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CIEPH – CENTRO INTEGRADO DE ESTUDOS E PESQUISA DO
HOMEM
ANDRÉ FAUSTO DO CARMO
ASPECTOS NEUROFISIOLÓGICOS DA ANALGESIA POR
ACUPUNTURA
Florianópolis, 2007
ANDRÉ FAUSTO DO CARMO
ASPECTOS NEUROFISIOLÓGICOS DA ANALGESIA POR
ACUPUNTURA
Monografia apresentada ao Curso de Especialização Profissional em Acupuntura, do Centro de Estudos e Pesquisas do Homem – Cieph, de Florianópolis, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Acupuntura.
Orientadora: Profª. Esp. Stella Maris Ricardo de Souza
Co-Orientador: Profº Msc. Murilo Marcos dos Santos
Orientadora Metodológica: Sociarai Iacono
Florianópolis, 2007
DEDICATÓRIA
Este trabalho é dedicado à minha esposa Gisele e ao meu filho Nicollas, pessoas
estas que me fazem refletir a cada manhã e avaliar o quanto sou feliz e o quanto
minha vida faz sentido.
São as pessoas que me iluminam e me inspiram a seguir nesta caminhada de
especialização e conhecimento científico.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente à Deus, por ter sido tão bom e generoso comigo.
Agradeço ainda aos meus orientadores, professora Stella Maris Ricardo de Souza,
ao meu co-orientador, professor Murilo Marcos dos Santos, e à minha orientadora
metodológica, professora Sociarai Iacono, pela dedicação e empenho em ambos na
confecção deste trabalho.
Agradeço à professora Patrícia Brocardo (mestre em neurologia), pela disposição
em ter auxiliado e colaborado com dicas importantes na construção deste trabalho.
Agradeço aos meus professores da pós-graduação do curso de Especialista em
Acupuntura do Cieph que me possibilitaram um amplo e sólido conhecimento das
bases da Medicina Tradicional Chinesa.
Agradeço também ao meu irmão Lucas Fernando pelo prestativo auxílio nas
traduções dos artigos científicos internacionais.
E por fim agradeço por ter uma família maravilhosa e compreensiva.
Obrigado Gisele, obrigado Nicollas.
MENSAGEM
O fruto do silêncio é a oração;
O fruto da oração é a fé;
O fruto da fé é o amor;
O fruto do amor é a assistência aos demais.
(Madre Tereza de Calcutá)
Livro “É facil ser feliz”, Vera Lúcia.
RESUMO Desde a antigüidade, a acupuntura, método que utiliza a inserção de agulhas no corpo para o tratamento de desequilíbrios deste, vem se constituindo num recurso terapêutico no tratamento de condições álgicas. A acupuntura é um método simples, mas ao mesmo tempo complexo: é simples, pois utiliza um instrumento de fácil manuseio (agulha) para promover, com sua inserção, um estímulo-organizador e obter, como resposta, o equilíbrio do organismo; também é complexo, pois envolve um raciocínio com múltiplas variáveis a respeito do entendimento dos processos naturais do seu funcionamento. Nas últimas décadas, um incremento progressivo da pesquisa em acupuntura trouxe evidências científicas dos seus mecanismos neurofisiológicos e das suas aplicações clínicas. A acupuntura é uma prática utilizada para promover saúde de forma global com o uso de estímulos (agulha) sobre a epiderme (pele). A partir de 1970, trabalhos científicos começaram a ser realizados demonstrando o uso da acupuntura em analgesias cirúrgicas. Está provado cientificamente que a estimulação gerada pela acupuntura causa uma resposta reflexa (efeito tanto bioquímico quanto bioelétrico) no Sistema Nervoso Periférico (SNP) e Central (SNC). Atualmente, as pesquisas estão sendo direcionadas no sentido de verificar os mecanismos neuroquímicos e neurofisiológicos da acupuntura. Esses estudos têm permitido uma compreensão maior dos mecanismos de ação da acupuntura. Dessa forma, esse estudo tem como objetivo mostrar, do ponto de vista teórico, a partir de uma revisão dos mecanismos de percepção da dor, a eficácia terapêutica da analgesia por acupuntura no tratamento da dor, de acordo com os mecanismos neurofisiológicos desta técnica milenar. PALAVRAS-CHAVES: Acupuntura, analgesia, neurofisiologia.
ABSTRACT Since the seniority, the acupuncture, method that the insertion of needles in the body for the treatment of instability of this uses, come if constituting in a therapeutically resource in the treatment of “pain” conditions. The acupuncture is a simple method, but at the same time complex: it is simple because it uses a manuscript instrument easy (needle) to promote, with its insertion, a stimulation-organization and to get, as reply, the balance of the organism; also he is complex, therefore it involves a reasoning with changeable multiple regarding the agreement of the natural processes of its functioning. In the last decades, a gradual increment of the research in acupuncture brought scientific evidences of its neurophysiologic mechanisms and its clinical applications. The acupuncture is one practical one used to promote health of global form with the use of stimulations (needle) on the epidermis (skin). Since 1970, scientific works had started to be carried through having demonstrated the use of the acupuncture in surgical anesthetics. He is proven scientifically that the stimulation generated for the acupuncture cause a reflected reply (effect as much how much bioelectrical biochemist) in Peripheral Nervous System (PNS) and Central (CNS). Currently, the research is being directed in the direction to verify the neurochemistry and neurophysiologic mechanisms of the acupuncture. These studies have allowed a bigger understanding of the mechanisms of action of the acupuncture. Of this form, this study it has as objective to show of the theoretical point of view, a revision of the mechanisms of perception of pain, the therapeutically effectiveness of the analgesia for acupuncture in the treatment of pain, in accordance with the neurophysiologic mechanisms of this millenarian technique. KEY-WORDS: Acupuncture, analgesic, neurophysiology.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
SNC - Sistema Nervoso Central
SNP - Sistema Nervoso Periférico
MTC - Medicina Tradicional Chinesa
LCR - Líquido Cefaloraquidiano
EA - Eletroacupuntura
ARH - Núcleo Arqueado do Hipotálamo
PAG - Substância Cinzenta Periaquedutal
PONV - Náuseas e Vômitos Pós-Operatórios
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 12
2 ASPECTOS NEUROFISIOLÓGICOS DA ANALGESIA POR ACUPUNTURA 17
2.1 Acupuntura .................................................................................................... 17
2.2 Taoísmo .......................................................................................................... 20
2.3 Yin/yang ......................................................................................................... 20
2.4 Cinco elementos ............................................................................................ 23
2.5 Meridianos ..................................................................................................... 25
2.5.1 Teoria do Zang-Fu ........................................................................................ 27
2.5.2 Pulmão (Fei) ................................................................................................. 27
2.5.3 Intestino Grosso (Dachang) .......................................................................... 28
2.5.4 Estômago (Wei) ............................................................................................ 28
2.5.5 Baço (Pi) ....................................................................................................... 29
2.5.6 Coração (Xin) ............................................................................................... 31
2.5.7 Intestino Delgado (Xianchang) ..................................................................... 32
2.5.8 Bexiga (Pangguang) ..................................................................................... 32
2.5.9 Rim (Shen) ................................................................................................... 33
2.5.10 Pericárdio (Xinbao) ..................................................................................... 34
2.5.11 Triplo Aquecedor (San Jiao) ....................................................................... 35
2.5.12 Vesícula Biliar (Dan) ................................................................................... 36
2.5.13 Fígado (Gan) .............................................................................................. 37
2.6 “Qi” ................................................................................................................. 38
2.7 Tipos de dor ................................................................................................... 40
2.7.1 Dor Aguda .................................................................................................... 41
2.7.2 Dor Crônica ................................................................................................. 42
2.8 História da analgesia .................................................................................... 43
2.8.1 Neurofisiologia da analgesia por acupuntura ............................................... 45
2.8.2 “Portão da dor” ............................................................................................. 47
2.8.3 Opióides endógenos..................................................................................... 49
2.8.4 Hipotálamo ................................................................................................... 52
2.9 Vias ................................................................................................................. 52
2.9.1 Tracto espinotalâmico .................................................................................. 52
2.9.2 Tracto espinorreticular .................................................................................. 54
2.9.3 Fibras C ........................................................................................................ 55
2.9.4 Fibras A Delta ............................................................................................... 56
2.9.5 Fibras A Beta ................................................................................................ 56
2.10 Medula .......................................................................................................... 56
2.11 Tronco .......................................................................................................... 57
2.12 Tálamo .......................................................................................................... 57
2.13 Córtex ........................................................................................................... 58
2.13.1 Giro do cíngulo ........................................................................................... 59
2.14 Analgesia ..................................................................................................... 59
2.14.1 Pontos analgésicos .................................................................................... 61
2.14.2 Analgesia em pós-operatório ...................................................................... 64
2.15 Bloqueios da analgesia ............................................................................... 65
3 METODOLOGIA ................................................................................................ 68
4 DISCUSSÃO ...................................................................................................... 70
5 CONCLUSÃO .................................................................................................... 74
REFERÊNCIAS ................................................................................................... 78
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho científico caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica
sobre os processos envolvidos na modulação da dor e nos efeitos da analgesia
por acupuntura. O trabalho descreve a neurofisiologia envolvida, desde o início da
dor até a analgesia por acupuntura.
A dor é o sinal de alarme do corpo, e ao se tratar do mesmo, é essencial que as causas subjacentes sejam compreendidas e que, quando necessário, estas sejam vistas de maneira ampla. Entretanto, é naturalmente desejável o alívio da dor no menor espaço de tempo possível, e a acupuntura oferece um grande número de fórmulas comprovadas e testadas que podem ser utilizadas para este fim, não importando o método escolhido pelo clínico para tratar das causas subjacentes básicas (CHAITOW, 1984, p. 03).
A dor representa um grave problema de saúde pública, com
repercussões socioeconômicas comparáveis às das doenças cardiovasculares e
oncológicas. A alta morbidade causada pela dor explica por que ela se tem
tornado um sério problema de saúde pública em nossa sociedade moderna e
competitiva.
O uso da acupuntura como um método de alívio da dor está baseado
num grande número de pesquisas clínicas e não há dúvida de que a acupuntura
tem um efeito potente e confirmado no tratamento da dor.
A analgesia pela acupuntura é uma descrição mais precisa deste
fenômeno. A palavra grega anaisthesia significa “ausência de sensação”. Na
anestesia pela acupuntura, a única sensação diminuída é a de dor. Analgesia
significa, literalmente, insensibilidade à dor sem perda de consciência. Entretanto,
a semântica do fenômeno é relativamente sem importância quando comparada ao
seu enorme potencial (CHAITOW, 1984).
O relato de curas, muitas vezes espetaculares, com o uso da
acupuntura, tem sido recurso freqüente. O sucesso da anestesia com acupuntura,
em diferentes cirurgias tem produzido um grande impacto no ocidente desde a
década de 70; os casos observados por Bland foram, nas suas próprias palavras,
"suficientes para provar o valor da acupuntura como tratamento e como
anestésico" (PALMEIRA, 1990).
No Ocidente a acupuntura ganhou credibilidade principalmente por seu
efeito analgésico. Esta é uma das razões para a ênfase atual da pesquisa no
estudo dos mecanismos analgésicos da acupuntura. O foco de atenção tem sido
o papel dos opióides endógenos neste mecanismo. Ao longo de sua evolução, o
cérebro desenvolve sistemas complexos de modulação (aumentar ou diminuir) da
percepção da dor. Em especial o sistema opióide (semelhante à morfina) e o
sistema não opióide de analgesia (os neurotransmissores) que suprimem a
percepção da dor.
A aceitação do efeito da acupuntura no alívio da dor foi facilitada pela
descoberta dos opióides endógenos. Essa descoberta trouxe uma explicação
lógica em termos ocidentais para o efeito sobre a sensibilidade à dor. Além de
aliviar a dor, a acupuntura é comumente usada na MTC (Medicina Tradicional
Chinesa) para tratar várias doenças (HOPWOOD, 2001).
Sendo assim, a acupuntura não causa apenas um efeito analgésico, ela
provoca múltiplas respostas biológicas. Estudos em animais e humanos mostram
que o estímulo por acupuntura pode ativar o hipotálamo e a glândula pituitária,
resultando num amplo espectro de efeitos sistêmicos, como aumento na taxa de
secreção de neurotransmissores e neuro-hormônios, melhora do fluxo sanguíneo, e
também a estimulação da função imunológica são alguns dos efeitos já
demonstrados.
Na China, a acupuntura é utilizada rotineiramente para o tratamento de
diversas afecções. Essa terapia apresenta bons resultados diante de muitas
enfermidades e possui vantagens acentuadas sobre outras, por exemplo, os
instrumentos utilizados são simples e de fácil domínio, econômicos, seguros e não
há efeitos colaterais. É por essa razão que a acupuntura [...] desempenha um papel
cada vez mais importante e é muito procurada pelo povo chinês e também têm
obtido respeito, confiança e consideração em diversos países (CHONGHUO, 1993).
Recentes pesquisas neurofisiológicas sobre o mecanismo de ação da
analgesia por acupuntura trouxeram grandes subsídios ao entendimento do modo de
ação geral da acupuntura. Isto fez com que as milenares teorias filosóficas chinesas
do yin e do yang, dos cinco elementos, dos Zang Fu e dos Jing Luo passassem a ter
um fundamento científico (SMITH, 1992; YAMAMURA et al.,1993). Assim, muitos
dos conceitos intuitivamente preconizados pela Medicina Tradicional Chinesa podem
ser explicados à luz da neuroanatomia e da neurofisiologia.
Por ser um tratamento de baixo custo financeiro e praticamente isento de
efeitos colaterais, poderá vir a ser um recurso de primeira linha no tratamento da dor.
Para demonstrar sua eficácia, é preciso estudá-la do ponto de vista ocidental,
utilizando a metodologia científica clássica.
A pesquisa em acupuntura é importante não apenas para elucidar os
fenômenos associados ao se mecanismo de ação, mas também pelo potencial para
explorar novos caminhos na fisiologia humana ainda não examinados de maneira
sistemática.
O presente estudo tem o objetivo de mostrar, do ponto de vista teórico, a
partir de uma revisão dos mecanismos de percepção da dor, a eficácia terapêutica
da acupuntura no tratamento da dor, condizentes com os mecanismos neuro-
humorais desta técnica milenar. Objetiva ainda o levantamento de dados científicos
que abordem os mecanismos da analgesia pela acupuntura e pretende facilitar e
organizar um material para a busca de novos estudos na área.
Abordamos como objetivo geral deste trabalho, verificar através de
pesquisa bibliográfica em base de dados científicos, o efeito analgésico da
acupuntura nos mais diversos procedimentos e fornecer informações sobre a prática
da analgesia acupuntural em pacientes.
Como objetivos específicos, iremos analisar os resultados obtidos através
da literatura científica e explicar as bases neurofisiológicas do processo de
analgesia, além de descrever as bases neurofisiológicas da analgesia por
acupuntura.
Para tanto, esse estudo está assim definido: No segundo capítulo
apresentaremos um relato sobre os mecanismos neurofisiológicos da analgesia por
acupuntura, onde apresentamos um relato da história da acupuntura e
consequentemente da MTC, (Medicina Tradicional Chinesa) além das bases
neurofisiológicas da analgesia, envolvendo a fisiologia e anatomia dos órgãos
envolvidos.
No terceiro capítulo demonstraremos a metodologia utilizada para a
confecção do presente trabalho e também o embasamento científico para a mesma.
No quarto capítulo apresentaremos uma discussão com embasamento científico e
referenciado sobre a analgesia por acupuntura. Finalizando no quinto capítulo com a
conclusão, demonstrando quais os objetivos que foram alcançados, assim como os
estudos que podem ser desenvolvidos futuramente.
2 ASPECTOS NEUROFISIOLÓGICOS DA ANALGESIA POR ACUPUNTURA
2.1 Acupuntura
A acupuntura, técnica curativa milenar, originária da China, tem nas
últimas décadas despertado grande interesse e especulações nas comunidades
científicas (SIDORAK, 1984).
Acupuntura, do latim acu (agulha) e puntura (picada), chamada no oriente
de "Chen-Chui" ou "Tchenntsiou", é uma prática de origem chinesa que existe há
mais de 5 mil anos, e que hoje é utilizada por alguns profissionais da saúde. No
primeiro livro de Acupuntura, "Nei Tsing", temos que essa prática terapêutica já era
utilizada, com lascas de pedras, por civilizações muito antigas, como na época da
dinastia "Tcherou" de 18.000 à 3.000 a.C. (LUNDEBERG, 1993; SZABÓ e
BECHARA, 2001).
A acupuntura existe há muitos anos. Uma prática bem aceita na Ásia recebeu inicialmente grande resistência no ocidente, entretanto esta situação mudou dramaticamente com a união da consciência do grande público, eficácia clínica, baixos efeitos colaterais e pesquisas na área (KIM, 2005, p. 01).
A acupuntura visa a terapia e cura das enfermidades pela aplicação de
estímulos através da pele, com a inserção de agulhas em pontos específicos (WEN,
1989; JAGGAR, 1992; SCHOEN,1993) chamados acupontos. Trata-se também de
uma terapia reflexa, em que o estímulo de uma área age sobre outra(s). Para este
fim, utiliza, principalmente, o estímulo nociceptivo (LUNDEBERG, 1993; SZABÓ e
BECHARA, 2001).
A Acupuntura busca a promoção da saúde e bem-estar do paciente
através do puncionar de finíssimas agulhas especiais (de ouro, prata ou aço
inoxidável) em determinadas regiões do corpo chamadas de "acupontos" (pontos de
acupuntura) e em diferentes profundidades da pele. É uma excelente estratégia
preventiva para inúmeras patologias, além de ser uma terapêutica rápida e eficaz no
tratamento de doenças. Essa prática busca o equilíbrio físico, mental e energético do
paciente (SILVA, 06).
No Oriente, a acupuntura vem sendo usada com finalidades preventiva e
terapêutica há vários milênios. De fato, agulhas de pedra e de espinha de peixe
foram utilizadas na China durante a Idade da Pedra (cerca de 3000 anos a.C.). Ney
Jing, ou "Clássico do Imperador Amarelo sobre Medicina Interna", texto clássico e
fundamental da MTC, descreve aspectos anatômicos, fisiológicos, patológicos,
diagnósticos e terapêuticos das moléstias à luz da medicina oriental. Nesse tratado,
já se afirmava que o sangue flui continuamente por todo o corpo, sob controle do
coração (SZABÓ e BECHARA, 2001).
De acordo com Quimelli (2005), a acupuntura é conhecida como terapia complementar de filosofia holística, diferindo do tratamento alopático por ser quase sem efeitos colaterais. (QUIMELLI, 2005, p. 21-22).
O mundo ocidental ficou assombrado com os documentários transmitidos
por televisão de cirurgias realizadas na China em pacientes conscientes,
aparentemente apenas com a acupuntura como anestésico. O modelo de analgesia
derivou da experiência clínica com acupuntura; as agulhas de acupuntura atuavam
como um eletrodo conveniente para esses experimentos; como conseqüência,
grande parte dessa pesquisa neurofisiológica foi considerada como pesquisa em
acupuntura (ERNST e WHITE, 2001).
A acupuntura é contra-indicada durante a gestação, sobre dermatites ou
áreas tumorais e em portadores de marcapasso. Também é contra-indicada a
instituição do tratamento com acupuntura antes de elaborado diagnóstico, correndo-
se o risco de mascarar ou alterar os sinais clínicos (ALTMAN, 1992; SZABÓ e
BECHARA, 2001).
Em 1898 os imigrantes japoneses, sem formação superior, introduziram
sua forma de utilizar a acupuntura aqui no Brasil (SILVA, 2006).
A acupuntura passa a ser praticada, ensinada e pesquisada com mais vigor no nosso território nos anos 1950. Em 1953 o fisioterapeuta Dr. Frederico Spaeth (Friedrich Johann Spaeth, brasileiro de origem austríaca) já fazia uso dessa prática clínica e em 1958 ele ministrou o 1º Curso de Formação em Acupuntura para vários profissionais de saúde (fisioterapeutas, psicólogos, enfermeiros e outros), depois de fundar o "Instituto Brasileiro de Acupuntura" (SILVA, 2006, p. 02).
Desde 29 de outubro de 1985 a formação, o diagnóstico, a pesquisa, a
prática da acupuntura vem sendo regulamenta no Brasil por determinados
Conselhos Federais da área da Saúde, órgãos que orientam e fiscalizam o exercício
profissional dos seus respectivos profissionais de nível superior. Esses pós-
graduados em acupuntura são absolutamente responsáveis pelos seus atos,
inclusive criminalmente (SILVA, 2006).
Atualmente, a acupuntura vem sendo mais utilizada no Ocidente.
Aproximadamente 20% da população européia já foi submetida a acupuntura como
meio de tratamento para os mais diversos tipos de doenças (QUIMELLI, 2005).
2.3 Taoísmo
Tao é uma força constante que cria todas as coisas (KIM, 2005).
Segundo a filosofia, na qual a tradicional medicina chinesa tem suas
bases, tudo o que existe no universo é resultante do movimento harmonioso e
constante de duas forças energéticas, de polaridades opostas, uma positiva, outra
negativa, sendo caracterizada de yang e yin, sendo que uma determina a existência
da outra de forma permanente e equiparada (SIDORAK, 1984).
Yin e yang estão contidos em Tao, o princípio básico de todo o universo.
Criaram toda matéria e suas transmutações. Tao é o começo e o fim, vida e morte e
é encontrado nos Templos dos Deuses (MANN,1971).
A esta teoria filosófica, que se expande para todos os fenômenos
universais, desde as formas de organização da matéria até regras sociais, têmo-la
denominada de Taoísmo, cujo símbolo, hoje tipicamente conhecido, é apresentado
na forma circular, dividido em duas partes, sendo a superior positiva e a inferior
negativa, contendo cada uma o simbolismo inicial da outra, representando assim a
idéia de dinamismo e transmutação das polaridades energéticas (SIDORAK, 1984).
2.4 Yin / yang
Observando-se a natureza, verifica-se que tudo o que nela existe é
composto por dois aspectos específicos e essenciais que se complementam e que
se mantêm, entre si, um equilíbrio dinâmico. Esses dois aspectos foram chamados
pelos antigos chineses de yang e yin (NAKANO e YAMAMURA, 2005).
Os chineses acreditam que todo universo seja ativado por dois princípios,
yin e yang, o negativo e o positivo, e consideram que tudo o que se vê exista em
virtude da constante influência mútua dessas duas forças, sejam seres animados ou
inanimados (MANN, 1994).
A teoria do yin e yang se resume em duas partes contraditórias e
complementares dos fenômenos da natureza, mas que se relacionam mutuamente.
Para Junying e Zhihong (1996) o yin e yang representam os aspectos opostos de
todas as substâncias e seus conflitos implícitos, bem como suas interdependências.
O conceito de yin-yang é simples e ao mesmo tempo profundo
(MACIOCIA, 1996; SUSSMANN, 2000).
Seu conceito é a base da Medicina Chinesa, sendo provavelmente o mais
importante e distintivo da Teoria da Medicina Chinesa. Pode-se dizer que toda
fisiologia médica chinesa, patologia e tratamento podem, eventualmente, ser
reduzidos ao yin-yang. O conceito de yin-yang é extremamente simples, ainda que
profundo. Aparentemente, pode-se estendê-lo sob um nível racional, e ainda, achar
novas expressões na prática clínica e na vida (MACCIOCIA, 1996; ROSS, 2003).
O yang e o yin são os princípios essenciais à existência de tudo o que há
no Universo. O yang somente pode existir na presença do Yin, e vice-versa, e é esta
dualidade que determina a origem de tudo na Natureza, incluindo a Vida.
O yang e o yin têm concepção ao mesmo tempo simples e complexa. Eles
são aspectos opostos ou, se vistos por um outro prisma, representam uma coisa
única (NAKANO & YAMAMURA, 2005).
O yang e yin constituem um par de opostos complementares a que são relacionadas as dualidades / díades da natureza: dia x noite, claro x escuro, calor x frio, masculino x feminino, resistência x complacência, movimento x repouso (PALMEIRA, 1990, p. 126).
A tendência ocidental é de ver os opostos como absolutos; o significado
das palavras preto e branco dão essa impressão. Este fato deriva da tendência de
ver o mundo feito de partículas e do desejo de ser tão preciso quanto possível. Por
isso, a situação é: A ou B, enquanto o pensamento chinês vê o mesmo fenômeno
como dois extremos de algo contínuo. Isso traz uma conotação de que os termos
são relativos: não preto e branco, mas sim, mais preto e mais branco, assim como a
polaridade nunca é estática, ela está em contínua mudança, o mais preto ficando
branco e vice-versa. Esta concepção tem ramificações importantes em todas as
áreas (ROSS, 2005).
A relação entre yin e yang pode ser exemplificada como yin sendo à noite
e yang, o dia; entretanto a noite está sempre no processo de virar dia e o dia virar
noite (HOPWOOD et al, 2001).
Segundo o conceito chinês, [...] yin-yang representam qualidades opostas
mas também complementares. Cada coisa ou fenômeno poderia existir por si
mesma ou pelo seu oposto. Além disso, yin contém a semente do yang e vice-versa
(MACCIOCIA, 1996).
O conteúdo original de yang era o lado ensolarado do monte, quando o yin era simbolizado pelo lado sombrio. Estes opostos complementam-se em um processo dinâmico. Em uma escala maior, o universo é visto como uma rede complexa dos processos relacionados influenciados por yin e por yang (KIM, 2005, p. 03).
A teoria do yin e yang é utilizada amplamente na Medicina Tradicional
Chinesa explicando a estrutura histológica, função fisiológica e as mudanças
patológicas do organismo, além de servir como guia para diagnóstico e tratamento
(JUNYING e ZHIHONG, 1996).
2.5 Cinco elementos
Ao mesmo tempo em que a teoria do yin-yang, a teoria dos cinco
elementos constitui a base da Teoria da Medicina Tradicional Chinesa.
A teoria do yin-yang originou-se antes da teoria dos cinco elementos. A
primeira referência ao yin-yang é encontrada na dinastia Zhou (por volta de 1000-
770 a.C.), enquanto a primeira referência registrada dos cinco elementos é do
período de guerra entre os Estados (476-221 a.C.) (MACIOCIA,1996).
Cada um dos cinco elementos possui suas próprias características. A
atribuição destas características foi feita de acordo com a concepção das
propriedades destes, com as similaridades e analogias (MACIOCIA, 1996;
SUSSMANN, 2000).
Os cinco elementos, madeira, fogo, terra, metal e água abarcam todos os
fenômenos da natureza. Trata-se de um simbolismo que se aplica também ao
homem. (MANN, 1971).
Os antigos chineses chegaram a conhecer, através da prática e da vida,
observando-a durante longo tempo, perceberam entre as outras coisas que, a
madeira, fogo, terra, metal e água eram fundamentais na constituição da natureza
(YAMAMURA 1993).
A água umedece em descendência, o fogo chameja em ascendência, a
madeira pode ser dobrada e esticada, o metal pode ser moldado e endurecido, a
terra permite a disseminação, o crescimento e a colheita. Aquilo que absorve e
descende (água) é salgado, o que chameja em ascendência (fogo) é amargo, o que
pode ser dobrado e esticado (madeira) é azedo, o que pode ser moldado e enrijece
(metal) é picante e o que permite disseminar, crescer e colher (terra) é doce.
Esta afirmação mostra claramente que os cinco elementos simbolizam
cinco qualidades inerentes diversas e expressam o fenômeno natural. Também
relata o sabor (ou aroma) dos cinco elementos, e indica que os sabores representam
mais uma qualidade inerente de uma coisa (como uma composição química em
termos atuais) do que seu gosto de fato.
Os cinco elementos também simbolizam cinco direções diferentes de
movimentos dos fenômenos naturais. A madeira representa o movimento expansivo
e exterior em todas as direções, o metal representa o movimento contraído e interior,
a água representa movimento descendente, o fogo indica movimento ascendente e
a terra representa neutralidade ou estabilidade.
Cada um dos cinco elementos representa uma estação no ciclo anual. A
madeira corresponde à primavera, sendo associada ao nascimento; o fogo
corresponde ao verão, e está associado ao crescimento; o metal corresponde ao
outono, associado à colheita; a água corresponde ao inverno, e está associada ao
armazenamento; a terra corresponde à estação anterior, associada à transformação
(MACCIOCIA, 1996).
De acordo com Nakano & Yamamura (2005) o movimento água
representa os fenômenos naturais que se caracterizam por: retração, profundidade,
frio, declínio, queda, eliminação. Ponto de partida e chegada da transmutação dos
movimentos. O movimento madeira representa o aspecto de crescimento,
movimento, florescimento e síntese. O movimento fogo representa todos os
fenômenos naturais que se caracterizam por ascensão, desenvolvimento, expansão
e atividade. O movimento terra representa os fenômenos naturais que se traduzem
por transformações e mudanças. Já o movimento metal caracteriza os processos
naturais de purificação, de seleção, de análise e de limpeza.
A posição da terra requer alguns esclarecimentos. A terra não
corresponde a nenhuma estação, uma vez que é centro, o termo neutro de
referência ao redor do qual as estações e os outros elementos giram (MACCIOCIA,
1996).
2.6 Meridianos
Meridianos são canais virtuais que percorrem todo o corpo, e pelos quais
circula a energia vital Qi (PALMEIRA, 1990).
A energia flui através do corpo humano, na superfície e na profundidade,
de alto a baixo e vice-versa, interligando todo o organismo (SIDORAK, 1984).
Essa dinâmica processa-se através de canais ou linhas chamadas
meridianos. Estes se localizam na pele, em parte de seu trajeto e possuem
ramificações para o interior do corpo e para os demais órgãos, sistemas e vísceras.
Realizam assim um sistema de intercomunicação tridimensional com inúmeros
circuitos (SIDORAK, 1984).
Este sistema circulatório tridimensional é mantido graças ao sentido do
fluxo destas correntes energéticas e da alternância permanente de sua polaridade.
Tradicionalmente, os órgãos apresentam polaridade negativa, e as
vísceras, positiva. Isto porque, segundo a filosofia tradicional, os órgãos possuem
função cumulativa e transformadora dos elementos químicos, elaboram a energia a
ser transportada e distribuída pelo sangue, e as vísceras, dotadas de mobilidade
própria, promovem as condições de condução dos substratos químicos até os
órgãos, além de promoverem condições de base para os processos metabólicos dos
órgãos (SIDORAK, 1984).
Os pontos de acupuntura não são mostrados como localizações
anatômicas precisas nos textos chineses mais antigos; isso só aconteceu mais
tarde. Atualmente, aos alunos de acupuntura são ensinadas 361 localizações
precisas onde a tradição afirma que as agulhas deveriam ser colocadas para um
efeito mais favorável (MANN, 1971).
Os pontos de acupuntura são estabelecidos, na prática, pela localização
anatômica ou pela sensibilidade. Alguns pesquisadores sugeriram que eles podem
ser identificados por alterações na resistência cutânea. Por um lado, é fácil encontrar
pequenas áreas circunscritas da pele com uma baixa resistência elétrica. Chan
(1984), afirmou que os pesquisadores chineses acreditavam que essas áreas de
baixa resistência representavam pontos tradicionais de acupuntura. Essas
observações foram elaboradas num sistema recente de terapia no Japão, chamado
Ryodoraku, no qual se acredita que a doença dos órgãos viscerais é refletida pela
resistência elétrica anormal em pontos correspondentes da pele. (ERNST e WHITE,
2001).
Os acupontos foram empiricamente determinados no transcorrer de milhares de anos de prática. Acuponto é uma região da pele em que é grande a concentração de terminações nervosas sensoriais, Essa região está em relação íntima com nervos, vasos sangüíneos, tendões, periósteos e cápsulas articulares (WU, 1990). Sua estimulação possibilita acesso direto ao SNC. Estudos morfofuncionais identificaram plexos nervosos, elementos vasculares e feixes musculares como sendo os mais prováveis sítios receptores dos acupontos. Outros receptores encapsulados, principalmente o órgão de Golgi do tendão e bulbos terminais de Krause também podem ser observados. Diversos trabalhos têm demonstrado um grande número de mastócitos nos acupontos (SZABÓ e BECHARA, 2001, p. 1092).
Houveram muitas tentativas para validar o conceito de meridianos,
demonstrando-se alterações mensuráveis de uma forma ou outra. Darras et al.
(1993) concluíram que os trajetos dos meridianos poderiam ser marcados pela
injeção de tecnécio marcado radioativamente nos pontos de acupuntura e que esses
trajetos eram separados dos vasos linfáticos. Wu et al. (1994) verificaram que o
consumo de tecnécio era mais rápido por certos pontos de acupuntura do que por
aqueles que eram não-pontos, mas que, depois disso, seu movimento era explicado
totalmente pelo sistema venoso. Cohen et al. (1995) constataram que a resistência
elétrica ao longo de um meridiano no braço era menor do que entre os não-pontos
de acupuntura. De modo geral, tais estudos exploratórios não demonstraram, até
agora, nenhuma prova coerente da existência dos meridianos (ERNST e WHITE,
2001).
2.6.1 Teoria do Zang-Fu
A teoria do Zang-Fu é uma teoria para pesquisar as funções fisiológicas, a
anatomia, e as alterações patológicas dos órgãos internos do corpo e as suas
relações.
Os Zang-Fu formam pares, sendo eles: coração e intestino delgado, baço
/ pâncreas e estômago, pulmão e intestino grosso, rim e bexiga, fígado e vesícula
biliar e pericárdio e triplo aquecedor. Cérebro e útero são considerados órgãos
extraordinários (MACIOCIA,1996; ROSS,1994).
2.6.2 Pulmão (Fei)
De acordo com Nakano e Yamamura (2005), o fei (pulmão) situa-se no
sanjiao (aquecedor superior) e relaciona-se com o movimento metal, na teoria dos
cinco movimentos. O pulmão governa o qi e a respiração, sendo particularmente
encarregado em inalar o ar. Por esta razão, e por causa da sua influência sobre a
pele, é o sistema intermediário entre o organismo e o meio ambiente.
Controla os vasos sangüíneos (xue mai), onde o qi do pulmão auxilia o
coração (xin) no controle da circulação sangüínea. Diz-se que ele controla a
“Passagem das Águas”. Isto significa que o pulmão (fei) tem um papel vital no
movimento dos fluídos corpóreos (jin ye).
As funções do pulmão (fei) são:
- Governar o qi e a respiração;
- Controlar os meridianos e os vasos sangüíneos (xue mai);
- Controlar a dispersão e a descendência do qi;
- Regular a passagem das águas;
- Controlar a pele e os pêlos corpóreos;
- Abrir-se no nariz;
- Abrigar a alma corpórea (MACIOCIA, 1996; ROSS, 2005).
2.6.3 Intestino Grosso (Dachang)
A principal função do intestino grosso (dachang) consiste em receber
alimentos e líquidos do intestino delgado (xiaochang). Após a reabsorção de uma
parte destes fluídos corpóreos (jin ye), as fezes são excretadas (MACIOCIA, 1996;
ROSS, 2005; NAKANO e YAMAMURA, 2005).
2.6.4 Estômago (Wei)
O estômago (wei) é o mais importante de todas as vísceras do sistema
yang. Juntamente como baço (pi) é conhecido como a “raiz do qi pós-celestial” pelo
fato de que é a origem de todo o qi e sangue (xue) produzidos após o nascimento
(MACIOCIA, 1996; NAKANO e YAMAMURA, 2005).
Estômago é a víscera (fu) que está tradicionalmente associada ao baço /
pâncreas, sendo este o seu órgão acoplado, havendo ligações bastante comuns
tanto na fisiologia quanto na patologia.
O estômago é o mar dos grãos e da água, dos alimentos e dos líquidos,
tem a função de receber e preparar o alimento e a bebida. A transformação dos
alimentos inicia-se no estômago em que a parte mais pura vai através da função do
baço/pâncreas (pi) para o pulmão, onde se torna energia (qi), sangue (xue) e líquido
orgânico (jin ye). A parte mais densa, mais turva é encaminhada para o intestino
delgado (xiao chang) para se fazer a digestão e separar o puro do impuro dos
alimentos contidos nesta víscera. As funções do baço / pâncreas e do estômago são
complementares, enquanto o primeiro governa o movimento de subida das frações
mais puras do alimento, o segundo promove a descida das frações menos puras
(ROSS, 2005).
As funções do estômago são:
- Controlar o “amadurecimento e a decomposição” dos alimentos;
- Controlar o transporte das essências (jing) dos alimentos;
- Controlar a descendência do qi;
- Ser a origem dos fluídos corpóreos (jin ye) (MACIOCIA, 1996).
2.6.5 Baço (Pi)
De acordo com Nakano e Yamamura (2005), o pi (baço-pâncreas) situa-
se no sanjiao (aquecedor médio), e relaciona-se com o movimento terra, na teoria
dos cinco movimentos.
A principal função do baço (pi) consiste em auxiliar a digestão do
estômago por meio do transporte e da transformação das essências alimentares,
absorvendo a nutrição dos alimentos e separando as partes puras das impuras. O
baço é o sistema central na produção de qi: a partir dos alimentos (gu qi), que é a
base para a transformação do qi e do sangue. Na verdade, o qi dos alimentos
produzido pelo baço combina-se com o ar no pulmão (fei) para formar o qi torácico,
que é por si só a base para formar o qi verdadeiro (zhen qi). O qi dos alimentos do
baço também é a base para a formação do sangue, a qual ocorre do coração (xin).
Pelo fato do qi dos alimentos extraídos do baço serem materiais básicos para a
produção do qi e do sangue, o baço, junto com o estômago, é frequentemente
denominado de raiz do qi pós-celestial (MACIOCIA, 1996).
Depois do qi dos rins (shen) que é à base das energias pré-natal do
corpo, o qi do baço / pâncreas é considerado a base da vida pós-natal (ROSS,
2005).
As funções do baço são:
- Governar a transformação e o transporte;
- Controlar o sangue;
- Controlar a parte carnosa dos músculos e os quatro membros;
- Controlar a “ascendência do qi”;
- Manter os órgãos fixos;
- Abrigar o pensamento (MACIOCIA, 1996; ROSS, 2005).
2.6.6 Coração (Xin)
O coração (xin) é considerado o mais importante de todos os sistemas
internos, sendo algumas vezes descrito como o “soberano” ou “monarca” dos
sistemas internos (MACIOCIA, 1996).
De acordo com Nakano e Yamamura (2005), o Xin (Coração) situa-se no
shangjiao (aquecedor superior), e relaciona-se com o movimento fogo, na teoria dos
cinco movimentos.
Dentre as principais funções do coração está abrigar a mente. Na MTC o
coração é conhecido como morada da mente. A Medicina Chinesa afirma que o
coração é a residência da Mente (shen). A palavra shen pode ser traduzida de
diversas maneiras entre elas como mente ou espírito. O coração é entendido como o
principal órgão dominador das atividades mentais, intelectuais, sendo relacionado à
memória, ao pensamento ao sono e sonhos, à consciência e às emoções e
sentimentos e alegria (MACIOCCIA, 1996).
Dentre outras funções do coração estão governar o sangue, os vasos
sangüíneos (xue mai) e abrigar a mente (MACIOCIA, 1996; ROSS, 2005).
As funções do coração são:
- Governar o sangue;
- Controlar os vasos sangüíneos (xue mai);
- Manifestar-se na compleição;
- Abrigar a mente;
- Abrir-se na língua;
- Controlar a sudorese (MACIOCIA, 1996).
2.6.7 Intestino Delgado (Xiaochang)
O intestino delgado recebe alimentos e líquidos após a digestão feita pelo
estômago e baço. Isto é transformado posteriormente por meio da separação das
partes “puras” das “impuras” (MACIOCIA, 1996). A parte pura é extraída dos
alimentos pelo xiao chang e é enviada ao baço / pâncreas, e a parte impura é
encaminhada para o intestino grosso (da chang). Ao mesmo tempo, o intestino
delgado participa no metabolismo do líquido orgânico, uma vez que ele encaminha
partes dos líquidos impuros que recebe do estômago para os rins (shen) e para a
bexiga (pang guang) a fim de serem separados e excretados sob o controle do yang
dos rins (ROSS, 2005).
De um ponto de vista psicológico, o intestino delgado (xiaochang)
apresenta uma influência sobre a lucidez mental e o julgamento. Também apresenta
uma influência sobre nossa capacidade de tomar decisões, mas sob um aspecto
diferente da vesícula biliar (dan). Uma vez que a vesícula biliar tem influência sobre
nossa capacidade e coragem para tomar decisões, o intestino delgado (xiaochang)
nos oferece um poder de discernimento, que é a habilidade para distinguir assuntos
relevantes com clareza antes de decidirmos qualquer coisa (MACIOCIA, 1996).
As funções do intestino delgado são:
- Controlar a recepção e a transformação;
- Separar os fluídos corpóreos (MACIOCIA, 1996).
2.6.8 Bexiga (Pangguang)
A bexiga apresenta uma esfera maior de atividade na MTC do que na
medicina ocidental. É a responsável pelo armazenamento e excreção da urina, além
de participar da transformação dos fluídos corpóreos necessários para produzi-la.
Sob o aspecto mental, um desequilíbrio na bexiga pode provocar
emoções negativas, tais como ciúmes, desconfiança e rancor por um longo período
(MACIOCIA, 1996).
A função da bexiga de reter e transformar os líquidos depende do qi dos
rins, principalmente da sua parte yang. Se estiverem deficientes, a bexiga perde a
propriedade de reter os líquidos, podendo ocasionar a enurese, a incontinência
urinária, etc. E de modo alternado, pode ocorrer a dificuldade de micção com
retenção urinária (ROSS, 2005).
A função principal da bexiga (pangguang) é:
- Remover a água por meio da transformação do qi (MACIOCIA, 1996).
2.6.9 Rim (Shen)
O rim (shen) é frequentemente referido como a “raiz da vida” ou “raiz do qi
pré-celestial”. Isto ocorre porque armazena a essência (jing) que é parcialmente
derivada dos pais, estabelecida na concepção. De acordo com Nakano e Yamamura
(2005), o shen (rim) situa-se no sanjiao (aquecedor inferior), e relaciona-se com o
movimento água, na teoria dos cinco movimentos.
Como todo sistema yin, o rim apresenta um aspecto yin e outro yang.
Todavia, estes dois aspectos adquirem um significado diferente par ao rim, porque
este é o fundamento do yin e do yang para todos os outros sistemas. Por esta razão,
O yin e o yang do rim também são chamados de “yin primário” e “yang primário”,
respectivamente.
O yin do rim é o fundamento essencial para o nascimento, crescimento e
reprodução, enquanto o yang do mesmo é a força motriz de todos os processos
fisiológicos. O yin do rim é o fundamento material para o yang do rim, e o yang do
rim é a manifestação exterior do yin do rim. Na saúde, estes dois pólos formam um
todo. Na patologia, todavia, ocorre a desequilíbrio do yin e do yang do rim.
O rim difere dos outros sistemas yin, pois é o fundamento para todo qi do
yin e yang do organismo, e também por ter sua origem na água e no fogo do
organismo. Embora, de acordo com os cinco elementos, o rim pertence à água, mas
também é considerado a fonte do fogo no organismo denominado de “Fogo do
portão da vitalidade”, com relação aos sentimentos o rim é responsável pelo medo.
As funções do rim são:
- Armazenar a essência (jing) e governar o nascimento, crescimento,
reprodução e desenvolvimento;
- Base do yang e do yin;
- Produzir a medula, abastecer o cérebro e controlar os ossos;
- Governar a água;
- Controlar a recepção do qi;
- Abrir-se nos ouvidos;
- Manifestar-se nos cabelos;
- Controlar os dois orifícios inferiores;
- Abrigar a força de vontade (MACIOCIA, 1996; ROSS, 2005).
2.6.10 Pericárdio (Xinbao)
O pericárdio (xinbao) está intimamente relacionado ao coração (xin). A
visão tradicional do pericárdio consiste no fato de que este funciona como uma
cobertura externa do coração, protegendo-o dos ataques dos fatores patogênicos
externos (MACCIOCIA, 1996; NAKANO e YAMAMURA, 2005).
O pericárdio é de uma importância secundária para o coração e mostra
muitas das mesmas funções (MACIOCIA, 1996).
O pericárdio é considerado o órgão zang ao lado do shen, pi, gan, xin e
fei, sendo de importância relativa tanto na teoria como na prática. Tradicionalmente é
considerado o escudo protetor do coração (ROSS, 2005).
De acordo com a teoria dos sistemas internos, as funções do pericárdio
são mais ou menos idênticas àquelas do coração: governa o sangue e abriga a
mente. Na verdade, muitos pontos do meridiano do pericárdio apresentam uma
influência poderosa sobre o estado mental e emocional (MACIOCIA, 1996).
2.6.11 Triplo Aquecedor (San Jiao)
O triplo aquecedor é um dos aspectos mais evasivos da MTC e um dos
temas de maior controvérsia há séculos. Embora seja “oficialmente” um dos seis
sistemas yang, os médicos chineses sempre se questionaram sobre a natureza do
triplo aquecedor e, em particular, se apresentava uma “forma” ou não, ou seja, se de
fato é um sistema ou uma função (MACIOCIA, 1996).
O san jiao é conhecido no ocidente como o triplo aquecedor, constituindo
o sexto fu do sistema das vísceras (fu) e é o mais difícil de todos os zang fu de se
entender, é aquele sobre o qual tem havido muitas controvérsias, tanto na China
como no ocidente. Além disso, no ocidente tem-se dado uma importância
inadequada pela má interpretação e entendimento errôneo de sua função (ROSS,
2005).
2.6.12 Vesícula Biliar (Dan)
De acordo com Nakano e Yamamura (2005), o dan (vesícula biliar) é uma
víscera importante entre os sistemas yang, pois possui um produto refinado “puro”,
estocando substâncias refinadas, que se assemelha a um sistema yin, e não se
comunica com o exterior, como acontece com os outros sistemas yang.
A vesícula biliar ocupa um lugar importante entre os sistemas yang
porque é o único que não lida com os alimentos, líquidos e produtos excretáveis,
mas armazena a bile. Além disto, não se comunica com o exterior diretamente, como
acontece com os outros sistemas yang (através da boca, reto ou uretra) nem recebe
os alimentos ou transporta a nutrição, como fazem os outros sistemas yang
(MACIOCIA, 1996).
A vesícula biliar é considerada como uma víscera curiosa, porque parece
ser uma víscera (yang) na forma, uma vez que é oca, porém apresenta funções yin
como se fosse um zang (órgão), pois armazena um fluído puro, a bile, mas é
diferente dos outros sistemas fu, os quais todos estão envolvidos no processo de
receber e transformar alimentos e bebidas e eliminar resíduos (ROSS, 2005).
Sob a ótica psicológica, a vesícula biliar influencia a capacidade de tomar
decisões.
As funções da vesícula biliar são:
- Estocar e excretar a bile;
- Controlar o julgamento;
- Controlar os tendões (MACIOCIA, 1996).
2.6.13 Fígado (Gan)
De acordo com Nakano e Yamamura (2005), o gan (fígado) situa-se no
sanjiao (Aquecedor Inferior), e relaciona-se com o movimento madeira, na teoria dos
cinco movimentos. O fígado apresenta muitas funções importantes, entre as quais a
de armazenar o sangue e assegurar o movimento suave do qi através de todo o
organismo. Também é o responsável pela nossa capacidade de recuperar
(fortalecer) o qi e contribuir para a resistência do organismo contra os fatores
patogênicos externos (MACIOCIA, 1996).
O fígado produz a bile e a vesícula biliar a armazena, soltando-a
periodicamente de modo que ela desce para o intestino delgado para ajudar a
digestão (ROSS, 2005).
O fígado é frequentemente comparado à um general de exército porque é
responsável pelo planejamento total das funções do organismo realizado por meio
da garantia de fluxo suave e da direção correta de qi. Por causa desta qualidade, o
fígado (gan) também é considerado a origem da coragem e da resolução, se o
sistema estiver em bom estado de saúde (MACIOCIA, 1996).
As funções do fígado são:
- Armazenar sangue;
- Assegurar o fluxo suave do qi;
- Controlar os tendões;
- Manifestar-se nas unhas;
- Abrir-se nos olhos;
- Abrigar a alma etérea (MACIOCIA, 1996; ROSS, 2005).
2.7 “Qi”
Um fator vital é o fluido de energia de vida chamado qi. Qi está presente
em todos os processos da vida e é compreendido por yin e do yang (KIM, 2005).
A medicina chinesa considera a função do corpo e da mente como o
resultado da interação de determinadas substâncias vitais. Essas substâncias
manifestam-se em vários níveis de “substancialidade”, de maneira que algumas
delas são muito rarefeitas e outras totalmente imateriais. Todas elas constituem a
visão chinesa antiga do corpo-mente. O corpo e a mente não são vistos como um
mecanismo (portanto, complexo), mas como um círculo de energia e substâncias
vitais interagindo uns com os outros para formar o organismo. A base de tudo é o qi:
todas as outras substâncias vitais são manifestações do qi em vários graus de
materialidade, variando do completamente material, tal como os fluidos corpóreos,
para o totalmente imaterial, tal como a mente (shen) (QUIMELLI, 2005).
A essência dos alimentos (gu qi), derivada dos alimentos e da bebida pela
ação de baço / pâncreas e do estômago, combina com o ar do pulmão para formar o
zhong qi e o zhen qi, sob a influência do coração e do pulmão. O zhong qi, o qi do
tórax, está intimamente relacionado com as funções do coração e do pulmão, e com
a circulação do sangue (xue) e do qi pelo corpo (ROSS, 2005).
O wei qi (energia de defesa) e o yong qi (energia de nutrição) são os dois
aspectos de zhen qi, o qi verdadeiro. O wei qi circula principalmente na pele e nos
músculos, enquanto o yong qi circula nos canais e colaterais (jing luo) e nos vasos
(xue mai). A natureza e as funções de yong qi e de xue são tão íntimas que em
alguns textos e em algumas situações, os dois termos são considerados como
sinônimos (ROSS, 2005).
Para MTC, a estimulação na pele em pontos específicos com a agulha deve produzir uma sensação específica (“DEQUI” ou “Qi”), que corresponde à ativação de canais energéticos específicos para reequilibrar a harmonia energética do corpo, fornecendo meios do organismo se “auto-tratar”, sem o uso de medicamentos (QUIMELLI, 2005, p. 22).
O conceito do qi absorveu os filósofos chineses de todas as épocas,
desde o início da civilização chinesa até os tempos atuais. O caractere para qi indica
alguma coisa que possa ser material e imaterial ao mesmo tempo. Isto significa
claramente que o qi pode ser tão rarefeito e imaterial como o vapor, e tão denso e
material como o arroz. Além disso, indica que o qi é uma substância sutil (fluxo,
vapor) derivada de uma substância material comum (arroz) assim como o vapor é
produzido pelo arroz cozido.
É muito difícil traduzir a palavra qi, sendo que muitas traduções diferentes
foram propostas, mas nenhuma delas se aproxima da essência (jing) exata do qi.
Tem sido traduzida de várias maneiras como “energia”, “força material”, “éter”,
“matéria”, “matéria-energia”, “força-vital”, “força da vida”, “poder virtual”, “poder de
locomoção. A razão da dificuldade em traduzir a palavra qi corretamente consiste em
sua natureza fluida, pela qual o qi pode assumir manifestações diferentes e ser
diferentes coisas nas mais diferentes situações.
O qi é à base de todos os fenômenos no universo e proporciona uma
continuidade entre as formas material e dura e as energias tênues, rarefeitas e
imateriais (MACCIOCIA, 1996).
A energia vital (qi) flui através dos doze meridianos em vinte e quatro
horas, na seguinte ordem: pulmões, intestino grosso, estômago, baço, coração,
intestino delgado, bexiga, rins, circulação sexo, triplo aquecedor, vesícula e fígado. É
este fluxo de energia que conserva o homem vivo. Quando cessa, sobrevém à morte
e somente o curso pelo qual a energia se escoou, o meridiano, fica para trás (MANN,
1971).
Muitos acupunturistas consideram que, para que a acupuntura seja eficaz,
as agulhas devem provocar a sensação de de qi. Uma vez que as agulhas são
introduzidas, os pacientes podem sentir uma sensação de qi. Esta sensação é
estranha e um pouco desagradável, variando do entorpecimento até a distensão e a
dor localizada e, por último, irritabilidade ou dor. Também é descrito como
adormecimento, timidez, pressão, sensibilidades, distensão, calor ou frio. Isto
significa a dissolução de um meridiano obstruído. A sensação pode radiar durante
todo o meridiano até que qi esteja estabilizado. Pode ocorrer quando uma agulha é
inserida sem estimulação, mas, geralmente, é induzida manipulando-se a agulha em
direção rotacional ou levantando-se e empurrando-se a agulha. É possível provocar
a sensação de agulha (de qi), inserindo agulhas em áreas que não são reconhecidas
como pontos de acupuntura. Ao mesmo tempo que a sensação de agulha é
vivenciada pelo paciente, o acupunturista pode detectar que a agulha está sendo
segura pelos tecidos musculares (ERNST e WHITE, 2001; KIM 2003).
Concluindo, podemos dizer que qi é uma formação de matéria contínua
resultando na forma física (xing) quando condensa. Xing é uma formação da
matéria, resultando no qi quando dispersa (MACCIOCIA, 1996).
2.8 Tipos de dor
A dor é uma entidade sensorial múltipla que envolve aspectos
emocionais, sociais, culturais, ambientais e cognitivos. Essa “entidade” possui um
caráter muito especial, que vai variar de pessoa para pessoa, sob influência do
aprendizado cultural, do significado atribuído à situação em experiências anteriores
vividas e recordações destas, bem como nossa capacidade de compreender suas
causas e conseqüências.
Dor é uma qualidade sensorial complexa, puramente subjetiva, difícil de
ser definida e freqüentemente difícil de ser descrita ou interpretada. É, atualmente,
definida, como resposta desagradável a estímulos associados com real ou potencial
dano tecidual (BLOMM, 1983).
A dor invoca emoções e fantasias, muitas vezes incapacitantes, que
traduzem o sofrimento, incerteza, medo da incapacidade, da desfiguração e da
morte, preocupação com perdas materiais e sociais são alguns dos diferentes
componentes do grande contexto dos traços que descrevem a relação doente com
sua dor (OLIVEIRA, 1997).
O grau de reação à dor de cada pessoa varia muito. Isso resulta parcialmente, da capacidade do próprio encéfalo de controlar o grau de entrada dos sinais de dor no sistema nervoso, pela ativação de um sistema de controle da dor, denominado sistema de analgesia (GUYTON, 1993, p. 118).
A dor não é simplesmente um produto direto da atividade das fibras
aferentes nociceptivas, mas é regulada pela atividade de outras fibras aferentes
mielinizadas que não estão diretamente relacionadas com a transmissão da
informação nociceptiva (KANDELL et al, 2003).
2.8.1 Dor Aguda
A dor aguda representa uma experiência sensitiva de avaliação subjetiva
e intransferível na defesa da integridade do organismo, temporalmente associada a
um risco potencial de lesão tecidual. Dor aguda é conseqüente da lesão corporal,
sendo bem localizada e desaparece na cura ou na remoção do estímulo causal.
A dor aguda demanda tratamento imediato, exceto em algumas situações
clínicas, como o abdômen agudo em função de seu valor diagnóstico e prognóstico.
(VALE, 2006).
No caso da chamada dor aguda, que comumente está associada a dano
tecidual, a percepção da sensação da dor atua como um sinal que induz a pessoa a
adotar comportamentos que objetivam afastar, reduzir ou eliminar a causa da dor.
Essas reações são significativamente influenciadas pelo contexto sócio-
cultural no qual ocorreu a lesão e a dor, pelo estado psicológico do indivíduo no
início da experiência dolorosa e pela personalidade pré-mórbida do mesmo. As
reações afetivas predominantes associadas à dor aguda são a ansiedade e a
resposta de estresse com as manifestações de hiperatividade simpática
concomitantes (OLIVEIRA, 1997).
2.8.2 Dor Crônica
As estatísticas recentes revelam que a dor crônica é um problema
crescente, apesar da larga variedade dos tratamentos disponíveis (KIM, 2003).
A dor crônica pode ter início como uma dor aguda mal tratada,
continuando além do tempo normal esperado para resolução do problema de base,
e raramente é acompanhada de sinais de atividade do sistema nervoso autônomo
(SNA). A experiência dolorosa prolongada não é puramente física, pois se
acompanha de uma relevante carga de ansiedade e de sintomas de depressão em
função da plasticidade do sistema nervoso central que podem levar desesperança e
descrença ao paciente quanto à melhora clínico-cirúrgica.
Quando os processos álgico e inflamatório se prolongam por mais de oito
semanas, a dor crônica desenvolve mecanismos psico-neuro-endócrinos adaptativos
bastante complexos. A dor crônica está relacionada com uma doença crônica ou
com um processo degenerativo em evolução, além do tempo necessário para a
recuperação da lesão original ou de outros processos degenerativos. Fatores psico-
econômico-sociais, culturais e ambientais têm importante papel na experiência e na
expressão de dor crônica com duração superior a três meses, sendo excluídas
outras causas, como a continuação da malignidade ou de infecção cronificada.
A dor crônica tem incidência variável, atingindo de 5% a 35% da
população (VALE, 2006).
Em contraste com a dor aguda, a dor crônica tem função biológica
diferente e associa-se à muita hiperatividade autonômica. Os doentes com dor
crônica, geralmente, exibem sintomas neurovegetativos como alterações nos
padrões de sono, apetite, peso e libido, associados à irritabilidade, alterações de
energia, diminuição da capacidade de concentração, restrições nas atividades
familiares, profissionais e sociais. Há geralmente, maior expressão de sinais
somáticos da doença orgânica e manifestações emocionais de depressão,
ansiedade e hostilidade. Neste caso é importante perceber que existem dores tais
que não têm nenhum significado útil e que a dor crônica pode ser muito prejudicial
ao homem (OLIVEIRA, 1997).
2.9 História da Analgesia
Desde a descoberta do ópio da papoula, sabe-se que os opióides, como a
morfina e a codeína, são agentes analgésicos eficientes (KANDELL et al, 2003).
A acupuntura foi o primeiro método analgésico eficaz no tratamento da
dor na história [...]. Utilizada há mais de 3.000 anos na tradicional medicina chinesa
para tratamento de várias doenças, surgiu da observação serendíptica de que os
ferimentos à flecha nos guerreiros cicatrizavam mais rápido do que os de espada ou
porretes. Relatório da Organização Mundial de Saúde (1978) reconhece o método
de agulhamento como uma prática [...] eficaz (VALE, 2006).
Está provado cientificamente que a estimulação gerada pela acupuntura
causa uma resposta reflexa (efeito tanto bioquímico quanto bioelétrico) no Sistema
Nervoso Periférico (SNP) e Central (SNC). Seu estímulo periférico corre ao longo
dos neurônios passando pelo tronco cerebral (medula oblonga, ponte, mesencéfalo)
gerando a liberação de neuropeptídeos opióides (endorfinas, encefalinas, dinorfinas,
etc.), aumento da concentração de serotonina no líquido cefaloraquidiano (LCR), etc.
levando a homeostase e conseqüente prevenção, diminuição da dor, tratamento ou
cura de inúmeras doenças (mentais, emocionais, orgânicas, comportamentais).
Os efeitos terapêuticos da Acupuntura não se dão apenas no local de
inserção das agulhas ou de outros estímulos não invasivos (calor, pressão) no
Sistema Nervoso Periférico, como muitos sujeitos que não sabem dos achados
científicos dessa terapêutica tendem a acreditar. Está provado que os efeitos dessa
estratégia milenar são locais, segmentares e supra-espinais (SILVA, 06).
Segundo estudo do Research Group of Acupunture Anaesthesia de 1974,
foi mostrado que a analgesia da acupuntura depende de um mecanismo humoral.
Removeu-se o líquido cefalorraquidiano (LCR) de um coelho no qual havia sido
induzida a analgesia da acupuntura. Esse doador de LCR foi usado para substituir o
LCR de um outro coelho receptor que, por sua vez, desenvolveu a analgesia
(ERNST e WHITE, 2001).
Em todos os casos de analgesia, um teste de inserção de agulha deve ser
realizado antes da cirurgia. Isto serve para avaliar a sensibilidade do paciente e
tolerância à acupuntura. Neste momento, o procedimento operatório deve ser
descrito para preparar o paciente e diminuir as ansiedades (CHAITOW, 1984).
2.9.1 Neurofisiologia da analgesia por acupuntura
O sistema de analgesia consiste em três componentes principais (mais
outros componentes acessórios): (1) área cinzenta periaquedutal do mensencéfalo e
parte superior da ponte, que circundam o aqueduto de Sylvius;os neurônios dessa
área enviam seus sinais para (2) o núcleo magno da rafe, um pequeno núcleo da
linha média, localizado nas regiões inferior da ponte e superior do bulbo. Daí, os
sinais são transmitidos pelas colunas dorsolaterais da medula para (3) um complexo
inibitório da dor, localizado nos pontos dorsais da medula espinhal. Nesse ponto, os
sinais da analgesia podem bloquear os sinais da dor antes que cheguem ao
encéfalo (GUYTON, 1993).
Vários transmissores diferentes estão envolvidos no sistema de analgesia, principalmente a encefalina e a serotonina. Várias fibras nervosas provenientes dos núcleos periventriculares e da área cinzenta periaquedutal secretam encefalina em suas terminações. Assim, as terminações de várias das fibras, no núcleo magno da rafe liberam encefalina. As fibras originadas nesse núcleo, mas que terminam nas pontas dorsais da medula espinhal, secretam serotonina em sua terminações. A serotonina, por sua vez, ainda atua sobre outro grupo de neurônios medulares locais, que parecem secretar encefalina (GUYTON, 1993, p. 119).
A estimulação elétrica na área cinzenta periaquedutal, ou no núcleo
magno da rafe, pode causar supressão quase total de vários sinais dolorosos muito
fortes, que chegam pelas raízes dorsais espinhais (GUYTON, 1993).
A acupuntura é uma técnica reflexa, reguladora, que estimula os sistemas de regulação e cura do organismo. Atua em três níveis do sistema nervoso central: espinhal, tronco-encefálico e diencéfalo. Produz respostas reflexas, tanto locais como sistêmicas, inespecíficas e gerais, mediadas por centros superiores de controle central e pelos sistemas endócrino e imunológico (MOYA, 2005, p. 283).
As avaliações identificaram que a Acupuntura, no tratamento da dor
(indução da analgesia), segue vias muito bem definidas e testadas. Ela usa das
fibras aferentes musculares mielinizadas e de pequeno calibre do tipo II (6-12mm,
com função do comprimento muscular, produz a sensação de dormência) e tipo III
(1-5mm, com função de receptores tendinosos e táteis, produz a sensação de peso
e relaxamento) para produzir o deqi (sensação causada pela inserção da agulha no
acupunto), enviando um sinal (mensagem) que corre pela medula espinhal (via
funículo lateral: tracto espino-talâmico e fibras espino-reticulares) chegando até o
Sistema Nervoso Central (SNC), que libera neurotransmissores que causam bem-
estar e diminuição ou anulação da sensação de dor (serotonina, endorfinas, cortisol,
monoaminas) (SILVA, 06).
A analgesia depende de uma via que liga a substância cinzenta
periaquedutal ao núcleo magno da rafe, de onde partem fibras serotoninérgicas que
percorrem o tracto espinhal do trigêmeo e o fascículo dorsolateral da medula e
terminam em neurônios internunciais encefalinérgicos situando no núcleo do tracto
espinhal do trigêmeo e na substância gelatinosa. Estes neurônios inibem a sinapse
entre os neurônios I e II da via da dor através da liberação de um opióide endógeno,
a encefalina, substância do mesmo grupo químico da morfina. Receptores para
opióides existem também na substância cinzenta periaquedutal, onde a injeção de
quantidades muitos pequenas de morfina resulta em uma analgesia semelhante à
que se obtém por estímulos elétricos. Assim, sabe-se hoje que a atividade
analgésica da morfina, substância usada para tratamento de quadros dolorosos
muito intensos, se deve à sua fixação e conseqüente ativação dos receptores para
opióides existentes na via da analgesia acima descrita. A descoberta dessa fato deu
origem a novas técnicas para tratamento de quadros dolorosos graves através da
instilação intracerebral ou espinhal de morfina (MACHADO, 2004).
As conexões aferentes da substância cinzenta periaquedutal são
numerosas, mas o contingente mais importante é representado por fibras ou
colaterais das vias neo e paleoespino-talâmicas. Isto aumenta a complexidade e a
sofisticação do sistema de regulação da dor, uma vez que os próprios estímulos
nociceptivos que sobem pelas vias espino-talâmicas podem inibir a entrada de
impulsos dolorosos no sistema nervoso central. Entende-se assim como a
introdução de uma agulha em uma parte do corpo pode causar alívio em um ponto
doloroso muito distante. Esse procedimento é usado na acupuntura, que
recentemente teve esclarecida sua base neurobiológica e começa a ser aceita pela
medicina tradicional (MACHADO, 2004).
Entretanto, segundo Fernandes et al. (2003), outro mecanismo para
explicar a analgesia por acupuntura é a liberação de substâncias vasoativas por
processo inflamatório, que decorre da inserção da agulha, melhorando a oxigenação
celular, trocas metabólicas, aumento do aporte sangüíneo e linfático (QUIMELLI,
2005).
A acupuntura influencia na atividade encefálica regional através de pontos
maiores, como o Zusanli (E36) e o Hegu (IG4) que ativam o hipotálamo (aumento de
endorfina), núcleo accumbens (via anti-noceptiva descendente) e desativam o giro
cingulatum, amígdala e hipocampo (sistema límbico), inclusive influenciando no
consumo de analgésicos e anestésicos (VALE, 2006).
2.9.2 “Portão da dor“
A teoria do portão da dor de Melzack e Wall marcou o início de um grande número de pesquisas sobre os mecanismos de regulação da dor. Embora alguns dos circuitos nervosos postulados por essa teoria não tenham sido aceitos, ela foi confirmada nos seus aspectos fundamentais, ou seja, existe um “portão” para a dor envolvendo complexos circuitos da
substância gelatinosa, controlados por fibras de origem espinhal e supra-espinhal (MACHADO, 2004, p. 307).
Há também as pesquisas que apontam que o SNC pode ser alterado pela
acupuntura e gerar um fechamento do "Portão da Dor" (teoria proposta pela primeira
vez por Melzack e Wall no ano de 1965) anulando assim a sensação da dor. Esse
processo ocorre, entre outros setores, no tálamo.
Um dos primeiros trabalhos a evidenciar essa via periférica e central do
estímulo terapêutico da acupuntura no tratamento da dor foi desenvolvido em 1973
por Chiang, do Instituto de Fisiologia de Shangai. Esse pesquisador aplicou injeção
de procaína a 02% em humanos, nos pontos de acupuntura IG4 (Hegu) e IG10
(Shousanli). Como resultado do experimento ele concluiu que as injeções
subcutâneas geravam o deqi e a analgesia, já as intramusculares não geravam o
deqi e muito menos a analgesia. Esses achados científicos também se repetiram nos
experimentos com animais de laboratório. Um detalhe importante é que Chiang,
antes de dar as injeções, usou um torniquete no braço que era estimulado para
evitar que o sangue levasse substâncias com efeito analgésico (evitando assim o
conhecido efeito da "indução analgésica por estresse doloroso") (SILVA, 06).
Um estímulo não é considerado essencialmente “doloroso”. Em vez disso,
indica trauma e, portanto, é designado “nociceptivo”. As fibras nervosas nociceptoras
individuais podem responder a um simples estímulo, como uma forte pressão
mecânica ou o calor e o frio, ou podem ser polimodais, isto é, respondem a muitos
estímulos. As fibras nociceptivas se projetam nos neurônios espinhais, que podem
responder a vários estímulos – eles apresentam uma ampla escala dinâmica. O
estímulo nociceptivo é processado ou “modulado” em sua passagem através do
SNC e pode ou não resultar na experiência desagradável que conhecemos como
dor. A modulação é o resultado do equilíbrio de vários mecanismos inibidores e
facilitadores em todo o SNC. O nível de dor sentida pode ser influenciado pela
atividade simultânea em outro lugar do SNC ou por fatores psicológicos, incluindo
uma experiência anterior de dor, condicionamento, expectativa, medo ou desejo,
bem como influências culturais e genéticas. O processo de prevenção de estímulos
nocivos da consciência alcançada é referido como “controle nociceptivo” (ERNST e
WHITE, 2001).
Ainda, segundo Machado (2004), a inibição dos impulsos dolorosos por
estímulos táteis explica também o alívio que se sente ao esfregar um membro
dolorido depois de uma topada.
2.9.3 Opióides endógenos
Existe evidência experimental de que a analgesia originada pela
acupuntura está mediada por peptídeos opióides (MOYA, 2005).
Há mais de 20 anos, foi descoberto que a injeção de quantidades extremamente pequenas de morfina, no núcleo periventricular, ao redor do terceiro ventrículo do diencéfalo, ou na área cinzenta periaquedutal do tronco cerebral, causava grau extremo de analgesia. Estudos subseqüentes mostraram que a morfina atua ainda em vários outros pontos do sistema de analgesia, incluído as pontas dorsais da medula espinhal. Como a maioria das substâncias que alteram a excitabilidade dos neurônios o faz por ação sobre os receptores sinápticos, supôs-se que os “receptores de morfina” do sistema de analgesia deveriam ser na verdade receptores para algum neurotransmissor semelhante à morfina naturalmente secretado no encéfalo. Portanto, foi iniciado pesquisa extensa para descobrir o opiáceo natural do cérebro. Já foi detectada cerca de uma dúzia dessas substâncias opiáceas em diferentes pontos do sistema nervoso, mas todas são produtos do metabolismo de três grandes moléculas protéicas: pró-opiomelanocortina, pró-encefalina e pró-dinorfina. Além disso, numerosas regiões do cérebro possuem receptores para opiáceos, principalmente as áreas no sistema de analgesia. Entre as substâncias opiáceas mais importantes estão a beta-endorfina, metencefalina, leu-encefalina e dinorfina (GUYTON, 1993, p. 119).
As duas encefalinas são encontradas nas partes do sistema da analgesia
descritas acima e a beta-endorfina está presente no hipotálamo e na hipófise. A
dinorfina, embora só encontrada em quantidades pequenas no tecido nervoso, é
importante porque é opiáceo muito potente, com efeito de cessação da dor 200
vezes maior que a morfina, quando injetada diretamente no sistema da analgesia
(GUYTON, 1993).
Assim, embora todos os detalhes finos do sistema dos opiáceos
encefálicos não estejam totalmente elucidados, a ativação do sistema da analgesia,
por sinais nervosos que entram na área cinzenta periaquedutal, ou por substâncias
semelhantes à morfina, pode suprimir, total ou quase totalmente, vários sinais
álgicos que entram pelos nervos periféricos (GUYTON, 1993).
Os peptídeos opióides e seus receptores estão distribuídos no SNC,
particularmente como relação aos conhecidos trajetos nociceptivos. Três peptídeos
opióides são conhecidos por estarem implicados com a analgesia: as encefalinas
estão presentes nas lâminas I e V do corno posterior e na substância cinzenta
periaquedutal; a beta-endorfina é encontrada na substância cinzenta periaquedutal e
no núcleo arqueado do hipotálamo; a dinorfina é encontrada em toda a medula
espinhal. Os peptídeos opióides produzem seu efeito após se unirem aos sítios
receptores (ERNST e WHITE, 2001; KANDELL et al, 2003).
O ato de introduzir a agulha na pele gera uma freqüência de 2 a 3 hertz, estimulando fibras nervosas que conduzem a dor e provocando uma seqüência de reações para o seu alívio. Estas reações estimulam a liberação de substâncias analgésicas (opióides endógenos), que atuam no cérebro e também reforçam o controle da dor segundo a teoria do portal (Melzack, 1965). Os opióides mais importantes são β-endorfina, metencefalina, encefalina e dinorfina, responsáveis por proporcionar um relaxamento mais efetivo e, em alguns casos, causar sonolência e aliviar tensões proporcionadas pelo estresse (QUIMELLI, 2005, p. 22).
O laboratório do professor Han de Beijing foi um dos primeiros a revelar o
papel dos peptídeos opióides na analgesia da acupuntura e o primeiro trabalho foi
resumido (Han e Terenius, 1982). As descobertas mais importantes foram que a
eletroacupuntura de baixa freqüência desencadeia a liberação de betaendorfina e
encefalina no cérebro e na medula espinhal, que interagem com os receptores I e
delta, respectivamente. A eletroacupuntura de alta freqüência (ou “semelhante à
estimulação nervosa elétrica transcutânea”) aumenta, por sua vez, a liberação de
dinorfina na medula espinhal, que interage com os receptores capa. Essas
descobertas foram confirmadas em seres humanos (Han et al., 1991) (ERNST e
WHITE, 2001).
De acordo com os princípios gerais das experiências que investigam o
papel das endorfinas e dos receptores opióides na analgesia por acupuntura,
através da liberação de peptídeos opiáceos endógenos (encefalinas, endorfinas,
dinorfinas, endomorfinas) com efeito analgésico comparados aos opiáceos. As
pesquisas que comprovam esses dados vão em duas direções:
Uso de drogas (naloxone) para modificar a ação dos opiáceos
endógenos, bloqueando seus receptores neurais, interferindo na ação da acupuntura
de baixa freqüência (2 a 6 hertz) no tratamento das dores, e medição da
concentração de peptídeos opióides no sangue e no líquido cefalorraquidiano nos
sujeitos submetidos à acupuntura.
Os efeitos analgésicos dos peptídeos opióides são potentes, conforme se
mostra pela profunda analgesia resultante da administração de betaendorfina no
espaço subaracnóide (ERNST e WHITE, 2001).
2.9.4 Hipotálamo
A estimulação de áreas em níveis cerebrais mais superiores que, por sua vez, excitam a área cinzenta periaquedutal, e, principalmente, os núcleos periventriculares do hipotálamo, de localização adjacente ao terceiro ventrículo e em menor proporção, o feixe prosencefálico medial, também no hipotálamo, pode suprimir a dor, embora talvez não o faça com muita eficácia (GUYTON, 1993, p. 118).
Pesquisas científicas provam que os estímulos gerados pela
Eletroacupuntura (EA) a 2 hertz alcançam o núcleo arqueado do hipotálamo (ARH),
sede das beta-endorfinas, o qual lança axônios até a substância cinzenta
periaquedutal (PAG) para liberar beta-endorfina, de onde fibras nervosas vão até a
medula espinhal e fornecem encefalinas, tornando possível o processo de geração
da analgesia por eletroacupuntura (SILVA, 06).
2.10 Vias
Os impulsos dolorosos seriam controlados por fibras descendentes supra-
espinhais e pelos próprios impulsos nervosos que entram pelas fibras das raízes
dorsais. Assim, os impulsos nervosos conduzidos pelas grossas fibras mielínicas de
tato (fibras A beta) teriam efeitos antagônicos aos das fibras finas de dor (fibras A
delta e C), estas abrindo e aquelas fechando o portão da dor (MACHADO, 2004).
Segundo Kandell (2003), sabe-se que a morfina também produz analgesia pela
ativação de vias inibitórias descendentes.
2.10.1 Tracto espinotalâmico
Esse tracto origina-se predominantemente de neurônios de projeção das
lâminas I, IV e V. Essa via transmite estímulos através de fibras A delta (dor aguda e
frio) e de fibras C. Além disso, algumas células do corno posterior que recebem
informações sobre a sensação do toque suave por meio de estímulos transmitidos
pelas fibras A de grande diâmetro as transmitem ao tracto espinotalâmico. Essa
contribuição do estímulo tátil ao tracto espinotalâmico protege contra a perda total de
sensação tátil após lesões da coluna dorsal (TEIXEIRA, FIGUEIRÓ, 2001).
O tracto espinotalâmico e o lemnisco medial da coluna dorsal, que
transmitem informações sobre o tato discriminador e a propriocepção, ascendem
muito próximos até o tálamo. No momento em que atingem o mesencéfalo, os dois
tractos encontram-se justapostos, mas suas fibras permanecem separadas. Tanto o
tracto espinotalâmico quanto o lemnisco medial terminam no núcleo ventral póstero-
lateral do tálamo, onde continuam a manter a separação. A informação, em ambos
os tractos, permanece organizada somatotopicamente na sua progressão da
periferia ao núcleo ventral póstero-lateral e, finalmente, às áreas somatossensoriais
do córtex. Dessa maneira, o núcleo ventral póstero-lateral atua como uma estação
de retransmissão, passando a informação de maneira rápida e acurada ao córtex
cerebral (TEIXEIRA, FIGUEIRÓ, 2001).
Embora o núcleo ventral póstero-lateral seja o local de término de todas
as informações da coluna dorsal antes de sua transmissão para as regiões corticais
somatossensoriais, ele é um dos vários núcleos talâmicos que recebem informações
sobre a dor, a temperatura e a sensação do toque suave. No entanto, essa
inervação dos neurônios do núcleo ventral póstero-lateral pelo tracto espinotalâmico,
com a retransmissão da informação de maneira organizada ao córtex
somatossensorial, é essencial para nossa capacidade de perceber e localizar os
estímulos dolorosos (TEIXEIRA, FIGUEIRÓ, 2001).
As terminações adicionais do tracto espinotalâmico incluem os núcleos
intralaminares do tálamo, pequenos e localizados centralmente. Os axônios desses
núcleos talâmicos fazem conexões disseminadas no córtex cerebral, que não são
somatotopicamente organizadas. Dessa forma, informações sobre a dor e a
temperatura são transmitidas do tálamo a uma área mais ampla do córtex cerebral
(TEIXEIRA, FIGUEIRÓ, 2001).
2.10.2 Tracto Espinorreticular
Esse tracto transmite a dor surda, em queimação, associada às fibras
aferentes C, para as regiões disseminadas da formação reticular do tronco cerebral.
Esse tracto origina-se após uma série de sinapses no corno posterior através das
quais a informação passa dos neurônios da lâmina II aos neurônios de projeção das
lâminas profundas.
Embora algumas fibras não se cruzem, a informação transmitida nesse
tracto é, em grande parte, da medula espinhal contralateral. O tracto espinotalâmico
também contribui com ramos colaterais para o tracto espinorreticular, à medida que
ele progride pelo tronco cerebral. Dessa maneira, fibras aferentes transmitindo
diferentes tipos de informações sensoriais fazem conexões com neurônios da
formação reticular. Essa convergência de informações sensoriais em neurônios da
formação reticular contribui para sua diversidade de funções. Esse também é um
fator que o leva a ser uma importante estação de retransmissão do sistema
ascendente não-específico. Células da formação reticular projetam axônios que, em
última instância, terminam de uma forma não-somatotópica nos núcleos
intralaminares do tálamo. Estes se projetam para áreas amplas do córtex cerebral.
Essa via difusa encontra-se mais provavelmente envolvida na consciência da dor e
nas respostas afetivas aos estímulos dolorosos. Sua distribuição disseminada
sugere que ela não contribui com a discriminação do local de origem da dor
(TEIXEIRA, FIGUEIRÓ, 2001).
2.10.3 Fibras C
As fibras C amielínicas, pequenas e mais profundas, são as fibras mais
numerosas nos nervos aferentes dos mamíferos. Elas convertem os impulsos das
terminações nervosas livres, que estão distribuídas sob a pele e em tecidos
profundos, incluindo as vísceras. Essas três terminações nervosas são receptores
de pressão de alto limiar ou nociceptores polimodais que respondem à pressão
pesada, ao calor ou a substâncias químicas. Seu limiar pode ser reduzido em certos
estados doentios, num processo chamado “sensibilização”. A sensibilização parece
ser estimulada pelo fator do crescimento nervoso que é liberado durante a
inflamação: os nervos respondem à leve pressão que antes era sublimiar (ERNST e
WHITE, 2001).
Acredita-se que a encefalina cause inibição pré-sináptica das fibras aferentes de dor do tipo C e tipo Abeta, onde fazem sinapse nos pontos dorsais. Provavelmente, o faz bloqueando os canais de cálcio nas membranas das terminações nervosas. Como são os íons cálcio que provocam a liberação de transmissor na sinapse, esse bloqueio de cálcio, obviamente, resultaria em inibição pré-sináptica. Além disso, o bloqueio parece durar por períodos prolongados, porque, após a ativação do sistema de analgesia, essa analgesia, com muita freqüência, dura vários minutos ou até mesmo horas (GUYTON, 1993, p. 119).
Assim, o sistema de analgesia pode bloquear sinais de dor no ponto de
entrada inicial, na medula espinhal. Na verdade, também pode bloquear vários
reflexos medulares locais que resultam de sinais de dor (GUYTON, 1993).
2.10.4 Fibras A delta
As fibras A delta são ativadas pela picada e pela pressão forte, pelo calor
e pelo frio na pele e também por ergorreceptores de alto limiar no músculo. Esse
sistema proporciona a percepção rápida e precisamente localizada da estimulação
nociva sem produzir muita resposta emocional (ERNST e WHITE, 2001).
A estimulação superficial das fibras A delta nas fáscias musculares
modularia em forma reflexa os “pontos-gatilho” musculares. Reduz-se a
concentração local de sustâncias algógenas ativadas pela lesão tissular periférica e
se produzem mudanças na circulação, temperatura e efeitos químicos (MOYA,
2005).
2.10.5 Fibras A beta
As grandes fibra A beta têm uma função importante no controle do corpo
da entrada de dados nociceptivos, mas, em termos de acupuntura, elas talvez só
estejam implicadas na eletroacupuntura de alta freqüência. Essas fibras são ativadas
por estímulos de baixo limiar: toque leve, sensação de posição articular e vibração.
Uma batida ou esfregada podem aliviar a dor do ponto de vista segmentar, e isso
pode ser imitado pela estimulação nervosa elétrica transcutânea (ERNST e WHITE,
2001).
2.11 Medula
Em 1965, Melzack e Wall publicaram um importante trabalho propondo uma nova teoria segundo a qual a penetração dos impulsos dolorosos no sistema nervoso central seria regulada por neurônios e circuitos nervosos existentes na substância
gelatinosa das colunas posteriores da medula, que agiria como um “portão”, impedindo ou permitindo a entrada de impulsos dolorosos (MACHADO, 2004, p. 307).
2.12 Tronco
A estimulação elétrica das áreas reticulares do tronco cerebral onde
termina a dor do tipo lenta-crônica exerce forte efeito de alerta sobre a atividade
nervosa de todo o encéfalo. Na verdade, essa área é parte do sistema principal de
alerta do encéfalo. Isso explica por que uma pessoa com dor intensa se mantém
muitas vezes em alerta máximo, e, também, explica pro que é quase impossível
dormir quando se está sentido dor (GUYTON et al, 1993).
As áreas do tronco encefálico produtoras de analgesia intrínseca formam um sistema neuronal descendente, com origem nos seguintes pontos: núcleos da rafe (bulbo), substância cinzenta periaquedutal (mesencéfalo) e lócus cerúleo (ponte) (LAURIE, 2000, p. 97).
Acredita-se que a substância cinzenta periaquedutal é de suma
importância para o controle nociceptivo. Wang et al. (1990) mostraram que as lesões
nessa substância atenuaram a analgesia por eletroacupuntura de alta e baixa
freqüências. Zhang et al. (1980) verificaram que a eletroacupuntura aumentou o
conteúdo opióide da substância cinzenta periaquedutal [...], que estava relacionada
com o grau de inibição das respostas nociceptoras (ERNST e WHITE, 2001).
2.13 Tálamo
O tálamo é uma grande massa cinzenta ovóide localizada em cada um
dos lados do terceiro ventrículo. O tubérculo anterior é fino, situando-se perto da
linha média. A porção posterior é conhecida como pulvinar (CAILLIET,1999). O
tálamo divide-se em dois sistemas principais: o sistema ascendente múltiplo e o
ventrobasal. Este último consiste nos núcleos laterais e posterior, que recebem os
impulsos de condução rápida. Este sistema é organizado topograficamente,
significando que as sensações recebidas se relacionam a locais específicos da face,
da cabeça e do corpo. Os neurônios do sistema múltiplo ascendente não são
organizados especificamente. Estas últimas fibras irradiam-se para todo o córtex
cerebral e para o sistema límbico, que está envolvido com a memória e as emoções
(CAILLIET, 1999).
2.14 Córtex
Os efeitos sensoriais num caso de lesão cortical são contralaterais e incluem diminuição ou perda das sensibilidades discriminativas, entre elas a localização dos estímulos táteis e a dor rápida. O processamento cortical é essencial para a sensibilidade discriminativa, embora um conhecimento grosseiro da sensação seja possível no nível talâmico (LAURIE, 2000, p. 96).
Até recentemente, a maioria das pesquisas sobre o processamento
central da dor estava concentrada no tálamo. Entretanto, a dor é uma percepção
complexa, que é influenciada pela experiência prévia e pelo contexto em que os
estímulos ocorrem. Neurônios de muitas regiões do córtex cerebral respondem
seletivamente à entrada de informação nociceptiva. Alguns desses neurônios estão
localizados no córtex somatosensório e têm campos receptivos pequenos. Assim,
eles podem não contribuir para dores difusas, que caracterizam a maioria das dores
clínicas (KANDELL et al, 2003).
A remoção completa das áreas sensoriais somáticas do córtex cerebral
não destrói a capacidade de percepção da dor. Portanto, é provável que os impulsos
de dor que entrem na formação reticular, tálamo e outros centros inferiores possam
causar percepção consciente da dor. Entretanto, isso não significa que o córtex
cerebral não está relacionado à apreciação normal da dor; na verdade, a
estimulação elétrica das áreas sensoriais somáticas corticais faz com que a pessoa
perceba a dor leve em cerca de 3% dos diferentes pontos estimulados. Acredita-se
que o córtex represente papel importante na interpretação da qualidade da dor,
embora a percepção da dor possa ser função dos centros inferiores (GUYTON,
1993).
2.14.1 Giro do cíngulo
Estudos de imageamento em humanos realizados através da tomografia por emissão de pósitrons, também indicam que outras duas regiões do córtex, o giro do cíngulo e o córtex insular, estão envolvidas na resposta à nocicepção. O giro do cíngulo faz parte do sistema límbico e parece estar envolvido no processamento do componente emocional da dor (KANDELL et al, 2003, p. 481).
2.15 Analgesia
Laurie (2000), afirma que a analgesia é a ausência de dor em resposta a um estímulo que normalmente seria doloroso. Segundo Oliveira et al (1997), a analgesia é a abolição da sensibilidade à dor sem supressão das outras propriedades sensitivas, nem perda de consciência. As substâncias endógenas, de ocorrência natural, que ativam os mecanismos analgésicos, são chamadas endorfinas (LAURIE, 2000, p. 96).
Podem-se obter excelentes resultados em analgesia superficial ou
profunda através dos recursos proporcionados pela técnica de acupuntura. O termo
“anestesia” não é o mais correto porque as agulhas provocam a ausência de dor e
não a insensibilidade do local. É daí o mais apropriado usar-se a palavra “analgesia”
profunda.
A analgesia profunda por acupuntura apresenta características próprias. A
região anatômica atingida pela analgesia depende muito dos pontos a serem
estimulados. Alguns têm abrangência mais geral e outros uma ação meramente
local. Assim os pontos “shen men” (auriculoterapia), IG4 (intestino grosso) e TA8
(triplo aquecedor), são aplicados para uma ação mais extensa, enquanto que E5
(estômago) e “boca” (auriculoterapia) atingem a área da face, especialmente lábios e
cavidade oral.
Muitos fatores influem sobre a extensão e profundidade dos efeitos
analgésicos. Alguns deles são relacionados com as tensões nervosas, que
provocam bloqueios. Outros são associados a estados físicos, a efeitos
medicamentosos, etc. A acupuntura tem condições de superar esses problemas. Por
essa razão, recomenda-se realizar algumas sessões de acupuntura como
preparação para a cirurgia e para familiarizar o paciente com a técnica [...] (SOUZA,
2001).
A analgesia por acupuntura mantém a consciência e a motricidade do
paciente, assim como a lucidez completa. Pode falar, mover-se, tomar sucos, ingerir
alimentos. Isto facilita o trabalho do cirurgião, especialmente em intervenções mais
profundas como cirurgias cardíacas, cerebrais, intestinais, de coluna, etc.
A analgesia por acupuntura não é imediata à aplicação das agulhas.
Ocorre sempre um intervalo de tempo entre o início da estimulação pelas agulhas e
o aparecimento da insensibilidade. Esta ocorre geralmente 20 a 30 minutos após o
início do procedimento.
As sensações de tato e pressão também se mantém, mesmo que o
estímulo seja intensificado. Essa sensação, por vezes, são até exacerbadas pelo
estímulo das agulhas. A sensibilidade térmica também se mantém, mas sofre uma
deformação para sensações de calor ou de frio na área e nas extremidades.
O tônus muscular se mantém durante a analgesia acupuntural. Por isso
recomenda-se o uso de relaxante ou calmante leve antes de se iniciar o
procedimento. A tensão do paciente pode aumentar a tensão muscular,
principalmente nas cirurgias cesárias (SOUZA, 2001).
A inserção de agulhas em pontos de acupuntura (“locais”) com certa
profundidade e extensão, relacionados com a inervação sensitiva das estruturas
implicadas, ativa fibras aferentes de nervos periféricos: A beta (tipo II) e A delta (tipo
III) produzindo o chamado “fluxo de qi” (MOYA, 2005).
2.15.1 Pontos analgésicos
A prescrição detalhada da seleção de acupontos baseada na medicina
tradicional chinesa tem espaço significativo neste trabalho. A seleção do ponto nos
pacientes que se apresentaram para a analgesia dependeria da finalidade da
acupuntura, da condição total do paciente e do tipo de operação.
O ponto de Yintang e o auricular Shenmen são pontos comuns usados
para ansiedade pré-operatória. Para PONV (Náuseas e Vômitos Pós-Operatórios), o
Neiguan P6 (pulmão) é empregado geralmente. Entretanto, deve notar que devido à
variação em condições dos pacientes, em etiologias diferentes para os mesmo
sintomas, e em outros fatores, ele seja impróprio para supor que um único ou o
específico acuponto ajustado para o tratamento de uma condição da doença será
sempre eficaz. Por exemplo, PONV pode ser induzido por medicamento ou por
cirurgia, e teria um comportamento, como no caso da cirurgia de estrabismo. O
ponto Neiguan P6 (pulmão) antes da indução de anestesia foi mostrado para ser
ineficaz nas crianças que se submeteram à cirurgia do estrabismo. Entretanto, a
incidência de PONV foi reduzida significativamente após a cirurgia de estrabismo em
uma experimentação usando acupontos para os meridianos associados com os
olhos.
[...] Os pontos escolhidos para a acupuntura podem ser considerados em
três níveis: os pontos do local, os pontos distantes e os pontos ao longo do curso do
meridiano afetado. Os pontos locais consultam os acupontos localizados perto da
área afetada, Wushu VB27 (vesícula biliar), Weidao VB28 (vesícula biliar), Qixue
R13 (rim) e Siman R14 (rim), (acupontos situados no baixo abdômen e na virilha,
respectivamente) foram usados como anestesia de acupuntura durante o reparo
inguinal da hérnia em um pequeno estudo. Alguns acupontos reativos, geralmente
abaixo dos cotovelos e dos joelhos, são úteis para circunstâncias dolorosas em
regiões remotas do corpo. Por exemplo, Hegu IG4 (intestino grosso) (situado entre o
polegar e o dedo do indicador) é usado tradicional para a dor facial e oral; Zusanli
E36 (estômago, próximo à tíbia proximal) é usado para dor abdominal; Lieque P7
(pulmão, próximo ao pulso no lado radial) é usado para desconforto na garganta; e
Weizhong B40 (bexiga, situado na fossa poplítea) é útil para a dor posterior.
Acupontos do meridiano que passam através da área cirúrgica ou no forte mediano
associaram que o órgão que se submete à cirurgia (o “órgão fenômeno”) pode ser
selecionado para controlar a dor pós-operatória. Além disso, os pontos posteriores
Shu (dorsais) da víscera estão localizados bilateralmente 1.5 cun (sobre 2.5 - 3 cm)
lateral à linha posterior do meio (o meridiano da bexiga) e podem ser úteis para dor
visceral e profunda. Além disso, o conforto do paciente e a conveniência devem
estar inclusos na seleção de acupontos (LEE, 2006).
Existem dados extensivos e de boa qualidade para apoiar o uso do ponto
P6 na prevenção dos pós-operatórios náusea e vômito em combinação ou como
alternativa aos convencionais anti-eméticos (LEE, 2006).
Uma recente ressonância magnética funcional mostrou que acupuntura
em Hegu (IG4), o maior ponto de analgesia, invoca ativação específica no meio
temporal gyrus e cerebelo, junto com desativação de áreas no meio frontal gyrus e
lóbulo parietal inferior, comparado com os efeitos da acupuntura simulada. Essas
descobertas sugerem que a real acupuntura induz modelos específicos da atividade
cerebral, diferente da acupuntura simulada, a qual pode explicar os efeitos
terapêuticos da acupuntura real (LEE, 2006).
A incidência total de PONV é relatada para ser aproximadamente 38% e pode alcançar 79% em pacientes de alto risco. A acupuntura e as técnicas relacionadas foram identificadas como intervenções não-farmacológicas importantes a considerar (LEE, 2006, p. 05).
Uma revisão sistemática de três experimentações aleatórias controladas
de mulheres fadigadas sugeriu que acupuntura alivia a dor e reduz a conjunção
analgésica comparada a grupos de controle. Pontos comuns usados durante o
trabalho em três exames incluíram as revisões sistemáticas: Baihui VG20 (vaso
governador, contra tensões), Taichong F3 (fígado, contra rigidez na nuca), Kunlun
B60 (bexiga), Ciliao B32 (bexiga) e Hegu IG4 (intestino grosso) e Sanyinjiao BP6
(baço-pâncreas, contra dores estranhas durante contrações). Não foram reportados
eventos adversos em qualquer uma das experiências. Os autores concluíram que a
efetividade da acupuntura para dor de fadiga é prometedora (LEE, 2006).
Atualmente usa-se uma agulha sistêmica para se obter anestesia geral do
paciente, que poderá ser submetido a qualquer tipo de cirurgia, inclusive as
denominadas “grandes cirurgias”, como cardíacas, abdominais, intra-cranianas,
amputações, etc. A técnica consiste em fazer penetrar uma agulha de 4 a 6 tsun
(referência de medida) no ponto TA8 (triplo aquecedor), inserindo-se entre o rádio e
a ulna até atingir o ponto CS5 (circulação-sexo), sem, no entanto; atravessar a pele.
A analgesia profunda e geral é obtida pela estimulação desta agulha, durante o
tempo em que permanecer o paciente, em procedimento cirúrgico (SOUZA, 2001).
2.15.2 Analgesia em pós-operatório
A Acupuntura e as técnicas relacionadas são cada vez mais usadas na
anestesia. Esse papel revê a atual evidência e aplicabilidade da acupuntura e das
técnicas relacionadas para procedimentos anestésicos e pós-operatórios como
náusea e vômito. Recentes evidências sugerem que a acupuntura manual é efetiva
na redução da ansiedade pré e pós-operatória. Os dados atualmente disponíveis
não apóiam o uso da acupuntura adjunta à anestesia geral nas operações (LEE,
2006).
Recentes evidências sugerem que a acupuntura pode ser eficaz para o
alívio da dor pós-operatória, mas provavelmente requer um nível elevado da perícia
e o treinamento do acupunturista. Em uma experimentação controlada aleatória
recente, os pacientes do grupo de acupuntura receberam agulhas de aço
pressionadas em diversos pontos (junção quadril, shenmen, pulmão e thalamus da
orelha ipsilateral) comparados ao grupo de controle que recebeu agulhas aleatórias
nos pontos falsos da hélice, fixados com fita adesiva (micropore). Comparado com o
grupo de controle, o grupo de acupuntura requereu significativamente menos
analgesia (32%) durante as primeiras 36 horas após a cirurgia. Pacientes no grupo
de acupuntura também tiveram uma contagem significativamente mais baixa da dor
em todos os intervalos de tempo comparados com os controles aleatórios. O
sucesso de “cegar” foi confirmado nesse estudo, com mais de 80% dos pacientes do
grupo de acupuntura e de controle acreditarem que tinham recebidos acupuntura de
verdade (LEE, 2006).
Um estudo de acupuntura simulada mostrou que a aplicação no ponto coreano K-A20 (quiropuntura) da mão reduziu significativamente a incidência da garganta sensível comparada aos grupos de controle. Embora uma avaliação adicional seja requerida, este resultado adiantado parece ser prometedor e pode ser considerado nos pacientes com um risco elevado de desenvolver dor de garganta pós-operatória (LEE, 2006, p. 05).
2.16 Bloqueios da analgesia
Estudos críticos mostraram que a analgesia por acupuntura é inibida pela
microinjeção de naloxona em muitas áreas do cérebro. A existência de antagonistas
específicos a diferentes receptores foi fundamental na elucidação do papel dos
neurotransmissores. Por exemplo, a maior parte dos estudos conclui que a
naloxona, que se liga especificamente ao receptor mu, inverte a analgesia e baixa
freqüência (KANDELL et al, 2003).
O antagonista opióide naloxone bloqueia a analgesia [...], assim como a analgesia causada pela morfina. Essa descoberta sugere que o encéfalo possui receptores específicos para opióides (KANDELL et al, 2003, p. 483).
Mayer et al. (1977) selecionaram 20 dos 31 voluntários que responderam
bem à acupuntura. As agulhas foram inseridas nas duas mãos e manipuladas
manualmente por dois minutos a cada cinco minutos durante os 30 primeiros
minutos seguintes. O limiar da dor, medido pela estimulação elétrica da polpa
dentária, aumentou numa média de 27% depois da acupuntura. Assim, as pessoas
receberam uma injeção de 0,8mg de naloxona ou um volume igual de solução
salina, num modelo de duplo cego. O limiar da dor no grupo da naloxona caiu quase
aos níveis anteriores ao teste, enquanto o do grupo da solução salina não mostrou
nenhuma alteração (ERNST e WHITE, 2001).
Muitos casos têm se observado de verdadeiros bloqueios à ação
analgésica da acupuntura. O principal deles se encontra na ação bloqueadora da
ansiedade e da tensão nervosa. Para que isso não ocorra sugere-se o recurso ao
tratamento pré-operatório por acupuntura. Nas sessões preliminares, usam-se os
recursos de pontos ansiolíticos, entre os quais destacamos os seguintes:
Anmienn 2: Ponto de acupuntura sistêmica bilateral, situado
atrás do músculo esternocleidomastóideo, no meio de uma
linha ligando TA17 (triplo aquecedor) com VB20 (vesícula
biliar).
VG26 (vaso governador): Ponto de acupuntura sistêmica,
localizado sobre o lábio superior, na linha média, na junção
do lábio com o septo nasal. A agulha deve ser oblíqua em
direção à cabeça.
VG25 (vaso governador): Ponto de acupuntura sistêmica,
localizado na linha mediana, na ponta do nariz. A agulha
deve ser aplicada em punção profunda, em direção à fronte.
Shen Men (auricular): No interior do vértice do ângulo da
fossa triangular. Este ponto possui propriedades ansiolíticas,
provocando, também, analgesia. No pós-operatório usa-se
aplicação bilateral de agulhas.
Os chineses costumam testar, no paciente, a chamada “atitude
psicológica”, para aquilatar se há ou não resistência à analgesia acupuntural. Para
isto, em dias anteriores, faz-se uma aplicação de acupuntura no ponto IG4,
estimulando-se, manualmente, a agulha. Se o paciente sentir uma sensação de
peso, de inchação ou um formigamento no braço acompanhando o meridiano do
intestino grosso, pode-se realizar a analgesia acupuntural sem risco. Caso contrário,
é bom descartar esse procedimento.
A idade e a resistência física não constituem obstáculos para a analgesia
por acupuntura. Ocorre, ao contrário, que essas são circunstâncias que
recomendam a analgesia acupuntural. Igualmente nas crianças de primeira idade,
este procedimento recomenda-se pela ausência de efeitos secundários e porque os
recém-nascidos não apresentam os bloqueios psíquicos dos adultos (SOUZA, 2001).
3 METODOLOGIA
De acordo com Gil (1999, p.26), “a metodologia científica é de suma
importância para a produção do conhecimento acadêmico. O método de pesquisa
científica utilizado para pesquisas pode ser definido como a dependência de um
conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos para que os objetivos de uma
investigação sejam atingidos.”
O delineamento da pesquisa, segundo Gil (1995, p. 70), “[...] refere-se ao
planejamento da mesma em sua dimensão mais ampla [...]”. Neste momento, o
investigador estabelece os meios técnicos da investigação, prevendo-se os
instrumentos e os procedimentos necessários utilizados para coleta de dados.
A metodologia adotada para a elaboração deste trabalho científico do
Curso de Acupuntura da Escola Cieph é definida por uma pesquisa bibliográfica.
Este método de pesquisa procura explicar um problema, utilizando-se de referências
teóricas publicadas na literatura científica.
Esta metodologia de pesquisa é definida como bibliográfica, elaborada
por meio de conhecimentos produzidos com publicações de livros, artigos de
periódicos e com informações disponibilizadas na Internet (LUCIANO, 2001).
A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado,
constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os
estudos, seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas
desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Boa parte dos
estudos exploratórios pode ser definida como pesquisas bibliográficas. As pesquisas
sobre ideologias, bem como aquelas que se propõem à análise das diversas
posições acerca de um problema, também costumam ser desenvolvidas quase
exclusivamente a partir de fontes bibliográficas (GIL, 1991).
A maioria das fontes bibliográficas para a pesquisa foram coletadas na
biblioteca da Unisul (Universidade do Sul de Santa Catarina) através de fontes
indicadas pelos orientadores, e pelos professores do curso de especialização em
Acupuntura do Cieph.
O presente estudo visa buscar subsídios e servir de suporte para futuras
pesquisas científicas que procurem elucidar os efeitos e benefícios da analgesia por
acupuntura, procurando entender e detalhar minuciosamente toda a neurofisiologia
envolvida no procedimento analgésico.
Este trabalho científico iniciou-se em maio de 2007, com conclusão em
junho do mesmo ano.
4 DISCUSSÃO
A fim de conseguir um bom efeito da acupuntura, é crucial obter de-qi
durante aplicação. De-qi (que significa chegar de qi) refere-se a uma sensação
específica de sensibilidade, adormecimento, distensão, ou opressão ao redor do
acuponto depois que a agulha é fixada. No mesmo tempo, acupunturistas
experientes podem também sentir tensão e impermeabilidade ao redor da agulha.
Se a sensação De-qi não for obtida na inserção da agulha, a manipulação manual
da agulha girando, levantando ou empurrando é feita até ser sentida (LEE, 2006).
Apesar dos relatos de bons resultados da acupuntura para o alívio da dor,
ela apresenta algumas desvantagens, uma vez que o seu efeito pode variar de
pessoa para pessoa, não promovendo analgesia completa. Em determinados casos,
são necessárias várias aplicações para o alívio da dor e, para algumas pessoas, o
método não é eficaz, devendo ser utilizado outro recurso para a redução dos
sintomas (QUIMELLI, 2005).
Por outra parte, podem ser feitas desde cirurgias de grande porte até
analgesias de traumatismos localizados apenas com a inserção de umas poucas
agulhas de acupuntura, em pontos localizados precisamente sobre a trajetória de
linhas verticais “imaginárias” do corpo.
A acupuntura consegue produzir anestesias e analgesias que por muitas
décadas permaneceram inexplicadas e inexplicáveis para a ciência ocidental
(OLIVEIRA et al, 1997).
Revisões oficiais conduzidas nos Estados Unidos, Reino Unido, Europa e
Canadá sugerem que a acupuntura seja efetiva para dores de dente pós-
operatórias, náusea e vômitos pós-operatórios (PONV), e quimioterapia relacionada
à náusea e vômito. Na última década, tem se desenvolvido crescentes interesses no
uso de acupuntura e técnicas relacionadas na anestesia. Embora exista uma
crescente evidência que acupuntura invoca mudanças através do sistema nervoso,
existe muito ceticismo entre anestesistas sobre sua eficiência. Esse papel revê a
atual evidência e aplicabilidade da acupuntura e técnicas relacionadas para
processos anestésicos (LEE, 2006).
O controle da dor pós-operatória é essencial para a assistência integral ao
paciente cirúrgico, visto que estímulos dolorosos prolongados parecem predispor a
maior sofrimento e complicações no pós-operatório (CHAVES e PIMENTA, 2003).
Anestesistas estão cada vez mais usando revisões sistemáticas para a gerência do paciente. Quando perguntamos se as revisões sistemáticas da acupuntura e técnicas relacionadas no ajuste do anestésico são confiáveis. A resposta é que não há dados. Entretanto, um estudo recente mostrou que a qualidade de relatar a medicina complementar e alternativa como terapia de comportamento cognitivo das revisões sistemáticas (acupuntura, homeopatia) é pelo menos tão boa quanto aquela encontrada pela medicina convencional (LEE, 2006, p. 03).
De acordo com Lee (2006), interessados no papel da acupuntura para a
anestesia, informam a crescente demanda nos relatórios de cirurgias que sugeriram
começar aplicar apenas acupuntura como anestesia na China, por médicos do Oeste
há mais de 30 anos atrás. De qualquer forma, esse procedimento começou a
justificar subseqüentes pesquisas que acupuntura não provê a verdadeira anestesia
ou inconsciência, mas fornece especificamente analgesia e sedação (LEE, 2006).
A acupuntura pode ser uma boa opção de tratamento para o alívio da dor em pós-operatório. Seu custo é viável, pois pode ser feita em qualquer consultório e utiliza materiais baratos e de fácil manuseio. Os efeitos colaterais e riscos são praticamente inexistentes (QUIMELLI, 2005, p. 26).
Duas técnicas de acupuntura foram comparadas recentemente com os
anti-eméticos em pacientes pediátricos: acupuntura a laser x metoclopramide x
Sham Laser (acupuntura simulada) no acuponto P6 (pulmão) e acuestimulação com
capsicum plaste (emplastro de pimenta) x ondansetron contra o emplastro do
acuponto simulado P6. Nestas experimentações aleatórias placebo-controladas,
encontrou-se que estas técnicas de acupuntura reduziram significativamente a
incidência de PONV e foi-se tão eficaz quanto os anti-eméticos (LEE, 2006).
Hoje em dia se afirma que a acupuntura tem efeito analgésico e ação
reguladora sobre múltiplos sistemas do organismo, porém não substitui aos
fármacos. É, sim um auxiliar de utilidade como complemento em anestesias.
Anestesiólogos em Shangai referem que em intervenções cirúrgicas, utilizando
acupuntura, podem reduzir 50% das doses de anestésicos. Oferece vantagens em
relação à segurança, com menores complicações, pressão sanguínea e pulso mais
estável; se minimizam os efeitos da cirurgia sobre as funções vitais, se acelera a
recuperação e se reduz o tempo de internação e os custos institucionais. Também é
de utilidade em analgesia pós-operatória pois reduz os efeitos nas doses de morfina.
O diretor do National Health Institute Office of Alternative Medicine, USA,
doutor Joseph Jacobs, afirma que a acupuntura tem bases científicas sólidas e
recomenda complementar com fármacos tanto em intervenções cirúrgicas como em
tratamento de diferentes tipos de dor, se for necessário (MOYA, 2005).
A evidência da eficácia anestésica/analgésica da acupuntura com
procedimentos pouco invasivos, a torna uma das formas mais seguras, práticas e de
baixo custo para proceder até às intervenções cirúrgicas de grande porte (OLIVEIRA
et al, 1997).
5 CONCLUSÃO
A acupuntura tem seu efeito reconhecido por inúmeras avaliações
científicas (laboratoriais e clínicas) em conformidade com vários modelos
explicativos (bioelétrico, neuroquímico) e com inúmeros estudos (comportamentais,
eletrofisiológicos, morfológicos, bioquímicos, genéticos) realizados por clínicos e
cientistas de várias formações de nível superior como os profissionais da área da
Saúde aptos à desenvolver a prática da acupuntura. Isso é significante, pois a
ciência é um importante modo de validar as estratégias que utilizamos. Mas a
ciência é uma das maneiras de validar o efeito clínico dessa prática, não a única.
Deve ficar absolutamente claro à população que entra em contato com
essa terapêutica que ela tem inúmeros resultados positivos que a ciência ainda hoje
não tem competência para mensurar. Esses achados que encontramos na prática
clínica cotidiana da acupuntura são relatados por profissionais da saúde e pacientes
e não deixam de espantar positivamente a todos. Os benefícios se mostram na
melhora ou cura de inúmeras patologias, muitos que a ciência ainda não sabe
explicar o mecanismo de geração da cura.
A estimulação elétrica de nervos através de agulhas de acupuntura é
capaz de produzir analgesia em várias espécies animais. Esse modelo tem sido
usado em grande número de excelentes experimentos que deram boas provas para
alguns dos mecanismos, incluindo a ativação dos núcleos do tronco do encéfalo e os
sistemas de controle inibidor descendente. A analgesia experimental também pode
ser produzida em seres humanos pela acupuntura, incluindo a estimulação elétrica.
A prova para um efeito analgésico da estimulação manual é menos clara. O efeito
analgésico de curto prazo da acupuntura parece muito fraco para ser usado
clinicamente. A analgesia por acupuntura tanto em animais quanto em seres
humanos compreende a liberação de peptídeos opióides, mas eles não são os
únicos transmissores em questão e podem até mesmo não ser os mais importantes.
Os sistemas de controle inibidor descendente empregam serotonina em certos
estágios. Não parece provável que esses mecanismos analgésicos de curto prazo
expliquem qualquer efeito prolongado que a acupuntura possa ter no tratamento da
dor clínica ou de outras doenças.
A acupuntura manual requer treinamento especial, trabalho intensivo e
experiência, o qual limita sua aplicabilidade em muitas unidades. De qualquer forma,
uma recente evidência sugere que a acupuntura manual é eficaz para reduzir
ansiedade pré-operatória e para a dor pós-operatória.
Por isso, é muito importante explorar a neurofisiologia da acupuntura por
várias razões, porque ela pode fornecer a base para a escolha dos métodos de
tratamento mais eficazes para diferentes doenças, porque ela pode explicar os
fenômenos que podem ser observados durante o tratamento e ela sugere hipóteses
para outros estudos experimentais, afim de melhorar a terapia ainda mais.
A acupuntura só vai ganhar respeitabilidade num contexto científico, se
puder ser explicada de maneira convincente pelos mecanismos neurofisiológicos.
Entretanto, ainda devemos ser conscientes e aceitar fato de que mesmo o
mecanismo mais preciso de acupuntura ainda não fornece provas para a eficácia
clínica, mesmo sabendo que no senso comum tudo funciona perfeitamente e com
resultados positivos, são necessárias provas de estudos clínicos.
A explicação dos efeitos clínicos globais acaba tendo seu fundamento
apenas na milenar Teoria e Filosofia Chinesa, e essa, para os que respeitam a
tradição e promovem tratamentos humanizados, já é suficiente.
Na filosofia chinesa, o homem está entre o céu e a terra, um microcosmo
que contém em si qualidades do mundo em que se vive. O acupunturista, enquanto
educador, deve possibilitar aos pacientes, em uma atividade relacional, homem,
natureza, universo, ferramentas para aprender e construir um conhecimento que
seja realmente transformador, significativo preventivo e curativo. Para tanto, deve
favorecer a compreensão de um sistema mais vasto, numa inserção total na
complexidade do mundo, concebido como um campo de elementos em interação e
interdependência.
A medicina chinesa é milenar, traz uma imagem ligada à natureza, mas
fundamentalmente é necessário relacionar, isto é, selecionar determinados
aspectos, interligá-los, configurá-los em forma significativa. Aprender a desenvolver
esse tipo de reação para com a natureza e com o mundo, através de processos
educacionais, é reconhecer as necessidades dos usuários que procuram essa forma
de tratamento hoje.
O uso da acupuntura para controlar a dor e causar analgesia, aparece
prometendo, mas requer avanço nas pesquisas. Seleção de pacientes, seleção de
acupontos, necessitando técnicas e modos são necessários para a acupuntura ser
considerada quanto à sua aplicação nas técnicas relacionadas nos trabalhos de pós-
operatório.
Não é intenção deste trabalho, oferecer um manual de pontos
analgésicos, mas sim, abrir um canal para que mais pesquisas sejam realizadas
nesta área. Esperamos que a nossa ciência na área da saúde possa evoluir muito
para, quem sabe um dia, chegar ao nível das teorias milenares que hoje utilizamos
na acupuntura.
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