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Aspectos Da Pesca Artesanal Embarcada No Litoral Do Estado de Pernambuco

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XVI Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca. 18 a 22/10/2009. Natal/RN/Brasil. 835

ASPECTOS DA PESCA ARTESANAL EMBARCADA NO LITORAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO

Adriana F. Pereira¹*; Sérgio M. G. de Mattos²; José Arlindo Pereira1

¹Universidade Federal do Recôncavo da Bahia/ – UFRB, Cruz das Almas/BA, *[email protected]. ²Ministério da Pesca e Aqüicultura – MPA, Recife/PE. Resumo: No litoral do estado de Pernambuco prevalece a pesca artesanal na extração dos recursos pesqueiros. Quatro municípios são abordados neste estudo, sendo eles: Recife, Capital do Estado, Paulista, Olinda e Jaboatão dos Guararapes. O presente trabalho tem como objetivo analisar a situação da pesca artesanal embarcada com base no Registro Geral da Pesca (RGP) da extinta Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República (SEAP/PR); verificar o número de pescadores registrados que realiza o seu trabalho a bordo de embarcações; a quantidade de barcos na qual eles atuam e se os barcos possuem ou não registro na SEAP/PR, e, ainda, estimar a quantidade de pescadores que atuam por embarcação. O levantamento de dados acerca da pesca embarcada da área em estudo se restringiu aos dados obtidos nos arquivos do RGP do escritório estadual da SEAP/PR, referentes aos anos de 2005 e 2006, e às bibliografias consultadas. Foi feito um levantamento de 1.850 pescadores registrados no RGP da SEAP/PR na região estudada, dos quais 639 são embarcados, representando 34,5% do total. O número de embarcações declaradas por estes pescadores chegou a 333, das quais 59,5% possuem registro no RGP. O número médio estimado de pescadores por embarcação foi de 1,9. Este resultado indica que ainda existe uma defasagem na quantidade de pescadores registrados no RGP ou mesmo uma inscrição equivocada destes como pescadores desembarcados. Pelo fato do escritório estadual da SEAP/PR estar sediado em Recife, o registro das embarcações neste município é mais efetivo que nos outros estudados. Palavras-chave: Pesca artesanal. Pescador artesanal. Registro Geral da Pesca.

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INTRODUÇÃO A pesca costeira na Região Nordeste do Brasil é eminentemente artesanal, onde as características oceanográficas, tais como temperatura e salinidade da água elevadas, baixa concentração de nutrientes e, conseqüentemente, baixa produção primária, resultam em uma elevada biodiversidade com reduzida biomassa. Aliado a esses fatores identifica-se, ainda, a baixa seletividade das artes de pesca, a exploração desordenada dos estoques pesqueiros, o aumento do esforço de pesca, a degradação dos ecossistemas costeiros e a precária infra-estrutura de armazenamento e comercialização do pescado.

A pesca em Pernambuco é uma atividade econômica e socialmente importante, no que tange ao número de empregos diretos e indiretos gerados e à oferta de proteína nobre de origem animal (PROZEE/SEAP/IBAMA, 2005). Segundo dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) (2007), no ano de 2005 a pesca extrativa marinha artesanal contribuiu com 12.534,5 t das 16.870,0 t do total da produção pesqueira marinha do estado, representando 74,3% desta.

“A pesca artesanal é definida como aquela em que o pescador sozinho ou em parcerias participa diretamente da captura de pescado, utilizando equipamentos relativamente simples. Os pescadores artesanais retiram da pesca sua principal fonte de renda, ainda que sazonalmente possam exercer atividades complementares (DIEGUES, 1988 apud RAMIRES, 1999).”

O presente estudo foi conduzido em quatro municípios localizados no litoral do Estado de Pernambuco: Recife, a Capital do Estado, Paulista, Olinda e Jaboatão dos Guararapes; todos pertencentes à Região Metropolitana do Recife. Dá ênfase àqueles pescadores artesanais que exercem a sua atividade a bordo de embarcações. Levando-se em consideração a quantidade/composição da frota pesqueira de Pernambuco, verifica-se que o contingente que pesca embarcado é significativamente menor do que aquele que pratica a pesca desembarcado em zonas costeiras e estuarinas, como já identificado e relatado por Oliveira et al. (1995), mas não menos importante do ponto de vista social e da contribuição para a produção pesqueira.

O objetivo deste trabalho é analisar a situação da pesca artesanal embarcada a partir de informações obtidas por intermédio do banco de dados de pescadores e embarcações no Registro Geral da Pesca (RGP) da Superintendência Federal no Estado de Pernambuco do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), no período de 2005 e 2006, no que se refere a: número de pescadores que informam exercer a pesca embarcada; quantidade de embarcações nas quais atuam; regularidade dos registros na atividade.

O conhecimento da frota e dos atores envolvidos (proprietários e tripulantes das embarcações) na atividade pesqueira artesanal embarcada de uma região é essencial para gerar subsídios que contribuam com a gestão participativa e compartilhada da atividade pesqueira e dos recursos alvo das capturas. Também espera-se que o estudo realizado venha contribuir para uma melhor estruturação do banco de dados do RGP do Ministério da Pesca e Aqüicultura (MPA), em especial no Estado de Pernambuco, e que os resultados obtidos sirvam como mais uma fonte de pesquisa para desenvolver a sustentabilidade pesqueira nacional.

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MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado no período de novembro de 2007 a abril de 2008 no Escritório Estadual em Pernambuco da extinta Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República (SEAP/PR), atualmente Superintendência Federal no Estado de Pernambuco do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). O Registro Geral da Pesca (RGP) é um cadastro da atividade pesqueira com as principais categorias que exercem atividades comerciais diretamente relacionadas à pesca ou à aqüicultura (SEAP/PR, 2008). O MPA é atualmente o órgão responsável pelo RGP.

O levantamento de dados acerca da pesca embarcada nos municípios de Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes e Paulista se restringiu aos dados obtidos nos arquivos do RGP do Escritório Estadual, referentes aos anos de 2005 e 2006, e às bibliografias consultadas, não tendo sido realizadas visitas às comunidades.

O método de estudo utilizado foi a seleção dentre os arquivos de pescadores profissionais artesanais inscritos, daqueles que declararam no Requerimento de Registro de Pescador Profissional e/ou no Relatório de Desempenho Anual da Atividade exercer a atividade pesqueira a bordo de embarcações. As informações obtidas através desses cadastros, tais como: identificação do pescador; nome da embarcação; número do registro, caso ela o possua; e a identificação do proprietário, do armador ou do arrendatário; foram inseridas num banco de dados, empregando o software Microsoft Excel, para posterior análise.

RESULTADOS

Foram analisados 1.850 registros de pescadores artesanais do Registro Geral

da Pesca (RGP), no período de 2005 e 2006, nos quatro municípios estudados, dos quais 639 são embarcados, representando 34,5% do total (Tabela 01). O número de embarcações declaradas por estes pescadores chegou a 333 embarcações, das quais 59,5% possuem registro no RGP.

Tabela 01 – Quantidade de cadastros de pescadores artesanais analisados no

Registro Geral da Pesca (RGP) do Escritório no Estado de Pernambuco da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República (SEAP/PR) no período de 2005 e 2006, em termos absolutos e relativos por embarcação.

Pescadores Embarcações Município Total Quant.

embarcado % Embarcado Total % com registro

% sem registro

Recife (Z-01) 801 362 44,7 145 92,4 7,6

Paulista (Z-02) 526 131 24,9 99 21,2 78,8

Olinda (Z-04) 310 107 34,5 56 51,8 48,2

Jaboatão (Z-25) 213 39 18,3 33 42,4 57,6

Total 1850 639 34,5 333 59,5 40,5

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O total de pescadores profissionais artesanais filiados à Colônia de Pescadores Z-01, localizada em Recife, registrados na SEAP/PR no período em estudo foi de 801, dos quais 44,7% (362 pescadores) declararam exercer a atividade pesqueira a bordo de embarcações. O número de embarcações citadas pelos pescadores chegou a 145 (Tabela 01). Em relação ao registro, 92,4% das embarcações declaradas pelos pescadores filiados à Colônia Z-01 de Recife possuíam registro na SEAP/PR.

O total de pescadores profissionais artesanais filiados à Colônia de Pescadores Z-02, no Município de Paulista, registrados na SEAP/PR no período em estudo foi de 526, dos quais 24,9% (131 pescadores) eram embarcados. Foram citadas 99 diferentes embarcações por estes pescadores (Tabela 01). Em relação ao registro, 21,2% das embarcações declaradas pelos pescadores filiados à Colônia Z-02 de Paulista tinham registro na SEAP/PR. Este baixo índice de registro de embarcações é ocasionado principalmente pelo grande número de embarcações de pequeno porte, tais como, canoas, jangadas e bateiras existentes. Observa-se a predominância deste tipo de embarcação no litoral norte de Pernambuco (IBAMA, 2000).

Nascimento (2007) destaca que: “Essa atitude, por parte dos donos de embarcações pequenas foi motivada pelo fato de ser facultativa a inscrição dessas embarcações na Marinha. Somado a isso, havia o entendimento por parte dos proprietários de embarcações de pequeno porte (entre 4 e 6 metros) de não serem obrigados a registrar as mesmas na SEAP/PR devido ao tamanho e tipo (jangada, bateira, caíco, paquete, etc.), o que causou grande dificuldade no processo de recadastramento dos pescadores associados a essas embarcações.”

Em Olinda, o total de pescadores profissionais artesanais registrados na SEAP/PR e filiados à Colônia de Pescadores Z-04, no período em estudo, foi de 310, dos quais 34,5% (107 pescadores) estavam embarcados. O número de embarcações declaradas por estes pescadores chegou a 56 (Tabela 01). Em relação ao registro, 51,8% das embarcações declaradas pelos pescadores possuíam registro na SEAP/PR. Já no município de Jaboatão dos Guararapes o total de pescadores profissionais artesanais registrados na SEAP/PR no período em estudo e filiados à Colônia de Pescadores Z-25 foi de 213, dos quais apenas 18,3% (39 pescadores) exercem a atividade pesqueira a bordo de embarcações. Foram citadas 33 embarcações distintas por estes pescadores (Tabela 01), das quais 42,4% possuíam registro na SEAP/PR. Com base nos dados apresentados na Tabela 01, foi calculada a média de pescadores inscritos no RGP na região em estudo por embarcação declarada (Tabela 02). Em geral, as embarcações apresentaram entre 1 e 2 pescadores (número médio de pescadores por embarcação=1,9). Este resultado indica que, possivelmente, ainda existem muitos pescadores não registrados ou erroneamente registrados como desembarcados, uma vez que esta quantidade não chega sequer à tripulação mínima de segurança definida pela Autoridade Marítima. A NORMAN 01 do Ministério da Marinha do Brasil indica que:

“Toda embarcação, para sua operação segura, deverá ser guarnecida por um número mínimo de tripulantes, associado a uma distribuição qualitativa, denominado tripulação de segurança. A tripulação de segurança difere da lotação, que expressa o número máximo de pessoas autorizadas a embarcar, incluindo tripulação, passageiros e profissionais não-tripulantes.”

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No presente trabalho a tripulação mínima de segurança variou de 1 a 6 e a moda foi igual a 3. Tabela 02 – Estimativa da quantidade de pescadores por embarcação nos

municípios de Recife, Paulista, Olinda e Jaboatão.

Município Pescadores embarcados (P) Nº. de barcos (B) P/Q

Recife (Z-01) 362 145 2,5 Paulista (Z-02) 131 99 1,3 Olinda (Z-04) 107 56 1,9

Jaboatão (Z-25) 39 33 1,2 Total 639 333 1,9

CONCLUSÕES

• A quantidade de pescadores artesanais que realiza sua atividade a bordo de embarcações no litoral dos municípios de Recife, Paulista, Olinda e Jaboatão dos Guararapes é menor do que àquela que pratica a atividade de forma desembarcada;

• Os atores envolvidos na atividade pesqueira (proprietários de embarcações e pescadores) encontram dificuldades em obter sua regularização junto à SEAP/PR;

• Pelo fato do Escritório Estadual da SEAP/PR estar sediado em Recife, o registro das embarcações deste município é mais efetivo que nos outros estudados. No entanto, a menor efetividade de registro de embarcações encontrada em Paulista deve-se ao fato de grande parte das embarcações serem de pequeno porte;

• Através do número estimado de pescadores artesanais que atuam por embarcação, podemos concluir que ainda existe uma defasagem na quantidade de pescadores registrados no RGP ou mesmo uma inscrição equivocada destes como pescadores desembarcados;

• Este trabalho, baseado nos arquivos do RGP da extinta SEAP/PR, necessita de uma pesquisa complementar que realize visitas às comunidades pesqueiras em questão para averiguar se estes dados podem ser validados, demonstrando, assim, se os instrumentos de gestão pesqueira, utilizados pelos órgãos competentes no país, refletem a realidade.

REFERÊNCIAS

FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA DE RECURSOS VIVOS NA ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA/SECRETARIA ESPECIAL DE PESCA E AQUICULTURA DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA/INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS. RELATÓRIO TÉCNICO DO PROJETO DE CADASTRAMENTO DAS EMBARCAÇÕES PESQUEIRAS NO LITORAL DAS REGIÕES NORTE E NORDESTE DO BRASIL. Brasília, 2005. 241f.

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IBAMA. Boletim Estatístico da Pesca do Brasil. IBAMA, 2007. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br>. Acesso em: 21 nov. 2008. NASCIMENTO, A. Descrição e análise da atual política de aqüicultura e pesca em Pernambuco com ênfase no Registro de Pescador Profissional da Pesca Artesanal. 2007. (87 f. Relatório apresentado como parte dos requisitos para obtenção do grau de Engenheiro de Pesca). Departamento de Pesca e Aqüicultura, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife. OLIVEIRA, V. S. et al. Informações tecnológicas sobre as artes de pesca empregadas na pesca artesanal do litoral de Pernambuco. In: IX CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE PESCA, São Luís, 1995. p. 204-219. RAMIRES et al. A pesca artesanal no Vale do Ribeira e Litoral Sul do estado de São Paulo-Brasil. [S.l.], 1999. [S.n.]. 11 f. RECIFE. Wikipédia, a enciclopédia livre, [S. l.], 21 nov. 2008. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Recife>. Acesso em: 21 nov. 2008.