AULAS DA PÓS 1, 2, 3 e 4 Principios_e_Conceitos_de_Direito_Processual_Tributario

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    Palavra DigitalDireito Processual Tributrio

    DisciplinaPrincpios e Conceitos de Direito Processual Tributrio

    Coordenao do CursoEduardo SabbagMarcelo Campos

    AutoriaCamila VergueiroEduardo Sabbag

    FICHA TCNICA

    Equipe de Gesto EditorialFlvia Mello Magrini

    Anlise de ProcessosJuliana Cristina e SilvaFlvia Lopes

    Reviso TextualAlexia Galvo AlvesGiovana Valente FerreiraIngrid FavorettoJulio CamilloLuana Mercrio

    DiagramaoClula de Inovao e Produo de Contedo

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    Como citar esse documento:VERGUEIRO, Camila. SABBAG, Eduardo. Princpiose Conceitos de Direito Processual Tributrio. Valinhos:Anhanguera Educacional, 2014. p. 1-75.Disponvel em: .Acesso em: 03 mar. 2014.

    ChancelerAna Maria Costa de Sousa

    Reitora

    Leocdia Agla Petry Leme

    Pr-Reitor AdministrativoAntonio Fonseca de Carvalho

    Pr-Reitor de GraduaoEduardo de Oliveira Elias

    Pr-Reitor de Extenso

    Ivo Arcanglo Vedrsculo Busato

    Pr-Reitora de Pesquisa e PsGraduaoLuciana Paes de Andrade

    Realizao:

    Diretoria de Extenso e Ps-Graduao

    Pedro RegazzoVanessa PancioniClaudia BenedettiMario Nunes Alves

    Gerncia de Design EducacionalRodolfo PinelliGabriel Arajo

    2014 Anhanguera Educacional

    Proibida a reproduo nal ou parcial por qualquer meio de impresso, em forma idntica, resumida ou modicada em lnguaportuguesa ou qualquer outro idioma.

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    NDICE

    Tema 01:Jurisdio, Competncia, rgos Judicantes e Jurisdicionais, Sujeitos Processuais,Ao, Pretenso e Recurso, Atos Processuais

    06

    Tema 02:Princpios Processuais, Princpio Dispositivo, Princpio da Publicidade dos AtosProcessuais, Princpio da Ampla Defesa Contraditrio e do Devido Processo Legal, Princpioda Eventualidade ou da Precluso

    22

    Tema 03: Princpio da Verdade Material, Princpio da Verdade Formal, Princpio da Lealdade,Princpio do Duplo Grau de Jurisdio, Princpio da Universalidade da Jurisdio, o Fiscocomo rgo de Justia

    40

    Tema 04: Direito Fiscal e Direito Tributrio, Procedimento Tributrio e Processo Tributrio,

    Objeto do Procedimento Tributrio e do Processo Tributrio, Direito Constitucional, Tributo,Vigncia e Aplicao das Leis Tributrias, Interpretao e Integrao das Leis Tributrias

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    TEMA 01Jurisdio, Competncia, rgos Judicantese Jurisdicionais, Sujeitos Processuais, Ao, Pretenso

    e Recurso, Atos Processuais

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    LEGENDA

    DE CONES

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    Incio

    Referncias

    Gabarito

    Pontuando

    Glossrio

    Vamospensar

    Verifcao

    de leitura

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    Aula

    8

    01

    Jurisdio, Competncia, rgos Judicantese Jurisdicionais, Sujeitos Processuais, Ao,Pretenso e Recurso, Atos Processuais

    Camila Vergueiro

    Mestrado em Direito pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (2006).Tem experincia na rea de Direito, com nfase em Direito Tributrio. profes-sora em Direito Tributrio e Processo Tributrio.

    Eduardo Sabbag

    Doutor em Direito Tributrio e doutorando em Lngua Portuguesa pela PUC/SP.Mestre em Direito Pblico e Evoluo Social pela UNESA/RJ. Advogado.

    Objetivos

    Esta aula tem por objetivo tratar das regras de processo tributrio. Sero abordados

    os temas: jurisdio e contraposto direito de ao, sujeitos da relao processual, atos

    processuais at a instncia recursal.

    O enfoque ser pragmtico, apontando-se, se for o caso, a posio da jurisprudncia sobre

    os assuntos tratados que, antes de serem exclusivamente do processo tributrio, esto

    atrelados a todo e qualquer processo.

    1. Introduo

    Reetir sobre processo exige um primeiro corte metodolgico do ordenamento jurdico:

    separar as regras que diretamente regulam as condutas dos sujeitos que convivem na

    sociedade e aquelas que dispem sobre o instrumento de soluo de conitos entre essesmesmos sujeitos, o processo.

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    De tal armao, assume-se a premissa de que o processo instrumento da relao jurdica

    de direito material conituosa. O que signica que o processo no tem um m em si mesmo,

    mas um veculo institucionalmente assegurado na Constituio Federal/1988 para resolver

    o conito de interesses, que se instala entre os sujeitos de dada relao jurdica. o que est

    previsto no inciso XXXV do seu artigo 5: Art. 5 (...) XXXV a lei no excluir da apreciao

    do Poder Judicirio leso ou ameaa a direito.

    Se o processo dependente da relao material de fundo que dele objeto, tratar do processotributrio signica olhar para a relao jurdica havida entre o Fisco e o sujeito passivo. Isto

    porque adjetivar de tributrio dado processo fazer um corte no arsenal normativo processual

    e demarcar o objeto de estudo no contexto desse conito entre Fisco e sujeito passivo.

    Admite-se, destarte, que existem tantos processos quantas sejam as relaes materiais

    que o nosso ordenamento jurdico regule; por isso, possvel falar em relao processual

    trabalhista, ambiental, civil etc. e, a que interessa aqui, a tributria.

    Tomando-se por base os Cdigos de Processo que foram produzidos pelo legislador nacional,

    so identicados apenas o Cdigo de Processo Civil e o Cdigo de Processo Penal a tratar

    especicamente das relaes processuais.

    Desta constatao decorre que para todas as relaes de natureza penal serviente o Cdigo

    de Processo Penal, ou seja, esto ali as regras que regulam os direitos e deveres das partes

    do processo e do Estado-juiz, cujo conito instaurado em decorrncia de uma aio em uma

    regra do mbito do direito penal; para todas as demais relaes conituosas aplicam-se asdisposies do Cdigo de Processo Civil, entre elas, a havida entre o Fisco e o sujeito passivo.

    Como preleciona Paulo Cesar Conrado (2004, p. 24), num certo sentido, devemos convir,

    portanto, que processo tributrio processo civil, particularizado pela circunstncia, nica,

    de a relao jurdica que o precede logicamente alinhar-se ao especco ramo didtico do

    direito tributrio.

    Se o processo instrumento do direito material, falar de processo pressupe contemplar

    inicialmente a relao jurdica havida entre o Fisco e o sujeito passivo, entre os quais instaurar-

    se- o litgio. Dela, ento, partir a jornada at a relao processual.

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    2. A Relao Jurdica Material entre o Fisco e o Sujeito Passivo

    A funo do direito regular as condutas dos sujeitos que convivem em dada sociedade,

    ora obrigando, ora permitindo ou proibindo a adoo dessa ou daquela conduta reputada

    valiosa para o direito, tal como posto pelo legislador.

    No mbito do direito tributrio, nesse subsistema normativo, so identicadas as regras

    de conduta que demarcam a relao havida entre o Fisco e o sujeito passivo que envolve,precipuamente, a obrigao de pagar o tributo, ou seja, entregar determinada quantia em

    dinheiro aos cofres pblicos para que o Estado possa cumprir suas funes institucionais.

    Desta forma, pode-se dizer que a relao tributria est envolvida pelo conceito de tributo

    insculpido no artigo 3 do Cdigo Tributrio Nacional, que assim dispe:

    Art. 3 Tributo toda prestao pecuniria compulsria, em moeda ou cujo valornela se possa exprimir, que no constitua sano de ato ilcito, instituda em lei ecobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.

    Na relao tributria esto em posio contraposta o sujeito ativo e o sujeito passivo, em que

    ao primeiro acometido o direito subjetivo percepo do tributo e, portanto, dotado do

    crdito tributrio, e o segundo tem o dever jurdico de prestar o tributo. Em suma, o sujeito

    ativo, denominado neste texto Fisco, dotado do crdito tributrio, j o sujeito passivo, do

    dbito tributrio.

    O vnculo abstrato que une sujeito ativo (Sa) e sujeito passivo (Sp) denomina-se obrigao

    tributria, que em representao grca pode assim ser desenhada:

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    Sa Sp$

    Obrigao Tributria

    direito subjetivo dever jurdico

    crdito tributrio dbito tributrio

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    2.1 O Conito na Relao Jurdica Material Tributria e o Processo

    A vida social ordenada por outros sistemas reguladores de conduta, como a moral, a religio

    ou a tica, destacando-se o direito de todos eles justamente porque dotado de mecanismo de

    intimidao mais ecaz, pois disponibiliza para os sujeitos a possibilidade de acionamento do

    Poder Judicirio para solucionar o conito de interesses havido no seio de uma relao jurdica.

    por meio do processo, ou seja, do conjunto de atos coordenados lgica e cronologicamente,que ser promovida a composio de dado conito de interesses instaurado em funo da

    existncia de uma prvia relao material, mediante a qual ser feita a entrega da prestao

    da tutela jurisdicional.

    A tutela jurisdicional outorgada pelo Estado-juiz, que arma o direito do caso concreto,

    dando razo, ou no, ao proponente da medida judicial, ou seja, assegurando o bem da vida

    pretendido.

    No mbito do direito tributrio, o conito de interesses, que a mola propulsora do processo

    tributrio, instaurar-se- entre os sujeitos que compem a obrigao tributria, ou seja, entre

    sujeito ativo e sujeito passivo, sempre na hiptese de descumprimento do direito ou do dever

    jurdico que acometido a cada um deles.

    H conito, ento, quando:

    I. o sujeito passivo no cumpre a prestao tributria, assumindo a condio de

    inadimplente, e permanece indiferente em relao ao seu dever jurdico, esperando queo sujeito ativo adote as medidas judiciais necessrias para que seja compelido a pagar;

    II. o sujeito passivo no quer cumprira obrigao tributria e toma a iniciativa de provocar

    o Estado-juiz para ver assegurado seu direito de no sofrer a tributao por reput-la

    inconstitucional ou ilegal (por exemplo);

    III. o sujeito ativo no permite o cumprimento pelo sujeito passivo de sua obrigao

    tributria e, ento, adota a medida judicial hbil para se liberar de seu dbito tributrio;

    IV. o sujeito passivo cumpre a prestao tributria, mas reputa o pagamento indevido e

    pretende restituir o que pagou.

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    A provocao do Estado-juiz no mbito do processo tributrio, ento, d-se com a aio

    havida ou no dever ou no direito subjetivo da relao Fisco e sujeito passivo.

    Com isso, instalar-se- outra relao jurdica, agora de natureza processual, em que haver

    a interferncia de um terceiro, o Estado-juiz, ao qual atribudo o dever jurdico de prestar a

    tutela jurisdicional, ou seja, colocar paz no conito de interesses. o que est insculpido no

    artigo 126 do Cdigo de Processo Civil:

    Art. 126. O juiz no se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ouobscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe- aplicar as normas legais;no as havendo, recorrer analogia, aos costumes e aos princpios gerais dedireito.

    Diferentemente da relao material, em que se encontram dois sujeitos linearmente em

    posio contraposta, na relao processual identicam-se de forma angular trs sujeitos: (i) o

    Estado-juiz que, como dito, tem o dever de prestar a tutela jurisdicional; (ii) o proponente da

    medida judicial (o Autor); e o (iii) sujeito contra o qual a medida proposta (o Ru), os quais

    tm o direito subjetivo prestao da tutela pelo Poder Judicirio.

    A relao processual tributria, em regra, um espelho da relao material tributria somada

    gura do Estado-juiz, em que Autor e Ru iro variar entre sujeito ativo e sujeito passivo, a

    depender de quem proponha a medida judicial. Desenhando o que foi dito:

    3. A Relao Jurdica Processual Tributria e sua Instalao: a Ao ea Jurisdio

    No basta o conito ocorrer no mundo social para que j se possa falar em processo,

    sequer em lide; essencial que o Estado-juiz seja provocado por meio do instrumento delinguagem que o prprio direito habilita para despertar o dever jurisdicional.

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    Estado-Juiz

    Autor Ru

    Sa Sp Sa Sp

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    Esse dever jurisdicional compreende justamente o dever de solucionar conito de interesses

    que, precipuamente, mas no exclusivamente, foi outorgado ao Poder Judicirio.

    Reetindo sobre a jurisdio judicial, a linguagem habilitada pelo ordenamento para provocar

    a jurisdio judicial a petio inicial:

    Art. 263. Considera-se proposta a ao, tanto que a petio inicial seja despa-chada pelo juiz, ou simplesmente distribuda, onde houver mais de uma vara. Apropositura da ao, todavia, s produz, quanto ao ru, os efeitos mencionadosno art. 219 depois que for validamente citado.

    a petio inicial o primeiro ato do processo, que, para estar apta para instaurao da

    relao processual, deve observar os requisitos contidos no artigo 282 do CPC:

    Art. 282. A petio inicial indicar:

    I - o juiz ou tribunal, a que dirigida;

    II - os nomes, prenomes, estado civil, prosso, domiclio e residncia do autor

    e do ru;III - o fato e os fundamentos jurdicos do pedido;

    IV - o pedido, com as suas especicaes;

    V - o valor da causa;

    VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alega-dos;

    VII - o requerimento para a citao do ru.

    por meio desse instrumento de linguagem (jurdica) que exercido o direito de ao pelo

    sujeito que prope a medida judicial e que enseja o contraposto dever do Estado-juiz de

    prestar a tutela jurisdicional, ou seja, dizer o direito.

    A todo direito h uma ao que o assegura. o que j foi reconhecido no Superior Tribunal

    de Justia Recurso Especial no1189082/SP: [...] Consectariamente, em funo do princpio

    da inafastabilidade da jurisdio, a todo direito corresponde uma ao que o assegura [...]

    (Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 02/12/2010, DJe 04/02/2011).

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    Direito de ao e dever de jurisdio correspondem cada um ao lado de uma mesma moeda,

    a relao processual. Se o primeiro exercitado pelo sujeito que reputa ter tido um direito seu

    violado, ele desperta o segundo, a jurisdio, ou seja, o correlato dever de prestar a tutela.

    Sobre o conceito de direito de ao preleciona Paulo Cesar Conrado (2000, p. 152):

    ao se impor a jurisdio como sistema de composio de conitos, necess-rio que se garanta o acesso dos jurisdicionados aos rgos responsveis poraquela atividade.

    E justamente da que retiramos a noo bsica do direito de ao: falamos emltima instncia, do direito de acessar o Estado-juiz, para dele cobrar o exerccioda funo jurisdicional, para dele cobrar, enm, o fornecimento de uma decisoque componha um certo conito de interesses.

    Ter direito ao exige do proponente da medida judicial o preenchimento de suas condies:

    a possibilidade jurdica do pedido, o interesse de agir e ser parte legtima. o que dispe o

    artigo 267, VI do CPC:

    Art. 267. Extingue-se o processo, sem resoluo de mrito:

    Vl - quando no concorrer qualquer das condies da ao, como a possibilidadejurdica, a legitimidade das partes e o interesse processual.

    A ausncia de preenchimento dessas condies pelo autor da demanda implicar o julgamento

    de sua pretenso sem anlise da matria de fundo, ou seja, sem que seja tocada a relao

    jurdica de direito material.

    Mas, o que vem a ser cada uma dessas condies da ao? Bem,

    a possibilidade jurdica do pedido est relacionada com a existncia de regra jurdica

    no ordenamento jurdico que disponha sobre a pretenso do proponente da ao. Por

    exemplo, ser reputado impossvel o pedido de uma ao que pretenda assegurar o direito

    de construir na Lua, ou de matar algum sem que se esteja em estado de guerra ou por

    legtima defesa;

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    o interesse de agir1conforma-se pelo binmio utilidade e necessidade, em que a:

    I. utilidade da ao est relacionada com a propositura de uma medida judicial que seja

    eciente para assegurar o bem da vida pretendido por exemplo, no ser til para

    o contribuinte propor uma Ao de Repetio de Indbito se ele ainda no efetuou o

    pagamento do tributo que pretende discutir, j que pressuposto dessa ao a consagrao

    do pagamento do tributo que se pretenda a devoluo;

    II. necessidade tem relao com a inexistncia de opo seno a provocao da tutela

    jurisdicional para solucionar o conito de interesses.

    a legitimidade de parte, se for (i) ordinria, consagrar-se- com a demonstrao da

    existncia do vnculo na relao jurdica de direito material, j que ningum pode defender

    em nome prprio interesse de terceiros2; contudo, se for (ii) extraordinria nas hipteses

    expressamente previstas em Lei ou no texto Constitucional, nos casos ali especicados.

    Constatando o magistrado que os requisitos da petio inicial esto preenchidos, determinar

    ele a citao da parte contrria para que ela passe a integrar a relao processual.

    Temos, ento, outro ato processual, a citao que a linguagem prevista pelo CPC como

    hbil para operacionalizar o contraditrio, garantia constitucional dos litigantes em processo

    judicial (ou administrativo) prevista no artigo 5, inciso LV da Constituio Federal/1988: Art.

    5 [...] LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral

    so assegurados o contraditrio e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

    1 PREVIDENCIRIO. AGRAVO REGIMENTAL. AO CONCESSRIA DE BENEFCIO. PROCESSUAL CIVIL.CONDIES DA AO. INTERESSE DE AGIR (ARTS. 3 E 267, VI, DO CPC). PRVIO REQUERIMENTOADMINISTRATIVO. NECESSIDADE, EM REGRA.1. [...]3. O interesse de agir ou processual congura-se com a existncia do binmio necessidade-utilidade da pretensosubmetida ao Juiz. A necessidade da prestao jurisdicional exige demonstrao de resistncia por parte do devedor da

    obrigao, mormente em casos de direitos potestativos, j que o Poder Judicirio via destinada resoluo de conitos.[...]7. Agravo Regimental provido. (AgRg no AREsp 152.247/PE, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, Rel. p/ AcrdoMinistro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/05/2012, DJe 08/02/2013)2Art. 6, CPC. Ningum poder pleitear, em nome prprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei.

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    Citado ru a ele dada a oportunidade de responder s alegaes contidas na petio inicial,

    e, para tanto, utilizar-se- do veculo denominado contestao, que a linguagem habilitada

    tambm pelo CPC para exposio dos argumentos de defesa.3

    Transportando o que foi dito para o processo tributrio, exemplicativamente para a hiptese

    de medida judicial promovida pelo Fisco objetivando a satisfao do seu crdito tributrio, ou

    seja, a Execuo Fiscal4, a petio inicial desta ao apontar o inadimplemento do tributo,

    dever ser instruda com o ttulo executivo denominado certido de dvida ativa e conter orequerimento de citao do sujeito passivo. Citado o sujeito passivo conformar-se- a relao

    processual tributria:

    3.1 Os Atos Processuais

    No item 2.1, destacamos que o processo um conjunto de atos cronolgica e logicamente

    ordenados para o m de solucionar o conito de interesses. Esses atos compem o gnero

    atos processuais, que nada mais so do que os instrumentos lingusticos habilitados pelo

    ordenamento jurdico (CPC) para movimentar o processo.

    Em funo dos sujeitos envolvidos, existem atos que so praticados exclusivamente pelaspartes, como a petio inicial, a contestao, o recurso etc., e outros que so produzidos

    pelo Estado-juiz, como a sentena, os despachos e as decises interlocutrias5. Todos eles

    direcionados ao mesmo m: soluo do conito de interesse.

    3 Art. 297, CPC. O ru poder oferecer, no prazo de 15 (quinze) dias, em petio escrita, dirigida ao juiz da causa,contestao, exceo e reconveno.4 A Execuo Fiscal a ao tributria por excelncia do Fisco, tratando-se de tpica ao de cobrana do crditotributrio.5

    Art. 162. Os atos do juiz consistiro em sentenas, decises interlocutrias e despachos. 1 Sentena o ato do juiz que implica alguma das situaes previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei. 2oDeciso interlocutria o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questo incidente. 3oSo despachos todos os demais atos do juiz praticados no processo, de ofcio ou a requerimento da parte, a cujorespeito a lei no estabelece outra forma.

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    Estado-Juiz

    Sa Sp

    Exequente Executado Autor Ru

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    Os atos processuais, por fora do princpio da segurana jurdica, da necessidade de

    estabilizao das relaes jurdicas, necessariamente devem ser produzidos em determinado

    tempo. E isso que consagra o artigo 177 do CPC:

    Art. 177. Os atos processuais realizar-se-o nos prazos prescritos em lei. Quan-do esta for omissa, o juiz determinar os prazos, tendo em conta a complexidadeda causa.

    Assim, o CPC xa o prazo para a produo dos atos pelas partes que se no for observadoimplica precluso, consoante o artigo 183 do CPC:

    Art. 183. Decorrido o prazo, extingue-se, independentemente de declarao ju-dicial, o direito de praticar o ato, cando salvo, porm, parte provar que o norealizou por justa causa.

    Aos atos do Estado-juiz, o CPC xa prazo de 2 dias para a prolao de despachos e de 10

    dias para a produo de decises (artigo 1896). Sem dvida, essa prescrio busca evitar que

    as causas sejam esquecidas, promovendo-se a razovel durao do processo que, desde2004, garantia constitucional do indivduo:

    Art. 5 [...] LXXVIII a todos, no mbito judicial e administrativo, so asseguradosa razovel durao do processo e os meios que garantam a celeridade de suatramitao.

    Entretanto, na atual conjuntura do Poder Judicirio, em que os processos se avolumam mais e

    mais nas prateleiras dos Fruns, por tratar-se de regra sem sano, no implicando nenhuma

    punio ao juiz se descumprida, ignorada.7

    3.2 O Direito de Reviso das Decises Judiciais: Extenso da RelaoProcessual

    A sentena ato processual que pe termo relao entre os litigantes julgando seu

    mrito ou no, nos termos da redao original do 18do artigo 162 do CPC.

    6Art. 189. O juiz proferir:

    I - os despachos de expediente, no prazo de 2 (dois) dias;II - as decises, no prazo de 10 (dez) dias.7Saiba mais: SILVA, Z. F. Justia seria mais clere se juzes cumprissem prazos. Disponvel em:. Acesso em: 03 mar. 2014.8Art. 162. [...]

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    Analisar o mrito da demanda9signica enfrentar a questo de fundo posta para apreciao

    via petio inicial, tocar o bem da vida objeto do litgio e denir seu destino mediante a

    edio do documento sentena pelo Estado-juiz. Em matria tributria, seria decidir pela

    existncia da obrigao tributria ou no, por exemplo.

    Entretanto, o direito de ao enquanto direito subjetivo de provocar a jurisdio no nda com

    a prolao da sentena, pois

    esse direito de acionamento da jurisdio (ao) inclui tambm a possibilidadede promover, no mnimo, uma reviso da deciso proferida em sentido contrrioao interesse de qualquer dos litigantes, tendo em vista o que dispe o inciso LVdo j citado artigo 5 da Constituio Federal que assegura aos litigantes emprocesso judicial a ampla defesa com os recursos a ela inerentes (CATUNDA,2012, p. 340)

    A instncia revisiva um prolongamento da relao processual instalada na primeira

    instncia, provocada por meio de um dos instrumentos lingusticos, denominados recursos

    pelo ordenamento, taxativamente previstos no CodexProcessual Civil, em seu artigo 496:Art. 496. So cabveis os seguintes recursos:

    I - apelao;

    II - agravo;

    III - embargos infringentes;

    IV - embargos de declarao;

    V - recurso ordinrio;

    Vl - recurso especial;

    Vll - recurso extraordinrio;

    VIII - embargos de divergncia em recurso especial e em recurso extraordinrio.

    Vigora em nosso sistema processual o princpio da unirrecorribilidade ou singularidade dos

    recursos, segundo o qual para cada deciso h um recurso cabvel. Veja precedente do

    Supremo Tribunal Federal sobre esse princpio:

    1oSentena o ato pelo qual o juiz pe termo ao processo, decidindo ou no o mrito da causa.9A expresso demanda est sendo utilizada aqui como sinnimo de ao.

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    CUMULATIVA INTERPOSIO DE DOIS (2) RECURSOS CONTRA A MESMADECISO, FORA DAS HIPTESES LEGAIS - OFENSA AO POSTULADO DASINGULARIDADE DOS RECURSOS - NO CONHECIMENTO DO SEGUNDORECURSO - EXAME DO PRIMEIRO RECURSO - EMBARGOS DE DECLARA-O - AUSNCIA DOS PRESSUPOSTOS DE EMBARGABILIDADE - RECUR-SO UTILIZADO COM O OBJETIVO DE INFRINGIR O JULGADO - INADMISSI-BILIDADE - ABUSO DO DIREITO DE RECORRER - IMPOSIO DE MULTA- EMBARGOS DE DECLARAO REJEITADOS. O princpio da unirrecorribili-dade, ressalvadas as hipteses legais, impede a cumulativa interposio, contrao mesmo ato decisrio, de mais de um recurso. O desrespeito ao postuladoda singularidade dos recursos torna insuscetvel de conhecimento o segundo

    recurso, quando interposto contra a mesma deciso. Doutrina. Precedentes.[...] Precedentes. (AI 776337 AgR-segundo-ED-ED, Relator(a): Min. CELSO DEMELLO, Segunda Turma, julgado em 07/02/2012, ACRDO ELETRNICODJe-044 DIVULG 01-03-2012 PUBLIC 02-03-2012).

    Exceo feita a esse princpio so os Embargos de Declarao, que podem ser interpostos

    contra qualquer deciso judicial que seja obscura, contraditria ou omissa, como admite a

    jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia:

    PROCESSUAL CIVIL. DECISO INTERLOCUTRIA. EMBARGOS DECLARA-TRIOS. CABIMENTO. INTERRUPO DO PRAZO RECURSAL. APRESEN-TAO POSTERIOR DO AGRAVO. VALIDADE. GARANTIA MAIOR DA FUN-DAMENTAO DAS DECISES JUDICIAIS. DOUTRINA. PRECEDENTES.EMBARGOS DE DIVERGNCIA PROVIDOS.

    - Os embargos declaratrios so cabveis contra qualquer deciso judicial e, umavez interpostos, interrompem o prazo recursal. A interpretao meramente literaldo art. 535 do Cdigo de Processo Civil atrita com a sistemtica que deriva doprprio ordenamento processual, notadamente aps ter sido erigido a nvel cons-titucional o princpio da motivao das decises judiciais.(EREsp 159.317/DF,Rel. Ministro SLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, CORTE ESPECIAL, julgadoem 07/10/1998, DJ 26/04/1999, p. 36)

    Assim, recurso ato da parte, que, na condio de vencida, pretende imediatamente revisitar

    o ato jurisdicional praticado que foi de encontro sua pretenso, a m de mudar essa sua

    condio no processo e mediatamente solucionar o conito de interesses.

    Jos Miguel Garcia Medina (2009, p. 29) ensina que recurso meio de impugnao que

    pode ser utilizado dentro do mesmo processo, em face de deciso que ainda no transitou

    em julgado, ou em relao qual ainda no se operou a precluso.

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    Se ato da parte, recurso no se confunde com a remessa ocial, que imposio ex legee

    condio formao da coisa julgada, tal como estabelece o artigo 475 do CPC:

    Art. 475. Est sujeita ao duplo grau de jurisdio, no produzindo efeito senodepois de conrmada pelo tribunal, a sentena:

    I - proferida contra a Unio, o Estado, o Distrito Federal, o Municpio, e as respec-tivas autarquias e fundaes de direito pblico;

    II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos execuo de

    dvida ativa da Fazenda Pblica (art. 585, VI).

    Encerradas as possibilidades de interposio de recursos, forma-se a coisa julgada ato

    processual estabilizador da relao havida entre os sujeitos processuais, mas com reexo

    direto na relao material, pois, enm, o conito de interesses est solucionado.

    Aula 01 | Jurisdio, Competncia, rgos Judicantes eJurisdicionais, Sujeitos Processuais, Ao, Pretenso eRecuso, Atos Processuais

    Referncias

    CAIS, Cleide Previtalli. O Processo Tributrio. 8. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.Captulos 2, 4, 5, 6 e 7.

    CATUNDA, Camila Campos Vergueiro. Pragmtica do Recurso Especial ao Superior Tribu-nal de Justia. In: CONRADO, Paulo Cesar. Processo tributrio analtico volume II. So

    Paulo: Noeses, 2012. p. 340.

    CONRADO, Paulo Cesar. Introduo Teoria Geral do Processo Civil. So Paulo: Max Li-monad, 2000.

    CONRADO, Paulo Cesar. Processo Tributrio. So Paulo: Quartier Latin, 2004.

    MEDINA, Jos Miguel Garcia. Prequestionamento e Repercusso Geral e outras QuestesRelativas aos Recursos Especial e Extraordinrio. 5. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais,2009. p. 29.

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    TEMA 02Princpios Processuais, Princpio Dispositivo, Princpio da Publicidadedos Atos Processuais, Princpio da Ampla Defesa Contraditrio e do

    Devido Processo Legal, Princpio da Eventualidade ou da Precluso

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    LEGENDA

    DE CONES

    2323

    Incio

    Referncias

    Gabarito

    Pontuando

    Glossrio

    Vamospensar

    Verifcao

    de leitura

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    Aula

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    Princpios Processuais, Princpio Dispositivo,Princpio da Publicidade dos Atos Processuais,Princpio da Ampla Defesa Contraditrio e do De-vido Processo Legal, Princpio da Eventualidade

    ou da PreclusoCamila Vergueiro

    Mestrado em Direito pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (2006).Tem experincia na rea de Direito, com nfase em Direito Tributrio. profes-sora em Direito Tributrio e Processo Tributrio.

    Eduardo Sabbag

    Doutor em Direito Tributrio e doutorando em Lngua Portuguesa pela PUC/SP.

    Mestre em Direito Pblico e Evoluo Social pela UNESA/RJ. Advogado.

    Objetivos

    Esta aula tem por objetivo tratar dos princpios que devem ser observados em todo tipo de

    processo, inclusive no processo tributrio.

    Antes de apontar efetivamente o que representam os princpios dispositivo, da publicidade,

    da ampla defesa, do contraditrio, do devido processo legal, da eventualidade e da precluso,

    sero xadas algumas premissas sobre o ordenamento jurdico, a diferena entre normas

    jurdicas e princpios.

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    1. Introduo

    Antes de tratar dos princpios processuais, importante contextualiz-los no ordenamento

    jurdico.

    O conjunto de regras jurdicas que conforma o direito positivo compe o que denominamos

    ordenamento jurdico. Sua funo precpua regular as condutas dos sujeitos que convivem

    em dada sociedade, como j foi dito na Aula 1 deste Mdulo, ora obrigando (O), ora proibindo(V ou Ph), ora permitindo (P) a adoo dessa ou daquela conduta.

    Essas regras jurdicas que visam diretamente regular a conduta dos seres humanos da

    sociedade tm a estrutura de um juzo hipottico condicional: Se a Hiptese ento a

    Consequncia.

    O direito positivo no diz como a conduta , mas como ela deve ser, justamente porque sua

    funo ordenar as relaes dos sujeitos que convivem na sociedade, criando expectativasnormativas.

    No contexto do ordenamento jurdico, contudo, relevante distinguir as regras jurdicas em

    sentido estrito e as regras jurdicas em sentido lato.

    As regras jurdicas, em sentido estrito, so aquelas que diretamente regulam as condutas dos

    sujeitos da sociedade, e as regras jurdicas em sentido lato so todas as demais, entre as

    quais inserimos os princpios.

    Objetivando regular a conduta humana, a regra jurdica em sentido estrito atribui um efeito

    jurdico para o acontecimento do mundo que foi juridicizado, que pode ou no coincidir com

    o que acontece nesse mundo.

    Para facilitar a compreenso do que foi dito, tome-se como exemplo o Direito Tributrio:

    a Constituio Federal outorga competncia Unio para instituir o Imposto sobre a Renda;

    a Unio por meio de Lei instituiu a regra-matriz do Imposto sobre a Renda, de formagenrica (sem identicar o sujeito que auferiu a renda, o quantumde renda foi auferido, o

    momento desse auferimento etc.) que de forma simplicada estabelece:

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    Se auferir renda ento deve ser a instaurao da relao jurdica entre sujeito ativo (Unio)

    e sujeito passivo. Dada a hiptese, auferir renda, deve ser a consequncia, obrigao de

    pagar o tributo (imposto sobre a renda).

    Na linguagem dos smbolos, pode-se descrever a regra jurdica como juzo hipottico

    condicional. Assim:

    No mbito do direito tributrio, a hiptese normativa sempre trar um fato econmico, ou

    economicamente mensurvel, de possvel ocorrncia no mundo fenomnico e no consequente

    relao jurdica havida entre sujeito ativo e passivo, como foi apontado na Aula 1 deste

    Mdulo. Simbolicamente:

    Como preleciona Hans Kelsen (1996, p. 247), a ordem jurdica no um sistema de normas

    jurdicas ordenadas no mesmo plano, situadas umas ao lado das outras, mas uma construo

    escalonada de diferentes camadas ou nveis de normas jurdicas.

    a ideia da estrutura piramidal do ordenamento jurdico, em que cada regra jurdica encontra

    fundamento de validade na regra jurdica imediatamente superior, at que se alcance a

    Constituio Federal, pice dessa pirmide.

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    H C

    H C

    Fato econmico

    Sa Sp

    $

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    O texto Constitucional, por estar no topo desta pirmide, carregado de regras jurdicasque serviro de fundamento para a produo das demais regras do ordenamento jurdico,

    especialmente aquelas que demarcam os valores da sociedade brasileira.

    Essas regras jurdicas (em sentido lato) contidas no texto Constitucional, dotadas de profunda

    carga axiolgica, so os princpios constitucionais. So eles regras jurdicas, como qualquer

    disposio interna ao ordenamento, mas diferenciam-se das outras justamente por fora

    dessa carga valorativa.

    Bem relembra Paulo Cesar Conrado (2003, p. 53), que,

    de maneira geral, o termo princpio utilizado, no campo da Cincia do Direito,para denotar as diretrizes que iluminam a compreenso de setores normativos(mais ou menos abrangentes, segundo o caso), imprimindo-lhes carter de uni-dade e servindo, em virtude dessa mesma unidade, de fator de agregao dasnormas integrantes dos apontados setores.

    Os princpios so os mandamentos nucleares do ordenamento jurdico, servindo-lhe como

    verdadeiro alicerce, suas vigas mestras. Ou, como preleciona Roque Antonio Carrazza (2000,

    p. 31-32), o princpio jurdico

    um enunciado lgico, implcito ou explcito, que, por sua grande generalidade,ocupa posio de preeminncia nos vastos quadrantes do Direito e, por issomesmo, vincula de modo inexorvel, o entendimento e a aplicao das normasjurdicas que com ele se conectam.

    Nas palavras de Paulo de Barros Carvalho (2013, p. 275), princpio

    uma regra portadora de ncleos signicativos de grande magnitude inuenciando

    visivelmente a orientao de cadeias normativas, s quais outorga carter de uni-dade relativa, servindo de fator de agregao para outras regras do ordenamento.

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    CF

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    Os princpios, ento, encontram-se em posio de proeminncia em relao s demais regras

    jurdicas (em sentido estrito), deveras, precisam ser observados quando o legislador exerce

    suas competncias e demarca as condutas, ou quando o aplicador manipula as categorias

    normativas, seja ele autoridade administrativa ou autoridade judicial, qui pelo prprio

    particular em suas relaes privadas, j que no pode conduzi-las sem prestigi-los.

    Assim, partindo do texto Constitucional que ter incio a empreitada sobre os princpios

    constitucionais do processo.

    2. Os Princpios Constitucionais do Processo

    A relao jurdica processual est toda ela envolvida por princpios constitucionais, isto

    , por esse conjunto de regras jurdicas em sentido lato que esto previstas na Constituio

    Federal/1988 que tratam especicamente do direito processual.

    No contexto do ordenamento jurdico, a garantia ao processo est cravada no texto

    Constitucional, especicamente no inciso LV do artigo 5 que se refere a processo judicial e

    administrativo:

    Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garan-tindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade dodireito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termosseguintes:

    LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados emgeral so assegurados o contraditrio e ampla defesa, com os meios e recursosa ela inerentes.

    E esse dispositivo a porta de entrada para tratar dos princpios constitucionais do processo.

    2.1 O Devido Processo Legal

    O processo um conjunto de atos ordenados lgica e cronologicamente, objetivando asoluo do conito de interesses, tal como foi armado na Aula 1 deste Mdulo.

    Aula 02 |Princpios Processuais, Princpio Dispositivo, Princpio daPublicidade dos Atos Processuais, Princpio da Ampla Defesa Contraditrioe do Devido Processo Legal, Princpio da Eventualidade ou da Precluso

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    Se um conjunto de atos, o processo possui um procedimento, ou seja, seu modo de

    exteriorizao, que promovido mediante a ordem, o tempo de produo dos atos, a soluo

    que dada para o litgio. Nas palavras de Jos Frederico Marques (2000, p. 50), pelo

    procedimento que se revela o processo, atravs dos vrios atos entre si coordenados.

    Essa coordenao do processo, seu procedimento, envolve o devido processo legal, ou seja,

    a garantia dos litigantes ao processo e a uma deciso sobre o caso posto para apreciao da

    autoridade julgadora.

    Como bem ressalta Nelson Nery Jnior (1999, p. 30), trata-se de um princpio fundamental

    do processo1sobre o qual todos os outros se sustentam, portanto, verdadeiro sobreprincpio

    constitucional, visto que se sobrepe sobre os demais princpios constitucionais do processo.

    Os demais princpios processuais do operatividade ao devido processo legal.

    O due processo of law2est assegurado como garantia fundamental do indivduo no inciso LV

    do artigo 5 da Constituio Federal/1988Art. 5 [...] LIV - ningum ser privado da liberdade ou de seus bens sem o de-vido processo legal.

    Segundo Nelson Nery Jnior (1999, p. 35), a clusula do devido processo legal no indica

    somente a tutela processual, ou seja, possibilidade efetiva de a parte ter acesso justia,

    deduzindo sua pretenso e defendendo-se do modo mais amplo possvel, mas, tambm, o

    devido processo legal em seu sentido material, atuando sobre a relao jurdica de direito

    material conituosa e para a qual se busca a paz pela via do processo.

    Em resumo, o princpio do devido processo legal assegura ao indivduo o dever de a jurisdio

    observar o procedimento e a soluo do conito de interesses segundo uma regra jurdica de

    direito material prevista no ordenamento aplicvel quela situao concreta.

    No mbito do processo administrativo tributrio, o devido processo legal deve ser observado

    desde a instaurao do procedimento de scalizao at a deciso nal que dene a

    manuteno ou anulao do Auto de Infrao lavrado pela autoridade scal.1A essa expresso ele agrega a extenso civil, referindo-se, portanto, a todos os processos no penais, mas tal limitedecorre exclusivamente da opo que fez para estudar os princpios do mbito do direito processual civil.2Expresso inglesa para devido processo legal.

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    Por sua vez, no processo judicial tributrio, o devido processo legal observa-se a partir do

    instante em que o direito de ao exercido por meio da petio inicial at a formao da

    coisa julgada.

    Tanto no mbito administrativo como judicial, o devido processo legal pressupe a observncia

    do contraditrio e da ampla defesa, tendo em vista o que dispe o j transcrito inciso LV do

    mesmo artigo 5 da Constituio Federal/1988:

    Art. 5 [...] LV aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acu-sados em geral so assegurados o contraditrio e ampla defesa, com os meiose recursos a ela inerentes.

    2.2 O Contraditrio e a Ampla Defesa

    Tanto o princpio do contraditrio como o da ampla defesa decorrem do princpio do devido

    processo legal, ou, melhor dizendo, asseguram sua efetividade.

    A ampla defesa se perfaz na relao processual quando os meios de prova, a manifestao

    dos litigantes, a interposio de recursos, a obteno de deciso, so todos eles asseverados.

    Por sua vez, o princpio do contraditrio se concretiza no bojo do processo sempre que a

    cada uma das partes dado o direito de contrapor-se ao que a outra parte arma, ou seja, o

    direito de ouvir-se.

    Nas palavras de Nelson Nery Jnior (1999, p. 129-130), por contraditrio deve entender-

    se, de um lado, a necessidade de dar-se conhecimento da ao e de todos os atos doprocesso s partes, e, de outro, a possibilidade de as partes reagirem aos atos que lhe sejam

    desfavorveis.

    Bem, mas como, no contexto da relao processual, esse direito de ser ouvido pela jurisdio

    se consagra? Por meio da publicidade dos atos produzidos no processo.

    Isso signica que do princpio da ampla defesa e do contraditrio decorre a necessidade de

    ser assegurada a publicidade dos atos processuais. Em funo disso, o texto Constitucional

    adota como garantia constitucional do processo a publicidade dos atos processuais.

    Aula 02 |Princpios Processuais, Princpio Dispositivo, Princpio daPublicidade dos Atos Processuais, Princpio da Ampla Defesa Contraditrioe do Devido Processo Legal, Princpio da Eventualidade ou da Precluso

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    2.3 O Princpio da Publicidade dos Atos Processuais e da Motivaodas Decises

    do contedo do artigo 5, LX, e do artigo 93, IX e X da Constituio Federal/1988

    que construdo semanticamente o princpio da publicidade dos atos processuais. Esses

    dispositivos tm a seguinte redao:

    Art. 5 [...]

    LX - a lei s poder restringir a publicidade dos atos processuais quando a defe -sa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

    Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporsobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princpios:

    IX - todos os julgamentos dos rgos do Poder Judicirio sero pblicos, e fun-damentadas todas as decises, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar apresena, em determinados atos, s prprias partes e a seus advogados, ousomente a estes, em casos nos quais a preservao do direito intimidade dointeressado no sigilo no prejudique o interesse pblico informao;

    X - as decises administrativas dos tribunais sero motivadas e em sesso pblica,sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros.

    A interpretao conjugada dessas disposies autoriza concluir que, tanto no processo

    administrativo como no judicial, os atos processuais devem ser levados ao conhecimento

    dos interessados.

    Entretanto, importante esclarecer que apenas entre as partes litigantes a publicidade

    processual assume foros de plenitude, pois o conhecimento de certos atos, provas e at dedeterminados processos pode ser limitado para preservao da intimidade dos litigantes, tal

    como prescrito no inciso IX do artigo 93 transcrito, ou nas hipteses expressamente previstas

    no CPC, em seu artigo 155:

    Art. 155. Os atos processuais so pblicos. Correm, todavia, em segredo dejustia os processos:

    I - em que o exigir o interesse pblico;

    Il - que dizem respeito a casamento, liao, separao dos cnjuges, conversodesta em divrcio, alimentos e guarda de menores.

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    Pargrafo nico. O direito de consultar os autos e de pedir certides de seus atos restrito s partes e a seus procuradores. O terceiro, que demonstrar interessejurdico, pode requerer ao juiz certido do dispositivo da sentena, bem como deinventrio e partilha resultante do desquite.

    Ainda da anlise do texto desses dispositivos, constata-se o dever das decises jurisdicionais,

    portanto, judiciais ou administrativas, de serem fundamentadas, ou seja, deve o Estado-juiz

    enunciar as razes de seu convencimento ao prolatar a deciso.

    Isto porque

    todo ato decisrio supe, por certo, a existncia de duas ou mais opes, de doisou mais caminhos possveis de serem adotados. Ao adotar esse, e no aquelecaminho, a autoridade pblica (o juiz, inclusive) est invariavelmente obrigadoa justicar sua postura, nica forma possvel de controlar a compatibilidade daopo engendrada com a ordem jurdica, de aferir, em suma a razoabilidade dodecidido (CONRADO, 2003, p. 71).

    Alm disso, a motivao das decises essencial para que o vencido no processo possa

    exercer seu direito de reviso do julgado (de recorrer). Ora, sem o conhecimento dos motivos

    que geraram a deciso do julgador, resta inviabilizado o exerccio desse direito.

    ausncia de motivao nas decises, o ordenamento atribui o efeito da nulidade do ato

    jurisdicional que, em funo dela (nulidade), deve ser produzido novamente explicitando as

    razes de decidir.

    J armou o Supremo Tribunal Federal a respeito do dever de motivar decises (judiciais e

    administrativas):Mais do que expressiva imposio consagrada e positivada pela nova ordemconstitucional, a exigncia de motivao reete uma poderosa garantia contraeventuais excessos do Estado. (RE 235487, Relator(a): Min. ILMAR GALVO,Primeira Turma, julgado em 15/06/2000, DJ 21-06-2002 PP-00099 EMENT VOL-02074-04 PP-00685)

    2.4 O Princpio da Inafastabilidade da Jurisdio Judicial

    Para operacionalizar o devido processo legal no mbito judicial, o texto Constitucionalassegura o direito do particular de provocar a tutela jurisdicional para obter a soluo do

    conito de interesses, com formao de coisa julgada.

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    A referncia agora ao princpio da inafastabilidade da jurisdio judicial previsto no inciso

    XXXV do artigo 5 da Constituio Federal/1988, segundo o qual o Poder Judicirio poder

    sempre ser acessado pelos particulares na defesa de sua pretenso:

    Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garan-tindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade dodireito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termosseguintes:

    XXXV - a lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaaa direito.

    Arma Nelson Nery Jnior (1999, p. 92) a respeito desse princpio constitucional, que, embora

    o destinatrio maior desta norma seja o legislador, o comando constitucional atinge a todos

    indistintamente, vale dizer, no pode o legislador e ningum mais impedir que o jurisdicionado

    v a juzo deduzir pretenso.

    Esse princpio tambm conhecido como princpio do livre acesso ao Judicirio, sendo

    operacionalizado por meio do exerccio do direito de ao.

    Recentemente, o Supremo Tribunal Federal rearmou sua importncia como garantia

    constitucional do particular, dando interpretao conforme a Constituio Federal ao contedo

    de dispositivos de lei federal que condicionavam o acesso ao Poder Judicirio efetivao do

    depsito do valor do tributo discutido nos auto de uma ao anulatria de dbito scal. De to

    relevante a questo, foi editada a Smula Vinculante no28 para impedir que disposies legais

    no futuro restrinjam o acesso ao Judicirio: inconstitucional a exigncia de depsito prvio

    como requisito de admissibilidade de ao judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade

    de crdito tributrio.

    2.5 O Direito de Petio

    Assim como o acesso jurisdio judicial assegurada constitucionalmente, no mbito

    administrativo, o direito de ter uma resposta da Administrao Pblica aos seus requerimentos

    tambm uma garantia constitucional, prescrita no artigo 5, XXXIV da ConstituioFederal/1988:

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    Art. 5 [...] XXXIV - so a todos assegurados, independentemente do pagamentode taxas:

    a) o direito de petio aos Poderes Pblicos em defesa de direitos ou contra ile-galidade ou abuso de poder.

    O direito de petio no se confunde com o princpio da inafastabilidade da jurisdio judicial,

    pois direcionado exclusivamente ao direito de reclamar, junto aos poderes pblicos em

    defesa de direitos contra ilegalidade ou abuso de poder (NERY JUNIOR, 1999, p. 94).Aplicado ao processo administrativo tributrio, o direito de petio consagra o direito de o

    contribuinte obter uma resposta de um rgo que compe a pessoa poltica tributante sobre

    a exigncia tributria.

    Por meio do protocolo da Impugnao administrativa, instaura-se o que denominamos

    jurisdio administrativa.

    Sim, admite-se a existncia de jurisdio administrativa, pois, como denido na Aula 1 desteMdulo, a jurisdio compreende o dever outorgado ao Estado-juiz de solucionar conitos de

    interesse, que no exclusivo do Poder Judicirio. Hiptese que efetivamente se concretiza

    no processo administrativo tributrio, ainda que seja permitido ao contribuinte, que no logre

    xito em sua defesa administrativa, o acesso jurisdio judicial.

    O fato de no se aperfeioar a coisa julgada sobre a relao jurdica de direito material,quando mantida a autuao scal pelo Tribunal Administrativo, no altera, dentro dessa

    concepo, a existncia de verdadeira jurisdio administrativa tributria.

    Neste sentido, preleciona Paulo Cesar Conrado (2003, p. 108), para quem a

    atividade desenvolvida pela Administrao nos aludidos processos (administra-tivos) , mesmo que atipicamente, manifestao jurisdicional (i) estatal (as-pecto subjetivo do conceito de jurisdio e (ii) tende composio de conitos(aspecto objetivo do mesmo conceito) -, no podendo funcionar como bice paratal concluso a inexistncia da coisa julgada, uma vez que no integrativa (elaprpria, coisa julgada) daquele mesmo conceito.

    Se para o processo judicial (tributrio tambm) h a garantia da inafastabilidade da jurisdio,o direito de livre acesso ao Judicirio, para o processo administrativo tributrio h o direito

    de petio.

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    Se para a provocao da jurisdio judicial (inclusive a tributria) h a petio inicial, para

    suscitar a jurisdio administrativa tributria h a Impugnao, que o veculo de linguagem

    habilitado pelo ordenamento jurdico para despertar o Estado-juiz.3

    3. Princpios Infraconstitucionais do Processo

    Assim como ocorre na Constituio Federal/1988, na legislao infraconstitucional,

    especialmente no CPC, encontram-se alguns princpios norteadores do processo, ou seja,

    vetores, vigas mestras do processo judicial no penal.

    3.1 O Princpio da Inrcia, o Princpio do Dispositivo e o Impulso Ofcial

    A necessidade de ser institudo um instrumento hbil para provocar a jurisdio, seja

    judicial, seja administrativa, como j apontado, decorre do que estabelece o artigo 2 do CPC:

    Art. 2 Nenhum juiz prestar a tutela jurisdicional seno quando a parte ou ointeressado a requerer, nos casos e forma legais.

    Dessa disposio decorre a ideia de inrcia da jurisdio, verdadeiro princpio que exige que

    o interessado provoque o aparelho jurisdicional para solucionar o conito de interesses que

    reputa existir e armado na petio inicial, se o processo for judicial, ou na Impugnao

    administrativa, se o processo for administrativo.

    Sem prvia articulao, em linguagem competente (no caso do processo, a linguagem da

    petio inicial), da situao conituosa, descabe ao Estado-juiz sup-lo, da advindo, a noo

    de inrcia, [...] (CONRADO, 2003, p. 80).

    3No mbito do processo administrativo federal est expresso no Decreto Federal n o70.235/1972 que a Impugnao amola propulsora da lide administrativa:

    Art. 14. A impugnao da exigncia instaura a fase litigiosa do procedimento.Na Lei Estadual no13.457/2009 que regula o processo administrativo do Estado de So Paulo, tambm h regra nessesentido:Artigo 33 - O processo administrativo tributrio regulado por esta lei tem por origem a apresentao de defesa, em facede auto de infrao lavrado por Agente Fiscal de Rendas.

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    De tal princpio decorre o princpio do dispositivo, segundo o qual cabe aos interessados

    optar pela provocao da tutela jurisdicional na defesa de seus legtimos direitos, bem como

    os termos dessa provocao, de modo que a atuao do julgador estar demarcada pelos

    termos da petio inicial ou da Impugnao.

    Consoante precedente do Superior Tribunal de Justia, o princpio do dispositivo est reetido

    no contedo dos artigos 1284e 4605do CPC:

    [...] - SEGUNDO A REGRA CONTIDA NO BROCARDO LATINO, A REFLETIR AVISO ATUAL DO PRINCPIO DISPOSITIVO, AGASALHADO NOS ARTS. 128E 460, CPC, IUDEX SECUNDUM ALLEGATA PARTIUM IUDICARE DEBET.[...](REsp 6315/RJ, Rel. Ministro SLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUAR-TA TURMA, julgado em 09/10/1991, DJ 18/11/1991, p. 16527).

    Mas, se em funo da inrcia o Estado-juiz no pode sponte propriadespertar para o exerccio

    da jurisdio, por fora do princpio do impulso ocial ter de dar o devido andamento ao

    processo que lhe foi posto, haja vista o que prescreve o artigo 262 do CPC:

    Art. 262. O processo civil comea por iniciativa da parte, mas se desenvolve porimpulso ocial.

    Na hiptese do Estado-juiz, quando deve agir por impulso ocial, no d regular andamento

    ao processo, est a parte habilitada a provoc-lo. o que est consagrado no Superior

    Tribunal de Justia no REsp 785.823/MA:

    no processo civil, por fora do princpio dispositivo, vedado ao juiz, nas ativi-dades legadas iniciativa da parte, agir ex ofcio, sendo certo que a recproca

    no verdadeira, podendo o interessado provocar o juzo nas situaes quedemandam impulso ocial.(Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgadoem 01/03/2007, DJ 15/03/2007, p. 272)

    3.2 O Princpio da Eventualidade

    Se ao sujeito que reputa ter um direito violado compete provocar a tutela jurisdicional na

    defesa de seus interesses, quele contra o qual ela foi invocada tambm atribui-se o direito

    de contrapor-se s alegaes contidas na petio inicial.

    4Art. 128. O juiz decidir a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questes, no suscitadas,a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte.5Art. 460. defeso ao juiz proferir sentena, a favor do autor, de natureza diversa da pedida, bem como condenar o ruem quantidade superior ou em objeto diverso do que Ihe foi demandado.

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    Para exercer seu direito ao contraditrio, o sujeito contra o qual o processo foi intentado

    possui a contestao, instrumento denido pelo ordenamento processual civil como hbil

    apresentao dos contrapontos ao que est armado na petio inicial.

    no momento da apresentao da contestao que o ru do processo deve apresentar todas

    as questes relativas sua defesa. o que prescreve o artigo 300 do CPC:

    Art. 300. Compete ao ru alegar, na contestao, toda a matria de defesa, ex-

    pondo as razes de fato e de direito, com que impugna o pedido do autor e es -pecicando as provas que pretende produzir.6

    Este dispositivo consagra o princpio da eventualidade, o qual, contudo, no se aplica

    exclusivamente ao ato do ru de contestar, mas, tambm, ao proponente da medida judicial

    quando deve se pronunciar, e a ambos quando exercem o seu direito de recorrer, j que no

    recurso devem ser arguidos todos os fundamentos de reforma da deciso recorrida, sob pena

    de precluso.7

    3.3 O Princpio da Precluso

    Precluso, consoante Jos Frederico Marques (2000, p. 347),

    um fato impeditivo destinado a garantir o avano progressivo da relao pro-cessual e a obstar o recuo para fases anteriores do procedimento. Do ponto devista subjetivo, a perda de uma faculdade ou direito processual que, por sehaver esgotado ou por no ter sido exercido em tempo e momento oportuno, capraticamente extinto.

    A ela j foi feita referncia na Aula 1, quando foi tratado o tempo da prtica de atos processuais,

    oportunidade em que foi feita referncia ao artigo 183 do CPC. Neste momento, cabe

    aprofundar o assunto.6[...] 2. O princpio da eventualidade impe ao ru que, na contestao, apresente todas as suas teses passveis deserem arguidas naquele momento processual, para que, em caso de rejeio da primeira, possa o juiz examinar assubsequentes.[...] (REsp 1224195/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMO, QUARTA TURMA, julgado em 13/09/2011,DJe 01/02/2012).7 PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. TESE NO ADUZIDA NAS CONTRARRAZES DO RECURSOESPECIAL. INOVAO VEDADA. PRINCPIO DA EVENTUALIDADE. PRECEDENTES.

    1. No se admite em sede de agravo regimental inovar na lide, conforme assentado na jurisprudncia desta Corte,suscitando matria no apresentada nas contrarrazes do recurso especial. Por fora do princpio da eventualidade,competia recorrente formular todas as suas alegaes naquela oportunidade. Precedentes.2. Agravo regimental no provido. (AgRg no REsp 988.279/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDATURMA, julgado em 04/11/2010, DJe 12/11/2010).

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    Esse fato impeditivo a que alude Jos Frederico Marques no precisa exclusivamente decorrer

    do transcurso do tempo. A precluso, portanto, no apenas temporal, podendo consagrar-

    se em funo:

    I. da prtica de um ato que seja incompatvel com outro j praticado por exemplo, renunciar

    ao direito de recorrer da sentena e, posteriormente, interpor recurso de apelao;

    II. da faculdade processual j ter sido exercida pela parte, no sendo a ela possvel

    repraticar o ato j produzido.

    A primeira hiptese, (i), denominada pela doutrina precluso lgica, e a segunda, (ii),

    precluso consumativa, que est consagrada no artigo 471 do CPC, que veda ao Estado-juiz

    pronunciar-se sobre questes j decididas:

    Art. 471. Nenhum juiz decidir novamente as questes j decididas, relativas mesma lide [...]

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    CARRAZZA,Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributrio. 14. ed. So Paulo:Malheiros, 2000. p. 31-32.

    CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributrio, Linguagem e Mtodo. 5. ed. So Paulo:Noeses, 2013. (Segunda Parte, Captulo 1, itens 1.3, 1.3.1, 1.3.2, 1.3.3)

    CONRADO, Paulo Cesar. Introduo Teoria Geral do Processo Civil. 2. ed. So Paulo:Max Limonad, 2003. (Captulo 5)

    KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. 5. ed. So Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 247.

    MARQUES,Jos Frederico. Instituies de Direito Processual Civil. Campinas: Milleninu,2000. v. II, p. 50.

    NERY JNIOR, Nelson. Princpios do Processo Civil na Constituio Federal. 5. ed. SoPaulo: Revista dos Tribunais, 1999. (Captulos II, III seo III, IV, VI e VIII)

    Referncias

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    TEMA 03Princpio da Verdade Material, Princpio da Verdade Formal, Princpioda Lealdade, Princpio do Duplo Grau de Jurisdio, Princpio da

    Universalidade da Jurisdio, o Fisco como rgo de Justia

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    LEGENDA

    DE CONES

    4141

    Incio

    Referncias

    Gabarito

    Pontuando

    Glossrio

    Vamospensar

    Verifcao

    de leitura

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    Aula

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    03

    Princpio da Verdade Material, Princpio da VerdadeFormal, Princpio da Lealdade, Princpio do DuploGrau de Jurisdio, Princpio da Universalidadeda Jurisdio, o Fisco como rgo de Justia

    Camila Vergueiro

    Mestrado em Direito pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (2006).Tem experincia na rea de Direito, com nfase em Direito Tributrio. profes-sora em Direito Tributrio e Processo Tributrio.

    Eduardo Sabbag

    Doutor em Direito Tributrio e doutorando em Lngua Portuguesa pela PUC/SP.Mestre em Direito Pblico e Evoluo Social pela UNESA/RJ. Advogado.

    Objetivos

    Esta aula tem por objetivo tratar outros princpios constitucionais ou infraconstitucionais

    que devem ser observados em todo tipo de processo, inclusive no processo tributrio.

    1. Introduo

    Na aula anterior, foi tratada a vocao dos princpios no contexto do ordenamento jurdico,

    a de vigas mestras, em que se devem fundar todas as demais regras jurdicas.

    Foram tratados alguns desses princpios do processo, restando ainda outros que merecem

    estudo, justamente pela relevncia que assumem no mbito da relao processual tributria,

    seja ela administrativa, seja ela judicial.

    Sem mais delongas, vamos incurso sobre esses outros princpios do processo tributrio.

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    2. Ainda Alguns Princpios Constitucionais do Processo

    2.1 O Princpio da Razovel Durao do Processo

    Por meio da Emenda Constitucional no45/2004, que cou conhecida no meio jurdico como

    a Emenda da Reforma do Judicirio, foi inserido o inciso LXXVIII no artigo 5 da Constituio

    Federal/1988, que passou a assegurar, como garantia do particular, a razovel durao do

    processo administrativo e judicial:

    Art. 5 [...] LXXVIII a todos, no mbito judicial e administrativo, so asseguradosa razovel durao do processo e os meios que garantam a celeridade de suatramitao.

    Tal dispositivo garante o dever de a jurisdio ser eciente, a ponto de o bem da vida, cuja

    tutela pretendida, seja resguardado ou, por outras palavras, que a tutela seja prestada

    com efetividade, de modo a assegurar a pretenso dos indivduos que buscam soluo,

    administrativa ou judicial, aos seus conitos. o direito a um processo efetivo.

    Pode-se armar que esse dispositivo constitucional seria dispensvel, pois, com a

    internalizao do Pacto de So Jos da Costa Rica, por meio do Decreto Legislativo no

    27/1992, que aprovou o texto da Conveno Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de

    So Jos), celebrado em So Jos da Costa Rica, em 22/11/1969, por ocasio da Conferncia

    especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, j tinham os jurisdicionados o direito a

    um processo eciente, haja vista o que est disposto no seu artigo 8, item 1:

    1. Toda pessoa tem direitoa ser ouvida, com as devidas garantias e dentrode um prazo razovel, por um juiz ou tribunal competente, independente eimparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apurao de qualquer acusaopenal formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obriga-es de natureza civil, scal ou de qualquer outra natureza.

    Ainda possvel admitir que o princpio da razovel durao do processo uma decorrncia

    lgica do prprio due process of law, pois, como bem relembra Cludia Marlise da Silva

    Alberton Ebling (2006, s.p):

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    O devido processo legal, previsto no inciso LIV do art. 5 da Magna Carta tra-tado no mbito processual como uma norma de encerramento. O due process oflawcontm em si todos os demais princpios processuais, abarcando, inclusive,aqueles que porventura no chegaram a ser positivados pelo texto constitucio-nal, devendo ser entendido, dessa forma, como um princpio que assegura todosos demais princpios previstos constitucionalmente, ou seja, garante o direito ao (princpio da inafastabilidade da apreciao judicial - art. 5, XXXV), dedefesa, prova, contraditrio, ampla defesa, sentena, o uso dos recursos a elainerentes (art. 5, incisos LIII, LIV e LV), da inadmissibilidade do uso da provailcita (art. 5, LVI), bem como da publicidade e motivao dos atos processuais(art. 5, LX e 93, IX).

    Assim, todo e qualquer princpio aplicvel ao processo, mesmo que no previstoexpressamente, pode ser inserido dentro do conceito de devido processo legal.

    Esse princpio da razovel durao do processo uma clusula extremamente aberta, de

    modo que ser mediante a anlise de casos concretos que ser demarcado seu contedo

    de signicao.

    O Supremo Tribunal Federal (STF), em algumas oportunidades, a maioria delas em processo

    cuja relao material de fundo era de direito penal, manifestou-se sobre o contedo designicao desse princpio, tendo sido armado no julgamento do HC no85.237, pelo seu

    Plenrio:

    PROCESSO PENAL - PRISO CAUTELAR - EXCESSO DE PRAZO - INADMIS-SIBILIDADE - OFENSA AO POSTULADO CONSTITUCIONAL DA DIGNIDADEDA PESSOA HUMANA (CF, ART. 1, III) - TRANSGRESSO GARANTIA DODEVIDO PROCESSO LEGAL (CF, ART. 5, LIV) - HABEAS CORPUS CONHE-CIDO EM PARTE E, NESSA PARTE, DEFERIDO. O EXCESSO DE PRAZO,MESMO TRATANDO-SE DE DELITO HEDIONDO (OU A ESTE EQUIPARA-DO), NO PODE SER TOLERADO, IMPONDO-SE, AO PODER JUDICIRIO,EM OBSQUIO AOS PRINCPIOS CONSAGRADOS NA CONSTITUIO DAREPBLICA, O IMEDIATO RELAXAMENTO DA PRISO CAUTELAR DO INDI-CIADO OU DO RU. [...] O excesso de prazo, quando exclusivamente imputvelao aparelho judicirio- no derivando, portanto, de qualquer fato procrastinat-rio causalmente atribuvel ao ru - traduz situao anmala que compromete aefetividade do processo, pois, alm de tornar evidente o desprezo estatal pelaliberdade do cidado, frustra um direito bsico que assiste a qualquer pessoa: odireito resoluo do litgio, sem dilaes indevidas (CF, art. 5, LXXVIII) e comtodas as garantias reconhecidas pelo ordenamento constitucional, inclusive a deno sofrer o arbtrio da coero estatal representado pela privao cautelar daliberdade por tempo irrazovel ou superior quele estabelecido em lei. [...] Cons-tituio Federal (Art. 5, incisos LIV e LXXVIII). EC 45/2004. Conveno Ameri-

    cana sobre Direitos Humanos (Art. 7, ns. 5 e 6). Doutrina. Jurisprudncia. [...].(Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 17/03/2005, DJ29-04-2005 PP-00008 EMENT VOL-02189-03 PP-00425 LEXSTF v. 27, n. 319,2005, p. 486-508 RTJ VOL-00195-01 PP-00212).

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    Por sua vez, o Superior Tribunal de Justia (STJ), ainda que se referisse a processo

    administrativo para reconhecimento de anistia poltica, armou que a postergao indenida

    do processo, que perdurava por mais de 5 anos, conspira contra a ordem constitucional,

    autorizando o Poder Judicirio, inclusive, a xar um prazo para sua anlise:

    MANDADO DE SEGURANA. PROCESSO DE ANISTIA. MINISTRO DE ESTA-DO DA JUSTIA. DEMORA NA DECISO. FIXAO DE PRAZO. PRINCPIOSDA RAZOVEL DURAO DO PROCESSO E DA EFICINCIA.

    1. [...]

    3. A postergao indenida da deciso acaba por negar eccia prpria ordemconstitucional e s disposies legais atinentes anistia poltica, no atendendoaos princpios da razovel durao do processo e da ecincia (arts. 5, LXXVIII,e 37 da CF).

    4. Hiptese em que o processo administrativo perdura h mais de 5 (cinco) anos,havendo de ser aplicado o prazo previsto no art. 49 da Lei 9.784/99. Preceden-tes.

    5. Segurana concedida, para que a autoridade impetrada decida o requerido pela

    impetrante no prazo de 60 (sessenta) dias. (MS 12.376/DF, Rel. Ministro HER-MAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEO, julgado em 28/03/2007, DJe 01/09/2008)

    MANDADO DE SEGURANA. CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. RE-QUERIMENTO DE ANISTIA. PRAZO RAZOVEL PARA APRECIAO. PRIN-CPIO DA EFICINCIA.

    1. A todos assegurada a razovel durao do processo, segundo o princpioda ecincia, agora erigido ao status de garantia constitucional, no se podendopermitir que a Administrao Pblica postergue, indenidamente, a concluso deprocedimento administrativo.

    2. A despeito do grande nmero de pedidos feitos ao Ministro da Justia e dosmembros da Comisso de Anistia, seu rgo de assessoramento, serem probono, aqueles que se consideram atingidos no perodo de 18 de setembro de1946 a 5 de outubro de 1988, por motivao exclusivamente poltica, no podemcar aguardando, indenidamente, a apreciao do seu pedido, sem expectativade soluo num prazo razovel.

    3. Ordem concedida. (MS 10.792/DF, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO,TERCEIRA SEO, julgado em 10/05/2006, DJ 21/08/2006, p. 228)

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    Segue tal orientao a jurisprudncia do STJ sobre processo administrativo scal que, at

    mesmo, foi alada ao statusde questo representativa de controvrsia1e, portanto, deve ser

    observada pelas instncias inferiores:

    TRIBUTRIO. CONSTITUCIONAL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVODE CONTROVRSIA. ART. 543-C, DO CPC. DURAO RAZOVEL DO PRO-CESSO. PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL FEDERAL. PEDIDO ADMINIS-TRATIVO DE RESTITUIO. PRAZO PARA DECISO DA ADMINISTRAOPBLICA. APLICAO DA LEI 9.784/99. IMPOSSIBILIDADE. NORMA GERAL.

    LEI DO PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. DECRETO 70.235/72. ART. 24DA LEI 11.457/07. NORMA DE NATUREZA PROCESSUAL. APLICAO IME-DIATA. VIOLAO DO ART. 535 DO CPC NO CONFIGURADA.

    1. A durao razovel dos processos foi erigida como clusula ptrea e direitofundamental pela Emenda Constitucional 45, de 2004, que acresceu ao art. 5, oinciso LXXVIII, in verbis: a todos, no mbito judicial e administrativo, so asse-gurados a razovel durao do processo e os meios que garantam a celeridadede sua tramitao.

    2. A concluso de processo administrativo em prazo razovel corolrio dosprincpios da ecincia, da moralidade e da razoabilidade. (Precedentes: MS13.584/DF, Rel. Ministro JORGE MUSSI, TERCEIRA SEO, julgado em13/05/2009, DJe 26/06/2009; REsp 1091042/SC, Rel. Ministra ELIANA CALMON,SEGUNDA TURMA, julgado em 06/08/2009, DJe 21/08/2009; MS 13.545/DF, Rel.

    1 Art. 543-C. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idntica questo de direito, o recursoespecial ser processado nos termos deste artigo. 1o Caber ao presidente do tribunal de origem admitir um ou mais recursos representativos da controvrsia, osquais sero encaminhados ao Superior Tribunal de Justia, cando suspensos os demais recursos especiais at opronunciamento denitivo do Superior Tribunal de Justia. 2o No adotada a providncia descrita no 1odeste artigo, o relator no Superior Tribunal de Justia, ao identicar quesobre a controvrsia j existe jurisprudncia dominante ou que a matria j est afeta ao colegiado, poder determinar asuspenso, nos tribunais de segunda instncia, dos recursos nos quais a controvrsia esteja estabelecida. 3o O relator poder solicitar informaes, a serem prestadas no prazo de quinze dias, aos tribunais federais ou

    estaduais a respeito da controvrsia. 4o O relator, conforme dispuser o regimento interno do Superior Tribunal de Justia e considerando a relevncia damatria, poder admitir manifestao de pessoas, rgos ou entidades com interesse na controvrsia. 5o Recebidas as informaes e, se for o caso, aps cumprido o disposto no 4odeste artigo, ter vista o MinistrioPblico pelo prazo de quinze dias. 6o Transcorrido o prazo para o Ministrio Pblico e remetida cpia do relatrio aos demais Ministros, o processoser includo em pauta na seo ou na Corte Especial, devendo ser julgado com preferncia sobre os demais feitos,ressalvados os que envolvam ru preso e os pedidos de habeas corpus. 7o Publicado o acrdo do Superior Tribunal de Justia, os recursos especiais sobrestados na origem:I - tero seguimento denegado na hiptese de o acrdo recorrido coincidir com a orientao do Superior Tribunal deJustia; ouII - sero novamente examinados pelo tribunal de origem na hiptese de o acrdo recorrido divergir da orientao doSuperior Tribunal de Justia. 8o Na hiptese prevista no inciso II do 7odeste artigo, mantida a deciso divergente pelo tribunal de origem, far-se-o exame de admissibilidade do recurso especial. 9o O Superior Tribunal de Justia e os tribunais de segunda instncia regulamentaro, no mbito de suas competncias,os procedimentos relativos ao processamento e julgamento do recurso especial nos casos previstos neste artigo.

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    Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEO, julgado em29/10/2008, DJe 07/11/2008; REsp 690.819/RS, Rel. Ministro JOS DELGADO,PRIMEIRA TURMA, julgado em 22/02/2005, DJ 19/12/2005)

    [...]

    5. A Lei n 11.457/07, com o escopo de suprir a lacuna legislativa existente, emseu art. 24, preceituou a obrigatoriedade de ser proferida deciso administrativano prazo mximo de 360 (trezentos e sessenta) dias a contar do protocolo dospedidos, litteris: Art. 24. obrigatrio que seja proferida deciso administrativano prazo mximo de 360 (trezentos e sessenta) dias a contar do protocolo de

    peties, defesas ou recursos administrativos do contribuinte.

    6. Deveras, ostentando o referido dispositivo legal natureza processual scal, hde ser aplicado imediatamente aos pedidos, defesas ou recursos administrativospendentes.

    7. Destarte, tanto para os requerimentos efetuados anteriormente vigncia daLei 11.457/07, quanto aos pedidos protocolados aps o advento do referido di -ploma legislativo, o prazo aplicvel de 360 dias a partir do protocolo dos pedi-dos (art. 24 da Lei 11.457/07).

    [...]

    9. Recurso especial parcialmente provido, para determinar a obedincia ao pra-zo de 360 dias para concluso do procedimento sub judice. Acrdo submetidoao regime do art. 543-C do CPC e da Resoluo STJ 08/2008. (REsp 1138206/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEO, julgado em 09/08/2010, DJe01/09/2010)

    Uma tentativa legislativa de estabelecer um prazo de razovel durao do processo est

    prevista no artigo 24 da Lei Federal no 11.457/2007 que dispe sobre a Administrao

    Tributria Federal:

    Art. 24. obrigatrio que seja proferida deciso administrativa no prazo mximode 360 (trezentos e sessenta) dias a contar do protocolo de peties, defesas ourecursos administrativos do contribuinte.

    2.2 O Princpio do Duplo Grau de Jurisdio e da Pluralidade de Grausde Jurisdio

    O inciso LV do artigo 5 da Constituio Federal/1988 assegura o direito de ao. Como j

    apontado em outra oportunidade, tal direito pressupe, tambm, a possibilidade de ao menosuma vez obter a reviso da deciso que deniu o conito de interesses.

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    Ou seja, ter direito de ao signica que ao perdedor da demanda (vencido) asseverado,

    no mnimo, uma instncia recursal, j que a ampla defesa pressupe os meios e recursos a

    ela inerentes:

    Art. 5 [...] LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acu-sados em geral so assegurados o contraditrio e ampla defesa, com os meiose recursos a ela inerentes.

    Preleciona Nelson Nery Jnior (2004, p. 44) que o duplo grau de jurisdioconsiste em estabelecer a possibilidade de a sentena denitiva ser reapreciadapor rgo de jurisdio normalmente de hierarquia superior daquele que a pro -feriu, o que se faz de ordinrio pela interposio de recurso. No necessrioque o segundo julgamento seja conferido a rgo diverso ou de categoria hierr-quica superior daquele que realizou o primeiro exame.

    O direito de recorrer no signica o acesso innito e ilimitado aos recursos, mas, sim, no

    mnimo, uma instncia de reviso, e por isso se fala em duplo grau de jurisdio.

    A garantia constitucional reviso de decises atua tanto no mbito do processo judicial

    como no do processo administrativo.

    Contudo, para o processo judicial, possvel armar que vigora o princpio da pluralidade dos

    graus de jurisdio, e no apenas do duplo grau, pois os artigos 102 e 105 da Constituio

    Federal/1988 garantem ao litigante vencido a instncia excepcional, ou seja, o acesso ao

    STF e ao STJ, por meio do Recurso Extraordinrio e do Recurso Especial, respectivamente.

    2.3 O Princpio da Paridade Tratamento entre as Partes (IsonomiaProcessual)

    O caputdo artigo 5 da Constituio Federal/1988 genericamente garante ao indivduo o

    princpio da igualdade perante a Lei:

    Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garan-tindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade dodireito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termosseguintes:

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    Por fora desse dispositivo, o princpio da igualdade deve ser aplicado a todos os mbitos

    do direito, inclusive no processual, independentemente de regra infraconstitucional que

    operacionalize a isonomia processual.

    garantia das partes ser tratada de modo igual dentro de suas igualdades e desigualmente

    dentro de suas desigualdades.

    Como j assentou o STF, ainda que analisando processo da rbita penal, a isonomia no

    processo decorre do princpio do devido processo legal:

    PROCESSO - TRATAMENTO IGUALITRIO DAS PARTES. O tratamento igua-litrio das partes a medula do devido processo legal, descabendo, na via in-terpretativa, afast-lo, elastecendo prerrogativa constitucionalmente aceitvel.[...] (HC 83255, Relator(a): Min. MARCO AURLIO, Tribunal Pleno, julgado em05/11/2003, DJ 12-03-2004 PP-00038 EMENT VOL-02143-03 PP-00652 RTJVOL-00195-03 PP-00966)

    Apesar do caputdo artigo 5 trazer uma disposio autoaplicvel, o CPC, em seu artigo 125,

    determina ao magistrado que dispense aos litigantes de um processo judicial no penal, no

    qual est inserido o processo tributrio portanto, tratamento igualitrio.

    Art. 125. O juiz dirigir o processo conforme as disposies deste Cdigo, com-petindo-lhe:

    I assegurar s partes igualdade de tratamento:

    Entretanto, como bem relembra Paulo Cesar Conrado (2003, p. 61-62),

    a par de regras como a da paridade de tratamento, oportuno frisar que o nossosistema consagra uma srie de outras regras (de ndole igualmente objetiva) que,embora militem no mesmo sentido daquela (no sentido de raticar o princpio daisonomia), atuam no sentido da discriminao, ou seja, preservam a igualdade medida que discriminam os sujeitos de direito. Com efeito, embora tal assertivapossa denotar uma aparente contradio, certo que, em tais e quais situaes,s possvel falar em igualdade caso se d s pessoas tratamentos diferentes,bastando, para que tal situao ocorra, que essas tais pessoas venham marca-das por relevante desigualdade (estamos a falar da parte da frmula reveladorado princpio da isonomia que determina a necessidade de tratar desigualmenteos desiguais).

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    Essas desigualdades processuais judiciais podem ser observadas, exemplicativamente, na

    xao de prazos para o Poder Pblico se defender e recorrer2, no porcentual de honorrios

    advocatcios atribudo nas aes em que o Poder Pblico queda-se vencido3etc.

    Segundo julgado do STJ, do princpio da isonomia decorre a garantia do contraditrio:

    PROCESSUAL CIVIL. CERCEAMENTO DE DEFESA. O PRINCPIO DOCONTRADITRIO, COM ASSENTO CONSTITUCIONAL, VINCULA-SE DIRE-TAMENTE AO PRINCPIO MAIOR DA IGUALDADE SUBSTANCIAL, SENDOCERTO QUE ESSA IGUALDADE, TO ESSENCIAL AO PROCESSO DIALTI-CO, NO OCORRE QUANDO UMA DAS PARTES SE V CERCEADA EM SEUDIREITO DE PRODUZIR OU DEBATER A PROVA QUE SE PRODUZIU. [...]RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E PROVIDO. (REsp 74.472/DF, Rel.Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA, julgado em 13/05/1996, DJ24/06/1996, p. 22766)

    2.4 O Princpio da Proibio de Obteno de Prova por meio Ilcito

    Por fora do princpio da ampla defesa, assegura-se parte a produo de todo meio de

    prova para demonstrar o fato constitutivo do seu direito. Entretanto, o inciso LVI do artigo 5

    da Constituio Federal/1988 veda a instruo de processos com provas obtidas ilicitamente:

    Art. 5 [...] LVI - so inadmissveis, no processo, as provas obtidas por meiosilcitos.

    A obteno da prova de forma ilcita se perf