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O IBGE E AS REGIONALIZAÇÕES OFICIAIS Entre as ações altamente centralizadoras promovidas pelo Estado brasileiro a partir da década de 1930 encontra –se a criação de uma série de órgãos gestores que auxiliaram a execução do plano de desenvolvimento de integração nacional do país. Neste contexto, foi criado o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que tornou –se responsável pela realização de levantamentos de dados estatísticos a respeito das realidades municipais, estaduais e regionais, assim como pelo tratamento e pela análise dessas informações. Desde então, os levantamentos tem sido feitos por meio de recenseamentos (censos) periódicos realizados em todo o país. O IBGE tem criado propostas oficiais de regionalização do espaço geográfico brasileiro, de forma a auxiliar no planejamento das ações estatais. A primeira dessas propostas foi apresentada em 1940 e baseou –se em critérios de região natural, ou seja, privilegiava aspectos como a forma dos relevos, o clima e a vegetação. Entretanto, grandes transformações no espaço e na organização interna do país, como a formação de centros urbanos – industriais, a expansão da fronteira agrícola e outras atividades econômicas e o crescimento da população nacional vieram a promover profundas mudanças no perfil geográfico do Brasil. Essa nova realidade obrigou o IBGE a reformular a proposta de regionalização do país adotando, assim, os critérios de região homogênea, insto é, baseada em aspectos de ordem socioeconômica e demográfica. É importante destacar que esses critérios de regionalização consideravam os limites estaduais, uma vez que, era mais fácil a obtenção de informações. Atual Divisão Regional do Brasil: 1. Norte: maior região do país. É caracterizada pela presença da floresta Amazônica e pela baixa densidade demográfica, devido a sua grande extensão territorial. 2. Nordeste: possui o segundo maior contingente populacional do país, e ao longo dos anos foi o grande foco de fluxos migratórios nacionais. Ainda que exista um crescimento econômico adquiro nos últimos anos, sua população ainda enfrenta grandes problemas sociais. 3. Centro – Oeste: caracterizada pela forte presença de fronteiras agrícolas, com atividades de agropecuária extensiva e moderna. 4. Sudeste: região mais populosa e industrializada do país, com atividades agrícolas modernas e bem desenvolvidas. Também possui problemas sociais, principalmente nas grandes cidades. 5. Sul: menor das regiões brasileiras, destaca –se pelas atividades agrícolas modernas e pela presença do segundo maior parque industrial do país. Além disso, destaca –se as excelentes condições de vidas de algumas das suas cidades, especialmente as interioranas. AS SUPERINTENDÊNCIAS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL Desde duas origens os órgãos públicos de gestão territorial estiveram voltados ao planejamento regional, com o objetivo de investigas os desequilíbrios socioeconômicos do país. Assim, o governo federal criou as Superintendências de Desenvolvimento Regional com o propósito de

As regionaliações do brasil

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O IBGE E AS REGIONALIZAÇÕES OFICIAIS

Entre as ações altamente centralizadoras promovidas pelo Estado brasileiro a partir da década de 1930 encontra –se a criação de uma série de órgãos gestores que auxiliaram a execução do plano de desenvolvimento de integração nacional do país.

Neste contexto, foi criado o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que tornou –se responsável pela realização de levantamentos de dados estatísticos a respeito das realidades municipais, estaduais e regionais, assim como pelo tratamento e pela análise dessas informações. Desde então, os levantamentos tem sido feitos por meio de recenseamentos (censos) periódicos realizados em todo o país.

O IBGE tem criado propostas oficiais de regionalização do espaço geográfico brasileiro, de forma a auxiliar no planejamento das ações estatais. A primeira dessas propostas foi apresentada em 1940 e baseou –se em critérios de região natural, ou seja, privilegiava aspectos como a forma dos relevos, o clima e a vegetação. Entretanto, grandes transformações no espaço e na organização interna do país, como a formação de centros urbanos – industriais, a expansão da fronteira agrícola e outras atividades econômicas e o crescimento da população nacional vieram a promover profundas mudanças no perfil geográfico do Brasil. Essa nova realidade obrigou o IBGE a reformular a proposta de regionalização do país adotando, assim, os critérios de região homogênea, insto é, baseada em aspectos de ordem socioeconômica e demográfica. É importante destacar que esses critérios de regionalização consideravam os limites estaduais, uma vez que, era mais fácil a obtenção de informações.

Atual Divisão Regional do Brasil:

1. Norte: maior região do país. É caracterizada pela presença da floresta Amazônica e pela baixa densidade demográfica, devido a sua grande extensão territorial.

2. Nordeste: possui o segundo maior contingente populacional do país, e ao longo dos anos foi o grande foco de fluxos migratórios nacionais. Ainda que exista um crescimento econômico adquiro nos últimos anos, sua população ainda enfrenta grandes problemas sociais.

3. Centro – Oeste: caracterizada pela forte presença de fronteiras agrícolas, com atividades de agropecuária extensiva e moderna.

4. Sudeste: região mais populosa e industrializada do país, com atividades agrícolas modernas e bem desenvolvidas. Também possui problemas sociais, principalmente nas grandes cidades.

5. Sul: menor das regiões brasileiras, destaca –se pelas atividades agrícolas modernas e pela presença do segundo maior parque industrial do país. Além disso, destaca –se as excelentes condições de vidas de algumas das suas cidades, especialmente as interioranas.

AS SUPERINTENDÊNCIAS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Desde duas origens os órgãos públicos de gestão territorial estiveram voltados ao planejamento regional, com o objetivo de investigas os desequilíbrios socioeconômicos do país. Assim, o governo federal criou as Superintendências de Desenvolvimento Regional com o propósito de

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diminuir essas desigualdades e promover maior integração do território nacional.

A partir da década de 1960 vários projetos para a introdução de indústrias e a modernização de atividades agropecuárias passaram a ser implantadas nas regiões Norte, Nordeste, Centro – Oeste e Sul por meio das superintendências: SUDAM, SUDENE, SUDECO e SUDESUL, respectivamente. Esses órgãos concediam incentivos fiscais para empresas do Centro –Sul e multinacionais que quisessem se instalar nestas regiões.

Algumas ações podem ser destacas como as mais importantes como a criação da Zona Franca de Manaus pela Sudam; o incremento de atividades industriais em Salvador, Recife e Fortaleza pela Sudene; a implantação de complexos agroindustriais em Goiás; Mato Grosso e Mato Grosso do Sul pela Sudeco; e a implantação de rodovias e portos na região sul pela Sudesul.

Entretanto, projetos desenvolvidos por essas superintendências acabaram beneficiando as elites regionais, formadas por fazendeiros, industriais e grandes empresários, ou tiveram suas verbas desviadas por políticos. Isso levou tais órgãos a serem extintos pelo governo federal: a Sudeco e a Sudesul em 1990 e a Sudam e a Sudene em 2001, estas duas últimas substituídas pelas chamadas agências de desenvolvimento Adam e Adene, respectivamente.

AS REGIÕES GEOECONÔMICAS OU OS COMPLEXOS REGIONAIS

Desde o final da década de 1980, a intensidade dos fluxos migratórios inter-regionais vem diminuindo

sistematicamente. O esgotamento da oferta de empregos e a concentração fundiária nas antigas fronteiras agrícolas do Centro – Oeste produzindo um assentamento demográfico sem precedentes na história brasileira: uma vez que procura novas oportunidades, o trabalhador tende a realizar suas buscas dentro da região de origem.

As “manchas” alta densidade demográfica predominam em porções significativas do Sudeste e do Sul, acompanhando as áreas de influencia direta das capitais litorâneas nordestinas e assinalam a localização de polos urbanos como Brasília, Goiânia, Cuiabá, Belém e Manaus.

A dinâmica regional brasileira reflete as grandes tendências econômicas e demográficas de apropriação e valorização do território. O processo de integração nacional, impulsionado pela modernização industrial do Sudeste, não encontra tradução precisa na divisão regional oficial. Então, em 1961, o geógrafo Pedro Pinchas Geiser propôs uma divisão do país em três Regiões Geoeconômicas ou Complexos Regionais, com base em critérios diferente daqueles usados pelo IBGE. Mais do que características naturais e econômicas singulares, os complexos regionais espelham, no plano espacial, os resultados da integração econômica promovida pela concentração industrial no Sudeste. Assim, abrange regiões produtivas com características desiguais, mas que foram soldadas pela emergência de um mercado interno unificado.

Diferente da regionalização proposta pelo IBGE, essa lógica de complexos regionais na segue os limites estaduais. Dessa forma, o norte semiárido de Minas Gerais integra a região geoeconômica do Nordeste; o oeste do Maranhão integra a região geoeconômica da Amazônia; e o Tocantins e Mato Grosso estão divididos entra a Amazônia e o Centro – Sul.

Em 1960, quando Pedro Geiger elaborou sua proposta, o Centro – Sul já se consolidara como o coração econômico do Brasil.

O Centro – Sul expressa a integração econômica do Sudeste industrial e financeiro com o Sul agrícola e industrial. Também espelha a expansão

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da agropecuária moderna para a porção meridional o Centro – Oeste e a transferência da cidade – capital para o Brasil central.

O Complexo Nordeste abrange a vasta região de povoamento antigo e a apropriação produtiva baseada em estruturas agrárias e sociais arcaicas. Na época da elaboração da proposta de Geiger, o Nordeste ainda era um vasto polo de repulsão demográfica – destacando – se na questão da pobreza e do desigual desenvolvimento regional.

O Complexo da Amazônia coincide, essencialmente, com o Domínio Amazônico. Ele expressa a existência de uma fronteira de expansão da economia nacional, que é tanto demográfica quanto de recursos.

A divisão em complexos regionais ou regiões geoeconômicas não tem finalidade estatística como a divisão regional oficial, mas, surgiu como síntese geográfica de um século de integração nacional e continua a ser um instrumento de compreensão da dinâmica de valorização do território nacional.

MILTON SANTOS E A REGIÃO CONCENTRADA

Na obra “O Brasil: território e sociedade no inicio do século XXI” de Milton Santos e Maria Laura Silveira (2001), é apresentado o conceito de meio técnico –científico-informacional. É por meio desta ideia que é proposta uma nova regionalização do Brasil.

O meio técnico é o produto da era industrial, caracterizado pelas redes ferroviárias e de infraestrutura inseridas por essa atividade e que se sobrepõe ao meio natural. Na revolução “tecnicocientífica”, os territórios são reestruturados pelas infraestruturas que sustentam as redes de informação e passam a desenhar as novas funções da economia de fluxos globalizada. O ingresso do Brasil na era da informação impulsiona uma atualização do seu território. A nova regionalização proposta destina –se a captar a transformação em curso.

Assim, propõem –se a criação da Região Concentrada, que caracteriza –se pela densidade do sistema de relações que intensifica os fluxos de mercadorias, capitais e informações. Seu núcleo de comando é a capital paulista, que desempenha funções de cidade global e reforça o comando sobre o território nacional. Considerando esses critérios, há uma soldagem do Sul e do Sudeste que reflete uma descentralização industrial recente.

A nova proposta de divisão regional é uma síntese de um discurso geográfico sobre o Brasil e a globalização, cabendo, ainda, muitos debates sobre a mesma.