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AMANDA MENEZES ANDRADE
EVIDNCIAS DE VALIDADE DE INSTRUMENTOS PARAAVALIAR FUNES EXECUTIVAS EM ALUNOS DE 5 A 8 SRIE
ITATIBA2008
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AMANDA MENEZES ANDRADE
EVIDNCIAS DE VALIDADE DE INSTRUMENTOS PARA AVALIARFUNES EXECUTIVAS EM ALUNOS DE 5 A 8 SRIE
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
Graduao Stricto Sensu em Psicologia da
Universidade So Francisco para obteno do
ttulo de Mestre.
ORIENTADORA:PROF.DR.ALESSANDRA GOTUZO SEABRA CAPOVILLA
ITATIBA
2008
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Ficha catalogrfica elaborada pelas Bibliotecrias do Setor deProcessamento Tcnico da Universidade So F
Ficha catalogrfica elaborada pelas bibliotecrias do Setor deProcessamento Tcnico da Universidade So Francisco.
157.99 Menezes, Amanda Andrade.M51e Evidncias de validade de instrumentos para avaliar
funes executivas em alunos de 5 a 8 srie / AmandaAndrade Menezes. -- Itatiba, 2008.103 p.
Dissertao (mestrado) Programa de Ps-GraduaoStricto Sensuem Psicologia da Universidade So Francisco.
Orientao de: Alessandra Gotuzo Seabra Capovilla
1. Avaliao neuropsicolgica. 2. Funes executivas.3.Validade de instrumentos. I. Capovilla, Alessandra GotuzoSeabra Capovilla. II. Ttulo.
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UNIVERSIDADE SO FRANCISCO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO STRICTO SENSU EM PSICOLOGIAMESTRADO
EVIDNCIAS DE VALIDADE DE INSTRUMENTOS PARAAVALIAR FUNES EXECUTIVAS EM ALUNOS DE 5 A 8 SRIE
Autora: Amanda Menezes AndradeOrientadora: PROF.DR.ALESSANDRA GOTUZO SEABRA CAPOVILLA
Este exemplar corresponde redao final da dissertao de mestrado
defendida por Amanda Menezes Andrade e aprovada pela comisso
examinadora.
Data: ____ / _____ / _____
COMISSOEXAMINADORA
___________________________________________________________Prof. Dr. Alessandra Gotuzo Seabra Capovilla (orientadora)___________________________________________________________Prof. Dr. Patrcia Waltz Schelini____________________________________________________________Prof. Dr. Claudio Garcia Capito
Itatiba2008
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Dedicatria
quela que para mim melhor representa o amor, a dedicao, a coragem,
a sabedoria, a determinao, mestra maior da minha vida, minha me
Constancia Menezes.
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Agradecimentos
minha me, MUITO OBRIGADA por TUDO. Impraticvel prolongar o meu
agradecimento a voc, pois no h palavras que tornem possvel expressar a sua
significncia na minha vida. Amo voc infinito... Voc me entende. Eu sei!
minha orientadora, Prof. Dr. Alessandra Gotuzo Seabra Capovilla, por toda a sua
dedicao e pacincia, caractersticas facilmente percebidas por aqueles que tm o prazer em
conviver com voc. Definitivamente, no tenho palavras para descrever e agradecer a sua
contribuio no meu aprendizado, como tambm nos meus momentos de angstia e de
deliciosas gargalhadas! Sem a possibilidade de receber a sua energia sempre positiva, sua
tranqilidade e segurana, eu jamais concluiria esta etapa da minha vida. Tudo o que eu vier
a lhe desejar de bom e a agradecer ser insuficiente para o que uma pessoa iluminada
como voc merece. Muitssimo obrigada!
Aos professores do Programa de Ps-Graduao da Universidade So Francisco, porserem sempre to solcitos quando por alguma razo precisei. Especialmente agradeo aos
professores Dr. Claudio Garcia Capito, Dr. Fermino Fernandes Sisto, Dr. Carlos Henrique
Nunes e s professoras Dr. Cristina Joly, Dr. Claudete Vendramini e Dr Anna Elisa de
Villemor Amaral, pela excelente oportunidade que tive de expandir os meus conhecimentos
nas disciplinas em que estivemos juntos.
Ao professor. Dr. Claudio Garcia Capito e s professoras Dr. Caroline Tozzi
Reppold e Dr. Patrcia Waltz Schelini por aceitarem com tanta satisfao serem meus
avaliadores, pelas excelentes contribuies que me trouxeram no exame de qualificao e na
argio final, como tambm pela maneira saudvel e tranqila com que as conduziram.
Sou muito grata.
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Aos meus amigos do LAPSAM, s tenho a agradecer pelas tantas contribuies
durante esse um ano e meio. Agradeo pela maneira to amistosa com que me receberam
desde o meu primeiro dia no laboratrio, por terem me feito acreditar e aprender que um
grupo pode sim funcionar muito melhor do que pessoas isoladas, pelas tantas vezes que pedi
ajuda com a maior cara de desespero e vocs foram sempre to agradveis e prestativos,
inclusive com os meus problemas pessoais, e pela colaborao na coleta de dados e na
tabulao dos testes. De corao, espero poder retribuir tamanha gentileza, pois vocs foram
essenciais nesta minha caminhada. Vocs so hoje mais do que colegas de trabalho, mas
amigos pelos quais sinto muito carinho. Sem exceo, obrigada!
Aos meus colegas e amigos de turma pelas contribuies que fizeram ao
melhoramento do meu projeto. Agradeo ainda, de modo especial a Nelimar que esteve
sempre por perto, mesmo nas minhas ausncias, alm da sua participao fundamental na
concluso da minha dissertao; a Ivan; e a Silvia, amiga de todas as horas, que me deu
muita fora e proporcionou excessivas risadas.
A Alexandre Raad e Fabian Marin por terem sido peas-chave na minha vida, desde
o comeo do sonho em me tornar mestranda at a concretizao deste; obrigada por tudo!
minha tia, av e segunda me Mariza e minha irm Fernanda por terem me
dado sempre tanto apoio, em todos os sentidos, tanto amor, me fazendo acreditar que a base
da nossa famlia atpica mais forte do que qualquer adversidade. Sou extremamente feliz
por ter vocs comigo e segura do amor que sentimos umas pelas outras. Eu amo vocs.
De modo muito carinhoso e especial, aos meus tios Jean Robert e Din Menezes, os
quais me incentivaram e serviram de exemplo na passagem marcante e determinante que
fizeram pela minha vida, o bastante para que me ensinassem a sabedoria no viver e o
enorme valor do conhecimento cientfico. Por diversas razes, jamais os esquecerei. Amor e
saudade eternos...
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s minhas grandes amigas Carol, Jac, Sofia, Diene, Nanda e Aninha e aos amigos
Serginho e Samu. Eu amo vocs e agradecerei sempre o apoio incondicional em todos os
momentos que pedi fora a algum de vocs, embora muitas vezes ter sido dispensvel o meu
chamado, pois vocs chegavam antes. A compreenso de vocs e o apoio para que eu
buscasse o meu sonho so inesquecveis. Mil vezes obrigada!! Sinto muita saudade.
Ao meu namorado Ronny, por me proporcionar tantos momentos felizes nos quais eu
me recuperava para mais uma semana de excessivas leituras, escritas e tabulaes, por
demonstrar sempre o seu apoio, carinho e compreenso, inclusive nos meus momentos
assumidamente mais tensos e chatos. Amo voc!
Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES) pelo
apoio financeiro desta pesquisa.
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Resumo
Menezes, A. (2008). Evidncias de validade de instrumentos para avaliar funes
executivas em alunos de 5 a 8 srie. Dissertao de Mestrado, Programa de Ps-GraduaoStricto Sensu em Psicologia, Universidade So Francisco, Itatiba.
As funes executivas esto relacionadas capacidade de engajamento em comportamentosvoluntrios orientados a algum objetivo e esto relacionadas a diferentes habilidades, taiscomo memria de trabalho, controle inibitrio, ateno seletiva, planejamento eflexibilidade cognitiva. As funes executivas so um tema de estudo da neuropsicologiacognitiva, a qual se dedica ao estudo do processamento das informaes no crebro. Taisfunes desenvolvem-se ao longo da infncia e da adolescncia, perodo em que ocorre amaturao do crtex pr-frontal. Comprometimentos nas funes executivas durante essafaixa etria podem estar relacionados a problemas de aprendizagem ou a distrbios como oTranstorno de Dficit de Ateno e Hiperatividade. Apesar da importncia do
desenvolvimento das funes executivas na infncia, ainda so poucos os instrumentosbrasileiros desenvolvidos para permitir a sua avaliao e, para os escassos testes existentes,poucas so as pesquisas realizadas buscando verificar suas qualidades psicomtricas, comopreciso e validade. Diante desta informao, esta pesquisa teve o objetivo de buscarevidncias de validade para instrumentos que propem avaliar funes executivas em alunosda 5 8 sries do ensino fundamental. Participaram 193 estudantes de uma escola pblicado interior de So Paulo, os quais foram avaliados em nove instrumentos: Teste de Memriade Trabalho Auditiva, Teste de Memria de Trabalho Visual, Teste de StroopComputadorizado, Teste de Gerao Semntica, Testes de Trilhas Parte A e Parte B, Torrede Londres e Teste de Fluncia Verbal FAS. Foram conduzidas anlises estatsticasdescritivas, anlises de varincia e anlises de correlao de Pearson. Os resultadosconfirmaram a hiptese de que existem habilidades distintas relacionadas s funesexecutivas e que as funes executivas desenvolvem-se de acordo com a progresso escolar.Foram encontradas evidncias de validade por srie para todos os instrumentos utilizados,com exceo do Teste de Gerao Semntica e da Torre de Londres, alm de seremencontradas tambm evidncias de validade pela correlao entre os testes utilizados paratodos os instrumentos.
Palavras-chave: avaliao neuropsicolgica; funes executivas; desenvolvimento;evidncias de validade.
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Abstract
Menezes, A. (2008). Validity evidences for executive functions tests in students from 5 to 8grade. Masters dissertation, Stricto Sensu Psychology Post-Graduation Program,Universidade So Francisco, Itatiba.Executive functions are related to the capacity of involvent in guided voluntary behaviors toa goal, and they are related to different abilities, such as working memory, inhibitorycontrol, selective attention, planning and flexibility. The executive functions are theme ofthe neurocognitive psychology, which dedicates to the study of the information processingin the brain. Executive functions are developed throughout childhood and continue untiladolescence, period that occurs prefrontal cortex development. Damages in the executivefunctions during childhood can be related to learning problems or disorders like Attention-Deficit Hyperactivity Disorder. Although the importance of executive functions
development of childhood, Brazilian instruments are few to allow its evaluation and, for thescarce existing tests, few are the carried through research searching to verify itspsychometrics qualities, as precision and validity. Ahead of this information, this project hasthe main to search validity evidences for instruments that evaluate executive functions insubjects from 5th to 8thgrade of elementary education. The sample was composed by 193students of a school placed in Saint Pauls country, evaluated in nine instruments: AuditoryWorking Memory Test, Visual Working Memory Test, Computerized Stroop Test, SemanticGeneration Test, Trial Making Test Form A and Form B, Tower of London and FAS VerbalFluency Task. Analyses were conducted, including descriptive statistical analyses, varianceanalyses and analyses of correlation for relation with other variable. The results had
confirmed the hypothesis that there are related distinct abilities to the executive functionsand that the executive functions develop in accordance to school progression. Evidences ofvalidity for grades had been found for all used instruments, with exception of the SemanticGeneration Task and Tower of London, beyond being found also evidences of validity forthe correlation enter the tests used for all the instruments.
Keywords: neuropsychological assessment; executive functions; development; validityevidences.
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Sumrio
APRESENTAO ............................................................................................................. 01CAPTULO 1. AVALIAO NEUROPSICOLGICA ............................................... 03
CAPTULO 2. FUNES EXECUTIVAS ...................................................................... 10
CAPTULO 3. HABILIDADES RELACIONADAS S FUNES EXECUTIVAS..21
3.1.MEMRIA DE TRABALHO ............................................................................................ 21
3.2.SELEO DE INFORMAO RELEVANTE TAREFA:CONTROLE INIBITRIO E ATENO
SELETIVA ........................................................................................................................... 23
3.3.PLANEJAMENTO .......................................................................................................... 30
3.4.FLEXIBILIDADE COGNITIVA ........................................................................................ 31
CAPTULO 4. DESENVOLVIMENTO DAS FUNES EXECUTIVAS .................. 34
CAPTULO 5. OBJETIVOS ........................................................................................... 40
CAPTULO 6. MTODO .................................................................................................. 41
6.1.PARTICIPANTES ..................................................................................................... 41
6.2.INSTRUMENTOS .................................................................................................... 42
6.2.1. Testes de Memria de Trabalho Auditiva e Visual........................................42
6.2.2. Teste de Stroop Computadorizado.................................................................45
6.2.3. Teste de Gerao Semntica...........................................................................48
6.2.4. Testes de Trilhas Parte A e Parte B................................................................49
6.2.5. Teste da Torre de Londres..............................................................................51
6.2.6. Teste de Fluncia Verbal FAS........................................................................52
6.3.PROCEDIMENTO .......................................................................................................... 53
CAPTULO 7. RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................. 55
7.1.ANLISES DOS DESEMPENHOS NO TESTE DE MEMRIA DE TRABALHO AUDITIVA...... 55
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Lista de Figuras
Figura 1- Tela do Teste de Memria de Trabalho Auditiva .......................................................... 42Figura 2- Telas do Teste de Memria de Trabalho Visual ............................................................ 44
Figura 3- Layout da tela para a parte 1 do Teste de Stroop Computadorizado ... ....................... 45
Figura 4- Layout de uma tela da parte 2 do Teste de Stroop Computadorizado ... ..................... 46
Figura 5- Layout da tela para a parte 3 do Teste de Stroop Computadorizado ... ....................... 47
Figura 6- Layout da tela para a figura de cadeira do Teste de Gerao Semntica ... ............. 48
Figura 7- Ilustrao do exemplo fornecido na instruo do Teste de Trilhas Parte B ... ............ 50
Figura 8- Ilustrao do Teste da Torre de Londres com a posio inicial e trs posies
finais que requerem dois, quatro e cinco movimentos ... ............................................................ 52
Figura 9- Mdias para o desempenho no Teste de Memria de Trabalho
Auditiva_dicotmico em cada srie... ......................................................................................... 58
Figura 10- Mdias para o desempenho no Teste de Memria de Trabalho Auditiva_dgitos
lembrados em cada srie ... .......................................................................................................... 58
Figura 11- Mdias para o desempenho no Teste de Memria de Trabalho Visual_dicotmico
em cada srie ... ........................................................................................................................... 61
Figura 12- Mdias para o desempenho no Teste de Memria de Trabalho Visual _Likert em
cada srie ... ................................................................................................................................. 61
Figura 13- Mdias para o desempenho no escore de interferncia do teste de Stroop ... .............. 64
Figura 14- Mdias para o desempenho do escore de conexo no Teste de Trilhas B ... .............. 73
Figura 15- Mdias para o desempenho do escore de sequncia no Teste de Trilhas B ... ............ 73
Figura 16- Mdias para o desempenho do escore total no Teste de Trilhas B ... ........................ 74
Figura 17- Mdias para o desempenho no Teste de Fluncia Verbal para a letra F ... ................ 80
Figura 18- Mdias para o desempenho no Teste de Fluncia Verbal para a letra A ... ............... 81
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Figura 19- Mdias para o desempenho no Teste de Fluncia Verbal para a letra S ... ................ 81
Figura 20- Mdias para o desempenho no Teste de Fluncia Verbal total ... .............................. 82
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Lista de Tabelas
Tabela 1- Anlises descritivas relacionadas ao Teste de Memria de Trabalho Auditiva ............ 55Tabela 2- Estatsticas inferenciais relacionadas ao Teste de Memria de Trabalho Auditiva ...... 56
Tabela 3- Anlises de comparao de pares de Bonferroni para o Teste de Memria de
Trabalho Auditiva .......................................................................................................................... 56
Tabela 4- Anlises descritivas relacionadas ao Teste de memria de Trabalho Visual ................ 59
Tabela 5- Estatsticas inferenciais referentes ao Teste de memria de Trabalho Visual .............. 59
Tabela 6- Anlise de comparao de pares de Bonferroni para o Teste de memria de
Trabalho Visual ............................................................................................................................. 60
Tabela 7- Anlises descritivas relacionadas ao Teste de Stroop ................................................... 62
Tabela 8- Estatsticas inferenciais referentes ao Teste de Stroop .................................................. 62
Tabela 9- Anlise de comparao de pares de Bonferroni para o escore de interferncia no
tempo de reao do Teste de Stroop .............................................................................................. 63
Tabela 10- Anlises descritivas relacionadas ao Teste de Gerao Semntica ............................. 65
Tabela 11- Estatsticas inferenciais referentes ao Teste de Gerao Semntica ........................... 66
Tabela 12- Anlise de comparao de pares de Bonferroni para o Teste de Gerao
Semntica ...................................................................................................................................... 67
Tabela 13- Anlises descritivas relacionadas aos Testes de Trilhas ............................................. 70
Tabela 14- Estatsticas inferenciais referentes aos Testes de Trilhas ............................................ 71
Tabela 15- Anlise de Comparao de Pares de Bonferroni para os escores de sequncia,
conexo e total no Teste de Trilhas B............................................................................................ 72
Tabela 16- Anlises descritivas relacionadas Torre de Londres................................................. 74
Tabela 17- Estatsticas inferenciais referentes Torre de Londres ............................................... 75
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Tabela 18- Anlise de comparao de pares de Bonferroni para o escore total na Torre de
Londres .......................................................................................................................................... 75
Tabela 19- Anlises descritivas relacionadas ao Teste de Fluncia Verbal FAS .......................... 77
Tabela 20- Estatsticas inferenciais referentes ao Teste de Fluncia Verbal FAS ........................ 77
Tabela 21- Anlises de comparao de pares de Bonferroni para o Teste de Fluncia Verbal
FAS ................................................................................................................................................ 79
Tabela 22- Anlise de correlao de Pearson entre os testes que avaliam funes executivas ..... 83
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APRESENTAO
Este estudo teve o objetivo de buscar evidncias de validade por relao com outrasvariveis para instrumentos que avaliam funes executivas em alunos de 5 a 8 srie do
ensino fundamental. Estas funes so responsveis pelo engajamento em comportamentos
orientados para a realizao de aes voluntrias, independentes, autnomas, auto-
organizadas e direcionadas a metas especficas (Damsio, 2004). De acordo com Gil (2002),
as funes executivas esto entre as mais complexas de todo o encfalo e so vinculadas
intencionalidade, ao propsito e tomada de decises.
Pesquisas tm sugerido que o desenvolvimento das funes executivas tem incio na
primeira infncia e perdura at o final da adolescncia (Huizinga, Dolan & Molen, 2006). A
regio enceflica relacionada ao desenvolvimento das funes executivas o crtex pr-
frontal, o qual alcana desenvolvimento significativo apenas em humanos (Arajo, 2004;
Gil, 2002). Logo, um processo que pode vir a afetar o desenvolvimento das funes
executivas o comprometimento no decorrer da maturao do crtex pr-frontal (Huizinga
& cols., 2006).
Para avaliar o curso do desenvolvimento das funes executivas podem ser usados
instrumentos de medida neuropsicolgicos. A avaliao neuropsicolgica uma das reas
que vem se desenvolvendo mais rapidamente na avaliao psicolgica. Porm, h carncia
de estudos que demonstrem as qualidades psicomtricas de tais testes, especialmente no
Brasil (Hogan, 2006). Guerreiro (2003) enfatiza que a normatizao dos testes uma
carncia em todas as cincias que utilizam instrumentos de medida, principalmente em
funo do sexo e da idade. Ao mesmo tempo, Andrade, Santos e Bueno (2004) informam
que tal carncia ainda maior quando se trata da avaliao neuropsicolgica de crianas e
adolescentes.
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Assim, este trabalho se props a buscar evidncias de validade para instrumentos
que possam mensurar as funes executivas e averiguar o seu desenvolvimento em uma
amostra de alunos de 5 a 8 srie. Os instrumentos utilizados foram os Testes de Memria
de Trabalho Auditiva e Visual, Teste de Stroop Computadorizado, Teste de Gerao
Semntica, Testes de Trilhas Partes A e Parte B, Teste da Torre de Londres e Teste de
Fluncia Verbal FAS.
A quantidade significativa de instrumentos aplicados na avaliao neuropsicolgica
pautada na necessidade de ser feita uma avaliao mais ampla dos sujeitos, mensurando-se
todas as funes cognitivas. Isso ocorre pelo fato de que o comprometimento cognitivo pode
gerar dficits em funes mentais diversificadas, resultando na necessidade de se identificar
as regies e funes lesadas, de gerar um diagnstico, verificar se h estabelecimento de
algum distrbio, como tambm propor o tipo de tratamento adequado ao diagnstico
realizado. Alm disso, essa avaliao mais globalizada dos sujeitos colabora com as
pesquisas cientficas, na medida em que evita resultados e diagnsticos enviesados e
possibilita o mapeamento do desenvolvimento dos diversos sistemas e funes cerebrais em
sujeitos saudveis (Camargo, Bolognani & Zuccolo, 2008; Costa, Azambuja, Portuguez &
Costa, 2004).
Nos captulos a seguir sero apresentados alguns aspectos referentes avaliao
neuropsicolgica, s funes executivas, como conceituao, localizao, funes,
habilidades relacionadas e desenvolvimento. Em seguida sero abordados o mtodo,
composto por participantes, instrumentos e procedimento; os resultados, obtidos por meio de
anlises Descritivas, anlises de Varincia e de Correlao de Pearson, procedimentos feitos
no pacote estatstico SPSS for Windows; e a discusso. Por fim, sero apresentadas as
referncias usadas neste projeto.
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1. AVALIAO NEUROPSICOLGICA
Para a avaliao psicolgica podem ser usados testes psicolgicos, que constituem
uma medida objetiva e padronizada da amostra de um comportamento e tm como funo
medir diferenas entre indivduos ou entre as reaes de um mesmo indivduo em diferentes
contextos. Tais instrumentos podem ser teis em diferentes situaes, tais como em uso
clnico, para fins de diagnstico, deteco de habilidades especficas, orientao vocacional,
entre outros (Anastasi & Urbina, 2000). Conforme Noronha e Vendramini (2003), os testes
psicolgicos so instrumentos que auxiliam a prtica do psiclogo e podem fornecer
informaes essenciais em um processo de avaliao.
Para Hogan (2006), o foco em estudos voltados para a testagem psicolgica foi
resultante de trabalhos como os realizados por pesquisadores como Galton, Thorndike,
Cattel e Binet, os quais evidenciavam a necessidade de mensurao cientfica para o
comportamento humano. Essa preocupao com a cientificidade das avaliaes levou ao
desenvolvimento dos primeiros testes psicolgicos.
Para que os testes sejam reconhecidos cientificamente, eles devem passar por estudos
que comprovem suas qualidades psicomtricas, como tambm devem atender a
determinadas especificaes que garantam reconhecimento e credibilidade por parte da
comunidade cientfica e de leigos (Noronha & Vendramini, 2003). Dessa forma, os
instrumentos psicolgicos devem ser padronizados, o que significa que seguem
determinadas regras para que sejam administrados e interpretados da mesma maneira por
diferentes aplicadores; ter fidedignidade ou preciso, ou seja, os seus resultados devem ser
confiveis e consistentes; e devem ser validados, medindo o construto que de fato prope
medir (Straub, 2005).
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Dentre as facetas da avaliao psicolgica, uma rea que vem ganhando cada vez
mais destaque a avaliao neuropsicolgica, a qual tem focado tanto a construo de novos
instrumentos quanto a anlise de suas qualidades psicomtricas (Hogan, 2006). De acordo
com Cruz, Alchieri e Sard Jr. (2002), a avaliao neuropsicolgica o meio utilizado pela
neuropsicologia para compreender as funes cognitivas e a expresso de comportamentos,
em casos de disfuno cerebral ou no, desde a infncia at o envelhecimento.
A primeira organizao profissional da neuropsicologia surgiu em 1967 e foi
denominadaInternational Neuropsychological Society (INS). J em 1979 foi fundada uma
diviso de neuropsicologia clnica da American Psychological Association (APA) e
posteriormente, em 1996, a neuropsicologia clnica foi finalmente reconhecida pela APA
como a quinta rea de atuao profissional da psicologia (Hogan, 2006). No Brasil, a
neuropsicologia foi regulamentada pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) como
especialidade da Psicologia a partir de maro de 2004 pela resoluo 002/2004, segundo a
qual o objetivo terico da neuropsicologia ampliar os modelos j conhecidos e criar novas
hipteses sobre as interaes crebro-comportamentais (Conselho Federal de Psicologia,
2004, p.2).
Para Vendrell (1998), o nascimento da neuropsicologia moderna foi consolidado em
Paris no ano 1861 por meio dos estudos de Paul Broca dedicados perda da linguagem
devido a leso cerebral. Em 1865, Broca concluiu, por meio dos estudos que realizava, que
h uma predominncia do hemisfrio cerebral esquerdo na produo da linguagem. No final
do sculo XIX outras habilidades tambm passaram a ser investigadas, tais como memria,
dislexia, agnosia, entre outras, e as pesquisas na rea ampliaram-se.
Considerado um dos principais precursores da neuropsicologia, Alexander
Romanovich Luria (1973) definiu neuropsicologia como sendo o estudo dos processos
mentais e suas relaes com o encfalo, por meio das quais as informaes sensoriais so
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transformadas, elaboradas, armazenadas, recuperadas e utilizadas. Luria definiu ainda que as
funes cognitivas superiores organizam-se em sistemas funcionais, em que cada regio,
apesar de possuir uma funo especfica, trabalha em associao com as demais reas na
execuo de um problema.
Conforme Lezak, Howieson e Loring (2004), a neuropsicologia uma cincia
voltada para a expresso do comportamento por meio do funcionamento cerebral e suas
disfunes. Os distrbios cognitivos, emocionais e de personalidade so os principais focos
de ateno dos estudos neuropsicolgicos (Gil, 2002).
De acordo com Vendrell (1998), a neuropsicologia clssica (NCl) tinha como foco
compreender a estrutura neural, tanto anatmica, quanto funcional. J segundo Fernandes
(2003), a NCl tem sua base no modelo mdico, buscando a localizao da funo cerebral,
a identificao de sintomas e a caracterizao de transtornos (p. 268), ou seja, investiga
onde ocorre um processamento cognitivo. De acordo com a mesma autora, a
neuropsicologia clssica exerce um papel limitado por se dedicar apenas ao mapeamento
funcional e, principalmente, pela incapacidade de detectar caractersticas relevantes
identificao de dficits cognitivos.
Assim, a partir do interesse em se fazer associaes entre as funes do crebro e as
funes mentais surgiu a neuropsicologia cognitiva, a qual resulta da influncia da
psicologia cognitiva sobre a NCl (Miyake, Friedman, Emerson, Witzki & Howerter, 2000;
Simes & Caldas, 2003). No mesmo sentido, para Fernandes (2003), a neuropsicologia
cognitiva surgiu como uma derivao da neuropsicologia clssica a partir de 1960 e est
focada na compreenso de como se processam as informaes no crebro. Segundo
Miyake e cols., a neuropsicologia cognitiva busca compreender como processos cognitivos
so controlados e coordenados durante a realizao de tarefas cognitivas complexas,
objetivo que no era contemplado pela NCl.
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Embora possuam interesses distintos, a neuropsicologia clssica e a cognitiva so
duas reas de pesquisa que tm sofrido influncias mtuas. Desta maneira, a compreenso
do funcionamento das reas cerebrais, objetivo da neuropsicologia clssica, pode ser
importante tambm para a neuropsicologia cognitiva no pela identificao da regio e das
suas funes por si s, mas pelo conhecimento sobre as conexes estabelecidas entre elas
(Capovilla, 2005). Segundo Shallice (1990), as informaes antomo-funcionais do crebro
podem ser relevantes, pois fornecem dados teis s demais pesquisas.
Assim, a associao entre a psicologia cognitiva e a neuropsicologia clssica levou
ao surgimento da neuropsicologia cognitiva, a qual se dedica ao estudo do processamento da
informao, ou seja, das operaes mentais necessrias na realizao de tarefas e seus
correlatos neurolgicos (Gazzaniga, Ivry & Mangun, 2006). Segundo Fernandes (2003), esta
rea de estudo tem como uma das principais caractersticas identificar como habilidades
especficas so comprometidas aps alguma leso cerebral.
Em outras palavras, a neuropsicologia cognitiva busca compreender como ocorre o
processamento da informao, tendo como interesse secundrio mapear a relao crebro-
comportamento e a descrio de seqelas (Fernandes, 2003). Alm disso, uma vantagem
advinda aps o reconhecimento da neuropsicologia cognitiva enquanto rea cientfica foi o
melhoramento explcito das tcnicas e modelos neuropsicolgicos, como afirmou Rao
(1996, citado por Kristensen, Almeida & Gomes, 2001).
Segundo Vendrell (1998), a neuropsicologia pode ser considerada de grande
relevncia na cooperao com as neurocincias em geral, pois se dedica ao estudo do
crebro e de diversos transtornos, ao mesmo tempo em que desenvolve tcnicas adequadas
de diagnstico, tratamento e reabilitao. Conforme citado anteriormente, Cruz e cols.
(2002) enfatizam que uma das tcnicas utilizadas pela neuropsicologia a avaliao
neuropsicolgica.
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A avaliao neuropsicolgica, segundo Lezak, Howieson e Loring (2004), constitui
um mtodo para examinar a regio enceflica a partir de suas manifestaes
comportamentais. Os autores enfatizam que esta uma rea que muito tem a contribuir, por
meio de avaliaes realizadas com instrumentos psicolgicos, para a expanso do
conhecimento clnico e cientfico das relaes entre o funcionamento cerebral, a cognio,
as emoes e o comportamento.
A avaliao neuropsicolgica, de acordo com Andrade, Santos e Bueno (2004),
abrange detectar quais as funes cognitivas, emocionais e comportamentais foram
comprometidas e identificar quais delas podem ser restabelecidas por meio de tratamento e
reabilitao, a fim de reduzir a expresso psicopatolgica. Alm disso, de acordo com os
mesmos autores, no apenas comportamentos inadequados podem ser avaliados, mas
tambm resultados da adaptao em diversos contextos da vida. Neste direcionamento,
Fernandes (2003) refere haver dois grandes objetivos, a saber, propor intervenes
adequadas a pacientes lesados ou com disfunes cerebrais e investigar o funcionamento
cognitivo normal.
Ardila e Ostrosky-Slis (1996) definem a avaliao neuropsicolgica como um
mtodo para examinar a regio enceflica por meio do estudo de seu produto
comportamental. Tal avaliao essencial no apenas para tomada de decises diagnsticas,
mas tambm para o desenvolvimento de programas de reabilitao. Andrade e cols. (2004)
destacam que os mtodos de avaliao na neuropsicologia consistem principalmente em
entrevistas, questionrios, exames psicofisiolgicos, inventrios e testes.
Esse tipo de avaliao requer uma investigao intensiva do comportamento. Como
parte desse processo, testes estandardizados podem ser usados, possibilitando a obteno de
resultados condizentes realidade do sujeito. Alm de serem aplicados instrumentos
estandardizados, um estudo mais detalhado do paciente deve ser realizado observando-se os
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seus comportamentos diante da avaliao e da realizao das tarefas (Ardila & Ostrosky-
Slis, 1996). O processo de avaliao neuropsicolgica requer certa complexidade pelo
grande nmero de procedimentos e testes utilizados, pois se faz necessrio coletar o mximo
de informaes a respeito dos processos cognitivos do sujeito e, em caso de avaliao das
funes executivas, das diversas habilidades relacionadas (Fuentes, Malloy-Diniz, Camargo,
Cosenza & cols., 2008).
Na avaliao dos sujeitos a anlise deve ser feita com precauo e os fatores
ambientais e desenvolvimentais devem ter alta relevncia (Golden, 1991). Entretanto,
ademais avaliao psicomtrica, em alguns casos sugerido o uso de outros mtodos,
como obteno do tempo de reao, medidas eletrofisiolgicas, a exemplo dos potenciais
evocados, medidas psicofsicas como a condutncia da pele e tcnicas de neuroimagem
funcional, como por exemplo a tomografia computadorizada e a ressonncia magntica
funcional (Kristensen & cols., 2001).
A avaliao neuropsicolgica pode ser feita tanto com indivduos em que h
comprometimento neurolgico de alguma rea enceflica, quanto com indivduos sem
alteraes evidentes, mas em que a definio de perfis cognitivos e emocionais pode ter
valor prognstico para o desenvolvimento (Simes & Caldas, 2003). Segundo Costa e cols.
(2004), na populao infantil, a avaliao neuropsicolgica pode ser essencial para o
acompanhamento do desenvolvimento cognitivo da criana e tem como objetivo detectar de
maneira precoce qualquer alterao cognitiva ou comportamental decorrida de leso, doena
ou distrbio do desenvolvimento.
Embora os instrumentos de avaliao neuropsicolgica sejam to importantes, ainda
so poucos os estudos realizados buscando investigar preciso, validade e normatizao
(Andrade & cols., 2004). Tal carncia pode ser observada principalmente com populaes
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de crianas e adolescentes, etapa esta em que muitos aspectos neuropsicolgicos esto em
desenvolvimento (Huizinga & Crone, 2006).
Em conseqncia disso, os testes utilizados no Brasil revelam, de forma geral,
poucas evidncias de preciso e de validade e, quando as apresentam, geralmente so para
populaes adultas. Isso dificulta a possibilidade de uso de medidas precisas e que meam
de fato aquilo que elas sugerem medir em crianas. Assim, nem sempre os instrumentos
utilizados so escolhidos em funo das suas qualidades psicomtricas, tal como a validade
(Andrade & cols., 2004).
Alm da extrema importncia a respeito das qualidades psicomtricas dos
instrumentos utilizados, estes podem tambm ser selecionados levando-se em considerao
dois critrios que classificam os testes: bateria fixa, a qual composta por instrumentos
previamente definidos, a exemplo daBehavioral Assessment of the Dysexecutive Syndrome
(BADS), bateria para avaliao das funes executivas; ou bateria flexvel, composta por
testes diversos selecionados pelo examinador de acordo com o que ele deseja avaliar no
sujeito (Andrade, 2002). Este estudo far uso de uma bateria flexvel, na tentativa de buscar
evidncias de validade para instrumentos que avaliam as funes executivas, as quais sero
abordadas no captulo a seguir.
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2. FUNES EXECUTIVAS
O crtex, camada de substncia cinzenta que reveste os hemisfrios cerebrais, uma
regio sobre a qual diversas pesquisas tm se direcionado. Esta rea dividida nos lobos
frontal, parietal, occipital e temporal, e a nsula. No lobo frontal situa-se o crtex pr-frontal
(CPF), considerado uma zona de confluncia de dois eixos funcionais: um relacionado
memria operacional, s funes executivas e ateno; e outro relacionado ao
comportamento e aos processos emocionais (Andrade & cols., 2004). Informaes sobre o
CPF, principal responsvel pelo planejamento e anlise das conseqncias de aes futuras,
tm sido obtidas por meio de diversas fontes, tais como pesquisas feitas com animais,
estudos de casos clnicos nos quais houve alguma leso na regio, ou pesquisas realizadas
com grupos, nas quais so feitas avaliaes neuropsicolgicas de sujeitos com e sem leso
(Machado, 2002).
O CPF teve o seu desenvolvimento ao longo da evoluo dos mamferos, mas atinge
desenvolvimento significativo apenas em seres humanos, em que ocupa um tero da
superfcie do crtex cerebral e desempenha as funes mais avanadas e complexas de todo
o crebro, ou seja, as capacidades cognitivas. Essa regio recebe informaes das demais
reas corticais, conectando-se, inclusive com o sistema lmbico. Assim, quase todas as reas
corticais e subcorticais influenciam o CPF, sendo possvel sugerir que a sua localizao
adequada para coordenar o processamento de amplas regies do sistema nervoso central
(Gazzaniga & cols., 2006; Goldberg, 2002; Machado, 2002).
Diante da complexidade das atividades relacionadas ao crtex pr-frontal, ele no
pode ser diretamente ligado a uma nica funo, e as diversas tarefas que executa no so
facilmente definidas. Por este motivo, as primeiras teorias da organizao cerebral negavam-
lhe a devida importncia. Entretanto, nas ltimas dcadas esta rea tornou-se foco de
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investigaes e as suas habilidades foram enfatizadas. Goldberg (2002) sugere que, por meio
de uma anlise dos efeitos de leses no CPF, provvel perceber que no h sistemas ou
reas isoladas, apesar de ser possvel identificar diversas funes relacionadas ao CPF. H,
em vez disso, uma transio de uma funo cognitiva para outra, o que corresponde a uma
trajetria contnua ao longo da superfcie cortical, o que Luria (1973) denominou de sistema
funcional.
Conforme Luria (1973), os sistemas funcionais do crebro humano podem ser
prejudicados por uma leso nica em uma mesma regio ou por leses distintas em
diferentes reas. Esta ltima possibilidade associada ao fato de que cada regio envolvida
no sistema funcional responsvel por uma determinada tarefa, fundamental para a
realizao das atividades, e um dano ocorrido pode interferir todo o desempenho do sistema
em questo, a exemplo de prejuzos em reas do crtex frontal.
Assim, atualmente h evidncias de que o CPF desempenha um papel fundamental
na formao de metas e objetivos, no planejamento de estratgias de ao necessrias para a
realizao da tarefa, seleo de habilidades cognitivas requeridas para a implementao dos
planos, coordenao das habilidades e na aplicao em uma ordem correta. Alm disso, o
CPF responsvel pela avaliao do sucesso ou do fracasso das aes em relao aos
objetivos. Todo esse processo tem sido agrupado sob a nomenclatura de funes executivas
(Goldberg, 2002).
Um exemplo de comprometimento das funes executivas foi explicitado num
experimento realizado por Shallice no ano de 1991, em Londres. Foram solicitadas a trs
pacientes com leso pr-frontal tarefas semelhantes quelas feitas por algumas pessoas nos
dias de sbado pela manh, como ir a um shopping centercomprar algumas mercadorias,
encontrar uma pessoa num horrio predeterminado e obter algumas informaes. Em
algumas tarefas os sujeitos demonstraram habilidades cognitivas intactas, como inteligncia
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e bom desempenho em testes neuropsicolgicos de baixa complexidade que avaliam funes
pr-frontais (Gazzaniga & cols., 2006).
Entretanto, na execuo das tarefas no shopping center, as quais exigiam
capacidades cognitivas mais complexas como planejamento e seleo de informao, o
desempenho foi muito baixo. Um dos pacientes no conseguiu comprar sabo porque a loja
no tinha sua marca favorita; outro ficou do lado de fora do shoppingprocurando um item
que podia ser encontrado dentro do shopping. Todos ficaram enredados em complicaes
sociais. Um obteve sucesso em conseguir um jornal, mas, por no ter pago, o vendedor saiu
atrs dele! (Gazzaniga & cols, 2006, p. 543).
Desta forma, as funes executivas referem-se capacidade do sujeito de engajar-se
em comportamento orientado a objetivos, realizando aes voluntrias, independentes, auto-
organizadas e direcionadas a metas especficas (Ardila & Ostrosky-Sols, 1996). Segundo
Gil (2002), estas aes necessitam ser monitoradas em suas vrias etapas de execuo e
visam ao controle e regulao do processamento da informao no crebro. Diante de
caractersticas to complexas, as funes executivas so desenvolvidas completamente
apenas em seres humanos.
De acordo com Gazzaniga e cols. (2006), as funes executivas esto diretamente
relacionadas ao CPF. Goldberg (2002) enfatiza que nenhuma outra perda cognitiva pode ser
to comprometedora do comportamento humano quanto a perda dessas funes, as quais
podem ser afetadas frequentemente por demncias, esquizofrenia, transtorno de dficit de
ateno, leso traumtica, entre outros distrbios. Fuentes e cols. (2008) referem que o
comprometimento das funes executivas tem sido citado pela literatura especializada como
sndrome disexecutiva.
As funes executivas so especialmente importantes diante de situaes novas para
o sujeito ou em situaes que exigem, com rapidez, o ajustamento ou flexibilidade do
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comportamento para as demandas do ambiente (Huizinga, Dolan & Molen, 2006). No
mesmo sentido, Lezak (1993) e Lezak e cols. (2004) citam que as funes executivas
direcionam e regulam vrias habilidades intelectuais, emocionais e sociais e permitem
deliberar os diversos desafios necessrios para a resoluo com sucesso de aes
direcionadas.
Para investigar as perdas resultantes de leses pr-frontais, no incio do sculo XX o
psiquiatra Leonardo Bianchi (1922, citado por Gazzaniga & cols., 2006) realizou
experimentos com macacos. Os animais costumavam pular no peitoril da janela com o
intuito de chamar os companheiros. Entretanto, aps a realizao de uma cirurgia para lesar
os lobos pr-frontais, apesar deles permaneceram pulando, parecia no haver nenhum
objetivo, pois eles no mais chamavam os outros macacos. Nesta situao, ao pular na janela
o macaco parece ter um ato reflexo determinado pelo estmulo (a janela); no entanto, o
propsito da ao parece estar ausente, ou seja, h uma falta de comportamento (chamar os
companheiros) orientado para um objetivo, sendo que o conhecimento de como a ao foi
til ao animal no passado parece no ser mais recordado, conforme explicado por Gazzaniga
e cols. (2006).
Ou seja, a ao complexa de chamar os companheiros, que envolve uma srie de
passos intermedirios para sua execuo, no pode ser mais completada, sendo realizada
apenas a primeira etapa da ao complexa. Desta forma, o macaco pula na janela, porm no
d prosseguimento s aes subseqentes necessrias para alcanar o objetivo de longo
alcance. Pode-se hipotetizar que o fracasso na realizao da ao est relacionado ao
comprometimento das funes executivas, envolvendo, possivelmente, dficits de memria
de trabalho, planejamento, seleo de informaes, dentre outros aspectos executivos
(Capovilla, 2008).
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Pesquisas sobre funes executivas em humanos tm bases histricas em estudos
neuropsicolgicos de pacientes com leses nos lobos frontais, os quais apresentavam
problemas severos no controle e na regulao dos seus comportamentos e no eram capazes
de ter um funcionamento normal nas tarefas do dia-a-dia. Tais pacientes, apesar de
executarem adequadamente algumas tarefas cognitivas em baterias de testes
neuropsicolgicos e de inteligncia, apresentavam desempenho rebaixado em inmeras
tarefas executivas (Miyake & cols., 2000).
possvel encontrar na literatura diversos casos de pacientes com prejuzos
executivos tpicos no controle e direcionamento de elementos que compem as habilidades
sociais, decorrentes de distrbios frontais (Damsio, 2004; Pliszka, 2004), como o caso do
paciente Phineas Gage, famoso na literatura neuropsicolgica. Conforme a descrio de
Damsio (2004), Gage trabalhava para a construo de uma estrada de ferro na Nova
Inglaterra, em 1848, ento com 25 anos, e era um funcionrio eficaz, de mente
equilibrada, inteligente, enrgico e persistente na execuo dos seus planos. Gage calcava
plvora com uma barra de ferro, atividade que realizava diariamente, com o objetivo de
explodir rochas para abrir caminho para a construo. No entanto, em um dia de trabalho,
um momento de distrao de Gage provocou no ferro uma fasca, o que resultou na exploso
antes do tempo previsto. A barra entrou atravs da sua face esquerda, trespassou a base do
crnio, atravessou a parte anterior do crebro e saiu pelo topo da cabea.
De imediato, nenhuma mudana comportamental ou cognitiva foi percebida em
Phineas Gage, o qual era capaz de descrever todo o acidente ocorrido e mantinha a
linguagem e a motricidade intactas. Entretanto, aos poucos os danos provocados pela leso
tornaram explcitas as mudanas comportamentais e o paciente ficou impulsivo,
apresentando linguagem e gestos obscenos, com pouca considerao aos colegas, no
cumprindo mais ordens e regras quando iam de encontro aos seus desejos. Alm disso, no
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mais ia adiante com os objetivos que determinava, trabalhava em qualquer lugar, bem como
no era capaz de manter-se nos trabalhos por muito tempo, entre outras caractersticas. Gage
veio a falecer em 1861, aos 38 anos, aps sucessivas crises epilpticas (Damsio, 2004).
Pacientes como Phineas Gage parecem estar inaptos para desempenhar
comportamentos adequados em circunstncias que demandam aes propositais como, por
exemplo, formular um plano de ao. Algumas vezes, pacientes com estes danos percebem
que suas atividades no esto adequadas s situaes, embora no consigam integrar e
considerar todos os fatores necessrios para que o desempenho seja adaptativo (Gazzaniga
& cols., 2006).
H, ainda, casos de pacientes com leses frontais em que dificilmente se detecta a
existncia de um distrbio neurolgico a partir dos seus comportamentos dirios. Nenhuma
alterao bvia pode ser percebida em suas habilidades perceptuais, o seu discurso fluente
e exposto de modo coerente. Em razo disso, testes de inteligncia convencionais, tais como
as escalas Wechsler, sugerem desempenho normal. Entretanto, com testes mais especficos e
sensveis possvel se perceber que as leses e dficits no desenvolvimento frontal rompem
com o processamento cognitivo normal (Gazzaniga & cols., 2006).
Alguns testes tm sido tradicionalmente usados para avaliar funes executivas, por
abordarem habilidades mais relacionadas ao CPF. De acordo com Duncan (1997), alguns
desses testes so o Teste de Wisconsin (Berg & Grant, 1948) e o Teste de Fluncia Verbal
(Thurstone, 1938). No primeiro teste, j traduzido e publicado no Brasil (Cunha & cols.,
2005), so apresentadas cartas que variam em trs aspectos, a saber, cor, forma e nmero de
elementos. O indivduo deve agrupar as cartas de acordo com uma regra estabelecida pelo
aplicador, por meio de tentativa e erro (Hogan, 2006). No Teste de Fluncia Verbal a tarefa
falar durante 1 minuto o mximo de palavras que o sujeito consiga lembrar, palavras estas
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encaixadas em alguma categoria determinada pelo aplicador, como por exemplo, palavras
que comecem com as letras F, A e S.
Segundo Duncan (1997) e Alvarez e Emory (2006), tais testes tm sido
tradicionalmente usados como medidas gerais para dficits executivos. Tais testes
parecerem mais sensveis para deteco de dficits executivos do que alguns testes clssicos,
como os de inteligncia convencionais. Porm, necessrio pesquisar o quanto testes to
distintos tm em comum, pois o nico fator conhecido em comum entre eles que algumas
dessas medidas mostram diferenas entre os grupos de pacientes com leses frontais e o
grupo controle. Assim, so necessrios novos estudos a fim de pesquisar as diversas funes
do lobo frontal, o desenvolvimento, as habilidades relacionadas s funes executivas e os
testes adequados para cada uma destas, o que poder colaborar com a realizao de
avaliaes neuropsicolgicas mais adequadas (Duncan, 1997).
Nesse sentido, h uma discusso sobre se as funes executivas constituem um
construto unitrio, geral, ou se devem ser divididas em componentes mais especficos.
Conforme descrito por Huizinga e cols. (2006), de um lado h a suposio de que as funes
executivas so atividades de uma regio unitria, sem subdiviso de reas e funes e, em
contraposio, h a hiptese de que estas funes envolvem processos distintos, em focos
neurais ligeiramente separados.
A viso multifacetada sugerida por pesquisas realizadas por meio do uso de testes
de avaliao neuropsicolgica, alm de estudos de neuroimagem, os quais tm demonstrado
evidncias da existncia de diferentes aspectos em regies distintas do crtex pr-frontal
(Huizinga & cols., 2006). Segundo Arajo (2004), por exemplo, leses em diferentes partes
dos lobos frontais produzem sndromes clinicamente diferentes, o que corrobora com a idia
de diversidade funcional e complexidade da regio.
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Souza, Igncio, Cunha, Oliveira e Moll (2001) realizaram um estudo com os
objetivos de verificar se o desempenho executivo realizado por regies diversas do CPF,
ou seja, se h diferentes habilidades relacionadas s distintas regies, e investigar uma
possvel correlao entre o desempenho executivo e o nvel dos sujeitos na realizao das
suas tarefas no trabalho. A amostra da pesquisa foi composta por sessenta e um sujeitos com
idades entre 19 e 70 anos, com tempo de escolaridade mnimo de sete anos e com o
funcionamento cotidiano normal.
Foram utilizados como instrumentos de mensurao do desempenho executivo o
Teste da Torre de Londres (Shallice, 1982) e o Teste de Wisconsin. Na Torre de Londres h
trs hastes e trs esferas de cores diferentes. As esferas so colocadas numa posio inicial
e, a partir desta, os sujeitos devem movimentar as esferas at a posio determinada pelo
aplicador, realizando o mnimo de movimentos possveis, os quais podem variar de dois at
cinco movimentos nos itens mais complexos. Alm desses, foram aplicados tambm o Mini-
Exame do Estado Mental (MM) para avaliar o estado cognitivo global, o Inventrio de
Depresso de Beck e as Escalas de Epworth e de Funcionamento Global para medirem a
sonolncia diurna e o funcionamento global, respectivamente.
Os resultados mostraram que o desempenho executivo correlacionou-se
negativamente com a idade e positivamente com a escolaridade dos sujeitos. O Teste da
Torre de Londres apresentou correlao positiva com o nvel ocupacional, embora isso tenha
ocorrido apenas nas tarefas mais complexas do teste, ou seja, aquelas que necessitavam de
cinco movimentos. Um dado muito relevante nesse resultado foi a baixa correlao entre o
Teste da Torre de Londres e o Teste de Wisconsin, o que corrobora a hiptese de que os
instrumentos utilizados medem constructos distintos e as funes executivas incluem
habilidades relativamente distintas entre si.
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A fim de observar a ativao de diferentes reas no CPF, alguns pesquisadores
realizaram estudos de neuroimagem e constataram que a habilidade de manter a informao
na memria de trabalho ocorre na regio mais lateral do CPF (Narayanan & cols., 2005;
Smith & Jonides, 1999, citados por Huizinga & cols., 2006) e a capacidade de inibir
respostas ocorre no crtex orbitofrontal (Aron, Robbins & Poldrack, 2004; Roberts &
Wallis, 2000, citados por Huizinga & cols., 2006). Alm desses, estudos com leses em
animais revelaram que leses pr-frontais unilaterais podem produzir dficits relativamente
leves, enquanto leses bilaterais tendem a produzir grandes alteraes (Gazzaniga & cols.,
2006).
A hiptese da diviso das funes executivas em aspectos distintos tem sido
fortalecida, em parte, pela crescente utilizao de instrumentos psicolgicos padrozinados na
avaliao das funes cognitivas, advinda com o desenvolvimento da neuropsicologia
(Arajo, 2004). Um exemplo o estudo de Miyake e cols. (2000), o qual props a utilizao
de diversos testes para avaliar algumas habilidades especficas relacionadas s funes
executivas, a saber, memria de trabalho, flexibilidade e controle inibitrio, bem como
testes para avaliar tarefas complexas do lobo frontal. Foram utilizados treze instrumentos,
sendo trs para mensurar a flexibilidade cognitiva, trs para memria de trabalho, trs para
controle inibitrio e cinco que avaliavam tarefas executivas complexas. Participaram em 137
alunos de graduao, que responderam a todos os testes.
Os resultados da pesquisa mostraram que os trs construtos avaliados possuem
correlao moderada entre si e podem ser conceituados como trs construtos separados.
Alm disso, os resultados sugeriram que os aspectos avaliados contribuem distintamente
para o desempenho das tarefas complexas. O desempenho no Teste de Wisconsin, por
exemplo, correlacionou-se mais fortemente com o construto flexibilidade, e o desempenho
na Torre de Hani, com a inibio de comportamento. importante ressaltar que tal estudo
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destacou a natureza abrangente dos testes de tarefas complexas na avaliao das funes
executivas, sugerindo que eles no avaliam habilidades especficas de tais funes, mas sim
interaes entre elas. A pesquisa ressaltou, ainda, a necessidade de se reconhecer as funes
executivas tanto enquanto unidade, pela correlao observada entre os construtos, como
enquanto uma diversidade de habilidades, pela relativa independncia entre elas (Miyake &
cols., 2000).
Sumariando, pode-se considerar que existem diferentes habilidades relacionadas s
funes executivas. Os processamentos cognitivos envolvidos nas mesmas podem ser
compreendidos como seleo de informaes relevantes, inibio de elementos irrelevantes,
integrao e manipulao das mesmas, planejamento, inteno, efetivao das aes,
flexibilidade cognitiva e comportamental e monitoramento das atitudes (Duncan, Johnson,
Swales & Frees, 1997; Fuster, 1997; Gazzaniga e cols., 2006; Lezak, 1993; Pliszka, 2004).
Apesar das evidncias da relao entre funes executivas e crtex pr-frontal,
importante considerar, conforme descrito por Alvarez e Emory (2006), que alguns
resultados so controversos a respeito de tal relao. Segundo os autores, h divergncias
entre pesquisas realizadas, tanto pelo fato de sujeitos com leso pr-frontal apresentarem
desempenho normal em tarefas que demandam habilidades executivas (e.g., Damsio,
2004), como por sujeitos com leso em outras regies apresentarem desempenho mais
rebaixado do que aqueles sujeitos com leses pr-frontais (e.g., Axelrod & cols., 1996). Tais
evidncias, segundo Alvarez e Emory (2006), tornam a validao de testes que mensurem as
funes executivas uma questo complicada, sendo um procedimento complexo realizar um
exame neuropsicolgico adequado em se tratando de funes executivas.
O presente trabalho visa contribuir exatamente nesse contexto, abordando algumas
habilidades que so destinadas s funes executivas e buscando evidncias de validade para
instrumentos que as avaliem. Dentre tais habilidades sero focalizadas a memria de
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trabalho, depositrio transitrio de informaes que podem ser acessadas, permitindo a
representao de informaes relevantes para uma dada tarefa; o controle inibitrio,
capacidade de responder apropriadamente a estmulos, ou seja, inibir as respostas no
adaptadas, minimizando o impacto no processamento de informaes perceptuais
irrelevantes; a ateno seletiva, responsvel pela orientao e ateno direcionada para um
estmulo, ignorando ou reduzindo a nfase sobre os demais estmulos concorrentes; o
planejamento, capacidade de traar mentalmente um trajeto a fim de atingir um objetivo,
traando as etapas de acordo com a ordem de realizao de cada uma; e a flexibilidade
cognitiva, capacidade de alternncia de respostas que visam adaptar as escolhas s
contingncias (Gazzaniga & cols., 2006; Gil, 2002; Souza, Igncio, Cunha, Oliveira & Moll,
2001; Sternberg, 2000). Cada uma das subdivises referidas ser descrita mais
detalhadamente a seguir.
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3. HABILIDADES RELACIONADAS S FUNES EXECUTIVAS
Conforme apresentado no captulo anterior, as funes executivas so os processos
mentais relacionados principalmente ao crtex pr-frontal, por meio dos quais se consegue
solucionar problemas complexos de modo eficaz, sejam eles emocionais, cognitivos ou
comportamentais. As operaes mentais ativadas no funcionamento executivo esto
descritas abaixo (Papazian & cols., 2006; Tirapu-Ustrroz & Muoz-Cspedes, 2005).
3.1. Memria de Trabalho
A fim de evocar uma representao mental do futuro, o crebro humano precisa ter a
capacidade de tomar elementos de experincias anteriores e configur-los de modo que no
corresponda a uma experincia passada real. Para isto, o organismo deve adquirir a
capacidade de manipular e transformar esses modelos, ou seja, trabalhar com representaes
mentais (Goldberg, 2002).
Conforme Oliveira (2007), a concepo clssica de memria enfatiza que esta
composta por sistemas, os quais seriam a memria sensorial, a qual armazenaria a
informao por centenas de milsimos de segundos; a memria de curto prazo, responsvel
pela manuteno durante segundos; e a memria de longo prazo, que pode durar de horas at
a vida inteira. Como revisado por Gazzaniga e cols. (2006), as memrias de curta e de longa
durao dependem de sistemas dissociados. Alm desses trs sistemas de memria,
Baddeley (2004) sugeriu que a memria de curto prazo seria no apenas um local de
armazenamento rpido de informaes, mas teria tambm a capacidade de manter e operar a
informao durante a realizao de tarefas cognitivas. Esta ltima responsabilidade seria de
um subcomponente da memria de curto prazo, denominado memria de trabalho.
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Assim, durante a realizao de uma tarefa cognitiva, a memria de trabalho seria
responsvel por manter os contedos durante o processamento da informao, sejam eles
decorrentes do ambiente ou da memria do indivduo (Baddeley, 2004; Gazzaniga & cols.,
2006). Como conseqncia dessa caracterizao da memria, os mesmos autores
propuseram a existncia de um subsistema que colaboraria com o entendimento do conceito
de memria de trabalho: o executivo central, o qual atuaria recrutando e administrando
outros sistemas funcionais do nosso crebro durante a realizao de tarefas cognitivas
(Baddeley). Neste sentido, a memria de trabalho no ativaria apenas o CPF lateral, mas
tambm outras regies corticais, o que pode ser percebido por meio de estudos de
neuroimagem. Entretanto, a ativao da regio pr-frontal destacada, visto que perdura por
mais tempo durante a realizao de uma tarefa (Gazzaniga & cols., 2006).
A memria de trabalho, segundo Gazzaniga e cols. (2006), refere-se s
representaes transitrias de informaes relevantes a uma tarefa, em que um
conhecimento adquirido no passado influencia, limita ou molda o comportamento presente.
Neste sentido, duas condies so suficientes para o sistema da memria de trabalho, a
saber, haver um mecanismo para acessar a informao armazenada e uma maneira de manter
a informao ativa, ambas as tarefas realizadas pelo CPF.
Entretanto, a informao recebida na memria de trabalho no permanece
armazenada no CPF. Ela mantida de maneira temporria enquanto for relevante para a
tarefa que est sendo executada. No momento em que um estmulo percebido, uma
representao temporria instalada no CPF por meio de conexes com regies cerebrais
mais posteriores, e para a ativao sustentada das clulas pr-frontais requerida uma
reverberao contnua (Gazzaniga & cols., 2006).
Experimentos realizados recentemente com pacientes com leso cerebral sugerem
evidncias de que, de fato, o CPF est envolvido na memria de trabalho para a resoluo de
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problemas e planejamento de comportamento. No estudo realizado por Bear e cols. (2002),
por exemplo, foi solicitado a pessoas com leso pr-frontal que traassem o caminho em um
labirinto desenhado num papel. Os pacientes compreendiam a tarefa, porm cometiam os
mesmos erros sucessivamente. Ou seja, esses indivduos pareciam incapazes de aprender
com a experincia recente devido ao comprometimento da memria de trabalho, sendo a
perseverao uma caracterstica de pacientes com leses pr-frontais (Bear & cols., 2002;
Gazzaniga & cols., 2006).
Dificuldades em tarefas de memria de trabalho tambm podem ser observadas em
crianas pequenas. Diamond (1990) avaliou crianas no Teste de Permanncia do Objeto de
Piaget, em que escondia um estmulo visual das crianas em um dentre dois possveis
esconderijos. Era permitido que a criana visualizasse o momento em que o objeto era
armazenado, e alguns instantes depois ela deveria identificar a localizao do estmulo. A
pesquisa mostrou que as crianas menores de um ano de idade eram incapazes de realizar a
tarefa corretamente. A possvel explicao apresentada foi que a tarefa no podia ser
realizada visto que a regio do CPF responsvel pela manuteno da informao na
memria de trabalho ainda no estava completamente desenvolvida.
Na presente pesquisa, este construto ser avaliado pelos Testes de Memria de
Trabalho Auditiva e o Visual (Primi, 2002). Tais testes sero descritos detalhadamente no
Mtodo.
3.2. Seleo de informao relevante tarefa: Controle inibitrio e ateno
seletiva
O comportamento orientado para um objetivo requer, alm da sustentao e
manipulao de informaes, a seleo de informaes relevantes tarefa, habilidade esta
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que tambm caracterstica de tarefas associadas ao CPF lateral. Neste sentido, o papel da
funo pr-frontal desloca-se da memria para o envolvimento na alocao de recursos
atencionais (Gazzaniga & cols., 2006).
Shiffrin e Schneider (1977) e Norman e Shallice (1980, 1986) (citados por Oliveira,
2007) detectaram a existncia de duas maneiras de selecionar estmulos por meio de
processos atencionais, as maneiras automtica e controlada. No primeiro processo a ateno
focada sem que haja manifestao voluntria do sujeito, podendo tambm resultar de uma
aprendizagem ocorrida, como acontece aps indivduos aprenderem a dirigir. J nos
processos controlados o sujeito seleciona o foco da sua ateno a partir da sua vontade.
Dando continuidade aos estudos citados acima, Norman e Shallice (1980, 1986)
propuseram a existncia de dois sistemas: um organizador pr-programado, o qual seleciona
as respostas a um estmulo de maneira automtica, e um Sistema Atencional Supervisor
(SAS), o qual ativado diante de novas situaes s quais o sujeito exposto e necessita
aprender uma nova resposta, consciente e voluntariamente. Uma caracterstica desses
sistemas a competio, entre ambos, pela seleo de uma informao. Um exemplo disso
ocorre em diversos contextos em que se faz necessria a inibio de uma resposta
automtica em detrimento de outra controlada voluntariamente. Essa capacidade de
selecionar e/ou inibir respostas proporcionada pelo SAS. Pacientes com leso pr-frontal
tendem a manter intacta a capacidade de selecionar estmulos automaticamente, embora haja
dificuldade quando requerido um processo voluntrio (Oliveira, 2007).
O CPF um local de armazenamento de representaes e cumpre a tarefa de
selecionar as informaes mais relevantes para atingir as demandas. Para isso faz-se
necessrio o componente atencional, que determina o que deve ser foco do processamento.
Essa filtragem da informao pode ocorrer por meio de dois mecanismos complementares:
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facilitatrio, acentuando a informao em evidncia, ou inibitrio, excluindo informaes
irrelevantes (Gazzaniga & cols., 2006).
O processo facilitatrio est relacionado ateno seletiva, que envolve focalizar a
conscincia, concentrando os processos mentais em uma nica tarefa principal, enquanto o
processo inibitrio, ou controle inibitrio, est relacionado ao processo de colocar as demais
atividades em segundo plano. Ambos os processos esto envolvidos, por exemplo, em focar
seletivamente uma conversa a ser ouvida dentre vrios outros estmulos concorrentes em um
mesmo ambiente, os quais devero ser desprezados (Bear & cols., 2002; Lent, 2001).
Dalgalarrondo (2000) cita que a ateno seletiva a capacidade de seleo de
estmulos e objetos especficos, determinando uma orientao atencional focal, um estado de
concentrao das funes mentais, assim como o estabelecimento de prioridades da
atividade consciente do indivduo diante de um conjunto amplo de estmulos ambientais (p.
72). Conforme Bear e cols. (2002), a ateno seletiva relaciona-se com a escolha do sujeito
em selecionar um estmulo-alvo a ser enfatizado pelo seu processo atencional, de modo que
o sistema sensorial referente quele alvo seja ativado. Em outras palavras, esse tipo de
ateno responsvel pelo direcionamento a uma determinada informao que ser
enfatizada pelo processamento cerebral, visto que este incapaz de atentar a todas as
informaes advindas do ambiente e da cognio, de modo a no provocar uma sobrecarga
no sistema funcional.
A fim de verificar, por meio do Exame de Ressonncia Magntica Funcional (RMf),
a regio cerebral que ativada pelo processo de ateno seletiva na realizao de um teste
de ateno, Leung, Skudlarski, Gatenby, Peterson e Gore (2000) realizaram um estudo
usando o Teste de Stroop (Stroop, 1935). Esse teste tem sido tradicionalmente usado para
avaliar ateno seletiva e possui vrias verses. Na verso de Victria, h trs etapas, sendo
na primeira apresentados nomes de cores escritos em cor preta, na segunda os estmulos so
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manchas coloridas e na ltima etapa so apresentados nomes de cores escritas em um tom
diferente daquele que a palavra representa, por exemplo, a palavra vermelho escrita em
cor azul. A tarefa determinada o sujeito ler as palavras escritas na primeira etapa, em
seguida falar a cor de cada uma das manchas e por fim falar a cor com que a palavra est
escrita, e no ler a palavra escrita (Alvarez & Emory, 2006).
Na pesquisa de Leung e cols. (2000) o Teste de Stroop foi aplicado em dezenove
sujeitos com idades entre 20 e 45 anos, os quais no apresentavam histrico de doenas
neurolgicas ou de leso cerebral. Foram feitos dois experimentos que se distinguiam na
forma como era apresentado o teste. No primeiro experimento a maioria dos estmulos eram
correspondentes (cores congruentes), ou seja, a cor com que a palavra estava escrita
correspondia palavra; por exemplo, a palavra azul escrita na cor azul. J no segundo
experimento havia maior freqncia de estmulos em que a palavra escrita divergia da cor
com que ela estava escrita (cores incongruentes); por exemplo, a palavra azul em cor
vermelha.
Na verificao do tempo de reao das tarefas percebeu-se que ocorria um intervalo
de 224 milsimos de segundos entre a nomeao das cores incongruentes e a das
congruentes. Foi observado, por meio da RMf, uma ativao muito maior nas regies
cerebrais na execuo das tarefas em que eram mostradas cores incongruentes. Alm disso,
nos resultados dessa pesquisa enfatizou-se a mudana nos potenciais de evocao diante dos
estmulos incongruentes no cingulado anterior, nsula, crtices pr-frontal mdio e inferior,
parietal e regio temporal mdia. Entretanto, as regies mais fortemente ativadas foram o
crtex pr-frontal mdio e a rea parietal inferior.
Alm dos estudos sobre ateno seletiva, pesquisas tm sido desenvolvidas
abordando o processo de controle inibitrio, que a capacidade de suprimir
comportamentos ou estmulos inapropriados ou indesejados. O comprometimento dessa
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funo pode ocasionar grandes prejuzos aos indivduos, a exemplo dos portadores de
TDAH, os quais no possuem habilidade para inibir aes e pensamentos, resultando num
comportamento impulsivo e desprovido de ateno (Simmonds, Pekar & Mostofsky, 2008).
Alguns estudos tm buscado investigar a dinmica do controle inibitrio. Um estudo
eletrofisiolgico foi realizado por Knight e Grabowecky (1995, citado por Gazzaniga &
cols., 2006). Nele foram gravados os potenciais evocados em dois grupos de participantes,
um grupo de pacientes com leses cerebrais localizadas e um grupo controle. Na primeira
tarefa os participantes ouviam cliques apresentados a ambos os ouvidos e era solicitado
apenas que os sujeitos escutassem os sons, mas no emitissem nenhuma resposta. Pacientes
com leso frontal apresentaram um aumento da resposta evocada no lobo temporal em
relao ao grupo controle, sugerindo que a capacidade geral de inibio de resposta estava
comprometida.
Em uma segunda tarefa os participantes ouviam diferentes mensagens em cada
ouvido e deviam focar estmulos auditivos em um ouvido e ignorar estmulos no ouvido
oposto. Participantes saudveis apresentaram grande diferena na ativao entre estmulos
que deviam ser atentados e estmulos que deviam ser ignorados. Porm, os sujeitos com
leso frontal apresentaram menos diferenas entre os tipos de estmulos, ou seja, eles
pareciam no conseguir inibir um estmulo e enfatizar o outro. Tal estudo revelou que
indivduos com leso frontal podem ter dificuldade em selecionar o estmulo-alvo e inibir o
estmulo no-alvo.
Por meio de tarefas em que a demanda de memria mnima possvel verificar a
hiptese da filtragem de informao, ou seja, a idia de que preciso selecionar informaes
relevantes realizao da tarefa em detrimento daquelas menos importantes. Danos nesse
filtro dinmico no afetariam habilidades cognitivas mais diretivas e estruturadas, fazendo
com que os sujeitos tenham desempenho adequado em algumas avaliaes, como por
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exemplo nas escalas de inteligncia Wechsler, como anteriormente mencionado. Entretanto,
quando esses indivduos esto em ambientes em que diversos estmulos demandam ateno,
sua capacidade de realizao de tarefa fica comprometida, visto que eles so incapazes de
manter um nico foco, desprezando os demais (Gazzaniga & cols., 2006).
Tarefas de gerao semntica vm sendo utilizadas para avaliar o controle inibitrio
(e.g., Capovilla, Capovilla & Macedo, 2005; Thompson-Schill, DExposito, Aguirre &
Farah, 1997; Thompson-Schill, Swick, DExposito, Kan & Kinght, 1998). Em tais tarefas,
so exibidas figuras e a tarefa do sujeito citar um verbo associado quele objeto. A figura
de uma fruta pode evocar o verbo comer; a figura de um porco pode remeter a vrias
palavras, como comer, brincar, sujar, limpar, andar, entre outros. Dentre as figuras do teste,
como nestes dois exemplos, h diferenas entre as categorias em que as duas figuras se
encaixam. A primeira categoria denominada de baixa seleo, pois ao observ-la h uma
tendncia ao sujeito evocar uma pequena quantidade de verbos, o que torna a tarefa mais
simples. J a segunda considerada de alta seleo pelo fato de no haver um ou dois verbos
que sejam mais bvios para ser feita a associao; vrios verbos so lembrados e adequados
ao desenho (Thompson-Schill & cols, 1997; Thompson-Schill & cols., 1998).
Indivduos com leso no crtex pr-frontal exibem dificuldade em selecionar apenas
um verbo, dentre os vrios que surgem mente, para associar figura. Esta tarefa se torna
ainda mais complicada diante de uma figura de alta seleo, em que h muito mais opes a
serem verbalizadas do que naquelas de baixa seleo (Gazzaniga & cols., 2006).
Um estudo publicado em 1998 na revista Psychologypelos autores Thompson-Schill,
Swich, Farah, DEspodito, Kan & Knight teve como objetivo verificar se a regio inferior
esquerda do crtex frontal era ativada na realizao da tarefa de gerao semntica e se essa
possvel ativao era necessria apenas em tarefas que requeriam a seleo de uma nica
resposta em detrimento de outras, ou seja, diante da ativao do controle inibitrio. Foram
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sujeitos da pesquisa quatorze pacientes com leso focal no crtex frontal e dezesseis sujeitos
controle sem histria prvia de problemas neurolgicos, abuso de substncias psicoativas ou
transtornos psiquitricos. Na aplicao eram mostradas figuras para as quais o sujeito
deveria relacionar um verbo, havendo figuras tanto de baixa quanto de alta seleo.
O resultado da pesquisa demonstrou que o grupo de pacientes apresentou mais erros
nas respostas do que o grupo controle. Entretanto, esses erros no ocorreram em relao aos
verbos de baixa seleo, mas apenas no desempenho daqueles de alta seleo. No exame de
neuroimagem foi observado que nos sujeitos controle, durante a execuo da tarefa nos
verbos de alta seleo, havia o aumento do fluxo sanguneo na rea inferior esquerda do
crtex frontal, enquanto que isso no ocorria nos pacientes lesados e nas tarefas de baixa
seleo dos dois grupos (Thompson-Schill, Swich, Farah, DEspodito, Kan & Knight,
1998).
Com esses dados os autores concluram que a ativao dessa regio cerebral ocorre
na realizao de tarefas em que requerida a habilidade do controle inibitrio, ou seja,
quando muitas respostas so possveis a um determinado estmulo. Ao contrrio, a ativao
da regio no ocorre quando os verbos so de baixa seleo e a resposta ao item
praticamente exclusiva.
No presente estudo os instrumentos utilizados para a avaliao do controle inibitrio
e ateno seletiva foram, respectivamente, o Teste de Gerao Semntica e o Teste de
Stroop Computadorizado. Tal distino refere-se aos aspectos primordialmente avaliados
pelos testes citados, devendo ser ressaltado que ambos os instrumentos incluem, em certo
grau, habilidades de ateno seletiva (Thompson-Schill & cols., 1998), controle inibitrio
(Leung & cols., 2000), alm de outras, como memria (Thompson-Schill, DEsposito &
Kan, 1999).
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3.3. Planejamento
O planejamento de uma ao requer trs etapas a serem cumpridas: identificar o
objetivo e estabelecer subobjetivos, pensar quais as conseqncias da tarefa e traar os
meios de chegar aos subobjetivos (Gazzaniga & cols., 2006). O indivduo deve ser capaz de
abstrair capacidades e dificuldades relacionadas a si mesmo e ao meio. Assim, planejamento
envolve a habilidade de identificao e organizao de elementos, tais como habilidades
prprias e de terceiros, materiais, recursos, entre outros. Um plano eficiente confere uma
deciso realizada adequadamente e o desenvolvimento de estratgias para estabelecer
prioridades (Lezak & cols., 2004).
Sendo assim, a ocorrncia de problemas na capacidade de planejamento decorre da
dificuldade em escolher a melhor maneira de atingir um objetivo, o que requer a anlise de
todos os sub-objetivos e avaliao destes para que sejam realizados sucessivamente. Um
exemplo de tal dificuldade foi percebido em um estudo feito no laboratrio de Jordan
Grafman, em 1997, em que os pacientes com o crtex pr-frontal lesado deveriam colaborar
com casais que desejavam planejar seu oramento familiar, sendo que as despesas estavam
maiores do que a renda mensal. Enquanto a sugesto dos sujeitos-controle foi a reduo com
gastos de roupas, um paciente enfatizou o corte no gasto com o aluguel, j que este era o
maior gasto anual da famlia. O paciente sugeriu ainda que a famlia adquirisse uma barraca
onde poderiam morar, j que custava muito barato. Assim, os pacientes compreendiam a
tarefa, o que deveria ser feito, embora os meios de alcance do objetivo final fossem
enviesados (Goel & Grafman, 2000)
A habilidade de planejamento est relacionada a outras habilidades como memria
de trabalho, ateno seletiva, flexibilidade, experincia temporal, entre outras (Lezak &
cols., 2004). Estando todas essas habilidades preservadas, o indivduo pode ser capaz de
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julgar, fazer escolhas e integrar idias seqenciais e hierrquicas que so necessrias para o
desenvolvimento do plano de ao. Assim, a habilidade de planejamento tende a ser
considerada uma habilidade executiva complexa (Miyake, Friedman, Emerson, Witzki &
Howerter, 2000).
Assim, para se desenvolver um plano de ao deve-se considerar todas as etapas que
sero realizadas at o alcance do objetivo e, caso haja problemas na seleo destas, falhas no
comportamento sero observadas, podendo caracterizar um paciente com leso pr-frontal
(Gazzaniga & cols, 2006). Alm disso, pacientes incapazes de pensar de modo abstrato no
so bem sucedidos no planejamento (Lezak & cols., 2004).
A habilidade de planejamento pode ser avaliada por meio dos Testes das Torres,
como a Torre de Londres (Shallice, 1982) e a Torre de Hani (Lezak, 1995). No presente
estudo, esse componente foi avaliado pelo Teste da Torre de Londres, o qual envolve a
capacidade de pensar antes da execuo de algum movimento, alm de que para a realizao
completa da tarefa necessrio o aprendizado para que os mesmos erros no sejam repetidos
(Arajo, 2004). Foi selecionada para este estudo a Torre de Londres, em vez da Torre de
Hani, devido menor complexidade deste instrumento, em que h a manipulao de trs
esferas ao invs de cinco, tendo em vista que a amostra de participantes composta por
crianas e adolescentes (Batista, Adda, Miotto, Lcia & Scaff, 2007; Krikorian, Bartok, &
Gay, 1994).
3.4. Flexibilidade Cognitiva
Aes complexas requerem mudana de um subobjetivo para outro de uma maneira
coordenada (Gazzaniga & cols., 2006). Flexibilidade cognitiva consiste na capacidade de
alternncia de respostas, o que objetiva adaptar as escolhas s contingncias (Gil, 2002).
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Atitudes que em certo momento so adequadas para uma dada tarefa, em outro momento
podem no ser. Nessas situaes h a atuao do Sistema Atencional Supervisor, o qual
garante que o comportamento seja flexvel adaptando-se s novas circunstncias. Se o
comportamento for novo ou estiver sendo realizado em um contexto no usual, diferentes
aes devem ser avaliadas para determinar se o progresso da ao est de fato em direo ao
objetivo (Gazzaniga & cols., 2006).
A rea responsvel por essa atividade o CPF e leses podem provocar o
comprometimento de funes executivas, resultando numa constante manuteno dos
comportamentos inadequados (Gil, 2002). Assim, a inflexibilidade evidenciada em formas
rgidas de realizar tarefas e resolver problemas, ou seja, incapacidade de flexibilizar suas
respostas (Arajo, 2004).
Um teste usado para avaliar a flexibilidade o Teste de Trilhas B (Gil, 2002).
Pesquisas tm sido conduzidas para verificar se diferentes verses do Teste de Trilhas B
avaliam o mesmo construto. Por exemplo, Souza, Moll, Passman, Cunha e cols. (2000)
verificaram a correlao entre o Teste de Trilhas B (TMTB) e uma adaptao deste para
uma tarefa verbal, o Trilhas Verbal (TMTv). A hiptese partiu do princpio de que a retirada
dos fatores visuoespacial e visiomotor poderia alterar o resultado do TMTv fazendo com
que no fosse ativada a flexibilidade. Em outras palavras, caso fosse estabelecida uma
correlao significativa entre os testes isso poderia ser uma evidncia da importncia da
flexibilidade cognitiva nas tarefas de TMT, independentemente do formato especfico da
tarefa.
Foram avaliados vinte e cinco sujeitos com desempenho cognitivo normal. Eles
deviam responder o TMT nas duas formas apresentadas. Na forma tradicional, h duas
partes. Na parte A, deve-se ligar os nmeros de 1 a 25 em ordem crescente e, na forma B,
ligar nmeros de 1 a 13 e letras de A a M, alternando entre um nmero e uma letra, seguindo
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as ordens crescente e alfabtica, respectivamente, por exemplo, 1-A-2-B. Na forma
adaptada, a execuo da tarefa era testada verbalmente, ou seja, o sujeito deveria contar os
nmeros de 1 a 25 em voz alta, para que o aplicador pudesse ouvir, e, em seguida, verbalizar
a conexo entre os nmeros e letras.
Nos resultados foi mostrado que em ambas as formas do teste a resoluo da forma B
demandou mais tempo do que a forma A. Entre o TMT- forma B verbal e escrita foi
encontrada uma correlao significativa de 0,59. Diante dos dados obtidos, acredita-se que o
TMT- forma B em ambos os formatos requer a ativao de operaes mentais
compartilhadas, que o caso da flexibilidade cognitiva.
Assim, o Teste de Trilhas B foi usado no presente estudo para a avaliao da
flexibilidade cognitiva, que acredita-se que a capacidade de alternncia de respostas ser
evocada na conexo entre uma letra e um nmero. O Teste de Trilhas A foi utilizado como
uma medida-controle, o que ser mais detalhado na sesso instrumentos.
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4. DESENVOLVIMENTO DAS FUNES EXECUTIVAS
Esta pesquisa abordou as funes executivas, mais especificamente as habilidades
anteriormente citadas, em alunos de 5 a 8 srie do ensino fundamental. Embora a maior
parte dos estudos neuropsicolgicos seja realizada com adultos, recentemente o interesse
pelos aspectos cognitivos na infncia vem ganhando destaque. Tais estudos esto
relacionados Neuropsicologia do Desenvolvimento, a qual um campo de pesquisa clnica
e terica que tem por objetivo compreender as relaes entre o encfalo e o
desenvolvimento infantil (Andrade & cols., 2004).
Ao longo do seu desenvolvimento as crianas tornam-se gradativamente capazes de
controlar suas aes e pensamentos. Essa caracterstica tem sido associada ao
desenvolvimento das funes executivas, termo este utilizado para os vrios processos
cognitivos que so teis aos comportamentos direcionados a um objetivo (Huizinga & cols.,
2006), conforme anteriormente exposto.
Para Davidson, Amso, Anderson e Dim