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Aula de 01/02/2005 O que é Direito Internacional? Segundo a definição clássica é o direito entre Estados. São as normas que vão regular a conduta entre os Estados . O termo internacional decorre de uma tradução errônea de um livro de Bentham do alemão para o inglês, sendo que neste idioma nation e state têm o mesmo significado, embora para os idiomas latinos haja uma grande diferença entre esses dois termos. Os Estados têm data de nascimento certa? Sim. Em termos de marcos históricos têm data certa, embora a História não seja um processo linear, mas sim multicausal e multilinear, cujos marcos têm efeito meramente didático. Os Estados foram criados precisamente em 1.648 (já havia Estado de Portugal, Espanha e Inglaterra) com a chamada Paz de Westphalia , documento que pôs fim à guerra dos 30 anos, ao criar territórios fixos e delimitados na Europa, dotados de soberania , sendo que antes as fronteiras variavam conforme o casamento e a guerra (caso da história de Robin Hood: Rei Ricardo Coração de Leão vai para cruzadas e assume o seu primo, Rei João Sem Terra, que perde todo o norte da França para a própria numa guerra, daí o nome dele). É claro que podem haver variações: os EUA compraram parte do México e o Alaska, o Brasil, o Acre e parte do Chaco, Yugoslávia e URSS se dividiram em vários países. Se o DI é entre Estados e estes surgiram em 1.648, quando teria surgido o DI? O DI surgiu muito antes de 1.648, porque o DI não pode ser entendido restritamente mas como normas mais amplas, que vão regular a conduta e a convivência de diferentes grupos sociais e políticos. Remonta, portanto, à Antiguidade , desde a pré-história quando o homem se organizou em comunidades e duas delas entraram em contato ; remonta a cerca de 4.000 anos A.C., nas cidades de Lagash e Uma, na Mesopotâmia, que regulava as fronteiras e os emissários de outros países , tem-se o 1º tratado, assinado entre o Rei Ramsés II e o Rei Ipsuli dos Ititas, regulando comércio de madeira e perseguição de prisioneiros. Havia normas que protegem os estrangeiros , como na Grécia Antiga, onde somente homens com direito ao ócio eram cidadãos – mas perceberam que os estrangeiros com quem comerciavam precisavam de um mínimo de direito protegido. O termo Embaixadores vem do grego e significava carta dobrada, que carregavam os emissários das Cidades-Estados e eles tinham inviolabilidade pessoal em caso de guerra . Há registros de mais de 200 arbitragens entre as Cidades-Estados também em questões comerciais. Apesar de cada cidade grega seguir suas normas, o Panteón dos deuses era comum, como por exemplo o de Delphos, sendo administrado por membros de todas as cidades que cultuavam aqueles deuses em conjunto, configurando espécie de Organização Internacional . Com a cisão do Império Romano, o DI reconhece um verdadeiro retrocesso. Apesar da expansão normativa que permanece até os dias de hoje, há retrocesso porque há uma série de normas que são associadas ao DI como o jus gentium e o jus festiale, aquele mais ou menos no âmbito do DI, relacionado aos direitos dos estrangeiros que se encontravam comerciando no território romano. Não é, contudo, DI, mas direito romano aplicado aos estrangeiros em território romano, mais ligado ao DI Privado, que não é direito, posto que mero conjunto de normas e não um sistema jurídico, não é internacional porque o próprio direito romano vai definir como aplicá-las, e não é privado, porque têm caráter de direito público (a Lei de Introdução ao CC/02 tem caráter público e constitucional). O jus festiale era o direito dos festiais , sacerdotes que se vestiam de branco e detinham o monopólio da guerra no direito romano . Quando os senadores e os imperadores decidiam pela guerra, os festiais eram comunicados, que iam de branco para a fronteira com a comunidade envolvida, abriam pergaminho e liam para a comunidade a lista de exigências de Roma (entregar leis e impostos a Roma, ser dela cidadão, dever obediência etc.), o que se não fosse obedecido iria levar a comunidade à guerra com Roma. Se as exigências não fossem cumpridas em 30 dias, lançavam uma lança suja de sangue de carneiro no território, declarando a guerra. Vinha legião romana e começava a guerra. Esse direito é DI? Não é DI, porque a desigualdade de sua essência não tem caráter de DI (fedos? iniquo). Tais normas poderiam perdurar por muito tempo? Claro que não, cai logo em desuso porque as comunidades não ficam paradas esperando a invasão romana.

Autor Desconhecido. Apostila de Direito Internacional

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Aula de 01/02/2005

O que é Direito Internacional?Segundo a definição clássica é o direito entre Estados. São as normas que vão regular a conduta entre osEstados. O termo internacional decorre de uma tradução errônea de um livro de Bentham do alemão parao inglês, sendo que neste idioma nation e state têm o mesmo significado, embora para os idiomas latinoshaja uma grande diferença entre esses dois termos.

Os Estados têm data de nascimento certa?Sim. Em termos de marcos históricos têm data certa, embora a História não seja um processo linear, massim multicausal e multilinear, cujos marcos têm efeito meramente didático. Os Estados foram criadosprecisamente em 1.648 (já havia Estado de Portugal, Espanha e Inglaterra) com a chamada Paz deWestphalia, documento que pôs fim à guerra dos 30 anos, ao criar territórios fixos e delimitados naEuropa, dotados de soberania, sendo que antes as fronteiras variavam conforme o casamento e a guerra(caso da história de Robin Hood: Rei Ricardo Coração de Leão vai para cruzadas e assume o seu primo,Rei João Sem Terra, que perde todo o norte da França para a própria numa guerra, daí o nome dele). Éclaro que podem haver variações: os EUA compraram parte do México e o Alaska, o Brasil, o Acre eparte do Chaco, Yugoslávia e URSS se dividiram em vários países.

Se o DI é entre Estados e estes surgiram em 1.648, quando teria surgido o DI?O DI surgiu muito antes de 1.648, porque o DI não pode ser entendido restritamente mas como normasmais amplas, que vão regular a conduta e a convivência de diferentes grupos sociais e políticos. Remonta,portanto, à Antiguidade, desde a pré-história quando o homem se organizou em comunidades e duas delasentraram em contato; remonta a cerca de 4.000 anos A.C., nas cidades de Lagash e Uma, naMesopotâmia, que regulava as fronteiras e os emissários de outros países, tem-se o 1º tratado, assinadoentre o Rei Ramsés II e o Rei Ipsuli dos Ititas, regulando comércio de madeira e perseguição deprisioneiros. Havia normas que protegem os estrangeiros, como na Grécia Antiga, onde somente homenscom direito ao ócio eram cidadãos – mas perceberam que os estrangeiros com quem comerciavamprecisavam de um mínimo de direito protegido. O termo Embaixadores vem do grego e significava cartadobrada, que carregavam os emissários das Cidades-Estados e eles tinham inviolabilidade pessoal emcaso de guerra. Há registros de mais de 200 arbitragens entre as Cidades-Estados também em questõescomerciais. Apesar de cada cidade grega seguir suas normas, o Panteón dos deuses era comum, como porexemplo o de Delphos, sendo administrado por membros de todas as cidades que cultuavam aquelesdeuses em conjunto, configurando espécie de Organização Internacional.Com a cisão do Império Romano, o DI reconhece um verdadeiro retrocesso. Apesar da expansãonormativa que permanece até os dias de hoje, há retrocesso porque há uma série de normas que sãoassociadas ao DI como o jus gentium e o jus festiale, aquele mais ou menos no âmbito do DI, relacionadoaos direitos dos estrangeiros que se encontravam comerciando no território romano. Não é, contudo, DI,mas direito romano aplicado aos estrangeiros em território romano, mais ligado ao DI Privado, que não édireito, posto que mero conjunto de normas e não um sistema jurídico, não é internacional porque opróprio direito romano vai definir como aplicá-las, e não é privado, porque têm caráter de direito público(a Lei de Introdução ao CC/02 tem caráter público e constitucional).O jus festiale era o direito dos festiais, sacerdotes que se vestiam de branco e detinham o monopólio daguerra no direito romano. Quando os senadores e os imperadores decidiam pela guerra, os festiais eramcomunicados, que iam de branco para a fronteira com a comunidade envolvida, abriam pergaminho e liampara a comunidade a lista de exigências de Roma (entregar leis e impostos a Roma, ser dela cidadão,dever obediência etc.), o que se não fosse obedecido iria levar a comunidade à guerra com Roma. Se asexigências não fossem cumpridas em 30 dias, lançavam uma lança suja de sangue de carneiro noterritório, declarando a guerra. Vinha legião romana e começava a guerra.Esse direito é DI?Não é DI, porque a desigualdade de sua essência não tem caráter de DI (fedos? iniquo).Tais normas poderiam perdurar por muito tempo?Claro que não, cai logo em desuso porque as comunidades não ficam paradas esperando a invasãoromana.

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Em 346 D.C., o Império Romano começa a desaparecer em vista das invasões bárbaras no período daIdade Média. Surgem normas regulando os feudos e o comércio, bem como as que regulam o direito daguerra, com São Tomás de Aquino, defendendo a idéia de “guerra justa”, permitida, para resguardar osdesígnios de Deus (atender à vontade divina), algo que é muito subjetivo. Dessa idéia, evolui a idéia deque a guerra para ser justa deveria ser pública e não mais privada, somente válida se decretada pelosoberano. Continua a questão do caráter divino da guerra. Quando começa disputa entre a Igreja Católicae soberanos, resulta que guerra justa é aquela feita pelo soberano com o fito de resolver um problema,dando resposta a uma injustiça, retirando o poder da Igreja Católica, posto que injustiça pode ser qualquercoisa (Felipe o Belo apreende todos os bens da Igreja Católica na França, Henrique VIII que funda oanglicanismo, Gregório X que é perseguido, a IC que se divide tendo dois Papas, um em Roma e outroem Vignon), matando dois coelhos com uma cajadada só – retira-se poder da Igreja Católica e continua-secom o cheque em branco do termo “injustiça”.

Essa idéia permaneceu até 1.928. EUA x Iraque revisita o conceito de guerra justa, porque é de seuinteresse criar legitimidade para entrar em guerra por qualquer coisa.

Com fim do período feudal vem a Paz de Wesphalia com o DI moderno.É importante, agora, entender o que está por trás do DI, para entendermos como ele funciona.O que é o estado de natureza. Contratualismo. É uma situação em que não há normas, cada um é por si,não tem regras, não tem governo, Estado. Há várias correntes: Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau.Para Hobbes, o “lobo é o lobo do homem”, cada um olha somente seu interesse, é um caos o estado denatureza, “o homem é egoísta por natureza”, quer atender seu interesse próprio e não está nem aí para opróximo, sendo as relações humanas inerentemente, por natureza, conflituosas. Daí a importância de secriar o Estado para minimizar os conflitos, criando as normas. O que isso tem a ver com a criação dosEstados? Imagine essa situação do estado de natureza entre Estados, para fora, como se eles fossemindivíduos. Haveria um sistema controlando e dirimindo conflitos entre os Estados, alguém governo,alguém fazendo processo legislativo, polícia internacional para punir o Estado? Não seria o sistemainternacional um estado de natureza hobbesiano? Sim, seria, é assim mesmo.Algo está estranho. Foram criados os Estados, que começam a interagir. Imagine um Estado A, mais forteque um Estado B: para que criar e respeitar uma norma internacional do ponto de vista do A? Em outraspalavras: como pode existir o direito internacional se um Estado forte não tem interesse em ser reguladoquando em relações com Estado mais fraco, se o mais forte pode tomar o que quiser? Isso é o ocorre noColonialismo, a guerra do Iraque. Para que criar uma ordem internacional, então? Ver como funciona ojogo War: quando um fica muito forte A, os mais fracos B e C se juntam contra o mais forte, o pau quebraentre esses, outro fica então mais forte D, e assim sucessivamente. Por isso faz-se tratado entre A e B e eleé respeitado, porque se este se juntar com C, ficará mais forte que A, que pode se juntar a D, F etc.. Isso éo que se chama equilíbrio ou balança de poder, traduzindo a idéia de que os Estados vão se articular deforma que um grupo ou uma coalizão sozinha não consiga dominar todo o sistema. Após a Paz deWestphalia há o período do “concerto europeu”, quando cinco potências e seus aliados dominavam eadministravam o mundo.Essa política do equilíbrio ou balança de poder pode se manter por muito tempo?Encontra-se a resposta no chamado dilema de segurança. Imaginem a seguinte situação: seu vizinho foiassaltado; você então toma a atitude de colocar uma cerca elétrica; o vizinho então põe cerca elétrica maisalarme; você isso mais cão e vidro blindado...virando uma espiral crescente sem fim em que a segurançado meu vizinho vira minha insegurança. A segurança do meu vizinho começa a representar uma ameaçapara mim, porque vai estar mais armado, daí tenho que me armar mais e assim por diante porque o queserve para defesa também pode servir para o ataque. Se A é mais fraco que B, mas A se junta com C, AC émais forte que B, que, porém, se junta com EFGH, A com IJKL...e então começam a surgir aliançassecretas (F com L, E com J, ...) entre os Estados, ocasionando grande confusão. Tal confusão leva aoassassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando da Áustria, movimentando todas as alianças e levando àI Guerra Mundial, que só acabou com a II Guerra Mundial, representando, assim, a superação do sistemado “concerto europeu”, que era o sistema responsável pela ordem e pelo equilíbrio internacionais. Então,na I GM, que foi um dos acontecimentos mais revolucionários e marcantes do século XX, revolucionando

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a filosofia, o direito, as artes, as políticas públicas de saúde etc., tudo isso resultando da invenção dametralhadora, mudando direito internacional, a própria ordem internacional. Até então havia a idéia deque ser soldado era algo nobre (Dostoiévski em “Ana Karenina”, Machado de Assis...), com aristocratasem posições militares, quando havia todo um protocolo de cavalheiros (como nos filmes), gritava-se fogopara todos atirarem etc.. Já com o advento da metralhadora, que dá uma quantidade enorme de tiros empouco tempo (filme O Último Samurai), com uma só delas se mata todo o outro lado.Então, o que fazer para escapar da metralhadora? Só escondendo nas trincheiras. Temos então a guerra detrincheiras, tornando-se uma guerra parada, estagnada. Para poder avançar era necessário um númeroenorme de pessoas, demandando grandes recursos humanos e materiais, com número de mortes semprecedentes e influenciando em toda a sociedade civil: deixava-se de produzir vestidos para fazer fardas,meias-calças para fazer pára-quedas, por exemplo. Isso vai gerar, pela 1º vez na história, o sentimento deque a guerra é irracional. Pergunta-se: a guerra é racional ou irracional? É racional (não se questionada amoralidade agora). São atos planejados e estudados, com o exemplo do Churchill, quando interceptou edecifrou código alemão que indicava que cidade com civis ia ser bombardeada: surge dilema – se avisar acidade, salvo as vidas inocentes, mas se fizer isso alemães descobrem que decifrei o código – ou deixobombardear, as pessoas morrem, mas continuo interceptando as mensagens. Segundo os analistas asegunda escolha, apesar de ter sacrificado aquelas pessoas, reduziram o tempo de guerra entre 3 e 6meses, salvando, assim, muito mais pessoas. Vejam que o cálculo é extremamente racional e frio,planejados. Klausewitz (“Da Guerra”, ed. Martins Fontes), maior teórico da guerra, fala que a guerra éuma continuação da política por outros meios.E os Estados? Seriam racionais ou irracionais? São racionais, com racionalidade instrumental, baseadanum cálculo de custo-benefício, melhor vantagem com menor custo. Por que, então, a guerra é irracionalse permitida pelo direito e usada na política? Porque, simplesmente, num cálculo de custo-benefício, anova lógica da guerra a torna muito cara, não compensando fazê-la. Por que houve a guerra então? 1º -Por falta de democracia, porque a população não autorizaria seus governantes a irem a guerra. 2º - Porproblemas de comunicação oriundos da diplomacia secreta entre os Estados. São, então, criadas asOrganizações Internacionais (OIs) a título de formar um foro multilateral de debates, como, por exemplo,a Liga das Nações, cujo fim era deixar claro para todos o que ocorre e, assim, evitar tensões. Essasmudanças foram tão profundas que em 1.928, pela primeira vez, a guerra foi proibida pelo DI. Omovimento do Surrealismo surgiu como um protesto contra o absurdo da guerra. Parecia que essa guerrafoi uma guerra para acabar com todas as guerras, em vista do absurdo do número de mortes e que ohomem não poderia evoluir tecnologicamente em termos bélicos como já havia feito. Só que, logo depois,vem o segundo tempo: II Guerra Mundial. Por que a II Guerra, se ficou demonstrado que a guerra éirracional? As tensões permaneceram e conseguiu-se evoluir mais belicamente, com os tanques e,principalmente, os aviões, diminuindo os custos da guerra de trincheira. O Saddam Hussein, nestasegunda guerra do Golfo, sabia que se deixasse suas tropas esperando os EUA, estes bombardeariam tudocom os aviões. Então colocou as tropas nos depósitos de petróleo nas represas e debaixo das pontes,explodindo tudo para impedir avanço das tropas americanas. Assim, EUA não vão bombardear e seusexércitos podem passar. Assim, os custos são diminuídos e a guerra volta a ser possível e tem-se a IIGuerra Mundial.Depois disso, temos a guerra fria, com a superação definitiva do “concerto europeu”. A ordem mundialera mantida, então, pelo “jogo do galinha” da Teoria dos Jogos. Os EUA, com racionalidade instrumental,criaram um modelo de situação através de um “jogo”, controlado por computadores, prevendo a melhorsituação num cálculo de custo-benefício e o comportamento dos outros Estados nessa situação (como nofilme Jogos de Guerra). O jogo do galinha (chicken run) está dentro dessa lógica, significando racha,pega, corrida de carros. Quem perde a corrida, um em direção ao outro, é o galinha, quem ganha é “obom”. Cada um sabe que o outro é racional e instrumental (frios). Começa a corrida, com duas opçõespossíveis: manter ou frear. O ganho máximo é 4 e a perda total é zero (montam-se matrizes para isso). Seambos freiam, ninguém ganha tudo, mas também ninguém será o galinha e o resultado é 2 x 2 – ganhomédio; se um freia e o outro não, aquele fica vivo e este ganha tudo; se eu não freio, o outro freia ou não,se eu ganho sou “o bom” e o outro o galinha, mas se ambos não freiam todos perdem tudo.Diante disso, qual a melhor opção que se tem? Os computadores dos EUA e da URSS ficavam 24hfazendo esse tipo de cálculo, concluindo que é melhor frear os ataques de ambas as partes. Isso é achamada dissuasão nuclear. Existia, então, uma bipolaridade, criando um sistema internacional muito

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mais estável do que o que se vive hoje, por meio da guerra fria, porque cada superpotência e seus aliadostinha medo da retaliação do outro bloco (Destruição Mútua Assegurada (MAD)). É nessa época que surgea internet (também teoria dos sistemas, teoria dos jogos), como forma dos EUA criarem um meio paraacessar a informação concentrada em Washington, diminuindo, então, chances de acabar com os EUAcom uma única bomba atômica sobre a capital.Com a queda do Muro de Berlin em 1989, tem fim a guerra fria e a bipolaridade. Então, como se mantéma ordem mundial hoje? Temos um sistema unipolar (EUA dominando)? Ou seria uma multipolaridadeassimétrica (desbalanceada)? Por que hoje os Estados seguem um tratado? Acontece que agora descobre-se (John Nash com Jogo de Soma Não Zero, filme Uma Mente Brilhante) que todos os jogos até entãoeram jogos de soma zero – o que um ganha é, necessariamente, o que o outro perde (como no xadrez). Naépoca da guerra fria cada aliado que uma potência conseguia, era um que a outra perdia. Assim é que seentende as guerras do Afeganistão, Vietnã, Angola, Moçambique, Cuba, Panamá, etc.. Nash fala que podeexistir jogos de soma não zero, em que o que um ganha não é, necessariamente, o que o outro perde.Pode-se chegar numa situação tal, num cálculo de custo-benefício, em que todos ganhem maiscooperando do que não cooperando, quando teriam interesse em manter a cooperação (lógica da cena daloira no bar). Isso é o Equilíbrio de Nash pelo qual ele ganhou o prêmio Nobel. Essa lógica se soma aoutra grande mudança que ocorreu na década de setenta. Até então, as relações internacionais eramtipicamente “entre Estados” (para alguém de país A, a, abrir empresa em país B, era necessário a pedirautorização para A, que pediria autorização a B). Hoje, isso não é mais necessário. Surgem atorestransnacionais que não necessitam de autorização dos Estados e que se articulam e cooperam entre si paraatingir objetivo comum, pressionando os governos, dentro da idéia do Jogo de soma não zero(Greenpeace, WWF, Al Qaeda, OTAN, Fifa, Associação dos países de língua portuguesa, União Européia,Fórum Social Mundial, etc..). A União Européia surgiu a partir da idéia do Jogo do Veado, quando todoscaçando juntos obtém resultado mais rápido e melhor.

Aula do dia 10/02/2005.

O que caracteriza esse sistema de DI? Tem legislador internacional? Polícia internacional?. Não. Reina,então, uma anarquia internacional (não é ausência de ordem, mas de governo). O que garante a ordem, secada um olha seus interesses? O equilíbrio de poder permanece até os dias de hoje com a balança depoder. A idéia é evitar que um grupo sozinho seja capaz de dominar todo o sistema.Se as motivações dos Estados são pelo poder, então, o que é poder? Como o poder se manifestainstrumentalmente? São manifestações de poder: força militar, política, dinheiro, recursos naturais(diferença entre poder real e latente, é preciso ter a capacidade para fazer uso dos recursos naturais porexemplo), poder de barganha, inteligência, inteligência verbal para comunicação, beleza, força física,tecnologia, medo (sentimento ante o desconhecido). Tudo isso tem em comum o fato de serem formas deconvencer o outro a fazer o que eu quero, e também a de resistir a fazer o que o outro quer que eu faça eeu não quero fazer. As relações internacionais são de força e de poder. Tal situação pode perdurar notempo? Não, devido ao dilema de segurança (que ocorreu entre Brasil e Argentina na época da ditaduramilitar), o aumento da segurança de um traz insegurança para o outro e vice-versa. Na época da guerrafria ocorria a balança de poder entre duas superpotências nucleares, que mantêm a ordem pelo jogo dogalinha, conforme a teoria dos jogos: diante da possibilidade de destruição mútua assegurada, é melhorambos frearem. Na lógica nuclear havia o problema do segundo ataque, porque com o primeiro ataquenão é possível impedir que ocorra o segundo ataque (do adversário contra o qual se fez o 1º), logo oprimeiro se torna inviável sem que ocorra um contra-ataque fatal – dissuasão nuclear. O que é paz? Éausência de conflitos. É ausência de guerra. Esse era o conceito até a II GM. Mas na guerra fria, guerrasignificava a iminência de sofrer um ataque a qualquer momento, embora não houvesse guerra. Isso seriapaz, posto que não há guerra, modificando a idéia de paz. O modelo do dilema de segurança não seencaixa hoje no modelo da União Européia, já que contém uma idéia de cooperação, tornando-sediscutível hoje em face dos diferentes contextos. Por isso se diz que esse modelo desaba na II GM.(alguém faz uma pergunta acerca de modelos que eu não entendi)Aí a gente entraria na seara da epistemologia e da metodologia e discutir os programas científicos, quepodem ser degenerativos ou progressivos. O estudarem filosofia da ciência, vocês viram que ciência é um

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conjunto de proposições passíveis de refutação. Paradigma. Essa concepção é ultrapassada porque aciência pode ser construída tendo por base os conhecimentos já existentes. Nem sempre se tem revolução,jogando por terra tudo que já foi construído. Vamos ter, na verdade, programas científicos, com umateoria com pressupostos básicos e seu núcleo duro, com sua lógica e sua estrutura, o que lhe dá sentido, eanéis protetores em torno da mesma que buscam proteger e explicar a mesma (Leis da Gravitação deNewton, são mantidas, mas se chega à conclusão de que a órbita é elíptica; é reformulada commanutenção do núcleo duro). Os anéis podem ser tanto progressivos quanto degenerativos. Estes ocorremquando as anomalias e suas explicações surgem após a observação do fato, indicando que a teoria estádegenerando, que sua capacidade de explicar vai ficando menor, está perdendo sua capacidade deprevisão. Pode-se ter os dois movimentos então, já que se a teoria não está prevendo ela tem que serreformulada (ver Lacatos?).Após a guerra fria têm início as relações transnacionais, que não vão depender da lógica dos Estados(caso da Empresa Benetton, em que tudo é feito via internet, comprando onde for melhor, semformalidade nenhuma pelos Estados). O Brasil proibiu divulgar pesquisa eleitoral na época das eleições.Cria-se então, site no Uruguai que divulga via internet a pesquisa a cada hora. Pergunta-se: estariamviolando a lei brasileira? Sim, porque o efeito está atingindo o Brasil. Há como ser punido? Não há o quefazer, isso foge ao controle estatal. Pedofilia e lavagem de dinheiro são os únicos casos com legislaçãotransnacional. Para que um Estado consiga coibir um crime internacional como o tráfico de drogas, porexemplo, é preciso que os Estados queiram assinar um tratado, aplicar o tratado ao seu território, e que eletenha condições de fazê-lo. Ainda assim é muito difícil coibir, porque o movimento independe dosEstados. A Interpol e a Europol seriam um passo; é preciso repensar como agir nessas situações.Bom, o que isso tudo tem a ver com DI? Toda norma jurídica nasce num contexto social; este é o contextodo DI.

Características do D. Interno x D. Internacional.Vamos nos basear, comparativamente, no Direito Interno.

D. Interno: Centralizado - Poder Legislativo faz todas as normas; Hierárquico – Normas federais, estaduais etc.; Tem sistema de coerção organizado; Seu fundamento, de onde a norma retira sua obrigatoriedade, jurídico é a Constituição - são normas

produzidas por um Poder (Legislativo) previsto na Constituição e criado com o fim específico de criaras normas para todos os cidadãos;

D. Internacional (é autônomo em relação do D. Interno): Descentralizado – os Estados interessados elaboram as normas; Os próprios legisladores (Estados) são os destinatários das normas que criam entre si; Não hierárquico; Não tem sistema de coerção organizado; Não fundamentado em Constituição, mas sim no consenso, no consentimento entre as partes (é mais

que o pacta sunt servanda). Tratado entre A e B é obrigatório para eles porque deram seus respectivosconsentimentos.

Aula do dia 15/02/2005

Se o DI é descentralizado isso implica que as normas não são hierarquizadas. Quem cria as normas são osEstados a quem as normas criadas se destinam. Há uma ligação, portanto, entre os interesses dos Estadose as normas que são criadas. Além de não haver sistema de coerção organizado, o fundamento para queum Estado se obrigue por dada norma é o consentimento. É autônomo em relação ao Direito Interno.Qual a relação entre essa duas ordens (D. Interno e D. Internacional) se elas têm dinâmicas e lógicas tãodistintas? Qual a relação entre o tratado assinado e o d. interno? Teremos duas ordens distintas ou umaúnica ordem? Se um tratado tem que ser incorporado na ordem jurídica, temos então duas ordens

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distintas. Quando é necessário incorporar o tratado mediante transformação em lei interna, isso implicaem que temos duas ordens – o Dualismo. Se temos duas ordens não há conflito de normas. Imagine que Ae B assinaram um tratado proibindo a tortura. Se A pratica mesmo assim a tortura, ele está cometendoilícito internacional, gerando responsabilidade internacional? Não, já que são duas ordens distintas e otratado não foi transformado por lei interna e, ainda que tivesse sido, se viesse nova Constituiçãopermitindo a tortura, ele não estaria violando o tratado. Logo, nessa lógica de ordens distintas que não setocam, não há que se falar em conflito de leis. Por que um país que pratica tortura assinaria, então, umtratado contra a tortura. Porque, politicamente, os Estados não podem assumir que praticam a tortura. (Seele não precisa ser incorporado, com o mero consentimento do Estado ele se transforma em lei interna.)Então, para evitar isso, é preciso assumir que existe apenas uma ordem – o Monismo. Por isso, a maioriados internacionalistas são partidários da teoria do Monismo. Se as dinâmicas são diferentes, o direito semanifesta em graus diferentes, daí ver quem prevalece: o direito interno - Monismo com primazia dodireito interno (Constituição é que manda), ou o direito internacional - Monismo com primazia do direitointernacional.Quem vocês acham que prevalece? Monismo com primazia da Constituição? Pois bem...Imagine que Estado A assina tratado com B contra a tortura. Dentro da lógica de ordem única, monismo,tal tratado é lei para ambos. Mas, se uma lei posterior, constitucional, do Estado A, permite a tortura, nãoexiste responsabilidade nem no plano internacional se A vier a praticar a tortura. Se admitirmos omonismo com primazia do direito interno, estamos acolhendo os mesmos efeitos do dualismo. No DI,descumpriu é responsável, sem necessidade de dano e nexo de causalidade. Por isso, 100% dosinternacionalistas são defensores do monismo com primazia do direito internacional, com 100% dasdecisões internacionais (seja em arbitragens, ou tribunais internacionais) consagrando essa forma. OChile, Bolívia, Perú, Venezuela, Panamá já foram obrigados a mudar suas Constituições para o Estadoefetuar obrigação internacional por ocasião de tratado. A tendência hoje é o reconhecimento da primaziado DI sobre o Direito Interno, inclusive sobre o direito constitucional dos Estados. As Constituições dosEUA e Europa já aceitam o monismo com primazia do direito internacional.Aceitar um tratado seria, então, violação de soberania ou mesmo seria inconstitucional? Não, porque sehouver esse risco no tratado, basta o Estado não consentir nele. Logo, em geral, respeitam-se os tratadosporque é importante do ponto de vista da racionalidade instrumental, do custo-benefício, sendo que osEstados analisam isso antes de descumprir um tratado. Muitas vezes, mesmo com o descumprimento e aresponsabilidade internacional, não há interesse dos outros Estados em retaliar ou de entrar nos tribunaisinternacionais (vide quando Brasil, que tem como princípio constitucional zelar pelos direitos humanos,apoiou fuzilamentos em Cuba e China ficando com Tibet e Taiwan como parte integral da China em trocado apoio desta ao Brasil no Conselho de Segurança da ONU). Mas, em regra, são cumpridos os tratados.Quantos por cento das arbitragens internacionais vocês acham que são descumpridas? Pouquíssimas. Asarbitragens internacionais são cumpridas, porque, com base no consentimento, o Estado não vai secontradizer, além do que se a norma foi criada pelos próprios Estados, não há interesse dos mesmos emcontradizer uma ordem que eles mesmos criaram. Pelos descumprimentos, além dos sistemas de coerçãoe de solução de controvérsias, que serão estudados mais à frente, podem ocorrer sanções econômicas e deoutras naturezas. Vamos supor que país A perde sentença arbitral para B. Se A não cumprir e depoishouver questão em que tiver certeza que vai ganhar, B não vai querer a arbitragem, já que A perde suacredibilidade, o que é grande desvantagem para A, levando-o, em cálculo de custo-benefício, a preferircumprir a sentença da arbitragem. E mais, quem cria as normas de DI são os Estados para atender a seuspróprios interesses. É o caso da criação da OMC pelos países ricos: se EUA é condenado pela OMC, EUAnão tem interesse em descumprir porque a longo prazo é mais interessante manter a ordem que ele mesmocriou em seu benefício. É também uma questão de custo-benefício. Por que os EUA estão pedindo apoioda ONU e até da OTAN para o Iraque? Porque EUA descumpriu a ONU e agora não está dando conta doscustos sozinho.Se diante de pressão econômica ou política, um Estado acha por bem assinar um tratado, então ele seobriga por este. Mas a adesão se dá por coação, esse tratado é anulável (é como “defeito do ato jurídico”).Breve crítica à política externa do Governo Lula, com a perda do apoio da Argentina e do Chile ao pleitodo Brasil a assento no Conselho de Segurança da ONU por não ter apoiado a Argentina nas negociaçõescom o FMI. Comentários sobre o tratado que o Brasil assinou para enviar criminosos ao TPI, tendo os

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EUA pedido que Brasil assinasse tratado excetuando envio de americanos e recusa do Brasil e retirada doapoio militar dos EUA ao Brasil em retaliação.No Brasil, o STJ já reconhece essa primazia do DI sobre o interno, mas o STF não concorda. O art. 102,II, b, da CR/88, dá ao STF competência para julgar casos de tratados, o que é o mesmo que dizer que oBrasil aplica de fato o dualismo.Os constitucionalistas dizem que o art. 5º, § 2º, da CF/88, não exclui os tratados fora da CF, mas comocom aplicação imediata sem necessidade de lei para introduzir no ordenamento jurídico. Mas conforme oacórdão 80.004 STF, os arts. 102 e 5º traduzem o sistema do monismo misto, aplicando-se imediatamenteos tratados de direitos humanos, sendo todo o resto regulado por norma infra-constitucional.A emenda 45 acrescentou ao art. 5º os §§ 3º e 4º, aceitando a jurisdição do TPI

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Aula do dia 17/02/2005

Vamos começar a estudar a Convenção de Viena, que pode ser obtida em português no site do Cedin.www.cedin.com.br/preview

FONTES DE DIREITO INTERNACIONAL.

I – Distinção: fonte x fundamento x normaFonte material x fonte formal

II – O art. 38 do Estatuto da CIJ (Corte Internacional de Justiça)a) oponibilidade

b) caráter não-exaustivoc) não hierarquiad) hierarquia das Organizações Internacionais (OI’s)

TRATADOS

I – Considerações geraisA) definiçãoB) a convenção de Viena de 1969 sobre direito dos tratados

- exceções: Estado-OI; OI-OI, sucessão, guerraC) classificação

- tratados leis x tratados contratos- tratados gerais x tratados especiais- tratados normativos x tratados constitutivos das OIs- tratados bilaterais x tratados multilaterais- tratados de forma breve x tratados de forma solene

Revisão das características do DI, que diferem do D. Interno.Revisão Dualismo-Monismo.

I - O que são fontes? De onde surgem, brota, a origem, como nascem as normas.E fundamento? É de onde a norma retira sua obrigatoriedade. Nem sempre fonte coincide comfundamento.E o que é norma? É regra de comportamento, conduta, é a prescrição de um determinado comportamento.É comum que se faça a distinção entre fontes materiais e formais. Qual seria a diferença? As formais sãoos instrumentos formais pelos quais nasce a norma, v.g., o processo legislativo no Brasil. As materiais sãoas forças sociais, culturais, econômicas, etc., que vão pressionar pelo surgimento da norma (analogia comhidrogeologia de bacia hidrográfica), v.g., o grande número de acidentes com mortes procovou a lei docinto de segurança.

II – Art. 38 da CIJ (aceito por quem aceitou a Carta das Nações Unidas de 1969).Quando se fala em fontes de DI, é preciso nos remetermos ao art. 38 da CIJ, que contém as fontes do DI(tratados, costume, princípios gerais do direito e doutrina e jurisprudência). A CIJ pode julgar ex aequo etbono - equidade (não o ramo do direito de common law), significando o uso do bom senso para se atingira justiça, se as partes assim quiserem. Pode-se, neste caso, aplicar algo contrário ao direito, se no casoparticular somente com o bom senso se atingir a justiça. Portanto, as fontes do DI são: tratados, costume,princípios gerais do direito, doutrina, jurisprudência e a equidade. Rol enumerativo: ex CDI da ONU podefazer draft de convenção que pode ser usada pela CIJ; ex: recumendação da Assembléia Geral daONU.Ex: declarações – Decl. Universal dos Direitos Humanos.ex: opiniões consultivas da CIJ, opiniõesdissidentes nos julgamentos.Para quem essas fontes são obrigatórias? Lembremos que todo o DI é fundamentado no consentimento.Essas fontes do art. 38 se aplicam a todos os Estados que assinaram a Carta das Nações Unidas (membros

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da ONU), que, ao assinarem esta, automaticamente estão aceitando o art. 38 do Estatuto, que é anexo daCarta da ONU. Pode-se exigir a cumprimento do art. 38 para não membros da ONU? Vocês acham quenão. Então, se a Suíça assinou tratado em 2003, antes dessa data o art. 38 não cria norma para este país,posto que antes não havia consentimento. Mas, no caso específico do art.38, não funciona assim. Por que?Porque o art.38 é erga omnes, sendo aceito como costume internacional e princípio geral de direito, sendoobrigatório para todos os Estados.O art.38 tem caráter não exaustivo. O Estatuto da CIJ foi criado em 1922 e, portanto, há duas fontes nãoelencadas: 1- as resoluções das Organizações Internacionais; 2- os atos unilaterais dos Estados, válidasface outros Estados se estes consentirem em que a resolução a eles seja obrigatória. Caso do Atol deMururoa: França fazia testes nucleares, houve protesto da Austrália e Nova Zelândia, a França continuou,a Austrália e Nova Zelândia entrou com processo no Conselho de Segurança e na CIJ. O caso começou acorrer, a França manteve os testes até que seu Presidente declarou publicamente que não iria mais fazertestes nucleares desde que a A e NZ abandonassem o processo, A e NZ abandonaram. A Françarecomeçou os testes nucleares. Então A e NZ retomaram o processo. A França: mas não pode mais oprocesso porque tem a mesma causa de pedir, mesma parte e mesmo objeto - seria “litispendência”. ACIJ decidiu que se o Presidente francês fez declaração pública se comprometendo a não fazer os testesnucleares, isso foi um ato unilateral que criou uma obrigação para a própria França, e quando ela retomaos testes está violando uma obrigação que ela assumiu (“ver do D. Civil: venire contra factum proprium= concorda com uma coisa mas faz outra”) (é Stoppel). Logo, o ato unilateral pode criar umcomportamento juridicamente vinculante para o Estado, sendo uma fonte de direito.As fontes de DI não têm hierarquia entre si. Então, um costume posterior pode derrogar um tratadoanterior (“supressio”). Costume no DI é lei como tratado. Ex: países A e B assinam tratado definindo 12milhas de mar territorial de A; mas A começa a praticar unilateralmente sua jurisdição sobre 24 milhas ebarco de B aceita jurisdição de A. Após certo tempo, esse costume é consagrado e B não pode maisreivindicar que A tenha só 12 milhas. (terra nullios e res nullios (de ninguém), alto-mar; bem comum dahumanidade = Antártida, Lua, fundos marinhos, paga-se taxa à humanidade para poder explorar).A exceção é daquelas normas criadas pelas OIs, que funcionam como constituição dessa OI, como sefosse o direito interno de um Estado, são internas à própria OI.

A principal fonte hoje são os tratados, não porque haja hierarquia, mas porque, como são escritos, é maisfácil de se perceber os limites, a prova é mais fácil.O que é um tratado? É um acordo de vontades feito entre Estados ou/e OIs (Estado-Estado, Estado-OI,OI-OI). A principal regra sobre direito dos tratados é a Convenção de Viena de 1969 sobre Direito dosTratados, que, no art. 2, b, traz a seguinte definição (Brasil assinou mas não ratificou): é acordo devontades celebrado por escrito entre Estados e destinado a produzir efeitos de direito internacional, querconste de um ou mais instrumentos, qualquer que seja a sua denominação. Isso quer dizer que a CV/69apenas vai regulamentar tratados na forma escrita, mas nem todo tratado tem que ser escrito. A CV/69 sóregula o direito de tratados feitos por Estados, mas tratados podem ser feitos entre outros entes de DI.Qualquer denominação: protocolo, tratado, bons-ofícios, convenção, carta, ata, pacto etc.. Há Convençãoespecífica para tratados com OIs, para regular continuidade dos tratados em sucessão de estados –Iugoslávia se divide em Sérvia e Montenegro, e em caso de conflitos armados.

Classificações dos Tratados.

Tratado lei – criam normas gerais a serem aplicadas (CV, OMC, imunidade diplomática)Tratado contrato – regulam relações privadas entre os Estados (compra e venda)Mercosul é um híbrido entre lei e contrato.

Tratado geral – objeto amplo (mudanças climáticas - Kyoto, não proliferação de armas)Tratado especial – objeto restrito (proteção das focas brancas do Estreito de Ihering, não proliferação dearma X)

Tratado constitutivo – criam OIs, espécie de constituição da organização (Carta da ONU, Estatuto CIJ,Estatuto da OEA)

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Tratado normativo – todos os demais tipos, qq tratado que não crie OI

Tratado bilateral – entre duas partes (entre EU e Brasil)Tratado multilateral – entre mais de duas partes (Fr, Es, Ig e Brasil)Tratado forma breve – não precisam passar pela aprovação do legislativoTratado forma solene – precisam passar pela aprovação do legislativo

Tratado Quadro – traça os princípios gerais que vão regulamentar futuros tratados naquela matéria. Écomplementado por tratados específicos. (OMC define regras – não pode ter subsídio, tem que ter livrecirculação; para liberalizar tecidos faz-se acordo específico). (Te dou terreno para construir casa, desdeque tenha dois andares, varanda, piscina e churrasqueira – organizados como quiser).

Aula do dia 22/02/2005

TRATADOS

I – Considerações Gerais(...)

II – Conclusão dos TratadosA) Negociação

1) Plenos Poderes (art.7,8)i) Quem pode negociar?ii) Quem confere?

2) Negociaçãoi) Diferenças culturaisii) Técnicas de negociação

3) Redaçãoi) Preâmbulo- Enumeração das partes- Motivosii) Dispositivos- Artigos- Cláusulas finaisiii) Anexos

B) Adoção do Texto1) Fixação/Adoção

i) Autenticação- Ad Referendum- Assinaturaii) Processo de Ratificação- Breve- Solene

2) Depositário3) Reservas4) Emendas

1) Um tratado começa com as negociações. O Chefe de Estado, mas também o de Governo têm ospoderes necessários à negociação de um tratado (poder conferido ao Presidente pelo art. 64 da CR/88).Mas esses poderes podem ser delegados por meio de carta de plenos poderes > que vai nomear umplenipotenciário. Quem pode ser plenipotenciário? Ministro das Relações Exteriores não precisa da cartade plenos poderes, tem essa prerrogativa pela Convenção de Viena; diplomatas, qualquer um pode sernomeado plenipotenciário.

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Historicamente, há duas concepções de soberania: a) concepção inglesa que surge no séc. XIII com aMagna Carta, sendo essa feita pelos nobres para limitar o poder do soberano com vistas ao bem do povo eque define a soberania vindo de baixo para cima; e b) a concepção francesa, do l’estat c’est moi, de JeanBodin no séc. XVI, com soberania de cima para baixo, a vontade do soberano é a vontade do estado. Atéo Congresso de Viena prevalecia a concepção francesa, caindo apenas na Revolução Francesa, com aidéia de que todo poder emana do povo, presente em nossa constituição.Quem é o Estado, quem pode assinar tratados? O soberano. Até o Congresso de Viena o rei assinavatratado não em nome do Estado mas em nome próprio. Se ele morresse, os tratados da França acabavam,tendo que refazer todos, inclusive os territoriais. Hoje, os tratados que FHC assinou permanecem comLula? Sim, porque foram assinados em nome do povo, e o povo permanece apesar da troca de governo.A carta de plenos poderes funciona como espécie de mandato. Se confere poderes para negociar sobredeterminado assunto, o plenipotenciário não pode exorbitar e negociar sobre outro. Mas se este o fez e oEstado mesmo assim ratifica o tratado, este torna-se válido. Ele é inválido, mas pode ser validado peloEstado.2) Na negociação os plenipotenciários encontram-se, apresentando a carta de plenos poderes. Umanegociação internacional é um processo extremamente complicado em razão das diferenças de linguageme culturais, com as palavras que não têm correspondência em língua estrangeira (v.g, bem de família, quesó existe no Brasil; trust. que só existe nos EUA), ou palavras cuja tradução não representa aquilo que elatraduz (v.g., equidade, equity, que em inglês quer dizer um ramos do common law e em português é outracoisa), ou a própria interpretação é feita de modo ambíguo de propósito como técnica de negociação emmatérias de grande importância para as partes (um quer amarelo, outro azul – a cortina será colorida), emqual língua será redigido o tratado, em qual delas fará fé (v.g., a CIJ poderá ou deverá emitir pareceresconsultivos). Normalmente é escrito nas línguas das partes, mas nada impede que as partes elejam umalíngua só. Porém, todas as versões fazem fé e ninguém pode ser punido porque seguiu sua versão. Querdizer, os plenipotenciários dedicam horas somente para resolver essas questões de entendimento.As normas de DI são ao mesmo tempo inclusivas e exclusivas: incluir o máximo de vantagem para cadaEstado, excluindo ao máximo o que lhe for desvantajoso. Enfim, é uma guerra. É por isso que vão existirtécnicas de negociação que ajudam no jogo de forças da negociação entre Estados, onde há, em geral,desequilíbrio de poder (EUA não vão negociar de forma igual com a Alemanha e com Burkina Faso).Todo o jogo de forças vai estar presente na negociação, existindo meios e técnicas que vão ajudar, daí aimportância em estudar e aprender técnicas sérias, que levem em conta o cálculo racional – o ganho danegociação tem que ser maior do que a alternativa à negociação que a parte possui. Em geral, inicia-se,quebra o gelo, introduz a questão, negocia as partes mais fáceis e depois as mais difíceis, que em geral seresolvem quando já estão todos cansados e querem logo terminar, ou por lista de chamada que excluiquem chegou por último, em hora e local que ninguém pode ou quer ir (movimento estudantil) etc..OConselheiro Roberto de Azevedo, negociador do Brasil na OMC, conta casos interessantes: na últimahora, no aeroporto etc..Imagine uma negociação de tratado multilateral. Quais as formas para negociar a votação para adoção dotexto? Num extremo, por maioria simples ou maioria absoluta e consenso no outro. Se for decidido peloconsenso, a vantagem do consenso é que sua chance de ser efetivo e legítimo é maior, reduzindo tambéma desigualdade dos Estados. Se for por maioria simples, é menos efetivo, mas mais fácil de chegar. Entreesses extremos temos a técnica da package deal ou negociação em blocos, muito usada nas rodadas daOMC. Discute-se primeiro a pauta, cuja ordem já é uma guerra negocial em si e uma estratégia. Negociaaté cansar o 1º pacote (tudo sobre têxteis), passa para o outro (tudo sobre serviços) e assim por diante...EUA e EU sempre jogam matéria agrícola para o final ara nunca terem que negociar sobre isso. AConvenção por Responsabilidade dos Estados por Atos Ilícitos está sendo negociada desde 1960 e atéhoje não terminou, chegando-se apenas ao anteprojeto do tratado.As diferenças culturais são de extrema importância e podem determinar situação de completo sucesso oude completo fracasso. Ex: japoneses antes querem conhecer a outra parte e criar a confiança, sendo apresença de advogado inclusive ofensiva para eles. O advogado é considerado profissão secundária,porque é inconcebível para eles causar um prejuízo e não arcar com ele; precisar de advogado no civil éalgo desonroso porque indica que a pessoa não foi capaz de resolver a questão por conta própria. Osárabes nunca mostram a sola do pé, nem todo árabe é islâmico e nem todo muçulmano é árabe, há sunitas,

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chiitas, os drusos acreditam em reencarnação, o árabe falado não é a mesma língua. Quibe-cru e grão-de-bico não é comida árabe mas libanesa, árabe é couscous, etc..

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Aula do dia 24/02/2005

Tratados – continuação

Após a negociação, passa-se para a fase da redação, com esta forma: o preâmbulo, que tem valor jurídico,mas não é obrigatório/vinculante, vai apenas funcionar no auxílio à interpretação dos artigos, enumera aspartes, os motivos e as razões que levaram as partes a assinar aquele tratado (considerando que isso, queaquilo, etc., resolvem: artigo 1...); o dispositivo ou parte operacional é onde se encontra o corpo dotratado, com artigos e seu conteúdo normativo e também as cláusulas finais, disposições que visam aproduzir efeitos para que o tratado entre em vigor, da assinatura ao momento em que vai entrar em vigor(ex. de cláusula final: esse tratado entra em vigor com a 30a assinatura; o tratado só será adotado quandohouver número X de navios); os anexos, cuja juridicidade vai ser obrigatória dependendo do assunto (ex.:tratado sobre animais marinhos com anexo protegendo as focas do Estreito de Ihering – esse anexo éobrigatório; anexo com reservas, que são obrigatórias para o Estado que as acatou). Mas nem todo tratadotem obrigatoriamente essas três partes, porque como é acordo entre as partes, essas podem dispor dequalquer forma.Após a redação é preciso aprovar o texto com votação e parte-se para a adoção do texto. (a ALCA está emfase de negociação de suas regras). Após votado e aprovado é preciso autenticar o texto com assinatura,que NÃO obriga o Estado, NÃO representa seu consentimento, quer apenas dizer que esse é o texto frutoda negociação e que o Estado tem a mera intenção de se obrigar ao acordo (EUA assinou protocolo deKyoto e Estatuto do TPI, mas não se pode cobrar nada dele por isso de acordo com o DI clássico). Após aassinatura (pode ser feita ad referendum pelos plenipotenciários e depois o Chefe do Executivo assina deverdade), pode-se seguir dois caminhos:1- Em 95% é a ratificação, passando pela troca de notas para, então, entrar em vigor. Essa é a ratificação

com processo solene. A ratificação é o procedimento que obriga o Estado ao disposto no tratado, postoque esse é o momento do consentimento. Em geral, há grande espaço de tempo entre a assinatura e aratificação, a fim de permitir análise da adequação do tratado aos interesses do Estado. Quando há olegislativo, vai para lá para apreciação definitiva e OK do Congresso (no Brasil), para só então ocorrera ratificação do Presidente (arts. 49, I e 84, VII da CR). O Congresso, no Brasil, pode impedir aratificação de tratados gravosos, que tragam ônus para o país. O diplomata plenipotenciárioencaminha o tratado para o Ministro das Relações Exteriores, traduz o mesmo, faz carta para oPresidente e projeto de carta para o Congresso, que o transforma em carta e encaminha para oCongresso, para as diferentes comissões da Câmara envolvidas na matéria do tratado. Vai para aCâmara, é votado. Vai para o Senado, é votado. Presidente ratifica. Vai para publicação no Diário daUnião. É promulgado como lei federal. Obs: Já está incorporado como lei infra-constitucional equalquer violação responsabiliza o Brasil internacionalmente de acordo como monismo com primaziada constituição. A Emenda 45, com § 3º do art. 5º, vai dizer que os tratados de direitos humanos daquipara frente vão ser aprovados apenas com maioria de 3/5 dos votos para tornar-se emenda, vale dizerque o legislador dificultou o processo relativo aos tratados de direitos humanos, quando deveriafacilitar. Decorrem daí duas interpretações: 1– ou ele dificultou ao exigir 3/5 para virar emenda, ou 2-criou sistema duplo, se abaixo de três quintos é lei federal, se acima é emenda constitucional. Há duasADINs nessa emenda 45.

Mesmo quem sabe de antemão que não vai ratificar (EUA participou das negociações do TPI – quemcometesse crime de guerra e tivesse ratificado o tratado do TPI estaria sujeito à jurisdição desse tribunal,é claro que isso não é do interesse dos EUA; hoje mesmo assim pode ser imputado - obrigação nãojurídica, mas sociológica e política; créditos de emissão de Carbono do protocolo de Kyoto tambémpodem ser exigidos dos EUA mesmo se este não ratificou sob pena das empresas americanas perderemmercado em função da pressão das ONGs ambientalistas), participa das negociações para poderinfluenciar nas cláusulas do tratado, para cortar o que é contra seus interesses (restringir competências doTPI, v.g.) e para tornar público que se interessa pelos direitos humanos, por exemplo. Esse processo édemorado, principalmente no Brasil, haja vista que o Brasil até hoje não ratificou a Convenção de Vienade 1969.Após a ratificação há a troca de notas entre os Estados, informando-se, respectivamente, que ratificou eque já se obriga frente ao outro. Quando são muitos os países envolvidos, as partes escolhem um

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depositário para as notas, que vai receber as notas de todos, avisando aos demais, centralizando efacilitando o trabalho da troca de notas. A ONU, segundo seu art. 102, estabelece que pode ser depositáriade qualquer tratado internacional. Ela recebe e publica os tratados. Vai haver uma sanção prevista: quandoo tratado não for depositado na ONU, ele não pode ser apresentado perante a CIJ. Nada impede deescolher o Brasil como depositário e ele encaminhar uma cópia para depósito na ONU. Esseprocedimento da ONU visa a impedir a diplomacia secreta, que contribuiu para a I GM.

Aula do dia 01/03/2005

Tratados – continuação.

Como foi dito na última aula, após a assinatura do tratado este pode percorrer dois caminhos:1- a ratificação com processo solene (95% dos tratados), já vista na última aula e2- a ratificação com processo breve ou simplificado.Nesse processo, breve, tão logo o Estado assine o tratado, este entra em vigor; está expresso em seu textoque ele é breve. Somente nesse caso a assinatura vai representar o consentimento do Estado em se obrigarpelo tratado. É o caso dos tratados humanitários como o para as vítimas da tsunami, que não podemesperar muito tempo sob risco de perda das vidas humanas. No Brasil, somente na possibilidade dotratado não trazer ônus (de recebimento de embaixadores, de convênios) para o país é que se permite oprocesso breve. Então, na prática, no Brasil só tem o processo solene. Os EUA pretendem que os tratadosda ALCA sejam feitos no ritmo fast-track, que o Executivo negocie e ratifique diretamente, evitando ainfluência do Congresso. Mas no Brasil não é possível porque tem que passar pelo Congresso. A solução,para evitar ferir a soberania do país, seria colocar uma reserva dizendo que “para o meu país só vai entrarem vigor depois que for ratificado pelo Congresso.” É claro que nos EUA a forma breve é mais freqüentedevido à divisão de poderes não tão rígida como há no Brasil.

Reservas.Agora, imaginem que todo o tratado segue o processo solene. Imagine que temos os Estados A, B, C, D eE e os termos 1,2,3,4,5 etc. de um tratado entre os mesmos. Se A percebe que art.1 não lhe é interessante,ele pode ratificar o tratado ou não. Mas como isso seria muito radical, ele faz uma reserva excluindo esseitem 1. Reserva é, portanto, uma declaração unilateral que um Estado faz excluindo ou alterando doâmbito de aplicação do tratado um determinado dispositivo em relação a ele, o Estado que fez a reserva.Voltando ao exemplo acima: A faz uma reserva sobre 1. Mas BCDE são obrigados a respeitar a reserva?Não. Pode ter acontecido que, se A ratificou esse tratado porque o item 1 não lhe seria aplicado, CBE, poroutro lado, só assinaram porque o tratado conteria o mesmo item. Se, por exemplo, CD aceitam a reservamas BE não, logo, essa reserva se aplica a A e também CD, mas não a BE. Ou seja, art.1 não se aplica aA, mas se aplica da todos os demais países nos seguintes termos: entre A e CD a reserva se aplica e o art.1 não; entre A e BE a reserva não se aplica e, sobre a matéria do item 1, esses Estados vão negociar entresi os termos (conforme a Convenção de Viena, entre o estado que fez a reserva e os que não fizeram ounão aceitaram, o item objeto da reserva é aplicado de forma não restrita). Agora imaginem essa situaçãopara 100 Estados e 200 artigos, cada Estado fazendo reservas sobre os itens que não lhe convém.Pode ocorrer que os Estados decidam proibir que se façam reservas, mas nesse caso muito poucos Estadosvão ratificar um tratado. Então, a reserva é um princípio da relatividade do DI. Elas existem paraincentivar a adoção dos tratados e indicam porque a primazia do DI sobre o D. Interno não é violação dasoberania de um Estado. Elas são, também, secundárias em relação aos tratados, isto é, se este deixa deexistir, a reserva também (perdem seu efeito), além de não poder contrariar a essência do tratado, sendonulas se isso ocorrer (ex.: caso da Sérvia que sucedeu a Iugoslávia em tratado sobre repressão e combateao crime de genocídio, com reserva não aplicando este ao território da Iugoslávia. A CIJ decidiu que essasreservas contrariam a essência do tratado e que são nulas). Ver arts. 19 a 23 da CV/69. A reserva torna-sepública com envio para depositário como anexo do tratado. Se a reserva incidir sobre a essência dotratado a aceitação dela tem que ocorrer de forma unânime dos Estados.

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Emendas.Alteram o texto dos tratados, conferindo nova redação a parte de seu texto. São usadas quando o tratadojá está em vigor e são válidas para todos os Estados envolvidos. Porém, um Estado pode opor uma reservaa uma emenda de um tratado também.Tratado sem emenda: itens 1,2,3. Assinado entre ABCD.Tratado após emendas: itens 1,5,7. AD aceitam as emendas, mas BC não.Então, entre BC aplico o original, entre AD, o emendado (é como se AD fossem parte de dois tratados, ooriginal e o emendado). Entre AD e BC é aplicado o original. Se Estado E quiser entrar no tratado, eletem de aceitá-lo como ele está agora, isto é, emendado.Aula do dia 03/03/2005

III - Validade dos Tratados

1) Condições de validadeA) Sujeitos capazesB) Vontade livre

a) Irregularidades formais (arts. 46 e 47 CV/69)b) Irregularidade material (substancial)

i) Erro, dolo, corrupção (arts. 48, 49, 50)ii) Coação- Sobre o representante (art. 51)- Sobre o Estado (art. 52) – Teoria das Desigualdades

C) Objeto lícito- Jus Cogens (arts. 53, 64, 66)

2) NulidadesA) Absoluta x Relativa (arts. 45, 51, 52, 53, 65 e 66)

Para um tratado entrar em vigor, tem que atender a três critérios básicos: sujeitos capazes, vontade livre eobjeto lícito.

Sujeitos capazes.Os sujeitos que têm capacidade para celebrar tratados são os Estados e as Organizações Internacionais.As OIs têm capacidade limitada: só vão poder assinar tratados que digam respeito à sua finalidade, à suaárea de atuação (ex.: Fifa sobre futebol e jamais sobre armas nucleares). As OIs são criadas para atuarnuma área específica e se ela assina um tratado em outra área ele é nulo.

Vontade livre.Não podem haver riscos do consentimento: irregularidades formais e materiais.Irregularidades formais são aquelas relacionadas às formas, ritos, requisitos técnicos e procedimentais dotratado (ex.: erro de redação, carta de plenos poderes não emitida corretamente).Irregularidades materiais são aquelas relacionadas ao conteúdo normativo do tratado.Porém, somente os erros materiais substanciais (significativos, importantes, relevantes) é que vão poderensejar a nulidade de um tratado, posto que é preciso preservar ao máximo o tratado, que é tão difícil deser negociado (é como se fosse em d. processual com o “pas des nullités sans grief”).Breve crítica ao sistema Positivista...Erro. Somente erro de fato anula um tratado. É aquele em que eu supunha existir uma determinadasituação ou condição, que de fato não vem a se realizar. Ex.: Há região fronteiriça do Brasil denominada“cabeça do cachorro”. O Brasil alega não ter nenhum conflito territorial desde o Barão do Rio Branco.Mas Bolívia, Paraguai e Venezuela reclamam pedaço do Brasil. O caso da Venezuela envolve a cabeça docachorro. Brasil e Venezuela assinaram tratado sobre suas fronteiras. Recentemente, porém, as técnicas deGPS e os satélites demonstraram que na verdade a fronteira (divisor de águas) entra 11 Km no territóriodo Brasil. Mas o Brasil ignora isso. A Venezuela argumenta que houve um erro de fato. Isso é comum:também aconteceu entre Canadá e EUA, tendo ambos anulado o tratado e foi feita nova divisão.

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Dolo. Ocorre quando uma parte quer intencionalmente lesar a outra.Corrupção é a situação em que se oferece vantagem material para que uma parte adote uma postura quede outra forma não adotaria. Tem caráter ilícito, é um pagamento indevido. Pode ser qualquer ganhomaterial: mulheres!!!, carro, viagens, dinheiro, etc..Ex.: Projeto SIVAM.Esses três casos, erro, dolo e corrupção, são bem raros.Coação. Pode ocorrer tanto sobre o Estado ou sobre a pessoa física que está negociando o tratado.Existem formas veladas de coação; então a URSS, na época da guerra fria, propôs a teoria dasdesigualdades para evitar a coação velada: sempre que houver um tratado com uma desigualdade(assimetria) muito grande entre as prestações das partes, esse tratado vai ser nulo. Só que os paísesdesenvolvidos ficaram com medo de que sempre que os países subdesenvolvidos tivessem prejuízo, elesalegassem essa teoria para não cumprir o tratado. Portanto, a teoria das desigualdades não foi incorporadana CV/69. Mas esse argumento jurídico surge às vezes (no direito interno existe no CDC, no contrato deadesão, teoria da lesão, no direito do trabalho).Objeto lícito. No DI, objeto ilícito é algo difícil de definir. Por isso, a CV/69 traz algo absolutamenteinovador e revolucionário nos seus arts. 53 e 54 - Jus Cogens ou direito cogente, imperativo: é nulo todoo tratado que for contrário a uma norma jus cogens. E mais, uma norma de jus cogens só pode serrevogada por outra norma de jus cogens. Então, conclui-se que no DI não há hierarquia de normas, excetoas normas jus cogens, que são superiores às demais. Esses dispositivos além de quebrar o princípio da nãohierarquia, também quebram a regra do consentimento > porque mesmo que um Estado queira fazer umtratado que viole jus cogens, este é nulo.Afinal, o que é uma norma jus cogens? Não dá para dizer. A CV/69 preferiu, optou por não enumerar oque seriam normas jus cogens, porque se tinha medo que se não enumerasse os países de terceiro mundofossem alegar que pressões econômicas eram normas jus cogens (esse medo decorre da época dadescolonização do mundo – final década de 60). Prevaleceu a idéia de que não deveria ser elencado. Mas,segundo o art. 53, norma jus cogens é aquela norma que é reconhecida pela comunidade internacional deEstados como um todo, como sendo uma norma de jus cogens. Para entender melhor: a norma jus cogensé aquela norma cuja violação cai gerar um sentimento de repúdio na comunidade internacional como umtodo (independentemente do contexto social ou cultural, ex.: tráfico de pessoas, prostituição infantil,tráfico de drogas, terrorismo, proteção internacional do meio ambiente, trabalho infantil, escravidão,tortura, genocídio > vai sendo consagrado pela jurisprudência dos tribunais). Cabe lembrar que norma juscogens não se confunde com direitos humanos (ir e vir, liberdade de expressão etc.) – podem sersuspensos em caso de conflito armado (proibição da tortura é d. humanos e jus cogens; prisão dedepositário infiel é d. humanos mas não é jus cogens). Também não se confunde com Direito Humanitário– cuida da proteção de civis e não combatentes em caso de conflito armado, só opera nesses conflitos –embora a maioria das normas de DH seja jus cogens também (proibição de genocídio, crimes de guerra,limpeza étnica são DH e tb. jus cogens).

Nulidades.Qual a diferença entre nulidade absoluta e relativa? A relativa admite correção*, remediação do atojurídico. Na absoluta é como se o ato nem sequer tivesse existido, cancelando-se totalmente seus efeitos.Em geral, pela dificuldade da negociação dos tratados, prevalece a nulidade relativa. A absoluta ocorresomente em dois casos: a) se o tratado fere norma de jus cogens; b) em casos de coação, quando sequerhouve o exercício livre do consentimento da parte.*A nulidade relativa em um tratado opera seus efeitos ex tunc, ou ab initio (no direito interno é ex nunc),desde o começo; mas ao atos praticados de boa-fé antes de descobrir, por exemplo, um erro permanecem(ex.: mudança de fronteira > os nacionais antes de um Estado passam também a ser do outro como se otivessem sido desde sempre).Obs. 1: Imaginem que existe uma norma jus cogens. Passa um tempo. É assinado um tratado quecontraria essa norma. Ele não produzirá efeitos, será nulo desde seu início porque já existia a norma juscogens que ele contrariou.Obs. 2: Imaginem que existe uma norma jus cogens. Imaginem que foi assinado um tratado respeitandoessa norma. Passa um tempo. Surge nova norma jus cogens, chamada de norma jus cogens superveniente.O tratado contraria essa norma superveniente e passa, então, a não produzir efeitos. Mas seus efeitos

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anteriores à norma superveniente permanecem válidos, porque naquela época ele respeitava o disposto nanorma jus cogens antiga.

Aula do dia 08/03/2005

IV - Aplicação dos Tratados

A) Princípios1) Boa-fé (art. 26)2) Não retroatividade3) Execução territorial (art. 29)

a) Exceções: aplicação localizada,cláusula colonial

4) Responsabilidade pela inexecuçãoa) art. 27, OI’s, EUb) garantias à execução:

i) Inter-estatais:- Penhora- Garantia de uma ou mais potências- Ad hoc

ii) OI’s

V – Ordem Interna e Execução

A) Autoridades Públicas ResponsáveisB) Introdução na Ordem Interna

- Obrigação de resultadoC) Medidas Internas de Execução

a) Exigência de adaptação nacionalb) Casos

- Castillo Petruzzi- Barrios Altos- A última tentação de Cristo

c) Tratados que interessam aos indivíduos

Uma vez atendidos os critérios de validade, os tratados vão produzir efeitos. A preocupação agora é com aquestão da aplicação dos tratados.A aplicação segue alguns princípios básicos como o da boa-fé e o da pacta sunt servanda – art.26. Oterceiro princípio seria do da não retroatividade, idéia de que quando um tratado é assinado ele não podeproduzir efeitos daqui para trás (não tem cabimento fazer, hoje, um tratado que proíbe crimes de guerrano Iraque).Os efeitos dos tratados em geral se aplicam a todo o território do Estado que o ratificou (art. 29),excetuando aqueles que visam a, especificamente, determinadas porções do território, tendo, portanto,aplicação localizada (ex.: dentro dessa parte do território só se aplicam taxa X; Ouro Preto, de acordo comtratado com a Unesco, é patrimônio da humanidade; preservação de determinada tribo indígena;preservação da Mata do Jambreiro). Imaginem que o Brasil ainda fosse colônia de Portugal. Imaginemque Portugal assinou um tratado com a Inglaterra, conferindo a esta condições de comércio maisvantajosas. Esse tratado seria aplicado aos dois países. Sendo a colônia uma extensão de seu território,para evitar que os tratados sejam aplicados em suas colônias, os Estados se utilizam da cláusula colonial(com o Pacto Colonial entre Portugal e o Brasil, Pt ganhava na intermediação, já que a colônia só poderiavender para Pt).Responsabilidade pela inexecução. A Convenção Internacional sobre Responsabilidade dos Estados porInexecução dos Atos Internacionais vem sendo negociada desde 1950 e ainda não passa de projeto. Mas

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no DI a responsabilidade é bem diferente do direito interno. A questão da responsabilidade no DI ésimples: basta não cumprir para violar e, portanto, gerar responsabilidade imediata para a parte (nãoimporta motivo, causalidade). A CV/69, no art. 27 diz que “o Estado não pode alegar dispositivo dedireito interno para não cumprir com um tratado, observado o disposto no art. 46”, consagrando omonismo com primazia do DI sobre o direito interno. No art. 46, § 1: não pode descumprir “a não ser quea norma do tratado que foi descumprida diga respeito a uma norma fundamental do Estado”, sendo quenorma fundamental é aquela ligada à organização do Estado (v.g, que o Estado deixe de ser democrático,ou deixe de ser república, deixe de ser de direito, deixe de ser presidencialista > nem toda cláusula pétreaé norma fundamental de DI). Então, se um tratado viola uma norma fundamental de um Estado, este podese abster de cumpri-lo no que tange esse dispositivo violador da norma fundamental; não anula o tratado;o Estado pode se retirar do tratado, respeitadas as condições para isso. Se a norma for só constitucional(não fundamental), ex.: Estatuto do TPI prevê pena de morte, de prisão perpétua, impossibilidade deliberdade provisória, o Brasil não pode se abster de aplicar essas cláusulas específicas, isto é, terá aobrigação de aplicar prisão perpétua.Na União Européia, o direito comunitário tem dois princípios básicos: a aplicabilidade imediata e aexigibilidade imediata. Ex.: caso do licor de cassis francês exportado para a Alemanha. De acordo com odireito comunitário, esses produtos têm livre circulação, não podendo haver sobretaxa. Mas a Alemanhafalou que não era licor devido ao teor alcoólico, mas um tipo de cachaça e que tem sobretaxa. Osfranceses entraram no tribunal europeu e ganharam, posto que o tribunal disse que a partir do momentoque tem essa norma de direito comunitário protegendo os licores, ela tem aplicabilidade e exigibilidadeimediatas, bem como tem primazia sobre o direito alemão e revoga todas as disposições contrárias. Porisso, o que é feito como licor num país, tem que ser considerado licor em outro. Outro exemplocomplicado é o que é chocolate na Europa, grapa, hora de servir queijo no Eurostar, etc..

Um Estado pode colocar garantias à execução de um tratado. Uma delas é a penhora de bens e a outra agarantia por uma ou mais potências. Ex. de penhora: na I guerra do Iraque a UE proibiu países europeusde comerciais com Iraque. Em contrapartida, o BC Iraquiano suspendeu todas as obrigações com aEuropa e os EUA. Então, todos os bens do BC iraquiano na Europa e navios petroleiros ancorados emmar territorial europeu ou americano foram penhorados para quitar obrigações do Iraque. Ex.: PresidenteArgentino foi visitar a Holanda e o avião daquele foi penhorado para quitar dívidas com a Holanda e oPresidente teve que retornar em avião de carreira.A garantia por uma ou mais potência ocorre quando um Estado mais forte banca a garantia, funcionandocomo seguradora. Ex.: precisa-se de obra no Iraque, mas a construtora Andrade Gutierrez não quer irporque não tem garantia nenhuma e seguros são impraticáveis. EUA banca qualquer garantia para essaempresa se houver prejuízo. A potência também pode dizer que vai retaliar de alguma forma se outroEstado não cumprir um tratado.Outras formas de garantias, as ad hoc, ex.: nos tratados sobre arbitragens de petróleo entre Irã e EUA,quando Irã nacionalizou as empresas de petróleo americanas, que para que começassem as demandasEUA e Irã depositaram quantias e, na medida em que iam sendo condenados, eles iam tirando daqueladeterminada quantia. Na verdade, as partes podem criar qualquer forma de garantia à execução quedesejarem, já que o tratado é um acordo de vontade. As OI’s também podem colocar mecanismos própriosde sanção e garantia à execução como suspender direito de voto, suspender ajuda econômica, FMI pára deemprestar dinheiro.

Quem são as autoridades que podem violar um tratado? Qualquer agente público, qualquer pessoa agindoem nome do Estado, no exercício de suas funções, de qualquer grau hierárquico e de qualquer poder, podeviolar tratado e gerar responsabilidade internacional do país.

Introdução na ordem interna. Se qualquer agente público pode gerar responsabilidade, logo, há obrigaçãopor parte do Estado em introduzi-lo no direito interno, tomando todas as medidas necessárias para que otratado produza seus efeitos (qq. medida, seja legislativa, seja de política pública, etc.) (semelhante à“boa-fé objetiva” do D. Civil). A obrigação do Estado em aplicar o tratado na sua ordem interna é umaobrigação de resultado, sendo que os tratados são auto-executáveis: a partir do momento da ratificação, otratado é exigível na ordem interna. Ex.: se um indivíduo quiser, ele pode exigir seu cumprimento

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imediatamente, provocando o judiciário. Se o juiz não o aplicar (o que é comum, porque costumamaplicar somente o que é lei interna), sua sentença vai gerar responsabilidade internacional para o Estadopelo descumprimento do tratado.

Casos exemplificativos perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Caso Castillo Petruzzi. Um peruano entra na Bolívia e é acusado de crime de terrorismo, que terialigações com o Sendero Luminoso. Pela lei anti-terrorismo, lei essa constitucional na Bolívia, CastilloPetruzzi foi preso e foi para um tribunal militar, em que não sabia do que estava sendo acusado, estavaincomunicável, não podia escolher seu advogado, e o advogado não sabia quais meios de provas seriamaceitos. A família tentou levar à jurisdição comum e não conseguiu. Levou, então, à Corte Interamericanade Direitos Humanos. Esta falou que o devido processo legal é um direito fundamental da pessoa humanae que, não podendo dizer se Castillo era ou não responsável por algum crime, poderia, entretanto, dizerque ele deve ser julgado em um tribunal que admita o duplo grau de jurisdição e o devido processo legal.Daí, a Bolívia foi condenada a retirar de seu ordenamento a lei anti-terrorismo e a rejulgar todas aspessoas que foram condenadas, com trânsito em julgado, com base nesta lei.

Caso Barrios Altos (“favela”). Em La Paz, uns moradores fizeram uma festa para reformar um prédioonde viviam. Vieram carros de polícia, desceram homens encapuzados e mataram ou lesionaramgravemente as pessoas, em mais de 3 minutos de tiros. Houve comoção nacional e, com ajuda da IgrejaCatólica, os sobreviventes pediram ao Congresso Nacional para investigar o crime e apurar os culpados.Chegaram a conclusão de que foi parte da inteligência da polícia que tinham cometido o crime. Nesseintervalo, há revolução na Bolívia, o Congresso é fechado e é suspensa toda a negociação. Passa tempo,reabre-se o Congresso, com a pressão dos familiares chega-se ao nome dos culpados, e o caso vai para oSupremo Tribunal de lá. O tribunal argumenta que nada pode fazer porque a nova constituição foipromulgada com lei de anistia que anistia todos os crime políticos, da polícia ou das forças armadas. Aspessoas recorreram na Corte Interamericana, que disse: a mera existência de uma lei que é contrária aotratado já gera a responsabilidade internacional, não sendo necessário que seja aplicada. E, mais uma vez,a Bolívia foi condenada a modificar sua constituição e retirar a lei da anistia, a dar indenização às vítimase a prender e divulgar o nome dos culpados durante 6 meses, sob pena de embargos econômicos aoEstado.

Caso A Última Tentação de Cristo. No Chile o filme foi proibido de passar, porque insinua que Cristoteria tido relações sexuais com Maria Madalena, pela lei de censura, sob o argumento de que ia contra aliberdade de religião das pessoas. Uma líder estudantil do curso de Direito juntou-se com osrepresentantes do filme e entraram com processo na justiça chilena para permitir a exibição do filme. Otribunal disse que, devido à lei de censura, nada poderia fazer. Levaram, então, o caso à CorteInteramericana, que disse: o direito à liberdade de expressão e de formação de opinião é direito humanogarantido e, logo, tenho competência para julgar. Julgou e condenou: a mera existência da lei é violaçãoao tratado assim como a decisão do supremo. Logo, o Chile pode impor restrições de horário, mas nãopode proibir a exibição do filme. O Chile foi condenado e estabeleceu horários de exibição, o que foiverificado por emissários da Corte.

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Aula do dia 10/03/2005

VI – Efeitos em Relação a Terceiros

A) Relatividade dos tratados – pacta sunt servanda (art. 2 (1))A) Consequências

1) Nada de obrigações a terceiros2) Nada de direitos a terceiros

B) Exceções1) Com o consentimento do terceiro

a) Tratados que criam obrigações (arts. 34, 35, 37 (1), 74)b) Tratados que criam direitos – cláusula da nação mais favorecida

2) Sem consentimentoa) Criação de situação objetivab) Criação de entidadesc) Normas com vocação universal

VII – Aplicação dos Tratados e Conflitos de Normas

1) Solução do problema de compatibilidadea) Mecanismos preventivosb) Declaração (art. 30 (2))c) No caso de silêncio entre as partes

i) Tratados sucessivos com identidade de partes (art. 30 (3), lex posterior)ii) Tratados sucessivos sem identidade de partes

- Tratado compatível (art. 41 (1))Estados partes nos dois tratadosRelação com outros (art. 30 (4b))

- Tratados não compatíveisd) Exceções

1) Jus Cogens (art.53)2) Tratados que criam situação objetiva

Em vista do que já foi visto, um tratado pode produzir efeitos para terceiros? Não, via de regra. Por issoque o DI é difuso, descentralizado. Tem a ver com a relatividade dos contratos e a pacta sunt servanda doart.2 (1) da CV/69. Mas existe alguma hipótese em que sejam produzidos efeitos para terceiros? Sim,somente se o terceiro consentir em algum ponto do tratado. Logo, em geral, nada de obrigações oudireitos jurídicos para terceiros.Porém existem casos em que um tratado vai produzir efeitos para terceiro, seja com seu consentimento oumesmo sem o seu consentimento. Os casos em que ocorrem efeitos a terceiro mesmo sem o seuconsentimento estão relacionados a: criação de situação objetiva, criação de entidades e existência denormas com vocação universal. A criação de situação objetiva (de fato) ocorre quando, por exemplo, umnacional de um Estado transita sobre fronteiras já acordadas entre dois outros Estados, logo tem querespeitar, para qualquer atividade sua, essas fronteiras definidas no tratado. A criação de entidade (OI)pelos Estados, o que é um tipo de situação objetiva, quando esta OI tem capacidade internacional, o quetraz efeitos jurídicos para todas os Estados. É o caso da ONU, que atua junto a Estados que não são partedela. Os tratados que criam norma com vocação universal vão refletir o costume universal aceito sobredeterminado assunto. É o caso da Declaração Universal dos Direitos do Homem que, apesar de serresolução da Asembléia Geral da ONU e não ser obrigatória, tem característica que a torna obrigatória atodos os Estados que é dispor sobre questão de direitos humanos internacionalmente aceita, ou seja,reflete norma de jus cogens. É o caso do estudo da CV/69. Mesmo o Brasil não tendo ratificado, como elatraz normas de vocação universal sobre tratados, o Brasil tem que seguir.

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Aplicação dos tratados e conflito de normas.Os mecanismos preventivos e a declaração são formas expressas de solução do problema decompatibilidade entre tratados. Imaginem um tratado T1 sobre certo assunto e, depois de certo tempo,outro tratado T2 sobre o mesmo assunto. As partes podem criar mecanismos expressos em um ou outrotratado que vão resolver o problema. Ex.: “o T2 revoga T1 exceto nos itens x, y e z”. A Carta da ONU dizque “nenhum tratado pode ir contra o disposto na Carta da ONU” > outra forma de hierarquia além do juscogens. Mas pode ser que as partes só disponham no tratado posterior por meio da declaração, quando omecanismo não é mais preventivo pois já existe o problema; Ex.: “revogam-se as disposições emcontrário”, “revoga-se o tratado tal no que não for compatível com este instrumento”, “revoga-se o tratadotal no que não for compatível com este instrumento”. A Lex Mercatoria tem caráter de soft law: não éobrigatória, mas todo mundo que faz comércio internacional a respeita.A situação é um pouco mais complicada quando as partes não prevêem como vão lidar em caso deconflito de normas. Imaginem T1 e depois T2: qual prevalece? Depende. Para que haja conflito denormas, é preciso que haja a identidade das partes (as mesmas em tratados diferentes sobre mesmamatéria), das matérias e o mesmo grau de generalidade (animais marinhos; focas do Estreito de Ihering).No caso de mesmas partes e matéria e grau de generalidade, a lei posterior derroga a anterior, T2 ficavalendo, portanto.Porém, se ocorre o ex.: T1 tem partes ABCD; T2, ABEF, isto é, apenas as partes são diferentesparcialmente, sendo os tratados compatíveis, qual tratado será aplicado entre as partes? Depende. Entre Ce D – T1, E e F – T2, A e B –T2, AB e EF – T2, AB e CD – T1.Em caso de tratados incompatíveis, isto é, a execução de T1 inviabiliza da de T2 (T1 diz sim e T2 diznão), como fazer? Entre C e D – T1, E e F – T2, A e B – T1, AB e EF – nenhum (A e B não poderiam teraceitado T2, que é incompatível com T1; T2 não é válido para A e B), AB e CD – T1. Ex.: A faz tratadocom B dizendo que não vai exportar armas para ninguém. Porém, depois, A faz tratado com F, exportandoarmas para F. Logo, é incompatível para A o tratado que fez com F. A, nesse caso, deveria primeiro ter seretirado do primeiro tratado.Há duas exceções a esse princípio: a) jus cogens > é nulo qualquer tratado contrário a norma jus cogen,não há sequer conflito; 2) tratados que criam situação objetiva > se existe tratado que criou a ONU, nãopode ser feito outro tratado dizendo que a ONU não existe, porque a existência é uma situação de fato.

Aula do dia 22/03/2005

Tratados – complementação da aula do dia 10/03 “Efeito dos tratados em relação a terceiros”

3 – Cláusula da Nação Mais Favorecida (CNMF)

Todo o princípio da OMC está fundamentado na idéia da cláusula da nação mais favorecida.Vamos supor que A pratica uma taxa de comércio em relação aos outros países de 80%. Porém, A decidefazer um tratado com o país B, aplicando ao mesmo uma taxa de comércio de 50%; neste caso B tem umavantagem em relação aos demais países no comércio com A. Depois, A assina com C um tratado cobrandouma taxa de importação de 30%; neste caso B perdeu sua vantagem relativa anterior em relação aosdemais países.É aqui que entra a questão da CNMF. No caso acima, B, ao fazer um tratado com A, estipulando uma taxade 50%, deve colocar uma CNMF, dizendo o seguinte: “se o Estado A assinar com qualquer outro Estadoum tratado, a respeito da mesma matéria do tratado com B, que aplique taxa mais vantajosa àquele do quepara o Estado B, essas vantagens serão transpostas para o tratado com B”.Ex.: O Estado A tem um tratado com o Estado B, que tem a cláusula da nação mais favorecida. Estetratado prevê taxa de comércio de água de 50%. Depois, A resolve assinar um tratado com C sobre amesma matéria e vai cobrar uma taxa de 30%. Pergunta: Qual taxa será aplicada entre A -B? 30%, pois amelhor condição, a mais favorecida ou vantajosa, que é do Estado C, será transposta para o tratado entreA e B. Então, sempre que uma parte assinar um tratado com um 3º, e este for mais vantajoso do que otratado original, esta vantagem vai ser transposta para o tratado original, desde que neste haja a CNMF.

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O que é a OMC? Na verdade a OMC nada mais é do que uma grande CNMF, pois a OMC foi criada parapromover o livre comércio. Para que isso ocorra é necessário o incentivo e este se faz através da reduçãodessas taxas de importação. Assim, sempre que houver um tratado com uma taxa mais vantajosa, estavantagem vai se estendendo aos demais Estados e, com isso, vai reduzindo as taxas deimportação/exportação e liberalizando o comércio. Porém, isso só pode ocorrer se no tratado houver aCNMF.

Muitas vezes o resultado da CNMF não é interessante para os Estados. Ex.: O Estado A é obrigado aaplicar a taxa de 10% com B, mas A não quer pois uma calça, por exemplo, produzida em A sai mais carodo que a produzida em B e A não consegue concorrer com B. Entretanto, A não pode cobrar uma taxamaior. Então, os Estados começam a atual dificultando a importação da seguinte maneira:- Barreiras não tarifárias > como não posso aumentar a taxa tarifária, começa-se a criar uma série de

regras que vão tornar esse comércio difícil, alegando, por exemplo, questões sanitárias (ex.: que acarne brasileira tem o mal da vaca louca), conferindo subsídios, isenções, empréstimos do governopara as empresas (ex.: caso Embraer/empresa canadense). Assim, torna-se mais difícil a exportaçãodaquele Estado, embora essa prática seja proibida pela OMC.

A CNMF tem mais uma exceção, que é quando se trata de um bloco de integração econômica, como aUnião Européia, onde o comércio de um mesmo produto entre os países não sofre taxação. Logo, não seaplica a CNMF em blocos de integração econômica, quer dizer, o fato de não haver taxação entre ospaíses do bloco não implica que essa ausência se aplica aos demais países membros da OMC.

Aula do dia 17/03/2005 (fim dos Tratados!!!)

VIII – Modificação dos Tratados

A) Modificação por Acordo Expresso (art. 39)“Um tratado pode ser emendado por acordo entre as partes.”

B) Modificação por outras vias1) Via costumeira ou acordo tácito2) Superveniência de Jus Cogens

C) Aspectos1) Processo aberto a todas as partes (art. 40(2))2) Efeitos

i) Relatividade para o Estados partes(semelhante à superveniência de normas com identidade de partes - art. 30 (4b))

ii) Obrigatoriedade para novos membros

IX – Extinção (art. 70) e Suspensão (art. 72)

A) DistinçãoB) Extinção (art. 54) e suspensão (art. 57)

1) Por vontade inicial das partesi) cláusulas expressas

- cláusula resolutória- cláusula de denúncia (art. 55)- cláusula suspensiva (art. 57 (a))

ii) cláusulas implícitasa) extinção por execução dos tratadosb) denúncia sem autorização (art. 56)

2) Por vontade posteriori) Conclusão de tratado posterior (art. 54 (b))ii) Suspensão convencional (art. 57 (b), 58, 59 (a))

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3) Por causas não previstasi) Ligadas ao comportamento das partes

a) Inexecução faltosa – violação substancial (art. 60)- tratados bilaterais: põe fim ou suspende (art. 65 e §§)- tratados multilaterais:

ação individual: suspendeação coletiva: suspende total ou parcialmente

b) Execuções:Direitos humanosRegras para casos de violação

c) Conflitos armados internacionais (art. 73)- tratados bilaterais cessam- tratados multilaterais: suspende em relação aos beligerantes- tratados de situação objetiva: permanecem- tratados para condução das hostilidades: permanecemd) Costume

ii) Independente do comportamento das partesa) Inexecução não faltosab) Alteração fundamental de circunstância- alteração grave- constatação de alteração- extinçãoc) Jus Cogens

A via usual já estudada para modificação dos tratados são as emendas, por acordo entre as partes.Há outras vias de modificação como a via costumeira ou acordo tácito (caso das milhas entre Estados A eB: o costume em uso de XX milhas, revoga tratado relativo ao uso de X). É o caso também do art. 27 daCarta da ONU: “as votações do Conselho de Segurança vão excluir da votação os Estados envolvidos naquestão” > o costume internacional do CS tornou esse dispositivo letra morta (EUA na guerra do Iraquevotou).Tratados que contrariam normas jus cogens são absolutamente nulos naquilo em que contraria essanorma.Qualquer parte de um tratado pode apresentar propostas de modificação. Efeitos: relatividade dos Estadospartes, semelhante à superveniência de normas com identidade de partes vista na aula passada.Os novos membros de um tratado têm que aceitar as emendas já feitas, como são obrigados a aceitartodos os tratados para trás em relação às partes dos tratados até o tratado original. EX.: O tratado da UEpassa por revisão a cada 5 anos; o mesmo para o Tratado de Maastricht, que já teve inúmeras revisões.Na suspensão os efeitos dos tratados deixam de se produzir temporariamente. Já na extinção os efeitosdeixam de ocorrer definitivamente. A extinção e a suspensão podem ocorrer por vontade inicial daspartes, por meio de cláusulas expressas, ou por vontade posterior, ou por causas não previstas pelaspartes.Por vontade inicial das partes. Em caso de cláusula resolutória, o termo vai por fim ao tratado (ex.: otratado da comunidade européia do carvão e do aço é válido por 50 anos, após o que se extingue; o tratadoda Inglaterra com a China previa que Hong Kong ia ficar sob jurisdição daquela por 99 anos, sendo entãodevolvida à China; tratado de ajuda humanitária até que se obtenha determinada infra-estrutura).A cláusula de denúncia regula a saída ou desligamento do Estado do tratado, o que ele deve cumprir parapoder se desligar.A cláusula suspensiva determina a suspensão parcial do tratado. Regula uma condição para produção dosefeitos, efeito com base no advento de uma condição.Na extinção por execução, assim que o objeto do tratado for executado, o tratado se extingue.Na denúncia sem autorização, o Estado se retira do tratado sem que haja cláusula expressa, desde que nãohaja obrigação pendente, avisem com 12 meses de antecedência, etc., conforme exigências da CV/69.

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Pode ocorrer que, depois que um tratado já está em vigor, surjam alguns motivos que levem as partes aquerer modificar um tratado. É o caso da conclusão de tratado posterior: Liga das Nações foi abandonadapela ONU. Juizes da Corte Permanente foram os da CIJ.Na suspensão convencional, todos resolvem suspender ou extinguir o tratado.Podem ocorrer também causas não previstas, ligadas ou não ao comportamento das partes. No caso deligação com o comportamento das partes temos alguns casos. Na inexecução faltosa de uma parte, a outranão paga, ou pactua com outra ou paga somente após executado pela parte, ou seja, enseja suspensão, ouextinção do tratado. Já nos casos de tratados multilaterais: a parte lesada suspende o tratado em relação aquem a lesou – ação individual; ou todos total ou parcialmente suspendem o tratado com o faltoso – açãocoletiva.Agora, existem duas exceções. Os tratados de direitos humanos que sofrem inexecução faltosa(descumprimento) não sofrem suspensão. As cláusulas penais (regras para casos de violação) são feitasexatamente para o não cumprimento do tratado, então não serão suspensas em caso de inexecução faltosa.A CV/69 não regulamenta direito dos tratados em caso de guerra. Mas funciona assim: em caso de guerraentre dois Estados, os tratados bilaterais dos beligerantes cessam seus efeitos. Nos tratados multilaterais,se A e B estão em guerra, os efeitos se suspendem em relação a A e B, mas não aos demais. Os tratadosque criam situação objetiva (de fato, como as fronteiras), vão permanecer. E os tratados que são feitospara a condução das hostilidades também vão permanecer, já que foram feitos para tratar do conflito.Outra situação que independe da vontade das parte é pelo surgimento de um costume.Nos casos de inexecução não faltosa, que ocorre quando o Estado até quer cumprir, mas não pode ou nãoconsegue. É comum quando o objeto do tratado desaparece (ex.: quando é feito um tratado paraexploração de ilha que foi engolida pelo mar > não dá para cumprir porque a ilha desapareceu de formasuperior à vontade da parte). Mas se o desaparecimento for temporário, o tratado volta a ser executável.Pode ocorrer também uma alteração fundamental de circunstância (art. 62, CV/69) (como ocorreu na crisede 1.929, quando surgiu o FMI): as circunstâncias nas quais foi aceito o tratado não existem mais,tornando o tratado praticamente inexecutável > pode, então, ser suspenso (mudança temporária) ouextinto (mudança definitiva). A situação mais comum é a da cláusula rebus sic stantibus. Hoje, admite-seque essa cláusula é implícita, até porque, para que se alegue alteração fundamental de circunstância, umdos requisitos é que essa mudança tem que ser imprevisível ao tempo da conclusão do tratado, além deestar relacionada à motivação do tratado. Essa alteração tem que ser grave e ter fácil constatação. Osjuizes de d. interno e tb. internacional têm receio em aplicar cláusula de alteração fundamental decircunstância. Obs.: se a parte deu causa à mudança fundamental de circunstância, não pode alegar rebussic stantibus > isso é jurisprudência internacional (“ligado ao princípio de que ninguém pode alegar aprópria torpeza”).Jus Cogens: tratado contrário deixa de existir.

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Aula do dia 29/03/2005

COSTUME

I – DefiniçãoII- Elementos

A) Materiais1) Comportamentos Geradores

i) Atos de Estadoii) Atos de OI’s

- Internos- Internacionais

iii) Demais Sujeitos2) Repetição no Tempo

i) Uniformidadeii) Constânciaiii) Generalidadeiv) Temporalidade

B) Psicológico1) Opinio Iuris Sive Necessitatis

C) Oponibilidade1) Diante da Obrigação do Estado2) Novos Estados3) Criados por Outros Sujeitos

D) Prova do Costume1) Ônus2) Meio de Prova

E) Tendência à CodificaçãoF) Aplicação do Costume

1) Relação entre Costumes2) Relação com Demais Normas3) Aplicação nos Tribunais Internos

OUTRAS FONTES DE DIREITO INTERNACIONAL

I – DoutrinaII – Princípios Gerais do DireitoIII – EquidadeIV – Atos Unilaterais

A) De Estados1) Autonormativos2) Heteronormativo

B) De OI’s1) Decisões2) Recomendações

V – Jurisprudência

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Costume

É a segunda fonte principal de DI.O que é costume? (difere de hábito, moral, ética, valor)É o conjunto de práticas e usos reiterados gerais e uniformes que vão ser aceitos como sendo o direito(ver art. 38 Estatuto da Corte – há a necessidade de se reconhecer que determinada prática é juridicamenteobrigatória para os Estados). É norma, é lei, é direito positivo. Se um costume regulamenta determinadamatéria, não há o que se falar em vacatio legis.A definição engloba dois elementos: material e psicológico ou subjetivo. O material é o conjunto depráticas e usos reiterados, gerais e uniformes – é material, objetiva, é a ação concreta. O subjetivo é oopinio juris sive necessitatis – opinião de que aqueles atos são o direito. O próprio Estado tem quereconhecer que aquele ato é costume e é o direito (ex.: cheque pré-datado não é costume, apenas usodifundido – não é obrigatório; mas hoje, com o CDC, se dono da loja entra com cheque antes da data, vaiser punido por violar o contrato de compra e venda, mas não porque o cheque é costume/norma).

No caso dos elementos materiais, temos os atos. Os atos podem ser criados pelos Estados e pelas OI’s,mas também por empresas, ONGs e outras pessoas, desde que aquela prática seja aceita como sendo odireito, que os Estados consintam com essa prática. Qualquer ato do Estado é costume, desde que tenha ascaracterísticas de repetição, uniformidade e generalidade.

Repetição no tempo. Por quanto tempo o ato deve ser repetido para se tornar um costume? O tempo édefinido caso a caso, com o que a CIJ chama de tempo razoável, definido e demonstrado pela existênciade uma opinio juris sive necessitatis (ex.: as práticas sobre direito da guerra demoraram a se tornarcostume; as de direito do mar foram rápidas em se tornar legislação costumeira após as grandesnavegações, tendo virado tratado em 1.982 com a Convenção de Montego Bay sobre Direito do Mar;outros costumes consolidaram-se muito rapidamente, nos 15 anos que sucederam a ida do homem à lua).Essa repetição tem que ser uniforme, o mesmo ato é que tem que ser praticado no tempo, com certaconstância no tempo. A prática tem que ser geral entre os Estados, não sendo necessário que sejaunânime, mas, se entre dois Estados, tem que ser unânime entre os mesmos.

Oponibilidade do costume. A quem o costume internacional se aplica? A todos aqueles Estados queconsentiram que determinada prática é costume. A aceitação pode ser expressa ou tácita. Os Estados quenão concordam que determinada prática seja costume, declaram expressamente sua posiçãointernacionalmente sempre que houver a oportunidade – Estados Objetores ou objeção constante. Se oEstado não aceita aquele costume, então este não é oponível àquele Estado (não pode ser aplicado a ele).Quando nasce um novo Estado (ex.: quando da divisão da Iugoslávia e da URSS surgiram váriosEstados), ele surge obrigado a cumprir todos os costumes. Se depois o Estado entende ser contrário aalguns costumes, ele começa a objetá-los. Os caso de costumes criados por outros sujeitos que não de DIvão se enquadrar na chamada “soft law”, normas que são quase-jurídicas, não têm força obrigatória, sãoflexíveis, moldáveis. Ex.: é comum entre grandes empresas internacionais, que elas próprias vão aceitaragir sempre de determinada forma – é o que ocorre com a Lex Mercatoria (ex.: Coca-Cola vai comprarprodução de garrafas de outra empresa e vai ter que seguir procedimentos não previstos em qualquersistema jurídico, mas que se ela não seguir, nenhuma outra empresa vai comerciar com ela), com a LexPetroleum, Lex Sportiva Internationalis etc..

Prova do costume.É uma coisa complicada. O ônus da prova sobre um costume compete a quem alega o mesmo. A provatem que ser feita provando os elementos materiais, quanto tem-se que provar que a prática é aceita comosendo direito.

Hoje, há a tendência a se codificar os costumes universais.Costume posterior derroga anterior. Tratado posterior contrário a um costume derroga este, exceto secostume for jus cogens. Os juizes nos tribunais internos deveriam aplicar o costume internacional comosendo lei, mas na prática é muito raro que o façam.

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Outras fontes

Doutrina. Não tem papel importante no DI, a não ser na convicção dos próprios juizes. É muito raro quese recorra à doutrina, porque pode soar preconceituoso.Princípios gerais do direito interno praticados e aceitos na maioria dos países: devido processo legal, leiposterior derroga anterior, lei especial derroga lei geral etc..Equidade. As partes podem concordar de que a CIJ devida conforme a equidade (ex aequo et bono =bom-senso). É muito mais usada como princípio do que como uma fonte, como no caso da pesca entreIslândia e Inglaterra, quando usou a Convenção do mar aplicando-a com equidade, a fim de impedir que aIslândia ficasse privada da sua maior fonte de renda.Ao atos unilaterais dos Estados podem ser autonormativos, criam obrigações para o próprio Estado(França no Atol de Mururoa), ou heteronormativo, cria obrigação para o outro desde que este aceite (ex.:doação). As OI’s também tem autonormativos e heteronormativos. Suas resoluções/decisões vão ter doistipos básicos: as recomendações, quando a decisão não é obrigatória, e as resoluções quando asresoluções são obrigatórias. Neste caso, se destinam tanto às partes, ou para todos os Estados membros(embargo econômico ao Iraque).Jurisprudência. O princípio do stare decisis, isto é, a súmula vinculante, não foi acolhido pelo DI. A CIJtem força muito grande nas decisões, muito maior que a doutrina, citando frequentemente suas própriasdecisões, em vista da sua força moral.

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Aula do dia 31/03/2005

SUJEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL

1- O ESTADO

I – ConceitosA) TradicionalB) Marx WeberC) Karl MarxD) Hans KelsenE) Georges Schelle

O que se entende por sujeitos de direito? São as pessoas/sujeitos que atuam no meio ou no teatro dodireito, do mundo jurídico. O que lhe confere a possibilidade para atuar é a personalidade. Apersonalidade não se manifesta no mesmo grau para todos os sujeitos; ela vai depender da capacidade,que é a medida da personalidade, isto é, do grau de autonomia no mundo jurídico. O grau da capacidadevaria. O que faz com que uma pessoa seja sujeito de direito e outra não é o atributo da personalidade comcapacidade de contrair deveres e obrigações, de atuar no mundo jurídico. Vem do grego persona =máscaras dos atores da tragédia grega, utilizada para amplificar a voz, de forma que o sujeito se faça soarno mundo do direito.

O sujeitos de DI são: os Estados, as OI’s e os Indivíduos. Porém esses sujeitos não têm a mesmacapacidade.

O ESTADOHá muitas teorias que tentam explicar o Estado e como ele surgiu. Há duas teoria principais: a do grupofamiliar ou teoria natural (não foi provada nenhuma sociedade matriarcal, onde a mulher manda, mas simmatrilineares, onde os filhos das mulheres é que mandam) e a do contrato social.Na teoria familiar, as pessoas vão se agrupando a partir de um núcleo, a família e, então, esse grupo vaiaumentando e se transforma num Estado. Com os gregos se aprendeu que o homem é um animal racional,sendo que, originalmente, rationalis quer dizer social, gregário (que nem as abelhas, Caetano Levi!!!!). Oque distingue o homem dos demais animais é que ele vive numa sociedade com uma cultura.A segunda corrente teórica é a contratualista. Antes do Estado havia o estado de natureza (estado naturalem que não existia nenhuma norma ou lei, havia liberdade plena). O estado de natureza nunca existiu narealidade, é uma abstração, porque entende-se que o direito acompanha qualquer vida em grupo,conforme “ubi societatis, ubi iuris”(toda sociedade tem o seu direito). O estado de natureza não é necessariamente caótico. Para Locke, Rousseau e Montesquieu o homemvivia em harmonia porque é bom por natureza, mas começa a perceber que vai ganhar muito maisvivendo em sociedade do que sozinho (jogo da caça ao veado). Então, as pessoas aceitam limitar sualiberdade se submetendo a leis que vão regular a convivência. Esse é o contrato social, que também é umaidéia abstrata para explicar por que se obedecem às normas.Há também o estado de natureza de Hobbes, caótico, onde “o homem é o lobo do homem”. As relaçõessão, necessariamente, conflituosas. O contrato social vai surgir para regulamenta a convivência, para quese viva em paz.O sistema internacional é um sistema hobbesiano por natureza. Por isso surge o DI.

É preciso, agora, fazer a distinção entre comunidade e sociedade (Durkheim):Comunidade SociedadeÉ um grupo menor Grupo maiorÉ um grupo que se liga por valores Os interesses são diferentes e diversose símbolos comunsO cimento é a solidariedade mecânica Solidariedade é orgânica(automática) com divisão do trabalho

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Não há o indivíduo, o pior que pode Ocorre a solidão no meio da multidãoocorrer a alguém é o ostracismo Predomina o egoísmo(suicídio de Durkheim) Marcada pelo individualismoO que interessa é o bem da tribo,da comunidade, o que leva um indivíduo,ao ver os valores destruídos, a enfrentara morte para defendê-los (terrorismo)

Aula do dia 05/04/2005

Estado – continuação

A solidariedade, o que liga as pessoas, precisa de reforço com o passar do tempo. Segundo Durkheim,para uma sociedade sobreviver é preciso que alguém transgrida as normas, de forma que vai reavivar,reforçar os valores tutelados nas normas.Vamos entender um pouco de Durkheim para depois passar para o DI. Há três formas de suicídio:altruísta, patológico e anômico. O suicídio entre jovens é maior que entre adultos, maior entre solteiros doque entre casados, entre casados com filho é zero, maior entre protestantes do que entre católicos, maiorna urbana que na rural. Quanto mais a pessoa se sente inserida na sociedade, mais dentro dasolidariedade, menor o risco de cometer suicídio > tudo tem a ver com o grau com que a solidariedadeatinge as pessoas. Em caso de grandes crises econômicas ou sociais o índice de suicídio é praticamentezero. Por que? Porque os valores daquela sociedade são reforçados. Logo, em tempos de crise, como nosEUA após o atentado de 11 de setembro, os valores americanos são reforçados. A morte do Papa tambémmobiliza os católicos e valoriza seu sentimento enquanto católicos.Weber diz que as pessoas não são presas porque cometeram crimes, mas sim para mostrar para asociedade que as pessoas que não seguiram as normas são punidas, ou seja, é uma forma de reforçar essasnormas, como um exemplo. Esse é o argumento da teoria que liga Bush a Bin Laden quando do atentadode 11 de setembro > o atentado teria sido feito em benefício do Governo Bush. No início do GovernoBush havia três planos para o Iraque. Após o atentado, o mais drástico, o da guerra, foi o que rapidamentevingou, sendo legitimado: isso também foi uma forma de dizer “quem me atacar também será atacado”.Já que eles não conseguem, por meio de toda a tecnologia, evitar tais ataques, a forma da retaliação servecomo prevenção. Daí a própria idéia de “guerra ao terrorismo”. Isso é Weber puro. Nessa mesma linha, osEUA adotam a idéia do Planopticum (Panopticum), cujas raízes também se encontram em Weber (é alógica das câmeras – a maioria falsa nos bancos, do faixa azul, do funcionamento do governo > ninguémsabe se está sendo observado ou não, então, todo mundo obedece com medo da represália).O grande risco, então, segundo Weber, é a falta de eficácia: se quem comete a falta não é punido, aspróprias normas vão caindo em desuso e a sociedade se desorganiza. O caso do Fernandinho Beira-Mar éa título de exemplo para a sociedade, muito mais para demonstrar que o tráfico é errado do quepropriamente para prender um grande figurão do tráfico.E no plano internacional? Temos uma sociedade ou uma comunidade? Para a maioria dos autores atécerto tempo atrás, temos uma sociedade, porque as relações são sempre conflituosas, os Estados temdiferentes interesses, forças, tamanho, poder, não compartilham valores comuns etc..Agora, a maioria dos autores, principalmente estrangeiros, acham que temos uma comunidade, porquetodos os Estados desempenham as mesmas funções, apesar das assimetrias existentes. E mais, cada vezmais há valores comuns, como os blocos de integração econômica, jus cogens etc.. Nenhum Estado querser pária; por isso a China, grande crítica do capitalismo, começa a fazer tanta força para participar daOMC, que é o ápice do capitalismo. Por isso os Estados cumprem as sentenças e arbitragens. Essa é aidéia do Pellet.Para o Jorge, existe a idéia de sistema (que vem das relações internacionais, da cibernética, da biologia):há um limite no qual se inserem diversas unidades que interagem entre si. Nesse caso, o próprio sistemainternacional vai constranger/influenciar na maneira como os Estados (unidades) agem. Essas ações queocorrem no interior do sistema vão se propagar e atingir todo o sistema, como as ondas de uma pedrajogada na água. Uma unidade dá um input nos demais atores do sistema, que processam as informações

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recebidas e geram novo impulso, output, que vai retornar para o propagador do input por feedback(retroalimentação do sistema), gerando um constante movimento no sistema. Nesse modelo fica mais fácilincluir as ONGs e as empresas e mesmo os indivíduos. Pode ocorrer um feedback negativo, gerandoimpulso novo apenas para aqueles impulsos iniciais que saem da normalidade (teoria dos jogos, internet).

O Estado tem data de nascimento? O Estado moderno nasceu em 1.648 com a Paz de Westphalia. Essapaz pôs fim à guerra dos 30 anos e ocasionou a delimitação das fronteiras fixas dos Estados, que antesmudavam conforme as guerras e os casamentos. A soberania ficou limitada ao território inserido nafronteira. A Revolução Francesa, em 1.789, traz a idéia de soberania de cima para baixo e a idéia deNação. Em 1.815, surge o Estado-Nação, resgatando-se a idéia de soberania inglesa, de baixo para cima,criando o Estado-Nação, cuja consequência é o princípio da autodeterminação dos povos (nação, nosentido sociológico = povo com idéias comuns, solidariedade, identidade, sentimento nacional, é“comunidade imaginada”). Obs.: A identidade positiva é a afirmação do meu eu frente aos outros; anegativa é a afirmação do meu eu frente aos não eus, os outros (eu não sou Andréa, mas não sou Fátima,nem Geralda, nem Rita etc..). Solidariedade está ligada a essas ações em momentos de crise. Osentimento nacional está ligado ao pai (Copa do Mundo, somos fortes) e à mãe (não temos desastresnaturais, o Brasil é o melhor país do mundo; nos EUA é o american way of life).A nação é criada ou surge espontaneamente? A nação surge por uma construção e é reforçada pelapedagogia do Estado, que a dirige, embora também tenha um componente espontâneo. O que é serbrasileiro, nação brasileira? É sol, praia, samba, alegria, futebol. Caso do samba > Quais os instrumentoseram usados nos seus primórdios, começo do século XX? Piano, trompete, saxofone, violão, isto é, erauma espécie de jazz ou foxtrot. Então veio um decreto-lei de Getúlio Vargas que proibia instrumento desopro no samba, criou a ala das bahianas. A pedagogia é a imagem que o Estado quer passar; a narrativavem dos próprios nacionais que contam o que é ser brasileiro. Os feriados, hino, bandeira existem parafazer o reforço da identidade nacional.

Existem inúmeras definições de Estado, mas elas vão ser desenvolvidas a partir das cinco seguintes ou damistura de duas delas:

A) Tradicional: diz que o Estado tem que ser formado pela presença cumulativa e obrigatória de trêselementos, quais sejam, povo, território e governo.

A população é a expressão numérica do Povo. A nacionalidade jurídica é a ligação jurídica do indivíduocom o Estado.O Território vai ser o espaço geográfico físico que limita o poder de determinado Estado. Essa idéiaengloba o subsolo, a coluna de ar atmosférico até chegar ao espaço sideral e a coluna de água do leitomarítimo (da plataforma continental) e além desta até 200 milhas no oceano (12 milhas de mar territoriale mais 200 milhas de ZEE).O Governo é a instituição organizada que vai exercer seu poder de império sobre um determinadoterritório.Alguns autores incluem um quarto elemento, que é a Soberania. A soberania, porém, só vai existir se tiverum governo. È necessário um governo para que a soberania exista. Outros, porém, acham que o quartoelemento seria a finalidade. No entanto, Finalidade é uma atribuição de toda instituição e não unicamentedo Estado. Outros, ainda, colocam o Reconhecimento como 4º elemento. Essa teoria tem duas correntes: adeclarativa, para a qual o reconhecimento é uma mera declaração do próprio Estado como tal, certificaçãode que o Estado existe, e a constitutiva, para a qual o Estado só se constitui quando é reconhecido poroutros Estados.

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Aula do dia 07/04/2005

Estado – continuação

B) Weber: o Estado é aquela entidade que detém o monopólio legítimo (legalizado) do uso da força, ouseja, o Estado é aquela instituição que detém o poder de vida e morte sobre seus súditos. Quem exerce opoder de polícia é o Estado, quem protege as pessoas da invasão de outro Estado é o Estado, quem invadeoutro Estado é o Estado, quem combate grupos que usam ilegitimamente da força é o Estado. Entra aqui aidéia de morte, em um sentido abstrato, ideal, que ocorre quando há o descumprimento de uma norma dasociedade. É o medo da morte (morte para a sociedade), pelo descumprimento das regras, que leva àcoesão e à obediência das pessoas de uma nação.Os indivíduos vão agir conforme duas éticas (conjunto de valores relacionados às opções racionais deconduta das pessoas, que vão influenciar no cálculo custo-benefício nas opções das pessoas, entra navaloração das opções ante o pensamento racional, vão determinar a ordem na escolha das opções):a) das responsabilidades (99% das pessoas agem assim): o medo da morte, de gerar uma

responsabilidade, é tão grande que as pessoas vão agir orientadas pelas normas da sociedade.b) das convicções: alguns indivíduos, que acreditam sinceramente em certos valores, que têm suas

convicções em relação a valores da comunidade, mesmo que estes difiram dos valores da sociedade,conseguem se desprender e vão agir conforme as convicções. Por isso conseguem carregar a seriedadeda morte, enfrentando o próprio Estado e o medo da morte (Gandhi, Hitler, terroristas – são racionaise se utilizam dos fanáticos para alcançar seus objetivos).

A Sociologia, a Ciência Política e as Relações Internacionais trabalham com o conceito de Weber,enquanto o Direito trabalha predominantemente com o conceito tradicional.

C) Marx: resgata a filosofia de Parmênides com a dialética – tudo está em movimento e em revolução(quando entro num rio é impossível me banhar duas vezes com as mesmas águas). Segundo a dialética, háum conjunto de idéias, valores, princípios, práticas e que tudo tem uma potência e uma contradiçãointerna: a tese (idéia) vai gerar a antítese, num movimento de normas, que gera outra tese e outraentítese...Há, então, idéias contrárias e que, em movimento de síntese, vão gerar novas idéias. Daí seconcluir que a história da humanidade é uma história dialética e o que vai mover o homem é a luta declasses (materialismo histórico), causada pela mais-valia e a exploração dos capitalistas (aqueles quedetêm os meios de produção) sobre o proletariado. A história é movida internamente por uma lutaconstante das classes causada pela mais-valia (descompasso entre o lucro obtido com a mercadoria e ovalor do trabalho).Então, para Marx, o Estado é instrumento de perpetuação da exploração capitalista (da mais valia) em umdeterminado território. Como assim? Bom, é só pensar: quem vai criar as normas, ter o poder de polícia erepresentar o Estado? O governo. E quem é o governo? As elites. E quem são as elites? Os capitalistas,quem detém os meios de produção. Então, eles vão se utilizar daquela máquina estatal, da burocraciaestatal, para criar uma condição tal em que eles continuem ganhando, explorando. Por que não existeimposto sobre grandes fortunas no Brasil ou imposto de renda progressivo? Porque não interesse às elitescriarem normas contra seus próprios interesses. A CLT e os sindicatos são criados segundo osprocedimentos que interessam aos próprios capitalistas, de maneira a perpetuar a dominação.Marx, então, propõe o comunismo, momento esse em que não haverá Estado, já que todo Estado é umaforma de dominação de uma classe sobre outra. Em visto disso, Marx chega à conclusão de que a únicaforma de mudar a exploração, de parar a perpetuação da exploração, é fazendo uma revolução,eliminando os capitalistas e redistribuindo todos os meios de produção. Após isso, reinstalada a ordem,abandona-se o Estado socialista (revolucionário, em que dono só o Estado) e instala-se o comunismo,ambiente em que não há mais propriedade privada, exploração ou dominação (anarquia, isto é, ordem naausência de governo), uma vez que não haverá mais classes. Faz sentido e deve ser levada emconsideração, porém, é uma teoria por demais fechada na questão econômica e da luta de classes e vemcaindo de importância.A China, hoje, quer ser conhecida como economia de mercado para poder participar da OMC. Caso doreconhecimento, pelo Brasil, de que o Tibet e Taiwan são partes integrais e indivisíveis da China: o DalaiLama, hoje, pede aos tibetanos que aceitem a dominação chinesa. Essa é a lógica do Bandwagon: ir para o

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lado do mais forte, a fim de tentar aproveitar o máximo possível dessa condição, mantendo a própriacultura e trazendo desenvolvimento para a região (que seria, para o Dalai Lama, mais importante que aindependência do Tibet).

D) Kelsen: o Estado é um ordenamento jurídico sobre um território, ou seja, é uma projeção espacial,geográfica do conjunto das normas > ordenamento jurídico. Kelsen optou por estudar a norma isolada dosdemais aspectos sociais e fechou-se no estudo da norma, daí a Teoria Pura do Direito. A fronteira doEstado é onde as normas deixam de ter sua jurisdição. As leis são aceitas devido à norma fundamental,abstrata e acima da constituição, que diz que se “deve obedecer à Constituição” (confunde fonte comfundamento). O DI sempre intrigou Kelsen, sendo um problema para ele: antes ele era dualista, depois,estende o princípio da hierarquia das normas para o DI – monismo com primazia do direito interno –sendo sua norma fundamental a pacta sunt servanda.Kelsen era positivista e para ele a norma jurídica difere daquelas de outra natureza (religião, v.g) pelacoerção, norma jurídica é sempre coercitiva. Porém, não explica normas jurídicas que não são coercitivas.Cai o Positivismo com o advento da teoria dos sistemas (Lohman): o direito é aquilo que as pessoasreconhecem contrafaticamente (de maneira estável ao longo do tempo) como sendo o direito (ex.: oadultério é típico, mas já não seria mais direito, posto que há muito não se aplica; na favela, os imóveissão transferidos em seu domínio sem que seja necessário o registro público, o que seria uma exigência dodireito positivo > a sentença do juiz não tem força nenhuma dentro da favela porque as pessoasreconhecem outras normas como sendo o direito). A norma do Estado pelo poder de império podechancelar ou não, por meio do texto escrito, as normas contrafaticas, se chancelar algo não contrafatico,estará aplicando algo que não é o direito.Kelsen deixa de lado uma série de questões culturais, sociais e econômicas.

E) Schelle: o Estado é um grupo de indivíduos organizados em um território. Se o direito existe por e paraos indivíduos, logo todo Estado é ligado a este direito que é ligado aos indivíduos. O problema é que asoma das partes não é igual ao resultado em sociologia. As ações individuais não são as mesmas das açõesda turma junta. A multidão se comporta de maneira diferente que o somatório das ações dos indivíduos. Écriticada, pois, pela teoria das multidões.

Todas as definições vistas têm em comum o território ou base geográfica.

As duas correntes mais utilizadas são: a tradicional (direito) e a de Max Weber (outras ciências sociais).

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Aula do dia 12/04/2005

ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

I – DefiniçõesII – Criação e Composição

A) Ato Constitutivo1) Tratado Multilateral2) Aspectos “Constitucionais”

a) Primadob) Aceito Integralmentec) Revisão Oponível Erga Omnes

B) Membros1) Estados

a) Modalidades de Participaçãoi) Membrosii) Associadosiii) Observadores

b) Processo de Admissãoi) Estados Origináriosii) Outrosiii) Critérios de Admissãoiv) Retirada

III – Estatuto JurídicoA) Personalidade Jurídica

1) Interna2) Internacional

IV – Autonomia FinanceiraV – Competência

A) Princípios1) Especialidade2) Subsidiariedade

B) Competências ImplícitasC) Competências Normativas e OperacionaisD) Ligadas ao Território

1) Sede2) Tratado3) Decisão

E) Ligadas às Pessoas1) Ligadas a um Território2) Função Pública3) Engenhos

F) Órgãos(aberto, restrito, votação, igualdade)

As Organizações Internacionais têm seu embrião na antiguidade, surgindo as associações no século XIX,cuidando de rios que atravessavam mais de um país (ex.: a do Rio Reno e a do Rio Ruhr). Mas, em suaforma moderna, surgiram de verdade após a I GM, cujo horror causado alterou toda a história e afilosofia. Houve resgate das idéias liberais e da “paz perpétua” de Kant, acabando com os exércitos dosEstados e criando uma força única através de uma grande federação mundial (governo único). Lembrandoa idéia de que a I GM foi uma guerra sem vencedores, a impressão de que os custos foram tão grandesque os benefícios não compensavam. Mas a I GM sobreveio porque o equilíbrio de poder baseado nodilema de segurança não deu certo em função da diplomacia secreta e da falha de comunicação entre osEstados, que falharam no cálculo de custo-benefício.

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Então as OI’s surgem dentro da idéia de promoção do diálogo internacional, para discutir as questõesinternacionais, com base num multilateralismo. Organização Internacional é, então, uma associação deEstados criada por um tratado, dotada de órgãos comuns, destinada a atuar em uma determinada área dasrelações internacionais e dotada de personalidade jurídica própria (distinta da dos Estados que a compõe).Logo, tem vontade própria que não coincide com a dos Estados. Exs.: ONU, OMC, OMS, OEA, OIT,OTAN, FIFA, TPI, CIJ, UNESCO (Médicos sem Fronteiras, Greenpeace, WWF não são OI’s, mas ONGs;a Cruz Vermelha é um órgão do Governo Suíço, sendo, no entanto, em razão do respeito, tratada comoOI). Nem sempre as OI’s são compostas por Estados, mas por Estados que tenham certas características,v.g, a FIFA é composta por Estados que têm federações de futebol. Alguns Estados participam comoobservadores, assim como algumas ONGs.A União Européia e o Mercosul, blocos de integração econômica, são um tipo peculiar (ad hoc) de OI(em relação ao Mercosul, o Brasil adota o jogo da caça ao veado modificado – em estando quase paramatar o veado, pula um coelho no pé de um caçador e ele titubeia no jogo do veado).As OI’s são criadas por ato constitutivo, que é um tratado multilateral. Ex.: Carta da ONU, da OEA,Estatuto do TPI, Estatuto da CIJ etc.. O ato constitutivo tem características bem peculiares, funcionandocomo se fosse uma constituição. Terá, por exemplo, primado sobre todos os atos e todas as ações da OI.Os tratados constitutivos devem ser aceitos integralmente, ou sejam, não se admitem reservas, isto é, otexto todo é válido para todos. Sempre que houver uma emenda ou revisão de um tratado constitutivo, asnovas regras serão válidas para todos os Estados membros (erga omnes).Os Estados participam em diferentes graus:- Estados-membros, que têm participação integral (voz, voto etc.);- Estados-associados, que têm participação restrita (ex.: Vaticano, tem direito a voz, mas não a voto);- Observadores, que apenas podem observar (ONGs no Conselho Econômico e Social da ONU,

Palestina). Nesse caso, os observadores podem fazer pressão internacional para que se decida dedeterminada forma, por meio da divulgação da posição de cada representante dos Estados.

Esse tipo de organização tem uma exceção, a OIT, Organização Internacional do Trabalho, cuja estruturaé tripartite. Cada Estado tem direito a quatro votos, sendo dois votos do representante do Estado, 1 votode um representante do sindicato dos trabalhadores e 1 voto do representante do sindicato patronal. Isto é,há a presença de forças sociais e políticas internas.Temos os Estados originários e os demais. Os Estados originários são os que primeiro ratificaram otratado constitutivo. Em geral não há diferença entre estes e os demais, mas na UE, os seis Estadosoriginais (Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Itália, França e Alemanha) podem, v.g., exercer controle deconstitucionalidade que os outros não podem. Para os não originários há critérios de admissão previstos(§ 4º da Carta da ONU – Estado amante da paz). É interessante observar o por que da guerra fria. Para seradmitido, o Estado tem que ser aprovado na Assembléia Geral e no Conselho de Segurança. Neste, aURSS vetada todos os Estados aliados dos EUA e estes os aliados daquela, isto é, ninguém conseguiaentrar para a ONU. Até que a Assembléia Geral entrou com um caso na CIJ, questionando se os critériosdo § 4º eram objetivos ou subjetivos. Se objetivos, o mero fato de ser um Estado e ser amante da paz jáautorizam o Estado a entrar. Se subjetivos, é preciso fazer a apreciação quanto à questão política, podendohaver veto do Conselho de Segurança. A CIJ decidiu pelo critério objetivo, entrando, então, váriosEstados de uma única vez. A OI também pode colocar critérios de retirada de um Estado, o que tem queser previsto com antecedência.Há um problema: não há em nenhum lugar da Carta da ONU, algo mencionando que a mesma tempersonalidade jurídica. A ONU montou uma operação de paz em Israel, chefiada pelo Conde HugoBernadotti, que, por uma falha de segurança de Israel, foi assassinado. A ONU resolveu processar Israelpara que indenizasse a família do conde. Israel alegou que a ONU não era sujeito de direito e que nãotinha personalidade jurídica e que, portanto, não poderia processar. A CIJ disse que, pela teoria dascompetências implícitas, toda OI é dotada de personalidade jurídica, mesmo que não esteja isso expresso,sem o que não faria sentido sua criação. Porém, essa competência é limitada, isto é, pelo princípio dasubsidiariedade, tem capacidade menor do que o Estado, e terá competências normativas e operacionaisligadas a sua atividade-fim. Logo, uma OI somente pode contrair tratados ligados a suas funções, seusobjetivos, fazendo atos dentro de suas competências. Isso é a personalidade jurídica internacional. Mas asOI’s também terão personalidade jurídica de direito interno, relacionadas à manutenção e funcionamentode sua estrutura em determinado Estado (ex.: sede ONU em NY). Competências operacionais – estrutura

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e funcionamento; subsidiárias – tratado com Estado para ter sua sede (o Estado hospedeiro não temjurisdição sobre a sede, que tem imunidade diplomática, ex.: EUA não podem fechar os escritórios daONU para a Palestina, mesmo em NY); implícitas – não claras no tratado, mas deduzíveis dele.As OI’s podem fazer tratados com os Estados, v.g., Unesco fez com o Brasil para transformar Ouro Pretoem patrimônio histórico da humanidade.Há dois tipos de pessoas nas OI’s: as que representam o Estado (Sardenberg representa interesses doBrasil junto ao Conselho de Segurança; Batista é junto à OMC) são diplomatas que têm imunidadediplomática, exceto junto ao seu próprio Estado; e os funcionários, que representam a OI e não o Estado(Rezek na CIJ, Sílvia Steiner no TPI, Sérgio Vieira de Melo da ONU), representam os interesses dodireito internacional e, quando vêm ao Brasil, suas imunidades diplomáticas permanecem. Se houver umcrime numa OI, é preciso ver se tinha função pública ou se era representante de algum Estado. É possívelresponder processo administrativo dentro de uma OI pelo TANU (Tribunal Administrativo da ONU). Osengenhos da ONU (navios, carros, aviões) também têm imunidade diplomática.As OI’s são dividas em vários órgãos, em geral em três: secretariado, assembléia e conselho. Osecretariado cuida da atividade burocrático-administrativa da OI, a assembléia é aquele órgão em quetodos os Estados participam, e o conselho é onde se tomam as decisões, de direção. Esses órgãos podemser abertos ou restritos a alguns Estados-membros; cada OI tem sistema de votação específica (FMI: ovoto se dá de acordo com a contribuição ao FMI, donde conclui-se que quem manda são os paísesdesenvolvidos, que têm mais dinheiro para colocar no FMI e menos precisa do dinheiro > determinamcomo e para quem vão os empréstimos).Como uma OI se sustenta? Em geral, cada Estado banca a sua cota. Os EUA é o maior contribuinte daONU e mau pagador, embora o orçamento destinado a esta seja menor do que o do corpo de bombeiros deNY. O Brasil é bom pagador da ONU porque quer fazer parte do Conselho de Segurança. Quem nãopagar por dois anos seguidos pode perder o direito de votar na ONU. Tuvalu vendeu o .tv para os EUApara este bancar a participação de Tuvalu na ONU. Somente a FIFA é auto-sustentável.

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Aula do dia 19/04/2005

A ONU

I – HistóricoII – Estrutura

a) Conselho de Tutelab) Secretariadoc) Conselho Econômico e Sociald) Assembléia Gerale) Conselho de Segurançaf) Corte Internacional de Justiça

III – O Sistema de Segurança Coletivaa) Art. 51 – Legítima Defesab) O Cap. VIII da Carta das Nações Unidas

IV – CIJA) HistóricoB) InstitucionalC) Competência

1) Ratione Personae2) Ratione Materiae

D) Processo1) Contencioso

a) Formas de Admissibilidade da Demandai) Acordo Especialii) Cláusula Jurisdicionaliii) Cláusula Facultativa de Jurisdição Obrigatóriaiv) Forum Prorrogatum

b) Fase Escritac) Fase Orald) Sentençae) Incidentes Processuais

- Exceções Preliminares- Medidas Cautelares- Intervenção- Reconvenção- Transação

2) Consultivo

A ONU é a principal OI e foi criada em 1.945 (idéia surgiu em 1.942) pelos Estados vencedores da IIGM, com a finalidade de manter a paz e a segurança internacionais. A Liga das Nações, anterior à ONU,surge dentro da idéia de reação aos horrores da I GM com o objetivo de criar um foro de debatesinternacional dentro do modelo federativo. Mas como reflete a idéia de federação internacional de Kant,todas as suas decisões eram tomadas por consenso, ou seja, se mesmo a parte culpada votasse contra, adecisão não era tomada, além do que os EUA não participavam. A Liga não era contra a guerra, apenas alimitava. O uso da força no direito internacional era então permitido. Existiam dois direitos da guerra: ojus in bellum (direito na guerra) e o jus ad bellum (de ir à guerra). Até 1.928 só existia o jus in bellum dodireito de Haia, que se opõe ao direito de Genebra. O direito de Haia vai regular a condição dosarmamentos, que tipo de arma poderia ou não ser utilizada. O direito de Genebra é o direito humanitário,para proteção de civis ou não combatentes em caso de conflito armado. Após os horrores da I GM éassinado o tratado de Briand-Kellog em 1.928, em que pela primeira vez o uso da força foi proibido. Masdevido às suas limitações, não consegue impedir a II GM, após o que surge a ONU, proibindo o uso daforça nos arts. 2 (3) e 2 (4) da Carta da ONU, criando um sistema de segurança coletiva, quando éabandonada a idéia de guerra justa e cria-se a idéia de guerra legal ou ilegal.

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A finalidade da ONU é a paz e a segurança internacionais, e não os direitos humanos ou odesenvolvimento internacional, embora disso dependa a paz internacional. Essa OI é composta por 191Estados-membros com 6 órgãos principais:1- Conselho de Tutela (cuida dos países que não têm governabilidade própria – as colônias), que deixou

de exercer suas atividades após a independência de Tuvalu e Nauru, últimas colônias então existentes(Guiana Francesa é parte da França);

2- Secretariado, órgão que cuida das questões burocratico-administrativas, cujo chefe é o Secretário-Geral (hoje, Kofi Anan, de Ghana) da ONU – seu papel declinou muito após a guerra fria com odesbloqueio do CS (representar, zelar, chamar atenção da AG e do CS para questões de vulto etc.),eleito a cada 4 anos pela Assembléia Geral, podendo ser reeleito e que representa a OI;

3- Conselho Econômico-Social, que trata das questões econômicas e sociais internacionais, compostopor 56 Estados com direito a voto e ONGs observadoras (algumas com poder de propor trabalhos) ecujas resoluções são jurídicas mas não são obrigatórias (“soft law”);

4- Assembléia Geral (AG), órgão de plenário em que todos os Estados-membros participam com direitode um voto cada em questões relativas à paz e à segurança internacionais (não são obrigatórias porquea maioria dos países é subdesenvolvida e os desenvolvidos não vão querer se submeter às decisõesdaqueles), com quorum de 2/3. Segundo arts. 10 e 11 a AG pode encaminhar questões para seremapreciadas pelo CS, não podendo adotar resoluções enquanto o CS aprecia;

5- Conselho de Segurança (CS). Os únicos órgãos da ONU que fazem decisões obrigatórias são o CS ea CIJ, com a diferença que as do CS, conforme o art. 25 da Carta da ONU, valem para todos osEstados membros, enquanto que as da CIJ, segundo o art. 59 do Estatuto da CIJ, são válidas somentepara as partes envolvidas. Outra diferença, segundo o art. 38 do Estatuto da CIJ, é que as decisões daCIJ têm como fundamento o direito, enquanto que as do CS são políticas, não fundamentadas nodireito internacional.O CS conta com 15 Estados-membros, sendo 10 membros rotativos (eleitos por períodos de 2 anos,não podendo ser reeleitos – 2 Am. Latina, 2 África, 3 Ásia, 1 da Europa Oriental e 1 da Ocidental) e05 permanentes (China, Rússia, França, UK, EUA). Segundo art. 27 da Carta da ONU, há um sistemade votação duplo: as questões procedimentais ou processuais, em que as resoluções são tomadas pormaioria de 9 votos afirmativos; e as questões não procedimentais ou processuais, em que asresoluções são tomadas por 9 votos afirmativos, sendo que os cinco países permanentes têm todos quevotar afirmativamente. Isso é importante, porque demonstra o poder de veto dos cinco Estadospermanentes neste último tipo de votação > logo, na prática, todas as questões são consideradas comonão procedimentais, inclusive as eleições. Além disso, as partes envolvidas nas questões não podemvotar, o que, como já visto em outra unidade, já é letra morta (EUA votou sobre guerra do Iraque). Aabstenção não representa veto, nem a ausência (conforme aprendido pelas abstenções e ausências daURSS, que perdeu a oportunidade de vetar com seu comparecimento). É UMA P.MALANDRAGEM!!!!!O mais importante nessa distinção de votação é que, segundo o art. 2 (4), do sistema de segurançacoletiva, é proibido todo e qualquer uso da força nas relações internacionais, exceto em duassituações: art. 51 – legítima defesa e a do capítulo 7 – por autorização do CS. Como a guerra não foiautorizada, os EUA retomam o discurso da guerra justa contra o Iraque para tentar diminuir o custopolítico de não cumprir com uma norma de direito internacional. Os EUA apresentaram cincoargumentos diferentes: a resolução 1441 – se Iraque não adotasse medidas ele seria invadido; legítimadefesa preventiva* (em caso de agressão ilícita, critério de proporcionalidade e com resposta imediata– vem do D. Penal, da legítima defesa putativa); a resolução 1373 do CS – combate obrigatório aoterrorismo, embora ninguém tenha provado a ligação do Sadam Husseim com a Al Qaeda; a questãode que estaria fazendo intervenção humanitária para brecar violações aos direitos humanos; e pararestaurar a democracia (no modelo americano é um valor que se torna mais alto que a soberania).*Há também a legítima defesa preemptiva, que é feita em iminência de um ataque. Essas legítimasdefesas são cheques em branco para os Estados. As guerras contra o Iraque e o Afeganistão feremtodos os requisitos para caracterizar legítima defesa preventiva. Logo, a legítima defesa preventivadeve ser proibida de se alegar enquanto não houver critérios claros para ela.Segundo cap. VII, art. 39 da Carta da ONU, o CS pode adotar as medidas que julgar necessárias pararestabelecer a paz e a segurança internacionais (arts. 40, 41 – força não armada, bloqueio direito de

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voto, corte rels. diplomáticas, embargos econômicos etc., e 42 – força armada das operações de paz,como as do Brasil no Haiti).

6- Corte Internacional de Justiça (CIJ).Aula do dia 28/04/2005

ONU – continuação

A ONU se pauta pelos princípios presentes no art. 2 (3) – Estados devem procurar solucionar suascontrovérsias de maneira pacífica, e 2 (4) – é proibido todo e qualquer uso da força nas relaçõesinternacionais, exceto em caso de legítima defesa ou quando autorizado pelo Conselho de Segurança.O CS ficava paralisado na época da guerra fria em virtude do poder de veto dos EUA e da URSS. Então, aAG, que também tem competência para resolver sobre a paz e segurança internacionais, adotava aresolução 377 (V) (também chamada de Dean Achelson, ou, ainda, “unidos para a paz”), através do quepoderia adotar as medidas, criando as operações de paz, mandando tropas para a região em conflito (é oque o Brasil chama de cap. VI e 1/5 - usada no Canal de Suez e no Congo – havendo muita restrição,hoje, em utilizá-la posto que vai contra os princípios da ONU), toda vez que houvesse uma paralisia doCS.

CIJ – Corte Internacional de Justiça

A) HistóricoAo falar da CIJ temos que nos remeter à Corte Permanente de Justiça Internacional, criada em 1.922 esediada em Haia, no Palácio da Paz, doado pelo milionário Carnegie. Começou a funcionar comoprimeira jurisdição internacional permanente e, com o advento da II GM e invasão da Alemanha naHolanda, a Corte se muda para a Suíça e, quando a guerra fica feia, deixa de exercer suas atividades. ALiga das Nações é reformulada e também a Corte Permanente, que deixa de existir, sendo criada, em1.945, a CIJ. Segundo o art. 92 da Carta da ONU, a CIJ é o principal órgão jurisdicional da ONU. Épreciso, portanto, entender que a CIJ é uma continuidade da Corte Permanente, sendo que os últimosjuizes da Corte Permanente foram os primeiros da CIJ (o último juiz da Corte Permanente, Juiz Guerrero,foi 1º Presidente da CIJ), além do que o Estatuto é praticamente o mesmo. A CIJ até hoje cita ajurisprudência da Corte Permanente, como se da CIJ fosse. A partir dessas idéias é que vamos entenderque os procedimentos e regras da CIJ foram escritos e fundamentados num DI de 1.922. Isso éfundamental para entender o papel da CIJ no mundo de hoje. A CIJ é estatocêntrica e foi criada no direitoclássico uma regrinha que permite a própria criação da corte. O que fez com que a CIJ pudesse existir, secada Estado poderia decidir sobre seu próprio destino? Enquanto o direito interno busca justiça nasrelações sociais, o direito internacional não busca a justiça e sim o equilíbrio, a ordem, nãonecessariamente uma ordem justa (ex.: o CS traz equilíbrio para o sistema, mesmo não sendo umainstituição justa e se funcionasse de outra maneira e bem, os Estados poderosos não teriam permitido asua criação). Sob esse ponto de vista esse sistema da ONU é falho e, portanto, nunca vai conseguircombater o narcotráfico, o terrorismo etc., já que é montado para os Estados e somente pode agir contraestes. O custo da guerra do Iraque para os EUA é baixo porque o sistema internacional não conseguiucriar um sistema de coerção organizado, justo, que funcione. Porém essa ação dos EUA não é tão livreporque há o peso da opinião pública, o TPI, que pode julgar os americanos, embora ainda o custo políticonão seja suficiente para evitar a guerra. O Blair, por exemplo está na corda bamba, os EUA perdem suahegemonia no CS. Daí a necessidade de reavivar a idéia de guerra justa, para diminuir o custo de terburlado as normas de DI com a promoção da guerra do Iraque.Logo, um Estado, para ser julgado pela CIJ, tem como base o consentimento. Logo, um Estado somenteserá julgado pela corte, caso a caso, se o Estado consentir em ser julgado. Os Estados consentiram naexistência da Corte desde que somente fossem julgados se consentissem com isso: só será julgado sequiser se submete à jurisdição da CIJ.

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Aula do dia 03/05/2005

B) InstitucionalA Corte se difere do CS, primeiro porque este é órgão político, enquanto a Corte é órgão jurisdicional,decidindo conforme o direito internacional. Além disso, segundo art. 25 da Carta da ONU, as decisões doCS são válidas para todos, enquanto que as da Corte, conforme art. 59 de seu Estatuto, aplicam-sesomente às parte em litígio.Toda a Corte, então, vai funcionar segundo o princípio do consentimento, que foi o que permitiu a própriasua própria criação (um Estado só vai ser julgado se assim consentir, ou seja, somente se souber que não éculpado ou somente se o litígio envolver parte menos importante de um conflito maior), e tendo em vistaos procedimentos criados em 1.922, conforme um direito clássico.A sede da CIJ fica em Haia/Holanda, no Palácio da Paz, doado pelo milionário Carnegie, sendo que ospaíses ajudaram a construir o palácio (Brasil deu a madeira, Rússia, os vasos, Itália, o mármore etc.). Nãoconfundir a CIJ com os outros Tribunais internacionais, que também ficam em Haia: TPI (Tribunal PenalInternacional), o Tribunal Penal para Ex-Iugoslávia, Tribunal Penal para Ruanda, Corte Permanente deArbitragem, e a Comissão de Arbitragem do Caso Irã e EUA (caso da nacionalização das empresas dosEUA). A Holanda era país neutro, por isso tantos Tribunais são sediados em seu território.A Corte é composta por 15 juizes, sempre com 5 dos Estados permanentes, são eleitos por período de 9anos, podendo ser reeleitos; a cada 3 anos tem eleição de 1/3 desses juizes, que são eleitos a partir de umalista que cada Estado apresenta, com nomes de dois nacionais e dois estrangeiros, faz-se uma votação naAG e o CS termina de escolher (neste caso o CS NÃO tem direito de veto). Os juizes tem que dar mostrasde sua imparcialidade, eles não representam seu país de origem mas sim o DI, têm imunidadediplomática, salário de US$160.000,00/ano livres de impostos, aposenta ganhando metade deste saláriopor 9 anos, ou, se reeleito, 2/3 do salário por 18 anos (devido ao tempo em que ficou fora do mercado detrabalho). Nenhum juiz mora em Haia.Além dos juizes, há um secretário, que cuida da parte administrativa, que recebe os documentos, notificaas partes etc.. Há também cinco assessores para todos os juizes da CIJ. Há também estagiários.Línguas oficiais são francês e inglês, tem time de futebol da CIJ que joga contra os outros tribunais, tem amaior biblioteca jurídica do mundo.

C) CompetênciasLeva em conta dois critérios: a competência pessoal (ratione personae) e a competência material (rationemateriae).

Em relação à competência pessoal, quem pode demandar na CIJ? Todos os Estados, e somente eles,podem recorrer à CIJ, desde que dêem seu consentimento, que será sempre caso a caso,independentemente se fazem parte ou não da ONU. Um Estado fala “CIJ, eu aceito seu Estatuto para serjulgado neste caso específico conforme suas regras”. Os Estados-membros da ONU, por esta meracaracterísticas, já deram seu consentimento quanto ao Estatuto da CIJ (aceitam seus procedimentos ereconhecem seu iuris dicere), mas ainda precisam consentir em serem julgados em cada caso. Anecessidade do consentimento dos Estados é a maior limitação da CIJ, mas foi a única forma encontradapara criá-la, sob pena dos Estados dominantes não permitirem sua criação.Segundo o art. 34 do Estatuto, somente os Estados podem recorrer ao procedimento contencioso da Corte,posto que a CIJ foi criada em 1.922, quando o único sujeito de direito internacional eram os Estados (nãoexistiam, por exemplo, as OI’s).E o indivíduo, ficaria ele sem a proteção da CIJ? Imaginem que um indivíduo alemão vai paraLiechtenstein, adquire esta nacionalidade, depois mora nos EUA e constitui família. Vem a II GM, osEUA declaram que ele é alemão e, portanto, inimigo e toma todos os seus bens sem indenizar. Imaginemque uma empresa canadense com acionistas belgas abre filial na Espanha e esta nacionaliza essa empresasem dar satisfação. Imaginem que uma empresa da Itália quebra em virtude de legislação discriminativa.Esses indivíduos ficarão sem proteção internacional? Não, Haverá o instituto da proteção diplomática. OEstado pode representar o indivíduo na Corte (não houve, por exemplo, caso Embraer x Bombardier esim, caso Brasil x Canadá, para todos os efeitos processuais é um Estado contra o outro). Essa proteçãodiplomática tem que atender a dois pré-requisitos: a) prévio esgotamento dos recursos internos junto ao

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país que violou os direitos (em regimes autoritários ou não imparciais ou com demora injustificada, pode-se abster de acolher esse critério e o Estado do indivíduo pode ir diretamente à CIJ) e b) nacionalidade(vínculo do indivíduo com o Estado), isto é, o nacional de um Estado (a), somente poderá serrepresentado por seu Estado (A) contra o outro Estado (B), que violou os direitos do indivíduo. Comofazer em caso de dupla nacionalidade? *Caso Notebon.Porém, devido às limitações do DI clássico, nem sempre o indivíduo vai ser protegido. Ex.: Se o própriopaís (A) de um indivíduo (a) violou os direitos deste, como fica o indivíduo? Não fica, porque o Estado Asabe que está errado e não vai consentir em ser julgado. Por outro lado, se foi um outro Estado (B) queviolou os direitos de (a), se B não consentir em ser julgado, nada pode ser feito por (a). Outra limitação daCorte como órgão de manutenção da paz é em casos de crimes transnacionais. Essas limitações decorremdo direito de 1.922, absolutamente estatocêntrico e clássico, que não acompanha as necessidades daatualidade. Hoje, há reação do DI clássico, por meio de um direito em transição, que quebra o princípiodo consentimento, como ocorre na Corte Interamericana de Direitos Humanos e no TPI e correparalelamente do DI clássico dos manuais.*Caso Notebon. O Sr. Notebon nasceu na Alemanha, adquiriu nacionalidade de Liechtenstein, mudou-separa os EUA, onde constituiu família e fez fortuna. Os EUA declararam que ele era do Estado inimigo(Alemanha) e tomaram todos os seus bens sem indenizá-lo. Então, o Sr. Notebon foi para Liechtensteinpedir que este país o representasse perante a CIJ contra os EUA. A Corte decidiu que não temcompetência porque, pela representação diplomática, o indivíduo tem que ser nacional do Estado que orepresenta. Apesar da nacionalidade de Liechtenstein, em caso de multi-nacionalidade, o que conta é anacionalidade de fato, isto é, do Estado onde o indivíduo tem amigos, paga impostos, tem suas atividades,onde reside a maior parte do tempo et.. Logo, somente os EUA é que poderiam representar o Sr. Notebon,como isso não ocorreu, a CIJ não poderia julgar. Então, com a sentença da CIJ, o Sr. Notebon entrou nojudiciário americano, argumentando que, se sua nacionalidade de fato é americana, os EUA não poderiamter tomado seus bens sob o argumento de que ele seria alemão. Ganhou.Mas e no caso de uma multi ou transnacional? Imagine como é complicado. O critério, nesse caso, paradeterminar a nacionalidade da empresa, é onde fica sua sede (caso da Empresa Barcelona-Trash - empresacom sede canadense, com acionistas belgas e que atua na Espanha tem nacionalidade canadense –competência para proteção diplomática é do Canadá). Hoje, a doutrina discorda da jurisprudência daCorte, porque há muitas sedes fantasma. Então, o que deveria determinar a nacionalidade de uma empresaé onde se encontra sua diretoria de fato, isto é, onde se decide sobre as estratégias da empresa e de ondevêm as ordens para suas filiais no mundo.

Competência material. A Corte pode julgar qualquer assunto de Direito Internacional. Segundo o art. 36do Estatuto, qualquer assunto de direito internacional envolvendo Estados pode ser julgado, inclusivequestões políticas (ex.: caso Nicarágua x EUA, quando este alegou que não haveria competência da CIJ,posto que a questão era eminentemente política; a CIJ decidiu que era competente, até porquedificilmente uma questão de DI não envolve política). E, segundo o art. 36, § 6º, a própria Corte, segundoo princípio da competência da competência, pode decidir se tem competência ou não para julgardeterminado caso.Não existe hierarquia entre as Cortes internacionais, podendo os Estados escolherem o que quiserem. ACIJ não faz revisão das decisões de outros tribunais porque todos têm autoridade da coisa julgada, senãofaz litispendência.

Aula do dia 05/05/2005

CIJ – continuação

Segundo art. 92 da Carta da ONU, a Corte é sua principal jurisdição, baseada no DI clássico de 1.922 daantiga Corte Permanente de Justiça. Fundamenta-se no consentimento. Tem duas competências:conteciosa e consultiva. A competência contenciosa vai decidir litígios, enquanto que a consultiva dápareceres não obrigatórios para as OI’s.

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Competência contenciosa. A Corte pode julgar qualquer caso de direito internacional entre Estados, quepodem, com o instituto da proteção diplomática, proteger os indivíduos também.Formas de admissibilidade. Qual seria a forma normal de admissibilidade da demanda na CIJ? Os doisEstados juntos fazem um acordo especial, conferindo à Corte a possibilidade de julgá-los em um casodeterminado, mediante a entrega de seus respectivos Memoriais. Nesse caso não há que se falar emdemandante e demandado, posto que houve acordo entre as partes para o julgamento das mesmas(Colômbia/Venezuela e não Colômbia x Venezuela). O acordo especial é a manifestação expressa doconsentimento dos dois Estados em serem julgados em um caso específico pela CIJ.Outra maneira de entrar com o caso é mediante a cláusula jurisdicional, disposta em um tratado eindicando a CIJ como foro para dirimir qualquer controvérsia relativa à matéria do tratado. Neste caso sefala em demandante e demandado (Colômbia x Venezuela). O consentimento das partes é dadopreviamente ao aparecimento da controvérsia, isto é, no momento de ratificação do tratado que contém acláusula jurisdicional. A existência da possibilidade de cláusula jurisdicional é um dos motivos pelosquais o Brasil ainda não ratificou a CV/69, porque já perdeu caso importante quando da Corte Permanenteno caso dos empréstimos sérvios. O Brasil faz reserva às cláusulas jurisdicionais porventura presentes emqualquer tratado. O Brasil também não ratificou ainda alegando que não concorda com o art. 18 da CV/69(que os tratados deveriam começar a ser aplicados no país antes de serem ratificados).

Aula do dia 10/05/2005

CIJ – continuação

Formas de admissibilidade – continuação.Uma terceira forma de admissibilidade, prevista no art.36 (2) do Estatuto, é a cláusula facultativa dejurisdição obrigatória. É a cláusula segundo a qual o Estado que a aceita, aceita que a Corte o julgue emqualquer caso em que venha a ser demandado perante esta, desde que o demandante também tenha aceitoesta cláusula. É cláusula facultativa, aceita quem quiser, mediante carta para a Corte informando seuaceite. É como se o Estado estivesse dando, de antemão, o consentimento para ser julgado em qualqueroutro caso dali para frente, sem poder mais se opor ao julgamento da Corte, sem poder jamais alegar quenão consente em ser julgado. Porém, impera o princípio da reciprocidade, isto é, somente outro Estado,que também tiver aceito essa cláusula, poderá utilizá-la para demandar um Estado que a tenha aceito.Aqui se fala em demandante e demandado (ex.: EUA tinha assinado essa cláusula, a Nicarágua assina eentra com caso contra EUA na CIJ. EUA alegam que CIJ não é competente, CIJ diz que é, e EUA seretiram do processo, que corre à revelia e EUA perdem porque não poderiam dizer que não deu seuconsentimento em ser julgado).Aceitam-se reservas para essa cláusula porque é difícil que um Estado a aceite, sendo que se fazemreservas bem amplas, gerais (ex.: essa cláusula não se aplica ao que vai contra o interesse nacional – masno caso concreto a CIJ é que decide sua competência e se o interesse é nacional ou não). Porém, peloprincípio da competência da competência, a CIJ pode dizer que uma reserva é contrária ao próprioEstatuto da Corte, o que a torna nula. Se a CIJ entender que o caráter amplo esvaziaria o sentido daprópria aceitação, considera a reserva não escrita. Normalmente as reservas são em relação à matéria(para questões econômicas, militares, de território etc.) ou temporais (ex.: não aceita a cláusula paranenhum caso posterior a 1.950 – mas se o entra o caso em 1.951, mas a controvérsia surgiu antes, areserva não vale; aceito por dez anos, após o que seria necessário renovar o consentimento para acláusula).São poucos os Estados que aceitam essa cláusula, mesmo com reservas. Dos Estados fortes, somente aInglaterra aceita. O atrativo da cláusula é tentar promover a idéia de uma jurisdição realmente obrigatória.Os Estados não podem renunciar, ou seja, retirarem-se dessa cláusula após tê-la assinado - o que sechamaria “denunciar a cláusula” (caso EUA x Nicarágua, processo que correu à revelia dos EUA) – comprocesso em curso. Os Estados, portanto, só podem se retirar dessa cláusula se não houver nenhum litígiobaseado nela. O Brasil foi quem criou a cláusula facultativa de jurisdição obrigatória, mas retirou-se delaapós perder causa dos empréstimos sérvios e poloneses.Se Estado A faz reserva para questões econômicas e políticas e Estado B faz para território e meioambiente, e A tenha problema territorial contra B e demanda B. B pode ser julgado? Não, porque fez a

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reserva. E se B demanda A por questão territorial, A pode ser julgado? Não, se B não aceita serdemandado por questão territorial, logo não pode demandar A pela mesma razão (princípio dareciprocidade). A idéia é restringir ao máximo a aplicação dessa cláusula (cada Estado busca o máximo econcedo o mínimo).

A quarta forma de admissibilidade da demanda é o forum prorrogatum, não prevista no Estatuto nem noRegulamento da Corte. É o princípio segundo o qual a Corte pode, pelos atos e comportamentos de umadas partes, declarar que esta deu o seu consentimento, mesmo que este Estado não o reconheça. É umaespécie de aceitação tácita (caso Albânia x UK na questão das minas no Estreito de Corfu, tendo aAlbânia tomado atitudes - entregou Memorial nas datas marcadas - que demonstravam seu consentimentopara ser julgada).

Os procedimentos do processo dentro da CIJ são bastante simples. No DI, em geral, prevalece o sistemade common law, mas na CIJ prevalece a sistemática romano-germânica, embora existam alguns institutostípicos da common law, como a admissão de prova circunstancial (ou indireta, que levam, através dalógica do raciocínio, àquilo que se quer provar). O sistema de common law dá mais ênfase ao processo, nosentido de que se o processo foi justo, a sentença é justa; enquanto que o romano-germânico dá maisênfase à lei, se de acordo com esta, a sentença é justa.Um outro princípio da common law muito utilizado no DI é o princípio do Estoppel. Estoppel é oprincípio segundo o qual se uma das partes age de determinada maneira em virtude de uma ação da outraparte, esta não pode alegar este comportamento da outra parte contra ela. Uma parte só age de uma formaporque a outra deu a entender que estava de acordo e esta outra não pode alegar o ato da primeira contraela (1º) (ex.: caso da França e da Austrália na questão dos testes nucleares do Atol de Mururoa – estoppelaí, França, a Austrália só retirou o processo porque você declarou parar com os testes no Atol, portanto,voltar com o processo não é litispendência).

Aula do dia 12/05/2005

CIJ – continuação

Após o processo de admissibilidade, feito das quatro formas já vistas, passa-se para a fase escrita doprocesso. O sistema processual da CIJ é romano-germânico. A CIJ recebe o caso, admite e notifica a outraparte.

Se o processo foi admitido por acordo especial, quando não há demandante nem demandado, o juiz vaiestipular um prazo para as partes entrarem com seus Memoriais escritos. Após isso, as duas partes entramcom os respectivos memoriais (espécie de petição inicial), a CIJ, então, fixa prazo para apresentação doscontra-memoriais e, se necessário, a Corte pode determinar que as partes apresentem suas réplicas e,ainda, se for o caso, suas tréplicas. As réplicas e tréplicas são opcionais das partes.Nos outros casos de admissão do processo, em que há demandante e demandado, o demandante entra como memorial, o demandado é notificado e recebe prazo para apresentar o contra-memorial, que éapresentado para o demandante, que prepara sua réplica e o demandado prepara sua tréplica. Nessescasos, todas essas fases são obrigatórias.

O memorial se estrutura com o nome das partes (Estado X/Estado Y), nomes dos agentes (advogados daspartes), explanação dos fatos, pedidos (de forma clara e objetiva) e, finalmente os motivos (argumentosjurídicos que justificam os pedidos). Esse documento é entregue ao Registar ou Gréfier da CIJ (Secretárioda CIJ, alto cargo responsável pela parte burocrática), que registra os dados, comunica ao presidente edistribui o caso para os juizes. Os juízes, na sentença, tem que responder exatamente aos pedidos daspartes, nem aquém nem além, fundamentando, mas sem responder aos motivos.

A fase oral, das audiências públicas, é a mais importante e seu procedimento se aproxima do common law.Na Corte, o juiz pode determinar que se faça uma prova que não tinha sido levantada pelas partes. Além

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disso, os juizes podem convocar peritos para dirimir qualquer dúvida de fato. Agora, o princípio dasprovas é semelhante ao nosso, que é o da íntima e livre convicção dos juizes, cada juiz vai ponderar asprovas consideradas conforme sua convicção íntima, em relação a qual realidade ele mais acredita (diferedo common law, onde as provas tem peso, hierarquia de importância). Nessa fase ocorrem os debates,podem ser feitas perguntas, há réplica e tréplica.Os agentes (advogados) das partes não precisam ser do país que representam. Não precisam seradvogados, mas juristas e internacionalistas. O Pellet é advogado de vários casos e se dá ao luxo deescolher qual tese, de qual parte, é mais intelectualmente instigante de defender.

Sentença. Essa fase é diferente da utilizada no Brasil. As decisões são tomadas em plenário, todos osjuizes julgam tudo em conjunto, em colegiado (tribunal). Esse plenário pode ocorrer em número maior(juizes ad hoc) ou menor (juiz doente, não pode comparecer) que 15, sendo que 9 é o quorum mínimo. Asdecisões são por maioria simples e se o número de juizes for par, o voto do presidente é o de minerva. Seum país tem um juiz na Corte e o outro não tem, como se faz? Não se pode declarar a suspeição do juiz,sob pena de colocar em risco a imparcialidade e a neutralidade dele e da Corte (o que é um pré-requisitopara que ele esteja presente na Corte). Mas é uma situação desconfortável. A solução é colocar um juiz adhoc, ou seja, a parte não representada tem a faculdade de escolher um juiz somente para julgar aquelecaso específico. Na prática, o juiz de um país dá seu voto a favor de seu país, enquanto que o ad hoc dá ovoto para o país que o escolheu. Portanto, um voto suspeito anula o outro. Então seria mais vantajoso tiraros dois, que não é o que ocorre. Além de ser um gasto a mais para a Corte, o juiz ad hoc também pode, aoprestar contas para o Estado que o contratou, deixar vazar informações secretas das deliberações da Corte.Pode-se pedir julgamento por câmaras especializadas, com 5 juizes, numa espécie de procedimentosumário. Em geral, um processo na Corte dura cerca de 2 anos. Porém, até hoje, a única câmaraespecializada que existe é a de meio ambiente, da qual o Rezek faz parte. Pode-se pedir juiz ad hoc nelastambém.Na sentença, os juizes votam para cada resposta às perguntas, que vencem por maioria simples de votos.Cada voto é assinado pelo juiz para evitar decisões descabidas por parte de algum juiz, colocando opróprio nome ou honra do juiz em questão. Assim, evita-se criar suspeitas sobre a imparcialidade daCorte. Os juizes podem anexar opiniões individuais à decisão por discordar quanto aos motivos, ouopiniões dissidentes. Na opinião individual, o juiz concorda com a sentença, mas não com os motivos daCorte. Nas opiniões dissidentes, os juizes discordam da decisão da Corte e querem explicar a razão.Não há súmula vinculante, stare decisis, na CIJ, que pode mudar de idéia (ex.: caso da Inglaterra eIslândia com a pescaria). A sentença tem valor moral muito grande, sendo quase (porque pode mudar deidéia) um processo legislativo, uma fonte, sendo muito usada a citação da própria jurisprudência da Corteem seus julgamentos. A sentença é definitiva e obrigatória, isto é, faz coisa julgada, é irrecorrível, não háduplo grau de jurisdição. Não há duplo grau de jurisdição porque é necessária uma decisão final paraatingir o fim da manutenção da paz, pondo fim à controvérsia. É o mesmo motivo porque, em geral,também nas arbitragens as partes colocam como um único grau de jurisdição.Todas as decisões da CIJ foram cumpridas, primeiro para dar legitimidade ao sistema criado pelo própriosistema internacional e também para que as partes garantam sua credibilidade em face da comunidadeinternacional, além das pressões econômicas, militares etc., que poderiam advir de um descumprimento.O art. 94 da Carta da ONU cria um sistema de coerção organizado em tese, dizendo que o CS pode agirconforme o capítulo VII, a fim de enviar forças para manutenção da paz. Porém, é um sistema meramenteteórico, posto que nunca foi utilizado e não se sabem os limites de aplicação desse artigo. Além disso, ogrande problema desse sistema é que ele nasceu falho/ineficaz por natureza, já que está todo estruturadocom base numa ação do CS e dentro de seus limites inerentes, voltados para os próprios Estados, o queinviabiliza que se utilize o art. 94 contra os países permanentes, que têm poder de veto.