Upload
geografia-de-costa-rica
View
219
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
8/6/2019 B-005 Artur Fontes de Souza
1/17
ANLISE DA DINMICA DOS RECURSOS HIDRICOS E SEU USO NA FORMAO
DO ASSENTAMENTO ANTONIO DE FARIA, CAMPOS DOS GOYTACAZES-
RJ(BRASIL)
Artur Fontes de Souza
Graduando em Geografia, Departamento de Geografia de Campos (GRC), Universidade
Federal Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: [email protected].
Raul Reis Amorim
Professor Adjunto,Departamento de Geografia de Campos (GRC), Universidade Federal
Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil. E -mail: [email protected]
RESUMO
O presente trabalho prope-se analisar a dinmica de utilizao dos recursos hdricos na
formao do Assentamento Antonio de Farias, situado na localidade de Pernambuca no
municpio de Campos dos Goytacazes-RJ. O objetivo deste trabalho identificar os
recursos hdricos existentes na rea de estudo e a sua relao com o uso e ocupao das
terras. A abordagem metodolgica deste trabalho a adoo da Teoria Geral dos
Sistemas. Dentre os procedimentos metodolgicos adotados, est a realizao de
trabalho de campo e a organizao de banco digital de dados. Com os resultados
preliminares, verificou-se que as reas onde se encontram os corpos hdricos no
apresentam o estado de preservao exigido pela legislao ambiental, ou seja, os
corpos hdricos no esto protegidos pela mata ciliar. As etapas ento cumpridas iro
subsidiar as etapas posteriores, que tem como objetivo final orientar a populao do
assentamento rural a utilizar e conservar os recursos hdricos da propriedade.
Palavras-chave: Recursos Hdricos; Assentamentos; Uso da Terra.
8/6/2019 B-005 Artur Fontes de Souza
2/17
1. Introduo
Todos os seres vivos tm necessidade de recursos naturais para manter sua
existncia, e dentre eles o prprio homem. O homem diferente dos demais seres vivos
organiza-se em sociedades que com desenvolvimento tcnico diferenciado apropria-se
dos recursos maturais de maneira diferenciada.
No passado, as diferentes sociedades tinham na localizao e abundncia dos
recursos naturais um fator importante para o seu desenvolvimento, como os povos da
antiguidade oriental que se instalaram nas margens dos rios Tigre, Eufrates e Nilo.
Alm de desenvolverem diferentes tcnicas de cultivo e domesticao de animais,
as sociedades antigas apropriam-se dos recursos hdricos no apenas para o
desenvolvimento das atividades agrcolas, mais tambm para o consumo.
medida que as sociedades passaram de essencialmente rurais e torna -se
urbanas, o uso dos recursos hdricos passa a ser de grande importncia, pois a presena
de variados tipos de recursos hdricos pode definir o desenvolvimento de formas de
atividades no meio urbano e indiscutivelmente no meio rural. Sendo a gua de suma
importncia para todos os tipos de produes agrcolas e obt eno de diferentes produtos
industriais que a utilizam como matria prima.
gua como elemento fundamental para a manuteno da vida um fato concreto
na vida de todas as sociedades. A presena de nascentes nas reas estudadas pode
influenciar na qualidade de vida e condies maiores para o desenvolvimento dos que ali
residem e maior respaldo na produo e obteno e obteno de sua alimentao e
criao de animais. Condies essa tambm presentes no meio urbano, onde a ocupao
se da aliada a proximidade e obteno de variados recursos hdricos para ser utilizados
em seu dia a dia como elemento fundamental para sua sobrevivncia.
Infelizmente, as diferentes sociedades no que refere ao uso adequado dos
recursos naturais em especial dos recursos hdricos no tem tido o devido cuidado para a
manuteno e conservao da gua, que tanto no meio urbano como no meio rural esto
sendo contaminadas.
O uso e ocupao das terras tanto na rea rural como na rea urbana deve serfeito de forma a conservar os recursos hdricos e evitar alteraes no ciclo hidrolgico,
pois para Branco (2003) a gua constitui fator de grande importncia na constituio do
mundo em que vivemos. Analisando os recursos hdricos sobre uma perspectiva
sistmica, a gua est presente de maneira direta e indireta em todos os elementos que
compem os aspectos naturais: No clima, permite a manuteno de temperaturas
amenas e variao no muito acentuadas; na litosfera responsvel pela formao da
8/6/2019 B-005 Artur Fontes de Souza
3/17
maior parte das rochas sedimentares, alm de possib ilitar os processos intempricos
responsveis pela existncia dos solos; na biosfera, a gua constitui componente
indispensvel existncia da vida em todas as suas formas, principalmente em
decorrncia da variao de umidade que possibilita a existncia da diversidade biolgica,
ou seja, pela distribuio to diversa da fauna e da flora em nosso planeta.
importante refletir sobre o uso dos recursos hdricos na atualidade, e em especial
nas reas rurais que apresentam grande diversidade de tcnicas de a propriao dos
recursos naturais, pois a insero do capital possibilita a existncia de diferentes meios de
produo no campo, que vai desde as empresas agrcolas com uso intensivo de
tecnologias agricultura itinerante familiar, que ainda utiliza o arad o, queimada e outras
tcnicas que degradam os recursos naturais.
Os projetos de assentamento rural implantados no Brasil devem preocupar -se com
o uso dos recursos naturais. Os assentados no devem simplesmente preocupa-se em
adquirir a posse da terra, mais utiliz-la de maneira sustentvel, de forma a manter a
potencialidade produtiva e tambm de conservar os recursos naturais como a gua, o
solo e a biota.
O objetivo deste trabalho fazer um levantamento e mapeamento dos recursos
hdricos presentes no assentamento Antonio de Faria, avaliar a sua condio e uso e
propor um melhor uso.
1. Material E Mtodo
rea de estudo
O assentamento estudado o Antonio de Farias, localizado no distrito de Ibitioca, na
vila de Pernambuca, no municpio de Campos dos Goytacazes, situado na Regio Norte
Fluminense, Estado do Rio de Janeiro (Brasil). Este assentamento situa -se na antiga
Fazenda Santa Rita do Pau Funcho, que foi desapropriada para a criao do
Assentamento Rural pelo decreto da Presidncia da Republica de 08 de agosto de 2000,
tendo como rgo expropriante o INCRA (Figura 01).
8/6/2019 B-005 Artur Fontes de Souza
4/17
Figura 01 Localizao do Assentamento Antnio de Farias, no municpio de Campos
dos Goytacazes/RJ (Brasil).
A rea em estudo situa-se na rea de transio entre a Plancie Aluvi al do Rio
Paraba do Sul e as colinas adjacentes Serra dos rgos. A rea do assentamento
composta de um relevo ondulado com pequenas reas de baixadas onde esto
localizados terrenos mais saturados.
Uma analise mais aprofundada do solo demonstra um desgaste devido a inteno
produo ao longo de seu histrico produtivo, principalmente no que refere -se ao cultivo
de cana-de-acar. Por total falta de Mata Nativa, o solo tornou-se mais intemperizados
devido ao ciclo de chuvas no, havendo um escoamento superficial para reas mais baixas
onde se localizam reas mais saturadas formando os brejos.
Alm de reas saturadas, encontram-se nascentes superficiais dando origem a
pequeno lagos por toda a extenso do assentamento. H tambm a presena de um rio
8/6/2019 B-005 Artur Fontes de Souza
5/17
que corta o assentamento proporcionando a obteno de gua para maiorias dos lotes
que constituem o assentamento.
Histrico de ocupao
O uso e ocupao das terras da Regio Norte Fluminense, que teve seu inicio em
1627, aps a diviso da Capitania de So Tom em glebas por ordem da CoroaPortuguesa. Tais glebas foram doadas a sete capites portugueses, alguns deles donos
de engenho na regio da Guanabara, efetivando a ocupao.
Em 1650 foi implantado o primeiro engenho de cana-de-acar na regio,
culminando em 1677 a fundao da primeira vila, a vila de So Salvador dos Campos dos
Goytacazes, pelo Visconde d'Asseca, que desencadeou ao entorno da vila a grande
expanso pecuria.
A introduo do primeiro engenho a vapor na regio, em 1830, trouxe grande
transformao no processo de produo de acar. "A elevao da vila a condio decidade somente veio a ocorrer em 28 de maro de 1835. O aparecimento da ferrovia, em
1837, com a inaugurao do trecho Campos-Goitacazes; e posteriormente em direo ao
trecho Norte-Sul, facilitou a circulao, transformando o municpio em centro ferrovirio da
regio.
Em 1877, so implantados na regio os engenhos centrais (usinas), e inicia -se o
processo de urbanizao e, a rea da Regio Norte Fluminense passou por processo de
fragmentao territorial municipal. Em 1890, o municpio de Campos dos Goytacazes que
foi fragmentado, j estava reduzido praticamente as fronteiras atuais.Ao longo do sculo XX, a consolidao da cultura canavieira, faz com que haja o
crescimento das cidades que possibilitem a instalao de pequenas empresas, da
melhoria de suas atividades comerciais e de servios.
A Regio Norte Fluminense beneficia-se com a partir da dcada de 1970, com a
implantao da Petrobras, em Maca, como base de operao das at ividades de
prospeco e de produo para os recm-descobertos campos de petrleo na plataforma
continental da Bacia de Campos (PIQUET, 2003).
Com a explorao de petrleo, a dinmica econmica da Regio Norte Fluminense
foi alterada, pois a atividade canavieira, a principal atividade econmica da regio foi
perdendo espao para as atividades vinculadas ao setor urbano, como indstrias e o setor
de servios.
Com o declnio da lavoura canavieira muitas propriedades rurais passaram a ser
improdutivas no municpio de Campos dos Goytacazes, dentre elas a Fazenda Santa Rita
8/6/2019 B-005 Artur Fontes de Souza
6/17
do Pau Funcho, que foi desapropriada para a criao do Assentamento Rural Antonio de
Farias, objeto de estudo desse trabalho.
Fundamentao terica
A anlise do uso dos Recursos Hdricos do Assentamento Rural Antnio de Farias
ser analisada atravs da definio de Geossistemas, pois no considera a gua como
um componente isolado no meio natural, mas sim, um elemento que atua como agente
ativo na constituio das paisagens.
Ao estudar o uso dos Recursos Hdricos, importante no apenas analisar como as
diferentes populaes consomem este recurso, mas como a ao antrpica na construo
das paisagens atuam alterando seus fluxos e a sua armazenagem, seja no solo, nos
aquferos, na cobertura vegetal, nos corpos lquidos e at mesmo na atmosfera.
Desta forma, este trabalho ir analisar os recursos hdricos como constituintes dos
Geossistemas, que defino por Sotchava (1977) considerado um conjunto de el ementos
do meio natural, que pode sofrer alteraes na sua funcionalidade, estrutura e
organizao em decorrncia da ao antrpica. Vale ressaltar que esta interferncia no
ocorre de maneira direta, como prope Bertrand (1971) ao considerar que a ao
antrpica um integrante dos Geossistemas.
Sotchava (1977), ao apresentar o estudo dos Geossistemas, diz que cada categoria
de Geossistema se situa num ponto do espao terrestre. Observa que estes devem ser
analisados como pertencentes a um determinado lugar sobre a superfcie da Terra. Para
o autor, a natureza passa a ser compreendida no apenas pelos seus componentes, mas
principalmente pelas conexes entre eles, no apenas restringindo -se morfologia da
paisagem e as suas subdivises, mas priorizando a anlise de sua dinmica, sua
estrutura funcional e suas conexes (SOTCHAVA, 1978).
Para Amorim (2011) um Sistema Ambiental pode ser caracterizado como entidade
organizada na superfcie terrestre formada pelos subsistemas fsico/natural (Geossistema)
e antrpico, bem como por suas interaes. O subsistema fsico-natural (Geossistema)
composto por elementos e processos relacionados ao clima, solo, relevo, guas e seresvivos, enquanto os componentes e processos do subsistema Antrpico so aqueles
ligados populao, urbanizao, industrializao, agricultura e minerao, entre outras
atividades e manifestaes humanas. Assim, no contexto da Geografia, Sistema
Ambiental trata-se da organizao espacial, fruto das relaes entre os Geossistemas, ou
sistemas fsico/naturais e os Sistemas Antrpicos.
8/6/2019 B-005 Artur Fontes de Souza
7/17
O ainda autor enfatiza que com os nveis de antropizao da atualidade, os
Geossistemas e os Sistemas Antrpicos no podem ser estudados de maneira isolada,
mais de forma integrada, pois mesmo os Geossistemas e os Sistemas Antrpicos
apresentando leis e dinmicas prprias, este mantm um funcionamento parcialmente
independente, e tambm um funcionamento dependente um do outro, ou seja, mesmo a
natureza apresentando suas leis e dinmica prpria, esta pode sofrer alter aes em
decorrncia da ao antrpica, como por exemplo, alteraes nos nveis pluviomtricos e
alteraes na temperatura como consequncia do desmatamento, assim como os
Sistemas Antrpicos sofrem interferncia das leis da natureza.
Procedimentos metodolgicos
O trabalho baseou-se em trs etapas: a primeira etapa refere-se a um inventrio dos
aspectos fsico/naturais da rea do Assentamento Antnio de Farias, atravs de reviso
bibliogrfica e levantamento cartogrfico, tanto em meio analgico como em me io digital;
a segunda etapa foi a elaborao dos mapas temticos de uso e ocupao das terras
utilizando o software Arc GIS 9.2, na interpretao visual da imagem Alos Prism de
abril/2010. Outra etapa foi a digitalizao do Mapa de Solos, na Escala 1:15.00 0
elaborado pela ITERJ e a organizao do Mapa Topogrfico. O objetivo da organizao
deste mapa a obteno de informaes para a elaborao do Mapa Hipsomtrico e do
Mapa Clinogrfico em ambiente de SIG.
A partir do Mapa Topogrfico foi possvel elabora r o modelo digital de terreno que
denominamos de Mapa Hipsomtrico.Para gerar tal modelo foi utilizado o software Arc
GIS 9.2 no mdulo ArcToolBox, na ferramenta Interpolao de Raster, no comando Topo
para raster, e nele ocorreu a interpolao dos layes curvas de nvel, pontos cotados e
rede de drenagem, lagos e rios de margem dupla e limite municipais, assim, gerando
um modelo digital de terreno. Este mapa foi elaborado a fim de identificar as reas com
maior desnvel altimtrico, e as reas de topos e nascentes.
O Mapa Clinogrfico foi gerado a partir do modelo digital de terreno com o uso do
software Arc GIS 9.2 no mdulo ArcToolBox na ferramenta Superfcie para Raster nocomando Declividade. Este Mapa de fundamental importncia nos estudos vinculados
ao planejamento do uso e ocupao das terras, e tambm constitui um documento
cartogrfico que somado a outros mapas temticos, pode identificar reas com
susceptibilidade a inundao.
Complementando a etapa anterior, realizou-se na etapa final a realizao de um
trabalho de campo trabalho de campo para o reconhecimento da rea do assentamento,
8/6/2019 B-005 Artur Fontes de Souza
8/17
onde portando uma ficha de campo, GPS e mquina fotogrfica observou -se e
registraram-se as caractersticas fsico-naturais da paisagem como formas de relevo
predominante, tipos de solos expostos em perfis, cobertura vegetal natural, presena de
corpos lquidos. Cada mudana na paisagem foi registrada com pontos no GPS e um
registro fotogrfico.
Tambm foram observados os diferentes tipos de uso e ocupao das terras, e
buscou-se sempre correlacionar a sua proximidade com os corpos hdricos. Observou-se
que na area do assentamento existem reas com pastagem, eucalipto e desenvolvimento
de agricultura familiar, com plantio de hortifrutigranjeiros, man dioca, feijo e milho.
2. Resultados e Discusses
O Assentamento Antnio de Farias com rea de 1008,00 h, dividido em 09
ncleos, que apresentam reas e nmero de lotes distintos (Tabela 01).
Tabela 01 Diviso do Assentamento Rural Antnio de Farias em Ncleos, nmero de
lotes e rea em 2010.
Ncleos rea em ha rea em %
Ncleo 01 78,27 7,76
Ncleo 02 83,29 8,26
Ncleo 03 153,30 15,21
Ncleo 04 57,82 5,74
Ncleo 05 139,80 13,87
Ncleo 06 105,02 10,42
Ncleo 07 138,30 13,72
Ncleo 08 103,90 10,31
Ncleo 09 148,30 14,71
Total 1008,00 100,00
Elaborado pelos autores.
Esta no homogeneidade decorrente dos diferentes atributos naturais na rea que
tornam, principalmente os trechos com Organossolos onde desenvolve -se a vegetao de
Brejo, apresentando baixa aptido agrcola (Figura 02). Observou -se no trabalho de
campo que a rea apresenta grande abundancia em recursos hdricos, pois alm dos
inmeros canais de primeira ordem tambm ocorre a formao de brejos onde o nvel do
lenol fretico satura.
8/6/2019 B-005 Artur Fontes de Souza
9/17
Figura 02 Mapa de Solos do Assentamento Antnio de Farias.
A baixa aptido agrcola das reas de Organossolos esto vinculadas aos seguintes
fatores: Este tipo de solo se desenvolve em reas em que as condies de dre nagem no
so eficientes ocasionando condies de hidromorfismo responsveis pela reduo do
ferro. Tais condies ocorrem em reas situadas em pores mais rebaixadas do relevo,
como ocorre na rea em estudo, que situa-se entre 0 e 20 m (Figura 03) e declividades
inferiores a 2%, como diz Young apud Oliveira (2006) so consideradas as reas com
maior propenso a inundaes (Figura 04).
As reas com ocorrncia dos Organossolos esto situadas as margens do rio Urura,
que alimentado pelas guas da bacia do rio Imb, atravs da Lagoa de Cima, pelas
guas do afluente Rio Preto, desaguando ao sul, na Lagoa de Cima e pelos canais de
primeira ordem que tem suas nascentes na rea do assentamento.
Na rea verifica-se que os aspectos naturais condicionam a abundancia em recursos
hdricos, pois o relevo direciona os fluxos de gua que partem das colinas, escoam e
acumulam-se nas pores mais rebaixadas.
8/6/2019 B-005 Artur Fontes de Souza
10/17
Figura 02 Mapa Hipsomtrico do Assentamento Antnio de Farias
Figura 03 Mapa de Declividade do Assentamento Antnio de Farias
Observando a Figura 04 nota-se que predomina na rea de estudo as pastagens e
cultivos de subsistncia. Essas pastagens encontram-se em torno dos corpos lquidos,
8/6/2019 B-005 Artur Fontes de Souza
11/17
reas de brejo e habitaes, mantendo uma ligao direta com a criao de animais
ruminantes para produo de leite.
figura 03 - Mapa de uso e ocupao das terras do assentamento Antonio de Farias,
destacando o uso e ocupao das margens dos rios, segundo a legislao brasileira.
Nas reas ao entorno dos canais no respeita a legislao brasileira vigente, pois a
cobertura vegetal foi retirada, alterando os fluxos de matria e energia, principalmente da
gua, dos organismos e dos sedimentos desses Geossistemas.
Segundo o Cdigo Florestal Brasileiro:
Art. 2 Consideram-se de preservao permanente, pelo s efeito
desta Lei, as florestas e demais formas de vegetao natural
situadas:
a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'gua desde o seu nvel
mais alto em faixa marginal cuja largura mnima ser:
1 - de 30 (trinta) metros para os cursos d'gua de menos de 10 (dez)
metros de largura;
2 - de 50 (cinquenta) metros para os cursos d'gua que tenham de
10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura;
8/6/2019 B-005 Artur Fontes de Souza
12/17
3 - de 100 (cem) metros para os cursos d'gua que tenham de 50
(cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;
4 - de 200 (duzentos) metros para os cursos d'gua que tenham de
200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;
5 - de 500 (quinhentos) metros para os cursos d'gua que tenham
largura superior a 600 (seiscentos) metros;
b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatrios d'gua naturais ou
artificiais;
c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos
d'gua", qualquer que seja a sua situao topogr fica, num raio
mnimo de 50 (cinquenta) metros de largura;
d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;
e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45,
equivalente a 100% na linha de maior declive;
Pargrafo nico. No caso de reas urbanas, assim entendidas as
compreendidas nos permetros urbanos definidos por lei municipal,
e nas regies metropolitanas e aglomeraes urbanas, em todo o
territrio abrangido, obervar-se- o disposto nos respectivos planos
diretores e leis de uso do solo, respeitados os princpios e limites a
que se refere este artigo. (Includo pela Lei n 7.803 de 18.7.1989)
Observando a Figura 04 e ao que determina o Cdigo Florestal Brasileiro,
delimitou-se sobre um buffer ao entorno da rede de drenagem, respeitando as medidas
expostas na legislao, e observou-se que em todos os ncleos do assentamento a
preservao da Mata Ciliar foi respeitada. A Mata Ciliar foi predominantente substit uda
por pastagens, pois facilitava o acesso do gado bovino aos canais para saciar de suas
necessidades. Para o ITERJ (2002) a grama Pernambuco, dominante na regio,
apresenta baixa capacidade de suporte nutricional, e que propicia o aumento de
processos erosivos aumentando a dificuldade no manejo dos solos ali existentes. A MataCiliar tambm foi substituda nos Ncleos 01, 04, 05, 06, 07 e 08 pela cana-de-acar,
que foram instaladas nos Latossolos, solos com excelente aptido agrcola, que
necessitam de correo quando usados excessivamente, como aponta Carvalho et all
(2009) ao propor o cultivo irrigado de coqueiros no assentamento em estudo.
Nota-se que associada a essas pastagens temos algumas reas remanescentes de
Matas, sendo as mesmas encontradas em pequenos pontos nos Ncleos 01, 02, 04, 05,
8/6/2019 B-005 Artur Fontes de Souza
13/17
08 e 09 nas margens dos canais. O desmatamento nas margens dos rios e canais
anterior a criao do assentamento, sendo um reflexo do histrico uso e ocupao do
municpio que tinha no cultivo de cana-de-acar e secundariamente a pecuria como
atividades econmicas predominantes. A Mata Ciliar foi devastada para o
desenvolvimento dessas atividades, no preservando a Mata Ciliar.
O que observa-se hoje como mata na verdade uma vegetao secundria que
perdeu em diversidade e densidade as suas caractersticas originais.
Nas pores mais rebaixadas (Figura 02) as baixas declividades favorecem a
substituio das matas, que so constitudos de espcies de vegetao arbustiva, por
pasto nativo ou por uma vegetao menos densa como as capoeiras.
Devido a todo esse processo de degradao, as espcies animais encontradas na
fauna so pequenas aves, cobras e anfbios residentes nas reas de brejo (ITERJ, 2004).
Alm do desenvolvimento de pastagens e culturas de subsistncia, os ncleos
ainda cultivam a cana-de-acar. Esta cultura esto situadas prximas dos corpos
lquidos, o que compromete a qualidade da gua, pois os resduos provenientes dessa
cultura, principalmente os insumos agrcolas e os resduos das queimadas da cana-de-
acar contaminam tanto a gua superficial como a subterrnea .
Responsvel pela maior fonte de renda, a produo de cana -de-acar encontra-se
dividindo sua rea com a pastagem, formando uma parceria entre a produo canavieira
e alimentao dos animais contidos nas pastagens. Em perodo de colheita, feita atravs
da utilizao de fogo, o solo tem uma perda significativa de nutrientes, p ois os
microorganismos que os sintetizam tambm morrem, comprometendo a otimizao do
solo para a produo seguinte.
A segunda maior rea do Assentamento Antnio de Farias constituda por brejos.
So locais com caractersticas de solos muito midos durante o ano todo, com pequenos
afloramentos do nvel do lenol fretico sendo pouco e no utilizado.
Em sua maioria esto circundados pela pastagem, onde tambm servem de
bebedouros para os animais. Com caractersticas pantanosas, os brejos so reas
praticamente improdutivas dentro do mecanismo de funcionalidade e produtividade doassentamento.
Em estudos preliminares, percebe-se grande presena de nascentes sendo destes
mal utilizados e quase nunca preservados. Essa caracterstica pode ocasionar a extin o
de alguns rios em um perodo muito curto. Todas essas nascentes encontram -se
predominantemente em reas que atualmente desenvolve -se a pastagem, alm de
nascentes situadas tambm situadas em reas de plantao de cana -de-acar e de
8/6/2019 B-005 Artur Fontes de Souza
14/17
habitaes (Figura 04), sem nenhuma preocupao com sua contaminao e exposio a
animais ou outros agentes contaminantes. Encontra-se um rio de grande extenso dentro
dos limites do assentamento, onde sua utilizao feita atravs da capitao de suas
guas por bombas submersas e rede de canalizao primria para abastecimento das
residncias contidas na sua proximidade.
Com pouca representatividade, encontramos o solo exposto, nos Ncleos 06 e 08,
que so adjacentes s pastagens, nas quais o solo no teve uma manuteno mnima
para a sua utilizao e acabou por adquirir uma caracterstica improdutiva. Assim sendo,
no utilizado para o plantio e nem produo de nenhum tipo de alimento, por possuir por
muitas vezes uma caracterstica ferruginosas, com processos ativos erosivos.
Outra rea nfima a produo de eucalipto, onde ao ser remarcado a terra para
uso do assentamento, verificou-se a presena de pequenas reas com o plantio dos
mesmos, assim sendo, essa produo tornou-se comunitria, onde toda a produo
transformada em hastes para o cercado e dividida pelas famlias moradoras do
assentamento.
O limite associado rea total do assentamento rural Antnio de Faria,
compreende uma pequena rea urbana chamada Pernambuca, onde em sua maioria, so
pessoas com algum tipo de associao da terra, mas sendo especifico do caso, pouco
produz e no produz absolutamente nada.
Dentro do limite rural, encontrado pequenas reas de moradias, em sua maioria
associada proximidade dos recursos hdricos e pastagens ou produo da cana-de-
acar. Ligado diretamente a estas reas de habitao, temos a produo de fruticulturas,
onde tem como caracterstica a produo de reas em torno a suas moradias sendo
utilizadas para consumo prprio, venda em feiras rurais ou at mesmo produo de doces
para abastecimento do mercado local da rea urbana compreendida dentro do limite do
assentamento.
Em visitas de campo verifica-se a grande extenso territorial associada a cada
famlia, onde tendo uma diviso em formatos triangulares facilitando assim toda a
locomoo dentro dos lotes e a obteno de algum recurso hdrico, sendo este canalizadoou obtido por meio de captao primria destes corpos lquidos.
As habitaes tem uma padronagem estabelecida, sendo estabelecida uma
metragem igual para cada famlia contemplada pelo sistema de reforma agrria. Essas
habitaes so constitudas de 2 quartos, 1 sala, 1 cozinha e por 1 banheiro, sendo
passvel de mudana ou expanso de acordo com a famlia. As famlias beneficiarias da
8/6/2019 B-005 Artur Fontes de Souza
15/17
reforma agraria tem por caracterstica o origem humilde, de perfil associado ao convvio e
trabalho da terra.
Verificou-se dentro do zoneamento estabelecido pelo PDA a no existncia de uma
rea destinada reservas legais (RLs) e reas de Proteo Permanentes (APPs),
embora a legislao recomende um limite em torno dos cursos dgua, nota -se a falta de
conservao da mata ciliar e de suas pequenas manchas arbreas.
Costa e Arajo (2002) ressaltam que o Cdigo Florestal estabelece o conceito de
APPs - reas de Preservao Permanente, sendo estas situadas prximas a lagos,
lagoas, rios com variao de acordo com o tamanho de cada um, nas nascentes num raio
mnimo de 50 m, topo de morros, nas encostas, nas restingas e manguezais, bordas de
tabuleiro ou chapadas e em terrenos com declividade a partir de 45.
Segundo informaes apuradas por Haddad e Pedlowski (2009), umas das maiores
queixas em relao a implantao das RLs e APPs seriam a perda significativa de rea
cultivvel de cada lote no assentamento, assim sendo, existe uma despreocupao em
relao a essa poltica de preservao ambiental.
Em questo da utilizao do solo, Costa e Arajo (2002) sugerem que seria
necessrio que fosse feito um planejamento da paisagem com objetivo de identificar os
espaos mais apropriados para o desenvolvimento das atividades econmicas, em
consonncia com as reas que devem ser destinadas proteo.
Para tanto, primamos pra uma utilizao do uso da terra de forma onde poderiam se
potencializar as caractersticas naturais dos solos a favor do pblico alvo. A
predominncia de Latossolo faz com que se priorize o cultivo de manga, banana ou
laranja; nas reas mais baixas, sendo a predominncia do Organossolo, devido a
saturao em perodos prolongados do ano, aperfeioa-se o cultivo de ciclo curto como a
abbora, quiabo e feijo. Os Cambissolos encontrados as margens do Rio Ururai, sendo
considerado o leito maior do rio, recomenda -se o cultivo de milho, quiabo e abbora e nas
reas de Gleissolo, o cultivo s recomendado em reas de seca e de ciclo curto como
hortalias, feijo e milho.
No que tange o Assentamento Antnio de Farias, verifica -se a pouca organizaosocial e um maior controle ambiental em toda sua extenso territorial, sendo suas reas
poucas conservadas e raramente preservadas.
8/6/2019 B-005 Artur Fontes de Souza
16/17
Consideraes Finais
A dinmica hdrica condiciona naturalmente a disposio dos ncleos de convivncia
assim como a forma produtiva adotada. Verificou-se que ao entorno dos canais de
primeira ordem cobertura vegetal nativa foi severamente degradada, sendo substituda
por pastagem ou cultivo extensivo agrcola, em contra partida as reas de Organossolo
encontram-se em perfeito estado de conservao devido a sua caracterstica de
saturao natural.
Outro ponto alarmante encontra-se em reas de declividade maior que 45% sem
nenhuma presena de cobertura vegetal, possibilitando o maior carreamento de material
sedimentar causando o assoreamento dos canais hdricos.
Alm do problema vinculado a interferncia no ciclo hidrolgico em decorrncia da
modificao no uso da terra verificou-se que os moradores coletam a gua de poos,
mais que tambm utilizam como sistema de despejo de efluentes domsticos o sistema
de fossas asspticas. Essa relao esta diretamente empregada ao desenvolvimento de
cada lote atravs da obteno e captao de alguns recursos hdricos para ser utilizado
em seu dia-a-dia e no modo de produo.
Referencias Bibliogrficas
AMORIM, R. R. Anlise Geoambiental como subsdio ao uso e o cupao das terras
da zona costeira da Regio Costa do Descobrimento (Bahia). 2011. 250p. (Doutorado
em Geografia), Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 2011.
BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Global. Esboo metodolgico. So Paulo:
Universidade de So Paulo, Instituto de Geografia, Cadernos de Cincias da Terra, (13) p.
1-27.
BRANCO. S. M. gua: origem, uso e preservao. 2 ed. So Paulo: Editora Moderna,
2001.
CARVALHO, D. F. et all. ESTIMATIVA DO CUSTO DE IMPLANTAO DA
AGRICULTURA IRRIGADA, UTILIZANDO O SISTEMA DE INFORMAO
GEOGRFICA. Revista de Engenharia Agrcola. Jaboticabal, v.25, n.2, p.395-408,
maio/ago. 2005.
8/6/2019 B-005 Artur Fontes de Souza
17/17
CHISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. So Paulo: Edgar Blucher, 1980.
COSTA, R. G.; ARAJO, M. Planejando o Uso da Propriedade Rural- I as reservas legal e
reas de preservao permanente. Caderno de Meio Ambiente , n 8. Jornal Agora.
Itabuna. Abril de 2002.
HADDAD, L. N.; PEDLOWSKI, M. A. Explorando a tenso entre proteo ambiental e
Reforma Agrria: o caso das reas de preservao permanente e de reserva legal do
assentamento Antnio de Farias, Campos dos Goytacazes, RJ , pp. 1-22. XIX
ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRRIA, So Paulo, 2009.
ITERJ. Plano de Desenvolvimento Sustentvel do Assentamento Antnio de Farias .
Instituto de Terras do Estado do Rio de Janeiro , 80 p. Rio de Janeiro,RJ. 2004.
ITERJ. PDA- Plano de Desenvolvimento do Assentamento Antnio de Farias . ITERJ,
INCRA,EMATER- RIO,MST 2004.
OLIVEIRA, R. C. Zoneamento Ambiental como subsdio ao planejamento no uso da
terra do municpio de Corumbata-SP.2003. 220p. (Doutorado em Geocincias e Meio
Ambiente), UNESP - Rio Claro, Rio Claro. 2003.
PIQUET, R. P. S. Cidade do Petrleo a nova organizao do espao regional no
Norte Fluminense. Projeto de Pesquisa apresentada ao CNPq (2005 -2008). Rio de
Janeiro, 2005.
SOCTCHAVA, V. B. O Estudo de Geossistemas. Mtodos em questo, 16. IG-USP. So
Paulo, 1977.