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ATIVIDADES EXPERIMENTAIS NAS AVALIAÇÕES DOS LIVROS DIDÁTICOS DE CIÊNCIAS DO PNLD 2010
Lucimara Del Pozzo Basso - Universidade Estadual de Campinas
Resumo Considerando a importância e o uso frequente dos livros didáticos no ensino escolar e a atual política de avaliação desses materiais pelo Programa Nacional do Livro Didático – PNLD, este trabalho teve por objetivo verificar como as coleções de Ciências têm sido avaliadas no que se refere às atividades experimentais. Foi tratado o seguinte problema: qual a coerência entre as resenhas de avaliação do Guia de Livro Didático de Ciências – PNLD 2010 e as atividades experimentais presentes nas coleções de Ciências aprovadas nesse programa? Selecionou-se 5 coleções didáticas de Ciências dos anos iniciais do ensino fundamental aprovadas no PNLD-2010. As atividades experimentais foram estudadas segundo a “Análise de Conteúdo” a partir de duas categorias: Atividades experimentais por resolução de problemas e Atividades experimentais por redescoberta, e comparadas com as resenhas do Guia de Ciências do PNLD-2010. Essas resenhas apresentam um parecer positivo no que se refere à categoria de avaliação “Pesquisa e Experimentação” para as 5 coleções selecionadas, ao valorizar aspectos de problematização, formulação de hipóteses e questionamentos, numa perspectiva construtivista e investigativa de ensino. Porém, na análise das coleções didáticas observou-se a predominância de atividades experimentais do tipo redescoberta, com base em um roteiro instrucional rígido, o qual não estimula a autonomia dos alunos na formulação de hipóteses, no planejamento e execução experimental e na interpretação e análise dos dados. Constatou-se, assim, uma incoerência das resenhas-sínteses do Guia PNLD2010 com as atividades experimentais presentes nas coleções didáticas selecionadas. Notamos que nem as coleções didáticas propõem atividades experimentais que favoreçam o desenvolvimento cognitivo dos alunos numa perspectiva investigativa e crítica, nem tampouco as avaliações da equipe de Ciências do PNLD-2010 conseguem captar essa limitação das coleções e estimular a melhoria das mesmas quanto a esse aspecto pedagógico e epistemológico no ensino das Ciências da Natureza.
Palavras-chave: Livro didático; Avaliação de livros didáticos; Atividades experimentais; Ensino de ciências; PNLD.
Introdução O ensino de Ciências no Brasil perpassou por diferentes mudanças e
transformações no que diz respeito à concepção de ciência, de ensino e aprendizagem.
A cada momento histórico novas ênfases são dadas a aprendizagem das Ciências da
Natureza. Pode-se mencionar a presença de três grandes modelos pedagógicos de ensino
de Ciências que permearam o século XX: o modelo de ensino tradicional, o modelo de
ensino por redescoberta e o modelo de ensino por resolução de problemas ou modelo
aberto (AMARAL, 1997).
É pertinente destacar que nos modelos de ensino de Ciências a experimentação
sempre representou certa importância como ferramenta e instrumento de trabalho. E isto
ainda é atual nos dias de hoje, pois muitos estudiosos e professores consideram as
atividades experimentais fundamentais para o ensino e a aprendizagem das Ciências
Naturais.
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Pesquisadores como Cachapuz et al. (2005), Moraes (1998), Amaral (1997),
Pereira (2002), entre outros, defendem e acreditam que as atividades experimentais têm
papel importante na aprendizagem das Ciências. Há um consenso entre eles no que
tange à concepção de experimentação que se deve ter. Esses autores defendem que as
atividades experimentais devem fazer parte das aulas de ciências no sentido de:
despertar no aluno a curiosidade e o interesse pelo fenômeno em estudo, propor o
espírito investigativo (bem próprio da atividade científica), estimular a sua participação
ativa no processo de ensino-aprendizagem e possibilitar a construção do conhecimento
por meio da vivência da atividade educativa.
A experimentação, em sua perspectiva genuína, pode ser entendida como uma
atividade que verifica hipóteses e realiza necessariamente controle de uma ou mais
variáveis, que exige a observação de um determinado fator interveniente no fenômeno
ou a variação de um ou mais fatores de observação e investigação. Mais que repetir as
ações, a experimentação implica em reflexão e compreensão dos fenômenos, num
processo que visa entender a realidade.
Pereira (2002) classifica as atividades práticas em três grandes grupos:
atividades de exploração; atividades de construção de modelos físicos; e investigações.
A primeira atividade enquadra como atividades simples, com propósito de
explorar/observar um fenômeno, um animal, um ambiente etc. Já as atividades de
construção de modelos físicos são caracterizadas como representação do real “através
de uma redução das proporções ou através da elaboração de um artefato” em que se
“procura simular algumas características do objeto, em particular a forma como
funciona”. Por fim, a autora considera as atividades de investigação como
experimentações propriamente ditas, pois: [...] partem de um problema, de uma ideia concreta que vai dar origem a uma pesquisa. Para isso, o problema, ou a ideia, de partida necessita de ser operacionalizado sob a forma de uma questão concreta à qual a criança vai tentar responder através de atividades experimentais (PEREIRA, 2002, p. 89).
Borges; Moraes (1998), por sua vez, acreditam que as atividades práticas são
imprescindíveis para um bom ensino de Ciências, pois permitem aos alunos vivenciar
uma experiência, ensaiar, conhecer, avaliar, buscar soluções para os problemas,
compreender um conceito. Defendem a importância das atividades experimentais no
ensino de Ciências e acrescentam uma crítica à concepção reducionista de tal atividade: [...] através da experimentação, a criança não apenas adquire conhecimentos, mas também habilidades e atitudes, desenvolvendo sua
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capacidade de pensar e agir racionalmente. Mas a experimentação seria empobrecida se ficasse restrita à execução de “receitas”, perdendo o caráter de desafios a serem solucionados (BORGES, 1998, p.18).
Para Amaral (1997) a experimentação no ensino de Ciências deveria ter três
funções: [...] ajudar compreender as possibilidades e limites do raciocínio e procedimento científico, bem como suas relações com outras formas de conhecimento; criar situações que agucem os conflitos no aluno, colocando em questão suas formas prévias de compreensão dos fenômenos estudados; representar, sempre que possível, uma extensão dos estudos ambientais, quando se mostrarem esgotadas as possibilidades de compreensão de um fenômeno em suas manifestações naturais, constituindo-se em uma ponte entre o estudo ambiental e conhecimento formal (p.14).
Dessa forma, a atividade de experimentação conseguiria atender algumas
peculiaridades das Ciências da Natureza, além de desmistificar a ciência e estabelecer
relações entre o conhecimento formal, a experiência e a realidade.
Por outro lado, para potencializar e fazer acontecer o ensino de Ciências, as
escolas e professores têm na atualidade como principal recurso de trabalho os livros
didáticos, ou mesmo os sistemas apostilados, até então muito frequentes na rede privada
de ensino escolar e mais recentemente ingressando também nas escolas públicas. Além
disso, a aquisição e distribuição desses materiais para os sistemas públicos de ensino,
especialmente os livros didáticos, são garantidas por uma política pública educacional –
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD)- que avalia periodicamente as coleções
didáticas, excluindo boa parte delas e recomendando a outra parte para escolha pelos
professores do ensino fundamental e médio.
Sabemos que o livro didático, na maioria das vezes, torna-se o único ou o
principal material de divulgação científica que o aluno tem acesso, constituindo-se
como um meio de transmitir os conhecimentos científicos produzidos. Além da sua
forte utilização ser apoiada pela comunidade escolar.
Embora o livro didático passe por um processo de avaliação de âmbito nacional,
ainda há muito que se investigar e estudar sobre sua qualidade em termos dos princípios
conceituais que esse material oferece aos alunos e professores. Muitas pesquisas
acadêmicas já revelaram que os livros didáticos ainda não alcançaram o nível de
qualidade desejado (FRACALANZA; MEGID NETO, 2006). Há muitas mudanças a
serem realizadas nos processos de avaliação do PNLD para que de fato tenhamos
coleções didáticas na área de Ciências da Natureza de boa qualidade, que superem as
deficiências de natureza conceitual, epistemológica e histórica com respeito à ciência,
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ao ambiente, às relações Ciência-Tecnologia-Sociedade, entre outras concepções
fundamentais no ensino de Ciências (AMARAL; MEGID NETO, 1998; MEGID
NETO; FRACALANZA, 2006).
Procedimentos metodológicos
Considerando os aspectos supracitados buscou-se verificar como as coleções
didáticas de Ciências destinadas aos anos iniciais têm sido avaliadas pelo PNLD, no que
se refere às atividades experimentais, visto que nos últimos Guias do Livro Didático de
Ciências (PNLD 2007 e 2010) dão-se uma grande ênfase na questão do ensino de
Ciências pautado na pesquisa e na experimentação. Segundo o Guia de Ciências PNLD
2010:
A pesquisa propicia situações, tanto coletivas como individuais, para observações, questionamentos, formulação de hipóteses, experimentação, análise e registro, estabelecendo um rico processo de troca entre professores e alunos com vista a gerar novas indagações. A educação em ciências passa, então, a ser empolgante, dinâmica e estimulante, permitindo ao aluno explorar, conhecer e transformar seu mundo. Torna-se um processo em que sempre há espaço para atividades lúdicas. É esse o conceito de ensino de Ciências que se espera ser trabalhado no livro didático: ensinar ciências fazendo Ciência (BRASIL, 2009, p. 8).
Na avaliação do PNLD, o quesito “Pesquisa e Experimentação” é um dos sete
quesitos que direcionam a avaliação dos livros didáticos de Ciências - PNLD 2010.
Nessa categoria há os seguintes critérios de avaliação:
III. Pesquisa e Experimentação 18. São propiciadas situações de pesquisa, tanto coletivas como individuais, para questionamentos, observações, formulação de hipóteses, experimentação, coleta, análise e interpretação de dados, visando à construção progressiva e autônoma de conhecimentos? 19. São propostos experimentos e práticas viáveis, com resultados confiáveis e possibilitando interpretações científicas válidas? 20. Os experimentos e atividades de investigação científica são propostos dentro de riscos aceitáveis? A coleção alerta sobre esses riscos e recomenda claramente os cuidados para prevenção de acidentes na realização das atividades propostas? 21. São propostas atividades de sistematização de conhecimentos, por meio de textos, desenhos, figuras, tabelas e outros registros característicos da área de Ciências? 22. É sugerido que cada aluno tenha um caderno próprio para registro de atividades, com suas próprias palavras (anotações) e desenhos? 23. É estimulado o emprego de tabelas, diagramas e gráficos ou similares como parte da apresentação de resultados de análise de atividades práticas e pesquisas? (BRASIL, 2009, p.13)
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Pode-se observar que os critérios de avaliação supracitados evidenciam a ênfase
em atividades práticas de pesquisa e experimentação com base numa perspectiva de
ensino e aprendizagem significativa e investigativa, que converge com as ideias
apresentadas neste trabalho. O item 18 apresenta claramente que os livros didáticos
devem propiciar a pesquisa, utilizando para isso as etapas de “questionamentos,
observações, formulação de hipóteses, experimentação, coleta, análise e interpretação
de dados”, colaborando para a construção autônoma do conhecimento.
Este trabalho se constituiu na análise das resenhas do Guia do Livro Didático de
Ciências do PNLD 2010 no que concerne aos comentários sobre a abordagem da
experimentação nas coleções didáticas aprovadas, comparando-os com as atividades
experimentais apresentadas nas respectivas coleções, de modo, a responder a seguinte
questão: qual a coerência entre as resenhas-sínteses do Guia do Livro Didático de
Ciências do PNLD 2010 e as atividades experimentais presentes nas coleções didáticas
de Ciências aprovadas?
Para estudar e responder a questão suscitada, os procedimentos adotados para a
pesquisa foi a Análise de Conteúdo (AC) baseada nos autores Bardin (1977) e Franco
(2005). Essa metodologia foi adotada como ferramenta para a análise das resenhas do
Guia do Livro Didático e das coleções didáticas selecionadas.
Para a realização da pesquisa foram selecionadas cinco coleções didáticas de
Ciências dentre as onze aprovadas no PNLD 2010 baseadas nos seguintes critérios de
seleção: duas coleções didáticas que receberam o melhor nível qualificativo na
avaliação do PNLD no quesito “Pesquisa e Experimentação” e a combinação das três
coleções mais adquiridas pelo MEC com no mínimo quatro níveis bons de qualificação
nos quesitos da avaliação do PNLD.
A análise das coleções didáticas ficou sob duas categorias: “Experimentação por
redescoberta” e “Experimentação por resolução de problemas”. A elaboração dessas
duas categorias foi fundamentada nos aportes teóricos desta pesquisa: Moraes; Borges
(1998), Amaral (2000), Cachapuz et al. (2005) e outros.
Para a categoria “Experimentação por redescoberta” foram consideradas as
atividades de experimentação baseadas no modelo tradicional e da redescoberta que
consistem em experimentos demonstrativos realizados pelo professor ou apresentados
pelo LD para serem realizados pelos alunos; e que se baseiam na verificação e/ou
comprovação da teoria apresentada pelo professor ou LD com um roteiro já elaborado e
fechado, atividades do tipo “receita de cozinha”.
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Na categoria “Experimentação por resolução de problemas” consideramos as
atividades experimentais pautadas num sistema aberto, que consiste na elaboração de
questões instigadoras, problematização, formulação de hipóteses, construção do
conhecimento a partir das ideias e concepções dos alunos, sendo que o planejamento da
experimentação é formulado junto e/ou pelo aluno. Nesse caso, o roteiro para o
desenvolvimento do trabalho não é apresentado pelo LD, somente algumas questões ou
orientações instigadoras, ou ainda contextualização da problemática a ser estudada,
visando disparar o início do trabalho autônomo e criativo dos alunos.
As coleções selecionadas para a análise foram: “Projeto Conviver”, da editora
Moderna, “A Escola é Nossa”, editora Scipione, “Porta Aberta”, editora FTD, “Projeto
Pitanguá”, editora Moderna e “Aprendendo Sempre” editora Ática.
Constatações e discussão de resultados
Em linhas gerais observou-se a predominância de atividades experimentais
baseadas na abordagem tradicional e redescoberta de ensino. Em sua maioria, os
experimentos presentes nos livros didáticos de Ciências analisados estão estruturados
em modelos fechados e estruturados de montagem, execução, observação e conclusão
divergindo com as ideias de ensino de Ciências por resolução de problemas.
Todavia, os pareceres-sínteses do Guia do Livro Didático de Ciências – PNLD
2010 divergem desses dados. Nos pareceres dos avaliadores estas coleções são descritas
como obras didáticas que atendem e/ou assumem uma postura construtivista de ensino
em sua abordagem pedagógica proporcionando pesquisas e experimentações que
valorizam os conhecimentos prévios dos alunos, o levantamento de hipóteses, discussão
de resultados etc, além de possuir caráter inovador em suas atividades. Conforme
mostra o parecer-síntese da coleção “Projeto Conviver”:
Há estímulo frequente para a formulação de hipóteses, interpretação de resultados e discussão de alternativas. A observação, principalmente, e a experimentação são constantemente valorizadas. As perguntas formuladas para os alunos são de ótima qualidade, levando à reflexão crítica. As respostas não são antecipadas, permitindo ao aluno alcançar o prazer da descoberta (BRASIL, 2009, p. 77).
A figura 1 (Anexo) apresenta um exemplo de atividade experimental
predominante nas coleções analisadas:
Outro exemplo para ilustrar a excessiva presença de experimentos do tipo
redescoberta, com roteiros prontos e fechados, sem propiciar espaço para a
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problematização, desenvolvimento e discussão é a atividade experimental sobre as
forças magnéticas presente na Coleção “Porta Aberta” (figura 2, anexo).
São experimentos assim, encontrados em todos os livros didáticos de Ciências
analisados. Em algumas situações há o uso de figuras ilustrativas que já evidenciam ou
ilustram os resultados esperados suprimindo qualquer interesse e curiosidade dos
alunos.
Segundo a nossa análise, as coleções didáticas de Ciências ainda privilegiam os
experimentos baseados no modelo da redescoberta que oferecem o roteiro da atividade
passo a passo, com questões direcionadoras, que em sua maioria, conduzem o
desenvolvimento, as observações e a conclusão dos alunos.
Entretanto, nas resenhas-sínteses dos pareceristas do PNLD 2010 essa
observação não fica explícita. Ao contrário, as coleções didáticas são descritas como
atuais, que atendem as propostas de educação em Ciências visando uma aprendizagem
significativa e um ensino investigativo. Mas, a pesquisa revelou que há uma contradição
entre os pareceres-sínteses dos avaliadores e os experimentos presentes nos LDs
analisados.
A coerência entre a avaliação dos pareceristas de Ciências PNLD 2010 foi
encontrada apenas em situações esporádicas de algumas propostas de atividades
experimentais presentes nas coleções selecionadas. Nesses experimentos há a existência
de características do método da resolução de problemas e de atividades de natureza
investigativa.
Embora, imbuídos de considerações e acertos a serem mediados pelo professor,
são situações que proporcionam um grau de abertura para seu desenvolvimento e
obtenção de conhecimentos, sejam eles provisórios ou definitivos. Exemplos desse tipo
foram encontrados nas coleções: “Projeto Conviver”, “Aprendendo Sempre”, “A Escola
é Nossa”, conforme mostra o exemplo indicado na figura 3 (aanexo)
A primeira parte desta atividade (figura 3) oferece indícios de atividade
experimental baseada na problematização, uma vez que propõe a elaboração, realização,
registro e discussão da atividade. No entanto, na segunda parte esses indícios são
negados ao apresentar questões direcionadoras.
Ao nosso entender, essas questões, se necessárias, poderiam aparecer no manual
do professor, mas não no livro didático do aluno.
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Conclusões
Constatou-se que nas resenhas do Guia de Livro Didático de Ciências - PNLD
2010, os avaliadores, geralmente, descrevem um parecer positivo da coleção didática
aprovada evidenciando que os LDs estão em sintonia com propostas construtivistas e
com um ensino significativo e investigativo. Em suma, os pareceres informam que as
atividades experimentais estão pautadas no conhecimento prévio dos alunos, no
questionamento e levantamento de hipóteses, na discussão e reflexão do conhecimento.
Entretanto, a pesquisa revelou que existe uma contradição entre os pareceres dos
avaliadores e as coleções didáticas. Isso porque, na análise dos livros didáticos,
verificamos que há a predominância das atividades experimentais pautadas no método
da redescoberta, o qual em linhas gerais consiste na realização de demonstrações e
verificações científicas, por meio de observações/medições empírico-indutivas e
deduções de leis, teorias e conceitos através da reprodução sistemática. Mostramos que
há concordância entre vários teóricos do campo da pesquisa em Educação em Ciências,
como Amaral (1997), Borges e Moraes (1998), Pereira (2002), Cachapuz et al. (2005) e
outros, em valorizar o método por resolução de problemas ou similares como peça
chave para a necessária e urgente renovação do ensino de ciências.
Todas as coleções didáticas analisadas oferecem experimentos com ênfase na
redescoberta. Em algumas delas isto alcança 100% das atividades experimentais
propostas. Em outras, observamos a existência com menos frequência de experimentos
cujo roteiro sugere uma atividade de caráter investigativo ou ao menos com alguns
indícios desse modelo.
Nas coleções didáticas “Projeto Pitanguá” e “Porta Aberta”, segundo nossa
análise, as atividades experimentais abordam exclusivamente o método da redescoberta.
Os experimentos contidos nessas coleções se caracterizam como receituários, termo
utilizado por Gil-Pérez et al. (2005) entre outros, e não provocam questionamentos e,
tampouco proporcionam os conflitos cognitivos e confrontação de ideias, conforme
defendem Borges e Moraes (1998).
As coleções: “A Escola é Nossa” e “Projeto Conviver” receberam o nível mais
alto de qualificação no quesito “Pesquisa e Experimentação” no Guia de Livro Didático
de Ciências - PNLD 2010. Como essas coleções trazem, predominantemente, atividades
tipo redescoberta e os critérios de avaliação do Guia de Ciências do atual PNLD (PNLD
2010) valorizam a experimentação investigativa e aberta, por meio da resolução de
problemas ou outros métodos críticos de construção de conhecimentos por parte dos
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alunos, causa-nos grande estranhamento quanto à incoerência entre as resenhas e a
avaliação dessa obra pelo PNLD 2010, no quesito “Pesquisa e Experimentação” e o que
de fato é realizado nos livros do aluno dessas coleções.
Um fator que pode favorecer a incoerência da avaliação do PNLD com os livros
didáticos é a possível falta de compreensão de alguns pareceristas quanto ao significado
de “Pesquisa e Experimentação”, “investigação”, “construção de conhecimentos por
parte do aluno”, “problematização”, “reflexão”, abordagem de conhecimentos prévios
etc. O que suscita a questão: será que o problema da falta de sintonia dos pareceres-
sínteses (resenhas) do PNLD 2010 com as coleções didáticas analisadas está nas
divergências entre a concepção de ciência e experimentação dos sujeitos envolvidos no
PNLD 2010: avaliadores e autores dos livros didáticos?
Outro fator pode ser a dificuldade dos pareceristas – por força do processo de
Editais e Licitações do PNLD – em escrever resenhas que não só mostrem as qualidades
das coleções aprovadas, mas suas deficiências e limitações, ainda que algumas dessas
deficiências possam ser consideradas graves frente aos avanços da pesquisa no campo
da Educação em Ciências.
Além desses fatores, emerge uma outra questão a respeito da divergência entre
os PCN, o PNLD e os livros didáticos, visto que desde a década de 1990, o MEC criou
os PCN no sentido de assegurar orientações curriculares nacionais e, então, por que
estas disposições educacionais não estão presentes na avaliação do PNLD e nos livros
didáticos aprovados, já que ambos fazem parte do programa do MEC?
Referências
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Anexos
Figura 1: Atividade Experimental: “Os movimentos respiratórios” – Coleção “Projeto Conviver”.
Fonte: Coleção “Projeto Conviver”, livro do 4º ano do Ensino Fundamental, Ed. Moderna, 2008, p. 92.
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Figura 2: Atividade Experimental “Os pólos do Imã?” presente na Coleção “Porta Aberta”.
Fonte: Coleção “Porta Aberta”, livro do 5º ano do Ensino Fundamental, Ed. FTD, 2008, p. 21.
Figura 3: Atividade Experimental “Roteiro de elaboração do experimento”- Coleção “Projeto Conviver”.
Fonte: Coleção “Projeto Conviver”, livro do 4º ano do Ensino Fundamental, Ed. Moderna, 2008, p.22.
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