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AS NOVAS REGRASDE CONSOLIDAÇÃODE CONTASNO SECTOR PÚBLICOADMINISTRATIVO
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ANÁLISE DA ORIENTAÇÃONº1/2010 - PORTARIA 474/2010DE 1 DE JULHO
João Pires COLABORADOR DE SROC
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de princípios contabilísticos, identificação das entidades que
constituem o grupo e conceito de controlo.
Aliás a Orientação nº1/2010 estabelece logo no preâmbulo que a
norma de consolidação de contas para o sector público administrativo
deve ter por base um conteúdo que tenha por referência o previsto
nas normas nacionais e internacionais, nomeadamente as
International Public Sector Accounting Standards (IPSAS), que são
na generalidade dos casos, baseadas nas Normas Internacionais de
Contabilidade (NIC) emitidas pelo International Accountig Standards
Board (IASB) e que já foram transpostas para o direito interno com
a aprovação do SNC.
De salientar que existem algumas áreas ou procedimentos que são
diferentes no SNC e nos planos sectoriais de contabilidade do sector
público, nomeadamente no que respeita à questão do justo valor e
dos impostos diferidos que não são adoptados no sector público, e
que implicará ajustamentos e correcções que mais adiante se
identificam.
1.2. PRINCIPAIS NORMAS E PRINCÍPIOS DOS VÁRIOSPLANOS DE CONTABILIDADE DO SECTOR PÚBLICOANTES DA ENTRADA EM VIGOR DA ORIENTAÇÃO Nº1 /2010
1.2.1. POCAL- PLANO OFICIAL DE CONTABILIDADEPÚBLICA DAS AUTARQUIAS LOCAIS E LEI Nº 2/2007,DE 15/1 (LEI DAS FINANÇAS LOCAIS)
O artigo 46º da Lei 2/2007, de 15 de Janeiro que aprovou a Lei das
Finanças Locais, e revogou a Lei nº 42/98, de 6 de Agosto, dispõe
que os Municípios que detenham serviços municipalizados ou a
totalidade do capital de entidades do sector empresarial local, devem
proceder à elaboração de contas consolidadas:
Artigo 46.º da Lei nº 2/22007
Consolidação de contas
1 - Sem prejuízo dos documentos de prestação de contas previstos na
lei, as contas dos municípios que detenham serviços municipalizados
ou a totalidade do capital de entidades do sector empresarial local
1. A consolidação de contasno sector público1.1. INTRODUÇÃO
O Plano Oficial de Contas do Sector Público (POCP), aprovado pelo
Decreto-Lei nº 232/097, não estabeleceu os princípios e normas
orientadoras subjacentes à consolidação de contas no âmbito do
Sector Público, os quais se encontram dispersos e não
homogeneizados pelos vários planos de contabilidade sectoriais
(POCAL, POCEducação; POCSaúde).
A Orientação nº1/2010 aprovada pela Portaria nº 474/2010 de 1 de
Julho de 2010 estabeleceu um conjunto de princípios orientadores
e os requisitos mínimos que devem estar subjacentes à consolidação
de contas das entidades integradas no sector público administrativo.
Nos termos do disposto no artigo 5º da portaria 474/2010, estes
princípios e requisitos são de aplicação obrigatória até à publicação
de normas de consolidação de contas previstas nos planos sectoriais
ou de norma única de consolidação de contas aplicável a todas as
administrações públicas que compõem o sector público
administrativo.
Segundo as Normas Internacionais de Contabilidade para o Sector
Público, o processo de prestação de contas respeita à apresentação
das demonstrações financeiras, às suas componentes e relato financeiro,
pelo que a adopção destas normas implica a adaptação do POCP e
planos sectoriais, a um novo Sistema Público de Normalização
Contabilística (SPNC), em tudo o que for aplicável ao sector público
português, tal como aconteceu com o Sistema de Normalização
Contabilística (SNC), aprovado pelo Decreto-Lei nº 158/2009, de 13
de Julho, Sistema que veio substituir o Plano Oficial de Contas
(preâmbulo da portaria 474/2010).
A partir da data da publicação da portaria 474/2010, os procedimentos
e requisitos das normas de consolidação de contas para o sector
público e as constantes do SNC - Sistema de Normalização
Contabilística são semelhantes ou iguais, nomeadamente ao nível
Carlos Lopes REVISOR OFICIAL DE CONTAS
CONTABILIDADE
44
devem incluir as contas consolidadas, apresentando a consolidação
do balanço e da demonstração de resultados com os respectivos
anexos explicativos, incluindo, nomeadamente, os saldos e fluxos
financeiros entre as entidades alvo de consolidação e o mapa de
endividamento consolidado de médio e longo prazos.
2 - Os procedimentos contabilísticos para a consolidação dos balanços
dos municípios e das empresas municipais ou intermunicipais são os
definidos no POCAL.
Perímetro de consolidação
De acordo com o artigo 46º da Lei nº 2/2007, o grupo é constituído
pelo Município, Serviços Municipalizados e entidades do sector
empresarial cujo capital seja detido na totalidade (100%).
Método e procedimentos de consolidação
Tendo em atenção como é constituído o perímetro de consolidação
o método de consolidação a utilizar é o integral.
No POCAL não existem normas específicas sobre procedimentos e
métodos relativos à consolidação de contas, pelo que na prática os
utilizadores utilizavam os procedimentos consignados no POC –
Plano Oficial de Contabilidade.
1.2.2. POC EDUCAÇÃO
O POC Educação contém um capítulo sobre normas e procedimentos
de consolidação de contas com a seguinte estrutura:
12.1.- Aspectos preliminares
12.2 – Definições
12.3 – Apresentação das demonstrações financeiras consolidadas
12.4 – Âmbito das Demonstrações financeiras consolidadas
12.5 – Procedimentos de consolidação
12.6 – Divulgação
12.7 – Data da entrada em vigor
12.8 – Disposições transitórias
Perímetro de consolidação - POC-Educação
No Sector da Educação o «Grupo público (entidade económica)» —
é o conjunto da entidade mãe e das entidades controladas.
O conceito de entidades controladas vem especificado no nº 12.4
do POC Educação:
12.4 - Âmbito das demonstrações financeiras consolidadas
Uma entidade mãe que deva elaborar demonstrações financeiras
consolidadas, deve consolidar todas as entidades por si controladas,
nacionais ou estrangeiras, a menos que a alguma, ou algumas delas
sejam aplicáveis as disposições de exclusão adiante referidas.
12.4.1 — Controlo e presunção de controlo. — O reconhecimento da
existência de controlo, depende das circunstâncias de cada caso e
constitui matéria de julgamento profissional. Devem ser tomadas em
consideração as relações existentes entre duas ou mais entidades e,
em especial, o elemento poder (possibilidade de estabelecer, ou aprovar,
as directrizes sobre políticas orçamentais, financeiras ou operativas
de outra entidade) e o elemento resultado (que representa a
possibilidade de, controlando uma entidade, beneficiar do seu interesse
na outra entidade).
Nesta base, podem estabelecer-se as seguintes condições:
Condições de poder:
A entidade tenha o poder de homologar os estatutos ou o regulamento
interno de outra entidade;
A entidade tenha o poder, face aos estatutos ou à legislação vigente,
de designar, homologar a designação, ou destituir a maioria dos
membros da administração de outra entidade;
A entidade tenha, directa ou indirectamente através de entidades
controladas, a maioria dos votos de outra entidade;
A entidade tenha o poder de seleccionar, ou regular a selecção de, a
maioria dos votos que sejam provavelmente seleccionados numa
assembleia geral de outra entidade;
A entidade detenha a maioria dos direitos de voto de outra entidade
(onde a propriedade esteja estabelecida sob a forma de quotas, acções
ou qualquer outra estrutura similar de capital).
Aos direitos de voto, de designação e de destituição da entidade mãe
devem ser adicionados os direitos de qualquer entidade filial e os das
filiais desta;
Método de consolidação previstos no POC Educação
O POC Educação prevê a utilização dos seguintes métodos
- simples agregação
- integral
- equivalência patrimonial
Método da simples agregação, que consiste na soma linha por linha
dos balanços e das demonstrações de resultados das entidades
pertencentes ao grupo público, eliminada que estejam as operações
de transferência e subsídios efectuadas entre entidades;
Método de consolidação integral, que consiste na integração no
balanço e na demonstração dos resultados da entidade consolidante
dos elementos respectivos dos balanços e das demonstrações dos
resultados das entidades consolidadas, evidenciando os direitos de
terceiros, designados para este efeito «interesses minoritários»; ou
Método de equivalência patrimonial, que consiste na substituição
no balanço da entidade consolidante do valor contabilístico das
partes de capital por ela detidas pelo valor que proporcionalmente
lhe corresponde nos capitais próprios da entidade participada.
O método da equivalência patrimonial é de aplicação obrigatória,
relativamente às entidades associadas em que a entidade mãe
detenha uma participação superior a 20% e inferior a 50%(v. g.
sociedades ou associações).
1.2.3. POCMS- SAÚDE
O POC Saúde contém um capítulo muito resumido sobre consolidação
de contas no sector da saúde e que a seguir se apresenta:
12 - Consolidação de contas
A informação contabilística produzida pelas entidades abrangidas
pelo POCMS constitui informação fragmentada, disponibilizada por
estas instituições que se assumem como entidades económicas únicas,
com processos de gestão directa ou indirectamente integrados, o que
implica um conjunto de necessidades que a sobredita informação
fragmentada não tem condições de satisfazer.
Torna-se assim necessário consolidar informação financeira que auxilie
o processo de tomada de decisão pelos responsáveis financeiros e
políticos e que proporcione a criação de uma cultura de apresentação
de contas intra-entidades pertencentes a um mesmo subconjunto do
Ministério da Saúde.
Com o processo de consolidação de contas devidamente controlado
potenciar-se-á o controlo legal e político, contribuindo-se para a
melhoria da informação financeira de todo o Serviço Nacional de
Saúde, que potenciará a instauração de posturas e culturas de gestão
do SNS, bem como ainda facilitará a comparabilidade temporal e
espacial.
A consolidação da informação financeira constituirá um potente
CONTABILIDADE
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João Pires / COLABORADOR DE SROC
instrumento de gestão e um importante factor de transparência dasreceitas e despesas com o sector da saúde em Portugal.Nestes termos, deve entender-se que as demonstrações financeirasconsolidadas constituem um complemento, e não um substituto dasdemonstrações financeiras individuais das entidades integradas noSNS, tendo como objectivo proporcionar uma imagem verdadeira eapropriada da posição financeira e dos resultados das operações detodo o SNS.Com efeito, pela via da consolidação, poderá obter-se um único conjuntode demonstrações financeiras e orçamentais (balanço, demonstraçãodos resultados e mapas de controlo orçamental) do SNS, e até de todoo MS, como se de uma única entidade se tratasse.
Entendeu-se, contudo, que nesta fase seria apenas de evidenciar anecessidade de consolidação da informação financeira e patrimonial,reservando para momento posterior as especificidades implícitas aestes procedimentos.
No POC Saúde não está definido como é constituído o perímetro deconsolidação nem quais os métodos de consolidação a utilizar.
2. As novas regrasde consolidação de contaspara o sector público- orientação nº1/2010As normas e procedimentos da Orientação nº1/2010 substituemos constantes do POCAL, POC-Eduação e POC-Saúde, procedendoà uniformização e homogeneização, o que facilita a Normalizaçãocontabilística e melhora a informação prestada pelas demonstraçõesfinanceiras consolidadas, contribuindo deste modo também para amelhoria da Contabilidade Nacional.
2.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS
… Devem ser elaborados documentos e elementos de apoio àconsolidação de contas, designadamente o manual de consolidaçãoe o dossier de consolidação. Sendo que integram o manual deconsolidação, nomeadamente: o plano de contas; o calendário dasoperações; as regras relativas à definição do perímetro de consolidação;o organigrama do grupo; os métodos de consolidação aplicáveis; osprocedimentos de homogeneização e agregação dos dados e deeliminação das operações internas, bem como as instruções para aelaboração do dossier de consolidação. Relativamente ao dossier deconsolidação será composto, designadamente, pelas: demonstraçõesfinanceiras e anexos; elementos sobre operações intragrupo e outrasinformações que se revelem pertinentes.
A Orientação nº1/2010 recomenda a elaboração de manual e dossierde consolidação.
Carlos Lopes / REVISOR OFICIAL DE CONTAS
PERÍMETROCONSOLIDAÇÃO
POCALLEI 2/2007
ENTIDADESDETIDAS A 100%
MÉTODOS DECONSOLIDAÇÃO
POC EDUCAÇÃO
INTEGRAL
ENTIDADES CONTROLADASE INFLUÊNCIA SIGNIFICATIVA
SIMPLES AGREGAÇÃOINTEGRALEQUIVALÊNCIA PATRIMONIAL
CONTABILIDADE
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2.2. PRINCÍPIOS CONTABILÍSTICOS:
Os princípios contabilísticos recomendados pela Orientação nº1/2010
são alguns dos que constam do SNC - Sistema de Normalização
Contabilística, e que a seguir se indicam:
- Relevância e materialidade
- Fiabilidade
- Neutralidade
- Plenitude
- Comparabilidade
- Representação fidedigna
A Orientação nº1/2010 não considerou os princípios da prudência
e da substância sobre a forma que estão consignados no SNC
2.3 DEFINIÇÕES
Para efeitos da presente orientação técnica, considera-se:
a) «Controlo» o poder de gerir as políticas financeiras e operacionais
de uma outra entidade a fim de beneficiar das suas actividades, nos
termos referidos no n.º 5.1;
b) «Influência significativa» o poder de participar nas decisões das
políticas financeiras e operacionais da participada sem exercer o
controlo sobre essas políticas;
c) «Entidade mãe» uma entidade que tem uma ou mais entidades
controladas;
d) «Entidade controlada» uma entidade que está sob o controlo de
uma outra entidade, designada por entidade mãe;
e) «Grupo público» o conjunto constituído pela entidade mãe e pelas
entidades controladas;
f) «Demonstrações financeiras consolidadas» as demonstrações
financeiras de um grupo público apresentadas como se de uma única
entidade se tratasse;
g) «Entidade consolidante» a entidade que aplica qualquer dos métodos
de consolidação legalmente previstos;
h) «Interesses minoritários» a parte do resultado e dos capitais próprios
de uma entidade controlada atribuíveis às participações que não sejam
detidas, directa ou indirectamente através de entidades controladas,
pela entidade mãe.
A orientação nº1/2010 não define o limiar mínimo de percentagem
de participação a partir do qual se considera existir uma influência
significativa, ao contrário do SNC e da Normas Internacionais de
Contabilidade que presumem existir influência significativa se o
investidor detiver directa ou indirectamente 20% ou mais do poder
de voto na investida.
2.4 IDENTIFICAÇÃO DAS ENTIDADES QUECONSTITUEM O GRUPO PÚBLICO
…O grupo público é composto pelo conjunto das entidades controladas
e da respectiva entidade mãe. A entidade mãe é: no sector da segurança
social, o Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, I. P.; no
sector das autarquias locais, o município; no sector da saúde, a
Administração Central dos Serviços de Saúde, I. P.; e no sector da
educação, a entidade mãe das entidades que aplicam o POC-Educação.
No início de cada exercício cabe à entidade consolidante definir e
divulgar às entidades inseridas no perímetro as orientações subjacentes
ao processo de consolidação.
Neste âmbito a orientação nº 1/2010 uniformiza o conceito de
controlo e grupo público que deve orientar os vários Planos Sectoriais
de Contabilidade Pública.
CONTABILIDADE
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2.5. ÂMBITO DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRASCONSOLIDADAS
2.5.1. – CONTROLO E PRESUNÇÃO DE CONTROLO
…Presume-se a existência de controlo quando se verifique pelo menos
um dos seguintes indicadores de poder: a faculdade de vetar os
orçamentos de outra entidade; a possibilidade de vetar, derrogar ou
modificar as decisões do órgão de gestão de outra entidade; ou o facto
de o mandato da outra entidade ser estabelecido e limitado por
legislação.
Presume-se a existência de controlo quando se verifiquem os seguintes
indicadores de resultado: a detenção da titularidade dos activos líquidos
de outra entidade com o direito de livre acesso a estes; a capacidade
de conseguir que a outra entidade coopere na realização dos seus
próprios objectivos e a assunção da responsabilidade subsidiária pelos
passivos de outra entidade.
2.5.2. – COMPONENTES DAS DEMONSTRAÇÕESFINANCEIRAS CONSOLIDADAS
As demonstrações financeiras consolidadas constituem um todo e
compreendem os seguintes documentos:
a) Balanço consolidado;
b) Demonstração consolidada dos resultados por natureza;
c) Mapa de fluxos de caixa consolidado de operações orçamentais;
d) Anexo às demonstrações financeiras consolidadas, com a divulgação
de notas específicas relativas à consolidação de contas.
Os documentos de prestação de contas consolidadas incluem, para
além das demonstrações financeiras referidas acima, o relatório de
gestão consolidado.
A orientação nº1/2010 não apresenta qualquer modelo de Anexo,
pelo que se presume que devem ser seguidos os modelos de Anexos
específicos de cada Plano Sectorial de Contabilidade Pública, não
existindo um modelo uniformizado.
2.5.3. OBRIGATORIEDADE DE CONSOLIDAÇÃO
Sem prejuízo do disposto no número seguinte, a entidade mãe é
obrigada a elaborar demonstrações financeiras consolidadas do grupo
constituído por ela própria e por todas as entidades por si controladas.
2.5.4. DISPENSA DE CONSOLIDAÇÃO
Uma entidade mãe fica dispensada de elaborar as demonstrações
financeiras consolidadas quando, na data do seu balanço, o conjunto
das entidades a consolidar, com base nas suas últimas contas anuais
aprovadas, não ultrapassar dois dos três limites a seguir indicados:
Total do balanço - ¤ 5 000 000
Total dos proveitos - ¤ 10 000 000
Número de trabalhadores empregados em média durante
o exercício - 250
A dispensa de consolidação só ocorre quando se tenha deixado de
ultrapassar dois dos limites definidos durante dois exercícios
consecutivos.
Quando do grupo público façam parte entidades abrangidas pelo artigo
3.º do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho, os limites de dispensa
da consolidação atrás referidos são substituídos pelos limites previstos
no artigo 7º do mesmo diploma legal.
2.5.5 EXCLUSÕES DE CONSOLIDAÇÃO
Uma entidade pode ser excluída da consolidação quando não seja
materialmente relevante para o objectivo da imagem verdadeira e
apropriada da posição financeira, dos resultados e da execução
orçamental do grupo público.
Quando duas ou mais entidades estiverem nas circunstâncias referidas
no número anterior, mas se revelem, no seu conjunto, materialmente
relevantes para o mesmo objectivo devem ser incluídas na consolidação.
2.6. PROCEDIMENTOS E MÉTODOS DE CONSOLIDAÇÃO
2.6.1 REGRAS GERAIS…As demonstrações financeiras consolidadas, constituindo um
complemento, e não um substituto, das demonstrações financeiras
individuais, são elaboradas após a realização das homogeneizações
e das eliminações de operações internas, nomeadamente as referidas
nos pontos seguintes, para que seja possível obter uma imagem
verdadeira e apropriada da posição financeira, dos resultados e da
execução orçamental, das entidades que integram o grupo público.
2.6.2. HOMOGENEIZAÇÃO
a) Homogeneização temporal – respeita à uniformidade da data de
reporte das demonstrações financeiras.
b) Homogeneização valorativa - refere-se à utilização de critérios
de valorimetria uniformes ao grupo público.
c) Homogeneização de operações internas – os saldos e valores das
operações entre as entidades devem ser de natureza contrária, mas
devem coincidir.
d) Homogeneização para realizar a agregação – a estrutura das
demonstrações financeiras das entidades a consolidar deve ser a
mesma, caso contrário terão que ser efectuados ajustamentos .
A título de exemplo, considere-se um Município que utiliza o Pocal
e detém uma participação numa empresa Municipal que utiliza o
SNC - Sistema de Normalização Contabilística. Neste caso as contas
da empresa Municipal terão que ser convertidas para Pocal.
2.6.3. AGREGAÇÃO
Respeita à operação inicial de integração de saldos das entidades
a consolidar.
2.6.4. ELIMINAÇÕES
As operações internas entre entidades que fazem parte do mesmo
grupo público devem ser eliminadas.
Estas operações respeitam a:
- Créditos e débitos;
- Gastos e rendimentos;
- Despesas e receitas orçamentais.
A orientação nº1/2010 não refere explicitamente a eliminação de
resultados internos contidos em elementos patrimoniais, como
sejam lucros ou prejuízos internos contidos em stocks ou em
imobilizados, em que também terá que proceder-se à sua eliminação,
e no caso de lucro interno contido em imobilizados também terá
que proceder-se à correcção das depreciações enquanto os bens
não estiverem totalmente reintegrados.
A Orientação nº1/2010, também não refere, mas está subjacente
que quando se aplica o método da equivalência patrimonial também
João Pires / COLABORADOR DE SROCCarlos Lopes / REVISOR OFICIAL DE CONTAS
CONTABILIDADE
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têm que proceder-se ao efeito da eliminação das operações internas
em resultados, já que de acordo com o disposto no nº 26 da IPSAS7,
muitos dos procedimentos apropriados para aplicação do método
da equivalência patrimonial são semelhantes aos procedimentos
de consolidação descritos na IPSAS6 - Demonstrações financeiras
Consolidadas e separadas.
2.6.5. – MÉTODOS DE CONSOLIDAÇÃO
Os métodos de consolidação previstos na orientação nº1/2010 são:
- Método da simples agregação;
- Método de consolidação integral;
- Método de equivalência patrimonial.
a) O método da simples agregação aplica-se quando, na ausência de
qualquer participação no capital das entidades consolidadas, se
verifica um efectivo controlo administrativo por parte da entidade
consolidante. Este método traduz-se na soma algébrica dos balanços,
das demonstrações dos resultados e dos mapas de execução
orçamental das entidades pertencentes ao grupo público, sendo
obrigatória a eliminação, designadamente, dos saldos, das transacções,
das transferências e subsídios e dos resultados incorporados em
activos relativos a operações efectuadas entre essas entidades, sem
prejuízo do disposto no n.º 6.4, alínea b).
b) O método de consolidação integral aplica-se quando a entidade
consolidante detém uma participação superior a 50 % dos direitos
de voto dos titulares do capital da entidade controlada e consiste na
integração no balanço, na demonstração dos resultados e nos mapas
de execução orçamental da entidade consolidante dos elementos
respectivos dos balanços, das demonstrações dos resultados e dos
mapas de execução orçamental das entidades consolidadas,
evidenciando os direitos de terceiros, designados para este efeito como
interesses minoritários.
Para efeitos de aplicação do método de consolidação integral, adoptar-
se-á o previsto na Norma Contabilística e de Relato Financeiro 15,
«Investimentos em subsidiárias e consolidação», publicada no aviso
nº 15 655/2009, de 7 de Setembro, com as necessárias adaptações
à realidade de cada subsector.
c) O método de equivalência patrimonial aplica-se quando uma
entidade pertencente ao grupo público exerça influência significativa
sobre a gestão operacional e financeira de uma entidade não incluída
no grupo público ou quando não seja aplicável qualquer dos métodos
referidos nas alíneas anteriores. Este método consiste na substituição
no balanço da entidade consolidante do valor contabilístico das partes
de capital por ela detida pelo valor que proporcionalmente lhe
corresponde nos capitais próprios da entidade participada.
Para efeitos de aplicação do método de equivalência patrimonial,
adoptar-se-á o previsto na Norma Contabilística e de Relato Financeiro
13, publicada no Aviso n.º 15 655/2009, de 7 de Setembro, com asnecessárias adaptações à realidade de cada subsector.
A Orientação nº1/2010 não prevê a utilização do método proporcional,contrariamente ao recomendado pela IPSAS8-Norma Internacionalde Contabilidade do Sector Público, que no § 35 recomenda autilização deste método para as entidades conjuntamentecontroladas (parcerias), as quais no entanto também podem serrelatadas com base na equivalência patrimonial.
O método da equivalência patrimonial deve ser descontinuado apartir da data em que cessa de ter influência significativa, conformedisposto no nº 26 da IPSAS7.
De salientar, que nos termos do disposto no § 5 da IPSAS6, asparticipações financeiras em entidades controladas, entidadesconjuntamente controladas e associadas devem ser contabilizadas:
- Usando o método da equivalência patrimonial como descrito na IPSAS7- Ao custo, ou- Como instrumentos financeiros
CONTABILIDADE
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2.7. PERIODICIDADE DA CONSOLIDAÇÃO DE CONTAS
As demonstrações financeiras consolidadas devem ser elaboradasanualmente, com referência à data de 31 de Dezembro, sem prejuízode a entidade consolidante, ou lei específica, poder adicionalmenteestabelecer outra periodicidade.
2.8. DIVULGAÇÃO
Os documentos de prestação de contas consolidadas devem serpublicitados no sítio da Internet da respectiva entidade consolidante,sem prejuízo de outras obrigações de publicidade legalmenteestabelecidas.
3. Observações:A Orientação nº1/2010 procede à uniformização de princípios,normas, procedimentos e conceitos de consolidação, os quaisdivergiam nos diverso Planos Sectoriais de Contabilidade do SectorPúblico, contribuindo deste modo para a melhoria da qualidade dainformação prestada pelas demonstrações financeiras consolidadasdo Sector Público.No entanto verifica-se um “gap” ao nível de normas contabilísticasentre o Sector Público e Privado que levanta alguns problemas deprocedimentos e que não facilita o trabalho dos técnicos decontabilidade.
O Sector privado já utiliza o SNC – Sistema de NormalizaçãoContabilística que transpôs para o Direito Interno as NormasInternacionais de Contabilidade, enquanto que os vários Planos deContabilidade do Sector Público ainda não fizeram aquelatransposição, o que vai obrigar a conversões, nomeadamente quandoo perímetro englobar entidades que utilizam o SNC.
Por outro lado a Orientação nº1/2010 refere que devem ser utilizadascomo referência as normas IPSAS-International Public SectorAccounting Standards que são baseadas nas NIC-NormasInternacionais de Contabilidade emitidas pelo IASB, no entanto osdiversos planos de contabilidade sectoriais ainda não se adaptarama estas normas, pelo que se torna urgente esta alteração.
4. A compatibilizaçãoentre SNC e os Planos Oficiaisde Contabilidade do sectorPúblicoO facto do Sector Público ainda não ter adaptado os Planos Oficiaisde Contabilidade às Normas Internacionais de Contabilidade vaicolocar alguns problemas que como já referimos irão obrigar aconversões e ajustamentos.
A compatibilidade coloca-se ao nível de :
- Planos de contas com códigos diferentes- Valorimetria (o SNC admite o critério do justo valor, o qual não
é aceite pelos sector público)- Impostos diferidos
Conversão de contas
Este problema coloca-se quando no grupo público estão incluídas
empresas Municipais que adoptam o SNC, cujos códigos de contas
são diferentes dos diversos planos sectoriais de contabilidade do
sector público administrativo, e que vai obrigar à conversão das
contas das entidades que utilizam o SNC para os códigos de contas
da empresa-mãe do sector público.
Valorimetria
A questão da valorimetria coloca-se quando existem entidades que
utilizam o SNC e procederam a reavaliações e valorizaram os seus
activos fixos com base no justo valor, o qual não é aceite no âmbito
dos planos sectoriais públicos.
Neste caso estas reavaliações terão que ser anuladas.
Impostos diferidos
Os impostos diferidos não estão previstos nos planos sectoriais de
contabilidade do sector público, pelo que se no grupo público de
consolidação estiver incluída empresa que adopta o SNC e que utiliza
o mecanismo dos impostos diferidos, todos os lançamentos
relacionados terão que ser eliminados.
Goodwill
A orientação nº1/2010, bem como os vários Plano Sectoriais de
Contabilidade Pública não fazem qualquer referência a goodwill e
respectiva valorização e tratamento contabilístico, pois não é usual
a existência de aquisições de empresas ou partes de capital de outras
empresas no sector público, pelo que no caso de eventualmente se
verificarem estas situações, subsidiariamente devem ser aplicadas
as Normas do SNC e Internacionais de Contabilidade.
João Pires / COLABORADOR DE SROCCarlos Lopes / REVISOR OFICIAL DE CONTAS
Isabel Maria Pereira Faustino DOCENTE DA ESCOLA SUPERIOR DE GESTÃO DO I.P.C A.
51
mas poderão também mudar a forma como o negócio é gerido, ao
requerer alterações nos sistemas informáticos, sistemas de reporting
e nos processos de recolha de dados e consolidação de informação
financeira.
Com vista à primeira apresentação das demonstrações financeiras
de acordo com as Normas de Contabilidade e Relato Financeiro,
aplica-se a NCRF 3 – Adopção pela Primeira Vez das Normas
Contabilísticas e de Relato Financeiro. É uma norma transitória, que
apenas tem aplicabilidade na data de transição para as NCRF.
A NCRF 3 requer que a entidade efectue relativamente ao balanço
de abertura, preparado de acordo com as NCRF, o seguinte:
· identificar a data de elaboração das demonstrações financeiras
NCRF;
· seleccionar as políticas contabilísticas a serem utilizadas pela
entidade;
· decidir sobre a aplicação das isenções facultativas à aplicação
retrospectiva das NCRF;
· seguir as excepções obrigatórias à aplicação retrospectiva das
NCRF;
· preparar um balanço de abertura de acordo com as NCRF; e,
· explicar os efeitos da transição.
1.3 LIGAÇÃO ENTRE O SNC E O CÓDIGO DO IRC
Com a aprovação do Sistema de Normalização Contabilístico, mais
próximo das Normas Internacionais de Contabilidade, o Código do
IRC e legislação complementar foram alterados de forma a adaptar
as regras de determinação do lucro tributável a essas alterações
contabilísticas.
Apesar de continuarem a existir diferenças entre os critérios
contabilísticos definidos no novo normativo e os critérios fiscais
estabelecidos no Código do IRC, estas foram minimizadas.
Uma área onde permanecem diferenças entre o tratamento
contabilístico e o tratamento fiscal é na área dos Activos Fixos
Tangíveis. Assim, mantêm-se as características essenciais no regime
das depreciações, pelo que as diferenças entre os critérios
contabilísticos e os fiscais se manterão, o que pode implicar a origem
de significativas diferenças.
2.NCRF-Activos Fixos TangíveisEsta Norma Contabilística e de Relato Financeiro tem por base a
Norma Internacional de Contabilidade IAS 16 – Activos Fixos
Tangíveis, adoptada pelo texto original do Regulamento (CE) nº
1126/2008 da Comissão, de 3 de Novembro.
O objectivo desta NCRF é o de prescrever o tratamento contabilístico
para activos fixos tangíveis, para que os utentes das demonstrações
financeiras possam discernir a informação acerca do investimento
de uma entidade nos seus activos fixos tangíveis, bem como as
alterações nesse investimento. Os principais aspectos a considerar
na contabilização dos activos fixos tangíveis são o seu
reconhecimento e mensuração.
1. Enquadramento1.1 NORMATIVO CONTABILÍSTICO
Com a entrada em vigor do Sistema de Normalização Contabilístico
para os exercícios contabilísticos iniciados em ou após 1 de Janeiro
de 20101 procurou-se adaptar os princípios contabilísticos geralmente
aceites em Portugal às Normas Internacionais de Relato Financeiro
(IFRS) o que se tem traduzido num processo crítico para as empresas,
uma vez que introduziu um conjunto de conceitos que diferem
substancialmente dos princípios contabilísticos geralmente aceites
em Portugal que vigoraram até 31 de Dezembro de 2009 através
do Plano Oficial de Contabilidade (POC).
As IFRS/IAS eram no entanto de aplicação obrigatória para as
entidades cujos valores mobiliários estivessem admitidos à
negociação em bolsa para a apresentação das demonstrações
financeiras consolidadas, para os exercícios contabilísticos iniciados
em, ou após 1 de Janeiro de 2005, ou, no caso de serem entidades
que apenas apresentassem demonstrações financeiras individuais,
para os exercícios contabilísticos iniciados em, ou após 1 de Janeiro
de 2007. As demais entidades poderiam aplicar as IFRS/IAS de
forma voluntária, conforme previsto no DL 35/2005.
A revogação do POC e legislação complementar e a criação do
Sistema de Normalização Contabilístico, vem na linha da
modernização contabilística ocorrida na UE. A estrutura conceptual,
as bases de apresentação, os modelos das Demonstrações Financeiras
e as Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF) têm por
base as IAS/IFRS emitidas pelo IASB e assumidas e publicadas pela
UE.
Assim, os princípios contabilísticos geralmente aceites nos quais se
baseia o SNC, tal como expresso no ponto 1.4 do anexo do SNC,
devem subordinar-se, sempre que este não contemple aspectos
particulares de transacções ou situações em matéria de contabilização
ou de relato financeiro, supletivamente e pela ordem indicada:
1 às IAS/IFRS, adoptadas ao abrigo do Regulamento (CE) n.º
1606/2002, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 19 de Julho;
e, 2 às IFRS/IAS, emitidas pelo IASB, e respectivas interpretações
SIC/IFRIC.
1.2 EFEITOS DA ADOPÇÃO DO SNC
Os efeitos da adopção do SNC, e consequentemente das NCRF são
diversos e amplos, com implicações muitas vezes entendidas, de
forma simplista, como restritos aos efeitos nas demonstrações
financeiras da adopção do novo normativo contabilístico.
A implementação das novas Normas exige, uma familiarização com
uma terminologia contabilística diferente e requer também uma
alteração de entendimento no que diz respeito aos objectivos
essenciais da informação financeira. Todas estas vertentes
pressupõem seguramente um período de adaptação, por parte de
todas as pessoas-chave das entidades envolvidas ao longo do
processo de elaboração, supervisão e divulgação.O SNC e as NCRF não terão apenas impacto na função financeira,
CONTABILIDADE
52
Os activos fixos tangíveis são os activos detidos para o uso na
produção ou fornecimento de bens ou serviços, para arrendamento
a outros, ou para fins administrativos, e que se espera sejam usados
durante mais do que um período.
Muitas questões nesta área podem ser colocadas aos responsáveis
pelas demonstrações financeiras e aos revisores/auditores que
emitem uma opinião sobre se essas demonstrações financeiras
apresentam de forma verdadeira e apropriada, em todos os aspectos
materialmente relevantes, a posição financeira da Entidade,
nomeadamente:
· Deve capitalizar-se um determinado dispêndio, ou deve ser registado
directamente a resultados do período?
· O que deve ser incluído no custo de um activo fixo tangível?
· Como deve ser mensurado um bem após o seu reconhecimento
inicial?
· A mensuração subsequente de um activo fixo tangível deve
considerar o valor residual do bem no fim da sua vida útil?
· No cálculo das depreciações dos activos fixos tangíveis, qual o
critério mais adequado? Qual a vida útil de um bem?
· Um determinado activo fixo tangível pode ser subdividido?
Corresponde essa divisão aos componentes de um determinado
bem? Deve ser separado nos seus diversos componentes? Esses
componentes podem ter vidas úteis diferentes?
· Como devem ser tratadas as perdas por imparidade?
· Existem diferenças entre os critérios contabilísticos e os critérios
fiscais?
· Quando e em que condições se deve proceder ao desreconhecimento
de um activo fixo tangível?
Vejamos então, os principais aspectos relativos à NCRF 7 – Activos
Fixos Tangíveis, incluindo uma breve comparação com o POC e as
principais diferenças e implicações a nível fiscal, decorrentes da
aplicação do novo regime contabilístico, nomeadamente a nível do
Código do IRC2 e no que respeita ao Decreto Regulamentar 25/20093.
2.1 RECONHECIMENTO DE UM ACTIVO FIXO TANGÍVEL
Quando se decide se um determinado dispêndio deve ser capitalizado
ou, alternativamente registado directamente em resultados de um
período, isto está relacionado com a definição de activo constante
na estrutura conceptual das normas, nomeadamente no conceito
subjacente à definição de Activo a qual corresponde a um recurso
controlado pela entidade, proveniente de acontecimentos passados,
do qual se espera que fluam para a entidade benefícios económicos
futuros.
De acordo com a NRCF 7, um custo de um item de activo fixo deve
ser reconhecido se, e apenas se:
a) For provável que futuros benefícios económicos associados ao
item fluam para a entidade; e,
b) O custo do item puder ser mensurado fiavelmente.
Assim, a questão principal a ter em consideração na tomada de
decisão sobre a capitalização ou o registo em custos do período,
prende-se com a questão de saber se o activo irá proporcionar
benefícios económicos futuros à entidade, nomeadamente pela sua
utilização na produção de bens e/ou serviços para serem vendidos
e/ou prestados pela entidade.
Adicionalmente, sempre que um determinado activo seja composto
por diversas partes que representem um montante significativo
face ao montante total do bem, tenham vida útil diferente ou
proporcionem um benefício distinto, a sua contabilização deve ser
efectuada por componentes, o que é diferente face à prática seguida
pela maioria das entidades por via da utilização do POC.
2.2 MENSURAÇÃO NO RECONHECIMENTO
Os bens do activo fixo tangível são inicialmente mensurados ao seu
custo. Se o seu pagamento for diferido, a diferença entre o equivalente
ao preço a dinheiro e o pagamento total é reconhecida como juro.
Contudo, o custo de um activo pode incluir o valor relativo a juros
(aquisição com recurso a crédito), de acordo com o tratamento
alternativo permitido na NCRF 10 – Custos de Empréstimos Obtidos4.
O custo de um determinado bem deve incluir:
· o preço de compra, incluindo direitos de importação e impostos
não reembolsáveis e excluindo descontos comerciais e abatimentos;
· dispêndios necessários para colocar o activo na localização e condição
necessárias para operar da forma pretendida; e,
· estimativa do custo de desmantelamento e remoção do bem e de
restauração do local onde está localizado.
Os custos a incluir para a colocação do bem em funcionamento
cessam a partir do momento em que o mesmo esteja em condições
de poder operar.
Diferenças entre o SNC e o POC
Não existem diferenças significativas entre o SNC e POC no que
respeita ao reconhecimento inicial de um activo fixo tangível.
Implicações fiscais
Fiscalmente, passa a ser possível a capitalização dos custos dos
empréstimos obtidos directamente associados a elementos
depreciáveis, por via da sua inclusão no seu custo de aquisição ou
produção, quando os mesmos respeitarem ao período anterior à
entrada em funcionamento ou utilização desses activos, e desde
que tal período seja superior a 1 ano (no regime anterior, o período
mínimo era de 2 anos).
No entanto, poderão subsistir diferenças entre o critério contabilístico
e fiscal, se a entidade capitalizar custos dos empréstimos obtidos
por um período inferior a 1 ano.
Elimina-se a obrigação de evidenciar separadamente na contabilidade
a parte do valor dos imóveis correspondente ao terreno, transferindo
essa exigência para o processo de documentação fiscal.
2.3 MENSURAÇÃO APÓS RECONHECIMENTO
Os activos fixos tangíveis podem ser contabilizados usando o modelo
do custo ou o modelo de revalorização:
· Modelo do custo – o activo é escriturado pelo seu custo menos
qualquer depreciação acumulada e quaisquer perdas por imparidade
acumuladas;
· Modelo de revalorização (justo valor) – o activo é escriturado pela
quantia revalorizada, a qual corresponde ao seu justo valor à data
da revalorização, deduzida de depreciações e perdas de imparidade
acumuladas.
De acordo com o modelo de revalorização, esta contabilização deve
ter por base a política contabilística seleccionada pela entidade,
podendo optar por diferentes modelos, para diferentes classes de
activos fixos. Isto significa que se um elemento do activo fixo tangível
for revalorizado, então toda a classe à qual pertença esse activo
também deve ser revalorizada.
Devem ser efectuadas revalorizações regulares, de modo a que a
quantia escriturada não difira materialmente daquele que seria o
justo valor à data do balanço. Assim, a sua frequência dependerá da
variação ocorrida nos justos valores.
Os aumentos na quantia escriturada por revalorização devem ser
creditados directamente no capital próprio. No entanto, o aumento
deve ser reconhecido nos resultados até ao ponto em que reverta
um decréscimo de revalorização do mesmo activo previamente
reconhecido nos resultados.
CONTABILIDADE
53
Isabel Faustino / DOCENTE DA ESCOLA SUPERIOR DE GESTÃO DO I.P.C A.
As diminuições de um activo por revalorização são levadas ao capital
próprio, até ao montante dos excedentes de revalorização existentes,
sendo o remanescente considerado gasto do período.
Diferenças entre o SNC e o POC
A NCRF 7 permite o justo valor como critério valorimétrico dos
activos fixos tangíveis, desde que as revalorizações sejam efectuadas
de forma regular, o que por norma não acontecia no POC. No POC
o reconhecimento inicial era efectuado pelo custo de aquisição ou
produção, sendo pontualmente registadas reavaliações legais e
eventualmente reavaliações livres, que reflectiam o justo valor num
determinado momento, mas que não eram normalmente realizadas
de forma regular, de modo a reflectir o justo valor dos activos em
cada período de relato.
Implicações fiscais
Na mensuração dos elementos do activo há possibilidade de opção
entre o modelo do custo e o modelo de revalorização; porém, os
ajustamentos de revalorização não assumem relevância fiscal, pelo
que desta forma, devem ser registados impostos diferidos passivos,
os quais são deduzidos à rubrica de excedentes de revalorização do
capital próprio.
No momento da transição para as NCRF, caso a entidade tenha
anteriormente registado reavaliações legais e opte pelo modelo do
custo, a reserva de reavaliação que estava registada nos capitais
próprios da entidade é transferida para reservas (indisponíveis
enquanto não se encontrarem realizadas), mantendo-se no entanto
para efeitos fiscais o procedimento que existia até então, isto é, 60%
do seu valor continua a não ser aceite para dedução fiscal, pelo que
para o efeito a empresa deverá manter o registo de impostos diferidos
passivos.
2.3.1 DEPRECIAÇÃO
Os activos fixos tangíveis possuem normalmente uma vida útil
limitada, e como tal devem ser depreciados em função da sua
utilização por parte de cada entidade, efectuando-se um
balanceamento entre os rendimentos que gera e os gastosdecorrentes do seu uso.Para o apuramento da depreciação a registar nas demonstraçõesfinanceiras, há que atender aos seguintes aspectos:
Depreciação por componentesA NCRF 7 requer a depreciação por componentes para os activosque sejam compostos por várias partes, designadas componentes.A depreciação deve ser efectuada separadamente para oscomponentes identificados como significativos em relação ao custototal do bem.Esta abordagem deve ser utilizada tendo em conta o custo/benefíciona determinação dos componentes e respectiva vida útil, isto é, sófaz sentido segui-la quando o seu valor é significativo e quando avida útil de cada um dos componentes for significativamentediferente.
Quantia depreciávelA quantia depreciável de um activo fixo tangível deve ser imputadanuma base sistemática durante a sua vida útil, após a dedução dovalor residual do activo.O valor residual de um activo é a quantia estimada que uma entidadeobteria correntemente pela alienação de um activo, após a deduçãodos custos de alienação estimados, se o activo já tivesse a idade eas condições esperadas no final da sua vida útil.O valor residual é estimado em função de activos similares quechegaram ao final da sua vida útil. Em muitos casos, o valor residualde um activo é muitas vezes insignificante, porque é abatido, e porisso imaterial no cálculo da quantia depreciável.Por exemplo, consideremos que uma determinada entidade adquiriuuma máquina que custou 20.000 euros. A entidade pretende utilizara máquina por um período de três anos e depois alienar a máquinapara o mercado de segunda-mão pelo montante de 5.000 euros(deduzido dos respectivos custos de venda). Assim, o seu valorresidual é de 5.000 euros, e a quantia depreciável de 15.000 euros,a qual será depreciada por um período de três anos.O valor residual de um bem deve, de acordo com a NCRF 7, ser revistopelo menos no final de cada período de relato, sendo, se for casodisso, registado como uma alteração de estimativa5 .
CONTABILIDADE
54
política de utilização dos seus activos distinta de outras entidades
e como tal atribuir vidas úteis diferentes aos seus activos.
Desta forma, cada entidade deve efectuar uma estimativa da vida
útil dos seus bens, a qual resulta do seu julgamento, baseado na sua
experiência com activos semelhantes. Nessa estimativa, a entidade
deve ter em consideração:
· o uso esperado do activo. O uso é avaliado por referência à capacidade
ou produção física esperada do activo;
· os limites legais (ou outros) de utilização do bem;
· a obsolescência técnica ou comercial;
· o desgaste de utilização do bem (por exemplo considerando o
número de turnos durante os quais o bem é utilizado).
Em função de diversos factores que contribuem para a determinação
da vida útil de cada bem, a mesma entidade pode igualmente atribuir
vidas úteis diferentes para o mesmo tipo de bem e seus componentes,
tendo em consideração a utilização específica que faz de cada um
deles.
No final de cada exercício, a NCRF 7 requer que seja efectuada uma
revisão das vidas úteis dos activos fixos tangíveis, efectuando a sua
alteração caso se considere essa a estimativa mais adequada, e
efectuando uma alteração na vida útil remanescente dos bens em
causa7 .
Diferenças entre o SNC e o POC
Uma das principais diferenças que decorre da introdução do novo
sistema de normalização contabilística respeita à abordagem por
componentes e à definição das respectivas vidas úteis dos bens,
uma vez que a prática em Portugal diz-nos que as depreciações são
calculadas com base nas taxas máximas previstas no DR 2/90 e não
nas suas vidas úteis, e que os bens do activo fixo tangível não são
depreciados por componentes.
Implicações fiscais
Mantém-se a obrigatoriedade de reconhecer contabilisticamente
os gastos com as depreciações dos activos, não obstante se permitir
que esse reconhecimento seja efectuado nos exercícios anteriores.
A dedutibilidade fiscal das depreciações que não sejam consideradas
gastos fiscais no período de tributação em que são contabilizadas,
por excederem as importâncias máximas permitidas, deixa de
depender da regularização contabilística nos períodos seguintes,
bastando que anualmente não seja ultrapassada a depreciação fiscal
máxima permitida.Isto significa, que caso uma entidade atribua uma vida útil superiore deprecie contabilisticamente o activo tendo em consideração essataxa, não necessita de efectuar qualquer movimentação contabilística,no(s) período(s) subsequente(s) para deduzir fiscalmente o excessodo valor depreciado face à taxa máxima fiscalmente dedutível.Efectivamente, basta que para o efeito efectue a correcção no quadro7 do Modelo 22 e mantenha essa informação no dossier fiscal,nomeadamente nos mapas de amortizações/depreciações fiscais,devendo para o efeito efectuar o registo do respectivo impostodiferido activo.Passa ainda a prever-se expressamente a possibilidade de, medianteautorização da DGCI, serem praticadas e aceites para efeitos fiscaisdepreciações inferiores às quotas mínimas que decorrem da aplicaçãodas taxas das tabelas anexas ao DR 25/2009.Caso a entidade utilize taxas de depreciação inferiores às quotasmínimas que decorrem da aplicação das taxas das tabelas anexasao DR 25/2009 e não efectuar o procedimento acima referido ounão venha a obter a autorização por parte da DGCI, deve consideraro efeito da perda fiscal que irá incorrer, mediante o registo dorespectivo imposto diferido passivo.Salvo por razões devidamente justificadas e aceites pela DGCI, asdepreciações só são consideradas para efeitos fiscais a partir da sua
Métodos de depreciação
O método de depreciação seleccionado por cada entidade deve
reflectir o modelo por que se espera que os futuros benefícios
económicos do activo sejam consumidos pela entidade, devendo
ser revisto pelo menos no final de cada exercício, uma vez que
poderão ocorrer alterações no modelo de consumo dos benefícios
económicos futuros6.
A norma define diversos métodos de depreciação que podem ser
utilizados, como por exemplo o método das quotas constantes, o
método do saldo crescente e o método das unidades de produção,
devendo o método adoptado reflectir o modelo pelo qual os benefícios
económicos do bem são consumidos pela entidade e ser aplicado
de forma consistente, a menos que haja alterações no modelo
esperado de consumo de benefícios económicos provenientes do
bem.
Vida útil
A vida útil, de acordo com a NCRF 7, é o período durante o qual uma
entidade espera que o bem esteja disponível para sua utilização.
A vida útil de um bem pode ser diferente da sua vida económica,
uma vez que esta última corresponde à utilização do bem por uma
ou mais entidades. Assim, uma determinada entidade pode ter uma
CONTABILIDADE
55
Isabel Faustino / DOCENTE DA ESCOLA SUPERIOR DE GESTÃO DO I.P.C A.
data de início de início de funcionamento ou utilização8.Para além dos métodos das quotas constantes e das quotasdecrescentes, passa a ser possível adoptar outros métodos dedepreciação sem necessidade de autorização da DGCI, desde que aquota anual não exceda a que resultaria da aplicação daquelesmétodos.O limite máximo do custo unitário (produção ou aquisição) dosactivos fixos tangíveis que pode ser integralmente reconhecidocomo gasto fiscal num período de tributação passa para 1.000 euros(anteriormente este limite ascendia a 199,52 euros), desde que osmesmos não estejam integrados num conjunto de elementos quedevam ser depreciados como um todo.Não são aceites para efeitos fiscais os gastos com depreciações deviaturas ligeiras ou mistas, na parte correspondente ao custo deaquisição superior a 40.000 euros (anteriormente o limite era de29.927,87 euros), bem como barcos de recreio e aviões de turismoe todos os gastos com estes relacionados9 .
2.4 DESRECONHECIMENTO
O desreconhecimento de um activo fixo tangível realiza-se:· no momento da alienação; ou· quando não se espere futuros benefícios económicos futuros doseu uso ou alienação.Quando um activo fixo tangível é alienado ou deixapermanentemente de ser utilizado, deve ser reconhecido um ganhoou uma perda resultante da diferença entre o valor recebido e aquantia escriturada do bem, a menos que se aplique outra norma,nomeadamente quando a entidade efectua uma venda seguida delocação10. Se o recebimento for diferido, a diferença entre o equivalenteao preço a dinheiro e o reconhecimento total é reconhecida comorédito de juros, reflectindo o rendimento efectivo sobre a conta areceber11.Quando um activo revalorizado é desreconhecido, o excedente derevalorização não é reconhecido em resultados, permanecendo emcapitais próprios pela transferência para resultados transitados.Sempre que a quantia escriturada de um bem seja recuperável,principalmente através de uma transacção de venda ao invés deum uso continuado, esse activo deve ser classificado como um activonão corrente (ou um grupo para alienação) detido para venda12. Esse
activo deixa de ser depreciado e passa a ser mensurado pelo menor
dos valores entre: (i) a sua quantia escriturada e (ii) o justo valor
menos os custos de vender.
Diferenças entre o SNC e o POC
Nesta aérea também não se verificam diferenças significativas face
ao POC.
Implicações fiscais
O DL 159/09 não introduz alterações à forma de apuramento de
mais e menos-valias fiscais, com as seguintes excepções:
Para efeitos do apuramento das mais e menos-valias fiscais de
viaturas ligeiras de passageiros ou mistas13, as depreciações a
considerar são as praticadas sobre o valor de aquisição fiscalmente
relevante (40.000 euros).
Não são aceites para efeitos fiscais as menos-valias decorrentes da
alienação de barcos de recreio, aviões de turismo e viaturas ligeiras
de passageiros ou mistas14, excepto na parte correspondente à
depreciação fiscalmente aceite ainda não reconhecida como gasto
do exercício.
2.5 IMPARIDADE DE ACTIVOS
As entidades devem em cada período de relato, de acordo com a
NCRF 12 – Imparidade de Activos, verificar a existência de algum
indicador que indicie a possibilidade de algum dos seus activos fixos
se encontrar sobrevalorizado, devendo em caso afirmativo estimar
a perda potencial e proceder ao seu registo15.
Diferenças entre o SNC e o POC
No que se refere à imparidade dos activos fixos tangíveis, esta é
uma área onde não deveriam existir especiais diferenças face ao
POC, uma vez que tal já estava previsto nos critérios valorimétricos
das imobilizações. Esta não era todavia uma prática frequente e
usual, nomeadamente pelo facto de os ajustamentos decorrentes
de perdas de imparidade não serem aceites fiscalmente. Desta forma,
e atendendo à crise generalizada que se vive actualmente em
diversos sectores, esta é uma área onde as entidades e os seus
revisores/auditores devem observar com alguma atenção no final
de cada período de relato, verificando a existência de indícios que
possam denunciar que determinado activo fixo tangível possa estar
sobreavaliado, o que a acontecer deve ser objecto de estimativa
sobre o potencial valor recuperável e reconhecida a respectiva perda
de valor.
Implicações fiscais
As perdas por imparidade a reconhecer relativamente a activos fixos
tangíveis podem relevar fiscalmente no exercício em que são
contabilizadas, desde que as mesmas sejam reconhecidas como
desvalorizações excepcionais aceites pela DGCI. As perdas por
imparidade reconhecidas em activos tangíveis que não sejam
dedutíveis como desvalorizações excepcionais, podem, ainda assim,
ser consideradas como gasto fiscal, em partes iguais, durante o
período de vida útil remanescente desse activo ou até ao exercício
da sua transmissão/abate.
2.6 DIVULGAÇÕES
A NCRF 7 exige um conjunto de divulgações associadas aos activos
fixos tangíveis, as quais devem ser desenvolvidas com respeito a
cada classe de activos fixos tangíveis. Para além da decomposição
dos montantes que constem das notas identificadas na face do
Balanço, Demonstração dos Resultados, Demonstração das
Alterações no Capital Próprio e Demonstração de Fluxos de Caixa,
devem ainda, entre outras, ser efectuadas divulgações sobre: activos
fixos tangíveis que possam ter sido dados como garantia de passivos
e restrições de titularidade, sobre compromissos contratuais para
a sua aquisição ou ainda a quantia de dispêndios reconhecida na
quantia escriturada de um item do activo fixo tangível no decurso
da sua construção.
3. Abordagem por componentesComo vimos anteriormente, sempre que um determinado activo é
composto por um conjunto de componentes, que representem um
montante significativo face ao montante total do bem e tenham
uma vida útil diferente ou proporcionem um benefício distinto, a
sua contabilização deve ser efectuada por componentes. Esta
abordagem implica que no caso de os componentes terem vidas
úteis distintas, a sua depreciação se faça em função da vida útil
estimada para cada um desses componentes.
A NCRF 7 não determina a unidade de medida para reconhecimento
de um determinado item do activo fixo e dos seus componentes.
Assim, é necessário exercer juízos de valor para aplicar os critérios
de reconhecimento às circunstâncias específicas de uma entidade.
Pode ser apropriado agregar itens individualmente insignificantes,
e aplicar os critérios aos valores agregados.
Igualmente, a NCRF 7 refere que cada parte de um item do activo
CONTABILIDADE
56
3.1 COMPONENTES FÍSICOS
Quando um dos componentes é um componente físico (por exemplo
um motor numa máquina) o valor atribuído ao componente deve
ser determinado em relação ao seu custo.
Mas que deve uma entidade fazer quando adquire um activo fixo
tangível por um determinado valor e não tem informação sobre o
fixo tangível, com um custo que seja significativo em relação ao
custo total do item, deve ser depreciada separadamente.
Assim, embora não seja definido o que é considerado significativo,
ao contrário do que sucedia no POC, foi introduzida no actual
normativo, nomeadamente nas bases para a apresentação de
demonstrações financeiras e na estrutura conceptual, a definição
de materialidade, onde se refere que a relevância da informação é
afectada pela sua natureza e materialidade, sendo a informação
material se a sua omissão ou inexactidão influenciarem as decisões
económicas dos utentes, tomadas tendo por base as demonstrações
financeiras. A materialidade depende da dimensão do item ou do
erro julgado nas circunstâncias particulares da sua omissão ou
distorção. Por conseguinte, a materialidade proporciona um patamar
ou ponto de corte, não sendo uma característica qualitativa primária
que a informação tenha de ter para ser útil.
Desta forma, cabe aos responsáveis pela entidade a preparação de
demonstrações financeiras que apresentem de forma verdadeira e
apropriada a posição financeira da Entidade, nomeadamente através
da sua correcta apresentação, selecção e aplicação de políticas
contabilísticas adequadas e a obtenção de estimativas contabilísticas
razoáveis, tendo em conta as circunstâncias, cabendo ao
revisor/auditor a responsabilidade de expressar uma opinião
profissional e independente, baseada no seu exame sobre as referidas
demonstrações financeiras.
Isto significa que embora a norma preveja a contabilização por
componentes, tal não significa que esta divida os bens num número
significativo de componentes, se o seu efeito nas demonstrações
financeiras for considerado imaterial. Esta é uma abordagem que
requer bom senso, pois deve avaliar-se a relação custo/benefício
para a sua aplicação prática. Só deve ser individualizado um
determinado componente quando a sua vida útil é substancialmente
diferente dos restantes componentes e se o seu valor é significativo.
Vejamos pois um exemplo:
Uma entidade adquire uma máquina para as suas instalações fabris
por 200 mil euros. Essa máquina possui 4 componentes, dos quais
2 deles representam 80% do total do seu valor, correspondente a
160 mil euros, com uma vida útil de 8 anos. Os restantes 2
componentes representam cada um deles, 10% do total do custo,
o que não é considerado significativo, tendo uma vida útil de 4 e 6
anos, respectivamente.
Atendendo ao facto de os 2 últimos componentes não serem
considerados significativos, os mesmos serão considerados
conjuntamente para efeitos de cálculo da sua depreciação. Considera-
se que o item deve ser registado considerando 2 componentes:
· Componente A – compreende os dois primeiros componentes, que
perfazem o montante de 160 mil euros, com uma vida útil de 8 anos;
· Componente B – compreende os restantes 2 componentes, num
valor total de 40 mil euros, com uma vida útil de 5 anos, que respeita
à combinação das vidas úteis dos 2 componentes considerados.
A entidade deve considerar que este item se subdivide em 2
componentes, que terão de ser depreciados em função da sua vida
útil. Assim, a sua aplicação informática deve permitir identificar esta
máquina como um único item que por sua vez possui diversos
componentes, os quais possuem vidas úteis diferentes e como tal
utilizar taxas de depreciação diferentes.
Adicionalmente, embora os componentes de um activo fixo tangível
devam ser contabilizados separadamente, as demonstrações
financeiras continuam a apresentar esse activo como um único bem.
Por exemplo, um avião é composto por diversos componentes,
nomeadamente, fuselagem, motor, sistema hidráulico, assentos,
etc., embora seja apresentado globalmente na classe – “Aviões” e
numa rubrica específica – “Equipamento básico”.
valor dos diversos componentes que o integram?
Nessas circunstâncias o custo individual de cada componente deve
ser solicitado ou à entidade que efectuou a venda do activo, ou
calculando através do recurso a preços correntes de mercado (se
possível), ou determinado através de algum método que permita a
sua estimativa (exemplo: avaliação).
Um dos exemplos onde esta situação ocorre frequentemente é na
aquisição de edifícios: em muitas situações uma entidade adquire
um edifício sem contudo ter informação acerca dos seus
componentes (exemplos: terreno, estrutura do edifício, instalações
eléctricas, de água, de esgotos, de ar condicionado ou elevadores,
janelas/fachadas, etc.), as quais podem ter vidas úteis distintas.
Nessas circunstâncias, algumas opções podem ser consideradas,
nomeadamente:
· A entidade compradora consegue obter junto da entidade que
efectuou a construção do edifício o detalhe do custo afecto a cada
um dos componentes (pode obter para o efeito o orçamento que
serviu de base à adjudicação da construção e/ou aos respectivos
autos de medição da obra);
· A entidade compradora não consegue obter o detalhe do valor da
construção, devendo para esse efeito da determinação dos
componentes obter uma avaliação com o detalhe da estimativa de
cada um dos componentes e respectivos valores;
Adicionalmente, e para efeitos da depreciação (no modelo do custo),
a entidade deve estimar as vidas úteis dos componentes
identificados. Mais uma vez, poderá ter que recorrer para o efeito a
uma avaliação de um perito para determinação das respectivas
vidas úteis dos diversos componentes do activo.
Adicionalmente, adiante veremos as implicações fiscais decorrentes
desta situação.
3.2 INCLUSÃO DE CUSTOS NA MENSURAÇÃO DOSACTIVOS FIXOS TANGÍVEIS
3.2.1 CUSTOS INICIAIS
Vimos anteriormente que na mensuração inicial dos activos fixos
tangíveis são incluídos todos os custos necessários para colocar o
activo na localização e condição de funcionamento. Tais custos são
por exemplo, custos de benefícios de empregados16, custos de
preparação do local, instalação e montagem e honorários.
O valor inicial de um bem pode ainda resultar da realização de
trabalhos para a própria empresa, para os bens produzidos
internamente. O custo de produção deve incluir os materiais directos
incorporados, a mão-de-obra directa e os encargos gerais de fabrico.
Podem ainda ser incluídos como parte do seu custo, os custos de
empréstimos obtidos17, incorridos na aquisição, construção ou
produção de activos que se qualifiquem, isto é, activos fixos tangíveis
em curso.
Então, como devem ser capitalizados no valor inicial os diversos
dispêndios em que a entidade possa incorrer relativamente a um
activo fixo tangível? Devem esses custos capitalizados ser
considerados componentes?
Na medida em que os custos acima referidos devem integrar o valor
do bem, e serem depreciados pela mesma vida útil (modelo do custo),
a entidade não deverá proceder à sua contabilização em contas
CONTABILIDADE
57
Isabel Faustino / DOCENTE DA ESCOLA SUPERIOR DE GESTÃO DO I.P.C A.
correspondentes aos encargos financeiros do empréstimo contraídopara o efeito da construção do Estádio, a qual decorreu por umperíodo de 2 anos. Tendo por base a NCRF 10 – Custo de EmpréstimosObtidos, a entidade concluiu sobre a possibilidade de capitalizar osencargos financeiros relativos ao empréstimo obtido.Tendo por base o orçamento da obra e o auto de medição final daobra foram determinados, os diversos componentes que fazem partedo activo, e as respectivas vidas úteis, como se pode verificar noquadro seguinte:
distintas do activo. Esses custos devem ser integrados como partedo custo do bem, repartidos pelos vários componentes que o integrame ser depreciados em função das respectivas vidas úteis.
Vejamos um exemplo que pretende ilustrar o referido:Uma determinada entidade procedeu à construção de um Estádiode Futebol, num valor total de 95 milhões de euros (excluindo ovalor do terreno), aos quais acresceram 2,6 milhões de euros,
EDIFÍCIO (estrutura)
ASCENSORES, MONTA CARGAS E ESCADAS MECÂNICAS
INSTALAÇÕES ELÉCTRICAS, ÁGUA, GÁS
OBRAS DE PAVIMENTAÇÃO
EQUIPAMENTOS ACESSOS
INSTALAÇÃO AR CONDICIONADO
VEDAÇÕES E ARRANJOS EXTERIORES
FACHADAS (caixilharia)
DECORAÇÃO CAMAROTES
LUGARES ESTÁDIO
DIVERSOS
TOTAL
COMPONENTES VALOR VIDA ÚTIL(anos)
28.120
4.750
17.100
5.225
4.275
5.415
1.235
3.800
1.900
2.850
20.330
95.000
50
15
15
20
10
15
15
15
8
10
10
mEuros
No componente “Edifício (estrutura)” foram ainda incluídos osseguintes dispêndios necessários à realização da obra: custos depreparação do terreno, incluindo custos de demolição de construçõesexistentes, projecto de arquitectura, consultoria e fiscalização daobra, uma vez que estes custos foram necessários para iniciar ecolocar o activo apto a funcionar.
No que se refere aos encargos financeiros incorridos, e uma vez queo empréstimo associado à construção foi utilizado de forma globalpara toda esta construção, estes foram repartidos pelos várioscomponentes do activo fixo tangível, tendo em conta o peso de cadaum deles relativamente ao valor total da obra, sendo os mesmosreconhecidos pelo período de vida útil dos componentes a que foramimputados:
28.120
4.750
17.100
5.225
4.275
5.415
1.235
3.800
1.900
2.850
20.330
95.000
EDIFÍCIO (estrutura)
ASCENSORES, MONTA CARGAS E ESCADAS MECÂNICAS
INSTALAÇÕES ELÉCTRICAS, ÁGUA, GÁS
OBRAS DE PAVIMENTAÇÃO
EQUIPAMENTOS ACESSOS
INSTALAÇÃO AR CONDICIONADO
VEDAÇÕES E ARRANJOS EXTERIORES
FACHADAS (caixilharia)
DECORAÇÃO CAMAROTES
LUGARES ESTÁDIO
DIVERSOS
TOTAL
mEuros
COMPONENTES VALOR VIDA ÚTIL(anos)
50
15
15
20
10
15
15
15
8
10
10
PESOJUROS
29,6%
5,0%
18,0%
5,5%
4,5%
5,7%
1,3%
4,0%
2,0%
3,0%
21,4%
100,0%
IMPUTAÇÃOJUROS
770
130
468
143
117
148
34
104
52
78
556
2.600
Adicionalmente, refira-se que foram considerados como parte docusto de construção deste activo os custos estimados dedesmantelamento e remoção do bem e de restauro, muito emboravenham a ser incorridos apenas no final da sua utilização, por forma
a que exista um balanceamento entre os benefícios e gastos deutilização do bem ao longo da sua vida útil. O registo desta estimativano custo de aquisição do bem fez-se por contrapartida do registopara uma provisão18.
CONTABILIDADE
58
Vejamos um exemplo de um activo que requer desmantelamentoe remoção no final da sua utilização:Consideremos uma entidade que se dedica à exploração suinícolatendo construído uma fábrica que inclui uma estação de tratamentode águas residuais, a qual terá de ser desmantelada após 18 anosde utilização. O custo de construção da fábrica foi de 1,4 milhões deeuros e o custo actual estimado para o desmantelamento é de 100mil euros. Adicionalmente, a taxa de desconto utilizada é de 5,5%.
Qual deverá ser o custo da fábrica? Quais os registos contabilísticosque devem ser efectuados?O custo da fábrica corresponde ao seu valor de aquisição/produção,acrescidos dos custos de desmantelamento a incorrer no final dasua utilização. Uma vez que a estimativa desse custo é obtido paraa data presente, o mesmo deve ser descontado para o momento doseu pagamento, que ocorrerá no final dos 18 anos.Assim, teremos:Valor actual do custo de desmantelamento = 100.000/(1+0,055)^18 = 38.147 eurosValor do custo da fábrica = 1.438.147 euros (1.400.000 + 38.147)Adicionalmente, consideramos que esta entidade preenche osrequisitos previstos no Código do IRC, relativamente à aceitaçãopara efeitos fiscais da provisão19 constituída, caso contrário, deveriaser efectuado o correspondente registo de impostos diferidosactivos20, os quais seriam revertidos no momento da sua utilização.
Registos contabilísticos:Ano n: EurosDébito: Conta 432 - Edifícios e outras construções 1.438.147Crédito: Conta 12 - Depósitos à ordem 1.400.000Crédito: Conta 298 - Outras provisões 38.147Ano n+1 a n+18Débito: Conta 6918 - Outros jurosCrédito: Conta 298 - Outras provisões
O valor a registar em cada um dos anos será diferente e corresponderáao valor constante em cada um dos anos na conta 298 – Outrasprovisões x taxa de desconto.(n+1: 38.147x5,5%=2.098; n+2: (38.147+2.098)x5,5%=2.213, eassim sucessivamente)No final do ano n+18, o valor registado na conta 298 – Outrasprovisões, corresponderá ao custo de desmantelamento, ou seja100.000 euros, caso a estimativa inicial não venha a ser corrigida.
3.2.2 BENFEITORIAS E GRANDES REPARAÇÕES
De acordo com a NCRF 7, partes de alguns itens do activo fixo tangívelpoderão necessitar de substituições a intervalos regulares. Amanutenção ou restauro dos activos fixos tangíveis é realizada paraos manter num nível de desempenho idêntico e de forma a garantiros benefícios económicos futuros dos mesmos, devendo essesdispêndios ser considerados custos do período em que são incorridos.Os montantes dispendidos posteriormente relacionados com activosfixos tangíveis que tenham já sido reconhecidos, devem serincrementados ao valor do activo quando for expectável que resultemnum acréscimo de benefícios económicos futuros, casos dasbenfeitorias e grandes reparações.Por outro lado, os dispêndios em reparações ou manutenção e aassistência ou revisão corrente de activos fixos tangíveis que nãotenham reflexo ao nível dos benefícios económicos, são reconhecidoscomo um gasto no período em que são incorridos. Caso existamdúvidas sobre a existência de benefícios económicos futurosadicionais, os dispêndios com benfeitorias devem reconhecer-secomo gasto.
Vejamos pois um exemplo de um activo que requer substituiçõesperiódicas:Consideremos uma entidade que adquiriu uma nova fábrica comum custo de 1 milhão de euros e que tem um valor residual de100.000 euros. Adicionalmente, esta fábrica tem telhado horizontal,que precisa de ser substituído a cada 10 anos, a um custo de 100.000euros.A entidade encontra-se a estudar duas alternativas:· Alternativa 1: Considerar a nova fábrica como um único bem, ecomo tal, depreciar toda a fábrica pelo seu período de vida útil (30anos), a que corresponde 30.000 euros de dotação anual dedepreciação (900.00021 euros / 30 anos);· Alternativa 2: Considerar o telhado como uma parte significativado item e depreciar o custo do telhado por um período de 10 anos,correspondendo a 10.000 euros por ano.Seja qual for a alternativa adoptada, no ano 10 - quando o telhadofor substituído - o valor líquido contabilístico atribuível ao valor dotelhado substituído deve ser anulado.Na alternativa 1 o valor do custo do telhado antigo e as suasdepreciações acumuladas são 100.000 euros e 33.333 euros,respectivamente. Assim, terá de ser registado um gasto relativo aoabate, no valor de 66.667 euros (o custo de substituição do novotelhado de 100.000 euros é usado como valor aproximado paradeterminar o valor do telhado antigo, uma vez que este não édeterminável. Não é assumido qualquer valor residual para o cálculodas amortizações acumuladas do telhado antigo).Se a alternativa 2 for adoptada, o valor líquido contabilístico no ano10 será nulo e o custo e as depreciações acumuladas de 100.000euros serão anulados, sem impacto em resultados.As alternativas apresentadas pretendem ilustrar o princípio.A alternativa 2 corresponde ao método mais correcto. Claramente,reflecte mais adequadamente os benefícios económicos da fábrica,resultando num registo regular em resultados, de 36.667 euros porano ao longo dos 30 anos de vida útil da fábrica. Como o componenteneste caso é significativo, a alternativa 2 é a requerida na NCRF 7.Através do exemplo acima, verificámos que, quando no momentoinicial não tenha sido identificado um determinado componente deum activo fixo tangível, se ao longo da sua utilização tiver de sersubstituído, então o valor correspondente ao seu valor líquidocontabilístico deve ser desreconhecido, registando-se nasdemonstrações financeiras o respectivo impacto.
Então e as renovações ou remodelações de activos fixos tangíveispodem ser capitalizadas? São um componente?Não existe qualquer orientação a esse respeito nas NCRF ou nasIFRS. No entanto, nada obstará a que um bem que se encontre aser renovado/remodelado possa ser classificado como um activo seesses custos se qualificarem para reconhecimento nos termosenunciados na NCRF 722. Esta é uma situação recorrente em Hotéis,onde por vezes são realizadas obras significativas de renovação ede remodelação do imóvel.
Então e relativamente a benfeitorias e grandes reparações ourenovações, podem os encargos financeiros correspondentes sercapitalizados?Mais uma vez teremos de avaliar previamente se estes tipos detrabalhos se qualificam como activo e se têm uma duraçãosignificativa. Se sim e mediante as condições previstas na NCRF 10,então os encargos financeiros associados a empréstimos obtidospara o efeito, podem ser capitalizados no valor desses bens.Mais uma vez, podemos referir o exemplo que frequentementeocorre num Hotel onde existe a política de capitalização de encargosfinanceiros. Consideremos que o Hotel encerra para trabalhos deremodelação e renovação que serão capitalizados, por um períodode 18 meses. Os custos com empréstimos obtidos relacionados com
CONTABILIDADE
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a renovação devem ser capitalizados, uma vez que os trabalhos vão
ocorrer por um período significativo e a capitalização é consistente
com a política seguida pela entidade. A forma de repartição dos
encargos financeiros segue a mesma abordagem da exemplificada
no exemplo anterior, sempre que tenham sido identificados
componentes da renovação.
3.3 AS IMPLICAÇÕES FISCAIS DECORRENTESDA APLICAÇÃO DO NOVO REGIME APLICADASÀ ABORDAGEM POR COMPONENTES
Uma das principais diferenças que decorre da introdução do novo
sistema de normalização contabilística respeita à abordagem por
componentes e a definição das respectivas vidas úteis dos bens. A
prática em Portugal diz-nos que as depreciações são calculadas com
base nas taxas máximas previstas no DR 2/90 e não objectivamente,
de acordo com a sua vida útil, ao contrário do preconizado no POC,
e que os bens do activo fixo tangíveis não são depreciados por
componentes.
Uma das alterações incorporadas no DR 25/2009 tem a ver com a
dedutibilidade fiscal das depreciações, a qual deixa de estar
dependente da respectiva contabilização como gasto no mesmo
período de tributação, passando a permitir-se que as mesmas sejam
também aceites quando tenham sido contabilizadas como gastos
nos períodos de tributação anteriores, desde que, naturalmente, não
excedessem as quotas máximas admitidas. Prevê-se ainda
expressamente a possibilidade de, mediante autorização da DGCI,
serem praticadas e aceites para efeitos fiscais depreciações inferiores
às quotas mínimas que decorram da aplicação das taxas das tabelas
anexas ao DR 25/2009.
Tal facto significa que caso a entidade opte por aplicar critérioscontabilísticos para o cálculo das depreciações diferentes dos critériosfiscais, não é penalizada fiscalmente, desde que efectue osprocedimentos previstos na legislação para o efeito.Assim, no caso de a entidade utilizar para o cálculo das depreciaçõesa registar contabilisticamente taxas de depreciação mais aceleradasdo que as previstas no DR 25/2009, tal dará origem aoreconhecimento de um imposto diferido activo. Inversamente, seas taxas de depreciação contabilísticas forem inferiores às previstasno DR 25/2009, tal dará origem ao reconhecimento de um impostodiferido passivo.
4. Efeitos da aplicaçãoda NCRF 3 nos activos fixostangíveis
4.1 ACTIVO BRUTO
A NCRF 7 aceita como critério de mensuração dos activos fixostangíveis o custo ou o justo valor, sendo que neste último caso, asrevalorizações têm que ser regularmente efectuadas.Em Portugal, muitas entidades valorizavam os seus activos fixostangíveis ao custo histórico, acrescido de reavaliações legais queforam realizando quando a legislação o permitia, ou, acrescido dereavaliações livres que efectuavam pontualmente.No balanço de abertura em NCRF as entidades têm, relativamenteaos activos fixos tangíveis, a opção de os mensurar ao custo ou ao
CONTABILIDADE
60
justo valor. No entanto, a NCRF 3 – Adopção pela primeira vez das
NCRF estabelece que uma entidade que apresente pela primeira
vez demonstrações financeiras de acordo com as NCRF 23 pode optar
por usar uma revalorização anterior, antes ou na data de transição
para as NCRF, como custo a ser considerado na data da transição,
se a revalorização fosse, à data da mesma, amplamente comparável
ao:
a) justo valor;
b) custo, ou custo menos depreciações, de acordo com as IFRS
(NCRF), ajustado para reflectir, por exemplo, alterações num índice
geral ou específico de preços.
Isto significa que caso a entidade opte pelo modelo do custo, o valor
registado anteriormente, ainda que revalorizado, passa a ser
considerado como o valor do custo24, desde que cumpra com o acima
referido.
Desta forma, a reserva de reavaliação que estava registada nos
capitais próprios da entidade é transferida para resultados transitados,
mantendo-se no entanto para efeitos fiscais o procedimento que
existia até então, isto é, no caso de a reserva ter resultado de uma
reavaliação legal, 60% do valor seu valor continua a não ser aceite
para dedução fiscal.
4.2 DEPRECIAÇÃO DOS ACTIVOS FIXOS TANGÍVEIS
Como vimos anteriormente, é prática habitual em Portugal a utilização
de critérios fiscais para o cálculo das depreciações, normalmente na
utilização das taxas máximas previstas no DR 2/90, mas também
ao nível do método de depreciação (utilização de quotas degressivas),
o que leva, normalmente, a uma aceleração no reconhecimento das
depreciações praticadas pela entidade.
Adicionalmente, o conceito de componentes também não era
aplicado. Quantas vezes se encontra registado nas demonstrações
financeiras um imóvel em que a única subdivisão existente é entre
o terreno e o edifício? No entanto, com certeza que esse edifício
possui componentes com valor significativo e com vidas úteis
distintas, não se encontrando os mesmos individualizados e sendo
efectuadas as depreciações dessa forma.
Então o que devem as entidades fazer?
A IFRS 1 - Adopção pela Primeira vez das Normas Internacionais de
Relato Financeiro refere que se no caso de as estimativas de uma
entidade segundo os PCGA anteriores fossem aceitáveis, então à
data da transição para as IFRS (NCFR) deveriam ser consistentes
com as estimativas feitas anteriormente, salvo se existir prova
objectiva de que essas estimativas estavam erradas. Mudanças na
vida útil estimada ou método de depreciação utilizado deverão ser
aplicados prospectivamente, ou seja, para a vida útil remanescentes
do activo. No entanto, se os métodos e taxas adoptadas
anteriormente foram de tal forma diferentes das NCRF, o saldo inicial
das depreciações acumuladas deverá ser objecto de ajustamento.
Uma avaliação sobre a existência de erros na determinação das
estimativas utilizadas nos anteriores PCGA, requer mais uma vez
bom senso e uma avaliação prévia do custo/benefício dos impactos
que se espera que daí decorram. Assim, se se concluir que deve ser
efectuada uma avaliação sobre os diversos activos fixos tangíveis,
de forma a identificar os seus componentes mais significativos e
respectivas vidas úteis, a entidade poderá recorrer a uma entidade
especializada e com experiência na matéria, como forma de suportar
perante terceiros as alterações daí decorrentes.
Desta forma, e com base na avaliação efectuada na data de transição,
se existem situações em que as vidas úteis dos bens e seus
componentes sejam de tal forma diferentes face ao que se encontrava
registado de acordo com os anteriores PCGA, devem as depreciações
acumuladas ser reexpressas em contrapartida de resultados
transitados.
CONTABILIDADE
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Isabel Faustino / DOCENTE DA ESCOLA SUPERIOR DE GESTÃO DO I.P.C A.
Em função das diferenças entre os critérios contabilísticos e critérios
fiscais daí decorrentes, devem ser reconhecidos impostos diferidos
sobre a diferença apurada25.
Vejamos o exemplo de uma entidade que à data de conversão para
as NCFR, possuía um Hotel, adquirido em anos anteriores, o qual se
encontrava registado da seguinte forma:
TERRENO
EDIFÍCIO AFECTO A EXPLORAÇÃO HOTELEIRA
TOTAL
mEuros
COMPONENTES VALOR VIDA ÚTIL(anos)
7.500
17.500
25.000
Indeterm.
40
DEPRECIAÇÕESACUMULADAS
-
4.375
4.375
TERRENO
EDIFÍCIO AFECTO A EXPLORAÇÃO HOTELEIRA
EDIFÍCIO (estrutura)
ASCENSORES, MONTA CARGAS
INSTALAÇÕES ELÉCTRICAS, ÁGUA, GÁS
INSTALAÇÃO AR CONDICIONADO
FACHADAS (caixilharia)
PAREDES, TECTOS FALSOS E PORTAS INTERIORES
PAVIMENTAÇÃO
VEDAÇÕES E ARRANJOS EXTERIORES
DIVERSOS
INSPECÇÃO GERAL (10 ANOS)
TOTAL
mEuros
COMPONENTES VALOR VIDA ÚTIL(anos)
7.500
17.500
4.375
1.050
2.625
998
1.750
2.625
963
350
2.695
70
25.000
Indeterm.
26
50
20
30
20
20
25
40
15
18
10
DEPRECIAÇÕESACUMULADAS
-
6.740
875
525
875
499
875
1.050
241
233
1.497
70
6.740
Desta forma, podemos verificar que existe uma diferença significativa
entre o montante das depreciações acumuladas consideradas na
primeira situação e aquelas que foram determinadas para efeitos
de conversão, o que leva a concluir que este activo fixo tangível
deveria ter sido decomposto pelos diversos componentes que o
integrem, de forma a que estes fossem depreciados em função da
respectiva vida útil. A vida útil deste activo passa de 40 anos para
cerca de 26 anos.
Desta forma, determinou-se para efeitos de transição que as
depreciações acumuladas deveriam ser acrescidas do montante de
2.365 mil euros, em contrapartida de resultados transitados26.
No entanto, o ajustamento a efectuar pode ainda ter de incluir o
registo de impostos diferidos, em função dos impactos fiscais
decorrentes deste ajustamento, os quais serão analisados no ponto
5.4.
4.3 IMPARIDADE DOS ACTIVOS FIXOS TANGÍVEIS
Na data de conversão devem ser avaliados os activos fixos tangíveis
(incluindo os seus componentes) de modo a identificar possíveis
perdas de imparidade, de acordo com a NCRF 12 – Imparidade de
Activos, devendo esse ajustamento ser realizado por contrapartida
de resultados transitados. Igualmente, nestas circunstâncias devem
ser reconhecidos impostos diferidos sobre a diferença apurada27.
4.4 EFEITOS FISCAIS DA APLICAÇÃO DA NCRF 3 NOSACTIVOS FIXOS TANGÍVEIS
Os efeitos nos capitais próprios decorrentes da adopção, pela primeira
vez, das NCRF, relativos ao reconhecimento ou não reconhecimento
de activos fixos tangíveis, ou alterações na respectiva mensuração,
quando sejam considerados fiscalmente relevantes nos termos do
Código do IRC e respectiva legislação complementar, concorrem,
em partes iguais, para a formação do lucro tributável do primeiro
período de tributação em que se apliquem as normas e nos quatro
períodos de tributação seguintes.
Vejamos um exemplo da situação acima descrita:
Os impactos decorrentes da Perda de imparidade de um activo fixo
tangível identificada na data de transição serão reconhecidos em
termos fiscais no período remanescente de amortização aceite
fiscalmente, ou seja tendo em consideração as taxas fiscais, pelo
que deverão ser reconhecidos impostos diferidos activos.
À data de conversão para as NCFR, a entidade solicitou uma avaliação
a uma entidade independente especializada em avaliações de
unidades hoteleiras, que determinou que o activo fixo tangível estava
a ser depreciado de uma forma global, sem ter em consideração a
vida útil dos diversos componentes significativos, que possuíam
vidas úteis distintas, tendo apresentado o seguinte detalhe:
CONTABILIDADE
62
Consideremos que à data de transição determinada entidade tinha
registado uma máquina utilizada na produção pelo valor líquido
contabilístico de 50.000 euros, tendo sido determinado que o seu
valor recuperável era de 40.000 euros. Que registos contabilísticos
devem ser efectuados na data de transição, considerando uma taxa
de IRC de 25% acrescida de derrama de 1,5%?
EurosDébito: Conta 56Resultados transitados 10.000
Crédito: Conta 433Equipamento básico 10.000
Débito: Conta 2741Impostos diferidos activos (10.000x26,5%) 2.650
Crédito: Conta 56Resultados transitados 2.650
No ano da transição e nos 4 anos seguintes:
Débito: Conta 8122Imposto diferido (2.650x26,5%) 530
Crédito: Conta 2741Impostos diferidos activos 530
Vimos anteriormente em termos contabilísticos, o que deve acontecer
na data de transição se existirem alterações a nível dos componentes
de um bem e das suas vidas.
Mas o que acontece a nível fiscal?
Continuando o exemplo do ponto 5.2, relativamente à determinação
dos componentes e respectivas vidas úteis do Hotel, à data de
transição houve uma decomposição dos componentes que
compunham o Edifício, tendo sido atribuída a respectiva vida útil a
cada um deles.
A nível fiscal, verificamos que antes da conversão o edifício se
encontrava a ser depreciado tendo por base uma vida útil de 40
anos, o que resultava numa taxa anual de 2,5%. De acordo com o DR
2/90, essa taxa corresponde à quota mínima que pode ser aplicada28.
Desta forma, não existia qualquer correcção a efectuar entre o critério
contabilístico e o critério fiscal.
Na data de transição, e uma vez que se verificou uma revisão da
vida útil do Edifício (por vida da sua decomposição em componentes),
a vida útil média de depreciação do Edifício é de 26 anos, a que
corresponde uma taxa de depreciação de 3,85%. Esta taxa situa-se
igualmente no intervalo entre a taxa mínima e taxa máxima do
Código 2025 – Edifícios afectos a Hotéis da Tabela de Taxas Genéricas
previstas no DR 25/2009, pelo que a utilização desta taxa para
depreciação do Edifício, não acarreta correcções fiscais, apesar de
existirem diferenças entre o valor das depreciações consideradas
para efeitos contabilísticos e fiscais, as quais devem originar o registo
de impostos diferidos.
Admitamos agora para o exemplo referido, que o resultado do
trabalho realizado para o apuramento dos ajustamentos de transição,
conduzia a uma vida útil do activo inferior à resultante da aplicação
das taxas máximas previstas no DR 25/2009, por exemplo 18 anos.
Nesse caso, a entidade deveria efectuar a depreciação contabilística
utilizando essa vida útil, devendo no entanto continuar a considerar
nos mapas fiscais de depreciações a taxa máxima prevista no DR
25/2009 (5% - 20 anos). Anualmente, deverá proceder à correcção
do excesso de depreciação para efeitos fiscais no quadro 7 do Modelo
22, reconhecendo para o efeito, o respectivo imposto diferido activo.
Inversamente se a vida útil apurada for inferior à resultante das
quotas mínimas que decorrem da aplicação das taxas das tabelas
anexas ao DR 25/2009, a entidade deve solicitar autorização da
DGCI a utilizar dessa taxa. Caso não solicite a autorização ou não a
obtenha, o valor que resulte da diferença face às quotas mínimas
não podem ser deduzidas nos rendimentos de períodos futuros.
Deve a entidade nestas circunstâncias proceder ao registo de
impostos diferidos passivos, relativamente ao valor que não será
aceite fiscalmente.
5. ConclusãoAs alterações decorrentes da introdução do SNC, afectam não só as
entidades que o vão aplicar, mas também o revisor/auditor, que
expressa uma opinião sobre as Demonstrações Financeiras.
Na actualidade, recorre-se cada vez mais à utilização de estimativas,
nomeadamente a nível dos activos fixos tangíveis, no que respeita
à determinação de reconhecimento de activos fixos tangíveis e
respectivos componentes, imparidade dos mesmos, na determinação
da sua vida útil, métodos de depreciação ou cálculo dos seus justos
valores.
As entidades têm cada vez mais de estar preparadas para responder
da melhor forma a estas exigências, sendo a formação um factor
fundamental para adaptar os profissionais envolvidos nas matérias
contabilísticas e fiscais. No entanto, formação financeira pode não
ser o suficiente, pois tarefas que anteriormente eram na maioria das
vezes realizadas pelos Técnicos Oficiais de Contas (exemplo
determinação das taxas de depreciação), exigem actualmente
conhecimentos técnicos em áreas especializadas de avaliação.
Assim, a decomposição de um activo fixo tangível por componentes,
a estimativa da vida útil, método de depreciação a praticar ou a
determinação do justo valor. Desta forma, verifica-se que as entidades
podem ter que envolver especialistas na matéria, quer na transição
para as NCRF quer em períodos futuros.
No decurso do seu trabalho, o revisor/auditor deve avaliar as principais
alterações ocorridas na entidade para dar resposta às alterações
decorrentes desta mudança. Deverá analisar as actividades que a
Gestão realiza para monitorizar o controlo interno do relato financeiro
(incluindo sistemas de informação), actividades essas, que deverão
cobrir os aspectos relacionados com os activos fixos tangíveis,
nomeadamente no que se refere aos respectivos componentes, à
estimativa da sua vida útil, métodos de depreciação, imparidades
ou revalorizações efectuadas, incluindo as divulgações a efectuar.
A nova abordagem por componentes pode ter efeitos significativos
nas demonstrações financeiras das entidades, que poderão ter de
recorrer a especialistas. Nestas circunstâncias deverá o revisor/auditor
considerar o impacto das conclusões do trabalho do perito nas
demonstrações financeiras e efectuar os procedimentos adequados
com vista à utilização desse trabalho para suportar as conclusões
de auditoria29.
LISTA DE ABREVIATURAS
CE Comissão EuropeiaCIRC Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas ColectivasDRA Directriz de Revisão/AuditoriaDL Decreto LeiDR Decreto RegulamentarIASB International Accounting Standards BoardIAS International Accounting StandardIFRIC International Financial Reporting Interpretations CommitteeIFRS International Financial Reporting StandardsIRC Imposto sobre o Rendimento das Pessoas ColectivasNIR Normas Internacionais de Revisão/AuditoriaNCRF Norma Contabilística e de Relato FinanceiroPCGA Princípios Contabilísticos Geralmente AceitesPOC Plano Oficial de ContabilidadeRT Recomendação TécnicaSNC Sistema de Normalização Contabilística
CONTABILIDADE
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Isabel Faustino / DOCENTE DA ESCOLA SUPERIOR DE GESTÃO DO I.P.C A.
BIBLIOGRAFIA
Plano Oficial de Contabilidade (POC)Directrizes ContabilísticasSNC (pacote legislativo completo aprovado em Diário da República)Decreto-Lei nº 159/2009, de 13 de Julho – Alterações ao Código do Imposto sobre oRendimento das Pessoas ColectivasDecreto-Lei n.º 442-B/88 - Código do Imposto sobre o Rendimento das PessoasColectivasDecreto Regulamentar 25/2009 - Regime de Reintegrações e AmortizaçõesDecreto Regulamentar 2/1990 - Regime de Reintegrações e AmortizaçõesNorma Internacional de Relato Financeiro (IFRS) 1Norma Internacional de Contabilidade (IAS) 16Normas Técnicas de Revisão/AuditoriaDirectriz de Revisão / Auditoria (DRA) 300 – PlaneamentoDirectriz de Revisão / Auditoria (DRA) 310 – Conhecimento do negócioDirectriz de Revisão / Auditoria (DRA) 400 – Avaliação do Risco de Revisão/AuditoriaDirectriz de Revisão / Auditoria (DRA) 410 – Controlo InternoDirectriz de Revisão / Auditoria (DRA) 510 – Prova de Revisão/AuditoriaNorma Internacional de Revisão (NIR) 620 – Usar o trabalho de um peritoRT n.º 19 – A Utilização do Trabalho de Outros Revisores/Auditores e de Técnicos ouPeritos“Insights into IFRS”, KPMGAudit Manual, KPMG
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1 Conforme disposto no Decreto-Lei n.º 158/2009 de 13 de Julho que aprova o SNC.2 Decreto Lei n 159/2009, de 13 de Julho3 Substitui o anterior Decreto Regulamentar 2/904 Apenas podem ser qualificados encargos financeiros relacionados com activos fixosque se qualifiquem, isto é, activos fixos tangíveis em curso.5 Alterações de estimativas contabilísticas devem ser tratadas de acordo com a NCRF4 – Políticas Contabilísticas, Alterações nas Estimativas Contabilísticas e Erros6 Alterações de estimativas contabilísticas devem ser tratadas de acordo com a NCRF4 – Políticas Contabilísticas, Alterações nas Estimativas Contabilísticas e Erros7 Alterações de estimativas contabilísticas devem ser tratadas de acordo com a NCRF4 – Políticas Contabilísticas, Alterações nas Estimativas Contabilísticas e Erros8 A NCFR 7 considera que a depreciação de um activo começa quando esteja disponívelpara uso, isto é, quando estiver na localização e condição necessária para que estejacapaz de operar da forma pretendida9 Excepto quando afectos à exploração de serviço público de transportes ou alugadasno exercício da actividade normal do sujeito passivo10 A NCRF 9 – Locações, aplica-se à alienação por venda seguida por locação, definidoa contabilização a efectuar em função do tipo de locação efectuada11 De acordo com a NCRF 20 - Rédito12 De acordo com a NCRF 8 – Activos Não Correntes Detidos Para Venda e UnidadesOperacionais Descontinuadas13 Não afectas à exploração de serviço público de transportes nem destinadas a seralugadas no exercício da actividade normal do sujeito passivo14 Não afectas à exploração de serviço público de transportes ou se destinem a seralugados no exercício da actividade normal do sujeito passivo15 As Imparidades dos Activos são tratadas de acordo com a NCRF 12 – Imparidade deActivos.16 Custos directos da construção ou da aquisição de um item de activo fixo tangível –NCRF 28 – Benefícios de Empregados17 Mediante e de acordo com as condições previstas na NCRF 10 – Custos deEmpréstimos Obtidos18 As estimativas são reconhecidas e mensuradas de acordo com a NCRF 21 – Provisões,Passivos Contingentes e Activos Contingentes19 A alínea d) do nº 1 do Art.º 36 do DL 159/2009, refere que podem ser deduzidas paraefeitos fiscais as provisões constituídas pelas empresas pertencentes ao sector dasindústrias extractivas ou de tratamento e eliminação de resíduos, se destinem a fazerface aos encargos com a reparação dos danos de carácter ambiental dos locais afectosà exploração, sempre que tal seja obrigatório e após a cessão desta, nos termos dalegislação aplicável.20 De acordo com a NCRF 25 – Impostos sobre o Rendimento21 Corresponde ao Valor aquisição deduzido do Valor residual22 Se for provável a existência de benefícios económicos futuros associados àrenovação/remodelação que fluam para a entidade e que o seu custo possa serseguramente determinado23 De acordo com a IFRS 1 – Adopção Pela Primeira Vez das Normas Internacionais deRelato Financeiro, parágrafo 16 e 1724 Na versão original em inglês “deemed cost”25 De acordo com a NCRF 25 – Impostos sobre o Rendimento26 As implicações fiscais decorrentes deste ajustamento serão descritas no ponto 6.327 De acordo com a NCRF 25 – Impostos sobre o Rendimento28 A taxa máxima prevista no DR 2/90 afecta ao Código 2025 - Edifício afecto aexploração hoteleira da Tabela de Taxas Genéricas é de 5%29 Deve proceder de acordo com a NIR 620 – Usar o trabalho de um perito e a RT n.º19 – A utilização do trabalho de outros revisores/auditores e de técnicos ou peritos
ALGUMAS DIVERGÊNCIAS DEOPINIÃO
SUBSÍDIOSAO INVESTIMENTOE IMPOSTOSDIFERIDOS
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ALGUMASDIVERGÊNCIASDE OPINIÃO
A. Isabel Morais REVISOR OFICIAL DE CONTAS
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Consequentemente, aquando do reconhecimento do subsídio comocomponente autónoma do capital próprio, não se pode considerarque se verifica o reconhecimento de qualquer rendimento (salvoquanto à eventual parcela nesse exercício transferida para resultados).A admissão dessa possibilidade contraria a lógica de contabilizaçãodos próprios subsídios ao investimento, impedindo o balanceamento,no mesmo período, do rendimento com o subsídio e do gasto coma amortização ou depreciação.
Ao invés, atendendo à substância da própria operação, oreconhecimento do rendimento apenas pode ocorrer faseadamenteao longo da vida do investimento, período em que se estará areconhecer os gastos relacionados com o subsídio que foi atribuído.
Depois, substancialmente, acontece que, na verdade, há um aumentosúbito do património empresarial, que vai sendo, naturalmente,reduzido pelo registo do imposto quando este se torna exigível – esó nesse momento se observa a efectiva redução do valor patrimonial.
Acresce que pode até ocorrer que não haja pagamento de impostopelo facto de componentes negativas do resultado (gasto com asdepreciações ou amortizações) terem valor superior ao da fracçãodo rendimento com o subsídio.
Um exemplo ajuda à compreensão da tese.Suponha-se o reconhecimento de um subsídio ao investimento de100 000 euros, que é repartido em cinco quotas anuais de igualvalor (20 000 euros em cada ano).Teremos, pois, ceteris paribus, a seguinte evolução do capital próprioaté ao fim da imputação do subsídio a resultados (admitindo a taxa
de imposto de 30%, reconhecimento do subsídio no ano 1 e início
de imputação a resultados a partir do ano 2):
I. Apresentação do problemaNeste artigo os autores pretendem expor as opiniões, opostas, sobre
o registo de impostos sobre o rendimento diferidos em ligação com
o registo dos subsídios ao investimento no contexto do Sistema de
Normalização Contabilística (SNC) – um dos autores (por comodidade
usa-se sempre o genérico masculino para preservar – aqui – a
identificação de cada autor, devendo salientar-se que ambos
colaboram activamente na procura da correcta explanação e defesa
da tese do outro).
Apenas para recordar: no SNC, os subsídios ao investimento são
registados inicialmente numa conta especial do capital próprio,
sendo transferidos para os resultados dos sucessivos exercícios em
parcelas durante a vida dos bens de investimento, de acordo com
certos critérios.
Vejamos, então as teses em presença.
II. Não deve ser registadoo imposto diferidoO primeiro e mais importante argumento a favor da ausência do
registo de um hipotético imposto diferido é o texto da norma
internacional (IAS 20) e da norma nacional (NCRF 22) – quando se
regista o subsídio como uma componente imediata do capital próprio
não existe o reconhecimento de qualquer rendimento, uma vez que
o rendimento apenas é reconhecido numa base sistemática e racional
durante a vida útil do activo. De facto, tal como refere a NCRF 22 (§
14) é fundamental que os subsídios sejam reconhecidos como
rendimentos, na demonstração dos resultados, numa base
sistemática e racional nos mesmos períodos em que se reconhecemos gastos relacionados (neste caso, a depreciação ou amortizaçãodos activos fixos tangíveis ou intangíveis).
J. Rodrigues de Jesus REVISOR OFICIAL DE CONTAS
CONTABILIDADE
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III. Deve ser registadoo imposto diferidoAqui, o primeiro e mais intuitivo argumento a favor do registo do
imposto diferido é o seguinte: ceteris paribus, se alguém, por exemplo
uma entidade governamental entrega ou atribui à empresa uma
soma em dinheiro ou um conjunto de bens diferentes de dinheiro
ficando esta entrega sujeita a tributação em imposto sobre o
rendimento diferida (em função de qualquer critério), não pode
afirmar-se que, no momento daquela entrega ou atribuição, o capital
próprio foi aumentado do valor do dinheiro recebido ou do justo valor
dos bens diferentes de dinheiro – mas, precisamente, desse valor
deduzido do imposto que sobre ele incide e que será liquidado de
modo diferido (em exercícios seguintes).
Dito de outro modo, o aumento do capital próprio só pode ser o valor
recebido diminuído do valor do imposto que irá ser liquidado.
Era isto, aliás, o que acontecia se o subsídio recebido fosse
imediatamente tributado, quer fosse considerado um rendimento
incluído nos resultados do período, quer tivesse outro tratamento
(por exemplo, inserido numa conta específica de capital próprio, sem
passar por resultados, mas fosse objecto de imediata tributação).
Ocorre, de facto, que existe um rendimento inicial correspondente
ao valor do subsídio, registado em conta específica do capital próprio
diferente de uma conta de resultados, e que vai sendo transferido
(sempre dentro do capital próprio) para contas de rendimento de
cada período em que se efectua a imputação daquele rendimento
inicial.
ANO 1 100 000 100 000
ANO 2
IMPUTAÇÃO DO SUBSÍDIO -20 000 20 000 -6 000
-6 000
SALDOS FINAIS 80 000 14 000 94 000
ANO 3
IMPUTAÇÃO DO SUBSÍDIO -20 000 20 000 -6 000
-6 000
SALDOS FINAIS 60 000 14 000 88 000
ANO 4
IMPUTAÇÃO DO SUBSÍDIO -20 000 20 000 -6 000
-6 000
SALDOS FINAIS 40 000 14 000 82 000
ANO 5
IMPUTAÇÃO DO SUBSÍDIO -20 000 20 000 -6 000
-6 000
SALDOS FINAIS 20 000 14 000 76 000
ANO 6
IMPUTAÇÃO DO SUBSÍDIO -20 000 20 000 -6 000
-6 000
SALDOS FINAIS - 14 000 70 000
TOTAL DE RESULTADOS 70 000
TEMPOCAPITAL PRÓPRIO
SUBSÍDIOS AO INVESTIMENTO RESULTADOS CAPITAL PRÓPRIO
O subsídio é, efectivamente um rendimento – o rendimento total
inicial não é tributado no momento do recebimento ou da atribuição,
mas em momentos posteriores em conexão com a transferência
parcelar daquele para rendimentos chamados do período.
Deste modo, aquando do recebimento ou da atribuição do subsídio
nasce um rendimento e, uma vez que a respectiva tributação não
é imediata, nasce, também, um imposto diferido, sendo o valor do
subsídio dividido em duas partes – uma, a do valor do subsídio
diminuído do valor do imposto, a representar o verdadeiro aumento
do capital próprio, outra, a do imposto diferido, representando um
passivo (por imposto diferido).
De referir que é irrelevante – neste caso como em outros de impostos
diferidos (por exemplo, revalorizações) – que o imposto venha ou
não a ser pago, nesta hipótese por se sobreporem nos exercícios a
que o subsídio é imputado componentes negativas de maior valor.
As normas dos impostos diferidos têm de ser entendidas no sentido
de alcançar o rendimento sob qualquer natureza e percurso
contabilístico – se for um rendimento que apenas vai ser incluído
em resultados diferidamente e também diferidamente tributado,
no momento inicial só o rendimento líquido do imposto pode
constituir um aumento do capital próprio, sendo a parcela restante
a do imposto diferido.
Quando se adopta a norma internacional, o subsídio é deduzido ao
montante do activo a ajudou a financiar ou é registado como um
passivo.
No caso de dedução ao valor de aquisição do bem do activo, não há
qualquer imposto diferido, uma vez que coincidem o valor líquido
contabilístico e o valor tributável.
Também na hipótese de registo do subsídio como passivo não há,
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em termos líquidos, qualquer imposto diferido, dado que ao imposto
diferido passivo inerente ao valor ilíquido do bem do activo
corresponde um imposto diferido activo do mesmo montante relativo
à rubrica do subsídio do passivo.
Partindo desta última observação, pode verificar-se que, quando a
norma omite o registo do passivo sem reduzir o valor do activo faz
aparecer em toda a sua clareza um valor do activo a que respeita
um valor tributável inferior, determinando o registo do imposto
diferido.
Veja-se a sequência do capital próprio:
A. Isabel Morais / REVISOR OFICIAL DE CONTASJ. Rodrigues de Jesus / REVISOR OFICIAL DE CONTAS
ANO 1 70 000 30 000 70 000
ANO 2
IMPUTAÇÃO DO SUBSÍDIO -14 000 -6 000 20 000 -14 000
-6 000 RLE 14 000
SALDOS FINAIS 56 000 24 000 14 000 70 000
ANO 3
IMPUTAÇÃO DO SUBSÍDIO -14 000 -6 000 20 000 -14 000
-6 000 RLE 14 000
SALDOS FINAIS 42 000 18 000 14 000 70 000
ANO 4
IMPUTAÇÃO DO SUBSÍDIO -14 000 -6 000 20 000 -14 000
-6 000 RLE 14 000
SALDOS FINAIS 28 000 12 0000 14 000 70 000
ANO 5
IMPUTAÇÃO DO SUBSÍDIO -14 000 -6 000 20 000 -14 000
-6 000 RLE 14 000
SALDOS FINAIS 14 000 6 000 14 000 70 000
ANO 6
IMPUTAÇÃO DO SUBSÍDIO -14 000 -6 000 20 000 -14 000
-6 000 RLE 14 000
SALDOS FINAIS - - 14 000 70 000
TOTAL DE RESULTADOS 70 000
TEMPOCAPITAL PRÓPRIO
SUBSÍDIOS AOINVESTIMENTO
RESULTADOS CAPITAL PRÓPRIOPASSIVO
POR IMPOSTODIFERIDO
Comparando com o modelo anterior, observa-se que, no caso em
que não se regista o imposto diferido, o capital próprio começa por
ser de 100 000 euros e decresce até 70 000 euros, quando, agora,
em que é registado o imposto diferido, o capital próprio permanece
o mesmo, de 70 000 euros, de início até ao fim do processo.
IV. A determinação da Comissãode Normalização ContabilísticaA Comissão de Normalização Contabilística (CNC) publicou, no seu
site, um esclarecimento sobre a necessidade de se reconhecer
impostos diferidos originados pelos subsídios ao investimento.
A CNC considera que os subsídios ao investimento originam um
passivo por impostos diferidos, uma vez que contabilisticamente
os subsídios são reconhecidos como rendimentos no capital próprio,
mas fiscalmente esse valor será tributado durante a vida útil do
investimento. Consequentemente, no momento do reconhecimento
do subsídio, o valor que deverá constar no capital próprio deverá ser
o valor líquido de imposto.
Durante a vida útil do investimento, à medida que se efectua a
transferência da quota-parte dos subsídios para rendimento, o valor
do passivo por impostos diferidos deverá ser reduzido por
contrapartida de impostos diferidos. Simultaneamente, igual
ajustamento deverá ser efectuado na rubrica dos subsídios ao
investimento no capital próprio e resultados transitados.
V. ConclusãoEste artigo pretendeu expor duas opiniões diferentes sobre o
reconhecimento, ou não, de impostos diferidos originados por
subsídios ao investimento. Conclui-se que a questão fundamental
relaciona-se com o momento em que contabilisticamente o subsídio
é reconhecido como rendimento. Se se entender que o subsídio ao
investimento é reconhecido como rendimento no seu
reconhecimento inicial, então existe a necessidade de se reconhecer
um passivo por impostos diferidos, uma vez que a tributação desse
mesmo valor só ocorrerá durante a vida útil do investimento. Caso
contrário, admitindo-se que o subsídio ao investimento só é
reconhecido como rendimento durante a vida útil do investimento,
não haverá lugar ao reconhecimento de qualquer passivo por
impostos diferidos, já que, neste caso, o período em que o subsídio
ao investimento é reconhecido como rendimento e o momento da
sua tributação coincidem.