13
MORTE E VIDA SEVERINA AS LINGUAGENS DAS IMAGENS PROFESSORES BRUNO ALVAREZ Língua Portuguesa FRANCIS WILKER Artes Cênicas

as linguagens das imagens - TV Escola · maticidade, torna o filme muito mais expressivo, representando de maneira original, visto que tal imagem não se encontra no poema. Figura

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: as linguagens das imagens - TV Escola · maticidade, torna o filme muito mais expressivo, representando de maneira original, visto que tal imagem não se encontra no poema. Figura

morte e vida severina

as linguagens das imagens

ProFessoresBruno alvarez língua Portuguesa

Francis Wilker artes Cênicas

Page 2: as linguagens das imagens - TV Escola · maticidade, torna o filme muito mais expressivo, representando de maneira original, visto que tal imagem não se encontra no poema. Figura

aPresentaçãoO filme em linguagem de animação inspirado no poema Morte e Vida Severina é uma excelente ferramenta para os professores de Língua Por-tuguesa e de Artes Cênicas desenvolverem seus conteúdos em parceria. A Língua Portuguesa tratará dos aspectos formais do texto e do vídeo, aprofundando-se na verificação dos usos e das funções das figuras de linguagem nas duas obras. O campo da Arte explorará as questões concei-tuais relacionadas à arte engajada e à construção de sentido nas diferentes linguagens artísticas a partir da combinação de signos e elementos pró-

prios de cada linguagem.

sinoPse do ProgramaMorte e Vida Severina é um livro onde a saga do sertanejo nordestino é contada em dramáti-cos versos que revelam o duro percurso entre o sertão e o litoral, entre a morte evidente e a esperança. É fundamental para os estudantes de Ensino Médio. Por isso a TV Escola produziu Morte e Vida Severina em Desenho Animado, o casamento perfeito entre o texto forte de João Cabral de Melo Neto e o traço árido do artista João Falcão. No programa “Sala de Professor” os convidados reúnem conhecimentos de Língua Portuguesa e Artes Cênicas para desenvolver um trabalho que estimula a produção de textos e a adaptação para diferentes linguagens artísticas.

Page 3: as linguagens das imagens - TV Escola · maticidade, torna o filme muito mais expressivo, representando de maneira original, visto que tal imagem não se encontra no poema. Figura

sala de professor morte e vida severina 3

UM OLhAr PArA O FiLME A PArTir DA língua Portuguesa

eduardo e mônica – legião urbana

[...] Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem quererE conversaram muito mesmo pra tentar se conhecerUm carinha do cursinho do Eduardo que disse“Tem uma festa legal, e a gente quer se divertir”Festa estranha, com gente esquisita“Eu não tô legal, não aguento mais birita”E a Mônica riu, e quis saber um pouco maisSobre o boyzinho que tentava impressionarE o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa“É quase duas, eu vou me ferrar”Eduardo e Mônica trocaram telefoneDepois telefonaram e decidiram se encontrarO Eduardo sugeriu uma lanchoneteMas a Mônica queria ver o filme do Godard [...]

morte e vida severina JOãO CAbrAL DE MELO NETO

Agora afinal cheguei nesta terra que diziam. Como ela é uma terra doce para os pés e para a vista. Os rios que correm aqui têm água vitalícia. Cacimbas por todo lado; cavando o chão, água mina. Vejo agora que é verdade o que pensei ser mentira Quem sabe se nesta terra não plantarei minha sina?

Ao analisar os elementos que compõem o Morte e Vida Severina em desenho animado e o poema no qual o vídeo foi baseado, podemos considerar, do ponto de vista da Literatura, ao menos dois conteú-dos a serem trabalhados em sala de aula. Primeiro, o trabalho poético de João Cabral de Melo Neto e sua dimensão no panorama literário brasileiro; pos-teriormente, o papel crucial exercido pelas figuras de linguagem, tanto na criação das duas obras, quanto na transposição de uma produção para outra.

A partir disso, o professor poderá abordar na ati-vidade conceitos como figura de linguagem, adaptação literária e comparação intertextual. Nesse sentido, pode-se propor aos alunos do 2º ano do ensino médio que comparem as obras, em um verdadeiro trabalho de Literatura Comparada (tão prescindido nas escolas brasileiras). o objetivo é fazê-los conhecer a poesia cabralina, retomar conhecimentos a respeito das figuras de lingua-gem e, por consequência, avaliar os processos que permitiram a adaptação de uma obra literá-ria em um desenho animado.

Como primeira etapa, o professor poderá iniciar uma discussão sobre poesia:

O que é poesia? Em que momentos ela ocorre em nossas vidas? O que é um poema? Qual a diferença entre os dois termos?

A fim de aproximar-se com mais facilidade do uni-verso cultural do aluno, será interessante apresentar uma música. Preferencialmente uma canção que contenha traços similares aos de Morte e Vida Seve-rina. A música Eduardo e Mônica, da banda Legião Urbana, traz uma narrativa característica, que poderá servir de mote para uma comparação intertextual.

Seria interessante que, após uma breve análise da letra da música, o professor expusesse, lado a lado, excertos dos dois textos, como segue:

Page 4: as linguagens das imagens - TV Escola · maticidade, torna o filme muito mais expressivo, representando de maneira original, visto que tal imagem não se encontra no poema. Figura

sala de professormorte e vida severina4

Algumas das relações possíveis – podendo ser acrescentadas outras – vêm na tabela abaixo:

Formalidade (“está”, “há”)

inFormalidade (“tá”, “tem”)

redondilhas maiores versos livres

regionalismo temática urbana

Ao final desta etapa, sugerimos a exibição do de-senho animado.

Em uma segunda etapa, deverá ser observado o papel das figuras de linguagem na construção de textos com função poética. Para isso, é funda-mental que se pressuponha tal conhecimento, isto é, os alunos já devem ter aprendido as figuras de linguagem, de modo que agora tal atividade servirá apenas como revisão, ou ainda como uma prática da teoria adquirida.

Uma revisão das figuras de linguagem, divididas nos quatro grupos em que geralmente são sepa-radas, também seria conveniente neste momento.

Figuras sonoras

assonânciaaliteração

onomatopeiaparonomásia

Figuras de construção

anacolutoanáforaelipse

hipérbatopleonasmopolissíndeto

Figuras de Palavra

comparaçãometáfora

metonímiacatacresesinestesia

Figuras de Pensameno

antíteseparadoxo

eufemismoironia

gradaçãopersonificação

Seria importante que o professor avaliasse, ao lado dos alunos, quais as ferramentas utilizadas para a construção da imagem e de símbolos nos poemas de Cabral, dado o papel fundamental que exercem. É nesse sentido que se estudará a importância do uso de figuras de linguagem, sobretudo da metáfora, que é encontrada em Morte e Vida Severina com frequência.

O professor deverá apontar a importância de cons-truções como:

Serramagra e ossuda e paisagem defunta (prosopopeia), Somos muitos Severinos (metonímia), o sangueque usamos tem pouca tinta, ave-bala, só os roçados da morte

compensam aqui cultivar, quem sabe se nesta terranão plantarei minha sina (metáfora), é tão bela como um simnuma sala negativa (antítese),

entre outros muitos exemplos.

É essencial que o professor explicite que o apelo da imagem e da plasticidade, bem como a multipli-cidade de sentidos proporcionada, deve-se ao uso constante das figuras de linguagem que reforçam a temática profundamente associada à miséria, e principalmente à morte.

O filme – do qual os trechos escolhidos já foram apresentados aos alunos – também faz com que se destaquem elementos da narração e, naturalmente

Page 5: as linguagens das imagens - TV Escola · maticidade, torna o filme muito mais expressivo, representando de maneira original, visto que tal imagem não se encontra no poema. Figura

sala de professor morte e vida severina 5

(uma vez que se trata de uma obra audiovisual), dos recursos imagéticos elaborados por Cabral.

Poderá ser feita uma análise do uso das figuras de linguagem no filme, tanto com relação à adaptação daquelas já presentes no poema para o desenho animado, quanto na criação de novas, basea-das, de modo apropriado, na estética do poema e em suas ideias centrais. Poder-se-á chegar à conclusão de que tais recursos expressivos são fundamentais para a adaptação da linguagem do poema para outra: a do desenho animado.

Ao longo de Morte e Vida Severina em desenho animado são percebidos, principalmente, dois procedimentos básicos no que tange ao uso das figuras de linguagem. São eles, possivelmente, as principais ferramentas para a transposição dos gê-

neros: por um lado, o autor do filme recria imagens produzidas por Cabral, como a metáfora da bala-ave (Figura 1). Por outro lado, o processo de releitura é bastante criativo, já que não se limita a representar aquilo que já aparecera no texto original.

É interessantíssimo o procedimento de apro-priação da temática do texto com o fim de se produzirem novas e belíssimas imagens, como se vê na Figura 2, em que se personificam pás utilizadas na escavação de covas, o que está profundamente associado à ideia de morte que permeia o texto de Cabral. Certamente tal figu-ra de linguagem, associada aos efeitos sonoros que, ao acompanharem a cena, apelam à dra-maticidade, torna o filme muito mais expressivo, representando de maneira original, visto que tal imagem não se encontra no poema.

Figura 1: imagem representada da bala-ave. Figura 2: imagem das pás. Figura de linguagem criada pelo autor do desenho.

Nesta última etapa, caberá ao professor analisar com os alunos como são trabalhadas as figuras de linguagem no filme, tanto as que são originadas no texto, quanto aquelas criadas especialmente para o desenho animado. É possível, para que se tenha uma visão mais objetiva desta atividade, construir coletivamente uma tabela como a seguinte:

trechosFiguras de linguagem

Metáfora Comparação Personificação Metonímia antítese

Morte e Vida Severina x

serra/ magra e ossuda x

paisagem defunta x

Somos muitos Severinos x

o sangue/ que usamos tem pouca tinta x

ave-bala x

tão bela como um sim/ numa sala negativa x

Page 6: as linguagens das imagens - TV Escola · maticidade, torna o filme muito mais expressivo, representando de maneira original, visto que tal imagem não se encontra no poema. Figura

sala de professormorte e vida severina6

material

Caderno ou folhas de fichário;

Lápis, caneta, borracha;

Livros com o poema ou equipamento para reprodução de cópias;

Equipamento para exibição do documentário.

etaPas

Leitura comparativa de trechos selecionados de Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, e de Eduardo e Mônica, da Legião Urbana;

Apresentação de trechos do documentário;

Estudo da importância das figuras de linguagem – especialmente as figuras de palavra – na constru-ção dos sentidos do texto e do desenho animado.

veja mais

Aula A linguagem figurada dos textos poéticos, de Mirian Chaves Carneiro. Disponível em: <portaldopro-fessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=21853>.

UM OLhAr PArA O FiLME A PArTir DAS artes cênicas

A obra Morte e Vida Severina, tema do filme em ques-tão, pode ser “olhada” de diferentes perspectivas a partir das Artes Cênicas. Do ponto de vista da história do teatro brasileiro, a montagem desse texto feita pelo TUCA -Teatro da Universidade Católica de São Paulo, em 1965, com coordenação de roberto Freire e mú-sicas de Chico buarque alcançou bastante sucesso e representou o brasil no festival de Teatro de Nancy, na França, onde foi agraciada com o primeiro lugar. Depois disso, realizou temporadas em outras cidades da Europa. Pesquisar um pouco da encenação dessa obra de João Cabral já coloca em discussão questões como: arte e engajamento social; recursos de ence-nação; relação entre a poesia e a cena, entre outras.

O filme proposto é uma excelente oportunidade para o professor de Arte desenvolver os conceitos de: paisagens sonoras, estruturas corais e mo-nológicas, dimensão acústica e arte engajada. As atividades aqui propostas são convergentes

com competências e habilidades propostas na Matriz de referência para o ENEM 2011 para a área de Linguagens, destacamos a competência de área 4 - “Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e in-tegrador da organização do mundo e da própria identidade”, e a sua habilidade h12. Sugerimos a seguir três exemplos de atividades que podem ser desenvolvidas pelo professor de Arte.

atividade 1as muitas maneiras de dizer

iniciaremos o trabalho da disciplina com a música Eduardo e Mônica, do grupo Legião Urbana. A par-tir da letra da música, sugerimos que o professor experimente com os alunos outras possibilidades sonoras e de registro vocal para expressar a histó-ria dos jovens Eduardo e Mônica.

Page 7: as linguagens das imagens - TV Escola · maticidade, torna o filme muito mais expressivo, representando de maneira original, visto que tal imagem não se encontra no poema. Figura

sala de professor morte e vida severina 7

algumas possibilidades práticas

Experimentar dizer o texto da música como quem conta uma história; como quem diz um poema; como quem está dando uma aula; como quem está lendo uma receita culinária; como quem está dando ordens a um exército; como quem está rezando uma missa, etc.;

Criar paisagens sonoras (utilizando recursos vocais, corpo, objetos) a partir das imagens que a letra da música sugere. Ex.: “festa es-tranha” - quais sons poderiam ajudar a com-por essa imagem sugerida pela música?

o que está em jogo nessa atividade?

Trabalho com diferentes registros vocais para a cena;

Discussão sobre as possibilidades de inten-ção com que um texto é dito;

reflexão sobre a dimensão acústica da cena e os diversos recursos sonoros que podem “atuar” quando criamos/analisamos um trabalho cênico.

Ao final da proposta, você encontrará na bibliogra-fia mais sugestões de leituras que podem contribuir na discussão desse3s temas.

atividade 2as muitas vozes do texto / da cena

Analisar uma obra de arte envolve reconhecer as diferentes “vozes” ali presentes. No caso do teatro, poderíamos pensar na “voz/traços” da cenografia, das sonoridades, do texto, da ação dos atores, do ponto de vista da encenação do diretor, etc. No caso de um texto que é utilizado para uma cena, várias são as variáveis que precisamos compre-ender, como: conhecer o seu contexto; identificar os diferentes personagens; perceber as princi-pais ações presentes; visualizar as paisagens/cenários descritos; distinguir as características desses personagens; destacar a citação de ou-tras obras e referências, etc.

algumas possibilidades práticas

realizar uma leitura coletiva do texto Morte e Vida Severina procurando incorporar o trabalho realizado na atividade anterior. Desse modo, um grupo pode ler e o outro tem como objeti-vo criar a atmosfera sonora da passagem que está sendo lida. Ex.: coro de rezadeiras; sertão durante a noite; homens trabalhando na terra; chegada de Severino na cidade, etc.

realizar uma leitura procurando explorar as possibilidades de monólogo e coro que o tex-to apresenta. Nesse caso, dependendo do interesse do professor é possível fazer uma discussão sobre a função de um coro, como esse recurso coral aparece no teatro, onde os alunos já viram ações de um coro, etc.

Após essas atividades, é fundamental que o professor possa conversar com os alunos sobre aspectos do texto: quem, quando, onde, o quê. Seguem alguns exemplos:

• Quais personagens podemos identificar?

• Onde se passa a ação?

• Quais as principais ações narradas?

• há diferentes vozes na narrativa?

• Que aspectos sociais estão presentes no texto?

• Que imagens apareceram na cabeça de vocês durante a leitura?

• Alguém fez uma associação entre o texto e algum fato ocorrido no país?

• Alguém fez uma associação entre o texto e alguma história bíblica?

Professor, esse é o momento de abordar a relação entre o poema de João Cabral e os Autos, como o Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. Embora com características formais diferentes, os dois textos apresentam questões relacionadas ao regionalismo (Nordeste) e uma dimensão trans-cendente/religiosa que talvez possa ser notada no próprio “triunfo da vida” diante de um cenário social bastante desafiador.

Page 8: as linguagens das imagens - TV Escola · maticidade, torna o filme muito mais expressivo, representando de maneira original, visto que tal imagem não se encontra no poema. Figura

sala de professormorte e vida severina8

o que está em jogo nessas atividades?

reconhecer características textuais;

Análise de um texto para a cena;

Perceber o funcionamento de estruturas co-rais e monológicas dentro na cena;

identificar como um texto pode fornecer “pis-tas” para todos os criadores envolvidos em uma montagem teatral (atores, diretor, cenógrafo, fi-gurinista, sonoplasta/músico, iluminador, etc.);

refletir sobre o contexto social de uma obra artística.

Talvez possa ser interessante contar para a turma um pouquinho sobre a primeira montagem desse texto e as reverberações provocadas por ele. Não deixe de trazer nos momentos de avaliação outras percepções que possam ir além das competências cognitivas. Ex.: a turma está conseguindo trabalhar em grupo? Estão exercitando a capacidade de falar e ouvir? Conseguem ouvir e respeitar os diferentes pontos de vista trazidos pelos colegas? Descobriu algo sobre você nas ativi-dades e discussões que fizemos até agora? Alguma discussão que fizemos se relaciona com o conteúdo de outra disciplina que vocês estão estudando?

Nosso papel é sempre o de buscar e em uma oportunidade educativa, dar luz para o desenvol-vimento das quatro competências!

atividade 3 – os universos da arte e os sentidos gerados

Depois disso, mostre uma pintura de Cândido Por-tinari e explore as impressões e percepções deles. Como essa obra dialoga com tudo o que foi discu-tido até agora? Que características encontramos nessa pintura? O que chama a atenção de vocês?

retirantes (1944) – Cândido Portinari

Após a conversa sobre a obra de Portinari, mostre um trecho do espetáculo “Sebastião”, da companhia brasiliense de dança contemporânea baSirah, criado a partir de fotos do fotógrafo Sebastião Salgado.

O objetivo aqui é ajudar os alunos a perceber como um tema pode ser tratado de diferentes modos no rico universo da arte. Como cada linguagem artística se expressa a partir de uma “gramática própria”? Como um discurso pode ser transposto para outra linguagem? Que sentidos podem ser gerados? Como a produção artística dialoga com a realidade social e política que a cerca?

algumas possibilidades práticas

Mostre três cenas do filme em desenho e dis-cuta as características que eles percebem. Su-gestões de perguntas para fomentar a conver-sa: Qual a diferença entre ler o texto e ver esse desenho? Que elementos a equipe que criou o desenho utiliza? Como se dá a relação com o espaço no desenho? Com luz e sombra? Com a voz e a sonoridade? Como o corpo é traba-lhado no desenho? Como o leitor/espectador é “demandado” no texto e aqui no desenho?

Depois de ter explorado um pouco a linguagem do desenho, mostre uma cena da série feita em 1981 pela TV Globo a partir do poema Morte e Vida Severina, disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=REbI_nS_12M>.

Que diferenças vocês percebem entre o texto, o desenho e a série para a TV? O que está em primeiro e segundo plano? Como a câmera guia o nosso olhar? Onde encontramos mais subje-tividade e abstração, no desenho ou na série?

Page 9: as linguagens das imagens - TV Escola · maticidade, torna o filme muito mais expressivo, representando de maneira original, visto que tal imagem não se encontra no poema. Figura

sala de professor morte e vida severina 9

Pesquisar no youtuBe

baSirah dança Sebastião

baSirah dança Sebastião (parte 2)

Após o vídeo, comente as características verificadas na linguagem da dança.

• O que os movimentos dos intérpretes nos provocam?

• O que somos capazes de “ler” nas imagens propostas por esses corpos?

• Como se dá a relação com o espaço? • E com a luz? • Que demandas são postas ao espectador

nesse tipo de trabalho? • Como as sonoridades estão presentes? • Em que superfície os bailarinos estão dançando?

Depois desse “passeio” feito por diferentes lingua-gens, procure discutir com a turma que questões sociais estão presentes em todas as obras analisadas:

• De qual povo e país elas estão falando? • Que discurso esses artistas estão colocando

nos seus trabalhos? • Como essas obras nos afetam?

A partir dessa conversa procure traçar uma refle-xão sobre a produção artística e o contexto social e político onde ela é produzida.

Além disso, essa pode ser uma rica oportunidade para falar sobre arte engajada. Que característi-cas têm essa produção? Uma relação possível é com a própria época em que o TUCA montou Morte e Vida Severina, no contexto da ditadura militar no brasil. Este momento trazia forte par-ticipação do movimento estudantil e de artistas, onde os CPC - Centros Populares de Cultura, da UNE – União Nacional dos Estudantes procura-vam criar espaços de discussões e produções artísticas mais politizadas. Talvez seja importante não firmar um juízo de valor entre a produção artística de caráter engajado e aquela de cará-ter mais “essencialista”. Mesmo sem trazer um discurso social explícito, tendo como objetivo a “arte pela arte”, a produção de uma obra de arte nunca está “descolada” de um contexto histórico, social, político e psicológico ao qual foi criada. Para alimentar essa discussão com temas sociais mais atuais, o professor pode mostrar as duas imagens abaixo e perguntar como elas dialogam com o texto de João Cabral de Melo Neto.

Pergunte aos alunos sobre o tema dessas duas fotos. O que elas dizem? Alguém sabe a que se referem? Depois disso, revele que são imagens encontradas na internet sobre o massacre de Eldorado do Cara-jás, ocorrido em 1996, no Pará.

relacione as fotos ao trecho de Morte e Vida Severi-na: “É a terra que querias ver dividida, é a parte que te cabe deste latifúndio”. O que significa olhar para essas fotos e ler a frase? O que essa nova combi-nação de elementos produz para quem lê? Vejam

que uma obra de arte é feita de escolhas e de um discurso que vai sendo elaborado processualmen-te, um processo que está cheio de referências, de idas e vindas, de elementos mais objetivos e outros mais subjetivos e de influências de toda ordem.

Page 10: as linguagens das imagens - TV Escola · maticidade, torna o filme muito mais expressivo, representando de maneira original, visto que tal imagem não se encontra no poema. Figura

sala de professormorte e vida severina10

Para concluir esse momento, pergunte aos alunos: como a arte dialoga com as questões sociais de nosso tempo? vocês conhecem alguma música, filme, livro que aborde essas questões? Procure ouvi-los, deixe que tragam para a sala de aula o seu repertório; tente gerar análises sobre essas referên-cias tendo como foco elementos da linguagem e não juízo de valor (se é uma obra de arte maior ou menor, boa ou ruim). Por fim, o professor pode mostrar o tra-balho de um artista chamado rapadura Xique Chico, que faz uma inovadora combinação entre elementos da cultura popular nordestina e o rap.

Pesquisar no youtuBe

rAPadura (Norte Nordeste me Veste)

o que está em jogo nessas atividades?

Especificidades das diferentes linguagens ar-tísticas;

As diversificadas possibilidades artísticas para tratar um tema;

A relação entre arte e contexto social e político;

Arte engajada;

A combinação de diferentes signos para a elaboração de um discurso;

Dimensão processual da criação artística.

material

TV e vídeo;

Vídeos da internet previamente gravados;

Cópias do texto Morte e Vida Severina.

etaPas

As muitas maneiras de dizer;

As muitas vozes do texto / da cena;

Os universos da arte e os sentidos gerados.

veja mais

A série “Salto para o futuro” apresenta cinco pro-gramas dedicados à linguagem teatral e práticas pedagógicas. Disponível em: <http://tvescola.mec.gov.br/index.php?option=com_zoo&view=i-tem&item_id=4770>.

UMA CONVErSA ENTrE AS disciPlinas

A proposta aqui apresentada traz um trabalho cola-borativo entre os professores de Língua Portuguesa e Arte (Artes Cênicas). O principal objetivo é criar um espaço privilegiado para que os jovens possam colocar em prática os conhecimentos e habilidades trabalhadas nas aulas anteriores, em que o filme Morte e Vida Severina foi o “disparador temático”. Desse modo, nas próximas atividades os alunos po-derão aplicar suas aprendizagens e descobrir outras,

em um exercício concreto no qual terão de trabalhar em equipe, planejar, executar e avaliar suas ações.

Na perspectiva da disciplina de Língua Portugue-sa, eles serão convidados a produzir textos e a fazer uso das figuras de linguagem. Já nas Artes Cênicas, encenarão os textos produzidos fazendo uso de diversificados signos na busca de constru-ção de sentidos.

Page 11: as linguagens das imagens - TV Escola · maticidade, torna o filme muito mais expressivo, representando de maneira original, visto que tal imagem não se encontra no poema. Figura

sala de professor morte e vida severina 11

etaPa 1: aquecendo os motores Poéticos

O professor de Língua Portuguesa pedirá para que os alunos tentem responder a questão abaixo por meio de uma fotografia – a ser trazida na aula se-guinte – que pode ser tirada com o próprio celular. Caso prefira, o aluno poderá desenhar ou fazer uma colagem:

onde vejo encanto e espanto nas ruas por onde ando?

Na aula seguinte, todos apresentarão suas ima-gens e comentarão o que motivou suas escolhas. Em seguida, o professor perguntará quais as cinco imagens que foram mais instigantes, e mais sensi-bilizaram a turma. A partir das escolhas, os alunos formarão cinco times de trabalho.

Dentro do time, cada aluno terá cinco minutos para produzir um breve texto sobre o que ele sente quando olha para essa imagem. O professor preci-sa orientar o compartilhamento dos textos dentro de cada time. O próximo passo será a produção de um único texto para todo time, com os pontos mais importantes dos textos e as figuras de lingua-gem de cada integrante do grupo.

importante frisar que os alunos devem guardar todo esse material que está sendo produzido, pois será utilizado na aula de Artes Cênicas também.

Após um breve aquecimento físico, o professor de Artes Cênicas pedirá para que os alunos experimen-tem movimentos a partir das fotos escolhidas na aula de Língua Portuguesa. Durante o trabalho, o pro-fessor poderá sugerir comandos que afetem ritmo, velocidade, peso, deslocamentos, etc. A seguir, cada aluno escolherá os três movimentos mais importan-tes durante sua pesquisa de movimento e criará com eles uma “frase de movimentos”, um em seguida do outro. O ideal é que todos possam mostrar sua “frase de movimentos”. O professor poderá dar retornos, destacando qualidades de movimento e sugerindo outras variantes para os alunos melhorarem a quali-dade do trabalho. Em seguida, o professor orientará os alunos na escolha de uma frase do texto que pro-duziram na aula de Língua Portuguesa. O próximo

passo será expressar a frase em movimentos e inte-grar a frase escolhida no texto.

Outros dois exercícios podem ser realizados ainda nesta etapa: no primeiro, os jovens criam improvi-sações a partir das imagens, experimentando os diferentes tipos de falas e situações. No segundo, eles trabalham com objetos em uma roda. Nesse último exercício o professor colocará uma garra-fa com água ou qualquer outro objeto no centro da roda, e os alunos precisam ir ao centro e criar um uso diferente para esse objeto. Por exemplo, o objeto pode ser um sapato e alguém pode de-monstrar sua utilização como se fosse um celular.

etaPa 2: gruPos de traBalho em Processo de criação

Nessa etapa os grupos criam um experimento cê-nico a partir do texto produzido, experimentando criar uma encenação do mesmo. Será fundamental a participação dos dois professores que circularão pelos grupos lançando perguntas, ajudando-os a planejarem o que pretendem fazer.

Os professores precisam saber reconhecer os diferentes potenciais presentes no grupo. Por exemplo, um aluno pode não desejar participar da atividade como ator, mas trabalharia, por exemplo, na trilha sonora da apresentação. O grupo deve se atentar para os diferentes ele-mentos que compõem a cena: texto, figurino, cenário, objetos, maquiagem, trilha sonora, ilu-minação, atuação, coreografias, etc.

É importante o incentivo a cada grupo, estimulando o aprofundamento na linguagem que se deseja expres-sar. Desse modo, pode ser que um grupo prefira fazer um vídeo, outro trabalhe apenas com movimentos corporais, outro com manipulação de objetos, etc.

etaPa 3: o encontro com o PúBlico

Sugerimos que os professores combinem com o colégio uma data para a apresentação dos grupos. Essa pode ser uma atividade que envolva toda a

Page 12: as linguagens das imagens - TV Escola · maticidade, torna o filme muito mais expressivo, representando de maneira original, visto que tal imagem não se encontra no poema. Figura

sala de professormorte e vida severina12

escola no exercício da apreciação estética. Apoie os grupos no tão esperado momento da apresen-tação. É fundamental contextualizar na reunião de coordenação pedagógica qual foi o ponto de par-tida do trabalho e as aprendizagens em questão. Para a avaliação, sugerimos que os professores fotografem as apresentações.

Propomos que a avaliação das atividades seja realizada em uma aula que reúna os dois profes-sores e os grupos. Para iniciar, peça para que os grupos se reúnam e coloque no centro da roda a foto escolhida pelo grupo, o texto produzido e a foto da apresentação. Peça para que observem

os três materiais produzidos e tentem responder a questão: O que eu aprendi nesse processo?

Os integrantes precisarão escolher um relator para responder a pergunta do grupo e durante o processo é importante que anotem em uma folha todas as outras questões que surgirem. Após cerca de vinte minutos de conversa, abra novamente para uma plenária com os relatores de cada grupo as questões levantadas. Nesse processo, é fundamental que os professores valorizem as conquistas de cada grupo, ajude-os a identificar as diferentes aprendizagens e habilidades exercitadas e também aponte os desafios para que os alunos saibam onde podem e devem avançar.

sugestÕes DE LEiTUrA E OUTrOS rECUrSOS

bOAL, Augusto. jogos para atores e não atores. 12ª ed. rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2008.

bOGArTE, Anne. a preparação do diretor: sete ensaios sobre arte e teatro. Tradução Anna Viana. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011.

COrADESQUi, Glauber (org.). teatro na escola: experiências e olhares. brasília: Fundação Athos bulcão, 2010.

DESGrANGES, Flávio. a pedagogia do teatro: provocação e dialogismo. São Paulo: Editora hucitec: edições Man-dacaru, 2006.

MArTiNS, Marcos bulhões. encenação em jogo: experimento de aprendizagem e criação do teatro. São Paulo: hucitec, 2004.

SALLES, Cecilia Almeida. redes da criação: construção da obra de arte. 2ª ed. São Paulo: Editora horizonte, 2008.

SALLES, Cecília Almeida. gesto inacabado: processo de criação artística. São Paulo: Annablume, 1998.

SEAbrA, Aline, et al. (org.). concreto em 7 atos. brasília: Organização Cultural Filhos do beco, 2011.

SPOLiN, Viola. o jogo teatral no livro do diretor; tradução ingrid Dormien Koudela e Eduardo Amos. São Paulo: Perspectiva, 2008.

SPOLiN, Viola. improvisação para o teatro; tradução ingrid Dormien Koudela e Eduardo Amos; 4ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2003.

livros e revistas

Page 13: as linguagens das imagens - TV Escola · maticidade, torna o filme muito mais expressivo, representando de maneira original, visto que tal imagem não se encontra no poema. Figura

Um documentário da TV Escola. Um ponto de partida para grandes trabalhos com os alunos. Assim é o Sala de Pofessor. O progra-ma incentiva os professores de Ensino Médio a desenvolverem projetos que mudem a roti-na em sala de aula. Em cada programa, dois professores convidados criam um projeto a partir de documentários exibidos na TV Es-cola. São sempre propostas e experimentos inovadores, que podem ser reaplicados em qualquer escola do país.

Os trabalhos apresentados são detalhados em dicas pedagógicas como essa e ficam disponíveis no site da TV Escola. Os profes-sores também podem usar as artes criadas para o programa: são animações, tabelas, mapas e infográficos que tornam os con-teúdos mais visuais e interativos. As dicas pedagógicas e as computações gráficas fo-ram transformadas em fascículos interativos para tablets. E o professor também pode navegar pelo material extra do programa no blog do Sala. Para ter acesso a esses pro-dutos, acesse o site tvescola.mec.gov.br ou curta a fan page da TV Escola no Facebook.

Foto

Foto