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Autora: Débora Souza da Silva Orientadora: Elza Ferreira Santos

Autora: Débora Souza da Silva

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Autora: Débora Souza da Silva

Orientadora: Elza Ferreira Santos

Débora Souza da Silva

Orientadora: Elza Ferreira Santos

Design gráfico: Clarissa Campos

SUMÁRIO

Apresentação.................................................. p. 04

Conversando um pouco sobre..............................p.autoria no contexto escolar

Escolhendo o gênero....................................... p. 10textual a ser trabalhadono minicurso

Preparando o minicurso................................. p. 13

Módulo I............................................................p.

Módulo II..........................................................p.

Módulo III..........................................................

Módulo IV............................................................

Finalizando as atividades...............................

Referências..................................................... p. 30

p. 03

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p. 20

O material aqui apresentado compõe-se de um roteiro do Minicurso de Escrita Autoral, que se configura como a materialização do produto educativo gerado a partir da dissertação de Mestrado intitulada “Escrita Autoral: um caminho para a formação integrada na Educação Profissional e Tecnológica” . Ele traz o detalha-mento das atividades e a justificativa das estratégias pedagógicas elencadas, a fim de que possa servir de material de apoio a professores da Educação Profissio-nal que queiram realizar essa prática com seus alunos.

Naturalmente, as ações podem e devem ser adaptadas ao contexto de cada escola e turma. O que deve ser preservado são os objetivos de erigir-se como uma prática pedagógica integradora, com vistas à constituição da autoria em textos escritos.

Este trabalho consubstancia-se no ensino de Língua Portuguesa, entretanto pode ser explorado por professores de outras áreas do conhecimento, tanto do núcleo básico como do técnico. Basta estar disposto a trabalhar com produção de texto e enveredar-se nos estudos sobre autoria no contexto escolar. Enfim, vamos às orientações!

1 SILVA, Débora Souza da. Escrita Autoral: um caminho para a formação integrada na Educação Profissional e Tecnológica. Orientadora: Elza Ferreira Santos. 2021. 144 p. Dissertação (Mestrado em Educação Profissional e Tecnológica) - Instituto Federal de Sergipe, Aracaju, 2021.

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Conversando umpouco sobre autoriano contexto escolarO que é, na verdade, autoria? Como ela é vista na produção de textoescolar?

No Brasil, a questão da autoria ganhou es-paço, sobretudo no que diz respeito à escrita na escola. Para Eni Orlandi (2007), a autoria está presente no uso corrente, em todo tex-to que é produzido com “unidade, coerência, progressão, não-contradição e fim” (p. 69). Tratando mais especificamente do contexto escolar, a linguista torna o conceito de autor ainda mais claro:

Sírio Possenti nos traz uma pergunta funda-mental sobre o tema: “quais seriam e como poderiam ser organizados os indícios de auto-ria em textos de escolares?” (POSSENTI, 2001, p. 17). O autor destaca a importância de tornar objetiva a noção de autoria, a fim de que seja possível detectá-la em traços, ou indícios, nos textos dos estudantes. Podemos considerar os

indícios como sinônimos de pistas, sinais, sig-nos; estes podem ser conscientes ou incons-cientes, encontrados de forma mais explícita ou nos pormenores. Seriam como “rastros” deixados pelo discurso.

Sua ideia de indícios vem do paradigma in-diciário de Guinzburg (1986, apud Possenti, 2002). A fim de ilustrar melhor seu ponto de vista, traz-nos a seguinte analogia: “A man-cha de sangue na roupa do mordomo pode ser de um frango recém abatido, mesmo que na mansão haja um cozinheiro” (POSSENTI, 2002, p. 110).

Outrossim, segundo ele, quando se trata de autoria, deve-se considerar o processo de ins-crição do sujeito:

Em outras palavras: Quem são os sujeitos des-ses discursos? Quais as características desse grupo? Por quais experiências de vida já pas-saram? Qual seu posicionamento político- ideológico? De que coisas gostam? Como se

[...] do autor se exige: coerência; respeito aos padrões estabelecidos, tanto quanto à forma do discurso como às regras gramaticais; explicita-ção; clareza; conhecimento das regras textuais; originalidade; relevância e, entre outras coisas, “unidade”, “não contradição”, “progressão” e “duração” de seu discurso. É, entre outras coi-sas, nesse “jogo” que o aluno entra quando co-meça a escrever. (ORLANDI, 1987, p. 78)

“ A marcasingular epessoal dequem escreve ‘‘Arderson da Mata

[...] trata-se de não deixar de analisar, como se se tratasse de uma questão menor, o fato de que alguém que escreve (ou tenta escrever) é homem ou mulher (menino ou menina, no caso da esco-larização), é mais ou menos conservador, pobre ou negro, é marcado por um sotaque e não por outro (o que interfere na aquisição de aspectos da escrita), já foi ou não perseguido pela polícia ou pertence ou não a uma família de alguma for-ma desajustada, sonha ou não ser jogador de fu-tebol ou pagodeiro, pelas milhares de razões que levam alguém a vislumbrar essas e não outras saídas, etc. (POSSENTI, 2001, p. 18)

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enxergam? Qual sua relação com a escrita? Em que contexto comunicativo o texto está sendo produzido? – as respostas a perguntas como essas podem nos ajudar a compreender as marcas de singularidade em seus textos. Afinal, ao escrever, os estudantes mostram opiniões e ideias próprias e falam de um lugar social.

Questionando-se sobre como distinguir um texto com autoria – avaliado por ele como um bom texto – de outro sem ela, são feitas algu-mas considerações: A primeira é que “não bas-ta que um texto satisfaça exigências de ordem gramatical” (idem, p. 110), afinal, correção gra-matical não é critério suficiente para garantir a boa qualidade de um texto. A segunda é que coesão e coerência também não caracterizam um bom texto. Mais importante do que isso, é a presença de densidade, avaliação, tomada de posição, conhecimento de mundo, presen-ça de outros discursos (intertextualidade), de memória social, entre outros elementos. A ter-ceira consideração é que “as verdadeiras mar-cas de autoria são da ordem do discurso, não do texto ou da gramática” (ibidem, p. 112). Ou seja, é preciso ter historicidade, tratar de eventos e coisas que têm sentido.

Ampliando suas ideias, o linguista afirma que alguém se torna autor quando assume duas atitudes, de forma consciente ou não, a saber:

dar voz a outros e manter distância em rela-ção ao próprio texto.

A primeira delas implica que sejam trazidas falas de outros enunciadores, de forma im-plícita ou explícita. Possenti defende que um texto de qualidade é aquele que sabe “como” dar voz aos outros, evitando a mesmice e bus-cando variações que obedecem a tomadas de posição adequadas ao contexto e que possam deixar o texto mais denso.

A segunda atitude de um autor é a de man-ter distância em relação ao seu próprio texto, marcando sua posição em relação ao que diz e em relação a seus interlocutores. Afinal, o sujeito sempre enuncia de uma posição, mas a língua não é um código que sirva a cada po-sição de forma transparente. Vemos exemplos desse distanciamento quando o autor: sus-pende o que está dizendo para explicar-se, diante de uma possível reação do outro; expli-cita em que sentido está empregando certas palavras; resume; retoma o que já disse; fala da própria linguagem, definindo, traduzindo, analisando ou avaliando certas expressões. Tais intervenções demonstram a singularida-de do autor, sua originalidade.

De modo resumido, sua tese é de que:

Esses recursos só fazem sentido quanto trata-dos a partir de condicionamentos históricos.

“Ser autorimplica em agenciar maisou menos pes-soalmente di-versos recursosde língua”Possenti

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se articule de uma maneira original. Em resu- mo, a autoria é “a marca singular e pessoal de quem escreve” (MATA, 2016, p. 87). Por fim, conclui:

Vários são os estudiosos sobre a autoria no contexto escolar, e a discussão não se esgota por aqui. Ela prossegue onde houver estudan-tes escrevendo textos e procurando imprimir neles suas “impressões digitais”, onde houver professores conscientes da importância de promover esse espaço de liberdade, expres-são, interação e encontro.

Já os manuais de capacitação dos corretores de redação do Enem (BRASIL, 2020) trazem o seguinte entendimento:

Mata (2016), um dos autores que assina o ma-terial pedagógico destinado aos avaliadores do Enem, relaciona autoria a originalidade, sendo esta determinada pelos indícios daque-la em um texto. Para ele, ser original é usar os elementos ligados à forma para construir, de modo singular, um texto com informações ou imagens que apresentem alguma novidade ou

Para nós, [...] na avaliação de redações, o concei-to de autoria se mostra relacionado ao projeto de texto elaborado e ao desenvolvimento de informa-ções, fatos e opiniões trazidos pelo participante em seu texto. Isso significa que uma redação com autoria é aquela em que o participante apresenta um projeto de texto estratégico e consegue cum-prir com êxito, de maneira consistente, o que foi programado nesse projeto, ou seja, apresenta ao leitor, de forma organizada e gradativa, a linha de raciocínio que mobilizou em defesa de um ponto de vista. (BRASIL, 2020, p. 7, grifo nosso)

E é aí que chegamos ao ponto-chave da questão dos indícios de autoria no texto escolar: a cons-ciência da escrita. A autoria é revelada na combi-nação entre forma e conteúdo, pela existência de um projeto para o texto que determina desde a se-leção das informações até a escolha das palavras, passando pelo modo como elas se arranjam no texto. Em um texto autoral, cada um dos elemen-tos selecionados para a escrita (fatos, informações, opiniões, vocabulário, sintaxe) tem como objetivo provocar um efeito no leitor. (MATA, 2016, p. 90)

Escolhendo ogênero textuala ser trabalhadono minicursoO artigo de opinião

As diretrizes atuais sobre o ensino de Língua Portuguesa no Brasil – incluindo a Educação Profissional e Tecnológica – afirmam que esse deve ser feito por meio dos gêneros discursi-vos. Nas atividades propostas, escolhemos tra-balhar a autoria a partir do artigo de opinião.

A priori, a escolha deveu-se especialmente por

conta do seguinte motivo: a tipologia pre-dominante nesse gênero é a argumentação, considerando uma habilidade importante para o desenvolvimento da participação crí-tica dos estudantes na totalidade social, pois a capacidade argumentativa é crucial para o exercício da cidadania nos espaços públicos de poder.

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Afinal, como já se pronunciou Breton (2003), sa-ber argumentar não é um luxo, mas sim uma ne-cessidade; não saber argumentar seria uma das grandes causas recorrentes da desigualdade-cultural, que se sobrepõe às tradicionais desi-gualdades sociais e econômicas, reforçando--as. Enfim, uma sociedade que não propõe a todos os seus membros os meios para serem cidadãos, isto é, para terem uma verdadeira competência ao tomar a palavra, não seria verdadeiramente democrática.

Ademais, o artigo de opinião pertence à esfe-ra jornalística, que se movimenta em torno do interesse público e da construção da cidada-nia, oferecendo aos leitores um retrato o mais fiel possível da realidade, colaborando para sua análise, discussão e transformação. Como matéria assinada, o artigo de opinião incen-tiva o estilo individual e a presença de traços autorais. Por assumir posição própria em de-bates públicos polêmicos, quem escreve pode tornar-se um formador de opinião.

Outro motivo para escolha do artigo de opi-nião foi sua semelhança com um texto de bastante interesse dos estudantes do Ensino Médio: a redação de vestibular. Quanto às ca-

“Saberargumentarnão é um luxo,mas sim umanecessidade”Philippe Breton

racterísticas do gênero, ambos contêm a defe-sa de um ponto de vista e estrutura igualmen- te dividida em introdução, desenvolvimento e conclusão. Tratam de temas da atualidade que podem ser motivados por alguma notícia ou acontecimento – polêmicos e até mesmo provocativos, exigindo de quem escreve a competência para selecionar os melhores ar-gumentos, sem desrespeitar o interlocutor ou subestimar posições alheias.

No entanto, apesar da semelhança de estru-tura e de finalidade, há diferenças significa-tivas entre os dois. A redação de vestibular é um gênero discursivo escolarizado de funcio-nalidade complexa, objeto simultaneamente de comunicação, de ensino/aprendizagem e meio de aprovação de vestibulares (FRANCO, 2005). Já o artigo de opinião nasce com o in-tuito de ser publicado em veículos de comu-nicação para leitores de diferentes perfis; não é destinado à exclusividade de um professor ou examinador da banca com fins avaliativos. Em nosso caso específico, a expectativa de pú- blico leitor dos artigos produzidos no minicur-so é toda a comunidade escolar da instituição onde será aplicado esse produto educativo.

Por fim, decerto a situação comunicativa da qual o gênero redação de vestibular faz par-te não condiz com o espaço de criatividade, estilo e busca de indícios de autoria que al-mejamos para o nosso produto educacional. Logo, concluímos que, escolhendo tal gênero em detrimento do artigo de opinião, o caráter social da escrita, exigência para a formação ci-dadã preconizada pela Educação Profissional e Tecnológica, poderia ser prejudicado.

Planejar antes de iniciar

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Escolhido e justificado o gênero discursivo apro-priado ao nosso produto, vamos à descrição de suas etapas, seus objetivos e suas atividades.

O minicurso é composto por estas etapas: Preparação; Módulos I, II, III, IV e Finalização. As aulas podem ser ministradas pelo profes-sor de Língua Portuguesa da turma – prefe-rencialmente, mas não exclusivamente –, contando com possíveis convidados. O perío-do total estimado para a realização das ativi-dades é de oito horas (ou 480 minutos).

Previamente ao primeiro encontro com os participantes, deve ser escolhido o gênero textual a ser trabalhado no minicurso. Deci-dimos pelo artigo de opinião, entretanto, res-saltamos que este não é o único gênero possí-vel para estudar e promover a escrita autoral, apesar de mostrar-se bastante apropriado aos nossos objetivos, conforme os argumentos anteriormente elencados.

Cabe a cada professor analisar o contexto em que o minicurso será aplicado e avaliar se há outro gênero mais pertinente para o seu pú-blico específico. Afinal, a nossa proposta não diz respeito ao estudo do gênero artigo de opi-nião, mas sim à escrita com indícios de auto-ria, que podem estar presentes em quaisquer textos, inclusive no campo da oralidade.

Do mesmo modo, na etapa de preparação, deve-rá ser investigado o conhecimento prévio dos participantes sobre o tema escrita autoral. Além disso, podem ser incluídas outras ques-tões, como a relação deles com a escrita em ge-ral e sua percepção sobre os objetivos do ensino da língua materna no ensino profissionalizante.

Esse estudo diagnóstico poderá ser feito por meio de um questionário ou de outro instru-mento de pesquisa, como observação ou en-trevista, sendo importante para adaptar as atividades e as estratégias adotadas em cada aplicação do produto.

Obviamente, o instrumental deve ser prepara-do cuidadosamente e providenciado antes do encontro com os participantes. Ele pode ser impresso ou estar no formato digital. O tempo previsto para aplicação é de 20 minutos. Apli-cado o questionário-diagnóstico, finaliza-se a etapa de preparação.

2 Todo o material produzido para a aplicação do Minicurso de Escrita Autoral em turma piloto está disponível para visualização e download através do link abaixo. Ele pode ser tomado como modelo para a confecção de um novo material, adaptado às necessidades do público. Quaisquer dúvidas ou pedidos devem ser enviados para o e-mail da pesquisadora: [email protected]. https://drive.google.com/drive/folders/1QzHckfWvMIJCp3HOWNlNDziEkoFqjfKb?usp=sharing.9

* Recursos: Computador com acesso à in-ternet ou cópias impressas do questioná-rio diagnóstico.

2

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Preparandoo minicursoPlanejar antes de iniciar

Objetivos Atividades

Planejamento do Minicurso de Escrita Autoral

.Escolher o gênero discursivo a ser trabalhado.. Investigar concepções dos participan-tes sobre ensino de Língua Portuguesa na EPT, escrita e autoria.

. Divulgar resultados do questionário.

. Esclarecer ideias equivocadas encon-tradas nas respostas ao questionário.. Apresentar aspectos teóricos e práti-cos sobre autoria.

. Identificar e discutir a presença de marcas autorais em um artigo de opi-nião.. Promover o compartilhamento de experiências sobre o processo individual de constituição de si como sujeito-autor.. Mostrar as características do gênero artigo de opinião.

. Fomentar o processo individual de constituição de si como sujeito-autor.. Orientar as etapas de planejamento, textualização e revisão de um artigo de opinião com foco na presença de mar-cas de autoria.

. Analisar a presença de indícios de autoria na produção textual dos partici-pantes e compartilhar com a turma.. Orientar a reformulação do artigo de opinião, com foco nas marcas de autoria.

Preparação(20 min)

Módulo I(1h 40min)

Módulo II(1h 40min)

Módulo III(1h 40min)

Módulo IV(1h 40min)

Etapa e tempode execução

Finalização( 1h)

. Aplicação de questionário- diagnóstico.

. Apresentação dos resultados doquestionário.. Aula expositiva dialogada sobre otema autoria.

. Estudo dirigido em grupo: análise de marcas autorais em um artigo de opinião.. Roda de conversa: “Eu, autor(a): quem sou e como isso se reflete na minha escrita?”.Tarefa de casa:. Estudo dirigido sobre o gênero arti-go de opinião.. Escolha de tema e pesquisa sobre ele para a produção de um artigo de opinião.

. Construção de mapa mental: “Eu, autor(a)”.. Planejamento e textualização de um artigo de opinião, com vistas à constituição da autoria.Tarefa de casa:. Revisão do artigo produzido, a partir de um guia de perguntas oferecido pelo professor.

. Aula expositiva dialogada com-partilhando a análise dos indícios de autoria presentes na produção textual dos participantes.. Reformulação e entrega do artigo.

. Analisar o produto educacional, me-diante sua validação pelos participantes.. Certificar os participantes.. Encerrar as atividades do minicurso.. Divulgar os textos produzidos no mini-curso

. Aplicação do questionário de validação.. Entrega do certificado de con-clusão aos participantes.. Confraternização de despedida.. Publicação dos artigos produzi-dos para a comunidade do IFS em espaços físicos e virtuais.

Fonte: Elaborado pela própria pesquisadora.

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Nessa perspectiva, tal exposição deverá ser preparada com bastante cuidado, deixando espaço para questionamentos, críticas e so-lução de dúvidas, e priorizando escutar os estudantes. O docente incentivará a partici-pação deles ao solicitar exemplos e buscar estabelecer conexões entre a experiência vi-vencial daqueles jovens, o objeto estudado e o todo da disciplina.

No Módulo I, é importante que as respostas sejam divulgadas aos participantes, assim como esclarecidas as informações equivo-cadas sobre os temas abordados. Convém fazer uma lista dessas crenças e ir retifican-do-as uma por uma. Em seguida, cabe uma explanação mais detalhada sobre a autoria, iniciando com seu conceito e passando à sua materialização nos textos escritos. Artigos de opinião publicados na mídia (ou trechos deles) podem servir como exemplos a serem analisados no que concerne à presença de marcas autorais. Comparar textos variados, de autores diferentes, promoverá nos alunos a habilidade de reconhecer, na escrita, tra-ços pessoais que outrora poderiam passar despercebidos por eles.

A explanação do conteúdo deve ser feita em uma aula expositiva dialogada, por meio de uma apresentação em formato de slides, atrativos e concisos, que consigam ganhar a atenção do público.

Módulo IO que os alunos precisamsaber sobre autoria

Deve-se dar preferência a textos atuais, cujos assuntos interessem aos alunos. Vale buscá--los tanto em jornais de relevância nacional, como em publicações locais e até em blogs e páginas de redes sociais, como Facebook e Instagram. Quem sabe seja possível, em con-versas informais, obter algumas dicas dos temas em voga e saber onde eles costumam buscar informações sobre notícias.

Diferente da aula expositiva tradicional, a dialogada tem a participação dos estudan-tes. O conteúdo é exposto com a participa-ção ativa deles, considerando seu conheci-mento prévio. Ou seja, o professor torna-se mediador para que questionem, interpretem e discutam o objeto de estudo.

* Estratégia: Aula expositiva dialogada, por meio de apresentação de slides.

* Organização do espaço: Carteiras em meia lua ou “U”, formato que proporciona contato visual entre todos os presentes e fa-vorece o debate coletivo, além de manter a possibilidade de foco no professor e na lou-sa, enquanto o conteúdo teórico é lá exibido.

* Avaliação: Participação dos alunos nas di-versas interações – perguntando, responden-do, acompanhando a compreensão e a análi-se dos conceitos apresentados e construídos.

* Recursos: Computador; pendrive; aparelho de datashow; lousa branca; cabos de cone-xão; caixa de som acústica, caso haja exibi-ção de áudio e vídeo.

]DICA

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DICA]

No Módulo II, os alunos irão identificar e dis-cutir, coletivamente, a presença de indícios de autoria em um artigo de opinião, a partir de um estudo dirigido com questões sobre ele.

Sugerem-se grupos compostos por quatro a seis pessoas, para que seja possível um debate frutífero, com diversidade de opiniões, porém garantindo que todos participem sem atro-pelos. Os integrantes devem discutir todas as questões e chegar a um acordo sobre as respos-tas; depois, escolher um representante e com-partilhá-las com a turma, de maneira resumida. A duração pretendida, entre organizar os gru-pos, responder as questões e compartilhar com a turma, é de uma hora-aula (50 minutos).

Escolhemos o estudo dirigido coletivo pois trabalhar em grupo é algo bastante comum em nosso cotidiano no mundo do trabalho. As dinâmicas de sala desse tipo favorecem o desenvolvimento de habilidades e competên-cias que não são possíveis no labor individual, como negociação, argumentação, responsa-bilidade compartilhada, divisão e delegação de tarefas (ANNUNCIATO; SEMIS, 2018).

Já com o intuito de compartilhar experiências sobre o processo individual de constituição de si como sujeito-autor, sugere-se uma roda de conversa. Essa ferramenta pedagógica foi es-colhida pois abre espaço para diálogos e inte-rações no contexto escolar, ampliando a per-

Módulo IIReconhecendo e se apropriandodos indícios de autoria na escrita

Novamente ressaltamos a importância da es-colha minuciosa de um exemplar adequado para essa atividade, atual e com tema de inte-resse do público, além de um estilo individual marcante e de fácil percepção.

]DICA

cepção sobre si mesmo e sobre o outro (GUAR-DA et al., 2013).

As rodas proporcionam momentos de fala e escuta, nos quais os jovens poderão ter sua voz ouvida, expressando seus desejos e suas angústias, como também sua visão do mundo que o cerca. Aceitar o convite para construir seu próprio discurso favorece a construção da autonomia e do pensamento crítico-reflexivo e, por conseguinte, da autoria.

A proposta do nosso minicurso é uma roda de conversa com o tema “Eu, autor(a): quem sou e como isso se reflete na minha escrita?” Ela será composta, naturalmente, pelos partici-pantes, pelo ministrante, mas também podem incluir convidados, de preferência pessoas com experiência no mundo da escrita

Que tal algum aluno, professor ou funcionário da instituição que tenha material publicado fí-sica ou virtualmente – poemas, romances, en-saios etc.?! Melhor seria um articulista de jor-nal local, cujos artigos fossem conhecidos pela sua singularidade! Uma das publicações dele, inclusive, poderia ser analisada na aula exposi-tiva dialogada sobre autoria, mostrando como ela se materializa nos textos.

]DICA

A finalidade dessa roda de conversa é fazer com que cada um reflita sobre suas características pessoais, seu lugar de fala, seus gostos, seus valores, suas crenças, seus posicionamentos, e como esses traços de sua subjetividade estão presentes (ou não) em sua escrita, marcando um estilo próprio.

Caso haja convidados, eles poderão iniciar as discussões, falando do modo como imprimem a autoria em seus textos. Em seguida, os alunos poderão compartilhar suas experiências (ou inex-

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Segundo Libâneo (2004), a tarefa de casa tem sua importância como complemento didático ao que foi desenvolvido nas aulas. Ela pode se cons-tituir de tarefas preparatórias para a aula (leitura, pesquisa) ou tarefas de aprofundamento (um es-tudo dirigido individual, por exemplo). Além disso, exerce uma função social, pois permite que os pais tenham contato com o trabalho realizado na esco-la de seus filhos, funcionando como meio de inte-ração entre a família e a instituição educacional.

DICA

Cabe esclarecer aos participantes que essa pes-quisa não será uma atividade obrigatória, mas terá grande utilidade na construção do artigo de cada um, ao final do minicurso; sugere-se que seja realizada por meios digitais, em suas residências, ou mediante consulta à biblioteca existente naquela unidade educativa.

Para o estudo proposto, deve ser comparti-lhado um conjunto de perguntas norteadoras acerca do gênero discursivo trabalhado, con-forme exemplificado abaixo:

• Com que objetivos se escreve um artigo de opinião?• Em que situações de comunicação é usado?• Que assuntos normalmente são discutidos?• Qual o tipo de linguagem usada?• Qual o tamanho (quantidade de páginas ou linhas)?• Devo usar a primeira pessoa ou manter o texto im-pessoal?• Qual é a estrutura?

Quais as característicasdesse gênero textual?

* Estratégia: Estudo dirigido em grupo de 4 a 6 pessoas; roda de conversa; estudo dirigi-do individual para casa.

* Organização do espaço: Para o estudo dirigido em grupo, as carteiras devem ser arrumadas em grupos com quatro ou mais pessoas, ideal para atividades de pluralidade de olhares e debate de hipóteses; na roda de conversa, as carteiras devem estar organiza-das em formato de círculo, permitindo o en-volvimento equânime de todos.

* Avaliação: No trabalho em grupo, os es-tudantes devem ser avaliados mediante o acompanhamento da produção, conside-rando o modo como as questões propostas são resolvidas, as questões dirigidas pelos grupos ao professor, as revisões que lhe são solicitadas, a interação e o desempenho de cada um dos alunos em seu grupo; na roda de conversa, devem ser observadas as inte-rações com o grupo; a tarefa de casa não ne-cessita ser avaliada.

* Recursos: Cópias impressas do estudo diri-gido em grupo e do estudo dirigido individu-al (que podem ser substituídas por arquivos digitais compartilhados por meio de link).

Quanto ao tema, deve ser livre, a fim de que cada um possa falar do que tiver vontade, afi-nal, ter nas mãos o poder de escolha sobre o que escrever favorece sobremaneira a presen-ça de marcas autorais.

Caso os alunos requisitem, será compartilha-da uma lista com sugestões de temas. Eles devem escolher apenas um e pesquisar so-bre ele, buscando conceitos, notícias, opini-ões, produtos culturais relacionados, enfim, informações gerais que lhes deem apoio na construção de um raciocínio argumentativo eficiente para a escrita do artigo de opinião.

periência) como escritores e sujeitos-autores, além de fazer perguntas aos convidados, esti-mulando um diálogo o mais horizontal possível. O ministrante ou mesmo outra pessoa do grupo deve ficar responsável por registrar os principais pontos da conversa (podendo até ser gravada ou filmada). O tempo destinado à ação é de uma hora-aula (50 minutos).

• Quantos parágrafos deve ter?• Como é um bom artigo de opinião? (leitura de modelos)• Que marcas de autoria eu posso colocar nele?

Fonte: Elaborado pela própria pesquisadora.

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Estudo dirigido individual com a finalidade de conhecer as características do artigo de opinião, além da escolha de tema para a produção textu-al desse gênero.

]

TAREFA DE CASA

Eis um modelo que pode ser compartilhado com os participantes:

Sugere-se que os participantes utilizem ma-teriais diversos para compor seu mapa, ex-plorando não só os recursos verbais, como os não-verbais. Podem ser feitos desenhos, cola-gens, pinturas; usados lápis de cor, caneta hi-drocor, adesivos, fotografias, fitas decorativas, imagens etc. A ideia é que a criatividade seja amplamente experienciada. Para isso, é preci-so avisar com antecedência para que o mate-rial seja trazido no dia reservado ao Módulo III.

Será destinado o tempo de 30 minutos para a conclusão da atividade. O ministrante deve guardar o material produzido, para análise posterior, através de registro fotográfico, com a devida permissão do aluno. Este deve manter o mapa sob sua posse, a fim de inspirá-lo e até guiá-lo nas próximas ações.

Após todos esses passos, chega-se finalmen-te à produção textual, respeitando as eta-pas desse processo: planejamento, textu-alização (escrita), revisão e reformulação – os três primeiros, no Módulo III; o último, no Módulo IV.

No Módulo III, com o propósito de fomentar o processo individual de constituição de si como sujeito-autor, deve ser solicitada a construção de um mapa mental, nomeado “Eu, autor(a).”

Tal recurso, porém, não terá o objetivo de costume – orientar-se e memorizar os pontos mais importantes de um conteúdo programá-tico. Na verdade, o intuito é fazer o aluno en-contrar, dentro de si, seu estilo, sua singulari-dade, seu traço pessoal.

Nesse sentido, os mapas devem ser criados a partir de perguntas sobre as características de cada um, provocando autorreflexões, que contribuam para a materialização das suas “impressões digitais” no texto escrito.

As perguntas devem direcionar o estudante a ter consciência sobre: o lugar que ocupa na sociedade em que vive; seus posicionamentos político-ideológicos; seu lugar de fala ; suas crenças; seus gostos; ideias e pessoas que lhe representam de algum modo.

Módulo IIIEu, autor (a)

3 “Lugar de fala” se refere ao lugar social que grupos de pessoas ocupam dentro da estrutura social, determinado por intersecções de raça, classe, gênero, sexualidade etc. (RIBEIRO, 2017). 4 Mood é uma palavra da língua inglesa que significa humor, modo de sentir, disposição de ânimo, estado de espírito. É usada para expressar a forma como alguém se sente naquele determinado momento: feliz, cansado, entediado, com medo etc.

“A intenção, oprojeto de texto e o trabalho com alinguagem são oselementos funda-mentais na cons-trução da autoria”Luciano Vidon

3

Fonte: Elaborado pela própria pesquisadora.

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4

Na produção escrita, o aluno precisa conhe-cer não só a situação comunicativa, como também as características prototípicas do gênero que será trabalhado. A partir disso, poderá decidir quais recursos da língua irá agenciar mais ou menos pessoalmente, con-forme seu saber pessoal, produzindo efeitos de autoria.

Quando ele organiza sua escrita e promove estratégias discursivas indicativas de um per-curso argumentativo a ser seguido, antecipa a interpretação do leitor e direciona-a no senti-do desejado. Assim, mostra sua presença no texto, suas marcas autorais. Em sala de aula, os participantes deverão planejar e escrever (nessa ordem e individualmente) um artigo de opinião sobre o tema escolhido no Módulo II, com foco na presença de indícios de autoria. Para fins de consulta, recomenda-se compar-tilhar com a turma o material em slides usa-do nas aulas, nos quais eles poderão revisar os exemplos de traços de estilo presentes nos artigos já discutidos.

A extensão do texto será escolhida pelo aluno, considerando a quantidade de tempo dispo-nível e as características daquele gênero dis-cursivo – espera-se algo entre 15 e 60 linhas. Poderão ser distribuídos modelos de plano de texto do tipo dissertativo-argumentativo, caso isso seja solicitado. Tanto a etapa de pla-nejamento quanto a de textualização devem ser acompanhadas pelo professor, que terá o papel de orientar, esclarecer dúvidas e ofere-cer sugestões quando for requisitado.

Ao orientar os aprendizes, faz-se necessário conscientizá-los de que “O trabalho de produ-ção de um texto é um trabalho de escolha e uti-lização dos recursos linguísticos que permitam melhor viabilizar a intenção comunicativa que se tem, face a fatores textuais, ideacionais e in-terpessoais” (KOCH; TRAVAGLIA, 2006, p. 106).

Em outras palavras, é importante levar em con-ta a situação comunicativa real (o texto será lido pela comunidade escolar, não só pelo profes-sor!) e atentar-se às escolhas linguísticas e aos efeitos de sentido por ela provocados. Outros-sim, o professor pode indicar que tomem como ponto de partida de sua produção as aulas sobre autoria, e como inspiração o seu mapa mental.

Para isso, serão disponibilizados 70 min (1h 10min). Espera-se que os estudantes conclu-am o planejamento e a textualização de forma presencial em nosso encontro; porém, se não for possível, deverão levar isso como tarefa de casa. Optamos por deixar para casa também a etapa de revisão, pelo único motivo da escas-sez de tempo para concluir todas as ações do minicurso no período total de sete horas.

Para auxiliá-los no processo de autorrevisão, sugere-se que o professor distribua um guia com perguntas que façam o aluno refletir se sua produção se adequa ao que é esperado pelo gênero e pela situação comunicativa, con-forme exemplificado por Laginestra (2020) :

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5 Essa lista de perguntas faz parte do caderno docente do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária) sobre o gênero artigo de opinião, disponibilizado publicamente como apoio para a “Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro”. Ele pode ser encontrado no endereço eletrô-nico https://www.escrevendoofuturo.org.br/concurso, na aba “Recursos” > “Cadernos docentes”.

Autorrevisão do artigo produzido, a partir de um guia de perguntas oferecido pelo professor.

TAREFA DE CASA

✓ Seu artigo parte de uma questão polêmica?

✓ Você colocou o(a) leitor(a) a par da questão?

✓ Tomou uma posição?

✓ Introduziu sua opinião com expressões como “penso que”, “na minha opinião”?

✓ Levou em consideração os pontos de vista de opositores para construir seus argumentos? Por exemplo: “Para fulano de tal, a questão é sem so-lução. Ele exagera, pois...”.

✓ Utilizou expressões que introduzem os argu-mentos, como “pois”, “porque”?

✓ Utilizou expressões para anunciar a conclusão, como: “então”, “assim”, “portanto”?

✓ Concluiu o texto reforçando sua posição?

✓ Verificou se a pontuação está correta?

✓ Corrigiu os erros de ortografia?

✓ Substituiu palavras repetidas e eliminou as desnecessárias?

✓ Escreveu com letra legível para que todos pos-sam entender?

✓ Encontrou um bom título para o artigo?

(LAGINESTRA, 2020, p. 180)

Como consequência, a artificialidade da situ-ação comunicativa que envolve a produção de textos na escola é minimizada, pois não se escreve exclusivamente para ser avaliado e corrigido pelo professor; há a expectativa de leitores reais e o cuidado de escrever um texto que chegue até eles com a melhor qua-lidade possível.

* Estratégia: confecção de mapa mental; planejamento e textualização de artigo de opinião.

* Organização do espaço: Para a constru-ção do mapa mental, o espaço deve estar organizado com o máximo de liberdade pos-sível – as carteiras podem estar dispostas da maneira que ofereça melhor conforto aos participantes, de acordo com sua vontade; para produção do artigo, a arrumação das carteiras deve garantir a concentração ne-cessária para que cada um, individualmente, planeje e escreva seu texto – o modelo tradi-cional, de fileiras individuais justapostas em linhas paralelas, é permitido.

* Avaliação: Tanto no mapa mental quanto na produção do artigo, deve ser analisada a pre-sença de indícios de autoria.

* Recursos: Nessa aula, é indicado que os alunos providenciem os próprios recursos, mas o ministrante também pode oferecê-los – papéis pautados (para escrever o artigo), papéis sem pauta, cartolina, papel escolar colorido, conjunto de lápis de cor, conjunto de caneta hidrocor, canetas marca-texto, tin-ta, tesoura, cola, fita adesiva decorada, recor-tes de revistas, fotografias, enfim, materiais diversos para confecção do mapa mental.

As etapas de revisão e reformulação são de-veras importantes, pois configuram-se como momentos nos quais o produtor do texto coloca-se no papel de leitor e também de re-visor, analisando de forma crítica e reflexiva suas escolhas linguísticas, estratégias argu-mentativas e marcas pessoais. Ou seja, o alu-no é levado a pensar sobre sua própria escrita; por outro lado, a escola o reconhece como su-jeito que compartilha conhecimento.

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Após a revisão, as produções iniciais devem ser entregues temporariamente ao docente, de preferência via e-mail, dentro de um pra-zo previamente combinado com a turma, que seja anterior à realização do Módulo IV. Então, este analisará a presença de indícios de autoria em todos os artigos recebidos, tomando como base o referencial teórico sobre o assunto, em especial as ideias de Possenti (2002; 2013).

De posso dos registros fotográficos dos ma-pas mentais, feitos no Módulo III, irá analisar a correlação entre as marcas pessoais coloca-das no mapa mental e no artigo, similar a um cruzamento de dados. Ou seja, poderá ques-tionar-se: O sujeito desenhado no mapa men-tal é o mesmo que expôs seu ponto de vista no artigo, ou neste ele “apagou”, “escondeu” suas marcas pessoais? Há referências de me-mória social comuns a ambos os textos (um mesmo livro citado nos dois, por exemplo)?

Os resultados dessas análises irão compor o conteúdo, formatado na apresentação de sli-des, da aula expositiva dialogada que inicia-rá o encontro presencial para a realização do Módulo IV. O professor escolherá um ou mais artigos de maior destaque, a fim de servir de exemplo a ser compartilhado com a turma, mostrando como a autoria foi ali materializa-da. Podem ser mostrados para o grupo tam-bém um ou mais exemplares do mapa mental, com o intuito de compará-lo com o artigo do mesmo autor.

Acreditamos que as análises feitas pelo minis-trante serão deveras úteis no processo final da produção do texto: a reformulação. Observan-do os traços de estilo manejados nos textos de

Módulo IVEscrevendo comautoria

seus colegas, por consequência, os participan-tes estarão mais conscientes das suas próprias escolhas discursivas. O tempo disponível para essa ação é de uma hora-aula (50 minutos).

Munidos desses conhecimentos, chegamos na fase de reformulação. As produções textuais serão devolvidas e, em sala de aula, orienta-dos pelo docente, os participantes, devem reescrever seus artigos de opinião, corrigindo--os e fazendo melhorias neles, até que se che-gue a uma versão final, que deve ser passada a limpo e entregue ainda naquele encontro. Caso isso não aconteça, pode-se abrir a pos-sibilidade de envio por e-mail, o mais rapida-mente possível.

Desde o início, deve estar muito claro para o aluno que o único critério avaliativo da pro-dução gerada no minicurso será a presença de indícios de autoria. Naturalmente, devem ser observados outros pontos, como corre-ção gramatical, coesão, coerência, estrutura, organização das ideias etc. – afinal, os textos estão sendo escritos com o intuito de serem publicados e, para isso, necessitam estar ade-

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quados à compreensão dos leitores. O profes-sor e os demais colegas podem ajudá-los nes-se sentido. Todavia, o foco de todas as etapas, incluindo a reformulação, é a presença de in-dícios autorais.

O tempo disponível para a tarefa é de uma ho-ra-aula (50 minutos). O Módulo IV encerra as aulas propriamente ditas do minicurso.

madas em formato de meia-lua; na fase da re-formulação, elas podem ser mantidas dessa maneira ou enfileiradas do modo tradicional.

* Avaliação: Na aula expositiva dialogada, deve-se observar como os jovens participam e interagem durante a aprendizagem; na re-formulação do artigo, deve ser analisado se o aluno consegue avaliar o próprio texto e apri-morá-lo, especialmente no que diz respeito à presença de marcas autorais.

* Recursos: Computador; pendrive; aparelho de datashow; lousa branca; cabos de cone-xão; caixa de som acústica, caso haja exibi-ção de áudio e vídeo.

Finalizandoas atividadesFazer ouvir nossas vozes

Ministradas todas as aulas, restam apenas ações destinadas à conclusão do evento. Findada a aplicação do produto, é preciso avaliá-lo; para isso, deve ser oferecido aos participantes um instrumento de validação, de preferência, um questionário, impresso ou no formato digital, disponibilizado no For-mulários Google ou plataforma semelhante. A partir de sua análise e da observação ao longo do minicurso, devem ser feitas as mo-dificações necessárias a fim de replicá-lo em edições futuras.

Um certificado de conclusão deve ser entregue a cada um dos participantes, de modo a regis-

trar formalmente o aprendizado alcançado e sobretudo agradecer-lhes a contribuição, in-centivando-os a participarem de outras ações pedagógicas ofertadas.

Para encerrar as atividades presenciais, pode ser realizada uma pequena confraternização de despedida com a turma. O tempo estima-do para tais ações é de uma hora (60 minutos).

Após o encerramento dos encontros presen-ciais, faz-se mister uma importante ação do mi-nicurso: divulgar os textos produzidos pelos participantes. Podem ser escolhidos apenas al-guns com maior destaque ou publicados todos.

* Estratégia: Aula expositiva dialogada; re-formulação de artigo de opinião.

* Organização do espaço: Na aula expositi-va dialogada, as carteiras podem estar arru-

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Na comunidade escolar, os textos podem ser afixados em murais ou outros espaços de ex-posição, talvez na biblioteca. Caso haja opor-tunidade, podem fazer parte de um jornal es-colar ou compor um caderno com pequena tiragem, distribuído entre colegas e familiares.

Porém, consideramos mais interessante a divulgação no universo virtual, que alarga o horizonte de possíveis leitores. Eis algumas opções: a página da unidade de ensino; um

* Recursos: Computadores ou smartphones com acesso à internet, ou cópias impressas do questionário de validação; certificados de conclusão impressos; comidas, bebidas e material descartável, caso desejem confra-ternizar-se.

perfil no Facebook, no Instagram, ou um blog, criado exclusivamente com esse fim; revistas e jornais eletrônicos de pequena circulação.

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Esperamos que este produto educacional oferecido possa servir às instituições de Educação Profissional como um caminho em direção à formação integrada. Um caminho cujo chão ainda necessita de nivelamento e solidez, mas que conhe-ce a direção.

Ainda há muito a fazer, decerto. Tentamos contribuir com nossa parte, e ficamos contentes e agradecidos por ter apresentado aos alunos do Ensino Médio Integra-do uma oportunidade de fazer com que eles se expressem e vivam seu amor pela escrita. Que esta oportunidade chegue a todos os docentes da Rede de Educação Profissional e Tecnológica.

Um grande efraternal abraço!

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