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Baremblitt Gregorio- Cinco Licoes Sobre a Transfer en CIA

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Este livr~estuda a TRANSFERÊNCIA segundo

Freud, Melanie Klein, Lacan, Movimento

Institucionalista e segundo as noções filosófi-

cas de Repetição e Diferença. Ele remete às

origens da noção de Transferência na psicaná-

. lise, à sua existência em outros campos do

saber, às concepções freudiana, kleiniana e

lacaniana, aos novos horizontes que se abriram

nas experiências institucionais e aos questiona-

mentos que emergem no diálogo com a filoso-fia que emergem no diál?go com a filosofia. O

autor realiza a difícil tarefa -'- fruto de vasta

experiência - de apresentar a problemática de

maneira didática e ao mesmo tempo crítica.

EDITORA HUCITEC

Copo: f

Cinco

Lições

sobre

aTransferência

GREGORIOBAREMBLIT I

3." edição

EDITORAHUCITEC

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SÉRIE ··SAÚDELOUCURA" (TEXTOS) 5

direção de

Antonio L ancett i

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Série "SAÚDELOUCURA"

TÍTULOS EM CATÁLOGO

SaúdeLoucura 1, Antonio Lancetti et ai

SaúdeLoucura 2, Félix Guattari, Gilles Deleuze et aiHospital: Dor e Morte como Ofício, Ana PittaCinco Lições sobre a Transferência, Gregorio BaremblittA Multiplicação Dramática, Hernán Kesselman e Eduardo Pav-

lovskyLacantroças, Gregorio BaremblittSaúdel.oucura 3, Herbert Daniel, Jurandir Freire Costa et aiPsicologia e Saúde: Repensando Práticas, Florianita Coelho

Braga Campos (org.)Mario Tommasini: Vida e Feitos de um Democrata Radical,

Franca Ongaro BasagliaSaúde Mental no Hospital Geral, Neury J. Botega e Paulo Dal-

galarrondoManual de Saúde Mental, Benedetto Saraceno, Fabrizio Azioli

e Gianni TognoniSaúdel.oucura 4, François Tosquelles, Enrique Pichon-Riviere,

Robert Castel et a lo

A RELAÇÃO DAS DEMAIS OBRAS DA COLEÇÃO "SAÚDE EMDEBATE", DA QUAL FAZ PARTE A SERIE "SAÚDELOUCURA",ACHA-SE NO FIM DO LIVRO.

~

CINCO LIÇOESSOBRE A

TRANSFERÊNCIA

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GREGO RIO BAREMBLITT

. -CINCO LIÇOES

SOBRE ATRANSFERÊNCIA

TERCEIRA EDIÇÃO

EDITORA HUCITEC

São Paulo, 1996

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© Direitos autorais, 1990, de Gregorio Baremblítt. Direitos de publi-

cação reservados pela Editora de Humanismo, Ciência e Tecnologia

HUCITEC Ltda., Rua Gil Eanes, 713 - 04601-042 São Paulo, Brasil.

Telefones: (011)240-9318,543-0653. Vendas: (011)530-4532. Fac-

símile: (011)530-5938.

ISBN 85-271.0140-8

Foi feito o depósito legal.

SUMÁRIO

.-\gradecimento 8

rrodução 9prcscntação 11

_-\ concepção Ircudiana 12A concepção anglo-saxônica 39

.-\ concepção lacaniana 66

.-\ concepção institucional 89

Reflexão filosófica sobre a transferência 113

A transferência. Consid era ções finais provi-

sórias 131

Bibliografia 139

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AGRADECIMENTOS

,

A equipe do Sindicato dos Psicólogosde Minas Gerais, que encampou o desafio de or-ganizar este Curso.

À Psicóloga Elizabet Dias de Sá, que, através

de pacientes horas de datilografia, soube ouvirmeus intuitos e não "ver" meus erros.

À Psicóloga Rosângela Montandon, que teve aseu cargo gestionar a publicação, e à Psicóloga Ci-bclc Ruas de Meio, que corrigiu, datilografou efez contribuições ao texto.Aos participantes do Curso, que aportaram sua

atenção e suas inteligentes perguntas.A todos os meus amigos de Belo Horizonte, queme ajudaram a sonhar com a Pátria que perdi.

o Autor

\

-INTRODUÇAO

No meu entender, nestes tempos acc-rados, todo escrito deveria ser datado. Cada umIes tem uma marcada conjunturalidadc que, quan-

_ não é levada em conta, adquire sentidos e va-s necessariamente diversos dos que teve na sua

asião inaugural.

O texto que se vai ler é produto de uma iniciativa.o preendida junto a uma equipe do Sindicato dosJ icólogos de Minas Gerais, em circunstâncias nas,uais era conveniente impulsar as atividades for-ativas da organização.

Devido à urgência do evento é que se poderáentender tanto a abrangência, demasiado ambiciosa,como a sua velocidade.Muito se tem dito e escrito sobre a transfc-

ênc ia . Esse termo, como tantos outros, não éoriundo da Psicanálise, mas é bem verdade que, no campo psicanalítico onde ela adquire seuenrido mais inspirador. O mesmo já tem sido

adotado e redefinido por outras disciplinas cien-tíficas, inscrito como categoria filosófica contem-porânea e utilizado como noção em diversos âm-bitos da cotidianidade.

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10 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

Mas, antes de tudo, trata-se de um fato, um acon-

tecer real, cujos efeitos incidem nos sujeitos e nas

sociedades que os desfrutam ou padecem, aprovei-tam ou desperdiçam.

Estas rápidas e modestas aulas nada poderão di-

zer de original ou profundo ao "expcrt" na matéria.Apenas pretendem ser sintéticas e acessíveis.

Contudo, elas levam um propósito central: mos-

trar que nem a Psicanálise, nem nenhuma corrente

psicanalítica em particular, são "proprietárias" des-

se "descobrimento", e que ninguém falou a "última

palavra" sobre o tema.As idéias, como a terra, são de quem as trabalha.

Freud costumava dizer que é perigoso transplan-

tar os conceitos para longe do seu chão nativo,

mas cabe acrescentar que quando tal coisa acontece,

e eles sobrevivem, novas espécies maravilhosasnascem.

Gregorio F. Baremblitt

APRESENTAÇAO

AMIGOS e colegas, sinto-me muito fe-

liz de poder iniciar, com vocês, esta breve série

~ aulas.

Este tipo de iniciativa, como a que empreende-

os agora, no seio de um Sindicato, de um orga-aismo representativo de classe, me é essencialmen-

c grato e afim.

Antes de começar, quero agradecer à ex-presi-

ente do Sindicato, Elizabet Dias de Sá, e à equipeue trabalhou comigo na realização do Curso. Ela

anifestou grande dedicação e especial tolerância

om algumas dificuldades que tive durante o trans-

urso da organização. Muito obrigado pelo convite,o trabalho realizado e a tolerância de meus incon-

-enientes.

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-A CONCEPÇAOFREUDIANA

A exposição não vái ser fá ~qUeresumir a questão da Itransferêné} em Freud emuma aula é um desafio o qual ignoro que alguém

seja capaz de resolver. Pessoalmente, não me sintoem absoluto certo de consegui-Io.Então, toda a exposição será centrada em torno

dos Quadros: 1 e 2. Terei de valer-me deste recursop ra expor melhor.

\1\ ..1 Transferê~cia não é um termo exclusivo da psi-Y t r~canálise, como, seguramente, e ObVIOpara vcces.

/ (y .O termo, fora das práticas psicológicas, refere-se

~ ,f ao deslocamento, a~raslado de qualquer ! i . I 2 0 de~ ~ mãtena: ransfcrência de capital, transferência de

funciônários, transferência de c1ementos, de recur-sos etc.EmG-p-s-ic-o-l-o-g~em sido muito usada na

2

~a pren Izage para desi nar transp-orte ue sepo e azer as ca aciqadcs ad ujridas..Qe a render

~\/ em relação a um~J~!9~~ento, Jara o1( o conhecimento de um novo objeto. .-= --- ---Em psiquiatria e psicoterapia, antes de reud.,

--J!.!i~va-se o te~mõ "transfcrt"-para referir-se a um

y 'A , f experimento hip~óticõ que c~nSlSiCC'm trasladar,

. A CONCEPÇÃO FREUDIANA 1 3

m estado hipnótico, a paralisia de uma pacienteistérica d~ um laQQ do ~Õrpo-:-p-araoutro, .0_ ..J./-:ue é possível - como e sabido - por melo~'

ca sugestão hipnótica.Qcomeçou a trabalhar,_ roximadamentesI.IL.l895, utilizando o famoso~.....Jt.Q.Ç!Q.ár(~o, que já se empregava bas-

nte em Paris. (Çharc2!>praticava a hipnose s)n-mática na escola da a petricr , enquanto que

-~a deU anel. ra pr'aticado o método hi -zocatártico. Todos esses investigadores já.uuili-

~am o termo 'transferência. Freud era um neu-

- logista que resolveu dedicar-se à psicoterapiaas enfermidades mentais. Inicialmente, ele pra-icou hipnose de maneira supressiva. ~omo ou:.....~os investigadores, hipnotizava paciente~llÍs-'ricoScObsessi'Vos e, no estado de hipnose, uti-zandosu CStao su eria-=Ihes _ue seus SiI1iOmasm desaparecer. Este método teve sucesso du-

nte muito tempo e ainda continua tendo, enigumas ocasiões. Mas seus resultados não sãouradouros.A artir do uso desse rocedimento começou ar ou.!!º-iLue consistia em, no estado de hipnose,

- ~LI2acientes Ql-ICevivcssern as snuaçoesm que seus sintomas agare~ram.Mais tarde, pediu para revivcrern e relatarem

urras situações mais arcaicas que, supostamente,eriarn a ver com aquela na qual os sintomas apa-::-cerarn pela primeira vez. Isto gerava nos pa-cientes uma rcviv ência e uma forte descarga detos, uma intensa descarga de emoções, e ainda

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14 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

de movimentos corporais, que produziam uma

"melhora" do sintoma, cuja permanência e estabi-

lidade eram maiores do que com o método hip-

nótico suprcssivo.Durante o uso do método, especialmente com

I2.a~ientes histéncas, 9oL comprovando ~e

muitas destas pacientes não tinham disposição para

serem hipnotiza as. sto o levou paulatinamente a'-~----~--~abandonar o método hipnocatártico e limitar-se a

sugerir aos pacientes que fossem falando de tudo

aquilo que Ihes parecia importante, de tudo aquilo

que Ihes vinha à mente. Durante este procedimento,~~----.~----

ins irado em parte por algumas de suas pacientes,

~~EcamTi1ha~a as assõc~0es dessas enferm~sna direção da explicação dos sintomas e no~ntido

.de lembrar situações assadas ue tivesse a ver

com os sintomas. Posteriormente, foi célebre a rea-

ção de uma das pacientes de Freud, que disse que

não apenas não queria hipnotizar-se, como não que-

ria falar daquilo que Freud achava importante quefosse falado. Ela ueria falar somente do ue ELA

queria falar, especialmente relatar seus sonhos, suas

fantasias... reud teve o om senso de aceitar

essas exigências.

Mas, durante o exercício desse procedimento,- - - - ~ - - - - - - - - - . ~ - - ~ - . ~eu percebia que, em determinados momentos,

a paciente não podia co~inu;r relatando ~i-

-~ -- -----nh-::a--;::-a-s::-°l":"":la"---:m=e_=-n-;::te.contecia uma interrupção do

fluxo associativo. Nesses momentos, Freud, con-

servando ainda algumas manobras do método hip-

nocatárt ico, que já havia abandonado, costumava

A CONCEPÇÃO FREUDIANA 15

genr as pacientes que, quando ele tocasse em

a testa com a mão, elas conseguiriam continuar

ando sobre o que se havia interrompido. Teriam,

- im, a possibilidade de conseguir lembrar situa-que não estavam atingindo. Posteriormente,

udando O fenômeno da interru _ -o d l.XQgs-

iativo, nesse momento de im asse, depois de

' : ' - 1 0 vencido muitas vezes or m2io da sug~tão

_ da inipãSiçãõClas ITIãQ..sna testa, reu foi com-

-rccndcndo que o que acont'ecia nesse instante é

cue havia a arccido na consciência d,º-paci~nte

.~ma associação, idéia, afeto ou impulso ue ji-- ~a a v c r C o m a pessoa c!Q_m6dico, doo e r a i < . ? r,que essa idéia ou impulso_ era con~do -- de

r m a consciente ou não pelo paciente -- incon-

niente, inadequado a uma s·tlJ.aç.ão de relação

-rofissional como a que acontecia. Então, o pa-

TIte já a tinha clara, e não podia comunicá-Ia

rque a julgava imprópria, ou acabava por não

~r nenhuma idéia, isto é, a idéia desaparecia de_ a mente. 6 . rofundando mais no fenômeno reud

- ega à concllisão de ue nesse mo me to de irn-

se. a inca acidade de continuar associando deve-se

:: mp~~a revivescên.9'l de aI. uma situa ão an-

o rior em gue pessoa üv. tiI2Qde afeto, de---m~ulso, de emoção similar, mas com outra pessS!em uma situação especialmente, intcnsa c !cral- . ,)(

ente relacionada com a sexualidade. Ao retorno des- {Y!;situação anterior, passÍvc de rcConstituição ue~-

S reitera, que se renova na situa ão terapêutica Freud

_-hamou de(TRANS~ERÊNCrA.

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16 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

tj'Neste momento altmnsre,ência~m uma ],epetisã2)j e vamos encontrá-Ia no item ue chamamos "ponto

. de vista clínico". Repetição de vivências, de expe-riências, d~itua ões _Qeatitudes, <tecomportaIl!.en-

tos, de imagens de pçssoas, de interlocutores. IstoCStrdito de~aneira bastante vaga e descritiva. Nainterrupção do fluxo associativo, reud descobriua [repetiçao compl~ múlti Ia, ~e todos ~s ~Ie-me~t~s que I22diam~stal intCJ:vindo.nestas_~i.!~-ções traumáticas anteriores ~e o pacientc je etiano ambiente terapêutico de maneira in~oluJ!tária e~em supostamente inteirar-se de gue_0ajsto sueestava acontecendo.Esta é a primeira, a mais simples, a mais ingênua

definição de transferência que podemos encontrarem Freud. Nesta defini ão tão elementa é ossível

.L .l.,l( compreender gue a forma como a transferência a a-f:t" rece na situação analítica é como obstáculo comor J ' : J . r lnconvenie_nte.,: rcud propõe às suas pacientes dizer

?udo que lhes venha à mente, comentar tudo o queestão pensando e sentindo. As pacientes empe-nham-se em cumprir esta indicação. Chega um mo-mento em que isto se Ihes torna impossível e nãosabem por quê. Há, então, um obstáculo, uma di-ficúldade ara levar em frente o t aumento paracumprir um dos re uisitos exigidos ara Rossibili-tá-l o. A isto Freud (mesmo nessa época)~amou

./ ,~ \'resistência"\ --.P (RêSTStencia", como vocês sabem, tem signifi-rY :~ ",~.:ado político e târrib"énleÍ6tnco. ~e re-

fere-se Uuta_que um povo ou uma classe exerce

vy~r r ; ) J J

A CONCEPÇÃO FREUDIANA 17

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18 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

das ara eliminá-Ia e ermitir que a transferência

se manifeste claramente e possa ser verbã1TZãdae

d~scarregada e;;;-ci~l~nle e, desta forma, pro-

pJc~ar ~ cu~ a desaparição duradoura do sintoria., A medida que o tempo passa, quando reu vai

1 ~ co~.preendendo mais rofund~me!!!(! qual é _º_si-f r P ~nIflcado da transferência < : . por que ela a arece

~./ como_:esistênci~ ~Ie renuncia à manobra de vencer

~;) sugeslIvan:en~e. a re~is,t,ência e confia no que ele

ttYl' chama ~~vInha. a? .(termo também ingênuo)ri' \dos motivos da rcsistcncia para conseguir a propi-

ciação de que a transferência seja claramente ma-nifestada, vcrbalizada e descarregada afetivamente .

•1 1 Pode-se dizer que, l!9 momento em 9 . ! ! . ! . :: reu

t f 6 : ~ renu~1Cia ao venci~lento sugestivo da resistência e~~0.l"onfIa no que sena o começo da ~o"

, '» ~ / 9~ t~ans~erência-resiSiCnciã, começa propriamente. : f " " o pr~cedlmento I2sicanªJítico.

A tfãIisTcrencIa continua sendo o conceito central

dura.!!.te a obra osterior de Freud, tanto na teoria~omo no método e na técni~sicanalítiql. Apa-

recem, claro, muitos refinamentos do termo trans-

ferência. Sabemos que a teoria freudiana não é sim-

ples. Ela é uma série de re-versões, de novas ver-

sões dos "modelos" com os quais Freud tenta ex-

plicar como funciona o psiquismo. Existem muitos

modelos. Há aquele utilizado no período da "Psi-

coterapia da histeria" (do qual cstarnos falando).

Existe o modelo do psiquismo enunciado no capí-

tulo 7 de A Interpretação dos Sonhos. Há o cha-

mado modelo da "Primeira tópica" (Inconsciente,

A CONCEPÇÃO FREUDIANA 19

~ é-consciente, consciente). Também o modelo do

"Complexo de Édipo'', o modelo da "Teoria pu 1-

ional", e o modelo da "Segunda tópica" (Id, ego

supcrcgo). Em cada um d s.modclos está incluídoconceito de transferência como um dos rinei ais

ecanismos do ,i uismo.

Podemos resumir os vários modelos em uma

reposição que Freud formulou nos artigos de 1913_ 1915, que é a proposta de uma "rnetapsicologia "

\ -li seja, uma teoria ue está "além da sicolo ia" .

.-\ psicologia seria o método predominantemente -:/

~escritivo dos fenômenos da conduta e da consciên- Lcia manifesta. A &etapsicologialseria a teoria do~"7iquismo en uanto a uele qu .- , ·siY.el,-..não;Y°

~escritível, aquilo que está além da psicologia. Tal

etapsicologia tem quatro pontos de vista: ~

ico, dinâmTCo, tópico e estrutural. Uma forma de

atar e de entender como vai evoluindo em Freud

conceito de transferência durante a construção

c sua obra é tratar de revisar como a transferênciaadquire novos sentidos teóricos e, portanto, novos

os técnicos ou clínicos em cada um dos pontos

"c vista (econômico, dinâmico, tópico, estrutural e

clínico ).

No Quadro 1 há um quadrado, e seus quatro

ângulos são pontos referentes à transferência, C011-

ratransferên~ia, à resiSl ~ ciae à contra-resistência.

Definimos, provisoriamente, a transferência como

Frcud o fez no período inicial. A contratransferên-

cia / um termo que vai aparecer em Freud a gum

cmpo depois em uma série de artigos que vão mais

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A CONCEPÇÃO FREUDIANA 2120 UÇOES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

Quadro 2Quadro 1

Princípio da realidade )

<princípio do prazer-desprazer

Por quê?

Princípio de inércia-nirvana )

TransferênciaRecíproca e/ouContratransferência

Compulsão

de

repetiçãoTransferência •.,-------+

Formações doInconsciente

Motor da curamist osa

Posttiva < )rótica

= - Qual e

::orno? <Negativa - Hostil

ElaboraçãoRecordaçãoCura(AssinalamentoInterpretação

Construção)

:o(l)

"O

~õ .~.o

Resistência

Inibições --intomas

Na situação analítica

:::)onde?<Na vida cotidianatuações

Ponto de vista econõmico - Energias - Processo primário

Pon~o de vista dinâmico _ Forças (. Putsôes < : r eConflttos

Defesas

(

Contra-Resistênciae/ou

Resistência RecíprocaResistência •.,-------+

ou menos de 1910 a 1920.Qdiz ue se todaessoa é capaz do fenômeno de transferência, ela

/ acontece, no procedimento psicanalítico, não ape-~J nas no paciente como ~~!:!!bémno analista. A pri--

~_~ melr~ definição de contra transferência é muito si-rJf t- métnca porque Freud fala de transferências recí-

procas. Depois, sm outro~artigos, reu tenta di-eren ar o ue é a t ansíc ência do analista acor-dado ela incidência, ~ impacto da transferênciado paciente, e a transferência do analista ue talvezaconteceria com qual-uer paciente, e que de ende

m a ig d a estru tu ra ps(quica do anafÍsta do ue a uela

eculiar do acÍente. Em princípio, a contratrans-ferência ro ..!iamenle_dita ' c.mesrno fenômenoda transferência acontecendo no analista mas tal-

'l;~\ vez possamos dilerenciar uma transferência do.ana-;

jJ

Instâncias psíquicas (

Ponto de vista /

estrutural

Ego

Superego

Id

C>Jt----

\Complexo de

Édipo. posições (

Sujetto desejante

Objeto desejado

Objeto lnterditor

(

Sistema inconsciente

Representações

Afetos

Fantasmas

Estereótipos

Ponto de vista tó pico

(

D isc ursos

VivênciasExperiências

Atitudes

Comportamentos

Situações

Ponto de vista clínico

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22 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

lista e uma contra transferência propriamente dita,

que seria a resposta do analista à pw.liaridade datransferência do aciente. . ----

. Por outro lado temos~~rmo[resistênci4, ue tarn-

ú;1'tém definimos rovisoriamente segundo Freud o fa-pri>Pi)a no nodo inici C0jJ10 obstáculo, dificuldade de

{fi' cum rir a regWluldamenlal da livre-associa ão . Pelaparte do analista existe contratualmente uma exi-

gência simétrica. A sua função é a da atenção

flutuante, a da possibilidade de ouvir a livre-as-

sociação sem selecionar nenhum ponto em espe-

cial e também de manter-se abstinentc. Ou seja,

não deixar que suas convicções, seus desejos,

suas idéias incidam no tratamento e o distanciem

-" de seu objetivo fundamental, que é fazer cons-

~ ciente o ue é inconsciente no paciente. A \con-

~ tra-resistência aparece no analista como a difi-

~ ~ culdade para cumprir. com.seu olljetjv e_propó-

~ sito e também em últimª- instância,_com seu de-

sej~g~ é Q.eJespeitar a Iivr~associação do ga-

.cie~te sem violentar a regra da absli ência e con-

§ervar a capacidade de atenção flutuante para po-der.analisar. -

A linha que vai da transferência à resistência

é óbvia porque dissemos que o fenômeno da resis-

tência e o fenômeno da transferência são duas fa-

ces do mesmo rocesso - ~ma não sedá sem a

õutra. É lógico que a contra transferência e a con-

tra-resistência são também du s ces do mes o

processo no analista.

~ A linha que vai da transferência à transferência

A CONCEPÇÃO FREUDIANA 23

íproca, colocando em relação a transferência do

alista com a transferência do paciente, e a linha

e vai da transferência à contratransferência e re-

iona a contra transferência própria do analista

_ m esse tipo de paciente, se corrclacionarn entre_. e são simétricas. Ou seja, transferência do pa-

_:cnte/transferência do analista, contratransferência

_ ste analista com cste aciente.

Poder-se-ia dizer a mesma coisa uanto à re ·s-

ência e contra-resistência. A impressão que dá é

-;.e~ende a dizer que, no nível das relações

e tre resistência e contra-resistência de-se fal r

diretamente em resistências recí racas r ue a re-

-i tência própria do analista, que se daria com todos

pacientes e não com este em particülar, supõe-se,ue esteja levantada, solucionada pela sua formação

órica e eiã análise ~essoal à ual ele esteve sub-

etido.

No interior do Quadro, delimitado por quatro

ntos, temos outra correlação, outra díade: ~-

2Çã~ por um lado, S elaboração, cura, repetição,

recordação, lembran a, r outro. Sabemos que ~

~enos de transferência, resistê~ontratral!.s-

rência e contra-resistência têm como caraeterístic

~al ser repetitivo;, reitera tivos, recdi~-

r~~, ão a enas de situações tr~ticas S 9 1mo de todas as situações im ortantcs e si nifiça,

iv;;-a-;- vi@ Qsíg}lica de cada sujeito. Freud dis- ~~

crimina dois tipos de repetições: a @petição fiellJl

isto é, de um símile idêntico, da traslação do antigo ~

obre o atual sob o signo da igualdade, e outra

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24 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

~dO que seria uma diferença. Em princí ia,a repetiçao é a tentativa d~ repetiç~o do igual, doidêntico, aquela situação exatamente igual a esta.

~

r I

Neste sentido é que os fenômenõs, as formas -;7i-

~

dentes, manifestas, da repetição, se milnifestam jio

r: seio do tratamento psicanalítico por meio de Isin-I ,/~ toma ou de -atuações.-~: parali~as his~I-)P ' cas, problemas sensoriais histéricos, crises de an-

gústia, idéias obsessivas, rituais, enfim, tudo quantoseja sintoma e seja registrado pelo paciente como!~l. Também inclui ~, que consistem em

comportamentos, atitudes condut~creJa$,-1:or-.20rais e sociais em ue se vai repejir.a.rcação que~oi requisitada ou 9};le_nãoconseguiu ser praticadana si tu ação traumática.- A repetição manifesta-se como sintomas e comoatuações, como fenômenos sofridos, indesejáveis,incômodos, dos sentidos ou do pensamento, ou co-mo passagem à ação repetitiva descontextualizada.

• .1 ; " No pólo contrário, uando a repetição realizada~.,.,. no contexto do tratamento é interpretada.mma....r.e-

~; sistência, como tentativa de deslocar o Rassado so-Vbre o presente, quando se consegue discriminar pre-,/" sente e passado, ela mesma provê a força necessárial para realizar uma operação que se chama @abo-

~ lembrança ou cura, cuja definição é um pou-co com licada. Vamos apelar a certo recurso, para

ter uma vaga idéia do processo. Grosso modo, po-de-se reconhecer que a repetição como tal é im-possível; com reender e aceitar que a reedi ão 'átem uma diferença, dissolver os sintomas e atua ões

A CONCEPÇÃO FREUDIANA 25

transformá-Ios em verbaliza ão-com reensão, em_ue se juntam as idéias com as descargas de afeto-: rres ondcntcs. Em uma palavra: ~- &_ do. Os recursos de ue o analist dispi'ie para' /'"'?r;Segl~iresse objet"vosão rcdorninantcmcnte re- ~~vf/:ursos verbais, relacionados com o uso da palavra /. //u o silêncio. ~s recursos de uso da palavra são vJ:!~aStiDaT~escrição do que está acon- ~.if

. cendo), a mter eta ã uma tentativa de corre- tfV·,

.acionar dados do presente com dados do passado)u uma ~.ique é uma cdificação complexa

que conSZgue correlacionar, em sentido amplo, todoperíodo da vida do paciente, uma série de situa-

~ões que se retém, com a situação atual).Em realidade, estas caract('(íslicas--d(.~~ssoe transferência-r;;isíência-contra-transferência-

ontféHcslstência, cuj9 miolo é a repetição e s~uontrário~ que éa elaboração, cura, lembrança, têmIdo revisadas e recorridas or nós rinci almente

om base no ue Freud diZia du ante o eríodoinicial da psicanálise, que vai mais ou menos de1895 a 1905. Tenllo fei to isto por razões pedagó-gicas porque parece que é acessível, muito claro,porém vai se tornando cada vez mais complexo namedida em que os "modelos" de como funciona o. iquismo vão se tornando cada vez mais refinadosc sofisticados e o comportamento técnico, a mani-

pulação destes fenômenos, também varia. Acom-panhar isto detalhadamente é um objetivo que tal-vez transcenda em muito nosso propósito aqui.Mas, passo um pouco por cima do acompanha-

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26 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

mento histórico, pretendendo suplantá-Io ou solu-

cionar o problema pedagógico com o Quadro 2,

que é uma tentativa de síntese de uma questão mui-

to difícil de sintetizar. Baseio-me em perguntas pro-

cedentes para qualquer problemática: Por quê?Qual? Como? Que e quem? Quando e quanto?

Onde?

Por quê? É claro que se pode responder a partir

de todos os recursos teóricos de cada modelo. Mas,

na tradição psicanalítica Ircudiana, usa-se com fre-

qüência para se explicar f!.~ lIe os ..!incíl2ios das

l2ulsôes. cpmo dctcrrninantes último .ão as.Iorças

que movem o psiquismo. Haveria entãQ (e sempreq-;:Ie falo de- transferência refiro-me também à re-

sistência) transfcrôncia-rcsi stênci a a serviço do

rincípio do prazer e da realidade (que são dois

princípios que regem o funcionamento da pu lsão

de vida), e uma transferência-resistência a serviço

da chamada compulsão de repetição (um tipo de

repetição, que não está a serviço do prazer nem

.~da realidade), que não traz prazer a nenhuma ins-

~

tância do psiquismo (Ego, ld e Superego). Ela e<:!i

..• a serviço do repetir or re12etir está c mpromeÜ.da

s . 7com uma te~vil.. de retornar a um estado ainda

jJ prévio à existência do si uismo, como Freud de-

, fine miticamente. É o que se chamayulsão e mor-

I r : : ~ Assi~ co~o, (~s princípios ~e ...@?-e-,:-~e rca-

O}lda~e sao pr~ncl \(:s. q.ue org~nIzam_~namlca d~

)1t!.rUl~ de VIda, dirigindo seu funcl~na~~~~o, o! p:i~cípio de iné~cia, d~ ~ui~tude abs~.luta, é o prin-

t ~ c!E1o jue organiza a dinâm ica da pulsão de morte.

j J .

A CONCEPÇÃO FREUDIANA 27

-::uste, então, uma repetição-transferência causada

Ia pulsão de vida, pela procura do prazer e a

_ .itação do dcsprazcr, adequação à realidade para

- Ihor satisfação e logro do princípio de prazer,

_ outra relativa ao repetir por repetir, despido, "de-oníaco", relacionado à idéia de eliminar toda ten-

_âo no aparelho psíquico e voltar à situação de _r

orte. "~Quando se pergunta ~e '\.Ç{)mo'l referimo-~~~~s a uma divisão ue Freud faz em um arti _o decfr

'cnica em 1915 onde a~é divididaj.ositiva e negativa. T~ divisão sc dCI! pelo

ip<) de afeto e de investimentos que estão em jogo.~ importante esclarecer que é assim porque habi-

ualmcntc se faz confusão quando se afirma que a

ransfcrôncia positiva é a que propicia a realização

a cura e da elaboração, e a negativa é sinônimo. d lY " /e resistência. Não é assim, porque a positiva -t~disse rcud - divide-se em amistosa e erótica.·~.ÍtP

Obviamente, amistosa é aquela na qual se cstabc- L 1 1 " "

Ieee um vínculo de colaboração, um investimentoublimado sobre o analista-:c:~qu;;;to que a erótica~

é a transferência de pulsôes. desejos, fantasmas do .

tipo amoroso-erótico sobre o analista. A ~-

rência n~gativ( é a repeti~ão de todos os elementos

hostis. E importante compreender que a trans-

ferência amistosa é o rnot(~ da cura, enqu~le- \ \

a transferência erótica e a hostil funcionam como

resistência. A transferência positiva, amistosa, pode~elacionada com a tendência à repetiçã.Q..f.Q-

.!!lº-diferença. Em todo caso é uma repetição de

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28 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

impulsos, sentimentos, fantasmas, ,'sde serem usados ara dissolver a transfe ê cia,estando mais próxima da diferença do que da re-peti ão.

rn! '" ,I~ " ,vT" O ue e liuem]. As coisas ai complicam-se, ~ 1 , . . n ' um pouco e temos de passar rapidamente, Agru-9'T de vi A ,

I parnos o ponto e vista cconornrco e o onto de, J'i>'~ vista dinâmico, O ponto de vis!!1 econômico diz~./ que o que se transfere s~.Q_q.uan1Ldadc· ísc rc ias ,/- ':..atexias,qu~ explicam_o f~lncionamento d(~siquis-

mo como sistema no qual se roduzem, se distri-~ e scdcscarregam en~rgias, Repete;:;;e dis-

r/ tribuiçôcs cncrg éticas , c~te~ ~odalidades deV descarga. Do ponto de vls,ta(dtnamlqJ, reg,etem-se

jogos de força e conflitos entre as ulsões de vidae de mo e, O con fli to estabeleceu-se em dctcrrni- 'nado momento e repete-se como jogo de forças,Poder-se-ia acrescentar aqui defesas, impulsos, de-sejos, Repetem-se como processos. Na primeira tó-ica, diferencia-se rocesso primário e processo se-cundá 'o. O que vai se repetir é uma articulaçãopeculiar que se dá entre o processo primário e osecundário que historicamente tende a reiterar-seno presente. Repetem-se desejos, Repetem-se vín-culos e suas escolhas de objeto (objeto libidinal).

I Repetem-se "rela ões ob'et is".

~~ Do ponto de vistaLestruturiJ] podemos dizer que

r Yo que se reitera na situação terapêutica são todasestas coisas ordenadas segundo o complexo ~e éfundante e constitutivo do aparelho psí :ico: o~;-- -~ o, E o c onjunto de impulsos, pul--

A CONCEPÇÃO FREUDIANA 29

- ,desejos, fantasmas, escolhas de ob'etos rc-""csentações etc. ue confi Juram o famosíssimo.:onjunto constitutivo da "p-ersonalidade" ou da "na-ureza" ~o sujeito, com9., também as instâncias gue J . i !

com poe!E.:. ••1"'~;O ponto de vista tópico já o antecipamos. Vamos ~pctir: fantasmas inconscientes ,ue ~ão ce~ifka-I"-yõcs -=-~xtos em que os desejos inconscientes 'rparecem con~ realizado~, Claro que do ponto de'ista consciente e, segundo Freud, também incons-lente, repetem-se afetos cujos sinônimos são sen-timentos, paixões, emoções, Esses termos não sãoinônimos precisos. E por isto a transferência cos-luma ser um fenômeno intensamente vivido.

epresentações são as marcas que detalha~osantcnorrncntc. Têm~a característica, segundo disseFreud nos primeiros trabalhos, de que a idéia oua significa 'ão ue a arece no momento de repro-dução da transferência é um elemento Q,llç se prestatanto à emergência do re rim ido inconsciente ua -to à defesa cont ele. Sua transformação é devidaà exigência de torná-Ias mais toleráveis para as ins-tâncias superiores do psiquisrno. Esta representação, ~mista - por um lado, repetição inconsciente, e~ll.J>por outro, um "ajcitarncnto", uma solução de com- Jp;JPprornisso com o presente e os sistemas pré-cons-

ciente e consciente - é o que se chama .:.9RM~-

~. Sel~ssin.0_n~mos~ãº: f~r-ma ão t' .. . I 'lmbem denvados do 1Il-

consciente, cuja principal expressão é o sintoma.Na transferência, aparecem como a representação

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30 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

in tolerável que não pode ser cornunicada. Freud

fala ainda em estereótipos, ou seja, modelos, esque-

mas, cngramas, que se repetem exatamente assim

como são e se mostram deformados .• ~ .Ó J - Do,ponto de vista \~línic(u falamos em tudo isto

~ q~ já mencionaml~s: vivências , experiências, si-~.;JI tuaçõcs, atitudes ... ~laro que tudo que seja des-

crição da repetição não é muito valorizado na psi-

canálise or ue a transfer6ncia não é um fenômeno-:<:---"..-...,-----

. Çjue 120ssa ser descr~ E um fenômeno que deve

ser entendido, decifrado com todo o instrumental

teórico de que a psicanálise dispõe e abordado comtodos os recursos técnicos que lhe são caracterí-

sticos: interpretação, construção. Não se pode ca-

racterizar a transferência pela repetição de atos,

pensamentos ou afetos conscientes e dcscritívcis

porque a repetição transfcrcncial - é claro - tem

muitos aspectos de repetição cmpírica. O sujeito

vai apresentar, frente ao analista, uma série de ati-

tudes, idéias etc. que já teve antes. ~ transferência,digamos, tem uma repetição visível, dcscritívcl,

consciente. Mas ela é predominantemente incons-

ciente e deve ser reconstruída. < ; gue se IÇiSte

deve ser "descoberto" como tal.

A J i } , ~nte, a última pergunta: "onde'?" Isto é

~ importante explicar para concluir.~insiste que

,vepetição transferencial é um fenÔmeno universal.

Onde há su'eito sí uico, em todas as atividades

humanas, há transferência., O sujeito psíquico é

"movido a transferência", como se diz de um carro

que é movido a álcool ou gasolina. A situação ana-

A CONCEPÇÃO FREUDIANA 31

lítica é uma das tantas situações em que a trans-

ferência também vai aparecer. Só que a situação

psicanalítica estaria especialmente de~enhad~ par~1 ..•,0

que a transferência a are -a com maIOr rapIdez C6yP'yintensidade (j.QJlroseà~r.illJBcrência) e com majQr ~.~~possibilidade de ser dife~encia~la ou distinguida..s;o-~

mo tal e correta me te dissolVida s~rerada ou l2er-laboral a. Por isso, Frcud insiste muito nos artigos

sobre técnica em que uma série de fenômenos, ren-

dimentos, produtos da transferência não devem ser

considerados como absurdos, ridículos e exclusi-

vamente criados elo tratamento sicanalítico, por-

que as mesmas forças 9 . i ll e .. . roduziriam rendiment s

similares' fora da análise são as ue . uoduzcmdentro. As pessoas apaixonam-se, excitam-se se-

~ente, irritam-se, agridem pelos mesmos "mo-

tivos" transfcrcnciais. Igual acontece na situação

psicanalítica, embora o analista julgue que ele não

dá pretextos "reais", "naturais", para que estas rea-

ções lhe sejam encaminhadas. Por isso deve-se dar

garantia de que a transferência não será corres-

pondida, não será utitizada. Apenas nos serviremos

de uma parte dela, da amistosa, para perlaborar,

dissolver, marcar a condição de mec.íl.D·s caico

s ! S 2 . re.àll,l.Por último, isso não quer dizer que não existam

situações na vida em que a perlaboração da trans-

ferência Iam bérn seja possível. Não devemos nos

esquecer de que os homens amavam, adoeciam e

curavam-se antes de existir psicanálise. Evidente-

mente, parece que este procedimento está desenha-

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32 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

do para conscgui-lo com maior propriedade e fa-

cilidade. Infelizmente, é impossível aprofundar e

insistir mais nesta questão. Mas, se for revisada

cuidadosamente, pelo menos servirá para levantar

alguns dos preconceitos que costumamos ter emrelação ao tema.

INTERVENÇÕES E PERGUNTAS

- Pedido de aclaração acerca da repetição ea diferença na tral1.\ferência.

Resposta: Tentarei dar uma explicação provi-

sória. Talvez seja esclarecido nas exposições se-

guintes. Quando Frcud fala em transferência po-

sitiva e a divide em amistosa e erótica, deixa

claro gue a transferência erótica é da orde-;;da

tentativa de e etir o i_Tual. ~petir uma situas.,ão

de aixão causada por desejos e investimentos

arcaicos. Reconhece também na força, nos im-

pulsos, nos fenômenos da tr ansferênc ia um efeito

amistoso em que, pode-se dizer provisoriamente,

o que se re ete é' lilo gue já foi diferente de---~--- - - - -outras situações na situação J2asgd(~ gue se

repete é uma capacidade de distinguir a.di Icrcnça.

Isto será melhor entendido talvez nas próximas

aulas, quando poderei falar das implicações filo-sóficas na transferência.

Em qualquer processo temporal, se tudo se re-

pete, não há processo. Se nada se repete, não há

A CONCEPÇÃO FREUDIANA 33 '/

csso. ~a tran::.fç.rência amistosa, o que se repete ~_ Q..uecada..Yez é diferente. O que retoma, não- - igual._Retoma o diferente.

- Se a transjerência implica a repetição do su-'0 e de situações vivenciais, em que medida otexto econômico, social, político de sociedadeerjere na vida do sujeito? Existe o risco de seir em um reducionismo porque se ele vive umaIlação de repetição, seguramente tem uma so-edeterminação de múltiplas causas. É possívelcriminá-las?

Resposta: Em rigor, este é um problema parti-

cular de uma questão mais geral que consiste em

mo incidem as determinações de natureza não-

íquica ou de natureza psíquica consciente para

odclar, transformar, modular o funcionamento, as

crcrminaç õc s e as formas inconscientes. Respon-

er a isto não é brincadeira ... É um problema deIcna atualidade em psicanálise. Afeta não apenas

transferência, mas a todos e a cada um dos me-

anismos do funcionamento psíquico. A psicanáli-

, tanto a Ircudiana quanto a atual, não tem um

acordo concludcn te a este rcspci to.

Existem posições que vão desde uma afirmação

e que a psicanálise não tem recursos teóricos nem

mctodológicos ou técnicos para tomar em conta essa. ibrcdctcrminação e interferência dos outros fatores

da realidade nos processos psíquicos. Assim como

não se pode fazer feijoada com um coador, não se

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34 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

. v pode ~l~l.rco~t? de.stes fenÔ~enos com a psicanálise.V'\V A \ps,canahs4 ~erve estritamente para Isto _. dar

~j~Olll'~ d.as ~lete~mlOações "ígu~ca~ inco s "CJ1J~<;--

~. . , o ; p e,pa~d l,ncl~lr, ~~)m :ecursos ~SlqlllCOS: predoml~an-

V temente verbais e IOterpretatIvo~. EXIste a posiçãodiametralmente contrária que diz que a psicanálise

é um procedimento cujos recursos para isolar outras

variáveis incidentes, intcrvcnicntcs, que não sejam

as propriamente do psiquismo são insuficicnrcs.

Serve apenas para TRADUZIR a interferência den-

tro do si uismo das var;iíveis não-!2&.CLuic~. E um

procedimento que acontece imcrso nesta realidade

e está permanentemente sujeito a todas estas de-tcrrninaçôcs. Tanto do ponto de vista do paciente,

quanto do ponto de vista do analista, como do ponto

de vista do contrato, da situação que se cria no

dispositivo analítico, iLpsicanálise (para realmente

dar conta de seu objeto) tem de se articular com

outras leituras e outros rocedimentos. Caso con-

trário, arrisca-se a não resolver a robIcmática ue

scf..preten e transformar, porque só dará conta de~ma de suas determina~.QQi. Se se -;)~pr~u

mais ou menos qual é esta problemática muito am-

pla da disciplina e sua articulação com outras dis-

ciplinas, de sua condição de fato social-histôrico-

político-ideoI6gico, multiplamente determinado,

estará claro que a transl"crência é um dos preces-

sos-Icnôrncnos que se dá neste marco. Há quem

diga que a transferência é um fenÔmeno determi-nado por estereótipos inconscientes e que as situa-

çõcs reais, concretas, podem dar um pouco mais

b

A CONCEPÇÃO FREUDIANA 35

ou um pouco menos ocasião para que os estereó-

tipos se repitam. Mas, sua natureza inconsciente e

repetitiva vai acontecer sempre - fatalmente -

por uma dinâmica própria que não é incidida, cor-

rígida ou piorada por nenhuma outra determinação(h istórica, política, social etc.).

Existem os que afirmam que não é assim. Natransferência, quando se constitui, tudo aquilo que

vai ser repetido, e quando se repete, o faz em estrei-

ta conexão com a vida biológica, social, política

ctc, A magnitude, a intensidade da repetição não

se deve estritamente às determinações psíquicas e

sim à confluência de todos os fatores. É por isso,por exemplo, que Freud dividia as famosas séries

complementares em série disposicional e série de-

scncadcantc, sendo que talvez se possa pensar que

essas séries são obviamente situações histórico-

social-biológica complexas, embora deva cscla-

rccer que esta é uma questão em plena discussão

dentro da psicanálise. Diria que escolher uma pc-

sição a esse respeito é uma decisão não apenaspsicanalítica e cpistcrnológica, como também uma

escolha política.

Levantando o problema de maneira menos ampla

do que você colocou, ele está concctado com outras

questões circunscritas. Por exemplo, as definições

que dizem sobre o que se repete não têm igual

adesão entre os analistas. Para alguns, falar de al-

gumas das coisas que se repetem e que figuramno nosso quadro não tem o. menor sentido, porque

não são questões que tenham sido enfatizadas pelo

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36 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIAA CONCEPÇÃO FREUDIANA 37

deciframento, orientação psicanalítica que certos

psicanalistas subscrevem. Para alguns analis tas, por

exemplo, o que importa é que o que se repete são

representações, fantasmas ou, por exemplo, rcla-

çõcs objetais. Que se repitam distribuiçües econô-micas da libido não interessa demasiadamente. Me-

nos ainda que se repitam atitudes, condutas, com-portamentos, porque alguns analistas são drásticos

nesse sentido. Comportamentos, condutas, atitudes

não nos interessam ... Isto é objeto da psicologia.

Não é objeto da psicanálise. Dito de forma um

pouco grosseira, o que interessa é que se repitam

palavras, ou seja, sentidos, significados Ou signifi-cantes, como se queira chamá-Ios.

Por outro lado, isto está conectado com a famo~a

questão de que, se a transferência é um fenômeno

exclusivamente psíquico, inconsciente e objeto da

psicanálise, é mais factível afirmar que é no seio

do tratamento psicanalítico onde poderá ser enten-

dida, interpretada e pcrlaborada. Se a transferência

é um fenômeno complexo, resultante de múltiplasdeterminações, podem existir numerosas situaçôes

vitais que sejam capazes de desencadear a transfe-rência e resolvê-Ia.

- O que você colocou faz pensar nas diferentesorientaç6es teâricas da psicanálise. Até onde Freudfoi neste sentido? O que é reelaboração ou' relei-

tura de Freud?

m itaçõcs, é uma tentativa (pelo menos) não de ana-

lisar, e sim de lemhrar as características polirnorfas,

as numerosas versões que a transferência tem em

Freud. Dizer até onde foi Freud, o que é de Freud

e o que é rcclaboração posterior de outros autoresé praticamente o tema de nossas próximas cxpo-

siçõcs, ainda que muito simplificadamente. Para

responder à sua pergunta em termos muito gerais,

diria que todos os autores e analistas que têm co-

locado posições novas - digamos, invençõe s -,

com relação à definição de transferência, reconhe-

cem que nenhuma delas surge do nada. Todas têm

pinçad o, selecionado algumas definiçõ es Ircudianasda transferência. Todas elas têm hipertrofiado, cx-

clusivizado, e trabalhado produtivamente posições

frcudianas para desenvolver aspectos novos. Pode-

mos dizer que nenhuma das rcclaboraçôcs parte de

uma base inexistente. Todas escolheram diferentes

momentos da obra de Frcud, diferentes tratamentos

que ele deu à transferência no transcurso de sua

obra tão com plcxa e divcrsificada. A pergunta

que caberia aqui, talvez, seria a seguinte: Frcud

deu uma versão final, um fechamento de todo

este polimorfismo do fenômeno transfcrcncial?

N ão que eu saiba. Haverá talvez um autor que

dirá (e isso é freqüente): "Aqui está o fechamen-

to: esta é a última versão frcudiana. Por isso eu

a tomei para cdificar minha teoria". Isso é ca-

ractcrfstico dos analistas. Cada um diz isso. Eu,

por uma questão de ignorância ou de originali-

dade, direi que não sei qual é a versão definitiva.esposta: Esta exposição, com todas as suas li-

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38 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

Por isso, limito-me a transmitir a maior quantidade

de versões freudianas da transferência que conheço.A CONCEPÇAO

ANGLO-SAXÔNICA- Você disse que estaria imbuído um conceito

de transferência em cada modelo do aparelho psí-quico. Poderia fazer a exposição do modelo doaparelho psíquico da histeria e do complexo deÉd ip o com relação à transferência?

HO.lE pretendemos repassar o concei to

e transferência tal como apareceu na obra de Me-

lanie Klc in , Em rigor, tratar deste tema em Melanie

Icin é um pouco diferente de tratá-Ia em Freud.

O conceito de transferência em Mclanic Klein nãotem, em nenhuma parte da obra, um tratamento

teórico exclusivo ou deliberado. Pelo contrário, a

técnica em Melanie Klein tem dado grandes con-

iribuiçõ cs à abordagem opcracional e instrumental

da transferência. Teremos, então, de lembrar um

pouco mais as contribuições gerais da teoria de

Mc!anie Klcin, situando uma ou outra conseqüência

teórica que tais contribuições têm sobre o conceitode transferência. Trataremos de enfatizar as "me-

didas práticas" de manejo da transferência que ela

inventou e que realmente ocasionaram uma espécie

de pequena revolução no procedimento psicanalí-

tico.O primeiro caso de análise de criança que se

conhece na história da psicanálise foi a peculiar

análise feita por Freud sobre o famosíssimo Hans,o "Joãozinho". O garoto apresentou uma quantida-

de de fobias, e seu pai, que havia sido analisado

Resposta: Deus nos dê longa vida ... Realmente,

neste momento, já estava a ponto de encerrar esta

exposição. No entanto, a forma mais simples, mais

econômica e menos sofrida de pelo menos abordara questão será ler o verbete TRANSFERÊNCIA no Vo-cabulário da Psicanálise, de Laplanche e Pontalis,

onde foi feita uma explicação breve, certamente

muito clara, da transferência no período da histeria,

da transferência em A Interp reta çã o dos Sonhos,da transferência nos casos clínicos, ela transferência

nos artigos técnicos (1910-1920), da transferência

em "Inibição, sintoma e angústia". E, digamos, ospseudofechamentos com a transferência no "Esboço

de psicanálise". Nessa obra póstuma, em duas ou

três páginas, dará mais ou menos para fazer a di-

ferenciação. De qualquer maneira, esta exposição

serve para que saibamos que as diferentes exposi-

ções de transferência não fazem senão cnfatizar al-

guns destes elementos. Se aceitamos a idéia de que

não há nenhuma versão definitiva, será um grande

estímulo para continuarmos estudando a transfe-

rência.

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40 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO ANGLO-SAXÕNICA 41

Freud e era interessado pela psicanálise, resol-

veu empreender uma espécie de análise familiar

- ele mesmo (o pai de Hans) atuando como psi-

canalista de seu filhinho sob a supervisão de Freud.

Esta primeira análise concreta de uma crianca tevecaráter um tanto esdrúxulo. O terapeuta era' o pai

do paciente e Freud - o terapeuta do pai - era

o supcrvisor. Felizmente a ortodoxia ainda não esta-

va em moda nessa ~poca, o que permitiu abrir um

capítulo interessante da psicanálise. Não houve uma

análise direta de um paciente infantil.

Anos depois, algumas terapeutas, especialmente

analistas mulheres, estavam cientes da existênciada "doença mental" nas crianças, não apenas pela

observação como também porque as obras teóricas

de Freud já haviam colocado o fato de que a neu-

rose e outras doenças começam na infância e não

apenas ocorriam na maturidade. Estas psicanalistas

tentaram aplicar a psicanálise em crianças. Uma

delas foi Sofia Morgenthal e outra F. Helmuth, que

fizeram ensaios simultaneamente com Anna Freud.As tentativas das duas primeiras não deram muito

certo, o que as desanimou, enquanto Anna Freud

desenvolveu um método sistemático de análise de

crianças. Afirmava ela que as crianças não estavam

em condições de ser diretamente analisadas porque

não possuíam o aparelho psíquico totalmente cons-

tituído. O superego não estava inteiramente implan-

tado. A capacidade de s imbolização e de compre-ensão das inte rpretações e de aceitação da regra

fundamental sobre a qual se edifica () contrato psi-

canalítico eram limitadas. Anna Freud propunha

que, para analisar crianças, elas deveriam passar

num primeiro momento por um processo educativo,

informativo, em que o terapeuta deveria reunir-se

com elas em várias oportunidades e explicar-Ihesem que consiste o trabalho psicanalítico, observar

o grau de desenvolvimento intelectual, moral etc.

Só- depois desse período é que se poderia propor

um tratamento mais ou menos similar ao modelo

do adulto.Na mesma época mais ou menos, apareceu a

célebre psicanalista Mclanic Klein, que era paciente

de Abraharn, um' dos principais colaboradores deFrcud, que afirmava o contrário. Dizia que as crian-

ças são perfeitamente passíveis de análise e que a

análise de crianças é mais fácil e direta do que a

análise de adultos em muitos sentidos: na medida

em que estão mais "próximas de seu inconsciente",

dispõem de defesas secundárias menos consolida-

das etc. Deve-se, é claro, tomar consciência de que

a atividade expressiva da criança - aquilo atravésde que a vida psíquica da criança se manifesta -,

predominantemente, em sua vida cotidiana, era a

brincadeira, o jogo.O erro de Anna Frcud consistia em querer aplicar

à criança um procedimento próprio do adulto, exi-

gindo dela material verbal associativo, o que não

6 o modo prcvalcntc de expressão da criança, em-

bora seja capaz de fazê-h O que se devia fazerera colocar a criança em condições as mais "na-

turais" possíveis e simplesmente sugerir-lhe ou dar-

..

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42 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

lh e elem entos para que bri nque, pa ra que jogue.O jogo espontâ neo da criança é, nela, um m ateri altão expressivo, significa tivo e represe n tativo dasformações inconscientes com o o discurso verballivrc -associativo do adult o , E is o que M elanie K lc in

c omeçou a fazer. Dep o is de alguns anos de expe-riência fo i se lec ionando e rcclaborando na te ori afreudiana os aspectos da doutr ina que lh e parec iam

m ais in te li g íveis e úte is na com pr eensão e in ter-

pr etação do jog« da criança , A í é qu e se cdificoua teo ria ou tendência k lciniana em ps ic análi se. M e-lanie K lc in, com o todos os continuadorcs de Frcud

.

,não tom a a teori a fr eudiana comp leta , in totum, esim se lec iona as pec tos da m esm a, qu e extra i e a r-ticula à sua m aneira , introduzin do outro s recurso s

pr oveniente s so bre tudo de correntes li ngüí sti cas efi losó fi cas anglo-sa xónicas da sua pr efe rência.

O sujeito psíquico, para M elanie K lein . com -põe-se de um a unidade que ela ch am a de sar, qu e

com preende apro xim ad am ente todas as in st âncias

psí quicas anunciadas por Fre ud em sua segundatópica.

O sc lf const itui- se desde o com eço por relações

com os objetos significativos no desenvolvim entode um a cri ança, A etapa anter ior à const itu icão dose lf é um período de to tal d ispersão e frag m e~tação

do psiquism o, qu e lem bra m uito o que Freud ch a-m ava de auto-erotism o , situação em que o aparelh o

ps íqu ic o não está constitu ído e com põe-se de uni-dades eróti cas que fu nc io nam ao acaso e geram

impulso s parc iais que podem sati sfazer-se em qual-

A CONCEPÇÃO ANGLO·SAXÔNICA 43

quer outra zona crógcna ou na mesma que a origina,

Cria-se um universo an árquico, disperso, fragmen-

tado. quc os al crn âcs chamavam schpaltung ou zcr-

sclrpaltung (fragmentação), O scl I constitui-se

quando o universo anárquico organiza-se. unifica-se

em uma entidade coerente. Isto acontece tendo co-

mo prccondiçáo uma relação complexa e indispcn-sávc l com os objetos que são os outros sujeitos

responsáveis pela criança. por sua criação, Existem

forças que movem esse organismo psíquico; estas

forças são o que Mclunic Klci n chama de instinto

de vida e instinto de morte, Vocês podem perguntar

se em Mclani c Klcin ex iste a diferença tão co-

nhecida entre "iusti nto" c "pulsâo". Esclarecemos

que tal diferença. para Mclunic Klcin, é irrclcvantc.

Ela lul a cru instinto algumas vezes e em outras,

de pu lsâo. N áo é uma di [crença que lhe interesse

dcmusiado.Neste caso, o instinto de morte é exatamente o

mesmo quc em Frcud - responsável pela quietude,

irnprodutividadc, dcstruiçào, fragmentação -, en-quanto o instinto de vida é responsável pelo movi-

mente. atividade, junção, uniâo, organização, dirccio-

narncnto das forças cic. Segundo Mclanic Klcin, para

que esse organismo disperso. em estado de splilfillg.

tenda ,I organizar-se, o instinto de vida c de morte

devem combinar-se entre si, de forma tal quc C) ins-

tinto e l e vida predomine e coloque () instinto de morte

a xcu serviço, aproveitando <1:--aracterísticas do ins-tinto de morte par,1 cncammb.i-lo. dirccion.i-Io para

tlL'rl'Sl'inll'ntn l· l'n1lul:d() li""r!2dnl:--l1ltl psíquic«. ela·

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44 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

ro que tal combinação é precária nos prim ó rdiosda vida psíquica, de tal modo que o instinto de

morte continua consideravelmente indomável, não

controlado, não dominado. Consegue-se, pelo me-

nos nas primeiras etapas, organizar o splitting nesteuniverso fragmentário. Mas só alcança Iazê-lo se-

parando-o em duas partes mediante o primeiro me-

canismo de defesa deste sclf, que é processo de

dissociação. Tal dissociação, de certa maneira, or-

ganiza o sclf porque evita a dispersão total, mas

não consegue uni-Io além da cisão em duas partes.

Esses dois setores não têm conexão entre si e vin-

culam-se, por sua vez, em separado com seus res-pectivos objetos. Ou seja, os objetos também so-

frem a mesma dissociação que o sei f. Esta estranha

estrutura partida, que relaciona uma parte do sclf

com uma do objeto, e outra parte do sclf com outra

do objeto, consegue, desta maneira, que o sclf in-

cipiente (que experimenta a ação da pulsão de mor-

te com uma vivênc ia muito sofrida que se chama

ansiedade) possa combater a mesma e torná-Ia não

inteiramente dcstrutiva. Ao contrário, consegue que

seja promotora, impulsiva para o desenvolvimento.

Ademais da dissociação, que divide o sele e os

objetos em maus e bons, existem outras defesas,

como por exemplo: os objetos bons e a parte boa

do sclf serão idealizados, isto é, todas as excelên-

cias scr-lhcs-ão atribuídas, todas as onipotências e

maravilhas, enquanto a outra parte do self,que se

relaciona com outro objeto parcial, será chamada

de ruim, tendo poder de pcrsccuçã o, dano, dcstru-

A CONCEPÇÃO ANGLO-SAXÕNICA 45

tividadc. Outras defesas também serão utilizadas.

Por exemplo: a negação ou declaração da incxis-

tênc ia predominantemente do aspecto ruim.

A teoria de Melanie Klcin tem sido muito criticada

porque os teóricos perguntam-se como é possível,nesta etapa primária do psiquismo, que se resolva

chamar "bom" ou "ruim" aos dois setores do self edos objetos, quando esta etapa é pré-vcrbal, pré-jul-

gativa, pró -étic a, e o sujeito primordial não tem a

menor capacidade para fazer tais julgamentos.

Trata-se de uma crítica injusta, porque Mclanic

Klcin esclareceu muito bem que o "bom" e o

"ruim" não têm nenhuma conotação moral, obede-cendo à necessidade de denominar de algum modo

essas etapas com uma terminologia que, evidente-

mente, é mais apropriada ao investigador do que

ao sujeito.Como o sujeito chamaria esses momentos e eta-

pas, se pudesse falar, ninguém sabe ... Ocorre que

este momento é denominado por Mc\anie Klcin de

posição, da mesma maneira que pedimos nossa"posição" quando vamos verificar o saldo de nossa

conta bancária. A posição de que falamos chama-se

csquizoparanóidc. "Esquizo" pela dissociação, por-

que há separação. "Paranóidc" porque um lado da

posição é profundamente pcrsccutório. Esta posição

caracteriza-se porque o sclf e o objeto estão dis-

sociados, A" ansiedades muito intensas e predomi-

nantes são pcrsecutórias ou paranóicas, O sofrimen-

to, o medo, a sensação de destruição são intensos.

As defesas que operam no sentido de moderar tais

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46 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO ANGLO-SAXÕNICA 47

ansiedades são mecanismos de dissociação, ideali-

zação, projeção do mau no objeto, negação etc.

Teremos formas de "representações mentais" (as-

sim denominadas por Nlf11jl,~ieKlein) do estado no

qual o psiquismo se encontra. Este estado estácomposto por um determinado equilíbrio de forças

e uma topografia onde se distribuem o self e os

objetos, defesas etc. Trata-se de reconstruir como

a chamada "mente do sujeito" consegue representar,

essa situação e - além de representá-Ia - con-'

segue de algum modo "ajeitá-Ia" para torná-Ia su-

portável. As representações que faz o sujeito nesta

etapa chamam-se fantasmas ou fantasias. Os ingle-ses têm feito uma diferenciação entre "fantasy" e

"phantasy". FANTASY refere-se aos devaneios,

sonhos diurnos que todos temos. l'Hi\NTASY é re-

lativa aos produtos inconscientes aos quais não te-

mos acesso direto, devendo ser reconstruídos, de-

cifrados. Claro que nos bebês, ainda que existissem

fantasmas, não existiria a menor possibilidade de

acesso a esses materiais. Existe no adulto, no qualos fantasmas podem ser construídos a partir do dis-

curso associativo, e nas crianças, que os manifes-

tam no brincar. Tais fantasmas s ó serão rccons-

truídos a partir da sua pcrvivência, subsistência e

permanência no sujeito simbolizante, o que nos per-

mite supor o que acontece no bebê. À medida que

se desenvolve e realiza o processo de desenvolvi-

mento psicosscxual da criança, e que a criança temexperiências boas, especialmente com o lado bom,

idealizado, em sua relação entre o sclf e os objetos,

produzem-se transformações de maneira que dimi-

nui a dissociação e tende a produzir uma integração

entre o sclf dcstruído, dani ficado, agressivo, pcr-

secutório ... e o sclf prazcroso, gratificante. O mes-

mo acontece com os objetos. Eles e o sclf vão seintegrando, tendendo a transformar 6 self em sclf

total e os objetos em objetos totais, integrados. Esse

processo faz com que as defesas sejam mais fluidas,

de maneira que tendem a diminuir sua rigidez e

transformá-Ias em técnicas de manejo das ansieda-

des. Em termos dinâmicos, predomina a pu lsã o de

vida, conseguindo-se cada ver. mais colocar a pul-

são de morte a seu serviço. Os fantasmas são cadavez mais próximos do que seria o processo secun-

dário no adulto. Passa-se, então, para uma nova

etapa, que Melanie Klcin denomina "posição de-

prcssiva", em que se utilizam provavelmente as

mesmas defesas de antes, porém mais atenuadas,

acrescentando-se outras novas. Em termos gerais,

diminuem a pr ojcção-int rojcç ão do self sobre os

objetos, a dis so ciação, id calização, negação e per-sccução, tendendo a transformar-se na discrimina-

ção e capacidade seletiva do "normal". A proje-

ção-introjc ção é utilizada para fins de empatia ou

capacidade de colocar-se "em lugar de outro" ou

incorporar aspectos positivos do outro que enrique-

cem a personalidade. A id calização transforma-se

em admiração e respeito pelos objetos reais e assim

sucessivamente. Por outro lado, diminui a onipo-tência tanto da maldade quanto da bondade, do su-

jeito e dos objetos, de acordo com o princípio de

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48 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO ANGLO·SAXÕNICA 49

ranóidc, enquanto sentimentos que a acompanham. .r'»Outros sentimentos aparecem com a entrada da~ ~

posição de ressiva) Por exemplo: o CIÚME - von- ~~.

ta e de ossuir um ob'eto vaI' o que outro 110s- /;V~y.~i e não necessariamente vontade de destruí-Io; a ~.CULPA - dor ou~orso pelos danos que se pode ('

eventualmente ter causado (real ou imaginariamen-

te) ao objeto; o MEDO - não tanto o medo da

vingança, da retaliação, do revide do objeto per-

secutório, porém o medo de causar-lhe dano peja

g.gressividade e ho;-tilidade do sujeito. Surge a AN-

GÚSTIA, que não deve ser confundida com ã7n-

---iedade (característica de todas as posições),~é própria da posição depressiva ou pós-depressiva.

O s ingleses diferenciam "angust" de "anxiety".

Aparecem também sentimentos de REPARAÇÃO-

vontade de curar, de consertar e construir, tanto

no que diz respeito ao self e ao objeto, e ainda o

sentimento de NOSTALGIA - capacidade de lem-

brar o perdido ou destruído com sentimento de

SAUDADE, ao mesmo tempo resignada e relativa-mente gostosa. O idioma português é privilegiado

por ser o único que possui a palavra saudade, que

é uma nostalgia gostosa. Finalmente, aparece com

maior clareza o sentimento de AMOR - anseio

do bem absoluto para o objeto e para si mesmo.

Para completar o quadro, as posições, com suas

respectivas formas de self, objetos, ansiedades, de-

fesas, instintos, sentimentos e fantasmas, coincidem

relativamente com as etapas que Freud enunciou

em sua teoria do desenvolvimento psicossexual das

realidade. Modificam-se os sentimentos - questão

que acompanhou todo o tcmpo nossa descrição e

que, voluntariamente, deixei excluída, para não

complicar as coisas,

Melanie Klcin atribui muitíssima importânciaaos sentimentos inconscientes que, em Freud, se-

gundo certas leituras, carecem desta importância.

Para Frcud os afetos e sentimentos são efeitos e

fenômenos que pertencem à ordem do consciente,

não tendo, assim, demasiada importância para a

investigação mctapsicológica psicanalítica.

Para Melanie Klcin, existem sentimentos incons-

cientes o tempo todo, desde os prirnórdios do de-senvolvimento até a vida adulta. Alguns desses sen-

timentos acompanham as características das posi-

ções. São próprios da csquizoparanóidc e da cha-

mada posição dcprcssiva e de uma nova etapa que

Melanie Klcin não enunciou, e, talvez, poder-se-ia

imaginá-Ia, a etapa pós-dcpressiva. Os sentimentos

característicos durante a posição csquizoparanóidc

são: a A V[[)EZ - vontade de esvaziar, incorporarcompletamente o objeto e, assim, anulá-to, clirni-

ná-lo; a VORACIDADE - que também é um senti-

mento de incorporação em que a destruição não

está dada porque a incorporação é exaustiva, senão

"dcsgarrantc", dcsarticuladora do objeto como se

fosse mastigá-lo; o sentimento de INVEJA - von-

tadc de colocar todo o mal do sujeito no objeto,

porém não com o fim de possuir o bom que o

objeto detém. e sim com o fim de dcstruí-ln

Estas são as características da posição esquizopa-

50 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃd ANGLO-SAXÕNICA 51

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fases crógcnas (fase oral primária e secundária, fase

anal retentiva e expulsiva, fase fálica e fase genital).

~ Alpms klcinianos afirmam que a fronteira entre a

t Y f " slcose e a neurose, o lImIte entre a posição esqui-

r,/' zoparanóide e dcprcssiva, é a fase anal secun an v

~. em ue se come a a diferençar o sujeito do objeto,

o mundo interno dQ externo o self de seus objêiãS

a.!.Çm de todas as outras integrações que vão se

realizar. Neste plano, uma diferença importariiC é

que Melanie Klcin baseia-se em suas observações

•..e acrescenta uma nova etapa intermediária entre a

(~J fase anal e a fase fálica - a ETAPA URETRAL1~ -, muito importante para ela, põr uanto as fanta-

sias relacionadas com a urina, como urinar den rodo objeto, têm muito a ver com a inveja c vcicu-(ação de iml2ulsos inY..ej.Qso-s,.

Outra~tão importante é a~diferen,Ça que eX,iste

~'f .Y \ em M. ~q~nto à concepção freudiana do gdi-

~ Q S L Essa diferença deve entender-se em dois sen-

"V tidos: o primeiro sentido é ue Freud afirma ue

o Édi o instala-se plenamente e resolve-se entre

dois e guatro anos de idade, e tudo o que aconteceantes - auto-erotismo, narcisismo primário, nar-

cisismo secundário etc. - ainda não pode ser con-

siderado Complexo de Édipo porque as posições

do Complexo de Édipo não podem estar definidas.

I Melanie Q<lei~t~falado em ÉDIPO PRECOCE.

-b~ ~firma ue o Edi está instaladodcsde o princíw

- . n Y ~ vid$L. D.!ldas as c?~acterísticas que o s~os

t " " obl..etos adquirem, ~ Edipo é uma espéêíê' de dra a

surrcalista no qual é difícil reconhecer os persona-- - _:.-.r-

gens e as escolhas do progenitor do sexo contrário

c'õmo amado ou a esco a do progenitor do mesiTiõ

sexo como odiado e temido. n im, a distribuição

<!.os personagens e impulsos que temos no Édipo

adulto e maduro é difícil de reconhecer no Édipo

precoce, porque estamos falando de ob'etos ar-ciais, nao a enas no sentido de o]),~eJ.Qs.Jlons....e..-Db-

js..tos maus. Estarnos falando em objetos parciais

enquanto Partes da anatomia fantãsmática dos cor-

pos dos pro enitores. Fala-se em seio, em pênis,

em fezes, em fluxos, de maneira tal que em uma

leitura mais "realista" do Édipo esses objetos se-

riam irreconhecíveis. De qualquer maneira, Melanie

~afirma que as fantasias correspondentes aos

períodos primários são organizáveis edipianame.rue.

Por exemplo, a fantasia clássica cIos ataques inve-

josos ou ciumentos que se ode iam .Ja zcr.nc 'di o

adÜlto ao pai é dirigida ao pênis do pai ou aos

bebês, enquanto interiores ao corpo da mãe, e assim

sucessivamente. Isto tem dado um verdadeiro ca-

tálogo, uma lista telefônica de fantasmas rccons-

truídos pelos kleinianos, cada um dos quais maisinacreditávcI do que o outro. Tem dado lugar tam-

bém a ironias e piadas e gozações das interpreta-

ções kleinianas.

Entretanto, é bom lembrar que todos os fantas-

mas que Melanie~d~obriu e catalogou são

estritamente passíveis de descoberta na clínica,

especialmente n~ica de crianças e nãCi'Ínica

de psicóticos n~da em gue as c-riançasainçlaestariam nestas etapas e que os psicó ticos perma-

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52 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

necem fixados nelas ou reg!"idem a elas _o mo-

mento de catástrofe ou cataclismo do surto. Pode-: . ; . . : . : . ; : . . : ; ; - . :: . ; ; . . . = = . • -

";;;"os discutir o achado, o deciframento da clínica

dos fantasmas, mas estão todos presentes. Para con-

cluir, podemos dizer que no momento de saída par-JÁ,,,cial da posição depressiva vai se consolida o

~/~ processo muito importante que Melanic chama de' - J ! : ' , . ; f @mb~lizaç[2,listo é,} capacidade de elaborar, cap-

- g r \ turar, orde~r os fantasmas, impulsos, instintos, de-

fesas, ansiedades e sentimentos em sistemas de [e-

wesentação simbólica conscicnjc. Este processo é,

por sua vez, causa e efeito d e t e

é o que (embora de maneira recária roduz uma.certa" alidadc". Isto fundamenta o que para

Melanie Klein é o princípio da cura, não demasiado

diferente daquele de Freud quando diz que a cura

é a instauração e dominância do processo secun-

dário. Ou seja, a capacidade adquirida pelo sujeito

por meio da expressão lúdica e sua possibilidade

de simbolizar as vicissitudes de seu mundo interno,

de dorniná-lo, ordená-Ia, em um sistema de repre-scntaçõ es conscientes.

Vejo-me obrigado a fazer toda esta passagem

pela teoria klciniana, o que deve ser, para alguns,

absolutamente supérfluo, redundante e desnecessá-

rio, mas que nunca será demais para outros. Só

assim poderei referir-me às contribuições de Me-

lanie Klein acerca da transferência; é óbvio que

todo este devir, este processo evolutivo, tem mo-mentos de estagnaç~ação, progressão e regrcs-

são. Para Melanie~.Q que fundamcntalmc~

A CONCEPÇÃO ANGLO·SAXÕNICA 53

incide na progressão são os vínculos gue se es~-

b~lecem com os objetos, predominantemente ~m

os objetos bons, pcrmitindo quc os sll'citos acu-

mulem experiências favoráveis, introjetcm o . o

bom c o convertam no núcleo de seu self, conse-guindo assim integrar os instintos, ansiedades etc.

~)Cesso que gera a t[cgr'essãd para Melanie

(~; o retroccsso, a fixação, são fundamental~~n-

te as ex eriências de frustra 'ão, ..9!!.a.ndoo .~UJCItO

sentc-se atacado, privado de amor, imeotente ou

abandonas.It!..r.clo OfÜf.tO.Com isto, claro, podemos

enumerar nove característica~ .das cont~ibuições \ .. . K - I '

klcinianas, não sem antes definir o que e &ransfe-~..;;y~ncia \para Mclanie ~ Não.é nada ~ais n~da ~'.-.y.

menos que a repetição gue se vaI prodUZIr, na vIçlar ~

em eral ou na situa 'ão a illili e articu r,

dos momcntos de fixa ão nos uais sc ermanece

or falta de desenvolvimento ou se. etorna devid

à re ressão originada pela frustra.c~o. Estes mo-

mentos, que implicam formas de ser do self, for-

mas de ser dos objetos, formas de articulaçãodos instintos, ansiedades típicas, sentimentos tí-

picos e fantasmas típicos, tendem a repetir-se pre-

dominantementc por efeito da pulsão de morte,

c.!J;a natureza, além de imobilizar, desarmar, con.-

sistc em re etLAs c ntribuições podem resumir-se assim:

1) A t6cnica do j~: ~ criança deve ser co-

locada em condições adequadas para desenvolvera ati~idade que lhe é completamente :natucal" e

predominante em sua vida, que é ?rincar. Não é

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54 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

necessário pedagogia de nenhum tipo. O que se

pode fazer é favorecê-Ia por meio de brinquedos

e de um ambiente ro ício ao '0 TO.

2) A segunda contribuição klciniana é a proposta

de que a inter reta ão não precisa es erar ue atransferência se estabeleça or ue esta se estabelec

imediataments... quando há o primeiro contatqçcm. ---a-f.!iança a~sim que começa o jogo, e, por v~,

ante~a relação com os pais ue consultam.

3) Se a criança está regredida a um ponto de

fixação, e se o ponto de fixação significa predo-

minância das posições primárias, quer dizer que

haverá um predomínio da pu lsão de morte, tendocomo efeito a dominância na situação psicanalítica

da transferência negativa. ~ interpretações d~em

ser reeoces, rápidas e, por outro lado, devem estar

eentradas na transferência negativa, no vínculo per-

s~cutório, destrutivQ., agressi~ Só quando for com-

p~eendido, simbolizado, capturado, é que o proces---- - -.so con eguirá continuar.

4) A transferência deve ser interpretada c2!!l0um fenômeno quc está a~cendo estritamente

aqui e agora na relação entre o aciente e o terª-:

~uta. O que ac;n~ fora, na relação com os pais

e com o mundo, só tem importância na medida

em que é manifestado para exprimir situações que

estão acontecendo entre o paciente e o terapeuta.

Por outro lado, a história pessoal que se pode re-

construir a partir do decifrarncnto do ui e agoranão tem tanta importância. O gue Freud - hamava-- ~de construções não tem tanto peso, porque o as-

A CONCEPÇÃO ANGLO-SAXÔNICA 55

sado só é im ortante na medida em uc está pLe-

sente. Se se consegue simbolizar exaustivamente o

presente' como transferência entre o paciente e o

ànalista, ode-se tornar desneccssáno reconstruir o

-ssado.S) A quinta contribuição deve ser discutida quan-

to a ser considerada uma contribuição ou um erro.Fica em aberto. Cada sessão '0_o brincadeira, cada

instante da rela 'ão contém um fa t . 'aJúas-

ma pode e deve ser interpretado ainda ue o sujeito

pareça não estar em condições de aceitá-Ia e ainda

- ue nãa.o acene. O processo consiste em coiil'ffintar

o fantasma com a realidade. Só que a realidade,no caso, devido à formulação anterior, reduz-se

fundamentalmente à realidade da pessoa e da tarefa

do analista. Em outras palavras, reconstrói-se o fan-

tasma em que aparece a vontade de devorar o ob-

jeto, consurni-lo com avidez, o medo de ser per-

seguido por ele, destruído etc. A simbolização re-

sulta da confrontação entre os fantasmas decifrados

e a realidade da pessoa e da tare a a al'sta uenaturalmente não é assim e não re' de fa~.e nc- . ~

nhuma de as soisas. $6) L m )rtância do rocesso de simboliza ão ue~');.

~ consiste nec~ssariamente na exposição verba.l~

~e.:.:.ca do que fOl~nten I9. onslste. na mudança?

da qualidade do jogo, em que os bnnquedos ad-

quirem a característica que realmente possuem e

são manejados de maneira prazcrosa e criativa.7) Na interpretação do Édipo precoce é primor-

dial a questão da simetria sexual, cujo ponto não

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56 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO ANGLO-SAXÕNICA 57

foi tratado por nós na parte teórica. Em poucas

,d v -r.' palavras vamos rcsurni-lo. M.~ n!o adn:ite_o

r wr rV ue Freud ostula acercaia diSers..n.sa ~...Edipo

prnJaSCldino e femininQ. Não aceita o que mode a-

r mente se chama a primazia do ltalus. Não con-cõr a com a definição que o ~ujei to faria da con-

diçâo feminina como uma espécie de carência do

órgão masculino. O modelo de compreensão Ireu-diana do Édipo é o Édipo masculino, enquanto o

Édipo feminino se desenvolve como negativo do

masculino. Para M.@ sada sexo tem seu Édipo

e um conhecimento implícito das características ana-

tômicas de seu se O homem sabe que tem pênis,e o pênis entra nas vicissitudes de seus amores edi-

pianos como: vontade de possuir genitalmente a mãe,

medo de pcrdê-lo pela castração do pai etc. A mulher

tem, muito cedo, a plena vivência da existência da

sua vagina e da capacidade de cngravidar. Por sua

vez sofre um complexo de castração articulado às

t}{yicissiiudes do com .lexo ~ ÉdifX~,~a~ aquelZ-vivi~o

X - ~ em torno de fanta~IjlLsh; destrmçao Interna, e nao~A~da , rda do ~nis il2!.?gjnári2,. Pode-se dizer q~te

f'v- conceito kleiniano do ÉdifX) femi~in() e fXJsitivo, no

sentido de que é onglDal, e um iI?<2. rQQrio. Não

precisa calcar-se ou contrapor-se ao outro como sendo

um negativo simétrico,

}. 8) A importância que os kleinianos dão aos scn-

Jl"'f~ ~~entos os t~~"ª-dQ,_ no~ bons casos (existem

Y " ti} kleinianos muito ruins), à consideração dQs. s~-Y' ~~ e tem-lhos dado uma peculiar sensibilidade

para entender o material, que se aproxima da litc-

ratura. Os literatos são os artistas do sentimento,

das mudanças, dos pequenos medos, alegrias, espe-

ranças, estados de ânimo .. , Pela importância dada

aos sentimentos, [luitos kleinianos sã_o capazes de

fazer este tipo de interpretação da transferência em"ltermos de delicados sentimentos.

9) A importâôc;jj:aãdâ à s ansiedades, defesas, r-_~fantasmas e, talvez_ menos a outros aspectos, Por ()Jf"

exemplo, os kleinianos julgam muito negativamente

~s "a tllações" e dão )llCa im[1ortância aos sonhos,

ue não sao o seu ~(Qne". Os kleinianos opinam

que, na medida em que as ansiedades são registros

do jogo instintivo e do sofrimento psíquico, e namedida em que desencadeiam defesas, instintos, an-

siedades e defesas, se exprimem nos fantasmas,

Analisando os fantasmas, as ansiedades e defesas,

consegue-se desmanchar as características adotadas

pelo sclf e os objetos em cada posição, o que torna

mais manejável a importância que pode ter, even-

tualmente, a carga dos instintos em cada uma das

posições, especialmente os instintos de morte,Resumir tudo isto não é uma tarefa fácil. Espero,

pelo menos, que tenha sido ilustrativo.

INTERVENÇÕES E PERGUNTAS

- Você poderia explicar mais sobre a transfe-

rência negativa?

Resposta: Apesar de Mclanic Klcin ter escrito

58 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO ANGLO-SAXÔNICA 59

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um artigo chamado "Observando a conduta dos be-

bês", no qual se abre a ilusão de que também os

bebês podem ser analisados (interessante neste mo-

mento de crise de mercado que vivemos, pois, já

que no Brasil há grande natalidade, a possibilidadede analisar os bebês é empolgante ...). Mas 'parece

que os bebês não são analisáveis, até um determi

nado momento, em torno dos dois anos e meio

~(~. É quando os 5ebês ganham um apa~(~

neuromuscular, sensorial e simbólico suficiente-

mente desenvolvido para permitir-Ihes cumprir a

atividade que é a base de Icitura do analista - a

b~incadeira, o jogo. Supõe-se gue a criança eS,tejãVIvendo, neste eríodo as osi 'ões es uizo ara-

nóide e dcpressiva. Como já disse, as posições ca-

~cterizam-se por não existir uma adequada inte-

gra 'ão dos instintos. Não existe integração de nada.

Nem dos instintos, ncm do self, nem dos objetos,

o que faz com gue as ~dadcs sejam muito i i n -p~rtantes, bcm como as dcfe~ que ããiTViâa e

f A 'de s~mbolização!êja .. po~re. Portaniõ,. o que p;e-

) f dom ma, ~nLU.IQ.ç.ê.Q.! § J . 9 e a~ nega ti~.

~

Entendemos por transferência negativa o predo-t, mínio da . 'dade e a ersecução na;t -f Y " ana-lítica.:-MeIanie Klcin diz que não adianta educar

~ neste momento segundo a proposta de Anna Freud,

. pois toda tentativa de informações e educação cairá

no campo onde predomina a pu lsã o de morte, a

hostilidade e a persccução. A criança não vai as-similar o ue se ensina. Não adianta interpretar

cnl atizand o, por exemplo, a transfe rência erótica,

porque não é o erótico que predomina. O que prc.-

d.9mina não é o amor, é o ódio não simboliza~o,

não capturado no sistema de representações, nio

permitindo que o impulso de vida, o erótico, o a!!l0-

. ! : O : iO , se desenvolva e tome a seu controle 0d1re-d.omínio da tníalidad da-\&Í.Ga-p&Í.Gfuica.Por isto é

que ela prescreve que o rimeiro a ser' pr.ç.tado

~ a transferência negativa, ou seja, deve-se trabalhar

a invcia a avidez, a voracidade, o ódio, o cifune,--~a cul a crsecutó ria etc.

O que tcm ocorrido, sem entrar em muitos re-

finamentos teóricos, é que a proposta kleiniana tem

sido mal interpretada. Mpitas yczes-<t~-ções kleinianas I2arecem uma desaforo, porgue en-

{;}tizam tanto a maldade, o ódio, a ~Q~de de cks-

tr~lir ue a crianç,a ou o adulto a~ab;m ri!siàJ:lco-

lizando-sc cntendcnd2 quc são C!!!~111entcruins ou

ue nada têm de bom .. As interpretações da trans-

ferência negativa não são àrticuladas com as siri-

\1Is. ão se mostra ao paciente como o predomjnio---- - - -negativo não permite a emergência do positivo, o. -e às vezes produz incremento da cul a ~ºcutória,

da auto unição e, fundamentalmente do desalento.

Nas palavras do paciente, seria: "Ah, então é assim ...

então não tenho salvação nenhuma ..." Se isto surge

necessariamente da concepção kleiniana ou não, édiscutível. Em geral, vemos que surge da má com-

preensão da teoria e da proposta klciniana.

- Você poderia [a la r um pouco mais sobre asinterpretações qual/do predomina a pu/são de morte?

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60 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO ANGLO-SAXÔNICA 61

Resposta: Deprccnde-se um pouco da resposta

anterior. Melanie Klein tem dois casos famosos, o

"caso Dick" e o "caso Richard", sendo um deles

descrito de maneira admirável em um livro grande,sessão por sessão, tudo que foi interpretado a Ri-

chard - Relato da psicanálise de uma criança.Independentemente de coincidir ou não com a teo-

ria k lein iana e com o tipo de intervenção que ins-

pira, o que deve ser resgatado com o maior respeito

e admiração é a vontade de ob'etivar o trabai110

que e a azo Nao sei se vocês observaram que ul -

'-imamente nin ruém ublica casos clínicos. Os psi-canalistas se ocupam em rcanalisar teoricamente

os casos de Freud. Mas não se sabe o que cada

um faz no consultório o ue é muito negativo· ara

Q dcsenvolvimento_de..n.oss<Ld.is.ciplin;I. Todos falam

das teorias que adotam, mas não falam como as

aplicam e ninguém sabe se dá certo ou não. Melanie

Klcin fez lon as exposições de seu jeito de trabal-

har. .Nesse livro, isto Rode ser a reciado.A interpretação rápida, de entrada, remete aos

primeiros brinquedos que a criança pega, aos pri-

meiros movimentos que faz, os quais Melanie Klein

já interpreta em termos de relações objetais. Volto

a insistir, há muitas críticas a fazer, porém esta é

a característica. Assinala predominantemente as

fantasias e impulsos destrutivos que atrapalham a

liberdade do jogo. Em termos do medo que a crian-ça pode ter de que o que está se repetindo com

relação ao analista esteja sendo produto da inveja,

que poderia destruir o analista, a vontade de in-

corporá-lo, csvaziá-lo, tirar-lhe todas as coisas boas,

a vontade de cort á- lo em pedacinhos, de destruí-I o,

tir á-lo de outros relacionamentos afetivos com ou-

tros pacientes, com seus familiares etc. Esses fan-tasmas arcaico.s...aconl 'cem..com grande predomínio

da ulsao de e CQm orussimas e dcsprazcro-sas ansiedades e com defesas rígidas contra a an-

ied e Na medida em que se interpreta e se coloca

em termos simbólicos, diminui a ansiedade porque

diminui o temor de que isto esteja acontecendo na

realidade. Localizando tudo isso como fantasma,

surge a ocasião de que o lado da pulsão de vida,a transferência amorosa, apareça com mais clareza

e a induza ao processo de manifestação do jogo e

da expressão mais livre, criativa e compreensível.

-Já que a teoria kleiniana dá ênfase ao jogo,ao brincar como forma de expressão, gostaria desaber se ela faz referência à criatividade, à ima-

ginação, no caso da criança, e o que faria a res-peito.

Resposta: Realmente, sim. Para os kleinianos o

2IQcesso de simboliza a ,com tudo o que implica

domínio de todos os aspectos que acabamos de

"i'nencionar, seria a base da sublimação e do uso

.....criativo da capacidade de pensamento e de imagi-

na ão e de toda atividade construtiva, não apenasat.tísüca.

Há um artigo de Melanie Klcin que se chama

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62 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO ANGLO-SAXÕNICA 63

"Acerca da importância da formação de símbolos".

Há outros autores pó s-k lcinianos como innicoU

por exemplo, que se têm ocupado especialmente

disto. Eles afirmall! terminantemente gue a ca a-

cidade de bicar (seja espontânea ou adquirida

através de uma análise ou outros procedimentos)

é o antecedente, o prolcgôrncno de qualquer outra

capacidade criativa-construtiva-inventiva-sublima-

t ó r i a do adulto. Existe um analista klciniano ar-

gentino -@driguÇ)- que tem trabalhado sobre

uma questão que, segundo me parece, responde à

sua pergunta, que é a INTERPRETAÇÃO LÚDICA,

no sentido, por exemplo, de que o analista de crian-ças não precisa necessariamente colocar as inter-

prctaçõcs de forma verbal ou de maneira "adulta"

e "ortodoxa"; §Ie sÓ precisa hrincar, por sua vez,

de uma ane· ra ue adote o côdi!o le a crian

usa. Se ele brinca de maneira complementar e con-- 'segue transmitir significações com esfe.recurso,..nãô

recisa_ interpretar .• Com este recurso não precisa

enunciar interpretações em um sentido clássico, oque é um grande desafio, porque os analistas sabem

interpretar, mas não sabem brincar. Aí se coloca

um desafio, uma prova. Quanto o analista conserva

de uma criança brincalhona, e quanto consegue

brincar novamente com fins específicos para seu

procedimento?

Cada sessão tem um fantasma que pode e deveser intelpretado, independentemente do entendi-mento ou da aceitação do paciente. Em que sentidopode ser um erro e em que sentido pode ser uma

contribuição?

- Gostaria que você esclarecesse a quintacontribuição, quando afirma que pode ser um er-ro ou uma contribuição a questão da interpretação.

Resposta: Esta é uma excelente pergunta. Não

é fácil resumir a resposta. A proposta kleiniana éde que cada momento e segmento do que chama-

mos "material" (jogo, discurso, sessão, período)

tem um fantasma que pode e deve ser decifrado.

Uma vez decifrado, eve ser comunicado ao pa-

ciente independentemente de estar ou não em con-dições conscientes de assimilá-Io, aceitá-Ia. Isto

tem um ~10 positivo: os analistas, sabendo que

pode ser assim, que pode haver um fantasma espe-

cífico em cada segmento do material, esforçam-se

em decifrá-Io, isto é, diminuir aquelayarte do "m a-t~rial" à qual não prestam atenção por ue lhes dá

impressão de que é "conversa fiada", que não é o

caso compreender o que não "quer dizer nada".Existem analistas que tomam em demasiada con-

sideração o que eu poderia lhe explicar através de

uma metáfora que uso para isto: poder-se-ia chamar

de "engolideira" o aparelho de engolir? É um neo-

logismo. Existem terapeutas que levam em dema-

siada consideração o diâmetro da "engolideira': do

paciente. Só lhe dizem coisas as quais esteja~-

sÕÍutament;; seguros de que ele vai engolir orcwese preocu am muito com a resposta imediata. Neste

sentido, desconhecem, esquecem, não valorizam

64 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO ANGLO·SAXÔNICA 65

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que a interpretação só muito parcialmente está di-

rígida ao cgo e à consciência. Ela o era e outro~_

níveis e sua apropriação e rocedência não se de-

finem pela r~s osta imediata. Definem-se c diz

Freud ela capacidade qlLe=posslli de abri ovosmateriais no ue vai aparecer de ais. Neste sentido

é bom ue os klcinianos insista!l1 em interpretar

en uanto entendem;,quando entendem, interpret~

O paciente não "entende" nada, e a sua primeira

resposta é de desgosto ou rejeição. Isto não tem

importância. A questão é continuar com a atenção

flutuante, vendo o que virá. Neste sentido, é posi-

tivo. Não sei se ficou claro quais são os sentidospositivos desta idéia. Os'@fntidos~at", ou pelo

menos discutíveis, sªo os que Ereud dcixou.bem.,

claro: o "material", o "discurso" do paciente eic.

não são unif?rme e igualmente valiosos. Existem

pontos noüms ue se chamam 1 70 A Õ S DO

INCONSCIENTE, que são, como em qualquer escri--------- .to, as palavras sublInhadas, assagens rivilegiadas

ue temos de considerar es ecialmente e cuja in-terpretação permite entender, retroativamente, todo

o outro período e transcurso que não é muito ex-

r f : Y , 1 pressivo ~ significativo. A tradução, or assim di-

_ú-~_z~r, o decilrarncnto, deve ser feita a partir d<2§R.0~n-

~I tos privilegiados que vão dar sentido aos outros

~ períodos "vazios" de exrressividade. A idéia de

K tomar todo material por igual e interpretar cada

parte no momento em que "aparece" é uma pro-posta perigosa porque leva a uma espécie de atitude

de "intérprete simultâneo" de congressos na qual,

à medida que o dissertante vai falando, o tradutor

vai traduzindo (nunca soube como conseguem fazer

isso; para mim é um mistério ... ). Mas, em análise,

isto não funciona. Deve-se esperar ue se coml2lc-

tem os períodos significativos que se qualifiquemcomo tais a partir da emergência de uma formação

do inconsciente típica como o sonho, o ato falho,

o lapsus linguae; é partindo daí que dá para en-

tender o ue foi dito anteriormente peüindo asso-

ciações a respeito.Outra atitude é pegar cada passagem e procu-

rar-lhe uma tradução em termos de fantasmas, con-

sultando o "dicionário de fantasmas" que Mclanic

Klcin produziu. O conteúdo manifesto pode ter um

certo parecido com o fantasma que temos dispo-

nível, que lembramos, mas pode não ser o seu sen-

tido latente. O fantasma pode ser outro. O yerigoé ue leve a uma tradu 'ão sistemática simu ('" a

e estereoti ada. Este me parece o aspecto negativo

do assunto.

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A CONCEPÇAOLACANIANA

U M A dificuldade para expor o tema é

não sabermos até que ponto o auditório conhece

as contribuições teóricas originais dos pó s- Ireud ia-nos. Não sabemos, por conseguinte, até que ponto

podemos expor diretamente o tema, sem fazer uma

brevíssima introdução a esses apartes,

A proposta lacaniana oferece neste sentido, di-ficuldades especiais porqu&-;;-a:0 propôs um re-

torno a Freud com características eculiares que o

Iez produzir uma rcformulação temática, conceitual

e formal na qual a obra freudiana se torna, amiúde,

irreconhecível. sto se deve, sem dúvida, ao fato

de que o trabalho lacaniano produtivo gera novi-

dades consideráveis e a peculiar concepção de La-

can sobre o discurso teórico da nossa disciplina,

em concordância com a material idade peculiar que

atribui ao nosso objeto de estudo e de intervenção:

o sujeito psíquico e, em especial, o seu incons-ciente.

Todo o psi uismo é imanente à linguagem queLaca isola e redefi,llQ., como um sistema si n 'fi-

cante. Para Lacan, a seqüência significante que de-- - - - - "--~------~------~~-

A CONCEPÇÃO LACANIANA 67

nomina discurso, animada por uma força insistente

"ue é o dese'o constitui o su'cito e est or a

vez, segrega seus ob'etos sendo ue a mate I-

dade última do objeto e do chamado su'eito exige

ue a teoria ue dá conta dele, e a prática de seuconhecimento e transformação, tenham claro que

s;ctesenvolve inte ralmente no cam o da lingua-

gem ou do sentido. A teoria psica nalíti ca, em con-

seqüência deste axioma, não será uma metalingua-

gem que fala acerca de seu objeto. ~esti eculiar ue ro icia ser falado ar ele . .Qy

seia uma es écie de "drarnatização" signi íic ant e.

A sua tese mais importante, a de que o mcons-ciente é estruturado como uma linguagem . s . . ! i ! l l -

diona) segundo afirmava~com base:J e-

rações de \!cslocamentõJe d - que@)

denomina metoními e etáfora exige que a teoria

do inconsciente seja uma linguagem apropriada pa-

ra veicular estas operações. Lacan afirma daí que

a teoria deve estar formulada de maneira aproxi-

mativa -- não dentro da modalidade cartesiana das"idéias claras", e sim utilizando figuras retóricas

nas quais o sentido desliza, o que não impede, por

outro lado, que, junto a uma estilística literária e

aporética, ele se proponha uma singular precisão

em suas formulações, tal como em seus maternas,

que exprimem uma lógica, uma álg ebra peculiar,

na qual Lacan tenta circunscrever as' estruturas

constitutivas do sujeito de maneira precisa,Quanto ao tema da transferência, como tantos

outros, Lacan parte estritamente de Freud. Lcm-

68 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO LACANIANA 69

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brames que, em ~Q)a ft@"nsferêncial segundo

vimos, pode caracterizar-se em quatro formas CU1e

forqm aparecen o sucessiVã'i'i'iCnle no peÍlsamento

{jrreudiano. Frcud entende altransfcrênci~ com"R..!Ç- 1

~ ~ petição dos rotótipos inconscientes. A lfCpêT iÇ ã9 ,. ~~.);neste sentido, é ar um lado aguilo . ue constit~Ii

P~ o motor da cura e o material a ser entendido o. 1,V.;f modificado. A tepetiçao'\tambÓ; apare~~ ~_ '2 .

~. sistência, como obstáculo à direção da cura. A osci-- - - - -ação como motor e como resistência-obstáculo

configura uma ambigüidade ue dcve sc-;' cu· 0-

samente considerada. A transferência aparece, no 3

t~rceiro sentido, como _s~' comQ...cstado--I2.e-culiar de submissão do paciente ao ~a, o que~ --em muito a ver com a id cali za ção do hipnotizador

e com o sentimento de amor que faz com que entre

hipnose, sugestão c enamoramento, exista uma co-

nexão claramente advertida por Freud, especial-

mente em Psicologia das Massasy .J1.1l4jis e de Ego.O uarto sentido Ireudiano que~sublinha é ~

o da ransferênci como o acontecimento central'------"

--dentro da enfermidade artificial 9 .l! .C come o da- .. . . • . . ~

a-;{ . e desencadeia, conhecido classicamente c.om

o nome de 'neurose de trans[erênci!!X - c2pécie~

de reedição concentrada e reformulada da neurose

cÓtidiana ela ual o aciente vem se consultar.

Lacan enfatiza a transferência tal como ela se

apresenta em A In terp re ta ção dos Sonhos, enten-

dida como ~ de sentidos ,9,ue se deslocam~ ~ uma representaç~para outr~ o.ql~~igL9ue._fI~ o conteúdo manifesto do sonho seja decifra;!2..e

interpret~do, c?nsiderando que é capaz de capturar

o analista como uma das representações dos restos

di urnas, i ual aos ue se constroem nos sonho .

A transferência como .resisiência, obstáculo, como

fenômeno amoroso, formando parte de uma enfer-midade artificial, é um fato que surpreende Freud

na ordem do acontecimento inesperado, A [ransfe-

~ncia como resistência. em rigor, localiza-se fl.ln-

damentalmente em uma infraSS.ilo o_~diillL9-º-ªmI-

lista, aceito pelo paciente, de cumprir C O ! ! ! a liv}eassociação, dizer tudo que lhe vem' ~n.te,~

rejeitar ou selecionar o ue deve ser dito,

Quando Frcud faz sua famosa classificação detransferência entre amistosa e erótica, constituindo

a transferência positiva, por outro lado, e a hostil,

constituindo a negativa (esclarecemos que, erótica

ou hostil, a transferência constitui-se como resis-

tência) Lacan 'observa. ue a amistosa não é a~ as

igual a certa forma da sugestão, embora não deixe

de contê-Ia, ela é uma res osta a uma demand

do analista, justamente,. de livre-associa ão. Esta éa única pressão que o analista se dá o direito de

exercer sobre o paciente, sendo que sua atitude, a

partir deste momento, deve ser passiva e não uma

ativa tentativa de interpretar as resistências do pa-

ciente e de procurar dissolvê-Ias ou forçá-Ias;.2-

inconsciente que vai manifestar-se no discurso do

paciente, através das formações do inconscie te

Jdas quais o analista é uma delas), não re~~,-ªpe-

nas sabe insistir em dcse'ar. A resistência vem. do

~ qu~ divide em "je"i, ç~o:L.:,...e,-1llais .

70 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIAA CONCEPÇÃO LACANIANA 71

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p~ecisamente, do "moi", porque a liberação do re-rimido roduzir-lhe-á desprazer. Em Inibição, Sin-toma e Angústia, Freud faz um quadro (ao qual jános referimos) em que@enfatiza as resistên-

cias do e o en uanto minimiza as do su ere o co-! ! !O inconsciente, e as do Id ue funciol1an segundoum automatismo de repetição que rocura a tem-poralização d;Cx eriêpcia da transferência.A transferência ue acontece na situação psica-

nalítica não é muito diferente, ara ca da ea~.9ntece na vidü~l, o que é um questionamentoda realidade mesma desta vida. Ela é a enas ro-

vocada artificialmente na situação analítica e ficaintensificada ela resistência. can dá a entenderue vivemos em um sonho e ue acordamos uandonos a roximamos dO_ct~é verdageiramente real

em nó~ i:5ejo e as pulsões).'" Par can todo aquele que emite um discursoo faz inconscienie'iiiente, encaminhando-o a um ou:-tm.... ue _ ca chama de o Grande Outro e que,

em rigor, dará o verdadeiro sentido do discurso,d e modo tal ue o sujêltoconsciente se vê surp~e-endido porque sempre diz a mais ou a menos do'-=.. .....CJ.!leensava e encontra-se com um dLto, cujo sen.:tido ele desconhec~, revelando que o inconsciente- cstruturado como uma linguagem .- contémum saber do gual o sujeito nada sabe. Quando estediscurso e sua verdade são colocados, parecem vir

de um outro ao qual, inconscientemente, ia dirigido.Para~ a importância do lugar do analista,

que por meio dos dispositivos técnic - ícos

desencadeia e condensa todo o processo na baseda proposta da lIvre-associa C1

vocar a transferência tendo fé em(por mais sem sentido que pareça) uer dizer 1 -

guma coisa ue obedece a causas. I;?Ü;:ªJ~ue dissejr.o aciente, isto uerer'- 'zer T a coisa. A1tran~-ferência é a conseqÜência imediata da estrutura dasituação analítica. Lacan pretende dar conta desta'estrutura transfcnornônica, isto é, que fundamentae explica todas as formas aparentes em que a trans-ferência se manifesta. Q analista aceita ser o suportedo Outro. Neste sentido, e transitoriamente. on-

~orda em converter-se no Amo do Sentido, isto é,

\

a:-ue~.9u~ecide o ue foi gue ? discurso incon-sciente uis dizer. Em outras palavras, o Amo da. erdade, o que implica para o analista ter clara ares onsabilidade e a dignidade de sua funç~o. Q .analista coloca o paciente em uma condição deabertura ue o torna re ara(Ío ara a transferência.O principal instrumento para deOagrar essa dispo-

siÇão é o silêncio do analista, ue faz com uena,), responda às demandas manifestas do paciente,

I Jnildo ocasião para que a demanda inconsciente semanifeste no discurso ines erado gue logo aparece.Por Isso:---rccom;'-se ao analista, di;nte de cadapaciente, esquecer o que sabe no sentido teórico-lepistemológico tradicional 9 9 termo. LNo ,grincípio de 1954,(1aca pensa· a transfe-~

rênci QQminllJ.1temenlv_comoFreud o fez em sua<t ~versão Icnornênica, copo r~la ão ima i.n.ária de ~ .amor- aixão. Dez anos dçpols Lacan retifica esta ~ : I ( » "- - .- r\r

72 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO LACANIANA 73

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versão e coloca como mecanismo central a adiu-

dicação do analista da condição de "Sujeito Su~to

ao Saber", que_denomina piVOl do procedimento.

Deve entender-se, em princípio, que a posição de

Sujeito Suposto ao Saber não deve ser confundidacom atitudes ou convicções conscientes do paciente

pelas quais pode supor que o analista já sabe an-

tecipadamente o necessário para solucionar todos

os seus problemas. Em certas ocasiões, ·0 paciente

declara manifestamente o contrário, supõe que o

~ analista não sabe ou não entende o que ele está

~J):,dlzen.do. Trata-se de. uma posição estrutural que

~V'antenormente denominamos transfcnornênica. E o

p ... . ~1 L s u.•:,..e_l-:o_In_c_o~n~s..;.c..;;..le;;.;n;...;t;.;:.e_.,l;;;.le~s:.;:u:.&::.:;:õ:.;:e...:lu;;:;e::;..,;;o~s:;:.a::;.e::;.r~d~o~in-rO/J'

r : ' I " J t r c.onsciente já. e~tá todo prod,u~ido no lu ar do ana-~~I lIsta, o ual fana desnecessário o rocedimento ga

cJY livre-associação. Em rigor, esta mal entendida si-

tuação da coloca ão do a!lali~Q ugar de.sujei-

to-suposto-ao-sabe~ (o sujeito que sab'e não é o

mesmo sujeito suposto ao saber do inconsciente)

~se torna manifesta em uma situação peculiar -

quando o começo da análise desencadeia uma si-

cQse âlucinatória paranóica na ualo aciente cla-

ramente pensa ue o analista 'á sabe tudo o que

ele vai dize,r. Em outras palavras, ~divinha-lhe o

pensamento, o gue, em geral, adquire características

persecutórias e torna a análise especialmente difícil,senão im 2Q .SS .Ú I.el .

A demanda consciente tem múltiplos sentidos,

geralmente demanda de amor, demanda de reco-

nhecimento. Mas o que o sujeito inconsciente pro-

cura, estrutural e te é ue amando o analista o

colocara no lugar de seu Ideal do E.o e rocurara

constituir-se ele no lugar do E TO Ideal. Na a

em que a identificação é rocurada r meio do

fazer-se amar tornar-se amável or seu Ideal do

E o, fecha-se um círculo narcisístico ue restaura "

uma si tuaÇãõ especular. .egun o acan, não se trata, como muitos ana-

listas não-lacanianos pareciam entender, de colocar

o analista no lugar do Superego, porque o superego .•p Cnão tem a ver com a Lei, nem com as normas.~· .

Não é a medida da realidade. O superego é uma

instância muito . ,. le e i,e gue o sujeito J./~

ozc. Esta imposição é impossível e tem muito a ~'Jtf

ver com a Pulsão de Morte. 'lcanaz uma distin- - r . ç : , r..s;ão radical entre razer gozo. O razer é o di: 9-

ferencial ue se estabelece no su';ií;'; entre o gozo,

procurado como estado último de restauração total

do narcisismo, e o prazer, ue é l~si~ul;;'o

sucedâneo do gozo obtido em rela 'ão ao rocurac!Q.

O superego não é aquela instância que exige do

sujeito que triunfe e sim que goze. Por esse motivo,o triunfo amiúde produz efeitos paradoxais de culpa

e de desprazer, em conseqüência do dcscumprimcn-

to dos ditames arcaicos e incoerentes do superego.

Q! analistas não-Iacanianos, com exceção, tal-

vez, de Melanie lcin tcriam confundido o lu ar

analista com o do Su erego, ro iciaildo a idcn-tifica ãb.Ae divers s aneíras, o.Ego.com,o SlI-

ere TO e definido esta identifica ão como cura. Estasituação é a antítese do que Lacan definiu como

74 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO LACANIANA 75

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cura, que não é a introjeção do analista e a iden-~~ ~ificação do paciente com este superego e sim a

~ !plerve~ç.ão ~o desejo do analista, como desejo ge~r prescindível, a tal ponto que o analista se torneuma espécie de rcsTcIuo,d'C-éf2eçâo ou resto' da

I,,-~ y opem ão. psi,cana~ítica. Por isso, ~ denominaMi,r' esse desejo r ~eseJo do analista' , que não é o mes-~ mo que dcse o de tornar-se analista nem deseio

~ ~n.alistas. !mta-se de.que é um <!ysejyde n~do o d nao-ser dese o ue ad uire neste sen-tido a d(me são do dese'o da morte.O sujeito fala a partir da posição do Outro, Ideal

do Ego, Amo da Verdade, para roduzir a mensa--?:m da qual se torna o significante: Ser amável eg?'Vernado pelo O;:!.~o.Em outras palavras, ~Ciente te ta ser halus ara o icanalista. Se oP5icanalista. não tem daro ual é seu lugar, se nãoI~ consolidado em si o desejo de analisar, podefavor~cer o desejO do paciente e, assim, produzirum I 1 o ~ resu tado no ~ o Su erego co..!.!!...

~Ith qu'!l..~ paciente o._vê.identificado_ ten~a "comido"~v:-0 su to. Lacan, ironicamente, denomina tais aná-

Il~ lises '.'ca~ibalíst~cas", provoca das por uma espécie'J I " d$._abJeçao da figura do analista. Lacan denom~

a transferência "a posta em ato da realidade doinconsciente".,..-1\. função do analista é a de "des-marcar-se", sair desse lu ar, destituir-se, fazer jus-tamente o ue não se es era dele. Para isso, deve

adotar lima a1itu~de total i norância e assi~. ' ,con;egul!:..,9ueo ~iente saia do lugar do Ego eal,amavel, gue E..0cu!:.ajsJentifica ão narcísica, irna--

g!nária, especular com O ideal do ego amador ouamante em ue colocou seu analista, O acientev~ransformar-se em sujeito de seu desejo par~q..!;!e ossa continuar demandando e associando li-vremente, e para que este processo nao se intcr-om a ou se blo ueie em uma identifica 'ão. E~~outras palavras, o analista deve rocu - 'r I ! ) I P , I

ougar do gu Laca denomina "obiet'o }" (Iê-s~#lbi )' bi vjcto pequeno a , que e o o leto dcscncadcaruc-zsdo desejo do paciente, senão operar manobras guepermitam "semblanteá-Io", como ele fala, Ou sej~,escapar da máscara pela qual o sujeito lhe atribuiesta condição, Se, ao contrário, o psicanalista pro-picia a identificaçao de diversos maneiras, ela p..Q.ceEãpturá-lo como totalidade ou Rode produzir a "irni-Úlçao", por arte do paciente, de um traço do ana-lista, que Laca denomina "traço unário", o quef~IZcom que nestas falsas curas se possa ~-hecer os analisados de certo analista ois, de umao~ de outra forma, todos acabaOL ) parecer-se J rcom ele, J J Y f , J J iO conceito do desejo do analista uflo deve sGr~

cQnfundido com a co ntratransfcrência. A [ C õ 1 1 " i ! ã - ~transferênci segundo can reduz-s' ~ , l2arií,;ão,e»::"';{na situação analítica, de todos os preconceitos e~...u:Íl~J]orâncias do analista ue o levam a cncam ar,cx- flP"cIusivamente este lugar do O~ltro, do Amo da Ver-ê,iãde, do Supcrego, do objeto a, do amador do pa-

ciente e do modelo de identificação.A situação psicanalítica não está desenhada nempara a interpretação da contra transferência do ana-- - . , - - ---

76 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIAA CONCEPÇÃO LACANIANA 77

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list, llLP-aLa-Quc esta scia usada como instru--ento de cura.

PERGUNTAS E INTERVENÇÕES

- Qual é o papel da coruratransjerénciar Está

ausente? Não cumpre nenhum papel no processo

da cura?

Resposta: A respeito disto,@disse que é

provável que ~lguma coisa como a contratransfe-

rêl1cia aconteça durante o processo analítico. Mas,

o experimento psicanalítico, a maquinaria psicana-lítica da sessão não está desenhada nem para dar

conta da contra transferência, não servindo para ana-

lisá-Ia, nem para utilizá-Ia como instrutnento com

o fim de analisar o paciente. Se existe, se acontece

no processo sicana!..ftico)_ a cQ!1tratra;sferênci-ª-. é.apcnas registrada como a ignorância do analista

~~o.s princípios teóri~os que regem o dispositivo an~-

f'" 1)ltICO. O desconhecimento do sentido da função deanalisar, o qual faz com que no lugar dos princípios

o analista coloque seus preconceitos, suas opiniões,

seus valores e até seu corpo, sua figura, alterando,

obturando sua função de ocupar o lugar do sujeito-

suposto-saber e tornando-~ lu a~ do morto, que lhecorresponde ocupar.

'Nàõ quccStcja' ausente e não jogue um papel.

Assim como o instrumental psicanalítico está de-senhado, se o analista_tQllLC o e ue cons ste

seu lugar e função, pode ~rfeitamente co lt:.olar,

governar, excluir estas ignorâncias e reconceitos

J que são a forma como a contra transferência aparece

~ dentro o processo analítico. Esta posição é muito

. di ferente da que diria reud m seus arti os téc-

r nicos, quando define a contratransferência como

transferência recí roca. Estaria em desacordo com

o que afirma a Escola Anglo-Saxônica e a Escola

Argentina, que dizem que a lCOntratransferência t-é claro - é um fenômeno indesejável dentro do

funcioname;to da sessão, mas é um fenômeno

aproveitável para o processo de analisar,

- Qual é a relação entre a função paterna -conceito característico da leitura lacaniana - ea função do analista?

r'

Resposta: Podemos responder a isto segundo os

diversos momentos da teoria laeaniana. Tentarei

responder dentro do que me parece ser o momento

mais maduro. Em realidade, a função paterna, o

Nome do Pa sua fun ão o.casnadoxsimhálico,se arador da célula-mãe-fálica-crian a narcisista

;tc. não é equiparável à funçã2 do analista; A fun-

ção do analista talvez possa abrir um espaço dentro

do sujeito para que este procure alguma coisa ou

alguém que faça nele a fun çã o e registrar o nome

do pai, a metáfora paterna, a castração simbólica

ete. Mas não é o analista que ocupa esse lugar,

porque, ,se o fizer, distorcerá de uma mane~ ou

de outra suas exigências básicas - estar no lugar~ --

78 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO LACANIANA 79

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do morto do su.'eito-sUposlo-ao-saber -, e não vai

dcsem penhá-lo.do imagin<lrio e a 9!.;<;tra.$líQ..i da' orde!!L. do sim-~ ~.-t;.ólico, e,Pbora exisllm ouuns cnmhlna..ç

veis.--Isto se complica ai,nda mais em um quadro feito {

por Lacan e que deixaremos, momentan,e~mente~ J I Y : : Jde lado. Em todo .caso, o ~rocesso a~altlt~o e:t.al~destinado a produzir castraçao no sentIdo sim bó li -

co, ou seja, autonomização do sujeito e desa!ien:- Ição do su."eito do Outro e p~r outro lado, aceltaS:ª0\\

da erda dI' .( T " cio su' ei to. Em l in-

guagem lacaniana costumamos dizer ~eitação dj.)

sujeito em deixar de ser o p!:.Elus do outro (scpa-

;ação), Lembramos que o sujeito se constituiJladialética de duas o era ôes: aliena ão-s' a' âo.

Mas os processos relacionados com a cura, por

exemplo, recebem e~o nome específico de

castração e são da ordem do si " . Pode-se

reconhecer ou admitir que esta discriminação feita

po~ evi ta ,u ma série ~e c?n (us~~s por. uc

tanto' eu como na teofla pSlcanalttlca ostc- J .

rior, castração, privação e frustração co.n~u,ndem~e c Y " , t f ; rrermanentemente e não se vê a es e~d.Bd~_de~'VIcada um dos termos. Por exemplo, os psicanali stas

norte-americanos e anglo-saxônicos falam, pcrrna- cnentemente, em frustração. A rustração é o te o

que explica tudo em mat<:ria de falta. diz

~ a frustra -ao é fr 1st 'I -ão de amor da de anda

de amor.-~tração não se aplica ao desejo, por exel1!.-

10. NãQ se aplica à ulsão c..!!~ se aplica à rea-

lidade. no sentido de ue não há frustracão da fome.~ '

- Quando Freud fala do estado de privação

em que o paciente deve ser mantido e Lacan re-fere-se a não atender às demandas, a suportar olugar do suieito-suposto-oo-sabcr, o lugar do mor-10, estão falando da mesma coisa? Qual é a dife-rença da releitura a esse respeito?

Resposta: A questão da contribuição, da dife-

rença, é uma problemática que afeta a todos e a

cada um dos conceitos lacanianos. Não é fácil dizeronde está a diferença, a novidade e a contribuição.

Há quem afirme que novidade e a diferença são

radicais e substanciais. Há quem afirme que, na

medida em que a relcitura de Freud não toma todo

o Freud e sim a um Frcud peculiar, e rejeita o

outro ou o corrige, não é impossível dizer que o

conceito írcudiano adotado não é substancialmente

diferente do lacaniano. É apenas refinado, selecio-

nado, ressaltado em seu valor cpistcrnológico den-

tro da teoria, Neste caso particular, parece-me (não

estou muito certo) que a resposta asSa p-or uma

diferenciação com~le'xa e sutil - como to~s

cOfSas de La'can - ~ riva ã a 't .çã ~ -

0ção.l ~"",vI'j. Você usou o termo privação, ~ relaciona:\~ ,IJ:estes três ter os com os famosos e s ., eal

~ L } y imag~nário e simbólico, Abreviada~1en~e, ~-

~ s . ? 0 sdéLDrdem do real, Wrustraçao e da ordem -

v r

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Cada um dos termos é aplicado a um i.mpulso di-

f!;fente, a um nível diferente do requerimento (de

amor, de desejo e de necessidade), jogando-se em

registro diferente -;;imbólico, imaginário e real). O

pa el fundamental d0.3-nalista ~ 0.J?$:.!ara castração,

n~re~do simbólico.

- A questão do lempo lógico na teoria laca-nlana é de qual registro?

Resposta: Tentarei simplificar a fim de fazer-me

entender (só que a teoria lacaniana não é entusiasta

da idéia de que as pessoas entendam ... Trata-se,

pois, de um desejo meu).@diz que no registro

ue se tem do discurso do Inconsciente nela qual

o sujeito é falado, uando a· arecem as formaç.ões4

g o i c scícnic, podemos.dize que.há.um instante

d'.:.."crccber, o momento de co~ncluir e temp-o para

com rccndcr.-Os três não são a mesma coisa. Aí

estão implícitos vários assuntos, por exemplo: que

não se interpreta com base emfeelings, como dizem

os ingleses; não se interpreta com base 'no que um

sente; e não se interpreta "precocemente", como

dizem os kleinianos: "Entrou, vi-o e tive a seguinte

impressão ... "

Segundo a concepção lacaniana, a "achologia"

e a "sintologia" não adiantam (acho que.", sinto

que ... ). Lacan diz que isto corrcspondc, nos me-

lhores casos, a uma atitude fenomenológica à Jas-pers, em que a proposta de entendimento e cxpli-

caçãoestá dada pela simpatia ou pela crnpatia, isto

é, pela possibilidade de colocar-se em lugar do ou-

tro e sentir o que o outro sente. É assim que com-preendemos, explicamos e interpretamos. A idéia

lacaniana é totalmente diferente. O dispositivo, com

a pro os ta de livre-associação - dizer tudo o ue

vem à mente -, dá lugar a que o discurso incons-

cie~ manifeste. Só quando o discurso do in-

consciente manifesta-se como tal, através de suas

expressões específicas, que são as formações do

inconsciente, é que se tem o chamado "material",

sem o qual não se pode trabalhar. Há o momento

de percebê~lo, na emergência dess; elemento. Há

o momento de concluir e o tempo posterior de en-tender, estabc ecen o a re e e ígaçõese conexões

simbólicas. Isto é ilustrado por Lacan por uma

espécie de romance complexo, um jogo que se faz

entre presidiários, em que cada um deve "adivi-

nhar" o número do outro. Quem adivinha o número

do outro pode ficar livre. É uma explicação bastante

complexa em que existe o momento de perceber

alguma coisa, o de entender sua relação com outra

C o de concluir e arriscar a hipótese: "Teu número

é tal", para poder obter ou não o benefício da li-

berdade. I / • . . Y

Outra implicação é ue o(§mpª para os laca-t"'1

nianos, é o tempo do inconSCIente, e dev~ ~e-1:vado em conta porque opera como uma mt(;lli2re-

taçao.

~ õ; recursos habitua' analista são o uso

do silêncio e o uso da alava ão tendo outras

táticas (o silêncio dos lacanianos cumpre o papel--

82 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO LACANIANA 83

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de disparador da demanda, acelerador da regrcs-

são): a intervenção - a esar das c acrcrístícasbem peculiares - e a intcr rctacão-construcão

~ c(~hecemõS'Cm Freud, a2 que denomina

untua ão.O an<llista lacaniano dispõe de um outro recurso,

que é o de q'>rte ~ se~, sua interrupção ~

momento de concluir, em que o corte faz as vezes

da inter reta ão. Propicia, dito numa linguagem

não-l ac ani ana, ingênua e incorreta, a continuação

do processo de "auto-análise".

Para compreendermos isto devemos levar em

conta que o lacaniano insiste em que o centro, oprotagonista do roccss . nanic ,_é analisando

(que é o paciente), que, em rigor, analisa-se a si

~"mo, c..Qm a nrescnça ml aus6ncia ejõ" analista.Assim, o corte no momento de conCluir-faz as ~

de uma in.rrprctação, acelerando a continuação doproccsso "auto-analítico". .

- Poderia voltar à questão do gozo e do prazer?

~esposta: É um assunto complexo, que se po-

deria responder a partir da teoria pura, o que parece

não. dar certo porque foi sobre a teoria pura q uc

falei antes, e não ficou claro. Tratarcmos de res-

ponder a partir de um Frcud mais familiar. Em

Mal-estar 170 civiliza -{/O há uma assa rem onde

Frcud diz que estamos habituados a rocurar a fe-licidade é l estado. Entretanto, sabemos qUC

a ~adc é um contraste c não um estado.' O

que se percebe como felicidade é a eliminação deum sofrimento ou aquisição de certo bem ou razer.Nos dois casos, a medida é o estado anterior e osubseqüente, embora Freud fique intrigado com os

orientais, os iogues, que parecem conseguir o nir-vana permanente. Os amigos de Freud, TomasMann e Romain Rolland falavam da obtenção donirvana por meio de técnicas orientais. Isto seriaum estado de felicidade. Apesar da multiplicaçãode academias de ioga, parece que não o consegui-mos... Procuramos um estado de felicidade mas,no entanto, sabemos que a felicidade são momen-

tos, medindo-se por contrastes. Assim, talvez secompreenda melhor o anseio de ozo e a obten ão6'de prazer, que é o diferencial que se dá entre ogozo procura o, e 1m IVO, rmanente, COl1klud_en-ft{te, e uma certa dose que se obteve e que avaliamosdepois de tê-Ia obtido. E a famosa história do queocorre após o orgasmo. Humoristicamente, o sujeito"pós-orgástico" perguntaria: "Ah ... era isto? F'õi

bom ..."

. - Solicitação de esclarecimento quanto ao pro-blema da articulação entre o desejo do analisandoe a posição do analista de alguma forma relacio-nada com o desejo de morte ou de morte, do desejo.

Resposta: Parece-me que o esejo do analisando,

dentro das .limitações da exposiçao, est mais oumenos claro. ~ um de~ que insiste na cadeia-significante, gerando demandas de ob'etos - de-

84 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO LACANIANA 85

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mandas que podem ser qualificadas diferentemente,

segundo o momento teórico tratado - de amorde identificação, de reconh' . Q..CJc: - ,

-O \ànalista>" eve funcionar no lu rar do morto,

suporte de tr ansfer ênc ias ,' oferecendo-o como ob-jeto de transferência, suporte do sujeito-sup.n&t~a-

ber c apenas suporte), não odendo 's', r en-

quanto desejar significar demandar, por sua vez,

acionar seu desejo em busca das mesmas coisas.

Os la~ani,anos f~lam de um tdesejo do an!!lsta't-

que nao e o mesmo que o desejo de ser analista,

que é um problema de vocação profissional, e cabe

discutir se é o mesmo que desejo dos analistas. namedida em que os Iacanianos insistem que há rnui-

tos analistas que não compreendem como a coisa

funciona, Seus desejos não são o desejo do analista.

São seus próprios desejos, da forma como entendeo analisando. O desc'o do analist' é

,gm lugar estrutural, igual c com o mesmo es rauuodo sujeito-su oslo-ao-saber. Não é o desejo de ser

analista ou o desejo dos analistas ... Em que consisteo desejo do analista'! De forma um tanto ingênua,

incorreta, podemos dizer que <lo desejo de analisar,

p.,.';ra e exclusivamente. Q desejo de analisar é o

úDico desejo permitido ao psicanalista, ~Ie se de-

cornpôc nas questões de identificação não assumir

~gar de l ' J ( ; ' ; T do Ego, não oferece;-se com~ al-

guém ~e amará e será amado. Pode-se dizer que

este desejo, que não deseja nada, ocupando o lugarue lhe corres onde, é um desejo de morte, en-

q~nto renúncia de toda cxpc . (s de reali-

zação de "ser" ou "ter" em termos freudiano§.

-Ea cura?

Resposta: Sabemos q~e a~é _um processointerminável, o que não uU-d'r c ql c ão ss ia .eventualmente, sus 'nso. liás , deve ncccssaria-

mente ser suspenso, o quc não quer dizer termi-

nado, pois é por definição um proccsso intcrminá-

vel. Em termos frcudianos, o que leva à repetição

a serviço do rincír.io de iné da o l 'ão de

morte, à re eti ão a servi o do rincí io do

que constitui em rigor a característica do- insistir na demanda - é o motor do si uismo

Ç , que clinicamentc reconhecemos como transfcrên- r/cia. Curar-se n: . nifica c 'n uir isto. Significa

que isto vai continuar acontecendo, vai sc continuar

procurando e construindo imaginários fantasmáÍi-

cos ue "satisfazem" o desejo. A cura consiste em

que este rocesso ad uira a ca"--acidade de con-

tinuar fazendo-se fluidamente, ue o rocesso nãos~ctcnha, rctificando-se constantementc a artir

di) simbólico, atribuindo-lhe sua condição de irna-

~rit\ de impossível, irrealizável e irrealizado.

Produz-se. assim. toda uma transformaçao da eco-

nomia psíquica que prcscinde de seus sintomas,

atuaçôes e tudo o que oderíamos chamar de" 0-

eriça", dando um novo equilíbrio ao psiquismo,

que não é eterno nem invariávcl,_llodendo 'ê mqualquer momcnto rcgreclir novamente. Por isto

Freud dizia quc não há vacina para a~urose.

86 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO LACANIANA 87

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A idéia lacaniana de cura coincide com certa

idéia freudiana. Não é a idéia de atingir um estado

último, permanente e invariável. Não é a idéia de

uma perfeição. Em certo 'sentido, é justamente o

contrário. É a idéia de aprender a lidar com o de-sejo. Deix á-lo falar e conhecê-Io; decifrar os Ia n-

tasma~possibilitarque o processo continue acon-

t~cendo liv~~e..! não pretenda a "realizaçãcr

A defini âo lacaniana de cura fo e deliberada-' - ~ ~ - - - - - - - - ~ - - - - - - - - - ~e túÕo gue~ con~a.J.1ormatiza~o. Ou

seja; na versão lacaniana de cura não há nenhuma

norma de como o su'eito deve ser~mniricamente

e is de estar curê.QQ. Não há nenhuma referênciaa tra os de ersonalidade,!.. comportamen ~ so-

ciais, a llorm}s morais etc. A definiçãq está estri-

tamente relacionada com a definição que o laca-

nismo faz de com~ona o sujeito.

rJ

{ Para concluir, digamos ~ como em toda teoria

r - j sistemática, na obra de --3caw a iransferênci~

~ efine or re a!;fu --..ptros t ês conceitos funda-

/ J ' { u ' ( Í l mentais da disci Una: ulsão conscie te,. e e-q }/JfpetIção. -

~~; ! ulsão, como seu nome indica, ggera ritrni-

r r c<lmente, q!ler dizer, a pulsão pnlsa Em cada pul-

c-csação, a Pulsão emite um impulso que vai em busca

do seu objeto (alguma parte do corpo erógeno que

ficou "desprendida" dela). Pretende contorná-lo pa-

ra se descarregar finalmente na própria zona eró -gena da qual partiu, fechando assim um círculo

que cIausura transitoriamente sua solução de con-

tinuidade.

O cam o das ulsões é denominado o Real e,

segundo ca, sua característica básica é de ser _dim ossívcl de se realizar. Lacan toma de Aristó- \Ju.!'reles duas modalidade: yché (causalidade con-

tingcntc, imprevisível e dcsordcnada) elÀutoma~~(cauSalidade regular, previsível e ordenada).

A Pulsão pulsa segundo tyché quando os roces-

sos, organizados segundo automaton, apresentam

uma fenda, béance). Na sua rocura de realização

no objeto, a Pulsão s6 encontra a cadeia siêli-

ficante, composta flelas marcas da ausência do

objeto-,-

Este encontro é, em rigor, um desencontro, ouum encontro falido, que gera deslizamentos na ca-

deia significante (melonímia) ue resultam em s' -

tomas e formaçôes do inconsciente (metáforas).

A reconstrução interpretativa desse processo de-

cifra uma cena Ian tasrnática na qual a Pulsão se

pscudo-rcalizou como desejo e este foi exprimido

numa Demanda. Por isso é, portanto, esse processo

cstruturado como uma linguagem, cuja realidadeest~ constituída por essas substituições significan-

tcs, animadas pelo Desejo e montadas como Fan-

tasmas. A partir deles é gue se pode situar °sill.çitocorno ocupando uma posiSão na cstrutura por r,?-

lacão aos objetos e ao Campo do Outro.

Talvez seja viável reconhecer neste andamento . ./

jl!.Qs r()rm~ dej-çpetiÇill): a cio Mesmo (automaton)" . 1 J 'em cuja falha emerge o Diferente (tyché). Segundo~o dito, então, a transferência se define como' a

posta em ato da Realidade do Inconsciente", sob

88 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

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a forma de uma repetição complexa qu~ticllla

as duas modalídades mencionadas.

(

O Real, como registro, também é dcfinido como

"o ue scm re vo ta a seu ugar , fórmula de difícil

interpretação que talvez deva-;;: entendida assi~:

<[cf~i~os a - a pulsação instantânea são i;;;edia.1a.ID.CIk-

t~recomJX)stos pelos m~ca!Jismos e instâncias taisC~) o "Ego, que restituem a ordem mo -

--- m••.wte alterada:-Pareceria que se pode atribuir a

essas operações a responsabilidade pelo efeito rc-

sistencial da transferência. O que resiste é a coe-

rência do discurso.

A CONCEPÇÃOINST ITUCIONAL

TENTAREMOS falar hoje sobre as con-

tribuições da corrente institucionalista ao tema da

transferência. Anteriormente tratamos a transferên-

cia em Freud, Mclanic Klcin c Lacan, o que nãofoi simples nem fácil. Nesta oportunidade, compli-

ca-se um pouco mais porque falaremos de um saber

que-não é tão difundido como a psicanálise. Sus-

peito que muitos tenham ouvido falar pouco ou

nada a respeito.Para abordar as contribuições do l nstitucionalis-

mo, devemos caracterizar o Movimento Institucio-

nalista e o conceito de transferência que suas di-versas correntes manejam. O assunto torna-se com-

plexo porque cstarnos acostumados a tratar proble-

mas próprios de uma disciplina em seus diferentes

enfoques. O institucionalismo é um MOVIME TO....-- .J

e não uma disci liIsto implica que não é lima ciência, não é um

saber instituído, clássico, senão um conjunto de sa-

beres e de mod d' crvir uc oderíamos ua-li icar d.f...Í11tcrdiscip-linarcs, transdisciplinares e ex-

tradisci linarcs.

90 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO INSTITUCIONAL 91

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I J ! ; ~ ' / A última denominação btradisciplinaresb signi-

tf~l-'flca que o movimento institucionalista inte ra em

sua parafernália teórica e técn'~a o saber e o a ir

dos coletivos, dosliSWfrios, de gr~lpOS e de comu-

nidades ue produzem por srnlesmos o conheci-!!}ento, sem apelarem aos meios acadêmicos tradi-

0)nais1 convencionais ou enquadráveis nas cate-

I gorias científicas consagradas, o que se chama o

saber e o ~ber-razer popular'r,

Inevitavelmente, para lalar=da contribuicão do

Movimento Institucionalista ao tema da tran;ferên-

cia, devemos abordá- Io em duas vertentes: a GÊ-

NESE IIlSTÓRICO-SOCIAL, como se origin~transcurso da vida das sociedades, e a GÊNES ~

~ONCElTUAL, isto é, como se....QLigin GlNtllilJl.Q

fontes teóricas e saberes prévios que utilizou arac2nstituir-se, - - ---

Podemos dizer que o Movimento Institucionalis-

ta, no sentido de sua gênese histórico-social, inclui

em seu perímetro e auto-reconhecimento as inicia-

tivas históricas, sociais, coletivas, em que núcleosde pessoas e grupos têm tentado reger-se por si

mesmos, dando sua própria definição dos proble-

mas (auto-análise), gcrcnciando e realizando suas

próprias soluções (autogestão), Nã;-há tantos an-

tecedentes históricos como se poderia pensar. Al-

guns de vocês, seguramente, não desconhecem o

"jA.{exemplo máximo, que é o movimento auto estiv

~. acontecido durante a guerra civil espanhola e a irn-~ plantaça~), .~a ,R,e úblic~ espanhola, ~or volta e

~1.?J , 1926. Nesse período, boa parte da naçao espanhola,

sem inter OSI ao do Estado central se deu suas

ró rias estruturas 120líticas econômicas e sociai ,

separando-se da Monarquia espanhola rcgida pelo

Estado e construindo uma República autônoma,J.

sem Estado isto é sem exército rofissional sem

I rcia e sem nenhuma das Instituições tradicionais

ue o inte ram. Conseguiu autogerir-se, auto-orga-

nizar-se e conduzir sua vida durante quase três~ -

anos, suportando um estado de' assédio e guerra

civil permanente. Finalmente, ª experiência termi-

nou derrotada. Mas não foi fácil consegui-lo, sendo

preciso uma aliança entre o poder central es anhol

e a colabora ao da Alemanha Nazista,_12arcialmente

da União Soviética, contribuições inglesas, norte-

americanas ... Enfim, foi uma verdadeira cons-

pi ração internacional.

O::!ros exemplos do tipo são os processosw I . P 'Cautogestivos da Arrélia Albân'a ugosláaia bas-r~ltante recentes, e algumas experiências launc-a roe-. anas, que ainda não fo~xaustL.vamcntc estu-

'ãadãs: comoQ;quilombos aqui no Brasil ou o mo-

< imcnto dt)s chamados "coml1o('[Q," ~~

Enfim, todos esses movimentos sem governo cons-

tituído e com um funcionamento igualitário, fra-

terno, com lideranças absolutamente surgidas do

seio do coletivo, conseguiram seus objetivos, ainda

que de maneira transitória, mas real. Pequenas ini-

ciativas desse tipo, mut irões , comunidades de base

etc. são experiência habitual no Brasil.

A gênese conceitual do Movimento Institucio-

nalista recebe apertes de todas as áreas do conhe-

92 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO INSTITUCIONAL 93

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cimento, sendo alguns deles rovenientes de cam-

pos científicos específicos. O '~slill!cionalisma n.!:!.:

tre-se da psicanálise, da sociologia científica, daantropologia científ ..-da-li.f.lgiiislica,-.da scmiáticae ate da biologia moIccular e outros campos do

conhecimento propriamente científico. O institucio-

nalismo nutre-se ainda do saber olítico iatuo.daciência como-dâ ~ência 120líticª dos c~letivosmili~antes, do aE.!.ístico, do saber incluído na prática

e~tética, pictórica, csc ult ó rica, poética, literária etc.

Nutre-se do pensamento filosófico e do mítico, na--- .------,medida em ue muitos institucionalistas dão valor

especial ao pensamento primitivo--ºos selva Tens.

Adotam estes recursos téôricos, aplicando-os sem

reformulação ou crítica prévia às doutrinas institu-cionalistas como tais

O 'nstitucionalismo como seu próprio nome in-

~

J;fl dica, é um movimento, uma eSl2écie de frent em

Z/-

onstante transformação, estando com osto or

f i r O muitas correntes e escolas .su~ apresentam aI uns

tsaços em comum. Mencionaremos o traço da rei-

vindicação daãiÚogest50 (como meio e fim ao mes-

mo tem d a vida )ntegral dos coletivos. Exi~te

também urna série de diferenças entre as Escolas

e Correntes, sendo difícil resumi-Ias em nossa ex-

posição, pois há um elevado número e o nosso

objetivo é ver em que contribuem para o tema da

transferência. Em todo caso, tentarei, numa brevís-sima síntese, dar o panorama das correntes insti-

tucionalistas atuais. Eu as dividiria em originárias

~õ"ntemporâi1eai)

As ngmana. são o que se chama psicotera ias

i~stT~uci~nais e psicopedagogias ou eda >ogias ins-Yd -utucíonaís,

A ,'icotera ia instituciona é um movimento que

se pode considerar fundante desta corrente. Resu-

mindo-a: começou por uma observação feita pelos

operadores de hospitais psiquiátricos, especialmente

um enfermeiro de origem basco-espanhola que to-

mou parte da República espanhola durante a guerra.

Constatou-se que os internos de uma instituição

psiquiátrica produziam espontaneamente uma série

de medidas de auto-organização, de produtos cul-

turais tendentes a criar uma es -cie de sociedade

própria, sui generis. Os internos, submetidos a to-

das as normas estatutárias e técnicas da organiza-

ção, geravam uma espécie de eultura de resistência,

autônoma e independente daquela implantada pelas

normas institucionais. Observou-se que esta cultura

de resistência resultou mais terapêutica do que qual-

quer manobra da arafernália tera êutica do esta-

belecimento. Constatou-se, por exemplo, que r-

mitindo aos acientes administrar o es aço da Qr-

ganização, conseguiam espontaneamente chegar a

um acordo sobre a utilizaçã~ do tempo, o progran;..a

diário de ativjdades~Jermitiam-se-Ihes reunir-se

para discutir publicamente suas opiniões sobre di-

retivas médico-administrativas, davam-se-lhes oca-

sião para unir-se, organizar-se segundo suas pró-

prias afinidades, permitiarn-sc-lhes manifestações

artísticas, como pintura, escultura, música, dança,respeitando suas preferências, momentos c formas

94 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

de Iaz ê- lo . .. Em última instância, permitiam-se-lhes

A CONCEPÇÃO INSTITUCIONAL 95

C ? . ..

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ll"IDasérie de manobras dcsunadas li transformar °estabelecimento no qual estavam por razões alheias

à -;;ua vontade em uma comunidade rÓ ria auto-

an;lisada, auto ~jada, autogerida, aula-adminis-

trada. Constatava-se que a porcentagem de melho-~ " ' <t O

ria, de curas e, finalmente, de altas aumentava con-

sideravelmente, chegando a minimizar e fazer pres-

cindível °emprego de todos os recursos oficiais

deç'tratamento, como eletrochoq~les, IDSUIDa, Iso~a-

mentos, camisas-de-força até medi.Çjlmentos e J! i-tÇI.\lI2·s fo rmais,

Houve, neste sentido, dois grandes ensaios, um

iniciado na Inglaterra, que se denominou Correnteda Psicoterapia nstitucional Cõfual1l afia ng

e outra desenvolvida na França, que se denominou

~?icoterapia Instituciona . Q~o os psicotcrapeu-

tas e psicanalistas observaram esse processo, que

foi um fenômeno de fato que se foi implantando

e realizando-se, deu resultado - começaram a pen-

sar nele, a tratar de tcorizar sobre quais seriam os

mecanismos responsáveis pelos rendimentos favo-ráveis. Foi um trabalho feito em conjunto por dis-

tintas disciplinas. Mas, na participação corresp.sm-dente à sicanális ta.aennui r.a-d.' 'G-f.l.t~

""n/) fenômeno, partiu-se das formulaçôes de Freud em

f $0~s:la obra chamada social (como em Psicologia das

1 1 ' v t ' Massas e Análise do Ego), on~e explica ue uma~()/( l}J~dtidão, uma ~assa,.....!:!!.:!!-.gruo .forma-s~ orque

os sujeitos ue Integram os c ct ve "_proJeJa ou

constituem no líder do movimento seu Ideal de E o

de Ego, colocado no con utor, ame a todos por

iguaC st o esta elece uma cornposiçao nã'"CSi"rütura

lTbidi~~1ue faz com que cada sujeito identificado

com seu líder, enquanto Ideal de Ego, estabeleça

também uma identificação horizontal de um indi-

víduo a outro. Assim, forma-se uma espécie de

organismo psíquico, espécie de sujeito ampliajíoque tem características prÓprias a qualquer sujeito

isolado e outras extraordinárias, muito .difíceis de

se ver em um sujeito In IVI ual,.c amado "normal".

Algumas dessas características são altamente úteis

e benéficas. Outras são indesejáveis. Pode-se dizer, \ .•J('

em todo caso, que têm havido fenômenos de if ,j;J~·R!\NSFERENCíl.. não "bipessoal" e sim COLET r- ~~tyO"

v!\. É.verdade que tal transferência mobiliza os~

mesmos mecanismos que os que o sujeito pode

ter, por exemplo, em esta os e I nose ou ê ' " " : " i-

~u ainda dentro de uma situação psicanaIít!gJ.

Mas ela se IDscreve no dispositivo coletivo e ad-

quire características que não são encontradas na

situaçao transferencial clá~ Entre as potcncia-

lidadcs positivas está a de que a identidade comum

adquirida pela transferência coletiva dará um pe-

culiar sentimento de poder à massa, ~ma capaci-

dade ele reagir em consenso e em harmônico acor.:

d õ , uma particular disposição para a solidariedade,

p'ãrãSentimentos nobresdcfraternid~ comu-

nhãõ, uma especial se'nsação âe corâgem e algumas

m"a-nifestações de altruísmo e renúncia ao egoísmo.

que---cãfãCiC!2za habitua~ente os sujeitos isolado.

96 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO INSTITUCIONAL 97

Claro que a assa acrescenta também algumas ca- perfeitamente ser depositário das mesmas transfe-

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racterísticas negativas como, por eXemRI(~ certa di-

minuição da capacidade de funcionar racionalmcn-

t~, tendência à explosividade, à impulsividade, di-

~~nuiçao do juízo crítico, aceitando pouco discr]-

rniriadamcntc as sugestões vindas do líder certa

tCiidência a reagir a formas sons cores e não;o

cOOteúdo conceitual do discurso que lhe é enca-minhado.

A maioria dos psicanalistas e psicoterapcutas in-

teressados em trabalhar com 'm os arte da for-

mulação freudiana da psicologia das massas. Boa

parte destes psicanalistas e psicoterapeutaslnstitu-

cionais trabalharam previamente com grupos, seja

fora seja dentro das organizações. Observando o

fenômeno de colctivização espontânea, todos tra-

taram de entendê-Io por meio da aplicação do

1_11 ' esqu~ma freudiano de Psicologia das Massas e~.' Análise do Ego. Descreveram e ' a roveitar

~.) o ue se chama ransferência institucionaI.

~ ~ havia colocado as bases para se ente'!-fi' der o fenomeno quando explica que Das massas

chamadas estáveis (diferentemente das efêmeraS),

massas como a Igreja e o Exército, a liderança

poderia estar colocada em um indivíduo ou sujeito

c:.0ncreto como o chefe da Igreja, o Papa,-.Q!Lno

chefe ou general do Exército. Mas poderia também

estar colocada em. uma entidade abstrata, Pátria,bandeira, Ideal etc.

Esta liderança não ocupada por nenhum indiví-

duo-sujeito concreto constituía um lugar que podia

rências-resistências psíquicas e rendimentos que

ocorriam nas massas artificiais ou naturais quando

esse lugar era ocupado por um chefe real.

Com base nisso descobriu-se que os pacientes

de uma or 'aniza ão si ui~ítrica e outras estabele-

ciam múltiplas transferências laterais com seus

iguais, com a equipe de enfermagem, de médicos,

a equipe administrativa, com as chefias e também

com a Organização como um todo: nao a enas co-

mo estabelecimento, figura arquitetônica, não ar.e-

nas com lugares e espaços onde se desenvolviam

sl~as atividades, se~ã~I~1bém com a ideologia da

Organiz' ':-o..J.!u seja, o Iddrio, a carta de princí-

pios, o sentido que a Organização se dava para

existir, seu conceito dos serviços que prestava e

do objeto-usuário ao qual encaminhava seu serviço.

Em outras palavras, os integrantes internos de

uma Organização estabeleciam transkrências com

todas as características que estudamos, com o con-

ceito de loucura, de psicose, que possuía a Orga-

nlzaçao, e com toda a parafernália ue arbitrava

para dar conta deste ob·eto. Isto não é mais do

que a aplicação das idéias Ircudianas da Psicologia

das Massas no campo de um estabelecimento psi-

quiátrico concreto.

Vimos nas aulas anteriores, ao abordarmos os

termos freudianos clássicos, que a transferência di-

vidia-se em positiva e negativa. A positiva por

sua vez, dividia-se em amistosa e erótica, scnd

que a erótica e a negativa funcionavam como

98 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO INSTITUCIONAL 99

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sistência, entendida no sentido em que predominava

a tentativa imaginária de repetição do mesmo. Na

transferência amistosa existia a possibilidade de re-

petição diferenciante de experiências aconiccidas

antigamente, sendo que tal repetição poderia serutilizada a serviço do trabalho de tomada de cons-

ciência da tentativa de repetição do igual e do im-

pulso para a sua modificação ou transformação. Por

isso, chamamos a [transferência amist(9 o "motor

da cura". na qual se repete o.igJJ' . diJ:crell.1C.

enquanto na transferência eró tica e ne ativa rc-

dominava a tentativa de rep'etiçãQ.. cJ.u.Jgual, n ã

utilizável, ela qual tornava-se resistência e on.lll!,;-.seao exercício do procedi~cnto tcrapêutico.

Ao lcm brarrnos esta divisão, podemos en tender

melhor o que os institucionalistas encontraram no

fenômeno da transferência institucional ou organi-

zacional. Todas as características da transferência

freudiana que acabamos de lembrar ocorriam tam-

bém com a institucional. Há uma tentativa de pe-

tição do igual que funcionava como resistência (lro-

piciada, r,,,;;recida pelas características autoritárias,

fechadas, preestabelccidas, dominantes, mistifica-

doras ou cxploratórias das organizaçôcs psiquiátri-

cas que se estabelecia entre a transferência irisliiu-

ciona dos usuários, entendida como resistência c a,contratransfcrência institucional conservadora de toda

a Organização, seus agentes, sua ideologia etc:~

es~ie de acto ara a doensa: de tal.mancin q u . c

os usuários repetiam sua patologia rnvocados, con-.v()Cados pela Organiza ão. - - -- -

E a organização repetia, na medida em que en-

contrava nos usuários uma transferência erótico-

dependente ou negativa, ambas resistenciais, esta-

belecendo um círculo vicioso, espécie de baluarte

que conhecemos com o nome de IIOSPlTALlSMO.

Um de seus" ,. s é um ti o de wtro<Tel1la e

doença técnica gerada pela Organi/açào Il<l qu~ ()

P'lciente responde com manifestaçl)es doentias uc

surgem da imposição de respeitar os disposi~vos

ornanizacionais que as desperlamn1 c suscitaram.b __ - --

Em conseqüência, o círculo vicioso conclui-uuma

cronificação da atolo Tia dos usuá ios e um, pcr-

p~tuaçüo da estrutura autoritária e repressora JJ(~

or<Tanizaçüo.Descobriu-se, ao contrário, que, quando se per:.

mitia aos usuários assumirem ativamente o geren-

ciamento de sua existência dentro da Organização,

a produção de sua vida artística, esportiva, sexual,

sua particip aç ão na adrninistraçâo dos bens mate-

riais, do tempo, espaço ctc., formava-se um pro-

cesso de potenciaçüo da transfe'rê;Zia positiva amis-

tosa, tanto na íorrna paralela - entfc os usuános

.: c~o en~re os integra~t~s do e '\I { /b lí .\I I~ lI e p l': .~ )1

entre ~\ equipe e os usua~~. ESla transferência

;\mistosa. coletiva, organi/.acional, p-otenciada pelos

d~ ositivos de autogestf;o, tornava--;c altamenteJe-1

rapêutica, tanto para pacientes quanto para tcra-= ---eutas.Eis o que deu origem à )SICOlerapTâ institucio-

~tan~J.!....SQ..munitária ing esa como a ranccsa.Posteriormente estes achados foram transportado.

100 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

para a pedagogia, descobrindo-se que nas Organi-

A CONCEPÇÃO INSTITUCIONAL 101

outra sene de rendimentos rodutivos.

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zaçõcs e estabelecimentos de ensino acontecia algo

similar. 6 "patologia" política, econÔmica, idcoló-gica dos organismos de ensino tendia a produzir

w > 1 uma ~ltolo~ia" correspondente d~ ;;assa de aprcn-

~ ~ dizes, ile alunos. Ambas potcncravam-sc mutua-

~;jJ -iimenié~ reforçavam-se mutuamente, tendendo a cro-r~ nificar os vícios e lim itações do ensinar e do aprcn-

lYl'~der na medida em que, obviamente, estavam em

r jogo neste processo as velhas transferências eróticas

e hostis e as defesas contra as mesmas, que con-

stituíam o substrato libidinal de todos os vícios pc-

dagógicos, tais como a passividade, o cnciclopcdi-

smo, a subserviência etc. Utilizando-se o mesmo

procedimento, permitindo-se a participação ativa do

usuário aprendiz na Organização de~ prática êm

sua gestão e planejamento, fomentavam-se, propi-

ciavam-se transferências amistosas, e os rendimZn-

t~)S no processo de ensino-aprendizagem mu.Lli.pli-

cavam-se surpreendentemente.Tudo gira em torno d-"a-'r-id-e~~i"'-a-f-u-n-d-am-e-n-ta"Je que

a transf' '"'ncia uncionava de forma [tIZ' , ;-

~te estabelecia-se entre ~ídu()s e gJu-

os . mCfetos. senão entre o todo coletivo, incluin-

do a e ui e técnica e () que poderíamos chama("a

ideologia da Organização ue era tomada C(;mO

objeto - por vezes como objeto Ideal de Ego,

sádico, inatingível, despÓtico, ou como figura idcn-

tificatória ue 'erava as condutas que pretendia rc-

e '_como ~l?ém de um superego permissivo,

democrático, ero,iÔvcl, am áxcl, ue 11 ava

sclarecemos por último que, como dizia

Sá uma série de resultados aparentemente

terapêuticos que são roduto da utiliza~ão da trans-

ferência. Se lembrarmos que a psicanálise era a

única disciplina capaz de manejar a transferênciaamistosa não só para eliminar sintomas "utilizando"

a transferência, mas também empregando-a para

resolver, dissolver, conscientizar todas as repetições

em jogo, poderia existir a dúvida de que nesta psi-

coterapia institucional o que se faz em realidade é

um uso benévolo da transferência, uso apenas amo-

roso, fraterno, o qual pode não gerar melhores efei-

tos que a união entre a transferência e a contratrans-lcrôncia hostil, que só pode dar hostilidade.

Entretanto, o que ercebemos na sicoterapia

institucion<!J} é t ; ; ; a ~s ' c r , ' " ' ' , ' stituciona co-

letiva que se estabelece, cujo uso 'era efeitos te-

raptuticos, não são a enas efeitos transitÓr" s sin-

/ tomáticos ou supressivos. Talpsicoterapia institu-

~ sional cria dispositivos de auto-análise da Organi-

zação, alimentados pela transferência amistosa, que~ão apenas sintomáticos ou su ressivos ' .irn

dw resultados estáveis do empre 'o da transferência

ara sua at.:!..0~rreensão e autodissolução, assim

como na produção "sublim ató ria " de lIma~vi-

vênci~p'rodutiva t 'Ipêutica.Referi-me às tendências originárias das várias

correntes. Direi em poucas palavras algo sobre

as tendências atuais e contemporâneas. Faremosum certo sacrifício, deixando de mencionar rnui-

A CONCEPÇÃO INSTITUCIONAL 103

. ~W,102 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

tas e referindo-nos, restringindo-nos a umas poucas.

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. sico\.Qgia l,nstituc,ion',I. de ~IIt,~~t~oJacques de ongem Inglesa, "::'O!11grclm!c II1I1UenCld7klci niana e biouiana. Imagino que muitos a co-

~hecem porque teve grande ingerência sobre algu-

mas tendências ar rcntinas de Psicologia Insti tucio-

na l, como a 'Ble Ter nl.i!is conhecida. e a de

U\loa menos conhecida, mas também E!iE ! ! iliUW /

~~a tendência importante é a chamada(sóci; ~~

Psicanálise~de Gerard~É uma cO~1bi~açãoVde uma concepção marxIsta das Or(Tanl'/,a 'oes e

~ma concepção freudiana dasubjetividade nas clas-

ses ins titucionais, propiciando um método de aná-

lise da vida lib idinal dos coletivos, sua interven~ío

e intcr reta~üo assim como de uma militância ima,;-

ncntc Ú patologia e ~ cUGU.nst'tucional.

-Outra corrente que já tem sua histó ria no Brasil

é a chamada ' ntílise InstitllcÍ()f/u!J o criador do

termo foi Fólix uattan que hoje encabeça uma

outra tendência, criada por ele posteriormente. En-

tre os continuadores desse intuito' . ,', de Guauar i

estão George~lpassa1We René Loura, .i1,utor do

livro Análise Insritucional. que _é~I~ tentativa}le

compreender as Organil.a õcs e o psiquismo nas

Organi zações , e de propiciar intervenç.Ôes que ge-

rem um a tendê ncia au I.)-'lI1aIítica cQ..leJi ' pcrrna-

~ente e ;-utogestiva entre os inte~ran~s l~CS-

mas. Sua inspiração é também psicanalítica e ma-

tZrialista-histórica. incluindo muitas outras contri-

buicôcs, por exemplo, da rilosofia de Hcgcl, da

Sociologia das Organivaçôcs, da Antropologia, da

Não estou seguro de que esta solução seja a mais

justa.

Entre as tendências contemporâneas ·do lnstitu-

n:~cionalismo, uma das mais interessantes é a /psic,9-

F.?lo(Tia Social de (0hon Rivicr;) que se origina na

v~rgentina e resulta da~mnuência de Escohs ror-

te-americanas como a de Psicologia dos e u~11oS

gru os d Lewil a "Teoria do Campo" ~ecebendo

também inf lu ências da psicanálise k\ciniana e_de

cer to Mate-;:T;';lismo Histó rico . Esta é uma teoria da

sllbjetiviJãZí'C socTtl. Um dos seus principais instru-

mentos de análise, operação e intervenção é () cha-

mado \Grupo Operativ3 que, infelií',mente, anda

muito dcscaractcrizado. Tenho tido oportunidade de

~ ver que, em toda a América Latina e ainda na Eu-

./ ropa, chama-se hoje Grupo Operativo a qualquer

uo fr coisa feita em grupo, o que é inteiramente inc~to

~ (;o--indesejável. A teoria e técnica do urupo pera-

tíVõ como parte da Psicologia Social de Pichou

Rivicrc, é ill]1a conccp .ão e um proccdimcntoul-

tarncntc sofisticado e es ccífico. Muitas pessoas[uc lnZem praticar Grupo Operativo não apenas

não o fazem, como não têm a menor idéia de que

seu criador foi Pichou Rivicrc. Sua teoria pode ser

considerada como uma das mais importantes cor-

rentes do Institucionalismo atual. Não tenho opor-

tunidade de detalhar suas características aqui; é cla-

ro quc a resenta al<Tuns as ectos te<Íricos, técnic()~

e ideológicos qu cs tionáv cis, mas tamhém méri~osqüe ainda não foram devidaJ:!lÇ e~()xados. Ou-< --

1,~ LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO INSTITUCIONAL 105

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~~em i6 tica. O concei t0.. .5 .le cont~atra~sf eiêI~c ·aL< L.! :s:.

f f c t ; form ulado por eles com o lm plrc açao , m ais am plg"~~olid eterm inada e coletiva.{t" o Par a conc luir, gostaria de apenas registrar a ex is-

tênc ia de um a corr ente institucionalista ul tramodc r-na ou pôs- m odern a m uito com lex a, rica e in te-ressante, que é ch am ada cs uizoanáli se cujos cri a-dores e cultivadorcs sã o o filósofo Gillcs c1 euze Félix uall ar i que abandonaram a Análi se Ins-

tituc ional para rod~lzire01 esta n ov a d isc i lin~ N ãom e atrevo a falar sobre a Esq uizo análisc aqui porse r um a concepção alt am ente com pl exa e c u jos in -

tuitos são sim il ares e dif erentes dos outros. Ou seja,pr oduzir um a corr en te de análi se m út ua e c om par -

o tilh ada em todos os co letivos de m odo qu e leve àauto-organizaçã o, auiodcc isão , autogestão da vida

socia l. Contu do, esta csquizo análisc ~s

ue um a corr en te instituc ionalis ta. Chega a ser m e-sm o um a visã o de m undo, ins iradora de nov s

~odos de viver.

Todas as tendências contem porâneas levam emcOI~· (l c .ra ç.ã .o ou m enor ra u, a te( )ria

psicanal ít ic a do suje ito psí quico, a existência qo

Id. inconsc iente e o fenôm eno de " ôr em ato" de,)f;1J ôr em m ovim ento a realid ad e do inconsc iente ,~i- que é a vran sfc rênciii JT ~(~r;;-on l~ce;;-~-

~ fc rência ue o era cóm o resistência c a trans íc -r rência q~le pode se r utilizada a serviço do auto-

con icc im cnto, do crescimento e da cura odasreconh ecem (j ,! ! e.J ! transferência ..nã ) Cde..sencadea -

da ex cl~lm entc por um interl ocuto r pontu al e

corpÓrco, podendo efe t uar-se em grandes con j un tos~ociais. Esse s conjuntos soc iais estabelec em -na

~m as pec tos abstr ;tos com o a ideo logia , os valo -res, as organizaçôes, o es tabelec im ento, ( ) Ilu xo gra-

m a, o organograrna ctc.eleuze e Guaiiãri ))talvez se' am exce 'ão or te- ,/

rem pr oduzid o, na , m inha o~in i.ão , um conceit (~ ql ~e~,é. de certa m aneIr a,. subst! tutlvo da: tra ns.f~ren c ra ~\Li(.,instituc ional ou am Irada. E o conceito da IRANS - ~~VERSAI.ID ADE N ão é fá c il ex pl icá- lo . Farei um a

tím id a tentativa . Consi.stc em po stu lar a exis tên.fia

de, um a ca ac idade de transf erência em cada di~-

posi tivo ou ag enc iam ento so cial que ta lvez possa- ter seu antecedenT ê íCOnco na trans e~êncra am is-tosa , as sim ch am ada por reud S ignific a U .! l1 re-to rn o da d iferen 'a ~ do ue defin em com o O c o .

s~:;;. N ão é um desejo narc isíst ico, cdip iano, rcpc-

titivo , insisten te, m as um dese jo de pro dução, deli berd ade, de novidade, ue se ori gin a do qu e 0-

deria ser a tra nsf erência coletiva perm an ente de sin -

gulari dades pré-subje tivas , que ~lt ravessa tod( ; oC ã i i i P õ socia e e responsável pelas T ra ndes tr a s-

rorm açôes h i~tô ricas, revolu c ionárias c ientí fi cas,

art ísti cas crc.A pro posta da esquizoanáli se consiste em poder

detec tar a existência da transversa Id a e e ro 'c', r

se u dev ir e seu desenvolvim ento em todo c ll,a l-qu er espa ço da v id a social, natL .! ! lDe técn ic a.

Dad as as lim itac ôcs da exposição , pre tendi cx-pl ic ar-lh cs as contribuiçôes do Movim ento l nstitu-c ionali sta, a tco riz ac âo e o m anejo técn ic o ou táti co

106 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO INSTITUCIONAL 107

da transferência, bem como a contribuiçiio do con-

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ceito e das manobras cl<Íssicas da translcrõncia nosMovi me mos Inst iluciona IisIas.

I'LRC;UNTJ\S L INTLRVLNÇ()LS

metapsicologia da relação analítica. Isto não pre-

iénde descrever nenhum comportamento ancdótico,

crnpírico, Icnornênico ou "transfcrcncial manifesto"

do paciente. Pretende conceitualizar um dispositivo'

estru tmal do psiquísmc pcl qllal O "erro" do ana..;lisando que se dirige ao outro é su or ue se trata

do Outro, o sujeito do saber Inconsciente, ou me-

lhor do saber uc constitui seu Inconsciente. Para

Lacan o Inconsciente é estrutmado como lingua-

Tem é uma se Üência de sig ificantcs. Em outras

palavras, é um conjunto de "pensamentos", o qu~

Frcud chamava "pensamentos do sonho".

Ocorre que este discurso, esta seqÜência, envolveum saber mas um saber, sem su'eito -- se por

sujeito entendemos o sujeito consciente, sujeito do

ego -, e o analista é entendido como sujeito desse

saber. O analista como sujeito nao sa e uma ai vra

do saber do inconsciente do analisando.

Não há ninguém mais ignorante do que o analista,

o que é bom. Quando se diz que o sujeito em sua

topologia tem um lugar que é o lugar do sujeito su-posto ao saber, trata-se de uma questão estrutural.

não ancdótica. O disfX)sitivo estrutural que contém

esse lugar de sujeito-SufX)SIO-ao-saber fX)de funcionar

anedoticamente através de comrJrtamentos ou atitu-

des do paciente que declaram abertamente que ssanalista é um idiota, ou, como ac) ltcce nas ic

pQranÓicas de transferência, o paciente delira que _~

analista lhe adivinha o .nsamcnto.

- Gostaria de fazer uma pergunta referente ao

tema da aula passada. Tentos dúvida quanto às

Iraduç6es espanholas relativas ao "su'eilo-sll JOS-

to-ao-saher" e "sujeito-sufJosto-sa!Jer ". Existe al-

gunu: dij"erellça dos termos lia ve7s(/o lacaniana

ou é somente uma questão de tradução '!

Resposta: N ão poderia precisar como foi tradu-zido em cada língua. Referi-me ao conceito, e po-

deríamos verificar se as traduções são fiéis ao con-

ceito ou não. Se formulamos "sujeito-suposto-sa-

ber", o perigo é que o que se tenta transmitir seja

entendido no nível Icnomênico ou crnpírico. E~l

outras palavras, é a idéia de que o paciente sim-

plesmente supóc que o analista sabe tudo acerca

dele e que não precisa comunicar, associar; umsi 111ies caso de adivinhação do pensamento. Na

prática constatamos (deixo claro que Icnomcnica-

mente) que as coisas não se dão assim. Frcqlien-

t.elllCl1te () paciente em transferência negati\ra po(lc

f azer questão de mostrar que o ana lista não sabe

nada, podendo dizê-I;; t~x!ualmcn!e ou comportar-_

s~ de lal forma que o analista fique, de fonl ou

cai-a no ridículo.Na outra formulação, a idéia de "sujeito-su osto-

ao-saber", est;í-se falando, como di!ia~ d: - O sujeito-suposto-saber será então da arde

108 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIAA CONCEPÇÃO INSTITUCIONAL 109

do imaginário 0/1 do simbólico? outro nível do complexo psíquico a natureza con-

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Resposta: Para Deleuze e Guattari o...•.i:sQ,jonão?

é o 'Iássico dese'o da sicanális c . Em termos [rcu-

J!IP'dianos é a for,ç~ que ins,iste em sua tentativa de

r r restaurar o narclslsmo pc nll.(lo, sendo, então, uma for-

ça conservadora, Não rüz mais do que repetir em<

servadora das pulsÔes, A pulsão de morte e de vida

são conservadoras se 'undo ' ' G.H~#fltI',

Para eleuze e Guallan o ~lcseiÊt não é conser-

vador. Não tenta restituir ' s aI 'um' ! ! f u . )

~ecuperar nenhum estado arcaico, Ademais,

o deseio - em certo Freud - não tem ob,i.W), .odesejo é desejo de encontrar na realid, de 1m ol,~to

alucinado e irredutivelmente perdi~, Para Dclcuzc

e Guallari o desejo "tem obieto", A diferença fun-

damental c~siste em que ~ ) t ü § ' i i 'C i l l é sinÔnimQ.jlerodu 'ão, O que tradicionalmente conhecemos no

âmbito social, político, econômico como produção,

geração de coisas novas, em Dclcuzc e Guattar~

imanente ao Deseio, O desejo é Produção, A Pn2:,

dução é Desçh) , Ambos são 1 ' ~

propiciam encontros "criadores", O~scjo,~

g(; é um devir rodutivo "em' ". '- vl1~A transversalidad ' é a rede molccular de fluxos ~ j

desejantes e produtivos que atravessa um r .anora a Isocial. uma forma 'ão olítica s ,', .' i aI for-

mando-se sin 'ularidades desc.'antes produtivas uc

entram em c~nexão entre si ara rodu/,ir novidade.

Isto é a Transversalidade, o fluir do Desejo c ~a

Producão através de um campo social, que é in-

cessan'temente desterritorializado por aquele.

Resposta: Se for como penso, Q,sujeito-supostg-saber refere-se ao su'eito com "WJ.l.i.:.:.,_c~o,

a~ito que pensa ue sabe e a seu Outro i '-ginário.:.."Por exemplo, alguém, depois de ser atro-

pelado por um lapsus, pela emergência de algo

inesperado em seu discurso, pensa que sahe por

que, ou que tem um outro cgo que sabe. Em outras

palavras, sujeito-suposto-saber é o sujeito que su-

põe que sabe sobre si mesmo, ou que um outro

pode saber "cncarnando" uma instância que lhe é

interna, "Quem pode saber mais de mim do queeu mesmo'!" É isto que inspira a formulação do

sujei to-su posto-sa bcr, se aceitamos que ela existe.

O sujeito-suposto-ao-saber mIe ter talvez uma

versão estrutural da ordem do imagin,hio e uma

~11b6Iico. Mas é ~ais importante desta~ que

é estrutural e não uma "convicção pessoal" do su-

jeito que supõe um outro ao discurso do Incons-

ciente,

fwl é (I co ncep ção do4-C.---+-

em cieuzc e Gllallar'?

Resposta: Isto é mais

110 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA A CONCEPÇÃO INSTITUCIONAL 111

A idéia de Deleuze e Guattari é a de que não exisLe

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um mecanismo universal de estruturação do sujeito.

E-;istem fÓrmulas múltiplas, histÓricas, de produ 'ão

de subjetividades e modos de sllb·etivação. O dipo

como equipamento produtor do sujeito não é umaforma eterna universal, ubíqua e oniprcscntc, senão-!!,a forma produzida dominante. Existem inúmeras

f2!mas de rodu ão de subjet"vação. Mas estão,

em geral, submetidas, subjugadas, hegemonizad~

r."Zlo Édi o, elo modo edi iano de_PID--iliLç.ãiL.da

subjetividade, que é uma forma de captura do de-

sejo como restitutivo, narClsístico, sem ob."eto e

que tem sua continuidade assegurada pela não-ob-

tenção de seus objetos s outras formas de sub-

jetivação, não, pois o Desejo funciona de outra ma-

neira, tem outra natureza. Sua potência é inesgo-

tável. Não porque não atinge seu objetivo, mas por

formar parte da essência de seu ser. I2Ie é produçãg,

sÓ sabe produzir, dczir.

_ Ao longo de S(/ {/ exposição me<? se reicrin à

Pedagogia e ti Psicoterapia !/ls/i/flóo/lalis/(l, centran-

do-se na psicoterapia. Gostaria ((U! 'olasse,ainda ( fie

rapidamente. sobre a LPer/agogia !/ls/i/flcio!lo!iHü

Resposta: Falarei muito rapidamente, justifica-

da mente: falei menos da Pedagogia lnstituciona-

lista porque não é meu forte. A Pedagogia lnsti-tucionalisla é posterior ~I Psicoterapia lnstitucio-

nalista. É como uma extensão de s 'li' i1C'lliQS

e experiências ao ümbito do ensino. odcndo se

in:luir grandes séries de ~-.;;;;;ências d~ chama 0 aautogestão edagólTica. Todas as experiências em

que o alunado auiogcrc, determina, em debate co-

letivo permanente, tudo o que faz - a implantação,

existência, subsistência da Organi:tação-Escola, dos

programas de ensino, das formas de seleção, ma-

neira de transmitir conhecimentos, provas, avalia-

côcs. certi ficados de formação. bens ma teria is do

estahelecimento, hierarquia do poder ete.

- Como se cO/lsli/lIl/'la 11m Desejo (J n(Jo ser

p<;.lo neka/ivo, pela [aI/a l

Resposta: Existe a longa história da positividadc

e da negatividade, do ser pleno e do ser da falta.

Para certa concepção do Desejo em psicanálise, o

Desejo constitui-se pela ausência do objeto, o de-

sejo mobiliza-se pela falta, o ser psíquico é um

ser de falta, ser de carência, é uma idéia que con-

tinua uma longa tradição que começa em Sóc ra tcs

e Platão, enquanto outras linhas filosóficas no

_ Pode citar algurn autor?

Resposta: Mannoni, Lapassadc, Lourau. Lobrot.Oury, Rcquejo e outros.

112 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

Niio é o mesmo que participacionismo pcdagó-

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gico, a famosa questão da co-gcsrão universitária.

Não se trata de eu-gestão, e sim de autogestão.

R EFL EXÃO FIL O SÓFICASO BRE A

TRANSFERÊN CIA

COMEÇJ\REMOS, como tem sido habi-

tual, fazendo uma ressalva. O tema desta aula, além

de ser sumamente complexo, exige do expositor e

do público um preparo filosófico mínimo. Comoeu não estou satisfeito com o meu preparo e des-

conheço o de vocês, devo admitir que abordarei o

tema de uma forma elementar e sintética.

Creio ue no transcorrer destas aulas sobre

Transferência tem ficado claro que a mesma é, ao

mesmo tempo, o principal obstáculo e () único mo-

tor do procedimento psicanalítico. Penso que deu

para compreender que a Transferência aparece efunciona na análise como Resistência, mas também

como a força que impulsiona para a cura e como

matéria mesma a ser trabalhada ara conse rui-Ia.

Nestes dois sentidos, a transferência está inti-

mamente linada tanto à lIestão ela Re eticão uan-to 1da O'"cre "t.

Mas Diferença e Repetição têm sido tema de

reflexão filosófica desde os começos do pensamen-to, não só filosófico como também mitológico e

114 LlÇÓES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

religioso. ~tra conceitualizar as rclaçôcs entre Re-

REFLEXÃO FILOSÓFICA 115

da Repetição e daquilo que se repete nele. Assim

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petição, Diferença e Transferência, tanto Frcud co-

mo os 6s-freuuianos se basearam, implícita ou cx-

plicitament.s...na mitologia< na religião e na filoso TIt,

tanto quanto nas ciências naturais, formais ou so-ciais de :i...euteOlpo.

Por sua parte, as Ciências e a Filosofia contem-

porâneas têm começado a prestar à Psicanálise uma

atenção crescente, tanto que é difícil encontrar um

~ensador atual da Repetição e da Diferença que

Ignore as contribuiçiics que a Psicanálise tem pro-duvido a respeito.

Seja qual for a concordância ou a dissidência

que existam entre as diversas disciplinas, as con-tribuições têm resultado proveitosas.

Na Filosofia o problema ua Re eti 'ão está ine-

vitavelmente liga~ à questão ontol6gica, ou seja,a do Ser a de seu cvi r e, conscq ücn temC'n"iC,"a

uÓ em o A pergunta pcrt incnte é: " S L < J ! ! e é tI uç

~?", e esta exige por sua vez colocacõcsacerca de se o (ue se re 'te é o mesmo oOu o

ou.tm, () um ou o múltil210, o sin~lar ou o plural,

o Igualou o desi Tual, o semelhante ou o diferente

~positivo ou o negativo, o equivalente ou o dis~

valente, o idêntico ou o diverso. Desde já se vê

que todas estas perguntas podem ser Formuladas

na ordem do qualitativo, do quantitativo, do inten-sivo ou do cronol6gico.

Por outra parte, estes temas suscitam necessa-

riamente a reflexão gnosiolcígica, ou seja, as per-

guntas sobre a possibilidade de conhecer o processo

as questões procedentes seriam: "A repetição acon-

tece no objeto a ser conhecido, no pensamento, ou

em ambos'!"; "Segundo leis e dctcrm inaçôcs ou

sem elas?"

Em todos os casos: "Esse conhecimento é pos-sível, ou não, e quais são suas condições, proce-

dimentos e recursos'! E, em última instância, tal

conhecimento é necessário ou apropriado'?"

Esta última pergunta antecipa uma terceira classe

de reflexão que conccrnc a problemática dos va-

lores, ou seja, a Axiologii.!.; A Repetição é boa ou

má, bela ou feia? Existe uma repetição que seja

boa e bela, ou má e feia, ou nem uma coisa nem

outra'? Ela é desejável, conveniente, imperiosa ou

prescindível?

Em todas as in terrog açõ es citadas vo cês terão

sentido provavelmente a necessidade de uma defi-

nição precisa de Repetição, assim como terão ex-

perimentado a tendência habitual entre nós de en-

tendê-Ia assimilando-a ou opondo-a a alguma outra

noção, conceito ou categoria. Espero que se com-

preenda que isso é justamente parte do que está

em discussão. Mas, se cedemos a essa tentaçiío

espont<'inea, diremos que correntemente são sinô-

nimos (e epetição palavras tais como re.J'l dução,

rcncracao e retorno, assim coJ1lo sã o seus antôni.;

iiiôsrl1u( ança, renovação, sendo que essa or.osiçfLO

com as precedentes costuma girar e tOJO( da idéia

de Direrença. Mas, como dizíamos anteriormente,

é indispensável saber que em Filosofia cada um

116 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

desses te rmos tem signi ficado sistem ático , ou seja,

REFLEXÃO FILOSÓFICA 117

e do caos in ic ia l com o da cri ação e do cri ado .

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qu e vari a segun do a posição pre c isa que esse vo-

cáb ul o ocupa dentro do conjunto de um a determ i-nada teoria ou do utr in a, e ain da do uso que delasse faça em cada conj untu ra h istó ri ca.

Por isso , P3H a poder abordar aceitavelm ente estaim port ante pr oblem ática no m arco de um a aula i~-l~ lda, s ó nos res ta um cam inh o: fa zer um a breve-- _ • . .r.sv isã o C fonoló rica das rinc ip ais posi 'ões a rcs-

P~), e resum ir as .Q olêm icas gue na atu alidad etêm ad uirido rele~, segun do nossa opin iã o,

no panoram a cont em porâneo do pensa m ent o fi lo -só fico e em rel açã o à psicanálise . Obviam ente estarevis ão e sín tes e não serão im pa rc iais nem in ocen-tes, segur am ent e se rão in com pl etas e até é possíve l

que sejam parcialm ente in corre tas.T ent ando o caminh o pro pos to , em prim eiro lugar

d igam os que o l2 .ensam ent o mÍ t ico e reli gioso ti -veram se m pr e com o tem a priv il egiado ' o das ori-ge ns de tu do quant o ex iste . Para mu i tos p~~

gênese foi d ivina, re alizada a partir do nada ou deum caos prim ord ial no qual os deuse s natu rais ou

so brenatu rais in tro duziram a exist ência e a ordem .

Logo , es ta cri ação, acont ec id a em um tem po divin o,dev ia re peti r-se fielm ent e igual a si m esm a.

Isso fazia com que boa part e da natu reza e dav ida h um anas se desenvolvess em no âm bito do ri -tu al e do sagrado, es tr itam ente rc it c ra ti vo , sendo

que as ativ id ad es lprofa nas careciam de toda id cn-

~id ad~ e de ord em .. A lg um (~s (~es.tas cosm og oni asinclu íam a c rença de um dcvir C IC l!COtanto do nada

Estes acont ec imen tos se reproduzir iam cons tan te-

m ente em períodos regul ares, dev endo sob revir ounão algum fim dos tem pos. O bv ia m en te neste pen-

sa m ento ou sistem a de valores, a re peti ção do m es-

m o, do sa grado , era o Bem S uprem o. (JJ'

Um a clas si fic açili.Lg r ) 's e ir a dos ensadore s ..•.ré - 6~~cráticos, que receberam enorm e in flu ênc ia do lt'~~

pens am ento m ítico , p ,ode divid i- lo s en tr e os gue f7 ~

~'ati zavam a Ilerm anÔ ltc Í1 l- .C -Í.m .pasS c ih iliÜade p ; . , 7~er e os qu e in sistiam na im ortânc ia do .m ;.i,;-

m ente e do devi r, fosse este reitera ti vo ou não ,1 1 ~ determinado ou fatal. Para d izô- lo de m aneira

pitoresca, tem os os ré-socrá ti cos est· ' 'c os e dinâ-

m icos~~ác ~ por exem plo , susten tava que O S er"devem " e qu e "nu nca nos banham os no m esm o

rio", enq uanto (nrm ênid~ declara que o S er é eo não-ser não é, send o que o m ov im ento do ser éimpossí vel. O s se res são etern am ente iguais a si

m esm os:® crate~ por sua vez - a quem conh ecem os

atr avés dos esc ri tos de se u di scípulo Platão -, s

tentava a ex istênc ia de tr ês m undos: o m undo dà sidéias puras, deten toras das essênc ia s, 'da id ent id a-de, da verdade e da etern idade. Logo, di rf , q m und o

das có pi as, que teriam chegado a ver as id éia s.m as perderam a proxim ida de com elas e as esque-cer am ; sendo assim , padecem de falta de essência ,

de identidade e verdade, e vivem parcialm ente nasem elh ança e n a aparênc ia, em bora pos sam subsa-

118 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

ná-Io por meio da rcrncmoração. Esta lembrança é

obtcnívcl mediante o ascctisrno e o diálogomaiêutico.

REFLEXÃO FILOSÓFICA 119

platonismo e (J posteriori do aristotelismo - afir-

t i , a _pelo con trá rio, ;...r:9tência..~fals2.. Q:i.Li.cam

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O terceiro dos mundos é o do simul(~ro, composto

de elementos totalmente anárquicos, carentes por com-

pleto de essência, identidade e verdade, existindo em

um mero dcvir louco e demoníaco, na pura diferença

ou na simulação.

~undo alguns autores, a doutrina socrático-pla-

~é, em rigor, um sistema moral destina o a

instituir determinados valores e a selecionar as boas

e as más cópias segundo sua semelhança com o

ideal ao qual pretendem imitar. Portanto, o valor~

máximo romovido )r essa doutrina é a tentati"w

de repetir o Ideal como o Mesmo e copiá-Io. O

Vãlor mais detestado é o da repetição das pura~

diferenças, do singular.

Com €istótelcsrp(~de-se dizer qu~iste~a

manifestamente moral socrático- latônico refina-se,

disfarça-se e transforma-se em uma lógica, uma

epistemologia c-;:;ma psicologia. As idéias puras

socràtico-platônicas são substituídas em Arist ó tclcs

pelos sistemas dos concci tos, obtidos pelo proce-

dimento da abstração, que são uma representação

do mundo que permitia a classificação dos seres

segundo sua substância, gênero, diferença especí-

fica, propriedade e acidente. As causas e e~s

são Jigorosamente classificados por Aristótelcs e

a qUlfem I( cnuc aue representada no conceito que

conseguem incluir em seus limites até o Acaso co-

mo causa e os efeitos mais diferentes.

Os ~e os - adversários J!o

o im ério do Ideal, da Verdade na Repetição de-

fendendo com sua crística. arte da luta verball a

importância dos simulacros, da opinião vulgar, da

;ida mundana ctc. __ --,ili estóico. e tPicureus\ não sem certa discor-

dância, : iÇ inscrevem em uma linha que retoma de

forma variada os pré-soc ráticos. É conhecida a afi-. .. -nidadc de Crísipo, Epicuro, Lucréc io e Zcnon pelos

pr é-soc ráticos : H crácli to, Dcm ócri to e Em pédoclcs.

Estes pensadores, a esar de afirmare Que o uni-

verso é imutável c ue dev~ém em ciclos repetitivos,

sustentam também que nele não existe uma coisa

que seja ·Igua a outra, e que toda~ elas res'u\[am

de agregações e desag regações de átomos operadas--- .-~pelo DI~';VIO de ai 'uns deles, denominado

s:.uI2§meQ. Segundo estas escolas ,º=contato entre

qs corpos (entendendo por tais as mais variadas

naturezas) gera, nas superfícies resultantes, os in-

corporais, extra-seres ou substânCIaS não-corpóreas,

. . -dotadas de um oder de efetua 'ao ue determll1a

a~ como, por exemplo, quando um juiz define

o encontro entre o corpo de uma vítima e de um

réu como sendo um delito e ao protagonista como

culpado; os atos assim produzidos como Incorpo-

rais constituem os Acontecimentos, únicos e irrc-

petíveis. Deus, primeira potência do Mundo. forma

do Acontecimento, constituíra o Mundo mesmo.

Esse panr císm o, como veremos mais adiante. será

antecedente de pensadores como Espinoza.

120 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

/

1 0C ' No críodo denominado da 'PatrÍstica e dal$sco-

tf~ lástica, ~tabe~ '.", ê '" .' mificativa

REFLEXÃO FILOSÓFICA 121

desse retorno que se pode determinar como "e[~i- ~

~~ (talvez se possa falar de "ilusões") ~ IgUal-~ .. , ) 9 -

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~í! ''.t entre Du s Escore e Santo Tomás de Aquino.

lf' Para San to Tomás a ca tegoria do Ser r.cúne ent(d

análo 'OS, ou se'~ ue são semelhantese diferent 's.

Para Duns Escoro o Ser é unÍvQcJ).,_o que implicaque da Essência de tudo quanto é só podemos dizer

que é. Isto significa que a fala acerca das seme-

lhanças e difcr~nç(ís-i-elativas ou absolutã'Critfc os

ser'cS não se aPlica ao Sa-'éon1o categona, por-

q.tTa~[()ô Sc,r j.,J.!Sutro. Não se trata- de que o Tcr

seja idêntico ou único, e sim uc sua essência ~m

si não admite iltrÜ2.!!!9.sdeste-..tWQ".

/ ./ ~ Pa;a-~ o ser é unÍvoco, mas não é n~u-

~ VJ ~ E a Diferença que o expressa e afirma em~',~;; lodos os seus modos e gra us de intensidade. fu

v - r Ic, izando com I[)-f.scart~, que afirma que só exis-

tem duas substâncias, ares cog i t a e ares extensa,~afirmava que sÓ há uma substância que

se expressa em um número fII1Ito de modos e em

um infinito de at ' ll J.Q S .

Para ieli'sche por sua vez, não se deve dizerJ,?apenas que o Ser é Substância, senão que só há

o l~ ser, o do Dcvir. Além do mais, ~ pode P ( l S -tu lar-se a semelhança a partir da afirmação daquiloCU!,eé Di feren ts...

Nictzschc, muito influenciado pelos pré-socráti-

cos ita róricos e alguns estóicos, afirmava o~o

Retorno mas não o Eterno Retorno do igual, Idên-

tico e Mesmo, e si le tudo uanto é Diferente.O que se [(,;.~.lÇ.,J,2o·s é a Diferen 'a, e é a artir

dade, Identidade, Mesmidade ou modalid"'a-d'""e~s-d"'e-~;.J

Siãs, tais como a Semelhança, E uivalência,_An;-

iõgra etc. A ~ontade de potênci nietzschiana con-

siste, entre outras coisas, na afirmação deste Serdo Devir como re eti ão das D' ~o Desejo

dos Fatos e Acontecimentos). Repetição essencial

esta que não se rege por leis, senão que sobrevém

sempre ao acaso, mais além do Estabelecido, do

Humano, do Bem e do Mal. A'lsim se emendemos lemas nietzschianos como "v' c r igosamon -te" ou a ro osta de criticar os valores mas não

Qara substituÍ-los or outros, senão ara acabar com

a necessidade de viver se 'undo valores estabe e- ~

cidos. J0fi16so(o dinamarquês QSierkegaar~cMcebe a ~' .

Repetição como um método a sccxiç . é' como

l!.,mexercício de Libcrdads Assim como em Nietz-

sche, não se trata em Kierkegaard da Repetição

segundo as leis da Natureza, ou da memória, se-

gundo a Reminiscência platônica. Não é a reitera-

ção numérica do hábito nem a r cmemoração do

Mesmo Ideal, não é uma segunda vez, e sim de

l!m querer repetidamente aquilo que se quer até o

infinito, a eternidade de cada instante' à enésima

potência. Não se trata de extrair algo novo de uma

Repetição, de compreender ou de contemplar um

repetir para ver algo novo. Trata-se de atuar como

objeto supremo da Vontade, de fazer da Re li ão

como tal uma novidade, uma tarefa de Liberdade.

} -

122 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

. ~As concepções de~tz~e de ~keg~têrn

REFLEXÃO FILOSÓFICA 123

~ negação de si que o obriga a sair de si. alie-

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~Q )'~ .istante em comum como or exemplo, pro or a~r' Repetição assumida como um movimento ue não

conclui nunca mas a resentam também diver ên-cias: ara 'erkegaard e eti ão assumida é umcaminho ara a salva ão cristã, que sempre envolvecerta resignação, enquanto para o ateu ietzsché a maneira de libertar-se definitivamente da cre~anos deuse~ e em qualquer outra entidade garanti-dora como a Igreja e o Estado. Mas talvez o maisimportante é gue o filósofo dinamarquês procura

, { v i uma '~ e(2etição Diferencia}" na qual a diferença~~Q vai estabelecer-se entre a Repetiçaoe o Repetido,{~ sendo que o ue se afuma-.não é um Jluro Acaso,

e sim a ge eti.ção renovadora de casos.Em ietzsch a proposta consiste na afirmação

~soluta da Re eti ão voluntária do Acaso. Desejaro Acaso, propiciar os encontros para gerar os acon-tecimentos se conservar ressentimento aI um"porque não foi como queríamos" e sem crer emnenhum destino. Para @erkegaar&o procedimentoda Repeti ão tem um forte com nente subjetivoe é uma probabilidade entre outras; ara Nietzscheé a única possível e corresponde ao jogti das forçasdó Devir, e não ao âmbito da subjetividade emQarticula[.

Costuma-se opor a concepção d,e Nietzsche eKierkegaard à de Hegel. É sabido que para o Idea-

l. l O Y lisrno hegeliano Q.Ser, que é o Espírito em si, con-

- \ \ ? ' O tém todas as possibilidades, mas em estado de in-determinação. O Es írito em si inicia um roce so

nando-se na existência de tudo quanto existe e . ! . Q -

duzindo assim uma diferença. Logo procede a umanova negação, a negação da negação, adquirin~oconsciência da Di [erença e tornando-se Espírito pa-

r a si.yeste novo estágio estão superados e con-servados o da afirmação inicial e o de sua negação,que subsistem rcformulads ( vidadc adquirida.Este processo, chamado dialético abran Tee diri _etodos os cam s da realidade, tanto o dJLló.gicainterna que informa o pensamento como o datureza, a subjetividade e a História da huma 'dMle,-No âmbito da consciênCIa e do pensamento esteprocesso diz como se efetua a passagem da simplesnegação à negação determinada. A "consciência in-gênua" ou "alma bela" parte da afirmação de umacerteza subjetiva. Se ela aceita, por mero uso dalinguagem em uma relação intersubjetiva com outraconsciência, questionar as condições do vivido, da-rá lugar à emergência de uma verdade objetiva co-mo resultado de uma relcitura. A mesma estaráconcluída e adquirirá pleno sentido quando conse-guir articular-se na totalidade do movimento do De-vir do Espírito (Saber Absoluto). Essa figura daalma bela, exposta na enomenologw (,0Espínlo, n l P 'se complementa com outra, não menos famosa que ~é conhecida como "Dialéticà do - do Escra- r r r aJ {~ sta caracteriza o vínculo intcrsubjetivo que ~se dá entre o Amo ou Senhor, o qual demonstrana guerra que está "mais além da vida" porque"não teme a morte ..." e o Escravo, que permaneceu

124 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA REFLEXÃO FILOSÓFICA 125

imerso nas preocupações pela sobrevivência . . . . Q

Amo, ara afirmar seu Ser e seu domínio, necessita

mo produto uma diferença definida e objetiva de-

pois da mediação de duas negações determinadas.

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que o Escravo se reconheça como tal e o ~~ça

como Amo. Assim é que ele se torna um Homem.

Mas o escravo, que nao é ainda um HonlciTI nessa

relação e não pode propriamente reconhecer nin-

guém, só pode tornar-se tal pelo reconhecimento

de outros escravos conseguido através do trabalho

compartilhado, com o que se consegue o domínio

sobre a Natureza. Neste ponto, os escravos.-1a.rna-

dos homens oderão escolher de comum aco o

um Senhor, o Estado, no ual são reconhecidos

Esta tese está a oiada em uma Ontolo ia ue afir-

IJIa que o Homem é um Ser-da-falta, um Ser 9!!.e

é porque lhe falta e ue rocura um ser de com-

pletude no Desejo similar de outro Serj•• e nunca

õ......alcança. OcDesejo que move o homem ~m

Desejo de Ser Pleno no reconhecimento dado pelo

~eJo do OutroJ falta nega o Ser o ornem

que tem a convicção subjetiva de Ser Homem, e

quando este nega esta negação de reconhecimento

(tomada de consciência só possível pela mediação

da linguagem no diálogo e a retrospecção inter-

subjetiva) produz uma Verdade objetiva e se torna

assim parte da Totalidade do Espírito recuperado

para si. Parece evidente que, para~ de alguma

forma herdeiro do pensamento socrático-platônico-

tomista-kantiano, a o eraçao res onsável do moyj-

mento é a negação e a negação da negação, estado

qUeê e denomina de "Superação". A afirmação i~

diferenciada, caótica e indeterminada inicial dá co-

O que se conserva no produto é provavelmente o

mesmo que estava contido no "em-si" vivido da

afirmação inicial, mas transformado por sua inclu-

são nos conceitos da reflexão di aléti ca . Daí a fór-

mula última de Hegel que diz que "tudo que é

racional é real e tudo que é real é racional". Para

ege é pela aquisição desse saber racional ~e

exercita a Liberdade como "consciência de neces-

;idade de repetir", da ual se é vítima quando não

se tem "conceito da repetição" do Igualou do es-

mo e do Desejo mpossível o er eno. I en-

ti a e é, pOIS, a Repetição sem conceito, a Dife-

rença se gera pelo conhecimento racional da Re-

petição.A crítica produtiva que o marxismo faz a Hegel

introduziu modificações importantes na concepção

Idealista do grande filósofo alemão, sobretudo no

que se refere à material idade do Real, mas con-

servou a Dialética como processo do Devir e como

Método do pensamento que privilegia a Razão,

especialmente a científica.Já que suportamos até aqui esta árida e insufi-

ciente versão filosófica, trataremos de ver de que

forma esta longa história do pensamento incide so-

bre a Psicanálise em geral e sobre o problema da

Transferência em particular.

É óbvio que seria interessante saber como essas

doutrinas participaram direta ou indiretamente qual

foi a influência que tiveram sobre Freud, as idéias

126 LlÇÓES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

que vimos, além de outras que não mencionamos,

como as de Kant, Herbart, Schopenhauer, Dilihcy,

REFLEXÃO FILOSÓFICA 127

inconsciente como o lugar da cadeia signif.ifante

que, animada pelo Desejo, insiste em sua rocur~

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Brentano, Bergson etc. Ninguém duvida, por exem-

plo, da in fluência que Hcidcggcr teve sobre certa

psicanálise contemporânea.

Mas aqui nos limitaremos a colocar algumas

questões que seguramente não serão neutras nem

casuais acerca da polêmica atual sobre qual seria

a inspiração filosófica que cabe melhor à concepção

psicanalítica da transferência e algumas de suas

conseqüências cpistcmológicas e éticas. No come o

desta exposição destacamos que a ransferência

tanto em suas manifesta ões "v·siv..e··" c o nas

"latentes" ou meta psicológicas, dentro e ~

análise, é um processo reprodutivo e ao mesm o'tempo imwador. Vendo esta dualidad o

ângulo, dissem~ ue a mesma funciona como Re-

sistência (desobediência involuntária da livre-asso-

ciação) e nor sua vez como motor, cam e mater

com o qual e no qual se processará a cura. Quando

revlsamosas- ivcrsas teorias Ircudianas a respeito,

destacamos uma delas, que tentava explicar essa

dualidadc da transferência atribuindo () efeito resis-

tencial à transferência de qualidade erótica e à hos-

til, e o efeito propriamente analítico ou curativo à

Amistosa. Assinalamos que essa concepção é con-

siderada puramente descritiva por Lacan. Durante

nosso breve exame da abordagem lacaniana afir-

mamos compreender que a partir da releitura de

Inibição, Sintoma e Angústia,@define o Ego

(je-moi) como instância da resistêntia e o IcL

do Falo e da repelição o mesmo narcisístico. E

cÍaro que essa cadeia significante só constitui es-

se significante falo como um mesmo ilusório, real

último buscado por detrás da série já constituída

e sistemática das máscaras significantes. 9 fatodelimita o ponto no qual a pulsãQ...CLÓ.l.i.í.:a..s.eca-

lTzaria na fusão entre sujeito e ob'~ a.iJlda Q-

gícãmente anterior à Identifica ão Primácla. En-

contro Imposs[vcldo qual cada ensaio falido, Ial-

toso dá como resultado uma forma 'ao do incons-

c~~ um~e~~ulada com as outras e

decifrada confiaura a J 'á mencionada "Re eti ãc,_ ' .::=t_

Diferencia!", a Diferença de Sentido de cada Rc-

petição. Sah~mos que esse encontro falido é cau-

sado por certa forma do Acaso que Lacan refere

à Tyché de Arístótclcs, que os efeitos que gera

são da ordem do imaginário, e que seu destino

analítico (como diria Freud) é serem ligados, su-

bordinados ao processo secundário para alimentar

um resultado de recordação e domínio dos afetos

contrários à atuaçãp ou à sintomatologização do

Desejo. Segundo@, o Imaginário deverá ser

subordinado pelo registro simbólico, para ser visto,

c9'2!.I2Ieçn I o e concluído no processo analí~ic~Sejam quais forem as sutilezas e obscundades

destas leituras (e não são poucas), é difícil deixar

de crer que a proposta analítica gira em torno das

seguintes categorias:1) Coloca a realidade não-psíquica entre parên-

c - =

128 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA REFLEXÃO FILOSÓFICA 129

teses para só ler e operar sobre a psíquica, emrespecial a Inconsciente.

mitologizando, desmistificando e sublimando inter-

minavelmente. Em termos um tanto mais empíricos

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2) Entende o ~conscientF enquanto transindivi-

dual estruturado como uma liÍ1_ua em composta

de significantes, sobre os quais "pesa proscrição"

que f~ltam à IS osiçao o ujc'to gue fa a aracompletar as falhas do discurs

3) Para poder decifrá-Io parece colocar todo sig-

nificado entre parênteses para ler e intervir apenas

so re a slgm icância, assim como exige que toda

ação corpórea ou sociaf~significativãSe]ãíiiT51da

re uzin o o l'l1l.atenal" ãseqi.jência na qual supõe

pOder lOCalizar e circunscrever as repetições trans-

ferenciais significantes. - --- 4) Define o~ como uma força que insiste

em animar a cadeia signi ficante no sentido da re-

pêtição de um significante originário que, por seu

v~lor imaginário, é a marca da alienação do sujeito

da Unidade Primitiva Perdida.

5) ~irma que na procura repetitiva do valor

imaginário do significante rimordial ~JS'ü)elto

constituído na transferência, tentará tomar o analistapor seu go deal e conformar- e e ~

a" para aquele. Mas que, em rigor, sua pulsação

inconsciente encontrará o desencontro, a falta do

objeto que, uma vez devidamente simbolizado, o

levará à recuperação de uma diferencial idade na

repetição que se plasmará como uma troca de po-

sição na estrutura. Isto lhe permitirá seguir ima _i-

nando e retificando suas ilusoes, buscando o ozo

e satisfazendo-se com o diferencial gozo- razer ...= -

ou em categorias filosóficas se poderá 'denominar

estes rendimentos como se quiser: reconstrução da

história, da novela familiar, transformação da Re-

petição da Identidade sem conceito na Repetição

Diferencial por conceitualização da Diferença, des-

construção do destino Inconsciente, aumento da ca-

pacidade de escolher etc.

Se se repassam as posições filosóficas que an-

teriormente tratamos de resumir, resultará que ~

c,Qncevção psicanalítica da Repetisão e da Diferen-

ça parece ter muito mais a ver com a linha de

Parrnênides, ,.,ocrates, Platao, Aristóteles, Santo

Agostinho, Descartes, Kant, Hegel e Kierkegaard

do que com a de Heráclito, Dcmócrito, sofistas,

estóicos, Duns Escoro, Espinoza e Nietzsche. Mas,

sem dúvida, as coisas não são tão simples.Três questões se apresentam:

1) A psicanálise adere a uma concepção da Re-

petição do mesmo como Idêntico, Igual, Seme-

lhante, Análogo ou Equivalente?

2) Ou a uma da Repetição da Diferença como

Repetição Diferencial ou conceitual e/ou signifi-

cante em qualquer das modalidades acima citadas

do Desejo como Falta? Psicanálise ciência Ociden-

tal?

3) Ou a Psicanálise traz implícita, virtual uma

concepção da Repetição do Ser como Ser da Di-

ferença, Pura Diferença, singularidades e rnultipli-

cidades, o Desejo como vontade de Potência de

130 LIÇÕES SOBRE.A TRANSFERÊNCIA

afi!:mação da Diferença, do encontro e do Acaso. A TRANSFERÊNCIA

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uase ciência dos bons encon ros.'

Estas perguntas, evidentemente, não são apenas

retóricas, nem muito menos um exercício acadêmico.

Para começar a respondê-Ias é preciso romper comtoda ortodoxia, particularmente com urna série de

crenças que lhe são características. Por exemplo: é

a psicanálise um saber e um fazer cujo grau de aper-

feiçoamento a torna a única ou preferencial opção

para entender e resolver toda e qualquer situação na

qual estejam envolvidas as subjetividades sofrentes

ou as produtivas. Existe UMA psicanálise ou UM.de-

sS!1volvimento da mesma feito por UMA escola ue

clausurc definitiv~~nte O~J?<:)ssíveis ou virtuais?

São âctíveis os empregos teóricos, metodológi~

técnicos, estratégicos ou táticos de alguns recursos

psicanalíticos por fora da especificidadc e da profis-

sionalidadc da disciplina, articulados às de outras

práticas e ainda a outros modos de produção da

vida cotidiana?

[;TudO uanto não se re ete como diferente está

~)rto, mas ainda assim pode servir como estrume.

Considerações FinaisProvisórias

SUPONIIO que tenha sido possível en-

tender, durante o transcurso destas aulas, que a

transferência é um rocesso real e material. Por

real e material quero dizer que a mesma acontecia

e acontece independentemente de que ai uém se

en a ocupaüo e ITIvestIga-la dcliberadamente e

ge intervir sobre ela Rara encam' l{- eJll-llma

ou outra di [I Gli-o.Espero que tenha ficado claro que este [ato tor-

nou-se objeto de conhecimento e de operação para

diversas disciplinas e práticas.Na existência cotidiana as pessoas costumam

percebê-Ia e designá-Ia por diferentes noções mais

ou menos vagas, assim como comportar-se a seurespeito de maneiras que poderíamos denominar de

não-específicas. Não é por casualid.a.~ 9enfatiza que a transferência que se dá na sessão

ª~alítica é similar à que acontece fora dela,~-

riando somente o uso ue se faz da mesma ...:.:.:.------ . lVárias ciências a detectaram e conccitua izararn

em seu próprio campo e a manejam com procedi-

mentos peculiares, tal é o caso da Antropologia,da Lingüística, da S crnió tica , da História, da So-

132 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS PROVISÓRIAS 133

/-~ .sentes na obra de(Fr~ug,_cste am ~otad~

Em um de seus escritos, "M últiplcs interés deI

ciologia, da Economia, da Pedagogia e até da Psi-cologia.

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Psicoánalisis", o fundador da disciplina incursiona

em numerosas áreas da vida humana nas quais a

Psicanálise poderia vir a ter importância explicativa

e operacional. Algumas delas, como a Biologia oua Arte, não implicam necessariamente um proce-

dimento clínico, outras sup õem modos de interven-

ção que não possuem objetivos "tcrapêuticos", em-

bora exijam certas manobras estraté ricas e táticas. _

Esta Psicanálise se denomina a licada' nome'f~',

não muito feliz, enquanto a prática da Psicanálise~

consiste na aplicação da teoria e do método si-

can..alíticos mediante adequação destes a cada si-tua ao co rnoscitiva e é"~'12ê~t'al SI' _e/1Q.is.

Neste tipo de estudo enquadram-se perfeitamente

muitos dos textos freudianos em especial os que

integram a chamada "Obra Social '. Desde este pon-

to de vista ou toda a Psicanálise é "aplicada" ou

~, Por outra parte, transitamos nas aulas por uma

rápida visão de algumas novas "disciplinas" (porchamá-Ias de alguma maneira) ou saberes, tills co-

I fD: 'mo a nálise Instituciona e a~<;quizoanálise} ~

. incor oram e em t( s sicanálise e as uais' ,

não se pode qualificar nem de "Análise a licad ".

São verdadeiras 'Invenções, ou seja, novidades

cujo valor heurístico e prático não é 'ul á c\ a nas

desde os conceitos psicanalíticos. Cada uma delas

tem sua redcfinição do que é Transferência, assim

como de vários outros recursos clássicos. Em re-

Certas práticas de estatuto especial, como a Po-

Iitica e o Direito, sempre reconheceram os fenô-

menos transferenciais e atuaram em relação a eles

de forma particular, enquanto algo parecido ocorrecom a Medicina como território de confluência denumerosos saberes.

Por último, recordemos que a Filosofia refletiu

fartamente sobre a questão com base nas categorias

de repetição e diferença, em complexa intcraçã ocom todas as outras abordagens.

Sem dúvida S no domínio da (Psicanálise:..illlli-

d3 q~e uma modalidade específica de entendi-!l1..~ntoe ~go da Transferência adqúire um ní-

vel de ~ar~ct~iza 'ão teórica e i ort1JlÇiª técnica

'l!!~rnaram aradi -'má ticas em toda a cultura

J!1Qderna _e contef!l12o~ân9 de forma que os outros

saberes foram notavelmente influenciados pela con-cepção psicanalítica.

":imos também que ~ continuadores de~

partindo de algum dos aspectos (amiúde descone-xos e até contraditórios do tratamento u iador

dJ!.Psicanálise deu ao assunto), desenvolveram-nos

dentro de suas res ectivas orienta õcs.

Permiti-me insistir na afirmação de que essas

abordagens freqiientemente foram interessantes e

valiosas, mas que en s ode atribuir-seo ,érito e ser a únic a s bre

~ Muito menos pretenderão sustentar queo tema está concluído ou ue as su Ôe::; pze-

134 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIACONSIDERAÇÕES FINAIS PROVISÓRIAS 135

lação a estas inovações talvez a mesma Psicanálise

tradicional possa ter algo a aprender. Os acertos evamente insinuados naquela célebre e auto-irônica

sentença médica: "A operação foi um sucesso, mas

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erros, assim como a real transcendência destas cor-

rentes, demasiado jovens, só poderão ser avaliadoscom o tempo.

De qualquer forma, o que não Rodemos aceitaré a desqualificação do mática ue uma orientação

pSlcana ltlca faz das outras, ou a ue se tenta m

'"'nome da Psica~ii'~, com qualquer outra disciplina---,.- - ----------clássica ou recente. Segundo as escolas Iideístas~uais acabam~de nos referir, toda "Psicanálise"

que não seja como cada uma delas determina, "não

é Psicanálise", e os métodos e procedimentos as-

sumidamente não-psicanalíticos não tê m direito de

tomar nada da Psicanálise porque, supostamente,

não conseguirão Iazê-lo sem desvirtuar por com-

pleto a especificidade psicanalítica. Ademais, esta

especificidade se postula como indicada e prefe-

rencial para toda e qualquer situação, sendo que

este privilégio haverá de ser estimado exclusiva-

mente com os critérios internos da escola em pauta

e nunca com os de outras abordagens possíveis ou

ainda com os da inspiração intuitiva. Assim, toda

avaliação da inteligibilidade nas leituras de uma

conjuntura ou da eficiência de uma intervenção ca-

receria inteiramente de validade porque "não en-

tende" as premissas e metas DESSA Psicanálise que,

Ireqüentemcnte, não se esforça muito para ser en-

tendida nem para demonstrar sua utilidade.É fácil imaginar que esta atitude pode conduzir

a desenlaces do tipo dos que se tornam expressi-

o paciente faleceu;'.

I Obviamente devemos crer que qualquer argu-

mento epistemológico legitimador de uma sturã

e- aman 1a arrogânCIa nao é senão uma raciona-

liz~ção de interesses corporalIvos rofissionalistas

ou ainda místicos, mas jamais uma autêntica vo-

~cação de conhecimento c prcstaçãc.de.scrvíços.

, No âmbito da transferência nunca saberemos o

suficiente e não existe proposta que não devamos

estar dispostos a considerar.

Se para começar a pensar aceitamos, por exem-plo, a afirmativa de que "a transferência é a posta

em ato da realidade do Inconsciente", do ponto de

partida desta proposição (como de qualquer outra)

abrem-se milhares de caminhos para o questiona-

mcnto.

De certo modo tratei de sugeri-Ios nas diferentes

aulas, tentando ser coerente com a idéia de que,

nesse terreno, vivemos um tempo no qual é aindamais fecundo multiplicar e reformular constante-

mente os interrogantes do que fechá-los em con-

clusões mais ou menos fanáticas.

Este inconsciente (ou os inconscientes), seja mo-

dclizado como um espaço ou um sistema animado

por um processo que lhe é próprio, engendrado no

jogo entre as pulsões e as representações ou no do

desejo e as substituições na cadeia significante ...seja ordenado em uma estrutura na qual o sujeito

se constitui como um lugar ... seja formado como

136 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS PROVISÓRIAS 137

um "caldeirão fervente de estímulos" tal comoFreud o define em O Ego e o Id:

sordem Produtiva da Vida ... que desarma inces~an-temente todos os territórios para criar incessante-

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É uma forma universal e invariante na qual ape-nas mudam os conteúdos que as línguas e as so-

ciedades, ou as particularidades dos sujeitos, intro-duzem nela?Ou consiste em uma substância produtiva que

se autogenera de infinitas formas, cada vez únicas,que por sua vez realizam inúmeras modalidadesdiferentes de sub jetivação?

O complexo desejo-significante-fantasma-sujei-to-Outro-outro está regido por tendências iterativas

cuja função é tentar repetir O Mesmo ... seja se-gundo um movimento regular que procura restaurarum equilíbrio "perdido" ... seja dirigido à um "maisalém" de imobilidade e silêncio total... inclinações

estas de sua materialidade relacional só alteradadesritmicamente por contin ências ulsionais?Ou sua essência é a d Produ ão em si de si, -'

e porque sim, cu'a única "lei" é a do acaso radical

que conecta multiplicidades, puras diferenças en-gendrando sem c sar devires singulares?Aransferência é um processo do sujeito que,impactado por uma diferença ocasional, mostra re-petitivamente como constitui seus objetos ... e seaparece como Resistência do Saber, do Ego, doDiscurso ou da Comunicação a verdades que re-metem finalmente à Verdade Negativa da Castra-

ção, da Falta, do Nada e de nosso Destino Mortal?Ou a ltransferêncial é o Processo do Real Mes-mo-Abstrato-Subjetivo-Universal-Positivo, a~

mente novas terras ... e só aparece como Resistênçlaao~er capturado por legalidades de qualquer ordem,

incluído órc ?E, como corolário, a Transferência ... deve ser

"dissolvida" ..."elaborada" ..."reanimada" a conti-nuar deslocando-se de significante em significantemediante a "tomada de consciência", .o "insight"ou a "repontuação" .., ou s$.-trata de intensificá-),ae liberá-Ia para deflagrar suas potências, suas vir-iualidades Intnnsecamente afirmativas até conse-qüências que nunca são últimas nem revisíveis?-Tudo consiste em assumir que valor atribuímos

à Transferência em nós mesmos, e até onde dese-jamos levar nosso "amor pelos fatos" (Amor Fati,

como dizia Nietszche).Suspendamos aqui nosso encontro, não sem an-

tes citar um jovem psicanalista que, ainda com aslimitações de sua visão, registra o "mal-estar denossa cultura profissional" através de um agudo

analisador:_ "No "Traumdeutung' Freud afirma, segundo

me parece, que aquele que interpreta o sonho équem o suporta; o analista parece não mais inter-pretar nada. Entretanto, nós, analistas, supomos queinterpretamos,. e ~rélO que isto se sustenta sobreuma espécie déSAI3ER MUITO IMPORTANTE quetemos. E digo temos porque não só acreditamoscomo também o exercemos, então parece que otemos. Eu pensava se em tudo isto que vimos sobre

138 LIÇÕES SOBRE A TRANSFERÊNCIA

a interpretação não há algo que se relaciona com

a exposição que fazemos da teoria. Às vezes me

BIBLIOGRAFIA

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pergunto por que são tão sérias estas reuniões nas

quais todos sabemos muito. Os que estão aqui por-

que falamos, os que estão lá porque se calam, tudo

supõe saber, não se junta ao humor, essa vacilação

da palavra na qual se revela sua absoluta poliva-lência que faz surgir algo da ordem do desconhe-

cimento. Há vezes que alguém se pergunta se uma

interpretação no melhor sentido da palavra não

tZm mais a ver com o chiste, com o humor, c<?..m

esse a6surdo absoluto ue se produz, onde ai TO

não quer dizer o que diz senão que diz outra coisa'"

(Oscar Gutiérrcz, La Trasjerencia, Colección Plu-ma Rota, Madri, 19 R 2).

PRIMI::JRA AULA - "A Transfcrúncia Segundo a Obra de Frcud'

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Tópicos de Saúde do Trabalhador, Frida M. Fischer, Jorge da R. Gomes eSérgio Colacioppo

Trabalho em Turnos e Noturno, Joseph Rutenfranz, Peter Knauth e FridaMarina Fischer

Educação Médica e Capitalismo, Lilia Blima SchraiberEpidemiologia: Teoria e Objeto, Dina Czeresnia Costa (org.)A Saúde Pública e a Defesa da Vida, Gastão Wagner de Sousa CamposEpidemiologia da Saúde Infantil (1 1 1/ 1 Manual para Diagnósticos Comunitá-

rios), Fernando C. Barros e César G. VictoraO Marketing da Fertilidade, Ivan Wolffers et ai

Terapia Ocupacional: Lógica do Trabalho ou do Capital?, Lea Beatr izTeixeira Soares

Minhas Pulgas, Giovanni Berlinguer

Mulheres: "Sanitaristas de Pés Descalços", Nelsina Melo de Oliveira DiasEpidemiologia: Economia, Política e Saúde, Jaime BreilhO Desafio do Conhecimento: Pesquisa Qualitativa em Saúde, Maria Cecília

de Souza MinayoSaúde Pública como Política, Emerson Elias MerhyO Sistema Único de Saúde. Guido Ivan de Carvalho e Lenir SantosReforma da Reforma: Repensando a Saúde, Gastão Wagner de S. CamposO Município e a Saúde, Luiza S. Heimann et alEpidemiologia para Municípios, J. P. Vaughan e R. H. MorrowPromovendo a Eqüidade: Um Novo Enfoque com Base na Setor da Saúde.

Emanuel de Kadt e Renato TascaDistrito Sanitário: O Processo Social de Mudança das Práticas Sanitárias do

Sis tema Único de Saúde, Eugênio Vilaça Mendes (org.)

Questões de Vida: Ética, Ciência e Saúde, Giovanni BerlinguerO Médico e Seu Trabalho: Limites da Liberdade, Lilia B. SchraiberRuído: Riscos e Prevenção, Ubiratan Paula Santos et aloInformações etl l Saúde: Da Prática Fragmentada ao Exercício da Cidadania,

liam Harnmerli Sozzi de MoraesOdontologia e Saúde Bucal Coletiva, Paulo Capel NarvaiAssistência Pré-Natal: Prática de Saúde a Serviço da Vida, Maria Inês No-

gueiraSaber Preparar uma Pesquisa, A.-P. Contandriopoulos et aloUma História da Saúde Pública, George RosenDrogas e AlDS: Estratégias de Redução de Danos, Fábio C. Mesquita e

Francisco Inácio BastosTecnologia e Organização Social das Práticas de Saúde, Ricardo Bruno

Mendes-GonçalvesEpidemiologia e Emancipação, José Ricardo de C. Mesquita AyresOs Muitos Brasis: Saúde e População na década de 80, Maria Cecília de

Souza Minayo (org.)

Da Saúde e das Cidades, David Capistrano FilhoSistemas de Saúde: Continuidades e Mudanças, Paulo M. Buss e Maria

Eliana Labra (orgs.)AIDS: Ética, Medicina e Tecnologia, Dina Czeresnia et aI. (orgs.)A/DS: Pesquisa Social e Educação, Dina Czeresnia et al. (orgs.)Maternidade: Dilema entre Nascimento e Morte, Ana Cristina d'Andretta

Tanaka

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Relação Ensino/Serviços: Dez altos de integração docente assistencial (IDA)ItO Brasil, Regina Giffoni Marsiglia

Velhos e Novos Males da Saúde 110 Brasil, Carlos Augusto Monteiro (org.)O "Mito" da Atividade Física e Saúde, Yara Maria de Carvalho

Saúde & Comu nica ção : Visibilidades e Silêncios, Aurea M. da Rocha PittaProfissionalização e Conhecimento: a Nutrição em Questão, Maria Lúcia

Magalhães BosiUma Agenda para a Saúde, Eugênio Vilaça MendesÉtica da Saúde, Giovanni Berlinguer

Série DIDÁTICA (direção de Emerson Elias Merhy)

Planejamento sem Normas, Gastão Wagner de Sousa Campos, EmersonElias Merhy e Everardo Duarte Nunes

Programação em Saúde Hoje, Lilia Blima Schraiber (org.)Inventando a Mudança na Saúde, Luis Carlos Oliveira Cecilio (org.)Razão e Planejamento: Reflexões sobre Política, Estratégia e Liberda-

de, Edmundo Gallo (org.)

Saúde do Adulto: Programas e Ações na Unidade Básica, Lilia BlimaSchraiber, Maria Inês Baptistella Nemes e Ricardo Bruno Mendes-Gonçalves (orgs.)

Série PHÁRMAKON (direção de José Ruben Alcântara Bonfim e VeraLucia Mercucci)

Medicamentos, Drogas e Saúde, E. A. CarliniIndústria Farmacêutica, Estado e Sociedade: Crítica da Política de

Medicamentos no Brasil, Jorge A. Zepeda BermudezPropaganda de Medicamentos: Atentado à Saúde?, José Augusto Cabra!

de Barros

pabx (011) 418-0522 fax R: 30