11
Arte & Diagramação Gustavo Ohara Caro professor, cara professora, Esta é uma proposta de atividade didática sobre alguns dos temas abordados pelo Programa “Escravo, nem pensar!”. Além das orientações sobre a estrutura da ativida- de, você vai encontrar, ao longo do texto e ao final, indicações de reportagens, filmes, pesquisas, gráficos e outros suportes que subsidiem e sirvam de matéria-prima para o trabalho com a turma. No texto há algumas palavras ou expressões grifadas. Se você cli- car sobre elas, será direcionado a outros sites. Além disso, você pode encontrar, em um glossário ao fim do texto, explicações sobre as palavras marcadas com um asterisco*. Sugerimos séries e disciplinas em que os objetivos e conteúdos da atividade podem ser desenvolvidos mais detalhadamente. No entanto, por mais que o tema receba espaço privilegiado dentro do currículo de uma determinada disciplina, não deixe de convidar os demais professores, afinal a dinâmica e qualidade da atividade podem ter um enri- quecimento com a interdisciplinaridade. Ainda que estejam estipuladas algumas aulas, você pode se apropriar da sequência didática para impulsionar algo maior, que dialogue com outros temas, envolva outros saberes e espaços e culmine eventualmente em um projeto temático. Ressaltamos que a atividade não é fechada. Pelo contrário, deve ser mudada de acordo com sua meta e realidade. Você verá que ela sugere um determinado número de aulas e que, no entanto, está estruturada em “passos”, isto é, módulos. Não necessariamente uma aula corresponde a um “passo”, visto que ele pode abranger muitos tópicos e des- dobramentos, assim como o trabalho simultâneo e complementar entre as disciplinas. Por isso, exerça sua autoria, aproprie-se do material e dê a ele os tons da sua realidade. Não deixe de nos enviar relatos, registros e sugestões de alterações. Um abraço! Equipe “Escravo, nem pensar!” Atividades

Atividades - Escravo, nem pensar

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Atividades - Escravo, nem pensar

Arte & DiagramaçãoGustavo Ohara

Caro professor, cara professora,

Esta é uma proposta de atividade didática sobre alguns dos temas abordados pelo Programa “Escravo, nem pensar!”. Além das orientações sobre a estrutura da ativida-de, você vai encontrar, ao longo do texto e ao final, indicações de reportagens, filmes, pesquisas, gráficos e outros suportes que subsidiem e sirvam de matéria-prima para o trabalho com a turma. No texto há algumas palavras ou expressões grifadas. Se você cli-car sobre elas, será direcionado a outros sites. Além disso, você pode encontrar, em um glossário ao fim do texto, explicações sobre as palavras marcadas com um asterisco*.

Sugerimos séries e disciplinas em que os objetivos e conteúdos da atividade podem ser desenvolvidos mais detalhadamente. No entanto, por mais que o tema receba espaço privilegiado dentro do currículo de uma determinada disciplina, não deixe de convidar os demais professores, afinal a dinâmica e qualidade da atividade podem ter um enri-quecimento com a interdisciplinaridade. Ainda que estejam estipuladas algumas aulas, você pode se apropriar da sequência didática para impulsionar algo maior, que dialogue com outros temas, envolva outros saberes e espaços e culmine eventualmente em um projeto temático.

Ressaltamos que a atividade não é fechada. Pelo contrário, deve ser mudada de acordo com sua meta e realidade. Você verá que ela sugere um determinado número de aulas e que, no entanto, está estruturada em “passos”, isto é, módulos. Não necessariamente uma aula corresponde a um “passo”, visto que ele pode abranger muitos tópicos e des-dobramentos, assim como o trabalho simultâneo e complementar entre as disciplinas. Por isso, exerça sua autoria, aproprie-se do material e dê a ele os tons da sua realidade. Não deixe de nos enviar relatos, registros e sugestões de alterações.

Um abraço!

Equipe “Escravo, nem pensar!”

Atividades

Page 2: Atividades - Escravo, nem pensar

O Brasil possui mais gado ou habitantes? Isso significa que todos possuem acesso fácil ao consumo de carne?

ATIVIDADE SOBRE A PECUÁRIADisciplinas: Geografia, Estudos Amazônicos, BiologiaSérie: Ensino Médio e EJA2 a 3 aulasPauta da atividade: O objetivo é enfocar a presença do gado na Amazônia. Por que há tanto gado na Amazônia? Além disso, refletir sobre os impactos socioambientais da atividade e retomar o histórico de “ocupação” da região e seus conflitos.

Esta atividade é ideal para ser desenvolvida em regiões da Amazônia produtoras de gado, mas também pode alavancar a

discussão em outros lugares.

ApresentaçãoO Brasil possui o maior rebanho bovino comercial do mundo e as áreas de pastagem continuam

crescendo. Mas qual a real dimensão desse fato, em especial na Amazônia? Esta atividade tem como objetivo analisar os efeitos socioambientais que a pecuária acarreta, buscando relacioná-los ao desma-tamento da Amazônia, à ocorrência de trabalho escravo e à sua cadeia produtiva*.

A) Para dar o pontapé inicial vamos nos debruçar sobre alguns números. O Brasil possui um reba-nho que supera o seu número de habitantes. O ideal é montar com os alunos um grande painel sobre essa questão. A partir de questionamentos sobre os dados, já é possível esboçar as reflexões que a atividades suscitará.

PRIMEIRO PASSO: A pecuária em números

A pecuária em números

Fontes na internet onde você pode buscar dados sobre esse tema:- O gado bovino no Brasil, de Sergio Schlesinger- IBGE- Greenpeace

i) Quantidade de cabeças de gado

Cabeças de gado bovino em 2010 População brasileira em 2010

205,3 milhões 190 milhões

Page 3: Atividades - Escravo, nem pensar

B) Depois de traçar um panorama geral, você pode lançar algumas questões sobre a realidade local para estimular a conversa.

Se possível, leve a turma para fazer uma pesquisa na sala de informática para colher dados do Insti-tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Vocês vão encontrar informações sobre os municípios brasileiros, observando seu número de habitantes, número dos rebanhos, informações agropecuárias e questões sociais. Pode ser uma ferramenta importante para a pesquisa.

ii) Área ocupada pela pecuária

Censo Agropecuário (2006) Brasil

Área ocupada por pastagens 172,3 milhões de hectares

Área ocupada por lavouras 76,6 milhões de hectares

Terras agriculturáveis no Brasil: aproximadamente 375 milhões de hectares

iii) Investimento na pecuária

Na utilização da terra, a balança pende para qual lado: agricultura ou pecuária? Quais podem ser os impactos dessa desproporção?

Produção para mercado externo hoje

Produção para mercado externo em 2017

28% 32%

Produzir mais para o mercado externo gera algum impacto no mercado interno?

→ Brasil: maior exportador de carne do mundo→ Brasil e China: maiores exportadores de couro curtido do

mundo→ Uma em cada três toneladas de carne comercializada inter-

nacionalmente tem origem no Brasil→ Principais importadores de carne brasileira: Rússia, União

Européia, países do Oriente Médio e EUA

Há muitas fazendas de gado na região? Elas são pequenas ou grandes? Há frigoríficos? A carne produzida no município vai

para outros lugares?

Page 4: Atividades - Escravo, nem pensar

Após essa interpretação de dados e levantamento das questões, solicite a alunos e alunas que pesqui-sem sobre o consumo de carnes em casa, procurando saber se o preço da carne é alto e que tipo de corte mais consomem. Além disso, solicite que a turma vá a açougues e mercados para colher informa-ções a respeito da origem da carne: de onde a carne vendida vem? De que frigorífico? Você também pode pedir para que verifiquem nos mercados e feiras de onde vêm os legumes e verduras vendidos na cidade.

A idéia é tentar estabelecer, mais para frente, relações entre a produção de gado em regiões da Amazônia e seu consumo pelas populações locais. Como resultado também poderemos investigar qual o papel desempenhado pela sua região: é produtora ou importadora de carne? A produção de legumes e verdura é prejudicada pela pecuária? Quais são os pontos positivos e quais são os problemas relaciona-dos a essa atividade produtiva?

A) Agora já temos uma dimensão da atividade pecuária no país. O próximo passo é contextualizar essa produção, buscando identificar em quais regiões ela marca forte presença. Para isso, utilizaremos alguns mapas. Se possível, projete-os para que a turma possa analisar conjuntamente. Você também pode pedir para que os alunos se dividam em grupos e distribuir o mapa abaixo.

SEGUNDO PASSO: Pecuária e desmatamento

Fonte: Atlas da Questão Agrária Brasileira

O mapa traça o perfil da dinâmica recente da atividade pecuária, indicando a proporção da queda e do crescimento nas diversas regiões e Estados brasileiros.

Onde a pecuária tem diminuído sutilmente? Qual o tamanho dos balões que indicam essa queda? Por outro lado, onde a ati-

vidade tem crescido? E qual o tamanho dos balões?

mapa 1

crescimento intenso a partir de 2000

crescimento constante no período

diminuição sutil no período

EVOLUÇÃO DO REBANHO BOVINO - 1990-2006

LEGENDA

Page 5: Atividades - Escravo, nem pensar

Podemos ver que existiu um movimento de expansão da pecuária em direção ao Norte durante o período representado no mapa (1990-2006). As áreas localizadas no Sul e em algumas regiões do Centro-Oeste apresentaram redução da atividade, enquanto que no Norte os balões cresceram. Agora, pensando nos biomas* brasileiros, para onde esse gado tem se deslocado?

A atividade pecuária tem se instalado nas bordas da Amazônia, justamente na chamada fronteira agrícola amazônica*, onde têm se concentrado as grandes frentes de desmatamento da floresta.

“O crescimento da pecuária bovina na Amazônia brasileira tem sido, nos anos analisados, sempre bem maior que no resto do Brasil. Esse crescimento apresentou, de 2000 a 2005, uma taxa média anual de 7% na Amazônia Legal, ao passo que, no resto do Brasil, a taxa média de cresci-mento ano a ano ficou em torno de 1%.” Pecuária e desmatamento: uma análise das principais causas diretas do desmatamen-to na Amazônia, de Sérgio Rivero, Oriana Almeida, Saulo Ávila e Wesley Oliveira

Agora, você pode distribuir o mapa do desmatamento da Amazônia Legal* para os grupos e pedir que verifiquem se os locais de desflorestamento (mapa 2) e os novos pólos pecuários (mapa 1) mantêm alguma relação. Esse exercício de interpretação de mapas tem como objetivo não apenas indicar o des-locamento dos empreendimentos agropecuários para as proximidades da floresta, como ressaltar a sua ligação direta com o desmatamento.

 Fonte: Atlas da Questão Agrária Brasileira

mapa 2

Page 6: Atividades - Escravo, nem pensar

B) Agora que já verificamos nos mapas como a produção bovina representa o principal vetor de desmatamento da Amazônia, vamos buscar as origens desse fenômeno.

A história da “ocupação” recente da Amazônia está relacionada com o incentivo oficial promovido pelo governo militar na década de 1970. Foram construídas as estradas Belém-Brasília e a Transamazônica no intuito de oferecer infraestrutura para interligar as regiões e garantir condições para a implantação de empreendimentos agropecuários. Assim, o governo não só ofereceu tais condições como concedeu isenções fiscais, gerando um surto migratório e favorecendo uma corrida empresarial em direção ao “território desconhecido e promissor”. Inúmeros bancos e outras instituições privadas se valeram desses facilitadores para investir na Amazônia. Enquanto isso, populações pobres do Nordeste eram incentivadas a migrar para povoar a região com a esperança de encon-trar uma boa vida. Todavia, os resultados não foram satisfatórios. Um acelerado des-matamento e os conflitos agrários que até hoje marcam a região tiveram início nesse processo de “ocupação” desigual e contraditório.Esse processo trouxe outro problema que ainda possui raízes na região: a grilagem*. Com isso, os supostos proprietários expandem suas propriedades (que, em geral, já são latifúndios* dedicados apenas à pastagem), invadem os limites de outras terras e che-gam inclusive a praticar violências contra posseiros*. Os absurdos chegam ao ponto de existirem áreas de propriedades maiores que o próprio município onde se localizam, como acontece no Pará ou ainda casos de anúncio de venda de terras pela internet.Muitas dessas fazendas estão relacionadas com o crime do trabalho escravo e conflitos agrários. Um caso emblemático desse conturbado processo foi o assassinato da missio-nária Dorothy Stang. A grilagem, portanto, é mais uma marca que aprofunda os pro-blemas fundiários existentes no Brasil, gerando disputas e aumentando a concentração de terras. E na Amazônia, por muitas vezes, é um fator da expansão agropecuária.

A charge abaixo também pode contribuir para a discussão:

 

Como o recente histórico de “ocupação” da Amazônia se rela-ciona com a intensa atividade agropecuária?

Estimule a turma a pesquisar notícias, recortes, vídeos, imagens, dados e mapas sobre a história de sua região. Alunos e alunas podem fazer entrevistas com moradores mais antigos. Como a região era antes? Por que levas e levas de migrantes chegaram – e continuam chegando – à Amazônia? Qual a prin-cipal atividade econômica? Como antes era a floresta? O que restou dela?

Page 7: Atividades - Escravo, nem pensar

TERCEIRO PASSO: Pecuária e trabalho escravoA) Mas o que a atividade pecuária realmente tem a ver com o trabalho escravo?

A atividade pecuária concentra o maior número de casos de trabalhadores libertados da escravidão pelo Ministério do Trabalho e Emprego, como mostra a tabela abaixo. Nela podemos perceber que a pecuária é a líder absoluta em casos de trabalho escravo e divide com a cultura da cana-de-açúcar a ponta no número de trabalhadores libertados.

Fonte: Comissão Pastoral da Terra (CPT), 29/12/2010

*não-identificados. Estão incluídos em “outro” ramos de construção civil, tecelagem, etc.

Por atividade 2003-2010

Casos registrados % Trabalhadores libertados

%

Desmatamento 96 5% 1825 5

Pecuária 1.157 58% 10.298 29%

Reflorestamento 50 3% 767 2%

Extrativismo 11 0,6% 375 1,1%

Cana 65 3% 10.010 29%

Outras lavouras 224 11% 6294 18%

Carvão 201 10% 2.421 7%

Mineração 23 1,2% 164 0,5%

Outro& n.i* 159 8% 2.864 8%

TOTAL 1.986 100% 35.018 100%

Você pode navegar na página da Repórter Brasil e encontrar outras matérias sobre esse assunto ou mesmo buscar algo relacionado à sua região. Indique o site para que a turma realize suas pesquisas!

Na pecuária, o trabalho escravo é utilizado geralmente na derrubada da mata para abertura de pastagens e no roço de juquira (limpeza de pasto). Assim, o uso da mão de obra escrava está comple-tamente relacionado ao desmatamento. Os trabalhadores passam por jornadas exaustivas, vivendo sob ameaças, desprovidos de liberdade, sem salário e sem alimentação adequada, às vezes, sem carne disponível, apesar do numeroso gado da fazenda.

No mapa a seguir, podemos ver onde se concentram os locais de libertação de trabalhadores em situação de escravidão (bolas rosas), entre 1995 e 2006. As bolas amarelas mostram o local de nasci-mento desses trabalhadores, indicando intensa migração. Apresentando à turma, procure indicar como os pontos de libertação estão relacionados com a fronteira agrícola, justamente nas mesmas áreas onde vimos outros problemas.

Page 8: Atividades - Escravo, nem pensar

Esse mapa do Ministério do Meio Ambien-te mostra os municípios prioritários para o combate ao desmatamento, tendo em vista que apresentam índices preocupan-tes. Observando aquele mapa dos pólos pecuários (mapa 1), o do desmatamen-to da Amazônia Legal (mapa 2) e o da ocorrência de trabalho escravo (mapa 3), vemos como as imagens se sobrepõem e mostram a linha imaginária da fronteira agrícola. Não por acaso os conflitos fundi-ários mais graves estão localizados justa-mente nessa área.

 Fonte: Atlas da Questão Agrária Brasileira

B) Vamos estabelecer novas comparações entre os mapas. O que apresentamos a seguir nos ajuda a relacionar o trabalho escravo e o desmatamento:

Fonte: www.reporterbrasil.org.br/pacto/noticias/view/24

mapa 3

Page 9: Atividades - Escravo, nem pensar

Com os mapas, dados e as demais informações podemos retomar os pontos apresentados até então. A idéia é que identifiquem como geograficamente as problemáticas estão relacionadas. Estimule a tur-ma a estabelecer as comparações e as deduções. Assim, é possível fazer uma síntese.

Por que o gado cresce tanto nessa área do país? O que é a fronteira agrí-cola amazônica e quais são seus problemas? A Amazônia está sendo pro-tegida nessa expansão? Isso mantém alguma ligação com os problemas agrários? E o trabalho escravo? Em que medida o consumo está ligado

com essas questões?

QUARTO PASSO: A cadeia produtiva da pecuáriaA) A seguinte pergunta pode ser o mote do diálogo com a turma:

A carne que eu consumo pode estar revestida de diversos problemas socioambientais gerados no processo de produção da mercadoria?

Depois de tudo o que foi estudado, podemos pensar que todos esses problemas, que parecem dis-tantes muitas vezes, também chegam até nós.

Vamos nos deter um pouco nos elos que ligam a produção de carne das fazendas da Amazônia aos pontos de comercialização. Os intermediários desse processo são os frigoríficos, que representam um agente importante nessa cadeia. Eles podem adquirir carne sem considerar as condições de produção nas fazendas, fechando os olhos para problemas como trabalho escravo e desmatamento, muitas vezes, recebendo dinheiro público.

O próprio regime de trabalho nos frigoríficos é puxado e acarreta muitos problemas à saúde dos trabalhadores, tanto por conta das baixas temperatu-ras às quais são expostos por um longo período, quanto pelo ritmo acelerado e repetitivo dos movimentos de corte e manuseio de objetos perigosos, como facas muito afiadas.

B) Após trabalhar mais esse aspecto com a turma, é hora de conferirmos o que foi recolhido pela turma no primeiro passo a respeito do consumo e da produção de carne no município. O preço da car-ne no país, em geral, não é barato, mesmo com seu numeroso rebanho. Existem variações de acordo com cada corte, sendo que as peças de primeira linha são pouco acessíveis. Se há mais cabeças de gado do que habitantes, por que a carne é tão cara? Um ponto que pode ser destacado é o fator da exporta-ção, que reordena a oferta no mercado interno.

A pesquisa de alunos e alunas vai trazer subsídios para verificar qual o papel que sua região ocupa na cadeia produtiva. As áreas de pasto são predominantes? A produção de alimentos básicos é afetada? Os trabalhadores possuem alternativas na criação de renda e trabalho com a terra? Para complementar, incentive-os a ler notícias e artigos selecionados por você e outras informações a respeito do impacto que essa cadeia gera.

Além disso, dependendo da dimensão que a produção de bovinos ou da atividade dos frigoríficos da sua região, você pode traçar uma pesquisa sobre o destino da carne. Você pode utilizar como referên-cia o relatório Farra do Boi produzido pelo Greenpeace. A publicação investiga a origem e o destino da carne, pontuando também seus intermediários. No relatório, por exemplo, podemos ver como trabalho escravo, desmatamento ilegal e exportações estão presentes nessa cadeia produtiva.

Page 10: Atividades - Escravo, nem pensar

Ainda é muito difícil saber a boa procedência da carne e rastrear seu tra-jeto comercial. Apesar disso, há algumas iniciativas que merecem destaque. Uma delas é a Carne Legal, do Ministério Público Federal do Pará, que fez com que frigoríficos deixassem de comprar das fazendas que tinham pro-duzido carne a partir de desmatamento ilegal. Outra iniciativa é o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, coordenado pela Repórter Brasil, pelo Instituto Ethos, pelo Instituto Observatório Social e pela Or-ganização Internacional do Trabalho e assinado por empresas que se com-prometeram a não comprar produtos que tenham trabalho escravo em sua cadeia produtiva. Além disso, o Ministério do Trabalho e Emprego criou em 2004 a “lista suja”, um cadastro dos empregadores flagrados com tra-balho escravo. Com base nela, empresas podem consultar se seus fornece-dores utilizaram mão de obra escrava e repensar suas relações comerciais. Você, alunos e alunas podem acessar a relação, que é pública, e conferir se há alguma propriedade localizada em sua região.

Esse estudo de cadeia produtiva é uma boa oportunidade para encararmos um processo produtivo com mais atenção, pensando as relações gerais envolvidas nessa atividade econômica, observando até mesmo a sua ligação internacional. Grandes empresas adquirem carne sem critério e repassam para os balcões mercadorias envolvidas com desmatamento, trabalho escravo e até grilagem de terras. Para saber mais sobre esse assunto, veja a cartilha “Cadeias produtivas e trabalho escravo: Cana - Carne - Carvão - Soja - Babaçu”, produzida pela Repórter Brasil.

GLOSSÁRIO* *Amazônia Legal – Área que compreende a totalidade dos Estados do Acre, do Amapá, de Ama-zonas, do Pará, de Rondônia e de Roraima e parte dos estados do Mato Grosso, de Tocantins e do Maranhão. Com sua demarcação geográfica em 1953, o objetivo era criar uma região política a fim de receber incentivos para atividades econômicas.

Bioma – É um conjunto de tipos de vegetação com fauna e flora similares, determinado por aspec-tos climáticos, geográficos, geológicos, entre outros, abrangendo uma área contínua. Cada bioma tem biodiversidade própria. São biomas brasileiros: a Amazônia, o Cerrado, os Pampas, a Mata Atlântica, a Caatinga e o Pantanal.

Cadeia produtiva – São as etapas de produção desde a origem de um produto até sua forma final apresentada no mercado consumidor, ou seja, as ligações entre um produto que consumimos e sua ori-gem. Por exemplo, no caso da carne, podemos dizer que a cadeia produtiva tem origem nas fazendas de gado, passando pelos frigoríficos, distribuidores e mercados onde a compramos. Por meio do estudo de cadeias produtivas, podemos perceber se o que consumimos tem em sua origem desmatamento ilegal ou trabalho escravo.

Fronteira agrícola amazônica – É o local onde a floresta tem dado lugar a novas fazendas, com a expansão da atividade agropecuária. Seus limites abrangem Rondônia, Mato Grosso, Amazonas, Pará, Tocantins e Maranhão.

Grilagem – O termo tem longa história e remete ao processo de falsificação de documentos por meio das secreções dos grilos, o que conferia aspecto envelhecido, portanto “legítimo” às falsas escritu-ras. Atualmente, as fraudes ocorrem por outros meios, mas o sentido prático do termo vigora. Portanto, trata-se da apropriação ilegal de terras públicas por particulares por meio de títulos forjados.

Page 11: Atividades - Escravo, nem pensar

Latifúndio – Propriedades de grande extensão territorial (em geral, mais de 1.000 hectares), deriva-das da concentração fundiária. Estão associadas com a subutilização e a baixa produtividade.

Posseiros – Lavradores que ocupam e produzem em terras devolutas ou que antes estavam aban-donadas. Não possuem registro de terra e por isso não têm acesso a políticas agrícolas e estão sujeitos a ameaças de despejo ou a serem expulsos por jagunços a mando de fazendeiros dispostos a aumentar suas propriedades.

- Reportagem: Campeões de desmatamento exploraram trabalho escravo, na Repórter Brasil

http://www.reporterbrasil.org.br/pacto/noticias/view/24

- Atlas da Questão Agrária, do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária, da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp).

http://www4.fct.unesp.br/nera/atlas/index.htmO estudo traz mapas e análises sobre a estrutura agrária brasileira.

- Documentário: Nas Terras do Bem-Virá, de Alexandre Rampazzo e Tatiana Polastri (2007, 110 min)

www.youtube.com/watch?v=81aaGBtP6AwEste vídeo relaciona a questão agrária e o trabalho escravo à história de “ocupação” da Amazônia.

- Cartilha: Cadeias produtivas e trabalho escravo: Cana - Carne - Carvão - Soja - Ba-baçu

www.escravonempensar.org.br/materiais.php?id=1&mat_id=55A publicação reúne exemplos de produtos que utilizaram mão de obra escrava em algum momento

de sua cadeia produtiva, apontando a trajetória dessas mercadorias desde a origem até chegar ao con-sumidor final. Traz também sugestões de atividades.

Sugestão de textos, livros, vídeos, mapas...