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Banana Verde | 2ª edição

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Revista experimental feita pelos alunos de Jornalismo do Módulo. O nome da revista, Banana Verde, remete ao processo de transformação que a banana (não madura) passa no cozimento do prato típico da região, o Azul Marinho (peixe com banana verde).

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JEdição #02 | Ano 2 | Março de 2012

Caraguatatuba | Litoral Norte de São Paulo

Reitora: Profa. Dra. Sueli Cristina Marquesi

Pró-reitora de Graduação:Profa. Dra. Iara Sanches Rosa

Pró-reitor de Pós-Graduação e Extensão:Prof. Dr. José Carlos Victorino de Souza

Coordenadora de JornalismoProfa. Ms. Bruna Vieira Guimarã[email protected]

Campus Centro: Avenida Frei Pacífico Wagner, nº 653, Centro - CEP 11.660-903.

Tel. (12) 3897.2000 Site: www.modulo.edu.br

__________________________________

Conselho editorial:Profa. Ms. Bruna Vieira Guimarães; Profa. Ms. Giovana Flávia Oliveira; Profa. Dra. Iara Sanches Rosa; Prof. Dr. José Carlos

Victorino de Souza; Prof. Esp. Nordan Manz; Prof. Ms. Paulo Rogério de Arruda e Profa.

Ms. Sandra da Silva Mitherhofer

Professor Responsável desta edição:Paulo Rogério de Arruda (MTB 36.577)

[email protected]

Revisão: Bruna Vieira Guimarães e

Sandra Mitherhofer

Fotografia: Adriana Evangelista, Arnaldo Torres, Bruna Vieira, Mel Braga, alunos e professores de

Jornalismo.

Reportagem: Camila Creace, Cláudio Rodrigues, Cláudio

Henrique Santana, Daniel Olivieri, Elísio Russo, Evelyn Graziele, Francisco Garcez, Jéssyca Biazini, Marcelo Souza, Mayara

Peixoto, Mel Braga, Natasche Annunciato, Rafael Franco, Rebecca Bonanate, Tamires de Almeida, Thaís Matos e Vitória Barreto.

Fale Conosco: Redação / Campus Martim de Sá

Av. Pres. Castelo Branco, s/nº Jd. Casa Branca

CEP: 11.662-700 - Tel. (12) 3897-2008e-mail: [email protected]

www.issuu.com/universitariomodulo (Revista BananaVerde)

Capa:Reprodução do quadro do artista Euzébio do Carmo em exposição no Empório Arte & Luz

em Caraguatatuba.Arte: Paulo Henrique Ferraz

Tiragem: 2.000 exemplaresGráfica: Editora Mogiana Periodicidade: Semestral

Projeto Gráfico: Prof. Paulo Arruda,

Cléverton Santana (aluno do 3º semestre de Jornalismo) e Arte Final de Paulo Ferraz (aluno

do 8º semestre de Jornalismo)

Distribuição gratuita nos campi Centro e Martim de Sá.

Revista experimental e temática do curso de Jornalismo do

Centro Universitário Módulo

EDITORIAL

revistabananaverde.wordpress.com@revbananaverde facebook.com/bananaverde

“Jogou sua rede / Oh, pescador! / Se encantou com a beleza / desse lindo mar”, a música Canto ao Pescador, do compositor Dorival Caymmi revela de forma singular a essência desse povo chamado Caiçara. Mistura do índio, do branco e do negro. Essa gente simples, com um rico ingrediente étnico-cultural, conhecedora dos segredos e dos mistérios da natureza, tem sua paixão materializada na imensidão do mar.

A sabedoria adquirida na escola da vida revela-se nas mais diversas manifestações artísticas. Arte e cultura foram registradas nas páginas da segunda edição da Revista Banana Verde.

Se há dúvidas da existência de caiçaras na região, nosso aluno-repórter Rafael Franco mostra que, na nona praia mais bonita do mundo -o Bonete de Ilhabela- a cultura é passada para as novas gerações. O modo de vida rudimentar preserva os hábitos, muitos dos hábitos caiçaras.

Mas não foi apenas no Bonete que nossos alunos-repórteres encontraram a preservação dessa cultura. Vitória Barreto desvendou o segredo do Azul-Marinho. Um dos pratos mais saborosos e típicos da culinária regional e descobriu o motivo de sua coloração azulada.

Os repórteres Elísio Russo e Daniel Olivieri buscaram os contos e as lendas que estão enraizados na memória coletiva dos moradores do Litoral Norte Paulista. Por falar em história, Jéssyca Biazini, escreveu sobre a arqueologia da antiga fazenda de São Francisco, em São Sebastião e do Quilombo da Fazenda, em Ubatuba.

A devoção do caiçara nos padroeiros e as curiosidades de cada festa são os temas abordados por Rebecca Bonanate, Mel Braga e Tamires Almeida. A narrativa do Teatro também se faz presente no texto de Natasche Annunciato. Assim como os movimentos da Dança são percebidos na matéria de Evelyn Graziele. Mas é na levada da Música que os cantores de Caraguá são apresentados por Mayara Peixoto. Já Thaís Matos mostra como os artistas do lápis e papel conseguem retratar pelas charges, alunos e professores que tiveram suas fotos publicadas na primeira edição desta revista.

O Litoral Norte ganha fama nas lentes de grandes produtoras e emissoras de televisão. Na matéria de Cláudio Santana sabemos quais filmes, novelas e miniséries foram gravadas nas quatro cidades. E para quem gosta de apreciar cerâmicas, esculturas, pinturas e outras obras de artes feitas pelo povo que hoje habita o litoral, a matéria de Natália Notarnicola convida a visitar a "galeria" Arte Luz, em Caraguatatuba.

Francisco Garcez e Camila Creace revelaram a razão cultural que levou Ubatuba a se tornar a Capital do Surf. Para finalizar Claudio Rodrigues entrevista o guardião do tempo Edivaldo Nascimento, dono de um dos maiores acervos fotográficos da cidade de São Sebastião. A segunda edição da Banana Verde está uma delícia.

Ótima leitura!

A arte de ser caiçara

Paulo Rogério de Arruda

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NONA PRAIA MAIS LINDA DO MUNDO, BONETE DE ILHABELA MANTÉM HÁBITOS DA CULTURA REGIONAL

Rafael Franco | 5º semestre de Jornalismo

Um paraíso chamadoBONETE

A s casas não possuem luz elé-trica. A energia vem de um gerador que suporta apenas alguns aparelhos ligados. O vilarejo é composto por vielas,

alguns pequenos corredores e as casas. O som é o da cachoeira que desce o morro e dá vida ao rio Nema. Os moradores tem olhos claros, ca-belos loiros e são descendentes de holandeses, espanhóis e portugueses, alguns até de piratas ingleses. Essa é a referência básica que se tem da praia do Bonete, no extremo sul de Ilhabe-la. Local que preserva características do caiçara, apesar das interferências da modernidade.

Chegar ao Bonete não é tarefa fácil. A trilha que leva até a praia é cheia de surpresas e obstáculos que dificultam a caminhada. “A aventura é grande para os que gostam de natu-reza. O trajeto pode ser uma diversão”, revela o morador Ramon Miguez. Ele afirma que o grau de dificuldade do caminho são para garantir a preservação do meio ambiente e os hábitos da cultura caiçara. A principal atividade de sustento dos boneteiros é a pesca. Depois vem o artesanato que é vendido com apoio da Secretaria Munici-pal de Cultura. Os pescadores da comunidade utilizam formas artesanais de pesca e cultivo dos peixes. Com a chegada da energia elétrica, por gerador, as condições de armazenamento melhoraram segundo o pescador José Martins, que possui um bar na praia. “Produzimos gelo. Fica mais fácil conservar o peixe até a hora da venda”, relata. A rotina depende da época do ano e da fase da lua, por isso, os moradores do Bonete são grandes especialistas e conhecedores das marés e da localização exata dos pescados. Os meses de dezembro à abril, época mais quente do ano, grande quantidade de lula aparece nas costeiras do sul da ilha. Isto facilita a pesca e aquece a economia local. Ainda tem os turistas que compram o pescado fresco na praia. A agricultura é outro item considerado fundamental para a sobrevivência da população local. A dificuldade de sair constantemente da

TURISMO

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Canoas de voga. Tradicionais desde o início do século, elas são moldadas com

árvores de mais de 10 metros de altura

Fotos: Bruna Vieira

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praia faz com que os boneteiros cultivem no quintal das casas as principais verduras e legu-mes. Com ênfase, plantam mandioca e taioba, espécie de couve, bastante comum na ilha. To-dos que frequentam o lugar são convidados a degustar um dos pratos mais comuns e saboro-sos do lugar: arroz, lula à dorê, salada de taioba e mandioca frita. Falando da beleza do Bonete, a praia foi eleita pelo tablóide inglês The Guardian, em 2009, a nona praia mais bonita do mundo. E motivos têm para isso. Já no começo da trilha constata-se que é um lugar quase intocado pelo

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No final da trilha que leva ao Bonete, o turista tem como prêmio um mar de águas límpidas.

Jovem morador do Bonete.

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homem, onde o barulho do mar batendo nas pe-dras da baía que envolve a praia, proporciona a sensação de paz e de contato com a exuberante natureza.

ONdE ficAr E O qUE fAZEr A praia oferece instalações variadas, desde camping à uma boa pousada em estilo praiano que alia conforto e tranquilidade. Os preços variam de acordo com a época do ano e o dia de semana. As atividades de lazer se relacionam a natureza, tendo como pano de fundo as surpresas do local e as paisagens incríveis. A trilha para as praias de Enchovas e Indaiauba são passeios obrigatórios. O início da caminhada é no meio da vila, passando pela ponte da cachoeira do "pau oco". Após dois quilômetros de caminhada chega-se na praia de Enchovas, bem menor que o Bonete, com uma pequena faixa de areia. Um quilômetro a frente está a praia de Indaiauba com areia fina e branca, rodeada por coqueiros. Estas duas praias abrigam famílias tradicionais e proporcionam um gostoso descanso. À noite, o espetáculo fica por conta do céu estrelado e dos bares frequentados pelos caiçaras mais velhos contatando suas incríveis histórias de pescaria. E para circular durante a noite, não esqueça a lanterna. O último lembrete: respeite a comunida-de local e seja bem vindo! Antes de planejar a viajem para o Bone-te, informe-se sobre as condições da estrada com o Parque Estadual de Ilhabela (12)3896-2585. Se preferir ir de barco, verifique as previsões do tempo com os pescadores que fazem o trajeto da Vila, no Centro de Ilhabela, a comunidade. •

Foto: Pousada C

anto Bravo

Acima, um caiçara em seu ambiente de trabalho, o rancho de pesca. Abaixo, a Capela do Bonete.

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Vitória Barreto | 7º semestre de Jornalismo

TAzul Marinho

Tipicamente caiçara e com resquícios da cultura in-dígena, o prato Azul Marinho é um dos mais procu-rados por aqueles que buscam saborear a culinária do Litoral Norte. Com uma diferença ou outra, seja no tempero ou no modo de preparo entre os chefs de cozinha das quatro cidades da região, a base do prato é sempre a mesma: o peixe suculento, cozi-do na panela de ferro com a banana nanica verde e muito tempero. Esta é a cara do famoso prato servido com porção de arroz. O pirão, feito com o próprio caldo do peixe e a verdadeira farinha de

mandioca é outra especialidade caiçara. Consagrado como patrimônio da culiná-ria na região, o Azul Marinho está presente mui-to antes do que se imagina. A banana, tradicional alimento dos indígenas que aqui viveram, compõe o prato que possui um toque de nossos coloniza-dores, pois a do tipo nanica foi introduzida no país pelos portugueses. O peixe por sua vez, está ainda mais enraizado na cultura indígena, pois sustenta-va várias aldeias presentes nas costas litorâneas. Uma prova disso é a etimologia da palavra pirão.

DESvENDE OS MISTÉRIOS DO PEIxE COM BANANA vERDE

GASTRONOMIA

Prato típico da culinária caiçara tem como ingrediente especial a banana verde

Foto: Guia da N

utrição

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O termo pirau em Tupi é uma junção da palavra pira que significa peixe e u que significa comida. Cultura deixada por antepassados indígenas e que as famílias caiçaras fazem questão de preservar. As bananas verdes que acompanham o co-zimento do peixe são ricas em uma substância cha-mada tanino. Essa substância é a responsável pela adstringência, que provoca a sensação de “amarrar na boca” e pela pigmentação azulada que o prato ganha, e o denomina. O biólogo Camilo de Lellis Santos, pes-quisador da Universidade de São Paulo (USP), conta que este é um mecanismo que a planta usa para evitar o ataque de animais herbívoros, raios ultravioletas, calor e frio excessivo, além da es-cassez de água. De acordo com ele, ao ativar esse mecanismo, as moléculas de hidroxilas da banana (OH) acabam reagindo com as proteínas do peixe. “A banana ‘rouba’ as proteínas dos peixes. Na ver-dade são os taninos da fruta que precipitam as pro-teínas dos peixes, e com isso ela fica azul”, afirma. O chef de cozinha João Caiçara revela que há 25 anos segue a receita que aprendeu com sua mãe. Ele explica que a banana só fica escurecida se for feita na panela de ferro. "Posso preparar o prato em uma panela de ferro e em uma de alumínio ao lado, a tonalidade será diferente. Na de ferro a ba-nana aquire um tom escuro, quase cinza”, aponta. Essa substância citada pelo o chef e pelo pesquisador, está presente na casca da banana, as-sim como em várias outras frutas no período de amadurecimento. Merece atenção, pois pode ser muito prejudicial a saúde quando consumida em excesso. “Lembra-se que os taninos precipitam as proteínas dos peixes? Então, nós também somos feitos de proteínas e dessa forma os taninos podem reagir com nossas proteínas, danificando o correto funcionamento das células”, explica Lellis. Segundo o pesquisador ainda não há es-tudo sobre o efeito do Azul Marinho em seres hu-manos, e, além disso, o prato oferece um balanço nutricional equilibrado. “O prato traz as proteínas saudáveis do peixe e os nutrientes da banana, ri-quíssima em potássio”, aponta a nutricionista De-nise Paoli. “Tudo em excesso pode gerar efeitos adversos. Mas podemos degustar este rico prato da nossa culinária”, completa o pesquisador. •

INGREDIENTES8 bananas nanicas verdes sem casca1 corvina2 tomates1 cebola grande4 dentes de alho amassado3 colheres de óleo ou azeitecheiro verde, coentro, sal a gosto e pimentão

PREPAROEm uma panela de ferro coloque a cebola e o alho para dourar no azeite, e em seguida, o sal e os tomates picados sem pele. Depois de refogado, adicione as bananas e água até cobrir todos os ingredientes. Quando as bananas estiverem moles, coloque o peixe cortado em postas e espere até que este seja cozido perfeitamente e apague o fogo.Em outra panela, pegue alguns pedaços de bananas e esprema, adicionando a farinha de mandioca torrada e quantidade suficiente de caldo para que fique em ponto de pirão. O prato vai para a mesa acompanhado de um arroz branco soltinho e uma salada de agrião, além de uma bebida quente. Agora é só chamar toda a família para a mesa e saborear esta delícia típica da região.

EUNICE PAES FERREIRA DOS SANTOS conta que a diferença do seu pirão é uma receita própria e que precisou adaptar o prato original porque um dos seus filhos não gostava da banana no peixe, somente do pirão. Desta forma passou a amassar a banana e inserir o ingrediente no pirão sem que a criança percebesse. Assim, consumia todas as vitaminas da fruta.

Azul Marinho

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O repertório popular está repleto de contos e lendas que retratam de uma forma lúdica a cultura e a tradição de um povo. Causos são contados com uma riqueza

de detalhes que até parece que estamos viven-ciando cada uma dessas histórias. Tais relatos, inicialmente eram contados pelos moradores da zona rural e, com a urbanização, as lendas che-garam aos dias atuais. Pedro Paulo Teixeira Pinto, presiden-te da Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba (Fundart), explica que as lendas estão em qual-quer lugar do mundo, inclusive no Litoral Nor-te. “Elas são passadas de geração em geração e assim mantidas vivas”. Segundo Pedro Paulo, a graça desses contos e lendas é que “quem conta sempre au-

menta um pouco mais, dando a elas um toque es-pecial e diferente do original”. Assim, as lendas são mantidas vivas no imaginário, sendo conta-das de forma saborosa e divertida. Em Ubatuba, por exemplo, o grupo Guaruça Folclórico e Alegórico trabalha com o intuito de manter viva essas lendas e tradições. Segundo a coordenadora Mariza Taguada, o gru-po começou em 2003, como Movimento Pirão Geral, organizado pelo teatrólogo e ator Bado Todão. “Ele reuniu os artistas da cidade e du-rante três anos fizemos apresentações. Foi onde surgiu a união do Bado Todão com o Julinho Mendes e a lenda do boi de conchas”, conta. Em 2005, Bado resolveu voltar pra São Paulo e o grupo passou a se chamar Guaruça. “Estamos dando continuidade ao trabalho, que além de ter um caráter idealista da cultura caiça-

Há muito tempo...CONTOS E LENDAS MANTêM vIvA A CULTURA DO POvO DO LITORAL

Daniel Olivieri | 2º semestre de Jornalismo e Elísio Russo | 7º semestre de JornalismoIlustração: Francisco Garcez | 2º semestre de Jornalismo

RIQUEZA IMATERIAL

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ra, revela a importância de preservar a cultura”, afirma Taguada. A coordenadora mostra que o trabalho do grupo tem repercutido dentro das salas de au-las. “As professoras contam lendas como a do boi de conchas, que trata das coisas da nossa ci-dade e faz com que as crianças se identifiquem. Este é um estímulo para cultivar as lendas”, as-segura. Certo mesmo é que o Litoral Norte tem um acervo muito rico e retrata a cultura do povo que mora em Caraguatatuba, São Sebastião, Ubatuba e Ilhabela.

cOmO sUrgEm As lENdAs Ecléa Bosi, no livro “O tempo vivo da memória”, confirma que os contos populares fazem parte do universo cultural que tem como suporte a tradição oral. “Pode existir no narrador oral um minuto em que ele intui a temporalida-de. Ele percebe que é um ser que está envelhe-cendo e precisa passar suas experiências". São conhecimentos transformados em histórias que refletem os sentimentos da alma d e um povo, seus costu-mes, há-bitos e vícios. T u d o é con-t e x t o para que os contos e lendas se ini-ciem. Em Ilhabela, por exemplo, existe a lenda da Pedra do Sino. Segundo registros do historiador Calixto, em 1647 o repicar dos sinos despertou a pacata popula-ção de Ilhabela, que viu passar defronte a praia um caixão com quatro

velas. Assustados, ajoelharam e começaram a re-zar enquanto o caixão passava pelo canal, levado pela correnteza. Esta imagem do Bom Jesus que foi encontrada em Iguape e até hoje é venerada lá como Bom Jesus da Cana Verde. Segundo Calixto, a imagem estava no navio português que foi afundado pela embar-cação de guerra Sigismundo Von Schkoppe. A imagem de Bom Jesus seria levada a uma igre-ja em Pernambuco, porém a correnteza a levou para Iguape. Há referências desta mesma lenda em outras versões no livro de Maria Cecília França, "Pequenos Centros Paulistas de Função Religio-sa", e também em "Lendas do Litoral Paulista", de Hipólito do Rêgo. Já em Caraguatatuba, uma lenda conhe-cida é da Pedra da Freira, cartão postal da ci-dade. Trata-se da lenda de uma freira que veio catequizar os índios tamoios e morreu ao tentar apanhar uma flor na beira de um barranco. Pes-soas dizem que Deus esculpiu no local uma pe-dra que lembra a imagem da freira. Tais estórias se transformam em contos clássicos que valorizam o caiçara e possibilitam a nova geração um contato com suas raízes cul-turais. •

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No início da década de 1990, depois de ouvir a lenda do Jo-aquim Pedro, conhecida como “A lenda do diabo na garrafa”, o arqueólogo Wagner Bornal

resolveu visitar o local que abriga tantas histó-rias. A antiga fazenda do século XIX, produto-ra de açúcar, café e farinha de mandioca, estava tomada pelo mato. Das suas ruínas só se via um paredão de pedras. O local estava abandonado. O motivo, não se sabe ao certo, seria uma revolta dos escravos ou a decadência econômica do Litoral Norte na época. Mas Bornal percebeu o potencial histórico cultu-ral dos restos arquitetônicos e os achados ganharam novo significado. O projeto arqueológico, situado na Praia da Figueira, começou com 12m² escondido nas encostas da Serra do Mar, a 290 metros de altitude. Duzentos anos de história registrados em co-lunas, paredes, terraços com floreiras, escadarias em pedra, arcos sobre pequenos vales, oratórios e fornos, como também os fragmentos de porcelana, cerâmica artesanal, cachimbo, faiança (louça de barro, argila ou pó de pedra, envernizada ou esmaltada) e outros acha-dos compõem hoje a área de 5,5 mil m², que somada a área do sítio arqueológico, chega a 1,2 milhão de m². Segundo Clayton Galdino, mestrando em arqueologia, o sítio possui um universo arqueológico composto por mais de 60 mil vestígios e foi inserido no Parque Estadual da Serra do Mar, em 2008, como

área de forte representatividade da cultura africana. Os pesquisadores estudam a conexão entre as marcas encontradas nos fragmentos e a origem dos escravos africanos que passaram pela fazenda. As in-cisões nas panelas representam as escarificações -um tipo de registro- que eles tinham e reproduziam nas peças como uma assinatura. “Há muitos achados com a mesma marca, talvez por serem de pessoas da mes-ma origem, ou porque havia uma demanda específica para isso”, afirma Aline Mazza, historiadora do Sítio Arqueológico São Francisco. O ambiente apresenta vestígios de edifica-ções, sistema de captação de água, estradas, bolsões de cultura agrícola, áreas de descarte de material, dentre outros. Todos estes recursos possibilitam ações pedagógicas, turísticas e de geração de renda com o apoio ao artesanato tradicional e das atividades cera-mistas.

pOTENciAl TUrísTicO E EdUcAciONAl O complexo arquitetônico está disponível para visitação e faz parte do sistema municipal de ecoturismo. Foram credenciados 11 monitores que podem ser contratados para o passeio. “Estamos na etapa de disponibilização do acervo para a sociedade. Visitar o Sítio Arqueológico é uma forma de conhecer nosso passado e manter vivas as nossas memórias”, acrescenta Galdino. As atividades pedagógicas como o Progra-

Escombros desão francisco

RIQUEZA MATERIAL

DAS RUíNAS MAL ASSOMBRADAS SURGIRAM UM DOS MAIORES ACHADOS ARQUEOLóGICOS DO BRASIL

Jéssyca Biazini | Jornalista formada pelo Módulo

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17BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02 17

ma Semana Escolar de Arqueologia, recebe as esco-las de São Sebastião para visitar e participar das es-cavações. Durante a vivência os alunos aprendem os aspectos culturais do ambiente e a sinalizar, escavar, peneirar, descrever e analisar os materiais encontra-dos. “Eu achei uma peça de faiança quase toda mon-tada, não esperava. Quando a gente conta para as pes-soas elas não acreditam”, conta Janaete Salles, técnica de laboratório do sítio. De acordo com o professor de Geografia Edson Lima, que participou do projeto com a escola municipal Maria Francisca Santana de Moura Tavo-laro, a realização do trabalho fez com que os alunos adquirissem segurança para falar sobre os aspéctos históricos e arqueológicos de São Sebastião. O próximo projeto será a instalação do Nú-cleo de Arqueologia Pública de São Sebastião. O Sí-tio possui acervo, espaço e proposta museográfica. O objetivo principal do museu é facilitar o acesso e difusão do patrimônio a sociedade.

A lENdA dO diABO NA gArrAfA A partir de documentos históricos foi com-provado que o proprietário do sítio Joaquim Pedro existiu. Registros de 1844 mostram que ele possuía 12 escravos e a maioria era usada na mão de obra da fazenda, capacitando-os antes da venda. Os caiçaras contam que Joaquim Pedro fez um pacto com o diabo para garantir vida longa e pros-peridade. Casado com Ana Cunha, em 1831 vivia bem e se aproveitava da fazenda clandestina. O senhor de escravos saia cedo para ne-gociar seus produtos no canal, enquanto sua esposa aproveitava o dia para limpar a casa. Certa vez, ao mexer em baixo da cama, Ana encontra uma garrafa. Curiosa, resolve ver o que tinha dentro. Ao abrir liber-tou o caramulhão. No mesmo instante Joaquim Pedro morre, e seus escravos levam seu corpo até a fazenda. Durante o velório ouve-se um alto barulho, as pessoas assusta-

das apagam os lampiões. No escuro e sem saber o que havia ocorrido resolvem acender as luzes e percebem que o corpo tinha desaparecido. Gargalhadas vindas de fora da casa fazem com que todos saiam correndo e acabam por ver o coisa ruim carregando o corpo de Joaquim Pedro. “Os mais antigos na cidade, como Sebastião Fortunato, acreditam que se alguém subir no Sítio Ar-queológico à meia noite e gritar, no meio das trevas, o nome do Joaquim Pedro, ele aparecerá e apontará o seu tesouro escondido”, explica Aline Mazza. A crença no lugar mal assombrado manteve as pessoas afastadas e ajudou na preservação do espaço. •

Mais Informações:www.sitiosaofrancisco.org.br

ou pelo telefone (012) 3862-2117

O síTiO pOssUi Um UNivErsO ArqUEOlógicO cOmpOsTO pOr

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Foto: Valéria Borges / P

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Colunas, paredes e terraço com floreiras compõem o cenário do sítio arqueológico.

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O século XX trouxe uma plurali-dade na fé. Apesar das diversas doutrinas, é nítida a presença dos cultos católicos no cotidiano do caiçara. Prova disso, são as co-

memorações dedicadas aos santos padroeiros das quatro cidades. Na tradição católica, santo é a pessoa que viveu exemplarmente na terra e a Igreja, por meio da canonização -processo que eleva uma pessoa a santidade- reconhece que estas pessoas tenham tido uma relação maior com Deus. A vida do santo, suas virtudes heróicas e seus milagres fazem com que os fiéis o invoque pedindo proteção e intercessão. No Brasil, gran-de parte das devoções surgidas no século XVI em Portugal, principalmente em homenagem a Nossa Senhora, chegaram às colônias com as expedições marítimas.

sob a proteção TRADIçãO CATóLICA PRESENTE NOS RITUAIS DOS MORADORES DO LITORAL

dos céusRELIGIOSIDADE

Mel Braga e Rebecca Bonanate | Jornalistas formadas pelo MóduloTamires Almeida | 5º semestre de Jornalismo

dEvOçãO mAriANA Em Ilhabela, no dia 02 de fevereiro é comemorado o dia da padroeira, Nossa Senhora D’Ajuda e Bom Sucesso. A arqueóloga do Ins-tituto Histórico, Geográfico e Arqueológico de Ilhabela (IHGAI), Cintia Bendazzoli afirma que a escolha da padroeira da cidade é por ela estar posicionada no universo marinho, em meio a rotas de comércio e navegação. Nesses trajetos circulavam navios mercantes vindos da Europa, com destino às diferentes localidades recém des-cobertas na América do Sul e Central. “Nossa Senhora D’Ajuda, assim como Nossa Senhora do Amparo (do convento de São Sebastião) são protetoras dos navegantes e aventureiros em no-

Foto: Reprodução

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vas empreitadas”, explica Cintia. Realizada pela Paróquia e Prefeitura, a tradicional quermesse movimenta a Vila, com barracas, sorteio de prendas e shows musicais. Fé, compaixão, paz, amor e muita oração são os ingredientes da festa. “Durante nove dias a paró-quia recebe os fiéis para um momento especial, onde comemoraram o dia daquela que protege os caiçaras navegantes”, enfatiza o padre Daniel Inácio.

prOTETOr dOs pEscAdOrEs Protetor dos pescadores, São Pedro é o padroeiro de Ubatuba. Para os católicos, a festa começa com a novena e termina no dia 29 de ju-nho com a procissão terrestre e marítima na baía do balneário. Com a imagem do santo a bordo de um dos barcos, padres fazem a benção dos an-zóis, tradição dos pescadores, para que haja far-tura na pesca durante o ano, principalmente na pesca da tainha. Iniciada em 1923, com o padre caiçara Francisco Limo dos Passos, atualmente a festa possui novos atrativos como o concurso da esco-lha da Rainha dos Pescadores, quermesse e dan-ças típicas. Para Pedro Paulo Teixeira Pinto, presi-dente da Fundart, de Ubatuba, há anos a entidade promove a festa com o intuito dos jovens adqui-rirem esse conhecimento. Para incentivar a tra-dição, a Fundação realiza uma corrida de canoas entre os pescadores e interessados.

cAsAmENTEirO Celebrada em junho, a Festa de Santo Antônio, padroeiro de Caraguatatuba, é mais do que uma festa social. O padre Marcos Vinícius

Rosa diz que o intuito é evangelizar e alimentar a alma dos fiéis com amor e solidariedade, prin-cípios básicos de Santo Antônio considerado o casamenteiro e padroeiro dos pobres. Diferente dos outros santos, o período de oração para Santo Antônio é de treze dias. Coincide com o dia 13, data da celebração do santo. O calendário festivo conta com a peregri-nação da imagem do santo na casa de fiéis da comunidade e a caminhada penitencial ao Mor-ro homônimo, onde é celebrada uma missa em ação de graça. No dia 13 de junho, o atrativo da festa é o bolo distribuído aos fiéis. Para os casais que desejam regularizar a vida sacramental, a igreja oferece gratuitamente o casamento comunitário. Roberto Hermógenes e Fernanda Machado sa-cramentaram a união em 2000, numa cerimônia com outros setenta e nove casais. “Mesmo acre-ditando que alguns casais se deem bem sem uma união religiosa, eu que tenho berço católico, acho importante a cerimônia”, revela Roberto. Mais de 500 casais se uniram em dez anos de casamentos comunitários. •

O casamento comunitário é realizado durante as festividades de Santo Antônio, em Caraguatatuba.

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é NíTidA A prEsENçA dOs cUlTOs cATólicOs NO cOTidiANO dO cAiçArA

Foto: Mel B

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Arte LuzARTESANATO

EMPóRIO REúNE AS MAIS BELAS OBRAS DE ARTE REGIONAIS FEITAS EM CERâMICA, vIDRO, PINTURA E MUITO MAIS...

Natália Notarnicola | 2º semestre de Jornalismo

Foto: Bruna Vieira

A letra da música “Certas Canções”, de Milton Nascimento, sugere: “Certas canções que ouço... Ca-bem tão dentro de mim... Que perguntar carece... Como não fui

eu que fiz...”. Podemos afirmar o mesmo de algu-mas obras de arte.

A arte é a representação simbólica de diferentes olhares aos objetos do mundo e das inter-relações do homem. É uma possível apro-ximação com o eu do artista e com a sua origem.

Os traços singelos e expressivos do cai-çara, a leveza contemporânea de cada pincelada, são encontrados nas obras que permeiam o Em-pório Arte Luz, pensado, administrado e deco-rado pela design de interiores Suely dos Anjos Garcia. Entrar nesta galeria-empório é sentir uma mistura de sensações que remetem a retra-tos do povo que habita o litoral.

O espaço artístico ajuda a compreender a riqueza de artistas e de suas visões perante as fases da história caiçara. Um convite aos mora-dores do Litoral Norte a visitar os detalhes da arte e das obras de artesãos de Caraguatatuba e região. Como afirma Suely: “As pessoas não têm noção do que é criado aqui, da energia que as peças representam, da história expressa em cada obra, da delicadeza que os artistas passam com harmonia nos diferentes olhares que fazem da mesma cultura”.

A design de interiores Suely ainda des-taca a importância das pessoas terem a arte em suas casas, de entender a arte não como algo dis-tante, expostas sem poder pegá-las e usá-las, mas tê-las de forma a fazerem parte de outras histó-rias. “Todas as obras contam algo do ser caiçara. Quando alguém as adquire e leva para casa, a obra entra num novo ambiente e é ressignificada. Suscitam, novas formas de recontar, rever e reler cada arte”.

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Natália Notarnicola | 2º semestre de Jornalismo

Fotos: Bruna Vieira

SERvIçO: Empório Arte LuzRua Santa Branca, 443

Trevo do Sumaré em CaraguatatubaTel.: (12) 38842568

Duas mulheres O Empório Arte Luz está com

uma exposição temática ao mês d’A Mu-lher. Um ambiente marcado pela presen-ça feminina por meio de porta-retratos com imagens de mães com filhos, sapa-tos de salto alto nas prateleiras e com a apresentação das pintoras Sandra Men-des e Isabel Galvanese, esta última arte-sã de São Sebastião. Elas estarão no dia 30 de março, às 19h, no Empório Arte e Luz, participando da inauguração deste espaço e falando sobre a mulher em suas obras. Está feito o convite! Prestigie.

Anelie Schinaider Cerqueira; Arão Amaral; Angela Nunes; Ben-Hur Vernizzi; Carla Terra; Carlos Cury; Cláudia Canova; Daniela Tarracini; Edmundo Dantas Borbash; Elma Pal; Elzebi do Carmo; Fernando Humberto Martinez; Francisco de Paula Soares; Giana Parziale; Hosana S. Dantas; Licida Negro Vidal; Lílian Zucca; Marcia D` Amico; Maria Isabel Santos; Maria Pinheiro Zandoná; Paulo Forlim; Rafael M. Saloni; Rejane Costa Alves; Rogéria Amaral; Rogério Camello; Sandra Lucareti; Silvia Conceição; Sonia Meyre dos Santos; Thadeu Ornelas; Vânia Takahashi; Wadiglei de Jesus e Walquíria Ofir.

Artistas que têm obras no Empório:

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TEATRO

O artista sobe ao palco e empresta sua voz, seus movimentos, suas emoções para interpretar reis, rainhas, mendigos e palhaços. ele dá asas a imaginação para

no final do espetáculo receber, como prêmio, os aplausos do público. A relação de cumplicida-de existente entre atores e público permite uma intervenção artística que está acima das rotinas cotidianas. “O Teatro desperta na plateia a curiosida-de necessária para promover a aprendizagem e o diálogo indispensável a fim de construir o conhe-cimento, de modo a formar a consciência crítica da realidade, tão importante para a construção da cidadania. Suas atividades proporcionam a trans-

cendência do mundo real para o mundo do sonho, da fantasia: um espaço produtivo para novas ex-periências”, contextualiza Fernanda Ramiro, dire-tora do Teatro Mário Covas, em Caraguatatuba. O reflexo dessa consciência pode ser percebido nos inúmeros grupos e companhias de teatro que surgiram no Litoral Norte nos últimos anos. Com a proposta não só de levar a arte ao alcance de todos, tornando-a mais acessível à so-ciedade, a comunidade conta com o apoio da Fun-dacc (Fundação Educacional e Cultural de Cara-guatatuba). A instituição fomenta arte e cultura por meio de cursos gratuitos, inclusive de teatro, em Oficinas Culturais espalhadas pelos bairros de norte a sul da cidade, tais como Travessão, Barranco Alto, Morro do Algodão, Poiares, Ponte

EncenaçõesNatasche Annunciato | 3º semestre de Jornalismo

O TEATRO COMO FERRAMENTA DO POTENCIAL ARTíSTICO

Foto: Mel B

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2424 BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02

Seca, Sumaré, Getuba, Massaguaçu e Indaiá. As aulas acontecem no Teatro Mário Covas. “Essas oficinas deveriam ser oferecidas em todas as ci-dades porque é uma espécie de celeiro de artistas, onde muita gente se descobre, faz despertar seu talento e tem seu primeiro contato com a arte. A população tem que aproveitar essas oportunida-des”, afirma Adbailson Cuba, coordenador de tea-tro da Fundacc. O trabalho realizado pela Fundação já tem frutos colhidos. Muitos dos professores são ex-alunos de oficinas, como Thiago Ramos que hoje dá aulas e criou sua própria companhia, a Timbalaiê premiada no Festival Estudantil de Te-atro de São José dos Campos com a peça “Contos de Areia”, que narra a história de uma comuni-dade de pescadores. Em julho do ano passado venceu o V Festeatro (Mostra Experimental Ar-teatro), em Paraibuna, nas categorias sonoplastia, direção, e o prêmio de terceiro melhor espetáculo da edição do evento, também com a mesma peça.

“Transformamos a vida dessas crianças. E pra eles é muito bom participar, ver como funcionam os festivais e, até onde são capazes de chegar”, declara Thiago. Outro grupo em destaque no cenário cul-tural de Caraguá é a Cia Popatapataio Jovem, que

Foto: Bruna Vieira

O Teatro Mário Covas de Caraguá recebe produções o ano todo.

Peça Chapéuzinho vermelho, da Cia Popatapataio.

Foto: Cia P

opatapataio

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25BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02 25

desde 2010 oferece as crianças e adolescentes au-las gratuitas de teatro aos sábados na Praça Dr. Cândido Motta, Centro da cidade. No mês de janeiro, a Popatapataio reali-zou a 1ª Mostra Independente de Teatro (MIT), que contou com a participação de 11 grupos das quatro cidades da região e mais quatro grupos convidados. “Além de apresentações de espetáculos, tivemos também discussões com os temas que envolvem os grupos de teatro, a falta de incentivo, sustentabili-dade e como sobrevivem”, explica Daniel Forjaz, organizador do evento. Forjaz acredita que o evento poderá ser expandido para cidades vizinhas nas pró-ximas edições. Os grupos de teatro vêm se unindo com

Foto: Fundacc

um só objetivo, expandir a arte para todas as ci-dades da região, para não serem mais encarados como um acontecimento eventual nas pequenas cidades, mas tornando-se parte do cotidiano. “Aqui no litoral não dá para montar um espetá-culo por dois meses, como nas cidades grandes. Montamos espetáculos para escolas e apresentar-mos apenas quatro dias, mas eles não valorizam, eles dão muito mais valor quando os grupos vem de fora. Não temos espaço suficiente, às vezes as pessoas preferem pagar para ver um grupo de fora, do que prestigiar os artistas locais num es-petáculo gratuito”, afirma Eulália Xavier, atriz e integrante da Associação Popatapataio de Arte e Cultura. A questão da profissionalização é um tema altamente debatido pelos artistas caiçaras. Neste sentido, o Teatro Mário Covas há 7 anos possibilita esse vínculo e contato do público com a arte. Neste período, seu palco recebeu inúmeros artistas nacionais e internacionais re-nomados e iniciantes, nas mais diversas áreas de atuação. Para a diretora Fernanda Ramiro, o Teatro Mário Covas se bare ao contato do pú-blico e isto fortalece a identidade cultural re-gional. •

“O sUcEssO dAs cOmpANhiAs dE TEATrO

dE cArAgUá pOdE sEr pErcEBidO NOs iNúmErOs

grUpOs qUE sUrgirAm NO liTOrAl NOrTE

Encenação da peça Contos de Areia, da Cia Timbalaiê.

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2626 BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02

ENSAIO FOTOGRÁFICO

a pesca artesanal caiçara

a pesca artesanal caiçara

LUTA DIÁRIAEsforço, vontade e prazer são essenciais no trabalho dos homens do mar. A pesca, como meio de vida e sobrevivência, cultiva o cotidiano desses profissionais.

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27BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02 27

a pesca artesanal caiçara

Sociológa de formação e fotógrafa por pai-xão, Adriana Evangelista revela na expo-sição “A PESCA ARTESANAL CAIçARA”, o retrato do cotidiano da gente do mar de Ilhabela. Para essas pessoas, o mar não é meramente espaço físico, mas lugar de trabalho, de sobrevivência e sobre o qual dispõem de grande conhecimento acumu-lado. É também o território onde desenvol-vem práticas sociais e simbólicas. Neste sentido, o ensaio fotográfico tem por obje-tivo valorizar as comunidades tradicionais e seu modo de vida peculiar.

Fotos: Adriana Evangelista

a pesca artesanal caiçara FRUTOS DO MAR

Resultado de um trabalho árduo, o peixe é o tesouro preso na rede. Sustento de muitas famílias caiçaras que vivem do que o mar oferta. Salmões, tainhas e outras espécies, a pesca sempre generosa é uma retribuição daquele que cuida do mar.

A CANOA DE vOGACompanheira dos desafios no mar, as ca-noas de voga são ferramentas de traba-lho dos pescadores. Feitas dos troncos de árvores que medem mais de 10 metros de altura, elas recebem nomes de mulhe-res que marcam a vida dos pescadores.

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2828 BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02

a pesca artesanal caiçara

É DE PEQUENOAs praias são os quintais nos quais as crianças caiçaras se divertem. Entre os brinquedos estão os barcos de voga. Desde de pequenas, elas são inseridas na cultura e aprendem a importância de manter a tradição.

AS MULHERES Não é somente aos homens que o mar encanta, muitas mulheres não medem esforços nos cuidados com os instru-mentos de trabalho. Elas cuidam dos barcos, limpam os peixes, além de cuidar da casa e dos filhos.

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29BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02 29

Cenários Naturais do LITORAL NORTE

atraem olhares de grandes produtoras

DESDE OS ANOS 70, A REGIãO É RETRATADA NAS TELAS MUNDO AFORA

Cláudio Henrique Santana | 7º semestre de Jornalismo

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3030 BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02

O Litoral Norte Paulista chama a atenção de turistas de todo o país e do mundo por sua beleza natural, pelas histórias e cenários que remontam ao

passado. Casarões antigos, fazendas, ruas e vielas espalhadas pelas quatro cidades com-põem cenários que despertam o interesse não só de turistas, mas também de grandes produ-toras nacionais e internacionais de cinema e televisão.

São Sebastião, por exemplo, despertou o interesse desses produtores já na década de 1970. Em 1975, foi lançado o filme “O Dia em que o Santo Pecou”, com direção de Cláudio Cunha e roteiro de Benedito Ruy Barbosa. No elenco, atores aclamados pelo público na épo-ca: Maurício do Valle, Selma Egrei, Dionísio Azevedo, Sadi Cabral, Sérgio Hingst, Flora Geny, Elza Adão e Cavagnole Neto.

Inspirada em uma lenda da cidade, a produ-ção cinematográfica conta a história do pesca-dor João Baleia que vive um relacionamento amoroso com uma muda, chamada pelos cai-çaras de Feiticeira. No desenrolar da trama a mulher é violentada por três bandidos e para se vingar, Baleia mata os agressores e deixa um soldado cego.

Nesse momento começa o mistério que en-volve o filme. O pescador aparece morto na porta da igreja de São Sebastião, padroeiro da cidade e tido como santo valente. A partir daí, o povo começou a atribuir a morte de Baleia a imagem já que uma testemunha afirma tê-la visto descer do altar e punir o pescador pelos seus atos. A imagem do santo é processada, condenada e presa. O padre local lidera uma rebelião popular e consegue modificar a pena para prisão domiciliar, de onde ela só sai no dia da procissão em sua honra.

Uma nova versão para o cinema está em estudo. O roteiro mais uma vez será assinado por Ruy Barbosa e o ator global Eriberto Leão, segundo informou sua assessoria, já aceitou o convite para atuar como a personagem princi-pal da história.

Em fase de captação de recursos, os produ-tores do filme garantem que as cenas serão ro-dadas nas cidades de São Sebastião e Ubatuba ainda no primeiro semestre de 2012. Não há

previsão de lançamento do filme. Mas não são apenas as produções com lendas

da região que levaram o Litoral Norte às telas. Aqui também foi gravado em 2006, o filme infan-til “A Ilha do Terrível Rapaterra”. Com direção de Ariane Porto e atuações de Lima Duarte, Tadeu Mello, Arlete Salles e Augusto Pompeu. A narra-tiva apresenta o vilão Rapaterra que está decidido a roubar as terras do litoral. Para conseguir seu feito, sequestra Dona Tude, uma mulher misterio-sa que é a maior contadora de histórias do mundo. Um grupo de crianças decide se unir para salvá-la e evitar a destruição do local.

“Uma Mulher para Sábado” é outro clássico do cinema nacional, rodado na região. O drama pro-duzido em 1971, tem direção de Maurício Rittner e atuações de Adriana Prieto, Flávio Porto, Miguel Di Prieto, Inês Knaut e outros. O enredo retrata a história de amor de dois casais que desafiam as convenções sociais e vão viver numa praia, na qual dão vazão as suas vontades de forma inten-sa. Ao regressarem para a sociedade se separam e voltam as suas vidas.

pOlêmicAO diretor John Stockwell utilizou as belas pai-

sagens de Ubatuba como locação para o terror: “Turistas”, de 2006. Seu roteiro polêmico não teve uma boa repercussão no Brasil devido aos estere-ótipos que o filme apresentou sobre o país e seu povo. O filme trata da máfia de órgãos humanos e deu-se a entender que os brasileiros participavam desse tipo de crime.

O ator Eriberto Leão viverá João Baleia, na regravação "De o dia

em que o Santo pe-cou", que narra uma

lenda da cidade de São Sebastião, Litoral

Norte de São Paulo.

Foto: Divulgação

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31BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02 31

NA glOBOProdutora de novelas, séries e filmes, a Rede Glo-bo já realizou diversos projetos na região. As mi-nisséries “A Muralha”, exibida no ano de 2000, em comemoração aos 500 anos do Descobrimento do Brasil e, recentemente reapresentada no canal pago “Viva”, da Globosat, e “A Casa das Sete Mu-lheres” utilizaram a belíssima Praia da Fazenda, localizada em Ubatuba como cenário das filma-gens.

ADAPTAçÕESAssim como as minisséries foram adaptadas para o cinema a partir de obras homônimas, o livro “Des-mundo” de Ana Miranda ganhou as telas sob a direção de Alain Fresnot. Ambientado em 1570, o filme mostra a vinda de meninas órfãs ao país para que casarem com os colonizadores. As tentativas eram minimizar o nascimento dos filhos com as índias e fazerem os portugueses terem casamentos cristãos. Essas órfãs viviam em conventos e muitas delas desejavam ser religiosas.Por fim, “Villa Lobos - Uma Vida de Paixão” roda-do na aldeia cenográfica do Morro do Corcovado, em Ubatuba, mostra a vida do compositor carioca Heitor Villa-Lobos e seu contato com os índios. No início do século, ele kese escondeu do mundo na floresta amazônica. Caraguatatuba e Ilhabela não receberam grandes produções, mas foram ce-nários para inúmeras gravações de peças publici-tárias. •

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Cartaz do filme de terror "Turistas", gravado no ano de 2006, em Ubatuba.

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Cena do filme infantil "A Ilha

do Terrível Rapaterra", de 2006. No filme

o ator Tadeu Mello vive

Guaiá.

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3232 BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02

MMayara Peixoto | 5º Semestre de Jornalismo

TALvEZ vOCê AINDA NãO TENHA vISTO ESSES NOMES NA

TELEvISãO, MAS ELES JÁ SãO SUCESSO NAQUILO QUE SE

PROPUSERAM A FAZER, COM DIREITO A AGENDA CHEIA, Fã

CLUBE E MúSICA PARA TODOS OS GOSTOS

Milhares de fãs, sucesso, fama e reconhecimen-to. Esses são alguns dos objetivos de músicos e bandas espalhados pelo Brasil inteiro. Talentos escondidos pelos sertões, periferias, metrópoles e praias. O acesso à informação, a liberdade de expressão e a globalização nos dão a oportuni-dade de escolher o que ouvir entre uma gama de sons e estilos. Em Caraguatatuba, isso não pode-ria ser diferente.

Do pagode ao J Rock, a cidade possui grandes nomes na música regional. Uns procuram atingir um público amplo, ultrapassando as fronteiras de outros países, outros estão realizados com o su-cesso conquistado num grupo de fãs fiéis.

Um exemplo dessa realização é a cantora Mara Amaral. Após apresentações em saraus da faculdade, ela decidiu montar um grupo para cantar em casamentos e festas, iniciando assim um trabalho profissional.

Mara conta que as coisas aconteceram natural-mente e a cada apresentação eram realizados no-vos contatos e agendamento de shows. “Hoje es-colhi trabalhar com isso, é o que amo fazer, estou deixando esse meu lado musical aparecer e posso me dedicar em tempo integral”, conta. Para ela, os dez anos de experiência no mundo da música

Um palco,

MúSICA

bom som e o mar

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33BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02 33

deram mais segurança e confiança. “Estou gravando o segundo CD. O primeiro era só Bossa Nova. Agora arrisco mais, por isso esse novo tra-balho é Rock’n’roll e Blues”, revela a cantora cujo lançamento do CD ocorreu o ano passado.

Um sOm qUE é A sUA cArA

O que não falta em Caraguá são estilos mu-sicais. Na cidade é possível encontrar duplas sertanejas, cantores de rock, grupos de samba, músicos de vertentes pop e o que mais você quiser ouvir.

Na pegada de divul-gação do CD “A Casa do Blues”, o segundo da car-reira, a Banda Amplitude Valvulada ganhou espaço no segmento musical com seu estilo bem definido. Há oito anos, a proposta de mesclar as in-fluências do rock, blues, rockabilly e country fazem sucesso de público nas diversas faixas etárias. O longo tempo de estrada rendeu alguns mo-mentos inesquecíveis como às apre-sentações em que acompanharam o cantor americano J.J. Jackson em Caraguatatuba, a Jam Session que fizeram com o guitarrista Lancaster em Ubatuba e o show no stand da Santo Angelo na Expomusic 2011.

Para Edu Souza, guitarrista e vo-calista da banda, tocar blues no Bra-sil é trabalhoso, por isso é importan-te saber valorizar aqueles que dão espaço para apresentações e shows. “O blues tem crescido novamente

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Foto: Divulgação

Segundo CD chega no mês de agosto de 2012

Com influências do rock, blues, rockabilly e country a banda tem um público fiel que os acompanha durante seus shows

Foto: Divulgação

Com músicas dos seriados japoneses o grupo já viajou o mundo

Foto: Divulgação

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3434 BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02

trou na internet uma forte aliada para divulgação de ações, apresentações e projetos. “Nós fazemos reuniões para definir estratégias de comunicação e divulgação, além disso, gostamos muito de estar em contato com nossos fãs”, conta Amorim que explica que por meio de chamadas de vídeos sempre bem humorados, criam uma empatia ainda maior com os fãs de desenhos japoneses.

A BATUcAdA TE pEgOUApós quatro anos tocando em bares e festas

do Litoral Norte e Vale do Paraíba, um grupo de pagodeiros resolveu subir a serra e tentar a sorte na cidade grande. Eles não imaginavam o que estava por vir. “Em 2004 decidimos ir para São Paulo por se tratar de um lugar de gran-de visibilidade para música. Acreditamos que teríamos mais oportunidades de mostrar nosso trabalho”, conta Lamir Arantes, cavaquinista do grupo.

O grupo de pagode Sou Muleke completou dez anos de estrada em 2011.“Nos dedicamos muito,

no país, não sei se com a mesma força do fim da década de 1980 e começo de 1990, mas tenho visto a criação de festivais e o espaço aberto nos SESC (Serviços Sociais dos Comércios) ajudam a fortalecer a cena”, ressalta.

Souza diz que 2011 foi um ano especial para a banda por conta das conquistas. “Temos recebido muitos elogios. A procura pelo nosso show aumen-tou e proporcionalmente a divulgação do nosso novo CD também”, conta o vocalista.

Ampliar a área de atuação é um desafio para bandas em todo país, por isso é preciso ter consciência do público que se quer atingir. “Es-tamos cientes de que blues, rockabilly e country não são estilos com uma procura tão grande no nosso país, por isso sempre ficamos muito felizes e gratos quando oportunidades aparecem”. Sou-za é apaixonado pelo que faz, mas deixa claro a importância da dedicação à profissão.

E foi exatamente o estudo e a disciplina com o cronograma de ensaios que impulsionou a Gaijin Sentai a encarar a carreira de forma mais profissio-nal. Com estilo voltado para o J Rock e temas de anime, a banda é destaque em diversos festivais de cultura pop e festas de cultura japonesa.

O tecladista Jefferson Amorim, afirma que apesar de parecer algo segmentado, o estilo da banda costuma agradar a todos. “A banda é prio-ridade na vida dos integrantes. Estamos fazendo diversos shows e isto nos faz acreditar que esta-mos indo no caminho certo. No começo foi com-plicado”.

O reconhecimento Gaijin Sentai pode ser medi-do pela quantidade de apresentações, em cidades da região e em eventos tradicionais de cultura Ja-ponesa em São Paulo, além de shows em Brasília, Manaus, Salvador, Recife e em outros países como Portugal, Chile e Argentina.

Com fã clube até no exterior, a banda encon-

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35BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02 35

mas todo o conceito que tínhamos de profissio-nalismo mudou depois de encontrarmos pessoas que acreditaram e investiram no nosso trabalho. Hoje contamos com o apoio de algumas grandes rádios de São Paulo e do Brasil e sem isso nós não estaríamos colhendo tantos frutos”, ressalta.

O grupo tem programação fechada em casas de shows da capital e apresentações marcadas em diversas cidades do país. A música “a batucada te pegou” está na boca da galera e em julho de 2011 gravaram o primeiro DVD da carreira. Recen-temente o grupo esteve em Caraguatatuba para uma apresentação especial. “Qualquer profissão que você escolha na vida, é sempre gratificante e prazeroso poder voltar ao lugar de origem”, fi-nalizou.

A busca pelo sucesso e reconhecimento é algo em comum entre esses talentos heterogê-neos que nasceram (ou se reconheceram) nas praias de Caraguá. Pessoas que, por meio da música, levam o nome da cidade para terras distantes. Aplausos a eles! •

Ser músico profissional não é fácil. Para Jefferson Amorim, sócio pro-prietário da escola de música E--Brasil, de Caraguá, o segredo é ter seriedade. “É louvável alguém que

aprende sozinho. Mas, por melhor que a pessoa seja, será limitada sem o estudo”, explica. Para Luana Mascari, professora de te-clado, alguns músicos são confiantes por serem autodidatas, mas em algum momento a teoria fará falta. “A parte técnica é muito importante, o estudo abre os horizontes e a forma com que percebemos a profissão”, esclarece. A E-Brasil é licenciada da EM&T (Es-cola de Música e Tecnologia), uma das melhores escolas do segmento no estado de São Paulo e oferece cursos de violão, guitarra, contra baixo, bateria, teclado, piano, percussão, flauta, sax e canto. As aulas são individuais e ministradas por profissionais especializados, com salas estrutu-radas e informatizadas. Além do estudo indivi-dual com o instrumento, os alunos participam de aulas coletivas de Teoria, Apreciação Musical e Prática de Bandas. “Nas aulas coletivas impor-ta a troca de informação, o debate. Precisamos aprender a ouvir música e conversar sobre isso. Devemos buscar conviver em harmonia e saber tocar em conjunto, pois o mundo da música pede isso dos profissionais”, finaliza Luana.

Serviço:E-Brasil Estúdio e Escola de Música

Rua Major Ayres, 238, CentroCaraguatatuba / SP

Informações: (12) 3881-2335

Sou Muleke deixou tem agenda cheia e shows em casas noturnas de

São Paulo

pArA vivEr dE músicA

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3636 BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02

FOTóGRAFO MANTÉM O MAIOR ACERvO DE IMAGENS DE SãO SEBASTIãO E RESGATA MEMóRIA DA CIDADE

Cláudio Rodrigues | 7º semestre de Jornalismo

ENTREvISTA

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Guardião do

tempoFoto: Reprodução da foto de Edivaldo Nascimento

Capela de Maresias, na Costa Sul de São Sebastião

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37BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02 37

Resgatar a memória do município de São Sebastião, por meio da fotografia foi a maneira que Edivaldo José do Nascimento, de 61 anos, encontrou para manter viva a alma caiçara. Responsável por um rico acervo de imagens, nosso entrevistado iniciou a trajetória em 1967 quando criou o cinema amador. Fica aqui o registro de que foi ele quem primeiro desempenhou esse trabalho na região. Produziu alguns vídeos sem grande re-percussão e fotografava as cenas para serem expostas em cartazes. Despertava aí sua paixão pela fotografia.

A partir de então, começou a garimpar junto aos moradores de São Sebastião, imagens antigas e cenas do cotidiano da ci-dade. Hoje não é difícil encontrar as “marcas” de Edivaldo na cultura sebastianense, prova disso foi a exposição “Memória Fotográfica”. Nascimento também ministra palestras nas escolas para ensinar a cultura caiçara e tem seus filmes exibidos na videoteca da cidade junto a produções brasileiras e internacionais. Diante de toda dedicação podemos considerá-lo como guardião da cultura sebastianense.

Como começou esse trabalho? Eu ia na casa das pessoas atrás de fotos antigas. Com isso fui montando o meu próprio arquivo. Também fui tirando as minhas próprias fotos. Até 1980 a cida-de não tinha qualquer acervo ou patrimônio histórico e esse fato me ajudou no trabalho que pretendia de-senvolver.

E o projeto “Memória Fotográfica”, é ativo até hoje? Isso aconteceu no ano de 1987, quando fui convidado a trabalhar na Secretaria de Cultura lá pude desenvol-ver o projeto “Memória Fotográfica” que está ativo atualmente. Há 25 anos eu desenvolvo esse trabalho, resgatando as imagens e os arquivos culturais e his-tóricos de São Sebastião e organizando exposições culturais.

Nesses 25 anos existiu outro trabalho?Outro trabalho feito em 1989 foi o “São Sebastião tem alma”. Fui convidado pelas funcionárias da época, Tereza Aguiar e Ariane Porto, a participar do trabalho com o objetivo de filmar depoimentos de antigos caiçaras da região. O projeto durou até 1995 e consegui cerca de 300 depoimentos que estão até hoje no acervo histórico da prefeitura.

Como é o seu trabalho atualmente? Hoje trabalho com a descoberta de imagens antigas, além de pesquisar para saber o ano e o lugar das fo-tos que chegam à Secretaria de Cultura e Prefeitura Municipal. Também faço fotos e imagens simulando a cultura caiçara do povo sebastianense.

Ainda existem Caiçaras em São Sebastião? Com toda sinceridade, o verdadeiro caiçara já não existe mais. O que tem são pessoas que dizem ser cai-

çaras. O legítimo caiçara já acabou. Caiçara não usa bermuda florida. O meu trabalho é desenvol-ver imagens da cultura caiçara, mas como? Não existe mais isso. Então, às vezes eu levo algumas pessoas a praia e as visto com as roupas que eram de antigamente; a calça, a camisa e o chapéu, a vestimenta que era do caiçara na época e faço as fotos. Faço com o maior prazer, eu gosto de man-ter viva a nossa cultura.

E a cultura caiçara como anda? Falo sem pestanejar e com a maior sinceridade. É muito difícil as pessoas saberem como é a nossa cultura. Eu, graças à Deus, tive a oportunidade de ver diversos caiçaras. O jeito deles falarem. A "gri-talhada” na pescaria. Antigamente, quando o pai chamava o filho para ir pescar, ele era obrigado a ir acompanhar. Por isso que a maioria das crian-ças não estudava, porque o pai queria que fossem pescadores. Então é isso, hoje, eu, Edivaldo Nas-cimento vivo assim, resgatando a memória e a cul-tura caiçara que existiu antigamente. •

Foto: Cláudio R

odrigues

e

Guardião do

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3838 BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02

Bailarinos se liBertam dos medos e conquistam novos horizontesEvelyn Graziele | 7º semestre de Jornalismo

Transformação social

DANçAFo

tos:

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pela dança

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39BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02 39

Bailarinos se liBertam dos medos e conquistam novos horizontesEvelyn Graziele | 7º semestre de Jornalismo

Transformação social

Movimentos rítmicos que revelam a essência do dançarino. Alegria, triste-za, revoltas e admiração, a dança tem o poder de

transformar tudo o que está a sua volta. Na atu-alidade é bem aceita e procurada por apreciado-res, mas na Idade Média a dança foi extinta e somente os nobres da corte podiam bailar. Por meio da dança é possível contextu-alizar histórias, resgatar a cultura e o modo de vida de um povo e principalmente ajudar as pes-soas a se relacionarem de forma positiva com a diversidade cultural na qual estão inseridas. É um mecanismo de quebra de barreiras e de pre-conceitos. Além da importância cultural, a dança reflete muito no aspecto social e contribui para o desenvolvimento do caráter do dançarino fa-vorecendo o desenvol-vimento da tríade: corpo, mente e alma. Para a dançarina Edilene Bordi-ni, de Ubatuba, isso é visível nas mudanças que ocorrem nos jovens que se envolvem com a dan-ça. “Vejo alunas e colegas que começaram aca-nhadas, com medo, com dificuldade de se socia-lizar e até com sentimentos inferiores, mas que a dança ofereceu uma transformação na vida, e hoje são mais comunicativas, satisfeitas e feli-zes”, expõe. No Litoral Norte é perceptível a deman-da de bailarinos que procuram os palcos. Isso devido aos inúmeros projetos que oferecem au-las de dança, teatro e música, além de dar uma ocupação às crianças. A transformação e o ren-dimento escolar das crianças são perceptíveis, como revela a professora Rafaela Fantinati, que dá aulas de balé clássico em Ilhabela. “Mães de alunos sempre chegam a agradecer, dizendo que seus filhos, após iniciarem as aulas [de dança] melhoraram a atenção e as notas na escola, além de serem mais obedientes em casa”. Outro exemplo positivo do papel social desenvolvido pela dança pode ser presenciado

pela dança

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4040 BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02

“AlUNAs E cOlEgAs qUE cOmEçArAm AcANhAdAs, fOrAm TrANsfOrmAdAs pElA dANçA, E hOJE sãO mAis fEliZEs

nas apresentações do grupo “Pés no Chão”, pri-meiro aparelho cultural constituído no município de Ilhabela. Direcionado ao público infanto-ju-venil que por meio dos cursos de dança e teatro permite ao aprendiz se tornar profissional. “Te-mos antigos alunos dançando em companhias profissionais, fazendo faculdade de dança e de artes circenses”, celebra a integrante do grupo Inês Bianchi. Ela revela que isto é possível devi-do ao incentivo que vem do programa do ProAC (Programa de Ação Cultural), da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, que reconhece a necessidade humana de arte e cultura.

MAIS INCENTIvO Coordenadores de dança garantem que a

demanda artística no Litoral Norte terá seu propósito alcançado com a vinda de com-panhias consagradas para incen-

tivar e disseminar seus conheci-mentos, junto aos bailarinos e

aprendizes da re-gião. “Por meio das oficinas oferecidas pe-

los profissionais novas técnicas são incorporadas pelos participan-

tes”, explicam. De certa forma os fes-

tivais anuais de dança realizados nas cidades de Caraguatatuba e São Sebastião cumprem esse papel, já que são bastante concorridos e tem a participação de muitas companhias de dança. Apesar do cenário otimista, profissionais da dança apontam que os incentivos ainda são pe-quenos diante do potencial artístico existente. Edilene Bordini acredita que no Brasil há pouco reconhecimento da profissão de dan-çarina. “Bailarinos, professores e coreógrafos vivem na luta diária para conquistar espaço”. A falta de incentivo não permite que tais profis-sionais se dediquem exclusivamente do ofício e o resultado é o jovem bailarino abandonar seu grupo de dança em busca de empregos remune-rados. •

Fotos:JC C

urtis/Fundacc

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41BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02 41

LLuta e liberdade são palavras que movem as pesso-as que vivem no Quilombo da Fazenda, localiza-do em Ubatuba, no bairro da Fazenda, no Núcleo Picinguaba do Parque Estadual da Serra do Mar. Remanescentes de escravos como Laura de Jesus Braga e José Vieira, conhecido como Zé Pedro, trabalham diariamente para que as características culturais deste povo não desapareçam. “Terra de quilombo não é de ninguém. É de um coletivo, é da comunidade. A gente trabalha no coletivo, faz tudo no coletivo”, esclarece Braga.

O Quilombo da Fazenda encontra-se há 40 km do Centro de Ubatuba, próximo da Rodovia Rio-Santos (BR 101) e, na divisa dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. O acesso é por meio de uma estrada de terra secundária de aproximadamente três quilômetros.

Na antiga fazenda, onde está a Casa da Fa-rinha, moram 50 famílias. Mais precisamente 182 pessoas compõem esta comunidade quilombola. No entorno do núcleo de preservação moram mais 22 famílias, o que totaliza 302 pessoas. “As famílias

das proximidades também são remanescentes de escravos e querem voltar para a comunidade. Eles já entraram com o pedido na justiça”, explica Laura Braga.

Com hábitos simples, a maioria dos qui-lombolas mora em casas de alvenaria, algumas são construções de pau-a-pique (barro aplicado sobre um trançado de bambu) e vivem dos recursos na-turais para produzir seus artesanatos, se alimentar e gerar renda.

Cada família possui sua faixa de terra de-marcada pelo Parque Estadual, e todos possuem uma área comum utilizada para diversas ativida-des. Na área comunitária, funcionava uma escola, atualmente fechada. As crianças estudam na Vila até a quinta série do Ensino Fundamental e depois continuam os estudos na escola do bairro Puruba até a oitava. Está ativa na comunidade da Fazenda, a Educação para Jovens e Adultos (EJA), mantida pelo governo do Estado.

Com a chegada da energia elétrica, há três anos, o Centro Comunitário passou a abrigar novos

Vidas dedicadas à comunidade

TURISMO

A FORçA QUILOMBOLA MANTÉM vIvA A CULTURA

DESTE POvO

Jéssyca Biazini |Jornalista formada pelo Módulo

Foto

: Bru

na V

ieira

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4242 BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02

projetos como o Telecentro implantado numa sala com 10 computadores e uma impressora. Há um ano a comunidade recebeu 12 computadores do Ministé-rio da Cultura, mas ainda não foram instalados. Se-gundo Laura, depende da liberação do governo para a contratação de uma bolsista que trabalhará como monitora do laboratório.

Ao lado do Telecentro, a biblioteca é do pro-grama “Arcas das Letras”, do Ministério de Desenvol-vimento Agrário e está em reforma. Os livros foram doados pelo projeto e pela Universidade São Judas Tadeu. No mesmo local serão colocadas três máqui-nas de costura para capacitação e geração de renda de moradoras da comunidade.

Para atender a comunidade e os turistas, uma sala do Centro Comunitário está em reforma. O espaço será um escritório, para agendar visitas turísticas e organizar projetos e eventos.

Picinguaba, em tupi-guarani, significa refú-gio de peixes. O bairro, onde atualmente moram os qulombolas, foi reduto de muitos escravos que fugiam das fazendas de Paraty, no Rio de Janeiro e de outras cidades. Os moradores do Quilombo são remanes-centes de três famílias: Conceição Braga, Assunção e Vieira.

Os remanescentesA migração de um quilombo para outro

continua. Para ajudar a manter ativas as comunida-des, quilombolas de outras regiões saem dos locais de origem, para ajudar no desenvolvimento e for-mar novas famílias.

O líder comunitário José Vieira, conhecido

como Zé Pedro, mora no local há 58 anos. Nasceu em Cunha SP e foi para Paraty aos 13 anos. “Quan-do eu cheguei não tinha nada. A Casa de Farinha e da fazenda eram ruínas. Isso tudo fazia pinga, hoje a gente faz o melado de cana e a farinha”, conta Zé Pedro.

O remanescente explica que, ainda no sé-culo passado a fazenda produzia muito café, cana e açúcar. Depois que a fazenda fechou, os negros tiveram que adaptar a roda para produzir farinha. “Tivemos que aprender a plantar mandioca. Ajudei a reconstruir esse moinho quando cheguei”, relata o líder comunitário.

A história de vida de Zé Pedro está registra-da em documentários e no livro “Eu tenho um so-nho”, de Moacyr Pinto, que narra à história do líder quilombola. Ele também gosta de reunir-se com os visitantes perto da Casa da Farinha para contar as histórias da fazenda e suas aventuras como homem da mata.

Laura de Jesus Braga, também líder comu-nitária, veio do Campinho, em Paraty, comunidade quilombola com título de terra há 11 anos. Ela ex-plica que existia um intercâmbio de escravos entre a Fazenda Picinguaba e o senhor de engenho do Campinho. “Era tudo muito pertinho, pertencia tudo a mesma família, a mesma fazenda”, explica.

Em 1987, Laura Braga já morava em Picingua-ba, tinha sua casa e uma plantação para o consumo de sua família. Como a área pertencia ao Parque Estadu-al, e faz parte do SNUC (Sistema Nacional de Unidade de Conservação da Natureza), ela teve que abandonar o local por determinação imposta na época, e morou durante três anos com uma amiga. Passou a trabalhar como cozinheira em eventos do Núcleo Picinguaba e depois de três anos foi efetivada por concurso público como agente de recursos ambientais.

É presidente e diretora social da Associa-ção dos Remanescentes do Quilombo da Fazenda Picinguaba. Desenvolve projetos sociais e coorde-na eventos turísticos para divulgar a comunidade. Hoje mora numa casa cedida pelo Parque Estadual da Serra do Mar, na praia da Fazenda, local que in-tegra a área da comunidade quilombola. “Antes eles eram meus inimigos número um, hoje o Parque é nosso parceiro”, explica.

Muitos jovens que saíram da comunidade voltaram. Segundo a agente, eles precisam desen-volver projetos para a sustentabilidade das novas famílias. Com o reconhecimento como Comuni-dade Quilombola eles garantem o direito de mora-dia e podem plantar para o próprio consumo. Para

Foto

: Bru

na V

ieira

Fruta da agrofloresta da Comunidade

Quilombola da Fazenda

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43BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02 43

Serviço:

Interessados em conhecer o Quilombo da Fazenda, agendar com Laura Braga

pelos telefones (12) 9777.4130, (12) 9218.4080 ou (12) 3832.1397

desenvolver projetos turísticos e comercializar pro-dutos artesanais, precisam do título de domínio das terras, que está prestes a ser concedido pelo ITESP (Instituto de Terras de São Paulo).

O Quilombo da Fazenda tem potencial tu-rístico e pode gerar empregos para os jovens na área de educação e turismo. Para Laura estes jovens podem tornar-se guias das trilhas, que atualmente são feitas por monitores do Parque Estadual. “Nós temos vontade de montar uma cooperativa, capa-citar nossos jovens para trabalhar com turismo de base comunitária”, afirma Braga.

desenvolvimento sustentávelPara gerar renda e manter os hábitos

ligados à natureza e ao manejo sustentável do meio ambiente, a comunidade implantou o Projeto Juçara, que beneficia quatro famílias do grupo. Eles plantam o palmito, fazem a polpa da fruta e vendem. O IPEMA (Instituto de Permacultura da Mata Atlântica) é parcei-ro no projeto e incentiva a utilização da fruta, que é o açaí da Mata Atlântica, e não do pal-mito que está ameaçado de extinção.

A própria semente extraída da fruta é lançada na mata para fazer o plantio. A partir do projeto, os moradores começaram a inventar pratos com a fruta do Juçara. “A gente faz tudo com Juçara, peixe com Juçara, doce. Ano passa-do a gente ficou sem polpa. A chuva atrapalhou a colheita e tivemos que pegar com o pessoal de São Luís do Paraitinga”, comenta Laura Braga.

Dentro do Núcleo de Conservação somente a plan-tação de Juçara está autorizada para comercialização. Para o consumo, há seis anos o IPEMA capacitou os quilombolas para trabalhar com agroflorestas e não agredir a mata nativa. “A gente faz a lavoura no meio do mato, pensando nas plan-tas que se adaptam com a sombra. Sem precisar derrubar ou queimar nada”, explica Cirilo Conceição Braga, que desen-volve o projeto em suas terras.

Dentro da agrofloresta de Cirilo tem pupu-nha, cambuci, araçá de morcego, urucum, abacate, cacau, jambo, café, milho, feijão e mandioca.

Há projetos a serem desenvolvidos depois do título de domínio das terras sair para a comuni-dade, como a cozinha industrial. O restaurante ser-virá os pratos típicos dos quilombolas preparados com frutos da região, plantados na agrofloresta ou em hortas comunitárias.

A salada quilombola, feita com o coração da banana, o bolinho e a própria taioba, a feijoada, a galinha caipira com banana verde e outros pra-

tos estão no cardápio do restaurante comunitário. “Hoje atendemos grupos agendados, mas a ideia é funcionar como um restaurante mesmo”, afirma Laura.

Além do restaurante, os remanescentes que-rem construir uma loja de pau-a-pique no espaço comunitário para comercializar seus artesanatos produzidos com taboa, cipó, madeiras, conchas e outros materiais.

A fazenda possui quatro trilhas e muitos lo-cais para visitação. Para que os turistas possam pas-sear mais de um dia, a comunidade pretende conse-

guir verba para terminar de construir a pousada. Já tem um cômodo com banheiro construído com o apoio de quatro jovens que vieram da Espanha para aprender uma técnica de construção chamada Taipa (barro amassado e calcado em formas de madeira). “A modernidade chegou, mas a cultura não pode acabar”, afirma Zé Pedro.

roteiro turísticoOs visitantes podem conhecer a Casa da

Farinha e as ruínas da antiga fazenda. O turista também presencia o feitio da farinha de mandio-ca. Podem participar de uma roda de conversa com Laura Braga e Zé Pedro, que contam as pe-culiaridades da fazenda e os causos populares.

Dentro da comunidade tem duas cachoei-ras, do Tanque e da Fazenda. As duas possuem guias para auxiliar nas trilhas. O trajeto sai da

Casa da Farinha e o acesso a ambas é fácil. Têm quatro trilhas implantadas, Jatobá, Rasa, Toca da Rasa e Corisco que termina em Paraty.

Os turistas podem visitar a agrofloresta, o Projeto Juçara e apreciar a comida quilombola que é servida para grupos previamente agendados no Centro Comunitário.

Tem o grupo de percussão “Tambores da Fazenda”, com manifestações artísticas ligadas a cultura afro-brasileira. Possuem um repertório de cultura popular com Afoxé, Coco, Jongo e algumas músicas e danças do fandango caiçara. Eles se apre-sentam em eventos e na Festa do Azul Marinho na Semana da Consciência Negra, em novembro.

A entrada da comunidade está localizada no Km11 da Rodovia Rio-Santos (BR101). •

““A gENTE fAZ A lAvOUrA NO

mEiO dO mATO, pENsANdO NAs

plANTAs qUE sE AdApTAm

cOm A sOmBrA. sEm prEcisAr

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4444 BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02

Dom, inspiração ou técnica? O que faz a arte dos cartu-nistas e chargistas ter tanto sucesso entre os leitores de jornais e revistas? Marca-

das pelo humor, criatividade e, algumas vezes, crítica, as imagens que ilustram veícu-los impressos sempre cha-mam a atenção dos leitores. Com a finalidade de satirizar um acontecimento ou perso-nagem, a charge abusa dos traços e evidencia caracte-rísticas de fatos e persona-gens para torná-los cômicos. “Essa é a função da charge, fazer rir”, explica o jornalis-ta Leandro Almir Diniz Sou-za, na monografia Charge Jornalística.

Diferente do cartoon, que retrata situações corriqueiras, a charge faz uma crítica políti-

com lápis A ARTE DE MOSTRAR, COM HUMOR, A REALIDADE POR MEIO DO DESENHO

Thaís Matos | 3º semestre de Jornalismo

co-social da realidade. Souza esclarece que a charge tem força maior do que o editorial de um jornal, uma vez que para entendê-la não precisa ser uma pessoa culta. A facilidade vi-sual de se entender a mensagem que o dese-

nho quer passar atrai um público muito diverso, caso da adolescente Ca-rolina Pinheiro, que aos 12 anos já é fã das char-ges. “Não consigo mais ler jornal sem procurar pela charge”, revelou.

Por ser um trabalho divertido e proporcionar certa visibilidade, muitos jovens procuram aulas de desenho para aprender ou aprimorar seu conhe-cimento. A adolescente

Tamiris Vieira, 15 anos, foi atrás das Ofici-nas Culturais de São Sebastião para aprender o ofício. “Sempre gostei de desenhar, quero

e papel...

CHARGE

““A chArgE ABUsA dOs TrAçOs E EvidêNciA cArAcTErísTicAs

dE fATOs E pErsONAgENs pArA TOrNá-lOs cômicOs.

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45BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02 45

Caricatura da aluna vera Lúcia Stadie, do curso de Enfermagem do Centro Universitário Módulo, com foto publicada na primeira

edição da revista.

Ilustração: Edson M

acedo

Page 46: Banana Verde | 2ª edição

4646 BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02

aprimorar os conhecimentos”, contou. Junto com ela, outros jovens compõe a turma da oficina de desenho.

Com trinta anos de carreira, o cartunis-ta Edson Macedo deu os primeiros passos nessa arte também na adolescência. “Co-mecei com 13 anos. Fazia caricaturas no bar onde trabalhava”. Com mais ou menos 20 anos, Edson foi para a rua fazer retratos das pessoas que passavam. “Os primeiros desenhos agradaram o público e atingiram minhas expectativas”, desde então vive da arte. Para ele, o cartunista deve ser alguém observador e divertido, pois é isso que vai provocar as pessoas. Promover risos é o pa-pel do cartunista, sem se esquecer, é claro, da pitadinha de ironia.

iNspirAçãO, dOm OU TécNicA?Enquanto uns defendem a inspiração, ou-

tros a crucificam. Quando perguntado sobre o assunto, Macedo respondeu acreditar que “inevitavelmente o artista se inspirará em algo que curta ou alguém que admire”, apon-tou.

As inspirações mais animadoras são as que transmitem valores e as que trazem a tona temas populares e polêmicos. “Sabe aqueles assuntos sobre os quais você dese-ja expressar sua opinião, que estouram nos noticiários são esses os mais divertidos”, confessou Edson. Mas, embora esse seja um fator importante, o profissional deve ter outros cuidados no momento da criação.

Conhecer o tema sobre o qual vai trabalhar é o primeiro deles. Além disso, a ética e a

Foto: Thaís Matos

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47BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02 47

moral precisam estar presentes, pois os car-tuns são poderosos formadores de opiniões.

Graças a esse fator, as charges ganharam força no jornalismo dos últimos anos. Além do papel jornalístico, elas entram em grandes vestibulares e testam o nível de conhecimen-to do cidadão.

Outro assunto delicado é a questão de dom ou técnica. Muita gente que se interessa pelo traba-lho, acaba desistindo devido à falta de habilidades com o lápis. Isso aconteceu com o jovem Moacir Camargo, 22 anos. “Sempre que vejo uma tirinha ou um cartoon fico fascinado, mas simplesmente não nasci para desenhar”, lamentou.

O professor Alvamir Nascimento que estu-dou na Escola Panamericana de Arte, em São Paulo, e trabalhou na empresa Maurício de Sousa, autor do famoso gibi A Turma da Mô-nica, explica que o aprendiz do desenho pre-cisa se dedicar. “Eles têm que ter uma visão diferenciada e entender as técnicas”. Portan-to, dom, inspiração e técnica andam juntas.

OssOs dO OfíciO Por ser um recurso muito utilizado nas

mídias que trabalham com o factual, o cartunis-ta muitas vezes é pego de surpresa. O próprio Macedo contou que em algumas situações teve poucas horas para bolar uma arte. Diante disso deve-se agir com calma e tranquilidade. A dica do nosso ilustrador é partir para uma ideia mais rápida e com desenhos sem muitos detalhes. Com a modernização da arte, isso é totalmen-te possível. Em alguns casos, o conteúdo é tão bom que se pede um desenho exagerado.

Uma das maiores dificuldades enfrentadas por esses profissionais no Litoral Norte é a falta de jornais diários, os que mais requi-sitam profissionais da caricatura. Além do mercado ser precário, o que se paga é muito aquém do merecido. Porém, ele espera uma mudança nesse quadro, já que a região tem recebido grandes investimentos e aponta crescimento iminente. •

Ilustrações: Edson M

acedo

Beto, Coordenador do Curso Engenharia de Produção.

Aline Ehrlich Aluna do curso de jornalismo.

Professor Pedro Norberto, Ministra aulas nos cursos de Enfermagem, Ciencias Biológicas e outros

Nordan Manz, também ganhou uma caricatura.

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4848 BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02

Cercada pela Mata Atlântica e

com belas praias, Ubatuba é o

cenário perfeito para o exercí-

cio de um esporte que quase foi

extinto pelos puritanos euro-

peus nos séculos XIV e XVIII, mas que sobrevi-

veu e se tornou uma terapia para os amantes do

mar e principalmente das ondas: o surf.

Não é a toa que desde a década de 1960,

surfistas elegeram Ubatuba como um dos prin-

cipais points para surfar. O motivo: suas águas,

como explica o médico Eduardo Ferraz de Ca-

margo, surfista local. “Ubatuba tem praias para

qualquer “swell” (ondas boas para se surfar, com

boa altura e que chegam bem definidas, sem ru-

ídos)”. Desde então o balneário é considerado a

“Capital do Surf”, porém somente em 12 de ju-

UBATUBA REúNE AS MELHORES PRAIAS PARA A PRÁTICA DO SURF

Como uma ondano mar...

Francisco Garcez e Camila Creace | 2º e 3º semestres de Jornalismo

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49BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02 49

lho de 1995,

pela lei muni-

cipal nº 1454 é que

o título foi concedido.

Para Camargo surfar é mais

do que simplesmente pegar on-

das, “é paz, entendimento, concor-

dância dentro d’água, prazer e não

disputa”, filosofa. Essa comunhão entre

homem e mar é que impulsiona a cultura e

faz aumentar a procura pelo esporte. “Nós não

surfamos para ninguém, surfamos pelo prazer

próprio”, completa. Talvez esse simples contato

com a natureza tenha motivado a prática do surf,

em Ubatuba, e formado surfistas de renome na-

cional e internacional. “Temos as famílias Bettero,

com grandes profissionais, e a família Toledo com

o Filipinho, conquistando vaga para o WCT (World

Championship Tour)”, revela.

cElEirO A reputação de celeiro estimulou a criação de

inúmeras escolinhas de surf, dentre elas a de

José Alberto Jacob, uma das primeiras do Li-

toral Norte Paulista e do Brasil. “No Rio de

Janeiro tinha a Rico de Surf, mas era algo

totalmente diferente e nós não mantínha-

-mos contato”, conta o coordenador do

projeto.

Com experiência de competição,

organização de eventos e juiz de

surf, Jacob iníciou o projeto

após a aprovação de lei mu-

nicipal que incentiva a

prática do surf

nas escolas mu-

nicipais. Reconhe-

cido pelo seu trabalho,

Jacob foi nomeado coor-

denador para a escola da pre-

feitura e iniciou um trabalho de

sociabilização das crianças sobre os

ensinamentos da prática do surf.

A escolinha começou se voltar para com-

petições e envolver as crianças em even-

tos municipais e estaduais. Com o tempo os

jovens que praticavam, começaram a ganhar

campeonatos. Hoje são campeões brasileiros e

mundiais. “Esses atletas fazem com que o nome

da cidade de Ubatuba seja conhecido em todo

o mundo”, comemora Jacob, que tem entre seus

ex-alunos o campeão brasileiro de surf Renato

Galvão. “Ele foi um atleta descoberto na escoli-

nha de Ubatuba e lapidado com muito carinho e

apoio para que hoje se tornasse esse campeão”.

Outros se tornaram professores de educação físi-

ca e dão aulas no projeto.

Mas para Jacob, os verdadeiros campeões

são as crianças atendidas gratuitamente pelo

projeto. “Os jovens se sentem vencedores

quando ficam em pé pela primeira vez na

prancha. A gratificação é ver o sorri-

so no rosto das crianças”, e finaliza

enfatizando que investir no espor-

te fortalece uma sociedade, for-

mando cidadãos de bem. •

Page 50: Banana Verde | 2ª edição

5050 BANANA VERDE | MARÇO DE 2012 | Edição #02

cultura caiçara na mídia impressa regionalPor Bruna Vieira Guimarães¹

Eis que você leitor chega à última página ‘de conteúdo’ da 2ª edição da revista Ba-nana Verde. Espero que a leitura tenha sido prazerosa! Que você tenha rido com a reportagem das charges, tenha se entretido com a reportagem das bandas e gru-pos musicais da região, que tenha aprendido novos conceitos e ampliado o seu repertório ao ler as reportagens do Bonete de Ilhabela, do Quilombo de Ubatuba,

dos achados arqueológicos de São Sebastião e dos grupos teatrais de Caraguatatuba. Uma revista deve educar e entreter o leitor. É este o desejo dos alunos e professores de Jornalismo, que fazem esta revista acontecer.

Esta edição mostrou as culturas presentes no Litoral Norte Paulista. E dentro deste en-foque, a Cultura Caiçara foi destaque. Procuramos abordar aspectos pouco divulgados na mídia regional. E sim, valorizamos a cultura mais autêntica da região. Não tivemos a preten-são de esgotar o assunto. Sabemos de outras ricas culturas presentes aqui no litoral, como a nordestina, a quilombola, a indígena, as colônias de japoneses, italianos e tantos outros países. É muita ‘cultura’ para uma única edição da revista.

E neste artigo chamo a atenção para a cobertura jornalística sobre a cultura caiçara dis-seminada (difusa, propagada, vulgarizada) na mídia impressa regional. Esta é uma das in-quietações da tese de doutorado em Comunicação que estou defendendo. Entendo caiçara² , primeiramente como aquele que nasce e vive em localidades do Litoral Sul e Sudeste brasi-leiro, que sobrevive da pesca, do artesanato e do turismo, e que preserva valores como o da partilha, igualdade, fraternidade, humildade, família unida e respeito ao meio ambiente. O caiçara de hoje é fruto da miscigenação genética e cultural do português com o indígena do litoral, somado ao negro africano. Trata-se de um dos últimos traços visíveis da criação do povo brasileiro.

A cultura caiçara evoluiu e se transformou nas últimas cinco décadas, acompanhando o desenvolvimento econômico, social e cultural nas quatro cidades da região. E a mídia im-pressa tem construído imagens simbólicas do caiçara, uma delas o considera uma pessoa desocupada, o “vagabundo”, àquele que não tem ganância e não quer evoluir. Outra imagem, de que os pescadores caiçaras são uma espécie em extinção, pois a pesca já não rende o sufi-ciente para o sustento da família. E mais, a imagem do caiçara atrelada apenas à profissão de pescador (e não a outras profissões).

Tais imagens não condizem com os valores arraigados nesta cultura, como propõe os es-tudos do sociólogo Antônio Carlos Diegues, da USP (Universidade de São Paulo), que man-tém um Núcleo sobre Populações em Áreas Úmidas Brasileiras, com mais de 50 dissertações e teses defendidas em diversas áreas do conhecimento e que abordam a cultura caiçara.

Portanto, há estudos acadêmicos sobre a cultura caiçara, mas são poucas as análises com enfoques comunicacional e jornalístico. Tenho orgulho de dizer que publiquei com o jornalista Ricardo Hiar dois artigos acadêmicos sobre a comunicação na região. O primeiro sobre “A história da publici-dade no Litoral Norte Paulista” em 2008 e o segundo sobre “A história dos jornais impressos no Litoral Norte Paulista”, em 2010. Que esta tese seja a terceira contribuição e que venham muitas outras.

Viva a pesquisa! E viva a cultura caiçara na região!

OPINIãO

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visívEis dA criAçãO dO pOvO

BrAsilEirO

1 - Professora e coordenadora de Jornalismo do Centro Universitário Módulo. Mestre e doutoranda em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo. E--mail: [email protected] e/ou [email protected] - O termo caiçara tem origem no vocábulo tupi-guarani caá-içara, utilizado para de-nominar as estacas colocadas em torno das tabas ou aldeias, e o curral feito de galhos de árvores fincados na água para cercar o peixe. Com o passar do tempo, passou a ser o nome dado às palhoças construídas nas praias para abrigar canoas e apetrechos dos pescadores.

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Canção Caiçara

De onde vens, patrício, camarada, amigo?Salta da canoa, vem pousar em paz.És dos Alcatrazes ou do Bom Abrigo?De uma das Queimadas ou das Sanzalás?

Vens de Vila Bela, do Montão de Trigo?Vais a Cananéia, vais aos Caraguás?Venha de onde vieres, com prazer te sigoVás para onde fores, tu comigo irás.

É que em toda a costa, paulistanamenteHá uma só família, de tão boa genteQue em qualquer momento teu irmão sou eu.

Sem saber teu nome dou-te meu afetoE no comunismo do meu pobre tetoA farinha é tua, todo o peixe é teu.

José Martins Fontes