Aula Conforto Termico e Sobrecarga1

Embed Size (px)

Citation preview

Princpios Bioclimticos para o Desenho Urbano Marta Adriana Bustos Romero CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romeror 1 CopyMarket.com Todos os direitos reservados.Nenhuma parte desta publicao poder serreproduzida sem a autorizao da Editora. Ttulo: Princpios Bioclimticos para o Desenho Urbano Autor: Marta Adriana B. Romero Editora: CopyMarket.com, 2000 1. Caracterizao do Clima Marta Adriano B. Romero O estudo do clima, que compreende tanto a formao resultante de diversos fatores geomorfolgicos e espaciais emjogo(sol,latitude,altitude,ventos,massasdeterraegua,topografia,vegetao,soloetc),quantosua caracterizaodefinidaporseuselementos(temperaturadoar,umidadedoar,movimentosdasmassasdeare precipitaes), torna-se, pois, importante para a compreenso dos princpios e para o entendimento do que deve ser controlado no ambiente a fim de se obter os resultados esperados durante o projeto. Oclimaeseusfatoreseelementossoamplamenteanalisadosnaliteratura,emboratenhamsidotratadosde forma distinta de autor para autor (Givoni, 1976; Olgyay, 1963; Lynch, 1980; Comes, 1980; Ferreira, 1965). {Givoni(1976)dizqueoclimadeumadadaregiodeterminadopelopadrodasvariaesdosvrios elementosesuascombinaes,destacandoqueosprincipaiselementosclimticosquedevemserconsiderados nodesenhodosedifciosenoconfortohumanoso:radiaosolar,comprimentodeondadaradiao, temperaturadoar,umidade,ventoseprecipitaes-Asdescriesfeitaspeloautortratamindistintamenteos elementos como fatores quando esclarece que: The purpose of the first chapter is to provide the reader with a general understanding of the nature of the factors which affect climatic conditions over the earth (1976:01). Olgyay (1963) diz que o tempo um conjunto de todas as variveis meteorolgicas, em um dado momento, e que os elementos aparecem em combinao. Dado o fato de que na sua obra o propsito geral o estudo das sensaes doconfortohumano,oselementosquemaisafetamoconfortosodiscutidos:temperatura,radiaoeventos, tratando de forma diferenciada os efeitos ria umidade, tais como chuva, nvoa, neve geada e presso de vapor. Lynh(1980)apontaatemperatura,umidade,precipitao,nebulosidade,velocidadeedireodosventose insolao como os condicionantes externos do clima geral com os quais o planejador deve operar. Fie destaca as modificaesdoclimageral(microclima)impostaspelaformaespecialdaspequenassuperfcies:topografia, cobertura,superfciedosoloeformascriadaspelohomem.SegundoLynch(1980:61),Losefectosdei microclima le darn las pistas para cambiar ei clima general de forma favorable. Gomes(1980)fazumadiferenciaoentreelementosmeteorolgicosouclimticosefatoresclimticos, atribuindo aos primeiros a funo de definir o clima e aos segundos a funo de dar-lhes origem ou determin-los(1980:02).Osfatoresclimticosseriam:radiaosolar,circulaoatmosfrica,repartiodasterrasedos mares, relevo do solo, correntes martimas, revestimento do solo. Os elementos do clima seriam: temperatura do ar, regime dos ventos, umidade do ar, nebulosidade e precipitaes atmosfricas. Ferreira(1965)defineoselementosclimticoscomooscomponentesfsicosdoclima,principalmente temperatura,umidadedoar,precipitaes,ventoeduraodeexposiodosol, que variam, segundo a autora, sob a ao recproca de diversos fatores, ou causas determinantes, tais como latitude, radiao solar, direo do vento, distncia do mar, relevo, vegetao, massas de ar e outros. Paraapresenteanliseadotou-seadiferenciaoentreelementosefatores,atribuindo-seaosprimeirosa qualidadededefinir,deforneceroscomponentesdoclima,eaossegundosaqualidadedecondicionar, determinar e dar origem ao clima. Destacamos ainda, para efeitos da presente anlise, os chamados fatores locais que introduzem variaes no clima, Ferreira (1965:08), ou, como diz Lynch (1980:61), as modificaes ao clima geral impostas pela forma especial das pequenas superfcies. Tal diferenciao servir de base para o desenvolvimento desta dissertao, de forma que os elementos e fatores do clima sero tratados conforme aparecem no Quadro 1. CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romeror 2AseparaoapresentadanoQua-dro1obedeceapenasaumaexi-gnciametodolgica;absoluta-mentenecessrioquesetenha presentequetodososelementose fatoresatuamemconjunto,sendo que cada um deles o resultado da conjugao dos demais. Feitaestaadvertncia,pode-se, porumaquestooperativa, analisarcadaumdosfatorese elementosdoclimaemseparado, iniciando-sepelosfatores climticosglobais,ouseja,aqueles quecondicionam,determiname (doorigemaoclimanosseus aspectos macro ou mais gerais, tais como a radiao solar, a latitude, a longitude, a altitude, os ventos e as massasdeguaeterra,deacordo com os esquemas apresentados no Quadro 1 Emseguidaseroanalisadosos fatoresclimticoslocais,quer dizer,aquelesquecondicionam, determinamedoorigemao microclima,ouaoclimaquese verificanumpontorestrito (cidade,bairro,ruaetc.),comoa topografia,avegetaoea superfciedosolonaturalou construdo. Finalmenteseroanalisadosos elementosclimticos,isto,aqueles querepresentamosvaloresrelativos acadatipodeclima,taiscomoa temperatura,aumidadedoar,as precipitaes e os movimentos do ar. Paramelhorcompreensodo clima,seroadotadosnesta dissertao os princpios gerais que caracterizamoclimadasregies tropicaisemfunodaedificao referidos por Ferreira (1965). Asinteraesdosfatorese elementosdoclimaedosprin-cpiosgeraisquecaracterizamo climadasregiestropicaissero analisadosnasconclusesdeste captulo. CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romeror 3Fatores climticos globais Fatoresclimticosglobaissoaquelesquecondicionam,determinamedoorigemaoclima,ouseja,radiao solar, latitude, longitude, altitude, ventos e massas de gua e terra. Radiao solar Aradiaosolaraenergiatransmitidapelosol(motordetodoosistemadevidaterrestre)sobaformadeondas magnticas. A energia solar nas camadas mais altas da atmosfera contm certa quantidade de energia, que varia em funo da distncia da terra ao sol e das atividades solares, cuja mdia igual a 1.97 cal /cm2/min (constante solar) e cujo espectro constitudo de ondas eletromagnticas de diferentes comprimentos de onda, dividido grosseiramente em trs regies: a ultravioleta, a visvel e a infravermelha (Figura 1). Figura 1 Composio da Radiao Solar: percentagens de ondas eletromagnticas de diferentes comprimento de onda. Fonte: Crowther (1977:43) medidaquearadiaopenetranaatmosferaterrestre,suaintensidadereduzidaesuadistribuioespectral alterada em funo da absoro, reflexo e difuso dos raios solares pelos diversos componentes do ar(Figura 2). Figura 2 Fenmeno deabsoro / reflexodaradiao solar na Terra.Fonte: Crowther (1977) CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romeror 4 O oznio absorve a maior parte dos raios ultravioletas e aqueles de menor comprimento de onda, fazendo com queumapequenaparcelacheguesuperfciedaterra.Osvaporesdguaeodixidodecarbonoabsorvem grande parte dos raios infravermelhos, reduzindo sua carga trmica. Aoatravessaraatmosfera,aradiaodispersada,empartedevidoaodapoeiraedeoutrasmolculasem suspenso, em parte porque refletida difusamente a partir da frao inferior das nuvens (Olgyay, 1963). Uma parcela da radiao solar que penetra na atmosfera refletida pela superfcie da terra ou pelas nuvens, outra absorvida pelos nveis inferiores da atmosfera, produzindo um aumento da temperatura do ar. O padro dirio e anual de energia solar incidente sobre a superfcie da terra depende da intensidade da radiao solar e da durao da presena do sol na abbada celeste. A intensidade da radiao depende da densidade do ar atravs do qual os raios devem penetrar. A quantidade de energia solar incidente (intensidade de radiao vezes o tempo de exposio) depende tambm da transparncia da atmosfera com relao s nuvens e da pureza do ar quanto poeira, dixido de carbono e vapor dgua. Adiferenaentreaquantidadederadiaorecebidanasuperfcieterrestreeaemitidadevoltaapartirda superfcie da terra a perda de calor radioativo ou radiao terrestre (Bardou, 1980:1 3).Quando o cu est encoberto, a perda mnima, devido ao fato de que as partculas de gua das nuvens absorvem e reemitem a maioria da radiao vinda da terra. A radiao terrestre , portanto, maior quando a atmosfera est clara e seca, e menor quando a quantidade de vapor dgua, poeira e, particularmente, as nuvens aumentam (Figura 3).A quantidade de calor absorvido pela terra cada ano est em equilbrio com as perdas de calor. Estas perdas so verificadasatravsdetrsprocessos:radiao,evaporao(asuperfcieterrestreesfriaquandoaguase transforma em vapor e se mistura com o ar) e conveco (o ar aquecido pelo contato com a terra fica mais leve e sobe para a atmosfera superior, onde dissipado). SegundoBardou(1980),obalanofinal,nuloemumano,seestabeleceemtermosdesomaspontuais,jque todosestesfenmenosdeintercmbiossosensveisscondieslocais:diferenasentreosPloseEquador; condies climticas (nuvens, bruma) estado, natureza, cor e temperatura do solo terrestre. A espessura das camadas de ar atravs do qual os raios penetram para alcanar um ponto na terra depende do ngulo queosolapresentanohorizonte(aalturadosolvariacomalatitudegeogrficadeumponto,desdeomximonos trpicos decrescendo at os Plos).Figura 3 Radiao Terrestre. Adaptado de Bardou (1980:13) CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romeror 5Para determinar a direo da radiao necessrio localizar a posio do sol por meio de dois ngulos: azimute e altura (Figura 4). Figura 4 Localizao e posio do Sol. Adaptado de Bardou (1980:20) e Wright (1978) Aradiaosolarpodeserabsorvidaerefletidapelassuperfciesopacassobreasquaisincide,sendoofluxo incidente igual soma dos fluxos absorvidos e refletidos. A quantidade de energia absorvida e refletida depende dacoredascaractersticasdasuperfcie.Aareia,porexemplo,umgrandeabsorvedordaenergiasolar, enquanto a neve constitui um bom refletor dela. Figura 5 Fenmenos de absoro/reflexo CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romeror 6Aquantidadederadiaosolarabsorvidaerefletidasofreaindaainflunciadonguloemqueosraiossolares atingem a superfcie sobre a qual incidem (Figura 6) Figura 6 Posies da Terra Latitude, longitude e altura Alatitude,alongitudeeaalturasobreomarsoascoordenadasquedeterminamaposiodeumpontoda superfcie terrestre. CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romeror 7AlatitudesemprereferidalinhadoEquadorterrestre.TomandocomopontodepartidaoEquador,a temperaturamdiadoaresfria-sepaulatinamenteparaosPlos,masoesfriamentonoconstante.As isotermas no seguem rigorosamente os paralelos, desviando-se pelo efeito da altura, ventos, correntes marinhas e outros fatores do clima. Segundo Fitch (1971), o principal fator geogrfico no meio e expresso pela latitude, 1 que sua distncia a partir dalinhadoEquadordeterminaaquantidadedeenergiasolarquecadapontovaireceber.Alongitude,dizo autor, no possui a mesma importncia, pois se refere muito mais localizao e nunca ao clima (Figura 7). Figura 7 A incidncia da radiao solar segundo a latitude. Tambm afirma que, quando a superfcie do globo absolutamente uniforme em perfil e material, a correlao entre latitude e clima pode ser absoluta. Mas esta situao no se verifica, j que a principal razo para os desvios doclimanumadadalatitudeadiferentecapacidadedearmazenagemdecalordasmassasdeguaedeterra. Enquanto a gua possui um calor especfico alto, a acumulao de temperatura muito mais baixa que a da terra. Tem-sequeoefeitodequalquercorpodeguasobreseuentornoimediatoreduzastemperaturasextremas diurnaseestacionais;segundoFitch(1971),asgrandesmassasdguapossuemumpronunciadoefeito estabilizador. A altitude est referida ao nvel do mar. um dos fatores que exerce maior influncia sobre a temperatura. Ao aumentar a altura, o ar est menos carregado de partculas slidas e lquidas, e so justamente estas partculas que absorvem as radiaes solares e as difundem aumentando a temperatura do ar. Ogradientetermomtricodoardeaproximadamente10Cparacada200mdealtura,compoucavariaoem relao latitude e s estaes. CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romeror 8Segundo Fitch (1971), o fato de a temperatura do ar diminuir numa proporo constante com a altura explicaria a maioria das anomalias verificadas no altiplano peruano ou nas montanhas da Lua no Leste africano, onde, apesar de uma localizao equatorial, estas altitudes (3.000 e 5.000 m, respectivamente) do quelas regies nvoas glaciais e flora alpina de tundra, em vez de chuvas, e florestas tropicais, como seria o normal nessas latitudes. Ventos Oventoumaconseqnciadiretadasvariaesbaromtricas.devidoaodesequilbrioatmosfrico,cujascausas essenciais so a heterogeneidade do globo terrestre do ponto de vista da absoro local da energia solar e da diversidade nas trocas energticas no interior das prprias correntes gasosas ou nas suas proximidades (Ferreira, 1965:78). {So fundamentalmente correntes de conveco na atmosfera que tendem a igualar o aquecimento diferencial das diversaszonas.Odiagramademovimentoficamodificadopelarotaterrestre.SegundoVillasBoas(1983:13),a diferena de presso ou de temperatura, entre dois pontos da atmosfera gera um fluxo de ar, que se desloca das regies maisfrias(baixapresso)paraasregiesmaisquentes(altapresso),condioemque,somadaforamecnica gerada pelo movimento de rotao da Terra (Fora de Coriolis), define a prxima circulao geral da atmosfera. Na zona de mximo aquecimento (que fica entre ostrpicosdeCncereCapricrnio),oarse aquece,seexpande,diminuisuapresso,fica maislevee,deslocando-severticalmentesedi-rige para as zonas mais frias das camadas superi-ores Parte deste ar desce superfcie nas regies subtropicais ar mais frio e mais pesado, com di-reo Norte e Sul, dirigisse para o Equador. Na regio onde o ar se eleva, que corresponde junoventosdoNorteedoSul,forma-se umafrentetropical.Eregiosofrecondies decalmariacompletaoubrisasmilevesde direes irregulares (Figura 8). Figura 8 Mudanas estacionais na direo do vento. Adaptado de Koenigsberger ( 1977). A atmosfera gira com a terra. Como seu peso leve, ela comporta como um fluido mantido contraasuperfcieterrestrepelagravidadee frico.Oartendearetrasar-seemrela velocidadedarotaoterrestre,ondeesta mais rpido isto , no Equador (Figura 9). Como o sentido do giro da terra de Oeste a Leste,todoventodoLestetemumefeitode freiosobreasuperfcieterrestreenquanto todo vento do Oeste tem um efeito acelerante. Figura 9 Movimento do ar devido rotao terrestre. CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romeror 9CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romeror 10 No transcurso do ano, o diagrama global de ventos(Koenigsherger, 1977) muda de Norte a Sul e vice-versa. Dada esta mudanaanual,amaiorpartedasregiesterrestresexperimentammudanasestacionaisnosomentenatemperatura, mas tambm na direo do vento e das precipitaes (como conseqncia do ar carregado de vapor dgua). Almdosdeslocamentosdasmassasdearnumaescalaglobal,atuamtambmnoclimaosventoslocais, provocados pelos diferenciais trmicos gerados pelas presenas de terra e gua, vale e montanha etc. Paraodesenhourbano,ointeressecentra-senosventoslocais,sendoprecisoconhecersomentecomose processam os mecanismos do vento nas camadas mais baixas da atmosfera. Massas de gua e terra A proporo entre as massas de terra e os corpos de gua num dado territrio produz um impacto caracterstico no clima. As massas continentais de terra produzem grandes variaes mesmo ao longo de uma mesma latitude, verificando-setambmgrandesextremosestacionaisjuntoaumadadaregio.Aspennsulasebaiastendema possuirclimasfortementeinfluenciadospeloscorposdeguaadjacentes,como,porexemplo:apennsulade Yucatn, no Mxico, e a Itlia, enquanto as ilhas podem sempre apresentar climas estveis e desvios mnimos das caractersticas inerentes a suas latitudes. Aprincipalrazoparaqueestesfenmenossemanifestempodeseratribudadiferentecapacidadede armazenagemdecalordasmassasdeguaedeterra.Enquantoaguapossuiomaisaltocalorespecfico,a acumulao de calor muito menor na gua que na terra.Oefeitodequalquercorpodeguasobreseuentornoimediatoreduzastemperaturasextremasdiurnase estacionais; grande massas de gua possuem um pronunciado efeito estabilizador svezes,acapacidadedearmazenarcalordemuitoslagosmaisaparenteapsumanoitedegeada,jque sempre aparece uma faixa de vegetao sem estragos ao redor da borda de cada corpo de gua. Comoexemplodosefeitosnoclimalocalproduzidospelapresenadegrandesmassasdeguaouterra,Fitch (1971)citaHonolulueTimbuctoo,localizadosaproximadamentenamesmalatitude,19o.e17o.N, respectivamente.EmHonoluliprximadocentrodeumgrandeeaquecidooceano,asvariaesdiuturnasde temperatura so insignificantes; j em Timbuctoo, no centro de uma grande massa de terra rida as variaes de temperatura diuturnas e estacionais so extremamente pronunciadas. Asmassasdeterrapossuemgrandesdiferenasdearmazenagemdecalor,devidoparticularmentes caractersticas fsicas d solo. Assim, tem-se que a areia do deserto do Saara e as neve do Continente Antrtico so o resultado de um conjunto de fatores climticos primrios: o ar muito seco e a intensa insolao num caso e o friointensoeaescassainsolaonooutro.Masosdoistiposdemateriaisso,aomesmotempoacausade caractersticas climticas secundrias. Aselevaespossuemtambmumimpactoclimticoimportantesobreasterrasbaixasdasproximidades. Geralmenteforamasmassasdearmidasasubire,nesteprocesso,oaresfriadoprovocaacondensao. Como resultado, as massas de ar descarregam a maioria de sua umidade (na forma de chuva, granizo ou neve) no lado mais quente da rea. Este fenmeno produz a chamada sombra de chuva (Figura 10). Figura 10 Fenmeno de sombra de chuva. CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romeror 11 No Brasil, este fenmeno acontece, por exemplo, na regio nordestina, em funo das cadeias montanhosas que se desenvolvem ao longo da costa. Asbrisasquesopramdomarsodesviadaspeloacidentederelevo,criandoasotaventoumaregiorida:o serto(Figura 11). Figura 11 As massa midas so foradas a subir.. Fatores climticos locais Os fatores climticos locais so aqueles fatores que condicionam, determinam e do origem ao microclima isto , aoclimaqueseverificanumpontorestrito(cidade,bairro.ruaetc.),taiscomoatopografia,avegetaoea superfcie do solo natural ou construdo. A forma da superfcie terrestre afeta particularrnente o micro clima. Topografia A topografia o resultado de processos geolgicos e orgnicos. SegundoLynch(1980),pode-seconsiderarqueavariantemaisimportantedasuperfciesejaapresenaou ausncia de gua: o contedo de umidade do solo, seu dreno e a posio do lenol fretico. As regies acidentadas possuem os micro climas mais variados Cada pendente possui caractersticas prprias. A orientao e sua declividade influenciam os aportes de radiao (Figura 12). Figura 12 Influncia do relevo no microclima. Fonte: Bardou/Arzoumanian(1980). A fora, direo e contedo da umidade dos fluxos de ar esto muito influenciados pela topografia. Os fluxos de ar podem ser desviados ou canalizados pelas ondulaes da superfcie terrestre; por exemplo, quando uma massa de ar descendente dificilmente ocorrero precipitaes, e devido a isto as caractersticas pluviomtricas variam muito entre localidades situadas a barlavento ou sotavento das montanhas. CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romeror 12Natopografiadevemserconsideradasadeclividade,aorientao,aexposioeaelevaodasondulaesda superfcie da terra. As pequenas mudanas de elevao e de orientao podem produzir variaes significativas em lugares separados por pequenas distncias. SegundoFitch(1971),osefeitoscombinadosdaelevaoedaorientaopodemproduzirespetaculares anomaliasclimticas.Oautorcitaoexemplodoslagositalianos(ComcCarda,Lugano),ondeasbeirasdestes lagos,localizadosaumagrandealtitudeemclimaalpino,possuemclimasubtropical,acompanhadopor vegetao tropical. Esta anomalia o resultado de vrios fatores. Um deles a localizao na base sul dos Alpes, que fica assim exposta aos raios solares baixos do inverno e fica tambm protegida dos ventos frios da Europa Oriental. A esse fator se juntam outros dois: as massas de ar aquecidas, que deslizam para baixo nas encostas sul no inverno, e o reservatrio de calor representado pelos lagos (Figura 13). Figura 13 Anomalias climticas produzidas pelos efeitos combinados da elevao e da orientao. Fonte: Fitch (1971:247). Vegetao Avegetaocontribuideformasignificativaaoestabelecimentodosmicroclimas.Oprprioprocessode fotossntese auxilia na umidificao do ar atravs do vapor dgua que libera. Emgeral,avegetaotendeaestabilizarosefeitosdoclimasobreseusarredoresimediatos,reduzindoos extremos ambientais. Fitch(1971),analisandoosestudosrealizadosporRudolphCeiger,indicaque,noHemisfrioNorte,uma floresta mista de carvalhos e lamos reduz em 69% a radiao solar incidente fazendo com que as florestas sejam mais frias no vero e mais quentes no inverno. Diz ainda que urna fileira de rvore pode reduzir a velocidade do vento em 63%. O ecossistema de uma vegetao densa funciona por um processo delicado, frgil. Exemplo disto so as florestas tropicais do Brasil, onde a circulao de nutrientes intensa, tendo como elementos a cobertura vegetal espessa e aschuvasabundantes.Deve-selembrar,nocasoespecficodasflorestastropicais,acomplexadinmicada vegetaoedaschuvas,quenapaisagemseapresentanaexubernciadaflora.Adevastaointensaconduz quase total perda dos nutrientes do solo, levados pelas chuvas da regio. CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romeror 13Avegetaoauxilianadiminuiodatemperaturadoar,absorveenergia,favoreceamanutenodociclo oxignio-gs carbnico essencial renovao do ar. Umespaogramadopodeabsorvermaiorquantidadederadiaosolare,porsuavez,irradiarumaquantidade menor de calor que qualquer superfcie construda, uma vez que grande parte da energia absorvida pelas folhas utilizadaparaseuprocessometablico,enquantoemoutrosmateriaistodaaenergiaabsorvidatransformada em calor. lzard e Guyot(1980:48) falam do efeito produzido pela folhagem de uma rvore sob a superfcie que se encontra imediatamente debaixo dela. Esta folhagem cria uma espcie de cu e sua temperatura radiante mais elevada queaabbadaceleste,oquepermiteumadiminuiodaemissoderadiaoinfravermelhadasuperfcie terrestre (Figura 14). (T.A.) Figura 14 Efeito regulador da Vegetao nas radiaes de grande comprimento de onda. Adaptao de Izard/Guyot (1980). Superfcie do solo A anlise da superfcie do solo pode ser realizada a partir de seus dois aspectos mais importantes: o solo natural e o solo construdo. Aanlisedoprimeiroaspectorevelaropotencialhdrico,asquantidadesdeareiasecascalhosparapossveis drenagem filtraes, eroses e capacidade trmica, informaes estas fundamentais para determinar os ndices de reflexo ou absoro da superfcie do solo. Numa classificao esquemtica pode-se encontrar as seguintes condies: Lodo - frtil, expande facilmente, sob peso comprime-se, resistncia adequada, facilmente escavvel, penetrao mediana, pouca capacidade trmica; Turfa - cultivvel, moldvel, resistncia regular orgnica, compacta, mediana capacidade trmica; CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romeror 14 Argila-expansvel,pesada,moldveleplstica,pegajosaquandomida,poucaresistnciapenetrao,boa capacidade trmica; Areia - solta, granulada, pesada, boa resistncia penetrao precisa ser contida, boa capacidade trmica; Cascalho - duro, pesado, solto, boa resistncia, capacidade trmica excelente; Rocha-dura,pesada,slida,excelenteresistncia,boaestruturalmente,sempenetrao,excelentecapacidade trmica. Anaturezadosmateriaissuperficiaisde primeiraimportncia.Paraefeitodeste estudo imprescindvel conhecer tambm opoderdifusordeumasuperfcie,isto, o albedo, que a proporo entre a luz do sol recebida e refletida por uma superfcie. Porexemplo,alua,comosev,a representao da luz do sol pelo albedo. A reflexo da luz do sol a partir das nuvens, neve,areiasdedesertos,montanhase corposdeguapodeserumfator incrementadordaquantidadedeenergia solar recebida diretamente (Figura 15). SegundoLynch(1980),seosolopossui umalbedobaixoeumacondutibilidade alta,omicroclimaresultantesuavee estvel, uma vez que o excesso de calor absorvidoearmazenadorapidamentee, quandoastemperaturasdiminuem, rapidamentedevolvido.Osmateriaisde superfciecomaltoalbedoebaixa condutibilidade contribuem para criar um microclimadeextremos,jqueno auxiliamparaequilibraroscontrastes.O mar, os vales e os solos midos em geral tendemaequilibrarastemperaturas, enquantoaareia,aneveouos pavimentosnoatuamdamesma maneira,sendoquentesduranteodiae frios durante a noite. Figura 15 Representao da luz do Sol pelo albedo. Adaptado de Wright (1978). O dreno do solo aumenta seu albedo e diminui sua condutibilidade, tornando o clima local instvel. Ao mesmo tempo, ele reduz a umidade e, consequentemente, o efeito refrescante produzido pela evaporao se perde. Daanlisedoaspectodosoloconstrudooumodificadoporaodohomemdestaca-seoprocessode urbanizao que ao substituir por construes e ruas pavimentadas a cobertura vegetal natural, altera o equilbrio do microambiente. isto produz distrbios no ciclo trmico dirio, devido s diferenas existentes entre a radiao solarrecebidapelassuperfciesconstrudaseacapacidadedearmazenarcalordosmatriadeconstruo.O tecidourbanoabsorvecalorduranteodiaeoreirradiaduranteanoite.Aistosedeveacrescentarocalor produzido pelas mquinas e homens concentrados em pequenos espaos da superfcie terrestre. CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romeror 14Tabela1-Mudanamdia doselementosclimticos causadospelaurbanizao (de Landsberg, 1970) Elemento Comparao como entorno rural RadiaoGlobal15 a 20 %menos Ultravioleta, inverno30% menos Ultravioleta, vero5% menosDurao de brilho do sol5 a 15% menos TemperaturaMdia anual 0,5 a 1C maisMnimo no inverno (mdia)1 a 2C maisDias de maior calor 10% menos ContaminantePartculasencleosde condensao10 vezes maisMistura gasosas 5 a 25 vezes mais Velocidade do ventoMdia anual 20 a 30% menosRajadas de vento mximo10 a 20% menosCalmaria 5 a 20% mais PrecipitaoTotais 5 a 10% mais Dias com menos de 5 mm 10% maisQuedas de neve 5% menos AtmosferaCobertura (do sol) 5 a 10% maisNevoeiro, inverno 100% maisNevoeiro, vero 30% mais Umidade relativa2% menosVero 8%menos Detwyler(1974)cita,parailustrarestesdistrbios,osestudoscomparativosrealizadosporLandsbergem1970 sobre a mudana mdia dos elementos climticos provocados pela urbanizao. Os resultados destes estudos so apresentados na Tabela 1, dentre os quais se chama a ateno para os ndices de radiao, ventos e contaminantes , sensivelmente menores nos espaos no construdos. Detwyler (1974) trata das alteraes climticas provocadas pela urbanizao. Segundo ele, as alteraes so trs: 1.mudanadasuperfciefsicadaterra,peladensaconstruoepavimentao,fazendocomquea superfciefiqueimpermevel,aumentandosuacapacidadetrmicaerugosidadee,aomesmotempo, alterando o movimento do ar; 2. aumento da capacidade armazenadora de calor com a diminuio do albedo; 3. emisso de contaminantes, que aumentam as precipitaes e modificam a transparncia da atmosfera. CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romeror 15Estastrsalteraesresultantesdaurbanizao,aliadasaofluxomaterialdeenergia,produzemumbalano trmico especial nos centros urbanos, que visvel em muitas cidades: o domo urbano. Este domo contm uma circulao de ar tpica, fazendo com que a cidade se parea com uma ilha quente rodeada por um entorno mais frio. Dai o efeito ser conhecido como ilhas de calor. Sobaaodailhadecalorasreascentraisurbanasganhamconsideravelmenteenergiatrmicapelos mecanismosdeabsoroetrocasdecalorentreasmassasconstrudas.Esseaquecimentourbanoproduz diferentes campos de presso, provocando uma ventilao prpria que pode alterar o movimento de ar regional. Oaraquecidonocentrodasmassasconstrudassobe,dandoorigemacorrentesverticaisque,aliadas nebulosidadeemaioresndicesdecondensao,favorecemaretenodepoluentes(forma-seumaespciede teto).Ospoluentessocarregadospelascorrentesverticaiselogodispersossobreoentorno,numprocesso contnuo que conforma dentro de uma calota ou domo um movimento circulatrio de gases (Figura 16). Figura 16 Domo urbano de poeira. Adaptado de Detwyler (1974:63).. Elementos climticos Oselementosclimticossoaquelesquerepresentamosvaloresrelativosacadatipodeclima,ouseja,a temperatura, a umidade do ar, as precipitaes e os movimentos do ar. Temperatura Osol,comoseviu, iluminadeformadesigual asvriaspartesda superfciedaterra.Esse fato,associadoaosdi-ferentescoeficientesde absoro da radiao solar dosdiferentestiposde solos e guas da superfcie daterra,ocasionauma desigualdistribuioda energia solar, cujos efeitos sooaparecimentodos movimentosdemassade aredeguas(correntes marinhas)eastrocasde matriaeenergiaentreo ar,omareaterra(por exemplo,aevaporaoda gua dos mares, as chuvas etc.) (Figura 17). Figura 17 A maior parte da energia da Terra provm do Sol. Adaptado de Crowther (1977:3). CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romeror 16Um dos resultados desse fenmeno que tanto a temperatura nas camadas mais prximas da superfcie da terra, bem como o seu perfil numa dada regio esto permanentemente mudando com o tempo. Arelaoentreastaxasdeaquecimentoeesfriamentodasuperfciedaterraofatordeterminanteda temperatura do ar. O ar prximo superfcie da terra no apresenta obstculos passagem da radiao solar, o quetemsomenteumefeitoindiretonatemperaturadoar,umavezqueestadependedaquantidadedecalor ganho ou perdido pela superfcie da terra ou outras superfcies com as quais o ar tenha estado em contato. O ar em contato com a superfcie que obteve ganhos de calor , por sua vez, aquecido por conduo; devido a estefenmeno,ocaloradquiridotransferidossuperioresprincipalmenteporconveco;assim,ascamadas inferiores ficam instveis misturando-se constantemente com as camadas altas. Verificando-se trocas de calor nas superfcies, os padres anuais e dirios da temperatura do ar tambm variam; por exemplo, durante a noite e durante o inverno a superfcie da terra geralmente mais fria que o ar. A topografia de um lugar tambm exerce uma grande influncia na temperatura do ar. Koenigsberger (1977:50) diz a respeito: uma diferena de 7 a 8 m de altura podem produzir diferenas de 5 a 60C na temperatura do ar sob condies de calmaria. (IA.) {Normalmenteverifica-seumadiminuiodatemperaturaamedidaqueaumentaaaltura,maspodeacontecer tambm um fenmeno inverso, isto , a temperatura aumenta com a altura. Isto acontece porque o calor que a terra absorveu durante o dia reirradiado para o espao durante a noite. O solo esfria rapidamente e sua temperatura fica inferior das camadas de ar adjacentes. O fluxo calrico que durante o dia dava lugar a uma corrente ascendente do ar aquecido e leve, durante a noite inverso, formando uma corrente descendente do ar para o solo. O processo de esfriamento do solo at ficar com uma temperatura inferior da camada de ar logo acima comea nopr-do-sol.EssasituaosegundoOrsini(1979:8),vai-sepropagandodumacamadaparaasubseqente noiteadentro,comacamadadeinversotrmicaassiminiciada,aonveldosolo,sealargando,paracima, podendo at o amanhecer atingir algumas dezenas (ou talvez uma centena) de metros Umidade do ar O vapor dgua contido no ar origina-se da evaporaonatural da gua, da evapotranspirao dos vegetais e de outros processos de menor importncia. A capacidade do ar para conter vapor dgua aumenta com a temperatura. A distribuio do vapor sobre a terra nouniforme,sendoemmdiamaiornaszonasequatoriaisemenornosplos,acompanhandoospadres anuais de radiao e temperatura. Aquantidadeeaproporodevapordguanaatmosferapodemserexpressosdevriasmaneiras,dentreas quaistemosumidadeabsoluta,umidadeespecifica,pressodevaporeumidaderelativa.Aumidadeabsoluta expressaopesodevapordguaporunidadedevolumedear(g/mt)eaumidadeespecfica,opesodovapor dgua por unidade de peso de ar (g/Kg). A presso de vapor do ar a parte da presso atmosfrica global que devida ao vapor dgua (mm/Hg). Quando o ar contm todo vapor dgua se diz que o ar est saturado e que a umidade relativa de 100%. Quando ovapor contido menor que o contedo potencial na mesma temperatura a umidade relativa menor que 100%. Apressodevaporeaumidadeabsolutavariamenormementesegundoolugareestosujeitastambms mudanas das estaes, sendo maiores no vero que no inverno. Aaltitudeproduzmodificaesnapressodevapor.ComoexplicaGivoni(1976),aconcentraodevapor dgua diminui medida que aumenta a altura: o contedo de vapor nas camadas superiores de ar menor que nas camadas prxima da terra. Nas massas de terra que no contam com brisas martimas, a presso de vapor alcana seu mais alto nvel antes da noite. ento, fortes correntes convectivas surgem provocando movimentos ascendentes, e a presso de vapor prxima do solo reduzida (Givoni, 1976). Com o trmino destas correntes tarde, a presso de vapor comea a crescernovamente.Sobreasmassasdegua,etambmnaspocasdechuvasobreaterra,opadrodiurnode pressodevaporacompanhaatemperaturadoar.Asgrandesvariaesanuaisnapressodevaporso encontradas em regies sob a influncia das mones*; estas recebem ar quente-mido dos oceanos e ar seco das reas continentais internas. CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romeror 17Aumidaderelativavarianasdiferenteshorasdodiaepocasdoano,mesmoquandoapressodevapor permanececonstante.Istodevidosmudanasdiurnaseanuaisnatemperaturadoar,quedeterminama capacidade potencial do ar em conter determinada quantidade de vapor dgua. Nasregiesemquesograndesasvariaesdiriasdetemperatura(regiessecasesemi-secas),encontram-se tarnbm grandes variaes na umidade relativa e valores muito baixo5 no inicio da tarde, quando a temperatura est alta, e valores mais altos noite, podendo o ar ficar saturado, mesmo quando a presso de vapor for baixa, especialmente quando a temperatura do ar cai muito. Em funo das estaes, a umidade absoluta do ar(quantidade de vapor de gua/volume) diminui, em geral, na estao fria e aumenta na estao quente. Aocontrrio,aumidaderelativadoardiminuicomoaumentodetemperatura,vistoque,paraoarquente,o ponto de saturao mais alto, isto , a tenso mxima de vapor maior Gomes (1980:17) mostra exemplos onde esta inverso do sentido de variao das umidades absoluta e relativa do arevidenciada:aumidade(sic)absolutanoSaarade2a3vezessuperioresdortico;masaumidade relativa ali apenas de 20 a 30% contra os 75 a 90%, que corrente constatar nas regies rticas. A ausncia de precipitaes nos desertos no resulta assim de carncia de umidade mas sim de ser reduzida a tenso de vapor de gua existente relativamente tenso mxima OutroexemploquesepodecitarserefereaBraslia:nestacidade,napocadaseca,aumidadeabsoluta permanecemaisoumenosconstanteparaummesmodia,enquantoaumidaderelativavariamuito(podeirde 30% s 13 h at 90% s 5 h). Precipitaes A evaporao das guas de superfcie leva formao de nuvens que redistribuem a gua na forma de chuva ou outras precipitaes; esta gua flui atravs de crregos, rios e outros e volta para o oceano, completando o ciclo hidrolgico (Figura 18). Figura 18 Ciclo hidrolgico. Fonte: Crowther (1977). CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romeror 18Arestituiodaguaevaporadaparaaatmosferaterraocorresobformasdiversas,sejapelascondensaes superficiais-orvalho,geada-,sejapelasprecipitaessobformalquida-chuvas,oumaisoumenosslidas, neve, granizo, quantitativamente mais significativas e que podem ser mensurveis. As precipitaes se do a partir da condensao do vapor dgua na atmosfera, na forma de nuvens. A altura das superfciesocenicaspermanecequasequesemalteraodeanoparaano.Aevaporaodosmares,portanto, deve-se igualar precipitao que sobre eles cai somada vazo dos rios que neles desguam. Aprecipitaomaisaltapertodadepressoequatorial;riossubtrpicos,aprecipitao,emambosos hemisfrios,praticamenteigual.Emdireoaoplo,aprecipitaoatingemximossecundriosaolongoda rotadosciclonesnasfaixasdosventospolaresdooeste.Assim,segundoRiehl(1965),aprecipitaomundial no est concentrada nos trpicos de modo to preponderante como se poderia supor. Aporcentagemdeprecipitaoqueosoloretmmuitomenornostrpicosenaslatitudesmdiasduranteo vero. A chuva evapora sem ter tido oportunidade de penetrar no solo. Aevaporaoaumentarapidamentecomatemperaturaeavelocidadedovento,emespecialtardequandoa nebulosidade intermitente e o sol brilha logo aps a chuva. O esfriamento do ar por contato com superfcies frias, por mistura com ar frio e por expanso associada com a elevao das correntes de ar resulta em formaes de orvalho e nvoa e precipitaes em grande escala. Anvoamaisdensaemaisprevalecentenosvalesedepressestopogrficasondeoarfrioepesadotendea juntar-se.Freqentementeacontecenasregiescosteirasondeoventomarinhocolocamaiorquantidadedear em contato com a superfcie mais fria da terra (Figura 19). Figura 19 Nvoa prevalecente nas depresses. Quando a massa de ar esfriada pela expanso eventualmente alcana seu ponto de orvalho, acontece, ento, uma condensao em grande escala, formando nuvens compostas de inumerveis gotas de gua e, s vezes, de alguns cristais de gelo. Pesadasgotascomeamaseformarmedidaqueoarcontinuaasubir;senadescidaverifica-seumagrande oposio perda por evaporao, a precipitao ocorre. Asmassasdear,quandosoimpulsionadasasubir,produzemtrstiposdeprecipitaes(Givoni,1976): convencional, orogrfica e convergente. A precipitao convencional comea a partir das massas carregadas de umidade ascendentes que foram aquecidas pelocontatocomsuperfciesquentes.Ocalorlatenteliberadoquandocomeaacondensaoreduzataxade esfriamentocomvelocidadeascendente.Estaprecipitaoaconteceprincipalmentenaszonastropicais,durante as tardes das estaes quentes. Tambm pode ser provocada pelas massas de ar de origem martima, levadas pelo vento para a terra, que fica mais aquecida durante o dia que as superfcies do mar. A chuva convencional usualmente se precipita em pesados chuviscos de curta durao. CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romeror 19A precipitao orogrfica se origina em massas de ar que foram impulsionadas a elevar-se sobre as declividades dasmontanhaspelogradientedepresso.Aprecipitaomaiornobarlaventodamontanhaediminuina declividade aposta, a partir da cumeeira, afetando desta forma a vegetao do lugar. Assim, uma cumeeira pode delimitar a diviso entre diferentes tipos de clima. A precipitao convergente acontece quando a elevao das massas de ar se dirige para as zonas de baixa presso oufrentes:numafrentetropical,duascorrentesdearconvergentetmcaractersticassimilares,esuaascenso simultnea e rpida d origem ao aguaceiro. Omovimentodoarresultadodasdiferenasdepressoatmosfricaverificadaspelainflunciadiretada temperatura do ar. Gomes(1960:5)assinalaqueo...complexojogodetemperaturas,presses,inrciademovimento,mesmo assiminteligvelemcondiesideaisdumaterracujasuperfciefosselisa e de constituio uniforme, traduz-se, como se refere, em movimentos de massas de ar que forosamente se interferem e desordenam mutuamente... O ar se movimenta horizontal e verticalmente. O movimento horizontal originrio das diferenas trmicas num sentidoglobaldoplanetaenumsentidolocaldasdiferenasdetemperaturaemterrafirme:vale/montanha, cidade/campo. Odeslocamentoverticalseddentrodatroposfera(camadainferiordaatmosfera)emfunodoperfilde temperatura que se processa. O ar quente que sobe na faixa do equador caminha para os plos, resfria-se e tende a descer. Segundo Comes (1980:5), parte deste ar reflui, junto superfcie da terra, para o Equador; e tendo-se aquecido volta a subir. Dos fatores locais que intervm na formao do movimento do ar, o relevo do solo exerce um papel importante, umavezquedesvia,altera,oucanalizaestemovimento.Omovimentodoarcomoqualqueroutrocorpoem movimento tem inrcia uma vez em movimento tende a continuar na mesma direo at ser desviado por algum obstculo. Segundo Villas Boas (1983:13), a frico produzida pelo ar em movimento, quando em contato com obstculos, faz com que sua velocidade de deslocamento inicial seja reduzida, devido perda de energia no atrito, e seu modelo de circulao seja alterado. E o--que acontece com o fluxo de ar, ou vento que, nas camadas mais baixas da atmosfera, tem sua velocidade reduzida devido ao atrito com o solo. Neste caso, quanto mais rugoso osolomaioroatritoemenoravelocidadedoarprximasuperfcieComodizKoenigsberger(1977),sea superfciedosoloirregular,oaumentodevelocidadecomaalturamuitomaiordoqueseestafosse constitudaporumasuperfciecontnuaelisa.Estesfenmenosseverificamnumespaochamadocamada-limite da atmosfera. Tem-se ento que a altura da camada-limite aumenta com o incremento da rugosidade do solo e as velocidades doaraumentamcomaaltitude,atacamada-limite,apartirdaqualpermanecemmaisoumenosconstantes (Figura 20). Figura 20 Definio da camada-limite. Adaptado de Izard/Guyot (1980:29). CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romeror 20Segundo Koenigsberger (1977), a altura da camada-limite da atmosfera varia de 100 a 274 m em campo aberto, de 100 a 396 m na periferia e de 100 a 518 m no centro urbano (1977:53) Dos dados meteorolgicos, o vento o mais varivel, tanto no curso do dia, como de um dia para outro. As turbulncias e as rajadas de vento so mais pronunciada: durante o meio-dia, quando a estratificao do ar mnima e so menores durante a noite, quando a estabilidade do ar tende a reprimir o deslocamento vertical do fluxo do ar. Pele mesma razo, os ventos perto da superfcie tendem a ser mais fortes durante a tarde que noite. Classificao dos climas Nositensanterioresforamapresentadososfatoresclimticoglobais(radiao,latitude,longitude,altitudes, ventoseasmassasdeguaeterra),osfatoresclimticoslocais(topografiavegetao,superfciedosolo)eos elementos climticos (temperatura, umidade, precipitaes e movimentos do ar), quer dizer, aqueles fatores que condicionam,determinamedoorigemaoclimanosseusaspectosmacro(oumaisgeraisenosseusaspectos micro (ou que se verificam num ponto restrito) e aqueles elementos que representam os valores relativos a cada tipo de clima, respectivamente. Oselementosefatoresatuamemconjunto,sendoquecadaumdelesoresultadodaconjugaodosdemais; porestemotivo,umaclassificaogeralouumatipificaonotarefafcilnemfacilmenteaceitapelos diversos autores que tratam da compreenso do clima. Ferreira (1965) e Gomes (1980) assinalam a dificuldade prtica das classificaes, uma vez que elas no atendem nem s necessidades especficas dos pesquisadores nem a objetivos diversos, como, por exemplo, de navegao, de cultivos, de assentamentos humanos etc. AsclassificaesdeThornthwaite,DeMartoneeKppen,tradicionaiseuniversalmenteaceitas,segundo Ferreira (1965) apresentam-se muito gerais. SegundoGomes(1980:22),aclassificaoporzonastrmicasdeKppenjdistinguemaisseletivamente diversas regies do globo, tendo sumariamente em conta certas condies orogrficas e de cobertura vegetal. Tabela 2 - Classificaes gerais de climaConforme aTipos de clima mdia anual datemperatura do arquente (acima de 20c)temperado ( acima de 10c)frio (entre 10 a 0c)glacial (abaixo de 0 variaodeamplitude datemperaturamdia do arcontinental ( acima de 20c) moderado ou ocenico ( entre 20 e 10c) (ou inferior a 10c) mdia anual da umidade relativa do armuito seco (abaixo de 55%) seco (entre 55 e 75% mido (entre 75 a 90%) muito mido (acima de 90%) mdiaanualde precipitaodesrtico (inferior a 125mm)rido (entre 125 e 250 mm) semi-rido (entre 250 e 500 mm) moderadamente chuvoso 9entre 500 e 1.00 mm)chuvoso ( entre 1.00 e 2.000 mm)excessivamente chuvoso (superior a 2.000 mm) Porm,segundoomesmoautor,aclassificaodeKppennopoderiaserconsiderada,defato,classificao climtica, j que no evidencia as influncias doutros elementos climticos, alm da temperatura do ar. AindasegundoGomes(1980),existemasclassificaesgeraissobcritriosconvencionaiseparciais,mostradas esquematicamente na Tabela 2. CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romeror 21Paraatenderaosobjetivosdestadissertao,interessaumaclassificaoquedemonstreasprincipais caractersticas do clima que se verifica nos espaos construdos nas cidades e no seu entorno imediato. Portanto, adotou-se a classificao realizada por Ferreira (1965) de trs tipos principais de climas em funo da construo encontrados na regio tropical: o clima quente-seco, o clima quente-mido e o clima mais ameno dos planaltos. Tabela 3 - Caracterizao dos climas tropicais Quente-midoQuente-secoTropical de altitude Pequenasvariaesdetemperatura duranteodia.Amplitudedas variaesdiurnasfracas.Dias quentesemidos.noite,a temperaturamaisamenaecom umidade elevada.Grandesamplitudesde temperaturaduranteodia (15C). No perodo seco, durante odiaasmximasalcanam valoresextremos,enquanto noite decrescem as temperaturas, alcanando valores mnimos pela madrugada.Asamplitudesdiriaspodem alcanarvaloresapreciveis. Desconfortopelatemperatura elevada do dia, minorado noite; atemperaturapodebaixar aqum dos limites de conforto.Duas estaes: vero e inverno, com pequenavariaodetemperatura entreelas;operododaschuvas indefinidocommaiores precipitaes no vero.Duasestaes:umasecaeoutra dechuva.Noperododechuva estas no alcanam os valores de umidadecaractersticosdas regies tropicais midas. Duasestaes:quente-mida, queseinicianovero,easeca noinverno.Temperaturamdia entre19e26Cduranteodia, caindonoite.Forteperdapor radiaonoturnanoperodo seco.Radiaodifusamuitointensa.O contedodevapordguadas nuvensevitaaradiaodireta intensa.Pouca radiao difusa em virtude de umidade baixa .Radiao direta intensa.Radiao difusa intensa no vero e menor no inverno. Radiaodiretaacentuadano vero,maisfortequeigual latitude ao nvel do mar.Alto teor de umidade relativa do ar. Baixoteordeumidaderelativa do ar. Peloteordeumidade consideradoseco(aprox.70%) ver Tabela 2. Localizaogeogrfica:entreos trpicosdeCncer(2327N)e Capricrnio ( 23 27 S).Localizaogeogrfica:entreos trpicosdeCncer(2327N)e Capricrnio (23 27 S). Localizaogeogrfica:este climasedpredominantemente entre400e1.200mdealtitude, entre 14 e 16 latitude Sul.Ventofraco,direodominante sudeste..Massadearquenteconduzindo partculasdepemsuspenso nosseusdeslocamentosno perodo seco.Ventossudesteselestesno inverno seco e noroeste no vero chuvoso. Semelhanasensveldosdados climticosdeumalocalidadepara outra. Diferenasmarcadasquantoaos dadosclimticosdeuma localidade para outra. As caractersticas principais destes trs tipos de clima so apresentadas na Tabela 3, em parte, elaborada a partir deumquadromontadodentrodoestgiodocentedemestradorealizadojuntamentecomPauloM.P.de Oliveira. Sumrio e concluses CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romeror 22Estecapituloteveporobjetivoaclassificaoeexamesistemticosdosfatoresclimticosglobaiselocais,que doorigemaoclima,doselementosclimticos,quedefinemoclima,edasprincipaiscaractersticasque determinam os climas tropicais, segundo o ponto de vista construtivo dos assentamentos. Talsistematizaofoiimportanteporquereuniuinformaesnecessriaselaboraodeprincpiosparaa atuaonomeioqueintegremconsideraesclimticasaodesenhodoespaoesedificaes.Foi,porestas razes,umcapitulodenaturezatcnico-informativa,emque,almdoexamedevriosfatoreseelementos climticosisoladamente,apresentou-segraficamenteas informaes pertinentes, salientando aqueles fenmenos que mais influenciam a percepo trmica do homem. Assim,porexemplo,naseoFatoresclimticosglobaiseFatoresclimticoslocais,naanlisedefatoresclimticos (radiaosolar,latitude,longitude,altitude,ventosemassasdeguaeterranumaescalaglobal,etopografia, vegetao e superfcie do solo natural e construdo numa escala local), foi dado destaque radiao solar, por ser elaresponsvelpelavidanaterraepeladistribuiodetemperaturanasuperfcieterrestre,condicionando, portanto, todos os outros fatores. Procurou-se,aolongodadiscussodefatoresclimticos,mostrarcomo a interao entre eles determina o tipo de clima que identificado pelos elementos climticos (temperatura, umidade do ar, precipitaes e movimento do ar), analisado na seo Elementos climticos. Identificaram-se, assim, trs tipos de climas tropicais (quente-seco, quente-mido e tropical de altitude), destacando neles os elementos que mais influenciam o homem e seu abrigo. Estecaptulo,ento,constituiuocenrioemquedevemserinterpretadasasinformaesdocapituloaseguir, onde ser analisado, na primeira parte, como as variveis trmicas atuam sobre a percepo trmica do homem, e quaisosprocessosdetrocastrmicasqueocorrementreohomemeomeioparaoestabelecimentodeseu equilbrio trmico. Tambm ser analisado o abrigo, a partir de uma srie de exemplos da produo cultural do homem. CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romero 23 CopyMarket.com Todos os direitos reservados.Nenhuma parte desta publicao poder serreproduzida sem a autorizao da Editora. Ttulo: Princpios Bioclimticos para o Desenho Urbano Autor: Marta Adriana B. Romero Editora: CopyMarket.com, 2000 2. Equilbrio Trmico Entre o Homem e o Ambiente Marta Adriano B. Romero Foramanalisadosnocaptuloanterioroselementosefatoresdoclimaquecondicionamoambienteemqueo homem desenvolve suas atividades. Neste processo o homem no um elemento passivo; o corpo humano realiza processos de trocas trmicas com omeioparaestabelecerumadequadoequilbrio;elerealizatambmabrigoscomorespostaparaaquelas manifestaes climticas que seu organismo no est preparado para controlar. Seranalisado,portanto,oefeitodasvariveisdomeioqueatuamsobreapercepotrmicadohomemeos processos de trocas trmicas que ocorrem entre o homem e o meio para o estabelecimento de seu equilbrio trmico. Seromostradostambmosabrigosrealizadospelohomemnesteseupermanenteprocessodeadequaoao meio Os exemplos foram selecionados a partir de aspectos culturais e de aspectos de adaptao trmica. O Homem e o Ambiente Oselementosdoclima,emespecialatemperatura,a radiao a umidade e o movimento do ar, atuam sobre a percepo trmica do homem. Ohomemutilizadoismecanismosderegulaotr-mica para responder s exigncias externas: um de ca-rterfisiolgico(suor,variaesdofluxosangneo quepercorreapele,batidascardacas,dilataodos vasos,contraodosmsculos,arrepioeereodos plos)eoutrodecartercomportamental(sono, prostrao, reduo da capacidade de trabalho). Noestabelecimentodeseuequilbriotrmicocomo meio,ocorremdiversosprocessosdetrocastrmicas, quaissejatrocaporradiao,trocaporconduo, troca por conveco e troca por evaporao, de forma a manter a temperatura interna do corpo em torno de 370C aproximadamente. NaFigura21,original,deEDHOLM,apresentadopor Guyton(1977),pode-severqueohomemcapazde ganharouperdercalorparaomeiopelosprocessosde radiao,conduoeconveco,dependendodas condieshigrotrmicasdestemeio.Afiguramostra ainda,esquerda,osprocessosdeganhodecalor(es-sencialmentemetabolismoeatividade)e,direita,os processos de perda de calor (essencialmente evaporao). Devendoohomemperderparaomeioambiente,na unidadedetempo,umaquantidadecertadecalor,em funodaatividadequeestexercendo,edadasas condies ambientais que ora propiciam uma dissipao maior,oraumamenordoqueaquantidadequeest sendoproduzida,torna-senecessriaaexistnciade meiosdecontrolequefaamcomqueadissipaose processedemaneiraregularcomaconseqente variao nas condies do meio (Toledo, 1973:2).Figura 1 Composio da Radiao Solar: percentagens de ondas eletromagnticas de diferentes comprimento de onda. Fonte: Crowther (1977:43)CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romero 24Tabela 4- Sntese dos processos de troca e das variveis do meio Processo de trocaVariveis do meioObservaes ConduoTemperatura das superfcies Est em funo tambm do coeficiente de contato bc p b == condutibilidade trmicap= massa especficac = calor especficoConvecoTemperatura do ar Velocidade do ar Atrocaporconvecopodesercalculadapelaseguintefrmula (Balding, citado por Givoni, 1969).) 35 ( 0 , 16 , 0 = ta V CC- em Kcal /h/homem V vel. do ar m/Seg.Ta temperatura do ar, C 35 temperatura externa do corpo Para ta 35. h perda do calor.Para ta 35. h ganho de calor.Para indivduo com roupa leve.) 35 ( 6 , 033 . 0=taV CRadiaoTemperatura radiante mdia (TRM) no ponto mdico onde se situa o indivduo (efeito da radiao direta e difusa do sol e de radiao dos objetos e superfcies aquecidos Aperdaouganhoporradiaovariaemproporodiretacoma diferenaentreasquartaspotnciasdetemperaturadasuperfcie corporaledatemperaturamdiadoambiente.TOLEDO(1973) sugere a frmula seguinte (pg. 21)h emKalTr Tce SrQrQr/100 100. .4

|.|

\|||.|

\|=Qr Kal/h Sr- superfcie do corpo exposta (25 . 1 m ) Tc temperatura do corpo (K) Tr temperatura radiante mdia (K) Givoni e Barner-Nir (Givoni, 1969) do a seguinte frmula para o clculodatrocadecalorporRADIAOeporCONVECO conjuntamente, por ser difcil separar um processo do outro.) 35 ( 3 , 0 =taaV DD - Kal/h/homem (combinad dry heat exchange) V velocidade do ar, m/Seg.ta temperatura do ar, Ca - = 15,8 por pessoa seminuas= 13,0 por roupa leve de vero= 11,6 por uniforme industrial ou militar EvaporaoPresso do vapor ar Velocidade do ar AseguintefrmulasugeridaporGivonieBarner-Nir(citados por Givoni, 1969).Emax pV0.3(42-Vpa) Emaxcapacidademximadeevaporaodesuorporpessoase por horas em gramas.V velocidade do ar m/Seg.Vpa (ou Pva) a presso do vapor do ar. mm/hg P - = 31,6 por indivduo seminu = 20,5 por roupa leve de vero= 13,0 por uniforme militar ou individual42-pressodevapor(mm/hg)dapeleedaroupa,admitindoa CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romero 2535C A Perda de calor por evaporao limitadaAinda segundo Toledo, existem trs meios de controle: o sistema termo-regulador do organismo, o uso adequado de vestimenta e a criao de um invlucro, o edifcio. Para que isso acontea, as cidades devem ser projetadas visando possvel utilizao, por todos os edifcios, dos fatores climticos que podem concorrer para o conforto trmico. A quantidade de calor que produzida pelo organismo, em um dado ambiente, depende principalmente do tipo eintensidadedaatividadeedaestruturadoindivduoe,em menor escala, da idade, do sexo e da adaptao ao clima da regio. importante conhecer os processos de troca trmica para se saber quais as variveis do meio que esto em jogo e, atravs deste conhecimento, proceder ao controle do mesmo. VillasBoas(1983)fazumasntesedosprocessosdetroca,dasvariveisdomeioqueintervmedasequaes que explicam estas variveis. necessrioconhecercomoasvariveisdomeio(temperatura,radiao,umidadeemovimentodoar)atuam sobreapercepotrmicadohomem.Parasefazerumestudoquantitativodainfluncianohomemdas condies trmicas de um ambiente preciso medir as variveis do ambiente, medir a reao humanaaodestasvariveiseexpressararelaoentrecausaeefeitocomoempregodeumnicovalor numrico, quando possvel. Seguindo estas diretrizes foram elaborados os ndices ou escalas de conforto trmico que, at o presente, j ultrapassam a casa das quatro dezenas (Toledo, 1973:32). Villas Boas (1983) faz uma anlise de alguns destes modelos ou ndices, que so sintetizados a seguir: {- O diagrama de conforto trmico desenvolvido por Victor Olgyay desde 1952, quando apresentou o enfoque bioclimticoemarquiteturanoseminrioHousingandBuildinginHot-HumidandHot-DryClimates(BRAB conferencereportn0 5).Nestediagrama,chamadodeCartaBioclimtica(BioclimaticChart),oautorcombina temperaturadoareumidade,definindozonasdeconforto com base em estudos biometeorolgicos anteriores, mostrandocomoestaszonaspodemsemodificarnapresenadeventilaoedaradiaosolar,oudeoutra fontetrmica(paramaioresdetalhesveremlzardetali,1980,p.13-16),Koenigsbergeretali(1977,p.67-68), Faria (p. 16-17, includo no ME-4) e Olgyay (1968, p. 24-40 e p. 126-130). -ACartaBioclimtica(BuildingBioclimaticChart)desenvolvidaporGivoni,emIsrael,apartirdeseundicede tensotrmica(IndexofTermalStressj,combinandotemperaturasecadoar,temperaturamidaeventilao, definindo,comooanterior,zonasde conforto trmico em funo dos valores que assumam aqueles elementos do clima. No faz parte de seu modelo a radiao, fazendo com que sua aplicao prtica se restrinja avaliao de ambiente sombra. (Ver detalhes em lzard et alii (1980, p. 16-17) e em Givoni 1969, p. 285-290). - Os diagramas de conforto trmico desenvolvidos por Fanger, especialmente para os propsitos da engenharia ambiental (controle mecnico). Estes diagramas, derivados das equaes de conforto, desenvolvidas a partir das respostas s variaes do meio, usando indivduos americanos como amostra, combinam a. temperatura seca do ar e temperatura mida, tendo a velocidade do ar como parmetro de conforto; b. temperatura ambiente (seca) e umidaderelativa,tendoaatividadecomoparmetro;c.temperaturaambienteetemperaturamdia,tendoa velocidade do ar como parmetro. Nestes modelos, muitas formas diferentes de roupas e atividades so levadas em conta ao se definirem os diagramas. (Detalhes em Fanger, 1970.) -Zonadeconforto trmico proposta por Vogt e Miller-Chagas, com base em vrios estudos, dentre eles os de FangereCivonieapartirdealgumascondiesbsicasquedevemserseguidasparaoestabelecimentodas condies de conforto. (Detalhes em lzard et alii, 1980, p. 17-19.) -DiagramasdeTemperaturaEfetiva,criadosporHoughtoneYaglou,em1923,juntoAmericanSocietyof HeatingandVentilationEngineers-ASHVE,apartirdascondiesdeconfortotrmicodefinidasnacarta psicomtricacombinandotemperatura,umidadeemovimentodoar.Estesdiagramasforamseaperfeioando. Hoje em dia so substitudos pelo diagrama de Temperatura Efetiva Corrigida, que inclui, na escala de leitura, o efeitodaradiao,englobandoassimtodososelementosdoclimarelacionadoscomapercepotrmica. (Detalhes em Faria, p. 15, 16 e 18, includo no ME-4, e Koenigsberger et alii 1977, p. 64, 65, 66 e 69 a 79.) CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romero 26Ainda, segundo Villas Boas (1983), citando Sargent et alii (1964) e Landsberg(1 972), h, no entanto, uma srie de limitaes desses modelos, ou ndices (e de outros), ao tentar descrever, ou modelar. as interaes do organismo humano e do meio ambiente.1 Landsberg(1972)dizque,emborahajarestriessobresoluesexatasparadescreverestasinteraes,tais tentativaspodemserteisseaspessoasestocientesdaslimitaesdosmodelos,limitaesque,defato, restringemsuaaplicaogeneralizada.Segundooautor,entreestaslimitaesestoasdificuldadesemse modelaroclimaeotemporealisticamenteeemsedescreveremasreaeshumanasefetivas,comohomem desenvolvendo atividades no mundo real. Parece, assim, que o uso destes modelos para regies geogrficas e para situaes outras que no aquelas para as quaiselesforamconstrudosumprocedimentonocientficoeatsemumapraticidadeconvincente.No entanto,vriosdestesmodelos,oundices,desenvolvidosapartirdeindivduosamericanosbemnutridos,tm servido de base para a avaliao das condies de conforto em muitas regies da terra e mesmo no Brasil. Modelos adequados s regies tropicais precisam ser desenvolvidos para que se tenha uma base de informao o maisprximopossveldarealidade,modelosestesquedevemlevaremconta,almdasvariveisdomeio,as variveis do indivduo adaptado sua regio, que so influenciadas pelos usos e costumes da populao. Os modelos de conforto trmico, adequadamente desenvolvidos, so um instrumento importante para o estudo dastcnicasdecontroledoambiente,umavezquepermitemaidentificaodaquelasvariveisdomeioque devemsermodificadase/ouaproveitadasparaseconseguiremascondiesdeconfortodesejadas,apartirdo prprio projeto de arquitetura. Os modelos sintetizados por Olgvay ilustram os fatores quepodemalterarumazonadeconfortosemquese verifiquemalteraesnatemperaturaouumidadedoar (Condies climticas dadas.) (Figura 22). Figura 22 Zona de conforto. Diagrama BioclimticoSegundooexemplo,a zonadeconfortodeum homememrepousona sombrasealteraquando severificamovimentodo arouquandoelese exercitaoupermaneceao sol (Figura 23). Figura 23 - Fatores que alteram uma zona de conforto. Adaptado de Hud (1977).

1Referncia:Givoni,B.Manclimateandoarchitecture,1969,eToledoE.NotasdeAula,UnB,1973.PreparadoporM.VilasBoas. Mod. 04. CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romero 27 Estesmodelos,emsntese,mostramque,quandoascondieshigrotrmicas(temperaturamaisumidade) provocam uma tenso positiva (calor), o movimento do ar em torno do corpos das pessoas modifica o ndice de conforto alcanado (Figura 24). Figura 24 - Diagrama Bioclimtico de Olgyay. Fonte: Fonseca (1982). O abrigo e o ambiente No item anterior foi analisado o efeito das variveis do meio em especial os elementos climticos (temperatura, radiao, umidade e movimento do vento), sobre a percepo trmica fisiolgica e comportamental do homem. Foram analisados tambm os processos de trocas trmicas (por conduo, conveco e evaporao) que ocorrem entre o homem e o meio para o estabelecimento de seu equilbrio trmico. Os processos de troca, das variveis do meio, e das equaes que explicam estas variveis, bem como os inumerveis modelos que tentam simular as reaes humanas e as condies trmicas de um ambiente que foram apresentados esquematicamente Aps a anlise da percepo trmica do meio, ser analisado abrigo que tambm influencia o equilbrio trmico entre o homem e o ambiente. O abrigo ser visto a partir de uma srie de exemplos da produo cultural do homem. Procurar-se-o exemplos de produes culturais adaptadas ao meio que se beneficiam do emprego adequado dos materiais locais e que estabeleam urna relao nica entre a paisagem e a forma construda. Misturam-senestaapresentaoprodutosvernculoseprodutosdassoluesencontradaspe!osarquitetosde hoje selecionados pela riqueza que demonstram, seja na adequao ao lugar, seja no significado do realizado. Esta seleo no obedece a critrios histricos, sociolgicos ou outros; apenas obedece necessidade de levantar aspecto significativos do equilbrio trmico entre o homem e o ambiente Apresentamseosabrigosdospueblos,osdaprovnciaHonnarosdacidadeislmica,eosdosYagua, desenvolvidos no Sudeste dos Estados Unidos, na China, no Egito e lraque e no Amazonas, respectivamente. As soluesencontradasporestesabrigosemregiesdeclimastropicaisquente-secoequente-midoprocuram reduzir a amplitude das variaes do local do assentamento. CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romero 28Orientados por esta mesma finalidade, alguns arquitetos realizam hoje produtos que controlam o sol, o vento etc. eseadaptamaomeionoqualestoinseridos,inspiradosmuitavezespelosabrigosvernculosantes mencionados.EntreestedestacamosaresidnciaSeaRanch,acidadedeGourma,residnciasdoAmazonas, realizadasporDavidWright,HassarFathy,SeverianoPorto,respectivamentelocalizadasemregiesdeclima tropical quente-seco e quente-mido. Destacam-se tambm as preocupaes ambientais (a nvel de regulamentos e outros) que demonstram tanto as cidades coloniaisespanholasqueremontamaVitrvioeasLeisdasndias,quantoascidadeslatinasemgeral:romanas, renascentistas,medievais.Especialnfasefoidada ao traado medieval que evidenciava uma mediao cotidiana do homem com o espao construdo, tambm encontrado no arquiteto Steve Baer e nas residncias por ele realizadas. Finalmentedestacam-seosestudossobreaescolhadostioparaacidadedeBraslia,queevidenciam preocupaes bioclimticas e servem para realar aspectos da adaptao topografia do lugar e intervenes de controle ambiental para facilitar o conforto trmico da populao. O Abrigo nas Regies de Grande Amplitude Termina Diuturna. Clima Quente-seco No clima quente-seco encontra-se a maior parte dos exemplos de adaptao do abrigo ao meio. Nestas regies as variveisdoclimaquedevemsercontroladasdizemrespeitoainsolaoelevada,diferenasacentuadasde temperatura entre o dia e a noite, umidade relativa do ar baixa e vento carregado de p. Osexemplosselecionadoscorrespondemsproduesculturaisdenominadaspueblos,cidadesobaterrada provncia de Honnan, residncia semi-enterrada denominada Sea Ranch. Estesexemplosobtm,atravsdaformaelocalizaodoassentamentoedosmateriaisempregadosnoabrigo, equilbrio trmico entre o homem e o meio. Abrigo Pueblos Estados Unidos SegundoRapoport(1978),apalavrapueblosseaplicaaumagrandediversidadedeabrigosemdesfiladeiro, planaltoouvaieeainmerosgrupostribaiselingsticos(Hopi,ZuieTewa,entreoutros)quese desenvolveram no Sudoeste dos Estados Unidos a partir do sculo VI, numa regio rida de extremos climticos, vero quente e seco e noites frias no inverno (Figura 25). Figura 25 - Localizao dos pueblos. Fonte: Rapoport (1978). CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romero 29Os pueblos so formados por habitaes construdas com grossas paredes de barro ou pedra, dispostas em grupos deummodocuidadoso,compactas,devriosandares,detetoplanohorizontal,emescadaeamontoadas. Tais grupospossuemumcarteraditivoeatravsdesuacomplexaarquiteturacomunitria,muitodiferentedos abrigos individuais, que expressam uma vida social altamente organizada. Mesmo que a forma varie, o grupo se dispe sempre ao redor de um espao aberto, tambm de forma varivel, de preferncia quadrada (Figura 26). Figura 26 - Pueblo Bonito. Adaptado de Izard/Guyot (1980) e Revista Process (1978). Devidoslimitaestcnicas,dematerial,epelasuarelaocomoexterior,ospueblospossuemumcarter visualmuitoespecfico.Parecemformarpartenecessriadapaisagemeostentamsempreumarelaodecore forma com a orografia do terreno, sendo difcil distingu-los. CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romero 30Osmurossodensos;osHopiconstremcompedrasrusticamenteassentadassobrebarro,osoutrospueblos somente em barro. Antes da chegada dos espanhis, construam com barro apisoado numa forma semelhante ao concreto atual. A primeira modificao importante da tcnica foi a adoo do bloco de adobe dos espanhis, mas isto no alterou a forma da habitao nem a do pueblo. Ostetos(aomesmotempopisos)sodeterraouargilaeervasobrepedaosdemadeiramuitojuntos sustentadosporvigasqueseapoiamnosmuros.Asvigassobressaemforadosmuros.Asparedes,que apresentam vos pequenos, recebem estuque no seu lado externo e interno, sendo esbranquiadas com argila fina clara ou cores com motivos semelhantes aos que aparecem nos tecidos (Figura 27). Figura 27 - Pueblos Taos (Hopi). Adaptado de Rapoport (1978) e Izard/Guyot(1980). CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romero 31Anaturezacompactadopucbloproporcionaomximodevolumeedificadocomamenorsuperfcieexposta;o sombreado das fachadas e a espessura dos muros contribuem tambm a uma elevada inrcia trmica, obtendo-se bons resultados no inverno e no vero. O controle do sol se d pela orientaosulquecaptasol noinvernoenopermitea insolaodiretadovero;o mesmoacontececoma ao do vento. Para o vento friodoNortenoinverno ficamexpostasbarreiras (naturaiseconstruda.e,no vero,sopermitidasas brisas frescas (Figura 28). Aculturapueblofica caracterizadapelosseus estreitos1acomseu entorno,oquelhepermite sesituarnumaposiode equilbrioecolgicoauto-regulado com ele. A religio puebloenfatizaumuniverso harmonioso,ondenatureza, deuses,plantas,animaise homenssotodos interdependentes.Nunca se mata mais do que oestritamentenecessrio,e todasaspartesdoanimal devemserutilizadas. Analogamente,apenasse colheonmerodeplantas necessrio para o consumo. Aassociaontimado abrigo com a terra, expressa pelasemelhanadopuebloa umaformaorogrfica, parecerefletiraharmonia imperante entre o homem e a natureza.Apropriedadedealguns benscomunal;nenhum indivduopodeexercer propriedadesobreas rvores,aguaeoutros elementos da natureza. igura 28 - Mesa Verde. Adaptado de Izard/Guyot(1980) e Crowther (1977). CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romero 32Cidade Honnan China NaprovnciadeHonnan,no NortedaChina,declimari-gorosodelongosefriosin-vernosagravadosportem-pestadesvento,cidadesintei-rasencontram-seescavadas na terra I e de grande porosi-dade.SegundoRudofsky(1964), quase10milhesdepessoas, nestaprovnciaeemoutras (Shan5ShensieKansu),mo-ram sob a terra (Figura 29). Estesassentamentosapre-sentamumarespostaade-quada s solicitaes do meio. Paracombaterosfortes ventosebaixastemperaturas daestepegeladaescavam-se ashabitaesaoredorde ptios,cadaumcomta-manhoaproximado24mde comprimento por 9 m de lar-gura,eprofundidadeem torno de 7 m e 9 m, capaz de comportarvriasfamlias. Para este ptio abrem-se vos queproporcionamventilao eiluminaos habitaes. A orientao,tamanhoeforma dosptiospermiteaentrada dosolbaixodoinverno;a habitaesaproveitamtam-bmatemperaturamaisele dosubsolo.Assim,asha-bitaessoquentesnoin-vernoefriasnovero,por-quenorecebeminsolao direta (Figura 30). Destaforma,estoconstrudos todososequipamentoscidade, taiscomofbricas,escolas, hotis e reparties pblicas. Figura 29 - Assentamento na provncia de Honnan.Adaptado de Rudofsky (1964).Figura 30 - Vista do assentamento na provncia deHonnan. Fonte: Rudofsky (1964).CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romero 33Residncia Sea Ranch Estados Unidos Na Califrnia (Estados Unidos), o arquiteto David Wright, autor de inmeros projetos bioclimticos, realizou em 1976 uma residncia semi-enterrada, utilizando-se dos princpios adotados na arquitetura verncula. Aresidnciaseabreparao Sul (Hemisfrio Norte) para receberadiaosolardireta e se fecha para o Norte para seprotegedosventosfrios eaproveitarainrcia trmicadaterra, absorvendoeestocandoa radiaonoinvernoe,no vero,retardandoa passagem de calor.Noveroobtm-seo equilbrioatravsde ventilaointernadurantea noite,aliadaaoefeito refrescantedamassa trmica interna (Figura 31). Figura 31 - Planta da residncia Sea Ranch. Fonte: Pedregal (1977) e Bustos Romero (1978). Utilizaalgunselementosda arquiteturasolarpassiva, taiscomo:vidrosduplosna fachadasuleinclinadosem 75o.paracoletarenergiae estoc-laemgrossas paredesdeconcreto, ventilaonatural produzidapeloefeito termo-sifo,cobertura isolanteatravsdeterrae plantas (Figura 32). Figura 32 - Corte da residncia Sea Ranch. Fonte: Pedregal (1977) e Bustos Romero (1978). {Esteselementos,aliadosadaptaototaldoconstrudoaomeioambienteexistente,lembramasprticas primitivasquesempreprocuramomnimoimpactodesuaintervenonomeioemqueseencontravam. Tantoestarealizaocomooutrasdesteautorevidenciamsempreumentendimentoprecisodoclimalocal,a importncia e alcance das caractersticas dos materiais construdos, assim como a adaptao a uma economia de escassez de recursos em energia e tempo (Figura 33). CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romero 34Figura 33 - Vistas da residncia Sea Ranch. Fonte: Pedregal (1977) e Bustos Romero (1978). Cidade islmica Iraque/Marrocos Existemoutrosexemplosque evidenciamprofundoconheci-mentodolugareumaperfeita adaptaoaele,assimcomoa utilizaodosmateriaisedas tcnicasconstrutivaslocais.Estes conhecimentospermeiam totalmenteaformadoassenta-mento.Porexemplo,emMarro-cosotraado da cidade aproveita o melhor possvel a topografia do lugar; as ruas canalizam os ventos necessriosparaaventilaoe impedemapassagemdeoutros ventosinconvenientes(aqueles quetransportampoeiradode-serto).Asruassoestreitasafim deproporcionarsombra,eat soutilizadostoldosparaauxiliar esta necessidade (Figura 34). Figura 34 - Esquema do traado de cidade islmica (Marrocos). Fonte: Izard/Guyot (1980). CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romero 35Assim,verifica-senovaledasCasbs,ondeoclimaquenterido (pelaproximidadedodesertodoSaaraaoSul)solicitaumtecido urbanocompacto,paraminimizaraexposiodassuperfcies radiaosolardireta,eparaaproveitaragrandeinrciatrmicada massadasconstrues(barroetroncosdepalmeiraparaases-truturas e piso) que retardam a passagem de calor durante o dia e deixam passar noite o calor acumulado durante o dia (Figura 35). NamedinadeCasablancaeemmenorproporonade Marrakesh,localizadasaNorteeOestedeMarrocos,apro-ximidadedooceanointroduzbrisasmarinhasqueamenizamo tecidourbano,jqueotraadodacidadepermiteapassagem destas ao interior do espao construdo. Aarquiteturairaquianapopularconstituiumexemplodesa-bedoria na adequao ao clima da regio: quente-seco. Falar da arquiteturavernculanoIraqueequivaleamencionarascasas tradicionaiscomptiointernoeassinuosaseestreitasruas resultantes do traado existente, nas principais cidades do pas.Ascasascomptiointernoestoagrupadasnumblococompactoafimdeexpormenossuperfciesradiao solardireta.Seuagrupamentodorigemaruasnormalmentesombreadaspelassalinciasdo19andar.A formao das ruas obedece a uma ordenao hierrquica definida. As principais rodeiam grandes blocos de casas, subdivididasporsuavezemblocosmenoresporruasmaisestreitasque,finalmente,conduzemabecossem sada, que contribuem para a segurana dos habitantes. Ao longo dos anos, o ptio tem satisfeito a necessidade social de um espao intimo, isolado e aberto, apto para o desenvolvimentodasatividadesfamiliareseespecialmenteindicadoparafacilitarasegregaodasmulheres, ditada pelos critrios scio-religiosos (Figura 36). Optioatenua,eatresolve,as condiesdoclimairaquiano,que apresentanveisdeinsolao elevado,diferenasacentuadasde temperaturaentreodiaeanoite, umidaderelativabaixaeventos fortescarregadosdepeareia(Fi-gura 37). Figura 35 - Cidade islmica. Fonte: Al-Azzawi (1978). Figura 37 - Plantas de uma reisdncia iraquiana.Fonte: "Casas orientales em Iraq" - Subhi Hussein- Al-Azzawi in "Cdigo Sociedade",Arq. PaulOliver, (1978).Figura 36 - Corte de uma residncia iraquiana..CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romero 36O calor perdido por radiao durante a noite permite ao ptio manter-se fresco na maior parte do dia. As galerias que se abrem do piso superior contribuem, atravs da obstruo das radiaes solares diretas, para a reduo do caloracumuladoduranteodia.Aindaporseroptiodealturaconsidervel,areaexpostaradiaoresulta mnima,mantendonasombradeterminadashabitaes,mesmoduranteomeio-dia,quandoosolseaproxima do znite (Al-Azzawi, 1978). Paraohabitatislmicotradicional,o urbanismoeaarquiteturaconcorrem paraaproteotrmica.Osprincpios adotadosestotoentrosadosquefica difcildefinirondeterminaume comea outro. Aanlisedestaarquiteturamereceria umamaiordedicaoquefogeporm aoescopodesteestudo:Acivilizao islmicanouniforme,apresentando diferenasclimticasegeogrficas suficientementeimportantes,cuja conseqnciapode-seconstatarna configurao. Destacam-seaseguirapenasalguns esquemasdeventilaoeumidificao (Figura 38). Os casos do habitat que conseguem um adequado equilbrio trmico entre o homem e o ambiente nestas regies nem sempre servem como exemplo aos trabalhos recentes de alguns profissionais, como diz Al-Azzawi (1978). Nos anos 30 chegaram ao lraque arquitetos estrangeiros que no foram capazes de compreender ou apreciar a idoneidade da casa com ptio tradicional. Da mesma forma, os iraquianos educados no exterior menosprezaram estascasas.Desenvolveu-se,ento,umnovotipodecasa,aocidental,cujaplantaeatividadescoincidem basicamentecomasorientais,pormoptio foi coberto, transformando-o na sala de estar, em cujo redor se agrupam as demais habitaes (Figura 39). Figura 39 - Plantas de uma residncia iraquiana moderna. Fonte: Al-Azzawi (1978). Figura 38 - Esquema de ventilao e umidificao. Adaptado de Izard/Guyot (1980). CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romero 37Tendo desaparecido o ptio privado, no seu lugar surge um jardim que rodeia a casa, limitado por uma parede de altura inferior linha de viso. Este jardim carece da intimidade a que os iraquianos esto acostumados, uma vez que fica dominado visualmente por qualquer vizinho. Por outro lado, dado o intenso calor, no possvel estar nojardim.Todasasatividadesdevemserdesenvolvidasnointerior.Porseremedificaesseparadas,possuem maior superfcie exposta irradiao solar direta. Possuem tambm grandes janelas sem proteo. Ainadequaoaumentapelaindiscriminadaorientao.Noseprocurouumaventilaoanlogadacasa oriental,e,devidoaoarextremamentequenteeseco,impossvelabrirasjanelasduranteodia.Asruasso amplas e no oferecem abrigo para o pedestre. EstasituaomuitosemelhantequeladaAmaznia,noBrasildosanos30,quandooindustrialnorte-americanoHenrvFordconstruiuumapequenacidadenaselvaparaostrabalhadoresdos seringais, nos moldes dasdoseupais,isto,casasgeminadasassentadasnocho,demadeiraecomduasjanelaslaterais.Os moradores/trabalhadores se rebelaram contra o modo de vida imposto e contra o novo urbanismo Os caboclos detestavam sua alimentao, suas casas sem pilotis e com mosquiteiros, e por isso mesmo asfixiantes. Cidade de Gourma Egito HassanFathy,arquitetoegpcio, resgataosprincpiosdeadaptao climticaevidenciadosnascidades islmicas. Ele constri no Egito, onde oclimaapresentanveisdeinsolao elevadaediferenasacentuadasde temperaturaentreodiaenoite, umidade relativa baixa e ventos fortes carregados de p e areia. HassanFathyretomaospontos bsicosantesmencionados, prpriosdoconhecimentoemprico da populao islmica.{Fathy, apesar de ser um arquiteto cosmopolita, deliberadamente utiliza mtodos tradicionais de construo e mo-de-obralocal(alvenariadetijolosdebarrosecosao sol)eprincpiosdeplanejamentodacidade(sombras, ruas curvas, ptios internos, terraos para dormir) que demonstram a validade destes princpios na prtica atual: a qualidadedosambientesurbanosprojetadosnacidadedeGourma,segundoFitch(1971),comparativamente superior de outros centros modernos de muitas cidades egpcias (Figura 41). Figura 40 - Nova zona residencial em Bagdad (Iraque). Adaptado de Al-Azzawi (1978). Figura 41 - Trecho do projeto da cidade de Gourma e detalhe de unidade de vizinhana.Adaptado de Fathy (1973). CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romero 38Residncia Zomes Estados Unidos SteveBaerrealizaemAlbuquerque (EstadosUnidos)umaresidncia solarpassivadotadadeoriginais elementosdeclimatizao:muros naorientaosul(Hemisfrio Norte),deestruturademadeiraque suportamtamborescheiosdguae pintadosdepretoparaabsorver calor,painisdecobrimentodestas paredesregulveisepintadoscom umatintarefletora,paredesinternas deadobe,paraaproveitaraalta capacidadetrmicadestematerial,e clarabiasmetlicas(Skylids) comandadosporummecanismo sensvelradiaosolar.Na ausnciadesol,estasclarabiasse fechamparaevitarasperdasde calor das habitaes.Oefeitoqueesteconjuntoproduznumvisitante encontra-senumtextodeMumford(apudBustos Romero, 1978:51) que ilustra como a mediao do homemnodomniodoespaoconstrudopode seraindaumfatoacessvelecheiodesurpresa: Passeiaumanoiteeumdia;pelamanh,aps levantarmos,noteiquehaviatamboresdeleo, queagoraestavamcheiosdguaepintados,pelo ladointernodacasa,emcoresatraentes.Esteo nicoaquecimentoexistente.Pelamanha,agua estavabastantequenteparabarbear-me.Um moinho de vento bombeia a gua para a casa que entoaquecidaporumaparelhodeenergiasolar. Quandonossentamosparaocafdamanh, conformeosolseelevavanohorizonteese tornavamaisquente,abriu-seumaclarabiano tetodacozinha,permitindoaosraiossolares atravessarem,atingindoamesadocaf.No momento em que os raios atingiram a mesa, Steve Baereseufilhointerpretaramofatocomoum sinal para que se abrissem a casa para o sol. Assim foram at estas paredes, que haviam sido fechadas noite,e,comoemumgrandenavio,giraramos sarrilhos,descendoasparedesatocho;estas paredesestopintadascomumacamadarefletiva, onde os raios solares so refletidos o dia todo nos tamborescomgua; e, durante a noite, as paredes sonovamentefechadas.Osol,nestacasa,no apenas um acidental sistema de aquecimento - eles brincamcomosol-osolfazpartedeseucaf matinal. Figura 42 - Planta da "Zome". Adaptado de Baer (1973). Figura 43 - Vistas da "Zome". Adaptado de Baer (1973). CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romero 39O Abrigo nas Regies de Clima Quente-mido Nas regies de clima quente-mido as respostas de abrigo so extremamente diferentes daquelas descritas para as regies quente-secas. Nestas regies as variveis do clima que devem ser controladas so a intensa radiao solar e a temperatura elevada associada alta taxa de umidade do ar. Os exemplos abaixo correspondem s produes culturais denominadas Yagua e residncia Tarum do arquiteto Severiano Porto. Estes exemplos obtm atravs da forma do abrigo e dos materiais empregados o equilbrio trmico entre o homem e o meio. Abrigo Yagua Amazonas NaregiodoAmazonas,declimatropical-mido,aintensaradiaosolar,aaltaumidadeeograndendicede precipitaessolicitamdoabrigosoluesdiferentesdaquelasencontradasnasregiesridasesecas anteriormente apresentadas para a obteno do necessrio equilbrio trmico entre o homem e o ambiente. AhabitaoYagua,analisadaporRapoport(1972:125),consegueatendersexignciasnecessriasaoequilbrio atravs da sombra e da ventilao. Segundo o autor, a cobertura o elemento dominante, e , com efeito, um pra-sol imenso prova dgua, com uma inclinao tal que permita escorrer rapidamente as chuvas torrenciais, opaco radiao solar e com uma massa mnima para evitar a acumulao de calor e a subseqente radiao. Tambm evita os problemas de condensao ao ser capaz de respirar. (IA.) AshabitaesYagua,sobrepilotis,seelevamdo chofavorecendoaventilaoeprotegendo-sedas inundaesedosanimais.Oarfluidebaixopara cima,criandocorrentesdearqueamenizamo ambiente externo (Figura 44). Grandesbeiraisrodeiamahabitaoque nopossuivedaesverticais,obtendo assim ventilao em todos os ambientes. Residncia Tarum Amazonas OarquitetoSeverianoPortodemonstraumprofundo conhecimentodoclimadaregio(quente-mida)eda arquiteturavernculaadotadapelosindgenasdolugar. Demonstrandotambmconhecimentoerespeitopelas caractersticasdolocal,eleestabelecequenostiode implantaodaresidncia(Tarum-AM)acamadade folhasdervoresquerecobreosolonodeveser removida,jqueelaresponsvelpelafertilidade superficialdomesmo.Opartidoficacondicionados caractersticasdostio,davegetao,doclimae necessidade da reduo ao mnimo da rea a ser destinada construopara,assim,evitararemoo de rvores e a abertura de grande clareira, que possam ocasionar a queda dervorespelaquebradoequilbrioexistentenafloresta amaznica,ondeasrvorespossuemsomenterazes superficiais. A soluo vertical era a mais indicada e todos os espaos so vazados (esquadrias de venezianas mveis etelasdenilon),afimdepermitiralivrecirculaodo ventonoseuinterior.Oarquitetodemonstratambm umaespecialconsideraopelamo-de-obralocal,uma vezqueodimensionamentodaspeasestruturaisfeito demaneiraqueatendanosestabilidade,como tambmcapacidadedasferramentasusadasnopreparo damadeirapelohomemdaterra,responsveldesdea obtenoepreparaodaspeasatamontageme acabamento da residncia (Figura 45 e 46). Figura 45 - Vistas de residncia Tarum. Adaptado da Revista Mdulo No. 53 (1979). Figura 44 - Habitao Yagua. Adaptado de Rapoport (1972:42). CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romero 40 Figura 46 - Planta da residncia Tarum. Adaptado da Revista Mdulo No. 53 (1979). OAmbiente,osRegulamentoseaMediao do Homem no Espao Construdo Osexemplosselecionadosnesteitemrepresentamsoluesorientadasporpreocupaesclimticaseoutras, encontradas nas cidades coloniais espanholas e cidades latinas, em geral, romanas, renascentistas e medievais. Destacam-setantoosregulamentosquenortearamassoluesqueremontamaVitrvioesLeisdasndias, bemcomoamediaocotidianadohomemcomoespaoconstrudo,aspectoessencialnotratamentodo espao, quanto a preocupao e a inter-relao entre o homem e o meio, seja este natural ou construdo. As Cidades Romanas , Renascentistas e Medievais Nomundolatinosemprehouve manifestaesdepreocupaocomas consideraesdomeionotraadoe comaimplantaodosassentamentos. Acidaderomana,porexemplo,em partepormotivosreligiosos,emparte porconsideraesutilitrias(Mumford: 1965), tomava a forma de um retngulo. Mas,almdeseutraadosagrado,a cidaderomanaeraorientadanosentido de se harmonizar com a ordem csmica. Emboraoprincpiodeorientao tivesseumaorigemreligiosa,eleera modificadopelatopografia,que modificavatambmopianoemgrade. NotempodeVitrvio,apreocupao comahigieneeoconfortoveio modificar mais ainda o traado da cidade romana,detalsortequeelechegavaa sugerirqueasruaspequenasouvielas fossemorientadasnosentidodeconter osdesagradveisventosfrioseos infecciosos ventos quentes (Figura 47).Figura 47 - A Cidade Ideal de Vitrvio. Adaptao de Goitia (1982). CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romero 41NasLeisdasndias,promulgadasem1573(cominflunciasdeVitrvio),encontram-sepassagensque evidenciam a preocupao climtica e com o conforto do homem (Arquitetura/Cuba 340/1/2:9-11). .... de la plaza salgan cuatro calles principales, una por medio de cada costado; y adems de estas dos por cada esquina:lascuatroesquinasmirenaloscuatrovientosprincpales,porquesaliendoasiascallesdelaplazano estarnespuestasloscuatrovientos,queserdemuchoinconvenientes:todaencontorno,ylascuatrocales principales que de eila han de salir, tengan portales para comodidad de los tratantes que suelem concurrir; y las ocho calles que saldrn por las cuatro esquinas salgan libres, sin encontrarse en los portales, de forma que hagan la acera derecha en la plaza y la calle (Figuras 48, 49, 50 e 51). Figura 48 - Planta da Cidade de Caracas, 1567. Fonte: Galantay (1977). Figura 49 - Planta da Cidade de Buenos Aires, 1708. Fonte: Galantay (1977). CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romero 42 Figura 50 - Planta da Cidade de Lima, 1683.Fonte: Galantay (1977).Figura 51 - A cidade colonial. Fonte:Galantay (1977).CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romero 43 Nacidademedieval encontram-sevrios elementosque demonstramadaptaoao climaeaolugar executadospelos habitantes.Segundo Mumford(1965),o morador urbano medieval, procurandoproteo contraoventodo inverno,evitavacriar cruistneisdevento, taiscomoaruaretae larga.Aprpriaestreiteza dasruasmedievais tornavaasatividadesdo homemaoarlivremais confortveisnoinverno. Contudo, no Sul, a mesma ruaestreitacomamplos beirais protegia o pedestre contraachuvaea radiao solar direta. As ruas da cidade medieval eram no somente estreitas e muitas vezes irregulares, nelas eram tambm freqentes asvoltasabruptaseasinterrupes.Quandoaruaeraestreitaetortuosaouquandochegavaaumbecosem sada, a planta quebrava a fora do vento (Figuras 52 e 53). Figura 52 - Praa central da Bastilha de Mont Pazien. Fonte: Goitia (1982). Figura 53 - Cidade de Priene.Fonte: Goitia (1982). CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romero 44Cidade Colonial de Havana/Cuba O ptio interno, de vital importncia tanto cultural como climtica para o mundo islmico, presena constante, em sua instncia cultural, nas casas coloniais da Amrica Espanhola. Nestas casas as habitaes se organizam ao redordeumptioequasetodaavidafamiliarsedesenvolvenesterecinto.AscasascoloniaisdoPeru,por exemplo, contm vrios ptios internos, que se fazem mais exclusivos medida que se afastam da rua. Assim, ao primeiro ptio, acessvel at de carruagem, tem acesso as visitas e nele se encontram as reas sociais da famlia; no segundo, se agrupam os quartos e as saias ntimas; o terceiro fica para os servios e para o desenvolvimento dasatividadesquesujam(cozinha,currais,banheiros).Fig.50PlantadacidadedeLima,1683.EmHavana,Cuba, encontram-seestesptiosnasmansesdaclassedominantedosculoXVIII.A,afamliaprimitivaassumeo papel de um complexo social estratificado (Figura 54). Figura 54 - Trechos da cidade (ptios internos). Fonte: La Habana (1974). reasegaleriassooselementosintegradoresdotecidourbano:asgaleriasemarcoapoiadasemcolunas constituem o elemento-vnculo entre o espao pblico e o privado. Nesta cidade, o espao externo ritmado pela seqncia de arcadas converte-se na ante-sala das residncias. Existe uma continuidade entre ambiente externo e interno atravs dos planos das colunas.DestacaestefatoumescritodeAlejoCarpentier(1982:15)sobreaclimatizaoambientalqueconseguemas colunasdacidadeeocoloridodassuasfachadas,que tambm traz uma severa crtica ao traado atual que no demonstra preocupao com a proteo dos rigores climticos. {Urbanismo, urbanistas, cincia de la urbanizacin. Todava recordamos Ias conjugaciones que de la palabra Urbanismo se daban, con espesos caracteres entintados, en los y clsicos artculos que publicaba Le Corbusier hacemsdecuarentaaos,enlaspginasdeiEspritNouveau.Tantosevienehablandodeurbanismo,desde entonces,quehemosacabadoporcreerquejamshaexistido,antes,unavisinurbanstica,oaimenos,um instintodeiurbanismo.Humboldtsequejabaensutiempo,deimaltrazadodeIascaleshabaneras.Perollega uno a preguntarse, hoy, si no se ocultaba una gran sabiduria en ese mal trazado que an parece dictado por Ia necesidadeprimordial-trpica-dejugaraiesconditecoreisol,burlndoiesuperficies,arrancndolesombras, huyend de sus trridos anuncios de crepsculos, con una ingeniosa multiplicacin de aqueilas esquinas de fraile quetantosesiguencotizando,anahora,eniaviejaciudaddeloquefueraintramuroshastacomienzosdei siglo. Hubo, adems mucho embadurno -en azafrn oscuro, azul sepia, castafo~ claros, verdes de oliva - hasta loscomienzosdeestesiglo.Peroahoraqueesosembadurnossehanquedadoenlospueblosdeprovincia entendemos, acaso, que eran una form dei brise-soleil, neutralizador de reverberaciones... Mal trazadas estaran, acaso, las calles de La Habana visitada por Humboldt. Pero las que nos quedan con todo y mal trazadas como pudieran estar, nos brindan una impresin de paz y de frescor que difcilmente hallar(amos endondelosurbanistasconscientesejercieronsuciencia.Laviejaciudadesciudadensombras,hechaparala expiotacin de las sornbras.CopyMarket.comPrincpios Bioclimticos para o desenho urbano Marta Adriana Bustos Romero 45O ambiente e a escolha do stio Geralmente,ascidadessurgemcomoresultadodaconjugaodefatoressociais,polticoseeconmicos,inicia-se casualmente o nuclearmente, que se desenvolve influenciado pelo comercio, indstria e localizao, entre outros fatores.Quandoassimacontece,acidadesempreprecisadegrandeinvestimentosparasuperarascondies desfavorveisdelocalizao.ExemplodissosoascidadesdeMxico,Bangcoc,Estambul,Boston,Chicago, Amsterd,Washington,ondeossolosmidosemolesprejudicamasfundaes,favorecemasinundaes,e ondetambminexistemmateriaisdeconstruonasreasprximas,eoc