Upload
phamthien
View
214
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
BALANÇO DAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS: CURRÍCULO, PRÁTICAS E
CONCEPÇÕES ACERCA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
Este Painel reúne três trabalhos que, por meio de diferentes critérios, procuram analisar
as produções referentes ao currículo, práticas educacionais, procedimentos, percepções
e recursos de ensino destinados a alunos da educação especial. O primeiro trabalho fez
um levantamento de artigos publicados na Revista Brasileira de Educação Especial no
período compreendido de 2001 a 2015, no qual buscou elucidar quais os temas e focos
investigados por meio da seleção e leitura dos resumos de 97 artigos. O segundo
trabalho analisou as tendências das produções acadêmicas acerca da temática, currículo
na área da Educação Especial, especificamente aquelas relacionadas a APAE
Educadora: A Escola que Buscamos, efetuou uma busca no Portal de Periódicos e do
Banco de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível
Superior-CAPES, nos Periódicos Acadêmicos do Portal Scientific Eletronic Library
Online-SciELO, nos encontros da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa
em Educação-ANPED e nos Encontros Nacionais de Didática e Prática de Ensino-
ENDIPE, no período de 2001 a 2015, e o terceiro trabalho analisou as principais
tendências da produção científica contidas no portal de Periódicos disponíveis pela
Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino Superior (CAPES/MEC), no período de
1983 a 2015, acerca da prática educacional voltada para o aluno autista. Teve como
referencial teórico estudos que se inserem no campo da inter-relação entre escola e
cultura na perspectiva das ciências sociais. A análise dos três trabalhos em relação ao
balanço da produção possibilitou identificar alguns avanços nas pesquisas analisadas, no
que se refere à prática voltada aos alunos da educação especial no ensino regular, apesar
de serem apontados alguns entraves como a formação do professor, condições e
organização do trabalho nas escolas; o predomínio de pesquisas na perspectiva da
educação inclusiva; o ínfimo número de pesquisas relacionando currículo e educação
especial, e sobre a educação do sujeito autista.
Palavras-chave: Prática Pedagógica. Currículo. Educação Especial.
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10329ISSN 2177-336X
2
PESQUISAS EM EDUCAÇÃO ESPECIAL: TEMAS E FOCOS NA REVISTA
BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL (2001-2015)
Sirleine Brandão de Souza. PUC-SP/ CNPq
RESUMO
O presente trabalho tem como propósito analisar artigos que versam sobre práticas de
ensino e de aprendizagem destinados a alunos com deficiências na rede regular de
ensino, publicados na Revista Brasileira de Educação Especial – periódico trimestral
especializado, produzido pela Associação de Pesquisadores em Educação Especial -
ABPEE, criada em 1993, na cidade do Rio de Janeiro, durante a realização do III
Seminário de Educação, por um grupo de pesquisadores (sócio fundadores)
preocupados em criar um espaço que visava servir como veículo para integração entre
pesquisadores, profissionais e professores das áreas de Educação, Educação Especial e
Saúde, existente desde 1992 - entre 2001 e 2015. Busca elucidar quais são os temas e os
focos investigados e quais são as contribuições que a literatura especializada em
educação especial pode oferecer em relação à prática docente no ensino regular. O
material aqui analisado compreende 97 trabalhos que versam especificamente sobre a
relação ensino e aprendizagem voltados para alunos com deficiências na rede regular de
ensino, tais trabalhos foram selecionados a partir da leitura dos títulos e posteriormente
da leitura dos resumos. Tais achados foram cotejados com as recomendações do
Conselho Nacional de Educação, especificamente as Resoluções 2/2001, 1/2002 e
4/2009 que orientam as ações das práticas educativas, além do documento Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Utilizou-se como
método a abordagem quanti-qualitativa com técnica de análise de conteúdo, de acordo
com Bardin (1977). Teve como referencial teórico estudos que se inserem no campo da
inter-relação entre escola e cultura na perspectiva das ciências sociais.
Palavras-Chave: educação especial; deficiência; prática pedagógica.
INTRODUÇÃO
O debate sobre Educação Especial tem uma significativa produção no que se
refere tanto ao atendimento da população alvo com desdobramentos em inovações
práticas, materiais especializados, técnicas diferenciadas, instituições adaptadas, estudos
que evidenciam, de uma forma generalizada, a apropriação do conhecimento teórico
nesse campo e sua respectiva prática de atuação, quanto na análise dos desdobramentos
educacionais, sociais, políticos, econômicos e culturais a partir do conhecimento que é
veiculado pelos estudiosos da área e que, de certa forma, influenciam as políticas
educacionais voltadas para essa população.
A partir de publicações internacionais que acabaram por influenciar a legislação
nacional, a prática na educação especial vem sofrendo alterações substanciais.
Alterações estas que podem não refletir em mudanças na conceituação do sujeito
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10330ISSN 2177-336X
3
público alvo da educação especial, mas que refletem mudança na prática, como afirma
Skrtic (1996), que faz distinção entre o que denomina como conhecimento prático e
conhecimento teórico da educação especial. De acordo com este autor, para que haja de
fato avanços significativos no campo da educação especial, que ultrapassem as
mudanças na prática, faz-se necessário que esta tome as críticas apresentadas sobre as
teorias que a embasam e as suposições assumidas como verdadeiras para repensar suas
bases e fazer uma análise reflexiva sobre seus limites e possibilidades. Pode-se afirmar
que, desde a sua gênese, o campo da educação especial, especialmente na caracterização
e classificação de sua população, expressa lutas simbólicas, as quais, por sua vez, foram
delimitando espaços de poder e de dominação, campo este que, embora dotado de
autonomia, mantém íntima relação com o campo político.
Nesse sentido a análise de produções disseminadas na área da educação especial
é essencial de ser discutida, visto que estas influenciam as concepções e tomadas de
posicionamento frente à organização educacional, práticas, recursos destinados às
situações de ensino e aprendizagem que ocorrem na escola, entendendo-se que a
linguagem é uma atividade social prática, dependente de uma relação social. De acordo
com Bakhtin (2009) a consciência é social, mas deve ser entendida em um processo
dialético, uma vez que ela, em termos práticos, opera na transformação dos seres
humanos. Nesse mesmo sentido Williams (2007) postula que a atividade de criação,
circulação e confirmação de sentidos não podem estar separados do campo da avaliação
e dos usos sociais, ou ainda da experiência do vivido, como se fosse algo que
acontecesse apartado do movimento de produção e reprodução da vida. Aponta que a
criação de valores e significados não é uma atividade autônoma.
Destarte, a análise aqui proposta pretende ampliar a discussão referente aos
temas e focos de investigação disseminados por meio da Revista Brasileira de Educação
Especial. A seleção deste periódico se justifica pelo fato de ser um dos veículos mais
reconhecidos no campo da educação especial e por congregar as contribuições de
pesquisadores renomados e que influenciam as práticas e as políticas educativas na área
da educação especial. Para tal investigação realizou-se um levantamento dos artigos
publicados no período de 2001 a 2015, após, foi feita a leitura dos títulos dos artigos e
selecionados aqueles que tinham relação direta com questões voltadas para os
procedimentos, percepções e recursos de ensino destinados a alunos com deficiência na
rede regular de ensino. A partir da leitura dos resumos foi realizada uma classificação
por meio da análise de conteúdo, possibilitando categorizar as produções em temas e
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10331ISSN 2177-336X
4
focos específicos, os quais foram analisados e cotejados com alguns documentos legais
que orientam a educação especial. Evidencia-se o fato de que uma pesquisa mais
aprofundada faz-se necessária para destacar outros aspectos importantes de serem
discutidos nas produções.
A PRODUÇÃO DE SENTIDOS: OS ARTIGOS PUBLICADOS
Dentre os 97 trabalhos selecionados para análise com reflexões dirigidas à
inclusão do aluno com deficiência na escola regular, destaca-se como focos de pesquisa:
a Deficiência Auditiva; Deficiência visual; Deficiência Intelectual; Deficiência Física;
Deficiência de forma geral; Síndrome de Down; Epilepsia; Autismo, Altas Habilidades
e Superdotação; Surdocegueira e Deficiência Múltipla.
Sobre a Deficiência Auditiva selecionou-se 25 trabalhos. Dentre estes, os termos
empregados para designar o sujeito com deficiência são: surdo com 19 trabalhos; aluno
com surdez 1 trabalho; deficiente auditivo com 1 trabalho; não-falante com 1 trabalho e
surdocego com 1 trabalho. Vale ressaltar, sobre a denominação utilizada, que esta
também não é neutra e que demonstra a luta que ocorre no campo da educação especial
na caracterização do sujeito público alvo da educação especial.
Dentre os temas abordados nos trabalhos, 12 deles apresentam a questão da
linguagem, sendo esta designada por meio de sua importância para o desenvolvimento
social, emocional e cognitivo dos alunos. Abordam a linguagem alternativa como forma
de promover a inclusão desses alunos no ensino regular, destacam a diferença na
produção escrita de alunos com deficiência auditiva, as práticas de letramento
disponibilizadas na família e na escola para possibilitar o desenvolvimento cognitivo e
interativo desta população, a análise da interação linguística e descrição da linguagem
utilizada em ambientes escolares, além de considerações teóricas a respeito do ensino da
Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Propostas de implementação de estratégias para facilitar o ensino e
aprendizagem de conceitos em determinadas áreas do conhecimento como Matemática e
Ciências fazem parte das preocupações dos pesquisadores. E 1 trabalho preocupou-se
em investigar as formas de comunicação na família e na escola de crianças com
deficiência auditiva de uma comunidade indígena.
Neste rol de trabalhos há aqueles que apresentam discussões sobre leitura e
escrita discutindo a influência das linhas comunicativas que atuam na educação desta
população sobre o processamento cognitivo, as condições necessárias para que ocorra
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10332ISSN 2177-336X
5
aprendizagem significativa, a interação desses alunos com seus pares nas escolas
regulares em diferentes ambientes, assim como a interação com o professor e com o
intérprete de língua de sinais. Análise de métodos facilitadores da aprendizagem são
discutidos de forma a ressignificar o espaço da sala de aula no contexto da educação
inclusiva. A construção da identidade do aluno com deficiência auditiva se faz presente
em 1 análise que relaciona a cultura escolar, a cultura surda e a influência desta na
construção da identidade do aluno.
Sobre as concepções, práticas, percepções e vivências de professores, destaca-se
a relação que estas têm com a questão do prognóstico destes alunos, as formas de
atendimento prestadas pelo AEE e a própria inclusão destes nas salas comuns.
Os estudos demonstraram como alguns resultados a necessidade do professor
conhecer as formas diferenciadas de produção escrita destes alunos, bem como os
benefícios produzidos pela comunicação alternativa por meio de boas mediações, para
isso faz-se necessário a melhor formação do intérprete de libras e do professor da sala
de aula regular, pois constatou-se, dificuldades na produção escrita desta população
após longos anos de escolarização, práticas de leituras restritas tanto no ambiente
familiar quanto no escolar, a falta de diversidade de gêneros textuais nas escolas e
consequentemente interações linguísticas restritas e pouco efetivas, o que demonstra,
segundo algumas pesquisas o desconhecimento acerca da surdez, da Libras e das
consequências para o aluno. Entretanto, vale destacar a crítica feita por Bueno (2010) no
que se refere a transmissão restrita à Língua de Sinais, na formação do professor sem a
incorporação de uma literatura que trate a linguística como campo científico de fundo.
Por outro lado, estes resultados podem demonstrar que a legislação por si só não
se torna eficaz, na medida em que, segundo o Documento “Diretrizes Nacionais para a
Educação Especial na Educação Básica” (MEC/2001) e a Resolução CNE/CEB nº
2/2001, estabelecem que, referente ao processo educativo dos alunos que apresentam
condições de comunicação e sinalização diferenciados deve-se garantir formas de
acessibilidade aos conhecimentos curriculares mediante a utilização de comunicação
alternativa, assegurando desta forma o conhecimento e aprendizagem da língua
portuguesa. Os sistemas de ensino devem prover os recursos humanos e materiais
necessários para que esta meta seja alcançada.
Tendo como foco a Deficiência Visual, 10 trabalhos tratam de temas como:
condições de aprendizagem, linguagem, métodos empregados, o brincar e percepção de
professores e alunos. Os trabalhos discutem as formas pelas quais esta população
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10333ISSN 2177-336X
6
adquire a linguagem, as formas discursivas dos professores em sala de aula e estratégias
facilitadoras para o ensino de conceitos específicos em determinadas áreas do
conhecimento, além de trazer à tona discussões referentes à percepção dos alunos a
respeito de suas dificuldades no contexto escolar e das formas que possibilitam sua
inserção nas salas de aula. Este dado é importante de ser destacado, visto que poucos
trabalhos têm a preocupação de saber qual é a percepção do próprio aluno a respeito das
estratégias que estão sendo utilizadas para que a aprendizagem e o ensino de conteúdos
escolares sejam significativos. Pode-se supor que esta perspectiva de trabalho denote
uma compreensão de sujeito integral e ativo no processo de ensino e aprendizagem,
contrariamente a uma perspectiva que vê no sujeito alguém incapacitado pela sua
deficiência.
Há trabalhos que discutem a percepção dos professores em relação à inclusão do
aluno com deficiência visual nas escolas e as estratégias encontradas para facilitar a
aprendizagem por meio de métodos que foram aplicados e analisados.
Os termos utilizados para se referir a esta população são: aluno com baixa visão,
aluno com deficiência, deficiente visual e portador de deficiência visual. Os resultados
destas pesquisas demonstram a necessidade de pesquisas na área, uma vez que foi
averiguado certo despreparo dos professores no que se refere à comunicação em aula,
assim como o conhecimento de métodos e estratégias facilitadoras da aprendizagem e
do ensino. Evidenciou-se também que os métodos empregados e analisados nas
pesquisas demonstraram bons resultados e que valeria a pena o investimento nestes,
possibilitando entre outras coisas a identificação, elaboração e organização de recursos
pedagógicos e de acessibilidade, algo que na opinião de alunos com deficiência visual é
essencial, uma vez que apresentam dificuldades como enxergar na lousa, ler dicionários
e livros, se movimentar no espaço escolar, embora para grande parte o computador seja
uma ferramenta essencial no processo de aprendizagem escolar. Dado relevante, visto
que na Resolução CNE/CEB nº 2/2001:
Art. 11. Recomenda-se às escolas e aos sistemas de ensino a constituição de
parcerias com instituições de ensino superior para a realização de pesquisas e
estudos de caso relativos ao processo de ensino e aprendizagem de alunos
com necessidades educacionais especiais, visando ao aperfeiçoamento desse
processo educativo.
Quando o foco se trata de Deficiência Intelectual, foram analisados 12 trabalhos
dos quais 3 deles tratam sobre métodos, 3 sobre percepções e concepções de professores
e os demais sobre: sexualidade, ensino de habilidades, o brincar, linguagem, ensino e
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10334ISSN 2177-336X
7
aprendizagem. Utilizam-se dos termos deficiente mental, deficiente mental leve e
deficiente intelectual para designar o sujeito com deficiência.
Dentre os principais resultados cabe ressaltar que em relação aos estudos que
têm como objetivo a aplicação de um método e sua consequente avaliação, estes
apontam para avanços, sinalizando a importância de estudos sobre a temática, bem
como para a importância de se desenvolver parcerias entre os diferentes profissionais
que trabalham com o aluno com deficiência, para a mediação qualificada no processo de
ensino e aprendizagem nas escolas regulares. Tema sinalizado nos documentos aqui
cotejados, quando indicam a necessidade de parcerias entre outros profissionais para
uma melhor organização e implementação das intervenções destinadas aos alunos
público alvo da educação especial.
Ressaltam a importância das Salas de Recursos como estratégias pedagógicas,
embora o trabalho aí desenvolvido deva ser visto, não como um trabalho de reforço
daquilo que é ensinado na classe comum, mas como um espaço de interações
favorecedoras do processo inclusivo e de estabelecimento de parcerias entre o professor
especializado e o professor capacitado, como evidenciado nas “Diretrizes Nacionais
para a Educação Especial na Educação Básica” (MEC/2001, p. 51):
A inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais em classes
comuns do ensino regular, como meta das políticas de educação, exige
interação constante entre professor da classe comum e os dos serviços de
apoio pedagógico especializado, sob pena de alguns educandos não atingirem
rendimento escolar satisfatório.
Apesar de ter ocorrido significativos avanços no atendimento dessa parcela da
população, os trabalhos apontam para uma distância entre professor especializado que atua nas
Salas de Recursos e professor capacitado que atua na sala regular com os mesmos alunos,
desconsiderando a perspectiva de um trabalho pedagógico orientado para o fortalecimento do
processo de ensino e aprendizagem, se baseando mais num atendimento especializado a partir
da deficiência.
Os trabalhos destacam ainda as concepções de alguns professores, que mesmo
após discussões ainda possuem uma visão segregacionista e reducionista referente aos
alunos com deficiência, portanto faz-se necessário, segundo estes trabalhos, um
repensar sobre a deficiência e a educação escolar que se pretende inclusiva e as formas
de lidar com esta situação.
Os trabalhos que tratam da Deficiência Física destacam como temas:
percepções/concepções e atuações dos professores, percepção dos alunos, métodos e o
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10335ISSN 2177-336X
8
cuidado. Utilizam os termos; aluno com deficiência e deficiente para designar os
sujeitos, e 1 dos trabalhos designa o sujeito como aluno com paralisia cerebral.
Dentre os resultados encontrados pode-se destacar a necessidade de formação
que qualifique o professor para trabalhar com alunos com deficiência, pois foi ressaltada
a importância de discussões que considerem as dificuldades encontradas pelos
professores não só relacionadas aos conteúdos, estratégias e recursos, mas àquelas
relacionadas à administração escolar, questões familiares e aquelas decorrentes da
própria estrutura escolar que acaba por interferir no processo de inclusão. Reconhece-se
nestes trabalhos a importância de estabelecer parcerias entre os professores e os
profissionais da área da saúde objetivando o estabelecimento de estratégias que possam
facilitar os avanços relacionados ao ensino e aprendizagem escolares dos alunos com
deficiência, além de discutir a importância da participação dos alunos na identificação
de tecnologias que possam contribuir para o seu desenvolvimento.
Novamente cabe destacar que um documento legal por si só não é capaz de
mudar concepções embasadas por teorias que identificam a deficiência como uma causa
orgânica somente e que incapacita o sujeito. Nota-se que nas “Diretrizes Nacionais para
a Educação Especial na Educação Básica” (MEC/2001, p.40), é destacada a alteração de
uma concepção integracionista para outra inclusiva, que prevê entre outras alterações a
mudança da escola e das estratégias pedagógicas para dar conta do processo
denominado inclusivo, no entanto, parece que a complexidade que se estabelece na
realidade pode dificultar este processo. O documento estabelece ainda que:
O conceito de escola inclusiva implica uma nova postura da escola comum,
que propõe no projeto pedagógico – no currículo, na metodologia, de ensino,
na avaliação e na atitude dos educadores – ações que favoreçam a interação
social e sua opção por práticas heterogêneas. A escola capacita seus
professores, prepara-se, organiza-se e adapta-se para oferecer educação de
qualidade para todos, inclusive para os educandos que apresentam
necessidades especiais. Inclusão, portanto, não significa simplesmente
matricular todos os educandos com necessidades educacionais especiais na
classe comum, ignorando suas necessidades específicas, mas significa dar ao
professor e à escola o suporte necessário a sua ação pedagógica.
Nesse sentido vale destacar que os cursos de formação inicial de professores têm
papel significativo nesta perspectiva, assim como a implantação das condições que
favoreçam o desenvolvimento de trabalho do professor na escola.
Os trabalhos que têm como foco a Deficiência de forma geral, em número de 18
artigos publicados tratam de temas relacionados à ações, práticas, concepções,
percepções e perfil de professores, métodos, interação, ensino e aprendizagem,
implantação de projetos e práticas das Salas de Recursos. Os termos utilizados para
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10336ISSN 2177-336X
9
designar os sujeitos são alunos com deficiência, deficientes, alunos com necessidades
educacionais especiais e portadores de necessidades específicas.
Os principais resultados demonstram que para que ocorra a inclusão de fato dos
alunos com algum tipo de deficiência, faz-se necessário, além de uma formação docente
inicial e continuada de qualidade que garanta discussões e problematizações referentes
ao cotidiano da sala de aula, as políticas que são implementadas no país, as condições
de trabalho dos professores, também o investimento em infraestrutura que garanta a
acessibilidade desta população, o apoio com outras secretarias, como a secretaria da
saúde, por exemplo, o apoio do professor especializado no ambiente da sala de aula,
uma interação mais consistente com a família. Alguns trabalhos demonstraram que por
meio de intervenções pontuais em salas de aula com alunos com deficiência ocorreu
alteração na interação entre professor e aluno e entre os alunos, destacando a
necessidade de criação de espaços na escola que possibilitem as discussões e reflexões
sobre o ato pedagógico.
Os trabalhos que analisaram métodos de intervenção demonstraram a
necessidade de pesquisas relacionadas ao tema, visto que um dos métodos analisados se
mostrou ineficaz para o objetivo proposto.
A paralisia cerebral foi foco das pesquisas com 11 trabalhos publicados dentre
aqueles selecionados para análise. Vale destacar que grande parte dos trabalhos ressalta,
mais uma vez, a necessidade de uma formação qualificada para que haja a inclusão nas
escolas regulares, pois os professores demonstram desconhecimento sobre o diagnóstico
da criança com paralisia cerebral e elaboração de práticas pedagógicas que contemplem
o ensino e a aprendizagem dos conteúdos escolares para esta população. As concepções
dos professores muitas vezes são orientadas pelos discursos médicos ou baseados no
senso comum, o que poderia ser discutido se houvesse espaços destinados a reflexão
sobre a prática e a elaboração de conhecimentos sobre a prática em sala de aula.
As pesquisas constataram também a carência quanto ao conhecimento da
Comunicação Alternativa e Técnicas Assistivas como estratégias de ensino e
aprendizagem e como possibilidades de manifestação da linguagem dos alunos que não
são oralizados. Apontam para a interferência de barreiras arquitetônicas que interferem
no desempenho dos alunos nos ambientes escolares, havendo necessidade de ações
governamentais para as devidas implementações de adequações. Destaque-se que
referente à eliminação de barreiras é posto na Resolução o seguinte:
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10337ISSN 2177-336X
10
Art. 12. Os sistemas de ensino, nos termos da Lei 10.098/2000 e da Lei
10.172/2001, devem assegurar a acessibilidade aos alunos que apresentem
necessidades educacionais especiais, mediante a eliminação de barreiras
arquitetônicas urbanísticas, na edificação – incluindo instalações,
equipamentos e mobiliário – e nos transportes escolares, bem como de
barreiras nas comunicações, provendo as escolas dos recursos humanos e
materiais necessários.
Alguns trabalhos apontaram para a necessidade de mudanças na escola, como
nas práticas e estratégias pedagógicas, nas concepções dos professores, na busca de
parcerias, principalmente com a área da saúde.
Quanto aos trabalhos que analisaram métodos, estes apontam a importância de
estudos como estes que visam colocar em prática determinado método e analisar seus
resultados, todos demonstrando a eficácia de se pensar em estratégias que facilitem a
aprendizagem dos alunos com paralisia cerebral.
Os demais trabalhos em menor número, têm como foco o Autismo, Síndrome de
Down e Altas Habilidades e Superdotação com 3 trabalhos cada um, a Epilepsia,
Surdocegueira e Deficiência Múltipla com 1 trabalho. Questões relacionadas à
Aprendizagem e outros com 3 trabalhos.
Os principais resultados destes trabalhos apontam a necessidade de parcerias
entre educação e área da saúde na elaboração, desenvolvimento e reflexão a respeito de
tecnologias que possa facilitar a permanência dos alunos na escola regular e sua
consequente aprendizagem, a importância de estudos relacionados à métodos e suas
consequências para a aprendizagem dos alunos, a necessidade de formação qualificada
para os professores e adequação das escolas.
Referente ao Autismo os temas compreendem: interação e ensino de habilidades
matemáticas, destacam a importância de compreensão da forma como o aluno interage
com as pessoas e com o objeto para o planejamento de práticas voltadas para sua
inclusão no processo de ensino e aprendizagem e que a mediação do professor é
fundamental neste processo. Referente à Síndrome de Down os trabalhos tratam da
interação e do processo de inclusão, apresentam como resultados o fato de que as
crianças com esta Síndrome, em determinada escola infantil não apresentaram
características da interação social muito diferentes das demais crianças observadas e que
quanto maior é o desenvolvimento acadêmico maior é a chance de interações
significativas com os colegas. Quanto ao tema inclusão destacam que ainda há muitos
desafios a serem enfrentados pelas escolas, pais e professores neste processo.
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10338ISSN 2177-336X
11
Referente à Altas Habilidades e Superdotação os temas recaíram sobre as Salas
de Recursos e indicam certo ecletismo e esforços pessoais das professoras para lidar
com este público, indicam ainda que os professores admitem não ter uma formação
adequada para o atendimento desta população.
O problema de Aprendizagem foi outro foco de pesquisa, apontando, por um
lado, que os professores relacionam as dificuldades dos alunos à aspectos familiares e
que ocorre, na escola uma tentativa de homogeneização, e por outro que, quando
estratégias são pensadas especificamente para atingir determinados objetivos e são
postas em prática de forma pensada, podem ser facilitadoras no processo de
aprendizagem destes alunos.
Quanto aos trabalhos definidos nesta análise como “Outros”, estes demonstram a
importância, mais uma vez das parcerias entre a educação e a área da saúde, além de
demonstrarem a eficácia de métodos que podem ser utilizados nas escolas de ensino
regular.
Os trabalhos que tiveram como foco a Epilepsia, Surdocegueira e Deficiência
Múltipla apresentam como resultados a necessidade de pesquisas que abordem aspectos
relacionados à identificação das pessoas com epilepsia, a necessidade de ação planejada
nas Salas de Recursos, uma vez que um dos trabalhos admite a ausência dessas ações, o
isolamento do professor especialista na escola e o desconhecimento das necessidades
reais dos alunos, fato oposto ao apresentado por outro pesquisador que se refere à este
ambiente da escola, demonstrando a importância de ações planejadas como estratégia
de identificação, elaboração e organização de recursos pedagógicos e de acessibilidade,
podendo colaborar com o professor em sua prática pedagógica.
Referente às Salas de Recursos a Resolução nº 4 de 2 de outubro de 2009
estabelece que:
Art. 2º O AEE tem como função complementar ou suplementar a formação
do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade
e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na
sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem.
Este mesmo documento que Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento
Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial,
explicita que:
Art. 9º A elaboração e a execução do plano de AEE são de competência dos
professores que atuam na sala de recursos multifuncionais ou centros de
AEE, em articulação com os demais professores do ensino regular, com a
participação das famílias e em interface com os demais serviços setoriais da
saúde, da assistência social, entre outros necessários ao atendimento.
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10339ISSN 2177-336X
12
Portanto, é de se esperar que as estratégias de ensino sejam eficazes para que os
alunos possam aprender e que a parceria entre os professores ocorra para além da
normatização legal.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Vale destacar que, de forma geral, os trabalhos apontaram para alguns avanços
significativos relacionados ao ensino e aprendizagem dos alunos público alvo da
educação especial, embora alguns tenham evidenciado que ainda estamos longe da
realização de uma educação de qualidade para todos, principalmente para os alunos com
algum tipo de deficiência ou necessidades especiais.
É sabido que aquilo que é inscrito como Lei pode ser interpretado de diversas
formas, dando margem à diferentes situações. É sabido também que a Lei por si só não
pode transformar formas de pensar e de se relacionar com o outro, que as mudanças
para se efetivar requerem muito mais do que a leitura e a interpretação dessas Leis.
Compreendem um movimento complexo de disputas, jogos de poder, de entraves que
fazem parte da trama social e que, portanto, não escapam à educação e mais
precisamente à educação especial.
Nesse sentido, embora haja documentos que legislam sobre a formação de
professores ressaltando que “[...] essa política inclusiva exige intensificação quantitativa
e qualitativa na formação de recursos humanos e garantia de recursos financeiros [...], e
que se faz necessário, além dessa formação:
[...] Condições para reflexão e elaboração teórica da educação inclusiva, com
protagonismo dos professores, articulando experiência e conhecimento com
as necessidades/possibilidades surgidas na relação pedagógica, inclusive por
meio de colaboração com instituições de ensino superior e de pesquisa. (Art.
8º; § VI, Resolução CNE/CEB nº 2/2001)
Sabemos que esta realidade está longe de se realizar num contexto que não
exclui somente o aluno com algum tipo de deficiência ou necessidade especial, mas que
exclui todos aqueles que não se enquadram no perfil tido como “normal” e adequado,
portanto, estamos falando de algo muito mais amplo do que a discussão de uma escola
que respeite a diversidade, estamos falando de todo um sistema que exclui a maioria de
seus alunos justamente aqueles menos favorecidos. Nesse sentido, a exclusão está
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10340ISSN 2177-336X
13
intimamente ligada a desigualdade social e não somente à diferenças físicas, biológicas
e psíquicas, estas podem ser potencializadas pelas condições sociais.
Esta discussão é importante de ser realizada, visto que tem relação intrínseca
com o fazer pedagógico do professor em sala de aula, uma vez que suas percepções e
formas de agir denotam a concepção de mundo que embasa tais ações. Não se pode, no
entanto, fazer uma análise ingênua e acreditar que somente uma boa formação daria
conta de solucionar os problemas educacionais nas escolas públicas especialmente. Esta
– formação – deveria fazer parte de uma política educacional que privilegiasse a
qualidade em detrimento da quantidade e que apontasse para mudanças estruturais e não
apenas paliativas como vem ocorrendo nas últimas décadas.
REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa. Edições 70. 1977.
BAKHTIN, M.; VOLOCHINOV, V. N. ´ Marxismo e filosofia da linguagem:
problemas fundamentais do m´etodo sociol´ogico na ciˆencia da linguagem. Trad. M.
Lahud e Y. F. Vieira. 13. ed. S˜ao Paulo: Hucitec, 2009.
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação especial na educação
básica. Secretaria de Educação Especial. 2001. Disponível em:
http://portalmec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/diretrizes.pdf. Acesso em 15 de abril de
2013.
________. Resolução CNE/CEB n. 2 de 11 de setembro de 2001. Diretrizes Nacionais
para a Educação Especial na Educação Básica. 2001. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB. Acesso em 15 de janeiro de 2012.
________. Resolução CNE/CP n.1 de 18 de fevereiro de 2002.. Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso
de licenciatura de graduação plena. Disponível em:
http://www.portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/res1 2.pdf. Acesso em 13 de março de
2012.
________. Resolução Nº 4, de 2 de outubro de 2009 (*) Institui Diretrizes Operacionais
para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade
Educação Especial. 2009. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_09.pdf. Acesso em 23 de janeiro de
2016.
BUENO, José Geraldo Silveira. As implicações politicas da surdez na perspectiva
multicultural. IN: SOUZA, Claudio Benedito Gomide de; RIBEIRO, Paulo Rennes
Marçal (Orgs.). Desafios educacionais para o século XXI: contribuições dos contextos
espanhol e brasileiro. Araraquara/Alcalá, UNESP/Universidade de Alcalá. 2010.
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10341ISSN 2177-336X
14
SKRTIC, Thomas M.La crisis em El conocimiento de la educación especial: uma
perspectiva sobre La perspectiva. In: FRANKLIN, Barry M. (Compilador).
Interpretación de la discapacidad: teoria e historia de la educación especial.
Barcelona, Pomares – Corredor, pp 35-72. 1996
WILLIANS, Raymond. Palavras-chave: um vocabulário de cultura e sociedade. São
Paulo. 2007.
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10342ISSN 2177-336X
15
CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL: BALANÇO DA PRODUÇÃO
ACADÊMICA APÓS A PUBLICAÇÃO DA APAE EDUCADORA
Márcia de Souza Lehmkuhl-PUC/SP
CAPES
Resumo:
Objetivando analisar as tendências das produções acadêmicas acerca da temática,
currículo na área da Educação Especial, especificamente aquelas relacionadas a APAE
Educadora: A Escola que Buscamos, investigamos cinco repositórios de busca, como:
Portal de Periódicos e do Banco de teses e dissertações da Coordenação de
Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior-CAPES, os Periódicos Acadêmicos do
Portal Scientific Eletronic Library Online-SciELO, nos encontros da Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação-ANPED e os Encontros Nacionais
de Didática e Prática de Ensino- ENDIPE, no período de 2001 a 2015. A partir deste
levantamento foram analisados quatro resumos de teses e dissertações e 18 artigos
científicos publicados em periódicos de educação ou apresentados em eventos,
totalizando 22 trabalhos. As análises desenvolvidas apoiaram-se na proposição de
análise de discurso de Fairclough (2001), e nas contribuições de Bueno (2011), Michels
(2006) e Meletti (2008) para a compreensão destas relações na educação especial. Tal
análise possibilitou identificar o número ínfimo de pesquisas relacionadas a temática,
currículo e educação especial, sobretudo sobre a proposta da APAE Educadora: A
Escola que Buscamos. No levantamento realizado nos bancos de dados de produção
científica, verificou-se o predomínio de pesquisas na perspectiva da educação inclusiva,
analisando o currículo no atendimento escolar do público alvo da educação especial.
Como também, um número de dissertações e teses defendidas em 2011, que analisaram
o currículo nas instituições especializadas em educação especial, mesmo com os
indicativos nas Políticas de Educação Especial de encaminhamento de alunos público
alvo da educação especial exclusivamente para o ensino regular, o que pode parecer
uma contradição.
Palavras-chave: Currículo. Educação Especial. APAE Educadora.
Introdução
O referido estudo tem como objetivo investigar as tendências das produções
acadêmicas acerca da temática, currículo na área da Educação Especial, especificamente
aquelas relacionadas à proposta de encaminhamento educacional da Federação Nacional
das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais-FENAPAES, APAE Educadora: A
Escola que Buscamos.
Passaram-se quinze anos desde a publicação do documento da FENAPAES,
APAE Educadora: A Escola que Buscamos, e considerou-se necessário fazer um
balanço das produções acadêmicas buscando verificar o quanto se tem produzido sobre
o tema currículo na educação especial, quais as temáticas pesquisadas, quais as
perspectivas nos estudos, as mudanças no encaminhamento de atendimento da
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10343ISSN 2177-336X
16
população público alvo da educação especial, estabelecendo desta forma, algumas
reflexões sobre a temática e os estudos relacionados a APAE Educadora.
Para o desenvolvimento deste estudo foi utilizado como procedimento
metodológico o levantamento das produções acadêmicas em cinco repositórios de
busca, são eles: Portal de Periódicos e do Banco de teses e dissertações da Coordenação
de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior-CAPES, os Periódicos Acadêmicos do
Portal Scientific Eletronic Library Online-SciELO, nos encontros da Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação-ANPED e os Encontros Nacionais
de Didática e Prática de Ensino- ENDIPE, no período de 2001 a 2015, estabelecendo
alguns descritores de busca, como: educação especial, currículo, APAE e APAE
Educadora. A partir deste levantamento foram analisados quatro resumos de teses e
dissertações e 18 artigos científicos publicados em periódicos de educação ou
apresentados em eventos, totalizando 22 trabalhos.
Desta forma, as análises desenvolvidas apoiam-se na proposição de análise de
discurso com as contribuições de Fairclough (2001), que utiliza o termo “discurso” para
afirmar que a linguagem é uma forma de prática social, existindo boas razões para a
utilização do discurso como ação que contribui para a manutenção da sociedade, mas
também para transformá-la, ou seja, “o discurso é uma prática, não apenas de
representação do mundo, mas de significação do mundo, constituindo e construindo o
mundo em significados” (FAIRCLOUGH, 2001, p. 91). Desta forma, é possível
compreender os discursos indicados nos trabalhos acadêmicos, suas perspectivas e
proposições sobre o currículo e a educação especial e a relação com o documento da
APAE Educadora: A Escola que Buscamos proposto pela FENAPAEs.
2. O début da APAE Educadora: A Escola que Buscamos
O documento da FENAPAES completou 15 anos de proposição, neste período,
ocorreram mudanças nas políticas para a área da Educação Especial, mudanças
significativas no lócus de atendimento de alunos da educação especial, que
historicamente foram atendidos em instituições especializadas de caráter privado,
assistencial e filantrópico. Segundo Bueno (2011), “após a Segunda Guerra Mundial, a
educação especial brasileira distinguiu-se pela ampliação e proliferação de entidades
privadas, ao lado do aumento da população atendida pela rede pública, [...]”. (BUENO,
2011, p. 110). Com o passar do tempo, instituições para pessoas com deficiência mental
foram assumindo a hegemonia no atendimento da educação especial, não só pelo maior
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10344ISSN 2177-336X
17
número de instituições, como pelo seu papel na área da saúde e da educação, assumindo
perante a sociedade, a identificação, por meio do diagnóstico e o atendimento dos
sujeitos que não se encaixavam no ensino formal. (BUENO, 2011). As políticas de
Educação Especial, desde a década de 1990, vêm encaminhando o atendimento
educacional na perspectiva de inclusão escolar dos alunos da educação especial na rede
regular de ensino.
Com as mudanças nos encaminhamentos de atendimento educacional na área da
Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva, este atendimento continua
ocorrendo nas instituições especializadas das APAES? Segundo Michels e Lehmkuhl
(2015) “as Instituições Especializadas em Educação Especial [...] atendem regularmente
um contingente significativo de sujeitos com deficiência, contrapondo o
encaminhamento para o ensino regular das políticas educacionais na perspectiva
inclusiva.” (MICHELS e LEHMKUHL, 2015, p. 7) Segundo as autoras, mesmo com os
encaminhamentos da legislação atual na área da Educação Especial, as instituições da
APAE mantém o atendimento de alunos em ensino substitutivo em diferentes faixas
etárias de ensino. (MICHELS e LEHMKUHL, 2015).
O documento da APAE Educadora: A Escola que Buscamos é o que orienta as
instituições especializadas da APAE na construção de um sistema educacional paralelo
ao sistema regular, no atendimento de alunos com diagnóstico de deficiência intelectual.
No primeiro capítulo, apresenta um compêndio sobre a legislação brasileira,
especialmente aqueles de orientação curricular, como: Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) (MEC, 1997), Diretrizes Nacionais de Ensino Fundamental (CEB,
1998), Diretrizes Nacionais de Ensino Infantil (CEB, 1999), Diretrizes Nacionais de
Educação de Jovens e Adultos (CNE/CNB, 2000) e o Plano Nacional de Educação (Lei
nº 10.172/2001).
No terceiro capítulo, o documento apresenta a proposição da APAE Educadora,
que tem como objetivo a “construção de um projeto pedagógico em âmbito nacional, ou
seja, em cada uma das instituições escolares do Movimento Apaeano” (FENAPAES,
2001, p. 27), mas nesta proposição a educação especial é vista como substitutiva e não
como modalidade da educação. “Parte-se da premissa que a educação é um ato de
construção social e que não deve se limitar à instituição escolar.” (FENAPAES, 2001, p.
27). A proposta educacional da APAE Educadora é de ofertar atendimento de
“educação infantil, ensino fundamental, educação de jovens e adultos e educação
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10345ISSN 2177-336X
18
profissional, com as interfaces e parcerias, bem como as demais políticas públicas e
programas de educação nacional.” (FENAPAES, 2001, p. 29).
Neste sentido, como estão as produções acadêmicas na área? Os estudos têm
indicado o atendimento educacional nas instituições especializadas? Qual a proposta de
currículo para o atendimento na área da educação especial?
3. Balanço da produção acadêmica
No balanço da produção acadêmica nos repositórios analisados, o levantamento
ocorreu a partir de alguns descritores, como: educação especial, currículo, APAE e
APAE Educadora e a estratégia de busca seguiu os critérios definidos em cada banco.
No banco de dados do Portal de Periódicos da CAPES, o levantamento foi por meio da
busca avançada, indicando os descritores a partir de palavra exata no título dos
trabalhos, para depois ser realizado a leitura dos resumos. Com o descritor educação
especial foram encontrados 1.037 trabalhos e no intercruzamento com o descritor
currículo, cinco trabalhos foram identificados, um trabalho que discutia a organização
curricular da formação de professores para a área da educação especial; três artigos
específicos sobre deficiência sensorial, dois sobre adequações curriculares e a educação
de surdos e um sobre o currículo prescrito para educação inclusiva de alunos com
deficiência visual; e por fim, um sobre o estigma e o currículo oculto no ensino regular.
Os cinco trabalhos analisados tinham como base a perspectiva de educação inclusiva,
analisando o processo de inclusão dos alunos com deficiência no ensino regular.
Ainda no banco de dados do Portal de Periódicos da CAPES, no intercruzamento
dos descritores educação especial e APAE, nenhum trabalho foi encontrado, mas
quando inserido o descritor, APAE Educadora, um trabalho foi localizado. O trabalho
trata sobre a aplicação da proposta da APAE Educadora na instituição especial da
APAE de Porto Alegre/RS. Salaberry (2008) defende a continuidade da proposta, que
tem como base os princípios normativos vigentes da educação nacional e a prática do
Movimento Apaeano, da permanência da instituição especial, como único meio de
educação dos alunos com deficiência intelectual.
No banco de teses e dissertações da CAPES, a primeira filtragem foi realizada
utilizando o descritor: educação especial e em seguida, currículo. Quando pesquisado o
descritor exato, educação especial, 364 trabalhos foram encontrados e na utilização do
descritor currículo apareceram 1.689 trabalhos. Após novo refinamento na busca deste
repositório, utilizando as palavras educação especial e currículo na mesma frase,
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10346ISSN 2177-336X
19
somente um trabalho tinha no título os dois descritores relacionados, educação especial
e currículo que tratou sobre o acesso ao currículo escolar de alunos da educação especial
que frequentavam anos iniciais do ensino fundamental, em escola da rede regular de
ensino em uma perspectiva inclusiva. (EFFGEN, 2011).
Em uma nova busca, relacionando os descritores, educação especial e APAE na
mesma frase, um trabalho foi encontrado que discutia a atuação do professor de
educação física numa escola especial. A autora conclui, que os “educandos
institucionalizados participam de atividades restritas nas esferas sociais” (PIFFER,
2011, p.1), e são cerceados na relação de ensino e aprendizagem. (PIFFER, 2011)
Quando relacionados os descritores currículo e APAE, dois trabalhos foram
encontrados. Um discutiu sobre a importância do lazer no desenvolvimento pessoal e
social das pessoas com deficiência intelectual na instituição especializada da APAE.
(NOGUEIRA, 2011). E outro, sobre o documento da APAE Educadora, analisando a
aprendizagem da Língua Portuguesa por alunos com diagnóstico de deficiência
intelectual que frequentavam a APAE, cotejando com os Parâmetros Curriculares
Nacionais de Língua Portuguesa e o documento da APAE Educadora. (SANTANA,
2011).
Podemos perceber que os trabalhos analisados no Banco de Tese da CAPES
tiveram predominância de estudos sobre currículo nas instituições especiais da APAE,
demonstrando um debate ainda presente nas pesquisas. Esta realidade pode representar
um contrassenso, se considerarmos a proposição da política de educação especial com a
perspectiva de educação inclusiva vigente, onde o lócus de atendimento educacional dos
alunos da educação especial é exclusivamente na rede regular de ensino, inclusive os
com diagnóstico de deficiência intelectual.
No levantamento da produção acadêmica no Portal da Scielo foram encontrados
391 artigos científicos com o descritor educação especial e no intercruzamento da
palavra currículo, 12 artigos foram selecionados. Após a leitura dos títulos dos trabalhos
e do resumo, dois tratavam sobre currículo e educação especial, um sobre o estigma
como currículo oculto (MAGALHÃES e RUIZ, 2001). E outro, sobre as tendências
curriculares na área da educação especial, sobretudo, as referentes às adequações
curriculares. Este trabalho nos ajuda a refletir sobre o encaminhamento curricular da
área de Educação Especial no ensino regular, especialmente a permanência das
concepções segregacionistas, mesmo em uma perspectiva integracionistas/inclusivistas.
(MOREIRA e BAUMEL, 2001)
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10347ISSN 2177-336X
20
Na busca do Portal da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em
Educação-ANPED, foram utilizados os mesmos descritores. A análise foi realizada ano
a ano, no período estipulado para o balanço de produção, buscando nos títulos dos
trabalhos as palavras educação especial e currículo. Foram analisados oito resumos dos
trabalhos e pôsteres apresentados nos Grupos de Trabalho-GT, da Educação Especial e
do Currículo.
No 25º encontro da ANPED, no GT de Currículo, Franco (2002), apresentou o
trabalho discutindo a proposta de adaptação curricular nas Diretrizes Nacionais para a
Educação Especial na Educação Básica, e conclui que os documentos têm como
proposição a homogeneização no currículo nacional e não o respeito às diferenças de
aprendizagem. (FRANCO, 2002, p. 8)
No GT de Educação Especial, foi encontrado em 2005, trabalho que versa sobre
as práticas curriculares da escola e analisa se a marca do diagnóstico de deficiência
intelectual muda a prática pedagógica de sala de aula em escola da rede regular de
ensino. Lunardi (2005) conclui que, “as práticas curriculares culturalmente sedimentadas
e institucionalizadas, levam ao entendimento da diferença como um obstáculo no
processo de ensino e aprendizagem.” (LUNARDI, 2005, p. 14). Em 2006, outro trabalho
foi apresentado relacionando currículo e educação especial no ensino regular. Ferri e
Hostins (2006) analisaram as práticas docentes de seleção e organização do conhecimento
para o atendimento de alunos com histórico de deficiência intelectual nas escolas da rede
regular de ensino e nas instituições especializadas em Educação Especial.
Em 2008, neste mesmo GT, foi encontrado um estudo que trata sobre a educação
das pessoas com deficiência intelectual a partir do documento APAE Educadora: A
Escola que Buscamos. Segundo Meletti (2008), o documento “sintetiza a proposta de
unificação das ações educacionais de instituições especiais.” (MELETTI, 2008, p. 1) A
autora analisa o documento da APAE Educadora: A Escola que Buscamos e alerta para
reinterpretação da legislação brasileira para a permanência do atendimento educacional
mantido pelas APAES.
Meletti (2008) demonstra no estudo, que as instituições de educação especial
assumiram ao longo do tempo, a educação das pessoas com deficiência intelectual, se
distanciando do sistema comum de ensino. O Estado delegou a função educacional para
o setor privado, legitimando o ensino especial como mais adequado para estes sujeitos,
especialmente os de caráter filantrópico e assistencial. Mostra também, que a mudança
para uma perspectiva inclusiva no discurso da educação brasileira, ocorre a partir de
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10348ISSN 2177-336X
21
1990, atingindo diretamente a educação especial, já que a partir desta data a área passa a
ser considerada como “modalidade de educação escolar a ser oferecida
preferencialmente na rede regular de ensino” (MELETTI, 2008, p. 3).
Meletti (2008) alerta que, “apenas em casos excepcionais – aqueles que em
função dos comprometimentos do aluno – em que a escola não tiver recursos para o
atendimento é que este poderá ocorrer em instâncias consideradas especiais: classes ou
escolas.” (MELETTI, 2008, p. 3) Foi na excepcionalidade dos casos de atendimento que
as instituições especiais se pautaram para dar continuidade ao atendimento educacional
das pessoas com diagnóstico de deficiência intelectual nas instituições.
E conclui que mesmo utilizando como referências curriculares os documentos
nacionais, o documento da FENAPAES, conserva o perfil institucional, apropriando o
discurso oficial, de acordo com a interpretação que beneficie a instituição especializada.
Para a autora, a proposta de construção de uma escola na instituição especializada é para
“conservação do espaço institucional reiterando sua condição de lócus social da
deficiência mental em nosso contexto.” (MELETTI, 2008, p. 15)
Dando continuidade a busca no repositório da ANPED, foram encontrados dois
textos com os descritores currículo e educação especial, no GT de Educação Especial,
em 2010. Um discutindo os avanços e impasses da proposição de inclusão das pessoas
com deficiência visual no ensino regular. E outro, sobre a diferenciação na
escolarização das pessoas com deficiência, a partir das políticas curriculares e os
documentos curriculares nacionais. Neste segundo trabalho, Silva (2010) analisa os
documentos curriculares nacionais e compara com as políticas estadual e municipal,
evidenciando que os encaminhamentos dos documentos não se confirmam nas políticas
analisadas, a igualdade de oportunidades, anunciada nos documentos, não faz parte da
realidade encontrada. Em 2011, foi localizado um trabalho que trata sobre o currículo na
educação infantil na perspectiva inclusiva. E no 37º encontro da ANPED, encontramos
um trabalho que investigou a relação entre currículo e a educação especial na produção
acadêmica brasileira. Haas e Baptista (2015) relacionaram o balanço da produção com
documentos oficiais das políticas nacionais, objetivando apontar pistas para o trabalho
pedagógico. Os autores discutem ao longo do texto, a precariedade e a falta de pesquisas
no debate acadêmico sobre a temática, e o contexto das práticas que prevalece uma
visão reducionista do sujeito da educação especial e o que deveria ser considerado
currículo escolar. Nos trabalhos apresentados na ANPED, com os descritores e no
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10349ISSN 2177-336X
22
período analisado, a temática predominante foi de trabalhos que discutiram o currículo e
a educação especial na perspectiva da educação inclusiva.
No repositório dos Encontros Nacionais de Didática e Prática de Ensino –
ENDIPE, a procura dos trabalhos acadêmicos realizou-se por meio da leitura dos títulos
de todos os trabalhos, buscando assim, os descritores currículo e educação especial.
Foram encontrados inicialmente, aproximadamente 600 trabalhos com a temática
currículo, com diferentes enfoques, e cerca de 100 trabalhos com o descritor educação
especial. No intercruzamento das palavras educação especial e currículo, encontramos
sete trabalhos apresentados em painéis e pôsteres no período de 2001 a 2014.
Em 2006, Lunardi discutiu sobre o currículo e a inclusão escolar. O trabalho
contribuiu para a compreensão das relações entre os documentos oficiais que orientam a
prática dos professores e as práticas curriculares no processo de ensino e aprendizagem
de alunos com deficiência. Concluindo que o discurso oficial está longe da prática, que
o discurso de atendimento a diversidade, de educação inclusiva não foram encontrados
na prática escolar analisada, ao contrário, as práticas curriculares estão cada vez mais
homogeneizadoras e uniformes. (LUNARDI, 2006)
No Encontro de 2008, quatro trabalhos foram localizados com os descritores
currículo e educação especial. O primeiro trata sobre o repensar do currículo na
perspectiva da educação inclusiva, discutindo o currículo e as adequações curriculares
no ensino regular. (RODRIGUES e ZWETSCH, 2008) O segundo faz uma reflexão
sobre o currículo e as práticas pedagógicas na perspectiva da educação inclusiva e o
cotidiano escolar, analisando o processo de inclusão de crianças com deficiência em
classes comuns de ensino, evidenciando que as práticas seguem concepções tradicionais
de currículo, sem a utilização de adaptações necessárias para a aprendizagem, pautadas
no binômio normalidade/deficiência. (PLETSCH, GLAT e MOREIRA, 2008) O
terceiro versa sobre como as diferenças são entendidas no cotidiano escolar, tentando
compreender as relações entre deficiência e normalidade construídas nas práticas
curriculares. Concluindo que os alunos que aprendem de forma diferente estão sendo
excluídos dentro da escola. (MENDES, 2008). E o quarto trabalho reflete sobre o
controle das diferenças e a emancipação pelo currículo, concluindo que a escola para
todos tão anunciada nos documentos brasileiros, inclusive para os alunos com
deficiência, está centrada no currículo como instrumento “capaz de interpretar os
interesses, projetos e vontades dos indivíduos e dos grupos.” (SILVA, 2008, p.1)
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10350ISSN 2177-336X
23
Em 2010 foi encontrado um trabalho sobre currículo e educação especial, que
estabelece reflexões teóricas acerca do currículo da e na educação especial, em uma
perspectiva de escola inclusiva. O que os autores alertam é que na maioria das vezes as
escolas têm se mostrado ineficientes no atendimento escolar por meio do currículo dos
alunos da educação especial. (EFFGEN e ANJOS, 2010) E no ano de 2012, mais um
trabalho foi apresentado na discussão currículo e a educação especial, que versa sobre a
igualdade de oportunidades no acesso ao currículo comum e a escolarização de alunos
da educação especial em processo de inclusão escolar. (VIEIRA, 2012)
Dos trabalhos apresentados no ENDIPE no período analisado, prevaleceram a
discussão sobre currículo e o processo de inclusão de alunos da educação especial no
ensino regular. A discussão perpassou entre o currículo e as adaptações curriculares e
sobre o processo da prática pedagógica desenvolvida em sala de aula. Na maioria dos
estudos os autores alertam para as condições de ensino dos alunos da educação especial.
O que nos leva a refletir se o processo de ensino e aprendizagem vem ocorrendo de
forma satisfatória para os alunos da educação especial?
Analisando todos os repositórios de busca, a predominância dos trabalhos foi na
perspectiva da educação inclusiva. Neste sentido, a perspectiva de educação inclusiva
passa a ser vigente na reforma educacional iniciada na década de 1990, a educação
passa a assumir um novo papel e a política de inclusão é um dos focos centrais.
Segundo Michels (2006), uma das tarefas destinadas à educação, à escola e aos
professores é a “inclusão dos alunos que historicamente foram excluídos da escola. A
inclusão, então, aparece como propulsora de uma nova visão da escola. Agora sob a
narrativa do respeito às diferenças, oportuniza-se educação diferente para „compensar‟
as diferenças sociais” (MICHELS, 2006, p. 407). Para a autora, o viés das políticas de
inclusão tem como objetivo apreender a exclusão como diferença e assim normalizar o
discurso de aceitação das diferenças para consolidar a exclusão social.
4. Algumas considerações
O estudo apresentado sobre o balanço das produções acadêmicas indicou um
número ínfimo de trabalhos acadêmicos com a temática, currículo e educação especial,
sobretudo os relacionados a APAE Educadora: A Escola que Buscamos. Observando
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10351ISSN 2177-336X
24
que o levantamento foi realizado em cinco repositórios de estudos, em um período de
quinze anos.
As análises dos trabalhos acadêmicos indicaram uma predominância de estudos
que versam sobre currículo e educação especial em uma perspectiva de educação
inclusiva, com exceção do levantamento no Portal do Banco de Teses da CAPES, com
maior índice de trabalhos que discutiram o currículo na instituição especial da APAE,
defendidos em 2011. Este fato pode indicar uma contradição entre os encaminhamentos
da Política Nacional de Educação Especial na perspectiva de Educação Inclusiva, da
legislação vigente e a continuidade de atendimento educacional nas instituições
especializadas das APAEs.
Pelo estudo de Meletti (2008) o documento da APE Educadora: A Escola que
Buscamos, reivindica a permanência do status quo institucional nas políticas nacionais,
de permanência de atendimento segregado nas instituições dos sujeitos com deficiência
mental, e consequentemente a busca por financiamento público.
O que leva a refletir se houve mudanças significativas no lócus de atendimento
na área da educação especial, mesmo com as políticas na perspectiva da educação
inclusiva? Historicamente as instituições de educação especial de cunho privado
assistencial se constituíram como principal espaço de atendimento aos sujeitos da
educação especial, com proposições de atendimentos na área da saúde e mais
tardiamente, com atendimento educacional, como o documento da APAE Educadora: A
Escola que Buscamos. Mesmo com uma predominância de estudos na perspectiva
inclusiva, o atendimento educacional nas APAEs permanecem e a proposta da APAE
Educadora: A Escola que Buscamos mesmo depois de 15 anos está vigente.
REFERÊNCIAS
EFFGEN, Ariadna P. S. e ANJOS, Christiano Félix. Reflexões Teóricas acerca do
currículo da/na Educação Especial. Texto apresentado na Reunião Bianual do
ENDIPE, Painéis. Belo Horizonte, MG, 2010. Disponível em:
http://endipe.pro.br/site/eventos-anteriores/> Acesso em: 28 jan. 2016.
EFFGEN, Ariadna P. S. Educação especial e Currículo Escolar: possibilidades nas
práticas pedagógicas cotidianas. 2011. Dissertação (Mestrado em Educação)
Universidade Federal do Espírito Santo. 2011
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: Editora UnB, 2001.
FENAPAES. APAE Educadora: a escola que buscamos – Proposta orientadora das
ações educacionais. Brasília: Federação Nacional das APAEs- FENAPAEs. 2001
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10352ISSN 2177-336X
25
FERRI, Cássia e HOSTINS, Regina C. Currículo e diferença: processos de seleção e
organização de conhecimentos para atendimento educacional de alunos com histórico de
deficiência mental. Texto apresentado na Reunião Anual da ANPED – GT 15.
Caxambu, MG, 2006. Disponível em:
http://29reuniao.anped.org.br/trabalhos/trabalho/GT15-2605--Int.pdf. Acesso em: 1 fev.
2016.
FRANCO, Monique. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação
Básica: identidades e políticas de homogeneização no currículo nacional. Texto
apresentado na Reunião Anual da ANPED – GT 12. Caxambu, MG, 2002. Disponível
em: http://25reuniao.anped.org.br/tp251.htm#gt12> Acesso em: 1 fev. 2016.
HASS, Clarissa e BAPTISTA, Claudio R. Currículo e Educação Especial: uma
relação de (re)invenção necessária a partir das imagens-narrativas dos cotidianos
escolares. Texto apresentado na Reunião Bianual da ANPED – GT 15. Florianópolis,
SC, 2015. Disponível em: http://37reuniao.anped.org.br/wp-
content/uploads/2015/02/Trabalho-GT15-4199.pdf> Acesso em: 1 fev. 2016.
LUNARDI, Geovana Mendonça. As práticas curriculares de sala de aula e a
constituição das aprendizagens dos alunos no processo de ensino e aprendizagem. Texto apresentado na Reunião Anual da ANPED – GT 15. Caxambu, MG, 2005.
Disponível em: http://28reuniao.anped.org.br/> Acesso em: 1 fev. 2016
LUNARDI, Geovana Mendonça. Currículo, diferença e inclusão escolar: a prática
dos discursos e os discursos das práticas. Texto apresentado na Reunião Bianual do
ENDIPE, Painéis. Recife, PE, 2006. Disponível em:
http://endipe.pro.br/anteriores/13/paineis/paineis_autor/g_paineis_autor.htm> Acesso
em: 29 jan. 2016.
MAGALHÃES, Rita de Cássia Barbosa Paiva e RUIZ, Erasmo Miessa. Estigma e
Currículo Oculto. In: Revista Brasileira de Educação Especial, Vol.17(spe1), 2001.
pp.125-142. Disponível em: http://www.periodicos.capes.gov.br/ Acesso em: 08 fev
2016.
MELETTI, Silvia M. F. APAE Educadora e a Organização do trabalho pedagógico
em Instituições Especiais. Texto Apresentado na Reunião Anual da ANPED – GT 15.
Caxambu, MG, 2008. Disponível em: http://31reuniao.anped.org.br/1trabalho/GT15-
4852--Int.pdf> Acesso em: 1 fev. 2016.
MENDES, Geovana M. L. Os estabelecidos e os “outsides”: currículo e inclusão no
espaço escolar. Texto apresentado na Reunião Bianual do ENDIPE, Painéis. Porto
Alegre, RS, 2008. Disponível em: http://endipe.pro.br/site/eventos-anteriores/> Acesso
em: 28 jan. 2016.
MICHELS, Maria Helena e LEHMKUHL, Márcia de S. Política de inclusão ou
manobra de publicização? Texto apresentado no ISEC 2015 Lisbon- SS 4.3. Lisboa.
PT, 2015.
MICHELS, Maria H. Gestão, formação docente e inclusão: eixos da reforma educacional
brasileira que atribuem contornos à organização escolar. Revista Brasileira de Educação. v.
11, n. 33, set./dez. 2006.
MOREIRA, Laura C. e BAUMEL, Roseli C. R. de C. Currículo em educação especial:
tendências e debates. Revista Educar, Curitiba, n. 17, p. 125-137. 2001. Editora da
UFPR
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10353ISSN 2177-336X
26
NOGUEIRA, Suzana Alves. Concepções da educação na perspectiva do lazer: um
estudo de caso na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Feira de
Santana/BA. 2011. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade Federal da
Bahia. 2011.
PIFFER, Graciela Daros. Digamos que seja mais prazeroso lecionar aqui do que na
escola regular: a educação física numa escola especial. 2011. Dissertação (Mestrado
em Educação) Universidade Regional de Blumenau. 2011.
PLETSCH, Márcia D., GLAT, Rosana e MOREIRA, Priscilla dos S. Educação
Inclusiva e Cotidiano Escolar: uma reflexão sobre currículo e práticas pedagógicas.
Texto apresentado na Reunião Bianual do ENDIPE, Painéis. Porto Alegre, RS,2008.
Disponível em: http://endipe.pro.br/site/eventos-anteriores/> Acesso em: 28 jan. 2016.
RODRIGUES, Graciela F. e ZWETSCH, Pamalomid. (Re)Pensando o Currículo na
Educação Inclusiva. Texto apresentado na Reunião Bianual do ENDIPE, Painéis. Porto
Alegre, RS,2008. Disponível em: http://endipe.pro.br/site/eventos-anteriores/> Acesso
em: 28 jan. 2016.
SALABERRY, Neusa T. Machado. A APAE Educadora: na prática de uma unidade da
APAE de Porto Alegre. 2008. Dissertação (Mestrado em Educação) Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul. 2008.
SANTANA, Moema K. O. A língua portuguesa na educação especial:
problematizando leitura, escrita e mediação. 2011. Dissertação (Mestrado em
Linguística Aplicada) Universidade do Vale do Rio dos Sinos. 2011.
SILVA, Fabiany de Cássia T. Entre o controle das diferenças e a emancipação: uma
leitura das adaptações curriculares. Texto apresentado na Reunião Bianual do ENDIPE,
Painéis. Porto Alegre, RS, 2008. Disponível em: http://endipe.pro.br/site/eventos-
anteriores/> Acesso em: 28 jan. 2016.
SILVA, Fabiany de Cássia T. Das políticas curriculares aos documentos
curriculares nacionais e locais: diferenciação na escolaridade dos deficientes. Texto
apresentado na Reunião Anual da ANPED – GT 15. Caxambu, MG, 2010. Disponível
em:
http://33reuniao.anped.org.br/33encontro/app/webroot/files/file/Trabalhos%20em%20P
DF/GT15-6821--Int.pdf> Acesso em: 1 fev. 2016.
VIEIRA, Alexandro B. Currículo e educação especial: as ações instituintes da escola a
partir dos diálogos cotidianos. Texto apresentado na Reunião Bianual do ENDIPE,
Painéis. Campinas, SP, 2012. Disponível em: http://endipe.pro.br/site/eventos-
anteriores/> Acesso em: 28 jan. 2016.
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10354ISSN 2177-336X
27
PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE A EDUCAÇÃO DO ALUNO COM
TRANSTORNO ESPECTRO AUTISMO (TEA)
Katia Cristina Luz- PUC/SP
CNPQ
RESUMO
Este artigo procura analisar as principais tendências da produção científica contidas no
portal de Periódicos disponíveis pela Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino
Superior (CAPES) do Ministério da Educação, por todo período coberto pelo portal, ou
seja, 1983 a 2015. Num levantamento inicial, utilizando o descritor “autismo”
constatou-se a existência de 657 produções, que após a escolha daqueles que foram
revisados por pares resultaram 286 artigos. Destes, após excluir aqueles que se
repetiam, os que não possuíam resumos, uma vez que a leitura preliminar partiria deles,
e os que não eram destinados à educação, sobraram apenas 11 produções para esta
análise. A organização do conteúdo deu-se pelo agrupamento das informações que
constavam no corpo dos textos: tema geral, tema específico e resultados de pesquisa.
Percebeu-se que os trabalhos abarcados por este levantamento que, apesar de não
abordarem diretamente as habilidades sociais, comunicativas e comportamentais do
aluno autista, tiveram estes enfoques como norteadores das pesquisas, uma vez que
partem das necessidades especificas deste alunado. Existem na sociedade atual
características comportamentais socialmente construídas na e pela cultura. O autista,
por possuir características comportamentais diferenciadas daquelas consideradas dentro
de padrões “normais” tem tido sua inclusão escolar dificultada. Na tentativa de desvelar
um pouco sobre a prática educacional voltada ao aluno TEA, na produção acadêmica,
optou-se pela realização deste balanço tomando como pressupostos teóricos o
materialismo cultural de Raymond Williams e por meio dele averiguar as
particularidades desta produção material. Constatou-se que a produção científica com
vistas à educação do sujeito com TEA é pífia, nos poucos trabalhos localizados há uma
hegemonia daqueles advindos da área educacional. A preferência dos pesquisadores por
propostas de intervenção também se sobressai, o que denota discreto esforço em romper
com os limites de uma pratica dificultada por diversos fatores.
Palavras-chave: Autismo; educação; pesquisa educacional
Introdução
Este trabalho tem como objetivo a realização de um mapeamento e análise das
tendências das produções científicas no Brasil que versam sobre a prática educacional
escolar do sujeito com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Conforme Bueno (2014) durante os últimos vinte anos houve um avanço
significativo na realização de balanços da produção científica e uma vez que se toma a
própria produção para análise crítica este fato proporciona certa compreensão da
maturidade em que a área vem desenvolvendo.
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10355ISSN 2177-336X
28
No caso do autismo, por exemplo, supomos que, teve pouquíssima ou nenhuma
produção quando observados os tipos de deficiência no balanço realizado por Bueno
(2014). Pois, em fase do balanço realizado pelo autor sobre a educação especial o
autismo estava incluído na nomenclatura “Transtorno Global do Desenvolvimento”
(TGD), por determinação das normas de nomenclatura e diagnóstico do DSM-V, não
existindo, deste modo, nas produções analisadas uma especificação direta sobre o
autismo. O TGD caracterizou menos que 10% dos trabalhos analisados conforme Bueno
(2014), o que nos permite a elaboração de uma hipótese: Ainda que as pesquisas em
educação especial ao final de vinte anos, tenham se consolidado, supõe-se que no caso
do autismo os pesquisadores ainda têm um longo caminho a ser percorrido na
consolidação de estudos que abordem a educação destes sujeitos.
Há na sociedade contemporânea maneiras de se comportar socialmente que são
construídas na e pela cultura. De acordo com Mesibov; Shea (1996), em artigo
traduzido por Rocha, quando pensamos nas pessoas com TEA, apesar de não haver,
necessariamente uma cultura “autística” as características e comportamentos similares
conotam uma expressão cultural diferenciada. Noutras palavras, as pessoas com TEA
têm um jeito peculiar anunciado pela vestimenta, alimentação, jeito de comunicar-se,
forma de entender o mundo a sua volta, bem como na aquisição do conhecimento. Estes
dados não são comuns aos padrões comportamentais existentes fora do contexto
autístico e isto têm dificultado sua inclusão escolar.
Atualmente, existem vários dispositivos legais que garantem a entrada e a
permanência na escola dos sujeitos com diagnóstico de autismo, como: Constituição
Federal (1988), a Política Nacional de Educação na Perspectiva da Educação Inclusiva
(2008) e o mais recente Decreto Lei 12.764 (2012) que dispõe sobre a Política Nacional
de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autismo,
especificamente quando trata sobre os aspectos educacionais e de inclusão destes
sujeitos a fim de garanti-los em todas as modalidades de ensino. Dito isto, cabe inquirir
como esta educação esta sendo realizada na prática? É possível compreender por meio
da análise crítica da literatura científica de que forma a prática educacional voltada para
estes sujeitos tem ocorrido?
Ao tomarmos como abalizamento os pressupostos de Skinner (2000 apud
BAGAIOLO; GUILHARDI; ROMANO, 2011) compreende-se que “a educação é o
estabelecimento de comportamentos que serão vantajosos para o individuo e para outros
em algum tempo futuro.” Neste mote, pode-se deduzir que a escola tem papel
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10356ISSN 2177-336X
29
importante na modelagem de alguns comportamentos que consequentemente
repercutem na forma dos sujeitos aprenderem, foi sobre esta ótica que surgiu a
necessidade de saber o que acontece na prática pedagógica uma vez que o sujeito com
TEA, devido a complexidade de sua patologia e por possuir comportamentos sociais
diferenciados daqueles considerados dentro dos “padrões” e “aceitáveis”, exige para sua
educação uma prática minimamente diferenciada tanto nos aspectos relacionados ao
ensino quanto de aprendizagem.
A escolha pela análise dos artigos científicos justifica-se pelo fato de que, além
de ter expressiva representatividade na disseminação do conhecimento, função social
prioritária dos artigos científicos, possuem efeito direto sobre a elaboração de políticas
públicas, tanto em âmbito mundial como aqui no Brasil. Também têm sido eleitos pela
comunidade científica como porta principal de visibilidade às pesquisas que vem sendo
desenvolvidas, o que de certa forma, facilita a captação atual do cenário da produção
científica sobre o tema. Esta valorização pressupõe-se seja advinda de uma eleição
coletiva determinada pelas convenções existentes na sociedade moderna que expressam
um contínuo, uma preexistência de um padrão literário estabelecido coletivamente,
revelando uma forma concreta de expressão cultural, indo ao encontro dos pressupostos
apontados por Raymond Williams, que reavaliou o conceito “cultura”, perpassando pelo
marxismo com intuito de transcendê-lo, criou uma nova teoria da cultura. Para o autor o
uso de determinados conceitos numa sociedade, em um período específico, seu
significado e até mesmo as mudanças que sofreu no transcorrer do tempo pode
demonstrar aspectos fundamentais da cultura que mantém o funcionamento e até a
manutenção de um sistema.
Ao tomar para análise crítica o produto dessa cultura, no caso a produção
literária científica, além de reclamar sua concretude, traz-se à luz articulações,
contradições, sentimentos e consciência que a linguagem e os meios de produção
cultural expressam. Daí a importância de considerar a literatura como “lócus” desta
pesquisa e a sua narrativa como expressão de uma prática institucionalizada. A
linguagem e a produção cultural, assim como a cultura, para o autor são mutáveis e
passíveis de intervenção.
Quanto a construção do objeto de pesquisa, que se pretende sob as vistas das
ciências sociais, além de considerar os pressupostos willianos apreciando os aspectos
sociais e históricos de contextos sociais, culturais, tempo e espaço no qual os autores
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10357ISSN 2177-336X
30
escreveram, serão adotados os preceitos de Bourdieu; Chamboredon; Passeron (2004)
quanto à construção do objeto.
Sendo assim, em consonância com os últimos autores, para a construção do
objeto adotar-se-á, primeiro um distanciamento de pré-noções elaboradas pelo senso
comum, depois a utilização de uma problemática que com base teórica dê conta da
demarcação do campo de pesquisa. Logo, para suprir esta necessidade a presente
pesquisa seguirá como roteiro o questionamento: o que se tem investigado sobre a
prática educacional do autista em artigos científicos? A problemática faz-se necessária
uma vez que, segundo os autores tomados como referência, esta pode contribuir para a
detecção de um fato, uma prática, inseridos num contexto social e histórico demarcado
por lutas simbólicas.
Caracterização da Produção
Como fonte de dados optou-se pelos artigos de periódicos contidos no portal de
Periódicos disponíveis pela Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino Superior
(CAPES) do Ministério da Educação, por todo o período coberto pelo portal. (BRASIL.
MEC. CAPES, 2015)
Os critérios para seleção e inclusão dos artigos neste trabalho foram: a) período
1983 a 2015, b) Os provenientes da busca utilizando o termo “Autismo”, c) os artigos
revisados por pares, d) em todas as línguas, e por último; e) aqueles voltados à educação
do sujeito autista. Como critério de exclusão dos artigos seguiu-se primeiro a lógica de
repetência, depois, ao efetuar as leituras, prioritariamente dos títulos e resumos, aqueles
que não possuíam resumos e os que não focavam a educação desses sujeitos.
No levantamento inicial observou-se a existência de 657 artigos sobre autismo
no portal de periódicos CAPES, após a escolha daqueles que foram revisados por pares
resultaram 286 artigos. Destes, quando comparados a fim de efetuar a exclusão daqueles
que se repetiam e os que não apresentavam resumos sobraram apenas 113. Após este
levantamento, numa leitura mais minuciosa, aqueles voltados à educação totalizaram 11
produções, dado este que expõe precocemente a hipótese deste trabalho, ou seja,
realmente há uma escassa produção científica com o tema autismo voltada a educação
deste sujeito.
A análise dos artigos selecionados segue uma ordem temática sem
necessariamente destacar uma dada importância. Para apreciação deu-se ênfase aos
temas gerais, específicos e os resultados da pesquisa, num contexto mais generalizado,
privilegiando os aspetos que descrevem não só a prática educacional do alunado com
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10358ISSN 2177-336X
31
TEA, mas também aquelas que podem auxiliar a compreensão desta prática,
considerada por alguns profissionais da educação como um grande desafio.
O conhecimento disseminado sobre o autismo é um dos temas que aparece nas
pesquisas, este foi contemplado por dois trabalhos, um de autoria de Araújo; Souza
Santos (2012) com o título “Representações sociais de professores sobre o autismo
infantil” expuseram em sua investigação, baseada na Teoria das representações sociais,
as ideias formadas pelo senso comum a respeito do autismo entre professores, outro de
autoria de Nicpon; Assouline (2010), intitulado “Atendimento as necessidades de
estudantes talentosos com Transtorno do Espectro Autismo: Aproximações
diagnósticas, terapêuticas e psicoeducativas” focaram o trabalho com estudantes
talentosos com TEA para efetivar o atendimento das suas diversas necessidades e
dissertaram a partir das atuais abordagens diagnósticas, terapêuticas e educativas
secionando apenas estudos bibliográficos empiricamente testados.
Na primeira pesquisa, Araújo; Souza Santos (2012) assinalaram que os
resultados coadunam para vislumbrar uma prática marcada por incertezas, uma vez que
os professores atuam com testes de possibilidades baseadas em erros e acertos e
percebem fragilidades dos estudos acadêmicos advindos das mais diferentes áreas.
Embora o conhecimento desses professores seja ancorado em diversos repertórios que
partem prioritariamente da psicanálise, neurociências e da linguagem midiática.
Concluindo ser na prática cotidiana escolar que constroem alternativas pedagógicas de
funcionalidade para o ensino dos sujeitos com TEA.
O estudo bibliográfico realizado por Nicpon; Assouline (2010) demonstrou que
as intervenções terapêuticas apareceram como as mais prósperas para os alunos com
TEA. Mesmo não havendo uma avaliação da sua eficácia em alunos superdotados com
TEA. Cabe salientar que as intervenções cognitivo-comportamentais estão presentes
nesta seleção. Já no que diz respeito às intervenções psicoeducativas eficazes, os autores
discorreram que o foco incidiu sobre as capacidades cognitivas e acadêmicas, além das
amplas dificuldades de comunicação, social e comportamental destes estudantes.
Outras duas pesquisas tiveram a heurística como tema, Burger-Veltmeijer;
Minnaert; Bosch (2015) realizaram uma exploração entre diagnosticadores de diversas
organizações psicoeducativas, analisando dossiês. Nesta pesquisa cujo título é
“Avaliação dos alunos superdotados com ou sem características de TEA: uma
exploração entre diagnosticadores de diversas organizações psicoeducativas”
planejaram avaliar se os testes de avaliação sobre a prática psico-educacional com
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10359ISSN 2177-336X
32
estudantes talentosos TEA foram consistentes com princípios heurísticos, base teórica
criada pelos próprios autores. Noutra perspectiva os aspectos heurísticos foram
abordados por López (2011), desta vez, sob o titulo “A falácia da conjunção e
contextualização no autismo”. Neste trabalho de ordem bibliográfica, mesmo tendo o
autor admitido a relevância das pesquisas realizadas por Morsanyi, Handley e Evans
(2009), questiona suas justificativas de que estudantes autistas não utilizam heurística
por causa da dificuldade que este alunado tem quanto ao processo contextualização da
informação.
Burger-Veltmeijer; Minnaert; Bosch (2015) apresentaram como resultado que o
teste de avaliação sobre a prática psico-educacional “não foi qualificado de forma
sistemática, dimensional e baseada em necessidades conforme os princípios teóricos
heurísticos. ( S&W)”. Para os autores este fato sugere a necessidade de otimização
heurística (S&W) já que este princípio teórico é pautado pelas necessidades do alunado
com superdotação TEA. Na pesquisa teórica desenvolvida por López (2011), o autor
pontuou que a falta de utilização heurística destes sujeitos está ligada ao fato de
possuírem raciocínio lógico matemático mais rigoroso do que os estudantes em geral e
depois de destacar a importante contribuição da psicologia na educação, sugeriu a
implementação de projetos e o desenvolvimento de metodologias que considerassem a
singularidade cognitiva do aluno autista.
Dois trabalhos têm como tema a competência social e as habilidades sociais
separadamente. No primeiro denominado “Competência social, inclusão escolar e
autismo: um estudo de caso comparativo” os autores Camargo; Bosa (2012) avaliaram
comparativamente a competência social entre uma criança com autismo e outra com
desenvolvimento típico, considerando a influência do ambiente escolar (classe e pátio)
na competência social entre estas crianças pertencentes a fase pré-escolar. No segundo,
os autores Freitas; Pereira Del Prette (20013), sob o título “Habilidades sociais de
crianças com diferentes necessidades educacionais especiais: avaliação e implicações
para intervenção” observaram 12 grupos de crianças com diferentes necessidades
educacionais especiais a fim de apontar as peculiaridades das habilidades sociais
identificando-as por suas semelhanças e diferenças e depois sugerir modos de
intervenção.
No que diz respeito ao estudo comparativo sobre competência social Camargo;
Bosa (2012) discorreram que, “enquanto o perfil de competência social da criança com
desenvolvimento típico pouco variou entre os contextos, a criança com autismo
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10360ISSN 2177-336X
33
demonstrou maior frequência de comportamentos de cooperação e asserção social e
menor frequência de agressão e desorganização do self, no pátio.” No segundo estudo os
autores discutiram as necessidades de intervenção de cada categoria avaliada. A
observação possibilitou verificar que as crianças com TDAH, autismo, problemas de
comportamento internalizantes e externalizantes e problemas de comportamento
exibiram comparativamente menor quantidade de habilidades sociais requerendo
atenção prioritária em programas de intervenção.
Percebeu-se no presente levantamento que há certa preferência dos
pesquisadores em utilizar a intervenção como fonte de coleta de dados. Esta preferência,
talvez, esteja relacionada ao fato de que prioritariamente a produção advenha da área
educacional, o que supostamente pode dar indícios dessa necessidade na prática. Este
fato nos remete a reflexão de Bourdieu (1975 apud GARCIA, 1996) sobre a posição dos
agentes (pesquisadores) dentro do campo científico e como influenciam na produção
cultural, bem como na reprodução dos valores simbólicos por eles disseminados.
Neste levantamento foram encontrados cinco trabalhos cujo tema recai sobre
proposta de intervenção. A pesquisa intitulada “Os efeitos do reforço social alertando
sobre o estabelecimento de interações sociais com pares durante a inclusão de quatro
crianças com autismo na pré-escola.”, realizada por Gena (2006), aponta que
procedimentos com respaldo empírico foram priorizados tanto para a melhoria de
interações sociais das quatro crianças autistas, como para sua inclusão na fase pré-
escolar em escolas gregas. Os resultados demonstraram que o reforço social combinado
com procedimentos estimulantes fornecidos por um professor auxiliar foi essencial para
fomentar o início das interações sociais e de contrapartida fazer responder
adequadamente às interações iniciadas pelos colegas de classe.
Outra pesquisa contemplada por este estudo e que tem a intervenção como fonte
de dados foi concretizada por Pérez González; Williams (2005). Nesta pesquisa
intitulada “Programa Integral para o ensino de habilidades em crianças com autismo” os
autores propuseram a implementação de um programa que, apesar de usar uma
linguagem comum a todos, algo que se difere dos programas mais conhecidos como
TEACCH que utilizam a comunicação por meio de signos, considerou o ensino
individual de cada sujeito de acordo com as suas principais necessidades de
aprendizagem. Durante a aplicação do programa utilizaram todos os métodos de
intervenção advindos das mais diferentes áreas, motivo pelo qual este programa foi
considerado como sendo integral.
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10361ISSN 2177-336X
34
Os resultados desta pesquisa demonstraram que as três crianças, sujeitos desta
pesquisa, aprenderam sobre uma habilidade para cada hora de ensino. Quando a
intervenção foi intensa os alunos aprenderam mais habilidades por hora, mostrando
desta forma a eficácia de uma intervenção na educação e no ensino de crianças autistas
quando aplicada intensivamente, constituindo assim a melhora da qualidade de vida
tanto dos sujeitos quanto de seus familiares.
Thompson; Mclaughlin; Derby (2011) também utilizaram uma proposta de
intervenção para o ensino de uma criança autista, com o estudo denominado “Uso do
reforço diferencial para reduzir verbalizações inapropriadas de uma aluna autista da
educação primária”. Neste estudo os autores testaram um programa de linha de base
múltipla, buscando provar a relação e mediar a eficácia do reforço diferencial a fim de
diminuir verbalizações inapropriadas de uma aluna autista. Utilizaram-se fichas
compensatórias para estimular a diminuição das falas inapropriadas e a adesão de
comportamentos ensinados na sala de aula, na aula de educação física e sala especial.
Ao final da pesquisa os autores comprovaram que houve eficácia no uso de
procedimentos diferenciais de reforço, pois não só diminuíram comportamentos sociais
problemáticos na aluna em questão, mas também auxiliou a incorporação de novas
atitudes.
A avaliação dos efeitos da utilização de um programa de intervenção também foi
contemplada na pesquisa de Carvalho Gomes; P. Nunes (2014), desta vez na interação
dos sujeitos. O trabalho apresentado sob o título “Interações comunicativas entre uma
professora e um aluno com autismo na escola comum: uma proposta de intervenção”
focou na avaliação de um programa que oportunizasse o desenvolvimento de
habilidades comunicativas e interação em uma criança autista de 10 anos. Para
implementação do programa, primeiro a professora foi habilitada a aplicar estratégias do
ensino naturalístico e recursos de comunicação alternativos. Três rotinas escolares
foram eleitas para avaliação do programa: hora do lanche, atividades pedagógicas e na
entrada da escola. Depois de o programa ter sido implementado e devidamente
registrado por meio de filmagens e relatórios, tomou-se as respostas comunicativas
entre a professora e o aluno para compor as variáveis. A professora mudou a
organização ambiental da sala de aula, deixando pictográficos de comunicação
acessíveis ao aluno e seus objetos de uso preferencial fora do alcance para que o mesmo
o solicitasse quando quisesse. Utilizando os pictográficos juntamente com a
comunicação oral, também passou a aguardar a interação espontânea do aluno. Assim
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10362ISSN 2177-336X
35
que houve a implementação do programa as autoras identificaram mudanças tanto
qualitativas quanto quantitativas nas interações professora-aluno.
Carlson; Mclaughlin; Derby; Blecher (2009), com intento de aumentar a
legibilidade das letras em alunos com deficiência da educação infantil utilizando
procedimentos cartografados do programa Handwriting Without Tears[R] program
(Olsen, 1998) também utilizaram a intervenção. No estudo intitulado como “Ensinar
alunos autistas da educação infantil a escrever” os autores selecionaram dois sujeitos da
fase pré-escolar de uma escola de educação especial do Noroeste Pacífico. Uma criança
diagnosticada autista e outra com diagnóstico de atraso no desenvolvimento. Ambas
conheciam as letras dos seus nomes, por este motivo a proposta deste estudo recaiu
sobre o aumento da legibilidade das letras. Foi-lhes oferecido novo repertório gráfico. A
eficácia positiva do programa Handwriting Without Tears[R] program (Olsen, 1998)
para o ensino da escrita de alunos autistas da educação infantil foi comprovada neste
trabalho.
Conclusão
Há um consenso nos artigos revisados, todos discorrem que o TEA possui
características peculiares que expressam déficits no desenvolvimento das habilidades
sociais, comunicativas e comportamentais que comprometem sua educação, de certa
forma, este fato pode ter impulsionado a elaboração de pesquisas neste segmento, ainda
que se apresentem de maneira discreta.
A preferência dos pesquisadores por propostas de intervenção, seja para
implementar, testar ou avaliar, traz à luz a necessidade de uma prática, qual seja, o
desenvolvimento de programas e procedimentos educacionais que efetivem a
aprendizagem deste alunado, a facilitação do trabalho do professor, oportunizando a
inclusão integral do alunado TEA. Os resultados testados empiricamente demonstram a
eficácia das propostas de intervenções para o ensino.
Evidenciou-se no presente levantamento pouquíssima produção científica no que
tange a educação do sujeito autista e embora haja predominância de implementação,
teste e avaliação de programas para o ensino-aprendizagem destes sujeitos, esta prática
demanda mais pesquisas empíricas para que somente assim interfira numa prática
abalizada atualmente pela insegurança. A complexidade da patologia, a dificuldade de
implementar métodos diferenciados e o despreparo dos professores podem ter
influenciado nesta pífia produção.
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10363ISSN 2177-336X
36
Deduz-se que a pouca produção científica acerca da educação do aluno TEA
causa um impacto negativo à prática de ensino, isso pode ser percebido tanto na
elaboração de leis, já que, a produção, ao dar indícios de necessidades práticas exerce
influência direta na criação de dispositivos que a regularize, quanto na sala de aula, pois
reflete sobre a ação pedagógica dos professores, que pouco preparados, buscam nos
artigos científicos - principal ferramenta atualmente na disseminação do conhecimento
sobre o assunto - subsídios empiricamente comprovados para sua prática de ensino.
Neste mote, cabe salientar ainda que os próprios resultados de pesquisas podem
subsidiar na formação de professores, propiciando discussões sobre as mais diversas
possibilidades de ensino ao aluno autista, que de acordo com este levantamento tem
sido observado e apontado nas pesquisas como um dificultador na efetivação da
inclusão deste alunado.
Diante disso, ao adotar o materialismo cultural em conformidade com os
pressupostos de Williams (1980) considerou-se impraticável a dissociação da linguagem
e significação para o apontamento de uma problemática. Mais que isso, por meio desta
base teórica foi possível descrever o funcionamento cultural na sociedade atual acerca
do tema que, ao abalizar esta produção material para análise e crítica, tenta fazer
emergir novos valores e significados, já que não se trata apenas do apontamento do que
se falam nas pesquisas, mas considerar aquilo que não se fala ou pouco se fala.
REFERÊNCIAS (Eu formatei as referências)
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Imprensa Oficial,
1988.
_______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política de
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, 2008. Disponível
em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf . Acesso em:
12/Fev/2016.
_______. Lei 12764, de 27 dezembro de 2012. Que institui a Política Nacional de
Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12764.htm. Acesso em:
15/01/ 2015.
BAGAIOLO; GUILHARDI; ROMANO. 2011. Análise Aplicada do Comportamento.
In: SCHWARTZMAN, J.S.; ARAÚJO, C.A. (Orgs). Transtornos do espectro do
autismo. São Paulo: Memnon, p.37-41, 2011.
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10364ISSN 2177-336X
37
BOURDIEU, Pierre, CHAMBOREDON, Jean-Claude & PASSERON, Jean-Claude.
Ofício de Sociólogo: Metodologia da pesquisa na sociologia. Tradução de Guilherme
João de Freitas Teixeira. 5a edição. Petrópolis/RJ: Vozes, 2004.
BUENO, J.G. S.2014. A pesquisa brasileira sobre educação especial: balanço
tendencial das dissertações e teses brasileiras. In: BUENO, J. G. S.; MUNAKATA, K.;
CHIOZZINI, D. F. (Orgs). A escola como objeto de estudo. 1ª ed. Araraquara,SP:
Junqueira&Marin, p. 211, 2014.
BURGER- VELTMEIJER, A.. J.; MINNAERT, A.; BOSCH, E. J. V.D. 2015.
Evaluación de alumnos de altas capacidades intelectuales con o sin característics de
TEA: una exploración entre diagnosticadores de diversas organizaciones
psicoeducativas. Electronic journal of research in educational psychology. Espanha.
Vol.13, n.35, p.5-26. Disponível em: http://www.investigacion-
psicopedagogica.org/revista/articulos/35/espannol/Art_35_967.pdf.Acesso em:
14/Jan/2016.
CAMARGO, S.P.H.; BOSA, C. A. 2012. Competência social, inclusão escolar
e autismo: um estudo de caso comparativo. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Rio Grande
do Sul. Vol.28, n.3, p.3-15.Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-
37722012000300007&script=sci_arttext#end. Acesso em: 13/Jan/2016.
CEVASCO, M. E. 2011. Para ler Raymond Williams. São Paulo: Paz e Terra.
GARCIA, A. M. M. 1996. O Campo das Produções Simbólicas e o Campo Científico
em Bourdieu. Caderno de Pesquisa, São Paulo. N.97, p. 64-72. Mai/ 1996. Disponível
em: http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/cp/arquivos/414.pdf .Acesso em:
08/02/2016.
MESIVOV, B. G.; SHEA, V. A Cultura do Autismo. Traduzido por: ROCHA; P.,
PEDRO. Psicopedagogia On Line.São Paulo. Jan/2000. Disponível em:
http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=32 acesso em:
12/02/2016.
WILLIAMS, R. Marxismo y literatura. Barcelona: Ediciones 62.
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
10365ISSN 2177-336X