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05/08/2010 1 Psicologia social II VALESCHKA MARTINS GUERRA CRENÇAS E NORMAS UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA SOCIAL E DO DESENVOLVIMENTO Crenças, Normas, Atitudes e Valores De acordo com Rokeach (1981): Esses construtos estão organizados juntos, formando um sistema cognitivo funcionalmente integrado. Uma mudança em qualquer parte do sistema afetará outras partes e culminará em mudança comportamental. (Rokeach, 1981) CRENÇAS Qualquer proposição simples, consciente ou inconsciente, inferida a partir do que uma pessoa faz ou diz, capaz de ser precedida pela frase: ‘eu acredito que’ (Rokeach, 1981, p. 92). Podem ser tanto pessoais como socialmente compartilhadas. Admite-se que as crenças estejam organizadas em propriedades estruturais descritíveis e mensuráveis. Além disso, as crenças possuem conseqüências comportamentais observáveis. Por exemplo, conversão política ou religiosa. (Rokeach, 1981) Nem todas as crenças são igualmente importantes para o indivíduo; as crenças variam ao longo de uma dimensão periférico-central. Quanto mais central uma crença, tanto mais resistirá à mudança. Quanto mais central for a crença que mudou, tanto mais difundidas as repercussões no resto do sistema de crenças. Tipos de Crenças (Rokeach, 1981) Consenso unânime São aquelas aprendidas pelo encontro direto com o objeto da crença. Não estão sujeitas a controvérsias; são tomadas como certas e incontestáveis. São reforçadas por um consenso social unânime entre todas as referências de pessoas e grupo. As crenças primitivas de um indivíduo representam suas “verdades básicas” sobre a realidade física, social e a natureza do “eu”. Crenças primitivas (Rokeach, 1981)

Aula 01 - Crenças e normas

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Psicologia social II

VALESCHKA MARTINS GUERRA

CRENÇAS E NORMAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTOCENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA SOCIAL E DO DESENVOLVIMENTO

Crenças, Normas, Atitudes e Valores

De acordo com Rokeach (1981):

� Esses construtos estão organizados juntos, formandoum sistema cognitivo funcionalmente integrado.

� Uma mudança em qualquer parte do sistema afetaráoutras partes e culminará em mudançacomportamental.

(Rokeach, 1981)

CRENÇAS

� Qualquer proposição simples, consciente ouinconsciente, inferida a partir do que uma pessoa fazou diz, capaz de ser precedida pela frase: ‘euacredito que’ (Rokeach, 1981, p. 92).

� Podem ser tanto pessoais como socialmentecompartilhadas.

� Admite-se que as crenças estejam organizadas empropriedades estruturais descritíveis e mensuráveis.

� Além disso, as crenças possuem conseqüênciascomportamentais observáveis. Por exemplo,conversão política ou religiosa.

(Rokeach, 1981)

� Nem todas as crenças são igualmente importantespara o indivíduo; as crenças variam ao longo deuma dimensão periférico-central.

� Quanto mais central uma crença, tanto maisresistirá à mudança.

� Quanto mais central for a crença que mudou, tantomais difundidas as repercussões no resto do sistemade crenças.

Tipos de Crenças

(Rokeach, 1981)

Consenso unânime

� São aquelas aprendidas pelo encontro direto com oobjeto da crença.

� Não estão sujeitas a controvérsias; são tomadascomo certas e incontestáveis.

� São reforçadas por um consenso social unânimeentre todas as referências de pessoas e grupo.

� As crenças primitivas de um indivíduo representamsuas “verdades básicas” sobre a realidade física,social e a natureza do “eu”.

Crenças primitivas

(Rokeach, 1981)

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Consenso zero

� Também são aprendidas pelo encontro direto com oobjeto da crença;

� Envolvem percepções pessoais, subjetivas, baseadasna experiência do indivíduo;

� São independentes do consenso do grupo.

Crenças primitivas

(Rokeach, 1981)

Crenças de autoridade

� Em relação as crenças primitivas, este tipo é maisfácil de mudar e é tida como tendo menor grau deimportância.

� Grupos de referência – se ampliam gradualmenteatravés do encontro direto com autoridades. Porexemplo, pais, professor, pares.

� Estão sujeitas à controvérsias, sendo maisfacilmente modificadas.

(Rokeach, 1981)

Crenças derivadas

� Acreditar numa autoridade específica, implica naaceitação de outras crenças vistas comoprovenientes de tal autoridade.

� Deriva do processo de identificação com aautoridade mais do que pelo encontro direto com oobjeto de crença.

� Estão sujeitas à controvérsias, sendo maisfacilmente modificadas.

(Rokeach, 1981)

Crenças inconseqüentes

� Crenças que representam questões de gosto maisou menos arbitrário.

� Origina-se da experiência direta com o objeto decrença.

� São passíveis de mudança.

� Sua manutenção não requer, necessariamente, umconsenso social.

(Rokeach, 1981)

Pesquisas e teorias

� A quase totalidade de teorias da Psicologia utilizacrenças cognitivas como a sua base explicativa.

� Teoria da crença no mundo justo: Sugere que osindivíduos recebem o que merecem e merecemaquilo que têm. Quando negativo, leva a umpensamento incriminatório, gerando umaculpabilização individual pela situação desofrimento.

(Jodelet, 2008)

Crença no mundo justo

� Para justificar a ocorrência de fatos acidentais, ohomem desenvolve a crença de que bons eventosacontecem a boa gente (ex.: cumpridores dasnormas sociais) e maus eventos, a pessoas ruins(ex.: aqueles que infringem as normas), diminuindo,assim, a sensação de que a vida é aleatória.

� Nesse sentido, ela torna o mundo estável eprevisível.

� Ex.: Pesquisa com pacientes soropositivo (atores) emédicos (observadores).

(Regato & Assmar, 2004)

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Estereótipos

� Uma crença formada e compartilhada acerca de umdeterminado grupo ou categoria social.

� Pode ser relativa ao comportamento, àpersonalidade ou a qualquer outro atributo dos seusmembros.

� Ativar um estereótipo é fazer lembrar quais são osatributos mais característicos dos membros de umdeterminado grupo ou categoria.

(Freire & Pereira, 2009)

Estereótipos

� Exemplos:

- Os idosos são mais experientes;

- As mulheres são mais delicadas.

� Pesquisas sobre estereótipos buscam compreender amudança no desempenho das pessoas quando estessão ativados:

- Dois grupos experimentais: para o primeiro, sãoativados estereótipos positivos e para o segundo,negativos. O primeiro apresenta melhordesempenho em testes.

(Freire & Pereira, 2009)

Crenças e o contexto

� As crenças são baseadas nas interações sociais e naexperiência, direta ou indireta com o objeto;

� Por isso, estão intimamente relacionadas com ocontexto sócio-cultural de inserção do indivíduo;

� Por serem elaboradas socialmente, estão sujeitas aum sistema de regras implícitas e explícitas deaceitação por parte da sociedade.

(Aronson, Wilson, & Akert, 2002; Rokeach, 1981)

� Normas são regras implícitas ou explícitas decomportamentos e crenças aceitáveis.

� Todo grupo tem certas expectativas em relação àmaneira como seus membros devem se comportar.

� Os membros mais respeitados do grupoconformam-se à essas regras estabelecidas. Os quenão o fazem são considerados diferentes, podendoser ridicularizados, punidos ou mesmo rejeitados.

� Normas sociais são compartilhadas entre diferentesmembros de um grupo.

NORMAS

(Aronson et al., 2002; Crisp & Turner, 2008)

� Cialdini e Trost (1998) definem as normas sociaiscomo regras ou padrões compartilhados pelosmembros de um grupo, guiando seuscomportamentos sem a força de uma lei explícita.

� Miller e Prentice (1996) definem normas comoatributos de um grupo que descrevem eprescrevem comportamentos, mas acrescentamque normas não são fixas e podem se originar danecessidade de cada ocasião, variando conforme ocontexto.

Normas

(Iglesias & Gunther, 2007)

� Em qualquer situação, o comportamento égovernado por normas provenientes de váriasfontes:

1. Normais locais e grupais: aplicam-se a gruposespecíficos;

2. Normas subculturais: aplicam-se a grandenúmeros de pessoas que compartilhamcaracterísticas específicas (ex.: grupos raciais);

3. Normas sociais: aplicam-se a todas as pessoas deuma sociedade, especificando ou limitandocomportamentos de acordo com a situação (ex.:como se vestir, atividades sexuais, etc.).

Normas

(Michener, DeLamater & Myers, 2005)

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� Neste sentido, as normas sociais ajudam a definir adireção e o conteúdo do preconceito em umasociedade.

� Indivíduos necessitam de padrões e referênciaspara fazerem as suas avaliações e julgamentos.

� Quando a situação é coletiva, é o grupo que forneceessas referências.

Normas

(Lima, Machado, Ávila, Lima & Vala, 2006)

� A norma social exerce influência direta quando aatenção dos sujeitos estiver focada nela.

� Dois tipos de normas podem operar:

- Descritivas: expressam aquilo que está sendo feito,indicando qual a ação mais efetiva e adaptativa.Referem-se ao que os outros estão fazendo, qual oexemplo a ser seguido;

- Injuntivas: expressam aquilo que é comumenteaprovado ou desaprovado, antecipandorecompensas e punições em função docomportamento exercido. Referem-se a sançõesinformais, raramente explícitas.

Normas

(Iglesias & Gunther, 2007)

� Conformidade é um termo usado para descrever umcomportamento de concordância com normassociais implícitas.

� A tendência à conformidade deriva da necessidadehumana de companheirismo e aceitação.

� Um exemplo clássico de conformidade é o estudo deAsch (1951). O participante deveria identificar quala linha que mais se aproximava ao primeiroestímulo apresentado. Seus resultados mostraramque cerca de 76% dos participantes apresentaramrespostas erradas para não ir de encontro ao grupo.

Conformidade

(Aronson et al., 2002; Crisp & Turner, 2008; Michener et al., 2005)

� Obediência, por sua vez, diz respeito à umcomportamento de concordância com normassociais explícitas ou ordens diretas.

� O experimento de Milgram (1963) solicitava que osparticipantes aplicassem choques elétricos a umsuposto aprendiz cada vez que este errasse atarefa. A cada novo erro, o choque aumentaria deintensidade. Os resultados mostraram que 65% dosparticipantes obedeceram o pesquisador eaplicaram um choque de 450 volts.

Obediência

(Crisp & Turner, 2008; Michener et al., 2005)

De acordo com Milgram (1963), três fatores estãopresentes em situações de alta obediência.

1. Norma cultural de obediência à autoridades: aspessoas acreditam que autoridades são, em geral,confiáveis e legítimas.

2. Solicitação gradual da obediência: os choquecomeçaram leves e foram aumentando gradualmente.

3. Atribuição de responsabilidade à terceiros presentes nasituação.

Obediência

(Crisp & Turner, 2008)

� Um comportamento desviante é qualquer ato queinfringe as normas sociais que se aplicam adeterminada situação.

� O desvio, assim como as normas, é uma construçãosocial. Um comportamento é desviante ou não deacordo com as normas ou expectativas em relação aesse comportamento na situação em que ele ocorre.

� Violações de normas locais podem ser apenas daalçada de determinado grupo. Violações de normassubculturais e sociais podem afetar as interaçõesdiárias da pessoa e submetê-la à ação de agênciasde controle, como a polícia ou tribunais.

Comportamento desviante

(Michener et al., 2005)

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Referências

Aronson, E., Wilson, T & Akert, R. (2002). Psicologia social. Rio deJaneiro: LTC.

Bock, A., Furtado, O., & Teixeira, M. (1999). Psicologias: Uma

introdução ao estudo da psicologia. São Paulo: Saraiva.Crisp, R. & Turner, R. (2008). Essential social psychology. London:

Sage.Freire, V. & Pereira, M. (2009). Crenças estereotipadas acerca de

atletas que sofreram lesões. Ciências & Cognição, 14, 225-234.Iglesias, F. & Gunther, H. (2007). Normas, justiça, atribuição e

poder: Uma revisão e agenda de pesquisa sobre filas de espera.Estudos de Psicologia, 12, 03-11.

Jodelet, D. (2008). Os processos psicossociais da exclusão. Em B.Sawaia (Org.). As artimanhas da exclusão: Análise psicossocial eética da desigualdade social (pp. 53-66). 8ª ed. Petrópolis: Vozes.

Referências

Lima, M., Machado, C., Ávila, J., Lima, C. & Vala, J. (2006). Normassociais e preconceito: O impacto da igualdade e da competição nopreconceito automático contra os negros. Psicologia: Reflexão e

Crítica, 19, 309-319.Michener, H., DeLamater, J., & Myers, D. (2005). Psicologia social.

São Paulo: Pioneira Thomson Learning.Regato, V. & Assmar, E. (2004). A AIDS de nossos dias: Quem é o

responsável? Estudos de Psicologia, 9, 167-175.Rokeach, M. (1981). Crenças, atitudes e valores. Rio de Janeiro:

Interciência.

Temas para o trabalho final

• Auto-estima• Atração interpessoal:- amor- amizade- relacionamentos íntimos• Comportamento antissocial :- agressão- violência- crime• Comportamento pró-social:- ajuda- altruísmo• Coping e resiliência• Espiritualidade e religiosidade• Estados emocionais• Exclusão social• Identidade social• Individualismo e coletivismo

• Linguagem e produção de sentido• Personalidade• Preconceito:- sexo- idade- peso- orientação sexual- religião- nacionalidade- raça• Preferência musical• Sexualidade:- pornografia- infidelidade- comportamento/assertividade sexual- gênero- LGBT• Satisfação com a vida