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AS NOVAS TECNOLOGIAS NO ENSINO REFLEXIVO DA ARTE POP
Edith Helma Maier1
Anderson Costa2
Resumo
Os avanços científicos e tecnológicos transformaram de forma significativa as relações sociais
e, consequentemente, a maneira como apreendemos as informações e o conhecimento. Nesse
cenário propício à descoberta, este estudo buscou compreender de que maneira uma
compreensão ampla das tecnologias pode contribuir com as práticas pedagógicas do ensino
das artes, em especial do movimento conhecido por pop art, nas séries iniciais do Ensino
Médio. Entende-se que, as novas tecnologias devem estar inseridas no ensino de forma
adequada, a partir da criação de novas estratégias de ensino-aprendizagem. Essa abordagem
deve, não apenas retomar o interesse dos alunos pelas aulas de artes, como também contribuir
com a formação de cidadãos mais conscientes de seus atos. Em um momento onde se busca a
valorização da diversidade cultural e as mais diferentes modalidades de arte se manifestam, as
novas tecnologias exercem um papel fundamental.
Palavras-chave: tecnologias; ensino; pop art.
1. Introdução
A arte pode ser entendida como uma forma de expressão humana que,
simultaneamente, dá vazão à criatividade e possibilita uma maior compreensão do mundo.
Faz parte de uma narrativa que coloca os indivíduos em contato com várias formas e estilos,
manifestações estéticas, bem como as diferentes formas de organização dos seres humanos.
Porém, apesar do elevado potencial de interferir e propiciar reflexões, não é incomum
encontrar escolas que trabalham com a arte como complemento de alguma disciplina ou
simplesmente aproveitada para que sejam realizados trabalhos de colagens, desenhos, etc.
Com a escolha deste tema pode-se perceber que a arte estabelece conexões e relações
entre os alunos e o meio em que estão inseridos. Nesse sentido, a importância da arte para o
cotidiano do aluno pode ser percebida quando, a partir de expressões artísticas, eles interagem
com o ambiente em que convivem.
1 Artigo elaborado a partir de pesquisas realizadas para conclusão do PDE (Programa de Desenvolvimento
Educacional). 2 Professor Orientador.
2
O mundo estudantil hoje é mais complexo. A sala de aula, diante das novas
tecnologias, não pode mais se resumir ao quadro de giz e livros. Professores e alunos devem
incorporar novas linguagens de ensino e aprendizagem, como o uso da TV Pendrive,
aparelhos de DVDs, máquinas fotográficas, computadores... equipamentos esses que, de fato,
já estão disponíveis no Colégio Estadual Padre Sigismundo, de Quedas do Iguaçu, mas que
ainda são pouco utilizados nas salas de aula.
Para que pudéssemos conhecer melhor o referido Colégio, foi feito um breve
levantamento técnico-estrutural. O Colégio oferta atualmente os ensinos fundamental, médio
e profissionalizante, com os cursos de Administração, Formação de Docentes e Técnico em
Informática. Em 2011, foram matriculados no Ensino Médio, nosso público alvo, 1.170
alunos, que foram distribuídos em 42 turmas. O Colégio dispõe de 50 computadores, sendo
que 30 deles estão disponíveis para os alunos, distribuídos da seguinte forma: 20 para os
alunos do Ensino Fundamental e Médio e dez para os alunos que cursam Técnico de
Informática. Conta ainda com 18 TVs Pendrive já devidamente instaladas nas salas de aula,
um Datashow e oito aparelhos de DVD, todos de livre acesso aos professores.
Como afirma Fábio Oliveira Inácio, “Nunca houve época mais propícia para tornar os
nossos sistemas educacionais mais inteligentes. As tecnologias estão aí” (INÁCIO, 2003,
p.23). Porém, foi constatado que o uso desses materiais com fins educacionais não é tão
comum como poderia ser. Conversando com os professores e alunos, ficou claro que é muito
pequeno o volume de atividades que integram essas tecnologias no Colégio. E um dos
aspectos que contribuem de forma negativa para essa situação, é a reduzida busca por
atualização e formação complementar dos professores em cidades do interior paranaense.
Essa realidade, mesmo que a passos lentos, está mudando e, em breve, deve impactar nos
projetos políticos pedagógicos das escolas.
Nesse sentido, entendemos que (1) as escolas, na medida do possível, devem assimilar
às novas tecnologias; (2) que essas tecnologias devem ser podem se configurar como
instrumentos originais de aprendizagem; e (3) que os alunos, atualmente desmotivados no
ensino de arte, podem, de fato, terem o seu interesse despertado.
Assim, tendo por base esse cenário, esta pesquisa foi desenvolvida tendo por
motivação sugerir um caminho para o ensino das artes por entre as novas tecnologias. Mais
especificamente, consistiu em pensar de que forma se pode trabalhar a Pop Art no primeiro
ano do Ensino Médio, com o auxílio das tecnologias disponíveis no Colégio. O objetivo foi
intensificar o contato do aluno com essas tecnologias, bem como incentivar de forma
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diferenciada o olhar analítico e crítico em relação às artes, retomando o interesse do aluno no
estudo.
Para isso, este trabalho promoveu uma investigação contínua de teorias e práticas que
se configuram como modelos pedagógicos relacionadas às novas tecnologias. Da mesma
forma, se investiu na pesquisa do próprio campo de ensino das artes, para que fosse possível
identificar interligações entre a arte e tecnologia.
Verificou-se que essa interligação não é apenas viável, como também geradora de
experiências de aprendizagem bastante enriquecedoras nos exercícios teóricos, na produção
de peças artísticas e também no fundamental processo de desenvolvimento no aluno de um
olhar crítico em relação ao mundo. Ou seja, o aluno se torna menos passivo e mais ativo na
leitura de obras artísticas e também dos meios tecnológicos de informação e comunicação,
como jornais, televisão, rádio e cinema.
1.1. O Conhecimento e a Evolução
Os filmes de ficção, os documentários, os canais e programas educativos, os portais
educacionais online, a internet e tantos outros meios nos permitem maior acesso maior e mais
rápido às informações e contribuem também na criação de novas estratégias de ensino-
aprendizagem. Por meio dessas mídias são veiculadas, por exemplo, as mais diversas
pesquisas e descobertas histórico-científicas. Assim, a simples introdução desses meios
tecnológicos nas salas de aula pode ajudar a ampliar as experiências culturais dos alunos.
Porém, o cenário é também complexo. Não se pode perder de vista a heterogeneidade
das salas de aula, as diferentes realidades sociais, culturais e financeiras de cada escola. O
perfil do aluno do Colégio Estadual Padre Sigismundo é de classe social mista, de baixa e
média renda, filhos de pais operários, agricultores, desempregados, funcionários públicos,
mães sozinhas... E, conforme apontou pesquisa, em geral, esse aluno não teve ou teve pouco
contato com o computador, sendo que o momento em que mais pode usufruir da máquina é na
própria escola.
Ainda curiosos e bastante entusiastas com o computador e suas possibilidades, esses
alunos se mostram motivados em ir às aulas e ficam atentos a todo tipo de orientação e
novidade relacionada ao computador e a internet. É por isso também que o professor passa a
não ser mais o „detentor‟ de todo o saber e sim um orientador, um intermediário entre o aluno
e o conhecimento, que a rede ou a máquina organiza.
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Autores, como Ribas (2012), evidenciam que o mau desempenho das escolas está na
demora na assimilação pelos professores das possibilidades das tecnologias mesmo em
cidades de grande porte. Essa situação, evidentemente, é mais preocupante nos pequenos
municípios.
Entretanto, é importante ressaltar também que, essa dificuldade de assimilação pode
residir na complexidade da computação em nuvem e nos sistemas operacionais de código
aberto, como o Linux que equipa os computadores disponibilizados pelo Estado. Essas
tecnologias podem ser mais comuns em alguns lugares, porém, nem tanto assim no interior. E
não necessariamente há um trabalho de treinamento dedicado nas regiões com maior
dificuldade.
Assim, Ribas defende também um avanço nessas tecnologias voltadas à educação, de
forma a permitir, de fato, uma revolução digital nas escolas, aposentando, de vez, políticas
pedagógicas obsoletas. Mas, para isso, essas tecnologias devem ser “mais interconectados,
mais instrumentalizados e mais inteligentes” (RIBAS, 2012, p. 5 e 6).
É importante notar também que os autores não tratam de uma simples assimilação das
tecnologias pelas instituições de ensino. Eles defendem uma utilização apropriada, pensada
para o ensino. Gómez (1999) exemplifica essa questão:
Na Alemanha, o primeiro uso que deram a esta tecnologia [sensores de
movimento] foi nos banheiros, para regular a saída da água, enquanto que nos
Estados Unidos o uso foi nas portas dos shoppings centers. A diferença é
enorme. Na Alemanha esta tecnologia foi adotada com a finalidade de poupar
água, enquanto nos Estados Unidos se aplicou para facilitar e estimular o
consumo, ao permitir que as pessoas que entravam para comprar, pudessem
sair do shopping center sem serem incomodados com as portas, pois estavam
carregadas com sua mercadoria (GÓMEZ, 1999, p. 63).
Ou seja, não basta liberar a internet para os alunos, levar a televisão para a sala de
aula, exibir filmes ou distribuir máquinas fotográficas. As aplicações devem ser pensadas e as
atividades orientadas de acordo com a proposta da disciplina, devem possuir uma finalidade
educacional, devem ser utilizados como instrumentos de aprendizagem de conteúdos.
Para isso, a formação constante do professor é fundamental. Entretanto, atualmente,
ela deixa a desejar. Assim, as aulas de arte, empobrecidas, parecem ter atravessado a década
de 1990 sem se alterarem substancialmente. “No limiar do terceiro milênio, elas [as aulas de
arte] ainda se mantêm como um desafio diante das aceleradas inovações científicas e
tecnológicas dos últimos anos” (KONDZIOLKÓVA, 2007, p.3).
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1.1.1. A percepção da tecnologia
O conhecimento, bem como o modo de compreendê-lo, de estudá-lo e de elaborá-lo
muda de acordo com a época. Na época primitiva, por exemplo, a explicação para toda e
qualquer mudança era atribuída aos deuses e/ou aos fenômenos da natureza. Se chovia e com
a chuva surgiam trovoadas, a explicação desse fenômeno era relacionada ao Deus Trovão.
Nesse período, surgiram instrumentos rústicos provenientes da própria natureza e garantiram
a sobrevivência desses grupos por muito tempo. Mesmo nessa época, esses instrumentos já
eram uma espécie de tecnologia, apesar de, obviamente, não possuírem essa denominação. “É
muito difícil aceitar que apenas o atual momento em que vivemos possa ser chamado de era
tecnológica. Na verdade, desde o início da civilização, todas as eras correspondem ao
predomínio de um determinado tipo de tecnologia” (KENSKI, 2008. p.19).
Antes do século VIII a. C., os gregos passaram por uma época onde a mitologia estava
acima do racional, até que entre os séculos VIII e VI a. C. a ligação entre o homem e o mundo
passou do sobrenatural para o natural, e então passa a vigorar a razão e não mais o mito; a
razão passou a ser fonte de explicação das coisas. Na Idade Média o que produzia o
conhecimento era a fé e a aceitação; a verdade estava pronta. A fé estava acima da razão. Para
o homem medieval, o conhecimento era a graça, a iluminação, a irrupção de Deus no mundo
dos mortais.
A partir do século XIII, houve um movimento que contestou as idéias que se
disseminaram na Idade Média: o Renascimento. A partir daí não se
explicava o mundo pela fé, nem pela natureza, nem pelo mito, mas pela
comprovação científica. É dessa época que nos lembramos de Galileu
Galilei, Nicolau Copérnico, René Descartes, Isaac Newton e tantos outros.
(SANTOS, 2007 p.21-24).
Porém, foi a partir de 1950 que a ciência passou a se aliar a denominada tecnologia de
forma mais intensa, a ponto de permitir que hoje todo esse conhecimento esteja para nós a
apenas um click, ao mesmo tempo em que nos liga ao mundo todo:
O digital permite escolher, o analógico, reconhecer ou compreender. Com a
invasão da computação digital no cotidiano (calculadoras, painéis eletrônicos),
estamos assistindo à digitalização do social. Teclados e vídeos com letras e
números surgem por toda a parte, na cozinha como nos bancos, nas lojas como
nos automóveis. E a própria imagem, que é analógica, está funcionando
digitalizada (SANTOS, 2007, p.16 e 17).
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Nos anos 50, a ciência e a tecnologia invadiram o nosso cotidiano. De alimentos
processados a microcomputadores e ninguém sabe direito se é um sintoma da decadência ou
de um renascimento cultural. Mas foi na arte que o fantasma dos anos 50 começou a correr o
mundo.
O homem moderno valorizou a arte, a história, o desenvolvimento da
consciência social para se salvar e o resultado foi que hoje preferimos a
imagem ao objeto, a cópia ao original, o simulacro ao real, porque entre nós
e o mundo estão os meios tecnológicos da comunicação. (SANTOS, 2006,
p.8 e 10).
Avanços científicos e tecnológicos, nas últimas décadas, transformaram de forma
significativa as relações humanas em todas as suas dimensões. Encurtaram-se as distâncias,
expandiram-se as fronteiras e o mundo ficou globalizado, sendo isso positivo ou não:
.
Parte apreciável das mudanças na forma contemporânea de viver vincula-se
à primazia da comunicação na ambiência tecnocultural. Primeiro pela
capacidade de redes infoeletrônicas, satélites e fibras ópticas de interligar
povos, países, culturas e economias, procurando unifica-las em torno de
sínteses de uma hipotética vontade geral. Segundo, porque as relações
sociais e os processos de produção simbólica estão cada vez mais
midiatizados – isto é, sob a égide de mediações e interações baseadas em
dispositivos teleinformacionais (MORAES, 2006, p.11).
Parafraseando Teruya, a mídia é um instrumento útil para a sociedade capitalista
alcançar os propósitos do capital, produzindo desejos de consumir por meio das imagens de
felicidade associadas ao uso de mercadorias. Isso contribui para que os jovens valorizem mais
os bens materiais do que as pessoas. A mídia define o modelo de indivíduo para a sociedade,
direciona as preocupações e incita o desejo de consumir cada vez mais as coisas. Tudo em
forma de entretenimento. (2006, p. 61).
De fato, no contexto da chamada pós-modernidade, a internet é apontada como um dos
efeitos globalizantes que distanciam o sujeito de experiências reais (HALL, 2001; BAUMAN,
2005). Sendo assim, é fundamental que o professor, ciente dessa condição estratégica de
intermediador, consiga fazer dessa relação dos alunos com o computador e com a internet
algo culturalmente enriquecedor.
Aprendemos melhor quando vivenciamos experimentos, aprendemos melhor
quando relacionamos, estabelecemos vínculos, laços entre o que estava solto,
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caótico, disperso, integrando-o em novos contextos, dando-lhes um novo
significado, um novo sentido: aprendemos quando descobrimos novas
dimensões de significação, aprendemos mais quando estabelecemos ponte
entre a reflexão e a ação, entre as experiências e a conceituação, entre a teoria
e a prática (MORAN, 2007, p. 23).
Ainda de acordo com Moran, é preciso que as escolas e as práticas pedagógicas
compreendam e incorporem novas linguagens. Somente a partir desse trabalho é que será
possível desmitifica-las e dominar as suas possibilidades de expressão e ensino.
A simples introdução dos meios e das tecnologias na escola pode ser a forma
mais enganosa de ocultar seus problemas de fundo sob a égide da
modernização tecnológica. O desafio é como inserir na escola um
ecossistema comunicativo que contemple ao mesmo tempo: experiências
culturais heterogêneas, o entorno das novas tecnologias da informação e da
comunicação, além de configurar o espaço educacional como um lugar onde
o processo de aprendizagem conserve seu encanto (BARBERO, 1996, p.10).
Os investimentos em tecnologias telemáticas de alta velocidade começam a existir
com a função de conectar alunos e professores no ensino presencial e a distancia. Como em
outras épocas, há a expectativa de que novas tecnologias possam trazer soluções rápidas para
mudar a educação. Até que ponto tais investimentos não concorrerão apenas para uma
„parafernália‟ moderna sem afetar o desenvolvimento educacional? “A transformação da
demanda social por novas tecnologias é um processo longo e difícil, mas um processo só
possível através de uma educação diferente das sociedades que, entre outros objetivos, seja
uma educação que fortaleça sua própria cultura” (GÓMEZ, 1999, p. 63).
Assim, os profissionais da educação devem transformar suas práticas de ensino-
aprendizagem no contato com as possibilidades tecnológicas agora disponíveis a eles.
Professores e alunos vivem diariamente os desafios das mudanças nas regras de convivência e
nas formas de acesso às informações. Participa-se de um aprendizado no sentido de romper
paradigmas e práticas rotineiras e os limites físicos da sala de aula e ir além na busca de uma
educação de mais qualidade.
2. A Arte e suas Concepções no Contexto Escolar
O modelo tradicional de ensino da arte estabeleceu-se nas escolas a partir da primeira
reforma educacional da república, que introduziu o Ensino de Desenho nas escolas. Para
Schafer, este modelo foi:
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Inspirado nos princípios liberais (que defendiam a liberdade e a aptidão
individuais) e positivistas (que valorizavam a racionalidade e a exatidão
científica), o ensino do desenho tinha como objetivos principais desenvolver
o raciocínio e preparar o aluno para o trabalho. A metodologia de ensino era
centrada na cópia e na memorização. O professor era o responsável pela
transmissão de conteúdos que deveriam ser absorvidos pelos alunos sem
nenhum questionamento (SCHAFER, 1997, p.25).
Essa concepção sofreu profundas alterações a partir da Semana de Arte Moderna,
quando essa concepção entrou em choque com as potencialidades de movimentos artísticos
como o expressionismo, o futurismo e o dadaísmo. Esse choque acabou por gerar uma
valorização da qualidade estética da arte que era produzida pelas crianças.
O Movimento da Escola Nova, que eclodiu nos anos 30, propiciou reformas
educacionais com o objetivo de democratizar a sociedade brasileira. Estes
fatores geraram uma verdadeira revolução no ensino da arte. Onde o
principal objetivo desta passou a ser o desenvolvimento da criatividade e da
auto-expressão da criança. As atividades passam a centrar-se no fazer
artístico, encorajando a criança a experimentar, improvisar, criar. O foco do
processo educativo se deslocou da transmissão de conteúdos para as
necessidades e interesses do educando (MACHADO, 1985, p.36).
Assim, de acordo com Machado, “a concepção tecnicista de ensino da arte, em
oposição as anteriores, não se baseia em um embasamento teórico sólido” (MACHADO,
1985, p. 36), uma vez que deixa de ser um meio de aprendizagem para ter um fim em si. Com
o aparecimento de uma concepção diferente, a tecnicista, as decisões deixam de ser tomadas
baseando-se na realidade, mas utilizando modelos estrangeiros que apareciam no país.
Com a criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), o ensino da
arte foi instituído no currículo escolar. Mas, neste período, não eram encontrados no país
cursos de arte para a formação de professores. Assim:
A partir de 1973, cursos de Educação Artística foram implementados às
pressas para suprir a demanda criada. A fragilidade conceitual da imensa
maioria dos cursos de Educação Artística levou a uma valorização excessiva
da espontaneidade e da improvisação. Alastrou-se a crença de que a arte é
apenas intuição ou emoção, e que basta fornecer materiais e deixar os
educandos livres para fazerem o que quiserem (PROENÇA, 1989, p. 253).
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Dentro do ensino da arte surgiu também a concepção pós-modernista ou
contemporânea, que foi instituída nos estabelecimentos de ensino a partir da década de 60,
com base em pensamentos de estudiosos estrangeiros. De acordo com Perrenoud, estas ideias:
Ficaram em um primeiro momento, acessíveis somente a um grupo restrito
de estudantes, ou seja, muito poucas escolas tiveram acesso a esta diferença,
pois não havia bibliotecas e bibliografias disponíveis para que se
estabelecessem relações entre a concepção e a realidade vivida. Porém,
apesar das dificuldades, o ensino da arte foi atravessando tal período para se
revelar em todas as linguagens artísticas (PERRENOUD, 2000, p.73).
Com isso, cresceu o número de organizações informais dedicadas ao ensino da arte.
Essas mesmas organizações foram citadas nos Parâmetros Curriculares Nacional, instituídos
em 1997 e 1998. A principal consequência dessa implantação foi a renovação de certo
„prestígio educacional‟ na área de artes. Verificou-se um aumento pelo interesse em museus e
centros de cultura. Além disso, houve um crescimento de empresas interessadas em realizar
projetos na área artística, como festivais de arte de projeção nacional e internacional.
O que de fato muda a partir dos anos 60 na concepção de arte e de ensino da arte, foi,
de acordo com Barbosa, é que se passou a ter “um maior compromisso com a cultura e a
história” (BARBOSA, 1992, p. 87). Nesse contexto, houve transformações profundas. Até
então somente a arte chamada erudita era considerada fonte de prazer estético; a arte popular
era deixada de lado e até mesmo ignorada pela maioria dos estudiosos. Já a cultura de massa
era condenada na sua totalidade. Agora, porém, uma abertura para o multiculturalismo e uma
defesa pela valorização e troca de experiências entre diferentes grupos culturais.
O segundo ponto importante, ainda de acordo com Barbosa, é que essas
transformações também afetaram a maneira como as obras artísticas são apreciadas. Com a
ampliação do conhecimento em torno da história da arte e das próprias linguagens, também se
ampliou as possibilidades de expressão e interpretação, ou seja, se estimulou o
desenvolvimento da sensibilidade e o exercício da reflexão da arte. A consequência disso não
é apenas um sujeito com um olhar mais crítico em relação à sociedade em que está inserido,
mas também um sujeito com maior capacidade de fruição artística, com um maior
entendimento estético.
Pode-se dizer que, no Modernismo, se dava mais ênfase aos aspectos formais de uma
obra de arte, pois, se entendia que isto era suficiente para se compreender uma obra na sua
totalidade. Na atualidade, a preocupação maior é com o contexto em que aconteceu a
produção da obra, e também o contexto em que se encontra o observador.
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O terceiro aspecto que deve ser destacado, de acordo com Barbosa, é que com as
novas tecnologias, com as novas formas de pesquisa e estudo, “as propostas presentes hoje no
ensino da arte estimulam a ampliação do conceito de criatividade, com o aprofundamento do
conhecimento, ou seja, substitui a visão ingênua e emocional sobre o fazer da arte”
(BARBOSA, 1992, p. 92).
Assim, a originalidade deixou de ser o objetivo central da arte. A obra de arte ganhou
camadas de significação social e cultural. Isso quer dizer que a obra de arte não pode ser
entendida mais isoladamente. O seu contexto de produção, seu autor, de que maneira foi
produzida, as técnicas que foram utilizadas, os materiais, as ideias, as referências, onde a obra
está exposta, quem a aprecia... todos fazer parte de uma grande equação, e é justamente nessa
amplitude de leitura é que ela possui algum sentido, mesmo que não tenha um sentido em si.
Dessa forma, pode-se dizer que os três pontos levantados acima representam novos
paradigmas para o ensino da arte. Como afirma Machado:
A visão da arte em uma perspectiva cultural, a valorização da bagagem
cultural do educando, a ênfase no respeito e no interesse por diferentes
culturas, a proposta de desenvolver a capacidade de leitura crítica e atenta de
obras de arte e do mundo no qual estão inseridas, a ampliação do conceito de
criatividade, enfim, todos estes fatores significam uma incrível ampliação do
poder da arte de transformar potenciais em competências (MACHADO,
1985, p. 90).
O educador exerce um papel fundamental dentro da concepção contemporânea de arte-
educação. Cabe a ele a tradução e adequação dos saberes em ações didáticas, procurando
despertar nos educandos a vontade de apreender, interpretar, elucidar, e aperfeiçoar-se. Para
que o professor obtenha sucesso naquilo que faz em sala de aula, faz-se necessário planejar,
introduzir, animar, coordenar, conduzir a um fechamento. Todas estas ações são guiadas por
um conjunto de valores. Assim, quando o professor tem clareza sobre os valores por trás de
suas decisões, pode direcionar os esforços de modo mais produtivo.
O americano Elliot Eisner, um dos principais responsáveis pelas ideias que estão
transformando o campo da arte-educação atualmente, afirma:
[...[ que para levar aos educandos a arte em toda sua profundidade é
imprescindível que o ensino tenha uma estrutura. Isso chama atenção em
especial para a necessidade de seqüência quando elaborada com inteligência
serve para desenvolver aquilo que os estudantes já aprenderam e os prepara
para o que irão aprender, ajudando a internalizar os conteúdos de suas
experiências (EISNER, 1999, p. 89).
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Portanto, refletir sobre experiências de ensino vividas pelos educadores, é um ponto
muito importante para que o ensino da arte se esquematize e se concretize como proposta
didática, buscando uma reflexão própria sobre o modo de ensinar.
2.1 A Pop Art
Pop art, do inglês „arte popular‟, é um movimento artístico surgido na década de 1950
no Reino Unido e nos Estados Unidos, sendo que o ápice do movimento ocorreu nos anos 60
e 70, com o destaque de artistas como o norte-americano Andy Warhol. São comuns as
afirmações de que a pop art é o marco da passagem da modernidade para a pós-modernidade
na cultura ocidental.
O modernismo é a crise da representação realista do mundo e do sujeito na
arte. A estética tradicional fracassa ao captar um mundo cada vez mais
confuso e um individuo cada vez mais fragmentado. Novas linguagens
deveriam surgir para que um sujeito caótico pudesse não representar, mas
interpretar livremente a realidade, segundo sua visão particular. Para isso, a
nova estética modernista cavou um fosso entre arte e realidade. A arte fica
autônoma, liberta-se da representação das coisas (a fotografia já o fazia
muito melhor), decretando o fim da figuração, usando a deformação, a
fragmentação, a abstração, o grotesco, a assimetria, a incongruência.
(SANTOS, 2006, p.33).
Ao contrário do que parece, essa „arte popular‟ que define tal movimento não tem
nada a ver com as noções folcloristas da arte. A pop art enquanto movimento abraça as
diversas manifestações da cultura de massa, da cultura feita para as multidões e produzida
pelos veículos de comunicação.
O contexto histórico é marcado pelo reerguimento das grandes sociedades industriais
outrora destruídas pelos efeitos da segunda Guerra Mundial. Dessa forma, adotou os grandes
centros urbanos norte-americanos e britânicos como o ambiente para que seus primeiros
representantes os tomassem de inspiração para criar as suas obras. Peças publicitárias,
imagens de celebridades, logomarcas e quadrinhos, etc.
Os integrantes da pop art conseguiram chamar a atenção do público ao buscar
inspiração em elementos que, em tese, não eram conhecidos como arte e por criticar o
consumo desenfreado e o status das grandes marcas. Grandes estrelas do cinema, revistas em
quadrinhos, automóveis modernos, aparelhos eletrônicos ou produtos enlatados foram
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matéria-prima para que as impressões e ideias desses artistas assinalassem o poder de
reprodução e a efemeridade daquilo que é oferecido pela era industrial.
Ao envolver elementos gerados pela sociedade industrial, a pop art realiza um duplo
movimento capaz de nos revelar a riqueza de sua própria existência. Por um lado, ela expõe
traços da sociedade marcada pela industrialização, pela repetição e criação de ícones
instantâneos. Por outro, questiona os limites do fazer artístico ao evitar o pensamento
autonomista e abranger os fenômenos de seu tempo para então conceber suas criações
próprias. Os materiais mais usados pelos artistas da pop art eram derivados das novas
tecnologias que surgiram em meados do século XX. Goma espuma, poliéster e acrílico foram
muito usados pelos artistas plásticos do movimento.
2.2 Os Artistas Pop dos anos 50 do século XX
Andy Warhol
Em seu registro de nascimento consta Andrew Warhola, nome que logo foi esquecido
diante da redução artística. Andy Warhol é filho de eslovenos, que imigraram para os Estados
Unidos durante a Primeira Guerra Mundial.
Logo que começou a estudar, desenvolveu uma doença do sistema nervoso que lhe
provocava movimentos involuntários nas extremidades. Á princípio os médicos acreditavam
se tratar de uma doença escarlatina que causava manchas de pigmentação na pele, e isso
contribuiu para que Warhol se tornasse um hipocondríaco com medo de médicos e hospitais.
Ficar muito tempo de cama, fez dele um excluído entre os seus colegas de escola, e a ligação
com a sua mãe se tornou cada vez mais forte. Muitas vezes quando acamado, ele desenhava,
ouvia rádio e recortava das revistas os seus ídolos do cinema e colecionava estas imagens.
Mais tarde descreveu esse período como muito importante no desenvolvimento de sua
personalidade, do conjunto de suas habilidades e desenvolvendo de suas preferências
artísticas.
Aos 17 anos, em 1945 ingressou no Instituto de Tecnologia de Carnegie, em Pittsburg,
hoje conhecida como Universidade Carnegie Mellon, onde se formou em design. Formado, se
mudou para Nova York, e seu primeiro emprego foi como ilustrador de importantes revistas,
como a Vogue, Harper‟s Bazaar e The New Yorker, e também trabalhou com anúncios
publicitários e displays para vitrines de lojas. Essa diversidade de atividades e suas
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habilidades lhe garantiram uma carreira de sucesso como artista gráfico, ganhando inclusive
prêmios como Diretor de Arte. Em 1952 fez sua primeira mostra individual exibindo quinze
desenhos, todos baseados na obra de Truman Capote, pioneiro do jornalismo literário. E esta
série de trabalhos foi mostrada por muitos lugares durante os anos 50, inclusive no MOMA. A
partir daí começou a assinar suas mostras como Warhol.
Mas a maior reviravolta acontece nos anos 60. Suas obras ganham muita visibilidade,
sobretudo por usar motivos e conceitos da publicidade em suas obras, como as tintas acrílicas,
as cores fortes e brilhantes. Ele reinventando a própria pop art com a reprodução mecânica e
recursos serigráficos, da mesma forma que com o uso da colagem e de materiais descartáveis.
Em suas obras estavam temas do cotidiano e os artigos de consumo. Utilizou imagens
das latas de sopas Campbell e as garrafas de Coca-Cola, além de rostos de artistas conhecidos,
inclusive de seus ídolos, como Liz Taylor, Elvis Presley, Marilyn Monroe e Che Guevara. E
também desconstruiu obras de arte já famosas e consagradas, como a Mona Lisa, ao
reproduzi-la em várias cores diferentes.
Não se sentindo bem em janeiro de 1987, internou-se em um hospital em Nova York
para exames e teve que se submeter a uma cirurgia de vesícula. Mesmo sendo um
procedimento simples, durante o pós-operatório, sofreu com uma alteração nos batimentos
cardíacos (arritmia cardíaca) e faleceu aos 59 anos.
Um dos mais prestigiados artistas plásticos da história deixou esta célebre frase: “No
futuro todos serão famosos durante quinze minutos, só se aplicará no futuro, quando a
produção cultural for totalmente massificada em que a arte será distribuída por meios de
produção de massa”.
Roy Liechtenstein
Roy Liechtenstein é um pintor estadunidense nascido em 27 de outubro de 1923 na
cidade de Nova York. Tendo interrompido seus estudos em conseqüência da Segunda Guerra
Mundial, ganhou a vida como desenhista, mas também foi professor de artes e decorador de
vitrines. Em 1956 realizou a litografia de uma nota de dólar, que atribuiu a ele o protótipo da
obra de arte pop. Influenciado por seus amigos Lasar Segal e Jim Dine, nos anos 60, Roy
construiu a imagem que o levou a imortalidade. Obras com motivos da publicidade e da
sociedade de consumo, fazendo sempre uma critica ferrenha ao capitalismo.
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Em 1960, desenhando o rato Mickey para os seus filhos, desenvolveu o interesse pelas
histórias em quadrinhos. Nos seus quadros à óleo e tinta acrílica, ampliou as características
das histórias em quadrinhos e dos anúncios comerciais.
Roy Liechtenstein, na década de 60, foi o artista plástico que mais discutiu a cultura de
massa e o universo imagético norte-americano, através de exposições de desenhos. Apontado
como um dos mais importantes artistas da pop art do século XX, trazia em seus quadros uma
reflexão sobre a própria linguagem e as formas artísticas, trabalhando com a relação a arte
comercial e abstração.
Liechtenstein mostrou que as imagens que veiculavam pelos canais de comunicação
em massa, que em sua maioria eram vulgares e banais, eram meticulosamente produzidas com
a finalidade de esvaziar o pensamento, rebaixar a leitura e a escrita, transformar a fala numa
forma de expressão repleta de gírias e balbucios sem sentido.
Richard Hamilton
Richard Hamilton nasceu em 24 de fevereiro de 1922 em Londres, de uma família
humilde. Abandonou a escola só com o conhecimento básico e foi trabalhar numa firma de
eletrônicos, onde descobriu sua vocação e habilidade para o desenho. Teve sua primeira
exposição individual em 1950 na galeria Gimpel Fils e em seguida foi professor e divulgador
de Marcel Duchamp, pintor, desenhista e gravador. A partir dos anos 50, Hamilton se tornou
muito influente no meio artístico, apresentando obras com ligações com o cotidiano,
traduzindo várias impressões audiovisuais muito típicas da cultura contemporânea e isso
contribuiu para que ele recebesse o titulo de “Pai da pop art”, mesmo não tendo muita
identificação pessoal com o estilo.
Comparando sua obra com os movimentos artísticos existentes na época em Nova
York dos anos 60, pode-se dizer que ela é sutil e multifacetada. Hamilton usa imagens do dia
a dia para refletir fenômenos sociais e a fronteira entre o produto e a obra de arte.
Nas décadas de 60 e 70, Hamilton resolveu criticar seu próprio estilo, sendo que uma
das suas obras mais conhecidas se chama “O Crítico Ri”, que consiste em uma prótese
dentária fixada na ponta de uma escova de dentes elétrica, que vibra freneticamente quando se
aperta um botão.
Richard evitava se prender em uma determinada técnica. Ele declarou em uma
entrevista à televisão alemã que: “Estilo nunca me interessou muito, sempre achei que meus
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quadros são livres de estilo, assim como de gosto, o que não é inteiramente verdadeiro, pois
agora reconheço que, no decorrer do tempo, uma certa personalidade se tornou visível”.
“O que a mídia faz conosco?”, perguntava-se Richard já nas décadas de 40 e 50, logo
após a Segunda Guerra Mundial. “De que se compõe nosso mundo, que processos o
estruturam, como percebemos e compreendemos?”. A partir de questionamentos como esses,
Hamilton disseca nosso presente, reconstruindo-o de forma inesperada, sem deixar de
acrescentar ironia e fortes pinceladas desmascaradoras. O museu Ludwig em Kolonia na
Alemanha possui o maior acervo hamiltiano em todo o mundo, com cerca de 180 peças.
Cláudio Tozzi
O artista brasileiro que mais se aproximou das características da pop art norte-
americana foi Cláudio Tozzi, admirador do americano Roy Liechtenstein. Tozzi, entretanto,
transpôs de forma pessoal e pictórica a proposta da pop art estrangeira. Ele construiu sua
própria linguagem neste universo de técnicas, meios e suportes para um espaço especifico, o
Brasil dos anos 60.
Tozzi foi um jovem estudante de arquitetura da Universidade de São e sempre esteve
envolvido com movimentos políticos e sociais, no contexto da ditadura militar. Tozzi
vivenciou de perto toda a opressão e repressão do regime, o que tentou denunciar em seus
trabalhos. Esse cenário, completado pelos protestos contra as guerras do Vietnã, a morte de
Che Guevara - um ícone para a juventude brasileira -, a posição do Brasil como terceiro
mundo e ainda a chegada do homem a lua, conseguiram reverberação na obra de Tozzi.
Tozzi é um artista que está sempre em busca de novos resultados de suas pesquisas,
vive em um contínuo processo de experimentação, sobretudo da técnica chamada de
“pontilhismo reticular”, que substitui os pincéis por rolos de borracha reticulada,
proporcionando ao expectador a visualização, a olho nu, de uma infinidade de pontinhos.
Ainda jovem foi considerado pela critica como um dos dez melhores pintores da
década, e até hoje é considerado um dos mais expressivos artistas do cenário nacional,
justamente pela diversidade temática do conjunto de suas obras. Claudio Tozzi revela-se um
arquiteto construtor de imagens, e, para muitos, um marco divisório da arte contemporânea no
país.
3. Análise dos Resultados da Pesquisa
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A intervenção no Colégio Estadual Padre Sigismundo, de Quedas do Iguaçu, partiu do
questionamento: Afinal, o que é arte? Dentro da sala de aula, muitas opiniões surgiram,
muitas ideias, e foi entendida, basicamente, como: 1) a expressão da criatividade humana, 2) a
capacidade de se criar objetos esteticamente bonitos, 3) são as pinturas que embelezam
ambientes, 4) são as esculturas que estão em parques, salões, ambientes luxuosos, e assim por
diante.
E quanto vale uma obra de arte? A avaliação de uma obra de arte envolve inúmeros
conceitos que variam de obra para obra, não existe um padrão pré-estabelecido. Cada obra de
arte é única. Em termos financeiros, as obras de óleo sobre tela ainda são as mais valorizadas,
mas isso tem ainda várias escalas, tudo depende do tamanho da obra, a técnica, o valor
histórico, a origem e assim por diante.
A partir destes simples questionamentos, conduzi a implementação do Projeto de
Intervenção na Escola, com apoio do material didático. Comecei com uma caminhada, o mais
interativa possível, por entre a história da arte, comentando os fatos históricos e políticos mais
impactantes na sociedade. Nesta etapa, os alunos acompanharam a explanação por meio de
uma „visita guiada‟ a sites sobre arte. Foi um passeio virtual orientado que prendeu a atenção
dos alunos desde o início.
Em seguida, cada aluno escolheu um artista com o qual tenha se identificado e,
novamente com o auxílio da internet, teve de pesquisar mais afundo sobre ele. Como material
de apoio, também foram fornecidas edições da Revista Bravo! que traziam materiais sobre
aquele determinado artista. Os alunos tiveram de buscar informações com relação a sua
influência histórica, sobre o valor de suas obras, sobre as críticas que cada um deles fazia à
sociedade e de que maneira essa crítica foi produzida. O resultado dessa pesquisa cada aluno
teve de apresentar à sala de aula de forma oral com apoio de slides e datashow.
Após comentários e observações de algumas obras de arte, reproduzidas com auxilio
do Pen-drive na TV, concentramos o andamento das aulas seguintes no tema pop art. A
atividade sugerida começou com a observação dos materiais utilizados pelos artistas desse
movimento na confecção da arte pop. Se tentou evidenciar, nas composições plásticas, os
temas vindos da cultura de massa com o intuito de, a partir subversão e ressignificação desses
elementos, criticar e ironizar a sociedade capitalista e consumista.
Em meio a essa reflexão, os alunos perceberam que é possível se expressar
artisticamente a partir da utilização de materiais simples presentes no cotidiano deles,
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materiais que eles mesmos não pensavam ser úteis para uma produção de caráter estético e,
sobretudo, de caráter crítico.
Nesse sentido, começamos a discutir quais seriam os grandes problemas da sociedade
atual, com o objetivo de escolher um tema de trabalho para a produção de um ensaio
fotográfico e de obras de arte inspiradas na pop art, porém voltadas aos problemas da
sociedade atual.
Os alunos chegaram à consideração de que a sociedade atual produz muito lixo, seja
ele doméstico, industrial ou tecnológico. Busquei então complementar a discussão com
leituras informativas sobre o lixo no Brasil, onde percebemos que cada brasileiro, em média,
produz 378 quilos de lixo por ano. Desse montante, apenas 1,4% é reciclado.
Em seguida, foram formados grupos e cada grupo escolheu um determinado material
para a construção de uma obra de arte. Os materiais disponibilizados foram: lixo doméstico,
lixo eletrônico, lixo mecânico e sobras de madeira de fábricas de móveis. Um grupo ficou
com a máquina fotográfica e foi a campo buscar imagens das condições e situações em que
encontramos lixo de diferentes origens.
A grande mudança produzida no final do século XX foi a digitalização dos sistemas
fotográficos. O mundo da fotografia digital, por celular ou câmeras digitais, reduziu custos e
facilitou a produção de imagens. O aperfeiçoamento da tecnologia de reprodução digital
quebrou barreiras no uso das tecnologias fotográficas dentro da educação, afinal de contas, o
sistema de filmes e fotos impressas era bastante inviável ao cotidiano escolar.
O que muitas vezes incomoda os professores durante as aulas, o celular, acabou sendo
um aliado para produzir materiais de pesquisa. Foi o que aconteceu com as fotografias tiradas
pelos alunos de situações de lixo. Essas fotografias foram utilizadas no processo de
investigação do nosso dia-a-dia, pois foi mediante as imagens obtidas de lugares que cercam
os alunos, eles puderam registrar e documentar suas relações históricas, sociais e econômicas,
o que facilita o processo de ensino aprendizagem. Com a produção do ensaio fotográfico, os
alunos puderam desenvolver o seu senso visual e, ao mesmo tempo, fez com que eles
reparassem nas suas comunidades locais onde são depositados lixos de forma inadequada.
Essas imagens colaboraram ainda no desenvolvimento das peças artísticas.
No começo da atividade, alguns alunos apresentavam ressalvas, dizendo que não sairia
nada de interessante nas composições com estes materiais, mas, aos poucos, conforme iam
produzindo, se integraram a equipe e se empolgaram na produção. Os alunos se mostraram
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ainda mais animados com a exposição das obras na escola, já que todos os alunos da
instituição podiam ver as peças durante o intervalo.
“No início, achamos que com lixo não era possível fazer arte, mas com auxilio das
cores fortes, construímos um painel que realmente chamou atenção”, disse uma aluna após a
conclusão da atividade. Registrei também a opinião de outro aluno. “O nosso objetivo era a
conscientização sobre a geração desse lixo doméstico. A gente não tem noção da quantidade
que é gerado no nosso dia-a-dia, por isso achamos a atividade muito boa”. Uma aluna do
grupo que lidou com madeira, também comentou: “Aquilo que eu via no final de semana virar
fumaça, agora enfeita ambiente, achei sensacional”. Já um aluno do grupo de lixo eletrônico,
apontou que: “O trabalho com a Arte Eletrônica foi muito importante para nós percebermos
que o lixo pode ser reaproveitado para fazer arte. Baterias, pilhas, CDs , cabos, teclados e
etc... que prejudicam o meio ambiente, no trabalho descobrimos como fazer esses materiais
serem utilizados após o seu uso, para criar outras obras de decoração, e ao mesmo tempo
mostrar à sociedade a importância disto”. O grupo que trabalhou com o lixo mecânico se
empolgou muito. Deles, coletei a seguinte afirmação: “Ao invés de enferrujar no meio
ambiente, o lixo das oficinas mecânicas e bicicletarias, deveriam ter um fim muito melhor. O
que se pode construir com esses materiais de descarte é muito interessante, basta ter
imaginação”. Outro aluno complementou com um pouco de ironia: “Grandes artistas talvez
nem saibam disso”. O grupo responsável pelas fotografias, não apenas produziu ótimas
imagens, como também se prontificou a buscar ajuda dos órgãos públicos para o
desenvolvimento de um trabalho de conscientização da população sobre a destinação do lixo.
“A falta de conscientização sobre o destino do lixo ainda é muito grande. As pessoas não
sabem dar o destino certo ao lixo, ou acham mais cômodo jogar em qualquer lugar”.
Foi interessante perceber como a concepção de arte dos alunos mudou. Parece ter sido
impactante eles perceberam que a tecnologia de ontem é o lixo de hoje e que a tecnologia de
hoje pode ser o lixo de amanhã. E esse lixo é realmente perigoso, sobretudo devido ao risco
que oferece à saúde, por conter materiais pesados, como chumbo, mercúrio e outros materiais
tóxicos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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A título de considerações finais, considero fundamental refletir sobre as tendências
que influenciaram e que continuam influenciando o ensino-aprendizagem da arte. Da mesma
forma que se mostrou essencial o conhecimento, pelo menos básico, das novas tecnologias
para se conseguir a integração delas com as atividades de sala de aula. Assim, espera-se que
este estudo possa ajudar os professores de arte, da mesma forma que me ajudou.
Enquanto professores, precisamos compreender que, enquanto sujeitos históricos,
integramos o processo histórico ao determiná-lo e ser determinado por ele. Assim, precisamos
perceber que para intervir e modificar o momento em que vivemos, faz-se necessário um
conhecimento e um entendimento dos contextos sociais e culturais, o que favorecerá a prática
de uma ação transformadora no processo de ensino-aprendizagem da arte.
Entender o contexto escolar ajuda a repensarmos as práticas pedagógicas nas
instituições de ensino, visto que as relações sociais se modificam a todo instante e assim deve
ser também o ambiente escolar. Não podemos deixar de considerar também que, infelizmente,
alguns professores ainda desconhecem as práticas básicas do ensino da arte.
Para tanto, os professores precisam estar interados das tendências pedagógicas e
curriculares presentes nas Diretrizes Curriculares, estabelecendo métodos e formas que
dialoguem com as possibilidades das novas tecnologias. Com certeza, a atuação do professor
em sala de aula, deve estar fundamentada e baseada em uma postura pedagógica concreta e
coerente com aquilo que está sendo proposto aos alunos.
Desse modo, o objetivo do ensino de arte na escola, ao meu ver, é desenvolver no
aluno um olhar mais crítico em relação a arte e à própria sociedade. As novas tecnologias,
nesse contexto, auxiliam com a ampliação do acesso as obras e no desenvolvimento neles da
sensibilidade visual para fruição artística e no aumento da consciência crítica e capacidade
reflexiva.
É importante ressaltar também que tecnologias, como as máquinas fotográficas e os
celulares, acabam por democratizar a produção artística. Os alunos tem a possibilidade de se
expressar artisticamente de forma mais fácil e barata sem que isso implica em baixa
qualidade.
A pop art, quando surgiu nas décadas de 1940 e 1950, buscou criticar o
comportamento da cultura de massa, pautada pelo capital e pelo consumo. Seis décadas
depois, a sociedade ainda vive no ritmo frenético do consumismo e do materialismo. O
quadro é basicamente o mesmo e essa comportamento, da mesma forma que nos anos 50, tem
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gerado toneladas de lixo, que agridem o meio ambiente e a nossa saúde. Estamos nos
autodestruindo.
As atividades deste estudo foram realizadas de forma a fazer com que o aluno
percebesse o quanto a arte tem valor, não apenas financeiro, mas também simbólico. É
comum os alunos afirmarem que, para eles a arte não tem valor algum, que a arte é apenas
um objeto decorativo, que a arte se resume a quadros pintados. Se pedirmos um exemplo de
arte, sem hesitar, respondem: “Mona lisa”.
Com este trabalho os alunos tiveram a oportunidade de pesquisar a importância da
obra em relação a história. Ao pesquisar os artistas puderam perceber o modo de pensar e
viver dessas pessoas, que, através da arte, se consagraram imortais, e que não só trabalharam
para se divertir, mas sim para conscientizar o ser humano.
Nesse sentido, se pensou juntamente com os alunos de que forma se poderia utilizar o
próprio lixo na produção de obras de arte inspiradas no movimento da arte pop, que
contivessem uma leitura crítica da atual sociedade consumista. Nesse processo foram
utilizados também alguns conceitos da publicidade, para se entender as estratégias de
persuasão e convencimento. O objetivo era evidenciar para os alunos a importância de uma
sociedade mais justa e comprometida com o futuro do planeta por meio do consumo
consciente.
Essa abordagem também tornou mais evidente para os alunos a quantidade e a
variedade de materiais que eles podem utilizar na confecção de obras de arte. Os alunos
utilizaram, por exemplo, pedaços de madeira ou MDF em formas irregulares e cola fria ou
quente para colar e sobrepor. Criaram imagens originais que expressão sua visão de mundo.
Assim, o professor precisa ter o prazer de ensinar e o de aprender também, juntamente
com os seus alunos, tendo como base um trabalho pedagógico construído a partir dos estudos
na área de arte-educação e tecnologia. Isso colabora com a ampliação do repertório dos alunos
e demonstra um comprometimento com sua formação cultural, visando a construção da
cidadania e a transformação social.
Portanto, cabe aos professores de arte permanecer vigilantes e atentos, para que
saibam escolher e desenvolver corretamente práticas pedagógicas adequadas às novas
tecnologias. A formação social desses alunos também depende dos professores de arte.
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ANEXOS
ANEXO 01: ENSAIO FOTOGRÁFICO PRODUZIDO PELOS ALUNOS
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ANEXO 02: FOTOS DA PRODUÇÃO
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ANEXO 03: OBRAS E EXPOSIÇÃO
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