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AS VÁRIAS FASES DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL A Revolução Industrial marca a mudança no setor, com o desenvolvimento de vários avanços e transformações, principalmente tecnológicos, que permitiram agilizar procedimentos, bem como acelerar e ampliar o processo produtivo. Atualmente, muito se fala da Indústria 4.0, dos seus avanços e na forma como esta se está a desenvolver, bem como do receio face à eventual substituição do ser humano pela máquina, no desempenho das suas funções. Contudo, estes desenvolvimentos não são exclusivos da atual conjuntura, despoletada pela adoção dos pressupostos de automação da Indústria 4.0, sendo necessário entender que não representam senão o culminar diversos catalisadores, que remontam ao século XVIII, com advento da 1ª revolução industrial. Indústria 1.0 - Primeira Revolução Industrial - entre 1760 e 1830 (final do século XVIII) - A 1ª grande revolução industrial tem lugar em meados do século XVIII, em plena Inglaterra Vitoriana, marcada pela introdução de tecnologias, então disruptivas, que tiveram profundo impacto na indústria e na forma de trabalhar do Homem. No século XVIII surgiram os elaborados processos de produção industrial que marcaram a transição de manufatura para maquinofatura. Essa fase foi caracterizada principalmente para introdução de equipamentos de produção mecânico impulsionados por energia a vapor. Em 1784 surge o 1º tear mecânico. Resultado de avanços significativos, no âmbito da investigação científica, os processos de produção artesanais cedem lugar a elaborados processos de produção industrial, marcando a transição radical do uso da força humana e animal para a força das máquinas, fator que contribuiu para um acelerado desenvolvimento do sistema capitalista. A Indústria 1.0 foi também caracterizada por duas importantes invenções que transformaram, de forma significativa, o setor produtivo e dos transportes. A descoberta do potencial do carvão, como fonte de energia, abriu o caminho para a criação da máquina a vapor e da locomotiva, promovendo a dinamização do transporte de pessoas, matéria-prima e distribuição de mercadoria, estabelecendo assim novos paradigmas de locomoção e produção. Apesar de a maquinofatura, potenciada pelo aparecimento dos motores de energia a vapor, substituir a necessidade de mão de obra, num sem número de tarefas que exigiam elevado esforço físico, a adoção da máquina, precisamente porque acelerou os processos de produção, aumentou a necessidade de mão de obra, de forma a dar resposta ao aumento da capacidade de produção. Consequentemente, grande parte da população trocou o meio rural pelas cidades à procura de trabalho, fenômeno que ficou conhecido como Êxodo Rural. Indústria 2.0 - Segunda Revolução Industrial – por volta de 1830 (início do século XX) - A segunda revolução industrial é marcada pela introdução da energia elétrica, pelo uso do motor a explosão, pelo aparecimento dos corantes sintéticos, pela produção em grande escala de aço e alumínio e pela invenção do telégrafo e divisão de tarefas na organização do trabalho nas indústrias. Com estes avanços foi possível explorar novos mercados e acelerar o ritmo industrial. A noção do impacto destes avanços no desempenho da indústria, levou a que a comunidade científica focasse o seu trabalho na elaboração de teorias e no desenvolvimento de máquinas cada vez mais aprimoradas, com o intuito de reduzir progressivamente tempo e custo de produção. Paralelamente aos avanços tecnológicos que mobilizaram o alvorecer da segunda revolução industrial, o ano de 1914, marca o advento do Fordismo, termo diretamente relacionado com o percursor desta filosofia, Henry Forde que diz respeito ao modelo baseado na racionalização dos meios e processos de produção, baseado em inovações técnicas e organizacionais que atentam às implicações da produção em grande escala, com o intuito de abranger e dar resposta ao mercado de massa. O paradigma proposto por Ford, primeiramente materializado no modelo de produção do Ford T, baseado nos princípios da padronização e da simplificação, propostos pelo taylorismo, de Frederick Taylor, por muitos considerado o pai da Administração Científica e percursor da eficiência e eficácia operacional na administração industrial, instituindo, entre outros, o princípio da intensificação como um “plus” de eficiência dos processos produtivos industriais, fator que marcou e definiu o rumo da segunda revolução industrial, de tal forma que o capitalismo disparou significativamente, rompendo fronteiras e incidindo diretamente na aceleração da economia mundial. Um fato curioso é que em 1870, em Cincinnati, cidade do estado estadunidense de Ohio, pela primeira vez no mundo um matadouro passou a usar correia transportadora para transportar animais na linha de trabalho. Indústria 3.0 - Terceira Revolução Industrial – meados do século XX (início dos anos 70) - Também conhecida por Revolução Técnico-Científica e Informacional, a Indústria 3.0 constitui-se como um processo de inovação tecnológica marcada por avanços significativos nas áreas da Informática, Robótica, Telecomunicações,

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AS VÁRIAS FASES DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

A Revolução Industrial marca a mudança no setor, com o desenvolvimento de vários avanços e transformações, principalmente tecnológicos, que permitiram agilizar procedimentos, bem como acelerar e ampliar o processo produtivo. Atualmente, muito se fala da Indústria 4.0, dos seus avanços e na forma como esta se está a desenvolver, bem como do receio face à eventual

substituição do ser humano pela máquina, no desempenho das suas funções. Contudo, estes desenvolvimentos não são exclusivos da atual conjuntura, despoletada pela adoção dos pressupostos de automação da Indústria 4.0, sendo necessário entender que não representam senão o culminar diversos catalisadores, que remontam ao século XVIII, com advento da 1ª revolução industrial.

Indústria 1.0 - Primeira Revolução Industrial - entre 1760 e 1830 (final do século XVIII) - A 1ª grande revolução industrial tem lugar em meados do século XVIII, em plena Inglaterra Vitoriana, marcada pela introdução de tecnologias, então disruptivas, que tiveram profundo impacto na indústria e na forma de trabalhar do Homem. No século XVIII surgiram os elaborados processos de produção industrial que marcaram a transição de manufatura para maquinofatura. Essa fase foi caracterizada principalmente para introdução de equipamentos de produção mecânico impulsionados por energia a vapor. Em 1784 surge o 1º tear mecânico.

Resultado de avanços significativos, no âmbito da investigação científica, os processos de produção artesanais cedem lugar a elaborados processos de produção industrial, marcando a transição radical do uso da força humana e animal para a força das máquinas, fator que contribuiu para um acelerado desenvolvimento do sistema capitalista. A Indústria 1.0 foi também caracterizada por duas importantes invenções que transformaram, de forma significativa, o setor produtivo e dos transportes. A descoberta do potencial do carvão, como fonte de energia, abriu o caminho para a criação da máquina a vapor e da locomotiva, promovendo a dinamização do transporte de pessoas, matéria-prima e distribuição de mercadoria, estabelecendo assim novos paradigmas de locomoção e produção.

Apesar de a maquinofatura, potenciada pelo aparecimento dos motores de energia a vapor, substituir a necessidade de mão de obra, num sem número de tarefas que exigiam elevado esforço físico, a adoção da máquina, precisamente porque acelerou os processos de produção, aumentou a necessidade de mão de obra, de forma a dar resposta ao aumento da capacidade de produção. Consequentemente, grande parte da população trocou o meio rural pelas cidades à procura de trabalho, fenômeno que ficou conhecido como Êxodo Rural.

Indústria 2.0 - Segunda Revolução Industrial – por volta de 1830 (início do século XX) - A segunda revolução industrial é marcada pela introdução da energia elétrica, pelo uso do motor a explosão, pelo aparecimento dos corantes sintéticos, pela produção em grande escala de aço e alumínio e pela invenção do telégrafo e divisão de tarefas na organização do trabalho nas indústrias. Com estes avanços foi possível explorar novos mercados e acelerar o ritmo industrial. A noção do impacto destes avanços no desempenho da indústria, levou a que a comunidade científica focasse o seu trabalho na elaboração de teorias e no desenvolvimento de máquinas cada vez mais aprimoradas, com o intuito de reduzir progressivamente tempo e custo de produção.

Paralelamente aos avanços tecnológicos que mobilizaram o alvorecer da segunda revolução industrial, o ano de

1914, marca o advento do Fordismo, termo diretamente relacionado com o percursor desta filosofia, Henry Forde

que diz respeito ao modelo baseado na racionalização dos meios e processos de produção, baseado em inovações técnicas e organizacionais que atentam às implicações da produção em grande escala, com o intuito de abranger e dar resposta ao mercado de massa.

O paradigma proposto por Ford, primeiramente materializado no modelo de produção do

Ford T, baseado nos princípios da padronização e da simplificação, propostos pelo taylorismo, de Frederick Taylor, por muitos considerado o pai da Administração Científica e percursor da eficiência e eficácia operacional na administração industrial, instituindo, entre outros, o

princípio da intensificação como um “plus” de eficiência dos processos produtivos industriais, fator que marcou e definiu o rumo da segunda revolução industrial, de tal forma que o capitalismo disparou significativamente, rompendo fronteiras e incidindo diretamente na aceleração da economia mundial. Um fato curioso é que em 1870, em Cincinnati, cidade do estado estadunidense de Ohio, pela primeira vez no mundo um matadouro passou

a usar correia transportadora para transportar animais na linha de trabalho.

Indústria 3.0 - Terceira Revolução Industrial – meados do século XX (início dos anos 70) - Também conhecida por Revolução Técnico-Científica e Informacional, a Indústria 3.0 constitui-se como um processo de inovação tecnológica marcada por avanços significativos nas áreas da Informática, Robótica, Telecomunicações,

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Transportes, Biotecnologia e química fina, bem como da Nanotecnologia. Os modelos de produção altamente competitivos, praticados pelas grandes corporações, a nível mundial, são fundamentalmente alterados, exigindo, a adoção de tecnologia mais sofisticada e complexa, requerendo agora um menor número de recursos humanos, porém com crescente nível de qualificação.

As vantagens decorrentes de inovações técnicas ao nível das tecnologias de comunicação e dos transportes possibilitaram a descentralização das empresas, precisamente porque abolem a questão da distância, permitindo a sua migração para regiões com condições logísticas, legais e financeiras mais favoráveis ao seu crescimento, como por exemplo, mão de obra mais barata e matéria-prima abundante, por conseguinte, de custo mais reduzido, leis ambientais menos rigorosas, entre outras. Veja o caso da China...

Indústria 4.0 - Quarta Revolução Industrial (atualmente)

O termo INDÚSTRIA 4.0 foi utilizado pela primeira vez em 2011 e faz parte de um projeto estratégico para aumentar a produtividade da indústria alemã fazendo uso de inovações de alta tecnologia. Em 2012 o grupo responsável pelo projeto e liderado por Siegfried Dais (Robert Bosch GmbH) e Henning Kagermann (ACATECH - Deutsche Akademie der Technikwissenschaften = Academia Alemã de Ciência e Engenharia), apresentaram um relatório ao governo alemão

traçando estratégias para a implementação da INDÚSTRIA 4.0. Em 2013 o trabalho do grupo foi apresentado na feira de Hannover com o título: Recomendações estratégicas para a implementação da INDÚSTRIA 4.0, onde listava os passos necessários para a implementação de uma indústria no formato 4.0 (BERTULUCCI, 2016).

A Alemanha lidera as pesquisas de implantação da INDÚSTRIA 4.0 pois possui know-how em pesquisa e produção de tecnologia voltada para a produção industrial e na sua liderança no

desenvolvimento de aplicações de sistemas embarcados (sistema microprocessado no qual o computador é completamente encapsulado ou dedicado ao dispositivo ou sistema que ele controla) que são considerados a base dos sistemas cyber-físico das indústrias inteligentes. Os mais

recentes avanços tecnológicos permitem a interligação entre o mundo real e o digital, através de Sistemas Ciber-físicos1. Equipamentos e sistemas passam a estar conectados em rede, partilhando e disponibilizando informação em tempo real, por meio de sensores, processo designado de Internet das coisas (Internet of Things - IoT).

Protocolos IoT abrem portas a modelos de produção industrial personalizados, permitindo ao consumidor um papel ativo no processo, passando a ser, literalmente, um agente ativo de manufatura no processo de produção industrial.

O consumidor é, simultaneamente, produtor e a empresa desmaterializa-se, assumindo o perfil de serviço. Do mesmo modo, as máquinas conseguem ainda comunicar entre si, monitorizar-se, perceber se existem falhas e, através de cálculos independentes, determinar quando é necessária a manutenção. Consequentemente, estas mudanças tornaram a produção e logísticas mais flexíveis, uma vez que a informação não será processada por uma unidade central. A comunicação entre as máquinas e produtos requer novos protocolos de comunicação, capazes de descrever os dados de forma elegível para as mesmas, permitindo que outras máquinas ou sistemas realizem ações, baseadas nesta informação.

No século XVIII surgem os elaborados processos de produção industrial que marcam a transição da manufatura para a maquinofatura. Surge a máquina a vapor e a locomotiva.

Introdução da energia elétrica e produção em massa foram alguns dos avanços que permitiram explorar novos mercados e acelerar o ritmo industrial

Processo de inovação tecnológica marcado por avanços nas áreas da informática, robótica, telecomunicações, entre outros. Adoção de tecnologias mais sofisticadas.

Interligação entre o mundo real e o digital através de sistemas ciber-fisicos. Os equipamentos e sistemas começam a estar ligados em rede. A produção e a logística são mais flexíveis.

1 Sistema Cyber-físico = conjunto de máquinas que contém elementos de computação que se coordenam e se comunicam com sensores,

através dos quais podem monitorar indicadores virtuais e físicos, e ainda atuarem de forma a poder modificar o ambiente virtual e físico em que são executados. Ou seja, é um sistema composto por elementos computacionais colaborativos com visando controlar entidades físicas.