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Setembro de 2009 éISTITUTO SUPERIOR DE EGEHARIA DE LISBOA Departamento de Engenharia Civil ISEL Avaliação da Segurança Rodoviária – Proposta de Abordagem Metodológica – EDUARDO MANUEL DOS SANTOS NABAIS Licenciado Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Orientadores: Mestre Paulo José de Matos Martins, Professor Adjunto (ISEL) Dr. José Alexandre Narigueta Maçarico Júri: Presidente: Doutora Maria da Graça Alfaro Lopes, Professora Coordenadora com agregação (ISEL) Vogais: Doutora Bertha Maria Batista dos Santos, Professora Auxiliar (UBI) Mestre Paulo José de Matos Martins, Professor Adjunto (ISEL) Dr. José Alexandre Narigueta Maçarico I

Avaliação da Segurança Rodoviária– Proposta de Abordagem Metodológica

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O sistema de transportes rodoviário é avaliado habitualmente por quatro parâmetros de desempenho: acessibilidade, mobilidade, economia e ambiente. A sinistralidade rodoviária representa actualmente, em termos sociais e económicos, é essencial que a engenharia rodoviária consiga avaliar objectivamente a segurança rodoviária. É apresentada nesta dissertação uma proposta de abordagem metodológica da questão anterior, que assenta num desenvolvimento baseado na Aproximação Empírica de Bayes (AEB), sendo estruturado no pressuposto de vir a ser uma componente a ser integrada num sistema global de monitorização e maximização da segurança rodoviária. Esta abordagem metodologia pode vir a ser aplicada com grande sucesso aos procedimentos de gestão da segurança rodoviária e consequentemente facilitar também, ao nível estratégico, a estabilização das variáveis macroscópicas relevantes para a aferição global do desempenho no âmbito da segurança rodoviária e consequentemente, do sistem

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  • Setembro de 2009

    ISTITUTO SUPERIOR DE EGEHARIA DE LISBOA

    Departamento de Engenharia Civil

    ISEL

    Avaliao da Segurana Rodoviria

    Proposta de Abordagem Metodolgica

    EDUARDO MANUEL DOS SANTOS NABAIS Licenciado

    Dissertao para a obteno do Grau de Mestre em Engenharia Civil

    Orientadores:

    Mestre Paulo Jos de Matos Martins, Professor Adjunto (ISEL) Dr. Jos Alexandre Narigueta Maarico

    Jri: Presidente: Doutora Maria da Graa Alfaro Lopes, Professora Coordenadora com

    agregao (ISEL) Vogais: Doutora Bertha Maria Batista dos Santos, Professora Auxiliar (UBI)

    Mestre Paulo Jos de Matos Martins, Professor Adjunto (ISEL) Dr. Jos Alexandre Narigueta Maarico

    ISEL

  • - i -

    Titulo: AVALIAO DA SEGURAA RODOVIRIA - PROPOSTA DE ABORDAGEM

    METODOLGICA -

    Nome: Eduardo Manuel dos Santos Nabais

    Mestrado em Engenharia Civil

    Orientador: Mestre Paulo Jos de Matos Martins, Professor Adjunto (ISEL)

    Provas concludas em 15 de Setembro de 2009

    RESUMO O sistema de transportes rodovirio avaliado habitualmente por quatro parmetros de

    desempenho: acessibilidade, mobilidade, economia e ambiente. Face dimenso do problema

    que a sinistralidade rodoviria representa actualmente, em termos sociais e econmicos,

    essencial que a engenharia rodoviria consiga avaliar objectivamente a segurana rodoviria.

    Mas como medir a Oferta da Segurana Rodoviria?

    apresentada nesta dissertao uma proposta de abordagem metodolgica da questo

    anterior, que assenta num desenvolvimento baseado na Aproximao Emprica de Bayes

    (AEB), sendo estruturado no pressuposto de vir a ser uma componente a ser integrada num

    sistema global de monitorizao e maximizao da segurana rodoviria. Esta abordagem

    metodologia pode vir a ser aplicada com grande sucesso aos procedimentos de gesto da

    segurana rodoviria e consequentemente facilitar tambm, ao nvel estratgico, a

    estabilizao das variveis macroscpicas relevantes para a aferio global do desempenho no

    mbito da segurana rodoviria e consequentemente, do sistema rodovirio.

    A proposta metodolgica apresentada foi testada com sucesso atravs de um estudo de caso

    no IC1. Este itinerrio foi seccionado em 43 troos homogneos (face ao ambiente

    rodovirio), nos quais foi analisado o volume de exposio ao risco e a frequncia observada

    de acidentes, para um perodo de 5 anos (2003-2007).

    Palavras-chave:

    - Segurana Rodoviria - Sinistralidade Rodoviria - Gesto do risco - Monitorizao da Segurana Rodoviria - Engenharia de trfego - Sistemas de informao geogrfica;

  • - iii -

    Title: ROAD SAFETY EVALUATIO - PROPOSAL FOR METHODOLOGICAL

    APPROACH

    ABSTRACT The road transport system is usually evaluated through four performance parameters:

    accessibility, mobility, economy and environment. Due to the dimension of the problem that

    road casualties represent nowadays, both socially and economically, it is essential that road

    engineering is able to objectively assess road safety.

    How to measure the Road Safety Offer?

    A proposal to address this issue methodologically is presented in this dissertation. It rests on a

    development based on Empirical Bayes (EB) Method and it is structured with a view to

    become a component integrated in a global system to monitor and maximize road safety. This

    methodological approach may be used successfully in road safety management procedures. At

    a strategic level, it may also promote the stabilization of macroscopic variables which are

    relevant to gauge performances to what concerns road safety and, consequently, the road

    system.

    The methodological proposal presented has been successfully tested through a case study in

    IC1. This road has been divided into 43 homogeneous sections (according to the road

    environment) in which we analyzed the amount of risk exposure and the observed accident

    rate over a period of 5 years (2003-2007).

    Key-Words:

    - Road Safety - Road Accidents - Risk management - Monitoring Road Safety - Traffic Engineering - Geographic information system

  • - v -

    AGRADECIMENTOS Movido pela forte motivao profissional e um interesse pessoal no desenvolvimento das

    minhas capacidades como engenheiro rodovirio, e embora seja, sobretudo um trabalho

    individual, h contributos que no podem e nem devem deixar de ser realados. Por essa

    razo, desejo manifestar os meus sinceros agradecimentos:

    Ao ex-colega Paulo Martins, orientador cientifico, pelo entusiasmo com que acolheu o tema

    proposto e motivao que transmitiu durante todo o processo, constante disponibilidade

    pessoal e de meios, amizade e sobretudo nas criticas e sugestes relevantes feitas durante a

    orientao.

    Ao Jos Maarico, co-orientador desta dissertao e colega, pela partilha de conhecimentos,

    disponibilidade, viso objectiva e apoio.

    Aos meus grandes amigos, Idlia Gomes e Jos Gomes gostaria de agradecer a amizade, o

    companheirismo, o incentivo, a disponibilidade e os bons momentos de convvio e distraco,

    essenciais para o sucesso deste trabalho.

    minha irm, Teresa e ao amigo Nuno Martins pela disponibilidade intensiva do hardware

    e pela leitura, criticando e sugerindo pequenas alteraes para uma melhor compreenso, o

    que me permitiu, em muitos momentos reunir as condies que me ajudaram a levar a bom

    porto este estudo. Aos meus pais, pelo estmulo e apoio incondicional, pela pacincia com que

    sempre me ajudaram.

    Aos meus actuais colegas de profisso e amigos, Ana Vicente, Raquel Simo e Carlos Matos

    pela ajuda e algum sacrifcio nos momentos chave e difceis, que me permitiram dedicar

    tempo precioso para a concluso da dissertao.

    EP Estradas de Portugal, S.A., pelo reconhecimento do meu trabalho e consequente

    concesso de auxlio financeiro, meios e manancial de informao sem os quais no seria

    possvel atingir os objectivos pretendidos. Ao Director do Departamento de Segurana

    Rodoviria, Eng. Antnio Martins, apoio e incentivo demonstrados durante este trabalho.

  • - vii-

    NDICE RESUMO ................................................................................................................................................................ i

    ABSTRACT ......................................................................................................................................................... iii

    AGRADECIMENTOS ......................................................................................................................................... v

    NDICE ................................................................................................................................................................ vii

    NDICE DE FIGURAS ........................................................................................................................................ ix

    NDICE DE GRFICOS ..................................................................................................................................... xi

    NDICE DE QUADROS ..................................................................................................................................... xiii

    CAPTULO I - Introduo 1

    1. ENQUADRAMENTO 1

    2. OBJECTIVOS 9

    3. ESTRUTURA DO TRABALHO 10

    CAPTULO II - Reflexes sobre a Segurana Rodoviria 13

    1. O FENMENO SINISTRALIDADE RODOVIRIA 13

    2. DIMENSO DO PROBLEMA 17

    3. FACTOR HUMANO 25

    4. AMBIENTE RODOVIRIO 31

    5. DADOS: UMA NECESSIDADE CONSTANTE 37

    6. ABORDAGEM AO PROBLEMA 42

    CAPTULO III - Enquadramento metodolgico 49

    1. INTRODUO 49

    2. METODOLOGIAS DE IDENTIFICAO DE TROOS DE ELEVADA SINISTRALIDADE 51

    3. INDICADORES DE DESEMPENHO E FACTORES DE RISCO 57

    4. ANLISE DA OFERTA DA SEGURANA 60

  • - viii -

    5. APROXIMAO EMPRICA DE BAYES COMO METODOLOGIA PARA CLCULO DA OFERTA DA SEGURANA 65

    6. SISTEMA DE MONITORIZAO E MAXIMIZAO DA SEGURANA RODOVIRIA 67

    CAPTULO IV - Modelo de simulao e previso - estudo de caso 71

    1. CONSIDERAES INICIAIS 71

    2. PROCEDIMENTOS DE CLCULO 73

    3. MODELO GEOGRFICO 73

    4. AFECTAO DE DADOS 76

    5. INDICADORES DE DESEMPENHO 79

    6. EFEITO DE REGRESSO MDIA 80

    7. CLCULO DA FUNO DE DESEMPENHO DA SEGURANA 83

    8. APLICAO DA METODOLOGIA AEB 86

    CAPTULO V - Concluses 91

    1. PRINCIPAIS CONSIDERAES 91

    2. IDENTIFICAO DOS FACTORES CRTICOS DE SUCESSO 96

    3. PERSPECTIVA FUTURA: IMPLEMENTAO DO SISTEMA DE MONITORIZAO E MAXIMIZAO DA SEGURANA RODOVIRIA 97

    REFERCIAS BIBLIOGRFICAS 99

    AEXO I - Resultados da aplicao da metodologia AEB A1

    AEXO II - Projectos promovidos pela Comisso Europeia A3

    AEXO III - Relao custo beneficio (oruega) A9

    AEXO IV - Sinistralidade Rodoviria no IC1 entre 2003 e 2007 A11

  • - ix-

    NDICE de figuras

    Figura 1.1 Sistema de transportes rodovirio ......................................................................................... 2

    Figura 1.2 Avaliao dos estados membros da unio europeia na reduo no nmero de vtimas mortais ............................................................................................................................... 6

    Figura 1.3 Elementos base de um sistema de monitorizao e maximizao da segurana rodoviria ........................................................................................................................... 8

    Figura 2.1 Influncia das componentes do sistema de trfego nos acidentes rodovirios ................... 14

    Figura 2.2 Principais grupos e factores de risco preconizados na ENSR ............................................. 24

    Figura 2.3 Sntese da definio da ENSR ............................................................................................ 25

    Figura 2.4 Classificao de aces no seguras ................................................................................... 27

    Figura 2.5 O acidente como uma cadeia de eventos especficos .......................................................... 31

    Figura 2.6 Ideia base do conceito da estrada auto-explicativa ............................................................. 33

    Figura 2.7 Mau traado: pequeno alinhamento entre duas curvas com o mesmo sentido ................... 34

    Figura 2.8 Mau traado: pequeno trainel entre duas concordncias cncavas ..................................... 34

    Figura 2.9 Rede Rodoviria Nacional .................................................................................................. 35

    Figura 2.10 Boletim Estatstico de Acidente de Viao ....................................................................... 40

    Figura 2.11 Dimenso da fonte de informao vlida para a anlise objectiva da Segurana Rodoviria ........................................................................................................................ 41

    Figura 2.12 Sistema de transportes ...................................................................................................... 42

    Figura 2.13 Etapas de realizao das ASR ........................................................................................... 47

    Figura 3.1 Sistema monitorizao e maximizao de segurana rodoviria modelo de simulao do risco ........................................................................................................... 51

    Figura 3.2 Representao do Problema da Segurana Rodoviria ....................................................... 61

    Figura 3.3 Funes tipo de modelos de previso de acidentes ............................................................. 64

    Figura 3.4 Lgica de estimao da aproximao emprica de Bayes ................................................... 66

    Figura 3.5 Arquitectura de um sistema de monitorizao e maximizao da segurana rodoviria ......................................................................................................................... 68

  • - x -

    Figura 4.1 Estudo de caso: Itinerrio Complementar n. 1 (IC1) ......................................................... 72

    Figura 4.2 Seccionamento da infra-estrutura ....................................................................................... 75

    Figura 4.3 Troo nmero 19 Exemplo de aplicao ......................................................................... 86

  • - xi -

    NDICE de grficos

    Grfico 1.1 Evoluo da circulao vs. gravidade ................................................................................. 4

    Grfico 1.2 Evoluo do nmero de vtimas mortais nos Estados Membros da EU entre 2001 e 2008 .................................................................................................................................. 5

    Grfico 2.1 Evoluo do nmero de vtimas mortais: 1991 2008 (UE 15 e UE 27) ......................... 19

    Grfico 2.2 Evoluo do nmero de vtimas mortais em Portugal: 1991 2008 ................................. 20

    Grfico 2.3 Evoluo do nmero de vtimas mortais por 1.000.000 hab. na UE27 entre 1995 e 2008 ................................................................................................................................ 21

    Grfico 2.4 Evoluo do nmero de vtimas mortais entre 1990 e 2008 ............................................. 23

    Grfico 2.5 Medidas de Segurana rodoviria e evoluo do nmero de vtimas mortais: 1975 - 2008 ................................................................................................................................ 28

    Grfico 3.1 Evoluo do nmero de Pontos Negros entre 1995 e 2008 em Portugal .......................... 54

    Grfico 3.2 Evoluo do nmero de vtimas mortais em Pontos Negros entre 1995 e 2007 em Portugal .......................................................................................................................... 55

    Grfico 3.3 Efeito de regresso mdia para estradas do tipo A ......................................................... 63

    Grfico 4.1 Anlise comparativa da evoluo do nmero de acidentes e do volume de exposio ao risco .......................................................................................................... 80

    Grfico 4.2 Evoluo das taxas agregadas de acidentes com vtimas por classe estatstica (2003 a 2007) ............................................................................................................................ 83

    Grfico 4.3 Grfico scatterplot correlao entre o volume de exposio e a ocorrncia de acidentes com vtimas no IC1 (2003 a 2007) ................................................................. 84

    Grfico 4.4 Funo de Desempenho da Segurana entre 2003 a 2007: acidentes com vtimas ........... 85

    Grfico 4.5 Funo de Desempenho da Segurana entre 2003 a 2007: troo n. 19 ............................ 87

  • - xiii -

    NDICE de quadros

    Quadro 2.1 Principais causas de morte em 2004 e 2030 ...................................................................... 18

    Quadro 2.2 Factores de correco ........................................................................................................ 22

    Quadro 2.3 Matriz de Haddon.............................................................................................................. 29

    Quadro 2.4 Matriz dos factores determinantes da gnese dos acidentes constante na ENSR ............. 30

    Quadro 2.5 Dados de entrada num sistema de monitorizao ............................................................. 38

    Quadro 2.6 Evoluo da abordagem Segurana Rodoviria ............................................................. 43

    Quadro 3.1 Definies de Pontos Negros em alguns pases da Europa ............................................... 52

    Quadro 3.2 Diferenas entre abordagens metodolgicas na gesto da sinistralidade .......................... 57

    Quadro 3.3 Principais factores de risco em acidentes .......................................................................... 60

    Quadro 4.1 Procedimentos de clculo .................................................................................................. 73

    Quadro 4.2 Sntese de informao sobre o IC1 .................................................................................... 74

    Quadro 4.3 Informao da frequncia observada de acidentes com vtimas entre 2003 a 2007 .......... 77

    Quadro 4.4 Frequncias observadas entre 2003 a 2007 no IC1 ........................................................... 77

    Quadro 4.5 Volumes de trfego ........................................................................................................... 78

    Quadro 4.6 Classes de Taxas de acidentes e vtimas para o ano 2003 ................................................. 81

    Quadro 4.7 Apuramento das taxas agregadas de acidentes por classe estatstica no perodo 2003 2007 ............................................................................................................................. 82

    Quadro 4.8 Funo de Modelos de Regresso ..................................................................................... 84

    Quadro 4.9 Informao base do troo n. 19 do IC1 ............................................................................ 87

    Quadro 4.10 Resultados do clculo de para o troo n. 19 do IC1 ................................................... 88

    Quadro 4.11 Resultados da aplicao da metodologia AEB para o troo n. 19 do IC1 ..................... 88

  • - xv -

    GLOSSRIO e ABREVIATURAS Acidente - Ocorrncia na via pblica ou que nela

    tenha origem envolvendo pelo menos

    um veculo, do conhecimento das

    entidades fiscalizadoras (GNR,

    GNR/BT e PSP) e da qual resultem

    vtimas e/ou danos materiais.

    AcV - Acidentes com vtimas - Acidente do qual

    resulte pelo menos uma vtima.

    AcVG - Acidentes com feridos graves - Acidente

    do qual resulte pelo menos um ferido

    grave, no tendo ocorrido qualquer morte.

    AcVL - Acidentes com feridos leves - Acidente do

    qual resulte pelo menos um ferido leve e

    em que no se tenham registado mortos

    nem feridos graves.

    AcVM - Acidente mortal - Acidente do qual resulte

    pelo menos um morto.

    AE - Auto-Estradas

    AEB - Aproximao Emprica de Bayes

    ASR - Autoridade Nacional de Segurana

    Rodoviria

    BEAV - Boletim Estatstico de Acidente de Viao

    BM - Banco Mundial

    CARE European Road Accident database

    E - Estradas nacionais

    EM - Estradas municipais

    EP, SA - Estradas de Portugal, SA

    ER - Estradas regionais

    ERM - Efeito de Regresso Mdia

    FG - Ferido grave - Vtima de acidente cujos danos

    corporais obriguem a um perodo de

    hospitalizao superior a 24 horas.

    FL - Ferido leve - Vtima de acidente que no seja

    considerada ferida grave.

    Condutor Pessoa que detm o comando de um

    veculo ou animal na via pblica.

    GR - Guarda Nacional Republicana

    GP - Gesto de Pontos Negros

    GSR - Gesto de Segurana Rodoviria

    GTP - Gesto de Troos da estrada Perigosos

    IC - Itinerrio complementar

    IDOS - Indicador de Desempenho da Oferta da

    Segurana

    IE - Instituto Nacional de Estatstica

    IG - Indicador de gravidade - IG = 100xM +

    10xFG + 3xFL, em que M o nmero de

    mortos, FG o de feridos graves e FL o de

    feridos leves.

    ndice de gravidade - Nmero de mortos por 100

    acidentes com vtimas.

    IP - Itinerrio principal

    EC - Laboratrio Nacional de Engenharia Civil

    MEFA - modelos de estimativa de frequncia de

    acidentes

    OSR - Oferta da Segurana Rodoviria

  • - xvi -

    OMS - Organizao Mundial de Sade

    OCDE - Organizao para a Cooperao e

    Desenvolvimento Econmico

    Peo - Pessoa que transita na via pblica a p e em

    locais sujeitos legislao rodoviria.

    Consideram-se ainda pees todas as pessoas

    que conduzam mo velocpedes ou

    ciclomotores de duas rodas sem carro

    atrelado ou carros de crianas ou de

    deficientes fsicos.

    Ponto egro - Lano de estrada com o mximo de

    200 metros de extenso, no qual se

    registou, pelo menos, 5 acidentes

    com vtimas, no ano em anlise, e

    cuja soma de indicadores de

    gravidade superior a 20.

    PSP - Policia de Segurana Pblica

    TMDA - Trfego mdio dirio anual

    RTE-T - Rede transeuropeia de transportes.

    Vtima - Ser humano que em consequncia de

    acidente sofra danos corporais.

    VM - Morto ou vtima mortal - Vtima de acidente

    cujo bito ocorra no local do evento ou no seu

    percurso at unidade de sade. Para obter o

    nmero de mortos a 30 dias (Definio

    internacional - Conveno de Viena), aplica-se

    a este valor um coeficiente de 1,14.

    U - Naes Unidas

    ZAA - Zonas de Acumulao de Acidentes

  • Captulo I - 1 -

    1. CAPTULO I - Introduo

    1. EQUADRAMETO

    A abordagem aos problemas relacionados com a Segurana Rodoviria evoluiu

    significativamente desde que foi criado o sistema de transporte rodovirio. A gesto da rede

    considera habitualmente a avaliao de quatro parmetros de desempenho: acessibilidade,

    mobilidade, economia e ambiente e actualmente a Segurana Rodoviria.

    A sensibilidade crescente na sociedade para o problema da sinistralidade rodoviria vem

    pressionando a Engenharia Rodoviria, entre outros agentes do sistema, para actuar de forma

    eficiente na sua resoluo. A avaliao objectiva da oferta da segurana rodoviria, verifica-se

    cada vez mais importante para responder da melhor forma a um problema que todos ns

    sentimos e vivemos.

    O sistema de transportes rodovirio pode ser caracterizado, de um ponto de vista conceptual,

    como um conjunto de trs elementos (Figura 1.1):

    utilizador (comportamento),

    veculo

    infra-estrutura.

  • - 2 - Captulo I

    Estes elementos so perfeitamente distintos, identificando-se na origem dos acidentes factores

    de risco associados a cada um deles exclusivamente ou regra geral a todos.

    Figura 1.1 Sistema de transportes rodovirio

    DA INFRA-ESTRUTURADA INFRA-ESTRUTURA

    UTILIZADOR (comportamento)

    UTILIZADOR (comportamento)

    DO VECULODO VECULO

    FACTORESFACTORES

    Neste sistema considera-se que os acidentes resultam da combinao desfavorvel de factores

    associados s trs referidas componentes, com maior ou menor incidncia em cada uma delas,

    consoante os casos.

    S possvel assistir a redues significativas na sinistralidade, projectando a actuao no

    mbito da segurana rodoviria nos factores de risco ligados aos elementos do sistema

    rodovirio, procurando trata-los atravs, por exemplo, da promoo de:

    iniciativas para incentivar os utilizadores para um melhor comportamento (factores

    humanos);

    aces fiscalizadoras (factores humanos e factores do veculo);

    implementao de medidas correctivas (factores da infra-estrutura);

    construo de novas estradas luz das boas prticas adquiridas nas ltimas dcadas

    (factores da infra-estrutura);

    normativos conscientes da fragilidade humana como parmetro base do

    dimensionamento (factores da infra-estrutura);

    adequar os servios de socorro de emergncia com os meios adequados a uma

    resposta pronta s solicitaes.

  • Captulo I - 3 -

    A reduo da sinistralidade, passa assim, por actuar em seis categorias (Ogden, 1994),

    (Macedo, 1999) em funo dos agentes intervenientes no sistema:

    1. Controlo da exposio ao risco;

    2. Preveno de acidentes;

    3. Melhoria na segurana dos veculos;

    4. Modificao de comportamentos;

    5. Mitigao da gravidade;

    6. Gesto das consequncias.

    O principal contributo que a engenharia rodoviria pode oferecer sobretudo trabalhar na

    segunda e parcialmente na quarta e quinta categoria. A Preveno de acidentes, consiste na

    interveno sobre locais da rede onde j se verificaram acidentes, procurando reduzir o

    nmero e a sua gravidade, como na aplicao de medidas para evitar a ocorrncia de acidentes

    na rede em explorao onde no se verifique registo de acidentes, como em estradas novas,

    garantindo que no se repitam erros verificados no passado.

    Destacam-se as Medidas de Acalmia de Trfego em meio urbano, como uma das formas de

    condicionar o comportamento dos utilizadores do sistema, sendo do mbito da engenharia

    rodoviria Modificao de comportamentos.

    No que diz respeito mitigao da gravidade, as aces da engenharia nesta categoria

    centram-se no desenvolvimento, seleco e colocao de sistemas de reteno dos veculos e

    tratamento da rea adjacente faixa de rodagem, procurando criar zonas livres de obstculos.

    Sinistralidade Rodoviria em Portugal

    Com vista a impulsionar o desenvolvimento econmico, Portugal adoptou uma poltica de

    gesto da rede viria em concreto, a partir de 1945, definindo o Plano Rodovirio Nacional

    (PRN45), que procurou estabelecer directrizes sobre a organizao da rede de estradas e

    contribuir para uma melhor organizao das necessidades de comunicao, oferta da

    mobilidade e acessibilidade e o desenvolvimento do Ordenamento do Territrio, fruto da

    iniciativa que o Eng. Duarte Pacheco, enquanto ministro das Obras Pblicas e Comunicaes

    vinha desenvolvendo na dinamizao do sistema rodovirio portugus.

  • - 4 - Captulo I

    Desde ento, em virtude do rpido desenvolvimento do trfego automvel, o PRN45 tornou-

    se obsoleto a partir dos anos 70. Foram promovidos estudos para a sua reviso no final da

    dcada de 70, que permitiram em 1985 a aprovao pelo Conselho de Ministros de um novo

    plano actualizado - PRN85 (Decreto-lei n. 380/85 de 26 de Setembro).

    Em 2000, face ao rpido desenvolvimento econmico aps a adeso de Portugal Unio

    Europeia, foi aprovado o actual plano PRN2000 (Decreto-Lei n. 222/98 de 17 de Julho),

    substituindo o PRN85, ento desactualizado em relao realidade, destacando-se a

    obrigao pela Ex-Junta Autnoma de Estradas, da elaborao de um Plano Anual de

    Segurana Rodoviria Art. 10.

    Constata-se assim um acrscimo muito significativo, especialmente nas ltimas dcadas, no

    nmero de viagens efectuadas por ano, reflectindo-se num aumento da sinistralidade

    rodoviria.

    Grfico 1.1 Evoluo da circulao vs. gravidade

    Fonte: Laboratrio Nacional de Engenharia Civil

    0

    10.000

    20.000

    30.000

    40.000

    50.000

    60.000

    70.000

    80.000

    90.000

    1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006

    Ano

    Milho de veculo km

    0

    500

    1.000

    1.500

    2.000

    2.500

    3.000

    Vtimas mortais

    Volume de circulao Vtimas mortais

    Contudo, nos ltimos 10 anos a permanente melhoria do nvel de servio das vias (permitindo

    viajar com mais rapidez, economia, comodidade e segurana), gerando melhores

    acessibilidades e permitindo uma maior mobilidade de pessoas, bens e servios, contribuiu

  • Captulo I - 5 -

    significativamente para a reduo da sinistralidade rodoviria, deixando Portugal de ser, na

    Unio Europeia (UE15), o pas com o pior indicador de nmero de vtimas mortais por milho

    de habitantes (VM = 271 em 1995).

    Portugal foi o segundo pas, que mais reduziu a sinistralidade na sua rede rodoviria, situando

    em 2008 o indicador (VM = 83) muito prximo da mdia da UE27 (VM= 78).

    Grfico 1.2 Evoluo do nmero de vtimas mortais nos Estados Membros da EU entre 2001 e 2008

    Fonte: Comisso Europeia (2008)

    Esta evoluo da diminuio do nmero de vtimas mortais em Portugal, mereceu em 2008,

    uma distino pelo European Transport Safety Council, por ser o pas, a par da Frana e

    Luxemburgo, que mais reduziu (cerca de 42% entre 2001 e 2007).

    24,0%

    5,0%

    -2,0%

    -6,0%

    -8,0%

    -9,0%

    -16,0%

    -17,0%

    -19,0%

    -20,0%

    -21,0%

    -23,0%

    -26,0%

    -28,0%

    -29,0%

    -29,0%

    -32,0%

    -32,0%

    -32,0%

    -32,0%

    -34,0%

    -36,0%

    -38,0%

    -41,0%

    -42,0%

    -44,0%

    -47,0%

    -48,0%

    -70,0% -55,0% -40,0% -25,0% -10,0% 5,0% 20,0% 35,0% 50,0%

    Romnia

    Bulgria

    Polnia

    Malta

    Dinamarca

    Eslovquia

    Chipre

    Grcia

    Repblica Checa

    Hungria

    Finlndia

    Eslovnia

    Reino Unido

    MDIA (UE27)

    Litunia

    ustria

    Irlanda

    Itlia

    Pases Baixos

    Sucia

    Estnia

    Alemanha

    Blgica

    Luxemburgo

    Letnia

    Espanha

    PORTUGAL

    Frana

    (2001 - 2008)

  • - 6 - Captulo I

    Apesar da evoluo positiva da sinistralidade rodoviria, reduzindo em mdia por ano 9% o

    nmero de vtimas mortais, ainda persistem algumas barreiras que dificultam o conhecimento

    real e compreenso da sinistralidade e o seu combate eficaz, tornando difcil a anlise e

    intervenes no mbito Oferta da Segurana Rodoviria (OSR).

    Figura 1.2 Avaliao dos estados membros da unio europeia na reduo no nmero de vtimas mortais

    Fonte: ETSC (2008)

    De facto, quantificar e avaliar o desempenho da segurana da infra-estrutura rodoviria uma

    tarefa difcil.

    Um acidente rodovirio um acontecimento nico no espao e no tempo cuja ocorrncia,

    apresenta uma forte componente aleatria constituda por um desenrolar de acontecimentos

    imprevisveis, que devem ser evitados a todo o custo pelos agentes intervenientes.

    importante reflectir-se sobre o fenmeno em diversos pontos de vista, mas tambm numa

    perspectiva holstica ou integradora. A oferta da segurana altera-se ao longo do tempo, e

    numa sociedade como a Portuguesa dispondo de recursos limitados, vital que a avaliao e

    interveno no sistema rodovirio, numa perspectiva da engenharia rodoviria, sejam feitas

    Posicionamento de cada pas em 2007, face ao objectivo de reduo de 50% em 2010, do n. de vitimas mortais registadas em 2001.

    Segundo o esperado para 2007

    Entre 0 a 3 anos de atraso

    Entre 3 a 5 anos de atraso

    Entre 5 a 10 anos de atraso

    Mais de 10 anos de atraso

    PRMIO PIN 2008

    PRMIO PIN 2007

  • Captulo I - 7 -

    objectivamente de forma a orientar os esforos e os recursos existentes de forma eficaz na

    maximizao da segurana rodoviria.

    Mas como medir e classificar?? Como caracterizar??..... a Segurana Rodoviria

    Como gerir a rede numa perspectiva da segurana rodoviria?

    Estas so perguntas que sero abordadas nesta dissertao e cuja resposta ser formalizada

    atravs do desenvolvimento e apresentao de uma proposta de abordagem metodolgica para

    a anlise da segurana rodoviria.

    Sistema de monitorizao e maximizao da segurana

    Diversas perspectivas sobre abordagens ao problema da sinistralidade foram adoptadas no

    passado, evoluindo em funo da economia e do processo de motorizao de cada sociedade

    (Macedo, 1999), pelo que, actualmente a actuao na Segurana Rodoviria um tema no

    qual existem inmeras polticas, estratgias e boas prticas com bons resultados na reduo da

    sinistralidade.

    A investigao sobre a segurana rodoviria inicia agora uma fase de maturao na qual ainda

    persistem alguns problemas na anlise objectiva e inequvoca dos indicadores observados. Os

    avanos e desenvolvimentos mais recentes, como os sistemas de informao geogrfica que

    permitem o tratamento de grandes quantidades de dados, vieram oferecer engenharia

    rodoviria ferramentas e meios que num passado recente ainda no eram atractivos, quer do

    ponto de vista tecnolgico, quer em termos de viabilidade econmica de implementao e

    manuteno.

    Por sua vez, os desenvolvimentos cientficos nesta rea tambm abriram portas a uma gesto

    que inclui a segurana rodoviria como um importante parmetro de desempenho. Foi

    possvel assistir ao aparecimento de metodologias de anlise objectivas, mas muito mais

    exigentes em termos de informao de base. De facto, uma das grandes limitaes para a

    investigao nesta rea at data tem sido a falta de dados coerentes e informao disponvel.

    Um dos grandes passos a dar ser o de assumir uma cultura de monitorizao permanente e

    generalizada do desempenho da rede, de forma a conseguir aplicar todo o conhecimento

    disponvel e as metodologias desenvolvidas na prtica com verdadeira eficcia.

  • - 8 - Captulo I

    Assim, procurar-se- esboar uma arquitectura de um sistema baseada no mtodo da

    Aproximao Emprica de Bayes (AEB), como metodologia de simulao do risco,

    estimando a frequncia esperada de acidentes, identificando troos de estrada onde a

    identificao de factores de risco associados infra-estrutura mais bvia, o que permite

    desenvolver uma gesto preventiva com uma maior confiana e reagir onde efectivamente

    existem problemas.

    Em virtude da natureza da AEB depender de uma monitorizao constante para que seja

    eficaz e credvel, intuitivo esboar uma relao base entre as diferentes fases que compem

    a gesto da rede no mbito da segurana rodoviria. A Figura 1.3 aponta 3 elementos base

    (realce a vermelho) necessrios ao desenvolvimento para a utilizao de um sistema de

    monitorizao e maximizao da segurana rodoviria, na gesto de uma rede rodoviria.

    Figura 1.3 Elementos base de um sistema de monitorizao e maximizao da segurana rodoviria

    Fonte: Maarico (2003)

    ACES REACTIVAS ACES PREVENTIVAS

    OBSERVATRIO DE TRFEGO E SEGURANA

    SINISTRALIDADEFLUXOS DE TRFEGO

    AMBIENTE RODOVIRIO

    GERAO DE

    SOLUES

    DETECO ANTECIPADA

    DE PROBLEMAS

    MODELO DE SIMULAO DO RISCO

    MELHORIA DA SEGURANA RODOVIRIA

    ANLISE CUSTO-BENEFCIO DAS

    SOLUES GERADAS

    ESTABELECIMENTO DE METAS OBJECTIVAS DE MELHORIA

    DA SEGURANA

    INFORMAOGrau de realizao dos

    objectivos propostosRelatrios

    REDE RODOVIRIA EM EXPLORAO

    AUDITORIAS DE SEGURANA

    RODOVIRIA AO PROJECTO DE ESTRADAS

    INSPECES DE SEGURANA

    RODOVIRIA REDE EM EXPLORAO

  • Captulo I - 9 -

    O sistema referido caracterizado por uma estrutura metodolgica composta por trs

    mdulos.

    O primeiro, Observatrio de Trfego e Segurana, direccionado especificamente para

    funes de recolha, validao e tratamento de dados relacionados com o sistema rodovirio

    em explorao.

    O Modelo de simulao do risco, refere-se simulao e previso do risco de ocorrncia

    de acidentes com base nas caractersticas quer do ambiente rodovirio, quer dos fluxos de

    trfego em circulao. A gesto da rede poder assim actuar com vista reduo da

    sinistralidade da forma reactiva e preventiva. Tambm, ser possvel avaliar os efeitos

    esperados das medidas de interveno no ambiente rodovirio no mbito do incremento da

    segurana.

    Por ltimo, a um nvel de planeamento estratgico, ser possvel validar as aces a realizar

    na rede, quer sejam reactivas e/ou preventivas, com vista a obter a melhor relao custo-

    benefcio Melhoria da Segurana Rodoviria.

    2. OBJECTIVOS

    Na actualidade ainda subsiste o grave problema da sinistralidade rodoviria, acarretando

    elevados custos econmicos e sociais, apesar da evoluo positiva a que se assistiu nos

    ltimos anos, na reduo da sinistralidade. Face a esta realidade, e focalizando

    exclusivamente no domnio do exerccio da engenharia rodoviria orientada para a segurana

    rodoviria infra-estrutura consta-se que necessrio uma actuao cada vez mais rigorosa

    na procura da obteno da melhor relao custo-benefcio e assim garantir a continuidade da

    reduo da sinistralidade rodoviria no futuro, de uma forma sustentada.

    Deste modo, verifica-se uma oportunidade de reflectir, com este trabalho, sobre alguns

    aspectos e abordagens metodolgicas que permitam avaliar e caracterizar de uma forma

    objectiva a segurana rodoviria na rede de estradas nacional, salientando a metodologia da

    Aproximao Emprica de Bayes.

  • - 10 - Captulo I

    Para alcanar com sucesso este objectivo global, e tendo em conta a complexidade que

    envolve a rea da Segurana Rodoviria e a dimenso do problema em Portugal,

    apresentado um estudo de caso, que aborda o problema da sinistralidade, num ambiente rural

    ou inter-urbano na Rede Rodoviria Nacional, onde, para a finalidade desta dissertao, a

    obteno de informao necessria possvel.

    Prope-se alcanar, atravs do estudo de caso os seguintes objectivos especficos:

    esboar as relaes entre os diferentes elementos constituintes de um possvel sistema

    de monitorizao e maximizao da segurana rodoviria;

    criar uma populao de referncia ou um conjunto de troos de estrada na Rede

    Rodoviria Nacional IC1 cujas caractersticas geomtricas e ambiente rodovirio

    se mantiveram semelhantes ao longo de todo o seu traado nos ltimos 5 anos, como

    o histrico da sinistralidade e do trfego no mesmo perodo;

    procurar identificar a presena do efeito de regresso mdia;

    calcular o nmero de acidentes e gravidade esperada nos prximos 5 anos para cada

    elemento do conjunto, com base na metodologia da Aproximao Emprica de Bayes

    (AEB);

    apontar as vantagens e desvantagens na utilizao da metodologia AEB, enquadrada

    num sistema de monitorizao e maximizao da segurana;

    identificao dos factores crticos de sucesso.

    3. ESTRUTURA DO TRABALHO

    A presente dissertao est organizada em 5 Captulos. No primeiro captulo a questo da

    sinistralidade rodoviria abordada, bem como os objectivos e propsitos desta dissertao.

    tambm descrita a estrutura da tese.

    O Captulo 2 caracteriza o fenmeno da sinistralidade rodoviria e salienta a sua

    componente aleatria. Incluem-se neste captulo algumas abordagens, conceitos e definies

    relacionadas com a Segurana Rodoviria de uma forma mais abrangente e que actualmente

    conduzem s boas prticas na reduo da sinistralidade.

  • Captulo I - 11 -

    No Captulo 3 aprofunda-se o conhecimento necessrio no domnio da segurana com vista a

    uma melhor compreenso da abordagem da Aproximao Emprica de Bayes cuja aplicao

    ao estudo da sinistralidade rodoviria descrita. Tambm apresentado um esboo de

    arquitectura para um sistema de avaliao (monitorizao e maximizao) da segurana

    rodoviria, tendo por base a abordagem AEB mencionada.

    O Captulo 4 dedicado ao estudo de um caso. Foi escolhido o itinerrio complementar IC1,

    entre guas de Moura EN10 (IC1 - km 539+425) e Lagoas EN125 (IC1 km 737+400).

    Identificou-se a presena do efeito de regresso mdia, nos dados de sinistralidade

    recolhidos, observando a existncia da componente aleatria na ocorrncia dos acidentes.

    igualmente demonstrada a utilidade da metodologia da Aproximao Emprica de Bayes

    como forma de estimar a frequncia esperada de acidentes num dado elemento rodovirio,

    para um intervalo de tempo padro e em relao a um conjunto de seces de estrada

    semelhantes.

    No Captulo 5 e ltimo so apresentadas as concluses e os aspectos mais relevantes

    identificados no decorrer deste trabalho, salientando os principais factores de risco na

    aplicao em casos reais. Descrevem-se tambm as perspectivas de aplicabilidade e

    identificam-se potenciais desenvolvimentos futuros da proposta metodolgica apresentada e

    da sua integrao num enquadramento mais lato de gesto e optimizao da infra-estrutura

    rodoviria inter-urbana

  • Captulo II - 13 -

    2. CAPTULO II - Reflexes sobre a Segurana Rodoviria

    1. O FEMEO SIISTRALIDADE RODOVIRIA

    De forma redutora, pode-se caracterizar a Sinistralidade Rodoviria como um produto no

    desejado da utilizao do sistema de transportes rodovirios, a par com as emisses poluentes

    e do rudo resultante da circulao, em virtude da necessidade do Homem circular e

    transportar bens.

    Assim, importante conseguir direccionar os recursos de forma a maximizar o investimento e

    alcanar o melhor custo-beneficio, em que a anlise s causas dos acidentes sero

    fundamentais.

    Observando os diferentes factores de risco que potenciam a ocorrncia de um acidente,

    verifica-se que todas as componentes do sistema de trfego podem contribuir com maior ou

    menor peso, sendo este facto, uma das grandes dificuldades na avaliao das causas dos

    acidentes.

    de notar assim, pela observao da Figura 2.1, que a Sinistralidade Rodoviria um

    problema interdisciplinar, e multi-sectorial.

  • - 14 - Capitulo II

    Figura 2.1 Influncia das componentes do sistema de trfego nos acidentes rodovirios

    Fonte: Cardoso & Gomes, (2003)

    VECULO(12%)

    57%

    27%

    6%3%

    2%1%

    3%

    UTENTE(93%)

    INFRA-ESTRUTURA

    (34%)

    Viso objectiva e viso subjectiva da segurana rodoviria

    normalmente assumido, do ponto de vista do condutor, que as condies mnimas de

    segurana rodoviria da estrada esto sempre presentes, at ao momento em que se envolve

    num acidente. Desde que planeia a sua viagem at ao momento em que realiza o seu percurso,

    considera que tal parmetro se encontra num nvel elevado, adoptando um comportamento na

    sua conduo em locais onde pode no ser adequado ou onde a sua expectativa contrariada.

    Por outro lado, a Engenharia Rodoviria tem uma postura diferente em relao avaliao da

    segurana, baseando-se sobretudo no histrico de sinistralidade.

    Assim, a quantificao da segurana ou a noo de risco pode ser interpretada dum ponto de

    vista subjectivo e objectivo (Hauer, 1997), (Macedo, 1999), dependendo do observador

    (utilizador ou responsvel do sistema).

    Entenda-se por risco, como o potencial/probabilidade de ocorrncia de acidente que um

    utilizador corre quando efectua uma viagem numa determinada estrada.

    frequente verificar, sobretudo pelos meios de comunicao social, que todos os dias se

    registam acidentes de viao com vtimas, e lembrando um clich vivemos uma guerra civil

    nas nossas estradas, incute em todos ns, utilizadores do sistema de transportes, uma noo

    de insegurana empolada em parte pela forma como se transmite a mensagem.

  • Captulo II - 15 -

    A interpretao do utilizador da oferta da segurana da estrada, associada viso dada pelos

    meios de comunicao social, pressiona os agentes intervenientes no sector rodovirio a

    tomar medidas correctivas. No querendo mascarar o grave problema da sinistralidade

    portuguesa culpabilizando os rgos da comunicao social da transmisso da mensagem ou

    pela forma como o utilizador pode sentir a insegurana baseada em senso comum, salienta-se

    para o perigo da tomada deciso pelos agentes do sistema com base nesta avaliao subjectiva

    e baseada na anlise exclusiva das frequncias absolutas de acidentes como ferramenta de

    justificao para a deciso sobre as intervenes no sistema de transportes rodovirios, em

    particular na infra-estrutura, com o principal intuito de satisfazer a opinio do pblico em

    geral (Cardoso, 2008) viso subjectiva da segurana.

    Por outro lado, tambm frequente associar erradamente, as tendncias de reduo da

    sinistralidade, ao efeito causado pelas intervenes no sistema, demonstrando com isso o seu

    benefcio e justificao de investimento, sem uma monitorizao cuidada e anlise sria. Num

    sistema onde a segurana depende de inmeras variveis, difcil concluir a esse respeito,

    bastando, por exemplo, ocorrer um Inverno mais seco ou como assistimos actualmente, uma

    recesso econmica que influencia o nmero de viagens efectuadas por pessoas e bens no

    sistema, e com isso reduzir o volume de exposio ao risco, verificando-se variaes

    significativas nas frequncias observadas de acidentes.

    Constata-se assim, que a interpretao do risco que a estrada apresenta, realizada pelo

    utilizador num dado momento, para um mesmo local, pode diferir consoante o utilizador,

    tornando o diagnstico de problemas difcil para os restantes agentes do sistema (Hauer,

    1997).

    Deste modo, verifica-se que a componente aleatria pode ter origem em diversos factores que

    podem conduzir a uma avaliao enviesada da segurana. A anlise da sinistralidade

    rodoviria frequncias observadas num perodo de tempo, por si s, parece no ser um bom

    indicador para caracterizar a oferta da segurana de forma objectiva.

  • - 16 - Capitulo II

    A componente aleatria de um acidente pode dever-se:

    individualidade/personalidade/estado psicolgico de cada condutor na tarefa da

    conduo;

    erros do condutor na avaliao do ambiente rodovirio:

    - falhas;

    - faltas;

    problemas na infra-estrutura:

    - concepo;

    - conservao;

    problemas na viatura:

    - defeitos;

    - manuteno;

    falta de registos, nem todos os acidentes que ocorrem na rede so registados;

    avaliao da gravidade dos acidentes dependendo por vezes da interpretao das

    definies;

    factores econmicos;

    factores sociais;

    factores ambientais.

    Acresce-se a estes factores de aleatoriedade, que o acidente rodovirio um acontecimento

    que os utilizadores procuram evitar a todo o custo em todas as suas viagens.

    A finalidade, numa viso objectiva da segurana, conseguir observar a infra-estrutura com

    vista a maximizar os efeitos da interveno para a melhoria das condies de segurana de

    forma fundamentada. inteno avaliar e prever situaes onde seja possvel mitigar ou

    prevenir as consequncias dos acidentes bem como monitorizar os seus efeitos com vista a

    criar boas prticas para o futuro e aferir os benefcios em funo dos custos.

    Assim, como estimar a segurana rodoviria e/ou a falta de segurana?

    Como e onde intervir para beneficiar o maior nmero de utilizadores do sistema?

  • Captulo II - 17 -

    2. DIMESO DO PROBLEMA

    A Sinistralidade Rodoviria actualmente considerada um grave problema de sade pblica

    escala mundial, sobretudo nos pases em vias de desenvolvimento econmico. Nos ltimos

    anos tem-se constatado uma preocupao crescente sobre esta matria cujo contributo de

    organizaes internacionais como as Naes Unidas (UN), Organizao Mundial de Sade

    (OMS), Banco Mundial, Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico

    (OCDE) entre outras, permitiu caracterizar e alertar para este trauma social, bem como para o

    impacto econmico que advm das consequncias dos acidentes rodovirios.

    A nvel mundial

    Segundo a OMS, estima-se que em todo o mundo, todos os anos morram 1,2 milhes de

    pessoas devido a acidentes rodovirios e que 50 milhes fiquem gravemente feridas das quais

    resultam em muitos casos a perda de capacidades motoras e cognitivas, afectando a qualidade

    de vida.(World Health Organization, 2008)

    De acordo com o relatrio World report on traffic injury prevention, publicado em 2004

    pela OMS, prev-se um crescimento global em cerca de 60% nas vtimas mortais com origem

    em acidentes rodovirios, apesar dos resultados positivos j alcanados pelos pases

    desenvolvidos, sendo a sua tendncia futura no sentido de decrescer na ordem dos 30%, mas

    contrariada pelo aumento esperado nos pases onde ainda no existe uma poltica direccionada

    para os problemas relacionados com a sinistralidade, na ordem dos 80%.

    Este indicador ser impulsionado pelos pases em vias de desenvolvimento, com base na

    previso de um rpido aumento do nvel de motorizao nos prximos anos, estimando-se

    para o ano 2030 que seja a quinta principal causa de morte em todo o mundo, tal como se

    evidencia no Quadro 2.1.

  • - 18 - Capitulo II

    Quadro 2.1 Principais causas de morte em 2004 e 2030

    Fonte: World Health Organization (2008)

    Doena ou ferimento mortos

    % posio

    mortos %

    Doena ou ferimento

    2004

    2030

    doena isqumica cardaca

    12,2 1 14,2 doena isqumica

    cardaca

    doenas cerebrovasculares

    9,7 2 12,1 doenas

    cerebrovasculares

    pequenas infeces respiratrias

    7,0 3 8,6 doenas pulmonares de obstruo crnica

    doenas pulmonares de obstruo crnica

    5,1 4 3,8 pequenas infeces

    respiratrias

    doenas diarreicas 3,6 5 3,6 vtimas resultantes de acidentes rodovirios

    HIV/AIDS 3,5 6 3,4 cancro da traqueia, brnquio, pulmo

    Tuberculose 2,5 7 3,3 diabetes mellitus

    cancro da traqueia, brnquio, pulmo

    2,3 8 2,1 cardiopatia hipertensiva

    vtimas resultantes de acidentes rodovirios

    2,2 9 1,9 cancro do estmago

    Recm nascidos prematuros de baixo

    peso 2,0 10 1,8 HIV/AIDS

    Europa

    A Comisso Europeia estabeleceu segundo as polticas e recomendaes constantes no Livro

    Branco dos Transportes, um objectivo ambicioso para a Unio Europeia:

    Reduzir para metade o nmero de vtimas mortais entre 2001 e 2010 de acidentes

    Rodovirios na Unio Europeia

    Para alm do objectivo, o Livro Branco dos Transportes, refere que a Comisso Europeia

    compromete-se contribuir activamente para fazer cumprir esse objectivo, promovendo o

    desenvolvimento de novas tecnologias de segurana no mbito dos programas-quadro de

  • Captulo II - 19 -

    investigao e harmonizao de sanes, recaindo a responsabilidade das autoridades

    nacionais ou locais, na adopo de medidas para atingir aquele objectivo at 2010.

    Em 2003, a Comisso Europeia anuncia o Programa de Aco Europeu - Reduzir para Metade

    o nmero de Vtimas Mortais de Acidentes Rodovirios na Unio Europeia, at 2010, onde

    apresenta medidas com vista a disseminar as melhores praticas e elaborao de guias tcnicos

    entre outras.

    Os resultados alcanados at 2008 pela Unio Europeia em relao ao objectivo de reduo

    do nmero de vtimas mortais, constante no Livro Branco, traduzem-se no Grfico 2.1.

    Grfico 2.1 Evoluo do nmero de vtimas mortais: 1991 2008 (UE 15 e UE 27)

    Fonte: Departamento de Segurana Rodoviria, EP Estradas de Portugal, S.A.

    Destaca-se neste grfico, a diferena de resultados alcanados segundo dois cenrios, a UE

    com 15 estados membros e a actual UE com 27 estados membros. Nesta viso comparativa

    verifica-se o objectivo de reduo estabelecido no Livro Branco dos Transportes demasiado

    ambicioso face entrada de novos membros, cujo nvel de desenvolvimento inferior

    mdia da UE.

    76.076

    63.106

    54.363

    39.051

    33.222

    27.182

    24.64120.161

    56.027

    46.098

    40.322

    25.555

    10.000

    20.000

    30.000

    40.000

    50.000

    60.000

    70.000

    80.000

    1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

    N. de Vtimas Mortais (k=30 dias)

    anos

    Vtimas Mortais na EU 27 Objectivo 2010 (UE27) Objectivo 2010 (UE15) Vtimas Mortais na EU 15

  • - 20 - Capitulo II

    Em Portugal

    Enquadrado na Unio Europeia, Portugal actualmente apresenta uma das evolues mais

    significativas a par de pases ditos desenvolvidos e com uma cultura de segurana rodoviria

    evoluda.

    Em Fevereiro de 2006, a Comisso Europeia realizou uma avaliao intercalar dos resultados

    obtidos entre 2001 a 2004 nos diversos pases, na sequncia do Programa de Aco Europeu,

    onde Portugal, apresenta uma reduo superior (-42%) mdia dos Estados Membros (-23%).

    No Grfico 2.2, apresenta-se a evoluo entre 1991 e 2008 do nmero de vtimas mortais

    registados em Portugal, bem como a evoluo segundo o objectivo adoptado para a UE entre

    2001 e 2010.

    Grfico 2.2 Evoluo do nmero de vtimas mortais em Portugal: 1991 2008

    Fonte: Departamento de Segurana Rodoviria, EP Estradas de Portugal, S.A.

    Constata-se que, Portugal vem diminuindo o seu indicador de forma sustentvel ao longo dos

    ltimos anos, registando valores abaixo do objectivo da UE estabelecido, estimando-se que

    alcance e supere a meta definida para 2010.

    836

    3.218

    2.711

    1.671

    0

    500

    1000

    1500

    2000

    2500

    3000

    3500

    1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

    N. de Vtimas mortais (k=30 dias)

    Anos

    Objectivo EU 2001-2010 (50%) Vtimas Mortais

  • Captulo II - 21 -

    No Grfico 2.3, compara-se o indicador Nmero de Vtimas Mortais por Milho de

    Habitantes nos diversos pases da UE27, em 1995, 2000 e 2007.

    Grfico 2.3 Evoluo do nmero de vtimas mortais por 1.000.000 hab. na UE27 entre 1995 e 2008

    Fonte: Departamento de Segurana Rodoviria, EP Estradas de Portugal, S.A.

    Constata-se que em 1995, o referido indicador para Portugal, era o mais elevado (271), e que

    tal valor era cerca do dobro da mdia da UE27 (132). Desde ento assistiu-se a uma reduo

    para cerca de 1/3 em relao a 1995. Observa-se, que o valor de 78 vtimas mortais/milho de

    habitantes o valor mdio da UE27 em 2008, e que Portugal est muito prximo deste valor.

    importante referir que para efeitos de comparao de indicadores entre pases da Unio

    Europeia, utilizada uma definio de vtima mortal resultante de um acidente rodovirio

    diferente da adoptada actualmente em Portugal, tal como em outros estados membros. Assim,

    considera-se, que todas as vtimas graves que venham a falecer num perodo de 30 dias aps o

    acidente, de acordo com a Conveno de Viena, sejam consideradas na base de dados de

    sinistralidade, definindo-se um coeficiente de correco para ter em conta os diferentes

    conceitos de vtima mortal (Comisso Europeia, 2006).

    38

    65

    65

    86

    86

    112

    116

    121

    123

    123

    128

    132

    143

    146

    150

    152

    154

    154

    154

    173

    179

    183

    184

    209

    228

    229

    244

    271

    Malta

    Sucia

    Reino Unido

    Holanda

    Finlndia

    Dinamarca

    Alemanha

    Irlanda

    Itlia

    Eslovquia

    Romnia

    Mdia (UE27)

    Blgica

    Espanha

    Bulgria

    ustria

    Republica Checa

    Frana

    Hungria

    Luxemburgo

    Polnia

    Chipre

    Lituana

    Eslovnia

    Grcia

    Estnia

    Latvia

    PORTUGAL

    199541

    61

    62

    66

    81

    84

    85

    107

    112

    113

    114

    117

    119

    121

    128

    130

    136

    138

    140

    140

    145

    145

    146

    159

    163

    172

    202

    236

    Malta

    Reino Unido

    Holanda

    Sucia

    Dinamarca

    Finlndia

    Alemanha

    Irlanda

    Mdia (UE27)

    Romnia

    Eslovquia

    Itlia

    ustria

    Hungria

    Bulgria

    Republica Checa

    Espanha

    Frana

    Chipre

    Eslovnia

    Blgica

    Polnia

    Estnia

    Luxemburgo

    PORTUGAL

    Grcia

    Lituana

    Latvia

    200137

    43

    43

    46

    54

    62

    65

    66

    67

    72

    72

    78

    81

    83

    84

    86

    99

    99

    103

    103

    103

    105

    136

    139

    139

    141

    142

    148

    Malta

    Holanda

    Reino Unido

    Sucia

    Alemanha

    Irlanda

    Finlndia

    Frana

    Espanha

    Dinamarca

    Luxemburgo

    Mdia (UE27)

    Itlia

    Portugal

    ustria

    Blgica

    Estnia

    Hungria

    Republica Checa

    Chipre

    Eslovquia

    Eslovnia

    Grcia

    Bulgria

    Romnia

    Latvia

    Polnia

    Lituana

    2008

  • - 22 - Capitulo II

    Quadro 2.2 Factores de correco

    Fonte: Comisso Europeia (2006)

    Estados Membros Coeficientes de correco

    GRCIA K(30) = K * 1.18 at 1995

    ESPANHA K(30) = K * 1.3 at 1992

    Entre 1993 e 1996 Fora de localidades Dentro de Localidades

    Condutor K(30)=K+SI*2.46% K(30)=K+SI*1.02%

    Passageiro K(30)=K+SI*2.29% K(30)=K+SI*0.94%

    Peo K(30)=K+SI*7.22% K(30)=K+SI*3.87%

    Entre 1997 e 2000 Fora de localidades Dentro de Localidades

    Condutor K(30)=K+SI*2.44% K(30)=K+SI*1.93%

    Passageiro K(30)=K+SI*2.17% K(30)=K+SI*1.80%

    Peo K(30)=K+SI*4.76% K(30)=K+SI*5.71%

    Entre 2001 a 2004 Fora de localidades Dentro de Localidades

    Condutor K(30)=K+SI*2.41% K(30)=K+SI*2.17%

    Passageiro K(30)=K+SI*2.24% K(30)=K+SI*2.15%

    Peo K(30)=K+SI*6.17% K(30)=K+SI*4.34%

    FRANA K(30) = K * 1.09 at 1993

    K(30) = K * 1.057 a partir de 1994

    ITLIA K(30) = K * 1.078 a partir de 1998

    USTRIA K(30) = K * 1.12 s para1991

    PORTUGAL K(30) = K * 1.3 at 1997

    K(30) = K * 1.14 a partir de 1998

    K Vtimas Mortais; SI Feridos Graves

    A definio da vtima mortal em 30 dias, requer de todos os Estados Membros, um

    acompanhamento estatstico das vtimas, desde a ocorrncia do acidente, como tambm no

    tratamento hospitalar e evoluo dos ferimentos. Para os pases como Portugal, que no

    considera todos os ferimentos graves que resultem em vtimas mortais aps a entrada no

    hospital, aplicado um coeficiente de correco para que a base comparativa seja a mesma

    entre todos os estados membros, e por este facto habitual observar valores diferentes entre

    os dados estatsticos publicados pela Autoridade Nacional de Segurana Rodoviria (ANSR)

    e os dados publicados pela CARE ou outra organizao internacional.

    Em Portugal, para fazer face elevada sinistralidade rodoviria foi aprovado e publicado em

    2003, o Plano Nacional de Preveno Rodoviria que estabeleceu como objectivo geral,

  • Captulo II - 23 -

    articulado com o Programa de Aco Europeu, a reduo em 50% do nmero de vtimas

    mortais e feridos graves, at 2010, bem como o objectivo especifico de reduo em 60% em:

    pees;

    utentes de veculos de duas rodas a motor;

    utentes acidentados dentro das localidades.

    Na sequncia da reviso do PNPR2003 j realizada pela ANSR, constatou que o Plano teve

    como principal mrito, o facto de implicar a realizao de um diagnstico sistemtico da

    sinistralidade rodoviria, bem como ter colocado o problema na agenda poltica e meditica.

    No entanto, identificaram-se no plano algumas debilidades na sua estrutura interna e nos

    mecanismos previstos para a sua execuo, coordenao e monitorizao, faltando identificar

    as fontes de oramento, definir uma calendarizao para as medidas a implementar e a

    realizao de auditorias externas com vista a um acompanhamento de todo o processo.

    De acordo com o Grfico 2.4, entre 2000 e 2008, registaram-se redues no nmero de

    vtimas mortais de 55% em toda a rede rodoviria em Portugal. Observa-se que o objectivo

    estabelecido no PNPR para 2010 foi j ultrapassado em 2006.

    Grfico 2.4 Evoluo do nmero de vtimas mortais entre 1990 e 2008

    Fonte: Departamento de Segurana Rodoviria, EP Estradas de Portugal, S.A.

    2.475

    2.085

    1.469

    1.135

    850776

    874

    0

    200

    400

    600

    800

    1.000

    1.200

    1.400

    1.600

    1.800

    2.000

    2.200

    2.400

    2.600

    1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010

    N. de Vtimas Mortais

    Vtimas mortais PNPR Objectivo 2010

    PNPR (2003)

    Objectivo 2010PNPR (2003)

    VR: 1.748

  • - 24 - Capitulo II

    Tendo-se constatado que as suas metas foram, na generalidade, alcanadas antes do trmino

    do perodo proposto, a ANSR procedeu definio da Estratgia Nacional de Segurana

    Rodoviria (ENSR) para o perodo 2008 2015 (RCM n. 54/2009 de 26 de Junho) que tem

    como objectivo qualitativo:

    Colocar Portugal entre os 10 pases da U.E. com mais baixa sinistralidade rodoviria,

    medida em mortos a 30 dias por milho de habitantes

    Ao contrrio do PNPR 2003, a ANSR calendarizou dois perodos, nos quais estabeleceu os

    seguintes objectivos quantitativos:

    2008 2011: colocar a sinistralidade rodoviria portuguesa em 78 mortos por milho

    de habitantes, equivalente a uma reduo de 14,3% (base 2006);

    2011 2015: melhorar esse indicador para alcanar, em 2015, os 62 mortos por

    milho de habitantes, equivalente a uma reduo de 31,9% (base 2006).

    Para tal foram definidos 10 objectivos estratgicos para que o objectivo qualitativo seja

    alcanado com sucesso. Apresenta-se na Figura 2.2, os factores e grupos de risco associados

    prossecuo dos objectivos estratgicos definidos na ENSR.

    Figura 2.2 Principais grupos e factores de risco preconizados na ESR

    Fonte: ENSR (2009)

    Condutores de veculos de duas rodas a motor

    Condutores de automveis ligeiros

    Pees

    Circulao dentro das localidades

    Conduo sob o efeito do lcool e substancias

    psicotrpicas

    Velocidade

    Dispositivos de segurana

    Socorro s vtimas

    Infra-estruturas

    Veculos

    GRUPOS DE RISCO

    FACTORES DE RISCO

    OBJECTIVOS ESTRATGICOS

  • Captulo II - 25 -

    Na Figura 2.3, mostra-se o processo que se seguiu para a definio destes objectivos

    estratgicos.

    Figura 2.3 Sntese da definio da ESR

    Fonte: ENSR (2009)

    3. FACTOR HUMAO

    O Homem no sistema de transportes, o elo mais fraco e o nico propenso a cometer erros.

    Se as tcnicas de concepo e explorao da estrada evoluram no sentido de mitigar as

    consequncias dos acidentes, a par da evoluo tecnolgica dos sistemas de segurana

    existentes nos veculos, as limitaes fsicas humanas persistem iguais. O erro faz parte da

    condio humana pelo que, enquanto o sistema de transportes depender do Homem para

    funcionar, existiro sempre acidentes. Errar Humano (Plato).

    Na Europa, alguns pases como a Holanda ou a Sucia assumiram essa premissa como base na

    gesto da sua rede rodoviria, considerando que o acidente rodovirio um acontecimento

    inevitvel, mesmo que a infra-estrutura seja a mais perfeita possvel. Esta abordagem ao

    MBITO

    Anlise da evoluo da sinistralidade na UE

    OBJECTIVO

    201178 VM/MIL. HAB.

    201562 VM/MIL. HAB.

    DIAGNSTICO

    Caracterizao das condies de

    enquadramento

    Caracterizao da sinistralidade rodoviria

    em Portugal

    Caracterizao da sinistralidade rodoviria em Pases de referncia

    Aplicao da Matriz de Haddon;

    aces transversais

    DEFINIO E ESTABELECIMENTO

    10Objectivos estratgicos

    quantificados

  • - 26 - Capitulo II

    problema da sinistralidade permitiu construir um conjunto de boas prticas que obtiveram nos

    ltimos anos muito bons resultados.

    Da culpabilizao do condutor at aceitao das limitaes humanas, as tcnicas de

    engenharia foram orientadas para alcanar um objectivo: mitigar as consequncias do

    acidente.

    Normalmente so atribudas ao condutor responsabilidades na maioria dos acidentes

    rodovirios, sendo entendida durante muito tempo como principal origem, em que a

    velocidade excessiva, conduo sob o efeito do lcool ou o desrespeito pelas regras de

    trnsito, so as causas relacionadas com o comportamento do condutor que mais so referidas.

    Esta viso focada no condutor - Person-based approaches- atribui como principal origem

    dos acidentes, o resultado de processos mentais errados ou factores psicolgicos no

    adequados do indivduo no momento da tarefa da conduo, assumindo um sistema

    rodovirio concebido com as condies mnimas de segurana (Salmon, Regan, & Johnston,

    2005).

    Segundo Noriega (2001), e excluindo outras fontes de erro por apresentarem mecanismos

    psicolgicos diferentes como as violaes do cdigo por exemplo, possvel categorizar o

    processo mental que origina o erro em faltas e falhas, sendo estes ltimos os que mais

    contribuem para a sinistralidade.

    Consideram-se falha, todas as aces em que o processo mental, de forma no consciente, no

    conseguiu desempenhar correctamente as suas funes para atingir um objectivo. A falta por

    outro lado, o desvio consciente de uma aco para atingir um objectivo.

    A tarefa da conduo como referida, um processo funcional que requer do ser humano

    diferentes nveis de operao onde possvel acontecer o erro que se define como falhano

    das aces planeadas, em atingir as consequncias desejadas (Reason, Manstead, Stradling,

    Baxter & campbel, 1990) em (Noriega, 2001). Dentro desta definio, pode-se distinguir os

    dois tipos de erros j evidenciados: faltas e falhas (ver Figura 2.4).

  • Captulo II - 27 -

    Figura 2.4 Classificao de aces no seguras

    Fonte: Reason (1990) em (Weller, Schlag, Gatti, Jorna, & Van de Leur, 2006)

    Do mesmo modo, foi tambm a postura que a engenharia rodoviria adoptou durante muitos

    anos, especialmente em Portugal, entendendo que fundamentalmente a adopo de

    comportamentos inadequados, ignorando regras de segurana que era a causa na grande

    maioria dos acidentes.

    A actuao na reduo nos ndices de sinistralidade nos ltimos 20 anos, particularmente em

    Portugal, baseou-se em medidas que visam prevenir comportamentos no desejados do

    condutor, nomeadamente numa formao mais exigente na aquisio de licena para a

    conduo ou regras de trnsito mais restritivas associadas a uma fiscalizao mais presente na

    estrada procurando limitar recompensas positivas do condutor por condutas irresponsveis

    (ex. campanha segurana mxima tolerncia zero).

    Apresenta no Grfico 2.5, as medidas implementadas no mbito da Segurana Rodoviria

    entre 1975 e 2008 em comparao com a evoluo do nmero de vtimas mortais no mesmo

    perodo.

    RotinaExcepcionaisActos de sabotagem

    Intencional

    Aco involuntria

    Aco voluntria

    TIPOS DE ERROSFalhas de ateno

    Falhas de memria

    Faltas

    Violao

    OmissesEsquecimentoConfuso de locais

    Falhas de memria

    Desrespeito por regrasRegras mal aplicadas

    De diversas formas

    em regras

    Baseadas no conhecimento

    IntrusoOmissoReverso

    Falhas de ateno

    InseguranaAces no

    seguras

  • - 28 - Capitulo II

    Grfico 2.5 Medidas de Segurana rodoviria e evoluo do nmero de vtimas mortais: 1975 - 2008

    Fonte: ANSR (2008)

    Esta abordagem por si s, como forma de melhoria das condies de segurana tem resultados

    positivos, mas a curto prazo. Verifica-se a partir da observao do grfico anterior, que num

    perodo relativamente curto, 6 meses a 1 ano, os condutores adaptam-se s novas regras e

    obtm recompensas positivas numa utilizao do sistema irresponsvel. Por outro lado, num

    meio complexo como o sistema rodovirio, a componente humana no a causa nica para a

    ocorrncia de um acidente.

    A perspectiva na qual o acidente analisado com base numa abordagem dos erros do

    condutor - Person-based approaches - agora por si s insuficiente para determinar

    medidas de melhoria das condies de segurana. Uma abordagem global sistmica parece ser

    a forma mais aceite - Systems perspective approaches - integrando o ambiente rodovirio,

    o veculo e o condutor como componentes da gnese do acidente.

    Um esforo ao nvel da concepo e manuteno dos ambientes rodovirios poder ser o

    iniciador de uma mudana no comportamento de conduo. A defesa deste ponto de vista

    assenta na compreenso dos modos de aprendizagem de comportamentos correctos e

    0

    500

    1.000

    1.500

    2.000

    2.500

    3.000

    1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007

    Nmero de vtimas mortais

    Anos

    1976: Campanha "Circular viver". Obrigatoriedade uso capacetepara velocpedes c/ motor

    1977:

    Obrigatoriedade do cinto de segurana fora das localidades. Agravamento das sanes pecunirias

    1982:

    Proibida aconduo sobinfluncia do lcool:- TAS>=0,8 g/l.- Agravamento das sanes

    pecunirias

    1983:

    TAS>=0,5 g/l

    1989:

    Obrigatoriedade do tacgrafo. Agravamento das sanes pecunirias.

    1990:

    Criminilizaopara TAS>=1,20 g/l

    1992:

    Inspeces peridicas obrigatrias

    1994:

    Aprovao do novo CE.Cinto segurana dentro localidades.

    Reduo limites veloc. dentro localidades (50 km/h). Uso de capacete para ciclomotores.

    Agravamento sanes pecunirias.

    1995:

    Obrigatoriedade do uso de sistemas de reteno para crianas.

    1997:

    Campanha "Segurana mxima tolerncia zero" (incio IP5)

    2000:

    Alteraes ao CE.Agravamento das sanes

    pecunirias

    1998:

    Aprovao do RST 2003:Plano NacionalPreveno Rodoviria

    2004: Novo Boletim estatstico de acidentes de viao (BEAV)

    2005:Alteraes ao CE aprovadas a 26 de Maro: Agravamento de

    sanes pecunirias e acessrias. Uso de colete retrorefletor obrigatrio. Coimas diferenciadas para excesso de velocidade 2008:

    Estratgia Nacional de Segurana Rodoviria

    Nota: RST Regulamento de Sinalizao de Trnsito

  • Captulo II - 29 -

    incorrectos da tarefa de conduo que se definem muito ao nvel dos processos automticos

    de operao necessrios para dominar os processos necessrios da conduo da viatura.

    Acidente como uma cadeia de eventos

    Observando o evento acidente, e assumindo que inevitvel a sua ocorrncia, comum

    dividi-lo em 3 etapas, dado a sua multidisciplinaridade Ogden(1994):

    pr-coliso;

    coliso;

    ps-coliso.

    Nesta abordagem ao fenmeno, so etapas do interesse da engenharia rodoviria, a pr-

    coliso e coliso, onde dispem de conhecimentos para actuar com intuito da sua reduo.

    A ps-coliso, interessa sobretudo medicina, quer seja nos primeiros socorros, quer no

    tratamento e reabilitao das vtimas resultantes do acidente.

    Nesta ptica, e tendo em conta os 3 elementos de um sistema de transportes (Figura 1.1) e as

    etapas em que um acidente pode ser dividido, William Haddon apresenta em 1980, uma

    matriz que combina estes dois conceitos, identificando as diferentes formas de actuao,

    como se pode observar no Quadro 2.3.

    Quadro 2.3 Matriz de Haddon

    Font e: Ogden (1994)

    ASPECTOS

    PR-COLISO COLISO PS-COLISO

    UTENTE

    Treino Educao

    (ex. Evitar de conduzir sob o efeito do lcool) Comportamento

    Visibilidade dos pees e ciclistas (conspicuidade)

    Utilizao adequada do cinto de segurana

    Servios de emergncia

    mdica

    VECULO

    Segurana activa (Ex. ABS)

    Velocidade Exposio

    Segurana passiva (Ex. proteco contra

    impactes) Recuperao

    INFRA-ESTRUTURA

    Marcas rodovirias Traado

    Caractersticas superficiais do pavimento Visibilidade

    Sistemas de reteno Postes tipo base

    frgeis

    Reposio de equipamentos

    rodovirios

  • - 30 - Capitulo II

    Tambm na definio da Estratgia Nacional de Segurana Rodoviria, esta matriz, serviu de

    base com as devidas adaptaes realidade Portuguesa, para a definio dos factores

    determinantes da gnese dos acidentes.

    Quadro 2.4 Matriz dos factores determinantes da gnese dos acidentes constante na ESR

    Fonte: ENSR (2009)

    ASPECTOS

    ANTES DO ACIDENTE NO ACIDENTE DEPOIS DO ACIDENTE

    COMPORTAMENTO

    Educao para a conduo; Exame de conduo;

    Perda e recuperao da carta; Educao contnua.

    Utilizao sistemtica dos dispositivos de segurana.

    Avaliao comportamental de condutores envolvidos.

    VECULO E EQUIPAMENTO

    Idade, condies e controlo do parque automvel;

    Solues de segurana activa; Introduo de medidas de

    dissuaso nas empresas (alcoolmetros, p. ex.).

    Solues de segurana passiva.

    Estudo dos veculos envolvidos em acidentes.

    MEIO ENVOLVENTE E INFRA-ESTRUTURA

    Concepo, Construo, Sinalizao, Conservao e

    Requalificao das Vias; Estacionamento;

    Controlo Automtico da Velocidade.

    BEAV; Melhoria da

    Capacidade de Aviso.

    Investigao dos acidentes; Anlise e correco dos

    Pontos Negros; Melhoria da capacidade de interveno (formao dos

    meios de socorro e rede nacional de assistncia)

    SCIO CULTURAIS E AMBIENTAIS

    Educao cvica e escolar (pr-habilitao);

    Presso social sobre comportamentos;

    Ordenamento do Territrio.

    O Socorro (Aviso e Auxlio) como

    prioridade cvica

    Educao para o Socorrismo.

    Do ponto de vista da engenharia rodoviria, interessa sobretudo a componente ligada infra-

    estrutura, na aplicao de medidas preventivas (antes do acidente) e medidas mitigadores (no

    acidente) e na investigao da gnese do acidente (aps o acidente). Nesta ltima fase,

    especialmente importante dedicar recursos adequados para que os resultados possam melhorar

    a eficcia e eficincia das medidas preventivas e mitigadoras e assim permitir oferecer

    melhores condies de segurana.

    Procurando simplificar um processo complexo como o acidente rodovirio, e dada a sua

    natureza aleatria, pode-se descrever como uma cadeia de eventos, onde factores de risco de

    cada uma das componentes do sistema se combinam para que o acidente ocorra (ver Figura

    2.5).

  • Captulo II - 31 -

    Figura 2.5 O acidente como uma cadeia de eventos especficos

    Fonte: adaptado de Salmon, Regan, & Johnston (2005)

    Ex. fadiga

    ACIDENTE EVITADO

    ACIDENTE EVITADO

    ACIDENTE

    Dainfra-estrutura

    Doveculo

    Do utilizador (comportamento)

    Ex. Travesdeficientes

    Ex. Pavimentoescorregadio

    FACTORESLATENTES

    Ex. fadiga

    ACIDENTE EVITADO

    ACIDENTE EVITADO

    ACIDENTE

    Dainfra-estrutura

    Doveculo

    Do utilizador (comportamento)

    Ex. Travesdeficientes

    Ex. Pavimentoescorregadio

    FACTORESLATENTES

    Esta viso evidencia uma perspectiva do evento acidente, onde se aceita que existe factores

    latentes afectos a cada componente do sistema (orificios representados na Figura 2.5), que

    com maior ou menor grau de risco (abertura) representam as fraquezas de um sistema de

    proteco/condies de segurana (folhas) que so fundamentais para evitar ou mitigar as

    consequencias de um acidente.

    4. AMBIETE RODOVIRIO

    Uma rede de estradas normalmente, um conjunto de vias que servem diferentes finalidades,

    apresentando caractersticas geomtricas que conferem diferentes ambientes rodovirios

    especficos para a sua funo.

    Assim, devero existir caractersticas nicas que transmitam ao condutor o comportamento

    adequado para uma circulao em segurana.

  • - 32 - Capitulo II

    Deste modo, a oferta da segurana rodoviria passa, entre outras, por garantir princpios

    fundamentais na concepo e explorao da rede (PIARC, 2003)

    qualidade:

    - visibilidade;

    - estrada auto explicativa;

    - adequao das infra-estruturas s foras dinmicas impostas pelos veculos;

    - rea adjacente faixa de rodagem;

    - Mitigao dos acidentes.

    homogeneidade:

    - caractersticas geomtricas e materiais adequadas funo da estrada;

    - caractersticas homogneas ao longo do itinerrio.

    auditorias de segurana rodoviria ao projecto de estradas.

    Princpio da qualidade: visibilidade

    O princpio da garantia da qualidade de uma estrada diz respeito a satisfazer requisitos para

    criar um ambiente rodovirio que oferea todas as condies para uma circulao segura. Um

    dos principais parmetros a ter em conta a distncia de visibilidade (JAE, 1994). uma

    qualidade fundamental garantir uma distncia de visibilidade suficiente para que em funo

    da velocidade autorizada na via seja oferecido ao utilizador o tempo mnimo necessrio (ou

    distncia) para este tomar as decises adequadas s condies de circulao.

    Este parmetro de dimensionamento de estradas, pode ser calculado por:

    = 3,6 +

    254 100 [1]

    onde: DP: Distncia de visibilidade de paragem (m)

    t: tempo de percepo e reaco (s)

    Vi: velocidade inicial (km/h)

    fi: coeficiente de atrito longitudinal

    G: inclinao longitudinal da estrada (%)

  • Captulo II - 33 -

    Conceito de estrada auto-explicativa

    De acordo com Noriega (2001), o meio rodovirio tem influncia de duas formas:

    directamente, nas situaes que aumentam a probabilidade de ocorrncia de acidente (Ex.

    buraco, condies de aderncia); indirectamente, atravs da recompensa dos maus

    comportamentos onde o ambiente est mal estruturado e por isso propicia uma aprendizagem

    incorrecta, aumentando a probabilidade de erro.

    O conceito de estrada auto-explicativa baseia-se na ideia de que determinados

    equipamentos e elementos geomtricos da estrada condicionam as expectativas relativamente

    ao comportamento do condutor, bem como atitude e ao comportamento dos outros utentes e,

    deste modo, induzem a escolha de velocidades de circulao e de manobras apropriadas.

    (Reurings, Janssen, Eenink, Elvik, Cardoso, & Stefan, 2006).

    A Figura 2.6 apresenta a base do conceito de estrada auto-explicativa.

    Figura 2.6 Ideia base do conceito da estrada auto-explicativa

    Fonte: Reurings, Janssen, Eenink, Elvik, Cardoso, & Stefan (2006)

    Heterogneas entre gruposHomogneas no grupo

    (subjectivo) Classes de vias

    Ambiente rodovirio reconhecido

    Expectativas sobre:

    Velocidade mxima permitidaMargem onde o comportamento ainda seguro Manobras permitidas

    Atitude perante o ambiente rodovirio

    Tipos de utentesVelocidade mxima permitidaManobras permitidas

    Outros comportamento

    Transio entre classes de vias

    Comportamento homogneo e previsvel

    Reduo de acidentes

  • - 34 - Capitulo II

    Como o comportamento do condutor no fundo um processo de aprendizagem baseado em

    recompensas positivas ou negativas, importante reduzir o grau de heterogeneidade dentro

    dos mesmos tipos de estradas e que sejam o mais semelhantes possveis induzindo um

    comportamento mais homogneo e expectvel. Veja-se o caso das auto-estradas, cujo limite

    de velocidade superior a outras estradas e que se caracterizam por ter pelo menos duas vias

    por sentido separadas por elementos fsicos, com cruzamentos desnivelados e acesso restrito a

    ns de ligao com rampas de acesso.

    Tambm referido, nas Normas de Traado(JAE, 1994), um conjunto de situaes no

    desejveis que se devem evitar na concepo num projecto de estradas e que esto

    directamente relacionadas com a qualidade do traado e que causam duvidas no utilizador na

    interpretao do traado, influenciando a sua expectativa quanto s condies de circulao,

    conforme apresentado nas figuras seguintes (Figura 2.7 e Figura 2.8).

    Figura 2.7 Mau traado: pequeno alinhamento entre duas curvas com o mesmo sentido

    Fonte: JAE (1994)

    Figura 2.8 Mau traado: pequeno trainel entre duas concordncias cncavas

    Fonte: JAE (1994)

    Traado

    horizontal

    Perspectiva

    Traado em perfil longitudinal

    Perspectiva

  • Captulo II

    Plano Rodovirio 'acional

    A adopo de uma poltica

    directrizes sobre a organizao da rede de estradas e estabelecer

    finalidades e ambientes rodovirios distintos.

    Actualmente em Portugal, o sistema de estradas

    Rodovirio Nacional PRN2000

    rodovirias em classes de vias de acordo com o tipo de ligao que asseguram:

    Itinerrios principais (IP)

    os mais importantes so classificados de Auto

    Itinerrios complementares

    (IP) s reas urbanas.

    Estradas regionais (ER)

    Figura 2.9 Rede Rodoviria acional

    Fonte: Departamento de Segurana Rodoviria, EP

    de gesto da rede viria desde 1945 procurou estabelecer

    anizao da rede de estradas e estabelecer tipologias de estrada com

    finalidades e ambientes rodovirios distintos.

    m Portugal, o sistema de estradas (Figura 2.9) est definido pelo Plano

    PRN2000 (Decreto-Lei n. 222/98), o qual classifica

    em classes de vias de acordo com o tipo de ligao que asseguram:

    (IP), ligando as principais cidades, portos e aeroportos, em que

    os mais importantes so classificados de Auto-Estradas (AE).

    Itinerrios complementares (IC) e Estradas nacionais (E), que liga a rede principal

    (ER), ligando os municpios.

    Departamento de Segurana Rodoviria, EP Estradas de Portugal, S.A.

    - 35 -

    procurou estabelecer

    tipologias de estrada com

    est definido pelo Plano

    Lei n. 222/98), o qual classifica as infra-estruturas

    em classes de vias de acordo com o tipo de ligao que asseguram:

    , ligando as principais cidades, portos e aeroportos, em que

    , que liga a rede principal

  • - 36 - Capitulo II

    No total, as estradas previstas no PRN2000 somam cerca de 16.500 km, o que representa um

    aumento significativo relativamente s estradas abrangidas pelo anterior plano - PRN85

    (9.900 km).

    Estrada tolerante

    Contrariando a forma como a sinistralidade rodoviria entendida, em que o acidente, na

    maioria das vezes se deve a faltas ou falhas humanas, cada vez mais utilizado o conceito de

    estrada tolerante. Assim, o conceito preconiza que no admissvel, num moderno sistema de

    transportes, que em caso de acidente, se verifiquem vtimas mortais ou feridos graves.

    O conceito de estrada tolerante, procura (Cardoso & Roque, 2001):

    prevenir a ocorrncia de erros do condutor;

    mitigar as consequncias dos erros que possam vir a ocorrer.

    O primeiro ponto, procura dois objectivos, por um lado contribuir para o condicionamento do

    comportamento do condutor estrada auto-explicativa; e ajustar os actuais parmetros de

    dimensionamento mais afastados dos valores mdios normais, em particular no caso de

    algumas caractersticas crticas, mais sensveis variabilidade dos utilizadores

    (nomeadamente, tempos de deciso e de reaco), e de determinados locais (cruzamentos,

    ns, curvas), nos quais a tarefa de conduo tem um reconhecido acrscimo de complexidade.

    O segundo ponto refere-se aos cuidados a ter na rea adjacente faixa de rodagem (AAFR).

    Independentemente dos cuidados que efectivamente se tenham relativamente mitigao da

    probabilidade de erro, deve reconhecer-se que os erros ho-de acontecer inevitavelmente,

    mesmo no caso de as suas probabilidades de ocorrncia serem mnimas.

  • Captulo II - 37 -

    5. DADOS: UMA ECESSIDADE COSTATE

    O conhecimento poder., (Thomas Hobbes, filosofo ingls).

    Para obter conhecimento preciso informao. Numa rede viria, a recolha de informao ou

    monitorizao fundamental para que com o conhecimento fivel e mais objectivo quanto

    possvel, se possa fundamentar a interveno de forma sustentada.

    No s os engenheiros rodovirios esto interessados em obter informao sobre a explorao

    do sistema rodovirio e desenvolver solues para uma actuao preventiva e reactiva em

    relao aos problemas de segurana rodoviria; outras partes envolvidas necessitam de obter

    informao para desenvolver o seu trabalho.

    Assim, a monitorizao no um processo exclusivo realizado pela engenharia rodoviria. As

    foras policiais, seguradoras, gestores, investigadores, indstria automvel so outros

    interessados. Direccionado para as necessidades de cada interessado, importante por um

    lado a existncia de um sistema de monitorizao partilhado entre interessados, como uma

    filosofia de recolha e manuteno de dados e informao.

    Deste modo, sendo a sinistralidade um problema interdisciplinar, e multi-sectorial, como

    anteriormente referido, seria desejvel conseguir estabelecer canais de ligao automticos,

    ou semi-automticos entre os diferentes gestores das bases de dados, com o intuito de obter

    dados de forma clere e actualizados, e permitir cruzar informao de forma credvel, com

    garantia de que interessados diferentes possam determinar os mesmos indicadores com

    resultados iguais.

    No Quadro 2.5, apresenta-se uma grelha de campos de informao, a qual configura

    conceptualmente o contedo qualitativo de um sistema de monitorizao, fundamental para

    um observatrio de trfego e segurana rodoviria (Ogden, 1996).

  • - 38 - Capitulo II

    Quadro 2.5 Dados de entrada num sistema de monitorizao

    Fonte: Ogden (1996)

    VARIVEIS DESCRIO

    DADOS DE ACIDENTES DE VIAO

    Gerais Localizao, data, dia, hora, natureza do acidente, n. de veculos, vtimas, n. de vtimas

    Administrativas Fonte de recolha, n. de identificao do acidente, Veculos Tipo, ano de fabrico, carga

    Pessoas Sexo, idade, alcoolemia, gravidade, uso do cinto de segurana, localizao dos pees e percursos;

    Ambiente Luminosidade, iluminao, condies atmosfricas, condies do pavimento

    Esboo e descrio sumria Desenho do local, movimento dos veculos e pees, velocidades, sequncia de acontecimentos para o acidente

    DADOS DA ESTRADA

    Descrio da via Classificao, nmero de vias, limite de velocidade, rea adjacente faixa de rodagem

    Detalhes geomtricos Curva, grade, concordncia cncava, concordncia convexa, largura da via, largura da berma, tipo de berma

    Pavimento Tipo, macrotextura, microtextura, atrito Sistemas de controlo de trfego

    Sinais, marcas rodovirias, delineadores, canalizao, semforos

    Tipo de sistema nas interseces

    Sem regra de prioridade, perda de prioridade, paragem obrigatria, sinais semafricos, configurao, nmero de vias, restries

    Objectos na rea adjacente faixa de rodagem

    Sinais, postes, vedaes, equipamento urbano, obstculos rgidos, pontes, travessias ferrovirias, ponto

    Obras na via Sim/no, em curso, tipo de controlo de trfego

    DADOS DO TRFEGO

    Volume de trfego Dirio, horrio, sazonal Composio Classe de trfego, classe de veculos Pees Volume