conceituadas como de enfrentamento à pobreza, são apoiadas, em geral, pelas elites. Note-se que as políticas sociais mais estruturadoras, como a saúde, as aposentadorias, a educação, dentre outras que os governos neoliberais transformaram em serviços mercantis, são objeto de uma forte reação da direita continental, historicamente patrimonialista, oligárquica e antirreformista, frente a qualquer iniciativa de universalização

43 (apud SANTOS, 2012-b, p.441).

Para isso, o assistente social precisa conhecer as leis e estar imbuído de

todos os recursos para exigir o cumprimento dessas leis.

Daí “a necessidade de particularizar o debate quando se pensa na relação

capital/trabalho, considerando os elementos históricos singulares de cada país”

(SANTOS, 2012-b, p.433), ou de cada cidade ou município. O assistente social

necessita conhecer a população usuária dos serviços, entender a conjuntura social,

para depois fazer um estudo e um levantamento dessa realidade que o usuário vive

em sua cidade.

Santos salienta o “intenso processo migratório campo-cidade” (2012-b,

p.435), que traduz na exploração da força de trabalho em busca de maiores lucros, e

faço um link com o mesmo processo ocorrido na cidade de Rio das Ostras, quando a

população migra de outros municípios, em busca de emprego (ou serviço) e melhor

qualidade de vida para a família que não encontra emprego em sua cidade. Esse é o

tema recorrente desse trabalho.

O entendimento sobre a regulação do trabalho no Brasil e a instituição de

normas trabalhistas, também gera sempre um debate nos encontros mensais com

os usuários participantes do ‘Projeto Começar de Novo’.

Quando Barroco retrata o preconceito, de uma forma ampla e objetiva nas

palavras de Heller44 (apud BARROCO, 2012, p.73) como sendo “uma forma de

43 MOTA, A. E.; AMARAL, A. S. do; PERUZZO, J. F. O novo desenvolvimentismo e as políticas

sociais na América Latina. In: MOTA, A. E. (Org.). Ideologias da contrarreforma e o Serviço Social.

Recife: Editora Universitária‑UFPE, 2010. 44

HELLER, Agnes. O Cotidiano e a história. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1972.

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alienação moral, pois estreita as possibilidades do indivíduo se apropriar de

motivações que enriqueçam a sua personalidade”, a autora informa a possibilidade

de estreitar essa autonomia que o homem possui de observar e não deformar essa

parte da personalidade que o impede de se livrar desse preconceito, ou seja, dessa

alienação puramente moralista.

3.2.2 A categoria trabalho vinculada as reais necessidades do trabalhador

O que vem a ser trabalho? Uma transformação da natureza por meio da

ação humana em objeto de uso social. O que diferencia o homem dos animais é

essa capacidade de transformação da natureza, em produtos que atendam às suas

necessidades. Como diz Netto e Braz (2009, p.30-31)

em primeiro lugar, porque o trabalho não se opera com uma atuação imediata sobre a matéria natural; diferentemente, ele exige instrumentos que, no seu desenvolvimento, vão cada vez mais se interpondo entre aqueles que o executam e a matéria; em segundo lugar, porque o trabalho não se realiza cumprindo determinações genéticas; bem ao contrário, passa a exigir habilidades e conhecimentos que se adquirem inicialmente por repetição e experimentação e que se transmitem mediante aprendizado; em terceiro lugar, porque o trabalho não atende a um elenco limitado e praticamente invariável de necessidades, nem as satisfaz sob formas fixas; se é verdade que há um conjunto de necessidades que sempre deve ser atendido, as formas desse atendimento variam muitíssimo e, sobretudo, implicam o desenvolvimento, quase sem limites, de novas necessidades (grifos do autor).

É preciso tomar por base que, o trabalho se diferencia de qualquer outra

atividade natural, como diz Marx45 (apud NETTO e BRAZ 2009, p.31): “pressupomos

o trabalho numa forma em que pertence exclusivamente ao homem”. Só o homem

idealiza o que pretende transformar, ou seja, usa sua capacidade teleológica para

realizar suas transformações. Por que o trabalho se torna categoria fundante do ser

social? Pois é através dessa categoria que o homem se realiza socialmente, além

de colocar em prática tudo o que aprendeu ao longo de sua vida. O homem se torna

45

MARX, K. Teorias da mais-valia. História crítica do pensamento econômico. São Paulo: Difel,

1983, v.II

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51

ser social através do trabalho, pois além do trabalho transformar a natureza, também

transforma o homem.

O trabalho transforma a matéria que encontramos na natureza em produtos

que atendem às necessidades do homem. Já no meio animal, isso não ocorre, pois

ele vai produzir trabalho mediante somente a sua necessidade, utilizando-se da

harmonia com o meio ambiente. O animal só vai tomar posse do que tem na

natureza para o seu próprio sustento e proteção. Já o homem usa recursos para a

riqueza pessoal dentro da sociedade capitalista.

Para o homem, há necessidade de uma intervenção direta sobre os produtos

encontrados na natureza, como o uso de maquinaria [ou não], para que haja

transformação desse produto oferecido pela natureza e para que possa ser utilizado

pelo próprio. O trabalho não segue um padrão, exigindo habilidades e

conhecimentos adquiridos por experiência.

O trabalho difere das formas naturais, pois há uma relação entre o sujeito e

o seu objeto. Para conseguir um meio de trabalho precisamos usar a interferência

de uma maquinaria, seja ela um pequeno instrumento ou em grandes máquinas, o

que vai definir se o instrumento usado vai servir ou será útil ou não, e isso só de fato

tornará realizado quando a natureza fornecer meios, o homem oferecer uma ação

sobre o meio descoberto e quando tudo isso for transformado.

O trabalho é uma atividade coletiva, exercida por homens de uma

sociedade, e onde se criam riquezas sociais, ou seja, onde surgiu o ser social, e

onde foi constituída a humanidade. Mas, para que ocorra a interação com a

natureza, antes de tudo, precisa haver interação da própria sociedade. A sociedade

deve sua existência à natureza, que com o passar dos anos pode mudar as formas

de produção material nas quais vive a humanidade. Que ao contrário, ‘a natureza

pode viver sem a sociedade’. Na natureza estão todos os seres que conhecemos

antes dos grupos humanos surgirem, sendo um conjunto de ecossistemas que estão

interligados. A essa ligação surge um ser dotado da capacidade de se reproduzir: o

ser vivo orgânico, que também está relacionado ao surgimento da espécie de vida

humana. A esse desenvolvimento, surge um ser: o ser social, independentemente

de fatores externos predeterminados. O grupo que surgiu e deu origem a essa nova

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atividade social, precisou exercitar tal função para que o seu grupo/espécie

conseguisse manter-se vivo. Os grupos precisaram unir-se para que os objetivos

em comum fossem realizados. A essa atividade em grupo, foi-se denominado um

novo tipo de atividade chamada de trabalho.

Para passar por esse tipo de atividade, foi preciso surgir o ser social.

Notamos que a sociedade não produz seres isolados, sozinhos. Precisa haver

grupo. E quanto mais o homem se humaniza, se torna mais social, e o ser natural

terá um peso menor para sua vida. Isso tudo está ligado ao “processo de

humanização dos homens”, (NETTO e BRAZ, 2009, p.39).

Desde os tempos pré-históricos, os homens precisavam combinar com o

grupo em que viviam a melhor maneira de obter a sua sobrevivência, constituindo

assim a figura do ser social, um ser que trabalha socialmente, que precisa uns dos

outros para garantir a melhor sobrevivência da espécie. Um ser que realiza

atividades orientadas, comunica-se pela linguagem e que consegue socializar-se

com outros seres. Esse ser é o homem: o homem numa sociedade preparando para

enriquecer-se utilizando os meios da natureza, transformando o que é encontrado (

utilizando o trabalho) em objeto de valor.

Diante do enunciado, expondo e relembrando a categoria trabalho,

apresentamos uma crítica à categoria trabalho debatendo as ideias de vários

autores.

O que constitui a base de uma sociedade capitalista é o trabalho ser

assalariado, e de sempre precisar explorar o trabalho vivo, ou seja, o trabalhador. O

capitalista precisa do trabalhador para gerar lucro, extraindo-lhe a mais-valia, como

diz Leo Maar46 (apud TAVARES; SOARES, 2007, p.18), “a sociedade capitalista em

que vivemos é uma ‘sociedade do trabalho’ sob a forma determinada da acumulação

do capital”. Há uma característica na sociedade capitalista de usar como sinônimo o

trabalho assalariado e o emprego, esquecendo-se que com a introdução da

reestruturação produtiva surgem novas formas de empregabilidade, sejam elas

46 LEO MAAR, W. “A dialética da centralidade do trabalho”. São Paulo: Ciência e Cultura, v. 58, n. 4,

2006. Disponível em http://cienciaecultura.bvs.br. Acesso em 17/6/2007.

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através de um mercado informal, sem vínculo empregatício ou não, como exemplo,

podemos citar as vendedoras de cosméticos que apresentam os seus produtos de

porta em porta como ‘O Boticário’, que acabou se rendendo a esse tipo de venda por

estar perdendo campo, e com certeza lucro, em relação as outras empresas do

mesmo ramo. Não podemos esquecer de levar em conta, que essas vendedoras e

vendedores, não possuem vínculo com a empresa, não gozam de férias, ou seja,

não possuem nenhum direito trabalhista, e apresentam-se ao mercado brasileiro

durante anos e anos.

Com esse tipo de trabalhador informal, as chamadas ‘lutas de classes’ ou

lutas sociais se tornam difíceis, isto é, com a fragmentação do trabalho e cada

trabalhador precisando defender o seu emprego, não haverá o conflito dessas

classes e uma luta por melhores condições e direitos garantidos. O que se nota é

um trabalhador focado no seu individualismo e deixando de lado a coletividade, mas

não podemos deixar de esquecer que tudo se trata dos objetivos do neoliberalismo.

Diante dos fatos, alguns autores apregoam o ‘fim do trabalho’, pois há cada

vez menos o processo de trabalho ligado à produção, gerando especulações a cerca

do fim do capitalismo e do assalariamento. Não havendo exploração do trabalhador,

talvez estivesse se formando uma outra forma de sociedade: uma sociedade sem

expropriação da mais-valia.

Mas essa afirmação, do fim do trabalho, perde efeito quando se nota os altos

índices de crescimento no número de empregados ao longo dos anos, ou seja, de

trabalhadores assalariados. Ressaltamos, no entanto, que da mesma maneira que

os dados anteriores são divulgados, ocorre um grande aumento da população

mundial que ocasionará numa procura cada vez maior de emprego, sendo as vagas

oferecidas, bem inferiores ao número de procura. Algumas empresas multinacionais

saem de seu país onde se mantém a sede da empresa, para buscar alternativas de

países periféricos, e consequentemente, procurando países em que os

trabalhadores tenham os mínimos direitos sociais e trabalhistas, gerando cada vez

mais um lucro maior ao capitalista empregador.

Concluímos que, no momento, o trabalho assalariado não caminha para o

fim. Faz parte da lógica do capital o investimento em novas tecnologias, ou seja,

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capital constante, e o fluxo constante de capital variável, ou, a força de trabalho.

Com isso, o exército industrial de reserva também continuará existindo e fazendo

parte da lógica capitalista. Como diz Tavares e Soares “a sociedade capitalista é

incapaz de reproduzir-se sem a mediação do trabalho” (2007, p.26). Não podemos

deixar de relacionar que os trabalhos informais47, geram renda e riqueza, mas que

ao longo da sociedade não entram no cálculo do PIB brasileiro, segundo os autores,

e que

o emprego tem demonstrado ser a forma menos precária do trabalho sob o capital, razão pela qual, enquanto prevalecer esta ordem, devemos estar atentos a todas as mudanças vindas do ‘alto’, para que não assistamos passivos ao retrocesso das conquistas da classe trabalhadora (TAVARES e SOARES, 2007, p.30).

Marx48 (apud TAVARES e SOARES, 2007, p.30) reafirma o exposto acima

que

o próprio desenvolvimento da indústria moderna contribui para inclinar cada vez mais a balança a favor do capitalista contra o operário e que, em consequência disso, a tendência geral da produção capitalista não é para elevar o nível médio normal do salário, mas, ao contrário, para fazê-lo baixar, empurrando o valor do trabalho mais ou menos até seu limite mínimo. Porém se tal é a tendência das coisas nesse sistema, quer isso dizer que a classe operária deva renunciar a defender-se contra os abusos do capital e abandonar seus esforços para aproveitar todas as possibilidades que se lhe ofereçam de melhorar a sua situação? Se o fizesse, ver-se-ia degradada a uma massa informe de homens famintos e arrasados sem probabilidade de salvação. [...] e que a necessidade de disputar o seu preço com o capitalista é inerente à situação em que o operário se vê colocado e que obriga a vender-se a si mesmo como uma mercadoria.

Assim, nota-se que o capital possui meios de continuar a aumentar seus

lucros, sejam por intermédio da diminuição das leis trabalhistas, sejam pela

diminuição da jornada de trabalho, mas o que importa para o capital é a obtenção de

cada vez maior o lucro na venda das mercadorias.

47

Segundo o IBGE(1999), trabalho informal é toda atividade não constituída em empresa formal.(In:

Tavares e Soares, 2007, p.30 nota de rodapé no 16).

48 MARX, K. Salário, preço e lucro. São Paulo: Abril Cultural, 1982.

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Essa é toda uma linha de pensamento usada pelo neoliberalismo, isto é,

acabar com toda uma política de bem-estar, pois segundo os neoliberais, com a

política social há um gasto muito grande para mantê-la e também por fim, fazer

privatizações. Isso não significa que estamos a um passo de acabar com o

capitalismo, mas segundo as palavras de Leher “estamos vivendo, hoje, no mundo

inteiro, um estado de exceção grave e devastador” (2010, p.3). E continua dizendo

que “a saída preconizada pelos neoliberais, [...] vai empurrar o trabalho para

condições de barbárie ainda mais severas” (LEHER, 2010, p.3). O capital só dá

importância para o lucro, não importam as necessidades que a população passa ou

vem passando.

Recentemente, presenciamos uma crise nos países centrais, uma delas, a

chamada crise do setor imobiliário que começou nos EUA, em que a população

comprava seu imóvel e ao mesmo tempo fazia uma hipoteca, mas passado algum

tempo não conseguia manter as prestações em dia e acabavam perdendo o seu

imóvel.

Ora, observando essa crise passando por vários países, nota-se que os

trabalhadores são (como sempre) os maiores prejudicados. A sua maioria não se

reconhece como grupo de trabalhadores ou como classe trabalhadora que se veem

perdendo o seu emprego, isso acaba por enfraquecer ainda mais as lutas por

poucos movimentos sociais existentes. E com isso, a “questão social” acaba se

acirrando, e o trabalhador se torna ainda mais dependente da política social, que

quase não existe, passando a depender única e exclusivamente da venda de sua

força de trabalho.

No Brasil, na década de 1980, o operariado era valorizado, pois a indústria

dependia de sua mão de obra para lucrar. Com a introdução de maquinários e de

tecnologias, esse operário se viu desempregado e com mínimas ou quase sem

condição de voltar ao mercado de trabalho. Com isso, a subjetividade do

trabalhador fica deteriorada, pois em sua lógica o grande culpado é ele trabalhador e

não o mercado ou esse sistema capitalista. Acaba-se por culpabilizar o trabalhador

por essa situação. O que fazer com esse exército industrial de reserva que muitas

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vezes não vão conseguir voltar ao mercado de trabalho? Hayek49 (apud LEHER,

2010, p.11) dirá que “o problema são os pobres e não os desempregados [...] o que

fazer então? Dar bolsas ... bolsas e não direito social organizado em torno do

trabalho”. E Leher completa que existe “bolsa, assistência e não mais Seguridade

Social. É desta forma que são estruturadas as políticas dos anos 1980 e 1990 em

diante” (2010, p.11).

Segundo o que diz a Constituição Federal de 1988, em seu Art.194, é que “a

Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos

poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à

saúde, à previdência e à assistência social”50. Ora, se está na Constituição, não se

trata de ser um favor a concessão de direitos como a assistência social, a saúde e a

previdência.

49 HAYEK, F. A. Os princípios de uma ordem social liberal. In: CRESPIGNY, A.; CRONIN, J. (Org.).

Ideologias políticas. Brasília: Editora da UnB, 1998. 50

http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/CON1988_05.10.1988/CON1988.pdf.

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3.3 RESULTADOS DA PESQUISA

O propósito deste capítulo será destacar a relação dos entrevistados com o

objeto central do trabalho que a é migração dos entrevistados de outras cidades em

busca de emprego em Rio das Ostras. Para isso, foi realizada uma pesquisa de

campo onde fizemos entrevistas com as usuárias participantes do Projeto Começar

de Novo, do CRAS Central de Rio das Ostras. Nossa pesquisa de campo visou

resgatar a hipótese sugerida para o Trabalho de Conclusão de Curso. Serão

utilizados relatos e partes transcritas das entrevistas durante a elaboração do

trabalho.

De acordo com o contexto vivido atualmente, da ampliação cada vez maior

do capital, torna-se fundamental pesquisar e fundamentar o que leva os migrantes a

procurar outras cidades em busca de emprego, mesmo com o mínimo de

escolaridade e sabendo da crueldade que as empresas fazem, vivendo esse

momento promissor, tratam essas pessoas.

As entrevistas constituíram de um questionário51 elaborado em conjunto com

a orientadora com perguntas abertas e fechadas, onde as perguntas foram

agrupadas conforme os indicadores: identificação do imigrante entrevistado; quais

suas motivações para a vinda pra Rio das Ostras; a caracterização das condições

de vida encontradas na cidade; a caracterização das condições de trabalho

encontradas; e por último suas perspectivas de futuro.

A hipótese que culminou minha pesquisa, surgiu através da experiência

durante os quatro períodos vivenciados no campo de Estágio, no CRAS Central de

Rio das Ostras. Durante o plantão social os usuários que procuravam a Instituição,

preenchiam uma ficha, denominada ficha social, onde relatavam sua cidade de

origem e por que escolheram a cidade de Rio das Ostras para essa mudança. E foi

observando e colhendo dados nessas fichas que resolvemos destinar o objetivo

desse trabalho.

51

Anexo I.

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58

Para realização da pesquisa de campo primeiramente fizemos uma pesquisa

nos relatos da Ficha Social, que é preenchida pela Assistente Social, no momento

da entrevista com o usuário que comparece ao CRAS Central em busca de

atendimento. Observamos os itens preenchidos: 1-qual sua origem; 2-o motivo de

escolher a cidade de Rio das Ostras. Foram selecionadas as fichas sociais em que

os usuários declararam que vinham de outra cidade e que estabeleciam residência

em Rio das Ostras em busca de trabalho ou emprego. Essa seleção foi aleatória

visando essas referências.

Após essa primeira pesquisa, entrei em contato com os usuários através do

telefone explicando-lhes o motivo da entrevista e da pesquisa e se gostariam de

participar, explicando-lhes tratar do Trabalho de Conclusão de Curso da UFF, do

curso de Serviço Social. Com o objetivo exposto, foram realizadas entrevistas

individuais com sete entrevistadas (mas foram selecionadas cinco entrevistas)

participantes do Projeto Começar de Novo, do CRAS Central de Rio das Ostras que

serão identificadas como Entrevistadas 1, 2, 3, 4 e 5. As entrevistas foram realizadas

no mês de outubro de 2013 utilizando-se onze dias para a coleta de dados. Muitas

das vezes em que destinava um dia para realização das entrevistas, as usuárias

esqueciam o dia e não compareciam, precisando remarcar um outro dia. As

entrevistas ocorreram no CRAS Central de Rio das Ostras, no Bairro de Nova

Cidade, em sala privativa para preservar o sigilo das informações.

Antes da entrevista, explicava-lhes o motivo e o objetivo da realização da

aplicação desse questionário através de entrevista gravada (utilizando-se de um

gravador), pedindo-lhes para assinarem o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido – TCLE52, visando coletar a autorização para o uso das informações.

Em média as entrevistas duravam vinte e cinco minutos. Após as entrevistas, tudo o

que foi dito foi transcrito e as análises foram feitas em cima dessas transcrições.

52

Anexo II.

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3.3.1 Identificação do migrante entrevistado

Como nosso questionário estava pautado em blocos de perguntas com um

título prévio, fizemos várias perguntas buscando como objetivo identificar o perfil do

entrevistado. Todas as entrevistadas são do sexo feminino, com uma média de 42

anos de idade e em sua maioria consideram seu estado civil como solteira.

No que se refere à cidade de origem duas das entrevistadas (3 e 5) vieram

de outros estados, como Taubaté e Brasília. As entrevistadas 1, 2, e 4 vieram de

cidades do estado do Rio de Janeiro. As entrevistadas 3, 4, e 5 já haviam deixado

sua cidade natal, em busca de melhores condições, ou seja, o fator migratório dentro

de suas famílias já vem ocorrendo a muito tempo.

Avaliamos, no entanto, que o objetivo desse trabalho apresentado encontra-

se perfeitamente de acordo com as respostas das entrevistadas: a migração

ocorrente para a cidade de Rio das Ostras. Segundo o site da Prefeitura de Rio das

Ostras,

O resultado do Censo 2010, realizado pelo IBGE, indica 105.676 pessoas em Rio das Ostras em 1º de agosto de 2010, data de referência. Em comparação com o Censo 2000, ocorreu um aumento de 69.257 pessoas. Esse número demonstra que o crescimento da população riostrense no período foi de 190,17%, ainda maior do que o observado na década anterior (100,16% entre 1991 e 2000)

53.

No Gráfico 1, podemos analisar perfeitamente o descrito acima,

comparando-se ao resultado da pesquisa bem como ao nosso objeto de estudo, ou

seja, o fator migratório. Na mídia, o município de Rio das Ostras é descrito como o

que mais cresce atualmente em termos de população, vinculados a descrição de

que a cidade oferece ótimas oportunidades de emprego. Esse crescimento

populacional se deve também pela proximidade do polo petrolífero do município de

Macaé, onde, devido seu desenvolvimento trouxe diversas mudanças para a cidade

53

Fonte: http://www.riodasostras.rj.gov.br/dados-do-municipio.html, acesso em 23 de outubro de

2013.

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de Rio das Ostras, como aumento do valor do aluguel ou da moradia

supervalorizada. A cidade não acompanhou esse crescimento na infraestrutura.

Falta água, a rede de esgotos não é suficiente e não atende a todos os bairros, a

coleta de lixo também é ineficiente, e com isso há os agravos na saúde, na

educação, nos transportes. A cidade de Rio das Ostras vem experimentando um

crescimento econômico na última década, gerando também um crescimento

populacional desenfreado, tendo como consequência o aumento dos serviços

públicos básicos.

Gráfico 1- Dados Populacionais de Rio das Ostras de 1996 - 201354

No que diz respeito à renda individual, conforme Tabela 3, das entrevistadas

a média gira em torno de meio salário mínimo, excetuando a entrevistada 5 que

possui renda de um salário mínimo55. Agora, analisando a renda per capita das

entrevistadas, excetuando a entrevistada 4, todas as outras entrevistadas vivem com

54

Fonte: http://www.riodasostras.rj.gov.br/dados-do-municipio.html, acesso em 23 de outubro de

2013.

55 Com o novo valor de R$678,00 o salário mínimo 2013 apresentou um aumento de cerca de 9% e

ficou acima do valor previsto. Fonte: http://www.salariominimo2013.org/salario-minimo-2013/

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menos de meio salário mínimo. Lembrando que as entrevistadas 1 e 2 disseram

incluir o salário do Bolsa Família nessa renda apresentada, onde essa expansão do

Bolsa Família teve participação importante para reduzir as desigualdades sociais e

precarização da falta de trabalho.

Tabela 3 – Renda individual, familiar e per capita em reais (R$):

Entrevistada 1 Entrevistada 2 Entrevistada 3 Entrevistada 4 Entrevistada 5

Renda Individual

339,00 400,00 350,00 350,00 678,00

Renda familiar 339,00 400,00 700,00 1.028,00 1.356,00

Renda per capita

169,50 100,00 175,00 342,00 271,00

No que tange a escolaridade, as entrevistadas 1, 2 e 3 não completaram o

Ensino Fundamental, a entrevistada 4 possui Ensino Superior e a entrevistada 5

possui o Ensino Médio. Apresentando as menores rendas, conforme a Tabela 3, as

entrevistadas 1, 2 e 3 não conseguem voltar à escola para que o nível de

escolaridade possa aumentar e consequentemente conseguir uma boa colocação no

mercado de trabalho. No momento as entrevistadas 1, 2 e 5 encontram-se

desempregadas. A entrevistada 1 não possui qualificação profissional, enquanto que

as entrevistadas 2, 3, 4 e 5 possuem algum tipo de curso que as qualifique para

algum emprego.

Em geral, as entrevistadas não apresentam um quadro favorável em termos

de escolaridade média e qualificação profissional, acarretando aí numa situação

comum em determinadas áreas de emprego, ou seja, as oportunidades de emprego

que existem no mercado não encontram candidatos às vagas.

Com isso, lembramos que, mesmo que haja interesse de algumas das

entrevistadas em voltar a ocupar os espaços escolares, falta-lhes disposição, bem

como lugar seguro para deixarem seus filhos. Nossa pesquisa não se aprofundou

nesse quesito.

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3.3.2 Motivações para a vinda para Rio das Ostras

Quanto às motivações para a mudança para a cidade de Rio das Ostras

todas as cinco entrevistadas disseram que o maior motivo foi à procura por melhor

emprego ou trabalho. Vejamos as respostas de algumas entrevistadas:

Trabalhar; mas chegando aqui levei minha filha mais nova ao médico, pois ela tem baixa estatura e descobri que ela tem Síndrome de Turner, aí ela toma uma injeção todo dia, preciso levar ela para nadar, levo a Cabo Frio para pegar os remédios dela e ao Rio. Aí fica eu e ela em casa, se for trabalhar como vou levar ela para escola, pra piscina? aí é muito confuso ... muito confuso minha vida. (Entrevistada 1) Porque aqui tem mais a minha família. E motivou pra procurar emprego. É morar pra ter uma vida melhor pra trabalhar. (Entrevistada 2) Em busca de trabalho eu e meu marido. (Entrevistada 5)

Fica nítida na fala das entrevistadas a real motivação que levou as

entrevistadas a mudarem de residência: a procura por emprego. Muitas das vezes a

própria família que já reside aqui em Rio das Ostras, estabelece esse apoio para a

realização da mudança. Isso aparece quando perguntamos se já tinham ouvido falar

em Rio das Ostras, todas afirmaram que de alguma forma já conheciam ou ouviram

falar bem da cidade.

Já tinha ouvido falar pelas amizades. E que a cidade era boa para serviço e que era muito boa e tal e tal.... (Entrevistada 1) Já. A minha mãe mora aqui há 12 anos. Ela fala que as pessoas trata bem e ajuda a se encaixar na cidade, tem benefícios. Ouvia falar que arrumava trabalho fácil. Na televisão fala de Rio das Ostras e achei a melhor opção [...]. (Entrevistada 2) Sim. Meu pai sempre falava. (Entrevistada 3) Sim. Minha adolescência eu passei muitas e muitas férias aqui. As praias maravilhosas, o lugar lindo. (Entrevistada 4)

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Sim. A gente veio pelo emprego. Ouvi falar de emprego, da educação, da saúde. Da saúde mais ou menos ela falava, falava melhor da educação. (Entrevistada 5)

As entrevistadas apontaram como ficaram sabendo da cidade de Rio das

Ostras através das respostas:

Porque tenho uma amiga que mora aqui e que morava lá, e que falava da cidade. Tenho 2 irmãos e vim aqui 2 vezes e de repente assim decidi vir. Aí cheguei aqui minha filha mais velha já casou. (Entrevistada 1) Já. A minha mãe mora aqui há 12 anos. Ela fala que as pessoas trata bem e ajuda a se encaixar na cidade, tem benefícios. Ouvia falar que arrumava trabalho fácil. Na televisão fala de Rio das Ostras e achei a melhor opção [...]. (Entrevistada 2) Do meu pai. Ele pediu um amigo dele pra trazer ele aqui, que gostou da cidade e resolveu morar aqui. (Entrevistada 3)

Muitas das vezes as entrevistadas passam a ilusão que a cidade as ‘ajuda’

ou que tem ‘benefícios’, sinalizando que ao chegar são bem recebidas. Demonstram

nessas respostas, que a cidade se torna maravilhosa e receptiva aos migrantes, e

que se não tem emprego tem pelo menos, os benefícios. Esse é um dos fatores que

os levam a procurar a Assistência Social, vinculando determinados interesses e

valores.

3.3.3 Caracterização das condições de vida encontradas

Solicitamos aos entrevistados que descrevessem suas condições de

moradia, bem como o nome do bairro escolhido para morar e o porquê desse bairro.

As entrevistadas 2 e 3 escolheram o Bairro de Nova Esperança; a

entrevistada 1 o bairro de Nova Cidade; a entrevistada 4 o bairro Liberdade e a

entrevista 5 o bairro Parque Zabulão. Todas as entrevistadas relatam que

escolheram esses bairros devido ao baixo custo das moradias, como nos foi

possível verificar nos depoimentos:

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Porque era mais barato e foi aonde eu encontrei. (Entrevistada 1) É o único lugar onde achei mais barato. (Entrevistada 2) Por causa do meu pai que mora aqui perto. (Entrevistada 3) Porque meu irmão comprou apartamento nesse bairro, e eventualmente vem aqui e me emprestou para morar. (Entrevistada 4) Porque na época foi o que consegui encontrar, era mais em conta. (Entrevistada 5)

A maioria das entrevistadas reside em imóvel alugado, conforme Gráfico 2,

pagando valores muitas das vezes absurdo em relação ao imóvel e sua localização.

A entrevista 2 paga o valor de R$200,00 por uma casa que ela considera uma

quitinete. A entrevistada 3 paga em seu imóvel R$350,00 onde possui só um quarto

e não possui sala. A entrevistada 5 paga R$600,00 de aluguel, onde na Tabela 3

apresentamos sua renda individual como sendo de R$678,00.

Gráfico 2 – Tipo de Moradia

Apesar do crescimento da construção civil, o déficit habitacional é grande. O

poder público poderia propiciar uma melhor distribuição no território.

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65

No Gráfico 3 as entrevistadas declararam como se encontra a situação de

seu imóvel. As entrevistadas 1, 2 e 3 declararam que seu imóvel está inacabado,

lembrando que as entrevistadas 2 e 3 residem em imóvel alugado.

Gráfico 3 - Situação da construção

No Gráfico 4 apresentamos o número de cômodos onde as entrevistadas

residem. A entrevistada 2 (casa 2 no gráfico) declara que a casa alugada que reside

possui um quarto, lembrando que há quatro pessoas que moram nessa casa.

Situação similar é o da entrevistada 3 (casa 3 no gráfico) onde residem quatro

pessoas numa casa com um quarto e sem sala.

Gráfico 4 – Número de cômodos da casa

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Excetuando a entrevistada 5 que possui água de poço para o consumo, as

demais entrevistadas declararam que possuem água encanada.

Gráfico 5 – Água da casa

A “questão social” sendo objeto de estudo e intervenção do Assistente Social

vem sendo observada com crescimento exorbitante no município de Rio das Ostras,

através da ausência de saneamento básico, uma preocupação para o meio

ambiente. Conforme todas as entrevistadas declararam, e expresso no Gráfico 6,

não possuem rede esgoto e sim fossa e que precisam esvaziá-la de tempos em

tempos quando se torna cheia, isso quando muitas das vezes transbordam, e

notamos valas a céu aberto pelas ruas. Outro fator preocupante, é que se a fossa for

construída próxima a rede de água potável, haverá uma contaminação dessa água,

acarretando o desenvolvimento de doenças, principalmente as verminoses.

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Gráfico 6 – Rede de esgoto da casa

Diante dessa perspectiva, solicitamos às entrevistadas que expusessem se

encontraram melhores condições de vida em Rio das Ostras do que tinham na

cidade de onde vieram, e as cinco entrevistadas afirmaram que sim, seja na área da

saúde (Entrevistadas 1, 4 e 5); ou declarando benefícios como creche e Cartão do

Bem56 (Entrevistada 3).

Eu acho que sim...e portanto não tinha descoberto a doença da menina pequena e levei ao pediatra e descobri a idade óssea, e foram através daí que foram descobrir, a idade óssea deu 7 e ela tinha 9 anos. É difícil é... levanto 5 horas da manhã, mas a saúde atende melhor. Lá ninguém descobriu. Se tivesse lá não tinha descoberto. (Entrevistada 1) Com certeza. Principalmente Encontrei creche. O ‘cartão do bem’, a cesta básica que ajuda muito. E outra, a minha profissão de manicure é muito respeitada. (Entrevistada 3) Sim. Bem... a própria natureza em si, o meio ambiente em si, vou ao mar olho pra ele, e revigora minhas energias. Saúde, educação, lazer, achei que a cidade, coisa que não via na minha cidade. Alguém se importa com aqueles que não tem condições de pagar. Isso eu vi aqui que não via na minha cidade. (Entrevistada 4)

56

Em Rio das Ostras, algumas pessoas recebem uma transferência de renda chamada de ‘Cartão do

Bem’ onde os usuários inscritos recebem mensalmente o valor de R$100,00 depositados numa conta própria do usuário. Para ser concebido esse valor, o usuário passa por uma Assistente Social onde é feita uma análise social e de rendimentos. O objetivo do programa é aumentar a renda das famílias de Rio das Ostras que precisam superar a linha da pobreza, proporcionando a essas pessoas uma perspectiva de futuro melhor.

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Sim. Saúde, educação. E em Taubaté é grande, mas sem condições de vida para os pobres. Tem as fábricas ali, GM, Ford, mas não há emprego. (Entrevistada 5)

3.3.4 Caracterização das condições de trabalho encontradas

Outra questão apresentada foi se as entrevistadas vieram para Rio das

Ostras com perspectiva de emprego e como foi essa procura por emprego na

cidade. As entrevistadas 1 e 4 disseram que sim vieram com a perspectiva de

emprego; enquanto que as entrevistadas 3 e 5 disseram que não vieram com a

perspectiva de emprego.

Sim. Como foi? Logo no início fiz faxina e tomei conta de criança em casa. (Entrevistada 1) Eu vim com sonho de uma busca melhor. Mas como... É que assim que eu cheguei na cidade, quem pagou o frete pra mim foi minha mãe, sem poder. Morava numa casa dentro de um sítio e que rolava pedra lá onde morava. (Entrevistada 2) Não para ser sincera não. Você sabe que a minha profissão de manicure é fácil de conseguir. (Entrevistada 3) Vim. Comecei no Balcão de Empregos. Aí no balcão de Empregos consegui um emprego no escritório de contabilidade. (Entrevistada 4) Com a perspectiva não, garantido não. Mas a tia de meu marido disse que seria fácil, disse que conseguiria rápido. Meu marido foi logo se encaixando na profissão dele, que é motorista. Não foi difícil não. Foi rápido. (Entrevistada 5)

As entrevistadas relataram também como foi sua história profissional em Rio

das Ostras, se trocou de emprego e quanto tempo permaneceu nesses empregos.

As entrevistadas 1, 2 e 5 sinalizaram que estão desempregadas atualmente.

Faxina só em uma casa. Permaneci um ano. (Entrevistada 1)

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Não consegui, desde que cheguei aqui não consegui. Estou aqui 2 anos. Já fui no Balcão de Empregos. (Entrevistada 2) Já passei por 2 empregos. Um ano em cada. E agora estou na ‘Cia das unhas’. (Entrevistada 3) No escritório de contabilidade permaneci quase 4 anos. E depois comecei a me dedicar ao artesanato. Hoje faço lembrança para festas. Uma amiga quando tem festa eu faço as lembrancinhas. (Entrevistada 4) Depois desses cursos, eu consegui trabalhar. Fiquei 6 meses num escritório de contabilidade. Trabalhei no telemarketing por um ano. Mas agora estou parada. Tenho 3 anos de cidade. (Entrevistada 5)

Tais falas demonstram o que estamos declarando como objeto de estudo

nesse Trabalho de Conclusão de Curso, que além do fator migratório recorrente,

muitas das pessoas que chegam a cidade de Rio das Ostras não conseguem se

adequar a um emprego seguro, por falta de escolaridade ou por falta de qualificação

profissional, fator exigente para uma melhor colocação no mercado de trabalho.

Santos indica que

Trata-se de situar os traços do desemprego como resultantes do caminho percorrido através da particularização, no nível da formação social brasileira. Tal particularização tem o objetivo de tornar claros os contornos mais amplos, em que se inserem mediações centrais para a discussão proposta, quais sejam, a constituição do “mercado de trabalho” e do “regime de trabalho” no Brasil. Essas mediações emergem da estrutura do objeto na ótica proposta, já que tanto o mercado quanto o regime de trabalho me parecem ser o “solo” de onde brotam as particularidades que se busca encontrar. É no interior dessas duas categorias que se visualizam respectivamente, de um lado, as formas concretas de exploração do trabalho e, do outro, o nível de interferência das classes sociais e do Estado em relação a elas: suas lutas, a legislação promulgada para regular as relações entre capital e trabalho e também para proteger ambas as partes. Retoma-se, portanto, através dessas mediações, o pressuposto já mencionado de que para particularizar a “questão social” é necessário “destrinchar” as relações entre capital e trabalho, tomando-se em conta a realidade nacional, de nossa formação social (2012, p.134-5 grifos originais).

Por outro lado, as entrevistadas não relatam colocar como prioridade o

aumento de sua escolaridade para uma melhor colocação no mercado de trabalho.

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3.3.5 Perspectiva de futuro

Nossa última questão visava perceber se as entrevistadas achavam que

suas vidas tendiam a melhorar. Todas as entrevistadas responderam que sim,

muitas visualizavam um futuro melhor e promissor. A entrevistada 2 falou da questão

da moradia e que esperava conseguir uma casa no programa ‘Minha Casa Minha

Vida’.

Bom eu acho que tem, lá em Teresópolis não tem condições. Eu sonho encontrar um emprego e tem essa casa, da ‘Minha Casa Minha Vida’... eu oro a Deus. E espero conseguir um emprego pra pagar. (Entrevistada 2)

A entrevistada 3 visualizou os benefícios concedidos.

Ah sim... se tá bom pra mim agora. Com os benefícios principalmente. (Entrevistada 3)

Outra questão completando o bloco de perguntas, se as entrevistadas

pretendiam continuar em Rio das Ostras ou retornar para a cidade de origem. Todas

as entrevistadas pretendem ficar na cidade de Rio das Ostras, exceto a entrevistada

1 que pretende voltar para São Francisco de Itabapoana.

Eu pra mim falar a verdade eu gosto mais de roça... meu sonho é ficar aqui mesmo. Não deu certo voltar. Já acabou a minha cidade... (Entrevistada 2) Eu prefiro continuar aqui. (Entrevistada 3) Sim. Pretendo continuar em Rio das Ostras. Vou a minha cidade apenas visitar a minha família. Adoro Teresópolis, adoro o clima. (Entrevistada 4) Não. Quero ficar aqui. Meu marido já trabalha como motorista de caminhão. (Entrevistada 5)

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A partir dessas respostas, as entrevistadas declaram que vieram para a

cidade em busca de melhores condições de vida, de trabalho e renda e que mesmo

com todas as dificuldades ainda em sua maioria das entrevistadas pretendem ficar

na cidade de Rio das Ostras. Para isso, muitos sonham com dias melhores e acham

que os benefícios aqui concedidos ajudam muito em suas despesas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo desse trabalho foi apresentar algumas reflexões a cerca do

processo migratório, principalmente dentro do Projeto Começar de Novo, do CRAS

Central de Rio das Ostras. Com uma preocupação em realizar entrevistas com os

usuários do Projeto, buscou-se essa metodologia visando uma compreensão melhor

dos fatores que levam os migrantes a mudar-se de seu local seguro para um outro

muitas das vezes se fixando em manchetes divulgadas pela mídia. Através das

entrevistas, ficou claro que as usuárias que procuram o CRAS Central de Rio das

Ostras e participam do projeto ‘Começar de Novo’, vem para a cidade em busca de

oportunidades de trabalho. As entrevistadas relacionaram a mudança de suas

cidades visando melhorias de vida através do emprego.

Também buscou-se realizar um levantamento bibliográfico com autores que

se identificam com o tema, fazendo uma comparação das diversas ideias por eles

declaradas. Procurou-se abordar um breve histórico sobre o desenvolvimento da

cidade, bem como suas principais economias.

Nesse sentido, trabalhamos em cima da hipótese de que as pessoas vêm

em busca de emprego e melhores condições de vida para Rio das Ostras. Ao

chegarem, encontram dificuldades, pois não apresentam a escolaridade e a

qualificação exigidas para o emprego. Procuram subempregos ou acabam caindo na

informalidade, contribuindo para a acirrada questão social.

Entendemos que a “questão social” é causada pela exploração do trabalho

no capitalismo. O neoliberalismo não causa, mais acirra estas contradições. E para

tal, as políticas sociais são criadas e voltadas para atender aos cidadãos em

condições de pobreza, mas criam-se ações pontuais e fragmentadas,

transformando-se em políticas paternalistas e clientelistas, que tem muitas vezes o

objetivo de não resolver as expressões da “questão social” e sim conquistar a

população mais pauperizada para fins políticos.

O município vem apresentando um crescimento espantoso, tanto em termos

populacionais quanto em relação ao número de empresas que vem se instalando na

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região. Essas empresas não atendem a demanda de suprir as necessidades de

trabalho de todos que procuram, pois recaem na escolaridade e na qualificação

profissional. A imagem vendida pela mídia é de uma cidade com vários empregos e

a que mais cresce atualmente. E é esta cidade que vem atraindo os migrantes.

Os migrantes ao chegar precisam conviver com problemas, como violência,

engarrafamentos e a crescente disputa por moradia com preço exorbitante para os

padrões dos entrevistados. Visualizam uma outra realidade ao chegar em Rio das

Ostras.

O trabalho não teve a pretensão de esgotar toda a discussão no que se

refere aos processos migratórios, e sim fazer uma pequena abordagem do que o

sistema capitalista proporciona aos usuários que buscam esses objetivos em outras

cidades.

Assim sendo, chegamos ao final deste trabalho analisando os diversos

conceitos de autores variados que apontam o processo migratório tanto

historicamente quanto contemporaneamente.

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REFERÊNCIAS

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SÍTIOS VISITADOS NA INTERNET

IBGE:<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=330452&search=rio-de-janeiro|rio-das-ostras#historico>, acesso em 30 de junho de 2013. PURO - UFF - Observatório do Trabalho em Macaé: <http://www.puro.uff.br/observatoriodotrabalho>, acesso em 24 de maio de 2013. Prefeitura de Rio das Ostras:<http://www.riodasostras.rj.gov.br/index.html>, acesso em 24 de maio de 2013. ABEP-Associação Brasileira de Estudos Populacionais: <http://www.abep.org.br/?q=gt/internas/iv-encontro-nacional-sobre-migra%C3%A7%C3%A3o>, acesso em 30 de junho de 2013. Constituição Federal: http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/CON1988_05.10.1988/CON1988.pdf

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ANEXOS

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ANEXO 1

Roteiro da Entrevista

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Entrevista com os usuários do ‘Projeto Começar de Novo’ do CRAS Central – Município de

Rio das Ostras

Indicadores de pesquisa

- Identificação do imigrante entrevistado

1. Origem: ______________________

2. De onde veio? _____________________

3. Idade: _______________________

4. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

5. Estado civil: ______________________

6. Número de filhos: ____________

7. Número de residentes: ________

8. Renda individual: ____SM

9. Renda familiar: _____ SM

10. Calcular renda per capta: _________

11. Escolaridade: ________________________

12. Qualificação profissional: ____________________________________

13. Em qual área trabalha? _________________________

- Motivações para vinda pra Rio das Ostras

14. O que lhe motivou a vir para Rio das Ostras? (aberta)

__________________________________________________________________________

15. Você já tinha ouvido falar de Rio das Ostras ou da Região? O que ouviu falar?

__________________________________________________________________________

16. Como você ficou sabendo da cidade?

__________________________________________________________________________

- Caracterização das condições de vida encontradas

17. Em qual bairro reside? ____________________

18. Por que você foi morar neste bairro?

__________________________________________________________________________

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19. Como é a casa que você mora?

( ) Alugada ( ) Cedida ( ) Própria quitada ( ) Própria financiada

( ) Em construção ( ) Acabada ( ) Inacabada

( ) Nº quartos ( ) WC ( ) Sala ( ) Coz

( ) água encanada ( ) água de poço ( ) água de caminhão pipa

( ) rede de esgoto ( ) fossa ( ) não tem

20. Você encontrou em Rio das Ostras melhores condições de vida do que tinha na cidade

de onde você veio?

__________________________________________________________________________

- Caracterização das condições de trabalho encontradas

21. Você já veio para Rio das Ostras com perspectiva de emprego? Como foi a procura por

emprego?

__________________________________________________________________________

22. Como foi sua história profissional em Rio das Ostras? Trocou de emprego? Permaneceu

por quanto tempo em cada emprego?

__________________________________________________________________________

23. Você teve algum acidente de trabalho ou desenvolveu alguma doença ocupacional na

cidade?

__________________________________________________________________________

- Perspectivas de futuro

24. Você acha que sua vida aqui em Rio das Ostras tende a melhorar?

__________________________________________________________________________

25. Você pretende continuar em Rio das Ostras e Região, retornar para a cidade de origem

ou se mudar para outro lugar?

__________________________________________________________________________

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ANEXO 2

TCLE

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UFF Universidade Federal Fluminense – UFF. Faculdade de Rio das Ostras. Instituto de Humanidades e Saúde – IHS. Departamento Interdisciplinar de Rio das Ostras – RIR. Curso de Graduação em Serviço Social.

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado(a) Senhor(a) Cidadão(ã),

Gostaríamos de convidá-lo(a) para participar da Entrevista “As implicações do aumento

populacional no município de Rio das Ostras em busca de emprego: a população igualada ao peixe

rêmora, ficando com o resto da riqueza que o grande tubarão fatura: A indústria do petróleo”. Este

estudo é uma exigência da Disciplina de “Trabalho de Conclusão de Curso”, do Curso de Serviço

Social de Rio das Ostras da Universidade Federal Fluminense – UFF, com Orientação dos Profs.

Mariana Pfeifer e Rodrigo Teixeira. Este Estudo tem por objetivo conhecer as experiências dos

usuários do ‘Projeto Começar de Novo’ que frequentam o CRAS Central no município de Rio das

Ostras. As informações coletadas terão finalidades científicas.

Neste sentido, gostaríamos de pedir seu consentimento para gravar o áudio da Entrevista

que será realizada com você, já com o prévio consentimento informado. A gravação será transcrita e

apenas o material transcrito será utilizado como material didático e científico. As gravações de áudio

não serão utilizadas e serão descartadas.

Ressaltamos que os dados pessoais serão garantidos em sigilo, sendo esta a

responsabilidade da estudante e dos professores envolvidos neste estudo.

A participação neste Estudo é livre, voluntária e sem custos. Tanto a estudante quanto o

cidadão usuário tem a liberdade de recusar-se a participar ou retirar seu consentimento a qualquer

momento, sem nenhuma penalização e sem prejuízo pessoal.

Pelo presente manifesto expressamente minha concordância e meu consentimento para

realização do Estudo de Campo acima descrito.

________________, ____/____/______. Local e data ________________________________ Nome ______________________ RG _______________________________ Assinatura

________________, ____/____/______. Local e data Maria Alice da Silva Ribeiro Coutinho. Nome da estudante ______________________________ RG e matrícula UFF _______________________________ Assinatura