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8/13/2019 Authier-Revuz - Da transparncia opacidade
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Da transparncia opacidade:
Aurthier-Revuz
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Quanto metaenunciao:
Benveniste (1989, p. 66) desenvolve o princpio da dupla
significncia: o semitico e o semntico. Segundo este princpio, o semitico diz respeito ao modo
de significncia que prprio do signo lingustico e que oconstitui como unidade.
Com o semntico, temos o modo especfico designificncia que dado no discurso, por meio daenunciao.
A semantizao da lngua entendida, portanto, comouma relao do sujeito com a lngua (TEIXEIRA, 2000,
p.136), a qual se encontra em posio privilegiada entreos sistemas sgnicos, uma vez que a lngua podeinterpretar integralmente os signos de outros sistemas,mas o inverso no ocorre.
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A modalizao autonmica.
Authier-Revuz (1998, p.141), inspirada nostrabalhos de Rey-Debove, define a modalizaoautonmica a partir da idia de uso+meno.
Ex.: A villa de Joo, como ele chama seu
quartinho, est em mau estado. Segundo Authier-Revuz, neste enunciado, o
enunciador usa um elemento X e acrescenta aouso do elemento-padro um retorno a esse uso,
comentrio reflexivo no qual intervm a menoao elemento X visto como palavra, ou seja,
o enunciador fala da coisa villa, e, alm disso,fala da palavra villa com a qual ele fala da
coisa(1998, p.141).
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A modalizao autonmica.
Isso ocorre porque em algum ponto o dizer
apresenta-se como no bvio: emvez de, emuma aparente transparncia, no apagamentode si, exercer sua funo mediadora denomeao, o signo interpe-se em sua
materialidade com seu significado e seusignificante como um objeto que, encontradono trajeto do dizer, coloca-se como objeto
deste.(1998, p.179) Reside a o processo de metaenunciao: a
enunciao do signo se dobra em uma
representao dela mesma.
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Sobre o conceito de metaenunciatividade: as no-coincidncias.
Para Authier-Revuz, a metaenunciatividaderepresenta linguisticamente o ato de dizer em que oenunciador se desdobra em dois, um que diz e o
outro que se pronuncia de alguma forma sobre essedizer.
A metaenunciao entendida ento, como umamarca da enunciao revelada no texto produzido
pelo sujeito e, portanto, capaz de apontarconsideraes importantes acerca das condies deproduo do discurso e do sujeito que nele semanifesta.
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Consideraes sobre a heterogeneidade
enunciativa:
Authier-Revuz recorre ao dialogismo de Bakhtin
e psicanlise de Lacan como exteriorestericos.
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Retomando Bakhtin:
Para Bakhtin, o princpio dialgico pode ser concebido a
partir do dilogo entre interlocutores e do dilogo entrediscursos. A interao verbal entre interlocutores, paraBakhtin, diz respeito s duas vozes que sempre ressoam nodiscurso: a do eu e a do outro, princpio constitutivo do
sujeito e da linguagem. Nessa abordagem do sujeito e da linguagem, o discurso
nunca individual: Eu me dou forma verbal a partir doponto de vista do outro, e em definitivo, a partir do ponto
de vista da comunidade a que perteno.(BAKHTIN, 1993,p. 88).
A essa ideia, o estudioso acrescenta conclusivamente: Aspalavras so sempre e inevitavelmente as palavras dos
outros.
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Nos trabalhos de Authier-Revuz, essa concepo ficamuito clara, uma vez que a autora v naheterogeneidade revelada pela modalizao
autonmica o reconhecimento do ponto de vista doOutro, com o qual a enunciao pode ser contratualou polmica (princpio da intersubjetividade)
No segundo aspecto do dialogismo bakhtiniano, o
dilogo entre discursos, destaca-se o que estcentrado na alteridade, uma vez que nenhumapalavra pode ser considerada neutra, mas sempreatravessada por outros discursos e ressonncias.
Eis a a relao do sujeito enunciador com o objetoreferido: ela no direta, mas permeada pelosdiscursos alheios sobre o mesmo objeto: qualquerdiscurso se orienta para o j-dito, para o conhecido,para a opinio pblica (BAKHTIN, 1993, p. 88)..
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A psicanlise freudo-lacaniana
a psicanlise freudo-lacaniana concebe a falacomo fundamentalmente heterognea,apontando para um sujeito dividido.
A psicanlise leva em conta o fato de que odiscurso marcado por rupturas, as quais levam
o falante a interromper o fluxo normal daconversa para reformular ou comentar essasconstrues.
Esses fenmenos assinalam, na viso dapsicanlise, a revelao de um desejoinconsciente e tambm atestam a estruturaodeste inconsciente como uma linguagem.
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O recorte terico de Authier-Revuz
A partir desses dois exteriores tericos, a autora
elege a heterogeneidade mostrada como objetode suas anlises, uma vez que a heterogeneidade
constitutiva da enunciao, apesar de sempre
presente nela, no diretamente observvel.
Quanto ao heterogneo mostrado, a autora
caracteriza-o em dois planos:
o da forma
o da sua funo na enunciao, nos discursos
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O recorte terico de Authier-Revuz
Assim, trata-se de formas metaenunciativas,
isolveis como tais sobre a cadeia, que tm apropriedade de referir a um segmento dado da
cadeia: so formas estritamente reflexivas,
correspondendo, no quadro de um ato nico da
enunciao do dizer, ao desdobramento de um
elemento por um comentrio simultneodesse
dizer.
A esse conjunto de formas inventariveis, a
autora chama de modalidade autonmica (2004,
p. 181).
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O recorte terico de Authier-Revuz
Quanto funo na enunciao, a autora afirma queao se dobrar o uso de um termo por um comentrio
reflexivo opacificante sobre esse uso, essamodalizao suspende localmente, sobre o termovisado, o carter absoluto, no questionado, o bvioligado ao uso transparente, padronizado daspalavras.
Assim, a modalizao confere a um elemento dodizer o estatuto de uma maneira de dizer,relativizada entre outras.
Dessa forma, a enunciao se representa,localmente, como no afetada de no-um, comoalterada no seu funcionamento por um fato pontualde no-coincidncia.
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Sobre o conceito de metaenunciatividade: as no-
coincidnciaspodem ser de quatro tipos:
no-coincidncia interlocutiva;
a no-coincidncia do discurso consigo mesmo;
a no-coincidncia entre as palavras e as coisas e
no-coincidncia das palavras consigo mesmas.
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no-coincidncia interlocutiva:
envolve enunciador e enunciatrio, os quais nocompartilham de uma palavra, uma maneira de dizer
ou um sentido, imediatamente ou de modo algum, o
que leva o enunciador a um tentativa de conjurar a
no-coincidncia, isto , reinstaurar o um de co-enunciao no ponto em que ele ameaado.
Ex.:x, sei que voc no gosta da palavra, mas issomesmo...
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a no-coincidncia do discurso consigo mesmo
Esse segundo tipo trata a no-coincidncia dodiscurso com ele mesmo e refere-se presena
estranha de palavras marcadas como pertencentes a
outro discurso e que, atravs de um leque completo
de relaes com o outro, desenham no discurso otraado que depende de uma interdiscursividade
mostrada, como em:
Ex.:X, como diz fulano,...
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Ex.:
Ah, eu no acredito que vou me submeter a um passeiona casa da LADRA-DE-VAMPIROS!Ah, s de pensar nisso,
me da vontade de desmaiar, err...s me da vontade ,porque como vocs sabem eu no desmaio. E que s vezessinto que para mim ainda um pouco difcil desligar-me deminhas reaes humanas... tem uma que eu pratico a
noite com meu Cullen, que huummmm, ai, ai, melhor nemcomentar, podem ter crianas lendo. Bom, mas como eu iadizendo, aquela piriguete, como diz a Roslie, com certezasabendo que meu Cullen, vai estar presente, deve estar
armando alguma piriguetagem.
A palavra pirigueteaparece com dois empregos: o
usoe a meno.
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a no-coincidncia entre as palavras e as coisas
refere-se relao entre as palavras e as coisas,manifestada em glosas que representam as
hesitaes, fracassos, xito,... na produo da
palavracerta,plenamente adequada coisa, como
em:
Ex.:X, melhor dizendo, Y...
Ex.:
Porque a Google, melhor dizendo, Orkut, no respeita mais nem
a privacidade nem a opnio dos usurios?
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no-coincidncia das palavras consigo mesmas
Por fim, como quarto tipo de no-coincidncia, aautora apresenta a no-coincidncia das palavras com
elas mesmas, manifestada em glosas que designam,
como uma recusa, ou ao contrrio da aceitao dos
fatos de polissemia, de homonmia, de trocadilho,etc., como em:
Ex.:X, em sentido prprio,...
O criminoso conseguiu escapar, digamos assim, s
foras policiais.
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As formas de no-coincidncia
tais formas representam linguisticamente anegociao obrigatria de todo enunciador com a
existncia das no-coincidncias que marcam o seu
dizer, ou seja, funcionam como marcas nos
enunciados de operaes realizadas na enunciaonuma tentativa empreendida pelo enunciador de
reafirmar o um mediante o reconhecimento do
heterogneo.
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Exemplo de questes levantadas com base
nesse modelo terico (Diedrich, 2008):
em que momento do seu desenvolvimento lingustico
a criana reconhece a presena e a interferncia do
heterogneo em sua enunciao?
Que no-coincidncias so percebidas
primeiramente?
E, ao perceb-las, empreende que tentativas de
reafirmar o um? Tais questes nos levam, portanto, adissertar sobre a heterogeneidade do discurso
infantil.
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Exemplo de questes levantadas com base
nesse modelo terico (Diedrich, 2008):
Ex. 1: queromanga, no de camisa, aquela de com
No-coincidncia das palavras com as coisas.
O enunciador busca respostas de fixao de um
sentido: X,no no sentido de q, mas no sentido de p.
Tal forma rejeita inicialmente um sentido para depois
especificar o sentido a ser entendido, em funo do
fato do jogo polissmico da palavra manga.
Ex.2: cad aquele regadorzinho?...no...como que
diz?