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Davide Morais Pires 30717 Teorias Sociológicas: os Fundadores Professor Doutor Nuno Dias As metrópoles e a vida mental

As metrópoles e a vida mental_Simmel

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As metrópoles e a vida mentalDavide Morais Pires 30717 Teorias Sociológicas: os Fundadores Professor Doutor Nuno DiasÍNDICEBIOGRAFIA……………………………………………………………………… 2 INTRODUÇÃO……………………………………………………………………. 3 INTELECTUALIDADE COMO PROTECÇÃO………………………………………… 5 VÍNCULO ENTRE ECONOMIA E INTELECTUALIZAÇÃO …………………………… 5 ATITUDE SNOBE ………………………………………………………………… 6 CONCLUSÃO……………………………………………………………………. 91GEORG SIMMELBIOGRAFIAFilho de Edward Simmel e Flora Bodstein, Georg Simmel foi o último dos sete

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Davide Morais Pires 30717

Teorias Sociológicas: os Fundadores

Professor Doutor Nuno Dias

As metrópoles e a vida mental

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ÍNDICE

BIOGRAFIA……………………………………………………………………… 2

INTRODUÇÃO……………………………………………………………………. 3

INTELECTUALIDADE COMO PROTECÇÃO………………………………………… 5

VÍNCULO ENTRE ECONOMIA E INTELECTUALIZAÇÃO…………………………… 5

ATITUDE SNOBE………………………………………………………………… 6

CONCLUSÃO……………………………………………………………………. 9

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GEORG SIMMEL

BIOGRAFIA

Filho de Edward Simmel e Flora Bodstein, Georg Simmel foi o último dos sete filhos

do casal com ascendência judia tanto pelo lado do pai como da mãe.

Em 1874 Edward Simmel morre e Julius Friedländer, amigo da família, torna-se tutor

de Georg tendo-lhe, mais tarde, deixado uma herança expressiva a qual lhe permitiu

seguir a vida académica.

Diplomou-se na Universidade de Berlim passando pelos cursos de filosofia. A sua tese

de doutoramento, também em filosofia, teve com título A natureza da matéria segundo

a monadologia física de Kant e obteve o título em 1881.

Em 1885 foi designado como Privatdozent na Universidade de Berlim e ganhava apenas

o que vinha das taxas pagas pelos estudantes que se inscreviam em seus cursos. Mais ou

menos nessa época, chegou a ter contacto com outro sociólogo alemão chamado

Norbert Elias.

Em 1890 casou-se com Gertrud Kinel, diplomada também em Berlim, de família

católica.

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INTRODUÇÃO

Simmel começa por introduzir no seu texto (As metrópoles e a vida mental) que

o indivíduo para preservar e manter as suas autonomia e existência individualista tem

que enfrentar as “forças sociais da herança histórica, da cultura e da técnica da vida que

lhe são exteriores”1, nas quais Simmel afirma residirem os problemas da vida moderna.

Evidencia também o contraste com outras épocas da História, como por exemplo,

quando o ser humano era primitivo, este teve que se defrontar com as forças da

Natureza para conseguir assegurar a sua existência; no século XVIII a luta foi

caracterizada pela quebra dos laços históricos com o Estado e com a religião, na moral e

na economia, veio a reivindicação da liberdade e igualdade entre todos.

O século XIX, por seu lado, exige uma especialização e esta colocou os

indivíduos em completa interdependência e complementaridade de uns face aos outros.

Neste aspecto Nietzsche (defensor do individualismo, e por tanto sagaz lutador contra as

metrópoles; por ironia do destino ele é mais creditado nas metrópoles2) afirma que o

indivíduo só está desenvolvido em estado pleno quando este está “condicionado pela

mais implacável luta entre indivíduos”3, ao invés os socialistas afirmam que tem de

haver um fim ou eliminação de toda a competição, visto provocar uma luta, no entanto,

ambos concordam que “a resistência oposta pelo sujeito ao seu nivelamento e ao

desgaste produzido por um mecanismo sociotecnológico”4.

A metrópole é vista então como um lugar onde se cruzam estímulos externos e

internos os quais originam uma intensificação nervosa, e esta é o fundamento

psicológico da metrópole, afirma Simmel.

A vida na metrópole é contraposta à vida no “mundo” rural. Numa metrópole é

requerido do indivíduo que ele tenha uma “quantidade diferente de consciência que

aquela que lhe é exigida pela vida rural”5; a vida é mais afeiçoada aos hábitos, o seu

compasso não é tão intenso (é lento) e o “ritmo da vida sensível e mental flui mais

uniformemente”6. No outro pólo – pequenas cidades e meios rurais- as relações têm

1 In Fidelidade e Gratidão e Outros Textos, p. 75.

2 Idem, p92

3 Idem, p. 75.

4 Idem, p. 76.

5 Idem, p.76.

6 Idem, p.76.

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como base os sentimentos e as relações afectivas7. Na metrópole o indivíduo encontra

mais liberdade, enquanto no mundo rural a observação do círculo fechado (que é um

meio rural) torna-se um fardo pesado de transportar por parte de qualquer citadino; as

relações não encontram limites; poderá haver inclusive um sentimento de solidão que só

a metrópole com a sua multidão pode retirar; há um controlo na produção do indivíduo,

sobre as suas opiniões e a sua vida, ou seja, o indivíduo ganha mais liberdade à medida

que o grupo cresce e se desenvolve. No entanto este círculo pequeno, mas fechado, tem

uma grande fraqueza: quando se dão desvios quantitativos e qualitativos do restante

grupo, ele cai sobre si próprio.

7 “ … estas […] têm as suas raízes nas camadas psíquicas mais inconscientes…”, idem, p. 77.

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INTELECTUALIDADE COMO PROTECÇÃO

Simmel afirma que um citadino tipo desenvolve um órgão protector - a mente-

que o faz defender-se das mudanças dos fenómenos e seus contrastes, estas por sua vez,

poderiam causar um desenraizamento por parte do indivíduo. Assim, segundo Simmel,

a reacção a estes fenómenos é desviada para a mente, visto ser ela a menos sensível e “

mais distante das profundezas da personalidade”8. A intelectualidade é vista então, para

Simmel, como uma protecção face à metrópole e revela-se em diferentes manifestações

individuais.

VÍNCULO ENTRE A ECONOMIA E INTELECTUALIZAÇÃO

Em traços gerais a economia partilha com a intelectualidade pontos comuns9.

Simmel aponta o facto de que nas relações racionais as pessoas deixam de ser

indivíduos para serem números, e o seu interesse projectado apenas para a sua produção

materialmente cotejável, ou seja, são relações mais distantes no plano afectivo, no

entanto esta frieza de relações pode ser modificada quando há um conhecimento que

ultrapassa o plano da “amizade” económica (na qual é apenas esperado a prestação de

um serviço e a sua resposta por outrem) e há de facto uma impressão, que Simmel

chama, de mais calorosa.

Neste texto Simmel chama a atenção para a deterioração e perca dos laços entre

o produtor e o comprador, facto, este observável nas metrópoles actuais10

. Esta quebra

da relação entre produtor e comprador tem uma consequência, à qual pode-se chamar

egoísmo económico, este tem por suporte o cálculo económico. Este anonimato entre o

produtor e comprador tem outra consequência: os seus interesses afastam-se

diametralmente em sentidos opostos e traz consigo os intermediários, que também

contribuem para que comprador e produtor se tornem anónimos com maior intensidade.

As condições de vida urbana (influenciadas pela economia monetária) trazem

consigo outros tipos de efeitos, tais como, a mentalidade calculista, como se tudo

8 In Fidelidade e Gratidão e Outros Textos, p. 77.

9 “ Partilham uma mesma maneira prosaica de lidar com os homens e com as coisas […]. O homem

puramente intelectual é indiferente a tudo o que é genuinamente individual, pois daí resultam as relações e reacções que não podem ser esgotadas mediante operações lógicas…”, idem, p. 77. 10

Refiro-me à contemporaneidade de Simmel.

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pudesse-se resumir a cálculos, é tudo construído com base na precisão, e um factor que

contribuiu fortemente para este fenómeno foi a disseminação dos relógios, estes

calculam o tempo com exactidão, tal como os relacionamentos entre os indivíduos se

deviam reger, pela exactidão. E sem esta precisão todas as estruturas (económicas,

sociais) entrariam em completo caos e desordem.11

Assim sendo podemos concluir que

a exactidão, a capacidade de cálculo e a pontualidade, são capacidades sem as quais os

indivíduos não poderiam subsistir num contexto metropolitano. E é nesta etapa que o

indivíduo se defronta com uma das mais implacáveis lutas, a do seu interior12

contra o

modo de vida que a metrópole lhe impõe, e no modo de vida que a metrópole outorga

preciso que o indivíduo tenha de cumprir todos os seus parâmetros sem se desviar.

ATITUDE SNOBE

É então que nasce outra consequência resultante da vida nas metrópoles, é o

snobismo. O snobismo13

caracteriza-se por ser uma manifestação psíquica resultante da

rápida e contínua mudança de estímulos internos e externos que são “inflamados” de

modo extremo e durante muito tempo, o que ao fim de algum tempo revela uma

incapacidade de resistir às novas excitações com a força que é necessária e é

precisamente esta sequência que caracteriza a postura snobe; quem dela partilha são

pessoas que vivenciam uma vida de prazer. Mas nem todos padecem deste snobismo,

apenas os mais abastados, e a este argumento Simmel justifica “…os indivíduos

estúpidos, e desde logo sem grande vida mental, não têm por hábito ser snobes.”14

Esta

atitude snobe pode muito bem ser vista como um exemplo da interiorização da

economia monetária, refere Simmel. O dinheiro por sua vez é considerado o nivelador

dos valores e onde se resumem todos os valores15

; nele todas as coisas perdem o seu

valor e assentam sobre o mesmo patamar de importância face a ele.

11

“… a técnica da vida urbana é inimaginável sem a mais pontual integração de todas as actividades e relações de troca num esquema temporal supra-objectivo”, idem, p. 80. 12

O qual Freud chama ID, zona das pulsões inatas, instintos, lugar onde estão acumulados os nossos desejos. 13

Segundo Simmel o snobismo faz desvanecer a personalidade individual; é nas metrópoles que residem os locais mais propícios para acontecer; é neste fenómeno que nasce a intelectualidade característica das metrópoles, e pode ser visto como “a indiferença face à indiferença das coisas […], o significado e o valor das coisas em si próprias, são encaradas como vãs.”, Fidelidade e Gratidão e Outros Textos, p.81. 14

Fidelidade e Gratidão e Outros Textos, p.81. 15

Não no sentido moral, mas no sentido material.

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De forma a defenderem-se desta intensificação nervosa, os indivíduos adoptam

um relacionamento mais superficial16

; mantem uma reserva em relação ao “outro”, esta

reserva ou indiferença faz-se conscientemente, no entanto não é apenas indiferença,

defende Simmel, ao afirmar que o indivíduo tem uma repulsão, “estranheza mútua e

uma repulsa partilhada que, no momento de um qualquer contacto próximo, […], logo

se tornaria em ódio e em conflito.”17

Ora, como Simmel indica todo o tipo de vida, no

qual são abundantes as interacções, há claramente uma hierarquização de simpatias18

,

desinteresses e de aversões. No entanto a hegemonia que desde logo parece ter a

indiferença, é um engano, pois a antipatia serve de defesa, tanto no nascimento de um

conflito, como no próprio conflito. Esta aversão é, apenas mais uma consequência da

vida urbana, dando aos indivíduos um tipo e uma propriedade de liberdade individual.

Assim sendo conclui-se que esta repulsa é “uma das formas mais elementares de

socialização”19

. Simmel compara a metrópole a um círculo restrito de pessoas, como se

fossem um clã bastante coeso que se defende de grupos estranhos20

e opostos. A tão

pouca liberdade, em contrapartida proporciona uma protecção. É a partir daqui que há

um progresso social, que origina uma divisão, na qual as direcções são diametralmente

opostas21

e à medida que o clã cresce espacialmente e numericamente, esta divisão

esbate-se e cria uma “unidade interna imediata”22

. É então que ganha liberdade de

movimentos, individualidade, pois com o fim do controle que era exercido sobre o

indivíduo, ele começa por dirigir o seu passo pelas regras da sua própria natureza. Este

acontecimento mostra o quão livre somos, pois mostra que não somos orientados pela

vontade de ninguém.

Mas com a divisão do trabalho, ainda que livres, a nossa personalidade torna-se

debilitada graças à especialização que veio com a divisão do trabalho. Esta

especialização tem como objectivo aliciar os compradores.

Outro factor, que para Simmel, é responsável pela liberdade do indivíduo, é que

numa metrópole é a força exercida sobre o espírito subjectivo por parte do espírito

objectivo. Fruto disto é a incapacidade, por parte do indivíduo de conseguir impor a sua

16

Como exemplo disto repare-se nos habitantes de apartamentos que na maioria dos casos nunca viram ou seu vizinho, ou se viram foram poucas as vezes. 17

Idem, p.83. 18

Independentemente de serem duráveis no tempo ou não. 19

Idem, p. 84. 20

Desconhecidos 21

Mas ao mesmo tempo são análogas 22

Idem, p. 85.

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personalidade às instituições, ora estatais ou não, devido à cristalização do espírito e

impessoal. Simmel faz então uma analogia entre a vida e o mar, no qual o indivíduo,

graças à variedade de estímulos, interesses, diversas formas de ocupar o tempo e a

consciência que ele – o indivíduo- não tem que fazer nenhum movimento para deles

usufruir, basta deixar ser transportado pela corrente. Mas estes fenómenos trazem

consigo um perigo para o indivíduo, que nas vozes dos estímulos, lazer, entre outros, ele

deixe-se de se ouvir a si próprio; é aqui que está presente a hegemonia da cultura

objectiva sobre a cultura própria (subjectiva).

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CONCLUSÃO

Após este pequeno “mergulho” no mundo de Simmel, posso afirmar com

certeza que foi, de certa forma, muito agradável e gratificante, pois encontrei um autor

com quem me identifiquei desde o início. Admiro a capacidade de análise que aqui é

apresentada, de facto há uma intensificação de estímulos nervosos – tanto internos como

externos- aos quais estamos expostos diariamente, mesmo na actualidade quando

vivemos em centros urbanos de grande densidade populacional (por exemplo Lisboa).

Por vezes damos conta que, para nós, as coisas perderam algum valor (ao qual Simmel

chamaria de atitude snobe) em relação ao passado, e este por vezes não muito distante.

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BIBLIOGRAFIA

http://pt.wikipedia.org/wiki/Georg_Simmel; em 29-10-2010, pelas 11:36h

Simmel, Georg. 2004. Fidelidade e Gratidão e Outros Textos. Lisboa: Relógio

D’Água. “As metrópoles e a vida mental”