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RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS Edição 55 [ 15/9/2011 a 21/9/2011 ]

ASSESSORIA DE IMPRENSA DO GABINETE · grande encontro de coprodução ... E quem disse que Du está encontrando o tal ... para tristeza do ator, que a temporada paulistana de O Livro

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RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS

Edição Nº 55[ 15/9/2011 a 21/9/2011 ]

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Sumário

CINEMA E TV...............................................................................................................3O Estado de S. Paulo – BH abre a fase das mostras......................................................................3O Estado de S. Paulo - Moscovis a 180 graus................................................................................4O Estado de S. Paulo – Filme louva a Rádio Nacional....................................................................5Folha de S. Paulo - Filmada no Rio, série nacional da HBO mostra mercado da praia..................6Correio Braziliense - Tropa na mira do Oscar ................................................................................6

TEATRO E DANÇA......................................................................................................7O Estado de S. Paulo - Bienal se consolida com foco na cidade....................................................7Folha de S. Paulo - Elogio do ator...................................................................................................9Folha de S. Paulo – Peça retrata conflitos em família mineira........................................................9Estado de Minas - Criador de mundos .........................................................................................10O Estado de S. Paulo - O segredo de ser muitos..........................................................................12O Estado de S. Paulo - Depois dos clássicos, a ousadia..............................................................13

ARTES PLÁSTICAS...................................................................................................14O Globo - NY exibe a obra de um contestador .............................................................................14O Estado de S. Paulo - Política encoberta....................................................................................16

FOTOGRAFIA............................................................................................................17Folha de S. Paulo - Feira atesta alta de preços da fotografia........................................................17O Estado de S. Paulo - O futuro da imagem no Paraty em Foco..................................................18

MÚSICA......................................................................................................................18O Globo - Com ‘Ária ao vivo’, Djavan vira a página e já pensa no futuro......................................18Estado de Minas - Até parece que foi ontem ................................................................................20O Globo – O novo Pixinguinha......................................................................................................21Estado de Minas - Samba da terra................................................................................................22Estado de Minas - Em busca do tempo perdido...........................................................................24Correio Braziliense - A rainha do Império......................................................................................25O Estado de S. Paulo - Arancam tenor em ascensão...................................................................26Folha de S. Paulo - Edy Star e Alcina gravam Assis Valente........................................................27O Estado de S. Paulo - O reerguer do versador de primeira.........................................................28Época - O homem-gravadora........................................................................................................29Estado de Minas - Pop com pegada .............................................................................................30

LIVROS E LITERATURA...........................................................................................31Valor Econômico - África, e tudo mais .........................................................................................31Época - Drummond, tradutor “Deus sabe como”...........................................................................34O Globo - Cartas de amor.............................................................................................................36O Globo - Antonio Candido abre série de homenagens a Graciliano Ramos................................38O Globo - O livro da vida...............................................................................................................40

GASTRONOMIA.........................................................................................................42Jornal de Brasília - Com gostinho brasileiro ................................................................................42

OUTROS.....................................................................................................................42O Estado de S. Paulo - ''O mercado de arte nasce onde há riqueza''...........................................42Folha de S. Paulo - Malba completa dez anos em Buenos Aires..................................................45

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CINEMA E TV

O ESTADO DE S. PAULO – BH abre a fase das mostras

Luiz Carlos Merten

(15/9/2011) - E está para começar a grande temporada dos festivais internacionais de cinema que se realizam no País. O ponto de partida será dado dia 29, em Minas, pela Mostra Cine BH, que vai até dia 5. No dia 6 de outubro, começa o Festival do Rio, que segue até 18 e ostenta como principal atração a Première Brasil, considerada a maior vitrine anual de lançamentos do cinema brasileiro. O cinéfilo mal terá tempo para tentar se recompor e, dia 21, estará começando a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que, além de ser a mais longeva dessas manifestações, também possui a história mais rica. A Mostra enfrentou a censura da ditadura militar, revelou cinematografias, impôs autores - e deixou claro que o Brasil, e São Paulo, tinham (têm) um público de cinéfilos, ansioso por acompanhar a produção alternativa de ponta do mundo.El Prémio. Atração da mostra de filmes ‘spotlights’ - Divulgação

Realização da Universo Produções, a Mostra Cine BH é o terceiro dos grandes eventos que a empresa promove em diferentes cidades mineiras. Em janeiro, em Tiradentes, o festival privilegia o cinema brasileiro mais voltado à experimentação, ou à invenção. Em junho/julho, no inverno, Ouro Preto sedia outro festival que segue outro caminho, de certa maneira oposto. São filmes antigos, clássicos, que integram um movimento de recuperação da cultura, e não apenas do cinema brasileiro. Finalmente, agora em setembro, o Brasil CineMundi, dentro da Mostra Cine BH, põe o foco num grande encontro de coprodução internacional.

Importantes convidados da França, Alemanha, Itália, Holanda e de outros países da Europa e da América Latina estarão analisando dez projetos que foram selecionados para obter a consultoria de profissionais ligados a instituições como a Berlinale, a Film Comission de Villa d"Aosta e o Hubert Bals Fund. A coordenadora geral do Cine BH e do Brasil CineMundi, Raquel Hallak, conta como o segundo nasceu. Em Tiradentes, principalmente a Mostra Aurora abre o debate sobre estéticas e novos realizadores. É um tipo de cinema que tem dificuldade para chegar ao mercado, porque, como diz Raquel, "se o Brasil tem políticas públicas que incentivam a realização, carece de outras, que são as de difusão."

São filmes que muitas vezes não chegam ao mercado, seja interno ou externo. Como, por quê? A Europa, e seus grandes festivais, têm interesse nessa produção independente e assim surgiu, em 2010, o Brasil CineMundi. Os projetos selecionados incluem, entre outros, Curva do Rio Sujo, de Felipe Bragança; Éden, de Bruno Safadi; Marçal de Souza - O Banguela dos Lábios de Mel, de Joel Pizzini; O Último Trago, do coletivo Pretti/Parenti, do Ceará (na sexta, eles estreiam, em São Paulo seu novo filme, Os Monstros); e Rio Corrente, de Paulo Sacramento.

Além dos debates e workshops do Brasil Cine Mundi, o Cine BH sedia duas mostras - uma de novos realizadores, no perfil da Mostra Aurora, e outra de Cinema Contemporâneo. Elas ocorrem principalmente num cinema de bairro, o Santa Teresa, que todo ano a Universo tem de reabrir e equipar. O restante da programação é quase todo no Palácio das Artes, no centro da capital mineira. A programação completa encontra-se nos sites da Universo Produções e do próprio festival, www.mostracinebh.com.br.

BH/SPOTLIGHTSA parceria com o World Cinema Fund está trazendo para o Cine BH os chamados Filmes Spotlights, realizados com apoio do fundo ligado à Berlinale (e ao Festival de Berlim). São obras como El Prémio, de Paula Markovitch, que o paulistano já viu no Festival de Cinema Latino-Americano, e também Pós-Mortem, de Pablo Larrain, e The Hunter, de Rafi Pitts. O último é o mais estranho filme surgido no Irã, nos últimos anos, e foi bastante elogiado em Berlim. Mostra um homem que pega em armas para se vingar da morte da mulher, durante protestos contra o regime do presidente Mahmoud Ahmadinejad.

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O ESTADO DE S. PAULO - Moscovis a 180 graus

O ator é o protagonista de filme de Eduardo Vaisman que fala de triângulo amoroso e estreia hoje

Luiz Carlos Merten

(16/9/2011) - Eduardo (Du) Moscovis corre contra o tempo. Ele busca um teatro para se apresentar em São Paulo. Não está sendo fácil. Nas próximas semanas, Du se instala no Teatro Frei Caneca, integrando o elenco do infantil O Menino Que Vendia Palavras. Mas ele está querendo justamente aproveitar a permanência em São Paulo - por cerca de três meses - para retomar o monólogo O Livro, de Newton Moreno. O problema está no conceito da montagem. A diretora (e amiga) Cristiane Jathay convenceu Du Moscovis de que é fundamental que, no desfecho, uma janela se abra no palco para mostrar a cidade. Prédios, movimento de carros, de transeuntes. Sem isso, O Livro não funciona. E quem disse que Du está encontrando o tal teatro?

Pode ser, para tristeza do ator, que a temporada paulistana de O Livro não se concretize, mas, além do infantil, ele está em 180°, de Eduardo Vaisman, que ganha hoje as telas da cidade. E em breve estará na Globo, integrando o elenco da minissérie Louco por Elas, que João Falcão escreveu para ele. Há tempos que os dois namoravam a parceria. Ela, finalmente, vai se concretizar. Louco por Elas é sobre um instrutor de futebol quarentão e as mulheres de sua vida.

Ele fica sem graça quando o definem como galã. Em geral, não se importa com o tamanho dos papéis. "Se o ator é bom, não existe papel pequeno", avalia. E Du sabe se colocar no elenco global. "Sei que tenho certa importância para a emissora porque, pelo meu tipo físico e outras particularidades, como a idade, eu posso transitar formando duplas com mulheres mais velhas ou mais jovens. Não somos muitos, assim, e isso me dá um certo status."

Sua última participação em novela já data de alguns anos, Alma Gêmea, de 2005. Embora não tenha aversão pela mídia, ele diz que aceita fazer o galã, acha legal: "Mas se virar depreciativo eu paro. Se for uma coisa pejorativa, é melhor desconstruir. Sou ator". Ele está bastante animado com 180º. O filme de Eduardo Vaisman conta a história de um triângulo amoroso. Possui elementos de narrativa policial, mas, para Du Moscovis, a motivação foi o personagem. "Desde que conversamos, não apenas ele, eu, mas a Malu Galli, o Felipe Abib, a motivação de todos foram os personagens. Espero que o público perceba isso".

Um ator em todas as mídias

Teatro, cinema e televisão. Du Moscovis é o homem de todas as mídias. Na TV, participou de novelas e especiais de sucesso. No cinema, nenhum blockbuster. "Não busco papéis pensando no sucesso que podem me trazer. Não é por aí. Quero alguma coisa que me acrescente." O teatro foi muito importante no processo de descoberta e (re)conhecimento pessoal e profissional. Uma montagem imediatamente vem à tona. A de Corte Seco, direção de Christiane Jathay.

O espetáculo aposta numa linguagem de ruptura. A diretora corta as cenas ao vivo, inverte a cronologia, faz com que seu elenco improvise no palco. Essa desconstrução artística e profissional vem sendo perseguida por ele na vida, como já disse na capa. A imagem de galã não o incomoda, "é legal", mas se fica pejorativa Du Moscovis parte para a desconstrução da própria imagem. A relação com a Globo é flexível. Ele participa de projetos, e agora vai fazer a minissérie Louco por Elas, de João Falcão, mas não se prende a contrato para poder fazer "suas outras coisas".

Como o filme de seu xará Eduardo Vaisman. Em 180°, ele faz jornalista que se envolve num triângulo amoroso, mas o suspense não vem tanto das

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relações de afeto e de sexo como de uma particularidade da trama - o personagem encontra uma caderneta de anotações que pode ser do atual namorado de sua ex e com ela escreve um livro. A questão envolve acusações de plágio. A ética entra em discussão. Du Moscovis destaca a construção não linear, que permite ao espectador ir montando o filme na própria cabeça. Pode não ser exatamente a mesma cousa, mas tem algo a ver com as rupturas de Corte Seco, no teatro.

"Quando começamos a conversar sobre 180º, ficou claro para todos que o foco não estaria no experimentalismo da linguagem, mas nos personagens. Eles são muito ricos, ninguém está ali de uma maneira estática, representando bem ou mal. As interações é que fazem a riqueza do drama, foi bacana de fazer e o público está percebendo isso. Tivemos ótimas críticas na França e nos EUA, onde 180° venceu o Festival do Cinema Brasileiro de Miami."

Du tem outro filme pronto para estreia imediata, mas Corações Sujos, de Vicente Amorim, adaptado do livro de Fernando Morais, ainda deve passar antes pelo Festival do Rio, em outubro. "Foi outra experiência muito interessante, porque o filme trata da cultura japonesa no Brasil e eu faço esse delegado que vai parar no meio de uma colônia de japoneses que se recusa a aceitar a derrota do Japão na 2.ª Grande Guerra. Os corações sujos eram aqueles que aceitavam a derrota e precisavam ser eliminados."

Embora importante, o papel não é principal. "Essa coisa de querer só ser o protagonista não tem nada a ver. Como ator conto histórias e o papel menor pode ser tão bom quanto o do protagonista. Foi muito interessante conviver com atores importados do Japão. Eles vêm de outra cultura, possuem outra disciplina, mas no limite todo mundo fazia cinema com a mesma paixão." Corações Sujos foi ovacionado no Festival de Montreal. Todos esses sucessos no exterior vão repercutir no Brasil?

"A gente espera que sim, mas de, qualquer maneira, não sou afobado. Estou gostando muito do que ando fazendo." Ele apresentou, há pouco, Corte Seco em Brasília. "A gente ainda tem um projeto de itinerância da peça, que não acabou, mas que acho que será interrompido, até por falta de condições, ou de tempo. Estou trazendo O Menino Que Vendia Palavras para São Paulo, quero fazer O Livro aqui, a minissérie do João (Falcão) está pintando. Tudo isso é bacana. É muito trabalho, mas é prazeroso."

O ESTADO DE S. PAULO – Filme louva a Rádio Nacional

Roberta Pennafort

(19/9/2011) Para os jovens que só ouvem música na internet, pode soar surreal, mas houve uma época, 50, 60 anos atrás, em que os cantores só "aconteciam" se passassem pelos microfones de uma certa emissora de rádio. Uma rádio que transmitia, do centro do Rio, o melhor da música, e também do jornalismo, do humor e do esporte para o Brasil e para o mundo todo, a ponto de ter fãs na Islândia na Austrália.

Setenta e cinco anos depois de sua fundação, a Rádio Nacional continua no ar (1130 AM), mas é lembrada por seu passado. É tema de Rádio Nacional, documentário de Paulo Roscio, cuja pré-estreia será hoje, no velho Cine Odeon. Durante seis anos, cantores (Marlene, Cauby Peixoto, Roberto Carlos), jornalistas, humoristas - alguns, sobreviventes da época - e pesquisadores lhe deram depoimentos sobre a importância da emissora, maior veículo de comunicação de massa dos anos 40 e 50, pré-TV Globo.

Eles lembram sua criação, a estatização e uso político pelo primeiro governo de Getúlio Vargas, a audiência inabalável, o auge dos programas musicais diante de auditórios em êxtase, os concursos de rainhas, as radionovelas, o Repórter Esso (em que seria lida em primeira mão a carta-testamento de Getúlio, em 54), chegando a seu processo de decadência, com a popularização da TV e a ação aniquiladora da ditadura militar, que condenou a rádio a viver da glória pregressa.

Os melhores momentos do filme são os que louvam seu palco lendário. Roberto Carlos, que homenageou a rádio na música Minha Tia, de 1976, volta no tempo: "Eu andava pelos corredores buscando ser escalado por um programa como o do Cesar de Alencar, o do Paulo Gracindo... Quando consegui, foi muito importante para a minha carreira".

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"Sou ouvinte de rádio e me encantei com a história da Nacional vendo as fotos da época espalhadas nos seus corredores", conta o diretor, que filmou nos estúdios da rádio, no primeiro arranha-céu da cidade, erguido ainda nos anos 30.

FOLHA DE S. PAULO - Filmada no Rio, série nacional da HBO mostra mercado da praia

Protagonista é executivo falido que busca chance de se reerguer MARCO AURÉLIO CANÔNICO

(18/9/2011) - Terça-feira de sol, praia de Ipanema. Um homem branco, com pinta de rico, 40 e poucos anos, toma uma água de coco na barraca, de camiseta, bermuda e chinelos.

"Velasco?", pergunta, com espanto, um homem barrigudo que o identifica. "Pelo visto esse teu ano sabático tá te fazendo muito bem, hein? Não me lembro de você na praia na época do banco."

De fato, João Ricardo Velasco não costumava ir à praia na época em que era um executivo bem-sucedido, lucrando alto na Bolsa.

Protagonista da série nacional "Preamar", que está sendo gravada para a HBO, ele é "alguém que mora em frente à praia, mas nunca sujou o pé de areia", segundo o diretor Estevão Ciavatta.

A série, com 13 episódios de 50 minutos cada um, vai mostrar como Velasco faliu (na crise financeira de 2008), escondeu o fato dos amigos e da família (daí a desculpa do "ano sabático") e buscou no mercado informal da praia um lugar para se reerguer.

A Folha assistiu às gravações de um episódio de "Preamar" na última terça, em Ipanema -70% da série será ambientada na praia, segundo Ciavatta, que planeja mostrar a vida à beira-mar, "invisível para todo mundo".

"A praia é sempre mostrada como um lugar de lazer. Vamos mostrá-la como lugar de negócios", diz ele. "Assim como no mercado financeiro, você tem de conhecer as pessoas, ter as informações privilegiadas, o know-how."

Fatos na ficção

"Preamar" (nome da maré mais alta) vai incorporar à trama acontecimentos reais da orla carioca, como a perseguição dos pitboys aos gays e os apitaços para anunciar a presença da polícia na areia.

Nessa busca por dar verossimilhança à série (que define como uma "comédia de erros"), Ciavatta tentou usar a seu favor o fato de não poder escalar atores famosos (quase todos na concorrência).

"Usando pouca gente conhecida, fica mais real", diz o diretor, que escolheu atores teatrais (como Leonardo Franco, que faz o protagonista) e alguns poucos rostos de TV, como Roberto Bonfim.

A série é financiada pela HBO, que investiu R$ 14,8 milhões (quase tudo via Lei Rouanet) e deve colocá-la no ar em meados de 2012.

Será a sexta produção nacional exibida pelo canal, depois de "Mandrake" (2006), "Filhos do Carnaval" (2007), "Alice" (2009), "Mulher de Fases" (2011) e "FDP" -esta, sobre o mundo do futebol, ainda vai estrear.

Além de Ciavatta, que dirige três episódios e cuida da produção e da direção-geral, "Preamar" tem quatro diretores convidados (Anna Muylaert, Marcia Faria, Marcus Baldini e Mini Kerti), cada um cuidando de dois capítulos.

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CORREIO BRAZILIENSE - Tropa na mira do Oscar

Maior sucesso de bilheteria do país, filme de José Padilha é escolhido para concorrer a uma vaga na categoria de melhor filme estrangeiro. Lista de indicados sai em janeiro de 2012

Estrelado por Wagner Moura, Tropa de Elite 2 disputou com Bruna Surfistinha e outros 13: opção "unânime"

(21/9/2011) - O filme Tropa de Elite 2 — O inimigo agora é outro foi escolhido para representar o Brasil entre os concorrentes a uma indicação ao Oscar de melhor produção em língua estrangeira. O filme de José Padilha, o maior sucesso de bilheteria da história do país (com 11 milhões de espectadores), foi a opção “unânime, consensual” da comissão formada pelo Ministério da Cultura. O longa-metragem bateu outros 14 candidatos à vaga — entre eles, Bruna Surfistinha, Assalto ao Banco Central, VIPs, Lope e o brasiliense Federal. “Estou superfeliz. É um orgulho”, comentou Padilha.

“Por sua qualidade técnica e artística, Tropa 2 saltou à frente dos outros indicados”, afirmou a secretária do Audiovisual, Ana Paula Santana, em coletiva no Palácio Gustavo Capanema, no Centro do Rio de Janeiro. A secretária integrou a comissão ao lado do presidente da Associação Brasileira de Cinematografia, Carlos Eduardo Carvalho Pacheco, do ministro do Departamento Cultural do Itamaraty, George Torquato Firmeza, e dos representantes da Academia Brasileira de Cinema, Jorge Humberto de Freitas Peregrino, Nelson Hoineff, Roberto Farias e Silvia Maris Sachs Rabello.

“Tropa 2 tem autêntica chance de ganhar uma indicação. Sendo indicado, tem chance de vencer o Oscar”, opinou Hoineff, autor do documentário Alô, alô, Terezinha. Segundo Roberto Farias (diretor de O assalto ao trem pagador, de 1962), a continuação é mais bem acabada que o longa original — e, por isso, conquistou maior apelo popular. Lançado em 2007, o primeiro Tropa de Elite (vencedor do Urso de Ouro em Berlim) foi visto por 2,4 milhões de espectadores — mas, segundo estimativas do Ibope, teria sido visto em DVD pirata por mais de 11 milhões de brasileiros, antes da estreia nos cinemas. Em tom de thriller policial, o filme narra o embate entre o coronel Nascimento (Wagner Moura), do Bope, e as milícias do Rio de Janeiro.

No mercado oficial do Brasil, a continuação se saiu melhor: faturou, até dezembro de 2010, um total de R$ 102,6 milhões, mais do que Avatar, de James Cameron (R$ 102,3 milhões), e do que o campeão nacional anterior, Dona Flor e seus dois maridos (1976), visto por 10.735.252 pessoas. Segundo a secretária do Audiovisual, os produtores de Tropa de Elite 2 vão receber “apoio logístico e financeiro” do governo para promover o longa no exterior, na campanha por uma vaga na disputa do Oscar de melhor filme estrangeiro. Nos Estados Unidos, o filme atende por Elite Squad 2: the enemy within.

O último candidato brasileiro que conseguiu entrar na lista de indicados foi Central do Brasil, de 1998. No ano passado, Lula, o filho do Brasil provocou polêmica quando foi escolhido pelo Ministério da Cultura e não convenceu a Academia de Hollywood. Além de Central do Brasil, três longas brasileiros concorreram a estatuetas: O pagador de promessas (1963), O quatrilho (1996) e O que é isso, companheiro? (1998). Nenhum venceu o prêmio máximo da indústria do cinema. Os indicados ao Oscar 2012 serão conhecidos em 24 de janeiro; e os vencedores, no dia 26 de fevereiro, em cerimônia no Kodak Theater, em Los Angeles.

OS CONCORRENTESEntre os filmes que já foram escolhidos para representar seus países no Oscar 2012, estão o francês La guerre est declaree, de Valerie Donzelli; o finlandês Le Havre, de Aki Kaurismäki; o húngaro Cavalo de Turim, de Béla Tarr; o português José e Pilar, de Miguel Gonçalves Mendes; e o documentário alemão Pina, de Wim Wenders.

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TEATRO E DANÇA

O ESTADO DE S. PAULO - Bienal se consolida com foco na cidade

Realizada em Santos, a mostra, na 7ª edição, recebeu 21 espetáculos, debates e workshops

Helena Katz

(15/9/2011) - Foram 21 espetáculos (em 34 apresentações), 8 intervenções (em 31 manifestações), 5 videoinstalações, dois Encontros Provocativos (conversa de um artista e um pesquisador com o público), mesa de debates, exibição de vídeos e filme, lançamento de livro e workshops. De 2 a 8 de setembro, a 7.ª Bienal Sesc de Dança, que ocorre em Santos, São Paulo, exibiu 33 companhias de diferentes locais do Brasil e também da Argentina, do Uruguai, Senegal, da Bélgica e França.

O modelão é o do festival que organiza atividades em torno dos espetáculos que seleciona. Desta vez, foram mais de 400 obras inscritas. A ótima proposta de usar espaços históricos da cidade, que marca esta Bienal desde 1998, quando se iniciou, foi mantida. A apresentação de atividades ao ar livre também. São dois tipos de uso de espaço e de relacionamento com a cidade de muita complexidade, e ainda pouco explorados nas suas especificidades. Talvez tenha chegado o momento de priorizar a sua qualificação, dado o potencial nelas antevisto. A Bienal de Santos deve colaborar para o avanço dessa discussão, já em curso na área da dança em outros festivais, para reposicionar a Bienal na sua cidade e no conjunto dos festivais do Brasil, desenhando um perfil mais claro para a sua inserção nesse quadro.

A 7.ª Bienal foi lançada no dia 9 de agosto, no teatro do Sesc Santos, com Um a Um!, fruto da residência de nove dias realizada por dez bailarinos brasileiros e dois bailarinos ligados à companhia belga Les Ballets C de la B. Esse mesmo trabalho foi reapresentado às 12h30, na Praça Mauá, no dia da sua inauguração oficial, 2 de setembro. Mas a abertura nobre, a que ocorre no teatro, ficou com o Les Ballets C de la B, da Bélgica, reproduzindo aquele hábito colonial, ainda tão presente entre nós, de valorizar mais o produto estrangeiro. O convite para a abertura de um evento desse porte constitui uma distinção, todos sabemos. Consultado pelo Estado, após um dos espetáculos da Bienal, sobre a razão dessa escolha, e não a de uma companhia brasileira, Juliano Azevedo, responsável pela área da dança no Sesc São Paulo, informou que não se tratou de opção, mas de uma condição imposta pelas datas possíveis para as cias. estrangeiras poderem participar.

O fato de uma Bienal ficar refém da agenda das companhias que deseja apresentar evidencia a necessidade de mais antecedência para seu planejamento.

A inexistência da figura de um diretor ou de uma equipe permanente responsável pela Bienal também contribui para que ela deixe escorrer toda a força simbólica de sua nomeação. Vendo-se ainda como um festival que ocorre a cada dois anos e sendo montado em um prazo apertado demais, abre mão da possibilidade de se transformar em um marco regulatório importante no cenário nacional, podendo vir, inclusive, a balizar os próprios festivais. Por enquanto, atua como um evento de distribuição de produtos diversos, que juntou em uma mesma cesta com critérios outros que não somente os curatoriais.

Embora sem apoio de uma pesquisa formal, a instituição anuncia uma conquista expressiva e que merece mesmo ser comemorada: a população local começou a participar. Segundo informação de Marcos Villas, também em entrevista ao Estado durante a Bienal, foi perceptível uma mudança no público, atribuída às estratégias de comunicação agora adotadas. Villas foi um dos três curadores, ao lado de Liliane, a responsável pela dança na unidade de Santos, e de Andrea Bardawil, artista da dança de Fortaleza - cujos nomes não foram publicados nos dois programas (português e inglês). Pela primeira vez, foi produzido um programa em inglês, em tiragem reduzida e mais completo do que o lançado em português, com o objetivo de abrir caminhos para as companhias brasileiras no exterior.

Em 2011, a Bienal investiu pesadamente em comunicação (outdoors, cubos espalhados pela cidade, anúncios em toda a mídia) e, satisfeita com o resultado, anuncia que vai dedicar o próximo ano para consolidar os avanços conquistados, focando a dança da cidade - um bom augúrio para a

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necessidade de a Bienal existir como projeto permanente. Afinal, ela se consolida: foram consumidos cerca de 8 mil ingressos para os espetáculos em espaços fechados e atingidas em torno de 70 mil pessoas com as ações ao ar livre, segundo informações de Villas.

É louvável que o Sesc abrigue um evento da importância da Bienal de Dança. E mais louvável ainda será se abrir espaço para os ajustes necessários para que ela venha a ocupar o papel que lhe cabe no nosso país.

FOLHA DE S. PAULO - Elogio do ator

Prêmio Shell de 2011 valoriza boa safra de monólogos ao indicar quatro intérpretes que atuaram sozinhos nos palcos

GABRIELA MELLÃO

(15/9/2011) A solidão voluntária foi bem recompensada. Dos nove atores indicados ao Prêmio Shell deste ano, quatro são protagonistas absolutos da cena: interpretam monólogos. Charles Fricks disputa o prêmio por sua atuação em "O Filho Eterno", transposição teatral da Cia. Atores de Laura do livro homônimo de Cristovão Tezza sobre as dificuldades de um pai em aceitar as deficiências de um filho com síndrome de Down.

Ester Laccava concorre por encarnar uma velha sertaneja em "A Árvore Seca", do jovem autor Alexandre Sansão. Ela envelhece várias décadas em cena usando apenas talco nos cabelos -caso também de Debora Olivieri em "Rosa". Nesse solo do autor norte-americano Martin Sherman, também indicado ao Shell na categoria melhor atriz, Olivieri vive uma judia.

Gilberto Gawronski disputa o prêmio por "Ato de Comunhão", do argentino Lautaro Vilo, peça na qual assina a encenação, baseada em caso verídico de canibalismo.

A boa safra de monólogos extravasa as indicações. Os atores Caco Ciocler, em "45 Minutos", de Marcelo Pedreira, e Eduardo Moscovis, em "O Livro", de Newton Moreno, também brilharam sós em cena nesta temporada.

A opção por fazer monólogos, é claro, não garante prêmio ou destaque. Mas, de forma geral, esse tipo de peça gera trabalhos autorais. "Para estar sozinho num palco, só movido por uma necessidade de contar algo que toque o artista", diz Fricks.

Ele define o gênero como a essência do teatro: se o palco é o templo do ator e da palavra, num solo o intérprete é também a sua alma.

Para Gawronski, num monólogo a interpretação está no centro da cena. "Se o ator não está bem, é muito difícil que o espetáculo se sustente apenas pela excelência de um texto ou pela beleza de sua concepção plástica", diz.

"Num solo, é preciso bancar sozinha a responsabilidade de estabelecer uma conexão com o público", afirma Ester Laccava. Num monólogo, os intérpretes estão mais expostos que o habitual. Sobretudo nas obras que concorrem ao Shell, que primam pela simplicidade e economia de recursos cênicos, com exceção de "Ato de Comunhão" -que dialoga com outras mídias. Olivieri conta que sua avó e seus tios nasceram em Tchernobyl (Ucrânia), mesma cidade da protagonista de "Rosa". "Vivo no palco a ancestralidade da minha família. Não tem prazer melhor e maior que esse", afirma.

"Tenho minha avó na minha memória emotiva. Não precisei dar grande composição à personagem para vivê-la básica e intensamente."

FOLHA DE S. PAULO – Peça retrata conflitos em família mineira

Recordista de indicações no Shell, 'Crônica da Casa Assassinada', dirigida por Gabriel Villela, chega a São Paulo

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Adaptado de romance de Lúcio Cardoso, espetáculo expõe conflito entre mulher libertária e família aristocrática

DE SÃO PAULO

(15/9/2011) Os espetáculos recordistas do Prêmio Shell deste ano, o principal de teatro do país, são: "O Jardim", de Leonardo Moreira, "Luis Antonio-Gabriela", de Nelson Baskerville e Verônica Gentilin, e "Crônica da Casa Assassinada", adaptação de Dib Carneiro Neto para o romance homônimo de Lúcio Cardoso.

Os dois primeiros já fizeram temporada na cidade - "Luis Antonio..." faz sua estreia carioca neste fim de semana, integrando o Tempo Festival. "Crônica..." estreia amanhã em São Paulo.

Nessa obra, contemplada com quatro indicações ao Shell -melhor direção, figurino, cenografia e iluminação-, o diretor Gabriel Villela faz o mesmo que o escritor Lúcio Cardoso: expurga suas raízes mineiras.

"Minas Gerais, lugar horroroso pra morrer. Terra de gente calada, feia, povo avarento." É assim que, no início da peça, a protagonista (a carioca Nina, interpretada por Xuxa Lopes) "enaltece" o Estado que a acolheu. "Ela levanta os tabus que gerenciam a cultura mineira. Enlouquece todos com sua beleza e suas idiossincrasias, infeccionando a vida das pessoas como farpa que entra e provoca o pus", diz Villela.

O diretor justifica as particularidades de sua terra natal a partir da geografia. "Minas é muito interiorana, um Estado amuralhado. As montanhas que comprimem o horizonte propiciam uma cultura fechada, de expiação." A peça expõe um clã mineiro sob dois pontos de vista.

De um lado, retrata a aristocrática família Menezes, que vê ruir sua frágil ordem com a chegada da libertária Nina -que pratica traições, incestos e outros pecados.

Do outro, apresenta o julgamento da cidade, por meio de um coro formado por um padre, um farmacêutico e um médico. A mesma oposição surge na linguagem. Enquanto a família dialoga, o coro narra -em uma homenagem ao próprio romance de Cardoso, cuja estrutura é epistolar e em formato de depoimentos.

Segundo Villela, sua encenação foi concebida a partir de três elementos que servem de alicerce familiar: cama, mesa e religiosidade. O sexo, a reza e os encontros rotineiros do clã Menezes acontecem em um único ambiente.

Em "Crônica da Casa Assassinada", a casa é também personagem de múltiplas facetas: é templo sagrado, de perdição, amor, ódio e morte. Tudo acontece no lar dos Menezes, com exceção das práticas familiares tradicionais.

Versão estreita laços da peça com Nelson Rodrigues

A sintonia entre "Álbum de Família" (1945) e "Crônica da Casa Assassinada" (1959) se dá pela temática -dos desejos incestuosos de uma família- e pelo local onde Nelson Rodrigues e Lúcio Cardoso situam as obras: Minas Gerais.

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Os atores da peça "Crônica da Casa Assassinada", adaptação de Dib Carneiro neto de romance homônimo de Lúcio Cardoso

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A versão teatral de "Crônica da Casa Assassinada" torna ainda mais estreito o diálogo entre as duas obras. "Procurei me aproximar de Nelson, criando diálogos que são também duelos verbais", afirma Dib Carneiro Neto, autor da adaptação.

Para Gabriel Villela, as similaridades temáticas se organizam de maneiras distintas em Nelson e Lúcio. "No primeiro, a trama se apresenta mais como evocação. O romance, além de psicológico, é físico, carnal", avalia.

Villela escancara a diferença na primeira cena, ao retratar um incesto. Mãe e filho fazem sexo diante do público, misturando lágrimas com gozo, pecado com prazer. Por conta do conteúdo subversivo, a montagem de Villela causou protestos durante a temporada carioca.

ESTADO DE MINAS - Criador de mundos

Baseada em contos de Murilo Rubião, O amor e outros estranhos rumores estreia amanhã em BH, em meio às celebrações dos 20 anos da morte do escritor mineiro

Mariana Peixoto

15/9/2011 - Há escritores que requentam sua obra. Mas não Murilo Rubião, que requintou a própria obra, reescrevendo-a constantemente. Isso fez toda a diferença. As palavras são de outro escritor, também mineiro, Humberto Werneck, que organizou os três volumes de contos de Rubião – O pirotécnico Zacarias, A casa do girassol vermelho e O homem do boné cinzento – editados em 2006 pela Companhia das Letras. A publicação, na época, veio lembrar os 15 anos da morte do escritor, em 16 de setembro de 1991. Agora, nos 20 anos, ele recebe outro tipo de homenagem.

De amanhã a domingo, o Sesc Palladium apresenta o espetáculo O amor e outros estranhos rumores, do Grupo 3 de Teatro, formado pelos mineiros radicados em São Paulo Débora Falabella, Gabriel Paiva e Yara de Novaes. Junto à montagem, haverá, também no espaço cultural, uma exposição e mostra de filmes e vídeos. Na sexta-feira, na Faculdade de Letras (Fale) da UFMG, será realizado um simpósio com especialistas na obra de Rubião.

Para o espetáculo foram escolhidos três contos do escritor que versam sobre o amor: O contabilista Pedro Inácio, Bárbara e (Três nomes para) Godofredo. Débora Falabella faz o personagem da

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primeira história, um homem que contabiliza os custos de um amor. Maurício de Barros é o marido de Bárbara, homem resignado diante dos pedidos nada comuns da mulher. Por fim, Rodolfo Vaz interpreta Godofredo, texto que fala sobre o casamento e a solidão. Costurando as três histórias há um personagem onipresente, um coelho (papel da atriz Priscila Jorge), que garante a aura fantástica, tão marcante no universo de Rubião.

“Murilo Rubião vivia acossado pelo registro, por aquilo que poderia se tornar perene. Essa obsessão dele em reescrever é uma característica intrínseca ao teatro, já que cada espetáculo é uma reescritura”, afirma Yara de Novaes, que dirige a montagem, a terceira do grupo, fundado em 2005. “Por causa dessas características, o texto de Murilo Rubião é vocacionado para o teatro. Sua prosa permite uma abordagem muito propícia para o palco, com sua junção entre o real e o fantástico. Além de tudo, é um grande autor belo-horizontino (nascido em Carmo de Minas, foi criado e passou a maior parte de sua vida na capital mineira). Tanto eu, quanto a Débora, o Gabriel e o Rodolfo, também somos. E essa condição belo-horizontina nos interessava.”

Para escrever a dramaturgia, assinada por Sílvia Gomes, o grupo estudou os 33 contos de Murilo Rubião. Escolheu o recorte do amor porque é um assunto que vem tratando em espetáculos anteriores (A serpente e O continente negro). Para Yara, mesmo pouco difundido no Brasil, Murilo Rubião tem um alcance popular. A diretora vem sentindo isso em temporadas populares que vem fazendo em São Paulo. “Cada um da plateia faz sua própria tradução. Essa possibilidade da metamorfose, assim como o universo do fantástico, encontra no teatro um território livre”, conclui.

Palavras e imagensAo longo de sua carreira literária, Murilo Rubião (1916-1991) publicou 51 contos. Desses, somente 33 entraram em livros. “Ele não só reescreveu várias vezes os contos, como vivia alterando a ordem deles nos livros”, afirma Humberto Werneck. Para ele, o que o fascina na obra muriliana é “o absoluto rigor e a depuração com que ele refinou os textos ao longo dos anos.”

Para a antologia que organizou, Werneck incluiu somente os 33 contos escolhidos por Rubião. Para as capas, foram feitas xilogravuras realizadas pelo Acaia, instituto criado pela artista Elisa Bracher na periferia de São Paulo, na Zona Oeste, próximo ao Ceasa.

“Na época, encontrei-me com meninos de 9 aos 17 anos que não liam coisa alguma. Contava história, lia os contos do Murilo, mostrava como era. Até que fizeram um trabalho em xilogravura baseado naquilo. Quando os professores me chamaram para ver, foi emocionante ver como os meninos falavam de igual para igual. Fizeram as três capas, criaram o nome Xilo Ceasa e depois ilustraram livros de Arnaldo Antunes e Fabrício Corsaletti. A certa altura, decidiram até mesmo fazer seus próprios livros, com xilogravuras. Para mim, essa é mais uma mágica de Murilo Rubião”, conclui.

O ESTADO DE S. PAULO - O segredo de ser muitos

Em nova peça, Marcelo Médici volta a aparecer na pele de vários personagens

Maria Eugênia de Menezes

(16/9/2011) - Ninguém é um só. Todo indivíduo é capaz de transformar-se em outros, de ser muitos ao mesmo tempo. Mas poucos conseguem fazer dessa possibilidade uma arte. Ou um bom negócio. Marcelo Médici fez os dois. Em Eu Era Tudo para Ela e Ela me Deixou, o ator volta a mostrar sua habilidade de encarnar vários personagens. A peça, que tem estreia marcada para amanhã no Teatro Faap, traz Médici revezando-se entre nove papéis. Retoma, ainda que em formato diverso, a verve camaleônica que fez o sucesso de Cada Um com Seus Pobrema.

Desde que entrou em cartaz - há cerca de seis anos -, o monólogo cômico já arrastou multidões ao teatro. Os planos para uma continuação, um Cada Um com Seus Pobrema parte 2, existem e podem ganhar corpo em breve. Agora, porém, a ideia de Médici é fazer o que ele chama de "teatro de verdade". Distante do modelo do stand-up, ele encara uma produção com cenário, figurino e enredo.

Escrita por Emílio Boechat, Eu Era Tudo para Ela... conta a história de um homem que vê seu casamento de dez anos chegar ao fim. Com um trombone, uma mala e um jabuti de estimação a

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tiracolo, ele é expulso de casa e não tem para onde ir. Os percalços que enfrenta nesse périplo em busca de um novo lar movimentam a trama. E servem de pretexto para as tiradas cômicas de Médici.

No papel de marido abandonado está Ricardo Ratsham, que foi diretor de Cada Um com Seus Pobrema. Já a Médici cabe a incumbência de aparecer na pele de sua mulher, Dóris, e também de outros oito coadjuvantes. Figuras tipificadas e prontas para provocar o riso: uma prostituta gaúcha, um bandido carioca, o colega de escritório que esconde sua vida dupla como travesti. "Essa história é, para mim, como uma Alice no País das Maravilhas, no qual esse personagem está perdido e vai se deparando com uma série de figuras estranhas", diz Médici. Com dezenas de trocas de figurinos, o tour de force lembra o que o ator já fazia em O Mistério de Irma Vap, quando contracenou com Cássio Scapin, sob direção de Marília Pêra.

Em Eu Era Tudo Para Ela..., é Mira Haar quem assina a encenação. Uma das fundadoras do Pod Minoga - cia. teatral que marcou a comédia paulistana dos anos 1970 -, Mira vale-se das diferenças que existem entre os dois intérpretes para reforçar a comicidade. "Eles têm estilos muito diferentes, mas que se complementam e funcionam bem em cena. Ricardo tem um humor ensimesmado, quase ingênuo. Já o Médici tem esse estilo histriônico."

Não é a primeira vez que Marcelo Médici encena esta peça. Durante os anos 1990, chegou a participar de uma montagem do texto. À época, a versão contava com cinco atores. Ele, porém, já brincava de se revezar entre personagens. "Mas antes eram só três", ele lembra.

Foi justamente a possibilidade de se travestir em tantas figuras o que seduziu o ator para que produzisse uma nova encenação da peça. Mesmo com um repertório tão vasto de tipos, o ator garante que continua a ver nessa proposição cênica um desafio. "Não posso nunca repetir o que eu já fiz. Existe canastrice no humor também. Tenho sempre que ir buscar alguma coisa diferente", garante o ator, formado no Centro de Pesquisa Teatral de Antunes Filho.

Tanta busca pelo novo resulta, invariavelmente, em improvisos e piadas criadas no calor do momento. "Dá sempre um pouco de medo, tenho que ficar muito atento porque não sei o que ele vai inventar ali na hora", observa o ator Ricardo Rathsam.

Muitos são os "cacos" que o espectador poderá observar em cena. Referências às redes sociais, que não sonhavam em existir nos anos 1990, e a "celebridades" dos nossos dias, como o polêmico deputado Jair Bolsonaro.

"Comédia é assim mesmo. Os atores se apropriam completamente do texto", endossa o dramaturgo Emílio Boechat.

O ESTADO DE S. PAULO - Depois dos clássicos, a ousadia

Ana Botafogo dança coreografia feita para o mito Margot Fonteyn

Roberta Pennafort / RIO

Antes de 1981, Ana Maria Botafogo Gonçalves Fonseca era uma jovem bailarina a sonhar alto: queria, como toda moça de coque, sapatilhas e ambição, integrar o balé do Teatro Municipal do Rio, o mais tradicional do País. O palco onde haviam dançado lendas do século 20, como Isadora Duncan, Nijinsky, Nureyev e Margot Fonteyn, lhe parecia então distante demais - ainda que já trouxesse a experiência no Balé de Marselha de Roland Petit, onde deixara de “ser a mais talentosa de sua escolinha de Copacabana para ser mais uma”.

A mestra. Sem apoio para fazer Marguerite e Armand, ela foi à luta e venceu - Fabio Motta/AE

Uma variação de A Bela Adormecida numa audição mudaria tudo. Nomeada primeira bailarina, Ana Botafogo iria se tornar aos poucos a mais conhecida do Brasil, e o Municipal, sua casa. A trajetória profissional da menina da Urca, talentosa desde criança, havia sido iniciada cinco antes, e passara pelo Teatro Guaíra, em Curitiba. Mas tamanha projeção só o principal palco brasileiro lhe daria.

Os 30 anos de serviços prestados são marcados pela temporada festiva que começou no fim de semana passado, justamente no Guaíra. No próximo, ela dança no Teatro Alfa; dias 1.º e 2 de

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outubro, a carioca volta para casa. Com ela, estão 22 jovens da Companhia Jovem de Ballet que também buscam o estrelato.

Ana ainda se recupera da ruptura de um ligamento no pé esquerdo, lesão mais grave de sua carreira inteira. Ficou sete meses parada. E não são os apelos do ortopedista que vão imobilizá-la, tampouco o custoso processo de voltar à forma numa idade em que as bailarinas em geral só dançam por diletantismo.

A base do espetáculo comemorativo é o balé Marguerite e Armand, inspirado em A Dama das Camélias e idealizado para uma Margot Fonteyn de 44 anos. Ana é a primeira brasileira a encená-lo. "Não queria mais dançar os clássicos. Passei 30 anos fazendo Coppélia, Dom Quixote, foram uns 20 de O Lago dos Cisnes...", conta, aos 53 não confessos (bailarinas gostam de dizer que "têm a idade das personagens"). "Queria falar ‘não’ enquanto ainda estava bem e poderia dizer ‘sim’."

Ana tentou envolver o Municipal na empreitada, mas não conseguiu apoio e achou que era hora de ser independente. Buscou o patrocínio da Vale, comprou os direitos da obra na Inglaterra, trouxe figurinos, cenário e artistas do Teatro Cólon, que tem o balé em seu repertório. O pianista Iván Rutskauskas interpreta a sonata de Liszt que embala a história triste dos amantes parisienses; o bailarino Federico Fernández, o mais destacado da casa de Buenos Aires, é Armand.

Dos corpos artísticos do Municipal estão os parceiros de sapatilhas Marcelo Misailidis e Joseny Coutinho, a orquestra e o regente Henrique Morelenbaum, que viu os primeiros fouettés de Ana ali e regeu seus Giselles e O Quebra-Nozes.

Resoluta, Ana diz não ter ficado magoada com a aparente desfeita. "Vi que não iam fazer por mim, então tive que correr atrás, e por dois anos. A vida inteira eu dependi do Municipal. Eles têm as razões deles, e não sofro com isso. Sou de bem com a vida."

Marguerite, a cortesã apaixonada pelo jovem Armand, e por ele humilhada, estreou no Municipal, em montagem antológica, em 1967, com Margot dividindo a cena com Nureyev. Quase não foi mais encenado. Diz-se que o coreógrafo não queria ceder a obra a mais ninguém.

Nas apresentações de Ana, o drama é mesclado com outras coreografias modernas.

ARTES PLÁSTICAS

O GLOBO - NY exibe a obra de um contestador

Antonio Manuel, conhecido por trabalhos políticos, ganha sua primeira exposição individual nos EUA

Fernanda Godoy- Correspondente / NOVA YORK

(18/09/2011) A exposição “Antonio Manuel — Eu quero atuar, não representar”, aberta na última quinta-feira na Americas Society, em Nova York, revisita as principais obras do artista brasileiro nos anos 1960 e 1970 e o situa no contexto da época, de contestação política e de explosão da cultura pop.

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— Antonio Manuel é um artista muito importante para esse período, pelo cruzamento entre arte conceitual, neoconcretismo e pop art, mas nunca tinha tido uma exposição individual aqui. Há obras suas no MoMA e na Tate Modern, de Londres, mas faltava uma exposição como essa — diz a curadora da galeria da Americas Society, Gabriela Rangel, que trabalhou dois anos na preparação da mostra.

Na ditadura, perseguição

As histórias por trás das obras de Antonio Manuel são quase tão interessantes quanto o próprio trabalho. “Repressão outra vez — Eis o saldo”, de 1968, havia sido selecionada para representar o Brasil na Bienal de Paris. São impressões em silk screen. Em quadros em vermelho e preto, que precisam ser revelados ao se levantar um pano preto, estão notícias que vão da repressão da ditadura militar às passeatas de protesto. Um dia antes do embarque planejado para Paris, a obra foi exibida no MAM do Rio. A exposição acabou fechada pelos militares, e Antonio Manuel teve que se esconder da polícia. Mas as peças foram recolhidas por Niomar Moniz Sodré Bittencourt, dona do “Correio da Manhã”, e salvas.

As sementes desse trabalho vinham de 1966, quando o artista iniciara sua série de “Flans”, matrizes de jornal que também traziam no noticiário político um conteúdo de contestação e denúncia. Presente à abertura da mostra, que segue em cartaz até 10 de dezembro, Antonio Manuel continua acreditando no papel político da arte:

— A arte é política, também. Todo ato criativo é um ato político, de mudança.

Um dos momentos de desafio político da carreira do artista, nascido em 1947 em Portugal mas brasileiro desde os 5 anos, foi a performance “O corpo é a obra”, no MAM, em 1970. O júri recusou sua proposta de apresentar o próprio corpo como obra de arte: em reação, ele apareceu nu na abertura do evento. “Corpobra”, trabalho resultante da performance, está na exposição. Quase todas as obras são da coleção pessoal de Antonio Manuel. Mesmo na capital do consumismo e do poder financeiro, ele resiste à especulação:

— Eu vivo da arte, mas preservei essas obras por muitos anos e não quero um uso comercial, especulativo. Gostaria que fossem para alguma instituição e, de preferência, que o conjunto fosse mantido.

Para quem dependeu da ajuda de amigos para conseguir trabalho como ilustrador de livros e jornais na ditadura, não deixa de ser compensador ver um período de maior brilho das artes visuais brasileiras no exterior.

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— É um momento em que a invenção brasileira se expande, rompe o conceito latino-americano para estar no mundo como linguagem universal — diz ele, que estará na Europália, o festival internacional de arte, na Bélgica, a partir de 4 de outubro.

Nas obras da retrospectiva histórica em Nova York, há participações de outros grandes artistas e amigos de Antonio Manuel, como Hélio Oiticica, que aparece como personagem principal da fotonovela “Arma fálica”, de 1970.

— Eles trabalhavam muito em colaboração, como uma comunidade de artistas, o que também ocorria na Nova York dos anos 1960 e 70. Foi um momento muito forte de surgimento da cultura pop — afirma Claudia Calirman, cocuradora da mostra.

Outro destaque da exposição é a “Urna quente” criada em 2004 especialmente para uma viagem aos Estados Unidos, ond e foi exibida na mostra “Beyond geometry”, em Los Angeles. As “Urnas quentes”, produzidas por Antonio Manuel para a exposição “Apocalipopótese”, idealizada por Oiticica e Rogério Duarte em 1968, eram caixas de madeiras lacradas, para serem abertas a marretadas pelo público, que no seu interior encontraria fotos e objetos.

Para uma “Urna quente” produzida em 1975, Antonio Manuel fez um registro em cartório impedindo que fosse aberta. Quando o convite para trazê-la aos EUA chegou, em 2004, com segurança reforçada nos aeroportos devido aos atentados de 11 de Setembro, Antonio Manuel temeu uma abertura forçada do objeto na alfândega. A solução foi substituí-lo por uma nova “Urna quente”, mantendo a inviolabilidade do objeto original. Mais uma — e nunca se sabe se a última — forma de Antonio Manuel contornar alguma modalidade de censura.

O ESTADO DE S. PAULO - Política encoberta

Busca pelo equilíbrio entre conceito e estética oferece o tom da Bienal de Istambul

Camila Molina

Um visitante da 12.ª Bienal de Istambul - Sem Título -, aberta ontem, criticava a espécie de "igreja da violência"construída na mostra, ou seja, a presença de fotografias como a sequência de imagens da execução de um vietnamita nas ruas de Saigon, em 1968, realizadas pelo fotógrafo Eddie Adams. "Interessa a fricção entre o conceito e a forma, a dualidade entre o tema e a sofisticação da imagem", responde Jens Hoffmann, que assina a curadoria da exposição ao lado do brasileiro Adriano Pedrosa.

Mesmo que a questão da arte e política seja um dos motes da Bienal, o projeto curatorial tem pouca abertura para explicitação de temas. "Em 2009, houve uma radicalização do tema (arte e

política) e a mostra tinha uma clara mensagem em defesa do retorno ao comunismo. Nossa aproximação toma outro curso e buscamos arte que tenha preocupação política mas também estética, formal ou visual", afirma Pedrosa. "A humanidade está doente e tem muita gente tentando entender essa doença", diz a artista Rosângela Rennó sobre o caráter de intimismo e não de grito presente em muitas das obras.

Dos artistas brasileiros na mostra, Rosângela tem uma sala especial no segmento Sem Título (Passaporte), onde exibe trabalho recente com versos de imagens roubadas na Biblioteca Nacional, no Rio, e Imemorial, de 1994, instalação com retratos de trabalhadores mortos durante a construção de Brasília. Além dela, o Brasil está representado por Claudia Andujar, Ernesto Neto, Rivane Neuenschwander, Lygia Clark, Lygia Pape, Renata Lucas, Jac Leirner, Antonio Dias, Leonilson, Adriana Varejão, Jonathas de Andrade, Theo Craveiro e Clara Ianni.

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Brasileiros. Imemorial, instalação de Rosângela Rennó: intimismo em nome da compreensão

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Trabalhos específicos da série Sem Título, do artista Félix González-Torres, norteiam os cinco núcleos temáticos da Bienal. É o segmento Sem Título (Ross), de certa forma, que tem inserido o contraste explicitação/delicadeza. Formalismo e minimalismo dão o tom do segmento Abstração; o tema da fronteira, territórios e deslocamentos, em Passaporte; a questão dos livros em História; a morte por armas, agressão e violência aparece nas obras de Death by Gun; e, em Ross, inspirado no trabalho de González-Torres sobre seu parceiro que convalescia pela aids, as obras tratam de intimidade, sexualidade, desejo e relações, com destaque para a sala do libanês Akram Zaatari, com imagens antigas feitas em estúdio fotográfico no Líbano.

A Bienal é tradicional ao centrar seu foco na exposição e na relação direta dos espectadores com as obras. "As Bienais se tornaram outras coisas e aqui há um retorno à mostra", diz Pedrosa.

FOTOGRAFIA

FOLHA DE S. PAULO - Feira atesta alta de preços da fotografia

SP-Arte/Foto abre hoje ao público com obras de novatos e consagrados valendo até mais que pintura e escultura

Quinta edição destaca obras de Candida Höfer, Robert Polidori, Marina Abramovic, Frank Thiel e Geraldo de Barros

SILAS MARTÍ

(15/9/2011) Voltando o foco para alguns jovens artistas e ao mesmo tempo turbinando valores com obras de consagrados, a quinta edição da SP-Arte/Foto, que começa hoje, atesta que logo o mercado não vai precisar de uma feira só de fotografia como essa.

Isso porque o suporte antes visto como ponto de partida para coleções já atinge status de obra plena, chegando a valer às vezes até mais que pintura e escultura.

Enquanto o número de galerias saltou de 15 para 25, com a entrada de estreantes como Fauna, Transversal e Central, casas mais tradicionais, como Leme e Luciana Brito, carregam nas grifes, levando alguns nomes como Robert Polidori, Marina Abramovic, Geraldo de Barros, Frank Thiel e Candida Höfer.

Essa última, fotógrafa alemã da mesma escola de Andreas Gursky e Thomas Struth, que está na Leme, é, aliás, uma das responsáveis pela alta de preços na feira, que vão de R$ 2.000 a R$ 150 mil."Vejo os preços subindo de forma progressiva e sustentada", diz Deborah Bell, do departamento de fotografia da Christie's, em Nova York, que veio para a feira. "Muitos colecionadores também preferem a obra de contemporâneos à de velhos mestres."

No caso, continua valendo a potência seca, ultradescritiva das imagens de Höfer ou mesmo o olhar aguçado lançado aos escombros de desastres naturais por Polidori.

Num meio também conhecido pela facilidade de reprodução, fotógrafos tentam tornar únicos os exemplares interferindo na superfície da imagem, ressaltando aspectos físicos da impressão.

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Fotografia de Luiz Braga, que está nesta edição da SP-Arte/Foto

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"Muitos artistas vêm dobrando, destruindo ou pintando sobre fotografias", observa Karen Irvine, curadora do Museu de Fotografia Contemporânea de Chicago, convidada da feira. "Também misturam fatos com ficção."

Tanto que imagens manipuladas já não espantam. Estão nas paredes das galerias com a mesma força do registro de pegada documental. "Temos um entendimento melhor de fotografias que são testemunhos e ao mesmo tempo ilusórias", diz Irvine. "Isso libertou o meio."

O ESTADO DE S. PAULO - O futuro da imagem no Paraty em Foco

Na 7ª edição, o evento começa hoje e vai até domingo

SIMONETTA PERSICHETTI , ESPECIAL PARA O ESTADO

Qual o futuro da imagem? O que podemos falar sobre a fotografia de hoje? Banalizada ou completamente integrada a uma nova estética mundial em que a superficialidade impera e o pensar se faz cada vez menos importante? Será que as fotografias ou imagens produzidas são mero espelho de nossa contemporaneidade, um alerta para a maneira como estamos lendo e recebendo essa quantidade de informações?

Dilemas mais que pertinentes que serão discutidos a partir de hoje na sétima edição do Paraty em Foco. Como interpretar ou entender o que estamos produzindo diante de uma possibilidade incrível de escolhas. O futuro da imagem, da comunicação tem sido um tema recorrente em vários festivais de fotografia, em diversos seminários de produção cultural. A rápida transformação de suportes, a disseminação imediata, assusta, mas, ao mesmo tempo, nos coloca frente a uma nova e maravilhosa realidade. Nada mais pertinente, portanto, do que uma semana na qual essas discussões, ou melhor preocupações, serão o foco de debates, entrevistas e workshops.

Nesse festival são várias as exposições em que isso pode ser sentido, ou visto. Como no trabalho da norte-americana Penélope Umbrico, que trabalha a reciclagem da imagem, apropriando-se de várias imagens de pôr do sol , capturadas no flickr. Ou então na multiplicidade de monitores, esses também repetidos.

Nessa linha de se apropriar das imagens que mais fazem sucesso na contemporaneidade, o fotógrafo Evan Baden, nascido na Arábia Saudita, mas formado em Artes nos Estados Unidos, onde vive, apresenta seu ensaio Illuminati, fotos que adolescentes andam espalhando pela redes sociais de forma narcísica. Iluminados apenas pelas luzes dos computadores ou de seus celulares, o nome do ensaio remete às antigas sociedades secretas. Já o aspecto menos espetáculo e ainda documental é representado pela inglesa Olivia Arthur - que traz para o Paraty em Foco um belo ensaio sobre mulheres no Irã. Beyond the Veil (Além do véu) é um ensaio que tenta nos apresentar a vida de mulheres iranianas quando fecham a porta de suas casas e retiram a burca.

No cenário nacional do festival que vai até domingo, o grande destaque fica com o fotógrafo, pintor e diretor de cinema Miguel Rio Branco.

Entre os convidados internacionais, talvez a grande novidade seja o sul-africano Pieter Hugo (leia entrevista ao lado), também da área documental, que se destaca por suas composições pessoais e um olhar muito particular para revelar o seu país.

MÚSICA

O GLOBO - Com ‘Ária ao vivo’, Djavan vira a página e já pensa no futuro

Artista compõe para novo disco, faz canção para Bethânia e produz Mart’nália

Leonardo Lichote

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(15/9/2011) O movimento do mercado é manjado: o artista lança o CD, pega a estrada com o show, depois lança o CD/DVD ao vivo, que “esquenta” a turnê por mais alguns meses. Não é essa, porém, a intenção de Djavan com “Ária ao vivo” (Luanda/Biscoito Fino). O registro do espetáculo fecha o ciclo iniciado no ano passado, com o disco de estúdio “Ária”. Página virada, o artista já trabalha em outros projetos. Além de compor para seu próximo álbum e para o novo de Maria Bethânia — já entregou a ela a canção “Vive” —, pensa no disco que Mart’nália prepara para o ano que vem, no qual assinará a produção.

— Quem viu o show viu. Quem não viu, poderá ver só no DVD. Já estou interessado em outras coisas — explica Djavan. — Como lanço disco de dois em dois anos, gosto de ficar um ano em turnê e um ano compondo e gravando o CD seguinte.

No palco, “Ária” segue o mesmo conceito clássico, cru do disco de estúdio — em ambos, o núcleo da instrumentação é reduzido ao trio Torcuato Mariano (guitarra e violão), André Vasconcellos (baixo) e Marcos Suzano (percussão). A intenção era que esse espírito fosse respeitado pela captação de imagens (“Não queria grandes efeitos, movimentos de câmera que tirassem a atenção da voz e dos instrumentos”).

DVD recupera ‘Transe’ Se “Ária” trazia apenas canções de outros compositores (foi o primeiro disco de intérprete de Djavan), no show o compositor não pôde deixar de cantar suas músicas ao lado das de Caetano Veloso, Tom Jobim, Gilberto Gil e clássicos do repertório de Frank Sinatra e Ângela Maria. Estão lá sucessos como “Seduzir”, “Linha do equador” e “Sina”, além da nada óbvia “Transe” (de “Lilás”, de 1984).

— Queria fazer “Transe” há muito tempo, já tinha tentado em shows anteriores, mas só agora funcionou — conta. — Foi muito bom dar essa nova atmosfera às minhas canções.

No show, fica ainda mais evidente sua filiação às tradições da canção brasileira, sobretudo na voz-e-violão de “Disfarça e chora” (Cartola e Dalmo Castello) e na instrumental “Treze de dezembro” (Luiz Gonzaga e Zé Dantas).

— “Disfarça e chora” é a música que me liga diretamente a Cartola, sobretudo pela harmonia. Os seis primeiros compassos dela têm o pulo do gato do grande compositor. E em “Treze de dezembro” percebe-se a ligação de Luiz Gonzaga com o jazz. Cantei-a em jazz sem mudar uma célula da melodia. Você pode tirar a base e botar o baião original que a minha voz vai se encaixar perfeitamente.

Turnê fechada, Djavan compõe para o próximo disco — em novembro, ele entra em estúdio. Já fez “três ou quatro” canções e pretende ter, no início das gravações, umas “cinco ou seis” prontas — e compor o restante a partir dali. Depois de se dedicar a um projeto de intérprete, a ideia agora é fazer o disco todo com canções suas. A atmosfera clássica, intimista, do CD anterior será deixada para trás.

— Estou montando um bandão pesado, com seis músicos. Mantive Torcuato Mariano e convidei algumas pessoas com quem não trabalho há um tempo, como (o baterista) Carlos Bala e (os tecladistas) Paulo Calazans e Glauton Campello — adianta Djavan, que pretende gravar uma canção antiga sua, “Invisível”, parceria com Caetano que Bethânia registou em “Olho d’água”. — Quero ver se Bethânia tem a fita que mandei para ela, com minha versão.

A cantora que projetou o nome de Djavan terá o artista em seu novo disco não apenas como compositor. Ele assinará também o arranjo de “Vive” e tocará na faixa.

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— É uma canção sobre um encontro amoroso inviabilizado, de um lado, pela imaturidade, e de outro, pela intolerância à imaturidade — diz ele.

Com Mart’nália, Djavan está em fase de seleção de repertório (“Tem uma canção nova de Adriana Calcanhotto, devem entrar Dani Black e Júnior Almeida, e ela espera músicas inéditas de Gil, Caetano e Nando Reis”, adianta). É a primeira vez que Djavan produz um artista que não ele mesmo.

— Achei que não ia aceitar, mas ela insistiu, e comecei a vislumbrar uma diversão ali — explica. — Ela queria a sonoridade que consigo em meus CDs. Sua ideia é fazermos um disco com sambas, mas sem ser de samba. Mas minha função maior é que ela continue sendo o que é.

ESTADO DE MINAS - Até parece que foi ontem

Paulinho Pedra Azul comemora 30 anos de carreira fazendo show esta noite no Palácio das Artes. O reencontro com os amigos será registrado em vídeo, para lançamento de um DVD

Eduardo Tristão Girão

(15/9/2011) - Acredite se quiser, mas Paulinho Pedra Azul chegou aos 30 anos de carreira tendo lançado apenas dois de seus 22 discos por grandes gravadoras. Para comemorar o feito, o cantor e compositor mineiro faz show hoje à noite, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Vai repassar toda a sua vida em um repertório que ilustra as diversas influências musicais que teve desde a infância em Pedra Azul, no Vale do Jequitinhonha. O leque de convidados que subirão ao palco é formado por Padre Fábio de Melo, Célio Balona, Aggeu Marques, Sarau Brasileiro e Mauro Mendes. Ele aproveita a ocasião para gravar um DVD.

“A vida toda é um aprendizado e é isso o que vale”, define. E não é demagogia: ele fala com a experiência de ter publicado 15 livros de poesias e um diário (Delírio habanero, escrito em Havana, Cuba). Segundo suas contas, são mais de 100 mil exemplares de livros e 500 mil cópias de discos vendidas. Isso para não falar dos cerca de 800 desenhos e pinturas ou dos textos adaptados, trilhas para teatro e atuações em curtas-metragens.

O momento é muito especial para o músico mineiro. Jardim da fantasia, que marcou sua

estreia fonográfica, foi lançado pela RCA em 1981 (apesar de o selo indicar 1982) e ainda hoje é o único disco da gravadora, que atualmente é administrada pela BMG, que nunca saiu de catálogo. Quem garante é o próprio artista, que recentemente voltou a trabalhar com uma grande empresa do mercado, a Som Livre, para lançar o álbum Paulinho Pedra Azul – 30 anos.

O disco tem criação, produção, direção artística e musical de Paulinho e coprodução de Marcelo Jiran. O repertório é formado por músicas gravadas entre 1991 e 2009 nos Estúdios Bemol e Quarto Som, em Belo Horizonte: Jardim da fantasia, Cantar, Ave cantadeira (com a participação especial de Padre Fábio de Melo), Valsa do desencanto, Luz do amor, Olha para mim, Pequeno samba para um príncipe, O passeio, Dois sabiás, Chico, o imortal, Não chore e De dois, entre outras.

Além de algumas dessas canções, o artista promete para esta noite um bloco de choros. “Gosto de chorinho a vida toda, é a música que mais me emociona”, revela Paulinho. Por esse motivo, vai interpretar, com o grupo Sarau Brasileiro, as composições Cantar, Trabalhador honesto (ambas de Godofredo Guedes), Teu triste olhar (que escreveu para o pai, Dijon) e Esperando a feijoada (Heraldo do Monte e Tadeu Franco).

“O repertório desse show será bem variado, com umas cinco partes, cada uma representando uma fase da minha vida. Começo com músicas infantis e passo pela idade do namoro e a influência dos

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Beatles até chegar ao rock e ao pop, passando também pelo chorinho e a balada. Não há divisões rígidas, é uma espécie de filme musical”, define. Por falar nisso, Paulinho promete para até 2014 (quando completará 60 anos) um documentário biográfico. “Tenho mais de 200 horas de VHS em casa”, conta.

O GLOBO – O novo Pixinguinha

O novo Pixinguinha Obra do compositor é resgatada em livro de músicas inéditas e na remontagem da opereta ‘Flôr tapuya’, cujas partituras eram dadas como perdidas

(16/9/2011) Em 1920, Pixinguinha recebeu a missão de fazer com urgência melodias para a opereta “Flôr tapuya” (grafia original). Foi, muito provavelmente, sua primeira encomenda. Ele já criara preciosidades como “Rosa” e “Sofres porque queres”, mas era um jovem de 23 anos, editava composições havia apenas seis e ainda nem realizara trabalhos como orquestrador, função em que começaria a fazer história pouco tempo depois.

Pixinguinha fazendo anotações em uma partitura em foto sem data, mas com dedicatória de 1945: o artista não costumava escrever suas músicas, o que dificulta a consolidação de sua obra completa

Era, portanto, um Pixinguinha em preparação para se tornar um artista fundamental o de “Flôr tapuya”, peça que volta à cena às 20h de hoje, no Teatro Carlos Gomes, após a saga de recuperação das partituras, antes dadas como perdidas. Em outro passo para preencher lacunas da história de um músico tão profícuo, o Instituto Moreira Salles (IMS) lançará até o fim do ano “Pixinguinha inédito e redescoberto” (título provisório), livro com partituras de composições não gravadas e outras dez lançadas de forma obscura.

— Temos o sonho de estabelecer o catálogo de obras de Pixinguinha. Mas talvez tenhamos que deixar algo para as futuras gerações, pois é muita coisa — diz Bia Paes Leme, coordenadora de música do IMS, instituição que cuida desde 2000 do Acervo Pixinguinha.

— Gostaria de poder um dia dizer que ele fez x músicas, x arranjos, mas não sei se será possível, porque meu avô nunca se preocupou em organizar as coisas. O que trouxemos para o IMS foi o que

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meu pai conseguiu reunir — conta o ator e cantor Marcelo Vianna, neto de Alfredo da Rocha Vianna Filho (1897-1973) e filho de Alfredo da Rocha Vianna Neto (1934-2003).

Marcelo tinha esperança de encontrar no material pelo menos alguma das sete operetas que Pixinguinha fez na década de 1920, mas isso não aconteceu. Coube ao flautista José Maria Braga, do conjunto Galo Preto, achar as partituras de “Flôr tapuya”.

A história começa em 1975, quando, numa reforma do Teatro João Caetano (antigo São Pedro, onde a opereta esteve em cartaz), um monte de papéis destinados ao lixo foi enviado à Escola de Música Villa-Lobos para ver se havia algo de valor. Ficou tudo numa espécie de arquivo morto até 2002, quando Braga, tendo assumido a direção da escola e ouvido que existiam ali coisas de Pixinguinha, pediu que as encontrassem.

Lá estavam, enroladas por um barbante, as partituras dos dois primeiros movimentos de “Flôr tapuya” — o terceiro foi recuperado por Braga num “trabalho de arqueólogo”, a partir das anotações feitas para os músicos do espetáculo. Pesquisando em jornais, ele reconstruiu a trajetória de sucesso da opereta, que também está resumida na biografia “Pixinguinha — Vida e obra”, de Sérgio Cabral.

“Flôr tapuya” estreou em 16 de junho de 1920 com libreto de Alberto Deodato e Danton Vampré e músicas do português Luís Quesada. De acordo com anúncio públicado à epóca pelo empresário Paschoal Segreto, 94 mil pessoas viram o espetáculo em um mês e meio. Possivelmente em função de um desentendimento com Segrego, Quesada largou a produção, levando as partituras. Os artistas passaram a enfrentar dificuldades financeiras, e, por sugestão do amigo Donga, Pixinguinha foi incumbido de criar novas melodias. Graças ao seu trabalho, o sucesso voltou, e a peça foi levada a outras capitais.

— Um dos destaques eram os Oito Batutas (conjunto formado por Pixinguinha, Donga e outros, que faria uma célebre temporada em Paris em 1922). Segundo os jornais, eles eram ovacionados pela plateia — diz Braga, que só não conseguiu recuperar uma das 19 composições originais. — Mas achei uma página dela em que estava escrito “não vai”. Se não ia mesmo, continuou fora.

“Flôr tapuya” é uma opereta sertaneja, com 20 tipos interioranos vividos por seis atores, entre eles Marcelo Vianna. A trama se assemelha à de “Romeu e Julieta”: Lúcio e Rosa lutam para fazer valer seu amor em meio às brigas de seus pais, os coronéis Menezes e Nitão. Mas tudo é tratado com humor e embalado por ritmos diversos, como cateretê, maxixe, polca e tango. Marcelo, Braga e o diretor da remontagem, Antonio Karnewale, que criaram a companhia Maviosa, sonham montar outras das operetas de Pixinguinha.

Criações que não eram escritas

Há a possibilidade de, em 2012, “Flôr tapuya” ser lançada em livro pelo IMS. No ano passado, saiu “Pixinguinha na pauta — 36 arranjos para o programa ‘O pessoal da velha guarda’”. Já a publicação de 2011 é resultado de uma longa pesquisa, que constatou não haver gravações de dez músicas registradas em partitura. Para “Pixinguinha inédito e redescoberto”, elas serão acrescidas de dez praticamente desconhecidas.

— No choro em geral, e Pixinguinha não foge à regra, os compositores não costumam escrever as músicas. Quem faz isso são os instrumentistas, para poder tocálas. Então, não é fácil localizar todas as obras. Podem haver mais inéditas — diz Bia Paes Leme, que estima em torno de 400 o número de composições de Pixinguinha, sendo incontáveis os arranjos, pois ele atuou muitos anos em rádios e gravadoras.

Segundo Bia, não é possível precisar as datas das inéditas. Ela conta que, no material, há choro, valsa, polca, tango brasileiro e “um lindo one step”. O livro terá texto do músico Pedro Aragão, que participou da pesquisa.

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ESTADO DE MINAS - Samba da terra

Fabinho do Terreiro comemora músicas gravadas por Zeca Pagodinho, Almir Guineto e Neguinho da Beija-Flor. Artista apresenta repertório autoral todas as noites em BH

Eduardo Tristão Girão

(16/9/2011) - Você pode não ter reparado, mas o nome dele está lá, no meio de compositores como Nelson Sargento, Monarco, Dona Ivone Lara, Moacyr Luz, Arlindo Cruz, Nelson Rufino e Almir Guineto. A relação de bambas em questão é a dos que assinam faixas de Vida da minha vida, mais recente trabalho de Zeca Pagodinho. Pois Fabinho do Terreiro chegou lá. Aos 46 anos, o sambista e compositor nascido e criado em Belo Horizonte gaba-se de ter 70% de suas composições gravadas por diversos artistas e tem o “privilégio” de fazer shows quase totalmente autorais seis vezes por semana.

“Para um músico que mora em Belo Horizonte, ter gravadas 125 das 180 músicas compostas é excelente. Coisa de músico de sorte. Não tenho do que reclamar. Para mim, está ótimo. Fico feliz com o sucesso e respaldo conseguidos aqui. A resposta do público é maravilhosa e sigo fazendo música sem parar há 26 anos”, comemora Fabinho. Depois de emplacar no disco de Zeca a canção Desacerto, parceria sua com Toninho Geraes e Randley Carioca, a expectativa é repetir o feito no próximo álbum do artista e seguir espalhando o samba com DNA mineiro pelo Brasil.

O nome dele é Fábio Lúcio Maciel em homenagem ao médico que o salvou durante parto prematuro. Já o apelido, ganhou por frequentar, ainda criança, as rodas de samba que as tias Laura e Dalva faziam em casa, aos domingos. Infância e juventude foram vividas no Bairro Instituto Agronômico, Zona Leste de BH, e hoje ele continua morando na região, no Esplanada. Aliás, ficam lá perto, no Boa Vista e São Geraldo, dois dos seis endereços onde se apresenta semanalmente, o Barca Boa e o Siciliano, respectivamente.

O cavaquinho foi seu primeiro instrumento, dado pela mãe, Elza, quando tinha 16 anos. Para aprender a tocá-lo, recorreu a Serginho BH, Gilmar Rosa Show, Toninho do Cavaco e Valéria do Cavaco. “Amolava-os todo dia. Se não achava um, ia à casa do outro”, lembra. O pai, Roberto, tocava violão nas horas vagas e uma das tias, Zilda, chegou a desbancar Clara Nunes num festival da Rádio Inconfidência, nos anos 1960 – ela não seguiu carreira musical e tornou-se enfermeira. No ambiente musical das tias se alimentou de música e criou o grupo Terreiro Samba Show com o irmão Ricardo Barrão e primos.

Juntos, começaram abrindo shows de outro grupo, o Kisamba Show, no início dos anos 1980. No programa de Acir Antão, na Rádio Itatiaia, apresentaram músicas autorais pela primeira vez e não tardou para que fossem convidados a tocar no lendário Curral do Samba, no Bairro São Paulo. “Esse foi o pontapé inicial na profissão de músico”, diz. Na mesma época, tornaram-se artistas exclusivos da casa de samba Beija Flor, no Dona Clara, onde tocaram durante 13 anos, e na qual Fabinho começou a compor samba-enredo para os desfiles do carnaval de BH. Hoje, a convite de Mestre Afonso, escreve para a escola Chame-Chame.

Parcerias Fabinho havia largado o emprego de contínuo. Tudo corria bem e foi numa daquelas noites de samba que a sorte sorriu para ele. Artistas cariocas frequentemente participavam de rodas de samba da casa e numa delas o convidado era Neguinho da Beija-Flor. “A gerente do bar insistiu muito para que ele visse o show do meu grupo. Ele ficou e saiu de lá com uma música minha para gravar”,

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conta Fabinho. O samba em questão era Luz do infinito (Foi sem querer), que Neguinho incluiu em seu álbum Sou seu fã (1992).

“Isso chamou a atenção para o meu trabalho. Dois anos depois, o Agepê entrou em contato comigo por meio do Toninho Geraes. Mostrei Peço silêncio, que escrevi com meu irmão Ricardo, e ele gravou. Foi quando nós dois conseguimos estabilidade, construímos nossas casas e começamos a pensar em casar. Aí o negócio ficou sério”, afirma. Hoje, contabiliza nove músicas gravadas por Neguinho e duas por Agepê, fora Almir Guineto, Gracindo Salgueiro, Nelson Rufino, Pura Harmonia e Delirô, entre outros que já requisitaram suas canções.

“Prefiro compor em parceria, pois a música fica mais abrangente e as ideias mais expandidas”, justifica. Quando um dos parceiros tem uma ideia, liga para o outro combinando encontro em algum lugar mais sossegado para desenvolver o samba. “Levamos o que foi feito para a roda e se o povo gostar a gente não mexe mais. Mesmo se a música for inédita, as pessoas se comovem com a melodia e começam a balançar. Às vezes, quando achamos que a música não vai pegar, começamos a cantar e as pessoas reagem de outra maneira. É muito interessante”, conta.

Enquanto a criatividade permitir, Fabinho segue escrevendo música. Hoje ele se orgulha de fazer quase diariamente shows de até uma hora e meia e com repertório quase todo próprio, para públicos entre 600 e 1,5 mil pessoas. “O pessoal acompanha do mesmo jeito. Assim como eu, tem muita gente tocando samba autoral em BH, como Tykerê, Copo Lagoinha, Black Samba, Delirô, Lulu do Império, Bira Favela, Nonato, Cabral, Eliane Jansen e Jussara Preta. A cena de samba daqui está ótima e chamando a atenção lá fora”, garante.

Acerto com Desacerto

A história de Desacerto envolve dois momentos de sorte, o primeiro deles durante a composição. “O Toninho Geraes chegou com a melodia e eu e o Randley Carioca fizemos a letra em uns 15 minutos, cada um no seu canto. Juntamos a minha parte e a dele e não riscamos uma letra. Foi um negócio divino”, conta o sambista mineiro. Numa das reuniões de compositores no sítio de Zeca Pagodinho (onde ele escolhe algumas das cerca de 400 que lhe são apresentadas), Fabinho cantava Desacerto distraído, depois de ter mostrado as canções nas quais realmente acreditava. “Ela não estava na seleção inicial, mas o Zeca ouviu e mandou todo mundo voltar, montar os aparelhos de novo e gravar a música”, lembra.

ESTADO DE MINAS - Em busca do tempo perdido

Mariana Peixoto

16/9/2011 - Quase dois anos longe dos palcos – e dos estúdios, já que deram um tempo não só dos shows como também da banda –, os integrantes d’O Rappa voltam a tocar juntos. Os ensaios começam nos próximos dias e a agenda, por ora, conta com shows em seis capitais. O primeiro será em 22 de outubro, no Rio de Janeiro. Em Belo Horizonte, a banda toca em 5 de novembro, no Chevrolet Hall.

“A volta não foi planejada, mas veio num momento propício”, comenta o baterista, Marcelo Lobato, no que é completado pelo vocalista Marcelo Falcão: “Nunca tivemos oportunidade de parar. Rolou um desgaste natural e qualquer banda percebe que tem que pensar no futuro. Como tínhamos noção de que estávamos na estrada há muito tempo, criamos essa oportunidade para ficar em casa e fazer nossas coisas em separado”.

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Correndo riscos No período, Falcão dedicou-se à sua outra banda, Loucomotivos; Lobato ao Afrika Gumbe; o baixista Lauro Farias ao projeto social Música Entretenimento Noção Social (Mens); e o guitarrista Xandão ao Caroçu. Dois anos mais tarde – a última apresentação foi em 30 de dezembro de 2009, em Ilhéus –, o grupo trocou de empresário e busca recuperar o tempo perdido investindo pesado em ferramentas digitais. Nos últimos meses, os quatro integrantes vêm se encontrando para acertar todos os ponteiros.

Quando parou, o grupo carioca estava no meio da turnê do álbum 7 vezes. Ainda tinha gravado, poucos meses antes, CD e DVD ao vivo na Rocinha. Os shows a partir de outubro vão trazer o material desses dois trabalhos, bem como resgatar canções de outras fases da banda. “Essa turnê vai ser um aquecimento também para o próximo álbum. Talvez a gente até demore a lançar um disco, mas a ideia é não ficar se repetindo. Nesse período sem a banda tivemos oportunidade de fazer outras coisas, shows menores, com outras pessoas”, continua Lobato.

Para a nova temporada, a intenção é trabalhar bastante em novos arranjos. “Não fizemos tantos shows do 7 vezes, que tem um repertório grande para ser trabalhado. Além dos mais, um show d’O Rappa nunca é igual a outro. Então, queremos fazer muitas jam sessions, tentar voos arriscados, já que gostamos mesmo é do palco”, diz o baterista.

Diante disso, dá para ver que não há pressa para um novo álbum de inéditas, que sairá pela Warner, gravadora da banda desde o início da carreira, no começo dos anos 1990. “O relacionamento com a Warner continua bem saudável. Desde o Rappa mundi (o segundo álbum, de 1996), conseguimos provar que não estávamos atrás do sucesso fácil. Todos vestiram a camisa”, conclui Lobato.

CORREIO BRAZILIENSE - A rainha do Império

Com 90 anos e uma vida dedicada ao samba, Dona Ivone Lara fala ao Correio e é homenageada por parceiros e admiradores

Gabriela de Almeida e Maíra de Deus Brito

(18/9/2011) Meados da década de 1940. Na agremiação Prazer da Serrinha, Zona Norte do Rio de Janeiro, o compositor Fuleiro mostra alguns sambas-enredos e partidos-altos, que alcançam sucesso com o público. Porém, aqueles versos não são dele. “Na minha época mulher não se metia onde estavam os compositores e sambistas. Mulher ficava na preparação das refeições que eram servidas nos terreiros e também na formação do coro dos sambas de quintal”, conta Dona Ivone Lara, a verdadeira autora daquelas composições.

Nascida Yvonne Lara da Costa, a futura cantora e compositora entregava suas obras para o primo Fuleiro temendo a repercussão negativa a uma mulher sambista num ambiente predominantemente masculino. Mas, para a sua surpresa, a recepção foi tranquila. “Eu não cheguei a sofrer preconceito porque o Fuleiro era uma pessoa muito influente na escola, então todos já me conheciam”, lembra. Aos 12 anos, foi presenteada pelos primos e futuros parceiros, Hélio e Fuleiro, com um pássaro “Tiê-sangue”. O nome do pássaro e a expressão “Oialá-oxá”, herdada da avó moçambicana, serviram de inspiração para o primeiro samba de partido-alto: Tiê, Tiê. Algum tempo depois, Ivone tornou-se enfermeira, formando-se logo em seguida como assistente social.

Filha de João da Silva Lara, mecânico de bicicletas e violonista do Bloco dos Africanos, e de Dona Emerentina, cantora do Rancho Flor do Abacate, o destino já havia traçado o caminho de Ivone Lara:

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a música. Órfã de pai e mãe aos seis anos, viveu até os 16 em um internato e, de lá, foi para a casa do tio Dionísio Bento da Silva, que tocava violão e a ensinou os acordes do cavaquinho.

Anos mais tarde, em 1974, casou-se com Oscar Costa, presidente do Império Serrano, agremiação que ajudou a fundar e onde participou das alas das baianas e dos compositores. Na escola, ela fez história como a primeira mulher a compor um samba-enredo. Os cinco bailes tradicionais da história do Rio, escrito com o mestre Silas de Oliveira, virou um hino da Verde e Branca, que, em 2012, homenageia sua primeira-dama. “No dia da eleição do presidente atual, o Átila, recebi um telefonema dizendo que a chapa dele viria com a minha história como enredo do ano que vem. Foi uma grande surpresa que me deixou muito feliz pelo reconhecimento. Vou desfilar e devo sair no último carro, fechando o desfile”, avisa a artista, com 90 anos comemorados em abril deste ano.

As nove décadas de vida e o problema de locomoção não impediram Dona Ivone de continuar a viver do que mais ama: a composição. “Compor é uma coisa que nunca vou parar de fazer porque a intuição me leva a compor. Às vezes, estou dormindo e num piscar de olhos vem uma melodia nova, daí ligo para os meus parceiros e eles colocam a letra. Hoje em dia, o samba está ocupando o seu verdadeiro espaço, que já era para ser dele há muito tempo. O samba agrega, em si, todas as classes sociais e promove uma integração entre todas as idades e sexos. Isso é uma inovação que vem para o bem e sempre enobrece”, conta orgulhosa.

Delcio Carvalho

Parceiros de Alvorecer, Alguém me avisou e Sonho meu, Dona Ivone e Delcio são uma das duplas mais produtivas da música brasileira. No ano passado, percorreram o Brasil com o CD Bodas de cristal — 35 anos de parceria de Dona Ivone Lara e Delcio Carvalho, em que registraram 15 músicas, entre sucessos e inéditas.

Sobre o companheiro musical, a Dama do Samba dá um depoimento emocionado: “Delcio é um grande compositor, um poeta nato e, por obra do destino, nós começamos uma parceria com a música A voz do poeta, no dia da morte de Silas de Oliveira. No mesmo dia fizemos Alvorecer, que logo foi gravada por Clara Nunes. A partir daí, Delcio sempre esteve presente na minha carreira. Ele chegava quase todos os dias lá em casa e fazíamos de uma vez só às vezes até três músicas. Hoje em dia, ainda fazemos muitas composições, mas uma por encontro. Ele tem uma facilidade enorme de colocar a letra certa em qualquer melodia. Além de parceiros, somos grandes amigos”.

O ESTADO DE S. PAULO - Arancam tenor em ascensão

Cantor brasileiro, apadrinhado por Plácido Domingo, conquista espaço no mercado

João Luiz Sampaio - O Estado de S.Paulo

(18/9/2011) O tenor Thiago Arancam mal saíra do palco do Teatro da Paz, em Belém, quando foi abraçado pela avó, feliz com o prêmio de revelação que o neto acabara de ganhar no Concurso Bidu Sayão. Ainda sob o impacto da notícia, ele não conseguia falar com a imprensa, já abordado por alguns dos empresários internacionais que faziam parte do júri. A cena se deu em maio de 2004. Sete anos depois, na noite de quarta-feira, ele saía agora do palco do Teatro Municipal do Rio, onde desde a semana passada cantou o papel de Cavaradossi, na Tosca, de Puccini, ao lado de um elenco de estrelas internacionais.

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Do prêmio que lançou seu nome à volta ao Brasil para a Tosca, Arancam, hoje com 29 anos, percorreu um longo caminho. No fim de 2004, foi aceito na Academia do Scala de Milão. Ao longo de dois anos, estudou e cantou em cerca de 40 concertos e recitais, na Europa e na Ásia, até ganhar seu primeiro papel principal em Mântua, na ópera Le Villi, de Puccini. Talento e sorte costumam formar uma combinação explosiva: no meio do caminho, Arancam foi ouvido pelo tenor Plácido Domingo, que o apadrinhou - e logo ele faria sua estreia americana, cantando Don José na Carmen, de Bizet, na abertura da temporada 2008 da Ópera Nacional de Washington, da qual Domingo era diretor.

Arancam começou no canto, diz, por acaso. Aos 7 anos, fez a prova para entrar no coral da escola que frequentava em São Paulo. O professor, lembra, gostou da voz e começou a incentivá-lo. O repertório tinha desde Parabéns a Você até cenas famosas, como o coro Va Pensiero, do Nabucco, de Verdi. Mas o interesse pela ópera, lembra o tenor, viria mais tarde, na adolescência, quando o canto lírico passaria a ser uma possibilidade profissional concreta. "Eu não tinha ideia do que era ópera, não é algo que eu ouvisse em família, por exemplo. Mas com o tempo comecei a estudar e descobrir que todo um universo estava à disposição", diz. A vitória no Bidu Sayão foi um divisor de águas e abriu portas importantes - a principal delas, os contatos internacionais que lhe garantiriam a vaga no Scala. "De cara você fica espantado com a competição, o rigor técnico e percebe que, se quer mesmo seguir esse caminho, precisa se aperfeiçoar constantemente", acrescenta.

Antes de mudar-se para a Europa, Arancam gravou um disco no qual interpretava célebres árias para tenor, elogiado nas páginas do Estado pelo crítico Lauro Machado Coelho. "Arancam ainda tem muito a desenvolver, mais no domínio estilístico do que propriamente da emissão, que é ampla e forte. É um cantor ao qual um futuro interessante parece prometido", escreveu ele em 2004. Tenor lírico spinto, Arancam tem um repertório que costuma ser feito por cantores mais velhos. E não foram poucos aqueles que lhe sugeriram esperar um pouco antes de encarar papéis como Don José ou mesmo Cavaradossi. "Nesse sentido, o contato com Plácido Domingo foi fundamental", ele explica. "Mesmo com o aval da Academia do Scala, é difícil encontrar um espaço no mercado internacional - e ele ter apostado em mim me ajudou bastante. Além disso, foi ele que me tranquilizou com relação aos papéis, me mostrando que o importante é ficar atento à própria voz, ao que é melhor para minha vocalidade. Domingo é um cara especial, é muito bom saber que temos novos projetos juntos. É uma pessoa verdadeira, sólida, em que se pode confiar."

A Tosca foi a primeira ópera completa cantada por ele no Brasil. Em novembro, ele faz Carmen em São Francisco. E, depois de estrear em 13 papéis em pouco mais de quatro anos, já faz planos para o futuro. Em um ano, pretende estar pronto para Manon Lescaut, de Puccini; em seguida, Andrea Chenier, de Giordano. "O segredo é seguir respeitando aquilo que minha voz permite que eu faça, deixá-la amadurecer, sempre de uma maneira natural. E não parar de me aperfeiçoar, essa é a realidade dessa profissão."

FOLHA DE S. PAULO - Edy Star e Alcina gravam Assis Valente

Dupla registra hoje show que vai virar CD em homenagem ao centenário do compositor de "Brasil Pandeiro"

Espetáculo "Salve o Prazer - 100 Anos de Assis Valente" reúne os grandes clássicos do compositor baiano MARCUS PRETO

(18/9/2011) - "Estamos no final do ano e não posso acreditar que, até agora, ninguém tenha se balançado para homenagear o centenário de Assis Valente. Será que vou ser o único? Assim o mundo fica chato."

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O tenor no papel de Cavaradossi em cena da produção de Tosca estreada na semana passada no Rio

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A reclamação vem do cantor baiano Edy Star, 73 -figura mitológica do rock e do underground musical brasileiro dos anos 1970 (ele integrou, inclusive, a Sociedade Grã-Ordem Kavernista, ao lado de Raul Seixas, Miriam Batucada e Sérgio Sampaio).

Star concebeu o espetáculo "Salve o Prazer - 100 Anos de Assis Valente" no começo deste ano. E convidou a cantora Maria Alcina, 62, sua amiga desde aquela década, para dividir a cena com ele.

Estrearam na Virada Cultural e fazem reexibição hoje, no teatro Fecap. A apresentação será registrada e deve virar CD ainda em 2011.

Autor de uma enxurrada de clássicos, como "Brasil Pandeiro", "Uva de Caminhão", "E o Mundo Não se Acabou", "Camisa Listrada" e "Boas Festas", o baiano Assis Valente (1911-1958) emplacou boa parte dessas canções graças às gravações de Carmen Miranda.

Por isso Edy pensou em Alcina, filha artística de Carmen, para o espetáculo.

"Para fazer o que a gente está fazendo, só tem ela", diz Edy. "As cantoras do Brasil estão chatíssimas, uma falta de movimento no palco... Cantar não é só abrir a boca."

Star diz que pautou a concepção de "Salve o Prazer..." a partir de uma entrevista em que a filha de Valente dizia que todas as homenagens recebidas por seu pai nesses cem anos foram tímidas em relação à sua personalidade.

"Não é para ser abusado? Então, fizemos como se fazia nos anos 70: um espetáculo teatral, lúdico, caricato, divertido. Sem compromisso com música popular brasileira e politicamente incorreto."

O ESTADO DE S. PAULO - O reerguer do versador de primeira

Refeito de quedas pessoais, Junio Barreto lança disco em CD, vinil e faz show

Lucas Nobile

(19/9/2011) - O título do álbum, o mesmo que batiza a segunda faixa do novo trabalho - que será lançado no início de outubro em shows, CD, vinil e em formato digital -, foi escolhido pelo compositor e cantor pernambucano justamente para fazer a metáfora com a primavera e o período do ano em que tudo recomeça a florescer.

Gravado entre abril de 2010 e junho deste ano em São Paulo e Recife e mixado em Paris por Pedja Babic, Setembro chega ao mercado sete anos depois do primeiro e homônimo disco de Junio Barreto. "Demorou todo esse tempo muito por descuido, preguiça e acomodação minha. Quando eu fiz o primeiro disco, cheguei a fazer 100 shows aqui em São Paulo em um ano, fora nos outros cantos em que eu tocava. Eu acho que acabei me apegando muito àquele disco e foi rendendo. Eu funciono muito na pressão", diz Junio.

Neste meio tempo, o público ficou sem as composições dele apenas em discos mesmo. De 2004 para cá, ele fez trilhas para cinema (filmes de Lírio Ferreira e Paulo Caldas), para TV (documentários da TAL, Televisión América Latina), para a série de Isa Grinspum, O Povo Brasileiro. Além disso, escreveu para nomes como Céu, Nina Miranda (no 3 na Massa) e Bárbara Eugênia, tendo também temas seus regravados por Gal Costa, Lenine, Roberta Sá e Maria Rita. E ainda teve tempo para lançar um EP, há três anos, com Colarzinho de Pedra Azul, Bonita de Pedra e Céu e A Quem Glória Possa Ser, todas de sua autoria.

Assim como no primeiro disco, o novo trabalho de Junio Barreto tem forte presença do samba. Sempre bem amparado, o compositor e cantor contara no anterior com produção de Alfredo Belo (DJ Tudo). Desta vez, quem assina a função é o amigo de longa estrada Pupillo, que também toca bateria e diversos instrumentos de percussão como ebow, tenori-on e até uma garrafa long neck funcionando como um agogô, na marcação da tropicalista Setembro. "Com o Alfredinho eu dei muito palpite (risos). Pupillo eu deixei mais ele trabalhar, mas eu gosto muito dos dois", comenta Junio.

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Setembro fora pensando inicialmente para ser um disco de gafieira. Ganharia até o nome de Gafieira Espacial, mas, aos poucos, o gênero foi sendo totalmente desconstruído. Isso aparece nos timbres e na estética sonora do álbum de extremo bom senso, em faixas bem distintas entre si, mas que conferem uma unidade ao disco.

Todos os temas foram gravados com os músicos tocando juntos, sem sobreposições ou edições, com registros analógicos e com instrumentos que acabaram de ser lançados, com sonoridade inédita até então, como os teclados de Apollo 9.

Participações e repertório. Observar na ficha técnica os nomes que atuam no novo disco de Junio Barreto soa como covardia, no melhor sentido possível. Logo de cara, os trabalhos são abertos com a jangadeira Serenada Solidão, parceria com Gustavo Ruiz, que toca a guitarra, acompanhado de Vitor Araújo (piano), Fabio Sameschima (baixo) e Pupillo (bateria), que aparecem separados em diversas faixas de Setembro, como os verdadeiros achados poéticos, melódicos e instrumentais de Jardim Imperial, Rios de Passar e Noturna. Serenda Solidão e alguns outros temas - pelos timbres e, principalmente pelo uso de rhodes e teclados - lembram a elegância dos sambas interpretados por Bebeto Castilho, do Tamba Trio, e Miltinho no passado.

Pupillo aparece tocando em nove das dez faixas do álbum, menos em Passione, parceria de Junio e Jorge du Peixe, gravada com os amigos do Mombojó no instrumental. Além de Pupillo e Jorge, a Nação Zumbi marca presença também com Dengue no tema que batiza do disco e também em Passione. O álbum ainda conta com os coros etéreos de Céu, Luisa Maita e Marina de la Riva em Jardim Imperial, Rios de Passar e Fineza.

Entre os diversos craques de Setembro, destaque também para o naipe de trombones arranjado por João Carlos Araújo em Rios de Passar e na dançante e instrumental Vamos Abraçar o Sol. "É uma honra poder contar com todo mundo que participou do disco, tudo na camaradagem. Já imaginou quanto custaria para eu ter o Seu Jorge (que toca violão em Fineza) no meu disco?", comenta Junio.

As letras do cantor e compositor nascido em Caruaru - que foi moleque para o Recife e mora em São Paulo - são um capítulo à parte. Versos que em muitas vezes já surgem com melodia na cabeça deste autodidata musical de 47 anos. Em relação à linguagem, há um rebuscamento, mas também o simples sem ser simplório. Não é à toa que Junio já foi comparado a Guimarães Rosa e Manoel de Barros. Sobre o canto, dizem que seu timbre tem um registro entre Chico Buarque e Luiz Melodia. Deixemos de lado todas as comparações. Junio Barreto é maior do que todas elas, traçando seu próprio caminho. Agora é esperar que não demore mais sete anos para presentear seus ouvintes.

ÉPOCA - O homem-gravadoraBruno Santos e a música totalmente independente

MARIANA SHIRAI

19/9/2011 - Gravar canções de maneira independente e divlgar o próprio trabalho pela internet há muito deixou de ser original. Nos últimos anos, ter a carreira lançada por uma grande gravadora não é mais a primeira opção para iniciantes. Em sua estreia, porém, o cantor e compositor brasiliense Bruno Santos levou a independência a extremos. Sozinho, ele cria, produz, divulga, distribui (e até protege juridicamente) sua música. E, se depender da qualidade do trabalho dele, a indústria fonográfica e todo o seu aparato podem sumir amanhã.

Seu disco Time to tell (Tempo de contar), um pop rock cantado em inglês, segue as regras tradicionais

do mercado: do encarte impecável do CD físico ao conceito visual do site do artista, quase tudo se assemelha a um lançamento de padrão industrial. A informação dissonante vem nos créditos. Aos 25

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anos, Bruno assina todas as composições, assume os vocais e toca cada instrumento das 12 faixas, além de ser o produtor e engenheiro de som do disco. Ele também é responsável por criar, sozinho, o site brunosantosmusic.com, além de cuidar do registro de seus direitos autorais, no Brasil e no resto do mundo.

O dinheiro para isso tudo (R$ 15 mil) vem das aulas de música que ele dá e da produção de outros trabalhos em seu estúdio. As faixas de Time to tell estão disponíveis nos principais sites de venda de música digital como iTunes, Amazon, Last FM, e o disco figura entre os indicados pela rede Livraria Cultura, loja que comercializa o CD físico no Brasil. Toda a distribuição foi feita, é claro, por Bruno.

O esforço solitário começa a dar bons resultados. Para o disco de um novato lançado há um mês, Time to tell vai bem. De uma prensagem de 2 mil CDs físicos (atualmente, 1.000 é a tiragem comum para um álbum de estreia), Bruno afirma ter vendido metade na base do boca a boca e em shows. “Tenho 1.850 amigos no Facebook”, diz ele sobre sua popularidade no site de relacionamento. “São amigos mesmo. Adoraria fazer uma festa para juntar todos eles, mas acho que é impossível. Cada um mora em um canto do planeta.”

No meio social de Bruno, ter proximidade com tanta gente é comum. Ele é uma third culture kid (criança de três culturas, em tradução livre), termo em inglês para se referir a pessoas criadas em países diferentes daquele de seus pais. Filho de um diplomata e uma violinista, ambos brasileiros, Bruno já morou em 12 cidades, espalhadas por todos os continentes, exceto a Antártica. Berna, na Suíça, Lomé, no Togo, Riad, na Arábia Saudita, Londres, na Inglaterra, Sydney, na Austrália, e Rio de Janeiro são algumas delas. Os vocais em inglês se justificam pela vida nômade. “Minha língua nativa é o inglês”, diz. Apesar disso, Anika Paris, cantora e compositora que já dividiu palco com Stevie Wonder e professora de Bruno quando ele estudou música em Los Angeles, vê uma diferença na maneira como ele usa a língua em suas composições: “O pop atual é simples, e as letras de Bruno são mais poéticas e complexas – talvez pelo fato de ele não ter nascido em um país de língua inglesa”.

Colecionador de instrumentos e equipamentos de gravação desde os 12 anos, Bruno começou a conceber o disco em 2009, quando reuniu a maioria de seus equipamentos, antes espalhados em cada lugar por onde passava. Montou e remontou seu estúdio no Rio de Janeiro, em Londres e São Paulo, cidades onde o disco foi gravado. O tema principal de seu disco são as relações amorosas, com influências diretas de músicos do pop romântico como Paul Simon e John Mayer. “Ele tem um estilo vocal que lembra Michael Stipe, do R.E.M., e James Taylor”, diz o crítico musical Camilo Rocha. “Tem grande potencial comercial, mas não vejo grande diferencial estético. Mas isso nunca foi impedimento para ninguém.”

ESTADO DE MINAS - Pop com pegada

A cantora Camila Maia dá importante passo na carreira com o lançamento do segundo CD, Novo dia, que ela apresenta esta noite, no Circus Rock Bar, mas apenas para convidados

Carolina Braga

(20/9/2011) “Escrevo música pop. Chega a ser romântico, mas também com muita pegada.” É o que promete a jovem Camila Maia, ao apresentar o próprio trabalho. Aos 22 anos, ela faz show de lançamento de seu disco somente para convidados, no Circus Rock Bar . Novo dia é o segundo álbum da carreira. “Sempre tive o sonho de ter um trabalho autoral. Minha vontade culminou com o encontro com Rique Azevedo, o produtor do disco. Fizemos várias músicas juntos e fui me descobrindo. O nome do disco é por isso, é uma nova Camila”, completa.

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Camila canta suas próprias músicas e hits de Capital Inicial, Kate Perry e até Led Zeppelin

Embora seja estudante de administração, desde a adolescência Camila planejou a carreira artística. A paixão pela música vem da influência do pai, engenheiro que tem uma banda de rock independente e é um dos maiores incentivadores da filha. Aos 16 anos, ela gravou o primeiro CD, do qual a faixa Eu não sou uma flor foi pinçada para a trilha sonora da novela Malhação, da Rede Globo. Se o primeiro disco destacava o lado intérprete de Camila, agora ela deixou o lado autoral falar mais alto.

“Componho desde muito nova”, conta. “Mas antes achava tudo péssimo. Foi o amadurecimento que me fez acreditar mais no meu trabalho. Dei um tempo na minha carreira, fui morar na Inglaterra, vi muito show bacana por lá, tive tempo de estudar e isso tudo ajuda a compor”, complementa. Com uma bem traçada estratégia de marketing, Novo dia foi lançado primeiro no interior de São Paulo. “Resolvemos pegar aquela região como piloto, para testar quatro músicas”, revela.

O resultado tem surpreendido. Segundo Camila, em cidades como Limeira, por exemplo, a canção Lembranças chegou a ser mais executada do que hits de Luan Santana e Paula Fernandes. Embora tenha violões em destaque e potencial popular, a música de Camila Maia não é sertaneja, é pop, como faz questão de frisar. As letras giram em torno do cotidiano dela. “É a minha percepção do dia a dia”, diz. A voz delicada acaba gerando comparações com a cantora paulista Manu Gavassi. “Ela é mais nova do que eu e o disco dela foca em um público mais teen”, diferencia.

O show de hoje em Belo Horizonte tem o objetivo de apresentar o novo trabalho não apenas para os fãs que ela tem por aqui, mas também para contratantes e divulgadores de outras partes do Brasil. Por isso Camila quer mostrar versatilidade. O repertório inclui, além de sete faixas de Novo dia, versões de sucessos de Capital Inicial, Kate Perry, Adele, Sara Barelli e até Led Zeppelin.

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LIVROS E LITERATURA

VALOR ECONÔMICO - África, e tudo mais

Por Rachel Bertol

(16/9/2011) Histórias surpreendentes despontam durante a conversa com Alberto da Costa e Silva: são memórias da avó cafuza, da tia que mandou matar o marido no Ceará, dos jantares mensais com o amigo José Saramago, dos bate-papos sobre África com Jorge Amado e de momentos inusitados ao lado de Guimarães Rosa. A vida extraordinária do poeta, ensaísta, historiador e diplomata, que comemorou 80 anos recentemente, seria tema para uma vasta coleção de livros. São tantos amigos, entre eles tantos escritores, que Costa e Silva poderia escrever muitas histórias saborosas sobre cada um deles, como reconhece.Parte dessas histórias encontra-se em "A Invenção do Desenho - Ficções da Memória", que a Nova Fronteira

acaba de reeditar, com nova introdução do historiador José Murilo de Carvalho. O livro retrata 15 anos da vida de Costa e Silva, desde os tempos da mocidade até o período em que se tornou diplomata em Lisboa. A editora está reeditando toda sua obra e iniciou a série, este ano, com o monumental "A Enxada e a Lança - A África Antes dos Portugueses", de quase mil páginas, o primeiro livro publicado no Brasil com tamanho fôlego sobre a história antiga do continente. Lançado em 1992, chegou à 5ª edição, acrescida de introdução do jornalista Laurentino Gomes. No momento, Costa e Silva prepara o terceiro volume de suas memórias. O primeiro, "Espelho do Príncipe" - que considera seu melhor livro -, sobre a infância em Fortaleza, também será reeditado.

Nesta entrevista, concedida em seu apartamento do bairro de Laranjeiras, no Rio, repleto de esculturas africanas e belos quadros, o imortal da Academia Brasileira de Letras conta um pouco de suas histórias, especialmente as de sua epopeia africana. Costa e Silva foi embaixador na Nigéria e na República do Benim. Sua obra é pioneira ao despertar no país um interesse renovado pela região. A relação dos brasileiros com a África é marcada por um distanciamento, que Costa e Silva aponta na obra de autores que falam de negros e escravos, como Gilberto Freyre e Castro Alves.

Valor: "A Enxada e a Lança" é um clássico no estudo de África. O senhor modificou algo na nova edição?

Alberto da Costa e Silva: Fiz apenas correções. Quando a Nova Fronteira o publicou, perguntava-se quem iria ler um livro sobre história antiga da África. Mas o livro teve muito boa aceitação. E também sua continuação, "A Manilha e o Libambo - A África e a Escravidão, de 1500 a 1700". Neles, trato de toda a África subsaariana, que alguns autores chamam de África negra. Isso porque sempre tive a impressão de que o Magrebe, a Líbia e Egito, estando no continente, pertencem ao Mediterrâneo. Sua história é a do Mediterrâneo.

Valor: Como o fato de ser brasileiro influenciou o estudo?

Costa e Silva: Dou enfoque especial às áreas que tiveram importância na história do Brasil, que não começa com Pedro Álvares Cabral, mas com as grandes migrações ameríndias, com dom Afonso Henriques em Portugal, com a invenção do ferro em Nok, na África, e com a expansão dos bantos. O Brasil é resultado de três histórias. Sempre me impressionou que uma dessas fontes fosse tão mal estudada. Quando eu tinha 15 anos, li "Casa-Grande & Senzala", e foi uma revelação. Freyre punha o negro não mais como um problema do Brasil, mas como sua essência. Mas o livro me chamou a atenção também pelas coisas que não diz. Quase todos os estudiosos do negro no Brasil não enxergavam nele toda sua vestimenta cultural africana, inclusive Freyre. Não se tinha estudado a cultura tradicional do negro na África, para explicar, por exemplo, por que alguns deles nunca vieram para cá. Meu interesse pelo assunto começou quando eu era rapazola. Mas o material disponível a respeito era mínimo.

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Alberto da Costa e Silva, poeta, ensaísta, historiador, diplomata e membro da Academia Brasileira de Letras: aos 80 anos, terceiro volume de memórias está a caminho

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Valor: Como superou a escassez de fontes?

Costa e Silva: Achei muito material em sebos e bibliotecas. Fui formando minha história particular da África, sem pensar em escrever a respeito. Era uma espécie de vício secreto, de paixão não confessada. Fui pela primeira vez à África nos últimos dias de setembro de 1960, como diplomata, para participar das comemorações da independência da Nigéria. Foi um deslumbramento. Tive a impressão de estar num quadro do Renascimento italiano. Nosso terno escuro e a gravata pareciam uma roupa humilhante diante das túnicas, das togas, das roupas rendadas, dos veludos, das roupas daqueles que nos aguardavam no aeroporto. E havia, além dos trajes, a riqueza das pessoas nas ruas, do comportamento. Era curioso, porque, de certa forma, era o Brasil do Debret, e algo mais, com o perfume do Brasil. Representando o Itamaraty, conheci países como Etiópia, Sudão, Senegal, Togo, Gana, Costa do Marfim, Camarões, Gabão, Angola, Quênia...

Valor: Assim começou o livro?

Costa e Silva: Em meados dos anos 1970, em Madri, na casa de amigos, eu estava batendo boca com o Carlos Lacerda sobre Angola, e ele me disse que eu tinha obrigação de escrever sobre África. Segundo ele, eu era o único brasileiro com ideias precisas sobre o continente. Pouco depois iniciei o livro. Quando fui nomeado embaixador em Lagos, na Nigéria, o livro avançou muito. Era um país fascinante, com culturas sólidas, onde o diálogo com o Brasil tinha importância histórica. Havia um bairro brasileiro na cidade, uma associação de descendentes de brasileiros, uma mesquita brasileira etc. Minha mulher, Verinha, oferecia o vatapá brasileiro acompanhado do prato que lhe deu origem.

Valor: O senhor esteve na África na mesma época mais ou menos que pesquisadores como Pierre Verger e Jean Rouch. E a imagem, literalmente, que fazemos da África no século XX deve-se muito ao trabalho deles. Havia a sensação, como essas imagens deixam transparecer, de lidar com algo ainda intocado? Essa África ainda existe?

Costa e Silva: Sim e não. Em Angola, não vemos mais nas ruas as pessoas falando francês do século XIII, mas a catedral se mantém no mesmo lugar. E, apesar de tudo, ainda que disso as pessoas não tenham consciência, elas preservam na estrutura mental a lembrança do que foram seus ancestrais. E havia, de fato, a ideia de algo intocado, embora não fosse puro. A realidade africana ainda se apresentava com as roupagens diferentes das nossas. Era um campo onde se descobriam novas coisas todos os dias. Pela primeira vez, naquela geração e na que lhe foi imediatamente anterior, sabíamos que a África tinha uma história.

Valor: Como conseguiu se desvencilhar um pouco da história da África para se dedicar à redação das suas próprias memórias?

Costa e Silva: Quando fui removido para a Colômbia, não comia as madeleines do Proust, mas encontrei na rua um rapaz vendendo siriguela, uma frutinha que eu comia muito quando menino. Vi que ninguém mais sabia dessas coisas e resolvi escrever "Espelho do Príncipe", meu melhor livro, com as memórias da minha infância. Lá explico o que é taperebá, cabiçulinha, como era a vida no sertão do Ceará e em Fortaleza, onde vivi dos meus 3 aos 14 anos. Mas nunca deixei de escrever sobre África, porque me pediam conferências e artigos, material que eu reuni no livro "Um Rio Chamado Atlântico".

Valor: O senhor também já escreveu sobre dois autores baianos: Castro Alves ("Castro Alves - Um Poeta Sempre Jovem", Companhia das Letras) e Jorge Amado (ao organizar a antologia "Jorge Amado Essencial", Penguin Companhia). Como foi realizar essa viagem de volta, da África para a Bahia?

Costa e Silva: São dois autores cheios de África. E o caso do Castro Alves é muito curioso, porque ele nada sabia de África. A impressão é que nossos grandes abolicionistas, excetuado José Bonifácio, nunca conversaram com os escravos para saber como era a África. Na obra de Castro Alves, sua África é literária, herdeira do orientalismo francês, com desertos, tendas, areais sem árvores, o inverso da África de onde vieram aqueles trazidos para o Brasil. Esta era verde, igual à natureza do Brasil. Castro Alves foi talvez o mais generoso dos poetas brasileiros, sensualmente visual, um autor que marcou o abolicionismo e a nossa imagem do poeta romântico. Mas, para os abolicionistas, era como se os africanos tivessem sido concebidos no navio que os trouxe para o Brasil, sem raízes mais profundas.

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Valor: Na sua opinião, o grande encontro da história da literatura brasileira foi o de Castro Alves com Machado de Assis, uma tarde no Rio...

Costa e Silva: É curioso, porque a mãe de Castro Alves era provavelmente mulata. Assim como Machado, Castro Alves tinha sangue negro, certamente. Nos livros de Machado, há uma série de escravos. Ele tinha percepção muito clara da presença avassaladora do escravo na vida brasileira. Seu encontro com Castro Alves reuniu o exuberante com o contido, o falastrão com o caladão, o orador com o meditador, o clássico com o barroco: foi o encontro dos dois grandes extremos da literatura brasileira. Podemos imaginar o deslumbramento de Machado ouvindo aquele rapaz bonito, com sua belíssima voz, pois Castro Alves parecia um ator de teatro. E a adoração de Castro Alves diante daquele homem de serenidade aparente, que devia em alguns momentos romper a carapaça da timidez.

Valor: E o Jorge Amado, era seu amigo, não?

Costa e Silva: Sim, e conversávamos muito sobre a África. Nenhum romance seu passa-se lá, mas ele estava embebido do continente. Agora, o que acho mais importante nos romances de Jorge é que suas personagens podiam estar aqui, tão reais elas são. Você certamente tem um parente que podia ser personagem de Jorge Amado. Tenho vários. Tive um tio que nunca foi trabalhar no escritório, ele recebia clientes no café em frente: é uma personagem de Jorge. Tenho uma tia que mandou matar o marido. É outra personagem de Jorge.

Valor: E matou mesmo?

Costa e Silva: Matou, claro. Quando você promete, você cumpre. Foi no Ceará. Eu tinha uma avó que era cafuza. Ela fumava cachimbo embebido em melaço, o famoso fumo de rolo que os historiadores brasileiros dizem ser de terceira categoria, embora fosse o preferido na África e o da minha avó. Ela fumava depois do almoço e do jantar. Era uma personagem de Jorge. Estamos cercados delas. Isso faz a grandeza do Jorge, que criou personagens dickensianos, especiais, que se parecem conosco. É por isso que o lemos com interesse e emoção. Mesmo nas suas histórias mais dramáticas e violentas, há um lado alegre, uma esperança de felicidade. O mais completo vilão de repente tem um gesto de nobreza. E suas histórias fluem naturalmente.

Valor: No novo livro de memórias, deve contar muitas histórias curiosas desses amigos...

Costa e Silva: Tive o privilégio de ter conhecido, sido amigo e convivido com pessoas como Guimarães Rosa, Manuel Bandeira, Jorge de Lima, José Saramago, Gilberto Freyre, João Cabral de Melo Neto, José Saramago, entre muitos outros, nem gosto de citar nomes. De todos, só guardo boas lembranças e poderia contar muitas histórias curiosas sobre eles, mas no livro só botarei uma de cada, para não pesar.

Valor: Conte-nos uma de Rosa...

Costa e Silva: Vou lhe contar uma história picaresca dele. Estávamos em Manaus, para um encontro do Itamaraty, num grupo de umas oito pessoas, e o Rosa manifestou o desejo de conhecer um prostíbulo. Então nos levaram a um barracão enorme, belíssimo, todo coberto de palha, com uma orquestra e um tablado para dançar. Nós nos sentamos e o Rosa, que era de tomar a iniciativa, chamou uma senhora, disse que iríamos tomar cerveja e que queríamos conversar com umas moças. Vieram umas quatro ou cinco, e ele puxou uma cadernetinha para anotar. Foi extraordinário: uma delas contou toda a sua vida, porque o Rosa tinha capacidade de pôr os outros à vontade. A mesa ficou parada vendo o Rosa entrevistar a putinha. Tenho de usar esse nome porque era exatamente isso. Depois, tudo virava conto.

Valor: E o Saramago?

Costa e Silva: Jantávamos todo mês, além das vezes em que nos encontrávamos. Era um homem sofrido e cáustico, com muita imaginação. Saramago era amigo dos amigos, detestado por muita gente e não gostava de ser detestado. Essas pessoas duronas muitas vezes escondem uma doçura especial. Saramago tinha medo de ser doce.

Valor: Também será reeditada sua poesia completa: como encontrava tempo para a criação poética?

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Costa e Silva: Sou muito exigente em poesia e nunca quis escrever poemas que fossem o reflexo imediato de determinada sensação. Isso exigia de mim uma concentração da qual muitas vezes ou fugi ou não fui capaz de manter. De maneira que minha poesia reunida possui cerca de cem poemas. Por isso, ocupei meu tempo estudando a história da África. Por isso, ocupei meu tempo estudando a história da África. Claro, o tempo da minha inteligência, para que eu me mantivesse ativo no plano da cultura, sem ficar à espera de que o poema descesse do céu.

ÉPOCA - Drummond, tradutor “Deus sabe como”

Publicação revela detalhes ocultos da produção de Drummond

LUÍS ANTÔNIO GIRON

(19/9/2011) - Quanto mais produtivo o autor, maior a probabilidade de que fique para a posteridade o trabalho de organizar seu material. Por essa razão óbvia, as obras dos escritores se tornam campo aberto à pesquisa e às especulações póstumas. Uma “obra completa” não passa de uma construção contestada e refeita de geração em geração. As marginálias dos escritores renomados surgem à medida que suas obras despertam interesse. O sonho dos estudiosos é conseguir que a marginália altere as ideias adquiridas sobre os textos principais do escritor, o seu cânone.

Não surpreende, portanto, que a obra do mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), um dos poetas basilares da língua portuguesa, continue a estimular o apetite da posteridade. Sua “obra completa” – 45 títulos publicados em vida – acaba de trocar de editora. Por vontade dos herdeiros, ela passou da editora Record para a Companhia das Letras. A reedição de Drummond começará a sair em 2012, com novos estudos sobre sua produção, além de uma prometida e gorda marginália.

Impulsionada pela movimentação, a editora CosacNaify se adianta com um título inédito: Poesia traduzida. A organização e as notas, dos professores Augusto Massi e Júlio Castañon Guimarães, são resultado de uma pesquisa realizada na Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, depositária do arquivo Drummond. O trabalho, que durou cinco anos, revelou uma dimensão meio oculta na produção drummondiana: a do tradutor de poesia. São 64 textos compilados em jornais e revistas entre os anos 1940 e 1960, feitos diretamente do espanhol, do francês e do inglês e, indiretamente, de poemas alemães, noruegueses e poloneses.

A edição poderia consistir apenas no ajuntamento de uma produção eventual e sem importância. Até porque o próprio Drummond se definia como um “tradutor Deus sabe como”, “bissexto” e “jornalístico”. Muitos textos ele verteu por necessidade econômica, como os poemas curtos das americanas Dorothy Parker e Carmen Bernos de Gasztold, por encomenda da revista Seleções do

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Reader’s Digest. O volume, no entanto, contém duas descobertas que realizam o sonho de qualquer investigador de marginália. A primeira é que Drummond pretendia lançar uma coletânea de traduções, que intitularia Poesia errante (traduções). Massi e Guimarães encontraram a referência à obra, jamais publicada, na primeira edição de Claro enigma (1951).

O projeto o levou a trabalhar intensamente com tradução, com ótimos resultados. Nos anos 1940 e 1950, além de verter romances franceses como Ligações perigosas, de Chordelos de Laclos, e A fugitiva, de Marcel Proust, Drummond colaborou semanalmente para o suplemento literário do Correio da Manhã, traduzindo e elaborando ensaios sobre poetas. Revisou muitas de suas traduções ao longo da carreira. Os pesquisadores buscaram nesses periódicos os textos que, supõem, comporiam o volume. A segunda descoberta, mais importante, está na escolha que Drummond fez dos poemas que traduziu. Ela permite redimensionar suas influências e seu perfil intelectual.

Era crença que a influência de Drummond repousava apenas na poesia francesa, sobretudo poetas não alinhados a “ismos”, como André Verdet (1913-2004) e Charles Vildrac (1882-1971). Ele traduziu poemas desses autores, que constam da compilação. Mas os pesquisadores descobriram outras preferências do autor. Uma delas é pelo romanceiro da Guerra Civil Espanhola (1936-1939), um gênero popular que serviu como veículo de informação e protesto nos anos da ditadura franquista. “Acreditava-se que Drummond havia rompido de maneira brusca com a militância de esquerda, a partir de Claro enigma”, diz Massi. “Mas foi um processo lento, que ele misturou ao trabalho literário.” Massi afirma que Drummond queria reunir poemas militantes franceses e alemães, como os de Paul Claudel e Bertolt Brecht, e de espanhóis, como Federico García Lorca (1898-1936). “Ele não foi um intelectual retraído e afrancesado, e sim um entusiasta da poesia social”, diz. Outra surpresa foi como Drummond se dedicou ao precursor do surrealismo Guillaume Apollinaire (1880-1918). O poeta mineiro se debruçou sobre poemas densos como “A casa dos mortos”, de 1913, e “Colinas”, de 1918. “As traduções dos poemas de Apollinaire revelam um tradutor de altíssima qualidade, um mestre”, diz Guimarães.

Assim, contrariando a imagem consagrada, Drummond sofreu tanto influência francesa como espanhola. Adotou e expandiu em seus textos a forma do romanceiro, com redondilhas e versos livres, e abordou temas semelhantes aos dos poetas sociais e surrealistas de seu tempo. “O exame dessas traduções vai alterar a leitura de Drummond”, afirma Massi. “Ao atingir a maturidade, converteu sua poesia em um meio de resistência ao totalitarismo e de reflexão sobre o mundo.” Por isso, Drummond deve ser reconhecido como um homem que traduziu seu tempo. Um poeta universal.

O GLOBO - Cartas de amor

Monólogo que estreia na quinta-feira revela correspondência entre Drummond e sua filha

Luiz Fernando Vianna

(20/9/2011) Ela o chamava de “Querido Cacá”, “Papai querido”, “Meu papaizinho querido”, “Papai re-querido”, “Pai constante e mais do que querido”, “Poeta amado” e outros nomes. Ele a tratava como “Julietinha”, “Bizuquinha”, “Filharoquinha”, “Filhinha muito pensada”, “Julica prezadíssima”, “Amiga do papai” etc.

O carinho que encimava as cartas trocadas entre Carlos Drummond de Andrade e sua filha única, Maria Julieta, transborda de toda a longa correspondência mantida pelos dois ao longo de seis décadas. Esse afeto é o fio condutor do monólogo “Cartas de Maria Julieta e Carlos Drummond de Andrade”, que a atriz Sura Berditchevsky estreia na quinta-feira na Sala Multiuso do Espaço Sesc, em Copacabana.

As cartas, que vêm a público pela primeira vez agora e poderão ser editadas em livro em 2012, estavam em pastas no apartamento onde o poeta vivia, em Copacabana, e no qual mora Pedro, um de seus três netos. Por “pudor de ficar triste”, ele diz que poucas vezesmexeu nelas. Ao abri-las, no início do ano passado, começou a achar que aqueles textos poderiam resultar num espetáculo.

— Parecia não tocar só a minha emoção, mas ser capaz de fazer sentido a outras pessoas — diz Pedro, para quem “o palco vai funcionar como máquina do tempo”. — São cartas da minha vida.

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Morávamos em Buenos Aires e ficávamos aguardando os envelopes da vovó (Dolores) e do Carlos (como ele se refere ao avô). Eu era o encarregado de abrir os rolos de revistas e jornais. Associava aquele cheiro a férias, que passávamos no Brasil.

Poeta queria outra imagem de pai

Ao encontrar-se por acaso com Sura e ouvir que a atriz desejava voltar a atuar — desde 2002 ela vinha priorizando a direção de espetáculos infantis —, Pedro fez a sugestão. Ideia aceita, os dois passaram a vasculhar as pastas e ler, literalmente, com lupa uma correspondência que começou em 1933, quando Maria Julieta tinha 5 anos. Nas férias em Minas passadas com as famílias de pai e mãe, ela enviava para o Rio notícias (“Eu tenho brincado muito”), um retrato de Drummond que desenhou e queixas (“Por que você não escreve carta?”).

— As cartas permitem acompanhar a história da vida dela. E ver como Drummond era um pai amoroso, que promovia o crescimento da filha — destaca Sura, que ganhou versos do poeta ao lançar seu terceiro livro infantil, em 1986: “Sura pinta a saracura/ com seu jeito de contar/ (...) Há em Sura uma doçura/ que faz a gente sonhar”.

A atriz decidiu incluir versos dos poemas “A mesa” e “Viagem na família” — em gravações feitas pelo próprio poeta — para ressaltar como tinha sido pouco afetuosa a relação de Drummond com seu pai, morto em 1931.

— Ele passou a vida procurando esse pai. E construiu outra relação com a filha — interpreta Sura.

Ela e Pedro asseguram que não há nas cartas nada que justifique a imagem de incestuoso que o relacionamento ganhou do advogado Octavio Mello Alvarenga, últimonamorado de Maria Julieta. E, embora a filha soubesse da amante do pai, também não há menção a Lygia Fernandes.

Tendo vivido na Argentina por 30 anos, Maria Julieta transmite informações sobre o país ao pai e recebe outras do Brasil — ela foi divulgadora fundamental da cultura brasileira entre os argentinos. Mas há poucos comentários sobre política, embora os países tenham vivido sob ditaduras nos anos 1970.

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— Eu poderia fazer uns três espetáculos a partir das cartas. Mas preferi o recorte da intimidade, das relações familiares, que é o mais forte. O afeto e a cumplicidade culturalsão muito grandes — aponta Sura, que resolveu, com o codiretor Fernando Philbert, projetar imagens das cartas no cenário.

Aos 17 anos, já tendo lido muito por estímulo do pai, Maria Julieta lançou seu primeiro livro, “A busca”. Em 1949 vem o baque para o poeta: sua “Maricota”, já adulta, decide se casar com o argentino Manuel Graña Etcheverry, o Manolo, e viver em Buenos Aires. Trechos da carta, escrita ao futuro genro, em que o pai aceita a união dos dois estão na peça.

— Com o casamento, o tom muda, e o intercâmbio intelectual fica mais intenso — diz Pedro.

Eles trocam informações sobre livros e filmes. Ela relata como viu em Paris o velório de André Gide. Reverente, exalta uma crônica do pai: “Dá uma grande inveja!”. Abusada, faz ressalvas a um poema. E, em carta respondendo às angústias de uma filha com o futuro literário nebuloso, Drummond orienta: “Escreva, minha filha, escreva. Quando estiver entediada, nostálgica, desocupada, neutra, escreva. Escreva mesmo bobagens, palavras soltas, experimente fazer versos, artigos, pensamentos soltos (...). Não tenha a preocupação de fazer obras-primas, que de há muito eu já perdi, se (é) que algum dia a tive.”

O espetáculo de Sura começa e termina com trechos de “Topázio”, o romance que o câncer não deixou Maria Julieta acabar. Ela morreu em 5 de agosto de 1987. Doze dias depois, sem suportar a perda, o coração do pai parou.

O GLOBO - Antonio Candido abre série de homenagens a Graciliano Ramos

Simpósio em cinco cidades e reedição lembram os 75 anos de ‘Angústia’

Guilherme Freitas

(20/9/2011) Sempre associado à linguagem árida de “São Bernardo” e “Vidas secas”, Graciliano Ramos manteve até o fim da vida uma relação ambígua com a prosa elaborada de “Angústia”. O escritor pretendia fazer cortes significativos no texto, marcado por repetições e excessos, quando foi preso em 1936. Ao vê-lo publicado no mesmo ano, sem a desejada revisão, Graciliano chamou-o de “livro infeliz” em suas “Memórias do cárcere”. A posteridade, porém, contrariou esse julgamento, e o romance chega agora aos 75 anos ainda rendendo homenagens a seu autor.

A principal delas é o simpósio “Graciliano Ramos — 75 anos de ‘Angústia’”, que começa hoje, com um evento na USP, de 10h a 17h. A abertura ficará a cargo de Antonio Candido, primeiro crítico a arriscar uma interpretação mais ampla da obra do escritor, no livro “Ficção e confissão”, publicado em 1955, dois anos depois da morte do autor alagoano. No livro, Candido diverge da interpretação dominante na época, de que a narrativa confusa de “Angústia” representava um “descuido” de um autor conhecido pelo rigor. “Tecnicamente, ‘Angústia’ é o livro mais complexo de Graciliano Ramos”, escreve o crítico.Ao longo do dia, o encontro reunirá cinco especialistas em Graciliano: Elisabeth Ramos (neta do escritor), Erwin

Torralbo Gimenez, Hermenegildo Bastos, Wander de Melo Miranda e Belmira Rita da Costa Magalhães. O simpósio será realizado em outras quatro cidades: Brasília (22/9), Salvador (4/10), Maceió (6/10) e Belo Horizonte (26/10), onde uma exposição, na UFMG, reunirá documentos, objetos e textos do autor (inclusive um conto inédito do início de sua carreira). Candido participará apenas do evento em São Paulo.

Para marcar a data, a editora Record publica também uma reedição do romance, organizada por Elisabeth Ramos, com fortuna crítica, informações biográficas e bibliográficas e posfácios de Otto

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Maria Carpeaux e Silviano Santiago, que resume a importância do livro com uma série de perguntas retóricas: “Subversivo ao cânone lusobrasileiro? Sim. Subversivo ao cânone graciliânico? Sim. Subversivo à famosa leitura que João Cabral de Melo Neto faz do estilo ‘faca só lâmina’? Sim. E daí?”, escreve.

Excesso adequado à narrativa

Organizador da exposição programada para Belo Horizonte, o crítico e professor da UFMG Wander de Melo Miranda diz que esse caráter “subversivo” apontado por Santiago foi a forma encontrada por Graciliano para melhor retratar seu protagonista, o funcionário público e escritor Luís da Silva, que mata o negociante Julião Tavares por ciúme. O monólogo interior delirante que vai e volta no tempo para registrar as impressões distorcidas do narrador destoa do resto da obra de Graciliano, mas é coerente com ela, diz Wander:

— “Angústia” tem uma linguagem exuberante, excessiva, que faz dele um romance único na obra de Graciliano. Mas esse excesso está totalmente de acordo com o tema e os personagens do livro.

Sons, imagens e palavras para ‘Angústia’

O pianista Vitor Araújo monta espetáculo com direção do cineasta Lírio Ferreira

Vitor Araújo, o pianista que, em 2008, aos 18 anos, chamou a atenção no CD/DVD “Toc” por misturar Radiohead com Villa-Lobos e levar informalidade roqueira a um concerto de piano (a imagem dele pisando com seu All Star nas teclas ficou marcada), quer seguir explorando novos terrenos. Em “Angústia”, que estreia hoje em São Paulo (na sala Crisantempo, onde fica até novembro, sempre às terças-feiras), ele constrói umshow em que une imagens, textos e luz em torno da música, que ele faz questão de afirmar como o centro de tudo.

— Até estou me forçando a não usar a palavra espetáculo, e sim concerto, para falar de “Angústia” — conta Vitor. — Porque 90% da coisa sou eu tocando, a música ainda é agrande arte ali.

Para ajudá-lo na concepção de “Angústia”, Vitor convidou o cineasta Lírio Ferreira para dirigi-lo — é a primeira experiência do diretor com um show/concerto.

— Estava com um conceito pronto na cabeça, mas queria ter alguém para transformar aquilo em imagem — explica Vitor. — E esse alguém tinha que ser um cineasta e tinhaque ser o Lírio. Todos os filmes dele têm uma beleza plástica muito grande. Uma vez vi Zé Celso resumir isso muito bem falando com ele: “Nunca vi ninguém filmar pedra tão lindo quanto você”. Queria essa beleza num concerto de piano.

Em “Angústia”, com uma iluminação que tende à penumbra (“Às vezes, mal dá para me ver”), ouve-se Vitor ler textos de Graciliano Ramos, Manuel Bandeira, Aldir Blanc, Arnaldo Antunes, Augusto dos Anjos e dele próprio. As imagens, projetadas em cortinas de tule dispostas em diferentes camadas no palco, reúnem imagens simplesmente plásticas e outras que narram uma história de um pianista em dois momentos, na infância e aos 40 anos, desiludido.

— Minha ideia era falar sobre paixões humanas. “Angústia” é o primeiro capítulo, depois vêm “Infância” e “Orgasmo” — diz. — Em “Angústia”, começo a falar sobre paixões a partir de alguém que abandona as suas para fazer o que é necessário.

O repertório traz músicas inéditas de Vitor e composições de artistas como Tom Zé e Lorenzo Fernández. Ele também faz um dueto com uma vitrola tocando um vinil (“Uns dias a trilha de ‘Taxi driver’, outros a de ‘O último tango em Paris’”, conta), além de emular uma orquestra de pianos sobrepondo loops feitos ao vivo.

— Meu plano é fazer uma turnê nacional de “Angústia” em 2012 — adianta.

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O GLOBO - O livro da vida

Luiz Fernando Vianna

(21/9/11) - Quem seria capaz de, sem desembolsar um centavo, ter textos ilustrados por 70 artistas plásticos de renome? Esta pessoa se chama Franco Terranova, tem 88 anos e lançará até o fim do ano seu novo e mais robusto livro, “Sombras”.

O elenco estelar poderia ser explicado, de modo pragmático, por gratidão: Terranova foi um dos mais importantes marchands brasileiros, dono da Petite Galerie, em Ipanema, de 1954 a 1988. Mas o carinho e a admiração com que artistas se referem a ele indicam que os vínculos são mais fortes.

— Sem demérito para os marchands, nunca vi Franco como um. Ele é poeta, amigo, um homem de sensibilidade, para quem a arte não é simplesmente um negócio — diz Ferreira Gullar, que convive desde a década de 1950 com Terranova, participante do movimento neoconcretista. — Ele fazia parte da nossa turma, estava buscando caminhos novos para a arte brasileira.

Em 1960, no Suplemento Dominical do “Jornal do Brasil”, Terranova publicou um poema pela primeira vez. Era um poema espacial, de peculiar construção visual, como seriam todos os seus textos, publicados em livro a partir de 1973, com “O girassol”. Terranova construiu uma obra coerente com sua personalidade, discreta, mas com seguidores apaixonados.

— Meu coração é que entende o que ele escreve. Quando estou com ele, parece que nos conhecemos desde sempre.

Tínhamos um encontro marcado na vida — derramase Christiane Torloni, uma das atrizes que lerão textos no lançamento de “Sombras”.

Noites dormidas na praia

Edição de luxo, o livro não deverá contribuir para a popularização do poeta, mas é uma obra de coroamento de vida. “Vomitório de palavras”, no dizer do autor, os textos funcionam como “autobiografia inventada”, ainda segundo ele. Há a liberdade criativa — sem usar pontos nem vírgulas e organizando as palavras nas páginas de acordo com sua imaginação — misturada às histórias de sua vida, especialmente as “sombras”: das lembranças da Itália natal às perdas de amigos como Mário Faustino, Iberê Camargo, Angelo de Aquino e tantos outros.

— Não me considero ninguém. Não sou nada.

Tive a sorte de estar no lugar certo na hora certa e conhecer grandes artistas — diz Terranova, “o homem mais tímido e introvertido que existe na face da Terra”, no tom autodepreciativo que faz parte do seu charme.

Ele deixou a Itália em 1947, depois de lutar na Segunda Guerra Mundial, prometendo nunca mais voltar ao país que se deixara conduzir por Mussolini — promessa que descumpriria

anos mais tarde. Encantado com a figura do Zé Carioca, pegou um navio para o Rio, mas não tinha dinheiro para dormir em lugar que não fosse a praia. Após algumas noites de areia, foi socorrido pelo parentesco com a família Matarazzo.

Conseguiu emprego, morou em São Paulo, mas seu lugar mesmo era no Rio, como pioneiro do mercado de arte. Em 1953, foi trabalhar na Petite, ainda em Copacabana, e no ano seguinte já era um dos donos da galeria, das primeiras a se dedicar à arte moderna. Praça General Osório 53 se tornou o endereço das obras de Pancetti, Volpi, Emeric Marcier, Milton Dacosta e outros.

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— Ele me incentivou muito, comprou grande parte da minha produção inicial. É uma pessoa de profundidade, sensibilidade, um poeta — exalta o pintor Roberto Magalhães, um dos expoentes dos anos 1960 que estão em “Sombras”, assim como Antonio Dias, Carlos Vergara, Antonio Manuel etc.Na década de 1970, o mercado de arte começou a migrar para São Paulo, onde a Petite teve uma filial. Mesmo enfrentando dificuldades, a galeria não deixou de contar com nomes importantes, tendo dado empurrões fundamentais nas carreiras de Jac Leirner e Ernesto Neto nos anos 1980.

— Franco foi sábio o suficiente para perceber a potência do que via e marcou na hora uma mostra comigo. Foi lindo e poético cada momento de nosso encontro — lembra Neto, da ala mais nova de “Sombras”, a de Hildebrando de Castro, Daniel Senise, Barrão etc.

A Petite, então na Barão da Torre (onde hoje é a churrascaria Porcão), fechou ao longo de três dias de 1988, num evento que Terranova batizou de “O eterno é efêmero”, com artistas criando obras nas paredes, em seguida pintadas de branco.

Ele ainda compra trabalhos, mas para deleite próprio. A ideia de reabrir a Petite foi arquivada.

— Deixa a função de galeristas para as mulheres, que estão brilhando — diz, referindo-se a Raquel Arnaud, Silvia Cintra, Nara Roesler e outras.

Franco Terranova chama de “ momento mágico” os anos da Petite na P r a ç a G e n e r a Osório. Mas não só por causa da galeria, que ficava na frente da casa projetada pelo arquiteto Sérgio Bernardes. Também pelo que havia nos fundos, o Petit Studio, em que dava aulas sua mulher, Rossella Terranova.

— O prazer era muito grande, minha mulher ali perto... — recorda ele.

Em 2012, os dois completam 50 anos de uma bela história de amor. Italiana nascida em Atenas, Rossella conheceu Franco quando estava no Rio dançando com a companhia do Teatro Municipal. Tinha apenas 16 anos e era uma das coadjuvantes de Margot Fonteyn. Franco tinha 35. A diferença de idade, garante ela, nunca foi um obstáculo.

— Eu era metida a feminista, não queria casar, mas Franco apareceu na minha vida e mudou tudo. Ainda conheci Tarsila do Amaral, Volpi, Di Cavalcanti, Pancetti, ElizabethBishop... Eu vivi tudo isso! — ainda espanta-se.

Depois de conhecer o trabalho de Klauss e Angel Vianna, Rossella se dedicou a preparar e formar artistas em seu estúdio.

Até hoje treina atores para peças, filmes e novelas.

Ela e Franco tiveram quatro filhos e duas netas. Dois dos filhos participam de “Sombras”: o fotógrafo Marco Terranova e a designer e artista plástica Paola Terranova. Como o pai também fez uma ilustração para um texto próprio, são 70 os artistas do livro sem o sobrenome.

Fazendo jus à linha de atuação da Petite, são diversos os estilos presentes, como indica um extrato da lista de nomes: Millôr Fernandes, Anna Bella Geiger, Cildo Meireles, Abraham Palatnik, Nelson Leirner, Waltercio Caldas, Wesley Duke Lee e Frans Krajcberg — o amigo nascido na Polônia naturalizou-se brasileiro no mesmo dia de Terranova, em 1958.

Recentemente, o poeta e marchand precisou ter a tireóide retirada, o que prejudicou sua visão. Nada que o impeça de subir a escada em caracol que leva a seu escritório,

decorado com obras de Carlos Vergara, Siron Franco, Wanda Pimentel e outros. Ele ainda maneja bem seu iPhone e atua no Facebook.

— A pessoa só morre quando não tem projeto de vida.Franco sempre tem — diz Rossella.

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GASTRONOMIA

JORNAL DE BRASÍLIA - Com gostinho brasileiro

Le Meurice lança semana gastronômica do Brasil com festa em Paris

Marcelo Chaves

(17/9/2011) As luzes da Cidade Luz ganharam o tom verde e amarelo esta semana. Tudo por conta da abertura da Semana Gastronômica Brasileira, que acontece durante este mês, até o dia 25, no Hotel Le Meurice. Trata-se da primeira vez que o Brasil é homenageado em um festival gastronômico pelo luxuoso hotel parisiense.

Um superevento com a presença de formadores de opinião, esportistas, artistas, políticos e empresários foi organizado para brindar a estreia da data.

Com cardápio assinado pela chef brasileira Samantha Aquim quem for até o restaurante Le Dalí do Le Meurice poderá degustar pratos típicos da cozinha brasileira com toque refinado. Já no Bar do hotel, o 228, ainda de quebra poderá provar bebidas como a nossa famosa caipirinha e canapés com um toque tropical.

A noite de estreia do festival contou ainda com a presença do embaixador do Brasil na França José Maurício Bustani e do embaixador Hadil Vianna, subsecretário-geral de Cooperação, Cultura e Promoção Comercial do Itamaraty, apoiador do evento. Ele seguiu de Brasília especialmente para a ocasião.

Para o embaixador Hadil, Brasil e França fortalecem seus laços com a realização da semana gastronômica, em especial por compartilhar seu orgulho em relação à diversidade de produtos. "A gastronomia é assunto sério para os dois países", destacou.

Em seu discurso, o embaixador também ressaltou qualidades do Brasil apresentado nos dias do festival. "Destacamos esta semana no Hotel Le Meurice, um país diferente. Vocês constatarão, pronto para reagir rapidamente aos desafios impostos pelo novo cenário mundial”.

Ainda segundo Hadil Vianna, os franceses poderão conhecer melhor por meio da gastronomia um Brasil de dimensões continentais, com população de quase 200 milhões de habitantes. “Uma cultura diversificada, dentro de um quadro único de identidade nacional”.

SAIBA +

Com o apoio da Embaixada do Brasil em Paris, o hotel francês de luxo Le Meurice lançou nesta ssemana o seu primeiro Festival Brasileiro.

No programa, uma semana gastronômica comandada pela chef carioca Samantha Aquim e duas no Bar 228 com diversas combinações de drinks feitos com a cachaça brasileira.

OUTROS

O ESTADO DE S. PAULO - ''O mercado de arte nasce onde há riqueza''

Entrevista – Fernanda Feitosa

Fernanda Feitosa, criadora da SP-Arte, fala sobre público-alvo e consumo

Direto da Fonte/ Sonia Racy

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É difícil de acreditar que o mercado de arte nem sempre fez parte da trajetória profissional de Fernanda Feitosa, criadora da SP-Arte. Só quando começou a frequentar galerias e leilões (aos sábados de manhã, com o marido, Heitor Martins) é que nasceu o interesse da advogada pelo circuito artístico. E, posteriormente, a ideia de uma realizar uma feira de arte internacional no Brasil.

A empresária recebeu a coluna em sua casa, duas semanas antes da abertura da SP-Arte/Foto, "filha" do evento, composta só por fotografias. Descontraída e falante, Fernanda dividiu o bom momento que vive o mercado artístico brasileiro e o crescimento da feira: "Começamos com 40 galerias, sendo uma internacional. Hoje temos 89", conta, feliz.

Mesmo otimista, não tira os pés do chão: "Vivemos, no Brasil, um momento de formação de público do mercado de arte , não de consolidação, apesar de ser essa a aparência", afirma.

Focada no crescimento "orgânico" do evento e nos impactos que causa no circuito cultural paulista, Fernanda foge de qualquer estigma culturete: "As pessoas podem se sentir inibidas, porque não conhecem arte. Eu também não conhecia. E aprendo continuamente. A feira é um local de querer conhecer", diz, convidativa.

Abaixo, os melhores momentos da conversa.

A SP-Arte cresce a cada ano. A crise não atingiu o mercado de arte no Brasil?

Não chegamos a sentir muito. Porque o mercado da arte acompanha o ânimo da economia, e a brasileira anda bem. A sensação é de que estamos em uma grande onda que ainda não acabou. No entanto, não chegamos à praia. Acho que resolvi fazer a SP-Arte no momento perfeito, em 2005. O Brasil estava deslanchando, mergulhado no otimismo. E isso contamina a postura do indivíduo em relação ao que ele faz com o dinheiro que sobra. No lugar de poupar, ele pode se dar um prazer, pode comprar uma obra de arte legal. E o resultado é esse: estamos batendo recordes a cada ano.

Qual foi a estratégia para esse crescimento?

Temos de crescer organicamente. Nunca quis dobrar a feira, de 40 galerias para 80. Acredito que o público e o número de galerias têm de crescer juntos, para que todos fiquem satisfeitos. Uma das coisas mais desagradáveis que existem é sair de um evento de arte com a sensação de que foi dominado por aquilo - e não conseguiu ver tudo.

O que você acha que mudou do início da feira para cá?

O cenário hoje é muito diferente de quando comecei. Ainda bem. Tivemos 40 galerias no primeiro ano, uma do exterior. Hoje, temos 89. Escolhi o prédio da Bienal por isso, para que ela pudesse crescer, e a gente ir alugando os andares devagarinho. Tive o cuidado, também, de fazer com que a feira fosse internacional, mas majoritariamente brasileira. É o melhor da arte do Brasil em um só local.

Por que você escolheu São Paulo?

Porque toda grande feira de arte está baseada em um centro econômico. E São Paulo reúne as melhores condições para realizar o evento: a maior população, concentra 60% do PIB da América Latina, tem a maior frota de aviões e helicópteros do País. O mercado de arte nasce onde há riqueza a ser gerada e consumida. Por isso, as principais metrópoles do mundo têm feiras de arte: NY, Madri, Milão, Cidade do México...

E a SP-Arte/Foto nasceu de uma demanda dos compradores ou dos galeristas?

Foi um processo natural. Percebi uma procura por fotografia e o surgimento de galerias que trabalhavam só com fotos. Essa feira nos permitiu criar algo menor, sempre no segundo semestre, com espaço para discussão, debates. Assim, temos um encontro em maio e outro em setembro, mais segmentado. E o mercado se mantém ativo.

Os colecionadores de primeira viagem conseguem comprar algo nas feiras?

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Sim. Essa é uma das grandes belezas. O evento tem de criar condições para quem está começando. Tem de existir um leque de preços acessíveis. É muito frustrante querer comprar, não conseguir e sair de lá com uma caneca (risos). Não tem caneca no evento...

Mas há muitos visitantes que não podem comprar.

Sim. E são muito bem recebidos. Vivemos uma etapa do mercado de arte que é de formação. Ainda não é de consolidação, apesar de ter essa aparência. Estamos educando nosso público. Então, tem muito mais gente que vai à SP-Arte para passear do que para comprar. É, sim, um local de plena realização da economia criativa e de venda. Mas também de informação. O público vai pela experiência. Depois, acaba frequentando a Pinacoteca, vai ao MAM, entra no clube da gravura...

Uma das críticas da feira é que é feita só para quem frequenta o circuito das artes. É verdade? Não se trata de uma panelinha. Circuito das artes vale muito a pena ser vivido e experienciado. As pessoas podem se sentir inibidas, porque não conhecem arte. Eu também não conhecia. E não conheço tudo até hoje. Aprendo continuamente. A feira é um local de querer conhecer. O galerista está lá de coração aberto e o público, para tirar suas conclusões - mesmo que estas sejam críticas.

Você acredita que a arte tem modismos? Tendências que apontam o que vende mais ou menos? Ou, por ser algo subjetivo, é difícil de definir?

Às vezes, surgem trabalhos muito bem realizados, um artista novo que a galeria acredita, que faz uma grande exposição, ganha a simpatia de um curador importante. E isso pode parecer modismo. Mas não é. Acho que acaba sendo um reflexo do tempo, da ansiedade da época. A arte é feita de ciclos. Um movimento surge para fazer anteparo ao anterior. Às vezes, vem com tanta força que temos uma sensação de domínio. Mas, geralmente, está ligado a uma tendência do comportamento humano daquela época.

O que você acha de artistas que customizam sua arte? Que licenciam seus traços para objetos como tênis, canecas e afins?

Acho que a indústria do utilitário tem buscado se apropriar da arte. Não é o artista que procura isso. É o contrário. Essa indústria busca a estética artística para valorizar seu objeto do cotidiano. Isso está relacionado com trazer beleza para a convivência diária. É um fenômeno interessante. E pode até fazer parte da proposta do artista. Para os colecionadores mais puristas, pode parecer ruim, mas alguns artistas não ligam para isso. Querem democratizar seu trabalho em qualquer extrato social e intelectual.

Os novos colecionadores estão em busca de arte por prazer ou têm uma preocupação mercadológica? Compram não para ter, mas para revender depois, por um valor mais alto?

Existem essas duas coisas. Tudo que tem potencial valor econômico (e arte sempre teve) corre o risco de ser objeto de especulação. Arte é valorizada. Em todas as guerras, objetos artísticos foram roubados, as pessoas fugiam de casa levando joias e quadros debaixo do braço, porque têm valor patrimonial. Então, não devemos demonizar. Entretanto, é tão vivo que, ainda que alguém entre com esse objetivo mercadológico, vai acabar gostando. Não é como comprar e vender ações na Bolsa, por exemplo. O espírito do verdadeiro colecionador é acumular, ter.

O que representa a força da economia chinesa no mercado de arte?

Mais de um bilhão de pessoas... É, portanto, um mercado muito forte. Se eles resolverem comprar, pode acontecer de catapultar os preços de jovens artistas chineses à estratosfera. É o que está acontecendo. Se isso vai durar, não sei. Porque o processo é recente e muito sustentado pela ação dos próprios chineses. Se tem potencial para sair da China e entrar nos mercados e museus internacionais, ainda vamos ver.

Quais os próximos desafios para as feiras de arte?

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Meu objetivo é oferecer novidades para todo mundo: artistas, galeristas e o público. E, assim, aumentar a elasticidade de interesses entre eles.

Você também é colecionadora. Quais seus critérios na hora de adquirir uma obra?

Sou uma prestadora de serviço para as galerias com as quais trabalho. Então, às vezes, acabo deixando essa função para o Heitor. Sempre decidimos juntos, mas acabamos comprando muito em leilões.

FOLHA DE S. PAULO - Malba completa dez anos em Buenos Aires

Museo de Arte Latino-Americana, casa do 'Abaporu' de Tarsila, promove seminário e exposição especial para a data

Criado pelo empresário Eduardo Costantini, museu abriga obras de Diego Rivera, Torres-García e Antonio Berni

SYLVIA COLOMBO DE BUENOS AIRES

(20/9/2011) A casa do "Abaporu" está em festa. Começam amanhã as comemorações dos dez anos da abertura do Museo de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, ou Malba, como é conhecido.

A tela de Tarsila do Amaral é uma das estrelas da exposição, repaginada para a celebração, junto a obras de grandes nomes da arte do continente, como Diego Rivera, Xul Solar, Torres-García, Antonio Berni, Wilfredo Lam, entre outros.

Integram também os festejos uma mostra do venezuelano Carlos Cruz-Diez e um seminário que reunirá curadores de diferentes museus pelo mundo, como o MoMA, de Nova York, e o Museum of Fine Arts, de Houston. Do Brasil, virão Marcelo Araújo, da Pinacoteca, e Rodrigo Moura, do Instituto Inhotim.

O Malba foi criado pelo empresário do ramo imobiliário Eduardo Costantini, 65, a partir de sua coleção particular, na época com 228 obras.

"Eu pensava em colecionar até o fim da vida e depois doar tudo para um museu já existente", contou à Folha, em Buenos Aires. Costantini, que fala baixo e sorri muito, disse que mudou de ideia quando surgiu a oportunidade de comprar o terreno no qual hoje está o museu, na avenida Figueroa Alcorta, em Palermo. "Esse lugar pedia um museu. Está perto dos parques, numa avenida de grande visibilidade." Adquirido o espaço, foi realizado um concurso, do qual saiu vencedor o projeto dos arquitetos argentinos Gastón Atelman, Martín Fourcade e Alfredo Tapia.

A coleção então cresceu e hoje conta com mais de 500 obras. O museu se expandiu para outras áreas. Possui um cinema cuja programação se volta para a produção independente e que sediará um festival só com produções latino-americanas.

O Malba também planeja crescer espacialmente: há um projeto de expansão subterrânea, sob a praça República del Perú, ao lado do prédio principal.

Costantini conta que tem uma relação especial com o "Abaporu" (1928), tela que adquiriu em Nova York, nos anos 90, por US$ 1,4 milhão.

O empresário viajou recentemente ao Brasil com a tela, para que o quadro participasse de uma mostra em Brasília, a convite da presidente Dilma Rousseff.

"Sempre me perguntam por que eu não vendo o 'Abaporu' para o Brasil, toda hora me fazem propostas", conta Costantini. "Mas não quero vender. O que sugeri à presidente foi que ela

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estimulasse um grupo de empresários brasileiros a fazerem um Malba em São Paulo. Aí eu levaria o 'Abaporu' e outras obras."

Os planos, porém, parecem ter ficado por aí. "Quando disse o valor que seria necessário para o investimento, acho que ela se assustou", conclui Costantini, rindo.

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