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AVALIAÇÃO PARA ALÉM DO AUTORITARISMONO COTIDIANO PEDAGÓGICO
MARCIA ASSIS DO NASCIMENTO
RIO DE JANEIROANO 2002
II
MARCIA ASSIS DO NASCIMENTO
AVALIAÇÃO PARA ALÉM DO AUTORITARISMONO COTIDIANO PEDAGÓGICO
Monografia apresentada como exigênciafinal do curso de pós graduação lato-sensuDocência do Ensino SuperiorUniversidade Cândido MendesDiretoria de Projetos Especiais
Orientador: Professor Palmiro F. Costa
UNNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
Rio de Janeiro
III
Esta monografia é dedicada a todos que se considerarem
vitoriosos em Cristo Jesus, principalmente a minha filha
e meu esposo, que tanto me inspiraram me estimulando a
vencer.
IV
AGRADECIMENTOS
A DEUS, que me estimula e abençoa todos os dias e, se me deito, durmo
e levanto é porque ele está presente me permitindo uma nova oportunidade de vida, pois
a cada dia a vida nos proporciona um novo espetáculo. Obrigado DEUS!
À minha família, especialmente minha filha ANMI, pela compreensão e
carinho que recebo todos os dias e meu esposo, pela paciência e atenção desprendida.
Aos meus pais e irmãos, principalmente minha mãe, que basicamente
ficava com minha filha todos os sábados, cuidando dela, enquanto me destinava a
realizar meu sonho.
Ao meu orientador, que com paciência e compreensão mostrou-se tão
profissional quanto amigo no decorrer da elaboração desse trabalho.
Todos vocês me ajudaram construir uma nova página, e o livro da minha
vida pessoal ficou com uma história mais bonita. Muito obrigado!
V
EPÍGRAFE
"A educação tem caráter permanente.
Não existem seres educados e não educados.
Estamos todos nos educando.
Existem graus de educação, mas estes não são absolutos.
O homem, por ser inacabado, incompleto, não sabe de maneira absoluta.
A sabedoria parte da ignorância.
Não há ignorantes absolutos!"
VI
SUMÁRIO
FOLHA DE ROSTO.................................................................................................... I
DEDICATÓRIA.......................................................................................................... II
AGRADECIMENTO................................................................................................... III
EPÍGRAFE................................................................................................................... IV
SUMÁRIO................................................................................................................... V
INTRODUÇÃO........................................................................................................... 7
RESUMO..................................................................................................................... 10
CAPÍTULO I - Avaliação na Instituição de Ensino..................................................... 13
1.1 - Significado - Definições........................................................................... 13
1.2 - Avaliação no Dia-a-Dia do Educando...................................................... 17
1.3 - A Avaliação Classificatória...................................................................... 22
CAPÍTULO II - Avaliação diagnóstica como intermediária da práxis educativa
modificadora ................................................................................. 26
2.1 - Avaliação Diagnóstica.............................................................................. 26
2.2 - Atribuições e Falhas na Avaliação Diagnóstica....................................... 30
2.3 - Avaliação Diagnóstica: Aparência Modificadora.................................... 32
CAPÍTULO III - Avaliação Diagnóstica Instrumento da Identificação de Novos
Rumos............................................................................................. 36
3.1 - Novos Rumos da Avaliação Diagnóstica................................................. 36
VII
CAPÍTULO IV - Avaliação: possíveis saídas e resgates............................................. 41
4.1 - Modificação da Avaliação Escolar........................................................... 41
CONCLUSÃO............................................................................................................. 46
BIBLIOGRAFIA......................................................................................................... 50
7
INTRODUÇÃO
Avaliar
Ser uma educadora e almejar um futuro melhor para os educandos,
trabalhando em prol da educação é o início de uma jornada árdua e contínua.
A melhoria da instituição de ensino, acredito ser possível quando a
sociedade, como um todo: pais , mestres, políticos etc. se proporem a modificar
gradativamente a maneira de como avaliar os educandos.
A escola é uma instituição onde os indivíduos deveriam exercitar
plenamente a cidadania. Várias instituições escolares procuram reproduzir um modelo
burguês de educação que se distancia de sua clientela e de sua real função.
É observado que grande parte dos orientadores da aprendizagem avaliam
seus alunos através de provas, trabalhos, testes atribuindo-lhes notas ou conceitos que
no final definem o quanto o aluno aprendeu resultando na aprovação ou reprovação.
Por meio de observações do cotidiano das instituições de ensino, das
leituras feitas e dos debates em cursos, comecei a entender e compreender um pouco
mais o processo de avaliação que ao meu entendimento é confuso e desleal; então decidi
realizar este trabalho para investigar um pouco mais como a prática avaliativa vem
sendo elaborada.
8
No primeiro capítulo, faço um adendo nas definições e significados sobre
avaliação fundamentadas por vários autores renomados e conscientes, de uso nas
instituições de ensino, e detecto que a modificação em seu emprego é significante.
No capítulo dois, abordo a avaliação diagnóstica como um importante
instrumento de averiguação em que estágio o educando se encontra e que bagagem
possui, pois para se iniciar um processo de ensino coerente é necessário a adequação
dos conteúdos programáticos com a clientela a que se destina.
Já no capítulo três, menciono a avaliação diagnóstica como instrumento
de identificação de novos rumos, um meio que possibilitará a mudança e o avanço com
novas posturas de trabalho, levando em consideração os alunos como seres pensantes e
donos de sua história; questionadores, inquiridores e capacitados a se posicionar com
opiniões próprias e não meros repetidores de ideologias burguesas.
Por fim, no quarto capítulo as possíveis saídas e resgates que a avaliação
poderá proporcionar as instituições de ensino e àqueles que a elas se integram
vislumbrando uma nova concepção de cidadania.
Resgates estes, que só serão possíveis se os profissionais de ensino se
posicionarem e se conscientizar de seu real papel como orientadores da aprendizagem e
não detentores do saber puro e genuíno
Quanto as saídas, as escolas devem se posicionar e assumir o ideal que
ostenta seu título, integrando e preparando os educandos para a vida, levando-os a
praticar cidadania e não os excluindo ou rotulando-os com seu processo arcaico e
soberbo de avaliar.
Aos profissionais do ensino fica o apelo: não serem coniventes com a
reprodução e tratamento de desigualdade que é dado a muitos alunos; unindo-nos em
9
prol de um mundo melhor e mais justo, iniciando em cada um de nós com ações de
respeito e dignidade
10
RESUMO
Ao escrever este trabalho veio a mente vários assuntos, então procurei me deter
em avaliação mas falar de avaliação é tão difícil pois envolve vários fatores e sendo
assim iniciei com as definições e significados, refletir sobre os significados de avaliação
é como estar dentro de um emaranhado de valores, notas, qualidades, quantidades,
mensurações, e medidas. Como medir conhecimentos? Isso me veio a mente o tempo
inteiro e até no meu dia-a-dia de educadora eu me vejo a pensar em como saber
realmente se o que foi aplicado, ensinado ou orientado foi compreendido, capitado
aceito e será praticado pelos alunos. Então a avaliação no dia-a-dia do educando é como
se ele tivesse sendo medido a todo minuto dentro e fora da escola pois se a resposta é o
novo comportamento e este não fora aceitável de acordo com os objetivos propostos
pelo avaliador é porque ele não está bem, não está aprendendo o que o professor o
ensinou ou não está preparado, e aí?
Com a evolução do mundo, as pessoas, principalmente os alunos, são
classificados de acordo com seu desempenho, e os juízos numéricos ou os conceitos pré
estabelecidos, os rotulam e os marcam sem considerar que as diferenças, as
divergências, e as diversidades existem e são para serem respeitadas e não para separar
ou discriminar. As pessoas são seres que merecem respeito e se isso não houver, onde
11
estará os direitos humanos? Só no papel realmente, ou são apenas palavras bonitas para
não serem usadas e muito menos praticadas?
Porém no capítulo dois, a intenção foi entender e vê a avaliação diagnóstica
como uma prática modificadora, aquela que vai elucidar e esclarecer para o orientador
da aprendizagem em que nível e que bagagem o educando tem, para que a caminhada
educativa seja iniciada ou reiniciada de forma que não desconsidere o conhecimento que
ele já trás consigo, e a partir daí haja harmonia e real aprendizado com interesse
contínuo.
Não é interessante excluir como vem se detectando mas incluir todos no sistema
escolar, dessa maneira, podemos sanar vários problemas sociais que nos deparamos no
dia-a-dia. Falhas e erros existem dentro de qualquer sistema, principalmente no escolar,
e se tratando de avaliação, diagnosticar os alunos e procurar ajudá-los é uma tarefa
ardilosa e espinhosa devido a clientela das instituições de ensino serem como uma
caixinha de surpresas, porém é necessário crer que a avaliação diagnóstica é um meio de
dá novos rumos e novas perspectivas a educação escolar. A constatação de que é
emergencial uma mudança na instituição de ensino, no que diz respeito aos aspectos da
avaliação é notório tanto quanto sua aplicação por parte dos orientadores da
aprendizagem. Essa discussão é uma grande tentativa de pessoas e órgãos
inconformados com os rumos que vem sendo praticados, por não concordarem com o
conservadorismo e as atitudes burguesas ainda presente em muitas instituições de
ensino, e também desenvolvidas por muitos profissionais, que ainda não estão
comprometidos numa nova visão de avaliação, de ensino, de escola e de sociedade.
A transformação se dá quando a mudança surge da conscientização de um novo
propósito e um novo compromisso consigo mesmo, com a sociedade e com o país.
12
Os indivíduos precisam se espelhar, se projetar e ajudar a ver e descobrir que a
vida será bem melhor quando o ser humano deixar de manipular e usar o poder para
espezinhar os inferiores; a escola deveria ser um meio libertador e formador desta
consciência.
A educação e liberdade é um direito que o ser humano tem..
Todos nós somos responsáveis em ajudar os indivíduos a descobrir que a vida, é
aceitar o próximo como ser pensante, pleno e capaz de fazer opções, e a escola, é um
instrumento para o exercício da prática da cidadania, e a avaliação deveria ser um
caminho como resgate na direção de um ensino dinâmico que encare o aluno como
sujeito de sua própria história, ativo, participante e questionador. Sujeito este, que seja
capaz de não se deixar abater e nem se influenciar com a conformidade de que "não tem
jeito", e a avaliação deveria se destinar também a melhoria do ciclo de vida .
Esta é uma meta que sendo trabalhada, com o tempo se transformará em
realidade por meio de nossas ações, e cada um de nós somos responsáveis por esse
processo e por aquilo que cativamos.
13
CAPÍTULO I
Avaliação na Instituição de Ensino.
1.1 - Significado - Definições:
"Avaliação educativa é um processo complexo que começa com aformulação de objetivos e requer a elaboração de meios para obterevidências de resultados, interpretação dos resultados para saber emque medida foram os objetivos alcançados e formulação de um juízode valor."
(Sarabbi 1971)
"O crescimento profissional do Professor depende de sua habilidadeem garantir evidências de avaliação, informações e materiais, a fimde constantemente melhorar seu ensino e aprendizagem do aluno.Ainda, a avaliação pode servir como meio de controle de qualidade,para assegurar que cada ciclo novo de ensino-aprendizagem alcanceresultados tão bons ou melhores que os anteriores."
(Bloom, Hasting, Madaus)
''A avaliação em educação significa descrever algo, em termos deatributos selecionados e julgar o grau de aceitabilidade do que foidescrito. O algo, que deve ser descrito e julgado, pode ser qualqueraspecto educacional, mas é tipicamente: a) Um programa escolar, b)Um procedimento curricular ou ; c) O comportamento de umindivíduo ou de um grupo."
(Thorndik e Hagen 1960)
"Avaliação significa atribuir um valor a uma dimensão mensurável docomportamento em relação a um padrão de natureza social oucientífica."
(Bradfield e Moredock 1963)
''Avaliação é o processo de delinear, obter e fornecer informaçõesúteis para julgar decisões alternativas." (Apuld Silva 1977 p.7)
14
''Avaliação é coleta sistemática de dados, por meio da qual sedeterminam as mudanças de comportamento do aluno e em quemedida estas mudanças ocorrem.''
(Bloom Et Alii)
"Avaliação é essencialmente um processo centralizado em valores." (Penna firme 1976, p.17)
Nestas definições sobre avaliação, constata-se a priorização e a ênfase do
desempenho do educando e enquanto não acontecer um despertar, uma conscientização
da necessidade de uma nova metodologia para o aluno e a inclusão da própria
Instituição de Ensino no processo, a qualidade do ensino permanecerá comprometida.
A mudança da avaliação escolar como um meio técnico-pedagógico com
destino de avaliar os critérios quantitativo do aprendizado dos alunos, com testes e
provas, vem modificando consideralvelmente. Esta modificação que de uns tempos para
cá, sendo entendida pelas escolas que refizeram seus projetos pedagógicos estimulados
pelas inovações no terreno da teoria educacional, ainda se evidencia tímida, diante das
mudanças verificadas nesta área da prática escolar.
Todavia, uma intencional ação, que ligada está à determinada postura
pedagógica, a avaliação não é simplesmente um meio técnico, mas também uma questão
política que, por sua vez, envolve uma concepção de mundo, de sociedade de escola e
de ser humano (Homem). Daí, o desacordo de posições em relação ao conceito de
avaliação, que mostra-se claro entre os vários autores que abordaram historicamente
este tema polêmico.
Na investigação das posições dos diversos teóricos que falam da
avaliação escolar, percebemos que a avaliação classificatória sentenciativa que sempre
predominou nas escolas, apartir da década de noventa começa a ser questionada como
15
um fim em si mesmo, e como meio, um modo, um instrumento que durante décadas
levou milhares de crianças e jovens a serem expulsos das escolas.
Segundo o conceito do educador Amaral Fontoura:
"Avaliar é um processo que objetiva medir os comportamentosobtidos pelos alunos, na forma de domínio dos conteúdoscurriculares, através de provas e testes que verificam o nível deaprendizagem apreendido ao longo do processo ensinoaprendizagem.''
(Fontoura, Amaral 1959, p.13)
Neste conceito, percebe-se claramente que a visão classificatória da
avaliação compreendida no seu caráter de mediação quantitativa dos saberes
assimilados pelos alunos em determinado momento no processo de aprendizagem. Esta
noção de avaliação mostra a preocupação deste meio de escolher os que tinham, a
capacidade de memorizar os conteúdos que eram dados de forma pronta e acabada, não
tendo espaço para que os alunos redescobrissem por eles mesmos o próprio
conhecimento. Essa maneira confirmava a idéia de que os mais capazes seriam aqueles
que dominariam o conteúdo com facilidades, e assim seria algo mais natural possível no
processo de aprendizagem dos alunos. O orientador da aprendizagem se dizia neutro
porque cumpria o que o sistema de ensino previa como conteúdo, jamais se
posicionando criticamente diante dos temas trabalhados em sala de aula. A
imparcialidade que a idéia conservadora pregava separava na prática, uma vez que a
avaliação classificatória dizia-se tendenciosa e coerente com o modelo de avaliação
burguês, que privilegia o ensino distanciado da realidade dos alunos que eram
destinados das classes menos favorecidas economicamente e que acabavam aumentando
o número de excluídos do sistema escolar.
16
Outra posição de avaliação classificatória é feita por Etges, afirmando
que:
"A avaliação classificatória que discrimina, é aquela que dá nota, queexclui os considerados menos capazes, que oferece segurança aautoridade do professor e reconhece alguns como superiores.Contudo, o efeito deste tipo de avaliação vai muito mais longe, já queos "não eleitos" se vêem obrigados a se integrarem no sistema, naposição de fracassados.''
(Etges Norberto In Revista de Educação AEC, Avaliando a Avaliação, Abril / Julho,
1986, p.7)
Analisando esta conceituação, o autor destaca o uso autoritário pelo
orientador da aprendizagem e caracteriza a avaliação classificatória com distinção dos
alunos por níveis de aprendizagem a partir de um padrão que estão solidamente ligadas
aos conhecimentos.
E um dos estudiosos da avaliação no contexto atual; o Luckesi, diz que:
"A avaliação classificatória ou seletiva acaba por servir deinstrumento à perpetuação das desigualdades sociais no sistemacapitalista.''
(Luckesi, Cipriano Carlos, 1991, p.28)
O autor afirma, que a avaliação classificatória, não colabora com a
independência dos alunos, na medida que não dá oportunidade para os mesmos sanarem
suas necessidades, digo; dificuldades, com a colaboração do orientador da
aprendizagem e da instituição escola de modo geral; pelo contrário ela pratica a
distinção aos menos capacitados (dotados) porque não leva em conta as diferenças
individuais que evidenciam o potencial de cada indivíduo.
Nesta mesma linha, Jussara Hoffmann, pesquisadora gaúcha investiga
nos últimos tempos o meio de avaliar nas escolas, e mostra as características da
avaliação classificatória a qual denomina também, de avaliação reprodutora, quando
afirma:
17
"A função que é predominante nas práticas avaliativas tradicionais,apresenta como características básicas: ação individual ecompetitiva; concepção classificatória, sentenciativas; intenção dereprodução das classes sociais, postura disciplinadora e diretiva doprofessor, privilégio à memorização e exigência burocráticaperiódica."
(Hoffmann, Jussara, 1992, p.3)
A postura da professora Jussara, bem como dos outros autores até aqui
trabalhados, demonstra que a avaliação não pode ser concebida solitariamente em um
conceito ímpar, sobretudo, quando as colocações destes teóricos revelam que a
avaliação da realidade educacional foi e ainda continua sendo em diversas escolas, um
meio de poder que classifica, exclui e discrimina alunos que necessitariam de um
trabalho pedagógico de maneira diversificada do modelo de igualdade para Ter o direito
de fazer os seus conhecimentos próprios.
1.2 - Avaliação no Dia-a-Dia do Educando.
Análise de uma situação de realidade Prática Educativa
"O valor de um sistema de ensino está no resultado, nas mudanças etransformações, nas manifestações, nas pessoas, nos produtos e nosserviços resultantes. O padrão não é um controle de eficiência dosistema, é uma integração de conhecimentos que produz resultadostotalmente assimilados e capazes de deslanchar um gênio criativo. Amarca de seus líderes é a capacidade de olhar para e ver em tudouma ferramenta em potencial, não um obstáculo."
(Griscom, 1992, p.22)
"Medir, determinar ou verificar, tendo por baseuma escala fixa, a extensão, medida ou grandeza;Medir, avaliar como calcular, ponderar;Medir, regular, adequar, proporcionar;Medir, competir, bater-se, lutar( medir forças)"
(Holanda, Aurélio Buarque, Novo Dicionário da Língua Portuguesa, 1975, p. 904)
A avaliação colocou-se como a última etapa do processo educativo, ou
seja, como estante final, em que o orientador da aprendizagem, de acordo com a sua
maneira de entender a educação deveria por final, demonstrar por meio da prova, os
18
alunos que nos seus padrões, realmente aprenderam o que lhes foi ensinado. Na idéia
desses orientadores da aprendizagem, avaliar e medir era a mesma coisa, no entanto, se
tomarmos o sentido literal da palavra, medir podemos confirmar o reducionismo e o
equivoco dos profissionais do ensino que assim procedem.
Ao entender o significado da palavra medir, verificamos que tal ato
envolve critérios quantitativos, e mesmo no meio de várias conotações está ligado a
idéia de competição, o que envolve em dizer, da comparação entre duas razões distintas
ou forças.
Já o conceito de avaliar, segundo o mesmo dicionário: "avaliar, apreciar,
estimar o merecimento de: fazer idéia de ajuizar"(1975, p.164)
A avaliação, ao contrário da medida, solicita uma tomada de decisão,
exigindo um posicionamento diante do objeto avaliado; não deve levar a uma simples
classificação de ações e pessoas, mas sim deve demonstrar um crescimento, portanto
uma mudança.
Na perspectiva ora em discussão, o momento da avaliação é confundido
com o momento da simples mensuração, na medida em que passou a ser constituir uma
etapa isolada, que na maioria das vezes nada tinha de ligação com as técnicas, os
métodos, os procedimentos usados no " fazer pedagógico" do orientador da
aprendizagem.
A "nota" como prova da capacidade ou do fracasso escolar acabou por
virar um meio de controle arbitrário da aprendizagem do aluno, que se via obrigado a
repetir o que o orientador da aprendizagem falava, a fazer o que ele ordenava, a se
portar como ele desejava. A "nota média em vários casos, é o grau de obediência do
aluno ao poder institucionalizado pela escola. Como exemplo desta realidade, as provas,
testes e outros meios através dos quais o orientador da aprendizagem pede aos alunos
19
para mostrar de forma exímia, irrepreensível seus entendimentos, compreensão dos
conteúdos ministrados, hábitos e habilidades ensinadas. O que acontece no dia-a-dia é
que o orientador da aprendizagem, confecciona seu instrumento de avaliar. Para
Luckesi:
"(...) na maior partes das vezes este instrumento de avaliaçãoencontra-se apoiado em variáveis do tipo: conteúdo ensinadoefetivamente; conteúdo que o professor não ensinou, mas que deu porsuposto ensinado; conteúdos "extras" que o professor inclui nomomento da elaboração do teste para torná-lo mais difícil."
(Luckesi, Cipriano,1990, p. 40)
O autor inclui ainda a estes itens, ou outros como: o humor dos
orientadores da aprendizagem; "uma certa patologia magisterial" permanente, que
pressupõe que o orientador da aprendizagem não pode julgar apto todos os alunos, uma
vez que não é possível, todos os alunos conseguirem aprender todos os conteúdos dados
ou ensinados.
Percebe-se ainda que, após o orientador da aprendizagem fazer o seu
meio de avaliar, construí-lo, alguns o julgam muito fácil o teste que preparam e fazem
outras questões não fácil de entender, para poder dificultar os alunos, e pegá-los pelo pé
como diz a expressão popular.
Conforme a posição do cientista Pedro Demo:
"(...) não é possível pensar avaliação qualitativa sem que o professormude sua prática docente."
(Demo, Pedro, 1991,p.47)
Com isto; mostra que a mudança de postura frente à avaliação depende
da visão e da atualização desse profissional no processo do dia-a-dia de sua execução.
Então, se o orientador da aprendizagem não se atualiza com cursos ou até mesmo
estuda, não consegue perceber as transformações educacionais, atualizando seus
conhecimentos, não tem uma grande consciência da sua cidadania e assume diante dos
20
seus alunos, uma atitude conservadora frente aos conteúdos, e será difícil para ele
aceitar uma forma de avaliação qualitativa, até mesmo pelo temor de perder sua
autoridade diante da turma.
Este cerimonial, presente ainda em várias escolas hoje em dia, exibe uma
prática comum no dia-a-dia de alguns orientadores da aprendizagem, que não atentaram
ainda, para o acontecimento de que esta postura poderá levá-lo ao fracasso escolar.
Paulo Freire diz:
"O saber transmitido na escola é realmente nocivo quando se trata deum conjunto de idéias abstratas, desvinculadas do contexto realvivido. Pois isto distancia a pessoa de sua realidade e a torna incapazde agir de maneira coerente e transformadora."
(Freire, Paulo, p. 16)
Entende-se como essa maneira de ver é que o ato de avaliar não se
encontrou presente em hora nenhuma com o dia-a-dia, com a maneira de ensinar do
orientador da aprendizagem, pois o professor esteve preso a todo momento em
transmitir o assunto ou os assuntos que ele acha primordial para seus alunos. Assim os
assuntos não tinha nada a haver com a realidade de seus alunos, sendo portanto
ensinados de forma partida, dividida sem um propósito pedagógico que levasse aos
alunos aplicá-los na vida.
No Brasil, o ensino oficial ainda é privilégio das classes dominantes,
então há barreiras imensas para se adquirir novas técnicas de ensino e avaliação; e com
isto mostra que avaliar é uma arma a serviço do poder e do modelo político social em
vigência. Acontece isso pelo modo do orientador da aprendizagem ter sido formado por
um ensino desta natureza, reproduzindo na sua ação profissional os valores, vícios e
mitos aprendidos ao longo de sua formação.
21
A Denise de Oliveira posiciona-se assim:
"A concepção conservadora caracteriza a ação docente desde que aescola foi criada como instituição responsável pela educação formal,dando ênfase à preparação intelectual, transmissão de conhecimentose à autoridade do professor. Recentemente, por força das teoriasprogressistas, começa a mudar o eixo das preocupações com aavaliação, junto aos professores, de forma a priorizar a qualidade enão mais a quantidade."
(Oliveira, Denise, 1991, p. 39)
Os questionamentos em torno da avaliação segundo a colocação acima,
demonstra que em pouco tempo, em poucos anos, e em função desta nova perspectiva,
nem todos os orientadores da aprendizagem tiveram oportunidade de conhecer
profundamente as novas visões sobre este tema.
Todo processo de mudança, se dá de forma rápida, agitada e aos poucos,
diversos teóricos consideram que o passo número um já foi dado, e que a avaliação é
atualmente um dos temas constantes das discussões educacionais. Atualmente muitos
educadores que prosseguiram pedagogicamente no caminho concordaram que a
avaliação classificatória não é instrumento que atende à concepção democrática de
educação. Ao contrário, trata-se de um mecanismo de controle e manutenção da ordem
social dominante.
Levantar a bandeira de uma nova escola, abrange defender um modelo de
avaliação, que não classifique e nem discrimine, que seja ousada na procura de novas
maneiras que possibilitem aos alunos, colocar para fora o potencial que a escola durante
muito tempo desconheceu. Isso pode acontecer por meio do exercício da criatividade,
do senso crítico, da consciência da cidadania e do espírito de solidariedade que a
competitividade individualista não considerou. É hora de lutar em desacordo com os
mitos que até hoje permitiram que milhares de alunos abandonassem as instituições de
ensino, sem terminarem se quer as séries iniciais.
22
1.3 - A Avaliação Classificatória
Estudos realizado por especialista têm comprovado que a correção de um
mesmo trabalho por diferentes professores recebe diferentes valores, o mesmo
acontecendo se a correção for em dias diversos, embora feita pela mesma pessoa; uma
prova ótima ou o inverso pode determinar divergência de grau na examinada
posteriormente.
Mesmo se tratando de uma área científica, até em séries iniciantes, ou em
cursos, etc. critérios diferentes podem aprovar ou reprovar um educando.
Todavia, Pedro Demo fala que seria inocente pensar que a avaliação
escolar é apenas um meio técnico, que tem propósito enfatizar o caráter político das
práticas de avaliação, ele coloca que o ato de avaliar pode se constituir num exercício
autoritário do poder de julgar, ou ao contrário, num processo de um projeto em que o
avaliador e avaliando procuram e sofrem uma mudança qualitativa.
Luckesi, por sua vez destaca o conteúdo político do ato de ensinar
mostrando que existe no modo autoritário que reveste a avaliação, um
comprometimento com o modelo liberal, cujos princípios originais consolidam as
desigualdades sociais e o predomínio da visão burguesa sobre as demais visões de
classe. Daí afirmar que a avaliação no Brasil:
"(...) está a serviço de uma pedagogia dominante que por sua vez, estáa serviço de um modelo dominante, que genericamente, pode serindicado como um modelo social liberal conservador, nascido daestratificação dos empreendimentos transformadores da revoluçãofrancesa."
(Luckesi, julho, 1996)
Estas colocações mostram que o conceito de avaliação classificatória
caracteriza uma forma de avaliação autoritária, seletiva, preconceituosa, discriminatória,
em que o aluno é visto como objeto, e não como sujeito do ato de aprender. Esta seria
23
uma determinação real alicerçada nos traços peculiares que existem na avaliação
classificatória, e são instrumentos de reprodução de modelo conservador de sociedade e
de educação.
Esta afirmação de Luckesi:
"A prática classificatória da avaliação é antidemocrática, na medidaque não encaminha para uma tomada de decisão na direção doavanço, para o crescimento. Essa prática classificatória confirma anossa hipótese de que a atual prática de avaliação é uma práticaantidemocrática no que se refere ao ensino."
(Luckesi, 1991, p.49)
Esta colocação mostra as dificuldades enfrentadas pelos alunos diante
dos instrumento utilizados para a avaliação, uma vez que esses acabam por não deixar,
ao contrário, de facilitar a apropriação ativa do saber.
Quando assume um modelo classificatório de avaliar o orientador da
aprendizagem dá juízos numéricos, normalmente usando a escala de zero a dez e no
caso dos conceitos, atributos de: ruim , péssimo, regular, bom, ótimo.
Na ação docente a mistura se dá entre conceito de quantidade e
qualidade, e mudar a qualidade em quantidade passou-se a uma prática banal nas
escolas. O mais sério neste processo de distorção da função avaliativa está nas
conseqüências sociais que este fato acarreta para o aluno, que é ser estereotipado pelo
conceito "ruim", "deficiente", "bom" e "excelente". E questionamentos aparecem,
relacionados a esta maneira de avaliar: Que critérios foram usados pelo orientador da
aprendizagem na hora da avaliação? Será que a nota corresponde à avaliação feita? Será
que a nota reflete realmente o nível de conhecimento do aluno?
Estas questões, sempre presentes, motivou os orientadores da
aprendizagem a pensar sobre o modo classificatório de avaliação e a notarem o quanto é
irreal para o avaliado ser identificado e rotulado como um "zero" ou "deficiente".
24
Luckesi situa-se a favor da mudança em qualidade e em quantidade
quando diz que: "atitudes como estas impossibilitam ao aluno tomar consciência da sua
situação em termos de aprendizagem."
(Luckesi, 1990, p. 51)
Por outro lado, quando adota um modelo de avaliação que classifica, o
professor, mostra uma perspectiva em pedaços dos programas, planejamentos, e
objetivos, assim como da quantidade de conteúdos a serem dados, confundindo mais
uma vez quantidade com qualidade. Em outro prisma, esse orientador da aprendizagem,
se posto no meio do processo ensino-aprendizagem e, raramente questiona seu trabalho,
porque se sente como o "dono do saber". Na sua fala diária "os alunos não estudam"
apresentam desajustes "são indisciplinados" e "não dão para os estudos".
Neste contexto escolar todo, em que o aluno está incluído, mostra um
formato de ensino antidemocrático, que não lhe oferece oportunidade de analisar os
conteúdos não adquiridos que poderiam ser reforçados através da utilização de outros
recursos pedagógicos, que poderiam colaborar com o seu crescimento como ser integral.
Por isso, a avaliação é malvada com o aluno em formação, na medida em
que gera uma impressão de insegurança, insucesso, que prejudica a construção de sua
própria auto estima, ou seja, da sua forma de perceber o mundo sem medos e com
espírito de inovação, descoberta essenciais para que ele supere na escola e na vida as
difíceis contradições que irão aparecer no seu cotidiano. Portanto, quando o seu
emprego for de controle ou punição, a avaliação escolar torna-se-a um meio perigoso,
pois fará o aluno sentir-se fracassado não apenas na escola mas também na vida.
25
As perguntas sobre a avaliação classificatória têm mostrado que a
instituição de ensino fez sua própria auto crítica, permanecendo legalista e presa aos
mitos que estão sendo fabricados, passados desde a educação catequética.
Um dos enormes desafios que temos a nossa frente em educação nesta no
hora é a revisão do processo de avaliação escolar, não apenas pelo fato da maior parte
dos orientadores da aprendizagem não ter se transformado, modificado sua maneira de
olhar a educação, como também pela própria estrutura do ensino que mantém o formato
tradicional e indesejável para os novos tempos.
As investigações realizadas atualmente no Brasil sobre avaliação
mostram que a evasão e a repetência são problemas graves que precisam ser sanados,
banidos na busca de uma melhoria de qualidade de ensino, pois os capitais aplicados no
ensino do país não poderiam passar por uma avaliação rigorosa de caráter classificatório
pois com certeza receberia uma nota baixa, um "zero."
Transpor a avaliação classificatória, deixando os alunos e orientadores da
aprendizagem reexaminar os conteúdos por intermédio de um processo diagnóstico, que
está junto do processo de confecção do conhecimento, é agora, a fé e esperança que
movimenta uma grande quantidade de pessoas, educadores, e incomodados com a
situação, envolvidos com uma postura democrática da educação, construtiva, dialética,
qualitativa, que olha o aluno como um ser de múltiplas possibilidades e sujeitos da
construção, confecção de seu próprio conhecimento.
26
CAPÍTULO II
Avaliação diagnóstica como intermediária da práxis educativa
modificadora
2.1 - Avaliação Diagnóstica
Visa determinar a presença ou ausência de conhecimentos e habilidades,
inclusive buscando detectar pré-requisitos para novas experiências de aprendizagens.
Permite averiguar as causas de repetidas dificuldades de aprendizagem.
Esta avaliação deveria ser utilizada do primeiro ao terceiro grau.
Atualmente esta tem sido pouco explorada, e quando utilizada a tendência é de que
alunos brilhantes se atribuem graus menos elevados do que aqueles que não adquirem o
conhecimento ou habilidades almejadas.
Auto-avaliação deve ser uma aprendizagem já explorada nas séries
iniciais para que, através da educação o aluno seja capaz de parar, pensar, concluir e
continuar a escalada do conhecimento com pés firmes, consciência tranqüila e
garantindo seu próprio progresso. Afirma-se que o educando é o sujeito, e não objeto da
ação educativa; no entanto, ele próprio não participa do processo de sua avaliação,
apenas recebe, direta ou indiretamente, o resultado de sua vitória ou fracasso, falhas.
Apenas lhe é comunicada a sentença final.
27
O diagnóstico se constitui por uma sondagem, projeção e retrospecção da
situação de desenvolvimento do aluno, dando-lhe elementos para verificar o que
aprendeu e como aprendeu. É uma etapa do processo educacional que tem por objetivo
verificar em que medida os conhecimentos anteriores ocorreram e o que se faz
necessário planejar para selecionar dificuldades encontradas.
A escolha em discutir a avaliação num ângulo modificador, apareceu da
vontade de inquirir sobre o autoritarismo existente na avaliação classificatória, e
tenciona a partir destes pensamentos reflexivos uma senda nova, que seja capaz de levar
os educandos a repensarem os desacertos e dificuldades, sempre na reta de uma grande
aprofundamento dos conteúdos, bem como do exercício de astúcia diferentes da
aprendizagem.
Concebemos a educação como meio político que tem uma relação com a
efetiva democracia do ensino porque mesmo que as leis afirmem que "toda criança tem
direito à escolaridade" na realidade ela é excluída da instituição de ensino, seja porque a
mesma acaba de incentivar sua evasão, por total ausência de perspectiva de
aprendizagem, ou por ter que repetir a mesma série e os mesmos conteúdos
programáticos, duas, três e até mais vezes.
A avaliação diagnóstica, lança mão deste termo usado pelos médicos
"diagnóstico", para espelhar a idéia de amostragem da situação real do indivíduo em
determinado momento de um processo, é colocada aqui como modo de avaliação que
tem um caráter modificador, por ser capaz de avaliar o aluno de determinado contexto
do seu processo global de confecção do saber, digo; conhecimento, igualando os
problemas e achando as sendas que podem levar este educando a vencer as barreiras
dentro do próprio processo.
28
O conceito de avaliação diagnóstica dado por Luckesi, citado abaixo,
leva-nos a entender que este autor traduz a visão real do que seja esta forma de
avaliação.
"A avaliação no seu aspecto diagnóstico é assumida como uminstrumento de compreensão do estágio de aprendizagem em que seencontra o aluno, tendo em vista tomada de decisões suficientes esatisfatórias para que ele possa avançar no seu processo deaprendizagem" (Luckesi, 1990, p.52)
Nesse ângulo, a função da avaliação será levar o aluno e o orientador da
aprendizagem compreender as condições em que se encontra dentro do estágio de
desenvolvimento educacional, levando em conta a elaboração, pelo docente, de outras
maneiras de ensinar, transmitir, orientar e assim ajudar o aluno a sair do estágio que se
encontra e com isso prosseguir em termos de conduta e conhecimentos básicos ao seu
crescimento. Todavia, a avaliação passará a ser uma meio de diagnóstico de uma
situação, dentro do processo ensino aprendizagem e não um mero instrumento de
reprovação ou aprovação.
Então, a avaliação diagnóstica é emancipadora, pois libera, o aluno
intelectualmente, na medida que lhe dá liberdade de expressar suas dificuldades e
repensar a respeito das necessidades de estudar e se empenhar mais para aprender.
Entre as caraterísticas da avaliação diagnóstica poderiam ser sintetizadas
a partir de autores como: Hoffmann e Luckesi, como: ação coletiva e consensual;
concepção investigante e reflexiva, postura cooperativa entre os elementos da ação
educativa; privilégio à compreensão, consciência crítica e responsável de todos sobre o
cotidiano.
29
Isso clareia uma essencial questão do trabalho avaliativo diagnóstico que
é estimular a ajuda, cooperação e a troca de conhecimentos na superação das
dificuldades dos alunos.
A avaliação classificatória direcionava o aluno por meio de competição
pura e simplesmente, na avaliação diagnóstica o que tem valor e o que é importante é o
processo, e a meta que se deseja atingir. Então, o aluno que se destaca em determinada
área dos conhecimentos, será incentivado ajudar os colegas que não tem facilidades em
aprender, e acontecerá uma troca substancial, que deixará que todos apliquem na práxis,
os seus saberes.
Essa afirmativa de Jussara Hoffmann coloca muito bem essa questão
afirmando:
"Para avaliar de forma diagnóstica, percebendo a ação educativa emsua complexidade, professores e alunos praticam a avaliação em seubenefício, analisando situações, realizando descobertas, tomandodecisões no sentido de transformar sua ação. Avaliação deixa de serum momento terminal do processo ensino aprendizagem paratransformar-se no próprio processo, gerando um estado de alertapermanente sobre o significado da ação educativa."
(Hoffmann, 1988, p. 59)
O comentário acima diz que a avaliação diagnóstica deixa o aluno e o
professor resistir a novas posições, no processo de aprendizagem mediados pelo
diagnóstico, que mostra falhas e facilita um remanejamento das ações pedagógicas.
Sendo assim, a avaliação diagnóstica poderá ser concretamente
mediadora de uma nova perspectiva de educação, e é preciso que o orientador da
aprendizagem domine o conteúdo de sua disciplina, com um propósito político
modificador, e senso crítico necessário à promoção diária e constantemente da auto-
avaliação, porque sem isso, ficará dificultoso mudar ativamente, quando necessário, sua
postura educativa.
30
Esta avaliação diagnóstica, é considerada uma nova sendas que se inicia
para a uma educação veridicamente democrática, reumanizadora e coerente com as
modificações que a modernidade pede, necessita e grita urgentemente.
2.2 - Atribuições e Falhas na Avaliação Diagnóstica
A avaliação é um sistema intencional e discriminatório de verificação
que tem por objetivo tornar a aprendizagem mais efetiva, e conclui que esta, como
processo, objetiva melhorar a aprendizagem; a validade deste posicionamento, embora
parcial, e significativa quanto à ênfase dada à avaliação como processo educativo.
A importância da avaliação, bem como seus procedimentos, têm variado
no decorrer dos tempos, sofrendo a influência das tendências de valoração
que se acentuam em cada época, em decorrência dos desenvolvimentos da ciência e da
tecnologia.
A falha na educação tradicional é algo inadmissível no processo ensino
aprendizagem. A instituição escolar desempenhava a atribuição de não deixar que seus
alunos tivessem capacidade de falhar, e várias gerações sentiram-se sempre com medo
frente a prática de alguns erros ou falhas, na vida, na escola ou no trabalho.
As hipóteses progressistas com base nos avanços conquistados pela
Psicologia do Desenvolvimento mostrou que a falha ou melhor o "erro" faz parte do
modo de executar digo, organização do conhecimento do ser humano, e que quando
construído, trabalhado de maneira objetiva, a falha será encarada como marco de saída
para progressos imprescindíveis, a sua superação.
As vezes, a falha que foi concedida ao educando, é resultado da maneira
de como o orientador da aprendizagem guiou o processo de ensino, ou de como ele
evidenciou o conceito trabalhado; não considerou a maneira de expressão dos
31
educandos; suas limitações e opiniões, não os influenciou a refletir e pensar sobre
posições apresentadas, sobre problemáticas e situações problemas evidenciadas; não fez
uso de estratégias diversas que diminuíssem o grau de dificuldades para aprender, não
olhou o educando como indivíduo pensante e capacitado de mostrar suas vivências,
cooparticipando da edificação do seu saber, por meio do escambo de idéias, da
introdução de brincadeiras na sala de aula e da admissão das diversidade de pessoas e
das diferenças individuais de cada aluno.
A avaliação diagnóstica enxerga falha no construtivismo pois é
possibilidade de superação das dificuldades, na medida em que dá oportunidade ao
educando de meditar sobre o raciocínio que realizou, constatando os erros do processo,
a partir do estabelecimento de novas ligações e conclusões.
Davis diz:
"É função, portanto, da escola, levar a criança a refletir sobre os"porquês" e os "comos" da ação, nunca através da coação e sim dacooperação entre professores e alunos e entre os próprios alunos.Desta maneira, via cooperação, hipóteses individuais são discutidasde modo que a troca de pensamento possibilite a apreensão deperturbações, acionando o processo de equilibração das estruturascognitivas."
(Ibid, 1990, p. 71)
Mais um assunto interessante é o fato de ser proveitoso a contribuição
das falhas na melhoria da qualidade do ensino, pois possibilita que o mesmo ofereça
uma reformulação dos procedimentos técnico-metodológicos usados pelos orientadores
da aprendizagem. Desta maneira, o aluno por exemplo; não consegue obter determinado
conceito que é pré-requisito para outros, da maneira como o mesmo lhe foi apresentado,
é dever do orientador da aprendizagem na hora que diagnosticar este fato, procurar
outras estratégias de ensinar, reapresentando o mesmo conceito de um modo diferente e
capaz de tornar mais fácil a aprendizagem.
32
Com isto é revelado o porquê das práticas construtivistas encararem a
falha como resposta de uma postura de experimentação, onde a criança desde as séries
iniciais suscita hipóteses, faz planos para uma ação correta e as executa, testa. Se crê
atualmente que esta tentativa é uma opção de extinção do fracasso escolar, que se
detecta claramente nas escolas, a partir da hora em que os orientadores da aprendizagem
compreendem que a avaliação é e faz parte de um processo enorme e dinâmico, onde o
planejar, programar e efetivar a ação pedagógica devem sempre fazer-se acompanhar da
avaliação, por ser ela a ação técnica e mediadora do aperfeiçoamento educacional.
2.3 - Avaliação Diagnóstica: Aparência Modificadora
Avaliação da aprendizagem escolar poderia continuar a ser tratada como
um elemento à parte, pois integra o processo didático de ensino-aprendizagem, como um
de seus elementos constitutivos. Então a avaliação, ao lado do planejamento e da
execução do ensino, constituía em todo do planejamento e da execução do ensino,
constituía um todo delimitado por uma concepção filosófica-política da educação.
A atual prática da avaliação escolar, estipulou como função o ato de
avaliar a classificação e não o diagnóstico, como deveria ser, construtivamente; ou seja,
o julgamento de valor, que teria a função de possibilitar uma nova tomada de decisão
sobre o objeto avaliado passa a ter a função estática de classificar um objeto ou um ser
humano histórico, num padrão definitivamente determinado. Do ponto de vista da
aprendizagem escolar, poderá ser definitivamente classificado como inferior, médio ou
superior. Classificações essas que são registradas e podem ser transformadas em
números, e por isso, adquirem a possibilidade de serem somadas e divididas em médias.
Será que o inferior não pode atingir o nível médio ou superior? Todo os educadores
sabem que isso é possível, até mesmo defendem a idéia do crescimento. Todavia, parece
33
que todos preferem que isto não ocorra, uma vez que optam por definitivamente, deixar
os educandos com as notas obtidas, como forma de "castigo" pelo seu desempenho
possivelmente inadequado.
A competência não deveria ser, segundo as regras do ritual pedagógico,
registrado em símbolos compatíveis e correspondentes? Por que, então, modificá-la? A
explicação é pelo fato do orientador da aprendizagem traduzir um modelo social em
modelo pedagógico, que reduz a distribuição social das pessoas: os que são
considerados ''bons'', "médios" e "inferiores" no início de um processo de aprendizagem
permanecerão nas mesmas posições no seu final.
Apesar da lei garantir igualdade para todos, no contexto histórico
encontram-se os meios para garantir as diferenças individuais do ponto de vista da
sociedade ou seja; o ritual pedagógico, não propicia nenhuma modificação na
distribuição social das pessoas e, assim sendo, não auxilia a transformação à mudança
social.
A avaliação diagnóstica como processo gerador de modificação hoje em
dia é algo que não se mostra muito claro para os orientadores da aprendizagem que em
muitos anos tiveram postura avaliativas que priorizavam a quantidade no lugar da
qualidade.
A sua aparência modificadora acha-se na abertura de permitir a reflexão,
o repensar constantemente sobre os conteúdos trabalhados no dia-a-dia da sala de aula, e
na focalização crítica que esta posição avaliativa permite tanto o orientador da
aprendizagem quanto ao educando.
Todavia, as modificações podem ser previstas na própria ação do
professor, pelo planejamento dos orientadores da aprendizagem, que permite deixar de
34
se tornar um documento intocável, fechado a conteúdos curriculares repetitivos, para
passar a ser um meio dinâmico e direcionador do trabalho pedagógico, de maneira a
poder satisfazer aos desejos reais do educando, aos conteúdos culturais não
especificados no programa de ensino, bem como às necessidades de integração das
diversas disciplinas que fazem parte dos currículos. A partir da avaliação diagnóstica, o
orientador da aprendizagem terá oportunidade de refazer, reelaborar seus objetivos de
ensino.
Esta maneira de avaliação também ajuda para haver uma modificação
que se fazem necessárias à relação professor-aluno pois abre brechas para que o
orientador da aprendizagem identifique melhor seus alunos, que converse com eles,
permitindo também ser identificado, conhecido, e interagir com os mesmos em
condições de igualdade.
O diagnóstico como produto final da mediação incitante, estimulada pelo
processo de avaliação, dá possibilidades para que os critérios de avaliação sejam
revisados em benefício do processo, e que professores, equipe pedagógica, direção da
escola, pare para decidir, quais as melhores alternativas para aprimorar ainda mais o
processo ensino-aprendizagem.
Por isto, a avaliação diagnóstica deixa que o sistema escolar como um
todo também tire partido dos seus resultados, pois quando os resultados da
aprendizagem são ruins, e insuficientes é sinal de que algo vai ruim também no sistema
educacional como um todo.
A função modificadora da avaliação diagnóstica mostra a sua natureza
dialética, pois ela está em todo o tempo querendo novidades para passar além, superar-
se das contradições identificadas no processo ensino-aprendizagem. Essas colocações
35
feitas mostram que esta nova maneira de avaliar se preocupa em problematizar as
questões e não mais escondê-las com justificativas legalistas ou mesmo com posturas
tradicionais.
Por isto tudo, a avaliação neste ângulo liberta os alunos, orientadores da
aprendizagem e a instituição de ensino dos mitos cultivados pelo ensino conservador, e
por tal razão é humanizadora e emancipadora, pois deixa que o sistema escolar
reconheça seus erros e queira mudar, modificar.
É de suma importância também compreender, que esta avaliação dá
condições para organizar, preparar um trabalho interdisciplinar em que os orientadores
da aprendizagem das várias disciplinas se juntem para programar novas maneiras de
agir e novos projetos pedagógicos, que tenham como propósito o avanço, o crescimento
da instituição de ensino e a união, participação maciça dos alunos na construção do
saber puro e genuíno.
36
CAPÍTULO III
Avaliação Diagnóstica Instrumento da Identificação de Novos Rumos
3.1 - Novos Rumos da Avaliação Diagnóstica
Sociólogos, antropólogos e educadores discutem que o conservadorismo
está entranhado à nossa educação como um dado historicamente incorporado à cultura
brasileira. A avaliação escolar , instrumento técnico-pedagógico que sempre serviu aos
interesses das classes dominantes, inicia uma transformação nestes últimos tempos em
função do avanço das teorias educacionais. Porém, como transformar de repente uma
conjuntura que vem sendo copiada há décadas e décadas?
Como tentativa de resposta a este questionamento a professora Sammy
Rosa afirma:
"Toda mudança é difícil e sofrida, porque exige uma reorganizaçãodos espaços e objetivos até então tidos como permanentes. Rompercom o estabelecido, o certo, o aceito, é mexer com a ordem. Daí todamudança seja ela qual for, implica em resistências".
(Rosa Sammy, 1993, p. 19)
Esta citação torna ilustre a discussão da avaliação no contexto escolar e
demonstra o "porque" de incertezas e desacordos presente no cotidiano dos orientadores
da aprendizagem que procuram romper, acabar com a práxis tradicional de avaliar.
Acredita-se que toda transformação é um processo e que as enormes
mudanças não se fazem de uma hora para outra, compreende-se que determinadas ações
37
observadas no dia-a-dia escolar, por parte dos orientadores da aprendizagem; são
atitudes comuns, e atual, nos processos de mudança numa estrutura sistemática. Em
outro prisma, uma transformação de disposição de avaliação significa
consequentemente uma mudança na posição, na postura pedagógica do orientador da
aprendizagem, o que obriga uma nova posição na visão de Educação, de si mesmo como
um real professor, um profissional engajado na luta e construção do conhecimento de
educando.
Então, o aluno encarado como sujeito de sua história e construtor de seu
saber, o professor será o intermediário deste saber, e será para a sociedade cheia de
hierárquias e desigual uma tentativa melindrosa, dolorosa. As oposições são derivadas,
não somente por meio do orientador da aprendizagem, mas também dos pais e dos
próprios alunos. Pedro Demo menciona: "é mais fácil adotar critérios quantitativos
para avaliar, do que trabalhar com a qualidade." (Demo,
Pedro, 1990, p. 35)
Adiante, há de considerar que a avaliação diagnóstica exige um esforço
de acompanhamento maior por parte do orientador da aprendizagem, então, se
pesquisarmos a realidade dos professores que para viver tem que trabalhar em várias
escolas por necessidades, ainda precisam organizar atividades, preparar aulas, e avaliar.
Diante disso, cremos que nada disto deixa justificado o descaso de alguns frente as
transformações no processo de avaliar, pois por mais difícil que seja alterar atitudes,
hábitos e valores, nada é mais doloroso do que as altas taxas de abandono, desistência,
repetência contida na educação brasileira.
Tida como "bicho papão" pelos aluno, a avaliação, além de ser
considerada desumana, é deseducativa. Este meio estruturado na classificação torna-se
38
impróprio, não justo pois deixa de considerar as diversidades individuais e naturais
entre as pessoas.
Acredita-se que a instituição de ensino brasileira não está preparada
ainda para ser posicionar diante do fazer pedagógico, e a avaliação diagnóstica fazer
parte dela, as vezes por falta de financiamento, e também de um espaço de preparação,
capacitação permanente dos orientadores da aprendizagem. Por isso tudo, a nova
maneira de avaliar, precisar ser questionada pelas instituições de ensino profundamente,
não como "algo certo" e "definitivo", mas como uma possibilidade para transformação
das maneiras de agir, fazer das práticas pedagógicas e da relação professor-aluno.
Neste sentido, a avaliação que transforma, modifica e liberta é
considerada um sonho, uma utopia que deveria ser perseguida, procurada por todos os
orientadores da aprendizagem que visualizam e esperam que o amanhã possa ser
diferente, um ensino humanizado e de qualidade. Então a vontade e a esperança de
propósitos modernos, uma nova perspectiva educacional de formar um homem-
questionador, participante, transformador, investigador e realizador, é que nos leva
acreditar ainda na educação. A formação de alunos críticos, que tenham consciência da
sua ideologia, cidadania e que seja capaz de um dia modificar qualitativamente sua
realidade, precisaremos de orientadores da aprendizagem, consciente de sua postura,
capacitados, competentes e engajados numa política de transformação e corajosos para
adotar como prática a auto avaliação.
As novas perspectivas, os sonhos, os desejos de mudar fazem parte do
desenvolvimento, da evolução pois jamais seremos capazes de modificar nossa
educação efetivamente sem esses anseios.
39
Prosseguindo, citamos algumas saídas, ou melhor; possíveis saídas que
fazem-se necessárias para o movimento de transformação da prática educativa no
contexto das escolas que já começam seu processo de mudança na procura de uma
maneira nova de avaliar.
Ressaltamos, todavia, que a enorme saída, encontra-se no diferente
posicionamento do orientador da aprendizagem, ele precisa ter uma maneira diferente
de agir como pesquisador de conhecimentos e investigador frente do desenvolvimento
de seu aluno. Entretanto, o orientador da aprendizagem, deverá ele ser mais observador
do que encher os alunos de conteúdos, e estimulá-los a vencer as barreiras, os erros por
meio do reencaminhamento da ação pedagógica. E para isso acontecer é necessário que
a relação professor-aluno possa se dar num trabalho que exerce interação, de modo que
um e outro, possam desenvolver-se dentro desta relação. Esse trabalho deverá ser feito
de modo integrado, com todos os ajudantes do processo educacional, procurando um
real planejamento, fruto este da participação do educando.
A respeito da instituição educacional, compete a ela tentar executar,
desenvolver um projeto pedagógico interdisciplinar, que além de promover a união,
integração entre as disciplinas, vai exigir do orientador da aprendizagem que ele assuma
critérios avaliativos que aconteçam processualmente, onde o destaque seja dado a
trabalhos em grupo, auto avaliação com normas estipuladas pelos alunos.
E frente a esse sistema educacional integrador, as chances do educando
serão diversas, pois estará constantemente desejoso a fazer, criar como pessoa ativa no
processo de aprendizagem e enorme conhecedor de si mesmo, sabedor de suas
limitações, dificuldades e capacidades, passando a ser um indivíduo autônomo, liberal.
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Podemos, portanto dizer, que os possíveis estudos sobre avaliação, as
possibilidades de pesquisas, questionamentos foi uma experiência muito gratificante e
enriquecedora para a visão de educação.
No processo educativo a avaliação é um momento essencial e genuíno, e
para que as instituições de ensino deixem as posturas antigas e tenham outra diferente,
nova, é muito importante que diante deste processo pedagógico os coordenadores, os
administradores, professores, pais e educandos passem a discutir os questionamentos à
respeito, que fazem do conhecimento, do saber. Se não houver conversas, diálogo para
analisar a postura da escola como um todo, será dificílimo a aceitação da avaliação
diagnóstica como um momento de refazer, reconstruir conceitos, idéias e pensamentos
pré-concebidos e que haja a busca de um ensino fruto de descobertas, de pesquisas do
educando, da sua ânsia de revelar e de traduzir o mundo que o cerca.
41
CAPÍTULO IV
Avaliação: possíveis saídas e resgates
4.1 - Modificação da Avaliação Escolar
Para romper com esse estado de coisas, importa desligar-se, romper com
o modelo de sociedade e com a pedagogia que o traduz. Não existe possíveis
possibilidades de modificar, transformar os rumos da avaliação, fazendo-a permanecer
no bojo de um modelo social e de uma pedagogia que não permite esse
encaminhamento. A avaliação do sistema educacional escolar, como instrumento
tradutor de uma pedagogia que, por sua vez é representativa de um modelo social, não
poderá mudar sua forma de continuar sendo vista e exercitada no âmago de mesmo
corpo teórico-prático no qual está inserida.
Para que a avaliação educacional escolar assuma o seu verdadeiro papel
de instrumento dialético de diagnóstico para o crescimento, terá de se situar e estar a
serviço de uma pedagogia que esteja preocupada com a mudança, transformação social
e não com sua conservação. A avaliação deixará de ser autoritária se o modelo social e a
concepção teórico-prática da educação também não forem autoritários. Se as aspirações
socializantes da humanidade se traduzem num modelo socializante e democrático, a
pedagogia e a avaliação em seu interior também se transformarão na perspectiva de
encaminhamentos democráticos.
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Seria um contra-senso que um modelo social pedagógico autoritários e
conservadores tivessem no seu âmago uma prática de avaliação democrática. Isso não
quer dizer que no seio da sociedade conservadora e no contexto de uma pedagogia
autoritária não surjam os elementos contraditórios e antagônicos que vão possibilitar a
sua transformação.
Para tanto, o educador que estiver aceito a dar um novo encaminhamento
para a prática da avaliação escolar deverá estar preocupado em redefinir ou em definir
propriamente os rumos de sua ação pedagógica, pois ela não é neutra como todos nós
sabemos. Ela se insere num contexto maior e está a serviço dele. Então, o primeiro
passo que nos parece fundamental para redirecionar os caminhos da prática da
avaliação e assumir um posicionamento pedagógico claro e explícito. Claro e explícito
de tal modo que possa orientar diretamente a prática pedagógica, no planejamento, na
execução, e na avaliação
Decorrente desse, um outro ponto fundamental a ser levado em
consideração como proposta de ação é a conversão de cada um de nós, professor,
educador, orientador da aprendizagem, para novos rumos da prática educacional.
Conversão, aqui, quer dizer conscientização e prática dessa conscientização. Não basta
saber que " que deve ser assim", e preciso fazer com que as coisas " sejam assim". A
conversão implica o entendimento novo da situação e dos rumos a seguir e de sua
tradução na prática diária. Então, não basta entender que é necessária uma nova
pedagogia nem basta entender que é necessária mudança nos rumos da prática da
avaliação. Torna-se fundamental que, na medida mesma em que se venha a processar
estes novos entendimentos, novas formas de conduta sejam manifestações desses
acontecimentos. Há muito tempo se vem demonstrando que, só com boas intenções, não
43
se modifica o mundo; muito menos ele será transformado por esta via idealista. Teoria e
prática, apesar de serem abstratamente distinguíveis, formam uma unidade na ação para
a transformação. A conversão da qual é falada, significa a tradução histórica, pessoal,
em cada um de nós, da teoria em prática.
O resgate da avaliação em sua essência constitutiva, ou seja; torna-se
necessário que a avaliação educacional, no contexto de uma pedagogia preocupada com
a modificação, seja efetivamente um julgamento de valor sobre manifestações
relevantes da realidade para uma tomada de decisão. Os "dados relevantes" não poderão
ser tomados ao acaso, ao bel-prazer do professor, porém terão de ser relevantes de fato
para aquilo a que se propõem. Então a avaliação estará preocupada com objetivo maior
que se tem, que é a transformação, mudança social. Ela dependerá deste objetivo e não
propriamente das minudências psicológicas de quem, num determinado momento, está
praticando o ato pedagógico.
Contudo, nesse contexto mais técnico o elemento essencial, para que se
dê à avaliação educacional escolar um rumo diverso o que vem sem sendo exercitado, é
o resgate da sua função diagnóstica. Para não ser autoritária e conservadora, a avaliação
terá de ser diagnóstica, ou seja, deverá ser o instrumento dialético do avanço, terá de ser
o instrumento da identificação de novos rumos. Enfim terá de ser o instrumento do
reconhecimento dos caminhos percorridos e da identificação dos caminhos a serem
perseguidos. A avaliação educacional escolar como instrumento de classificação, não
serve em nada para a mudança, transformação; contudo é extremamente eficiente para a
conservação da sociedade, pela domesticação dos educandos.
Como proceder a esse resgate? Dependerá evidentemente, que cada
educador, no recôndito de sua sala de aula assuma ser um companheiro de jornada de
44
cada aluno; fato que não significa defender total igualdade de ambos. O professor terá
obrigatoriamente de ser diferente, mais maduro e mais experiente; contudo, isso não lhe
retira a possibilidade de assumir-se como companheiro de jornada no processo de
formação e de capacitação do educando. E a avaliação diagnóstica será, com certeza,
um instrumento fundamental para auxiliar cada educando no seu processo de
competência e crescimento para a autonomia, situação que lhe garantirá sempre relações
de reciprocidade.
Um sociedade democrática funda-se em relações de reciprocidade e não
de subalternidade e para que isso ocorra é preciso um conjunto de coisas, de
competências e a escola tem o dever de auxiliar a formação dessas competências, sob
pena de estar sendo conivente com a domesticação e a opressão, característica de um
sociedade conservadora.
O resgate do significado "diagnóstico da avaliação" como
encaminhamento para a ultrapassagem do autoritarismo, de forma alguma quer
significar menos rigor na prática da avaliação. Ao contrário, para ser diagnóstica, a
avaliação deverá ter o máximo possível de rigor no seu encaminhamento. Pois o rigor
técnico e científico no exercício da avaliação, garantirão ao orientador da aprendizagem,
no caso, um instrumento mais objetivo de tomada de decisão. Em função disso, sua ação
poderá ser mais adequada e mais eficiente na perspectiva da modificação.
Um possível modo prático e racional de proceder uma avaliação
diagnóstica que leve professor e aluno ao entendimento dos mínimos necessários para
que cada um possa participar democraticamente da vida social. A avaliação deverá ser
ou verificar a aprendizagem não a partir dos mínimos possíveis mas sim a partir dos
mínimos necessário. A escola não deve só tornar cada um mais qualificado, porém deve
45
agir para que "cada cidadão" possa se tornar "governante e que a sociedade o coloque,
ainda que "abstratamente", nas condições gerais de poder fazê-lo; a democracia política
tende a fazer coincidir governantes e governados( no sentido de governo com o
consentimento de governados), assegurando a cada governado a aprendizagem gratuita
das capacidades e da preparação técnica geral necessárias a fim de governar. Não será,
pois como os encaminhamentos da pedagogia compensatória, nem com os
encaminhamento de uma pedagogia esponeista que se conseguirá desenvolver uma
prática pedagógica e, consequentemente, uma avaliação escolar adequada. É preciso que
a ação pedagógica em geral e a de avaliação sejam racionalmente decididas.
E é preciso, tecnicamente, ao planejar suas atividades de ensino, o
orientador da aprendizagem estabeleça previamente o mínimo necessário a ser
aprendido efetivamente pelo aluno. É preciso que os conceitos ou notas médias de
aprovação signifiquem o mínimo necessário, para que cada "cidadão" se capacite para
governar; um mínimo necessário de aprendizagem em todas as condutas que são
indispensáveis para se viver e se exercer a cidadania, que significa a detenção das
informações e a capacidade de estudar, pensar, refletir e dirigir asa ações com
adequação e saber.
Com o processo de se estabelecer os mínimos, os alunos que
apresentarem a aprendizagem os mínimos necessários seriam aprovados para o passo
seguinte de sua aprendizagem. Enquanto não conseguirem isso, cada educando merece
ser reorientado. Alguns, certamente, ultrapassarão os mínimos, por suas aptidões, sua
dedicação, condições de diferenças sociais definias dentro de uma sociedade capitalista,
etc., porém ninguém deverá ficar sem as condições mínima de competência para a
convivência social
46
CONCLUSÃO
A escolha deste tema para trabalho e as questões levantadas foram de
suma importância, pois delimitá-lo foi muito difícil porque, como educadora que sou, a
ânsia de um novo espaço educacional (uma nova escola) sempre foi meu sonho!
Houve momentos em que os questionamentos feitos passaram a ser razão
de dúvidas, descréditos, pois as vezes é utópico ou não pensar que um dia a instituição
de ensino formará educandos que terão condições de pensar, de discutir seus pontos de
vista, suas idéias, seus valores, pesquisar, criar, ser livre para se expressar e capaz de
construir uma fala real, através da ajuda e da mediação dos orientadores da
aprendizagem.
Perceber que a avaliação diagnóstica é um processo, um meio rico, cheio
de chances para o educando e dentro da sua trajetória em que busca o conhecimento,
leva a acreditar ser viável um trabalho pedagógico, onde o educando passe a ser o
sujeito do processo de ensino aprendizagem. Esta visualização por mais boba e utópica
que possa parecer é uma verdade que impulsiona os orientadores da aprendizagem a
escolher a educação como caminho profissional.
Sabe-se que no Brasil, o ensino vive momentos de crise, de descrédito e
desvalorização no contexto político-econômico social. Mas o sonho que nos leva a
acreditar e visualizar uma instituição de ensino de qualidade, é a mola mestra na
realização desta pesquisa.
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A consciência de que a teoria e prática não são desassociadas, é um
problema, que só será resolvido na maneira que o ensino se desprender, se livrar dos
vícios antigos, e os orientadores da aprendizagem entenderem e compreenderem que o
espírito questionador, inquiridor e científico de crianças e adolescentes deverão ser
trabalhos eticamente, voltado para a edificação de um indivíduo a pensar no coletivo,
digo; um homem a serviço do social e do bem comum a sociedade.
A idéia de homogenização deverá ser banida, pois nossos educandos são
diferentes, diversificados, ninguém é igual a ninguém, seus potenciais são desiguais e
então jamais poderão ser avaliados por uma nota ou conceito. Quando estes educandos
vão construindo seus conhecimentos estarão eles num processo onde equilíbrio e
desequilíbrio acontecem sucessivamente de acordo com o avanço obtido na apropriação
de dados, na mudança de hábitos e atitudes que serão ligados e incorporados aos saberes
adquiridos anteriormente; e não pode ser desconsiderados, porque a vida é uma escola
também, é um espaço de troca e aprendizagem que não pode passar desapercebido pela
instituição de ensino e nem quantificar com valores numéricos. Isto tudo, leva a
acreditar que sonhar não é proibido, e que só realiza quem sonha. Então esse sonho
deverá ser o incentivo que move hoje os educadores na direção e no caminho de um
molde de ensino que seja libertador, democrático, que não seja exclusivo e nem exclua,
não puna e também não classifique os indivíduos e sim que lhes dê razão, direito e
condições de refletir, pensar, procurar, buscar e superar pela força de vontade, pela
busca com qualidade, suas limitações próprias seu "eu".
É entendido que a avaliação que modifica, transforma e muda, não é
aquela que está fundamentada em normas fechadas, mas ao contrário, num
acompanhamento gradual e contínuo, dos progressos e recuos dos educandos; sendo a
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meta, a quebra das barreiras, das dificuldades; no contínuo processo da construção do
saber e do conhecimento.
É viável acreditar que esse sonho se tornará um desafio e não um
impecílio, ou resistência; será um incentivo em aprender e não esse pessimismo
desagradável, que ronda hoje, muitos orientadores da aprendizagem, que em algum dia
assim como nós, acreditou e lutou para ser possível modificar e transformar os
indivíduos pela Educação. E é melhor continuar acreditando que isso será possível.
As análises feitas a partir do trabalho, é entendido que auto avaliar-se ou
seja; auto-avaliação, é uma temática que desabrocha para futuras reflexões, tendo em
perspectiva a sua importância na edificação de um novo momento de avaliar, uma nova
maneira de avaliação transformadora, capaz de modificar e tornar mais aprimorado o
relacionamento entre educando e educador; observando que é de grande importância
dentro das instituições de ensino.
Porém, a avaliação como uma possível saída, um resgate, exige do
educador que ele se preocupe, para que sua prática educacional esteja voltada para a
transformação, mudança e não poderá agir inconscientemente e irrefletidamente. Cada
passo de sua ação deverá estar marcado por uma decisão clara e explícita do que está
fazendo e para onde possivelmente esta encaminhando os resultados de sua ação. A
avaliação neste contexto, não poderá ser uma ação mecânica, ao contrário, terá de ser
uma atividade racionalmente definida, dentro de um encaminhamento político e
decisório a favor da competência de todos para a participação democrática da vida
social.
Avaliação é uma possante e tremenda arma que pode construir ou
destruir .
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Ela não é desassociada da aprendizagem e sim um pressuposto básico
para o sentido da vida, um ato de amor que nos conduz a novos rumos, diferentes
caminhos e realizações.
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