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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE MEDICINA FILIPE NÉRI BARRETO MESQUITA Avaliação dos acidentes por escorpiões notificados no Estado de Sergipe, Brasil. Aracaju-SE 2013

Avaliação dos acidentes por escorpiões notificados …©ri...partir de 1939, quando o biólogo Wolfgang Bücherl foi contratado pelo Instituto Butantan. Bücherl buscou estudar

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE MEDICINA

FILIPE NÉRI BARRETO MESQUITA

Avaliação dos acidentes por escorpiões notificados

no Estado de Sergipe, Brasil.

Aracaju-SE

2013

FILIPE NÉRI BARRETO MESQUITA

Avaliação dos acidentes por escorpiões notificados

no Estado de Sergipe, Brasil.

Monografia apresentada ao Colegiado do Curso

de Medicina da Universidade Federal de

Sergipe como requisito parcial para obtenção

do grau de bacharel em Medicina.

Orientador:

Prof. Dr. Marco Antônio Prado Nunes

Co-orientadora:

Profa. Dr

a. Sônia Lima Oliveira

Aracaju-SE

2013

FILIPE NÉRI BARRETO MESQUITA

Avaliação dos acidentes por escorpiões notificados

no Estado de Sergipe, Brasil.

Monografia apresentada ao Colegiado do Curso

de Medicina da Universidade Federal de

Sergipe como requisito parcial para obtenção

do grau de bacharel em Medicina.

Aprovada em ____/____/____

_______________________________________________________

Autor: Filipe Néri Barreto Mesquita

________________________________________________________

Orientador: Prof. Dr. Marco Antônio Prado Nunes

___________________________________________________ Co-orientadora: Prof

a. Dr

a. Sônia Lima Oliveira

Aracaju-SE

2013

"Mais que de máquinas, precisamos de humanidade."

Charles Chaplin

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Morfologia externa do escorpião....................................................................................11

Figura 2 – Tytius serrulatus.............................................................................................................13

Figura 3 – Tytius bahiensis..............................................................................................................14

Figura 4 – Tytius stigmurus.............................................................................................................15

SUMÁRIO

REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................................................... 7

1. Introdução .................................................................................................................................... 7

2. Histórico ...................................................................................................................................... 9

3. Escorpiões Brasileiros de Interesse Médico .............................................................................. 11

3.1. Tityus serrulatus ..................................................................................................................... 12

3.2.Tityus bahiensis ....................................................................................................................... 13

3.3.Tityus stigmurus ....................................................................................................................... 14

4. Sistemas de Notificação ..............................................................................................................15

5. Aspectos Epidemiológicos dos Acidentes Escorpiônicos no Brasil ...........................................18

Referências Literárias .................................................................................................................... 21

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO............................................................................................. 24

ARTIGO ORIGINAL

Título ............................................................................................................................................. 29

Resumo .......................................................................................................................................... 30

Abstract .......................................................................................................................................... 31

Introdução ...................................................................................................................................... 32

Material e Métodos ........................................................................................................................ 33

Resultados ...................................................................................................................................... 34

Discussão ....................................................................................................................................... 34

Conclusão ...................................................................................................................................... 36

Referências bibliográficas ............................................................................................................. 37

Tabelas ........................................................................................................................................... 39

7

REVISÃO DE LITERATURA

1 INTRODUÇÃO

O escorpionismo e suas consequências possuem importância mundial por ser uma

relevante causa de emergência, principalmente pediátrica, em diversos países. Apesar de sua

limitação geográfica, a população de risco com relação a este agravo é estimada por alguns

autores em 2 bilhões e meio de pessoas. A epidemiologia mundial das picadas por escorpiões,

entretanto, ainda é pouco conhecida. O que se observa é que existem variações geográficas,

tanto no nível de incidência, como em relação à gravidade (CHIPPAUX; GOYFFON, 2008).

No mundo, mais de 1,2 milhões de picadas são notificadas anualmente. O número de

óbitos pode exceder 3.250 e a taxa média de letalidade é de 0,27%. No entanto, diversos

autores observam que esses dados são subestimados e que a proporção deste agravo

provavelmente é muito maior. Apesar das variações locais dos indicadores epidemiológicos,

os adultos, principalmente os homens, são as maiores vítimas deste tipo de acidente na maior

parte do mundo. Os acidentes envolvendo crianças, porém, são frequentemente mais graves e

a mortalidade é significativamente maior neste grupo (CHIPPAUX; GOYFFON, 2008).

No Brasil, o acidente escorpiônico representa um problema grave para alguns estados,

principalmente devido ao grande número de casos notificados por ano. Apesar da existência

do soro antiescorpiônico e do avanço na medicina intensiva, o escorpionismo ainda é causa de

óbito no país (GUERRA et al, 2008).

Brites-neto e Brasil (2012), ao observarem dados do Ministério da Saúde (MS),

relataram que 30% de mais de 100.000 notificações de acidentes por animais peçonhentos

devem-se ao escorpionismo. Situação semelhante acontece com os quase 200 óbitos

registrados no Brasil. A partir da implantação do sistema de notificação dos acidentes no país,

em 1988, verificou-se um aumento significativo no número de casos. Em 2009, ocorreram

cerca de 50.000 acidentes por ano e o coeficiente de incidência foi de aproximadamente 26

casos por 100.000 habitantes. No ano anterior, por sua vez, a incidência média de acidentes

registrados com estes aracnídeos, envolvendo principalmente menores de 14 anos de idade,

atingiu 22 casos por 100.000 habitantes e foi associada a uma letalidade de 0,23%.

8

Cerca de 1.500 espécies de escorpiões são descritas na literatura, distribuídos

atualmente em 18 famílias (PRENDINI E WHEELER, 2005). Aproximadamente trinta delas

são reconhecidas como potencialmente perigosas para os seres humanos. Com exceção da

Scorpionidae, todas pertencem à família Buthidae, que inclui cerca de 80 gêneros, distribuídos

em diversas partes do mundo. Menos de uma dúzia, porém, são responsáveis por

envenenamento grave ou morte (CHIPPAUX; GOYFFON, 2008).

Os escorpiões alimentam-se principalmente de insetos, possuem hábitos noturnos e

durante o dia escondem-se em locais escuros e úmidos. Na maioria das vezes são encontrados

dentro de casas, junto ao lixo doméstico, rodapés, porões e sótãos. Além disso, eles também

podem chegar às residências através das galerias de esgoto. Os Tityus serrulatus, principal

espécie de importância médica no Brasil, vivem cerca de 3 a 5 anos, reproduzem-se por

partenogênese e podem sobreviver vários meses sem alimento e água. Por este motivo, seu

combate é muito difícil e têm sido motivo de preocupação, pois este tipo de reprodução

facilita a dispersão da sua espécie (GUERRA et al, 2008).

O veneno dos escorpiões é responsável pela liberação de substâncias adrenérgicas

e/ou colinérgicas. Estudos mais recentes observaram altos níveis de citocinas circulantes, as

quais parecem participar da gênese das alterações encontradas no escorpionismo. Os pacientes

geralmente apresentam-se agitados, com dor local, sialorréia, sudorese e vômitos, podendo

evoluir para torpor e coma. Podem apresentar de taquipnéia leve a edema agudo de pulmão

(EAP). Em alguns casos, estão presentes arritmias, hipertensão arterial sistêmica transitória,

hipotensão arterial e até choque circulatório, geralmente cardiogênico (GUERRA et al, 2008).

O Ministério da Saúde classifica clinicamente os acidentes escorpiônicos em: leve,

quando há presença de dor e parestesia locais; moderado, quando há náuseas, vômitos,

sudorese e sialorréia discretos, agitação, taquipnéia e taquicardia; e grave, quando há, além

das alterações citadas, uma ou mais das seguintes: vômitos profusos e incoercíveis, sudorese

profusa, sialorréia intensa, prostração, convulsão, coma, bradicardia, insuficiência cardíaca,

edema pulmonar e/ou choque (BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001).

Apesar da baixa mortalidade, o escorpionismo está associado a uma alta morbidade, o

que impõe um ônus econômico significativo sobre os sistemas de saúde dos países afetados. O

tratamento do envenenamento grave por escorpião é principalmente sintomático e consiste de

suporte cardiovascular e respiratório, por exemplo, com a ajuda de medicações como a

dobutamina e assistência ventilatória invasiva ou não-invasiva (ABROUG et al, 2012).

9

2 HISTÓRICO

Apesar de existirem poucos exemplares, os fósseis mais antigos indicam que os

escorpiões existem há pelo menos 400 milhões de anos. Esses primeiros exemplares eram de

vida aquática e possuíam guelras e patas, se assemelhando muito com os escorpiões atuais.

Alguns dos primeiros escorpiões que viviam em terra firme eram muito pequenos, porém,

outros, como o Praearcturus Gigas, assumiam maiores proporções e chegavam a medir um

metro de comprimento, sendo um grande predador (KJELLESVIG-WAERING, 1986).

A capacidade de adaptação destes aracnídeos teve importância fundamental para que

esses animais resistissem a todos os grandes cataclismos do passado. Na atualidade, os

escorpiões estão adaptados aos mais variados tipos de habitat. Sua presença pode ser

observada em desertos, florestas tropicais, áreas ao nível do mar, mas também em grandes

altitudes. Uma espécie já foi encontrada vivendo a 4.200 metros de altitude nos Andes.

Apesar disto, a grande maioria das espécies tem preferência por climas tropicais e

subtropicais (BRAZIL; PORTO, 2010).

A espécie com descrição mais antiga relatada para o Brasil é o Isometrus maculatus

(DeGeer, 1778). Esta espécie foi inicialmente relatada para o Suriname (América do Sul) e

posteriormente foi encontrada no Brasil em 1778. Isso aconteceu 55 anos antes do primeiro

relato de escorpião com localidade tipo no Brasil, o Tityus bahiensis, que fora descrito em

1833 pelo entomólogo Josef Anton Maximilian Perty, professor universitário na Alemanha no

século XIX. Na época da publicação destes trabalhos, ainda não havia fixação de especialistas

no Brasil e por isso várias espécies foram descritas por pesquisadores vinculados a

instituições estrangeiras (BRAZIL; PORTO, 2010).

Os primeiros estudos brasileiros sobre escorpionismo tiveram início a partir de 1905 e

foram conduzidos pelo Dr. Vital Brasil, primeiro diretor do Instituto Butantan, que

preocupado com a gravidade de picadas ocasionadas por alguns escorpiões, fez os primeiros

testes com o objetivo de produzir um soro para o tratamento desses acidentes. Entretanto, não

havia no instituto um especialista capaz de identificar os escorpiões. Diante disto, Vital Brazil

solicitou a ajuda de um zoólogo, Rodolpho Von Ihering, que os identificou como pertencentes

ao gênero Tityus. Este projeto, no entanto, esbarrou na falta de escorpiões para obtenção de

veneno em quantidade suficiente para imunização dos animais, o que obrigou Vital Brazil a

interromper temporariamente sua execução (LUCAS, 2003).

10

O projeto foi retomado somente em 1915 por Heitor Maurano, médico e aluno de Vital

Brazil, que utilizou o soro antiescorpiônico produzido a partir do veneno de Buthus

quinquestriatus, um escorpião do Egito, para tratamento de acidentes em animais de

laboratório. No entanto, Maurano observou que o medicamento não apresentava eficácia nos

acidentes causados pelo gênero Tytus. Com isso, demonstrou-se que, semelhante aos

acidentes provocados por serpentes, o soro antiescorpiônico deveria ser específico. Então,

com base nisto e em sua experiência na elaboração de soros anti-peçonhentos, algum tempo

depois, Vital Brazil produziu pela primeira vez em ampla escala um soro antiescorpiônico

agente-específico, usando cavalos como produtores de anticorpos (LUCAS, 2003; BRAZIL;

PORTO, 2010).

Outro momento importante para o histórico do escorpionismo no Brasil aconteceu a

partir de 1939, quando o biólogo Wolfgang Bücherl foi contratado pelo Instituto Butantan.

Bücherl buscou estudar o comportamento do escorpião com a ajuda do técnico José Navas,

primeiro a manusear aranhas e escorpiões vivos, imobilizando-os para obter o veneno. A

primeira idéia de Bücherl foi cortar a ponta do ferrão pelo qual o animal injeta o veneno,

impossibilitando-o assim de picar. Com isso, ele desenvolveu um modo seguro de prendê-lo,

com uma pinça de ponta curva e depois diretamente com a mão, sem que este fosse capaz de

inocular o veneno no extrator. Então, utilizando-se de um equipamento artesanal que emitia

um estímulo elétrico, Bücherl conseguiu obter o veneno diretamente do telso do escorpião, ao

mesmo tempo em que mantinha vivos os animais. Este método representou um grande

avanço, uma vez que não sacrificava os animais e permitia a extração do veneno do mesmo

escorpião várias vezes. Além disso, a técnica também melhorou a qualidade do antígeno

(LUCAS, 2003).

Bücherl aposentou-se no final de 1967, deixando organizado o Laboratório de

Artrópodes como unidade subordinada à diretoria do Instituto Butantan. Sylvia Lucas foi a

responsável por assumir esse laboratório como sua substituta e, posteriormente, assumiu

também a diretora efetiva, exercendo este cargo por mais de trinta anos (LUCAS, 2003).

Além das publicações de Wolfgang Bücherl (1911-1985), outros autores também

merecem destaque por suas publicações a partir da segunda metade do século XX. Destacam-

se entre eles: Fabio Aranha Matthiesen, Vera Regina von Eickstedt e Wilson Roberto

Lourenço. Fábio Matthiesen, pesquisador da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP -

Rio Claro), publicou importantes trabalhos sobre a reprodução em escorpiões e demonstrou a

partenogênese nestes animais, especificamente em Tityus serrulatus. Em 1976, Matthiesen

publicou também o livro O Escorpião, que, durante muito tempo, serviu de base para consulta

11

de estudantes e pesquisadores. Vera Eickstedt foi pesquisadora do Instituto Butantan e

estudou os escorpiões sobre diversos aspectos. Por fim, Wilson Lourenço, pesquisador da

Universidade de Brasília (UNB) no início de sua carreira, é o pesquisador que possui mais

trabalhos publicados sobre escorpiões no Brasil e no mundo, em todas as áreas da pesquisa

sobre estes animais, principalmente na biogeografia, taxonomia e sistemática (BRAZIL;

PORTO, 2010).

3 ESCORPIÕES BRASILEIROS DE INTERESSE MÉDICO

Os escorpiões, também conhecidos como lacraus, apresentam o corpo formado pelo

tronco (prossoma e mesossoma) e pela cauda (metassoma). O prossoma dorsalmente é coberto

por uma carapaça indivisa, o cefalotórax, e nele se articulam os quatro pares de pernas, um

par de quelíceras e um par de pedipalpos (Figura 1). O mesossoma apresenta sete segmentos

dorsais, os tergitos, e cinco ventrais, os esternitos. A cauda é formada por cinco segmentos e

no final da mesma situa-se o telson, composto de vesícula e ferrão. A vesícula contém duas

glândulas de veneno. Estas glândulas produzem o veneno que é inoculado pelo ferrão

(BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001).

Figura 1. Morfologia externa do escorpião.

Fonte: Manual de controle de escorpiões, Ministério da Saúde, 2009.

12

Todos os escorpiões são venenosos e apresentam mecanismos para inoculação do seu

veneno através do telson. No entanto, apenas 2% de todas as espécies são capazes de causar

acidentes graves ou que necessitem de intervenção médica. Os escorpiões provocam acidentes

em todos os continentes onde ocorrem: África, Américas, Ásia, Europa e Oceania. As regiões

de maior incidência de acidentes escorpiônicos são bem definidas geograficamente, assim

como os principais escorpiões causadores (BRAZIL; PORTO, 2010).

Os escorpiões que causam acidentes graves no Brasil pertencem a Família Buthidae e

ao gênero Tityus. Apesar de existirem 54 espécies de Tityus no Brasil, as espécies de

importância médica que causam envenenamentos graves ou fatais são T. bahiensis, T.

serrulatus e T. stigmurus. O T. serrulatus é o principal agente etiológico dos acidentes

escorpiônicos no Brasil, sendo responsável pela maioria dos casos de maior gravidade e

diversos casos fatais. Uma preocupação importante na casuística de acidentes por escorpiões

no Brasil atualmente é que tem sido observado aumento do número de acidentes ocasionados

por T. serrulatus em regiões onde antes predominavam outras espécies menos agressivas

(BRAZIL; PORTO, 2010).

3.1 Tityus serrulatus

Conhecido como escorpião amarelo (Figura 2), é a principal espécie que causa

acidentes graves, com óbitos principalmente em crianças. Possui as pernas e cauda amarelo-

clara, e o tronco escuro. O nome da espécie é dado devido à presença de uma serrilha nos 3º e

4º anéis da cauda. Mede até 7 cm de comprimento. Sua reprodução é partenogenética, na qual

cada mãe tem aproximadamente dois partos com, em média, 20 filhotes cada, por ano,

chegando a 160 filhotes durante a vida (BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009a).

A distribuição geográfica do T. serrulatus era inicialmente restrita a Minas Gerais,

porém devido à sua boa adaptação a ambientes urbanos e sua rápida e grande proliferação,

hoje tem sua distribuição ampliada para Bahia, Ceará, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais,

Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Pernambuco, Sergipe, Piauí, Rio Grande do

Norte, Goiás, Distrito Federal e, mais recentemente, alguns registros foram relatados para

Santa Catarina (BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009a).

13

Figura 2. Tityus serrulatus

Fonte: Manual de controle de escorpiões, Ministério da Saúde, 2009.

Tem sido preocupante o aumento da dispersão do Tityus serrulatus. Esta espécie tem

sido encontrada no Recôncavo Baiano, Distrito Federal, Minas Gerais, na periferia da cidade

de São Paulo, no interior do estado de São Paulo e norte do Paraná. Esta dispersão tem sido

explicada em parte pelo fato de a espécie Tityus serrulatus se reproduzir por partenogênese

(BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001).

3.2 Tityus bahiensis

Conhecido por escorpião marrom ou preto (Figura 3). É o segundo maior causador de

acidentes na região sudeste, com registro de acidentes graves em crianças (BRAZIL; PORTO,

2010). O T. bahiensis tem o tronco escuro, pernas e palpos com manchas escuras e cauda

marrom-avermelhado. Não possui serrilha na cauda e o adulto mede cerca de 7 cm. O macho

é diferenciado por possuir pedipalpos volumosos com um vão arredondado entre os dedos,

utilizado para conter a fêmea durante a “dança nupcial” que culmina com a liberação de

espermatóforo no solo e a fecundação da fêmea. Cada fêmea tem aproximadamente dois

partos com 20 filhotes em média cada, por ano, chegando a 160 filhotes durante a vida

(BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009a).

Quanto à distribuição geográfica, é a espécie que causa mais acidente em São Paulo,

sendo encontrado ainda em Minas Gerais, Goiás, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Mato

14

Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, e Rio Grande do Sul (BRASIL.

MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009a).

Figura 3. Tityus bahiensis

Fonte: Manual de controle de escorpiões, Ministério da Saúde, 2009.

3.3 Tityus stigmurus

Conhecido como escorpião amarelo do Nordeste (Figura 4), assemelha-se ao T.

serrulatus nos hábitos e na coloração, porém apresenta uma faixa escura longitudinal na parte

dorsal do seu mesossoma, seguido de uma mancha triangular no prossoma. Também possui

serrilha, porém, menos acentuada, nos 3º e 4º anéis da cauda (BRASIL. MINISTÉRIO DA

SAÚDE, 2009a).

O T. stigmurus é a espécie que causa mais acidentes no Nordeste e está presente em

Pernambuco, Bahia, Ceará, Piauí, Paraíba, Alagoas, Rio Grande do Norte e Sergipe (Brasil.

Ministério da Saúde, 2009). Há registros de surtos populacionais desta espécie em capitais do

Nordeste, como Salvador e Recife (BRAZIL; PORTO, 2010).

15

Figura 3. Tityus stigmurus

Fonte: Manual de controle de escorpiões, Ministério da Saúde, 2009.

4 SISTEMAS DE NOTIFICAÇÃO

Nas últimas décadas, os centros de controle de intoxicações e envenenamentos vêm se

mostrando como importantes fontes de informação nas emergências tóxicas (MARQUES et

al, 1995). No Brasil pelo menos quatro sistemas de informação são responsáveis por tratar do

registro de acidentes por animais peçonhentos: o Sistema Nacional de Agravos de Notificação

(SINAN), o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), o Sistema

de Internação Hospitalar (SIH-SUS) e o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM). Cada

um desses sistemas possui características próprias, criadas para atender demandas diferentes

e, ao invés de se completarem, muitas vezes se contradizem (BOCHNER; STRUCHINER,

2002).

O SINITOX foi criado em 1980, pelo Ministério da Saúde, a partir da constatação da

necessidade de se criar um sistema abrangente de informação e documentação em

Toxicologia e Farmacologia. Sua principal atribuição é coordenar o processo de coleta,

compilação, análise e disseminação de dados e informações em todo o país. Os dados

utilizados pelo SINITOX são coletados pela Rede Nacional de Centros de Informação e

Assistência Toxicológica (RENACIAT), composta, atualmente, de 36 unidades, localizadas

em 18 estados e no Distrito Federal; e que possuem a função de fornecer informação e

orientação sobre o diagnóstico, prognóstico, tratamento e prevenção das intoxicações, assim

16

como sobre a toxicidade das substâncias químicas e biológicas e os riscos que elas ocasionam

à saúde (BRASIL, 2004).

Nos primeiros anos, o SINITOX era vinculado diretamente à presidência da

FIOCRUZ, mas, a partir de 1986, foi incorporado à estrutura do Centro de Informação

Científica e Tecnológica, unidade dessa instituição responsável por formular políticas,

desenvolver estratégias e executar ações de informação e comunicação no campo da ciência e

tecnologia em saúde (SINITOX, 2013).

A base de dados do SINITOX foi elaborada seguindo o modelo norte-americano da

American Association of Poison Control Centers (AAPCC) e adaptada segundo a realidade

brasileira. Assim, os formulários enviados até 1998 ao SINITOX contemplavam os dados

segundo 13 categorias de agentes tóxicos: medicamentos, animais peçonhentos, animais não

peçonhentos, produtos químicos industriais, pesticidas agropecuários, pesticidas domésticos,

raticidas, domissanitários, produtos de toalete, plantas, intoxicação por alimentos, outros

produtos e não determinado. Entretanto, desde 1998, o SINITOX vem introduzindo

reformulações no Sistema, decorrentes de estudos e análises realizadas pela equipe, visando o

seu aprimoramento como fonte de informação no campo das intoxicações a nível nacional

(BORTOLETTO; BOCHNER, 1999)

A partir de 1999, o SINITOX passou a utilizar um novo modelo que contempla quatro

novas categorias de agentes tóxicos (produtos veterinários, metais, drogas de abuso, outros

animais venenosos), além de classificar os animais peçonhentos em serpentes, aranhas e

escorpiões (BORTOLETTO et al., 1997). Estes agentes são distribuídos por centro, região

geográfica, vítima, causa determinante, faixa etária, sexo, zona de ocorrência e evolução. O

SINITOX publica anualmente a Estatística de Casos de Intoxicação e Envenenamento

registrados no ano anterior em território brasileiro (FIOCRUZ/CICT/SINITOX; 2001).

A Anvisa dispõe de um Disque-Intoxicação gratuito, por meio do qual os profissionais

de saúde podem obter informações sobre tratamentos e o público em geral tem a possibilidade

de tirar dúvidas. Através do número 0800-722-6001, a ligação é transferida para o CIAT mais

próximo de onde o usuário efetuou a ligação (SINITOX, 2013).

As equipes que compõe os Centros de Informação são multidisciplinares, sendo

formadas por médicos, farmacêuticos, biólogos, enfermeiros e técnicos ou auxiliares de

enfermagem. O processo de notificação se inicia quando os profissionais do Centro

documentam os atendimentos prestados e encaminham as fichas para o banco de notificações.

Posteriormente, os dados coletados são enviados à ANVISA e ao Sistema Nacional de

Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX, 2013).

17

Em Sergipe, as informações enviadas ao SINITOX são coletadas pelo Centro de

Informação e Investigação Toxicológica de Sergipe (CIATOX-SE). Criado em 2001, o

serviço funciona 24 horas por dia, em anexo ao Bloco Administrativo do Hospital de

Urgência de Sergipe (HUSE), onde também funciona a Central de Transplante de Sergipe. O

CIATOX oferece respaldo técnico às equipes que atuam nos pronto-socorros de hospitais da

rede pública e privada no que diz respeito às intoxicações. A unidade atua em parceria com o

Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) do HUSE e é a única

de Sergipe para tratar de casos de intoxicação (GOVERNO DE SERGIPE, 2009).

Uma das limitações do SINITOX está no fato deste sistema não ser universal, já que

nem todos os estados do país possuem Centros. O fato da notificação pelas vítimas ou

familiares ser espontânea e da notificação por parte dos profissionais de saúde não ser

compulsória também é uma importante limitação deste sistema. Além disso, o envio de dados

pelos Centros ao SINITOX também não é compulsório e o sistema não registra informações

como local do corpo atingido, manifestações clínicas, número de ampolas de soro utilizadas e

exames realizados, variáveis importantes para a análise deste tipo de acidente (BOCHNER;

STRUCHINER, 2002).

O SIM, criado em 1975 e com fase de descentralização iniciado em 1991, dispôs de

dados informatizados a partir de 1979. Seu instrumento padronizado de coleta de dados é a

Declaração de Óbito (DO). O preenchimento da DO deve ser realizado exclusivamente por

médicos, exceto em locais onde não exista, situação na qual poderá ser preenchida por oficiais

de Cartórios de Registro Civil, assinada por duas testemunhas. A obrigatoriedade de seu

preenchimento, para todo óbito ocorrido, é determinada pela Lei Federal n° 6.015/73. Em

tese, o SIM é um sistema de cobertura universal, já que nenhum sepultamento deveria ocorrer

sem prévia emissão da DO. Apesar disto, na prática, sabe-se da ocorrência de sepultamentos

irregulares, em cemitérios clandestinos (e eventualmente mesmo em cemitérios oficiais), o

que afeta o conhecimento do real de mortalidade, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste

(BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009b). Alguns trabalhos sugerem que o SIM registre

cerca de 80% dos óbitos, devido à perda de DO nos órgãos responsáveis e ao sepultamento

em cemitérios clandestinos (CARVALHO, 1997).

O SIH possui dados informatizados desde 1984 e reúne informações de cerca de 70%

a 80% dos internamentos hospitalares realizados no país. Portanto, esta é a sua principal

limitação: registra apenas os casos que sofreram internação, ou seja, somente os casos mais

graves. Além disso, não registra o município de ocorrência do acidente e demais variáveis

importantes para a análise deste tipo de agravo como local do corpo atingido, manifestações

18

clínicas e número de ampolas e tipo de soro utilizado. Seu instrumento de coleta de dados é a

Autorização de Internação Hospitalar (BOCHNER; STRUCHINER, 2002).

O Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN) foi implantado de forma

gradual a partir de 1993, mas somente em 1998 tornou-se obrigatória a notificação regular na

base de dados nacional. Esse sistema tem por objetivo o registro e processamento de casos de

doenças e agravos de notificação compulsória e quatro outros agravos considerados de

interesse nacional: acidentes por animais peçonhentos, atendimento anti-rábico, intoxicações

por agrotóxicos e varicela. As notificações são coletadas através da Ficha Individual de

Notificação (FIN) nas unidades de saúde ou outra fonte notificadora do município e após isso

devem ser encaminhados para o Núcleo de Vigilância Epidemiológica Municipal, onde serão

analisadas, antes de serem incluídas no sistema. (DORNELES, 2009)

Desde 1995, a Coordenação Nacional de Controle de Zoonoses e Animais

Peçonhentos (CNCZAP) adota o SINAN como registro dos acidentes por animais

peçonhentos. Esta deliberação gerou uma reação negativa por parte dos municípios e estados,

que se mostraram resistentes à adoção do novo sistema, mantendo alguns programas de

acompanhamento das informações paralelos e não enviando dados a essa coordenação. Essa

reação levou a uma quebra de continuidade nos registros e a perda de qualidade dos dados

apresentados. Por conta disto, a partir de 1997 o SINAN passou a apresentar número de casos

de acidentes por animais peçonhentos inferior ao do SINITOX (FISZON; BOCHNER, 2008).

A carência de informações coletadas por essa coordenação através do SINAN, único

sistema nacional que possui um módulo específico para tratar desse tipo de agravo à saúde,

justifica a análise de outros sistemas nacionais de informação, que contemplam o registro de

acidentes por animais peçonhentos, para verificar se são capazes de gerar informações

necessárias e suficientes para se conhecer a dimensão real desse problema (FISZON;

BOCHNER, 2008).

5 ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DO ESCORPIONISMO NO

BRASIL

O escorpionismo é caracterizado por um quadro de envenenamento causado pela

inoculação de toxinas dos escorpiões, podendo determinar alterações locais e sistêmicas. É

19

um problema de saúde pública com uma elevada incidência em várias regiões do país e mais

de 50.000 casos notificados em 2010 (BRITES-NETO; BRASIL, 2012).

Com o início da notificação dos acidentes escorpiônicos no país, em 1988, verificou-se

um aumento significativo no número de casos. Dados do Ministério da Saúde indicam a

ocorrência de cerca de 8.000 acidentes/ano, com um coeficiente de incidência de

aproximadamente três casos/100.000 habitantes. O maior número de notificações é

proveniente dos estados de Minas Gerais e São Paulo, responsáveis por 50% do total. Tem

sido registrado aumento significativo de dados provenientes dos estados da Bahia, Rio Grande

do Norte, Alagoas e Ceará. Os principais agentes de importância médica são: T. serrulatus,

responsável por acidentes de maior gravidade, T. bahiensis e T. stigmurus (BRASIL.

MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001).

Entre os anos 2000 e 2010, apesar da baixa mortalidade, alguns estados apresentaram

um aumento nos índices de letalidade que superaram a media nacional de 0,17%. A presença

e proliferação de escorpiões em áreas ocupadas pelo homem merecem rigoroso controle, pois

seus acidentes podem provocar a morte de seres humanos e de animais domésticos. Os óbitos

por escorpionismo são mais comuns na faixa etária pediátrica e em casos de envenenamentos

por Tityus serrulatus (BRITES-NETO; BRASIL, 2012).

Na região Sudeste, a sazonalidade é semelhante à dos acidentes ofídicos, com a

maioria dos casos ocorrendo nos meses quentes e chuvosos. As picadas atingem

predominantemente os membros superiores, 65% das quais acometendo mão e antebraço. A

maioria dos casos tem curso benigno, situando-se a letalidade em 0,58%. Os óbitos têm sido

associados, com maior freqüência, a acidentes causados por T. serrulatus, ocorrendo mais

comumente em crianças menores de 14 anos (BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001).

As espécies mais freqüentes no sudeste do Brasil são Tityus serrulatus e T. bahiensis

(EICKSTEDT et al, 1996). Tityus stigmurus e Tityus brazilae são encontrados em ambiente

urbano e T. serrulatus era encontrado normalmente na zona rural (BIONDI-DE-QUEIROZ,

2001). Porém, devido a reprodução partogenética, o T. serrulatus também parece estar bem

adaptado ao ambiente urbano atualmente (CHIPPAUX; GOYFFON, 2008).

Em Belo Horizonte, a incidência anual é de 10 por 100 mil habitantes e a mortalidade

de 0,02 por 100 mil habitantes por ano (SOARES et al., 2002). Os acidentes por escorpiões

ocorrem no verão e atingem principalmente os homens (55%) e, dentre estes, os adultos, 80%

das vítimas têm idade superior a 15 anos (CHIPPAUX; GOYFFON, 2008).

Em São Paulo, a incidência anual e mortalidade são, respectivamente, 15 e 0,02 por

100.000 habitantes (EICKSTEDT et al., 1996). Acidentes graves representam 7% dos casos

20

de picadas de escorpião e a taxa de letalidade nos casos com internação hospitalar é de 0,4%

(BUCARETCHI et al., 1995).

Na Bahia, a média incidência anual é de 8,5 picadas por 100.000 habitantes (BIONDI-

DE-QUEIROZ, 2001). Um estudo realizado em áreas rurais mostrou que a incidência anual

em alguns locais chega a 500 acidentes por 100.000 habitantes (DE AMORIM et al., 2003). A

taxa de mortalidade em casos que precisaram de internação hospitalar é de cerca de 1,8%, o

que leva a uma mortalidade anual de 0,14 por 100 mil habitantes. O tempo entre o acidente e

o tratamento é inferior 3 horas em metade dos casos (SOARES; AZEVEDO; DE MARIA,

2002).

No Pará, Belém é o município que registra o maior número de acidentes (54,1%). A

faixa etária mais atingida corresponde a indivíduos entre 20 a 29 anos (18,4%) e o sexo

masculino parece ser o mais atingido (50,8%). A maior parte dos casos (52%) acontece na

residência do acidentado e cerca de 66,6% dos acidentes são considerados leve (MAESTRI

NETO et al, 2008).

Vale ressaltar que os dados sobre escorpionismo no Brasil foram fortemente

subestimados, de acordo com a maioria dos autores. Isso porque a freqüência de T. serrulatus

aumenta significativamente com o desenvolvimento e crescimento desordenado das cidades

(CHIPPAUX; GOYFFON, 2008).

21

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24

REVISTA MEDICINA – RIBEIRÃO PRETO

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

A Revista Medicina-Ribeirão Preto é publicada trimestralmente com o objetivo de

divulgação do conhecimento científico na área médica, através da publicação de Artigos

Originais, Revisões, Simpósios Temáticos, Casos Clínicos, Pontos de Vista, Descrição de

Métodos, Técnicas, Temas de Ensino Médico, Resumos de Dissertações e Teses de Pós-

Graduação e Trabalhos Apresentados em Eventos Científicos. Seu público-alvo principal são

estudantes de graduação e pós-graduação em Medicina, médicos residentes, assistentes e

docentes do sistema médico-universitário.

NORMAS GERAIS

Os manuscritos devem ser originais e se destinar exclusivamente a esta Revista.

Os trabalhos aceitos e publicados são de propriedade da Revista MEDICINA-RP,

sendo sua reprodução, total ou parcial, em outras publicações sujeita à autorização

do Editor e à menção da fonte. Ao encaminharem os manuscritos, os autores

assumem inteira responsabilidade pelos conceitos neles emitidos e pela

observância das normas acima.

A seleção dos trabalhos para publicação é composta por duas fases: na primeira, a

Comissão de Publicações analisa o interesse do tema para o público-alvo da

Revista. Na segunda fase, a qualidade do artigo é examinada por dois ou mais

revisores, mantendo-se sigilo sobre os autores do trabalho. Sempre que possível,

os trabalhos serão publicados na ordem cronológica do recebimento da versão

final (Data de aceitação), mas, a critério da Comissão de Publicação, poderá haver

antecipações.

Os trabalhos deverão ser escritos em Português, Inglês ou Espanhol e enviados

por email para: [email protected], ou se enviarem impresso deve ser

acompanhado do respectivo disquete / cd, digitado no Word for Windows. Para

as figuras, fotografias, poderão ser utilizados os programas PowerPoint ou Excell,

e/ou gravados em jpeg, tiff, gif.

25

Autores interessados em organizarem Simpósios Temáticos ou em publicarem

trabalhos (ou resumos) apresentados em eventos científicos deverão contatar

previamente a Comissão de Publicação.

PREPARAÇÃO DO MANUSCRITO

PÁGINA INICIAL

Deverá conter o título do trabalho (em Português e Inglês), os nomes iniciais e finais

dos autores (abreviando-se os intermediários), sua posição e afiliação institucional (na língua

original e sem abreviações) e o endereço completo de um dos autores para correspondência

(incluindo CEP e E-mail) e um título resumido (máximo de 60 caracteres).

RESUMOS

Deverão ser apresentados em português e inglês, de forma estruturada, contendo os

seguintes itens: Modelo do estudo (Ex. Estudo Experimental, Caso-controle, cohort, estudo de

prevalência); Objetivo(s) do estudo; Metodologia (e casuística, quando pertinente);

Resultados; Conclusões, para todos os artigos originais. Se o Modelo do Estudo for relato de

casos ou de série de casos, os outros itens do resumo deverão ser: Importância do problema e

Comentários.

DESCRITORES

Para os resumos em português: 3 a 7 termos extraídos do vocabulário "Descritores em

Ciências da Saúde" (DeCS) http://decs.bvs.br Consulta ao DeCS, e para o Abstracts devem

ser extraídos do Medical Subject Headings (MeSH). Se não forem encontrados descritores

disponíveis para cobrirem a temática do manuscrito, poderão ser indicados termos ou

expressões de uso conhecido.

ARTIGOS ORIGINAIS

Deverão conter as secções “Introdução, Material e Métodos, Resultados, Discussão e

Conclusões” e não ultrapassar 20 laudas digitadas em espaço duplo. Em trabalhos curtos, as

secções de Resultados e Discussão poderão ser fundidas.

REVISÕES

Tanto as de caráter isolado como as integrantes dos Simpósios Temáticos deverão

conter uma atualização de conhecimentos derivada da literatura médica e, sempre que

26

possível, descrição e análise da experiência dos autores ou da sua instituição no assunto

tratado, inclusive com casos clínicos ilustrativos. Os textos terão, no máximo, 20 laudas

digitadas em espaço duplo, além de várias figuras e tabelas, para cumprir seu objetivo

didático.

BIBLIOGRAFIA

As citações deverão ser apresentadas no texto por uma numeração única e consecutiva,

remetendo à lista de referências ao final do trabalho, na mesma ordem em que parecem no

texto.

Referências bibliográficas devem ser de acordo com o “estilo Vancouver” – Uniform

requeriments for manuscripts submitted to biomedical journals of the International Committee

of Medical Journals, cujo texto completo pode ser consultado em: N Engl J Méd 1997; 336:

309-315 ou Ann Intern Med 1997; 126:36-47.

Na lista de referências bibliográficas deverão ser citados até os seis primeiros autores.

Mais de 6 autores devem ser seguidos de et al. Esta listagem deverá ser organizada pela

ordem de citação no texto, abreviando-se os títulos dos periódicos de acordo com a List of

Journals Indexed in INDEX MEDICUS. Consulte - web site: http://www.nlm.nih.gov.

Trabalhos apresentados em reuniões científicas mas não publicados e os ainda não

aceitos para publicação deverão ser citados apenas no texto como comunicação pessoal,

assumindo-se que tenha havido permissão da fonte citada.

EXEMPLOS:

Artigos de periódicos

1- Novak MA, Mcmichel AJ. How HIV defeats the immune system. Sci Am 1995; 23: 214-8.

2- Payne DK, Sullivan MD, Massie MJ. Women’s psychological reactions to breast cancer.

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Publicação eletrônica

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online] 1995 Jan-Mar [cited 1996 Jun 5]; 1(1).

Available from:http:www.cdc.gov/incidod/EID/eid.htm.

AGRADECIMENTOS

Contendo, quando for o caso, as fontes de financiamento, deverão ocupar um

parágrafo separado antes das referências bibliográficas.

ABREVIATURAS

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que aparecer no texto.

FIGURAS, QUADROS E TABELAS

Deverão ser encaminhadas separadas do texto, indicando-se neste a sua localização

aproximada. As tabelas e quadros são numeradas com algarismos romanos, contendo o título

em sua parte superior e, quando necessário, legenda explicativa na parte inferior. As figuras

28

são numeradas com algarismos arábicos e suas legendas encaminhadas separadamente.

Quando se tratar de fotografias, indicar no verso, por setas, sua posição no texto e o 1o autor

do trabalho.

RESUMOS DE TESES E DISSERTAÇÕES APRESENTADAS NA FMRP-USP

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constando:

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- Departamento / Área / especialidade;

- Data da defesa (dia/mês/ano);

- Especificar se Tese de Doutorado ou Dissertação de Mestrado.

ENDEREÇO PARA ENCAMINHAMENTO DE MANUSCRITOS

Revista MEDICINA

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Fone: (16) 3602-0708

29

Avaliação dos acidentes por escorpiões notificados no Estado de Sergipe,

Brasil.

Evaluation of scorpion envenomation reported in Sergipe, Brazil.

Avaliação do escorpionismo em Sergipe, Brasil.

Filipe N.B. Mesquita1, Sônia O. Lima

2, Marco A.P. Nunes

3.

Universidade Federal de Sergipe - Aracaju/SE

1. Graduando de Medicina da Universidade Federal de Sergipe.

2. Programa de mestrado em saúde e ambiente, Universidade Tiradentes, Aracaju, Brasil.

3. Núcleo de pós-graduação em ciências da saúde e professor adjunto da Universidade

Federal de Sergipe.

Filipe Néri Barreto Mesquita

Rua da Aurora, 74, Aeroporto, Aracaju, SE, 49038-370, Brasil.

[email protected]

30

RESUMO

Modelo de estudo: Análise temporal. Objetivo: Avaliar a frequência e as características da

ocorrência de acidentes por escorpiões no Estado de Sergipe, notificados ao CIATOX-SE, no

período de janeiro de 2002 a dezembro de 2012. Metodologia: As variáveis contidas nas

notificações obtidas através do banco de dados do CIATOX-SE eram: ano do acidente, zona

de ocorrência do acidente, sexo, faixa etária e evolução dos pacientes picados por escorpião.

Foram calculadas as incidências ajustadas de acidentes escorpiônicos por ano e as tendências

temporais lineares foram analisadas mediante regressão linear univariada para estimar as taxas

anuais de crescimento das notificações. A comparação entre as proporções das variáveis

categóricas foi realizada com o teste do Qui-quadrado de Pearson. O nível de significância foi

de 0,05. Resultados: Foram encontrados 3.547 casos de acidentes por escorpiões, a faixa

etária de 20 a 29 anos foi a que apresentou a maior taxa de crescimento anual nas notificações

(13,73), houve predomínio no gênero feminino (54,3%), p<0,001; e as notificações de

acidentes na zona urbana apresentaram uma taxa de crescimento de 63,24. A letalidade

informada foi de 0,06%, referente a pacientes menores de 9 anos de idade. Conclusões: A

elevada incidência de acidentes sugere Sergipe como uma área endêmica e justifica a

necessidade de maior implantação de políticas públicas de saúde preventivas a este agravo. As

taxas de crescimento das notificações apontam que mulheres, indivíduos na faixa etária de 20

a 29 anos e aqueles provenientes da zona urbana, podem estar em maior risco.

Descritores: Escorpionismo; Epidemiologia; Saúde Pública.

31

ABSTRACT

Study design: Temporal analysis. Objectives: To evaluate the frequency and characteristics

of scorpion envenomation in the state of Sergipe, reported by CIATOX-SE, from January

2002 to December 2012. Methodology: The variables contained in reports obtained by

CIATOX-SE database were: year of the accident, accident zone, gender, age and evolution of

patients stung by scorpions. We calculated the adjusted incidence of scorpion envenomation

each year and linear time trends were analyzed by univariate linear regression to estimate the

annual growth rates of notifications. A comparison between the proportions of categorical

variables was performed with the chi-square test. The significance level was 0.05. Results:

We found 3,547 cases of scorpionism, the age group 20-29 years had the highest rate of

annual growth in notifications (13.73), there was a predominance in females (54.3%), p

<0.001; and reports of accidents in urban areas had a growth rate of 63.24. A lethality of

0.06% was reported, referring to patients younger than 9 years old. Conclusions: The high

incidence of accidents suggest Sergipe as an endemic area and justifies the need for wider

deployment of preventive public health policies to this grievance. The growth rates of the

notifications show that women, individuals aged 20-29 years and those from urban areas may

be at increased risk.

Keywords: Scorpions venoms; Epidemiology; Public Health.

32

INTRODUÇÃO

Os acidentes causados por escorpiões são considerados problemas graves em muitos

países tropicais e subtropicais devido a sua elevada incidência e gravidade. No Brasil, são

frequentes em vários estados, principalmente em Minas Gerais e em São Paulo.1-3

Estão

associados ao crescimento desordenado dos centros urbanos, à inadequação de infraestrutura e

ao desequilíbrio ambiental que permitem a presença destes animais em regiões

habitacionais.4,5

Os escorpiões são artrópodes da classe dos aracnídeos, classificados em

aproximadamente 1600 espécies, das quais 25 são consideradas perigosas e capazes de levar o

indivíduo intoxicado até ao óbito pela inoculação de seu veneno.6,7

No Brasil, as três espécies

de maior importância médica pertencem ao gênero Tityus: T. bahiensis, T. stigmurus e T.

serrulatus. Em Sergipe, já há registro da presença destas duas últimas8, sendo o T. serrulatus

conhecido como escorpião amarelo e considerada a espécie mais perigosa da América do

Sul.9

Os casos de escorpionismo são mais comuns em áreas quentes e com elevados índices

pluviométricos3. Esses acidentes podem variar amplamente quanto à gravidade e geralmente

causam dor local intensa podendo estar associados edema e eritema locais. Em crianças é

mais comum sobrevir vômitos, distúrbios neurológicos, cardiovasculares, respiratórios e até a

morte.1,2,10,11

No Brasil, quatro sistemas de notificação coletam dados sobre acidentes

envolvendo animais peçonhentos: Sistema de Informação de Agravos de Notificação

(SINAN/MS), Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas

(SINITOX/Fiocruz/MS), Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de

Saúde/MS (SIH/SUS/MS) e o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/MS). Uma

comparação feita entre estes sistemas de notificação sugeriu que o SINITOX parece ser o

melhor dos quatro em captar acidentes por escorpiões12

.

Este trabalho tem como objetivo avaliar a frequência e as características da ocorrência

de acidentes por escorpiões no estado de Sergipe, notificados ao Centro de Informação e

Assistência Toxicológica de Sergipe (CIATOX-SE), que está vinculado ao SINITOX, no

período de janeiro de 2002 a dezembro de 2012.

33

MATERIAS E MÉTODOS

Neste estudo foi realizada uma análise temporal através da avaliação das informações

do banco de dados do CIATOX-SE. Foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em

Pesquisa da Universidade Federal de Sergipe, sob número CAAE de 3389.0.000.0107-08.

O Sistema Nacional de Informações Tóxico-farmacológicas (SINITOX) recebe os

dados fornecidos pelos Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATOXs) e tem

como principal função coordenar a coleta, compilação, análise e divulgação dos casos de

intoxicação e envenenamento notificados no país. Os CIATOXs juntos formam uma rede

composta por 35 unidades, localizadas em 18 Estados e no Distrito Federal, e são

responsáveis por orientar sobre o diagnóstico, prognóstico, tratamento e prevenção das

intoxicações e envenenamentos, além de fornecer dados sobre a toxicidade das substâncias

químicas e biológicas e os riscos que elas ocasionam à saúde13

.

Foram avaliadas as informações anuais de notificações de casos de acidentes

escorpiônicos ocorridos no Estado de Sergipe obtidas através do banco de dados do CIATOX-

SE e referentes ao período de janeiro de 2002 a dezembro de 2012. As variáveis contidas nas

notificações eram: ano do acidente, zona de ocorrência do acidente (urbana/rural/ignorado),

sexo (masculino/feminino/ignorado), faixa etária e evolução dos pacientes picados por

escorpião.

Foram calculadas as incidências ajustadas de acidentes escorpiônicos por ano,

utilizando-se os dados populacionais, fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), relativos às estimativas da população residente no estado de Sergipe nos

respectivos anos estudados. As tendências temporais lineares foram analisadas mediante

regressão linear univariada para estimar as taxas anuais de crescimento das notificações. Uma

análise gráfica da distribuição dos resíduos contra os valores estimados pelos modelos foi

realizada, após cada modelo final, para diagnosticar a adequação do modelo linear e adesão a

seus pressupostos. A comparação entre as proporções das variáveis categóricas foi realizada

com o teste do Qui-quadrado de Pearson. O nível de significância foi de 0,05. As análises

deste estudo foram realizadas com auxílio do software Excel.

34

RESULTADOS

No período de 2002 a 2012, os acidentes por escorpiões foram responsáveis por

aproximadamente 65% (3.547/5.475) das ocorrências de acidentes por animais peçonhentos

notificadas ao CIATOX-SE. As taxas de incidência desses episódios têm aumentado

progressivamente em Sergipe. Entretanto, no período de 2002 a 2007 elas se mantiveram

relativamente constantes. A partir de 2008 houve aumento progressivo do número de casos

notificados (tabela 1). A taxa de crescimento anual de notificações ao CIATOX em Sergipe

referentes a acidentes escorpiônicos foi de 60,98 (figura 1).

Quanto às notificações categorizadas por faixas etárias, percebeu-se que 62%

(2.192/3.547) dos acidentes ocorreram em indivíduos com idade entre 20 e 59 anos, sendo que

a faixa etária de 20 a 29 anos foi a que apresentou a maior taxa de crescimento anual nas

notificações de acidentes escorpiônicos, tendo sido de 13,73 no período estudado. Os

extremos de idade foram as faixas etárias menos frequentemente notificadas e também

tiveram as menores taxas de crescimento anual (tabela 2).

Neste estudo, o número de acidentes com vítimas do gênero feminino foi de 54,3%

(1.927/3.547), sendo significativamente maior (p < 0,001) que entre os homens e também

com uma maior taxa de crescimento anual de notificações (tabela 2). As zonas de ocorrência

dos acidentes escorpiônicos foram informadas em 97,9% dos casos, sendo que os acidentes

com escorpiões na área urbana (90,3%) foram mais frequentemente informados (p < 0,001)

que na área rural e apresentaram uma taxa de crescimento anual de 63,24. Na área rural foi

detectada, inclusive, uma redução das notificações com taxa de -1,33; porém com um

coeficiente de regressão de 0,04 que indica uma grande variabilidade dos dados. No período

avaliado, a letalidade informada foi de 0,06% (2/3.547), referentes a pacientes menores de 9

anos de idade.

DISCUSSÃO

De 2002 a 2012, foi observada uma crescente taxa de notificações devido a acidentes

por escorpiões no Estado de Sergipe e uma maior frequência dessas a partir de 2008. Este fato

pode estar relacionado a uma mudança na forma de coleta de informações, pois, a partir de

35

2008, a busca ativa, que até então era feita somente em um dos hospitais de urgência em

Sergipe, passou a incluir também os demais hospitais da capital Aracaju.

Essa situação também pode estar relacionada a um aumento real do número de

acidentes, pois o crescimento desordenado das áreas urbanas no estado de Sergipe, associado

às precárias condições de moradia e saneamento, podem ser importantes fatores na etiologia

dos acidentes envolvendo escorpiões.3,4,6,9,16

Além disso, os escorpiões da espécie Tityus

serrulatus, presentes em Sergipe11

e com reprodução por partenogênese3,9,16

, adaptam-se

muito bem ao ambiente urbano, proliferando-se rapidamente.9,11,16

Analisando os dados do SINITOX, pode-se verificar que a incidência de casos no

Estado de Sergipe em 2010 (26,4 casos/100.000 habitantes) foi 4,11 vezes maior que a

observada no país (6,22 casos/100.000 habitantes) no mesmo período e a incidência anual

média neste estudo em relação à incidência nacional em 2010 foi 2,56 vezes maior.14,15

Isso

sugere que a região pesquisada pode ser uma área endêmica em acidentes escorpiônicos.

Quanto às zonas de ocorrência, as maiores taxas de crescimento e de incidência nas

áreas urbanas em Sergipe concordam com o relato de outros estudos.9,19,20,22

Os escorpiões

tornaram-se adaptados às zonas urbanas, abrigando-se em locais com presença de lixos, pilhas

de tijolos, telhas e alimentando-se de insetos em geral.9 O crescimento não planejado da

população urbana, traz consigo problemas de infraestrutura, falta de saneamento básico e

condições precárias de moradia, sendo esses os principais fatores que favorecem a adaptação

e sobrevivência desses animais no meio domiciliar.19

Esse estudo mostrou também que o maior número de acidentes notificados esteve

relacionado à pacientes na faixa etária de 20 a 59 anos, correspondente a população

economicamente ativa, sendo os da terceira década aqueles que apresentaram as maiores taxas

de crescimento, indicando um maior risco entre as pessoas que exercem atividades laborais e

domésticas que estão mais sujeitas ao contato com o escorpião. Esses dados estão de acordo

com o descrito na literatura para outras regiões do país.2,7,17,18,19

Como já foi observado em outros estudos realizados em estados do nordeste

brasileiro6,20

, o maior acometimento ocorreu com pacientes do sexo feminino. A maior taxa de

crescimento de acidentes entre as mulheres pode estar relacionada às diferenças ocupacionais

e comportamentais no ambiente domiciliar, a exemplo da execução de atividades domésticas

de maior risco como a limpeza de locais que normalmente servem de abrigo para

escorpiões.6,17,20

Por sua vez, estudos conduzidos em estados do sudeste e norte do Brasil

mostram o gênero masculino como o mais acometido pelos acidentes por escorpiões e

relacionam estes acidentes ao maior contato com entulhos e restos de construções.3,9,17,21

36

É importante ressaltar que, apesar de raros, os óbitos causados pelo escorpionismo em

Sergipe ocorreram em sua totalidade em indivíduos menores de 9 anos de idade, evidenciando

que há maior gravidade do envenenamento em crianças como demonstrado em outros

estudos.3,9,17

Os dados mais recentes do SINITOX registraram em 2010 uma taxa de letalidade

de 0,08% no Brasil e 0,03% no Nordeste.14

Esse estudo, embora possua grande casuística, abrangendo um período de 11 anos,

apresenta limitações por tratar-se de análise de banco de dados e estar sujeito a erros durante a

entrada das informações e à subnotificação. Por isso as características do escorpionismo em

Sergipe ainda precisam ser avaliadas em estudos posteriores que permitam a análise mais

acurada da incidência associada ao georeferenciamento, além da identificação da espécie de

escorpião mais frequente em Sergipe.

CONCLUSÃO

A elevada incidência de acidentes por escorpiões em Sergipe sugere que o Estado

pode ser uma área endêmica e justifica a necessidade de maior intervenção e a implantação de

políticas públicas de saúde preventivas a este agravo. Além disso, taxas anuais de crescimento

das notificações sugerem que as mulheres, os indivíduos na faixa etária de 20 a 29 anos e

aqueles provenientes da zona urbana, podem estar em maior risco.

37

REFERÊNCIAS

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38

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39

TABELAS E FIGURAS

Tabela 1. Taxa de incidência anual dos acidentes escorpiônicos notificados ao CIATOX

em Sergipe no período de 2002 a 2012.

Ano Casos % População (hab.)

1 Taxa de incidência/100.000 hab.

2002 179 5,0% 1.846.039 9,72

2003 96 2,7% 1.874.613 5,13

2004 163 4,6% 1.934.596 8,44

2005 110 3,1% 1.967.791 5,61

2006 145 4,1% 2.000.738 7,25

2007 175 4,9% 1.939.426 9,06

2008 316 8,9% 1.999.374 15,87

2009 515 14,5% 2.019.679 25,62

2010 544 15,3% 2.068.031 26,40

2011 657 18,5% 2.089.819 31,58

2012 647 18,2% 2.110.867 30,66

Total 3.547 100,0% 1.999.3742

- 1 População residente em Sergipe estimada pelo IBGE. 2 Mediana da população no período de 2002 a 2012

Figura 1. Acidentes escorpiônicos notificados ao CIATOX em Sergipe do ano de 2002 ao

ano de 2012

y = 60,982x - 43,436 R² = 0,8196

0

100

200

300

400

500

600

700

0 2 4 6 8 10 12

40

Tabela 2. Acidentes escorpiônicos segundo faixa etária, gênero, zona de ocorrência e

evolução; notificados ao CIATOX em Sergipe no período de 2002 a 2012.

Total % Taxa de crescimento Coeficiente de regressão

Faixa etária

Menor que 1 ano 26 0,7% 0,57 0,64

De 1 a 4 anos 140 3,9% 2,40 0,81

De 5 a 9 anos 228 6,4% 4,94 0,77

De 10 a 14 anos 247 7,0% 4,22 0,77

De 15 a 19 anos 333 9,4% 4,55 0,68

De 20 a 29 anos 794 22,4% 13,73 0,77

De 30 a 39 anos 562 15,8% 9,85 0,83

De 40 a 49 anos 494 13,9% 7,71 0,73

De 50 a 59 anos 342 9,6% 5,68 0,81

De 60 a 69 anos 219 6,2% 4,37 0,70

De 70 a 79 anos 106 3,0% 1,62 0,55

De 80 ou mais anos 29 0,8% 0,63 0,77

Ignorada 27 0,8% - -

Gênero

Masculino 1616 45,6% 26,02 0,75

Feminino 1927 54,3% 34,86 0,86

Ignorado 4 0,1% - -

Ocorrência

Rural 269 7,6% - 1,33 0,04

Urbana 3204 90,3% 63,24 0,84

Ignorada 74 2,1% - -

Evolução

Cura 3544 99,92% - -

Óbito 2 0,06% - -

Ignorado 1 0,03% - -

Total 3547 100% 60,98 0,82