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Avaliação de Soluções Naturais para o Tratamento de Excedentes Poluídos de Sistemas de Águas Residuais Rita Oliveira Mota Amaral Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Júri Presidente: Orientador: Co-orientador: Vogais: Doutor António Jorge Silva Guerreiro Monteiro Doutora Filipa Maria Santos Ferreira Doutor José Manuel de Saldanha Gonçalves Matos Doutor António João Carvalho de Albuquerque Engenheiro Paulo Jorge Inocêncio Outubro 2011

Avaliação de Soluções Naturais para o Tratamento de ... · Excedentes Poluídos de Sistemas de Águas Residuais ... À Secção de Hidráulica e Recursos Hídricos e Ambientais

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Avaliação de Soluções Naturais para o Tratamento de

Excedentes Poluídos de Sistemas de Águas Residuais

Rita Oliveira Mota Amaral

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Júri

Presidente:

Orientador:

Co-orientador:

Vogais:

Doutor António Jorge Silva Guerreiro Monteiro

Doutora Filipa Maria Santos Ferreira

Doutor José Manuel de Saldanha Gonçalves Matos

Doutor António João Carvalho de Albuquerque

Engenheiro Paulo Jorge Inocêncio

Outubro 2011

Agradecimentos

A realização do presente trabalho só foi possível graças à colaboração de diversas pessoas e

entidades às quais gostaria de expressar o meu sincero agradecimento.

Aos Professores Filipa Ferreira e José Saldanha Matos, orientadora e co-orientador científicos

desta dissertação, pela oportunidade concedida, por todo o apoio, incentivo, disponibilidade,

amizade, valiosas sugestões e troca de ideias que tanto contribuíram para o desenvolvimento

deste trabalho, assim como para a minha formação profissional.

À Professora Ana Galvão, pelo apoio decisivo na idealização e preparação da instalação

experimental e pela disponibilidade e importantes contribuições durante todo o

desenvolvimento da tese.

À Secção de Hidráulica e Recursos Hídricos e Ambientais do Instituto Superior Técnico (IST),

pelas condições disponibilizadas e facilidades concedidas durante a realização do trabalho.

À SIMTEJO, S.A., em particular ao Eng.º Paulo Inocêncio, pelo envolvimento e disponibilização

do espaço para a realização do presente caso de estudo e pela colaboração nas campanhas

de amostragem.

À BRISA, Auto-Estradas de Portugal S.A. e à Fundação para a Ciência e Tecnologia, pelo

apoio financeiro, no âmbito do Projecto de Investigação e Desenvolvimento “Controle da

Poluição de Escorrências Pluviais Rodoviárias e Impacto Visual das Lagoas de Macrófitas” e

do Projecto SIMAI (PTDC/AAC-AMB/102634/2008) – “Sistemas de Monitorização e Aviso em

Infra-estruturas de drenagem urbana”, respectivamente.

Ao João Pedro, do Laboratório Experimental de Hidráulica e Recursos Hídricos e Ambientais

do IST, pelo trabalho de preparação e montagem do equipamento instalado na ETAR de

Frielas e pela preciosa ajuda nas campanhas de amostragem.

Ao colega Nuno Pimentel, pela colaboração na recolha de amostras.

Ao Nuno Fernandes, pelo carinho, boa disposição, compreensão, incentivo e pertinentes

comentários durante a realização desta dissertação.

Aos meus pais e irmão, pelo exemplo que são, pela amizade, carinho, estímulo e formação a

nível pessoal, científico e profissional sem a qual não teria chegado até aqui. Um

agradecimento especial à minha mãe, pela paciência, compreensão e apoio incondicional que

me motivaram ao longo de todo o trabalho.

Resumo

Diversos estudos têm revelado o potencial do uso de leitos de macrófitas para o tratamento de

descargas de excedentes de sistemas de águas residuais. Contudo, em Portugal, ainda não se

conhecem aplicações deste tipo.

A presente dissertação visa avaliar a adequabilidade de soluções “naturais”, nomeadamente de

zonas húmidas construídas, no tratamento de descargas de excedentes de sistemas de

drenagem em Portugal, um país com clima mediterrânico com longos períodos de tempo seco.

Para além disso, pretende-se recolher dados e aumentar o conhecimento relativo a

infra-estruturas deste tipo, que possa contribuir para a sua concepção e pré-dimensionamento.

Nesse sentido, procedeu-se à implementação de uma instalação experimental piloto,

constituída por quatro leitos de escoamento subsuperficial do tipo horizontal, na ETAR de

Frielas. O trabalho desenvolvido incluiu, para além da construção da instalação piloto, a

respectiva alimentação e monitorização durante um período de arranque de oito semanas, de

modo a avaliar o desenvolvimento das plantas e aferir a eficiência dos leitos no tratamento de

descargas de excedentes, designadamente para avaliação de remoção da Carência Química

de Oxigénio (CQO), Sólidos Suspensos Totais (SST) e de parâmetros microbiológicos

(coliformes totais e enterococos).

Os resultados obtidos em termos de eficiências de remoção dos parâmetros avaliados podem

ser considerados promissores. Em particular no caso da remoção da CQO, verifica-se que a

presença da vegetação parece não influenciar significativamente o desempenho durante a fase

de “start up”, e que as eficiências de remoção após sete dias de retenção da massa líquida

parecem estabilizar a partir da sexta semana.

Palavras-chave: Abordagens sustentáveis; controlo da poluição; descargas directas de

excedentes; zonas húmidas construídas.

Abstract

Constructed wetlands (CW) are regarded as an attractive alternative for combined sewer

overflow (CSO) treatment and their high purification efficiency has been proven in several

studies. However, in Portugal, there is no knowledge of any practical application of this type of

technology.

The purpose of this research is to evaluate the application of “natural” solutions, such as

constructed wetlands, for CSO treatment in Portugal, a Mediterranean country with long dry

periods. Besides, this thesis intends to gather the information and know-how required for the

design of this type of infrastructures.

A pilot scale experimental setup, including four horizontal subsurface flow CW, was

implemented at the Frielas Wastewater Treatment Plant (WWTP). In addition to the construction

of the pilot, the work included feeding and monitoring the beds during a start up period of eight

weeks in order to evaluate the development of plants and assess the effectiveness of the beds

for CSO treatment, namely in terms of Chemical Oxygen Demand (COD), Total Suspended

Solids (TSS) and microorganism removal (total coliforms and enterococus).

The obtained results are considered promising in terms of the removal efficiencies obtained for

the different parameters evaluated. In case of organic matter removal, plants did not seem to

influence significantly the CW performance during start up. Total COD removal efficiencies

seemed to stabilise after week six.

Keywords: Combined sewer overflows; constructed wetlands; pollution control; sustainable

approaches.

i

Índice do texto

1. Introdução ................................................................................................................................ 1

1.1 Enquadramento e relevância do tema .......................................................................... 1

1.2 Objectivos ...................................................................................................................... 2

1.3 Estrutura da dissertação ............................................................................................... 3

2. Qualidade de efluentes em tempo de chuva ........................................................................... 5

2.1 Considerações gerais .................................................................................................... 5

2.2 Enquadramento legislativo ............................................................................................ 6

2.3 Caracterização dos caudais excedentes ...................................................................... 9

3. Controlo da poluição em tempo de chuva ............................................................................. 15

3.1 Estratégias de controlo da poluição e beneficiação de sistemas de drenagem ......... 15

3.2 Soluções de tratamento de excedentes poluídos ....................................................... 20

3.2.1 Considerações introdutórias .................................................................................... 20

3.2.2 Tecnologias de pré-tratamento ............................................................................... 20

3.2.3 Tecnologias de clarificação ..................................................................................... 21

3.2.4 Tecnologias de desinfecção .................................................................................... 26

4. Tratamento de descargas de excedentes através de soluções “naturais” ............................ 29

4.1 Desafios, novas abordagens e principais dificuldades ............................................... 29

4.2 Soluções de tratamento no solo .................................................................................. 31

4.3 Zonas húmidas construídas ........................................................................................ 36

4.3.1 Descrição geral ........................................................................................................ 36

4.3.2 Principais componentes e mecanismos de remoção .............................................. 39

4.3.3 Modelos matemáticos - cinética de 1ª ordem ......................................................... 44

4.3.4 Recomendações de concepção e projecto no tratamento de excedentes

poluídos ........................................................................................................................ 46

4.3.5 Exemplos de aplicação............................................................................................ 49

5. Avaliação de soluções “naturais” para o tratamento de excedentes poluídos através

de uma instalação piloto ........................................................................................................ 53

5.1 Considerações introdutórias ........................................................................................ 53

5.2 Descrição da instalação piloto ..................................................................................... 54

5.2.1 Considerações gerais .............................................................................................. 54

5.2.2 Esquema geral e componentes dos leitos .............................................................. 56

5.3 Operação da instalação piloto ..................................................................................... 59

5.4 Apresentação e análise de resultados ........................................................................ 60

5.4.1 Notas introdutórias .................................................................................................. 60

5.4.2 Parâmetros físico-químicos ..................................................................................... 60

5.4.3 Parâmetros de qualidade ........................................................................................ 64

6. Síntese, conclusões e sugestões para o prosseguimento da investigação .......................... 73

Referências bibliográficas ........................................................................................................... 75

ii

Índice de Quadros

Quadro 2.1 – Características da qualidade de caudais excedentes de sistemas unitários. ..... 13

Quadro 4.1 - Síntese das principais características das soluções de tratamento no solo

(adaptado de USEPA, 2006 e de WPCF, 1990; citado por Santos e Brito, 2001). .......... 35

Quadro 4.2 - Caracterização das descargas de excedentes (adaptado de Balbo et al.,

2010). ................................................................................................................................ 50

Quadro 4.3 - Principais características das zonas húmidas construídas do sistema de

Gorla Maggiore (adaptado de Balbo et al., 2010). ............................................................ 51

Quadro 5.1 - Eficiências médias de remoção dos últimos 3 eventos monitorizados para os

diferentes leitos e tempos de retenção hidráulica distintos. ............................................. 71

Índice de Figuras

Figura 3.1 – Lagos do empreendimento “Lagoas Park” (à esquerda) e aplicação de

pavimentos porosos na doca de Alcântara (adaptado de Ferreira, 2000) (à direita). ...... 16

Figura 3.2 - Esquemas ilustrativos do funcionamento de um sistema unitário com

reservatório intercalado (adaptado de Matos, 2003). ....................................................... 17

Figura 3.3 – Esquema de tratamento de uma ETAR com linha destinada a caudais de

tempo de chuva (adaptado de Brashear et al., 2002; citado por Vieira, 2006). ............... 18

Figura 3.4 – Exemplo de um separador de sólidos avançado e respectiva representação

esquemática (adaptado de http://www.hydro-international.biz). ....................................... 22

Figura 3.5 – Esquema de tratamento do sistema Actiflo® (adaptado de USEPA, 2003). ........... 24

Figura 3.6 - Esquema de tratamento do sistema Densadeg® 4D (adaptado de USEPA,

2003). ................................................................................................................................ 25

Figura 4.1 – Representação esquemática do tratamento dos caudais excedentes em

sistemas naturais, junto ao meio receptor. ....................................................................... 29

Figura 4.2 – Alternativa à descarga directa no meio receptor (adaptado de Smith, 2007). ....... 30

Figura 4.3 – Integração paisagística na zona da Expo, em Lisboa. ........................................... 30

Figura 4.4 – Representação esquemática da técnica de infiltração lenta no solo (adaptado

de USEPA, 2006). ............................................................................................................. 32

Figura 4.5 – Representação esquemática da técnica de infiltração rápida no solo

(adaptado de USEPA, 1977)............................................................................................. 33

Figura 4.6 – Métodos de recuperação da água tratada (adaptado de USEPA, 1977). .............. 34

Figura 4.7 – Representação esquemática da técnica de escoamento superficial no solo

(adaptado de USEPA, 1977)............................................................................................. 35

Figura 4.8 - Representação esquemática de zonas húmidas construídas de escoamento

subsuperficial horizontal (adaptado de Vymazal, 2007). .................................................. 37

Figura 4.9 - Representação esquemática de zonas húmidas construídas de escoamento

subsuperficial vertical (adaptado de Vymazal, 2007). ...................................................... 37

iii

Figura 4.10 – Representação esquemática de zonas húmidas construídas de escoamento

superficial com plantas emergentes (adaptado de Salati, 2006). ..................................... 38

Figura 4.11 - Representação esquemática de zonas húmidas construídas de escoamento

superficial com plantas submersas (adaptado de Salati, 2006). ...................................... 38

Figura 4.12 - Representação esquemática de zonas húmidas construídas de escoamento

superficial com plantas flutuantes (adaptado de Salati, 2006). ........................................ 38

Figura 4.13 – Configuração de um sistema de tratamento de excedentes baseado em

zonas húmidas construídas (adaptado de Uhl e Dittmer, 2005)....................................... 47

Figura 4.14 – Corte esquemático da secção transversal de uma zona húmida construída

no tratamento de caudais excedentes (adaptado de Uhl e Dittmer, 2005). ..................... 47

Figura 4.15 – Representação esquemática da estrutura de descarga. ...................................... 49

Figura 4.16 - Vista esquemática em planta do sistema de Gorla Maggiore (adaptado de

Balbo et al., 2010). ............................................................................................................ 50

Figura 4.17 – Esquema de tratamento do sistema de Gorla Maggiore (adaptado de Balbo

et al., 2010). ...................................................................................................................... 51

Figura 4.18 – Enquadramento e aspecto do sistema de Harbor Brook (adaptado de

Mahoney, 2011). ............................................................................................................... 52

Figura 5.1 - Vista dos descarregadores da Rua Horta Ribeiras (à esquerda) e da Calçada

de Carriche (à direita) (adaptado de Silva e Matos, 2007). .............................................. 53

Figura 5.2 – Subsistema de Frielas (adaptado de Silva e Matos, 2007). ................................... 55

Figura 5.3 - Fotografia aérea da ETAR de Frielas (adaptada de www.simtejo.pt). .................... 56

Figura 5.4 - Vista geral da instalação experimental e identificação dos leitos (fotografia

tirada a 04.07.2011). ......................................................................................................... 56

Figura 5.5 - Tubagem de alimentação e descarga do efluente. ................................................. 57

Figura 5.6 - Instalação do grupo electrobomba submersível. ..................................................... 58

Figura 5.7 – Evolução do crescimento da vegetação. ................................................................ 58

Figura 5.8 – Diferença em termos visuais entre o afluente do sistema e o efluente ao fim

de sete dias de retenção. .................................................................................................. 60

Figura 5.9 – Evolução da temperatura do líquido. ...................................................................... 61

Figura 5.10 - Evolução do pH. ..................................................................................................... 62

Figura 5.11 - Evolução do oxigénio dissolvido. ........................................................................... 62

Figura 5.12 - Evolução do potencial redox. ................................................................................. 63

Figura 5.13 - Evolução da condutividade. ................................................................................... 64

Figura 5.14 - Variação das concentrações da CQO. .................................................................. 65

Figura 5.15 - Variação das concentrações de SST. ................................................................... 65

Figura 5.16 - Variação das concentrações de coliformes totais. ................................................ 65

Figura 5.17 - Variação das concentrações de enterococos. ....................................................... 66

Figura 5.18 – Evolução das concentrações em termos da CQO em função do tempo de

retenção. ........................................................................................................................... 67

Figura 5.19 – Evolução das constantes de remoção do modelo de cinética de 1ª ordem. ........ 68

iv

Figura 5.20 - Evolução das eficiências de remoção da CQO ao fim de sete dias de

retenção. ........................................................................................................................... 69

Figura 5.21 - Evolução das eficiências de remoção de SST ao fim de sete dias de

retenção. ........................................................................................................................... 70

Figura 5.22 - Evolução das eficiências de remoção de CT ao fim de sete dias de retenção. .... 70

Figura 5.23 - Evolução das eficiências de remoção de enterococos ao fim de sete dias de

retenção. ........................................................................................................................... 70

Índice de Acrónimos

CBO5 - Carência Bioquímica de Oxigénio ao fim de cinco dias e a 20⁰C;

CQO - Carência Química de Oxigénio;

CT - Coliformes Totais;

ETAR - Estação de Tratamento de Águas Residuais;

LM – Leito de Macrófitas;

OD - Oxigénio Dissolvido;

PEAASAR – Plano Estratégico de Abastecimento de Água e Saneamento de Águas Residuais;

SST - Sólidos Suspensos Totais;

VLE – Valores Limite de Emissão.

1

1. Introdução

1.1 Enquadramento e relevância do tema

O crescimento urbano registado a nível mundial no século XX, em particular nas últimas quatro

a cinco décadas, teve diversas consequências ao nível da drenagem urbana, nomeadamente

na impermeabilização acentuada do solo. Paralelamente, os avanços tecnológicos verificados

levaram ao aumento dos padrões de consumo e os resíduos gerados pelas actividades

humanas cresceram também em conformidade, excedendo em alguns casos a capacidade de

absorção por parte do ambiente envolvente (Galvão, 2009). Para além disso, o envelhecimento

dos sistemas de drenagem tem potenciado a infiltração de águas freáticas à rede de

colectores. A conjugação destes factores tem vindo a contribuir para a insuficiência da

capacidade dos sistemas de drenagem e, consequentemente, para o aumento da frequência e

da duração de descargas de excedentes em tempo de chuva.

De facto, em Portugal e em muitas regiões do globo, é corrente, mesmo em sistemas

concebidos como separativos domésticos, a afluência indevida de águas pluviais. Nesses

casos, e naturalmente no caso de sistemas unitários (isto é, que transportam conjuntamente

águas residuais e águas pluviais) pode ter lugar, em tempo de chuva, a descarga directa de

excedentes poluídos nos meios receptores, frequentemente com impactos relevantes no

Ambiente.

Adicionalmente, parte da matéria mineral e orgânica depositada no interior dos colectores,

assim como os detritos e partículas acumuladas sobre zonas pavimentadas no período de

tempo seco anterior ao evento de precipitação são arrastados, favorecendo o aumento das

cargas poluentes transportadas em suspensão.

O agravamento, tanto em termos quantitativos como em termos qualitativos, das descargas de

excedentes, que afectam e degradam a qualidade dos meios receptores, tem levado à adopção

de exigências regulamentares que procuram preservar os recursos hídricos e minimizar os

riscos de saúde pública. Em Portugal, e nos países do Sul da Europa em geral, este problema

assume ainda especial relevância, pelo facto de diversos cursos de água secarem ou terem

caudais diminutos durante o período de estiagem, o que reduz a capacidade de diluição e

auto-depuração do meio receptor (David et al., 1998).

Diversas medidas e metodologias têm sido implementadas no sentido de contribuir para o

cumprimento dos objectivos de qualidade pretendidos para os meios receptores,

nomeadamente o controlo na origem, o controlo no sistema de colectores e o tratamento em

fim de linha. As tecnologias de controlo na origem são correntes, sobretudo nos países mais

desenvolvidos, e podem constituir meios importantes para a redução das afluências pluviais e

de carga poluente aos sistemas de colectores, mas a sua implementação está frequentemente

2

limitada pelo desenvolvimento urbano. Em áreas densamente urbanizadas o controlo no

sistema de drenagem, nomeadamente por soluções de detenção, tem sido uma das medidas

mais utilizadas para reduzir as descargas de excedentes, o que exige a construção de

estruturas de armazenamento enterradas ao longo da rede de colectores e, em muitos casos, a

melhoria da capacidade de armazenamento dos colectores através de técnicas de controlo em

tempo real (David e Matos, 2005). A reabilitação dos sistemas mais envelhecidos, tendo em

vista o controlo da infiltração em excesso, tem sido igualmente uma medida aplicada. Por

último, o tratamento de fim de linha (destinado a reduzir a carga poluente dos excedentes dos

sistemas de drenagem) pode envolver diversas etapas em função da qualidade pretendida

para o efluente, das quais se destacam tecnologias de pré-tratamento, de clarificação e de

desinfecção, bem como soluções naturais como as zonas húmidas construídas.

Estudos recentes têm revelado que a abordagem tradicional de gestão de descargas directas

de excedentes em tempo húmido (que inclui, em regra, tanques de armazenamento e

infra-estruturas de transporte que conduzem o caudal para a ETAR) pode não ser a mais

sustentável dado os encargos associados (Balbo et al., 2010). Desta forma, são necessárias

novas abordagens e modos diversos de encarar os problemas e desafios tradicionais,

atendendo a aspectos económicos, ambientais e sociais. O controlo da poluição deverá assim

ser conseguido recorrendo, por exemplo, a soluções mais naturais de tratamento,

eventualmente descentralizadas, que garantam os objectivos de qualidade pretendida com

baixos consumos de recursos, designadamente em termos de reagentes, energia, materiais e

mão de obra (Amaral et al., 2011).

Neste domínio, a tecnologia de zonas húmidas construídas é considerada como uma

alternativa atractiva e a sua eficiência de purificação no tratamento de caudais excedentes tem

sido comprovada em diversos estudos (Uhl e Dittmer, 2005; Henrichs et al, 2007 e Van de

Moortel et al, 2009). No entanto, em Portugal ainda não se conhecem aplicações deste tipo de

tecnologia para esse efeito.

Esta solução tem vindo a ganhar relevância nas últimas décadas, sobretudo no tratamento de

águas residuais urbanas em pequenos aglomerados, sendo a respectiva aplicação a grandes

zonas urbanas reduzida devido à necessidade de ocupação de áreas significativas, em regra

indisponíveis em meio urbano consolidado. Contudo, a sua utilização no tratamento de

excedentes em tempo de chuva poderá constituir uma situação particular de aplicação em

contexto urbano com potencial relevante, especialmente quando se pretender também valorizar

a integração paisagística do sistema.

1.2 Objectivos

A presente dissertação visa avaliar a adequabilidade de soluções “naturais”, nomeadamente de

zonas húmidas construídas, no tratamento de descargas de excedentes de sistemas de

drenagem em Portugal. Para além disso, pretende-se recolher dados e aumentar o

3

conhecimento relativo a infra-estruturas deste tipo, que possa contribuir para a sua concepção

e pré-dimensionamento.

O estudo pretende ainda ser um contributo para avaliar a influência da vegetação e da

aplicação de diferentes caudais afluentes no período inicial de desenvolvimento dos leitos,

assim como analisar a evolução das eficiências de remoção obtidas, nomeadamente em

termos da CQO, SST e de parâmetros microbiológicos (coliformes totais e enterococos).

Os dados obtidos no âmbito da elaboração da presente dissertação resultaram da instalação e

exploração de uma instalação experimental piloto, constituída por quatro leitos de escoamento

subsuperficial do tipo horizontal, situada na ETAR de Frielas, na região de Lisboa.

1.3 Estrutura da dissertação

A presente dissertação é constituída por seis capítulos.

O Capítulo 1 é dedicado ao enquadramento e relevância do tema da dissertação, referindo-se

os objectivos principais e a estrutura do trabalho.

No Capítulo 2 efectua-se o enquadramento legal, referindo-se disposições regulamentares

relacionadas com a qualidade da água e controlo da poluição. Para além disso,

caracterizam-se, sumariamente, os efluentes de sistemas de águas residuais em tempo de

chuva, destacando-se os principais poluentes transportados e os impactos associados a que os

meios receptores se encontram sujeitos.

No Capítulo 3 sintetizam-se as diversas medidas e metodologias aplicadas para a redução da

frequência e volumes descarregados e a melhoria da qualidade dos efluentes, nomeadamente

no que se refere ao controlo na origem, do controlo no interior do sistema de colectores

(reservas) e o tratamento em fim de linha.

No Capítulo 4 apresentam-se abordagens sustentáveis para o tratamento das descargas de

excedentes. Sugere-se a aplicação de soluções de tratamento baseadas em processos

naturais, explicitando-se os principais desafios colocados e as dificuldades enfrentadas. Faz-se

uma breve referência a soluções de tratamento no solo, como a infiltração lenta, infiltração

rápida e o escoamento superficial. Maior destaque é reservado para a tecnologia de zonas

húmidas construídas, apresentando-se a descrição geral, os principais componentes e

mecanismos de remoção de poluentes, modelos de cinética de 1ª ordem que pretendem

traduzir o comportamento do sistema, algumas recomendações de concepção e projecto e

exemplos de aplicação para o tratamento de excedentes poluídos.

O Capítulo 5 refere-se à instalação experimental piloto localizada na ETAR de Frielas.

Descreve-se a sua constituição, definem-se os procedimentos de operação e apresentam-se e

discutem-se os principais resultados obtidos.

4

Finalmente, no Capítulo 6, sintetizam-se as conclusões do estudo e apresentam-se sugestões

para o prosseguimento da investigação.

5

2. Qualidade de efluentes em tempo de chuva

2.1 Considerações gerais

Em função da natureza da qualidade dos efluentes que transportam, os sistemas de drenagem

de águas residuais podem ser classificados em: sistemas separativos, sistemas unitários,

sistemas pseudo-separativos e sistemas mistos.

Os sistemas separativos integram duas redes de drenagem distintas, uma destinada às águas

residuais domésticas e/ou industriais e outra destinada às águas pluviais ou similares, e

constituem o tipo de sistema actualmente recomendado para as redes de saneamento. As

águas residuais domésticas são conduzidas para uma ETAR, onde após tratamento adequado

são descarregadas no meio receptor, enquanto que as águas pluviais são, geralmente,

descarregadas no meio receptor sem serem sujeitas a qualquer tratamento. Os sistemas

separativos domésticos são, em regra, dimensionados para transportar o caudal de ponta

doméstico, enquanto que os sistemas separativos pluviais são dimensionados para um dado

período de retorno, que em Portugal varia, geralmente, entre 5 e 10 anos (Cardoso et al.,

1998).

Por sua vez, os sistemas unitários são constituídos por uma única rede de colectores onde são

admitidas conjuntamente as águas residuais domésticas, industriais e pluviais. Tipicamente, as

estações de tratamento que servem os sistemas unitários estão dimensionadas para receber

caudais da ordem de 3 a 6 vezes o caudal médio diário em tempo seco (David, 2004).

Relativamente aos sistemas separativos parciais ou pseudo-separativos, admite-se, em

condições excepcionais, a ligação de águas pluviais, por exemplo de pátios interiores, aos

colectores de águas residuais domésticas. De facto, em Portugal, tal como noutros Países do

Mundo, apesar dos sistemas serem tendencialmente concebidos como separativos, por vezes

funcionam como se fossem pseudo-separativos (Vieira, 2006).

Nos sistemas mistos, parte da rede de colectores funciona como sistema unitário e a restante

como sistema separativo. Este último pode desenvolver-se, indistintamente, a montante ou a

jusante do primeiro.

Grande parte dos sistemas de drenagem urbana em Portugal e na Europa comportam-se como

sistemas unitários, mistos ou pseudo-separativos, tendo a particularidade de transportar

conjuntamente águas residuais domésticas e águas pluviais. Na Alemanha, cerca de 70% das

águas residuais domésticas são transportadas por colectores unitários (Pecher, 1992; citado

por Matos, 2003), podendo dizer-se, sem grande erro, que grande parte dos países europeus

apresenta percentagens idênticas (Matos, 2003). Em tempo de chuva, se a capacidade da

ETAR é excedida, pode ter lugar a descarga directa de excedentes poluídos (“Combined Sewer

Overflows (CSO)”, em terminologia anglo-saxónica) nos meios receptores, frequentemente com

6

impactos relevantes. A consequente degradação da qualidade das massas de água tem

conduzido à necessidade de implementação de diversos instrumentos legais por forma a

preservar os recursos hídricos e assegurar o seu acesso às gerações futuras.

O conhecimento das características de qualidade físico-química dos caudais excedentes é de

elevada importância, tanto para compreender os tipos de impactos a que os meios receptores

estão sujeitos, como para a concepção, projecto, construção e exploração de instalações de

tratamento, uma vez que a sua eficiência depende, essencialmente, da qualidade dos caudais

afluentes (Geiger, 1998). A caracterização dos efluentes em tempo de chuva é, no entanto,

uma tarefa bastante difícil dada a elevada variabilidade de factores que determinam a sua

composição.

Nos subcapítulos seguintes efectua-se o enquadramento legal, referindo-se as disposições

regulamentares relacionadas com a qualidade da água e controlo da poluição e

caracterizam-se, sumariamente, os efluentes descarregados em tempo de chuva.

2.2 Enquadramento legislativo

O aumento dos riscos de contaminação e poluição das águas superficiais e subterrâneas

poderá comprometer a utilização futura destes recursos. Deste modo, em particular no domínio

do Ambiente, a Comissão Europeia tem manifestado a preocupação de criar instrumentos

legislativos eficazes que ajudem a promover a preservação dos recursos hídricos na Europa.

No âmbito da qualidade da água e controlo da poluição, assumem relevância, entre outras, as

seguintes Directivas Europeias:

Directiva 91/271/CEE, relativa ao tratamento de águas residuais urbanas.

Directiva 2000/60/CE, Directiva-Quadro da Água.

Directiva 2006/7/CE, relativa à gestão da qualidade das águas balneares e que revoga

a Directiva 76/160/CEE.

A Directiva 91/271/CEE do Conselho, de 21 de Maio de 1991, diz respeito à recolha,

tratamento e descarga de águas residuais urbanas com o objectivo de proteger o ambiente dos

efeitos das referidas descargas. O Artigo 2 estabelece a definição de águas residuais urbanas

como sendo “as águas residuais domésticas ou a mistura das águas residuais domésticas com

águas residuais industriais e/ou águas de escoamento pluvial”. O Artigo 4 indica que os

Estados-Membros devem garantir que as “águas residuais urbanas lançadas nos sistemas de

colectores sejam sujeitas, antes da descarga, a um tratamento secundário ou processo

equivalente”. Relativamente ao dimensionamento das Estações de Tratamento de Águas

Residuais é mencionado que “a carga, expressa em equivalente de população (e.p.), será

calculada com base na carga média semanal máxima recebida na estação de tratamento

durante um ano, excluindo situações excepcionais tais como as causadas por chuvas

intensas”. A problemática das descargas de excedentes é também tida em consideração pela

7

Directiva, estabelecendo no Anexo I, referente aos requisitos de tratamento das águas

residuais urbanas, que “visto não ser possível, na prática, construir sistemas de colectores e

estações de tratamento capazes de tratar todas as águas residuais em situações como, por

exemplo, queda de chuvas torrenciais excepcionais, os Estados-Membros tomarão uma

decisão relativamente às medidas destinadas a limitar a poluição resultante de inundações

provocadas por tempestades. Essas medidas poderão basear-se em taxas de diluição, na

capacidade relativamente ao débito em tempo seco ou especificar um determinado número de

inundações admissíveis por ano”.

O Decreto-Lei n.º 152/97, de 19 de Junho, transpõe parte da Directiva 91/271/CEE,

nomeadamente estabelece os objectivos de protecção das águas superficiais dos efeitos das

descargas de águas residuais urbanas no meio aquático e define os requisitos de tratamento

das águas residuais urbanas tendo em conta a sua descarga no meio receptor, consoante se

trate de zonas sensíveis ou de zonas menos sensíveis. Contudo, não se refere à nota

estabelecida no Anexo I da Directiva relativamente à questão das descargas de excedentes.

O Decreto-Lei n.º 152/97 foi alterado pelos Decretos-Lei n.º 348/98 e 149/2004. O Decreto-Lei

n.º 348/98, de 9 de Setembro, transpõe para o direito interno a Directiva 98/15/CE que veio

esclarecer os problemas de interpretação relativamente aos requisitos para as descargas

provenientes de estações de tratamento de águas residuais urbanas efectuadas em zonas

sensíveis sujeitas a eutrofização. O Decreto-Lei n.º 149/2004, de 22 de Junho, refere-se à

identificação das zonas sensíveis (águas doces superficiais, estuários e lagoas costeiras) e das

zonas menos sensíveis (águas costeiras), apresentando não só uma listagem destes locais,

mas também o respectivo mapeamento.

A Directiva 91/271/CEE, na parte relativa à concepção dos sistemas de drenagem e de

tratamento, foi transposta através das normas constantes do Decreto Regulamentar n.º 23/95,

de 23 de Agosto, cujo Título IV se reporta a sistemas de drenagem pública de águas residuais,

incluindo, no Capítulo 2, princípios e critérios para a concepção dos sistemas e, no Capítulo 3,

elementos de base para dimensionamento.

Importa também considerar a Directiva-Quadro da Água (Directiva 2000/60/CE), de 23 de

Outubro de 2000, transposta para o direito nacional pela Lei n.⁰58/2005, que constitui um

instrumento de política comunitária integrada no domínio das águas e prolonga o âmbito de

aplicação das medidas de protecção da água a todos os tipos de águas (rios, lagos, águas

costeiras e águas subterrâneas) com o intuito de alcançar o seu bom estado físico-químico e

ecológico até 2015. A Directiva-Quadro da Água visa evitar a poluição na origem, fixando

mecanismos de controlo para garantir uma gestão sustentável de todas as fontes de poluição,

e impondo objectivos ecológicos ambiciosos para os ecossistemas aquáticos.

A protecção das águas balneares foi, desde cedo, objecto da política europeia no domínio da

água, tendo a Directiva 76/160/CEE (transposta para a legislação nacional pelo

8

Decreto-Lei n.⁰ 74/90, revogado pelo Decreto-Lei n.⁰ 236/98) regulamentado a aptidão de

zonas para a prática balnear. Esta Directiva estabeleceu um conjunto de valores para

dezanove parâmetros físico-químicos e microbiológicos. A cada parâmetro foram associados

valores limite obrigatórios e valores indicativos, assim como a frequência mínima de

amostragem. A Directiva 76/160/CEE obteve um sucesso considerável, no que diz respeito à

sensibilização do público e à melhoria da qualidade das águas balneares, contribuindo, em

muitas regiões, para a promoção da indústria do turismo, com consequências também no

aumento do valor do imobiliário, no maior volume de pescado e na valorização estética e

cultural da região (Ferreira, 2006).

O Decreto-Lei n.º 238/98 estabelece normas, critérios e objectivos de qualidade com a

finalidade de proteger o meio aquático e melhorar a qualidade das águas em função dos seus

principais usos (designadamente produção de água para consumo humano, suporte da vida

aquícola, águas balneares e águas de rega). Define, igualmente, as características mínimas de

qualidade da água para produção de água para consumo humano, os valores máximos

recomendados e admissíveis para águas balneares (Anexo XV) e os Valores Limite de

Emissão (VLE) na descarga de águas residuais (Anexo XVIII).

A Directiva 2006/7/CE das Águas Balneares, aprovada a 15 de Fevereiro de 2006, revoga a

anterior Directiva 76/160/CEE a partir de 31 de Dezembro de 2014, crendo-se que terá maiores

consequências na adopção de medidas rigorosas de controlo das descargas de tempestade de

sistemas de drenagem urbana (David, 2004).

A recente Directiva 2006/7/CE destina-se à preservação, protecção e melhoria da qualidade do

ambiente e à protecção da saúde humana, em complemento da Directiva 2000/60/CE, e impõe

novos desafios em relação aos parâmetros de caracterização, ao sistema de classificação, à

gestão da qualidade das águas balneares e à disponibilização de informação ao público, com

previsões e aviso de contaminação das águas balneares (Gondim, 2008). Relativamente ao

sistema de classificação, a nova Directiva passa a avaliar o historial de qualidade das águas

balneares nos últimos 3 ou 4 anos. A classificação baseia-se na distribuição estatística de dois

novos parâmetros microbiológicos chave (enterococos intestinais e escherichia coli),

verificando se determinados percentis (95 ou 90 consoante a classe de qualidade) excedem os

valores máximos admissíveis de cada parâmetro para cada uma das 4 classes de qualidade

(excelente, boa, suficiente e medíocre). No que diz respeito à gestão da qualidade das águas

balneares, são definidas duas linhas principais de actuação: a primeira está relacionada com a

implementação de programas de redução de poluição através do controlo da poluição na

origem, de forma a atingir, no mínimo, uma qualidade “suficiente” em todas as águas

balneares; e a segunda relaciona-se com medidas de gestão em situações excepcionais de

contaminação (Gondim, 2008).

Através da Directiva 2006/7/CE o enfoque é deslocado da detecção (abordagem reactiva), em

que a actividade chave é averiguar se a conformidade de uma água balnear com determinados

9

parâmetros é ou não atingida durante uma época balnear, para a prevenção e gestão

(abordagem pró-activa), que assenta no investimento em actividades criativas de planeamento

e melhoria (Salvado, 2006).

Saliente-se, ainda, a Norma Europeia EN 752, em particular a parte referente ao

dimensionamento hidráulico e considerações ambientais (Parte 4), em que se estabelecem

critérios de projecto dos descarregadores de tempestade de sistemas unitários. A descarga de

excedentes só se deverá, em regra, iniciar a partir de uma intensidade de precipitação crítica,

geralmente compreendida entre 10 L/(s.ha) e 30 L/(s.ha) (ha de área impermeável), consoante

o grau de protecção pretendido para o meio receptor. Em alternativa, quando a capacidade de

auto-depuração do meio receptor não se encontre ameaçada, poderá aplicar-se um critério

base de emissão (em geral, uma diluição do caudal de tempo seco de 5 a 8 vezes) (Vieira,

2006).

2.3 Caracterização dos caudais excedentes

Os caudais excedentes de sistemas de drenagem apresentam características poluentes que

reflectem a contaminação associada às escorrências pluviais afluentes à rede de colectores, e

às águas residuais, tanto domésticas como industriais, que escoam no sistema em período de

chuva. Podem ainda reflectir o arrastamento de depósitos de poluentes e de biofilmes

formados no interior dos colectores durante o período de tempo seco precedente.

A qualidade das descargas de excedentes apresenta grande variabilidade, tanto espacial como

temporal (de evento para evento e durante um mesmo evento), que depende essencialmente

de factores como o desenvolvimento residencial e industrial, o período de tempo seco

antecedente e a intensidade e duração da precipitação. Os níveis de poluição mais críticos

ocorrem, em geral, após um período de tempo seco mais ou menos longo.

A variação temporal das concentrações dos poluentes durante um determinado evento de

precipitação segue, por vezes, um padrão designado por “primeiro fluxo” (“first flush” em

terminologia anglo-saxónica), que traduz o facto dos primeiros volumes transportarem uma

carga poluente superior aos volumes seguintes.

De acordo com Krebs et al. (1999), o efeito de “first flush” pode ter, de facto, grande influência

nas flutuações da qualidade das descargas de excedentes. Este fluxo inicial é, geralmente,

atribuído ao efeito de lavagem dos pavimentos rodoviários e parques de estacionamento

combinado com o arrastamento das substâncias depositadas nos colectores que são

removidas e transportadas em suspensão pela onda de cheia, particularmente se a

precipitação for intensa (USEPA, 2004). Este fenómeno é, no entanto, um tema controverso

(Saget et al., 1996). O efeito de “first flush” de compostos orgânicos não foi confirmado em

nenhum evento de descarga de excedentes em campanhas de monitorização levadas a cabo

na Eslováquia (Sztruhár et al., 2002). Os resultados do estudo de Saget et al. (1996) apontam

10

para que este fenómeno não deva ser tido em conta. Cada sistema provavelmente reage de

forma particular a cada evento de precipitação, sendo que os efeitos registados em dadas

secções da rede de drenagem não resultam necessariamente num efeito de “first flush” no

sistema principal.

O tempo de concentração da bacia tem um papel importante na ocorrência ou não ocorrência

do fenómeno de “first flush” (Stotz e Krauth, 1984; citado por Sztruhár et al., 2002). Se a bacia

de drenagem é grande, o potencial efeito é atenuado devido ao longo tempo de percurso e

transporte contínuo de sedimentos. Bacias de drenagem relativamente pequenas e de

inclinação média são aquelas em que o efeito é mais sentido (Krebs et al., 1999), em particular

em bacias hidrográficas com tempos de concentração inferiores a 15 minutos, de acordo com

ATV (1992); citado por Sztruhár et al. (2002). Estas considerações são importantes na medida

em que a existência de “first flush” tem implicações na concepção das estruturas de tratamento

(Kang et al., 2008). Muitos programas de controlo de descargas de excedentes têm sido

dimensionados para tratar os primeiros volumes descarregados (USEPA, 2004).

Campanhas de monitorização levadas a cabo entre 1999 e 2003 na Califórnia, cujo clima

possui características similares às de um país mediterrânico, nomeadamente um longo período

de tempo seco, revelaram um efeito de “seasonal first flush”, isto é, as concentrações dos

poluentes no período inicial da época de chuva variam entre 1,2 a 20 vezes as concentrações

verificadas no final da mesma. O efeito foi mais significativo em compostos orgânicos, minerais

e metais pesados, excepto o chumbo (Lee et al., 2004). Estes resultados sugerem a aplicação

de práticas de tratamento de caudais excedentes em especial neste período crítico.

Os principais poluentes existentes nos caudais excedentes incluem: microrganismos

patogénicos, substâncias com carência de oxigénio, sólidos suspensos totais, substâncias

tóxicas, nutrientes e sobrenadantes. A diversidade de poluentes está relacionada com as

diferentes fontes: as águas residuais domésticas contêm microrganismos patogénicos, matéria

orgânica com diferentes níveis de biodegrabilidade, SST e nutrientes, enquanto que as águas

provenientes de unidades industriais, estabelecimentos comerciais e instituições podem

contribuir para a existência de poluentes adicionais, como sejam óleos e gorduras e

substâncias tóxicas, incluindo metais pesados e compostos orgânicos sintéticos. As

escorrências pluviais podem também conter elevados teores de matéria orgânica, SST e

microrganismos patogénicos, provenientes da lavagem de passeios e telhados, incluindo

designadamente excrementos humanos e animais, resíduos urbanos diversos,

hidrocarbonetos, metais pesados, nutrientes e sobrenadantes.

A água é um veículo de transporte de microrganismos patogénicos como bactérias, vírus e

parasitas, podendo causar doenças na biota aquática e colocar em risco a saúde pública. As

principais categorias de bactérias associadas às águas residuais são as bactérias indicadoras

e as bactérias patogénicas. As primeiras são amplamente usadas para analisar a qualidade

das águas residuais, sendo os coliformes totais, os coliformes fecais, os enterococos intestinais

11

e, mais recentemente, a Escherichia coli os indicadores habitualmente considerados. As

concentrações de coliformes fecais nos caudais em excesso são, em regra, inferiores às

presentes em águas residuais não tratadas e superiores às escorrências pluviais, naturalmente

(USEPA, 2004). As bactérias patogénicas, como por exemplo Campylobacter, Salmonella,

Shigella, Vibrio cholerae, e Yersina, podem causar diversas doenças.

Relativamente aos vírus, as concentrações em águas residuais variam significativamente e

dependem da presença e quantidade de infecções nas populações servidas pelos sistemas de

colectores, estação do ano e dos métodos usados para enumerar a quantidade de vírus.

Os parasitas mais comuns nas águas residuais não tratadas são os protozoários e os vermes

(NAS, 1993; citado por USEPA, 2004).

A matéria orgânica presente nas águas residuais é, geralmente, quantificada de forma

indirecta, através do consumo de oxigénio devido à actividade microbiana para oxidação da

matéria orgânica durante 5 dias e a 20⁰C (CBO5). Para além da CBO5, é frequentemente

utilizado como indicador o parâmetro Carência Química de Oxigénio (CQO), que mede o

equivalente em oxigénio da matéria orgânica presente nas águas residuais que pode ser

oxidada quimicamente usando dicromato de potássio. Quando quantidades significativas de

matéria orgânica são descarregadas nos meios receptores, o oxigénio dissolvido pode

esgotar-se, colocando em perigo a fauna aquática e provocando, entre outros, problemas de

maus odores.

Assim, as descargas de excedentes contêm quantidades significativas de SST, tais como

plantas deterioradas, matéria animal, resíduos industriais e areias. Elevadas concentrações de

SST podem causar problemas nos meios receptores e biodiversidade, incluindo obstrução das

guelras dos peixes, redução das taxas de crescimento, diminuição da resistência à doença e o

impedimento da reprodução e do desenvolvimento de larvas. Os sólidos são ainda

responsáveis por impactos a curto prazo (a nível estético, resultante dos materiais flutuantes e

detritos) e a longo prazo, derivados da acumulação de sedimentos e consumo de oxigénio. Os

impactes mais visíveis são os estéticos. No entanto os efeitos cumulativos são os mais

preocupantes e difíceis de identificar (Vieira, 2006).

As substâncias tóxicas constituem um risco para o ambiente e saúde humana e incluem os

metais pesados, os hidrocarbonetos e os produtos orgânicos sintéticos. Os problemas

ambientais derivados da toxicidade distinguem-se em crónicos e agudos. Os crónicos, ou de

exposição de longo prazo, provocam limitações no crescimento e na reprodução, podendo ser

identificados através da morte imediata dos peixes ou redução severa da diversidade biológica.

Os agudos, ou de exposição de curto prazo, provocam mortalidade quando as concentrações

são elevadas e podem ser observados através da baixa produtividade e biomassa,

bioacumulação de químicos ou redução na diversidade biológica.

12

Os caudais excedentes contêm concentrações significativas de nutrientes provenientes de

fontes domésticas, industriais e das escorrências pluviais, em resultado dos detritos das

estradas e dos fertilizantes químicos aplicados em áreas ajardinadas e relvados. O

enriquecimento das massas de água em nutrientes, nomeadamente o fósforo e azoto,

conduz ao processo de eutrofização. Este fenómeno provoca o desenvolvimento excessivo de

algas e conduz à deteorização da qualidade de água, nomeadamente à redução do oxigénio

dissolvido em resultado da decomposição da matéria orgânica, e ao desequilíbrio ecológico

responsável pela redução da biodiversidade aquática e pela morte de peixes.

O termo sobrenadantes designa os detritos, lixo e outros materiais de densidade inferior à

massa líquida e que flutuam à superfície. Estes poluentes podem proporcionar impactes ao

nível estético em áreas recreativas, empobrecendo a qualidade visual da paisagem. Podem

ainda provocar problemas em embarcações, ameaçar a vida selvagem e levar à proibição da

prática balnear (USEPA, 1999c).

Em vários países do mundo têm sido desenvolvidos, nos últimos anos, diversos estudos com o

objectivo de caracterizar a qualidade das descargas de excedentes em tempo de chuva. A

síntese de alguns dos resultados obtidos, incluindo concentrações médias e intervalo de

valores observados, consta do Quadro 2.1.

Os resultados apresentados por USEPA (2004) advêm da compilação, elaborada pela United

States Environmental Protection Agency para a realização do relatório desenvolvido, de um

conjunto de dados de concentrações de poluentes em descargas de sistemas unitários

municipais em tempo de chuva.

Gray (2004) (citado por Ferreira, 2006) apresenta as concentrações observadas em tempo de

chuva para os caudais excedentes de sistemas que transportam, para além das águas

residuais domésticas, caudais provenientes de escorrências superficiais.

As concentrações apresentadas por Wu (2008) reportam-se a análises efectuadas em sete

eventos de precipitação ocorridos durante o período entre Junho e Novembro de 2006, à saída

de um descarregador de tempestade de um sistema de drenagem unitário na zona Oeste da

cidade de Syracuse, em Nova Iorque. A caracterização da descarga de excedentes foi

realizada com o objectivo de dimensionar um sistema de tratamento de leitos de macrófitas de

escoamento subsuperficial, tendo em vista a protecção do lago Onondaga, um dos mais

poluídos nos Estados Unidos da América.

Os resultados obtidos por Sztruhár et al. (2002) derivam de um estudo desenvolvido no âmbito

de um projecto de investigação, que se prolongou durante três anos (1996-1999), onde foram

avaliados diversos sistemas unitários da Eslováquia. Um total de oito eventos de precipitação

foram monitorizados em quatro cidades distintas.

13

Diaz-Fierros T. et al. (2002) levaram a cabo uma campanha de monitorização durante um

período de 40 meses na cidade de Santiago de Compostela, localizada na região Noroeste de

Espanha. A população, estimada em cerca de 100 000 habitantes, é servida por um sistema

unitário dimensionado para um caudal apenas 1,5 vezes superior ao caudal de tempo seco, o

que origina, frequentemente, problemas de descargas de excedentes em tempo de chuva.

Estes efluentes são descarregados no rio Sar, um dos rios mais severamente poluídos da

Galiza. Os hidrogramas dos principais poluentes de sete eventos de descargas de excedentes

ocorridos no período de monitorização foram determinados com o objectivo de investigar as

características deste contaminantes e determinar quais os que traduzem o efeito de “first flush”.

Quadro 2.1 – Características da qualidade de caudais excedentes de sistemas unitários.

Coliformes Fecais 2,15x105

1,3x105

(NMP/100 mL) (3 - 4x107)

CBO5 43 34 175

(mg/L) (4 - 696) (15 - 685) (20 - 53) (10 - 450)

CQO 445

(mg/L) (93 - 2636) (88 - 1073)

SST 127 106 430

(mg/L) (1 - 4420) (20 - 1700) (66 - 147) (19 - 938)

Fósforo total 0,7 0,9 2,6

(mg/L) (0,1 - 20,8) (1,0 - 26,5) (0,7 - 1,2) (0,4 - 15,1)

Azoto Kjeldahl 3,6 4,4 16,8

(mg/L) (0 - 82,1) (3,5 - 6,2) (5,5 - 90,9)

Azoto total (mg/L) - (4,0 - 63,3) - - -

Legenda: x - concentrações médias ; (x-x) - interva lo de va lores observados

ParâmetroGray, 2004; citado

por Ferreira, 2006USEPA, 2004 Wu, 2008

Sztruhár et al.,

2002

Diaz-Fierros T. et

al., 2002

-

--

-

--

15

3. Controlo da poluição em tempo de chuva

3.1 Estratégias de controlo da poluição e beneficiação de sistemas

de drenagem

Conforme referido no Capítulo 2, o controlo da poluição de efluentes em tempo de chuva é

cada vez mais essencial, uma vez que constitui uma fonte intermitente de poluição e de

degradação dos meios receptores.

O dimensionamento de ETAR de sistemas combinados que entrem em linha de conta com os

caudais de ponta afluentes, em períodos chuvosos, é técnica e economicamente inviável. No

entanto, diversas medidas e metodologias podem contribuir para atingir os objectivos de

qualidade pretendidos para os meios receptores, nomeadamente o controlo na origem (na

terminologia anglo-saxónica “source control” ou “BMP-Best Management Practices”), o controlo

no sistema de drenagem (“collection system control”) e o tratamento em fim de linha

(“end-of-pipe control”).

As tecnologias de controlo na origem são correntes, sobretudo nos países mais

desenvolvidos, e podem constituir meios importantes para a redução das afluências pluviais e

de carga poluente aos sistemas de colectores, mas a sua implementação está frequentemente

limitada pelo desenvolvimento urbano. Normalmente não requerem um investimento

significativo, no entanto envolvem custos de manutenção elevados porque trabalham

intensamente (Vieira, 2006).

As soluções de controlo na origem incluem trincheiras de infiltração, pavimentos porosos,

poços absorventes ou de infiltração, valas revestidas com coberto vegetal e bacias de

retenção. Estas técnicas actuam, fundamentalmente, através de sistemas de retenção, de

modo a desfasar os caudais resultantes da precipitação, permitindo o seu escoamento num

intervalo de tempo mais longo, e através de sistemas que promovem a infiltração da

precipitação no local onde ela ocorre, evitando, assim, que a totalidade do escoamento pluvial

aflua à rede de drenagem (Matos et al., 2007).

As medidas de controlo na origem devem, preferencialmente, ser encaradas na fase inicial do

planeamento e incidir, sobretudo, em zonas urbanas não muito impermeabilizadas e

consolidadas (Ferreira, 2000).

Em Portugal, constituem exemplos de soluções de controlo na origem, entre outras, as lagoas

a seco da bacia da Regateira, no Concelho de Almada, as soluções de lagos do

empreendimento de “Lagoas Park” (Figura 3.1, à esquerda), em Oeiras, e a aplicação de

pavimentos porosos na margem direita do estuário do rio Tejo, na Doca de Alcântara e Algés

(Figura 3.1, à direita).

16

Figura 3.1 – Lagos do empreendimento “Lagoas Park” (à esquerda) e aplicação de pavimentos porosos na doca de Alcântara (adaptado de Ferreira, 2000) (à direita).

A redução das afluências pluviais ao sistema de colectores poderá também ser conseguida

recorrendo a práticas que conduzam à redução de áreas impermeáveis ligadas aos sistemas

de colectores, nomeadamente o desvio da drenagem de pátios e coberturas para áreas

permeáveis.

O controlo na origem pode também incluir soluções não infra-estruturais, mas de boas práticas,

nomeadamente o varrimento e lavagem periódica dos arruamentos, que poderá contribuir para

a redução da concentração de substâncias poluentes nas descargas, assim como a lavagem

dos colectores durante o tempo seco através de, por exemplo, jactos de água, em especial em

colectores com inclinações suaves e em que a auto-limpeza é dificultada. A mudança de

comportamentos, no que diz respeito ao controlo de resíduos e de efluentes lançados nos

sistemas de drenagem, é igualmente recomendada. A realização de pré-tratamento de

efluentes resultantes das actividades comerciais e industriais e a introdução de tarifas e coimas

às descargas são apenas alguns exemplos.

No âmbito do controlo no sistema de drenagem destacam-se as soluções que favorecem o

armazenamento dos caudais escoados em estruturas construídas especialmente para esse

efeito ou no interior do próprio sistema, recorrendo para isso a válvulas e comportas

automatizadas e, frequentemente, controladas em tempo real. De facto, em áreas densamente

urbanizadas, a detenção no sistema de drenagem tem sido uma das medidas mais utilizadas

para reduzir as descargas de excedentes, o que exige a construção de estruturas de

armazenamento enterradas ao longo da rede de colectores e, em muitos casos, a melhoria da

capacidade de armazenamento dos colectores através de técnicas de controlo em tempo real

(David e Matos, 2005). O aumento da capacidade de reserva dos sistemas permite prolongar a

duração dos períodos em que a ETAR funciona na capacidade total instalada, dado que o

volume acumulado no interior das estruturas de armazenamento (reservatórios ou bacias de

regularização), durante os eventos de precipitação, é encaminhado para a ETAR de forma

desfasada do hidrograma de cheia. Estas estruturas permitem ainda, por vezes, algum

tratamento dos excedentes por decantação.

17

Deste modo, por exemplo no caso de opção por bacias em série (em terminologia

anglo-saxónica “on line”), tal como a ilustrada na Figura 3.2, quando o caudal afluente

ultrapassa um determinado limite (em regra, igual ao caudal de dimensionamento da ETAR,

Qdim), o descarregador entra em funcionamento, drenando para a bacia de regularização, que

vai enchendo gradualmente até atingir a sua capacidade máxima e a partir da qual o caudal

excedente é descarregado directamente para o meio receptor. Na fase descendente do

hidrograma de cheia, assim que o caudal afluente ao descarregador volte a ser inferior ao

caudal de dimensionamento da ETAR, o reservatório começa a esvaziar, drenando para a

estação de tratamento, a fim de que esta funcione em pleno (com o caudal de

dimensionamento).

Figura 3.2 - Esquemas ilustrativos do funcionamento de um sistema unitário com reservatório intercalado (adaptado de Matos, 2003).

David (2004) realizou um estudo académico com o objectivo de avaliar o potencial da

construção de estruturas de armazenamento no controlo das descargas de tempestade em

Portugal. O estudo demonstrou que, em Lisboa, num sistema de drenagem unitário que

intercepte para a ETAR um caudal de três vezes o caudal médio diário, o aumento da sua

capacidade de armazenamento de 8 m3/haimp para 50 m

3/haimp apenas levará à redução média

de 4,2 para 1,7 dias com descargas de tempestade durante a época balnear. A frequência

média anual dos dias com descargas decrescerá de 44 para 22 dias. Se o sistema tiver uma

capacidade de armazenamento de 40 m3/haimp, então será armazenado cerca de 60% do

escoamento pluvial útil, detendo entre 70% a 75% da carga de SST e CQO que, na ausência

de armazenamento, seriam totalmente descarregadas no meio receptor.

Em especial nos sistemas de drenagem mais antigos, não é de descurar o estado de

deteorização da rede de colectores, que pode ser responsável pela entrada de quantidades

significativas de águas freáticas por infiltração e, consequentemente, a redução da capacidade

de transporte dos colectores e de tratamento na ETAR em tempo de chuva. Desta forma, a

reabilitação dos sistemas, tendo em vista o controlo da infiltração em excesso, pode resultar

num volume descarregado inferior e num menor número de descargas.

a) Condição em que Q1<Qdim(caudal de dimensionamento da ETAR)

b) Condição em que Q2>Qdim (reservatório parcialmente cheio)

c) Condição em que Q3>Qdim (reservatório completamente cheio)

d) Condição em que Q4<Qdim (reservatório parcialmente cheio)

18

Poderá também optar-se por medidas de tratamento em fim de linha, nomeadamente através

de tecnologias de tratamento complementar ou suplementar para tratar os caudais excedentes,

ao invés de serem descarregados directamente no meio receptor. Estas infra-estruturas podem

proporcionar o tratamento junto da localização das descargas, envolver a construção de uma

linha de tratamento suplementar, a montante da ETAR existente, em especial quando os

colectores não apresentam capacidade para transportar a totalidade do caudal para a ETAR,

ou instalar uma linha de tratamento paralela na ETAR existente para operar, quando

necessário, durante o tempo húmido (USEPA, 2004). Na Figura 3.3 apresenta-se o exemplo de

um esquema de tratamento em que se recorre a uma linha suplementar paralela para o

tratamento em tempo de chuva.

Figura 3.3 – Esquema de tratamento de uma ETAR com linha destinada a caudais de tempo de chuva (adaptado de Brashear et al., 2002; citado por Vieira, 2006).

A selecção da melhor tecnologia de tratamento de águas residuais com forte componente

pluvial é subjectiva e muito controversa e pode depender dos objectivos de qualidade

pretendidos, das exigências regulamentares, das características do sistema de recolha e

transporte, das condições económicas locais, da política estabelecida pelas entidades

gestoras, das preferências da comunidade e dos conhecimentos do pessoal de operação

(Vieira, 2006).

A melhoria do desempenho das ETAR em tempo de chuva é, também, normalmente requerida,

nomeadamente em resposta a alterações bruscas do caudal e da composição

físico-química e microbiológica das águas residuais e a períodos prolongados de

funcionamento à carga máxima instalada devido ao esvaziamento das estruturas de

armazenamento. De um modo geral, modificações que envolvam a operação de processos

específicos durante o tempo húmido e/ou a alteração da configuração física dos vários

processos de tratamento podem contribuir para melhor acomodar os afluentes com forte

contribuição pluvial (USEPA, 2004). A maioria das modificações requer a participação activa

dos operadores da ETAR para assegurar a sua implementação efectiva. Exemplos de

modificações que aumentam a eficiência em tempo húmido incluem:

19

a adição de reagentes químicos nos decantadores;

o ajuste das taxas de recirculação de lamas no processo de lamas activadas;

o desvio do excesso de caudal das infra-estruturas de tratamento biológico;

a instalação de estruturas que melhorem o desempenho dos decantadores, como por

exemplo chicanas.

A adição de reagentes químicos (coagulantes e floculantes) nos decantadores favorece a

remoção de sólidos suspensos que, em tempo de chuva, poderão atingir quantidades

significativas. A escolha dos tipos de reagentes químicos a adicionar deverá ser ajustada às

características dos caudais afluentes e deverá ter em conta a qualidade final pretendida e os

custos associados.

Relativamente à etapa de tratamento biológico, no caso do processo de lamas activadas é

necessário que as lamas sejam recirculadas para o tanque de arejamento. A taxa de

recirculação poderá então ser ajustada em concordância com as condições do afluente,

características de sedimentação das lamas e dinâmica da biomassa, de modo a maximizar a

capacidade de tratamento secundário.

De modo a tratar um volume superior em tempo de chuva, algumas ETAR proporcionam o

tratamento primário de todo o caudal afluente e o tratamento biológico até atingir a sua

capacidade de dimensionamento. Neste caso, o caudal em excesso é desviado, sendo

“misturado” a jusante com o caudal que sofreu tratamento biológico, uma vez que ao contrário

do tratamento físico, que tem capacidade para tolerar elevadas variações de caudal e

concentração de poluentes, as unidades de tratamento biológico são sensíveis a variações

bruscas.

A instalação de estruturas que melhorem o desempenho dos decantadores, como sejam

chicanas, poderá ser fundamental para proteger os decantadores de “curto-circuitos”

hidráulicos, interrompendo ou dispersando correntes na massa líquida que se deslocam a altas

velocidades, podendo transportar os sólidos para jusante.

As modificações na ETAR são, em regra, mais económicas do que a construção de novas

instalações, contudo algumas modificações que melhoram o desempenho em tempo húmido

podem resultar no aumento das concentrações dos poluentes no efluente da ETAR durante o

tempo seco. Por exemplo, se um decantador modificado para caudais em tempo de chuva não

for devidamente concebido, pode ter características inadequadas de sedimentação durante o

tempo seco (Metcalf & Eddy, 2003). Além disso, as modificações que requerem a supervisão

de um operador, antes e depois do evento de precipitação, podem interromper as operações

de tempo seco e potencialmente comprometer a respectiva qualidade das águas residuais

tratadas nesse período.

Dado o âmbito da presente dissertação, não se irá abordar com detalhe as soluções de

controlo na origem nem o controlo no sistema de drenagem, mas serão enumeradas as

20

soluções mais comuns de tratamento de fim de linha de excedentes (subcapítulo 3.2), com

ênfase nas soluções “naturais” (descritas no capítulo 4).

3.2 Soluções de tratamento de excedentes poluídos

3.2.1 Considerações introdutórias

As tecnologias de tratamento de excedentes poluídos devem adaptar-se às características

particulares do caudal em tempo de chuva, que podem diferir significativamente das do caudal

em tempo seco. O primeiro é intermitente, extremamente variável e transporta partículas

sólidas adicionais e de natureza diferente às existentes no caudal de tempo seco, cujas

características são relativamente constantes. Assim, as tecnologias a aplicar devem,

fundamentalmente, ter a capacidade de operar em boas condições após longos períodos sem

caudal (ou baixo caudal) e adaptarem-se rapidamente a variações significativas no caudal e

nas concentrações de poluentes no afluente (USEPA, 1993; USEPA, 2004). Estas tecnologias

são, usualmente, consideradas em localizações em que as descargas de excedentes não são

desprezáveis e quando se prevê que o armazenamento e/ou a redução das afluências pluviais

à rede não sejam suficientes para o controlo das descargas (KSC, 2011).

O tratamento das descargas de excedentes pode envolver uma série de etapas consoante a

qualidade pretendida para o efluente, nomeadamente:

Pré-tratamento: tecnologias simples para a remoção de material grosseiro e areias e

equalizar o caudal de modo a garantir a boa condução das etapas subsequentes.

Clarificação (ou sedimentação): para a remoção dos sólidos suspensos e poluentes

associados.

Desinfecção: para garantir a qualidade dos efluentes, em termos microbiológicos.

3.2.2 Tecnologias de pré-tratamento

Gradagem

O processo de gradagem é considerado um método efectivo e económico na remoção de

sólidos grosseiros e sobrenadantes das descargas de excedentes (USEPA, 1999c), e é

também usado de modo a proteger o equipamento colocado a jusante (USEPA, 1993).

Diferentes estruturas de gradagem têm sido testadas e aplicadas como alternativa aos tanques

de decantação ou como tratamento adicional aos tanques de armazenamento, para além de

constituir uma opção no caso da construção de uma linha paralela há já existente (Vieira,

2006).

Em geral, a quantidade e tamanho do material removido depende do tipo de grade e do

tamanho das aberturas, que variam, em regra, entre 25 e 152 mm (USEPA, 1999c).

Globalmente, podem distinguir-se dois tipos de grades: grades de barras (em terminologia

21

anglo-saxónica “coarse screens”) e grades finas (“fine screens”). Ambas são aplicadas em

instalações de tratamento de caudais excedentes, proporcionando um nível diferente de

eficiência de remoção.

As grades de barras constituem, usualmente, a primeira unidade do sistema de tratamento nas

instalações de controlo de descargas de excedentes. Em geral, são constituídas por barras

verticais paralelas com um espaçamento entre 25 e 50 mm (Metcalf & Eddy, 2003),

apresentam inclinação de 0 a 30º em relação à vertical e são limpas por intermédio de um

mecanismo eléctrico ou hidráulico que remove o material retido nas grades de forma contínua

ou periódica. Apresentam, no entanto desvantagens que se prendem com os custos e a

energia extra necessária para a limpeza automática da grade. No caso de não estar disponível

energia eléctrica, pode ser usada uma rede descartável, exigindo que se proceda à sua

substituição após cada evento (Butler and Davies, 2000; citado por Scherrenberg, 2006).

As grades de malha fina são, normalmente, colocadas a jusante de grades de barras e

fornecem o nível seguinte de tratamento físico na remoção de partículas sólidas mais

pequenas. Têm sido aplicadas tanto grades fixas como rotativas no tratamento dos caudais

excedentes.

Decantação

Frequentemente, têm sido projectadas infra-estruturas destinadas a assegurar o pré-tratamento

por decantação dos caudais excedentes, nomeadamente em ETAR que dispõem de uma linha

de tratamento para caudais de tempo seco e de uma outra para caudais de tempo de chuva.

Nos tanques de sedimentação convencionais, a carga hidráulica superficial não deve exceder

10 m3/h/m

2 e mesmo as remoções esperadas de sólidos suspensos, cerca de 50 a 70%, são

bastante incertas (David e Matos, 2005). Têm sido conseguidas cargas superiores através da

adição de reagentes químicos apropriados e/ou da instalação de lamelas (Rietsch et al., 2003),

tal como descrito no subcapítulo 3.2.3. Este tipo de solução pode permitir a redução do volume

dos decantadores para 1/3 do original (Scherrenberg, 2006).

3.2.3 Tecnologias de clarificação

Separação hidrodinâmica

Os separadores hidrodinâmicos ou separadores de sólidos, também conhecidos em

terminologia anglo-saxónica por “vortex separators”, “hydronamic vortex separators” ou “swirl

concentrators”, são dispositivos cilíndricos que podem ser aplicados para remoção da matéria

particulada e dos sobrenadantes presentes nos caudais excedentes.

Podem ser pré-fabricados ou construídos no local e entre os materiais de construção

incluem-se o betão, polietileno de alta densidade, alumínio e aço inoxidável, dependendo do

fabricante (USEPA, 2004).

22

Os separadores de sólidos caracterizam-se pela entrada do caudal tangencialmente à estrutura

cilíndrica, gerando um regime de escoamento rotativo complexo (Andoh e Saul, 2003). Por sua

vez, este movimento transmite uma força centrípeta aos sólidos que, igualmente sujeitos à

acção da gravidade, tendem a sedimentar. O fundo da estrutura, geralmente apresenta uma

inclinação de modo a conduzir os sólidos para um dreno central. Assim, um pequeno volume

de águas residuais concentradas é tipicamente encaminhado para a ETAR, enquanto que o

caudal tratado prossegue para a etapa de tratamento seguinte ou, eventualmente, é

descarregado no meio receptor. A desinfecção do efluente tratado é frequentemente

equacionada por razões de saúde pública.

Com base neste princípio, diferentes configurações foram desenvolvidas, procurando melhorar

o desempenho global do processo, naturalmente. Sistemas patenteados e comercializados

com o nome de Hydrovex® Fluidsep e Storm King

® são exemplos de separadores avançados

usados no tratamento de excedentes unitários. Nestes sistemas, podem ser adicionadas

substâncias químicas que facilitem a coagulação e floculação de poluentes. Desta forma, as

eficiências de remoção podem aumentar significativamente (Averill et al., 1997). Matéria em

suspensão coloidal, que não sedimenta por gravidade, poderá igualmente ser removida

(Helliwell e Harper, 1993; citado por Scherrenberg, 2006).

Na Figura 3.4 mostra-se um exemplo de aplicação de um separador de sólidos avançado para

tratamento de descargas de excedentes (designado de “Storm King® overflow with

Swirl-Cleanse™ Screen”) e a respectiva representação esquemática com setas indicativas do

seu funcionamento. Este separador tem a particularidade de dispor de uma grade que permite

a remoção de sobrenadantes e sólidos grosseiros. É também garantida a auto-limpeza da

grade sem recurso a fontes de energia.

Figura 3.4 – Exemplo de um separador de sólidos avançado e respectiva representação esquemática (adaptado de http://www.hydro-international.biz).

De acordo com Boner et al. (1995), não é simples comparar a eficiência de remoção de

separadores de sólidos devido ao elevado número de variáveis que interferem no processo,

nomeadamente: a composição do afluente, o sistema hidráulico de recolha dos resíduos, o

23

tamanho das partículas sólidas, as velocidades de sedimentação e a natureza e modo de

colocação dos componentes internos (Andoh e Saul, 2003).

No Estado de Geórgia, nos Estados Unidos da América, foi realizado um programa de

acompanhamento intensivo durante 5 anos, desde 1995, no sentido de avaliar as tecnologias

de tratamento de excedentes de sistemas unitários. As operações e os testes de desempenho

das instalações verificadas não só mostraram que a separação hidrodinâmica é equivalente ou

melhor do que o processo de decantação primária, em termos de eficiência, mas também que

apresenta metade dos custos e ocupa um décimo do espaço (Andoh e Saul, 2003).

De facto, o separador de sólidos apresenta diversas vantagens, nomeadamente não possuir

partes móveis, não exigir fontes de energia externa e suportar elevadas cargas hidráulicas, o

que resulta numa estrutura compacta e que requer baixos custos de operação (Field, 1974;

citado por Lee et al., 2003; Faram et al, 2004; Mietzel et al., 2007). Como desvantagens poderá

referir-se o facto das taxas de remoção de sólidos finos e poluentes solúveis serem baixas ou

desprezáveis.

Decantação de alta carga

A decantação de alta carga, em terminologia anglo-saxónica “high-rate clarification”, permite o

tratamento físico-químico de excedentes poluídos e utiliza sistemas especiais de floculação e

sedimentação que tornam o processo de decantação mais rápido e eficaz. Nesta tecnologia o

desempenho da decantação primária é melhorado através da modificação do regime de caudal

(lamelas) e/ou da adição de coagulantes químicos e floculantes que promovem a agregação e

aglomeração de sólidos finos e matéria coloidal em flocos mais facilmente sedimentáveis.

Tipicamente, a decantação lamelar consiste na deposição dos sólidos em lamelas, instaladas à

superfície dos tanques de sedimentação, que por se encontrarem inclinadas fazem com que o

material depositado escorregue para uma estrutura existente na parte inferior, de onde pode

ser removido por bombagem. Deste modo, um decantador lamelar reduz o tempo de retenção

e, consequentemente, a área necessária, em cerca de um terço comparativamente à

decantação primária convencional (Takayanagi et al., 1997). A decantação lamelar é,

usualmente, combinada com a adição de coagulantes ou floculantes, mas pode igualmente

funcionar sem quaisquer produtos químicos.

Os coagulantes químicos, tais como o sulfato de alumínio, cloreto de polialumínio, cloreto

férrico, sulfato férrico, sulfato ferroso, óxido de cálcio e alumínio de sódio, destabilizam as

partículas coloidais na água residual, enquanto que os floculantes (também conhecidos como

coadjuvantes), tais como polímeros e areia micrométrica, aceleram o crescimento, melhoram a

configuração e fortalecem a estrutura do floco e aumentam a massa específica das partículas.

Além disso, dependendo do tipo de adição de produtos químicos, há também potencial para a

coagulação e precipitação de metais pesados solúveis, incluindo o cobre (KSC, 2011).

24

A decantação de alta carga apresenta assim diversas vantagens, nomeadamente a

possibilidade de admitir cargas hidráulicas elevadas, a redução da área superficial ocupada e,

consequente, redução dos custos de construção, tempos rápidos de resposta (usualmente

inferiores a 30 minutos) e a capacidade de tratamento de uma vasta gama de caudal sem

reduzir as eficiências de remoção, por ser relativamente insensível às flutuações na qualidade

do caudal afluente. Pelo contrário, a principal desvantagem prende-se com o aumento das

doses de sais metálicos e polímeros requeridas na operação do processo, o que torna os

encargos anuais de exploração mais onerosos.

Um dos processos usados na decantação de alta carga é a floculação em balastro (em

terminologia anglo-saxónica “enhanced particle flocculation” ou “ballasted flocculation

process”). Este processo envolve a adição de um coagulante, para destabilizar a matéria em

suspensão e coloidal, de um agente inerte/balastro, usualmente sílica, areia micrométrica ou

lamas condicionadas quimicamente e recicladas, e de um polímero, que reveste as partículas

em balastro e permite a aderência dos sólidos destabilizados. O sistema comercial Actiflo®,

descrito por Plum et al. (1998), consiste na adição, numa câmara de mistura rápida, de um

coagulante ao afluente, seguido da injecção de um polímero e areia micrométrica reciclada

para maximizar a eficiência da floculação e melhorar a sedimentação dos sólidos suspensos

decorrente do aumento do peso dos flocos. Posteriormente, a água passa para a zona de

maturação, o que permite que os sólidos se mantenham em suspensão e os flocos se

desenvolvam e cresçam. Após esta etapa a água entra na zona de decantação lamelar. A areia

e os flocos removidos da água decantada são bombeados para um separador que permite

separar e recuperar a areia. A areia recuperada volta assim para o tanque de injecção e as

lamas são conduzidas para destino apropriado. Na Figura 3.5 apresenta-se o esquema de

tratamento deste processo.

Figura 3.5 – Esquema de tratamento do sistema Actiflo® (adaptado de USEPA, 2003).

O sistema Actiflo® tem um tempo de arranque entre 10 e 30 minutos e o tempo de retenção na

instalação é de cerca de 10 minutos (David e Matos, 2005). Em Fujisawa, no Japão, foram

levadas a cabo medições em sistemas Actiflo® para tratamento de excedentes unitários com

Afluente

Polímero

Coagulante

Injecção Maturação

Efluente tratado

Pratos lamelares

Raspador de lamas

Areia micrométrica

Retorno de lamas e de areia micrométricaLamas

Separador

Coagulação

25

1/20 da área de um tanque de decantação convencional, revelando remoções de 75% de

CBO5, 80% de sólidos suspensos e 80% de fósforo total (Horie et al., 2005).

A tecnologia de Actiflo®

encontra-se em operação, em tempo húmido, na ETAR de Alcântara,

em Lisboa.

Outro processo patenteado conceitualmente semelhante é o processo de recirculação de lama

densa (em terminologia anglo-saxónica “dense-sludge process”). Neste caso, o agente de

balastro é lama espessada e reciclada, em vez da areia micrométrica. Uma das patentes

denomina-se de Densadeg® 4D, da Degremont, e foi especialmente concebida para a

decantação de alta carga de descargas de excedentes em tempo de chuva e em tempo seco.

O Densadeg® 4D combina quatro funções num único processo: remoção de areia, remoção de

óleos e gorduras, coagulação química e floculação com polímero seguidas de decantação

lamelar e espessamento de lamas e posterior recirculação. Tal como se observa na Figura 3.6,

o afluente entra na primeira câmara [1] onde ocorre a remoção de areia e o coagulante

(usualmente cloreto férrico) é injectado, dispersando-se na água devido ao arejamento

provocado. Depois da mistura, a água residual passa para uma segunda câmara [2] onde um

agente de floculação juntamente com lamas espessadas e recicladas são adicionados. Neste

estágio, a recirculação interna é intensa e a mistura é realizada por intermédio de uma turbina

axial. Na terceira câmara [3] ocorre a transição para a zona de sedimentação, enquanto que o

processo de floculação continua e se inicia a separação das gorduras e escumas que são

posteriormente removidas [4]. Os sólidos floculados decantam numa zona de

pré-sedimentação [5] e a remoção dos sólidos finos ocorre no sistema de lamelas [6]. O

efluente decantado é recolhido em calhas colocadas acima dos tubos lamelares e as lamas

decantadas são espessadas [7], sendo uma parte recirculada e a restante conduzida para

tratamento.

Figura 3.6 - Esquema de tratamento do sistema Densadeg® 4D (adaptado de USEPA, 2003).

Para além do sistema Densadeg® 4D, a Degremont comercializa também o Densadeg

® 2D que

apresenta apenas as etapas de decantação lamelar e espessamento de lamas.

Afluente

Coagulante

ArFloculante

Remoção de gorduras e escumas

Efluente tratado

Remoção de areiaRecirculação de lamas

Densificação e espessamento de

lamas

Lamas (destino final)

12

3 4

5 7

6

26

Em Portugal, a ETAR de Alverca dispõe de uma linha de tratamento paralela para o tratamento

físico-químico de caudais com uma forte componente pluvial através da tecnologia de

recirculação de lama densa. O mesmo acontece na ETAR do Portinho da Costa, em Almada. A

ETAR da Costa do Estoril também dispõe de uma tecnologia de tratamento físico-químico com

lamelas, mas não patenteado.

3.2.4 Tecnologias de desinfecção

O objectivo da desinfecção é a redução de bactérias, vírus, protozoários e outros organismos

patogénicos das descargas de excedentes, no sentido de minimizar os riscos de saúde pública.

Os desafios associados à desinfecção dos caudais excedentes incluem lidar de forma eficaz

com elevadas concentrações de materiais orgânicos, sólidos em suspensão e outros

poluentes, incluindo óleos e gorduras, compostos com carência de oxigénio, produtos

químicos, nutrientes, metais pesados, bactérias e vírus. Além disso, os caudais excedentes são

caracterizados por temperaturas e concentrações de microrganismos variáveis (USEPA,

1999a). Esta variabilidade torna a desinfecção particularmente difícil, pois requer um

desinfectante que possa ser aplicado em elevadas concentrações e com uma forte capacidade

de redução bacteriana para diversas condições operacionais. Tipicamente, recorre-se às várias

formas do cloro ou à radiação violeta para inactivar os microrganismos, tendo ainda sido

identificados, como potencialmente aplicáveis à desinfecção de caudais excedentes,

desinfectantes alternativos como o ácido peracético, ozono, bromo, entre outros.

O uso do cloro tem um histórico comprovado na desinfecção de água, águas residuais e

caudais excedentes. No entanto, devido à significativa quantidade necessária para assegurar a

adequada redução bacteriana, existe elevada possibilidade de dar origem à formação de

subprodutos, em particular trihalometanos, reconhecidos, actualmente, por serem precursores

cancerígenos e extremamente tóxicos para os organismos aquáticos (Wojtenko et al., 2002).

Poderá também ser necessário efectuar um processo de descloragem a jusante para remoção

do cloro residual, de modo a estar em conformidade com os limites regulamentares e reduzir a

toxicidade dos efluentes. Nesta etapa, normalmente recorre-se ao uso de dióxido de enxofre ou

à solução líquida de bissulfito de sódio, que reagem rapidamente com o cloro residual livre e

combinado. Para além disso, a natureza intermitente dos eventos de precipitação, combinada

com a necessidade de ter cloro disponível quase instantaneamente, torna o uso do cloro

líquido tradicional difícil. Nesse sentido, poderá recorrer-se ao hipoclorito de sódio ou de cálcio

que, apesar de mais dispendiosos, não apresentam riscos de segurança e ficam mais

facilmente disponíveis.

O dióxido de cloro é outro oxidante poderoso que pode ser usado como uma alternativa de

desinfectante. É um bactericida e viricida muito eficaz e não produz trihalometanos, contudo

origina produtos residuais que requerem a adição de agentes redutores após a desinfecção.

Apesar de ser relativamente fácil e relativamente económico de produzir, é instável e

extremamente reactivo, tornando o seu transporte perigoso (USEPA, 1999b).

27

A radiação ultra-violeta (UV) continua sendo uma das alternativas mais promissoras à cloragem

e é uma das mais aplicadas na América do Norte (Gehr et al., 2003). A radiação UV apresenta

como vantagens o facto de não gerar resíduos ou subprodutos de desinfecção e de não

requerer o armazenamento de produtos químicos perigosos. A principal desvantagem

prende-se com a necessidade de se efectuar a montante uma remoção eficaz dos sólidos, de

modo a impedir a sua interferência no processo de desinfecção.

O ácido peracético é outra alternativa aprovada pela USEPA (United States Environmental

Protection Agency) como desinfectante de águas residuais, sendo potencialmente atractivo,

uma vez que não produz quaisquer subprodutos de desinfecção. O ácido peracético é um

oxidante forte, com um pH muito baixo e é bastante instável, exigindo precauções adequadas

para um uso e armazenamento seguro.

29

4. Tratamento de descargas de excedentes através de

soluções “naturais”

4.1 Desafios, novas abordagens e principais dificuldades

O crescimento populacional registado a nível mundial no último século, conjuntamente com os

avanços tecnológicos verificados, levou ao aumento dos padrões de consumo que conduziu à

continuada e crescente exploração dos recursos hídricos. Paralelamente, os resíduos gerados

pelas actividades humanas aumentaram também em conformidade, excedendo em alguns

casos a capacidade de absorção por parte do ambiente envolvente (Galvão, 2009). Neste

contexto, a necessidade de uma gestão integrada e do uso sustentável da água

reveste-se de particular importância.

Apesar da consciência da necessidade de coerência social, económica e ambiental na gestão

da água estar-se tornando cada vez mais evidente, a realidade é que esta problemática

afigura-se como uma tarefa difícil, complexa e incorre em encargos crescentes (Harrington et

al., 2011). Assim, são necessárias novas abordagens e modos diversos de encarar os

problemas e desafios tradicionais, em particular na gestão das descargas de excedentes

poluídos em tempo de chuva, uma das principais causas actuais de deteorização da qualidade

dos meios receptores.

O controlo da poluição deverá ser conseguido através de abordagens com preocupações de

sustentabilidade, recorrendo, por exemplo, a soluções mais naturais de tratamento,

eventualmente descentralizadas, que garantam os objectivos de qualidade pretendida com

baixos consumos de recursos, designadamente em termos de reagentes, energia, materiais e

mão de obra (Amaral et al., 2011). Nesse domínio, a descarga de caudais excedentes em

tempo húmido em sistemas “naturais” junto ao meio receptor, como esquematizado nas

Figuras 4.1 e 4.2, ao invés da sua descarga directa na massa líquida, poderá constituir uma

solução relativamente simples, mas com potencial muito relevante, nomeadamente para efeitos

de remoção de carga poluente e de microrganismos.

Figura 4.1 – Representação esquemática do tratamento dos caudais excedentes em sistemas naturais, junto ao meio receptor.

ETAR

Meio

receptor

Sistema de

drenagem

Tratamento

em sistema

"natural"

30

Figura 4.2 – Alternativa à descarga directa no meio receptor (adaptado de Smith, 2007).

De facto, o conceito de sistemas naturais no âmbito da engenharia sanitária é muito antigo. A

aplicação no tratamento de águas residuais revelou desde cedo evidências de elevada

capacidade depuradora, embora a sua aplicação em grandes zonas urbanas seja, actualmente,

reduzida devido às necessidades de elevada área superficial ocupada. No entanto, o recurso a

esta tecnologia para o tratamento de excedentes de sistemas unitários pode constituir uma

situação particular de aplicação em contexto urbano, especialmente quando se pretender

também valorizar a integração paisagística do sistema.

Na Figura 4.3 mostram-se duas vistas em Lisboa, na zona da Expo, onde se pode constatar a

presença de vegetação, designada de caniços, na margem direita do rio Tejo. Embora, neste

caso, a vegetação tenha surgido naturalmente e não plantada para efeitos de tratamento, são

espécies que apresentam reconhecidas capacidades auto-depurativas e que contribuem para a

beneficiação estética da paisagem, num espaço privilegiado para diversão e lazer, como a

prática de jogging, e que tem tido grande adesão por parte da população. Este é um exemplo

claro em que se tirou proveito da beleza natural e se potenciou a valorização imobiliária da

zona envolvente. Poderão, assim, conciliar-se objectivos de tratamento e, simultaneamente

tirar partido destas características favoráveis em termos visuais.

Figura 4.3 – Integração paisagística na zona da Expo, em Lisboa.

Para além das vantagens proporcionadas, é igualmente fundamental ter consciência das

principais dificuldades que a aplicação de sistemas baseados em processos naturais no

tratamento de excedentes poluídos poderá enfrentar, para se obter uma implementação bem

sucedida e se optimizar as eficiências de remoção de poluentes. Uma das principais

Condições existentes

Condições propostas

31

preocupações operacionais é a fiabilidade em condições extremas, tais como longos períodos

de seca, inundações de longo prazo e elevada carga afluente de sólidos suspensos (Uhl e

Dittmer, 2005).

Tal como referido anteriormente, as descargas de excedentes constituem fluxos intermitentes.

Em Portugal, tal como nos países mediterrânicos, o clima caracteriza-se por longos períodos

secos e eventos de precipitação intensa que podem pôr em causa o desempenho do sistema.

Relativamente à capacidade de sobrevivência, a natureza parece mostrar sinais de que as

zonas húmidas junto aos cursos de água são locais propícios ao desenvolvimento de

vegetação, com capacidade de se adaptar às condições climatéricas locais e sem necessidade

de recorrer à acção humana para garantir a sua manutenção. No entanto, as eficiências de

remoção podem ser afectadas devido à limitada capacidade de absorção do biofilme “seco”. Já

as inundações de longo prazo levam ao estabelecimento de condições anaeróbias que também

inibem a degradação.

Os caudais excedentes apresentam a particularidade de transportar concentrações

significativas de matéria inorgânica, como areias e siltes, que não se degradam. A acumulação

em excesso deste material poderá levar a problemas de colmatação do meio de enchimento do

sistema. Este problema poderá ser minimizado pela realização de pré-tratamento para

remoção destas partículas antes da descarga no sistema de tratamento natural.

Poderão ainda surgir dificuldades devido à má distribuição de caudais, podendo provocar a

erosão de determinadas zonas e assim contribuir para a existência de caminhos preferenciais

ao escoamento, com consequências ao nível da eficiência do sistema. Poderá igualmente

provocar a colmatação das zonas muito carregadas, o que torna especialmente importante a

consideração deste aspecto aquando da sua concepção.

4.2 Soluções de tratamento no solo

Desde há muito tempo que se recorre a sistemas naturais para o tratamento de águas

residuais, constituindo a aplicação no solo um dos primeiros exemplos. A maior proliferação de

sistemas de tratamento no solo ocorreu na Europa, na segunda metade do século XIX. Muitos

rios atingiram níveis inaceitáveis de poluição e a descarga de águas residuais no solo era o

único meio viável de tratamento disponível à data (USEPA, 1977). As grandes cidades

adquiriam terrenos circundantes para a aplicação dos efluentes gerados pela população, tendo

surgido o conceito de “quintas de esgoto” (“sewage farms”, na terminologia anglo-saxónica)

para designar estas áreas. Na década de 1870, a prática foi reconhecida em Inglaterra como

um meio de tratamento, tendo diversos sistemas exibido bons resultados. Apesar do recurso ao

tratamento no solo se ter prolongado durante o século XX e continuar a existir, foi sendo

preterido por outras soluções, designadamente pelas seguintes três razões principais (Cooper,

2001; citado por Galvão, 2009): a utilização de extensas áreas tornou-se mais difícil, dada a

necessidade de adquirir terrenos em redor de cidades e vilas em expansão, tornando os custos

32

associados significativos; os solos onde era efectuada a aplicação tinham tendência a

colmatar; o grau de tratamento atingido não era, por vezes, suficiente para o cumprimento das

exigências de qualidade requeridas.

Genericamente, os sistemas de tratamento no solo correspondem a uma aplicação planeada e

controlada das águas residuais através do solo e/ou plantas, sendo tratadas por processos

físicos, químicos e biológicos. Quando comparados com outros processos de tratamento

convencionais, os processos de tratamento no solo são muito mais dependentes das

características locais. Sendo assim, é importante dar relevância à caracterização cuidada e

exaustiva das áreas em estudo. O conhecimento de diversas características locais,

nomeadamente a topografia, o clima, a geologia, as características físico-químicas e

hidráulicas do solo e as características qualitativas e quantitativas das águas superficiais e do

aquífero subjacente à área onde se pretende que se processe a aplicação (Matos, 1985a), é

primordial para a selecção e dimensionamento dos processos de tratamento e para mitigar

muitos problemas de colmatação do solo e controlar as cargas orgânicas afluentes. Os

sistemas de tratamentos são, usualmente, implantados a jusante de instalações de

pré-tratamento incluindo, designadamente, uma gradagem inicial.

Uma ampla variedade de processos pode ser usada para atingir diversos objectivos de

tratamento, descrevendo-se, os seguintes: infiltração lenta, infiltração rápida e escoamento

superficial no solo.

Sistema de infiltração lenta no solo

A técnica de infiltração lenta no solo ou de irrigação (em terminologia anglo-saxónica “slow rate

process”) consiste na aplicação de águas residuais numa superfície do solo com vegetação,

recebendo tratamento significativo à medida que circula através das raízes das plantas e da

matriz do solo (Figura 4.4).

Figura 4.4 – Representação esquemática da técnica de infiltração lenta no solo (adaptado de USEPA, 2006).

O tratamento por infiltração lenta é normalmente aquele que obtém os melhores resultados de

entre os sistemas de tratamento no solo (USEPA, 1977). A remoção dos sólidos suspensos

ocorre, sobretudo, por filtração na superfície do solo, enquanto que o tratamento biológico,

químico e físico adicional ocorre quando a água residual percola através das raízes das plantas

Percolação

Evapotranspiração

Afluente

Escoamento subsuperficial

33

e matriz do solo. De acordo com WPCF (1990) (citado por Santos e Brito, 2001), obtêm-se

taxas de remoção de azoto de 67 a 94%, de fósforo de 10 a 25%, de CBO5 de cerca de 95%,

de sólidos suspensos totais de 30 kg/ha/d e de microrganismos patogénicos de 99,9%.

Os valores de referência de aplicação de água residual nestes sistemas situam-se no intervalo

compreendido entre 3,5 a 10,0 mm/d (Davis e Cornwell, 1998). Este sistema necessita no

mínimo, de uma camada de enchimento de 0,60 a 0,90 m de espessura, sendo a altura ideal

variável em função do tempo de retenção e do desenvolvimento das raízes e bactérias

(WPCF, 1990; citado por Santos e Brito, 2001).

Sistema de infiltração rápida no solo

No tratamento de águas residuais por infiltração rápida no solo (em terminologia

anglo-saxónica “rapid infiltration”), a maior parte do afluente percola através do terreno e o

efluente pode, eventualmente, atingir e recarregar o lençol freático. Nesse sentido, é

fundamental verificar a adequabilidade da permeabilidade do solo e conhecer e definir as

características de utilização (existentes ou previstas) da água subterrânea.

As águas residuais são aplicadas a solos de alta permeabilidade (como solos arenosos) por

intermédio de aspersores ou, o que é mais usual, por espalhamento superficial em bacias

projectadas para o efeito (Figura 4.5) (Matos, 1985b). O líquido é depurado à medida que

atravessa a matriz do solo, sendo necessárias profundidades entre 1,5 e 2,5 m abaixo da

superfície da bacia (WPCF, 1990; citado por Santos e Brito, 2001). Não é corrente dispor-se de

cobertura vegetal mas, mesmo quando ela existe, o respectivo consumo hídrico é diminuto

quando comparado com os volumes de água aplicados.

Figura 4.5 – Representação esquemática da técnica de infiltração rápida no solo (adaptado de USEPA, 1977).

Em muitos casos o sistema integra métodos de recuperação da água tratada, através de

drenos subterrâneos ou por poços (Figura 4.6).

Afluente

Evaporação

Percolação

34

Figura 4.6 – Métodos de recuperação da água tratada (adaptado de USEPA, 1977).

Este é o sistema apropriado para tratar elevadas cargas hidráulicas e orgânicas, mas requer

manutenção e procedimentos de operação mais exigentes que os restantes. As cargas

aplicadas em termos de CBO5 variam entre 45 e 177 kg/ha/d, de azoto entre 3,4 e 41,5 kg/ha/d,

de fósforo entre 1,0 e 13,2 kg/ha/d e de SST entre 33,6 e 112,1 kg/ha/d. Nestas condições,

podem ser atingidas eficiências entre 86 e 100% para CBO5, 10 e 93% para azoto, 29 e 99%

para fósforo, e próximas de 100% para SST (WPCF, 1990; citado por Santos e Brito 2001).

Este tipo de sistema pode ainda contribuir para a protecção da qualidade do lençol freático em

casos em que haja risco de intrusão salina (USEPA, 1977).

Sistema de Escoamento Superficial no Solo

No sistema de escoamento superficial no solo (em terminologia anglo-saxónica “overland

flow”), as águas residuais são aplicadas no topo de um talude inclinado que permite que a

lâmina líquida flua em toda a superfície revestida com vegetação e seja, posteriormente,

recolhida em depressões existentes nos vales. Este processo requer a utilização de solos de

baixa permeabilidade (argilas e siltes) que permitam o escoamento superficial do afluente,

naturalmente. Relativamente à topografia, esta deve garantir que a inclinação dos taludes

esteja compreendida entre 2 e 8% (USEPA, 1977). Inclinações superiores originam fenómenos

de erosão, criando assim caminhos preferenciais e um tratamento desadequado. Pelo

contrário, caso sejam inferiores corre-se o risco de se formarem zonas estagnadas.

Na Figura 4.7 mostra-se uma vista esquemática do tratamento por escoamento superficial. Tal

como se pode constatar, a percolação no solo é relativamente reduzida devido às

características de reduzida permeabilidade do mesmo.

Bacias de retenção

Percolação

DrenosÁgua

subterrânea

Águatratada

PercolaçãoPoços

35

Figura 4.7 – Representação esquemática da técnica de escoamento superficial no solo (adaptado de USEPA, 1977).

Neste tipo de sistemas, o tratamento da água residual processa-se por meios físicos, químicos

e biológicos durante o percurso pela superfície, assumindo a vegetação um papel de relevo no

tratamento, dada a fraca contribuição do solo. A oxidação biológica, a sedimentação e a

filtração na vegetação são os principais mecanismos de remoção de produtos orgânicos e

sólidos em suspensão (USEPA, 1977). Desta forma, atingem-se remoções de 80 a 95% em

termos de CBO5, 20 a 30% em termos de azoto, 20 a 60% em termos de fósforo, e eficiências

significativas de SST para velocidades de escoamento da ordem dos 0,3 a 3,0 cm/s (Santos e

Brito, 2001).

No Quadro 4.1 apresenta-se a síntese das principais características das soluções de

tratamento no solo apresentadas.

Quadro 4.1 - Síntese das principais características das soluções de tratamento no solo (adaptado de USEPA, 2006 e de WPCF, 1990; citado por Santos e Brito, 2001).

Percolação

Sentido do escoamento

Bacia de recolha

VegetaçãoEvapotranspiração

Inclinação 2 a 8%

Afluente

Parâmetro Infiltração lenta Infiltração rápida Escoamento superficial

Pré-tratamento mínimo Sedimentação primária Sedimentação primária Gradagem

Carga anual (m/ano) 0,5 - 6 6 - 125 3 -20

Carga anual típica (m/ano) 1,5 30 10

Área requerida (ha) 23 - 280 3 - 23 6,5 - 44

Carga semanal típica (cm/sem) 1,9 - 6,5 10 - 240 6 - 40

Necessidade de vegetação Necessário Opcional Necessário

Permeabilidade Moderada a baixa Elevada Baixa a nenhuma

Profundidade ao nível freático 0,6 a 3 m (mínimo) 1,5 - 3 m Não é crítico

CBO5 (%) ≈95 86 - 100 80 - 95

Azoto (%) 67 - 94 10 - 93 20 - 30

Fósforo (%) 10 - 25 29 - 99 20 - 60

SST (%) - ≈100 -

Microrganismos patogénicos (%) 99,9 - -

Eficiências de remoção

Disposição das águas residuais Evapotranspiração e

percolaçãoSobretudo percolação

Evapotranspiração e escoamento

superficial, percolação limitada

Inclinação<20% em áreas cultivadas

<35% em áreas não cultivadasnão é crítico 2 a 8%

36

4.3 Zonas húmidas construídas

4.3.1 Descrição geral

Nas últimas décadas tem vindo a ganhar relevância a tecnologia de zonas húmidas construídas

(também designadas por “Leitos de Macrófitas”, “Lagoas de Macrófitas” ou “Fito-ETAR”) no

tratamento biológico de efluentes, em ETAR destinadas ao tratamento de águas residuais. Esta

solução procura tirar proveito dos processos de degradação de poluentes que ocorrem

naturalmente em zonas húmidas, beneficiando dos elevados níveis de sustentabilidade que

estes ecossistemas apresentam, nomeadamente em termos de reduzidos consumos em

recursos energéticos e humanos.

A dispersão de aglomerados de pequena dimensão, especialmente em zonas rurais ou

periféricas de grandes cidades onde a escassez de recursos humanos e económicos é uma

realidade frequente, tem levado à adopção deste tipo de sistemas de tratamento,

economicamente viáveis e tecnicamente sustentáveis (Oliveira, 2008). Com efeito, apresentam

algumas vantagens relativamente aos sistemas convencionais (como sistemas de lamas

activadas e leitos percoladores), nomeadamente a respectiva simplicidade de operação e

manutenção, uma vez que recorrem, em regra, a processos menos mecanizados e,

consequentemente, mais económicos, no que diz respeito a custos de exploração.

Adicionalmente, uma análise económica aos custos de construção destes sistemas demonstra

que não diferem muito dos custos de construção dos sistemas convencionais para o mesmo

grau de tratamento (Galvão et al., 2007).

As zonas húmidas construídas têm sido usadas sobretudo no tratamento de águas residuais

domésticas. Contudo, mais recentemente, iniciou-se a diversificação de aplicações,

designadamente também para águas residuais industriais, escorrências agrícolas e de

explorações de gado, lixiviados de aterros e escorrências pluviais em meio urbano (Vymazal,

2005). Investigação intensiva e experiência prática durante as últimas duas décadas, na

Alemanha, demonstraram ainda que as zonas húmidas construídas podem ser uma tecnologia

eficiente para o tratamento avançado de caudais em tempo de chuva (Uhl e Dittmer, 2005).

O tipo mais comum de leitos de macrófitas aplicado na Europa diz respeito aos leitos com

escoamento subsuperficial horizontal (Vymazal, 2005). Neste tipo de tratamento, o afluente é

descarregado numa das extremidades de um leito preenchido com um material poroso,

geralmente gravilha de granulometria diversa, percolando ao longo do sistema num movimento

predominantemente horizontal. A superfície do leito encontra-se colonizada por plantas

denominadas de macrófitas, que se desenvolvem em solos com elevado teor de água e cujas

raízes contribuem para os processos que asseguram a depuração do efluente (Galvão e

Matos, 2010). De facto, uma vez que se baseiam em processos físicos, químicos e biológicos

idênticos aos que surgem em habitats naturais, estes sistemas oferecem ainda características

37

vantajosas do ponto de vista de implementação, designadamente a facilidade de integração

paisagística (Mavioso, 2010), constituindo pequenos ecossistemas.

Para além dos leitos de escoamento subsuperficial horizontal, definem-se igualmente, em

função da direcção predominante do escoamento, leitos do tipo subsuperficial vertical. Neste

caso, o afluente é distribuído pela superfície do leito num escoamento predominantemente

vertical até atingir a base de geometria plana. Esta dispõe de um sistema de drenagem,

geralmente constituída por tubagens perfuradas, destinadas a recolher o efluente tratado e a

conduzi-lo para uma câmara de saída. Nas Figuras 4.8 e 4.9 apresentam-se as representações

esquemáticas dos leitos do tipo horizontal e vertical, respectivamente.

Figura 4.8 - Representação esquemática de zonas húmidas construídas de escoamento subsuperficial horizontal (adaptado de Vymazal, 2007).

Figura 4.9 - Representação esquemática de zonas húmidas construídas de escoamento subsuperficial vertical (adaptado de Vymazal, 2007).

Conforme Kadlec et al. (2000), relativamente ao processo de escoamento, distingue-se ainda

outro grande grupo, nomeadamente os leitos de escoamento superficial. Neste caso, o afluente

escoa-se através de um meio preenchido com água e plantas aquáticas, e não num meio

poroso como característico nos leitos do tipo subsuperficial. Em geral, este tipo de sistema não

é usado no tratamento secundário devido à exposição da lâmina líquida, que promove a

presença de mosquitos e de outros organismos vectores de propagação de doenças.

Geralmente, os leitos de macrófitas com escoamento superficial são classificados em função

do tipo de plantas aquáticas existentes no leito (emergentes, submersas ou flutuantes),

diferindo sobretudo no modo de fixação e desenvolvimento das mesmas. Tal como se ilustra na

Figura 4.10, as plantas do tipo emergente, como por exemplo o caniço (Phragmites australis) e

as espadanas (Typha Latifolia), estão enraizadas numa pequena camada de solo na base do

Afluente

EfluenteZona de distribuição

Membrana impermeávelMeio de suporte

Zona de recolha

Dispositivo de saída

Afluente

Efluente

Drenagem

Gravilha

Areia

38

leito, apresentando a parte inferior do caule submersa e a superior à superfície. As plantas

submersas, tais como por exemplo o limo (Potamogeton Pectinatus) e a Elodea Canadensis,

encontram-se totalmente submersas na massa de água (Figura 4.11), enquanto que as plantas

flutuantes caracterizam-se por flutuar à superfície da água, sem estarem ligadas ao fundo do

leito (Figura 4.12). São exemplos de plantas flutuantes o Jacinto aquático (Eichhornia

Crassipes), as lentilhas de água (Lemna spp.) e a azola (Azolla Filiculoides).

Figura 4.10 – Representação esquemática de zonas húmidas construídas de escoamento superficial com plantas emergentes (adaptado de Salati, 2006).

Figura 4.11 - Representação esquemática de zonas húmidas construídas de escoamento superficial com plantas submersas (adaptado de Salati, 2006).

Figura 4.12 - Representação esquemática de zonas húmidas construídas de escoamento superficial com plantas flutuantes (adaptado de Salati, 2006).

Alguns sistemas, designados de mistos ou híbridos, integram leitos de tipos diferentes de modo

a tirar partido das vantagens de cada um e, assim, obter um sistema global mais eficiente. É

comum a composição de etapas alternadas de escoamento subsuperficial combinadas com

etapas de escoamento superficial. Diversos estudos revelaram que sistemas híbridos

compostos por combinações de leitos de fluxo vertical e horizontal apresentam eficiências de

remoção superiores às obtidas com apenas uma etapa (Barret et al., 2001; Hagendorf et al.,

2005; Keffala e Ghrabi, 2005), sendo uma das vantagens apontadas a capacidade de remoção

de nutrientes mais elevada (Vymazal, 2007). De facto, os leitos de escoamento subsuperficial

horizontal apresentam uma capacidade limitada de transferência de oxigénio para o meio de

enchimento, reduzindo a nitrificação, enquanto que os leitos de escoamento vertical oferecem

boas condições para a nitrificação, mas a desnitrificação é reduzida. Assim, a combinação

adequada destes dois tipos permite a obtenção de um efluente totalmente nitrificado e

parcialmente desnitrificado, sendo a concentração média de azoto total no efluente inferior

(Galvão, 2009).

Em Portugal, a implementação de leitos de macrófitas para o tratamento de efluentes teve

início com a construção de um sistema em Viseu, em meados da década de 70, seguido por

outro sistema na região do Algarve, nas instalações do antigo Instituto Politécnico de Faro. No

39

entanto, a crescente divulgação e aceitação de zonas húmidas construídas, para o tratamento

de águas residuais de pequenos aglomerados, ocorreu sobretudo no final da década de 90

com a implementação dos objectivos estabelecidos no “Plano Estratégico de Abastecimento de

Água e Saneamento de Águas Residuais (2000-2006) – PEAASAR (MAOT, 2000), que

contemplava como uma das principais metas a atingir o alcance de níveis de atendimento de

drenagem e de tratamento de águas residuais de 90% no ano de 2006. Com efeito, das 155

ETAR adjudicadas por empresas do grupo Águas de Portugal, AdP, entre 2001 e 2004, 64

(41%) corresponderam a sistemas de tratamento com leitos de Macrófitas (Galvão, 2009).

Mais recentemente, procedeu-se à revisão do PEAASAR e à actualização dos objectivos,

dando origem ao PEAASAR II, para o período entre 2007 e 2013. Este plano introduz uma

visão integradora no sector das águas, de forma articulada com as “grandes prioridades

nacionais”, de onde se destacam por relevância para a temática das ETAR o desenvolvimento

regional, a inovação e o desenvolvimento sustentável. Neste documento, a problemática do

saneamento de pequenos aglomerados é referida a diversos níveis, sendo igualmente

apontado que as soluções a adoptar devem contemplar opções adequadas de baixo consumo

(MAOTDR, 2007), permitindo servir pequenos aglomerados com tecnologias que apresentem

mais valias não só no que se refere aos custos de manutenção, mas também ao cumprimento

das opções estratégicas definidas.

Actualmente, a maioria dos sistemas húmidos construídos em Portugal são baseados em leitos

de macrófitas com escoamento horizontal subsuperficial para obtenção de um tratamento

secundário, encontrando-se em operação perto de três centenas destes sistemas (Galvão e

Matos, 2010).

4.3.2 Principais componentes e mecanismos de remoção

Principais componentes

Uma zona húmida construída é um sistema complexo constituído essencialmente por um leito,

geralmente impermeabilizado, preenchido com água ou um meio de enchimento poroso,

plantas e uma diversidade de microrganismos, sendo os mais relevantes as bactérias. O

sistema inclui ainda dispositivos destinados à distribuição uniforme do afluente à entrada do

leito, ao controlo do nível de água no seu interior e à recolha do efluente tratado.

Seguidamente, procede-se à descrição de cada uma destas componentes estruturais, em

particular para o caso de leitos de escoamento subsuperficial horizontal, uma vez que será este

o tipo aplicado no caso de estudo. No entanto, algumas características são comuns a outros

tipos de leitos.

Meio de enchimento e impermeabilização

Os leitos de macrófitas de escoamento subsuperficial caracterizam-se por apresentar um meio

de enchimento poroso através do qual o afluente atravessa. A profundidade do leito pode variar

40

entre 0,2 e 0,8 m (Cooper et al., 1996; citado por Kadlec et al., 2000), sendo o valor de 0,6 m o

mais vulgar (Wallace e Knight, 2006; Dias et al., 2000). O enchimento pode ser constituído por

solo, que serve de suporte para a fixação das plantas macrófitas, ou por materiais de

granulometria diversa, existindo registos de leitos preenchidos com solo fino e texturado, ou

com pedra com cerca de 30 cm de diâmetro equivalente. Por um lado, as partículas de

pequena dimensão apresentam como principal característica uma reduzida condutividade

hidráulica, apresentando maior probabilidade de colmatação e, consequentemente, a

possibilidade de ocorrência de escoamento superficial, com redução do tempo de retenção

hidráulico, o que é indesejável. A utilização de materiais de dimensões significativas com maior

condutividade hidráulica apresenta, em contrapartida, uma reduzida superfície por unidade de

volume para estabelecimento do filme microbiológico. Adicionalmente, materiais de grande

dimensão e geometria angular não permitem um adequado desenvolvimento das raízes.

Assim, é, em regra, adoptada uma solução de compromisso, sendo comum na Europa e

Estados Unidos da América recorrer-se a uma camada única com materiais de granolometria

intermédia, como é o caso da gravilha que é recomendada por diversos autores (Kadlec e

Knight, 1996; Kadlec et al., 2000; Wallace e Knight, 2006). Pode também ser colocada uma

pequena camada de gravilha fina à superfície do leito para facilitar a plantação das macrófitas

(Campbel e Odgen, 1999).

Em geral, as zonas húmidas construídas apresentam um revestimento em argila ou

geomembrana para impermeabilização do leito, por forma a impedir a infiltração das águas

poluídas no solo (evitando a contaminação de aquíferos) e para impedir a entrada de águas

subterrâneas no leito, no caso de lençóis freáticos elevados. Actualmente, a utilização de

revestimentos sintéticos é uma prática bastante utilizada, incluindo materiais como o asfalto,

borracha sintética ou membranas plásticas, nomeadamente o polietileno de alta densidade

(PEAD). Outros materiais têm igualmente vindo a ser testados, como a argila expandida, que

apresenta boa condutividade hidráulica e uma boa capacidade inicial de remoção de fósforo

por adsorção.

Plantas

As plantas presentes no leito, sobretudo ao nível das raízes e rizomas, favorecem a

assimilação de nutrientes, oferecem superfície disponível para a fixação de bactérias e outros

microrganismos e libertam oxigénio, promovendo a degradação de matéria orgânica e a

nitrificação (Kadlec et al., 2000). A presença da vegetação influencia ainda outros parâmetros

do funcionamento dos leitos, como sejam a temperatura da água, a condutividade hidráulica, o

pH e o potencial redox.

Embora a presença de vegetação seja habitual, e numerosos estudos mostrem melhorias no

desempenho dos leitos aquando da sua presença (Lee e Sholtz, 2007), outros referem que a

utilização de vegetação não é significativa na remoção de matéria orgânica (Akratos e

Tsihrintzis, 2007; Camacho et al., 2007). A escolha da espécie que apresenta melhor

41

desempenho também não é consensual, existindo diversos estudos que apresentam resultados

contrários (Kadlec et al., 2000; Gersberg et al., 1984; DeBusk et al., 1989; VanOostrom e

Cooper, 1990; Batchelor et al., 1990 e Knight, 1993; citados por Wallace e Knight, 2006).

As espécies de plantas mais utilizadas em leitos de macrófitas de escoamento subsuperficial

são os caniços (Phragmites australis), os juncos (Scrirpus lacustris) e as espadanas (Typha

latifolia). Em Portugal, é comum recorrer-se às espadanas, dada a relativa abundância nos

meios húmidos naturais. A nível mundial, a espécie com maior utilização é a Phragmites

australis, devido à elevada taxa de crescimento que apresenta, desenvolvimento de raízes e

elevada tolerância a solos saturados (Galvão, 2009).

O ciclo vegetativo das plantas é afectado por factores climáticos que interferem no crescimento

e maturação das espécies florísticas presentes em leitos de macrófitas. No caso das

Phragmites australis o ciclo vegetativo inicia-se durante os meses de Abril/Maio, altura em que

se pode observar o desenvolvimento de rebentos que apresentam uma elevada taxa de

crescimento. Entre Junho e Agosto as plantas atingem o pico de crescimento, podendo atingir

alturas superiores a 2 m. Os primeiros sinais de senescências surgem, geralmente, entre finais

do mês de Agosto e o mês de Setembro, observando-se, durante os meses seguintes, a

progressiva secagem das folhas e partes aéreas das plantas, que assim permanecem até ao

início do ciclo seguinte (Mavioso, 2010).

Durante a fase de “start up” dos sistemas de zonas húmidas construídas, as condições de

operação e as características do afluente podem afectar a adesão e o desenvolvimento tanto

do biofilme como das plantas, podendo afectar a estabilidade e o desempenho dos leitos de

macrófitas. Em particular, as Phragmites australis são muito sensíveis a alterações nas

condições de operação durante a fase de crescimento (Albuquerque et al., 2011).

Dispositivos de entrada e saída do efluente

A distribuição do afluente nos leitos de escoamento subsuperficial horizontal é, geralmente,

efectuada através de uma tubagem perfurada, disposta transversalmente no interior de uma

camada de material mais grosseiro, por forma a que o afluente percorra a totalidade do leito no

sentido longitudinal.

Na extremidade oposta, a tubagem de recolha do efluente tratado deve ser seguida de um

troço invertido que permita a regulação do nível de água no interior do leito. Este troço permite

que se realizem diversas acções de operação e manutenção importantes, designadamente o

esvaziamento periódico do leito, por forma a permitir a respectiva oxigenação, e o ajuste do

nível de água à saída, de modo a manter um gradiente hidráulico adequado. Ao longo da

exploração será de esperar um aumento da resistência hidráulica do leito, devido à

acumulação de sólidos e matéria mineralizada, pelo que o ajuste do nível de saída poderá ser

necessário.

42

Mecanismos de remoção de poluentes

A remoção de poluentes em sistemas do tipo subsuperficial horizontal efectua-se por acção do

meio de enchimento e pela vegetação presente. Com efeito, a passagem do afluente através

do meio poroso e dos interstícios das raízes e rizomas das macrófitas leva à remoção de

poluentes por intermédio de processos físicos, químicos e biológicos (Wallace e Knight, 2006).

Dos processos físicos, o principal diz respeito à sedimentação, que permite a remoção dos

sólidos suspensos, contribuindo também para a retenção de matéria particulada, que fica assim

disponível no interior do leito para posterior degradação microbiológica. Os processos químicos

principais incluem a adsorção, e a precipitação química, sendo especialmente relevantes na

remoção de fósforo e metais dissolvidos. Já os principais processos biológicos dizem respeito à

decomposição e assimilação microbiológica e à assimilação pelas plantas. Estes mecanismos

participam na remoção da maioria dos poluentes presentes nas águas residuais, sendo

especialmente relevantes na degradação da matéria orgânica e compostos de azoto. O

decaimento natural e a predação microbiológica apresentam também um papel importante ao

contribuir para a remoção de microrganismos patogénicos, o que constitui uma das principais

diferenças face às zonas húmidas construídas de escoamento superficial, onde esta função é

essencialmente realizada por acção da radiação ultra-violeta (Galvão, 2009).

Os sistemas de tratamento através de leitos de macrófitas apresentam eficiências de remoção

significativas, principalmente no que se refere aos parâmetros seguintes: carência bioquímica

de oxigénio, carência química de oxigénio e sólidos suspensos (USEPA, 2000; Jorgensen et

al., 2001).

Nos parágrafos que se seguem apresentam-se os principais processos envolvidos na remoção

destas substâncias, bem como dos microrganismos patogénicos, outro dos principais poluentes

presentes nos caudais a tratar.

Carência Química de Oxigénio e Carência Bioquímica de Oxigénio

A avaliação das eficiências de remoção de matéria orgânica em termos da CBO5 e CQO tem

sido amplamente estudada, sendo apontados diversos factores que influenciam a capacidade

de remoção, designadamente a carga hidráulica (Kadlec e Knight, 1996; Albuquerque et al,

2009), a carga mássica (USEPA, 2000) e a porosidade do material utilizado no meio de

enchimento.

A degradação da matéria orgânica pode ser efectuada por diversas vias, classificadas de

aeróbias ou anaeróbias, consoante, respectivamente, o oxigénio livre é ou não o agente

oxidante (Galvão, 2009). A degradação aeróbia é efectuada por bactérias aeróbias

heterotróficas, em camadas mais próximas da superfície, em que a disponibilidade de oxigénio

é suficiente para as necessidades de oxidação da matéria orgânica. O maior consumo de

oxigénio tem lugar nos primeiros 30 cm do meio filtrante (Woźniak et al., 2007). A equação

destas reacções pode ser traduzida por (4.1) (Kadlec e Knight, 1996).

43

C6H12O6 + 6O2→6CO2+6H2O (4.1)

A degradação anaeróbia é realizada através do processo de fermentação por bactérias

anaeróbias facultativas ou estritamente anaeróbias, ocorrendo em camadas intermédias ou

profundas do solo, onde já existe limitação na concentração de oxigénio disponível.

Para além da concentração de oxigénio dissolvido no interior do leito, o potencial redox é o

parâmetro geralmente utilizado para caracterizar o tipo de ambiente existente no que diz

respeito às condições de oxidação. Valores de potencial redox superiores a 300 mV são

indicativos de condições aeróbias, enquanto que valores inferiores a -100 mV correspondem a

condições anaérobias (ausência de oxigénio) (Galvão, 2009). A zona intermédia corresponde,

geralmente, a concentrações de oxigénio dissolvido próximas de zero, sendo denominadas por

alguns autores como condições anóxicas (Kadlec e Knight, 1996).

A taxa de consumo de oxigénio depende de vários factores, nomeadamente da temperatura

ambiente. No entanto, as conclusões neste domínio não são concordantes, havendo estudos

em que a influência não é significativa (por exemplo Akratos e Tsihrintzis, 2007) e outros em

que as diferenças são assinaláveis. Por exemplo, Stein et al. (2006) mostra variações

significativas nas taxas de remoção da CQO para diferentes temperaturas, contudo os

resultados não são conclusivos quanto à relação de dependência dada a variabilidade de

factores que influenciam o desempenho do sistema.

De acordo com Balbo et al. (2010) são expectáveis eficiências de remoção de 50 a 80%,

respectivamente em termos de CBO5 e CQO, em sistemas de tratamento destinados à

depuração de caudais excedentes. Uhl e Dittmer (2005) referem eficiências médias de

remoção da CQO de 84% num sistema em operação. No estudo realizado por Van de Moortel

et al. (2009) atingiram-se eficiências de remoção da CQO de 88,1± 3,5%, num sistema de

escoamento subsuperficial, para um tempo de retenção de 8 dias. Estes autores referem ainda

que, após as 4 primeiras horas iniciais de retenção, quantidades consideráveis de poluentes

são removidas, seguindo-se uma redução mais gradual.

Sólidos Suspensos

A redução das concentrações dos sólidos suspensos deve-se sobretudo ao processo de

sedimentação. Balbo et al. (2010) referem que podem ser alcançadas remoções de sólidos

suspensos de 90 a 95% no tratamento de caudais em excesso. No sistema avaliado por Uhl e

Dittmer (2005) atingiram-se, em média, eficiências superiores a 90%.

Microrganismos patogénicos

Através dos processos físicos de sedimentação e filtração, as partículas sólidas ficam retidas

no interior do leito, permitindo que as concentrações dos microrganismos patogénicos (que se

encontram associados às partículas sólidas retidas) sejam reduzidas devido a fenómenos de

predação microbiológica e decaimento natural.

44

A eficiência de parâmetros microbiológicos é correntemente traduzida através da diferença

logarítmica entre a concentração no efluente e a concentração no afluente. De um modo geral,

a eficiência média de remoção dos diferentes indicadores bacteriológicos varia em função das

características do sistema e das condições de operação, designadamente no que respeita à

granulometria do meio de enchimento, tempo de retenção no interior do leito, carga hidráulica

aplicada, concentração e temperatura do efluente. O efeito da temperatura faz-se, igualmente

sentir em termos sazonais, com as eficiências de remoção durante o verão a revelarem valores

superiores em 1 log aos registados em período de Inverno (Galvão, 2009). Segundo Garcia et

al. (2008), a presença de plantas é igualmente significativa para garantir eficiências de

remoção mais elevadas.

Apesar de existirem cada vez mais estudos disponíveis sobre a remoção de microrganismos

patogénicos, a referência a eficiências típicas na aplicação ao tratamento de excedentes não é

frequente na literatura. A título indicativo referem-se eficiências de remoção em termos de

coliformes totais, entre 0,7 e 4 log e, em termos de enterococos, entre 0,1 e 2,4 log, obtidos em

leitos de escoamento horizontal destinados ao tratamento de efluentes domésticos com um

tempo de retenção médio de 2,25 dias, aproximadamente (Barrett et al., 2001).

4.3.3 Modelos matemáticos - cinética de 1ª ordem

Para se proceder ao correcto dimensionamento de sistemas de zonas húmidas construídas, é

importante desenvolver modelos matemáticos capazes de traduzir o comportamento destes

sistemas. Contudo, esta é uma tarefa bastante difícil dada a variedade de factores e processos

que interferem no funcionamento de sistemas deste tipo, pelo que quanto maior a

complexidade do modelo, mais exigentes se tornam, naturalmente, na quantidade e qualidade

de informação exigida para a sua calibração e validação. Em alternativa, existem abordagens

mais simples que são frequentemente utilizadas.

Embora critérios empíricos que envolvam parâmetros como a carga hidráulica máxima aplicada

ao leito, a carga mássica máxima aplicável e o tempo de retenção hidráulico sejam

correntemente utilizados e razoavelmente eficazes no dimensionamento de zonas húmidas

construídas, é reconhecido que modelos relacionados com a cinética do processo microbial

podem oferecer mais garantias (Stein et al., 2006). O modelo de cinética de primeira ordem é o

mais simples e um dos mais utilizados (equação 4.2).

(4.2)

em que Ci corresponde à concentração à entrada do leito (mg/L), Ce à concentração à saída do

leito (mg/L), kv à constante de remoção volumétrica (dia-1

) e t ao tempo de retenção hidráulico

nominal no leito (dias).

A determinação da constante de remoção é, geralmente, efectuada a partir de registos de

concentrações à entrada e à saída da zona húmida construída.

45

As condições de validade do modelo incluem diversos pressupostos, designadamente o caudal

constante e a ausência de dispersão nas direcções vertical e perpendicular ao escoamento,

correspondendo a um escoamento tipo “fluxo pistão” (“plug-flow” na terminologia

anglo-saxónica) (Galvão, 2009).

Reconhecendo as limitações de um modelo com um único parâmetro, e para atender melhor

aos dados recolhidos, Kadlec e Knight (1996) propuseram uma modificação da expressão de

primeira ordem, transformando-a no modelo designado de k-C* (expressão 4.3). Este modelo

permite que se considere uma concentração residual (C*), que pode ser interpretada como o

limite de eficiência atingida por estes sistemas de tratamento. De facto, a presença de fauna e

flora nas zonas húmidas construídas dá origem a concentrações residuais de diversas

substâncias, quer pela produção de biomassa libertada pela flora, quer pelo desenvolvimento

de diversas espécies de microrganismos no sistema.

(4.3)

onde C* (mg/L) representa a concentração residual do poluente.

São apontadas algumas limitações ao modelo k-C*, nomeadamente a dependência dos

parâmetros com a carga hidráulica aplicada e com a concentração do poluente no afluente ao

leito (Kadlec, 2000). Este autor sugere que são necessárias novas abordagens que incorporem

a capacidade de descrever a existência de “curto-circuitos” hidráulicos e de caminhos

preferenciais, que promovem a existência de concentrações residuais.

Na utilização de uma cinética de 1ª ordem é usual considerar que a constante de remoção

apresenta dependência da temperatura, traduzida pela Lei de Arrhenius (equação 4.4)

(Rousseau, 2005; citado por Galvão, 2009).

20

20. T

T kk (4.4)

em que k20 é o valor da constante de remoção à temperatura de 20ºC, kT é o valor

correspondente à temperatura T e θ o factor de correcção da temperatura.

Estudos destinados a avaliar o efeito da temperatura na remoção de poluentes nos leitos de

macrófitas têm revelado resultados diversos. Kadlec e Knight (1996) referem que não é

significativo no caso dos parâmetros CBO5, SST e Fósforo total (θ≈1,00), mas observaram

influência na remoção de azoto (θ≈1,05), sobretudo para temperaturas inferiores. Já no estudo

de Stein et al. (2006), verificaram-se variações de kv com a temperatura e com diferentes

espécies plantadas. No entanto, os resultados não são conclusivos, dado que uma parte

significativa da variação se reflecte no parâmetro da concentração residual.

46

4.3.4 Recomendações de concepção e projecto no tratamento de excedentes

poluídos

Considerações gerais

Estudos recentes têm mostrado que a abordagem tradicional de gestão de descargas directas

de excedentes em tempo de chuva (que inclui, em regra, tanques de armazenamento e

infra-estruturas de transporte que conduzem o caudal para as ETAR) pode não ser a mais

sustentável dado os encargos associados (Balbo et al., 2010). As zonas húmidas construídas

são consideradas como uma alternativa atractiva e a sua eficiência de purificação no

tratamento de caudais excedentes tem sido comprovada em diversos estudos (Uhl e Dittmer,

2005; Henrichs et al, 2007 e Van de Moortel et al, 2009).

Os leitos de macrófitas atendem a diversos requisitos do tratamento de caudais excedentes,

nomeadamente a detenção e redução do caudal de ponta, a redução dos sólidos suspensos

por filtração, a redução de poluentes solúveis e particulados por adsorção e degradação

biológica e a desinfecção. No entanto, a natureza estocástica dos eventos de precipitação e a

ampla gama de concentrações afluentes originam diferenças significativas no que se refere às

eficiências obtidas em leitos de macrófitas para o tratamento de excedentes poluídos, ou para

o tratamento de águas residuais (Uhl e Dittmer, 2005).

Dada a elevada variabilidade das concentrações de poluentes nas descargas de excedentes,

no processo de concepção de zonas húmidas construídas deverá realizar-se um estudo de

qualidade dos caudais em excesso e do meio receptor, no sentido de determinar parâmetros

úteis ao dimensionamento do sistema.

No âmbito da sua dissertação de doutoramento, Wu (2008) estudou a aplicação de uma zona

húmida construída com escoamento subsuperficial para tratamento de descargas de

excedentes no rio de Harbor Brook, um tributário do lago de Onondaga, um dos mais poluídos

em Nova Iorque. Para isso, realizou campanhas de monitorização durante um período de seis

meses (Junho a Novembro de 2006), com recolha de amostras em tempo húmido (pelo menos

1/mês, se possível) e em tempo seco (2/mês), no interior do sistema de drenagem, à saída do

descarregador de tempestade e no meio receptor, a montante e a jusante da zona de

descarga. Diversos parâmetros foram analisados, nomeadamente SST, CBO5, Fósforo, pH,

alcalinidade, e coliformes fecais. Com base num estudo estatístico dos valores obtidos, definiu

as variáveis do modelo k-C*, designadamente as concentrações afluentes e residuais (Ci e C*),

e fixou o valor pretendido para a concentração no efluente (Ce). Para a constante de remoção

de CBO5, kv, foi assumido o valor de 1,96 dias-1

, com base em Kadlec e Knight (1996). Desta

forma, calculou o tempo de retenção hidráulico necessário para atingir o tratamento adequado.

A partir deste valor, foram ainda determinados os restantes parâmetros necessários à completa

definição do sistema, entre eles a área superficial.

47

Na Alemanha, geralmente as zonas húmidas construídas concebidas para o tratamento de

descargas de excedentes são do tipo subsuperficial vertical com uma bacia de detenção no

topo e, dependendo das necessidades locais, os volumes dos sistemas variam, geralmente,

entre 60 e 120 m3/ha de área pavimentada (Uhl e Dittmer, 2005).

Na Figura 4.13 mostra-se a configuração de uma zona húmida construída para tratamento de

caudais excedentes e na Figura 4.14 o corte esquemático da respectiva secção transversal. As

Figuras 4.13 e 4.14 seguem as recomendações de Uhl e Dittmer (2005), baseadas em

resultados de investigação em mais de 50 sistemas diferentes em operação na Alemanha.

Figura 4.13 – Configuração de um sistema de tratamento de excedentes baseado em zonas húmidas construídas (adaptado de Uhl e Dittmer, 2005).

Figura 4.14 – Corte esquemático da secção transversal de uma zona húmida construída no tratamento de caudais excedentes (adaptado de Uhl e Dittmer, 2005).

A realização de pré-tratamento por sedimentação através da instalação de um reservatório de

armazenamento convencional destina-se a minimizar os riscos de colmatação do leito devido a

cargas excessivas de sólidos suspensos e é indispensável para assegurar a fiabilidade da

operação de longo prazo. Já a colocação de uma estrutura de descarga a montante da zona

húmida construída permite a descarga quando a capacidade do sistema é excedida.

Afluente

Volume de detenção

Orifício para inspecção

Meio filtrante

Sistema de drenagem

Estrutura de saída

Canal de distribuição

ETAR

Reservatório de pré-tratamento Estrutura de

descarga

Câmara de visita

Vegetação

Volume de armazenamento

Sistema de drenagem

Camada de gravilha 2/8 mm (>0,25 m )

Camada de areia 0/2 mm(0,75 – 1 m)

Erva rasteira

Material isolante

Geotêxtil

48

Sistema de entrada

Em leitos de escoamento vertical devem ser considerados canais de distribuição do afluente,

funcionando como descarregadores laterais com taxas inferiores a 150 L/s.m, de modo a evitar

fenómenos de erosão no meio de enchimento (Uhl e Dittmer, 2005). Na prática, Uhl e Dittmer

(2005) verificaram que tubagens a descarregar directamente no sistema provocaram graves

problemas na vegetação, sedimentação e camadas de enchimento, mesmo quando foram

utilizados dissipadores de energia. Em leitos de escoamento horizontal a entrada do afluente

deve ser realizada através de uma tubagem perfurada disposta transversalmente ao leito na

extremidade oposta à da descarga do efluente.

Sistema de drenagem e impermeabilização

De acordo com Uhl e Dittmer (2005), a rede de drenagem, em leitos de escoamento vertical,

que conduz a água filtrada para a estrutura de saída deve ser colocada numa camada de

espessura superior a 0,25 m, preenchida com gravilha de granulometria 2 a 8 mm. As tubagens

de drenagem, afastadas entre 3 e 5 m, devem ter diâmetros superiores a 150 mm e não devem

exceder comprimentos de 30 m. Áreas de filtração superiores a 1000 m2 devem ser drenadas

por vários sistemas. As tubagens de drenagem devem apresentar uma abertura colocada

acima do nível máximo de água admitido no leito, de forma a permitir a saída de ar do meio

filtrante, durante a fase de enchimento e o arejamento após o seu esvaziamento.

A impermeabilização do sistema pode ser feita através de uma membrana de geotêxtil ou de

uma camada de argila de 40 cm.

Meio de enchimento

Segundo Uhl e Dittmer (2005), o meio de enchimento deve ser preenchido com uma camada

de 0,75 a 1 m de areia de granulometria 0 a 2 mm. No entanto, camadas de silte (partículas

<0,06 mm) deram origem a problemas de construção e causaram a colmatação do leito bem

como à formação de caminhos preferenciais.

Relativamente à vegetação plantada, a espécie Phragmites australis provou ser a que melhor

se adequa a este tipo de aplicação (Uhl e Dittmer, 2005).

Sistema de saída

A estrutura de saída pode ser construída como uma câmara de visita de grande dimensões que

recebe o efluente tratado que provém do sistema de drenagem. É essencial a existência de um

sistema no descarregador de saída, por exemplo do tipo sifão invertido (representado

esquematicamente na Figura 4.15), que permita controlar a taxa de filtração e o tempo de

retenção hidráulico no sistema. Através deste sistema o leito é completamente esvaziado após

cada evento de descarga para garantir arejamento suficiente para favorecer a degradação

aeróbia no interior do meio filtrante.

49

Figura 4.15 – Representação esquemática da estrutura de descarga.

Custos

As estimativas de custos de zonas húmidas construídas para tratamento de caudais

excedentes podem ser obtidas a partir de diferentes sistemas construídos e dependem,

naturalmente, do tamanho do sistema. Na Alemanha, para volumes de detenção inferiores a

2000 m3, Uhl e Dittmer (2005) estimam custos de construção que variam entre 200 e 500 €/m

3,

enquanto que para volumes superiores os custos variam entre 100 e 200 €/m3.

Uhl e Dittmer (2005) observaram ainda uma forte correlação entre os custos c (€/ha) e a área

pavimentada da bacia hidrográfica contributiva (ha) (4.5).

. (4.5)

4.3.5 Exemplos de aplicação

Na Alemanha, o tratamento de excedentes poluídos através de leitos de macrófitas é já

reconhecida como uma tecnologia apropriada e diversos sistemas têm estado em operação

nas últimas duas décadas. Em Itália começam a surgir os primeiros exemplos (Balbo et al.,

2010), enquanto que em Portugal ainda não há registo de aplicações deste tipo. Nos Estados

Unidos da América foram igualmente propostos alguns sistemas.

Seguidamente, são apresentados dois exemplos de aplicações previstas na região da

Lombardia, em Itália, e em Syracuse, no Estado de Nova Iorque.

“The Gorla Maggiore project”

No seguimento de um estudo desenvolvido na região da Lombardia, em Itália, sobre a

aplicação de zonas húmidas construídas para redução dos impactos gerados pelas descargas

directas de excedentes, foram escolhidos três locais (Gorla Maggiore, Gorgonzola e

Capiago-Intimiano) para construção de projectos piloto que serão sujeitos a intensos

programas de monitorização para avaliar o potencial deste tipo de tecnologia.

Os anteprojectos dos sistemas localizados em Gorgonzola e Capiago-Intimiano foram

aprovados, enquanto que o projecto de Gorla Maggiore já se encontra-se em fase de arranque,

constituindo o primeiro exemplo de tratamento de caudais excedentes baseado em zonas

húmidas construídas em Itália. O sistema foi projectado de acordo com as directrizes e

publicações presentes em Reed et al. (1995), Uhl et al. (2005), ATV (1997) e USEPA (1999);

Efluente

50

citados por Balbo et al. (2010), e visa combinar diversos objectivos para além da redução da

carga poluente, designadamente a diminuição do risco hidráulico, a reabilitação do espaço

ambiental envolvente e a criação de um parque multifuncional com ciclovias, caminhos

didácticos e um pequeno lago ornamental para actividades recreativas e de lazer. Na Figura

4.16 mostra-se uma vista esquemática em planta do sistema de Gorla Maggiore.

Figura 4.16 - Vista esquemática em planta do sistema de Gorla Maggiore (adaptado de Balbo et al., 2010).

O sistema de drenagem de águas residuais serve uma área de captação de aproximadamente

56 ha (cerca de 8100 habitantes equivalente). A lei regional da Lombardia exige que caudais

até 3,75 vezes o caudal de tempo seco sejam encaminhados para uma ETAR e que todos os

caudais excedentes sejam sujeitos a tratamento até 2016. A caracterização das descargas de

excedentes foi realizada com base nos dados de qualidade relatados por Kadlec e Knight

(1996), considerando o efeito de diluição das águas domésticas residuais em 3 eventos de

precipitação diferentes (Quadro 4.2).

Quadro 4.2 - Caracterização das descargas de excedentes (adaptado de Balbo et al., 2010).

O sistema descarrega no rio Olona um caudal máximo de 0,7 m3/s, para a situação de um

caudal afluente de 3,4 m3/s, que corresponde a um período de retorno de 10 anos. O volume

de primeiro fluxo, considerado em 50 m3/ha, é encaminhado para uma instalação de

pré-tratamento com gradagem e remoção de areia. A primeira etapa do sistema húmido

construído foi concebida como do tipo subsuperficial vertical (SSV) com uma bacia de detenção

no topo da camada filtrante. A taxa de filtração e o tempo de retenção hidráulico são

Evento de precipitação Caudal (L/s) CBO5 (mg/L) CQO (mg/L) SST (mg/L) Ntot (mg/L)

2 mm/h 90 70 210 300 6

5 mm/h 210 60 180 380 3

10 mm/h 390 40 120 390 2

51

controlados através de uma válvula na tubagem de saída e os leitos são plantados com

Phragmites australis. A segunda etapa corresponde a uma bacia de retenção de escoamento

superficial que fornece uma capacidade extra ao sistema e permite amortecer os caudais de

ponta. Caudais superiores a 0,64 m3/s são directamente conduzidos para a segunda etapa.

Esta bacia está plantada com espécies nativas (tais como Ranunculus aquatilis, Mentha

aquática, Carex elata, Lytrum salicaria, Caratopyllum demersum, Potamogeton crispus,

Hydrocaris morsus ranae, Scirpus lacustris, Lysimachia vulgaris, Íris psedacorus, Typha

angustifolia, Nymphaea alba, Nuphar lutea) para recriar um ambiente aquático natural.

O tempo médio de retenção hidráulica no sistema varia entre 15 e 20 horas, dependendo das

cargas afluentes. A carga hidráulica aplicada é de 450 mm/m2.d e a carga orgânica mássica é

de 95 g CQO/m2.d.

Na Figura 4.17 mostra–se o esquema de tratamento e no Quadro 4.3 sintetizam-se as

principais características das zonas húmidas construídas.

Figura 4.17 – Esquema de tratamento do sistema de Gorla Maggiore (adaptado de Balbo et al., 2010).

Quadro 4.3 - Principais características das zonas húmidas construídas do sistema de Gorla Maggiore (adaptado de Balbo et al., 2010).

“Harbor Brook CSO 018 wetland project”

A 16 de Novembro de 2009 ficou acordada a constituição de um programa, designado “Save

the rain”, para elaborar projectos de infra-estruturas verdes no sentido de reduzir a frequência e

o volume das descargas directas de excedentes poluídos em meios receptores tributários do

lago de Onondaga, em Nova Iorque.

Caudal excedente

Rio OlonaQ<0,7 m3/s

ETAR

SSV Bacia de retençãoPré-tratamento

Câmaras de repartição de caudais

Q>0,64 m3/s

Q<0,64 m3/sQ<=3,75 Qseco(<=0,02 m3/s)

Etapa Grandeza Unidade Valor

Área superficial (m2) 3840

Número de leitos (-) 4

Altura dos leitos (m) 0,70

Folga (m) 0,1

20 cm gravilha 2-8 mm (topo)

50 cm gravilha 5-10 mm

Área superficial (m2) 3174

Altura da bacia (m) 0,4

Meio de

enchimento(-)

1ª Etapa - Sistemas húmidos

do tipo sub-superficial

vertical

2ª Etapa - Bacia de retenção

de escoamento superficial

52

No âmbito desse programa, foi proposto um sistema piloto de tratamento de caudais

excedentes afluentes ao rio de Harbor Brook (efluentes do descarregador de tempestades

CSO 018) através de uma zona húmida construída (Figura 4.18).

Figura 4.18 – Enquadramento e aspecto do sistema de Harbor Brook (adaptado de Mahoney, 2011).

O sistema, cuja construção se prevê que esteja concluída em 2012, irá servir uma bacia

hidrográfica de cerca de 60 ha que dá origem a aproximadamente 40 descargas de excedentes

por ano (Mahoney, 2011). Deverá assim capturar e tratar aproximadamente 60 000 m3/ano e

melhorar consideravelmente a qualidade das descargas.

O sistema de tratamento irá incluir uma componente de monitorização e investigação que

ajudará a analisar o desempenho de três tipos de zonas húmidas que serão construídas,

incluindo leitos do tipo subsuperficial vertical e superficial com plantas flutuantes, e assim

avaliar o seu potencial para uso em outras localizações na cidade de Syracuse.

Relativamente a questões de segurança, a zona húmida construída, que fará parte de uma

bacia de retenção de águas pluviais já existente, será rodeada de bermas de terra, e será

vedada e organizada de modo a restringir o acesso a crianças e outros. A zona circundante

será plantada com vegetação nativa incluindo árvores e arbustos para conferir uma aparência

natural.

53

5. Avaliação de soluções “naturais” para o tratamento de

excedentes poluídos através de uma instalação piloto

5.1 Considerações introdutórias

Tal como referido no capítulo 4, começam a surgir em diversos países aplicações de soluções

“naturais” para o tratamento de descargas de excedentes poluídos em tempo de chuva. Os

exemplos apresentados também revelaram que os sistemas vão ser sujeitos a programas de

monitorização e investigação intensivos, no sentido de analisar o desempenho das soluções

preconizadas e assim avaliar o potencial de construção de novos sistemas, para além de

fornecer recomendações valiosas para o futuro.

Em Portugal, um pais com clima mediterrânico com longos períodos secos e eventos de

precipitação intensos, que se saiba, ainda não há registo de aplicações deste tipo. Este facto

motivou a realização do presente estudo, de modo a recolher dados e aumentar o

conhecimento relativo a infra-estruturas deste tipo, que possa contribuir para a sua concepção

e pré-dimensionamento.

A ETAR de Frielas é, actualmente, uma das maiores estações de tratamento terciário em

Portugal, servindo cerca de 700 000 e.p. (equivalente de população). Contudo, durante eventos

de precipitação significativos, a capacidade do sistema é excedida e os efluentes diluídos são

directamente descarregados no rio Trancão, que por sua vez desagua no estuário do Tejo, em

Sacavém.

Na Figura 5.1 mostram-se dois exemplos de descarregadores de tempestade do Subsistema

de Frielas. É visível o potencial de reabilitação destas estruturas através da aplicação de

soluções “naturais”, com benefícios em termos ambientais e estéticos.

Figura 5.1 - Vista dos descarregadores da Rua Horta Ribeiras (à esquerda) e da Calçada de Carriche (à direita) (adaptado de Silva e Matos, 2007).

54

Crê-se que o uso de sistemas de tratamento baseados em processos naturais, como as zonas

húmidas construídas, possa constituir uma opção sustentável para lidar com os excedentes,

tendo sido implementada uma instalação experimental piloto na ETAR de Frielas, para avaliar

as condições de remoção de poluentes em termos de matéria orgânica, sólidos suspensos

totais e microrganismos.

Nos subcapítulos seguintes procede-se à descrição da instalação, em termos de montagem,

operação e monitorização, e apresentam-se os resultados e respectiva discussão.

5.2 Descrição da instalação piloto

5.2.1 Considerações gerais

A instalação piloto em que se baseia o presente estudo foi instalada na ETAR de Frielas, da

responsabilidade da entidade gestora SIMTEJO, S.A. A montagem “in situ”, em detrimento de

ensaios em laboratório, destinou-se a aproximar as condições experimentais o mais possível

da realidade, nomeadamente através da utilização de efluente gradado da ETAR, em tempo de

chuva, e expondo os leitos às condições ambientais locais.

O sistema de drenagem unitário de Odivelas é muito antigo e com o crescimento populacional

periférico a Lisboa, a partir da década de cinquenta, a área envolvente desenvolveu-se com

dificuldades de planeamento, resultando uma deficiente ocupação do solo, elevadas

densidades de ocupação e falta de infra-estruturas adequadas (Baptista et al., 1993; citado por

David et al., 1998). A antiga ETAR de Frielas, que servia as áreas urbanas do concelho de

Loures, construída em 1966 e dimensionada para 50 000 e.p., ficou rapidamente

subdimensionada.

Ao longo dos anos o sistema foi sujeito a diversas modificações pontuais, pelo que, em

algumas zonas, se apresenta como um sistema complicado com comportamento entre o

unitário, misto e separativo devido às transferências introduzidas através de “by-pass(s)” e

descarregadores. Estima-se que em 1995, entre Odivelas e a ETAR de Frielas, houvesse mais

de cinquenta descarregadores de tempestade, para além de diversas ligações indevidas da

rede separativa doméstica à rede pluvial (David et al., 1998). Como consequência, a área

urbana tem inundações frequentes e as ribeiras transportam concentrações muito elevadas de

cargas poluentes.

Em 1999, a nova ETAR de Frielas iniciou o seu funcionamento. Actualmente, serve parte dos

concelhos de Lisboa, Loures, Odivelas, Amadora, Mafra, Sintra e Vila Franca de Xira (tal como

se observa na Figura 5.2) e está dimensionada para um caudal de ponta igual a 2,3 m3/s, tendo

capacidade para tratar cerca de 70 000 m3/dia.

55

Figura 5.2 – Subsistema de Frielas (adaptado de Silva e Matos, 2007).

A linha de tratamento é constituída pelas seguintes etapas principais:

Fase líquida – Elevação com parafusos Arquimedes em dois estágios, gradagem

(média e fina), desarenamento/desengorduramento (com injecção de ar), decantação

primária lamelar com tratamento físico-químico, elevação intermédia com parafusos de

Arquimedes, homogeneização/equalização, tratamento biológico por lamas activadas

em média carga (com difusão de ar em bolha fina), decantação secundária, biofiltração

e desinfecção por radiação ultra-violeta.

Fase sólida – Espessamento gravítico de lamas primárias, flotação das lamas

biológicas em excesso, mistura de lamas espessadas e flotadas, digestão primária com

cogeração de energia e desidratação de lamas por centrifugação.

Desodorização – Por lavagem química, ácida e alcalina/oxidante, em duas instalações:

uma para a elevação inicial e gradagem, e outra para o espessamento, flotação e

desidratação das lamas.

Na Figura 5.3 apresenta-se uma fotografia aérea da ETAR de Frielas, indicando-se a

localização da área destinada à instalação piloto (na proximidade da câmara de gradagem, no

recinto da própria ETAR).

56

Figura 5.3 - Fotografia aérea da ETAR de Frielas (adaptada de www.simtejo.pt).

5.2.2 Esquema geral e componentes dos leitos

A instalação é constituída por quatro leitos em Policloreto de Vinilo (PVC), com dimensões

interiores 555x361x400 mm, alimentados por quatro recipientes de volume conhecido que são

abastecidos a partir de um reservatório de 75 litros de capacidade colocado a uma cota

superior, conforme se pode observar na Figura 5.4. Cada recipiente está munido de uma saída

com válvula, para alimentação individual de cada leito. Foi ainda colocada uma caleira para

recolha do efluente descarregado e transporte para o sumidouro mais próximo.

Figura 5.4 - Vista geral da instalação experimental e identificação dos leitos (fotografia tirada a 04.07.2011).

Os leitos estão divididos em dois grupos (grupo 1 - LM1 e LM2 e grupo 2 - LM3 e LM4), sendo

cada grupo composto por um leito plantado com Phragmites australis (numa densidade de 35 a

40 plantas/m2) e outro sem plantas, de forma a permitir avaliar a influência da vegetação no

processo de tratamento. A constituição de dois grupos idênticos destina-se a analisar o efeito

da aplicação de volumes afluentes diferentes (no grupo 1 aplica-se metade do volume aplicado

no grupo 2).

LM1 LM2LM3

LM4

57

Os leitos de macrófitas construídos apresentam as características gerais típicas de sistemas de

escoamento subsuperficial com fluxo horizontal, designadamente a tubagem de alimentação, a

vegetação, o meio de enchimento e a estrutura de descarga.

Os leitos encontram-se preenchidos com um meio de enchimento composto por gravilha de

granulometria 4 a 8 mm, com profundidade de 40 cm e porosidade de cerca de 30%.

A alimentação de cada leito é efectuada através de uma tubagem perfurada colocada numa

das extremidades, aproximadamente a meia altura do meio de enchimento (Figura 5.5, à

esquerda). A descarga do efluente efectua-se através de uma tubagem invertida (tipo sifão)

instalada no fundo da extremidade oposta (Figura 5.5, à direita), permitindo esvaziar

completamente os leitos. Como estão sujeitos às condições atmosféricas do local, recebendo

precipitação através da superfície, esta tubagem de descarga permitiu ainda fixar o nível

máximo admitido nos mesmos (cerca de 5 cm abaixo da superfície), sendo que, se

ultrapassado, o excedente foi descarregado.

Figura 5.5 - Tubagem de alimentação e descarga do efluente.

Para o enchimento do reservatório recorre-se a um grupo electrobomba submersível,

localizado a jusante da gradagem inicial (Figura 5.6). Assim, os leitos são alimentados de forma

descontínua (“batch feeding”, em terminologia anglo-saxónica), em tempo de chuva, com o

efluente primário da ETAR. Este caudal apresenta características idênticas às dos excedentes

que eventualmente seriam descarregados para o meio receptor, em cada evento pluviométrico,

pelo descarregador de tempestade da ETAR de Frielas. Numa instalação em protótipo, uma

etapa de pré-tratamento para remoção dos sólidos grosseiros, como por exemplo a gradagem,

também seria recomendada para evitar a rápida colmatação dos leitos.

Tubagem

perfurada

Tubagem de

descarga

58

Figura 5.6 - Instalação do grupo electrobomba submersível.

A instalação piloto foi montada em Março de 2011, pelo facto de ser a altura propícia para a

fixação e crescimento das macrófitas. Seguiu-se um período de duas semanas de inoculação

dos leitos, envolvendo a rega, com efluente primário da ETAR, duas vezes por semana.

A adaptação e crescimento da vegetação foi rápida e constante. As macrófitas, previamente

cultivadas em cativeiro, foram plantadas com cerca de 20 cm e dois meses depois atingiram

um comprimento médio de cerca de 60 cm.

Na Figura 5.7 pode-se observar a evolução do crescimento das macrófitas entre os meses de

Abril e Junho. Note-se que se observou um crescimento mais rápido e com maior densidade

superficial no leito que recebeu maior volume afluente.

Figura 5.7 – Evolução do crescimento da vegetação.

LM2 - 01.04.11 LM2 - 02.06.11LM2 - 02.05.11

LM4 - 01.04.11 LM4 - 02.05.11 LM4 - 02.06.11

59

5.3 Operação da instalação piloto

O estudo da capacidade depurativa dos leitos de macrófitas no tratamento de descargas de

excedentes foi realizado durante um período de oito semanas, designadamente entre 19 de

Abril e 14 de Junho de 2011.

Sempre que possível, o ensaio correspondeu a evento de precipitação, contemplando a

recolha de afluente durante ou logo após a ocorrência da precipitação, preferencialmente

quando o caudal afluente apresentava elevada contribuição pluvial. Contudo, como as

campanhas foram realizadas em tempo de Primavera, a ocorrência de eventos de precipitação

foi cada vez menos frequente. Assim, e para obter uma amostra significativa de valores

referentes ao período de “start up” da instalação, optou-se por realizar ensaios semanais,

mesmo na ausência de eventos de precipitação significativos. Numa situação de tempo seco, o

evento de precipitação foi simulado por meio de uma diluição, com água potável, do efluente

primário da ETAR (em regra numa relação de cerca de 2/3 de água para 1/3 de efluente, ou

seja, diluição a 1/3, aceitável no caso de precipitações pouco intensas). A água utilizada

permaneceu armazenada no reservatório alguns dias antes da sua aplicação, de modo a

assegurar a ausência de cloro livre que pudesse perturbar o desempenho normal da

instalação.

Em cada evento, o afluente foi bombeado para o reservatório de 75 L, procedendo-se à

agitação contínua do seu conteúdo de forma a garantir a homogeneidade no caudal distribuído

a cada recipiente de volume conhecido, que por sua vez alimentava cada um dos leitos.

Em cada campanha foram também aferidos localmente os parâmetros pH, temperatura,

oxigénio dissolvido (OD), potencial redox e condutividade, e foram recolhidas amostras

destinadas à determinação laboratorial da CQO, SST, coliformes totais e enterococos. De

forma a avaliar o efeito do tempo de retenção na depuração proporcionada por cada leito,

foram recolhidas amostras após 24 horas, 3 dias e 7 dias da respectiva alimentação.

Sumariamente, a metodologia de operação da instalação piloto foi a seguinte:

a) No início de cada evento, recolha, à saída dos leitos LM1 a LM4, de amostras para

análises.

b) Esvaziamento completo dos leitos, com medição do volume descarregado em cada.

c) Enchimento do reservatório (por bombagem), com agitação contínua do seu conteúdo

e recolha de amostras para análises.

d) Alimentação de cada leito com 10 ou 20 L, consoante o grupo a que pertencem.

e) Após 24 horas: recolha de amostras para análises à saída dos leitos LM1 a LM4.

f) Idem após 3 dias.

g) Idem após 7 dias. No caso de coincidir com o dia de início de um novo evento, o

processo foi repetido a partir da alínea b).

60

Importa ainda salientar que, nos casos em que o afluente, com contribuição pluvial, foi

recolhido em período em que o laboratório de análises do IST se encontrava fechado, ficou

armazenado no reservatório, sendo as restantes etapas do procedimento retomadas o mais

cedo possível, de modo a que as características de qualidade não fossem alteradas

significativamente. Admite-se que este procedimento não tem repercussões relevantes nos

resultados, já que a caracterização dos caudais afluentes a cada leito é efectuada no dia da

sua alimentação.

5.4 Apresentação e análise de resultados

5.4.1 Notas introdutórias

Nos subcapítulos seguintes apresentam-se e discutem-se os principais resultados obtidos. Os

resultados são analisados sob dois pontos de vista: ao longo do tempo de retenção hidráulica

num mesmo evento, e a sua evolução de evento para evento.

Importa ainda destacar que, se por um lado a montagem da instalação “in situ”, em detrimento

de ensaios em laboratório, permite obter condições experimentais semelhantes à realidade (e,

consequentemente, resultados mais fiáveis), por outro existem diversos factores que

influenciam simultaneamente os resultados obtidos, o que dificulta significativamente a sua

análise. Entre eles refere-se a influência da precipitação, da temperatura, da evaporação e

evapotranspiração, a variabilidade dos caudais afluentes, o crescimento da vegetação e a

formação do biofilme. De entre estes factores, é de salientar o efeito da evapotranspiração que

contribuiu significativamente para a redução do volume da massa líquida nos leitos com

vegetação. Nos últimos dois eventos monitorizados, não foi inclusivamente possível recolher

amostras ao fim de 7 dias de retenção no LM2.

5.4.2 Parâmetros físico-químicos

As diferenças entre o afluente e o efluente dos leitos, ao nível de parâmetros como a cor e

turvação, são bastante significativas, tal como se pode comprovar através da Figura 5.8.

Verifica-se um contraste acentuado entre o afluente de cor acastanhada, bastante turvo e com

alguma viscosidade, e o efluente, neste caso após sete dias de retenção hidráulica no sistema,

com um aspecto mais límpido, sem cor e mais fluído.

Figura 5.8 – Diferença em termos visuais entre o afluente do sistema e o efluente ao fim de sete dias de retenção.

Efluente após 7 dias Afluente

61

Parâmetros físico-químicos como a temperatura, pH, concentração de oxigénio dissolvido (OD),

potencial redox e condutividade foram medidos “in situ”, com recurso a equipamento portátil, e

ajudam a perceber as condições existentes no interior dos leitos. Os parâmetros foram

medidos à entrada (no momento da recarga a partir do reservatório) e à saída dos leitos.

Na Figura 5.9 apresenta-se a evolução da temperatura do líquido nos diferentes leitos.

Mostram-se igualmente os dados de temperatura ambiente e de precipitação diária registados

no recinto da ETAR. Note-se que apenas se teve acesso aos dados de temperatura ambiente

até dia 25 de Maio, conforme indicado. As setas legendadas de “alimentação” assinalam o

início de cada evento (recarga dos leitos), alterando as condições do líquido no interior do leito.

Figura 5.9 – Evolução da temperatura do líquido.

Na Figura 5.9 observa-se que a evolução da temperatura nos leitos acompanha, em regra, a

variação geral da temperatura ambiente, sendo esta última inferior. As temperaturas do líquido

variam entre 17,6 e 36,3⁰C, enquanto que a temperatura ambiente, no período disponível,

oscila entre 14,0 e 24,4⁰C.

Relativamente à variação entre leitos, verifica-se que o líquido no interior do grupo que recebe

um menor volume afluente apresenta uma temperatura geralmente superior (LM1 e LM2),

devido ao efeito de aquecimento por radiação solar. No entanto, a partir de meados do mês de

Maio as diferenças vão sendo atenuadas, em resultado, provavelmente, do desenvolvimento

da vegetação. Em leitos do mesmo grupo, as temperaturas são muito semelhantes.

Na Figura 5.10 apresenta-se a evolução do pH nos diferentes leitos. A gama de valores de pH

varia entre cerca de 6,40 e 7,80 e as diferenças nos diversos leitos são visíveis. Verifica-se que

a presença da vegetação confere acidez ao líquido. Já no que diz respeito à diferença entre

grupos, observam-se pH mais elevados no grupo com volume afluente inferior.

0

20

40

60

80

100

120

140

16010,0

15,0

20,0

25,0

30,0

35,0

40,0

45,0

19-Abr 26-Abr 3-Mai 10-Mai 17-Mai 24-Mai 31-Mai 7-Jun 14-Jun

P (mm)Temp. (⁰C)

Precipitação

LM1

LM2

LM3

LM4

Temp. amb.

Alimentação

62

A análise da Figura 5.10 denota ainda, de um modo geral, um aumento do pH ao longo do

tempo de retenção hidráulica no sistema.

Figura 5.10 - Evolução do pH.

A Figura 5.11 mostra a evolução temporal da concentração de oxigénio dissolvido nos diversos

leitos.

Figura 5.11 - Evolução do oxigénio dissolvido.

Através da Figura 5.11 pode constatar-se que o caudal afluente apresenta, normalmente,

concentrações elevadas de oxigénio dissolvido, quer pela contribuição das águas pluviais em

tempo de chuva, quer pela contribuição da água potável nos eventos simulados. Apenas nos

eventos iniciados a 2 e 30 de Maio se verificaram baixas concentrações de oxigénio. Isto

deve-se ao facto de, em ambos os casos, o afluente, proveniente das chuvadas ocorridas nos

0

20

40

60

80

100

120

140

1606,20

6,40

6,60

6,80

7,00

7,20

7,40

7,60

7,80

8,00

8,20

8,40

19-Abr 26-Abr 3-Mai 10-Mai 17-Mai 24-Mai 31-Mai 7-Jun 14-Jun

P (mm)pH (-)

Precipitação

LM1

LM2

LM3

LM4

Alimentação

0

20

40

60

80

100

120

140

1600,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

7,00

8,00

19-Abr 26-Abr 3-Mai 10-Mai 17-Mai 24-Mai 31-Mai 7-Jun 14-Jun

P (mm)OD (mg/L)

Precipitação

LM1

LM2

LM3

LM4

Alimentação

63

dias 29 de Abril e 28 de Maio, respectivamente, ter ficado armazenado no reservatório durante

o fim de semana, período em que o laboratório de análises do IST se encontrava fechado.

Ao longo de um mesmo evento a concentração de oxigénio dissolvido naturalmente diminui,

nomeadamente devido ao consumo de oxigénio associado à degradação da matéria orgânica,

sendo que ao fim de um dia de retenção hidráulica as concentrações já são bastante mais

reduzidas. Alguns pequenos aumentos da concentração de oxigénio da massa líquida poderão

ser explicados pela ocorrência de precipitação.

Note-se ainda que os valores no último evento são elevados e que se verifica um aumento

acentuado do teor em oxigénio durante o mesmo. A disparidade destes resultados deve-se ao

facto de, nestes dias, se ter utilizado um equipamento de medição diferente, estando

possivelmente mal calibrado. Devem, portanto, ignorar-se estes resultados.

Na Figura 5.12 apresenta-se a evolução do potencial redox nos diversos leitos.

Figura 5.12 - Evolução do potencial redox.

A Figura 5.12 mostra a elevada variabilidade associada aos valores de potencial redox no

interior dos leitos. O caudal afluente apresenta os valores mais elevados, sendo na maioria

positivos. O efluente, indicador das características no interior dos leitos, apresenta potencial

redox negativo. Observa-se que o LM1 é o que apresenta, em regra, valores superiores e o

LM3 os valores inferiores.

Os valores de potencial redox oscilam entre 68 e -128 mV, traduzindo condições anóxicas e

anaeróbias no interior do leito, de acordo com os intervalos referidos no subcapítulo 4.3.2.

Na Figura 5.13 consta a variação do parâmetro condutividade ao longo do tempo.

0

20

40

60

80

100

120

140

160-150

-100

-50

0

50

100

150

19-Abr 26-Abr 3-Mai 10-Mai 17-Mai 24-Mai 31-Mai 7-Jun 14-Jun

P (mm)Potencial redox (mV)

Precipitação

LM1

LM2

LM3

LM4

Alimentação

64

Figura 5.13 - Evolução da condutividade.

Através da Figura 5.13, verificam-se valores superiores a 1000 µS/cm no primeiro evento. Nos

eventos seguintes a amplitude já é mais pequena, situando-se, em regra, entre 400 e

800 µS/cm. O caudal efluente apresenta, geralmente, condutividade inferior ao afluente.

5.4.3 Parâmetros de qualidade

Análise à variação das concentrações ao longo do período monitorizado

Nas Figuras 5.14 a 5.17 apresentam-se as variações das concentrações de poluentes em

termos da CQO, SST, coliformes totais e enterococos intestinais nos diferentes leitos ao longo

do período em análise. Mostram-se igualmente os dados de precipitação diária registados no

udómetro localizado no recinto da ETAR, permitindo identificarem-se os eventos em que o

afluente foi diluído com água potável (na ausência de precipitação). As setas referenciadas

como “alimentação”, tal como referido no caso dos parâmetros físico-químicos, correspondem

ao início de cada evento (recarga dos leitos), referindo-se, portanto, à concentração afluente

aos leitos (igual em todos uma vez que provém do mesmo reservatório).

Note-se que a campanha iniciada no dia 29 de Abril foi interrompida, uma vez que, algumas

horas após o seu começo, se verificou a ocorrência de um evento pluviométrico de elevada

intensidade (como se pode observar pelo valor da precipitação diária), tendo o reservatório sido

enchido já ao final do dia (sexta-feira). Assim, o afluente recolhido permaneceu armazenado

até à reabertura do laboratório de análises (dia 2 de Maio), data em que o procedimento foi

retomado.

0

20

40

60

80

100

120

140

1600

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

2000

19-Abr 26-Abr 3-Mai 10-Mai 17-Mai 24-Mai 31-Mai 7-Jun 14-Jun

P (mm)Cond. (µS/cm)

Precipitação

LM1

LM2

LM3

LM4

Alimentação

65

Figura 5.14 - Variação das concentrações da CQO.

Figura 5.15 - Variação das concentrações de SST.

Figura 5.16 - Variação das concentrações de coliformes totais.

0

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60

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100

120

140

1600

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

1100

19-Abr 26-Abr 3-Mai 10-Mai 17-Mai 24-Mai 31-Mai 7-Jun 14-Jun

P (mm)CQO (mg/L)

PrecipitaçãoLM1LM2LM3LM4

Alimentação

0

20

40

60

80

100

120

140

1600

100

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300

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500

600

700

800

900

1000

1100

19-Abr 26-Abr 3-Mai 10-Mai 17-Mai 24-Mai 31-Mai 7-Jun 14-Jun

P (mm)SST (mg/L)

Precipitação

LM1

LM2

LM3

LM4

Alimentação

0

20

40

60

80

100

120

140

1601,00E+00

1,00E+01

1,00E+02

1,00E+03

1,00E+04

1,00E+05

1,00E+06

1,00E+07

1,00E+08

1,00E+09

1,00E+10

1,00E+11

1,00E+12

1,00E+13

1,00E+14

19-Abr 26-Abr 3-Mai 10-Mai 17-Mai 24-Mai 31-Mai 7-Jun 14-Jun

P (mm)CT (NMP/ 100 mL)

Precipitação

LM1

LM2

LM3

LM4

Alimentação

66

Figura 5.17 - Variação das concentrações de enterococos.

Numa apreciação global dos resultados apresentados, verifica-se que as concentrações de

qualquer indicador diminuem, em regra, ao longo do tempo de retenção hidráulica no leito.

Nas Figuras 5.14 e 5.15 nota-se que a redução significativa da concentração do efluente em

termos da CQO e SST, respectivamente, ocorre sobretudo durante o primeiro dia de retenção

hidráulica no leito. Isto deve-se, provavelmente, ao efeito da remoção dos poluentes sob a

forma particulada através do processo físico de filtração no meio de enchimento, favorecendo a

sua posterior degradação pela acção dos microrganismos e pela assimilação por parte da

vegetação nos leitos plantados. Durante o restante tempo de retenção hidráulico observa-se

que a variação da concentração vai sendo progressivamente atenuada. Resultados

semelhantes em termos de remoção da CQO foram registados no estudo realizado por Van de

Moortel et al. (2009), tal como referido no subcapítulo 4.3.2.

Na Figura 5.14 verifica-se um aumento nas concentrações da CQO no evento iniciado a 16 de

Maio, ao contrário do comportamento evidenciado nos restantes eventos. No sentido de

procurar uma explicação para este fenómeno, observou-se que o nível medido no interior do

leito durante este evento aumentou sem, no entanto, ocorrer precipitação que o pudesse

explicar. Depreende-se, portanto que, possivelmente, alguém exterior à equipa de investigação

terá adicionado algum volume adicional, desconhecendo-se o seu conteúdo. A verdade é que,

aparentemente, não interferiu nas concentrações de SST, CT e enterococos.

No caso dos indicadores microbiológicos o decaimento das concentrações em termos

logarítmicos é mais linear durante os sete dias de retenção hidráulica de cada evento.

Seguidamente, apresenta-se uma análise mais detalhada da evolução do processo de

remoção da CQO em função do tempo de retenção hidráulico.

0

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80

100

120

140

1601,00E+00

1,00E+01

1,00E+02

1,00E+03

1,00E+04

1,00E+05

1,00E+06

1,00E+07

1,00E+08

1,00E+09

1,00E+10

1,00E+11

1,00E+12

19-Abr 26-Abr 3-Mai 10-Mai 17-Mai 24-Mai 31-Mai 7-Jun 14-Jun

P (mm)Ent. (NMP/ 100mL)

Precipitação

LM1

LM2

LM3

LM4

Alimentação

67

Análise às leis de remoção da CQO

Na Figura 5.18 apresentam-se gráficos, para cada um dos leitos, representando a respectiva

evolução das concentrações da CQO em função do tempo de retenção.

Figura 5.18 – Evolução das concentrações em termos da CQO em função do tempo de retenção.

Nos gráficos da Figura 5.18 não são considerados os eventos iniciados em 29 de Abril e 16 de

Maio, respectivamente o evento interrompido e o evento em que se desconfia ter sido

introduzido um volume adicional da massa líquida de origem desconhecida.

Em cada gráfico da Figura 5.18, está igualmente representada uma linha de tendência do tipo

exponencial, identificando-se as respectivas equações e coeficiente de correlação (R2).

Para a sua determinação não foram tidas em consideração as concentrações afluentes. De

facto, verifica-se uma grande variabilidade nos caudais afluentes, tal como é característico no

caso de caudais excedentes de sistemas com afluências pluviais. Estas concentrações são, no

entanto, rapidamente reduzidas ao fim do primeiro dia de retenção nos leitos devido ao efeito

de retenção no meio de enchimento, assim como referido anteriormente. A dispersão dos

valores nos diferentes eventos para os tempos de retenção superiores a um dia é muito mais

reduzida. A degradação da matéria orgânica é pois descrita por este comportamento de

redução gradual, sendo o primeiro decaimento rápido devido à filtração e não explicado

matematicamente pela equação encontrada.

y = 59,72e-0,178x

R² = 0,5415

0100200300400500600700800900

1000

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

CQO (mg/L)

tempo retenção (dias)

LM1

y = 65,656e-0,172x

R² = 0,6027

0100200300400500600700800900

1000

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

CQO (mg/L)

tempo retenção (dias)

LM2

y = 74,445e-0,131x

R² = 0,5365

0100200300400500600700800900

1000

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

CQO (mg/L)

tempo retenção (dias)

LM3

y = 70,521e-0,114x

R² = 0,4405

0100200300400500600700800900

1000

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

CQO (mg/L)

tempo retenção (dias)

LM4

68

As equações exponenciais traduzem o modelo de cinética de 1ª ordem sem entrar em linha de

conta com a concentração residual (C*). Neste caso, e lembrando que os resultados obtidos se

referem ao período de arranque, esta concentração residual pode ser considerada, na prática,

nula. Na verdade, num período posterior a 14 de Junho os leitos foram alimentados com água

e verificou-se que as concentrações da CQO se anulavam em poucos dias praticamente.

A partir das equações representadas obtêm-se valores de constantes de remoção volumétrica

kv (dias-1

) de 0,178; 0,172; 0,131 e 0,114, respectivamente para os leitos LM1 a LM4. Note-se

que os valores obtidos são superiores no caso do grupo com menor caudal de alimentação

(grupo 1) e a diferença, dentro do mesmo grupo, é mais pequena. Importa ainda salientar que

se verificou que as constantes obtidas são superiores nos leitos sem vegetação.

Os resultados das constantes de remoção são bastante inferiores aos obtidos em Stein et al.

(2006), que variam entre 0,612 e 0,925, pese embora neste caso se tenha aplicado o modelo

de cinética de 1ª ordem modificado k-C*.

Destaque-se ainda que foi desprezado o efeito da temperatura. Isto equivale a considerar um

factor de correcção θ unitário, dada a relativa escassez de informação disponível sobre este

factor.

Procedeu-se ainda ao estudo da evolução das constantes de remoção ao longo do período de

tempo monitorizado, apresentando-se, na Figura 5.19, os resultados para os diferentes leitos.

Cada valor representado foi obtido seguindo o processo descrito a propósito das linhas de

tendência da Figura 5.18.

Figura 5.19 – Evolução das constantes de remoção do modelo de cinética de 1ª ordem.

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

19-Abr 26-Abr 3-Mai 10-Mai 17-Mai 24-Mai 31-Mai 7-Jun

k (d-1) LM1

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

19-Abr 26-Abr 3-Mai 10-Mai 17-Mai 24-Mai 31-Mai 7-Jun

k (d-1) LM2

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

19-Abr 26-Abr 3-Mai 10-Mai 17-Mai 24-Mai 31-Mai 7-Jun

k (d-1) LM3

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

19-Abr 26-Abr 3-Mai 10-Mai 17-Mai 24-Mai 31-Mai 7-Jun

k (d-1) LM4

69

Observando a Figura 5.19, verifica-se que o LM1 é o que apresenta um comportamento mais

regular. A variação mostra uma tendência inicial de crescimento e parece começar a estabilizar

nos últimos três eventos. Os restantes gráficos não mostram esta evolução, apresentando

maior variabilidade, sobretudo no caso do LM4. A quantidade significativa de factores que

intervêm simultaneamente no desempenho do sistema, tal como referido inicialmente

(subcapítulo 5.4.1), dificulta a interpretação dos resultados obtidos.

De seguida, procede-se a uma análise em termos de eficiências de remoção dos quatro

parâmetros de qualidade monitorizados.

Análise em termos de eficiências de remoção

Nas Figura 5.20 a 5.23 apresenta-se a evolução das eficiências de remoção, ao fim de 7 dias

de remoção, ao longo do tempo, em termos da CQO, SST, coliformes totais e enterococos,

para os diferentes leitos.

Relativamente à evolução em termos de remoção da CQO (Figura 5.20), identifica-se um

comportamento semelhante ao obtido na Figura 5.19 para o caso do LM1. A tendência geral

parece mostrar um aumento inicial das eficiências de 10 a 20%, que pode ser associado ao

desenvolvimento da comunidade microbiológica, e uma certa estabilização a partir da semana

seis (que termina a 30 de Maio). Os leitos com vegetação são os que originam valores mais

instáveis, o que é natural dado o facto de as macrófitas estarem em desenvolvimento.

No que diz respeito à remoção de SST, Figura 5.21, este efeito é mais atenuado. Nota-se um

ligeiro crescimento inicial, atingindo, nos últimos eventos, eficiências de remoção muito

próximas de 100%. Os dois valores mais baixos do gráfico dizem respeito aos leitos com

vegetação.

No que se refere às eficiências de remoção em termos de parâmetros microbiológicos, tal como

apresentado nas Figura 5.22 e 5.23, verifica-se uma tendência de crescimento gradual ao

longo do tempo, com redução de cerca de 3 log no caso dos coliformes totais, e de 4 log nas

eficiências em termos de enterococos.

Figura 5.20 - Evolução das eficiências de remoção da CQO ao fim de sete dias de retenção.

75

80

85

90

95

100

19-Abr 26-Abr 3-Mai 10-Mai 17-Mai 24-Mai 31-Mai 7-Jun 14-Jun

LM1

LM2

LM3

LM4

Eficiência de remoção CQO (%)

70

Figura 5.21 - Evolução das eficiências de remoção de SST ao fim de sete dias de retenção.

Figura 5.22 - Evolução das eficiências de remoção de CT ao fim de sete dias de retenção.

Figura 5.23 - Evolução das eficiências de remoção de enterococos ao fim de sete dias de retenção.

Finalmente, o Quadro 5.1 sintetiza as eficiências médias obtidas nos últimos 3 eventos

monitorizados para os diferentes leitos e tempos de retenção hidráulica distintos.

Nesta fase de arranque do sistema, ao fim de 1 dia de retenção nos leitos, atingem-se

eficiências médias, em termos da CQO e SST, de 82-88% e 86-95%, respectivamente. Estes

valores médios aumentam com o tempo de retenção hidráulico, sendo que, após 7 dias, as

eficiências de remoção atingem 93-97%, no caso da CQO, e 94-99%, em termos de SST.

No caso dos indicadores microbiológicos a variação das concentrações, conforme referido, é

mais linear, obtendo-se, em média, ao fim de um dia, reduções de 1,5-2,9 log e 2,1-2,7 log,

75

80

85

90

95

100

19-Abr 26-Abr 3-Mai 10-Mai 17-Mai 24-Mai 31-Mai 7-Jun 14-Jun

LM1

LM2

LM3

LM4

Eficiência de remoção SST (%)

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

8,0

19-Abr 26-Abr 3-Mai 10-Mai 17-Mai 24-Mai 31-Mai 7-Jun 14-Jun

LM1

LM2

LM3

LM4

Eficiência de remoção CT (log)

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

8,0

19-Abr 26-Abr 3-Mai 10-Mai 17-Mai 24-Mai 31-Mai 7-Jun 14-Jun

LM1

LM2

LM3

LM4

Eficiência de remoção Ent. (log)

71

respectivamente para coliformes totais e enterococos. Para um tempo de retenção de 7 dias,

estas reduções atingem 4,6-5,2 log e 4,8-5,7 log.

É também possível observar que a presença das macrófitas tem tido, até ao momento, mais

influência nas eficiências de remoção de coliformes totais e enterococos. No caso da remoção

da CQO e SST esta diferença já não é clara. Importa, no entanto, recordar que os dados

apresentados correspondem à fase de arranque do estudo, altura em que a vegetação se

encontra em franco desenvolvimento. O efeito da diferença de volumes afluentes aplicados

também parece não ser significativo.

Comparando os resultados obtidos com outros estudos referenciados no subcapítulo 4.3.2,

nota-se que as eficiências obtidas em termos da CQO e SST são semelhantes. Já no que diz

respeito aos parâmetros microbiológicos, atingiram-se eficiências acima do esperado quando

comparado com os desempenhos no tratamento de águas residuais.

Quadro 5.1 - Eficiências médias de remoção dos últimos 3 eventos monitorizados para os diferentes leitos e tempos de retenção hidráulica distintos.

Tempo de retenção Parâmetro LM1 LM2 LM3 LM4

CQO (%) 88 88 83 82

SST (%) 95 94 94 86

CT (log) 1,8 2,9 1,5 1,7

Ent. (log) 2,3 2,7 2,1 2,1

CQO (%) 93 91 89 89

SST (%) 99 96 99 93

CT (log) 3,4 3,8 3,8 4,2

Ent. (log) 4,0 4,1 3,8 4,2

CQO (%) 97 96 93 93

SST (%) 99 96 99 94

CT (log) 4,8 5,1 4,6 5,2

Ent. (log) 5,0 5,0 4,8 5,7

1 dia

3 dias

7 dias

73

6. Síntese, conclusões e sugestões para o prosseguimento

da investigação

As descargas de excedentes, em tempo de chuva, de sistemas que transportam conjuntamente

águas residuais domésticas, industriais e pluviais constitui uma das principais fontes de

contaminação e degradação dos meios receptores.

A importância do controlo destas descargas é cada vez mais crucial e, face às condições

económicas actuais e os encargos crescentes com a gestão do recurso “água”, as medidas a

adoptar têm de apresentar, forçosamente, condições de sustentabilidade, tanto em termos

ambientais, como económicos e sociais.

Nesse domínio, a descarga de caudais excedentes em sistemas “naturais”, localizados junto ao

meio receptor, ao invés da sua descarga directa, poderá constituir uma solução relativamente

simples, mas com potencial muito relevante mesmo em contexto urbano, especialmente

quando se pretender valorizar a integração paisagística do sistema.

O tratamento de efluentes através de leitos de macrófitas tem vindo a ganhar relevância nas

últimas décadas, dada a simplicidade de operação e manutenção que apresenta e os baixos

consumos de recursos, nomeadamente de reagentes e energia. A aplicação no tratamento de

excedentes de sistemas unitários constitui uma abordagem sustentável e a eficiência de

remoção de poluentes tem sido comprovada em diversos estudos (Uhl e Dittmer, 2005;

Henrichs et al, 2007 e Van de Moortel et al, 2009).

No âmbito do presente estudo procedeu-se à implementação, na ETAR de Frielas, de uma

instalação experimental piloto, constituída por quatro leitos de escoamento subsuperficial do

tipo horizontal, para tratamento de caudais excedentes. Deste modo, é de salientar o facto de

se tratar de um estudo pioneiro em Portugal, na medida em que, embora tenham sido

desenvolvidos diversos programas de investigação sobre sistemas de zonas húmidas

construídas nos últimos anos em Portugal, nomeadamente para o tratamento de águas

residuais domésticas e industriais de pequenos aglomerados populacionais, se desconhecem

estudos na aplicação desta tecnologia para o tratamento de caudais excedentes. Para além

disso, importa realçar a importância da exploração de unidades piloto localizadas junto a uma

ETAR em operação, de modo a obter condições experimentais semelhantes à realidade e,

consequentemente, resultados mais fiáveis.

O trabalho desenvolvido incluiu, para além da construção da instalação piloto, a respectiva

alimentação e monitorização durante um período de arranque de oito semanas, de modo a

avaliar o desenvolvimento das plantas e aferir a eficiência dos leitos no tratamento de

descargas de excedentes, designadamente para avaliação de remoção da CQO, SST e de

parâmetros microbiológicos (coliformes totais e enterococos).

74

Numa apreciação global aos resultados apresentados, verifica-se que a eficiência de

tratamento em termos de remoção de poluentes aumenta, em regra, ao longo do tempo. No

entanto, a variação da concentração vai sendo atenuada, sobretudo na remoção da CQO e

SST, em que se atingem, em média, eficiências, ao fim do primeiro dia, de cerca

82-88% e 86-95%, respectivamente. Ao fim de 7 dias, as eficiências de remoção aumentam,

mas de forma menos acentuada, atingindo valores de cerca de 93-97%, em termos da CQO, e

de 94-99%, em termos de SST. No caso dos indicadores microbiológicos a variação das

concentrações é mais linear, obtendo-se, em média, ao fim de sete dias, reduções de cerca de

4,6-5,2 log e 4,8-5,7 log, respectivamente para coliformes totais e enterococos. De uma forma

geral, estes resultados podem ser considerados muito promissores.

No que se refere à evolução das eficiências de remoção da CQO ao fim de sete dias de

retenção hidráulica, verifica-se um crescimento nas primeiras cinco semanas e a partir da

semana seis parecem estabilizar. Algumas evidências deste tipo de comportamento foram

também observadas na análise efectuada à constante de remoção volumétrica do modelo de

cinética de 1ªordem.

É também possível observar que a presença das macrófitas teve mais influência no que

respeita às eficiências de remoção de coliformes totais e enterococos. No caso da remoção da

CQO e SST esta diferença já não é clara. Importa, no entanto, recordar que os dados

apresentados correspondem à fase de arranque do estudo em que a vegetação se encontrava

em franco desenvolvimento.

Face às considerações apresentadas, sugere-se como trabalho a desenvolver, a análise das

leis de remoção da CQO, SST e indicadores microbiológicos, no caso de tratamento de

excedentes, e a avaliação da poluição residual numa situação de alimentação com água sem

nutrientes, numa fase estacionária de desenvolvimento.

Em resultado da ocorrência, no presente estudo, de evapotranspiração relevante nos leitos

com vegetação, tendo inclusive havido eventos em que todo o volume no leito se esgotou,

sugere-se também a avaliação da evolução da disponibilidade hídrica e da influência de “stress

hídrico” no comportamento dos leitos.

A utilização das instalações para estudar a aplicação de leitos de macrófitas como tratamento

de afinação do efluente da ETAR de Frielas, designadamente em termos de sólidos suspensos,

CQO, azoto, fósforo e microrganismos patogénicos, constitui, também, um tema de

investigação futuro relevante.

75

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