Autarquias e Desenvolvimento Sustentávelquias e Desenvolvimento Sustentável

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  • AUTARQUIAS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL AGENDA 21 LOCAL E NOVAS ESTRATGIAS AMBIENTAIS (2005) http://www.fronteiradocaoseditores.pt/opublicacoes.php

    Lusa Schmidt (ICS-UL)

    Joaquim Gil Nave (ISCTE-IUL)

    Joo Guerra (ICS-UL)

    Originalmente, a ideia do projecto de investigao

    de que este livro resulta Novos Autarcas, Novas Estratgias Ambientais? surge na sequncia das eleies autrquicas de 2001. No

    apenas porque os novos eleitos eram os primeiros

    autarcas aps a viragem do sculo, e da mudana

    de sculo se espera sempre que algo mude, mas

    sobretudo porque os prprios resultados das

    eleies prenunciavam alguns sinais de mudana

    para a rea do ambiente. De facto, por entre as

    pautas dos resultados eleitorais, adivinhava-se que

    muitos dos chumbos ento registados se deveriam a problemas de ambiente e

    desordenamento territorial. Mas no s. Tambm

    subestimao dos movimentos cvicos que

    pretenderam obstar desqualificao ambiental

    por parte dose muitos autarcas. Os casos mais evidentes passaram-se no quadro das reas metropolitanas de Lisboa e Porto e nalgumas zonas do litoral.

    Quem descuidara no seu concelho o ambiente e o ordenamento do territrio acabou

    penalizado. Quem, pelo contrrio, assumira compromissos de melhoria da qualidade de vida

    dos muncipes, colocando o ambiente e o territrio na linha da frente das prioridades, acabou ganhando com isso.

    Da que o ttulo que traduzia a ideia do projecto novas estratgias ambientais? tivesse mais ares de pequena provocao e desafio do que propriamente de espectativa!

    Mas, ainda que fosse pela negativa, valia a pena empreender o balano do que se pretendia

    fazer (e no fazer) pelo ambiente no incio de um sculo que, nesta rea, se anunciava

    genericamente prometedor, quanto mais no fosse por se antever para breve a aproximao a situaes limite em alguns equilbrios ecolgicos fundamentais.

    Da tambm a incidncia da Agenda 21 Local, por ser hoje o quadro mais rico para

    promover a nvel local a combinao de estratgias de desenvolvimento social e econmico,

    com a defesa e proteco sustentvel de recursos ambientais e o aprofundamento da

    democracia, na considerao de todos os interesses legtimos, colectivos e individuais, no

    exerccio pleno da cidadania (vide captulo 1).

    Houve tempos em que se reconhecia no poder local a exemplaridade benigna das

    virtualidades da democracia conquistada em 1974. Passados 30 anos, muitos lhe assacam a

    responsabilidade de grande parte do que correu mal no nosso modelo de desenvolvimento,

    do despesismo ineficcia administrativa, da corrupo ao compadrio, do desordenamento

    territorial s rotundas suprfluas, com os seus mastodontes estaturios e repuxos de gosto duvidoso!

  • Independentemente do que pessoalmente consideramos, nosso profundo desejo e inteno

    que este trabalho no seja mais uma acha para tal fogueira! Mas sim que sirva para ajudar a

    compreender e situar as tantas vezes difceis relaes entre poder local e poder central e a

    tremenda desconfiana entre governantes e governados; bem como a combater a entropia

    democrtica que to frequentemente atrasa e atrapalha o desenvolvimento sustentvel do

    pas e que vai desde a dificuldade de acesso informao, ao dfice de comunicao entre os diversos agentes sociais (particularmente entre decisores e cidados), passando por nveis de burocratizao martirizantes.

    Esperamos pelo menos contribuir para que se conhea melhor a nossa realidade social e

    poltica. No esqueamos que, tendo embora os nossos autarcas e o governo local que eles

    protagonizam sob foco analtico, a sociedade portuguesa, a nossa vida colectiva e a nossa

    cidadania que aqui nos aparecem retratadas, fielmente retratadas, mesmo que s parcialmente e, por isso, nos merecem o mais fino sentido crtico!

    A base deste trabalho foi um inqurito lanado aos autarcas, cujos resultados constituem o

    miolo principal do livro (vide captulo 2). Os Inquiridos so todos eles presidentes de uma

    Cmara Municipal do Norte ou do Sul, do Interior ou do Litoral, de uma grande cidade ou

    de uma pequena vila, enfim, de um municpio escolhido por mtodos aleatrios de

    amostragem, garantindo, no entanto, a representatividade partidria, regional e

    populacional. Velho ou novo, mulher ou homem, de esquerda ou de direita, doutorado ou

    apenas modestamente letrado, foi legitimamente eleito pelos seus concidados e, de alguma

    forma, o seu programa e projectos foram alvo de debate e discusso pblica! O resto so as

    virtudes e os vcios da nossa democracia e a ela que nos referimos, em ltima anlise (vide captulo 3).

    A Agenda 21 Local imps-se-nos de forma bvia no enquadramento analtico a que nos

    propusemos para avaliar as estratgias ambientais dos nossos primeiros autarcas do nosso

    sculo. No um conceito novo, nem recente, se tivermos em linha de conta a velocidade

    de renovao e inovao no campo das ideias e da cincia de hoje em dia. Conta j com um

    balano de mais de uma dcada de experincias (e de declarada experimentao) nos mais

    variados contextos locais, em todos os continentes, lidando com os mais desencontrados

    nveis de desenvolvimento social e econmico. Realamos mais adiante que, exactamente,

    uma das virtualidades deste instrumento conceptual a sua enorme a natural adaptabilidade

    a qualquer circunstncia local, ou mesmo a diferentes nveis de exigncia. Outra,

    potenciar as polticas de proximidade, garantindo maior eficcia a medidas que tm como objectivo melhorar a qualidade de vida dos cidados, envolvendo-os nisso tambm.

    Por tudo isso, o processo de Agenda 21 Local crescentemente seguido e colocado ao

    servio da cidadania e do desenvolvimento um pouco por todo o mundo desenvolvido ou

    em vias de desenvolvimento.

    Levanta, no entanto, inmeras dificuldades tal como resulta evidente nas prprias respostas (e no respostas) dos autarcas, aqueles que, em princpio, melhor a deviam

    conhecer. Tambm por isso elabormos um Roteiro para a Agenda 21 Local, lanando e respondendo a 21 perguntaschave a seu respeito, e que constitui a parte derradeira deste livro. A inteno que este roteiro sirva de guia-base e tabela de referncia para

    desencadear e expandir processos de Agenda 21 Local. Uma iniciativa que tanto pode partir

    dos responsveis autrquicos, como dos grupos mais ou menos organizados da sociedade

    civil.

  • A Agenda 21 Local surge-nos como um quadro apropriado para com ele construir a

    perspectiva em que assenta este olhar focalizado sobre o universo local da nossa vida

    colectiva, perscrutando as estratgias ambientais, quem sabe, talvez novas em alguns casos,

    que se adivinham no discurso, saberes e vontades dos nossos autarcas eleitos no Sculo XXI. Tando em 2001, como em 2005.

    Hoje, muitas das tenses sociais, pelo pas fora, traduzem cada vez mais uma incisiva

    avaliao pblica das degradaes ambientais, vistas tantas vezes como um insulto

    dignidade, uma agresso sade, ou sentidas como um esquecimento poltico. Agora que j

    a esto os segundos autarcas do sculo XXI, urgem programas de mbito nacional que

    possam dinamizar e fomentar processos de Agenda 21 Local. Acima de tudo, porque estes

    implicam uma partilha de soberania nas decises e opes tomadas pelos poderes locais e

    reforam a confiana mtua entre dirigentes e cidados, contribuindo para o salto qualitativo de que a nossa democracia, na prtica, tanto carece.

    Alguns agradecimentos se nos impem, com relevo para os de carcter institucional. Em

    primeiro lugar para o Instituto do Ambiente, bem como para o Programa Ambiente /

    FEDER, a quem agradecemos o reconhecimento do nosso trabalho, traduzido

    designadamente no apoio ao projecto de investigao que est na origem desta publicao.

    Direco Geral de Ordenamento do Territrio e do Desenvolvimento Urbano, que se

    prontificou a apoiar a edio. empresa Metris GfK, mormente aos responsveis e

    colaboradores para as tarefas de terreno, pela fleuma que demonstraram perante os tempos

    de espera, adiamentos sucessivos e at nas no poucas recusas, a que o tempo valioso dos

    autarcas seleccionados para o inqurito os obrigou. Ainda no plano institucional cabe incluir

    as instituies universitrias que acolhem o nosso trabalho e do suporte ao prprio projecto

    OBSERVA, a saber, o Instituto de Cincias Sociais da Universidade de Lisboa e o Instituto

    Superior de cincias do Trabalho e da Empresa.

    Tambm aos especialistas entrevistado dos que nos ajudaram a desbravar caminho para a

    Agenda 21 Local: Aristides Leito, Fernando Nunes da Silva, Joo Farinha, Lia

    Vasconcelos e Teresa Craveiro. E aos colegas do OBSERVA que mais directamente

    contriburam com comentrios, crticas e sugestes para a discusso do projecto e

    construo do inqurito: Aida Valadas de Lima, Augusta Novo, Cristiana Bastos, Eduarda Gonalves, Joo Ferro, Joo Ferreira de Almeida e Pedro Prista.

    editora Fronteira do Caos que aceitou fazer a sua estreia com esta publicao, com muito empenho e imaginao, apesar da escassez de tempo.

    Por fim, e como de costume, os que deviam ser os primeiros, isto , aos Presidentes de

    Cmara, aqui necessariamente na qualidade de autarcas annimos, que contriburam com

    uma ou duas horas da sua ateno para responderem a um inqurito exigente e rigoroso,

    dando-nos conta dos seus projectos, vontades e at frustraes, ajundando-nos com isso a

    conhecer melhor essa realidade poltico-social que tarda em dar mais prioridade s dimenses cvicas e ambientais da nossa vida colectiva.

    Julho de 2005