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RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS Edição 54 [ 29/9/2011 a 5/10/2011 ]

ASSESSORIA DE IMPRENSA DO GABINETE - … · Hoje será a estreia nacional do seu filme. “Admiro muito a proposta do festival. Sei também que tem muito público e várias exibições”,

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RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS

Edição Nº 54[ 29/9/2011 a 5/10/2011 ]

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Sumário

CINEMA E TV...............................................................................................................4Jornal de Brasília - Um fantasma dramático....................................................................................4Correio Braziliense - "Um filme não pode viver só de festival" .......................................................5Correio Braziliense - Canela dos bonecos......................................................................................5O Estado de S.Paulo - Cine BH reverencia autores........................................................................6O Estado de S.Paulo - Todo poder às mulheres.............................................................................6Folha de S. Paulo – CINEMA: 'Trabalhar Cansa' tem algo a dizer, mas peca pela falta de um projeto definido................................................................................................................................7Correio Braziliense - Querido estranho ..........................................................................................8Correio Braziliense - À procura da verdade ....................................................................................9Correio Braziliense - Sutileza em meio à barbárie.........................................................................10Correio Braziliense - Código de família.........................................................................................12O Estado de S. Paulo - Filmes de bom tamanho ..........................................................................14Folha de S. Paulo - Músicos eruditos estrelam reality show na TV Cultura..................................15Folha de S. Paulo - Série procura rever a história do "Brasil nação".............................................16Folha de S. Paulo - Brasília revê a ditadura sob um viés intimista................................................17Folha de S. Paulo - Seminário pede visão industrial para setor....................................................18Folha de S. Paulo - Novas salas de cinema vão receber descontos.............................................18Folha de S. Paulo - Eryk Rocha gera polêmica na França............................................................19O Estado de S. Paulo - Helvécio Ratton........................................................................................19Jornal de Brasília - Emoção em cinco flashes ..............................................................................20Folha de S. Paulo – Cabe aqui na minha mão..............................................................................21Correio Braziliense - "Não dá para falar em indústria no Brasil"....................................................22Correio Braziliense - Comédia improvisada..................................................................................23Folha de S. Paulo - Santoro faz maratona de estreias nas telas...................................................23Folha de S. Paulo - Mudanças causaram controvérsias...............................................................24Folha de S. Paulo - Globo lança sede e lojinha em Portugal........................................................25Folha de S. Paulo - Danilo Gentili faz show de humor como aperitivo de novo canal...................25Folha de S. Paulo - Cinema no plural............................................................................................25Folha de S. Paulo - Distribuir os filmes e chegar ao grande público ainda é desafio ...................26Folha de S. Paulo - Esforço para exibir os longas atesta passo rumo à maturidade.....................27Folha de S. Paulo - Festival de Brasília premia filme inédito e outro já exibido............................27O Estado de S. Paulo - Rivalidade entre irmãos...........................................................................28O Estado de S. Paulo - Para exorcizar o passado........................................................................29O Estado de S. Paulo - Cine BH reúne arte e mercado................................................................30

TEATRO E DANÇA....................................................................................................30Folha de S. Paulo – Jô Bilac mira a insanidade em nova peça.....................................................30Folha de S. Paulo - Ótima direção atualiza fábula de "O Bosque"................................................31Folha de S. Paulo - Peça fica aquém da densidade poética de Lúcio Cardoso............................32Correio Braziliense - Léo e Bia para os brasilienses ....................................................................33Correio Braziliense - A construção do discurso ............................................................................35Correio Braziliense - Encanto mambembe ...................................................................................36Folha de S. Paulo - Teatro de Dança reabre em sala reformada do Sérgio Cardoso...................38Folha de S. Paulo - Em Curitiba, peça é encenada em trem.........................................................38O Estado de S. Paulo - Longa jornada vida adentro.....................................................................39

ARTES PLÁSTICAS...................................................................................................40O Globo - Ancelmo Gois / Coluna ................................................................................................40Folha de S. Paulo - Artista faz árvore de bronze em Inhotim........................................................41Folha de S. Paulo - Centro mineiro inaugura série de obras na quinta.........................................41Folha de S. Paulo - Interior de SP entra no circuito da arte..........................................................42Boumbang - Poil de sorcière! – Cildo Meireles..............................................................................42O Estado de S. Paulo - Mostra anticlichês....................................................................................48O Estado de S. Paulo - Inventário traz inéditos de Aleijadinho......................................................50

MÚSICA......................................................................................................................51O Globo - Um erudito que flerta com a platéia .............................................................................51

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Correio Braziliense - Do fundo do coração....................................................................................53Correio Braziliense - Caçadores da boa música tupiniquim..........................................................54Correio Braziliense - Descobertas brasileiras................................................................................55

LIVROS E LITERATURA...........................................................................................56Correio Braziliense - Versos cheios de inquietações.....................................................................56O Estado de S. Paulo - Uma redescoberta acessível do Brasil.....................................................57O Estado de S. Paulo - A construção de uma nação....................................................................58Folha de S. Paulo - Jabuti muda mais um finalista e tem critérios questionados..........................59Folha de S. Paulo - Vik Muniz lança livro com conto sobre filho...................................................60Correio Braziliense - Best-seller adolescente................................................................................60Folha de S. Paulo - Obra mostra o mosaico da África visto a partir do chão................................61Folha de S. Paulo - Poeta sírio lidera apostas para o Nobel.........................................................61

POLÍTICA CULTURAL...............................................................................................62Folha de S. Paulo - Na Câmara, Ana de Hollanda pede mais dinheiro para cultura.....................62Folha de S. Paulo - Em busca de viabilidade, grupo adota conselheiros de prestígio..................62

GASTRONOMIA.........................................................................................................63O Estado de São Paulo – A de barro é que faz moqueca boa.....................................................63

OUTROS.....................................................................................................................64O Estado de São Paulo – Momento Brasil-Itália se espalha pelo País........................................64Correio Braziliense - Itália e Brasil na mesma onda......................................................................65Correio Braziliense - O profeta da educação ................................................................................66

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CINEMA E TV

JORNAL DE BRASÍLIA - Um fantasma dramático

Novo filme de Tata Amaral relembra período da ditadura e promete emocionar o público

MUSA/DIVULGAÇÃO

Larissa Santiago

O terceiro dia do 44° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro marca a estreia de Hoje, longa-metragem da cineasta Tata Amaral estrelado por Denise Fraga, Cesar Troncoso e João Baldasseirine. Os outros destaques ficam por conta de Premonição e De Lá Pra Cá, além das animações A Mala e Quindins.

Diretora do filme Antônia, que virou minissérie homônima exibida na Rede Globo por duas temporadas, Tata Amaral carrega no currículo uma soma de 20 filmes, entre eles curtas e séries para TV, e cerca de 50

premiações em festivais nacionais e internacionais. Agora, com a estréia de Hoje, ela promete emocionar o público brasiliense.

Hoje conta a história de uma mulher (Fraga), ex-militante política, que recebe uma indenização do governo brasileiro pelo desaparecimento do marido, vítima da ditadura militar. Com esse dinheiro ela resolve comprar o tão sonhado apartamento próprio e libertar-se da condição em que viveu durante décadas, período em que não era sequer reconhecida oficialmente como viúva.

Porém, no momento da mudança para o novo lar surge uma visita inesperada que a obriga a rever toda sua trajetória. “O filme fala de como não queremos nos lembrar daquela época”, diz.

Sobre a atuação de Denise Fraga, conhecida por atuar em papéis cômicos, Tata dá sua opinião. “Ela está excepcionalmente bem, espero que o público receba bem também”, diz.

PARANOIA E DESENCONTROS

1950. Salvador. Boemia. Bar. Essa é a ambientação de Premonição, de Pedro Abib, que abre a mostra competitiva dos curtas-metragens de hoje. O filme se passa na década de 1950, em Salvador (BA), em um bar da cidade. A trama começa quando Seu Antero, dono do estabelecimento, atende a um freguês que se porta de maneira suspeita. Em dado momento o freguês deixa a mostra, sob a camisa, o cabo de um revólver.

A partir daí, o dono do botequim começa a entender as intenções do homem, enquanto outros fregueses entram no bar. Seu Antero passa então a imaginar que esses clientes, segundo sua premonição, possam ser vítimas daquele possível assassino. “Esse filme é um conto que escrevi há dez anos”, revela o diretor.

O segundo curta da noite é De Lá Pra Cá, de Frederico Pinto. Em 15 minutos, o filme narra a trajetória de Ciro e Clarisse, que são casados, mas trabalham em horários diferentes e só se encontram na estação de metrô. “Era uma época da minha vida em que eu morava em Porto Alegre e trabalhava na região metropolitana. Durante esse trajeto de metrô eu ficava observando as pessoas e imaginando a vida delas, pois eu e minha mulher vivemos um pouco disso que o filme conta”.

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Cesar Troncoso e Denise Fraga dividem cena em Hoje, longa em competição

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Hoje será a estreia nacional do seu filme. “Admiro muito a proposta do festival. Sei também que tem muito público e várias exibições”, diz.

ANIMAÇÕES

Animado com stop motion (técnica realizada quadro a quadro), A Mala, de Fabiannie Bergh, conta a história de um senhor que tenta pegar um ônibus de uma das mais tradicionais linhas rodoviárias de Belém, a Sacramenta Nazaré. “Essa é a linha mais antiga da cidade e teve uma época, no início da década de 1990, que ela passava direto pelo ponto de ônibus. O filme fala da história de um homem que está bêbado, depois de um dia de trabalho, tentando pegar este ônibus na madrugada”, esclarece o produtor executivo, João Augusto Rodrigues.

Também será exibido Quindins, de David Mussel. O curta foi inspirado em um conto homônimo de Luis Fernando Veríssimo e fala da história de um casal de idosos. Ela, apaixonada por quindins, decide fazer uma promessa a Santo Antônio onde deixará de comer os doces preferidos caso o marido se recupere de uma doença.

CORREIO BRAZILIENSE - "Um filme não pode viver só de festival"

29/9/2011 - Ganhador duas vezes do Candango e vencedor do principal prêmio em Paulínia este ano, o diretor pernambucano defende o fim do ineditismo e cobra mais espaço para exibição

Yale Gontijo

"É ridículo cobrar ineditismo, tanto no exterior quanto dentro do país. O público de Gramado não é o mesmo de Brasília"" Todo mundo que faz filme quer que ele seja visto. A questão é que não existe uma política clara em relação a distribuição de filmes no país "

Não se sabe como este roteiro começou: se foi o Festival de Brasília que adotou Cláudio Assis ou se o diretor pernambucano, num rompante, se instalou na história da mostra de cinema. Inevitável, no entanto, notar uma identificação profunda entre o cineasta e o evento.

Premiado duas vezes com o Candango de melhor longa (por Amarelo manga, em 2002, e Baixio das bestas, em 2006), o cineasta se tornou um símbolo para o espírito de inquietação, às vezes radical, que o festival reafirma nas edições mais recentes. Em 2011, preferiu se aventurar em Paulínia — e saiu de lá com mais um prêmio de melhor filme, por A febre do rato.

Em entrevista ao Correio, o diretor de 51 anos fala sobre as barreiras enfrentadas por produções de baixo orçamento, os filmes brasileiros com sabor televisivo e a importância do circuito de festivais. Contrário à exigência de ineditismo para longas em competição, ele cobra uma rede de exibição mais ampla para as produções nacionais.

“Temos que mudar o que o povo vê”, afirma. Para chegar aonde o espectador está, Assis admite que os filmes comerciais têm o papel de formar plateias. “Mesmo não concordando com eles, entendo que cumprem um papel importante. Se 5% ou 10% desses espectadores quiserem ver filmes pequenos, serão bem-vindos.”

CORREIO BRAZILIENSE - Canela dos bonecos

29/9/2011 - Artistas da Rússia, da Espanha, da Argentina e do Brasil fazem a festa em Canela, no Rio Grande do Sul, de hoje até domingo, na vigésima terceira edição do Festival Internacional de Bonecos. Eles invadirão múltiplos espaços da cidade com espetáculos, oficinas e debates. Entre os destaques, está o russo Nicolai Zukov, considerado um dos mais importantes marionetistas do mundo. Ele apresentará o espetáculo Exclusive marionettes. A Argentina desembarca no evento com o grupo Leomar Teatro de Títeres, com o bem-humorado espetáculo Historias con plumas y cola de diablo. Para conferir a programação completa, acesse http://www.bonecoscanela.com.br.

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O ESTADO DE S.PAULO - Cine BH reverencia autores

Na 5ª edição, evento recebe em Minas 100 filmes, entre curtas e longas

LUIZ CARLOS MERTEN

29/9/2011 - Completa-se o ciclo da Universo Produções, em Minas. Em janeiro, a empresa realiza, em Tiradentes, o festival que abriga a Mostra Aurora, a mais representativa das novas estéticas e tendências do cinema brasileiro. Em junho/julho, em Ouro Preto, a tendência é inversa e a cidade histórica mineira abriga um festival voltado aos arquivos de filmes. E agora, no quadro do Cine BH, a mostra internacional de Belo Horizonte, a Universo realiza, pelo segundo ano consecutivo, o Brasil Cine Mundi, que traz ao País representante dos grandes festivais e dos principais fundos de cinema do mundo.

Por melhores e mais importantes que sejam os filmes da Mostra Aurora, seu radicalismo tende a assustar o mercado. Uma janela importante tem sido a distribuidora Vitrine, de Sílvia Cruz. O objetivo dos debates do Brasil Cine Mundi, segundo a coordenadora Raquel Hallak, da Universo, é justamente propiciar o intercâmbio para viabilizar esse cinema de autor no mercado do País e do exterior. A novidade deste ano é que o Cine BH realiza também uma mostra de filmes de meio ambiente. E onde melhor realizá-la do que no Instituto de Arte Contemporânea e Jardim Botânico de Inhotim?

Durante quase uma semana, até dia 4, o 5.º Cine BH deve exibir cerca de 100 filmes, entre curtas e longas, nacionais e estrangeiros. Toda essa programação ainda é enriquecida por debates e encontros que se realizam em diferentes locais da capital mineira, desde o Palácio das Artes até o Cine Santa Teresa, que todo ano é recuperado para abrigar uma das seções de lançamentos da mostra. E tudo tem por objetivo a contextualização do 'mercado'. Embora os puristas rejeitem a ideia, o cinema de autor, de arte, ocupa um nicho desse mercado e, como tal, precisa ser estimulado.

Uma referência desse cinema independente de qualidade tem sido a produtora (mineira) Vânia Catani, da Bananeira Filmes. Vânia será a homenageada deste ano e a Mostra Cine BH inaugura-se justamente com seu novo filme, O Palhaço, de Selton Mello. Outro homenageado será o roteirista italiano Tonino Guerra, colaborador de grandes diretores, como Michelangelo Antonioni. Tonino Guerra ganha retrospectiva que começa com Viagem Através do Tempo, Tempo di Viaggio, que ele também realizou, em parceria com Andrei Tarkovski.

Cine Escola, mostra Cine Mundi, mostra Contemporânea. A programação desdobra-se com o estudo de cases - foram selecionados seis projetos para avaliação de especialistas - e também pré-estreias de importantes filmes brasileiros, como Meu País, de André Ristum, premiado em Paulínia, e A Última Estrada da Praia, de Fabiano de Souza. O longa do crítico e cineasta gaúcho integrou uma das seções paralelas de Gramado, em 2010. Dialoga com o já mítico Estrada para Ythaca, dos irmãos Pretti e primos Parente, premiado em Tiradentes, no ano passado. O próximo filme do quarteto, O Último Trago, será um dos cases em estudo. Essa interligação, de mostras e filmes, faz a sedução dos eventos de Tiradentes, Ouro Preto e, agora, BH.

O ESTADO DE S.PAULO - Todo poder às mulheres

Registro do ritual de afirmação da feminilidade entre as índias é bem recebido na competição

LUIZ ZANIN ORICCHIO / BRASÍLIA

29/9/2011 - No primeiro dia de competição, o público do Cine Brasília curtiu o documentário As Hiper Mulheres, que já havia sido exibido no Festival de Gramado. Riu muito em certos trechos da projeção e aplaudiu no fim. De certo modo, essa reação é surpresa, embora o filme tenha sido bem recebido também em Gramado. Dirigido por Leonardo Sette, Carlos Fausto e Tukumã Kuikuro, tem por tema um ritual de afirmação feminina nas tribos do Alto Xingu. Mas o filme não entrega seu propósito de cara. No início, sabe-se só que se trata de ritual de cânticos indígenas, que passa de geração em geração e tem de ser recuperado por uma índia que está doente. Mais tarde, veremos que o ritual, de cantos belíssimos, se fundamenta na afirmação da sexualidade feminina. É um filme sobre a vida, memória e a transmissão problemática da tradição.

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Filme, digamos assim, etnográfico, em geral tem dificuldade com o público, mas, neste caso, os diretores conseguiram dar ao ritual mostrado uma dramaturgia atraente.

Do ponto de vista do público, o que conta a seu favor, além da beleza das imagens e da própria narrativa, é o conteúdo sexual embutido no tal ritual, o que o torna muito engraçado. As legendas também ajudam, traduzindo a linguagem indígena para termos coloquiais, o que contribui para aproximar a obra do público. Por fim, a edição é muito inteligente, dando uma dinâmica de ficção a um filme que teria aparência de documentário observacional, embora seja perceptível a encenação dos atores representando os próprios papéis. Leonardo Sette ganhou o Kikito de montagem em Gramado.

A sexualidade é um tema um tanto proscrito nos filmes sobre índios. Talvez porque prevaleça a imagem inconsciente do bon sauvage, que não deveria ser "conspurcada" por qualquer menção erótica. Na literatura é diferente. No romance Maíra, de Darcy Ribeiro, a sexualidade indígena, vista como tão natural, chama a atenção. Também em Quarup, de Antonio Callado, há uma espécie de elogio à utopia sexual indígena. Mas, no cinema, esse aspecto é ocultado. As Hiper Mulheres nos devolve esse aspecto reprimido e o faz pelo ponto de vista feminino, o que o torna ainda melhor. Na primeira visão, o filme é impactante. Revisto, parece um tanto redundante em certas passagens.

Na parte dos curtas, a melhor surpresa foi Ser Tão Cinzento, de Henrique Dantas, que exuma, de modo criativo, a história do filme Manhã Cinzenta e a do seu diretor Olney São Paulo, que foi preso pela ditadura e morreu de câncer pouco depois de solto, com 42 anos. Foi, de longe, o melhor programa da noite. O curta (quase um média, de 25 minutos) é envolvente do ponto de vista formal, mesclando imagens do filme de Olney tomadas em vários suportes com depoimentos sobre o caso. "Fiquei com medo no início da sessão que as pessoas não seguissem a história, mas acho que curtiram bem o filme", disse Dantas.

De fato, em termos de cinema narrativo, Ser Tão Cinzento representa um risco. Afinal, poucas pessoas conhecem o caso que motivou o diretor a fazê-lo. A história é a seguinte: em 8 de outubro de 1969, um Caravelle foi sequestrado pelo grupo armado MR-8 e desviado para Cuba. Consta que um dos sequestradores teria levado a bordo uma cópia de Manhã Cinzenta, de Olney São Paulo, e promovido uma sessão durante o voo para o grupo de passageiros sequestrados. Como consequência, o cineasta, que não tinha nada a ver com o caso, foi preso e as cópias do filme, apreendidas e destruídas.

Olney foi processado e torturado, até ser absolvido em 1972. Do seu filme, restou apenas uma cópia, escondida numa lata com título trocado na Cinemateca do Museu de Arte Moderna, informou ao Estado o filho do cineasta, Olney São Paulo Júnior. É a única que existe. Manhã Cinzenta incorpora peças documentais a uma ficção à la Terra em Transe, inclusive com imagens da Passeata dos Cem Mil, no Rio.

O outro curta concorrente, A Fábrica, de Aly Muritiba, investe no realismo para mostrar como a mãe de um detento consegue introduzir um celular na prisão para dá-lo ao filho. Uma virada improvável no fim da história põe todo um bom trabalho cinematográfico a perder.

Entre as inovações de Brasília, há a mostra separada de curtas de animação. Os primeiros apresentados foram Céu, Inferno e Outras Partes do Corpo, que venceu Gramado, e o ultrassintético, e engraçado, Bom Tempo, com um minuto e meio de duração. Céu e Inferno se deixa embalar pela poética radical de Lupicínio Rodrigues, num surpreendente e estético despedaçamento do corpo amoroso. Interessante.

FOLHA DE S. PAULO – CINEMA: 'Trabalhar Cansa' tem algo a dizer, mas peca pela falta de um projeto definido

INÁCIO ARAUJO, CRÍTICO DA FOLHA

30/9/2011 - "Trabalhar Cansa" é um título que sugere comédia, coisa que o filme em questão nem de longe é. Pode-se tentar defini-lo, antes, como um filme de busca.

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A trama não é propriamente original: ela cruza as histórias de um homem que perde o emprego no mesmo instante em que sua mulher abre um pequeno supermercado -um desses destinados a serem engolidos pelas grandes redes ou ir à falência.Ambos terão pela frente fartas dificuldades, é óbvio, centradas talvez nas duas figuras mais importantes na vida da classe média: a filha e a empregada. Poderemos pagar a escola? Poderemos manter a empregada?Essas duas questões, note-se, não são formuladas explicitamente no filme: nós as inferimos da sucessão de imagens, da importância que esses personagens ocupam durante a crise familiar. Então "Trabalhar Cansa" começa por não ser um desses filmes que verbalizam tudo: faz-se junto ao espectador. Um sopro de modernidade no jovem cinema paulista.De resto, os autores, em vez de se afundarem no habitual drama psicológico-novelesco, buscam outras saídas, mais interessantes. Por um lado, o supermercado nos projeta num ambiente de mistério vizinho ao terror.Como se, em vez de se fixar em fatos reais, "Trabalhar Cansa" enveredasse pelos fantasmas de sua proprietária. Por outro, a situação do marido é o contraponto mais palpável desse horror.Também a interpretação dos atores busca se desviar do naturalismo do nosso "cinema industrial", buscando uma neutralidade que evoca o cinema de Robert Bresson. Nesse particular o filme é desigual, alternando momentos em que a neutralidade é efetiva com outros em que os atores parecem pouco convencidos do método.Se é possível dizer que o drama da mulher acaba tendo mais interesse do que o do marido, também se pode dizer que esse desequilíbrio é compensado pela cena final do marido, muito forte.Em poucas palavras, "Trabalhar Cansa" é um filme que, mesmo se ainda não tem definido um projeto claro, aponta para algo de novo e com algo a dizer, mas que ainda não parece ter tomado sua forma final. A conferir.

CORREIO BRAZILIENSE - Querido estranho

Na segunda noite de competição, o longa paulista Trabalhar cansa instiga o público com uma combinação inusitada de drama social, horror e comédia

Tiago Faria e Yale Gontijo

30/9/2011 - Primeiro, o riso. Logo em seguida, o susto. Diante das surpresas de Trabalhar cansa, longa-metragem exibido na segunda noite da mostra competitiva do Festival de Brasília, as duas reações às vezes se embaralhavam. Escolher apenas um gênero cinematográfico para definir a criação da dupla Juliana Rojas e Marco Dutra parecia inviável. Mas, sem abandonar poltronas, o público do Cine Brasília aceitou a provocação dos diretores paulistas e acompanhou com curiosidade o concorrente de maior prestígio internacional na disputa por Candangos. Exibida na mostra paralela Um Certo Olhar (no Festival de Cannes) e finalista do prêmio Sundance/NHK, a produção oscila entre o realismo social, o horror e a comédia dark. Trata, acima de tudo, de um tema que é familiar aos espectadores: os tormentos da classe média.

“A estranheza do filme às vezes não é tão bem recebida pelas pessoas”, admitiu Marco Dutra durante o debate de ontem, no Hotel Kubitschek Plaza. “No início, tínhamos uma sinopse sobre relações de trabalho.

Mas, como gostamos de elementos bizarros, desenvolvemos o argumento, inserindo morbidez na história”, comentou. A combinação inusitada, no entanto, não afugentou os brasilienses. “As pessoas riram nos momentos em que o humor era o forte, se assustaram...”, observou Juliana Rojas, logo após a projeção. “Senti que o público embarcou na nossa ideia, e percebeu as nuances de suspense, drama e comédia”, avaliou Dutra, que exibiu em Brasília, há seis anos, o curta Concerto número 3.

O duo, estreante na competição de longas, instigou a plateia ao mergulhar pacientemente no inferno doméstico de um casal (Helena Albegaria e Marat Descartes) ameaçado pelos assombros do desemprego e das relações entre patrão e funcionário. Segundo Juliana, o tom medonho de algumas cenas foi encenado sem baques, numa progressão tranquila às experiências dos curtas da dupla, como As sombras (2009) e Um ramo (2007). “Os elementos de terror provocam um outro tipo de reflexão. Na minha família, de ascendência indígena, muitas histórias eram contadas. Aprendi a lidar de uma forma natural tanto com o realismo quanto com a fantasia”, explicou a diretora. “O público da cidade é muito exigente, gostei muito da reação no fim”, comentou a produtora Sara Silveira.

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PrestígioNa apresentação dos filmes da noite, foi Sara quem dominou a cena. Habitué do Festival de Brasília, onde exibiu os longas vencedores É proibido fumar e Bicho de sete cabeças, ela afirmou que fez questão de inscrever Trabalhar cansa na capital — e que, para não ficar de fora da edição, adiou a data de lançamento do filme, que estreia logo após o evento. Exibido no Festival de Paulínia “por questões contratuais” (foi coproduzido pelo polo cinematográfico), o longa venceu o troféu de melhor som e um prêmio especial do júri. “Amo este festival, amo este público. Brasília tem um negócio engraçado, sempre que subo aqui, me tremo toda. Este é um dos lugares que mais respeito, o meu templo”, comentou a produtora, aproveitando o momento para um apelo político. “Fiquei muito feliz quando vi Brasília protestando contra a corrupção no dia 7 de setembro”, elogiou, sob aplausos.

Apesar do entusiasmo nos discursos, o filme não deixou o Cine Brasília com estatura de franco favorito. Para uma parte da imprensa que compareceu à sala da Asa Sul, a exibição provocou uma inevitável sensação de déjà-vu — um grupo de jornalistas que já havia conferido o filme abandonou a sessão logo após os curtas. A reprise, no entanto, não incomodou o ator Marat Descartes, que só começou a analisar o filme depois das sessões de Cannes e de Paulínia. “É interessante. Cada vez que assisto, enxergo camadas que eu não havia reparado”, analisou o intérprete do personagem Otávio.

Curtas em altaMais do que o longa da noite, no entanto, foi o curta paranaense Ovos de dinossauro na sala de estar que conquistou a maior adesão do público — os aplausos mais fortes da edição, até aqui. O documentário retrata, em planos fixos, o depoimento da norueguesa Ragnhild Borgomanero, empenhada em zelar pela memória do marido, Guido, um colecionador de fósseis. As declarações de amor da personagem, pronunciadas com sotaque carregado, provocaram risos, comoção e palmas em cena aberta — e o curta saiu da sessão como forte candidato ao Candango de júri popular. “É um filme difícil, com takes longos. Fiquei muito feliz e emocionado com a forma como ele foi recebido”, afirmou o diretor Rafael Urban. As animações 2004 e Moby Dick não empolgaram.

Num tom mais sóbrio, o documentário A casa da vó Neyde surpreendeu pela franqueza: ele expõe a relação entre a avó do diretor, Caio Cavechini, e o tio, viciado em crack. “Não é um filme simples, mas ouvi umas fungadas”, comentou o cineasta, ao fim da projeção. “A ideia não era fazer um curta, mas gravar essas imagens para convencer o meu tio de que a situação dele havia chegado a um ponto insustentável. Mas aí percebi que era melhor dividir do que guardar essas aflições”, afirmou. Não são todos, no entanto, que assimilam com tranquilidade o choque provocado por cenas em que o tio de Caio usa crack. A mãe do diretor, apesar de dar o curta de presente para conhecidos, ainda não teve coragem de vê-lo. E já disse a ele que nunca vai assistir.* Colaboraram Maíra de Deus Brito e Mariana Moreira

CORREIO BRAZILIENSE - À procura da verdade

Premiado com sete Candangos em 2005, o baiano Edgard Navarro volta à cidade com seu segundo longa-metragem, O homem que não dormia, idealizado há mais de 30 anos

FELIPE MORAES

30/9/2011 - Ver O homem que não dormia projetado na tela do Cine Brasília resolve uma angústia que perseguia o baiano Edgard Navarro há décadas. É apenas o segundo longa do diretor de 62 anos, que, em 2005, venceu sete prêmios com Eu me lembro.

E, ele avisa, pode muito bem ser o derradeiro. “Sinto que esse filme é o último representante de um ciclo, que termina uma busca. Não a minha busca na vida, isso só termina quando eu morrer. Agora, quero buscar de outra forma”, reflete. Navarro faz perguntas com a câmera desde 1976, quando começou a rodar seus primeiros “rabiscos” em Super-8. Com o título que concorre ao Candango e será apresentado ao público hoje à noite, ele acredita ter obtido as respostas de que precisava.

Antes mesmo de entrar numa extensa carreira de curtas e médias-metragens — como Porta de fogo (1985) e Superoutro (1989) —, o realizador já tinha o roteiro de O homem que não dormia pronto. Em 1978, com 28 anos, elaborou o primeiro argumento, fortemente influenciado por escritos do psiquiatra

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Carl Jung: uma fantasia em que cinco pessoas, moradoras de um humilde vilarejo, “sonham o mesmo sonho ou o mesmo pesadelo”. A vinda de um forasteiro de intenções desconhecidas à cidadezinha confronta consciências e traz à tona um histórico de crueldades cotidianas.

A trama, aponta Navarro, não é tão autobiográfica como Eu me lembro, mas é motivada por mitos que ele conhece há décadas. “Desde a minha infância, ouço falar de botija de ouro enterrada e que quem enterrou foi amaldiçoado, não morreu direito. E precisava de alguém que desenterrasse isso. O filme é criado a partir de uma coisa que já existe no imaginário popular, o tesouro enterrado, para falar de um tesouro que, de alguma forma, o ser humano possui, que tem a ver com a verdade da sua vida”, delineia.

No limiteA descoberta dessa verdade pelos personagens é impedida pelo que o baiano chama de má educação: uma hipocrisia necessária, que tolera os defeitos do outro até certo ponto. “Para viver em grupo, tem sempre que fazer um teatro, um disfarce”, exemplifica. Na história, as pessoas estão a ponto de perder as estribeiras por conta das mentiras. “Elas estão no limite do suportável, estão ficando fora de controle. O filme pega essa tensão dramática, esse pressuposto de uma doença psicológica que é coletiva, mas para falar de uma doença da sociedade em que vivemos, dos mundos que estão próximos de nós. O mundo humano criado em torno das pessoas as escraviza. Algumas delas se rebelam até inconscientemente”, analisa.

Apesar de situado nos dias atuais, no distrito de Igatu, “umbigo” da Chapada Diamantina, a película revela uma carga profunda de autoridade política e religiosa. É como se o poder de uns poucos transformasse a maioria em meros “ordeiros”. Navarro não tem medo, portanto, de dar vazão a situações que talvez atinjam em cheio o espectador. “O filme não faz concessão. Vai fundo ou pretende ir fundo em coisas que são incômodas. Nas minhas propostas, sempre trabalhei com coisas que incomodavam muito. Essa coisa do excremento, do palavrão, da sexualidade exacerbada”, justifica.

O diretor ainda não sabe se larga o cinema em definitivo. Pode rumar para a literatura ou para a poesia — blog, nem pensar, porque acha que não tem disciplina suficiente para alimentar com regularidade uma página pessoal. Mas, livre do projeto que o “impediu de ser feliz”, mas que o fez encontrar alguma paz, sente que pode fazer o que quiser, com a leveza criativa e também caótica dos primeiros trabalhos. “Quero continuar com a jovialidade de sempre”, afirma. “É como se eu tivesse sido liberado de uma sentença. O que quero é fazer filme ou não fazer filme. Viajar ou não viajar.”

O “primeiro longa”Talento demais (1999), documentário de 70 minutos sobre o cinema baiano, foi rodado em formato de vídeo e teve distribuição limitada. Exibido em versão reduzida (50 minutos) no Canal Brasil, o filme seria, segundo Navarro, mais um experimento de avaliação e crítica da produção regional do que um longa-metragem oficial. “É um jogo de palavras com o cinema baiano, que tem talento, mas está lento demais”, brinca. “Fala sobre política audiovisual. É uma resenha histórica desde os primórdios: ciclo baiano, Glauber Rocha, as políticas de governo. Ainda estávamos sob o regime de Antônio Carlos Magalhães. Fazia muito tempo que não botavam grana nenhuma. Isso ajudou a alavancar, com o movimento de classe, um novo momento, em 2001, que premiaria o primeiro longa depois de uma grande ausência. É aí que entra o Eu me lembro”, recapitula.

CORREIO BRAZILIENSE - Sutileza em meio à barbárie

Aplaudida educadamente pelo público, a estreia mundial do silencioso Hoje, sobre as sequelas da ditadura militar, marca o retorno de Tata Amaral a Brasília após 15 anos

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Denise Fraga, Tata Amaral e Cesar Troncoso: apreensão antes do lançamento no Cine Brasília

1/10/2011 - Quando competiu em Brasília pela última vez, há 15 anos, a cineasta Tata Amaral foi recebida com um turbilhão de aplausos e vaias. A reação do público ao longa Um céu de estrelas parecia proporcional ao impacto de um drama violento, nervoso, sobre a tragédia de um casal confinado numa casa da periferia de São Paulo. A mais recente criação da diretora, Hoje, reprisa muitas das características daquele filme de 1996: foi filmada num cenário único, diminuto (um apartamento), e narra o embate entre um homem e uma mulher. Mas, se antes o tom era de uma agressividade ruidosa, desta vez os silêncios predominam. O que talvez explique a forma como ele foi recebido pela plateia do Cine Brasília: com aplausos comedidos. “Pelo menos desta vez não teve vaia”, brincou Tata, ao fim da sessão.

Com Um céu de estrelas, a paulistana venceu o Candango de melhor direção. Hoje chegou à 44ª edição do festival como um dos favoritos ao prêmio de melhor filme. Mas, ainda que elogiado pela imprensa, não impressionou o público — a contenda pelo troféu principal da mostra ainda parece indefinida, principalmente quando se leva em conta os humores da plateia. Até agora, nenhum filme mereceu uma torcida apaixonada dos brasilienses — à exceção do curta Ovos de dinossauro na sala de estar, do Paraná, exibido terça-feira. Entre os longas, o que mais aqueceu o termômetro popular foi o documentário As hiper mulheres, que abriu a competição (mesmo assim, sem muito barulho).

Dos males, no entanto, o menor: no discurso de apresentação, Tata previa uma acolhida menos generosa. “Hoje é um filme silencioso, e esta é uma sala grande... Tenho medo que vocês se aborreçam e saiam”, confessou. A debandada não chegou a ocorrer: por 90 minutos, o público não se dispersou, atento ao encontro entre uma ex-guerrilheira política (Denise Fraga) e o companheiro de luta (Cesar Troncoso). Perseguido e desaparecido durante a ditadura militar, o homem retorna no dia em que ela se muda para um “velho novo” apartamento, comprado graças à indenização garantida pelo governo às viúvas da repressão. Para Denise, o tema político do longa seduziu o público, mesmo que narrado com lentidão e sutilezas dramáticas. “É um filme complexo e rico”, definiu.

E totalmente inédito. Um “detalhe” que a equipe do longa fez questão de sublinhar. Numa edição que provocou polêmica ao tornar mais flexível o critério de ineditismo para longas, a sessão de Hoje comprovou o prestígio das estreias. Além de ter atraído um quórum significativo de jornalistas (muitos deles deixaram para desembarcar em Brasília na terceira noite de mostra), o lançamento espichou uma longa fila no Cine Brasília — a reprise, às 23h30, também ficou cheia. “É a primeira sessão mundial do filme. Só foi visto pelo diretor de fotografia (Jacob Solitrenick). A cópia estava na Itália, chegou hoje pela manhã”, revelou a cineasta. Ao fim da projeção, Denise Fraga abraçou Tata Amaral e perguntou à diretora: “Ficou satisfeita?”

“Ainda estou muito nervosa, emocionada, sob impacto do filme”, comentou a cineasta, ao Correio. Também parecia faltar palavras ao crítico Jean-Claude Bernardet, um dos roteiristas do longa. “Por enquanto, só tenho uma certeza: a Denise está extraordinária. Em São Paulo, ela é conhecida muito pelo trabalho cômico. Mas, no filme, ela mostra que é uma atriz febril, agitada, perfeita para o papel”, elogiou o escritor, que venceu o Candango de melhor ator há dois anos por FilmeFobia. Bernardet

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afirmou que não leu o livro em que o filme se inspira: Prova contrária, de Fernando Bonassi. “Pedi para que Tata me contasse a história. Era preciso entender como ela enxergava a trama. Daí montamos a estrutura do filme”, lembrou.

Troca de papelNo debate de ontem, no Kubitschek Plaza, Tata reconheceu que o filme “só poderia ter sido feito no Brasil”. “Nós não identificamos nem punimos nossos torturadores. E isso aparece de uma forma quase imperceptível na tela”, explicou. Denise Fraga disse ter sido surpreendida com o convite para interpretar Vera, protagonista de um drama sobre um tema delicado, a que não estava familiarizada. “Quando ela me chamou, perguntei: você vai colocar uma atriz cômica para fazer um papel dramático, dona Tata?”, contou Denise, que já sai como principal concorrente ao Candango de melhor atriz. “A Tata tinha uma convicção de que o passado é presente. Queríamos nos contrapor a toda uma cinematografia sobre a ditadura militar”, explicou. “É a personagem mais complexa que já fiz. A diferença entre o cômico e o dramático não faz muito sentido para mim. Acredito no humor como elemento transgressor”, definiu.

O ator uruguaio Cesar Troncoso, que esteve em Brasília por 20 dias filmando Faroeste caboclo, parecia feliz com a aceitação da plateia brasiliense. “Aqui, você sente o público, e cinema é isto: um trabalho de comunicação”, observou. “Gostei do tipo de filme. Acho que é bom e necessário. Tem uma neutralidade no ponto de vista, uma compreensão de erros e circunstâncias. É um filme humano, e não político”, avaliou.

Entre os curtas da noite, o registro delicado também pontuou o gaúcho De lá pra cá, de Frederico Pinto, e a animação mineira Quindins, de David Mussel e Giuliana Danza. Não foi, contudo, o tom monocromático de uma noite que ainda enveredou por cenas de comédia (a animação paraense A mala, de Fabiannie Bergh) e de “noir” (o baiano Premonição, de Pedro Abib). “Estava com muito medo de ser vaiada, o público daqui é um dos mais verdadeiros. Mas fiquei encantada com os aplausos”, afirmou Danza, de Quindins. “O curta se encaixou perfeitamente com as outras produções. Foi um dos dias mais coerentes desta edição. Todos os filmes trabalharam com o silêncio e as relações humanas”, resumiu.

Colaboraram Mariana Moreira, Felipe Moraes e Maíra de Deus Brito

CRÍTICA// CurtasQuindins (animação), de David Mussel e Giuliana Danza. Apesar da combinação cuidadosa de diferentes técnicas da animação, o uso exagerado da trilha sonora dá um arremate empolado, “over”, a esta adaptação de um conto de Luis Fernando Verissimo. (TF) **

A mala (animação), de Fabiannie Bergh. A “piada interna” do filme — sobre a linha de ônibus favorita da boemia paraense — é ilustrada com efeitos criativos. A duração curtíssima, no entanto, atropela a trama, que passa na tela sem deixar muitas lembranças. (TF) **

Premonição, de Pedro Abib. Um noir avernizado, muito bem acabado, porém oco: o que sobra em preciosismo técnico (os letreiros finais, intermináveis, poderiam concorrer ao prêmio de animação) falta em fluência narrativa. (TF) *

De lá pra cá, de Frederico Pinto. Entre idas e vindas silenciosas, o curta consegue definir, com certo rigor, uma estrutura circular que serve de metáfora para a solidão dos personagens. O desfecho, no entanto, trivializa uma boa ideia (TF) **

CORREIO BRAZILIENSE - Código de família

Em seu primeiro longa-metragem de ficção, Meu país, André Ristum mergulha nas próprias origens para solucionar uma história de crise entre irmãos. O filme é a atração de hoje da mostra competitiva

Ao lado do tipo de comunhão pretendida no longa-metragem Meu país — “uma aproximação em que o espectador pudesse sentir o batimento cardíaco das personagens” —, o cineasta André Ristum tem ciência de que se trata de “um filme de atores e para atores”. A primeira incursão dele na ficção, orçada em R$ 4,2 milhões, além das filmagens por São Paulo, Paulínia e arredores, exigiu uma estada até em Roma. Tamanha estrutura garantiu a concretização, em cinco semanas, de um projeto

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nascido nos anos 1990 e que contou com adesões de Rodrigo Santoro, Cauã Reymond e Débora Falabella. “Meu país significa minhas raízes, minha família, minhas origens”, explica, ao falar da fita que será exibida na noite de hoje, concorrendo a prêmios Candango do 44º Festival de Brasília.

Se percebe o cinema como “espetáculo” que estimula o público às sensações prazerosas, André Ristum, 39 anos, colheu indiretos gritos de “bravo!”, como resposta de espectadores que já lhe desabafaram: “Nossa, acabei de ver seu filme e fiquei com vontade de ligar pro meu pai que não vejo faz muito tempo”. A sensação do dever cumprido, pelo teste na mostra competitiva do 4º Festival de Cinema de Paulínia, vem com certo travo: tratando de “sentimentos, pessoas e relacionamentos”, o cineasta topa com a lembrança do pai, Jirges, um comunista perseguido pelo regime militar e que passou 12 anos exilado na Europa. De volta ao Brasil, morreu em 1984.

Meu país, vale ressaltar, projeta na morte do personagem Armando uma possibilidade de união entre os filhos dele, Marcos (Santoro) e Tiago (Reymond). Sempre emblemático, Paulo José (que foi amigo de Jirges) comparece, à frente de Armando. “Era questão de densidade: a participação dele é pequena, mas deixa marca no filme. A trama trata de histórias da família de Armando, com ações em que a comunicação verbal não é muito exacerbada”, explica o realizador.

Atores entreguesDescrente de “rivalidade fraticida”, como brinca em torno do concorrente Marco Dutra (codiretor de Trabalhar cansa, também no atual festival) e coautor do roteiro de Meu país, Ristum ainda dá amplo crédito ao colaborador argentino Octavio Scopelliti, hábil na linha mais emotiva da trama “que busca o sensível dos relacionamentos”.

Admirador declarado da dupla Santoro e Cauã, intérpretes de irmãos na tela, Ristum confirma a aplicação milimétrica e concentração extrema do primeiro e a superintuição seguida por Cauã. “Santoro é intenso na preparação: debatemos até o que estava no copo da cena e de que forma ele beberia”, diverte-se. “Já Cauã é um talento explosivo. Ele acrescentou muito, trazendo uma graça que é dele. Tiago (personagem que vive) é um desregrado, ‘mas do bem’, e isso vem do coração dele que emprestou muita humanidade”, explica.

Para a plasticidade do registro de Meu país, o diretor optou pela câmera na mão do diretor de fotografia Helcio “Alemão” Nagamine (de Querô e Terra vermelha), mas “nada esquizofrênica ou agitada”, ressalva. A textura diferenciada das imagens foi devido ao salto numa das etapas de revelação do material captado em Super 16 (repassado para 35mm). “Conseguimos imagens mais densas, mais granuladas e mais contrastadas”, diz.

Já no enredo, Meu País deixa entrever aspecto forte e pessoal de Ristum — nascido em Londres (“mas, desde sempre, brasileiro”). Criado na Itália, até os 16 anos, foi somente aos 24 que ele “fincou as raízes da forma que precisava ser”. No filme, o personagem Marcos (Santoro) se percebe numa sinuca de bico quando, ao regressar para o Brasil (depois de laços firmados na Itália) para enterrar o pai, descobre uma necessidade vital para a condição da meia-irmã, até então desconhecida, Manuela (Débora Falabella).

Desafio de atrizAssumindo uma personagem de imenso risco de exposição, pela condição da dose de limitação de QI, Débora Falabella “entrega uma atuação brilhante, que não passa da linha tênue implicada”, na definição do diretor. Ele fez questão de traçar o perfil de Manuela com psicólogos, psiquiatras e neurologistas. “Era a personagem mais delicada de ser construída. No quadro de pessoas especiais, optamos pelo caminho de fazê-la totalmente infantilizada”, explica.

Do primeiro longa assinado, Tempo de resistência — documentário que aproximou o cineasta da história de vida do pai que sofreu efeitos da ditadura, em fase que o “marcou profundamente” —, André Ristum tirou o aprendizado da “paciência” para o tempo necessário à finalização de Meu país. A mesma sabedoria que fez ele reduzir em quatro horas o filme de estreia (de um formato inicial) foi novamente aplicado no corte final de Meu país, diminuído em meia hora, em relação ao primeiro corte.

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“Considero O prisioneiro da grade de ferro um dos melhores filmes brasileiros dos últimos 20 anos. Daí, ter chamado Paulo Sacramento (diretor do longa e renomado editor) para trazer sensibilidade na montagem. Em sintonia, ele deu o tempo correto para cada plano”, observa.

Outro ponto delicado da fita, a trilha sonora — elemento que o diretor não pretendia que “atravessasse o filme” — foi resolvida pela “articulação” do instrumentista brasiliense Patrick de Jongh. Ele pontuou muitos momentos com uma clarineta e um piano, além de ter trabalhado numa linha de influências que vai de Ennio Morricone a Ryuichi Sakamoto (habitué das trilhas de Bernardo Bertolucci).

Irmã de Patrick e mulher de André Ristum, Stephanie de Jongh se desdobra na produção: além de interpretar uma jogadora de poker, a postos para arruinar a vida de Tiago, ela dá o tom para Quarto vazio, música que criou. Leveza de valsa, escrita por Ana Carolina e Guinga, também está em Meu país. Complementos para “a sintonia” com os espectadores (“é incrível estar diante do público brasiliense”) pretendida pelo cineasta que ganhou a certeza do “corpo” presente no Brasil, uma vez que “de alma” sempre se considerou brasileiro.

O ESTADO DE S. PAULO - Filmes de bom tamanho

Alguns curtas-metragens e animações já se impõem como ótimas atrações nesta 44ª edição do evento

Luiz Zanin Oricchio

(01/10/2011) Enquanto a competição de longas vai rolando, alguns curtas já se impõem como boas pedidas desta edição do Festival de Brasília. Um deles é o gaúcho De Lá Pra Cá, de Frederico Pinto, que resolve toda a sua dramaturgia sem um único diálogo, isto é, valendo- se de meios exclusivamente cinematográficos.

A história é a de um casal que mal se encontra, por força das profissões de cada um. Ele é segurança e trabalha de noite; ela é faxineira e moureja de dia. Têm uma filha pequena. Cruzam-se apenas na estação de metrô. O homem, Ciro,é interpretado por um ator marcante, o uruguaio Horacio Comandulle, protagonista de Gigante, filme premiado em Gramado.De Lá Pra Cá é uma pequena lição de cinema. .

O público também curtiu muito o incisivo Casa da Vó Neyde, de Caio Cavechini, que trabalha em registro muito diverso. Caio relata o caso de um tio, viciado em crack, que vive ainda com a mãe, a tal vó Neyde do título. Registra o processo de internação do parente e a tentativa da velha senhora de reconstruir a vida, convivendo com o trauma de ter um filho viciado em drogas.

O centro da trama é a casa da avó, que era palco de encontro da família, o local das festas e, portanto, deve ter um lugar cativo na imaginação do diretor. Imóveis não são lugares neutros. Ficam impregnados das pessoas que lá viveram e das histórias que aconteceram. Dos dramas e das alegrias. Desse modo, o foco do filme oscila entre o tio e a casa onde ele habita, que está prestes a ser vendida. O filme é de um naturalismo muito cru e valoriza se pela capacidade de exposição de um problema familiar. Toca as pessoas à medida que o problema se alastra pela sociedade.

Também têm chamado a atenção algumas animações que, neste ano, recebem premiação à parte e têm um júri apenas para elas. Até agora, a de maior sucesso é Moby Dick, de Alessandro Corrêa, com seu sutil trabalho decolagem de imagens, muito bonito e de imaginação fértil.

Alessandro explicou que resolveu fazer o filme apenas com a lembrança que tinha da leitura de infância do clássico de Herman Melville, uma edição condensada para o público infantil. Fez bem, porque assim pôde misturar a história do baleeiro fanático, Ahab, coma fábula de Jonas e a Baleia.E transformou o vingativo personagem de Melvillen um ser apaixonado, cujo único intuito é reencontrar a mulher amada.O filme evolui de surpresa em surpresa pelo que o personagem vai encontrando nas entranhas do monstro.

São filmes pequenos, para grande nenhum botar defeito.

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DO PLANALTO Ausência Cacá Diegues foi a nova defecção do seminário sobre tendências do cinema brasileiro. Alegou razões de ordem médica e enviou um texto muito consistente para ser lido no congresso.

Cacetada Cacá não veio em pessoa, mas o texto que mandou é uma verdadeira cacetada. Sobretudo na crítica à burocracia “burra, autoritária e imobilizante”, que ameaça paralisar um momento “alvissareiro” do cinema nacional.

FOLHA DE S. PAULO - Músicos eruditos estrelam reality show na TV Cultura

"Pré-Estreia" tem início amanhã; jovens disputam R$ 100 mil em prêmios

Com direção artística de João Maurício Galindo, concurso pretende estimular estudos e compra de instrumento

MARCIO AQUILESCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA

1/10/2011 - Com o objetivo de popularizar a música clássica e premiar jovens talentos, "Pré-Estreia" tem início amanhã, às 16h, na TV Cultura.

O novo programa traz apresentações solo ou em pequenos conjuntos, em vez de colocar os candidatos com grandes orquestras, como acontecia no antigo "Prelúdio".

O maestro João Maurício Galindo, 51, diretor artístico e apresentador do programa, destaca a premiação como um dos aspectos interessantes para os candidatos.

"Os prêmios em dinheiro podem ser um estímulo para o jovem estudar no exterior ou para conseguir comprar um instrumento. Um fagote de alto nível, por exemplo, pode custar até R$ 90 mil."

A consultora musical Claudia Toni, 56, reforça a necessidade de um espaço maior para esses artistas nos meios de comunicação.

"Os jovens da música popular já têm bastante espaço na TV. Queremos mostrar que os da erudita são pessoas comuns. A maior parte vem das classes C e D. Música é profissão de pobre no Brasil."

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Para competir com os programas de auditório das outras emissoras, o "Pré-Estreia" tem uma cara bem diversificada. O público presente nas gravações conta com adultos, crianças, músicos, freiras e escoteiros.

A repórter Renata Simões viajará pelo Brasil para visitar os candidatos em suas cidades e mostrar seu cotidiano. "São jovens que usam jeans e camiseta. Como seus colegas, fazem coisas normais. Não são nerds!", diz Toni.

No programa de amanhã, a disputa será entre o percussionista Carlos dos Santos, 20, a cantora Daniele Nastri, 22, e o clarinetista Felipe Reis, 20.

Santos cursa música na USP, mas suas peças já foram executadas pela Orquestra Jovem de São Paulo. Nastri é bacharel em canto pela Universidade Federal de Goiás e interpreta árias de óperas, canções brasileiras e "chansons" francesas.

Reis se apresentou em diversos festivais e atualmente integra a Banda Sinfônica do Estado de São Paulo.Os três estavam tranquilos em relação à apresentação, mas não escondiam a ansiedade com a avaliação do júri.

"Será bastante difícil julgar instrumentos de tradições diferentes", diz Santos.

Já para Nastri, a diferença ficará na habilidade técnica. "Será fundamental na escolha dos jurados", afirma.

O repertório dos três inclui composições de Radamés Gnattali (1906-1988), Claude Debussy (1862-1918) e Francis Poulenc (1899-1963).

NA TVPré-EstreiaEstreia do programaQUANDO amanhã, às 16h, na CulturaCLASSIFICAÇÃO livre

FOLHA DE S. PAULO - Série procura rever a história do "Brasil nação"

País participa de projeto continental sobre a América Latina independente

Lilia Moritz Schwarcz dirige coleção de seis volumes, que abrange trajetória do país de 1808 até 2010

RAQUEL COZERDE SÃO PAULO

1/10/2011 - Ao desembarcar no Brasil com a corte portuguesa, em 1808, o príncipe d. João 6º encontrou um mercado interno dinâmico, com taxas expressivas de crescimento de produtos como farinha e charque.

A ideia de autonomia econômica na colônia, decorrente de estudos recentes, contraria a tradicional interpretação de um mercado que só despejava riquezas no exterior.

Ela é defendida pelo sociólogo Jorge Caldeira no ensaio que lhe cabe no primeiro dos seis volumes da série "História do Brasil Nação", que a Objetiva lança de hoje a 2013, dentro de um trabalho continental da Fundación Mapfre.

Sob o nome "América Latina na História Contemporânea", o projeto da instituição espanhola ambiciona traçar de forma acessível e inovadora a trajetória do continente desde as independências locais. Por ora, com o Brasil, dez países já têm suas edições.

"A meta é que seja referência na academia e para o público geral", diz Pablo Jiménez Burillo, idealizador da série.

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A direção aqui ficou com Lilia Mortiz Schwarcz, que coordena um dos volumes. Alberto da Costa e Silva, José Murilo de Carvalho, Angela de Castro Gomes, Daniel Aarão Reis, Boris Kossoy e Vladimir Sacchetta dividem-se nas coordenações dos outros volumes, incluindo um iconográfico.

Cada livro abrange algumas décadas e inclui textos de cinco especialistas, divididos entre sociedade, política, internacional, economia e cultura.

Sem notas de rodapé, para não restringir o público. "Temos rica tradição em obras sobre o Brasil escritas por historiadores para público leigo e interessado", destaca Roberto Feith, editor da Objetiva.

Está certo que, nos últimos anos, o interesse maior coube a obras de jornalistas como Laurentino Gomes, que vendeu 1,2 milhão de cópias de seus "1808" e "1822". "Ele mesmo diz que o que faz não é pesquisa, é compilação", diz Lilia, que ressalta o fator coletivo e olhares inovadores entre os diferenciais da coleção.

Inovador até para historiadores da série. Coordenador do volume 1, Alberto da Costa e Silva, por exemplo, não entende como pode o quinto volume, coordenado por Daniel Aarão Reis, chegar até 2010.

"A história começa quando a geração se acaba", argumenta, ao que o colega rebate: "Muitos colegas acham que a história termina no fim do século 18, então toda nossa coleção está sob crítica."

FOLHA DE S. PAULO - Brasília revê a ditadura sob um viés intimista

"Hoje", de Tata Amaral, é primeiro longa inédito exibido na competição

No filme, mulher compra apartamento com indenização por sumiço do marido, que aparece e reabre feridas

AMANDA QUEIRÓSENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

1/10/2011 - A competição do Festival de Brasília começa a esquentar. Após exibir títulos já vistos em mostras país afora, o evento apresentou, enfim, seu primeiro longa inédito.

Fazendo jus à tradição política que o acompanhou em 44 anos de existência, o evento exibiu, anteontem, "Hoje", de Tata Amaral, que pôs o fantasma da ditadura brasileira na tela do Cine Brasília.

Inspirado no livro "Prova Contrária", de Fernando Bonassi, apresenta o drama de Vera, que compra apartamento com o dinheiro recebido de uma indenização pelo desaparecimento de seu marido.Acontece que, no dia em que se muda para o lugar, ele reaparece e reabre feridas.

Com roteiro de Jean-Claude Bernardet, Rubens Rewald e Felipe Sholl, "Hoje" tem um pé no teatro, investindo em um texto costurado a partir dos diálogos do casal, cuja ação ocorre inteiramente dentro de um apartamento.

Para Amaral, a ideia era investir no relato. "A mim, interessa muito como isso vivifica a narrativa.

Quando você conta algo, aquilo se torna uma verdade", diz.

A trama se baseia nas lembranças de Vera e mistura presente e passado, confundindo o espectador e fazendo-o rever a ditadura por um viés mais intimista.

"Nós, brasileiros, nos esquecemos disso, mas não colocamos um ponto final nessa história", afirma ela, justificando a escolha do tema.

Como em todos os seus filmes, Amaral dá enfoque especial às personagens femininas. A protagonista da vez é vivida por Denise Fraga.

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Conhecida por seu trabalho cômico, faz uma virada dramática ao lado de seu par, o ator uruguaio Cesar Troncoso ("O Banheiro do Papa").

"É uma personagem torturada em busca de reestruturar sua vida, que está dividida entre esquecer e não esquecer", diz Fraga, forte na disputa de melhor atriz.

"Hoje" custou R$ 1,8 milhão e marca a volta da diretora a Brasília 14 anos depois de ser premiada em direção por "Um Céu de Estrelas".

A jornalista AMANDA QUEIRÓS viajou a convite do festival.

FOLHA DE S. PAULO - Seminário pede visão industrial para setor

DA ENVIADA A BRASÍLIA

1/10/2011 - Com a competição ainda engatinhando, o grande foco do Festival de Brasília se voltou, nos primeiros dias, ao seminário "Novas Perspectivas do Cinema e do Audiovisual Brasileiro".

No evento, que terminou ontem reunindo personalidades da cadeia produtiva do cinema nacional, houve a cobrança pela instalação de uma visão industrial do setor no Ministério da Cultura.

"Até agora, só temos incentivo para o desenvolvimento de projetos. Não podemos saudar o bom momento atual do cinema sem enxergar que estes são, na verdade, espasmos", afirmou a produtora Mariza Leão.

Numa fala inflamada, o produtor Luiz Carlos Barreto defendeu a divisão do Ministério da Cultura em duas pastas, uma voltada às indústrias culturais -com foco no mercado- e outra ao desenvolvimento cultural -preocupado com o fomento das linguagens artísticas.

José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, era um dos nomes escalados para participar do debate, mas faltou à mesa para a qual era esperado. Fez, então, uma aparição relâmpago na quinta, quando falou brevemente de sua relação pessoal com o cinema.

A participação de Dirceu vinha sendo criticada nos corredores do evento por sua falta de envolvimento efetivo no setor. No entanto, o coordenador-geral do festival, Nilson Rodrigues, defendeu sua presença por ele ter sido articulador do projeto de criação da Ancine.

O festival, que prossegue até o dia 3, exibe hoje o longa "Meu País", de André Ristum, já exibido em Paulínia, em julho, e que estreia no próximo dia 7. Amanhã é a vez do documentário inédito "Vou Rifar Meu Coração", de Ana Rieper, que encerra a competição. (AQ)

FOLHA DE S. PAULO - Novas salas de cinema vão receber descontos

Com menos imposto, custo deve cair 30%

DA ENVIADA A BRASÍLIA

1/10/2011 - Foi publicada ontem no Diário Oficial da União a Medida Provisória 545, que institui o programa Cinema Perto de Você. A iniciativa, já lançada pelo governo em junho de 2010, prevê a concessão de crédito para financiar salas de cinema pelo país.

Haverá redução de impostos para a instalação desses espaços. Segundo o presidente da Ancine, Manoel Rangel, isso significará um custo de implantação 30% menor para qualquer sala.

O objetivo é a ampliação do mercado de exibição, com foco voltado principalmente à classe C e à regionalização.

O país tem, atualmente, 2.225 salas, sendo cerca de um terço delas concentrado no Estado de São Paulo. Isso representa uma média de 85.723 habitantes por sala.

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Desenvolvido em parceria com o BNDES, o programa estima a concessão de R$ 500 milhões em crédito e a construção de 600 salas até 2014.

Já foram inaugurados no Rio dois complexos, com seis salas cada um, seguindo esse financiamento. Segundo Rangel, há outros 60 projetos em análise no BNDES.

O programa também prevê o projeto Cinema da Cidade, voltado para a implantação de salas estatais geridas por entidades privadas em municípios com até 100 mil habitantes e sem nenhum cinema.

Esse braço, no entanto, ainda não decolou: para existir, ele exige a injeção de recursos próprios da União ou obtidos via emendas parlamentares.

FOLHA DE S. PAULO - Eryk Rocha gera polêmica na França

1/10/2011 - O filme "Transeunte", de Eryk Rocha, filho de Glauber, provocou polêmica no Festival de Biarritz. Com grandes planos e em preto e branco, muitas pessoas deixaram a sala durante a exibição, enquanto outros elogiaram.

O ESTADO DE S. PAULO - Helvécio Ratton

NASCEU EM DIVINÓPOLIS, CRESCEU ‘PELO INTERIOR DE MINAS’, VIROU DIRETOR DE CINEMA PREMIADO E HOJE LANÇA UM DOCUMENTÁIO SOBRE UM PATRIMÔIO MINEIRO: O QUEIJO

FLAVIA GUERRA - O Estado de S.Paulo

2/10/2011 - Você é conhecido por suas ficções, que ganharam prêmios e fãs pelo Brasil. Como surgiu a ideia de fazer um documentário?

Apesar de fazer ficção, adoro documentários. É incrível a capacidade de dialogar com a sociedade, tratar de assuntos urgentes. Ficção também faz isso, mas documentário é mais profundo.

Porque documentar o queijo?

O Mineiro e o Queijo nasceu do desejo de investigar e entender um fenômeno que está acontecendo em Minas. As novas normas de higiene são necessárias, mas as exigências exageradas, que, entre outras coisas, provêem que o leite do qual se faz o queijo deve ser pasteurizado (e não cru, como manda a tradição), desprezam a sabedoria popular. Não é um filme sobre o queijo, mas sobre as pessoas que fazem o queijo, sobre a cultura delas, que está ameaçada.

Ou seja, a cultura popular mineira está sendo pasteurizada.

Isso! A pasteurização modifica completamente o produto. A pasteurização padroniza. Aí, pode-se fazer um queijo Minas padrão na Amazônia. Mesmo maturado, um queijo feito de leite pasteurizado jamais vai ter o mesmo sabor, porque a bactéria boa, que dá a personalidade, também morreu no

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processo. E com isso um patrimônio cultural de Minas pode morrer. Com isso, vai-se na contramão de um movimento mundial pela valorização do terroir, do sabor e da cultura local de cada povo.

Você é apaixonado por queijo?

Como bom mineiro, adoro. Meu pai era juiz e rodei o interior de Minas com ele, conhecendo gente, comendo queijo... Em uma época, morei na região do Serro, grande produtora queijeira do Brasil. Compro no Mercado Central de Belo Horizonte, sei onde tem os bons...

Por que no Brasil se pode consumir queijo roquefort francês e gorgonzola italiano e mineiro não?

Por uma questão de legislação. No Brasil, o queijo tem de ser produzido a partir de leite pasteurizado para ser distribuído. Por isso, o verdadeiro queijo Minas, que é feito com as mesmas condições higiênicas que os europeus, não pode ser oficialmente vendido em São Paulo. Já o europeu, que entra como produto importado, pode. Como o queijo minas original é curado, este processo mata as bactérias ruins. E no final o que se tem é um produto seguro. Se a vaca é bem cuidada, o leite, mesmo cru, é bom.

JORNAL DE BRASÍLIA - Emoção em cinco flashes

Filmes de hoje, como o longa-metragem Meu País, falam desse sentimento chamado amor

Felipe Romero

(01/10/2011) O sábado é, tradicionalmente, a noite em que o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro recebe maior público. Nesta 44ª edição, é também o dia com os filmes mais emotivos da mostra competitiva. Cada um à sua maneira. As cinco películas tratam de amor, seja fraterno, proibido ou desconhecido, e de relacionamentos. Meu País, primeiro longa-metragem em ficção de André Ristum, trata das relações familiares, com elenco liderado por Cauã Reymond e Rodrigo Santoro.

O filme conta a história de três irmãos reunidos após a morte do pai. Além de Santoro e Reymond, conta com Débora Falabella e Paulo José. “Escolhi o elenco pelo talento, não por tipo físico ou fama”, diz Ristum. Desde o começo, ele sabia que precisaria de bons atores, pois a trama é focada nas personagens. “Todos abraçaram o filme, entraram de corpo e alma. Isso foi determinante”, relata. Na trama, o personagem de Santoro volta da Itália para o enterro do pai e é quando ele e o irmão (Reymond) descobrem ter uma irmã com deficiência intelectual (Falabella).

O diretor nasceu e cresceu na Itália. Seus pais saíram do País durante a ditadura militar. “Não é um filme autobiográfico, mas há referências da minha vida”, descreve. “O meu país pode representar sua origem, referências, família”, fala. Ristum foi assistente de direção de Bernardo Bertolucci em Beleza Roubada e enumera a influência: “A maneira de lidar com a equipe foi o que mais me marcou.”

EXPERIÊNCIA André Ristum participou com curtas- metragens em duas edições do festival, em 2005 e 2008, e se diz ansioso. ”Conheço o público e a importância do festival. O Rodrigo Santoro ficou super animado também por participar, pela história dele com o festival”, comentou. Santoro participou em 2000, com Bicho de Sete Cabeças. Na ocasião, foi vaiado na apresentação do elenco antes da projeção, mas saiu ovacionado ao final e com o Troféu Candango de melhor ator. Ele declarou que o Festival de Brasília significou uma guinada em sua carreira.

O filme foi exibido no Festival de Paulínia deste ano e tem estreia em circuito comercial no próximo dia 7. A data foi escolhida para aproveitar a visibilidade e utilizar o Festival de Brasília como plataforma de lançamento. “As primeiras linhas do argumento foram escritas nos corredores do Hotel Nacional, no festival de 2008. Voltar concorrendo na principal categoria é muito emocionante”, confessa.

O cinema da cidade

Primeiro representante do DF a ser exibido na mostra competitiva de curtas, Imperfeito é, como Meu País, focado na atuação. “Procurei atores que conduzissem o filme, são eles que ditam o ritmo, em

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detrimento de edição e montagem”, diz o diretor Gui Campos. O filme tem dois atores, Hanna Reitsch e Sérgio Sartório. “Convidei o Sérgio no festival passado, mostrei o roteiro e ele adorou. A Hannah se destacou já na leitura e correspondeu ao que eu queria.”

O primeiro curta de Gui Campos foi em 2004. Sequestramos Augusto César recebeu menção honrosa e o Troféu Câmara Legislativa na Mostra de 16mm, com ritmo influenciado por Quentin Tarantino. Imperfeito é diferente. Gui trabalha com poucos cortes e mostra a capital federal que os brasilienses conhecem. “Quis fugir da Brasília dos cartões-postais, até porque o filme pode se passar em qualquer cidade, mas se passa na cidade em que vivo”, explica. As diferenças são técnicas: “O primeiro filme foi como trabalho final de uma disciplina, com equipamentos da faculdade. O Imperfeito foi com recursos próprios, com mais experiência e equipamentos.”

Concorre com a produção local, hoje, o filme carioca Sobre o Menino do Rio. Trata-se de adaptação de postagem encontrada pelo diretor Felipe Joffily num blog de uma desconhecida. O relato descreve o encontro de uma mulher com um garoto no Rio de Janeiro e as surpresas que uma conversa pode trazer. Joffily dirigiu Ódiquê e Muita Calma Nessa Hora.

ANIMAÇÃO Entre os curtas de animação estão Sambatown e Menina da Chuva, que têm carreira premiada em vários festivais nacionais e internacionais.

Sambatown é o primeiro curta- metragem em animação feito pelo paulista Cadu Macedo, e relata um triângulo amoroso em algum lugar da América Negra, em que dois mestres-sala se apaixonam pela mesma porta-bandeira. O filme foi premiado como melhor curta- metragem em animação no Festival de Havana, em Cuba.

A segunda animação da noite é Menina da Chuva, da carioca Rosaria Moreira. O curta mostra as diferenças no mundo das crianças, mostrando as diferenças entre meninos e meninas.

FOLHA DE S. PAULO – Cabe aqui na minha mão

Febre no YouTube, vídeos da Galinha Pintadinha estreiam no mercado hispânico após terem sido recusados por canais de TV

Galinha Pintadinha e Galo Carijó no 2º DVD de clipes

VANESSA BARBARA

2/10/2011 - Sucesso entre os bebês de variadas procedências e classes sociais, os vídeos da franquia brasileira Galinha Pintadinha se preparam para entrar no mercado hispânico.A fase de produção já foi concluída no México e a equipe procura distribuidores na América Latina. Por enquanto, só três das 16 faixas estão disponíveis em espanhol no YouTube: "Mariposita", "Gallina Pintadita" e "Pollito Amarillito", com 80 mil visualizações no total.Os criadores da febre da Galinha são os publicitários Marcos Luporini, 40, e Juliano Prado, 41, sócios da Bromélia Filminhos, de Campinas (SP). Há quatro anos, produziram uma animação caseira da cantiga "Galinha Pintadinha", de um minuto e 49 segundos, para mostrar a produtores de canais infantis.

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Fizeram um videoclipe simples e colorido protagonizado por uma galinha azul de pintinhas brancas que certo dia cai adoentada e sofre a indiferença do marido carijó. A letra aparece na tela com uma bolinha para as crianças acompanharem.Como não podiam se deslocar para mostrar o vídeo aos compradores, eles postaram o material no YouTube."À época, buscávamos alguma forma de conseguir financiar o restante do projeto. Tentamos de tudo. As pessoas até simpatizavam, mas não davam dinheiro", conta Luporini. Entre as empresas que recusaram o vídeo, estão a TV Cultura, o Discovery Kids e agências de propaganda.Conformados com a recusa, nem se preocuparam em tirá-lo do ar. Seis meses depois, o clipe havia sido visto meio milhão de vezes. Hoje, já são 42 milhões.Desde então, o subproduto mais célebre da franquia, o "Pintinho Amarelinho", é o mais visto do mundo na categoria filmes e desenhos, com 75 milhões de cliques. Outros oito títulos da marca estão no top 15 do YouTube, com 266 milhões de visitas.Nos últimos dois anos, a dupla lançou dois DVDs, um CD com versões de ninar, um galináceo de pelúcia e uma coletânea em Blu-ray.Pretende ainda licenciar a marca para comercializar brinquedos, roupas, material escolar e um game on-line.Recentemente, foram procurados pela agência F.Biz, que propôs uma ação de marketing conjunta com os sabonetes Lifebuoy. A faixa "Lava a Mão" já existia e estava na lista do próximo DVD."Apresentamos a música e, por razões óbvias, a empresa se interessou. Antecipamos a produção e o lançamento do clipe no YouTube como um oferecimento Lifebuoy", conta Luporini.Em menos de dois meses, o vídeo tem 1,8 milhão de cliques.

LOOPINGO paulistano Max Blas Vidal de Souza, um ano e cinco meses, é um bebê geralmente centrado. Com seus cachos alourados e temperamento pacífico, Max tem pendor para a literatura e as artes plásticas, sendo seu único revés comportamental o costume de sujar a calça de geleia.Ainda assim, há uma coisa que tira Max do sério: os vídeos da Galinha Pintadinha. Sofia Nishida, de 14 meses, e Augusto Saggio Barbará, de 17 meses, também escutam as músicas sempre em looping."Dos quase 16 milhões de visualizações desse vídeo, 15 milhões foram dos meus filhos", calcula o webdesigner Rafael de Souza, em comentário no YouTube.Até a presidente Dilma Rousseff revelou sua predileção pelo galináceo cantante, após ter sido flagrada, em julho, entoando em altos brados a música-título, junto ao senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e à ministra Helena Chagas, numa viagem a bordo do avião presidencial.Ela assumiu os vocais e os assessores ficaram no "pó, pó, pó, pó...". Depois, cantou "Atirei o Pau no Gato" com o vice Michel Temer. Dilma tem um neto de um ano.Todos os bebês expostos à epidemia aviária repetem mecanicamente os gestos do pintinho (que "cabe aqui na minha mão") e, ao verem ilustrações de batráquios, fazem "não" com as mãos (de "O Sapo Não Lava o Pé").A praga voltou-se contra os próprios criadores -Luporini tem um bebê de oito meses, e Prado, duas filhas mais velhas, todos infectados. Ainda assim, rejeitam as acusações de haver mensagens subliminares nos vídeos."Engraçado como essas teorias conspiratórias antigas nunca saem de moda", desconversa Luporini, acrescentando: "Dominar o mundo não está nos nossos planos"."Não existe nenhuma técnica", diz. "Só buscamos simplificar a linguagem para aproximá-la dos pequenos. O resto é intuição mesmo."

CORREIO BRAZILIENSE - "Não dá para falar em indústria no Brasil"

Diretor defende a taxação de produções estrangeiras que entrarem no mercado brasileiro, para amenizar a concorrência com filmes nacionais

Yale Gontijo

4/10/2011 - O diretor mineiro Helvécio Ratton conseguiu o que poucos cineastas brasileiros conseguem: a filmografia do diretor — que inclui O menino maluquinho, Casa de bonecas, Uma onda no ar, Amor & Cia. (melhor longa-metragem em 35mm no 31º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro) e Batismo de sangue (melhor direção no 39º Festival de Brasília) — transitou tanto pelo circuito de festivais quanto pelo restrito circuito comercial.

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O realizador de 63 anos acaba de finalizar o documentário O mineiro e o queijo, que estreou em Belo Horizonte em 23 de setembro.

Apesar de o título repetir a piada comum em relação à obsessão gastronômica dos mineiros, o papo é sério. Proibições sanitárias têm impedido a circulação do verdadeiro queijo de Minas, preparado com leite cru, fora de Minas Gerais. Segundo Ratton, a medida ocorreu por causa de lobby dos grandes laticínios da região e tem colocado em risco a exportação de um produto tradicional preparado há mais de 300 anos.

A questão serve como comparativo para uma ausência de medidas protecionistas relativas ao desenvolvimento da indústria cinematográfica brasileira. Na entrevista a seguir, o diretor aponta esse fator como um dos que emperram o desenvolvimento do cinema nacional.

CORREIO BRAZILIENSE - Comédia improvisada

Michelle Macedo

4/10/2011 - Muita diversão e risadas aos montes. É essa a promessa do projeto Setebelos Convida, de stand-up comedy, que traz hoje a Brasília o ator e redator da TV Globo Cláudio Torres Gonzaga e o comediante do grupo Melhores do Mundo Ricardo Pipo, para uma apresentação no Caribeño (Av. das Nações).

O projeto do Setebelos teve início em julho deste ano e já é o maior sucesso. “Agora que temos uma casa fixa e estamos com a nova temporada, o público tem gostado bastante”, comenta um dos integrantes da companhia, Daniel Villas Boas. O grupo existe há seis anos e já levou mais de 150 mil espectadores para ver suas apresentações. O projeto Setebelos Convida é apresentado sempre às terças-feiras. Cláudio Gonzaga é um dos criadores do primeiro grupo de stand-up no Brasil, o Comédia em Pé. Além dele, participam Fernando Caruso, Léo Lins, Paulo Carvalho e Fábio Porchat.

Cláudio começou sua carreira no teatro em 1981. “Depois disso fui coreógrafo e entrei na Globo em 1996. Em 2005, comecei no stand-up com o Comédia em Pé”, conta o redator do programa Os caras de pau. O início da carreira como roteirista é bem curioso. Tudo começou graças aos e-mails engraçados que escrevia. “Eu estava desiludido com o teatro e comecei a escrever e-mails divertidos para uma lista de amigos. Entre eles, tinha o Bruno Mazzeo.” Depois disso, Mazzeo o convidou para escrever roteiros no programa Chico Total, abrindo as portas para o trabalho com o humor. O roteirista já escreveu para a Escolinha do professor Raimundo, os seriados Malhação e Sai de baixo. Foi redator final de Sob nova direção, A grande família e Zorra total, durante cinco anos. Atualmente, é redator de Os caras de pau, apresenta um quadro no Fantástico, ministra cursos de cenografia, se apresenta com o grupo Comédia em Pé e ainda encontra tempo para escrever o roteiro do filme do ator Leandro Hassum (Os caras de pau).

RetaliaçõesCom a popularização do stand-up comedy no Brasil, alguns humoristas têm sofrido retaliações por meio de processos judiciais ou até mesmo por rejeição dos espectadores a piadas fortes e até agressivas que citam personalidades. Cláudio afirma nunca ter passado por qualquer tipo de problema. “Acho que esse limite depende do comediante. O limite é a pancada que você pode suportar depois de bater”, explica o roteirista. Para Gonzaga, o humorista deve avaliar se está disposto a correr esse risco. “Às vezes, torna-se desnecessário, só agressões não valem a pena.”

O ator, que é carioca e está com 50 anos, já esteve em Brasília duas vezes, uma com o grupo Comédia em Pé e outra em que se apresentou sozinho.

FOLHA DE S. PAULO - Santoro faz maratona de estreias nas telas

Aos 36 anos, ator estrela os longas nacionais "Meu País", que será lançado na sexta, "Heleno" e "Reis e Ratos"

"Cansado", ele faz um dos protagonistas da estreia na direção de André Ristum, em disputa em Brasília

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AMANDA QUEIRÓSENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

(3/10/2011) Da última vez que participou do Festival de Brasília, em 2000, Rodrigo Santoro foi recebido por uma chuva de vaias. Na época, ele era apenas o garotão de novelas globais que entrara onde não era bem-vindo: o cinema.Saiu, no entanto, ovacionado como melhor ator pelo papel em "Bicho de Sete Cabeças", de Laís Bodanzky.Mais de dez anos depois, com uma carreira consolidada dentro e fora do Brasil, o galã retornou a esse mesmo lugar como protagonista de "Meu País", filme de André Ristum que disputa o prêmio de melhor longa do festival.Esta é só uma das cinco escalas que Santoro tem feito na maratona de divulgação do título, que chega aos cinemas na sexta. "Não vê como estou cansado?", pergunta à repórter, sorrindo e apontando para as olheiras.Apesar da queixa, ele não consegue parar. O corre-corre virou rotina. Em 2010 e 2011, o ator de 36 anos rodou um filme atrás do outro. O resultado começa a aparecer.Além de "Meu País", ele está em "Reis e Ratos", de Mauro Lima, selecionado para o Festival do Rio, que começa no próximo dia 6. A lista inclui ainda o já elogiado "Heleno", exibido no mês passado no Festival de Toronto. Dirigido por José Henrique Fonseca, o filme representa um novo passo para Santoro.Nele, além de interpretar o jogador Heleno de Freitas (1920-1959), o ator assumiu pela primeira vez também a função de produtor."Foi um trabalho árduo, porque eu também estava atuando. Mas recomendo aos atores, porque você entende o processo de feitura de um filme de outra forma", afirmou ele à Folha.Santoro decidiu tomar as rédeas do projeto em um momento de dificuldade na captação de recursos, quando percebeu que seu nome poderia ajudar o filme, cuja previsão de estreia está para o primeiro semestre de 2012.Apesar de afirmar ter gostado da experiência, o ator não prevê repeti-la em breve. Também não tem planos de ir para trás das câmeras. "Não vou dizer que nunca farei, mas é que o trabalho de ator tem me ocupado bastante, ainda estou entusiasmado."Santoro percebe o bom momento do cinema brasileiro a partir dos roteiros que tem recebido. Muitos são de diretores estreantes e de lugares fora do eixo Rio-São Paulo.A forte presença do ator nas produções nacionais não tem freado seu trânsito em Hollywood.Atualmente, integra ao menos cinco projetos estrangeiros, além de outros tantos ainda em fase de negociação."Normalmente esse é um processo muito demorado", diz Santoro.A jornalista AMANDA QUEIRÓS viajou a convite do festival.

NOVAS PRODUÇÕES COM SANTORO

NACIONAIS"Homens de Bem" - Com direção de Jorge Furtado

"Heleno" - Protagonista, ele divide a cena com Alinne Moraes

INTERNACIONAIS"The Blind Bastard Club" - Com Mickey Rourke e Lenny Kravitz

"Last Stand" - Contracena com o ator e político Arnold Schwarzenegger

FOLHA DE S. PAULO - Mudanças causaram controvérsias

DA ENVIADA A BRASÍLIA

(3/10/2011) Quando encerrar, hoje, sua 44ª edição, o Festival de Brasília já tem a missão de pensar qual cara quer ter em 2012, já que as mudanças deste ano tiveram repercussão controversa.Ao elogiar o "fim da ditadura do ineditismo" durante a exibição de um curta, na sexta, o diretor Joel Pizzini foi vaiado por parte do público. Até 2010, esse era critério chave para filmes na competição.

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Outra crítica se refere à premiação. O aumento do valor destinado ao melhor longa, que passa a receber R$ 250 mil, implicou redução em outras categorias.Para a Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo, as mudanças minam o caráter politizado do festival, posição rebatida pelo coordenador-geral do evento, Nilson Rodrigues: "Não se pode penalizar bons filmes porque estiveram em outros festivais".Mas houve novidades bem recebidas, como mostras paralelas, exibição simultânea da mostra competitiva em outras salas da cidade e fim da separação de filmes digitais e 35 mm.Para 2012, estão previstas novidades como a disputa separada de documentário e ficção e mais longas concorrendo.

FOLHA DE S. PAULO - Globo lança sede e lojinha em Portugal

OUTRO CANAL

KEILA JIMENEZ(3/10/2011) A Globo inaugura no dia 17 de outubro sua sede em Portugal, em Lisboa.O escritório, que servirá também como base da emissora na Europa, abrigará uma série de negócios do grupo como licenciamento de programas, coprodução internacional e até uma loja conceito, com produtos da Globo Marcas. Haverá também um serviço de atendimento ao público da região.O local será usado como sede do canal internacional da Globo na Europa e na África e da TV Globo Portugal, que completa quatro anos no próximo mês. Só em Angola, a TV Globo Internacional tem mais de 220 mil assinantes.Já em Portugal, são 45 mil assinantes.A nova sede abrigará ainda equipes de jornalismo da Globo e da Globo Portugal, que serão reforçadas.Além de escritórios, o local terá um estúdio para gravação de entrevistas.A ideia da emissora é estreitar laços com a região, aumentar a venda de conteúdo e fechar novas produções em parcerias com canais lusitanos, como a SIC.Para o lançamento da sede em Lisboa, a Globo está recrutando parte de seu elenco que faz sucesso com o público português. O espectadores lusitanos gostam dos atores mais antigos das novelas da emissora, entre eles, Tony Ramos e Suzana Vieira.

FOLHA DE S. PAULO - Danilo Gentili faz show de humor como aperitivo de novo canal

Comediante reclama de 'patrulhamento' politicamente correto

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

(3/10/2011) Danilo Gentili reclama de um policiamento politicamente correto do humor no Brasil antes de fazer a piada: "Se o programa do Bozo fosse hoje, ele ia ter de apresentar sem cheirar".Gentili, que está no ar quatro vezes por semana na Band (na apresentação do "Agora É Tarde" e no elenco do "CQC"), ganha a partir de amanhã mais duas noites na TV, agora no VH1.Ele estreia como anfitrião do "Comedy Central Apresenta o Mês da Comédia". O programa é uma espécie de petisco de como deve ser a programação da filial brasileira do canal americano Comedy Central, que desembarca para valer aqui em 2012.Na estreia, ele recebe os comediantes Rogerio Morgado e Marcos Castro. Cada um faz seu próprio show "stand-up".O primeiro faz piada sobre o nível escolar de Zezé Di Camargo, motivado pelo sucesso do sertanejo "universitário", e sobre as caras e bocas do padre-cantor Fábio de Melo, que, segundo ele, "sensualiza" ao interpretar canções religiosas.O segundo não diz nada original sobre Rubens Barrichello e Oscar Niemeyer. Ria se puder.O cenário para a "comédia" é o teatro Comedians Club, em São Paulo, que Gentili tem em sociedade com Rafinha Bastos, outro "CQC".(ELISANGELA ROXO)

FOLHA DE S. PAULO - Cinema no plural

Jovens cineastas usam modelo coletivo, com controle total da verba, para produzir filmes ousados que chegam agora ao circuito

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NATÁLIA PAIVAENVIADA ESPECIAL A FORTALEZAE A BELO HORIZONTE

(4/10/2011) "É o momento de 'tomada'. Simplesmente conseguir fazer um filme já não é mais lá grandes coisas", diz Guto Parente, 28, sentado no chão de uma casa no centro de Fortaleza, ponto de encontro dos cineastas do Alumbramento.Guto faz um jogo de palavras que cita a retomada do cinema brasileiro nos anos 90 -sob modelo de grandes verbas e equipes- e a atitude da atual produção independente, impulsionada por grupos de jovens cinéfilos.Seja em filmes de R$ 2.000 ou de R$ 2 milhões, ele é marcado pelo controle total da verba, pela criação coletiva e por um desprendimento, total ou parcial, da estética do cinema clássico e da TV.O resultado são filmes ousados (veja acima), que têm obtido boas críticas, prêmios e espaço em grandes festivais. A maior parte dos grupos nasceu nas universidades, cinco ou dez anos atrás. Mas só agora essa geração vê seus primeiros longas nas telas dos cinemas. Um dos grupos mais antigos é o Teia. Em janeiro completa dez anos o aluguel de uma casa em Belo Horizonte, sede do grupo e abrigo de seus mais de 40 filmes."Há coletividade na gestão do espaço e muita troca, porque todo mundo está sempre presente", diz Clarissa Campolina, 32. Ela e Helvécio Marins, também do Teia, representaram o Brasil em Veneza neste ano, com "Girimunho". O modelo coletivo acaba impulsionando a produção e abrindo horizontes criativos, diz Caetano Gotardo, 30, do paulista Filmes do Caixote.Seu segundo curta só saiu quando o colega Marco Dutra, 31, resolveu produzir. E o caráter musical de "O Que Se Move", seu longa recém-rodado, só surgiu como solução dramatúrgica após trocas com Dutra e Juliana Rojas, diretores de "Trabalhar Cansa".

ECONOMIA DO FILMEApós "A Fuga da Mulher Gorila" (que custou R$ 10 mil, venceu Tiradentes em 2009 e chega agora aos cinemas), Felipe Bragança e Marina Meliande, da Duas Mariola, foram assediados por grandes produtoras para fazer "A Alegria", também em cartaz. A ideia era transformar o filme, de US$ 800 mil (cerca de R$ 1,5 milhão, via edital da Petrobras), numa produção de R$ 3 milhões, após dois ou três anos de captação. Recusaram. "O que importava era a gente poder rodar pelo tempo que quisesse e com o elenco que escolhesse, tendo uma parceria com a produção que não fosse de hierarquia", diz Bragança, 31.A falta de hierarquia nos grupos se deve, em primeiro lugar, ao rodízio na equipe (o montador de um filme dirige outro, por exemplo). Deve-se também a uma "autoria compartilhada": dois ou quatro dirigem um mesmo filme, criam-se "parcerias criativas" e há uma hipervalorização do papel do fotógrafo e do montador."É um exercício de se despir de vaidades", diz Guto Parente. Ele, Pedro Diógenes e Luiz e Ricardo Pretti escreveram, dirigiram, estrelaram e montaram "Os Monstros".Após vencer Tiradentes em 2010 com "Estrada para Ythaca", ignoraram o "caminho lógico" de tentar edital. Usaram os R$ 6.000 que tinham no banco para fazer o filme.

FOLHA DE S. PAULO - Distribuir os filmes e chegar ao grande público ainda é desafio

DA ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZAE A BELO HORIZONTE

(4/10/2011) No domingo de estreia de "A Alegria", o Espaço Unibanco da Augusta estava lotado -para "Melancolia", de Lars von Trier. Numa sessão, havia cerca de 20 pagantes para ver o filme nacional.Se realizar não é mais o problema, fazer essas produções circularem e seduzirem o público é o grande desafio. Para viabilizar a estreia desses filmes no circuito comercial, a Vitrine Filmes criou a distribuição coletiva. Os gastos são divididos pelos sete longas da mostra, que passa por 17 cidades. Dos 13 filmes, 8 são de coletivos. Na segunda edição, em São Paulo, a Sessão Vitrine migrou do Unibanco, onde disputava espectadores com blockbusters cult, para o Museu da Imagem e do Som. Mas a ideia é investir também em outras formas de circulação. O grupo pernambucano Símio começou uma experiência diferente: a edição de setembro da revista local "Continente", com 5.000 exemplares, trouxe encartado um DVD de seu filme "Pacific". "Isso fez o filme circular por espaços impensáveis antes, ampliando o acesso de uma forma que o circuito tradicional de exibição dificilmente possibilitaria", diz o diretor, Marcelo Pedroso. (NP)

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FOLHA DE S. PAULO - Esforço para exibir os longas atesta passo rumo à maturidade

ANÁLISE

A FASE EM QUE SE ENCONTRA HOJE CONSISTE EM ARTICULAR AS CONDIÇÕES QUE PERMITAM A ESSE CINEMA SE FORTALECER

CÁSSIO STARLING CARLOSCRÍTICO DA FOLHA

(4/10/2011) Quem só assiste a filmes em shopping ou na TV ainda não sabe nem vai querer saber da existência desses "monstros" atrás da porta. Mas é bom esclarecer que a emergência de um novo (ou novíssimo) cinema independente brasileiro movido pela força de coletivos não é resultado de geração espontânea. Ativíssima pelo menos desde o início da década passada, a "nova" cinefilia proliferou na internet, em sites e blogs que fomentaram uma efervescência crítica que não se encontrava mais nos meios impressos.A etapa seguinte consistiu em promover a circulação das ideias, o que foi conseguido por meio da ocupação de zonas de influência em festivais e mostras, enriquecidos com discussões que aproximam pesquisadores, realizadores e público em torno de uma mesma curiosidade.A fase em que se encontra hoje consiste em articular as condições de produção, distribuição e exibição que permitam a esse cinema se fortalecer de modo autônomo.Os longas que agora despertam a curiosidade ao chegar a salas de grandes capitais são manifestações de um processo organizado que dura bem mais que 365 dias. Seus autores integram uma geração que reinterpreta a cinefilia como pensamento na prática. Predominantemente jovem, ela reúne talentos mobilizados por uma vontade comum de assistir, questionar e realizar um cinema do presente, em vez de reproduzir fórmulas bem-sucedidas em outros lugares e tempos. O lado positivo dessa característica aparece no aspecto reflexivo das obras. Nelas, narrar acompanha-se de indagações sobre o que o cinema ainda pode. Além de um notável conhecimento das qualidades e dos limites do cinema já feito até hoje no Brasil. O negativo consiste em forçar a aceitação internacional e a nacional por mimetismo. Ou seja, na tentação de replicar procedimentos em alta na bolsa dos festivais, o que resulta no máximo em filmes karaokê de valor duvidoso.Um aspecto superior a essas forças e fragilidades reside no modo de produção coletivo, por meio do qual se verificam a agregação e a contaminação de talentos. E que força os filmes a se libertarem do narcisismo que os amarra às intenções ou ao desejo de expressão de um autor.Além da vantagem da ação colaborativa, também se verifica a aproximação e o intercâmbio entre grupos, o que permite o compartilhamento de sensibilidades e propostas e oferece um antídoto aos riscos de asfixia criativa ou de esgotamento. O que esse cinema plural tenta promover agora é um encontro com seu público. Em vez de se vangloriar de um status marginal, o esforço necessário consiste em se mostrar para plateias heterogêneas, fora da estufa dos festivais. É mais uma etapa rumo à maturidade.

FOLHA DE S. PAULO - Festival de Brasília premia filme inédito e outro já exibido

"Hoje", de Tata Amaral, e "Meu País", de André Ristum, dominam a 44ª edição com cinco prêmios cada um

AMANDA QUEIRÓSENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

(5/10/2011) Em um ano marcado pelo fim da exigência do ineditismo como critério de seleção, o 44º Festival de Brasília dividiu seus principais prêmios de forma salomônica entre um filme totalmente novo e outro já exibido antes.Na cerimônia de entrega, ocorrida na segunda à noite, foram cinco troféus Candango para o novíssimo "Hoje", de Tata Amaral, e outros cinco para "Meu País", de André Ristum, que já fora apresentado no Festival de Paulínia, em julho, de onde saiu sem prêmio nenhum. O filme entra em cartaz nesta sexta.

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"Hoje" sagrou-se como melhor longa e embolsou R$ 250 mil. Sua trama revisita a ditadura militar sob o olhar de uma mulher que acaba de comprar um apartamento com a indenização do companheiro dado como morto durante o regime. "Vamos usar todas as nossas forças para que a Comissão da Verdade se efetive e consiga contar nossa história com dignidade e respeito. Que nunca mais haja tortura no nosso país", afirmou Tata Amaral no discurso de premiação, referindo-se ao órgão que investigará abusos ocorridos durante a ditadura.O filme ganhou também nas categorias de direção de arte, fotografia e roteiro. Houve ainda o prêmio de melhor atriz para Denise Fraga, que, conhecida por seus papéis cômicos, agradeceu à cineasta pela oportunidade de viver um personagem dramático complexo. Em 1995, ela já recebera esse mesmo Candango por "Felicidade É...".Entre as premiações extraoficiais, "Hoje" também foi apontado como melhor longa pelo júri da crítica. Já "Meu País" foi tido como melhor filme pelo júri popular e levou os prêmios de montagem, trilha sonora e direção. O fato surpreendeu o próprio Ristum, que estreia em longas com esse título.Rodrigo Santoro foi escolhido melhor ator por "Meu País" -ele já recebera o título em 2000, pela atuação em "Bicho de Sete Cabeças". Quando seu nome foi anunciado, houve um princípio de vaia, logo abortada. A consagração de "Meu País" foi recebida com surpresa por ter sido avaliado pela crítica em geral como frio e asséptico.

A jornalista AMANDA QUEIRÓS viajou a convite do festival.

OS PRINCIPAIS VENCEDORES

LONGA: "Hoje", de Tata AmaralDIREÇÃO: "Meu País", de André RistumROTEIRO: "Hoje"MONTAGEM: "Meu País"ATOR: Rodrigo Santoro ("Meu País)ATRIZ: Denise Fraga ("Hoje")ATOR COADJUVANTE: Ramon Vane ("O Homem que Não Dormia")ATRIZ COADJUVANTE: Gilda Nomacce ("Trabalhar Cansa")FOTOGRAFIA: "Hoje"TRILHA SONORA: "Meu País"

O ESTADO DE S. PAULO - Rivalidade entre irmãos

Cauã Reymond e Rodrigo Santoro vivem lados opostos de uma família fragmentada em Meu País

LUIZ CARLOS MERTEN

4/10/2011 - Rodrigo Santoro e Cauã Reymond acham graça da observação do repórter de que, agora que Rodrigo Lombardi virou o homem mais sexy do Brasil, só resta a ambos serem bons atores. Não existe ator mais encanado com a imagem de homem sexy do que Cauã. Ele acha que a TV já explora bastante essa faceta. No cinema, segue por outra linha e, por isso, privilegia sempre os filmes de autor. Cauã só tem um blockbuster na carreira, O Divã. "Adoro o (diretor) José Alvarenga, mas me sinto meio que sobrando ali dentro."

Cauã e Rodrigo fazem irmãos em Meu País, o belo longa de André Ristum que estreia sexta em quase todo o Brasil. Ambos têm mais um filme juntos, e pronto. Falam maravilhas de Reis e Ratos, de Mauro Lima. "O filme tinha um visual extraordinário em preto e branco, mas a distribuidora Warner resolveu colorir. Levava medo, mas o que vi gostei bastante", diz Cauã.

Um filme de autor, um papel de jogador compulsivo, tudo colocava Cauã Reymond dentro de Meu País. A entrada de Rodrigo Santoro foi um pouco mais complicada. Ele estava exausto, depois de ter emendado um filme no outro. Estava de malas - e prancha - prontas para sair e surfar. Tocou o telefone. Era Fabiano Gullane, oferecendo o papel. "Não, bróder, não dá." O outro insistiu: "Mas posso enviar o roteiro? Lê como amigo". Foi a perdição de Rodrigo. Ele varou a madrugada lendo e, no dia seguinte, já estava adiando o surfe. As ondas podiam esperar; o papel, não.

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O que havia de tão atraente? "Venho de uma família italiana, mas apesar de o meu nonno (avô) insistir, nunca falei italiano. O filme é sobre família, eu falo italiano, tudo isso foi um desafio, e muito atraente." A entrevista realiza-se no L'Hotel e o repórter observa que ali entrevistou Michelangelo Antonioni. Uma entrevista tensa. O cinema de Antonioni privilegia o silêncio, com poucos diálogos. O mestre, como decorrência da trombose, falava todo enrolado e tinha de ser traduzido pela mulher. Rodrigo Santoro impressiona-se com a história. "O filme tem essa coisa da dificuldade de comunicação. Representar em outra língua é complicado, mas já que eu entrei nessa, em inglês, espanhol e agora italiano, vamos lá. A dificuldade também é outra, mais íntima, diz respeito à natureza da ligação entre os irmãos.

Na abertura do filme, morre o pai, interpretado por Paulo José. O ator traz sua persona, toda uma história, para o personagem. Rodrigo, que construiu uma vida na Itália, vem para tratar do espólio. Não tem diálogo com o irmão, que está dilapidando a fortuna familiar no jogo. Logo vem a descoberta de que ambos têm uma meia-irmã e a garota, Débora Falabella, está num instituto psiquiátrico, é "monga",como diz Cauã. Os laços de sangue falam mais alto, no final chega-se a um precário equilíbrio. A morte do pai, a divisão entre Itália e Brasil, tudo isso remete às mais fundas experiências do diretor André Ristum, mesmo que o filme não seja autobiográfico.

O pai de André, Jirges Ristum, morreu quando ele era criança. Jirges era amigo de Glauber Rocha e os dois pais, o biológico e o artístico, se refletem no cinema de Ristum, que já fez um curta sobre a correspondência entre ambos.

Todas essas referências estão no filme e exigiram empenho e concentração dos atores. O trio de protagonistas teve uma preparadora de elenco e, desta vez, não foi Sérgio Penna, que quase sempre desempenha esse papel para Rodrigo, mas Laís Correa. "Ela criou uma memória afetiva muito bacana para nossos personagens. Brincávamos, Rodrigo e eu, de que éramos um do Corinthians e outro do São Paulo para estimular nossas rivalidades", conta Cauã.

Pelo seu perfil - cinema exigente, intimista -, Meu País não leva jeito de estourar na bilheteria e virar blockbuster, mas o lançamento pequeno, caprichado, poderá garantir ao filme uma carreira digna de suas qualidades. "Tomara", diz Rodrigo. Cauã vai fazer a próxima novela das 9, de João Emmanuel Carneiro, e antes roda em São Paulo um filme sobre a orquestra de Heliópolis. Rodrigo joga todas as suas fichas em Heleno, sobre o lendário Heleno de Freitas. Ele amou o personagem, foi um dos produtores do filme. Heleno era conhecido por cabecear e matar a bola no peito. Rodrigo parou com o surfe, preparou-se com Cláudio Adão, o grande matador no peito dos últimos anos.

O filme teve uma projeção em Toronto, foi ovacionado. Outro projeto de Rodrigo Santoro surpreende: Arnold Schwarzenegger está voltando e um papel importante do seu novo filme foi oferecido ao astro brasileiro. "É bacana, estou aguardando, mas é quase certo que vai sair."

O ESTADO DE S. PAULO - Para exorcizar o passado

O inédito Hoje, de Tata Amaral, ganha o prêmio principal ao evocar os traumas deixados pelos anos de chumbo

LUIZ ZANIN ORICCHIO

5/10/2011 - Hoje, de Tata Amaral, ganhou o 44º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro ao evocar, de forma dura e criativa, as feridas deixadas pela ditadura. Mas a divisão de prêmios entre Hoje (que ganhou um total de cinco Candangos e mais o Prêmio da Crítica) e Meu País, de André Ristum (que levou quatro troféus e mais o Prêmio do Júri Popular) indica que houve cisão entre os jurados. Tanto assim que, se Hoje venceu o festival, Meu País ficou com a melhor direção (Ristum).

Como se pode conceber que um filme tido como o melhor não seja também o mais bem dirigido? Acontece. É uma maneira de indicar que dois títulos disputaram a primazia palmo a palmo. E se, no final, foi preciso optar por um deles, o preterido ficou logo atrás, perdendo por um triz.

Talvez indique algo ainda mais profundo, um processo de mutação do próprio festival. Brasília sempre foi considerado o mais político dos festivais, com seu público universitário engajado, suas polêmicas, seu gosto pela invenção. Essa tendência ainda prevaleceu em 2011, mas já seguida de

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perto por outra, que contempla filmes mais intimistas, convencionais e socialmente descompromissados.

Fosse o Festival de Brasília dos velhos tempos, Hoje polarizaria com o também excelente Trabalhar Cansa. Mas este teve de se contentar com apenas uma estatueta - a de atriz coadjuvante para Gilda Nomacce. Mas é muito pouco para o filme da dupla Juliana Rojas & Marcos Dutra.

Outras alterações já aconteceram. Com a quebra da exigência de ineditismo, Brasília teve menor repercussão nacional, embora seu público local continue fiel. Promete-se mais para o próximo ano, e o que pode vir é preocupante. Fala-se em separar as competições entre ficção e documentário, indo na contramão da tendência mundial de eliminar fronteiras entre os gêneros. Fala-se também em aumentar o número de concorrentes, o que seria desastroso, pois jogaria fora uma das melhores características de Brasília - a concentração em poucos títulos, que são discutidos a fundo, assimilados e explorados em suas nuances. O formato enxuto é a melhor maneira de valorizar os filmes, sem jogá-los na vala comum do gigantismo. Caso essa ameaça se concretize, aliada à não obrigatoriedade de ineditismo, Brasília passará a ser um festival como tantos outros que existem no País.

O ESTADO DE S. PAULO - Cine BH reúne arte e mercado

LUIZ CARLOS MERTEN

5/10/2011 - Termina hoje a Mostra Cine BH, que abriga o Brasil Cine Mundi, que levou a Minas importantes convidados internacionais para discutir coprodução e acordos de financiamento, além de exibir pré-estreias de filmes que vão dar o que falar. O evento é uma realização da Universo Produção e fecha o ciclo que a empresa inicia em janeiro, com o Festival de Tiradentes. Um (Tiradentes) apresenta as novas propostas do cinema brasileiro. O outro (BH) busca a inserção desses filmes especiais, de autor, no nicho que lhes cabe no mercado.

A produtora Juliette Lepoutre explicou num encontro com a diretora Júlia Murat porque o Festival de Toronto - o cinema de autor mais o mercado - ficou mais importante do que o de Veneza, embora Histórias Que Só Existem Quando Lembradas tenha se beneficiado da vitrine dos dois. Na mesa sobre cinema e TV, enquanto os representantes da Rede Minas e da TV Brasil queixaram-se das reduções orçamentárias, a representante da alemã ZDF e o diretor brasileiro Joel Pizzini discutiram a abertura de linguagens - das quais o público conservador da mídia tem medo.

Nos estudos de cases, em sessões abertas, consultores internacionais discutiram projetos de filmes que ainda estão no papel. Ricardo Pretti considerou muito ricas as discussões sobre o novo longa do coletivo Pretti/Parente, de Fortaleza, O Último Trago. Os irmãos Pretti e os primos Parente exibiram Os Monstros em BH. E estarão no Festival do Rio, na Semana dos Realizadores, com o ineditíssimo No Lugar Errado.

Entre as pré-estreias, a mais impactante talvez tenha sido L'Apollonide, que estreia no Brasil dia 21. Guarde a data, e o título. O novo longa do francês Bertrand Bonello não é apenas a obra-prima do autor, mas um dos filmes do ano, mesmo que tenha sido ignorado pelo júri presidido por Robert De Niro em Cannes, em maio. A memória de um bordel na virada do século 19 para o 20. Uma visão contemporânea das relações de dominação e prazer entre os sexos. Fortíssimo.

TEATRO E DANÇA

FOLHA DE S. PAULO – Jô Bilac mira a insanidade em nova peça

Delirante protagonista de "Serpente Verde, Sabor Maçã" tem o hábito de envenenar as visitas que recebe em casa

Dramaturgo carioca escreveu o texto em apenas uma noite, ao lado da comediante Larissa Câmara

GABRIELA MELLÃODE SÃO PAULO

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(29/9/2011) "Serpente Verde, Sabor Maçã", espetáculo que estreia amanhã, nasceu de uma proposta quase indecente.

O dramaturgo carioca Jô Bilac convidou a comediante de "stand-up" Larissa Câmara para escrever uma peça de teatro em apenas uma noite.

"Foi uma longa jornada noite adentro. Terminamos o texto às 6h", conta Jô.

Ele recebeu um convite da atriz Cristina Pereira para participar de um ciclo de leituras. Sem texto algum a oferecer, mentiu: "Falei que tinha uma peça e só precisava revisá-la. Mas, na verdade, não tinha nada", confessa.

"Serpente Verde, Sabor Maçã" (2008) contém os ingredientes que consagraram o dramaturgo. É uma obra tragicômica, composta por personagens tão amorais quanto ordinários, cujos discursos distorcem verdades, defendendo interesses próprios a qualquer preço.

"Busquei, mais uma vez, uma situação que gera crise, levando os personagens até as últimas consequências", explica Jô.

O espetáculo dirigido por Lavínia Pannunzio apresenta a Senhora G (Lulu Pavarin), uma justiceira peculiar.

Ela estuda o caráter das visitas que recebe em sua casa. Dependendo de seu julgamento, as envenena com chá de maçã verde. Segundo diz, age por amor à vida. "Para cada serpente existe uma maçã", acredita.

Para Pannunzio, a Senhora G é a versão feminina de Deus. "Ela assume o papel de ceifar a humanidade, distinguindo o bem do mal".

Apesar de seu poder quase divino, a Senhora G não passa de uma dona de casa que aplaca a solidão criando um mundo próprio em que rosas predominam e objetos falam.

Os delírios constantes da protagonista dotam de brilho sua existência. Ela fantasia ser uma estrela de rádio ou televisão e chega a se apaixonar por um Gene Kelly imaginário -na realidade, é o detetive que irá desmascará-la.

Em cena, está sempre sob os holofotes, falando com uma plateia ilusória. "Grifei o aspecto ficcional do texto. É como se tudo fosse um grande espetáculo", explica a diretora.

Segundo Jô, a peça é um reflexo da realidade. "Estamos sempre julgando e sendo julgados, nos alternando entre vítima e algoz."

Para ele, a obra resvala no teatro do absurdo, "revelando a degeneração de relações sem amor". É um retrato da insanidade da vida cotidiana pelo olhar da loucura.

"A realidade é massacrante. Nem todos transformam a vida em algo interessante. Escapar é uma imensa vantagem", diz a diretora.

FOLHA DE S. PAULO - Ótima direção atualiza fábula de "O Bosque"

Texto de David Mamet ganha jogo de contrastes com recursos inventivos e atinge uma densidade poética rara

A MONTAGEM DE ALVISE CAMOZZI, EM DIÁLOGO COM PROPOSTAS CÊNICAS MAIS RADICAIS, REALÇA OS NÃO DITOS

LUIZ FERNANDO RAMOSCRÍTICO DA FOLHA

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(29/9/2011) O teatro e os medos primitivos. "O Bosque", encenação de Alvise Camozzi de um texto antigo de David Mamet, explora o impacto de tudo o que é obscuro e desconhecido sobre a imaginação humana.Encenada pela primeira vez em 1977, pelo próprio dramaturgo norte-americano, a peça situa um jovem casal experimentando a solidão de uma casa de campo em três momentos: à tardinha, à noite e ao amanhecer.O tom naturalista dos diálogos de Mamet, um especialista em esconder o ouro sob o coloquialismo das falas, autorizaria uma cena realista sem grandes surpresas. A montagem, no entanto, em diálogo com propostas cênicas mais radicais, realça os não ditos e as dimensões invisíveis daquela relação.Assim, mesmo operando na contramão do naturalismo, evidencia as virtudes menos notadas da dramaturgia.Para isso, o diretor conta com o talento dos atores Bruno Kot e Cristine Perón. Ele é o dono da casa, na qual passou férias na infância e na juventude. Ela interpreta a namorada que visita o lugar pela primeira vez e desbrava seus segredos.

CONTRASTESÉ exatamente porque eles sustentam uma interpretação hipernatural, com um mínimo de afetação, que o contraste entre as falas e as cenas em que transcorrem se potencializa.Faz parte desse jogo de contrários um desenho de luz particularmente inspirado de Guilherme Bonfanti.É ele quem delimita os nichos em que a conversa se desenvolve. Primeiro num lusco-fusco vespertino e harmonioso. Depois na fria luminosidade da noite alta e ameaçadora. Finalmente na pálida e reconciliada aurora. Destaque-se que esses efeitos são obtidos com recursos inventivos e não convencionais.A cenografia de William Zarella Jr. também é decisiva para o efeito geral.Ao evitar elementos figurativos e constituir planos de atuação indefinidos, contém os corpos na espessura de uma escuridão crescente.Ao mesmo tempo, volumes informes desproporcionais ocupam uma metade do palco, em contraste com o vazio de referências que permanece na outra metade.Com todas essas oposições caprichosamente construídas, o espetáculo atinge uma densidade poética rara.Remetendo o texto de Mamet ao universo das florestas escuras dos temores infantis, a direção de Camozzi atualiza um drama esquecido e universaliza sua fábula, tornando-a emblemática de nossas névoas contemporâneas.

FOLHA DE S. PAULO - Peça fica aquém da densidade poética de Lúcio Cardoso

CRÍTICO DA FOLHA

(29/9/2011) O teatro devendo à literatura. "Crônica da Casa Assassinada", espetáculo dirigido por Gabriel Villela a partir do romance de Lúcio Cardoso (1912-1968), não se mostra à altura da obra-prima do escritor mineiro.

A adaptação de Dib Carneiro Neto sintetiza o livro de forma aberta, evitando artifícios dramáticos.

Respeita a sua estrutura sem ordenação cronológica, tecida à base de cartas, diários e confissões dos atormentados personagens do clã Meneses e dos que orbitam em seu entorno, numa cidade do interior de Minas.

O encenador conta assim, apenas, com vozes isoladas, além de recursos como um coro que organiza os relatos, para contar principalmente a história da personagem Nina, carioca que veio morar com um dos três irmãos no decaído casarão da família, e de seu amor incestuoso por um suposto filho que abandonara no nascimento.

Escrito por Lúcio Cardoso em 1959, o romance sonda as regiões do inconsciente e é reconhecida como o auge de sua obra.

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Villela serve-se do ambiente cenográfico, dos figurinos e de toda sorte de recursos performativos na dramatização, dialogando com a tradição simbolista e apostando na força alegórica dos elementos visuais. A tentativa é honesta, mas não traduz, de fato, as complexidades do livro.

Nem a narrativa à base de solilóquios e pontuais diálogos diretos clarifica a densa e atormentada psique de um núcleo familiar disfuncional e introspectivo, nem os elementos cênicos constituem uma atmosfera onírica que se imponha por si.

Há ênfase nas pulsões sexuais que assombram os personagens de Cardoso -ele próprio homossexual assumido em conflito com a fé católica- e na iminência do incesto. No entanto, o elenco é mediano, e só Xuxa Lopes, como a mãe que seduz o próprio filho, é convincente.

Mas o problema central é mesmo de dramaturgia, já que a dimensão mais interessante do romance, os conflitos subterrâneos no imaginário de personagens cindidos, não aflora.

Como as alegorias visuais propostas se mostram superficiais, aquém da densidade poética que Cardoso tangencia, o vínculo ao projeto simbolista também se frustra.

Se hoje tornou-se comum adaptar romances à cena, nem sempre a transposição é bem-sucedida. É o caso dessa montagem, em que o mistério, para Lúcio Cardoso "a única realidade deste mundo", permaneceu latente.

(LUIZ FERNANDO RAMOS)

CORREIO BRAZILIENSE - Léo e Bia para os brasilienses

Irlam Rocha Lima

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29/9/2011 - Léo e Bia , canção feita para um casal de amigos, na década de 1970, foi o primeiro sucesso radiofônico de Oswaldo Montenegro. Depois, ele escreveria e dirigiria uma peça com o mesmo título. Há dois anos o cantor, compositor, autor e diretor criou um roteiro para o cinema dando o mesmo nome ao filme, protagonizado pelos jovens atores Emílio Dantas e Fernanda Nobre; e contando com participação especial de Paloma Duarte.

A comédia dramática musical — na definição de Montenegro — lançada no CinePe (Festival de Cinema de Recife), em 2010, foi bem acolhida pelo público e pela crítica e levou prêmios nas categorias melhor atriz (Paloma Duarte) e melhor trilha sonora. Depois de exibido no Rio de Janeiro, emSão Paulo, e em outras cidades brasileiras, participou, neste ano, do Brasilian Fil Festival, em Los Angeles; e no Brazilian Endowment for the Arts Film Society, em Nova York, com boa receptividade.

Em seu primeiro trabalho como roteirista, diretor e produtor de cinema, Montenegro levou para a telas a adaptação da história do musical homônimo, sucesso nos palcos na década de 1980 — visto por público de 500 mil pessoas. “Uma ficção com base autobiográfica, Léo e Bia foi produzida e rodada no Rio em 10 dias, após jornada de cinco meses de ensaios com o elenco, e um mês de experimentação com movimentos de câmera. O filme se passa em um cenário único: a sala de ensaios de um grupo de jovens atores”, conta o diretor.

O longa que abre a mostra paralela Primeiros filmes, da 44ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, será apresentado hoje, às 15h, no Cine Brasília. Léo e Bia conta a história de sete jovens, em Brasília, no auge da ditadura militar, decididos a viver de arte. “Era 1973 e o Brasil assistia, então, a repressão se tornar cruel com quem ousasse sonhar”, observa Montenegro.

Paralelamente à repressão, a mãe de Bia (vivida pela atriz brasiliense Françoise Forton) “adoece”, e em sua desvairada obsessão pela filha, oprime-a cruelmente. Soma-se a isso a atmosfera opressora e a aridez cultural de Brasília na época.

Paloma Duarte faz Marina, personagem que narra toda a história. Ela é inspirada na flautista Madalena Salles, amiga e parceira profissional de Montenegro em todos os projetos dele — há mais de 35 anos.

Do elenco fazem parte também Pedro Nercesian, Vitória Frate, Pedro Caetano e Ivan Mendes, que dão vida aos personagens Encrenca, Cachorrinha, Cabelo e Brookie, respectivamente. Utilizando-se

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Elenco de Leo e Bia, filme escrito e dirigido por Oswaldo Montenegro

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de metáforas e simbolismos, Montenegro criou sua estética e linguagem cinematográfica, ao produzir cenários, lugares e sensações sem tirar os atores de dentro do estúdio. Não há objetos ou utensílios.

Na trilha sonora, Ney Matogrosso, Zélia Duncan — outros artistas que iniciaram artisticamente na capital —, Zé Ramalho, Sandra de Sá, Paulinho Moska e Glória Pires cantam músicas compostas por Oswaldo Montenegro, que bancou, com recursos próprios, toda a produção de Léo e Bia. O DVD do filme —distribuído pela Copacabana Filmes —será lançado hoje no Cine Brasília depois da exibição.

CORREIO BRAZILIENSE - A construção do discurso

Com influências de sons de Norte a Sul do país, Teatro Mágico lança o CD/DVD A sociedade do espetáculo e critica o racismo, a homofobia e a hipervalorização da internet

Maíra de Deus Brito

29/9/2011 - Fenômeno da internet com 5 milhões de transmissões de músicas dos discos Entrada para raros (2003) e Segundo ato (2008), 6 milhões de downloads e 300 mil álbuns vendidos, o grupo O Teatro Mágico completa oito anos de estrada e lança o último trabalho da trilogia: A sociedade do espetáculo. Com 19 faixas, o disco bebe na fonte de sons nordestinos em Nosso pequeno castelo, passa pela guarania gaúcha na Canção da terra, e chega até a batida do funk carioca de Novo testamento.

Inspirado no livro do francês Guy Debord, o título já diz, na capa, a que veio: reflexão sobre os tempos modernos. Desenhos lembram ilustres conhecidos, como Nelson Mandela, Fidel Castro, Karl Marx e Chapolin Colorado. “Algumas ilustrações realmente são aquilo que você está vendo, outras são só sugestões. A ideia é justamente essa: confundir. Elas representam a sociedade do espetáculo que, na verdade, somos todos nós”, explica Fernando Anitelli, vocalista e mentor da banda que, mais uma vez, traz composições engajadas.

Na canção Esse mundo não vale o mundo, a letra “essa hetero intolerância branca te faz refém” critica, no mesmo verso, a homofobia e o racismo. Na música O que se perde quando os olhos piscam (“Pronde vai... a culpa da cópia!? Pronde foi… a versão original!?), a referência é a Creative Commons, licença que flexibiliza os direitos autorais, utilizada pelo O Teatro Mágico.

Amanhã…será? fala das revoluções populares e do uso da internet. Quem diz que a revolução está saindo da internet está enganado, ela ainda vem do povo, a rede é só uma ferramenta. A insurreição está em nós e a primavera árabe traduziu isso muito bem” diz Anitelli sobre a terceira faixa do CD.Parcerias “Esse é um álbum que consolida as questões da pluralidade, das parcerias e do colaborativo”, sintetiza Fernando Anitelli sobre as participações especiais em A sociedade do espetáculo. O disco contou com a presença de Sérgio Vaz (Felicidade?), Pedro Munhoz (Canção da terra), Alessandro Kramer (Eu não sei na verdade quem eu sou), Nô Stopa (Folia no quarto), Leoni e do saxofonista da Dave Matthews Band, Jeff Coffin.

“A construção da música que fizemos com o Leoni foi toda virtual. Gravei um pedaço da melodia, ele colocou a letra, troquei umas palavras e a gente mudou o tom. Depois, ele colocou a voz, mixamos e Nas margens de mim estava pronta. Tudo pela internet. Mas hoje, esse comportamento é muito comum. Com o Jeff também foi assim. Ele mandou Transição por e-mail, colocamos no CD e a participação dele estava pronta”, revela o músico. Com os fãs, Anitelli compôs (também pela web) O que se perde quando os olhos piscam.

Além do produtor Daniel Santiago, outras duas crias do cerrado completam a lista dos ecléticos convidados do terceiro disco do grupo paulista: o gaitista Gabriel Grossi (Até quando…) e o baterista

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Rafael dos Santos, novo integrante da trupe. “Conhecemos Santiago pelo Hamilton de Holanda e, quando chegou a oportunidade de gravar o CD, não pensamos duas vezes em chamá-lo para produzir nosso novo trabalho. Rafael e Grossi também vieram pelo Hamilton e foi ótimo, pois todos são músicos virtuosos que ajudaram a amadurecer nosso trabalho”, finaliza.

CORREIO BRAZILIENSE - Encanto mambembe

A 10ª edição do Festival Internacional de Bonecos de Brasília prossegue até 28 de outubro em cidades do DF

Mariana Moreira

(02/10/2011) Desde o último dia 23, o Distrito Federal anda mais colorido, lúdico, repleto de uma arte que não é feita somente por gente, de carne e osso. Na 10ª edição do Festival Internacional de Bonecos de Brasília, a capital e Brazlândia são as cidades que hospedam, no momento, marionetes, fantoches, ventríloquos e mamulengos de todos os gêneros e nomenclaturas. Da abertura até hoje, dia em que se encerra a programação na região central de Brasília, a Funarte deve receber até 30 mil espectadores. Mas o festival, atualmente o mais longo do país, não fecha as cortinas ainda. A diversão prossegue até 28 de outubro.

Na comemoração de uma década do festival, a programação será estendida a 10 cidades. “As asas do avião já se abriram e ninguém mais acha que Taguatinga não é Brasília. Temos o compromisso de descentralizar as ações culturais de forma democrática, com um olhar de responsabilidade social”, afirma Ricardo Moreira, criador e curador do festival, que destaca os pontos altos da festa de bonecos, em sua primeira semana. As noites que se destacaram, até agora, foram a reunião dos mestres mamulengueiros, de regiões e gerações diferentes, e a apresentação de Afonso Miguel, brincante com mais de 30 anos de tradição, que já viveu em diversos países do mundo e está com a saúde debilitada, andando de muletas. “A arte consegue superar as diversidades da vida”, defende Moreira.

Os principais beneficiados por essa roda viva teatral são as crianças matriculadas em escolas da rede pública de ensino. Elas lotam os espetáculos durante a tarde. Esta semana, uma das atrações foi As aventuras de Cassimiro Coco, da piauiense Cia. Calunga. Fanhuca, um boneco genioso e brincalhão, que arrancou gargalhadas das crianças, ao tirar sarro de seu ventríloquo, o manipulador Chagas Vale.

Na segunda parte da apresentação, a companhia contou a história de Cassimiro Coco (denominação dadas aos mamulengos em alguns estados do Brasil), um malandro regional que usa causos divertidos e sabedoria popular para se livrar de enrascadas, em histórias que sempre contam com bois, cobras e almas penadas em seu enredo. “Trago de volta brinquedos que foram importantes na vida das comunidades antes da televisão e da internet”, comenta.

ZoológicoNos próximos dias, a agenda está recheada de uma profusão de bonecos de todos os tipos e tamanhos. Dois grupos que investem nessa seara vieram especialmente da Espanha (ambos estão pela primeira vez no Brasil) para mostrar seu estilo. O grupo Kamante, que há 15 anos mescla a expressão artística com uma proposta pedagógica, traz a montagem Que viene el lobo (Que venha o lobo). “É a história de um lobo de zoológico que quer ser lobo de conto, até se dar conta de que precisa ser feroz”, afirma a atriz Luisa Aguilar, uma das integrantes da companhia.

No lugar de bonecos, objetos. O próprio lobo é um filtro de café. Os pais da Chapeuzinho são feitos de funil e chaleira. Uma escova de cabelos customizada faz as vezes de porco-espinho. Como a releitura se apropria de outros contos da carochinha, os três porquinhos surgem no enredo. “Não buscamos uma estética infantil. Queremos que a criança se confronte com a arte contemporânea”, avisa Luis Vigil, o outro integrante da companhia. Para adaptar a montagem aos ouvidos brasileiros, eles traduziram e estudaram a pronúncia em português, um processo já utilizado para o italiano.

Os fãs de rock de todas as idades poderão ter acesso a uma proposta surpreendente. A dupla, também espanhola, Cia. Périplo Marionetas, criou pequenas marionetes dos Beatles e levou para o espetáculo um musical. “Começamos a trabalhar com técnicas de fios e gostamos. Vamos sempre

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aprimorando os bonecos, colocando mais fios, mais movimentos, material mais resistente”, afirma Diana Romero, uma das integrantes, acrescentando que ela e o parceiro, Andrés Maturana, seguem a técnica horizontal, influência alemã, que permite que os bonecos se movimentem mais.

O quarteto de Liverpool faz uma espécie de pocket show, com as canções Day tripper, I feel fine e Twist and shout. Antes disso, um casal de marionetes (Jack e Ella) faz uma dança de brigas e carinhos, ao som de uma miscelânea eclética, composta por Shakira, Billie Holliday e Tom Waits, entre outros. “Queremos que seja aberto, que seja para todos e que desperte nas crianças o interesse e a motivação pela música, pela carpintaria, pela arte”, deseja Maturana.

10º Festival Internacional de Bonecos de BrasíliaAté 28 de outubro, em cidades do DF. Plano Piloto: hoje, na Funarte (Eixo Monumental), às 16h, Suma daqui menino, com a Cia. Patética Teatro (SP). Na tenda João Redondo, às 16h, Bonecos de Kalunga, de Gilberto Calungueiro (CE). Na tenda Cassimiro Coco, às 17h, congada (DF). Às 18h30, Mestre Saúba e a Boneca Lindalva (PE). Às 19h, Bibiu e a Boneca Givanilda (PE). Brazlândia: (Rua do Lago, Área Especial 1), hoje, às 16h, Titiribeatles, da Cia. Périplo Marionetas (Espanha); e, às 18h, As caixeiras (DF). Entrada franca. Classificação indicativa livre.

Mestre bonequeiroUm dos mestres da tradição bonequeira do Nordeste de passagem por Brasília, Gilberto Calungueiro é um colecionador de história do universo dos fantoches, títeres e afins. Sua iniciação foi aos 7 anos, quando uma renomada apresentação de calungas (nome dado ao mamulengo no Ceará) passou por sua cidade, a pequena Icapuí. Sem dinheiro para o ingresso, ele resolveu trepar no muro para dar uma espiada na apresentação. Pisou em falso e acabou caindo por cima do artista, desvendando seus segredos, resguardados por um tecido. Depois, passou a recortar as ceroulas do pai, para criar fantoches. Nos primeiros teatros que fez em casa, cobrou palitos de fósforo como ingressos (eles eram escassos na época). Hoje, o ex-pescador já tem filhos formados, outros frequentando a universidade, mas sonha em manter a tradição na família. “Um filho meu, o Marquinho, já trabalha comigo, e vou fazer da minha neta de seis anos uma calungueira”, acredita.

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FOLHA DE S. PAULO - Teatro de Dança reabre em sala reformada do Sérgio Cardoso

Estreia neste sábado terá espetáculo de Maurício de Oliveira

DE SÃO PAULO

(3/10/2011) Após quatro meses fechado, o Teatro de Dança reabre em novo local neste sábado.O espaço, que ficava numa sala alugada pela Secretaria de Estado da Cultura no edifício Itália, no centro de São Paulo, ficará agora na sala Paschoal Carlos Magno do recém-reformado teatro Sérgio Cardoso, na Bela Vista.Com 152 lugares, o novo teatro terá programação elaborada por Cássia Navas, que já exercia essa atividade no antigo espaço. O espetáculo da reabertura é "Objeto Gritante", de Maurício de Oliveira.Ingressos subiram de R$ 10 para R$ 15 (inteira).Segundo o secretário Andrea Matarazzo, em 2012 serão investidos R$ 3 milhões na manutenção da sala e em editais de produção e manutenção de grupos de dança.No dia 11, a coreógrafa Deborah Colker inaugura em Piracicaba (SP) o projeto "Encontros Notáveis", que fará debates com artistas da área. A cada mês, uma cidade do interior paulista receberá a programação. (AMANDA QUEIRÓS)

FOLHA DE S. PAULO - Em Curitiba, peça é encenada em trem

Baseada em "Assassinato no Expresso do Oriente", de Agatha Christie, "O Enigma"encerra temporada hoje

Espectador é instigado a descobrir quem é o assassino; o melhor palpite ganha uma viagem como prêmio

ESTELITA HASS CARAZZAIDE CURITIBA

(4/10/2011) As cortinas não precisam se abrir, nem as luzes se apagar para que o espectador da peça "O Enigma" se sinta envolvido pelo espetáculo. Para tanto, basta chegar até o lugar da apresentação: uma estação de trem.

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Lançada no ano passado pela companhia EnCena, a peça ingressou, em agosto, no calendário permanente de atrações teatrais de Curitiba graças a uma parceria com a empresa que opera os trens turísticos do Estado.Inspirada no livro "Assassinato no Expresso do Oriente", de Agatha Christie (1890-1976), a peça é encenada em um trem de luxo, que vai de Curitiba a Paranaguá.Na apresentação, o público não vai além dos limites da ferroviária -o trem "quebra" e todos são convidados a descer até a oficina, onde acontece a cena final.A ideia, como em um clássico policial, é descobrir quem é o assassino, tarefa para a qual o público é convidado e à qual se dedica desde a chegada, com a leitura de um jornal que noticia o crime e dá as primeiras pistas.Mais do que suspense, a peça aposta no humor. "A ideia não é fazer algo pesado", conta o autor e diretor Juscelino Zilio. Em experiência anterior, a companhia encenou um espetáculo sobre um serial killer dentro de um mercado de antiguidades. Alguns espectadores passavam mal e tinham que ir embora.Em "O Enigma", os personagens, quase caricatos, jogam suspeitas uns sobre os outros, inclusive sobre o público, que é convidado a interagir o tempo todo.Quem dá o palpite mais próximo à solução do crime ganha uma viagem de Curitiba para Morretes, no litoral paranaense. De trem, claro. Nesta temporada, a peça tem uma última apresentação hoje. Ano que vem, preveem-se outras 30 apresentações bancadas pela lei de incentivo da prefeitura local.

O ESTADO DE S. PAULO - Longa jornada vida adentro

Best-seller jovem, Depois Daquela Viagem merece adaptação com novos recursos

MARIA EUGÊNIA DE MENEZES

5/10/2011 - A morte está à espreita. Mas é de vida que se está a falar. Em Depois Daquela Viagem, espetáculo que estreia hoje no Sesc Consolação, lida-se com um tema espinhoso: a história de uma menina que contrai o vírus da aids aos 16 anos. O que se apresenta no palco, contudo, não é uma sentença de finitude. Antes, fala-se da possibilidade de se aprender a lidar com esse fardo. E com as limitações que ele traz.

Assinado por Dib Carneiro Neto, o texto é uma transposição teatral do livro homônimo. Nele, Valéria Piassa Polizzi relata sua própria experiência com a doença. Como descobriu-se soropositiva aos 18 anos e qual o impacto do fato em sua vida desde então. A obra, que foi lançada em 1997, rapidamente tornou-se um best-seller. Vendeu cerca de 300 mil exemplares no Brasil. Mereceu traduções em países como Itália, Alemanha e México. Transformou sua autora em uma militante na luta pela prevenção.

Não é a primeira vez que Dib, ex-editor do Caderno 2, aventura-se na adaptação de obras literárias para a cena. Foi assim com Crônica da Casa Assassinada - versão do célebre romance de Lúcio Cardoso, atualmente em cartaz no Sesc Vila Mariana. E também já havia sido esse o caminho trilhado em Salmo 91: versão de Estação Carandiru, título de Drauzio Varella, que lhe valeu o Prêmio Shell de melhor autor em 2008.

No caso de Depois Daquela Viagem, porém, dois dados chamam a atenção. Primeiro, o tempo que o texto levou para sair da gaveta. Mais de dez anos. Depois, a relação estreita que o dramaturgo estabeleceu com Valéria na hora de compor a peça. Escrita uma primeira versão, eles seguiram conversando para acertar arestas. A intenção era chegar a uma versão que se aproximasse da verdade. Mas que também não resvalasse na mera propaganda pela prevenção. "Nunca quis fazer aula de educação sexual. Isso torna tudo muito chato. Esse ranço de mensagem, de lição de moral. Estou fazendo teatro", observa o dramaturgo.

Foi assim que essa problemática viu-se restrita a apenas uma das cenas da montagem. O que merece o primeiro plano é a jornada de compreensão e aceitação dessa personagem. "Quando comecei a escrever a questão ainda era cercada por muito preconceito. A palavra aids era praticamente sinônimo de morte", lembra Valéria. "E, durante uma viagem aos Estados Unidos, descobri que lá eles já estavam tratando tudo isso de uma outra maneira. Falando de pessoas vivendo com HIV. Mostrando outra realidade."

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Para contar essa saga, Dib valeu-se de alguns recursos que não estão na obra que lhe deu origem. Um deles é a repartição da protagonista, que aparece encarnada por três atrizes distintas. "Quando uma pessoa recebe uma notícia dessas, ela se esfacela. Tive a impressão de que a Valéria se dividiu", considera o autor. "Havia aquela que se tornou muito emotiva e se voltou para o passado. Outra, que teve de arregaçar as mangas e enfrentar os médicos, os consultórios. E, por fim, a pessoa livre que ela sempre foi. Com vontade de viajar o mundo."

Extravasar a questão da aids e refletir sobre outras manifestações de preconceito. Eis uma ambição que permeia o livro e que também atravessa o espetáculo. Na encenação, conduzida por Abigail Wimer, um grupo de 14 adolescentes retrata diferentes formas e fontes de discriminação. "Tem tudo a ver com essa noção de bullying, um conceito sobre o qual nem se falava quando o livro foi escrito", lembra Carneiro Neto.

Tempos que se misturam e se confundem são um recurso do qual o dramaturgo já se valeu em outras criações. E que voltam à baila na atual montagem. "Gosto de embaralhar a cabeça do público", ele admite. "Ainda mais jovem. É muito mais interessante que se saia com um monte de dúvidas do que com uma historinha com começo, meio e fim."

ARTES PLÁSTICAS

O GLOBO - Ancelmo Gois / Coluna

1/10/2011 - PARECEM FOTOS, mas as imagens acima são obra do pintor realista Leonel Brayner, um carioca radicado em Salvador há 20 anos. O artista, descoberto por Ruy Castro, nosso grande escritor, reuniu essas e outras pinturas, que também retratam a Cidade Maravilhosa nos dias atuais e no século passado, no livro “Rio, pena e pincel”, que será lançado dia 10 pela Casa da Palavra. A obra é recheada ainda com pequenos contos da escritora Heloisa Seixas. Modéstia à parte, o Rio merece.

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FOLHA DE S. PAULO - Artista faz árvore de bronze em Inhotim

Giuseppe Penone rodeou escultura com plantas reais que vão incorporar obra à paisagem real de Minas Gerais Italiano integrou a 'arte povera', movimento italiano dos anos 70 conhecido pelo uso de materiais precários SILAS MARTÍ

2/10/2011 - Debaixo de uma tenda, Giuseppe Penone foge do sol e olha para sua árvore de bronze. Ela está suspensa por hastes metálicas entre cinco plantas de verdade num descampado de terra vermelha. Sua ideia é que as copas das árvores reais em torno da sua artificial acabem engolindo a escultura e fundindo as formas naturais às pensadas pelo homem, numa espécie de arquitetura ao contrário. "Usei a árvore como matéria que se plasma no tempo", diz o artista italiano, que acaba de construir o trabalho no Instituto Inhotim, em Brumadinho, no interior mineiro. "É um material fluido." Não é a primeira vez que ele usa árvores em seus trabalhos, mas, no caso do Inhotim,paraíso do magnata Bernardo Paz que mistura selva e arte contemporânea, a obra do artista se transforma. Penone integrou a escola estética da "arte povera" (arte pobre) surgida na Itália nos anos 70. Pertenceu à geração de artistas que via na natureza ou em descartes do cotidiano as formas quase prontas de seus trabalhos. Uma ideia de que arte se constrói com nada ou quase nada. Os conceitos do movimento ganham outras dimensões ao entrar em contato com a paisagem local, que vai dos descampados ainda não ocupados por obras aos jardins transformados por artistas como Doug Aitken, Cildo Meireles e Adriana Varejão. IMAGENS AUTOMÁTICAS "São imagens automáticas da nossa existência, toda obra parte da ideia de que ela é já existente", diz Penone. "Quando faço uma escultura, estou mostrando seu processo de fatura, é esse processo que se torna o conteúdo." Em seus primeiros trabalhos, por exemplo, o artista interferia no crescimento das árvores, pregando objetos aos troncos para que fossem engolidos no desenvolvimento da planta. Também embaralhou as raízes de três árvores, para que crescessem juntas. Penone começa sem saber o resultado final, pensando a escultura como ato em transformação ao longo dos anos, da mesma forma que o corpo humano cresce e definha. Seu próprio corpo está em muitos trabalhos. Ele chegou a replicar as formas das mãos e dos pés em argila e a estampar em chapas de vidro toda a extensão da própria pele num trabalho dos anos 70. Duas décadas depois, reproduziu a textura da casca de árvores em pedaços de couro, na tentativa de mesclar peles vegetal e animal. "São todas motivações ligadas à ideia de escultura, formas que ocupam um espaço", diz Penone. "Até a respiração produz formas diretas." Essa ideia ele explorou em outra série, feita de vasos de argila com o mesmo volume de ar que ele calculou caber em sua boca. Agora, espera ver surgir, nas copas de suas árvores, uma espécie de catedral de folhas.

FOLHA DE S. PAULO - Centro mineiro inaugura série de obras na quinta

2/10/2011 - Muito perto da árvore de bronze de Giuseppe Penone, será inaugurada também nesta quinta uma espécie de colmeia feita de sacos de cimento pelo artista norteamericano Chris Burden.Na mesma pegada natural, a brasileira Marilá Dardot criou vasos de flores no formato de letras do alfabeto, que visitantes poderão mover para compor frases e palavras num dos amplos gramados de Inhotim.Penone, Burden e Dardot engrossam a lista de novas aquisições, que conta ainda com o brasileiro Marepe, que construiu uma espécie de calha d'água tortuosa, e o suíço Thomas Hirschhorn.No caso de Hirschhorn, a obra que ele apresentou na Bienal de São Paulo em 2006 ganha nova versão no Instituto Inhotim: uma espécie de labirinto que mistura referências filosóficas e atrocidades de guerras recentes, como imagens de corpos destroçados.Na mesma galeria, um vídeo de Cinthia Marcelle retrata um grupo de malabaristas que bloqueiam um cruzamento no trânsito, enlouquecendo motoristas.Noutro espaço, estão obras dos alemães Lothar Baumgarten e Isa Genzken. Enquanto ele reinterpreta e classifica paisagens da Amazônia nas telas do holandês Albert Eckhout, ela reapresenta sua obra da última Bienal de São Paulo.

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Também entra para o acervo uma série das famosas pinturas enviadas por correio do artista chileno Eugenio Dittborn, homenageado com uma retrospectiva na Bienal do Mercosul agora em Porto Alegre. (SM)

FOLHA DE S. PAULO - Interior de SP entra no circuito da arte

Instituto Figueiredo Ferraz exibe coleção particular com Adriana Varejão, Tunga, Iole de Freitas e outros

Inaugurado em Ribeirão Preto, novo museu terá parceria com instituições de arte da cidade de São Paulo

JULIANA COISSIDE RIBEIRÃO PRETO

3/10/2011O colecionador João Carlos de Figueiredo Ferraz, 59, abre ao público amanhã em Ribeirão Preto, no interior paulista, o instituto que leva seu nome e pretende pôr a região no mapa das artes do país.Com um acervo de quase mil obras, entre quadros, esculturas e instalações, Ferraz, paulistano que vive na cidade do interior desde os anos 80, pode ser considerado um dos maiores colecionadores do país, segundo especialistas ouvidos pela Folha.Entre os artistas de seu acervo estão Leda Catunda, Adriana Varejão, Vik Muniz, Tunga, Iole de Freitas e Nuno Ramos, além de estrangeiros.Agnaldo Farias faz a curadoria de "O Colecionador de Sonhos", mostra de abertura do museu, com 154 obras do acervo de Ferraz. A visitação, de terça a sábado, é gratuita.Segundo Farias, um acordo com a Pinacoteca do Estado, o Instituto Tomie Ohtake e o Itaú Cultural deverá propiciar a ida de exposições desses espaços, na capital paulista, para exibição no Instituto Figueiredo Ferraz."Vamos receber e também propor exposições", afirma Farias, que já foi curador da Bienal de São Paulo.Fora do eixo Rio-SP, a referência para a arte contemporânea é Inhotim, instituto próximo a Belo Horizonte, com um acervo de 500 obras."Boa parte das obras lá foram elaboradas para aquele espaço. No meu caso, é o oposto: eu tinha já coleção e faltava espaço para ela." O colecionador quer, agora, concretizar um segundo desejo: promover em 2013 uma exposição inédita que reúna obras de artistas que despontaram na década de 1980 em torno do ateliê Casa 7. Nuno Ramos, que fez parte do grupo e está na mostra atual, diz que faltam ações no país como a de Ferraz."Vejo um número razoável de colecionadores, mas poucos que conseguem mostrar a coleção ao público."

BOUMBANG - Poil de sorcière! – Cildo MeirelesAitor Alfonso septembre 30th, 2011 No Comments

Biennale de Lyon 2011

Cildo Meirelles est né en 1948, à Rio de Janeiro au Brésil. Il est plasticien et sculpteur. Il expose en ce moment à la Biennale de Lyon son installation La bruja 1, déjà présentée au Frac Lorraine à Metz en 2009.

Il était une fois une sorcière, bruja, qui habitait au troisième étage du Musée d’Art Contemporain de Lyon. Malgré la peur qu’elle suscitait, tout le monde voulait la voir, la regarder en face, lui parler peut-être. Pour arriver jusqu’à elle, il fallait suivre un chemin. En voici le récit.

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Cildo Meireles, La bruja 1, © Frac Lorraine, Metz, 2009.

En sortant de l’ascenseur, le visiteur est surpris par un maillage de longs fils noirs coulant sur le sol d’une salle étroite. S’immisçant dans les recoins, clairsemant le parquet, cette tâche de cheveux semble s’étendre plus loin, bifurquer derrière la porte de la salle suivante. Le spectateur, intrigué, y voit un appel, un chemin à suivre vers un pays qu’il devine d’emblée fantastique.

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Cildo Meireles, La bruja 1, © Frac Lorraine, Metz, 2009.

Soudain, la tâche devient une mer, noire, immense, recouvrant les 300m2 de la salle principale. La chevelure occupe tout l’espace puis converge, au fond de la salle, vers un coin. Dans ce coin est posé un balai. On comprend que ces fils en sont les poils infinis. Le balai devient sorcière, dans une fusion cocasse qui confond le personnage et son objet fétiche.

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Cildo Meireles, La bruja 1, Lyon, 2011. Blaise Adilon ©.

Cildo Meireles, La bruja 1, © Frac Lorraine, Metz, 2009.

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Cildo Meireles, La bruja 1, © Frac Lorraine, Metz, 2009.

Le fil s’accroche aux chaussures, gêne l’avancée du spectateur, l’oblige à se pencher pour s’extraire de ce piège avec ses mains. La présence de l’œuvre est ressentie par les semelles autant que par la rétine. La sorcière-balai est une Raiponce sombre et amusante qui nous prend dans le filet de ses cheveux interminables. L’installation évoque des scènes de contes populaires ou de cauchemars de cagibi mais dépourvues d’effroi, rendues à la joie et au jeu. On se laisserait volontiers prendre par l’immense araignée de cette toile, qu’on imagine en polochon. Quelque chose entre le douillet et le phobique. Un exorcisme ludique se produit.

Le corps et l’esprit sont mobilisés. L’entrave les libère. Cette oeuvre à marcher devient interpellation plaisante, réflexion sur l’habituelle inertie de la déambulation – physique autant que mentale – dans les salles d’exposition. Car on contemple et on pense comme on marche.

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Avec un humour et une allégresse qui touchent juste, Meirelles nous réapprend à marcher, à regarder depuis l’imaginaire, compris comme force active, dynamique, comme présence aux choses. Comme abolition de l’indifférence.

Cildo Meireles, La bruja 1, Ville de Metz ©, Metz, 2009.

Cildo Meireles, La bruja 1, © Frac Lorraine, Metz, 2009.

La poésie est dans le regard posé sur le monde et, à cet égard, l’objet le plus banal peut être comme le miroir que Lewis Carroll a donné à son Alice. Meireles semble nous rappeler que le plus intense des voyages est intérieur, domestique. C’est celui, par exemple, que l’on faisait dans sa chambre étant enfant lorsque, plongé dans la pénombre, on reconnaissait des chevaliers en arme dans les contours d’un porte manteau, une fée hagarde dans la tâche d’un mur, des animaux impossibles dans le jeu d’une ombre portée. Il est tant de se réveiller.

En quittant la salle, on jette un dernier coup d’œil à la beauté plastique de cette matière filandreuse et omniprésente. On ne sait pas si ce fil est un rebut ou une ligne de force. S’il est

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un principe de chaos dans l’espace épuré du musée ou l’image d’un ordre surnaturel. Mais on sort de là avec un sourire repu, comme lorsqu’on a fait un beau voyage en pays de féérie. Sachez-le, ce balai est une sorcière gentille, embêtante mais gentille.

Cildo Meireles, La bruja 1, © Frac Lorraine, Metz, 2009.

La Bruja I a été présentée pour la première fois dans le cadre de la Biennale de Sao Paulo en 1981. Elle fut installée une seconde fois au Frac Lorraine à Metz en 2009. À la Biennale de Lyon, pour sa troisième sortie, la sorcière à nécessité quelques 3000 kilomètres de fils. Voici une vidéo montrant la fabrication de l’œuvre à Lyon.

O ESTADO DE S. PAULO - Mostra anticlichês

MARIA HIRSZMAN, ESPECIAL PARA O ESTADO

5/10/2011 - O Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP inaugura amanhã sua última grande exposição em sua sede original, no terceiro andar do pavilhão da Bienal de São Paulo. Em meio aos últimos preparativos de sua novas instalações no antigo prédio do Detran (leia ao lado), a instituição traz a público os grandes destaques de seu acervo para investigar um tema em estreita relação com a própria identidade do museu: as várias faces da modernidade brasileira, em intenso diálogo com a produção internacional.

Muito já se repetiu que o MAC vive uma espécie de conflito de personalidade, sendo simultaneamente um museu de arte contemporânea e detentor de uma das mais importantes coleções modernistas do País, doada por Ciccillo Matarazzo à USP em 1963. Ao invés de consolidar essa cisão do acervo em dois grandes blocos - modernista e contemporâneo -, o diretor do museu, Tadeu Chiarelli, vem procurando explorar essa dualidade, promovendo um questionamento permanente de certos paradigmas vinculados à arte moderna a partir de uma inquietação e de um questionamento típicos da contemporaneidade.

Tomando como ponto de partida o estabelecimento de uma série de diálogos (alguns deles inusitados) num conjunto de cerca de 150 trabalhos, o curador procura demonstrar como é limitada a tese de que a modernidade no Brasil nasce da vontade individual de alguns artistas - personificada por exemplo nas telas de teor expressionista expostas por Anita Malfatti em 1917 ou na mitificação em torno da Semana de Arte Moderna de 1922 - para se esgotar em meados do século 20.

Outro desses lugares comuns colocados em xeque pelas próprias obras reunidas no acervo do MAC seria a necessidade da crítica, um tanto artificiosa, de atribuir uma radicalidade nem sempre presente

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a essa produção. "Por mais radicais que fossem os modernos, eles sempre respeitaram os paradigmas das belas-artes", sintetiza Chiarelli.

Como se fizesse um percurso às avessas, a mostra é aberta com três obras que propõem um rompimento efetivo com os modelos normativos da pintura e da escultura: O Grande Móbile Branco, de Alexander Calder; a tela cortada por Lúcio Fontana, intitulada Conceito Espacial; e a única obra de Lygia Clark presente no acervo do MAC, Plano em Superfícies Moduladas n.º 2, de 1956.

Segundo Chiarelli, ao questionarem os limites da tela e da representação tridimensional, esses trabalhos estabelecem uma espécie de linha divisória, de superação da modernidade. A novidade está exatamente em seu caráter mais experimental, na proposição de uma "relação entre o espaço real e o espaço da arte".

Tendo esses momentos radicais como marco de chegada, a mostra se organiza em torno de cinco grandes segmentos nos quais a curadoria procurou ressaltar diálogos entre as modernidades europeia e brasileira. O primeiro trata das experimentações concretistas e tem como eixo a célebre escultura Unidade Tripartida de Max Bill, premiada na Bienal de São Paulo.

Chiarelli recusa, no entanto, atribuir à escultura um protagonismo total na divulgação desse repertório no País, atribuindo a outros artistas como Sophie Taueber-arp e Andre Lhote o papel de disseminadores do pensamento construtivo entre os artistas brasileiros.

Num segundo momento, estão reunidos os trabalhos nos quais a arte é vista como um espaço de alteridade, de criação de novos mundos, congregando obras costumeiramente afiliadas ao expressionismo ou ao surrealismo. Convivem assim, numa mesma parede, retratos pintados por artistas como Flávio de Carvalho, Ismael Nery, Picabia e Picasso.

Revela-se a partir desse confronto um leque amplo de nuances, muitas vezes ocultos quando se adota uma segmentação em escolas ou cronologias excessivamente esquemáticas, e uma permanência dos esquemas compositivos vinculados ao gênero do retrato, que sobrevivem apesar dos diferentes experimentalismos formais e expressivos identificados individualmente.

Evidentemente a necessidade de se fazer um recorte enxuto, em função do espaço exíguo acabou fazendo com que a seleção privilegiasse as obras de primeira grandeza dessa coleção, como A Boba, de Anita Malfatti, a já mencionada tela de Pablo Picasso ou A Santa da Luz Interior, de Paul Klee. Há na exposição, no entanto, alguns trabalhos nunca mostrados antes e de grande interesse, como a aquarela A Vaidade, de Alfred Kubin, professor de Oswaldo Goeldi em sua estadia europeia.

Um dos pontos de maior destaque é o terceiro bloco, que traz à tona um aspecto bastante recorrente no modernismo brasileiro de segunda geração: a presença em muitos artistas de uma vontade de situar sua produção na fronteira - rica e problemática - entre abstração e arte figurativa. Aí se encontram Volpi, com suas fachadas geometrizadas, as paisagens fantasiosas de Lívio Abramo e até mesmo uma surpreendente escultura de formas orgânicas irreconhecíveis, de Victor Brecheret.

Outro mito colocado em questão pela mostra em seu quarto segmento é a apregoada afirmação de que a arte moderna não faria mais recurso à alegoria, como forma de representação de uma ideia ou conceito. Chiarelli demonstra como a noção de barbárie está presente nas botas sujas de sangue representadas por Andre Grosz ou como o poder se encontra corporificado na composição O Enigma de Um Dia, de Giorgio de Chirico.

Encerrando a exposição está o núcleo dedicado a um outro bloco de obras abstratas, desta vez porém enfatizando o aspecto expressivo, a gestualidade muitas vezes catártica do artista.

Além da mostra Modernismos no Brasil, o MAC também expõe a partir de amanhã um conjunto de doações recentes, confirmando seu interesse em expandir o acervo, com obras de Arcângelo Ianelli, Sandra Cinto e um trabalho conjunto de Leonilson e o artista alemão Albert Hien.

Também está em cartaz no espaço do Parque do Ibirapuera a mostra MAC em Obras, que propõe ao público, aos artistas e aos conservadores o desafio de refletir sobre uma série de desafios vinculados

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à conservação e exposição da produção contemporânea. "Quem mais, a não ser um museu universitário, poderia fazer isso?", pergunta Chiarelli.

O ESTADO DE S. PAULO - Inventário traz inéditos de Aleijadinho

Catálogo que será lançado no dia 21 atualiza conjunto de peças do artista

JOSÉ MARIA TOMAZELA

5/10/2011 - Um novo inventário das obras do mestre mineiro Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814), acrescenta 61 esculturas sacras ao acervo já conhecido de criações do artista. O conjunto de 486 trabalhos é o maior já atribuído ao escultor e está reunido na nova versão de O Aleijadinho - Catálogo Geral da Obra, do historiador mineiro Márcio Jardim, em coautoria com o também historiador Herbert Sardinha Pinto e com o pesquisador Marcelo Coimbra. O livro será lançado no dia 21, em São Paulo. Espera-se polêmica: alguns pesquisadores criticam o que consideram excesso de atribuições de autoria ao mestre do barroco sacro que, segundo eles, confiava parte do trabalho a auxiliares. Outros consideram que o estilo do Aleijadinho foi bastante imitado por artistas menores e muitas obras não seriam suas.Para Jardim, que no catálogo anterior, editado em 2006, havia relacionado 425 esculturas, a polêmica é natural. "Uma das questões mais ouvidas por quem se dedica ao trabalho de historiar a vida do Aleijadinho se concentra na dúvida sobre o número de suas obras." Segundo ele, os autores do novo inventário sustentam a tese de que todas as obras apresentadas até agora são efetivamente de Aleijadinho e que ainda há muitas a serem descobertas. "A primeira razão para esse entendimento é que o artista viveu 84 anos e foi sempre obrigado a trabalhar para sustentar a si, quatro escravos e uma oficina com diversos auxiliares, não tendo outra fonte de renda", explica Jardim. A segunda, segundo ele, é que a maior parte das obras do escultor mineiro é constituída por esculturas de pequenas dimensões - entre 20 e 40 centímetros - e de madeira leve, macia, geralmente o cedro. No tocante à autoria, o historiador lembra que, no caso do Aleijadinho, a atribuição por documento é apenas subsidiária, pois várias obras encomendadas a outros artistas foram subempreitadas a ele.Como exemplo, ele cita os trabalhos realizados para a Ordem Terceira do Carmo, que não admitia membros não brancos - Antonio Francisco Lisboa era pardo. "Um terceiro aparecia eventualmente como contratado ou garantidor por fiança, entregando o serviço à oficina do artista", conta. Algumas dessas transações foram documentadas e os recibos fazem parte da publicação.O catálogo inclui pela primeira vez o pouco conhecido acervo das coleções particulares, já que alguns desses colecionadores são avessos à publicidade. "Estamos trazendo ao conhecimento público imagens sacras esculpidas pelo Aleijadinho e preservadas pelos colecionadores privados ao longo dos dois últimos séculos", afirma Jardim. Coube a Marcelo Coimbra, com sua experiência de antiquário, a tarefa de convencer os donos das peças a permitir que fossem descritas e fotografadas. "Muitas estavam guardadas a sete chaves e nunca foram mostradas", contou Coimbra. Em sua atividade profissional, ele teve contatos com colecionadores de arte antiga de todo o Brasil e há mais de uma década decidiu se dedicar à obra do Aleijadinho - foi curador de várias mostras do artista. Coimbra visitou os 20 colecionadores que possuem esculturas do mestre mineiro e constatou que 80% das obras em coleções particulares estão em São Paulo. "Muitas são esculturas de pequeno porte, feitas para oratórios domésticos." Embora a produção mais abundante e conhecida esteja nas cidades históricas de Minas Gerais - são relacionadas obras em 18 cidades mineiras, de Ouro Preto a Belo Horizonte, passando por Mariana, Sabará, São João Del Rei, Tiradentes e Congonhas -, o catálogo traz também as peças que compõem o acervo público do artista em São Paulo, encontrado no Museu de Arte Sacra, no Museu de Arte de São Paulo e no Palácio dos Bandeirantes - uma única escultura, um São José de Botas. Prova de que há o que ser descoberto, Coimbra relata que encontrou por acaso uma peça até então não identificada de Aleijadinho na igreja de Nossa Senhora Rainha dos Anjos, em Mariana. "Fui observar um trabalho de um contemporâneo dele, Francisco Vieira Servas, quando reparei no altar colateral esquerdo, em cedro, muito parecido com os da Igreja do Carmo de Sabará." Ao notar o estilo do mestre mineiro no entalhamento da madeira, ele não teve dúvida: "Era mesmo um Aleijadinho, como confirmou depois o Márcio Jardim." O altar colateral está entre as obras inéditas do catálogo. Para marcar o lançamento, no dia 21, o Círculo Militar de São Paulo (Rua Abílio Soares, 1.589, Ibirapuera) vai expor 38 obras atribuídas a Aleijadinho, uma celebração prévia do bicentenário de sua

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morte, que transcorre em 2014. Dessas, 16 são inéditas, com destaque para um São João Batista esculpido entre 1781 e 1790, fase de maturidade plena do autor. A mostra recebe visitantes de 21 a 30 de outubro, com entrada franca.

MÚSICA

O GLOBO - Um erudito que flerta com a platéia

O carioca da Tijuca e flamenguista que concorre ao Grammy Latino na categoria composição clássica

Cora Rónai

(02/10/2011) No próximo dia 10 de novembro, quando a Mandalay Bay Arena, de Las Vegas, se abrir para receber os candidatos ao Grammy Latino, lá estará, na categoria composição clássica, ao lado de gigantes como Lalo Schifrin e Paquito D’Rivera, o brasileiro Sergio Roberto de Oliveira.

Sergio quem?!

Pois é: nisso é que dá insistir em fazer música erudita num país que vive à base de música popular. Enquanto qualquer mocinha que suspira num microfone ganha capas de revistas e quilômetros de reportagens, Sergio Roberto, um de nossos principais músicos clássicos, está longe de ser um nome conhecido, mesmo às vésperas de completar 15 anos de carreira.

Mas ele não se queixa. Na verdade, tem até uma explicação para o abismo que separa hoje as duas vertentes musicais:

—- Há um motivo histórico para isso —- diz. —- A música erudita passou por mudanças muito radicais no século XX, ao passo que a música popular continuou se valendo dos mesmos conceitos harmônicos e dos mesmos padrões estéticos que a música erudita usava há 200 anos. Isso faz com que as pessoas sintam uma intimidade instantânea com o popular, que já conhecem. Ao mesmo tempo, os próprios compositores eruditos se distanciaram do público. Schönberg, um dos principais responsáveis pela mudança de sonoridade que se viu ao longo do século passado, dizia que a platéia só era importante porque a acústica de uma sala de concertos vazia é muito ruim. Essa postura dos compositores contribuiu muito para alienar o público. Claro: se você despreza o público, o público acaba por desprezar você.

Vinda de um músico erudito, a afirmação é surpreendente; vinda de Sergio Roberto Oliveira, porém, faz todo o sentido. Ao contrário da maioria dos seus pares, ele discorda frontalmente da blague de Schönberg, e faz questão de agradar e de cultivar seu público. Para ele, a música não existe enquanto não é ouvida. Assim, a comemoração dos 15 anos de carreira não se prende ao momento em que compôs pela primeira vez, mas sim ao momento em que, pela primeira vez, uma música sua foi tocada em público.

—- A arte não é para uma plateia vazia. Quero meus aplausos enquanto estiver vivo, depois não tem graça! Acho que a vida é isso. Veja o Lalo Schifrin, aquele artista imenso: ele não foge da comunicação com o público, pelo contrário. Escreve música para cinema, não tem medo de uma boa melodia — observa.

Sergio está longe de desprezar as vanguardas; ao contrário, acha que têm um papel relevante no desenvolvimento da música. Apenas acha que elas não podem se sobrepor à comunicação, que é, afinal, o principal propósito de toda a arte.

Carioca, tijucano e flamenguista — a única referência visual no seu estúdio da Rua Santa Alexandrina é uma bandeira rubro-negra — ele nasceu mais ou menos destinado à música: é afilhado do jornalista e compositor Sergio Bittencourt (filho de Jacob do Bandolim, e autor do clássico “Naquela mesa”), e cresceu em meio a rodas de choro e samba.

Só foi estudar piano relativamente tarde, aos 15 anos, mas a cabeça vivia na frente dos dedos: por que aquela nota, por que esse tema, por que aquela variante? Na sequência, estudando música no

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Villa- Lobos, e composição com Guerra Peixe, começou a descobrir o mundo erudito, conhecimento que seria consolidado, mais tarde, na UniRio, onde foi aluno de Dawid Korenchendler.

—- Eu não comecei a compor com a idéia de me tornar um compositor erudito — diz ele. — Comecei compondo canções, que enviava para as cantoras e cantores de quem eu gostava, mas nunca recebi sequer um bilhetinho de rejeição. Um dia houve um concurso de música erudita na Rio- Arte; eu inscrevi um trabalho e, de cara, ganhei o segundo lugar. A apresentação foi na Sala Cecilia Meirelles e tinha até um prêmio em dinheiro. E eu pensei, “É isso que eu sei fazer! As pessoas gostam, batem palma e até me dão dinheiro!”. Eu estava perdendo tempo fazendo canções.

A vida real logo deu um chega pra lá nas ambições do jovem compositor: depois da primeira performance da sua música, no concurso da Rio- Arte, passou-se um ano até que outra composição sua fosse apresentada ao público. Não era nada daquilo com que ele sonhava. Que fazer? Correr atrás, é claro. Sergio não acredita na imagem do criador trancado na sua torre de marfim, meditando e compondo, longe de tudo e de todos.

No mundo da música, as peças são encomendadas aos compositores pelos intérpretes. Por que não inverter a proposta? Assim, com um grupo de seis colegas, ele fundou o coletivo de compositores Prelúdio XXI. O grupo consegue concertos, cria séries, promove eventos — e chama os intérpretes necessários para tocar a música de seus integrantes.

Tem dado tão certo que, há quatro anos, eles mantém uma série no Centro Cultural da Justiça Federal, na Cinelândia. Vai ao ar no último sábado de todo mês, às 15hs — e todos os sábados, os 80 lugares da sala ficam tomados. É um sucesso raríssimo para compositores eruditos, mas a qualidade da música, e sua devoção ao público, ajudam muito.

—- A música de Sergio Roberto Oliveira tem o raro mérito de ser compreensível e agradável à primeira audição, tanto que o público é seduzido mesmo que nunca tenha ouvido qualquer de seus trabalhos antes — diz o crítico musical e flautista Tom Moore, um americano apaixonado pelo Brasil.

— Quando apresento concertos de música contemporânea incluindo o seu trabalho, ele é invariavelmente o favorito do público. Quando a sua música é ouvida num programa onde é apresentado um repertório mais tradicional, os ouvintes sempre fazem comentários do tipo “Eu não gosto de música moderna, mas adorei essa peça!”. É que ele escreve num idioma moderno que ainda assim é acessível.

Tanto Tom Moore quanto o compositor Mark Hagerty, outro estrangeiro fascinado pelo trabalho de Sergio, destacam a brasilidade do seu trabalho:

—- É impossível imaginar uma mistura mais bem-sucedida de ritmos brasileiros, harmonias instigantes, estruturas rigorosas e lirismo comovente — diz Mark.

Os dois o conhecem de estreias e palestras nas universidades de Princeton, Duke e Maryland, nos Estados Unidos, onde Sergio é presença frequente (chegou a ser Artista em Residência em Duke, em 2009).

Outros concertos levaram sua música para o Conservatório de Amsterdã, na Holanda, e para a universidade de Salford, na Inglaterra. Além disso, sua obra é publicada pelas editoras Falls House Press, nos Estados Unidos, e Peacock Press, na Inglaterra.

Recém-separado, pai de Laura, de 17 anos, que estuda História da Arte mas envereda pela dança, Sergio planeja as comemorações pelos 15 anos de carreira, que serão realizadas em grande estilo. A partir já de novembro, o Centro de Cultura da Justiça Federal vai apresentar três meses de concertos semanais com o seu trabalho, que será lançado, ao longo de 2012, em quatro CDs. A revista Fanfare, de Nova York, espécie de Bíblia do mundo das gravações eruditas, já avisou que quer fazer uma resenha dos CDs e apresentá- la junto com uma grande entrevista. O mais curioso é que a ideia desses CDs tão aguardados nasceu quase que por acaso. Sérgio é dono de um simpático e muito bem equipado estúdio de aluguel, A Casa, mesmo nome do selo da sua gravadora. A ficha caiu há pouco tempo: porque não gravar a sua própria obra?

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Como já aconteceu neste ano de 2011, o Prelúdio XXI abrirá a sua temporada de 2012 em Nova York, mas as duas maiores emoções a mexer com o coração do compositor correm por conta da indicação ao Grammy e de “Dois”, uma peça de teatro instrumental que prepara para o ano que vem.

—- Se eu ganhar vai ser um sonho, mas nem faço questão disso —- diz, com sinceridade. Imagina, os caras com quem eu estou concorrendo têm 40 anos de carreira, e eu tenho 40 anos de vida! Estar ao lado deles já é um prêmio.

Quanto a “Dois”, é uma peça para duas flautas, em cinco movimentos, com elementos cênicos: a história da relação entre duas pessoas, contada em forma de música.

—- Tenho chorado nos ensaios —- confessa o compositor, que, não por acaso, concorre ao Grammy com “Umas coisas do coração”.

CORREIO BRAZILIENSE - Do fundo do coração

Daniel apresenta o 17º álbum da carreira, Pra ser feliz, apostando em um repertório romântico

Luiz Prisco

4/10/2011 - O estilo romântico, a pinta de galã, o jeito sedutor e as letras recheadas de histórias de amor. Apesar de estar no 17º álbum da carreira, Daniel mantém as principais características que o acompanharam durante a vida na música. Em Pra ser feliz — último trabalho lançado pelo cantor — o sertanejo não inova e aposta em um disco construído em cima do romantismo habitual. Entre as faixas, canções que o artista tinha guardadas, regravações e uma homenagem a Roberto Carlos.

O nome do disco, Pra ser feliz — o mesmo da principal faixa do novo CD —, não foi escolhido por acaso. A canção composta por Elias Muniz representa o atual momento da vida de Daniel. “A escolha foi proposital. Mostra aquilo que eu busco para mim, minha essência, o que eu sou e gosto. Talvez tudo aquilo que minha família me proporcionou: amor e estrutura”, comenta.

Pra ser feliz representa, segundo o próprio artista, um momento novo na carreira. “Eu diria que estou vivendo um momento especial, de amadurecimento acima de qualquer coisa e de muitas realizações pessoais, profissionais e familiares. Isso me fez entender um pouco melhor o que a minha própria carreira significa para mim e para os fãs”, explica.

O novo disco é bastante revelador sobre a vida de Daniel, que deseja dedicar mais tempo à família e ao novo filho, que está a caminho. O repertório e a composição Pra ser feliz mostram esse estado de espírito. Um exemplo é a faixa Filho do mato, que fala sobre a vida de quem foi criado na roça, mas se mudou para a cidade grande por algum motivo. Versos como “Quem tem raiz no chão/morando na cidade mistura saudade com alucinação” deixam clara essa ligação. “Essa música retrata muito a minha essência, a minha história de vida.”

Daniel - Pra ser felizCD do cantor, 20 faixas, lançamento Sony Music. Preço: R$22,90

Esse desejo de buscar as raízes familiares e falar sobre a história de vida perpassa toda a produção do novo álbum. As fotos utilizadas na capa, no encarte e no material de divulgação do disco foram tiradas em Brotas (SP) — cidade natal de Daniel. “O CD como um todo revela esse estado de espírito, até o local das fotos foram especiais. Selecionei locais que eu gosto muito, que são marcantes para mim.”

Gentileza Mantendo a linha romântica do álbum, Daniel decidiu incorporar ao repertório do CD uma das músicas mais doloridas de Roberto Carlos e Eramos Carlos: Do fundo do meu coração. A inclusão da faixa se deve à admiração do sertanejo pelo trabalho do Rei e do Tremendão. “Foi uma escolha musical e pessoal. Escolhi essa porque conheço e gosto dela há muito tempo. Aí, eu quis colocá-la no CD e tive a liberação do Roberto e do Erasmo, eles foram muito gentis.”

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O amor surge como um dos temas marcantes de todo o disco. Isso não é por acaso. Daniel entende que esse é o sentimento mais importante na sua vida pessoal e profissional. “É a minha grande fonte de inspiração. Não custa nada você colocar o amor em tudo o que você faz na sua vida, você só tem a ganhar com isso. Acho que essa questão que percorre o meu trabalho”.

Para deixar todas essas características evidentes em Pra ser feliz, Daniel fez uma opção inusitada. Em vez de gravar as tradicionais 14 faixas de um álbum, ele colocou 20 — sendo que uma é a canção bônus Inevitável. “Todas as canções que fiz em estúdio eu lancei, não fui ao encontro àquela norma do limite de faixas. Não houve essa preocupação, lançamos tudo.”

CORREIO BRAZILIENSE - Caçadores da boa música tupiniquim

Pedro Brandt

4/10/2011 - Um grupo de sete investidores estrangeiros, formado por jornalistas, radialistas e produtores culturais, esteve em Brasília, quarta e quinta-feira passadas, para participar de uma série de atividades dentro da primeira Rodada de Negócios Internacional da Música. O evento fez parte do Projeto Comprador e Imagem, realizado já há alguns anos em outras cidades e, pela primeira vez, em Brasília. O objetivo é colocar, frente a frente, músicos e investidores. Desse encontro podem sair negócios fechados para lançamento de discos, apresentações e a veiculação da produção local em outros países.

Realizado pela Secretaria da Micro e Pequena Empresa e Economia Solidária, com produção da associação cultural Ossos do Ofício, e em parceria com Brasil Música & Artes (BMA) e Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), a rodada contou com a presença dos britânicos Sharon Elizabeth Dean, diretora da Respect Music, agencia de empresariamento; Jody Gillett, diretora da revista Mondo Mix; Andy Wood, funcionário da Como No, produtora de shows latinos no Reino Unidos; Arwa Haider, jornalista do tabloide Metro UK; o jornalista Joe Muggs, a indiana radicada na Inglaterra Lopa Kothari, radialista da BBC; e o holandês Robert Urbanus, funcionário da distribuidora Sterns Music.

Urbanus comenta que não veio ao Brasil buscar um tipo específico de música, mas tem a expectativa de se surpreender com as novidades que conhecer durante a viagem: “Procuro música em geral. Das mais tradicionais às mais desafiadoras, como por exemplo, Nação Zumbi e DJ Dolores”. O importante é que tenham um sentimento brasileiro, ele ressalta.

Joe Muggs observa que, mais do que a música em si, ele se interessa por novas formas de divulgá-la. “Ver como as pessoas estão em plena era da internet e do fim da indústria musical como a conhecíamos, levando o seu trabalho até o público.” Arwa Haider quer levar do Brasil as inspirações que não chegam até lá. “Até porque seria muito pretensioso da nossa parte dizer ‘isso é a música brasileira’ baseado em apenas um recorte do que é o todo. Nossa missão é tornar essas músicas viáveis para o nosso público”, comenta Arwa Haider.

Vender o peixeNa quinta-feira foi realizado um pitching, atividade que compreende uma rápida apresentação de um produto no intuito de convencer um interlocutor (no caso, os investidores internacionais) de sua qualidade e viabilidade. Trocando em miúdos, “vender o peixe”. Em contrapartida, os investidores comentam o trabalhos dos participantes do pitching e sugerem melhorias.

“Mas não é um show de talentos. Quem não foi selecionado para participar do pitching não deveria se sentir um perdedor, porque a ideia é fazer uma troca de experiências e todos estavam convidados a participar como ouvintes.

Porque levantamos questões importantes para a profissionalização da carreira. Afinal, como esses músicos enxergam sua produção, como um hobby ou uma carreira?”, questiona o gerente da BM&A, David McLoughlin.

Foram escolhidos para participar da atividade mais de 20 artistas locais, todos contemplados, nos últimos cinco anos, com o FAC (Fundo de Apoio à Cultura). A lista contava com artistas do Distrito

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Federal de estilos musicais diversos, de Marafreboi a Satanique Samba Trio, passando por Jaime Ernest Dias, Orquestra de Violões de Brasília e Mestre Zé do Pife.

“Eu achei sensacional e participaria novamente se possível”, avaliou Fernanda, vocalista da banda Lucy and the Popsonics. “Recebemos dicas interessantes e importantes e nos comprometemos com possibilidades futuras. Não há nada concreto, mas sabemos que abrimos algumas portas”, ela conta.

Fred Magalhães, do Patubatê, comenta que, das conversas com os investidores, foi possível ter uma ideia de qual mercado melhor absorveria a música do grupo de percussão: “Fizemos muitos contatos e a expectativa é fechar negócios no futuro”.

Débora Aquino, da Ossos do Ofício, aponta a dificuldade para viabilizar uma carreira em Brasília e as possibilidades que existem fora da cidade. “A gente sabe que a produção local é grande e não estamos conseguindo escoá-la.

Os artistas estão se profissionalizando, estamos num momento de pensar em vendas internacionais”, afirma. Lopa Kothari concorda: “As janelas para o mercado estrangeiro estão abertas.

Existe interesse do público. É hora de aparecer”.

CORREIO BRAZILIENSE - Descobertas brasileiras

Duas peças do compositor José Guerra Vicente serão apresentadas hoje pela Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional sob a regência do maestro Helder Trefzger e com solo do violoncelista paraibano Raiff Dantas

Nahima Maciel

4/10/2011 - Há um prazer especial em descobrir uma obra musical da qual pouco se sabe. Bach, Beethoven e Mozart já foram gravados à exaustão e qualquer instrumentista contemporâneo terá dificuldades em não se deixar influenciar por uma interpretação. No entanto, se a partitura nunca chegou a ser gravada ou foi tocada pouquíssimas vezes, abre-se um vasto mundo de possibilidades. É um pouco assim que o violoncelista paraibano Raiff Dantas se sente diante do Concerto para violoncelo e orquestra e do Concertino para violoncelo, ambos de José Guerra Vicente. As duas peças integram o repertório da apresentação de hoje da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro (OSTNCS) e terão solo de Raiff e regência de Helder Trefzger, maestro titular da Filarmônica do Espírito Santo.

O concerto de hoje tem o status de primeira vez para o maestro e para o solista. As duas peças de Guerra Vicente estrearam em 1969 e 1974 graças ao filho do compositor, Antonio, para quem estão dedicadas. Ex-integrante da orquestra brasiliense, ele editou as obras e acatou o pedido de Dantas para que o Concerto e o Concertino integrassem a programação de hoje. Trefzger também não conhecia as partituras.

Apenas durante o ensaio de ontem os dois músicos constataram como soam as peças em sua totalidade, quando se junta o solo e a orquestra. “O primeiro contato com a partitura foi uma sensação de olhar e dizer ‘oi’”, brinca Dantas. “É como se voltasse no tempo, no século 18, quando não havia gravações. Você descobrir sozinho a obra é mais difícil, mas é mais prazeroso em vários aspectos.” Durante dois meses, o violoncelista mergulhou exclusivamente nas notas dos dois concertos. Referências, só conseguiu do Concertino, gravado por Antonio para o selo GLB, que ele fundou com a mulher, a violinista Ludmilla Vinecka.

Harmonia modernaPara Trefzger, a beleza das duas peças está na orquestração refinada. “Guerra Vicente utilizou harmonia moderna, combinação de instrumentos, linguagem muito viva e criativa. É um compositor importante da segunda metade do século 20 que precisa ser descoberto”, diz o maestro. Dantas está acostumado a se deparar com partituras cujo conteúdo nunca chegou ao estúdio de gravação. É comum na música brasileira, tocada menos do que deveria e ainda pouco explorada.

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“O intérprete de música brasileira está sempre descobrindo coisas dessa forma porque o repertório é pouco conhecido e pouco tocado. Tem que pegar e desbravar mesmo, coisa que não dá para fazer com Mozart ou Beethoven, que têm dezenas de gravações.

É impossível não ser influenciado nesse caso. Virgem, só quando pega uma música assim, como a do Guerra. E você pode até ficar como referência.”

O repertório de hoje tem ainda a Sinfonia nº 2, de Beethoven, e a Suíte Karelia, do finlandês Jean Sibelius. A primeira é uma tradição do repertório clássico, composta um pouco antes de Beethoven constatar a própria surdez. Já Karelia é uma homenagem à Finlândia e traz os traços do nacionalismo tão apreciado por Sibelius. “A região de Karelia é o berço da civilização finlandesa e a peça é uma homenagem, é muito bem orquestrada, coisa que Sibelius gostava muito”, explica Trefzeger.

LIVROS E LITERATURA

CORREIO BRAZILIENSE - Versos cheios de inquietações

Nahima Maciel

30/9/2011 - O sol nas feridas funciona como um inventário de inquietações e espantos. Por meio desses 63 poemas, Ronaldo Cagiano dá voz à carga de indignação com a qual vê o mundo. O novo livro de poemas que o escritor lança hoje no Café Martinica tem um pouco de muitas coisas. “O homem, as coisas em meio ao cipoal de contradições que tanto nos atormenta. Já dizia o poeta catarinense Lindolfo Bell, que ‘o lugar do poema/ é onde possa incomodar’. Sigo esse rastro. Se não for por essa trilha, a palavra poética não tem utilidade nem sentido para mim”, explica Cagiano.

Com poemas inéditos e outros publicados em jornais e revistas, O sol nas feridas é um retorno à poesia depois de 14 anos afastado dos versos. Na última década, Cagiano mergulhou na ficção, mas nunca abandonou o exercício poético. Ele classifica O sol nas feridas como uma obra híbrida, o que de fato fica claro nas temáticas abordadas ao longo do livro. O lirismo pontua alguns poemas, mas há muito da vivência cotidiana embutida nos versos e até uma postura narrativa.

Um poema para Isabella Nardoni, outro para o Plano Piloto e ainda uns versos desesperados endereçados a Murilo Mendes dividem as páginas com reflexões existenciais. “A poesia está em pânico, Murilo,/diante desse mundo/e seu quartel de demônios”, escreve Cagiano, depois de fazer um autorretrato e refletir sobre a rotina de bancário, já que o autor é também funcionário de banco.

“É uma poesia que reflete intimamente minhas inquietações e perplexidades com o nosso tempo, com a morte, com a nossa realidade e com o próprio lugar da arte e da literatura num mundo regido pelo mercado e premido pelos desafios de uma sociedade alvejada o tempo todo pela solidão e pela incomunicabilidade, aturdida pela insegurança e perdida nos escombros das utopias que ruíram nas últimas décadas”, avisa. E há muitas ruínas em O sol nas feridas.

Seja no gênero seja na linguagem, a poesia é o cerne da produção literária de Cagiano. “Quando escrevo, ou quando leio um livro de poesia, de conto ou romance, prendo-me principalmente no olhar poético que o autor pode conferir à sua obra. Algo que caminha na direção do que disse Baudelaire e que assimilei integralmente: ‘sê poeta, mesmo em prosa’. A construção, a forma literária que não incorpore verdadeiramente esse viés poético, não me satisfaz.”

O último livro de poesia havia sido publicado em 1997. Desde Canção dentro da noite, Cagiano só publicou prosa. No entanto, mesmo quando não está debruçado sobre versos, ele procura tocar adiante um exercício poético. Ele fala em simbiose para explicar como há trânsito entre as linguagens. “Ao contar uma história, persigo a intensidade e a subjetividade da prosa poética.

Independentemente da leveza ou densidade de uma história ou trama, vou à procura da linguagem que incorpore o legado filosófico da poesia, porque entendo necessário esse artifício, que é capaz de duelar com a secura, a porosidade ou a sisudez de um texto ficcional.” Cagiano gosta da ideia de territórios para falar da poesia. A escrita poética seria a linha que urde a escrita, um recurso harmônico, um espaço de permeabilidade.

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O ESTADO DE S. PAULO - Uma redescoberta acessível do Brasil

Marcos Guterman

(01/10/2011) Os historiadores brasileiros parecem ter descoberto o Brasil. A leitura do primeiro volume de História do Brasil Nação (Editora Objetiva), coleção apresentada nesta semana, sugere que, enfim, o público leigo não dependerá mais apenas de "outsiders" da academia, como jornalistas, para ter acesso ao passado do País de modo didático e charmoso. A coleção é uma iniciativa da Fundação Mapfre, ligada à seguradora espanhola, e tem a pretensão de construir uma narrativa histórica da América Latina com um molde temático único para todos os países do continente, a partir do processo de independência de cada um deles. O objetivo é localizar a realidade latino-americana na História Contemporânea, que normalmente é contada tendo como eixo a Europa e os EUA.

Ao todo, serão cerca de cem volumes - o Brasil contribui com seis, elaborados por 28 historiadores e estudiosos, que se situam entre os maiores especialistas do País nos temas tratados. A coleção brasileira estará completa até o primeiro trimestre de 2013. "É a oportunidade que nós, historiadores brasileiros, há muito queríamos ter, isto é, profissionais de história escrevendo para o grande público, em escala nacional", diz José Murilo de Carvalho, coordenador do segundo volume (A Construção Nacional: 1830-1889). Os outros coordenadores são Alberto da Costa e Silva (Volume 1 - Crise Colonial e Independência: 1808-1830), já nas livrarias; Lilia Moritz Schwarcz (Volume 3 - A Abertura: 1889-1930), Angela de Castro Gomes (Volume 4 - Olhando para Dentro: 1930-1964), Daniel Aarão Reis (Volume 5 - A Busca da Democracia: 1964-2000) e Boris Kossoy (Volume 6 - A História do Brasil Através da Fotografia). A direção geral é de Lilia Schwarcz, que qualifica o grupo com o qual trabalhou de "verdadeiramente impressionante" (leia entrevista abaixo).

Sem abrir mão de rigor historiográfico básico, o trabalho, a julgar pelo primeiro volume, expressa genuíno esforço na produção de textos que possam ser lidos por quem não é iniciado no tema. E não é apenas uma história que emerge desse trabalho, mas várias: embora enquadrados num modelo temático, os pesquisadores envolvidos puderam expressar claramente suas afinidades pessoais com o objeto, e isso torna cada narrativa única, embora vinculada a uma estrutura tópica que se repete em todo o trabalho - os capítulos são sempre População e Sociedade, A Vida Política, O Brasil no Mundo, O Processo Econômico e Cultura.

Alguns exemplos são eloquentes. Rubens Ricupero, um entusiasmado estudioso da independência diplomática brasileira, reserva atenção especial a José Bonifácio, que ele identifica como patriarca dessa forma de relacionamento do País com o mundo. Lilia Schwarcz, por sua vez, faz um capítulo sobre cultura naturalmente impregnado do clima de seu livro A Longa Viagem da Biblioteca dos Reis (Companhia das Letras, 2002), no qual mostra, por meio da vinda da biblioteca de d. João VI para o Rio, as vicissitudes do transplante da sede da Coroa portuguesa, em 1808. Alberto da Costa e Silva, africanista e membro da Academia Brasileira de Letras, enfatiza, ao falar da sociedade, seus notórios conhecimentos sobre a origem dos negros escravizados no Brasil. Ele lembra, não sem uma nota de ironia, que foram os negros e índios que ensinaram aos brancos europeus o hábito do banho diário, em meio ao ambiente fétido das principais cidades da colônia. É, aliás, o capítulo de leitura mais agradável da edição, malgrado seu pesadíssimo tema.

Em todos os casos, há uma notável preocupação em demonstrar que a historiografia consolidada sobre o processo de independência do Brasil tem problemas diversos - e mesmo obras de vocação "popular" deveriam se ocupar em discuti-los.

Ricupero, por exemplo, mostra que a abertura dos portos, em 1808, ao contrário do que se deduz habitualmente, não foi ditada pelos ingleses - que chegaram inclusive a reclamar da falta de privilégios. O ex-embaixador, ademais, nega que a subserviência dos senhores do Brasil recém-independente aos interesses ingleses fosse inevitável, como em geral se imagina, já que a Inglaterra era a potência hegemônica de então. Para Ricupero, a opção contrária era perfeitamente possível, uma vez que as imposições de Londres só se justificariam "se o Brasil continuasse a ser, como Portugal, um virtual protetorado da Inglaterra", o que já não era mais verdade. "A antiga colônia, ora independente, deixava de ser um apêndice do sistema europeu e passava a inserir-se no sistema internacional das Américas".

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O cientista político Jorge Caldeira, por seu turno, introduz uma ideia nova no debate historiográfico ao defender que a economia do Brasil colonial não era "voltada para o exterior e simples fornecedora do comércio internacional", como escreveu Caio Prado Júnior em Formação do Brasil Contemporâneo (1942). Embora a maior parte das exportações das colônias de Portugal fosse proveniente do Brasil e o País consumisse o grosso dos produtos exportados por Portugal às colônias, o fato, diz Caldeira, é que a maior fatia da produção brasileira era consumida dentro do próprio Brasil - apenas 15% eram destinados à exportação. O mercado interno, que Caio Prado qualificou de "elemento subsidiário de expressão mínima e desprezível", é descrito por Caldeira como "amplo".

Já no capítulo sobre a vida política, a historiadora Lúcia Bastos Pereira Neves mostra que não se pode comprar pelo valor de face a descrição consagrada das alas políticas que disputavam poder em meio ao processo de independência. Assim, os "democratas" não eram propriamente partidários da ideia de participação política generalizada. Eles eram, na verdade, opositores da centralização do poder nas mãos de d. Pedro I, e sua preocupação era defender suas "pequenas pátrias", isto é, os interesses locais das diversas províncias, às quais deviam lealdade. Lúcia mostra ainda que a sensação cristalizada de que a independência do Brasil se deu sem derramamento de sangue não tem respaldo na realidade - houve guerra civil e resistência de várias províncias fiéis a Portugal. Ela também enfatiza a força da imprensa no debate político, já que os jornais viveram um período de liberdade peculiar. Como expressa o Nova Luz Brasileira, selecionado por Lúcia, a incipiente opinião pública é temida: "Desgraçado daquele que lhe faz oposição".

Desse modo, tomando-se por base o primeiro volume, a narrativa que a coleção pretende fixar busca superar a leitura linear da história, mostrando os solavancos e as contradições de um país em cujas cidades havia relativamente mais luxo do que nas equivalentes europeias, segundo o relato de um viajante citado por Lilia Schwarcz, e que ao mesmo tempo convivia dia e noite com mosquitos, fezes e escravos.

O ESTADO DE S. PAULO - A construção de uma nação

Marcos Guterman

(01/10/2011) Embora "feita para brasileiros", a coleção História do Brasil Nação se enquadra num projeto de aproximação com os vizinhos latino-americanos, para ter "uma mirada comparativa", como disse ao Sabático a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, diretora do projeto no País. Mas a particularidade brasileira foi enfatizada - a equipe daqui alterou até o título da coleção e introduziu a palavra "Nação", para marcar "a construção do projeto de nacionalidade". Para Lilia, não se pode mais fazer história do Brasil só como extensão da Europa, sobretudo agora, "diante das crises sucessivas nas ex-metrópoles".

O objetivo da coleção, em relação ao Brasil, parece ser também o de produzir uma história do País para consumo latino-americano. Por que essa necessidade?

O objetivo é, em primeiro lugar, produzir uma história do Brasil para os brasileiros. Afinal, a coleção sai primeiro em português e só a partir do ano que vem começa a ser traduzida para o espanhol. Além do mais, a despeito de nos enquadrarmos no modelo proposto pela Fundação Mapfre, alteramos o padrão gráfico e ainda mudamos o título da coleção. O nome História do Brasil Nação foi o resultado de um pedido da equipe brasileira que discordou do título original, História do Brasil Contemporâneo. A ideia é que esse longo processo leva à construção de um projeto de nacionalidade: um imaginário e uma sensibilidade. Mas você tem razão: um dos grandes objetivos do projeto é criar uma mirada comparativa. Trata-se não só de "mostrar a história do Brasil para países latino-americanos", como o contrário: oferecer história de países como México, Argentina, Chile e Venezuela para os nossos leitores. Impressiona como conhecemos mais acerca da França, da Inglaterra, dos EUA do que sobre a América Latina.

Por outro lado, o objetivo da coleção em relação à América Latina parece ser o de apresentar uma narrativa da inserção do continente na história contemporânea mundial. Chegou a hora de contar essa história do ponto de vista latino-americano?

Quer me parecer que sim. Há uma nova realidade global, e os países latino-americanos, em especial o Brasil, têm ganhado nova e inesperada visibilidade. Não parece mais evidente, como de fato o era,

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que nossa história possa ser descrita como uma extensão daquela outra, contadas pelos países centrais. Pensar em diferentes projetos de modernidade, vários modelos de nacionalidade e formas distintas de sociabilidade parece fazer parte de uma nova agenda, que nos inclui em nova posição estratégica. Modelos alternativos de fazer história e política têm se revelado importantes, sobretudo diante das crises sucessivas experimentadas pelas ex-metrópoles.

Qual é a grande dificuldade de escrever a história do Brasil com os olhos voltados para a América Latina? O historiador José Murilo de Carvalho, na conclusão do volume 2, escreve que, se o capítulo "O Brasil no Mundo" fosse dedicado às relações latino-americanas, como propõe a coleção, seria reduzido "a poucas páginas ou à irrelevância", já que o grande elo brasileiro era com os ingleses.

Concordo com o professor José Murilo e essa foi uma orientação geral para a coleção brasileira. O capítulo sobre relações internacionais não se limita às relações com os países latino-americanos. Se impuséssemos tal orientação, os volumes seriam de fato reduzidos e pouco abrangentes. Afinal, nossas relações internacionais se deram, durante largo tempo, sobretudo com Portugal, Espanha, França e, depois, EUA. Mas a ideia é que a coleção tenha um papel "produtivo" no sentido de animar o diálogo e criar novas formas de pensar e comparar as diferentes experiências latino-americanas.

Como diretora-geral da coleção, a senhora conseguiria resumir um traço característico brasileiro em relação à América Latina?

Sim, há traços que se repetem: a confusa relação entre esferas privadas e públicas; a dificuldade de lidar e assumir as relações violentas que se estabelecem no País; um projeto de modernidade particular e em muitos sentidos frágil, e a busca constante por uma identidade. Claro que há pontos comuns, mas, nossa colonização portuguesa, o fato de sermos o último país a abolir a escravidão no Ocidente, a experiência monárquica longa, popular e enraizada falam de processos particulares, a despeito de estarem em constante diálogo com as realidades dos países vizinhos.

FOLHA DE S. PAULO - Jabuti muda mais um finalista e tem critérios questionados

Editora de ensaio eliminado diz que análise foi superficial

DE SÃO PAULO

1/10/2011 - Na lista de finalistas na categoria artes do Prêmio Jabuti, divulgada na semana passada, a obra "A Mão Afro-Brasileira" é de 1988. Pela regra, só concorrem obras inéditas.

Questionada pela Folha, a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, que coeditou com o Museu Afro-Brasil o título, solicitou ao prêmio a desclassificação da obra.

Com isso, passou a integrar a lista "Pixinguinha na Pauta", organizada por Bia Paes Leme, coedição da mesma Imprensa Oficial com o IMS.

A Imprensa Oficial argumentou que inscreveu "A Mão Afro-Brasileira" por se tratar de edição ampliada, publicada em dois volumes -a primeira teve um só.

Nesta semana, a 34 informou ao Jabuti considerar "insatisfatória a justificativa" para a desclassificação de "Itinerário de uma Falsa Vanguarda", de Antonio Arnoni Prado, em teoria e crítica literária.

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A obra foi eliminada com outras duas na semana passada por não ser inédita. Para a 34, não houve cotejo entre o título e versão reduzida lançada em 83. (RAQUEL COZER)

FOLHA DE S. PAULO - Vik Muniz lança livro com conto sobre filho

Ilustrações de 'Melchior, o Mais Melhor' são de autoria da cantora Adriana Calcanhotto

LÚCIA VALENTIM RODRIGUES

2/10/2011 - O artista plástico Vik Muniz sempre contou histórias para seu filho Gaspar.O tempo passou, aquele garoto cresceu e, hoje com 21 anos, viu lançar em livro uma história que ouviu do pai originalmente em inglês."Melchior, o Mais Melhor" foi feito tendo Gaspar como inspiração. "Na época, ele estava entrando na escola e sofria as pressões dos amigos e de querer ser o melhor em tudo", diz Vik à Folha."Ele ficava apavorado com isso. Foi o jeito que encontrei para aliviar esse sentimento."O livro começa com a descrição do menino Melchior: "Ele não era o menor, mas era somente maior que o menor".Tão simples e tão exato.O texto vem acompanhado de uma grife com a qual a garotada já está acostumada. Adriana Calcanhotto, que lançou álbuns infantis como Partimpim, fez as ilustrações.Ela conta que sua trajetória e a de Vik Muniz se cruzam há tempos. Ela levou uma obra dele ao cenário de seu show infantil. A mulher de Vik foi sua maquiadora."A intimidade com esse menino veio de ouvir histórias da mãe. Desenhei Melchior me baseando num Gaspar imaginário", conta ela.Na escola, Melchior vai na média. Joga futebol meio mal. Dança razoavelmente bem. Mas sempre tem alguém que faz as coisas melhor.Frustrado, acha um gênio numa bolinha de pingue-pongue e faz o pedido de se tornar o melhor em tudo. Vai se arrepender dessa decisão."Melchior" também serve de ponte para um público que Vik viu crescer a partir de exposições no Rio e em São Paulo que mostravam seu trabalho com chocolate e lixo."As escolas também adotaram essa ideia de fazer arte com diferentes materiais e acabaram me dando um público que não esperava ter."Vik palpitou bastante nos desenhos, mas fez apenas uma exigência: o gênio tinha de ser gordo. "Gênio tem de ser exagerado, grande, falar alto", explica o artista."Então eu vesti o gênio como um crítico de arte", ri Adriana, que aproveita para avisar que virá a São Paulo para fazer shows em dezembro no Sesc Vila Mariana. Em sua versão adulta. "Ninguém sabe por onde anda a Partimpim", desconversa ela.

CORREIO BRAZILIENSE - Best-seller adolescente

Fenômeno editorial do ano, com livros dedicados ao público jovem, Thalita Rebouças fala do seu sucesso e do seu compromisso de formar leitores

Nahima Maciel

4/10/2011 - Durante a primeira Bienal do Livro no Rio de Janeiro da qual participou, em 2001, Thalita Rebouças precisou subir na cadeira e gritar para o público: “Sou autora, escrevi esse livro e, se vocês comprarem, vão levar meu autógrafo. Vai que eu fico famosa? Vai que eu viro uma Paula Coelha? Vocês não vão precisar fazer fila em ziguezague pra pegar autógrafo. Vocês vão me descobrir!”. Fez isso porque, enquanto esperava os interessados pelos quatro mil exemplares que vendera naquele ano, ninguém apareceu. Na última bienal, em setembro, ela precisou de seguranças. Mais de 12 mil fãs faziam fila para conseguir um autógrafo, alguns aos gritos. O sucesso é tanto que já aconteceu de Thalita precisar suspender sessão de autógrafos por causa de uma tendinite no braço.

A escritora não chegou a virar a Paula Coelha, mas já vendeu 1 milhão de livros e é hoje a autora brasileira mais lida pelo público adolescente, um fenômeno que nem ela mesma consegue explicar. A literatura de Thalita trata de temas adolescentes e as idades dos personagens variam entre 13, 14 e 21 anos. Ela já chegou até a idade adulta com Fala sério, pai, narrado do ponto de vista do pai da personagem Malu, protagonista da série Fala sério, um bordão adolescente incorporado na

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linguagem real da própria Thalita. A escrita é rápida, com linguagem que varia entre o despojamento e a infantilidade, pontuada por muitos diálogos, o que facilita e apressa a leitura. Durante a histeria da bienal, ela ouviu comentários como “Ah, se tem fila e adolescente é porque é ruim”. Mas Thalita não se importa. Ela acredita que esse tipo de literatura pode servir de porta para a leitura dos clássicos e grandes nomes da literatura. Além disso, ela está bastante satisfeita com um elogio de Ziraldo. O autor de O menino Maluquinho teria sido enfático ao dizer que Thalita escreve bem.

Carisma e humorAos 37 anos, a escritora carioca já publicou 12 livros, muitos divididos em séries, caso do Fala sério e Tudo por. Começou a escrever aos 10 anos e, além de sonhar ser dona de shopping e astronauta, queria viver de escrever. Formada em jornalismo, levou um tempo para conseguir e chegou a passar fins de semana em livrarias abordando pessoas para que comprassem os livros. O sucesso da escritora não está exatamente ligado à qualidade literária de seus best-sellers, mas a um conjunto de fatores que reúnem a temática abordada, a linguagem adolescente e a própria figura de Thalita, cujo gestual, carisma e humor podem fazer os jovens leitores esquecerem a diferença de idade entre eles e a dona da pena. Também ajudou um pouco a participação de Thalita no Video show com as entrevistas do quadro Fala sério, e no Esporte espetacular, como comentarista no EE de bolsa.

Thalita lança em média um livro por ano. Em 2010, pela primeira vez e a pedidos, deu voz a um narrador menino. Em Ela disse, ele disse, a história de Rosa e Léo é narrada alternadamente pelos dois personagens. O que a menina conta em cinco páginas, o garoto resume em um parágrafo, artifício da autora para destacar as diferenças de gênero. Este ano foi a vez de Era uma vez minha primeira vez, outra estreia para a autora, que até então nunca havia incluído sexo na vida das personagens. Vendeu 30 mil exemplares em 30 dias.

Até novembro, ela lança ainda Fala sério, filha — A vingança dos pais. De Madri, onde passava férias depois das exaustivas sessões de autógrafos na Bienal do Rio, Thalita conversou com o Correio sobre o sucesso e a leitura.

FOLHA DE S. PAULO - Obra mostra o mosaico da África visto a partir do chão

FÁBIO ZANINI, EDITOR DE MUNDO

(5/10/2011) Em Moçambique, come-se melancia com sal. Em Angola, a malária mata crianças com tal frequência que os pais não se desesperam. Reprimem o choro cantando para os "miúdos" que se foram."Candongueiro - Viver e Viajar pela África" (ed. Record), do jornalista João Fellet, é feito de histórias que espantam autor e leitor.O livro é uma crônica de sua experiência de 18 meses pela África, parte trabalhando na implantação de um jornal em Angola, parte numa jornada pelo continente."Candongueiro", nome das peruas lotação em Angola, é onde ele passa boa parte de seu tempo. Pula de uma para outra, país após país, espremido sobre bancos rasgados, com as costas machucadas por estradas que não merecem esse nome.Há uma África vista do alto, das savanas, que o autor evita, embora não resista a um safarizinho ou outro. Sua descrição é do terreno, e personagens inusitados no mosaico africano vão surgindo. Como a moçambicana durona que dirige um candongueiro e grita com bêbados, ou o inglês de 78 anos que dá continuidade em Uganda à longa linhagem de missionários europeus na África.O jornalista retrata de forma divertida a burocracia africana, a partir da saga de colocar em funcionamento o jornal que o levou ao continente. Sofre em reuniões intermináveis em que às vezes um funcionário do governo cochila sem cerimônia.Picaretas estão sempre à espreita, tentando separar o autor de seu dinheiro, por vezes com agressividade. E há as "namoradas", que se aproximam para pedir presentes na primeira chance.A África, com países, etnias e idiomas em excesso, será sempre um desafio para os que buscam diagnósticos únicos e definitivos. O livro mostra que partir do microcosmo é o melhor jeito de tentar decifrar o continente.

FOLHA DE S. PAULO - Poeta sírio lidera apostas para o Nobel

Listas de casas britânicas de jogos incluem Ferreira Gullar e Paulo Coelho; resultado será divulgado amanhã

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Se o poeta maranhense for escolhido, quem tiver apostado nele o equivalente a R$ 100 vai receber R$ 5.000

ROBERTO KAZDE SÃO PAULO

(5/10/2011) Ferreira Gullar é azarão. Na casa inglesa de apostas Ladbrokes, o poeta brasileiro e colunista da Folha consta em 50º lugar na lista de possíveis ganhadores do Nobel de Literatura 2011.Se for escolhido, cada libra apostada nele vai render um retorno 50 vezes maior ao apostador. Quem investir o equivalente a R$ 100 volta para casa com R$ 5.000. O resultado do Nobel de Literatura será divulgado amanhã pela Academia Sueca. Por ter um caráter imprevisível (em 2004, por exemplo, premiou-se a até então desconhecida Elfriede Jelinek), o prêmio mais importante da literatura mundial acaba gerando especulações. Além da Ladbrokes, maior casa inglesa de apostas, outras duas -Unibet e Victor Chandler- aceitam palpites para o Nobel. As apostas fecham amanhã cedo, a não ser que o resultado vaze.Alex Donohue, porta-voz da Ladbrokes, diz que a casa usa os serviços de um especialista em literatura, o sueco Magnus Puke, escalado para determinar quais são os autores com maior chance. É de Puke, portanto, a lista que coloca o poeta sírio Adonis em primeiro, à frente dos consagrados Philip Roth (EUA) e Amós Oz (Israel). De acordo com Donohue, nos últimos anos, a Ladbrokes acertou seis dos dez premiados. A casa não pretende expandir a aposta para outras áreas do Nobel: "As pessoas demonstram mais interesse pelos candidatos de literatura".Na Unibet, os favoritos são encabeçados pelo japonês Haruki Murakami. De acordo com o gerente Charilaos Alexopoulos, a lista de nomes foi escolhida pela mesma equipe responsável por fazer estatísticas esportivas. "Eles olham os arquivos de vencedores do passado. Por exemplo, já que o [peruano] Mario Vargas Llosa ganhou em 2010, é pouco provável que se escolha alguém da América Latina neste ano."Para o público, a lógica é inversa. Até agora, na lista da Unibet, o candidato que mais votos recebeu -25% do total de apostas- vem justamente do continente americano.Seu nome é Paulo Coelho.

POLÍTICA CULTURAL

FOLHA DE S. PAULO - Na Câmara, Ana de Hollanda pede mais dinheiro para cultura

(29/9/2011) DE BRASÍLIA - Depois de ter sido vaiada na abertura do 44º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, na segunda-feira, a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, deixou de comparecer a um seminário sobre audiovisual do evento para ir, ontem, à Câmara. Lá, participou do relançamento de uma frente parlamentar de ações para o estímulo à leitura e aproveitou para pedir aos deputados mais verbas para o setor e ressaltar a importância das emendas parlamentares para a cultura.

"A área da cultura está vivendo sempre aquém das suas necessidades, é uma verba pequena. Trabalhamos com uma série de ações pulverizadas, e não grandes pontes, estradas, monumentos. São pequenas ações, mas que atingem milhões de pessoas. Essa necessidade precisa ser compreendida pelos parlamentares."

O Ministério da Cultura se empenha na aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 150, que destina 2% do orçamento da União para a área cultural. A PEC aguarda a votação em plenário.

Em discurso, a ministra salientou a importância da colaboração entre os ministérios da Cultura e da Educação, especialmente no PNC (Plano Nacional da Cultura), divulgado na semana passada, e PNDE (Plano Nacional da Educação), ainda em votação.

FOLHA DE S. PAULO - Em busca de viabilidade, grupo adota conselheiros de prestígio

DE SÃO PAULO

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(29/9/2011) "Artista não tem visão empresarial", afirma a atriz Bete Coelho.

"Lugar de artista é no palco, e não na sala de espera das grandes empresas, mendigando patrocínio", acredita Maurício Magalhães, presidente da agência de comunicação Tudo.

Não é novidade a luta travada pela maior parte da classe teatral do país para viabilizar seus próprios projetos.

Foi em busca de alternativas a essa realidade que Bete Coelho e Ricardo Bittencourt, fundadores da companhia BR 116, criaram um novo modelo de grupo.

No coletivo, são acompanhados por Magalhães, pela advogada especializada em leis de incentivo cultural Cris Olivieri, e profissionais de diversas áreas de atuação.

Seguindo os princípios do voluntariado, o coletivo se ampara em conselheiros não remunerados, dispostos a disponibilizar tempo, conhecimento, prestígio e contatos com o objetivo de tornar a BR 116, fundada em 2010, uma companhia sustentável. Fazem parte do conselho da BR 116 o diretor regional do Sesc, Danilo Santos de Miranda, o ex-jogador de futebol Raí e a atriz Regina Braga, entre outras pessoas.

"Vou ajudar com contatos e com um olhar de fora. Minha contrapartida será aprender sobre arte", explica Raí.

Segundo Miranda, "a ideia de um grupo gerido profissionalmente e que não se deixa contaminar pelo capitalismo é novidade na área teatral"

Para ele, o renascimento da BR 116 sob o conceito de voluntariado cultural pode marcar "o início de um novo caminho para o teatro".

Já para Bete Coelho, é o primeiro passo para que o teatro possa "erguer-se como indústria, como já aconteceu com a música, o cinema, a literatura e a arte contemporânea". (GM)

GASTRONOMIA

O ESTADO DE SÃO PAULO – A de barro é que faz moqueca boa

Nana Tucci / ESPECIAL PARA O ESTADO / VITÓRIA

A moqueca, maior representante da cozinha capixaba, corre o risco de desaparecer em poucas décadas. Não vai faltar badejo, tomate, coentro ou tintura de urucum. Mas um “ingrediente” imprescindível ao preparo do prato emblemático do Espírito Santo está ameaçado de extinção: a panela de barro. O motivo? Restam, em todo o País, pouco mais de cem paneleiras que se dedicam regularmente ao ofício. A cada ano esse número cai, pois mais mulheres abandonam a profissão, que há quatro séculos tem sido passada de mãe para filha. É um trabalho exaustivo e mal remunerado. O Paladar foi até Vitória acompanhar todas as etapas do processo de confecção da panela de barro.

A receita mais importante da moqueca capixaba não é a do prato, mas a da panela de barro em que é preparada e servida. Inconfundível pela cor preta e formato, de fundo raso e borda baixa, é feita manualmente, sem forno nem torno.

É a panela que faz a moqueca chegar à mesa fumegante e assim permanecer por muitos minutos. É a panela que faz o cheiro inclemente escapar das casas e incitar os vizinhos e passantes.Sua produção envolve pouco mais de 100 mulheres que vivem em um bairro com nome de poema de Cora Coralina: Goiabeiras, na zona Norte de Vitória.

O ofício das paneleiras de Goiabeiras foi o primeiro a ser reconhecido como bem imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 2002. Reconhecimento importante para estas mulheres reunidas desde 1987 na Associação das Paneleiras de Goiabeiras (tel. 27/3327-0519).

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Berenices, Valdineas, Cecílias e Grazieles mantêm uma tradição indígena que nem sabem ao certo quando começou. Arriscam dizer que foi há 400 anos. O Iphan assume apenas que a técnica é um legado cultural das tribos tupi-guarani e una.

“A gente não tinha escolha. Aos 7, 10 anos era dever ajudar a mãe e, quando via, já tava fazendo também”, conta Valdinea Lucidato. Apesar de achar o trabalho estafante e ter abandonado “o fogo”, Valdinea diz que “quando começa a mexer com o barro, sua energia é renovada”.

Uma panela de qualidade demora três dias para ficar pronta, da modelagem à tintura, passando pela queima na fogueira. Cada paneleira faz cerca de 15 peças por dia e as revende em barraca própria, no galpão da associação - a disputa pelo cliente é acirrada. O barro, mais arenoso que o comum, é recolhido por Ronaldo Alves e seus ajudantes no “barreiro” do Vale do Mulembá, uma área de proteção ambiental a 3 km dali. A tinta da casca do mangue-vermelho, que dá a cor preta à panela, é trazida por Carlos dos Santos do manguezal de Vitória - ele viaja cerca de 1 hora, de canoa, e se embrenha no mangue com um macete.

Na época em que o ofício passou a ser um patrimônio cultural, um “pacote de salvaguarda” foi criado, para garantir sua continuidade, mas não saiu do papel. À exceção do novo e bem equipado galpão para onde as paneleiras se mudarão em novembro, nada relevante foi feito em quase uma década. Sem auxílio do governo, trabalham 10 horas por dia, seis dias por semana, ganhando, em média, um salário mínimo para abastecer o Brasil com suas panelas de barro (R$ 8 a R$ 100). Resultado: as jovens não querem seguir os passos de suas mães e avós, o que faz as próprias paneleiras chegarem à conclusão de que, em duas ou três décadas, o primeiro ofício reconhecido como bem imaterial do País vai desaparecer.

OUTROS

O ESTADO DE SÃO PAULO – Momento Brasil-Itália se espalha pelo País

Nos próximos 9 meses, programação inclui eventos culturais, gastronômicos e esportivos

LISANDRA PARAGUASSU / BRASÍLIA

30/9/2011Nos próximos nove meses, um pouco mais da Itália festiva vai chegar ao Brasil. Começou nesta semana, em várias cidades do País, o momento Itália-Brasil, uma série de eventos culturais, econômicos, gastronômicos e até esportivos organizados pelo governo italiano para atrair a atenção dos brasileiros.

Com mostras que vão desde a vida cotidiana na Roma Antiga até peças do mestre da pintura Caravaggio, passando por apresentações de teatro, ópera e concertos, o momento Itália-Brasil, que vem sendo organizado há dois anos, quer mostrar ao País uma face diferente: moderna e luxuosa.

"A ideia é mostrar uma face nova da Itália, além da clássica, que todos conhecem", disse o embaixador italiano no Brasil, Gherardo La Francesca. A abertura oficial será no Rio, no dia 15 de outubro, com uma apresentação na frente do Teatro Municipal que reunirá mais de cem artistas, com 180 figurinos diferentes, coreografias aéreas, rapel sobre edifícios e esferas voadoras. Essa abertura, assim como todas as outras mostras e espetáculos, será gratuita.

Antes disso, no entanto, há a face econômica do evento: dois encontros em Roma vão tratar da relação comercial e industrial com o Brasil. O primeiro deles é a V Conferência Itália-América Latina e Caribe, e o 16.º Meeting Internacional sobre Energias Alternativas, Potencial Econômico Ítalo-Brasileiro e Esportes. Também está prevista a realização de um Fórum Empresarial em outubro do ano que vem, mas ainda sem data ou local.

A partir daí, no entanto, a programação se concentra no lado cultural.

Rio de Janeiro e São Paulo vão receber a maior parte dos eventos - serão as cidades, por exemplo, onde serão apresentadas as mostras de Caravaggio e Roma: A Vida e os Imperadores, que

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concentra 370 peças do dia a dia sob os imperadores - essa também com uma temporada em Belo Horizonte.

Haverá também eventos em Brasília, Curitiba, Porto Alegre e várias outras capitais, além de algumas cidades do interior. São Paulo, Araras, Jundiaí e São João da Boa Vista terão apresentações da ópera Rigoletto. Já em Ribeirão Preto, em dezembro, acontecerá a 7.ª Semana do Cinema Italiano.

"A programação não está fechada. São cerca de 500 eventos programados, mas ainda temos espaço para mais alguma coisa", afirmou o embaixador.

CORREIO BRAZILIENSE - Itália e Brasil na mesma onda

Serão nove meses de atividades culturais e gastronômicas em várias regiões brasileiras

30/9/2011 - Separados por mais de oito mil quilômetros do Oceano Atlântico, Brasil e Itália encurtaram um pouco essa distância. Um acordo firmado entre os dois países há dois anos ganhou corpo e, agora, se transformou em ações concretas na arte, cultura, gastronomia, design, música, moda e festas tradicionais. Batizada de Momento Itália-Brasil, a iniciativa se estenderá por nove meses, em todo o território brasileiro, com ações, inclusive culturais, previstas para Brasília. “A característica não é ser fabricado na Itália e importado pelo Brasil, mas ser produzido no Brasil, com a participação de amigos italianos”, explica o embaixador italiano Gherardo La Francesca.

No Planalto Central, a programação será aberta com a Mostra Maria Bonomi, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em 12 de outubro. “É a maior artista italiana no Brasil neste momento”, destaca o embaixador. As cerca de 150 peças, entre vídeos, esculturas e gravuras (algumas inéditas) estarão disponíveis ao público desde as 9h. À noite, será lançado o selo comemorativo da parceria.

Ainda no CCBB, três mostras de cinema com temática italiana estão previstas para ocorrer até o ano que vem. A primeira delas, em novembro, será a Venezia Cinema, que traz para o Brasil as novidades da última edição desse tradicional festival de cinema europeu. Para o ano que vem, também estão confirmadas mostras específicas de cineastas como Nani Moretti (possivelmente com a presença dele) e Luchino Visconti. Uma quarta atração poderá surgir no cenário cinematográfico da cidade, caso se confirme a vinda da mostra dedicada a Dario Argento. “Só a programação dos primeiros meses está fechada, muitos eventos ainda serão agregados”, avisa La Francesca.

Em âmbito nacional, a maratona já começou. Está em cartaz, em Belo Horizonte, a mostra Roma — a vida e os imperadores, na casa Fiat de Cultura. Um destaque nos próximos dias será o espetáculo Ensaio sobre a beleza, do artista italiano Valério Festi, que explora o elo entre duas culturas no campo da arte em geral. Encenada na Cinelândia, no Rio de Janeiro, a montagem contará com 100 atores, 180 figurinos, rapel sobre edifícios, esferas voadoras e outros deleites visuais.

São Paulo receberá uma exposição com sete telas do pintor milanês Caravaggio, e mais 40 telas de pintores caravaggista que seguem os mesmos preceitos na pintura. A cidade ainda sediará, no mês que vem, uma mostra de teatro de rua com grupos italianos.

O anúncio das ações iniciais foi feito ao som da música Sampa-Milano, composta por Gilberto Gil especialmente para a ocasião. Na letra, o baiano funde nomes de cidades dos dois países como Rio, Roma, Salvador e Nápoli, e ainda canta: “O mesmo mar azul do Brasil, mediterrânea Itália”. Na versão, sua voz e seu violão ganham o acompanhamento da cantora Simona Molinari, que começa a se firmar no cenário musical de seu país. A identidade visual do Momento, criada pelo publicitário Washington Olivetto mescla o cartão-postal máximo da Itália, o Coliseu, ao Cristo Redentor.

Festivais em todo o paísAs ações de aproximação entre os dois países não se limitam ao campo cultural. A designer de joias Francesca Diana Romana lançará sua nova coleção inspirada em monumentos italianos. Há um projeto para criar uma linha de ônibus em São Paulo que leve os turistas aos pontos mais italianos da cidade. No ano que vem, o festival gastronômico Sabor Brasil, presente em 200 cidades de todos os estados brasileiros, terá a Itália como tema. Ou seja: as receitas brasileiras deverão ganhar ingredientes ou toques típicos do país europeu e vice-versa. Ainda será desenvolvido um modelo para que empresários dos dois países discutam seus respectivos setores das indústria.

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CORREIO BRAZILIENSE - O profeta da educação

Mostra multimídia celebra na UnB a passagem dos 90 anos do pedagogo pernambucano Paulo Freire

Severino Francisco

(02/10/2011) O espírito de Paulo Freire, o autor da pedagogia da liberdade, do sonho e da alegria, nunca esteve tão vivo quanto agora, na passagem dos seus 90 anos. Para os desvalidos, se tornou sinônimo de dignidade, de emancipação, de solidariedade e de cidadania. Ele é o tema de uma exposição multimídia, animada pelo desejo de reviver e reinventar o personagem, a ser inaugurada, na quarta-feira, no Memorial Darcy Ribeiro, na Universidade de Brasília. A curadoria é de Bené Fonteles e Tânia Quaresma.

Os visitantes serão recebidos por um boneco de Paulo Freire que só falta falar e convidados a vivenciar a pedagogia do educador pernambucano, por meio de instalações, painéis, vídeos, exposições e outras atividades lúdicas. Com sua barba de profeta do Antigo Testamento, ele parece uma mistura de Antonio Conselheiro com São Francisco de Assis. Mas os 26 painéis de fotos e textos revelam um educador de indignação serena e afetuosa, imbuído da certeza dos visionários e dos santos com a facilidade que têm de descobrir o óbvio.

O grupo Martinha do Coco apresentará Coco dos Angicos, em homenagem a Freire. E os brasilienses do Mambembrincantes abrem a cerimônia sem cerimônia, com uma versão do Hino Nacional. Em um varal, serão penduradas páginas ampliadas de um folheto de cordel sobre a vida de Freire escrito pelo poeta popular Costa Senna. Os artistas plásticos Bené Fontelles e Rômulo Andrade prepararam instalações para a parte externa e interna da exposição.

DocumentárioRealizada pela Secretaria de Cultura e pela Fundação Darcy Ribeiro, a mostra é itinerante e integra um projeto maior de celebração e reflexão crítica batizado de Sonhando com Paulo Freire — A educação que queremos. Brasília será o ponto de partida de um documentário em longa-metragem sobre a vida e as ideias do educador. Dirigido por Tânia Quaresma, será rodado no Brasil, na África, na Índia e na Suécia. “Poderia abrir o festival de cinema de Brasília do ano que vem”, sonha Tânia Quaresma. “Durante todo o período da exposição, estaremos convidando as pessoas do Entorno envolvidas com as ideias de Paulo Freire para gravar e depois viajaremos pelo Brasil e pelo exterior. Já fizemos vários documentários sobre ele, mas, agora, o projeto é de um filme em película para exibição no cinema.”

Tânia conheceu o pedagogo ao ler o clássico Pedagogia do oprimido, mas, ao realizar um documentário sobre ele, descobriu que era freireana e não sabia. Na própria etimologia da palavra aluno, a cineasta detecta uma barreira para que se instaure um processo libertador do conhecimento: “Aluno é o que não tem luz, alumem. E, viajando e conhecendo os grupos de educação popular espalhados pelo Brasil, vi o quanto a gente pode aprender com os outros. A pedagogia de Paulo Freire é de descoberta das pessoas”.

Institutos na ÍndiaNa passagem dos 90 anos do educador pernambucano, Tânia descobriu que existem 90 institutos Paulo Freire na Índia: “Por lá, a referência brasileira não é Pelé ou Ronaldinho. Quando a gente fala em Brasil, eles tocam logo no nome de Paulo Freire. É importante mencionar isso para que as pessoas percebam no Brasil a importância dele como educador em um plano internacional”. Freire realizou inúmeros círculos de cultura em Ceilândia e no Núcleo Bandeirante, em 1953 e 1964. Eram encontros com a comunidade para levantar quais as palavras mais importantes na vida das pessoas: “A partir daí, ele transformava as palavras em fonemas para realizar o processo de alfabetização”, completa a documentarista.

Tânia ressalta que o projeto não pretende apenas realizar o culto do grande homem que foi Paulo Freire, mas também discutir a educação no Brasil. As suas ideias inspiram ações em tribos indígenas e até em escolas de circo ou grupos de catadores e recicladores de lixo. Ele não é apenas um personagem datado nos ideais que convulsionaram a década de 1960: “Ouvi de uma catadora de lixo, em Tocantins, que ela não conhecia ainda a obra de Paulo Freire. Mas, para ela, Freire já era

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sinônimo de justiça, solidariedade, liberdade, sabedoria e respeito. É o espírito dele que norteia os movimentos populares”.

Essas ideias estão rompendo com a mentalidade decoreba do ‘Ivo viu a uva’. Com Paulo Freire, você aprende quem planta a uva, quanto ganha Ivo e quem ganha mais com a uva. “É todo um movimento ligado à consciência dos direitos”, comenta Tânia. “Tudo o que ele falou está pautando as metas do milênio. Ele criticava a educação bancária em que se deposita o conhecimento no aluno para ele decorar. E falava da importância da alegria e da belezura para um bom aprendizado”.

SONHANDO COM PAULO FREIRE — A EDUCAÇÃO QUE QUEREMOSExposição multimídia. Abertura para convidados, terça-feira, às 20h, no Memorial Darcy Ribeiro (câmpus da UnB na Asa Norte, ao lado da reitoria). Aberta ao público a partir de quarta-feira, das 8h às 18h.

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