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BASES METODOLÓGICAS PARA O CÁLCULO DA REPOSIÇÃO DE
PERDAS REFERENTES À INADIMPLÊNCIA NA DISTRIBUIÇÃO
DE ENERGIA ELÉTRICA
ABRADEE
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DISTRIBUIDORES DE ENERGIA ELÉTRICA
RELATÓRIO FINAL
Rio de Janeiro, 28 de Julho de 2006
1
ÍNDICE ANALÍTICO
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................................3
2 CONCEITUAÇÃO DA INADIMPLÊNCIA.............................................................................4
3 INADIMPLÊNCIA NAS EMPRESAS E NAS CLASSES DE CONSUMO.......................6
4 CAUSAS DA INADIMPLÊNCIA...........................................................................................10
5 DIRETRIZES METODOLÓGICAS PARA O NOVO CICLO DE REV. TARIFÁRIA 12
6 PROPOSTA PARA O PERÍODO DE TRANSIÇÃO .........................................................15
7 ANEXO 1 – TEXTO/ANEEL..................................................................................................17
2
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1 – “Aging” (Envelhecimento do Faturamento) – Vinte Empresas
Distribuidoras. Março de 2006.....................................................................................................5
Quadro 2 – Inadimplência desde Setembro 2004 (“Aging”). Média de Vinte Empresas
Distribuidoras. Março de 2006.....................................................................................................7
Quadro 3 – Inadimplência desde Setembro 2004 (“Aging”) – Classe de Consumo.
Média de Vinte Empresas Distribuidoras. Março de 2006. ..................................................8
Quadro 4 – “Aging” (Envelhecimento do Faturamento) – Classe de Consumo
Residencial. Vinte Empresas Distribuidoras. Março de 2006.............................................9
Quadro 5 – “Aging” (Envelhecimento do Faturamento) – Classe de Consumo
Iluminação Pública. Vinte Empresa Distribuidora . Março de 2006. .................................9
Quadro 6 – Diagrama do Comportamento da Inadimplência............................................13
3
1 INTRODUÇÃO
De acordo com o art. 3º do Decreto Nº 2.335 de 6 de outubro de 1997, a Agência
Nacional de Energia Elétrica - ANEEL deverá orientar suas atividades no sentido de criar
condições para a modicidade tarifária, sem prejuízo da oferta e com ênfase na qualidade
do serviço de energia elétrica. Cabe à ANEEL atuar no processo de definição e controle
de preços e tarifas, homologando seus valores iniciais, reajustes e revisões. No segmento
de distribuição de energia elétrica do Brasil, adotou-se a regulação por price cap, em que
são estabelecidos, para cada firma, os níveis de custos operacionais eficientes. Os custos
operacionais eficientes de uma distribuidora de energia elétrica em cada área de
concessão são estabelecidos pela metodologia da Empresa de Referência, e visam
assegurar condições para que a concessionária possa atingir os níveis de qualidade
exigidos para a prestação do serviço1.
Com relação à inadimplência dos clientes (perdas de receita irrecuperáveis) a
ANEEL adotou uma “trajetória regulatória” de acordo com o conceito de custo operacional
eficiente da Empresa de Referência. Isto é visto sob a forma de um percentual do
faturamento bruto (sem ICMS) verificado no ano anterior ao da revisão tarifária periódica,
cujo valor para os anos do primeiro ciclo de revisões tarifárias periódicas para os anos do
período 2003-2006 foram, respectivamente, 0,5%, 0,4%, 0,3% e 0,2%. A partir do quarto
ano posterior à revisão tarifária periódica, considera-se uma inadimplência “regulatória”
permanente de 0,2%. Dessa forma, a ANEEL pretende manter, para o segundo ciclo de
revisões tarifárias (2007-2010), o percentual de 0,2% como provisão de inadimplência
“regulatória” calculada sobre o faturamento bruto (sem o ICMS).
Esta regra de reposição de perdas por inadimplência, entretanto, além de não
considerar as características regionais que são determinantes para explicar o
comportamento destas perdas, não parece solidamente sustentada em princípios
econômicos. Nesse sentido, a metodologia da empresa de referência atualmente proposta
1 Vide Nota Técnica nº 166/2006 – SER/ANEEL.
4
pela ANEEL, deixa de considerar fatores que estão fora do controle de gestão das
distribuidoras de energia, mas que influenciam os níveis de inadimplência de forma
diferenciada nas diversas áreas de atuação das distribuidoras em todo o Brasil assim
como nas diversas classes de consumo.
2 CONCEITUAÇÃO DA INADIMPLÊNCIA
Inicialmente cabe destacar que a utilização dos critérios contábeis não permite
medir de forma rigorosa o nível de inadimplência real que, na prática, se defrontam as
distribuidoras. A Provisão para Devedores Duvidosos (PDD) pode estar sistematicamente
sub-avaliada pelo não provisionamento das contas não recebidas do poder público, assim
como pela renegociação de dívidas. Outro critério que poderia ser adotado, a baixa
definitiva de valores registrados como provisão de devedores duvidosos, também pode
levar a resultados que refletem apenas parcialmente a dimensão da inadimplência. A
baixa de valores incobráveis não ocorre necessariamente quando se esgotam os meios
administrativos e judiciais para a cobrança. Em primeiro lugar, devem ser respeitados os
procedimentos estabelecidos na legislação em vigor para a baixa destes valores (art. 9º
da Lei 9.430/96). Adicionalmente, cabe lembrar que , a empresa tem o poder discricionário
de baixar ou não os valores em busca de um planejamento fiscal mais eficiente. Assim, os
valores realizados como baixa pelas empresas podem não corresponder aos valores
efetivamente considerados incobráveis (provavelmente, os dados apresentados estarão
subestimados). Já em relação aos montantes devidos pelo Poder Público, estes
dificilmente são baixados das Contas Retificadoras de Provisão fazendo com que os
dados informados não retratem adequadamente a realidade das perdas. No caso das
Prefeituras, existem negociações relativas ao pagamento de contas de energia elétrica
que englobam vários anos e que, quando negociadas, normalmente com significativos
cortes de juros e correção monetária, sinalizam a recuperação em um único exercício,
distorcendo significativamente a perda efetiva anual.
É fundamental definir um critério que reflita adequadamente a parcela da receita
efetivamente não recebida pelas distribuidoras. Com o intuito de administrar de maneira
eficiente o “Contas a Receber Vencido”, as distribuidoras controlam, gerencialmente , a
5
data de recebimento de cada fatura. Desta maneira, é possível saber com precisão o
comportamento do fluxo de pagamentos das contas faturadas em um determinado mês.
De outra forma, a cada mês é possível saber o percentual de cada faturamento anterior
que ainda não foi pago. É de se esperar que, após alguns meses, este percentual se
estabilize em um nível que corresponde ao faturamento não pago que resistiu a todas as
ações e tentativas de cobrança gerenciáveis pela empresa distribuidora. Este tipo de
medida é conhecido como “Aging”, ou seja, o envelhecimento do faturamento.2 O Quadro
1 representa envelhecimento do faturamento com os dados consolidados de vinte
distribuidoras e demonstra claramente um padrão de recebimento ao longo do tempo.
Este padrão está presente em todas as empresas de distribuição de energia elétrica.
Quadro 1 – “Aging” (Envelhecimento do Faturamento) – Vinte Empresas Distribuidoras. Março de 2006.
1,23
%
1,18
%
1,00
%
1,15
%
1,10
%
1,17
%
1,32
%
1,34
%
1,30
%
2,03
%
2,19
%
2,15
%
2,19
%
2,43
%
2,95
% 4,07
%
5,82
%
14,3
7%
0,00%
2,00%
4,00%
6,00%
8,00%
10,00%
12,00%
14,00%
16,00%
SE
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OU
T
NO
V
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2004 2005 2006Mês Faturamento
Não
Rec
ebid
o a
té M
arço
de
2006
O Quadro 1 apresenta o índice de inadimplência da empresa em março/2006
relativo ao período de setembro/04 a fevereiro/06. Ou seja, do total faturado em setembro
de 2004, 1,23% ainda não tinha sido recebido em março de 2006, ou seja, 18 meses
depois. Do total faturado em outubro de 2004, 1,18% não tinham sido recebidos em
março de 2006 e, assim, sucessivamente. Nota-se que a curva de recebimento tende a se
2 Para o conceito de “Aging”, vide Horngren, C. e Harrison Jr., W. (1992), “ Accounting”, Segunda Edição, Prentice Hall.
6
estabilizar, em geral, a partir do 12º mês. Em algumas empresas a estabilização já se
nota após o 4º ou 5º mês. Deve ser ressaltado que o nível médio de inadimplência medido
desta forma é cinco vezes maior do que o proposto pela ANEEL (0,20%).
O critério em análise não está distorcido por questões fiscais, renegociação de
dívidas ou outros fatores, demonstrando que estes números são uma estimativa
adequada para cobrir as perdas na realização do “contas a receber”. Propõe-se que o
mesmo seja utilizado como parâmetro para definição da trajetória regulatória.
3 INADIMPLÊNCIA NAS EMPRESAS E NAS CLASSES DE CONSUMO
Deve ser ressaltado que, apesar do comportamento padrão das curvas de
envelhecimento (“Aging”), cada distribuidora situa-se em patamares com percentuais de
inadimplência diferentes. Este padrão pode ser visto no Quadro 2 para as taxas de
inadimplência de vinte empresas distribuidoras de energia elétrica em diferentes áreas de
concessão. Este comportamento diferenciado é devido tanto a fatores gerenciáveis pela
firma como por fatores não-gerenciáveis sendo, neste caso, características do ambiente
institucional relacionadas aos aspectos de ordem jurídica, econômica e social em que se
insere a área de concessão. Desse modo, estas características influenciam os custos
operacionais eficientes de cada empresa, os quais variam em função de diversos fatores
fora do controle da gestão da empresa. Um arcabouço institucional deficiente, ao elevar
os custos de transação, pode elevar os custos não gerenciáveis das empresas. Custos de
transação são aqueles representados pelo custo de proteger os direitos de propriedade e
o cumprimento dos contratos (enforcement). Estes custos de transação são gerados pelas
instituições políticas, econômicas e sociais. 3
3 Vide Douglas North (1990), “Institution, Institutional Change and Economic Performance”, Cambridge University Press.
7
Quadro 2 – Inadimplência desde Setembro 2004 (“Aging”). Média de Vinte Empresas Distribuidoras. Março de 2006.4
Empresa Inadimplência
A 4,66% B 2,37% C 2,27% D 2,10% E 1,80% F 1,68% G 1,61% H 1,49% I 1,34% J 1,26% K 1,21% L 1,14% M 1,05% N 0,97% O 0,94% P 0,94% Q 0,67% R 0,63% S 0,62% T 0,56%
Total 1,23%
Além disso, cada classe de consumo também apresenta padrões diferenciados de
comportamento da inadimplência. Todas as vinte distribuidoras de energia elétrica
apresentaram resultados para inadimplência diferenciados para cada classe de consumo.
Conforme mostrado no Quadro 3, a inadimplência média de vinte empresas para as
diversas classes de consumo varia consideravelmente, sendo bem mais elevada para a
distribuição para os consumidores públicos (serviços públicos, poder público e iluminação
pública) do que para os consumidores privados (residencial, comercial e industrial). Uma
mesma empresa e, portanto, uma gestão uniforme, não consegue obter os mesmos níveis
de inadimplência para as diversas classes de consumo. Fatores extra-gestão da empresa
distribuidora causam custos não-gerenciáveis diferentes para as diversas classes de
4 Foram consideradas todas as empresas nas quais existiam dados disponíveis para o cálculo da curva de envelhecimento (“Aging”).
8
consumo. Este conjunto de fatores também seria enfrentado por qualquer outra firma
potencial entrante no mercado.
Quadro 3 – Inadimplência desde Setembro 2004 (“Aging”) – Classe de Consumo. Média de Vinte Empresas Distribuidoras. Março de 2006.
Classe de Consumo Inadimplência
RESIDENCIAL 1,16% INDUSTRIAL 1,06% COMERCIAL 0,82% RURAL 2,85% PODER PÚBLICO 2,21% ILUMINAÇÃO PÚBLICA 6,82% SERVIÇO PÚBLICO 1,58% Total 1,23%
Os Quadros 4 e 5 mostram as curvas de envelhecimento do faturamento para as
classe de consumo residencial e iluminação pública, respectivamente. Estes quadros
exemplificam que as diferenças observadas na inadimplência entre estas classes de
consumo refletem, em grande parte, os efeitos do arcabouço institucional, notadamente o
jurídico, o qual dificulta ou mesmo impossibilita, por exemplo, o corte no fornecimento de
energia para os serviços considerados de utilidade pública.
9
Quadro 4 – “Aging” (Envelhecimento do Faturamento) – Classe de Consumo Residencial. Vinte Empresas Distribuidoras. Março de 2006.
1,16
%
1,05
%
1,02
%
1,19
%
1,19
%
1,27
%
1,44
%
1,48
%
1,09
% 2,36
%
2,55
%
2,34
%
2,38
%
2,83
%
3,38
%
4,26
%
7,69
%
23,5
4%
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
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2004 2005 2006Mês Faturamento
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2006
Quadro 5 – “Aging” (Envelhecimento do Faturamento) – Classe de Consumo Iluminação Pública. Vinte Empresa Distribuidora . Março de 2006.
6,82
%
6,53
%
7,23
%
7,23
%
5,83
%
5,67
%
6,71
%
5,83
%
5,43
%
6,28
%
5,82
%
6,77
%
7,10
%
8,00
%
9,11
%
13,8
2% 16,3
3%
25,3
0%
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
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2006
Em havendo, de fato, fatores setoriais específicos na determinação do grau de
inadimplência, ao se definir um coeficiente de perdas único para as empresas do mercado
como um todo, visando o ressarcimento, certas empresas estarão submetidas a perdas
10
permanentes ao longo do tempo. Ou seja, com o percentual de 0,2% como provisão de
inadimplência regulatória não há mecanismo de compensação intertemporal automático
entre as empresas.
4 CAUSAS DA INADIMPLÊNCIA
As perdas comerciais consideradas não recuperáveis geradas pela inadimplência
estão relacionadas a dois grupos de fatores. O primeiro se refere à qualidade da gestão
da empresa e à sua capacidade de recuperar contas a receber. O segundo grupo diz
respeito a um conjunto de fatores de ordem institucional, jurídica, econômica e social os
quais estão fora do controle gerencial da empresa. Tais fatores contribuem para agravar
os riscos de perdas comerciais para as concessionárias de distribuição de energia
elétrica. É importante chamar a atenção para o fato que a reposição de perdas não irá se
justificar quando estas forem causadas por fatores no primeiro grupo, mas que o contrário
não ocorre integralmente.
A regra de reposição de perdas por inadimplência proposta pela Nota Técnica
nº166/2006, entretanto, além de não considerar as características regionais que são
determinantes para explicar o comportamento destas perdas, não parece solidamente
sustentada em princípios econômicos. Nesse sentido, a metodologia da empresa de
referência atualmente proposta pela ANEEL, deixa de considerar fatores que estão fora
do controle de gestão das distribuidoras de energia, mas que influenciam os níveis de
inadimplência, de forma diferenciada, nas diversas áreas de atuação das distribuidoras
em todo o Brasil, assim como nas diversas classes de consumo.
Mesmo conhecendo e sendo capaz de avaliar os diferenciais de risco que a
empresa defronta na área de concessão em que atua e nas diversas classes de consumo,
as distribuidoras estão impossibilitadas pelas próprias regras regulatórias de praticar
tarifas diferenciadas ou mesmo recusar o fornecimento para consumidores com alta
probabilidade de inadimplir (altos riscos). Por isso, uma análise de risco adequada e sua
11
implementação, os quais melhorariam a gestão da inadimplência, fica impossibilitada no
caso da distribuição de energia elétrica.5
Além disso, em diversas situações verifica-se ser impossível à concessionária
utilizar, de forma sistemática, o instrumento natural de coerção e, em última instância, de
estancamento das perdas, representado pelo corte do fornecimento de energia. Nos
casos em que esta linha de ação não é possível, fica caracterizada a inadimplência
originada por fatores externos à atuação da concessionária, isto é, decorrentes da
incapacidade do setor público de cumprir responsabilidades, tais como a manutenção da
segurança pública. Ademais, o corte de energia elétrica envolve custos econômicos
relevantes, ou mesmo proibitivos, para as distribuidoras. Cabe destacar ainda que, o corte
de fornecimento de energia elétrica, por si só, não permite a recuperação de passivos,
além de causar a perda do cliente. Por estas razões, a operacionalização do corte no
caso de fornecimento de energia elétrica exige uma análise econômica cuidadosa.
Por estes motivos, apenas parte da inadimplência deve ser tratada como um risco
intrínseco à atividade de distribuição de energia elétrica (risco de mercado). Outros
fatores de natureza jurídico-institucional e econômico-social também influenciam de forma
importante o comportamento da inadimplência sendo, portanto, de grande relevância para
a discussão das regras de reajustes tarifários das distribuidoras de energia elétrica em
todos os estados da federação. Muitos fatores não-gerenciáveis que afetam a
inadimplência, especialmente de ordem econômico-social e jurídica, parecem ter impactos
significativos também sobre as perdas não-técnicas (furto/gato). Cabe salientar que a
ANELL (Vide Nota Técnica nº026/2006-SDR/SDC/SER/ANEEL, de 23/05/2006, § 67-70)
reconhece a importância destes fatores institucionais, além da impossibilidade de gestão
em determinadas áreas de concessão e de adoção de políticas eficazes de repressão por
parte das empresas distribuidoras.
5 Nos mercados de crédito, as análises de risco permitem incorporar nos preços cobrados (taxa de juros) os riscos inerentes a cada cliente (tomador de crédito). Em casos de risco elevado, ou falta de informação adequada sobre o cliente, o crédito é negado (credit rationing). Vide Stiglitz J e A. Weiss (1981), “Credit Rationing in Markets With Imperfect Information”, American Economic Review, 71, (3).
12
5 DIRETRIZES METODOLÓGICAS PARA O NOVO CICLO DE REVISÃO TARIFÁRIA
Dados os argumentos apresentados nas seções anteriores, cabe apresentar uma
proposição de diretrizes metodológicas capazes de determinar o nível eficiente de
inadimplência para os consumidores de energia elétrica com desagregação para as
distribuidoras de energia elétrica e para as diversas classes de consumo. Estas diretrizes
metodológicas devem propor, primeiramente, um modelo empírico para determinar as
causas da inadimplência.
O modelo empírico poderá contemplar duas alternativas. A primeira alternativa se
refere a uma análise econométrica de séries de tempo. Nessa linha de análise, se supõe
que o nível de inadimplência inerente aos fatores de mercado estaria diretamente
relacionado ao comportamento de algumas séries históricas que medem o desempenho
econômico das unidades consumidoras (famílias, empresas privadas e governos). Tendo
sua capacidade de pagamento afetada, tais unidades teriam aumentados seus riscos de
inadimplir. Dentre as variáveis mais fortemente correlacionadas com a taxa de
inadimplência, deverão estar o nível de renda dos consumidores, o emprego, o
crescimento econômico, a política tarifária e fatores institucionais que podem interferir no
desempenho econômico. A ocorrência de dificuldades sistêmicas não será considerada
para efeito de aplicação da metodologia, como, por exemplo, as associadas aos
problemas com a oferta de energia.
Por outro lado, os fatores que podem ser apontados como responsáveis pelos
outros focos de inadimplência e passíveis de reposição de perdas são de natureza muito
diversa. Na verdade, sob a classificação de jurídicos-institucionais e socioeconômicos
estão relacionados diversos instrumentos à disposição do devedor para se furtar ao
pagamento. Esta difusão precisa ser acompanhada de uma estrutura teórica que
incorpore tais fatores e que possa orientar a técnica de cálculo e estimação, ou por
evidências empíricas encontradas em estudos de caso.
13
A rigor apenas os créditos junto aos clientes devedores permanentes por
insuficiência de coerção e aqueles que integram o “passivo social” por insuficiência de
recursos seriam admitidos provisão de inadimplência regulatória. A taxa de inadimplência
observável, em termos correntes, é a que engloba a totalidade dos devedores. Em
síntese, a metodologia proposta a seguir destina-se a identificar a participação que cada
grupo de devedores tem na estatística global de inadimplência, conforme mostrado no
Quadro 6.
Quadro 6 – Diagrama do Comportamento da Inadimplência.
Clientes
Bons Pagadores Devedores
Transitórios Permanentes
Insuficiência de Recursos
Insuficiência deCapacidade
Coerciva
ContumáciaPassivo Social(devedores deBaixa renda)
Clientes
Bons Pagadores Devedores
Transitórios Permanentes
Insuficiência de Recursos
Insuficiência deCapacidade
Coerciva
ContumáciaPassivo Social(devedores deBaixa renda)
O primeiro passo metodológico é o da proposição de um critério de classificação
dos devedores em transitórios e permanentes. Para tanto, serão utilizadas as curvas de
envelhecimento “Aging”, buscando-se estabelecer até que instante do tempo as séries
apresentam um comportamento estacionário. Com isto serão obtidas séries que, por
hipótese, refletem apenas a condição dos devedores permanentes. O segundo passo
consiste na modelagem econométrica da série estacionária, com base nas variáveis
econômicas, cujas raízes deverão ser previamente extraídas. Em linhas gerais o modelo
seria:
tjj
PERMANENTE sociaistarifasregiãonaisinstitucioPIBempregorendafI ε).,,,,,,(=
14
Onde j é o sobrescrito que representa a classe de consumidor e ε o erro aleatório
com uma distribuição de probabilidades suposta lognormal.
Apenas a parcela de inadimplentes por insuficiência de recursos poderia ser
captado pela equação acima. Em conseqüência, os que permanecem na condição de
devedores por insuficiência de instrumentos de coerção seriam obtidos por resíduo. Cabe
ainda destacar que, uma parcela dos inadimplentes por falta de recursos também deve
ser considerada para fins de provisão de inadimplência regulatória. Esta parcela é
constituída por aqueles que, por problemas sociais, não têm condições de honrar os
compromissos. Tais consumidores, face à proteção que recebem do poder público,
acabam ficando fora do alcance das empresas concessionárias que, na prática, não têm
como efetuar a cobrança. A contribuição deste grupo para a inadimplência agregada será
avaliada através dos coeficientes de variáveis sociais na equação especificada.
É importante observar que a equação proposta pode ser estimada para cada uma
das empresas concessionárias. Além disso, em sua forma funcional a equação deverá
incluir um efeito fixo (constante) estimado, portanto, para cada uma das empresas e para
as diferentes classes de consumo. Este termo, por representar um efeito líquido com
relação às variáveis explicativas e também da ação da componente estocástica, pode ser
interpretado com a parcela da inadimplência derivada da ineficácia de gestão das
empresas. Por definição, esta parcela não deverá ser considerada para fins de reposição
das perdas.
Os dados necessários à implementação da alternativa metodológica acima
descrita, por tratar-se de uma abordagem agregada, estão disponíveis nas pesquisas
regulares do IBGE. Além disso, séries de tempo mais longas (70 meses) para a
inadimplência seriam necessárias, permitindo que sejam colocadas em prática as técnicas
sugeridas.
A segunda alternativa metodológica se daria através de uma análise de Painel.
Nesse caso as séries utilizadas na construção das curvas “Aging” teriam que ser
dispostas em perspectiva temporal que acompanhasse a evolução da inadimplência para
15
uma determinada defasagem de tempo. Para cada uma das defasagens haveria um
conjunto de variáveis características (renda, emprego, tarifa, institucional etc.) que
funcionariam como a dimensão cross-section do painel. Desta estrutura também seria
possível, com outras técnicas de estimação, extrair os parâmetros definidos na equação
da primeira alternativa metodologica. As interpretações seriam análogas, determinando-se
uma componente não explicada, uma social e outra atribuída à eficiência da gestão. A
grande vantagem deste método é permitir de forma mais robusta avaliar as alterações dos
parâmetros de interesse. A base de dados seria praticamente a mesma definida
anteriormente.
As diretrizes metodológicas deverão permitir também a desagregação da
mensuração e da análise da inadimplência para as classes de consumo de energia
elétrica. Além disso, deverão ser consideradas as particularidades de cada
concessionária ou de grupos de concessionárias (clusters) quanto à possibilidade de se
estabelecer benchmarking diferenciados.
6 PROPOSTA PARA O PERÍODO DE TRANSIÇÃO
Com as considerações feitas anteriormente, fica evidente o fato de que o
comportamento da inadimplência pode variar bastante, tanto entre empresas quanto por
classes de consumo. Também se constatou que, por falta de um mecanismo de
compensação, entre empresas, existem fortes razões para que sejam examinadas
propostas de adoção de um percentual de reposição tarifária diferenciado. Para tanto,
foram apresentadas duas metodologias de cálculo. Entretanto, através da observação
direta dos dados, percebe-se que os atuais 0,20%, como provisão de inadimplência
regulatória, estão bem abaixo do que seria necessário para que tais reposições sejam
feitas na íntegra.
Como ponto de partida para uma transição, até que uma das metodologias seja
posta em prática, é possível considerar um valor de referência para o percentual de
reposição, determinado pelas proposições a seguir:
16
§ Para o período de transição sugere-se calcular a provisão de inadimplência
regulatória com base nos valores históricos verificados até o sexto mês
anterior ao mês de revisão da concessionária.
§ Para a mensuração da inadimplência, sugere-se que seja adotado o índice
de inadimplência de cada empresa referente ao período de dezoito meses
(N-18), conforme o critério do envelhecimento do faturamento (“Aging”)
apresentado na Seção 2. Estes valores históricos deverão ser levantados
para o sexto, sétimo e oitavo mês anteriores ao mês de revisão,
consideradas as sete classes de consumo (residencial, comercial, industrial,
rural, poder público, iluminação pública e serviços públicos).
§ Como critério de provisão de inadimplência regulatória deverá sugere-se que
seja adotado, para cada empresa e para cada classe de consumo, o valor
médio dos últimos seis meses (N-13 a N-18) encontrado nas curvas de
envelhecimento no horizonte de dezoito meses referentes aos três meses
(sexto, sétimo e oitavo mês) anteriores ao período de revisão.
Como a inadimplência medida pela curva de envelhecimento representa o
faturamento não pago que resistiu a todas as ações e tentativas de cobrança gerenciáveis
pela empresa distribuidora, se espera que a empresa concessionária já esteja operando
na sua fronteira de eficiência. Este critério prevaleceria até que as análises econométricas
possam determinar a importância relativa dos fatores gerenciáveis e não-gerenciáveis por
empresa concessionária e para cada classe de consumo.
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7 ANEXO 1 – TEXTO/ANEEL
Nota Técnica nº166/2006 – SER/ANELL, de 19/05/2006 – Processo nº48500.001208/2006-37. Fl 21, § 71 e 72. 71. Com relação à inadimplência dos clientes (perdas de receita irrecuperáveis) adotou-se um “trajetória regulatória” de acordo com o conceito de custo operacional eficiente da Empresa de Referência. Esse é visto sob a forma de um percentual do faturamento bruto (sem ICMS) verificado no ano anterior ao da revisão tarifária periódica, cujo valor final é de 0,2%. Foi estabelecida a seguinte trajetória regulatória decrescente: i) ano da 1ª revisão tarifária periódica = 0,5%; ii) primeiro ano posterior à revisão = 0,4%; iii) segundo ano posterior à revisão = 0,3%; iv) terceiro ano posterior à revisão = 0,2%; v) a partir do quarto ano posterior à revisão tarifária periódica, considera-se um inadimplência “regulatória” permanente de 0,2%. 72. Dessa forma, será mantido, para o segundo ciclo de revisões tarifárias, o percentual de 0,2% como provisão de inadimplência regulatória calculada sobre o faturamento bruto (sem ICMS). Portanto, será mantido o percentual de inadimplência coerente com a trajetória decrescente estabelecida no primeiro ciclo, com o objetivo de evitar que consumidores me situação regular paguem pelos consumidores inadimplentes – o que constituiria uma clara injustiça. Nesse sentido, entende-se que a concessionária deve se esforçar e realizar a melhor gestão possível de seus clientes e que , fundamentalmente, clientes em situação regular não devem pagar pelos clientes em situação irregular. Entre concessionária e cliente, apenas a primeira está em condições de influir na determinação da inadimplência.