15
www.cers.com.br NOVO CURSO PARA CARREIRA JURÍDICA Direito Penal Rogério Sanches 1 DIREITO PENAL: CONCEITO a) Aspecto Formal / Estático: Direito Penal é o conjunto de normas que qualifica certos comportamentos humanos como infrações penais, define os seus agentes e fixa sanções a serem-lhes aplicadas. b) Aspecto Material: O Direito Penal refere-se a comportamentos considerados altamente reprováveis ou danosos ao organismo social, afetando bens jurídicos indispensáveis à própria conservação e progresso da sociedade. c) Aspecto Sociológico/Dinâmico (TJ/PR): Direito Penal é mais um instrumento de controle social visando assegurar a necessária disciplina para a harmônica convivência dos membros da sociedade. Aprofundando o enfoque sociológico - A manutenção da paz social demanda a existência de normas destinadas a estabelecer diretrizes. - Quando violadas as regras de conduta, surge para o Estado o dever de aplicar sanções (civis ou penais). - Nessa tarefa de controle social atuam vários ramos do Direito. - Quando a conduta atenta contra bens jurídicos especialmente tutelados, merece reação mais severa por parte do Estado, valendo-se do Direito Penal. - O que diferencia a norma penal das demais é a espécie de consequência jurídica (pena privativa de liberdade). DIREITO PENAL: MISSÃO Na atualidade, a doutrina divide a missão do Direito Penal em: 1- MISSÃO MEDIATA a) Controle Social b) Limitação ao Poder de Punir do Estado OBS.: Se de um lado, o Estado controla o cidadão, impondo-lhe limites, de outro lado é necessário também limitar seu próprio poder de controle evitando a hipertrofia da punição. 2- MISSÃO IMEDIATA A doutrina diverge: (MP/MG - 1ª fase) 1ª Corrente: a missão do Direito Penal é proteger bens jurídicos (Funcionalismo de Roxin). 2ª Corrente: a missão do Direito Penal é assegurar o ordenamento jurídico, a vigência da norma (Funcionalismo de Jakobs).

Aula 1 - Direito Penal.pdf

Embed Size (px)

Citation preview

  • www.cers.com.br

    NOVO CURSO PARA CARREIRA JURDICA Direito Penal

    Rogrio Sanches

    1

    DIREITO PENAL: CONCEITO

    a) Aspecto Formal / Esttico: Direito Penal o conjunto de normas que qualifica certos comportamentos humanos como infraes penais, define os seus agentes e fixa sanes a serem-lhes aplicadas.

    b) Aspecto Material: O Direito Penal refere-se a comportamentos considerados altamente reprovveis ou danosos ao organismo social, afetando bens jurdicos indispensveis prpria conservao e progresso da sociedade.

    c) Aspecto Sociolgico/Dinmico (TJ/PR): Direito Penal mais um instrumento de controle social visando assegurar a necessria disciplina para a harmnica convivncia dos membros da sociedade.

    Aprofundando o enfoque sociolgico

    - A manuteno da paz social demanda a existncia de normas destinadas a estabelecer diretrizes. - Quando violadas as regras de conduta, surge para o Estado o dever de aplicar sanes (civis ou penais). - Nessa tarefa de controle social atuam vrios ramos do Direito. - Quando a conduta atenta contra bens jurdicos especialmente tutelados, merece reao mais severa por parte do Estado, valendo-se do Direito Penal. - O que diferencia a norma penal das demais a espcie de consequncia jurdica (pena privativa de liberdade).

    DIREITO PENAL: MISSO

    Na atualidade, a doutrina divide a misso do Direito Penal em:

    1- MISSO MEDIATA

    a) Controle Social b) Limitao ao Poder de Punir do Estado OBS.: Se de um lado, o Estado controla o cidado, impondo-lhe limites, de outro lado necessrio tambm limitar seu prprio poder de controle evitando a hipertrofia da punio.

    2- MISSO IMEDIATA

    A doutrina diverge: (MP/MG - 1 fase)

    1 Corrente: a misso do Direito Penal proteger bens jurdicos (Funcionalismo de Roxin). 2 Corrente: a misso do Direito Penal assegurar o ordenamento jurdico, a vigncia da norma (Funcionalismo de Jakobs).

  • www.cers.com.br

    NOVO CURSO PARA CARREIRA JURDICA Direito Penal

    Rogrio Sanches

    2

    2- Quanto ao ESPAO: Em regra, aplica-se a lei penal aos fatos ocorridos no territrio nacional (Princpio da Territorialidade art. 5 C.P.).

    Art. 5, C.P. - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuzo de convenes, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no territrio nacional.

    3- Quanto ao TEMPO: O direito de punir no eterno (a maior prova dessa afirmao a prescrio limite temporal do direito de punir).

    OBS.: O direito de punir monoplio do Estado, ficando proibida a justia privada.

    A justia privada pode caracterizar o crime de exerccio arbitrrio das prprias razes (art. 345 C.P.).

    Art. 345 - Fazer justia pelas prprias mos, para satisfazer pretenso, embora legtima, salvo quando a lei o permite:

    CUIDADO! H um caso que o Estado tolera a punio privada paralela punio estatal: ESTATUTO DO NDIO (art. 57 da lei n 6001/73)

    Art. 57. Ser tolerada a aplicao, pelos grupos tribais, de acordo com as instituies prprias, de sanes penais ou disciplinares contra os seus membros, desde que no revistam carter cruel ou infamante, proibida em qualquer caso a pena de morte.

    Estatuto de Roma - Artigo 1 - O Tribunal - criado, pelo presente instrumento, um Tribunal Penal Internacional ("o Tribunal"). O Tribunal ser uma instituio permanente, com jurisdio sobre as pessoas responsveis pelos crimes de maior gravidade com alcance internacional, de acordo com o presente Estatuto, e ser complementar s jurisdies penais nacionais. A competncia e o funcionamento do Tribunal reger-se-o pelo presente Estatuto.

    DIREITO PENAL SIMBLICO

    A LEI, NECESSRIA, NASCE SEM QUALQUER EFICCIA SOCIAL. EX: CRIA-SE O TIPO PENAL COM PENA DESPROPORCIONAL

    VELOCIDADES DO DIREITO PENAL

    Idealizadas por Silva Snchez. Trabalha com o tempo que o Estado leva para punir o autor de uma infrao penal mais ou menos severa.

  • www.cers.com.br

    NOVO CURSO PARA CARREIRA JURDICA Direito Penal

    Rogrio Sanches

    3

    1 VELOCIDADE: Enfatiza infraes penais mais graves, punidas com pena privativa de liberdade, exigindo procedimento mais demorado, observando todas as garantias penais e processuais.

    2 VELOCIDADE: Flexibiliza direitos e garantias fundamentais, possibilitando punio mais clere, mas, em contrapartida, prev penas alternativas.

    3 VELOCIDADE: Mescla a 1 velocidade e a 2 velocidade.

    - Defende a punio do criminoso com pena privativa de liberdade (1 velocidade). -Permite, para determinados crimes, a flexibilizao de direitos e garantias constitucionais (2 velocidade).

    FONTES DO DIREITO PENAL

    Lugar de onde vem (fonte material) e como se exterioriza (fonte formal) o Direito Penal.

    1- FONTE MATERIAL (fbrica) a fonte de produo da norma (rgo encarregado de criar o Direito Penal): UNIO (artigo 22, I, C.F.).

    Art. 22. Compete privativamente Unio legislar sobre:

    I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrrio, martimo, aeronutico, espacial e do trabalho;

    IMPORTANTE!

    Lei complementar pode autorizar o Estado a legislar sobre Direito Penal incriminador no seu mbito.

    Art. 22, pargrafo nico. Lei complementar poder autorizar os Estados a legislar sobre questes especficas das matrias relacionadas neste artigo.

    FONTES DO DIREITO PENAL

    2- FONTE FORMAL (propagar o produto fabricado)

    o instrumento de exteriorizao do Direito Penal, o modo como as regras so reveladas (fonte de conhecimento ou cognio).

    2- FONTES FORMAIS

    a) Imediatas (Doutrina Moderna) a.1) LEI - Fonte formal imediata. - nico instrumento normativo capaz de criar infraes penais e cominar sanes.

    a.2) CONSTITUIO FEDERAL

    - Fonte formal imediata. - Muito embora no possa criar infraes penais ou cominar sanes, a C.F. nos revela o Direito Penal estabelecendo patamares mnimos (mandado constitucional de criminalizao) abaixo dos quais a interveno penal no se pode reduzir.

  • www.cers.com.br

    NOVO CURSO PARA CARREIRA JURDICA Direito Penal

    Rogrio Sanches

    4

    # Pergunta (fase oral MP/SP): Se a C.F. superior lei, porque ela no pode criar infraes penais ou cominar sanes?

    Em razo de seu processo moroso de alterao.

    EXEMPLOS DE MANDADOS CONSTITUCIONAIS DE CRIMINALIZAO:

    Art. 5, XLII, CF - A prtica do racismo constitui crime inafianvel e imprescritvel, sujeito pena de recluso (patamares mnimos), nos termos da lei; (a lei quem cria o crime de racismo e comina a sua pena).

    Art. 5, XLIV, CF - Constitui crime inafianvel e imprescritvel (patamares mnimos) a ao de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrtico;

    - Ex: O legislador no poderia retirar o crime de homicdio do ordenamento jurdico, porque a C.F./88 garante o direito vida. - Com base no mandado constitucional de criminalizao implcito questiona-se a legalizao do aborto.

    2- FONTES FORMAIS

    a) Imediatas (Doutrina Moderna) a.4) JURISPRUDNCIA - Fonte formal imediata. - Revela Direito Penal, podendo ter inclusive carter vinculante.

    Ex: Art. 71 C.P. - Quando o agente, mediante mais de uma ao ou omisso, pratica dois ou mais crimes da mesma espcie e, pelas condies de tempo (jurisprudncia prope 30 dias), lugar, maneira de execuo e outras semelhantes, devem os subseqentes ser havidos como continuao do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um s dos crimes, se idnticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois teros.

    2- FONTES FORMAIS

    a) Imediatas (Doutrina Moderna)

  • www.cers.com.br

    NOVO CURSO PARA CARREIRA JURDICA Direito Penal

    Rogrio Sanches

    5

    a.5) PRINCPIOS

    - Fonte formal imediata. - No raras vezes, os Tribunais absolvem ou reduzem penas com fundamento em princpios. - Ex: Princpio da Insignificncia causa de atipicidade.

    a.6) ATOS ADMINISTRATIVOS

    - Fonte formal imediata quando complementam norma penal em branco.

    - Ex: Lei de drogas complementada por uma Portaria da ANVISA.

    2- FONTE FORMAL

    b) Mediata (Doutrina Moderna) b.1) DOUTRINA # COSTUMES?

    - So classificados como fontes informais do Direito Penal. - O assunto ser aprofundado no estudo do Princpio da Legalidade.

    INTERPRETAO DA LEI PENAL

    O ato de interpretar necessariamente feito por um sujeito que, empregando determinado modo, chega a um resultado.

    1- Interpretao quanto ao SUJEITO (ORIGEM)

    a) Interpretao autntica (ou legislativa) - aquela fornecida pela prpria lei. - Ex: Art. 327 C.P. (conceito de funcionrio

    pblico).

    Art. 327, C.P. - Considera-se funcionrio pblico, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remunerao, exerce cargo, emprego ou funo pblica.

    1 - Equipara-se a funcionrio pblico quem exerce cargo, emprego ou funo em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de servio contratada ou conveniada para a execuo de atividade tpica da Administrao Pblica.

    b) Interpretao doutrinria (ou cientfica) - a interpretao feita pelos estudiosos. - Ex: Livro de doutrina.

    c) Interpretao jurisprudencial - o significado dado s leis pelos Tribunais. - Pode ter carter vinculante.

    INTERPRETAO DA LEI PENAL

    2- Interpretao quanto ao MODO

    a) Gramatical / Filolgica (TJ/ MS) / Literal - Considera o sentido literal das palavras.

    b) Teleolgica - Perquire a inteno objetivada na lei.

    c) Histrica - Indaga a origem da lei.

    d) Sistemtica

    Interpretao em conjunto com a legislao em vigor e com os princpios gerais do Direito.

    e) Progressiva (ou evolutiva) - Busca o significado legal de acordo com o progresso da cincia.

    INTERPRETAO DA LEI PENAL

    3- Interpretao quanto ao RESULTADO

    a) Declarativa / Declaratria

    aquela em que a letra da lei corresponde exatamente quilo que o legislador quis dizer (nada suprimindo, nada adicionando).

  • www.cers.com.br

    NOVO CURSO PARA CARREIRA JURDICA Direito Penal

    Rogrio Sanches

    6

    b) Restritiva

    A interpretao reduz o alcance das palavras da lei para corresponder vontade do texto.

    c) Extensiva (+ cai no concurso)

    Amplia-se o alcance das palavras da lei para que corresponda vontade do texto.

    ATENO! A doutrina cita, ainda, duas espcies de interpretao:

    1- INTERPRETAO SUI GENERIS Se subdivide em:

    a) EXOFRICA: o significado da norma interpretada no est no ordenamento normativo.

    Exemplo: art. 20 C.P. (tipo) quem define o que tipo legal a doutrina e no a lei.

    Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punio por crime culposo, se previsto em lei.

    b) ENDOFRICA : o texto normativo interpretado empresta o sentido de outros textos do prprio ordenamento normativo (interpretao muito utilizada nas normas penais em branco).

    Exemplo: art. 237 C.P. a expresso impedimento para casamento interpretada de acordo com o Cdigo Civil.

    Art. 237 - Contrair casamento, conhecendo a existncia de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta:

    Pena - deteno, de trs meses a um ano.

    2- INTERPRETAO CONFORME A CONSTITUIO

    - A Constituio informa e conforma as normas hierarquicamente inferiores. - Assume ntido relevo dentro da perspectiva do Estado Democrtico de Direito.

    INTERPRETAO EXTENSIVA: Aprofundando

    # Admite-se interpretao extensiva contra o ru?

    1 Corrente (Nucci e Luiz Regis Prado): indiferente se a interpretao extensiva beneficia ou prejudica o ru (a tarefa do intrprete evitar injustias).

    - A C.F./88 no probe interpretao extensiva contra o ru.

    2 Corrente (Luiz Flvio Gomes / Defensoria Pblica): Socorrendo-se do Princpio do in dubio pro reo, no admite interpretao extensiva contra o ru (na dvida, o juiz de interpretar em seu benefcio)

    - Estatuto de Roma - Artigo 22.2- A previso de um crime ser estabelecida de forma precisa e no ser permitido o recurso analogia. Em caso de ambiguidade, ser interpretada a favor da pessoa objeto de inqurito, acusada ou condenada.

    Exemplo1: Art. 121, 2, I, II e IV C.P. Exemplo2: Art. 306 C.T.B.

    Para Rogrio Greco:

  • www.cers.com.br

    NOVO CURSO PARA CARREIRA JURDICA Direito Penal

    Rogrio Sanches

    7

    I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;

    III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;

    IV - traio, de emboscada, ou mediante dissimulao ou outro recurso que dificulte ou torne impossvel a defesa do ofendido; Pena - recluso, de doze a trinta anos.

    ART. 306, C.T.B.

    Art. 306. Conduzir veculo automotor com capacidade psicomotora alterada em razo da influncia de lcool ou de outra substncia psicoativa que determine dependncia: (Redao dada pela Lei n 12.760, de 2012)

    ATENO! A INTERPRETAO ANALGICA no se confunde com

    ANALOGIA

    ANALOGIA

    - No forma de interpretao, mas de integrao.

    - Pressupe lacuna.

    - Parte-se do pressuposto de que no existe uma lei a ser aplicada ao caso concreto, motivo pelo qual preciso socorrer-se de previso legal empregada outra situao similar.

    PRESSUPOSTOS DA ANALOGIA NO DIREITO PENAL

    a) Certeza de que sua aplicao ser favorvel ao ru (analogia in bonam partem).

    b) Existncia de uma efetiva lacuna a ser preenchida (omisso voluntria do legislador).

    Exemplo1: Art. 181, I C.P. (o legislador no lembrou da unio estvel possvel analogia in bonam partem).

    Exemplo2: Art. 155 2 C.P. Furto Privilegiado (no aplicvel ao roubo, uma vez

    que a inteno voluntria do legislador no privilegiar esse tipo de crime).

    ART. 181, I C.P.

    Art. 181 - isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste ttulo, em prejuzo: (Vide Lei n 10.741, de 2003)

    I - do cnjuge, na constncia da sociedade conjugal;

    ART. 155 2 C.P.

    Furto

    Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia mvel: Pena - recluso, de um a quatro anos, e multa. 2 - Se o criminoso primrio, e de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de recluso pela de deteno, diminu-la de um a dois teros, ou aplicar somente a pena de multa.

    PRINCPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL

    Podemos estudar os Princpios do Direito Penal formando 4 grupos:

    1 Princpios relacionados com a MISSO FUNDAMENTAL DO DIREITO PENAL

    2 Princpios relacionados com o FATO DO AGENTE

    3 Princpios relacionados com o AGENTE DO FATO

  • www.cers.com.br

    NOVO CURSO PARA CARREIRA JURDICA Direito Penal

    Rogrio Sanches

    8

    4 Princpios relacionados com a PENA

    1 Princpios relacionados com a MISSO FUNDAMENTAL DO DIREITO PENAL

    1.1- Princpio da EXCLUSIVA PROTEO DOS BENS JURDICOS

    - O Direito Penal deve servir apenas e to somente para proteger bens jurdicos relevantes.

    CONCEITO DE BEM JURDICO:

    - um ente material ou imaterial, haurido do contexto social, de titularidade individual ou metaindividual, reputado como essencial para a coexistncia e o desenvolvimento do homem em sociedade.

    1 Princpios relacionados com a MISSO FUNDAMENTAL DO DIREITO PENAL

    1.2- Princpio da INTERVENO MNIMA

    O Direito Penal s deve ser aplicado quando estritamente necessrio, de modo que sua interveno fica condicionada ao fracasso das demais esferas de controle (carter subsidirio), observando somente os casos de relevante leso ou perigo de leso ao bem jurdico tutelado (carter fragmentrio).

    IMPORTANTE! O princpio da insignificncia desdobramento lgico de qual caracterstica da interveno mnima?

    PRINCPIO DA INSIGNIFICNCIA

    - um princpio limitador do Direito Penal. - Causa de ATIPICIDADE MATERIAL

    PRINCPIO DA INSIGNIFICNCIA DE ACORDO COM OS TRIBUNAIS SUPERIORES (STF / STJ):

    - Requisitos: (para decorar: prol)

    1- Ausncia de periculosidade social da ao 2- Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento. 3- Mnima ofensividade da conduta do agente 4- Inexpressividade da leso jurdica causada.

    OBSERVAES SOBRE O PRINCPIO DA INSIGNIFICNCIA

  • www.cers.com.br

    NOVO CURSO PARA CARREIRA JURDICA Direito Penal

    Rogrio Sanches

    9

    1- STF e STJ: para aplicao do princpio da insignificncia, consideram a capacidade econmica da vtima (STJ-Resp. 1.224.795).

    2- H julgados no STF e STJ (prevalece) negando o princpio da insignificncia para o reincidente, portador de maus antecedentes, ou o criminoso habitual (STF-HC 107.674; STJ-Resp. 1.277.340).

    3- Prevalece no STF e no STJ no ser possvel o princpio da insignificncia no furto qualificado (falta o requisito do reduzido grau de reprovabilidade do comportamento).

    4- STF e STJ no admitem o princpio da insignificncia nos crimes contra a f pblica, mais precisamente moeda falsa (STF-HC 105.829).

    OBSERVAES SOBRE O PRINCPIO DA INSIGNIFICNCIA

    5- STF admite o princpio da insignificncia nos crimes contra a Administrao Pblica praticados por funcionrio pblico. STJ no admite.

    No entanto, STF e STJ admitem o princpio da insignificncia nos crimes contra a Administrao Pblica praticados por particulares.

    6- Prevalece que STF e STJ no admitem o princpio da insignificncia no porte de drogas para uso prprio.

    7- STF e STJ no admitem o princpio da insignificncia em nenhuma forma de trfico.

    8- STF e STJ tm decises admitindo o princpio da insignificncia nos crimes ambientais (h importante divergncia sobre o assunto).

    2 Princpios relacionados com o FATO DO AGENTE

    2.1- Princpio da EXTERIORIZAO ou MATERIALIZAO DO FATO O Estado s pode incriminar condutas humanas voluntrias, isto , fatos.

    ATENO! Veda-se o Direito Penal do autor: Consistente na punio do indivduo baseada em seus pensamentos, desejos e estilo de vida.

    O Direito Penal brasileiro um DIREITO PENAL DO FATO.

    Ex: Art. 2 CP - Ningum pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execuo e os efeitos penais da sentena condenatria.

    O nosso ordenamento penal, de forma legtima, adotou o Direito Penal do fato, mas que considera circunstncias relacionadas

  • www.cers.com.br

    NOVO CURSO PARA CARREIRA JURDICA Direito Penal

    Rogrio Sanches

    10

    ao autor, especificamente quando da anlise da pena.

    Ex: Mendicncia (art. 60 L.C.P. abolido) era Direito Penal do autor.

    2 Princpios relacionados com o FATO DO AGENTE

    2.2- Princpio da LEGALIDADE Analisaremos na prxima aula.

    2 Princpios relacionados com o FATO DO AGENTE

    2.3- Princpio da OFENSIVIDADE / LESIVIDADE

    Exige que do fato praticado ocorra leso ou perigo de leso ao bem jurdico tutelado.

    -CRIME DE DANO: ocorre efetiva leso ao bem jurdico. -CRIME DE PERIGO: basta risco de leso ao bem jurdico.

    a) Perigo abstrato: o risco de leso absolutamente presumido por lei. b) Perigo concreto: o risco deve ser demonstrado.

    - Temos doutrina entendendo que o crime de perigo abstrato inconstitucional. Presumir prvia e abstratamente o perigo significa, em ltima anlise, que o perigo no existe.

    - Essa tese, no entanto, hoje no prevalece no STF. No HC 104.410, o Supremo decidiu que a criao de crimes de perigo abstrato no representa, por si s, comportamento inconstitucional, mas proteo eficiente do Estado.

    Ex.: Embriaguez ao volante STF decidiu que o brio no precisa dirigir de forma anormal para configurar o crime bastando estar embriagado (crime de perigo abstrato).

    Ex.: Arma desmuniciada STF jurisprudncia atual crime de perigo abstrato demanda efetiva proteo do Estado.

    3 Princpios relacionados com o AGENTE DO FATO

    3.1- Princpio da RESPONSABILIDADE PESSOAL

    Probe-se o castigo pelo fato de outrem. Est vedada a responsabilidade coletiva.

    DESDOBRAMENTOS:

    a) Obrigatoriedade da individualizao da acusao proibida a denncia genrica, vaga ou evasiva (Promotor deve individualizar os comportamentos). Ateno: Nos Crimes Societrios, os Tribunais flexibilizam essa obrigatoriedade.

    b) Obrigatoriedade da individualizao da pena

    3 Princpios relacionados com o AGENTE DO FATO

    3.2- Princpio da RESPONSABILIDADE SUBJETIVA

    No basta que o fato seja materialmente causado pelo agente, ficando a sua responsabilidade condicionada existncia da voluntariedade (dolo/culpa).

    Em sntese, est proibida a responsabilidade penal objetiva.

    ATENO: Concurso de delegado da polcia civil / DF 2 fase - Temos doutrina anunciando dois casos de responsabilidade penal objetiva (autorizadas por lei) :

    1- Embriaguez voluntria

    Crtica: A teoria da actio libera in causa exige no somente uma anlise pretrita da imputabilidade, mas tambm da conscincia e vontade do agente.

    2- Rixa Qualificada

    Crtica: S responde pelo resultado agravador quem atuou frente ele com dolo ou culpa, evitando-se responsabilidade objetiva.

  • www.cers.com.br

    NOVO CURSO PARA CARREIRA JURDICA Direito Penal

    Rogrio Sanches

    11

    3 Princpios relacionados com o AGENTE DO FATO

    3.3- Princpio da CULPABILIDADE

    - Postulado limitador do direito de punir. - S pode o Estado impor sano penal ao agente imputvel (penalmente capaz), com potencial conscincia da ilicitude (possibilidade de conhecer o carter ilcito do comportamento), quando dele exigvel conduta diversa (podendo agir de outra forma).

    3.4- Princpio da ISONOMIA

    Art. 5, caput CF: Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes:

    Isonomia Substancial (e no formal)

    - Deve-se tratar de forma igual o que igual e desigualmente o que desigual.

    - O STF, julgando a ADC n 19 afastou as alegaes de que o tratamento especialmente protetivo conferido mulher pela lei n 11.340/06 violaria a isonomia. Nesse julgamento foi observado que o princpio constitucional o da isonomia substancial.

    3 Princpios relacionados com o AGENTE DO FATO

    3.5- Princpio da PRESUNO DE INOCNCIA

    Conveno Americana de Direitos Humanos - Artigo 8 .2: Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocncia, enquanto no for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, s seguintes garantias mnimas:

    Art. 5, LVII C.F. ningum ser considerado culpado at o trnsito em julgado de sentena penal condenatria;

    - Adota o princpio da presuno de inocncia ou de no culpa?

    Concurso da Defensoria Pblica: no trabalha com o princpio da presuno de no culpa (s com o princpio da presuno de inocncia).

    Demais concursos: trabalham com os princpios como sinnimos (presuno de inocncia ou no culpa).

    DESDOBRAMENTOS DO PRINCPIO DA PRESUNO DE INOCNCIA

    a) Qualquer restrio liberdade do investigado ou acusado somente se admite aps a condenao definitiva

    Ateno! A priso provisria cabvel quando imprescindvel. Priso provisria = imprescindibilidade

    Art. 312 CPP: A priso preventiva poder ser decretada como garantia da ordem pblica, da ordem econmica, por convenincia (quando imprescindvel para) da instruo criminal, ou para assegurar a aplicao da lei penal, quando houver prova da existncia do crime e indcio suficiente de autoria. (Redao dada pela Lei n 12.403, de 2011).

    b) Cumpre acusao o dever de demonstrar a responsabilidade do ru (e no a este comprovar sua inocncia)

    c) A condenao deve derivar da certeza do julgador (in dubio pro reo) O princpio do in dubio pro reo um desdobramento da presuno de inocncia.

    Ex: Smula vinculante 11- S lcito o uso de algemas em caso de resistncia e de fundado receio de fuga ou de perigo integridade fsica prpria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da priso ou do ato processual a que se refere, sem prejuzo da responsabilidade civil do Estado.

  • www.cers.com.br

    NOVO CURSO PARA CARREIRA JURDICA Direito Penal

    Rogrio Sanches

    12

    4 Princpios relacionados com a PENA

    4.1- Princpio da DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 4.2- Princpio da INDIVIDUALIZAO DA PENA 4.3- Princpio da PROPORCIONALIDADE 4.4- Princpio da PESSOALIDADE 4.5- Princpio da VEDAO DO BIS IN IDEM

    PRINCPIO DA LEGALIDADE (Princpio relacionado com o fato do agente)

    1- INTRODUO

    Art. 5 , II, C.F. ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei; Art. 5, XXXIX, C.F. no h crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prvia cominao legal; Art. 1, C.P. - No h crime sem lei anterior que o defina. No h pena sem prvia cominao legal.

    Quais documentos internacionais tratam do princpio da legalidade?

    a) Convnio para a Proteo dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais (Roma 1950). b) Conveno Americana de Direitos Humanos (1969). c) Estatuto de Roma (1998).

    PRINCPIO DA LEGALIDADE

    2- CONCEITO

    Real limitao ao poder estatal de interferir na esfera das liberdades individuais (da sua incluso na Constituio Federal e nos Tratados Internacionais).

    LEGALIDADE =

    3- FUNDAMENTOS DO PRINCPIO DA LEGALIDADE

    3.1- Fundamento Poltico

    Vincula o Poder Executivo e Judicirio a leis formuladas de forma abstrata (impede o poder punitivo arbitrrio).

    3.2- Fundamento Democrtico

    Representa o respeito ao princpio da diviso de poderes.

    Compete ao Parlamento a misso de elaborar leis.

    3.3- Fundamento Jurdico

    Lei prvia e clara produz importante efeito intimidativo.

    PRINCPIO DA LEGALIDADE

    Art. 1 CP - No h crime sem lei anterior que o defina. No h pena sem prvia cominao legal.

    Crime: abrange contraveno penal? Pena: abrange medidas de segurana?

    Concluso: No h infrao penal (crime + contraveno) ou sano penal (pena + medida de segurana) sem lei anterior.

    Art. 3 Cdigo Penal Militar: As medidas de segurana regem-se pela lei vigente ao tempo da sentena, prevalecendo, entretanto, se diversa, a lei vigente ao tempo da execuo.

    5- DESDOBRAMENTOS DO PRINCPIO DA LEGALIDADE

    a) NO H CRIME OU PENA SEM LEI

    Princpio da reserva legal: - lei ordinria (regra) - lei complementar

    # Medida Provisria pode criar crime?

    No sendo lei, mas ato do Poder Executivo com fora normativa, a Medida Provisria no cria crime e no comina pena.

    # possvel Medida Provisria versando sobre Direito Penal no incriminador? Medida Provisria pode extinguir a

  • www.cers.com.br

    NOVO CURSO PARA CARREIRA JURDICA Direito Penal

    Rogrio Sanches

    13

    punibilidade?

    Lembrando: o Art. 62, 1, I, b C.F. probe Medida Provisria versando sobre Direito Penal (matria includa pela EC 32/01).

    Art. 62. Em caso de relevncia e urgncia, o Presidente da Repblica poder adotar medidas provisrias, com fora de lei, devendo submet-las de imediato ao Congresso Nacional. (Redao dada pela Emenda Constitucional n 32, de 2001)

    1 vedada a edio de medidas provisrias sobre matria:

    I - relativa a: b) direito penal, processual penal e processual civil;

    A doutrina diverge:

    1C: Com o advento da EC 32/01, ficou claro que Medida Provisria no pode versar sobre Direito Penal (incriminador ou no incriminador). - Prevalece entre os constitucionalistas.

    5- DESDOBRAMENTOS DO PRINCPIO DA LEGALIDADE

    b) NO H CRIME OU PENA SEM LEI ANTERIOR

    - Princpio da anterioridade. - Proibio da retroatividade malfica da lei penal (a retroatividade benfica garantia constitucional).

    c) NO H CRIME OU PENA SEM LEI ESCRITA

    - Probe-se o costume incriminador. # Para que serve o costume no Direito Penal? - Para a interpretao. - O costume interpretativo / secundum legem exerce importante misso no Direito Penal atua dentro dos limites do tipo penal. Ex: Art. 155, 1, C.P.: Repouso noturno.

    # Costume pode revogar infrao penal?

    Discute-se na contraveno do jogo do bicho.

    1C: Admite- se o costume abolicionista ou revogador da lei nos casos em que a infrao penal no mais contraria o interesse social deixando de repercutir negativamente na sociedade.

    - Concluso: Para esta corrente, jogo do bicho no mais deve ser punido, pois a contraveno foi formal e materialmente revogada pelo costume.

    2C: No possvel o costume abolicionista. Entretanto, quando o fato j no mais indesejado pelo meio social, a lei no deve ser aplicada pelo magistrado.

    - Concluso: Jogo do bicho, apesar de ser formalmente contraveno, no serve para punir o autor da conduta, pois materialmente abolida.

    3C (Prevalece): Somente a lei pode revogar outra lei. No existe costume abolicionista.

    - Concluso: jogo do bicho permanece infrao penal, servindo a lei para punir os

  • www.cers.com.br

    NOVO CURSO PARA CARREIRA JURDICA Direito Penal

    Rogrio Sanches

    14

    contraventores enquanto no revogada por outra lei.

    ATENO! STF/STJ adotaram a 3C e decidiram que o crime de violao de direitos autorais (art. 184 , 2, C.P.) permanece vigente (formal e materialmente).

    5- DESDOBRAMENTOS DO PRINCPIO DA LEGALIDADE

    d) NO H CRIME OU PENA SEM LEI ESTRITA

    Probe-se a utilizao da analogia para criar tipo incriminador (analogia in bonam partem possvel).

    Ex.: Art. 155 3 CP, abrange sinal de TV cabo?

    3 - Equipara-se coisa mvel a energia eltrica ou qualquer outra que tenha valor econmico.

    A 2 Turma do STF, no julgamento do HC 97.261 declarou a atipicidade da conduta do agente que subtrai sinal de TV cabo asseverando ser impossvel a analogia incriminadora com o crime de furto de energia eltrica.

    5- DESDOBRAMENTOS DO PRINCPIO DA LEGALIDADE

    e) NO H CRIME OU PENA SEM LEI CERTA

    - Princpio da Taxatividade (ou da determinao). - Exige-se clareza dos tipos penais. - Doutrina entende que o art. 288-A C.P. viola o princpio da taxatividade.

    Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organizao paramilitar, milcia particular, grupo ou esquadro com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste Cdigo: (Includo dada pela Lei n 12.720, de 2012)

    5- DESDOBRAMENTOS DO PRINCPIO DA LEGALIDADE

    f) NO H CRIME OU PENA SEM LEI NECESSRIA

    - Desdobramento lgico do princpio da interveno mnima.

    - Nesse contexto revogou o crime de adultrio, seduo (e no o costume).

    PRINCPIO DA LEGALIDADE X

    TIPO ABERTO e NORMA PENAL EM BRANCO

    PRINCPIO DA LEGALIDADE - Exige edio de lei certa, precisa e determinada.

  • www.cers.com.br

    NOVO CURSO PARA CARREIRA JURDICA Direito Penal

    Rogrio Sanches

    15

    TIPO ABERTO

    - espcie de lei penal incompleta. - Depende de complemento valorativo (dado pelo juiz na anlise do caso concreto).

    NORMA PENAL EM BRANCO

    - Espcie de lei penal incompleta. - Depende de complemento normativo (dado

    por outra norma).