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501 07. Designação:Bandeira do Terno Prata 08. Localização Especifica: quando não está em campanha fica guardada junto com os instrumentos num cômodo destinado aos apetrechos do Congado. 09. Espécie: Bandeira /Distintivo/Insígnia Religiosa 10. Época: 2004 11. Autoria: Marco Aurélio 12. Origem: Uberlândia 13. Procedência: Uberlândia 14. Material / Técnica: cabo de ferro de construção, esmalte sintético, tecido camurça prata, marabô branco, flores de tecido bordadas, miçangas, imagem de Nossa Senhora do Rosário impressa em papel plastificado 15. Marcas / Inscrições / Legendas: Imagem de Nossa Senhora do Rosário é circundada por marabô branco. 16. Descrição: Bandeira elaborada com cabo de ferro de construção, coberto com esmalte sintético branco, tecido camurça prata, flores de tecido branco bordadas, detalhes em miçangas prata e azul. A imagem de Nossa Senhora do Rosário impressa em papel plastificado é circundada por marabô branco que também recobre as extremidades. 17- Condições de segurança: ( x ) Boa ( ) Razoável ( ) Ruim Obs: BENS MÓVEIS E INTEGRADOS 04. Propriedade: Particular 05. Endereço: Rua Bueno Brandão, 949 - Martins 06. Responsável: Vanderson da Silva 01. Município: Uberlândia 02. Distrito: Sede 03. Acervo:Terno Congo Prata ytfrhfhfhg INVENTÁRIO DE PROTEÇÃO DO ACERVO CULTURAL Minas Gerais-MG SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA

BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Portal da Prefeitura de ... · Material / Técnica: cabo de ferro de construção, esmalte sintético, tecido camurça prata, marabô branco, flores de

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501

07. Designação:Bandeira do Terno Prata

08. Localização Especifica: quando não está em campanha fica guardada juntocom os instrumentos num cômodo destinado aos apetrechos do Congado.

09. Espécie: Bandeira /Distintivo/Insígnia Religiosa

10. Época: 2004

11. Autoria: Marco Aurélio

12. Origem: Uberlândia

13. Procedência: Uberlândia

14. Material / Técnica: cabo de ferro de construção, esmalte sintético, tecidocamurça prata, marabô branco, flores de tecido bordadas, miçangas, imagem deNossa Senhora do Rosário impressa em papel plastificado

15. Marcas / Inscrições / Legendas: Imagem de Nossa Senhora do Rosário écircundada por marabô branco.

16. Descrição:

Bandeira elaborada com cabo de ferro de construção, coberto com esmalte sintéticobranco, tecido camurça prata, flores de tecido branco bordadas, detalhes emmiçangas prata e azul. A imagem de Nossa Senhora do Rosário impressa em papelplastificado é circundada por marabô branco que também recobre as extremidades.

17- Condições de segurança:( x ) Boa( ) Razoável( ) RuimObs:

BENS MÓVEIS E INTEGRADOS

04. Propriedade: Particular

05. Endereço: Rua Bueno Brandão, 949 - Martins

06. Responsável: Vanderson da Silva

01. Município: Uberlândia

02. Distrito: Sede

03. Acervo:Terno Congo

Prata

ytfrhfhfhg

INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL

Minas Gerais-MG

SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA

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18- Proteção Legal:

( ) Federal

( ) Estadual

( ) Municipal

( x ) Nenhuma

( ) Tombamento Isolado

( ) Tombamento em Conjunto

19- Documentação fotográfica

Fotos do Terno Congo Prata

Uberlândia/MG

Ano 2007

20- Estado de Conservação:

( ) Excelente ( x ) Bom

( ) Regular ( ) Péssimo

21- Dimensões:

Altura 45cm

Largura: 53cm

22. Análise do Estado de Conservação:

Bandeira em bom estado de conservação.

Não apresenta perdas, não apresenta sinais de infestação por insetos ou de mofo.

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23. Intervenções – Responsável / Data: NT

24. Características Técnicas:

Bandeira elaborada com cabo de ferro de construção, coberto com esmalte sintético,tecido camurça, flores de tecido bordadas, detalhes em miçangas. Imagem religiosaimpressa em papel plastificado, circundada por marabô que também recobre asextremidades.

25. Características Estilísticas:

Estilo popular (sem característica estilística específica).

26. Características Iconográficas:

Nas bandeiras do Congado figuram as imagens e/ou os nomes de Nossa Senhorado Rosário, de São Benedito e em alguns casos outras imagens como a de SantaIfigênia, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, etc.

Cada santo é associado a elementos distintos. Santa Efigênia ou Ifigênia, pelo queos congadeiros dizem é a dona da festa do Congado. Santa Ifigênia, segundoCâmara Cascudo é uma virgem mártir da Etiópia, devoção de negros e pessoasmenos favorecidas. A festa do Congado acontecia em louvor à Santa Ifigênia, asanta negra, mas os brancos não aceitaram e para que a festa se legitimasse elescriam a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Cláudio, filósofo,pesquisador do Congado e dançador do Terno de Camisa Verde, os negros pegamo rosário que é de Santa Ifigênia e colocam na imagem de Nossa Senhora doPerpétuo Socorro, criando assim a imagem de Nossa Senhora do Rosário.

Segundo Seu Zezão, capitão do terno Congo de Santa Ifigênia, ele colocou em seuterno o nome de Santa Ifigênia porque as pessoas precisavam reconhecer que afesta é dela. Seu Zezão conta que deu muito trabalho para aceitarem o terno porquesomente os padres sabiam da “verdadeira história” de Santa Ifigênia, de NossaSenhora do Rosário e de São Benedito. Segundo ele, para haver união entre ospretos e os brancos Chico Rei comprou a coroa de Santa Ifigênia para coroar NossaSenhora do Rosário, comprando assim a sua benção. Como garantia da fidelidadede Nossa Senhora do Rosário colocaram um menino nos braços de São Beneditoque não é Jesus, mas um menino branco do povo. Se Nossa Senhora do Rosárioalgum dia trair os negros, São Benedito deve cortar o pescoço do menino. Deacordo com seu Zezão, São Benedito está sempre ao lado de Nossa Senhora doRosário como um soldado, um general. Esta surpreendente narrativa de Seu Zezãointroduz a história de Chico Rei e trata de uma negociação entre os santos.

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Mas, o que mais chama atenção é a mudança do papel de São Benedito. Este, tido

como mártir sempre foi referido como uma figura bondosa e que multiplicava os

alimentos, uma espécie de Cristo negro. Agora São Benedito é tomado como um

militar frio, capaz de decapitar um bebê branco em nome da proteção dos negros.

Não ouvi de mais ninguém a confirmação desta versão mitológica. Quando se

conversa com seu Zezão percebe-se claramente a existência de uma disputa pelo

capital simbólico. Em meio às críticas aos pesquisadores e aos trabalhos existentes

sobre o congado ele questiona a “ciência” dos “verdadeiros” “fundamentos” de sua

prática ritual tanto pelos pesquisadores como pelos capitães dos outros ternos.

Insinuando ser ele um dos poucos detentores dos conhecimentos tidos como

“fundamentos” do Congado. Diversas outras pessoas tomam este comportamento

como prática. Fazer o Congado sem “fundamento” seria um ultraje. O convívio nos

quartéis envolve aprendizado constante e um “verdadeiro” capitão precisa passar

por esta escola e aprender todas as lições antes de ousar montar o seu próprio

terno.

O lendário Chico Rei, que é o criador da Irmandade do Rosário em Minas Gerais,

era rei em Moçambique, mas na perda de uma batalha fora apreendido e vendido

como escravo, trazido para o Brasil. Os escravos trazidos de Moçambique eram os

conhecedores das técnicas de mineração, “farejavam as minas”, como diziam os

invasores europeus. Chico Rei, após enriquecer seu senhor e demonstrar ser um

grande conhecedor do processo de mineração conseguiu comprar com ouro a

alforria de familiares e amigos, e construir uma capela em homenagem à Santa

Ifigênia em Vila Rica (Ouro Preto). Após descobrir algumas minas Chico Rei disse

que não trabalharia mais se o seu senhor não trouxesse para junto de si seu filho e

parentes que estavam distantes, vendidos para outros senhores de escravos. Mais

tarde conseguiu comprar a alforria de diversos outros escravos. Segundo Câmara

Cascudo “No dia de Reis, em Vila Rica, as negras do cortejo de Chico Rei vinham

com as carapinhas polvilhadas de ouro lavá-las e deixar o ouro numa pia de pedra

existente no Alto da Cruz, onde havia uma imagem de Santa Ifigênia. O ouro servia

para a libertação de outros escravos.” (1972, p.449). O Rei “Moçambiqueiro” que

no Brasil passa a ser chamado de Chico Rei recria aqui o seu reino, supera a

condição de escravo e constrói uma das bases do movimento negro. Muitos negros

se mantinham escravos e cooperavam no movimento liderado por Chico Rei para

a libertação de seu povo.

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Os negros então alforriados passam a viver nos centros urbanos nascentes e/ou se

deslocam com as expedições desempenhando funções de carpinteiro, pedreiro,

ferreiro (serralheiro), barbeiro, quituteiras, vendedores e outras profissões tidas hoje

como “liberais”. Observem que nesta narrativa, o negro se retira do sistema de

escravidão utilizando a linguagem que está nas bases do sistema capitalista. Ocorre

um rompimento com a escravidão, mas não com sua lógica, pois há uma busca

pela inserção do negro no sistema capitalista decorrente desta. Nos movimentos

quilombolas, onde este sujeito excluído busca uma nova forma de associação e de

socialização fora da sociedade opressora, ocorre uma quebra com os padrões

antes impostos. Mas os negros quilombolas precisavam permanecer em estado

de vigília por causa das constantes investidas das expedições contra suas

comunidades. Mas esta é uma outra história.

Voltando aos mitos do Congado, a principal referencia ao São Benedito é em

relação à alimentação, ele provém o sustento das famílias, dá força. São Benedito

está mais ligado à saúde, à manutenção da vida material, é um mártir negro e santo

mesmo em vida, uma espécie de Cristo Negro. Um dos mitos de São Benedito me

foi contado por seu Charqueada, um dos congadeiros vivo mais antigo de

Uberlândia, ancião do terno Moçambique Pena Branca. Conta seu Charqueada,

que certa feita, o senhor dono da fazenda onde o Benedito era cozinheiro mandou

que ele preparasse uma refeição para seus muitos escravos, mas não lhe deu a

provisão suficiente para tanto. Na despensa não havia banha e o arroz e o feijão

eram pouco. O Benedito então pede o auxílio divino e logo obtém resposta do Todo

Poderoso que lhe diz para ir até o chiqueiro e retirar um naco com toucinho e carne

de um dos porcos, que fosse desde a cabeça até o rabo do porco e então preparar

a comida. E assim o Benedito fez. Milagrosamente, a carne do porco que fora

retirada se reconstituiu na mesma hora, permanecendo o porco vivo. Todos os

escravos se alimentaram até saciar a fome e depois de banquetear tocaram e

dançaram em agradecimento ao São Benedito. O patrão, vendo tamanha festança,

foi ter com o Benedito e inquiriu dele como foi que conseguira arranjar tanto alimento.

O Benedito então lhe relatou como conseguira a banha e o toucinho. O patrão não

acreditando no milagre ameaçou castigar o Benedito, mas quando foi golpeá-lo o

São Benedito levita e fica suspenso no ar... Este mito traz o Benedito enquanto

“multiplicador dos alimentos”, realizador de “milagres” extraordinários, figura louvada

pelos seus. Esta narrativa é compartilhada pela maioria dos congadeiros, sendo

que São Benedito é considerado o santo da cozinha, da alimentação, do sustento,

da fartura, por isso sua imagem geralmente é colocada na cozinha, para que na

casa não falte o alimento.

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É prática em várias partes do território nacional, colocar café para o São Benedito,

é comum ver sua imagem próxima a uma xícara de café. Outro ritual realizado

popularmente é tomar o café do Benedito, que é um café amargo destituído de

qualquer forma de adoçantes, bebido em pequenos goles pelos congadeiros e

participantes de celebrações, festas, etc. O café do Benedito é tomado como uma

bebida capaz de proteger a quem a ingere.

Nossa Senhora do Rosário está sempre relacionada à chuva, às riquezas, à

proteção, à geração da vida e também à morte. Recorrem a Nossa Senhora para

pedir um bom parto e também uma “boa morte”, a ela intercedem a favor dos entes

queridos que já partiram. Em todas as festas que presenciei houve homenagens a

congadeiros falecidos no período entre festas. Nossa Senhora está vinculada à

vida e à morte, ao rezar a última estrofe da “Ave Maria”, isto fica explicito: “Santa

Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte.

Amém.” Durante o Congado intercedem à Nossa Senhora do Rosário pela vida e

pela proteção na inevitável hora da morte. Pedem saúde para os seus, proteção

em todos os momentos, recorrem a ela como à Grande Mãe. O culto às deusas

mães foi muito combatido pelo judaísmo, islamismo e demais religiões patriarcais,

mas encontra solo fértil nas tradições afro-descendentes e católicas. Uma música

muito difundida tanto no Congado como na Capoeira e na religiosidade ressalta o

aspecto protetor de Nossa Senhora:

“No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia,

eu gritava por Nossa Senhora, ai meu Deus, quando a pancada doía.”

O mito fundante do Congado em Uberlândia é um relato da aparição e resgate de

Nossa Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões aqui sintetizadas:

a) Nossa Senhora do Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir,

chama os pais para verem, eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros,

que também presenciam a santa submergir, eles tentam tirá-la com suas cordas,

mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres que conseguem retira-la da

água e levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vem

então o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge,

mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Então um

terno de Moçambique, todo vestido de branco e descalço, canta para ela, que então

submerge e lhes acompanha, eles a levam devagar até o local onde constroem

uma capela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambique

então se retira sem lhe dar as costas, lhe fazendo reverência;

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b) a segunda versão, contada por Maria Conceição Cardoso, do MoçambiqueRosário de Fátima, de Ibiá - MG, afirma que ao tentar capturar escravos fugidos naserra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra um grupo de negros,vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima em frente a uma árvorede umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava encravada num galho. Oscapitães do mato tentam surrar os negros e capturá-los, mas eles permanecemimóveis, como se nada os pudesse atingir. Apavorados com a visão voltam para acidade e chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeiraversão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosárioacompanha apenas o Moçambique que canta vestido de branco, de pés descalços,que anda devagar e lhe constrói uma igreja e não lhe dá as costas ao se retirar desua presença.27. Dados Históricos:As bandeiras têm suas origens nas insígnias, sinais distintivos de poder ou decomando, usadas desde a antiguidade e que poderiam ser figuras recortadas emmadeira ou metal, ou pintadas nos escudos. As primeiras bandeiras da história dohomem costumavam representar um grupo sócio-cultural através de imagens e decores dotadas de significados, a que a comunidade respectiva confere alto valor.As bandeiras fixadas a um mastro surgiram na China e foram introduzidas noOcidente Medieval pelos Islâmicos. As bandeiras de tecido, no mundo ocidental,foram criadas pelos romanos e eram denominadas vexillium (insígnia, bandeira,estandarte). Desde a antiguidade os povos usaram mastros com imagens,carregados na mão ou fixados nos carros de combate. A grande difusão do seu usofoi feita pelos romanos e cada divisão da legião tinha o seu estandarte. Foi naIdade Média que bandeiras e estandartes começaram a representar reinos eregiões. As bandeiras foram usadas tanto em períodos de paz como de guerra.Sendo um símbolo identificador eram usados pelos exércitos aliados. Para não seconfundirem uns com os outros e evitarem o temido fogo amigo, usavam um pedaçode pano hasteado num estandarte, com as cores e sinais de identificação dobatalhão ou companhia envolvida.De acordo com seu tamanho ou uso, a bandeira tem uma palavra sinônima.Estandarte é utilizado para insígnias militares, mais especificamente para identificaros corpos de cavalaria. O Pendão é uma bandeira grande, armada em vara,atravessada horizontalmente sobre o mastro e levada em procissões. O Gonfalãoé uma bandeira de guerra com partes que prendem perpendicularmente a umahaste com três ou quatro pontas pendentes.Os Estandartes do Congado mesclam elementos das bandeiras militares ereligiosas e são utilizados para identificar o terno que os conduz e para louvar ossantos de sua devoção.

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28. Referências Documentais:Fotografias e entrevistas realizadas no quartel do Congo Prata.29. Informações Complementares:Falar em Bandeira no congado é um pouco complexo, pois possui pelo menos trêssignificados. Bandeira pode se referir à jornada, ao trajeto, à caminhada realizadanas campanhas e festas. Também pode ser utilizado para se referir à bandeira emtecido no formato retangular de aproximadamente 60 x 40 cm que trás estampadoimagens dos santos, com um cabo de madeira na extremidade superior por onde abandeireira (virgem, menor de 10 anos) segura. Esta pequena bandeira sempreacompanha o terno, abrindo-lhe os caminhos, tanto em dias de campanha quantono dia da festa.Bandeira também pode referir-se ao estandarte em formato retangular deaproximadamente 1,5 m de altura por 1m de comprimento, sustentado por um mastroque o eleva à aproximadamente 2,5m de altura donde pendem fitas cujas pontasas Bandeireiras seguram enquanto dançam e que traz identificações do terno ehomenagens aos santos. Geralmente o estandarte e as Bandeireiras só saem emdia de festa. . O tecido das bandeiras e estandartes são trocados periodicamente,geralmente de dois em dois anos.As Bandeireiras ou Andorinhas são meninas que conduzem as fitas do estandartefazendo coreografias. “Antigamente” esta função só era desempenhada pelasgarotas virgens. Muitas mulheres relatam que se a menina não fosse virgem elevasse a fita ou o mastro da bandeira, muitos acidentes poderiam acontecer. NossaSenhora do Rosário seria a responsável por denunciar a farsa. Adereços de cabelopoderiam cair ou a roupa se rasgar, a própria bandeira poderia sofrer danificações,como quebrar, rasgar. Desmaios e doenças também dificultariam a execução dafunção. Caberia a menina se afastar quando não fosse mais “digna” de carregar abandeira do Congado. A execução desta função indevidamente poderia acarretarproblemas ainda maiores para os ternos, como esquecer música ou errar a “batida”.Hoje, no entanto, esta tradição não é mantida pela maioria dos ternos.30. Atualização das informações:NT31. Ficha TécnicaLevantamento Data: Abril de 2007Fabíola Benfica Marra (Historiadora)Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)Elaboração Data: Abril de 2007Fabíola Benfica Marra (Historiadora)Revisão Data: Abril de 2007Anderson Henrique Ferreira (Historiador)Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)

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07. Designação:Bastão do Terno Prata

08. Localização Especifica: quando não está em campanha fica guardada juntocom os instrumentos num cômodo destinado aos apetrechos do Congado.

09. Espécie: Objeto Ritualístico

10. Época: 2004

11. Autoria: Coletiva

12. Origem: Uberlândia

13. Procedência: Uberlândia

14. Material / Técnica: madeira, esmalte sintético, fita adesiva, fitas de cetim

15. Marcas / Inscrições / Legendas:Mirongas na extremidade superior

16. Descrição: Bastões elaborados em madeira, coberto com esmalte sintéticobranco e ou prateado, fita adesiva, fitas de cetim. Os bastões do terno Congo Prataforam benzidos e possuem, na sua base superior, mirongas (segredos, orações eelementos carregados de energias míticas) feitas pela Tenda Coração de Jesus.No bastão de Vanderson foi colocado sal e alho para tirar mal olhado. No bastão doCiro, guiné, arruda e alho representa o elemento fogo e usado para fechar o trânsitopara os soldados passarem. Os capitães me disseram que se algum soldado nãose sentir bem durante as campanhas, o capitão de posse de seu capitão, coloca obastão sobre a cabeça da pessoa e começa a rezar e a cantar e a pessoa melhora

17- Condições de segurança:

( x ) Boa

( ) Razoável

( ) Ruim

Obs:

BENS MÓVEIS E INTEGRADOS

04. Propriedade: Particular

05. Endereço: Rua Bueno Brandão, 949 - Martins

06. Responsável: Vanderson da Silva

01. Município: Uberlândia

02. Distrito: Sede

03. Acervo:Terno Congo

Prata

INNNNNDEE

INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL

Minas Gerais-MG

SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA

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18- Proteção Legal:

( ) Federal

( ) Estadual

( ) Municipal

( x ) Nenhuma

( ) Tombamento Isolado

( ) Tombamento em Conjunto

19- Documentação fotográfica

Fotos do Terno Congo PrataUberlândia/MG

Ano 2007

20- Estado de Conservação:

( ) Excelente ( x ) Bom

( ) Regular ( ) Péssimo

21- Dimensões:

Comprimento:1,02m

22. Análise do Estado de Conservação:

Bastão em bom estado de conservação, sem sinais de desgaste por insetos ou

rachaduras.

23. Intervenções – Responsável / Data: NT

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24. Características Técnicas:

Bastões elaborados em madeira, coberto com esmalte sintético, fita adesiva, fitas

de cetim. “Mirongas” na base superior.

25. Características Estilísticas:

Estilo popular (sem característica estilística específica).

26. Características Iconográficas:

Nas bastões do Congado figuram as imagens e/ou os nomes de Nossa Senhora

do Rosário, de São Benedito e de São Pedro e em alguns casos outras imagens

como a de Santa Ifigênia, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, etc.Mesmo

quando não apresentam imagem, guardam a mesma função ritualística.

Cada santo é associado a elementos distintos. Santa Efigênia ou Ifigênia, pelo que

os congadeiros dizem é a dona da festa do Congado. Santa Ifigênia, segundo

Câmara Cascudo é uma virgem mártir da Etiópia, devoção de negros e pessoas

menos favorecidas. A festa do Congado acontecia em louvor à Santa Ifigênia, a

santa negra, mas os brancos não aceitaram e para que a festa se legitimasse eles

criam a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Cláudio, filósofo,

pesquisador do Congado e dançador do Terno de Camisa Verde, os negros pegam

o rosário que é de Santa Ifigênia e colocam na imagem de Nossa Senhora do

Perpétuo Socorro, criando assim a imagem de Nossa Senhora do Rosário.

Segundo Seu Zezão, capitão do terno Congo de Santa Ifigênia, ele colocou em seu

terno o nome de Santa Ifigênia porque as pessoas precisavam reconhecer que a

festa é dela. Seu Zezão conta que deu muito trabalho para aceitarem o terno porque

somente os padres sabiam da “verdadeira história” de Santa Ifigênia, de Nossa

Senhora do Rosário e de São Benedito. Segundo ele, para haver união entre os

pretos e os brancos Chico Rei comprou a coroa de Santa Ifigênia para coroar Nossa

Senhora do Rosário, comprando assim a sua benção. Como garantia da fidelidade

de Nossa Senhora do Rosário colocaram um menino nos braços de São Benedito

que não é Jesus, mas um menino branco do povo. Se Nossa Senhora do Rosário

algum dia trair os negros, São Benedito deve cortar o pescoço do menino. De

acordo com seu Zezão, São Benedito está sempre ao lado de Nossa Senhora do

Rosário como um soldado, um general. Esta surpreendente narrativa de Seu Zezão

introduz a história de Chico Rei e trata de uma negociação entre os santos. Mas, o

que mais chama atenção é a mudança do papel de São Benedito. Este, tido como

mártir sempre foi referido como uma figura bondosa e que multiplicava os alimentos,

uma espécie de Cristo negro.

512

Agora São Benedito é tomado como um militar frio, capaz de decapitar um bebê

branco em nome da proteção dos negros. Não ouvi de mais ninguém a confirmação

desta versão mitológica. Quando se conversa com seu Zezão percebe-se

claramente a existência de uma disputa pelo capital simbólico. Em meio às críticas

aos pesquisadores e aos trabalhos existentes sobre o congado ele questiona a

“ciência” dos “verdadeiros” “fundamentos” de sua prática ritual tanto pelos

pesquisadores como pelos capitães dos outros ternos. Insinuando ser ele um dos

poucos detentores dos conhecimentos tidos como “fundamentos” do Congado.

Diversas outras pessoas tomam este comportamento como prática. Fazer o

Congado sem “fundamento” seria um ultraje. O convívio nos quartéis envolve

aprendizado constante e um “verdadeiro” capitão precisa passar por esta escola e

aprender todas as lições antes de ousar montar o seu próprio terno.

O lendário Chico Rei, que é o criador da Irmandade do Rosário em Minas Gerais,

era rei em Moçambique, mas na perda de uma batalha fora apreendido e vendido

como escravo, trazido para o Brasil. Os escravos trazidos de Moçambique eram os

conhecedores das técnicas de mineração, “farejavam as minas”, como diziam os

invasores europeus. Chico Rei, após enriquecer seu senhor e demonstrar ser um

grande conhecedor do processo de mineração conseguiu comprar com ouro a

alforria de familiares e amigos, e construir uma capela em homenagem à Santa

Ifigênia em Vila Rica (Ouro Preto). Após descobrir algumas minas Chico Rei disse

que não trabalharia mais se o seu senhor não trouxesse para junto de si seu filho e

parentes que estavam distantes, vendidos para outros senhores de escravos. Mais

tarde conseguiu comprar a alforria de diversos outros escravos. Segundo Câmara

Cascudo “No dia de Reis, em Vila Rica, as negras do cortejo de Chico Rei vinham

com as carapinhas polvilhadas de ouro lavá-las e deixar o ouro numa pia de pedra

existente no Alto da Cruz, onde havia uma imagem de Santa Ifigênia. O ouro servia

para a libertação de outros escravos.” (1972, p.449). O Rei “Moçambiqueiro” que

no Brasil passa a ser chamado de Chico Rei recria aqui o seu reino, supera a

condição de escravo e constrói uma das bases do movimento negro. Muitos negros

se mantinham escravos e cooperavam no movimento liderado por Chico Rei para

a libertação de seu povo. Os negros então alforriados passam a viver nos centros

urbanos nascentes e/ou se deslocam com as expedições desempenhando funções

de carpinteiro, pedreiro, ferreiro (serralheiro), barbeiro, quituteiras, vendedores e

outras profissões tidas hoje como “liberais”. Observem que nesta narrativa, o negro

se retira do sistema de escravidão utilizando a linguagem que está nas bases do

sistema capitalista.

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Ocorre um rompimento com a escravidão, mas não com sua lógica, pois há uma

busca pela inserção do negro no sistema capitalista decorrente desta. Nos

movimentos quilombolas, onde este sujeito excluído busca uma nova forma de

associação e de socialização fora da sociedade opressora, ocorre uma quebra

com os padrões antes impostos. Mas os negros quilombolas precisavam

permanecer em estado de vigília por causa das constantes investidas das

expedições contra suas comunidades. Mas esta é uma outra história.

Voltando aos mitos do Congado, a principal referencia ao São Benedito é em

relação à alimentação, ele provém o sustento das famílias, dá força. São Benedito

está mais ligado à saúde, à manutenção da vida material, é um mártir negro e santo

mesmo em vida, uma espécie de Cristo Negro. Um dos mitos de São Benedito me

foi contado por seu Charqueada, um dos congadeiros vivo mais antigo de

Uberlândia, ancião do terno Moçambique Pena Branca. Conta seu Charqueada,

que certa feita, o senhor dono da fazenda onde o Benedito era cozinheiro mandou

que ele preparasse uma refeição para seus muitos escravos, mas não lhe deu a

provisão suficiente para tanto. Na despensa não havia banha e o arroz e o feijão

eram pouco. O Benedito então pede o auxílio divino e logo obtém resposta do Todo

Poderoso que lhe diz para ir até o chiqueiro e retirar um naco com toucinho e carne

de um dos porcos, que fosse desde a cabeça até o rabo do porco e então preparar

a comida. E assim o Benedito fez. Milagrosamente, a carne do porco que fora

retirada se reconstituiu na mesma hora, permanecendo o porco vivo. Todos os

escravos se alimentaram até saciar a fome e depois de banquetear tocaram e

dançaram em agradecimento ao São Benedito. O patrão, vendo tamanha festança,

foi ter com o Benedito e inquiriu dele como foi que conseguira arranjar tanto alimento.

O Benedito então lhe relatou como conseguira a banha e o toucinho. O patrão não

acreditando no milagre ameaçou castigar o Benedito, mas quando foi golpeá-lo o

São Benedito levita e fica suspenso no ar... Este mito traz o Benedito enquanto

“multiplicador dos alimentos”, realizador de “milagres” extraordinários, figura louvada

pelos seus. Esta narrativa é compartilhada pela maioria dos congadeiros, sendo

que São Benedito é considerado o santo da cozinha, da alimentação, do sustento,

da fartura, por isso sua imagem geralmente é colocada na cozinha, para que na

casa não falte o alimento. É prática em várias partes do território nacional, colocar

café para o São Benedito, é comum ver sua imagem próxima a uma xícara de café.

Outro ritual realizado popularmente é tomar o café do Benedito, que é um café

amargo destituído de qualquer forma de adoçantes, bebido em pequenos goles

pelos congadeiros e participantes de celebrações, festas, etc. O café do Benedito

é tomado como uma bebida capaz de proteger a quem a ingere.

514

Nossa Senhora do Rosário está sempre relacionada à chuva, às riquezas, àproteção, à geração da vida e também à morte. Recorrem a Nossa Senhora parapedir um bom parto e também uma “boa morte”, a ela intercedem a favor dos entesqueridos que já partiram. Em todas as festas que presenciei houve homenagens acongadeiros falecidos no período entre festas. Nossa Senhora está vinculada àvida e à morte, ao rezar a última estrofe da “Ave Maria”, isto fica explicito: “SantaMaria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte.Amém.” Durante o Congado intercedem à Nossa Senhora do Rosário pela vida epela proteção na inevitável hora da morte. Pedem saúde para os seus, proteçãoem todos os momentos, recorrem a ela como à Grande Mãe. O culto às deusasmães foi muito combatido pelo judaísmo, islamismo e demais religiões patriarcais,mas encontra solo fértil nas tradições afro-descendentes e católicas. Uma músicamuito difundida tanto no Congado como na Capoeira e na religiosidade ressalta oaspecto protetor de Nossa Senhora:“No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia,eu gritava por Nossa Senhora, ai meu Deus, quando a pancada doía.”O mito fundante do Congado em Uberlândia é um relato da aparição e resgate deNossa Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões aqui sintetizadas: a) Nossa Senhora do Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir,chama os pais para verem, eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros,que também presenciam a santa submergir, eles tentam tirá-la com suas cordas,mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres que conseguem retira-la daágua e levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vementão o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge,mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Então umterno de Moçambique, todo vestido de branco e descalço, canta para ela, que entãosubmerge e lhes acompanha, eles a levam devagar até o local onde constroemuma capela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambiqueentão se retira sem lhe dar as costas, lhe fazendo reverência;b) a segunda versão, contada por Maria Conceição Cardoso, do MoçambiqueRosário de Fátima, de Ibiá - MG, afirma que ao tentar capturar escravos fugidos naserra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra um grupo de negros,vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima em frente a uma árvorede umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava encravada num galho. Oscapitães do mato tentam surrar os negros e capturá-los, mas eles permanecemimóveis, como se nada os pudesse atingir. Apavorados com a visão voltam para acidade e chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeiraversão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosárioacompanha apenas o Moçambique que canta vestido de branco, de pés descalços,que anda devagar e lhe constrói uma igreja e não lhe dá as costas ao se retirar desua presença.

515

27. Dados Históricos:

As bandeiras têm suas origens nas insígnias, sinais distintivos de poder ou de

comando, usadas desde a antiguidade e que poderiam ser figuras recortadas em

madeira ou metal, ou pintadas nos escudos. As primeiras bandeiras da história do

homem costumavam representar um grupo sócio-cultural através de imagens e de

cores dotadas de significados, a que a comunidade respectiva confere alto valor.

As bandeiras fixadas a um mastro surgiram na China e foram introduzidas no

Ocidente Medieval pelos Islâmicos. As bandeiras de tecido, no mundo ocidental,

foram criadas pelos romanos e eram denominadas vexillium (insígnia, bandeira,

estandarte). Desde a antiguidade os povos usaram mastros com imagens,

carregados na mão ou fixados nos carros de combate. A grande difusão do seu uso

foi feita pelos romanos e cada divisão da legião tinha o seu estandarte. Foi na

Idade Média que bandeiras e estandartes começaram a representar reinos e

regiões. As bandeiras foram usadas tanto em períodos de paz como de guerra.

Sendo um símbolo identificador eram usados pelos exércitos aliados. Para não se

confundirem uns com os outros e evitarem o temido fogo amigo, usavam um pedaço

de pano hasteado num estandarte, com as cores e sinais de identificação do

batalhão ou companhia envolvida.

De acordo com seu tamanho ou uso, a bandeira tem uma palavra sinônima.

Estandarte é utilizado para insígnias militares, mais especificamente para identificar

os corpos de cavalaria. O Pendão é uma bandeira grande, armada em vara,

atravessada horizontalmente sobre o mastro e levada em procissões. O Gonfalão

é uma bandeira de guerra com partes que prendem perpendicularmente a uma

haste com três ou quatro pontas pendentes.

Os Estandartes do Congado mesclam elementos das bandeiras militares e

religiosas e são utilizados para identificar o terno que os conduz e para louvar os

santos de sua devoção.

28. Referências Documentais:

Sharman-burke, Juliet e Greene, Liz. O Tarô Mitológico – São Paulo: Siciliano,

1988

29. Informações Complementares:

Os bastões e os apitos são os instrumentos utilizados pelos capitães de Congado

para conduzir seus soldados e reger as músicas executadas pelos tambores. Nos

ternos de Moçambique os bastões são utilizados não apenas por capitães como

acontece na maioria dos ternos, mas por muitos dançantes, que formam uma ala

fazendo coreografias.

516

Em muitas guardas, fiscais e madrinhas utilizam os bastões alinhados ao final do

desfile, fechando a apresentação do terno. Alguns bastões são em formato de

cobra, outros com carrancas de Pretos Velhos, outros com imagens de Nossa

Senhora Aparecida, Santa Efigênia e São Benedito, crucifixos e inscrições diversas,

fitas de cetim, alguns enfeitados com contas de lágrima, com ervas (alecrim, arruda,

espada de são Jorge), etc. Nas festas de Pretos Velhos nos centros de Umbanda

pratica-se uma dança-ritual muito parecida com a realizada pelos moçambiqueiros:

tocam as pontas dos bastões no alto, revezando com batidas no chão, dançando

em círculo. Quando hasteiam os mastros dando início à festa do Congado, os

moçambiqueiros tocam os mastros com seus bastões. Alguns ternos realizam

coreografias colocando suas coroas nos bastões e erguendo acima da cabeça. A

condução de reis e rainhas, bem como dos santos numa procissão pode em alguns

casos vir dentro de um espaço delimitado por condutores de bastões. Quando se

quer delimitar um espaço com bastões, os dançantes os colocam na horizontal e

com as mãos o moçambiqueiro liga o seu bastão ao bastão do outro, formando

uma corrente.

30. Atualização das informações:NT

31. Ficha Técnica

Levantamento Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)

Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)

Elaboração Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Revisão Data: Abril de 2007

Anderson Henrique Ferreira (Historiador)

Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)

517

07. Designação:Estandarte do Terno Prata

08. Localização Especifica: quando não está em campanha fica guardada junto

com os instrumentos num cômodo destinado aos apetrechos do Congado.

09. Espécie: Bandeira /Distintivo/Insígnia Religiosa.

10. Época: 2004

11. Autoria: estrutura de madeira Enildon, bordado Marco Aurélio.

12. Origem: Uberlândia

13. Procedência: Uberlândia

14. Material / Técnica: estrutura de madeira, tecido camurça prata, marabô branco,

flores de tecido bordadas, miçangas, lantejoulas, imagem de Nossa Senhora do

Rosário impressa em papel plastificado, letras e terço bordados à máquina com

linha branca, franja de cetim branco, cordões amarelos.

15. Marcas / Inscrições / Legendas:Na face, ‘NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO’,

atrás: “CONGO PRATA” “UBERLÂNDIA”

16. Descrição: Estandarte com estrutura de madeira feita pelo Enildon, o Tii Fii do

Catupé Azul e Rosa. A estrutura é um retângulo pequeno, com haste longa, os cordões

amarelos são presos num círculo furado acima do retângulo. A bandeira foi elaborada

em tecido camurça prata, flores de tecido bordadas com detalhes em miçangas e

lantejoulas. A imagem de Nossa Senhora do Rosário impressa em papel plastificado

rodeada por marabô branco. Letras e terço bordados à máquina com linha branca.

Na face as letras saúdam “NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO”, atrás identifica o

terno: “CONGO PRATA” “UBERLÂNDIA” . Nas extremidades superior e inferior,

franja de cetim branco. O bordado do estandarte e da bandeira foi realizado por

Marco Aurélio, soldado do Marujo Azul de Maio, responsável por diversos adereços

do Congo e do Carnaval.

BENS MÓVEIS E INTEGRADOS

04. Propriedade: Particular

05. Endereço: Rua Bueno Brandão, 949 - Martins

06. Responsável: Vanderson da Silva

01. Município: Uberlândia

02. Distrito: Sede

03. Acervo:Terno Congo

Prata

INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL

Minas Gerais-MG

SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA

518

18- Proteção Legal:

( ) Federal

( ) Estadual

( ) Municipal

( x ) Nenhuma

( ) Tombamento Isolado

( ) Tombamento em Conjunto

Fotos do Terno Congo Prata

Uberlândia/MG

Ano 2007

20- Estado de Conservação:

( ) Excelente ( x ) Bom

( ) Regular ( ) Péssimo

21- Dimensões:

Altura:1,25m (tecido)

Largura:0,88m

Altura total:2,04m

Comprimento da haste:1,02m

22. Análise do Estado de Conservação:

Estandarte em bom estado de conservação, sem sinais de desgaste por insetos

ou rachaduras.

23. Intervenções – Responsável / Data: NT

17- Condições de segurança:

( x ) Boa

( ) Razoável

( ) Ruim

Obs:

19- Documentação fotográfica:

519

24. Características Técnicas:Estandarte com estrutura de madeira. A estrutura é um retângulo pequeno, comhaste longa, com cordões presos num círculo furado acima do retângulo. A bandeirafoi elaborada em tecido camurça, com flores de tecido bordadas com detalhes emmiçangas e lantejoulas. Imagem religiosa impressa em papel plastificado rodeadapor marabô. Letras e terço bordados à máquina com linha, na frente e na parte detrás. Nas extremidades superior e inferior, franja de cetim.25. Características Estilísticas:Estilo popular (sem característica estilística específica).26. Características Iconográficas:Nas oratórios do Congado figuram as imagens e/ou os nomes de Nossa Senhorado Rosário, de São Benedito e alguns casos outras imagens como a de SantaIfigênia, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, etc.Mesmo quando nãoapresentam imagem, guardam a mesma função ritualística.Cada santo é associado a elementos distintos. Santa Efigênia ou Ifigênia, pelo queos congadeiros dizem é a dona da festa do Congado. Santa Ifigênia, segundoCâmara Cascudo é uma virgem mártir da Etiópia, devoção de negros e pessoasmenos favorecidas. A festa do Congado acontecia em louvor à Santa Ifigênia, asanta negra, mas os brancos não aceitaram e para que a festa se legitimasse elescriam a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Cláudio, filósofo,pesquisador do Congado e dançador do Terno de Camisa Verde, os negros pegamo rosário que é de Santa Ifigênia e colocam na imagem de Nossa Senhora doPerpétuo Socorro, criando assim a imagem de Nossa Senhora do Rosário.Segundo Seu Zezão, capitão do terno Congo de Santa Ifigênia, ele colocou em seuterno o nome de Santa Ifigênia porque as pessoas precisavam reconhecer que afesta é dela. Seu Zezão conta que deu muito trabalho para aceitarem o terno porquesomente os padres sabiam da “verdadeira história” de Santa Ifigênia, de NossaSenhora do Rosário e de São Benedito. Segundo ele, para haver união entre ospretos e os brancos Chico Rei comprou a coroa de Santa Ifigênia para coroar NossaSenhora do Rosário, comprando assim a sua benção. Como garantia da fidelidadede Nossa Senhora do Rosário colocaram um menino nos braços de São Beneditoque não é Jesus, mas um menino branco do povo. Se Nossa Senhora do Rosárioalgum dia trair os negros, São Benedito deve cortar o pescoço do menino. Deacordo com seu Zezão, São Benedito está sempre ao lado de Nossa Senhora doRosário como um soldado, um general. Esta surpreendente narrativa de Seu Zezãointroduz a história de Chico Rei e trata de uma negociação entre os santos. Mas, oque mais chama atenção é a mudança do papel de São Benedito. Este, tido comomártir sempre foi referido como uma figura bondosa e que multiplicava os alimentos,uma espécie de Cristo negro.

520

Agora São Benedito é tomado como um militar frio, capaz de decapitar um bebê

branco em nome da proteção dos negros. Não ouvi de mais ninguém a confirmação

desta versão mitológica. Quando se conversa com seu Zezão percebe-se

claramente a existência de uma disputa pelo capital simbólico. Em meio às críticas

aos pesquisadores e aos trabalhos existentes sobre o congado ele questiona a

“ciência” dos “verdadeiros” “fundamentos” de sua prática ritual tanto pelos

pesquisadores como pelos capitães dos outros ternos. Insinuando ser ele um dos

poucos detentores dos conhecimentos tidos como “fundamentos” do Congado.

Diversas outras pessoas tomam este comportamento como prática. Fazer o

Congado sem “fundamento” seria um ultraje. O convívio nos quartéis envolve

aprendizado constante e um “verdadeiro” capitão precisa passar por esta escola e

aprender todas as lições antes de ousar montar o seu próprio terno.

O lendário Chico Rei, que é o criador da Irmandade do Rosário em Minas Gerais,

era rei em Moçambique, mas na perda de uma batalha fora apreendido e vendido

como escravo, trazido para o Brasil. Os escravos trazidos de Moçambique eram os

conhecedores das técnicas de mineração, “farejavam as minas”, como diziam os

invasores europeus. Chico Rei, após enriquecer seu senhor e demonstrar ser um

grande conhecedor do processo de mineração conseguiu comprar com ouro a

alforria de familiares e amigos, e construir uma capela em homenagem à Santa

Ifigênia em Vila Rica (Ouro Preto). Após descobrir algumas minas Chico Rei disse

que não trabalharia mais se o seu senhor não trouxesse para junto de si seu filho e

parentes que estavam distantes, vendidos para outros senhores de escravos. Mais

tarde conseguiu comprar a alforria de diversos outros escravos. Segundo Câmara

Cascudo “No dia de Reis, em Vila Rica, as negras do cortejo de Chico Rei vinham

com as carapinhas polvilhadas de ouro lavá-las e deixar o ouro numa pia de pedra

existente no Alto da Cruz, onde havia uma imagem de Santa Ifigênia. O ouro servia

para a libertação de outros escravos.” (1972, p.449). O Rei “Moçambiqueiro” que

no Brasil passa a ser chamado de Chico Rei recria aqui o seu reino, supera a

condição de escravo e constrói uma das bases do movimento negro. Muitos negros

se mantinham escravos e cooperavam no movimento liderado por Chico Rei para

a libertação de seu povo. Os negros então alforriados passam a viver nos centros

urbanos nascentes e/ou se deslocam com as expedições desempenhando funções

de carpinteiro, pedreiro, ferreiro (serralheiro), barbeiro, quituteiras, vendedores e

outras profissões tidas hoje como “liberais”. Observem que nesta narrativa, o negro

se retira do sistema de escravidão utilizando a linguagem que está nas bases do

sistema capitalista.

521

Ocorre um rompimento com a escravidão, mas não com sua lógica, pois há uma

busca pela inserção do negro no sistema capitalista decorrente desta. Nos

movimentos quilombolas, onde este sujeito excluído busca uma nova forma de

associação e de socialização fora da sociedade opressora, ocorre uma quebra

com os padrões antes impostos. Mas os negros quilombolas precisavam

permanecer em estado de vigília por causa das constantes investidas das

expedições contra suas comunidades. Mas esta é uma outra história.

Voltando aos mitos do Congado, a principal referencia ao São Benedito é em relação

à alimentação, ele provém o sustento das famílias, dá força. São Benedito está

mais ligado à saúde, à manutenção da vida material, é um mártir negro e santo

mesmo em vida, uma espécie de Cristo Negro. Um dos mitos de São Benedito me

foi contado por seu Charqueada, um dos congadeiros vivo mais antigo de

Uberlândia, ancião do terno Moçambique Pena Branca. Conta seu Charqueada,

que certa feita, o senhor dono da fazenda onde o Benedito era cozinheiro mandou

que ele preparasse uma refeição para seus muitos escravos, mas não lhe deu a

provisão suficiente para tanto. Na despensa não havia banha e o arroz e o feijão

eram pouco. O Benedito então pede o auxílio divino e logo obtém resposta do Todo

Poderoso que lhe diz para ir até o chiqueiro e retirar um naco com toucinho e carne

de um dos porcos, que fosse desde a cabeça até o rabo do porco e então preparar

a comida. E assim o Benedito fez. Milagrosamente, a carne do porco que fora

retirada se reconstituiu na mesma hora, permanecendo o porco vivo. Todos os

escravos se alimentaram até saciar a fome e depois de banquetear tocaram e

dançaram em agradecimento ao São Benedito. O patrão, vendo tamanha festança,

foi ter com o Benedito e inquiriu dele como foi que conseguira arranjar tanto alimento.

O Benedito então lhe relatou como conseguira a banha e o toucinho. O patrão não

acreditando no milagre ameaçou castigar o Benedito, mas quando foi golpeá-lo o

São Benedito levita e fica suspenso no ar... Este mito traz o Benedito enquanto

“multiplicador dos alimentos”, realizador de “milagres” extraordinários, figura louvada

pelos seus. Esta narrativa é compartilhada pela maioria dos congadeiros, sendo

que São Benedito é considerado o santo da cozinha, da alimentação, do sustento,

da fartura, por isso sua imagem geralmente é colocada na cozinha, para que na

casa não falte o alimento. É prática em várias partes do território nacional, colocar

café para o São Benedito, é comum ver sua imagem próxima a uma xícara de café.

Outro ritual realizado popularmente é tomar o café do Benedito, que é um café

amargo destituído de qualquer forma de adoçantes, bebido em pequenos goles

pelos congadeiros e participantes de celebrações, festas, etc. O café do Benedito

é tomado como uma bebida capaz de proteger a quem a ingere.

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Nossa Senhora do Rosário está sempre relacionada à chuva, às riquezas, àproteção, à geração da vida e também à morte. Recorrem a Nossa Senhora parapedir um bom parto e também uma “boa morte”, a ela intercedem a favor dos entesqueridos que já partiram. Em todas as festas que presenciei houve homenagens acongadeiros falecidos no período entre festas. Nossa Senhora está vinculada àvida e à morte, ao rezar a última estrofe da “Ave Maria”, isto fica explicito: “SantaMaria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte.Amém.” Durante o Congado intercedem à Nossa Senhora do Rosário pela vida epela proteção na inevitável hora da morte. Pedem saúde para os seus, proteçãoem todos os momentos, recorrem a ela como à Grande Mãe. O culto às deusasmães foi muito combatido pelo judaísmo, islamismo e demais religiões patriarcais,mas encontra solo fértil nas tradições afro-descendentes e católicas. Uma músicamuito difundida tanto no Congado como na Capoeira e na religiosidade ressalta oaspecto protetor de Nossa Senhora:“No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia,eu gritava por Nossa Senhora, ai meu Deus, quando a pancada doía.”O mito fundante do Congado em Uberlândia é um relato da aparição e resgate deNossa Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões aqui sintetizadas: a) Nossa Senhora do Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir,chama os pais para verem, eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros,que também presenciam a santa submergir, eles tentam tirá-la com suas cordas,mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres que conseguem retira-la daágua e levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vementão o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge,mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Então umterno de Moçambique, todo vestido de branco e descalço, canta para ela, que entãosubmerge e lhes acompanha, eles a levam devagar até o local onde constroemuma capela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambiqueentão se retira sem lhe dar as costas, lhe fazendo reverência;b) a segunda versão, contada por Maria Conceição Cardoso, do MoçambiqueRosário de Fátima, de Ibiá - MG, afirma que ao tentar capturar escravos fugidos naserra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra um grupo de negros,vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima em frente a uma árvorede umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava encravada num galho. Oscapitães do mato tentam surrar os negros e capturá-los, mas eles permanecemimóveis, como se nada os pudesse atingir. Apavorados com a visão voltam para acidade e chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeiraversão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosárioacompanha apenas o Moçambique que canta vestido de branco, de pés descalços,que anda devagar e lhe constrói uma igreja e não lhe dá as costas ao se retirar desua presença.

523

27. Dados Históricos:

As bandeiras têm suas origens nas insígnias, sinais distintivos de poder ou de

comando, usadas desde a antiguidade e que poderiam ser figuras recortadas em

madeira ou metal, ou pintadas nos escudos. As primeiras bandeiras da história do

homem costumavam representar um grupo sócio-cultural através de imagens e de

cores dotadas de significados, a que a comunidade respectiva confere alto valor.

As bandeiras fixadas a um mastro surgiram na China e foram introduzidas no

Ocidente Medieval pelos Islâmicos. As bandeiras de tecido, no mundo ocidental,

foram criadas pelos romanos e eram denominadas vexillium (insígnia, bandeira,

estandarte). Desde a antiguidade os povos usaram mastros com imagens,

carregados na mão ou fixados nos carros de combate. A grande difusão do seu uso

foi feita pelos romanos e cada divisão da legião tinha o seu estandarte. Foi na

Idade Média que bandeiras e estandartes começaram a representar reinos e

regiões. As bandeiras foram usadas tanto em períodos de paz como de guerra.

Sendo um símbolo identificador eram usados pelos exércitos aliados. Para não se

confundirem uns com os outros e evitarem o temido fogo amigo, usavam um pedaço

de pano hasteado num estandarte, com as cores e sinais de identificação do

batalhão ou companhia envolvida.

De acordo com seu tamanho ou uso, a bandeira tem uma palavra sinônima.

Estandarte é utilizado para insígnias militares, mais especificamente para identificar

os corpos de cavalaria. O Pendão é uma bandeira grande, armada em vara,

atravessada horizontalmente sobre o mastro e levada em procissões. O Gonfalão

é uma bandeira de guerra com partes que prendem perpendicularmente a uma

haste com três ou quatro pontas pendentes.

Os Estandartes do Congado mesclam elementos das bandeiras militares e

religiosas e são utilizados para identificar o terno que os conduz e para louvar os

santos de sua devoção.

28. Referências Documentais:

Fotografias e entrevistas realizadas no quartel do Congo Prata

29. Informações Complementares:

O Estandarte é uma espécie de Bandeira e falar em Bandeira no congado é um

pouco complexo, pois possui pelo menos três significados. Bandeira pode se referir

à jornada, ao trajeto, à caminhada realizada nas campanhas e festas.

524

Também pode ser utilizado para se referir à bandeira em tecido no formato retangularde aproximadamente 60 x 40 cm que trás estampado imagens dos santos, com umcabo de madeira na extremidade superior por onde a bandeireira (virgem, menorde 10 anos) segura. Esta pequena bandeira sempre acompanha o terno, abrindo-lhe os caminhos, tanto em dias de campanha quanto no dia da festa. Bandeiratambém pode referir-se ao estandarte em formato retangular de aproximadamente1,5 m de altura por 1m de comprimento, sustentado por um mastro que o eleva àaproximadamente 2,5m de altura donde pendem fitas cujas pontas as Bandeireirasseguram enquanto dançam e que traz identificações do terno e homenagens aossantos. Geralmente o estandarte e as Bandeireiras só saem em dia de festa. AsBandeireiras ou Andorinhas são meninas que conduzem as fitas do estandartefazendo coreografias. “Antigamente” esta função só era desempenhada pelasgarotas virgens. Muitas mulheres relatam que se a menina não fosse virgem elevasse a fita ou o mastro da bandeira, muitos acidentes poderiam acontecer. NossaSenhora do Rosário seria a responsável por denunciar a farsa. Adereços de cabelopoderiam cair ou a roupa se rasgar, a própria bandeira poderia sofrer danificações,como quebrar, rasgar. Desmaios e doenças também dificultariam a execução dafunção. Caberia a menina se afastar quando não fosse mais “digna” de carregar abandeira do Congado. A execução desta função indevidamente poderia acarretarproblemas ainda maiores para os ternos, como esquecer música ou errar a “batida”.Hoje, no entanto, esta tradição não é mantida pela maioria dos ternos.

30. Atualização das informações:NT

31. Ficha Técnica

Levantamento Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)

Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)

Elaboração Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Revisão Data: Abril de 2007

Anderson Henrique Ferreira (Historiador)

Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)

525

07. Designação:Oratório do Terno Prata

08. Localização Especifica: quando não está em campanha fica guardada juntocom os instrumentos num cômodo destinado aos apetrechos do Congado.09. Espécie: Móvel Religioso10. Época: 200411. Autoria: Ignorada12. Origem: Uberlândia13. Procedência: Uberlândia14. Material / Técnica: madeira ipê entalhada, envernizada, prego, cola de madeira,dupla porta com detalhes vazados, quatro dobradiças metálicas pequenas,puxadores, imagem em gesso de São Benedito, impresso em papel São Jorge eNossa Senhora Aparecida, diversos terços de contas de plástico azul, branco, corde rosa, flores de tecido, fitas de cetim azul.15. Marcas / Inscrições / Legendas:Crucifixo gamado no telhado.16. Descrição: Oratório tipo capelinha, adquirido pelo Vanderson por R$35,00,numa casa de produtos religiosos em Uberlândia, em 2004, quando o terno realizasuas primeiras campanhas. O oratório é elaborado em madeira ipê recortada eentalhada, presa por pregos e cola de madeira, com a base 13 cm maior do que aprofundidade e um crucifixo de 10 cm. O oratório foi adquirido apenas lixado e foienvernizada pelo próprio Vanderson. Possui dupla porta com detalhes vazados,presas por duas dobradiças metálicas pequenas em cada lado e puxadores demadeira. Crucifixo gamado no telhado. As imagens são colocadas do lado de forado pequeno oratório durante as campanhas, uma imagem em gesso de SãoBenedito e imagens impressas em papel de São Jorge e Nossa Senhora Aparecida.Diversos terços de contas de plástico azul, branco e cor de rosa são mantidosdependurados na frente do oratório. No interior, flores de tecido e fitas de cetimazul.

BENS MÓVEIS E INTEGRADOS

04. Propriedade: Particular

05. Endereço: Rua Bueno Brandão, 949 - Martins

06. Responsável: Vanderson da Silva

01. Município: Uberlândia

02. Distrito: Sede

03. Acervo:Terno Congo

Prata

INNNNNDEE

INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL

Minas Gerais-MG

SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA

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18- Proteção Legal:

( ) Federal

( ) Estadual

( ) Municipal

( x ) Nenhuma

( ) Tombamento Isolado

( ) Tombamento em Conjunto

Fotos do Terno Congo PrataUberlândia/MG

Ano 2007

17- Condições de segurança:

( x ) Boa

( ) Razoável

( ) Ruim

Obs:

19- Documentação fotográfica

20- Estado de Conservação:

( ) Excelente ( X) Bom

( ) Regular ( ) Péssimo

Obs:

21- Dimensões:

Altura: 58cm Profundidade: 10cm

Largura 23cm Comprimento: 33cm

22. Análise do Estado de Conservação:

Oratório em bom estado de conservação, sem sinais de desgaste por insetos ourachaduras.

23. Intervenções – Responsável / Data: NT

527

24. Características Técnicas: Oratório elaborado em madeira ipê recortada eentalhada, presa por pregos e cola de madeira, com a base 13 cm maior do que aprofundidade e um crucifixo de 10 cm; apenas lixado e envernizado. Possui duplaporta com detalhes vazados, presas por duas dobradiças metálicas pequenas emcada lado e puxadores de madeira. Uma imagem religiosa em gesso e outras duasimpressas em papel. Diversos terços de contas de plástico são mantidosdependurados na frente do oratório. No interior, flores de tecido e fitas de cetim.25.Características Estilísticas:Estilo popular (sem característica estilística específica).26. Características Iconográficas:Nas oratórios do Congado figuram as imagens e/ou os nomes de Nossa Senhorado Rosário, de São Benedito e alguns casos outras imagens como a de SantaIfigênia, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, etc.Mesmo quando nãoapresentam imagem, guardam a mesma função ritualística.Cada santo é associado a elementos distintos. Santa Efigênia ou Ifigênia, pelo queos congadeiros dizem é a dona da festa do Congado. Santa Ifigênia, segundoCâmara Cascudo é uma virgem mártir da Etiópia, devoção de negros e pessoasmenos favorecidas. A festa do Congado acontecia em louvor à Santa Ifigênia, asanta negra, mas os brancos não aceitaram e para que a festa se legitimasse elescriam a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Cláudio, filósofo,pesquisador do Congado e dançador do Terno de Camisa Verde, os negros pegamo rosário que é de Santa Ifigênia e colocam na imagem de Nossa Senhora doPerpétuo Socorro, criando assim a imagem de Nossa Senhora do Rosário.Segundo Seu Zezão, capitão do terno Congo de Santa Ifigênia, ele colocou em seuterno o nome de Santa Ifigênia porque as pessoas precisavam reconhecer que afesta é dela. Seu Zezão conta que deu muito trabalho para aceitarem o terno porquesomente os padres sabiam da “verdadeira história” de Santa Ifigênia, de NossaSenhora do Rosário e de São Benedito. Segundo ele, para haver união entre ospretos e os brancos Chico Rei comprou a coroa de Santa Ifigênia para coroar NossaSenhora do Rosário, comprando assim a sua benção. Como garantia da fidelidadede Nossa Senhora do Rosário colocaram um menino nos braços de São Beneditoque não é Jesus, mas um menino branco do povo. Se Nossa Senhora do Rosárioalgum dia trair os negros, São Benedito deve cortar o pescoço do menino. Deacordo com seu Zezão, São Benedito está sempre ao lado de Nossa Senhora doRosário como um soldado, um general. Esta surpreendente narrativa de Seu Zezãointroduz a história de Chico Rei e trata de uma negociação entre os santos. Mas, oque mais chama atenção é a mudança do papel de São Benedito. Este, tido comomártir sempre foi referido como uma figura bondosa e que multiplicava os alimentos,uma espécie de Cristo negro.

528

Agora São Benedito é tomado como um militar frio, capaz de decapitar um bebê

branco em nome da proteção dos negros. Não ouvi de mais ninguém a confirmação

desta versão mitológica. Quando se conversa com seu Zezão percebe-se

claramente a existência de uma disputa pelo capital simbólico. Em meio às críticas

aos pesquisadores e aos trabalhos existentes sobre o congado ele questiona a

“ciência” dos “verdadeiros” “fundamentos” de sua prática ritual tanto pelos

pesquisadores como pelos capitães dos outros ternos. Insinuando ser ele um dos

poucos detentores dos conhecimentos tidos como “fundamentos” do Congado.

Diversas outras pessoas tomam este comportamento como prática. Fazer o

Congado sem “fundamento” seria um ultraje. O convívio nos quartéis envolve

aprendizado constante e um “verdadeiro” capitão precisa passar por esta escola e

aprender todas as lições antes de ousar montar o seu próprio terno.

O lendário Chico Rei, que é o criador da Irmandade do Rosário em Minas Gerais,

era rei em Moçambique, mas na perda de uma batalha fora apreendido e vendido

como escravo, trazido para o Brasil. Os escravos trazidos de Moçambique eram os

conhecedores das técnicas de mineração, “farejavam as minas”, como diziam os

invasores europeus. Chico Rei, após enriquecer seu senhor e demonstrar ser um

grande conhecedor do processo de mineração conseguiu comprar com ouro a

alforria de familiares e amigos, e construir uma capela em homenagem à Santa

Ifigênia em Vila Rica (Ouro Preto). Após descobrir algumas minas Chico Rei disse

que não trabalharia mais se o seu senhor não trouxesse para junto de si seu filho e

parentes que estavam distantes, vendidos para outros senhores de escravos. Mais

tarde conseguiu comprar a alforria de diversos outros escravos. Segundo Câmara

Cascudo “No dia de Reis, em Vila Rica, as negras do cortejo de Chico Rei vinham

com as carapinhas polvilhadas de ouro lavá-las e deixar o ouro numa pia de pedra

existente no Alto da Cruz, onde havia uma imagem de Santa Ifigênia. O ouro servia

para a libertação de outros escravos.” (1972, p.449). O Rei “Moçambiqueiro” que

no Brasil passa a ser chamado de Chico Rei recria aqui o seu reino, supera a

condição de escravo e constrói uma das bases do movimento negro. Muitos negros

se mantinham escravos e cooperavam no movimento liderado por Chico Rei para

a libertação de seu povo. Os negros então alforriados passam a viver nos centros

urbanos nascentes e/ou se deslocam com as expedições desempenhando funções

de carpinteiro, pedreiro, ferreiro (serralheiro), barbeiro, quituteiras, vendedores e

outras profissões tidas hoje como “liberais”. Observem que nesta narrativa, o negro

se retira do sistema de escravidão utilizando a linguagem que está nas bases do

sistema capitalista.

529

Ocorre um rompimento com a escravidão, mas não com sua lógica, pois há uma

busca pela inserção do negro no sistema capitalista decorrente desta. Nos

movimentos quilombolas, onde este sujeito excluído busca uma nova forma de

associação e de socialização fora da sociedade opressora, ocorre uma quebra

com os padrões antes impostos. Mas os negros quilombolas precisavam

permanecer em estado de vigília por causa das constantes investidas das

expedições contra suas comunidades. Mas esta é uma outra história.

Voltando aos mitos do Congado, a principal referencia ao São Benedito é em

relação à alimentação, ele provém o sustento das famílias, dá força. São Benedito

está mais ligado à saúde, à manutenção da vida material, é um mártir negro e santo

mesmo em vida, uma espécie de Cristo Negro. Um dos mitos de São Benedito me

foi contado por seu Charqueada, um dos congadeiros vivo mais antigo de

Uberlândia, ancião do terno Moçambique Pena Branca. Conta seu Charqueada,

que certa feita, o senhor dono da fazenda onde o Benedito era cozinheiro mandou

que ele preparasse uma refeição para seus muitos escravos, mas não lhe deu a

provisão suficiente para tanto. Na despensa não havia banha e o arroz e o feijão

eram pouco. O Benedito então pede o auxílio divino e logo obtém resposta do Todo

Poderoso que lhe diz para ir até o chiqueiro e retirar um naco com toucinho e carne

de um dos porcos, que fosse desde a cabeça até o rabo do porco e então preparar

a comida. E assim o Benedito fez. Milagrosamente, a carne do porco que fora

retirada se reconstituiu na mesma hora, permanecendo o porco vivo. Todos os

escravos se alimentaram até saciar a fome e depois de banquetear tocaram e

dançaram em agradecimento ao São Benedito. O patrão, vendo tamanha festança,

foi ter com o Benedito e inquiriu dele como foi que conseguira arranjar tanto alimento.

O Benedito então lhe relatou como conseguira a banha e o toucinho. O patrão não

acreditando no milagre ameaçou castigar o Benedito, mas quando foi golpeá-lo o

São Benedito levita e fica suspenso no ar... Este mito traz o Benedito enquanto

“multiplicador dos alimentos”, realizador de “milagres” extraordinários, figura louvada

pelos seus. Esta narrativa é compartilhada pela maioria dos congadeiros, sendo

que São Benedito é considerado o santo da cozinha, da alimentação, do sustento,

da fartura, por isso sua imagem geralmente é colocada na cozinha, para que na

casa não falte o alimento. É prática em várias partes do território nacional, colocar

café para o São Benedito, é comum ver sua imagem próxima a uma xícara de café.

Outro ritual realizado popularmente é tomar o café do Benedito, que é um café

amargo destituído de qualquer forma de adoçantes, bebido em pequenos goles

pelos congadeiros e participantes de celebrações, festas, etc. O café do Benedito

é tomado como uma bebida capaz de proteger a quem a ingere.

530

Nossa Senhora do Rosário está sempre relacionada à chuva, às riquezas, àproteção, à geração da vida e também à morte. Recorrem a Nossa Senhora parapedir um bom parto e também uma “boa morte”, a ela intercedem a favor dos entesqueridos que já partiram. Em todas as festas que presenciei houve homenagens acongadeiros falecidos no período entre festas. Nossa Senhora está vinculada àvida e à morte, ao rezar a última estrofe da “Ave Maria”, isto fica explicito: “SantaMaria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte.Amém.” Durante o Congado intercedem à Nossa Senhora do Rosário pela vida epela proteção na inevitável hora da morte. Pedem saúde para os seus, proteçãoem todos os momentos, recorrem a ela como à Grande Mãe. O culto às deusasmães foi muito combatido pelo judaísmo, islamismo e demais religiões patriarcais,mas encontra solo fértil nas tradições afro-descendentes e católicas. Uma músicamuito difundida tanto no Congado como na Capoeira e na religiosidade ressalta oaspecto protetor de Nossa Senhora:“No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia,eu gritava por Nossa Senhora, ai meu Deus, quando a pancada doía.”O mito fundante do Congado em Uberlândia é um relato da aparição e resgate deNossa Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões aqui sintetizadas: a) Nossa Senhora do Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir,chama os pais para verem, eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros,que também presenciam a santa submergir, eles tentam tirá-la com suas cordas,mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres que conseguem retira-la daágua e levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vementão o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge,mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Então umterno de Moçambique, todo vestido de branco e descalço, canta para ela, que entãosubmerge e lhes acompanha, eles a levam devagar até o local onde constroemuma capela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambiqueentão se retira sem lhe dar as costas, lhe fazendo reverência;b) a segunda versão, contada por Maria Conceição Cardoso, do MoçambiqueRosário de Fátima, de Ibiá - MG, afirma que ao tentar capturar escravos fugidos naserra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra um grupo de negros,vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima em frente a uma árvorede umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava encravada num galho. Oscapitães do mato tentam surrar os negros e capturá-los, mas eles permanecemimóveis, como se nada os pudesse atingir. Apavorados com a visão voltam para acidade e chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeiraversão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosárioacompanha apenas o Moçambique que canta vestido de branco, de pés descalços,que anda devagar e lhe constrói uma igreja e não lhe dá as costas ao se retirar desua presença.

531

27. Dados Históricos Os primeiros oratórios datam dos primórdios da Idade Média.

Pequenos armários que podiam guardar não só o santo protetor, mas tudo que se

relaciona à devoção cotidiana. Propiciando um ambiente adequado às reflexões e

orações no interior das residências. Os oratórios geralmente simulam pequenos

templos, trazidos para o interior das casas para conferir aos seus donos segurança

e intimidade com o mundo do sagrado. Utilizados também em momentos festivos e

em celebrações coletivas.

Nos primeiros anos da colonização do Brasil, os oratórios exerceram importante

papel no exercício da fé, pois inexistindo igrejas, era diante desses nichos ou

armários de guardar santos que o povo fazia suas rezas. Deste modo as casas se

constituíam no local mais reservado para a devoção religiosa.

O oratório utilizado no Congado é o que designam por Esmoler ou oratório Itinerante

ou de viagem. Estes oratórios são encontrados principalmente em espaços urbanos

e utilizados para arrecadar dinheiro para a edificação de um templo de uma

irmandade e para angariar recursos para a realização de festas religiosas.

28. Referências Documentais:

Fotografias e entrevistas realizadas em visitas no quartel do Congo Prata

site: http://www.museudoratorio.com.br

Cascudo, Luiz da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Edições

de Ouro, 1972

CD Rom “Álbum de Família: Famílias Afro-descendentes em Uberlândia no Século

XX” – Produzido por Fabíola Benfica Marra, com recurso da lei Municipal de Incentivo

à Cultura, finalizado em 2005.

29. Informações Complementares:

O oratório cumpre uma importante função no Congado. Durante as campanhas o

oratório fica na casa onde será realizada a novena e/ou o leilão. Quando o terno sai

para as novenas, as mulheres vão à frente para rezar com os moradores da casa. A

bateria chega quando a novena já encerrou. Uma virgem (geralmente criança menor

de 10 anos) leva uma bandeira com a imagem de São Benedito ou de Nossa

Senhora do Rosário, ou ambos, “escoltados” pela mãe e pela madrinha da bandeira

e do terno à frente da guarda. . Eles tocam em saudação aos donos da casa que

sai para recebê-los. A bandeira é saudada com devoção e após passar sobre as

cabeças das pessoas da casa é levada para o interior da residência para que

sejam abençoados todos os cômodos e todos os moradores.

532

Os dançadores também entram tocando e realizando suas performances e logo

se retiram. Após o terço é realizado o leilão das prendas arrecadadas pelo morador

da casa que está recebendo o oratório do terno. O oratório andor permanece no

interior da casa até que todas as prendas sejam compradas. Uma “secretária”,

geralmente uma das Madrinhas, anota em um caderno cada produto e o valor

arrematado e o nome do comprador. Os produtos geralmente são arrematados por

valores acima do valor real de mercado. Encerrado o leilão, o terno toca para sair,

agradece aos donos da casa, que em alguns casos também oferecem um lanche.

Os soldados descansam as caixas do lado de fora enquanto as meninas rezam se

despedindo. Os donos da casa se despedem dos santos e do oratório que irá

partir para abençoar outra casa. Quando a bandeira sai, o capitão e seus soldados

cantam e tocam se despedindo e as meninas levam dançando o oratório andor

com os santos e a bandeira para a casa onde será realizada a próxima novena e/

ou leilão. Ao chegar os soldados chamam o morador que sai até a porta para receber

a Bandeira (terno) e o oratório. Todos rezam e combinam o dia certo para o leilão e/

ou novena, que poderá ser no dia seguinte ou nos próximos. A Bandeira (o terno)

parte de volta para o quartel, onde ficará a bandeira (levada pela virgem) e os

instrumentos até o próximo leilão. O oratório com as imagens dos santos é levado

no dia da festa por alguns ternos.

30. Atualização das informações:NT

31. Ficha Técnica

Levantamento Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)

Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)

Elaboração Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Revisão Data: Abril de 2007

Anderson Henrique Ferreira (Historiador)

Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)

533

01. Município: Uberlândia

02. Distrito: Sede

3. Designação: Quartel do

Terno Congo Prata

04. Endereço: Rua Bueno Brandão, 949 –

Martins.

05. Propriedade: Privada

06. Responsável: Venceslanda da Silva

ESTRUTURA ARQUITETÔNICA E URBANÍSTICA

07. Histórico:

O terreno onde funciona o quartel do Congo Prata foi adquirido pelos pais de

Dona Venceslanda, Luzia de Souza, que era branca e o negro Antônio da Silva

de Oliveira, que era natural de Uberaba e trabalhava como ferreiro. Em 2004,

constroem o telhado na frente das residências para abrigar os congadeiros.

08. Descrição:

O terreno onde funciona o quartel do terno Congo Prata é dividido por uma construção

de uma casa, com entrada e quintal independentes uma grande área sem

construções e onde efetivamente funciona o quartel do terno é o tipo de construção

chamada de colônia: diversas residências construídas nas extremidades, deixando

uma área sem construção, um terreiro, que garante acesso à todas as casas no

centro. Neste local residem 21 pessoas, utilizando três fogões. Alguns moradores

são coletores de materiais recicláveis, sendo boa parte do local destinado à

separação e armazenagem dos produtos recolhidos nas ruas. Uma das casas é

destinada exclusivamente para guardar os instrumentos, estandarte e oratório do

Congado. Uma área foi coberta com telha de amianto, na frente das residências

para abrigar os congadeiros.

INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL

Minas Gerais-MG

SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA

534

Fotos do Quartel do Terno

Congado Prata

Uberlândia/MG Ano 2007

09. Documentação Fotográfica:

535

10. Uso Atual:

( x ) Residencial ( x ) Serviço

( ) Comercial ( ) Institucional

( ) Industrial ( ) Outros

11. Situação de Ocupação:

( x ) Própria ( ) Alugada

( ) Cedida ( ) Comodato

( ) Outros

12. Proteção Legal Existente

( ) Tombamento

( ) Municipal

( ) Federal

( ) Estadual

( x ) Nenhuma

13. Proteção Legal Proposta:

( ) Tombamento Federal

( ) Tombamento Estadual

( ) Tombamento Municipal

( ) Entorno de Bem Tombado

( )Documentação Histórica

( ) Inventário

( ) Tombamento Integral

( ) Tombamento Parcial

( ) Fachadas

( ) Volumetria

( ) Restrições de Uso e Ocupação

14. Análise do Entorno - Situação e Ambiência: Localiza-se em área plana com

com passeios, arborização, redes elétrica, rede de esgoto, rede de água tratada,

As edificações são predominantemente de volumetria simples apresentando

partidos retangulares, com vários “puxadinhos”, altimetria de um pavimento,

materiais de acabamento de alvenaria de tijolo cerâmico, pintura com grande

variação de cores e esquadrias de metalon ou alumínio, coberturas metálicas ou

com telhas cerâmicas.

536

15. Estado de Conservação:

( ) Excelente

( ) Bom

( x ) Regular

( ) Péssimo

16. Análise do Estado de Conservação:

A casa encontra-se em estado de conservação regular, apresentando pintura

bastante danificada.

17. Fatores de Degradação:

Exposição à ação das intempéries e falta de manutenção.

18. Medidas de Conservação:

Manutenção preventiva

19. Intervenções:

Não identificadas

20. Referências Bibliográficas:

*Marra, Fabíola Benfica. Álbum de Família: Famílias Afro-descendentes no

Século XX em Uberlândia – MG – CD-Rom produzido entre os anos de 2004 e

2005, através da lei municipal de Incentivo à Cultura.

*Slenes, Robert W. “Na Senzala uma flor: esperanças e recordações da família

escrava, Brasil Sudeste, Século XIX” Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

21. Informações Complementares:

Os quartéis são os locais onde os soldados de cada guarda se reúnem para fazer

as campanhas ou para sair em viagens. É também onde guardam os instrumentos

e realizam as refeições durante os dias de festa e fazem intervalos de descanso.

Todas as atividades do Congado começam e terminam no quartel. Geralmente o

quartel é o local de moradia da família do capitão ou da madrinha do terno. As

construções são o que se chamam colônias: diversas casas pequenas, construídas

em períodos distintos, dispostas umas ao lado das outras e com um pátio, uma

área comum, um terreiro no meio. A área não construída no meio é utilizada para

reunir o terno, para realizar as refeições coletivas, afinar instrumentos. Em muitos

casos, banheiros, tanques, pias e locais para passar roupas são de uso comum a

todos os moradores da colônia.

537

Nos Quartéis, realizam grandes refeições conjuntas, mesmo não sendo dia de festa

Congado. O milagre multiplicador dos alimentos promovido por São Benedito é

realizado pelas matriarcas todos os dias e se estende aos “praticamente filhos”,

pois muitas crianças, jovens e adultos são atraídas para o convívio das famílias de

congo, estendendo os laços familiares para além dos consangüíneos. O Congado

que acontece na porta da igreja Católica é o ápice, o momento máximo desta festa

que dura praticamente o ano inteiro dentro dos terreiros e quartéis. A família é

festejada diariamente. Grandes matriarcas reúnem ao seu redor seus muitos filhos

todos os dias.

Segundo Robert W. Slenes1, a palavra Senzala origina-se do dialeto Kimbundu e

significa “residência de serviçais em propriedade agrícola” ou ainda “moradia de

gente separada da casa principal”. Senzala também pode significar “Povoado” ou

“grupo de parentesco”. (p. 148). Enquanto a expressão Quilombo é utilizada para

designar “acampamento de guerreiros” (p. 173). Os Quartéis de Congado abriga

Soldados com suas caixas e seus Estandartes durante as Campanhas. No Congado,

os guerreiros conduzem caixas e são designados Soldados, organizados por

Capitães, seguem seus Estandartes e se abrigam no Quilombo chamado Quartel.

Designação: quartel do terno Congo Prata

22. Atualização das informações:NT

23. Ficha Técnica

Levantamento Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)

Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)

Elaboração Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Revisão Data: Abril de 2007

Anderson Henrique Ferreira (Historiador)

Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)

538

Secretaria Municipal de Cultura

CONGO SÃODOMINGOS

540

01. Município: Uberlândia

02. Distrito: Sede

03. Natureza: Festas Populares/ Celebrações/

Cultos Afro-brasileiros

04. Designação: Quartel do Terno São Domingos

BENS IMATERIAIS

06. Informe Histórico:José Herculano Cândido nasceu em 12/10/1943 na cidade de Monte Santo, no sulde Minas Gerais. Vem para Uberlândia no dia 11/10/1949 junto com o pai CândidoGeraldo Ananias, o Tio Cândido, nascido em 03/10/1911 em Ventania, hoje municípiode Alpinópolis. Tio Cândido pede transferência à Ferroviária Mogiana, ondetrabalhava e se muda para Uberlândia após a morte de sua esposa Isbela VitalinoGomes, em 1948. Isbela possuía uma fábrica de doces. Tio Cândido era sacristãona igreja, mas não havia Congado na cidade de Monte Santo. Em 1952 Tio Cândidoe o filho Zezé começam a dançar no terno Congo Branco do Panamá, o nome donegro Panamá era Sebastião, ele era sargento do exército. Na metade da décadade 1960, José Herculano, o Zezé, fica doente e o pai fez uma promessa para SantaIfigênia que se ele se curasse, eles fundariam um terno com o nome da santa paraa família comandar. José Herculano melhora e em 1968 fundam o terno Congo deSanta Ifigênia, dança durante oito anos neste terno e se muda para São Paulo paratrabalhar como prensista e armador em metalúrgica. Volta para Uberlândia em 1978,dança no Congo de Santa Ifigênia até o ano de 2002. Em 2003 sai com o ternoCongo São Domingos pela primeira vez.07. Documentação Fotográfica:

INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL

Minas Gerais-MG

Fotos do Terno Congo São Domingos

Uberlândia/MG

Ano 2007

05. Responsável: José Herculano Cândido (Zezé)

SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA

541

07. Documentação Fotográfica:

Fotos do Terno Congo São Domingos

Uberlândia/MG

Ano 2007

08. Descrição:

O terno Congo São Domingos utiliza calça e sapatos brancos camisa e capa verde

claro. Alguns utilizam chapéu coberto com tecido verde com aplique de renda branca

e longas fitas de cetim coloridas amarradas ao chapéu. Os instrumentos usados

são maracanã 24 e 26, surdão 20 e 22 surdinho 14 e 18, tarol 12, repilique 08 e 10

e chocalho. Três rainhas carregam três oratórios, um para cada santo: Nossa

Senhora do Rosário, São Benedito e São Domingos Sávio.

O terno homenageia São Domingos Sávio, jovem seminarista italiano, discípulo de

Dom Bosco que viveu em meados de 1850. Filho de ferreiros, Domingos Sávio foi

ainda criança para o seminário, submetendo-se a diversas penitências para

combater a tentação dos pecados, autor da máxima “A morte, mas não pecados”.

Faleceu aos 15 anos de tuberculose. Canonizado em 1954 sendo aclamado por

ter conservado “ilibada a angélica pureza” empenhado em “combater a blasfêmia e

a ofensa a Deus”, além de defender a “submissa obediência aos pais e educadores”.

09. Grupos Sociais Envolvidos:

Familiares de José Herculano Cândido e moradores do bairro Jardim Brasília e

adjacências

10. Organizadores:

Vice-presidente: Rogério Aparecido Soares

Secretária: Ana Carolina Silva Cândido

Tesoureira: Maria Agnésia Ferreira Cândida

Conselho Fiscal: Antônio Ananias, Maria Aparecida Ananias Soares

Madrinhas: Gasparina, Nenzinha, Maria Agnésia Ferreira Cândido

542

11. Participantes:

Aproximadametne 90 integrantes

12. Local de Realização:

O quartel do terno se localiza na Rua Saturno, 713 – Jardim Brasília

13. Data/ periodicidade de ocorrência:

A “campanha” do Congado, como os congadeiros dizem, começava por volta do

dia 15 de setembro, atualmente ela começa por volta do dia 10 de agosto. Por

causa da mudança da data da festa de novembro para outubro, a campanha também

começa mais cedo. A festa do Congado realizada na Igreja de Nossa Senhora do

Rosário no centro da cidade de Uberlândia, atualmente ocorre no último domingo e

segunda-feira de outubro, antes era no segundo domingo e na segunda-feira de

novembro. Ocorre também uma festa na igreja de São Benedito, no bairro Planalto

no mês de maio. Várias festas em outras cidades ocorrem em diversas datas ao

longo do ano, sendo visitadas pelos ternos de Uberlândia.

14. Informações Complementares:

O Congado é um ritual afro-brasileiro que nasce dos cortejos de coroação de reis,

do culto aos ancestrais africanos e das celebrações de santos da Igreja Católica.

Uma dança ritual executada por guardas ou ternos de Congo, Moçambique, Marujo,

Marinheiro e Catupé. Os dançantes prestam homenagem à Nossa Senhora do

Rosário e a São Benedito, aos antepassados e aos santos de sua devoção,

principalmente aos santos negros Santa Ifigênia e N. S. Aparecida, mas também

São Domingos, Nossa Senhora da Guia, Nossa Senhora d’Abadia, etc. Cada terno

se diferencia do outro nas cores das roupas e dos acessórios, nos ritmos das

músicas, nos instrumentos e na forma da dança.

Prevalesse o canto antifonal, isto é, um solista, geralmente o Primeiro Capitão,

apresenta o tema e o coro responde. O Segundo Capitão com seu bastão e apito

comanda os soldados na execução instrumental. Cada Capitão “puxa” uma série

de músicas que podem ser elaboradas por ele ou pelo grupo e ainda outras

aprendidas com outros ternos ou com os antepassados. Algumas músicas são

“tradicionais” do terno, passadas de capitão para capitão. Outras são específicas

de cada guarda. Existem também cantorias que são consideradas “segredo” que

não podem ser reveladas para “os de fora” e que são aprendidas e “guardadas no

coração”, só são executadas em cerimônias reservadas.

O trajeto do Congado é uma manifestação pública da fé, do pertencimento ao

movimento cultural afro-brasileiro-mineiro-uberlandese. Os congadeiros rompem

os muros que cercam suas comunidades e ganham a cidade, comemorando a

manutenção de suas famílias e de sua cultura.

543

O ritual composto por elementos da cultura bantu é reelaborado no Brasil sob

influência do contato com outros povos africanos, europeus e nativos. O Congado

em Uberlândia, é fundamentado no mito da aparição e resgate da imagem de Nossa

Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões: a) Nossa Senhora do

Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir, chama os pais para verem,

eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros, que também presenciam a

santa submergir, eles tentam tirá-la, mas ela não sai do local. Chegam brancos e

padres e tentam levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o

mar. Vem, então o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela

submerge, mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar.

Um terno de Moçambique, todo vestido de branco, descalço, com gungas nos pés,

canta para ela, que então submerge e lhes acompanha, eles então constroem uma

capela para ela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambique

então se retira sem lhe dar as costas. b) a segunda versão, contada por Maria

Conceição Cardoso, do Moçambique Rosário de Fátima, afirma que ao tentar

capturar escravos fugidos na serra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato

encontra um grupo de negros, vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de

lágrima em frente a uma árvore de umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava

encravada num galho. Os capitães do mato surram os negros e tentam capturá-los,

mas eles permanecem imóveis. Apavorados com a visão voltam para a cidade e

chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeira versão,

brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosário acompanha

apenas o Moçambique que canta, vestido de branco e lhe construiu uma igreja e

não lhe dá as costas ao se retirar de sua presença.

O Moçambique é, por isso, a Guarda Real. Isto é, são os ternos de Moçambique os

responsáveis por conduzir as imagens dos santos, bem como os reis durante a

procissão. É responsável por levantar o mastro na porta da Igreja dando início ao

Congado, é quem geralmente conduz os casais reais até a procissão e também no

encerramento da festa. Ouvi de diversos capitães em Uberlândia, que quem conduz

o casal real é o Moçambique ou “Congo de coroa”. A coroa além de representar a

realeza, também é símbolo de Nossa Senhora e confere a quem a utiliza a autoridade

para conduzir os reis e santos. A coroa também está associada aos Pretos Velhos,

na Umbanda, representa o poder e a sabedoria dos anciões. O Catupé faz a guarda

do Moçambique e pode substituí-lo nessas funções.

544

As músicas, as roupas e adereços e o trançar de fitas característico do terno deMarinheiros e Marujos, fazem referência ao mar que traz os negros para o Brasil ede onde Nossa Senhora é retirada, e às atividades do Marinheiro. Os ternos deCongo são de louvação, os tocadores de maracanãs e caixas fazem performancessaltando com os instrumentos, mas esta performance, atualmente, também éreproduzida por outras guardas. Segundo os integrantes do Marinheiro de SãoBenedito a performance dos saltadores ou caixeiros de frente, em que osdançadores pulam com as caixas revezando entre ajoelhar-se e saltar é cheia designificação. Quando estão ajoelhados, estão pedindo axé e quando estão pulando,estão agradecendo as graças recebidas. Axé é energia vital, essencial paraexistência. Uma das características diferenciadoras dos ternos de Congo que vemse extinguindo em Uberlândia é o uso de cuíca e de tamborins (caixinhas quadradasconfeccionados em madeira e couro, percutidas com uma vareta), bem como ouso de pandeiros, adufes e instrumentos harmônicos como violões, cavaquinhos,banjos e sanfonas.A organização das guardas, a hierarquia dos ternos, segue os modelos militaresou políticos. Na maior parte dos ternos, o “regente” é chamado Capitão, mas emoutros recebe o distintivo de General ou Guia. Existem outras funções, tais como,Presidente, Fiscal, Conselheiro, Secretário, Tesoureiro, Madrinha do Terno, Madrinhada Bandeira, Soldados, Bandeireiras, etc. que variam de terno para terno, tanto emnúmero como em funções e significações. “Antigamente” a função de PrimeiroCapitão era designada em alguns ternos de Marechal e as bandeireiras de Juizas,o Presidente era conhecido como o Dono do terno. As designações presidente,vice-presidente geralmente tem seu equivalente como primeiro capitão, segundocapitão, madrinha.O primeiro capitão se desloca o tempo todo se certificando se tudo corre bem comtodo o terno e também puxa as músicas. O segundo capitão geralmente éresponsável por reger a bateria, é o maestro. Dois outros capitães ou fiscaisprotegem as laterais e também se locomovem entre os dançadores. A madrinha doterno geralmente segue a frente, junto à virgem que carrega a bandeira, mas tambémtransita pelo terno auxiliando na medida em que se faz necessário. A madrinha dabandeira auxilia as bandeireiras. Elas também são responsáveis pelas crianças,no Marinheirão existe a função de capitão das crianças, outras pessoas, geralmenteas mães também cuidam das delas, carregando-as no colo quando se cansam.Os Fiscais auxiliam na condução do terno, na execução das músicas, naorganização dos dançadores. São os imediatos do Capitão, geralmente tambémimpunham um bastão e trazem um apito. As funções de Presidente, tesoureiro eSecretários, exigidas para o registro oficial, geralmente são desempenhados pelospróprios Capitães, Madrinhas e Fiscais.

545

Soldados são os tocadores e dançadores.

As Bandeireiras conduzem as Bandeiras ou estandartes e suas fitas fazendo

coreografias, também podem ser chamadas de Andorinhas. “Antigamente” esta

função só era desempenhada pelas garotas virgens. Muitas mulheres relatam que

se a menina não fosse virgem e levasse a fita ou o mastro da bandeira, muitos

acidentes poderiam acontecer. Nossa Senhora do Rosário seria a responsável por

denunciar a farsa. Adereços de cabelo poderiam cair ou a roupa se rasgar, a própria

bandeira poderia sofrer danificações, como quebrar, rasgar. Desmaios e doenças

dificultariam a execução da função. Caberia a menina se afastar quando não fosse

mais “digna” de carregar a bandeira do Congado. Hoje no entanto esta tradição

não é mantida pela maioria dos ternos.

Alguns atribuem sentidos místicos à escolha das cores, dos instrumentos, dos

acessórios e dos ritmos, outros vêm nesses elementos traços distintivos dos ternos.

As roupas e acessórios são usados apenas nos dias de festa, durante a campanha,

cada um se veste a seu modo. As meninas geralmente fazem roupas que podem

ser usadas no cotidiano, já que todo ano elas fazem duas trocas de roupa: uma

para o domingo e outra para a segunda. Alguns ternos modificam os modelos de

suas roupas todo ano, outros mantém a vestimenta dos homens durante algum

período. Constatei a preocupação de anciões quanto à manutenção das roupas

consideradas tradicionais dos ternos. A indumentária que mais inova é a das

bandeireiras, geralmente as roupas dos soldados possuem elementos

identificadores dos ternos e não mudam de um ano para o outro, a mudança quando

ocorre é gradativa. A indumentária é um dos elementos identificadores dos ternos,

por isso a Irmandade do Rosário intervém na escolha das cores e adereços.

Os ternos só recebem a Carta de Comando – ordem para participar dos festejos –

se estiverem filiados à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Uberlândia.

Aqueles registrados em cartórios participam do Reinado sem o aval da Irmandade.

Um representante da Igreja, geralmente o pároco, participa diretamente das decisões

da Irmandade. A Irmandade é o elo de ligação dos ternos com a Igreja Católica e

as subvenções governamentais. A Irmandade gerencia a festa, decide data de

realização da festa, faz e refaz o estatuto da Irmandade e da Festa, decide horários

de realização de missas, procissões etc. A diretoria da Irmandade do Rosário é na

verdade um reinado, onde os cargos são hereditários. Cada terno é como se fosse

um “reino” ou “estado”, “clã”, “facção”, um batalhão, um pelotão, pertencente à um

tipo de guarda. Com organização e agenda de rituais própria. Cada terno possui o

seu “diplomata”, geralmente um capitão, que fará sua representação nas reuniões

com a Irmandade e os órgãos governamentais ou financiadores.

546

Apesar de muitos congadeiros negar que exista rivalidade entre os ternos, a disputa

torna-se muito clara em muitos momentos. Disputam a ocupação do espaço na

praça da igreja, qual a execução mais perfeita das músicas, qual o maior número

de componentes, qual a melhor organização e disposição dos soldados na

apresentação, qual a melhor e mais bonita indumentária, ocorre disputa na

demarcação do território onde realizaram sua campanha, etc. Em alguns momentos

verdadeiras batalhas orquestrais ocorrem: os ternos se enfrentam com os

instrumentos, o apito e a expressão corporal dos capitães deixam clara a luta

enquanto os soldados rufam seus tambores.

Durante “campanha” do Congado, como os congadeiros dizem, são confeccionados

ou reformados acessórios, roupas e instrumentos. Realizam ensaios, novenas,

leilões, reuniões com a Irmandade e com a Coordenadoria Municipal Afro-Racial

(CoAfro). Fazem benzições, trabalhos espirituais. Visitam outras cidades em festa.

A campanha é o período que precede a festa.

Geralmente é o Presidente do terno ou a Madrinha quem fica responsável por

agendar os leilões e novenas. Os donos da casa onde serão realizados os leilões

arrecadam “prendas”, geralmente alimentos, produtos de higiêne, bebidas, quitutes,

roupas, etc, que serão leiloados a favor do terno. Reúnem-se os dançadores, afinam-

se os instrumentos e cada terno sai do seu quartel sob o comando do bastão e do

apito de seus capitães realizando jornadas noturnas que extrapolam os limites dos

bairros para realizar as novenas e os leilões. Estes deslocamentos pela cidade

enchem a noite com as sonoridades dos instrumentos. Algumas pessoas saem na

porta das casas para ver os ternos passarem, nos seus ensaios para o dia da

festa.

Cada terno possui o seu “território”, demarcado pelas casas dos amigos que

oferecem prendas para o leilão ou solicitam a visita da bandeira para a realização

da novena. Cada terno possui um quartel, que pode ser a casa de um dos capitães

ou de pessoas ligadas ao terno. O “território” dos ternos extrapola, inclusive as

fronteiras das cidades, pois cada terno possui uma agenda de festas e encontros

formando distintas redes de sociabilidade. Os ternos também costumam visitar

suas cidades de origem.

Quando um terno se encontra com outro no trajeto pode acontecer pelo menos três

ações diferentes:

1 – se os ternos forem amigos, se cumprimentam e até mesmo tocam juntos;

547

2 – se os ternos tiverem algum tipo de diferença, rixa, ou questão a ser resolvida,

poderá haver uma espécie de confronto, um duelo de instrumentos, ou um terno

impede o outro de atravessar uma rua ou passar na porta da igreja.

3 – se os ternos ainda não se conhecerem pode acontecer dos Capitães cantarem

um para o outro saldando as bandeiras e se identificando. Pode também haver

neste caso uma espécie de duelo em que os capitães disputam cordialmente para

saber qual dos capitães é mais experiente ou qual a bateria faz mais evoluções.

O trajeto até a casa da novena é utilizado para realizarem o ensaio para o dia da

festa. Durante o trajeto até as casas onde se realizarão as novenas, os capitães

ensinam as músicas aos novatos e ensinam a tocar os instrumentos. É comum a

criação de músicas novas para apresentarem no dia da festa. A composição pode

ser feita por capitães, madrinhas ou dançadores do terno ou ainda ser atribuídas a

mentores espirituais. Muitas músicas tocadas durante a campanha podem não ser

executadas no dia da festa. Existem também músicas específicas para cada

ocasião: para chamar o dono da casa, para agradecer as prendas para o leilão,

para abençoar o interior da casa, músicas de novena, em louvor a São Benedito,

em louvor a Nossa Senhora do Rosário, que relembram os antepassados, que falam

de fenômenos climáticos, para solicitar a saída da bandeira, para saldar Reis e

Rainhas, de despedidas, para quando ocorre um encontro com outro terno seja ele

amigo ou não e uma infinidade de outras possibilidades, variando de terno para

terno.

Existem duas versões para a origem do Congado em Uberlândia. A primeira

considera o Distrito de Miraporanga (antiga Santa Maria) o local de onde se

originaram os ternos de Congado do município, na época, o arraial de São Pedro

de Uberabinha. Segundo Paulino (In Brasileiro, 2001:31), o primeiro terno de

moçambique surgiu em Miraporanga, não sendo inicialmente aceito pelos

moradores de São Pedro do Uberabinha. A Igreja do Rosário de MIrapóranga,

construída em 1850, foi fundada por escravos, que posteriormente se mudariam

para o futuro bairro Patrimônio em Uberlândia, às margens do Rio Uberabinha,

levando consigo as celebrações do Congado.

A segunda versão indica que o movimento do Congado se iniciou no Sertão da

Farinha Podre, por volta de 1874, através do “Mestre André”. Esse senhor reunia

os negros da região do Rio das Velhas e Olhos D’Água, tocando tambor em culto à

Nossa Senhora do Rosário, padroeira dos negros, pedindo para libertá-los da

escravidão. O início do movimento ocorre por volta de 1876, período de expectativa

e temor quanto à abolição da escravatura no Brasil Império.

548

Vale lembrar que em 1881 foi decretada a lei nº 2040, conhecida como a “Lei do

Ventre Livre” e em 1885 a “Lei do Sexagenário” ou “Lei Saraiva Cotegipe”, as quais

participaram de um processo que culminou na própria abolição da escravatura, em

1888.

O município de Uberlândia se localiza na região do Triângulo Mineiro, área conhecida

no século XVIII e XIX como Sertão da Farinha Podre. Esta região era denominada

de Sertão da Farinha Podre por causa dos sacos de palha com farinha, encontrados

pelos colonizadores, enterrados ou pendurados nas árvores. Das histórias contadas

sobre a origem deste nome, existe uma que afirma que quando as bandeiras se

aproximavam os indígenas e quilombolas que aqui habitavam escondiam sua

farinha, base de sua alimentação, com esperança de poderem voltar algum dia

para suas aldeias e ter alimentos até a nova plantação dar seus frutos. Eles se

refugiavam nas matas e esperavam os bandeirantes abandonarem suas moradias

após arrasá-las com saques e incêndios. Muitas aldeias tinham que mudar

constantemente sua localização, abandonando sacos de farinha pelo caminho de

sua fuga. Por causa de sua localização geográfica, o Sertão da Farinha Podre

passou a ser um entreposto para os avanços das bandeiras. Local de de descanso

e comércio de tropas uma parada na rota de tropeiros e mineradores em direção a

Goiás e Mato Grosso. A farinha que fora escondida pelos quilombolas e/ou

indígenas apodrecia com a ação do tempo, e depois era encontrada pelos novos

habitantes do lugar. Por causa da grande quantidade de mantimentos apodrecidos

encontrados, a região da bacia do rio Paranaíba que abrange o atual Triângulo

Mineiro e parte do sul do estado do Goiás, ganhou o nome de Sertão da Farinha

Podre.

O Sertão da Farinha Podre era povoado por vários núcleos quilombolas distribuídos

como pontos de uma rede. Os documentos oficiais referem-se a diversos deles

como pertencentes ao Quilombo do Campo Grande. O Quilombo do Ambrósio,

localizado na zona rural de Ibiá, cujo sítio arqueológico é tombado pelo patrimônio

histórico, foi como uma célula central de onde partiam os integrantes que formavam

os outros núcleos da rede. A historiografia oficial considera que o Quilombo do

Ambrósio tenha sido destruído em 1746, sendo referido como o maior núcleo,

comportando até mais de “mil negros, e grande número de negras e crias”. Os

documentos oficiais que narram a destruição deste núcleo e de “outros menores”

informam o número de três oficiais e duzentos e sessenta “homens capazes, e dos

mais desocupados” reunidos nas freguesias de Brumado (hoje Patrocínio), Sta

Rita, Carijos, Congonhas, Ouro Branco e Prado.

549

E para a destruição do Quilombo do Campo Grande foram enviados quatrocentos

e depois mais trezentos homens da cidade de Mariana, São João de El Rey, São

José, Sabará e Vila Nova da Raynha. Sendo que estas comitivas levavam cartas

solicitando que todas as comarcas lhes fornecessem “munições de guerra e de

boca” Embora, os documentos oficiais relatem expedições bem sucedidas na

destruição destes quilombos, deixam a entender que muitos quilombolas fugiam

recomeçando um novo quilombo em áreas não ocupadas pelo homem branco. A

área onde hoje se localiza Uberlândia só foi ocupada pelo homem branco a partir

de 1821, possuindo ainda reminiscências dos antigos quilombos do Campo Grande.

Mas a construção de hidrelétricas tem destruído paulatinamente os vestígios

arqueológicos destes quilombos que geralmente escolhiam áreas estratégicas

próximas aos rios para se instalar. Os quilombolas escolhiam sua localização de

acordo com os elementos oferecidos pelo ambiente buscando áreas que lhes

possibilitasse a permanência (agricultura e pecuária de subsistência, assaltos às

tropas de comerciantes e viajantes e contrabando) e a defesa da comunidade. A

região ainda preserva na toponímia referências aos antigos quilombos (Pau Furado

e Quilombo).

A ocupação efetiva desta área pelo homem branco ocorreu a partir do século XIX,

sendo a produção pecuária e a agricultura de subsistência primordiais, pois

possibilitaram a instalação das fazendas e dos arraiais que futuramente constituiriam

vários municípios e distritos. O arraial de São Pedro do Uberabinha, núcleo inicial

da cidade de Uberlândia, formou-se no início do século XIX, a partir da aquisição

de sesmarias do governo da Província de Minas Gerais por algumas famílias. O

marco inicial da atual cidade foi a antiga Sesmaria de São Francisco, doada a

João Pereira da Rocha, em 1821. A chegada de outras famílias, com destaque

para a “Alves Carrejo”, intensificou a ocupação da região.

Em 1846, Felisberto Alves Carrejo, após aquisição de área de dez alqueires entre

o Córrego São Pedro e o Córrego Cajubá, obteve, juntamente com Francisco Alves

Pereira, aprovação do Bispado de Goiás para a construção de uma capela curada,

consagrada a Nossa Senhora do Carmo e a São Sebastião da Barra. No ano de

1852 foi criado o Distrito de Paz do São Pedro do Uberabinha, pela lei provincial n.

602, e em 1853 a primeira capela foi concluída. . A criação da paróquia, em 1857,

ocorreu no mesmo ano da formação do patrimônio da capela, composto de terras

doadas por um grupo de moradores locais que haviam adquirido 100 alqueires da

Fazenda do Salto (Vale, 1998: 252).

550

As primeiras edificações do arraial se São Pedro do Uberabinha se concentravam

ao redor do largo da Igreja Matriz, em terrenos aforados do patrimônio de Nossa

Senhora do Carmo. Em 1883 foram doados, ainda, doze alqueires de terra à

margem esquerda do córrego Uberabinha, próximo aos limites do arraial, destinados

ao patrimônio de Nossa Senhora da Abadia (Lourenço, 1986:16). Em 31 de agosto

de 1888, a então freguesia foi transformada em vila, com o nome de São Pedro do

Uberabinha, tendo sido instalada oficialmente em 1891. Em 24 de maio de 1892, a

vila foi elevada à categoria de cidade pela lei nº 23. Em 1895, a Estrada de Ferro

Mogiana atingiu a cidade de Uberlândia e se verifica o desenvolvimento da produção

agropecuária e de indústrias, com destaque para a produção de charque (Brasileiro,

2001: 253). “Nas duas primeiras décadas do século XX foram instaladas em

Uberlândia indústrias ligadas à produção rural. Têm-se registro das seguintes

indústrias, existentes em 1922: beneficiadoras de arroz e algodão, serrarias,

carpintarias, charqueadas, curtumes e outros estabelecimentos de produção de

couro e carne, além de fábricas de banha, sabão, calçados e arreios” (Lourenço,

1986: 20). Vale ressaltar que o fornecimento de energia elétrica teve início em 1909,

aumentando a possibilidade da instalação de várias fábricas.

Em 1929, a cidade recebeu o nome de Uberlândia, através da lei nº 843. Na década

de 1930, a abertura de estradas de rodagem em direção às áreas de exploração

de diamantes do Rio Araguaia intensificou o desenvolvimento da área, que se tornou

ponto de troca e abastecimento de caravanas e compradores de diamantes . Em

1933 , iniciou -se a construção da nova igreja Matriz concluída em 1941. A padroeira

Santa Terezinha foi escolhida para substituir os antigos padroeiros da cidade Nossa

Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra. A antiga igreja Matriz foi demolida

em 1943, dando lugar a estação Rodoviária, que hoje sedia a Biblioteca Municipal

. Em 1940, cidade passa por um rápido crescimento e adensamento populacional,

e desde então tem se configurado importante centro regional, localizado em local

estratégico, próximo a seis capitais (Campo Grande, Cuiabá, Goiânia, Belo

Horizonte, São Paulo e Brasília ). De 1985 a 1996, o seu crescimento anual do P I

B de 5, 09%, superior ao crescimento de Minas Gerais (2,17%) e do Brasil (2,28%).

Hoje, a cidade se destaca pelo desenvolvimento dos setores de agro industria,

tecnologia da informação, setor atacadista - distribuidor, e mais recentemente, de

biotecnologia, sendo também considerado pólo na área de ensino superior.

Há referências históricas de que a primeira Capela de Nossa Senhora do Rosário

tenha sido iniciada pelo Padre João Dantas Barbosa, em 1876, a qual não foi

concluída, tendo sido definitivamente levantada na atual praça Cícero Dr. Duarte.

551

Em decorrência do abandono da capela anterior, entre 1891 e 1893, ocorreu a

construção da nova Capela do Rosário “com estrutura de madeira, tijolos de adobe

e telha comum, situada no centro da cidade e com fachada voltada para o bairro

General Osório (atual bairro fundinho).” Já em meados de 1890, o então presidente

da Irmandade do Rosário passou a comandar a nova procissão. O vigário Pio Dantas

estimulou a participação da comunidade negra nas festividades religiosas. (Ibidem,

2001)

Com o crescimento da cidade, a segunda capela precisou ser ampliada. Foi

composta uma comissão responsável por angariar donativos particulares e recolher

uma mensalidade cobrada da Irmandade do Rosário. A capela anterior foi demolida

e, no mesmo local, a partir de 1928, foi construída uma nova capela com projeto de

autoria do arquiteto Thomaz Hovanez. Em 1931, a Capela Nossa Senhora do

Rosário foi re-inaugurada. Em 1985, a Capela de Nossa Senhora do Rosário foi

tombada pelo Patrimônio Histórico Municipal (lei nº 4263, de 9 de setembro) e

entre 1987 e 1988, foi restaurada pela Secretaria de Cultura do Município com

apoio do IEPHA/MG (Vale, 1998:257). A Capela de Nossa Senhora do Rosário

passou por processo de restauração no de 2006.

15. Referências:

* Anais da Biblioteca Nacional – Volume 108 – Rio de Janeiro, 1988 pg. 47-113 –

Carta de Gomes Freire de Andrade para o Capitão-mor da Vila de S. João de El

Rey Manuel da Costa Golvea, 27 de junho de 1746. Mss. APM, Códice SC84,

Registro da providoria da Fazenda de Minas Gerais p.111 (Ver laudo IPHAN 004/

98)

*Brasileiro, Jeremias. Congadas de Minas Gerais – Brasília: Fundação Cultural

Palmares, 2001.

* Laudo IPHAN 004/98 – Dossiê do Tombamento do Remanescente do Antigo

Quilombo do Ambrósio – Ibiá – Mg

*Lucas, Glaura. Os Sons do Rosário – Um Estudo Etnomusicológico do Congado

Mineiro – Arturos e Jatobá. Dissertação de Mestrado, São Paulo: ECA-USP, 1999.

*Marra, Fabíola Benfica. Álbum de Família: Famílias Afro-descendentes no Século

XX em Uberlândia – MG – CD-Rom produzido entre os anos de 2004 e 2005,

552

*Martins, Tarcisio José. Quilombo do Campo Grande: A História de Minas Roubada

do Povo. São Paulo: Gazeta Maçônica, 1995.

*Lima Jr., Walter. Chico Rei. Embrafilmes, 1986.

*LOURENÇO, Luis Augusto Bustamante. Bairro Patrimônio: Salgadores e

Moçambiqueiros. Uberlândia: Secretaria Municipal de Cultura, 1983.

*Martins, Leda M. Cantares – Afrografias da Memória. São Paulo: Perspectiva:

1997.

*Moura, Clovis (org). Os Quilombos na Dinâmica Social do Brasil – Maceió: Edufal,

2001.

*RIBEIRO, Maria de Lourdes Borges. A Música Africana. Rio de Janeiro: Funart,

1981

*VALE, Marília Brasileiro Teixeira. Arquitetura Religiosa do Século XIX no antigo

“Sertão da Farinha Podre”. Tese apresentada à Faculdade de Arquitetura e

Urbanismo da Universidade de São Paulo para obtenção do Grau de Doutor, São

Paulo, 1998.

16. Atualização das informações:NT

17. Ficha Técnica

Levantamento Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)

Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)

Elaboração Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Revisão Data: Abril de 2007

Anderson Henrique Ferreira (Historiador)

Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)

553

07. Designação:Bandeira do Terno São Domingos

08. Localização Especifica: quando não está em época de campanha fica juntocom os instrumentos.

09. Espécie: Bandeira /Distintivo/Insígnia Religiosa

10. Época: 2003

11. Autoria: Coletiva

12. Origem: Uberlândia

13. Procedência: Uberlândia

14. Material / Técnica: cabo de plástico, tecido cetim verde limão, marabô verde,franja de cetim branca, imagens impressas em papel plastificado, cordão delantejoulas verdes, bordados com miçangas, terço de contas de plásticotransparente.

15. Marcas / Inscrições / Legendas: Imagens de São Domingos Sávio e de NossaSenhora do Rosário.

16. Descrição:

O terno Congo de São Benedito desfila com duas bandeiras, mas na visita querealizei ao quartel, me foi apresentada apenas uma, com cabo de plástico, tecidocetim verde limão, nas extremidades marabô verde, franja de cetim branca. Duasimagens uma de São Domingos Sávio e uma um pouco menor de Nossa Senhorado Rosário, impressas em papel plastificado costuradas ao tecido com acabamentode cordão de lantejoulas verdes. Motivos florais bordados com miçangas circundamas imagens e um terço de contas de plástico transparente pendem entre as imagens,preso na parte superior.

BENS MÓVEIS E INTEGRADOS

04. Propriedade: Particular

05. Endereço: Rua Saturno, 713 – Jardim

Brasília

06. Responsável: José Herculano Cândido

01. Município: Uberlândia

02. Distrito: Sede

03. Acervo:Terno Congo

São Domingos

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INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL

Minas Gerais-MG

SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA

554

18- Proteção Legal:

( ) Federal

( ) Estadual

( ) Municipal

( x ) Nenhuma

( ) Tombamento Isolado

( ) Tombamento em Conjunto

19- Documentação fotográfica

Fotos do Terno Congo São Domingos

Uberlândia/MG

Ano 2007

20- Estado de Conservação:

( ) Excelente ( x ) Bom

( ) Regular ( ) Péssimo

21- Dimensões:

Altura 58cm

Largura: 52cm

22. Análise do Estado de Conservação:

Bandeira em bom estado de conservação.

Não apresenta perdas, não apresenta sinais de infestação por insetos ou de mofo.

17- Condições de segurança:

( x ) Boa ( ) Razoável ( ) Ruim

Obs:

555

23. Intervenções – Responsável / Data: NT

24. Características Técnicas:

A bandeira que foi apresentada tem com cabo de plástico, tecido cetim, marabô

nas extremidades, franja de cetim. Duas imagens religiosas com tamanhos

diferentes, impressas em papel plastificado costuradas ao tecido com acabamento

de cordão de lantejoulas. Motivos florais bordados com miçangas circundam as

imagens e um terço de contas de plástico transparente pendem entre as imagens,

preso na parte superior.

25. Características Estilísticas:

Estilo popular (sem característica estilística específica).

26. Características Iconográficas:

Nos oratórios do Congado figuram as imagens e/ou os nomes de Nossa Senhora

do Rosário, de São Benedito e em alguns casos outras imagens como a de Santa

Ifigênia, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, etc.

Cada santo é associado a elementos distintos. Santa Efigênia ou Ifigênia, pelo que

os congadeiros dizem é a dona da festa do Congado. Santa Ifigênia, segundo

Câmara Cascudo é uma virgem mártir da Etiópia, devoção de negros e pessoas

menos favorecidas. A festa do Congado acontecia em louvor à Santa Ifigênia, a

santa negra, mas os brancos não aceitaram e para que a festa se legitimasse eles

criam a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Cláudio, filósofo,

pesquisador do Congado e dançador do Terno de Camisa Verde, os negros pegam

o rosário que é de Santa Ifigênia e colocam na imagem de Nossa Senhora do

Perpétuo Socorro, criando assim a imagem de Nossa Senhora do Rosário.

Segundo Seu Zezão, capitão do terno Congo de Santa Ifigênia, ele colocou em seu

terno o nome de Santa Ifigênia porque as pessoas precisavam reconhecer que a

festa é dela. Seu Zezão conta que deu muito trabalho para aceitarem o terno porque

somente os padres sabiam da “verdadeira história” de Santa Ifigênia, de Nossa

Senhora do Rosário e de São Benedito. Segundo ele, para haver união entre os

pretos e os brancos Chico Rei comprou a coroa de Santa Ifigênia para coroar Nossa

Senhora do Rosário, comprando assim a sua benção. Como garantia da fidelidade

de Nossa Senhora do Rosário colocaram um menino nos braços de São Benedito

que não é Jesus, mas um menino branco do povo. Se Nossa Senhora do Rosário

algum dia trair os negros, São Benedito deve cortar o pescoço do menino. De

acordo com seu Zezão, São Benedito está sempre ao lado de Nossa Senhora do

Rosário como um soldado, um general. Esta surpreendente narrativa de Seu Zezão

introduz a história de Chico Rei e trata de uma negociação entre os santos.

556

Mas, o que mais chama atenção é a mudança do papel de São Benedito. Este, tido

como mártir sempre foi referido como uma figura bondosa e que multiplicava os

alimentos, uma espécie de Cristo negro. Agora São Benedito é tomado como um

militar frio, capaz de decapitar um bebê branco em nome da proteção dos negros.

Não ouvi de mais ninguém a confirmação desta versão mitológica. Quando se

conversa com seu Zezão percebe-se claramente a existência de uma disputa pelo

capital simbólico. Em meio às críticas aos pesquisadores e aos trabalhos existentes

sobre o congado ele questiona a “ciência” dos “verdadeiros” “fundamentos” de sua

prática ritual tanto pelos pesquisadores como pelos capitães dos outros ternos.

Insinuando ser ele um dos poucos detentores dos conhecimentos tidos como

“fundamentos” do Congado. Diversas outras pessoas tomam este comportamento

como prática. Fazer o Congado sem “fundamento” seria um ultraje. O convívio nos

quartéis envolve aprendizado constante e um “verdadeiro” capitão precisa passar

por esta escola e aprender todas as lições antes de ousar montar o seu próprio

terno.

O lendário Chico Rei, que é o criador da Irmandade do Rosário em Minas Gerais,

era rei em Moçambique, mas na perda de uma batalha fora apreendido e vendido

como escravo, trazido para o Brasil. Os escravos trazidos de Moçambique eram os

conhecedores das técnicas de mineração, “farejavam as minas”, como diziam os

invasores europeus. Chico Rei, após enriquecer seu senhor e demonstrar ser um

grande conhecedor do processo de mineração conseguiu comprar com ouro a

alforria de familiares e amigos, e construir uma capela em homenagem à Santa

Ifigênia em Vila Rica (Ouro Preto). Após descobrir algumas minas Chico Rei disse

que não trabalharia mais se o seu senhor não trouxesse para junto de si seu filho e

parentes que estavam distantes, vendidos para outros senhores de escravos. Mais

tarde conseguiu comprar a alforria de diversos outros escravos. Segundo Câmara

Cascudo “No dia de Reis, em Vila Rica, as negras do cortejo de Chico Rei vinham

com as carapinhas polvilhadas de ouro lavá-las e deixar o ouro numa pia de pedra

existente no Alto da Cruz, onde havia uma imagem de Santa Ifigênia. O ouro servia

para a libertação de outros escravos.” (1972, p.449). O Rei “Moçambiqueiro” que

no Brasil passa a ser chamado de Chico Rei recria aqui o seu reino, supera a

condição de escravo e constrói uma das bases do movimento negro. Muitos negros

se mantinham escravos e cooperavam no movimento liderado por Chico Rei para

a libertação de seu povo.

557

Os negros então alforriados passam a viver nos centros urbanos nascentes e/ou se

deslocam com as expedições desempenhando funções de carpinteiro, pedreiro,

ferreiro (serralheiro), barbeiro, quituteiras, vendedores e outras profissões tidas hoje

como “liberais”. Observem que nesta narrativa, o negro se retira do sistema de

escravidão utilizando a linguagem que está nas bases do sistema capitalista. Ocorre

um rompimento com a escravidão, mas não com sua lógica, pois há uma busca

pela inserção do negro no sistema capitalista decorrente desta. Nos movimentos

quilombolas, onde este sujeito excluído busca uma nova forma de associação e de

socialização fora da sociedade opressora, ocorre uma quebra com os padrões

antes impostos. Mas os negros quilombolas precisavam permanecer em estado

de vigília por causa das constantes investidas das expedições contra suas

comunidades. Mas esta é uma outra história.

Voltando aos mitos do Congado, a principal referencia ao São Benedito é em

relação à alimentação, ele provém o sustento das famílias, dá força. São Benedito

está mais ligado à saúde, à manutenção da vida material, é um mártir negro e santo

mesmo em vida, uma espécie de Cristo Negro. Um dos mitos de São Benedito me

foi contado por seu Charqueada, um dos congadeiros vivo mais antigo de

Uberlândia, ancião do terno Moçambique Pena Branca. Conta seu Charqueada,

que certa feita, o senhor dono da fazenda onde o Benedito era cozinheiro mandou

que ele preparasse uma refeição para seus muitos escravos, mas não lhe deu a

provisão suficiente para tanto. Na despensa não havia banha e o arroz e o feijão

eram pouco. O Benedito então pede o auxílio divino e logo obtém resposta do Todo

Poderoso que lhe diz para ir até o chiqueiro e retirar um naco com toucinho e carne

de um dos porcos, que fosse desde a cabeça até o rabo do porco e então preparar

a comida. E assim o Benedito fez. Milagrosamente, a carne do porco que fora

retirada se reconstituiu na mesma hora, permanecendo o porco vivo. Todos os

escravos se alimentaram até saciar a fome e depois de banquetear tocaram e

dançaram em agradecimento ao São Benedito. O patrão, vendo tamanha festança,

foi ter com o Benedito e inquiriu dele como foi que conseguira arranjar tanto alimento.

O Benedito então lhe relatou como conseguira a banha e o toucinho. O patrão não

acreditando no milagre ameaçou castigar o Benedito, mas quando foi golpeá-lo o

São Benedito levita e fica suspenso no ar... Este mito traz o Benedito enquanto

“multiplicador dos alimentos”, realizador de “milagres” extraordinários, figura louvada

pelos seus. Esta narrativa é compartilhada pela maioria dos congadeiros, sendo

que São Benedito é considerado o santo da cozinha, da alimentação, do sustento,

da fartura, por isso sua imagem geralmente é colocada na cozinha, para que na

casa não falte o alimento.

558

É prática em várias partes do território nacional, colocar café para o São Benedito,

é comum ver sua imagem próxima a uma xícara de café. Outro ritual realizado

popularmente é tomar o café do Benedito, que é um café amargo destituído de

qualquer forma de adoçantes, bebido em pequenos goles pelos congadeiros e

participantes de celebrações, festas, etc. O café do Benedito é tomado como uma

bebida capaz de proteger a quem a ingere.

Nossa Senhora do Rosário está sempre relacionada à chuva, às riquezas, à

proteção, à geração da vida e também à morte. Recorrem a Nossa Senhora para

pedir um bom parto e também uma “boa morte”, a ela intercedem a favor dos entes

queridos que já partiram. Em todas as festas que presenciei houve homenagens a

congadeiros falecidos no período entre festas. Nossa Senhora está vinculada à

vida e à morte, ao rezar a última estrofe da “Ave Maria”, isto fica explicito: “Santa

Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte.

Amém.” Durante o Congado intercedem à Nossa Senhora do Rosário pela vida e

pela proteção na inevitável hora da morte. Pedem saúde para os seus, proteção

em todos os momentos, recorrem a ela como à Grande Mãe. O culto às deusas

mães foi muito combatido pelo judaísmo, islamismo e demais religiões patriarcais,

mas encontra solo fértil nas tradições afro-descendentes e católicas. Uma música

muito difundida tanto no Congado como na Capoeira e na religiosidade ressalta o

aspecto protetor de Nossa Senhora:

“No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia,

eu gritava por Nossa Senhora, ai meu Deus, quando a pancada doía.”

O mito fundante do Congado em Uberlândia é um relato da aparição e resgate de

Nossa Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões aqui sintetizadas:

a) Nossa Senhora do Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir,

chama os pais para verem, eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros,

que também presenciam a santa submergir, eles tentam tirá-la com suas cordas,

mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres que conseguem retira-la da

água e levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vem

então o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge,

mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Então um

terno de Moçambique, todo vestido de branco e descalço, canta para ela, que então

submerge e lhes acompanha, eles a levam devagar até o local onde constroem

uma capela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambique

então se retira sem lhe dar as costas, lhe fazendo reverência;

559

b) a segunda versão, contada por Maria Conceição Cardoso, do MoçambiqueRosário de Fátima, de Ibiá - MG, afirma que ao tentar capturar escravos fugidos naserra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra um grupo de negros,vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima em frente a uma árvorede umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava encravada num galho. Oscapitães do mato tentam surrar os negros e capturá-los, mas eles permanecemimóveis, como se nada os pudesse atingir. Apavorados com a visão voltam para acidade e chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeiraversão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosárioacompanha apenas o Moçambique que canta vestido de branco, de pés descalços,que anda devagar e lhe constrói uma igreja e não lhe dá as costas ao se retirar desua presença.27. Dados Históricos:As bandeiras têm suas origens nas insígnias, sinais distintivos de poder ou decomando, usadas desde a antiguidade e que poderiam ser figuras recortadas emmadeira ou metal, ou pintadas nos escudos. As primeiras bandeiras da história dohomem costumavam representar um grupo sócio-cultural através de imagens e decores dotadas de significados, a que a comunidade respectiva confere alto valor.As bandeiras fixadas a um mastro surgiram na China e foram introduzidas noOcidente Medieval pelos Islâmicos. As bandeiras de tecido, no mundo ocidental,foram criadas pelos romanos e eram denominadas vexillium (insígnia, bandeira,estandarte). Desde a antiguidade os povos usaram mastros com imagens,carregados na mão ou fixados nos carros de combate. A grande difusão do seu usofoi feita pelos romanos e cada divisão da legião tinha o seu estandarte. Foi naIdade Média que bandeiras e estandartes começaram a representar reinos eregiões. As bandeiras foram usadas tanto em períodos de paz como de guerra.Sendo um símbolo identificador eram usados pelos exércitos aliados. Para não seconfundirem uns com os outros e evitarem o temido fogo amigo, usavam um pedaçode pano hasteado num estandarte, com as cores e sinais de identificação dobatalhão ou companhia envolvida.De acordo com seu tamanho ou uso, a bandeira tem uma palavra sinônima.Estandarte é utilizado para insígnias militares, mais especificamente para identificaros corpos de cavalaria. O Pendão é uma bandeira grande, armada em vara,atravessada horizontalmente sobre o mastro e levada em procissões. O Gonfalãoé uma bandeira de guerra com partes que prendem perpendicularmente a umahaste com três ou quatro pontas pendentes.Os Estandartes do Congado mesclam elementos das bandeiras militares ereligiosas e são utilizados para identificar o terno que os conduz e para louvar ossantos de sua devoção.

560

28. Referências Documentais:

* Entrevista e fotografias realizadas no trabalho de campo no quartel do Congo São

Domingos

*Fotografias do Congado dos anos 2004 e 2006

*Marra, Fabíola Benfica. Álbum de Família: Famílias Afro-descendentes no Século

XX em Uberlândia – MG – CD-Rom produzido entre os anos de 2004 e 2005,

através da lei municipal de Incentivo à Cultura.

29. Informações Complementares:

Falar em Bandeira no congado é um pouco complexo, pois possui pelo menos três

significados. Bandeira pode se referir à jornada, ao trajeto, à caminhada realizada

nas campanhas e festas. Também pode ser utilizado para se referir à bandeira em

tecido no formato retangular de aproximadamente 60 x 40 cm que trás estampado

imagens dos santos, com um cabo de madeira na extremidade superior por onde a

bandeireira (virgem, menor de 10 anos) segura. Esta pequena bandeira sempre

acompanha o terno, abrindo-lhe os caminhos, tanto em dias de campanha quanto

no dia da festa.

Bandeira também pode referir-se ao estandarte em formato retangular de

aproximadamente 1,5 m de altura por 1m de comprimento, sustentado por um mastro

que o eleva à aproximadamente 2,5m de altura donde pendem fitas cujas pontas

as Bandeireiras seguram enquanto dançam e que traz identificações do terno e

homenagens aos santos. Geralmente o estandarte e as Bandeireiras só saem em

dia de festa. . O tecido das bandeiras e estandartes são trocados periodicamente,

geralmente de dois em dois anos.

As Bandeireiras ou Andorinhas são meninas que conduzem as fitas do estandarte

fazendo coreografias. “Antigamente” esta função só era desempenhada pelas

garotas virgens. Muitas mulheres relatam que se a menina não fosse virgem e

levasse a fita ou o mastro da bandeira, muitos acidentes poderiam acontecer. Nossa

Senhora do Rosário seria a responsável por denunciar a farsa. Adereços de cabelo

poderiam cair ou a roupa se rasgar, a própria bandeira poderia sofrer danificações,

como quebrar, rasgar. Desmaios e doenças também dificultariam a execução da

função. Caberia a menina se afastar quando não fosse mais “digna” de carregar a

bandeira do Congado. A execução desta função indevidamente poderia acarretar

problemas ainda maiores para os ternos, como esquecer música ou errar a “batida”.

Hoje, no entanto, esta tradição não é mantida pela maioria dos ternos.

561

30. Atualização das informações:NT

31. Ficha Técnica

Levantamento Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)

Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)

Elaboração Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Revisão Data: Abril de 2007

Anderson Henrique Ferreira (Historiador)

Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)

562

07. Designação:Bastão

08. Localização Especifica: quando não está em época de campanha fica junto

com os instrumentos.

09. Espécie: Objeto ritualístico

10. Época: 2003

11. Autoria: José Herculano e Padre Baltazar

12. Origem: Uberlândia

13. Procedência: Uberlândia

14. Material / Técnica: madeira capitão do mato, esmalte sintético prateado, fitas

de cetim amarelo e verde limão, flores e ramos de trigo.

15. Marcas / Inscrições / Legendas:Adereços de flores e ramos de trigo.

16. Descrição:

O bastão de madeira capitão do mato foi preparada por José Herculano, lixada e

coberta com esmalte sintético prateado, fitas de cetim amarelo e verde limão. As

flores e ramos de trigo foram colocados na festa do ano de 2006 pelo padre Baltazar.

17- Condições de segurança:

( x ) Boa

( ) Razoável

( ) Ruim

Obs:

BENS MÓVEIS E INTEGRADOS

04. Propriedade: Particular

05. Endereço: Rua Saturno, 713 – Jardim

Brasília

06. Responsável: José Herculano Cândido

01. Município: Uberlândia

02. Distrito: Sede

03. Acervo:Terno Congo

São Domingos

ytfrhfhfhg

INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL

Minas Gerais-MG

SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA

563

18- Proteção Legal:

( ) Federal

( ) Estadual

( ) Municipal

( x ) Nenhuma

( ) Tombamento Isolado

( ) Tombamento em Conjunto

19- Documentação fotográfica

Fotos do Terno Congo São Domingos

Uberlândia/MG

Ano 2007

20- Estado de Conservação:

( ) Excelente ( x ) Bom

( ) Regular ( ) Péssimo

21- Dimensões:

Comprimento:1,08m

22. Análise do Estado de Conservação:

Bastão em bom estado de conservação, sem sinais de desgaste por insetos ou

rachaduras.

564

23. Intervenções – Responsável / Data:

Flores e ramos de trigo colocados na festa do ano de 2006 pelo padre Baltazar.

24. Características Técnicas:

Bastão de madeira lixada e coberta com esmalte sintético, com fitas de cetim.

25. Características Estilísticas:

Estilo popular (sem característica estilística específica).

26. Características Iconográficas:

Nos Bastões do Congado figuram as imagens e/ou os nomes de Nossa Senhora

do Rosário, de São Benedito e de Preto Velho, e em alguns casos outras imagens

como a de Santa Ifigênia, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, etc.Mesmo

quando não apresentam imagem, guardam a mesma função ritualística.

Cada santo é associado a elementos distintos. Santa Efigênia ou Ifigênia, pelo que

os congadeiros dizem é a dona da festa do Congado. Santa Ifigênia, segundo

Câmara Cascudo é uma virgem mártir da Etiópia, devoção de negros e pessoas

menos favorecidas. A festa do Congado acontecia em louvor à Santa Ifigênia, a

santa negra, mas os brancos não aceitaram e para que a festa se legitimasse eles

criam a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Cláudio, filósofo,

pesquisador do Congado e dançador do Terno de Camisa Verde, os negros pegam

o rosário que é de Santa Ifigênia e colocam na imagem de Nossa Senhora do

Perpétuo Socorro, criando assim a imagem de Nossa Senhora do Rosário.

Segundo Seu Zezão, capitão do terno Congo de Santa Ifigênia, ele colocou em seu

terno o nome de Santa Ifigênia porque as pessoas precisavam reconhecer que a

festa é dela. Seu Zezão conta que deu muito trabalho para aceitarem o terno porque

somente os padres sabiam da “verdadeira história” de Santa Ifigênia, de Nossa

Senhora do Rosário e de São Benedito. Segundo ele, para haver união entre os

pretos e os brancos Chico Rei comprou a coroa de Santa Ifigênia para coroar Nossa

Senhora do Rosário, comprando assim a sua benção. Como garantia da fidelidade

de Nossa Senhora do Rosário colocaram um menino nos braços de São Benedito

que não é Jesus, mas um menino branco do povo. Se Nossa Senhora do Rosário

algum dia trair os negros, São Benedito deve cortar o pescoço do menino. De

acordo com seu Zezão, São Benedito está sempre ao lado de Nossa Senhora do

Rosário como um soldado, um general. Esta surpreendente narrativa de Seu Zezão

introduz a história de Chico Rei e trata de uma negociação entre os santos.

565

Mas, o que mais chama atenção é a mudança do papel de São Benedito. Este, tido

como mártir sempre foi referido como uma figura bondosa e que multiplicava os

alimentos, uma espécie de Cristo negro. Agora São Benedito é tomado como um

militar frio, capaz de decapitar um bebê branco em nome da proteção dos negros.

Não ouvi de mais ninguém a confirmação desta versão mitológica. Quando se

conversa com seu Zezão percebe-se claramente a existência de uma disputa pelo

capital simbólico. Em meio às críticas aos pesquisadores e aos trabalhos existentes

sobre o congado ele questiona a “ciência” dos “verdadeiros” “fundamentos” de sua

prática ritual tanto pelos pesquisadores como pelos capitães dos outros ternos.

Insinuando ser ele um dos poucos detentores dos conhecimentos tidos como

“fundamentos” do Congado. Diversas outras pessoas tomam este comportamento

como prática. Fazer o Congado sem “fundamento” seria um ultraje. O convívio nos

quartéis envolve aprendizado constante e um “verdadeiro” capitão precisa passar

por esta escola e aprender todas as lições antes de ousar montar o seu próprio

terno.

O lendário Chico Rei, que é o criador da Irmandade do Rosário em Minas Gerais,

era rei em Moçambique, mas na perda de uma batalha fora apreendido e vendido

como escravo, trazido para o Brasil. Os escravos trazidos de Moçambique eram os

conhecedores das técnicas de mineração, “farejavam as minas”, como diziam os

invasores europeus. Chico Rei, após enriquecer seu senhor e demonstrar ser um

grande conhecedor do processo de mineração conseguiu comprar com ouro a

alforria de familiares e amigos, e construir uma capela em homenagem à Santa

Ifigênia em Vila Rica (Ouro Preto). Após descobrir algumas minas Chico Rei disse

que não trabalharia mais se o seu senhor não trouxesse para junto de si seu filho e

parentes que estavam distantes, vendidos para outros senhores de escravos. Mais

tarde conseguiu comprar a alforria de diversos outros escravos. Segundo Câmara

Cascudo “No dia de Reis, em Vila Rica, as negras do cortejo de Chico Rei vinham

com as carapinhas polvilhadas de ouro lavá-las e deixar o ouro numa pia de pedra

existente no Alto da Cruz, onde havia uma imagem de Santa Ifigênia. O ouro servia

para a libertação de outros escravos.” (1972, p.449). O Rei “Moçambiqueiro” que

no Brasil passa a ser chamado de Chico Rei recria aqui o seu reino, supera a

condição de escravo e constrói uma das bases do movimento negro. Muitos negros

se mantinham escravos e cooperavam no movimento liderado por Chico Rei para

a libertação de seu povo.

566

Os negros então alforriados passam a viver nos centros urbanos nascentes e/ou se

deslocam com as expedições desempenhando funções de carpinteiro, pedreiro,

ferreiro (serralheiro), barbeiro, quituteiras, vendedores e outras profissões tidas hoje

como “liberais”. Observem que nesta narrativa, o negro se retira do sistema de

escravidão utilizando a linguagem que está nas bases do sistema capitalista. Ocorre

um rompimento com a escravidão, mas não com sua lógica, pois há uma busca

pela inserção do negro no sistema capitalista decorrente desta. Nos movimentos

quilombolas, onde este sujeito excluído busca uma nova forma de associação e de

socialização fora da sociedade opressora, ocorre uma quebra com os padrões

antes impostos. Mas os negros quilombolas precisavam permanecer em estado

de vigília por causa das constantes investidas das expedições contra suas

comunidades. Mas esta é uma outra história.

Voltando aos mitos do Congado, a principal referencia ao São Benedito é em

relação à alimentação, ele provém o sustento das famílias, dá força. São Benedito

está mais ligado à saúde, à manutenção da vida material, é um mártir negro e santo

mesmo em vida, uma espécie de Cristo Negro. Um dos mitos de São Benedito me

foi contado por seu Charqueada, um dos congadeiros vivo mais antigo de

Uberlândia, ancião do terno Moçambique Pena Branca. Conta seu Charqueada,

que certa feita, o senhor dono da fazenda onde o Benedito era cozinheiro mandou

que ele preparasse uma refeição para seus muitos escravos, mas não lhe deu a

provisão suficiente para tanto. Na despensa não havia banha e o arroz e o feijão

eram pouco. O Benedito então pede o auxílio divino e logo obtém resposta do Todo

Poderoso que lhe diz para ir até o chiqueiro e retirar um naco com toucinho e carne

de um dos porcos, que fosse desde a cabeça até o rabo do porco e então preparar

a comida. E assim o Benedito fez. Milagrosamente, a carne do porco que fora

retirada se reconstituiu na mesma hora, permanecendo o porco vivo. Todos os

escravos se alimentaram até saciar a fome e depois de banquetear tocaram e

dançaram em agradecimento ao São Benedito. O patrão, vendo tamanha festança,

foi ter com o Benedito e inquiriu dele como foi que conseguira arranjar tanto alimento.

O Benedito então lhe relatou como conseguira a banha e o toucinho. O patrão não

acreditando no milagre ameaçou castigar o Benedito, mas quando foi golpeá-lo o

São Benedito levita e fica suspenso no ar... Este mito traz o Benedito enquanto

“multiplicador dos alimentos”, realizador de “milagres” extraordinários, figura louvada

pelos seus. Esta narrativa é compartilhada pela maioria dos congadeiros, sendo

que São Benedito é considerado o santo da cozinha, da alimentação, do sustento,

da fartura, por isso sua imagem geralmente é colocada na cozinha, para que na

casa não falte o alimento.

567

É prática em várias partes do território nacional, colocar café para o São Benedito,

é comum ver sua imagem próxima a uma xícara de café. Outro ritual realizado

popularmente é tomar o café do Benedito, que é um café amargo destituído de

qualquer forma de adoçantes, bebido em pequenos goles pelos congadeiros e

participantes de celebrações, festas, etc. O café do Benedito é tomado como uma

bebida capaz de proteger a quem a ingere.

Nossa Senhora do Rosário está sempre relacionada à chuva, às riquezas, à

proteção, à geração da vida e também à morte. Recorrem a Nossa Senhora para

pedir um bom parto e também uma “boa morte”, a ela intercedem a favor dos entes

queridos que já partiram. Em todas as festas que presenciei houve homenagens a

congadeiros falecidos no período entre festas. Nossa Senhora está vinculada à

vida e à morte, ao rezar a última estrofe da “Ave Maria”, isto fica explicito: “Santa

Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte.

Amém.” Durante o Congado intercedem à Nossa Senhora do Rosário pela vida e

pela proteção na inevitável hora da morte. Pedem saúde para os seus, proteção

em todos os momentos, recorrem a ela como à Grande Mãe. O culto às deusas

mães foi muito combatido pelo judaísmo, islamismo e demais religiões patriarcais,

mas encontra solo fértil nas tradições afro-descendentes e católicas. Uma música

muito difundida tanto no Congado como na Capoeira e na religiosidade ressalta o

aspecto protetor de Nossa Senhora:

“No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia,

eu gritava por Nossa Senhora, ai meu Deus, quando a pancada doía.”

O mito fundante do Congado em Uberlândia é um relato da aparição e resgate de

Nossa Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões aqui sintetizadas:

a) Nossa Senhora do Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir,

chama os pais para verem, eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros,

que também presenciam a santa submergir, eles tentam tirá-la com suas cordas,

mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres que conseguem retira-la da

água e levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vem

então o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge,

mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Então um

terno de Moçambique, todo vestido de branco e descalço, canta para ela, que então

submerge e lhes acompanha, eles a levam devagar até o local onde constroem

uma capela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambique

então se retira sem lhe dar as costas, lhe fazendo reverência;

568

b) a segunda versão, contada por Maria Conceição Cardoso, do Moçambique

Rosário de Fátima, de Ibiá - MG, afirma que ao tentar capturar escravos fugidos na

serra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra um grupo de negros,

vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima em frente a uma árvore

de umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava encravada num galho. Os

capitães do mato tentam surrar os negros e capturá-los, mas eles permanecem

imóveis, como se nada os pudesse atingir. Apavorados com a visão voltam para a

cidade e chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeira

versão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosário

acompanha apenas o Moçambique que canta vestido de branco, de pés descalços,

que anda devagar e lhe constrói uma igreja e não lhe dá as costas ao se retirar de

sua presença.

27. Dados Históricos:

Os bastões, cajados, cedros, caduceus, varas são objetos ritualísticos utilizados

pelas mais diversas religiões com os mais diferentes significados. O cedro é símbolo

de poder utilizado pelos reis. O cajado é utilizado pelos pastores como apoio nas

caminhadas e é símbolo de magia como na história bíblica de Moisés que utiliza

seu cajado para abrir as águas do Mar Vermelho. O bastão é um instrumento de

ataque e de defesa e também simboliza a detenção do comando de uma situação.

Um símbolo fálico, emblema de poder e controle do poder, representa a vontade e

a força dominante. Utilizado como instrumento de invocação e também para dirigir,

controlar e cortar energias. O bastão com estrias no sentido diagonal e com uma

serpente enrolada é símbolo do mito grego Esculápio e representa a sabedoria, a

renovação do conhecimento e o poder de curar, adotado pela medicina e pela

farmácia como seu símbolo. No mito de Hermes, “deus dos viajantes, patrono dos

ladrões e dos trapaceiros, protetor da magia e da adivinhação e responsável pelos

golpes de sorte e pelas súbitas mudanças de vida”, duas serpentes enroladas

simbolizam os opostos: o bem e o mal, masculino e o feminino. O símbolo da

eternidade na mitologia egípcia é um cajado com incisões, fissuras que lembram o

entalhe de um reco-reco.

28. Referências Documentais:

Sharman-burke, Juliet e Greene, Liz. O Tarô Mitológico – São Paulo: Siciliano,

1988

29. Informações Complementares:

Os bastões e os apitos são os instrumentos utilizados pelos capitães de Congado

para conduzir seus soldados e reger as músicas executadas pelos tambores.

569

Nos ternos de Moçambique os bastões são utilizados não apenas por capitães

como acontece na maioria dos ternos, mas por muitos dançantes, que formam uma

ala fazendo coreografias. Em muitas guardas, fiscais e madrinhas utilizam os

bastões alinhados ao final do desfile, fechando a apresentação do terno. Alguns

bastões são em formato de cobra, outros com carrancas de Pretos Velhos, outros

com imagens de Nossa Senhora Aparecida, Santa Efigênia e São Benedito,

crucifixos e inscrições diversas, fitas de cetim, alguns enfeitados com contas de

lágrima, com ervas (alecrim, arruda, espada de são Jorge), etc. Nas festas de Pretos

Velhos nos centros de Umbanda pratica-se uma dança-ritual muito parecida com a

realizada pelos moçambiqueiros: tocam as pontas dos bastões no alto, revezando

com batidas no chão, dançando em círculo. Quando hasteiam os mastros dando

início à festa do Congado, os moçambiqueiros tocam os mastros com seus bastões.

Alguns ternos realizam coreografias colocando suas coroas nos bastões e erguendo

acima da cabeça. A condução de reis e rainhas, bem como dos santos numa

procissão pode em alguns casos vir dentro de um espaço delimitado por condutores

de bastões. Quando se quer delimitar um espaço com bastões, os dançantes os

colocam na horizontal e com as mãos o moçambiqueiro liga o seu bastão ao bastão

do outro, formando uma corrente.

30. Atualização das informações:NT

31. Ficha Técnica

Levantamento Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)

Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)

Elaboração Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Revisão Data: Abril de 2007

Anderson Henrique Ferreira (Historiador)

Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)

570

07. Designação:Estandarte do Terno São Domingos

08. Localização Especifica: quando não está em época de campanha fica junto

com os instrumentos.

09. Espécie: Bandeira /Distintivo/Insígnia Religiosa

10. Época: 2003

11. Autoria: Coletiva

12. Origem: Uberlândia

13. Procedência: Uberlândia

14. Material / Técnica: estrutura de madeira, tecido veludo verde limão, letras com

cordões de lantejoulas verdes, imagens impressas em papel plastificado, bordados

de motivos florais elaborados com miçangas verdes, marabô branco, franja de cetim

branca, cordões brancos.

15. Marcas / Inscrições / Legendas: na frente “LOUVAI SÃO DOMINGOS SÁVIO”

na parte de trás “LOUVAI NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO”

16. Descrição:

Estandarte elaborado com estrutura de madeira e tecido veludo verde limão.

Imagens de São Domingos e de Nossa Senhora do Rosário, impressas em papel

plastificado com detalhes bordados de motivos florais elaborados com miçangas

verdes. Letras com cordões de lantejoulas verdes ao redor das imagens, na frente

“LOUVAI SÃO DOMINGOS SÁVIO” na parte de trás “LOUVAI NOSSA SENHORA

DO ROSÁRIO”. Na parte inferior marabô branco, e na superior franja de cetim

branca. As meninas carregam cordões brancos que são afixados em toda extensão

da parte superior do estandarte.

17- Condições de segurança:

( x ) Boa ( ) Razoável ( ) Ruim

Obs:

BENS MÓVEIS E INTEGRADOS

04. Propriedade: Particular

05. Endereço: Rua Saturno, 713 – Jardim

Brasília

06. Responsável: José Herculano Cândido

01. Município: Uberlândia

02. Distrito: Sede

03. Acervo:Terno Congo

São Domingos

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INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL

Minas Gerais-MG

SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA

571

18- Proteção Legal:

( ) Federal

( ) Estadual

( ) Municipal

( x ) Nenhuma

( ) Tombamento Isolado

( ) Tombamento em Conjunto

19- Documentação fotográfica

Fotos do Terno Congo São Domingos

Uberlândia/MG

20- Estado de Conservação:

( ) Excelente ( x ) Bom

( ) Regular ( ) Péssimo

21- Dimensões:

Altura: 1,20m

Comprimento da haste: 1m

Largura: 0,80m

22. Análise do Estado de Conservação: Estandarte em bom estado de

conservação, sem sinais de desgaste por insetos ou mofo.

572

23. Intervenções – Responsável / Data: NT

24. Características Técnicas:

Estandarte elaborado com estrutura de madeira e tecido de veludo. Imagens

religiosas impressas em papel plastificado com detalhes bordados de motivos florais

elaborados com miçangas. Letras com cordões de lantejoulas verdes ao redor das

imagens, formando inscrições na frente e na parte de trás. Marabô na parte inferior

e, na superior, franja de cetim. Cordões afixados em toda extensão da parte superior

do estandarte.

25. Características Estilísticas:

Estilo popular (sem característica estilística específica).

26. Características Iconográficas:

Nos oratórios do Congado figuram as imagens e/ou os nomes de Nossa Senhora

do Rosário, de São Benedito e em alguns casos outras imagens como a de Santa

Ifigênia, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, etc.

Cada santo é associado a elementos distintos. Santa Efigênia ou Ifigênia, pelo que

os congadeiros dizem é a dona da festa do Congado. Santa Ifigênia, segundo

Câmara Cascudo é uma virgem mártir da Etiópia, devoção de negros e pessoas

menos favorecidas. A festa do Congado acontecia em louvor à Santa Ifigênia, a

santa negra, mas os brancos não aceitaram e para que a festa se legitimasse eles

criam a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Cláudio, filósofo,

pesquisador do Congado e dançador do Terno de Camisa Verde, os negros pegam

o rosário que é de Santa Ifigênia e colocam na imagem de Nossa Senhora do

Perpétuo Socorro, criando assim a imagem de Nossa Senhora do Rosário.

Segundo Seu Zezão, capitão do terno Congo de Santa Ifigênia, ele colocou em seu

terno o nome de Santa Ifigênia porque as pessoas precisavam reconhecer que a

festa é dela. Seu Zezão conta que deu muito trabalho para aceitarem o terno porque

somente os padres sabiam da “verdadeira história” de Santa Ifigênia, de Nossa

Senhora do Rosário e de São Benedito. Segundo ele, para haver união entre os

pretos e os brancos Chico Rei comprou a coroa de Santa Ifigênia para coroar Nossa

Senhora do Rosário, comprando assim a sua benção. Como garantia da fidelidade

de Nossa Senhora do Rosário colocaram um menino nos braços de São Benedito

que não é Jesus, mas um menino branco do povo. Se Nossa Senhora do Rosário

algum dia trair os negros, São Benedito deve cortar o pescoço do menino. De

acordo com seu Zezão, São Benedito está sempre ao lado de Nossa Senhora do

Rosário como um soldado, um general. Esta surpreendente narrativa de Seu Zezão

introduz a história de Chico Rei e trata de uma negociação entre os santos.

573

Mas, o que mais chama atenção é a mudança do papel de São Benedito. Este, tido

como mártir sempre foi referido como uma figura bondosa e que multiplicava os

alimentos, uma espécie de Cristo negro. Agora São Benedito é tomado como um

militar frio, capaz de decapitar um bebê branco em nome da proteção dos negros.

Não ouvi de mais ninguém a confirmação desta versão mitológica. Quando se

conversa com seu Zezão percebe-se claramente a existência de uma disputa pelo

capital simbólico. Em meio às críticas aos pesquisadores e aos trabalhos existentes

sobre o congado ele questiona a “ciência” dos “verdadeiros” “fundamentos” de sua

prática ritual tanto pelos pesquisadores como pelos capitães dos outros ternos.

Insinuando ser ele um dos poucos detentores dos conhecimentos tidos como

“fundamentos” do Congado. Diversas outras pessoas tomam este comportamento

como prática. Fazer o Congado sem “fundamento” seria um ultraje. O convívio nos

quartéis envolve aprendizado constante e um “verdadeiro” capitão precisa passar

por esta escola e aprender todas as lições antes de ousar montar o seu próprio

terno.

O lendário Chico Rei, que é o criador da Irmandade do Rosário em Minas Gerais,

era rei em Moçambique, mas na perda de uma batalha fora apreendido e vendido

como escravo, trazido para o Brasil. Os escravos trazidos de Moçambique eram os

conhecedores das técnicas de mineração, “farejavam as minas”, como diziam os

invasores europeus. Chico Rei, após enriquecer seu senhor e demonstrar ser um

grande conhecedor do processo de mineração conseguiu comprar com ouro a

alforria de familiares e amigos, e construir uma capela em homenagem à Santa

Ifigênia em Vila Rica (Ouro Preto). Após descobrir algumas minas Chico Rei disse

que não trabalharia mais se o seu senhor não trouxesse para junto de si seu filho e

parentes que estavam distantes, vendidos para outros senhores de escravos. Mais

tarde conseguiu comprar a alforria de diversos outros escravos. Segundo Câmara

Cascudo “No dia de Reis, em Vila Rica, as negras do cortejo de Chico Rei vinham

com as carapinhas polvilhadas de ouro lavá-las e deixar o ouro numa pia de pedra

existente no Alto da Cruz, onde havia uma imagem de Santa Ifigênia. O ouro servia

para a libertação de outros escravos.” (1972, p.449). O Rei “Moçambiqueiro” que

no Brasil passa a ser chamado de Chico Rei recria aqui o seu reino, supera a

condição de escravo e constrói uma das bases do movimento negro. Muitos negros

se mantinham escravos e cooperavam no movimento liderado por Chico Rei para

a libertação de seu povo.

574

Os negros então alforriados passam a viver nos centros urbanos nascentes e/ou se

deslocam com as expedições desempenhando funções de carpinteiro, pedreiro,

ferreiro (serralheiro), barbeiro, quituteiras, vendedores e outras profissões tidas hoje

como “liberais”. Observem que nesta narrativa, o negro se retira do sistema de

escravidão utilizando a linguagem que está nas bases do sistema capitalista. Ocorre

um rompimento com a escravidão, mas não com sua lógica, pois há uma busca

pela inserção do negro no sistema capitalista decorrente desta. Nos movimentos

quilombolas, onde este sujeito excluído busca uma nova forma de associação e de

socialização fora da sociedade opressora, ocorre uma quebra com os padrões

antes impostos. Mas os negros quilombolas precisavam permanecer em estado

de vigília por causa das constantes investidas das expedições contra suas

comunidades. Mas esta é uma outra história.

Voltando aos mitos do Congado, a principal referencia ao São Benedito é em

relação à alimentação, ele provém o sustento das famílias, dá força. São Benedito

está mais ligado à saúde, à manutenção da vida material, é um mártir negro e santo

mesmo em vida, uma espécie de Cristo Negro. Um dos mitos de São Benedito me

foi contado por seu Charqueada, um dos congadeiros vivo mais antigo de

Uberlândia, ancião do terno Moçambique Pena Branca. Conta seu Charqueada,

que certa feita, o senhor dono da fazenda onde o Benedito era cozinheiro mandou

que ele preparasse uma refeição para seus muitos escravos, mas não lhe deu a

provisão suficiente para tanto. Na despensa não havia banha e o arroz e o feijão

eram pouco. O Benedito então pede o auxílio divino e logo obtém resposta do Todo

Poderoso que lhe diz para ir até o chiqueiro e retirar um naco com toucinho e carne

de um dos porcos, que fosse desde a cabeça até o rabo do porco e então preparar

a comida. E assim o Benedito fez. Milagrosamente, a carne do porco que fora

retirada se reconstituiu na mesma hora, permanecendo o porco vivo. Todos os

escravos se alimentaram até saciar a fome e depois de banquetear tocaram e

dançaram em agradecimento ao São Benedito. O patrão, vendo tamanha festança,

foi ter com o Benedito e inquiriu dele como foi que conseguira arranjar tanto alimento.

O Benedito então lhe relatou como conseguira a banha e o toucinho. O patrão não

acreditando no milagre ameaçou castigar o Benedito, mas quando foi golpeá-lo o

São Benedito levita e fica suspenso no ar... Este mito traz o Benedito enquanto

“multiplicador dos alimentos”, realizador de “milagres” extraordinários, figura louvada

pelos seus. Esta narrativa é compartilhada pela maioria dos congadeiros, sendo

que São Benedito é considerado o santo da cozinha, da alimentação, do sustento,

da fartura, por isso sua imagem geralmente é colocada na cozinha, para que na

casa não falte o alimento.

575

É prática em várias partes do território nacional, colocar café para o São Benedito,

é comum ver sua imagem próxima a uma xícara de café. Outro ritual realizado

popularmente é tomar o café do Benedito, que é um café amargo destituído de

qualquer forma de adoçantes, bebido em pequenos goles pelos congadeiros e

participantes de celebrações, festas, etc. O café do Benedito é tomado como uma

bebida capaz de proteger a quem a ingere.

Nossa Senhora do Rosário está sempre relacionada à chuva, às riquezas, à

proteção, à geração da vida e também à morte. Recorrem a Nossa Senhora para

pedir um bom parto e também uma “boa morte”, a ela intercedem a favor dos entes

queridos que já partiram. Em todas as festas que presenciei houve homenagens a

congadeiros falecidos no período entre festas. Nossa Senhora está vinculada à

vida e à morte, ao rezar a última estrofe da “Ave Maria”, isto fica explicito: “Santa

Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte.

Amém.” Durante o Congado intercedem à Nossa Senhora do Rosário pela vida e

pela proteção na inevitável hora da morte. Pedem saúde para os seus, proteção

em todos os momentos, recorrem a ela como à Grande Mãe. O culto às deusas

mães foi muito combatido pelo judaísmo, islamismo e demais religiões patriarcais,

mas encontra solo fértil nas tradições afro-descendentes e católicas. Uma música

muito difundida tanto no Congado como na Capoeira e na religiosidade ressalta o

aspecto protetor de Nossa Senhora:

“No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia,

eu gritava por Nossa Senhora, ai meu Deus, quando a pancada doía.”

O mito fundante do Congado em Uberlândia é um relato da aparição e resgate de

Nossa Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões aqui sintetizadas:

a) Nossa Senhora do Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir,

chama os pais para verem, eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros,

que também presenciam a santa submergir, eles tentam tirá-la com suas cordas,

mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres que conseguem retira-la da

água e levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vem

então o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge,

mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Então um

terno de Moçambique, todo vestido de branco e descalço, canta para ela, que então

submerge e lhes acompanha, eles a levam devagar até o local onde constroem

uma capela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambique

então se retira sem lhe dar as costas, lhe fazendo reverência;

576

b) a segunda versão, contada por Maria Conceição Cardoso, do MoçambiqueRosário de Fátima, de Ibiá - MG, afirma que ao tentar capturar escravos fugidos naserra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra um grupo de negros,vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima em frente a uma árvorede umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava encravada num galho. Oscapitães do mato tentam surrar os negros e capturá-los, mas eles permanecemimóveis, como se nada os pudesse atingir. Apavorados com a visão voltam para acidade e chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeiraversão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosárioacompanha apenas o Moçambique que canta vestido de branco, de pés descalços,que anda devagar e lhe constrói uma igreja e não lhe dá as costas ao se retirar desua presença.27. Dados Históricos:As bandeiras têm suas origens nas insígnias, sinais distintivos de poder ou decomando, usadas desde a antiguidade e que poderiam ser figuras recortadas emmadeira ou metal, ou pintadas nos escudos. As primeiras bandeiras da história dohomem costumavam representar um grupo sócio-cultural através de imagens e decores dotadas de significados, a que a comunidade respectiva confere alto valor.As bandeiras fixadas a um mastro surgiram na China e foram introduzidas noOcidente Medieval pelos Islâmicos. As bandeiras de tecido, no mundo ocidental,foram criadas pelos romanos e eram denominadas vexillium (insígnia, bandeira,estandarte). Desde a antiguidade os povos usaram mastros com imagens,carregados na mão ou fixados nos carros de combate. A grande difusão do seu usofoi feita pelos romanos e cada divisão da legião tinha o seu estandarte. Foi naIdade Média que bandeiras e estandartes começaram a representar reinos eregiões. As bandeiras foram usadas tanto em períodos de paz como de guerra.Sendo um símbolo identificador eram usados pelos exércitos aliados. Para não seconfundirem uns com os outros e evitarem o temido fogo amigo, usavam um pedaçode pano hasteado num estandarte, com as cores e sinais de identificação dobatalhão ou companhia envolvida.De acordo com seu tamanho ou uso, a bandeira tem uma palavra sinônima.Estandarte é utilizado para insígnias militares, mais especificamente para identificaros corpos de cavalaria. O Pendão é uma bandeira grande, armada em vara,atravessada horizontalmente sobre o mastro e levada em procissões. O Gonfalãoé uma bandeira de guerra com partes que prendem perpendicularmente a umahaste com três ou quatro pontas pendentes.Os Estandartes do Congado mesclam elementos das bandeiras militares ereligiosas e são utilizados para identificar o terno que os conduz e para louvar ossantos de sua devoção.

577

28. Referências Documentais:

* Entrevista e fotografias realizadas no trabalho de campo no quartel do Congo São

Domingos

*Fotografias do Congado dos anos 2004 e 2006

*Marra, Fabíola Benfica. Álbum de Família: Famílias Afro-descendentes no Século

XX em Uberlândia – MG – CD-Rom produzido entre os anos de 2004 e 2005,

através da lei municipal de Incentivo à Cultura.

29. Informações Complementares:

O Estandarte é uma espécie de Bandeira e falar em Bandeira no congado é um

pouco complexo, pois possui pelo menos três significados. Bandeira pode se referir

à jornada, ao trajeto, à caminhada realizada nas campanhas e festas. Também

pode ser utilizado para se referir à bandeira em tecido no formato retangular de

aproximadamente 60 x 40 cm que trás estampado imagens dos santos, com um

cabo de madeira na extremidade superior por onde a bandeireira (virgem, menor

de 10 anos) segura. Esta pequena bandeira sempre acompanha o terno, abrindo-

lhe os caminhos, tanto em dias de campanha quanto no dia da festa. Bandeira

também pode referir-se ao estandarte em formato retangular de aproximadamente

1,5 m de altura por 1m de comprimento, sustentado por um mastro que o eleva à

aproximadamente 2,5m de altura donde pendem fitas cujas pontas as Bandeireiras

seguram enquanto dançam e que traz identificações do terno e homenagens aos

santos. Geralmente o estandarte e as Bandeireiras só saem em dia de festa. As

Bandeireiras ou Andorinhas são meninas que conduzem as fitas do estandarte

fazendo coreografias. “Antigamente” esta função só era desempenhada pelas

garotas virgens. Muitas mulheres relatam que se a menina não fosse virgem e

levasse a fita ou o mastro da bandeira, muitos acidentes poderiam acontecer. Nossa

Senhora do Rosário seria a responsável por denunciar a farsa. Adereços de cabelo

poderiam cair ou a roupa se rasgar, a própria bandeira poderia sofrer danificações,

como quebrar, rasgar. Desmaios e doenças também dificultariam a execução da

função. Caberia a menina se afastar quando não fosse mais “digna” de carregar a

bandeira do Congado. A execução desta função indevidamente poderia acarretar

problemas ainda maiores para os ternos, como esquecer música ou errar a “batida”.

Hoje, no entanto, esta tradição não é mantida pela maioria dos ternos.

578

30. Atualização das informações:NT

31. Ficha Técnica

Levantamento Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)

Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)

Elaboração Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Revisão Data: Abril de 2007

Anderson Henrique Ferreira (Historiador)

Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)

579

01. Município: Uberlândia

02. Distrito: Sede

3. Designação: Quartel do

Terno São Domingos

04. Endereço: Rua Saturno, 713 – Jardim

Brasília

05. Propriedade: Privada

06. Responsável: José Herculano Cândido

ESTRUTURA ARQUITETÔNICA E URBANÍSTICA

07. Histórico: Desde a fundação do terno em 2003, o quartel se localiza no domicílio

de José Herculano no bairro Jardim Brasília

08. Descrição:Com área construída ocupando aproximadamente 80% do terreno

de 12 x 30m, o quartel do terno Congo São Domingos possui um cômodo reservado

para guardar os instrumentos, bastões e estandarte do terno. Uma varanda usada

como garagem, abriga os congadeiros durante as campanhas, o quintal é bastante

arborizado com plantas utilizadas em rituais afro-descendentes, inclusive com mudas

das a árvores africanas Obi e Orobô plantadas em frente ao cômodo destinado

aos instrumentos do Congado.

09. Documentação Fotográfica:

INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL

Minas Gerais-MG

Fotos do Terno Congo São Domingos

Uberlândia/MG

Ano 2007

SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA

580

09. Documentação Fotográfica:

Fotos do Terno São Domingos

Uberlândia/MG

Ano 2007

581

10. Uso Atual:

( x ) Residencial ( ) Serviço

( ) Comercial ( ) Institucional

( ) Industrial ( ) Outros

11. Situação de Ocupação:

( x ) Própria ( ) Alugada

( ) Cedida ( ) Comodato

( ) Outros

12. Proteção Legal Existente

( ) Tombamento

( ) Municipal

( ) Federal

( ) Estadual

( x ) Nenhuma

13. Proteção Legal Proposta:

( ) Tombamento Federal

( ) Tombamento Estadual

( ) Tombamento Municipal

( ) Entorno de Bem Tombado

( )Documentação Histórica

( ) Inventário

( ) Tombamento Integral

( ) Tombamento Parcial

( ) Fachadas

( ) Volumetria

( ) Restrições de Uso e Ocupação

14. Análise do Entorno - Situação e Ambiência: Localiza-se em área plana com

com passeios, arborização, redes elétrica, rede de esgoto, rede de água tratada,

As edificações são predominantemente de volumetria simples apresentando

partidos retangulares, com vários “puxadinhos”, altimetria de um pavimento,

materiais de acabamento de alvenaria de tijolo cerâmico, pintura com grande

variação de cores e esquadrias de metalon ou alumínio, coberturas metálicas ou

com telhas cerâmicas.

582

15- Estado de Conservação:

( ) Excelente ( ) Bom

( x ) Regular ( ) Péssimo

16. Análise do Estado de Conservação:

A casa está em bom estado de conservação, necessitando de pintura externa.

17. Fatores de Degradação:

Exposição à ação das intempéries

18. Medidas de Conservação:

Manutenção preventiva

19. Intervenções:

Não foram identificadas

20. Referências Bibliográficas:

*Marra, Fabíola Benfica. Álbum de Família: Famílias Afro-descendentes no Século

XX em Uberlândia – MG – CD-Rom produzido entre os anos de 2004 e 2005,

através da lei municipal de Incentivo à Cultura.

*Slenes, Robert W. “Na Senzala uma flor: esperanças e recordações da família

escrava, Brasil Sudeste, Século XIX” Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

21. Informações Complementares:

Os quartéis são os locais onde os soldados de cada guarda se reúnem para fazer

as campanhas ou para sair em viagens. É também onde guardam os instrumentos

e realizam as refeições durante os dias de festa e fazem intervalos de descanso.

Todas as atividades do Congado começam e terminam no quartel. Geralmente o

quartel é o local de moradia da família do capitão ou da madrinha do terno. As

construções são o que se chamam colônias: diversas casas pequenas, construídas

em períodos distintos, dispostas umas ao lado das outras e com um pátio, uma

área comum, um terreiro no meio. A área não construída no meio é utilizada para

reunir o terno, para realizar as refeições coletivas, afinar instrumentos. Em muitos

casos, banheiros, tanques, pias e locais para passar roupas são de uso comum a

todos os moradores da colônia. Nos Quartéis, realizam grandes refeições conjuntas,

mesmo não sendo dia de festa Congado. O milagre multiplicador dos alimentos

promovido por São Benedito é realizado pelas matriarcas todos os dias e se estende

aos “praticamente filhos”, pois muitas crianças, jovens e adultos são atraídas para

o convívio das famílias de congo, estendendo os laços familiares para além dos

consangüíneos. O Congado que acontece na porta da igreja Católica é o ápice, o

momento máximo desta festa que dura praticamente o ano inteiro dentro dos terreiros

e quartéis. A família é festejada diariamente.

583

Grandes matriarcas reúnem ao seu redor seus muitos filhos todos os dias.

Segundo Robert W. Slenes1, a palavra Senzala origina-se do dialeto Kimbundu e

significa “residência de serviçais em propriedade agrícola” ou ainda “moradia de

gente separada da casa principal”. Senzala também pode significar “Povoado” ou

“grupo de parentesco”. (p. 148). Enquanto a expressão Quilombo é utilizada para

designar “acampamento de guerreiros” (p. 173). Os Quartéis de Congado abriga

Soldados com suas caixas e seus Estandartes durante as Campanhas. No Congado,

os guerreiros conduzem caixas e são designados Soldados, organizados por

Capitães, seguem seus Estandartes e se abrigam no Quilombo chamado Quartel.

(Footnotes)

22. Atualização das informações:NT

23. Ficha Técnica

Levantamento Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)

Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)

Elaboração Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Revisão Data: Abril de 2007

Anderson Henrique Ferreira (Historiador)

Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)

584

Secretaria Municipal de Cultura

CONGO VERDE

E BRANCO

586

01. Município: Uberlândia

02. Distrito: Sede

03. Denominação: Terno Congo Verde e Branco

04. Natureza: Festas Populares/ Celebrações/

Cultos Afro-brasileiros.

BENS MATERIAIS

06. Informe Histórico:

Silvio Donizete fundou o terno Congo Verde e Branco em 2000. Quando criança

dançou no Congo Sainha no tempo do Seu José Rafael, tocando chocalho,

acompanhava seu pai e seus irmãos. Quando Seu Custódio dirigia o Congo Camisa

Verde, no episódio da existência de dois Camisas Verdes, Silvio era segundo capitão

e Osmarão o terceiro capitão. Quando acaba o Camisa Verde do seu Custódio,

Silvio e Osmarão resolvem montar o terno Congo Branco. Silvio Donizete conduz o

terno Congo Branco durante dez anos, saindo quando o terno completa uma década.

No ano 2000, funda o terno Congo Verde e Branco.

07. Documentação Fotográfica:

INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL

Minas Gerais-MG

Fotos do Terno Congo Verde e Branco

Uberlândia/MG

Ano 2007

05. Responsável: Silvio Donizete Rodrigues

SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA

587

07. Documentação Fotográfica:

Fotos do Terno Congo Verde e Branco

Uberlândia/MG

Ano 2007

08. Descrição:

O terno Verde Branco é o único terno de Uberlândia comandado por família não

afro-descendente, possui o maior número de integrantes “brancos”. Os soldados

utilizam calça, camisa e sapatos brancos, a capa também é branca com franja

verde, alguma receberam apliques de bordado à maquina com linha amarelo ouro,

além de faixa verde na cintura. Os instrumentos utilizados são maracanã, surdo e

chocalho.

09. Grupos Sociais Envolvidos:

Familiares de Silvio Donizete Rodrigues e moradores do bairro Pampulha e

adjacências

10. Organizadores:

Presidente e Primeiro Capitão: Silvio Donizete Rodrigues

Segundo Capitão: Denílson (primo do Silvio)

Vice-presidente, tesoureira e Madrinha: Maria de Fátima de Jesus

Madrinha da Bandeira: Andréia

11. Participantes:

Aproximadamente 100 integrantes

12. Local de Realização:

O quartel do terno Congo Verde e Branco se localiza na Rua Carvalho de Mendonça,

1550 - Pampulha

588

13. Data/ periodicidade de ocorrência:

A “campanha” do Congado, como os congadeiros dizem, começava por volta do

dia 15 de setembro, atualmente ela começa por volta do dia 10 de agosto. Por

causa da mudança da data da festa de novembro para outubro, a campanha também

começa mais cedo. A festa do Congado realizada na Igreja de Nossa Senhora do

Rosário no centro da cidade de Uberlândia, atualmente ocorre no último domingo e

segunda-feira de outubro, antes era no segundo domingo e na segunda-feira de

novembro. Ocorre também uma festa na igreja de São Benedito, no bairro Planalto

no mês de maio. Várias festas em outras cidades ocorrem em diversas datas ao

longo do ano, sendo visitadas pelos ternos de Uberlândia.

14. Informações Complementares:

O Congado é um ritual afro-brasileiro que nasce dos cortejos de coroação de reis,

do culto aos ancestrais africanos e das celebrações de santos da Igreja Católica.

Uma dança ritual executada por guardas ou ternos de Congo, Moçambique, Marujo,

Marinheiro e Catupé. Os dançantes prestam homenagem à Nossa Senhora do

Rosário e a São Benedito, aos antepassados e aos santos de sua devoção,

principalmente aos santos negros Santa Ifigênia e N. S. Aparecida, mas também

São Domingos, Nossa Senhora da Guia, Nossa Senhora d’Abadia, etc. Cada terno

se diferencia do outro nas cores das roupas e dos acessórios, nos ritmos das

músicas, nos instrumentos e na forma da dança.

Prevalesse o canto antifonal, isto é, um solista, geralmente o Primeiro Capitão,

apresenta o tema e o coro responde. O Segundo Capitão com seu bastão e apito

comanda os soldados na execução instrumental. Cada Capitão “puxa” uma série

de músicas que podem ser elaboradas por ele ou pelo grupo e ainda outras

aprendidas com outros ternos ou com os antepassados. Algumas músicas são

“tradicionais” do terno, passadas de capitão para capitão. Outras são específicas

de cada guarda. Existem também cantorias que são consideradas “segredo” que

não podem ser reveladas para “os de fora” e que são aprendidas e “guardadas no

coração”, só são executadas em cerimônias reservadas.

O trajeto do Congado é uma manifestação pública da fé, do pertencimento ao

movimento cultural afro-brasileiro-mineiro-uberlandese. Os congadeiros rompem

os muros que cercam suas comunidades e ganham a cidade, comemorando a

manutenção de suas famílias e de sua cultura.

589

O ritual composto por elementos da cultura bantu é reelaborado no Brasil sob

influência do contato com outros povos africanos, europeus e nativos. O Congado

em Uberlândia, é fundamentado no mito da aparição e resgate da imagem de Nossa

Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões: a) Nossa Senhora do

Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir, chama os pais para verem,

eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros, que também presenciam a

santa submergir, eles tentam tirá-la, mas ela não sai do local. Chegam brancos e

padres e tentam levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o

mar. Vem, então o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela

submerge, mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar.

Um terno de Moçambique, todo vestido de branco, descalço, com gungas nos pés,

canta para ela, que então submerge e lhes acompanha, eles então constroem uma

capela para ela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambique

então se retira sem lhe dar as costas. b) a segunda versão, contada por Maria

Conceição Cardoso, do Moçambique Rosário de Fátima, afirma que ao tentar

capturar escravos fugidos na serra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato

encontra um grupo de negros, vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de

lágrima em frente a uma árvore de umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava

encravada num galho. Os capitães do mato surram os negros e tentam capturá-los,

mas eles permanecem imóveis. Apavorados com a visão voltam para a cidade e

chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeira versão,

brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosário acompanha

apenas o Moçambique que canta, vestido de branco e lhe construiu uma igreja e

não lhe dá as costas ao se retirar de sua presença.

O Moçambique é, por isso, a Guarda Real. Isto é, são os ternos de Moçambique os

responsáveis por conduzir as imagens dos santos, bem como os reis durante a

procissão. É responsável por levantar o mastro na porta da Igreja dando início ao

Congado, é quem geralmente conduz os casais reais até a procissão e também no

encerramento da festa. Ouvi de diversos capitães em Uberlândia, que quem conduz

o casal real é o Moçambique ou “Congo de coroa”. A coroa além de representar a

realeza, também é símbolo de Nossa Senhora e confere a quem a utiliza a autoridade

para conduzir os reis e santos. A coroa também está associada aos Pretos Velhos,

na Umbanda, representa o poder e a sabedoria dos anciões. O Catupé faz a guarda

do Moçambique e pode substituí-lo nessas funções.

590

As músicas, as roupas e adereços e o trançar de fitas característico do terno deMarinheiros e Marujos, fazem referência ao mar que traz os negros para o Brasil ede onde Nossa Senhora é retirada, e às atividades do Marinheiro. Os ternos deCongo são de louvação, os tocadores de maracanãs e caixas fazem performancessaltando com os instrumentos, mas esta performance, atualmente, também éreproduzida por outras guardas. Segundo os integrantes do Marinheiro de SãoBenedito a performance dos saltadores ou caixeiros de frente, em que osdançadores pulam com as caixas revezando entre ajoelhar-se e saltar é cheia designificação. Quando estão ajoelhados, estão pedindo axé e quando estão pulando,estão agradecendo as graças recebidas. Axé é energia vital, essencial paraexistência. Uma das características diferenciadoras dos ternos de Congo que vemse extinguindo em Uberlândia é o uso de cuíca e de tamborins (caixinhas quadradasconfeccionados em madeira e couro, percutidas com uma vareta), bem como ouso de pandeiros, adufes e instrumentos harmônicos como violões, cavaquinhos,banjos e sanfonas.A organização das guardas, a hierarquia dos ternos, segue os modelos militaresou políticos. Na maior parte dos ternos, o “regente” é chamado Capitão, mas emoutros recebe o distintivo de General ou Guia. Existem outras funções, tais como,Presidente, Fiscal, Conselheiro, Secretário, Tesoureiro, Madrinha do Terno, Madrinhada Bandeira, Soldados, Bandeireiras, etc. que variam de terno para terno, tanto emnúmero como em funções e significações. “Antigamente” a função de PrimeiroCapitão era designada em alguns ternos de Marechal e as bandeireiras de Juizas,o Presidente era conhecido como o Dono do terno. As designações presidente,vice-presidente geralmente tem seu equivalente como primeiro capitão, segundocapitão, madrinha.O primeiro capitão se desloca o tempo todo se certificando se tudo corre bem comtodo o terno e também puxa as músicas. O segundo capitão geralmente éresponsável por reger a bateria, é o maestro. Dois outros capitães ou fiscaisprotegem as laterais e também se locomovem entre os dançadores. A madrinha doterno geralmente segue a frente, junto à virgem que carrega a bandeira, mas tambémtransita pelo terno auxiliando na medida em que se faz necessário. A madrinha dabandeira auxilia as bandeireiras. Elas também são responsáveis pelas crianças,no Marinheirão existe a função de capitão das crianças, outras pessoas, geralmenteas mães também cuidam das delas, carregando-as no colo quando se cansam.Os Fiscais auxiliam na condução do terno, na execução das músicas, naorganização dos dançadores. São os imediatos do Capitão, geralmente tambémimpunham um bastão e trazem um apito. As funções de Presidente, tesoureiro eSecretários, exigidas para o registro oficial, geralmente são desempenhados pelospróprios Capitães, Madrinhas e Fiscais.

591

Soldados são os tocadores e dançadores.

As Bandeireiras conduzem as Bandeiras ou estandartes e suas fitas fazendo

coreografias, também podem ser chamadas de Andorinhas. “Antigamente” esta

função só era desempenhada pelas garotas virgens. Muitas mulheres relatam que

se a menina não fosse virgem e levasse a fita ou o mastro da bandeira, muitos

acidentes poderiam acontecer. Nossa Senhora do Rosário seria a responsável por

denunciar a farsa. Adereços de cabelo poderiam cair ou a roupa se rasgar, a própria

bandeira poderia sofrer danificações, como quebrar, rasgar. Desmaios e doenças

dificultariam a execução da função. Caberia a menina se afastar quando não fosse

mais “digna” de carregar a bandeira do Congado. Hoje no entanto esta tradição

não é mantida pela maioria dos ternos.

Alguns atribuem sentidos místicos à escolha das cores, dos instrumentos, dos

acessórios e dos ritmos, outros vêm nesses elementos traços distintivos dos ternos.

As roupas e acessórios são usados apenas nos dias de festa, durante a campanha,

cada um se veste a seu modo. As meninas geralmente fazem roupas que podem

ser usadas no cotidiano, já que todo ano elas fazem duas trocas de roupa: uma

para o domingo e outra para a segunda. Alguns ternos modificam os modelos de

suas roupas todo ano, outros mantém a vestimenta dos homens durante algum

período. Constatei a preocupação de anciões quanto à manutenção das roupas

consideradas tradicionais dos ternos. A indumentária que mais inova é a das

bandeireiras, geralmente as roupas dos soldados possuem elementos

identificadores dos ternos e não mudam de um ano para o outro, a mudança quando

ocorre é gradativa. A indumentária é um dos elementos identificadores dos ternos,

por isso a Irmandade do Rosário intervém na escolha das cores e adereços.

Os ternos só recebem a Carta de Comando – ordem para participar dos festejos –

se estiverem filiados à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Uberlândia.

Aqueles registrados em cartórios participam do Reinado sem o aval da Irmandade.

Um representante da Igreja, geralmente o pároco, participa diretamente das decisões

da Irmandade. A Irmandade é o elo de ligação dos ternos com a Igreja Católica e

as subvenções governamentais. A Irmandade gerencia a festa, decide data de

realização da festa, faz e refaz o estatuto da Irmandade e da Festa, decide horários

de realização de missas, procissões etc. A diretoria da Irmandade do Rosário é na

verdade um reinado, onde os cargos são hereditários. Cada terno é como se fosse

um “reino” ou “estado”, “clã”, “facção”, um batalhão, um pelotão, pertencente à um

tipo de guarda. Com organização e agenda de rituais própria. Cada terno possui o

seu “diplomata”, geralmente um capitão, que fará sua representação nas reuniões

com a Irmandade e os órgãos governamentais ou financiadores.

592

Apesar de muitos congadeiros negar que exista rivalidade entre os ternos, a disputa

torna-se muito clara em muitos momentos. Disputam a ocupação do espaço na

praça da igreja, qual a execução mais perfeita das músicas, qual o maior número

de componentes, qual a melhor organização e disposição dos soldados na

apresentação, qual a melhor e mais bonita indumentária, ocorre disputa na

demarcação do território onde realizaram sua campanha, etc. Em alguns momentos

verdadeiras batalhas orquestrais ocorrem: os ternos se enfrentam com os

instrumentos, o apito e a expressão corporal dos capitães deixam clara a luta

enquanto os soldados rufam seus tambores.

Durante “campanha” do Congado, como os congadeiros dizem, são confeccionados

ou reformados acessórios, roupas e instrumentos. Realizam ensaios, novenas,

leilões, reuniões com a Irmandade e com a Coordenadoria Municipal Afro-Racial

(CoAfro). Fazem benzições, trabalhos espirituais. Visitam outras cidades em festa.

A campanha é o período que precede a festa.

Geralmente é o Presidente do terno ou a Madrinha quem fica responsável por

agendar os leilões e novenas. Os donos da casa onde serão realizados os leilões

arrecadam “prendas”, geralmente alimentos, produtos de higiêne, bebidas, quitutes,

roupas, etc, que serão leiloados a favor do terno. Reúnem-se os dançadores, afinam-

se os instrumentos e cada terno sai do seu quartel sob o comando do bastão e do

apito de seus capitães realizando jornadas noturnas que extrapolam os limites dos

bairros para realizar as novenas e os leilões. Estes deslocamentos pela cidade

enchem a noite com as sonoridades dos instrumentos. Algumas pessoas saem na

porta das casas para ver os ternos passarem, nos seus ensaios para o dia da

festa.

Cada terno possui o seu “território”, demarcado pelas casas dos amigos que

oferecem prendas para o leilão ou solicitam a visita da bandeira para a realização

da novena. Cada terno possui um quartel, que pode ser a casa de um dos capitães

ou de pessoas ligadas ao terno. O “território” dos ternos extrapola, inclusive as

fronteiras das cidades, pois cada terno possui uma agenda de festas e encontros

formando distintas redes de sociabilidade. Os ternos também costumam visitar

suas cidades de origem.

Quando um terno se encontra com outro no trajeto pode acontecer pelo menos três

ações diferentes:

1 – se os ternos forem amigos, se cumprimentam e até mesmo tocam juntos;

593

2 – se os ternos tiverem algum tipo de diferença, rixa, ou questão a ser resolvida,

poderá haver uma espécie de confronto, um duelo de instrumentos, ou um terno

impede o outro de atravessar uma rua ou passar na porta da igreja.

3 – se os ternos ainda não se conhecerem pode acontecer dos Capitães cantarem

um para o outro saldando as bandeiras e se identificando. Pode também haver

neste caso uma espécie de duelo em que os capitães disputam cordialmente para

saber qual dos capitães é mais experiente ou qual a bateria faz mais evoluções.

O trajeto até a casa da novena é utilizado para realizarem o ensaio para o dia da

festa. Durante o trajeto até as casas onde se realizarão as novenas, os capitães

ensinam as músicas aos novatos e ensinam a tocar os instrumentos. É comum a

criação de músicas novas para apresentarem no dia da festa. A composição pode

ser feita por capitães, madrinhas ou dançadores do terno ou ainda ser atribuídas a

mentores espirituais. Muitas músicas tocadas durante a campanha podem não ser

executadas no dia da festa. Existem também músicas específicas para cada

ocasião: para chamar o dono da casa, para agradecer as prendas para o leilão,

para abençoar o interior da casa, músicas de novena, em louvor a São Benedito,

em louvor a Nossa Senhora do Rosário, que relembram os antepassados, que falam

de fenômenos climáticos, para solicitar a saída da bandeira, para saldar Reis e

Rainhas, de despedidas, para quando ocorre um encontro com outro terno seja ele

amigo ou não e uma infinidade de outras possibilidades, variando de terno para

terno.

Existem duas versões para a origem do Congado em Uberlândia. A primeira

considera o Distrito de Miraporanga (antiga Santa Maria) o local de onde se

originaram os ternos de Congado do município, na época, o arraial de São Pedro

de Uberabinha. Segundo Paulino (In Brasileiro, 2001:31), o primeiro terno de

moçambique surgiu em Miraporanga, não sendo inicialmente aceito pelos

moradores de São Pedro do Uberabinha. A Igreja do Rosário de MIrapóranga,

construída em 1850, foi fundada por escravos, que posteriormente se mudariam

para o futuro bairro Patrimônio em Uberlândia, às margens do Rio Uberabinha,

levando consigo as celebrações do Congado.

A segunda versão indica que o movimento do Congado se iniciou no Sertão da

Farinha Podre, por volta de 1874, através do “Mestre André”. Esse senhor reunia

os negros da região do Rio das Velhas e Olhos D’Água, tocando tambor em culto à

Nossa Senhora do Rosário, padroeira dos negros, pedindo para libertá-los da

escravidão. O início do movimento ocorre por volta de 1876, período de expectativa

e temor quanto à abolição da escravatura no Brasil Império.

594

Vale lembrar que em 1881 foi decretada a lei nº 2040, conhecida como a “Lei do

Ventre Livre” e em 1885 a “Lei do Sexagenário” ou “Lei Saraiva Cotegipe”, as quais

participaram de um processo que culminou na própria abolição da escravatura, em

1888.

O município de Uberlândia se localiza na região do Triângulo Mineiro, área conhecida

no século XVIII e XIX como Sertão da Farinha Podre. Esta região era denominada

de Sertão da Farinha Podre por causa dos sacos de palha com farinha, encontrados

pelos colonizadores, enterrados ou pendurados nas árvores. Das histórias contadas

sobre a origem deste nome, existe uma que afirma que quando as bandeiras se

aproximavam os indígenas e quilombolas que aqui habitavam escondiam sua

farinha, base de sua alimentação, com esperança de poderem voltar algum dia

para suas aldeias e ter alimentos até a nova plantação dar seus frutos. Eles se

refugiavam nas matas e esperavam os bandeirantes abandonarem suas moradias

após arrasá-las com saques e incêndios. Muitas aldeias tinham que mudar

constantemente sua localização, abandonando sacos de farinha pelo caminho de

sua fuga. Por causa de sua localização geográfica, o Sertão da Farinha Podre

passou a ser um entreposto para os avanços das bandeiras. Local de de descanso

e comércio de tropas uma parada na rota de tropeiros e mineradores em direção a

Goiás e Mato Grosso. A farinha que fora escondida pelos quilombolas e/ou

indígenas apodrecia com a ação do tempo, e depois era encontrada pelos novos

habitantes do lugar. Por causa da grande quantidade de mantimentos apodrecidos

encontrados, a região da bacia do rio Paranaíba que abrange o atual Triângulo

Mineiro e parte do sul do estado do Goiás, ganhou o nome de Sertão da Farinha

Podre.

O Sertão da Farinha Podre era povoado por vários núcleos quilombolas distribuídos

como pontos de uma rede. Os documentos oficiais referem-se a diversos deles

como pertencentes ao Quilombo do Campo Grande. O Quilombo do Ambrósio,

localizado na zona rural de Ibiá, cujo sítio arqueológico é tombado pelo patrimônio

histórico, foi como uma célula central de onde partiam os integrantes que formavam

os outros núcleos da rede. A historiografia oficial considera que o Quilombo do

Ambrósio tenha sido destruído em 1746, sendo referido como o maior núcleo,

comportando até mais de “mil negros, e grande número de negras e crias”. Os

documentos oficiais que narram a destruição deste núcleo e de “outros menores”

informam o número de três oficiais e duzentos e sessenta “homens capazes, e dos

mais desocupados” reunidos nas freguesias de Brumado (hoje Patrocínio), Sta

Rita, Carijos, Congonhas, Ouro Branco e Prado.

595

E para a destruição do Quilombo do Campo Grande foram enviados quatrocentos

e depois mais trezentos homens da cidade de Mariana, São João de El Rey, São

José, Sabará e Vila Nova da Raynha. Sendo que estas comitivas levavam cartas

solicitando que todas as comarcas lhes fornecessem “munições de guerra e de

boca” Embora, os documentos oficiais relatem expedições bem sucedidas na

destruição destes quilombos, deixam a entender que muitos quilombolas fugiam

recomeçando um novo quilombo em áreas não ocupadas pelo homem branco. A

área onde hoje se localiza Uberlândia só foi ocupada pelo homem branco a partir

de 1821, possuindo ainda reminiscências dos antigos quilombos do Campo Grande.

Mas a construção de hidrelétricas tem destruído paulatinamente os vestígios

arqueológicos destes quilombos que geralmente escolhiam áreas estratégicas

próximas aos rios para se instalar. Os quilombolas escolhiam sua localização de

acordo com os elementos oferecidos pelo ambiente buscando áreas que lhes

possibilitasse a permanência (agricultura e pecuária de subsistência, assaltos às

tropas de comerciantes e viajantes e contrabando) e a defesa da comunidade. A

região ainda preserva na toponímia referências aos antigos quilombos (Pau Furado

e Quilombo).

A ocupação efetiva desta área pelo homem branco ocorreu a partir do século XIX,

sendo a produção pecuária e a agricultura de subsistência primordiais, pois

possibilitaram a instalação das fazendas e dos arraiais que futuramente constituiriam

vários municípios e distritos. O arraial de São Pedro do Uberabinha, núcleo inicial

da cidade de Uberlândia, formou-se no início do século XIX, a partir da aquisição

de sesmarias do governo da Província de Minas Gerais por algumas famílias. O

marco inicial da atual cidade foi a antiga Sesmaria de São Francisco, doada a

João Pereira da Rocha, em 1821. A chegada de outras famílias, com destaque

para a “Alves Carrejo”, intensificou a ocupação da região.

Em 1846, Felisberto Alves Carrejo, após aquisição de área de dez alqueires entre

o Córrego São Pedro e o Córrego Cajubá, obteve, juntamente com Francisco Alves

Pereira, aprovação do Bispado de Goiás para a construção de uma capela curada,

consagrada a Nossa Senhora do Carmo e a São Sebastião da Barra. No ano de

1852 foi criado o Distrito de Paz do São Pedro do Uberabinha, pela lei provincial n.

602, e em 1853 a primeira capela foi concluída. . A criação da paróquia, em 1857,

ocorreu no mesmo ano da formação do patrimônio da capela, composto de terras

doadas por um grupo de moradores locais que haviam adquirido 100 alqueires da

Fazenda do Salto (Vale, 1998: 252).

596

As primeiras edificações do arraial se São Pedro do Uberabinha se concentravam

ao redor do largo da Igreja Matriz, em terrenos aforados do patrimônio de Nossa

Senhora do Carmo. Em 1883 foram doados, ainda, doze alqueires de terra à

margem esquerda do córrego Uberabinha, próximo aos limites do arraial, destinados

ao patrimônio de Nossa Senhora da Abadia (Lourenço, 1986:16). Em 31 de agosto

de 1888, a então freguesia foi transformada em vila, com o nome de São Pedro do

Uberabinha, tendo sido instalada oficialmente em 1891. Em 24 de maio de 1892, a

vila foi elevada à categoria de cidade pela lei nº 23. Em 1895, a Estrada de Ferro

Mogiana atingiu a cidade de Uberlândia e se verifica o desenvolvimento da produção

agropecuária e de indústrias, com destaque para a produção de charque (Brasileiro,

2001: 253). “Nas duas primeiras décadas do século XX foram instaladas em

Uberlândia indústrias ligadas à produção rural. Têm-se registro das seguintes

indústrias, existentes em 1922: beneficiadoras de arroz e algodão, serrarias,

carpintarias, charqueadas, curtumes e outros estabelecimentos de produção de

couro e carne, além de fábricas de banha, sabão, calçados e arreios” (Lourenço,

1986: 20). Vale ressaltar que o fornecimento de energia elétrica teve início em 1909,

aumentando a possibilidade da instalação de várias fábricas.

Em 1929, a cidade recebeu o nome de Uberlândia, através da lei nº 843. Na década

de 1930, a abertura de estradas de rodagem em direção às áreas de exploração

de diamantes do Rio Araguaia intensificou o desenvolvimento da área, que se tornou

ponto de troca e abastecimento de caravanas e compradores de diamantes . Em

1933 , iniciou -se a construção da nova igreja Matriz concluída em 1941. A padroeira

Santa Terezinha foi escolhida para substituir os antigos padroeiros da cidade Nossa

Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra. A antiga igreja Matriz foi demolida

em 1943, dando lugar a estação Rodoviária, que hoje sedia a Biblioteca Municipal

. Em 1940, cidade passa por um rápido crescimento e adensamento populacional,

e desde então tem se configurado importante centro regional, localizado em local

estratégico, próximo a seis capitais (Campo Grande, Cuiabá, Goiânia, Belo

Horizonte, São Paulo e Brasília ). De 1985 a 1996, o seu crescimento anual do P I

B de 5, 09%, superior ao crescimento de Minas Gerais (2,17%) e do Brasil (2,28%).

Hoje, a cidade se destaca pelo desenvolvimento dos setores de agro industria,

tecnologia da informação, setor atacadista - distribuidor, e mais recentemente, de

biotecnologia, sendo também considerado pólo na área de ensino superior.

Há referências históricas de que a primeira Capela de Nossa Senhora do Rosário

tenha sido iniciada pelo Padre João Dantas Barbosa, em 1876, a qual não foi

concluída, tendo sido definitivamente levantada na atual praça Cícero Dr. Duarte.

597

Em decorrência do abandono da capela anterior, entre 1891 e 1893, ocorreu a

construção da nova Capela do Rosário “com estrutura de madeira, tijolos de adobe

e telha comum, situada no centro da cidade e com fachada voltada para o bairro

General Osório (atual bairro fundinho).” Já em meados de 1890, o então presidente

da Irmandade do Rosário passou a comandar a nova procissão. O vigário Pio Dantas

estimulou a participação da comunidade negra nas festividades religiosas. (Ibidem,

2001)

Com o crescimento da cidade, a segunda capela precisou ser ampliada. Foi

composta uma comissão responsável por angariar donativos particulares e recolher

uma mensalidade cobrada da Irmandade do Rosário. A capela anterior foi demolida

e, no mesmo local, a partir de 1928, foi construída uma nova capela com projeto de

autoria do arquiteto Thomaz Hovanez. Em 1931, a Capela Nossa Senhora do

Rosário foi re-inaugurada. Em 1985, a Capela de Nossa Senhora do Rosário foi

tombada pelo Patrimônio Histórico Municipal (lei nº 4263, de 9 de setembro) e

entre 1987 e 1988, foi restaurada pela Secretaria de Cultura do Município com

apoio do IEPHA/MG (Vale, 1998:257). A Capela de Nossa Senhora do Rosário

passou por processo de restauração no de 2006.

15. Referências:

* Anais da Biblioteca Nacional – Volume 108 – Rio de Janeiro, 1988 pg. 47-113 –

Carta de Gomes Freire de Andrade para o Capitão-mor da Vila de S. João de El

Rey Manuel da Costa Golvea, 27 de junho de 1746. Mss. APM, Códice SC84,

Registro da providoria da Fazenda de Minas Gerais p.111 (Ver laudo IPHAN 004/

98)

*Brasileiro, Jeremias. Congadas de Minas Gerais – Brasília: Fundação Cultural

Palmares, 2001.

* Laudo IPHAN 004/98 – Dossiê do Tombamento do Remanescente do Antigo

Quilombo do Ambrósio – Ibiá – Mg

*Lucas, Glaura. Os Sons do Rosário – Um Estudo Etnomusicológico do Congado

Mineiro – Arturos e Jatobá. Dissertação de Mestrado, São Paulo: ECA-USP, 1999.

*Marra, Fabíola Benfica. Álbum de Família: Famílias Afro-descendentes no Século

XX em Uberlândia – MG – CD-Rom produzido entre os anos de 2004 e 2005,

através da lei municipal de Incentivo à Cultura.

*Martins, Tarcisio José. Quilombo do Campo Grande: A História de Minas Roubada

do Povo. São Paulo: Gazeta Maçônica, 1995

598

*Lima Jr., Walter. Chico Rei. Embrafilmes, 1986.

*LOURENÇO, Luis Augusto Bustamante. Bairro Patrimônio: Salgadores e

Moçambiqueiros. Uberlândia: Secretaria Municipal de Cultura, 1983.

*Martins, Leda M. Cantares – Afrografias da Memória. São Paulo: Perspectiva:

1997.

*Moura, Clovis (org). Os Quilombos na Dinâmica Social do Brasil – Maceió: Edufal,

2001.

*RIBEIRO, Maria de Lourdes Borges. A Música Africana. Rio de Janeiro: Funart,

1981

*VALE, Marília Brasileiro Teixeira. Arquitetura Religiosa do Século XIX no antigo

“Sertão da Farinha Podre”. Tese apresentada à Faculdade de Arquitetura e

Urbanismo da Universidade de São Paulo para obtenção do Grau de Doutor, São

Paulo, 1998.

16. Atualização das informações:NT

17. Ficha Técnica

Levantamento Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)

Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)

Elaboração Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Revisão Data: Abril de 2007

Anderson Henrique Ferreira (Historiador)

Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)

599

07. Designação:Bandeira do terno Congo Verde e Branco

08. Localização Especifica: quando não está em época de campanha, fica em

um cômodo destinado à indumentária do e aos instrumentos do Congado

09. Espécie: Bandeira /Distintivo/Insígnia Religiosa

10. Época: 2000

11. Autoria: Dagmar Rodrigues (irmã do Silvio)

12. Origem: Uberlândia

13. Procedência: Uberlândia

14. Material / Técnica: cabo de madeira, tecido veludo verde, com imagem de

Nossa Senhora do Rosário impressa em papel plastificado, presa ao veludo com

bordado de motivos florais elaborados com lantejoulas e miçangas prateadas,

detalhes da coroa e terço bordados com miçangas.

15. Marcas / Inscrições / Legendas: imagem de Nossa Senhora do Rosário

bastante ornamentada

16. Descrição:

Bandeira com cabo de madeira, elaborada em tecido veludo verde, com imagem

de Nossa Senhora do Rosário impressa em papel plastificado, presa ao veludo

com bordado de motivos florais elaborados com lantejoulas e miçangas prateadas,

detalhes da coroa e terço bordados com miçangas.

17- Condições de segurança:

( x ) Boa ( ) Razoável ( ) Ruim

Obs:

BENS MÓVEIS E INTEGRADOS

04. Propriedade: Particular

05. Endereço: Rua Carvalho de Mendonça, 1550 -

Pampulha

06. Responsável: Silvio Donizete Rodrigues

01. Município: Uberlândia

02. Distrito: Sede

03. Acervo:Terno Congo

Verde e Branco

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INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL

Minas Gerais-MG

SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA

600

18- Proteção Legal:

( ) Federal

( ) Estadual

( ) Municipal

( x ) Nenhuma

( ) Tombamento Isolado

( ) Tombamento em Conjunto

Fotos do Terno Congo Verde e Branco

Uberlândia/MG

Ano 2007

20- Estado de Conservação:

( x ) Excelente ( ) Bom

( ) Regular ( ) Péssimo

21- Dimensões:

Altura: 44cm

Comprimento da haste: 52cm

Largura: 35cm

22. Análise do Estado de Conservação:

Bandeira em bom estado de conservação.

Não apresenta perdas, não apresenta sinais de infestação por insetos ou de mofo.