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Índice Glicémico: Implicações na saúde e na doença e sua utilidade para a Indústria Alimentar e para o Consumidor Bárbara Beleza de Vasconcelos Monteiro Pereira Orientada por: Professor Doutor António Pedro Soares Ricardo Graça Co-orientada por: Doutora Alexandra Bento Porto, 2007

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Índice Glicémico: Implicações na saúde e na doença e sua utilidade para a

Indústria Alimentar e para o Consumidor

Bárbara Beleza de Vasconcelos Monteiro Pereira

Orientada por: Professor Doutor António Pedro Soares Ricardo Graça

Co-orientada por: Doutora Alexandra Bento

Porto, 2007

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Agradecimentos

Um especial agradecimento ao meu orientador e co-orientadora, por não

me terem desamparado durante este percurso.

“Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que fez tua rosa tão importante.”

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Índice

Agradecimentos ...................................................................................................i

Lista de Abreviaturas ......................................................................................... iv

Lista de Tabelas.................................................................................................vi

Resumo em Português e Inglês ........................................................................ vii

1. Introdução ...................................................................................................... 1

2. Classificação dos Hidratos de Carbono ......................................................... 3

2.1. .................................... 5Digestão e Absorção dos Hidratos de Carbono

2.2. .................. 7Recomendações para o consumo de Hidratos de Carbono

3. ....................................................................... 7Definição de Índice Glicémico

3.1. Metodologia para a determinação do Índice Glicémico......................... 8

3.2. Problemas inerentes à metodologia .................................................... 10

4. Factores que influenciam a resposta glicémica............................................ 11

4.1. Factores individuais............................................................................. 11

4.2. Factores alimentares........................................................................... 12

4.3. Outras considerações ......................................................................... 13

5. Índice Glicémico aplicado a refeições .......................................................... 13

6. Carga Glicémica........................................................................................... 15

7. Efeitos fisiológicos de alimentos com Índices Glicémicos distintos.............. 17

8. Implicações na saúde e na doença.............................................................. 18

8.1. Diabetes Mellitus ................................................................................ 18

8.1.1. Influência do Índice Glicémico e da Carga Glicémica na Diabetes

Mellitus ............................................................................................................ 19

8.1.2. Insulino-Resistência e Diabetes Mellitus Tipo 2 .................... 21

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8.1.3. Diabetes Mellitus Tipo 1 ........................................................ 23

8.1.4. Posição da Associação Americana da Diabetes ................... 23

8.2. Doença Cardiovascular ................................................................. 24

8.2.2. Associação entre Índice Glicémico/ Carga Glicémica e Doença

Cardiovascular ................................................................................................. 26

8.3. Obesidade...................................................................................... 28

8.3.1. Relação entre o Índice Glicémico e a Obesidade .................. 29

8.3.2. Alimentos de baixo índice glicémico e controlo de peso ....... 30

8.3.3. Alimentos de alto índice glicémico e ganho ponderal ............ 33

8.3.4. Obesidade e excesso de gordura hepática ............................ 35

8.4. Cancro............................................................................................ 36

8.4.1. Cancro colorectal ................................................................... 37

8.4.2. Cancro pancreático ................................................................ 38

8.4.3. Cancro do endométrio e cancro da mama ............................. 39

8.5. Síndrome Metabólica ..................................................................... 39

8.6.Desempenho Físico ........................................................................ 41

9. Novos campos de investigação.................................................................... 42

10. Análise crítica............................................................................................. 43

11. Conclusões ................................................................................................ 50

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Lista de Abreviaturas

ADA – Associação Dietética Americana

AG – Ácidos gordos

AGL – Ácidos gordos livres

AI – Ingestão adequada

apo B – Apoproteína B

AR – Amido resistente

CCK – Colecistocinina

CG – Carga Glicémica

c-LDL – Colesterol LDL

c-HDL – Colesterol HDL

CT – Colesterol total

DCV – Doença cardiovascular

DMI – Diabetes mellitus tipo 1

DMII – Diabetes mellitus tipo 2

EHNA – Esteatose hepática de origem não alcoólica

FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura

GIP – Peptídeo gástrico inibitório

GLP-1 – Peptídeo glicagina like Tipo I

HbA1c – Hemoglobina glicosilada

HC – Hidratos de carbono

ID – Intestino delgado

IDL – Lipoproteínas de densidade intermédia

IG – Índice glicémico

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IGF-I – Insulin-like growth factor-I IGF-I

IMC – Índice de massa corporal

IR – Insulino-Resistência

LDL – Lipoproteínas de baixa densidade

OB – Obesidade

OMS – Organização Mundial de Saúde

PAI-1 – Inibidor do activador do plasminogénio 1

PP – Pós-prandial

QFA – Questionário de frequência alimentar

RDA – Ingestão diária recomendada

SM – Síndrome metabólica

TG – Triacilgliceróis

VET – Valor energético total

VLDL – Lipoproteínas de muito baixa densidade

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Lista de Tabelas

Tabela 1. Factores alimentares que influenciam a resposta glicémica ................ 12

Tabela 2. Cálculo do Índice Glicémico de uma refeição ...................................... 15

Tabela 3. Critérios de classificação da Carga Glicémica de um alimento e da

Carga Glicémica diária total...................................................................................16

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Resumo

Os Hidratos de Carbono podem exercer uma influência directa nas

doenças ao afectarem processos fisiológicos e metabólicos, reduzindo assim

factores de risco de doença ou o próprio processo da doença.

O índice glicémico foi desenvolvido por Jenkins e colaboradores, com o

intuito de fornecer uma classificação numérica dos alimentos que contêm hidratos

de carbono, baseando-se na resposta da glicose sanguínea após o seu consumo.

Desde a sua introdução, inúmeros estudos mostraram potenciais benefícios de

alimentos com baixo índice glicémico, inclusive na prevenção e tratamento de

doenças crónicas associadas com obesidade e resistência à insulina.

Este trabalho foca-se na avaliação crítica da sua relevância clínica bem

como no seu possível uso como ferramenta educacional para a Indústria e público

em geral.

Palavras – chave

Índice glicémico, carga glicémica, diabetes mellitus, obesidade, doença

cardiovascular, indústria, consumidor.

Summary

Carbohydrates may directly influence human diseases affecting

physiological and metabolic processes, thereby reducing risk factors for the

disease or the disease process itself.

The glycemic index was first developed by Jenkins and colleagues to

provide a numeric classification of carbohydrate foods based on their blood

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glucose response after its consumption. Since its introduction, many studies have

shown potential benefits from low-glycemic index foods, including in the prevention

and treatment of chronic diseases associated with obesity and insulin resistance.

The focus of this work is to evaluate its clinical relevance as well as its

possible use like an educational tool for the industry and the general public.

Key words

Glycemic index, glycemic load, diabetes mellitus, obesity, cardiovascular disease,

industry, consumer.

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1. Introdução

Os determinantes comportamentais de saúde, entre os quais a

alimentação, têm sido alvo de rápidas mudanças, como resultado da globalização

e urbanização que tem ocorrido nas últimas décadas nas sociedades com

economias de mercado estabelecidas.

Nas designadas sociedades de abundância, a prevalência da obesidade

(OB) e de outras doenças degenerativas tem vindo a escalar muito rapidamente,

especialmente entre os jovens.(1-5) O estilo de vida e, particularmente, os aspectos

nutricionais, desempenham um papel decisivo no aumento considerável destas

condições crónicas.(6-9)

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 80% dos casos de

doenças cardiovasculares, 90% dos casos de diabetes mellitus tipo 2 (DMII) e

33% dos casos de todos os tipos de cancro poderiam ser evitados pela adopção

de estilos de vida saudáveis, nomeadamente através de mudanças benéficas nos

hábitos alimentares, da prática regular de exercício físico e da cessação dos

hábitos tabágicos.(10)

Os Hidratos de Carbono (HC) constituem a fonte energética primordial para

a maioria da população mundial. De acordo com dados estatísticos da

Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e da

OMS, o consumo de HC no mundo varia entre 40% a 80% do valor energético

total (VET).(11)

O conceito de Índice Glicémico (IG) foi proposto em 1981 por Jenkins e

col., na Universidade de Toronto, de forma a avaliar o impacto de diferentes

fontes de HC na concentração de glicose sanguínea, uma abordagem mais

fisiológica do que estrutural para classificar os HC. (12) Este índice foi desenvolvido

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com o propósito de servir como ferramenta para o controlo alimentar da diabetes

mellitus tipo 1 (DMI) e, mais tarde, da dislipidemia.(13, 14)

A resposta da glicose sanguínea não é uma função simples, dependente

apenas da quantidade de HC ingeridos. Em vez disso, está relacionada com um

conjunto de factores que afectam a digestão e absorção e, consequentemente, o

grau de retorno da glicose ao sangue. Assim, mesmo que a quantidade de HC

seja fixa, a resposta da glicose sanguínea pode mostrar uma variação

considerável.(15)

A observação de que alguns alimentos ricos em HC induzem uma menor

glicemia pós-prandial (PP) que outros, abriu o caminho para a noção de que a

selecção adequada de alimentos contendo HC poderia representar uma

estratégia na prevenção e tratamento de desordens metabólicas crónicas.(11, 16-25)

Os alimentos que constituíam a base da alimentação de diversas

populações eram, geralmente, alimentos com baixo IG (entre outros, massa,

ervilhas, grão-de-bico, feijão, lentilhas).(26, 27) É precisamente nas populações que

fizeram uma transição brusca para uma alimentação de alto IG que hoje se

constata uma crescente prevalência de DM.(28-30)

Foi descrito que uma dieta de alto IG pode ter consequências adversas na

saúde, aumentando o risco de doença crónica, nomeadamente através do

despoletar de hiperglicemia e hiperinsulinemia. (19, 31)

De facto, estudos experimentais e observacionais em animais e humanos

forneceram um conjunto de evidências que suportam o efeito directo ou a

associação de dietas de baixo IG ou de baixa carga glicémica (CG), tanto na

prevenção como no controlo da DM, OB, doença cardiovascular (DCV) e até de

tipos de cancro.(20, 32-38)

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Contudo, tal como acontece em todas as áreas de investigação em

Nutrição, a literatura não é inteiramente consistente no suporte destas

hipóteses.(31, 39-41)

Do ponto de vista nutricional, pensa-se que o IG é um conceito que poderá

ser mais útil do que a classificação química dos HC (em simples/complexos,

açucares/amidos, disponíveis/não disponíveis), permitindo conhecer mais

relações entre os alimentos ricos em HC e saúde. Mas o consenso está longe de

ser alcançado; a controvérsia continua instalada junto de entidades de grande

credibilidade na área da alimentação e nutrição, nomeadamente na Associação

Americana da Diabetes, Associação Americana do Coração e Associação

Dietética Americana (ADA). (42, 43)

É objectivo da presente monografia reflectir sobre as implicações do IG na

saúde e na doença, bem como ponderar a sua viabilidade para o consumidor e

para a Indústria Alimentar, enquanto parte integrante da informação disponível na

rotulagem de géneros alimentícios, e como ferramenta de Educação Alimentar

para Profissionais de Saúde, com especial destaque para os Nutricionistas.

2. Classificação dos Hidratos de Carbono

Os HC variam consideravelmente na sua estrutura e função fisiológica, o

que faz com que a sua classificação seja complexa. O grau de polimerização é

vulgarmente usado como forma de classificação.(11, 44, 45)

Desta classificação resultam classes distintas: os monossacarídeos

(glicose, frutose, galactose); dissacarídeos, que consistem em dois

monossacarídeos unidos por ligação covalente, de que são exemplo a sacarose e

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a lactose; polióis, que resultam da hidrogenação de mono e de dissacarídeos, e

não são tão facilmente digeridos como os supracitados. Os monossacarídeos,

dissacarídeos e polióis são também genericamente designados de açúcares.

Outra das classes é a dos oligossacarídeos, que são HC com 3 a 9 graus de

polimerização, bastante resistentes à digestão no intestino delgado (ID), tendo por

isso efeitos fisiológicos semelhantes aos da fibra; alguns deles parecem promover

o crescimento de microflora benéfica no cólon. A outra classe é a dos

polissacarídeos, que constituem a maioria dos HC consumidos na alimentação;

têm um elevado grau de polimerização (a partir de 10). Podem ser subdivididos

em polissacarídeos amiláceos e não amiláceos. O amido é um polímero de

unidades de glicose com ligações covalentes do tipo -(1,4) e -(1,6). É

constituído por amilose, que só contém ligações -(1,4) e mantém por isso, uma

forma linear constante, e por amilopectina, que possui ligações -(1,4) e -(1,6),

apresentando uma estrutura altamente ramificada.

Enquanto que a maioria do amido é digerido e absorvido no ID, uma

pequena porção escapa às enzimas digestivas e passa para o cólon, onde pode

ser fermentado. Esta porção constitui o amido resistente (AR). Há quatro tipos de

AR, que ocorrem naturalmente (AR1 e AR2) ou resultam do processamento

alimentar (AR3 e AR4).

Os polissacarídeos não amiláceos assemelham-se ao AR, uma vez que

não são digeridos nem absorvidos no ID e são fermentados no cólon. Contudo, a

sua resistência à digestão não se deve a barreiras físicas ou estruturais que

impedem a acção enzimática, mas sim à falta de enzimas capazes de quebrar as

ligações glicosídicas. Por possuírem estas características, são considerados fibra

alimentar.

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Em cada uma destas classes químicas há HC com efeitos fisiológicos

muito distintos; alguns destes efeitos estão presentes, em simultâneo, nas

diferentes classes (tal como acontece para os oligossacarídeos e polissacarídeos

não amiláceos, ambos não digeríveis e fermentescíveis no cólon). Neste sentido,

outras classificações foram propostas.

Entre elas, uma propõe a divisão dos HC em glicémicos e não-

glicémicos, baseando-se na sua digestibilidade e capacidade de fornecer

glicose.(45) Os primeiros são absorvidos no ID, promovendo uma elevação da

glicose sanguínea, enquanto que os segundos não são digeridos e passam para o

cólon, onde poderão ser fermentados (fornecendo assim energia que não interfere

com os níveis de glicose sanguínea). Segundo esta classificação, os açúcares e

amidos constituem a maioria dos HC glicémicos; os oligossacarídeos, AR e fibra

alimentar são HC não glicémicos.

2.1.Digestão e absorção dos Hidratos de Carbono (11, 45)

A digestão enzimática dos HC começa imediatamente na boca, por acção

da -amilase salivar, que hidrolisa as ligações glicosídicas no amido, com vista à

obtenção de fragmentos de menores dimensões (por exemplo, glicose e maltose).

Uma vez no estômago, a -amilase salivar fica inactiva e cessa a digestão de HC.

No ID, a -amilase pancreática completa a digestão do amido a glicose, maltose,

maltotriose e dextrinas. Todos os HC têm de ser quebrados em unidades de

monossacarídeos, para que ocorra a sua absorção. Na bordadura em escova do

ID estão a glicoamilase, a maltase, a lactase e a sucarase, enzimas que

hidrolisam, respectivamente, as dextrinas, a maltose, a lactose e a sacarose.

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Qualquer HC que não seja digerido passa para o cólon (caso do AR e fibras),

onde pode ser fermentado pela microflora, originando ácidos gordos (AG) de

cadeia curta e gases como o hidrogénio, dióxido de carbono e metano.

O próximo passo é a absorção de monossacarídeos no ID. Esta processa-

se por um de dois mecanismos: transporte activo ou difusão facilitada. Na

superfície da bordadura em escova, a glicose e a galactose são transportadas de

forma activa, enquanto que a frutose é absorvida de forma passiva, por difusão

facilitada. À posteriori, a frutose e a galactose são encaminhadas para o fígado,

enquanto que a glicose fica disponível para fornecer energia à maioria das

células.

O metabolismo dos HC é regulado de várias formas: modificações

alostéricas e/ou covalentes de enzimas-chave, alterações na expressão de

enzimas e regulação hormonal.

A insulina é secretada pelas células do pâncreas, em resposta a um

aumento da glicose sanguínea. A insulina age para reduzir os níveis de glicose,

através do aumento da absorção de glicose pelos tecidos, pela redução da

gliconeogénese no fígado e pela estimulação da reserva de glicose sob a forma

de glicogénio.

A glicagina, adrenalina e glicocorticóides são hormonas que contra-regulam

a acção da insulina, e são libertadas quando os níveis de glicose estão baixos,

como ocorre no jejum.

Quando há um excedente de glicose sanguínea, o fígado e o músculo

esquelético têm a capacidade de a armazenar sob a forma de glicogénio. Sempre

que houver uma quebra dos níveis sanguíneos, estas reservas ficam rapidamente

disponíveis para repor os valores normais.

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2.2. Recomendações para o consumo de Hidratos de Carbono(46)

A ingestão diária recomendada (RDA) para os HC foi estabelecida em

130g/dia, para adultos e crianças, com excepção de grávidas e lactantes, em que

as necessidades são superiores, 175g/dia e 210g/dia, respectivamente. Esta

ingestão baseia-se na quantidade média mínima de glicose usada pelo cérebro,

sem que este tenha de recorrer a corpos cetónicos para obtenção de energia.

A ingestão de HC deve constituir 45% a 65% do VET.

Está também estabelecida uma ingestão adequada (AI) para a fibra, de 14g

por cada 1000 quilocalorias.

Relativamente aos açúcares adicionados, a sua proporção não deverá

exceder 25% do VET.

3. Definição de Índice Glicémico

O IG corresponde ao somatório da área sob a curva da reposta da glicose

sanguínea a uma porção de alimento-teste, com 50g de HC, sendo expresso

como a percentagem da resposta à mesma quantidade de HC de um alimento

padrão (glicose ou pão branco), consumido pelo mesmo indivíduo.(11, 38, 43)

Um valor de IG de 70 ou mais é considerado alto; entre 56 e 69 é

considerado médio; se for inferior ou igual a 55, é considerado baixo.(47)

Uma vez que não há limitação da digestão de polissacarídeos em glicose,

os alimentos amiláceos não têm, necessariamente, um IG menor do que os

açúcares simples.(36) Aliás, muitas das vezes, estes comportam-se como açúcares

simples.(21)

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De uma forma geral, alimentos refinados e batatas têm um IG alto; as

leguminosas e grãos não processados têm um IG médio, e os vegetais e fruta têm

IG baixo.(37)

Este conceito acaba por constituir uma extensão da hipótese de Burkitt e

Trowell sobre a fibra alimentar, que sugeria que os alimentos que são mais

lentamente absorvidos podem ter efeitos metabólicos benéficos em relação à

diabetes e à diminuição do risco cardiovascular.(48)

Uma grande parte dos valores de IG e carga glicémica (CG) dos alimentos

encontra-se hoje compilada em tabelas internacionais.(37)

3.1. Metodologia para a determinação do Índice Glicémico

O Conselho de Peritos da FAO e OMS sobre HC na Nutrição Humana

propôs o seguinte protocolo para a determinação do IG:(11)

Alimento de referência: glicose ou pão branco

Porção de alimento com 50 gramas de HC: o alimento a ser testado deve

conter 50 gramas de HC disponíveis (ou seja, exclui-se a fibra alimentar).

Bebida: juntamente com cada alimento a ser testado, deve ser fornecida

água, chá ou café (não açucarados).

O teste deve ser realizado no período da manhã, após jejum nocturno de

10 a 12 horas (se houver mais do que um alimento a ser testado, terão de

se realizar os testes em dias distintos).

São necessários 6 ou mais indivíduos para testar o IG de um alimento.

Em cada um deles, deve repetir-se 3 vezes a medição da resposta

glicémica ao alimento usado como referência.

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Após ingestão quer do alimento de referência, quer do alimento teste, são

medidas as respostas glicémicas aos 0, 15, 30, 45, 60, 90 e 120 minutos, a

partir de amostras de sangue capilar.

Posteriormente, procede-se ao cálculo do aumento da área sob a curva da

resposta da glicose sanguínea, aplicando a “regra do trapezóide”. De notar

que a área abaixo da concentração de glicose em jejum não é tida em

consideração.

Por fim, calcula-se o IG do alimento teste, dividindo o aumento da área sob

a curva que este desencadeou pelo aumento da área sob a curva médio

(uma vez que se fizeram 3 medições) do alimento de referência e

multiplica-se por 100%.

Uma outra forma de determinação do IG, menos dispendiosa e mais

rápida, é através da medição da digestão dos HC in vitro.(49) Contudo ainda há

pouca informação sobre a fiabilidade deste tipo de metodologia. As acções

fisiológicas que afectam significativamente a resposta glicémica in vivo são

difíceis de ser mimetizadas in vitro, nomeadamente a velocidade de esvaziamento

gástrico e a presença de outros alimentos.(37)

3.2. Problemas inerentes à metodologia

Não há consenso relativamente ao alimento que deve ser usado como

referência. Alguns autores(38, 50, 51) defendem a utilização de pão branco pelo facto

de este ter um maior efeito na estimulação da libertação de insulina.(52) Os valores

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de IG obtidos com pão branco são cerca de 1,4 vezes superiores aos valores

obtidos com glicose.(37)

Por outro lado, defende-se que a determinação da quantidade de HC no

pão branco é muito menos rigorosa do que na glicose.(53) Acresce ainda o

problema da variação da sua composição de região para região.(54)

A porção de alimento a ser testado deverá conter 50g de HC

disponíveis/glicémicos. Na prática, estes HC glicémicos são determinados

subtraindo ao teor total de HC a fibra alimentar. Caso esteja presente AR, este

será erradamente incluído como HC glicémico, enviesando os resultados.

Adicionalmente, a metodologia usada para determinar o teor de fibra não é

sempre a mesma.(37)

O IG apenas mede a glicose acima do valor desta em jejum, isto é, não tem

em consideração a área sob a concentração de glicose em jejum. Se fosse

mensurado aquilo que de facto ocorre, o valor de glicose em jejum diminuiria ao

longo do tempo e, consequentemente, a área sob a curva seria maior.(55) Caso se

usasse toda a área sob a curva (incluindo a glicose em jejum), as diferenças entre

os IG dos alimentos seriam muito mais atenuadas.(53)

Outro problema prende-se com a duração da resposta PP. A medição do

IG apenas leva em consideração as duas horas PP. Os indivíduos diabéticos,

particularmente os que têm DMII, precisam de mais de duas horas para que as

concentrações de glicose retornem ao normal (se é que retornam). O período PP

a incluir nas medições deveria ser alargado até quatro horas.(55)

A glicose sanguínea pode ser determinada com amostra venosa ou capilar,

uma vez que foi demonstrado que estão altamente correlacionadas.(37) Seria

preferível recorrer sempre a amostras de sangue capilar, uma vez que estas são

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mais fáceis de obter e o aumento na glicose sanguínea é mais marcado nestas do

que em amostras de plasma venoso. Além disso, há menor variabilidade nos

resultados obtidos com amostras capilares, o que faz com que estas sejam mais

fiáveis, ou seja, as diferenças entre os alimentos são mais consideráveis e mais

facilmente detectáveis estatisticamente.(21)

A medição do IG é sempre efectuada durante a manhã, após jejum

nocturno. Se for medido após o almoço, as diferenças serão bem menores.(55)

4. Factores que influenciam a resposta glicémica

4.1. Factores individuais

A resposta glicémica a uma refeição é determinada por factores individuais,

nomeadamente: sensibilidade à insulina, função das células pancreáticas,

motilidade gastrointestinal, actividade física, metabolismo de refeições prévias,

variação diária de parâmetros metabólicos.(21, 56) A capacidade de regulação do

metabolismo da glicose varia até em indivíduos saudáveis, e está alterada na DM.

Daí que seja crucial que nas determinações do IG os alimentos sejam testados

pelo menos três vezes em cada indivíduo.(11)

Comprovou-se que os valores de IG para os mesmos alimentos, testados

em diferentes grupos de sujeitos, estão altamente correlacionados,

independentemente do estado de tolerância da glicose dos indivíduos.(21)

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4.2. Factores alimentares

. São inúmeros os factores de origem alimentar (Tabela 1) que interferem com a

digestão e absorção dos HC o que, por conseguinte, se traduz em diferentes

valores de IG.

Factores Alimentares

Quantidade de HC(11, 21)

Natureza do amido:(37, 38, 57, 58)

- Razão amilose-amilopectina(19, 37, 39)

- Interacção amido-nutriente(21)

- Presença de amido resistente(59)

Tamanho das partículas(38), forma do alimento(39, 53, 57) e variedade(60)

Presença de fibra alimentar(21, 38, 55, 57, 61-64)

Presença de anti-nutrientes(21, 61)

Presença de ácidos orgânicos(21, 65, 66)

Estado de maturação do alimento(19, 39, 53, 60, 67)

Tipo de processamento alimentar(19, 37, 39, 57, 58, 68) e método de confecção culinária:(19, 38, 57, 60)

- Grau de gelatinização do amido(21, 37)

- Manutenção da integridade botânica(19)

Presença de proteína(19, 38, 52, 61, 69, 70) e de gordura(19, 25, 38, 69, 71, 72)

Grau de acidez(38)

Natureza dos monossacarídeos:(21)

- Frutose

- Glicose

Tabela 1. Factores alimentares que influenciam a resposta glicémica.

- Galactose

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13

4.3. Outras considerações

A esmagadora maioria dos alimentos são armazenados sob diferentes

temperaturas antes do momento de consumo. A temperatura de armazenamento

poderá condicionar alterações na estrutura do amido (pode, por exemplo, ocorrer

conversão de amido em AR) e, por conseguinte, provocar alterações no valor do

IG do alimento.(21)

Outra condicionante do IG, que merece especial destaque, poderá ser a

ingestão concomitante de leite com alimentos ricos em HC. O leite tem um baixo

IG, porém, o seu potencial insulínico é elevado, o que poderá modificar o perfil

glicémico PP.(21) No caso de cereais de pequeno-almoço, é prática recorrente a

adição de leite, o que se pode traduzir numa redução do IG dos mesmos. Este

efeito não resulta apenas da lactose, mas também da própria proteína do leite,

que tem efeito insulinotrópico.(70) A discussão sobre este assunto segue abaixo.

5. Índice Glicémico aplicado a refeições

A questão que se impõe é se o IG terá a capacidade de medir a resposta

glicémica em refeições compostas.

O cálculo do IG de uma refeição obtém-se pelo produto da proporção total

de HC glicémicos de cada item alimentar pelo seu IG. A soma do valor de IG de

cada alimento fornece o IG da refeição (Tabela 2). Inúmeros investigadores

concluíram que o IG e a CG de alimentos individuais não prevêem as respostas

glicémicas desencadeadas por refeições compostas.(16, 38, 43, 69, 73, 74)

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Flint e col. sugeriram que não é possível prever o efeito sobre o IG de uma

refeição composta a partir dos valores individuais de cada item alimentar, devido

ao efeito do conteúdo de gordura e proteína no VET da refeição.(69)

Inferiu-se que a gordura diminui a resposta glicémica PP porque aumenta a

viscosidade do conteúdo intestinal e diminui a velocidade de esvaziamento

gástrico (lentificando assim a absorção de HC). (25, 71) Além disso, a gordura liga-

se à amilose, tornando-a menos susceptível à acção da amilase.(72)

A adição de proteína a alimentos ricos em HC aumenta a quantidade de

insulina secretada, fazendo com que os níveis de glicose não aumentem tanto.

Supõe-se que a proteína possa até formar uma rede protectora à volta da

molécula de HC, protegendo-a da acção das enzimas glicolíticas.(52) Há ainda que

fazer menção às reacções de Maillard (interacções amino-carbonilo de natureza

não enzimática) em que o amido pode formar complexos insolúveis com as

proteínas, ficando indisponível para digestão e absorção (com consequente

redução do valor de IG).(37)

Assim, quantidades aumentadas de gordura e proteína no intestino

induzem uma maior secreção do peptídeo gástrico inibitório (GIP) e do peptídeo

glicagina like Tipo I (GLP-1), o que resulta num clearance mais rápido da glicose,

através de um aumento da resposta insulínica induzida pela refeição; por sua vez,

isto traduz-se numa diminuição das concentrações de glicose sanguínea PP.(69)

Mas há investigadores que defendem uma posição contrária; consideram

que o IG é um determinante fidedigno da resposta glicémica em refeições

compostas, considerando que a proteína e a gordura têm efeitos

negligenciáveis.(73, 75, 76)

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Outros estudos demonstraram que apesar da gordura e da proteína

afectarem a resposta glicémica absoluta, não afectam as diferenças relativas

entre os alimentos que contêm HC.(77)

Um outro factor que não deve ser negligenciado, no contexto das refeições,

é o facto de poder ocorrer uma melhoria da tolerância aos HC de uma segunda

refeição, quando a refeição que a precede é de baixo IG.(38) Este evento faz

lembrar o efeito de Staub-Traugott (que refere que a primeira refeição melhora a

tolerância à glicose na segunda refeição). Adicionalmente, constatou-se que

houve uma menor ingestão alimentar na refeição subsequente à de baixo

IG/CG.(78)

Alimento

Gramas de HC

glicémicos

Proporção total de HC

glicémicos

IG do

alimento

IG da

refeição

Pão 25 0,342 100 34,2

Cereais 25 0,342 72 24,6

Leite 6 0,082 39 3,2

Sacarose 5 0,068 87 5,9

Sumo de

laranja

12 0,164 74 12,1

Total 73 80

Tabela 2. Cálculo do Índice Glicémico (IG) de uma refeição.(11)

6. Carga glicémica

O IG, como uma medida relativa da resposta glicémica a uma dada

quantidade (50g) de HC, representa a qualidade, mas não tem em conta a

quantidade dos HC.

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Em contraste, o conceito de CG, introduzido por investigadores da

Universidade de Harvard em 1997, determina o efeito glicémico total da dieta.

Resulta do produto do IG de um determinado alimento/bebida pela quantidade de

HC disponível na porção.(34, 35, 37-39, 43, 79, 80) Ou seja, representa a combinação da

qualidade e da quantidade de HC consumidos, podendo ser interpretada como

uma medida da necessidade de insulina. Desta forma, a CG incorpora a

quantidade de HC digeríveis/disponíveis numa porção, para que se perceba

melhor o impacto de uma refeição ou de um snack na resposta glicémica PP.

Quanto maior a CG, maior a elevação esperada na glicemia sanguínea e

no efeito insulínico do alimento.(23)

A classificação dos alimentos de acordo com a sua CG tem duas

abordagens: a CG de um item alimentar individual e a CG diária total (Tabela 3).

De acordo com a classificação individual, muitos vegetais e fruta têm baixa

CG. Por exemplo, o IG das cenouras foi estimado em 131 (usando como

referência o pão branco), ou seja, as cenouras têm IG alto. Contudo, a sua CG é

baixa (CG=5), uma vez que uma porção de 80 gramas de cenoura tem apenas 6g

de HC.

CG de um alimento CG diária total

Alta 20 ou mais Superior a 120

Média 11 a 19 100

Baixa Inferior ou igual a 10 Inferior a 80

Tabela 3. Critérios de classificação da Carga Glicémica (CG) de um alimento e da Carga

Glicémica diária total. (47)

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7. Efeitos fisiológicos de alimentos com Índices Glicémicos distintos

O perfil resultante do consumo de alimentos de baixo IG corresponde a um

decréscimo das respostas glicémica e insulínica e a um aumento da resposta da

glicagina.(21, 38, 81) Ao atenuarem o aumento da glicose PP, consegue-se atingir

uma redução dos níveis médios diários de insulina.

Entre outros efeitos desencadeados pelo seu consumo, foi reportada uma

redução da resposta do GIP (que é responsável pela inibição da motilidade e

secreção gástrica, bem como pelo aumento da secreção de insulina) e uma

supressão mais prolongada dos ácidos gordos livres (AGL) plasmáticos. (81)

Adicionalmente, foram associados a uma redução dos níveis de peptídeo C

plasmático, um marcador da secreção de insulina.(82) Verificou-se de igual modo,

um efeito redutor da síntese hepática de colesterol, de colesterol LDL (c-LDL), dos

níveis séricos de apoproteína B (apo B) (que está presente nas lipoproteínas de

baixa densidade (LDL) e nos seus precursores metabólicos, isto é, nas

lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) e lipoproteínas de densidade

intermédia (IDL)) e de ácido úrico (com um aumento da sua excreção urinária).(58,

81, 83)

Há também evidência que aponta para uma redução da hemoglobina

glicosilada (HbA1c) e dos níveis de fructosamina em indivíduos com DM.(20, 22, 84, 85)

Alimentos com alto IG produzem um efeito oposto.(36) O marcado aumento

da glicemia PP que se constata após o seu consumo, estimula a produção de

insulina.(19, 31)

Esta hiperinsulinemia funcional pode promover o ganho ponderal, por dirigir

preferencialmente os nutrientes para armazenamento sob a forma de gordura, em

vez de os encaminhar para a oxidação no músculo (este mecanismo é

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semelhante ao que ocorre na DMI aquando da administração de insulina

exógena). (78) Adicionalmente, esta subida brusca de insulina faz com que as

concentrações dos dois principais combustíveis metabólicos, glicose e AGL,

fiquem simultaneamente baixas num período PP de 3 a 5 horas.(22, 37)

Cria-se assim um estado hormonal semelhante ao que resulta de um jejum

prolongado, que induz fome.

Por outro lado, as concentrações plasmáticas de insulina estão

inversamente relacionadas com o colesterol HDL (c-HDL) e positivamente

relacionadas com o aumento dos níveis de triacilgliceróis (TG). É portanto

possível estabelecer-se um elo entre alimentos de alto IG e anomalias graves no

perfil lipídico, como já foi confirmado por inúmeros estudos.(86-88)

8. Implicações na saúde e na doença

8.1. Diabetes Mellitus

É expectável que a previsão global de DM seja mais do que duplicada

entre 2000 e 2030, de 171 milhões para 366 milhões.(89)

Actualmente, considera-se que a DM é um grupo de desordens

metabólicas que resultam de uma diminuição da secreção de insulina, da acção

da insulina, ou de ambos.(21, 90)

Como se trata, fundamentalmente, de uma condição em que há desordem

do metabolismo da glicose, é razoável perguntar se o tipo de HC pode influenciar

o risco e o curso desta doença, tendo em consideração que a hiperglicemia PP se

tornou numa preocupação primordial no controlo da DM.(91)

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Estudos mostraram que fontes alimentares de HC variam grandemente nas

suas taxas de absorção e nos seus efeitos nas concentrações sanguíneas de

insulina e de glicose. Uma forma de quantificar esta variação em resposta aos HC

dos alimentos, é através do IG, conceito que, como já referido anteriormente, foi

desenvolvido no sentido de servir como ferramenta para o controlo da DMI.(13, 77)

8.1.1. Influência do Índice Glicémico e da Carga Glicémica na Diabetes

Mellitus

O papel do IG e da CG no contexto da DM é controverso, embora as

modificações na qualidade e quantidade de HC pareçam melhorar o controlo

glicémico.(22, 85, 92, 93)

A maioria dos estudos prospectivos de longo termo suportam a relação

entre IG e a incidência de DM(34, 35, 84). Todavia, nem todos encontram uma

relação.(40, 94)

O aconselhamento alimentar pode contribuir para a melhoria do estado

metabólico dos pacientes diabéticos. Em particular, uma redução do IG altera a

glicemia PP de tal forma, que inúmeras melhorias metabólicas são observadas.

A HbA1C é um parâmetro que resulta tanto da glicose sanguínea em jejum,

como dos níveis de glicose sanguínea PP; fornece uma medida aproximada da

glicemia nos últimos dois a três meses. Este é um parâmetro crucial nos

diabéticos, que têm, geralmente, níveis de HbA1C acima do normal. Este marcador

de pobre controlo glicémico está correlacionado com as complicações da DM,

sendo que uma redução deste parâmetro tem um impacto benéfico no controlo

metabólico.(20, 95) A fructosamina é, à semelhança da HbA1C, um parâmetro que

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permite inferir se há ou não um bom controlo glicémico; porém apenas fornece

indicações sobre a média da concentração de glicose sanguínea nas duas

semanas prévias.

Algumas meta-análises concluíram que o consumo de alimentos com baixo

IG parece melhorar, ainda que de forma modesta, o controlo glicémico em

diabéticos, quer pela redução dos níveis plasmáticos de colesterol total (CT), da

fructosamina e da HbA1C.(22, 85, 96)

Na mesma linha de evidência, Jarvi e col. concluíram que houve uma

melhoria da sensibilidade à insulina, do CT, do c-HDL e da apoB em indivíduos

com DM após serem sujeitos a uma dieta de baixo IG, durante 24 dias

consecutivos. (97)

A melhoria do perfil glicémico PP verificada após o consumo de alimentos

de baixo IG poderá ser o resultado combinado de uma insulinização tecidular

sustentada, de uma supressão mais prolongada da libertação de AGL e da

ausência de uma resposta de contra-regulação.(38, 78, 98) Isto é, o consumo destes

alimentos traduz-se numa absorção lenta e prolongada de HC ao longo do tempo.

Por conseguinte, há uma atenuação do aumento dos níveis de insulina e de

hormonas intestinais no período PP, o que possibilita que se mantenha supressão

dos AGL e das respostas contra-regulatórias por um período mais alargado,

atingindo ao mesmo tempo, concentrações de glicose sanguínea mais baixas.(38)

Jenkins e col. corroboram esta evidência; demonstraram que o

metabolismo lipídico podia ser melhorado dividindo as refeições em pequenos

snacks, simulando assim uma libertação mais lenta dos HC.(99)

Como não há um aumento considerável da concentração dos AGL e ocorre

uma insulinização tecidular progressiva e sustentada, a glicose é retirada da

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circulação mais rapidamente.(38) Assim, a concentração de glicose sanguínea

retorna ao seu nível basal, apesar de continuar a ocorrer absorção da mesma ao

nível do ID. Em suma: não se atinge um pico tão elevado de glicose PP e, em

simultâneo, há um aumento da área da glicose sanguínea acima dos níveis

basais. Isto demonstra um marcado decréscimo na secreção de insulina, que

poderá traduzir-se num menor risco de desenvolvimento DM.(55, 94, 100)

8.1.2. Insulino-Resistência e Diabetes Mellitus Tipo 2

Actualmente, sabe-se que a incidência de DMII pode ser reduzida quer

pela diminuição da secreção de insulina, quer pela melhoria da sensibilidade à

insulina.(20, 77, 101)

De uma forma geral, as respostas insulínicas têm uma boa associação com

as respostas glicémicas.(75, 102-104) Em pessoas com insulino-resistência (IR), o

consumo de alimentos com alto IG desencadeia aumentos consideráveis da

insulinemia e da glicemia, o que possivelmente contribui para uma exaustão mais

precoce das células pancreáticas e consequente desenvolvimento de DMII.(34, 35,

90)

As causas da IR incluem OB, factores genéticos, envelhecimento,

inactividade e alguns fármacos. A OB, que é geralmente considerada como o

principal factor no desenvolvimento dos precursores da DM (incluindo a IR e a

síndroma metabólica), reflecte interacções gene-nutriente.(105)

Estudos prospectivos recentes implicam dietas com alto IG na patogénese

da IR e da DMII.(34, 35, 100, 101, 106)

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Contudo, não foram encontradas associações significativas entre a

ingestão total de HC e IR.(107)

Outros estudos que compararam o aumento da IR com o aumento do IG,

averiguaram o impacto de um pequeno-almoço com alto ou baixo IG na refeição

subsequente (almoço). De forma consistente, estes estudos mostraram que as

respostas insulínica e glicémica são superiores após o pequeno-almoço de alto

IG, evidência esta que pode sugerir um aumento da IR. (108-110)

Estudos experimentais em animais também evidenciam os efeitos

deletérios de dietas de alto IG. Ratos sujeitos a uma dieta de alto IG (com

amilopectina ou glicose) desenvolveram uma IR significativamente mais severa do

que ratos alimentados com uma dieta de baixo IG (à base de amilose).(111, 112)

Os eventos fisiológicos que podem justificar estas constatações, são

inversos aos que foram descritos para alimentos com baixo IG. Ou seja, uma

dieta com um IG elevado desencadeia um aumento marcado quer da glicemia,

quer da insulinemia PP. Por conseguinte, ocorre uma produção aumentada de

AGL no estado PP tardio, muito provavelmente, devido a uma hipoglicemia

reactiva (ou seja, uma depressão da glicose sanguínea abaixo dos níveis basais).

Por sua vez, esta hipoglicemia poder-se-á dever a aumentos nas hormonas de

contra-regulação (cortisol, glicagina e hormona de crescimento).(113)

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8.1.3. Diabetes Mellitus tipo 1

Há apologistas de que na DMI é mais benéfico ajustar a insulina com base

no conteúdo de HC da refeição, do que recorrer a uma dieta de baixo IG. Atinge-

se um bom controlo glicémico e, simultaneamente, há uma maior flexibilidade no

que concerne quer à escolha de alimentos, quer ao próprio tamanho das

porções.(114)

Apesar do IG de uma refeição poder produzir alterações no perfil glicémico,

as alterações no IG de refeições não induzem alterações significativas na glicemia

em indivíduos com DMI.(114)

Um estudo que investigou os efeitos de uma dieta de baixo IG versus uma

dieta de alto IG numa amostra de pessoas com DMI mostrou uma redução de

50% dos episódios de hipoglicemia e uma redução de 9% da concentração de

glicose sanguínea.(93) Porém, Komindr e col. alcançaram resultados distintos,

concluindo que não há uma redução significativa da HbA1c numa dieta de baixo IG

versus uma dieta de alto IG.(115)

Um outro estudo europeu, que envolveu mais de 2800 pessoas com DMI

mostrou que uma dieta de baixo IG pode ser favorável à redução da HbA1c,

independentemente da ingestão de fibra.(84)

8.1.4. Posição da Associação Americana da Diabetes

A Associação Americana da Diabetes não defende o uso de dietas com

baixo IG, porque considera que não existe evidência suficiente para inferir sobre

os seus benefícios na DM. Contudo, aconselha a ingestão de alimentos de baixo

IG que, simultaneamente, sejam ricos em fibra.(42) Esta associação de baixo IG e

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fibra é apoiada por outros investigadores, que constataram que há uma menor

redução do metabolismo basal quando se recorre a regimes de baixo IG versus

dietas isoenergéticas com alimentos de alto IG, o que pode ser benéfico no

controlo de peso e, por conseguinte, na prevenção do desenvolvimento de IR. (116)

Um estudo que envolveu indivíduos com excesso de peso, mostrou que a

sensibilidade à insulina melhorou após o consumo de um dieta à base de cereais

não refinados, comparado com uma dieta à base de produtos refinados, durante 6

semanas, independentemente do peso.(117)

Embora a fibra, per se, possa complicar a interpretação dos resultados em

intervenções nutricionais que usam o IG(118), a recomendação estabelecida para a

ingestão de fibra é comum para indivíduos com DM e para indivíduos saudáveis,

tendo sido estabelecida em 14 gramas fibra/1000 quilocalorias.(46, 119)

8.2. Doença Cardiovascular

Tal como já foi mencionado para a DM, é de extrema relevância averiguar

os efeitos de uma elevada ingestão de HC (tendo em consideração que as

recomendações apontam para um contributo de 45% a 65% deste macronutriente

para o VET) em alguns mecanismos fisiológicos, nomeadamente, na resposta

glicémica e insulínica.(46) Tanto a hiperglicemia como a hiperinsulinemia

constituem factores de risco independentes na DCV.(21) Mesmo em populações

saudáveis, há cada vez mais evidência de que a glicemia PP tem implicações na

morbilidade e mortalidade por DCV.(120, 121)

O facto de se ter encontrado uma associação positiva entre uma

alimentação rica em gorduras saturadas e o risco de desenvolvimento de DCV,

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fez com que as recomendações nutricionais se direccionassem no sentido de

reduzir o consumo destas gorduras, privilegiando os HC.(87, 122)

A realidade é que uma elevada ingestão de HC pode, efectivamente, ajudar

à redução da gordura saturada na dieta e, simultaneamente, promover a ingestão

de frutas e vegetais ricos em antioxidantes, que podem constituir importantes

factores de protecção de DCV.(11)

Todavia, a contrapartida destas dietas pobres em gordura e com um

elevado conteúdo de HC, é a de poderem desencadear um aumento considerável

das concentrações de insulina e glicose PP. Estes episódios hiperglicémicos e

hiperinsulinémicos podem conduzir a um aumento da produção hepática de TG(24,

123) ou reduzir o clearance periférico, e também promover a síntese e secreção de

inibidor do activador do plasminogénio 1 (PAI-1). Tanto os TG como o PAI-1 estão

associados com problemas cardiovasculares.(124) Simultaneamente, dietas pobres

em gordura podem provocar uma redução do c-HDL.(21) Ou seja, podem alterar de

forma negativa os metabolismos lipídico e glicídico, e por conseguinte, originar

IR.(122) Tanto a OB abdominal, como a IR e a dislipidemia são componentes chave

da Síndrome Metabólica (SM), e estão associados, de forma independente, com

DCV.(125)

Da mesma forma, uma glicemia PP excessiva e recorrente pode diminuir o

c-HDL, aumentar os TG, e ser directamente tóxica através do aumento da

glicosilação de proteínas, gerando stress oxidativo e causando uma

hipercoagulação transitória e uma função endotelial aumentada.(37)

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8.2.1. Associação entre Índice Glicémico/Carga Glicémica e Doença

Cardiovascular

Evidência epidemiológica sugere uma associação positiva entre CG

elevada e aumento do risco de DCV, ajustando para factores de risco desta

condição (entre outros, idade, hábitos tabágicos e VET). Resultados idênticos

foram encontrados para o IG.(79, 122)

Dietas com alto IG e/ou CG foram associados com risco acrescido de

doença coronária(17, 79, 122, 126); a CG foi também associada, num estudo

prospectivo de coorte, com aumento do risco de acidente cerebrovascular.(122)

Foi demonstrado que um dos factores protectores do risco DCV, o c-HDL

tem uma associação negativa com um IG elevado.(86, 127) Aliás, há inúmeros

estudos que sugerem que o IG da dieta é um factor preditivo do c-HDL, mais do

que a gordura ou fibra, em populações saudáveis.(86, 87, 127)

A análise da informação obtida no Nurses’ Health Study sugere uma

associação negativa entre enfartes do miocárdio (fatais e não fatais) com dietas

de baixo IG e CG. Todavia, essa associação não foi verificada em pessoas com

IMC inferior a 23 Kg/m2, o que poderá indicar que este tipo de dietas só terá

interesse preventivo em indivíduos que reúnam outros factores de risco.(79) De

igual modo, outros autores encontraram uma associação semelhante para o IG,

em indivíduos com sobrepeso.(122, 128)

Noutros estudos não se encontrou qualquer associação do IG/CG com

enfarte do miocárdio, ataque isquémico ou mortalidade cardiovascular.(129)

Estudos de curta e de longa duração demonstraram que a intervenção pela

redução do IG pode atenuar factores de risco de DCV.(17, 127, 130) Estas dietas

mostraram melhorar o uptake de glicose mediado pela insulina in vitro nos

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adipócitos, e a sensiblidade à insulina, como constatado com a redução dos

níveis de AGL no período PP. Esta redução traduz-se numa menor síntese

hepática de VLDL. Este acontecimento é relevante porque níveis aumentados de

VLDL traduzir-se-iam numa redução do c-HDL e numa formação aumentada de

LDL pequenas e densas aterogénicas.(21)

O mecanismo pelo qual um elevado IG ou CG aumentam o risco de DCV

não está completamente esclarecido, mas os efeitos na IR e no perfil lipídico

devem estar envolvidos. Os HC de alta CG produzem respostas substanciais de

glicose e de insulina no período PP. O declínio brusco da glicose sanguínea

ocorre poucas horas após o seu consumo, devido à elevação da secreção de

insulina, criando-se um estado semelhante ao de um momento de fome.(131) O

agravamento do estado da glicemia PP pode desencadear IR e até OB.(53) Por

conseguinte, e derivado a uma potencial IR e/ou OB, há aumento dos TG, do c-

LDL e redução do c-HDL, factores de risco independentes de DCV.(122)

Estudos de intervenção mostraram uma redução dos TG e do c-LDL após

uma refeição de baixo IG.(31) Adicionalmente, Jarvi e col. constataram uma

redução de 58% do PAI-1 com uma dieta de baixo IG, redução esta que constituiu

a primeira evidência de que um baixo IG pode ter um efeito benéfico na

fibrinólise.(97)

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8.3. Obesidade

De acordo com a classificação da OMS, a OB pode ser definida por um

Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou superior a 30 Kg/m2.(132) Em diversos

trabalhos tem sido encontrada uma associação entre IMC elevado com risco de

mortalidade e com um amplo espectro de doenças.(133-135)

A morbilidade por OB resulta quer de acções metabólicas do tecido

adiposo (libertação de AG que causam IR e produção de factores protrombóticos

e citocinas), quer do efeito mecânico do excesso de peso. (136, 137)

As razões para esta já considerada pandemia global são complexas. É

aceite que a OB resulta, entre outros, de um desequilíbrio entre a ingestão e o

gasto energético, sendo reconhecido que o excesso de ingestão de alimentos de

elevada densidade energética e muito ricos em gordura (facilitada, muito em

parte, graças ao menor custo destes em relação a escolhas mais saudáveis),

combinados com baixos níveis de actividade física (AF) poderão estar na sua

origem. (45, 138, 139) Entre outras actividades sedentárias, o ganho ponderal foi

associado ao aumento de tempo gasto a ver televisão, tanto em crianças, como

em adultos.(138, 140)

Não será, de igual modo, de descurar que a susceptibilidade genética tem

um papel. Todavia as alterações no perfil genético das populações não podem

explicar o dramático aumento na sua prevalência. A este nível, foram encontrados

defeitos genéticos individuais raros, que resultam numa OB extrema. Foram

também identificados pelo menos 600 genes, polimorfismos e marcadores

genéticos associados com OB.(141)

A redução da ingestão de gordura constituiu a primeira abordagem

nutricional para a prevenção e tratamento da OB. A gordura é a fonte mais

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concentrada de energia, sendo eficientemente armazenada sob a forma de

gordura corporal. Os alimentos com alto teor de gordura são menos saciantes do

que porções isoenergéticas de alimentos ricos em HC ou proteína.(142)

A adesão a um aconselhamento alimentar para diminuir a ingestão de

gordura e aumentar a de HC resulta, regra geral, num aumento do efeito

glicémico dos alimentos na dieta. Tanto a qualidade como a quantidade de HC

influencia a glicemia PP, e a interacção entre os dois pode ser sinérgica.(11, 16, 19,

21, 37) Uma dieta ocidental típica inclui um elevado conteúdo de HC (alta CG) com

alto IG (batata, pão branco, …) sendo digerida e absorvida rapidamente, o que

resulta no aumento da necessidade de secreção de insulina.(37) É de extrema

relevância averiguar o impacto da quantidade e da qualidade dos HC nos

mecanismos conducentes a excesso de peso e, em última instância, a OB,

especialmente numa altura em que há uma crescente propaganda a favor do uso

de dietas de baixo IG para perda ponderal.(47)

8.3.1. Relação entre o Índice Glicémico e a Obesidade

No final da década de 90, Ludwig e col. estenderam a teoria do IG ao risco

de obesidade.(36, 78) O aspecto primordial desta teoria é o de que a ingestão de

alimentos de alto IG conduz a uma compensação hiperinsulínica em resposta a

uma hiperglicemia PP precoce, o que pode ter consequências na distribuição

energética, a médio ou longo termo PP. Isto é, favorece-se o armazenamento

energético, mais do que a oxidação – este facto constitui, para especialistas na

etiologia da obesidade, um mecanismo de importância central.(31, 78, 116)

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30

Ou seja, diferenças no IG dos alimentos ditam diferenças na partição e

oxidação de combustível. Aumentos PP das concentrações de glicose e insulina

aumentam, de forma aguda, a oxidação de HC em detrimento de uma menor

oxidação lipídica ao longo do período PP, independentemente do indivíduo estar

em repouso ou em actividade.(22) O mecanismo na base deste evento é rápida

activação de enzimas marca passo. É o caso, por exemplo, da malonil coenzima

A, um intermediário na oxidação da glicose, que inibe intensamente o transporte

de AG para a mitocôndria, o que se traduz num decréscimo da sua oxidação. (22)

Ou seja, há uma sobre-regulação da expressão de enzimas envolvidas na síntese

lipídica, enquanto que a expressão das enzimas hepáticas envolvidas na

oxidação lipídica está sub-regulada. Baixas taxas de oxidação de gordura foram

associadas a um maior ganho ponderal em inúmeros estudos prospectivos.(22)

Ainda de destacar que o consumo continuado de uma dieta de alto IG

quando comparada com o consumo de dieta de baixo IG, origina uma maior

concentração de glicogénio e TG musculares.(143)

Foi também encontrada uma correlação positiva e independente entre IG e

CG com o IMC.(144) Spieth e col. constataram uma redução significativa do IMC

através de uma dieta ad libitum com alimentos de baixo IG , quando comparada

com uma dieta pobre em gordura e restrita em energia. (145)

8.3.2. Alimentos de baixo índice glicémico e controlo de peso

Estudos de coorte fornecem evidência de que o efeito glicémico da dieta

pode influenciar o controlo de peso. No estudo EURODIAB(146), que envolveu

cerca de 3000 indivíduos com DMI, o consumo de uma dieta com baixo IG,

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31

independentemente da ingestão de HC, fibra, e gordura, conduziu a um menor

perímetro da cintura e a uma menor razão cintura: anca, por comparação ao

consumo de dieta com alto IG.

No estudo CARDIA, o baixo consumo de fibra indicou, num período de 10

anos, um maior ganho ponderal, uma maior razão cintura:anca e maior

concentração de glicose e insulina nas duas horas PP, do que o consumo de

gordura saturada.(147) Apesar da fibra não estar directamente relacionada com IG,

a fibra alimentar viscosa e alimentos nos quais a estrutura natural da parede

celular se mantém intacta (leguminosas) têm, regra geral, menor IG.(148)

Também Agus e col. defendem que a ingestão de alimentos de baixo IG e

ricos em fibra podem ser úteis em indivíduos que perderam peso e que desejam

manter o seu peso actual.(116)

Os alimentos de baixo IG podem ser benéficos no controlo de peso de

duas formas:(22, 36, 145, 149)

- Promovendo a oxidação de gordura, à custa da oxidação de HC;

- Promovendo a saciedade.

Estas duas qualidades resultam das baixas taxas a que são digeridos e

absorvidos os HC e, por conseguinte, aos efeitos correspondentes na insulinemia

e glicemia PP. Mesmo quando se iguala o conteúdo em nutrientes e energia, os

alimentos de baixo IG induzem maior saciedade do que os de alto IG, e são

seguidos por uma menor ingestão energética em refeições subsequentes.(36)

Alimentos ricos em HC, mas com baixo IG podem manter a sensibilidade à

insulina e aumentar o potencial da perda de peso, mesmo em dietas ad libitum

pobres em gordura.(36) Foi também constatado que refeições compostas por

alimentos com baixo IG induzem uma maior secreção de colecistocinina (CCK) e

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uma maior saciedade após um período de 180 minutos, subsequente à sua

ingestão.(36) Também Ludwig e col. encontraram uma associação entre IG e

apetite; duas refeições (pequeno-almoço e almoço) de alto IG promoveram, nas

restantes refeições do dia, um maior apetite e uma ingestão energética superior

em 53%, quando comparadas com refeições semelhantes de baixo IG.(78)

Howe e col. descobriram que o consumo de uma dieta composta por

alimentos com baixo IG (à base de amido com grande proporção de amilose),

durante 14 semanas, pareceu aumentar a retenção de proteína em maior

quantidade do que uma dieta baseada em amido com alto IG, tanto em homens

saudáveis como naqueles que apresentavam hiperinsulinemia.(150) Isto poderá

constituir um benefício adicional, uma vez que a perda de peso pode fazer-se

acompanhar não só de perda de massa gorda, mas também de massa magra.(151)

Pode parecer paradoxal que um alimento que produz uma resposta

glicémica mais baixa possa ser, efectivamente, mais saciante do que uma porção

isoenergética de alimento que produz uma elevada resposta glicémica. Contudo,

esta situação é caracterizada por taxas lentas de digestão e absorção no ID, o

que faz com que os receptores de nutrientes presentes no tracto gastrointestinal

sejam estimulados por um maior período de tempo, resultando num feedback

prolongado (através de sinais como a CCK e outros) para o centro de saciedade

no cérebro.(22)

É ainda importante enfatizar que muitos dos alimentos de baixo IG são

relativamente menos refinados do que os de alto IG e, por conseguinte,

apresentam menor densidade energética e menor palatabilidade, factores estes

que constituem importantes determinantes da sua maior capacidade de

saciação.(37)

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33

Mas nem todos os investigadores estão de acordo em relação à eficácia

das dietas com baixo IG na perda de peso. Wolever e col. reportaram uma perda

de peso semelhante em obesos com DMII que receberam, aleatoriamente, dietas

com baixo ou alto IG.(152) Outros investigadores indicam que não há benefícios de

dieta de baixo IG na composição corporal, no apetite e na saciedade.(153)

8.3.3. Alimentos de alto índice glicémico e ganho ponderal

Estudos de curta e de longa duração em humanos e em animais,

forneceram evidência de que uma dieta composta por alimentos de alto IG

interfere no apetite e na repartição de nutrientes, de uma forma que promove o

armazenamento de gordura corporal.(37)

Após o consumo de refeições com elevado IG verifica-se que há um

aumento considerável da concentração de insulina, conduzindo directamente a

uma rápida queda tanto na glicose como nas concentrações de AG, muitas das

vezes, abaixo das próprias concentrações em jejum.(22, 38) Três a cinco horas PP,

as concentrações dos dois principais combustíveis metabólicos a circular no

sangue estão simultaneamente baixos, uma situação que pode ser interpretada

pelo sistema nervoso central como “estado de baixo combustível”.(36, 78)

Constatou-se ainda uma associação entre IG elevado com uma redução das

concentrações de AG e glicagina, e com um aumento das respostas hormonais

de contra-regulação (por exemplo, do cortisol e da moradrenalina), devido ao

ressalto hiperglicémico – hipoglicémico a que se assiste após o seu consumo. Isto

estimula a gliconeogénse a partir de aminoácidos gluconeogénicos, assim como

estimula o apetite.(22) Estas elevações nas concentrações das hormonas contra-

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regulatórias sugerem que a redução nos principais combustíveis metabólicos é

biologicamente significativa. (78)

O período compreendido entre o momento de consumo de uma dieta de

alto IG e as 6 horas subsequentes é assim caracterizado por uma maior

dependência de HC e proteínas como fontes de combustível, e uma menor

dependência de gordura. Como as reservas de HC e proteína são limitadas, uma

maior taxa de uso destas poderá estimular o apetite e encorajar um consumo

excessivo de alimentos. As descidas transitórias na concentração de glicose

sanguínea foram associadas a pedidos de refeição em indivíduos.(154) Assim, os

efeitos marcados de hiperglicemia e hipoglicemia dos alimentos de alto IG podem

explicar, parcialmente, a sua menor saciedade, observada no período PP.

Paradoxalmente, há autores que defendem que o aumento marcado da reposta

glicémica PP está associado ao aumento dos níveis de saciedade.(155, 156)

Refeições de alto IG induzem menores taxas de oxidação de gordura do

que refeições de baixo IG de composição semelhante, o que poderá reforçar o

impacto destas no ganho ponderal.(157)

O mesmo se poderá constatar para dietas com elevada CG. Durante uma

dieta de elevada CG, verificou-se um decréscimo do gasto energético e uma

redução mais acentuada das concentrações séricas de leptina (que possui

receptores em núcleos hipotalâmicos que, na sua presença, inibem o apetite e

estimulam mecanismos que levam a um aumento da taxa metabólica basal); o

balanço azotado tendeu a ser mais negativo e a ingestão voluntária de alimentos

tendeu a ser maior, quando comparada com a dieta de baixa CG. Pelo contrário,

uma dieta ad libitum de baixa CG permitiu uma maior perda de peso do que uma

dieta controlada pobre em gordura.(158)

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Ao contrário do que foi descrito para alimentos de baixo IG, a baixa

disponibilidade dos principais combustíveis metabólicos após uma refeição de

elevado IG desencadeia marcados aumentos nas hormonas contra-regulatórias,

algumas das quais com acção proteolítica. Isto poderá favorecer o catabolismo do

tecido magro. Ou seja, além de poderem naturalmente favorecer o ganho

ponderal, podem conduzir a uma perda mais acentuada de massa magra, o que

não é de todo desejável quando se pretende que haja perda ponderal.(22, 159)

Foi também investigado o impacto do IG no ganho ponderal de mulheres

em período de gestação. Um estudo conduzido em mulheres com 8 semanas de

gestação concluiu que houve um ganho ponderal muito mais significativo (19,7Kg

versus 11,8Kg), no termo da gravidez, nas que consumiram uma dieta com

elevado IG, quando comparadas com as que consumiram dieta com baixo IG.(160)

8.3.4. Obesidade e excesso de gordura hepática

Estima-se que cerca de 20% dos adultos têm uma acumulação excessiva

de gordura a nível hepático (em que a gordura é armazenada nos hepatócitos e

fibras musculares, em vez de constituir reserva nos adipócitos). Esta desordem no

armazenamento de gordura ectópica tem uma associação forte com a IR (daí que

seja também mais frequente em indivíduos sedentários, com excesso de peso ou

OB, e/ou com DMII).(77, 161)

Entre estes indivíduos, 10 a 15% poderão desenvolver esteatose hepática

de origem não alcoólica (EHNA). (161)

Tendo em consideração que a síntese de gordura hepática resulta, muito

em parte (cerca de 60%), dos AGL libertados pelo tecido adiposo periférico, e

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36

sabendo que uma dieta de baixo IG pode atenuar esta libertação, poder-se-á

especular sobre um eventual papel protector destes alimentos no

desenvolvimento desta condição.(38, 161)

Como já referido anteriormente, um baixo IG é também apontado como um

potencial adjuvante na prevenção de complicações como a IR, DMII, assim como

na redução ponderal.(22, 34, 35, 145) Ou seja, este tipo de alimentos poderá constituir

uma ajuda na terapêutica nutricional.

Poucos estudos investigaram o impacto do IG e CG na acumulação de

gordura hepática; um deles encontrou uma associação entre alto IG e excesso de

gordura hepática; contudo, esta associação apenas foi válida para indivíduos com

IR.(162)

8.4. Cancro

A evidência epidemiológica aponta que a alimentação é dos factores

ambientais com maior preponderância no desenvolvimento de cancro.(163)

Em particular, a alimentação tem um reconhecido papel na etiologia do

cancro colorectal (em que a carne e a gordura são considerados factores de risco

primários).(164)

O IG tem vindo a ser apontado como uma abordagem relevante para a sua

prevenção. (37, 38) A possível relação entre o IG e o risco de cancro sai reforçada

pelo facto de se ter constatado que o insulin-like growth factor-I (IGF-I) e a IR

poderão estar implicados nos cancros da próstata, mama e colorectal.(165-167)

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37

8.4.1. Cancro colorectal

Factores não alimentares, mas que também derivam ou são condicionados

pelo tipo de alimentação, nomeadamente, a OB, a IR e a DMII foram associados a

um aumento de risco de cancro colorectal.(168-170) Uma vez que o IG poderá

condicionar a progressão destes factores, é legítimo averiguar uma possível

associação deste com a doença. De facto, o papel de dietas que geram altas

respostas glicémicas e, por conseguinte, hiperinsulinemia, foram associados à

carcinogénese colorectal.(171)

Um estudo caso-controlo encontrou uma associação positiva entre uma

alimentação de alto IG/CG, com o aumento do risco desta condição.(172)

De notar que há evidência que suporta que dietas de elevada CG e pobres

em fibra aumentam o risco de cancro colorectal(173). Aliás, a ingestão de fibra é

apontada como um factor protector.(174) Evidentemente que nem todos os

alimentos de baixo IG têm elevados teores de fibra; contudo, uma boa parte dos

alimentos ricos em fibra solúvel apresentam baixo IG, o que poderá constituir uma

mais valia em termos de efeito protector. (55)

Alguns autores não encontraram qualquer associação entre ingestão de

HC, IG e CG com risco do cancro colorectal, cancro do cólon ou cancro rectal.(175)

8.4.2. Cancro pancreático

Os únicos factores de risco implicados, de forma consistente, no risco de

cancro pancreático são a DM, hábitos tabágicos e OB.(176-178)

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Estudos observacionais demonstraram que um aumento da concentração

de insulina e alterações do metabolismo da glicose podem aumentar o risco de

cancro pancreático, o que vai de encontro aos factores de risco anteriormente

apontados.(179, 180) Uma vez que há uma quantidade apreciável de evidência que

demonstra o impacto de uma dieta de alto IG/CG no aumento da glicemia e

insulinemia PP, investigou-se a relação do IG e da CG com este cancro.(11, 19, 21,

22)

Foi comprovado que indivíduos obesos e/ou sedentários são mais

susceptíveis de desenvolver IR. Caso haja um quadro de IR, a secreção de

insulina em resposta a uma elevada CG será maior e, por conseguinte, maior a

probabilidade de ocorrer exaustão das células pancreáticas, resultando em

DMII.(34, 35, 77, 78) É por isso legítimo especular que um elevado IG/CG possa

constituir um factor de risco mais importante nestes indivíduos.

A maioria dos estudos conduzidos não encontrou uma relação entre IG/CG

e risco de cancro pancreático.(181-184) Mais especificamente, um estudo de coorte

prospectivo, de grande tamanho amostral (124.907 indivíduos), não encontrou

qualquer associação entre IG, CG, quantidade de HC ingeridos e risco. Neste

mesmo estudo, também não foi encontrada qualquer associação entre IR e risco

de cancro.(183)

Porém, os diferentes estudos são inconclusivos, uma vez que um estudo

prospectivo encontrou resultados opostos, defendendo que uma dieta de elevada

CG está associada com aumento do risco de cancro pancreático, em mulheres

com IR.(182)

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8.4.3. Cancro do endométrio e cancro da mama

Uma associação positiva entre IG e CG foi encontrada para o risco de

cancro da mama.(18)

Não se encontrou associação entre a ingestão de HC, CG ou IG e a

incidência de cancro do endométrio; contudo, em mulheres sedentárias e com

IMC superior a 25Kg/m2, a elevada ingestão de HC e uma elevada CG foram

positivamente relacionadas com este tipo de cancro. (185) O facto de só surgir

associação nestas levanta de novo a questão da IR como factor preponderante no

desenvolvimento desta doença.

8.5. Síndrome Metabólica

A SM é um conjunto de perturbações de origem metabólica associadas a

um aumento do risco de DCV e DMII (pessoas com SM têm um risco cinco vezes

superior de vir a desenvolver DMII).(123, 186) A sua etiologia permanece pouco

clara, mas sabe-se que resulta de uma interacção complexa entre factores

ambientais, genéticos e metabólicos.(123) Estes factores de risco de origem

metabólica incluem: dislipidemia aterogénica, hipertensão arterial, alterações da

regulação da glicose, estado pró-inflamatório e estado pró-trombótico. (187, 188)

Também a OB parece exercer uma forte influência no surgimento desta

complicação, uma vez que é, muitas das vezes, conducente às complicações

supracitadas.(189, 190)

As recomendações para a sua prevenção e tratamento incluem um

aumento da actividade física e redução de peso (à custa de dietas com baixo teor

de gordura), ainda que não exista total consenso no que concerne à melhor

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abordagem alimentar.(123) Há que ter alguma prudência relativamente à dieta

hipolipídica, uma vez que se aumenta o contributo dos HC no VET, e poderá

haver um aumento dos TG e uma redução do c-HDL, consoante a qualidade dos

HC em causa.(123) Uma dieta rica em HC, mais do que uma dieta de igual valor

energético mas rica em gordura, aumenta a peroxidação lipídica e troca a via

metabólica para produção de energia (recorre aos TG em detrimento do

glicogénio).(24)

Uma outra abordagem alimentar, que tem vindo a ganhar progressiva

visibilidade, foca-se mais no aspecto qualitativo do que quantitativo – isto é, realça

a importância da escolha de gorduras insaturadas (mais do que uma dieta pobre

em gordura), e de uma ingestão equilibrada de HC ricos em fibra.(55, 123) Num

estudo em que se procedeu à troca de 15% dos HC (numa dieta em que estes

representavam 60% do VET) por azeite, constatou-se uma redução dos níveis de

glicose sanguínea (em cerca de 12%) e dos níveis séricos de insulina. Ocorreu

ainda redução dos TG em jejum, e do c-LDL.(191) Ou seja, um critério de escolha

alimentar qualitativo poderá constituir uma forma eficaz de reduzir complicações

relacionadas com a SM.

Os possíveis efeitos benéficos dos alimentos de baixo IG no metabolismo

PP podem ser úteis não só no tratamento, mas também na prevenção desta

condição.

Em indivíduos com dislipidemia, o consumo de alimentos com IG baixo

mostrou reduzir as concentrações de c-LDL e de TG.(58, 192)

Ainda no que concerne ao perfil lipídico, um benefício adicional é o de que

alimentos com baixo IG e CG têm sido associados a níveis aumentados de c-

HDL.(58, 86)

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Um outro aspecto de relevo é a influência do IG na IR e subsequente

impacto na prevalência de SM. Um estudo que envolveu 2834 participantes

examinou a relação entre a ingestão de HC, a IR e a SM. Conclui-se, à

semelhança de outros estudos, que o IG e CG estavam positivamente associados

à IR, e que a prevalência de SM foi significativamente menor no quintil de

consumo de baixo IG.(106)

8.6. Desempenho físico

Um dos mais importantes objectivos nutricionais no período que sucede o

exercício físico é o de repor as reservas de glicogénio hepático e muscular.(21)

A toma de uma refeição de elevado IG, uma a duas horas antes da prática

de exercício, potencia a utlização de HC como substrato energético preferencial,

em detrimento da gordura.(157) Esta evidência suporta a já supracitada teoria de

que alimentos de alto IG estimulam a acumulação de gordura, em indivíduos em

repouso.

Está documentado que o consumo de alimentos de baixo IG por atletas

optimiza a sua performance desportiva e a subsequente recuperação do esforço.

Porém, estes alimentos não são os mais adequados para a restituição do

glicogénio muscular.(193)

Um pequeno-almoço de IG moderado (com um valor de cerca de 61)

ingerido 45 minutos antes do exercício melhora a performance, mantém a

euglicemia por um maior período de tempo durante a prática desportiva e resulta

numa maior oxidação total de HC durante o exercício, por comparação a um PA

de IG alto (IG de cerca de 82).(15)

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Embora alimentos de alto ou de baixo IG, ingeridos no período pré ou pós

exercício físico, desencadeiem respostas metabólicas distintas, não existe

evidência de que essas diferenças possam influenciar a performance física

subsequente.(15, 194)

9. Novos campos de investigação

Inúmeros investigadores estudaram a associação entre factores

alimentares e a patogénese da acne.(195-200) Um grupo de investigadores focou-se,

especificamente, na associação de uma dieta de baixa CG com este problema.

Esta dieta traduziu-se numa melhoria da acne e também da sensibilidade à

insulina, o que sugere que uma adequada escolha das fontes de HC na

alimentação pode desempenhar um papel de relevo no surgimento desta

complicação.(201, 202)

Um outro aspecto alvo de investigação recente relacionada com o IG, é a

maculopatia relacionada com a idade. A mácula situa-se na retina, que por sua

vez, depende de um suprimento adequado de glicose da circulação sistémica

para que possa manter a sua função fisiológica. Foi analisada uma amostra de

526 pessoas do Nurses’ Health Study, tendo-se concluído que uma dieta de longo

prazo com alto IG, pode constituir um factor de risco de maculopatia (por induzir

alterações pigmentares na retina), independentemente da quantidade de HC

ingeridos. (203) Ainda que exista pouca evidência sobre este tópico, esta relação

poder-se-á dever à hiperglicemia recorrente, que conduz, entre outros, a stress

oxidativo e a efeitos tóxicos directos da glicose no epitélio pigmentar da retina. A

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suportar esta hipótese, há estudos que sugerem um possível efeito benéfico de

dietas de baixo IG na redução dos danos oxidativos.(38, 204)

Também poderá ser útil averiguar os conteúdos e a biodisponibilidade de

crómio de dietas com alto e baixo IG, uma vez que a depleção deste foi associada

com hiperglicemia e dislipidemia.(205) Um estudo demonstrou um aumento das

perdas urinárias de crómio aquando da toma de refeições que desencadeavam

elevadas respostas glicémicas PP.(54)

10. Análise crítica

Durante grande parte da evolução humana, a maioria dos HC consumidos

tinham baixo IG e as quantidades de insulina em resposta a estes, eram baixas. O

metabolismo humano adaptou-se a este padrão alimentar, o que fez com que

uma mudança brusca para o típico padrão ocidental, com predomínio de HC de

alto IG e gordura saturada, fosse acompanhada por inúmeras perturbações

metabólicas.(206, 207) Uma das teorias frequentemente apontada para este

fenómeno prende-se com o aumento das respostas glicémica e insulínica PP

após o consumo de alimentos de elevado IG. Este aumento da resposta da

insulina foi relacionado com inúmeros eventos, nomeadamente, aumento da

ingestão alimentar conducente a obesidade(208), hiperinsulinemia que desencadeia

IR, exaustão das células pancreáticas que leva a DMII(34, 35, 100, 101, 105) e

alterações desfavoráveis do perfil lipídico que, entre outros, potenciam o risco de

DCV.(79, 87, 122) Porém, neste contexto, o consenso sobre a utilidade da aplicação

do IG, está longe de ser atingido. Este tópico de discussão continua a gerar

controvérsia entre organismos de grande credibilidade e prestígio,

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nomeadamente, na Associação Americana da Diabetes, na Associação

Americana do Coração, na ADA, no Departamento de Agricultura Americano e na

Academia Nacional de Ciências.(22, 37, 42, 43) Já o grupo de peritos em HC da FAO e

OMS reconhece que o IG é um indicador chave dos efeitos metabólicos dos HC, e

pode tornar-se numa poderosa ferramenta para ajudar pacientes a fazer escolhas

correctas, recomendando o seu uso como método de categorizar HC.(11)

O IG poderá ser utilizado como um adjunto para refinar o controlo

glicémico.(22, 85, 92, 93) A Associação Europeia para o Estudo da Diabetes, a

Associação Canadiana da Diabetes e a Associação de Dietistas da Austrália

recomendam alimentos de baixo IG, ricos em fibra, para indivíduos com DM, de

forma a melhorar a glicemia e o controlo de peso.(37) Nas recomendações

nutricionais para a DM, o enfoque tem sido na redução do contributo da gordura

para o VET, à custa de um aumento progressivo do teor de HC.(42) Porém, a

utilização de dietas de elevado conteúdo de HC com baixo IG, e pobres em

gordura, apenas demonstraram reduzir o c-LDL, com poucos efeitos no controlo

glicémico, em pacientes com DMII.(83) A questão que se coloca é se,

efectivamente, está será a melhor opção. Uma troca de 15% dos HC por azeite,

numa dieta com 60% de HC, resultou numa redução média de 12% da glicemia

em indivíduos com DMII; adicionalmente, houve uma redução dos TG em jejum e

do c-LDL.(191) O mesmo será questionar: uma dieta mediterrânica, caracterizada

por uma baixa ingestão de gorduras saturadas, pobre em colesterol, com

predominância de amidos e de gorduras monoinsaturadas, não poderá constituir

uma opção mais viável?(55)

Outra questão que tem gerado alguma celeuma é a da associação entre

respostas insulínicas e respostas glicémicas. De notar que houve estudos que

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constataram que a resposta glicémica não é preditiva da resposta de insulina, ou

seja, elas não são proporcionais.(104, 209) Ainda neste contexto, concluiu-se que, de

três alimentos com diferentes IG, a batata (dos três a que apresentava maior IG)

era a que desencadeava uma resposta insulínica mais baixa em função da

ingestão de um grama de HC (da batata).(104)

No que concerne a questões metodológicas, é fundamental que se

uniformizem critérios de determinação do IG. Há inúmeros laboratórios que

utilizam diferentes metodologias de determinação (sendo que alguns recorrem a

amostras de sangue capilar, enquanto que outros utilizam plasma venoso).(37)

Outro factor que suscita algumas dúvidas é o emprego de questionários de

frequência alimentar (QFA) para estimar o IG/CG diários, metodologia recorrente

na maior parte dos estudos. Como se sabe, o IG de um alimento varia com

inúmeros factores, que não são tidos em conta num QFA.(107) Além disso, o

número de itens é limitado, o que faz com que nem sempre seja possível

averiguar a real CG da dieta.(183) Todavia, um estudo recente de Levitan e col.

demonstrou que esta metodologia pode ser válida.(210)

Tendo presente que o IG é um conceito relativamente complexo, é legítimo

levantar algumas questões, nomeadamente: não irá introduzir um fardo adicional

para os doentes que, se mal orientados, podem descurar outras recomendações

nutricionais tão ou mais relevantes que o IG? A Indústria Alimentar não terá a

tendência de o tornar excessivamente simplista, culminando, invariavelmente,

numa divisão dos alimentos em “bons” e “maus” (isto é, alimentos de baixo IG e

alto IG)? Estas duas questões vão de encontro a uma das preocupações

primordiais inerentes ao IG – o eventual comprometimento de um dos mais

nobres conceitos de alimentação saudável: a variedade.(211)

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Todavia, há resultados que contrapõem este criticismo.(21, 212) Um estudo

que envolveu 104 crianças com DMI sugeriu que uma dieta de baixo IG pode ser

mais eficaz na redução da HbA1c, do que uma dieta baseada no sistema de troca

de HC. As crianças que se submeteram à dieta de baixo IG não tiveram

dificuldade em seleccionar as refeições e não reportaram restrições alimentares.

Os pais destas crianças não associaram esta dieta a fonte de tensão e/ou conflito

familiar, nem tão pouco a restrição das actividades familiares.(21)

Foram também estudadas pequenas modificações alimentares, com

pequeno impacto na variedade e também na própria aceitabilidade por parte do

consumidor, comprovando-se que, por exemplo, a substituição de um pão de

elevado IG por um pão de baixo IG pode alterar favoravelmente as concentrações

sanguíneas de glicose, favorecendo-se uma redução da glicemia PP.(212)

Há muitos apologistas do uso da CG, ao invés do uso do conceito de IG.

Porque, efectivamente, a CG é um melhor preditor da resposta glicémica a uma

refeição.(34, 35, 37, 39, 80) Contudo, como qualquer conceito que resulte do

cruzamento de outros (neste caso, do IG e da quantidade de HC na porção de

alimento), a CG não pode ser considerada de forma independente.(73) Isto porque

uma alta carga glicémica pode resultar de uma elevada quantidade de HC

oriundos de alimentos refinados e bebidas açucaradas ou, pelo contrário, resultar

de uma elevada quantidade de HC provenientes de grãos inteiros, com

fitoquímicos e com quantidades apreciáveis de fibra alimentar.(62) Evidentemente

que as consequências destas CG, que embora com o mesmo valor, apresentam

conteúdos totalmente distintos, vão ser certamente, muito diferentes. Torna-se por

isso necessário questionar a validade de alguns resultados. Nem sempre se

encontrou associação entre CG elevadas e por exemplo, alterações no peso

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corporal.(62) Contudo, foram encontradas associações fortes entre peso corporal e

IG.(22, 37, 145, 159, 160) Será que esta discrepância inesperada de resultados não está

a ser mascarada por outras variáveis confundidoras, que alteram o impacto

alimentar/ nutricional de uma dieta de elevada CG?

Certos países deram passos gigantes no campo de aplicação do IG. O

caso de maior destaque é o da Austrália, em que já se ultrapassaram alguns dos

inconvenientes supracitados.(21, 37) Entre outras medidas, uma parceria entre a

Universidade de Sidney, a Fundação de Pesquisa da Diabetes Juvenil e a

Diabetes Austrália resultou num programa sobre o símbolo do IG, que visa

fornecer aos consumidores um guia para a escolha de alimentos ricos em HC,

incluindo na rotulagem dos géneros alimentícios os valores de IG. A importância

dada ao IG é tal, que as recomendações oficiais para a saúde dos idosos

recomendam, especificamente, o consumo de alimentos à base de cereais com

baixo IG para uma boa saúde.(37)

À Indústria Alimentar é criado o desafio de responder adequadamente às

necessidades do consumidor, proporcionando-lhe a oportunidade de adquirir bens

alimentares que contribuam não só para a simples função de nutrir, mas que

também contribuam para a sua saúde e bem-estar. Neste contexto, poder-se-á

investir no desenvolvimento de produtos que satisfaçam inúmeros requisitos em

simultâneo. Um deles poderá ser o desenvolvimento de produtos com baixo IG.

Muitas das vezes, é o processamento alimentar que influencia a extensão

da gelatinização do amido.(18, 37, 39, 57, 58, 68) A retrogradação, a complexação do

amido e as já mencionadas reacções de Maillard podem reduzir o IG.(21, 37) No

caso de produtos cerealíferos, alterações na mistura da farinha, tempo de

batedura e temperatura aplicada, pressão e tratamentos mecânicos, constituem

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factores de relevância para o IG final.(21) O emprego de elevadas pressões na

quebra mecânica, com vista à obtenção de cereais prontos-a-comer, é

responsável pelas principais alterações do amido. Enquanto que neste tipo de

produtos se assiste a um aumento do IG, no fabrico de biscoitos assistir-se-á a

um efeito contrário: na mistura de farinhas há pouca incorporação de água, o que

condiciona a gelatinização do amido e, por conseguinte, reduz o IG.(21)

O design de alimentos alternativos com baixo IG poderá passar pela

utilização de novos genótipos com composições modificadas de HC

(nomeadamente, com uma maior quantidade de fibra e amilose) e/ou pela

optimização das condições de processamento (processamento mínimo,

fermentação).(19, 21, 37-39, 55, 57, 62-64) Pode constituir uma opção de interesse a

incorporação de polissacarídeos não amiláceos, como é o caso dos -glucanos,

que induzem uma menor resposta glicémica e reduzem o colesterol sérico,

podendo ser usados em pacientes com hipercolesterolemia.(11, 63) O uso de

aditivos para reduzir a digestão do amido também deverá ser considerada.(21, 37)

De notar que a inclusão de gordura, sacarose e frutose pode também contribuir

para a redução do IG.(19, 21, 25, 38, 69, 71, 72) No entanto, estes meios poderão produzir

efeitos potencialmente adversos e, em simultâneo, exercer a acção desejada no

IG, pelo que é necessário que sejam estritamente regulados, para que o produto

final seja consistente com um benefício nutricional global para o consumidor. Por

exemplo, a inclusão de frutose pode criar problemas a pacientes com

hipertrigliceridemia.(21) Acima de tudo, deve ter-se presente que nenhuma

característica alimentar pode ser modificada sem alterar outra. É crucial ponderar

o custo – benefício destas modificações.(54)

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O interesse recente e progressivo em alimentos funcionais sugere que os

alimentos com baixo IG podem vir a ser alvo de alegações de saúde. A alegação

de saúde deve ser substanciada e validada de acordo com o regulamento que

estabelece as normas relativas às alegações nutricionais e de saúde.(213) O nível

óptimo seria ter estudos de intervenção humana para confirmar as alegações de

saúde.(21)

De notar que muitas das decisões de compra são tomadas nos pontos de

venda, o que faz com que o emprego do IG na rotulagem se revista de grande

interesse, tanto para o consumidor como para a Indústria (que desta forma

enriquece e destaca o seu produto, graças à qualidade da informação nutricional

prestada). A colocação do IG nos rótulos aproxima o consumidor deste conceito,

e faz com que este passe a ser um determinante de relevo para a escolha

alimentar. Porém, deverá existir um critério uniforme para a sua colocação na

rotulagem, para que não haja falta de consistência na informação veiculada e não

se suscitem dúvidas. O valor de IG só poderá figurar caso se disponibilize

rotulagem nutricional do produto. Além do próprio valor de IG, deverá ser

fornecida explicação adicional – se o valor em causa é alto, médio ou baixo e,

sempre que necessário, o valor de IG do produto na forma como este é

consumido (por exemplo, cereais de pequeno-almoço com leite). Alimentos

frescos não embalados também deverão prestar este tipo de informação. O

Nutricionista deverá ser o elo entre a Indústria e o consumidor. Por um lado

porque é necessário veicular informação que não se limite à dicotomia de

alimentos de alto IG e alimentos de baixo IG; por outro, porque é necessário que

o consumidor perceba qual o padrão alimentar a adoptar e quais as escolhas a

fazer para o alcançar.

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11. Conclusão

Apesar de toda a controvérsia, está documentado que um padrão alimentar

com baixo IG tem benefícios para a saúde.

Educar os consumidores para assimilarem este conceito é um enorme

desafio, que só será exequível através de um esforço concertado de Entidades e

Profissionais de Saúde, Entidades Reguladoras e Indústria Alimentar.

É certamente necessária uma boa dose de conhecimento sobre

alimentação (cite-se o exemplo das cenouras, que apresentam alto IG mas para

as quais o rácio de factores que a tornam desejável (baixo valor energético,

minerais, vitaminas e fibras) superam largamente a consideração do seu valor de

IG)). Porém, a sua utilização como adjuvante para escolhas alimentares

saudáveis não deve, de todo, ser excluída. A introdução do valor de IG na

rotulagem dos alimentos poderá constituir a forma mais fácil e prática para

comunicar e disseminar este conceito, desde que devidamente suportado por

informação útil e prática.

Idealmente, dever-se-ia extrapolar para Portugal um modelo semelhante ao

Australiano, tendo sempre presente que o sucesso deste tipo de programas passa

pela qualidade da informação veiculada pela Indústria e pela adequada formação

do consumidor. O Nutricionista desempenha um papel fulcral em todo este

processo.

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Anexos (se necessário)

Índice de Anexos

Anexo 1 ............................................................................................................. 1

Anexo 2 ............................................................................................................. 2

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Anexo 1

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Anexo 2