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CACILDO ALVES NASCIMENTO AS MIGRAÇÕES GAÚCHAS NA CONSTITUIÇÃO DAS IDENTIDADES NO MUNICÍPIO DE COXIM – MS (1970-1990) UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL COXIM – MS 2009

AS MIGRAÇÕES GAÚCHAS NA CONSTITUIÇÃO DAS IDENTIDADES NO MUNICÍPIO DE COXIM – MS (1970-1990)

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Pesquisa realizada entre os anos de 2007 a 2009 na cidade de Coxim -MS ,sobre as migrações e identidades gaúchas naquele município nos anos de 1970 a 1990 do século XX.

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CACILDO ALVES NASCIMENTO

AS MIGRAÇÕES GAÚCHAS NA CONSTITUIÇÃO DAS

IDENTIDADES NO MUNICÍPIO DE COXIM – MS (1970-1990)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

COXIM – MS

2009

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CACILDO ALVES NASCIMENTO

AS MIGRAÇÕES GAÚCHAS NA CONSTITUIÇÃO DAS IDENTIDADES NO MUNICÍPIO DE COXIM – MS (1970-1990)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Licenciado em História, ao curso de História da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campus de Coxim, sob a orientação do Professor Mestre Rafael Athaides.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

COXIM – MS

2009

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CACILDO ALVES NASCIMENTO

AS MIGRAÇÕES GAÚCHAS NA CONSTITUIÇÃO DAS IDENTIDADES NO MUNICÍPIO DE COXIM – MS (1970-1990)

COMISSÃO JULGADORA

Orientador: Professor Mestre Rafael Athaides

Examinador (a): Professora Mestre Maria Neusa Gonçalves Gomes de Souza.

Examinador (a): Professora Mestre Eliene Dias de Oliveira Santana.

Coxim, MS 19 de Junho de 2009.

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A todos que estiveram presentes nos

melhores momentos da minha vida e aos

que estiveram nos piores momentos

também durante esses quatros anos.

Dedico aos meus pais, José Felix do

Nascimento Neto e a Aldenora Alves de

Souza que são os motivos da minha

existência e que sempre esteve apoiando as

minhas decisões.

Dedico à minha esposa Larissa Escobar

Bueno Beltrão Alves que nos últimos três

anos tem sido minha grande companheira e

me apoiou incondicionalmente.

Aos meus irmãos Leandro, Glauciene e

Juliano que ainda não tiveram a

oportunidade de estar na academia, mas

que em breve poderão estar.

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AGRADECIMENTOS

Após esta etapa da vida, é razoável que haja um grandioso número de

pessoas que contribuíram direto e indiretamente para o sucesso deste projeto e que

merecem os meus agradecimentos.

Agradeço a Deus pelo dom da vida, e que permitiu que eu pudesse concluir

mais essa etapa da vida.

Aos meus pais, esposa e irmãos que acreditaram em mim e compreenderam

o motivo de minhas ausências em diversas atividades familiar.

À Professora Mestre Maria Neusa Gonçalves Gomes de Souza, que iniciou a

orientação desta pesquisa e também por ser uma grande amiga.

Ao Professor Mestre Rafael Athaides, por me orientar e por sua presteza em

discutir os caminhos desta pesquisa.

Aos professores que passaram por minha vida como aqueles da Escolinha da

Fazenda ou da Escola Agrícola em Barra do Garças, aos professores do Seminários

Diocesano de Presidente Prudente, pois foram essas pessoas que fizeram que

gostassem da Historia e que estivesse hoje aqui.

Aos amigos, Jean Carlos, Paulo Henrique, Tiago, Marques Sandro, Sr. Chico

e Dna Ana, Sr. Célio e Dna Meire e também minha afilhada Yasmin.

A turma do 4º ano de História em especial (Lilian, Marcelão e Herbert).

Ao Sr. Moacir Kohl, Sr. Dorvalino Vieira, Sr. Carmo, Sr. Juliano pelas

entrevistas que foram de grande importância.

A Escola Funlec de Coxim, na pessoa da professora Rosane que concedeu

que fizesse entrevistas com alunos e professores daquela instituição.

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Afixar o rótulo de ‘valor humano inferior’ a

outro grupo social é uma das armas

usadas pelos grupos superiores nas

disputas de poder, como meio de manter

sua superioridade social. Nessa situação,

o estigma social imposto pelo grupo

poderoso ao menos poderoso costuma

penetrar na auto-imagem deste último e,

com isso, enfraquecê-lo e desarmá-lo.

Os Estabelecidos e os Outsiders.

NORBERT ELIAS.

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RESUMO

O esforço empreendido nesta pesquisa foi de investigar como se dá o processo de

construção e/ou manutenção da identidade gaúcha na cidade de Coxim a partir de

movimentos migratórios. O fio condutor foi à análise da identidade gaúcha e a sua

relação com o espaço ocupado. Também foi analisada a auto-imagem do gaúcho

migrante dentro de um processo político nacional, pois esse deixou o Rio Grande do

Sul para vim ocupar as fronteiras do Centro-Oeste.

Palavras-chaves: gaúcho, coxim, identidade, migração.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................09

CAPÍTULO I

A HISTÓRIA REGIONAL E A MIGRAÇÃO GAUCHA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DAS IDENTIDADES EM COXIM, MS.

1.1. História regional e o processo identitário...................................................12 1.2. Coxim e a Migração Gaúcha.........................................................................14 1.3. Identidade no Processo Migratório..............................................................16 1.4. Identidade Cultural........................................................................................18

CAPÍTULO II

MIGRAÇÕES 2.1. Mato Grosso do Sul, Colonização e a Soberania Nacional...........................21 2.2. A Colonização em Mato Grosso do Sul e a Expansão Capitalista...............23 2.3. Os Gaúchos no Estado de Mato Grosso do Sul.............................................25

2.4 Migração e a Nova Fronteira Agrícola de 1970................................................28

CAPÍTULO III A IDENTIDADE GAÚCHA, O MIGRANTE GAÚCHO E OS

ESTABELECIDOS.

3.1. Perfil do Gaúcho Migrante................................................................................31 3.2. Marcha para o Oeste e a Nova Fronteira Agrícola.........................................32 3.3. O Migrante gaúcho em Coxim e a relação com os estabelecidos................35 3.4. A Identidade Gaúcha em Coxim e sua relação com o Coxinense................39

CONSIDERAÇOES FINAIS.......................................................................................43 RFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIA.................................................................................44

ANEXOS....................................................................................................................46

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa se apresenta a partir da observação e da convivência com o

grande número de pessoas em Coxim, descendentes de migrantes da região sul do

país. Surgiram questionamentos a partir daí sobre a formação de “uma nova

identidade”, ou a manutenção das tradições, ou o hibridismo nos descendentes

nesta região, tão diferente do sul do país em seus vários aspectos. Nos dias atuais essa pesquisa se faz necessária pelo resgate e/ou

necessidade de estudar as múltiplas identidades culturais de Coxim a partir do

processo migratório ocorrido entre os anos de 1970 e 1990. O objetivo desse trabalho é mostrar a cidade de Coxim que apresenta uma

multiplicidade cultural, e isso é fruto principalmente da migração. Por isso

acreditamos na importância de estudar as influências da migração e o processo de

"desconstrução e/ou construção" da identidade na sociedade local.

A metodologia utilizada nessa pesquisa deu-se da seguinte maneira; revisão

bibliográfica, pois fizemos uso de obras pertinente à história, a psicologia e

sociologia. A história oral também foi uma vertente da história bastante utilizada,

pois foram feitas entrevistas, com alunos e professores de uma instituição

educacional de Coxim e com gaúchos, empresários, proprietários rurais e

tradicionalistas fundadores do CTG (Centro de Tradições de Gaúchas) Sentinela do

Pantanal na cidade de Coxim.

Além de métodos como revisão bibliográfica, história oral; utilizamos também

para concretizar essa pesquisa a história regional e para isso foi necessário

pesquisarmos a história de Coxim, e a migração gaúcha entre os anos de 1970 a

1990 para, conceituarmos identidade e cultura e realizar a pesquisa empírica através

de entrevistas com migrantes gaúchos.

Esta pesquisa busca fazer parte da História regional, que é uma vertente na

historiografia, mas primeiramente é preciso explicar o conceito de História Regional

para não ser confundido com regionalismo. Também é preciso observar o seu papel

na formação da identidade de um determinado grupo social em uma dada região e

qual a sua abrangência no papel de construção do processo histórico, pois segundo

Corrêa1 essa perspectiva metodológica parte de um estudo particular para entender

1 CORRÊA, Walmir Batista. História Regional em Questão. - Revista Cientifica – editora UFMS. Campo Grande MS 1994

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o geral, e isso buscamos fazer, pois saímos de uma analise da situação sócio-

cultural coxinense para uma abrangência maior que é o processo migratório.

A História Regional é fundamental para entender o processo de formação da

identidade de uma região, principalmente quando se trata de varias origens como é

o caso do município de Coxim MS, pois a cidade é constituída de uma origem

peculiar, dos pantaneiros, e as presenças de migrantes, principalmente, gaúchos e

nordestinos.

O processo de escrita da História Regional, às vezes, supervaloriza o local e

muitos estudiosos ainda olham com desconfiança, pois pode não ser compatível

com a História Nacional devida a fragmentação, mas, porém a História Regional

deve ser confrontada com a História Nacional com pressuposto de alertar para a

realidade nacional e regional.

E para compreender melhor é preciso saber qual a proporção de influência da

História Local. A idéia corrente de estudo regional empregada pela maioria dos

historiadores não resulta de um trabalho de analise conceitual, mas de uma

demarcação presumida. Admite-se que o espaço possui existência independente

das ações individuais e/ou coletivas de atribuições de significados e que ele não

apresenta grandes problemas de apreensão. Mas o lócus é mais do que isso há

complexidade do humano.

A partir da história regional pode-se investigar a identidade de um grupo

social ou de vários grupos devido à mutação em determinado espaços. As relações

entre identidades auto conferidas e atribuídas, contrastes, intercâmbios,

sincretismos, miscigenações, devem ser alvos de investigações, entendendo-se

local, neste caso, como o espaço de transformação onde se efetiva as interações.

Com este intuito fomos buscar a situação da identidade nos descendentes de

sulistas. Ao falar de identidade no processo da construção historiográfica da História

Regional, primeiramente, é preciso saber qual o conceito de identidade que será

abordado nesse trabalho, buscaremos trabalhar com a “identidade metamorfose”,

pois essa identidade não é algo que está pronto e que pode ser apreendido, mas um

processo de atribuições que os indivíduos aplicam as suas práticas sociais.

[...] na “identidade metamorfose”, o que está em jogo é o significado atribuído pelo outro e pelo próprio individuo a vida, aos fatos e acontecimentos que os envolvem, pressupondo que ela não é pré-estabelecida nem pouco que ela faz parte da essência, mas, que é uma

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construção que se dá dentro de uma sociedade, num grupo regional, numa família e através do fazer cotidiano do individuo. 2

A História Local ou Regional é uma produção historiográfica como as demais

e que tem as suas particularidades mais que é parte de um processo para chegar ao

todo, pois é a partir da História Regional é que se podem buscar as mais diversas

identidades dos grupos sociais, como os gaúchos e nordestinos em locais como

Coxim MS; a identidade e o processo histórico é algo dinâmico e metamórfico e são

produtos da ação social do homem e parafraseando Vygotsky3 o homem é um ser

sócio-histórico.

O primeiro capítulo trata do processo de formação identitária e cultural a partir

da migração gaúcha para a região de Coxim.

O segundo capitulo busca discutir a migração e a colonização no estado de

Mato Grosso do Sul como forma de consolidação e expansão do capitalismo no

Brasil.

No terceiro capítulo será abordado a temática gaúchos em Coxim e a

formação da identidade a partir do movimento migratório do Rio Grande Sul para a

região Centro Oeste, sobretudo na década de 1970 na região norte de Mato Grosso

do Sul e a sua relação com as pessoas já estabelecidas aqui anteriormente.

2 FINOCCHIO, Ana Lúcia Ferra. O processo de construção da identidade humana. Pág. 5. – In: URT, Sônia da Cunha (org). Psicologia e práticas educacionais. Campo Grande, Editora UFMS, 2000. 3 VYGOTSKY apud FINOCCHIO, Ana Lúcia Ferra. O processo de construção da identidade humana. – In: URT, Sônia da Cunha (org). Psicologia e práticas educacionais. Campo Grande, Editora UFMS, 2000.

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CAPÍTULO I

A HISTÓRIA REGIONAL E A MIGRAÇÃO GAÚCHA NO PROCESSO DE

FORMAÇÃO DAS IDENTIDADES EM COXIM, MS.

1.1. História regional e o processo identitário.

A partir da observação e da convivência com o grande número de pessoas em

Coxim, descendentes de migrantes da região sul do país. Surgiram questionamentos

e a partir daí, discutiremos sobre a formação de “uma nova identidade”, ou a

manutenção das tradições, ou ainda o “hibridismo” nos descendentes gaúchos,

residentes nesta região, tão diferente do sul do país em seus vários aspectos.

A discussão buscou na História regional, que é uma vertente da historiografia

na tentativa de encontrar explicações sobre a formação da identidade de um

determinado grupo social em uma dada região e qual a sua abrangência no papel de

construção do processo histórico, pois segundo Corrêa.

Assim dentro da perspectiva metodológica do estudo particular e seus reflexos para atingir o geral, a compreensão da História do Brasil deve sem duvida passar pelo resgate e pela analise critica da historiografia regional (aqui entendida como a produção historiográfica sobre determinada região, independente da origem de seus autores). 4

A História Regional é fundamental para entender o processo de formação da

identidade de uma região, principalmente quando se trata de pessoas de varias

origens como é o caso do município de Coxim, MS, cidade constituída por uma

origem peculiar: pantaneiros e migrantes, principalmente, gaúchos e nordestinos.

Ao analisar processo de escrita da História Regional, às vezes, supervaloriza

o local, pois é extremamente focada em pequenas partes determinados espaços

geográficos, porém muitos estudiosos ainda olham-na com desconfiança, pois pode

não ser compatível com a História Nacional devida a fragmentação, mas a História

Regional deve ser confrontada com a História Nacional com pressuposto de alertar

para a realidade nacional e regional.

4 CORRÊA, Walmir Batista. História Regional em Questão. - Revista Cientifica – editora UFMS. Campo Grande MS 1994

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E para compreender melhor é preciso saber qual a proporção de influência da

História Local. A idéia corrente de estudo regional empregada pela maioria dos

historiadores não resulta de um trabalho de analise conceitual, mas de uma

demarcação presumida. Admite-se que o espaço possui existência independente

das ações individuais e/ou coletivas de atribuições de significados e que ele não

apresenta grandes problemas de apreensão5. Mas o lócus é mais do que isso há

complexidade do humano.

A partir da história regional pode-se investigar a identidade de um grupo

social ou de vários grupos a partir do estudo da migração dos indivíduos em

determinados espaços. As relações entre identidades auto conferidas e atribuídas,

contrastes, intercâmbios, sincretismos, miscigenações, devem ser alvo de

investigações, entendendo-se “local”, neste caso, como o espaço de transformação

onde se efetivam as interações entre os homens. Com este intuito fomos buscar a

configuração da identidade nos descendentes de sulistas. Ao falar de identidade no

processo da construção historiográfica da História Regional, primeiramente, faz-se

necessário determinar qual o conceito de identidade que será utilizado nesse

trabalho:

Estaremos trabalhando então, com a identidade como sendo um processo denominado de “identidade metamorfose”, não como dado, como algo que está pronto e que pode ser apreendido. Na “identidade metamorfose”, o que está em jogo é o significado atribuído pelo outro e pelo próprio individuo à vida, aos fatos e acontecimentos que os envolvem, pressupondo que ela não é pré-estabelecida nem pouco que ela faz parte da essência, mas, que é uma construção que se dá dentro de uma sociedade, num grupo regional, numa família e através do fazer cotidiano do individuo. 6

Contudo a história regional deve ser vista como um processo para chegar ao

todo. Assim, através da História Regional, é possível analisar a identidade de um

grupo social, geográfica e temporalmente localizado sem perder de vista sua

inserção no todo nacional, já que a mesma e um processo histórico é algo dinâmico

e metamórfico e são produtos da ação social do homem e parafraseando, pois a

identidade humana é formada a partir da dialética entre homem e o meio social.

5 GONÇALVES, José Henrique Rollo. Histórias Locais, Variedades e Possibilidades. [S.l.], [s.n.] [2000?] p. 03. 6 FINOCCHIO, Ana Lúcia Ferra. O processo de construção da identidade humana. Pág. 5. – In: URT, Sônia da Cunha (org). Psicologia e práticas educacionais. Campo Grande, Editora UFMS, 2000.

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1.2. Coxim e a Migração Gaúcha.

As pessoas que visitam e observam a cidade de Coxim logo percebe que um

de seus traços característicos é a multiplicidade cultural, esta, é fruto principalmente

da migração. Por isso, acreditamos na importância de estudar as migrações e o

processo de "desconstrução e construção" da identidade dos migrantes na

sociedade local.

Coxim é uma cidade localizada na região norte do Estado de Mato Grosso do

Sul, com uma população estimada de 33.408 habitantes segundo dados do IBGE7

(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Apresenta um grande potencial

cultural, contando com três museus cadastrados no Instituto do Patrimônio Histórico

e Artístico Nacional (IPHAN), e também um pólo educacional, com dois campi

universitários, sendo um da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e

o outro da Universidade Estadual de Mato Grosso do SUL (UEMS). No campo

econômico o setor que mais se destaca é a agropecuária com a produção de carne

bovina para exportação e agricultura familiar8.

A cidade Coxim surgiu no século XVIII como ponto de apoio aos navegantes

que iam para a exploração das minas de ouro em Cuiabá, Mato Grosso, e também

foi palco da guerra entre Brasil e Paraguai.

Coxim desde, o inicio de sua história esteve marcado pela presença dos

migrantes, entre esses estão os gaúchos. Dentre os migrantes gaúchos que mais se

destacaram na política de Coxim estão Pedro Mendes Fontoura, Vice-intendente no

período de 1915 a 1918, filho de um gaúcho que participou dos movimentos

revolucionários republicanos no Rio Grande do Sul e Moacir Kohl que foi prefeito por

dois mandatos da cidade de Coxim.

Na própria política municipal é possível enxergar o reflexo do processo de

migração de gaúchos para a cidade. O primeiro gaúcho eleito prefeito (intendente)

de Coxim foi Antonio Ries Coelho, eleito para o período de 1921 a 1923. Mais

diretamente relacionado ao nosso período está à eleição de Moacir Kohl, eleito pela

primeira vez para a gestão de 1993 a 1996. Kohl pertence ao grupo de migrantes

que chegou a Coxim na década de 1970, com a abertura da nova fronteira agrícola, 7 IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro IBGE 2006. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1. Acesso em 23/06/2009. 8 COXIM apud IBGE. Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro IBGE 2006. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1. Acesso em 23/06/2009.

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período que aqui nos interessa. Esta leva migratória ocorreu a partir da década de

1970 em direção a região Centro-Oeste brasileira, sobretudo o sul do Estado de

Mato Grosso, (antes da divisão do Estado de Mato Grosso).

Para entendermos o assunto, primeiramente, talvez seja importante fazer um

breve preâmbulo, tomando como marco inicial a década de 1930, no governo

Vargas. No período, com a implantação das chamadas “colônias nacionais” do

programa “Marcha para o Oeste”, o então o Estado de Mato Grosso passa por uma

nova fase econômica. O interesse principal do governo era povoar territórios que

haviam sido ocupados por estrangeiros na região9.

Em 1940, o governo reorganizou a política de colonização através do

Decreto-Lei número 2009, onde empresas particulares passam a ser as

responsáveis pelo processo de colonização e a partir dessa política surgem algumas

colônias importantes como à colônia de Dourados:

Dentro desta política, em 1943, é criada a colônia Agrícola Nacional de Dourados, no sul do Estado. Esta colônia, além de ter marcado a expansão da atividade agrícola comercial do Estado, até então pecuarista-extrativista, foi fator que favoreceu grandes fluxos migratórios. 10

Mas por que ocorre esse fluxo migratório para o Estado de Mato Grosso,

sobretudo a partir de 1978? A partir desse período a colonização dirigida ocorre

devido aos conflitos sociais na região Sul e a disponibilidade de terras do governo

federal as margens da rodovia federal BR 16311.

A partir da década 1970, os governos militares estavam preocupados em

consolidar o sistema capitalista no país, mas o Estado de Mato Grosso era

considerado zona de conflito, segundo Weingartner, sobretudo o sul do estado que

lutava pela emancipação político-administrativa. Para minimizar as pressões no meio

urbano e rural e também viabilizar o crescimento econômico, o governo do

Presidente Médici em 1967, cria o 1º Plano Nacional de Desenvolvimento12, com um

grande investimento em obras publicas (um exemplo disso é a hidrelétrica de Itaipu).

A partir de então o governo indeniza as famílias prejudicadas com essas obras e 9 QUEIROZ, Paulo Roberto Cimo. Temores e Esperanças: o Antigo Sul de Mato Grosso e o Estado Nacional Brasileiro. Pág. 26-7-8. – In: MARIN, Jérri Roberto e VASCONCELOS, Cláudio Alves de (orgs). História, região e Identidades. Campo Grande, Editora UFMS, 2003. 10 CASTRO, S. Pereira e outros. A colonização Oficial em Mato Grosso: “a nata e a borra da sociedade”. Cuiabá: EdUFMT. 1994. p 71. 11 WEINGARTNER, Alisolete Antonia dos Santos. São Gabriel do Oeste: memória e imagens de uma história. Campo Grande Midiograf. 2005. 12 FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. São Paulo: Edusp, 2006. p 273.

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estimula a migração de pessoas dos Estados da região Sul para o Sul de Mato

Grosso.

Duas iniciativas foram fundamentais para a colonização do oeste do Brasil, e

no caso o Norte do MS, atual Coxim. A Marcha para o Oeste, que Getúlio Vargas

implantou na década de 1930, e na década de 1970, o incentivo do governo militar,

que disponibilizou terras na beira da rodovia 163, pelo fato de Mato Grosso ser

considerado como zona de conflito.

O Presidente Médici na década de 1970 incentivou a migração para o Mato

Grosso a partir do sul do Brasil, onde ocorria na época uma série de conflitos

sociais. Assim, o governo buscava estimular a economia e abrir uma válvula de

escape para as revoltas sociais. A maioria dos migrantes veio com alguns recursos

próprios, pois venderam o que tinha no Rio Grande do Sul para comprar terras em

Mato Grosso, mas outros gaúchos também receberam terras do governo federal.

Quase todos se dedicaram à agricultura.

Portanto o que notamos é que o processo migratório para o Estado de Mato

Grosso ocorre desde década de 1930, incentivado pelo governo e se intensifica a

partir de 1970, com os governos militares que querem uma ocupação econômica da

região e também como válvula de escape de conflitos de outras regiões, sobretudo a

região sul.

O que se pode notar é que o município de Coxim, hoje Mato Grosso do Sul

não recebeu projetos de incentivos a migração como a vizinha São Gabriel do

Oeste, com o Programa de Desenvolvimento do Centro-Oeste (PRODOESTE), em

1972; a despeito disso, a cidade se localiza as margens da rodovia federal BR 163 e

conta com um número considerável de migrantes da região sul do Brasil, vindos na

mesma época ou a partir de um processo de remigração.

1.3. A identidade no processo migratório

A relação entre identidade e diversidade cultural é fundamental para

compreendermos o processo (re) construção identitária de grupos migrantes

ocorrido para a região Centro-oeste brasileira, a partir da década de 1970, sobretudo

na cidade de Coxim, MS. A partir de então discutiremos a identidade dentro da

perspectiva de Stuart Hall e Vygotsky.

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Para Hall, (1997) o mundo moderno vive uma crise de identidade, pois há

uma mudança estrutural no fim do século XX, onde a interação humana ocorre muito

rápido e constante, o que é chamado de processo de globalização. A identidade em

Hall passa por três concepções, que são o sujeito do Iluminismo, sujeito sociológico

e sujeito pós-moderno, mas o que são cada um deles? O sujeito do Iluminismo é o

aquele que tem a sua própria identidade desde seu nascimento, pois por mais que

desenvolvesse permaneceria a mesma essência; já o sujeito sociológico é o que

forma a sua identidade a partir da relação com outros seres, pois há uma interação

social ao contrario do iluminismo que mantinha sua essência. O processo de

interação humana no qual projetamos a identidade cultural tornou-se provisório, e

conseqüência disso é o sujeito pós-moderno que não tem uma identidade

permanente, pois mudam rapidamente de acordo com as culturas que o cercam e

esse processo “e definido historicamente e não biologicamente”, há uma constante

mudanças de identidade, pois para Hall, (1997):

A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é fantasia. Ao invés disso,à medida em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente.13

A partir de então o que podemos notar é que a crise de identidade ocorre com

o sujeito sociológico e posteriormente com o sujeito pós-moderno, assim também

poderíamos analisar a situação do migrante gaúcho para a cidade de Coxim – MS

ou até mesmo do sujeito da região que sofre essa interação cultural, pois o migrante

do sul vem com sua cultura, tanto é que criam em determinadas regiões do país os

Centros de Tradições Gaúchas, mas até que ponto essa identidade é mantida, pois

sabemos que há uma interação entre o migrante e o habitante local, mas o sujeito

local também sofre influências na sua identidade, e a partir dessa analise é que

podemos concluir que a concepção do sujeito sociológico e pós-moderno de Hall se

encaixam perfeitamente nessa situação e que posteriormente Vygotsky nos dá a sua

contribuição.

A identidade em Vygotsky na perspectiva sócio-histórica aproxima-se das

concepções do sujeito sociológico e pós-moderno de Hall, e nos mostrar que a 13 HALL, Stuart. A identidade cultural na pos-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 1997. p. 13

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mesma ocorre a partir do conjunto de relações sociais, pois o homem é um ser

social, sendo “produto é produtor da história”. A identidade é algo metamórfico, pois

está em constante transformação, principalmente a partir do século XX com os

processos revolucionários e a globalização, não há um padrão pré-definido e isso

possível perceberem em Hall quanto em Vygotsky. “Dentro desta perspectiva, as

características tipicamente humanas se formam ao longo da história da Humanidade

e se desenvolvem durante toda a vida de um individuo resultantes da interação

dialética do homem e do meio sócio-cultural” 14.

1.4. Identidade Cultural

Conceituando cultura: o que ouvimos no mundo pós-moderno a respeito da

cultura é a banalização da mesma, pois tudo é cultural ou é cultura, mas a final o

que é realmente cultura? Para tentar entendermos melhor esse conceito

buscaremos na filosofia esse significado, principalmente a cultura como ordem

simbólica, e a partir de então é que Chauí nos dá esse conceito: “A cultura é

instituída no momento em que os homens determinam para si mesmo regras e

normas de conduta que asseguram a existência e conservação da comunidade”15.

A cultura como ordem simbólica é a capacidade do individuo de dar juízo de

valor a determinadas coisas, pois o homem atribui significados a determinados atos

e coisas, assim criando as suas próprias regras de convivência e a partir da citação

acima o nota-se é que a cultura só é estabelecida quando se tem um grupo de

seres.

Esse processo de estabelecimento cultural ocorre graças a dois fatores à

linguagem e o trabalho, pois, “quanto mais diferenciada é uma cultura, maior é a

necessidade de aprendizagem, tanto a aprendizagem não formal como a linguagem

oral, como a formal” 16. A linguagem além de exercer o poder dominador exerce

também o poder de pertencimento, a partir de então o individuo sente pertencente a

um determinado país ou região como é o caso dos gaúchos, pois pelo modo de falar

14 VYGOTSKY apud FINOCCHIO. O processo de construção da identidade humana. p. 55. – In: URT, Sônia da Cunha (org). Psicologia e Práticas Educacionais. Campo Grande, Editora UFMS, 2000. 15 CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13ª ed. São Paulo. Ática. 2000, p 250. 16 CAMARGO, Ana Fariade F. P. de. Um Estudo sobre a Linguagem e as representações sociais. p 129. In: URT, Sônia da Cunha (org) Psicologia e Praticas Educacionais. Campo Grande, Editora UFMS, 2000.

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19

é possível identificar que o individuo é da região sul do Brasil e que isso faz parte da

sua cultura. A linguagem como a música é também um instrumento de transmissão

de conhecimento de um determinado povo de geração para geração, pois transmite

toda cultura e tradição e estabelece o pertencimento do individuo a um grupo social

bem como a sua posição em relação ao mesmo, e esse conjunto estabelecido é

cultura. Outra questão que podemos estabelecer a respeito da cultura segundo

Chauí é que não existe a cultura e sim as culturas, pois a cultura é formada de uma

multiplicidade devido à transformação social que ocorre no decorrer dos anos em

uma mesma sociedade.

E tratando de culturas no plural é possível falar de cultura de massa e

indústria cultural, mas como definirmos esses conceitos? A indústria cultural

possibilita o acesso da massa à cultura que até então era privilégios de poucos

como livros e obras de artes através do radio, cinema entre outros meios de

comunicação surgida a partir da revolução industrial, pois segundo Benjamin essas

invenções possibilitaria a democratização da cultura17.

Segundo Chauí18 a massificação cultural promovida pela indústria às artes

corre o risco de perder a sua simbologia e o seu valor, pois a indústria cultural não

atinge somente as obras de arte, mas também o pensamento crítico humana; e isso

e chamado de vulgarização da cultura ao invés de uma difusão cultural.

Mas se olharmos a cultura definida por Marx, não é a manifestação do

Espírito, mas a manifestação material que muitas vezes não escolhera, e o resultado

material disso são chamados cultura, por que a “história não narra o movimento do

Espírito, mas as lutas reais dos seres humanos reais que produzem e reproduzem

suas condições materiais de existência19...”.

Portanto a cultura está presente em todos os atos da relação humana e claro

é definida pelo grupo para estabelecer a convivência do grupo em determinado

espaço geográfico e temporal da história da humanidade. Pretendemos então

desvelar a cultura e a identidade do Coxinense, descendente dos migrantes do sul

do país.

Como sabemos que a identidade não é fixa, ela se transforma ao longo da

vida, tanto para Vygotky, como para Hall e Finocchio, ocorrendo interações

17 BENJAMIN apud CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 7ª ed. São Paulo. Ática. 2000, p 329. 18 CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 7ª ed. São Paulo. Ática. 2000, pp. 330-331. 19 MARX apud CHAUÍ, Marilena. op.cit, p 293

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dialéticas, no meio sócio-histórico. E nessa convivência vai se realizando a

metamorfose identitária. A cultura é composta por elementos que estão presentes

em todos os atos da relação humanas, e claro é definida pelo grupo para

estabelecer a convivência do grupo em determinado espaço geográfico e temporal

da história da humanidade, desta o homem é influenciado e influencia. Isso explica

em parte a reação dos analisados e que podemos perceber nas respostas aos

questionários realizados com alunos e professores de uma determinada instituição

de ensino

A partir das leituras e da aplicação dos resultados de entrevistas realizados

com alunos e professores de um estabelecimento de ensino de Coxim pode-se

concluir que os adultos escolheram morar em Coxim, se adaptaram, mantendo

algumas tradições, como freqüentar o CTG (Centro de Tradições Gaúchas), ouvir as

músicas, comer pratos típicos, como massas, churrasco, e chimarrão e não

pretendem voltar ao sul de mudança. Eles vêem o potencial da região, a despeito do

clima árduo diferente do sul com as temperaturas muito baixas.

Os jovens vieram com as famílias ou nasceram aqui. Gostam do local, mas

sentem vontade de viver no sul, admiram a natureza e o potencial, reclamam de

pouco trabalho20. Preferem massas e churrasco como pratos principais, tomam

tereré, a chimarrão, mas ouvem músicas sertanejas. Ambientaram-se, têm amigos,

vão as festas religiosas e populares da cidade.

Notamos a principio que não permaneceu ou prevaleceu uma tradição

identitária do sulista, mas algumas das suas peculiaridades, eles mantém algumas

características fortes. Porém também não surgiu uma identidade totalmente nova,

criada de uma mistura, o que vemos como mais marcante é o hibridismo, algumas

características fortes do sul, harmonizadas com outras características fortes, da

região de Mato Grosso do Sul.

Portanto a partir das entrevistas percebe-se que o migrante gaúcho convivem,

com nossa música, se alimenta do arroz carreteiro, churrasco com mandioca, pois

se sentem bem, não são discriminados em Coxim e não pretendem mudar de local.

20 Alunos e Professores da Escola Funlec de Coxim – MS. Entrevista 05/06/2008. Entrevistador: Cacildo Alves Nascimento. Coxim – MS: UFMS/CPCX.

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CAPÍTULO II

MIGRAÇÕES

2.1. Mato Grosso do Sul, Colonização e a Soberania Nacional.

O Estado de Mato Grosso e posteriormente Mato Grosso do Sul (região sul de

Mato Grosso, até 1979) tem as migrações como principal motor para a ocupação

territorial desde um período longínquo, conforme veremos neste capítulo. Os

espaços que correspondem aos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul

ocuparam destaque na política de consolidação do Estado brasileiro desde o século

XVIII, porém sempre compreenderam uma região estratégica e também conflituosa,

por, em primeiro lugar, ser responsável pela consolidação da fronteira nacional e,

segundo, pelo contato entre vários povos, pois “... caracterizaram-se como áreas de

contatos e conflitos principalmente entre indígenas, castelhanos, portugueses,

brasileiros, paraguaios e bolivianos”. 21

A região de Mato Grosso foi sempre motivo de preocupação para a soberania

do Estado, nos debates dos dirigentes portugueses e posteriormente do Estado

nacional brasileiro, devido à distância da região com centro político do território. A

região só foi colocada em contato com o litoral do país a partir da implantação da

navegação no rio Paraguai. A partir da consolidação deste canal de comunicação,

muitos migrantes vieram para a região: “tanto Corumbá como outras povoações de

Mato Grosso recebem também expressivos contingentes de estrangeiros,

sobretudos emigrantes paraguaios”. 22

O contingente não foi somente o de emigrantes, mas também o de empresas

estrangeiras, sobretudo nas cidades de Corumbá e Cuiabá.

Preocupado com a proteção da soberania nacional o governo decidiu

nacionalizar as comunicações implantando a linha férrea entre Mato Grosso e o

restante do país em 1914, de acordo com Queiroz:

21 QUEIROZ, Paulo Roberto Cimo. Temores e Esperanças: o Antigo Sul de Mato Grosso e o Estado Nacional Brasileiro. Pág. 23. – In: MARIN, Jérri Roberto e VASCONCELOS, Cláudio Alves de (orgs). História, região e Identidades. Campo Grande, Editora UFMS, 2003. 22 Ibidem, p. 25.

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A Noroeste do Brasil (NOB) passou a ligar, desde 1914, as barrancas do rio Paraguai, em Porto Esperança, a Bauru e ao porto de Santos, e é inegável que ela constituiu um lance estratégico decisivo, pelo qual o Estado brasileiro conseguiu nacionalizar as comunicações mato-grossense, extinguindo a anterior dependência dos circuitos platinos. A ferrovia, de fato, logrou satisfatoriamente encaminhar, diretamente para o Sudeste brasileiro, o grosso dos transportes anteriormente efetuados pela via do estuário do Prata. Contudo, seria certamente exagerado considerar que, mediante a construção da estrada de ferro, se houvessem dissipado todos os temores dos grupos dirigentes brasileiros, com relação a Mato Grosso. 23

O governo brasileiro tomou algumas providencias, além da implantação da

Ferrovia Noroeste do Brasil. Também foram criadas as estradas de rodagem e

quartéis militares a partir das décadas de 1920 e 1930 nas cidades fronteiriças.

O governo Vargas foi o período de maior incentivo de ocupação da região de

fronteira e algumas medidas foram tomadas sendo ela:

[...] a mais notável parece haver sido a política chamada de ‘nacionalização das fronteiras’, posta em pratica pelo governo ditatorial do Estado Novo como parte do vasto programa centralizador, de inspiração autoritária, que se buscou implementar no Brasil após a revolução de 30.24

A partir da citação acima é possível perceber que essa nacionalização da

fronteira, representa os primeiros indícios das políticas e incentivos à migração e

ocupação do sul de Mato Grosso. De acordo com Queiroz a partir de 1941 o

Governo Vargas através do Conselho de Segurança Nacional e da Comissão da

Faixa de Fronteira nega o arrendamento dos ervais na região de fronteira à

Companhia Mate Laranjeira e desde então as terras ocupadas pela empresa

passam pelo processo de colonização nacional e em 1943 foi criada Colônia

Agrícola Nacional de Dourados (CAND) no também recém criado Território Federal

de Ponta Porã.

Tendo em vista o que foi mencionado acima, o Estado de Mato Grosso do

Sul por estar em região de fronteira e por ter recebido políticas de colonização

apresenta um índice de migração acima da média nacional conforme Martins:

O Estado de Mato Grosso do Sul tem demonstrado, ao longo da sua ocupação, taxas de imigração superiores à média dos estados brasileiros. Para 1980, segundo o IBGE (Anuário 1990), a taxa de imigração liquida no Brasil era 15,29% no Centro-Oeste, era 35,14% e, no Mato Grosso do Sul,

23 QUEIROZ, Paulo Roberto Cimo. Temores e Esperanças: o Antigo Sul de Mato Grosso e o Estado Nacional Brasileiro. Pág. 29. – In: MARIN, Jérri Roberto e VASCONCELOS, Cláudio Alves de (orgs). História, região e Identidades. Campo Grande, Editora UFMS, 2003. 24 Ibidem, pág. 32.

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era 36,08%. Ao mesmo tempo, a emigração liquida no Mato Grosso do Sul tem mostrado menor que no resto do país: para o Brasil, em 1980, era 15,46; para o Centro-Oeste, erra 13,20; e, para o Mato Grosso do Sul, era 11,79. 25

Nota-se que os municípios sul-mato-grossenses apresentam o mesmo

quadro, como é caso de Coxim, localizado na região norte do estado, pois o

município apresenta o seguinte, nos anos de 1980, a população migrante era de

52,14%, já em 1991, a população de migrantes passou para 44,42% da população

local. 26

Também se faz necessário ressaltar o real motivo do alto fluxo migratório de

uma região para outra, pois segundo Martins:

Dentre as causas das migrações, Hugon (1978) identificou as causas repulsivas (desemprego tecnológico, calamidades, nomadismo agrícola) e causas atrativas (econômicas: desenvolvimento desigual das regiões; e psicológicas; os meios de comunicação possibilitam a comparação). 27

Os processos migratórios favoreceram o crescimento demográfico nacional e

regional e a partir de causas como as que foram citadas é que fica claro como

ocorreu o processo de migração e colonização da região sul de Mato Grosso, atual

Estado de Mato Grosso do Sul e também nos possibilita fazer uma analise do

mosaico da identidade sul-mato-grossense e toda essa situação colocada nesse

item podem ser melhor entendida no item a seguir.

2.2. A Colonização em Mato Grosso do Sul e a Expansão Capitalista

Conforme discutimos anteriormente, o processo migratório para terras sul-

mato-grossense esteve vinculado ao sistema empresarial, mas não foi voltada

somente a migração interna gaúcha, e sim num contexto internacional, sobretudo

com empresas japonesas, desde década de 1920 e posteriormente nas décadas de

40, 50 e 60 quando se intensifica a presença de migrantes japoneses na região.

A imigração para o Brasil estava respaldada pelas empresas estatais

japonesas entre elas a JAICA (Japan International Cooperation Agency) com sede

no Japão, mas subsidiava empresas como: JAMIC (Japan Managemant Imigration

25 MARTINS, Gabriela Islã Villar. Indicadores demográficos e de desenvolvimento socioeconômico de Mato Grosso do Sul (1970 – 1996). Campo Grande, UCDB, 2000. pág. 83 26 MARTINS, Gabriela Islã Villar. op. cit. p 170 27 Ibidem, op. cit. p 50.

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Company) e a JEMIS (Japan Emigration Service) que eram empresas juridicamente

brasileiras, mas dirigidas por japoneses.

O governo japonês só passou a preocupar-se com a emigração após a

Segunda Guerra Mundial:

Antes da guerra, não existia grande preocupação do governo japonês em

promover a emigração como forma de atenuar problemas demográficos.

Depois da guerra, ocorreu o retorno de grande contingente populacional

(cerca de 6 milhões), de áreas que antes eram ocupadas pelo processo de

expansão imperialista.28

As empresas que faziam essa interlocução na imigração japonesa não tinham

o lucro como causa final e sim a função social, que era de tirar os desempregados

do Japão para introduzir em outros países a fim de eliminar os problemas sociais

pelo menos aparentemente29.

As empresas de imigração compravam terras e financiavam para os

imigrantes e a principal colônia que a JAMIC desenvolveu em Mato Grosso do Sul

foi a colônia de Várzea Alegre.

Um dos grupos que mais se destacou foi o Grupo Matsubara, pois tinha

capital estrangeiro e a sua experiência em colonização foi decisiva para a escolha

de Mato Grosso do Sul pela JAMIC, para assentar os imigrantes japoneses.

Os colonos japoneses vinham na maioria das vezes com seus lotes

adquiridos junto às empresas; enquanto que outros adquiriam quando chegavam

aqui, pois os contratos eram feitos no Japão e pagos na moeda japonesa a primeira

parte do capital, já o restante era pago no prazo de cinco anos na moeda corrente

brasileira, pois as financiadoras não tinham interesses que os colonos vendessem

seus lotes para que as empresas não ficassem no prejuízo.

O que as empresas faziam para incentivar a imigração para o Brasil era a

propaganda, pois vendiam uma imagem de prosperidade aos japoneses: “Os filmes

apresentados eram de fazendas já formadas, com seus cafezais em plena produção,

28 VASCONCELOS, Cláudio Alves de. A colonização dirigida e imigração japonesa: elementos constitutivos da identidade sul-mato-grossense p. 50. In: MARIN, Jérri Roberto e VASCONCELOS, Cláudio Alves de. História, Região e Identidade. Campo Grande, Editora UFMS. 2003. 29 VASCONCELOS, 2003, loc. cit.

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ou repleta de bovinos com toda infra-estrutura para o cultivo ou para a criação de

animais”. 30

Outro aspecto e a ocupação da região que está vinculada à expansão do

capitalismo desde o século XIX, e a partir desse momento há também problemas

com os povos indígenas. O governo do estado Mato Grosso também estava

interessado colonização do espaço da Colônia Várzea Alegre, pois essa colonização

era estratégica para manter a integridade do território nacional.

A Colônia Várzea Alegre foi escolhida pelos colonos japoneses devido às

propagandas de que tudo que se plantava colhia, mas a realidade era bem diferente.

A colonização de Várzea Alegre foi decepcionante, pois não era tudo o que os

colonos esperavam.

Diante dos fatos apresentados sobre a imigração como maneira entender a

identidade sul-mato-grossense e possível notar que são varias as origens do povo

sul mato-grossense e não é possível falar em uma só identidade, mas em varias

conforme nos afirma Vasconcelos:

“Não é possível para o momento falar da identidade sul-mato-grossense, mas de identidades que, nesse jogo dialético da história, vem, no dia-a-dia, construindo novas ou superando antigas relações, ou ainda, reproduzindo relações conservando em suas bagagens. Os japoneses, em MS, já compõem parte expressiva desse mosaico”. 31

Portanto o que é possível notar é que a colonização de Mato Grosso do Sul

esteve sempre ligada ao fator econômico na expansão do capitalismo e estratégico

na proteção da fronteira, além de servir como local adequado para desafogar os

problemas sociais de outras regiões e de outros países respectivamente Rio Grande

do Sul e Japão.

2.3. Os Gaúchos no Estado de Mato Grosso do Sul.

Após termos discutidos a imigração para Mato Grosso do Sul passamos então

a discutir a migração gaúcha, pois a primeira grande leva de gaúchos chegaram ao

sul de Mato Grosso no final do século XIX e início do século XX, pois.

30 VASCONCELOS, Cláudio Alves de. A colonização dirigida e imigração japonesa: elementos constitutivos da identidade sul-mato-grossense p. 53. In: MARIN, Jérri Roberto e VASCONCELOS, Cláudio Alves de. História, Região e Identidade. Campo Grande, Editora UFMS. 2003 31 VASCONCELOS, Cláudio Alves de. op. cit. p 72.

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[...] vieram famílias inteiras, milhares de pessoas de todas as classes sociais e condições econômicas, muitos federalistas e também alguns republicanos e neutros, que procuravam seu bem estar, sua tranqüilidade nestas paragens longínquas do território brasileiro. 32

A principio esses migrantes do sul estavam em busca de tranqüilidade,

fugindo dos conflitos sociais que ocorriam em seu território, pois entre os anos de

1891 e 1895 a Revolução Federalista tomava conta do Rio Grande do Sul.

Os gaúchos migraram em massa para a região de Mato Grosso do Sul a partir

de 1893 de acordo com Rodrigues:

A migração em massa de gaúchos registrou-se, pois, a partir de 1893, quando, inúmeras famílias, atravessando o território paraguaio atingiram os povoados de Bela Vista, Ponta Porã, Nhu – Verá e Ipehum (atual Paranhos) onde passaram a viver nos campos da região, acolhidos graças à complacência de Tomaz Laranjeira, concessionário da extração do mate. 33

A instalação desses gaúchos na região de fronteira deu-se ao processo de

extração do mate conforme a citação e também devido às características da região,

pois parecia até um prolongamento dos pampas além de ter o mate para o

tradicional chimarrão.

Conforme foi citado anteriormente, muitos gaúchos importantes na Revolução

Federalista vieram também para o sul de Mato Grosso e passaram a fazer parte das

organizações políticas da região, então nota-se que a presença dos mesmos na

política é algo que acontece desde o seu estabelecimento na região como podemos

conferir:

Em Nioaque, então prospera cidade sulina, centro de reações políticas, refugiara-se, em 1901, o advogado rio-grandense João Barros Cassal, tribuno famoso que fizera parte do ‘governicho’ que dominou o Rio Grande após a renuncia de Julio de Castilho em 1891. Possuidor de esplendida facilidade de comunicação, arrastava, graças ao seu verbo inflamante, verdadeiras multidões, quando ainda em Porto Alegre. Em Nioaque aliou-se a João Ferreira Mascarenhas, 2º vice-presidente do Estado, revolucionário matogrossense. Como advogado de inúmeros posseiros, revoltou-se contra a morosidade e a indecisão do governo de Cuiabá em deferir os processos dos quais era patrono, mas que não interessavam à Empresa Mate-Laranjeira e aos seus aliados os irmãos Murtinho. Tendo sido paladino da liberdade do Rio Grande, em mato Grosso torna-se divisionista, pregando a separação do sul do Estado. 34

32 ROSA, Pedro Ângelo da. Apud RODRIGUES, J. Barbosa. História de Mato Grosso do Sul. São Paulo. Editora do Escritor. 1985. p 133. 33 RODRIGUES, J. Barbosa. História de Mato Grosso do Sul. São Paulo. Editora do Escritor. 1985. p 136. 34 Ibidem, p 137.

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Portanto, os gaúchos foram grandes contribuintes para a emancipação da

região sul de Mato Grosso através do movimento divisionista e também contribuíram

para o desenvolvimento político da região, pois os grandes lideres35 desse

movimento eram gaúchos ou de origem, porém esse assunto de divisão do estado

não é o nosso foco, mas não podemos deixá-lo de mencionar.

Segundo Rodrigues36 os gaúchos empenharão na luta contra o domínio da

Companhia Mate-Laranjeira que era a senhora de todos os ervais da região de

fronteira. Mas foi com a vitória da Revolução de 1930 que os gaúchos conseguiram

mais destaque no Estado, pois o gaúcho Getúlio Vargas estava no poder e

consequentemente nomeou como interventor de Mato Grosso o também do Rio

Grande do Sul Coronel Antonino Menna Gonçalves e isso fizeram com que

reacendesse o desejo de migrar para a região. 37

Após o período em que Vargas esteve no poder e a migração gaúcha foi

muito forte para o Sul de Mato Grosso, houve novamente um período de grande

migração que ocorreu na década de 1970, pois nesse período não só os gaúchos

vieram, mais os paranaenses e catarinenses e esses povos dedicaram a produção

agrícola e a transformação dos cerrados em lavouras de arroz, milho, soja e trigo,

sobretudo nos municípios de São Gabriel do Oeste e Ponta Porã, além da região da

grande Dourados.

Na década de 1970 ocorreu a divisão do Estado de Mato Grosso, mais

especificamente em 1977, no qual a região sul passou a denominar Mato Grosso do

Sul e então:

[...] essa migração atingiu o clímax, dada a justa euforia que tomara conta de todos. Em conseqüência, vilarejos até então modorrentos, se transformaram em povoados trepidantes enquanto que outros núcleos populacionais surgiram quase de um dia para outro. Instalando o primeiro governo do Estado, contingências de ordem política ensejaram a nomeação de um governante vindo, coincidentemente, de terras gaúchas. 38

35 RODRIGUES, J. Barbosa. História de Mato Grosso do Sul. São Paulo. Editora do Escritor. 1985, p 145. 36 Ibidem, p 143. 37 RODRIGUES. op. cit, p 138. 38 ___________, loc. cit.

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Portanto, é possível perceber que os gaúchos desde que chegaram a Mato

Grosso do Sul foram notáveis no processo de consolidação do estado seja no

campo político, econômico, social e cultural. A migração gaúcha de acordo com a

discussão pode ser dividida em três etapas. A primeira é a busca da tranqüilidade e

fuga dos conflitos como a Revolução Federalista, a segunda vai de encontro com a

política de Vargas de nacionalizar as fronteiras, por ultimo a terceira é a expansão

da nova fronteira agrícola na década de 1970.

2.4. Migração e a Nova Fronteira Agrícola de 1970.

Após o estabelecimento do regime militar que iniciou em 1964, o governo de

Emílio Garrastazu, implantou o PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) que tem

como meta fazer grandes investimentos para o desenvolvimento do país, pois

pretendia criar e assegurar condições para um crescimento econômico acelerado.

Consolidar o sistema capitalista no país; aprofundar a integração da economia

brasileira no sistema capitalista internacional; transformar o Brasil em potencia

mundial 39 e nesse “pacote” foi incluído o incentivo de migração para o Mato Grosso

do Sul. O 1º PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) e os planos posteriores

visavam diminuir as desigualdades regionais através do incentivo à agricultura, pois

os produtores passaram a ter mais acesso as linhas de créditos para financiamento

de sementes e maquinários, além da construção de armazéns.

Já em 1972 foi lançado o PRODOESTE (Programa de Desenvolvimento do

Centro-Oeste) que tinha como objetivo construir a Rodovia BR 163 que liga Campo

Grande a Cuiabá, e essa construção possibilitariam o escoamento da produção de

Mato Grosso, sobretudo da região de Cuiabá. Além desses programas o Governo

Federal lançou o PRODEGRAN (Programa de Desenvolvimento da Região da

Grande Dourados), PRODEPAN (Programa de Desenvolvimento do Pantanal) e o

POLOCENTRO (Programa de Desenvolvimento dos Cerrados). Portanto, o Estado

de Mato Grosso, até então, tinha programas que atendiam todas as regiões do

estado.

39 WEINGARTNER, Alisolete Antonia dos Santos. São Gabriel do Oeste: memória e imagens de uma história. Campo Grande Midiograf. 2005.p 35.

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Com todos esses programas de incentivo a região tornou-se propícia para

migração e:

A partir de 1973, o movimento migratório se intensificou. Essa euforia foi motivada pela propaganda do governo federal sobre o ‘milagre brasileiro’, isto é, o crescimento econômico do país era uma realidade e todos os brasileiros deveriam participar para transformar o Brasil em uma grande potência. 40

Com essa propagando muitos brasileiros saíram rumo às terras de Mato

Grosso, acreditavam que prosperidade estava próxima e também o ato de povoar

essa região era como ato de brasilidade, pois acreditava que estava construindo um

Brasil melhor. E assim muitos migrantes com essa convicção vieram desbravar as

terras do Estado de Mato Grosso:

[...] Gabriel Abraão tem essa convicção, e para viabilizar o processo de ocupação da futura cidade de São Gabriel do Oeste, manda lotear uma de suas propriedades de 40 mil hectares em lotes de 100 hectares, para vende-lo aos novos desbravadores,principalmente do norte do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul os quais, como os portugueses no passado longínquo, descobriram as riquezas do sul de Mato Grosso. 41

A partir de então pode-se perceber que na década de 1970 os migrantes em

Mato Grosso não são somente os gaúchos, mais estão presente os catarinenses e

paranaenses, além de paulistas e pessoas do Brasil do inteiro. O “ano de 1973 é o

marco do grande movimento migratório para as terras de sul-mato-grossense, seja

para a prática da pecuária, ou para a prática da agricultura, cuja atividade foi um

desafio para os migrantes”. 42

O objetivo do governo era transformar a agricultura que usava meios braçais

por uma agricultura altamente desenvolvida, e então houve investimentos em

pesquisas, além dos financiamentos para compra de maquinários conforme já foi

citado, pois o objetivo era transformar a agricultura de subsistência em agricultura de

exportação43 – deixando de ser agricultura diversificada para transformar em

monocultura.

40 WEINGARTNER, Alisolete Antonia dos Santos. São Gabriel do Oeste: memória e imagens de uma história. Campo Grande Midiograf. 2005. p 37. 41 _____________, loc. cit. 42 _____________, loc. cit. 43 ABREU, Silvana. Ocupação, Racionalização e Consolidação do Centro-oeste brasileiro: O Espaço Mato-grossense e a Integração Nacional. p 287. In: MARIN, Jérri Roberto e VASCONCELOS, Cláudio Alves de. História, Região e Identidade. Campo Grande, Editora UFMS. 2003.

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Portanto a ocupação do Centro-Oeste e Mato Grosso do Sul ocorreu devido à

política de racionalização da economia e valorização do capital no âmbito interno e

externo. Essa política favoreceu não só o desenvolvimento econômico da região,

mas também a migração de povos do sul país para a mesma e com isso os sulistas

tiveram grande destaque nesse processo migratório e econômico dos governos

militares.

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CAPÍTULO III

A IDENTIDADE GAÚCHA, O MIGRANTE GAÚCHO E OS

ESTABELECIDOS.

3.1. Perfil do Gaúcho Migrante.

Neste capítulo será abordada a temática dos gaúchos em Coxim e a

formação/manutenção da identidade a partir do movimento migratório do Rio Grande

Sul para a região Centro Oeste, sobretudo a partir da década de 1970.

A discussão far-se-á, primeiramente, através de uma exposição do perfil

social dos gaúchos que migraram em dois momentos: pré-década de 1970, no

contexto da Marcha para o Oeste, e pós-década de 1970, momento da abertura da

nova fronteira agrícola por parte dos governos militares, no qual se buscou

consolidar o capitalismo e estabelecer o povoamento da região.

Para entender o processo de migração para o Centro-Oeste é necessário

voltarmos às primeiras décadas do século XX no Rio Grande do Sul, pois esse é o

período que,

[...] corresponde à etapa da modernização das relações sociais de produção no Rio Grande do Sul (...) é preciso neste ponto explicitar que se entende por modernização o processo de avanço do capitalismo na sociedade gaúcha, que promove um rearranjo paulatino e desigual, das atividades produtivas e das relações a elas subjacentes 44.

Essa expansão capitalista e o crescimento econômico no Rio Grande do Sul

refletiram nas mudanças sociais no estado, pois houve um crescimento demográfico

devido ao desenvolvimento da indústria. Inicia-se, a partir de então os conflitos

agrários na região, pois o “incremento populacional registrado nas colônias mais

antigas, aliado à escassez crescente de terras cultiváveis, propiciaram o surgimento

de inúmeros conflitos no campo”. 45

Nota-se que o gaúcho retirante é aquele de regiões de conflitos agrários e

tem uma tradição rural da pequena propriedade. Nos trabalhos de SOUZA, sobre os

gaúchos em Roraima, essa característica é perceptível:

44 SOUZA, Carla Monteiro de. Gaúchos em Roraima. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001. p. 29. 45 Ibidem, p. 30.

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[...] aumento de população conjugado aos constantes fracionamentos da terra conduziu a uma ‘pauperização’ do agricultor. Este adota como saídas, principalmente, a ida para as cidades, abandonando assim o seu modo de vida; a venda temporária de sua força de trabalho à lavoura empresarial; ou a procura de outras oportunidades, traduzida na busca por novas terras 46.

Essa pauperização apresentada por Sousa é notável em uma série de

entrevista que colhemos, realizadas com gaúchos migrantes que se estabeleceram

em Coxim. Muito deles, quando interrogados sobre os motivos que os trouxeram a

cidade de Coxim, responderam que vieram “motivado pelas oportunidades de

trabalho, pois Coxim na época era terra de oportunidades, hoje não é mais 47.

Por conseguinte, é possível perceber que a intenção do gaúcho é permanecer

agricultor, ter trabalho, preservar e reproduzir o seu modo de vida em outra região,

como é caso do Centro-Oeste brasileiro. Portanto, o gaúcho migra, em geral, a partir

de uma necessidade de sobrevivência, uma vez que no Rio Grande do Sul o espaço

físico estava se reduzindo paulatinamente, ao contrário dos “sertões” mais ao norte

do país, que ainda não tinham sido ocupados.

3.2. Marcha para o Oeste e a Nova Fronteira Agrícola.

A principal política de ocupação territorial de Getúlio Vargas no período do

governo provisório, isso a partir de 1930, foi a “Marcha para o Oeste”, que era a

política de ocupação e nacionalização das fronteiras do país, sobretudo na região

Centro-Oeste brasileiro. A partir de 1930 Vargas incentivou a migração interna a fim

de conter a organização de imigrantes em grandes centros urbanos e fazê-los com

que se integrassem à identidade nacional, pois segundo Rocha:

O governo de Getúlio Vargas (...) conduziu uma política de colonização orientada pelas migrações internas (Tavares dos Santos, 1993). Motivado pelo principio da nacionalidade e de afirmação de uma identidade nacional o governo tomou ‘medidas coercitivas visando atingir as organizações comunitárias étnicas produzidas pela imigração, em nome da tradição de assimilação e mestiçagem demarcadoras da nacionalidade’ 48.

46 SOUZA, Carla Monteiro de. Gaúchos em Roraima. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001, p. 36. 47 D.V., gaúcho e agropecuarista em Coxim – MS. Entrevista 21/03/2009. Entrevistador: Cacildo Alves Nascimento. Coxim – MS: UFMS/CPCX. 48 ROCHA, Betty Nogueira. Em qualquer chão: sempre gaúcho: a multiterritorialidade do migrante “gaúcho” no Mato Grosso. 2006. 160 f. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Ciências Humanas e Sociais. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, 2006. p. 20.

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Para que essa política se consolidasse foram criadas as Colônias Nacionais,

como uma tentativa de solucionar os conflitos agrários brasileiros. Em 1945, Vargas

criou o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), que tinha

como “objetivo central promover, direta e indiretamente, a fixação de migrantes e o

acesso à pequena propriedade”. 49 Esse órgão controlava a ocupação de terras,

mesmo em vazios demográficos, pois de acordo com a política governamental, não

podiam dar concessões gratuitas da terra e sim vendê-las nem que fosse por preços

simbólicos.

O que a política varguista tentou fazer foi à integração regional do Brasil.

Nesse sentido, a questão “a partir de então, passou a ser tratada como uma questão

que diz respeito ao desenvolvimento nacional como todo e a ter como linha mestra a

expansão das relações capitalistas mediadas pela ação do Estado” 50.

O processo de ocupação do Cerrado e da Amazônia brasileira foi necessário

para a expansão capitalista ou para solucionar problemas gerados pelo próprio

capital, já que em regiões como o sul não havia mais espaço para o

desenvolvimento de atividades agrárias, muitos indivíduos acabaram nas cidades,

vendendo a sua mão-de-obra na indústria; posteriormente, muito deles vieram para

o “oeste brasileiro”, a fim de cultivar e produzir, dentro de seu modo de vida

tradicional, baseado na pequena produção agrícola. 51

A partir da década de 1960, com os sucessivos governos militares, surge um

novo projeto de colonização do Centro-Oeste e da Amazônia. O tom da política

agora é “integrar para não entregar” e novamente o gaúcho tem um papel

fundamental nesse momento de ocupação dos vazios demográficos brasileiros.

Esse processo teve início um pouco antes, nos anos de 1950, com a construção de

Brasília, no Planalto Central e vários projetos de colonização foram implantados no

Estado de Mato Grosso conforme podemos conferir segundo Abreu:

No sul de Mato Grosso é possível citar empresas colonizadoras, como a Companhia Viação São Paulo - Mato Grosso, que atuou em Bataiporã, Anaurilândia e Bataguassu; a Companhia Moura Andrade, que loteou áreas nas altas bacias dos rios Samambaia, São Bento e Inhanduí-Guaçu e a Sociedade de Melhoramento e Colonização (SOMECO), que atuou em Ivinhema e Glória de Dourados, para destacar as mais expressivas. No

49 SOUZA, Carla Monteiro de. Gaúchos em Roraima. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001, p. 47. 50 Ibidem, p 47-48. 51 Um dos mais expressivos dos nossos entrevistados chegou a dizer que “o gaúcho vem de uma tradição agrícola”. M.K., Agrônomo, gaúcho, empresário e político em Coxim – MS. Entrevista 18/03/2009. Entrevistador: Cacildo Alves Nascimento. Coxim – MS: UFMS/CPCX.

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norte, várias foram as colonizadoras instaladas como Rio Branco e Jaurú, em Cáceres – MT; Colonizadora SINOP S/A, em Aripuanã e Juruena; INDECO, em Aripuanã, nas Glebas de Paranaitá e Alta Floresta; a CODEMAT, também em Aripuanã, entre outras 52.

A migração incentivada pelo governo central para Mato Grosso a partir da

década de 1950 vai trazer gente de todos os rincões do Brasil para a Nova Fronteira

Agrícola, que é o nosso objeto de estudo, sobretudo os gaúchos. O processo de

colonização nesse período vai tentar solucionar vários problemas brasileiros, pois:

[...] representaria uma válvula de escape, na medida em que tinha como um dos objetivos, absorverem os excedentes demográficos das áreas rurais mais valorizadas do Sul e Sudeste do país. Ao mesmo tempo, contribuía para preservar a antiga estrutura agrária nacional e esvaziar a discussão em torno da reforma agrária, ao conduzir os trabalhadores rurais sem-terras e/ou expropriados para as terras de ninguém53.

Essa colonização atendia o papel ideológico da classe política brasileira da

época, que é omitir a desigualdade da estrutura fundiária regional e nacional e, com

isso, conter a exaltação dos conflitos sociais em grandes contingentes demográficos.

Dessa forma, buscou-se garantir um exército de reserva formado por pessoas como

ex-colonos e ex-agricultores para as empresas colonizadoras que se instalavam na

região, com incentivo do governo e mega projetos de exploração do Centro-Oeste. O

agrônomo e ex-prefeito municipal, Moacir Kohl, expressou a conjuntura de sua vinda

para o sul de Mato Grosso da seguinte forma:

Na década de 1970, no governo militar de Geisel surgiram vários projetos como o PND, PRODOESTE, PRODEPAN, POLOCENTRO, entre outros, e então vim fazer estágio na região, pois sempre estudei em escola pública, sou filho de colono, e fazia Agronomia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre e vim na efervescência do progresso e logo veio a divisão do Estado. Plantei cana em Sonora, seringa do outro lado do Rio Corrente, aqui era tudo cerrado 54.

Nota-se, na entrevista com Moacir Kohl, que o governo conseguiu imbuir toda

a sua ideologia no pensamento do migrante de tinham de fazer um “Brasil grande” e

que essa região era “terra de prosperidade”, e claro era mão-de-obra para o

mercado capitalista que estava em plena expansão na região. 52 ABREU, Silvana de. Ocupação, Racionalização e Consolidação do Centro-oeste Brasileiro: O Espaço Mato-grossense e a Integração Nacional. p 277. In: MARIN, Jérri Roberto e VASCONCELOS, Cláudio Alves de (orgs). História, região e Identidades. Campo Grande, Editora UFMS, 2003. 53 Ibidem, p. 279. 54 M. K., Agrônomo, gaúcho, empresário e político em Coxim – MS. Entrevista 18/03/2009. Entrevistador: Cacildo Alves Nascimento. Coxim – MS: UFMS/CPCX.

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O ano de 1973 foi o marco do movimento migratório para o sul de Mato

Grosso; as práticas da pecuária e da agricultura estavam em evidencias e foi um

desafio para os migrantes transformar o cerrado em terras cultiváveis, já que

apresentavam características diferentes da sua região de origem. 55

Vimos que tanto a Marcha para o Oeste ocorrida a partir de 1930, com Getúlio

Vargas, quanto à Nova Fronteira Agrícola, a partir de 1960, com os governos

militares tiveram papel fundamental na expansão e consolidação do capitalismo no

Brasil através do discurso ideológico nacionalista de “fazer um Brasil grande e forte”

(com isso eliminando a possibilidade de uma grande revolução social no país). Esse

processo vale destacar, também contribuiu para a formação da identidade nacional e

de certas identidades regionais.

3.3. O Migrante gaúcho em Coxim e a relação com os estabelecidos

Na tentativa de análise aqui proposta, buscamos sustentação teórica nas

categorizações elaboradas por Norbert Elias56. Ao estudar as relações entre grupos

humanos, em posições de distinção de poder, Elias elaborou um modelo que será

aqui problematizado e tencionado.

Ao tratarmos de questões identitárias a partir de movimentos migratórios

como a Marcha para o Oeste e a Nova Fronteira Agrícola, buscaremos estabelecer a

relação da identidade do migrante com aqueles que já estavam fixados em Coxim e

que, a partir de agora, chamaremos de “estabelecidos”. Também tentaremos

analisar, com base em Elias, alguns comportamentos sociais desse grupo “de fora”

(outsider). Segundo Elias:

As categorias estabelecidos e outsiders se definem na relação que as nega e que as constitui como identidades sociais. Os indivíduos que fazem parte de ambas estão, ao mesmo tempo, separados e unidos por um laço tenso e desigual de interdependência.

55 WEINGARTNER, Alisolete Antonia dos Santos. São Gabriel do Oeste: memória e imagens de uma história. Campo Grande Midiograf. 2005. p 38. 56 Estabelecidos e outsiders é o trabalho mais importante realizado por Norbert Elias, durante a década de 1950, em uma pequena cidade inglesa com o nome fictício de Winston Parva, pois segundo esse modelo, que se organizava em torno da oposição sociológica teórica-sociologia empírica, quanto mais localizado fosse o objeto de estudo e quanto menor fosse a sua escala, menor seria o alcance da teoria, a pretensão de uma obra e objetos, textos como o de Elias e Scotson estavam condenados a ocupar um lugar menor. É uma teoria que sociológica que trata da relação de poder.

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Superioridade social e moral, autopercepção e reconhecimento, pertencimento e exclusão são elementos dessa dimensão da vida social que o par estabelecido-outsiders ilumina exemplarmente: as relações de poder 57.

O processo de formação da identidade coxinense ou a manutenção da

identidade do migrante perpassa por relações de poder, que se expressam na

análise das entrevistas com os migrantes, realizadas nesse trabalho. Boa parte dos

entrevistados entende que “O estado deve muito a migração, pois a migração trouxe

a modernização da agricultura, pecuária, pecuária é mais ligada aos paulistas”.58

Outro entrevistado assevera:

o gaúcho contribuiu com a pecuária, a agricultura e a abertura de empresas e também a modernização do campo de modo geral, pois muitas coisas não existiam aqui e com a chegada dos gaúchos passaram a existir como empresas que vende máquinas agrícolas e o próprio setor secundário59.

Esse sentimento de dívida/cobrança extrapola, muitas vezes, para outro de

superioridade em relação a outros elementos componentes do amalgama social

coxinense:

Os gaúchos que vieram para cá vieram com capital, são especializados na agricultura, pois na minha geração tem 66 netos só 2 não são formados, com nível superior, eu sou agrônomo, meu irmão,(...) é agrônomo, tem outros que são também, outros são veterinários, médicos, dentistas, etc. já os nordestinos são retirantes, não tinham capital, são a maioria analfabeto ou semi-analfabetos, vivem da exploração da terra, pois enquanto a terra dá dando alguma coisa estão lá, como retirada da madeira, são extrativistas60.

De cara, o elemento nordestino – em tese um estabelecido, pois é anterior ao

gaúcho – aparece carregado de estereótipos e estigmatizado, em oposição ao

“academicismo” dos forasteiros gaúchos.

Segundo Elias, essas relações de poder e de sentimento de superioridade se

expressam menos por questões materiais. Em geral, o grupo que se coloca numa

posição de superioridade

57 ELIAS, Norbert. Os Estabelecidos e os Outsiders. Tradução: Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: editora Jorge Zahar. 2000. p 08. 58 M. K., Agrônomo, gaúcho, empresário e político em Coxim – MS. Entrevista 18/03/2009. Entrevistador: Cacildo Alves Nascimento. Coxim – MS: UFMS/CPCX 59 D. V., gaúcho e agropecuarista em Coxim – MS. Entrevista 21/03/2009. Entrevistador: Cacildo Alves Nascimento. Coxim – MS: UFMS/CPCX. 60 M. K., Agrônomo, gaúcho, empresário e político em Coxim – MS. Entrevista 18/03/2009. Entrevistador: Cacildo Alves Nascimento. Coxim – MS: UFMS/CPCX

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atribuía a seus membros características humanas superiores; excluía todos os membros do outro grupo do contato social não profissional com seus próprios membros; e o tabu em torno desses contatos era mantido através de meios de controle social como fofoca elogiosa [praise gossip], no caso dos que observavam, e a ameaça de fofoca depreciativa [blame gossip] contra os suspeitos de transgressão 61.

Não afirmamos, contudo, que essa relação tenha se dado em termos tão

nevrálgicos de separação, como na análise de Elias na sociedade inglesa. Porém,

não restam dúvidas de que o binômio estabelecidos/outsiders pode ser percebido no

âmbito das relações sociais dos migrantes gaúchos com os elementos ditos

“coxinenses” (pantaneiros ou nativos e nordestinos e descendentes).

Entretanto, na análise de Elias, os estabelecidos fincavam bases de poder na

questão da antiguidade, em outras palavras, eram “os que chegaram primeiro ou

sempre estiveram ali”. Em Coxim, essa relação se dá de forma invertida: imbuídos

de valores simbólicos ditos superiores (academicismo, origem étnica, origem

geográfica) “os de fora” se sentiam superiores e se colocaram nessa posição:

Essas colônias ai, Paredes, São Romão, Cearense, Planalto eram de nordestinos e quando elas param de dar alguma coisa eles vieram todos para a cidade e ai surgiu o grilo. Em 1981 fiz muitos Proagro (seguro agrícola), pois nessas colônias tinham plantações de algodão, o algodão só em falar em frio ele já cai. Mas os gaúchos têm mais tradição agrícola e modernizou a agricultura e os nordestinos não; então essas colônias voltaram a ser fazendas novamente 62.

As respostas dos migrantes vão, em geral, ao encontro das assertivas de

Elias, pois é possível notar sempre um tom de superioridade na fala dos

entrevistados em relação ao migrante nordestino. Os atributos de poder aparecem

invariavelmente: poder econômico, formação acadêmica, origem sulina, etc.

É notório, a partir da citação de Elias e das entrevistas, como se dá a relação

entre esses dois grupos na cidade de Coxim: os detentores de melhores condições

econômicas e formação acadêmica se sobrepõem ao restante, e usa de

generalizações para com o outro. Isso se dá, sobretudo no aspecto social, conforme

podemos perceber, quando imputam – quase como algo inato – aos nordestinos o

61 ELIAS, Norbert. Os Estabelecidos e os Outsiders. Tradução: Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: editora Jorge Zahar. 2000, p 20. 62 M. K., Agrônomo, gaúcho, empresário e político em Coxim – MS. Entrevista 18/03/2009. Entrevistador: Cacildo Alves Nascimento. Coxim – MS: UFMS/CPCX.

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fato de não conseguiram cultivar a terra e virem a cidade formar as regiões

periféricas, chamadas popularmente de grilos.

Nota-se que a percepção social estabelecida pelo grupo dominante se dá,

sobretudo, a partir do contato profissional, pois os nordestinos não vivem no mesmo

universo social do migrante gaúcho.

Essa relação invertida, que o próprio Elias nos autoriza quando afirma ser seu

modelo passível de testes e de complementações, se baseia também em estruturas

de coesão de grupo. A superioridade se solidifica através da coesão do grupo social,

pois em Coxim o grupo social visivelmente mais coeso é dos gaúchos; esses têm um

próprio código de relacionamento que se materializa no CTG (Centro de Tradições

Gaúchas), onde se reúnem para cultuar os seus costumes e tradições, um centro de

convivência cultural, e porque não, de manutenção de sua superioridade social.

É possível notar em Coxim, portanto, que tanto aqueles que aqui estavam

antes dos gaúchos (maioria), quanto àqueles que chegaram à mesma época, vindos

de outras regiões, não possuem o mesmo grau de coesão social do que os sulistas.

Como o próprio Elias afirma, quanto maior o grau de coesão, mais tendência tem o

grupo de se colocar em posição superior no modelo identitário63.

Essa coesão do grupo social pode ser notada nas entrevistas, quanto

tratamos do assunto do CTG. Sobre sua fundação:

Surgiu da necessidade de se ter um local de encontro em Coxim, e em 1988 em uma reunião na Área de Lazer do 47 BI reuniram vários segmentos da sociedade e foi fundado o CTB (Centro Brasileiro de Tradições) que iria abranger toda a sociedade, porém no fim fundamos o CTG, devido aos interesses dos demais segmentos que não deram prosseguimento a proposta inicial 64.

Notamos então a coesão do grupo gaúcho, em face do desinteresse dos

representantes de nordestinos e pantaneiros: se reuniram vários segmentos sociais

para fundar um local de encontro em comum; não havendo interesse do todo e sim

de uma parte, percebemos o fortalecimento da unidade de uma parcela em manter a

proposta, só que agora privilegiando as origens e não mais do grupo macro.

Os estabelecidos que têm um estilo de vida em comum e que se conhecem a

mais de duas gerações sentem 63 ELIAS, Norbert. Os Estabelecidos e os Outsiders. Tradução: Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. p 22. 64 M. K., Agrônomo, gaúcho, empresário e político em Coxim – MS. Entrevista 18/03/2009. Entrevistador: Cacildo Alves Nascimento. Coxim – MS: UFMS/CPCX.

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[...] o afluxo de recém-chegados a seu bairro [...] como uma ameaça a seu estilo de vida já estabelecido, embora os recém-chegados fossem seus compatriotas. Para o grupo nuclear da parte antiga de Winston Parva, o sentimento do status de cada um e da inclusão na coletividade estava ligado à vida e ás tradições comunitárias 65.

Pode ser que os “nativos” ou nordestinos mais antigos tiveram essa reação no

momento de fundação do “Centro de Tradições Brasileiras”, que nunca saiu do

papel. Contudo o grupo mais coeso, mesmo geracionalmente, colocou-se na

posição estabelecida em virtude de elementos identitários de natureza múltipla:

origens, escolaridade, status e classe social, etc.

Os “estabelecidos”, ex-outsiders, em Coxim afirmam que “[...] o CTG se

descaracterizou muito a partir da introdução de outras culturas, pois hoje já não se

realiza os bailes sociais do CTG” (sic)66. Notamos a repulsa do grupo que se

manteve coeso em aceitar a cultura do outro; no exemplo de Elias, a cidade de

nome fictício, Winstom Parva, o grupo coeso e “moralmente” superior via a

introdução do outro em seus espaços como elemento descaracterizador e

ameaçador da própria sobrevivência da identidade.

Portanto, o migrante gaúcho tornou-se “estabelecido” através de sua coesão

grupal e se sobrepôs aos demais segmentos da sociedade coxinense, mesmo sendo

minoria; suas tradições são mais visíveis e a preservação de sua identidade foi

mantida a partir do momento em que é configurado um ponto de encontro para o

cultivo dos hábitos e tradições em comum.

3.4. A Identidade Gaúcha em Coxim e sua relação com o Coxinense.

Estou aqui há 30 anos, sou cidadão coxinense, sou sul-mato-grossense agraciado com titulo, meus filhos nasceram aqui em Coxim, minha família está toda aqui os meus pais estão enterrados em Coxim, sinto perfeitamente integrado a região67.

Ao entrevistar os migrantes gaúchos foi possível notar a sua identificação com

o local, porém algumas ressalvas, já que os costumes e o meio social são

65 ELIAS, Norbert. Os Estabelecidos e os Outsiders. Tradução: Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. p 25. 66 C. M., Gaúcho e comerciante em Coxim – MS. Entrevista 21/03/2009. Entrevistador: Cacildo Alves Nascimento. Coxim – MS: UFMS/CPCX. 67 M. K., Agrônomo, gaúcho, empresário e político em Coxim – MS. Entrevista 18/03/2009. Entrevistador: Cacildo Alves Nascimento. Coxim – MS: UFMS/CPCX

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diferentes, mas o melhor local de se viver é o lugar que se ganha dinheiro, que cria

seus filhos, onde se vive68. O gaúcho aqui estabelecido que era o ex-outsiders,

continua com a mentalidade de superioridade em relação aos demais , por mais que

estejam integrados conforme eles mesmos dizem.

Nota-se que há um interesse muito grande do migrante gaúcho em se manter

economicamente ativo, pois não são apegados ao local em sua maioria, pois o

melhor local é aquele onde ele possa retirar o seu “sustento”, não há interesse

desses migrantes retornarem ao Rio Grande do Sul, pois vão ao estado de origem

somente a passeio.

O gaúcho é um migrante que carrega os valores culturais consigo e essa

manifestação é vista através do CTG, que é.

[...] antes de tudo uma ‘instancia simbólica’ (Fagundes, 1995:35) que procura entregar ao individuo (seja migrante ou não) uma agremiação com as mesmas características do grupo local que ele perdeu ou teme perder: o pago. Eis aqui uma aproximação com a noção de poder simbólico de Bourdieu (2003). Na perspectiva do autor existe um poder simbólico que legitima a ‘integração fictícia da sociedade’ através de um arsenal ideológico produzido pelas classes dominantes ou hegemônicas 69.

Esse símbolo para os gaúchos migrantes é muito forte, pois eles se unem

através do CTG (Centro de Tradições Gaúchas) para matar a saudade, pois a

criação de um local de convivência cultural facilita que os gaúchos se adaptem a

qualquer região [grifo meu], pois independente do local ele não vai deixar de ser

gaúcho, sobretudo na sua pratica cultural; e isso conforme discutimos no item

anterior é faz deles um grupo coeso, pois podemos notar segundo Rocha que o

[...] sentimento de pertencimento ao gauchismo está vinculado ao conhecimento e domínio da cultura gaúcha. Não apenas o fato de ter nascido no Rio Grande do Sul ou andar pilchado que torna um indivíduo ‘gaúcho’. Nesse sentido acredito que ser gaúcho é um estado de espírito70.

O gaúcho pode ser sentir integrado ao local que reside, porém nunca vai

deixar de ser gaúcho, já que há uma manutenção muito forte da cultura através do

CTG, e isso é visível na fala das pessoas que entrevistamos.

68 D. V., gaúcho e agropecuarista em Coxim – MS. Entrevista 21/03/2009. Entrevistador: Cacildo Alves Nascimento. Coxim – MS: UFMS/CPCX. 69 ROCHA, Betty Nogueira. Em qualquer chão: sempre gaúcho: a multiterritorialidade do migrante “gaúcho” no Mato Grosso. 2006. 160 f. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Ciências Humanas e Sociais. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, 2006. p 80. 70 ROCHA, Betty Nogueira. op. cit, p 79.

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Os CTGs surgiram no Rio Grande do Sul, para preservar a tradição e os costumes. Pois o é um local onde se aprende a respeitar os mais velhos, a dançar é um centro de convivência cultural. (...) foi um movimento cultural contra a revolução americana e o objetivo era resgatar os costumes gaúchos quem cultuava essa cultura eram os grossos, e o gaúcho em contra posição a cultura de massificação norte americana resgata os costumes e a cultura gaúcha através dos CTGs, e a partir de 1970 surgem a gurizada, uma nova geração que continua com esses objetivos71.

Então através das analises das entrevistas podemos buscar o entendimento

de que a identidade gaúcha influenciou muito mais a identidade local, pois apresenta

uma organização grupal muito forte para a manutenção da mesma que podemos

fazer um paralelo com Elias que é a tentativa de evitar os demais grupos sociais:

[...] o contato mais intimo com eles, portanto, é sentido como desagradável. Eles põem em risco as defesas profundamente arraigadas do grupo estabelecido o desrespeito às normas e tabus coletivos, de cuja observância depende o status de cada um dos seus semelhantes no grupo estabelecido e seu respeito, seu orgulho e sua identidade como membro do grupo superior. Entre os já estabelecidos, cerrar fileiras certamente tem a função social de preservar a superioridade de poder do grupo. Ao mesmo tempo, a evitação de qualquer contato social mais estreito com os membros do grupo outsider tem todas as características emocionais do que, num outro contexto, aprendeu-se a chamar de ‘medo de poluição’72.

Essas situações podem notar quando perguntado sobre as atividades do CTG

(Centro de Tradições Gaúchas) (...) o CTG descaracterizou muito a partir da

introdução de outras culturas73.

Os gaúchos conseguiram influenciar tanto a sociedade sul-mato-grossense

quanto coxinenses e os reflexos são sentidos na economia e política do estado de

Mato Grosso do Sul e no município de Coxim, pois os gaúchos conseguiram

introduzir o seu jeito a sociedade coxinense que tomou postos políticos de famílias

tradicionais.

Quando analisamos as entrevistas nas entre linhas é possível perceber que o

migrante gaúcho é o ator que promoveu grandes mudanças no município de Coxim,

pois eles mesmos dizem “Coxim era isolado não tinha telefone TV, a cidade era sem

71 M. K., Agrônomo, gaúcho, empresário e político em Coxim – MS. Entrevista 18/03/2009. Entrevistador: Cacildo Alves Nascimento. Coxim – MS: UFMS/CPCX 72 ELIAS, Norbert. Os Estabelecidos e os Outsiders. Tradução: Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. p 26. 73 C. M., Gaúcho e comerciante em Coxim – MS. Entrevista 21/03/2009. Entrevistador: Cacildo Alves Nascimento. Coxim – MS: UFMS/CPCX.

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planejamento, não tinha energia, tinha muita erosão, essa Avenida Virginia Ferreira

era erosão em toda ela” 74.

Por conseguinte, ao final dessa discussão é bem visível que houve uma

inversão na questão estabelecidos e outsiders em Coxim, o gaúcho passou ser o

grupo dominante, apesar de ser minoria, mas manteve o que Elias afirma, a coesão

de grupo, isso também fez com que permanecesse a sua identidade,mesmo longe

de seu espaço geográfico natural, pois houve a manutenção da sua cultura.

74 M. K., Agrônomo, gaúcho, empresário e político em Coxim – MS. Entrevista 18/03/2009. Entrevistador: Cacildo Alves Nascimento. Coxim – MS: UFMS/CPCX

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CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Buscando entender como se configurou o processo de identidade no

Município de Coxim a partir do processo migratório, foi preciso reportar aos

elementos que se estabeleceram nas estruturas nacionais do Brasil Contemporâneo,

e como foi fixado o processo de ocupação das fronteiras brasileiras; foi necessário

compreender como o Estado Nação atuou sobre a questão territorial do país,

sobretudo as questões fronteiriças e a expansão capitalista.

Foi necessária a análise da política de ocupação e povoamento que se

fizeram presente na formação territorial e identitária do Centro-Oeste brasileiro;

verificamos também como o poder político atuou nesse processo de ocupação e

formação da identidade nacional.

As diferentes formas que o governo federal brasileiro se fez presente no que

se refere à questão agrária brasileira, através de várias políticas de incentivos,

aplicaram-se no sentido de modificar a estrutura a social e acelerar e fortalecer o

desenvolvimento do capitalismo nos rincões deste país.

Os estudos sobre os fluxos migratórios na história recente do país

apresentam um quadro social e político que permite melhor o entendimento sobre a

identidade a partir do processo migratório.

Então foi possível uma discussão a partir do ponto de vista psicológico e

sociológico de identidade. Na análise sobre os migrantes gaúchos ficou bem claro

que a despeito da mobilidade geográfica, esses indivíduos não deixaram suas

práticas identitárias; entre eles há uma manutenção cultural, sobretudo através dos

CTGs (Centros de Tradições Gaúchas), que sustenta uma unidade grupal, mesmo

longe de seu espaço geográfico de origem.

A cidade de Coxim apresenta um grande numero de migrantes, entre eles, os

gaúchos e nordestinos são os que mais se destacam. Os gaúchos representam

apenas 2% da população coxinense, mas formam um grupo que tem muita força

política, econômica e cultural dentro da sociedade coxinense.

Portanto, acreditamos que esse trabalho buscou atingir o seu objeto inicial:

Buscar conhecer a identidade da população através do processo migratório e

conhecer as transformações sociais e identitárias ocorridas ao longo do tempo

analisado, e também com esses migrantes se relacionam com os demais grupos.

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ANEXOS.

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Entrevista 01

Entrevista no dia 18/03/09, com M.K - Gaúcho, Agrônomo, Empresário e Político em

Coxim Mato Grosso do Sul, feita por Cacildo Alves Nascimento – acadêmico do

Curso de História da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de

Coxim.

Entrevistador. Sr. MK quando foi fundado o CTG (Centro de Tradições Gaúchas)

em Coxim?

M. K. No ano de 1989.

Entrevistador. Quantas pessoas participam do CTG? Todos são gaúchos ou tem

participantes de outros estados?

M.K. Têm bastantes sócios e é aberto a outros sócios ao pessoal em geral, pois teve

patrões de outros estados, porém a maioria são gaúchos.

Entrevistador. Com qual intuito surgiu os CTGs? E por que surgiu? M.K. Os CTGs surgiram no Rio Grande do Sul, para preservar a tradição, os

costumes. Pois o é um local onde se aprende a respeitar os mais velhos, a dançar é

um centro de convivência cultural. Pois nasceu de movimentos estudantis no pós

Segunda Guerra, sobretudo com acadêmicos dos cursos de agronomia, veterinária e

estudantes secundaristas, a gurizada de modo geral. Foi um movimento de contra-

revolução cultural e tem as mesmas configurações da maçonaria como venerável

etc. Foi um movimento cultural contra a revolução americana e o objetivo era

resgatar os costumes gaúchos. Quem cultuava essa cultura eram os grossos, e

gaúcho em contra posição a cultura de massificação norte americana resgata os

costumes e a cultura gaúcha através dos CTGs, e a partir de 1970 surgem a

gurizada, uma nova geração que continua com esses objetivos.

Entrevistador. E em Coxim como surgiu?

M.K. Surgiu da necessidade de se ter um local de encontro em Coxim, e em 1988

em uma reunião na Área de Lazer do 47 BI reuniram vários segmentos da sociedade

e foi fundado o CTB (Centro de Tradições Brasileiras) que iria abranger toda a

sociedade, porém no fim fundamos o CTG, devido aos interesses dos demais

segmentos que não deram prosseguimento a proposta inicial. E então o nome do

CTG de Coxim de CTG Sentinela do Pantanal, devido o gaúcho ser acusado de

destruir, sobretudo os de São Gabriel do Oeste, o nome tenta conscientizar a

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gurizada a respeitar o pantanal, as questões ambientais, por isso o nome Sentinela

do Pantanal.

Entrevistador. Sr. MK como foi a sua trajetória até aqui? Como empresário político

e profissional?

M.K. Na década de 70, governo militar de Geisel surgiram vários projetos como o

PND, PRODOESTE, PRODEPAN, POLOCENTRO, entre outros, e então vim fazer

estágio na região, pois sempre estudei em escolas públicas, sou filho de colono, e

fazia agronomia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porta Alegre e

vim na efervescência do progresso e logo veio a divisão do estado. Plantei cana em

Sonora, seringa do outro lado do rio Corrente aqui era tudo cerrado.

Depois fui trabalhar na COPLAN em Coxim e dei aulas dois anos de graça, aulas de

química, física e biologia no Curso Técnico de Contabilidade na Escola Pedro

Mendes, para receber demoravam de mais... Pois por ter vindo de escolas publicas

e ter cursado uma universidade pública sentir-me na obrigação de devolver o que eu

aprendi e faltavam professores e Coxim tinha poucas pessoas com conhecimento

acadêmico e aqueles que sabiam mais ensinavam os demais.

Posteriormente me tornei sócio da COPLAN e em 1985 fechou a Brilhante, comprei

a Brilhante Automóvel e mudou o nome para TAVEL – Taquari Veículos Ltda.

A minha família veio em 78 quando plantei soja em Sonora.

Sempre participei dos movimentos sociais como Igreja, Lions e em 1988 fui

convidado para disputar a prefeitura de Coxim, não aceitei – e fui candidato a

vereador – o mais votado com 500 votos, já em 1992 fui candidato a prefeito de

Coxim de 1993 a 1996.

Em 1998 o Zeca do PT me convidou para ser vice-governador no pleito de 1999 a

2002. Além de vice-governador fui Secretario de Estado de Produção e comandava

a IAGRO, AGRAER, Junta Comercial, INMETRO, CEASA, Fundos do Centro Oeste

(o FCO), Indústria e Turismo.

De 2003 a 2004 fui Secretario de Desenvolvimento Econômico de Campo Grande

Em 2005 fui prefeito de Coxim novamente, de 2005 a 2008.

Entrevistador. Como se sente hoje em Coxim? Como relaciona com os demais

cidadãos, qual a relação sentimental?

M.K. Estou aqui há 30 anos, sou cidadão coxinense, sou cidadão sul-mato-

grossense agraciado com título, meus filhos nasceram aqui, minha origem é sulina,

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mas a minha vida foi toda construída aqui em Coxim. Minha família está toda aqui os

meus pais estão enterrados em Coxim. Sinto perfeitamente integrado na região.

Entrevistador. Como era a cidade de Coxim quando o senhor chegou?

M.K. Coxim era isolada não tinha telefone, TV, a cidade era sem planejamento, não

tinha energia, tinha muita erosão essa Avenida Virginia Ferreira era erosão em toda

ela.

Entrevistador. E o que fez ficar aqui?

M.K. Senti que a região tinha potencial. E as aulas no curso de Contabilidade no

Pedro Mendes eu pude devolver o que estudei, e então formei grandes amigos, pois

quase todos os meus alunos tornaram meus amigos. Nesses 30 anos o salto de

qualidade, a evolução foi gigantesca em Coxim, em 1995 chegou o celular na

cidade, hoje temos telefone via satélite, que pode acessar de qualquer lugar.

Eu liderei a compra de uma antena parabólica em 1981 que instalamos em cima do

morro para fazer a retransmissão, isso para pegar a TV Bandeirantes, a gurizada

gostava, a gente, gostava de futebol. Coxim teve o primeiro ginásio de esportes com

taco, pois lideramos a compra dos tacos e governo colocou era o único do estado,

quando jogávamos bola.

Nós achávamos, queria da uma educação de qualidade para os nossos filhos,

precisava de uma escola melhor ai fundamos a FEC (Fundação Educacional de

Coxim), compramos o terreno e construímos onde é a sede da FUNLEC hoje, depois

doamos a escola para a FUNLEC de presente.

Entrevistador. Qual a contribuição dos gaúchos para o estado de Mato Grosso do

Sul e Coxim na visão do Senhor?

M.K. (risos) quando cheguei a Coxim a placa era DI, depois mudou para BA, ai

todos tiravam sarros, pois até a placa mudou com a chegada dos gaúchos, BA é um

dizer dos gaúchos. (risos).

O Estado deve muito a migração, pois a migração trouxe a modernização

agricultura, pecuária, pecuária é mais ligada aos paulistas. Os gaúchos na época da

Coluna Prestes quando chegaram a Sidrolândia nos campos de vacaria os seus

cavalos haviam morrido e então eles domaram cavalos selvagens daquela região e

renovou a tropa. Têm muitos gaúchos aqui no estado o pai do Zeca do PT é gaúcho

chegou em 1932, mas aqui em Coxim a população de origem sulina é pouca,

quando fui prefeito pedi para fazer um levantamento e os de origem sulina não

chega a 2% enquanto que 92% eram filhos ou nato de nordestinos.

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Entrevistador. Qual a diferença dos nordestinos e gaúchos que o senhor nota?

M.K. Os gaúchos que vieram para cá vieram com capital, são especializados na

agricultura, pois na minha geração tem 66 netos só 02 não são formados, com nível

superior, eu sou agrônomo, meu irmão, o Evaristo é agrônomo, tem outros que são

também, outros são veterinários, médicos, dentistas, etc. já os nordestinos são

retirantes, não tinham capital, são a maioria analfabeto ou semi-analfabetos, vivem

da exploração da terra, pois enquanto a terra dá dando alguma coisa estão lá, como

retirada da madeira, são extrativistas. Essas colônias ai, Paredes, São Romão,

Cearense, Planalto eram de nordestinos e quando elas param de dar alguma coisa

eles vieram todos para a cidade e ai surgiu o grilo. Em 1981 fiz muitos Proagro

(seguro agrícola), pois nessas colônias tinham plantações de algodão, o algodão só

em falar em frio ele já cai. Mas os gaúchos têm mais tradição agrícola e modernizou

a agricultura e os nordestinos não então essas colônias voltaram a ser fazendas

novamente.

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Entrevista 02.

Entrevista feita no dia 21/03/09 no CTG de Coxim, com o Sr. D.V. gaúcho que tem

como atividade econômica a agropecuária e chegou à cidade Coxim em 1980,

motivado pelas oportunidades de trabalho, pois ele relata que na época Coxim era

terra de oportunidade, hoje não é mais. Quando perguntei para ele qual o

sentimento, a relação por Mato Grosso do Sul, Coxim? Ele me respondeu o

seguinte que o melhor local de se viver é o lugar que se ganha dinheiro, que cria os

filhos, onde se vive.

Perguntei então qual a sua relação com o Rio Grande do Sul? Visito todos os

anos. E Então como se sente em Coxim? Ah aqui é diferente, a cultura é diferente,

o meio social é diferente, a alimentação o modo de vestir o jeito é diferente.

Então o CTG foi fundado com o objetivo de preservar os costumes e de

divulgar a cultura gaúcha? Ele me respondeu que a febre do CTG passou, e

caminha com dificuldades, falta gente para tocar, pois cada um tem os seus

afazeres. Mas o CTG é uma instituição aberta a todos os públicos, sempre teve um

trabalho social que é o de ensinar a gurizada a dançar, respeitar, preservar os

costumes gaúchos, mas a maioria dos sócios não são gaúchos em Coxim, e para

associar ao CTG o cidadão tem adquirir um título de 60 salários mínimos.

Quais as contribuições dos gaúchos para Coxim e para o Estado? Ele

respondeu que o gaúcho contribuiu com a pecuária, a agricultura e a abertura de

empresas e também a modernização do campo de modo geral, pois muitas coisas

não existiam aqui e com a chegada dos gaúchos passaram a existir como empresas

que vende máquinas agrícolas e o próprio setor secundário.

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Entrevista 03.

Essa entrevista foi feita no dia 21/03/09 no CTG de Coxim, com Sr. C.M. que é

gaúcho também e desenvolve como atividade econômica o comércio. O Sr. Carmo

também veio pelos motivos que o Sr. D.V., e então perguntei se poderia falar do

CTG, qual era o real significado? O CTG surgiu com a necessidade de formar um

ponto de referência de encontro em 1988. Ele disse que o CTG de Coxim é um dos

maiores do Brasil em questões de estrutura, e que o CTG de Coxim foi referencia no

Brasil pois criou o FENART ( Festival Nacional de Artes) e participou de vários

encontros de CTGs pelo Brasil e sempre fez bonito. Perguntei então como anda as

atividades do CTG? Disse-me que depende dos patrões, pois alguns são mais

agressivos outros menos, e o CTG descaracterizou muito a partir da introdução de

outras culturas, pois hoje já não se realiza os bailes sociais do CTG, devido ao custo

de trazer um grupo gaúcho para esses bailes, porém mantêm atividades como a

bocha, futebol, canastra e o tiro de laço. Mais não tem grupos que tocam musicas

gaúchas aqui em Coxim ou no estado? Ele disse que não, pois os gaúchos que

vieram para cá não foram os artistas, foram aqueles que vieram a trabalho, vieram

para trabalhar e os artistas geralmente vem de uma família de artistas, então nossos

filhos provavelmente nunca serão artistas, “pois lá no sul uma cidade do tamanho de

Coxim tem muitos artistas como muitos gaiteiros, cantores e gente que dança. O CTG precisa resgatar a sua origem? Respondeu que sim, sobretudo a situação

financeira do clube, pois é o único clube em Coxim que as pessoas se reúnem nos

fins de semana, é o único em atividade constante apesar das dificuldades, pois o

CTG de Coxim já foi campeão brasileiro, campeão estadual de bocha e campeã de

tiro de laço comprido.

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Entrevista 04.

Essa entrevista foi realizada no dia 21/03/09 no CTG de Coxim, Com Sr. J.L. que é

paranaense e empresário e participante do CTG. Veio para Mato Grosso do Sul por

motivos de trabalhos, pois para o mesmo o local bom é o que está ganhando, pois

antes de vir para Coxim ele passou por Rio Verde de Mato Grosso, MS, perguntei

se tem vontade de voltar para o Paraná? Disse que não, pois lá tudo é mais caro

e o mercado está saturado. Mas aqui o pessoal te confunde com gaúcho? Ele

disse que sim às vezes as pessoas confundem com gaúcho.

OBS. Os três participantes, os Srs. D.V., C.M. e J.L, disseram que os gaúchos, os

paranaenses e catarinenses que vieram para Coxim, estão aqui devido à

implantação da cana-de-açúcar e soja em Sonora e Pedro Gomes, na época esses

locais não ofereciam estrutura nenhuma, então Coxim era a cidade que ainda tinha

uma pequena estrutura, e as famílias se estabeleceram aqui para os filhos

estudarem e etc., porém o foco de exploração econômica era Sonora.

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Entrevistas com alunos da Escola FUNLEC de Coxim – MS.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CAMPUS COXIM

PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTIFICA – CNPq

“REPRESENTAÇÕES CULTURAIS EM COXIM – MS: TRADIÇÕES E MIGRAÇÕES NA CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE COXINENSE ESPAÇO EDUCATIVO.”

Nome: A. L. T. Idade: 14 anos Série: 1ª Série E.M 01. Você é filho (a) de gaúchos? Sim 02. Você nasceu no Rio Grande do Sul ou em outro estado? Em qual cidade? Não, nasci em Coxim, Mato Grosso do Sul. 03. Seus pais vieram para Coxim em que época? 25 anos atrás. 04. Qual a profissão do seu pai? agropecuarista 05. Qual a profissão da sua mãe? Do lar 06. Qual o motivo que sua família veio para Coxim? Em busca de terras melhores 07. Seus pais são participantes do CTG? sim 08. Você se sente coxinense? sim 09. Qual seu prato preferido? Churrasco. 10. Qual a região você se identifica? Mato Grosso do Sul ou Rio Grande do Sul? Mato Grosso do Sul 11. Você tem vontade de continuar a morando em Coxim ou ir morar no Rio Grande do Sul? Continuar morando aqui. 12. Qual a sua opinião sobre Coxim? Muito quente, mas é um bom lugar para se viver. 13. Qual sua opinião sobre Mato Grosso do Sul? Tem muitas belezas naturais. 14. Qual o seu time de futebol? Internacional

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CAMPUS COXIM

PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTIFICA – CNPq

“REPRESENTAÇÕES CULTURAIS EM COXIM – MS: TRADIÇÕES E MIGRAÇÕES NA CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE COXINENSE ESPAÇO EDUCATIVO.”

Nome: V. G. Idade: 14 anos Série: 1º ano E.M 01. Você é filho (a) de gaúchos? Sim. 02. Você nasceu no Rio Grande do Sul ou em outro estado? Em qual cidade? No Rio de Janeiro, cidade Rio de Janeiro. 03. Seus pais vieram para Coxim em que época? Desde 1998, meus pais vem a Coxim. 04. Qual a profissão do seu pai? Comerciante 05. Qual a profissão da sua mãe? Professora 06. Qual o motivo que sua família veio para Coxim? Outros familiares que também vieram para o Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. 07. Seus pais são participantes do CTG? Não. 08. Você se sente coxinense? Não, apesar do bom acolhimento, eu cheguei a Coxim em maio de 2008. 09. Qual seu prato preferido? Pizza e estrogonofe. 10. Qual a região você se identifica? Mato Grosso do Sul ou Rio Grande do Sul? Rio Grande do Sul 11. Você tem vontade de continuar a morando em Coxim ou ir morar no Rio Grande do Sul? Pretendo passar uns tempos em Coxim, mas depois ir para o Rio Grande do Sul. 12. Qual a sua opinião sobre Coxim? É um lugar bonito, de grande beleza e exuberância. 13. Qual sua opinião sobre Mato Grosso do Sul? È um estado bom, com pessoas boas, e com grande beleza e cultura. 14. Qual o seu time de futebol? Flamengo.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CAMPUS COXIM

PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTIFICA – CNPq

“REPRESENTAÇÕES CULTURAIS EM COXIM – MS: TRADIÇÕES E MIGRAÇÕES NA CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE COXINENSE ESPAÇO EDUCATIVO.”

Nome: S. O. L. X. Idade: 15 anos Série: 2º ano E.M 01. Você é filho (a) de gaúchos? Apenas por parte de mãe. 02. Você nasceu no Rio Grande do Sul ou em outro estado? Em qual cidade? Em Coxim, Mato Grosso do Sul. 03. Seus pais vieram para Coxim em que época? Mãe em 1987 e pai em 1984. 04. Qual a profissão do seu pai? Dentista 05. Qual a profissão da sua mãe? Do lar. 06. Qual o motivo que sua família veio para Coxim? Transferência do Exercito. 07. Seus pais são participantes do CTG? Não. 08. Você se sente coxinense? Sim. 09. Qual seu prato preferido? Massas (macarrão e panqueca) 10. Qual a região você se identifica? Mato Grosso do Sul ou Rio Grande do Sul? Mato Grosso do Sul 11. Você tem vontade de continuar a morando em Coxim ou ir morar no Rio Grande do Sul? Continuar em Coxim 12. Qual a sua opinião sobre Coxim? Gosto da cidade é muito agradável e acolhedora. 13. Qual sua opinião sobre Mato Grosso do Sul? É um estado cheio de belezas naturais, o que me agrada muito. 14. Qual o seu time de futebol? Internacional de Porto Alegre.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CAMPUS COXIM

PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTIFICA – CNPq

“REPRESENTAÇÕES CULTURAIS EM COXIM – MS: TRADIÇÕES E MIGRAÇÕES NA CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE COXINENSE ESPAÇO EDUCATIVO.”

Nome: B. K. M. Idade: 16 anos Série: 3º ano E.M 01. Você é filho (a) de gaúchos? Sim. 02. Você nasceu no Rio Grande do Sul ou em outro estado? Em qual cidade? Nasci em Coxim, Mato Grosso do Sul. 03. Seus pais vieram para Coxim em que época? 1988. 04. Qual a profissão do seu pai? Corretor de Imóveis. 05. Qual a profissão da sua mãe? Corretora de Imóveis e Professora 06. Qual o motivo que sua família veio para Coxim? Emprego. Trabalho. 07. Seus pais são participantes do CTG? Sim 08. Você se sente coxinense? Sim. 09. Qual seu prato preferido? Macarronada. 10. Qual a região você se identifica? Mato Grosso do Sul ou Rio Grande do Sul? Mato Grosso do Sul 11. Você tem vontade de continuar a morando em Coxim ou ir morar no Rio Grande do Sul? Ir morar no Rio Grande do Sul. 12. Qual a sua opinião sobre Coxim? O município que tem apresentado grande desenvolvimento e está encaminhando para ser um pólo prestador de serviços. 13. Qual sua opinião sobre Mato Grosso do Sul? Estado rico em recursos naturais e em fase de desenvolvimento. 14. Qual o seu time de futebol? Grêmio.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CAMPUS COXIM

PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTIFICA – CNPq

“REPRESENTAÇÕES CULTURAIS EM COXIM – MS: TRADIÇÕES E MIGRAÇÕES NA CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE COXINENSE ESPAÇO EDUCATIVO.”

Nome: J. A. M. F.. Idade: 16 anos Série: 3º ano E.M 01. Você é filho (a) de gaúchos? Sim 02. Você nasceu no Rio Grande do Sul ou em outro estado? Em qual cidade? Sim. Mato Grosso do Sul 03. Seus pais vieram para Coxim em que época? Década de 1980. 04. Qual a profissão do seu pai? Empresário. 05. Qual a profissão da sua mãe? Bancária. 06. Qual o motivo que sua família veio para Coxim? Melhores condições. 07. Seus pais são participantes do CTG? Não. 08. Você se sente coxinense? sim 09. Qual seu prato preferido? Churrasco. 10. Qual a região você se identifica? Mato Grosso do Sul ou Rio Grande do Sul? Mato Grosso do Sul 11. Você tem vontade de continuar a morando em Coxim ou ir morar no Rio Grande do Sul? Ir ao Rio Grande do Sul. 12. Qual a sua opinião sobre Coxim? Uma cidade para se viver, mas não oferece opções para escolha de profissões. 13. Qual sua opinião sobre Mato Grosso do Sul? Estado em desenvolvimento. Alto potencial agrícola. 14. Qual o seu time de futebol? Palmeiras.

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Entrevistas com os professores da escola FUNLEC de Coxim - MS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CAMPUS COXIM

PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTIFICA – CNPq

“REPRESENTAÇÕES CULTURAIS EM COXIM – MS: TRADIÇÕES E MIGRAÇÕES NA CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE COXINENSE NO ESPAÇO EDUCATIVO.”

Nome: I. K. M. Idade: 43 anos. 01. Você é filho (a) de gaúchos? sim 02. Você nasceu no Rio Grande do Sul ou em outro estado? Em qual cidade? Sim. Campina das Missões - RS 03. Quando você veio para Coxim – MS?(caso você não nasceu em Coxim). Em 1983 04. Qual o motivo que você e sua família vieram para Coxim? Trabalho 05. Qual a sua profissão? Professora 05. Qual a profissão da sua mãe? *********** 06. Qual a profissão do seu pai? ********** 07. Você e sua família são participantes do CTG? Sim 08. Você se sente coxinense? Por quê? Sim. Pelo tempo que vivo aqui 09. Qual seu prato preferido? Massas e Saladas 10. Qual a região você se identifica? Mato Grosso do Sul ou Rio Grande do Sul? Como já vivo aqui há muitos anos já me sinto matogrossense. 11. Você tem vontade de continuar a morando em Coxim ou ir morar no Rio Grande do Sul? Aqui em Coxim 12. Qual a sua opinião sobre Coxim? È uma cidade boa para se viver, pois a população é muito receptiva. 13. Qual sua opinião sobre Mato Grosso do Sul? Estado em fase de desenvolvimento, rico em recursos naturais, que devem ser explorados com muita consciência.

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“REPRESENTAÇÕES CULTURAIS EM COXIM – MS: TRADIÇÕES E MIGRAÇÕES NA CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE COXINENSE NO ESPAÇO EDUCATIVO.”

Nome: R. M. E. M. Idade: 47 01. Você é filho (a) de gaúchos? sim 02. Você nasceu no Rio Grande do Sul ou em outro estado? Em qual cidade? Rio Grande do Sul, cidade Santo Ângelo. 03. Quando você veio para Coxim – MS?(caso você não nasceu em Coxim). Em 1994. 04. Qual o motivo que você e sua família vieram para Coxim? Desenvolver atividade Agrícola na região. 05. Qual a sua profissão? Professora 06. Qual a profissão da sua mãe? Professora 07. Qual a profissão do seu pai? Agropecuarista. 08. Você e sua família são participantes do CTG? Sim 09. Você se sente coxinense? Por quê? Sim, moro e trabalho aqui. 10. Qual seu prato preferido? Macarrão. 11. Qual a região você se identifica? Mato Grosso do Sul ou Rio Grande do Sul? Mato Grosso do Sul, gosto deste estado, de morar aqui, Rio Grande do Sul para passear e rever a família. 12. Você tem vontade de continuar a morando em Coxim ou ir morar no Rio Grande do Sul? Hoje continuar por aqui. 13. Qual a sua opinião sobre Coxim? Uma cidade que vem crescendo, se estruturando, melhor, mas tem muito a melhorar. 14. Qual sua opinião sobre Mato Grosso do Sul? Um estado com grande potencial, com riquezas naturais e muito bom para se viver.

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“REPRESENTAÇÕES CULTURAIS EM COXIM – MS: TRADIÇÕES E MIGRAÇÕES NA CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE COXINENSE NO ESPAÇO EDUCATIVO.”

Nome: N. S. Idade: 43 anos. 01. Você é filho (a) de gaúchos? sim 02. Você nasceu no Rio Grande do Sul ou em outro estado? Em qual cidade? Santa Catarina, cidade de Xanxerê. 03. Quando você veio para Coxim – MS?(caso você não nasceu em Coxim). No ano de 1976. 04. Qual o motivo que você e sua família vieram para Coxim? Em busca de melhoria da vida financeira da família. 05. Qual a sua profissão? Secretária. 06. Qual a profissão da sua mãe? Do lar. 07. Qual a profissão do seu pai? Aposentado. 08. Você e sua família são participantes do CTG? Sim. 09. Você se sente coxinense? Por quê? Pelo tempo de residência no município, me considero mais coxinense do que catarinense. 10. Qual seu prato preferido? Massas em geral. 11. Qual a região você se identifica? Mato Grosso do Sul ou Rio Grande do Sul? Mais com Mato Grosso do Sul, pelo tempo de vivencia ser maior do que a permanência no sul. 12. Você tem vontade de continuar a morando em Coxim ou ir morar no Rio Grande do Sul? Permanecer em Coxim. 13. Qual a sua opinião sobre Coxim? Cidade agradável e acolhedora. 14. Qual sua opinião sobre Mato Grosso do Sul? Estado bonito e acolhedor em pleno desenvolvimento e com grande futuro.

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“REPRESENTAÇÕES CULTURAIS EM COXIM – MS: TRADIÇÕES E MIGRAÇÕES NA CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE COXINENSE NO ESPAÇO EDUCATIVO.”

Nome: V. P. O. N. Idade: 34 anos 01. Você é filho (a) de gaúchos? sim 02. Você nasceu no Rio Grande do Sul ou em outro estado? Em qual cidade? Sim – Frederico Westhphalen – RS. 03. Quando você veio para Coxim – MS?(caso você não nasceu em Coxim). 1977 04. Qual o motivo que você e sua família vieram para Coxim? Para trabalhar na lavoura de soja. 05. Qual a sua profissão? Profissional de Educação Física. 06. Qual a profissão da sua mãe? Professora 07. Qual a profissão do seu pai? Agricultor. 08. Você e sua família são participantes do CTG? Não. 09. Você se sente coxinense? Por quê? Sim, faz muito tempo que moro aqui. 10. Qual seu prato preferido? Lasanha. 11. Qual a região você se identifica? Mato Grosso do Sul ou Rio Grande do Sul? RS – apesar do tempo morando aqui as raízes da minha família são todos do sul. 12. Você tem vontade de continuar a morando em Coxim ou ir morar no Rio Grande do Sul? Morar em Coxim, ir passear no sul mais vezes. 13. Qual a sua opinião sobre Coxim? Muito pequena, saúde precária, faltam médicos, não tem opção de eventos culturais, porem tem paz e tranqüilidade para se ter filhos pequenos, quando eles crescem faltam cursos superiores. 14. Qual sua opinião sobre Mato Grosso do Sul? Gosto do estado, e vejo que cresce muito, ainda precisamos melhorar a educação publica e privada.