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Vapores no céu: A paisagem italiana na viagem de Goethe Em setembro de 1786 Goethe vai da Alemanha à Itália. As viagens eram vistas como parte complementar da educação na época. “O mundo é um prolongamento da escola.”p.43 Ir a Itália é aprender a ver o mundo. As coisas tal como elas são. Goethe escreve que a chegada a Roma foi um segundo nascimento, um verdadeiro renascimento. “Eu já tinha visto Roma, já sabia de algum modo onde eu estava. ” Aqui lemos um sentido de anamnese. Roma retomava seu posto de matriz cultural europeia (do mundo?) desde o renascimento. A viagem é então a confirmação de uma cultura herdada. Todo o relato é permeado por impressões individuais, uma forte subjetividade atravessa os escritos. Possivelmente relacionada a emergência do romantismo, movimento que tem o Werther de Goethe como um de seus principais expoentes. Tal como no relato de Petrarca, da subida ao monte Ventoux, as paisagens evocam em Goethe um paralelo com seu mundo interior. Sua viagem tem um sentido de iniciação. Mas a contradição entre o mundo dos sentidos do exterior profano e o intelecto pensativo do interior sagrado, que havia feito Petrarca recuar diante da contemplação da paisagem, já está resolvida em Goethe. A paisagem é para ele a própria reconciliação. Tudo tem um sentido metafórico. Num instante as imbricadas paisagens romanas evocam a eternidade. Há um imperativo do pitoresco. De reconhecer no geral os seus tipos, os exemplos mais próximos do Ideal. Goethe anda por pinturas em Roma, ele evoca a todo momento os pintores (Poussin, Claude Lorrain, Salvator Rosa) que admirava, e enxerga sempre através de seus esquemas pictóricos “dom que tenho há tempos de ver o mundo pelos olhos do pintor cujas imagens acabo de gravar no meu espírito”p.48. O real é aqui a confirmação da arte. O predominante cultural da pintura que ensina a ver, reafirma o argumento de Alain Roger (da determinante cultural). Em sua idealização Goethe se pergunta, porque a paisagem italiana possui uma unidade de que a alemã carece? Para ele a fonte de unidade, entre os diversos elementos componentes é a “luz secreta que brilha através do objeto”p.48. A luz nuançada e vaporosa de Roma que harmoniza as cores e suaviza os contornos. Uma luz ausente no Norte. “Para nós, tudo é duro ou macio, multicolorido ou monótono”p.52

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Vapores no cu: A paisagem italiana na viagem de GoetheEm setembro de 1786 Goethe vai da Alemanha Itlia. As viagens eram vistas como parte complementar da educao na poca. O mundo um prolongamento da escola.p.43Ir a Itlia aprender a ver o mundo. As coisas tal como elas so. Goethe escreve que a chegada a Roma foi um segundo nascimento, um verdadeiro renascimento. Eu j tinha visto Roma, j sabia de algum modo onde eu estava. Aqui lemos um sentido de anamnese. Roma retomava seu posto de matriz cultural europeia (do mundo?) desde o renascimento. A viagem ento a confirmao de uma cultura herdada.Todo o relato permeado por impresses individuais, uma forte subjetividade atravessa os escritos. Possivelmente relacionada a emergncia do romantismo, movimento que tem o Werther de Goethe como um de seus principais expoentes.Tal como no relato de Petrarca, da subida ao monte Ventoux, as paisagens evocam em Goethe um paralelo com seu mundo interior. Sua viagem tem um sentido de iniciao. Mas a contradio entre o mundo dos sentidos do exterior profano e o intelecto pensativo do interior sagrado, que havia feito Petrarca recuar diante da contemplao da paisagem, j est resolvida em Goethe. A paisagem para ele a prpria reconciliao. Tudo tem um sentido metafrico. Num instante as imbricadas paisagens romanas evocam a eternidade. H um imperativo do pitoresco. De reconhecer no geral os seus tipos, os exemplos mais prximos do Ideal. Goethe anda por pinturas em Roma, ele evoca a todo momento os pintores (Poussin, Claude Lorrain, Salvator Rosa) que admirava, e enxerga sempre atravs de seus esquemas pictricos dom que tenho h tempos de ver o mundo pelos olhos do pintor cujas imagens acabo de gravar no meu espritop.48. O real aqui a confirmao da arte. O predominante cultural da pintura que ensina a ver, reafirma o argumento de Alain Roger (da determinante cultural).Em sua idealizao Goethe se pergunta, porque a paisagem italiana possui uma unidade de que a alem carece? Para ele a fonte de unidade, entre os diversos elementos componentes a luz secreta que brilha atravs do objetop.48. A luz nuanada e vaporosa de Roma que harmoniza as cores e suaviza os contornos. Uma luz ausente no Norte. Para ns, tudo duro ou macio, multicolorido ou montonop.52A atmosfera vaporosa do cu dos planos de fundo permitir unificar os elementos da paisagem e resolver a diversidade em uma espcie de indeciso harmoniosa. p.52O vapor tem um papel decisivo para estabelecer a harmonia na narrativa de Goethe. A existncia de um ar vaporoso aparece em dois nveis de discurso. 1- pela pintura que a natureza se revela. 2- mas atravs do vapor e sua representao pictrica que esse elemento torna a revelao possvel. o embaamento que possibilita a passagem da arte a realidade, mais do que a perspectiva, a materialidade do vapor o torna a distncia sensvel.