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AS MLTIPLAS INTELIGNCIAS E INTELIGNCIA MUSICAL
Neri P. Carneiro
www.meloteca.com
08 / 09 / 2010
As mltiplas inteligncias e inteligncia musical
Neri P. Carneiro | www.meloteca.com | 2010
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1- QUEM SOMOS NS?
Qual seria a melhor indagao para comearmos a discutir a msica como uma das mltiplas
inteligncias? Perguntar o que o ser humano ou quem o ser humano? Perguntar quem
somos ns ou o que somos ns?
Na realidade, sempre que discutimos temas relacionados com o ser humano, pretendemos
entender a ns mesmos e as nossas relaes com os nossos semelhantes. Por isso nos
indagamos: o que e quem somos ns?
Podemos dizer que somos uma espcie de animal completamente diferente dos demais:
somos perguntantes. Somos to interrogantes que at a nossa cabea tem a forma de um
ponto de interrogao. E nossas indagaes so caminhos que conduzem nossa essncia, na
medida em que nos confrontamos conosco e com os nossos comportamentos.
Podemos dizer que o ser humano, como animal perguntante, vem procurando conhecer-se
desde os tempos mais remotos. Colocou-se algumas indagaes que so, ao mesmo tempo,
mobilizadoras e angustiantes: Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou?
So indagaes mobilizadoras porque impedem ou nos tiram da acomodao e da mesmice;
elas impelem-nos na direo dos nossos anseios, desejos e sonhos. So questes angustiantes
porque a busca da resposta indica que o caminho imensamente longo e ultrapassa a
limitao humana; as respostas j apresentadas ainda so insatisfatrias, pois o ser humano
ainda no se explicou, nem se entendeu. E angustia-se por ainda no haver se compreendido.
No se explicou a si mesmo nem h perspetivas de compreenso mtua. O que vemos,
constantemente so desavenas que, entre outras causas, se originam da incompreenso, da
intolerncia, da ignorncia... e tudo isso leva ampliao da violncia...
Essas indagaes manifestam a busca da essncia humana. So indagaes que, antes de
buscar um rumo, querem uma resposta para esse universo chamado ser humano. As
indagaes sobre as origens e o destino, so balizas para a questo primordial: quem sou? Na
busca da resposta para essa indagao foram criadas inmeras teorias, religies, mitos. Mas a
resposta continua inatingida.
E a questo central continua sem resposta: o ser humano, que realidade essa?
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2- O HOMEM, QUE REALIDADE ESSA?
O Ser Humano ao perceber-se no mundo v-se completamente diferente dos demais
existentes. ele quem d sentido existncia dos existentes. D sentido porque pensa,
porque se socializa e porque manipula os elementos da realidade; gera cultura e transcende
realidade humana.
Podemos dizer que praticamente todas as correntes de filosofia procuram dar uma explicao
para esta realidade a que se chama ser humano. Dessas explicaes um ponto parece ser
comum e sobre ele as vozes fazem-se unnimes: o fato do homem ser pensante e a partir
disso ser capaz de manipular o mundo em que se insere.
Ressaltemos que o Pensar no s o que se entende etimologicamente: capacidade de pesar,
avaliar. Pensar refere-se tambm capacidade de fazer escolhas o que implica em ser capaz de
agir consciente e responsavelmente. Alis, o ser humano avalia, justamente, para fazer
escolhas e poder agir. Portanto o ser humano aquele que avalia e escolhe, e faz isso a partir
de um processo reflexivo que exige uma postura introspetiva e ativa. A introspeo deriva da
capacidade de abstrao; e a ao resulta da conscincia. Na verdade quando dizemos que o
ser humano capaz de pensar pretendemos afirmar que ele capaz de se comunicar a
respeito das realidades com as quais no est em contato imediato. Ele pode represent-las,
mentalmente no processo de reflexo. E uma das formas de representarmos o mundo nossa
volta a msica.
Outra caracterstica do ser humano a sociabilidade. A sociabilidade, ou a capacidade de viver,
sobreviver e existir em coletividade parece ser o que melhor caracteriza o ser humano.
Entretanto, aqui preciso fazer-se uma ressalva. No nos parece que o ser humano seja,
essencialmente, um ser social, mas se faz social a partir de suas necessidade e para superar
seus medos.
Podemos dizer que, embora um ser sectrio o ser humano se socializa, no por ser socivel,
mas porque se percebe impotente diante da natureza, mais forte que ele. E, por medo de no
sobreviver procura a ajuda dos semelhantes. Assim se faz socivel numa atitude tipicamente
egocntrica, medrosa e aproveitadora. Para fugir de seus medos e disfarar a sua fraqueza
aproveita-se da fraqueza dos seus semelhantes. Assim sendo, a vida social um meio de
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tirarmos proveito da ajuda de outros e nos prepararmos para o isolamento.
Com isso tambm podemos dizer que outra caracterstica do ser humano a maldade. Essa
caracterstica recebe o seguinte comentrio de Nietzsche: ver sofrer; faz bem; fazer sofrer
melhor ainda: ai est um duro princpio, mas um principio fundamental antigo, poderoso,
humano, demasiadamente humano (NIETZSCHE, *2005+, p. 64). E o pensador alemo ainda
acrescenta:
verdade que repugna delicadeza, mais ainda, a hipocrisia de animais domesticados (quero
dizer os homens modernos, quero dizer ns) representar-se com todo o rigor at que ponto a
crueldade era alegria festiva na humanidade primitiva e entrava como ingrediente em quase
todos os seus prazeres; por outro lado [...]. Indiquei j de maneira circunspecta a espiritualizao
e a deificao da crueldade que no cessa de crescer e atravessa toda a histria da cultura
superior. (NIETZSCHE, [2005], p. 64. Grifo nosso).
Com a referncia alegria festiva podemos acrescentar mais uma caracterstica ao ser
humano: ser alegre ou festivo. E com isso voltamos sociabilidade. Desde os primrdios, o ser
humano procurou meios de criar artifcios para o agrupamento. Entre eles est a msica,
utilizada em momentos festivos. O momento festivo, mesmo que fosse para tripudiar o
inimigo derrotado, um momento musical.
Aqui entra a discusso sobre o sentido da produo humana. O ser humano humaniza-se
produzindo o seu mundo: gerando cultura. Ou seja, diferentemente de outras seres, o humano
autoproduz-se reproduzindo o meio que o circunda; recria o mundo natural e o j criado,
criando novo significado.
Essa capacidade re-criadora permite ao ser humano re-produzir o mundo dinamizando a
existncia dos existentes. E assim est sempre criando ou re-criando a cultura que, talvez, seja
uma das marcas mais tipicamente humanas, pois principalmente pela sua capacidade de
recriar o mundo e a cultura que o homem se diferencia dos demais existentes. E isso tambm
nos leva musicalidade. Assim o homo culturalis manifesta-se, tambm como homo
ludens (MONDIN,1982), pois entre outras a cultura possibilita o divertimento e a
musicalidade uma expresso do divertimento, da alegria.
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3- O SENTIDO DA EXISTNCIA
O facto que para se compreender o homem procura entender o mundo...
Estamos de volta questo: qual o sentido da existncia humana? Se nos limitssemos
dimenso religiosa diramos que o ser humano existe para cultuar e louvar seu criador. Mas se
assim fosse, no seria essa uma forma de minimizar o criador que dependeria de sua criatura
para receber louvores?
Para interpretar o mundo cria padres; entre os padres interpretativos est a msica, meio
pelo qual o ser humano pode fazer leituras da realidade. E a interpretao da realidade um
dos caminhos para dar sentido existncia.
Estamos de volta mesma e intrigante indagao: O que estou a fazer aqui?
E, outra vez, as respostas emaranham-se. Principalmente se admitirmos uma explicao
religiosa, pois a teramos que nos perguntar a partir de qual segmento religioso dar a
resposta.
Uma das expresses religiosas mais presentes na sociedade humana o cristianismo. Para os
cristos o homem est no mundo em busca do seu fim ltimo que glorificar a Deus; mas por
ser impuro (pelo pecado original) deve purificar-se a fim de voltar para Deus. E se tende a
voltar significa que veio Dele. E com isso fica resolvido o problema no s do fim como da
origem. Mas o existir ganha uma conotao angustiante: no lhe coube escolha entre existir
ou no e tendo nascido, nasce pecaminoso. A vida concebida como presente, mas que vem
com defeito de fbrica: traz a mancha do pecado original...
Outra expresso religiosa o budismo. De modo simplificado podemos dizer que para o
budismo a existncia humana tem outra finalidade. Aqui o processo de purificao tem a
finalidade no de voltar, mas de mergulhar no absoluto, a partir da meditao. Assim o
homem no tende a ir para outro mundo, encontrar-se com o absoluto mas, a partir da
meditao e da contemplao, encontraria a sua realizao no prprio aqui e agora re-
significado pela contemplao e pela meditao. Esse processo de meditao deveria conduzir
a pessoa a um alheamento em relao s realidades at chegar ao ponto supremo da
completa indiferena.