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AVALIAÇAO SOMATIVA DA “TRILHA DOS GIGANTES” NA EPTEA MATA DO PARAÍSO – VIÇOSA/MG Rogéria C. L. de Castro – Universidade Federal de Viçosa [email protected] – (31) 9305 3523 Gínia César Bontempo – Universidade Federal de Viçosa [email protected] – (31) 3892 7018 Jairo Rodrigues Silva - Universidade Federal de Viçosa [email protected] – (31) 9229 8356 Eixo temático: O homem: trilhas interpretativas e educação ambiental. Introdução A Interpretação Ambiental permite provocar estímulos, curiosidade e reflexão através da interação do visitante com o ambiente a ser observado, com vistas à abordagem da realidade de forma crítica, enfatizando os aspectos que na maioria das vezes passam despercebidos. Diante das possibilidades de visita às áreas naturais, sobressai a implantação de trilhas interpretativas. Estas, além de propiciar o contato com a natureza, o descanso, a fruição são também meios eficazes na interação homem/natureza e podem contribuir na formação da consciência ambiental (SIQUEIRA, 2004). Antes de ter a função educativa, as trilhas tinham como principal função suprir a necessidade de deslocamento, mas ao longo dos anos, houve uma alteração de valores em relação às trilhas, que passaram a ser utilizadas como uma nova forma de ligação com a natureza. As trilhas interpretativas não existem somente para a comunicação de fatos, datas e conceitos, mas também para compartilhar experiências que levem os visitantes, sejam alunos, professores ou turistas a apreciar, a entender, a sensibilizar, a cooperar na conservação de um recurso natural e também a educar (MENGHINI, F. B. 2005). Através da interpretação dos aspectos naturais e culturais de um percurso escolhido, busca-se também despertar os recursos sensoriais e a criticidade do visitante, num processo que envolve a revalorização dos lugares e a compreensão da linguagem da natureza (LIMA, F. B. et all 2003). O monitor, guia ou condutor, ao interagir com o visitante a respeito da relação homem-natureza, permite questionar-se, provocando-o e estimulando-o à reflexões, bem como valorizar os conhecimentos prévios do mesmo. O visitante tem a

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AVALIAÇAO SOMATIVA DA “TRILHA DOS GIGANTES” NA EPTEA MATA DO PARAÍSO – VIÇOSA/MG

Rogéria C. L. de Castro – Universidade Federal de Viçosa [email protected] – (31) 9305 3523 Gínia César Bontempo – Universidade Federal de Viçosa [email protected] – (31) 3892 7018 Jairo Rodrigues Silva - Universidade Federal de Viçosa [email protected] – (31) 9229 8356

Eixo temático: O homem: trilhas interpretativas e educação ambiental.

Introdução A Interpretação Ambiental permite provocar estímulos, curiosidade e reflexão

através da interação do visitante com o ambiente a ser observado, com vistas à

abordagem da realidade de forma crítica, enfatizando os aspectos que na maioria das

vezes passam despercebidos.

Diante das possibilidades de visita às áreas naturais, sobressai a implantação

de trilhas interpretativas. Estas, além de propiciar o contato com a natureza, o

descanso, a fruição são também meios eficazes na interação homem/natureza e

podem contribuir na formação da consciência ambiental (SIQUEIRA, 2004).

Antes de ter a função educativa, as trilhas tinham como principal função suprir

a necessidade de deslocamento, mas ao longo dos anos, houve uma alteração de

valores em relação às trilhas, que passaram a ser utilizadas como uma nova forma de

ligação com a natureza. As trilhas interpretativas não existem somente para a

comunicação de fatos, datas e conceitos, mas também para compartilhar experiências

que levem os visitantes, sejam alunos, professores ou turistas a apreciar, a entender,

a sensibilizar, a cooperar na conservação de um recurso natural e também a educar

(MENGHINI, F. B. 2005).

Através da interpretação dos aspectos naturais e culturais de um percurso

escolhido, busca-se também despertar os recursos sensoriais e a criticidade do

visitante, num processo que envolve a revalorização dos lugares e a compreensão da

linguagem da natureza (LIMA, F. B. et all 2003).

O monitor, guia ou condutor, ao interagir com o visitante a respeito da relação

homem-natureza, permite questionar-se, provocando-o e estimulando-o à reflexões,

bem como valorizar os conhecimentos prévios do mesmo. O visitante tem a

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oportunidade de vivenciar suas próprias experiências buscando a compreensão da

realidade em seus mais diversos aspectos. Espera-se, assim, alcançar

comprometimento, conscientização e modificação de comportamentos, valores e

hábitos sociais do visitante, como cidadão.

É de suma importância a busca incessante pelo conhecimento com base nas

necessidades do homem de compreender, analisar, entender e explicar os fatos e

fenômenos do mundo real através da observação, sentimento, pensamentos e ações

que ocorrem consigo. O conhecimento está sempre a se complementar e/ou

transformar, bem como varia de um indivíduo para outro.

De acordo com TABANEZ et al. (1997), a avaliação de abordagens adotadas

em programas de educação ambiental pode trazer contribuições significativas ao

processo, na medida em que procura aspectos eficazes ou ineficazes, otimizando os

esforços, tempo e recursos despendidos. Essa busca de eficácia pode ser

especialmente importante em um país como Brasil, que reúne ao mesmo tempo uma

diversidade biológica das mais ricas do mundo e uma grande escassez de recursos

disponíveis para assegurar sua proteção.

Ainda para a autora supracitada, a conservação das áreas protegidas, que hoje

concentram a maior parte da biodiversidade, depende grandemente da eficácia das

estratégias adotadas. Daí a grande importância de programas de Educação ambiental

serem planejados, testados e implementados de forma a contribuírem para a proteção

e o manejo dessas áreas.

Caracterização da Área de Estudo

A Mata do Paraíso localiza-se no município de Viçosa, Zona da Mata de Minas

Gerais, a 229 quilômetros da capital Belo Horizonte e a sete quilômetros da

Universidade Federal de Viçosa, possuindo uma área de 194 hectares (Figura 1).

Figura 1 – Localização Geográfica.

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A Mata do Paraíso é um fragmento da Mata Atlântica rico em espécies da flora

e da fauna, algumas em extinção, como o gato mourisco (Felis yagouaroundi) e o

macaco sauá (Calicebus personatus). Tem extrema importância regional já que é uma

das poucas áreas com grande extensão de floresta nativa. Sua vegetação consiste de

matas de topo, de encosta e de baixadas, possibilitando, assim, a conservação de alta

biodiversidade. Estão presentes também, importantes nascentes do ribeirão São

Bartolomeu, fonte de grande parte do abastecimento de água da cidade de Viçosa.

Seu entorno é, em sua maioria, formado por chácaras de lazer e pequenas

propriedades, nas quais predominam a pecuária e lavouras de subsistência.

No passado, a Mata do Paraíso sofreu interferência com exploração de

pedreira e desmatamento. Numa das represas localizadas na Mata era feita, até a

década de 50, a captação de água para abastecimento de todo o município. Hoje a

vegetação encontra-se em estágio médio e avançado de regeneração.

Em 1996, após 30 anos de convênio entre a Prefeitura Municipal de Viçosa e a

Universidade Federal de Viçosa (UFV), a área conhecida como Mata da Prefeitura

passou a pertencer definitivamente à UFV, sob a coordenação do Departamento de

Engenharia Florestal.

Em 2003 foi criada e inaugurada a Estação de Pesquisa, Treinamento e

Educação Ambiental (EPTEA) Mata do Paraíso. Em seu interior localiza-se o Centro

de Educação Ambiental, espaço construído com o apoio do Ministério do Meio

Ambiente, que dispõe de auditório, salas de aula, banheiros, copa/cozinha, além de

uma área gramada.

Apesar da Mata do Paraíso ser uma área protegida, ela não se enquadra em

nenhuma categoria pertencente ao SNUC, mas possui objetivos semelhantes aos das

Unidades de Conservação como proteção da flora e da fauna, preservação, pesquisa,

treinamento e desenvolvimento de atividades de interpretação e educação ambiental.

Em 2004 foram implantadas quatro trilhas para sediar as atividades de

interpretação e educação ambiental, procurando reaproveitar caminhos pré-existentes,

minimizando impactos ambientais: Trilha da Gameleira (200 metros de extensão);

Trilha Caminho das Águas (800 metros); Trilha dos Gigantes (1.225 metros); e

Trilha do Aceiro (7.600 metros).

Iniciaram-se, então, os trabalhos de interpretação e educação ambiental nas

trilhas por meio de uma equipe multidisciplinar formada por estudantes de graduação e

pós-graduação de diferentes cursos da UFV. Foram atendidos nos anos de 2004 e

2005 cerca de 1700 pessoas entre alunos de escolas públicas e particulares,

escoteiros, religiosos e esportistas.

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Objetivos O presente trabalho se desenvolveu com o objetivo de efetuar

sistematicamente uma avaliação somativa na “Trilha dos Gigantes” na EPTEA Mata do

Paraíso como forma de analisar a eficácia das técnicas de interpretação e educação

ambiental empregadas no local.

Mais especificamente visou-se à:

• Organização, sistematização e implementação de uma metodologia de avaliação

da eficiência das técnicas interpretativas empregadas nas trilhas da EPTEA Mata

do Paraíso;

• A geração de dados estatísticos e científicos para analise, discussão e

reformulação ou validação das técnicas de interpretação adotada na trilha dos

Gigantes da EPTEA Mata do Paraíso;

• Conhecer e divulgar os resultados obtidos com as atividades desenvolvidas nas

trilhas (especificamente a dos Gigantes) na EPTEA Mata do Paraíso;

• Estimular a continuidade e aperfeiçoamento daqueles que atuam na EPTEA Mata

do Paraíso, principalmente os monitores das trilhas;

• Incentivar a avaliação periódica das atividades de educação e interpretação

ambiental na EPTEA Mata do Paraíso, bem como a análise e a divulgação dos

resultados;

• Melhorar os serviços e atividades de educação e interpretação ambiental

oferecidos pela EPTEA Mata do Paraíso.

Metodologia Características da Trilha dos Gigantes

A Trilha dos Gigantes apresenta formato elíptico, é de relevo levemente

acidentado e tem 1225 metros de extensão. Foi implantada a partir de um caminho

pré-existente que levava à pedreira, quando ainda existia a atividade na área.

É uma trilha guiada por estagiários capacitados de diferentes cursos da UFV, cujo

público alvo são alunos das séries finais do Ensino Fundamental e alunos do Ensino

Médio.

Devido à presença, no passado, de diversas atividades antrópicas na Mata do

Paraíso, tem-se privilegiado nesta trilha, conteúdos como ação antrópica, mata

primária e secundária, regeneração natural, além de aspectos do ecossistema local,

como a fauna e flora características da Mata Atlântica, a biodiversidade, as inter-

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relações presentes no ecossistema e a importância da estação para o município de

Viçosa e região.

Existem 22 pontos previamente marcados na trilha que funcionam como um

cardápio de possibilidades. Ao agendar uma visita à Mata, o interessado é inquirido a

respeito de seus objetivos. A partir dos objetivos levantados, são, então, definidos os

pontos de parada para interpretação ambiental, que geralmente, ficam em torno de 12,

para que se percorra a trilha, com qualidade, num tempo aproximado de 1 hora e 30

minutos.

Descrição da Metodologia Normalmente Adotada na EPTEA

Assim que chegam à Estação, os alunos são encaminhados ao Centro de

Educação Ambiental, onde é feita uma apresentação a respeito da história,

características e importância do local. A seguir, são realizadas dinâmicas de grupo,

com o objetivo de motivar e entrosar os participantes para as atividades seguintes.

Cada estudante prepara seu próprio crachá, feito a partir de uma lâmina de

eucalipto, cortada em bisel, facilitando o contato entre os monitores e alunos. O grupo

é dividido em grupos menores de, no máximo, 15 alunos por monitor para facilitar a

observação e discussão durante o percurso. Só, então, os alunos seguem para a

Trilha dos Gigantes.

Neste momento os participantes são instruídos a respeito de como se

comportarem na trilha e é feito um breve alongamento, em duplas, estimulando a

cooperação mútua.

Durante a trilha, o papel do monitor é intermediar o contato direto dos alunos

com os elementos da natureza, estimulando a observação, comparação e o exercício

dos órgãos dos sentidos, tendo o cuidado de não despejar uma série de informações

desconectadas e, sim, procurando construir conhecimentos significativos com os

participantes.

Após a trilha, é feita uma ‘roda de reflexão’, em que se estimula o

compartilhamento entre os integrantes do grupo, por meio de perguntas como: ‘O que

você mais gostou?’; ‘O que você leva para casa?’. ‘O que você leva para a sua vida?’;

‘Muda alguma coisa?’; ‘O quê?’

A metodologia descrita acima tem sido construída, modificada e adaptada ao

longo dos dois últimos anos, conforme as impressões e discussões do grupo de

atendimento, entretanto, sem uma avaliação formal e sistematizada da eficácia da

trilha como instrumento de educação ambiental. Com o objetivo de obter indicações

mais sólidas, foi realizada a pesquisa descrita a seguir.

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Avaliação Formativa e Somativa

A pesquisa foi desenvolvida com alunos da 1ª série do Ensino Médio do

Colégio de Aplicação – COLUNI, órgão da UFV. Essa série foi selecionada por ser a

intermediária entre a 7ª série do Ensino Fundamental e a 3ª série do Ensino Médio,

público-alvo da Trilha dos Gigantes. O COLUNI foi selecionado, justamente por ser

uma escola de aplicação, que no transcorrer de seus 40 anos de existência, tornou-se

referência de um ensino de qualidade, sendo considerado um paradigma para escolas

públicas e privadas.

O COLUNI apresenta quatro turmas de 1ª série, cada uma com 40 alunos.

Para selecionar os participantes da pesquisa, os pesquisadores foram à escola e

apresentaram a proposta de trabalho em todas as turmas, sendo todos os

interessados cadastrados, e posteriormente selecionados através de sorteio.

O pré-teste foi aplicado ao grupo controle e aos três grupos experimentais no

próprio Colégio, quatro dias antes da atividade na Mata do Paraíso. Já o pós-teste foi

aplicado aos grupos experimentais logo em seguida às atividades realizadas, ainda na

sede da Estação. Tanto na aplicação do pré-teste quanto na do pós-teste, tomou-se os

devidos cuidados para que não houvesse comunicação entre os grupos e entre os

integrantes de cada grupo.

Com a necessidade de um grupo controle e de aplicação de diferentes

tratamentos, os pesquisadores decidiram, de antemão, que os alunos do grupo

controle, participariam normalmente das atividades oferecidas. Essa decisão foi

tomada para evitar que os alunos perdessem o interesse em participar da atividade e

também por se considerar redundante a possibilidade de se aplicar pré e pós-teste,

àqueles que não foram submetidos a nenhum tratamento. Desta forma, para o grupo

controle, considerou-se o mesmo resultado do pré-teste, no pós-teste.

Os 60 alunos foram aleatoriamente separados em quatro grupos de 15 alunos,

sendo um grupo controle, que não foi exposto ao programa (não fez pós-teste), e três

grupos experimentais submetidos a tratamentos diferentes: (1) trilha não monitorada;

(2) trilha monitorada; (3) atividade de motivação e trilha monitorada (Figura 2).

Figura 2 – Desenho experimental.

PRÉ-TESTE _______________ PRÉ-TESTE

PRÉ-TESTE T1 ou T2 ou T3 PÓS-TESTE

______________ = controle

T1 (Tratamento 1) = trilha não monitorada

T2 (Tratamento 2)= trilha monitorada

T3 (Tratamento 3) = atividade de motivação e trilha monitorada

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No T1 os alunos foram diretamente para a Trilha dos Gigantes onde o monitor

fez uma breve apresentação sobre a Estação. Os alunos foram estimulados a

percorrer a trilha com espírito investigativo, procurando fazer observações e

comparações, entretanto, sem a interferência do monitor que os acompanhava.

No T2 os alunos foram para a lagoa da Estação, próxima a entrada da trilha,

onde o monitor apresentou a Estação, fez instruções a respeito de como se

comportarem na trilha e o alongamento conforme já especificado anteriormente, em

seguida, seguiram para a Trilha. Neste tratamento, o monitor guiou o grupo e

estimulou, todo o tempo, a participação de seus integrantes. Foram selecionados,

previamente, 12 pontos de parada e observação.

No T3 os alunos passaram pelo procedimento padrão feito pelos monitores da

Estação. Primeiramente foram para o Centro de Educação Ambiental, onde o monitor

fez a apresentação da Estação, utilizando-se de recursos como maquete da Mata do

Paraíso, além de painéis com o mapa, flora e fauna do local. Em seguida, os alunos

conheceram as instalações internas e participaram da dinâmica do crachá. Após esta

atividade motivacional, o grupo se deslocou para a trilha, onde também foi guiado pelo

monitor e estimulado a participar do processo de interpretação ambiental nos mesmos

pontos de parada e observação do tratamento anterior (T2).

Em todos os tratamentos foi feita uma parada no ponto mais alto da trilha onde

há um mezanino com bancos, para descanso e lanche.

Para evitar ameaças à validade do estudo, usou-se o recurso do sorteio na

composição dos grupos, eliminando dessa forma possíveis co-relações, como por

exemplo, o círculo de amizade, fator bastante significativo entre adolescentes. Os

alunos só tomaram conhecimento do grupo que participariam na saída para a

atividade.

A hipótese nula dessa pesquisa é a de que não há diferença significativa entre

os grupos experimentais e o de controle e entre os tratamentos.

O questionário, como instrumento utilizado na pesquisa, foi testado

previamente entre alunos da 2ª série do Ensino Médio de uma escola particular do

município de Viçosa, que havia agendado a Trilha dos Gigantes com o objetivo de

conhecer o bioma Mata Atlântica e a avaliar a ação antrópica sobre o ambiente

natural. A partir deste teste foram feitas algumas modificações nos questionários para

facilitar na tabulação e interpretação dos dados.

As perguntas giraram em torno do conhecimento dos alunos a respeito de

temas como interpretação ambiental, ação antrópica, Mata Atlântica, mata primária,

mata secundária, processo de regeneração, além de questões relacionadas à

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afetividade do estudante pela atividade e pelo local, como por exemplo, seu interesse,

sua opinião e sua sugestão.

Além dos questionários, foi observado o comportamento dos estudantes nos

diferentes tratamentos, o que ajudou a identificar as atividades que os motivaram e

aquelas que deveriam sofre algum tipo de modificação.

Resultados e Discussão Apesar do programa de Educação Ambiental na EPTEA Mata do Paraíso existir

há alguns anos com suas atividades freqüentemente requeridas pelas escolas do

município e da região, conseguiu-se com certa facilidade obter alunos que nunca

tivessem participado de atividades educativas no local. Desta forma, não se correu o

risco de alguém já conhecer as características, espécies do local, tornando possível

manter o rigor científico dada à aleatoriedade na seleção dos participantes. Tal

facilidade está no fato de o COLUNI possuir uma grande quantidade de estudantes em

uma mesma série, bem como e, principalmente, pela diversidade de cidades de

origem destes estudantes.

È importante mencionar, que apesar de alguns alunos não terem sido

sorteados para participarem da atividade, não houve pressão por parte deles nem dos

professores em nenhum momento das atividades realizadas.

O perfil geral dos participantes pode ser assim descrito: 47,3% do gênero

masculino e 53,7% feminino, com idade variando entre 15 (57,4%) e 17 anos (14,8%).

Todos os participantes têm acesso a internet, sendo que para a grande maioria

(69,1%) tal acesso se dá na sua própria casa. A maior parte dos participantes (67,3%)

já esteve em uma área de proteção ambiental, que variou entre hortos e parques.

No que se refere às respostas fechadas do questionário, estas receberam um valor,

resultando em diferentes pontuações de acordo com o rendimento dos alunos.

As médias obtidas foram tabuladas e o resultado segue abaixo na Tabela I que

apresenta a quantidade de participantes (N), a média e o desvio-padrão da média para

cada tratamento no pré e pós-teste. Como é possível notar, a maior média alcançada

no pré-teste foi 16,23 pelo grupo participante do T1; já no pós-teste essa foi de 19,71,

pelo grupo participante do T3.

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Tabela I: Médias, números de indivíduos e desvios-padrão da média para cada tratamento nos pré e pós-testes

TESTE TRATAMENTO N MÉDIA DESVIO PADRÃO DA MÉDIA

PRE T1 13 16,23 2,92

T2 12 15,00 4,00

T3 14 14,64 3,43

CONTROLE 14 14,36 3,63

POS T1 13 15,92 3,73

T2 12 22,33 1,97

T3 14 19,71 3,34

CONTROLE* 14 14,36 3,63

* aplicou-se os mesmos valores obtidos no pré-teste

A análise de significância dos resultados foi feita utilizando o Intervalo de

Confiança (IC) para as médias obtidas em cada tratamento no pré e pós-teste (Tabela

II) e para a média das diferenças obtidas entre os rendimentos dos participantes em

cada tratamento (do – de) (Tabela III). Com isso, foi possível comparar

estatisticamente os resultados obtidos entre os grupos de tratamentos e de controle,

tanto no pré quanto no pós-teste.

Tabela II – Comparação entre pré e pós-teste.

INTERVALOS DE CONFIANÇA (α=5%)

Tratamento Pré-teste Pós-teste T1 P ( 14,47 ≤ m≤ 17,99) P ( 13,67 ≤ m ≤ 18,17) T2 P ( 12,46 ≤ m ≤ 17,54) P ( 21,08 ≤ m ≤ 23,58) T3 P ( 12,67 ≤ m ≤16,61) P ( 17,79 ≤ m ≤ 21,63)

Controle P ( 12,27 ≤ m ≤ 16,45) P ( 12,27 ≤ m ≤ 16,45)

Na comparação entre as médias obtidas no pré-teste, nota-se que não houve

diferença significativa entre os grupos de tratamento, indicando que todos os

participantes partiram do mesmo nível. No pós-teste, os grupos de tratamento T2 e T1;

T3 e T1; T2 e Controle; e T3 e Controle mostraram diferenças significativas quando

comparados entre si. No entanto, os grupos T2 e T3; e T1 e Controle não se

mostraram estatisticamente diferentes.

Tabela III: Intervalos de confiança da média das diferenças entre pós e pré-teste. INTERVALOS DE CONFIANÇA (α=5%)

Tratamento do – de* T1 P ( -2,48 ≤ m ≤ 1,86) T2 P ( 4,8 ≤ m ≤ 9,86) T3 P ( 7,7 ≤ m ≤ 11,87)

* do – de = média das diferenças obtidas dos valores pós-teste menos pré-teste.

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O resultado apresentado na tabela acima mostra que para o T1 a diferença

obtida entre pós e pré-teste é estatisticamente nula, com isso pode-se concluir que

não houve efeito deste tratamento na melhoria da cognição dos participantes. No

entanto, para o T2 e para o T3 o efeito na cognição dos participantes foi positivo, ou

seja, o rendimento após a realização das atividades foi em média, superior ao de

antes destas.

Este resultado sugere que, com a aplicação dos principais tratamentos (2 e 3)

utilizados, houve progresso, melhorando o rendimento dos alunos. Convém mencionar

que o resultado obtido no T1 não correspondeu ao esperado, que era de que os

alunos conseguissem perceber certas características do ambiente e,

conseqüentemente, melhorarem sua pontuação no pós-teste, mesmo sem a atuação

do monitor. Portanto, acredita-se que a desmotivação gerada pelo tipo de tratamento

tenha levado ao desinteresse e descompromisso no preenchimento do pós-teste,

ocasionando tal resultado.

Quando comparados entre si, nota-se que, tanto o T2 quanto o T3, diferem

estatisticamente do T1, gerando resultados melhores, porém o T2 e T3 não diferem

estatisticamente entre si, o que sugere que ambos produzam o mesmo resultado.

Contudo, acredita-se que o T3 por ser mais completo, se não responsável pelo maior

rendimento dos alunos, é eficiente na motivação e participação destes, o que

representa um ganho indiscutível.

O tempo despendido em cada tratamento variou: o grupo não-monitorado

demorou cerca de 50 minutos para percorrer a trilha, apesar de algumas paradas para

descanso devido ao sinal de cansaço apresentado por estes. Também notou-se

insatisfação e desinteresse do grupo, uma vez que não surgiram perguntas e não

ocorreu iniciativa de interação com o acompanhante, que por muitas vezes teve de

solicitar silêncio do grupo que estava agitado. Apesar disso, houve momentos

inesperados que surtiram algum efeito, como o encontro com uma pesquisadora da

área de botânica que coletava dados durante a realização da atividade, sendo possível

a troca de informações no que se refere ao assunto por ela pesquisado.

O grupo monitorado levou aproximadamente 2 horas e 15 minutos, uma vez

que os alunos perguntaram muito, havendo muitas paradas e interação com o monitor.

Por fim, o grupo monitorado, com a atividade de motivação, levou 3 horas, dada a

complementaridade das atividades, e também pela grande participação dos alunos,

paradas e interação com o monitor.

É importante mencionar que não foi observado nenhum sinal de cansaço e

desinteresse entre os participantes dos tratamentos 2 e 3. Pelo contrário, os sinais de

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entusiasmo, interesse e a participação foram evidentes com destaque para a

interpretação do ambiente que se deu de forma espontânea, sendo iniciada pelos

próprios estudantes (Figura 3).

Figura 3 – Participantes na trilha e atividade de motivação (confecção crachá).

Após as atividades, o grupo do T1 ficou mais de 1 hora no centro de visitantes,

esperando os demais participantes; com isso demonstraram claramente desmotivação

e chateação por não terem recebido explicações sobre o local. Desta forma, optou-se

por aproveitar o tempo disponível e fazer uma trilha menor, “Trilha Caminho das

Águas”, procurando enfocar os mesmos temas abordados na Trilha dos Gigantes,

pelos demais grupos. Como isso, conseguiu-se obter maior satisfação deste grupo

com relação à visita a EPTEA.

No que se refere à Mata Atlântica identificou-se aspectos curiosos e

conflitantes como, por exemplo, a menção do lobo-guará (62,3%), tamanduá-bandeira

(52,8%) e jabuticabeira (27,3%) como espécies desse ecossistema, enquanto

espécies como palmito, macaco-sauá e o samambaiaçu receberam respectivamente

13,2%, 47,2% e 32,1% dos apontamentos. Outro destaque foi que 9,6% dos

participantes apontaram a presença de grande quantidade, mas pouca diversidade de

espécies, como uma característica desse bioma.

Já em relação à dinâmica florestal, os participantes mostraram-se bem

informados quanto a definição de mata primária, mata secundária e mata em

regeneração, o que foi claramente notado durante o percurso da trilha, quando estes

mencionavam e comentavam a respeito dessa dinâmica.

No geral, a maioria dos estudantes, apontou a ação antrópica como a ação do

ser humano sobre o meio natural, tanto as interferências negativas quanto as

positivas. No entanto ao apontar exemplos, a grande maioria tendeu a indicar efeitos

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como desmatamento e queimadas (75%), represamento de rios (73,1%) e extração de

minério (73,1%), apesar de 73,1% apontarem a construção de trilhas também como

exemplo.

A relação entre a EPTEA e o município de Viçosa, mais apontada tanto no pré,

quanto no pós-teste refere-se à sua importância pelo oferecimento de atividades que

estimulam a preservação e conservação da natureza.

Vale destacar que mesmo antes de se visitar a EPTEA Mata do Paraíso,

quando questionados (pré-teste) sobre a possibilidade do local enfrentar algum tipo de

problema, a maior parte dos estudantes reconheceu que áreas de proteção ambiental

sempre têm dificuldades financeiras e interferências humanas indesejadas, seja dos

visitantes, seja das comunidades do entorno ou de agentes não específicos. Depois

das atividades, já no pós-teste houve alteração nas respostas, que em sua maioria

retratou o problema da biopirataria e impacto do homem no local, o que demonstra

que os participantes ficaram realmente sensibilizados com a questão. Acredita-se que

esta modificação derivou-se do fato de um dos pontos de interpretação referir-se a

uma importante pesquisa realizada com uma espécie vegetal peculiar, de propriedade

curativa, que se desenvolve nas proximidades da Trilha dos Gigantes, e que vem

sendo alvo de biopirataria além de se mostrar bastante atrativa à visitação.

Ao enfocar a sugestão de uma espécie símbolo, ficou claro que entre os

participantes do grupo não monitorado a espécie mais apontada foi a Dorstênia sp.,

devido ao encontro com a pesquisadora da espécie durante a trilha. Já entre os

participantes dos grupos monitorados (T2 e T3) a Embaúba, foi a que mais se

destacou, aparecendo também a Painera, a Dorstênia e a Gameleira.

Por fim, a maior parte dos estudantes (65,5%) apontou a sensibilização e a

conscientização sobre a conservação e a preservação da natureza como a principal

importância de se desenvolver uma atividade como esta. Para todos os participantes,

a atividade gerou reflexões importantes, sendo que a maioria mencionou a forma com

que o ser humano se relaciona com o meio natural apontando a importância e a

urgência de mudanças de atitude e de comportamento.

Esses resultados se mostram ainda mais importantes se levarmos em

consideração que a maioria dos participantes apontou como interesse principal em

participar da atividade, a oportunidade de fazer uma trilha (64,2%) ou de conhecer um

lugar diferente (71,7%), e, não, a de refletir sobre os problemas ambientais (37.7%).

Como isso acabou ocorrendo, percebe-se a importante contribuição da EPTEA para

com eles e, consequentemente, deles para com o ambiente.

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Conclusões e recomendações Acredita-se que a decisão de oportunizar as atividades a todos participantes,

após a aplicação do pós-teste, foi um fator importante para uma participação

responsável por parte dos alunos. Da mesma forma, que a atividade de motivação foi

fundamental no estímulo à participação, sendo que o crachá confeccionado pelos

alunos facilita grandemente no relacionamento destes com o monitor, uma vez que

este pôde se dirigir à pessoa e não a um “mero” aluno.

Foi claramente visível a mudança na percepção dos participantes com relação

ao interesse pela visita à EPTEA e a sua importância para o município e região,

Este estudo resultou em respostas diferenciadas devido à variação na

apreciação, compreensão e singularidade do lugar, além da variação no que se refere

ao estimulo das suas várias formas de olhar e aprender o que lhe é estranho.

A dinâmica de trabalho participativo (T2 e T3) estimulou os alunos a

observarem a natureza e trocarem idéias sobre os temas interpretados.

A Interpretação ambiental pode ser comparada a um laboratório vivo, passível

de observação e análise dos aspectos que evidenciam a ação antrópica e a ação da

natureza no que se refere a situação do meio ambiente no passado e nos dias atuais,

contextualizando-se a provável e possível recuperação de áreas degradadas.

Bibliografia Citada

TABANEZ, Marlene Francisca; PADUA, Suzana Machado et al. Avaliação de Trilhas Interpretativas para Educação Ambiental. In: PADUA, Suzana Machado; TABANEZ, Marlene Francisca (Orgs.). Educação Ambiental: caminhos trilhados no Brasil. Brasília: IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas), 1997. p.89-102.

PROJETO DOCES MATAS. 2002. Brincando e aprendendo com a Mata – manual para excursões guiadas. Belo Horizonte, 407 p.

Folder EPTEA – Mata do Paraíso. DEF/UFV, 2005.

LIMA, F.B.; MACHADO, M. K.; HOEFEL, J.L.M.; FADINI, A.A.B. Caminhada Interpretativa na Natureza como Instrumento para Educação Ambiental. In: II Encontro Pesquisa em Educação Ambiental: abordagens epistemológicas e metodológicas. UFSCar, São Carlos. 2003.

MENGHINI, F.B. As trilhas interpretativas como recurso pedagógico: caminhos traçados para a educação ambiental. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Mestrado Acadêmico em Educação da Universidade do Vale do Itajaí. Itajaí-SC 2005, 103p.

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SIQUEIRA, L. F. Trilhas interpretativas: Uma vertente responsável do (eco) turismo. Caderno Virtual de turismo, nº 14, 2004. Disponível em: http://www.ivt-rj.net/caderno/anteriores/14/siqueira/siqueira.pdf Acessado em 12 de outubro de 2006.

Agradecimentos

Aos Profs do Departamento de Engenharia Florestal da UFV, Wantuelfer Gonçalves e Gumercindo Souza Lima, coordenadores da EPTEA, pela liberação e pelo apoio no desenvolvimento deste trabalho;

À Profa. Eunice Bitencourt Bohnenberger, diretora pedagógica do COLUNI, pela liberação dos alunos para participação na pesquisa.

Aos Profs. Hélio Paulo Pereira Filho e Moisés Nascimento Soares, professores de Biologia do COLUNI, pelas sugestões e colaborações.

Aos alunos das 1ª séries do COLUNI que participaram da pesquisa com compromisso e responsabilidade.

Ao estudante do curso de Engenharia Florestal e monitor da EPTEA, Dênis Alves Salles, e à estudante de pós-graduação Cecília Felix, pela preciosa colaboração.

Aos funcionários da EPTEA Alair, Vanderli e Fernando por manterem a Mata do Paraíso sempre linda e aberta a todos.