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RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS Edição Nº 123 [ 31/1/2013 a 6/2/2013 ]

ASSESSORIA DE IMPRENSA DO GABINETE · Web viewResenha de Notícias Culturais Edição nº 123 [ 31/1/2013 a 6/2/2013 ] Sumário CINEMA E TV 3 Estado de Minas – Moto contínuo 3

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RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS

Edição Nº 123[ 31/1/2013 a 6/2/2013 ]

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Sumário

CINEMA E TV..............................................................................................................3Estado de Minas – Moto contínuo...................................................................................................3Estado de Minas – Policial: Para rir e refletir...................................................................................4O Globo – A transparência de um revolucionário............................................................................5O Globo – ‘Maldito’ capixaba...........................................................................................................7Carta Capital – Um Labirinto de horrores........................................................................................8Valor Econômico - "Serra Pelada", um gângster moderno............................................................10Estado de Minas - Guerreira.........................................................................................................12Estado de Minas - Chegou a hora.................................................................................................13

TEATRO E DANÇA...................................................................................................14O Globo – Teatro multidisciplinar..................................................................................................14Folha de S. Paulo - SP Companhia de Dança vai ter assinaturas................................................15Folha de S. Paulo - Festival de Teatro de Curitiba exibirá mais de 300 peças.............................16

ARTES PLÁSTICAS.................................................................................................17Folha de S. Paulo - Mostra propõe diálogo entre Brasil e exterior................................................17O Estado de S. Paulo – Luz Oriental.............................................................................................17Folha de S. Paulo - Artista expõe ascensão de mercado de arte com objetos transformados......19O Globo - TOMIE 100................................................................................................................... 19O Estado de S. Paulo – Próximo e distante..................................................................................21Correio Braziliense - Natureza subjetiva.......................................................................................22Folha de S. Paulo - Arte não era contemplação, mas sim enfrentamento Entrevista / Waltercio Caldas........................................................................................................................................... 23Estado de Minas – Espaço para reflexão......................................................................................24

FOTOGRAFIA...........................................................................................................25O Estado de S. Paulo – Imagens protagonistas............................................................................25Estado de Minas - Conversas sobre imagens...............................................................................26

MÚSICA.....................................................................................................................27Estado de Minas – Da roça para os palcos...................................................................................27Correio Braziliense – O ano do batuque.......................................................................................28Correio Braziliense – Sons fora do quadrado................................................................................29O Globo – Memórias de um outro samba......................................................................................30O Globo – Companheiros do mangue...........................................................................................30Folha de S. Paulo – "Brasil é fonte de prazer musical", diz crítico................................................32Estado de Minas - As aventuras dos bambas...............................................................................32Estado de Minas - Minas dá soul..................................................................................................33Estado de Minas - Preservando a tradição....................................................................................34

LIVROS E LITERATURA..........................................................................................34Folha de S. Paulo - Livro reúne ensaios de intelectuais sobre Brasília.........................................34Valor Econômico - Antes tarde do que nunca...............................................................................35Folha de S. Paulo - Coletânea resgata Álvaro Lins, autor ignorado pelo cânone.........................37Estado de Minas - Desobediência saudável..................................................................................38

GASTRONOMIA.......................................................................................................39Folha de S. Paulo - Mais uma vez, Brasil decepciona na 'Copa do Mundo' da gastronomia........39

OUTROS...................................................................................................................40O Globo - Mudanças na casa de Rui Barbosa..............................................................................40Folha de S. Paulo - Morre o curador e crítico Walter Zanini..........................................................40Zero Hora - Crônica do humor louco.............................................................................................41

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CINEMA E TVEstado de Minas – Moto contínuo

Tema de documentário em cartaz na capital, Jorge Mautner milita na poesia, na música e na preparação do Brasil para a Copa de 2014. Aos 72 anos, o "ex-maldito" está de volta aos palcos

Jorge Mautner e seu violino se tornaram ícones para a nova geração, fã do clássico Maracatu atômico

Mariana Peixoto

(01/02/2013) Depois de uma sessão especial do documentário Jorge Mautner – O filho do Holocausto em Londres, Heitor D’Alincourt, que codirigiu o longa-metragem com Pedro Bial, ouviu de espectadores que aquele filme deveria ser ficção, pois uma pessoa como a retratada na tela não poderia existir. Aos 72 anos, Mautner se diverte com tal comentário. “Sou simultâneo. Vivo essa simultaneidade atráves da

poesia, da música e da arte. É a infância que deflagra tudo, o que sou hoje é uma continuidade desse processo.” Tal afirmativa vem ao encontro da maneira como são retratadas as sete décadas de vida do poeta, escritor, violinista, compositor, cineasta, artista plástico e cantor – criador múltiplo rotulado, com certo equívoco, de “maldito”.

O filme entra em cartaz no circuito comercial – em BH, infelizmente, serão apenas duas sessões, no BH Shopping – depois de participar de festivais nacionais e estrangeiros. O documentário tradicional – com narrativa cronológica e linear alicerçada por depoimentos e imagens de arquivo – tem seu lado transgressor tirado do próprio personagem título. O título, por sinal, veio do livro O filho do Holocausto (2006), em que Mautner relata sua infância e juventude (de 1941 a 1958). Para as gerações que o conheceram a partir da regravação de Maracatu atômico feita por Chico Science e Nação Zumbi (de 1996, foi a primeira de uma série de novas versões de cantores e bandas que vêm relendo, com respeito e autoralidade, a obra de Mautner), o filme é obrigatório, pois lança luzes sobre a obra de um artista que nem sempre recebeu o reconhecimento devido.

Colocando a música em primeiro plano – a trilha sonora foi lançada no final de 2012 –, o documentário traz as principais canções de Mautner (Lágrimas negras, O vampiro, Olhar bestial e Tarado, entre outras) gravadas em pocket show com a banda formada por Pedro Sá (guitarra), Kassin (baixo), Domenico Lancelotti (bateria) e Berna Ceppas (teclados e efeitos), além de Nelson Jacobina, o parceiro de Mautner por 40 anos, que morreu em 31 de maio. Também participaram Caetano Veloso e Gilberto Gil, figuras essenciais para sua carreira e companheiros no exílio londrino durante a ditadura militar. A parte musical é intercalada com narrativa documental.

Candomblé O título O filho do Holocausto remete à origem de Mautner. Nascido no Rio de Janeiro, ele é filho de um judeu austríaco que chegou ao país para escapar da perseguição nazista. Se a primeira infância foi carioca – “A babá me colocava para dormir ouvindo tambores do candomblé”, lembra ele –, dos 7 aos 14 anos o músico viveu em São Paulo. “Minha mãe se casou de novo.   Num misto de amor e ódio com meu padrasto, que fazia bico nas rádios Record e Tupi, eu ficava ouvindo Jackson do Pandeiro e Aracy de Almeida”, relembra. Seu primeiro livro, Deus da chuva e da morte, foi escrito quando ele tinha 15 anos. Mas só em 1962 o aluno expulso de Dante Alighieri, tradicionalíssimo colégio paulistano, veria essa obra publicada (posteriormente, ela lhe renderia o Prêmio Jabuti). Naquela época, Jorge já havia dado os passos iniciais como compositor (O vampiro é dessa safra).

O músico foi parar no Partido Comunista e passou um período em Nova York até chegar a Londres. Nesse cenário, rodou o filme O demiurgo (1972) e se envolveu com os tropicalistas – Caetano e Gil se tornaram seus parceiros desde então. O filho do Holocausto acaba dialogando com outros dois documentários, também da safra de 2012, que giram em torno do Tropicalismo: Tropicália, de Marcelo Machado, já lançado, e Futuro do pretérito: Tropicalismo now!, de Francisco César Filho e Ninho F. Moraes, ainda inédito no circuito comercial.

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“O Tropicalismo foi o apogeu do amálgama de que falou, em 1823, o José Bonifácio, sobre as diferenças entre povos e culturas no Brasil. Temos a cultura mais original do planeta, nossa história é resultante do romantismo, das culturas indígena e negra”, continua. Incansável, ele segue em plena atividade. Depois da morte de Jacobina, coautor de Maracatu atômico e Lágrimas negras, o cantor passou um período sem fazer shows, mas já voltou a se apresentar. Em formato mais intimista, Mautner empunha seu violino ao lado do maranhense Glad Azevedo; com banda, é acompanhado pela Tonno, de Bem Gil.

Para além da música, o agora consultor do Ministério dos Esportes para a cultura pretende “irradiar a ideia do amálgama de que falava José Bonifácio” para o período da Copa do Mundo. Quem assistiu à versão de Macaratu atômico apresentada pelo rapper BNegão no encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres não tem dúvida: Jorge Mautner sabe do que está falando.

O samurai

Jacobina e Mautner em cena do documentário

“No último show dele, em Jacareí (interior de São Paulo, durante reunião dos Pontos de Cultura), demos um bis de 45 minutos. Imagine, ele estava no quarto ano de uma metástase violenta. O Nelson tomava metadona, tinha muitas dores e, durante quatro anos, participou de tudo: show, disco da Orquestra Imperial, a série Oncotô?, da TV Brasil. Participava da militância no Partido Verde, Partido Comunista, UNE, ONGs. No palco, as dores passavam, era impressionante. O Nelson morreu horas depois daquele show. No voo, durante a volta para São

Paulo, no meio da dor, ele conseguia rir. Eu o provocava dizendo: ‘Vocês, verdes, vão deixar a gente sem luz’. O Nelson vai estar sempre comigo, é insubstituível, uma pessoa samurai. A música que fizemos para o disco da Orquestra (Fala chorando) diz assim: ‘Lágrimas são páginas/ Cheias de palavras que você/ Não pode mais continuar falando/ Porque a memória emudece a tua voz/ E então você fala chorando.’ É uma música também sobre a morte.”

>> Jorge Mautner, sobre o parceiro Nelson Jacobina, falecido em maio de 2012

Estado de Minas – Policial: Para rir e refletir

Estreia hoje o longa brasileiro Disparos, da diretora Juliana Reis, baseado em fatos. A cineasta diz que seu filme tem linguagem simples para atingir públicos variados

Eduardo Tristão Girão

(01/02/2013) Um fotógrafo é roubado na rua depois de um trabalho para um guia gay carioca e, em seguida, os assaltantes são atropelados por um justiceiro anônimo. Ele consegue recuperar seu equipamento, mas deixa no local o cartão de fotos da câmera. Ao voltar sozinho para pegá-lo, passa da condição de vítima à de acusado de omissão de socorro, e é levado para a delegacia. Esse é o desconcertante ponto de partida de Disparos, longa-metragem de Juliana Reis que estreia hoje em Belo Horizonte.

Vencedor dos prêmios de melhor montagem, fotografia e ator coadjuvante (Caco Ciocler) no Festival do Rio no ano passado, o filme é baseado em fatos. “Ouvi essa história em 2008, no dia seguinte ao ocorrido. Fiquei surpresa e, ao contar essa história para outras pessoas, passei a ouvir sistematicamente outras parecidas. Essa é a pedra fundamental”, lembra Juliana, que assina direção e roteiro.

Disparos foi rodado na capital fluminense entre 2010 e 2011 e, além de Ciocler, que interpreta o inspetor Freire, tem no elenco Gustavo Machado (o fotógrafo Henrique), Julio Adrião (dr. Guido) e Dedina Bernardelli (Silvana) – o público reconhecerá Babu Santana entre os atores que participaram das filmagens.

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“O motor do filme é a gente não poder virar bicho sem se dar conta de que está virando bicho. Abrindo mão das instâncias que controlam a barbárie, assumimos a barbárie. Estarrece-me o fato de perdermos o pé disso e não falarmos a respeito. É claro que acontece de agirmos impulsivamente, mas fazer disso algo corriqueiro assusta. É preciso termos um filme para falar disso. Tentei não julgar, mas levar o espectador à reflexão”, analisa ela.

Competição

Aproveitando a repercussão em torno dos três prêmios que o filme recebeu no Festival do Rio, em outubro passado, a diretora se esforçou para realizar seu lançamento nacional o quanto antes. No mês seguinte, conseguiu colocá-lo em salas do Rio de Janeiro e São Paulo. O esforço não valeu a pena, acredita Juliana: “Acabei brigando com filmes como Gonzaga – De pai para filho, Os penetras, Crepúsculo e 007”.

Em Belo Horizonte, ele estará nos shoppings Boulevard (sala 1, às 13h e às 14h45) e Pátio Savassi (sala 1, às 18h30; somente terça, dia 5, e quinta, dia 7). “Foi minha ambição fazer um filme de interlocução, não um filme cabeça, para poucos. Quis falar com os outros. Pessoas que já assistiram me disseram que é um filme a que você assiste rindo e, depois, sai do cinema discutindo o tema. Meu nirvana seriam 300 mil a 400 mil espectadores”, conta.

Na televisão

Paralelamente, Juliana segue trabalhando não apenas com longas, mas também com uma série para televisão. Está negociando projeto de série de ficção com canais a cabo. “A televisão é um espaço mais generoso para investir em novas linguagens. Há uma demanda aquecida pela nova lei que obriga canais pagos a incluir produções nacionais em suas grades de programação. Vejo na possibilidade de desenvolver essa série um espaço mais promissor, o grande lugar para me divertir como criadora”, diz.

O Globo – A transparência de um revolucionário

Um dos intelectuais mais provocativos do Brasil nos anos 1960 e 70, o filósofo, dramaturgo e professor Carlos Henrique Escobar, hoje radicado em Portugal, ressurge no documentário 'Os dias com ele', premiado na recém-encerrada Mostra de Cinema de Tiradentes

Rodrigo Fonseca

(02/02/2013) Corre pelo campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) da Praia Vermelha um folclore de que toda uma ninhada de gatos abandonada lá, pelos corredores da Escola de Comunicação (ECO), hoje mora em Aveiro, Portugal, no apartamento do professor (hoje aposentado) Carlos Henrique Escobar. Pode ser que o bichano felpudo refestelado em seu colo numa sequência do documentário "Os dias com ele" - eleito melhor filme na 16ª Mostra de Cinema de Tiradentes, semana passada, em Minas Gerais - seja um dos felinos da ECO. Mas nada assegura. Sabe-se apenas que todo mundo que fala sobre Escobar, seja de sua trajetória polêmica como filósofo de orientação antistalinista, seja de sua carreira premiada como dramaturgo, ou mesmo de sua experiência como pai (por vezes ausente), traz seus gatos à tona - talvez por ele mesmo frisar sua devoção pela espécie."Quero ser enterrado num cemitério de animais", diz o pensador paulistano, hoje com 79 anos, numa cena de "Os dias com ele", dirigido por sua filha Maria Clara Escobar, 24.Emocionada pelo filme, que marca o ajuste de contas de uma relação entre pai e filha em forma documental de poema-processo, Tiradentes gargalhou em coro ao ouvir a frase mórbida do autor de peças como "Caixa de cimento" (1978), famoso por ter devassado as leituras críticas sobre luta de classes com teses como "O marxismo trágico" (1992). Tiradentes riu ainda de suas tiradas sobre autoritarismo e arte, mas se inflamou com as palavras dele sobre o Estado brasileiro, com o qual se preocupa.

- Acredito que o governo Lula e Dilma esteve e está repleto de esquerdistas farsantes, que almejam poder e riqueza, como provam as alianças deploráveis que Lula fez, com Sarney, Collor, Maluf, ou os escândalos no nível da corrupção que envolveu e envolve os governos e as políticas petistas - diz

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Escobar, em entrevista por e-mail ao GLOBO. - Um dia, o Brasil terá caráter suficiente para ter uma esquerda. Caráter suficiente para ter uma cultura séria.

Em "Os dias com ele", assim como em suas aulas de Política da Comunicação na ECO, sobre catastrofismo, baseadas no livro "A transparência do mal", do sociólogo francês Jean Baudrillard, Escobar não se rende à desesperança. Cultiva planos para preservar sua obra de autor teatral, cujo principal trabalho é "Matei minha mulher (A paixão do marxismo: Louis Althusser)" (1983), baseado no assassinato cometido pelo filósofo francês.

- Algumas das minhas peças, sobretudo "Antígona-América", dirigida pelo Antônio Abujamra, foram censuradas pelos militares. Na verdade, o conjunto do meu teatro foi covardemente destruído pelos stalinistas. Hoje, e já é tarde, começo a publicar meu teatro escrito 30 ou 40 anos atrás. Tive oito peças montadas e tenho 15 para editar - diz o dramaturgo, que nos anos 1950 casou-se com a atriz portuguesa Ruth Escobar, com quem viveu (e fez teatro) até o início dos anos 1960.

A poesia da irreverênciaQuem atuou nas peças escritas por Escobar não esconde o encanto diante da força poética de seus diálogos, que críticos teatrais como Macksen Luiz definiram nos anos 1980 como "um primado da inteligência, marcados pela necessidade de se repensar o mundo".

- A primeira peça profissional que fiz no teatro foi "Antígona-América", do Escobar - diz o ator Sérgio Mamberti, atual secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura. - Percebi logo o quanto ele era questionador e irreverente. Além de excelente poeta, Escobar escrevia teatro com uma preocupação lúcida acerca da América do Sul.Mamberti conheceu Escobar na chamada Turma da Estátua.

- Nos anos 1950, a Biblioteca Municipal de São Paulo, hoje Biblioteca Mario de Andrade, tinha uma estátua no hall de entrada em torno da qual se reuniam intelectuais como Antunes Filho, Décio Pignatari, Escobar - lembra o escritor e diretor teatral Mário de Almeida, criador do Teatro de Equipe, que revelou Paulo José e Paulo César Peréio. - Juntos, naquele ambiente, descobrimos o quanto Escobar fazia do entusiasmo e da paixão a marca de seu pensamento, sempre denso. E isso se reflete em suas peças e seus poemas.

Filósofo autodidata, autor de livros seminais para o pensamento marxista brasileiro, como "Ciência da História e ideologia", Escobar defende que ainda há uma centelha de transformação possível para o Brasil pela juventude. Deixa isso claro nos embates verbais que trava com a filha acerca do que deveria ser a narrativa de "Os dias com ele", sugerindo planos que não se limitem a uma câmera à altura do seu peito (conforme o filme é construído), sobretudo no que se refere a suas memórias sobre a tortura de que foi vítima durante os anos de chumbo.

- Grande parte do embate se dá justamente porque somos um pouco incapazes de fazer algo a quatro mãos juntos - diz Maria Clara, fruto de um romance entre Escobar e a compositora Vera Terra.

Cineasta estreante, ela admite ter tido uma relação distante com o pai, que vive há uma década em Portugal, casado com Ana Sacchetti, com quem tem um filho, Emílio, de 15 anos:

- Após o filme, o relacionamento segue um pouco mais próximo, mais tranquilo em relação a projeções e mágoas. Mais claro, talvez, porém não muito menos doloroso. O buraco segue. E seria um erro tentar tapá-lo.

Graças à ensaística de Escobar nas imagens filmadas por sua filha, o longa de Maria Clara foi aplaudido em cena aberta por centenas de espectadores em Tiradentes e, de quebra, levou o troféu Barroco dado pelo júri oficial (só de críticos) e pelo júri jovem (de estudantes) e um prêmio de R$ 50 mil, desembolsados pelo Itamaraty. Além de ter encurtado distâncias emocionais entre a documentarista e seu documentado, "Os dias com ele", ainda sem data de estreia, deixa como legado a redescoberta de um dos intelectuais mais provocativos do Brasil dos anos 1960 e 70. Responsável por radicalizar o ensino na UFRJ, combinando aforismos de Nietzsche e filmes de Ingmar Bergman, ele questionava as contradições da democracia brasileira.

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- Com Escobar, no mestrado da ECO, entre 1974 e 76, aprendi a entender o que é "fazer uma pergunta"..., a natureza de uma interrogação qualquer. Aprendi a tentar questionar tudo aquilo que nos aparece como natural, dado, supostamente simples - lembra o crítico João Luiz Vieira, professor de Cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Em universidades, palestras e debates, Escobar, famoso por seu porte de galã e por seus olhos azuis, chegou a ter um séquito de fãs, apelidado de escobetes, que idolatravam não apenas sua beleza, mas suas ideias e sua postura combativa. "Os dias com ele" resgata, por exemplo, uma carta em que ele desanca o poeta Ferreira Gullar por suas posições políticas em relação ao Partido Comunista Brasileiro.

- As aulas de Escobar eram performáticas, quase teatrais, típicas de uma figura controversa, que falava sem parar, mas ajudou a trazer a obra de pensadores como Gilles Deleuze para o Brasil - diz sua ex-aluna Ivana Bentes, crítica de cinema e diretora da ECO. - Escobar representava a filosofia maldita, falando de Rimbaud, de Althusser, de Nietzsche, com um ânimo que explodia a figura clássica do acadêmico, mas deixava as ideias de um pensador superprodutivo.

Barata nietzschiana

Ivana lembra que tão forte quanto as discussões filosóficas de Escobar era o folclore em torno de sua figura. E tal anedotário sempre envolveu sua obsessão por gatos. Nos anos 1980, um perfil dele publicado no "Jornal do Brasil" falava que sua antiga casa no Humaitá abrigava 20 felinos, que consumiam o equivalente a R$ 500 em carne moída por mês. Há ainda lendas na ECO sobre seu hábito alimentar recorrente: encerrar o expediente semanal num mesmo boteco, conhecido como Sujinho, tomando, numa talagada, um copo duplo de Toddy gelado.

- E, no tempo que estudei com ele, tinha a história da barata. Contam que ele, nietzschiano, ao passar por uma padaria, viu um comerciante tentando matar uma barata que andava pelo balcão. Dizem que Escobar deu uma bronca dizendo que toda forma de vida é importante - lembra Ivana. - Esses causos não mudam a importância dele para a nossa formação.

Até a sessão em Tiradentes, Escobar não havia assistido a "Os dias com ele". Agora, com a vitória do filme, Maria Clara espera ainda ajudar o pai a desencavar sua obra teatral e seu legado filosófico. Neste momento ele prepara uma coletânea de poemas e um livro, a partir de Althusser, para pensar "uma nova prática política no Brasil", já prometendo polêmica, com seu tom irreverente:

- Sinto que desagradarei aos mais vacilantes, aos que já acreditam numa posição política correta.

O Globo – ‘Maldito’ capixaba

Rodrigo Aragão, diretor de ‘Mangue negro’ e ‘A noite do Chupacabras’, vendidos para EUA, Europa e Japão, finaliza trilogia de terror com ‘Mar negro’ e reclama do preconceito contra o gênero no Brasil

RODRIGO FONSECA

(02/02/2013) Espécie de Godzilla versão capixaba, um monstro marinho apelidado de Baiacu- Sereia anda espalhando pânico por uma aldeia de pescadores do litoral do Espírito Santo chamada Perocão. Pior que ele, só o Zumbi-Caranguejo, devorador de homens. Lá, em meio a mortos-vivos e peixes canibais, um pequeno núcleo de produção de longas-metragens, quase artesanal, hoje empenhado em finalizar o thriller de horror “Mar negro”, tem atraído a atenção do cinema internacional. Até revistas especializadas de Hollywood já citaram o sucesso que os filmes do diretor Rodrigo Aragão fazem entre fãs do terror pelo mundo afora.O cineasta, nascido em Guarapari há 36 anos, rodou mais de 30 festivais internacionais com seus dois longas, “Mangue negro” (2008) e “A noite do Chupacabras” (2011). Feitos sem incentivos fiscais, com uma verba que nunca ultrapassa R$ 200 mil, e sem atores conhecidos, ambos foram vendidos para EUA, Holanda, Bélgica, Alemanha e Japão. Mas, no Brasil...— Aqui, o mercado não me dá espaço. Corri atrás de 20 distribuidoras, oferecendo meus filmes, topando até que fossem direto para DVD. Mas o preconceito contra quem faz cinema de gênero,

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sobretudo o terror, é grande. Faço filmes baratos, sem edital, e tenho reconhecimento no exterior. Mas as vias oficiais não me abrem portas — lamenta o cineasta, que vem se tornando a figura mais expressiva de um estado com pouca visibilidade no cinema nacional.PRODUÇÃO FINANCIADA POR FÃFora dirigir, Aragão ganha a vida como técnico de efeitos especiais. Daí tira seu sustento e a segurança para investir em projetos como “Mar negro”. Ataque à poluição, o longa terminou de ser rodado na semana passada e, ainda neste ano, deve ficar pronto para ser exportado. Na trama, uma mancha negra alastra-se pelas águas do Perocão, infectando humanos e animais. Daí o surgimento de seres como o Zumbi- Arraia e o Baiacu-Sereia, vigiados por um feiticeiro, o Velho do Saco (Cristian Verardi).— É uma crítica minha ao oba-oba do petróleo sem consciência ambiental. No fundo, “Mar negro” e meus dois outros filmes compõem uma trilogia de horror sobre o desrespeito à ecologia de uma região como o Perocão e seus arredores, que abrangem praia, mangue e montanhas.Estou tentando criar um universo aqui — diz Aragão, que filma graças ao suporte financeiro do empresário mineiro Hermann Pidner, do ramo de produção de cal.Fã de terror, ele viabiliza o orçamento de Aragão, que se complementa num esquema de colaboração sem ônus.— Pidner virou produtor, consciente de que é possível fazer cinema autossustentável no Brasil, pois nossos filmes podem se rentabilizar com as vendas internacionais. E a gente filma com pouco porque atraímos muita gente que é fã e topa fazer o filme por amor. Ofereço abrigo, comida e momentos inesquecíveis. Isso só é possível porque o terror mobiliza paixões.Em “Mar negro”, haverá ainda um monstro capaz de fazer frente a Moby Dick, mas que Aragão mantém em sigilo, confiando a salvação do Espírito Santo a Albino, herói vivido por seu ator-fetiche, Walderrama dos Santos, que viveu o Luís da Machadinha de “Mangue negro”.— Cresci vendo filmes de Sam Raimi e Peter Jackson e, por isso, sempre sonhei com a possibilidade de o Brasil ter em seu cinema heróis capazes de enfrentar monstros. É questão de credibilidade, coisa que os EUA conseguiram com filmes onde ETs explodem coisas e criaturas assustam espectadores. E, da mesma forma como Peter Jackson retratou a beleza da Nova Zelândia a partir de um olhar fantástico, tento fazer o mesmo pelo Espírito Santo — afirma o diretor, filho do mágico Osório Aragão, dono do extinto Cine Eldorado, em Guarapari.Aragão conta que seu pai chegava a fazer projeções na rua para atrair público, o que alimentou seu interesse por gêneros de maior apelo popular, sobretudo o terror.— Embora seja fã de “Tubarão”, um marco realista, persigo na forma a mistura de terror e humor que Sam Raimi segue, por isso filmo usando as ferramentas e as tecnologias dos anos 1980, com o mínimo de efeitos digitais. Prefiro usar marionetes e espuma de látex para criar meus monstros — explica.Por ter crescido rodeado pelo ofício lúdico de seu pai, a imaginação de Aragão perdeu barreiras, para a preocupação de sua mãe, Dalva.— Hoje, ela encara meus filmes numa boa.Mas, quando eu tinha uns 13 anos e pedi o estojo de maquiagem dela emprestado, ela ficou encucada, toda desconfiada. Não podia imaginar que eu queria a maquiagem para criar um ferimento falso numa brincadeira — diz o diretor, que viu seu “Mangue negro” ser aclamado em festivais como o Sci-Fi London, na Inglaterra, e o Buenos Aires Rojo Sangre, na Argentina. Seu “A noite do Chupacabras” chegou a ser sensação no Yubari International Fantastic Film Festival, no Japão, onde revistas estrangeiras como a francesa “Mad Movies” (a bíblia europeia do filão) classificaram Aragão como “um expoente do medo”.— Mais do que admirar José Mojica Marins, criador do Zé do Caixão, me identifico com ele por esse lado de vender filmes de terror brasileiro no exterior e pela dificuldade de driblar o preconceito no meu país. Há fãs de terror no mundo inteiro. Então, o que eu fizer, se for bem feito, vai ser visto lá fora. Mas é chato não ser lançado aqui. Não é bonito ser maldito.

Carta Capital – Um Labirinto de horrores

(03/02/2013) O SOM AO REDOR, o premiado longa-metragem de estreia de Kleber Mendonça Filho, aborda conflitos sociais a partir de um quarteirão do Recife, onde vivem famílias de classe média e média alta. Ele mostra o cotidiano de uma nação em mudança, mas herdeira da estrutura de um passado patriarcal. Mendonça diz tratar de experiências familiares à sua condição social, a mesma da maioria esmagadora dos cineastas brasileiros. Para o diretor pernambucano, os filmes nacionais têm de vasculhar temas além da favela e do sertão, espaços transformados em foco preferencial do

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Cinema Novo em meados do século XX. Depois de estrear comercialmente em Nova York, em agosto, O Som ao Redor, filmado na rua onde moram vidas típicas de um lugar como Recife, recebeu aclamação da critica, sendo mais tarde eleito pelo The New York Times um dos dez melhores filmes de 2012. "O Som ao Redor é o perfeito exemplo do truísmo de que os artistas com frequência encontram o universal no específico", diz a CartaCapital Dennis Lim, critico de cinema e curador do Museum of the Moving Image, no Queens. "Embora limitadas a um espaço bem particular, as questões despertadas pelo longa-metragem sobre paranóia urbana e conflito de classes são cabíveis em qualquer lugar e extremamente contemporâneas."

Crítico de cinema do The New York Times, A.O. Scott, em um texto intitulado "A classe ociosa carrega o seu fardo" também apontou para o caráter universal e singular de O Som ao Redor, atualmente em cartaz nos cinemas brasileiros. "Os apartamentos novos, com suas paredes recém--pintadas, seus aparelhos eletrônicos luminosos e seus grandes televisores de tela plana, se parecem com enclaves genéricos de privilégio. Pode-se estar em qualquer lugar. E alguns dos eventos que ocorrem no interior daquelas paredes poderiam ser episódios de uma novela global sobre banalidades domésticas em Cingapura, São Francisco, Cidade do Cabo ou Dubai." O que muda essa percepção de generalidade são os personagens, "divididos grosso modo entre senhores e escravos". "O escopo de seu filme é restrito, mas as suas ambições são enormes, e isso leva à iluminação do estado peculiar da sociedade brasileira (e não só dela)."

Em entrevista a CartaCapital durante recente visita a Nova York, onde ganhou o prémio de melhor filme do Cinema Tropical Awards, Mendonça disse ter abordado a adaptação moderna do patriarcado brasileiro. "Na verdade, não mudou muita coisa, se compararmos com Pernambuco de 150 anos atrás", afirma. "A cultura escravagista é muito forte no Recife. E também no resto do País." O início de O Som ao Redor mostra uma sequência de fotografias em preto e branco de trabalhadores rurais e casas--grandes. Essa escolha de abertura, "a base teórica e estética do filme", ele explica, é uma resposta ao descaso nacional pela história. "O Brasil só pensa no presente e no futuro. Esquece que o passado é o manual de instruções de uma sociedade."

No primeiro plano-sequência, logo após a exibição daquelas fotos, uma menina anda de patins. Ela termina sua trajetória na quadra esportiva de um prédio, onde se encontram empregadas domésticas e babás vestidas de uniforme. "Ou uma série de escravas", nas palavras do diretor. Mendonça percebe em situações cotidianas os efeitos persistentes do sistema patriarcal e escravocrata, descrito com detalhes por Gilberto Freyre (1900-1987), também pernambucano, em livros como Casa-Grande â Senzala (1933). "A subordinação da gente de cor, baseando-se na diferença de raça, era também uma subordinação de classe", escreveu o sociólogo em Sobrados e Mucambos (1936), livro citado por Mendonça como capaz de explicar o Brasil a partir das suas condições arquitetônicas. A casa era, segundo Freyre, uma fonte de modelos de comportamento, além de espaço de acomodação: "Do escravo ao senhor, do preto ao branco, do filho ao pai, da mulher ao marido".

No mês passado, quando esteve em São Paulo para um debate sobre seu filme, Mendonça testemunhou a atualidade da teoria de Freyre. "Quando estava num restaurante de Higienópolis, vi um casal de brancos com um bebé loiro e, à mesma mesa, um ser uniformizado olhando para a comida sem dizer uma palavra. Era uma mucama." A diferença em relação ao passado, cogita o diretor, é que talvez aquela babá ganhe mil reais e tenha uma carteira de trabalho assinada.

Mendonça acompanhou durante a última década uma mudança gradual na passividade brasileira. "Os papéis sociais são definidos, paralisantes. Mas, apesar do preconceito nos últimos 12 anos, houve uma evolução no modo como as classes mais baixas se vêem." Uma das explicações é o fato de Luiz Inácio Lula da Silva, que "quebrou o molde típico do presidente brasileiro", ter promovido uma maior distribuição de renda. "Hoje, ser pobre não é uma vergonha." Essa percepção afetou a representação das classes mais baixas em O Som ao Redor. "No filme, nenhum trabalhador abaixa a cabeça para o patrão.”

Mendonça deu-se conta da falta de agressividade dos desfavorecidos brasileiros quando, nos anos 1980, morou na Inglaterra. "Lá o pobre odeia o rico e vice -versa. No Brasil, o rico despreza o pobre mas o pobre quer ser o rico."

O Som ao Redor usa uma estética realista para descrever com sutileza as relações conflituosas entre as classes. Aos personagens não reserva nenhum julgamento. Em uma reunião de condomínio

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moradores discutem o futuro do porteiro da noite. Uma das alegações para demiti-lo é a negligência do funcionário, que dorme durante o serviço, fato filmado por um dos filhos dos condóminos. O porteiro entrega a revista Veja fora do plástico. Segundo a maioria ali reunida, esses seriam motivos suficientes para uma demissão por justa causa. "Esse momento do filme, assim como tantos outros, sintetiza um sentimento", diz Mendonça. "Na sequência da reunião, leitores da Veja poderão sentir-se representados, identificando-se com um problema semanal nos condomínios: a violação de sua revista, janela para o mundo. Os que preferem não ler a Veja podem sentir-se vingados. Tudo depende de um ponto de vista."

As mudanças na economia brasileira se refletem na paisagem urbana retratada por O Som ao Redor. Um dos barulhos mais perturbadores do longa-metragem é aquele dos bate-estacas, sinal da construção de um novo edifício. Os novos empreendimentos imobiliários do Recife, diz o diretor, seguem o padrão da maioria das cidades brasileiras. "Nada foi planejado ou pensado em conjunto. Os prédios são projetos individuais, feitos para seus responsáveis ganharem dinheiro. Não fazem nenhum sentido para a rua ou o bairro." Assim, o espaço público toma-se inóspito.

Na passagem por Nova York, onde foram exibidos seus curtas-metragens durante uma mostra do Museum of the Moving Image, Mendonça visitou o High Line, um parque suspenso no Chelsea, área de Manhattan que se desindustrializou para se transformar na meça das galerias de arte da cidade. O High Line, inaugurado há três anos e hoje um ponto turístico, reaproveitou a estrutura do viaduto usado por trens de carga entre os anos 1930 e 1980. "Com essa construção, tentaram devolver à cidade uma liberdade suprimida pelo projeto original." O cineasta refere-se ao abandono do elevado construído para evitar os atropelamentos frequentes quando os trilhos estavam no mesmo nível da rua.

Em contraste com o High Line, que valorizou o preço dos apartamentos do Chelsea, O Som ao Redor apresenta uma arquitetura desumanizadora, em que grades, cercas elétricas, arames farpados e muros altos são onipresentes. "Esse modelo urbano fracassado" ronda o património da família disfuncional de Francisco (WJ. Solha), proprietário de um anti-•go engenho. Francisco é dono da maioria dos imóveis do quarteirão onde se passa a história do filme, dividida em três seções com núcleos narrativos diferentes.

Ele se vê incomodado quando uma pequena firma de segurança privada, encabeçada por Clodoaldo (Irandhir Santos), oferece seus serviços naquela região afetada pelo medo de uma violência difusa e iminente. Dennis Lim comparou esse sentimento reproduzido pela obra de Mendonça ao de "um filme de terror em que o horror, generalizado, não tem nome, sendo incorporado ao cotidiano doméstico como uma emanação convulsiva do inconsciente coletivo". Do encontro entre Francisco e Clodoaldo resulta um conflito cujo desfecho o roteiro de O Som ao Redor deixa em aberto.

A arquitetura exibida pelo filme mostra, sobretudo, individualismo. "Ali o ser humano é feito um ratinho correndo dentro de um labirinto de laboratório." As condições urbanísticas e habitacionais os personagens de O Som ao Redor, representantes dos moradores de centros urbanos. "A gente vive o nosso dia a dia tentando driblar essa paisagem caótica", confessa. "Os momentos mais cómicos mostram a tentativa de escapar ao caos. Mas a tristeza é que a gente nunca consegue."

Valor Econômico - "Serra Pelada", um gângster moderno

(04/02/2013) Nas mãos de Heitor Dhalia, a febre do ouro na Serra Pelada dos anos 1980 ganha uma atmosfera nervosa e violenta, característica de alguns filmes do americano Martin Scorsese ("Taxi Driver", "Gangues de Nova York"). "O sentimento de urgência que imperava naquele lugar, uma terra sem lei, me inspirou a buscar um gênero específico: o de gângster", diz Dhalia durante a filmagem de "Serra Pelada", em Paulínia, município a 118 km da capital paulista.

Filmagens de "Serra Pelada", em Paulínia (a partir do alto, em sentido horário): Julio Andrade e Juliano Casarré, o diretor Heitor Dhalia e atores que interpretam capangas, em sequência de emboscada."Como ocorre em produções de Scorsese, quero que o espectador se sinta circulando por dentro desse universo nocivo e cruel. Não é um olhar de fora para dentro. A ideia é proporcionar à plateia uma visão de 360 graus.''

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As imagens de milhares de garimpeiros subindo e descendo as longas escadas, correndo atrás do sonho de riqueza, cobertos de lama, "são cinematográficas por natureza''. Mas nem por isso o diretor pernambucano de 43 anos escolheu "o evento pelo evento". "Registrar apenas a loucura que foi Serra Pelada, a maior concentração de trabalho manual desde as pirâmides do Egito, não me interessaria. Precisei encontrar um ponto de vista e, em especial, uma história que valesse a pena ser contada, tendo a corrida de ouro naquela imensa cava como pano de fundo."O resultado foi um filme de gângster moderno, criado a partir de histórias de garimpeiros que Dhalia ouviu em Marabá - a cidade mais próxima da cratera cavada no sudeste do Estado do Pará. Ele escreveu o roteiro de "Serra Pelada", atualmente em pós-produção, em parceria com Vera Egito. "O filme levou três anos para sair do papel porque nós demoramos para entender o que foi realmente a maior mina de ouro a céu aberto da idade moderna. O ambiente era cheio de contradições."Os formigas, como eram conhecidos os garimpeiros, trabalhavam em péssimas condições, sem o auxílio de máquinas. Eles faziam cerca de dez viagens por dia, subindo as encostas íngremes da cava, carregando nas costas sacos de barro de cerca de 50 quilos. Quando as encostas desabavam, muitos morriam soterrados. "Ainda assim, eles não eram escravos de ninguém. Todos se viam como ricos em potencial, como quem joga em Las Vegas ou investe na bolsa de valores", afirma o diretor. "Quando ganhavam dinheiro com o ouro, muitos deles o gastavam de um jeito extravagante. Um garimpeiro chegou a comprar um carro para cada dia da semana."Ainda sem data de estreia definida (provavelmente no segundo semestre), "Serra Pelada'' retrata a jornada de Juliano (Juliano Cazarré) e Joaquim (Julio Andrade), dois amigos que deixam o Rio de Janeiro em busca de fortuna no garimpo - oficialmente, pelo menos 30 toneladas de ouro foram extraídas daquele buraco, nos tempos áureos.Como tantos outros garimpeiros, Juliano acaba corrompido pela ganância e pelo poder, tornando-se um gângster na região. Ex-pugilista, ele revela seu lado mais violento em Serra Pelada, o que destrói a amizade com Joaquim - professor que só quer ganhar algum dinheiro e voltar o quanto antes para casa, onde a mulher grávida o espera."É um filme masculino, com muitas cenas de ação'', diz Dhalia. Este será seu quinto longa - após "Nina'' (2004), "O Cheiro do Ralo'' (2006), "À Deriva'' (2009) e "12 Horas'' (2012)."Serra Pelada'' - orçado em R$ 10 milhões, com R$ 7 milhões já captados - teve locações no Pará e em São Paulo, incluindo filmagens em Mogi das Cruzes, onde foram reproduzidas cenas de extração de ouro na antiga cava (que chegou a uma profundidade de quase 200 metros no auge do garimpo) e em Paulínia, na fazenda São João, onde foi reconstruída a vila dos garimpeiros. Era lá que muitos deles gastavam o dinheiro que ganhavam.Havia mercearias, açougue, barbearia, "biroscas'' (que vendiam bebidas alcoólicas) e os prostíbulos, frequentados em sua maioria por homossexuais chamados de "Marias" - já que a entrada de mulheres era proibida no garimpo. "A vila cenográfica foi meticulosamente reproduzida de acordo com a pesquisa histórica'', diz a produtora Tatiana Quintella, sócia de Heitor Dhalia na empresa Paranoid e produtora de filmes como "A Mulher Invisível" e "Homem do Futuro", ambos de Cláudio Torres.Foi nessa vila que a equipe construiu a casa de madeira dos protagonistas Juliano e Joaquim. Na época, poucos podiam se dar a esse luxo. A maioria dos garimpeiros dormia em barracas de lona preta. No dia em que a reportagem visitou o set em Paulínia, Dhalia rodou nessa casa uma cena de desentendimento entre os dois amigos.Pronto para voltar ao Rio, Joaquim é roubado (perdendo tudo o que acumulou com tanto esforço), acusando imediatamente o amigo Juliano. Depois de insultos e agressões físicas, Juliano revela que o autor do crime é Lindo Rico (Wagner Moura, também coprodutor do filme), um tipo ambicioso que semeia a desconfiança entre os amigos para tomar o lugar de Juliano. Na saída da casa, Joaquim é baleado pelos capangas de Lindo Rico."O método de filmar de Heitor é muito eficaz. Ele começa registrando a cena de longe e depois aproxima a câmera dos atores, evocando mais o nosso lado emocional'', diz o ator Julio Andrade. Para Juliano Casarré, "Serra Pelada'' é "um filme de macho, mas sem perder o coração''."O trabalho exige densidade dramática, principalmente nas cenas de confronto entre os amigos'', diz. Além de Andrade, Casarré e Moura, completam o elenco principal a atriz Sophie Charlotte, no papel de Tereza, a mulher que vira a cabeça de Juliano, e o ator Matheus Nachtergaele, que vive Carvalho, o fazendeiro rico e poderoso que é noivo de Tereza.A intenção de Dhalia é cruzar fronteiras com a obra, graças ao apelo internacional de um "momento histórico muito particular e genuinamente brasileiro". De preferência, culminar com a seleção do filme no Festival de Cannes, em maio deste ano.

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"Vou fazer o possível para que o filme fique pronto até lá. Quando um diretor fala que não sonha com Cannes, certamente está mentindo. Mas não posso pensar muito no festival francês por enquanto. O filme só vai para Cannes se ficar bom. É nisso que preciso me concentrar agora.''Depois da experiência em Hollywood, com "12 Horas'', onde Dhalia sentiu na pele que o produtor é quem comanda o processo criativo, o diretor procurava um filme com a cara do Brasil, no qual ele pudesse imprimir a sua marca. "É maravilhoso voltar a rodar em casa, apesar de a nossa indústria não estar preparada para filmes do porte de 'Serra Pelada' e apenas para filmes de arte. Muitas vezes, o tamanho da produção pode definir o resultado.''O cineasta acredita no potencial comercial do título, que já garantiu a sua distribuição no Brasil pela Warner. "É um filme difícil de fazer, pois se trata de uma história humana no gênero de gângster.''Um dos pontos altos da obra, segundo Dhalia, é a sua dramaturgia. "É o que mais falta ao cinema brasileiro. As tramas não desenvolvem bem os personagens, fazendo com que eles soem falsos. É preciso entender que, sem dramaticidade, a cena não existe", afirma o diretor.

Estado de Minas - Guerreira

Estrelado pela índia Wiranu Tembé, Tainá 2013 A origem é a primeira série do cinema nacional a chegar ao terceiro episódio. Longa ganhou prêmio nos EUA antes mesmo de estrear no Brasil

Walter Sebastião

Wiranu Tembé começou a filmar Tainá 2013 A origem aos 4 anos, antes de aprender a falar português.

(05/02/2013) A indiazinha Tainá, cujo sonho é se tornar guerreira e defender a floresta, deixa para trás as “grifes” famosas e crava a marca de estrelar a primeira franquia do cinema brasileiro a chegar ao terceiro episódio.

A estreia nacional de Tainá – A origem está marcada para sexta-feira, véspera de carnaval. O filme conta o início da trajetória da órfã adotada pelo “vô” Tigê (Gracindo Júnior), que não desiste de

sua importante missão. Rejeitada por ser menina, ela vai à luta com a ajuda de Laurinha (Beatriz Noskoski), amiguinha da cidade, e de Gobi (Igor Ozzy), um índio meio nerd, que adora eletrônica.

Rodado no Amazonas, no Pará e no Acre, o longa brasileiro traz tudo o que a região oferece: florestas, árvores gigantescas e rios que parecem mar, além de onças, macacos, preguiças e araras. A heroína ganhou novo rosto: o papel coube a Wiranu Tembé, de 5 anos, descoberta na aldeia paraense de Tekohaw e selecionada entre 2,2 mil meninas da região amazônica.

O roteiro previa uma atriz de 7 anos, mas a indiazinha se saiu tão bem que os planos foram adequados à idade dela. “Quando vi a Wiranu, não consegui tirar mais os olhos. É uma Tainá muito especial”, afirma a diretora Rosane Svartman. A pequena atriz tinha 4 anos quando o longa-metragem começou a ser rodado. Nem sequer falava português. Mas as brincadeiras daquela menina em sua tribo encheram os olhos de Rosane. E entraram no filme. Tainá-Wiranu escala um pé de açaí de mais de 10 metros. “Quando a vi fazendo aquilo, pedi ao roteirista para criar a cena sem cortes, para mostrar que é tudo verdade”, revela a diretora.

Tainá – A origem busca, sobretudo, a emoção. “Mostramos como a protagonista se tornou a guerreira que conhecemos de outros filmes, e também como uma menina se transforma a partir de aventuras, desafios e do convívio com amigos”, explica Rosane Svartman. O fascínio por essa personagem vem da mistura de dois elementos: a heroína da floresta e a pequena guerreira, ingênua e sábia. Palavra de origem tupi-guarani, tainá quer dizer estrela, raio de luz, luz da manhã.

Trabalhar com atores mirins foi um desafio e tanto para a diretora. O mais importante é levar para a tela o frescor que a criança transmite na vida real. “O que aparece fluente, espontâneo, leve e simples

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no filme é produto de muito trabalho”, avisa Rosane. Isso significa planejar ensaios que tratem as situações da trama como brincadeira, além de evitar que as tensões do set afetem a criançada.

Filmar na Amazônia é complicado. “Chove, faz sol, tem lama, chão arenoso, muito bicho, mosquito. Você tem de pegar barco, van, avião. Mas a região é belíssima, chegamos a locais que estão entre os mais bonitos do mundo”, garante a diretora. Em resumo, Tainá – A origem buscou retratar toda a magia, grandiosidade, beleza e diversidade da floresta.

Outro desafio: filmar bichos selvagens, que não podem ser adestrados. “O macaco ia de um lado para o outro. A equipe, pacientemente, era obrigada a esperar o momento em que a onça decidia se levantar”, relembra Rosane. Foi necessário criar unidade apenas para captar as cenas da fauna.

Tanto esforço valeu a pena: Tainá – A origem já estreia com um prêmio: o de melhor filme, na opinião do público, concedido pelo International Children’s Film, realizado na Califórnia (EUA).

Pai corujaA história da série Tainá começou quando Pedro Rovai integrava a equipe que filmava documentário sobre populações ribeirinhas da Amazônia. Encantado em ver as crianças se divertindo sem ter brinquedo algum, o produtor propôs a franceses um filme sobre esse aspecto da vida amazônica.

“Mas eles vieram com catástrofe e drama social, enquanto eu imaginava algo otimista, para cima. Ou seja: um filme sobre a alegria das crianças destinado aos pequenos – não aos adultos. E com uma visão encantadora, mas não idílica, da Amazônia. Algo diferente do que vemos todos os dias sobre aquela região”, conta Rovai.

Em 2000, surgiu a primeira incursão de Tainá no cinema: Um aventura na Amazônia, dirigido por Tânia Lamarca e Sérgio Bloch. O segundo longa, de Mauro Lima, foi lançado em 2004: A aventura continua. Esses trabalhos caíram nas graças de ambientalistas, escolas e de festivais de cinema. Conquistaram 22 prêmios em eventos internacionais dedicados à produção infantil.

“Tainá é algo raro: uma personagem de cinema que não veio da literatura ou da televisão”, afirma, vaidoso, Pedro Rovai. Aspecto fundamental do sucesso da série, ressalta ele, é o carisma das Tainás: a pioneira Eunice Bahia, hoje com 21 anos, e agora Wiranu Tembé. Ambas foram descobertas pelo produtor de elenco Cláudio Barros.

A satisfação com o bom resultado não apaga um problema. Produções dessa natureza são caras. “Falta-nos estrutura, como a dos norte-americanos, para fazer filmes assim”, observa Rovai. Por enquanto, A origem encerra o ciclo, acredita o “pai” de Tainá. “Vai ficar na história do nosso cinema o fato de, um dia, um sujeito corajoso ter feito essa trilogia”, orgulha-se.

Os novos planos para a indiazinha, por enquanto, são apenas sonho. Rovai torce para que Tainá seja a estrela de outra série. Desta vez, em animação produzida para a TV.

Pluft vem aíRosane Svartman é formada em cinema pela Universidade Federal Fluminense. Diretora e roteirista, ela trabalha também na TV: atualmente, integra a equipe de Malhação (Rede Globo). Lançou dois livros para jovens: Melhores amigas e Onde os porquês têm resposta; dirigiu os longas Como ser solteiro (1998), Mais uma vez amor (2005) e Desenrola (2001). Atualmente, ela desenvolve projeto para adaptar Pluft, o fantasminha, clássico teatral de Maria Clara Machado, para o cinema. “Saio da floresta diretamente para o mundo dos fantasmas”, brinca ela.

Estado de Minas - Chegou a hora

Em abril estreia o primeiro longa-metragem de aventura brasileiro rodado em 3D. O cineasta Paulo Fontenelle quer disputar espaço com produtores estrangeiros que dominam o mercado

Mariana Peixoto

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(06/02/2013) Pai divorciado e ausente, manobrista de estacionamento resolve preparar um dia inesquecível para o filho. Pega o carro da cliente para sair com o garoto, mas se envolve numa série de confusões e tem que arrumar um jeito de devolver o veículo inteiro, sem que a dona saiba o que ocorreu. Essa era a ideia do diretor Paulo Fontenelle para o roteiro de um longa-metragem que misturasse aventura e ação, até o projeto sofrer mudança radical. Em vez de filme 2D, como tantos outros, a história seria filmada em 3D. Dessa maneira, Se puder... dirija!, com estreia prevista para 5 de abril, tornou-se o primeiro longa nacional em live action do gênero.

“Como a tecnologia está cada vez mais acessível, a gente viu que falta ao cinema brasileiro ocupar esse espaço no mercado, hoje monopolizado pelos estrangeiros”, afirma Fontenelle. Produzido pela Total Filmes (de Assalto ao Banco Central, Avassaladoras e Divã) e distribuído pela Disney/Buena Vista, o filme traz no elenco Luís Fernando Guimarães, Leandro Hassum e Bárbara Paz.

Outra decisão da produtora foi filmar em 3D com equipe brasileira, experiência quase inédita até então. O primeiro longa do país nesse formato estreou há dois anos: Brasil animado (2011), de Mariana Caltabiano. Mas, como o próprio título indica, trata-se de animação. Se puder... dirija! será o único brasileiro em 3D a chegar aos cinemas em 2013. Para 2014 estão previstas as animações Tarsilinha e Peixonauta.

Fontenelle, que dirige sua segunda ficção – a anterior é o thriller Intruso (2009) –, teve que passar por um processo de aprendizado para trabalhar com as três dimensões. “Para entender a matemática”, explica. Como a tecnologia ainda engatinha no país, a equipe técnica contou com dois nomes experientes: o estenógrafo (que regula o 3D) Pedro Guimarães (brasileiro radicado nos EUA, que traz no currículo Part of me, filme em 3D da cantora Katy Perry), que acabou assumindo a direção de fotografia; e o norte-americano Bobby Settlemire (a série Piratas do Caribe é um dos trabalhos em que esteve envolvido). Ele é foquista, profissional responsável pelos focos, pois para filmar em 3D são necessárias duas câmeras simultâneas.

“O filme foi pensado, planejado e filmado em 3D. Reescrevi o roteiro para que a história tivesse elementos que justificassem o emprego dessa tecnologia”, explica Fontenelle. Como boa parte da narrativa se passa dentro de um carro, a ideia era fazer o espectador se sentir como passageiro. Piadas que só fazem sentido em 3D foram outro artifício. “Em certo momento, um jato d’água ‘molha’ o espectador justamente depois de o personagem do Leandro Hassum fazer piada sobre isso”, revela.

Filmar em três dimensões demanda uma série de precauções. “Não se pode jogar tudo para fora da tela. Quando as pessoas saem do cinema com dor de cabeça, é porque o 3D foi mal usado. Ele mexe com a distância interocular, então você deve ser cuidadoso com o espectador, pois não pode ter um elemento pipocando para fora da tela o tempo todo. As imagens têm que ser vistas de forma equilibrada”, explica o cineasta.

Como foi a primeira experiência do diretor nesse formato, Se puder... dirija! teve suas especificidades. “O fato de filmar com duas câmeras, que devem ser medidas o tempo todo, faz com que o processo demore mais. Além disso, tivemos que nos lembrar sempre de que o filme precisaria funcionar em 2D também. Ou seja, independentemente de qualquer coisa, o foco é sempre a história”, conclui Fontenelle.

TEATRO E DANÇAO Globo – Teatro multidisciplinar

Festival de Curitiba, em março, reúne diferentes tecnologias e artes como circo e dança em 32 espetáculos, dos quais 11 serão estreias nacionais

MÁRCIA ABOS

(31/1/2013) Novas tecnologias a serviço da encenação, a música como protagonista do espetáculo e a fusão do teatro com outras artes, como dança, cinema e circo foram as características da cena

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atual privilegiadas pela curadoria da 22 edição do Festival de Teatro de Curitiba, que acontece entre 26 de março e 7 de abril. A mostra oficial apresenta 32 espetáculos, dos quais 11 são estreias nacionais.

Pela primeira vez, a organização do evento é coprodutora de duas dessas peças inéditas, em parceria com o Itaú Cultural: “Parlapatões revistam Angeli”, encenação do grupo paulista Parlapatões, Patifes e Paspalhões com linguagem de quadrinhos, com música do titã Branco Mello, e “Cine monstro versão 1.0”, monólogo dirigido e interpretado por Enrique Diaz, última parte da trilogia do dramaturgo canadense

Daniel MasIvor, que incluiu “In on it” e “À primeira vista”. — São espetáculos que não seriam realizados. Aconteceram porque o festival instigou — diz Leandro Knopfholz, diretor geral do evento. As duas coproduções serão também apresentadas em São Paulo depois do festival. “Parlapatões revistam Angeli” fica em cartaz nos dias 11 e 12 de abril, no Auditório Ibirapuera, e “Cine monstro versão 1.0”, no Itaú Cultural, dias 18 e 21.

INGLESES DANÇAM

Quatro espetáculos internacionais serão encenados na capital paranaense. A abertura do festival apresenta “Homem vertente”, do grupo argentino Ojalá, com direção de Pichón Baldinu. Representando a dança em Curitiba, está “In the dust”, da companhia inglesa 2Faced Dance, sucesso de 2011 no Festival de Edimburgo, na Escócia. “Pansori Brecht”, encenação de “Mãe coragem” da Coreia do Sul, do grupo Ukchuk, e “Kiss and cry” completam a programação internacional do evento. A 16ª edição da mostra paralela Fringe terá 370 espetáculos. Com o conceito de não ter curadoria e estar aberto à demanda de qualquer grupo profissional de teatro, o Fringe acontece em 64 espaços da cidade. — É a única mostra nesses moldes na América Latina, considerada hoje a quinta maior do mundo — afirma Knopfholz, explicando que apesar do crescimento exponencial da Fringe, que em sua primeira edição teve sete espetáculos, não pretende mudar a regra.

O orçamento do festival neste ano é de R$ 8 milhões, dos quais 80% são custeados por patrocinadores por meio da lei de incentivo fiscal, e 20% são pagos com receitas geradas pelo próprio evento, segundo Leandro Knopfholz. O público estimado é de 300 mil pessoas. Em 21 edições, foram apresentados 3.600 espetáculos para um público de 1,9 milhão.

Folha de S. Paulo - SP Companhia de Dança vai ter assinaturas

Grupo faz 80 espetáculos no ano, incluindo seis novas criações e turnê europeia em abril

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KATIA CALSAVARA

(31/01/2013) Com cinco anos de existência, a São Paulo Companhia de Dança (SPCD), dirigida por Inês Bogéa, abre sua programação deste ano com a previsão de aproximadamente 80 espetáculos.Entre as novidades estão o início de um programa de assinaturas, que prevê a fidelização de público no Teatro Sérgio Cardoso e a estreia de seis criações -quatro delas inéditas e duas remontagens-, além de uma terceira turnê europeia em abril.Destaca-se a criação do primeiro balé de repertório completo do grupo, o clássico "Romeu e Julieta", revisitado pelo italiano Giovanni Di Palma e previsto para novembro. Para o espetáculo, os bailarinos terão aulas de esgrima.Outros espetáculos aguardados são a nova montagem do alemão Marco Goecke e a primeira remontagem nacional do balé "Petite Mort" (1991), de Jirí Kylián.Presente no evento de lançamento das novidades do ano, o secretário de Estado da Cultura, Marcelo Mattos Araujo, conta que acompanhou de perto as negociações para obter os direitos para a remontar a obra de Kylián. "É um reconhecimento que obtemos por parte desses grandes criadores", afirma.

Folha de S. Paulo - Festival de Teatro de Curitiba exibirá mais de 300 peças

Principal evento da dramaturgia do país acontece entre 26 de março e 7 de abril; ingressos saem à venda em 5/2Edição abre com "O Homem Vertente", que grupo argentino apresenta utilizando atores curitibanos

GUSTAVO FIORATTI (31/01/2013) Foi anunciada ontem a programação do Festival de Teatro de Curitiba, que este ano acontece entre os dias 26 de março e 7 de abril.Maior mostra de teatro do país em números, a seleção oficial da edição de 2013 vai apresentar 33 espetáculos.

Além desses, também reunirá cerca de 300 montagens no Fringe, mostra paralela que tem modelo copiado do festival de Edimburgo, na Escócia, em que os espetáculos são selecionados por ordem de inscrição.

Em sua 22ª edição, o festival paranaense abre com "O Homem Vertente", espetáculo concebido pelo grupo argentino Ojalá com atores curitibanos. Montado sob encomenda para o festival, trata-se de uma espécie de show com água brotando de todos os lugares, inclusive de dentro dos trajes utilizados pelos intérpretes. Uma espécie de teatro físico, com imagens de forte impacto.Segundo o diretor do festival, Leandro Knopfholz, outros dois espetáculos foram montados com recursos levantados pelo festival junto a patrocinadores.

O primeiro deles é "Parlapatões Visitam Angeli", em que o trabalho do quadrinista paulistano inspira a trupe de palhaços dos Parlapatões. O segundo é "Cine Monstro Versão 1.0", com direção de Enrique Díaz.

Para a edição deste ano, o orçamento do festival ficará em torno de R$ 8 milhões, dos quais 20% devem ser levantados por meio das bilheterias dos espetáculos, que têm ingressos a R$ 60 para a mostra oficial. Do montante restante, cerca de 6 milhões são captados por meio de Lei Rouanet.Este ano, o festival volta a investir em pequenas curadorias organizadas dentro do Fringe, algo que deu certo nos últimos anos e permitiu mais profissionalismo dentro da grade paralela.

Haverá, por exemplo, uma mostra de teatro baiano organizada pelo ator Wagner Moura, com apresentação dos espetáculos "Áfricas", de Chica Carelli, e "Pólvora e Poesia", dirigido por Fernando Guerreiro.

A programação também deu espaço significativo para companhias estáveis do Rio de Janeiro, como os Atores de Laura, que apresentam "Absurdo", e de São Paulo, como a Cia. Balagan, que levará "Recusa" ao Paraná.

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A curadoria do festival, que permanece a mesma há seis anos, é assinada por Tânia Brandão, Celso Curi e Lúcia Camargo.Os ingressos para as mostras oficial e paralela começam a ser vendidos no dia 5 de fevereiro pelo site oficial www.festivaldecuritiba.com.br, que também contém mais informações sobre o evento.

ARTES PLÁSTICASFolha de S. Paulo - Mostra propõe diálogo entre Brasil e exterior

"Caminhos Cruzados" apresenta videoinstalações do Pompidou e obras do Museu de Arte Moderna de São Paulo

FABIO CYPRIANO/ CRÍTICO DA FOLHA

(31/01/2013) Com exceção de Inhotim e das Bienais de São Paulo, raramente artistas brasileiros são vistos, em exposições no país, ao lado de grandes artistas estrangeiros.Isso ocorre por conta do provincianismo dos museus e pela própria ausência de obras contemporâneas significativas em seus acervos."Circuitos Cruzados: o Centre Pompidou Encontra o MAM", em cartaz no Museu de Arte Moderna de São Paulo, com curadoria de Paula Alzugaray e Christine Van Assche, rompe essa tendência de forma inteligente e até ousada.A exposição é composta por seis videoinstalações históricas do Pompidou, de Paris, e 47 obras da coleção da MAM.É um bom retrato da situação dessas instituições: enquanto o Pompidou comparece com obras significativas e de grande porte, o MAM exibe, em sua maioria, obras de pequeno formato, mais identificadas a colecionadores privados.No entanto, e aí está a ousadia, respeitando o caráter de ambas as instituições, é possível promover um diálogo. De forma geral, esse diálogo se revela de forma mais intensa com obras mais experimentais, como o vídeo de Dora Longo Bahia "Clássico (Corinthians X Palmeiras)".Nele, a artista apresenta o registro em vídeo de um percurso pela cidade, de forma acelerada, que lembra mesmo a reflexão sobre a captação da imagem promovida por outras obras da coleção francesa, como a de Bruce Nauman "Going Around the Corner Piece".Outro mérito foi encomendar a produção de novos trabalhos, tanto do estrangeiro Tony Oursler, que projetou imagens nas copas das árvores em frente ao museu, como da brasileira Lia Chaia.Sua nova obra, "Piscina", apresenta duas projeções: um plano geral da própria artista nadando numa piscina, sobre o desenho de um labirinto, e uma câmera acoplada a ela, que traça o mesmo percurso de forma subjetiva.Contrariando a típica forma de nadar em raias, Chaia revela uma estratégia poética para a percepção do espaço, como outras obras da mostra.

O Estado de S. Paulo – Luz Oriental

Na exposição Penumbra, aberta a partir de amanhã, o pintor Marco Giannotti mostra telas que louvam a sombra e evocam o Japão

(1º/2/2013) ANTONIO GONÇALVES FILHO - Assim como o escritor japonês Junichiro Tanizaki (1886-1965) usou a literatura para falar da beleza dos objetos e do papel da sombra como elemento revelador de sua harmonia, o pintor paulistano Marco Giannotti usa a pintura não para ilustrar Tanizaki, mas mostrar como estão equivocados aqueles que dividem o mundo entre

Oriente e Ocidente. Um, afinal, é a sombra do outro. Se os artistas japoneses das xilogravuras Ukiyo-e estudaram os europeus do século 17 e aprenderam com eles noções de perspectiva, mais tarde, no século 19, eles iriam influenciar os impressionistas europeus, marcando de forma indelével a arte de

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Van Gogh. Giannotti, que passou um ano em Kyoto, a convite de uma universidade de lá, também não saiu incólume da experiência japonesa. Há, pelo menos, duas provas disso: a exposição Penumbra, que será aberta amanhã, às 11h, na Galeria Raquel Arnaud, e Diário de Kyoto, a ser inaugurada dia 21, no Instituto Tomie Ohtake.

Nessas mostras, o pintor lança dois livros que ilustram sua crença no nascimento da cor - autônoma, independente da redução científica newtoniana - por meio do embate entre luz e escuridão. No encerramento da primeira, marcado para o dia 9 de março, será a vez da terceira edição de Doutrina das Cores (Nova Alexandria, R$ 44), livro clássico de Goethe que Giannotti começou a traduzir há 20 anos, em seu mestrado de Filosofia. Antes, no dia 21 deste mês, ele lança Diário de Kyoto (Editora WMF/Martins Fontes, R$ 60), que reúne os artigos publicados no Caderno 2 durante a estada de um ano no Japão, de março de 2011 a março do ano passado. Incansável, Giannotti promove ainda, entre os dias 4 e 6 de março, um seminário internacional sobre a cor no Centro Universitário Maria Antonia. O evento terá a participação, entre outros, do diretor da editora Phaidon Press, David Anfam, responsável pelo catálogo raisonée do pintor Mark Rothko (1903-1970). Outros participantes do seminário são o professor japonês Toshya Echizen, pesquisador da Universidade Doshischa de Kyoto, e o curador do Museu Kawamura em Chiba, Takashi Suzuki, que vai falar sobre o sistema cromático xintoísta.

O primeiro impacto da temporada japonesa de Giannotti veio por meio da constatação de que o exercício morfológico do olhar no Ocidente tende a levar o observador ao território da abstração, quando, no Japão, o papel das sombras como formadoras da luz e a oscilação dos movimentos da natureza conduzem o pintor a uma relação mais "real" com a cor. "O que consideramos o Matisse puro nasce, enfim, de uma aproximação com essas referências orientais", observa Giannotti, definindo as 14 pinturas que integram a exposição Penumbra como frutos da "junção entre motivos orgânicos e alegóricos". Numa das páginas de seu Diário de Kyoto, ele explica como a passagem das estações, que no Japão é bem nítida, o levou a refletir sobre as relações cromáticas como frutos do movimento instável da natureza, reflexão essa que resultou, primeiro, em colagens com papel japonês e, depois, nas pinturas da exposição.

As colagens remetem automaticamente ao começo de carreira de Marco Giannotti, em 1988, quando, já doutor em artes plásticas pela USP, fez sua primeira exposição na galeria do marchand Paulo Figueiredo, morto em 2006, que promoveu a carreira de artistas como Mira Schendel (1919-1988), Paulo Pasta e Nuno Ramos. Mira teve grande influência sobre Giannotti nesse período. O uso de papel japonês nas colagens que ele vai mostrar no Instituto Tomie Ohtake (leia texto abaixo) é um exemplo. A viagem ao Japão apenas reforçou o desejo de trabalhar mais a questão cromática através da transparência do papel de arroz, usado por Mira e Antonio Dias, outra referência do artista.

Nas novas pinturas, Giannotti distancia-se da abstração de Rothko, que sempre admirou, para registrar a memória dos dias passados no Japão. Há na tela azul traços reconhecíveis das folhas vermelhas dos plátanos que encantam os turistas do Parque Imperial de Kyoto no outono. Essas folhas, no entanto, são apenas sombras sugeridas em spray preto numa pintura que usa ainda óleo e a antiga têmpera, unindo três técnicas de diferentes épocas - ousadia permitida pela experiência desse professor de pintura da USP.

Giannotti cita, a propósito, a série Shadows, pintada nos anos 1970 pelo artista pop Andy Warhol como homenagem ao pintor metafísico italiano Giorgio De Chirico. Incursão do artista em território abstrato, Shadows transfere para a tela a sombra de uma imagem que, paradoxalmente, não pode ser representada. As folhas de plátano em spray da pintura azul de Giannotti são quase evocações platônicas de uma Kyoto que Giannotti conheceu, mas que, de algum modo, é irrepresentável. Aí entra a literatura de Tanizaki, um esteta que, ao escrever o ensaio Em Louvor das Sombras, em 1933, sai em busca do modo singular de encarar a beleza que têm os orientais. Essa estética nipônica, que privilegia a limpeza formal, revela sua inclinação para eleger a penumbra como sinônimo do belo - daí o título da exposição, referência ao escritor.

"Foi bom parar de ler um pouco críticos como Clement Greenberg para ler Tanizaki", brinca Giannotti, que não saiu com boa impressão da arte contemporânea que se faz no Japão: "De modo geral, ela é um tanto paródica", observa. Com justa razão.

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Folha de S. Paulo - Artista expõe ascensão de mercado de arte com objetos transformados

"Menos-Valia [Leilão]", de Rosângela Rennó, mostra como artigos simples viram obras caras

Projeto apresentado na 29ª Bienal de SP sai agora como livro; 15 artigos estão expostos na Galeria Vermelho

Fabio Cypriano crítico da folha

(02/02/2013) O que faz com que duas câmeras fotográficas compradas por R$ 85, em um mercado de pulgas na Cidade do México, cheguem a ser vendidas por R$ 52 mil, num leilão realizado na 29ª Bienal de São Paulo, em 2010?

Essa é a questão essencial do projeto "Menos-Valia [Leilão]", da artista mineira Rosângela Rennó, que chega, hoje, ao seu último estágio, com o lançamento do livro homônimo (publicado pela editora Cosac Naify, R$ 75, 336 págs.), das 11h às 17h, na Galeria Vermelho.

A publicação documenta todo o processo da artista em torno dessa questão.

Na 29ª Bienal, Rennó apresentou um conjunto de 74 lotes, como são chamadas obras à venda em leilão (15 deles estão expostos na Galeria Vermelho). Eles eram compostos por objetos, em geral relacionados a instrumentos fotográficos, que Rennó garimpou em feiras populares e transformou.

Dentro da própria Bienal, nos últimos dias do evento, o leiloeiro Aloisio Cravo conduziu o leilão, que no conjunto alcançou nada menos do que R$ 666 mil.

"Eu pretendia fazer um exercício de avaliação de todo o processo: da criação do objeto até a especulação em torno de sua venda, uma longa ação ao mesmo tempo estética e política", diz Rennó.

Obviamente, um dos resultados do projeto foi enfocar o ascendente mercado de arte no país e o que o curador mexicano Cuauhtémoc Medina aponta como "a conversão do lixo em ouro no circuito comercial da arte", em seu texto no livro.

Medina, Rennó e Moacir dos Anjos, um dos curadores da 29ª Bienal, falam sobre o projeto, hoje, às 15h, na Galeria Vermelho. Poucos trabalhos de arte abordaram o mercado de forma tão ousada e irônica.

O Globo - TOMIE 100

Uma das maiores pintoras do Brasil, a matriarca do clã Ohtake relembra sua trajetória na semana em que começa a celebrar seu centenário com exposição em São Paulo

AUDREY FURLANETO Enviada especial a São Paulo

(03/02/2013) Desde que trocou o Japão pelo Brasil, Tomie Ohtake nunca aprendeu a pronunciar a letra “l”. Há 77 anos no país e consagrada como uma das maiores pintoras brasileiras, para ela, galeria ainda é “gareria” e tela vira “tera”. Às vésperas de iniciar as celebrações de seus 100 anos (dia 21 de novembro), ela ri do próprio sotaque:

— Nunca “aprendeu” a falar português. Agora não “aprende” mais, né?

Mas Tomie fala com parcimônia. Como sua obra, ela é rigorosa, suave e de poucos elementos. Se um poema haikai trata do mundo em 17 sílabas, afirma, por que ela deveria usar mais? Sua carreira, que se iniciou aos 40 anos (só após ter criado os filhos), começa a ser revista a partir desta semana. Abrindo os festejos do centenário, o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, inaugura na quarta-feira a primeira de uma série de mostras que serão dedicadas à artista até novembro. “Tomie Ohtake — Correspondências” relaciona suas obras com as de Mira Schendel, Cildo Meireles e Nuno Ramos,

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entre outros. E, no dia 23, a galeria Nara Roesler, também em São Paulo, exibe telas recentes da artista, de 2012 e 2013.

— Agora só se fala em centenário — ela diz, sorrindo. — É engraçado. Nunca senti os anos...

AMÁLGAMA DE VIDA E OBRA

À cabeceira de uma mesa de concreto na casa modernista que o filho Ruy Ohtake projetou há 44 anos no bairro Campo Belo, em São Paulo, a artista recebe O GLOBO com um almoço à brasileira, servido em louças de delicada cerâmica (presente e obra de sua melhor amiga, a ceramista Kimi Nii), com talheres do designer finlandês Arne Jacobsen que, vaidosa, Tomie conta ter ganhado do filho Ruy nos anos 1970. À mesa, estão arroz, purê de batata-baroa, carne de panela com legumes.

— E tem saladinha, né?

Quando se trata de Tomie, os críticos de arte dizem que vida e obra estão “amalgamados”. A casa, de fato, parece o centro de tudo. Lá está seu ateliê, onde ela mandou instalar uma cama, de solteiro, ao lado das telas — “assim, já fica olhando quando acorda”.

E a sala de jantar não é só um ambiente a mais. Para Tomie, o “dia mais contente” é domingo, quando a mesa fica cheia. Há 30 anos, ela espera à cabeceira pela chegada dos filhos — Ruy, 75 anos, e Ricardo, 70, diretor do Instituto Tomie Ohtake — da nora Marcy (casada com Ricardo e também sua assessora de imprensa) e dos dois netos, Rodrigo, 28 anos, e Elisa, 32. Durante a semana, Tomie almoça sozinha, sempre às 13h. Tem a disciplina dos orientais. Acorda às 8h, toma banho, aplica um creme antirrugas e senta- se, às 9h, para o café. Três vezes na semana vai ao ateliê, onde um assistente a aguarda. Às terças e quintas, faz fisioterapia e, uma vez por semana, recebe a cabeleireira do bairro, que mantém seu corte rigorosamente na altura do queixo e os fios pintados de preto. Também costuma vestir-se de preto. Guarda as cores para as telas.

Quando desembarcou do navio que a trouxe, após 40 dias de viagem, de Kioto para São Paulo, a primeira sensação que teve foi relacionada a uma cor.

— Brasil tem sol muito claro. Quando saí do navio, olhei para o céu e senti cheiro de amarelo. Ali, gostei do Brasil.

Tomie chegou ao Brasil Nakakubo, sem o sobrenome Ohtake. Veio acompanhada do irmão em 1936. Algum tempo depois, estourou a Guerra do Pacífico, e o irmão voltou. Morreu lutando. Mas Tomie tinha outro irmão em São Paulo, que mantinha um laboratório em sociedade com Oshio Ohtake, “esse moço muito boa pessoa e muito bonito”, diz ela, sorridente. Em um mês no país, aos 23 anos, ela se casou com Oshio.

— Minha mãe pediu uma fotografia do casamento. Não acreditava! Tive que botar vestido para a foto — diverte-se.

Um ano depois do casamento, nasceu Ruy. A família Ohtake, então, mudou-se para o Rio, onde Tomie desfrutou do mar, de que tanto gosta: — Pegava a barca e ia nadar em Niterói, porque a praia era muito bonita!

Recém-casada, a jovem Tomie se fez a pergunta: “Família é mais importante que trabalho?”. Já tinha apreço pela pintura e, no Japão, comprava catálogos e desenhava. Mas a decisão de priorizar a família a manteve distante dos pincéis até os 40 anos, quando encontrou o artista Keisuke Sugano.

Ele dava aulas a Tomie e outros japoneses. Pedia aos alunos que pintassem uma flor, por exemplo. Ao fim, criticava as pinturas. A de Tomie, no primeiro dia, foi eleita a melhor. Começava ali uma carreira que nasceu figurativa e tornou-se abstrata. Dez meses depois, ela já exibia telas no Museu de Arte de São Paulo (Masp).

GRAVURAS, CORES E ESCULTURAS

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Em 1951, com o filho Ricardo já nascido, voltou ao Japão. Sentia saudade da mãe, Kimi. Passaram o dia conversando e, entre um diálogo e outro, conta, a mãe suspirou e morreu. — Meu irmão colocou a mão no pulso dela e disse: “Ih, parou!”.

Às vezes tenho saudade, mas já estou acostumada. A única coisa que pode me deixar muito triste hoje é a morte de um filho. Se um filho morre antes de mim, eu morro.

Depois da pintura abstrata dos anos 1960, Tomie se aventurou pelas gravuras nos anos 1970. Em 1977, ficou viúva de Oshio Ohtake e não voltou a se casar. Na década seguinte, sua obra foi marcada por cores contrastantes e intensas, talvez inspirada em Mark Rothko, seu pintor preferido. Foi também nos anos 1980 que floresceu sua produção de esculturas, muitas delas públicas, como a “Estrela-do-mar” (1985), instalada na Lagoa, no Rio, que gerou polêmica, foi removida para manutenção em 1990 e nunca voltou.

Na casa onde vive, fez o paisagismo com mudas que ganhou de Burle Marx. Ao lado das plantas e da piscina, estão esculturas suas. Todos os dias, ela alimenta os pássaros no jardim, vizinho a seu ateliê.

ARTE ‘CONTIDA’, ‘NIPÔNICA’

Antes de passar por uma cirurgia na coluna aos 93 anos, Tomie era assídua de exposições. No ano passado, teve pneumonia, caiu doente e “a perna ficou muito fraquinha, né?”. Passou a usar cadeira de rodas e não vai mais a vernissages. Mas lê quase todos os (muitos) catálogos que recebe. Leitura é sua distração. Não gosta de cinema ou TV, porém não dispensa jornais, incluindo o “São Paulo Shimbun”, em japonês. Sobre arte contemporânea, não se sente muito tocada pelo que vê. Gosta de Regina Silveira, Tunga e Adriana Varejão.

Arte, diz, é para ser sentida. O curador Paulo Herkenhoff costuma dizer que “não há pintura brasileira sem Tomie Ohtake”. Para o crítico Frederico Morais, ela soube equilibrar a tradição japonesa e a vivência no Brasil. Tomie criou algo muito particular entre os artistas nipo-brasileiros, afirma ele, ao combinar o informalismo dos anos 1950 com o “desejo de organizar” o informal.

— A arte de Tomie nunca foi muito expansiva, excessivamente lírica. É contida, nipônica. A pintura dela é como ela mesma: de poucas palavras.

O Estado de S. Paulo – Próximo e distante

(5/2/2013) Camila Molina “Se o artista tem uma missão, acho que é a de melhorar a qualidade do desconhecido”, diz o carioca Waltercio Caldas. Criador consagrado de uma produção erudita, mas, ao mesmo tempo, com senso de humor – de uma obra sofisticada, que se centra na relação do trabalho com o espectador e o espaço que o abriga –, Caldas está sempre a tratar de um campo complexo de reflexão: “as questõesda linguagem”, como afirma. Fios de lã, vidro, metais, livros, espelhos são tratados pelo artista como materiais–

ou objetos –assim como a cor e o ar. A história da arte voltae outra também é indagada por ele em sua carreira. De fato, não é tão fácil entender de primeira toada o universo de sua obra–eesse foi um dos “atrativos” que engendraram a realização da mostra Waltercio Caldas – O Ar Mais Próximo e Outras Matérias, que será inaugurada quinta-feira na Pinacoteca do Estado.

Não se trata de uma retrospectiva, mas de um “ensaio retrospectivo”, como diz Gabriel Pérez- Barreiro, curador desta exposição que já foi apresentada na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, e que depois seguirá para o Blanton Museum of Art da Universidade do Texas, em Austin, nos

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EUA. A mostra reúne mais de 80 obras de Caldas, um conjunto que perpassa mais de 40 anos de sua trajetória.

“O trabalho dele escapa de uma lógica cronológica. Há poucos artistas em que o atrativo é o fato de não poder compreendê-los no sentido de que seus trabalhos colocam a arte no lugar privilegiado, além do seu discurso. Há uma dinâmica de aproximação e afastamento”, diz Pérez-Barreiro, que assina a curadoria com Ursula Davila-Villa, do museu Blanton. Reunir um “corpo” de criações do carioca é uma forma de contextualizar sua produção, apresentá-la com peso nos EUA. “O trabalho de Caldas foi muito ignorado ou ma linterpretado no mais ou menos recente boom e revisão da arte brasileira fora do Brasil”, escreve o curador. Waltercio Caldas cria imagens, no seu sentido mais puro, tridimensionais, em que não são desconsideradas a relação de sua obra com o espaço e questões como gravidade, transparência, opacidade,presença, ausência e estrutura. “Tudo isso para mim é muito real, objetivo”, define. Há quem diga que sua arte é intelectualizada demais, mas o artista rebate essa ideia.“Acho absolutamente inadequado acreditar que exista apenas dois tipos de artistas – os que são sensíveis eos quesão intelectuais. Para mim, numa obra de arte, tudo está em jogo. A emoção, o pensamento, o desejo, ointelecto, nada é desconsiderado. Pensar é uma sensação, um sentimento”, afirma, considerando a dualidade estanque entre razão e emoção como algo do “século 18”. Artista de uma “geração sem slogan” e sem “ismos”, como ele próprio diz, a da década de 1960, da qual fazem parte também Tunga, Cildo Meireles, José Resende e Antonio Dias, entre outros, cada um de caminho diferente, Waltercio Caldas propõe jogos e seus temas são “circunstanciais” – “a imagem realiza a autonomia d apalavra”. Sua instalação O Ar Mais Próximo (1991), que está no título da exposição, é feita apenas de fios de lã coloridos no espaço, por exemplo. “Certamente, o meu trabalho não se justifica por um tema, nem por uma sociologia, psicologia, nem por umaabsorção de fatos dos diversos do dia a dia. Minha questão é pensar como os fatos do dia a dia podem ter tanta importância, como têm e por que têm. O questionamento disso, o porque de hoje em dia a arte sofrer de uma doença chamada o ‘assunto’”, explica.

Correio Braziliense - Natureza subjetiva

(05/02/2013) A pintura de Franzé surge de uma caravana de pensamentos e desemboca em imagens íntimas — porém com olhar voltado para fora. Na atual exposição, inaugurada hoje, às 19h, no Espaço Chatô, o artista apresenta 15 telas em acrílica, que refletem esse processo de criação e visão sobre a natureza, primeira morada do homem e destino final de grande parte de suas obras.

“Dentro dos meus lapsos de memória, as imagens criadas por mim são aspectos profundos de minha alma humana”, pontua o artista, que lança mão desses códigos pessoais, ou do que poderia ser chamado de estilo, para pintar — em sua maioria — abstratos da natureza. “Faço isso como um certo protesto em proteção da natureza. O homem não percebe que a está destruindo. A natureza tem existência e ela vive.”

Além das abstrações, suas obras têm moradia na arte naïf e figurativa. “O processo acontece dentro da minha mente. Tenho que estar totalmente compenetrado, concentrado e autoconsciente para o que vou fazer. Se vou abstrair uma rocha, penso em rocha todo o tempo, para falar com a tela em branco que está em minha frente. Se alguém vier atrás de mim e gritar ‘Francisco!’, já foi. Acabou a obra, acabou tudo”, conta.

No céuDestacam-se pinturas como Queimada, protesto diante do desmatamento da Floresta Amazônica, e

Caixiuanã — Ninho de cobras, simbologia Guarani de união dos povos indígenas. “Quando estou concentrado para pintar, não estou na terra, estou no céu. Para abstrair, você tem que estar consigo mesmo. Tem que estar espiritualizado”, detalha Franzé.O caminho de artista começou camuflado pela graduação em pedagogia. Em 2003, passou a tomar aulas com a professora de pintura Shirley Indig e, em 2005, já na primeira coletiva de seu trabalho, nasceu Franzé, corruptela simpática de Francisco José de Araújo Costa, agora autógrafo registrado.

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Caixiuanã - 2014 Ninho de cobras é uma das telas expostas por Franzé

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Folha de S. Paulo - Arte não era contemplação, mas sim enfrentamento Entrevista / Waltercio Caldas

Artista abre mostra na Pinacoteca e resgata o valor de sua geração, que reintroduziu obras no circuito institucional

Fabio Cypriano, crítico da Folha

Waltercio Caldas na Pinacoteca do Estado, onde abre exposição individual

(06/02/2013) Waltercio Caldas é o artista brasileiro que mais fez exposições nos últimos 25 anos.Ainda assim, cerca de 60% das 84 obras que serão exibidas a partir de amanhã na mostra "O Ar Mais Próximo e Outras Matérias", individual de Caldas na Pinacoteca do Estado, nunca foram expostas na cidade."Ele pode ser o artista mais visto, mas dificilmente é o mais compreendido", diz o curador da mostra, Gabriel Pérez-Barreiro,

diretor da Coleção Patricia Phelps de Cisneros, o maior acervos privado da América Latina."É possível conhecer as obras de muitos artistas apenas por sua descrição, mas não é o caso do Waltercio", explica Pérez-Barreiro. "É preciso estar na presença de suas obras para de fato poder conhecê-las."A diversidade de suportes, materiais e temáticas tornam a obra de Caldas de difícil tradução, extrapolando os rótulos limitantes em geral aplicados a ela, como arte conceitual ou arte minimalista."O Ar Mais Próximo e Outras Matérias" passou pela Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, e segue em outubro para o Museu Blanton, da Universidade do Texas, nos Estados Unidos.Caldas, 66, faz parte de uma geração de artistas surgidos nos anos 1970, como Tunga e Cildo Meireles, que reintroduziu a arte contemporânea no circuito institucional, após rompimento promovido por artistas como Hélio Oiticica e Lygia Clark nos anos 1960 e 1970.Oiticica e Clark deixaram de criar obras para museus, propondo trabalhos em ambientes não convencionais, como a própria casa do artista ou as ruas da cidade."Percebemos que havia uma certa ingenuidade [por parte de Oiticica e Clark] na maneira como tratavam a questão institucional", diz o artista.Leia a seguir trechos da entrevista à Folha.Folha - Cerca de 60% de suas obras nesta exposição nunca foram vistas em São Paulo.Waltercio Caldas - Eu até fiquei espantado quando percebi isso! Muitos trabalhos só foram exibidos fora do país e alguns, feitos há mais de 30 anos, nunca tinham sido mostrados aqui.Gabriel Pérez-Barreiro selecionou 84 obras, mas muitas ainda ficaram de fora.A seleção privilegiou uma característica importante do trabalho: a presença individual deles; afinal, cada um tem uma especificidade formal e plástica, já que trabalho com 60 tipos de materiais distintos, e o fato de a relação entre eles ser também importante em minha poética.Sempre vi meu processo de trabalho como a possibilidade de ampliar a linguagem. E a questão da linguagem, para mim, é a arte: o estatuto do objeto de arte e do objeto em si. Um quadro do Picasso é, na realidade, uma tela esticada em um gabarito de madeira com tinta aplicada.Sua geração é vista como aquela que passou a criar para espaços institucionais depois que artistas como Hélio Oiticica e Lygia Clark romperam essa relação. Você concorda com essa análise?Nós percebemos que havia uma certa ingenuidade [por parte desses artistas] na maneira como tratavam a questão institucional, como se houvesse uma utopia, que não seria mais realizável. Nós enfrentamos a instituição dentro de sua estrutura, pensando a inserção das obras como parte do trabalho.Mas a geração anterior negou instituições de arte, enquanto vocês a afirmaram, não?

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Nós percebemos que talvez não houvesse instituições! Eu lembro que quase não havia galerias no Rio, e o trabalho da Lygia Clark seguia apesar de não haver onde mostrá-lo.Fiz parte de um movimento que pedia a instalação de uma sala experimental no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro para criar oportunidades a artistas vivos e atuantes.Foi um espaço conquistado. Eu me atrevo a dizer que não havia nem espaço para os neoconcretos. Eles são mais vistos hoje do que naquela época.Sua geração teria então criado o circuito institucional?Eu diria que a idade da inocência havia acabado. De certa maneira, nós éramos pessoas inseridas no mundo real. Ao contrário do que se acreditava, de que a arte fosse uma fuga do real, a arte era uma inserção radical e poderosa dentro do real.A política dizia isso para nós: que não dava para participar do mundo com utopias, mas existia um mundo real a ser conquistado.Isso trazia uma urgência de atitudes, que não dava para dizer que arte era contemplação, mas sim enfrentamento.Tanto que você repara aqui, na exposição, que esse enfrentamento se dá a cada obra. É como se eu achasse que a arte fosse não um sistema de empatias, mas um sistema de enfrentamentos.O curador da mostra disse conhecer seu trabalho há dez anos, mas que, quanto mais se aproxima dele, mais sua obra parece se afastar. É a esse enfrentamento que você se refere?Eu sinto pelo meu trabalho a mesma coisa que ele. Veja bem, quando se começa, você tem algumas obras.Dez, 15 anos depois, você tem outra situação, é preciso lutar contra você mesmo.É preciso conversar com aquelas afirmações que você já fez e acrescentar novas questões, que às vezes duvidam das afirmações já feitas anteriormente.Neste novo momento, passa-se a acreditar mais em um processo do que em um fim. Nesse sentido, para mim, arte é um processo de que não se sabe de onde vem nem onde vai dar. E, quanto mais ininterrupto for, melhor para o artista.Arte pode mudar as pessoas?Sim, porque a arte sempre oferecerá uma nova expectativa de desconhecido para cada um.A arte seria uma forma de produzir desconhecimento e, por isso, ela é diferente da cultura. A cultura pode viver do que já conhece. A arte jamais.

Estado de Minas – Espaço para reflexão

Exposição no BDMG Cultural propõe diálogo entre a arte das ruas e das galerias. Mostra reúne colagens e montagens dos artistas Gabriel Nast, Dagson e Haisson

Obra do artista Dogson, que integra mostra no BDMG Cultural

(06/02/2013) Um linguagem entre a arte de rua e das galerias e museus. Esse aspecto, explica o curador Rafael Perpétuo, merece atenção nas colagens, montagens e aquarelas que os artistas plásticos Gabriel Nast, Dagson e Haisson mostram a partir de amanhã na Galeria de Arte do BDMG Cultural. O trio é conhecido pelos grafites que realiza nas ruas ou em espaços institucionais. A exposição leva o nome de Antropologia para formar uma topografia de um lugar sagrado, expressão do suíço Harald Seezmann, um dos criadores da prática da curadoria, e remete à ideia de estudar manifestações humanas para investigar um lugar (o mundo das artes) tido como sagrado.

Os trabalhos de Nast, explica Rafael Perpétuo, valem-se da colagem para criar representações da cultura brasileira. “São colagens de culturas buscando uma representação do Brasil”, observa, sinalizando a homologia entre tema e técnica. Dagson, por sua vez, usa materiais descartados, especialmente madeiras, para criar peças tridimensionais que dão corpo ao imaginário pessoal que são “quase uma mitologia” da comunidade onde vive o artista. As aquarelas de Haisson, observa o

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curador, são suaves. Com “construções sem muita ordenação”, que oscilam entre o abstrato e o figurativo, o artista processa memória de infância na favela.

Rafael Perpétuo, falando sobre a relação dos grafiteiros com galerias e museus, conta que a distância entre uns e outros está no fato de os autores não aceitarem a mercantilização da arte e “estruturas sistemáticas” que tendem para formações muito rígidas. Os grafiteiros, na opinião do professor, deveriam também apresentar suas obras em galerias e museus. “O que mostraria que a arte contemporânea é também construída pelo grafite, além de evidenciar o quanto a prática tem conceito e técnica”, observa. Ele explica que, como professor, o que interessa não é exatamente esse debate, mas “construção e aprofundamento de uma história da arte pelos artistas”.

ArenaO curador é artista plástico e professor do Arena da Cultura. O projeto, depois de interrompido por dois anos para reformulação, fazendo discussões sobre metodologias de ensino, retomou atividades a partir de 2011. O momento atual é de trabalhos que consolidem o programa como uma escola de arte da prefeitura e voltado para arte contemporânea. Ele oferece cursos livres em cinco áreas: artes visuais, música, teatro, dança e patrimônio. Rafael comemora a inserção do último no rol do projeto: “Faltava a Belo Horizonte alguma atividade que formasse cidadãos interessados na preservação da cultura da cidade”.

FOTOGRAFIAO Estado de S. Paulo – Imagens protagonistas

Livro que une pesquisa acadêmica com acervo do IMS tem a revista O Cruzeiro como base

1960. A inauguração de Brasília: registro histórico.

Simonetta Persichetti, ESPECIAL PARA O ESTADO - Nos últimos anos vêm crescendo as publicações que procuram sistematizar e contar a história da fotografia no Brasil. Várias lacunas têm sido preenchidas e todas com muito sucesso. Éo caso do livro que o Instituto Moreira Salles (IMS) lança amanhã, narrando As Origens do Fotojornalismo no Brasil: Um Olhar Sobre O Cruzeiro (1940-1960). Um trabalho de fôlego, que completa a exposição de mesmo nome em cartaz em São Paulo até o dia 31 de março.

A publicação revê o início da fotorreportagem no País, tendo como ponto de partida os registros dos fotógrafos que trabalharam na revista O Cruzeiro, nos anos 40 e 50. São ensaios fotográficos, da passagem de um jornalismo ilustrado – em que a imagem só cobria buracos– para a fotografiacomoparticipante e narradora de um fato, de uma notícia.

O livro é resultado de uma ampla pesquisa realizada durante um ano por Helouise Costa, docente e pesquisadora do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MACUSP), e Sergio Burgi, coordenador do acervo de fotografia do IMS. Há anos, Helouise vem estudando a importância das revistas ilustradas para o surgimento e desenvolvimento do fotojornalismo e o IMS tem sob sua guarda arquivos de fotógrafos que trabalharam para O Cruzeiro.

Um encontro mais do que feliz: juntar o saber acadêmico com as imagens disponíveis, de um arquivo que se tornou nas últimas décadas o guardião da memória fotográfica brasileira. “Em meados de 2011, o IMS me convidou para pensarmos juntos um trabalho sobre este momento. Tenho mestrado e doutorado sobre O Cruzeiro e o IMS têm vários arquivos de fotógrafos que trabalharam para a revista. Foi muito bom poder viabilizar este projeto em equipe e trazer à tona todas estas imagens”, nos conta, por telefone, Helouise Costa, uma das organizadoras da proposta.

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E faz sentido. No Brasil, o fotojornalismo sempre foi uma estética importante e se inicia aqui – naquilo que conhecemos como uma gramática fotojornalística, ou seja, um fato, uma notícia narrada por imagens – por volta dos anos 1940, com a chegada do fotojornalista francês Jean Manzon a O Cruzeiro, revista semanal criada em 1928,que circulava por todo o País. Conhecedor da estética das publicações ilustradas europeias da mesma época, já havia atuado na Paris Soir, Paris Match e Vu, ele traz ao País a sua ideia inovadora, segundo a qual a imagem é a protagonista. Ele encontra um Brasil que começa a ser desvendando, narrado imageticamente.

As imagens posadas, criadas e construídas e nem sempre jornalísticas de Manzon logo abririam espaço para profissionais mais humanistas e menos espetaculares, como José Medeiros, Luciano Carneiro e Flávio Damm, que se inspirariam na trajetória dos fotógrafos da Magnum, como Henri Cartier-Bresson e Robert Capa. Aliás, a própria revista publicaria matérias daquele que foi considerado o melhor fotógrafo de guerra.

“É a mudança para a modernização da fotografia, não mais o espetacular, mas o fato. O humanismo, um novo olhar. Uma publicação que estava conectada com o Brasil da época e não distante do que se vivia. Uma revista que explodia em termos de fotografia nos anos 50 e interagindo com o que de melhor se produzia no mundo”, diz Sergio Burgi.

O livro tem como fio condutor a fotografia a partir da relação entre as imagens produzidas pelos fotógrafos e as fotorreportagens talcomo foram publicadas. São registros de Jean Manzon, José Medeiros, Peter Scheier, HenriBallot,Pierre Verger,Marcel Gautherot, Luciano Carneiro, Salomão Scliar, Indalécio Wanderley, Ed Keffel, Roberto Maia, Mario de Moraes, Eugênio Silva, Carlos Moskovics, Flávio Damm e Luiz Carlos Barreto.Afinal, quando falamos em fotojornalismo, falamos em texto e imagem e assim podemos perceber toda a criação narrativa.

Um ensaio fundamental para os pesquisadores, mas também para quem quer conhecer a construção do nosso imaginário via mídia. Além do livro,o IMS também lança uma página em seu site dedicada ao conteúdo da exposição.

Estado de Minas - Conversas sobre imagens

Ana Clara Brant

Um dos blogs de fotografia mais conceituados do país começa a gerar frutos. Criado em 2007, o Olhavê, iniciativa do fotógrafo pernambucano radicado em São Paulo Alexandre Belém, está rendendo projetos como o livro Olhavê entrevista, que será lançado hoje à noite em Belo Horizonte, durante a primeira edição do Foto em Pauta em 2013. Belém, que é jornalista, editor de imagens e também editor do blog Sobre Imagens, vai bater um papo sobre suas experiências profissionais e apresentar projeções.

Alexandre Belém, fotógrafo e curador

(06/02/2013) A obra é resultado de 27 tensões discursivas sobre a fotografia propostas por meio de entrevistas para o blog com fotógrafos, jornalistas, curadores e pesquisadores como Adelaide Ivanóva, Bob Wolfenson, Cássio Vasconcellos, Isabel Amado, Simonetta Persichetti, Juan Esteves, Rodrigo Braga e o mineiro João Castilho. “O livro traz as 27 entrevistas na íntegra e fiz questão de ser assim. Apesar de ter meu trabalho muito ligado à internet, queria mostrar para as gerações futuras esse tipo de trabalho. Tenho certeza de que daqui a uns 30 anos essa publicação ainda vai estar aí em algum sebo, biblioteca. Curto muito a ideia de ter um livro como

acervo de memória e acho que ele ainda terá seu espaço por muito tempo”, acredita Alexandre Belém.

Ao longo desses cinco anos, o blog Olhavê cresceu e teve muita repercussão e produziu um acervo para a compreensão de distintos assuntos, abordagens e atuações de profissionais da fotografia,

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além, é claro de promover o diálogo e a reflexão. Belém diz que o site acabou se ramificando não só em plataformas digitais como também físicas, como uma escola de fotografia. “Fotografia não é apenas imagem. É você ler, discutir, saber como é o processo criativo do profissional. Quando lancei o blog, em 2007, ele acabou chamando a atenção justamente por isso: não apresentar apenas imagens, mas abordar a fotografia como conteúdo fotográfico”, pontua.

Exatamente por isso, Belém quis que o primeiro fruto do blog fosse um livro de textos. E deve lançar ainda este ano outra publicação, porém com textos mais reflexivos. “Não vai ter nem as imagens dos fotógrafos, como nesse primeiro trabalho. É só texto mesmo”, adianta ele, que, com a esposa, Geórgia Quintas, é curador do Ciclo de Ideias do Festival de Fotografia de Tiradentes, que ocorre entre os dias 6 e 10 de março na cidade mineira.

MÚSICAEstado de Minas – Da roça para os palcos

Dupla sertaneja formada por integrantes da comunidade mineira de Noiva do Cordeiro lança primeiro disco, Sonhos, com 10 faixas inéditas. Canções falam da história do grupo

Ana Clara Brant

(01/02/2013) Elaine virou Márcia e Celso agora é Maciel. Os dois se conheceram na comunidade Noiva do Cordeiro, em Belo Vale, a 100 quilômetros de Belo Horizonte, povoado reconhecido pela forma de vida peculiar e coletiva, decidiram formar uma dupla sertaneja e acabam de lançar o primeiro disco: Sonhos. Maciel, de 30 anos, sempre gostou de música, desde criança, e aos 7 já improvisava no violão. Quando Márcia o conheceu, convidou-o para acompanhá-la em festas de casamento e rodas de viola e a dupla nasceu por acaso. “Ele se tornou o meu guia musical. A gente não premeditou nada e quando vimos estávamos cantando juntos. Nunca imaginei que seria cantora. Há pouco tempo ainda estava trabalhando na roça ou na fábrica de roupas. Era uma vida completamente diferente”, revela Márcia, de 32 anos.Em 2011, a partir da realização do projeto Noiva do Cordeiro em Cena, patrocinado pela Vale e realizado pela Associação Comunitária, os dois, assim como outros moradores da região, passaram a ter oficinas de dança, teatro e música. “Acabamos virando os cantores oficiais da comunidade e somos os primeiros artistas formados lá que estão na estrada. É um orgulho”, destaca a cantora, que se mudou há seis meses para Belo Horizonte.As mudanças não foram fáceis. Márcia revela que se assustou com tudo que envolve o universo artístico, mas não quer desistir. Ela e Maciel querem se aperfeiçoar a partir de fevereiro, quando vão ingressar em curso de música, e já estão em busca de um produtor para ajudar na divulgação do trabalho. “No começo foi um choque. A gente veio muito inocente para cá. Tinha essa ilusão de que seria igual ao Zezé di Camargo, que levava as composições para a rádio e bastava ligar para lá e a música tocava. E não é bem assim, ainda mais em cidade grande. A coisa é bem comercial”, atesta a cantora.Por enquanto, a dupla vem se apresentando ocasionalmente em cidades do interior e emplacou os primeiros lugares em rádios do Norte de Minas, como Montes Claros. “Queremos mostrar que o nosso disco tem valor. E estamos batalhando para as pessoas conhecerem. É uma luta, mas gostamos de estar no palco”, completa.Sonhos foi produzido por meio de uma vaquinha realizada pelos moradores da Noiva do Cordeiro. Traz 10 faixas inéditas, compostas por Márcia e Maciel, que refletem muito da história e da vida dos moradores do povoado. Canções que falam de amor, de família e de união. “Escolhemos justamente essa composição para dar nome ao CD porque ela resume muito o que passamos. É um sonho não só meu, mas de todos. Levamos o nome da comunidade e eles acreditam demais na gente. Por isso temos que lutar mesmo. Estou me adaptando ainda a toda essa realidade, mas estou confiante e empolgada”, completa.Saiba maisNoiva do CordeiroNo fim do século 19, Maria Senhorinha de Lima, natural de Roças Novas, povoado de Belo Vale, se casou com o francês Arthur Pierre. Ela acabou se separando e foi viver com Francisco Augusto Fernandes de Araújo onde hoje está a comunidade de Noiva do Cordeiro. A atitude foi condenada e

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os dois, rotulados de pecadores, tiveram amaldiçoada sua descendência por gerações. Nos anos seguintes, em toda a redondeza, a atitude de Senhorinha ganhou olhares de reprovação. Entretanto, o casal tocou a vida e criou 12 filhos. A situação se complicou novamente em meados do século passado, quando Anísio Pereira, neto de Francisco, fundou a seita protestante Noiva do Cordeiro, que batiza o lugarejo, e converteu toda a família, agravando as relações com parentes vizinhos e católicos. Em 2007, o Estado de Minas trouxe a público a história da família, que ganhou documentário de TV e rodou mundo. Hoje, respeitada pela maioria dos moradores da cidade, a comunidade, que tem cerca de 300 habitantes, tem ajudado a promover a cultura na região.

Correio Braziliense – O ano do batuque

O grupo de percussão Patubatê tem um 2013 lotado de compromissos, desde viagens à Índia e ao Paquistão até projeto com catadores de lixo

FELIPE MORAES

(02/02/2013) Fred Magalhães, membro fundador do grupo de percussão Patubatê, precisa ser ágil e preciso com as mãos mesmo quando não está batucando e tirando sons de instrumentos incomuns, feitos de sucata e outros materiais geralmente associados a fins utilitários. É que, hoje em dia, ele admite, não dá para ser somente artista. É preciso também ser empresário, produtor e agente, preocupar-se com documentos, com negociações, passar a vista em propostas, rubricar contratos e dar conta de outras burocracias necessárias para que ele e os colegas sejam, nos momentos certos, artistas. Com uma porção de projetos já formatados ou ainda em fase embrionária, Magalhães espera que 2013 seja o ano do boom do Patubatê.O modelo seguido por ele, Fernando Mazoni, Gustavo Lavoura, Pablo Maia, Felipe Fiuza, DJ Leandronik, além da equipe que cuida dos bastidores — o técnico de som Tiago Sampaio, o de luz Zé Mário, e os roadies Frota, Isaías e Maranhão —, é baseado num conceito de produção independente. “It’s We Produções”, brinca Magalhães. “A gente tem conseguido fazer história sem morar no eixo Rio-São Paulo. Com o Móveis Coloniais de Acaju e Os Melhores do Mundo foi assim também”, explica. A agenda é cheia porque a banda, formada em 1999, não se acanha: além dos trabalhos artísticos e culturais, em parcerias públicas e privadas, lança-se em propostas empresariais customizadas, lançamentos de produtos e topa até palestras motivacionais.Ano passado, uma das dedicações da banda foi a gravação do DVD Ruído sonoro, primeiro registro oficial, financiado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC). A gravação do show, filmado no interior do Estádio Nacional de Brasília, é vendido pela própria banda por um preço promocional de R$ 5, e deve chegar em breve às lojas. O segundo DVD, RS02 (Ruído Sonoro 2), de produção já garantida pelo FAC — e gravação prevista para março e abril, no Sesc Ceilândia —, vem com outra proposta. O Patu planeja convidar cantores como GOG e Marcelo Yuka para preencher as canções instrumentais com letras originais. Na contrapartida, o Patu gravará arranjos de canções dos colaboradores. Outra iniciativa de registro, ainda em fase inicial, é uma exposição interativa de fotos da trajetória da banda, clicadas por Ricardo Peixoto.

Oficinas e shows

O grupo mandou propostas para os carnavais de Brasília, Pirenópolis e Recife, mas ainda não fechou nada para a folia de 2013. O grupo também tocaria hoje durante o evento 500 Dias para a Copa do Mundo de 2014, porém a festa foi cancelada por causa do incêndio que matou 233 pessoas em uma boate em Santa Maria (RS). Enquanto negociam com as secretarias de Turismo, Cultura e Esporte números para o mundial de futebol do ano que vem, os músicos também tentam alinhavar algo para a estreia da amarelinha na Copa das Confederações, em 15 de junho, contra o Japão. “Pensamos em arranjos diferentes para o hino brasileiro e para o hino japonês, talvez algo com a movimentação do daiko (instrumento japonês) com ritmos brasileiros e percussão eletrônica”, descreve.Trabalhos fixos à parte — como a oficina sempre às quintas, no colégio Sigma (606 Norte) —, o Patu leva adiante em 2013 a formação de grupos musicais com catadores de lixo. “Pensamos em formar uma banda mesmo, algo do tamanho de uma bateria de escola de samba. Talvez até orquestrar mesmo, juntando material eletrônico do DJ com orquestra. É algo que está engatinhando, mas que já está formatado”, adianta Magalhães.Em parceria com a Fundação Banco do Brasil e a WWF, os brasilienses começaram o trabalho em Pirenópolis, em modo experimental, e já conversam com catadores de Brasília, por meio da CentCoop (Central de Cooperativas de Materiais Recicláveis do Distrito Federal e Entorno), para

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montar uma versão local do Patucatá. O resultado das oficinas será mostrado no evento Hora do Planeta, em 23 de março, em local de Brasília ainda a ser definido. Outro projeto que deve ganhar fôlego neste ano é o Bloco Eletrônico, gestado nas oficinas semanais e que se apresentou ano passado no segundo Perc Brasil, no Jogo de Cena e no Green Move Festival.

Índia e Paquistão

A bordo do Programa de Difusão Cultural, do Ministério das Relações Interiores, o Patu já rodou por vários países, como Trinidad e Tobago, China e nações africanas. Em 14 de fevereiro, o grupo embarca para Índia e Paquistão. Na agenda, há compromissos em Nova Délhi e Calcutá (Índia), dentro do World Percussion Festival, e nas cidades paquistanesas de Karachi e Islamabad (capital) em duas oportunidades — apresentações no Hotel Serena e no Pakistan National Council of Arts. Magalhães também sonha em, nesses países, internacionalizar as oficinas com os catadores.Sempre que viajam, os artistas ministram oficinas com músicos e população em geral, e chamam os participantes dos workshops para participar dos shows. Mais viagens para o exterior, desta vez com destino a Portugal (onde é representado pela produtora Ritmos e Temas) e Alemanha, por meio do consulado de Frankfurt, podem ocorrer entre julho e setembro.

Correio Braziliense – Sons fora do quadrado

GABRIEL DE SÁ

(02/02/2013) Os discos de três artistas independentes de Brasília estão entre os 100 melhores lançamentos nacionais de 2012. Pelo menos é o que acredita o jornalista Ed Félix, editor do site Embrulhador (www.embrulhador.com), de Campina Grande (PB). Pelo segundo ano, o pesquisador elencou o que de melhor rolou na música brasileira no ano que passou. Para a surpresa e a alegria de muitos, a banda Sexy Fi, o compositor e guitarrista Dillo D'Araújo e o trio Passo Largo estão no rol, divulgado há alguns dias e encabeçado pelo álbum Caravana sereia bloom, da cantora Céu.

Para chegar à centena consagrada, Félix ouviu mais de 550 CDs. No trabalho minucioso, ele avaliou aspectos que vão desde a originalidade até a qualidade da produção; passando, por exemplo, pela arte gráfica, no casos dos álbuns em formato digital. “Brasília sempre se destaca na cena nacional pelo rock. A cada ano, tem surpresas vindo daí nesta área”, comenta o jornalista. E os três escolhidos por ele têm realmente uma ligação forte com esse universo.

Formado por Camila Zamith, JP Diogo Saraiva, Ivan Bicudo, Márlon Tugdual e Fernando Lanches, o Sexy Fi foi batizado com esse nome em 2012. Antes, com outra formação, era Nancy. Nunca te vi de boa, que ocupa a 50ª posição na seleção, só sai em formato físico no Brasil em fevereiro, mas garantiu seu lançamento internacional há alguns meses por um selo inglês. “A gente estava saindo em várias listas, então não foi exatamente uma surpresa”, diz o guitarrista João Paulo, que define o som do grupo como um “rock de doidão, levemente experimental”. “Pouca gente conhece a banda ainda. Quanto mais você expõe seu trabalho para diferentes públicos, melhor”, considera. O que chamou a atenção de Félix foi a originalidade da trupe. “É bem diferente do que se está sendo produzindo no Brasil”, destaca.

Loucuras

No caso de Dillo — 59ª posição com seu Jacaretaguá —, Félix observou que o artista se mostrou bem à vontade para criar, “sem amarras”. “Ele fez boas loucuras neste disco”, comenta. Dillo, por sua vez, comemorou estar à frente, por exemplo, de nomes como Gaby Amarantos (61º lugar) e Otto (93º). “Pra ser sincero, eu nem gosto muito desses rankings. Mas se eu não estivesse nele, eu estaria puto”, diverte-se. “É uma lista isenta”, elogia. Para o guitarrista, há de se brindar pelos três brasilienses no rol, mas ele acha que poderia haver muitos outros representantes, pelo volume atual de produção na cidade.

Já o Passo Largo, cujo CD homônimo está na 78ª posição, é formado pelos músicos Vavá Afiouni, Thiago Cunha e Marcus Moraes. O trio faz um trabalho de rock instrumental. Segundo Ed Félix, a lista alcançou mais de 300 mil acessos desde sua publicação, vindos de todo o país. A grande maioria dos trabalhos selecionados é independente.

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O Globo – Memórias de um outro samba

Paulinho da Viola e Nelson Sargento celebram o reencontro no bloco que sai amanhã homenageando o espetáculo 'Rosa de Ouro', onde se conheceram, em 1965

(02/02/2013) Em casa, Paulinho da Viola guarda em estantes uma boa quantidade de LPs, muitos dos quais arrematados em sebos ou de comerciantes de discos usados. Alguns, ele admite com orgulho, comprou só pelas capas mui singulares - belezuras com lugar garantido em qualquer antologia do tipo "Worst album covers of all time", com artistas em trajes escalafobéticos ou em poses inacreditáveis e cantoras com o buço por raspar. Outros, porém, são relíquias do samba, que ele se delicia em pôr para tocar na presença dos amigos que vão visitá-lo. E, na tarde de terça-feira, lá estão Zeca Pagodinho (que passara só para dar um alô) e Nelson Sargento, com quem Paulinho se encontrará novamente amanhã, no desfile do Bloco Timoneiros da Viola, que, em seu segundo ano, relembra o espetáculo "Rosa de Ouro", no qual os dois se conheceram, há quase 50 anos.

- Nelson, e o Zagaia? E o Preto Rico? - pergunta Paulinho, em tom saudoso, enquanto saca da capa meio surrada e ajeita na vitrola o LP "Escolas de samba", no qual Jamelão interpreta sambas de compositores da Mangueira (como os citados) e do Império Serrano.- Eu tinha esse disco aí! - interfere Zeca ao ver outra relíquia, "Olha o partido aí!", que se anuncia como "gravado ao vivo nos 40 anos de samba de Mangueira", com os partideiros Xangô, Padeirinho, Aniceto, Zagaia e Jorginho.

E assim o papo, que começara nas incríveis aventuras de Paulinho na infância em Botafogo ("Você foi preso por jogar bola... e conseguiu cair de um bonde parado! Você tem que ser estudado, Paulinho!", recomenda um atônito Zeca) e em seguida enveredou pelas raridades fonográficas do samba, chega, forçosamente, ao "Rosa de Ouro", espetáculo de Hermínio Bello de Carvalho que, em 1965, juntou as cantoras Aracy Cortes e Clementina de Jesus a um grupo formado por Nelson, Paulinho (então com 22 anos), Elton Medeiros, Anescar do Salgueiro e Jair do Cavaquinho para cantar o fino do samba.

Compositor da Mangueira desde os anos 1940, parceiro de Cartola, Nelson é quem abre o pote das memórias:

- O Elton e o Hermínio foram lá no morro e disseram que queriam um sambista que tocasse violão. Eu era pintor de parede, e o recado que me chegou era para que eu fosse lá no Teatro Jovem, em Botafogo. Eu pensei que era para pintar o teatro! Eles pediram de novo, mas eu não fui. Na terceira vez, eles disseram: "Vai lá amanhã ou não vai mais." Quando cheguei, estavam Jair, Anescar e o Elton, e aí soube que era para eu fazer parte do grupo.

E, se não caiu da cadeira com aquele convite, Nelson cairia logo depois, quando Paulinho, atrasado, chegou ao teatro. O sambista da Mangueira olhou para o garoto, pensou em dizer alguma coisa, mas não disse. Nos primeiros versos de "14 anos" ("Tinha eu 14 anos de idade quando meu pai me chamou / perguntou se eu queria estudar Filosofia, Medicina ou Engenharia / tinha eu que ser doutor"), perguntou: o samba é desse garoto? E alguém respondeu: "É, e ele tem melhores do que esse!"

- Se eu pensasse em voz alta, estava perdido! Mas eu sempre pensei em voz baixa - diverte-se o mangueirense.

O Globo – Companheiros do mangue

(02/02/2013) As bandas pernambucanas Nação Zumbi e Mundo Livre S/A gravam disco com músicas uma da outra e planejam turnê, na trilha aberta pela Orquestra Manguefônica

Troca de beats no mangue. A "musa da Ilha Grande" vai desfilar com um novo gingado e "rios, pontes e overdrives" vão ficar mais sinuosos a partir de março, quando chega às lojas "Nação Zumbi vs Mundo Livre", com uma banda interpretando canções do repertório da outra. Inspirado na boa

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repercussão do disco que uniu Ultraje a Rigor e Raimundos, lançado ano passado pela Deckdisc, os dois grupos vão inverter os papéis que os consagraram desde a década de 1990, quando a maré mudou e Recife apareceu, definitivamente, no sonar da MPB.

Idealizado pelo produtor Rafael Ramos, o projeto une desta vez dois artistas de uma mesma geração e de uma mesma linhagem musical, marcada pelas fusões de rock com samba, maracatu, hip-hop e eletrônica. Subvertendo o famoso manifesto do mangue beat, divulgado em 1992, "Nação Zumbi vs Mundo Livre" - em fase final de produção - vai fazer os caranguejos trocarem de cérebro.

- Eu lembro que estava no Rio, durante a festa de um prêmio, quando o Rafael veio me falar desse projeto que tinha feito com Ultraje e Raimundos - conta Fred 04, vocalista e compositor do Mundo Livre S/A. - Ele disse que era uma coisa em tom de brincadeira, mas que tinha ficado legal e gerado uma boa repercussão, inclusive de vendas. Por isso, pensava em levar o projeto adiante. Alguns dias depois, ele me ligou, dizendo que queria unir Nação e Mundo Livre para a sequência. Para mim, aquilo foi uma alegria muito grande, e topamos na hora.

Além das conexões naturais, os dois ícones do som de Recife já tinham feito um projeto juntos, a Orquestra Manguefônica, que começou com uma apresentação no Sesc-Pompeia, em São Paulo, em 2005, passou pelo Abril Pro Rock, em Recife, e chegou a fazer uma excursão de dez datas pelo país naquele ano, com as duas bandas dividindo o mesmo palco. Mas não houve um registro em disco daquela união, como lembra 04.

- Na noite anterior à daquele show em São Paulo, acho que ninguém, dentre nós todos, dormiu de tanta excitação. Foi um troço mágico mesmo. No meio do show, o Rodrigo, do Mamelo Sound System, um dos convidados, pediu uma salva de palmas para a gente e ficou todo mundo de pé, por uns cinco minutos. Ficamos de alma lavada. Foi um lance incrível, como toda a turnê. Chegamos a pensar em compor algo específico para a Orquestra Manguefônica, mas nunca conseguimos levar isso adiante.

No toma-lá-dá-cá do disco, sete faixas foram selecionadas pelas duas partes. A Nação Zumbi ficou com "Livre iniciativa, "Pastilhas coloridas", "Girando em torno do sol", "Musa da Ilha Grande", "Seu suor", "Como James Brown já dizia" e "Bolo de ameixa".

- Não foi nada fácil fazer essa seleção, já que adoramos o som do Mundo Livre. É uma banda que traz tantas referências de coisas de que a gente gosta, de Clash a Serge Gainsbourg, passando por Jorge Ben e Hunter S. Thompson - conta Jorge Du Peixe, que assumiu os vocais da Nação desde a morte de Chico Science, em 1997. - A gente queria gravar também "Terra escura" e "O homem que virou veículo", mas o consenso levou a essas sete. Nas gravações, a minha preocupação foi trazer tudo para o meu tom de voz, que é diferente do tom do Fred. O dele é mais alto, eu não consigo alcançar aquelas notas.

Tributo a Chico Science

Já o Mundo Livre S/A ficou com "A cidade", "Samba makossa", "Rios, pontes e overdrives", "Meu maracatu pesa uma tonelada", "Etnia", "Manguetown" e "Quando a maré encher", mas todas em leituras bastante pessoais, como afirma o vocalista do grupo.

- Não íamos fazer um projeto desses sem homenagear o Chico Science. Por isso, selecionamos alguns clássicos que ele gravou com a Nação, incluindo "Rios, pontes e overdrives", que foi uma parceria nossa - diz 04. - No nosso caso, tentamos não ficar na sonoridade que consagrou a Nação, o que soaria meio falso, trazendo as músicas para o nosso lado, para a nossa praia, numa textura que valoriza mais a melodia e é menos rapeada.

Como era de se esperar, as gravações do disco trouxeram lembranças do começo das duas bandas, quando ainda tocavam em "palquinhos improvisados", segundo Du Peixe:

- Foi realmente um flashback muito intenso mergulhar nesse repertório. As músicas do Mundo Livre trazem altas memórias do nosso começo, juntos, tocando em lugares pequenos, com pouca gente na plateia, numa época em que Recife estava começando a sair do seu cantinho.

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Depois que o disco for lançado, nenhum dos grupos descarta a possibilidade de fazer uma turnê de divulgação, na trilha aberta pela Orquestra Manguefônica.

- A turnê deve rolar, sim - diz Du Peixe. - A Orquestra já mostrou que nos damos muito bem ao vivo. É como se fosse um mash-up orgânico.

Folha de S. Paulo – "Brasil é fonte de prazer musical", diz crítico

Jon Pareles, que escreve no 'New York Times' há 30 anos, participa de evento na Bahia

BRUNO NOGUEIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

(03/02/2012) O Brasil e a música brasileira são velhos conhecidos de Jon Pareles. No jornal americano "The New YorkTimes", em que é crítico musical desde 1982, ele já escreveu sobre Tom Zé, Caetano Veloso, a Tropicália e Ivete Sangalo, que o deixou impressionado pelo "espírito incansável" no palco.Pareles está pela terceira vez no país. Desta vez para participar, amanhã, do congresso Digitalia, sobre música e cultura digital.O evento começou anteontem e vai até terça-feira em Salvador (veja programação em digitalia.com.br)."O mundo exterior conhece muito pouco sobre música e cultura brasileiras. Eu vou sugerir maneiras de alcançar pessoas de fora como eu", disse ele à Folha.Pareles -que, antes de chegar ao jornal nova-iorquino, foi um dos editores da revista musical "Crawdaddy", a primeira dos EUA inteiramente dedicada à crítica de rock, e teve breve passagem pela "Rolling Stone"- diz que as novas formas de ouvir música pouco mudaram a postura dos ouvintes."A música pop sempre foi alvo de julgamentos rápidos. Quantos segundos você dava a uma nova música antes de mudar a estação de rádio? Talvez só um pouco a mais do que hoje, mas o instinto sempre vai ser a primeira guia para ouvintes que não são críticos. E é assim que deve ser. A música precisa tocar seu coração primeiro."É esse laço afetivo que, na opinião dele, também une crítica e público. "A crítica de música sempre importou apenas para um número relativamente pequeno de pessoas, mas essas pessoas são -assim como os críticos- ouvintes apaixonados."Na era do acesso hiperfacilitado a novidades musicais, em que as pessoas encontraram outros meios para se orientar na selva digital/musical, Pareles defende a relevância dos críticos."As pessoas que querem ir além da simples decisão de ouvir uma música ou outra, que vão querer pensar com um pouco mais de profundidade sobre o que estão ouvindo, além de apenas gostar ou desgostar, ainda encontram bons 'insights' na boa crítica de música."O americano diz que chega disposto a "ouvir o máximo de música possível" e se declara um apaixonado pelo que ouve do país."Talvez o Brasil esteja guardando sua música medíocre em casa, mas o que escuto continua a gerar novas ideias junto a maneiras brilhantes e criativas de remixar as antigas ideias. O Brasil é uma fonte perpétua de prazer musical para mim."

Estado de Minas - As aventuras dos bambas

(04/02/2013) Causos saborosos – e até históricos – do mundo do samba foram reunidos pelo antropólogo carioca Marcos Alvito em um pequeno livro que acaba de chegar às vitrines. Dos emblemáticos João da Baiana e Noel Rosa aos contemporâneos Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz, ali todo mundo é bamba.

Em 100 tópicos, Alvito relembra passagens relativas à música e à vida de mestres do samba. Candeia, por exemplo, era temido detetive. Ficou paralítico depois de esbofetear uma senhora na Lapa. Ela lhe rogou uma praga e, dias depois, o valentão foi baleado. Pixinguinha, um santo, morreu dentro da igreja – naquele mesmo dia, a Banda de Ipanema interrompeu imediatamente seu animado desfile carnavalesco. Em silêncio, foliões se dispersaram.

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Histórias do samba – De João da Baiana a Zeca Pagodinho (Editora Matrix, R$ 29,90) mostra a dura lida dos compositores, gente humilde praticamente obrigada a vender parcerias a artistas famosos, como Francisco Alves, sovina conhecido como Chico Duro, e Mário Reis. Os dois astros eram “fregueses” de Cartola. Alvito revela: a irreverência carioca logo tascou um apelido nesses “parceiros”, que jamais criaram um verso: “comprositores”.

Professor do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF), o autor fornece informações sobre a origem e o desenvolvimento do gênero musical mais famoso do Brasil, destacando a importância do jongo, do lundu e do coco para o DNA do samba.

Estado de Minas - Minas dá soul

O cantor e compositor Wolf Borges explora a fusão dos ritmos norte-americanos e mineiros em seu novo álbum. Três baixistas foram convocados para garantir o suingue da empreitada

"Estou doido para chegar a Belo Horizonte:" Wolf Borges, compositor

Ailton Magioli

(04/02/2013) O radicalismo da capa – um dos profetas de Aleijadinho aparece segurando a tocha da Estátua da Liberdade – pode até chocar os puristas de plantão. No entanto, a intenção do cantor e compositor Wolf Borges com o lançamento do disco Pdqjo soul – pãoDeQUeijo music pROJect (sic) é provar que a negritude perpassa as músicas mineira e norte-americana. Afinal de contas, as duas têm – sim – algo em comum.

Com trabalho fundamentado no resgate dos ritmos brasileiros, o artista sul-mineiro diz que seu quarto disco solo propõe algo diferente. Para a empreitada, ele contou com a reconhecida liberdade da MPB.

“Busquei a fusão da música de Minas Gerais com a música norte-americana”, explica Wolf. Mesmo tendo se deparado com ritmos dançantes, como o funk, ele confessa: não consegue deixar de lado o ciclo de canções que marcaram sua carreira.

Equipe Casado com a cantora Jucilene Buosi, desta vez, além dos vocais quase líricos característicos de sua mulher, Wolf contou com as participações de Marília Barbosa, Bomina Rebouças e Fernanda Brito. O disco reúne também instrumentistas, arranjadores e intérpretes como Ney Conceição, Robinho, Tiquinho (do Funk como Le Gusta), Marcos Santurys, Fred Selva, Arthur Huf e o Quarteto da Sinfônica de Campinas, além de Omar Fortes Jr. e Ravi Kefi.

Wolf faz questão de ressaltar: são três baixistas em seu disco. Robinho Tavares, da banda de Ed Motta, especialista em funk; Ney Conceição, com quem já havia trabalhado e considera “um gênio”; e Ricardo Finazzi, do Sul de Minas.

O álbum, segundo o cantor e compositor, representa a busca de sonoridade que, além do funk, passa por jazz, blues, pop e balada romântica. Com leitura mais suingada e dançante, a faixa Fruto de pomar, que Wolf regravou, vem se destacando nas rádios.

Turnê Depois de shows em Santa Rita de Jacutinga, Pouso Alegre e Poços de Caldas, onde mora, Borges anuncia o início da turnê regional de lançamento do CD. A maratona começa no dia 28, por Alfenas. Em 23 de março, será a vez de Três Pontas, também no Sul de Minas. “Estou doido para chegar a Belo Horizonte”, diz o compositor, que morou na capital na década de 1980.O repertório do disco inclui as faixas Semente; Não tô pedindo, com Maurício Brandão; Intensa, A lua acolhe, Meu canto, Só para nós, Vilões, Encontro e Todo mundo, com Elder Costa; Sim, Dez culpas e Mistério profundo, com Rafael Toledo.O CD pode ser adquirido a R$ 23 no site oficial do artista sul-mineiro (www.wolfborges.com.br).

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Estado de Minas - Preservando a tradição

Maracatu Lua Nova, do Bairro Aparecida, em Belo Horizonte, faz festa para comemorar seus 10 anos e lança disco com temas recolhidos por Guerra Peixe nos anos 1940 e 1950

Walter Sebastião

(05/02/2013) “É uma festa diferente. Não é só show de palco, mas apresentações com grande interação com o público, para mostrar a riqueza cultural do Bairro Aparecida.” Assim André Salles Coelho, de 46 anos, coordenador do Maracatu Lua Nova, de Belo Horizonte, se refere às comemorações dos 10 anos de existência do grupo, que serão celebrados hoje, a partir das 19h, na Funarte MG, com lançamento do disco Maracatus do Recife. E com presença de convidados ilustres: a Guarda de Congo Feminina de Nossa Senhora do Rosário, a Guarda de Moçambique Divino Espírito Santo e o Ensaios – Samba do Seu Marcelo.

O Maracatu Lua Nova tem cerca de 60 integrantes. “Desde crianças de três anos até senhoras que, por educação, eu não pergunto a idade”, brinca André Salles. O disco, explica ele, traz 22 composições recolhidas em Pernambuco, transcritas e publicadas em livro com o mesmo nome, pelo maestro, compositor e pesquisador César Guerra-Peixe (1914–1993), nas décadas de 1940 e 1950.

“Apesar do livro ser largamente conhecido entre pesquisadores e praticantes de maracatu, essas melodias, em sua maior parte, já estão esquecidas, inclusive entre os integrantes dos grupos mais antigos e tradicionais”, continua André Salles, suspeitando que se trata da primeira gravação do material. “O CD é um registro histórico, mas também é disco com produção musical muito bonita. Maracatus são grupos com muita energia musical. O nosso objetivo é que as pessoas, e inclusive os grupos de maracatus, conheçam essas músicas.”

Bairro Aparecida O Lua Nova nasceu do encanto de André Salles e outros integrantes com o maracatu, o que os levou a fazerem oficinas dedicadas à manifestação e a viagem a Recife para conhecer mestres e praticantes. “Recife está a 2 mil quilômetros de Belo Horizonte. Então, para continuar o trabalho, era mais fácil criar um grupo em Belo Horizonte do que ficar viajando para Pernambuco”, justifica André. Para ele, os 10 anos de existência do grupo têm sabor de vitória. “É grupo grande, que ensaia todos os sábados; são quatro uniformes, trinta e tantos instrumentos. Então não é simples administrar tudo isso. Cobra muita dedicação”, completa, lembrando que, depois de alugar casa, foi necessário comprar terreno para criar a sede.

No simbolismo, conta André, o maracatu é semelhante aos congados: fazem a festa de coroação de reis negros. Os tambores graves são mais um elemento que aproxima as duas práticas. Se em Pernambuco os grupos são mais próximos do candomblé, em Minas Gerais estão juntos aos católicos. O grupo de Belo Horizonte desenvolve duas linhas de atividades: uma participando de festas tradicionais; outra atuando como convidado em vários eventos (festival de inverno, carnaval de Ouro Preto e inauguração de estabelecimentos.). “O maracatu tem um ritmo marcante, dança, figurinos e canto bonitos, mas o mais importante é promover o encontro de todas as pessoas da comunidade”, defende André, acrescentando que os seus ensaios são abertos a quem quiser ir.

André Salles é só elogios ao Bairro Aparecida. “É e sempre foi musicalmente riquíssimo”, afirma. O mesmo espaço onde se reúnem congados, guardas e maracatu abriga quadrilhas, grupos de samba, choro, coco e um de música barroca. “Aos poucos Belo Horizonte está começando a conhecer a cultura daqui”, observa, lembrando que no segundo fim de semana de junho acontece ali uma festa tradicional com a presença de 20 guardas de moçambique de várias cidades.

LIVROS E LITERATURAFolha de S. Paulo - Livro reúne ensaios de intelectuais sobre Brasília

Escritos de Gilberto Freyre e Lina Bo Bardi, entre outros, estão em volumeCidade desenhada por Oscar Niemeyer foi alvo de duras críticas durante a construção, no fim dos anos 1950

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SILAS MARTÍ (30/01/2013) Num pedaço de terra vermelha que lembra "bistecas sangrentas no balcão de um açougueiro", surgiu uma "flor", a "primeira entre as capitais da nova civilização", um "oásis" conquistado "à moda cabralina, chanfrando na terra o signo da cruz".Essa cidade utópica é Brasília, vista, descrita e dissecada por intelectuais como Mário Pedrosa, Gilberto Freyre e Lina Bo Bardi. Num livro lançado pouco depois da morte do arquiteto Oscar Niemeyer, no fim do ano passado, esses e outros nomes relembram o impacto da criação da capital do país.Hoje uma espécie de testamento vivo do fracasso das utopias modernas na arquitetura, Brasília nasceu para alguns sob o signo da esperança, mas já despertava críticas ferrenhas mesmo em seus estágios embrionários.Três anos antes da inauguração da cidade, em 1960, o crítico de arte Mário Pedrosa chamou de "imaturo e anacrônico" o urbanismo de Lucio Costa. Na opinião dele, Brasília sempre foi refém de um caráter "programático".Gilberto Freyre, autor de "Casa Grande & Senzala", engrossa a ala de detratores, tachando de "ditadura arquitetônica" o modo como Niemeyer e Costa tocaram a construção. Ele também ataca o idealismo dos arquitetos, que criaram uma "cidade nova para uma ordem burguesa antiquada", mais afeita a "europeus nórdicos" do que a um "povo neolatino".Descreditando a euforia em torno da capital, o italiano Alberto Moravia enxergou em Brasília certo barroquismo. Na cidade de "solidões metafísicas", ele observou que "ao barroco delirante das igrejas coloniais corresponde, em sentido psicológico, o gigantismo de Brasília".Tanto ele quanto Freyre fizeram ressalvas também ao Palácio da Alvorada. Para o brasileiro, a obra parece "uma joia sob o sol tropical", mas "indiferente ao solo tropical, ao clima tropical".Já Moravia exalta a ousadia das formas do lado de fora do palácio, mas se decepciona com o lado de dentro, que diz lembrar um "country club norte-americano", com suas "grandes salas alegres".Em defesa da cidade, a arquiteta Lina Bo Bardi, escrevendo no ano do golpe militar, em 1964, atribui a incompreensão de seu projeto à "cultura pobre" da época, "um mundo nu, seco, de milhões de homens, sem arrebatamentos, sem saídas."

Valor Econômico - Antes tarde do que nunca

Por Joselia Aguiar

Maria Valéria, autora de "O Voo da Guará Vermelha", que teve mais de 20 mil exemplares vendidos aqui e edições em Portugal, Espanha e França: mais quatro romances já "prontos" na cabeça

(1º/2/2013) Aos 40 e tantos, Evandro Affonso Ferreira via a cada dia aparecer um calouro diferente procurando vaga em sua área numa agência de publicidade. Sofreu por aqueles dias um enfarte e, como promessa do pós-operatório, passou a se dedicar mais à leitura. Não só maduro demais, agora também com ponte de safena, perderia o emprego logo depois. Vender a biblioteca de 3 mil livros para conseguir dinheiro foi a ideia que lhe

ocorreu. Alguém então lhe sugeriu aquilo que mudaria mais sua vida que a obstrução coronária: montar um sebo.

O dono gostava tanto de conversar sobre livros que o estabelecimento se tornou ponto de encontro de consagrados escritores. As reuniões, por animadas, se transferiram para um café de Pinheiros, em tardes de sábado que fizeram parte da história recente da literatura brasileira. Laços e desavenças datam desse período, assim como a publicação de novos autores entre São Paulo e Rio. Um desses estreantes acabaria por ser o próprio Ferreira, com "Grogotó", em 2000, aos 55. Debutante nas letras com a sorte de estar cercado de medalhões, teve um tipo de apadrinhamento graúdo que só novatos costumam despertar. Quem assinou a apresentação foi um experimentado crítico, o poeta e ensaísta José Paulo Paes (1926-2008).

"Na literatura, sou contemporâneo dessa meninada toda", diz, a dois anos de completar 70, sete livros publicados, escrevendo o oitavo. Sua maior ambição agora é vencer algum grande prêmio "para comprar a primeira quitinete". Como o talento para o comércio nunca foi igual àquele que o inclinava para literatura, vendeu sebo após sebo conforme ia falindo e nesse meio tempo teve de se

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mudar de casa por causa do divórcio. O cotidiano é espartano; de abundante, só o tempo dedicado à escrita.

A sequência de lançamentos mostra que não houve mais tempo a perder, a produção se dá num ritmo que nem sempre autores jovens conseguem manter. Os primeiros livros de Ferreira, de títulos onomatopeicos, surpreenderam pela invenção narrativa e vocabular. Surgia de fato uma voz com frescor: "Araã!" (2002), "Erefuê" (2004), "Zaratempô!" (2005) e "Catrâmbias!" (2006). Aquele que seria o sexto ele desistiu de publicar. Uma nova fase o levou a um intervalo um pouco maior de livros. Os dois recentes, menos heterodoxos, são emocionalmente mais densos, as perdas e a finitude em perspectiva, com títulos que, como diz, são "quase um miniconto": "Minha Mãe Se Matou sem Dizer Adeus" (2010) e "O Mendigo Que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam" (2012). Para concluir o próximo, "Nunca Houve Tanto Fim como Agora", escreve "toda hora, em qualquer lugar", quase sempre nos cafés de duas livrarias, para onde caminha pela manhã e à tarde. Os exercícios o fazem manter a agilidade, o prumo e a forma.

Para quem for reparar, os que iniciam sua trajetória na maturidade impressionam pela quantidade de ideias que põem no papel. Maria Valéria Rezende, de 71 e pouco mais de uma década de trajetória, tem hoje quatro romances "prontos" na cabeça, cada um com cerca de 70 páginas escritas. Já teve seu enfarte, durante uma Flip de que participou como convidada, em 2006, em meio a sucessos como "O Voo da Guará Vermelha", com mais de 20 mil exemplares vendidos por aqui, edições em Portugal, Espanha e França. O incidente a fez precavida. Quando surge uma ideia com a "voz narrativa" que lhe parece boa, passa noites sem dormir para colocar o que puder no papel: "Acabo o melhor que posso cada capítulo ou equivalente, para que sirvam para alguma coisa se eu bater as botas de repente". A vivacidade do pensamento nem sempre acompanha o ritmo das mãos com artrose. E a vista que já não funciona como antes a deixa cansada mais rapidamente. Ao fim de dois dias, está esgotada.

O mais surpreendente é que a necessidade de encontrar mais tempo não se deve tanto à idade, mas à rotina atribulada que preserva até hoje. Educadora popular, Maria Valéria não para de atender a chamados para consultoria e palestras país adentro. Como a modesta aposentadoria não é suficiente para fechar as contas, reforça o orçamento com um ritmo de traduções diárias do francês, contratadas por uma de suas editoras. Tentou já se inscrever em bolsas de criação literária, mas há cláusulas que ora dificultam por sua idade, região - paulista, vive em João Pessoa (PB) - ou quantidade de livros já publicados - tem já dez, incluindo para o público infantojuvenil. Como diz, ninguém está pensando no "autor maduro de baixa renda".

As palavras de Gal que serviram à juventude dos tempos da militância, "é preciso estar atento e forte", calham nessa hora. "Quem estreia depois dos 50 anos tem de mostrar serviço duplo. Digamos que tem que aparecer como bom autor 'apesar' de não ser tão jovem", avalia um dos mais experientes analistas do mercado editorial, Felipe Lindoso. A hora decerto não ajuda: a busca por autor jovem cresceu recentemente. O episódio mais lembrado nesse movimento é a publicação da primeira antologia só de brasileiros da prestigiosa revista britânica "Granta", escolhidos apenas entre os que têm menos de 40 anos. Não há quem discorde de que há hoje certa sobrevalorização do autor jovem. "Acho importantíssimo que o campo literário se renove. Mas sinto que, às vezes, a imprensa e a crítica descuidam do exame da carreira de alguns autores mais experientes", observa Lindoso.

Idades à parte, a grande dificuldade a afetar autores é publicar o primeiro livro, observa Maria José Silveira, que dirigiu, com Lindoso e Marcio de Souza, a editora Marco Zero, aberta em 1980. "Depois, é talento, trabalho e, talvez o principal, muita sorte." A experiência não é só do lado de quem edita. Maria José foi uma das que estrearam na ficção na maturidade. Tinha mais de 50. Até então, pensava que a editora seria um atalho para o caminho que desejava seguir, manter um pequeno negócio exigiria, porém, dedicação exclusiva. "Só comecei a escrever, realmente, quando a editora caiu em outras mãos. E quem se dedica a escrever com gosto, como é meu caso, necessariamente produz." Em uma década de trajetória, publicou seis romances - o sexto, que acaba de sair, é "Pauliceia de Mil Nomes" -, cerca de 17 livros infantojuvenis, duas peças de teatro encenadas, e crônicas escritas quinzenalmente para "O Popular", jornal de Goiânia.

A atual e relativa efervescência do mercado de ficção nacional contrasta com um período anterior de quase inércia. Como lembra Luciana Villas-Boas, que dirigiu o departamento editorial do grupo Record por 17 anos e hoje atua como agente literária baseada no Rio e em Nova York, nas décadas de inflação galopante a literatura nacional foi de certo modo esquecida pelos editores brasileiros:

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"Toda uma geração de autores nascida entre o pós-guerra e os anos 70 praticamente não encontrou canais editoriais para se expressar". O mesmo relata Lucia Riff, dona da maior agência literária em atuação no país há mais de duas décadas. Os que têm entre 50 e 70 hoje foram os que encontraram mais dificuldades para publicar, comenta: "Justamente a turma que tem hoje essa idade pegou uma fase do mercado em que tudo estava complicadíssimo. É claro que muita gente bacana conseguiu furar as dificuldades e fez sucesso, mas as dificuldades foram infinitamente maiores".

Desse tempo em que publicar era mais difícil se recorda Ivana Arruda Leite, de 61, autora de, entre outros, "Falo de Mulher". Escreve desde os 14 e não adiou a estreia porque quis. As editoras pouco se abriam; quando se abriam, não ajudavam muito a repercutir autores novos. A virada se dá quando, ali pelos 50, é incluída numa famosa antologia preparada por Nelson de Oliveira, que conheceu nos encontros que surgiram em torno do sebo de Ferreira. Entre uma maioria na casa dos 30, dizia, para brincar, que era "a mais velha da 'geração 90'". Com outro "habitué" dos cafés, o escritor e agitador cultural Marcelino Freire, teve ajuda para que sua obra alcançasse uma editora. Foi por aqueles dias que nasceu o blog Doidivana, que a tornaria popular na internet, território em que predominam jovens.

A idade não limita, antes amplia: tanto a adolescência quanto a madureza servem de temas. Dois exemplos. Em 2003, Ivana publicou "Confidencial - Anotações Secretas de Uma Adolescente". Em 2011, organizou uma antologia com autores que, como ela, estavam prestes a completar 60 anos, a "60 Tão".

A procura pelos jovens não é tanto no mercado brasileiro. Ocorre mais lá fora, concordam as agentes literárias ouvidas pelo Valor. "É claro que em qualquer lugar do mundo o autor jovem é bem-vindo porque significa que, uma vez tendo uma estreia literária bem-sucedida, supostamente dará a sua editora muitos outros títulos capazes de atrair os leitores", explica Luciana Villas-Boas. "Nos últimos anos, essa expectativa tem sido relativizada porque os laços entre autor e editora se enfraqueceram." Dos autores que atende, os mais bem-sucedidos lá fora estão coincidentemente na ponta oposta. Francisco Azevedo, de "O Arroz de Palma", e Edney Silvestre, de "Se Eu Fechar os Olhos Agora", estão ambos na faixa dos 60. "O que indica que, estando o editor diante de uma obra de evidente qualidade literária, a idade não chega a ser um impedimento."

Lucia Riff confirma: "Para venda no exterior, a idade do autor, infelizmente, tem sido levada em conta. Como se contrata pouco, os editores estrangeiros tendem a escolher, entre as boas opções, os autores mais jovens, até inéditos. Parece uma maluquice que se valorize tanto o autor de alto risco, mas é o que acontece". Em sua Agência Riff, tem autores de todas as idades, sem limite - um deles, Maria Valéria Rezende. "Confesso que tenho certa alergia a pensar em autores em termos de idade, de rótulo. Então é bom só porque é jovem? Ou é bom porque é da geração x ou y ou z?" Para equalizar diferenças a fim de abrir oportunidades em igual medida, a revista "Machado de Assis", editada pela Fundação Biblioteca Nacional como parte do esforço iniciado para divulgar a literatura brasileira no exterior, tem se preocupado com a diversidade de idade, de regiões e de gêneros, explica Lindoso, responsável pelo projeto.

Entre autores maduros em grande produção, há os que, tendo iniciado sua trajetória até relativamente jovens, parecem viver seu esplendor depois de certa idade. Zulmira Ribeiro Tavares, aos 83, tem quase ao mesmo tempo dois livros muito elogiados na praça, "Vesúvio", de poesia, "Região", de prosa. Não se deve no entanto pensar que há algum tipo de padrão. "O cuidado aqui é não transferir a exterioridade de uma categoria, a de juventude, para outras categorias, igualmente externas à literatura e à arte, como maturidade ou senilidade", pondera o crítico literário Alcir Pécora, professor da Unicamp, um dos que rejeitam antologias que usam idade como recorte. "Se é irrelevante a ideia de uma literatura de jovens, também o é a ideia de uma literatura de velhos ou de madurões. Acho que o talento ou, ao menos, o grande talento, é uma categoria radicalmente indeterminada: não tem a ver com idade, como não tem a ver com aparência física ou nacionalidade."

Folha de S. Paulo - Coletânea resgata Álvaro Lins, autor ignorado pelo cânonePor não ser adepto da linha marxista ou estruturalista, pernambucano foi excluído da discussão acadêmica

Rodrigo Gurgel

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(02/02/2013) A injustiça que a crítica literária e a universidade cometem, há décadas, contra o pernambucano Álvaro Lins começa a ser refutada com a publicação de "Álvaro Lins - Sobre Crítica e Críticos" (org. de Eduardo Cesar Maia, Companhia Editora de Pernambuco).

Não há grandiloquência na afirmação acima. Alvo dos clichês que substituem a verdade -é sempre mais cômodo repetir o senso comum ou extrair de um longo ensaio a frase impactante-, Lins foi esquecido no limbo em que vagam os críticos desobedientes às cartilhas do marxismo e do estruturalismo.

Arbitrariedade, aliás, contraditória, pois ele era chamado, em 1962, de "clérigo da esquerda" -epíteto que surge em uma das epígrafes da sétima série do seu "Jornal de Crítica".

DIGNIDADE DA CRÍTICA

A coletânea organizada por Maia reúne, de 1940 a 1963, reflexões sobre os objetivos e o papel da crítica literária, incluindo avaliações de críticos que influenciaram Lins ou foram seus contemporâneos, como José Veríssimo, Tristão de Ataíde (Alceu Amoroso Lima), Augusto Meyer, Otto Maria Carpeaux e outros.

Publicados em ordem cronológica, os textos mostram a transformação do crítico, de católico a cético e materialista, mas imutável na defesa da independência da literatura, que ele entendia como "gnose", um dos meios para autores e leitores conhecerem o homem e a realidade.

Sua visão de que a crítica literária "não é só apreciação ou julgamento no plano subjetivo" e "não pode se fechar nos limites de um seco objetivismo, não pode ser uma prisioneira das leis e dos conceitos de outras ciências" também permaneceu inalterada.

Segundo Lins, "um simples objetivismo não teria forças para criar mais do que uma figura de erudito. Um simples subjetivismo, por sua vez, não teria forças para criar mais do que uma figura de divagador".

Se ainda vivesse, veria, com desagrado, que muitos dos supostos objetivistas de agora conduziram a crítica literária de volta ao que ele mais criticava nos subjetivistas de sua época: o "desembestado verbalismo".

Em 1957, apontava as "estreitezas e friezas" da "nova retórica" utilizada pelos adeptos do "new criticism".

Otimista em relação às conquistas da Semana de 22, alertava para "a despreocupação da forma, da linguagem, do estilo" -o "desprezo deliberado e voluntário" de certos escritores modernistas "em face da beleza formal".

E jamais abdicou do seu "propósito invariável": o de, ao fazer crítica literária, "procurar a verdade e exprimi-la sem qualquer outro interesse que não seja o da literatura".

Para ele, "julgar é um testemunho da dignidade da crítica" -e por esse motivo é exercício que "não fica bem nas mãos dos conformistas, dos frágeis, dos frívolos".

Crítico que não se refugiava sob o verniz dos jargões, norteado pela ética e disposto ao diálogo, Álvaro Lins é o intelectual por excelência, obrigatório nos dias de hoje.

Estado de Minas - Desobediência saudável

Carlos Herculano Lopes

(04/02/2013) Com muitos anos de estrada e vários filmes premiados, o fotógrafo, produtor e cineasta Fábio Carvalho, sempre irrequieto e em busca de novas possibilidades, estreia na literatura. Esta noite, ele autografa o livro Parábola do voo livre, no Café Book, em BH.

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Trata-se de uma coletânea de crônicas, ensaios e pensamentos que podem ser lidos como ficção ou fragmentos autobiográficos. Todos vêm recheados de lembranças, episódios com outros cineastas ou andanças pelas ruas e bares de Belo Horizonte. O mosaico de textos convida ao sonho e à reflexão.Belo-horizontino nascido em 1963, Fábio começou sua carreira na década de 1980, quando filmou Imaginação, em super-8. De lá para cá, realizou dezenas de trabalhos, como o longa O general (2003) e os curtas Geografia do som (2001) e Encontro com Bardem (1998). Em formato digital, que concentra a maior parte de sua obra, o diretor rodou, só no ano passado, Minas, música e futebol, Nelson em Ouro Preto e David Lynch no BH Shopping.Em uma das crônicas de Parábola do voo livre, “O mundo de Aron Feldman”, que também rendeu curta homônimo, Fábio fala de sua convivência com esse notável cineasta, que morou muitos anos em Belo Horizonte. “Aron foi a figura mais amável que tive o privilégio de conhecer. Lembro-me de quando um amigo em comum, o João, me levou de moto à sua casa, no Alto da Serra, para fazer a câmara de Finito ou infinito, filme em super-8 que ele iria realizar...”Em outro texto sobre cinema, Fábio lembra o longa Tragam-me a cabeça de Alfredo Garcia, que, para ele, foi o melhor filme do diretor Sam Peckinpah.Com belo projeto gráfico assinado por Isabel Lacerda, o livro tem prefácio assinado por Luiz Rosemberg Filho. Para ele, o cineasta mineiro é um ser indomável, entre falhas e afetos.“Fábio filma com facilidade e escreve legitimando desobediências saudáveis. Incompreendido, sensível, sincero, é o que existe de mais legítimo de Minas para o Brasil”, afirma Rosemberg.

GASTRONOMIAFolha de S. Paulo - Mais uma vez, Brasil decepciona na 'Copa do Mundo' da gastronomia

Para equipe nacional, que ficou em 22º lugar, faltou apoio financeiro para o Bocuse d'Or

França leva o troféu pela sétima vez em competição que acontece a cada dois anos desde 1987

MAGÊ FLORES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

(06/02/2013) Terminou na última quarta-feira, em Lyon, na França, a 14ª edição do Bocuse d'Or, a mais importante disputa internacional de gastronomia. Nessa "Copa do Mundo" de chefs, o Brasil tem ficado longe do pódio.A equipe vencedora foi a França, que levou o troféu pela sétima vez. Com o 22º lugar, o Brasil só ficou à frente do México e do Marrocos.Realizado a cada dois anos, o prêmio existe desde 1987. Foi idealizado pelo chef francês Paul Bocuse, do L'Auberge du Pont de Collonges, na região de Lyon, que mantém três estrelas no guia "Michelin" há 40 anos.Funciona assim: 24 equipes se apresentam diante dos jurados e da plateia. Os competidores têm 5h35 para fazer pratos com carne e peixe.O BRASILEIRODepois de ficar em segundo lugar na seleção da América Latina, Fábio Watanabe, 30, representou o Brasil ao lado do assistente Álvaro Gasparetto, 22. Watanabe, que vive em Mogi das Cruzes, trabalhou no Bacalhoeiro, em São Paulo, e estudou na Suíça.O chef diz que teve de tirar do próprio bolso a verba para pagar alguns ingredientes durante o treinamento.Para ele, pesou a falta de apoio. "Enquanto as outras equipes tinham alguém para comprar os ingredientes, nós fomos atrás de trufa em conserva num supermercado faltando duas horas para começar a competição", conta.De acordo com o presidente da delegação, Marcelo Pinheiro, uma das razões para o mau resultado foi a dificuldade de lidar com os ingredientes. "Só fomos conhecer o peixe (o halibute, que não chega ao Brasil) a dois dias da competição", afirma.'BAIXAR A CABEÇA'Foi a oitava vez que o Brasil participou da competição. Em 1992, a pedido de Paul Bocuse, o chef francês Laurent Suaudeau, no Brasil há 32 anos, iniciou o trabalho de seleção e treinamento de brasileiros para o Bocuse d'Or.

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O papel realizado por Laurent por dez anos hoje é feito pela APC (Associação dos Profissionais de Cozinha).De acordo com Laurent, o mau desempenho se explica não só pela falta de dinheiro. Para ele, o concurso não recebe a devida importância."Por causa de tudo o que está acontecendo [referindo-se a prêmios recebidos por chefs brasileiros e festivais], parece que estamos com tudo, mas, ao chegar lá, percebe-se que não estamos com nada. Então, é baixar a cabeça, assimilar humildemente e fazer acontecer", diz.Foi Laurent quem treinou o chef Jefferson Rueda, hoje à frente do Attimo, para representar o Brasil em 2003.Para Rueda, a diferença entre competidores era gritante. "Nós fomos na maior humildade", diz o chef, cuja equipe ficou em 19º lugar.À Folha, o diretor do Bocuse d'Or, Florent Suplisson, disse que países como Itália e Brasil não têm "a cultura de competição", o que não quer dizer, para ele, que esses países tenham gastronomia ruim. "Os cozinheiros precisam ter um treino melhor em exercícios específicos. Nisso o Brasil pode trabalhar", diz.

OUTROSO Globo - Mudanças na casa de Rui Barbosa

(31/1/2013) O diretor executivo da Fundação Casa de Rui Barbosa, Helio Portocarrero, assumiu ontem, de forma interina, a presidência da instituição. Ele substitui o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, que estava no posto desde 2010 e que agora voltará à pesquisa.— O professor Wanderley é um dos intelectuais mais notáveis do Brasil. Deixa a casa para finalizar um livro — conta Portocarrero. — Fico no cargo pelas próximas semanas e seguirei a linha adotada por ele. Portocarrero, que foi diretor do Museu de Arte Moderna do Rio, diz que a ministra da Cultura, Marta Suplicy, já trabalha na escolha do futuro presidente da fundação, mas não quis antecipar nomes.O cientista político Emir Sader, que foi substituído por Santos na presidência da casa depois de chamar a ex-ministra Ana de Hollanda de “autista”, nega interesse no posto. — Aquilo é um cemitério. Estão há dez anos sem concurso. A última geração está lá sem fazer nada, esperando a aposentadoria. Não tenho interesse nesse cargo porque teria que declarar uma verdadeira guerra em favor da produção.E vai além na crítica: — Não me lembro de nada que Wanderley tenha feito.

Folha de S. Paulo - Morre o curador e crítico Walter Zanini

Nome central na projeção da arte do país no exterior, ele foi o 1º diretor do MAC-USP e realizou duas bienais de SP Historiador incorporou obras de peso ao acervo do museu e ampliou escopo da instituição para incluir vanguarda

(30/01/2013) Um dos maiores curadores e historiadores das artes visuais do país, Walter Zanini morreu ontem, em São Paulo. Ele nasceu em 1925. As causas da morte não foram divulgadas pela família.Depois de estudar história da arte em Roma, Paris e Londres, Zanini foi o primeiro diretor do Museu de Arte Contemporânea da USP, cargo que ocupou entre 1963 e 1978. Ele também esteve à frente de duas edições da Bienal de São Paulo, em 1981 e 1983, e ajudou a projetar o Brasil no cenário global das artes visuais.No comando do MAC-USP, Zanini ajudou a moldar o perfil da instituição formada a partir da doação do acervo do Museu de Arte Moderna. Ele foi responsável pela ampliação de seu escopo e ajudou a incorporar novas linguagens, como vídeo e fotografia, ao acervo do novo museu.Ao mesmo tempo em que buscou analisar o legado da arte moderna a partir do acervo, hoje com quase 10 mil obras, Zanini fez do MAC uma vitrine para novas vanguardas que então se firmavam.Entre as mostras que organizou no espaço, estão individuais de fotógrafos como Brassaï, Henri Cartier-Bresson, e do artista Josef Albers.

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Foi também no MAC sob Zanini que figuras hoje consagradas da arte do país, como Regina Silveira, Cildo Meireles e Artur Barrio, despontaram como grandes nomes.AQUISIÇÕES-CHAVEZanini engrossou o acervo do museu com aquisições de peso de obras de estrangeiros, como Lucio Fontana e Josef Albers, além de modernos, como Lasar Segall e Anita Malfatti, e dos geométricos Ivan Serpa, Waldemar Cordeiro e Franz Weissmann.Numa negociação com a Tate Modern, de Londres, Zanini trocou em 1972 um bronze de "Formas Únicas da Continuidade no Espaço", escultura do futurista italiano Umberto Boccioni, por uma peça do britânico Henry Moore.Mesmo durante o regime militar, Zanini se firmou como um visionário no país. "No Museu de Arte Contemporânea, nossas exposições dedicados a novos experimentos foram mantidos -com certo risco", lembrou Zanini em entrevista ao crítico suíço Hans Ulrich Obrist, em livro publicado pela Cobogó.Ele se firmou como primeiro curador-geral da Bienal de São Paulo de 1981 e continuou na posição na edição seguinte, em 1983.Em sua 30ª edição, o festival Videobrasil deste ano planeja uma homenagem a Zanini, considerado um pioneiro na difusão do vídeo no país. A mostra está marcada para outubro, no Sesc Pompeia.O corpo de Zanini foi velado ontem à tarde no cemitério da Vila Alpina, na zona leste, e seria cremado no local às 16h, após o fechamento desta edição. (SILAS MARTÍ)

Zero Hora - Crônica do humor louco

Porta dos Fundos conquista milhões de fãs e define um formato para a comédia na internet

Carlos André Moreira

(05/02/2013) Para contrapor a ideia de televisão como uma janela para o mundo na sala de visitas, um grupo anárquico de jovens humoristas criou um programa de humor para ser exibido na internet, a “porta dos fundos” do entretenimento.

Criado em agosto de 2012, o programa Porta dos Fundos tornou-se talvez o primeiro fenômeno de audiência nacional na era das redes sociais. O elenco fixo é composto por 11 humoristas, alguns deles conhecidos de atrações no canal Multishow: Fábio Porchat (Meu Passado me Condena), Gregório Duvivier e a namorada deste, Clarice Falcão (Vendemos Cadeiras e O Fantástico Mundo de Gregório). A gênese do grupo se deu dentro de um canal de vídeos do YouTube, o Anões em Chamas, do diretor Ian SBF – também responsável pela direção dos vídeos do Porta dos Fundos –, no qual nomes como Duvivier e Porchat participavam de quadros cômicos.

Com a adesão de Antonio Tabet – conhecido por capitanear o site de humor Kibe Loco –, o grupo fundou outro canal no YouTube, o Porta dos Fundos (www.youtube.com/portadosfundos), com o objetivo de criar programas com periodicidade regular. Um vídeo novo é levado ao ar todas as segundas e quintas-feiras.

Em apenas seis meses, no boca a boca de espectadores que fizeram a fama dos esquetes nas redes sociais, o Porta dos Fundos obteve mais de 89 milhões de visualições no canal. Em dezembro, o projeto alcançou um feito inédito entre as atrações da internet: venceu o prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte na categoria “melhor programa de humor”.

– Cada vez mais, é preciso entender a televisão como algo latu sensu. Não é só o que está no aparelho, é também a internet – diz Gregório Duvivier, 26 anos, que atua ainda como roteirista da série Louco por Elas.

A disposição de fazer humor inteligente e desbocado sem poupar ninguém também contribuiu para a fama da trupe. Os esquetes zoam com marcas famosas, e a popularidade dos vídeos levou algumas delas a responder. O restaurante Spoleto, satirizado em um vídeo que terminava com um atendente surtado cobrindo uma cliente de palmito, contratou o grupo para fazer anúncios em forma de comédia. A Coca-Cola teve sua promoção “nome na lata” transformada em um vídeo no qual um caixa de supermercado dizia para uma cliente desistir de procurar seu “nome bosta”. A empresa criou a imagem da lata com o nome e saudou o grupo em seu canal oficial no Facebook.

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– Essa é a vantagem da internet. Nenhum canal aceita falar de marca, nem o fechado, nem o aberto, porque é a marca que paga o canal. Na internet, a gente faz o humor do nosso jeito – diz Duvivier.

O grande número de integrantes – em um grupo no qual boa parte do elenco também é roteirista – se reflete na diversidade dos esquetes. Há desde humor nonsense influenciado por Monty Python até crônicas provocativas do cotidiano. O sucesso será testado em breve em um longa-metragem que deve ser rodado no segundo semestre, com direção de Ian SBF.

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