assoreamento do baixo rio de contas

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    O ASSOREAMANETO DO BAIXO CURSO DO RIO DE

    CONTAS: UMA ABORDAGEM HIDRULICA E

    SEDIMENTOLGICA

    RIKA V. M. CAMPOS

    Dissertao de Mestrado

    Orientao: Dr. Guilherme C. Lessa

    Universidade Federal da Bahia

    Instituto de Geocincias

    Curso de Ps-Graduao em Geologia

    2002

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    NDICE

    1. INTRODUO.......................................................................................2

    1.1 Levantamento do Problema e Objetivos ................................................................................... 3

    2. ASPECTOS AMBIENTAIS DA REA DE ESTUDO ..........................10

    2.1 Clima .......................................................................................................................................112.2 Hidrologia................................................................................................................................112.3 Aproveitamentos Hidreltricos Existentes.............................................................................. 132.3 Estudos anteriores ...................................................................................................................14

    3. METODOLOGIA ..................................................................................15

    3.1 Anlise fluviomtrica .............................................................................................................. 153.2 Anlise dos depsitos sedimentares e fauna de foraminferos associada................................183.3 Circulao de gua do baixo curso do rio de Contas ..............................................................20

    4. RESULTADOS.....................................................................................23

    4.1 Hidrologia................................................................................................................................234.1.1 Amortecimento da onda de cheia ...............................................................................................264.2 Granulometria, morfoscopia e mineralogia dos sedimentos superficiais de fundo.................314.3 Fauna de foraminferos............................................................................................................40

    4.3.1 Primeira campanha de amostragem.................................................................................404.3.2 Segunda campanha de amostragem.................................................................................41

    4.4 Circulao de gua do baixo curso do rio de Contas. ............................................................. 44

    5. DISCUSSO........................................................................................53

    5.1 Hidrologia................................................................................................................................535.2 Depsitos sedimentares........................................................................................................... 575.3 Dinmica sedimentar............................................................................................................... 595.4 Circulao e classificao do baixo curso do rio de Contas ................................................... 645.5 Padres de circulao estuarina..................................................................................................... 67

    6. CONCLUSO ......................................................................................70

    7. BIBLIOGRAFIA ...................................................................................72

    1

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    1. INTRODUO

    A palavra rio utilizada para designar o eixo principal de um complexo sistema de

    escoamento denominado bacia de drenagem. Este sistema pode ser dividido em trs subsistemas,

    o de coleta, o de transporte e o de disperso (Figura 1), que geralmente coincidem com o que se

    chama de alto, mdio e baixo curso do rio, respectivamente (Hamblin 1995).

    No sistema de coleta e transporte, o clima, a cobertura vegetal, a litologia e a

    topografia controlam o tipo de carga detrtica a ser fornecida aos rios. O transporte do sedimento

    regulado pela vazo fluvial, que por sua vez possui um padro de variao ao longo do tempo,

    particular a cada rio, denominado de regime fluvial. A vazo possui ainda duas caractersticas

    importantes que so a competncia e capacidade. A competncia relaciona-se ao tamanho das

    partculas que podem ser movimentadas pelo fluxo e a capacidadediz respeito quantidade de

    material que pode ser transportada por unidade de tempo (Leopold et al. 1964). De montante

    para jusante, existe a tendncia de decrscimo gradativo do tamanho dos sedimentos que compe

    a carga de fundo, indicando uma diminuio da competncia do rio. Esta explicada pela

    suposta diminuio da velocidade do fluxo nas regies mais planas da bacia de drenagem

    inferior.

    O sistema de disperso, localizado no baixo curso, se estende at o encontro com omar ou um lago, onde ocorre a deposio e disperso dos sedimentos . A deposio do material

    detrtico ocorre quando h diminuio da competncia ou da capacidade do transporte, causada

    geralmente pela reduo da declividade e aumento do calibre do sedimento e ou volume da carga

    sedimentar. A maneira pela qual os sedimentos se distribuem no momento da deposio vai

    depender do carter e da quantidade da carga sedimentar, bem como do padro de circulao

    operante que altera-se com a gradativa interao com o ambiente marinho.

    A coexistncia dos processos fluviais e marinhos gera um ambiente denominadoesturio. Este caracterizado pela floculao de sedimentos argilosos em suspenso (advinda da

    presena de ons de sal na gua), pela presena de sedimentos marinhos e pela existncia de

    correntes bidirecionais (correntes de mar). A penetrao da gua salina no baixo curso

    limitada pela topografia, pela altura da mar e pela vazo fluvial que, por sua vez, exibe um

    carter sazonal e pode ser modificada em decorrncia de intervenes antrpicas na bacia de

    drenagem.

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    Figura 1 - Diviso do sistema fluvial em subsistemas (modificado de Hamblin, 1995)

    Nos ltimos trs sculos, as atividades humanas aumentaram significativamente suainfluncia sobre as bacias de drenagem. Segundo Mller (1996), intervenes relacionadas com

    a construo de barragens tem significativa influncia nas guas litorais, pois promovem a

    reteno aluvionar nos reservatrios e a regularizao das vazes. A regularizao da descarga

    ocasiona a reduo da vazo mdia anual, diminui a variao sazonal da vazo, alterando a poca

    de ocorrncia de vazes extremas e reduz a magnitude das cheias. A reteno aluvionar, por sua

    vez, gera eroso jusante da represa.

    Assim de se esperar que, apesar da maioria da carga slida do canal ser retida noreservatrio, a diminuio da velocidade do fluxo fluvial jusante favorea a diminuio da

    capacidade de transporte e a deposio antecipada dos sedimentos, principalmente da frao

    mais grosseira. Este efeito pode-se estender at a embocadura onde predominam os processos de

    deposio e onde ocorre a influncia da mar.

    1.1 Levantamento do Problema e Objetivos

    O baixo curso do rio de Contas (Figura 2), localizado no litoral sul da Bahia, sofreu

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    um sensvel processo de assoreamento nas ltimas duas dcadas. De acordo com informaes

    colhidas entre pescadores em Itacar (Anexo), a formao de vrios bancos arenosos nos ltimos

    30 km do rio tem impossibilitado a entrada de embarcaes de pesca, at mesmo as de pequeno

    porte, para reas montante do canal durante as baixa-mares. J a foz do rio vem sofrendo um

    processo de estrangulamento devido ao crescimento lateral de uma barra arenosa, antes restrita a

    uma pequena rea na margem norte da desembocadura. Relatos histricos e documentos

    iconogrficos (Anexo) indicam a entrada de grandes embarcaes no porto para o transporte e

    exportao de cacau durante a dcada de 30 (Figuras 3 e 4) local este que hoje condiciona uma

    plancie de mar (Figura 5). O crescimento lateral da barra na foz do rio, em direo ao sul, fora

    ainda o desvio do talvegue, que agora erode uma rea marginal da cidade que, de acordo com a

    memria histrica, sempre esteve morfologicamente estvel (Figura 6).

    O Plano diretor de Recursos Hdricos da Bacia do rio de Contas (1993), realizado

    pela Secretaria de Recursos Hdricos (SRH), identificou um elevado nvel de assoreamento ao

    longo de praticamente todo o seu leito, fazendo-se sentir em dois pontos bem distintos no baixo

    curso fluvial: o primeiro logo jusante do canyon de Taboquinhas (Figura 2), onde se observa a

    presena de solo arenoso de origem aluvionar nas margens, que em alguns pontos, constituem

    barrancos com mais de 2 metros de altura, chegando a avanar mais de 4 metros pelas margens, e

    o segundo ponto na rea de foz do rio onde a carga sedimentar trazida pelo rio em funo das

    baixas velocidades do fluxo e remanso das mars vem se depositando, proporcionando o

    surgimento de extensos bancos de areia e recobrindo a rea de manguezal. (SRH 1993).

    Na bacia do rio de Contas, localizada na poro central do estado da Bahia (Figura 2)

    duas represas de maior porte, Pedras e Funil, foram construdas no mdio e alto curso para

    regularizao da vazo e produo de eletricidade na dcada de 60. Outros cinco projetos de

    irrigao tambm foram estabelecidos em Marcolino Moura, Jussiape, Itanag, Lagoa Real e

    Condeba, na dcada de 40 e 50 (CEPLAB 1979; DNOCS 1972) (Figura 2). No entorno dabacia dezenas de pequenos e mdios audes localizados principalmente no alto e mdio curso em

    afluentes primrios e secundrios foram construdos, e so utilizados para a manuteno de

    cultivos agrcolas de pequeno porte.

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    Figura 2. Localizao da bacia do rio de Contas e seu baixo curso em destaque.

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    Figura 3. Localizao do antigo porto de exportao de cacau na cidade de Itacar na dcada de 30.

    Figura 4. Operaes de embarque das sacas de cacau no porto.

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    Figura 5. Situao atual (2000) da regio do antigo porto.

    ANTIGOPORTO

    ESPORO

    Figura 6. Vista area da desembocadura do rio de Contas na cidade de Itacar (BA) (1992).

    Duas hipteses, complementares ou no, podem ser levantadas para explicar o

    processo de assoreamento e a reduo da rea da desembocadura fluvial, so elas:

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    1 - Diminuio do deflvio mximo: a capacidade de transporte das correntes (volume

    total de sedimentos que o fluxo consegue transportar), varia direta e exponencialmente com a

    vazo fluvial, de forma que uma pequena diminuio das vazes mximas do rio pode causar um

    processo de deposio sedimentar relativamente acentuado. Por outro lado, o efeito de molhe

    hidrulico exercido pela ejeo da corrente fluvial no oceano fica reduzido, propiciando a

    deposio de sedimentos transportados ao longo da costa frente da desembocadura fluvial.

    Causas para a reduo da vazo fluvial podem estar relacionadas implementao de projetos de

    irrigao e construo das barragens (Alves 1993), estas ltimas responsveis por um provvel

    amortecimento do caudal de cheia do rio jusante da mesma. Como a barragem de Pedras foi

    projetada para diminuir o caudal de cheias, de se esperar que estes efeitos estejam ocorrendo.

    No entanto, no existe ainda uma avaliao da real operao dos barramentos e do grau de

    impacto que estes esto causando no escoamento do baixo curso.

    2 - Entrada de sedimentos marinhos: em esturios rasos e bem misturados (sem

    estratificao da coluna dgua), o transporte de sedimentos de fundo (por trao) devido ao

    da mar pode prevalecer durante o fluxo de mar enchente (Dronkers 1986). As mars ao se

    propagarem ao longo de um canal fluvial sofrem, comumente, uma distoro devido ao atrito

    com o fundo, o que acarreta intervalos de tempo desiguais de enchente e vazante (menores na

    enchente). Perante a inexistncia de um fluxo fluvial importante, esta distoro gera fluxos de

    mar enchente mais velozes que fluxos de mar vazante, o que se traduz em um transporte

    resultante de sedimentos para dentro do rio (Aubrey 1986, Fry & Aubrey 1990). A possvel

    reduo da vazo fluvial levantada na hiptese acima permite supor que uma fraca tendncia

    anterior de transporte de sedimentos marinhos pelas correntes de mar, tenha sido acentuada.

    Sendo assim, o presente trabalho objetiva o levantamento hidrulico/sedimentolgico

    do baixo curso do rio de Contas e sua rea estuarina, de forma a avaliar as causas do processo de

    assoreamento existente. Para tanto, ser realizada a investigao de 3 pontos especficos:

    1 o grau de amortecimento das cheias devido operao dos barramentos, atravs de anlise

    das sries histricas de dados de vazo montante e jusante das represas;

    2 a natureza dos depsitos sedimentares da superfcie do fundo do rio, com base na textura e

    composio dos sedimentos, procurando identificar as possveis reas fontes de sedimento, os

    sedimentos e as variaes sazonais de distribuio destes devido maior ou menor contribuio

    do escoamento fluvial;

    3 a circulao de gua na rea estuarina, procurando determinar o grau e a rea de influncia da

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    circulao de mar e o potencial para o transporte de sedimentos marinhos rio adentro.

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    2. ASPECTOS AMBIENTAIS DA REA DE ESTUDO

    A bacia do rio de Contas est localizada na poro centro sul do Estado da Bahia,fazendo parte das bacias que desguam no litoral central do Estado da Bahia, (CEPLAB 1979).

    Delimitada pelas coordenadas de 12 55 S a 15 10 S e de 39 00 W a 42 35 W (Figura 2),

    destaca-se por ser a maior bacia totalmente inserida no estado, ocupando uma rea de 55.334

    km2 , equivalente a 10,2% do territrio baiano. O curso superior do rio de Contas est encaixado

    numa paisagem montanhosa e a partir da cidade de Cristalndia passa a receber a contribuio de

    afluentes como o rio Brumado e Gavio. O mdio curso, entretanto, atravessa uma regio semi-

    rida com muita influncia de rios intermitentes. J jusante da cidade de Ipia (incio do baixo

    curso), volta a receber contribuio de vrios rios perenes de pequeno e mdio porte, com

    destaque para o rio Gongoji (Figura 2), o afluente de maior importncia nesta regio.

    Informaes geo-ambientais a respeito do alto e mdio curso do rio de Contas, so

    relativamente abundantes, porm so escassas as informaes relativas ao baixo curso do rio,

    onde apenas o mapeamento geolgico da plancie costeira foi realizado (Bittencourt 1979;

    Martin et al., 1980).

    Na plancie costeira, o rio de Contas estabelece-se ao longo de um falhamento que

    delimita duas zonas com caractersticas geomorfolgicas e fisiogrficas distintas (Bittencourt et

    al 1979). A margem norte do rio caracterizada por uma plancie constituda de depsitos

    quaternrios arenosos, com uma srie de alinhamentos de cristas de praia, extensos embaimentos

    e lagoas. Na margem sul, o embasamento cristalino encontra-se em contato com o mar, os arcos

    praiais se tornam pequenos e os depsitos quaternrios so pouco desenvolvidos. A regio

    costeira caracteriza-se por um regime de micro-mesomars segundo classificao de Davis &

    Hayes (1984), com altura mxima em torno de 2,1 m, nos perodos equinociais (DHN 1996,1997). A rea sujeita ao processo de assoreamento engloba a poro final do baixo curso do rio

    de Contas, compreendendo um percurso de aproximadamente 30 quilmetros (Figura 2).

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    2.1 Clima

    O clima na bacia de grande variabilidade espacial. Na regio do alto e mdio curso

    do rio na classificao de Kppen (Figura 7) o clima do tipo BSwh, do tipo DdA segundo

    Thornthwaite & Matther (Figura 7). Estes dois tipos climticos indicam um clima quente decaatinga (semi-rido); com chuvas de vero e perodo seco bem definido de inverno, com

    temperatura mdia superior a 18C e ausncia de excedente hdrico (SEI 1998). Segundo a

    CEPLAB (1979), o regime pluvial do alto e mdio curso da bacia caracteriza-se pela existncia

    de duas estaes bem marcadas; um perodo seco geralmente entre maro e outubro e um

    perodo mido de novembro a fevereiro.

    Observa-se nas zonas de altimetria elevada, um clima definido como um clima

    mido a submido, tipo mesotrmico (Figura 7), onde a temperatura do ms mais frio inferior a

    18C. No mdio curso inferior o clima do tipo Af, de acordo com Kppen, e do tipo

    C1dB, segundo Thornthwaite & Matther (Figura 7). Este clima definido como tropical

    chuvoso de floresta, que varia do submido ao seco e temperatura mdia anual situando-se em

    torno de 22 C e de pequeno excedente hdrico. De acordo com a CEPLAB (1979), os valores de

    precipitao neste regio variam de 1570 a 2480 mm/ano.

    Na regio litornea, segundo Kppen, o clima tambm do tipo Af e segundo

    Thornthwaite & Matther do tipo B3rA (Figura 7), ou seja, mido com nenhuma deficincia

    hdrica, com EP (evapotranspirao) >1140 mm e precipitao maior que 120 mm em todos

    meses do ano. Nesta regio, a temperatura mdia anual situa-se em torno de 24,5 C, com chuvas

    uniformemente distribudas ao longo do ano, sendo caracterstico o excedente hdrico da ordem

    de 1091 mm (SEI 1998).

    2.2 Hidrologia

    O regime fluvial do rio de Contas de carter essencialmente torrencial, j que as

    irregularidades pluviomtricas ao longo do ano causam acentuada variabilidade nos seus

    deflvios. O rio apresenta-se perene em todo o seu curso, porm a maioria de seus afluentes so

    intermitentes. Existem grandes diferenas dos deflvios ao longo da bacia, chegando-se a

    registrar valores nulos nos meses mais secos (Ipia/Jequi), quando a grande perda de gua por

    evaporao, devido aos rigores do clima semi-rido, contribui consideravelmente, para a

    diminuio do volume dgua. J na direo do litoral os deflvios elevam-se novamente, no

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    apenas devido ao clima mais mido, mas tambm pela presena de reservatrios subterrneos

    com capacidade de manter os deflvios em poca de estiagem (CEPLAB 1979). Embora

    ocorram deflvios baixos ou mesmo nulos, as condies fisiogrficas regionais da bacia

    permitem a formao de grandes enchentes localizadas na vertente ao norte de Jequi (CEPLAB,

    1979).

    Figura 7. Classificao climtica segundo Thornwhaite (A) e Kppen (B) (SEI 1998).

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    2.3 Aproveitamentos Hidreltricos Existentes

    Segundo o Plano Diretor da Bacia do rio de Contas (1993), a bacia hidrogrfica

    bem dotada de recursos hdricos e condies topogrficas para a produo de energia eltrica,

    possuindo apreciveis desnveis naturais nas regies das nascentes e caudais elevados na porooriental, j prximo sua foz. Os aproveitamentos hidreltricos atualmente existentes e

    operantes no curso fluvial principal consistem de duas usinas de represamento, as usinas Pedras e

    Funil, que comearam a operar conjuntamente a partir de 1969. As usinas de represamento so

    aquelas que possuem um reservatrio com uma razovel capacidade de regularizao e, por esta

    razo, podem modular as descargas de forma conveniente ao sistema de gerao de eletricidade.

    Desta forma, pode-se trabalhar com vazes regularizadas.

    a)Barragem de Pedras

    A usina hidreltrica de Pedras (Anexo) foi implantada entre 1964 e 1969 pelo

    DNOCS no rio de Contas e fica localizada a 18 km a montante da cidade de Jequi, sendo

    atualmente operada pela CHESF- Companhia Hidroeltrica do So Francisco (SRH 1993). Com

    capacidade de acumulao de 1,7 bilhes de metros cbicos, constitui um reservatrio criado

    para controle de cheias com perodo de retorno menor ou igual a 25 anos e que foi aproveitado

    posteriormente para a gerao de energia eltrica, mais precisamente a partir de 1978. A

    capacidade extravasora da UHE Pedras na sua cota normal de operao de 6772 m3/s. Suadrenagem abrange uma rea de 38.720 km2, com vazo mdia para perodo seco de 12 m3/s e

    para perodo mido, de 60 m3/s (Engenheiro San Martin, CHESF, comunicao pessoal). O

    volume de espera para a barragem da Pedra de 45.000.000 m3, cota 228,0 m anos e uma

    restrio de jusante igual a 800 m3/s. De acordo com o seu manual de operao para controle de

    cheias, a experincia vivida nas ltimas cheias, mostrou que possvel definir descargas de at

    1200 m3/s, sem causar inundaes jusante, desde que no haja contribuies considerveis dos

    afluentes jusante, principalmente o rio Jequiezinho, localizado na margem esquerda.Atualmente, gera um efeito regularizador sobre o baixo vale , visando sobretudo garantir a vazo

    para as 3 turbinas da UHE Funil. Para isso so necessrios 90 m3/s, dos quais 60 m3/s so

    garantidos pelo reservatrio de Pedra, e os 30 m3/s restantes, pela contribuio lateral do

    corredor Pedra-Funil.

    b)Usina do Funil

    Trata-se de uma usina construda pela antiga Centrais Eltricas do rio das Contas

    CERC, sendo atualmente operada pela CHESF que funciona a fio dgua. Teve seu perodo de

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    construo compreendido entre os anos de 1954 e 1962. Sua capacidade de armazenamento da

    ordem de 53 milhes de m3, aproximadamente 3% do volume da UHE Pedras, sendo que o

    assoreamento atual, da ordem de 45 m de coluna de sedimento, diminui esta capacidade. Com

    finalidade de explorao de energia eltrica, possui uma vazo mxima de 4135 m3/s, sendo sua

    vazo mdia para perodo seco de 15 m3/s e para perodo mido de 90 m3/s (Engenheiro San

    Martin, CHESF, comunicao pessoal). A operao da Barragem de Funil durante o perodo

    mido, devido sua condio de usina a fio dgua, no exerce nenhuma ao de controle de

    cheias

    2.3 Estudos anteriores

    O monitoramento da vazo das principais bacias hidrogrficas no estado da Bahia

    tem sido realizado principalmente por rgos governamentais estaduais (SRH, EMBASA)

    quanto federais (ANEEL, CHESF) visando o planejamento dos recursos hdricos. Apenas um

    estudo, no entanto, privilegia a anlise dos dados fluviomtricos em trechos contnuos da Bacia

    do rio de Contas, sendo ele o Plano Diretor da Bacia Hidrogrfica do rio de Contas (1993),

    elaborado pelo Governo do Estado da Bahia atravs da Superintendncia de Recursos Hdricos

    do Estado da Bahia - SRH. Esse estudo teve como objetivo a determinao das disponibilidades

    hdricas superficiais da bacia visando o planejamento, implantao e operao de unidades

    fsicas e institucionais, voltadas ao aproveitamento dos recursos hdricos.

    Assim, no que diz respeito ao comportamento fluviomtrico da bacia, o estudo

    definiu, alm das estaes de medio de descargas mais confiveis Brumado, Santo Antnio,

    Jequi, Ipia, Gongoji, Ubaitaba -, uma regionalizao das vazes principalmente devido

    variabilidade climtica da bacia e presena ou no de sub-redes de drenagem de carter perene

    ou intermitente para cada regio, ou seja, alto, mdio e baixo curso.

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    3. METODOLOGIA

    3.1 Anlise fluviomtrica

    Todos os dados hidrolgicos aqui utilizados, com exceo aos referentes estao deUbaitaba 2 que foram fornecidos pela ANEEL (Agncia Nacional de guas e Energia Eltrica),

    foram cedidos pela Superintendncia de Recursos Hdricos do Estado da Bahia. Estes dados

    derivam de curvas chaves (cota-vazo) que foram transformadas em dados de vazo mdia diria

    atravs do programa computacional MSDHD. A tabela 1 lista as estaes e o perodo de

    abrangncia dos dados de cada estao, e a figura 8 mostra um esquema da distribuio espacial

    das estaes antes, durante e aps o perodo de construo das represas.

    Tabela 1. Caracterizao das estaes fluviomtricas analisadas no Rio de Contas (Fonte: DNAEE, 1993)

    Cdigo Estao Distncia da Foz

    (km)

    Drenagem

    (km2)

    Intervalo

    52250000 Brumado 496 4861 1939-1951

    52270000 Santo Antnio 430 16920 1935-1979

    52570000 Jequi 190 42890 1934-1981

    52680000 Ipia 120 47450 1937-1983

    52790000 Gongoji 70 6570 1949-1979

    52830000

    52831000

    Ubaitaba

    Ubaitaba 2

    (jusante)

    57

    57

    56290

    56290

    1936-1987

    1988-1999

    15

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    Figura 8. Modelo esquemtico da distribuio espacial das estaes fluviomtricas e dos barramentos no curso

    fluvial principal em trs momentos. Para localizao da estaes e barramentos veja Figura 2.

    A srie de vazes mximas anuais das estaes localizadas logo jusante dos

    barramentos, ou seja, Jequi e Ubaitaba, foi dividida em dois perodos, com base na data de

    construo dos referidos barramentos (1969), de modo a permitir a comparao do

    comportamento fluviomtrico antes e depois da construo das barragens. As sries temporais

    integrais de todas as estaes (Tabela 2) foram submetidas a anlise estatstica de forma a

    caracterizar a distribuio dos valores de vazo e determinar a freqncia relativa de suas vrias

    classes.

    Tabela 2. Perodos analisados em cada estao fluviomtrica do curso fluvial principal (Fonte: SRH)

    Santo Antnio Jequi Ipia Ubaitaba

    1935-1961

    1962-1968

    1969-1979

    1934-1961

    1962-1968

    1969-1981

    1937-1961

    1962-1968

    1969-1983

    1936-1961

    1962-1968

    1969-1999

    Os perodos associados s maiores vazes foram analisados individualmente de

    forma a caracterizar a propagao das ondas de cheia no curso fluvial, antes da instalao dos

    barramentos . Foram observados os dados dirios de vazo das estaes de Santo Antnio,

    Jequi, Ipia e Ubaitaba em perodos de tempo distintos (antes de 1969). Ainda com o objetivo

    de observar a interferncia dos reservatrios no comportamento da onda de cheia, foram

    16

  • 7/21/2019 assoreamento do baixo rio de contas

    18/77

    comparados os dados de vazo afluente e defluente nestes, com dados fornecidos pela CHESF

    (1999) para toda a dcada de 90.

    Para a identificao do perodo de recorrncia das cheias, as sries temporais

    referentes estao de Ubaitaba (Tabela 3) foram submetidas analise espectral (Anlise deFourier). Esta metodologia permite separar fennemos cclicos existentes em uma srie temporal

    discreta, com intervalo amostral constante e comprimento correspondente a 2n, atravs da

    combinao linear (soma) de funes peridicas sinusoidais e cosenusoidais (Srie de Fourier).

    O mtodo analisa a variao de uma srie temporal como funo de sua freqncia atravs da

    identificao das correlaes das funes seno e coseno de diferentes freqncias com os dados

    observados e, se uma alta correlao for identificada, existe uma forte periodicidade

    (componentes harmnicos) na freqncia considerada (Hegge & Masselink, 1996).

    A anlise espectral foi desenvolvida no software MATLAB. A srie temporal dos

    valores de vazo registrados em Ubaitaba, foi dividida em perodos anteriores e posteriores

    instalao dos barramentos (Tabela 3). Os resultados da anlise espectral expressam os perodos

    de recorrncia de cheias na forma de valores de densidade de energia espectral por freqncia

    (anos). Os valores de energia foram normalizados para facilitar uma melhor comparao dos

    resultados.

    Tabela 3. Perodos utilizados para a anlise espectral.

    Estao Perodo No dedados

    1935-1961 81921961-1968 20481982-1987 2048

    Ubaitaba

    1990-1995 2048

    Com a inteno de verificar a consistncia dos dados de descarga fornecidos pela

    CHESF para as estaes de Ubaitaba, foi feita uma reavalio da curva chave calculada para as

    estaes. Foi observado que a curva para a estao 52831000 (Ubaitaba 2) superestimava a

    vazo de cotas superiores a 220 cm, que corresponde aproximadamente vazes de 300m3/s.

    Sendo assim, duas curvas foram geradas de forma a calcular-se as vazes para cotas inferiores e

    superiores a 220 cm, como mostra a figura 9. Os novos dados gerados serviram como base para

    os clculos referentes esta estao.

    17

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    19/77

    0

    100

    200

    300

    400

    500

    600

    5 5,2 5,4 5,6 5,8 6

    Ln Cota

    Vazo(m3/s)

    Y= -5702,572+(LN(O92)*1061,915)

    R2 = 0.97

    Y = -1076,698+(LNX*209,8856)R2 = 0,82

    Figura 9. Curvas chave geradas para a estao Ubaitaba 2 (1987_1999)

    3.2 Anlise dos depsitos sedimentares e fauna de foraminferos associada.

    O baixo curso do rio de Contas relativamente retilneo, com pequeno desnvel

    altimtrico A regio de mistura das guas fluvial e marinha, sugerida pela presena dosmanguezais, compreende os cinco quilmetros finais do rio.

    A fim de caracterizar os sedimentos superficiais de fundo e identificar a origem do

    sedimento que est se acumulando na parte final do baixo curso fluvial (Figura 2), foram

    realizadas duas campanhas de coleta de sedimentos no trecho que compreende os 13 km finais

    do rio. A primeira campanha foi realizada em agosto de 1998 em um perodo de baixa descarga

    fluvial. Nesta ocasio, quando os valores de vazo no ultrapssaram a 100 m3/s dirios, foram

    coletadas sessenta amostras na regio costeira prxima e nos treze quilmetros finais do rio. Asegunda campanha foi realizada em junho de 1999, aps a anlise dos dados da primeira

    campanha, em um perodo de maior descarga fluvial (em mdia 250 m3/s dirios). Nesta

    campanha foram coletadas trinta e uma amostras nos cinco quilmetros finais do rio e na regio

    costeira prxima. A distribuio os pontos de coleta nas duas campanhas mostrado na figura

    10.

    Na segunda campanha privilegiou-se a coleta mais detalhada nos cinco quilmetros

    finais do rio em virtude dos resultados da primeira campanha mostrarem que os sedimentos dos

    18

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    20/77

    locais mais interiorizados (entre 12620 m e acima da embocadura) apresentaram uma

    padronizao de resultados diferentemente dos sedimentos localizados mais prximos

    embocadura. Alm disso, o mal tempo dificultou a reproduo dos pontos de coleta na regio

    costeira prxima nos mesmos pontos da primeira sada.

    As amostras foram coletadas com um amostrador de mandbula do tipo Van Veen e

    suas posies foram referenciadas com ajuda de um GPS. Ainda no campo, uma frao de cada

    amostra foi acondicionada em frasco contendo uma mistura do corante rosa de bengala e lcool

    (1g/1000ml), com a finalidade de corar o protoplasma dos organismos vivos.

    As amostras foram analisadas em laboratrio pela aluna Cristiane Neres (IC

    CNPQ), e parte dos resultados encontram-se publicadas por Anjos et all. (1999). As amostras

    para a anlise granulomtrica foram pesadas e peneiradas mido em uma peneira de malha 62

    mm para a remoo dos finos. A frao retida na peneira foi quarteada e submetida a

    peneiramento em intervalos de 0,5 Phi, durante vinte minutos. A classificao dos sedimentos

    retido na peneira foi feita pelas frmulas de Folk & Ward (1967 apud Suguio 1973) com o

    auxlio do software SysGran. Da classe modal de cada amostra, 100 gros foram analisados

    mineralogica e morfoscopicamente, sendo que os critrios usados para a descrio da forma dos

    gros foram baseados em Friedman & Sanders (1978) e para a descrio mineralgica em Dana

    (1969). A porcentagem de carbonato tambm foi calculada atravs da diferena de peso apsqueima com HCl.

    A fauna de foraminferos foi analisada pela aluna Geise dos Santos (IC CNPQ),

    sendo que os resultados desta anlise encontram-se publicados em Anjos et all. (1999). As

    amostras para anlise de foraminferos foram lavadas em peneira de malha 0,062 mm, e de cada

    amostra foi separado um volume de 5cm3 de sedimento mido para a contagem do nmero total

    de organismos corados e carapaas vazias. Em seguida, foram separadas o mximo de 300

    carapaas de cada amostra e montadas em lminas especiais para a identificao das espcies. A

    identificao dos gneros a nvel genrico foi baseada em Leoblich & Tappan (1988) e na

    identificao das espcies foram utilizadas diversas publicaes recentes. Os dados ecolgicos

    das espcies foram baseados em Murray (1991). Na anlise a ser implementada optou-se por

    caracterizar a assemblia de foraminferos bentnicos de modo a auxiliar na delimitao da rea

    de influncia marinha e identificar o potencial de entrada de sedimentos marinhos no rio, j que a

    distribuio das espcies est limitada por condies ambientais restritas como salinidade,

    temperatura, profundidade, substrato e a energia do ambiente.

    19

  • 7/21/2019 assoreamento do baixo rio de contas

    21/77

    Figura 10. Distribuio dos pontos de coleta nas duas campanhas de amostragem.

    3.3 Circulao de gua do baixo curso do rio de Contas

    O baixo curso a parte do sistema fluvial onde h a coexistncia de processos

    fluviais e marinhos, situao esta que pode gerar um ambiente estuarino. Este sofre grandes

    variaes espaciais devido oscilao das mars (de natureza regular e previsvel), da descarga

    de gua doce (natureza imprevisvel), e perturbaes meteorolgicas. O princpio bsico que

    20

  • 7/21/2019 assoreamento do baixo rio de contas

    22/77

    rege a dinmica de circulao em um esturio a diferena de densidade entre as guas (advinda

    da salinidade) e os gradientes de presso gerados pela mar. Sendo assim, durante 2 ciclos

    completos de mar de sizgia e quadratura (07/04/2000 e 11/04/2000), foram realizadas medies

    de salinidade, temperatura e velocidade da corrente de mar em uma estao localizada na

    desembocadura do canal fluvial (Figura 11). As medidas destes trs parmetros foram realizadas

    a cada 2m na coluna dgua, quando possvel, e em intervalos de 0,5 hrs.

    Para a medida de velocidade da corrente, foi utilizado um leme de corrente, que

    permite obter indiretamente medidas instantneas de velocidade atravs do ngulo de desvio

    promovido no instrumento pela corrente no instante da medio (Kjerfve 1989). Para a obteno

    das velocidades de corrente foi utilizada a equao base (Kjerfve 1989) para o clculo da

    velocidade a partir do ngulo produzido pela inclinao do aparelho em relao corrente:

    V = (2 mg/ A CD)0,5* (tan ) 0,5(1)

    onde m o peso do aparelho (peso do leme + lastro), g a acelerao da gravidade (9,8 m/s2, A

    rea do aparelho (0,048 m2), a densidade da gua (adotada arbitrariamente para o valor de

    1020 kg m -3), Cd o coeficiente de atrito, e o ngulo medido pelo aparelho em relao

    vertical. Devido grande variao da velocidade no canal, foram usados dois pesos: 3,075 kg

    para perodos de menor intensidade da corrente e 6,77 kg para perodos de maior intensidade. Asprofundidades de medio no talvegue da seo foram normalizadas em relao ao fundo.

    Amostras dgua foram coletadas com garrafas de Van Dorr, com a temperatura

    sendo aferida por termmetro de mercrio (resoluo de 1C), e a salinidade foi obtida atravs

    de refratmetro ATAGO (resoluo de 1ppm).

    Simultaneamente s medies no canal, foi feito o controle da altura do nvel dgua

    a cada 0,5 h com auxlio de uma rgua graduada em duas estaes (Figura 11): a primeira

    localizada no atual porto da cidade de Itacar, a 500 m da desembocadura e a segunda localizada

    aproximadamente a 8000 m da desembocadura. Os dados de mar ocenica foram obtidos

    atravs da previso de mar com base nas constantes harmnicas principais para o porto de

    Ilhus atravs do programa desenvolvido por Franco (1998).

    No dia seguinte ao monitoramento do fluxo, a distribuio longitudinal da salinidade

    e temperatura foram investigadas acompanhando a propagao da preamar (em sizgia e

    quadratura), medindo-se a salinidade e temperatura a 3 profundidades (superfcie, meio e fundo)a cada 500 metros.

    21

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    Figura 11. Localizao dos pontos de amostragem da campanha de sizgia e quadratura

    22

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    24/77

    4. RESULTADOS

    4.1 Hidrologia

    A figura 12 mostra a variao dos valores mximos de vazo nas estaes de Jequi eUbaitaba antes e depois da construo dos barramentos. Na estao de Jequi, as vazes

    mximas anteriores construo da Barragem de Pedras (1969) atingiam valores acima de 2500

    m3/s. Aps o incio de operao da barragem, estes valores no ultrapassaram 1500 m 3/s,

    evidenciando uma diminuio das vazes mximas nesta estao. Comportamento semelhante

    observado em Ubaitaba onde aps 1969 h uma evidente diminuio dos valores mximos

    anuais. Antes de 1969, as vazes mximas chegavam a atingir valores da ordem de 5000 m3/s e

    aps o incio de operao da Barragem de Pedras e do Funil (1969) as vazes registraram valores

    que no ultrapassaram 3400 m3/s. A figura 11 no mostra apenas a reduo dos valores mximos

    anuais de vazo mas tambm a atenuao da ciclicidade das grandes vazes. As sries temporais

    anteriores aos anos de operao dos barramentos evidenciam a ocorrncia de mais ou menos trs

    grandes vazes anuais em um perodo de 10 anos para as estaes Jequi e Ubaitaba, padro este

    no mais observado em Jequi aps a construo dos barramentos.

    Os resultados da anlise estatstica dos dados de vazo diria (antes de 1962, entre

    1962 e 1969 e depois de 1969) esto apresentados na Tabela 4. De uma forma geral, os valoresmdios de vazo (entre 25 e 70 m3/s) aumentaram aps o incio da operao dos barramentos nas

    estaes localizadas jusante dos mesmos, ao contrrio dos valores de vazo superiores a 70

    m3/s que de uma certa forma diminuram na maioria das estaes. Valores mnimos registrados

    como 0 m3/s devem ao que se chama de "rgua seca" no registro de dados, isto , apesar do fluxo

    existir no h condies de medi-lo, pois o nvel dgua est abaixo do limite mnimo da rgua

    de medio. De acordo com a Tabela 4 e de um modo geral todas as estaes apresentaram um

    aumento dos valores mdios e uma diminuio do valor do desvio padro aps a construo darepresa de Pedras.

    23

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    0

    500

    1000

    1500

    2000

    2500

    30003500

    4000

    4500

    5000

    1939 1944 1949 1954 1959 1964 1969 1974 1979

    Anos

    Vazesmximas(m

    3/s)

    Estao Jequi

    0

    500

    1000

    1500

    2000

    2500

    3000

    35004000

    4500

    5000

    1935 1945 1955 1965 1975 1985 1995

    Anos

    Vazesmximas(m3/

    s) 1969

    Estao Ubaitaba

    Figura 12. Variao dos valores de vazo mxima anual nas estaes de Jequi e Ubaitaba, antes e

    depois da construo dos barramentos.

    24

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    Tabela 4. Parmetros estatsticos analisados nas estaes fluviomtricas do Rio de Contas.

    Estaes Perodo No. de Dados Mdia Desvio Padro Mximo (m3/s) Mnimo (m3/s)

    1935_1961 9789 19,60225 51,15894 2068 0

    1962_1968 2557 36,97935 91,49735 1362 2,28

    Santo Antnio

    FAA OSCALCULOSDE 35 A 68 1969_1979 4017 26,52207 48,40517 552 0,04

    1934_1968 12654 30,57 50,0066 2550 0Jequi

    1969_1981 4564 41,74 33,021 2465 0

    1937_1968 11581 46,46 102,755 2190 0,17Ipia

    1969_1983 5327 59,67 94,8 2433 0

    1936_1961 9295 106,435 209,55 4850 0

    1962_1968 2459 115,176 97,58 4610 0

    Ubaitaba

    (a) 1969 1978

    (b) 1978-1999

    3291

    8042

    92,89

    97,96

    79,93

    177,749

    1290

    3362

    20

    0,361

    (a) quando Pedras somente amortecia cheias (b) quando Pedras passa a gerar energia eltrica

    A figura 13 mostra os resultados da anlise de freqncia de valores de vazo para

    cada estao nos perodos selecionados na Tabela 2. A classe de vazo mais comum em todas as

    estaes a de 0-25 m3/s, que representa at 80% das observaes. Em posio secundria vem

    a classe de 25-75 m3 /s responsvel por at 20% dos valores observados. A partir da, os

    intervalos so menos comuns para todas as estaes, representando sempre menos que 10% das

    observaes. Nas estaes localizadas no alto e mdio curso do rio a frequncia de ocorrncia da

    classe mais comum oscila entre 80 a 90%, valor este que diminui em direo a Ubaitaba onde

    alcana valores que oscilam entre 10 e 20%.

    Na estao de Santo Antnio, a mais interiorizada e montante das duas barragens, a

    freqncia das vazes at 25 m3 /s sofreu um pequeno decrscimo (5%) depois de 1969,

    acompanhado de um aumento menos expressivo (1 a 2%) da freqncia das vazes entre 25 e 50m3/s. As estaes de Jequi e Ubaitaba apresentaram variaes semelhantes, como o decrscimo

    25

  • 7/21/2019 assoreamento do baixo rio de contas

    27/77

    da classe 0-25 m3/s e aumento da 2aclasse mais frequente (25-50 m3/s). Porm para a estao de

    Ipia, a frequncia dos valores mais comuns depois de 1969 sofre um decrscimo (40%) junto

    ao aumento da 2a classe mais frequente (25-50 m3/s) em torno de 25%. Na estao de Ubaitaba,

    observou-se em geral a diminuio da frequncia de valores acima de 150 m3/s aps 1969.

    Jequi

    0%

    10%

    20%

    30%

    40%

    50%

    60%

    70%

    80%

    25 50 75 100 150 300 500 750 1000 5000

    antes 1969 depois 1969

    Santo Antnio

    0%

    10%

    20%

    30%

    40%

    50%

    60%

    70%

    80%

    25 50 75 100 150 300 500 750 1000 5000

    antes 1969 depois 1969

    Ipia

    0%

    10%

    20%

    30%

    40%

    50%

    60%

    70%

    80%

    25 50 75 100 150 300 500 750 1000 5000

    antes 1969 depois 1969

    Ubaitaba

    0%

    10%

    20%

    30%

    40%

    50%

    60%

    70%

    80%

    25 50 75 100 150 300 500 750 1000 5000

    antes 1969 depois 1969

    Figura 13. Anlise de frequncia das vazes das estaes fluviomtricas.

    4.1.1 Amortecimento da onda de cheia

    Para caracterizar o comportamento da onda de cheia no curso fluvial, foram

    escolhidos eventos representativos para a anlise nos anos de 1942 e 1964 (Figura 14). No

    primeiro evento, registrado em 5/12/1942 (Figura 14A), a onda de cheia caracterizada por uma

    vazo de 2000 m3/s na estao de Ipia chega estao de Ubaitaba dois dias depois com uma

    vazo de 4700 m3/s. No evento seguinte, registrado em 21/1/1964 (Figura 14B), a onda de cheia

    caracterizada por uma vazo de 1000 m3/s na estao de Santo Antnio chega em Ubaitaba

    tambm, dois dias depois. Observa-se, no entanto, que neste momento um evento de cheia j

    estava ocorrendo em Ubaitaba e Jequi, havendo desta forma a sobreposio de dois eventos, um

    gerado no alto curso do rio e outro na regio do baixo curso. Desta maneira, pode-se dizer que a

    26

  • 7/21/2019 assoreamento do baixo rio de contas

    28/77

    onda de cheia formada nas cabeceiras do rio no demorava mais do que trs dias para atingir a

    regio de Ubaitaba, onde tambm ocorriam eventos de cheia associados precipitao no

    cinturo mido do baixo curso do rio (ver figura 7).

    Para caracterizar e exemplificar o comportamento da onda de cheia com a presenados barramentos utilizou-se os dados de vazo afluente e defluente registrados nos reservatrios

    de Pedras e Funil na ltima dcada (CHESF, 2000). A figura 15 mostra a vazo associada

    passagem de trs ondas de cheia pelos reservatrios de Pedras e de Funil. Os perodos escolhidos

    se associam aos maiores volumes afluentes registrados nas duas barragens, para a dcada de 90.

    O comportamento destes valores afluentes e defluentes comprovam a atuao efetiva da

    Barragem de Pedras no regime hidrolgico do rio enquanto amortecedora de considerveis

    vazes afluentes, em detrimento da Usina do Funil, com a funo retentora quase queinexistente. Ainda de acordo com o Plano Diretor de Recursos Hdricos (1993), os efeitos do

    assoreamento em Funil foram sentidos logo no primeiro ano aps sua inaugurao (1962),

    chegando a coluna de sedimento a atingir uma altura de 70,40m em 1968. No primeiro evento,

    dia 10/12/95 (Figura 15A), o volume afluente de 840 m3/s na Barragem de Pedras transforma-se

    em um volume defluente de 6 m3/s. Neste mesmo dia um volume afluente na Barragem do Funil

    da ordem de 115 m3/s torna-se defluente registrando o mesmo valor. No segundo evento, no dia

    25/3/1997 (Figura 15B) um volume afluente de 1756 m3/s registrado em Pedras corresponde a

    um volume defluente com um valor de 1200 m3/s. Enquanto isso, um volume afluente em Funil,

    da ordem de 1969 m3/s registra um valor defluente de 1064 m3/s. No terceiro evento, no dia

    22/12/1999 (Figura 15C), um volume afluente de 400 m3/s na Barragem de Pedras registra um

    valor defluente de apenas 6 m3/s enquanto que neste mesmo dia o volume afluente na Barragem

    de Funil da ordem de 258 m3/s torna-se defluente registrando 279 m3/s.

    Uma anlise espectral foi feita para a estao de Ubaitaba para observar o impacto da

    operao da Barragem de Pedras na periodicidade dos grandes eventos. O periodograma dafigura 16 evidencia na estao de Ubaitaba, uma marcada mudana nos padres de oscilao.

    Depois de 1969, oscilaes de carter anual de grande amplitude passam a preponderar nesta

    estao onde antes de 1962, eventos trimestrais e semestrais apresentavam grande amplitude.

    Isto pode ser explicado pela diminuio da influncia das ondas de cheia provenientes alto curso

    fluvial, que antes atuavam conjuntamente com as ondas de cheia geradas na regio do baixo

    curso promovendo oscilaes de grande amplitude de energia em perodos de tempo menores.

    Como as ondas de cheia do alto curso no chegam mais com a mesma intensidade no baixo curso

    27

  • 7/21/2019 assoreamento do baixo rio de contas

    29/77

    devido interferncia dos barramentos, o deflvio perde em intensidade dependendo somente

    das cheias produzidas localmente.

    A0

    1000

    2000

    3000

    4000

    5000

    1 0/ 1 1 / 42 1 5/ 1 1 / 42 20/ 1 1 / 42 25/ 1 1/ 42 30/ 1 1 / 42 5/ 1 2/ 42 1 0/ 1 2/ 42 1 5/ 1 2/ 42 20/ 1 2/ 42 25/ 1 2/ 42

    Vazomxima(m3/s)

    Santo Antnio Jequi Ipia Ubaitaba

    0

    1000

    2000

    3000

    4000

    5000

    4/ 1/ 64 9/ 1/ 64 14/ 1/ 64 19/ 1/ 64 24/ 1/ 64 29/ 1/ 64 3/ 2/ 64

    Vazomxim

    a(m3/s)

    Santo Antnio Jequi Ipia Ubaitaba

    B

    Figura 14. Comportamento natural da ondae cheia produzida na bacia do rio de Contas.

    28

  • 7/21/2019 assoreamento do baixo rio de contas

    30/77

    A

    B

    0

    200

    400

    600

    800

    1000

    1200

    1400

    1600

    1800

    2000

    15/3 /1997 17/3 /1997 19/3 /1997 21/3 /1997 23/3 /1997 25/3 /1997 27/3 /1997 29/3 /1997 31/3 /1997 2 /4/1997

    Vazo(m3/s)

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    350

    400

    450

    18/ 12/ 199 9 20/ 12/ 199 9 22/ 12 /199 9 24/ 12 /199 9 26/ 12 /1 999 2 8/ 12/ 1999 30/ 12/ 1999 1/ 1/ 2000

    Vazo(m3/s)

    Pedras afluente Pedras defluente Funil afluente Funil Defluente

    0

    100

    200

    300

    400

    500

    600

    700

    800

    900

    7/ 12/ 1995 9/ 12/ 1995 11/ 12/ 1995 13/ 12/ 1995 15/ 12/ 1995 17/ 12/ 1995 19/ 12/ 1995

    Vazo(m3/s)

    C

    Figura 15. Volumes afluentes e defluentes dos barramentos de Pedras e Funil.

    29

  • 7/21/2019 assoreamento do baixo rio de contas

    31/77

    Ubaitaba (1970-1982)

    0

    0,2

    0,4

    0,6

    0,8

    1

    0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

    Frequncia (anos)

    Densidadedeenergianormaliza

    da

    Ubaitaba (1935_1961)

    0

    0,2

    0,4

    0,6

    0,8

    1

    0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

    Frequncia (anos)

    Densidadedeenergianormalizada

    Figura 16. Anlise espectral para a estao de Ubaitaba.

    30

  • 7/21/2019 assoreamento do baixo rio de contas

    32/77

    4.2 Granulometria, morfoscopia e mineralogia dos sedimentos superficiais de fundo

    Os resultados da anlise granulomtrica e morfoscpica para as duas campanhas

    (agosto de 1998 e junho de 1999), podem ser visualizados nas tabelas 1, 2, 3 e 4 em anexo. Para

    a apresentao dos resultados as amostras foram referenciadas quanto sua distncia em relao desembocadura.

    De um modo geral, areia mdia moderadamente a mal selecionada predominou nos

    sedimentos das amostras coletadas na primeira campanha (Figura 17). Os sedimentos coletados

    nos primeiros 2 km do rio, assim como os sedimentos coletados na costa prxima, so

    caracterizados por areia fina. montante dos 2 km finais do rio, predominou areia mdia a

    grossa.

    As caractersticas granulomtricas das amostras da 2a campanha (Figura 17)

    mostram, no geral, sedimentos mais finos, especialmente aqueles que se encontram no trecho

    final do rio. Os sedimentos coletados nos primeiros 2,5 km, bem como na zona costeira prxima,

    mostraram uma maior flutuao quanto textura e seleo, em relao primeira campanha.

    Observou-se nos ambientes fluvial (os ltimos 1,5 km do rio) e marinho, sedimentos com a

    predominncia da frao areia fina. Os sedimentos das amostras localizadas a montante de 1,5

    km passam a ter a predominncia da frao areia mdia. A predominncia da frao areia grossa

    s foi observada nas amostras 10 e 29 (veja figura de localizao das amostras)

    Um melhor selecionamento dos sedimentos observado no trecho fluvial. Amostras

    localizadas at 3 km para montante apresentaram mal selecionamento ao contrrio das amostras

    4, 27 e 30 (ver figura 9) caracterizadas por um bom selecionamento.

    A anlise morfoscpica e mineralgica dos gros mostrou maior variedade

    morfolgica e de minerais na primeira campanha (figuras 18 e 19). Gros polidos foram

    encontrados em quantidades que variam de 40 a 100% em todas as amostras da primeiracampanha, sendo que maiores ocorrncias foram encontradas nas amostras do trecho costeiro

    prximo e no fluvial mais distante da embocadura (Figura 18). Gros com esfericidade baixa

    tambm ocorrem com maior freqncia nestas amostras como mostra a figura 18. A maioria das

    amostras apresentou maior nmero de gros angulosos e subangulosos em todos os trechos

    amostrados (Figura 18).

    31

  • 7/21/2019 assoreamento do baixo rio de contas

    33/77

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    3

    3,5

    4

    -4000 -2000 0 2000 4000 6000 8000 10000 1 2000 1 4000

    Distncia (m)

    Mdia(phi)

    0

    0,25

    0,5

    0,75

    1

    1,25

    1,5

    1,75

    2

    2,25

    2,5

    - 4000 -2000 0 2000 4000 6000 8000 10000 1 2000 1 4000

    Distncia (m)

    Seleo(phi)

    0

    0,5

    1

    1,52

    2,5

    3

    3,5

    4

    -2000 -1000 0 1000 2000 3000 4000 5000

    Distncia (m)

    Md

    ia(phi)

    0

    0,25

    0,5

    0,75

    1

    1,25

    1,5

    1,75

    2

    2,25

    2,5

    -2000 -1000 0 1000 2000 3000 4000 5000

    Distncia (m)

    Seleo(phi)

    Figura 17. Valores de mdia e seleo obtidos na primeira (painel superior) e segunda campanha (painel

    inferior).

    Dos minerais encontrados nas amostras da primeira campanha, o quartzo e amuscovita foram os de maior ocorrncia, seguidos do anfiblio (Figura 19). O quartzo ocorreu

    com maior freqncia nas amostras localizadas no trecho costeiro prximo e em algumas

    amostras localizadas no trecho fluvial mais interior. Os gros de quartzo foram encontrados sob

    duas formas: hialina (translcido) e com pelcula de xido de ferro. Na primeira campanha, em

    todas as amostras, os gros de quartzo sob a forma hialina apresentaram-se em maior quantidade

    do que os com pelcula, presentes tambm em todas as amostras (Figura 19). Quanto

    muscovita, sua maior presena ocorreu nas amostras localizadas no trecho fluvial prximo

    embocadura (trecho este situado entre 0 e 2000 m) (Figura 19). O feldspato e anfiblio aparecem

    como minerais constituintes secundrios e esto presentes em praticamente todas as amostras da

    primeira campanha com freqncia de ocorrncia que varia de 2 a 35%, sendo que a presena

    destes dois minerais mais pronunciada nas amostras localizadas no trecho fluvial (Figura 19).

    Na 2acampanha, a ocorrncia de gros polidos foi mais alta (70 a 100%) para todas

    as amostras (Figura 20). Os gros apresentaram-se com grau de esfericidade baixo na maioria

    das amostras; os gros subangulosos por sua vez, caracterizaram quase a totalidade do sedimentoanalisado. Quanto mineralogia, o quartzo sob as duas fomas apresentou-se novamente como

    32

  • 7/21/2019 assoreamento do baixo rio de contas

    34/77

    principal mineral constituinte em todas as amostras, compondo de 60 a 100% dos gros

    analisados (Tabela 4, em anexo). Gros de quartzo com cobertura de xido de ferro, no entanto,

    estiveram presentes em maior quantidade em relao forma hialina, situao portanto contrria

    da primeira campanha (Figura 21). Seguido do quartzo, o anfiblio aparece como o mineral de

    maior ocorrncia, encontrando-se presente em todas as amostras do trecho fluvial, com

    aproximadamente 11 gros por amostra, ao contrrio da muscovita, que por sua vez est presente

    somente em algumas amostras do trecho fluvial (de 5 a 20 ocorrncias por amostra) e somente

    uma do trecho costeiro prximo (33 ocorrncias na amostra) (Figura 21).

    A ocorrncia da frao lama nas amostras das duas campanhas apresentada na

    figura 22. As maiores percentagens (40 a 60%) de lama na primeira campanha ocorreram

    pontualmente na margem esquerda do rio e na regio costeira. Na maior parte do trecho fluvialos sedimentos apresentaram menos que 20% de lama, valor este que se apresenta maior (20 a

    40%) na margem direita do rio e na regio costeira defronte embocadura. Na segunda

    campanha (junho de 1999), a lama prevalece em pontos localizados na margem esquerda do rio e

    prximo ilha fluvial, onde corresponde de 60 a 100% do peso das amostras. Nesta campanha, a

    maior parte do trecho fluvial amostrado apresentou concentraes de 40 a 60%, com exceo da

    poro mais interiorizada do canal fluvial da embocadura que apresentou valores inferiores a

    20%.

    Os sedimentos ao longo do curso fluvial apresentaram, no geral, uma baixa

    concentrao de carbonato (menor que 1%). Esta tende a aumentar em direo embocadura e

    regio ocenica (Figura 23), onde os teores chegam a 15% no mximo. Concentraes maiores

    de carbonato (37,39 e 74,29%), na primeira campanha, foram observadas na amostra localizada

    na embocadura (53) e na amostra costeira localizada 1740 m da embocadura (G),

    respectivamente. Na segunda campanha (junho de 1999), as concentraes de carbonato

    encontradas nas amostras no ultrapassaram mais do que 15%.

    33

  • 7/21/2019 assoreamento do baixo rio de contas

    35/77

    Aspectos superf iciais

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    6070

    80

    90

    100

    -2000 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000

    Norelativodeg

    ros

    Polido

    Fosco

    Grau de esfer icidade

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    -2000 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000

    No.relativodegros

    Baixa

    Alta

    Grau de arredondamento

    0

    1020

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    -2000 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000

    Distncia (m)

    No.relativodegros

    MA

    A

    SA

    SAR

    AR

    MAR

    MA muito anguloso A anguloso SA subanguloso

    SAR subarredondado AR arredondado MAR muito arredondado

    Figura 18. Resultados da anlise morfoscpica dos sedimentos da primeira campanha.

    34

  • 7/21/2019 assoreamento do baixo rio de contas

    36/77

    0

    10

    20

    30

    40

    5060

    70

    80

    90

    100

    -2000 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000

    No.totaldeg

    ros

    Quartzo hialino

    Quartzo oxidado

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    -2000 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000

    No.totaldegros

    Feldspato

    Anf iblio

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    -2000 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000

    Distncia (m)

    No.totaldegros

    Muscovita

    Figura 19. Resultados da anlise mineralgica dos sedimentos da primeira campanha.

    35

  • 7/21/2019 assoreamento do baixo rio de contas

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    Aspectos superficiais

    0

    10

    20

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    40

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    60

    70

    80

    90

    100

    -2000 -1000 0 1000 2000 3000 4000 5000

    No.relativode

    gros

    Polido

    Fosco

    Grau de esfericidade

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    -2000 -1000 0 1000 2000 3000 4000 5000

    No.relativodegros

    Baixa

    Alta

    Grau de arredondamento

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    -2000 -1000 0 1000 2000 3000 4000 5000

    Distncia (m)

    No.relativodegros

    MA

    A

    SA

    SAR

    AR

    MAR

    MA muito anguloso A anguloso SA subanguloso

    SAR subarredondado AR arredondado MAR muito arredondado

    Figura 20. Resultados da anlise morfoscpica dos sedimentos da segunda campanha.

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    10

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    30

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    60

    70

    80

    90

    100

    -2000 -1000 0 1000 2000 3000 4000 5000

    No.totaldegros

    Quartzo hialino

    Quartzo oxidado

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    8090

    100

    -2000 -1000 0 1000 2000 3000 4000 5000

    No.totaldegros

    Anfiblio

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    -2000 -1000 0 1000 2000 3000 4000 5000

    Distncia (m)

    No.totaldegros Muscovita

    Figura 21. Resultados da anlise mineralgica dos sedimentos da segunda campanha.

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    Figura 22. Ocorrncia da frao lama no trecho fluvial amostrado.

    38

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    Figura 23. Teor de carbonato no trecho fluvial amostrado.

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    41/77

    4.3 Fauna de foraminferos

    4.3.1 Primeira campanha de amostragem

    De uma maneira geral, a densidade de foraminferos na primeira campanha deamostragem foi baixa e variada ao longo do trecho amostrado, tendo sido contados um total

    21.070 exemplares, dos quais 511 apresentaram o protoplasma corado (Figura 24). A regio com

    maior ocorrncia de foraminferos corados e carapaas vazias foi aquela situada entre 1.2 e 2 km

    acima da embocadura (Figura 25).

    A fauna encontrada essencialmente bentnica formada por espcies eurialinas e

    estenohalinas (Murray, 1991). A fauna viva, constituda pelos exemplares corados, ocorreu nas

    amostras localizadas nos trs ltimos quilmetros do rio, sendo composta por 12 espcies deforaminferos: Ammonia beccarii, Bolivina compacta, Bolivina dottiana, Bolivina sp, Brizalina

    striatula, Cornuspira involvens, Elphidium galvestonense, Textularia agglutinans, Textularia

    earlandi, Triloculina oblonga e Triloculina consobrina. Dentre os organismos vivos, as espcies

    dominantes foram Ammonia beccarii (78,86%), Elphidium galvestonense (9,26%), Bolivina

    dottiana (3,80%), Textularia earlandi (2,38%) e Triloculina oblonga (2,38%). As demais

    espcies juntas representam 3,81% do total de indivduos corados (Figura 26)

    Carapaas vazias foram encontradas at 8 km acima da embocadura. Estas se

    apresentaram, de um modo geral, em bom estado de conservao sendo identificadas 40

    espcies:Ammobaculites sp.,Ammonia beccarii,Ammonia sp.,Baggina philippinensis, Bolivina

    compacta,Bolivina dottiana,Bolivina sp, Cancris sagra, Cornuspira, involvens, Cibicides sp.,

    Cribrostomoides jeffreysii, Cribostomoides sp., Discorbis sp., Elphidium galvestonense,

    Elphidium poeyanum, Elphidium sagrum, Globigerinoides ruber, Globigerinoides trilobus,

    Hanzawaia concentrica, Miliolinella suborbiularis, Miliolinella subrotunda, Nonionella

    atlantica, Planulina ariminensis, Pseudononion grateloupi, Pyrgo elongata, Quinqueloculinaauberiana, Quinqueloculina moynensis, Quinqueloculina polygona, Reussela spinulosa,

    Sigmarvirgulina tortuosa, Sagrina pulchella, Sigmoilina sp, Sphaeroidinella dehiscens,

    Textularia agglutinans, Textularia earlandi, Textularia gramen, Trochammina inflata,

    Trochammina nana, Triloculina linneiana, Triloculina oblonga. Dentre as carapaas vazias, as

    espcies dominantes foram: Ammonia beccarii (67,8%), Elphidium galvestonense (18,2%),

    Textularia earlandi (2,5%), Ammonia sp A (1,6%), Ammobaculites sp (1,2%). As demais

    espcies juntas representam 9,07% do total de carapaas vazias (Figura 27).

    ,, ,, ,,

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    40

  • 7/21/2019 assoreamento do baixo rio de contas

    42/77

    4.3.2 Segunda campanha de amostragem

    Nas amostras da segunda campanha, a densidade de foraminferos foi baixa em

    relao campanha anterior, com um total de 14 indivduos corados (vivos) e 7098 carapaas

    vazias, totalizando 7112 indivduos encontrados (Figura 24). A ocorrncia de exemplarescorados na segunda campanha se deu em poucas amostras localizadas a at 2 km acima da

    embocadura, e de carapaas vazias (indivduos mortos) em algumas amostras do trecho fluvial e

    zona costeira adjacente. A maior incidncia de carapaas vazias e de indivduos corados foi

    encontrada na amostra localizada no ltimo quilmetro do rio (Figura 25). As carapaas coradas

    encontradas foram compostas por 2 espcies de foraminferos: Ammonia beccari eElphidium

    galvestonense. Dentre os organismos vivos, a espcie dominante foi Ammonia beccarii (93%),

    seguida deElphidium galvestonense(7%) (Figura 26).

    Apesar de pouco numerosa, a fauna associada s carapaas vazias foi composta por

    um nmero maior de espcies com total de 51, sendo elas:Ammobaculites sp.,Angulogerina sp ,

    Ammonia beccarii,Articulina antillarum,Articulina mucronata,Bolivina sp , Cancris sagra,

    Cibicides aknerianus, Cornuspira involvens, Cribrostomoides sp , Discorbis peruvianus,

    Dyocibicides sp , Elphidium discoidale, Elphidium galvestonense, Elphidium poeyanum,

    Elphidium sagrum, Eponides repandus, Fursenkoina pontoni, Globigerina bulloides,

    Globigerinoides ruber, Hanzawaia concentrica, Lenticulina sp , Loxostomum limbatum,

    Miliolinella suborbicularis,Miliolinella subrotunda,Nodobaculariella cassis,Peneroplis bradyi,

    Poroeponides lateralis, Pseudononion grateloupi, Pyrgo patagonica, Pyrgo subsphaerica,

    Quinqueloculina bosciana, Quinqueloculina candeiana, Quinqueloculina costata,

    Quinqueloculina cuveriana, Quinqueloculina disparilis curta, Quinqueloculina moynensis,

    Quinqueloculina philippinensis, Quinqueloculina poeyana, Quinqueloculina polygona,

    Quinqueloculina sp , Reussella spinulosa, Sagrina pulchella, Sigmavirgulina tortuosa,

    Sigmoilina sp, Siphonina pulchra, Textularia agglutinans, Textularia gramen, Triloculina

    consobrina,, Triloculina gracilis, Triloculina oblonga e Triloculina sp. Dentre as carapaas

    vazias, a espcie dominante foi Ammonia beccarii (39%), seguida de Cribrostomoides sp

    (15,6%), Elphidum galvestonense (8,9%), Textularia gramen (5,4%), Pseudononion grateloupi

    (3%), Quinqueloculina sp (2,7%), Textularia agglutinans(2,3%),Elphidium poeyanum (2,03%),

    Hanzawaia concentrica (1,39%). As outras espcies encontradas perfizeram 20% de toda

    amostra (Figura 27).

    ,, ,,

    ,, ,, ,, ,,,,

    ,, ,, ,,,,

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    ,, ,, ,,

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    ,,

    ,,

    ,, ,,

    , ,,

    41

  • 7/21/2019 assoreamento do baixo rio de contas

    43/77

    97,6%

    2,4%

    99,8%

    0,2%

    MORTOS VIVOS

    Figura 24. Ocorrncia de indivduos mortos e vivos na primeira (A) e segunda (B) campanha,.

    Carapaas vazias

    1

    10

    100

    1000

    10000

    100000

    1000000

    -2000 0 2000 4000 6000 8000

    distncia (m)

    ndeinidvdu

    Individuos corados

    1

    10

    100

    1000

    -2000 0 2000 4000 6000 8000

    distncia (m)

    n

    deinidvduo

    Carapaas vazias

    1

    100

    10000

    1000000

    -2000 0 2000 4000 6000 8000

    distncia (m)

    ndeindivdu

    Indivduos corados

    1

    10

    100

    1000

    -2000 0 2000 4000 6000 8000

    distncia (m)

    nd

    einidvduo

    SegundacampanhaPrimeira campanha

    Figura 25. Distribuio dos indivduos corados e carapaas vazias em relao desembocadura.

    42

  • 7/21/2019 assoreamento do baixo rio de contas

    44/77

    Ammonia

    eccarBolivina

    o anaElphidium

    ga ves onense

    Textularia

    agg u nans

    Textularia

    earan

    Triloculina

    o onga

    outros

    n v uos cora os

    r me ra campan a

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    %

    mmonia beccarii Elphidium galvestonense

    Segunda campanha

    Figura 26. Freqncia de ocorrncia das espcies mais abundantes associadas ao protoplasma corado.

    43

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    45/77

    mmo acu es

    sp.

    mmona

    eccar

    mmona sp. p um

    gaves onense

    ex u ar a

    earan

    ou ros

    arapaas vaz as

    r me ra campan a

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    %

    Ammonia

    beccarii

    Cribrostomoides

    sp

    Elphidium

    g

    alvestonense

    Elphidium

    poeyanum

    P

    seudononion

    grateloupi

    Qu

    inqueloculina

    sp

    Textularia

    agglutinans

    Textularia

    gramen

    outros

    Segunda campanha

    Figura 27. Freqncia de ocorrncia das espcies mais abundantes associadas a carapaas vazias.

    4.4 Circulao de gua do baixo curso do rio de Contas.

    A variao da altura do nvel dgua no baixo curso fluvial para as fases de sizgia e

    quadratura est apresentada na figura 28. Devido inexistncia de um marco topogrfico ou

    nivelamento altimtrico entre os pontos de medio, as curvas na figura 28 foram niveladas de

    44

  • 7/21/2019 assoreamento do baixo rio de contas

    46/77

    forma a explicar a inverso observada nas correntes, ou seja, de forma a criar um gradiente da

    superfcie lquida direcionado para o oceano, no perodo de correntes de vazante, ou direcionado

    para o continente no perodo de correntes de enchente.

    Na campanha de sizgia (Figura 28), a altura de mar registrada foi de 1,9m para a

    estao 1 e 1,55 m para a estao 2, sendo que a altura prevista para a mar ocenica foi de 2m.

    Na estao 2, um nvel mdio mais alto devido situao de cheia no baixo curso fluvial (250

    m3/s registrados na estao de Ubaitaba), est associado a um atraso em relao mar ocenica

    de 1:30 h na baixamar e 0,5 h na preamar. Sendo assim, a onda de mar se torna assimtrica,

    com a subida da mar levando apenas 5 horas e a descida durando em torno de 7:30 h.

    Na campanha de quadratura (Figura 28), s foi possvel medir a variao do nvel dguana estao 1. A mar na estao 1 se encontra em fase com a mar ocenica (sem atrasos) e a

    altura da mar nesta situao foi de aproximadamente 1m, ou seja, a mesma que a ocenica. A

    curva para a estao 1 est em posio superior ocenica de forma a representar um gradiente

    da superfcie lquida permanentemente direcionado para o oceano, de forma a justificar a falta de

    inverso de fluxo neste dia.

    Os valores mximos de corrente de vazante verificados em sizgia no canal se

    estabeleceram prximos meia mar vazante, 2:30 hs aps a preamar registrada na estao 1, o

    que caracteriza a onda de mar como estacionria. Nesta fase a inverso da corrente para

    enchente se deu s 15:00 hrs (3 hrs depois da baixa mar registrada na estao 1) e o seu mximo

    valor mdio (0,19 m/s) s 16:00 hrs. Porm, na fase de quadratura, observa-se que as correntes

    de enchente no acompanharam a fase ascendente da mar. No perodo amostrado (12:42 h), foi

    verificado no canal correntes predominantemente de vazante, que atingiram o seu valor mdio

    mximo ( 0,72 m/s), 0:30 h depois da preamar registrada na estao. Este comportamento reflete

    a situao de cheia em que o rio se encontrava, com nveis de superfcie lquida sempre

    superiores aquele no oceano (Figura 29).

    45

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    0

    0,20,4

    0,6

    0,81

    1,2

    1,41,6

    1,8

    22,2

    2,4

    5:30 6:30 7:30 8:30 9:30 10:30 11:30 12:30 13:30 14:30 15:30 16:30 17:30

    Tempo

    Altura(m)

    Ocenica Porto Rio

    0

    0,2

    0,40,6

    0,8

    1

    1,2

    1,4

    1,6

    1,8

    2

    2,2

    2,4

    8:30 9:30 10:30 11:30 12:30 13:30 14:30 15:30 16:30 17:30 18:30 19:30 20:30 21:30

    Altura(m)

    oceanica Porto

    Figura 28. Altura do nvel dgua obtida na campanha de sizgia (A) e quadratura (B).

    46

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    48/77

    -1-0,5

    00,5

    11,5

    22,5

    09:00

    10:00

    11:00

    12:00

    13:00

    14:00

    15:00

    16:00

    17:00

    18:00

    19:00

    20:00

    Alturadamar(m)

    -1-0,500,511,5

    22,5

    Velocidadedecorrente(m/s)

    Altura da mar na estao 1 Velocidade mdia de corrente (m/s)

    -1

    -0,5

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    06:00

    07:00

    08:00

    09:00

    10:00

    11:00

    12:00

    13:00

    14:00

    15:00

    16:00

    17:00

    Alturadamar(m)

    -1

    -0,5

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    Veloc

    idadedecorrente(m/s)

    A

    B

    Figura 29. Variao da altura de mar e velocidade mdia de corrente no talvegue em sizgia (A) e quadratura (B)

    A variao temporal da salinidade e velocidade da corrente nos trs diferentes nveis

    de profundidade no talvegue esto apresentados na figura 30 (sizgia) e figura 31 (quadratura)

    para as duas campanhas. Na campanha de sizgia (Figura 30) a corrente de vazante predominou

    praticamente durante todo o perodo amostrado onde o ncleo de mxima velocidade de vazante

    encontrou-se na metade superior da coluna dgua durante 2 h de medio. A corrente de

    enchente ocorreu nos momentos finais de medio e com pequena intensidade. A maior

    velocidade de vazante (1,82 m/s) foi superior mxima de enchente (0,33 m/s) nesta campanha.

    47

  • 7/21/2019 assoreamento do baixo rio de contas

    49/77

    Durante o perodo de sizgia, a entrada da gua salina pelo fundo ocorreu junto

    corrente de enchente, e a presena de sal em toda coluna d gua foi observada somente durante

    uma hora de medio. Neste momento, a salinidade ocenica no fundo ocorreu junto a uma

    concentrao de 3 na superfcie. Durante a maior parte do tempo, a concentrao de sal foi

    aproximadamente 3, o que poderia ser explicado por erro de medio (acuidade do aparelho)

    ou transporte de sal por difuso. Em campo foi observado que o local era preferencialmente de

    vazante, o que leva a crer que a presena desta taxa constante de sal durante quase todo o perodo

    foi devido a um processo de difuso lateral do canal preferencial de enchente (prximo ao

    esporo) para o canal preferencial de vazante (prximo ao embasamento e onde se situou o ponto

    de amostragem) (Figura 32).

    Na campanha de quadratura (Figura 31) a menor altura de mar provocou uma menorentrada de sal no rio, limitando-se este junto ao fundo como uma cunha salina bem definida. Esta

    ocorreu prximo preamar, quando a velocidade das correntes foram inferiores a 0,30 m/s, com

    gradientes de salinidade de 33 ocorrendo na metade inferior da coluna dgua. A velocidade

    mxima de vazante foi de 0,85 m/s.

    Os perfis longitudinais ao longo da calha do rio (Figura 33) evidenciaram uma

    pequena intruso da gua salgada, tanto em sizgia como em quadratura. Na campanha de sizgia

    a cunha salina alcanou pouco mais de 1 km de distncia da embocadura (caracterizada no

    grfico como 0 no eixo transversal). Na campanha de quadratura a presena de sal foi observada

    a uma distncia de at 2 km a partir da embocadura, na camada inferior da coluna dgua,

    gerando uma maior estratificao desta em relao campanha anterior.

    De posse dos valores mdios de velocidade e salinidade obtidos no talvegue para

    cada perodo de tempo amostrado, e para cada profundidade, nas duas campanhas, foi possvel

    quantificar os parmetros de estratificao-circulao e assim classificar o esturio atravs doDiagrama de Hansey-Ratray (1966). Os resultados encontrados indicaram que tanto durante as

    campanhas de sizgia como de quadratura, com as elevadas vazes fluviais observadas, o

    esturio se mostrou como sendo do tipo estratificado que tende a uma mistura vertical (Figura

    34).

    48

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    Figura 30. Perfis de salinidade e velocidade de corrente no talvegue em condies de sizgia.

    49

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    Figura 31. Perfis de velocidade e corrente no talvegue em condies de quadratura.

    50

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    Sada preferencial da

    corrente de mar vazanre

    Entrada preferencial da

    corrente de mar enchente

    Figura 32. Vista area da embocadura do canal, destacando o canal preferencial de enchente (1992).

    51

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    Figura 33. Perfis longitudinais de salinidade no canal do rio de Contas em sizgia e quadratura.

    Sizgia

    Quadratura

    Figura 34. Classificao segundo Hansey-Rattray para o esturio do rio de Contas (modificado de Dyer, 1979)

    52

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    5. DISCUSSO

    5.1 Hidrologia

    As barragens nos cursos fluviais so construdas com vrios propsitos, o que faz

    com que os impactos no padro de escoamento sejam diferenciados. Barragens para conteno

    de cheias retm uma grande quantidade do fluxo dgua e faz com que este, jusante da mesma,

    seja dependente apenas dos afluentes subsequentes. Em outras barragens a gua armazenada

    parte do dia e liberada noite, como por exemplo em reservatrios de hidroeltricas. Barragens

    destinadas irrigao, por sua vez, manejam a gua de vrios modos, a depender do tipo de

    cultura e situao climtica. Desta maneira, cada barramento produzir um padro particular de

    fluxo dirio, sazonal e anual. O nico ponto em comum entre vrios tipos de operao a

    diminuio do fluxos das enchentes e aumento da vazo mdia diria em funo da regularizao

    das descargas. (Williams & Wolman 1984).

    Atualmente dois reservatrios (Funil e Pedras) operam no curso fluvial principal do

    rio de Contas e tem diferenas quanto ao modo de operao e a situao em que se encontram. A

    Usina do Funil, construda para a produo de energia eltrica, vem apresentando um intenso

    processo de assoreamento que faz com que eventuais dragagens sejam realizadas para evitar o

    completo entulhamento do lago (atualmente 50% do volume original) (SRH, 1993). A Barragem

    de Pedras, localizada no cinturo semi-rido da bacia do rio de Contas, tem como principal

    finalidade o controle de cheias e a gerao de energia eltrica (mantendo uma vazo mnima para

    a operao de Funil). Desta maneira, o modo de manejo para esta estrutura armazenar grandes

    volumes de gua e apenas liber-los quando h excedente ou necessidade de irrigao (vazo

    controlada). O desvio padro entre os valores de descarga diria tende a diminuir em funo

    deste controle, j que as vazes tendem a ter valores efluentes mdios pr-estabelecidos e

    padronizados para o melhor funcionamento e manuteno da estrutura hidrulica.

    A diminuio dos valores de desvio padro para as estaes de Santo Antnio,

    Jequi, Ipia e Ubaitaba (Tabela 4) ilustram a regularizao das descargas, que ocorre no rio de

    Contas, processo este advindo do modo de operao do barramento. A regularizao das

    descargas foi evidenciada tambm pela anlise de freqncia e anlise espectral da srie

    temporal da estao fluviomtrica de Ubaitaba. A anlise mostra que os valores mais freqentes

    para o perodo anterior 1969 em todas as estaes se situam entre 0 e 25 m3/s. Entretanto, aps

    1969, houve um aumento de freqncia dos valores de vazo comuns, especialmente 25-50 m3/s,

    acompanhado de uma diminuio dos valores mais comuns, comportamento este mais evidente

    53

  • 7/21/2019 assoreamento do baixo rio de contas

    55/77

    na estao de Ubaitaba. O aumento expressivo de classes menos comuns como observado nas

    estao de Ipia, por exemplo, demonstra o efeito regularizador voltado para a gerao de

    energia eltrica, e a diminuio da magnitude dos fluxos estao de Ubaitaba sinaliza o

    amortecimento de grandes vazes que ocorrem no alto curso e que no chegam ao baixo vale.

    Segundo Kondolf (1995), como efeito hidrolgico importante, pode-se citar a reduo da

    magnitude, ou pelo menos da freqncia dos fluxos de enchente geralmente induzido pela

    presena de grandes barramentos. Para muitos rios, o evento de cheia o elemento mais

    importante na manuteno do equilbrio natural do sistema, pois regula a morfologia dos canais e

    redistribui os sedimentos e nutrientes. A sazonalidade das cheias auxilia no transporte mais

    efetivo do sedimento que se deposita durante o perodo de menores vazes contribuindo assim

    para o equilbrio dinmico no sistema.

    No rio de Contas, a anlise fluviomtrica destacou uma modificao na magnitude e

    freqncia das grandes vazes. Os valores mximos anuais de vazo diminuram, e a ocorrncia

    das cheias, que antes dos barramentos tinham uma frequncia mdia de 3 anos, no mais

    observado aps 1969 (Figura 9). A anlise espectral em Ubaitaba corrobora este resultado

    mostrando a diminuio da amplitude das oscilaes de carter trianual. O amortecimento da

    onda de cheia tambm foi comprovado atravs da comparao da vazo afluente e efluente nos

    reservatrios, sendo mais representativo na Barragem de Pedras, o que tambm confirma o fato

    da inoperncia do sistema de Funil.

    Ainda com relao anlise espectral, antes da construo dos barramentos, as

    oscilaes de carter tri e semestral, assim como as de carter anual, na estao de Ubaitaba,

    apresentavam grandes amplitudes (Figura 16). Aps 1969, o ciclo anual passa a ter mais

    importncia em relao aos ciclos trimestrais e semestrais. Especialmente na estao de Ubaitaba

    este comportamento bem marcado. Isto pode ser explicado pela diminuio da influncia das

    ondas de cheia advindas do alto curso fluvial que se alternavam com as ondas de cheia geradasno baixo curso, em intervalos de seis meses. Em funo do amortecimento promovido pelos

    barramentos, as ondas de cheia do alto curso no chegam ao baixo curso com a mesma

    intensidade, e assim as vazes mximas se tornam dependentes somente das cheias produzidas

    localmente.

    De acordo com o relatrio de impacto ambiental da Usina do Funil produzido pela

    CHESF (2000), a maior enchente registrada no corredor Funil_Ubaitaba, atingiu uma vazo de

    2.700 m3/s em 1965. Desde ento s foram registrados seis eventos superiores a 2000 m3/s eonze superiores a 1000 m3/s. Ainda segundo CHESF (2000), as mdias das vazes mximas so

    54

  • 7/21/2019 assoreamento do baixo rio de contas

    56/77

    sensivelmente menores do que aquelas que ocorreram nas dcadas de 30 e 50. Houve ento uma

    mudana de comportamento das vazes do rio, em especial nos perodos de maior fluxo, face o

    efeito regularizador que tem Pedras sobre o baixo vale. O efeito regularizador e de

    amortecimento era previsto no projeto de construo da Usina de Pedras para cheias com tempo

    de recorrncia de 25 anos. No entanto, o valor desta vazo no consta em nehum documento

    oficial sobre a Barragem (ex.: EIA-RIMA da Barragem, Manual de Operao para o Controle de

    Cheias). Atualmente, o que se observa que mesmo cheias de menor porte tem sido amortecidas,

    como a de 400 m3/s mostrada na figura 14, onde tambm mostrada apenas os trs nicos

    grandes valores de vazo amortecidos por Pedras durante toda a dcada de 90. Vale salientar que

    durante este perodo, vazes afluentes variando entre 30 a 50 m3/s eram os valores mais comuns

    barrados.

    Impactos de represas semelhantes foram relatados em outros cursos fluviais. O

    sistema fluvial Sacramento - San Joaquim localizado no estado da Califrnia (EUA), era

    caracterizado por grandes vazes (>500 m3/s ) com periodicidade de 10 anos. Estes valores

    foram reduzidos para pouco mais de 100 m3/s aps a construo de barragens em 1928 e 1963

    (Kondolf & Mattheus 1993). O baixo curso do rio Amarelo (China) tambm sofreu impactos em

    seu regime de escoamento devido operao do reservatrio de Sanmexia, cujo objetivo o

    armazenamento de gua para fins agrcolas. Redues do fluxo de cheias fluviais de at 60%

    foram registrados, o que ocorreu conjuntamente com o aumento de deflvio mdio. Para um

    perodo de 130 dias/ano, sua vazo era da ordem de 1000 m3/s em condies naturais. Aps o

    incio de operao do barramento, o fluxo mdio para 204 dias/ano foi da ordem de 3000 m 3/s

    (Chien 1985).

    Um fator importante tambm a ser considerado na hidrologia do baixo curso do rio

    de Contas a contribuio do seu maior afluente neste trecho, o rio Gongoji, considerado o mais

    importante nesta regio (SRH 1993). Esta sub-bacia possui uma rea de drenagem de 6.514 km2

    ,o que corresponde a 10% da rea da bacia do Contas. Sua vazo mdia anual de 39,86 m3/s

    chegando a atingir valores mximos que ultrapassam 200 m3/s entre os meses de novembro e

    janeiro. A contribuio do rio Gongoji pode ser observada quando compara-se os valores de

    vazo registrados antes e depois de 1969. A anlise mostra que a contribuio, que antes era de

    at 30%, passou a ser de quase 50% para o fluxo registrado em Ubaitaba (Figura 35).

    de se esperar que o Gongoji contribua com uma carga de sedimento considervel

    para o rio de Contas, principalmente nos dias atuais, quando a sub-bacia tem como uso do soloprincipal o cultivo de pastagens para criao de gado (SRH 1993). Este tipo de manejo leva ao

    55

  • 7/21/2019 assoreamento do baixo rio de contas

    57/77

    corte da mata atlntica (nativa na regio) proporcionando maior suscetibilidade processos

    erosivos no solo e consequentemente implementando maior carga de sedimento. A probabilidade

    deste sedimento ser removido do curso do rio principal torna-se menor com a reduo da

    frequncia das enchentes.

    O Rio Grande, que percorre dois estados americanos (Novo Mxico e Texas) e faz

    divisa natural com o Mxico, parece exemplificar as interferncias das condicionantes

    anteriormente mencionadas: tipo de operao da estrutura hidrulica, variabilidade climtica na

    bacia de drenagem e aporte de carga sedimentar por tributrios localizados aps o barramento. A

    barragem Elephant Butte, localizada no Novo Mxico, foi construda de modo a reter quase a

    totalidade do fluxo do rio para fins de irrigao e drenagem de uma extensa rea de cultivo

    agrcola (200.000 acres), amortecendo quase a totalidade dos fluxos de cheia. jusante dobarramento o rio atravessa uma regio desrtica (Deserto do Chihuahuan) (Collier et al2000), e

    neste trecho caracterizado como curso desprovido de enchentes. O fluxo neste percurso j

    no est apto para transportar a carga sedimentar produzida por arroios intermitentes, levando

    acumulao de sedimento na calha do rio. Este fator, combinado reteno dos fluxos de

    enchente pela barragem, levou ao assoreamento progressivo do canal jusante ao longo de 450

    km.

    Uma outra situao parecida ocorre no rio Trinity, localizado na Califrnia (EUA). Aconstruo da barragem de mesmo nome em 1960 reduziu o pico de cheia com frequncia

    bianual de 450 m3 /s para 9 m3 /s. Esta reduo drstica, juntamente com o fornecimento de areia

    pelos tributrios jusante da barragem, levou a uma agradao do canal com a diminuio de

    40% da sua largura (Kondolf 1997).

    Estes exemplos do nfase hiptese de que o entulhamento sedimentar do rio de Contas pode

    estar associado unio de duas situaes: (i) a diminuio da magnitude dos fluxos de enchente

    pelo tipo de operao implementado pelo barramento, que acarretaria a perda da capacidade de

    transporte do fluxo associado e (ii) a alta produo de sedimento por tributrios que desaguam

    jusante dos barramentos. Nestes casos, os sedimentos transportados para o canal fluvial

    principal, atravs de tributrios, acumulam-se, pois o fluxo resultante da operao do barramento

    no est mais apto para transportar a carga sedimentar que lhe fornecido, fazendo com que o

    canal comece a padecer de um lento processo de agradao ou assoreamento.

    56

  • 7/21/2019 assoreamento do baixo rio de contas

    58/77

    Antes de 1969

    0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

    1965

    1966

    1967

    Anos

    %gongoji ubtb

    Depois de 1969

    0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

    1972

    1974

    1975

    Anos

    %gongoji ubtb

    Figura 35. Contribuio do rio Gongoji em trs anos antes e depois de 69.

    5.2 Depsitos sedimentares

    Compilaes recentes (SRH 1993) descrevem um intenso proces