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Benedito Rodrigues
OS "ESPANHOLISMOS" EM CAETANO VELOSO
Monografia apresentada ao Curso de P6sGradua<;ao lingua Espanl10la e $uas Lileraturas daFaculdade de Ciencias e Lelras e Artes daUniversidade Tuiuti do Parana, como requisito parcialpara a obten<;8.o do titulo de Especialista.
Orientadora: ProP Mestre Maria Lucia Vieira.
Curitiba - PR2003
SUMARIO
1 RESUMO.
2 INTRODUC;:,iiO .
2.1 BIOGRAFIA DE CAETANO VELOSO .
2.2 TROPICALISMO .
2.30 MUL TIPLO CAETANO VELOSO .
.... 05
. 06
... 11
. 16
. 28
30 ESPANHOLISMO NAS MUSICAS DE CAETANO VELOSO 30
4 CONSIDERAC;:OES FINAlS
REFERENCIAS ....
... 37
. ... 41
RESUMO
o objetivo deste trabalho e discutir 0 usa de estrangeirismo espanhol, dentro damusica popular brasileira, quanta ao seu contexto social, visando assim, a influenciaque a musica exerce junto a sociedade, no que S8 ref ere ao seu modo de agir epensar coletivamenle.o porqu€ de usaf palavras estrangeiras na MPB S8 tais palavras exislem em nossovDcabulario.Todavia, as falares que explicam esse usa desnecessario podem ser: protesto, usada midia, tentativa de aproxima~ao da cultura estrangeira, e oulros. Quanta ao usado estrangeirismo espanhol, esle trabalho prioriza a obra de Caetano Veloso, alvodo lema aqui discutido.Com 0 intuito de disculir urn dos pontcs des sa polemica, loram escolhidas asmusicas Soy Loco Par Ti America e 0 Samba e 0 Tango, de forma direla eindiretamente oulras musicas, visando fazer a exposiyao dos dados, usando aspalavras de origem espanhola, como elas sao, em sua grafia original, para que apresenya do espanholismo seja observada nitidamente denlro da musica popularbrasileira.
Palavras-chave: MPB; Caetano Veloso; espanholismos
INTRODU<;:Ao
A Musica e uma atividade basica, social e cultural da especie humana e ja
existia sob alguma forma, nos primeiros tempos do homem.
o ser humane usou a voz para S8 expressar at raves da musica muito antes de
pensar em instrumentos.
Durante milhares de anos, na hist6ria dos primordios da humanidade, a musica
existiu apenas como simples e naturals sons vocais. Posteriormente, 0 homem
come90u a tazer musica com uma grande variedade de instrumentos.
Para S8 tsr uma ideia do poder da musica, mesma nos antepassados alguns
fat as ocorridos que tiveram a musica como fator predominante, como e 0 cas a
contado na Bfblia, em que afirma que Davi, com as maravilhosas melodias de sua
harpa, conseguiu afugentar as maus espfritos que atormentavam 0 rei Saul. (Biblia,
p. 300 - 301)
A antigOidade esta repleta desses exemplos da importancia da musica, como no
caso do Egito ha 4000 a.C., cujo sacerdotes adotavam a musica como uma forma
especial de sugestao psiquica.
Quanto ao poder que a musica exerce sobre as pessoas, Platao (2003) definiu
muito bem, na sua obra A republica, em que ele expressa a crenga de que epossivel se formar um povo atraves da musica.
Portanto, padernos ter em mente que a musica pode influenciar todo urn povo,
pais ela possui um poder discreto, quase imperceptlvel, porem muito eficaz na
forma980 de ideologias.
Tomando por base os fatos historicos, este trabalho procura descobrir mais
sobre a hist6ria da musica no nosso contexte social, ou seja, a historia da musica no
Brasil, que de acordo com documentos hist6ricos, evidencia·se urn descaso pelo
ensino e cultura musicais, nos primeiros seculos de vida do pais. Nos primeiros
anos, ela surge apenas com carater religioso, ou seja, a popula9.3.0 era composta
apenas de indios sem urn idioma aceito, que falavam tupi-guarani, dentre outros.
Contudo essas pequenas expressoes de musicas eram feitas pelos jesuitas, em
latim, ja mostrando assim 0 estrangeirismo presente.
A vinda da Corte para 0 Brasil, atraiu inumeros musicos da Europa e, a partir
daf, iniciou-se uma epoca de esplendor, pOis da Europa vieram as primeiras
informa90es sobre 0 ens ina formal da muska. Porem, logo apos a "independencia",
inicia,s6 a presen9a da grande influencia sobre 0 ens ina-musical dos EUA junto ao
Brasil.
Nao S6 pretende fazer urn histarlco sabre a musica no Brasil; dessa maneira,
da-se um salto no tempo e investiga-se a histaria da MPB, como requisito basico
para se estudar e compreender 0 Tropicalismo.
A !listaria desta nao estaria completa sem a citayao de alguns livros como: Noites
Tropicais, de Nelson Motta, um dos grandes nomes do meio artfslico brasileiro, que
resgata de forma clara e objet iva a trajetaria da nossa musica brasileira e cila os
grandes personagens que fizeram e fazem parte da histaria recente da musica do
Brasil. Esta repleto de episodios e de momentos de fama, gloria e dor dos mais
famosos e conhecidos artistas que enriqueceram a cultura musical brasileira. 0 livro
nos remete a oulros autores que de forma nao menos feliz, abordam a musicalidade
brasileira, que sao eles: Chega de Saudade de Ruy Castro e Verdade Tropical, de
Caetano Veloso. Noites Tropicais e os dois livros citados, sao indispensaveis para
quem se interessa e pretende saber um pouco mais, sobre a expressividade da Musica
Popular Brasileira.
o livro de Ruy Castro e um traball10 jornalfstico com pesquisas e entrevistas de
qualidade, que abordam de maneira clara, fatos e episodios do momento da musica no
Brasil, tais como: 0 momento Bossa Nova, 0 Tropicalismo e os festivais, mas e uma
pesquisa voltada para a questao jornalistica. Nesse livro, Castro faz urn trabalho quase
academico, com 0 devido e indispensavel confronto e checagem de dados de diversas
fontes. Par ser um trabalho de pesquisa, 0 autor faz uma abardagem vista sempre do
lado de fora, em nenhum momento ele faz parte do contexto. Por tais razoes nao foi
dado um enfoque maior a obra.
Ja no livro de Caetano Veloso, 0 autor narra a hist6ria participando ativamente dos
acontecimentos, al8m das informayoes hist6ricas, deixa suas opinioes de compositor,
artista e cantor, tendo "ele" especial destaque.
o livre de Nelson Motta faz 0 meio lermo, ficando entre urn e outr~, com entrevistas
e observayoes pessoais de quem viveu a histOria. Nao chega a ser um trabalho
jornalfstico puramente dito. Esla mais vollado para mem6rias de aconlecimentos, on de
o aut or precura evitar deixar clara sua participay8.o em todos os fatos ocorridos ou eslar
presente em todas as narrativas. 0 livre segue urn curso normal, fazendo referencia a
algumas musicas como: "Atras Da Porta~, cantada por Elis Regina.
10
No livra tern urn momento em que Motta, relata que Ells Regina extravasando seus
sentimentos, misturando as dares do rompimento amoroso com as esperanc;:as de uma
nova paixao, cantou, somen!e a primeira parte da letra da musica, 0 que havia de "Atras
da Porta", com extraordinaria emogao, com a voz !remendo e intensa musicalidade. No
estudio, quando ela terminou, estavarn lodos mudos. Elis chorava abrac;:ada par Cesar.
Juntos, e nesse instante, Cesar e Menescal fcram levar a fila para 0 Chico, que ouviu,
chorou, e terminou a letra ali mesma, naquele exato momento.
Motta conla ainda, que na musica Passeata, passeata dos cern mil, ele e Chico
eram do mesma grupo, com Jarcts Macah3, Edu Lobo, Ze Rodrix, Mauricio Maestro e
QUIros, e 0 ponto de encontro deles era na escadaria da Biblioteca Nacional, na
Ginelfmdia. Gonta ainda, que chegando quase juntos, olhando para os lados,
disfarc;:ando, dando bandeira. Como ainda faltava bastante tempo para a hora marcada
para a passeata, decidiu-se par unanimidade, ir ao Bar Luiz, na Rua da Carioca, tomar
um chope para aliviar a tensao. Voltaram a tempo ao ponto, mas mais tensos ainda: ele
escreve que nao tinha medo de apanhar da policia, de levar um tiro, de ser preso, e nao
ousava imaginar que iriam viver um dia de gloria.
Desta maneira, 0 livre segue seu curso, fazendo referencias a varios outros
interpretes e compositores da musica popular brasileira como: Nara Leao, Roberto
Carlos, Maria Bethania, Gal Costa, Familia Caymmi, Chico Buarque, Gilberta Gil,
Caetano Veloso, e muitos outros nomes que tiveram seu momenta de gloria, sendo ela
Bossa au Nova, au qualquer outra manifestac;:ao musical que de forma direta ou indireta
resgatava a musica brasileira no seu contexto social.
"
Noites Tropicais e a historia do autor e de tantos Quiros personagens da MPS: Elis
Regina, Edu Lobo, Lulu Santos, Lobao, Raul Seixas, Novas Baianos, Tim Maia,
Cazuza, Joao Gilberta, Elba Ramalho, Marisa Monte, etc.
De certa forma, 0 livre e urn documento bastante revelador de urn momento em que
a censura destrufa tudo 0 que ao entender da "lei" gritava contra a ordem social e tinha
uma forma de induzir 0 pavo as revolug6es au ate mesma a terem ideias proprias, 0
que seria uma tragedia para seus interesses econ6micos e politicos. IdBias estas que
iam de encontro as perspectivas dominadoras do perfodo da Ditadura Militar no Brasil.
o autor S8 revela, em determinados momentos do livra, como 0 grande agitador
cultural, suas atua96es como produtor musical, crltico, jornalista (nem sempre de
sucesso). Uma das qualidades de Nelson Motta, defendida por muitos outros autores,
compositores e jornalistas, e sua qualidade de letrista, tendo ele assinado muitas
musicas que marcaram epoca no mundo da MPB, obras como: Saveiros, 0 Cantador,
Como uma onda e Coisas do Brasil entre outras, sempre produzidas com parceiros
diversos, sendo suas can96es, um referencial riquIssimo no contexto musical brasileiro.
Todo esse registro ret rata uma pagina muito importante da musica popular brasileira
e, e justamente denlro desse contexte que acontece a musicalidade de Caetano que
res salta e juslifica 0 que representa 0 Movimento Tropicalista para a musica nacional.
12
2.1. BIOGRAFIA DE CAETANO VELOSO
Tropicalia, Vaca Profana, Tigresa, 0 Quereres. Alguns dos varios sucessos desse
multiplo artista que e uma das maiores personagens desse pais, que quando crian~a
queria fazer cinema, mal sabia que iria S8 tornar urn dos maio res names da MPB.
Caetano leve uma infancia tranqOila e a primeira vez que deixou sua cidade foi para
cursar 0 colegial em Salvador, capital do estado, terminou seu curso e entrou para a
Faculdade de Filosofia.
Nascido em agosto de 1942 na cidade de Santo Amaro da Purificayao (cidade perto
de Salvador), Caetano Emanuel Viana Telles Veloso e irmao de uma das maiores
interpretes da MPB Maria Bethania e filho da simpatica dona Cane e de seu Zezinho
Veloso. Desde crian9a em sua cidade natal, ja comeyava a ensaiar 0 futuro, fazendo
seus primeiro acordes no piano de sua casa.
Antes da musica, a pintura foi 0 universo do artista, inclusive chegou a expor suas
obras na sua cidade Santo Amaro. Desde menino, tinha uma inclinaryao para as artes
e seus versos ja continham uma certa maturidade. Mesmo crianrya, ja compunha versos
com as marcas que 0 consagrariam mais tarde: "8alao, estrela que a gente faz de papel
para que clareie toda a escuridao do ceu"
Caetano parte tambem com suas observaryoes pelas criticas de cinema e as
cr6nicas literarias e peryas teatrais que faria com seu grupo no infcio dos anos 60.
Mudou.-se com Bethania para Salvador ainda multo jovem, aos 18 anas de idade
para cursar 0 classica, onde anos mais tarde teve a oportunidade de conhecer Gilberta
Gil, Tom Ze e Gal Costa. A princfpio, nao gostou da ideia de deixar a sua terra natal
Oi/iiu\\\--- -para morar na cidade grande. Em Salvador, costumava sair com Bethania para os
principais pontos culturais da cidade. A pedido do seu pai, Caetano acompanhava
Bethania nos seus shows, fato que a influenciou muito a enlrar no cenario musical.
Logo depois ja estava toeando com Bethania nos bares da noile de Salvador.
Comec;:ou fazendo musicas para a cinema, principal mente para cineastas novas,
como: Walter lima Jr. No filme BrasH Ano 2000, Copacabana Me Engana, de Antonio
Fontoura e Os Herdeiros de Caca Diegues.
De 1965 a 1967, a universo musical do artista toma uma nova tendencia mais
romantiea, com canc;:oes sensfveis e de versos mais no eslilo Bossa Nova, mas
deixando aparente sua ousadia e inventividade.
Bethania ja conhecida nacionalmenle, e chamada para substituir a cantara Nara
Leao no espetaculo Opiniao, sucesso no Rio de Janeiro em 1964. Caetano muda-se
para a Rio em 1965, acompanhando a irma neste show.
Em janeiro desse mesmo ano, vai para 0 Rio e la com poe a musica COra98.0
Vagabundo que logo vira sucesso nas radios de born goslo. Com urn estilo romantico a
musiea foi gravada em dueto com Gal Costa.
No terceiro festival da Record, 1967, apresenta-se com a musica Alegria, Alegria,
com arranjos de guitarras eh~lrieas de urn grupo argentino chamado Beat Boys, que a
pessoas e critieos mais conservadores abominavam. A musica ficou apenas com 0
quarto lugar do festival e mesmo nao tendo sido bern aceila, inclusive vaiada durante a
apresentac;:ao, passou a ser 0 hino de uma gerac;:ao que estava prestes a viver a
Woodstock, eo Movimento Tropicalista.
o Brasil vivia urn tempo de muita repressao sob as ordens dos ditadores. A Jiberdade
agora era vigiada e ale mesmo proibida e condenada e os artistas tentavam de todas
14
as maneiras romper as barreiras da censura. Caetano revoltado com as rumos que 0
pais estava tamando, escreveu letras que traduzem esse periodo: Alegria, Alegria, foi 0
hino dos jovens que safram as ruas para protestar. Em cantata com varias names
influentes do pais, Caetano e Gillan9am 0 movimento Tropicalista.
A partir desse momento, a musica invade a vida do compositor e cantor, que
participou de Quiros festivais, 0 que era bastante comum naquela epoca.
Mesma depois de dez anas, a musica Alegria, Alegria foi usada como lema de
abertura de uma novel a de televisao.
Seu primeiro album com 0 titulo Caetano Ve/aso leve urn grande sucesso fora do
Brasil em 1968 e, com isso recebeu varios premios internacionais.
Ainda em 1968, lan9a seu primeiro LP individual. Na capa trazia um Caetano
aparentemente comportado, de cabelos curtos, paleta e cam isa de gola role,
aparentemente, porque ja na contracapa toda avidez de sua lingua se fazia presente.
No III Festival Internacional da Canyao, em 1968, a musica E Proibido Proibir leva
uma estrondosa vaia e e desclassificada, provocando reayao indignada do cantor e
compositor.
A parceria com Gil, nao foram apenas nas musicas. As declarayoes do grupo
tropicalista se chocavam com 0 governo militar e, no final de 1968 Gil e Caetano foram
mandados para exilio na Inglaterra.
De Londres, Caetano enviou artigos para 0 tabl6ide 0 Pasquim e cany6es novas
para interpretes como Gal Costa (que recebeu London, London), Maria Bethania (A tua
presen,a), Elis Regina (Nilo tenha medal. Erasmo Carlos (De noite na cama) e Roberto
Carlos (Como dais e dais). Volta ao Brasil em 1972 e faz show em varias cidades e, nos
anos seguinles, come<;a a aluar lambem como produlor
Em 1972, divide com Chico Buarque urn show no Teatro Castro Alves, em Salvador,
com participalfao do MPB-4. 0 espetaculo, gravado para se transformar em urn dos
maiores trabalhos da muslca brasileira no disco de grande sucesso Caetano e Chico
juntos e ao vivo, serviu para afaslar as rumores de brigas entre as dois artistas.
Em 1976 Caetano, Gal, Gil e Bethania se juntam novamente e formam 0 grupo
Doces Barbaros, que grava urn LP e sal em turne.
Sua atividade musical nao parou mais, gerando novos discos, muitos deles com a
colaborayao de amigos tambem artistas como: Chico Buarque, Gal Costa e Maria
Bethania.
Em 1977 IanyOU Bicho, urn disco com certas influencias da cultura nigeriana e
publicou tambem, uma coleyao de poemas com 0 tftulo Alegria.
Nos anos 80 continua gravando e produzindo discos, como Outras Palavras, Cores,
Nomes, Uns e Velo, e em 86 comanda ao lado de Chico Buarque 0 program a de
televisao Chico & Caetano, onde cantam e trazem convidados.
Uma recompilacao foi publicada em 1987, um disco que continha seus melhores
trabalhos.
Publicou em 1989 Estrangeiro, urn disco com rnusica brasileira e urna ret om ada da
Bossa Nova.
Inicia os anos 90 com 0 sucesso do disco Circulado cuja faixa-titulo e baseada num
poema de Haraldo de Campos, colaborador de longa data. Logo em seguida, Tropicalia
2 relaz a parceria Caetano-Gil. 1994 Caetano grava urn cd todo em espanhol Fina
Estampa, com classicos de varios paises de lingua espanhola e em 1995 grava 0 Fina
Estampa ao Vivo, agora tambem, com canc6es em portugues. Em 1997 sai a primeiro
10
livro de Caetano, Verdade Tropical, urn relato pessoal sabre sua visao de mundo. Seu
disco Livro, de 1998, ganhou a premio Grammy em 2000, na calegoria World Music.
Urn dos maiores momentos da carreira de Caetano, foi em 1999 com 0 CD ao vivo
Prenda Minha. 0 CD chegou a grande marca de rnais de 1 milhao de copias vendidas,
embalado pelo suceSSD Sozinho, musica do grande compositor Peninha. No mesma
ano, Caetano grava 0 CD Omaggio a Federico e Giulieta.
Os anos 2000, 2001, 2002 e 2003, tambem foram muito mareantes na vida de
Caetano. Gravou os discos: Noifes do Norte - 2000, Noires Do Norte ao vivo - 2001,
Todo Errado - 2002, esle ultimo em parceria com 0 escritor, rnusico e cantor Jorge
Mautner. urn cd cheio de misturas de rilmos e lelras com versos muito rices. Em 2003,
Caetano faz sucesso com a musica Voce nao me ensinou a fe esquecer, musica tema
do filme UsbeJa e 0 Prisioneiro.
o jovem baiano que que ria tazer cinema, hoje e um mestre, uma excelencia naquilo
que faz. Modernizou a forma de se fazer musica, tornando-se urn dos artistas mais
respeitados e referenciados do Brasil e do Mundo. Caetano e influencia musical em
quase todos as artislas da MPB, sendo comparado a mestres como: Noel Rosa, Tom
Jobim, Pixinguinha e oulros. Sua obra estara para sempre viva no cenario cultural
brasileiro.
GoslO de sentir a minfJa lingua rQ(;ar a lingua de LUIs de Cam6esiGosto de ser e de eslarlEquero me dedicar a criar confus6es de prosodia e uma profusao de parodiasllOue encurtemdores e furtem cores como camale6es ...Ungua. Caetano Veloso.
,-
2.2. TROPICALISMO
o Tropicalismo 10i urn movimento cultural que teve inicio no tim dos anos 60, usanda
de criatividade, deboche, irreverencia e improvis8yao, deu urn novo e revolucionario
aspecto a musica popular brasileira. sendo que no momento as regras musicais no
Brasil eram ditadas pelo movimento chamado Bossa Nova.
o Tropicalismo loi liderado pelos musicos Caetano Veloso e Gilberta Gil, continha
as mesmas formas e trag8va urn contraponto com 0 ideias do Manifesto Antropofagico,
de Oswald de Andrade, que facilitava e tentava reciclar todos as elementos
estrangeiros que entravam e entram no pais, fazendo uma meseta com a rnusica
brasileira e criando urn produto artisticD. E urn momento bastante voltada para 0
movimento modernista, que teve seu acontecimento maior na Semana da Arte
Moderna, 0 momento mais importante da arte no Brasil, que aconteceu nos dias 13, 15
e 17 de fevereiro de 1922.
Caetano Veloso ja definiu 0 tropicalisrno como urn neo-antropofagisrno.
Antropofagismo e mais um cicio dentro do segundo momenta modernista iniciado em
1928 par urn grupo de intelectuais paulistas capitaneadas por Oswald de Andrade. 0
movimento visava captar debaixo de um Brasil de fisionomia externa "uma outra nac;ao"
de enlaces profundos, ainda incognita. Esta, subcarrente do rnodernismo, deveria
descer as fontes genulnas, ainda puras, para captar germes de renovac;ao e deveria
ainda retomar este Brasil subjacente, de alma embrionaria, congregados de assombros
e procurar alcanc;ar uma slnlese cultural propria, com maior densidade de consciencia
nacional, bern captado pelo artist a plastico Helio Oiticica que realizou em abril de 1967
IS
no Museu de Arte Modema do Rio de Janeiro uma exposi9ao que foi uma das fonles
inspiradaras para 0 movimento.
o Tropicalismo leve sua base voltada para a contracultura, que usava valores
diferentes dos padroes pre~estabelecidos pela cullura dominante. Valores que eram
dlvergentes e que poderiam ser as referencias ultrapassadas, fora de moda e ou ate
mesmo subdesenvolvidas, utilizadas pelo movimento que foi lanyado com a
apresentayao das musicas Alegria, Alegria, de Caetano e Domingo no Parque, de
Gilberta Gil, no Feslival de MPS da TV Record em 1967. As musicas foram
acompanhadas par guitarras eletricas, e causa ram polemica em uma classe media
universitaria nacionalista, contraria as influencias estrangeiras nas artes brasileiras.
No disco Tropicalia, em trechos da musica com 0 mesmo titulo (fazendo alusao ao
movimento, composla par Caetano Veloso), fica evidente uma apresenlayao do estllo e
da eSletica nao muito bem aceitos, nos versos: Eu organizo 0 mavimento. Eu orienta a
carnaval. Eu inauguro 0 monumenta no Plana/to Central do Pais. Viva a bossa -sa-
sa ... 0 mavimento e de papel crepam e praIa. Os o/has verdes da mulata ... , relatando
assim 0 seu eslilo rolulado por muitos crilicos como ultrapassado, exagerado etc.
A musica Tropicalia faz uma referencia a cidade de Brasilia, que numa leltura mais
aprofundada nos da a ideia de urn significado mais amplo (0 Brasil). Simultaneamente
faz com que haja duas significayoes basicas - 0 arcaico e 0 moderno - funcionando
como inlerprelal'oes das designal'oes particulares. Conforme Celso Favaretto, (1996:
p.63), vai mesclando-se, movimento~carnava/~movimento com 0 objetivo final de
equiva/er-se semanticamente, par estarem carrelacionadas. Sendo que 0 movimento
faz uma alusao direla a festa do carnaval e a institucionalizayao sendo 0 monumento.
Com relal'iio a referoncia ao planalto central do pais continua com 0 significado propriO,
19
como uma clara alusa.o a Brasilia (0 mademo) e aD interior (0 senao, 0 arcaico): 0 luxe
no fixo e a carnavaliz8t;8o do monumental; a bossa e a palhot;8, cada uma contendo a
Dutra - a bossa e 0 novo jefta brasiJeiro, que, no entanto, pressup6e 0 ve/ho e 0
cantem; a palhot;8 e 0 ve/ho que pressup6e e cantem 0 novo.
A queslao do carnaval, para os tropicalistas, nao foi, urn simples motivo. 0
interesse pela festa popular estendeu-se tambem aos comportamentos, a estrutura
das musicas, fazendo com que esta linguagem S9 tornasse na forma do movimento.
Nas roupas, entrevistas, apresenta~6es publicas e no processo de crial,(ao, 0
carnaval, tal como foi institucionalizado no Ocidente, sempre acontecia como testa
com certa periodicidade e como linguagem. Havia urn interesse pela festa, enquanto
acontecimento religioso da r89a, que ja havia sido apresentado dentro do movirnento
rnodernista na pesquisa sobre ariginalidade nacional. 0 que para eles, 0 carnaval
constituia em uma categoria preliminar da cultura brasileira: urn dos fatos rnais
significativos da "r89a", ao lado das cornidas tfpicas regionais, do barroco mineiro e
dos mitos indfgenas.
Mas nao pararam nisso os modemislas: transpuseram para a produ~o de obras seuinteresse antropol6gico, incorporando a percepr;ao camavalesca do mundo como linguagem. Osmanifestos, Jolla Miramar, Seralim Ponte Grande, de Oswald de Andrade, e Macunaima, de Mariode Andrade, sao representay6es camavalescas. 0 tropicalisma reabre este interesse, vincu/ando-oa produr;oes musicais. lea/rais e cinema/ogralicas desligadas da base etno/6gica do modernismo einformadas pela contemporaneidade. (Favarello; 1996: p.114, 115).
o disco Tropicalia, conhecido tambem como Panis et Circencis, lanc;ado em (1968),
tern uma linha de estetica brega do tango-dramalhao e uma clara influencia dos
Beatles e do modisrno que tomava conta do momenta cultural mundial conhecido como
"rock", que aparece na musica Panis et Circencis, cantada par Os Mutantes. Houve
uma retomada do modele Bossa Nova que estava claro nos vocais de Caetano e na
presen,a da cantara Nara Leaa (1942-1989).
2n
o Tropicalismo nao foi um movimento exclusivo do mundo musical, mas tambem
esta presente nas aries, como esculturas, de artista como Helio Oiticica e encenayao de
peyas teatrais.
MuilOS oulros elementos podem ser percebidos dentro da Cruzada Tropicalista,
nome atribufdo tambem ao Tropicalismo, elementos de interpretayao e de tentativa de
explicar 0 que foi a movimento.
Caetano traz em musicas, como Alegria, Alegria, a novidade (0 modemo da letra e
arranjo) • as musicas eram ambfguas . gerando entusiasmos e desconfianyas; dificeis
de serem avaliadas pelo juri exigindo explicayoes para compreender sua complexidade.
21
Alegria. AlegriaCaminhando contra 0 ventoSem lenyo sem documenloNo sol de quase dezembroEu yOU
o sol se reparte em crimesEspayonaves guerrilhasEm cardinales bonitasEu yOU
Em caras de presidenlesEm grandes beijos de arnorEm dentes pemas bandeirasBomba e Brigitte Bardolo sol nas bancas de revislaMe enehe de alegria e preguiqaQuem Ie lanta notfciaEu YOU
Por entre lotos e namesOs olhos cheios de coreso peilo cheio de amores vaosEu YOU
Por que nao? Por que nao?Ela pensa em casamentoE eu nunca rnais lui a escolaSem len90 sem documenloEu YOU
Eu tomo uma coca-colaEla pensa em casamentoUma canqao me consolaEu youPor entre lotos e namesSem livros e sem fusilSem lome sem lelefoneNo coraqao do BrasilEla nem sabe ate penseiEm canlar na televisaoo sol e laO bonitoEu yOU
Sem lenyo sem documentoNada no bolso au nas maosEu quem seguir vivendoAmorEu youPor que nao? Par que nao?(Veloso, 1967)
Alegria, Alegria, composta par Caetano Veloso abusa do uso da justaposi9ao,
que pode ser: Justaposiyao de sons-sllabas, de palavras, de versos-frases, de
estrofes-ritmos e justaposiyao de composiyoes heterogeneas. No caso da musica,
no verso !Cem dentes pernas bandeira bomba e Brigitte Bardor, existe a
22
justaposiQao de palavras que e a h~cnica de fragmentaQao do texlo dando urn
efeila da simultaneidade cubista para apreender as divers as faces de uma
imagem: "0 sol se reparte em crimesl espa90naves guerrilhas! em cardinales
bonilas/ eu vou".
Os Argonautaso barco, meu cora<;ao nao agOentaTania !armenlaAlegria, meu corayao nao contentao dia, 0 marco, meu corayaoo porto, nao
Navegar e precisoViver naa e preciso
o barco, noile no ceu lao bonitoSorriso salta perdidoHorizonle, madrugadao riso, 0 areo, da madrugadao porto, nada
Navegar e precisoViver nao e preciso
o barco, 0 autom6vel brilhanleo Irilhe sollo, 0 barufhoDo meu dente em lua veiao sangue. 0 charco, barulho lenleo porto. silencio.(Velaso. 1967)
Nessa musica de Caetano aparece a justaposi!(ao de versos-frases que saindo
do acoplamento de silabas e palavras, segue em busca de efeitos morto16gicos e
sintaticos novos, 0 efeito se repete na montagem das frases, umas em rela!(ao as
outras. A musica Os Argonautas alem da justaposiyao: "0 barcol 0 automovel
brilhantel 0 trilho soltol 0 barulhol do meu dente em tua veia/ 0 sangue 0 charco! 0
barulho lentol 0 porto silencio", mostra tambem, a pluralidade e versatilidade do
autor em viajar pelos diversos ritmos de diversos paises sendo agora nessa
can1(ao seu alvo, 0 Fado portugues.
Com muitas das caracteristicas da linguagem caleidoscopica, e tambem
denota9ao de uma sensibilidade moderna a flor da pele, fruto da vivencia urbana
de jovens imersos no mundo fragmentario de noticias, espelaculos, televisao e
propaganda. Claramente se percebe a aparente neutralidade com as conota,5es
politicas ou sociais que nao linham relevancia maior que Brigitte Bardot ou a coca-
cola.
Ha urn procedimenlo de enumeray.3o ca6tica e de colagern, tanto nas letras
quanto nos arranjos, percebe-se tambem, 0 processo de desconstru<;:ao que 0
movimento vai submeter a tradi9ao musical, a ideologia do desenvolvimento e 0
nacionalismo populista, al8m da lingua gem carnavalesca associada a pratica
antropofagica oswaldiana.
a Tropicalismo tentou reapropriar-se do realismo grotesco das festas
carnavalescas populares e com interesse pelo programa do Chacrinha cuja
eslrutura basica remelia ao circa, ao parque de diversao e ao carnaval de rua.
A questao do grotesco ficava evidente nas roupas, no cenario e ate mesmo na
propria figura do "Velho Guerreiro", com seus exageros de cores e penduricalhos,
al8m da figura bonachona do artista.
Segundo Celso Favaretto, (1996, p.81):
Em sua ambivalencia , a festa camavalesca mistura posifividades e negatlvidades, inverte-ffJes a posirao. reduplica a deceprao-entendimen;o da ''trag(Mia brasileira". devorando afinguagem que a estavelece como fato irrevers/vel. Este afo libetario nao mimrniza ascontradip5es. antes agw;:a 0 despropositado, nurna representar;ao grotescas da domina<;fio
Este espetacu/o e montado como um processo de relativizar;fio alegre, anulando-seas distflncias entre as musicas e suas referimcias (0 arcaico e 0 moderno) pela enfase nocarater posicional dos materiais ritualizados. Oirigindo-se a urn sujeito indeterminado eagenciando signos vividos, a ambivalencia da fala tropicalista ( que indica a coexistencia deduas temporalidades) opera um esvaziamento das referencias fixadas como ethos ideologiaoficial. A fala tropicalista se en/remostra no dis farce e no deboche tensionando a audir;ao: 0
ouvinte tanto mais participa quanta mais percebe a dialogo de letra, musica, arranjo einterpretar;fio. Em toda canr;ao, quando urn destes elementos afirma a/go da referenciarituafizada, as demais a negam (p.81)
o movimento traz a lana ° estranhamento, bastante explorado par Bertold
Brecht, (1996; p.82), como efeito de anti ilusionismo (efeito de alienayao)
caracteristico no teatro brechtiano: 0 choque alienador Ii suscitado pela omissao
sarcastica de toda uma serie de elos 16gicos, fato que leva a confronta(,:ao de
situa(,:oes aparentemente desconexas e mesmo absurdas. Sendo proposilal as
conlradigoes e confrontagoes dentfO do movimenlo, deixa ao leitor assim
provocado a incumbEmcia de restabelecer 0 nexo. Contexto que faz intervir , como
elemento contrastante, a sensibilidade moderna, a maneira nova de ver e senlir
as mudangas cotidianas, urbano-industrial - multipla, fragmentaria, que nao se
deixa aprisionar por um unico referencia!, absorvendo tudo a sua volta. Tal
operac;ao de deslocamento e excentrica: desapropria fodos os centros,
neutralizando-os; ao mesmo tempo, ela os confirma em sua condi9ao de coisa
acabada, pronta para ser devorada.
Tropicalia ou Panis et Circencis, titulo do dISCOde lanQamento do Tropicalismo
evidencia e funde varios ritmos latino-americanos, inclusive a cumbia colombiana;
Gilberto Gil, com a colaboraQao do compositor Capinam, realizou um projelo
amplamente acalentado por Caetano Veloso, que era 0 de criar um estilo, contra
os estilos pre-estabelecidos e ditados pelos EUA. Alem do estilo a inten<;ao era
criar uma rnusica que fosse urn hino a integra<;:ao de toda Latino-America, com sua
problemalica comum. Tropicalismo anti-Monroe: a America para as Latino-
Americanos. Essa integrar;ao e realizada atraves da fusao de dtmos e do
entrela9amento da letra, onde portugues e caste/hano passam um para 0 outro
como versos comunicantes, numa justaposir;ao tematica de todas as faixas
sociais. Justaposi<;ao, segundo Afonso Romano de Sant'Anna, (1986, p.106),
consiste na habilidade do artista Caetano em compor suas letras dentro de urn
pequeno e grande plano que passa pela construyao interna das palavras,
assoeia<;:ao de uma palavra com outra, e na montagem de versos, e ainda, no
relacionamento das composiyoes entre si, que ocorre tanto na eonstruyao da frase
musical quanto no texto propriarnente dito.
o movimento justa poe elementos diversos da cullura, obtem em suma, uma
cultura de earater antropofagico, em que contradi<;:oes hist6ricas, ideol6gicas e
artificiais sao levantadas para sofrer uma operayao desmistificadora. - mistura de
elementos contradit6rios - arcaico x moderno; local x universal. Este procedimento
do tropicalismo privilegia 0 efeilo crllieo que deriva da justaposic;:ao de elementos,
operando numa descentraliza<;:ao cultural. Justamente nesse contexto tropicalista
percebe-se claramente 0 por que das misturas e usos principalmente do espanhol,
em composicoes, sendo na letra, arranjos, etc. As varias procedencias artisticas
se interpenetram constituindo urn eonjunto plurissignificante. A mistura tropical isla
faz uma revisao cultural, volta as origens, internacionaliza a cultura.
o festival foi 0 ponto de partida para 0 que S9 denominaria "Tropicalismo", que
tinlla uma posi<;:ao artlstica sincronizada com 0 comportamento dos jovens de
classe media relacionada ao movimento Hippie. No movimento a moda era ditada
pelo psicodelismo (psicodelico), que e a mistura de comportamenlo Hippie e
musica Pop, indiciada pela sinlese de som e cor, revivendo 0 arcafsmo brasileiro
que se chamou de "cafonismo". Na integravao da musica Pop, en tao moda
mundial, 0 objetivo era contribuir para ressaltar 0 aspecto cosmopolita, urbano e
comercial do Tropicalismo e, ao mesmo lempo, com en tar 0 arcaico na cullura
brasileira. Alraves do eteilo Pop descrevia os conlrastes cullurais, enfatizando as
desconlinuidades, a absurdo e 0 provincianismo da vida brasileira.
Em resum~, 0 Iropicalismo toi 0 alo revolucionario que vireu a mesa do
banquete aristocratico da inteligencia brasileira - visao plebeia x visao
arislocralica da manutenvao dos valores tradicionais da arte, da musica brasileira.
Popular x nao popular, e vulgar x nao vulgar. Os names fortes que encabevavam a
movimento eram: Torquato Neto, Gal Costa, Rogerio Duprat, Caetano Veloso,
Gilberta Gil e artfslas de oulros campos como: Glauber Rocha (cinema), Jose
Celso Marlinez (teatro), Helio Oiticica (artes plasticas).
Uma das mais contundentes encena90es de Jose Celso Martinez Correa com
o Teatro Oficina, espetaculo-manifesto tornado emblema do movimento
tropicalista.
Com cena a italian a e palco giratorio, a linguagem da encenavao vern,
parcial mente, de laboratorios realizados no Rio de Janeiro sob a direc;ao de Luiz
Carlos Maciel; e, em parte, da aguda revisao da cultura brasileira empreendida
pela equipe, especialmente filtrada na critica a sociedade de consumo.
o texlo de Oswald de Andrade, escrilo em 1933 e considerado imonlavel ate
en tao, fornece os ingredientes que 0 grupo busca para refletir a crise do momenta
r
hist6rico e cultural. A fabula de urn industrial de veras, arruinado sob 0 peso de
emprestimos insaldaveis ao imperialismo norte-america no, ret rata a condiyao
subdesenvolvida do pais, alva de uma mentalidade tacanha, autoritaria e erigida
sobre aparencias. Abelardo I casa-se com Heloisa de Lesbos na tentativa de
juntar as interesses da burguesia com a falida aristocracia do cafe mas nem assim
a economia e salva. Abelardo II Irai 0 antigo patrao e lorna-s8 herdeiro do
decadente imperio.
Com visualidade forte e agressiva, criada por Helio Eichbauer, e uma canyao
de Caetano Veloso, a monlagem e dedicada a Glauber Rocha, que havia lanyado
pouco antes Terra em Transe. Convergem, assim, as propostas esteticas que
estruturam 0 tropicalismo como movimento abrangente. A montagem apela para
procedimentos par6dicos, satiriza a opera, a revista musical, os filmes da
Atlantida, a comedia de costumes e abusa de signos que remetem a uma
sexualidade expHcita, aD mesmo tempo grotesca e farsesca.
Alguns criticos assim percebem as intenc;6es da realiza<;:ao: "Do estilo de circa
do primeiro ato, que se passa no escritorio de um usurario, sfmbolo de todo 0 pais
vendido ao imperialismo norte-americano, ao est;lo de opera do terceiro alo, no
qual morre um burgues fascista assassinado por urn burgues socialista que
tomara seu lugar, passando pelo 8stilo de variedades do segundo alo, 0 da Frente
Unica Sexual, simbolo de todos as pactos que a burguesia precisa tazer para se
manter no poder, 0 espetaculo do Teatro Oficina procura reencontrar as formas de
expressao popular do Brasil para comunicar 'a grosseira e vulgar realidade
nacional' e exprimir toda a podridao do 'imenso cadaver gangrenado' que e 0
Brasil de hoje, ende a c!asse operaria e camponesa e mantida, da mesma forma
que nos an os 30, a margem da evoluc;:ao polilica, A historia nao se fara senao pela
Revolu<;ao: esla e a liyao implicita em 0 Rei da Vela"
A encenac;:ao do Oficina lorna-se 0 epicentro de referencia de muilos artistas
que, em unfssono, dao corpo ao movimento tropicalista at raves de significativos
desdobramentos na musica, no cinema, nas artes plasticas e na literatura. (1980,
p.90)
Assumir completamente tudo 0 que a vida dos tropicos pode nos dar, sem
preconceitos de ordem estelica, sem conjuntura de cafonice ou mau gos[o,
apenas vivendo 0 novo universo que ele encerra, ainda desconhecido. (
).
o movimento acaba com a decreta<;ao do Ato Institucional n' 5 (AI-5), em
dezembro de 1968. Caetano e Gil sao presos e, depois, exilam-se na Inglaterra.
2.3.0 MULTIPLO CAETANO VELOSO
Segundo 0 eseritor Afonso Romano de Sant'anna: (1 9S0, p.1 05, 106)
A li/ulo de inlrodur;80 pode-5e falar da existencia de dais Caetanos, embora dele sepudesse dizer como Mario de Andrade: "Sou /rezentos". 0 primejfo Caetano personifica-5eno disco Gal e Caelano Veloso (1967). Seu lifismo seguiu uma linha conveneional depesquisa. 5er lirico era a forma de se sentir poeta. Frases bern comportadas, rimas comuns.imagens 'alando de vento, janefa, manha, mar, lua, madrugada. namorada. adeus. segredo,dor, amor. estrada.
Existe urn prop6silo li/erafio nas composi(;:oes: "Vamos andando na estrada/que va; darno avarandado/do amanhecer". Composj(;6es como "Minha sen/lOra" reafirmam seu desejode inse((;:ao dentro de uma Iradir;ao poetica que ressoa 0 lirismo galaico-portugues. Comoinlerprele, sua voz simples e direla realiza a tirnidez esludada de sonoridade da bossa novae de Joiio Gilberto. Os textos querem ser poeticos, eo canlor e manso e intirnisla.
o segundo Caetano aflora no transito Rio-Sao Paulo. Urbanizando e industrializando seulirismo, participa do espetaculo tragicomico e televisional da sociedade de consumo. E afase do Tropicalismo. Parte para a antipoesia. para a antimusica e, em vez de versos,comp6e frases prosaicas. Alualiza-se leoricamente a/raves do Tropicalismo e de seucontato com os poelas concrelistas: Augusto e Haraldo de Campos.
Descobre a par6dia como forma de expressao e espraia suas origens baianas sobe 0espanhol e ingles, descobrindo novos c6digos lingulstico·musicais de composi~ao. 0segundo Caetano ainda mais se dilata grat;as ao seu recolhimento em Londres
A distancia entre 0 primeiro e 0 segundo Caetano tem-se pela compara~ao simples dodisco de 1967 e este Arat;a-Azul. de 1973. Nao e necessario tomar os discos propriamente.Comparem-se as capas. No primeiro, 0 rapaz bem comportado, tranquilo, fotografadoapenas de rosto em discreto sorriso. No ultimo, desnudado. descabe/ado, fragmentado emvarias poses, assumindo 0 feio de seu corpo e 0 imaculado de sua voz.
A multiplicidade de Caetano vai alem do imaginavel para um cantor de MPS, 0
artista se desdobra entre canvoes de sua autoria e se revela como um dos
grandes inlerpretes brasileiros. Cantando em ingles ou espanhol, suas
inlerprela90es sao irretocaveis. A presen9a do espanhol nas musicas compos las
ou inlerpreladas pelo cantor, passa desde um disco "Fina Estampa" gravado em
1994 e "Fina Estampa ao Vivo", com classicos de diversos parses de lingua
espanhola, como por can<;oes como "Soy Loco por Ti America, Gambalache,
Mana a Mana, Gucurrucucu Paloma, etc." Passando tambem, par diversos rilmos
como a Cumbia, a Rumba, 0 Tango, a Fado, etc.
Como sempre versatil, 0 nosso baiano tam bern participou da setima arte. Sua
primeira incursao foi em 0 Cinema Fa/ado. Em 1994, a musica Tonada de Luna
Llena, do CD "Fina Estampa", foi imortalizada na cena final de A Flor do Meu
segredo, do amigo espanhol Pedro Almodovar. Caetano lambem deu A Luz de
Tieta ao filme Tieta do Agreste, do cineasta Gaca Diegues.
Em 2002 volta ao cinema de Almodovar com participa98.0 no fllme "Habla con
el/a", cantando a musica Cucurrucucu Paloma, tambem do cd Fina Estampa.
3.0 ESPANHOLISMO NAS MUSICAS DE CAETANO
VELOSO
Antes de entrar na questao do espanhol de Caetano, e importante lembrar
que a influencia eSlrangeira na musica iniciou-se praticamente ao mesma
tempo em que 0 Brasil era "descoberto" como pava. Urn born exemplo disso, e
que a cultura aqui existente foi imediatamente substitufda no ala do
descobrimento, com a treea que as indios fizeram com as portugueses, dando-
Ihes auro par "bugigangas". Nada muito diferenle do que muitos brasileiros
continuam a tazer com relac;:ao a cullura e patrimonios nacionais.
Todavia, a hisl6ria do Brasil como urn todo, e marcada par influencias
estrangeiras que, de certo modo, sao aceitas de maneira comoda,
principalmente na musica.
o que se pretende no entanlo, e mostrar nao somente a historia, mas
lambem demonstrar a importancia da musica no contexto social do individuo,
pois 0 ser humano necessita de musica para 0 seu perfeilo desenvolvimento e
integrayao da personatidade, e ela, e urn dos fatores de equillbrio entre a alma e
o mundo real.
Sen do assim, a musica pode ser utilizada para influenciar, formar opini6es,
demonstrar sentimentos, satirizar ou protestar, tornando-se, uma arma poderosa
e, com seu poder discreto, pode substituir ou alterar a lingua de um povo sem
percepyao.
Contudo, 0 uso de palavras de oulros idiomas em nossa musica nos remele
ao imperialismo e, de certa forma, para os pafses em desenvolvimenlo, como 0
Brasil, e uma maneira de se substituir, alterar sua lingua nacional. Com a
utiliza9ao de express6es em espanhol, por exemplo, e uma forma de assumir ou
admitir a submissao ao "imperialismo cultural" imposto por outros pafses.
Tendo em vista que a lingua e 0 nosso principal patrimonio coletivo, convem
que ten ham os 0 conhecimento de que nao podemos simplesmente substituf-Ia
por outra ou deixa-la "morrer".
Existem diversos fatores que certificam a posiyao inferior da lingua nacional
a respeito da alheia. Diante de tantas evid€mcias, contra e a favor do
estrangeirismo, eonvem dizer que e importante a relayao de lroea de culturas,
lodavia desde que essa !raca nao se transforme em substiluiyao ou subtrayao
de uma das partes.
Caetano Veloso desde muito tempo, tern em suas rnusicas, cornpostas por
ele ou apenas inlerpretadas, urn grande numero de canyoes com palavras,
frases ou ate mesma a musica inteira, em espanhol. E isso vem corroborar com
questoes ja vistas em abordagens anteriores, principalmente denlro do contexto
tropicalista, onde 0 usa de palavras eslrangeiras era uma maneira de "gritar"
contra os valores previamente estabeleeidos. Urn dos momentos mais
marcantes desse usa do espanhal, esta justamente em uma das musicas mais
conllecidas durante 0 movimento de 1968, "Soy foco par ti america" que surgiu
de uma proposta de integrayao de toda a America latina, numa especie de hino
da America porluguesa e espanhola.
Soy loco par ti, AmericaSoy loco par Ii, AmericaVa voy Iraer una mujer playeraQue su nombre sea MartiQue su nombre sea MartiSoy loco par Ii de amoresTenga como col oresLa espuma blanca de Latino-AmericaV el delo como banderaV el cielo como banderaSoy loco par Ii, AmericaSoy loco par Ii de amoresSorriso de Quase nuvensOs rios, canQoes. a medoo corpo cheio de eslrelaso corpo chela de eslrelasComo se chama a amanleEsle pais sem nome, esle langoEsle rancho. esle povoOizei-me ardeo logo de conhece-Iao fogo de conhece-IaSoy loco por Ii. AmericaSoy loco par Ii de amoresEt nombre del hombre muertoVa no se pude decirlo, quem sabe?Anles que a dia arrebenteAnles que 0 dia arrebenleEI nombre del hombre muertoAnles que a definiliva noileSe espalhe em Lalino-AmericaEI nombre del hombre es puebloSoy loco por Ii, AmericaSoy loco par Ii de amoresEspero a amanha Que canleEJ nombre del hombre muertoNao sejam palabras lerislesSoy loco par Ii de amoresUm poema ainda exisleCom palmeiras, com IrincheirasCanQoes de guerra, quem sabeCanvoes do marAi, hasla Ie conmoverAi, ilasla de conrnoverSoy loco por Ii, AmericaSou loco por Ii de amoresEstou aqui de passagemSei que adianle um dia vou morrefDe suslo, de bala au vidaNum principia de luzesEntre saudades, soluvosEu vou morrer de bruvosNos bra~os, no olhosNos bravos de uma mulherNos bravos de uma mulherMais apaixonado ainda
3·1
Oenlro dos bra1;os da camponesa guerrilheiraManequim. ai de mimNos bra90s de quem me queiraNos bra90s de quem me queiraSoy loco por Ii, AmericaSoy loco par Ii de amores.
Para muitas crrticas da epaca, 1968, quando tai lan9ada a musica Say Loco
Por Ti, America, a usa do partugues e do espanhol no correr da canc;:ao nao e
gratuita. Tambem nao e inconseqOente 0 uso do rilmo da rumba. Para aqueles
que estavam viciados pelo esteticismo da Bossa Nova e deslumbrados com 0
nacionalismo ingenuo de nossas musicas regionalistas (ainda que estilizadas para
festivais), soaram estranho 0 rilmo cubano e as palavras espanholas na voz de um
cantor baiano interpretando compositores baianos.
Fundindo varios rilmos latino~americanos, inclusive a cumbia colombiana, a
musica realizou esplendidamente a projeto acalentado par Caetano: 0 de criar
uma musica que integrasse toda a Latino·America, com a sua problemalica
comum. Aquela questao do Tropicalismo anti·Monroe: a America para os latino-
Americanos, citado anteriormente no capitulo sobre a Tropicalisrno. Essa
integrac;:ao e realizada atraves da fusao de rilmos e 0 entrelac;:amento da letra,
onde portugues e espanhol passarn de urn para 0 outro como vasos
comunicanles, numa justaposic;:ao tematica de todas as faixas sociais que se
expressa em alternativas como a marte, as ritmos ligeiros que lembra de certas
canc;:6es cubanas, escondendo na aparente ingenuidade e dormencia de suas
ondulac;:6es ritmicas, uma mensa gem grave e mordente.
A musica obteve um sucesso multo grande tambem na Argentina. Os sui·
americanos de tala espanhola ja S9 identificavam com a canc;:ao e percebiam seu
senlido amplo, rnais do que instrumento de afirmac;:ao da MPB, nos parses
vizinhos e tambem uma oportunidade de dialogo. Soy foco par Ii America, fonle
pr6xima do movimento tropicalista (Gil, Capinam e veloso), vai ao encontro do
projeto tropicalista juntamente com outras tontes como: Glauber Rocha (Terra em
Transe), Tropicalia (Caetano Veloso), Oswald de andrade (Rei da Vela), Jose
Celso (Diretor do Rei da Vela).
A primeira caracterfstica de Soy Loco par ti America, e a duplicidade, a
dialetica e local, e universal, e brasileira em principio, e abrange todas as regi6es:
tropicais, em ultima inslancia.
Possui caracterfslicas gerais do Brasil ou de qualquer outro pars latino-
americana (as tipos sao encontrados tanto no Equador quanto na Nicaragua ou
no Brasil. Personalidades simbolos, aspecto universal, despersonalizal(ao dos
tipos e sua universalidade). Nao e apenas brasileiro; e latino-americano. Esta
obra esta integrada ao Tropicalismo.
Par isso 0 emprego do portugues e do espanhol no correr da canl(ao.
Tambem 0 uso do ritmo rumba. Tudo isso: ritmo cubano e palavras espanholas
na voz do cantor baiano causou urn certo estranhamento aos ouvintes
acostumados com a Bossa Nova e com 0 nacionalismo ingenuo de nossos
musicos regionalistas.
Outra musica que marca a ambivalencia de Caetano e a musica "0 Samba eo
Tango", que aparece no disco "Fina Estampa aD Vivo" de 1995.
o Samba e 0 TangoChegou a hora!Chegou! ... Chegou!Meu corpo treme e gingaQual pandeiroA hora e boaE 0 samba comeyou
E fez convite ao tangoPra parceiroHombre. yo no se porque te quieroYo Ie tengo amor sinceroDiz a muchacha do PrataPero. no Brasil €I diferenteYo Ie quiero simplesmenteTeu amor me desacalaHabla castellano num fandangoArgentino canta tangoOra lento, ora ligeiroEu canto e danc;:o. sempre possaUm sambinha cheio de ~bossa~Sou do Rio de Janeiro.
o hibridismo da composi~ao 0 Samba e 0 Tango, de Amado Regis, leve sua
primeira grava,ao com Carmem Miranda (Odeon 11462, abril de 1937), onde 0
samba ''faz convite ao tango" para parceiro e eles se dao as maos em rilmo e
letra.
Esse eonvite aconteee claramenle durante loda a composi~ao, mesclando 0
rilmo do samba com 0 tango, 0 porlugues e 0 espanhol num jogo de antfteses,
personificac;6es e justaposic6es.
o "casamento" da lingua portugues com a espanhola se da de maneira
amigavel, como em urn bate-papa de amigos.
o "espanholismo~ nao e urn privilegio apenas da rnusica 0 Samba e 0 Tango,
muitas sao as can~6es em que na interpretayao au na composiyao de Caetano
usam desse recurso, ora para dar sonoridade, ora para mesclar de maneira
simples como sao as parses de "habla" hispana e portuguesa. Musieas como:
Vaca Profana nos versos "Vaca de divinas tetas 'ta leche buena toda en mi
garganta la mala leche para los' 'puretas"', deixam claro a usa intencional e de
maneira a enriquecer a composiyao.
A incursao de Caetano Veloso nao se limita apenas as canyoes, mas esta
presente tambem, nas participa90es do arlista voltadas para a musica em filmes
como: "Frida" a trilha sonora dirigida por Elliot Goldenthal, oportunamente que
explora a musica folcl6rica mexicana, como em Burn it Blue cantada em dueto p~r
Caetano Veloso e Lila Downs, 0 que rendeu a "Frida" 0 Oscar de melhor trilha
sonora. Em "Hable con elia" do diretor espanol Pedro Almod6var, a partivipayao
especial de Caetano, que canta uma versao acustica de Cucurrucucu Paloma, do
repertario de Fina Estampa, e uma das cenas mais emocionantes do filme.
Desta maneira se justifica perfeitamente 0 usa do espanhol nas composi9oes e
interpretayoes de Caetano Veloso.
38
4. CONSIDERAc;:6ES FINAlS
A proposta desta pesquisa foi 0 espanholismo e tambem apresentar algumas
considera,oes a respeito da musica popular brasileira (MPB). Para tanto foram
pesquisados alguns autores que abordam esse assunto, tais como: Nelson Motta,
no livro Noites Tropicais, Ruy Castro, Chega de Saudade e Caetano Veloso em
Verdade Tropical.
Na grande maiaria deles, percebe~se claramente a importancia e a valoriza98.0
da musica, momento hist6rico e envolvimento em algum seguimenlo, sendo ele
politico au nao. Embora os conceitos e as teorias sabre MPB sejam varies e
diferenciados, de acordo com 0 ponto de vista de cada cantor au compositor
pesquisado, houve uma preocupa93o muito grande, neste estudo, em unificar
alguns conceitos, com base em pesquisas anti gas e atuais, trabalhando com 0
maior numero possivel de dados, utilizando uma pesquisa Quantitativa e
qualitaliva, para serem conceituadas neste trabalho, de forma clara e objetiva.
A MPB se dislingue das demais categorias musicais, como: 0 Sertanejo,
Bossa Nova e outros eslilos. Em determinados momentos da historia do Brasil, a
musica ditou normas e regras e fez parte de urn momento politico e economico
Que marcou geray6es. Ha momentos, inclusive, interferindo na maneira de pensar
e de comporlamento de muilos jovens, a quem a maioria das musicas sao
direcionadas. Muitas trazem 0 lema politica, oulras religiao, sexo, desamor, e
"Para nao dizer que nao {alei de flores" um lema muito explorado, ° amor.
39
A musica difere de Quiros meios de persuasao, uma vez que ela tern e usa a
linguagem como meio de transmitir seu recado. Par 8ssa razao, a musica tern side
descrita como a linguagem voltada para a comunicay8.o, sendo assim urn
instrumento muito valioso na formayao de opini6es e ideias. Com esse principia
existem e existiram urn numero consideravel de pessoas interessadas, em
diferentes epocas, no estudo da musica. Mas 56 com a chegada da MPB, essas
manifesta<;oes de curiosidades e estudos tOrT'am a forma de protesto, e passam a
ser urn meio de comunica<;3o e urn forte aliado no grito as desigualdades sociais e
minorias.
Existe urn momento muito importante da musica no Brasil conhecido como 0
Tropicalismo, do qual fizeram parte Gilberto Gil, Moraes Moreira e 0 alvo desta
pesquisa, Caetano Veloso, juntarnente com outros artistas da epoca. 0
Tropicalismo que esta trabalhado em um capitulo a parte.
Verificando assim a continua hist6ria da musica e as divis6es das linhas de
estudo, as rnais relevantes para esta pesquisa foram: a Historia da MPB, 0
Tropicalismo, biografia, 0 multiplo Caetano e diversos momenta na obra de
Caetano Veloso.
Diante de tantos aspectos favoraveis ou nao ao uso do estrangeirismo,
pode-se dizer que este estudo sobre 0 tema em tese, foi feito de forma livre e
com quest6es menos abrangentes, atento apenas a hist6ria da formay<3.o da
musica popular brasileira, seu contexto social, seus compositores e suas
biografias, etc.
As amllises se iniciaram localizando como e quando comeyaram a adquirir 0
estrangeirismo e, para explicar esse processo, precisamos voltar no tempo,
JI)
mais especificamente na 2(! Guerra Mundial, ande tanto 0 carnaval quanta 0
samba jei eram as duas maiores instituiyoes nacionais, ambas nascidas no
morro carioca, conquistando todo 0 Brasil. Porem, as radios nao S6 sustentavam
somente com a nossa musica brasileira e por issa, eram-nos "exportadas"
musicas estrangeiras. Todavia nossos rilmas, quando levados aos oulros
parses, precisavam S6r ajustados ao ritmo das musicas dos parses receptores.
Alem de imporlar as musicas, instrumentos e canto res, 0 Brasil tinha que
modificar 0 samba brasileiro, por influencia dos rilmas americanos.
Todavia, jil. existia na epoca a musica de protesto, que tentava expor a sua
indignayao a tad a essa "invasao~ de estrangeirismo.
Waldeck Artur de Macedo, (Gordurinha) que nasceu em 1922, e 0 compositor
juntarnente com Almira Castilho, de uma musica que mostra do seu repudio do it
colonizayao americana, Chic/ete com Banana , que acabou por pronunciar 0
tropicalismo ao sugerir antropofagicamente na letra: 56 bolo be·bop no meu
samba quando 0 Tio Sam pegar no tamborim. Quando ele en tender que 0 samba
naG e rumba.
Chiclete corn bananaEu 56 bolo be· bopNo meu sambaQuanta 0 Tio SamTocar 0 lamborimQuanta ele pegar no pandeiroE no zabumbaQuando ele aprenderQue 0 samba nao e rumbaAi eu you mislurarMiami com CopacabanaChicletes eu misluroCom bananaEo meu sambaVai liear assim~(Almira CastifllO e Gordurinha)
-II
E importante salienlar que a MPB nao foi urn movimento dentro da musica,
mas sim, urn movimento que continua exist indo ainda. na voz de cantores ja
consagrados ha decadas e tambem par artistas contemporaneos e de mesmo
valor, como: Marisa Monte, Zeca Baleiro, Chico Cezar, Arnalda Antunes, dentre
muitos Quiros. Mas hoje, eles aparecem sem as apelos politicos lao evidentes,
porque 0 momento atual do Brasil e outro.
REFERENCIAS
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Almeida. 93. Ed. Ver. e cor. Sao Paulo: Sociedade Biblica do Brasil, 1993. Cap.
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FAVARETTO, Celso F. Tropicalia - Alegoria Alegria. Sao Paulo: Atelie Editorial,
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SANT'ANNA, Affonso Romano. Musica Popular e Modema Poesia Brasileira.
Rio de Janeiro: Vozes, 1980.